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www.neomondo.org.br NEOMON DO UM OLHAR CONSCIENTE Ano 6 - Nº 50 - Setembro/Outubro 2012 Exemplar de ASSINANTE Venda Proibida R$8,00 Ismael Alexandrino PNRS Constituição está pronta; tem que cumprir 06 Energia limpa Ventos soprando cada vez mais forte Sustentabilidade Não é moda, é um valor fundamental 32 34 Isso é um LIXO!

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NeoMoNdoum olhar conscienteAno 6 - Nº 50 - Setembro/Outubro 2012

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PNRS Constituição está pronta; tem que cumprir

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Energia limpaVentos soprando cada vez mais forte

Sustentabilidade Não é moda, é um valor fundamental

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Isso é umLIXO!

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neo mondo - maio 2008 2

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3Neo Mondo - Maio 2008

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ENERGIA LIMPA

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ESPECIAL - LIXOSeções

Constituição está prontatem que cumprir

Sujeira pra todo ladomontanhas de lixo se acumulam nas ruas indianas

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Os erres da gestãoo lixo é responsabilidade de todos

Diretor Responsável: Oscar Lopes Luiz

Diretor de Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586)

Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly Martins, Pedro Henrique Passos e Vinicius ZambranaRedação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586), Rosane Araujo (MTB 38.300) e Antônio Marmo (MTB 10.585)Estagiário: Bruno MolineroRevisão: Instituto Neo MondoDiretora de Arte: Renata Ariane RosaProjeto Gráfico: Instituto Neo MondoFoto da Capa: Ismael Alexandrino

Tradução: Efex Idiomas – Tel.: 55 11 8346-9437Diretor de Relações Internacionais: Vinicius ZambranaDiretor Jurídico: Dr.Erick Rodrigues Ferreira de Melo e Silva

Correspondência: Instituto Neo MondoRua Antônio Cardoso Franco nº 250,Casa Branca – Santo André – SPCep: 09015-530

Para falar com a Neo Mondo:[email protected]@[email protected]

Para anunciar: [email protected]. (11) 2669-0945 / 8234-4344 / 7987-1331

Presidente do Instituto Neo Mondo:[email protected]

Expediente PublicaçãoA Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24.

Tiragem mensal de 70 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas.

Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.

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A luz que vem do lixoa ocupação dos lixões e aterros sanitários por usinas termelétricas

12ESPECIAL - LIXO

ESPECIAL - LIXO

MEIO AMbIENtE

O fogão que mostra o Fantástico Grande instrumento dos isolados no acre

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A aprovação da Política nacional de Resíduos sólidos (PnRs), seguida do respectivo Plano, já começa a dar resultados palpáveis no que tange à reciclagem. Dos 5.565 municípios brasileiros, 14% contam com serviço estruturado. O dado consta da Pesquisa Ciclosoft 2012, do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), que na comparação com outros resultados obtidos em 2010 mostra incremento de aproximadamente 73% no número de cidades que realizam a coleta, saltando de 443 para 766.Entendemos que o Brasil começa a dar passos mais sólidos no correto tratamento do lixo e, a julgar pelos dispositivos de que dispõe, está no caminho certo, já que, de acordo com o mais recente estudo do Cempre, são 27 milhões de brasileiros nesses 766 municípios que contam com coleta seletiva. Realizada a cada dois anos, a pesquisa está em sua décima edição e serve de precioso instrumento para iniciativas favoráveis ao desenvolvimento do setor, além de fazer com que a nova mentalidade no trato do lixo se solidifique. Os números surpreenderam o presidente do Cempre, Victor Bicca neto, para quem “a aprovação da PnRs, em 2010, com certeza contribuiu para essa melhora”. Ao fazer coro com nEO MOnDO, já que para o executivo, estes dois anos de lei mostram que o Brasil está no caminho certo para o seu desenvolvimento sustentável, Victor alerta: “Precisamos manter o ritmo, pois ainda há muito que fazer”.nesta edição a questão do lixo é tratada com uma série de matérias, com o objetivo de subsidiar o leitor com informações qualificadas. Levamos em conta a relevância do tema e, mais que isso, nosso apoio à constatação de que precisamos avançar mais. tenha uma ótima leitura!

Artigo – Dilma de Melo Silva longo caminho a percorrer em busca da sustentabilidade

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Editorial

Oscar Lopes LuizPresidente do instituto neo Mondo

[email protected]

Anglo American sustentabilidade, o minério mais precioso

neo mondo -setembro/outubro 20128

Reports in english

41 Article - Terence Trennepohl Brazilian ethanol and the united states

MEIO AMbIENtE

ESPECIAL - LIXO

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Sustentabilidade não é moda, é um valor fundamental

MEIO AMbIENtE

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ENERGIA LIMPA

34 Ventos soprando cada vez mais forte energia eólica já é a segunda mais barata do país

Sustentabilidade do outro lado do mundoudaipur, na Índia, desenvolve protótipos de carros movidos a energia solar desde 2003Artigo – João Carlos Mucciacito

soja como matéria prima38

Artigo – Terence Trenepholo etanol brasileiro e os estados unidos

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Artigo – Márcio ThamosFaetonte e o carro do sol

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5Neo Mondo - Maio 2008

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A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e o respectivo Plano resultam de ampla consulta pública, mas dependem do empenho

dos municípios em vencer desafios Gabriel Arcanjo Nogueira*

Especial - Lixo

C onhecido, em muitos aspectos, por ser um país bom de leis, o Brasil dispõe, depois de duas décadas

de amplas discussões, do Plano nacional de resíduos sólidos (lei 12.305), resul-tante da Política nacional de resíduos sólidos (Pnrs), contida no Decreto 7.404. importa-nos menos saber do emaranhado de capítulos, artigos, parágrafos, itens e subitens, típicos dos instrumentos legais, e mais destacar o quanto foi decisiva a participação de setores representativos da sociedade no processo.

o professor Valdir schalch, da unida-de de são carlos da universidade de são Paulo (usP), é taxativo ao se referir ao Pla-no: “É a nossa constituição do lixo. tem que cumprir”. especialista em resíduos só-lidos, schalch aponta os próximos passos: “agora é a vez das prefeituras”.

Vencida essa primeira – e longa – eta-pa, o correto tratamento do lixo no país vai depender da pressão e do entendimento entre as partes envolvidas para que a lei se concretize no dia a dia das cidades. o que vale dizer: mais uma vez, a desejada decisão política, principalmente das prefei-turas, é que fará a diferença.

afinal, são 5.565 municípios brasileiros que terão, entre outras tarefas, de acabar com os lixões, construir aterros sanitários e insti-tuir a coleta seletiva. o prazo para apresentar seus planos vence ainda em 2012, e até 2014 deverão adotar novo procedimento. o gover-no federal criou comitês e grupos de trabalho para analisar e discutir a implantação do Pla-no. as prefeituras resistem, alegando princi-palmente a falta de recursos. o acordo entre as duas partes, que envolve o setor industrial, vai disciplinar a destinação de 180 mil tonela-das de lixo urbano produzidas no país por dia.

