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Para Heloisa, minha amiga, companheira,incentivadora de todos os meus sonhos.

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Prefácio

Pfffuuussshhh! Pfffuuusssshhh! E, depois de uma pausa dedois minutos, pfffffuuuushhh!!!

Este era o som dos baldes d’água na minha cabeça. Não eraum trote para o novato do barco, um jornalista que passariacom eles uma semana para relatar sua empreitada. Os baldesd’água eram a receita da família Schürmann para acabar com omal-estar atroz que me acometeu apenas 10 minutos depois deiçarmos âncora numa travessia entre as ilhas do Tahiti eMoorea, na Polinésia Francesa. Se aquela era a sensação deuma viagem no mar mais tranqüilo que eu jamais vira, com apaisagem mais exuberante do planeta, minha conclusão erataxativa: essa história de volta ao mundo em um barco não erapara qualquer um.

E, no entanto, a grande lição dos Schürmann é que suasaventuras são, sim, para qualquer um. Esta é a raiz do sucessode seus livros, de seus quadros na TV – até das palestras paraempresas que eles começaram a fazer depois de sua segundacircunavegação do planeta. À primeira vista, os Schürmannparecem um grupo de ousados aventureiros. Quando os conhe -ce mos um pouco melhor, compreendemos que são simples-mente uma família curiosa, capaz de enxergar, entender e semaravilhar com o mundo – ou seja: um grupo de ousados aven-

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tureiros, protagonistas de uma história com a qual qualquer umpode se identificar. Não são gente extraordinária. São pessoascomuns fazendo coisas extraordinárias.

A palavra-chave neste grupo não é navegação, embora elaseja crucial, o sonho que deu origem a tudo. Não é nem mesmoSchürmann, embora eles tenham construído uma imagem tãoforte para si mesmos a ponto de ter fãs ardorosos no mundointeiro. A palavra-chave é família. Mais que pelos laços deparen tesco da maioria dos que iam a bordo – pelo modo de enca rar a viagem, a convivência, os amigos e o “quintal”.(Para Heloisa Schürmann, o barco que lhes servia de lar podiaparecer pequeno, mas só para quem não tivesse capacidade devislumbrar o quintal. Aquele quintal sem cercas que ia até ondea vista alcançava.)

Esse sentido de família levava Vilfredo a não se conformarcom tripulantes que não pensassem no bem-estar do grupo.Guiava-o na hora das decisões mais complicadas. E se traduzianum estilo de comunicação que rapidamente se tornou umsucesso de audiência, mas antes disso já se tornara um sucessode relacionamento. De que outra forma explicar a pequenacanoa que atracou no Aysso, certa noite, trazendo a dançarinaNita Faraire toda paramentada, para oferecer um espetáculoprivado de danças polinésias? Tanto para infiltrar sua famílianos mais deliciosos rituais de culturas diversas como ante asinevitáveis burocracias da vida, Vilfredo não se comunicava eminglês, francês ou espanhol. Ele usava uma língua própria, àqual só me ocorre chamar de simpatiquês. (Atenção, pessoaldas palestras: convençam Vilfredo a criar este curso.)

Neste livro que você tem em mãos, Vilfredo nos apresentadois tipos de viagem: para o exterior (e põe exterior nisso) e

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para o interior. É como se cada milha navegada para longe desuas raízes em Santa Catarina equivalesse a uma milha nave-gada para dentro de si mesmo. Os dois tipos de viagem exigemplanejamento, jogo de cintura, força de vontade, capacidade desonhar. São essas as lições dos Schürmann, e elas valem paraqualquer viagem.

David Cohen,

Redator-chefe da revista ÉPOCA

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PREFÁCIO

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Introdução

Depois de 18 anos ministrando palestras e oito anos reali -zando workshops em veleiros de oceano pelo Brasil, senti

que seria o momento de levar ao mundo dos negócios um rela-to das nossas experiências nas duas viagens de volta ao mundo.

