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ALLAN FERNANDO OLIVEIRA NEO INTERATIVA E BRASIL 24/7: UM ESTUDO COM DOIS PRECURSORES DO JORNALISMO DIGITAL BRASILEIRO, SEPARADOS POR 17 ANOS DE TECNOLOGIA. LONDRINA 2011

NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

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Este estudo de casos múltiplos realiza um levantamento das características tecnológicas da revista NEO Interativa, de 1994, e do jornal Brasil 24/7, de 2011. Desta forma, a pesquisa procura observar como (ou se) o avanço tecnológico ocorrido na janela de 17 anos que separam as publicações condicionou novas possibilidades para o jornalismo no âmbito digital. Palavras-chave: Jornalismo Digital; Revista NEO Interativa; Jornal Brasil 24/7; Internet

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ALLAN FERNANDO OLIVEIRA

NEO INTERATIVA E BRASIL 24/7: UM ESTUDO COM DOIS PRECURSORES DO JORNALISMO

DIGITAL BRASILEIRO, SEPARADOS POR 17 ANOS DE TECNOLOGIA.

LONDRINA

2011

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ALLAN FERNANDO OLIVEIRA

NEO INTERATIVA E BRASIL 24/7: UM ESTUDO COM DOIS PRECURSORES DO JORNALISMO

DIGITAL BRASILEIRO, SEPARADOS POR 17 ANOS DE TECNOLOGIA.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, da Universidade Estadual de Londrina. Orientador: Prof. Ms. Mário Benedito Sales

LONDRINA 2011

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ALLAN FERNANDO OLIVEIRA

NEO INTERATIVA E BRASIL 24/7: UM ESTUDO COM DOIS PRECURSORES DO JORNALISMO

DIGITAL BRASILEIRO, SEPARADOS POR 17 ANOS DE TECNOLOGIA.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, da Universidade Estadual de Londrina.

COMISSÃO EXAMINADORA

____________________________________ Prof. Orientador Ms. Mário Benedito Sales

Universidade Estadual de Londrina

____________________________________ Prof. Dr. Alberto Carlos Augusto Klein

Universidade Estadual de Londrina

____________________________________ Profa. Ms. Juliana dos Santos Barbosa

Universidade Estadual de Londrina

Londrina, 09 de novembro de 2011.

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Dennis Ritchie (1941 – 2011)

Steve Jobs (1955 – 2011)

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AGRADECIMENTOS

À minha família por ser sempre a base de tudo.

À minha irmã, Juliana Maria Gonçalves, veterana que conheci ainda em meu

primeiro ano de UEL.

Ao meu irmão, Bruno Gonçalves (nenhum parentesco com a Ju!), companheiro

inseparável de bares e bibliotecas.

À professora Rosane Borges, por todo o apoio.

À professora Luciana Mielniczuk, por ceder sua tese de doutorado, fundamental para

a realização deste trabalho.

A todos os bons professores que me ensinaram muita coisa nestes quatro anos de

UEL.

Ao Bola, por cortar o título original deste trabalho e também por ter sido um grande

orientador.

Ao Word 2007, por “desformatar” todo o trabalho pouco antes da entrega para a

banca.

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"A vida é dura para quem é mole" - José Maschio

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OLIVEIRA, Allan Fernando. NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia. 2011. 140 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2011.

RESUMO

Este estudo de casos múltiplos realiza um levantamento das características tecnológicas da revista NEO Interativa, de 1994, e do jornal Brasil 24/7, de 2011. Desta forma, a pesquisa procura observar como (ou se) o avanço tecnológico ocorrido na janela de 17 anos que separam as publicações condicionou novas possibilidades para o jornalismo no âmbito digital. Palavras-chave: Jornalismo Digital; Revista NEO Interativa; Jornal Brasil 24/7; Internet

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OLIVEIRA, Allan Fernando. NEO Interativa and Brasil 24/7: A study of two precursors of brazilian digital journalism separated by 17 years of technology. 2011. 140 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo) – State University of Londrina, Londrina, 2011.

ABSTRACT This multiple case study conducts a survey of the technological features of the magazine NEO Interactive, 1994, and the newspaper Brazil 24/7, 2011. Thus, the comparative research observes how (or whether) the technological advance occurred in the window of 17 years between the publications have conditioned new possibilities for journalism in the digital world. Key Words: Digital Journalism; NEO Interativa magazine; Brasil 24/7 Newspaper; Internet

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10

1. METODOLOGIA ................................................................................................ 12

1.1. O que é um estudo de caso? ....................................................... 12

1.2. A aplicação da metodologia ......................................................... 14

1.3. O estudo de casos múltiplos ....................................................... 15

2. OS COMPUTADORES E A HISTÓRIA DA INTERNET .................................... 17

2.1. Os bastidores da Internet ............................................................. 18

2.2. A Internet no Brasil ....................................................................... 21

2.3. A Linguagem Unix ......................................................................... 23

2.4. World Wide Web 1.0 ...................................................................... 27

2.5. A polêmica World Wide Web 2.0 .................................................. 29

2.6. World Wide Web 3.0 ...................................................................... 31

2.7. O iPad e a popularização dos tablets .......................................... 32

3. AS TEORIAS DO CIBERESPAÇO .................................................................... 36

3.1. A Teoria McLuhaniana .................................................................. 37

3.2. O conceito de Inteligência Coletiva segundo Pierre Lévy ......... 40

3.3. Cibercultura ................................................................................... 43

3.4. A utopia da Teoria ......................................................................... 45

3.5. As revoluções do mundo árabe ................................................... 47

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4. O JORNALISMO DIGITAL ................................................................................ 51

4.1. O Processo Comunicacional ........................................................ 52

4.2. Conceituando o Jornalismo Digital ............................................. 54

4.3. Breve retrospecto histórico do Jornalismo Digital .................... 58

4.4. As gerações do Jornalismo Digital .............................................. 61

4.5. Características do Jornalismo Digital ......................................... 63

4.6. Hipermídia: a importância do hipertexto e dos links ................. 65

4.7. A velha lógica jornalística ............................................................ 73

5. ESTUDO DE CASOS MÚLTIPLOS ................................................................... 76

5.1. Revista NEO Interativa .................................................................. 76

5.1.1. Como funciona a revista NEO Interativa ......................................................... 79

5.2. O Jornal Brasil 24/7 ....................................................................... 92

5.2.1. Como funciona o Jornal Brasil 24/7 ................................................................ 95

5.3. Estratégia analítica geral ............................................................ 103

5.4. Levantamento de dados ............................................................. 105

5.4.1. Interatividade ................................................................................................. 105

5.4.2. Hipertexto ...................................................................................................... 106

5.4.3. Multimodalidade ............................................................................................ 107

5.4.4. Atualização .................................................................................................... 108

5.4.5. Arquivo .......................................................................................................... 109

5.5. Considerações acerca dos dados levantados .......................... 110

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 113

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 117

GLOSSÁRIO DE JORNALISMO ............................................................................ 125

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APÊNDICE .............................................................................................................. 138

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INTRODUÇÃO

A partir da criação da World Wide Web (Rede de Alcance Mundial) no

início dos anos 90, o mundo viria a sofrer uma profunda transformação mediada pela

comunicação digital, sendo a Internet e sua interface gráfica as protagonistas desta

revolução. Mas qual seria o papel do jornalismo nestes novos tempos digitais?

Segundo a Dra. Luciana Mielniczuk, uma referência nacional em jornalismo digital,

“No decorrer da última década, junto com os vários avanços tecnológicos e o

surgimento de novos produtos jornalísticos, veio a certeza de que tais produtos não

exploram, de maneira efetiva, o potencial oferecido pelo novo suporte: a web.”

(2003, p. 13).

Para além da observação da autora, tivemos no início de 2011 a

popularização de um suporte digital que abriu ainda mais leques de possibilidades

para o jornalismo: os tablets. Com todo o frenesi em torno do lançamento deste,

presenciamos também o surgimento de um periódico criado e pensado

especificamente para o meio em questão: o jornal Brasil 24/7.

Mediante tantos avanços tecnológicos, surge a dúvida: o jornalismo digital

brasileiro tem utilizado o desenvolvimento da tecnologia para evoluir também? Ou

ainda cabe a afirmação ponderada acima por Mielniczuk?

Com base nessa questão, este trabalho realiza um estudo de casos

múltiplos com dois exemplares do jornalismo digital brasileiro: a revista NEO

Interativa, lançada em 1994 e que, como veremos, foi a primeira tentativa de

jornalismo 100% digital brasileira; e o já citado jornal Brasil 24/7, representando a

ponta mais recente nesta linha temporal tecnológica. Ao levantarmos as

características de cada publicação, o trabalho fará uma reflexão inicial tentando

responder as seguintes proposições:

Como a evolução da tecnologia moldou o fazer jornalístico no

jornalismo digital brasileiro?

Nestes 17 anos, houve uma evolução quanto às possibilidades

proporcionadas pela tecnologia no jornalismo digital brasileiro, de fato?

Em 17 anos, tecnologicamente falando, o que o jornal Brasil 24/7

evoluiu em relação à proposta da revista NEO Interativa?

A tecnologia tem permitido uma pluralidade de opiniões no jornalismo?

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Houve um aprofundamento da narrativa jornalística?

Para alcançarmos esse objetivo, iniciamos o trabalho com a apresentação

da metodologia do estudo de casos múltiplos, utilizada nesta pesquisa. Seguimos,

no Capítulo 2, com um breve retrospecto da história da Internet e de alguns

contextos da Ciência da Computação, refletindo rapidamente sobre a evolução

tecnológica ocorrida no século XX e início do século XXI.

No Capítulo 3, levantaremos algumas teorias do ciberespaço para

observarmos diferentes pontos de vista de alguns autores sobre o desenvolvimento

das atuais sociedades tecnológicas.

Por conseguinte, no Capítulo 4, abordaremos a teoria do jornalismo

digital e as possibilidades de ruptura possíveis para este novo modo do fazer

jornalístico.

Por fim, no Capítulo 5, realizaremos as análises propostas neste trabalho,

com base em todo o levante teórico visto anteriormente. Assim, propomos uma

reflexão inicial sobre como (ou se) o avanço tecnológico ocorrido em 17 anos mudou

ou evoluiu a prática jornalística.

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1. METODOLOGIA

A presente pesquisa pretende observar duas publicações jornalísticas

digitais brasileiras que foram precursoras desta modalidade de jornalismo no País,

cada uma à sua época. Assim, poderemos estabelecer reflexões iniciais sobre como

o avanço tecnológico tem moldado o jornalismo digital produzido no Brasil. Para

isso, levantaremos as características gerais de cada periódico e faremos um estudo

comparativo, ressaltando a janela de 17 anos de avanço tecnológico que os

separam.

Trata-se, aqui, portanto, de um estudo de casos múltiplos. Segundo

Duarte, o estudo de caso tem sido amplamente utilizado nas áreas de Antropologia,

Ciência Política, Sociologia, Administração Pública e Educação. Nesta pesquisa, o

estudo de caso norteará um trabalho de comunicação. (apud BARROS e DUARTE,

2009, p. 215).

1.1. O que é um estudo de caso?

Apesar de ser um método bastante utilizado, o estudo de caso, para

Duarte, carece de mais estudos em língua portuguesa que o apresente ou o discuta

com maior profundidade (apud BARROS e DUARTE, 2009, p. 215). Ainda segundo

Duarte, a obra de Robert K. Yin é a principal referência a ser utilizada no

planejamento deste procedimento metodológico. Por isso, é neste autor que o

estudo de casos múltiplos realizado neste trabalho está baseado.

Segundo Yin, a escolha pela utilização do estudo de caso surge da

necessidade de compreender fenômenos sociais complexos. Em sua clássica

definição para a metodologia do estudo de caso, Yin diz que:

Em geral, os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se

colocam questões do tipo “como” e “por que”, quando o pesquisador tem

pouco controle sobre os acontecimentos e quando o foco se encontra em

fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real. (YIN,

2005, p. 19-20).

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O estudo de caso é uma forma de investigação empírica que compreende

um método que abrange tudo – tratando da lógica de planejamento, das técnicas de

coleta de dados e das abordagens específicas à análise dos mesmos. Nesse

sentido, o estudo de caso não é uma tática para coleta de dados nem meramente

uma característica do planejamento em si, mas uma estratégia de pesquisa

abrangente (STOECKER, 1991, apud YIN, 2005, p. 33).

Outra definição é apresentada por Bruyne, Herman e Schoutheete. Para

eles, o estudo de caso reúne, tanto quanto possível, informações numerosas e

detalhadas para apreender a totalidade de uma situação (1991, p. 224-225, apud

BARROS e DUARTE, 2009, p. 216).

Embora apresente pontos em semelhança com a pesquisa histórica, a

metodologia do estudo de caso se diferencia, segundo Yin, devido à sua capacidade

de lidar com uma ampla variedade de evidências – documentos, artefatos,

entrevistas e observações, buscando sempre a compreensão total de um caso (apud

BARROS e DUARTE, 2009, p. 219).

Para Ventura:

De acordo com diferentes autores, o estudo de caso tem origem na

pesquisa médica e na pesquisa psicológica, com a análise de modo

detalhado de um caso individual, que explica a dinâmica e a patologia de

uma doença dada. Com este procedimento se supõe que se pode adquirir

conhecimento do fenômeno estudado a partir da exploração intensa de um

único caso. Além das áreas médicas e psicológicas, tornou-se uma das

principais modalidades de pesquisa qualitativa em ciências humanas e

sociais. Já para Chizotti, o estudo de caso como modalidade de pesquisa

origina-se nos estudos antropológicos de Malinowski e na Escola de

Chicago e, posteriormente, teve seu uso ampliado para o estudo de

eventos, processos, organizações, grupos etc. Segundo Gil, sua origem é

bastante remota e se relaciona com o método introduzido por C.C. Laugdell

no ensino jurídico nos Estados Unidos.[...] Atualmente, é adotado na

investigação de fenômenos das mais diversas áreas do conhecimento,

podendo ser visto como caso clínico, técnica psicoterápica, metodologia

didática ou modalidade de pesquisa. (VENTURA apud Revista SOCERJ,

2007, p. 384).

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Para Alves-Mazotti (apud CADERNOS DE PESQUISA, 2006, p. 650), o

consenso a que se chega sobre o estudo de caso no ambiente acadêmico é que

este deve se constituir em uma investigação específica, situada em seu contexto,

segundo critérios pré-determinados e, utilizando múltiplas fontes de dados, que se

proponha a oferecer uma visão holística do fenômeno estudado; nas palavras da

autora, um estudo que “retém as características significativas e holísticas de eventos

da vida real”. (ALVES-MAZOTTI apud CADERNOS DE PESQUISA, 2006, p. 650). O

importante é que haja critérios explícitos para a seleção do caso e de que este seja

realmente um caso, isto é, uma situação complexa e/ou intrigante, cuja relevância

justifique o esforço de compreensão.

Por se adequar às necessidades do presente trabalho, portanto,

consideramos que a metodologia do estudo de caso se mostrou como a opção mais

apropriada para esta pesquisa.

1.2. A aplicação da metodologia

Neste trabalho, é realizado um estudo de casos múltiplos com dois

exemplares do jornalismo digital brasileiro, sendo eles, a revista NEO Interativa e o

jornal Brasil 24/7. Estas duas publicações foram escolhidas por serem pioneiras em

jornalismo digital no País, cada uma à sua época, e também em relação ao suporte

midiático em que foram editadas. Conforme veremos durante o desenvolvimento

deste estudo, a revista NEO Interativa pode ser considerada como a primeira

tentativa de jornalismo 100% digital brasileira, enquanto que o jornal Brasil 24/7 é a

primeira publicação noticiosa pensada exclusivamente para os computadores

tablets. Para que o estudo comparativo seja possível, levamos em consideração que

a NEO Interativa é uma revista cultural, o que, por conseguinte, nos permite analisar

apenas a editoria de cultura do jornal Brasil 24/7. Assim, este trabalho pretende

estabelecer uma reflexão inicial a partir das seguintes proposições:

Como a evolução da tecnologia moldou o fazer jornalístico no jornalismo

digital brasileiro?

Nestes 17 anos, houve uma evolução quanto às possibilidades

proporcionadas pela tecnologia no jornalismo digital brasileiro, de fato?

Em 17 anos, tecnologicamente falando, o que o jornal Brasil 24/7 evoluiu em

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relação à proposta da revista NEO Interativa?

A tecnologia tem permitido uma pluralidade de opiniões no jornalismo?

Houve um aprofundamento da narrativa jornalística?

Para levantarmos esses dados, estamos nos baseando também na tese

de doutorado da Dra. Luciana Mielniczuk, cujas teorias serão levantadas no Capítulo

4 deste estudo, que igualmente se fundamentou em estudos de caso. Assim,

observaremos cinco características conceituais que constituirão uma lógica de

replicação de análise tanto para a revista NEO Interativa quanto para o jornal Brasil

24/7:

Multimodalidade

Interatividade

Hipertextualidade

Atualização

Memória

A escolha das publicações NEO Interativa e Brasil 24/7 ocorre,

portanto, porque, com estes dois exemplares, podemos traçar uma linha imaginária

temporal da evolução do jornalismo digital a fim de estudar e entender sua evolução.

Desta forma, será possível uma reflexão inicial sobre como esta nova forma do fazer

jornalístico tem se desenvolvido no Brasil.

1.3. O estudo de casos múltiplos

Por contar com duas unidades de análise, este trabalho aplicará a

metodologia do estudo de casos múltiplos.

Desta forma, desenvolve-se a teoria, os estudos de caso em separado e,

posteriormente, realiza-se uma análise cruzada. Segundo Yin, cada caso deve servir

a um propósito específico dentro do escopo global da investigação (2005, p. 68).

Neste caso, as unidades de análise aqui selecionadas – a revista NEO Interativa e o

jornal Brasil 24/7 – servirão para a análise cruzada que se propõe a compreender as

questões levantadas nas páginas anteriores ou, resumidamente, como o jornalismo

digital brasileiro tem se desenvolvido (observado por meio de dois referenciais

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pioneiros) em conjunto com as novas possibilidades proporcionadas pelo avanço

tecnológico.

Este trabalho, portanto, realizará a generalização analítica, em que,

segundo Yin (2005, p. 54) se utiliza uma teoria previamente desenvolvida como

modelo com o qual se devem comparar os resultados empíricos. Teremos, pois,

duas estruturas previstas na metodologia do estudo de caso: estrutura comparativa

e estrutura de construção da teoria. Este trabalho é, portanto, um estudo de caso

múltiplos, dado o seu caráter comparativo; exploratório, dada a falta de estudos

precedentes com a revista NEO Interativa e o jornal Brasil 24/7 (neste caso,

provavelmente devido ao seu recente lançamento) e, por fim, descritivo, no que

tange a comparar suas unidades de análise e seus resultados empíricos com a

teoria previamente desenvolvida.

É importante ressaltar que não há, nesta pesquisa, a pretensão de

realizar uma Análise do Discurso ou uma Análise de Conteúdo (embora alguns

elementos destas metodologias sejam abordados), analisando também a qualidade

editorial de ambas as publicações, mas sim somente suas características

tecnológicas e o quanto elas condicionaram, tornaram possível um novo modo de se

fazer jornalismo. Pretendemos, assim, levantar quais as evoluções ocorridas na

janela de 17 anos de avanços tecnológicos que separam a revista NEO Interativa e

o jornal Brasil 24/7.

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2. OS COMPUTADORES E A HISTÓRIA DA INTERNET

“A história da criação e do desenvolvimento da Internet é a história de

uma aventura humana extraordinária” (2003, p. 13). É com este superlativo que o

autor Manuel Castells abre o livro “A Galáxia da Internet”, traçando uma

retrospectiva histórica sobre os eventos que dariam vida ao atual conglomerado de

redes mundiais de computadores.

Com o trabalho de Castells, é interessante perceber uma perspectiva que

é colocada em xeque pelo autor: a criação da Internet para fins militares. De fato, a

criação da rede foi financiada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos,

contudo:

A Arpanet teve origem no Departamento de Defesa dos EUA, mas suas

aplicações militares foram secundárias para o projeto. O principal interesse

do IPTO era financiar a ciência da computação dos Estados Unidos e deixar

que seus cientistas fizessem seu trabalho, esperando que algo de

interessante surgiss e disso. (CASTELLS, 2003, p. 20).

Este é um ponto de grande relevância, visto que essa liberdade de

desenvolvimento possibilitaria, desde o início, um projeto voltado para o

conhecimento. Um importante personagem na construção da Internet, Tim Berners-

Lee, que como veremos nas próximas páginas, criou a World Wide Web,

corroborava: “A Web é mais uma criação social do que técnica. Eu não a projetei

como um brinquedinho. Precisamos ter certeza de que a sociedade que construímos

na rede é aquela que almejamos” (BERNERS-LEE apud VIEIRA, 2003, p. 2).

Para Castells, a cultura da Internet de hoje reflete a cultura de seus

criadores. A Internet nasceu em função de grupos de jovens cientistas da

computação que buscavam conseguir abranger o mundo inteiro através de um

projeto inovador de comunicação entre computadores. Por isso, como veremos

posteriormente, o conceito Web 2.0 é redundante. A Internet sempre foi um projeto

voltado para a distribuição de informação e conhecimento, financiado, sim, pelos

militares americanos, mas nunca criado especificamente para este fim.

Portanto a Arpanet, a principal fonte do que viria a ser a Internet, não foi

uma consequência fortuita de um programa de pesquisa que corria em

paralelo. Foi prefigurada, deliberadamente projetada e subsequentemente

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administrada por um grupo de determinados cientistas da computação que

compartilhavam uma missão que pouco tinha a ver com estratégia militar.

Enraizou-se num sonho científico de transformar o mundo através da

comunicação por computadores [...] (CASTELLS, 2003, p. 21).

Sobre os computadores, pode-se afirmar que o primeiro computador

digital foi projetado ainda no século XIX pelo cientista e matemático Charles

Babbage (TANENBAUM; WOODHULL, 2000, p. 19). Embora tenha dedicado sua

vida e fortuna ao projeto, Babbage nunca conseguiu fazer com que sua invenção

funcionasse adequadamente, devido ao fato da tecnologia da época não contemplar

as necessidades de seu projeto. Esse processo se concretizaria com a Segunda

Guerra Mundial e a necessidade de máquinas capazes de realizar cálculos

complexos. Em meados da década de 40 do século XX, portanto, acadêmicos norte-

americanos e europeus obtêm sucesso na construção de máquinas de cálculo

utilizando válvulas. “Essas máquinas eram enormes, ocupando salas inteiras com

dezenas de milhares de válvulas, e eram muito mais lentas que as simples

calculadoras de hoje em dia.” (TANENBAUM; WOODHULL, 2000, p. 20). Desde o

princípio da Ciência da Computação1, portanto, e assim como na história da criação

da Internet, a característica de desenvolvimento militar desses projetos está

presente, ainda que alguns deles não tenham sido criados especificamente para

este fim.

2.1. Os bastidores da Internet

Retrocedemos o tempo. O ano é 1958. Vive-se o período da Guerra Fria.

Na época a situação não era das mais tranquilas na América do Norte:

quase cinco anos após a ascensão de Leonid Brejnev como primeiro-

ministro da União Soviética (URSS), os norte-americanos enfrentavam uma

difícil guerra contra os vietnamitas, observavam com temor a ascensão do

1 Em 1936, o matemático Alan Mathison Turing (1912-1954) publicou o conceito da Máquina de Turing, que

viria a possibilitar, de fato, a criação do computador digital moderno. Entretanto, somente após o início da guerra e com a crescente necessidade de máquinas capazes de realizar cálculos complexos (para a quebra de criptografias inimigas) que os conceitos de Turing foram executados, o que justifica esta afirmativa. Com isto, Alan Turing entrou para a história como o pai da Ciência da Computação. Fonte: UOL Informática – <http://informatica.hsw.uol.com.br/alan-turing.htm> – Acesso em 29 de setembro de 2011.

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comunismo na China e perdiam terreno na Guerra Fria. A essa altura do

campeonato, na verdade, o jogo já estava 3 x 0 para a URSS: os

camaradas haviam colocado o primeiro satélite em órbita espacial, o

Sputnik; haviam mandado o primeiro ser vivo literalmente para o espaço, a

cadela Laika; e colocado a frase “A Terra é azul” na boca do primeiro

astronauta, Yuri Gagarin. Diante dessa situação, digamos, preocupante,

uma das saídas encontradas pelos norte-americanos foi apostar na

excelência de sua comunidade acadêmica para, quem sabe, fazer a

diferença. [...] (VIEIRA, 2003, p. 4).

Confiando em sua comunidade acadêmica na tentativa de reverter a

situação, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos cria a Agência de Projetos

de Pesquisa Avançada (Advanced Research Projects Agency, ARPA, na sigla em

inglês), em 1958, como resposta, principalmente, à vitória tecnológica da União

Soviética com o lançamento do primeiro satélite artificial, o Sputnik, no ano anterior.

Um dos departamentos da ARPA era a Divisão de Técnicas de

Processamento da Informação (Information Processing Techniques Office, IPTO, na

sigla em inglês). Em 1969, o IPTO inicia um pequeno programa de pesquisa

destinado a criar uma rede interativa de computadores, a partir da sede na ARPA,

sob o nome de Arpanet.

O objetivo desse departamento, tal como definido por seu primeiro diretor

Joseph Licklider, um psicólogo transformado em cientista da computação no

Massachusetts Institute of Technology (MIT), era estimular a pesquisa em

computação interativa. (CASTELLS, 2003, p. 14).

Para montar esta rede, a equipe do IPTO utilizou-se de uma tecnologia

então revolucionária de transmissão de telecomunicações (e recusada pelos

militares): a comutação por pacotes. Desenvolvida independentemente por Paul

Baran em um centro de pesquisas que frequentemente trabalhava para o Pentágono

(Rand Corporation) e por Donald Davies no Laboratório Nacional de Física Britânico,

esta tecnologia tinha como ideia a criação de uma rede de comunicação

descentralizada e flexível, que dispensasse a necessidade de um computador

mestre, sendo assim capaz de sobreviver a um ataque nuclear. Segundo Castells,

em 1969, os primeiros nós da Arpanet foram atados na Universidade da Califórnia

em Santa Bárbara e na Universidade de Utah. Em 1971, o número de locais onde a

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Arpanet estava presente chegava a 15, a maioria em centros universitários de

pesquisa (2003, p. 14).

Doravante, o próximo passo era tornar a Arpanet compatível com outras

redes de comunicação administradas pela ARPA, como a PRNET e a SATNET.

Essa necessidade acabou por criar um novo conceito: uma rede de redes. “Para que

pudessem falar umas com as outras, as redes de computadores precisavam de

protocolos de comunicação padronizados.” (CASTELLS, 2003, p. 14). O objetivo foi

conquistado, em parte, no ano de 1973, com o projeto de protocolo de controle de

transmissão (TCP, na sigla em inglês), em uma pesquisa liderada por Vint Cerf,

Gerard Lelann e Robert Metcalfe. Em 1978, o protocolo TCP foi dividido em duas

partes, ganhando um acréscimo de um protocolo intra-rede, gerando o TCP/IP,

padrão segundo o qual a Internet opera até hoje.

Em 1983, o Departamento de Defesa americano, preocupado com

possíveis falhas de segurança, cria a MILNET, esta sim uma rede específica para

finalidades militares, deixando a Arpanet – agora rebatizada para ARPA-INTERNET

– voltada apenas para fins de pesquisa. Em fevereiro de 1990, já tecnologicamente

obsoleta, a ARPA-INTERNET foi retirada de operação pelos militares, que liberaram

a administração da tecnologia para a Fundação Nacional de Ciência (NSF, na sigla

em inglês) dos Estados Unidos. “Com a tecnologia de redes de computadores no

domínio público, e as telecomunicações plenamente desreguladas, a Fundação

Nacional de Ciência tratou logo de encaminhar a privatização da Internet.”

(CASTELLS, 2003, p. 15).

