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NEGÓCIOS I alimentos U M DOS PILARES DE UMA ESTRAnGIA de investi- mentos prudente é a ca- pacidade de limitar per- das. No meio de uma cri- se, quando ações despencam, juros disparam e o câmbio vai para a Lua, grandes investidores adotam O meca- nismo conhecido em inglês como "stop loss": vendem, mesmo no vermelho, para evitar um prejuizo insuportável. Esse é um conceito que pode ser apli- cado a diversas áreas, mas, no Brasil de hoje, ninguém aperta tanto a tecla do stop loss quanto as empresas que estão sendo investigadas por corrupção. A forma de fazer isso é o agora famoso "acordo de leniência", em que empre- sários se ajoelham no milho, assumem os erros que cometeram, pagam multas com muitos zeros e, com isso, podem voltar a ter uma vida relativamente nor- mal. A holding J&F, dona da gigante de processamento de carne JBS, foi a últi- ma a seguir essa cartilha. Seus donos assinaram um rumoroso acordo de de- lação premiada com o Ministério Públi- co e, duas semanas depois, fecharam o tal acordo de leniência. Toparam pagar a multa de 10,3 bilhões de reais. A espe- rança era zerar a perda. Mas, passados poucos dias do anúncio do acordo, é possível dizer: no caso da J&F, as perdas ainda estão muito longe de terminar. O acordo, em si, foi bem mais palatá- vel do que os 10,3 bilhões de reais de

NEGÓCIOS I alimentos · ... dez dias de pois de fechado o acordo, ... tar o desconto de notas promissórias de ... ter atingido o limite legal de exposição ao mesmo grupo econômico

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NEGÓCIOS I alimentos

UM DOS PILARES DE UMA ESTRAnGIA de investi­mentos prudente é a ca­pacidade de limitar per­das. No meio de uma cri­

se, quando ações despencam, juros disparam e o câmbio vai para a Lua, grandes investidores adotam O meca­nismo conhecido em inglês como "stop loss": vendem, mesmo no vermelho, para evitar um prejuizo insuportável. Esse é um conceito que pode ser apli-

cado a diversas áreas, mas, no Brasil de hoje, ninguém aperta tanto a tecla do stop loss quanto as empresas que estão sendo investigadas por corrupção. A forma de fazer isso é o agora famoso "acordo de leniência", em que empre­sários se ajoelham no milho, assumem os erros que cometeram, pagam multas com muitos zeros e, com isso, podem voltar a ter uma vida relativamente nor­mal. A holding J&F, dona da gigante de processamento de carne JBS, foi a últi-

ma a seguir essa cartilha. Seus donos assinaram um rumoroso acordo de de­lação premiada com o Ministério Públi­co e, duas semanas depois, fecharam o tal acordo de leniência. Toparam pagar a multa de 10,3 bilhões de reais. A espe­rança era zerar a perda. Mas, passados poucos dias do anúncio do acordo, já é possível dizer: no caso da J&F, as perdas ainda estão muito longe de terminar.

O acordo, em si, foi bem mais palatá­vel do que os 10,3 bilhões de reais de

multa podem fazer crer. É a maior muI­ta da história da Justiça brasileira e responde pÕr 5,6% do faturamento das empresas da holding J&F, mas será pa­ga em suaves prestações anuais - o grupo SÓ tenninará de pagar no longín­quo ano de 2042. Mas a chave para a suavidade da pena é a fonna de corre­ção de seu valor. Em vez de embutir a taxa de juro da economia, como ocor­reu nos acordos das construtoras Ode­brecht e Andrade Gutierrez, a multa da

J&F será corrigida pela inflação. O ne­gócio foi tão bom para a empresa que as ações da JBS valorizaram 8,5% no dia seguinte à assinatura. Estavam en­cerradas, e a um preço camarada, as pendências do grupo com o governo federal e suas agências. Mas O histórico dos irmãos Batista - controladores da J&F - cria outro tipo de problema da­qui para a frente. Fora de Brasília, lon­ge do alcance do acordo com o Minis­tério Público, esqueletos que vinham

~ -- Baixe o aplicativo gratuito BI"par e ouça a reportagem (St3iba mais IIdpág. 10)

sendo escondidos nos armários da fa­mília Batista começam a dar o ar da graça. E ninguém consegue calcular o tamanho desse problema para o grupo.

