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PROJETO DE UM VSC-HVDC EM ESCALA REDUZIDA PARA FINS DIDÁTICO
Sabrina Caputi Guimarães
Rio de Janeiro, RJ
Setembro de 2015
Projeto submetido ao corpo docente do
Departamento de Engenharia Elétrica da
Escola Politécnica da Universidade Federal
do Rio de Janeiro como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de
Engenheiro Eletricista
Orientador: Robson Francisco da Silva Dias
ii
PROJETO DE UM VSC-HVDC EM ESCALA REDUZIDA PARA FINS DIDÁTICO
Sabrina Caputi Guimarães
PROJETO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE
ENGENHARIA ELÉTRICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL
DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A
OBTENÇÃO DE GRAU DE ENGENHEIRO ELETRICISTA.
Aprovada por:
______________________________________________
Prof. Robson Francisco da Silva Dias, D. Sc.
______________________________________________
Prof. Luís Guilherme Barbosa Rolim, Dr.-Ing.
______________________________________________
Eng. Silvangela Lilian da Silva Lima Barcelos, D.Sc.
Rio de Janeiro, RJ
Setembro de 2015
iii
Agradecimentos
Aos meus pais, meu maior agradecimento. Pelo amor e pelo carinho incondicional. Pelo
esforço para prover o melhor na minha educação e formação. Por serem minha torcida
mais calorosa e por sempre acreditarem em meu potencial. Aos que me fizeram
apaixonar pela área de “humanas”, mas que sempre me apoiaram quando escolhi o
difícil caminho das “exatas”, sempre serei grata pelos dias e noites estudando História
e Geografia, e pelas listinhas de palavras diferentes para incluir nas redações do
vestibular. Nada seria possível sem a presença de vocês. Vocês sempre serão meus
maiores exemplos.
Ao meu namorado, Tadeu. Obrigada pelo carinho e paciência. Por ser meu suporte e
meu maior encorajador na tomada de decisões. Pelas broncas e conselhos. Pelos “for”
dentro de “for”. Por ser o melhor companheiro para esta etapa e para todas as próximas.
Aos meus primos-irmãos Edu, Lívia e Manrrick. À minha tia e madrinha Lúcia. À minha
tia Lulude. Ao meu tio e padrinho, Marcelo. À minha vó Guiomar, meu maior exemplo
de dedicação e sabedoria. À minha vó Therezinha. Aos meus sogros Penha e Jorge. À
minha cunhada Bianca. E a todos que eu tenho o orgulho de intitular como minha família.
Muito obrigada por todo o carinho e por sempre se mostrarem orgulhosos de mim.
Aos grandes presentes que a graduação me deu, em especial aos meus meninos,
Marcelo Nesci, Marcos Cesar, Luiz André e Guilherme Telles, e às minhas meninas,
Hannah Caldeira, Lívia Lisandro e Thuanne Baptista. Por me ensinarem que um grande
carinho pode ser criado em meio a um cenário de incertezas e muito estudo. Não poderia
ter escolhido pessoas mais especiais para trilhar este caminho ao meu lado.
Aos queridos professores, Heloi José Fernandes Moreira e João Carlos Basilio. Por me
fazerem encantar pela engenharia elétrica e por terem sido muito marcantes em
momentos críticos da graduação. Pela torcida, carinho e dedicação como mestres, meu
sincero obrigada!
Ao professor Luís Guilherme Barbosa Rolim e à aluna Laís Ferreira Crispino pelo grande
apoio nos momentos finais deste projeto. É enorme a gratidão por poder trabalhar com
vocês.
iv
Ao professor e orientador, Robson Francisco da Silva Dias. Pelos conselhos
acadêmicos e não acadêmicos. Por ter se mostrado presente em muitos momentos da
graduação. Este projeto não seria possível sem o seu apoio.
A todos os excelentes professores e funcionários da UFRJ, em especial aos do
departamento de engenharia elétrica. Todos são grandes exemplos de profissionalismo
e dedicação.
Ao CNPq pelo apoio financeiro ao longo da faculdade.
Agradeço ainda a todos que direta ou indiretamente compartilharam dessa jornada
comigo.
A todos, muito obrigada!
v
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Eletricista.
PROJETO DE UM VSC-HVDC EM ESCALA REDUZIDA PARA FINS DIDÁTICO
Sabrina Caputi Guimarães
Setembro de 2015
Orientador: Robson Francisco da Silva Dias
Departamento: Engenharia Elétrica
Este trabalho tem por objetivo apresentar os conceitos básicos sobre a transmissão de
energia em corrente contínua em alta tensão utilizando conversores fonte de tensão. O
projeto de um sistema VSC-HVDC em escala reduzida possibilitará a utilização do
presente texto para fins didáticos, visando enfatizar a importância da inclusão de uma
visão prática relacionada à transmissão em corrente contínua ao escopo do curso de
graduação de Engenharia Elétrica. O sistema ora proposto, também possibilitará testes
de novas configurações de sistemas HVDC, como um sistema multiterminal.
A técnica de controle utilizada é baseada na teoria das potências ativa e reativa
instantâneas, PLL e transformadas de Clarke e de Park, utilizando controle de corrente
e controle de tensão. Em conjunto é apresentada uma metodologia para
dimensionamento dos controladores proporcionais e integrais. Por fim, serão
apresentados resultados experimentais preliminares para a montagem de um sistema
VSC-HVDC completo. É posto em evidência, também, uma plataforma para testes em
bancada encontrada no Laboratório de Eletrônica de Potência.
vi
Sumário
Lista de Figuras .......................................................................................................... viii
Lista de Tabelas ........................................................................................................... x
1 Introdução .............................................................................................................. 1
1.1 Considerações Gerais .................................................................................... 1
1.2 Motivação ....................................................................................................... 3
1.3 Objetivo .......................................................................................................... 3
1.4 Visão Geral do Texto ...................................................................................... 3
2 Sistemas VSC-HVDC ............................................................................................ 5
2.1 Conceitos Básicos do Sistema VSC-HVDC .................................................... 5
2.1.1 Configuração ........................................................................................... 5
2.1.2 Topologia do Conversor .......................................................................... 6
2.2 Sistema de Controle ....................................................................................... 9
2.2.1 Estratégias de Controle ........................................................................... 9
2.2.2 Controle de Tensão no elo CC .............................................................. 10
2.2.3 Controle de Potência ............................................................................. 12
2.2.4 Controle Implementado ......................................................................... 13
2.3 Phase Locked Loop (PLL) ............................................................................ 15
2.3.1 Estrutura Básica do PLL ........................................................................ 16
2.3.2 PLL Implementado ................................................................................ 17
2.4 Modulação Por Largura de Pulso (PWM) ...................................................... 18
2.4.1 Conceitos Básicos ................................................................................. 18
2.4.2 PWM Dois Níveis e Três Níveis ............................................................. 19
2.5 Filtros Passivos ............................................................................................ 22
2.5.1 Tipos de Filtros CA ................................................................................ 23
3 Sistema em Escala Reduzida .............................................................................. 24
3.1 Sistema Utilizado .......................................................................................... 24
3.2 Dimensionamento de Componentes do Sistema .......................................... 24
vii
3.3 Dimensionamento do Filtro CA ..................................................................... 26
3.3.1 Filtros Projetados ................................................................................... 29
3.4 Cálculo dos Ganhos do Controlador PI ......................................................... 29
3.4.1 Controle de Corrente do Sistema HVDC-VSC ....................................... 30
3.4.2 Controle de Tensão do Sistema HVDC-VSC ......................................... 35
4 Simulação e Teste em Bancada .......................................................................... 40
4.1 Simulações Realizadas ................................................................................ 40
4.1.1 Simulação do Retificador (Primeira Parte do Sistema HVDC-VSC) ....... 40
4.1.2 Simulação com Inversor Acoplado (Sistema HVDC-VSC Completo) ..... 45
4.1.3 Código de Proteção ............................................................................... 49
4.2 Microprocessador TI F28335, Geração de Código e Utilização do Code
Composer Studio .................................................................................................... 51
4.3.1 Microprocessador TI F28335 ................................................................. 51
4.3.2 Geração do Código no PSIM ................................................................. 53
4.3.3 Utilização do Code Composer 5 ............................................................ 56
4.3 Testes Realizados em Bancada ................................................................... 63
4.3.1 Bancada Eletrônica................................................................................ 63
4.3.2 Resultados Experimentais ..................................................................... 67
5 Conclusões .......................................................................................................... 73
Referências ................................................................................................................ 74
Apêndice A ................................................................................................................. 76
Bancada Eletrônica do Laboratório ......................................................................... 76
A.1 Matriz de Contados ................................................................................... 76
A.2 Circuito Auxiliar ......................................................................................... 78
viii
Lista de Figuras
Figura 1: Configuração do sistema VSC-HVDC, adaptado de [2].................................. 5
Figura 2: Topologia VSC de dois níveis ........................................................................ 7
Figura 3: Símbolo e curva característica de um IGBT ................................................... 8
Figura 4: Configuração série com diodo em paralelo .................................................... 8
Figura 5: Metodologia de Controle ................................................................................ 9
Figura 6: Simplificação do controle de tensão no elo CC ............................................ 10
Figura 7: Simplificação do controle de potência .......................................................... 12
Figura 8: Esquema do controle implementado para o retificador ................................ 13
Figura 9: Esquema do controle implementado para o inversor ................................... 13
Figura 10: Estrutura do PLL, adaptado de [6] ............................................................. 16
Figura 11: Esquema simplificado do SRF-PLL, adaptado de [8] ................................. 17
Figura 12: Diagrama de blocos do PWM, adaptado de [1] .......................................... 19
Figura 13: Inversor monofásico ................................................................................... 20
Figura 14: Sinais para um PWM de dois níveis ........................................................... 20
Figura 15: Comparação entre as formas de onda de tensão e corrente em modulação
PWM de 2 e 3 níveis ............................................................................................ 21
Figura 16: Comparação entre os espectros dos sinais PWM de 2 e 3 níveis .............. 21
Figura 17: Representação dos componentes dimensionados para o sistema ............. 26
Figura 18: Configuração de um filtro shunt de sintonia simples .................................. 26
Figura 19: Característica da impedância do filtro ........................................................ 28
Figura 20: Diagrama esquemático do controlador de corrente e de potência ativa e
reativa em coordenadas dq, retirado de [13] ........................................................ 30
Figura 21: Diagrama de bloco do controle de um sistema VSC de corrente controlada,
adaptado de [13] .................................................................................................. 32
Figura 22: Diagrama de blocos simplificado para o sistema VSC com controle de
corrente da Figura 21, adaptado de [13] .............................................................. 33
Figura 23: Diagrama esquemático do controle de tensão no elo CC, [13] ................... 35
Figura 24: Diagrama de blocos de controle do regulador de tensão do barramento CC
com base no modelo linear, [13] .......................................................................... 37
Figura 25: Representação do circuito utilizado na simulação do retificador ................ 41
Figura 26: Ângulo de fase extraído pelo PLL e os dois sinais de referência de entrada
na simulação do retificador .................................................................................. 41
Figura 27: Frequência angular gerada pelo PLL na simulação do retificador .............. 42
ix
Figura 28: Correntes Id e Iq e suas respectivas referências na simulação do retificador
............................................................................................................................ 42
Figura 29: Tensão no elo CC da simulação do Retificador ......................................... 43
Figura 30: Forma de onda da corrente de carga ......................................................... 44
Figura 31: Correntes Id e Iq e suas respectivas referências na simulação do retificador
com degrau de carga ........................................................................................... 44
Figura 32: Tensão no elo CC da simulação do Retificador com degrau de carga ....... 45
Figura 33: Representação do circuito utilizado na simulação do sistema completa .... 45
Figura 34: Sequência de simulação ............................................................................ 46
Figura 35: Ângulo gerado pelo PLL da simulação do Sistema Completo .................... 46
Figura 36: Frequências angulares geradas pelos PLLs na simulação ......................... 47
Figura 37: Correntes Id e Iq e suas respectivas referências na simulação do sistema
completo .............................................................................................................. 48
Figura 38: Tensão no elo CC da simulação do Sistema Completo.............................. 48
Figura 39: Fluxograma para código de proteção ......................................................... 50
Figura 40: DSP TMS320F28335 ................................................................................. 52
Figura 41: Emulador USB da Recriar Tecnologias ...................................................... 52
Figura 42: Componentes usados para geração do código .......................................... 53
Figura 43: Como importar os componentes usados para geração do código .............. 53
Figura 44: Configuração do Simulation Control ........................................................... 54
Figura 45: Exibição do código gerado ......................................................................... 55
Figura 46: Criação da pasta com o código gerado ...................................................... 55
Figura 47: Tela inicial do Code Composer Studio ....................................................... 56
Figura 48: Passo 1 para importação do arquivo de código ......................................... 56
Figura 49: Passo 2 para importação do arquivo de código ......................................... 57
Figura 50: Passo 3 para importação do arquivo de código ......................................... 57
Figura 51: Passo 4 para importação do arquivo de código ......................................... 58
Figura 52: Passo para abrir o projeto .......................................................................... 58
Figura 53: Passo 1 para configurar o DSP .................................................................. 59
Figura 54: Passo 2 para configurar o DSP .................................................................. 59
Figura 55: Passo 3 para configurar o DSP .................................................................. 60
Figura 56: Passo 4 para configurar o DSP .................................................................. 60
Figura 57: Passo 5 para configurar o DSP .................................................................. 61
Figura 58: Passo 1 para rodar o código ...................................................................... 61
Figura 59: Passo 2 para rodar o código ...................................................................... 62
Figura 60: Interface final do Code Composer Studio ................................................... 62
Figura 61: Esquema de montagem da bancada eletrônica ......................................... 63
x
Figura 62: Esquema da disposição da bancada eletrônica ......................................... 64
Figura 63: Foto da bancada eletrônica ........................................................................ 64
Figura 64: Leitura de tensão CC ................................................................................. 67
Figura 65: Leitura de corrente na carga trifásica ......................................................... 68
Figura 66: Sinais de corrente em αβ ........................................................................... 70
Figura 67: Sinal do ângulo gerado pelo PLL e a variável de referência iα ................... 71
Figura 68: Sinal da frequência gerado pelo PLL ......................................................... 71
Figura 69: Painel frontal da bancada eletrônica .......................................................... 76
Figura 70: Conexões elétricas da matriz de contatos .................................................. 77
Figura 71: Componentes disponíveis para montagem na bancada eletrônica ............ 77
Figura 72: Exemplificação da montagem dos componentes na bancada .................... 78
Lista de Tabelas
Tabela 1: Bases monofásicas do projeto .................................................................... 25
Tabela 2: Valores dos componentes do sistema ......................................................... 25
1
1 Introdução
1.1 Considerações Gerais
Em função da crescente demanda por energia elétrica e o fato das centrais
hidroelétricas do Brasil se encontrarem em regiões muito distantes das centrais
consumidoras, os estudos sobre as linhas de transmissão em corrente contínua para
longas distâncias voltam à tona dentro do cenário nacional. Exemplos disso são as
usinas do rio Madeira, localizadas na região amazônica, que já possuem a corrente
contínua como alternativa para a transferência da energia gerada.