Na década de 80 – antes dessa privatização, portanto – uma das ideias

do Departamento de Defesa dos Estados Unidos era comercializar, por conta

própria, a Internet. Assim, o Estado americano financiou fabricantes americanas de

computadores para incluir o TCP/IP em seus protocolos. Nos anos 90, logo, a

maioria dos computadores comercializados nos Estados Unidos já continha a

tecnologia capaz de acessar a ARPA-INTERNET, o que possibilitou a base da

criação da Internet e sua consequente exploração comercial.

No início da década de 1990 muitos provedores de serviços de Internet

montaram suas próprias redes e estabeleceram suas próprias portas de

comunicação em bases comerciais. A partir de então, a Internet cresceu

rapidamente como uma rede global de computadores. O que tornou isso

possível foi o projeto original da Arpanet, baseado numa arquitetura em

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21

múltiplas camadas, descentralizada, e protocolos de comunicação abertos.

Nessas condições a Net pôde se expandir pela adição de novos nós e a

reconfiguração infinita da rede para acomodar necessidades de

comunicação. (CASTELLS, 2003, p. 15).

Embora tenha sido a base primordial na criação da Internet, a Arpanet

não foi a única rede de computadores criada no mesmo período. Outros

experimentos, como a FIDONET, MODEM, BITNET etc, também colaboraram para

que a Internet se tornasse o que é hoje. Para Castells: “O formato atual da Internet é

também o resultado de uma tradição de base de formação de rede de

computadores” (2003, p. 15).

Outra forma bastante popular de comunicação entre computadores foram

os BBS, sigla para Bulletin Board System (sem tradução para o português), que são

“sistemas onde um computador central, equipado com diversos modems, serve

como base para troca de informações entre os usuários que acessarem o BBS a

partir de seus computadores pessoais, usando modems e linhas telefônicas.”

(COSTA apud LÉVY, 1999, p. 251). Veremos mais adiante que a revista NEO

Interativa, estudada nesta pesquisa, se utilizava desta tecnologia para abrir canais

de comunicação para seus leitores antes mesmo da Internet ser lançada no País.

2.2. A Internet no Brasil

No Brasil, os primeiros contatos com a rede mundial datam de 1988,

quando a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp),

ligada à Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia, realizou a primeira conexão à

Internet por meio de uma parceria com o Fermi National Accelerator Laboratory

(Fermilab2), um dos mais importantes centros de pesquisa científica dos Estados

Unidos. Segundo Vieira, esse experimento foi realizado pelos professores Oscar

Sala e Flávio Fava de Moraes, da Universidade de São Paulo (USP), que juntos

inauguraram a conexão oficialmente no ano seguinte (2003, p. 9). No mesmo

período, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Laboratório Nacional

2 O nome é uma homenagem ao físico italiano Enrico Fermi (1901-1954), ganhador do prêmio Nobel em 1938

por importantes descobertas na física nuclear. (VIEIRA, 2003, p. 9).

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de Computação Científica (LNCC), em Petrópolis, RJ, também se conectaram a rede

através de links com universidades americanas.

Em 1992, o Governo Federal cria a Rede Nacional de Pesquisa (RNP)

vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. A RNP era coordenada pelo

cientista Tadao Takahashi, e acabou criando uma gigantesca infraestrutura de cabos

para suportar a Internet, recebendo o link internacional da rede.

Paralelamente ao início das operações da RNP, surgiu no Rio de Janeiro

uma organização não-governamental (ONG), chamada Instituto Brasileiro

de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), que se tornaria a primeira

instituição brasileira fora do ambiente acadêmico a utilizar a Internet através

do Alternex, um serviço de correio eletrônico e grupos de discussão

conectado à rede, em 18 de julho de 1989. (VIEIRA, 2003, p. 9).

O sistema do Alternex seria testado novamente no País durante a Eco-92,

Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de

Janeiro. Para acompanhar os debates, um amplo sistema de veiculação de

informações eletrônicas foi montado. Neste ponto, Vieira afirma: “A Web, finalmente,

ganhava o Brasil” (2003, p. 9).

Nos anos seguintes, com a Internet evoluindo rapidamente nos Estados

Unidos, o que se viu no Brasil foi uma disputa pelos direitos de acesso à rede. Em

1994, o Governo Federal manifestou sua intenção de investir e promover o

desenvolvimento da rede no País, subordinando essas ações para o Ministério da

Ciência e Tecnologia. Segundo Vieira, a RPN colaboraria com a experiência

adquirida no ambiente acadêmico e a Embratel – na época a empresa do sistema

Telebrás – exploraria comercialmente a rede (2003, p. 10).

Com a eleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1995,

contudo, os planos sofreriam alterações bruscas devido às privatizações dos

serviços de telecomunicações brasileiros. Caberia, portanto, à iniciativa privada a

exploração comercial da Internet. Segundo Vieira, o último ato precedente ao

nascimento da Internet brasileira de fato ocorre em 1996, com a criação do Comitê

Gestor de Internet (CGI), representado, à época, pelo Ministério das Comunicações,

Ministério da Ciência e Tecnologia, universidades, ONGs, e provedores de acesso

(2003, p. 11). Até os dias atuais, o Comitê é a instituição de maior importância para

o governo quando o assunto é Internet.

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2.3. A Linguagem Unix

Uma das tendências mais marcantes ocorridas durante a gestação da

Internet a nível global veio da comunidade dos usuários UNIX. Para chegarmos até

sua criação, entretanto, é necessário voltarmos para o final da década de 60. Nesta

época, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) e as

empresas Laboratórios Bell e a General Electric (uma importante fabricante de

computadores na época) dedicaram-se ao desenvolvimento de um computer utility,

“uma máquina que suportaria centenas de usuários de tempo compartilhado

simultâneo” (TANENBAUM; WOODHULL, 2000, p. 23). Desse projeto nasceu um

sistema conhecido como MULTICS (MULTiplexed Information and Computing

Service – Serviço de Computação e Informação Multiplexado). O MULTICS

introduziu um leque de novas ideias na Ciência da Computação, mas construí-lo, à

época, se mostrou mais difícil que o esperado. Como resultado, “A Bell Labs retirou-

se do projeto e a General Electric desistiu completamente do negócio de

computadores” (TANENBAUM; WOODHULL, 2000, p. 23).

Posteriormente, cientistas que haviam trabalhado no sistema do

MULTICS, Ken Thompson, da Laboratórios Bell, e Dennis Ritchie, começaram a

escrever uma versão simplificada deste sistema, alterando drasticamente seu

conceito, agora objetivando um sistema monousuário. “Esse trabalho mais tarde

desenvolveu-se no sistema operacional UNIX, que se tornou popular no mundo

acadêmico, entre órgãos do governo e entre muitas empresas” (TANENBAUM;

WOODHULL, 2000, p. 23).

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24

Figuras 1 e 2 – Ken Thompson e Dennis Ritchie trabalham na criação do sistema operacional UNIX3.

3 Disponível em: <http://www.faqs.org/docs/artu/ch02s01.html> – Acesso em 21 de outubro de 2011.

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O UNIX, criado em 1969, era um sistema operacional que acabou sendo

habilitado para as universidades em 1974 com seu código-fonte na íntegra, sob

licença da empresa AT&T, permitindo que alterações fossem feitas em sua estrutura

por seus usuários. “O sistema tornou-se a língua franca da maior parte dos

departamentos de ciência da computação, e os estudantes logo se tornaram peritos

na sua manipulação.” (CASTELLS, 2003, p. 16).

Com o UNIX, defendia-se a bandeira do que Castells chama de

“movimento da fonte aberta”: “[...] uma tentativa deliberada de manter aberto o

acesso a toda a informação relativa a sistemas de software.” (CASTELLS, 2003, p.

16). Ainda segundo o autor, este movimento tem relação direta com a atual

configuração social e técnica da Internet4.

O “movimento da fonte aberta”, contudo, viria a sofrer um forte revés com

o lançamento da Versão 7 do UNIX:

Quando a AT&T lançou a Versão 7, começou-se a perceber quer o UNIX

era um produto valioso, e assim ela lançou essa versão com uma licença

proibindo que o código-fonte fosse estudado em cursos, para evitar pôr em

risco seu status de segredo de negócio. Muitas universidades tiveram de

conformar-se em simplesmente acabar com o estudo do UNIX e ensinar só

teoria. (TANENBAUM; WOODHULL, 2000, p. 25).

Visando resgatar o espírito do código-livre, Andrew Tanenbaum, Ph. D.

pela Universidade da Califórnia, decide escrever um novo sistema operacional,

compatível com o UNIX, mas completamente diferente em sua estrutura. Por não

usar nenhuma linha do código-fonte da AT&T, este novo sistema evitaria as

restrições de licenciamento, permitindo seu compartilhamento por qualquer usuário.

Tanenbaum batizou esse novo programa com o nome de MINIX: “O nome MINIX

significa mini-UNIX pois ele é tão pequeno que mesmo um não-especialista pode

entender seu funcionamento.” (TANENBAUM; WOODHULL, 2000, p. 25). Assim, a

comunidade universitária continuaria estudando sistemas operacionais, o que seria

vital para o aprimoramento da Internet e da Ciência da Computação como um todo.

Outro importante acontecimento na comunidade UNIX acontece em 1991,

quando Linus Torvalds, um estudante de apenas 22 anos da Universidade de

4 Ver Capítulo 3: As Teorias do Ciberespaço.

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Helsinki, desenvolve um novo sistema operacional também baseado na linguagem

UNIX (e, segundo Tanenbaum, copiado de seu sistema MINIX), o qual recebe o

nome de Linux. “Nesse ponto, um estudante finlandês, Linus Torvalds, decidiu

escrever um clone do MINIX projetado para ser um sistema de produção carregado

de recursos, em vez de uma ferramenta educacional.” (TANENBAUM; WOODHULL,

2000, p. 25). Levando o movimento da fonte aberta a um novo patamar, Torvalds

distribui o Linux gratuitamente pela World Wide Web (neste momento, a WWW já

estava criada5), solicitando ajuda dos usuários da rede para que aperfeiçoassem o

sistema e publicassem os resultados obtidos de forma colaborativa, isto é, para que

todos tivessem acesso.

O resultado dessa iniciativa foi o desenvolvimento de um robusto sistema

operacional Linux, constantemente aperfeiçoado pelo trabalho de milhares

de hackers e milhões de usuários, a tal ponto que o Linux é agora

considerado um dos sistemas operacionais mais avançados do mundo, em

particular para a computação baseada na Internet. (CASTELLS, 2003, p.

17).

Um ponto a ser ressaltado é que a criação do Linux é o resultado de um

processo iniciado na década de 80 com sistemas operacionais comerciais cada vez

mais amigáveis para usuários.

A ampla disponibilidade do poder de computação, especialmente a

computação altamente interativa, normalmente com excelentes gráficos,

levou ao crescimento de uma importante indústria de produção de software

para computadores pessoais. Grande parte desse software tinha uma

interface amigável, ou seja, projetada para usuários que não só ignoravam

tudo sobre computadores como também não tinham nenhuma intenção de

aprender. (TANENBAUM; WOODHULL, 2000, p. 24).

É deste movimento que surgem outros dois importantes sistemas que,

assim como o Linux, são utilizados até hoje. O MS-DOS, hoje substituído pelo

Windows, da empresa Microsoft, e o Mac-OS, da empresa Apple. O que Torvalds fez

foi levar o sistema de iconografia gráfica, conhecido como GUI, sigla em inglês para

Interface Gráfica do Usuário, desenvolvido pela Xerox Palo Alto Research Center

5 Ver sub-capítulo seguinte.

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27

(Parc), subsidiária de pesquisa da Xerox Corporation (FERRARI, 2007, p. 111),

aplicado comercialmente pela Apple e posteriormente copiado pela Microsoft, para o

movimento da fonte aberta, criando um sistema operacional de código livre tão

amigável quanto seus concorrentes comerciais, ainda que, como afirma Tenebaum,

o Linux seja, em sua estrutura básica, um clone do MINIX.

Por fim, é importante lembrarmos que também no final da década de 60,

assim como o UNIX, surge o Digital Compact Disc, comumente conhecido pela sigla

CD. Inventado por James T. Russell, um amante de música que procurava criar uma

mídia com maior qualidade para a reprodução de sons, o CD posteriormente foi

refinado para receber quaisquer tipos de dados (MIT6, Inventor of the Week: James

T. Russell), tornando-se uma importante mídia de dados para os computadores

digitais modernos com o CD-ROM, suporte no qual era editada a revista NEO

Interativa observada neste estudo, por exemplo.

2.4. World Wide Web 1.0

Na década de 90, o cenário para o sucesso da Internet já estava criado.

Computadores eram comercializados com o acesso à tecnologia do protocolo

TCP/IP de fábrica e conglomerados de redes entre computadores rumavam ao

infinito. A criação da World Wide Web (WWW, a Rede de Alcance Mundial) pelo

programador inglês Tim Berners-Lee seria o pontapé definitivo. À época, Berners-

Lee trabalhava no Laboratório Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN, sigla para

Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire posteriormente modificado para

European Organization for Nuclear Research), sediado em Genebra.

Embora o próprio Berners-Lee não tivesse consciência disso, seu trabalho

continuava uma longa tradição de ideias e projetos técnicos que, meio

século antes, buscara a possibilidade de associar fontes de informação

através da computação interativa. (CASTELLS, 2003, p. 17).

O trabalho de Berners-Lee começou em 1980, com o programa Enquire,

escrito durante esta década. “Foi Berners-Lee, porém, que transformou todos esses

sonhos em realidade, desenvolvendo o programa Enquire [...]” (CASTELLS, 2003, p.

6 Disponível em: <http://web.mit.edu/invent/iow/russell.html> - Acesso em 23 de outubro de 2011.

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18). O software definia e implementava a possibilidade de se obter e acrescentar

informação de e para qualquer computador que estivesse conectado à Internet

através de endereços como HTTP; MTML e URL. Posteriormente, trabalhando em

parceria com Robert Cailliau, Berners-Lee escreveu um novo programa

navegador/editor em dezembro de 1990. Era, portanto, a criação do que hoje

conhecemos como os web browsers, softwares que acessam páginas situadas na

World Wide Web. O software deste primeiro navegador de web foi lançado na

Internet pelo CERN em agosto de 1991. Quase que de imediato, milhares de

usuários passaram a trabalhar e tentar desenvolver seus próprios navegadores a

partir do trabalho de Berners-Lee.

A partir dessas modificações, uma versão de navegador para a WWW

surgiu do projeto de um estudante, Marc Andreessen, e um profissional, Eric Bina,

no Centro Nacional de Aplicações para Supercomputadores da Universidade de

Illinois. Chamado de Mosaic, a dupla incluiu uma avançada capacidade gráfica na

programação do software, o que permitiria a possibilidade de captar e distribuir

imagens pela Internet. Pouco tempo depois, Andreessen e Bina seriam procurados

por Jim Clark, empresário à procura de novas ideias para investir. Andreessen, Bina,

Clark e alguns outros colegas de trabalho juntos formaram uma nova empresa: a

Mosaic Communications, que mais tarde foi obrigada a rebatizar seu nome para

Netscape Communications. “A companhia tornou disponível na Net o primeiro

navegador comercial, o Netscape Navigator em outubro de 1994 [...]” (CASTELLS,

2003, p. 18). Nascia, portanto, o que hoje conhecemos como o primeiro web browser

comercial de sucesso da Internet, o Netscape.

É com a ascensão do Netscape que, à época, a empresa Microsoft decide

voltar seus olhos para a Internet, criando um navegador concorrente para o

Netscape, chamado de “Internet Explorer”:

Na década de 90, a Microsoft foi claramente muito lenta para visualizar o

potencial da Internet, permitindo à Netscape construir uma liderança

considerável no mercado com seu navegador. (Baboo - Internet Explorer:

ascensão e queda, 2010).

Em 1995, com o lançamento do sistema operacional Windows 95, a

Microsoft inclui o software Internet Explorer no pacote, baseado na tecnologia

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desenvolvida pela pequena companhia Spyglass. Doravante, inúmeros web

browsers comerciais começariam a surgir na rede, mas o Internet Explorer se

tornaria líder absoluto em utilização, alcançando, em 1999, o monopólio virtual de

web browsers, com cerca de 95% do mercado7.

Embora a Internet tivesse começado na mente de cientistas da computação

no início da década de 1960, uma rede de comunicações por computador

tivesse sido formada em 1969, e comunidades dispersas de computação,

reunindo cientistas e hackers tivessem brotado desde o final da década de

1970, para a maioria das pessoas, para os empresários e para a sociedade

em geral, foi em 1995 que ela nasceu. (CASTELLS, 2003, p. 19).

Assim sendo, este estudo considera o ano de 1995 como o marco inicial,

comercialmente falando, da Internet como uma tecnologia civil de comunicação.

2.5. A polêmica World Wide Web 2.0

O termo Web 2.0 é comumente utilizado para denotar o atual modus

operandi da Internet, isto é, a segunda geração da rede. A expressão foi cunhada

pelo consultor Tim O'Reilly, da companhia O'Reilly Media, durante uma conferência

onde se debatiam os rumos da rede mundial. Essa terminologia foi criada porque,

para O'Reilly, após o estouro da bolha das empresas ponto.com no início dos anos

20008, a opinião pública passou a se mostrar desacreditada em relação às

potencialidades da Internet.

Segundo o conceito Web 2.0, instabilidades são características inerentes

a qualquer nova tecnologia, e com a rede mundial de computadores não seria

diferente. Ainda segundo O'Reilly, o estouro da bolha das empresas ponto.com teria

delineado a Web 1.5, sendo uma inconstância causada por empresários vorazes por

7 Internet Explorer: ascensão e queda, 2010 – Baboo – Disponível em <

http://www.baboo.com.br/conteudo/modelos/Internet-Explorer-ascensao-e-queda_a38200_z0.aspx> – Acesso em 23 de setembro de 2011. 8 No início dos anos 2000, a "Bolha da Internet", ou seja, o fenômeno de supervalorização das empresas

ponto.com e de suas ações, estourou. Foi o fim de centenas de pequenas empresas virtuais que davam seus primeiros passos. No entanto, empresas sólidas saíram praticamente ilesas. Viu-se que o mercado de Internet gera lucros e que, apesar de extenso, tem limites. Fonte: Terra Tecnologia – <http://tecnologia.terra.com.br/internet10anos/interna/0,,OI542324-EI5026,00.html> – Acesso em 21 de setembro de 2011.

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dinheiro fácil e desconhecimento da nova ferramenta, acarretando em medo e

incertezas sobre o futuro e verdadeiro potencial da Internet.

Para o consultor, contudo, essas instabilidades são superadas e

culminam na criação da Web 2.0:

Web 2.0 é a mudança para uma internet como plataforma, e um

entendimento das regras para obter sucesso nesta nova plataforma. Entre

outras, a regra mais importante é desenvolver aplicativos que aproveitem os

efeitos de rede para se tornarem melhores quanto mais são usados pelas

pessoas, aproveitando a inteligência coletiva. (O'REILLY, 2005, p. 1).

A Web 2.0 seria, portanto, a utilização da rede mundial para o

compartilhamento de conhecimento, sendo definida principalmente por ferramentas

como os sites Wiki9, blogs, redes sociais etc. O'Reilly se utiliza também de um

conceito do filósofo francês Pierre Lévy (a inteligência coletiva) para dar mais

embasamento ao termo. Tratado no capítulo seguinte deste estudo, o conceito de

inteligência coletiva, entretanto, é mais complexo do que a apropriação simplista de

O'Reilly o faz parecer. “Se o Netscape foi a principal referência da Web 1.0, o

Google certamente é a referência central da Web 2.010” (O'REILLY, 2005, p. 1).

Como é possível perceber, há uma grande falha no conceito de Web 2.0.

Afinal, a Internet não fora criada justamente com esse ideal de compartilhamento de

informação e conhecimento? Quem responde, de maneira efusiva, é o próprio

criador da Web, Tim Berners-Lee, em uma entrevista concedida para a IBM

Developer Works (site da empresa dedicado a reunir informações para

programadores):

Web 1.0 foi toda baseada em conectar pessoas. Foi um espaço interativo, e

eu acho que Web 2.0 é, com certeza, um jargão; ninguém sabe sequer o

que significa. Se a Web 2.0 para você é blogs e wikis, então significa que é

de pessoa para pessoa. Mas isso sempre foi o que a Web supostamente

deveria ser. E, na verdade, você sabe, este termo Web 2.0, entre aspas,

significa utilizar todos os padrões que tenham sido produzidos por todas as

9 Um Wiki ([ˈwiː.kiː] <wee-kee> ou [ˈwɪ.kiː] <wick-ey>) é um tipo de site que permite aos usuários adicionar,

remover, ou editar e modificar seu conteúdo de maneira rápida e fácil. <http://pagi.wikidot.com/what-is-a-wiki-site> –- Acesso em 21 de setembro de 2011. 10

No texto original: “If Netscape was the standard bearer for Web 1.0, Google is most certainly the standard bearer for Web 2.0”.

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pessoas que trabalharam na Web 1.0. Significa usar o modelo de objeto-

documento, que significa trabalhar com HTML , SCG e assim por diante; a

Web 2.0 está usando HTTP, isso é construir coisas usando os padrões Web

1.0, com a adição do Java script, é claro. Então, Web 2.0 para algumas

pessoas significa dar voz para o lado do cliente, tornando-a mais imediata,

mas a ideia da Web como a interação entre as pessoas é realmente o que

ela é. Esse foi o projeto de ser um espaço colaborativo onde as pessoas

poderiam interagir.11

(BERNERS-LEE, IBM Developer Works, 200612

).

Podemos concluir, pois, que o termo “Web 2.0” nada mais representa –

ainda que de forma mais concreta em sua temporalidade – a utilização da Internet

para o objetivo o qual ela sempre fora projetada.

Muitos consideram toda a divulgação em torno da Web 2.0 um golpe de

marketing. Como o universo digital sempre apresentou interatividade, o

reforço desta característica seria um movimento natural e, por isso, não

daria à tendência o título de "a segunda geração". Polêmicas à parte, o

número de sites e serviços que exploram esta tendência vem crescendo e

ganhando cada vez mais adeptos. (Folha de São Paulo, 10/06/200613

).

Apesar de toda a polêmica em torno do conceito, a terminologia Web 2.0

“pegou”, sendo utilizada em diversas publicações, inclusive científicas, para

denominar a Internet como uma ferramenta de compartilhamento de informação e

conhecimento. O sucesso foi tamanho que, recentemente, a terminologia está

recebendo uma “continuação”: a Web 3.0.

2.6. World Wide Web 3.0

11 No texto original: “Web 1.0 was all about connecting people. It was an interactive space, and I think Web 2.0 is of course a piece of jargon, nobody even knows what it means. If Web 2.0 for you is blogs and wikis, then that is people to people. But that was what the Web was supposed to be all along. And in fact, you know, this Web 2.0, quote, it means using the standards which have been produced by all these people working on Web 1.0. It means using the document object model, it means for HTML and SCG and so on, it's using HTTP, so it's building stuff using the Web standards, plus Java script of course. So Web 2.0 for some people it means moving some of the thinking client side so making it more immediate, but the idea of the Web as interaction between people is really what the Web is. That was what it was designed to be as a collaborative space where people can interact”. 12

Disponível em: <http://www.ibm.com/developerworks/podcast/dwi/cm-int082206.txt> – Acesso em 23 de setembro de 2011. 13

Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u20173.shtml> – Acesso em 21 de setembro de 2011.

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Continuando o conceito de Web 2.0, John Markoff, jornalista do The New

York Times, cunha o termo Web 3.0, em um artigo publicado no jornal em novembro

de 2006, para representar a nova evolução para a qual, invariavelmente, caminharia

o desenvolvimento da Internet. Este novo conceito, também conhecido como Web

Semântica, sugere que as novas ferramentas da rede serão desenvolvidas com

base em inteligências artificiais cada vez mais complexas, criadas à semelhança do

raciocínio humano. Segundo Markoff, futuramente a Internet estará cada vez mais

dotada de significado e poderosos consultores virtuais poderão exercer tarefas

cotidianas antes restritas aos homens.

A meta deles é adicionar uma camada de significado sobre a Internet

existente, o que a tornaria menos um catálogo e mais um guia - até mesmo

fornecendo a fundação para sistemas que possam raciocinar de forma

humana. Tal nível de inteligência artificial tem escapado aos pesquisadores

há mais de meio século. (MARKOFF, The New York Times, 2006).

Desta vez, a terminologia apresenta uma ironia: essa conceituação,

apontada como a terceira geração da Web, é baseada em um grupo de pesquisa

liderado por Berners-Lee no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), através

do W3C (World Wide Web Consortium). “O grupo trabalha na construção de uma

rede em que os computadores entendem semântica. Eles compreenderiam o

significado das palavras que usamos na rede”. (FERRARI, 2007, p. 12). Ora, como

visto anteriormente, o próprio Berners-Lee é contrário ao jargão Web 2.0. Logo, não

é irônico que seu trabalho sirva, novamente, para a continuação dessa terminologia?

Da mesma forma que seu antecessor e pelos mesmos motivos, o termo

Web 3.0 desperta, ao mesmo tempo, a fúria e a simpatia das comunidades virtuais.

De diferenças, este termo parece fazer mais sentido, uma vez que pretende

adicionar novas configurações para a rede mundial de computadores, características

estas que não estavam previstas em seu projeto original de criação. Portanto, talvez

a Web 3.0 seja, caso venha a se concretizar, verdadeiramente a segunda geração

da World Wide Web. E, neste cenário, talvez até Berners-Lee passasse a adotar o

termo, agora sim dotado de coerência, Web 2.0.

2.7. O iPad e a popularização dos tablets

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Conceitualmente, um computador tablet pode ser comparado como sendo

uma versão digital das clássicas ferramentas “bloquinho e caneta”. Com o avanço

tecnológico, tornaram-se, em uma lógica mcluhaniana14, verdadeiras extensões

digitais de nossas próprias mãos.

O tablet iPad, fabricado pela empresa americana Apple, não foi a primeira

tentativa de popularizar este novo formato de computador no comércio de

eletrônicos mundial. Antes dele muitos outros experimentos foram tentados, alguns

até com desempenho comercial razoável, mas nenhum alcançou o mesmo êxito de

popularização obtido pelo iPad.

Em menos de um mês, a Apple vendeu 1 milhão de iPads. [...] Em março de

2011, nove meses após o lançamento, tinham sido vendidos 15 milhões.

Dependendo dos critérios de medida, tornou-se o bem de consumo de mais

sucesso na história. (ISAACSON, 2011, p. 721).

O jornal Brasil 24/7, estudado neste trabalho, traz em seu website alguns

dados que confirmam os números apresentados acima:

O iPad é o produto de mais rápida penetração em toda a história. Nos

primeiros 28 dias, suas vendas alcançaram 1 milhão de unidades, segundo

a Apple. Em 2010, 19,5 milhões de tablets foram vendidos no mundo. E as

vendas foram lideradas pelo iPad. (Jornal Brasil 24/7, 201115

).

Com este sucesso, diversas empresas aderiram ao negócio dos

computadores tablets, dentre elas gigantes multinacionais como: LG, Motorola,

Samsung, Sony, etc. A norte-americana Google também entra neste mercado, mas

visando a produção de sistemas. Surge, então, o sistema operacional Android

Honeycomb, desenvolvido especificamente para tablets e disponibilizado para

licenciamento por parte de terceiros (G1, 02/02/201116). Portanto, embora não tenha

sido o primeiro, é possível afirmar que o tablet iPad popularizou o mercado dos

computadores tablet.

14

Ver Capítulo 3: As Teorias do Ciberespaço. 15

Disponível em: <http://brasil247.com.br/pt/247/info/175/quem-somos.htm> – Acesso em 2 de novembro de 2011. 16

Disponível em: <http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2011/02/google-apresenta-versao-do-android-para-tablets.html> – Acesso em 2 de setembro de 2011.

Page 36: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

34

Assim sendo, há quem já até arrisque uma nova conceituação: a era pós-

PC17. É o caso de Walter Isaacson, editor da revista norte-americana Time e

biógrafo de Steve Jobs, co-fundador da Apple18. Para Isaacson, o lançamento do

iPad mudou drasticamente o mercado editorial, assim como abriu novas fronteiras

para o jornalismo digital. “Com o iPad e a App Store, ele começou a transformar todo

os meios de comunicação, desde editores e imprensa, até a televisão e o cinema”

(ISAACSON, 2011, p. 728).