“Constituição está pronta; tem que cumprir”

06 neo mondo - setembro/outubro 2012

* com informações da agência Brasil, jornal Valor econômico e revista Época

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neo mondo - setembro/outubro 2012 07

a previsão de investimento do ministé-rio do meio ambiente (mma), que coordena o assunto no governo Dilma rousseff, é de r$ 8,5 bilhões em gastos para a união, esta-dos e municípios. Já a confederação nacional dos municípios (cnm) estima que a despesa para as prefeituras chegará a r$ 53 bi1hões.

o que leva o presidente da cnm, Paulo Ziulkoski, a lamentar: “É a vez de as prefeitu-ras se encalacrarem mais ainda. uma coisa é a lei. outra, a execução”. Ziulkoski critica o governo federal por criar regras sem consulta e – com a autoridade de quem liderou nos úl-timos anos a marcha dos Prefeitos a Brasília, com cerca de 4 mil integrantes – alega que os municípios não têm condições de cumprir a legislação, nem os prazos previstos. “não há recursos, não há fonte de arrecadação adicio-nal. Dizem que o governo federal vai ajudar, mas é um sonho”, avalia.

a crítica à falta de consulta não nos pa-rece válida, pelo que pudemos conferir de perto em evento realizado há um ano (ver “ministra quer Plano inclusivo”), que teve a presença, entre outros, do arquiteto nabil Bonduki, secretário de recursos hídricos e ambiente urbano do mma. ao reforçar, hoje, a responsabilidade das prefeituras, nabil lembra que há grupos de trabalho criados para tratar do assunto – em que participam governo federal, estados, mu-nicípios, indústria e catadores – com o objetivo de chegar a um consenso “e não a uma imposição”. o Plano passou por am-plo processo de consulta pública.

“Metas avançadas é positivo”responsável por um diagnóstico para

embasar os debates, o instituto de Política econômica aplicada (ipea) procura distan-ciar-se da polêmica. “a regra que estabelece o ano de 2014 sem lixões está fadada a não atingir a totalidade, mas ter metas avança-das é muito positivo”, acredita albino ro-driguez alvarez, técnico em planejamento. “se deixar solto não sai”, reforça estanislau maria, coordenador do instituto akatu, onG voltada ao consumo consciente.

a possibilidade de combate à latente corrupção entre prefeituras e empresas de coleta de lixo é lembrada por rômulo sam-paio, coordenador do Programa de Direi-to e meio ambiente da Fundação Getúlio Vargas (FGV-rJ). nos lixões, explica, não há controle da quantidade de resíduos des-pejados, o que pode propiciar o superfatu-ramento. “no aterro sanitário é tudo con-trolado, a quantidade é pesada. Diminui a margem de corrupção e a possibilidade de manipulação dos contratos”, diz.

o novo marco prevê ainda a logística reversa (instrumento que responsabili-za as empresas pela destinação de seus produtos depois de usados) em cadeias produtivas como as de eletroeletrônicos, lâmpadas fluorescentes, óleo lubrificante, entre outros. a questão financeira também preocupa as indústrias, porque a obrigação deve gerar novos custos para as empresas. a Federação das indústrias do estado de são Paulo (Fiesp) defende a concessão de incentivos fiscais para cumprir a legislação. “está na lei, mas é vago, temos que discutir com o governo”, afirma nelson Pereira dos reis, diretor de meio ambiente da Fiesp.

Processo participativoa socióloga elisabeth Grinberg, coor-

denadora-executiva do instituto Pólis, par-ticipou das audiências que resultaram na redação final do Plano. Beth destaca que ele foi construído em um processo parti-cipativo, recebendo sugestões de todos os setores envolvidos. a última audiência, em Brasília, definiu o texto final que vai entrar em vigor no próximo ano.

são três os principais pontos da política:

• fechamento de lixões: até 2014 não devem mais existir lixões a céu aber-to no Brasil. no lugar deles, devem ser criados aterros controlados ou aterros sanitários. os aterros têm preparo no solo para evitar a contaminação de lençol freático, captam o chorume que resulta da degradação do lixo e contam com a queima do metano para gerar energia;

• só rejeitos nos aterros sanitários: os rejeitos são aquela parte do lixo que não tem como ser reciclado. apenas 10% dos resíduos sólidos são rejeitos. a maioria é orgânica, que em compos-tagens pode ser reaproveitada e trans-formada em adubo, e reciclável, que deve ser devidamente separada para a coleta seletiva;

• planos de resíduos sólidos nos muni-cípios: os planos municipais serão elabo-rados para ajudar prefeitos e cidadãos a descartar de forma correta o lixo.

outro importante avanço da política é a chamada “logística reversa”. na prática, a lo-gística reversa diz que uma vez descartadas as embalagens são de responsabilidade dos fabricantes, que devem criar um sistema para reciclar o produto. Por exemplo, uma empresa de refrigerante terá que criar um sistema para recolher as garrafas e latas de alumínio e destiná-las para a reciclagem.

Para Beth, a implementação da logística reversa é totalmente viável, como mostram exemplos de cidades europeias e inclusive de algumas cidades brasileiras. “a logística reversa é viável. um exemplo disso são os países europeus, que encontraram soluções compatíveis com a realidade deles.” segun-do a soocióloga, uma das diferenças é que no Brasil se pensou uma forma de integrar os catadores e as cooperativas no plano, buscando recolocação profissional.

A polêmica dos incineradoresapesar de todos os pontos positivos do

plano, Beth encontra uma falha. em um dos artigos, a política cria uma brecha para a ins-talação de tecnologia de incineração do lixo. segundo a pesquisadora, é uma falha porque os incineradores não são economicamente viáveis para pequenos municípios e quei-mam um resíduo, que poderia estar sendo devidamente reciclado, poluindo o ar.

Ziulkoski, da CNM: “uma coisa é a lei, outra coisa a execução... faltam recursos”

Schalch, da USP em São Carlos: “agora é a vez das prefeituras”

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Especial - Lixo

maurício Waldman, um dos especialis-tas mais respeitados na questão do lixo, a pedido de neo monDo, esclarece: “os incineradores são parte integrante dos modelos de gestão dos resíduos e é cor-reto afirmar que em algum momento eles podem entrar em operação. atualmente, a incineração é vista por muitas adminis-trações como uma solução para dar conta do lixo urbano, até porque as áreas dispo-níveis para aterros estão desaparecendo”.

ele cita dado de 2010 da companhia de tecnologia de saneamento ambien-tal (cetesb), de que uma quarta parte dos municípios paulistas exporta seu lixo para outras cidades. e prossegue: “muitos tam-bém argumentam que os incineradores são uma solução do Primeiro mundo que pode ser transplantada sem maiores delongas no Brasil. mas isso não é verdade. não adianta falar que a alemanha e os estados unidos têm incineradores. eles usam a incineração, porém reciclam respectivamente 48% e 31% do seu lixo. nós ainda estamos patinando nos 13%, e isso graças ao trabalho informal dos catadores”.