Talvez o maior problema a ser enfren­tado pelos irmãos Batista seja justamen­te a ira do governo federal. Joesley Ba­tista gravou o presidente da República na calada da noite. e Michel Temer orientou seus lugares-tenentes a com­plicar a vida de seu algoz sempre que possível. Para fechar o acordo de leniên­cio., a J&F teve de se comprometer a pagar contas atrasadas ou em discussão judicial com órgãos públicos, quitando atrasos de INSS, FGTS e Fazenda Na­cional. Trata-se de um montante esti­mado em 4 bilhões de reais. A empresa pretendia usar créditos ttibutários para quitar a divida previdenciária, de 2,4 bilhões de reais, mas a Receita Federal já avisou que quer receber em dinheiro. Alguns analistas acreditam que o pró­prio governo acabará questionando a obtenção desses créditos, já que eles foram obtidos em operações que podem ser consideradas ilegais. No limite, po­dem valer zero. Segundo dois bancos ouvidos por EXAME. a JBS tem mais de 5 bilhões de reais de créditos tribu­tários em seu balanço, além de 22 bi­lhões de reais de ágio de aquisições (que são usados para dedução de imposto de renda da empresa) que correm risco. Hoje, diversas dessas operações estão sendo questionadas. e caberá à nada amigável Receita Federal decidir o que fazer. "Qualquer mudança no valor real de uma compra feita pela empresa vai mexer nessa conta", diz o executivo de um banco que acompanha o caso JBS.

Enquanto isso, o acesso a crédito tem se complicado. No acordo com o MP. a J&F obteve o compromisso que suas empresas poderiam pegarempréstimos em bancos públicos. Mas, dez dias de­pois de fechado o acordo, a JBS come­çou a se queixar com os procuradores de estar sofrendo hostilidades por par­te da ex-amigona Caixa Econômica Fe­deral, por ordem do Planalto. A Caixa comunicou à empresa sua intenção de suspender linhas de meio bilhão de reais e cobrou uma divida da empresa de produtos de limpeza Flora, do grupo.

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Procurada, a Caixa nega qualquer orientação do Planalto ou retaliação, e afirma que o prazo do empréstimo para a Flora venceu. O Banco do Brasil deci­diu manter as linhas de capital de giro para a JBS, que são garantidas por con­tratos de exportação - mas não vai abrir linhas para investimento. BB, Bra­desco e Itaú resolveram manter os em­préstimos, fazendo revisões periódicas da situação da empresa (os três bancos não comentam). Em nota. aJ&F diz que não houve alteração em suas relações com as instiruiçàes, incluindo a Caixa. Apesar da posição institucional dos bancos., alguns gerentes de agências têm tomado as próprias precauções. Segun­do as associações de pecuaristas de Ma­to Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, bancos e cooperativas pararam de acei­tar o desconto de notas promissórias de vendas feitas àJBS - que aumentaram de volume, uma vez que a empresa dei­xou de pagar à vista e passou a pagar com prazo de 30 dias. "Se o vendedor não consegue descontar, vai ter de ven­der menos para a JBS ou vender mais caro", diz Jonathan Barbosa, presiden­te da Associação dos Criadores de Ma-

o impacco desses acontecimentos na situação de liquidez das empresas - o rebaixamento, por si só, já encarece O

custo de financiamento. Por fim. segun­do dois executivos, a empresa não pode mais recorrer ao Original, inclusive pa­ra a venda de carteiras de crédito, por ter atingido o limite legal de exposição ao mesmo grupo econômico (procura­do, o Original afinna que não concede linhas de crédito às empresas do grupo).

Apesar de o livre acesso ao BNDES estar previsto no acordo com a Justiça.. especialistas acreditam que vai ser di­ficil para aJ&F conseguir financiamen­to no banco enquanto não ficarem cla­ros eventuais prejuízos sofridos pela instituição em seus anos de apoio irres­trito à JBS. Em seus depoimentos à Pro­curadoria, Joesley descreveu O paga­mento de propina para obtenção de li­nhas de crédito e aporte de capital na JBS. Mas não há detalhes, pelo menos por enquanto, das perdas geradas quan· do a JBS comprou o frigorífico Bertio em 2009. Na ocasião, a JBS diluiu os acionistas, incluindo o BNDESPar, em· presadeparticipaçõesdoBNDES.Ape. sar de estar à beira da falência. a Bertio