Segundo Isaacson, o iPad foi anunciado em 27 de janeiro de 2010 em

uma conferência em San Francisco. À época, gerou um grande frenesi:

A revista The Economist deu Jobs na capa, com manto e auréola,

segurando “a Tábua [tablet] de Jesus” como disseram. O Wall Street

Journal também fez uma exaltação parecida: “Na última vez que ocorreu

todo esse alvoroço em torno de uma tábua, havia alguns mandamentos

escritos nela”. (ISAACSON, 2011, p 714).

Para Isaacson, o grande diferencial moldado pelo iPad foi o seu sistema

baseado em aplicativos, herdado de um produto antecessor da Apple:

O fenômeno dos aplicativos começou com o iPhone. [...] O iPad e outros

aparelhos digitais baseados em aplicativos inauguraram uma mudança

fundamental no mundo digital. No começo, nos anos 1980, para entrar on-

line geralmente era preciso utilizar um serviço como AOL, CompuServe ou

Prodigy, que ofereciam conteúdo num espaço cuidadosamente delimitado, e

mais algumas portas de saída que permitiam aos usuários mais arrojados

ter acesso amplo à internet em geral. A segunda fase, que começou no

início dos anos 1990, foi marcada pelo advento dos navegadores que

permitiam que todos percorressem a internet à vontade, usando os

protocolos de transferência de hipertexto (http) da World Wide Web, que

acessava bilhões de sites. [...] O lançamento do iPad anunciou um novo

modelo [...]. (ISAASCON, 2011, p. 725).

17

Sigla para Personal Computer; em português, Computador Pessoal. 18

Steve Jobs foi também um dos primeiros financiadores da criação do Laboratório de Mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), departamento da Universidade americana que pesquisa inovações tecnológicas e suas aplicações no cotidiano das sociedades. (NEGROPONTE, Forbes, 05/10/2011) Disponível em: <http://www.forbes.com/sites/velocity/2011/10/05/nicholas-negroponte-steve-jobs-influence-not-influenced> – Acesso em 23 de outubro de 2011. Algumas teorias do atual diretor do Media Lab do MIT, Nicholas Negroponte, serão vistas no próximo capítulo deste trabalho.

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35

O modelo de aplicativos permite que desenvolvedores externos produzam

conteúdos para as plataformas que seguem esse padrão. Um exemplo está neste

trabalho: o jornal Brasil 24/7 é um aplicativo externo criado pela Editora 247

especificamente para o iPad. Posteriormente, a editora desenvolveu também uma

versão para o sistema operacional Android, da Google (que também opera com

aplicativos), passando, assim, a disponibilizar o jornal em tablets concorrentes ao da

Apple. Para Isaacson, o modelo de aplicativos se tornou uma alternativa vantajosa

para os criadores de conteúdo, principalmente para editoras (2011, p. 728).

Segundo dados de uma pesquisa realizada pelo Projeto para Excelência

em Jornalismo do Centro de Pesquisa da Pew, em parceria com o grupo The

Economist, 77% dos usuários de tablets utilizam o apetrecho diariamente, sendo que

mais da metade (53%) consomem notícias também diariamente.

O levantamento da Pew aponta ainda que 30% dos usuários de notícias em

tablet hoje passam mais tempo consumindo conteúdo jornalístico do que

antes de terem comprado o dispositivo. (Folha On-line, 25/10/201119

).

Em outro importante levantamento divulgado em abril de 2011, constatou-

se que os livros digitais (também conhecidos como e-books) se transformaram na

categoria individual mais vendida do mercado editorial americano, segundo a

Associação de Editores Americanos (Association of American Publishers – AAP). “As

vendas de livros eletrônicos cresceram 202,3% em fevereiro quando comparadas ao

igual período de 2010, de acordo com a AAP. A demanda por livros impressos, ao

contrário, está em franca decadência” (iG, 15/04/201120). Tais números refletem o

momento posterior de lançamento do tablet iPad, bem como a popularização deste

novo modelo de computador.

19

Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/tec/996388-quem-tem-tablet-nao-desgruda-dele-e-le-mais-noticia-diz-pesquisa.shtml> – Acesso em 26 de outubro de 2011. 20

Disponível em: <http://economia.ig.com.br/empresas/comercioservicos/livro+digital+vende+mais+que+impresso+pela+primeira+vez+nos+eua/n1300077836336.html> – Acesso em 26 de outubro de 2011.

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36

3. AS TEORIAS DO CIBERESPAÇO

No capítulo anterior, retomamos brevemente a história da Internet e de

alguns contextos do desenvolvimento da Ciência da Computação. Assim sendo, com

o passar dos anos tem-se o efeito de que “a computação não é mais domínio

exclusivo dos militares, do governo e dos negócios, mas está sendo canalizada

diretamente para as mãos de indivíduos [...]” (NEGROPONTE, 1995, p. 83). Para o

filósofo francês Pierre Lévy: “A partir da invenção de uma pequena equipe do CERN,

a World Wide Web propagou-se entre os usuários da Internet como um rastilho de

pólvora para tornar-se, em poucos anos, um dos principais eixos de

desenvolvimento do ciberespaço” (1999, p. 154).

A Internet, portanto, torna-se uma tecnologia de comunicação civil e

rapidamente começa a ocupar o centro da vida cotidiana das pessoas onde é

estabelecida. O autor Lorenzo Vilches diz que “[...] somos todos emigrantes de uma

nova economia criada pelas tecnologias do conhecimento, que supõe o

deslocamento para um planeta altamente tecnificado” (2003, p. 10). Concomitantes

e atentos a esse novo processo, pesquisadores criam os conceitos de ciberespaço e

cibercultura. Mas o que eles significam?

A palavra ciberespaço, de origem americana, foi empregada pela primeira

vez pelo autor de ficção científica William Gibson, em 1984, no romance

Neuromancer21. Sobre Gibson e sua obra, há uma interessante estória que circulou

no final da década de 80 relacionada à teoria mcluhaniana, que retomaremos nas

páginas seguintes:

No final da década de 1980, circulava entre os fãs de ficção científica a

seguinte história: em uma conferência, pouco depois do lançamento de seu

livro Neuromancer, o escritor americano William Gibson teria sido abordado

por ninguém menos que Marshall McLuhan, que lhe disse: “Você realizou

meu sonho.” Esse encontro não é citado em nenhum texto biográfico

referente aos dois escritores – porque provavelmente jamais ocorreu.

McLuhan morreu em 1980, três anos antes de Gibson concluir o que é até

hoje considerada sua obra-prima. [...] O advento do ciberespaço seria, para

muitos desses fãs, uma interpretação bastante adequada do conceito mais

famoso do professor canadense Marshall McLuhan: a aldeia global –

21 LÉVY, Pierre. A Inteligência Coletiva: por uma antropologia do ciberespaço, 1998, p. 104.

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37

precisamente o “sonho” que Gibson teria realizado ao construir o mundo de

Neuromancer. (FERNANDES, 2003, p. 1).

Para Pierre Lévy, o ciberespaço “é o novo meio de comunicação que

surge da interconexão mundial dos computadores” (1999, p. 17). O termo diz

respeito não apenas à infraestrutura material da comunicação digital, mas também

ao universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos

que são, simultaneamente, produtores e consumidores deste universo.

O dilúvio informacional jamais cessará. [...] Não há nenhum fundo sólido sob

o oceano das informações. Quanto ao neologismo “cibercultura”, este

especifica o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de prática, de

atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem

juntamente com o crescimento do ciberespaço. (LÉVY, 1999, p. 14-17).

Em outras palavras, a cibercultura é um processo inerente e relativo ao

ciberespaço, que, por sua vez, é congênere à Internet.

As teorias do ciberespaço e da cibercultura, contudo, apresentam pontos

de vista bastante divergentes. Segundo Vilches:

De um lado, a versão otimista e utópica que prevê uma sociedade mais

igualitária, mais livre e com o pleno exercício do direito de expressão

individual, que será obtido com o desenvolvimento das Teorias da

Informação e da Comunicação. Do outro, uma crítica radical a essas

posições, uma vez que o desenvolvimento das tecnologias é uma fase de

adaptação do capitalismo [...]. (VILCHES, 2003, p. 10).

Assim sendo, o presente capítulo fará um também breve retrospecto das

teorias do ciberespaço. Pretendemos, com isto, exemplificar as possibilidades

tecnológicas que se tornaram disponíveis com o passar do tempo e suas

consequências, de acordo com alguns autores, para as sociedades humanas. Desta

forma, poderemos contrastar algumas dessas reflexões com a teoria do jornalismo

digital e verificar se estas são possíveis ou utilizadas nas unidades de análise

propostas nesta pesquisa.

3.1. A Teoria McLuhaniana

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38

Em 1965, o jornalista Tom Wolfe escreveu um perfil de Marshall McLuhan

para o jornal New York Herald, lançando a seguinte questão: “Supondo-se que ele

seja o que parece, o pensador mais importante desde Newton, Darwin, Freud,

Einstein e Pavlo [...], e se ele estiver certo?”22

O pensador canadense Herbert Marshall McLuhan é comumente citado

como um importante pesquisador dos efeitos dos meios de comunicação de massa.

Um de seus livros mais referenciados, “Os meios de comunicação como extensões

do homem”, foi publicado em 1964 nos Estados Unidos, isto é, justamente na

década em que a Ciência da Computação estava em pleno desenvolvimento

(período da Guerra Fria23), criando novas perspectivas para o futuro, o que, de certa

forma, se refletiu no trabalho deste autor. “McLuhan, até então, conhecia a

potencialidade dos computadores e suas múltiplas funções, com base nos

equipamentos que eram empregados pelo exército e pelo serviço de inteligência dos

Estados Unidos” (ALMEIDA, 2007, p. 18).

Assim sendo, McLuhan observou não apenas o impacto dos meios de

comunicação na sociedade, como também antecipou o que hoje conhecemos como

a Internet, o ciberespaço e a cibercultura. Para McLuhan, “A tecnologia é parte de

nosso corpo” (1969, p. 88), e os meios de comunicação nada mais são do que a

extensão de nossos sentidos. “Qualquer invenção ou tecnologia é uma extensão ou

auto-amputação de nosso corpo [...]” (MCLUHAN, 1969, p. 63). Partindo desse

pressuposto, o pensador canadense cunhou dois importantes conceitos, “o meio é a

mensagem e a aldeia global”, que até hoje servem como uma espécie de base para

as teorias do ciberespaço.

Ao afirmar que o “o meio é a mensagem”, talvez o seu mais importante

aforismo, McLuhan quer dizer que “a mensagem de qualquer meio ou tecnologia é a

mudança de escala, cadência ou padrão que esse meio ou tecnologia introduz nas

coisas humanas” (1969, p. 22). “Os efeitos das tecnologias não ocorrem aos níveis

das opiniões e dos conceitos: eles se manifestam nas relações entre os sentidos e

nas estruturas da percepção, num passo firme e sem qualquer resistência.”

(MCLUHAN, 1969, p.34).

22

MANZANO, Rodrigo. Meio e Mensagem – O Centenário de McLuhan <http://www.meioemensagem.com.br/home/comunicacao/noticias/20110720-O-centenario-de-McLuhan.html> – Acesso em 2 de setembro de 2011. 23

Ver Capítulo 2: Os Computadores e a História da Internet.

Page 41: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

39

Como extensões de nossos sentidos, as futuras tecnologias, que na

década de 60 McLuhan titulava de “era da eletricidade”, culminariam num ponto em

que projetaríamos nossa própria consciência como uma extensão de nosso sistema

nervoso central. Desta forma:

Ao colocar nosso corpo físico dentro do sistema nervoso prolongado,

mediante os meios elétricos, nós deflagramos uma dinâmica pela qual todas

as tecnologias anteriores – meras extensões das mãos, dos pés, dos dentes

e dos controles de calor do corpo, e incluindo as cidades como extensões

do corpo – serão traduzidas em sistemas de informação. A tecnologia

eletromagnética exige dos homens um estado de completa calma e repouso

meditativos, tal como convém a um organismo que agora usa seu cérebro

fora do crânio e os nervos fora do abrigo. (MCLUHAN, 1969, p. 77).

Com todos os antigos meios traduzidos em sistemas de informação, e

nosso sistema nervoso prolongado através da “eletricidade”, teríamos a criação de

uma consciência mundial, coletiva e descentralizada, onde o globo já não seria mais

do que uma vila. Segundo McLuhan, isto faria com que retornássemos a uma era

tribal, sem qualquer verbalização:

A eletricidade indica o caminho para a extensão do próprio processo da

consciência, em escala mundial e sem qualquer verbalização. Um estado de

consciência coletiva deve ter sido a condição do homem tribal. (MCLUHAN

1969, p. 98).

Destas ideias, nasce o conceito da Aldeia Global, onde McLuhan visionou

uma sociedade tribal, nômade, voltada para o processo criativo do conhecimento,

valorização das singularidades – “O uniforme e o repetível deve ceder ao único e ao

singular [...]” (MCLUHAN, 1969, p. 363) – e a descentralização do poder – “[...] a

tendência política é a de afastar-se da representação e delegação de poderes em

direção ao envolvimento imediato de toda a comunidade nos atos centrais da

decisão” (MCLUHAN, 1969, p. 230). Para o canadense, uma vez que nossa

consciência estivesse imersa no mundo do computador, poderíamos “programá-la”

para que não cedesse “ao entorpecimento e à alienação narcísica provocada pelas

ilusões do mundo do entretenimento.” (1969, p. 81).

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40

Quarenta e sete anos depois da publicação de “Os meios de

comunicação como extensões do homem”, o que McLuhan chamava de meios

elétricos se aglutinaram sob o prisma da comunicação digital. E o mais próximo que

chegamos de seu conceito de Aldeia Global é o que hoje, graças a Gibson,

chamamos de ciberespaço.

3.2. O conceito de Inteligência Coletiva segundo Pierre Lévy

“O ciberespaço abre hoje imensas perspectivas de um aprofundamento

das práticas democráticas. Mas saberemos apreender essas novas possibilidades?”

(LÉVY, 1998, p. 81).

Com muitos pontos em comum à teoria de McLuhan, o filósofo francês

Pierre Lévy cria o conceito de inteligência coletiva sob uma ótica antropológica do

ciberespaço. Para Lévy, o ciberespaço como suporte da inteligência coletiva é uma

das principais condições de seu desenvolvimento. “O mundo virtual é sem dúvida o

meio da inteligência coletiva [...]” (LÉVY, 1998, p. 100). Paradoxalmente, o

crescimento do ciberespaço não determina automaticamente o desenvolvimento

desta inteligência coletiva, mas apenas fornece um ambiente propício para que ela

progrida. Para Lévy, portanto, é necessário que trabalhemos com o objetivo de

desenvolver a inteligência coletiva em mente.

Nesta inteligência coletiva, o foco seria o “Espaço do saber”: um espaço

desterritorializado, onde retornamos ao nomadismo pelo conhecimento e que não

pertence nem às instituições ou aos Estados. Um espaço invisível de inteligências,

saberes, potências de pensamento em que brotam e se transformam qualidades do

ser e maneiras de constituir sociedades.

No “Espaço do saber” três características são fundamentais para a sua

compreensão: a velocidade, a massa e as ferramentas:

Características do Espaço do Saber: a velocidade: jamais a evolução das

ciências e das técnicas foi tão rápida, com tantas consequências diretas

sobre a vida cotidiana, o trabalho, os modos de comunicação, a relação

com o corpo, com o espaço etc. Hoje é no universo dos saberes que a

aceleração é mais acentuada e as configurações mais móveis. Eis uma das

razões pelas quais o saber (entendido no seu sentido mais amplo) lidera as

outras evoluções da vida social.

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41

A massa: tornou-se impossível reservar o conhecimento, até mesmo seu

movimento, à classe de especialistas. É o conjunto do coletivo humano que

deve, daqui por diante, se adaptar, aprender e inventar para viver melhor no

universo complexo e caótico em que passamos a viver.

As ferramentas: a quantidade de mensagens em circulação jamais foi tão

grande, mas dispomos de um número muito reduzido de instrumentos para

filtrar a informação pertinente, para efetuar comparações segundo

significações e necessidades que continuam sendo subjetivas, para nos

orientar no fluxo informacional. É nesse ponto que o Espaço do saber deixa

de ser objeto de uma constatação para tornar-se um projeto. Constituir o

Espaço do saber seria, em especial, dotar-se dos instrumentos

institucionais, técnicos e conceituais para tornar a informação “navegável”,

para que cada um possa orientar-se e reconhecer os outros em função dos

interesses, competências, projetos, meios, identidades recíprocos no novo

espaço. (LÉVY, 1998, p. 25).

De forma semelhante à McLuhan, Lévy também idealiza o futuro da era

porvir como um mundo nômade. Com a inteligência coletiva e o “Espaço do saber”,

Lévy propõe que nos reinventemos totalmente como espécie, executando,

conscientemente, projetos que nos auxiliem a alcançar esse novo status quo: “Não

se trata de raciocinar em termos de impacto, mas também em termos de projeto”.

(LÉVY, 1998, p. 13)

A inteligência coletiva é uma inteligência distribuída por toda parte,

incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma

mobilização efetiva das competências. Estas competências, segundo Lévy, não

responderiam a uma ordem hierárquica; não haveria mais, por exemplo, uma

distinção entre os campos do conhecimento, pois tudo estaria integrado e seria

importante para o projeto de inteligência coletiva.

Mas, se nos engajássemos na via da inteligência coletiva, progressivamente

inventaríamos as técnicas, os sistemas de signos, as formas de

organização social e de regulação que nos permitiriam pensar em conjunto,

concentrar nossas forças intelectuais e espirituais, multiplicar nossas

imaginações e experiências, negociar em tempo real e em todas as escalas

soluções práticas aos complexos problemas que estão diante de nós.

Aprenderíamos aos poucos nos orientar num novo cosmo em mutação, à

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deriva; a nos tornar, na medida do possível, seus autores; a nos inventar

coletivamente como espécie. (LÉVY, 1998, p. 17).

Assim, o Espaço do saber teria vocação para comandar os espaços

anteriores, e não substituí-los, reconstruindo o papel histórico do Estado, [“o projeto

da inteligência coletiva supõe o abandono da perspectiva do poder.” (LÉVY, 1998, p.

201)] o de outras instituições fundamentais para a vida em sociedades, e

constituindo uma nova engenharia do laço social. Da mesma forma que a

cibercultura é um processo resultante do ciberespaço, o “Espaço do saber” é

também um efeito condicionado pela inteligência coletiva.

Passaríamos, portanto, para uma nova era, onde não mais vigoraria um

regime democrático, mas sim um regime demodinâmico: “[...] democracia (do grego

demos, povo e kratein, comandar) ao da demodinâmica (do grego dynames, força,

potência)” (LÉVY, 1998, p. 82). O conceito da inteligência coletiva encontra

semelhança à Aldeia Global de McLuhan até em sua defesa pela renovação dos

sentidos: “O intelectual coletivo reapropria-se da produtividade semiótica confiscada

pelos poderes do Território e pelos circuitos do Espetáculo.” (LÉVY, 1998, p. 147).

Essa visão otimista defendida por Pierre Lévy, que não esconde sua

inspiração no Iluminismo, é compartilhada também por Nicholas Negroponte,

fundador e diretor do Laboratório de Mídia do Instituto de Tecnologia de

Massachusetts (MIT, em inglês):

Hoje, quando 20% do mundo consome 80% de seus recursos, quando um

quarto de nós possui um padrão de vida aceitável e os outros três quartos

não, como superar essa divisão? [...] uma nova geração está surgindo na

paisagem digital, desembaraçada de muitos dos antigos preconceitos. Essa

criançada está liberta da limitação imposta pela proximidade geográfica

como único terreno para o desenvolvimento da amizade, da colaboração, do

divertimento e da vizinhança. A tecnologia digital pode vir a ser uma força

natural a conduzir as pessoas para uma maior harmonia mundial.

(NEGROPONTE, 1995, p. 218).

Entretanto, Lévy também avalia o risco de que o ciberespaço evolua para

algo negativo, considerando a hipótese do mundo digital se transformar

simplesmente em uma mera “supertelevisão”:

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É, com efeito, um dos futuros possíveis. Mas, se avaliássemos a tempo a

importância do que está em jogo, os novos meios de comunicação

poderiam renovar profundamente as formas do laço social, no sentido de

uma maior fraternidade, e ajudar a resolver os problemas com os quais a

humanidade hoje se debate. (LÉVY, 1998, p. 13).

O conceito de inteligência coletiva, portanto, é cunhado por Pierre Lévy

como a idealização do quão benéfica esta nova era das sociedades tecnológicas

pode se tornar para a espécie humana. Para o autor, contudo, nós precisamos

projetar este novo mundo, pô-lo em prática e engajarmo-nos coletivamente para o

seu sucesso. Nas páginas seguintes (e também na teoria do jornalismo digital, no

próximo capítulo), veremos que alguns autores consideram este viés da teoria do

ciberespaço como utópico, mas Lévy rebate: “Sim, o Espaço do saber é utópico,

mas trata-se de uma utopia possível.” (LÉVY, 1998, p. 154). Para Lévy, no Espaço

do saber o ser humano pluraliza sua identidade, explora mundos heterogêneos,

sendo ele próprio um ser heterogêneo, múltiplo, pensante (1998, p. 135).

3.3. Cibercultura

Conforme vimos anteriormente, a cibercultura pode ser definida como um

conjunto de atitudes, práticas, técnicas, pensamentos e valores que se desenvolvem

paralelamente ao ciberespaço. A cibercultura é inerente e condicionada pelo

ciberespaço.

Com a cibercultura, vemos o surgimento de diversos tipos de novas

formas de produção de conteúdo; um dilúvio informacional que, segundo Lévy,

jamais cessará: “[...] Devemos aceitá-lo como nossa nova condição. Temos que

ensinar nossos filhos a nadar, flutuar, talvez a navegar.” (LÉVY, 1999, p. 14). Neste

oceano de informações, navegar é preciso.

Para Lorenzo Vilches, o ciberespaço e a cibercultura criam um movimento

de migração que modifica totalmente o modo de vida das pessoas:

A migração digital começou a transformar a dinâmica social de modo tão

massivo como o fizeram as migrações do campo para a cidade no alvorecer

da era industrial. Ao mesmo tempo, o comércio internacional começa a

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deslocar-se da exportação de produtos para a exportação de ideias.

(VILCHES, 2003, p. 40).

No momento atual da cibercultura, e sob uma ótica otimista da teoria, com

o estabelecimento da Internet e da World Wide Web, constitui-se uma imensa rede

descentralizada, convidativa à participação de todos. Dados, textos, imagens, sons,

mensagens de todos os tipos são cada vez mais produzidos sob a forma digital,

interligando todos a todos, tudo a todos.

O papel da informática e das técnicas de comunicação com base digital não

seria “substituir o homem”, nem aproximar-se de uma hipotética “inteligência

artificial”, mas promover a construção de coletivos inteligentes, nos quais as

potencialidades sociais e cognitivas de cada um poderão desenvolver-se e

ampliar de maneira recíproca. (LÉVY, 1998, p. 25).

Em resumo, Lévy acrescenta que o programa da cibercultura é o

universo sem totalidade. “[...] Para além de uma física da comunicação, a

interconexão constitui a humanidade em contínuo sem fronteiras [...]”. (1999, p. 127).

Nicholas Negroponte defende a tese da transformação dos átomos em

bits, sendo esta uma condição irrevogável, ou seja, de que não há como detê-la.

“Um bit não tem cor, tamanho ou peso e é capaz de viajar a velocidade da luz. Ele é

o menor elemento atômico no DNA da informação.” (1995, p. 19).

Para Negroponte, esse processo é o que proporciona a mudança no

modo como constituímos a mensagem no momento atual da cibercultura: “Um

conteúdo inteiramente diverso emergirá dessa digitalização, assim como novos

jogadores, novos modelos econômicos e, provavelmente, uma indústria caseira da

informação e do entretenimento.” (1995, p. 22).

Embora apresentem certas semelhanças, as visões de Pierre Lévy e

Nicholas Negroponte sobre a cibercultura têm uma enorme diferença focal.

Enquanto o francês analisa a cibercultura por meio de uma ótica reflexiva,

Negroponte valoriza, claramente, um viés corporativista e seus fins comerciais

decorrentes. “Os meios e mensagens multimídia irão se tornar uma mescla de

conquistas técnicas e expressões artísticas. E os produtos para o consumidor serão

a força motiz”. (NEGROPONTE, 1995, p. 83).

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45

Por isso, Negroponte vê como evolução natural da cibercultura a

personalização de conteúdos com objetivos comerciais: “Os meios de comunicação

de massa serão redefinidos por sistemas de transmissão e recepção da informação

personalizada e entretenimento.” (1995, p. 12).

Os modelos econômicos da mídia atual baseiam-se quase exclusivamente

em “empurrar” a informação e o entretenimento para o público. A mídia de

amanhã terá tanto ou mais a ver com o ato de “puxar”: você e eu

acessaremos a rede e conferiremos o que há nela, da mesma forma como

hoje fazemos numa biblioteca ou videolocadora. (NEGROPONTE, 1995, p.

164).

Esta tendência apontada por Negroponte em 1995 é o que hoje

chamamos de conteúdo sob-demanda, em que o usuário escolhe o que quer

consumir no momento em que quiser e onde desejar. “A informação por encomenda

dominará a vida digital.” (NEGROPONTE, 1995, p. 163).

O diretor do Laboratório de Mídia do MIT diz também que, doravante, as

interfaces computacionais serão cada vez mais inteligentes a ponto de aprender e

compreender os nossos gostos pessoais. Desta forma, elas serão capazes de filtrar

o conteúdo que mais tendem a nos agradar. Logo, o ato de “puxar” não mais seria

exercido por nós, mas pelas interfaces inteligentes que, para Negroponte, serão

cada vez mais desenvolvidas à semelhança do ser humano. Como vimos no capítulo

anterior, esta teoria de Negroponte começa a ser executada com o desenvolvimento

da Web Semântica, ou Web 3.0.

Para Lévy, a cibercultura se tornará, provavelmente, o centro de

gravidade da galáxia cultural do século XXI.

3.4. A utopia da Teoria

Segundo o autor Lorenzo Vilches, a atual teoria do ciberespaço conta

com opiniões bastante divergentes, o que torna possível a construção de um

resumido paralelo entre uma ótica positiva e negativa. No Brasil, um dos principais

teóricos que se opõem aos “supostos” benefícios proporcionados pelo ciberespaço e

pela cibercultura é Eugênio Trivinho. Doutor em Ciências da Comunicação pela

Universidade de São Paulo (ECA/USP), Trivinho acredita que as estruturas da

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sociedade tecnológica atual mimetizam o mundo em que vivemos, criando bolsões

de miséria e exclusão e totalitarismos invisíveis.

A utopia da comunicação é constituída por dois afluentes básicos e

conexos: primeiro, o da articulação e “integração” internacional do planeta,

seja pelos recursos da infraestrutura tecnológica (de massa e interativa),

seja pelos artifícios da agenda e da obsessão pela transparência

progressiva (e mítica) do mundo [...]. (TRIVINHO, 2001, p. 74).

Para Trivinho, a cibercultura se tornou o próprio mundo, estando inserida

diretamente na base dos fenômenos globais. Com o processo de “reconjuntização”,

devido à tese da integração do globo pelo virtual, existe um fantasma inelidível da

exclusão infotecnológica, que acomete largas categorias sociais, negando-as o

direito de sobrevivência na cibercultura.

Para exemplificar o modo como enxerga a sociedade tecnológica,

Trivinho recorre a uma analogia às guerras:

Sob feições mais alusivas, embora não menos definidas, os céleres

acionamentos manuais do teclado (em especial da tecla enter), por sua vez,

não deixam de evocar – com um timbre um tanto gélido – o lúgubre frenesi

das metralhadoras. (TRIVINHO, 2001, p. 69).