A transmissão de energia usando o sistema de corrente alternada (CA) se mostrou
robusto e eficiente ao longo dos últimos anos, o problema principal no que diz respeito
a este tipo de transmissão é a complexidade envolvida na controlabilidade do sistema.
Por outro lado, a transmissão em corrente contínua em alta tensão (HVDC – High-
Voltage Direct Current) apresenta vantagens sobre a transmissão em corrente alternada
em determinadas situações.
Numa avaliação preliminar, os custos dos sistemas de transmissão em alta tensão em
corrente contínua, mais particularmente das linhas de transmissão propriamente dita,
mostram-se mais convidativos para as longas distâncias, além de sofrerem perdas
elétricas menores quando comparada à transmissão CA. Para distâncias mais curtas, o
uso da transmissão CC ainda pode ser justificado, apesar do maior custo com
equipamento de conversão, face a outros benefícios, tais como os demonstrados a
seguir [3].
No que diz respeito à operação, os sistemas do tipo HVDC permitem a transmissão de
energia entre os sistemas de transmissão de corrente alternada não sincronizados, sem
a necessidade de subestações intermediárias, uma vez que o fluxo de energia, através
de uma ligação HVDC pode ser ajustado, independente do ângulo de fase entre fonte e
carga. Esse sistema pode estabilizar uma rede contra as alterações devido às rápidas
mudanças de potência, como também permite a transferência de potência entre
sistemas operando em diferentes frequências, tais como 50 Hz e 60 Hz. Isso melhora a
estabilidade e a economia de cada sistema, permitindo troca de energia entre redes
incompatíveis.
2
Existem, atualmente, duas tecnologias em uso para conversores em sistemas HVDC:
VSC - Voltage Sourced Converter (Conversor Fonte de Tensão), com base em GTO ou
IGBT, e o LCC - Line Commuted Converter (também denominado CSC - Current Source
Converter ou Conversor Fonte de Corrente), com base em tiristores [3].
O CSC é, no momento, o mais utilizado e permite construir conversores de maior
potência e tensão. Em contrapartida, a transmissão com VSC-HVDC tem algumas
vantagens técnicas, podendo ser benéfica para a performance de todo o sistema. Essa
tecnologia é capaz de controlar tanto a potência ativa quando a potência reativa de
forma rápida e independente, provendo uma rápida resposta a perturbações. O seu
desempenho frente a afundamentos de tensão é outra vantagem a ser destacada, sendo
eficaz no abastecimento de cargas isoladas no sistema. Este tipo de conversores ainda
apresenta dimensões físicas menores quando comparado ao sistema CSC-HVDC.
Entretanto, algumas desvantagens devem ser mencionadas. Para eliminação de curto-
circuito na linha de transmissão CC, é necessária a abertura dos disjuntores CA dos
dois lados do sistema, visto que ainda não foram desenvolvidos disjuntores CC de
grande porte. Além disso, as perdas de comutação no VSC são maiores quando
comparadas ao HVDC convencional, visto que a frequência de chaveamento é maior do
que os conversores comutados pela linha. Há, contudo, a possibilidade do conversor
VSC se tornar um dos componentes mais importantes nos sistemas de potência no
futuro.
O VSC-HVDC é baseado no conversor fonte de tensão, em que as chaves são
compostas por IGBTs e a modulação PWM é utilizada para dar origem à forma de onda
de tensão desejada. Com a modulação PWM, é possível criar forma de onda com
qualquer ângulo de fase e magnitude da componente fundamental, desde que sejam
respeitados os limites de tensão no lado CC e de frequência de chaveamento do
dispositivo semicondutor. Para alterar qualquer uma dessas configurações, deve-se
realizar alterações nos parâmetros da modulação PWM, como a frequência da
portadora. Assim, é possível considerar o VSC como uma fonte de tensão controlável.
Este trabalho consistirá na introdução dos conceitos básicos, para fins didáticos, de um
sistema do tipo HVDC e os respectivos procedimentos para a sua implementação
prática através de um controle em malha fechada. Será indicada uma metodologia de
cálculo de parâmetros para controladores PI [13] e serão apresentados os princípios
para a utilização dos softwares PSIM e Code Composer Studio na geração de código e
exportação para o microprocessador TI F28335. Por fim, será proposta uma plataforma
na qual o sistema poderá ser testado e validado futuramente. Este protótipo possibilitará
3
a apresentação destes novos conceitos aos alunos de engenharia e poderá ser usado
para fins didáticos.
1.2 Motivação
Sendo o sistema HVDC uma das únicas maneiras viáveis para conectar duas redes fora
de sincronismo, podendo ser empregado em longas distâncias de transmissão
subterrânea e submersa, esse complementa, de forma satisfatória, a transmissão em
corrente alternada. Tendo diversas aplicações, tais como transmissão de energia por
longas distâncias, transmissão offshore, sistemas multiterminais, entre outras [3].
Em conjunto, é crescente a necessidade do estudo de novas estratégias de transmissão
de energia mais eficientes. Isso enfatiza a importância da inclusão de uma visão prática
sobre transmissão em corrente contínua ao escopo dos cursos de graduação em
Engenharia Elétrica, sobretudo vislumbrando preparar os futuros profissionais para um
mercado de trabalho cada vez mais exigente.
1.3 Objetivo
O objetivo do presente trabalho é apresentar os conceitos básicos sobre a transmissão
de energia em corrente contínua e alta tensão utilizando conversores fonte de tensão.
Além disso, será projetado um sistema VSC-HVDC em escala reduzida, que poderá ser
utilizado para fins educacionais. O sistema ora proposto, também possibilitará testes de
novas configurações de sistemas HVDC, como por exemplo, um sistema multiterminal
[4].
1.4 Visão Geral do Texto
O presente trabalho está estruturado da seguinte forma:
4
• Capítulo 1: “Introdução”. Neste capítulo faz-se uma breve apresentação do tema
que será abordado ao longo do trabalho (isto é, transmissão em corrente
contínua em alta tensão), bem como seus objetivos e organização.
• Capítulo 2: “Sistemas VSC-HVDC”. Neste capítulo será apresentada a teoria
relacionada aos sistemas do tipo VSC-HVDC, bem como a topologia, o controle
e os filtros a serem utilizados no projeto.
• Capítulo 3: “Sistema em Escala Reduzida”. Neste capítulo serão evidenciadas
as premissas adotadas para o projeto, o dimensionamento dos componentes a
serem utilizados e o cálculo de componentes do controle.
• Capítulo 4: “Simulações Realizadas e Teste em Bancada”. Neste capítulo são
apresentados os resultados obtidos através das simulações realizadas no
software PSIM, explicações relevantes sobre a geração de código e exportação
para o microprocessador. Também será proposta uma plataforma para futuros
testes com conversores e, em conjunto, serão evidenciados os resultados
parciais obtidos na mesma.
• Capítulo 5: “Conclusões”, em que são apresentadas, de forma sucinta, as
conclusões do trabalho.
5
2 Sistemas VSC-HVDC
Neste capítulo serão apresentados os conceitos básicos de sistemas do tipo VSC-
HVDC, bem como a sua configuração e a topologia dos conversores utilizados. Será
introduzido o embasamento teórico necessário para o entendimento do controle a ser
implementado, bem como a Teoria das Potências Instantâneas Ativa e Reativa (teoria
PQ) e conceitos de phase-locked loop (PLL). Também será feita uma conceituação
sobre a modulação por largura de pulso (PWM), necessária para a realização do
chaveamento dos dispositivos semicondutores, e os filtros a serem projetados.
2.1 Conceitos Básicos do Sistema VSC-HVDC
2.1.1 Configuração
Uma configuração básica do sistema VSC-HVDC é composta essencialmente de dois
conversores VSC a três condutores em ponte trifásica, um capacitor em cada terminal
do elo CC, filtros CA, reatores de fase, transformadores e o cabo CC. Este tipo de
configuração é representado em uma forma unifilar na Figura 1.
Figura 1: Configuração do sistema VSC-HVDC, adaptado de [2]
Neste tipo de configuração, o primeiro conversor opera como retificador, transformando
a corrente alternada em corrente contínua, para ser transmitida, e o segundo opera
como um inversor, transformando a corrente contínua da transmissão em corrente
alternada para a distribuição ou para ser entregue a outra linha de transmissão. Os dois
conversores são conectados ou na forma back-to-back ou através de cabos CC,
dependendo da aplicação. Vale lembrar que a operação como retificador ou como
Sistema
#1
Sistema
#2
Transformador Reator
de Fase
Conversor
Filtro CA Cabo CC
Capacitor CC
Filtro CA
6
inversor só depende do sentido do fluxo de potência, ou seja, ambos os conversores
possuem a mesma função.
Normalmente, os conversores são ligados ao sistema de corrente alternada através de
transformadores. Em alguns casos, utilizando conversores multiníveis, o uso dos
transformadores é dispensável [2].
O capacitor tem função de manter a tensão no elo CC constante, garantindo um ripple
de tensão dentro de limites aceitáveis, minimizando os efeitos dos harmônicos gerados
pelo chaveamento e mantendo estáveis os controles de corrente do conversor [3]. Além
disso, este realiza o balanço de energia instantaneamente. O dimensionamento do
capacitor CC dependerá da tensão necessária no elo.
O filtro CA tem como objetivo impedir que os harmônicos de alta frequência e
componentes CA de frequência fundamental, provenientes do chaveamento dos
semicondutores, se propaguem pela rede, o que causaria mau funcionamento dos
equipamentos do sistema. Os filtros passa-altas são instalados para amenizar esses
harmônicos de alta frequência. Em conversores do tipo VSC, a quantidade de
harmônicos de baixa ordem na corrente é pequena, reduzindo drasticamente a
quantidade de filtros neste tipo de conversores, em comparação aos conversores de
comutação natural [2].
Os reatores na saída do conversor têm papel de auxiliar na filtragem da tensão no Ponto
de Conexão Comum (PCC) entre o reator, o transformador e o filtro CA. Estes também
tem a função de ajudar no controle de corrente do conversor. Por outro lado, especificar
um valor alto para o reator de fase pode provocar queda de tensão elevada neste
componente (devido ao aumento da reatância indutiva do mesmo), podendo até
acarretar em limitação de potência do conversor. Portanto, o dimensionamento do reator
de fase deve ser feito com cautela.
2.1.2 Topologia do Conversor
A configuração de dois níveis é a mais simples que pode ser utilizada para construir
uma ponte VSC trifásica de comutação forçada e tem sido amplamente utilizada em
muitas aplicações, em diversos níveis de energia [2]. Sua topologia é apresentada na
Figura 2.
7
Figura 2: Topologia VSC de dois níveis
A ponte de dois níveis é constituída por seis chaves e cada uma consiste de um IGBT
e um díodo em antiparalelo. Com a finalidade de utilizar a ponte de dois níveis em altas
potências, a ligação em série dos dispositivos semicondutores pode ser necessária. O
número de dispositivos necessários é determinado pela potência nominal da ponte e a
capacidade de manipulação de energia dos dispositivos semicondutores.
Reunindo as características de comutação dos transistores bipolares de potência
(TBPs) com a alta impedância de entrada dos transistores de efeito de campo (FETs),
o IGBT se torna cada vez mais popular nos circuitos de controle de potência. Por um
lado, os TBPs apresentam vantagens quando utilizados no controle de correntes
elevadas. No entanto, por operarem como amplificadores de corrente, trazem certas
desvantagens em algumas aplicações. Por outro lado, os MOSFETs também são
vantajosos no controle de potências elevadas pelo fato de exigirem tensão para o
disparo. Porém, embora sejam dispositivos de alta impedância, têm como desvantagem
perdas em condução que variam com o aproximadamente com o cubo da tensão de
bloqueio. Combinando as vantagens dois tipos de transistores, o IGBT alia a facilidade
de acionamento dos MOSFETs com a velocidade de chaveamento e as pequenas
perdas em condução dos TBPs.
Uma chave completa de um IGBT consiste de um IGBT, um diodo em antiparalelo, um
driver de disparo, e um dissipador de calor [3]. A representação simplificada do mesmo
é encontrada na Figura 3 e, ao lado, é ilustrada a sua curva característica.
Em relação ao seu funcionamento, quando aplicada uma tensão positiva entre o gate e
o emissor, a corrente de base do IGBT começa a circular e o IGBT inicia a condução.
8
Por outro lado, basta aplicar tensão nula entre os terminais do gate e do emissor para
que a corrente de base do IGBT deixe de circular e o IGBT entra em estado de bloqueio.
Para descarregar a capacitância parasita rapidamente, basta aplicar tensão negativa
entre esses terminais.