isso posto, Waldman conclui: “no caso de são Bernardo caberia a ressalva, com base em informação obtida no site da municipalidade, de que apenas cerca de 1% dos resíduos é reciclado. então existe um longo caminho a ser percorrido antes de jogar lixo nas fornalhas. a combustão do lixo gera substâncias prejudiciais à saúde humana, é um processo caro e oneroso, gera dependência tecnológica e, ainda por cima, prejudica os catadores e destrói im-placavelmente materiais que poderiam ser recuperados. É uma solução pobre, a ser pensada muito mais criteriosamente”.

outra contribuição de Waldman, que a nosso ver deve ser levada em conta pelos que estão à frente de executivos municipais, é quanto à importância das cooperativas.

o especialista começa por diferenciar catação de coleta seletiva de lixo (csl). “essa última refere-se aos programas ins-

titucionais dos governos, basicamente das administrações municipais. Já a catação é baseada no trabalho informal dos cata-dores, que atualmente agregam 1 milhão de pessoas. os catadores respondem pelo essencial dos materiais que seguem para a indústria recicladora, representando 98,1% do total. apenas 1,9% fica por conta da csl. contudo, apesar da sua importância para a recuperação dos resíduos, os catadores são marginalizados tanto pelo governo, no que se refere ao apoio e benefícios sociais, como também por segmentos da sociedade, que não valorizam a atuação desses trabalhado-res, fundamentais para assegurar o equilí-brio urbano e a prática recicladora”.

Waldman recomenda: “Precisamos não apenas fortalecer o trabalho dos ca-tadores em todos os sentidos, mas si-multaneamente desenvolver uma eficaz engenharia de gestão do lixo. Para se ter uma ideia, dos 5.565 municípios brasilei-ros, apenas 142 – ou seja, somente 2,5% do total – mantêm parceria com cooperati-vas de catadores. eles precisam de espaço para proceder a triagem dos materiais co-letados, para se recuperar do seu esforço diário; solicitam linhas de crédito e menos burocratização na formação das cooperati-vas. sabemos que o controle por parte do estado é necessário. mas isso não pode ser impeditivo da sua organização. existem também sequelas sociais e educacionais. Parcela importante da população catadora desconhece a prática do trabalho em con-junto e muitas vezes mostra resistência à organização da catação no trabalho coope-rado”.

Três eixos oficiaiso governo, por sua vez, acena com

seu programa para tratamento de resídu-os sólidos baseado em três eixos: Brasil sem Lixão, Recicla Brasil e Pró-Catador. a informação é do ministro da secretaria Geral da Presidência, Gilberto carvalho, e as ações do programa estão estruturadas

no sentido de cumprir as determinações do Plano nacional de resíduos sólidos.

o primeiro eixo terá ações conjuntas entre estados, municípios e o governo fe-deral, para eliminar os lixões de todas as cidades até agosto de 2014. o segundo irá estimular a reciclagem, e o Pró-catador atu-ará para estruturar as cooperativas e tornar os catadores um elo importante para o al-cance das metas do plano nacional.

o programa, até o fechamento desta edição, estava na fase final de elaboração e, de acordo com a ministra do meio ambien-te, izabella teixeira, os próximos passos são formatar os aspectos jurídicos e discutir o texto com a presidente Dilma rousseff.

ao falar sobre um dos maiores desafios do Plano nacional de resíduos sólidos, que é a eliminação dos lixões até 2014, a mi-nistra lembrou que, a partir do Plano, essa passou a ser uma responsabilidade compar-tilhada entre os entes federados.

“esse esforço não é só do governo fe-deral, é de competência também dos es-tados e municípios e dá a todos a respon-sabilidade de lidar com a questão do fim dos lixões, de incrementar a reciclagem, a logística reversa, de discutir as regiões do país que não têm aterros sanitários”, disse logo após participar da abertura do encontro Diálogos sociais rumo à rio+20. a ministra observou também que muitas cidades ainda não têm a infraestrutura para implementar o patamar necessário de reciclagem no país.

conforme o texto do Plano nacio-nal de resíduos sólidos, após o dia 2 de agosto de 2014, o Brasil não poderá ter mais lixões, que serão substituídos pelos aterros sanitários. os aterros vão receber apenas rejeitos, ou seja, aquilo que não é possível reciclar ou reutilizar. os aterros são estruturas que contam com preparo no solo para evitar a contaminação de lençol freático, captam o chorume que resulta da degradação do lixo e contam com a quei-ma do metano para gerar energia.

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São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, viveu na noite de 23 de se-tembro de 2011 mais um momento histórico. O Sindicato dos Metalúrgicos recebeu a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o cientista político e ex-ministro, Paulo Vannuchi, e a filósofa e historiadora Marilena Chauí, que esti-veram à mesa de debates para o anun-ciado grande diálogo, realizado pelo deputado federal Vicentinho, sobre “Os trabalhadores e o meio ambiente”.

O auditório, lotado, recebeu um público eclético, composto por estu-dantes de três instituições de ensino superior, professores, metalúrgicos, químicos, profissionais liberais, sindica-listas, quilombolas do Vale do Ribeira, políticos da região e de outras cidades do interior paulista. Nada mal para a cidade que já foi definida como a “capi-tal social do País”.

NEO MONDO entende que está mais que na hora de a classe trabalha-dora entrar de vez neste debate da maior relevância, ainda mais naquele momento em que o governo federal colocava em consulta pública a primeira versão do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, em cumprimento ao Decreto 7.404, que trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

Se o governo aposta na sua iniciati-va (ver “Para entender a PNRS e o res-pectivo Plano), a ministra faz o mesmo com a classe trabalhadora. Recém-che-gada, então, de viagem ao exterior, Iza-bella foi incisiva, ao afirmar que a ques-tão ambiental tem de levar em conta a realidade de cada local dos quase 6 mil municípios brasileiros, e por isso a polí-tica ambiental do governo deve tratar dos extrativistas do Pará e dos coope-rados de São Bernardo do Campo com a atenção que todos merecem, respei-tadas as peculiaridades de cada grupo.

Além das elites

Para a ministra, “a ordem do dia é falar de meio ambiente na perspectiva dos direitos humanos. Temos de cons-truir uma pauta com os trabalhadores sem restringi-la às elites”. Trata-se, em suma, de fazer valer o direito à inclusão do trabalhador na questão ambiental, na linha de frente das ações. Izabella pediu aos presentes que tenham orgu-lho do meio ambiente brasileiro pela sua potencialidade e pela biodiversida-de sem igual.

Ministra quer Plano inclusivo

O que, garante, será possível com tecnologia e capacitação. “Não se plan-ta sem meio ambiente; não se vive sem comida. Meio ambiente é gerar riqueza, bem-estar. Como pode a região (poten-cialmente) mais rica de São Paulo ser tam-bém a mais pobre”, disse referindo-se ao Vale do Ribeira.

Insistindo na tecla do respeito às desi-gualdades regionais, a ministra anunciou que entre suas prioridades está a valori-zação dos catadores de material reciclável (”estes são ecologistas de fato”, disse), ao mesmo tempo em que se empenhava em reverter, no Senado, a aprovação do Código Florestal. Ela reconhece que a le-gislação avançou em alguns aspectos, mas deve ser corrigida. Para Izabella, “quem desrespeitou no passado o meio ambiente (em larga escala) tem de pagar, não pode ser anistiado”. E defendeu o bom senso

nos debates no Legislativo, ao referir-se às áreas de preservação permanente (APPs).