As sociedades tecnológicas são para Trivinho, portanto, o apartheid

próprio da civilização midiática atual. A desigualdade inscrita na dinâmica da

cibercultura impõe uma disparidade gigantesca entre dois extremos: de um lado, a

elite cibercultural, sendo aqueles que gozam de todos os privilégios desta nova

modalidade de comunicação; categoria dotada de capital econômico e cognitivo-

informático suficiente para acompanhar os deslocamentos constantes do universo

infotecnológico atual. Do outro, o largo “bolsão” de uma nova miséria técnica,

incapaz de acompanhar os processos infotecnológicos atuais:

[...] avatar de mais uma desqualificação compulsória contínua dos seres,

aquela ligada à taxa nula de dromoaptidão própria, zero sob cuja égide se

socializam todas as vítimas da configuração tecnológica do presente,

doravante alijadas dos rituais da ciberalfabetização e às quais a cibercultura

entrega, portanto, os horizontes do desemprego infotecnológico, ou, quando

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muito, os de um sazonal ou perene subemprego. Esses dois extremos, não

obstante, convivem muitas vezes numa mesma região territorial, à sombra

de uma muralha que, de tão dissimulada, furta-se à visibilidade. (TRIVINHO,

2001, p. 227).

3.5. As revoluções do mundo árabe

Essa visão negativa da Internet, do ciberespaço e da cibercultura é

corroborada por Evgeny Morozov, sob outro prisma, vale ressaltar, que diz: “[...] O

Ocidente claramente carece de uma boa teoria de trabalho sobre o impacto do

autoritarismo na Internet”24 (2011, p. 30). A afirmação encontra respaldo em questão

semelhante lançada por Trivinho: “Em outras palavras, o ciberespaço está,

decididamente, além das potencialidades convencionais dessa teoria, na medida em

que ele transborda aspectos dificilmente assimiláveis por ela”. (2001, p. 118).

Morovoz, pesquisador convidado da Universidade de Stanford, lançou

este ano seu livro-tese intitulado “A desilusão da internet: o lado negro da liberdade

digital”.

Um dos exemplos com maior relevância abordados por Morozov é a

chamada “Revolução Verde”, ocorrida no Irã, em 2009, que reelegeu o governo

autoritário de Mahmoud Ahmadinejad. Sob suspeitas de irregularidades durante o

processo eleitoral, a população do Irã encheu as ruas de Teerã, capital do país, para

protestar. O fato foi um dos primeiros eventos políticos de grande porte a ser

“coberto em tempo real” pela rede social Twitter. Logo, muitos veículos de

comunicação renomados atribuíram à rede social o fator determinante das

asseverações públicas de indignação. Morovoz, contudo, desdenha:

O impacto do Twitter no Irã é zero. Aqui [nos Estados Unidos] há uma série

de comentários, mas uma vez que você analisa, você percebe que a maior

parte são americanos conversando entre eles mesmos25

(MOROZOV, 2011,

p. 25).

24

No texto original: “[...] the West clearly lacks a good working theory about the impact of the Internet authoritarianism”. 25

No texto original: “Twitter´s impact inside Iran is zero. Here [in the United States] there is a lot of buzz, but once you look, you see most of it are Americans tweeting among themselves”.

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O impacto do Twitter não apenas foi zero como a utilização da Internet

pelo regime autoritário foi usada com extrema eficácia. Morozov relata que, após os

protestos, o governo iraniano compôs um time com 12 especialistas em redes

digitais para uma importante missão: rastrear, identificar e prender usuários que

espalhassem informações falsas ou, como eles afirmavam, “mentiras e calúnias”

sobre o Irã. “O chefe de polícia do país, General Ismail Ahmadi Moghaddam advertiu

que aqueles que incitaram os outros para protestar ou colaborar com recursos

cometeram um crime pior do que aqueles que foram para as ruas.”26 (2011, p. 11)

Governos que já estão morrendo, morrerão ainda mais rápido, então isso é

algo que eu jamais negaria. Eu acho que devemos reconhecer que, sim, se

houvessem meios de comunicação social na União Soviética em 1989, 90 e

91, sim, o sistema provavelmente teria desmoronado mais rapidamente. [...]

Nós sabemos que as revoluções aconteceram antes da mídia social. Nós

sabemos que as pessoas já estavam frustradas antes disso. E eu acho que

nós não devemos necessariamente dar muito crédito para as ferramentas

de mídias sociais, onde o verdadeiro sacrifício das pessoas é validado.

Então, chamar isso de revolução do Twitter ou Facebook seria um

desrespeito ao sacrifício feito por muitas pessoas no Egito ou na Tunísia ou

até mesmo no Irã, dando o credito das revoluções à plataformas, que são

americanas, e que na verdade tem muito pouco interesse em espalhar

qualquer uma dessas revoluções.27

(MOROZOV, Entrevista concedida ao

site PBS, 09/02/201128).

Em uma cúpula que reuniu os principais presidentes de empresas

tecnológicas globais, Mark Zuckerberg, criador da rede social Facebook, apresentou

uma visão bastante parecida com a de Morozov. De acordo com a notícia relatada

pelo portal EXAME:

26

No texto original: ““The country's police chief Gen. Ismail Ahmadi Moghaddam warned that those who incited others to protest or issuead appeals “have committed a worse crime than those who come to the streets”. 27

No texto original: “Governments that are already dying will die faster, so this is not something that I would ever deny. I think that we should acknowledge that yes, if there was social media in the Soviet Union in 1989 and in '90 and '91, yes, the system would have probably collapsed faster. […] We know that revolutions happened before social media. We know that people have been frustrated before. And I think we shouldn't necessarily give too much credit to social media tools, where the real sacrifice is actually borne out by the people. So to call it a Twitter revolution or a Facebook revolution would be to downplay the kind of sacrifices that were made by many people in Egypt or in Tunisia or even in Iran, and to focus on technologies and platforms which are American, which have very little interest in actually spreading any of these revolutions”. 28

Disponível em: <http://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/revolution-in-cairo/interviews/evgeny-morozov.html> - Acesso em 23 de outubro de 2011.

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“Seria tremendamente arrogante para uma empresa tecnológica reivindicar

um papel nos movimentos de protesto", declarou Zuckerberg, de 27 anos,

na intervenção que encerrou dois dias de debates sobre a internet, uma

cúpula batizada de e-G8, e que reuniu, em Paris, alguns diretores das

principais empresas tecnológicas do mundo. "O Facebook não foi nem

necessário, nem suficiente" para fazer a revolução, insistiu Zuckerberg, na

verdade foram "as populações que se encarregaram" destes movimentos de

contestação. O chefe da rede social reconheceu que "talvez o Facebook

tenha podido contribuir e levar ferramentas" a estas revoltas, mas seu papel

foi "muito menos importante do que o que disseram os meios de

comunicação". (EXAME, 25/05/201129

).

Outro ponto de vista semelhante vem da revista The Economist. Em um

artigo sobre a utilização das mídias sociais na ocupação de Wall Street, nos Estados

Unidos, a publicação também afirmou que as revoluções do mundo árabe não

poderiam ser creditadas às plataformas sociais:

Veja a penetração do Facebook nos países que tiveram os maiores

tumultos; – menos de 4% na Líbia, 5,5% no Egito, e uma maior, mas

dificilmente maciça porcentagem de 17,5% na Tunísia – e, é claro que

enquanto essas mídias podem ter ajudados a mobilizar um núcleo central

de pessoas, o tradicional boca a boca e a televisão al-Jazeera

desempenharam papéis muito maiores.30

(The Economist, 11/10/2011).

Como que agrupando tais visões, a tese de Morozov, pois, é de que a

Internet pode, sim, ser usada para a manutenção de regimes autoritários, mesmo

com o advento das redes sociais. Para o autor, governos em franca decadência,

como os Governos do Egito e da Líbia, cairão de forma ainda mais rápida com as

tecnologias comunicacionais. Contudo, governos fortes, como no caso do Irã e da

China, não serão afetados e tenderão a apertar ainda mais o cerco. “O governo

29

Disponível em: <http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/o-facebook-nao-e-necessario-nem-suficiente-para-fazer-revolucao-diz-zuckerberg> – Acesso em 23 de outubro de 2011. 30

No texto original: “Look at Facebook's penetration in the countries with the most turmoil—less than 4% in Libya, 5.5% in Egypt, and a larger but hardly massive 17.5% in Tunisia—and it's clear that while these media may have helped mobilise a core group, traditional word-of-mouth and al-Jazeera television played a much bigger role”. Disponível em: <http://www.economist.com/blogs/democracyinamerica/2011/10/social-media-and-wall-street-protests> – Acesso em 23 de outubro de 2011.

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chinês olha para o Egito e pensa: “Nós seremos os próximos”? E provavelmente

eles dizem, “Não, não seremos, mas precisamos apertar algumas coisas”31”.

A teoria de Morozov , portanto, contrasta com afirmações de Lévy “[...]

uma vontade excessiva de domínio não pode ter poder durável no ciberespaço.”

(1999, p. 120) e também de Negroponte: “A Internet proporciona um canal mundial

de comunicação que fustiga toda forma de censura [...]” (1995, p. 152).

O filósofo Pierre Lévy, contudo, faz uma crítica da crítica ao afirmar que o

momento não é o de incitar o medo em relação ao potencial do ciberespaço, mas

sim de projetá-lo para que seja benéfico às sociedades humanas. O filósofo francês

encerra com a seguinte reflexão: antigamente a crítica era progressista, estaria se

tornando conservadora? (1999, p. 227).

31 No texto original: “You know, the Chinese government looks at Egypt and thinks, "Am I next?" And they probably say, "No, I'm not, but we should still tighten certain things up".

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4. O JORNALISMO DIGITAL

O jornalismo digital é uma área de pesquisa ainda em desenvolvimento

no País, conforme apurou o artigo “Estudos sobre jornalismo digital no Brasil”,

realizado em 2006. Segundo este artigo, contata-se que “a formação dos nossos

pesquisadores pioneiros ocorreu majoritariamente no exterior, especificamente na

Europa [...]” (BARBOSA; MIELNICZUK; QUADROS 2006, p. 16). De 1998 a 2005,

foram produzidos 52 trabalhos, entre mestrados e doutorados, nesta área de

pesquisa, sendo que mais de 50% destes se concentram em apenas duas

academias brasileiras: a Universidade de São Paulo (USP) com 17 trabalhos, e a

Universidade Federal da Bahia (UFBA) com 10 trabalhos (QUADROS; BARBOSA;

MIELNICZUK, 2006, p. 7). Portanto, a espinha dorsal do presente capítulo está

baseada em duas autoras exatamente dessas regiões: Luciana Mielniczuk, da UFBA

(atualmente lecionando na Universidade Federal de Santa Maria – UFSM), e

Pollyana Ferrari, da USP (atualmente lecionando na Pontifícia Universidade Católica

de São Paulo – PUC-SP).

Contudo, estabeleceremos também neste capítulo um paralelo entre a

história da Internet e o levantamento de algumas das teorias do ciberespaço,

versados anteriormente, com algumas conceituações definidas por essas autoras. O

conceito de inteligência coletiva de Pierre Lévy, por exemplo, é compatível com um

novo modo de se produzir jornalismo? Sequer é compatível com o que entendemos

por jornalismo? Questões como essas encontram algumas contradições dentre as

práticas mercadológicas do jornalismo digital abordadas neste estudo.

Por isso, buscaremos apresentar diferentes pontos de vista para que o

estudo de casos múltiplos realizado no capítulo seguinte possa abranger essas

interrogações, tornando-se mais completo, tanto para a revista NEO Interativa, que

tentava o jornalismo digital no País já em 1994, quanto para o jornal Brasil 24/7, de

2011.

Antes de iniciarmos, é importante ressaltar que partimos da concepção de

jornalismo apresentada por Michael Kunczik que, por sua vez, se baseia também em

diferentes pontos de vista:

Por isso o jornalismo é considerado a profissão principal ou suplementar

das pessoas que reúnem, detectam, avaliam e difundem as notícias; ou que

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comentam os fatos do momento (Koszyk e Pruys, 1976, p. 146). Nessa

definição, o entretenimento se separa do jornalismo. Para Donsbach (1987),

o jornalista é quem está envolvido na formulação do conteúdo do produto de

comunicação de massa, seja na reunião, na avaliação, na apuração, no

processamento ou na divulgação de notícias, nos comentários ou no

entretenimento. (KUNCZIK, 1997, p. 15).

Não entraremos no mérito do envolvimento ou não do entretenimento

como característica do trabalho jornalístico, nos atendo às semelhanças das visões

apresentadas por Kunczik, que entende o jornalista como o profissional da

comunicação de massa responsável por analisar, filtrar e difundir informações.

4.1. O Processo Comunicacional

Segundo Ferrari (2007, p. 25), vivemos uma nova era, liderada por uma

revolução informacional. Uma era “pós-industrial”, na qual a moeda de troca

capitalista tornou-se a informação e a velocidade com que ela se propaga. “Se as

duas primeiras revoluções foram baseadas na energia (a do vapor e a da

eletricidade), a terceira é baseada na informação. Ela passa a ser a mola propulsora

da sociedade, a forma de organização e planejamento de toda a atividade produtiva”

(FERRARI, 2007, p. 25). Para Castells, a emergência do modo de produção nessa

etapa do capitalismo marca o surgimento da chamada “sociedade da informação”,

tendo nas redes uma de suas formas mais elaboradas de articulação (CASTELLS

apud FERRARI, 2007, p. 25).

Como efeito, criamos uma sociedade em que os valores de

conhecimento, comunicação e informação acabam por se fundir, embora não sejam,

necessariamente, inseparáveis. “Comunicação e informação são termos próximos,

mas não são sinônimos”, dizem os pesquisadores em Comunicação, Carlos Pernisa

Júnior e Wedencley Alves da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) (2010, p.

13).

Primeiramente, há uma raiz distinta para cada um dos dois termos, a qual

indica cada significado. Informar se aproxima do dado, de um elemento,

enquanto comunicar está muito mais para a relação entre pessoas. Assim, o

ato de informar não é, definitivamente, o mesmo que comunicar. (ALVES e

JÚNIOR, 2010, p. 13).

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Segundo os pesquisadores da UFJF, essa questão se inicia pela tradição

da comunicação oral, com o diálogo sendo a forma primordial de relacionamento

para os seres humanos. “A oralidade marca a troca de papéis entre emissores e

receptores e a possibilidade de duas ou mais pessoas se entenderem” (ALVES e

JÚNIOR, 2010, p. 13). Não há, aqui, a valorização de uma ou outra característica,

portanto, “A informação não deixa de fazer parte dessa relação, mas ela é uma parte

de toda a dinâmica, não a razão principal dela” (ALVES e JÚNIOR, 2010, p. 13).

O início da tradição da escrita começa a trazer novidades nesta lógica, a

princípio com o manuscrito, em que ainda se mantém uma forte ligação com a

tradição oral. Segundo Alves e Júnior, muitas vezes os textos são lidos em voz alta

por aqueles que têm instrução para a leitura:

Outro fator relevante é o desequilíbrio entre os papéis de emissor e

receptor. O autor do texto deixa de ter contato direto com o leitor, e aquele

que faz a leitura em voz alta não pode ser visto como alguém que esclareça

as dúvidas que a audiência possa vir a ter. Os ouvintes, também, não têm

como se manifestar da mesma maneira que em uma conversa, num

diálogo, já que não é possível parar a leitura a todo o momento. A

informação é passada pela fala, mas não há uma troca de mensagens entre

todos os envolvidos. (ALVES e JÚNIOR, 2010, p. 14).

Com a invenção da imprensa, há um novo e grande avanço na área de

comunicação, com a formatação dos textos – páginas, capítulos, notas de rodapé –

e um maior volume de cópias disponíveis.

Com a paginação dos textos em cadernos, sua manipulação torna-se mais

agradável. Surge, então, a possibilidade de paginar, criar índices, propor a

relação entre trechos separados na obra. Junto com a fragmentação dos

textos em trechos para cada página, também surge a separação das

palavras, facilitando e vulgarizando a leitura – que se torna um ato

silencioso e individual. (MIELNICZUK, 2003, p. 76).

Desta forma, a imprensa cria as condições para um novo modelo de

comunicação, em que a informação passa a ter um caráter primordial no esquema.

Segundo Alves e Júnior (2010, p. 15), essa nova lógica comunicacional tem relação

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direta à teoria matemática da comunicação, fundamentada nos estudos de Shannon

e Weaver – produzidos na década de 1960 – em que se privilegia a passagem da

mensagem em detrimento de um processo comunicacional de mão dupla. “A

comunicação de massa, assim, conceitualmente, não seria efetivamente

comunicação, mas, sim, informação” (ALVES e JÚNIOR, 2010, p. 15).

Por conseguinte, conhecimento também parece, a princípio, sinônimo

para comunicação e informação, mas não é:

Assim, é necessário entender as distinções entre os três termos. Informar é

trabalhar um conjunto de dados para repassá-los ou para utilizá-los. Já

comunicar é uma relação interpessoal, uma troca de informações. O

conhecimento também trabalha com informações, mas depende de uma

comparação entre elas. (ALVES e JÚNIOR, 2010, p. 19).

Em outras palavras, o conhecimento está intrinsecamente ligado ao

contexto, pois só ocorre quando podemos comparar informações, enquanto que a

informação é um pequeno conjunto de dados sem maiores relações entre eles,

perdendo-se o contexto e os referenciais mais gerais. Nas palavras de Pierre Lévy:

“Vivemos a sociedade da informação que não informa, apenas absorve grandes

quantidades de dados” (LÉVY apud FERRARI, 2010, p. 22). Como veremos a

seguir, através do hipertexto, essa lógica reducionista pode ser diminuída com o

aprimoramento do jornalismo digital, sendo, inclusive, esta ação uma iniciativa

sugerida por diferentes autores. Assim, poderíamos almejar construir uma

“sociedade do conhecimento” em detrimento de uma reducionista “sociedade da

informação”. É, novamente, o conceito cunhado pelo filósofo francês: a idealização

da “inteligência coletiva”.

4.2. Conceituando o Jornalismo Digital

Como podemos conceituar o que é o jornalismo digital? Segundo

Mielniczuk (2003, p. 22), em linhas gerais, observa-se que autores norte-americanos

utilizam o termo “jornalismo o n-line” ou “jornalismo digital”, enquanto que autores

espanhois optam pelo termo “jornalismo eletrônico”. Outras nomenclaturas possíveis

são, ainda, “ciberjornalismo” e “Webjornalismo”. Dentre os autores no qual este

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capítulo se baseia, Alves e Júnior (2010), Dalmonte (2009), Ferrari (2007; 2010);

Mielniczuk (2003) e Quadros (2002), grande parte destes apresentam diferenças,

ainda que sutis, em suas definições para este novo modo de se fazer jornalismo.

Para seguirmos adiante, portanto, optamos por utilizar as definições de Luciana

Mielniczuk, que parecem mais adequadas para abranger os dois suportes nos quais

as unidades de análise deste estudo estão inseridas: o CD-ROM e os tablets.

“Propomos uma sistematização que privilegia os meios tecnológicos, através dos

quais as informações são trabalhadas, como fator determinante para elaborar a

denominação do tipo de prática jornalística [...]” (MIELNICZUK, 2003, p. 24). Como

podemos perceber, a definição segue uma lógica mcluhaniana32.

Para Mielniczuk (2003, p. 24), o termo “jornalismo eletrônico” seria o mais

abrangente de todos, visto que a aparelhagem tecnológica que se utiliza no

jornalismo é, em sua maioria, eletrônica, independentemente de ser analógica ou

digital. Inserido no aspecto eletrônico, estaria a tecnologia digital, em crescente

utilização no dia a dia.

O crescimento acontece tanto na captura quanto no processamento ou

disseminação da informação. São câmeras fotográficas digitais; gravadores

de som; ilhas de edição de imagens não-lineares; suportes digitais para a

disseminação da informação como disquete, CD e DVD; hardware e

software para a manipulação das informações (áudio, vídeo e sons em

forma de bits33

); entre tantos outros recursos. (MIELNICZUK, 2003, p. 25).

Mielniczuk indica, também, que o jornalismo digital pode ser denominado

de “jornalismo multimídia”, implicando na possibilidade de manipulação conjunta de

dados digitalizados de diferentes naturezas: texto, som e imagem. Cabe, aqui,

parênteses para uma discordância: para Pierre Lévy , o termo “multimídia” é

empregado de forma errônea quando usado para a designação de uma confluência

de mídias separadas em direção à mesma rede digital, isto é, como empregado por

Mielniczuk acima. Para Lévy, o termo “multimídia” só é corretamente empregado

quando, por exemplo:

32

Ver Capítulo 3: As Teorias do Ciberespaço. 33

É interessante traçar um paralelo, portanto, com a teoria de Nicholas Negroponte, versada no capítulo anterior, que entende o ciberespaço como a transformação dos átomos para bits. Sob essa mesma ótica, Mielniczuk sugere que a produção do jornalismo está cada dia mais se transformando de átomos em bits.

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[...] o lançamento de um filme dá lugar, simultaneamente, ao lançamento de

um videogame, exibição de uma série de televisão, camiseta, brinquedo etc.

Neste caso, estamos de fato frente a uma “estratégia multimídia”. Mas se

desejamos designar de maneira clara a confluência de mídias separadas

em direção à mesma rede digital integrada, deveríamos usar de preferência

a palavra “unimídia”. (LÉVY, 1999, p. 65).

Os pesquisadores de Juiz de Fora, Alves e Júnior, concordam com a

objeção de Lévy ao afirmarem que o termo “mídia” já indica um conjunto de meios,

ou seja, a palavra já estaria no plural (2010, p. 25). Portanto, para Lévy e Alves e

Júnior, “unimídia” é sinônimo de “multimodalidade” (ou integração digital) que, por

sua vez, é diferente de multimídia. Doravante, portanto, adotaremos o conceito

“unimídia” citado por Lévy, embora a palavra “multimídia” continue a aparecer em

citações de outros autores. Fechado os parênteses, continuemos com as diferentes

definições acerca dos novos modos de produção jornalística.

Para Mielniczuk, ciberjornalismo faz referência ao jornalismo que é

produzido sob o auxílio de possibilidades tecnológicas oferecidas pela cibernética,

praticado no – ou com o auxílio do – ciberespaço. Já o termo on-line conduziria à

ideia de conexão em tempo real, com fluxo contínuo de informação, de forma quase

instantânea. “As possibilidades de acesso e transferência de dados on-line utilizam-

se, na maioria dos casos, de tecnologia digital. Porém, nem tudo o que é digital, é

on-line.” (MIELNICZUK, 2003, p. 26). Por fim a autora define que Webjornalismo

está referido a uma parte específica da Internet, isto é, a World Wide Web34, com

interfaces gráficas bastante amigáveis ao usuário em geral. (2003, p. 26).

Desta forma, temos a seguinte tabela:

Nomenclatura Definição

Jornalismo

eletrônico Utiliza de equipamentos e recursos eletrônicos.

Jornalismo digital ou

Jornalismo unimídia

Emprega tecnologia digital, todo e qualquer procedimento que implica no

tratamento de dados em forma de bits.

Ciberjornalismo Envolve tecnologias que utilizam o ciberespaço.

Jornalismo On-line É desenvolvido utilizando tecnologias de transmissão de dados em rede e

34

Ver Capítulo 2: Os Computadores e a História da Internet.

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57

em tempo real.

Webjornalismo Diz respeito à utilização de uma parte específica da Internet, que é a web.

Tabela 1 – Resumo das definições de nomenclaturas sobre práticas de produção e disseminação de informação no jornalismo contemporâneo (MIELNICZUK, 2003, p. 27).

As definições apresentadas assemelham-se a esferas concêntricas que

fazem o recorte de delimitações. Como já foi referido, essas definições se

aplicam tanto ao âmbito da produção quanto ao da disseminação das

informações jornalísticas. Um aspecto importante é que elas não são

excludentes, o que ocorre é que as práticas e os produtos elaborados

perpassam e se enquadram de forma concomitante em distintas esferas.

(MIELNICZUK, 2003, p. 27).

Figura 3 – Esferas que ilustram a delimitação das terminologias (MIELNICZUK, 2003, p. 28).

Doravante adotaremos a terminologia “jornalismo digital”, por ser a que

mais se adequa às necessidades de análise dos objetos aqui propostos. Como

veremos no próximo capítulo, a revista NEO Interativa era produzida sobre uma

base digital – o CD-ROM – ainda que não englobasse, necessariamente, as

categorias de Webjornalismo e jornalismo on-line, o que não ocorre com o jornal

Brasil 24/7, também criado sobre um alicerce digital – os tablets – mas que, por sua

vez, já engloba as terminologias subsequentes. Decidimos, portanto, descartar a

classificação “jornalismo eletrônico” por esta nos parecer um tanto quanto confusa

em relação aos exemplos que utilizaremos. O jornalismo praticado para o rádio e a

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televisão também podem ser eletrônicos, ainda que não necessariamente digitais.

Assim sendo, para este trabalho, a terminologia “jornalismo digital” é que melhor se

encaixa com a presente pesquisa.

4.3. Breve retrospecto histórico do Jornalismo Digital

Retomando brevemente o Capítulo 2, vimos que a World Wide Web

configurou-se como a criação definitiva para o surgimento da Internet como uma

tecnologia comunicacional civil. Por conseguinte, surgem os navegadores da WWW,

capazes de acessar qualquer endereço na oceânica estrutura de informações da

Internet. Segundo a pesquisadora Cláudia Irene de Quadros, da Universidade Tuiuti

do Paraná, o surgimento dos navegadores WWW possibilitou e facilitou a

disponibilização de conteúdo on-line, do qual os jornais on-line despontariam como

precursores, devido ao interesse despertado nos empresários de comunicação pela

rede mundial de computadores: “Nos Estados Unidos, eles foram os primeiros a

visionar uma nova forma de obter lucros” (2002, p. 3). Desta forma, os primeiros

jornais on-line surgiram em 1993, sendo eles o Mercury Center, The Chicago

Tribune e o The Atlanta Constituition (SILVA apud DELICATO, 2008, p. 51).

Dentre outras iniciativas pioneiras estão o The NandO Times, criado pela

empresa McClacthcy Newspaper Inc., lançado em 1994 e o The San Jose Mercury

Center, lançado no início de 1995 em formato comercial, mas que “possuía desde

1993 uma versão eletrônica distribuída pela companhia America On-line por meio de

uma rede própria” (QUADROS, 2002, p. 3).

Naturalmente, devido ao desenvolvimento da própria Internet35, uma

importante protagonista na história do jornalismo digital seria a comunidade

acadêmica-científica norte-americana. Segundo Quadros, além da experiência

proporcionada por grandes empresas de serviços on-line, como American On-line,

Progidy e Compuserve, os projetos científicos também foram e continuam sendo

responsáveis pelo desenvolvimento dos jornais na Internet (2002, p. 4).

Dois importantes experimentos nesse sentido vieram do Laboratório de

Mídia do MIT, coordenado por Nicholas Negroponte, cujas teorias foram brevemente

retomadas no capítulo anterior. O primeiro projeto de pesquisa, chamado News in

35

Ver Capítulo 2: Os Computadores e a História da Internet.

Page 61: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

59

the Future, trabalhava desde a primavera de 1993 “com o apoio de diversas

empresas jornalísticas de todo o mundo, na busca de novas formas para criar jornais

mais interativos, úteis e de fácil acesso” (QUADROS, 2002, p. 4). Deste projeto

nasceu o Fiswrap, um diário digital que procurava utilizar todos os recursos

interativos da hipermídia na tentativa de tornar-se uma referência para os futuros

jornais on-line a serem desenvolvidos. Outra experiência realizada no Laboratório de

Mídia do MIT foi o Daily Me (Minha Gazeta, em tradução oficial36).

A concepção do diário como oferta de serviços dirigidos a um indivíduo

continua contribuindo para os estudos desenvolvidos na área, apesar da

experiência nunca ter obtido uma circulação massiva. No entanto,

conseguiu apresentar características destacadas pelo próprio Negroponte:

"Ser digital supõe o surgimento de um conteúdo totalmente novo, de novos

profissionais [...]”. (QUADROS, 2002, p. 5).

Em 1995 surgiriam as versões on-line dos jornais The Washington Post,

com a intenção de oferecer uma variante do jornal impresso, e a versão on-line do

diário espanhol El Mundo, que de início trazia apenas a seção Campus, destinada

ao público mais jovem, mas que, posteriormente, incluiu novas editorias, algumas

das quais inclusive inéditas em relação ao jornal impresso.