Figura 3: Símbolo e curva característica de um IGBT
Como mencionado anteriormente, com o intuito de possibilitar a comutação de tensões
mais altas do que a tensão nominal de um IGBT, as chaves podem ser conectadas em
série, semelhante aos tiristores em sistemas HVDC convencionais, como mostrado na
configuração da Figura 4. Todos os IGBTs conectados em série devem ligar e desligar
no mesmo instante de tempo, para que seja possível alcançar uma tensão
uniformemente distribuída [3]. Na Figura 4, ainda estão ilustrados os diodos antiparalelo
às chaves, que garantem um caminho para a corrente reversa em caso de carga
indutiva.
Figura 4: Configuração série com diodo em paralelo
Analisando a configuração de duas chaves ligadas em série em uma mesma perna, é
de extrema importância que as duas chaves não fechem exatamente no mesmo
instante, o que provocaria um curto circuito no elo de corrente contínua. Por isso, é
imprescindível o uso de uma estratégia de segurança, criando um intervalo de tempo,
Q1
Q2
9
chamado de tempo morto, entre o instante em que a primeira chave da perna entra em
estado de bloqueio e o instante em que a próxima chave da perna começa a conduzir.
Neste intervalo de tempo, nenhuma das chaves da perna se encontra em estado de
condução. Em simulação, esse tempo morto pode ser incluído no bloco PWM.
2.2 Sistema de Controle
2.2.1 Estratégias de Controle
Em sistemas do tipo VSC-HVDC, o lado retificador controla a tensão CC e o lado do
inversor controla a potência ativa, como ilustrado na Figura 5, sendo possível que o fluxo
de potência circule em qualquer direção. Com o VSC-HVDC a potência reativa poder
ser controlada independentemente da potência ativa, usando modulação PWM é
possível controlar a potência reativa e a potência ativa de forma independente [2].
Figura 5: Metodologia de Controle
No controle de potência, para que as potências ativa e reativa possam ser controladas
por cada um dos conversores, é necessária a determinação de seus respectivos valores
de referência. Dessa forma, uma malha de controle adequada será capaz de rastrear
esse valor e convergir o valor medido a partir do circuito de potência ao mesmo, em
regime permanente.
O controle do sistema VSC-HVDC é baseado em um controle de corrente rápido com
realimentação. De forma análoga ao controle da potência, o controle de corrente deve
incluir sinais de referência para as correntes trifásicas para que haja a realimentação. A
10
referência de corrente é fornecida pelos sensores externos de medição que podem ser
de [2], tensão CC no elo, tensão trifásicas no lado CA, potência ativa, potência reativa
ou frequência.
Como será posto em evidência nas seções seguintes, no presente projeto, no controle
do retificador, a potência ativa terá valor de referência gerado a partir da tensão no elo
CC e, no controle do inversor, este será definido manualmente. Em ambos os controles
a potência reativa será mantida nula e os valores de referência para as correntes serão
gerados a partir das tensões trifásicas medidas no lado CA.
2.2.2 Controle de Tensão no elo CC
O controlador de tensão do elo CC é projetado para balancear o fluxo de potência do
sistema e garantir condições para o intercâmbio de energia no HVDC. Geralmente, o
projeto deste controlador visa a estabilidade do sistema tendo uma dinâmica mais lenta
que o controlador de corrente. Esse controle, como já mencionado, é feito pelo
retificador e seu esquema simplificado é ilustrado na Figura 6.
Figura 6: Simplificação do controle de tensão no elo CC
11
Primeiramente, através do controle de tensão, a medição de tensão no elo CC é
comparada com o sinal de tensão CC de referência, que é uma variável de entrada do
controle. Essa comparação gera um sinal de erro que, passando por um bloco
proporcional e integral, dará origem ao sinal de referência para a potência ativa. A
referência de potência reativa pode ser definida a partir de uma malha de controle da
tensão CA ou determinando um valor de fator de potência constante. No presente
trabalho, a referência de potência reativa foi mantida igual a zero, isto é, fator de
potência unitário. Estes sinais de referência servirão de entrada para o bloco de controle
calculador de referência de corrente em conjunto com as medições das tensões
trifásicas do circuito de potência.
Em seguida, através do controle de corrente, as correntes trifásicas medidas no circuito
de potência são comparadas com os sinais de corrente de referência gerados pelo bloco
calculador de referência de corrente. São gerados, então, os sinais senoidais nas
coordenadas dq que, através da transformada de Park que utiliza a referência de fase
de um PLL, serão transformadas para as coordenadas abc e servirão como referência
para o PWM. Essas referências, que possuem frequência igual à da sequência positiva
da tensão da rede, por sua vez, são comparadas com uma onda portadora triangular de
10 kHz de frequência. O resultado desta comparação, a cada instante, gera os sinais de
disparo para cada um dos seis IGBTs que compõem a ponte conversora, como será
explicado com mais detalhes na seção de modulação PWM.
A partir das realimentações do sinal de medição de tensão CC e do sinal de medição
das correntes trifásicas, a malha de controle tentará zerar o erro gerado por ambos os
sinais quando comparados aos seus respectivos valores de referência, fazendo com
que, em regime permanente, a tensão no elo CC seja igual ao valor determinado.
A explicação detalhada de cada um dos blocos de controle mostrados na Figura 6 será
apresentada na seção 2.2.4. Os blocos que simbolizam os sinais de tensões, as
correntes trifásicas e a tensão no elo CC representam o circuito de potência e, por isso,
aparecem em vermelho na ilustração. Por outro lado, os blocos que simbolizam o
controle do retificador, representam o circuito digital e, por isso, aparecem em azul. O
valor de referência para a tensão do elo CC é destacada em verde.
12
2.2.3 Controle de Potência
O controle da potência que flui no sistema é feito, como já mencionado, pelo inversor. E
seu esquema simplificado é mostrado na Figura 7.
Figura 7: Simplificação do controle de potência
Através do controle de corrente, de forma análoga ao controle de tensão no elo CC, as
medições de correntes trifásicas do circuito de potência são comparadas com os sinais
de corrente de referência gerados pelo bloco de controle calculador de referência de
corrente, para gerar os sinais das senóides trifásicas que serão as entradas de
referência do PWM. Neste caso, temos que o bloco de controle calculador de referência
de corrente tem como entrada as tensões trifásicas do circuito de potência e a referência
de potência reativa, como no caso anterior, e o sinal de referência para a potência ativa
que, neste caso, é uma variável de entrada do controle, em vez de ser calculada
internamente.
A partir da realimentação das correntes e tensões trifásicas, o valor de potência medido
no circuito, em regime permanente, convergirá ao valor de referência proposto a medida
que a malha de controle zera o erro entre a corrente de referência e a corrente de
medição. Essa metodologia terá uma descrição mais detalhada na seção 2.2.4.
Novamente, os sinais referentes ao circuito de potência aparecem em vermelho, os
blocos de controle, pertencentes ao circuito digital, aparecem em azul, e os sinais de
referência para a potência ativa e potência reativa são destacados em verde.
13
2.2.4 Controle Implementado
O controle proposto é baseado na Teoria da Potência Ativa e Reativa Instantânea [5] e
nas Transformadas de Clarke e de Park. Os diagramas de blocos que mostram, em
detalhes, a metodologia do controle do retificador e do inversor já apresentadas
previamente nas seções anteriores, pode ser visto na Figura 8 e Figura 9.
Figura 8: Esquema do controle implementado para o retificador
Figura 9: Esquema do controle implementado para o inversor
14
Neste esquema são evidenciadas as tensões trifásicas, Va, Vb e Vc, devidamente
medidas no circuito de potência que serão transformadas para as coordenadas αβ0. A
transformada de Clarke é válida para regimes permanentes e transitórios, assim como
para formas de ondas genéricas de tensão e corrente. É, na realidade, uma
transformação algébrica de um sistema de tensões e correntes trifásicas em um sistema
de referência estacionário. Ao contrário do sistema abc, este possui coordenadas
ortogonais, e não a 120°.
A transformação direta e inversa das tensões , , para , , são dadas por
(2.1) e (2.2).
= 23 .1 √2 1 √2 1 √2
1 − 1 2 − 1 20 √3 2 − √3 2
(2.1)
= 23 .1 √2 1 01 √2 − 1 2 √3 21 √2 − 1 2 − √3 2
(2.2)
Expressões similares podem ser encontradas para as correntes , e . Vale ressaltar
que uma das vantagens desta transformação é a separação de sua componente de
sequência zero ( e ).
As tensões, já nas coordenadas αβ0, serão a entrada do calculador de referência de
corrente que, junto com os sinais de referência de potência ativa e reativa, Pref e Qref,
darão origem às correntes de referência, nas coordenadas αβ0, através da equação
(2.3).
! !" = 1# + # −" %&'()&'(" , (2.3)
que serão transformadas para as coordenadas dq, dando origem a id ref e
iq ref. Em paralelo, as correntes de carga são medidas e transformadas também para as
coordenadas dq, dando origem a id med e iq med.
A transformação direta e inversa das tensões , para +, , são dadas por (2.4) e
(2.5).
15
-+, . = - cos 2 sin 2−sin 2 cos 2. " (2.4)
" = -cos 2 − sin 2sin 2 cos 2 . -+, . (2.5)
As variáveis de referência e as variáveis medidas serão comparadas e o resultado dessa
comparação será a entrada do controlador proporcional e integral, cuja metodologia
para o cálculo dos parâmetros será apresentada no capítulo 3.
Os sinais de saída dos controladores, são as tensões nas coordenadas dq. Após a
transformação para as coordenadas abc, essas tensões serão utilizadas para a geração
de pulsos para as chaves através do controle PWM, que será explicado na seção 2.4.
Ainda nos esquema da Figura 7 e da Figura 8, notamos mais uma variável, o θPLL, que
é obtida a partir do bloco PLL (Phase Locked Loop), um dos mais importantes circuitos
com aplicações eletrônicas de todos os tipos. O bloco PLL é, muitas vezes, encontrado
na forma de caixa preta em muitos softwares, porém, para melhor entendimento, ele foi
desmembrado para o projeto. Sua teoria é descrita a seguir.
2.3 Phase Locked Loop (PLL)
Visando o disparo preciso dos IGBTs, é fundamental que o sinal de disparo esteja
devidamente sincronizado com as grandezas elétricas da rede. Possíveis desvios na
frequência na rede, por exemplo, devem ser compensados para que a eficácia dos
conversores não seja comprometida.
Os circuitos de sincronismo são capazes de detectar, de forma contínua, a frequência
de grandezas alternadas do sistema. Dentre outras técnicas de modelagem para esses
circuitos de sincronismo, uma das mais comuns utilizada em equipamentos baseados
em eletrônica de potência é a sincronização através de circuitos PLL (Phase Locked
Loop).
O PLL é um sistema de controle capaz de gerar um sinal sincronizado com um dado
sinal de referência. Trata-se de um sistema de realimentação negativa que responde às
variações de fase e frequência do sinal de referência. Este altera a frequência de um
oscilador controlado, até que o sinal produzido por este esteja sincronizado com o sinal
de referência.
16
2.3.1 Estrutura Básica do PLL
A estrutura básica de um PLL é representada, em digrama de blocos, na Figura 10.
Nesse diagrama estão representados o sinal de referência, o detector de fase (PD –
Phase Detector), o filtro passa-baixas (LF – Loop Filter) e o oscilador controlado por
tensão (VCO – Voltage Controlled Oscilator).
Figura 10: Estrutura do PLL, adaptado de [6]
Em relação ao sinal de referência, existem duas possibilidades: uma em que os sinais
de entrada possuem frequências iguais, mas estão defasadas, e outra em que a
frequência de um dos sinais é maior que a frequência do outro. Como será mostrado na
próxima seção, o presente trabalho trata do primeiro caso.
A função do detector de fase (PD), como o próprio nome sugere, é detectar a diferença
de fase entre o sinal de referência e o sinal gerado na saída do oscilador (VCO). Ou
seja, este gera um sinal de tensão média linearmente proporcional à diferença de fase
entre a saída e a entrada.
O filtro de malha (LF) visa remover as componentes de altas frequências que estiverem
presentes no sinal de saída do detector de fase (PD), por este motivo também pode ser
denominado filtro passa-baixas. Esse bloco é de extrema importância, dado que as
componentes de altas frequências são prejudiciais ao funcionamento do oscilador
(VCO). Existem diversas modelagens para o filtro de malha, podendo ser ativos ou
passivos, e de diversas ordens, dependendo das necessidades do projeto.
O oscilador controlado por tensão (VCO), por definição, é capaz de controlar a sua
frequência de oscilação através de sua tensão de entrada. Em outras palavras, este
gera um sinal de frequência proporcional à entrada que irá realimentar o sistema até
17
que, em regime permanente, o sinal de saída do PLL esteja sincronizado com o sinal de
referência.
2.3.2 PLL Implementado
É importante destacar que a estrutura apresentada na Figura 10, corresponde a um PLL
monofásico logo, quando for necessário o uso de sinais de entrada trifásicos, pequenas
modificações devem ser feitas. Sinais trifásicos podem ser facilmente convertidos para
as coordenadas αβ através da transformada de Clarke, como mostrado anteriormente,
e, nesse novo referencial estacionário, o PLL monofásico pode ser modelado sem que
haja qualquer comprometimento do sinal de referência de entrada, como apresentado
em [7].
No presente trabalho, o bloco PLL foi modelado a partir do esquema do SRF-PLL
(Synchronous Reference Frame Phase Locked Loop) proposto em [8] e [7]. A
configuração básica desse PLL é mostrada na Figura 11.
Nessa configuração o sinal de referência é fornecido pelas tensões e . Essas
passam pelo bloco detector de fase (PD), representado pelo multiplicador, em conjunto
com os sinais de realimentação sin 2788 e cos 2788, gerando o sinal de entrada para o
filtro passa-baixas (LF), que é representado pelo controlador PI. Finalmente, o ângulo
θPLL é encontrado integrando a saída ω do controlador PI somada ao ωref de referência
do sistema, que é dado por 29(60;<) ≅ 377&?@/B. Após atingir regime permanente, a
frequência do sinal de saída θPLL é idêntica à frequência da tensão da rede elétrica,
60Hz.