No mar aprendemos que as dificuldades e os desafios que vive-mos são importantes para nosso crescimento e nossa transforma-ção. Nas longas navegações, temos que acreditar uns nos ou tros,aceitar uns aos outros e entender que cada tripulante tem umpapel importante em levar uma embarcação a um porto seguro.

Uma expedição no mar muda uma pessoa. É um aprendiza-do de convivência, de atitudes e de serenidade na tomada dedecisões que refletem na equipe que acredita e questiona oporquê de fazer e de mudar.

Ter auto-estima inclui gostar daquilo que se faz. Distribuirtarefas bem definidas e bem entendidas pelos tripulantes fazuma diferença enorme e estimula todos a bordo.

Quando se inicia uma expedição como a nossa, por umperíodo longo, se faz necessário reinventar o modo de trabalho,inovando e envolvendo as pessoas com o comprometimento desempre fazer o melhor.

Em um projeto é importante ter em mente a missão, a visãoe a estratégia definida para alcançar os objetivos.

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É necessário ter percepção, capacidade de análise e decisão.Não ter medo de mudanças, da ousadia.

Um veleiro é uma empresa em alto-mar. Os perigos, os desa-fios e a dinâmica dessa empresa sobre ondas potencializamtodas as teorias de administração aplicadas em terra. Mas con-seguimos sucesso nessa forma inédita de gerenciamento.

Nesse mar bravio que é o mundo empresarial moderno, aimagem do nosso veleiro Aysso vencendo as ondas e ancorandonuma enseada de água calma e transparente é a analogia quealmejo apresentar neste livro.

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Como tudo começou

A té hoje me pergunto se foi meu espírito empreendedorque me levou à realização dos meus sonhos ou se foi meu

lado sonhador que me fez realizar nossas viagens e expedições.No início, como qualquer jovem, eu só pensava em realizar.

Os riscos não existiam para mim, não importava se o que euestava sonhando iria dar certo ou não. A busca do sucesso esta-va sempre presente e eu não tinha dúvidas nem medo de ino-var e ousar.

Ainda menino, em uma bateira, um barco de madeira comfundo chato, navegava pelo rio que banha Blumenau. Usandotoscos e pesados remos, íamos longe. A aventura começava nopequeno rio da Velha. Quando alcançávamos o Itajaí-Açu, aadrenalina aumentava. Era o grande rio, caudaloso, profundo,com uns 150m de largura.

Sempre margeando, remávamos rio acima, até chegar à altu-ra de uma pequena ilha. Lá havia uma prainha, ótima para mer-gulhar e nadar. E jogávamos futebol até o final da tarde.

Para voltar, descíamos com a correnteza. Quando haviavento, um lençol enrolado em um cabo de vassoura era nossavela. Era só abrir e o lençol enfunava. Um remo na popa era oleme. Tínhamos que nos equilibrar porque o fundo da canoaera chato, sem quilha. Qualquer rajada, a bateira virava.

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Sem o barulho dos remos, somente à vela, o silêncio eratotal. Era perigoso, mas a sensação de aventura e de conquistasempre foi bem mais forte que o medo.

Navegava e jogava futebol à tarde, quando deveria estar nocolégio. É claro que essas aventuras durante a semana nãoduraram muito, pois a escola e meu pai descobriram minhasfaltas. Como castigo, 60 dias sem sair de casa.

Para ter o que fazer, fui ajudar meu pai no balcão da lojadele, de peças e acessórios para postos de gasolina.

Comecei a gostar de trabalhar. Meu pai nomeou-me cobra-dor de títulos atrasados e eu ia aos clientes, pedalando minhabicicleta, para realizar a cobrança. Eu me sentia muito impor-tante levando dinheiro vivo.

Passei a receber pelo meu trabalho. Meu primeiro salário foiaos 12 anos.

Eu tinha um professor de Desenho, no 3.º ano ginasial doColégio Pedro II, que era fascinado por veleiros e conheciamuito de navegação. Nunca teve um barco.