Em 1996 foi a vez do norte-americano The New York Times e o espanhol

El País Digital desembarcarem na Internet. Segundo Quadros, enquanto o primeiro

tentava explorar os recursos de não-linearidade da rede, o segundo se constituía

quase que integralmente com os textos da versão impressa, com pequenos ajustes

para o universo virtual. (2002, p. 7-10). No mesmo ano, a Microsoft se funde com a

NBC, o que resulta no lançamento do portal MSNBC (MIELNICZUK, 2003. P. 36).

Já em terras tupiniquins, “o primeiro site jornalístico brasileiro foi o do

Jornal do Brasil, criado em maio de 1995 [...]” (FERRARI, 2010, p. 25).

Posteriormente, um número significativo de jornais on-line nacionais passaria a ser

lançado.

Neste início, não havia praticamente noção alguma do que seria uma boa

edição de jornal para a web. A maioria dos veículos impressos na rede não

estava preocupada em criar uma publicação específica para a Internet,

36 Segundo consta em “A Vida Digital”, de Negroponte.

Page 62: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

60

fazendo basicamente uma versão muito semelhante à da edição em papel.

Os grandes jornais do País, no entanto, logo começaram a perceber que

não havia motivo para estar na rede se não fosse para ter algo diferente do

que já era feito na edição em papel. A presença somente na Internet já não

parecia ser a única justificativa para a existência dessas publicações

(ALVES e JÚNIOR, 2010, p. 43).

A afirmação dos pesquisadores da UFJF é corroborada por Ferrari ao

afirmar que: “A maioria dos sites jornalísticos surgiram como meros reprodutores do

conteúdo publicado em papel” (FERRARI, 2010, p. 24).

Por conseguinte, o jornal O Estado de São Paulo, do Grupo Estado,

começou a desenvolver a versão on-line de seu jornal antes do Jornal do Brasil, mas

seu lançamento só viria a acontecer, de fato, pouco depois que o concorrente.

O jornal digital do Estadão, então denominado NetEstado, foi estruturado

em março de 1995. A arquitetura das primeiras páginas web foi planejada

em julho do mesmo ano, mas só foram disponibilizadas na internet em 8 de

dezembro. Por isso, o Jornal do Brasil é considerado o primeiro diário digital

do País "a fazer cobertura completa no espaço virtual". (MOHERDAUL,

2000). O Jornal do Brasil foi disponibilizado integralmente no sistema WWW

em 28 de maio de 1995. (QUADROS, 2002, p. 12).

O Grupo Estado era um dos que destoavam da falta de visão no campo

on-line, pois, segundo Quadros, tinha um convênio com o projeto do Laboratório de

Mídia do MIT, o já citado News in the Future, para “obter orientação tecnológica

sobre as possíveis mudanças, evitando assim muitos investimentos em recursos

tecnológicos com pouco futuro” (QUADROS, 2002, p. 12). Após o lançamento do

Estadão na Internet, a Globo lançou o seu Globo On-Line, em 29 de julho de 1996.

Atualmente, o jornal faz parte do portal da empresa, denominado Globo.com.

Um dado relevante a se enfatizar é que a proliferação de jornais on-line

avançaria até o início dos anos 2000, época em que a Bolha da Internet37 viria a

estourar.

Se olharmos para o cenário a partir do início de 2001, no entanto,

percebemos que a Internet abandonou o glamour de 2000, quando todo

proprietário de site imaginava que, com pouco investimento e muita

37

Ver Capítulo 2: Os Computadores e a História da Internet.

Page 63: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

61

criatividade, ficaria rico [...] O mercado passou a preocupar-se mais

seriamente com a integração entre conteúdo de qualidade, design acessível

e viabilidade financeira. (FERRARI, 2010, p. 28).

Isso certamente tem vínculo direto com o desaquecimento das expectativas

em relação à internet e com a queda nos chamados investimentos da nova

economia, quando a Nasdaq – bolsa que trabalha com investimentos em

tecnologia nos Estados Unidos – despencou. (ALVES e JÚNIOR, 2010, p.

45).

Analisando tais dados, podemos concluir que o jornalismo digital brasileiro

teve início praticamente em conjunto com o restante do mundo, com jornais

recebendo suas versões on-line antes mesmo do lançamento da própria Internet no

País, comercialmente falando. É importante ressaltar, também, que os jornais

descritos acima se englobam, basicamente, na categoria de Webjornalismo,

conforme o conceito proposto por Mielniczuk. A Revista NEO Interativa, lançada em

1994, cuja história será retomada mais a frente, pode, portanto, ser considerada

como a primeira tentativa de jornalismo totalmente digital no Brasil.

4.4. As gerações do Jornalismo Digital

O jornalismo digital não é um novo jornalismo, mas sim a renovação dos

modos de produção de uma antiga prática. Dessa forma, o pesquisador Edson

Fernando Dalmonte, da Universidade Federal da Bahia, define a perspectiva sob a

qual podemos entender as novas práticas de produção jornalísticas. Portanto, essas

renovações têm sido engendradas sob conceitos que caracterizam a evolução de

todo este processo. Mielniczuk propõe uma sistematização das fases do jornalismo

na web, que, como visto acima, foram os primeiros a surgirem com o advento da

Internet. Assim, temos o que Mielniczuk chama de “Webjornalismo de primeira

geração”; “Webjornalismo de segunda geração” e, por fim, “Webjornalismo de

terceira geração”. (2003, p. 29).

O webjornais de primeira geração eram “reproduções de partes dos

grandes jornais impressos, que passavam a ocupar espaço na Internet”

(MIELNICZUK, 2003, p. 29). Assim, predominam os sites que publicam material

Page 64: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

62

produzido para as edições de outros meios. Estes jornais eram atualizados a cada

24 horas, de acordo com o fechamento das edições do impresso.

A rotina de produção de notícias é totalmente atrelada ao modelo

estabelecido nos jornais impressos. No que diz respeito ao formato de

apresentação das narrativas jornalísticas, não há nenhuma evidência de

preocupação com relação a uma possível forma inovadora de apresentação

das narrativas jornalísticas. (MIELNICZUK, 2003, p. 33).

Conforme visto no subcapítulo anterior, são estes jornais que marcam a

iniciação de renovação das práticas jornalísticas, tanto no mundo como no Brasil.

A segunda geração do Webjornalismo acontece quando, mesmo ainda

presos ao modelo de jornal impresso, os veículos iniciam experiências na tentativa

de explorar as características oferecidas pela rede. Aqui, Mielniczuk cita McAdams

para constituir o conceito de “fase da metáfora”, que seria um meio de tornar a

informação mais clara para o público da Internet.

Ao mesmo tempo em que se ancoram no modelo do jornal impresso, as

publicações para a web começam a explorar as potencialidades do novo

ambiente, tais como links com chamadas para notícias de fatos que

acontecem no período entre as edições; o e-mail passa a ser utilizado como

uma possibilidade de comunicação entre jornalista e leitor ou entre os

leitores, através de fóruns de debates e a elaboração de notícias passa a

explorar os recursos oferecidos pelo hipertexto. (MIELNICZUK, 2003, p. 34).

Já a terceira geração do Webjornalismo tem íntima relação com o

desenvolvimento cada vez mais acelerado da Internet. São jornais que extrapolam a

ideia de uma versão para a web da versão impressa de um jornal. Segundo

Mielniczuk, um dos principais exemplos dessa terceira geração é a fusão entre as

gigantes Microsoft e a NBC, ocorrida em 1996, gerando o site www.msnbc.com.

(2003. P. 36).

Nos produtos jornalísticas dessa etapa, é possível observar tentativas de,

efetivamente, explorar e aplicar as potencialidades oferecida pela web para

fins jornalísticos. Nesse estágio, entre outras possibilidades, os produtos

jornalísticos apresentam recursos em multimídia, como sons e animações,

que enriquecem a narrativa jornalística; oferecem recursos de interatividade,

como chats com a participação de personalidades públicas, enquetes,

Page 65: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

63

fóruns de discussões; disponibilizam opções para a configuração do produto

de acordo com interesses pessoais de cada leitor/usuário; apresentam a

utilização do hipertexto não apenas como um recurso de organização das

informações da edição, mas também começam a empregá-lo na narrativa

de fatos. (MIELNICZUK, 2003, p. 36).

Para além da pesquisa de Luciana Mielniczuk, segundo Dalmonte: “Na

linha evolutiva das pesquisas aplicadas ao jornalismo na Internet, já se fala de um

Webjornalismo de quarta geração [...]”, ainda sem definições por parte dos autores,

mas que seria relacionado ao banco de dados de informações na utilização do

Webjornalismo (2009, p. 128).

4.5. Características do Jornalismo Digital

Com o desenvolvimento tecnológico, abre-se um leque de possibilidades

para novas práticas de produção jornalísticas, ainda que estas não sejam

exploradas em sua totalidade. Por isso, para Pollyana Ferrari, “conteúdo” tornou-se

a palavra vital para o sucesso dos jornais digitais, “E não foi à toa: é em busca de

conteúdo – mais até mesmo do que de serviços – que as pessoas acessam a

maioria dos sites”. (2010, p. 39). Os elementos possíveis para a composição do

conteúdo on-line vão muito além dos tradicionalmente utilizados no impresso, isto é,

textos, fotos e gráficos.

Pode-se adicionar sequências de vídeos, áudio, ilustrações animadas [...]

Os desafios do jornalismo digital estão relacionados à necessidade de

preparar as redações, como um todo, e aos jornalistas em particular, para

conhecer e lidar com essas transformações sociais. [...] Para se ter uma

ideia dessa mudança do fazer jornalístico, o portal G138

prepara o repórter

para ir à rua com um notebook, um modem wireless para acesso à banda

larga, uma máquina fotográfica digital, um gravador de áudio digital e um

radiocomunicador. (FERRARI, 2010, p. 39-40).

Fica evidente, portanto, que não apenas a estrutura de difusão do

jornalismo, como também a produção jornalística, mudou. Para confirmar esta

afirmação, “basta olharmos para o inexistente número de “carros de reportagem” nas

38 Portal de notícias on-line das Organizações Globo. http://www.g1.com.br

Page 66: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

64

redações digitais, o que mostra que raramente o repórter web sai para a rua em

busca de um fato” (FERRARI, 2010, p. 58). O que não é, necessariamente, algo

benéfico. Na organização de artigos “Hipertexto, Hipermídia”, estabelecida por

Ferrari, encontramos a seguinte afirmação:

Nem os próprios jornais podem ser tomados como fonte de informação,

porque eles erram, e muito, e muitas notícias caducam ou ficam

desatualizadas com o tempo. Por isso, ainda é preciso ir a campo, sim

senhor, seja pelo telefone ou na rua. Bom jornalismo ainda se faz na rua, e

isso ainda não mudou [...] Jornalista que é jornalista desconfia até da

própria sombra. (FERRARI, 2007, p. 21).

Trata-se, como podemos ver, de uma contradição que não é retomada

pela autora. Outra característica apontada por Ferrari é de que o jornalista digital é,

em grande parte, jovem “recém-formado, com facilidade para lidar com softwares,

mas pouca experiência para tratar da informação” (2007, p. 15).

[...] sinto falta de profissionais mais experientes, mais velhos (a idade média

de jornalistas na web é 22 anos) trabalhando na Internet, pessoas que

tragam para o mundo on-line toda uma bagagem cultural e histórica [...]

(FERRARI, 2010, p. 108).

Para Luciana Mielniczuk, as mudanças do jornalismo digital (conceituado

como Webjornalismo pela autora, vale ressaltar) podem ser classificadas em seis

principais características:

Multimodalidade – No contexto do Webjornalismo, a multimodalidade

caracteriza a convergência dos formatos das mídias tradicionais (imagem, texto e

som) na narração do fato jornalístico em um mesmo suporte.

Interatividade – Significa fazer com que o leitor se sinta parte do

processo jornalístico. O que pode ocorrer através de troca de e-mails, espaço para

opinião dos leitores; fóruns de discussões etc.

Hipertextualidade – Trata-se da possibilidade de enriquecimento da

narrativa jornalística através do hipertexto e dos links. Discutiremos este assunto

com mais detalhes nas próximas páginas.

Page 67: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

65

Personalização – Assim como sugerido por Negroponte com a “Minha

Gazeta”, conforme vimos anteriormente, consiste na configuração de produtos

jornalísticos de acordo com os interesses individuais do usuário.

Atualização – O condicionamento, mediante a tecnologia digital, da

possibilidade de atualização de notícias em tempo real para os jornais.

Memória – O acúmulo de informações na web é mais viável técnica e

economicamente do que em outras mídias, portanto, seria possível o

estabelecimento de um banco de dados de informações para os webjornais. (2003,

p. 39-60).

Algumas semelhanças podem ser encontradas nas conceituações de

características do jornalismo digital por Ferrari e Mielniczuk, mesmo que sejam, no

geral, óticas completamente distintas. Ferrari traz uma visão claramente de

mercado39, enquanto que Mielniczuk apresenta seu ponto de vista mais acadêmico.

Contudo, o aspecto mais enfatizado por ambas as autoras é o hipertexto, “recurso

pouco ou quase nada explorado neste momento pelos sites nacionais [...]”

(FERRARI, 2010, p. 110).

4.6. Hipermídia: a importância do hipertexto e dos links

Para compreendermos a importância do desenvolvimento do hipertexto

para o jornalismo digital, é necessário retornamos às origens deste conceito.

Segundo Dalmonte, a terminologia “hipertexto” foi criada nos anos 1960 por Theodor

H. Nelson, referindo-se a uma escrita não sequencial, permitindo que o leitor

construa sua própria leitura. Ainda segundo este autor, uma ideia datada de 1588

pode ser considerada como precursora de uma estrutura que põe em contato várias

unidades de texto. Chamada de roda de leitura, o invento foi descrito na obra “Le

diverse et artificiose machine del Capitano Agostino Raminelli” e supunha um

engenho em que o usuário poderia percorrer um grande número de livros, sem sair

do lugar, através de uma roda mecânica. (2009, p. 156).

39

Ferrari foi editora da unidade de Internet da Editora Globo; ajudou a criar a versão on-line da revista Época, lançada concomitantemente à versão impressa, em 1998, e dirigiu o conteúdo do portal iG entre o final dos anos 90 e o início dos anos 2000. Muitos dos relatos documentados em seu livro “Jornalismo Digital” são puramente empíricos, embasados em sua experiência mercadológica.

Page 68: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

66

Figura 4 – Roda de leitura de Ramelli, datada de 1588 (DALMONTE, 2009, p. 157).

Posteriormente, segundo Mielniczuk, em 1945 o artigo “As we may think”,

do matemático e físico Vanevar Bush, idealizaria um dispositivo cuja inspiração seria

a forma associativa de como a mente humana funciona, denominado Memex.

“Tratava-se de uma caixa com um ou dois metros cúbicos, que armazenava as

informações microfilmadas ou gravadas em fitas magnéticas, cujo acesso se daria

através da tela de uma televisão, com alto-falantes acoplados” (2003, p. 96). Bush

teria pensado o Memex como uma espécie de memória auxiliar do cientista, daí a

origem de seu nome: Memory Extension.

Page 69: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

67

Estudando a acepção do hipertexto, Pierre Lévy afirma que a leitura é

uma atualização de significações de um texto. E que a hipercontextualização, por

sua vez, seria um movimento inverso “no sentido em que produz, a partir de um

texto inicial, uma reserva textual e instrumentos de composição graças aos quais um

navegador poderá projetar uma quantidade de outros textos” (1996, p. 41-42). Desta

forma, o texto é transformado em uma problemática textual.

Enfim, o suporte digital permite novos tipos de leituras (e de escritas)

coletivas. Um continuum variado se estende assim entre a leitura individual

de um texto preciso e a navegação em vastas redes digitais no interior das

quais um grande número de pessoas anota, aumenta, conecta os textos uns

aos outros por meio de ligações hipertextuais [...]. (LÉVY, 1996, p. 43).

Para Lévy, portanto, o hipertexto é uma oposição ao texto linear, sendo

um texto estruturado em rede, constituído de nós e de ligações entre esses nós.

Como exemplificação, o filósofo francês indica que uma enciclopédia clássica já

constitui uma leitura do tipo hipertextual, uma vez que utiliza diversos elementos,

textuais e gráficos, para dinamizar seu conteúdo.

No entanto, o suporte digital apresenta uma diferença considerável em

relação aos hipertextos anteriores à informática: a pesquisa nos índices, o

uso dos instrumentos de orientação, de passagem de um nó a outro, fazem-

se nele com grande rapidez, da ordem de segundos (LÉVY, 1996, p. 44).

Evocando novamente seu conceito de inteligência coletiva, Lévy diz que o

computador não seria mais um centro, mas sim um pequeno fragmento de um

centro cujas circunferências inexistem, um “computador hipertextual, disperso, vivo,

pululante, inacabado, virtual, um computador de Babel: o próprio ciberespaço”

(LÉVY, 1996, p. 47).

Para Dalmonte, citando Landow, o hipertexto teria as seguintes

características:

Intertextualidade – O hipertexto seria, essencialmente, um sistema que

potencializaria a referências a outros textos, realizando conexões através dos links

com outros textos. O link, portanto, está inerentemente ligado ao hipertexto.

Page 70: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

68

Multivocalidade – Associada à ideia de polifonia de Bakhtin, sustenta a

possibilidade de coexistência de diversas vozes na narrativa literária. Desta forma, o

hipertexto não permite uma voz tirânica.

Descentralização – O hipertexto, ao contrário de textos impressos, não

oferecem uma ordem linear para sua leitura e compreensão.

Rizoma – Oriundo de um conceito desenvolvido por Deleuze e Guattari,

em que os autores se utilizam da metáfora de um tipo de vegetação aquática que se

desenvolve na água, sem tronco ou caule, totalmente ramificada. O rizoma opõe-se

à ideia de hierarquia e verticalização, portanto.

Intratextualidade – Esta característica refere-se às ligações internas

estabelecidas entre as conexões dentro do mesmo sistema ou site. (2009, p. 160-

161).

Mas qual a importância e a relação do hipertexto para o jornalismo digital?

Tratar o hipertexto como uma narrativa que se abre a múltiplas vozes, que

colaboram com sua construção textual, é conferir a essa modalidade um

papel inovador que, inclusive, marca um afastamento em relação à tradição

do jornalismo impresso. Na condição de texto longo e aberto à construção

por parte do leitor, fundamentado na navegação, o hipertexto é, sem dúvida,

ao mesmo tempo um incentivo e um desafio quando se pensa nas

possibilidades que abertas a partir dessa constatação. (DALMONTE, 2009,

p. 164).

Na conceituação de Ferrari: “Um bloco de diferentes informações digitais

interconectadas é um hipertexto, que, ao utilizar nós ou elos associativos (os

chamados links) consegue moldar a rede hipertextual, permitindo que o leitor avance

sua leitura do modo que quiser, sem ser obrigado a seguir nenhuma ordem linear”

(2010, p. 44).

Para Mielniczuk, a hipertextualidade é uma grande caraterística de

ruptura, abrindo grandes possibilidades para o jornalismo. Defendendo a união do

hipertexto e do link, sendo o segundo um elemento constitutivo do primeiro, a autora

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69

afirma que “consideramos a hipertextualidade como a característica mais importante

em relação às demais40” (2003, p. 158).

A hipertextualidade antecede todas as outras características, porque a

implantação dessas só acontece através daquela. Em outras palavras, para

aplicar qualquer recurso relacionado às características da multimidialidade,

interatividade, memória, personalização e atualização contínua é preciso

fazê-lo através do esquema de lexias41

e links. (MIELNICZUK, 2003, p.

158).

A pesquisa de Ferrari é complementar ao afirmar que o trabalho do

jornalismo digital exige que o jornalista repense toda a informação em forma de

cadeia, buscando, através do suporte digital, o aprofundamento da informação, ou,

como afirma a autora “A existência de fato de um jornalismo digital, que aproveita

plenamente as vantagens da mídia [...]” (2010, p. 108).

Desta forma, tanto Ferrari quanto Mielniczuk propõem variantes de como

a característica hipertextual pode ser utilizada para o jornalismo. A pesquisadora da

UFBA afirma que existem duas estruturas, cuja distinção reside no nível de

complexidade de cada uma. A primeira delas, chamada de hipertexto arborescente,

supõe o texto central como uma espécie de caule, onde anexos se encontrariam

subordinados a esse corpo, tal como os galhos de uma árvore.

A segunda estrutura é chamada de hipertexto em rede, em que a ideia do

caule central desaparece e “a trama de conexões que se estabelece entre as lexias

é bem mais complexa, pois, em tese, não „respeita‟ nenhum tipo de hierarquia

aparente na organização das informações [...] Esta estrutura remete à ideia de

rizoma, abordada anteriormente” (MIELNICZUK, 2003, p. 107).

40

Ver subcapítulo anterior. 41

Mielniczuk utiliza o termo “lexias” pois sua teoria do hipertexto está embasada com o autor Landow. Ao utilizarmos Pierre Lévy, o termo utilizado neste trabalho é titulado como “nós”.

Page 72: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

70

Figura 5 – Hipertexto em forma arborescente; hipertexto em estrutura de rede, respectivamente (MIELNICZUK, 2003, p. 106-107).

Distinguindo um pouco de Mielniczuk, Ferrari também defende o uso do

hipertexto para o aprimoramento da narrativa jornalística, mas em conjunto com

antigas práticas consolidadas do jornalismo. Segundo a autora: “Outro conceito

tradicional do jornalismo que não pode ser esquecido na web – ao contrário, deve

ganhar força – é o lide42. Ao escrever on-line, é essencial dizer ao leitor de forma

rápida qual é a notícia e por que ele deve continuar lendo aquele texto” (2010, p.

53).

Assim sendo, Ferrari defende uma conceituação própria da caraterística

hipertextual que, metaforicamente, seria semelhante à letra T.

Nessa estrutura, a parte horizontal do T representa o lide e coloca o

principal da notícia, ou seja, por que ela está sendo escrita. O lide não vai

matar ou substituir o final, mas apenas dar razões ao internauta para

continuar lendo. A partir daí, o resto da matéria – a parte vertical do T –

pode ter a forma de qualquer estrutura. O jornalista pode contar a história

de forma narrativa; ou então continuar com o resto da história; ir ponto por

ponto; ou simplesmente continuar o texto no formato da pirâmide inversa.

Isso permite ao jornalista telegrafar as informações mais importantes e

ainda assim conseguir escrever do jeito que quer. (FERRARI, 2010, p. 54).

A princípio, a estrutura proposta por Ferrari se assemelha ao hipertexto

arborescente descrito por Mielniczuk, contudo, este exemplo não prevê a

continuidade do lide, como podemos concluir observando que em sua estrutura

42

Ver Glossário de Jornalismo em anexo neste trabalho.

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71

inexiste uma base inicial (de cima para baixo), como na figura de um “T”. Para

Mielniczuk, o modelo de pirâmide invertida43, que supõe o lide, sofreria uma

evolução no hipertexto jornalístico, constituindo-se em células informativas. Segundo

a autora, uma célula informativa é “a menor unidade da narrativa jornalística” em que

“é provável que a estrutura da pirâmide invertida, tal como a conhecemos, se

mantenha” (2003, p. 169). Assim, em um hipertexto que se assemelha ao de rede

apresentado anteriormente, o leitor poderia construir sua própria narrativa

jornalística, por meio de inúmeras células informativas, constituídas no formato de

pirâmide invertida.

Figura 6 – Modelo de notícia hipertextual proposto por Mielniczuk; os triângulos laranjados representam células informativas redigidas em formato de pirâmide invertida. Os círculos verdes representam sons e os quadrados amarelos representam imagens (2003, p. 170).

Não obstante, para Mielniczuk, a forma como o hipertexto é utilizado na

narrativa não é o principal elemento de ruptura propiciado pelo jornalismo digital:

“Independentemente do tipo de hipertexto, o link é o elemento-chave que vai permitir

a conexão entre as lexias. Sem essa conexão, o hipertexto inexiste, logo, não é

demasiado, então, dizer que o link é o elemento fundamental para a existência do

hipertexto” (2003, p. 107).

43

Ver Glossário de Jornalismo em anexo neste trabalho.

Page 74: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

72

Figura 7 – Variações de leitura na narrativa hipertextual jornalística; possibilidades com o link (MIELNICZUK, 2003, p. 171).

Desta forma, através dos hipertextos e dos links é possível acreditar em

uma participação direta dos leitores na construção da notícia. “A partir da não-

linearidade e dos links, podemos, talvez, encontrar novas vozes, outras versões de

uma mesma notícia” (FERRARI, 2007, p. 141).

Levantamos, logo, que embora com algumas diferenciações, tanto Ferrari

quanto Mielniczuk acreditam que o hipertexto (constituído por links) é a grande

possibilidade de ruptura para o jornalismo digital. Ainda assim, antigos preceitos do

jornalismo não devem ser esquecidos, evitando uma possível desorientação do

leitor. Para Ferrari, o texto deve se iniciar com o formato de pirâmide invertida e

seguir o caminho desejado e pensado pelo jornalista digital após esta

contextualização. Já para Mielniczuk, a pirâmide invertida se transforma em

inúmeras células informativas, com a presença da contextualização narrativa na

abertura de todos os textos.

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73

O hipertexto, portanto, se tornaria fundamental nesta nova forma de

produzir o jornalismo. Conforme dissemos anteriormente, é com esta ferramenta que

seria possível exercemos a transição de uma mera “sociedade da informação” para

uma “sociedade do conhecimento”, já que o hipertexto permite leituras aprofundadas

e comparação de dados, o que gera, quando bem realizado, conhecimento,

conforme apontamos no início deste capítulo.

4.7. A velha lógica jornalística

Com as teorias de Luciana Mielniczuk e Pollyana Ferrari, averiguamos

as possibilidades propiciadas pelo jornalismo digital para as narrativas de leitura e

aprofundamento das informações. Mas essas teorias levantam questões sobre

algumas constantes da velha lógica jornalística que ainda imperam na prática

mercadológica.

Na linha de raciocínio hipertextual, em que o leitor pode colaborar na

construção de notícias e projetar o seu próprio caminho na leitura jornalística, Pierre

Lévy faz a seguinte observação: “[...] seria ainda necessário, para se manter

atualizado, recorrer a esses especialistas da redução ao menor denominador

comum que são os jornalistas clássicos?” (LÉVY apud MIELNICZUK, 2003, p. 164).

Esta objeção do filósofo francês tem ligação direta com o conceito de inteligência

coletiva, já que, através do ciberespaço, nos reinventaríamos como uma sociedade

do conhecimento o que, no raciocínio do filósofo francês, dispensaria a necessidade

de intermediadores. Para Mielniczuk, “o autor parece desconsiderar toda uma gama

de pressupostos que embasam e dão credibilidade à atividade jornalística, seja no

âmbito técnico ou institucional.” (2003, p. 164). Não obstante, Mielniczuk cita o autor

Wolton para classificar a objeção de Lévy como ilusória:

Comunicação direta, sem mediações, como uma mera performance técnica.

Isso apela para os sonhos de liberdade individual, mas é ilusório. A Rede

pode dar acesso a uma massa de informações, mas ninguém é cidadão do

mundo, querendo saber tudo, sobre tudo, no mundo inteiro. Quanto mais

informação há, maior é a necessidade de intermediários – jornalistas,

arquivistas, editores etc – que filtrem, organizem, priorizem. Ninguém quer

assumir o papel de editor-chefe a cada manhã. A igualdade de acesso à

informação não cria igualdade de uso da informação. Confundir uma coisa

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74

com a outra é tecno-ideologia. (WOLTON apud MIELNICZUK, 2003, p.

164).

Não apenas o conceito de inteligência coletiva, como – reduzindo o

espectro teórico – a própria hipertextualidade no jornalismo digital parece, também,

um pouco ilusória no contexto mercadológico em que vivemos.