Figura 11: Esquema simplificado do SRF-PLL, adaptado de [8]
18
O SRF-PLL apresenta bons resultados quando sujeito a tensões de alimentação não
distorcidas e equilibradas. Por outro lado, sob tensões de alimentação muito distorcidas
e/ou desequilibradas, a saída do PLL fica distorcida, sendo menos eficaz em
comparação a outras modelagens de PLL, como apresentado em [8]. No entanto, para
o presente projeto, esta configuração mostrou-se eficiente ao atendimento às exigências
do controle, em razão dos sinais de referência, que tem como origem a rede básica, não
apresentam elevados níveis de distorções suficientes para comprometer o
funcionamento do bloco.
As simulações realizadas com esta estrutura para o PLL e os resultados positivos
quanto ao sincronismo do seu sinal de saída com as grandezas elétricas da rede serão
apresentados mais à frente, no Capítulo 3.
2.4 Modulação Por Largura de Pulso (PWM)
O comportamento da tensão de saída de um conversor é feito controlando os tempos
em que as chaves semicondutoras estão ligadas ou desligadas. O valor médio da tensão
de saída depende dos tempos ton e toff, respectivamente, o tempo em que a chave está
em condução e o tempo em que a chave está em bloqueio. O método de controle
empregando frequência de comutação constante e controlando-se o tempo de
condução da chave é denominado Modulação por Largura de Pulso (PWM).
2.4.1 Conceitos Básicos
Na comutação PWM com uma frequência de comutação constante, o sinal de controle
do gate, que controla o estado (ligado ou desligado) da chave, é gerado comparando
um nível de tensão (sinal de referência) com uma forma de onda repetitiva, como
mostrado na Figura 12.
19
Figura 12: Diagrama de blocos do PWM, adaptado de [1]
Dentre as várias técnicas de modulação PWM existentes, o PWM seno-triângulo é uma
das mais usadas. O princípio desta estratégia se baseia na comparação de uma onda
senoidal de referência com uma onda triangular portadora, de frequência muito maior
que a frequência a ser sintetizada. Quanto maior a frequência da onda portadora, mais
simples é o projeto do filtro de eliminação de harmônicos. Por outro lado, maiores são
as perdas no conversor em função da alta frequência de chaveamento.
A razão entre a amplitude da forma de onda de referência ( !) e a amplitude da forma
de onda da portadora triangular (CD) define o índice de amplitude, dado por (2.6).
E = !CD (2.6)
Quando E ≤ 1, o conversor está operando na faixa linear, ou seja, a componente
fundamental da tensão de saída varia proporcionalmente com ma. Por outro lado,
quando E > 1, os picos das tensões de referência excedem o pico da onda triangular.
Neste caso, ocorre a chamada sobremodulação e a amplitude da componente
fundamental da tensão de saída varia com ma, porém de forma não-linear [1].
2.4.2 PWM Dois Níveis e Três Níveis
O PWM será dito de dois níveis quando existirem apenas dois valores possíveis para a
tensão de saída do conversor. Analogamente, o esquema de chaveamento será dito de
três níveis quando foram possíveis três níveis de tensão na saída do conversor. O
espectro harmônico desses sinais é diferente, sendo que, no caso do PWM de dois
níveis, os primeiros harmônicos que aparecem têm frequência em torno da frequência
de chaveamento. Já no caso do PWM três níveis esses harmônicos estão em torno do
dobro da frequência de chaveamento. Ou seja, quanto maior for o número de níveis na
saída, menor será a sua distorção harmônica.
Para as análises feitas a seguir, por simplicidade, será considerado o circuito do inversor
monofásico representado na Figura 13, adaptado de [1]. Conforme descrito na seção
anterior, a Figura 14 mostra a modulação de uma onda senoidal, produzindo na saída
uma tensão com dois níveis, na frequência da onda triangular.
20
Figura 13: Inversor monofásico
É possível ainda obter uma modulação a três níveis (positivo, zero e negativo). Este tipo
de modulação apresenta um menor conteúdo harmônico, como será mostrado a seguir.
A produção de um sinal de três níveis é ligeiramente mais complicada para ser gerado.
Uma maneira de fazê-lo, para um inversor monofásico, tomando como referência a
Figura 13, é de acordo com a seguinte sequência, adaptada de [12].
Figura 14: Sinais para um PWM de dois níveis
• durante o semiciclo positivo, T1 permanece sempre ligado; o sinal PWM é enviado
a T4 e o mesmo sinal negado (complementar) é enviado a T2.
21
• no semiciclo negativo, quem permanece conduzindo é T3; o sinal PWM é enviado a
T2 e o sinal negado (complementar) vai para T4.
Sendo assim, é possível comparar o comportamento do conversor operando com o
PWM de dois níveis e com o de três níveis. Os resultados dessa comparação, adaptado
de [11], para os sinais de corrente e tensão são apresentados na Figura 15. Com o
intuito de confirmar que distorção harmônica diminui conforme número de níveis do
conversor é aumentado, também foram comparados os espectros para ambos os casos.
O resultado dessa comparação é ilustrado na Figura 16.
Figura 15: Comparação entre as formas de onda de tensão e corrente em modulação PWM de 2 e 3 níveis
Figura 16: Comparação entre os espectros dos sinais PWM de 2 e 3 níveis
22
2.5 Filtros Passivos
Como já foi mencionado anteriormente, o chaveamento de conversores eletrônicos de
potência gera harmônicos na forma de onda sintetizada pelo conversor. Como
consequência, são geradas distorções em maior ou menor grau nessas formas de onda.
Sob o ponto de vista de sistemas de potência, estes harmônicos podem causar danos
nos equipamentos, tais como os transformadores e as máquinas elétricas, e nos cabos
elétricos por sobreaquecimento. A utilização de filtros CA e de técnicas de controle de
chaveamento PWM, como já explicado, possibilitam a minimização dos componentes
harmônicos indesejados.
Os filtros CA modelados para conversores VSC-HVDC são menores quando
comparados com os modelados para conversores convencionais e não são requisitados
para a compensação de potência reativa [3].
Uma das formas mais conhecidas para se medir o nível de distorção harmônica de uma
forma de onda é através distorção harmônica total (THD - Total Harmonic Distortion).
Dado que qualquer onda contínua e periódica pode ser decomposta em série de Fourier,
que caracteriza uma soma infinita de termos em seno e cosseno, de acordo com [1], o
efeito dos harmônicos de tensão num sistema de baixa, média ou alta tensão pode ser
quantificado por meio da razão (2.5). Em Vn é o valor eficaz da tensão harmônica de
ordem n e V1 é o valor eficaz da componente fundamental da tensão.
H;I = ∑ (KL#)MLN#KO# P100% (2.5) A escolha da configuração mais adequada ao projeto deve ser feita considerando
aspectos de atenuação da forma de onda e eficácia na filtragem da tensão no ponto de
interesse, avaliada através do THD, e de impacto da dinâmica do filtro no controle do
conversor. Determinado o valor de THD considerado razoável para o sistema projetado,
o dimensionamento inicial dos componentes do filtro é feito de forma matemática mas
dependerão de processos iterativos de simulação para que sejam feitos ajustes nas
dimensões dos mesmos e o filtro opere como desejado. Para a escolha dos
componentes do filtro e o modo de conexão dos mesmos, são apresentados a seguir
alguns tipos de filtros CA.
23
2.5.1 Tipos de Filtros CA
Em relação aos elementos que o compõem, segundo [9], os filtros CA podem ser: RC
série, a composição mais simples usada; shunt de sintonia única, composto por um RLC
série; shunt amortecido de segunda ordem, também conhecido como filtro passa-alta,
composto por R em paralelo com L, em série com C. Cada filtro é projetado
individualmente e sintonizado em uma determinada frequência com o objetivo de
atenuar certa quantidade de nível harmônico. O conceito de “sintonia” do filtro será
tratado a frente.
Em relação modo como são conectados, os filtros CA podem ser: série, impedindo que
os harmônicos passem do conversor para a rede elétrica ou linha CA, por serem
compostos de uma alta impedância série; ou shunt, desviando os harmônicos por uma
impedância shunt baixa; ou série shunt, realizando as duas ações em relação aos
harmônicos.
O filtro série deve carregar a corrente total do circuito principal e ser isolado
completamente para tensão plena para a terra. Essa configuração consome potência
reativa do circuito. O filtro shunt pode ser aterrado em um dos terminais e carrega
somente a corrente harmônica para a qual ele é ajustado mais a corrente fundamental,
muito menor que a corrente do circuito principal. Nesta configuração o filtro fornece a
potência reativa necessária e, pela composição de componentes citada, torna-se muito
mais barato que um filtro série de igual eficiência.
Pelo fato do filtro em configuração shunt apresentar algumas vantagens, como as
citadas, em relação à configuração série quando ambos são dimensionados em relação
ao lado CA do circuito, a seção a seguir tratará exclusivamente dessa primeira
configuração e trará sugestões e considerações para o dimensionamento desse filtro.
Uma última caracterização a ser feita, considerando que o filtro dimensionado é do tipo
shunt, é o fator de qualidade Q. Quando é dimensionado um Q elevado, temos o
chamado filtro ajustado, que é sintonizado em grau elevado a uma ou duas frequências
harmônicas mais baixas. Por outro lado, quando o Q é reduzido, temos o filtro
amortecido, que, se conectado em derivação, oferece uma baixa impedância em uma
banda ampla de frequências, compreendendo, por exemplo, os harmônicos de ordens
maiores. O segundo tipo é também chamado de filtro passa-alta.
24
3 Sistema em Escala Reduzida
Neste capítulo, serão evidenciados os cálculos realizados para o presente projeto. Será
apresentado o dimensionamento dos componentes do sistema, em conjunto a uma
proposta de dimensionamento para o filtro CA, que pode ser acrescentado ao projeto, e
por fim, será sugerida uma estratégia de cálculo dos ganhos para controladores
proporcionais e integrais.
3.1 Sistema Utilizado
Para o devido dimensionamento do sistema, é necessário especificar as premissas
iniciais de tensão e potência sob as quais o sistema será sujeito. Todos os conceitos e
relações matemáticas podem ser encontradas em maiores detalhes em [1].
Para a maior verossimilhança do projeto, o sistema tem como fonte de alimentação a
rede elétrica trifásica, ou seja, o mesmo é alimentado por 220V. Com esta condição, é
possível especificar a tensão a ser encontrada no elo de corrente contínua através da
relação (3.1). Em que, VDC é a tensão no elo de corrente contínua e VLL é a tensão
trifásica medida fase-fase de alimentação.
KRS = T3√29 K88U . 120% (3.1)
Após uma aproximação, a tensão desejada no elo de corrente contínua é de 400V. Foi
imposta também a condição de uma potência igual a 400 Watts.
3.2 Dimensionamento de Componentes do Sistema
Especificadas as condições desejadas, o passo seguinte é o dimensionamento dos
componentes utilizados no circuito. Para isso, é necessário especificar as bases do
sistema que devem ser normalizadas pelo valor de pico. As relações utilizadas são
evidenciadas em (3.3), (3.4) e (3.5).
25
VWXYZ[\ = VWXYZ]]√3 . √2 , (3.3)
IWXYZ[\ = SWXYZ√3VWXYZ]]. √2 , (3.4)
e
ZWXYZ[\ = aVWXYZ[\b#SWXYZ[\
(3.5)
Na Tabela 1 são apresentados os valores de base, todas monofásicas, para a potência,
tensão, corrente e impedância, a partir das relações (3.3), (3.4) e (3.5).
Tabela 1: Bases monofásicas do projeto
SBASE 400,00 VA
VBASE 179,63 V
IBASE 1,48 A
ZBASE 80,67 Ω
FP 1,0
Especificadas as bases do sistema, o próximo passo é o dimensionamento da
indutância LS, que é facilmente encontrada através da relação (3.6), retirada de [1].
c. de ≥ 0,05. ghiej (3.6)
Para o projeto, em específico, uma impedância correspondente a 1% da impedância
base se mostrou suficiente.
Na Tabela 2 são expostos os valores encontrados para os componentes utilizados no
sistema. Na Figura 17 esses componentes são evidenciados conforme sua localização
no circuito.
Tabela 2: Valores dos componentes do sistema
Componente Valor
Indutor 3 mH
Capacitor 1000µF
Resistência da fonte 0,1 Ω
26
Figura 17: Representação dos componentes dimensionados para o sistema
Os resultados encontrados também devem coincidir com valores comerciais disponíveis
no laboratório e, como este possui indutores de 1mH, uma associação série tornam
possível a implementação dos valores destacados.
A resistência da fonte é um valor estimado, podendo variar para cada caso. O capacitor
não foi calculado matematicamente já que seu dimensionamento foi dado através de
simulações com os valores disponíveis no laboratório e o apresentado foi o que mostrou
melhor performance.
3.3 Dimensionamento do Filtro CA
A topologia mais utilizada em projeto de filtros passivos é a RLC série, adaptada de [10]
e apresentada no Figura 18, por ser um modelo simples e de baixo custo. A
característica desse tipo de filtro, como mencionado, consiste em criar um caminho de
baixa impedância para reter as componentes harmônicas de corrente, impedindo que
sejam injetadas no sistema, conforme [9].