Mostrando fotos e ilustrações em livros muito interessantes, fa -la va como se fosse um velho marinheiro. Descrevia, em detalhes,cada parte do veleiro. Eu ficava impressionado com tudo o queescutava. Conversávamos muito e “viajávamos” pelos sete mares.Anos depois, sozinho no cockpit de meu próprio barco, navegan-do à noite, no meio do oceano, muitas vezes me lembrava do pro-fessor Ludwig Emmerich. Gostaria que ele soubesse aonde seuamor pelo mar tinha me levado. Mas nunca mais ouvi falar dele.

Talvez tenha sido depois daquelas conversas que comecei asonhar em um dia ter um veleiro e ancorá-lo no cais do rioItajaí-Açu. Era um local mítico: tinha sido o atracadouro dovapor Blumenau de 1895 até o final da década de 1950.

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Tudo ficou para trás quando me mudei para Florianópolis,aos 17 anos, para cursar Economia na Universidade Federal deSanta Catarina. Estudava durante o dia e estagiava à noite, semremuneração, em um escritório de planejamento econômico efinanceiro para projetos industriais, a convite de meu irmãoVilmar, que era um dos sócios.

Um dia, em 1971, um amigo de juventude, Fernando, veiome procurar. Ele tinha um curso de inglês em Blumenau, oCEA – Centro de Estudos Avançados, que estava indo muitobem, e queria abrir uma filial na capital catarinense. Propôs-mesociedade. Eu não tinha um tostão, nenhum conhecimentopedagógico e não falava inglês.

Aceitei a proposta. Teria que conciliar minhas atividades deestudante com a de administrador do curso. Ia à faculdade de manhã, depois saía correndo para o curso de inglês e, ànoite, das 20h às 23h, estagiava no escritório de projetos.

Conseguimos avalistas e um empréstimo no Banco do Esta -do de Santa Catarina, que seria para compra de equipamentose móveis. Alugamos duas salas no Centro de Floria nó po lis. Foia minha primeira atividade empreendedora. Reuni mos umaequi pe enxuta, coesa e comprometida. Empreguei meus co -nhe cimentos da faculdade e do estágio, mas tive que improvi-sar para deslanchar o marketing e a divulgação do novo curso.Eu ficava horas pensando o que fazer para que Flo rianópolissoubesse que estava chegando à cidade o melhor curso deinglês de Santa Catarina.

Resolvemos convidar o secretário estadual de Educação paraa inauguração. Fui, pessoalmente, levar o convite e, de pois deuma longa conversa, consegui confirmar a sua presença.

O passo seguinte foi trazer a imprensa – o termo mídia ainda

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não existia – para o evento. Fomos aos proprietários do jornalde maior tiragem e da emissora de TV de maior audiência dacidade. Tivemos sorte. Saímos dos dois encontros com a pro-messa de cobertura jornalística.

Fizemos uma festa de inauguração simples, dentro de umorçamento muito pequeno. No dia seguinte, o grande destaqueno jornal foi uma foto do secretário de Educação com fones nosouvidos na primeira fila da sala de aula, durante a sessão inau-gural. A mesma cena repetiu-se na televisão ao meio-dia e ànoite.

O sucesso foi total. Na cidade, só se falava do novo curso deinglês.

Depois de um ano, com o apoio de meu pai, que no inícionão acreditou no meu negócio e não quis ser avalista do pri-meiro empréstimo, comprei as cotas da sociedade do meuamigo e sócio. Estava dando tudo certo, as energias fluíampositivamente e me empurravam para seguir adiante. Mas nãofiquei sozinho na administração do curso: Heloisa entrou emminha vida.

Morando nos Estados Unidos havia sete anos, Heloisa veio aFlorianópolis, em férias de 15 dias, para visitar sua irmã, pro-fessora do curso, grávida de cinco meses. Com uma excelenteexperiência de professora, Heloisa substituiu a irmã, que seafastou em licença. Apaixonamo-nos e ela não voltou mais paraos Estados Unidos. Alugamos um apartamento e fomos viverjuntos.

Heloisa trouxe uma nova dinâmica ao curso de inglês. Issofez o empreendimento crescer e, em pouco tempo, tínhamosmais de mil alunos e 32 professores. Passamos a ministrar aulasnas dependências de empresas. Até o governador do Estado foi

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nosso aluno. Atendendo à demanda, alugamos uma casa e abri-mos o Little CEA, curso de inglês para crianças.