A JBS deu férias coletivas a funcionários em Mato Grosso do Sul e diminuiu os abates em 65% para preservar capital de giro

to Grosso do Sul. o problema, para os pecuaristas, é que a demanda também caiu, uma vez que a JBS tenta preservar o caixa - a JBS deu férias coletivas em Mato Grosso do Sul e, segundo a con­sultoria MB Agro, sua ociosidade au­mentou devido à queda de 65% na es­cala de abates em um mês. liA leniência é só o começo do processo", diz José Roberto Mendonça de Barros, diretor da l\'lB Associados. Além disso, a agên­cia de classificação de risco Moody's rebaixou a nota de risco do banco Ori­ginai (que pertence à holding J&F) e da JBS, por achar dificil estimar qual será

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foi avaliada em 12 bilhões de reais, e a família vendedora receberia 9 bilhões de reais em ações da JBS. Em uma tran­sação complexa, a famíliaBertin acabou virando sócia da holding J&F em um fundo de investimento. Segundo a Re­ceita Federal, numa autuação de feve­reiro do ano passado no valor de 3 bi­lhões de reais, essa transferência de ações da empresa para a holding foi fraudulenta - a avaliação para os mi­noritários teri a sido diferente da rela­ção de troca de ações entre os dois do­nos de frigoríficos, segundo a Receita..

Há ainda outra novela paralela envol-

I ~--~ ...... ª

MULTA RECORDE ... ... mas nem tanto. O grupo Jlt:F pagará o maior valor da história, mas não o maior percentual sobre a receita

• Multa (em bi/Mes de redis)

'-__ -'R,,' .::" ::::ita: 183 bil:~hO=es __

ODEBRECHT (dezembrot16)

Receita: 95,3 bilhões

CAMARGO CORREA (ago,lo/15)

7 bilhões (7.3%)

I

O,8bilMo (3%)

ANDRADE GUTIERREZ (maiotI6) l bilMo (6.6%)

I

vendo os Bertin. Eles acusam os Batista de, em 2013, vender cotas que lhes per· tendam, avaliadas em 970 milhões de reais, por apenas 17 milhões de reais a um fundo offshore chamado Blessed, cujos acionistas seriam seguradoras de Porto Rico e Ilhas Cayman. Os Batista teriam falsificado a assinatura do pa­triarca, Natalino Bemn. Na versão dos Bertin, a Blessed seria controlada pela f::urulia Batista. Os Bertin entraram com uma ação contra a JBS em 2013 e deci­diram fechar um ncordo em fevereiro de 2014. Segundo pessoas próximas aos Berrin, a familia recebeu algumas cen·

tenas de milhões para encerrar o assun· to - e nenhuma das partes deu satisfa· ções aos investidores. No ano passado, os irmãos Batista declararam no impos· to de renda terem comprado as ações da JBS de tidas pela Blessed, mas só comunicaram aos investidores oito me· ses depois, o que contraria as melhores práticas de mercado (a empresa diz que "cumpre os prazos da regulamentação vigente"). O que mais chamou a atenção foram as condições do negócio. Eles pagaram 300 milhões de dólares (pau· co menos de 1 bilhão de reais pelo câm· bio do período de aqui sição), sendo apenas 15 milhões de dólares à vista, por uma participação que, anos antes, havia sido avaliada em 3 bilhões de reais. ''As ações foram recompradas por uma fra· ção ínfima do valor original, em uma empresa que só cresceu", diz um gestor de fundo que aguarda a investigação da CVM. EXAME apurou que o BNDES pediu satisfações à J&F sobre o assunto e que pode processá·la pela diluição danosa. No fim de maio, o banco criou uma comissão de apuração interna, co· mandada pelo diretor de controladoria Ricardo Baldin, em que técnicos do banco têm 45 dias para checar todas as transações feitas com a JBS. Procurado. o banco afirmou que não vai comentar assuntos relacionados à empresa até a conclusão desse trabalho.