Figura 18: Configuração de um filtro shunt de sintonia simples
27
A sua impedância é dada por (2.6).
g!DkCl = m + n ocd − 1cpq (2.6) Em uma frequência ressonante, sua impedância é representada por uma baixa
resistência R. Sua banda passante é geralmente considerada como limitada pelas
frequências em que rg!DkClr = √2m. Nessa frequência, a reatância da rede se iguala a
resistência e o ângulo de fase é dado por ±45°. Considerando que a frequência angular sintonizada ωn seja dada por (2.7),
cL = 1√dp (2.7)
o desvio u, em p.u., da frequência a partir da frequência sintonizada seja (2.8),
u = c − cLcL (2.8)
a reatância do indutor XL e do capacitor XC são iguais a uma reatância X0 dada por (2.9)
quando c = cL,
w = cLd = 1cLp = dp (2.9)
e o fator de qualidade Q do indutor, também chamado de grau de sintonia do filtro, dado
em (2.10),
) = wm (2.10)
Podemos encontrar relações para os termos da equação (2.6), como segue. A partir de
(2.8), temos (2.11).
c = cL(1 − u) (2.11)
Substituindo (2.10) em (2.11) e reorganizando, para C, temos (2.12).
p = 1cL)m (2.12)
De forma análoga, para L, temos (2.13).
28
d = )mcL 2.13 Substituindo as relações encontradas (2.11), (2.12) e (2.13) em (2.6) e organizando,
tem-se (2.14).
g!DkCl m o1 $ n)u 2 $ u1 $ uq2.14 Como estamos interessados em pequenos desvios de frequência, podemos supor que
u 1. Consideraremos, então, a aproximação (2.15) para a impedância.
g!DkCl ≅ m1 $ n)2u w o1) $ n2uq2.15 O módulo da impedância será:
rg!DkClr ≅ my1 $ 4)#u# w 1)# $ 4u#2.16 O comportamento do módulo da impedância desse filtro em razão da frequência angular
ω, adaptada de [10], é ilustrada na Figura 19. Nesta, como já determinado, cL é a
frequência de ressonância, ou sintonizada, e Q é o fator de qualidade do filtro.
Figura 19: Característica da impedância do filtro
Analisando a Figura 19, quando a frequência angular é menor do que a frequência de
ressonância, c z cL,a impedância do filtro possui uma característica capacitiva. A
ressonância ocorre quando a frequência angular for igual a frequência de ressonância
(c cL). Na frequência angular cL, a impedância do filtro possui apenas parcela real
29
em virtude da resistência R, e a parcela imaginária da impedância do filtro é nula em
decorrência da soma das reatâncias indutiva e capacitiva. Nesta frequência, o ramo
RLC é percorrido com sua corrente máxima. Quando a frequência angular é maior do
que a frequência de ressonância (c z cL), o filtro possui impedância com característica
indutiva.
3.3.1 Filtros Projetados
Apesar dos diversos modelos de filtros citados, projetados especificamente para atenuar
os harmônicos de alta frequência da tensão no ponto de interesse, a indutância do
conversor também auxilia na filtragem destes harmônicos, como foi mencionado na
seção 2.1. Por outro lado, especificar um valor alto para o reator de fase pode provocar
queda de tensão elevada neste componente (devido ao aumento da reatância indutiva
do mesmo), podendo até acarretar em limitação de potência do conversor. Portanto, o
dimensionamento do reator de fase deve ser feito com cautela.
No presente trabalho, não houve a necessidade do projeto de um filtro CA já que o
conversor encontrado no Laboratório de Eletrônica de Potência, que será explicado em
mais detalhes no capítulo seguinte, possui um filtro LC integrado. Como será ilustrado
futuramente, é utilizado um banco capacitivo de 10µF conectado em Y e um banco de
indutores trifásico de 2mH. A única precaução que deve ser tomada é a devida inclusão
desse filtro nas simulações antes da realização de testes experimentais.
3.4 Cálculo dos Ganhos do Controlador PI
Dimensionados os componentes do sistema, o próximo passo é calcular os ganhos dos
controladores proporcionais e integrais empregados no controle. Os esquemas e as
relações apresentadas a seguir podem ser encontradas de forma mais detalhada em
[13].
A metodologia de controle utilizada pode ser dividida em duas partes: o controle de
corrente, que será empregado tanto no controle das chaves do retificador quando do
inversor, e o controle de tensão, que será empregado no controle das chaves do
retificador.
30
3.4.1 Controle de Corrente do Sistema HVDC-VSC
A Figura 20 mostra o diagrama esquemático simplificado de um conversor com
controlador de corrente e de potência ativa e reativa em seu controle, como o que é
aplicado ao controle do inversor deste projeto. Veremos a frente, que a estrutura deste
controle é análoga à do controle aplicado no retificador. De forma resumida, os sinais
de corrente e tensão trifásicas são transformados, conforme apresentado na seção
2.2.4, para as coordenadas dq e, então, processados pelos compensadores, que são
detalhados a seguir, para produzir um sinal de controle na coordenada dq. Por fim, os
sinais de controle são transformados para as coordenadas abc, que alimentam o
conversor VSC.
Figura 20: Diagrama esquemático do controlador de corrente e de potência ativa e reativa em coordenadas dq, retirado de [13]
Assumindo que o controle esteja operando em regime permanente, e considerando uma
frequência angular ω0, após manipulações matemáticas [13] é possível deduzir as
equações (3.7) e (3.8),
d @+@ dc, m $ &lL+ $ KC+ K|+ 3.7
31
d @,@ dc+ m $ &lL, $ KC, K|, (3.8)
Em que Vtd e Vtq são dados por (3.9) e (3.10), respectivamente, e c é a frequência de
operação do sistema (377 rad/s).
KC+ = KRS2 E+() (3.9)
KC, = KRS2 E,() (3.10)
As equações (3.9) e (3.10) representam o modelo de conversor VSC no plano dq. Nas
equações (3.7) e (3.8), id e iq são variáveis de estado, Vtd e Vtq são entradas do controle,
e Vsd e Vsq entradas de perturbação. Devido ao termo Lω0 nas equações (3.7) e (3.8),
as dinâmicas de id e iq são acopladas. Para compensar esse acoplamento,
determinamos md e mq como
E+ = 2KRS ~+ − dc, + K|+ (3.11)
e
E, = 2KRS ~, − dc+ + K|, (3.12)
Em que ud e uq são duas novas entradas do controle. Substituindo os valores
determinados de md e mq nas equações (3.9) e (3.10), respectivamente, e substituindo
por Vsd e Vsq nas equações (3.7) e (3.8), encontramos as relações
d @+@ = −(m + &lL)+ + ~+ (3.13)
e
d @,@ = −(m + &lL), + ~, (3.14)
As relações (3.13) e (3.14) são independentes e lineares de primeira ordem. Baseando-
se nestas relações, id e iq podem ser controlados por ud e uq, respectivamente.
Na Figura 21, o circuito da Figura 20 é representado em diagrama de blocos. O controle
de corrente é destacado para que fique evidente a analogia ao bloco da Figura 20. Nesta
representação, ud e uq são as saídas de dois controladores. O controlador do eixo d tem
32
como entrada o erro, ed = id ref - id, que dá origem a ud. Em seguida, a partir da relação
(3.11), ud fornece md. De forma análoga, o controlador do eixo q tem como entrada o
erro, eq = iq ref – iq, que dá origem a uq que, a partir da relação (3.12), fornece md.
Encontrados os valores de md e mq, o VSC os amplifica por um fator de VDC/2, gerando
Vtd e Vtq, que controlam id e iq a partir das relações (3.7) e (3.8).
Figura 21: Diagrama de bloco do controle de um sistema VSC de corrente controlada, adaptado de [13]
É possível esboçar um diagrama de blocos simplificado, evidenciado na Figura 22. Este
indica que as plantas de controle para os eixos d e q são idênticas. Por este motivo, os
controladores correspondentes também poderão ser idênticos. Finalmente, o bloco
+B ser configurado a partir de um controlador proporcional-integral (PI).
A função de transferência do bloco +B é dado pela seguinte relação
+B B $ DB 3.15 As parcelas e D são os ganhos proporcional e integral, respectivamente. Assim, o
ganho de malha do diagrama da Figura 21 será dado por
ℓB TdBU B $ D ⁄B $ m $ &lL d⁄ 3.16
33
Figura 22: Diagrama de blocos simplificado para o sistema VSC com controle de corrente da Figura 21, adaptado de [13]
Nota-se que, devido ao pólo da planta em B m $ &lL d⁄ , que é muito próximo da
origem, a magnitude e a fase do ganho de malha começam a diminuir a partir de uma
frequência relativamente baixa. Desta forma, o pólo da planta deve ser cancelado pelo
zero do controlador, B D ⁄ , e o ganho de malha assume a forma (3.17).
ℓB dB 3.17 Então, a função de transferência em malha fechada, dada por ℓB 1 $ ℓB⁄ , terá
forma (3.18)
+B+ !B DB 1DB $ 13.18 se as condições (3.19) e (3.20) forem atendidas.
d/D 3.19 D m $ &lL D⁄ 3.20
Em que D é a constante de tempo resultante do sistema em malha fechada.
A equação (3.18) indica que, se e D são escolhidos baseados em (3.19) e (3.20), a
resposta de +B para + !B será baseada em uma função de transferência de
primeira ordem cuja constante de tempo D é uma escolha específica para cada projeto.
Esta constante de tempo deve ser pequena para uma resposta rápida do controle de
34
corrente, mas suficientemente grande para que 1/D, a largura de banda do sistema de
controle em malha fechada, seja consideravelmente menor que a frequência de
chaveamento do sistema VSC. Dependendo dos requisitos de uma aplicação específica
e a frequência de chaveamento do conversor, D é normalmente selecionado no intervalo
de 0,5 a 5ms.
No caso do projeto, controle foi dimensionado para que o sistema obedecesse ao critério
de constante de tempo D igual a 5ms. Dado os valores dos componentes já
especificados anteriormente, resistor igual a 0.1Ω, capacitor 1000µF e indutor 3mH, e
considerando a resistência das chaves próxima de 0.88mΩ, os ganhos proporcional e
integral são calculados, respectivamente, a partir das equações (3.19) e (3.20), tendo
os valores apresentados em (3.21) e (3.22), respectivamente.
= . (3.21)
= . (3.22)
O ganho ,(B), a ser adotado para o eixo q, é idêntico ao ganho +(B).
Para a utilização em simulações, os ganhos +(B) e ,(B) serão utilizados para
encontrar os parâmetros do controlador PI. Dado que o controlador proporcional e
integral tem a forma (3.23) e os ganhos +(B) e ,(B) tem a forma (3.15), após
manipulações matemáticas simples, temos que o ganho do controlador e o tempo de
integração H são dados pelas relações (3.24) e (3.25), respectivamente.
% = BH + 1BH (3.23)
= (3.24)
H = D (3.25)
Substituindo (3.21) e (3.22) em (3.24) e (3.25), o ganho K do controlador e seu tempo
de integração T serão dados por (3.26) e (3.27), respectivamente.
= . [/] (3.26)
= . [] (3.27)
35
3.4.2 Controle de Tensão do Sistema HVDC-VSC
O sistema VSC representado na Figura 23 é conceitualmente igual ao apresentado na
Figura 20, exceto pelo fato da fonte CC ter sido substituída por uma fonte de tensão CC
variável e ter sido incluído um bloco para realimentação da tensão CC e respectivo
rastreamento da referência. O esquema de controle desse sistema representa o controle
aplicado ao retificador do projeto.
Como exposto anteriormente, o objetivo principal da segunda parte do controle é regular
a tensão no elo CC, VDC. Para que isso seja possível, o bloco para controle de tensão,
em destaque na Figura 23, é incluído. Neste bloco o quadrado da leitura de
realimentação da tensão CC é comparada ao quadrado do seu valor de referência,
gerando um sinal de erro que ajustará a potência ativa do sistema ao gerar o valor de
referência Pref que deverá ser rastreado. A potência reativa, por sua vez, pode ser
controlada de forma independente, sendo o seu valor de referência uma variável de
entrada a ser determinada. No presente projeto, como já mencionado, esta é regulada
da em zero.
Figura 23: Diagrama esquemático do controle de tensão no elo CC, [13]
36
É importante enfatizar que, nesta metodologia de cálculo proposta em [13], o
rastreamento da tensão CC é feito utilizando o quadrado do valor de referência e o
quadrado da medição de tensão no elo. A dinâmica de VDC2 pode ser representada por
(3.28).
@KRS#@ 2p % C − % +| − %e + T2d %e3K|+# U @%e@ + T2d )e3K|+# U @)e@ (3.28)
Em que VDC2 é a saída, PS é a entrada do controle, e Pext, Pperdas e QS são distúrbios de
entrada.
Para derivar a função de transferência (B) = %e(B)/%e !(B), devemos considerar a
condição (3.29), em que D(B) é dado pela relação (3.18).
+(B) = D(B)+ !(B) (3.29)
Assumindo que Vsd é constante e multiplicando ambos os lados da equação (3.29) por
(3/2)Vsd, obtemos a relação (3.30).
%e(B) = D(B)%e !(B) (3.30)
Deduzimos que (B) = D(B) e, baseado na equação (3.18), encontramos (3.31)
%e(B)%e !(B) = (B) = 1DB + 1 (3.31)
Notamos, porém, que a planta de controle apresentada em (3.28) é não linear devido
aos termos %e +7+C e )e ++C . A planta linearizada da mesma é apresentada em (3.32).
@KRS#@ = 2p % C − %e + T2d %e 3K|+# U @%e@ + T2d )e 3K|+# U @)e@ (3.32)
Em que os subscritos “~” e “0” representam, respectivamente, um pequeno sinal de
perturbação e o valor em estado permanente das variáveis.
Aplicando a transformada de Laplace na planta (3.32), é possível deduzir que a função
de transferência (B) = KRS# /%e é dada por (3.33).
(B) = − o2pq B + 1B (3.31)
Em que a constante de tempo τ é dada por (3.32).
37
2d%e3K|+# 2d% C3K|+# 3.32 A relação (3.32) indica que τ é proporcional ao fluxo de potência ativa em regime
permanente Pext0. A Figura 23 pode ser simplificada através do diagrama de blocos da Figura 24. O
esquema de controle é composto pelo compensador B, o controlador de potência
ativa B e o controlador da planta B.