Para a ministra, cuidar da biodiversi-dade é saber conservar gerando renda por meio da regularização das reservas legais, entre outros mecanismos. Seu mi-nistério, nessa linha de atuação, deve dar atenção especial ao correto tratamento do lixo. Daí a importância do Plano Na-cional de Resíduos Sólidos.

Direcionar-se ao incremento de ener-gias renováveis, dos empregos verdes (“área em que o País pode ser modelo”, considera) e contrapor a agroecologia à ameaça agrotóxica são outros compromis-sos de seu governo. Um conjunto de ações que pressupõe participação de todos, daí a importância estratégica das consultas públicas. Izabella entende que só assim é possível viabilizar novas políticas no campo porque “País, de fato, é o que consome”.

Ministra Izabella levou o debate para além das elites ao falar...

... a um público eclético: “catadores são os ecologistas de fato”

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10 neo mondo - setembro/outubro 2012

Para entender a PNRS e o respectivo Planolançada em 1º de setembro de 2011

pela ministra do meio ambiente, durante reunião do conselho nacional do meio ambiente (conama), a consulta pública à primeira versão do Plano nacional de resíduos sólidos é vista pelo governo como importante passo para cumprir o Decreto 7.404, de 2010, que trata da Polí-tica nacional de resíduos sólidos (Pnrs).

o documento ficou disponível no site do mma pelo prazo mínimo de 60 dias. Foram realizadas audiências públicas nas cinco regiões brasileiras e em Brasília, com o objetivo de debater as diretrizes e metas do Plano.

a consulta pública teve como objeti-vo ampliar as discussões sobre o Plano, mobilizando a sociedade e envolvendo

seus diversos setores. seu conteúdo foi elaborado pelo ipea e “cumpriu seu papel de oferecer elementos de avaliação, de construção e de monitoramento das po-líticas públicas brasileiras”, disse o presi-dente do instituto, márcio Pochmann, na cerimônia de lançamento.

a determinação da Pnrs de erradicar os lixões em todo o país até 2014 é vis-ta como um desafio para o secretário de recursos hídricos e ambiente urbano do mma, nabil Bonduki. o secretário res-salva, porém, que o diagnóstico realizado pelo ipea pode nos deixar “mais otimistas” para cumprir a meta. segundo nabil, entre 2000 e 2008, o Brasil conseguiu melhorar de 38% para 58% o descarte adequado de resíduos sólidos em aterros sanitários.

“isso sem que houvesse uma Política nacional de resíduos sólidos. esperamos avançar um pouco mais com a nova lei am-biental”, afirmou.

Para a ministra izabella, “com esse inves-timento maciço em reciclagem promovemos ainda a inclusão social dos catadores, com a formação e a construção de cooperativas, qualificando profissionalmente essas pesso-as. eles são os verdadeiros agentes ambien-tais no dia a dia das grandes cidades brasi-leiras. são eles que recolhem o lixo com os serviços de limpeza urbana”.

Metaso instrumento legal que institui a

Pnrs é bastante atual e contém instru-mentos importantes para permitir o avan-

o geógrafo e mestre em Geografia pela universidade de são Paulo (usP), ricardo alvarez, a exemplo de Waldman, põe logo o dedo na ferida ao abordar assunto tão con-troverso – que, para ele, “não deveria ser” – quanto a coleta seletiva e reciclagem do lixo, mesmo porque está à vontade numa região, o aBc paulista, na qual também é educador, editor do site controvérsia (www.controver-sia.com.br) e já deu sua contribuição como vereador em santo andré.

acompanhe os principais tópicos da entrevista concedida por e-mail a neo monDo:

Com o dedo na feridaDescaso do poder púbico

“a questão do lixo urbano emergiu como um problema nacional a ser equacionado apenas recentemente, duas décadas aproxi-madamente, embora a produção de lixo seja bastante antiga. evidentemente ações foram realizadas num ou noutro município, como em santo andré, nos anos 1970, mas eram exceções. Durante décadas o poder público navegou nas ondas do desprezo pelo tema, quando não da ignorância. lixões escanca-ravam o esgoto físico das grandes cidades, mas como normalmente estavam longe aos olhos dos moradores das cidades, seu aspecto horrendo e odor repugnante eram compartilhados apenas pelos trabalhadores do setor e aqueles que dele retiravam seu sustento. na medida em que o debate am-biental foi ganhando corpo no seio da socie-dade, as preocupações com o manejo do lixo urbano entraram nos planos de governo dos candidatos a prefeito e se transformaram em políticas públicas para o setor.”

Participação popular “apesar de a coleta do lixo urbano ser

de responsabilidade dos governos muni-cipais, o governo federal promulgou a lei 11.445 em janeiro de 2007 que traça di-retrizes para o saneamento básico no Bra-sil, incluindo transporte e acomodação, a

limpeza urbana e o manejo dos resíduos sólidos. iniciativa importante no sentido de padronizar o serviço público, uma vez que a fragmentação das políticas públicas municipais nem sempre davam um trata-mento adequado ao serviço.

“uma questão importante é a participa-ção popular na gestão dos resíduos sólidos. o controle social aparece nos fundamentos da lei e é a única garantia efetiva de pres-tação de serviço com qualidade, eficiência e preços justos. a confederação nacional dos municípios aponta que ‘em geral os ser-viços de limpeza urbana municipal custam em torno de 7% a 15% dos recursos de um orçamento municipal, dos quais entre 50% e 70% são destinados à coleta e ao transpor-te do lixo. e tendem a ser um item de peso no caso da avaliação municipal pela popu-lação, sem contar que a otimização desses serviços gera significativa economia no uso dos recursos públicos. são ações do serviço publico municipal: a coleta do lixo e o seu transporte para as áreas de tratamento ou destinação final. o lixo precisa ser trans-portado de forma mecânica, da geração até o destino final’ (www.cnm.org.br). nin-guém melhor que o cidadão para fiscalizar a coleta, para promover a reciclagem, para acompanhar as licitações e fiscalizar a rea-lização dos serviços conforme o contrato”.

Especial - Lixo

Ricardo Alvarez: “a educação ambiental é nula, e a participação popular, inexistente”

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ço necessário ao País no enfrentamento dos principais problemas ambientais, so-ciais e econômicos decorrentes do mane-jo inadequado no que concerne ao marco legal e inova com a inclusão de catadoras e catadores de materiais recicláveis e reu-tilizáveis, tanto na logística reversa quanto na coleta seletiva.

além disso, os instrumentos da Pnrs ajudarão o Brasil a atingir uma das metas do Plano nacional sobre mudança do cli-ma, que é a de alcançar o índice de recicla-gem de resíduos de 20% em 2015.

