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NATUREZA-MORTA eles puxam o gatilho, mas não há bala nenhuma, morte nenhuma, contentam-se, então, em fazer nada, não querem ir além da medida de seus corpos, não é mais do que precisam, embora, por instantes, coincidam com a própria gravidade e hesitem em se voltar para nós sob pena de perderem a indiferença, de se incomodarem com o fato, por exemplo, de haver lâmpadas acesas em pleno dia, como se pudesse fazer a luz ser mais do que ela é contra o vazio de uma mesa, COSTA, Alexandre Rodrigues. Fora-de-quadro difíceis. Rio de Janeiro, 7Letras, 2005.

Natureza Morta

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Natureza morta. Poema.

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NATUREZA-MORTA

eles puxam o gatilho,

mas não há bala nenhuma,

morte

nenhuma, contentam-se,

então, em fazer nada,

não querem ir além da medida

de seus corpos,

não é mais

do que precisam,

embora, por instantes, coincidam

com a própria gravidade

e hesitem em se voltar

para nós

sob pena de perderem

a indiferença,

de se incomodarem com o fato,

por exemplo, de haver lâmpadas

acesas em pleno dia,

como se pudesse fazer a luz

ser mais

do que ela é

contra o vazio de uma mesa,

COSTA, Alexandre Rodrigues. Fora-de-quadro difíceis. Rio de Janeiro,

7Letras, 2005.