O escandaloso caso de possível insi· der tmdingprotagonizado pelos irmãos Batista às vésperas da divulgação da de lação premiada dificilmente sairá barato. Eles terão de explicar à CVM por que venderam ações da JBS pouco antes de ser veiculada a notícia sobre a gravação dã comprometedora conversa entre Joesley Batista e o presidente Mi· chel Temer. No dia 17 de maio, horas antes de a noticia ser publicada, os Ba­tista deram a maior ordem de venda do mês, vendendo 35,2 milhões de reais - no mesmo dia, a tesouraria da pró­pria JBS comprou o equivalente a 35 milhões de reais. É, portanto, uma for­ma de transferir o prejuízo com a que­da das ações para os demais acionistas da empresa. Também no dia 17 a JBS comprou 1 bilhão de dólares em con­tratOs de câmbio para apostar na valo-

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rização do dólar - O que aco nteceu quando a gravação veio à tona.

É comum que produtoras de commo· dities. como a JBS, tenham mesas de operação bem equipadas para proteger seus resultados das esperadas oscila­ções de preços no mercado internacio­nal. Ada JBS, porém, sempre foi conhe­cida como uma das mais ativas. Um levantamento feito por gestores de fundos mostra que, nos últimos dez anos, cerca de 30% do lucro daJBS veio da mesa de operações. e não de alimen­tos. Mas a operação pre-delação foi grande demais até para os padrões da lBS. Alguns bancos se recusaram a exe­cutar o negócio - um deles foi o fran­cês BNP Paribas (o banco não comen­tou). No iJÚcio de junho, umjuiz de São Paulo determinou o bloqueio de 800 milhões de reais das contas de Joesley Batista enquanto a investigação sobre uso de informação privilegiada estiver sendo realizada. Quatro funcionários foram levados pela Polícia Federal para depor sobre as transações.

Quatro motivos fazem com que a JBS e o grupo possam sofrer menos do que as empreitei ras envolvidas na Lava­-Jato. A empresa não depende de con­tratos públicos. no Brasil ou no exterior; seu negócio não é baseado em projetos que precisam de complexa cadeia finan­ceira; a corrupção declarada estava con-

OS NEGóciOS DO GRUPO

centrada em cerca de dez pessoas da aJta cúpula da companhia - enquanto a Odebrecht, por exemplo, tinha um departamento dedicado à corrupção e negociou uma delação premiada que incluiu mais de 70 executivos. O quarto motivo é que a J&F tem mais de 30 mar­cas, que não são associadas ao grupo de imediato pelos consumidores. Ainda assim, como no caso das empreiteiras, a empresa JBS enfrenta uma fabulosa crise de imagem. Pelo menos cinco ge­rentes e diretores pediram demissão no último mês. "Os funcionários dessas empresas começam a esconde r o cra­chá", diz Renato Almeida dos Santos, sócio da 52 Consultoria, especial izada em combate a fraudes corporativas.

.... ~ .. ·MtA

O abalo nuclear na reputação do grupo causou danos numa das fundações de seu sucesso, a publicidade. Seus garo­tos-propaganda Tony Ramos e Fátima Bemardes suspenderam os contratos. Até o contrato com o ator americano Robert de Niro com a Seara está em ris­co - segundo duas pessoas com conhe­cimento do assunto, ele pode processar a empresa por dano de imagem, confor­me cláusulas de seu contrato. Um exe­cutivo de uma agencia de publicidade que atende o grupo di z que, por en­quanto, não h á "clima" sequer para

A holding J&Fpode vender parte de seus ativos se precisar levantar dinheiro - suas dívidas somam cerca de 70 bilhões de

,--{1')-------,

lBS Maior empresa

de protefna animal do mundo, dona das marcas Friboi, Seara,

Swift e Pilgrim's

Quanto vale (em reais)

22 bilhões

Participaçio da J&F (em%)

' 1m

66 I www.exame.com

~-{~)---, VIGOR

Fabriearie de latiefnios, dona das marcas

Vigor, Leco, FaiKa Azul, e acionista da

mineira Jlambé

Quanto vale (em reais)

___ 5 bilhões

Partlclpaçio da J&F (em%)

I 100,. L _____ . ______ 1

ALPARGATAS Fabricante e varejista

de calcados e vestu~rio, dona das marcas

Havaianas, Topper e Osklen

Quanto vale (em reais)

____ 5.6 bilhões

Partlclpaçio da J&F

L- f'" %) . __ J

ELDORAOO Segunda maior

empresa de papel e celulose do pais,

criada em 2010

Quanto vale (em reais)

• 3 bilhões

Participação da J&F (em%)

,---<+ l---, AMBAR ENERGIA

Geradora e transmissora

de energia térmica e eólica e dona

de gasoduto

Quanto vale (em reais)

• 2,5 bilhões

Partkipaçio da J&F (em%)

100%

reais

BANCO ORIGINAL

Empréstimos ao agronegócio e banco digital

de varejo

Quanto vale (em reais) ,

t- 700 milhôes I !