Prevê a prevenção e a redução na ge-ração de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para pro-piciar o aumento da reciclagem e da reu-tilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação ambien-

talmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado).

institui a responsabilidade comparti-lhada dos geradores de resíduos: dos fa-bricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, o cidadão e titulares de ser-viços de manejo dos resíduos sólidos ur-banos na logística reversa dos resíduos e embalagens pré-consumo e pós-consumo.

cria metas importantes que irão con-tribuir para a eliminação dos lixões e ins-titui instrumentos de planejamento nos níveis nacional, estadual, microrregional, intermunicipal e metropolitano e munici-pal; além de impor que os particulares ela-borem seus Planos de Gerenciamento de resíduos sólidos.

também coloca o Brasil em patamar de igualdade aos principais países de-senvolvidos no tratamento dos resídu-os sólidos.

Carrinheiros, homens-cavalo“Quando setores da sociedade começa-

ram a se preocupar com a produção do lixo urbano e suas implicações, muitos brasilei-ros – à revelia do poder público e por neces-sidade de sobrevivência – já realizavam a reciclagem. os carrinheiros, homens-cava-lo, catadores de ferro-velho e garrafas, seja lá qual for a denominação, foram os primei-ros recicladores sociais e desempenharam um importante papel neste processo de to-mada de consciência. eles mostraram que o lixo de uns pode ser o sustento de outros, mostraram ainda que materiais aparente-mente inservíveis podem ser reaproveita-dos economizando recursos naturais. Dedi-co a estas pessoas o mérito do início prático deste debate que é hoje nacional.

“entendo que as prefeituras devem fa-zer intensa campanha nas escolas, centros comunitários, residências, estabelecimentos comerciais, entre outros, orientando para a necessidade da reciclagem. não basta a boa vontade, é preciso educação ambiental. mas é preciso também ir além e mostrar que a reciclagem tem fortes limites determinados pela cadeia de produção. Para se chegar ao pote de margarina que descartamos, muito lixo já foi produzido; sendo assim é absolu-tamente necessária uma mudança no padrão de consumo, uma mudança no comporta-mento e na cultura do ‘ter’. coisa difícil em se tratando de capitalismo, mas necessária”.

Modelo andreense esgotado“a usina de compostagem de santo an-

dré funcionou por duas décadas e se esgotou (anos 1970 e 1980 basicamente). o poder público acreditou na viabilidade da comer-cialização do ‘composto’ derivado do lixo úmido, mas ele se mostrou inviável comer-cialmente. Foi uma iniciativa cara, pioneira, mas importante. além disso, boa parte do lixo seco era aterrado comprometendo a vida útil do aterro que está chegando ao seu limite. a usina pecou por dois motivos: a) o foco das preocupações era com o lixo úmido; b) o poder aquisitivo da população de santo andré foi aos poucos ampliando o peso do lixo seco sobre o úmido”.

Coleta seletiva incipiente “a coleta seletiva não pode se resu-

mir numa campanha de marketing, deve ser implantada de fato. De acordo com o iBGe, na Pesquisa nacional de sanea-mento Básico de 2000, dos 5.475 municí-pios brasileiros apenas 1.814 contam com 100% de coleta de lixo e, na outra ponta da tabela, em 1.217 municípios menos de 70% de suas residências recebiam o servi-ço. a ampliação da coleta no Brasil é ur-gente, se não fosse pela questão da neces-sidade evidente e dos benefícios criados, como a questão da geração de emprego e renda, seria pela via da saúde pública. a extensão do serviço acarretaria redução

da necessidade de espaço nos aterros e permitiria o emprego de maiores contin-gentes de mão de obra”.

São Bernardo na contramão“no Grande aBc as experiências de

coleta seletiva e de reciclagem são inte-ressantes. Propostas nesse sentido foram incorporadas aos planos de gestão implan-tados e ações foram efetivadas. mas o elo-gio deve parar por aqui, pois o incentivo à reciclagem é pequeno (falta informação), a educação ambiental é quase nula, a parti-cipação popular inexistente, as cooperati-vas muitas vezes ficam sob o domínio de ‘chefes’ que operam o poder internamente em detrimento de uma gestão coletiva e, principalmente, as empresas que atuam no ramo são cartelizadas, bem como as opções de acomodação do lixo coletado (poucos aterros e preços elevados).

“Dadas as características em comum do Grande aBc há boas condições para uma ação regional, especialmente na questão do lixo urbano, mas isto não existe. a lei fe-deral das diretrizes do saneamento básico prevê, inclusive, a prestação regionalizada do serviço público de saneamento. Para completar, são Bernardo do campo discu-te a implantação de incineradores, indo na contramão do debate da sustentabilidade, combate ao aquecimento global e da defesa da saúde pública”.

11 neo mondo - setembro/outubro 2012

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Pochmann ressalta o conteúdo do Plano elaborado pelo Ipea

Nabil, do MMA: “esperamos avançar um pouco mais com a nova lei”

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D escontado o proverbial atraso histórico, o Brasil parece ter se decidido a entrar de vez no time

dos países que vêm questionando os in-salubres e malcheirosos aterros sanitá-rios ou lixões.

no lugar deles, com atraso, começa-mos a discutir – e a implantar – as usinas termelétricas baseadas na queima dos re-síduos sólidos urbanos ou rsu, que por sua vez também já caem na boca dos am-bientalistas como insalubres e ambiental-mente incorretas.

mas estudos do governo federal de 2008 mostram clarividência ao contrapor uma abordagem propondo o aproveitamen-to energético do rsu exatamente como par-te de uma estratégia de defesa ambiental.

A ocupação dos lixões e aterros sanitários por usinas termelétricas para geração de energia a partir de resíduos sólidos urbanos no país,

num horizonte que vai do curtíssimo ao longo prazo é defendida justamente como parte da estratégia de proteção do meio ambiente.

Mas ambientalistas não engolem a tese.Antônio Marmo

Especial - Lixo

este trabalho do ministério de minas e energia assume – com atraso – que numa perspectiva de longo prazo, o Plano nacio-nal de energia (Pne 2030) considera a pos-sibilidade de instalação de até 1.300 mW nos próximos 25 anos em termelétricas utilizando resíduos sólidos urbanos.

É uma indicação de que se podem esperar avanços importantes no aprovei-tamento energético do lixo urbano. mais claro não pode ser: diz o ministério que “ao lado dos evidentes benefícios am-bientais, sanitários e sociais que propor-ciona, o aproveitamento energético de rsu já apresenta hoje alternativas tecno-lógicas maduras”.

menciona-se nosso proverbial atraso histórico porque, conforme informação

do próprio ministério, “as tecnologias dis-poníveis nem são tão recentes assim. são dos anos 80 as primeiras termelétricas implantadas nos estados unidos, na eu-ropa e no Japão acionadas por rsu”.

no Japão, de escassas áreas livres, nada menos que 78% dos resíduos só-lidos são incinerados para virar energia enquanto 15% são reciclados. sobram 7% para os lixões, muitos deles apenas para guardar as cinzas da queima do lixo. um aterro em cingapura virou até atração turística.

hoje são cerca de mil usinas em fun-cionamento no mundo, tratando mais de 300 mil toneladas de lixo. a incineração reduz em até 90% o volume de lixo deposi-tado em aterros.