Figura 24: Diagrama de blocos de controle do regulador de tensão do barramento CC com base no modelo linear, [13]
Para dimensionar B, primeiramente determinamos a frequência de ganho unitário,
ωc, que deve ser menor que a largura de banda de B, de forma que seja possível
assumir que nc ¤ 1 $ n0. Desta forma, B é projetado para a pior condição de
operação, ou seja, quando B tem fase mais atrasada pelo valor negativo de Pext. Como a função de transferência B é de primeira ordem, o método do lugar das raízes
pode ser uma boa opção para o dimensionar B de forma que o sistema seja estável
(lugar das raízes localizado no semi-plano da esquerda) . A vantagem do método do
lugar das raízes é que os índices de desempenho, como o percentual de overshoot e
tempo de acomodação, estão relacionados com os pólos e zeros da função de uma
forma mais simples [14].
Os índices de desempenho podem ser escritos de acordo com (3.33) e (3.34).
%¥% 'P¦T §9y1 §#U . 1003.33
38
| 4§cL (3.34)
Com algumas manobras algébricas, podem-se encontrar os valores de § e cL, como em
(3.35) e (3.36), respectivamente.
§ = (ln %¥)#(ln %¥)# + 9# (3.35)
cL = 4§| (3.36)
Os índices de desemprenho utilizados para o sistema em questão devem ser tais que
se obtenha um sistema sub-amortecido (constante de amortecimento menor que 1) com
tempo de acomodação próximo de 50ms e valor de pico de, no máximo, 5%. Utilizando
a relação (3.35), encontramos um valor para a constante de amortecimento § igual
(3.37).
§ = 0,6901 (3.37)
Concluímos que, qualquer valor entre (3.37) e 1 fornece uma porcentagem satisfatória
de overshoot. Consideraremos, então, uma constante de amortecimento § igual a 0.7.
Como já evidenciado anteriormente, será considerada uma constante de tempo D igual
a 5ms, o que corresponde a uma função de transferência de (B) e D(B) igual a (3.38).
(B) = D(B) = 200B + 200 (3.38) A equação (3.38) indica que a largura de banda da função de transferência (B) é 200
rad/s. Assim, para o controle da planta da Figura 24, escolhemos ωc sendo um quinto
da largura de banda de (B), desta forma, ωc é dado por (3.39).
c = 40 &?@/B (3.39)
A função de transferência da planta da Figura 24 será dado por (3.41).
ℓ(B) = −(B)(B)(B) (3.40)
ℓ(B) = (B) 2(B + 1)pB(DB + 1) (3.41)
39
É importante lembrar que B será dimensionado para o pior ponto de operação, que
no presente projeto %e 400©. Além disso, para garantir erro zero em regime
permanente, B deve incluir um termo de integração e um proporcional, como já era
esperado.
Substituindo os valores das componentes de circuito e dos índices de desempenho
propostos, é possível encontrar uma das possíveis combinações para valores dos
parâmetros do controlador, (3.43) e (3.44). Esse dimensionamento forneceram uma
resposta estável para o sistema, atendendo, de forma satisfatória, as exigências do
projeto.
ª. « (3.43)
= «. ª (3.44)
Ainda respeitando o controlador proporcional e integral de forma (3.23), temos que o
ganho do controlador e o tempo de integração H são dados por (3.45) e (3.46),
respectivamente.
= ª. « [/] (3.45)
= . [] (3.46)
40
4 Simulação e Teste em Bancada
Neste capítulo serão apresentadas as simulações realizadas no software PSIM, será
descrito o processo de exportação do código gerado pelo PSIM que será recebido pelo
microprocessador TI F28335, assim como o funcionamento do mesmo para o
processamento dos sinais digitais. Será apresentada, por fim, uma proposta de
plataforma que possibilitará testes futuros e, em conjunto, os resultados experimentais
preliminares encontrados.
4.1 Simulações Realizadas
Como o sistema do tipo HVDC-VSC consiste em dois conversores, para simplificar os
possíveis ajustes necessários, as simulações serão divididas em duas etapas. Primeiro,
será testado um sistema que consiste apenas na primeira parte do sistema, o retificador.
Em seguida, a segunda parte do sistema, o inversor, é acoplada.
Para ambas as simulações foi considerado um capacitor inicialmente carregado no elo
CC. Essa é uma das formas de simular a pré carga que deve ser utilizada na montagem
experimental para amenizar os picos durante o estado transitório.
4.1.1 Simulação do Retificador (Primeira Parte do S istema HVDC-VSC)
Para esta primeira etapa de simulação, foi utilizado o circuito apresentado na Figura 25.
As dimensões dos componentes utilizados nesta etapa de simulação estão devidamente
evidenciadas nesta representação.
A primeira verificação que deve ser feita em relação ao controle é o ângulo gerado pelo
PLL. Este será o principal componente responsável pelo chaveamento correto dos
dispositivos semicondutores e deve ter a forma de um sinal dente de serra sem
distorções. É importante verificar se o mesmo apresenta a frequência proposta para o
sistema, que no caso é 60Hz, e se rastreia a entrada de referência corretamente. Como
ilustrado na Figura 26, o sinal de θPLL atende às exigências citadas, rastreando a
componente da tensão em alpha.
41
Figura 25: Representação do circuito utilizado na simulação do retificador
Figura 26: Ângulo de fase extraído pelo PLL e os dois sinais de referência de entrada na simulação do retificador
A próxima verificação referente aos sinais de controle é o comportamento da frequência
angular gerada pelo bloco PLL, que deve ser capaz de rastrear o seu valor de referência.
Para observar este rastreamento, foi aplicado um degrau de frequência, ou seja,
inicialmente o sistema opera a 60Hz e, a partir do instante de 0,2s, essa frequência é
reduzida para 50 Hz. Esse degrau da frequência de referência fica evidente na Figura
27, em que o ωREF é iniciado em 377 rad/s e, no instante 0,2s, é reduzido para 315 rad/s.
Na Figura 27, também é mostrado que o ωPLL rastreia as referências propostas e que
alcança o regime permanente (±2% valor final) antes do tempo de acomodação de 50ms
projetado.
0.01 0.02 0.03 0.04 0.05Time (s)
0
-2
2
4
6
8
Theta_pll Valpha Vbeta
42
É importante ressaltar que esse degrau de frequência aplicado só servirá para observar
o comportamento do ωPLL e averiguar se o bloco PLL funciona como o esperado. O
restante da simulação é realizado respeitando a frequência de 60 Hz da rede básica.
Figura 27: Frequência angular gerada pelo PLL na simulação do retificador
A última verificação relacionada às variáveis geradas pelos blocos de controle é o
rastreamento das correntes de eixo direto e de quadratura, Id e Iq, em função de seus
respectivos valores de referência. Como ilustrado na Figura 28, essas correntes
medidas acompanham os valores determinados como referência.
Figura 28: Correntes Id e Iq e suas respectivas referências na simulação do retificador
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5Time (s)
300
320
340
360
380
400
420
wPLL wREF
(pu)
(pu)
(pu)
(pu)
43
Finalizadas as análises dos sinais gerados pelo controle, temos que observar o
comportamento do sinal de tensão no elo de corrente contínua até que o mesmo
apresente o valor determinado em regime permanente, que no caso é 400V. Outra
importante consideração é o tempo de acomodação do sistema, ou seja, o tempo que o
sistema demora a atingir ±2% do valor projetado em regime permanente, que foi
inicialmente determinado como 50ms.
Como ilustrado na Figura 29, o sistema atinge o valor de regime permanente antes do
tempo de acomodação. Podemos ainda analisar o overshoot inicial de simulação, posto
em evidência na Figura 29, que respeita o percentual de 5% projetado.
Figura 29: Tensão no elo CC da simulação do Retificador
A última avaliação a ser feita nesta primeira etapa de simulação é a resposta do sistema
quando aplicado um degrau de carga, utilizando o esquema das chaves acionadas por
tempo ilustrado na Figura 25, ou seja, no instante de simulação igual a 0,2 s, o resistor
de 400Ω é aberto e o resistor de 200Ω é integrado ao circuito. O degrau de carga fica
evidente na Figura 30, em que a corrente de carga é dobrada no instante 0,2s.
Novamente, deve ser observado o rastreamento das correntes de eixo direto e de
quadratura, Id e Iq, em função de seus respectivos valores de referência. Como ilustrado
na Figura 31, essas correntes medidas acompanham suas referências, como na
simulação sem degrau de carga. É possível notar que a corrente Id não sofre
perturbações quando o degrau de carga é aplicado.
(V)
44
Figura 30: Forma de onda da corrente de carga
Figura 31: Correntes Id e Iq e suas respectivas referências na simulação do retificador com degrau de carga
Finalmente, a resposta do sistema a esse degrau de carga é apresentada na Figura 32.
Notamos que, ao dobrar a carga, a tensão CC sofre uma oscilação que respeita o limite
de overshoot de 5% e se estabiliza dentro do tempo de acomodação de 50ms.
Dado que a primeira parte do sistema HVDC-VSC funcionou como o esperado, a
segunda parte, o inversor, pode ser acoplada e análises análogas serão realizadas.
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5Time (s)
0
0.5
1
1.5
2
2.5
I_carga
0
-5
-10
5
10Id_med Id_ref
0.1 0.2 0.3 0.4 0.5Time (s)
0
-5
-10
5
10Iq_med Iq_ref
(A)
(pu)
(pu)
(pu)
(pu)
45
Figura 32: Tensão no elo CC da simulação do Retificador com degrau de carga
4.1.2 Simulação com Inversor Acoplado (Sistema HVDC -VSC Completo)
Para esta segunda etapa de simulação, foi utilizado o circuito apresentado na Figura 33.
A dimensão dos componentes utilizados nesta etapa de simulação está devidamente
evidenciada nesta representação.
Figura 33: Representação do circuito utilizado na simulação do sistema completa
Dado a complexidade do sistema proposto, para esta segunda parte da simulação
encontrou-se a necessidade da ocorrência dos eventos do projeto em etapas distintas.
Na Figura 34 cada etapa é evidenciada e os eventos correspondentes às mesmas são
enumerados a seguir.
(V)
46
Figura 34: Sequência de simulação
• ETAPA 1: o sistema começa a ser energizado e o controle do retificador mantém-se
desabilitado, ou seja, o retificador opera a diodo. A chave que realiza o acoplamento
do inversor ainda se encontra aberta.
• ETAPA 2: o controle do retificador é habilitado e o controle da tensão no elo CC é
iniciado. Em conjunto, os seis primeiros IGBTs começam a chavear;
• ETAPA 3: é fechada a chave que acopla a segunda parte do sistema ao retificador
e, neste momento, o controle do inversor permanece desabilitado.
• ETAPA 4: o controle do inversor é habilitado e os últimos seis IGBTs começam a
conduzir. Porém, ainda não há injeção de potência no sistema.
• ETAPA 5: a injeção de potência de referência é iniciada e o sistema começa a operar
de forma completa.
O primeiro passo na análise dos sinais, como já feito na primeira parte da simulação, é
a verificação dos sinais para os ângulos gerados pelos blocos PLLs, do retificador e do
inversor. Como ilustrado na Figura 35, notamos que ambos os θPLL atendem à exigência
de rastreamento de uma das senoides determinadas como referência de entrada do
bloco.
Figura 35: Ângulo gerado pelo PLL da simulação do Sistema Completo
47
A próxima verificação é a frequência angular gerada pelo bloco PLL. Como evidenciado
na Figura 36, ambos os ωPLL oscilam sobre referência de 377 rad/s respeitando o limite
de overshoot projetado. É possível observar também o comportamento de ambos os
sinais dada cada uma das etapas de alteração no circuito de potência.
Figura 36: Frequências angulares geradas pelos PLLs na simulação
A última verificação referente ao controle é em relação às correntes de eixo direto e de
quadratura, Id e Iq, em função de seus respectivos valores de referência. Como ilustrado
na Figura 37, essas correntes medidas acompanham os valores determinados como
referência. Deve-se atentar para o fato de que a ausência de filtros CA no sistema
implicam em uma maior ocorrência de ripples, isso fica evidente ao comparar o
comportamento dessas correntes, na Figura 37, em relação à primeira etapa de
simulação, sem o acoplamento do inversor, na Figura 28.
Finalmente, na Figura 38 podemos visualizar o comportamento da tensão do elo CC no
instante de cada uma das etapas enumeradas. Quando operando apenas a diodo, é
sabido que a saída do retificador deve ser igual a 135% da tensão de linha trifásica. Na
simulação, a tensão no elo CC tem valor aproximadamente igual ao valor teórico de
1,35 ∗ K88 = 1,35 ∗ 220 = 297K.
Notamos ainda que o sistema, em regime permanente, alcança os 400V propostos.
Considerando que esse começa a operar em plenitude no instante de 0.6s, o sistema
300
320
340
360
380
400wPLL_ret
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1Time (s)
300
320
340
360
380
400wPLL_inv
48
respeita tanto o critério imposto de tempo de acomodação de 5ms como o de overshoot
máximo de 5%.
Figura 37: Correntes Id e Iq e suas respectivas referências na simulação do sistema completo
Figura 38: Tensão no elo CC da simulação do Sistema Completo
(V)
49
4.1.3 Código de Proteção
No que diz respeito ao funcionamento do circuito experimentalmente, é importante que
seja incluído na simulação um bloco de código responsável pela proteção do sistema.
Quando o sistema é implementado em bancada, possíveis picos de tensão e corrente
ou falhas técnicas podem ocorrer, o que provocaria danos aos equipamentos. Por
razões de segurança, o código implementado deve ser capaz de identificar três tipos de
faltas possíveis:
• Sobretensão : o valor de tensão no elo de corrente contínua atinge um valor acima
do valor especificado.
• Sobrecorrente instantânea : os valores de pico das correntes trifásicas atingem
níveis superiores, em módulo, ao valor especificado.
• Sobrecorrente temporizada : os valores RMS das correntes trifásicas atingem
níveis superiores ao valor especificado.
O fluxograma do código é ilustrado na Figura 39.