Participacao daJ&F (em %)

100"

r----1@f-----1 FLORA

Fabricante _ de cosmêticos

e produtos de limpeza

Ouantovale (em redis)

t-=- 1,5 bilhão

Participacao daJ&F (em %)

I I 1._-_ .. ,,---_.,,--,

100'\

campanha institucional. "G3roto-pro­p3g:mda novo nem se fa13, só se for um boi no pasto", diz o publicitário. A JBS "não comenta os próximos passos de sua campanha de marketing".A ameaça de grandes redes varejistas pararem de comprar os produtos da empresa ainda não se concretizou - é difícil, segundo os varejistas, conseguir garantir a ofer­ta de carnes e frangos, por exemplo, com outros fornecedores. A única rede de grande porte a cancelar contrato foi a pizzaria Domino's. Empresas como McDonald's, Walmart e Carrefour con­tinuam avaliando o assunto. Nos Esta­dos Unidos, a associação de pecuaristas R-Calf enviou uma carta no início de junho ao presidente americano, Donald Trump, pedindo que o país faça inves­tigações sobre a JBS para apurar se a empresa praticou corrupção em solo americano (o que a companhia nega).

A JBS é o principal alvo, mas não o único, de credores e autoridades. A em­presa de papel e celulose Eldorado,

"perdão" aos credores por ter rompido as cláusulas acordadas de limite de en­dividamento e pagar uma taxa extra para que eles não antecipassem os ven­cimemos das dívidas. Os fundos de pen­são Funcef e Petros, que são acionistas da Eldorado e ficarão com parte do di­nheiro da multa da leniência 0,8 bilhão de reais cada uma), querem aumentar a indenização, abrindo processos para­lelos. Outra empresa do grupo, a Âmbar Energia., tem se reunido com fundos de investimento em busca de estruturas de financiamento - a companhia investe em parques eólicos e tem uma usina de energia térmica e um gasoduto. Soma­das as empresas do grupo, são 70 bi­lhões de reais em dívidas e cerca de 15 bilhões de reais em caixa O grupo J&F contava com uma ofert:l de ações em Nova York para reduzir :ldívida, mas a captação agora ficou inviável.

Para levantar recursos num cenário completamente diferente, a empresa começou ase desfazer do que pode. Em

Empresas menores do grupo J&F, como a indústria de limpeza Flora e a geradora de energia Ambar, tentam obter novas linhas de financiamento

controlada pela J&F, foi obrigada a re­abrir uma investigação interna - em abril, a empresa afirmou ter concluído que não havia irregularidades nas ope­rações, mas foi desmentida pelo depoi­mento dos próprios controladores ao MP. José Carlos Grubisich, presidente da Eldorado, é investigado em urna ope­ração da Polícia FederaJ, mas continua à frente da companhia. No fim de 2016, a empresa, aJtamente endividada, con­cedeu um empréstimo de quase 2S mi­lhões de reais ao executivo - segundo pessoas próximas, pane do dinheiro foi usada para pagar advogados (a Eldora­do diz que o crédito foi "aprovado for­malmente"). Em abril deste ano, um mês antes do escândalo dos Batista se tornar público, a Eldorado conseguiu

junho vendeu sua subsidiária na Amé­rica do Sul à concorrente Minerva por 300 milhões de dólares. Está negocian­do a venda da Vigor com duas interes­sadas, a francesa Lactalis e a americana Pepsico. O grupo afirma a bancos que não quer se desfazer das participações acionárias detidas nos Estados Unidos - onde moram atualmente Joesley e a família. Os fornecedores e clientes têm revisado suas operações com o grupo. "Há muita movimentação de empresas que não estão diretamente implicadas em investigações para identificar ris­cos", diz Fabíola Cammarota, sócia do escritório de advocacia Souza Cescon. A vida pós-delação não vai ser fácil pa­ra os innãos Batista - nem para quem faz negócios com eles. _

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