Segundo Dalmonte, o jornalismo praticado atualmente na Web não visa

o aprofundamento de informações por meio de hipertextos e links, pois se limitam à

característica da intratextualidade, delimitando fortemente a possibilidade de novas

vozes no jornalismo digital:

Embora a ideia do hipertexto apresente a possibilidade de ruptura com o

espaço restrito de uma página e, por meio do link, possibilite a conexão com

outros espaços da Web, quando essa questão é analisada empiricamente, o

que se vê é a manutenção de uma lógica de concorrência entre os veículos,

o que rompe com a ideia de ligação entre textos dispersos. Na maioria dos

casos, o link permite a navegação por dentro de um mesmo produto, o que

seria a intratextualidade. (DALMONTE, 2009, p. 166).

Em uma pesquisa realizada para aferir a utilização das características

hipertextuais nos webjornais, Dalmonte diz que: “Os resultados mostram que a

maioria dos hiperlinks (94,8%) leva o leitor para o material relacionado localizado no

próprio site do jornal. O destino do hiperlink era um outro Website em apenas 137

(4,1%) casos” (2009, p. 168).

Assim, a ruptura das barreiras fica limitada, não agregando ao discurso

novas narrativas, pontos de vista distintos ou qualquer texto que acrescente ao

assunto proposto. Sim, os webjornais oferecem espaço para comentários, mas estes

são, muitas vezes, moderados e limitados. “Nesse caso, o discurso Webjornalístico

continua monovocal, monofônico” (DALMONTE, 2009, p. 167).

Neste caso, Dalmonte sugere haver uma clara discrepância entre a teoria

e a prática. Sabe-se que na Internet, a lógica do lucro para os endereços WWW se

dá com o número de page views44, que, contabilizado por instituições como o IVC,

Instituto Verificador de Circulação, e IBOPE, são posteriormente vendidos aos

44

Visualização efetiva da página de determinado site. Page View significa Página Vista, nome utilizado para determinar qual o número de visualizações que determinada página possui em certo período. (DALMONTE, 2009, p. 231).

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anunciantes (2009, p. 170). Quanto mais page views, mais anúncios. Quanto mais

anúncios, maior o lucro. Desta forma, os Webjornais têm como objetivo final manter

o leitor navegando pelo próprio endereço.

Com isso, tem-se uma repetição, na Internet, dos ditames quanto à

capacidade de cada produto se articular com seu público, o que permite

uma organização do mercado publicitário. Critérios como “tempo de

permanência” e “page views” passam a acompanhar toda a movimentação

do internauta em relação com o produto, servindo de base para o

posicionamento de sites no mercado, definindo a destinação das verbas

publicitárias [...] Em seu cerne, o conceito do hipertexto traz a proposta de

uma textualidade capaz de romper barreiras impostas por limitações como a

falta de espaço. Quando aplicado à Web, poderia oferecer um percurso por

meio do qual o leitor pudesse agregar novas informações, a partir de um

itinerário estabelecido segundo zonas de interesse pertinentes a esse leitor.

O que se tem visto, na verdade, é a manutenção de um modelo

“monovocal/monofônico” que, em vez de proporcionar uma real

intertextualidade, opera com a intratextualidade, assegurando ao mesmo

tempo que o leitor não saia do quadrado proposto e não vá gerar page

views no espaço do concorrente. (DALMONTE, 2009, p. 170).

Na prática, portanto, a teoria do hipertexto como uma forma de ruptura

para o aprofundamento das informações no jornalismo digital é ignorada. E, se não

há aprofundamento no jornalismo, que continua com um discurso

monovocal/monofônico, podemos concluir que estes também ignoram conceitos

como o da inteligência coletiva, de Pierre Lévy. Cabe aqui uma questão reflexiva:

será que jornais digitais que privilegiassem o aprofundamento das informações da

forma como o hipertexto permite não teriam mais leitores e, consequentemente,

mais page views?

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76

5. ESTUDO DE CASOS MÚLTIPLOS45

5.1. Revista NEO Interativa

A revista NEO Interativa foi um projeto ambicioso da editora Próxima

Mídia, lançado em abril de 1994, que se vendia como “a primeira revista multimídia

do Brasil”. O próprio nome da revista pode ser considerado como um indicativo de

seu objetivo: segundo o dicionário Priberam46 da língua portuguesa, a palavra “NEO”

é oriunda da língua grega e significa “Novo” em português. Seu conteúdo,

basicamente, era composto por matérias culturais, abordando cinema, televisão,

literatura, ciberespaço e outros assuntos relacionados.

Um detalhe bastante curioso que deve ser retomado é o fato da

publicação também incluir e-books na íntegra em suas edições. Na grande maioria,

os e-books que compõem a revista têm relação direta com o conteúdo jornalístico.

Assim, ao lermos o comentário da jornalista Isabela Boscov na resenha crítica do

filme Frankestein, de 1994, caracterizando o material de origem como “relativamente

tosco47”, temos a opção, com um único clique, de desbravar o texto original na

íntegra e construirmos nossa própria opinião, o que caracteriza uma

intertextualidade enriquecedora possibilitada pelo jornalismo digital.

A publicação foi criada pela agência digital Futura 3, que, em seu portfólio

na WWW, afirma:

A tarefa de produção da NEO requereu não só conhecimento tecnológico,

mas também habilidade editorial. A quantidade de artigos, o cuidado na

seleção e edição das mídias, a variedade de textos que compôs cada

edição foi o resultado de muitas horas de trabalho da equipe.

Sobreviveu até que a Internet passou a ter recursos multimídia, mas

certamente serviu de referência para muitos trabalhos hoje disponíveis na

rede. (Futura 348

).

Em um dos poucos estudos acadêmicos disponíveis sobre a NEO, a

pesquisadora Mirela Hoeltz, da Universidade de Santa Cruz do Sul, corrobora:

45

Este capítulo contém citações de terminologias técnicas da prática jornalística. Para facilitar a leitura, adicionamos um glossário de jornalismo aos anexos desta pesquisa. 46

Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=neo> – Acesso em 15 de outubro de 2011. 47

(BOSCOV apud NEO Interativa, 1995, p. 98). 48

Disponível em: <http://www.futura3.com.br/projetos.php?cd=52> – Acesso em 15 de outubro de 2011.

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77

Conhecimento tecnológico e habilidade técnica não seriam suficientes para

a produção de uma publicação tão extensa. A quantidade de chamadas

para editorias, o cuidado na seleção e edição de imagens, a variedade de

textos que compõem cada edição resultavam, claramente, de muitas horas

de dedicação e de trabalho em equipe. (HOELTZ, 2002, p. 2).

Inicialmente a revista era vendida com periodicidade trimestral apenas em

livrarias e lojas especializadas em artigos de informática. “A necessidade de

computador multimídia para acessar o conteúdo da revista restringia ainda mais,

naquela época, o grupo de possíveis leitores” (HOELTZ, 2002, p. 1). A partir do

número 10, em 1996, “quando o mercado amadureceu e a equipe de produção

atingiu maturidade e capacidade suficiente, passou a ter periodicidade mensal e a

ser vendida em bancas de jornal, com distribuição em todo território nacional”

(Futura 3).

A NEO Interativa circulou até novembro de 1997, com uma coleção de 22

CD-ROMs, dentre os quais estão inclusas cinco edições especiais: NEO Wave 1 e 2,

voltada para o público adolescente; NEO Kids, infantil; NEO Internacional e NEO

Turismo.

Segundo a agência Futura 3: “A tiragem da coleção de 22 CDs foi em

torno de 350.000 cópias entre abril de 1994 a novembro de 1997” (Futura 3), o que

resulta em 16.000 cópias por cada edição, em valores aproximados.

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Figura 8 – Todas as edições lançadas da revista NEO Interativa. Disponível no site da agência digital Futura 3.

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79

Figura 9 – Edições da revista NEO Interativa observadas nesta pesquisa. Disponível no site da agência digital Futura 3.

Segundo consta na própria revista, o expediente era constituído pelos

seguintes nomes: Luís Henrique de Moraes, Ricardo Anderaós, Sérgio Diogo

Giannini Jr., Silvio Giannini, Jesus de Paula Assis, Luís Henrique de Moraes,

Roberto Villares, Luciene Calabria, Gaspar Sá Arguello, Ricardo Irineu de Sousa,

Eloá Chouzal , Fábio Lima, Liliane Giannini, Regina Yamada. Outros nomes mais

conhecidos no âmbito jornalístico brasileiro também participaram da revista NEO

como colaboradores, como Arnaldo Jabor, Isabela Boscov etc.

5.1.1. Como funciona a revista NEO Interativa

“Numa produção “Próxima”, sob o patrocínio Itautec; Saraiva Data e Sony

Music CD-ROM: Revista NEO Interativa, o primeiro CD-ROM multimídia do Brasil”.

Com a locução de Fábio Lima, concomitante à visualização dos logotipos dos

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80

patrocinadores, é desta forma que somos apresentados à revista NEO Interativa em

um primeiro contato.

A primeira novidade em relação às revistas impressas que constatei na

NEO foi a abertura em áudio, na voz de um locutor que informava o que

poderia ser encontrado naquela edição e as possibilidades de navegação. O

que mais chamou minha atenção foi justamente o caráter dinâmico da

publicação digital, a possibilidade de passar de uma tela para outra com

simples toques em alguns símbolos que, conduzindo a novos documentos e

logo a outros mais, me levaram a percorrer rapidamente boa parte da

revista (HOELTZ, 2002, p. 1-2).

Os requisitos mínimos de instalação, hoje bastante rudimentares, nos

lembram da idade da revista: um computador 486 DX 333Mhz com 8 MB de

memória RAM49 e sistema operacional MS-DOS 5.0 ou Windows 3.1. Avançadas

quase duas décadas, hoje executamos a revista no sistema operacional Windows 7,

em modo de compatibilidade com o Windows 95. A primeira limitação observada é

em relação ao tamanho da tela: projetada para uma resolução amplamente inferior à

das tecnologias atuais, a NEO não é exibida em tela cheia, mas sim em uma

minúscula moldura ao centro do monitor.

Figura 10 – Capa da edição nº 4 da revista NEO Interativa e sumário, respectivamente.

Após a apresentação, somos levados à capa virtual da revista com a

apreciação da matéria de destaque. Ao fundo, uma espécie de “música-tema” da

49

Os requisitos mínimos indicam as configurações necessárias para que um programa rode adequadamente no computador.

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presente edição de NEO é executada em qualidade de som MIDI50. O projeto gráfico

da revista é audacioso, ainda mais se considerarmos que a NEO foi lançada com

base no sistema operacional Windows 3.1, que contava com um sistema gráfico

bastante rudimentar.

Figura 11 - Interface gráfica do sistema operacional Windows 3.1, sobre o qual rodava a revista NEO

Interativa. Disponível em: http://toastytech.com/guis/win31.html - Acesso em 23 de outubro de 2011.

Naturalmente, o que observamos hoje é uma diagramação datada que,

em certos momentos, chega até a dificultar a leitura do texto. Isso acontece porque a

NEO não foi pensada para as altas resoluções que os monitores atuais conseguem

atingir.

Estruturalmente, na capa temos três possibilidades de links: podemos

clicar nos logotipos dos patrocinadores para acompanharmos publicidade com

recursos unimídia51; podemos clicar em apresentação para conhecermos os

principais destaques da edição, com locução de ora Eloá Chouzal ora Fábio Lima,

ou, ainda, podemos simplesmente clicar em uma seta que nos leva ao sumário da

revista. Usando a seta, a revista interativa funciona como metáfora de uma

publicação impressa, deste modo, o leitor passa a acompanhar a leitura de forma

linear, como se estivesse folheando as páginas da direita para a esquerda.

Embora seja uma possibilidade, a revista claramente não foi pensada

para ser lida desta forma. Podemos comprovar essa afirmação ao observarmos que

50

MIDI Musical Instrument Digital Interface (interface digital para instrumentos musicais). Uma especificação de protocolo para troca de informações digitais de performance (quais as notas tocadas, com que força foram pressionadas as teclas, durante quanto tempo foram sustentadas etc.) entre instrumentos musicais. Essas informações são transmitidas entre os diferentes instrumentos (sintetizadores, baterias eletrônicas, samplers, computadores) usando cabos especiais. Através de MIDI, é possível controlar todo um estúdio de som usando um computador e alguns programas específicos. (COSTA apud LÉVY, 1999, p. 256) 51

Conforme observamos no Capítulo 4, adotamos o conceito “unimídia”, cunhado por Pierre Lévy.

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as seções não se encontram na mesma ordem apresentadas no sumário. Isto é,

observemos a Figura 10 na página anterior: vemos, respectivamente, as seções “Rio

de Janeiro”; “Cinema” e “Arte”. Mas se clicarmos em cada uma delas, constatamos

uma confusão nas páginas em que se iniciam: 06; 96 e 88, também

respectivamente.

A diagramação dos textos não segue uma lógica pré-estabelecida, por

isso, nas edições observadas, encontramos diagramações em colunas simétricas,

assimétricas, em tabelas, contornando imagens, mapas, animações etc. Desta

forma, podemos dizer que embora a NEO Interativa apresente a possibilidade de ser

lida como uma revista impressa, a publicação certamente tentou uma ruptura,

sugerindo para o leitor inúmeros caminhos não lineares que visam aprofundar o

conteúdo jornalístico apresentado.

No sumário da revista, encontramos as editorias como cinema, arte,

terra, gastronomia etc. Matérias exclusivas (geralmente as de capa) se transformam

em uma seção própria, como vimos na Figura 10 com o especial “Rio de Janeiro”,

referenciando a matéria de capa sobre a capital carioca. Ainda no sumário, o

software nos apresenta três novas opções de links: o CD-ROM NEO, que funciona

como uma espécie de menu central, auxiliando o leitor a retornar para “capas de

seções”/ “capas de matéria” ou desligar/ligar trilhas e locuções, e está presente

durante toda a leitura da revista; um ícone de ajuda, que nos leva para explicações

sobre a esquematização da revista e, por fim, a opção de abrir qualquer página

digitando o seu número, clicando sobre os marcadores de páginas.

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Figura 12 – O menu central da revista, que funciona como uma espécie de navegador, pode ser acionado sempre que o leitor desejar bastando um clique no link CD-ROM NEO.

Ao clicarmos em qualquer uma das seções, somos levados para a

“capa da seção”: aqui encontramos todas as matérias da seção escolhida

subdividida em um menu semelhante a um mosaico. Clicando na matéria, abrimos a

capa do artigo e, neste ponto, iniciamos a narrativa jornalística hipertextual proposta

pela revista.

Os recursos unimídia da revista são amplamente utilizados já a partir da

capa de suas matérias. Muitas vezes a abertura conta com uma locução explicativa

sobre o conteúdo do artigo ou com a leitura da linha fina. Em outro exemplo, ao

abrirmos o especial “Rio de Janeiro”, presente na edição nº 4, por exemplo,

imediatamente a trilha da revista alterna para melodias de Tom Jobim, funcionando

como uma contextualização sonora para o artigo. Essa esquematização sofre uma

significativa alteração em edições posteriores (percebida neste estudo a partir da

edição de número 10, quando, como vimos, a revista passa a circular em período

mensal). A “capa da seção” é eliminada e, a partir do “sumário”, somos levados

imediatamente à “capa da matéria” selecionada. Outra mudança observada é uma

quantidade maior de patrocinadores e propagandas.

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Figura 13 – Capa da seção e capa da matéria selecionada, respectivamente. Edição nº 4.

Figura 14 – Com a edição de número 10, observamos que a revista perde a “capa da seção”, assim, do “índice” somos direcionados diretamente para a “capa da matéria”; outro detalhe é que a NEO ganha mais patrocinadores e passa a ter distribuição mensal.

A grande novidade da revista NEO Interativa (além de seu pioneirismo

digital) é a utilização da teoria do hipertexto empregada para o enriquecimento da

narrativa jornalística, de forma bastante similar à proposição das células informativas

de Mielniczuk vista no capítulo anterior.

[...] apresenta um conjunto de especificidades que permitem adotá-la como

exemplo representativo das publicações hipermídia em geral. Cada uma

das dezoito edições da NEO Interativa foi publicada exclusivamente em

suporte digital (CD-ROM), apresenta estrutura hipertextual e faz uso de

material codificado em várias linguagens (visual, verbal, escrita, sonora).

(HOELTZ, 2002, p. 9). 52

52

Como vimos anteriormente, foram publicadas 22 edições de NEO Interativa. Aparentemente, Hoeltz ignorou os suplementos especiais da revista.

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Publicitariamente, o hipertexto também é utilizado para a exibição de

mensagens direcionadas; matérias gastronômicas, por exemplo, contêm

discretamente o logotipo da Perdigão que, quando clicado, inicia vídeos comerciais

da empresa. Matérias de turismo contêm logotipos de pousadas, que também

iniciam propagandas ao serem clicados. Embora sejam raras, algumas propagandas

também estão distribuídas por entre as páginas da revista, sempre com bastantes

recursos unimídia. As possibilidades da hipermídia, portanto, são utilizadas de

maneira bastante simples, tornando-se inerentes ao próprio texto jornalístico e aos

anúncios publicitários. Para atingir esse resultado, a revista se utiliza de um sistema

iconográfico que informa ao leitor a disponibilidade de informação adicional em

paralelismo com o texto que está sendo lido, sendo eles:

Acessar texto ou dados: este ícone informa ao leitor quando há células informativas que trazem mais conteúdo sobre a matéria acessada.

Exibir fotos: este ícone informa ao leitor quando a foto pode ser ampliada ou há, por exemplo, a existência de ensaios fotográficos complementares à matéria.

Exibir vídeo: este ícone informa ao leitor quando a matéria contém vídeos complementares ao assunto, em baixa resolução.

Exibir vídeo: este ícone informa ao leitor quando a matéria contém vídeos complementares ao assunto, em alta resolução.

Exibir mapa: este ícone informa ao leitor a existência de dados geográficos sobre o assunto em questão que podem ser acessados através de mapas.

Imprimir dados: comumente utilizado na seção de gastronomia, este ícone informa ao leitor a possibilidade de imprimir conteúdo das matérias, como receitas, por exemplo.

Tocar áudio ou locuções: este ícone informa ao leitor a existência de músicas ou efeitos sonoros, como locuções, complementares à matéria.

Com o avanço tecnológico durante o período em que circulou, símbolos

adicionais foram sendo acrescentados ao sistema iconográfico da revista, como

este: , simbolizando matérias que utilizavam conexões com a Internet, ou este:

, indicando uma ligação entre texto jornalístico e a estante virtual da revista.

Contudo, o sistema iconográfico não é a única forma de apresentação do conteúdo

hipertextual. Geralmente em células informativas menores, ou que necessitem de

uma conexão mais direta com o texto, os links são apresentados em palavras

sublinhadas, podendo direcionar para qualquer tipo de recurso unimídia.

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Abaixo, vamos ilustrar os conceitos teóricos propostos por Mielniczuk

com os critérios usados para a aplicação da estratégia de observação desta

pesquisa:

Multimodalidade – No primeiro quadro, a matéria “Veja esta canção”, de

Arnaldo Jabor, permite ao leitor duas opções de vídeos e quatro células informativas

hipertextuais logo na “capa da matéria”. De forma semelhante, em nota sobre o

lançamento do disco “The Division Bell”, da banda Pink Floyd, a revista apresenta

duas faixas do álbum.

Figura 15 – Exemplos de recursos unimídia nas matérias da NEO Interativa.

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87

Interatividade – Este conceito, como vimos, refere-se à possibilidade do

leitor sentir-se parte do processo jornalístico. Neste sentido, a NEO Interativa

ofereceu recursos satisfatórios. A seção “Cartas do leitor” integra recursos unimídia,

permitindo que os leitores enviem seus comentários por texto ou áudio, sendo

respondidos pelos editores-chefes da revista (segunda consta em seu expediente)

através de áudio. A revista oferecia ainda a seção NEO Link, disponibilizando

hiperlinks para um BBS53 próprio, estimulando a participação do leitor com a

redação.

53

Ver Capítulo 2: Os Computadores e a História da Internet.

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88

Figura 16 – Exemplos de recursos interativos da revista NEO Interativa.

Hipertextualidade – Citado acima, este exemplo se encontra na edição

nº 4 da publicação. Na resenha de autoria de Isabela Boscov sobre o longa-

metragem “Frankestein”, dirigido por Kenneth Branagh em 1994, encontramos

presente na “capa da matéria” um ícone de livro, indicando que podemos ler o texto

clássico de Mary Shelley na íntegra acessando a estante virtual da NEO Interativa

(neste caso, o livro está em inglês). Durante a matéria, encontramos inúmeras

palavras sublinhadas, apresentando ligações hipertextuais com determinadas

passagem do texto e, mesmo dentro das células informativas, podemos observar

ainda mais hiperlinks que nos levam a mais informações.

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89

Figura 17 – Ao clicarmos no ícone de livro encontrado na “capa da matéria”, somos automaticamente direcionados para o livro “Frankestein, or the modern Promotheus”, contido na estante virtual da revista com o texto na íntegra.

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90

Figura 18 – Ao passarmos o cursor do mouse sobre as palavras sublinhadas, a revista automaticamente abre uma célula informativa, no exemplo, informações biográficas sobre Mary Shelley.

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Figura 19 – Na célula informativa linkada ao nome do produtor de “Frankestein”, Francis Ford Coppola, encontramos o ícone “exibir vídeo”. Clicando nesse ícone, somos direcionados para um comentário em vídeo de Coppola, com cerca de 30 segundos, sobre a fidelidade desta nova versão cinematográfica de “Frankestein” em relação ao material de origem.

Memória – A partir da edição de numero 10, a NEO oferece um programa

intitulado “Guia da NEO”, permitindo ao leitor a possibilidade de procurar qualquer

matéria de qualquer edição precedente através do título e ou palavras-chave.

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Figura 20 – Tela com o programa “Guia da NEO”, disponível a partir da décima edição da revista.

5.2. O Jornal Brasil 24/754

O jornal Brasil 24/7 foi lançado em 14 de março de 2011. À época,

motivou uma grande repercussão na mídia on-line por ser o primeiro jornal brasileiro

pensado exclusivamente para o iPad, o tablet da empresa americana Apple. Criado

pela Editora 247, dirigida pelos jornalistas Joaquim Castanheira e Leonardo Attuch55,

o Brasil 24/7 recebeu um investimento de 4 milhões de reais, previsto para ser

aplicado ao longo de 12 meses, segundo Attuch (G1, 14/03/2011). Em entrevista ao

portal G1, o jornalista complementava: “A primeira edição é publicada às 20h. Logo

pela manhã, às 6h, disponibilizamos uma versão atualizada. Porém, se houver

algum acontecimento importante durante o dia, o jornal pode receber uma edição

extra56” (G1, 14/03/2011). O jornal conta ainda com um website na Internet

(www.brasil247.com.br) que reproduz todo o conteúdo do periódico e acrescenta

novas notícias ao longo do dia. A publicação apresenta as editorias de Poder, Brasil,

Mundo, Cultura e Esportes, além de Portfólio (finanças pessoais), Agro, Mídia &

54

Embora em algumas citações apareça grafado como Brasil 247, o nome correto do jornal é Brasil 24/7. 55

Fonte: Jornalistas da Web – Disponível em: <http://www.jornalistasdaweb.com.br/index.php?pag=displayConteudo&idConteudo=4754> – Acesso em 20 de outubro de 2011. 56

Fonte: G1 – Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2011/03/primeiro-jornal-brasileiro-para-ipad-chega-com-duas-edicoes-diarias.html> – Acesso em 20 de outubro de 2011.

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Tecnologia, Games & Aplicativos, Ecologia e Fotografia e aos finais de semana traz

a revista Oásis, que fala sobre saúde e qualidade de vida em geral.

Ainda em entrevista ao G1, Attuch afirma que a ideia de criação do

Brasil 24/7 surgiu após as primeiras notícias sobre a produção do jornal norte-

americano The Daily (lançado em 2 de fevereiro de 201157), o primeiro jornal

pensado exclusivamente para o iPad a nível global, do grupo de comunicação do

empresário australiano naturalizado norte-americano Rupert Murdoch.

A ideia de criar o “Brasil247” surgiu em dezembro de 2010, quando as

notícias sobre o The Daily – primeiro jornal exclusivo para iPad –

começaram a aparecer. “O The Daily nos inspirou a criar um periódico para

iPad no Brasil. Porém, não planejamos cobrar pelo conteúdo. Acredito que a

cultura da internet é de conteúdo livre e grátis”, explica Attuch. A assinatura

do The Daily tem custo de US$ 0,99 por semana ou US$ 40 por ano.

“Acreditamos no retorno por meio da receita publicitária”, completa. (G1,

14/03/2011).

Pouco tempo depois de ser lançado, o jornal Brasil 24/7 alcançou o

primeiro lugar em downloads gratuitos na App Store, loja de aplicativos do iPad.

57

Fonte: The Daily – Disponível em: <http://www.thedaily.com/about> – Acesso em 20 de outubro de 2011.

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Além do ranking “Geral”, a publicação liderou também a categoria “News” da loja,

sendo o produto jornalístico de maior relevância daquele momento (G1,

17/03/201158). Segundo a redação do jornal:

247 – Com seis meses de vida, o Brasil 247, primeiro jornal brasileiro

desenvolvido para o iPad e outras plataformas digitais, e também o primeiro

no mundo com conteúdo totalmente gratuito, superou todas as metas que

havia traçado. Já são 2,7 milhões de visitantes únicos e 46 milhões de page

views/ mês. (Brasil 24/7, 01/10/201159

).

É importante ressaltar que antes do lançamento do Brasil 24/7 já existiam

outros produtos de informação na App Store brasileira, mas estes eram apenas

réplicas fieis dos jornais impressos. O diferencial do Brasil 24/7, portanto, foi ter sido

o primeiro jornal digital, isto é, criado e pensando exclusivamente para este novo

suporte midiático que começava a se popularizar com o lançamento do iPad.

Assim, na seção institucional de seu website, o jornal Brasil 24/7 traz

algumas informações que reafirmam este posicionamento de pioneirismo digital para

o iPad. Encontramos, também, outras afirmações que serão relevantes no

levantamento proposto neste estudo, sendo elas:

Primeiro jornal diário do Brasil desenvolvido para iPad e demais plataformas

digitais, incluindo outros tablets e internet.

Política editorial baseada na interatividade com os leitores, na pluralidade

de opiniões, na democracia do debate. Jornal com forte ação interativa com

as demais redes sociais, como Facebook, Twitter, entre outras. (Jornal

Brasil 24/7, Quem somos60

).

A publicação teve a versão lançada para o sistema operacional Android

no dia 30 de setembro de 2011, por isso, pode ser considerado como o primeiro

jornal digital para os tablets de uma forma geral, e não mais apenas para o iPad

(Brasil 24/7, 01/10/2011).

58

Fonte: G1 – Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2011/03/na-app-store-brasileira-jornal-brasil-247-e-lider-em-downloads-gratuitos.html> – Acesso em 20 de outubro de 2011. 59

Disponível em: <http://brasil247.com.br/pt/247/midiatech/17000/Como-ganhar-um-tablet-por-dia-at%C3%A9-o-Natal.htm> – Acesso em 20 de outubro de 2011. 60

Disponível em: <http://brasil247.com.br/pt/247/info/175/quem-somos.htm> – Acesso em 20 de outubro de 2011.

Page 97: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

95

5.2.1. Como funciona o Jornal Brasil 24/761

Como vimos no Capítulo 2, os tablets atuais são computadores que

contam com interfaces baseadas em telas sensíveis ao toque. Assim, podemos

considerar que o manuseio de um tablet é extremamente intuitivo, porque suas

interfaces foram projetadas para atingir esse objetivo. Em uma lógica mcluhaniana,

os tablets são praticamente extensões de nossas mãos. Desta forma, ao abrirmos o

jornal Brasil 24/7 pela primeira vez, não há nenhum ícone que nos informe sobre

uma possível forma de como o utilizar.

Simplesmente começamos a manipulá-lo. De início, chama à atenção a

qualidade visual do jornal: se utilizando da alta resolução proporcionada pelo monitor

do tablet, o jornal Brasil 24/7 traz fotos e grafismos de excelente qualidade. Na capa,

contamos com as principais chamadas para as matérias internas.

Figura 21 – Capa da edição de 4/4 6h; alta qualidade visual e hiperlinks intratextuais (atalhos) que são os próprios textos.