No caso da sobretensão e da sobrecorrente instantânea, os códigos se baseiam apenas
na comparação do sinal recebido, a cada instante, com o valor de tensão ou corrente
estipulado pelo usuário.
No caso da sobrecorrente temporizada, não é possível realizar cálculos de integrais
digitalmente, logo o código se baseia na comparação do valor determinado pelo usuário
com o somatório de sinais armazenados durante um período Ti dividido por esse
período.
Esse último tipo de proteção é necessário devido ao fato de, apesar da corrente não
ultrapassar o valor máximo de pico, um dado nível de corrente por um grande intervalo
de tempo também pode danificar o equipamento.
Na hipótese de que um desses valores de análise ultrapasse os limites propostos, o
PWM deve entrar em estado de bloqueio e os dispositivos semicondutores finalizam o
chaveamento. Por outro lado, o usuário também deve ser capaz de bloquear o
funcionamento do PWM manualmente, logo uma variável de entrada brk também deve
ser incluída no código.
50
Figura 39: Fluxograma para código de proteção
51
Um detalhe importante que também deve ser incluído é o acionamento do PWM
somente a partir de um degrau de descida. Ou seja, considerando que o controle seja
iniciado com o PWM em bloqueio (bloq = 1), o usuário deverá entrar com brk = 0 para
que, na inexistência de faltas de tensão ou corrente, o PWM funcione.
Essa medida de segurança é de extrema importância na hipótese de que, em operação
normal de brk = 0, ao ocorrer um erro, o PWM é bloqueado (erro > 0, logo bloq = 1) mas,
após a extinção da falta, o sistema retornaria com o valor de erro = 0 e,
consequentemente, bloq = 0 e o PWM voltaria a funcionar instantaneamente.
Com o acionamento por degrau de descida, mesmo que o erro seja zerado pelo sistema,
o usuário deverá entrar com brk = 1 e em seguida com brk = 0 para que, então, o PWM
seja acionado novamente.
4.2 Microprocessador TI F28335, Geração de Código e
Utilização do Code Composer Studio
O Code Composer Studio pode ser usado para desenvolver o código de funcionamento
do DSP, porém esta não é a proposta do projeto, já que o código usado será
desenvolvido automaticamente pelo PSIM. Portanto, este capítulo se limita a explicar
como compilar e rodar o código no DSP, assim como o funcionamento no mesmo.
4.3.1 Microprocessador TI F28335
O Digital Signal Processor (DSP) é um microprocessador de sinais digitais que tem
velocidade operacional superior quando comparado a outros microcontroladores. Além
de ser otimizado em relação ao cancelamento de ruídos.
Para escrever o código de funcionamento do DSP pode-se, por exemplo, usar
linguagem C/C++ ou ferramentas como Matlab/Simulink, sendo que, em todos esses
casos, o usuário necessita ter conhecimento de programação relativamente avançado.
No entanto, foi desenvolvida uma ferramenta facilitadora dentro do simulador PSIM
chamada SimCoder. Nele é possível gerar automaticamente o código para o DSP TI
F28335 e, portanto, este foi escolhido para realizar as simulações do projeto. Após a
52
geração do código pelo SimCoder, este é exportado para o Code Composer Studio,
onde o projeto é compilado e rodado no DSP.
Para que se possa usufruir desta funcionalidade, será utilizado o DSP TMS320F28335,
ilustrado na Figura 40, que possui diversos periféricos como, por exemplo, canais PWM,
conversor analógico-digital, pinos I/O de entrada e saída, entre outros. Para integrar a
placa com o software de desenvolvimento é utilizado o emulador USB mostrado na
Figura 41.
Figura 40: DSP TMS320F28335
Figura 41: Emulador USB da Recriar Tecnologias
53
4.3.2 Geração do Código no PSIM
O SimCoder é um módulo do PSIM onde um código em C genérico é gerado
automaticamente, após a simulação do circuito esquemático. Além disso, se for utilizado
o DSP de ponto flutuante TI F28335 da Texas Instruments, o SimCoder gera um código
pronto para rodar no DSP, sem nenhuma necessidade de alteração.
Todos as informações postas em evidência podem ser vistas, em mais detalhes em [15].
Abaixo, segue o passo-a-passo de como gerar o código no PSIM, compilá-lo, abri-lo no
Code Composer Studio e rodá-lo no DSP.
1. Ao montar o projeto, adicione os componentes usados na geração do código, como
DSP Clock e Hardware Configuration, mostrados na Figura 42, que podem ser
encontrados em Elements → SimCoder → TI F28335 Target, como mostrado na
Figura 43.
Figura 42: Componentes usados para geração do código
Figura 43: Como importar os componentes usados para geração do código
54
2. Com o circuito pronto, antes de fazer a simulação, deve-se configurar o projeto para
funcionar no Code Composer Studio. Isto é feito no Simulation Control, escolhendo-
se o elemento e a configuração em Hardware Target. Neste caso, o elemento
utilizado é o TI F28335. Os tipos de configurações estão listados abaixo:
• “RAM Debug”: Compilar o código no modo “debug” e rodá-lo na memória RAM;
• “RAM Release”: Compilar o código no modo “release” e rodá-lo na memória
RAM;
• “Flash Release”: Compilar o código no modo “release” e rodá-lo na memória
Flash;
• “Flash RAM Release”: Compilar o código no modo “release” e rodá-lo na
memória RAM.
Será utilizado o modo “Ram Debug”, como mostra a configuração da Figura 44. O
código só é gerado se o controle estiver na forma discreta, não na forma contínua.
Frequentemente, a primeira simulação é feita na forma contínua e só então
convertido para a discreta.
Figura 44: Configuração do Simulation Control
55
3. Depois de simular o circuito na forma discreta, o código pode ser gerado em
Simulate → Generate Code e aparecerá numa janela aberta automaticamente.
Como ilustrado na Figura 45. O PSIM também gera uma pasta com todos os
arquivos necessários para rodar o projeto no Code Composer Studio.
Figura 45: Exibição do código gerado
4. Com a pasta do código criada no mesmo local do arquivo do projeto, como mostrado
na Figura 46, siga o passo-a-passo descrito na seção seguinte para compilar o
código e rodá-lo no DSP.
Figura 46: Criação da pasta com o código gerado
56
4.3.3 Utilização do Code Composer 5
O objetivo é compilar, carregar e, em seguida, rodar um programa no microprocessador
e observar os sinais gerados. Para isso, deve-se estabelecer a comunicação entre
software de desenvolvimento e o microprocessador. Segue abaixo o passo-a-passo
para realizar esta comunicação.
1. Ao abrir o Code Composer Studio 5, a tela apresentada será como da Figura 47.
Figura 47: Tela inicial do Code Composer Studio
2. Importar o projeto para convertê-lo, já que o código gerado pelo PSIM não é de
formato compatível com o Code Composer Studio 5. Este processo é ilustrado na
Figura 48.
Figura 48: Passo 1 para importação do arquivo de código
57
3. Selecionar Legacy CCSv3.3 Project , como na Figura 49 e clique em Next.
Figura 49: Passo 2 para importação do arquivo de código
4. Selecionar o arquivo .pjt do projeto que se deseja compilar, como na Figura 50. E
depois clique em Finish na tela da Figura 51.
Figura 50: Passo 3 para importação do arquivo de código
58
Figura 51: Passo 4 para importação do arquivo de código
5. Para abrir o projeto, basta dar dois cliques rápidos no arquivo .c ou .pjt , como na
Figura 52. Neste momento, o DSP já deve estar conectado ao computador.
Figura 52: Passo para abrir o projeto
59
6. Para fazer a conexão com o DSP, deve-se configurá-lo em New Target Configuration . Para isso, clique em Target Configuration , como mostrado na Figura 53, e em New Target Configuration , como mostrado na Figura 54.
Figura 53: Passo 1 para configurar o DSP
Figura 54: Passo 2 para configurar o DSP
60
7. Nomeie a configuração do DSP, como na Figura 55
Figura 55: Passo 3 para configurar o DSP
8. Na parte inferior da tela referente ao DSP que está sendo configurado, existem as
abas Basic, Advanced e Source. Em Basic, selecione na lista de Connection a
opção Texas Instruments XDS100v2 USB Emulator , como mostrado na Figura 56.
Figura 56: Passo 4 para configurar o DSP
9. Após selecionar o emulador, selecione o tipo do DSP em Board or Devices escolha
o DSP que será usado, o Experimenter’s Kit – Delfino F28335 como na
10. Figura 57. Finalize a configuração clicando em save.
61
Figura 57: Passo 5 para configurar o DSP
11. Finalizando a configuração, clique em Debug (Figura 58) ou no atalho do teclado
F11.
Figura 58: Passo 1 para rodar o código
62
12. Caso nenhum erro seja encontrado pelo programa, agora o código deve ser rodado
no DSP em Run como na Figura 59.
Figura 59: Passo 2 para rodar o código
13. Neste momento, o programa já está rodando o código no DSP e a interface fica
como na Figura 60.
Figura 60: Interface final do Code Composer Studio
63
4.3 Testes Realizados em Bancada
Visando validar a teoria apresentada anteriormente, iniciaram-se testes em bancada
com o conversor desenvolvido pela Recriar Tecnologias, encontrado no Laboratório de
Eletrônica de Potência. Inicialmente, o intuito do projeto seria realizar os experimentos
na bancada didática, mas, por problemas técnicos relacionados às conexões da mesma,
a realização de testes preliminares foi impossibilitada. Realizando os devidos ajustes,
esta bancada didática pode ser utilizada futuramente, por isso, seu detalhamento é
encontrado no Apêndice A.
4.3.1 Bancada Eletrônica
Para o melhor entendimento da montagem da bancada experimental, na Figura 61 é
apresentado um esquema de blocos simplificado que ilustra as conexões do conversor.
Figura 61: Esquema de montagem da bancada eletrônica
Na Figura 62 é ilustrado o esquema da disposição dos elementos do conversor cujas
ligações respeitam o esquema de cores da Figura 61. Na Figura 63 a foto da bancada
facilita a identificação de cada elemento, devidamente numerados em função da Figura
62.
64
Nesse esquema da Figura 62, temos a entrada das tensões trifásicas através de um
disjuntor trifásico que é ligado ao barramento, neste ponto são coletados os dois sinais
de tensão de linha. O barramento é ligado ao capacitor do filtro LC, que, como já
mencionado, é composto por um banco capacitivo de 10µF conectado em Y e um banco
de indutores trifásico de 2mH. Do indutor, temos uma ligação para o conversor, onde
são realizadas as três medições de corrente.
Todas as medições são enviadas para o DSP, onde o código é rodado, que envia os
pulsos de chaveamento para o conversor. Por fim, temos o ponto de alimentação CC.
No lado da pré-carga, temos a alimentação auxiliar que é ligada à fonte e ao disjuntor
monofásico. O sistema de proteção, composto pelo relé e pelo diodo também são
alimentados nesta parte da bancada.
Figura 62: Esquema da disposição da bancada eletrônica
Figura 63: Foto da bancada eletrônica
65
Como mencionado, a bancada é composta por um sensor de tensão para o elo CC, dois
sensores de tensão para as tensões linha-linha e três sensores de corrente para as
correntes de fase. A seguir, são descritos todos os sensores acoplados ao conversor,
juntamente com seus ganhos e suas respectivas entradas analógicas no DSP TI
F28335. Também são evidenciadas as saídas do bloco PWM trifásico F28335.
4.3.1.1 Medição de tensão CA
No conversor são medidas 2 tensões de linha, Vab e Vbc. A medição é feita em três
estágios:
• Isolador por alta impedância → G1 = (100. 10®)/(4. 10¯)
• Atenuador → G2 = (1,5. 10®)/(10. 10®)
• Soma de nível CC para condicionamento à faixa de 0 a 3 V do ADC → Offset ≈ 1,5V
Ganho do sensor de tensão CA:
²³´µ = ²¶· ∗ , «ª + , ª
Canais AD
²¸¹ → »«
²¹¼ → »½
4.3.1.2 Medição de Tensão no elo CC
A medição de Vcc é feita com o sensor LEM LV20-P, em dois estágios:
• É utilizada a resistência de entrada igual a 50e3 e a resistência de medição igual a
120R → G1 = (120)(2,5)/(50. 10®)
• Segundo ganho → G2 = 1,25
Ganho do sensor de tensão CC:
²³´µ = ²¶· ∗ , ª
66
Canais AD
²¾¾ → »ª
4.3.1.3 Medição de Corrente CA
São utilizados três sensores CEM HXS20-NP para a medição das correntes trifásicas,
separada em duas etapas:
• Ganho do Sensor → G1 = 0.625/20
• A saída do sensor possui um nível CC com uma referência interna de 2,50V (ver
manual do sensor para maiores detalhes). É utilizado um amplificador diferencial
com ganho unitário, a fim de eliminar este nível CC, então é somado o nível CC de
1,50V. → Offset ≈ 1,5V
Ganho do sensor de tensão CC:
¿³´µ = ¿¶· ∗ , «« + , ª
Canais AD
¿¸ → »
¿¹ → »
¿¼ → »«
4.3.1.4 Sinais do PWM
Deve-se atentar para o fato dos sinais de saída do bloco PWM trifásico F28335 estarem
na sequência invertida, ou seja, o par PWM1 comandam os IGBTs da fase C e os sinais
do par PWM3 comandam os IGBTs da fase A.
À ÁÂû − ĸÅÆ ¾ ÇÈÁÁÂÃÉ − ĸÅÆ ¾ ÉÈÇ
À ÁÂû − ĸÅÆ É ÇÈÁÁÂÃÉ − ĸÅÆ É ÉÈÇ
67
À ÁÂë» − ĸÅÆ » ÇÈÁÁÂÃ«É − ĸÅÆ » ÉÈÇ
4.3.2 Resultados Experimentais
Todas as coletas das formas de onda foram feitas através do Code Composer Studio.