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neo mondo - setembro/outubro 2012 13

São Paulo tem pressamas nem tudo é longo prazo. no caso

do estado de são Paulo, por exemplo, o go-verno de Geraldo alckmin já tem definidos projetos de curtíssimo prazo para implanta-ção de nada menos que 18 dessas unidades de queima de lixo, uma delas – tremei, am-bientalistas! – em pleno parque estadual da serra do mar, em são sebastião.

“a produção energética utilizando o lixo como matéria-prima está entre as ações fomentadas pela secretaria do meio ambiente do estado (sma)”, assume em nota a pasta secretariada pelo tucano Bru-no covas.

criada por alckmin, a secretaria esta-dual de energia, chefiada por José aníbal (PsDB), também apoia o empreendimento, com a confirmação de que “estão sendo ca-pitaneados 18 projetos de construções de usinas que gerarão energia elétrica a partir da queima de resíduos sólidos no estado”.

Debates públicosJá em fase de audiências públicas e

licitações estão os projetos de são José dos campos, no Vale do Paraíba paulista, são Bernardo, na Grande são Paulo, e são sebastião, em plena área de proteção am-biental da serra do mar. taubaté, também no Vale do Paraíba, entra na fila dos pre-tendentes. em canas há projeto para uma termelétrica a partir da queima de gás.

a usina de são sebastião começa a ser pensada como solução regional já que as quatro prefeituras do litoral norte gastam os tubos apenas com o transbordo do lixo para o Planalto, com caminhões subindo a serra para depositar os resíduos em tre-membé ou Jambeiro, no Vale do Paraíba. só ubatuba, por exemplo, consome por ano r$ 11 milhões com o transporte do lixo.

a Prefeitura de são sebastião chegou a suspender a licitação ou concorrência Pú-blica nº 04/2010 do Processo nº 61.951/10 sobre a usina para que a comunidade pu-desse incluir novos itens no contrato saí-dos das audiências públicas.

mas a população ali parece mais pre-ocupada com detalhes logísticos e com a movimentação dos caminhões pelas estrei-tas ruas da cidade do que com prováveis futuras emissões.

em são José, a Prefeitura discutiu o projeto com empresários, levou o debate à população, enfrentando os contras dos ambientalistas. mas tema quente em ano eleitoral não dá pé, e o executivo achou

clado ou reutilizado é a incineração”, diz o gerente de Projetos especiais da cetesb, aruntho savastano neto, citado pelo jornal o Vale. “É o que temos de mais moderno.”

“Solução bem-vinda” atualmente o governo alckmin traba-

lha na formatação de uma Política Pública de recuperação energética, que acaba fo-mentando as termelétricas.

além disso, a secretaria do meio am-biente estadual avaliou de forma positiva a iniciativa dos municípios para implantar usinas de recuperação energética movidas a lixo. “É uma solução bem vinda pois re-presenta um grande passo com relação aos aterros sanitários.”

“essa é a melhor solução para os mu-nicípios. a poluição e os males à saúde causados por esse tipo de termelétricas são extremamente inferiores aos causados pela existência de um aterro sanitário em áreas urbanas”, diz a secretaria.

melhor congelar as discussões junto à câ-mara municipal até passar o pleito.

Tratamento biológicoincineração e processamento biológico

são, essencialmente, as duas formas adota-das para se produzir energia elétrica com a quase total eliminação da necessidade de aterros sanitários.

são sebastião, pelo informe da Prefei-tura, optou pelo uso do processo de trata-mento mecânico biológico, considerando-se, no estudo do mme, que “os processos biológicos agridem menos a natureza”.

Por essa rota tecnológica, a parcela orgânica do rsu é convertida, na com-postagem, em adubo orgânico, que re-quer, contudo, processamento adequa-do de modo a não agir como vetor de contaminações. a energia elétrica é pro-duzida a partir do metano gerado nesse processamento.

Para o secretário do meio ambiente sebastianense, eduardo hipólito, “essas reuniões são sempre uma excelente opor-tunidade de elucidar cada ponto do proje-to, deixando a população completamente informada e segura quanto ao que será fei-to e como será feito”, diz ele.

Usinas em operaçãomas a capital paulista já conta com

geração de energia elétrica nos dois maio-res aterros da cidade, Bandeirantes e são João. estão em operação duas termelétri-cas, com 20 e 24,8 mW de potência insta-lada, respectivamente.

tomando como referência um fator de capacidade de 80% e tendo em conta o atual consumo médio do consumidor residencial brasileiro, em torno de 150 kWh/mês, a ge-ração de energia nesses dois aterros é sufi-ciente para atender ao consumo de cerca de 170 mil residências, ou o equivalente a uma população de 500 mil habitantes.

a secretaria de energia diz que seu papel “é ser um indutor e facilitador para que este tipo de empreendimento se concretize”.

Órgão ambiental responsável por li-cenciar empreendimentos geradores de poluição, a companhia ambiental do estado de são Paulo (cetesb) defende as termelétricas como a melhor política a ser implantada pelos municípios com relação ao destino final do lixo.

“a tecnologia consagrada para trata-mento do resíduo que não pode ser reci-

Dados técnicos

Usinas WTE, da sigla em inglês de waste-to-energy, são aquelas que utilizam a incineração de RSU para produzir o vapor que irá gerar energia, processo semelhante ao de usinas térmicas convencionais.

Contudo, diferentemente de outras usinas térmicas, o rendimento na conversão para energia elétrica é relativamente baixo, entre 20 e 25%, refletindo a restrição de se operar em temperaturas muito elevadas (no máximo 450 graus. A média é de 200 grausC).

A redução do volume de resíduos depositados em aterro sanitário é uma das principais vantagens da incineração. De fato, a incineração reduz o volume de resíduos depositados entre 85 e 90% do volume original e não impede a recuperação dos metais recicláveis.

Outra vantagem é que as cinzas produzidas na incineração podem servir como matéria-prima para a produção de cimento do tipo Portland (dados do governo federal - MME).

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Claro, a nova proposta não consegue fugir das discussões nem esconder o lado polêmico dessas construções. A Defensoria Pública, ONGs ambientalistas

e especialistas em poluição atmosférica esbravejam argumentos nem sempre técnicos contra as usinas.

Debate de alta combustão

Especial - Lixo

Para os defensores da natureza as usinas de recuperação energética a partir do lixo são nocivas ao meio ambiente e à saúde daqueles que residem próximos à planta.

a Defensoria Pública do estado de são Paulo ameaça ingressar com ações na Jus-tiça contra a instalação de usinas termelé-tricas movidas a partir do lixo no Vale do Paraíba, promovendo abaixo-assinado em toda a região.

em maio de 2011 ela promoveu um encontro em são José para falar do “im-pacto poluidor das termelétricas e incine-radores de lixo nas cidades”. o seminário foi o primeiro de uma série de debates que têm como objetivo principal “discutir a grave situação de risco à saúde pública, ambiental e social”, no entender do defen-sor público, Wagner Giron della torre..