Conforme dissemos, não há nenhum ícone ou hiperlink explicitado, mas

ao clicarmos sobre qualquer uma das chamadas, ou imagens, o jornal

automaticamente nos direciona para a página correspondente do assunto

61

A versão do aplicativo observada foi a 1.95, para o tablet iPad.

Page 98: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

96

selecionado. Assim como na revista NEO Interativa, o jornal Brasil 24/7 conta com

uma espécie de navegador, que pode ser acionado clicando em qualquer ponto da

tela. Nele, encontramos as seguintes opções:

1) Nova edição: quando conectado à Internet, esta opção permite ao usuário

verificar a disponibilidade de novas edições do jornal. Todas as edições

selecionadas pelo usuário são arquivadas em uma “Biblioteca” própria na

memória do tablet.

2) Biblioteca: seção em que ficam armazenadas as edições do jornal

baixadas pelo usuário.

3) Capa: esta opção retorna para a capa da edição que está sendo lida.

4) Últimas notícias: nesta opção, o aplicativo abre uma nova janela de

visualização e apresenta notícias atualizadas 24 horas por dia pela

redação do jornal Brasil 24/7. Para lê-las, o usuário deverá clicar em um

hiperlink que o direcionará para o site do Brasil 24/7 na Internet.

5) Ajuda: esta opção apresenta infográficos explicativos sobre como

manipular o jornal.

6) Conteúdo: esta opção apresenta a capa dos cadernos da edição que está

sendo lida.

7) Compartilhamento: esta opção permite que o usuário compartilhe as

notícias que estão sendo lidas pelas redes sociais como Facebook e

Twitter.

8) Favoritos: esta opção permite que o usuário marque alguma matéria

como favorita, para fácil acesso posterior.

Page 99: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

97

Figura 22 – Navegador do jornal aberto; ao fundo, biblioteca de armazenamento do leitor.

Com a opção de “Últimas notícias”, o jornal Brasil 24/7 segue uma lógica

bastante semelhante ao conceito de “Webjornalismo” visto no capítulo anterior.

Entretanto, as notícias postadas nesta opção se caracterizam mais como notas

informativas, enquanto que uma matéria mais completa é vista na edição digital do

periódico, com seus dois horários de publicação. Também estruturalmente, o jornal

Brasil 24/7 segue uma lógica de mimese de uma mídia impressa. As editorias são

chamadas de cadernos. Os cadernos são folheados da direita para a esquerda e,

entre alguns deles, existem anúncios interativos, uns com recursos unimídia, que

não podem ser desabilitados. As matérias são lidas com o percorrer dos dedos de

baixo para cima, como se estivéssemos lendo um jornal formato standard, cuja

diagramação permite um grande número de matérias em uma mesma página. A

diagramação dos textos confirma esta hipótese ao se apresentar sempre em tabelas

simétricas, tais quais em um jornal standart impresso.

Page 100: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

98

Figura 23 – As capas de caderno são folheadas da direita para a esquerda, como um jornal impresso.

Cada caderno traz uma capa, apresentando chamadas para suas

matérias internas e hiperlinks intratextuais para todas elas. Em algumas edições,

percebemos alguns recursos unimídia na capa do caderno, estabelecendo uma

composição unimídia da chamada. Observamos que os hiperlinks do jornal Brasil

24/7 apenas acrescentam comodidade para o leitor indisposto a percorrer todo o seu

conteúdo, nunca visando um aprofundamento jornalístico. Nas edições observadas,

percebemos que a teoria do hipertexto é totalmente ignorada: não existem células

informativas ou links intertextuais. Para aprofundarmos a análise, abaixo vamos

apresentar as funcionalidades do jornal com a aplicação dos conceitos de

Mielniczuk:

Multimodalidade – Constatamos que o jornal apresenta recursos

unimídia em suas matérias, mas estes são poucos. Em uma reportagem sobre uma

exposição que celebra os 85 anos da falecida atriz Marilyn Monroe, a publicação

acrescenta um vídeo de boa qualidade para complementar a matéria. O recurso

descrito dura cerca de 8 minutos e meio. Em geral, a qualidade dos conteúdos

unimídia do Brasil 24/7 são de alta resolução (áudio, vídeo ou imagens),

incorporando boas informações correlacionadas ao texto jornalístico. Os recursos

Page 101: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

99

unimídia observados funcionam com a tecnologia de streaming62, o que obriga que o

leitor esteja conectado à Internet para sua visualização.

Figura 24 – Conteúdo unimídia inserido a narrativa jornalística; alta qualidade de imagem.

62

Streaming é uma tecnologia "servidor/cliente" que permite que conteúdo ao vivo ou gravado seja transmitido em tempo real (broadcast), transformando a Internet, ou uma intranet corporativa, num novo veículo de mídia para áudio e vídeo como notícias, educação, treinamento, entretenimento, propaganda e vários outros usos. Fonte: Netpoint. Disponível em: <http://www.netpoint.com.br/ajuda/index.php?title=O_que_%C3%A9_Streaming> – Acesso em 22 de outubro de 2011.

Page 102: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

100

Interatividade – Não há uma seção de cartas dos leitores, não há e-mail

dos jornalistas, sequer o jornal apresenta seu expediente. O mais próximo disso que

encontramos em nossas observações foi um curto texto de “Quem somos” e um

campo para envio de mensagens no website da publicação na Internet. Ou seja, não

há a divulgação de nenhum e-mail para contato com o jornal. A possibilidade de

compartilhamento das notícias pelas redes sociais funciona de maneira bastante

engessada: o aplicativo estabelece o link da notícia e abre um campo para o

comentário do leitor. Desta forma, parece funcionar mais como uma publicidade

social do jornal do que para um estímulo de pluralidades de opiniões.

Page 103: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

101

Figura 25 – Resumo do texto institucional “Quem somos” e menu para compartilhamento da notícia em redes sociais

Hipertextualidade – Conforme dissemos anteriormente, a teoria do

hipertexto é totalmente ignorada no jornal Brasil 24/7. Nas edições observadas, não

encontramos nenhum link ou célula informativa que proporcionasse um

aprofundamento da narrativa jornalística. O jornal contém hiperlinks intratextuais,

mas estes apenas servem de “atalhos” para acessar a matéria desejada para leitura.

Em um artigo fora do caderno de Cultura, chegamos a averiguar o endereço para

um website inserido no meio do texto, mas não linkado.

Atualização – Esta é uma característica bastante evoluída em relação

à revista NEO Interativa. O jornal Brasil 24/7 conta com duas publicações, sendo

uma às 20h e a outra às 06h. Ainda assim, o periódico pode receber edições

especiais a qualquer momento do dia. Incorporando características do

“Webjornalismo”, o Brasil 24/7 conta com uma seção “Últimas notícias” que é

alimentada por seu website na Internet. Para acessá-la, o leitor deve abrir o

navegador do jornal, que automaticamente estabelece uma conexão com a rede

através de um navegador WWW.

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102

Figura 26 – Ao clicar em “Últimas notícias”, o leitor tem acesso ao website do jornal, atualizado 24/7.

Memória – Em conjunto com a “Atualização”, esta é a característica em

que o jornal Brasil 24/7 mais se destaca. Em uma espécie de biblioteca virtual, o

leitor pode encontrar todas as edições já disponibilizadas da publicação. Entretanto,

notamos que nas edições mais antigas alguns recursos unimídia, funcionando sob o

sistema de streaming, deixaram de funcionar.

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103

Figura 27 – Memória do jornal: todas as edições já lançadas até a data deste estudo estavam disponíveis para o leitor.

5.3. Estratégia analítica geral

Iniciamos este trabalho apresentando a metodologia do estudo de caso.

Esta escolha foi realizada porque, baseado na metodologia de Robert K. Yin, o

estudo de casos múltiplos engloba a teoria também como um procedimento

metodológico. Assim, os conceitos versados anteriormente foram utilizados como

base do formulário de observação aplicado nos objetos de análise propostos.

Estamos utilizando a metodologia do estudo de casos múltiplos para tecer

um trabalho comparativo entre duas publicações jornalísticas digitais brasileira: a

revista NEO Interativa e o jornal Brasil 24/7, separadas por uma janela de 17 anos.

Conforme vimos anteriormente, a NEO Interativa, de 1994, pode ser considerada

como a primeira tentativa de jornalismo 100% digital brasileira, enquanto que o jornal

Brasil 24/7, de 2011, é o primeiro jornal digital criado exclusivamente para o suporte

digital popularizado neste século XXI: os tablets. Desta forma, temos o objetivo de

averiguar as características tecnológicas de cada publicação e como estas foram

utilizadas para realizar o jornalismo digital. Assim, ao compararmos a revista NEO

Interativa e o jornal Brasil 24/7, podemos fazer uma reflexão inicial sobre como (ou

Page 106: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

104

se) o avanço tecnológico tem transformado o jornalismo digital brasileiro e aberto

novas possibilidades para a prática jornalística.

Para possibilitar o estudo comparativo, utilizamos apenas as narrativas

jornalísticas da editoria de Cultura do jornal Brasil 24/7, uma vez que a revista NEO

Interativa é, basicamente, uma revista cultural.

O formulário de observação aplicado baseia-se, também, na tese de

doutorado da Dra. Luciana Mielniczuk, cujas teorias foram levantadas no Capítulo 4

deste estudo, que igualmente se fundamentou em estudos de caso. Assim,

resgatamos cinco características conceituais que foram aplicadas sob uma lógica de

replicação tanto para a revista NEO Interativa quanto para o jornal Brasil 24/7.

1) Multimodalidade

2) Interatividade

3) Hipertextualidade

4) Atualização

5) Memória

Dentre os conceitos teóricos, a característica da “Personalização” foi

descartada por não ser aplicada em nenhum dos objetos de análise propostos neste

estudo. Portanto, utilizamos os formulários de observação de Mielniczuk com

adequações para esta pesquisa. Os documentos se encontram em anexo.

É importante ressaltar que este trabalho não tem a pretensão de

realizar uma Análise do Discurso ou uma Análise do Conteúdo (embora alguns

desses elementos sejam comentados): não estamos investigando a qualidade

editorial das publicações, mas sim como estas se utilizaram da tecnologia para

praticar o jornalismo digital.

Durante o planejamento deste estudo de caso, conseguimos encontrar

quatro edições da revista NEO Interativa por meio de um site de leilões na Internet,

consideradas exemplares de colecionador. Assim, para este estudo, observamos as

edições de número 2; 3; 4 e 10 da NEO Interativa. Paralelamente, selecionamos

também quatro edições do jornal Brasil 24/7, escolhidas dentre um período de 3

meses (março, abril, maio), suficiente para que o periódico se consolidasse, assim

como a edição 10 da NEO reflete, como vimos, um amadurecimento da revista.

Desta forma, observamos as edições 14/3 20h; 4/4 6h; 9/4 6h; 4/5 20h. Os horários

refletem a publicação da edição.

Page 107: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

105

5.4. Levantamento de dados

Conforme apontamos nas páginas anteriores, aplicamos o mesmo

relatório de observação para todas as unidades de análise desta pesquisa, sob uma

lógica de replicação. Este procedimento foi escolhido para que pudéssemos

observar, quantitativamente, as possibilidades tecnológicas que moldaram o

jornalismo digital em cada objeto observado neste estudo. Assim, realizamos a

ligação dos dados com os conceitos apresentados no capítulo anterior. Ressaltamos

que foram avaliadas todas as narrativas jornalísticas originais das publicações,

sejam elas matérias, notas ou colunas. Outra observação é que foram consideradas

como matérias unimídia apenas os exemplos que empregaram recursos além da

mera combinação texto + imagem classicamente utilizada no jornalismo impresso.

Seções institucionais como erratas, contato com o leitor, downloads de softwares ou

suplementos oriundos de outras publicações não foram consideradas para o levante

das narrativas jornalísticas de cada periódico. Dito isto, chegamos aos seguintes

resultados:

5.4.1. Interatividade

Revista NEO Interativa Edição 2 Edição 3 Edição 4 Edição 10

Oferece e-mail para contato com a

publicação?

Sim Sim Sim Sim

Oferece fórum de discussão? Sim Sim Sim Sim

Oferece chat? Não Não Não Não

Oferece enquete com resultados? Não Não Não Não

Existem cartas do leitor disponibilizadas? Sim Sim Sim Sim

As matérias oferecem e-mail do autor? Não Não Não Não

Jornal Brasil 24/7 Edição

14/3 20h

Edição

4/4 6h

Edição

9/4 6h

Edição

4/5 20h

Oferece e-mail para contato com a

publicação?

Não Não Não Não

Page 108: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

106

Oferece fórum de discussão? Não Não Não Não

Oferece chat? Não Não Não Não

Oferece enquete com resultados? Não Não Não Não

Existem cartas do leitor disponibilizadas? Não Não Não Não

As matérias oferecem e-mail do autor? Não Não Não Não

Com os dados observados, constatamos que a revista NEO oferecia uma

quantidade satisfatória de recursos de interação para seus leitores. Mesmo

precedendo o lançamento da Internet, a NEO já apresentava links para um BBS

próprio, em que os leitores tinham a opção de enviar críticas e sugestões para a

publicação. Além disso, as cartas dos leitores publicadas eram todas respondidas

pelos editores-chefes (segundo consta em expediente) da revista através de áudio.

Nos dados levantados do jornal Brasil 24/7, observamos a inexistência de

recursos interativos disponibilizados para o leitor. Não há seção de cartas, não há

fórum de discussão, chat, enquetes, e-mails dos jornalistas ou um e-mail para

contato geral com a redação. Desta forma, o leitor do periódico não se sente parte

do processo jornalístico.

5.4.2. Hipertexto

Revista NEO Interativa Edição 2 Edição 3 Edição 4 Edição 10

Oferece matérias cuja narrativa

jornalística se utilize de recursos

hipertextuais?

Sim Sim Sim Sim

Quantas matérias se utilizam destes

recursos?

19 (100%) 18 (100%) 11 (100%) 11

(100%)

Oferece matérias cuja narrativa

jornalística se utilize de hiperlinks

intertextuais?

Sim Sim Sim Sim

Quantas matérias se utilizam deste

recurso?

1 (5,3%) 4 (22%) 5 (45%) 3 (27%)

Jornal Brasil 24/7 Edição

14/3 20h

Edição

4/4 6h

Edição

9/4 6h

Edição

4/5 20h

Oferece matérias cuja narrativa

jornalística se utilize de recursos

Não Não Não Não

Page 109: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

107

hipertextuais?

A revista NEO Interativa é uma verdadeira hipermídia. Esta é a

constatação que podemos observar com os dados hipertextuais levantados nesta

pesquisa. Além de aplicar a teoria do hipertexto em todos os seus artigos, foi

possível constatar que a revista também dialogou com a intertextualidade,

agregando novas vozes ao discurso jornalístico. Mesmo sem a tecnologia da

Internet, com a seção “Estante NEO”, livros de ficção, de teorias ou até mesmo teses

de doutorado foram incorporados à revista e aos textos jornalísticos, enriquecendo-

os. Na edição 4, as matérias que disponibilizavam links para conteúdos intertextuais

chegaram a constituir 45% do conteúdo da revista. Com o advento da Internet, links

para sites também foram adicionados, inclusive para sites de outros produtos

jornalísticos. Na edição 10, por exemplo, encontramos um hiperlink intertextual que

nos remetia para o site da CNN.

Em contrapartida, o jornal Brasil 24/7 ignora totalmente a teoria do

hipertexto. Não foi encontrada nenhuma matéria que procurasse aprofundar o

discurso jornalístico com hiperlinks, fossem eles intertextuais ou intratextuais.

Observamos apenas hiperlinks intratextuais que basicamente servem ao propósito

de atalho para a leitura da matéria desejada.

5.4.3. Multimodalidade

Revista NEO Interativa Edição 2 Edição 3 Edição 4 Edição 10

Possuis recursos unimídia? Sim Sim Sim Sim

Quais recursos são utilizados? Animações

Desenhos

Ensaio

fotográfico

Som

Gráficos

Vídeos

Mapas

Tabelas

-

Animações

Desenhos

Ensaio

fotográfico

Som

Gráficos

Vídeos

Mapas

Tabelas

Simulações

Animações

Desenhos

Ensaio

fotográfico

Som

Gráficos

Vídeos

Mapas

Tabelas

-

Animações

Desenhos

Ensaio

fotográfico

Som

Gráficos

Vídeos

Mapas

Tabelas

-

Qual o total de matérias com

recursos unimídia?

19 (100%) 18 (100%) 11 (100%) 11 (100%)

Page 110: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

108

Jornal Brasil 24/7 Edição

14/3 20h

Edição

4/4 6h

Edição

9/4 6h

Edição

4/5 20h

Possui recursos unimídia? Sim Não Sim Não

Quais recursos são utilizados? Vídeos

- Vídeos

-

Qual o total de matérias com

recursos unimídia?

1 (25%) - 1 (25%) -

A revista NEO Interativa foi um produto jornalístico totalmente hipertextual

e totalmente unimídia, não poupando recursos para enriquecer seus artigos.

Desenhos, animações, vídeos, mapas, tabelas e até mesmo uma simulação de

votação eletrônica são encontradas em suas páginas.

Com o jornal Brasil 24/7, também encontramos recursos unimídia,

contudo, estes não estão presentes em todas as edições observadas. Nas edições

de 14/3 e 9/4 (de fechamento de 20h e 6h, respectivamente), cerca de 25% do

conteúdo da editoria de Cultura apresenta vídeos diretamente relacionados ao

assunto jornalístico em questão. É importante ressaltar que os conteúdos unimídia

apresentados no periódico são de alta qualidade; os vídeos podem ser exibidos em

tela cheia se assim o leitor desejar.

5.4.4. Atualização

Revista NEO Interativa Edição 2 Edição 3 Edição 4 Edição 10

Este veículo é atualizado on-line? Não Não Não Não

Qual a frequência de atualização? - - - -

Jornal Brasil 24/7 Edição

14/3 20h

Edição

4/4 6h

Edição

9/4 6h

Edição

4/5 20h

Este veículo é atualizado on-line? Sim Sim Sim Sim

Qual a frequência de atualização? 24 horas 24 horas 24 horas 24 horas

Precedendo o lançamento da Internet comercial no País, a NEO não

contava com nenhuma forma de atualização. Neste caso, a atualização da revista só

poderia ocorrer com o lançamento de uma nova edição.

Em contrapartida, o jornal Brasil 24/7 apresenta uma atualização de

conteúdo 24 horas por dia. Normalmente, o periódico disponibiliza duas edições por

Page 111: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

109

dia mais uma aba de “últimas notícias” atualizada constantemente. Contudo, quando

necessário, o jornal se utiliza de edições extras, que podem ser lançadas a qualquer

momento.

Esta é a principal evolução que podemos constatar da revista NEO

Interativa para o jornal Brasil 24/7: com a evolução da Internet, disponibilizar notícias

em tempo real se tornou uma característica do jornal Brasil 24/7 que, nos tempos da

revista NEO Interativa, era impossível de se realizar.

5.4.5. Arquivo

Revista NEO Interativa Edição 2 Edição 3 Edição 4 Edição 10

Existe um arquivo? Não Não Não Sim

O ano do arquivo coincide com a data de

fundação do jornal?

- - - Sim

O arquivo possui instrumento de busca? - - - Sim

O acesso ao arquivo é gratuito? - - - Sim

Jornal Brasil 24/7 Edição

14/3 20h

Edição

4/4 6h

Edição

9/4 6h

Edição

4/5 20h

Existe um arquivo? Sim Sim Sim Sim

O ano do arquivo coincide com a data de

fundação do jornal?

Sim Sim Sim Sim

O arquivo possui instrumento de busca? Sim Sim Sim Sim

O acesso ao arquivo é gratuito? Sim Sim Sim Sim

Na edição 10 de NEO Interativa, a publicação traz um programa chamado

“Guia da NEO”, permitindo ao leitor buscar qualquer matéria anterior da revista

através do nome ou de palavras-chaves. Isso era possível porque o software

analisava todas as revistas instaladas no computador, gerando uma espécie de

banco de dados de seus conteúdos.

O jornal Brasil 24/7 apresenta o arquivamento de todas as suas edições

lançadas até a data deste trabalho. Entretanto, percebemos que, em alguns

exemplares mais antigos, como a edição de 14/3 20h, por exemplo, alguns recursos

unimídia deixam de funcionar, apresentando uma mensagem de erro.

Page 112: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

110

5.5. Considerações acerca dos dados levantados

Os dados observados nas páginas anteriores refletem um estudo

comparativo entre a revista NEO Interativa e o jornal Brasil 24/7. Para que esse

levantamento fosse possível, averiguamos apenas os textos jornalísticos da editoria

de Cultura do jornal Brasil 24/7, uma vez que a revista NEO Interativa é,

basicamente, uma publicação com ênfase em conteúdo cultural.

Esta pesquisa foi proposta com base na lógica de que estamos

comparando a primeira tentativa de jornalismo digital brasileira, realizada em 1994,

com o primeiro jornal brasileiro pensado exclusivamente para os tablets, suporte

facilitador de publicações editoriais e, por consequência, de novas experiências para

o jornalismo digital.

Assim, trabalhamos um referencial teórico com base na tese de

doutorado da Dra. Luciana Mielniczuk (sem deixar de incluir uma pluralidade de

autores), que identifica seis características específicas do “Webjornalismo”. Ao

levantarmos esta fundamentação teórica, averiguamos que ela também se aplica ao

presente estudo de caso, o que, portanto, permitiu que usássemos formulários de

observação baseados na proposta de Mielniczuk.

Desta forma, observamos cinco características neste estudo

comparativo e descartamos a atribuição de “Personalização” por esta não se aplicar

aos objetos propostos.

Com base nos dados levantados, observamos que pouco se avançou

desde que a revista NEO Interativa foi lançada, isto é, há 17 anos. No quesito

“Interação”, a revista apresentou uma quantidade satisfatória de comunicação com

os jornalistas e redação, mostrando uma preocupação em estabelecer uma via de

mão dupla entre emissor e receptor com o estímulo de sugestões, críticas e

interações por parte do leitor com a publicação. Em contrapartida, com o jornal Brasil

24/7 não foi observado nenhum canal de comunicação disponível para o leitor dentro

do aplicativo.

A teoria do hipertexto, apresentada no Capítulo 4, é utilizada em 100%

do conteúdo jornalístico da revista NEO Interativa. Constituindo-se através de

células informativas e hiperlinks inerentes ao texto, averiguamos uma preocupação

por parte da revista em disponibilizar uma maior quantidade de informação

correlacionada ao texto principal. Constatamos, também, um início de diálogo com

Page 113: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

111

novos discursos para o jornalismo. Afirmamos isso ao observarmos que teses de

doutorado, livros de ficção, teóricos ou simplesmente textos de outros autores foram,

em alguns exemplos, incorporados às matérias jornalísticas da revista. No periódico

Brasil 24/7, a teoria do hipertexto é totalmente ignorada.

No quesito multimodalidade, mais uma vez a revista NEO Interativa se

destaca, aliando tais recursos em 100% de seu conteúdo, com vídeos, imagens,

animações, locuções, simulações etc. O jornal Brasil 24/7 também apresenta

recursos unimídia em seu conteúdo, mas em menor quantidade. Entretanto, com o

avanço tecnológico, os recursos disponibilizados pelo jornal Brasil 24/7 oferecem

alta resolução e tempos de duração bem maiores que aqueles vistos na revista NEO

Interativa. Neste caso, podemos afirmar que a evolução tecnológica proporcionou

recursos unimídia de maior qualidade para o jornalismo digital, embora estes sejam

empregados ainda de forma tímida. Nas edições observadas do periódico Brasil

24/7, tais recursos não superaram a barreira de modestos 25% de aplicabilidade ao

conteúdo.

Dizendo respeito à característica da “Atualização”, averiguamos que a

evolução tecnológica (neste caso, o surgimento da Internet) possibilitou uma

cobertura em tempo real pelo jornalismo digital. No jornal Brasil 24/7, além de duas

edições diárias, o periódico oferece um campo de “Últimas notícias”, atualizado

constantemente, e edições extras sempre que necessárias. No caso da revista NEO

Interativa, sua atualização seguia a lógica da mídia impressa, isto é, sendo renovada

apenas com o lançamento de uma nova edição.

Por fim, tanto a revista NEO Interativa quanto o jornal Brasil 24/7

apresentaram o arquivamento de suas edições. Com a Internet, o jornal Brasil 24/7

se sobressai neste quesito, constituindo um catálogo em formato de biblioteca desde

sua primeira edição, característica que só averiguamos na revista NEO a partir da

décima edição. Contudo, devido ao fato dos recursos unimídia serem executados

através da Internet no jornal Brasil 24/7, constatamos erros de visualização destes

em algumas edições antigas.

De forma geral, nenhum dos dados vistos anteriormente invalida o

pioneirismo de ambas as publicações: assim como a revista NEO Interativa é,

historicamente, a primeira tentativa de jornalismo digital brasileira, o jornal Brasil

24/7 também é primeira tentativa de jornalismo digital pensada exclusivamente para

esta mídia que tem se popularizado no século XXI: os tablets. Contudo, não

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podemos ignorar que entre ambas as publicações existe uma janela de 17 anos de

avanços tecnológico, o que possibilita mais caminhos para este novo modo de fazer

jornalismo. Não é, entretanto, o que observamos nesta pesquisa. Com base nos

dados levantados, percebemos que a revista NEO Interativa é o objeto de estudo

que mais se aproxima do ideal teórico que levantamos, mesmo sendo um produto de

quase duas décadas atrás.

É necessário considerar, sim, que estamos tratando de uma publicação

outrora trimestral (posteriormente mensal) e de um periódico diário. Entretanto, será

que em 17 anos de avanços tecnológicos e com todas as facilidades de

comunicação condicionadas pela Internet, não haveria a possibilidade do jornal

Brasil 24/7 incorporar mais elementos interativos, hipertextuais e unimídia ao seu

conteúdo? Afinal, conforme vimos em retrospecto histórico, o jornal afirma ter como

objetivo uma “Política editorial baseada na interatividade com os leitores, na

pluralidade de opiniões, na democracia do debate”. Os números observados dizem o

contrário. Ainda que não atingisse 100%, assim como a revista NEO, o periódico

poderia, no mínimo, superar os resultados que apresentamos: 0% de interatividade;

0% de hipertextualidade e apenas 25% de conteúdo unimídia.

Consideramos, portanto, que a revista NEO Interativa foi uma primeira

tentativa de jornalismo digital muito bem realizada, enquanto que o jornal Brasil 24/7,

mesmo sucedendo a NEO com 17 anos de tecnologia, ainda tem bastante o que

aprender com a referência histórica.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho foi desenvolvido com o intuito de estabelecer uma reflexão

inicial sobre como os avanços tecnológicos têm sido utilizados na tentativa de

complementar, renovar (ou aprofundar) a prática jornalística com o jornalismo digital.

Para possibilitar essa reflexão, levantamos as características tecnológicas de duas

publicações que foram pioneiras nesta modalidade de imprensa: a revista NEO

Interativa e o jornal Brasil 24/7.

Iniciando o desenvolvimento teórico deste estudo com um breve

retrospecto da história da Internet e de alguns contextos da Ciência da Computação,

averiguamos o surgimento de tecnologias hoje amplamente utilizadas como

instrumentos de comunicação. Verificamos, igualmente, em capítulo seguinte,

algumas reflexões teóricas sobre as implicações dessas tecnologias, retomando

também brevemente as teorias do ciberespaço e da cibercultura.

Posteriormente, trabalhamos com a teoria do jornalismo digital, baseando-

nos em autores de duas academias que mais têm produzido sobre o assunto: a

Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Com isto, observamos algumas divergências entre as teorias do

ciberespaço e as teorias do jornalismo digital. Em certo momento, por exemplo,

vimos que o filósofo francês Pierre Lévy chega a questionar a necessidade do

jornalismo, uma vez que propõe uma reinvenção da espécie humana com o conceito

da inteligência coletiva. Tais desacordos foram levados em consideração para as

reflexões iniciais que desenvolvemos com este trabalho.