Com uma boa receita, decidi fazer um novo empréstimopara adquirir as seis salas que alugávamos. Dessa vez seria alongo prazo, 10 anos. Assim ficamos com um andar inteiro doedifício.

Quando me formei, em 1972, aos 24 anos, havia conseguidoo que eu sonhara: tinha construído uma empresa que não para-va de crescer e estava feliz de ter encontrado uma companhei-ra inteligente e amiga. Isso me dava uma alegria enorme eimprimia dinâmica em tudo o que eu fazia.

Heloisa e eu trabalhávamos muito. As aulas começavam às 7hda manhã e a última turma, de Heloisa – uma equipe de médi-cos –, terminava às 23h. Eu era jovem, queria crescer na minhaprofissão de economista e pensava muito nesse objetivo.

Até que fui surpreendido por um novo desafio. O escritório em que eu estagiava quando estudante foi des-

feito. Cada um dos sócios foi exercer sua atividade, uns na ini-ciativa privada, outros em empresas do governo do Estado oucomo professores universitários.

Um ano depois da minha formatura recebi um convite parajantar de Renato Peixoto, um dos ex-sócios do escritório. Eleestava trabalhando em uma empresa, mas não estava satisfeito.Fez-me uma proposta:

– Vamos ser sócios em um novo escritório de projetosindustriais?

Fiquei surpreso por receber um convite como esse, no inícioda minha carreira de economista. E, ainda por cima, de umprofissional competente e brilhante que eu tanto admirava.

Todos os meus recursos estavam aplicados no curso de

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inglês. Mas, pela proposta, ele arcaria com todo o investimen-to inicial e eu iria pagando no decorrer do tempo.

Heloisa, de imediato, me apoiou e incentivou. Ela disse queteria condições de administrar o curso.

– A equipe está formada e afiada – disse ela.O escritório de projetos deslanchou. Meu contato com os

empresários de vários setores da economia catarinense seampliou. Aos 30 anos eu estava no auge da minha profissão,numa época em que os empresários olhavam desconfiados parajovens formados há pouco tempo.

A minha vida pessoal também seguia de vento em popa, jácom dois filhos: Pierre e David.

Quase dois anos depois, em 1980, Renato, meu sócio noescritório, aceitou o convite para ser diretor financeiro de umadas maiores empresas do país no ramo de soja, a Ceval AgroIndustrial, hoje Bunge Alimentos. Aí ele me perguntou:

– E você, Vilfredo, vai continuar a tocar o escritório?A princípio, fiquei assustado. Mas respondi:– Temos bons clientes, um alto conceito. Isso tem que con-

tinuar.Dois anos depois, meu amigo Renato, com um câncer ful-

minante no fígado e no pâncreas, nos deixaria aos 43 anos deida de. Foi ele a primeira pessoa para quem revelamos o nossoplano de dar a volta ao mundo em um veleiro. Sempre que nosencontrava, queria saber tudo sobre a viagem e nos incentivavana busca do nosso sonho.

Na noite em que ele faleceu, nós estávamos chegando aSantos, de veleiro, vindos de Florianópolis. Na entrada docanal encontramos uma forte neblina. Não enxergávamos umpalmo à nossa frente. Conseguimos navegar com dificuldade

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passando por inúmeros navios que estavam ancorados e soa-vam suas buzinas para dar o alerta. Com o auxílio do radar, che-gamos até a entrada do canal. Ancoramos o Guapo – nossoveleiro na época – na área onde ficam as lanchas dos práticos.Eu estava muito cansado e fui dormir lá pelas 3h da manhã.Sonhei com Renato.

Ele estava em uma motocicleta em alta velocidade com ovento forte soprando no rosto, alegre, rindo, e gritava alto, di -zendo que estava livre. Jamais me esquecerei da imagem defelicidade dele no sonho.

Às 7h da manhã, o advogado da Ceval, José Antonio daCosta, nos comunicava o falecimento desse grande amigo.

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