Vieram outros debates. em agosto foi realizado o i simpósio sobre os impactos socioambientais das termelétricas e inci-neradores de lixo em taubaté e região.

em setembro, foi a vez de são Bernar-do do campo entrar na discussão. no dia

30, tido como o dia de ação global contra o lixo e a incineração, foi realizado na cida-de o seminário técnico resíduos sólidos: alternativas sustentáveis.

o evento reuniu cerca de 170 pessoas, entre especialistas da área, movimentos sociais e juristas para debater o impacto da incineração de resíduos e as alternativas, com transmissão ao vivo pela internet.

Durante o evento uma “coalizão na-cional contra a incineração do lixo” lançou campanha contra os projetos de tratamen-to térmico dos resíduos sólidos em proces-so de implantação, num manifesto com ar-gumentos técnicos refutando a tecnologia.

Processo em debate“a mobilização popular é o mais impor-

tante nesse processo, para mostrar àqueles que fazem a política que esse tipo de deci-são deve ser tomada junto à população, não pode vir de cima para baixo”, diz Giron, o defensor público do Vale do Paraíba.

com ele caminham as diversas orga-nizações não governamentais ligadas ao ambiente na região vale paraibana, pesqui-

sadores e especialistas em poluição, como o núcleo regional do Plano Diretor Parti-cipativo do Vale do Paraíba, litoral norte e serra da mantiqueira, Fórum Permanente em Defesa da Vida, centro de amigos da natureza e Grupo consciência ecológica mais o coletivo de entidades ambientalis-tas do estado de são Paulo, sindicato dos trabalhadores de ciência e tecnologia, instituto Brasileiro de Proteção ambiental (Proam), sos mata atlântica e o Fórum de mudanças climáticas e urbanismo, entre outras.

“Esquecem a reciclagem”o pesquisador do instituto tecnoló-

gico de aeronáutica (ita), Wilson cabral de sousa Junior, é um dos que questiona a nova tendência energética.

em entrevista ao jornal o Vale, ele diz que “a questão da incineração come-çou a ser pensada por um grupo da então secretaria de saneamento e energia do estado, que vinha estudando como colo-car a incineração do lixo dentro de um contexto de energia”.

o objetivo era fazer um pacote casado, trazer uma solução conjunta tanto para o lixo quanto para a necessidade de geração de energia”, continua. “a cetesb, por sua vez, adotou esse pensamento.”

Para sousa Junior, colocar a incinera-ção como solução para o lixo “é coisa de gestor preguiçoso”. isso porque se deixa de investir em outros estágios, como o aperfeiçoamento da coleta seletiva e a diminuição da geração de lixo”, disse na entrevista. É o que dizem também as de-mais entidades.

a própria neo monDo já publicou, em sua edição nº 38 de dezembro de 2010, ampla reportagem detalhando o projeto da termelétrica em são José dos campos a partir da queima do lixo, baseada em mo-delo alemão e a reação dos ambientalistas locais. ainda não se falava das outras 17 em gestação.

O aterro de São José dos Campos recebe cerca de 550 toneladas de lixo por dia. A cidade quer produzir energia

elétrica no local, a exemplo do que já faz a Alemanha.

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Por sua vez, os governos estadual e municipais realizam workshops vendendo a idéia de tecnologias maduras enquanto no estudo federal de 2008 se antecipava

que o aproveitamento de RSU é “parte de uma estratégia de defesa ambiental” atuando dentro do mercado de carbono.

Estratégia de defesa ambiental

o estudo do ministério de minas e ener-gia, com o apoio de uma empresa de Pesqui-sas energéticas (ePe), parece ter se prepara-do para o embate com os ambientalistas.

calcado em uma perspectiva global, a partir das propostas do Protocolo de Kioto em torno do mercado de carbono, o tra-balho, feito em função de um projeto de termelétrica para a capital do mato Grosso do sul, campo Grande, diz que “levando-se em conta que o intergovernmental Panel on climate change (iPcc, 1996), aponta o gás metano (ch4) com potencial de aqueci-mento global para 100 anos 21 vezes maior que o dióxido de carbono (co2), a simples queima do metano, mesmo sem o aprovei-tamento do calor gerado, reduz o impacto em termos de aquecimento global.

além disso, se o metano for utilizado para a geração de energia, dependendo da rota tecnológica escolhida, cada mWh gera-do a partir de rsu será capaz de compensar a emissão decorrente de 3 a 15 mWh gerados a partir do gás natural em ciclo combinado.

assim, argumentam os autores do es-tudo, as usinas “terminam por se constituir em mais um elemento impulsionador do mercado de carbono, exercendo, inclusive, pressão altista sobre os preços dos créditos de carbono no mercado internacional”.

ou, dito de outra forma, créditos de carbono podem constituir um benefício adicional na equação da viabilidade econô-mico-financeira do aproveitamento energé-tico de rsu.

as termelétricas, no entender do mi-nistério de minas e energia, “reduzem as emissões de metano decorrente da fer-mentação do lixo disposto nos aterros e ao mesmo tempo substituem a geração de energia a partir de fontes fósseis.

Controvérsia persisteisto é particularmente verdadeiro nos pa-

íses desenvolvidos, onde a produção de eletri-cidade se faz predominantemente a partir do gás natural e do carvão mineral. mas mesmo

nos países desenvolvidos, os aterros sanitá-rios não foram completamente abolidos.

os riscos ambientais associados à ge-ração de energia pela combustão do lixo (emissão de dioxinas e furanos) têm sido progressivamente minimizados com o de-senvolvimento, nos últimos anos, de siste-mas de filtros capazes de reduzir substan-cialmente essas emissões.

a controvérsia, porém, ainda persiste. na alemanha, têm sido concedidos licen-ciamentos a um número crescente de usi-nas que utilizam a técnica da incineração. em contraposição, em países como suécia, canadá, Bélgica e holanda, alguns desses incineradores têm sido fechados.

Workshops oficiaisPor sua vez, são José dos campos se-

diou um ano atrás, nos dias 14 e 15 de outubro, o seminário nacional de lim-peza Pública (senalimp 2011), tido como o maior seminário do setor, com a im-portante tarefa de debater a situação dos resíduos soídos no país, com convidados internacionais e debates entre especialis-tas. Detalhes do encontro no site www.senalimp.org.br.

e uma série de workshops com empre-sários e a sociedade organizada também prosseguiu durante o ano todo. como dito, em 2012, o tema polêmico foi conge-lado por ser ano eleitoral.

“o ideal é que uma usina seja encarada como parte de um conjunto de tratamento de resíduos, como reciclagem e compos-tagem, parte do processo como um todo. nesse ponto, o modelo de são José é o mo-delo ideal”, diz o diretor da cetesb, arun-tho savastano neto.

o secretário de meio ambiente de são José, andré miragaia, classifica como “con-trovertidas” as iniciativas da Defensoria Pública contra as termelétrica explicando:

“também sou contra a termelétrica para simples geração de energia. o que propomos é diferente, é um mix de tecno-logia. a incineração corresponde a 20% do projeto”, disse miragaia.

a termelétrica proposta pelo prefeito joseense, eduardo cury, nem será a pri-meira a queimar lixo na cidade. Por 29 anos são José incinerou seu lixo orgânico para compostagem. obsoleta, a usina foi aposentada em 2005.

a Política nacional de resíduos sóli-dos, criada pela lei 12.305 de 2010, ins-tituiu como um de seus principais ins-trumentos o Plano nacional de resíduos sólidos e, conforme previsto em lei, terá vigência por prazo indeterminado e ho-rizonte de 20 anos, com atualização de quatro em quatro. uma das metas propos-tas pelo plano e prevista na lei é eliminar totalmente os lixões até 2014 e mantê-los nessa condição até 2031.