Assim sendo, nos baseamos na tese da Dra. Luciana Mielniczuk para

levantarmos cinco características tecnológicas da revista NEO Interativa, lançada em

1994, e do jornal Brasil 24/7, lançado em 2011. Desta forma, observamos como a

tecnologia moldou as práticas jornalísticas das publicações, mediante um hiato de

17 anos entre uma e outra. Tais características observadas foram:

Multimodalidade

Interatividade

Hipertextualidade

Atualização

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Memória

Com os dados obtidos, vistos no Capítulo 5 do presente trabalho, é

possível retomarmos as perguntas que fizemos ao descrevermos a metodologia

deste estudo:

Como a evolução da tecnologia moldou o fazer jornalístico no

jornalismo digital brasileiro?

Observando comparativamente o que mudou da revista NEO Interativa

para o jornal Brasil 24/7, consideramos que pouco evoluiu. Enquanto a NEO foi uma

primeira tentativa de jornalismo digital muito bem realizada, preocupando-se em

aplicar a teoria do hipertexto, intratextual e intertextual, e recursos unimídias às suas

narrativas jornalísticas, pouco se pode dizer do jornal Brasil 24/7 quanto a essas

mesmas questões.

Nestes 17 anos, houve uma evolução quanto às possibilidades

proporcionadas pela tecnologia no jornalismo digital brasileiro, de

fato?

Sim. Como vimos no Capítulo 2 desta pesquisa, de 1994 a 2011, a

Internet evoluiu, gerando novas ferramentas de compartilhamento social de

conteúdo. Ainda, o suporte do computador tablet, sobre o qual o jornal Brasil 24/7 é

editado, faz com que a tecnologia para o jornalismo digital seja mais mais intuitiva

para sua utilização. Entretanto, com os dados obtidos no levantamento realizado

neste trabalho, consideramos que, mesmo com todo o avanço tecnológico, este é

ainda mal explorado, na atualidade, com o jornal Brasil 24/7.

Em 17 anos, tecnologicamente falando, o que o jornal Brasil 24/7

evoluiu em relação à proposta da revista NEO Interativa?

Podemos considerar que a característica que mais evoluiu em relação à

revista NEO Interativa para o jornal Brasil 24/7 foi a “Atualização”. Com o advento da

Internet, houve a possibilidade de criar um jornal digital com fluxo contínuo de

informações, antes impossível na época em que NEO Interativa era editada. Outra

característica evoluída é a qualidade dos recursos unimídia encontrados no jornal

Brasil 24/7. Vídeos e fotos de alta resolução se tornaram a regra, deixando de serem

meras exceções.

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A tecnologia tem permitido uma pluralidade de opiniões no

jornalismo?

Sim para a revista NEO Interativa. Não para o jornal Brasil 24/7. Com o

estudo de casos múltiplos realizado, constatamos que a revista NEO chegou a

dialogar, ainda que de forma bastante primitiva, com os hiperlinks intertextuais,

considerados uma grande possibilidade de ruptura da velha lógica meramente

unidirecional do jornalismo. Precedendo o lançamento comercial da Internet no País,

a seção “Estante NEO” trazia desde e-books a teses de doutorados relacionados à

narrativa jornalística.

No jornal Brasil 24/7, constatamos que a teoria do hipertexto é totalmente

ignorada. O periódico apenas disponibiliza a possibilidade de compartilhar notícias

através das redes sociais Twitter e Facebook, de forma bastante limitada, vale

ressaltar, o que caracteriza um avanço tecnológico, mas não um ganho jornalístico

digital.

Houve um aprofundamento da narrativa jornalística?

Mais uma vez, sim para a revista NEO Interativa. Em partes para o jornal

Brasil 24/7. Como dissemos, a revista NEO se preocupou em aprofundar seu

discurso jornalístico com a utilização da teoria do hipertexto e através de uma

grande variedade de recursos unimídia. No jornal Brasil 24/7, encontramos apenas

25% destes mesmos recursos e em apenas metade das edições observadas. Cabe

aqui, novamente, ressaltar que a revista NEO Interativa tratava-se de uma

publicação trimestral (posteriormente mensal) enquanto que o jornal Brasil 24/7 é um

jornal diário. Contudo, passados 17 anos após o lançamento da revista NEO

Interativa e, baseando-nos que o jornal afirma ter uma linha editorial pautada pela

pluralidade de opiniões e conteúdo interativo para os leitores, os resultados

apresentados são muito baixos, destoando das afirmativas do periódico.

Portanto, avaliamos que a revista NEO Interativa foi uma experiência de

jornalismo digital muito bem realizada, certamente “à frente de seu tempo”. Tal

característica concede para a publicação um lugar de destaque na história do

jornalismo digital brasileiro.

No caso do jornal Brasil 24/7, este certamente tem seu mérito por

desbravar o suporte popularizado no século XXI: os tablets. Contudo, fica a

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impressão de que o periódico ainda tem bastante a evoluir se quiser realmente fazer

jus à sua política editorial e se destacar no âmbito do jornalismo digital.

Por fim, acrescentamos a seguinte reflexão: uma maior pluralidade de

vozes no jornalismo digital não seria, por exemplo, uma forma de rumarmos para o

desenvolvimento, ainda que embrionário, de uma inteligência coletiva?

Com o experimento da revista NEO Interativa, percebemos que é possível

evoluir o jornalismo praticado atualmente, tornando-o mais plural e menos

reducionista como um mero “informativo” unidirecional.

Utopia ou não, entendemos que, agora, o jornalismo digital não depende

de mais avanços tecnológicos para poder se desenvolver. Depende apenas de

imaginação.

Page 119: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

117

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Jornal Brasil 24/7. São Paulo: Editora 247, 2011. iPad. Edição 9/4 6h

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125

GLOSSÁRIO DE JORNALISMO

A

Abrir Foto – Ampliar o tamanho da foto na página. Este artifício é usado para

valorizar uma foto de qualidade ou cobrir espaço quando o texto é pequeno.

Articulista - Pessoa que escreve artigos para jornais e revistas.

Artigo – Texto opinativo assinado. De responsabilidade exclusiva do autor, pode

expressar opiniões diferentes das emitidas pela publicação.

Aspas – Declaração inserida em uma matéria. Atenção: a expressão: Preciso de

umas aspas refere-se à necessidade de se inserir um personagem no texto.

B

Baixar – Mandar uma página para as oficinas do jornal. Aí termina o trabalho

editorial e começa a parte industrial do processo.

Bigode - Fio de um ponto tipográfico que serve para marcar uma separação visual

entre textos e/ou ilustrações. Sua característica é não ocupar toda a medida do

material que ele separa. É centralizado nela de forma a deixar margens brancas de

igual extensão nos dois lados.

Barriga – Matéria com informações falsas ou erradas.

Box – Recurso editorial que se reveste de forma gráfica própria. Um texto que

aparece na página entre fios, sempre em associação íntima com outro texto, mais

longo. Pode ser uma biografia, um diálogo, uma nota da redação, um comentário,

um aspecto pitoresco da notícia.

"Briefing" - Significa informe. Em jornalismo, pode ser usado em dois sentidos:

instruções sobre a execução de uma tarefa ou resumo de informações sobre

qualquer evento que uma fonte dá aos jornalistas, quase sempre oralmente.

C

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126

Cabeça – Marca no alto da página usada para definir a Editoria responsável pelo

trabalho. Em alguns jornais, como no Correio Braziliense, é usada para definir o

tema da página.

Cabeçalho – Informações gerais e obrigatórias sobre a publicação. Inclui número da

página, título e data da publicação.

Caderno – Conjunto impresso formado por no mínimo quatro páginas. Veja também

suplemento e macarrão.

Calhau – Anúncio do próprio jornal usado para cobrir espaço não utilizado na

página. O calhau é muito usado para substituir anúncios que „caíram‟, quase nunca

para substituir matérias.

Cartola – O mesmo que retranca ou chapéu. Uma ou mais palavras usadas para

definir o assunto da matéria. É usada sobre o título do texto.

Chamada – Pequeno texto usado na primeira página para chamar a atenção do

leitor para determinado material.

Chapa – Material metálico como matriz usado para imprimir o jornal. É coberto por

uma película fotossensível queimada com a ajuda de um fotolito, revelada e

instalada nas rotativas. Sobre ela se aplica tinta para a impressão. Usa-se uma

chapa para cada uma das cores básica – Cyan, Magenta, Amarelo e Preto.

Chapéu – É uma palavra, nome ou expressão, sempre sublinhada, usada acima do

título e em corpo pequeno, para caracterizar o assunto ou personagem da notícia.

Chefe de reportagem - Profissional que coordena os repórteres, determinando o

que estes devem fazer. Nos organogramas das redações esse cargo vem sendo

substituído pelo editor-assistente, que é responsável pela produção das

reportagens.Clichê – O mesmo que edição. Termo herdado dos primórdios do

jornalismo. Para cada página de jornal era usado um clichê, um suporte metálico

onde eram dispostos os tipos metálicos manualmente, formando frases e colunas.

Antes da difusão do rádio e da televisão, os jornais tiravam várias edições

atualizando o material publicado. Hoje, costuma-se fazer um segundo ou terceiro

clichê para atualizar matérias importantes depois do horário de fechamento do

jornal.

Page 129: NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia

127

Clipping - Serviço de levantamento, coleção e fornecimento de recortes de jornais e

revistas ou cópias de emissões de televisão ou rádio. O clipping pode ser restrito

aos interesses imediatos da empresa ou mais amplo. Em geral, é feito por empresas

especializadas.

Cobertura - Atividade do repórter ou equipe de reportagem no local de um

acontecimento.

Coluna - Seção de jornal ou revista, assinada ou não, tratando de temas ligados à

editoria ou seção. Podemos encontrar colunas nas seções ou editoriais de política,

economia, artes, agricultura, esportes, etc. Muitas vezes, uma nota numa coluna de

prestígio repercute mais do que uma reportagem no mesmo veículo.

Colunista - O responsável pela coluna.

Copydesk ou copidesque – Termo importado dos Estados Unidos por Pompeu de

Souza durante a reforma do Diário Carioca. Na época poucos repórteres escreviam

a matéria. Eles chegavam e ditavam o texto para o editor. Pompeu obrigou-os a

escrever. Para transformar o texto incompreensível dos repórteres em algo legível

existia uma Mesa de Textos (Copy Desk em inglês) com os melhores redatores do

Diário Carioca. O termo incorporou-se à linguagem jornalística como sinônimo de

redator. E já não existe quase mais. O repórter hoje e quem revisa seus textos...

Copyright - São os direitos reservados ao autor de uma obra ou a quem comprou os

direitos do autor. As fotos também têm seus direitos reservados.

Crédito – Assinatura usada em foto ou para marcar material produzido por agência

ou outra publicação.

Crônica - Não há compromisso necessariamente com temas da atualidade, como os

artigos de opinião; o estilo é geralmente livre (literário) e isento de regras de estilo

jornalístico, o tema é de livre escolha do autor, que assina sua produção.

Cruzar informação - Significa confrontar informação originária de determinada fonte

com uma fonte independente. Assim, cruzar com uma fonte significa possuir duas

origens para uma informação. Cruzar com duas fontes, três. Qualquer informação de

cuja veracidade não se tenha certeza deve ser cruzada.

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128

D

Deadline – Último prazo para que uma edição seja fechada ou que uma reportagem

seja concluída. Declaração – Texto ou opinião oficial expressa verbalmente por

entrevistado.

Dedo-duro – Referência colocada em uma matéria para remetê-la para outro

assunto em página diversa. Também conhecida como Leia mais.

Derrubar a reportagem - Termo usado para expressar que uma reportagem não vai

ser publicada. Geralmente ocorre quando o repórter percebe que não vai conseguir

apurar as informações, quando uma entrevista é cancelada ou ainda quando o editor

desiste de abordar o assunto, ou quando entra um anúncio.

Diagramação – Adequação dos textos, desenhos, gráficos e fotos numa página, de

acordo com os padrões visuais da publicação.

E

Editar - Preparar matéria para ser impressa ou emitida, nos padrões do

veículo.Editor – É o jornalista que chefia um grupo de jornalistas que compõem uma

Editoria .

Editor-chefe - É o jornalista que chefia a Redação do jornal.

Editoria – Seção especializada em determinado setor (esporte, polícia, arte, meio

ambiente etc.)

Editorial – Texto com a opinião da publicação. Não vem assinado e geralmente,

localiza-se diariamente na 2ª ou 3ª página do jornal.

Enquete – Pequenas entrevistas para levantar a opinião da comunidade.

Enxugar - Resumir um texto. Cada vez mais as publicações exigem que os textos

sejam mais concisos, que não desencoraje a leitura. Às vezes também é preciso

enxugar para caber na página diagramada.

Espelho - É a previsão do que vai ser publicado em uma página com a inclusão dos

anúncios. Não confundir com diagrama. O espelho é feito pelo departamento

comercial da editora conforme a previsão do número de páginas pela redação.

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Estouro - Ocorre quando um texto é maior que o espaço reservado. O editor

normalmente suprime dos textos as últimas linhas ou últimos parágrafos quando

ocorre um estouro.

Expediente – Quadro com os dados gerais da publicação. Consta obrigatoriamente

a relação de diretores e editores-chefes e endereços.

F

Fato - Entre um fato e uma declaração prefira o primeiro. Descrever um fato com

correção e inteligência exige sensibilidade, informação sobre o assunto e

conhecimento do idioma. Veja exatidão; importância da notícia; notícia.

Feature – Gênero jornalístico que vai além do caráter factual e imediato da notícia.

Opõe-se a "hard news", que é o relato objetivo de fatos relevantes para a vida

política, econômica e cotidiana. Um "feature" aprofunda o assunto e busca uma

dimensão mais atemporal. Define-se pela forma, não pelo assunto tratado. Pode ser

um perfil, uma história de interesse humano, uma entrevista.

Fechamento – Etapa do processo de edição em que os trabalhos são encerrados.

Depois do fechamento não há mais revisão do texto e a edição é enviada para a

gráfica.

Fio – Linha usada para dividir textos ou matérias. Também usada para realçar fotos.

Foca – Jornalista iniciante.

Follow- up - Lembrete ou reforço de pauta, por telefone ou contato pessoal.

Fonte – Pessoa que dá origem a uma informação ao veículo, por iniciativa própria

ou por solicitação do jornalista.

Fotografia - Recurso essencial do jornalismo contemporâNEO. Uma boa foto pode

ser mais expressiva e memorável que uma excelente reportagem. No jornalismo, o

valor informativo é mais importante que a qualidade técnica de uma foto. São

qualidades essenciais do fotojornalismo o ineditismo, o impacto, a originalidade e a

plasticidade.

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Foto-jornalismo - A fotografia jornalística fixa um acontecimento e as suas

impressões. O fotógrafo é o relator, o documentador visual entre a notícia e o

público. A imagem nesse caso é o certificado de presença é a prova ao leitor que o

jornal estava presente na notícia.

Foto-legenda – Pequena matéria, de no máximo 20 linhas, usada para explicar ou

destacar foto.

Fotolito – Filme gráfico negativo usado para queimar a chapa.

Furo – Matéria jornalística exclusiva de grande repercussão.

G

Ganhar na foto – Diminuir a foto na altura ou largura de maneira a ganhar mais

texto. O corte não é proporcional.Gancho - Pretexto que gera a oportunidade de um

trabalho jornalístico. Quanto mais pretextos há para a produção de uma investigação

jornalística mais oportuna ela é. Quanto mais “ganchos” estiverem por trás de uma

edição mais “quente” ela é. Um fato que se ligue, que dê margem a outro, que sirva

de ponte, de gancho, enfim, para a notícia ...

I

Iceberg - Texto que começa na primeira página e prossegue em páginas internas.

Ilustração - Desenho ou composição gráfica feita à mão para ilustrar determinadas

notícias, crônicas ou charges, na ausência de fotografias.

Indicadores – Lista de dados do mercado financeiro em forma de tabela.

Intertítulo - Pequenos títulos colocados no meio do texto. Esse artifício é usado

para tornar o texto menos denso. Há publicações que preferem destacar frases

retiradas do texto para colocar nos intertítulos.

Infográfico – Artifício gráfico que envolve imagem e pequenas informações de texto

que se complementam.

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Informe publicitário - Anúncio pago com aspecto jornalístico ou reprodução paga

de artigo ou reportagem.

J

Jabaculê ou jabá - Dinheiro ou presente ao jornalista.

Janela - É quando se coloca uma foto menor dentro de uma foto maior para

destacar detalhes. Um exemplo é quando se coloca uma grande foto de um incêndio

e no detalhe (janela) aparece uma foto do aparelho que causou o incêndio. Esse

recurso está em desuso nas publicações modernas.Jornalismo analítico/opinativo -

Os fatos contemporâNEOs cada vez mais exigem a análise do noticiário. A análise

dá ao leitor a oportunidade de se aprofundar nos eventos, questões ou tendências. A

análise do noticiário não deve ser confundida com a opinião ou o comentário, que

devem estar circunscritos às colunas e aos artigos.

Jornalismo crítico - O jornal não existe para adoçar a realidade, mas para mostrá-

la de um ponto de vista crítico. Mesmo sem opinar, sempre é possível noticiar de

forma crítica. Compare fatos, estabeleça analogias, identifique atitudes contraditórias

e veicule diferentes versões sobre o mesmo acontecimento.

Jornalismo de serviço - Explora temas que tenham utilidade concreta e imediata

para a vida do leitor. O jornalismo de serviço torna o jornal um artigo de primeira

necessidade e garante seu lugar no mercado.

Jornalismo especializado - A função do jornal impresso mudou com o crescimento

dos meios eletrônicos de comunicação (rádio, TV). O leitor busca no jornal impresso,

abordagens mais profundas e informações mais sofisticadas, o que requer do

jornalista domínio cada vez maior dos assuntos sobre os quais escreve. Só assim o

jornalista pode tornar a informação técnica acessível ao leitor comum.

L

Lead ou Lide – Abertura de matéria tradicional. Precisa responder às seguintes

perguntas: Quem, quando, onde, porque e de que maneira.

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Legenda – Linha de texto colocada sob a foto. Artifício adicional para destacar o

tema da matéria.

Lidão – Texto de até 60 linhas usado em reportagens para coordenar matérias

diversas sobre um mesmo tema.

Linha de tempo – Dados dispostos em ordem cronológica com fotos e ilustrações.

Podem ser colocados na página vertical ou horizontalmente.

Logotipo - É o nome do jornal com as letras em corpo, forma e desenho escolhido

pela empresa jornalística.

M

Macarrão – Palavra usada para designar uma folha solta de papel-jornal, em

tamanho padrão, inserida entre as páginas de uma edição. O “macarrão” pode ser

previamente programado pelo setor industrial do jornal como pode também ser

utilizado para aumentar ou diminuir o número de páginas de uma edição.

Mailing - Listagem de nomes e endereços.

Manchete - É o título principal que indica a notícia mais importante do jornal. Existe

a manchete principal do jornal (na primeira página) assim como a manchete de cada

caderno, seção ou página. Onde encontrar: a manchete é sempre aquela que vier

graficamente com maior destaque, ou que tiver letras mais carregadas na tinta.

Matéria – Texto preparado jornalisticamente.

Matéria de gaveta - Aquela matéria que espera a ocasião oportuna para ser

publicada.

Matéria Fria – Matéria que independe de sua atualidade para ser publicada.

Memória - Texto preparado jornalisticamente lembrando antecedentes do fato.

Mídia eletrônica - Rádio, TV e Internet.

Mídia impressa - Jornal e revista.

N

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Nariz-de-cera - Introdução vaga, sem necessidade, de uma matéria.Normas de

redação – Conjunto de regras usadas para padronizar a produção de textos, títulos e

legendas.

Notícia - Registro dos fatos, de informações de interesse jornalístico, sem

comentários. Fatores objetivos determinam a publicação de uma notícia: o caráter

inédito; o impacto que exerce sobre as pessoas e sobre sua vida; a curiosidade que

desperta; a imprevisibilidade e improbalidade do fato.

Nota oficial – Documento impresso com a opinião de uma determinada fonte.

Nota ou balaio – Texto curto usado em colunas. Pequeno texto referente a um

assunto que irá acontecer e responde a três questões básicas para compreensão:

que, quem, quando.

Numeralha – Box que destaca dados numéricos em uma matéria determinada.

O

Off – Declaração dada sob compromisso de não revelar a fonte.

Olho – Frase destacada sob o título ou no conjunto da página.

On – Declaração sem impedimento de revelar a fonte.

P

Pauta - É uma ordem de serviço transmitida pelos chefes de reportagem. A pauta

normalmente indica a pessoa que deve ser entrevistada, local, horário e até mesmo

o tamanho da reportagem que deve ser produzida. A pauta também deve indicar os

temas principais que devem ser abordados no texto.Nos jornais, a pauta é feita

através de reuniões de pauta, onde editor, redator-chefe e repórter sugerem pautas

para que matérias sejam produzidas.

Pauta furada – Informação falsa.

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Pé da matéria - É o final do texto. Todo repórter deve ter em mente que se o texto

for reduzido, as últimas linhas serão eliminadas.Cortar pelo pé significa retirar os

últimos parágrafos sem se preocupar com a qualidade da informação contida no

texto.

Perguntas e respostas – Matéria disposta sob a forma de um questionário. Serve

para explicar aspectos do tema.

Perna – Sinônimo de coluna. “Descer em duas pernas”, matéria em duas colunas.

Personagem – Texto para mostrar quem é o ator principal da matéria.

Pescoção – Trabalhar durante a noite e a madrugada para antecipar material de fim

de semana.

Pingue – pongue – Matéria em forma de perguntas e respostas.

Plantar - Publicar informação com outro objetivo que não de informar. Geralmente

atende a lobby ou a interesses pessoais.

Povo Fala – Enquete com populares sobre determinado assunto (veja enquete)

Press release - Informação preparada pela assessoria de imprensa e encaminhada

aos veículos.

Propaganda - Todo jornal sobrevive graças à propaganda. Inerente aos diferentes

cadernos do jornal ou em encartes, ilustrada ou fotografada, ela também constitui

um elemento de leitura do nosso cotidiano imprescindível para o leitor se localizar e

informar a respeito das ofertas do mercado.

Projeto Gráfico – Padronização usada pela publicação para dispor uniformemente

matérias, fotografias e adereços gráficos.

Q

Quadro – Box para explicar determinada informação da matéria

R

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Rafe - Aportuguesamento da palavra inglesa rough. É o "boneco" de um projeto

gráfico.

Reco - Matéria recomendada pelos superiores.

Redator – Jornalista especializado em rever o texto do repórter e em preparar títulos

e legendas. Na nova concepção de jornalismo, o profissional não se especializa

mais em uma determinada área da produção de texto e edição.

Release – Matéria preparada por assessoria de Imprensa.

Repercutir – Prosseguir num assunto do próprio jornal ou de outro. Veja suíte.

Reportagem – Matéria com grande centimetragem, cobrindo integralmente

determinado assunto.

Retranca – Palavra que identifica um texto. "Samba" pode ser uma retranca que

identifica um texto sobre as escolas de samba. O ideal é que a retranca tenha uma

só palavra.

S

Seção – Sinônimo de editoria ou coluna de opinião ou nota.

Selo – Recurso gráfico que marca uma reportagem uma série de reportagens. É

muito comum seu uso em série de reportagens. Normalmente é composto por uma

pequena expressão e um desenho que se repete. Por exemplo: "Crise no INSS"

pode ser acompanhado de um desenho de uma maca. Todo texto que se refira ao

assunto é acompanhado desse selo.

Serviço – Pequeno texto usado no pé da matéria contendo endereço, página web

ou telefone de algo citado na matéria.

Side - Termo usado para designar um outro lado da reportagem. São assuntos

paralelos que se publicam nos sides. Um texto sobre um jogo de futebol pode trazer

um side com o jogador que teve o melhor desempenho na partida.Standard -

Tamanho padrão dos jornais. Mede 54 x 33,5 cm. O único caso no Brasil de jornal

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que conseguiu sucesso sem ser standard é o Zero Hora, de Porto Alegre, publicado

em tamanho tablóide. O tamanho tablóide é a metade do standard.

Stand by - Textos que podem ser publicados em qualquer época. Também são

conhecidos como textos de "gaveta". Um texto que mostre os planos da empresa

IBM para o Brasil, por exemplo, pode ser publicado em qualquer época (claro que

sem exagero. Esse texto não pode ser publicado um ano depois de ser escrito, mas

pode muito bem ser publicado duas semanas depois de ter sido escrito).

Sub – Matéria coordenada com a principal da página; título informal usado pelo sub-

editor.

Sub-lead – Parágrafo colado ao lead da matéria.

Suíte - Do francês suite, isto é, série, sequência. Em jornalismo, designa a

reportagem que explora os desdobramentos de um fato que foi notícia na edição

anterior.Também se usa o verbo suitar no sentido de repercutir.

Suplemento – Caderno adicional ao material principal do jornal.

Sutiã – Pequena linha de texto usada sobre ou logo abaixo do título para destacar

informações da matéria. Ver linha fina.

T

Tabela – Gráficos numéricos dispostos ordenadamente.

Tablóide – Formato de jornal igual à metade da página do jornal standard.

Template – Modelo de página, dentro do projeto gráfico, que servepara iniciar o

processo de diagramação.

Texto final - É o que vai ser publicado. Com a extinção do cargo do copidesque nos

jornais, todo repórter deve ter um texto final. O que ele escreve é o que vai ser

publicado.

Tijolinho – Informação contida em roteiros.

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Título – Frase usada no alto da matéria para chamar a atenção do leitor (veja

manchete).

Toques – Número limite de letras, espaços em branco e sinais ortográficos capazes

de caber numa linha de título, legenda, sutiã ou olho.

Tripa – Coluna imprensada por anúncio ou anúncios de grande tamanho.

Trocar figurinha – Trocar informações com colegas do próprio jornal ou de jornais

concorrentes.

V

Vazado – Texto claro colocado sobre fundo escuro.

Vazamento - Informação que escapa ao controle da fonte responsável pelo seu

sigilo e chega aos meios de comunicação. Às vezes, é do interesse da fonte "vazar"

a informação.

Vender a pauta – Sugerir determinado tema ao editor.

Video-release - Release em fita para a tevê.

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APÊNDICE

FORMULÁRIO DE OBSERVAÇÃO

(protocolo do estudo de caso)

IDENTIFICAÇÃO DO VEÍCULO

1) Nome do jornal: ____________________________________________________

2) Categoria de circulação: __________________________________________

3) Empresa proprietária do jornal: _____________________________________

4) Edição observada: _______________________________________________

5) Quantidade de páginas:___________________________________________

6) Quantidade total de matérias:_______________________________________

INTERATIVIDADE

01. Existe um e-mail geral ou alguma forma de contato com o jornal?

a) Sim

b) Não

02. Existe uma lista de e-mail dos jornalistas?

a) Sim

b) Não

03. Artigos disponibilizam link para e-mail do autor?

a) Sim

b) Não

04. Existem fóruns de discussão?

a) Sim

b) Não

05. Oferece chat?

a) Sim

b) Não

06. Existem enquetes com resultados disponibilizados posteriormente?

a) Sim

b) Não

07. Existem cartas ao editor disponibilizadas?

a) Sim

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b) Não

MULTIMIDIALIDADE

08. Possui recursos unimídia?

a) Sim

b) Não

09. Quais recursos são utilizados ______________________________

10. Qual o total de matérias com recursos unimídia? ____________________

HIPERTEXTUALIDADE

11. Oferece matérias cuja narrativa jornalística se utilize de recursos

hipertextuais?

a) Sim

b) Não

12. Em resposta afirmativa, quantas matérias se utilizam de recursos

hipertextuais? ___________________________________________________

13. Oferece matérias cuja narrativa jornalística se utilize de hiperlinks

intertextuais?

a) Sim

b) Não

14. Em caso de resposta afirmativa, quantas matérias se utilizam de hiperlinks

intertextuais? ____________________________________________________

ATUALIZAÇÃO

15. Este veículo é atualizado on-line?

a) Sim

b) Não

16. Qual a frequência de atualização? __________________________________

MEMÓRIA

17. Existe um arquivo?

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a) Sim

b) Não

18. O ano do arquivo coincide com a data de fundação do jornal?

a) Sim

b) Não

19. O arquivo possui instrumento de busca?

a) Sim

b) Não

20. O acesso ao arquivo é gratuito?

a) Sim

b) Não