O tamanho da amostra foi definido como 666 pontos e o time step como 50µs.
4.3.2.1 Teste Verificação Ganhos de Medidores
O primeiro teste que deve ser feito é a confirmação dos ganhos dos sensores de
medição que estão acoplados ao conversor da Recriar Tecnologias. Para isso, foram
aplicados 30V à alimentação CC e conectada uma carga L de 5mH, em configuração Y,
que caracteriza uma corrente trifásica de pico na carga de aproximadamente 5,3A.
A leitura do sensor de medição de tensão CC é mostrada na Figura 64. Notamos que o
valor médio das oscilações (0,2313V) caracteriza um ganho de GÊËË = 0,2313 30 =0,007711.
Figura 64: Leitura de tensão CC
A leitura do sensor de medição de corrente na carga trifásica é mostrada na Figura 65.
Devido às oscilações presentes nas formas de onda, foram utilizados os valores RMS
68
das senoides para o cálculo experimental do ganho. O ganho para os sensores de cada
uma das fase é dado por:
GÌÍ 0,1217 5,3/√2Î 0,0325
GÌÏ 0,1196 5,3/√2Î 0,0319
GÌË 0,1214 5,3/√2Î 0,0324
Figura 65: Leitura de corrente na carga trifásica
A leitura do sensor de tensão trifásica não pode ser coletada devido a problemas
técnicos em relação ao mau contato das conexões do drive, que converte o sinal
analógico em digital. Como consequência, os sinais de tensão CA lidos através do Code
Composer eram inconsistentes. Veremos mais à frente que este problema impossibilitou
a implementação do código do presente trabalho, por demandar leituras digitais
confiáveis das tensões CA.
69
4.3.2.2 Teste Código de Proteção
A segunda etapa experimental é o teste do código de proteção. Por simplicidade, foi
utilizado um sistema com controle em malha aberta e com carga RL conectada em Y,
composta por um indutor de 5mH e um banco resistivo de 14Ω.
Para o teste de sobretensão, foi definida uma tensão máxima de 30V. A tensão de
alimentação foi aumentada paulatinamente até que o erro retornasse valor igual a 2
(referente à falta por sobretensão) e o chaveamento fosse interrompido. Quando a
tensão foi reduzida para um valor inferior ao limite máximo e o acionamento por degrau
de descida foi imposto, o chaveamento foi normalizado, como o esperado.
Para o teste de sobrecorrente instantânea, a carga RL foi substituída por uma carga L
conectada em Y, composta por indutores de 5mH, uma vez que, com a primeira carga,
não era possível alcançar um nível de corrente elevado o suficiente para acionar o
bloqueio do PWM sem que a proteção por sobretensão fosse acionada. Foi definido um
valor de pico máximo, em módulo, de 6A (respeitando a especificação do indutor
utilizado de corrente máxima igual a 5ARMS). De forma análoga ao teste anterior, a
tensão de alimentação foi aumentada até que o erro retornou valor igual a 1 (referente
à falta por sobrecorrente) e o chaveamento foi interrompido. Novamente, reduzindo o
valor da tensão de alimentação e realizando o acionamento por degrau de descida, o
PWM voltou a operar normalmente.
Para o caso da falta por sobrecorrente temporizada, não foi realizado nenhum teste em
bancada visto que este terceiro caso de proteção funciona apenas como uma segurança
extra e tem funcionamento análogo ao caso da falta por sobrecorrente instantânea,
como observado nos testes em simulação.
4.3.2.3 Teste PLL
A próxima etapa de teste é o funcionamento do bloco PLL implementado no controle.
Como já explicado anteriormente, é necessário verificar se o mesmo rastreia o sinal
dado como referência, provendo um ângulo θPLL com frequência igual à da referência
(60Hz) e uma frequência ωPLL próxima à 377rad/s.
Neste ponto, como mencionado anteriormente, foram identificados problemas
referentes aos sensores de tensão CA, presentes no conversor, quanto a confiabilidade
dos sinais digitais. Então, para que o teste de rastreamento do PLL fosse possível, foram
70
realizados dois experimentos, um em que as tensões αβ eram consideradas como
referência para o PLL e outro em que as tensões eram substituídas pelas correntes em
αβ. Foi concluído, contudo, que os resultados para os dois testes foram semelhantes
nos instantes em que os sinais de tensão CA eram enviados de forma consistente para
o Code Composer.
Na Figura 66 são ilustrados os sinais das correntes αβ utilizadas como referência para
o PLL. A partir das formas de onda apresentadas, é possível ratificar que os medidores
de corrente operam corretamente, enviando um sinal estável e pouco ruidoso para o
DSP.
Figura 66: Sinais de corrente em αβ
Os sinais de ângulo gerado pelo bloco do PLL e a sua entrada de referência iα são
apresentados na Figura 67. Notamos, mais uma vez, que o PLL rastreia corretamente
a sua entrada de referência, exibindo uma forma de onda semelhante a encontrada em
simulação.
A leitura para a frequência angular do bloco PLL é mostrada na Figura 68. Nesta, temos
uma frequência ωPLL oscilando próxima de 377rad/s, sendo consistente com os
resultados de simulação.
71
Figura 67: Sinal do ângulo gerado pelo PLL e a variável de referência iα
Figura 68: Sinal da frequência gerado pelo PLL
4.3.2.4 Teste Malha de Controle com Realimentação
O controle em malha fechada do presente trabalho, como já posto em evidência
anteriormente, utiliza as medições de corrente trifásica, tensão trifásica e tensão CC
como realimentação para que o controle funcione corretamente.
Devido aos problemas encontrados nas conexões do drive, que converte as medidas
analógicas em sinais digitais para serem enviados para o controle, não foi possível
coletar amostras de medição das tensões trifásicas com uma confiabilidade aceitável,
72
através da plataforma digital. Desta forma, o teste relacionado à implementação do
controle em malha fechada teve suas realimentações comprometidas, o que
impossibilitou a execução desta etapa experimental, já que o controle não funcionaria
conforme projetado.
73
5 Conclusões
Devido à crescente necessidade de implementação e as diversas vantagens de uso, a
transmissão em corrente contínua em alta tensão é uma tecnologia que precisa ser
estudada e difundida para os estudantes de engenharia. Com o intuito de estudar uma
tecnologia diferente dos conversores CSC - Current Sourced Converter, que já são
vastamente utilizados, os conceitos relacionados aos conversores do tipo VSC, suas
vantagens, topologia e controle foram apresentados.
O esquema de controle utilizado neste trabalho engloba os conceitos de controle de
corrente e de controle de tensão. Utilizando os princípios da teoria das potências ativa
e reativa instantâneas, PLL, transformada de Clarke e de Park, em conjunto com o
devido dimensionamento dos controladores proporcionais e integrais, foi possível
implementar um controle de malha fechada robusto e eficiente para as exigências do
projeto.
Finalmente, foram feitas simulações no domínio do tempo do sistema HVDC-VSC no
software PSIM, que comprovaram a robustez do controle estudado. As simulações
possibilitaram os testes do código de proteção e do bloco PLL em bancada, que
apresentaram resultados satisfatórios e coerentes. Pela falta de confiabilidade na leitura
digital dos sensores de tensão CA disponíveis acoplados ao conversor utilizado, não foi
possível realizar testes com o controle em malha fechada projetado no presente
trabalho.
O trabalho proposto pode ser utilizado para fins didáticos com o objetivo de apresentar,
aos alunos de engenharia elétrica, uma visão prática desse tipo de tecnologia para
transmissão em corrente contínua. As estratégias de controle apresentadas, somadas
aos métodos de dimensionamento de componentes colocados em evidência poderão
servir como base para futuros projetos.
Como trabalhos futuros, pode-se citar a montagem do sistema HVDC-VSC completo,
englobando os dois conversores, para obtenção de resultados experimentais. Outra
possibilidade é o teste de novas configurações de sistemas HVDC, por exemplo, um
sistema multiterminal.
74
Referências
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Applications, and Design , 2 ed., Wiley, 1995.
[2] International Journal of Engineering Science and Innovative Technology (IJESIT),
Voltage Source Converter Based HVDC Transmission , Volume 1, Issue 1,
September 2012.
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Power and Energy Magazine 2, 32-44, 2007.
[4] N. Flourentzou, V. G. Agelidis, G. D. Demetriades, VSC-Based HVDC Power
Transmission Systems:An Overview , IEEE TRANSACTIONS ON POWER
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[5] Akagi, H., Watanabe, E. H., Aredes, M., Instantaneous Power Theory and
Applications to Power Conditioning , Wiley - IEEE Press, 2007.
[6] Masoud Karimi-Ghartemani and M. Reza Iravani, A Nonlinear Adaptive Filter for
Online Signal Analysis in Power Systems: Applicatio ns , Senior Member, IEEE, 2002
[7] D. Costa. Jr., L. Rolim, and M. Aredes, Analysis and software implementation of
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Industrial Electronics, vol. 1, pp. 292–297, 2003
[8] Limongi, L., Bojoi, R., Pica, C., et al. Analysis and Comparison of Phase Locked
Loop Techniques for Grid Utility Applications ”. In: Power Conversion Conference -
Nagoya, 2007. PCC ’07, pp. 674–681, April 2007. doi: 10.1109/PCCON.2007.373038.
[9] Dugan, R. et al. Electrical Power Systems Quality . [S.l.]: McGraw-Hill Companies,
Incorporated, 2002. (McGraw-Hill Professional Engineering Series).
75
[10] Phipps, J. K. A transfer function approach to harmonic filter des ign . IEEE
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[11] International Journal of Emerging Technology and Advanced Engineering (IJETAE),
A Comparative Study of Three Phase 2-Level VSI with 3-Leveland 5-Level Diode
Clamped Multilevel Inverter , Volume 4, Issue 4, April 2014
[12] B. K. Bose, Power Electronics and AC Drives . Pearson Prentice Hall, 2006
[13] Yazdani, A., Iravani, R., Voltage-Sourced Converters in Power Systems:
Modeling, Control, and Applications , Wiley – IEEE Press, 2010
[14] Nise, N. S., Control Systems Engineering , 6 ed., John Wiley & Sons, 2011.
[15] PSIM. Disponível em: http://powersimtech.com/products/psim/. Acesso em: julho
2015
76
Apêndice A
Bancada Eletrônica do Laboratório
A bancada eletrônica que será utilizada para validação do projeto possui o mesmo
princípio de funcionamento de um protoboard, ou seja, trata-se de uma matriz de contato
que facilita a modelagem dos circuitos elétricos que, neste caso, são de potência. Além
da matriz de contato, a bancada eletrônica possui um circuito auxiliar para possibilitar a
alimentação do circuito de controle das chaves estáticas. A Figura 69 mostra a vista
frontal do painel da bancada.
Figura 69: Painel frontal da bancada eletrônica
A.1 Matriz de Contados
A Figura 70 mostra como são as conexões da matriz de contatos. Deve-se notar que os
contatos são dispostos em onze colunas na vertical e quatro linhas na horizontal. As
linhas e colunas não tem conexão elétrica entre si e nem com circuitos externos,
funcionando da mesma forma que um protoboard passivo.
77
Figura 70: Conexões elétricas da matriz de contatos
Cada componente é montado em uma pequena placa cujos contatos tem exatamente a
mesma distância de três colunas da matriz. Os principais componentes disponíveis no
laboratório são mostrados na Figura 71. A Figura 72 exemplifica como os componentes
podem ser montados na bancada eletrônica.
Figura 71: Componentes disponíveis para montagem na bancada eletrônica
78
Figura 72: Exemplificação da montagem dos componentes na bancada
A.2 Circuito Auxiliar
Para possibilitar os disparos das chaves estáticas de forma correta, a bancada
eletrônica possui um circuito auxiliar. Esse circuito tem como função adequar o sinal de
comando proveniente do microcontrolador (3.3V) ao circuito de disparo das chaves (5V)
e fornecer alimentação aos mesmos. Além disso a bancada vem equipada com o circuito
para gerar o tempo morto entre os sinais dos canais complementares, isso impede que
as chaves de um mesmo braço do conversor estejam conduzindo ao mesmo tempo,
como foi explicado anteriormente.
A.2.1 Fontes CC
A bancada eletrônica possui 4 níveis de tensão CC: 5V, 11V, 12V e 15V. Essas fontes
são de baixa potência e servem para alimentar circuitos de corrente externos. Por serem
de baixa potência, as fontes CC da bancada não podem ser utilizadas para alimentar os
circuitos de potência dos conversores, sob o risco de queimar a bancada eletrônica.
A.2.2 Fontes Isoladas
Além das fontes CC, a bancada possui 19 fontes isoladas. Essas fontes também são de
corrente contínua, mas não são isoladas umas das outras e servem para alimentar os
circuitos de disparos das chaves estáticas. Por serem isoladas, evitam curto circuitos
79
com o neutro da fonte de alimentação e, em alguns casos, com o terra da instalação.
Obviamente, as fontes isoladas também são de baixa potência e não devem ser
utilizadas para alimentação do circuito de potência dos conversores.
A.2.3 Canais de Disparo
A bancada eletrônica possui dois conjuntos de seis canais para disparos de chaves
estáticas. Os conjuntos são divididos em A e B, sendo cada conjunto composto por três
pares complementares de canais. Os pares de canais do conjunto A são A0-A1, A2-A3
e A4-A5. Enquanto que para o conjunto B, são B0-B1, B2-B3 e B4-B5.
A.2.4 Entrada dos Sinais de Disparo
A entrada de sinais foi projetada para sinais provenientes de microcontroladores, cuja
tensão de saída é em 3.3 V. Os sinais de comando são, então, ajustados para o nível
de tensão e potência para os disparos das chaves. O circuito de comando conta ainda
com uma lógica de bloqueio que impede que as chaves dos canais complementares
sejam acionadas ao mesmo tempo, o que evita eventuais curto circuitos do barramento
CC. Além disso, existe ainda um circuito para geração de tempo morto entre os sinais
de disparos de canais complementares.