A energia contida em 1Kg de plástico é equivalente à contida em 1Kg de combustível mineral

Divulgação

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Os erres da gestã

Especial - Lixo

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L ixo é inerente à humanidade, desde as cavernas; mau uso dos recursos naturais, descaso, desperdício, acú-

mulo de supérfluos, porém, não podem mais ser aceitos se pretendemos de fato um mundo sustentável. É o que, em sín-tese, propõe maurício Waldman em lixo cenários e desafios, da cortez editora, livro finalista do Prêmio Jabuti 2011 na catego-ria ciências naturais.

o Jornal da unicamp ecoou o alerta, contido no livro: há o risco de a humanida-de gerar mais detritos do que o ambiente pode suportar. estaríamos em plena era do conhecimento, mas também na era do lixo (acesse http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/outubro2011/ju512_pag3.php). são 50 bilhões de tonela-das de materiais/ano por conta da nature-za; os homens, por sua vez, movimentam 48 bilhões de toneladas no mesmo período - 30 bilhões delas, resíduos. “isso é muito mais do que o ambiente pode suportar”, assegura Waldman.

esta sua obra literária mais recente é resultado da pesquisa de pós-doutoramen-to, desenvolvida no Departamento de Ge-ografia do instituto de Geociências (iG) da universidade estadual de campinas (uni-camp), universidade paulista na qual é pro-fessor-pesquisador. neo monDo a consi-dera imperdível a professores, estudantes, gestores, consultores, membros de onGs, pesquisadores, ativistas e – por que não? – governantes que, de fato, pretendam so-mar esforços por um mundo sustentável.

a vivência de Waldman é notável, e em seu convite de ambientalista, gestor público e acadêmico, ao aliar o conheci-mento de sociólogo, antropólogo e geógra-fo, não poderia ser mais claro: “repensar o lixo e seus atributos é indispensável”, o que exige de todos mergulhar no processo que pede “participação, responsabilidade ambiental e uma nova visão de mundo”.

em entrevista que nos concedeu por e-mail, o professor-pesquisador foi cate-górico: “o lixo é uma responsabilidade de todos e não apenas do estado, mesmo que este não atenda as necessidades básicas do setor”. Depois de lembrar que o Plano nacional de resíduos sólidos (ver matéria na página 06) demorou 19 anos para ser aprovado, Waldman avalia: “nesse lapso de tempo, muita matéria-prima foi des-perdiçada e o acúmulo de lixo foi gigante, gerando enorme passivo ambiental. Para o futuro, fica a lição da necessidade de um estado atuante, articulado com uma socie-

Os erres da gestã

dade participante e um cidadão conscien-te. a questão do lixo não é só da Dilma, do alkmin ou do prefeito da cidade. É tam-bém da sociedade, através das empresas, universidades e indústrias, compartilhan-do essa responsabilidade com o cidadão. esse, aliás, é o elo essencial da cadeia pro-dutiva, que pode com atitudes corretas fa-zer reverter o processo de geração de lixo, assim como da degradação ambiental”.

Pontos a conferirentre suas ressalvas a esse Plano, está

a de saber se a lei vai ser de fato aplica-da. “somos um país conhecido por apro-var leis que se perdem no tempo. na voz corrente, as leis podem ‘pegar’ ou não. um exemplo claro, em nosso segmento, foi o Plano nacional de educação ambiental, que não ‘pegou’. e, mesmo que a lei ‘pe-gue’, tem que existir uma fiscalização de fato, fazendo valer sua aplicação. mas isso será efetivamente feito? e como será essa fiscalização quando esta se deparar com o poder local, com as prefeituras? são pon-tos a conferir...”.

ele entende que o que existe hoje é “muito mais uma carta de intenções. não estão exatamente claras quais são as prio-ridades. Vemos ainda colocações no con-dicional, tais como poderá... Desta forma pode-se objetar que não estamos realmen-te diante de um Plano, mas sim de uma carta de intenções. mais: ao mesmo tempo em que o Plano incentiva a reciclagem, ele prioriza também os incineradores com re-cuperação de energia, definindo-os em lei como gestão sustentável.

“O lixo é responsabilidade de todos, devendo ser

compartilhada por um Estado atuante,

articulado com a sociedade participante

e um cidadão consciente”

Gabriel Arcanjo Nogueira

neo mondo - setembro/outubro 2012 17

Waldman vai direto ao ponto: “repensar o lixo e seus atributos é indispensável...

com nova visão de mundo”

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Neo Mondo - Outubro 200818

“sabemos que a incineração queima o que poderia ser reciclado. Grande parte dos plásticos pode ser reciclada cinco ou seis vezes, poupando recursos naturais, garantindo o trabalho para os catadores e sustentando o parque industrial recicla-dor. então, mais correto seria reciclar e não incinerar. a convivência de sistemáti-cas tão contrastantes no Plano demonstra, portanto, certa inconsistência nas suas di-retrizes. e, finalizando, o Plano não desta-ca o repensar do consumo e da produção, como seria pertinente a um modelo con-temporâneo de gestão dos resíduos”.

Waldman esclarece que normalmente muita literatura sobre o meio ambiente usa os erres de repensar, reduzir, reutilizar e reciclar exclusivamente para o lixo, para em seguida ressalvar: “É é absolutamente correto utilizar essa sequência para a água e a energia. Por exemplo, a água que bebe-mos é reciclada. aparelhos mais eficientes reduzem o uso de energia e assim por dian-te. Quanto à aplicação dos erres, eles são sequenciais, correspondendo a uma ordem de prioridades. Primeiramente devemos repensar; depois reduzir; aparecendo o re-síduo, tentar reutilizar e, só depois, quando não há outra alternativa, reciclar o rejeito”.

o especialista frisa que a reciclagem não está dando conta da geração de lixo. e cita o Japão como exemplo clássico, por ser um país em que houve um aumento de 30% na reciclagem do Pet, mas ao mesmo tempo a produção desse plástico lá dobrou. “É necessário repensar o estilo de vida, como diminuir o consumo, como reduzir a geração de resíduos. e isso começa com maior conscientização sobre a expansão do

consumo. Por fim, não podemos esquecer que você não pode reciclar eternamente nenhum material. temos limitações tecno-lógicas bem objetivas. Portanto, é o sistema como um todo que tem que ser revisto“.

“Acertando na cesta”a parte 3 do livro – “lixo: acertando

na cesta” - é primorosa, particularmente ao tratar dos Mitos e Virtudes da Recicla-gem, não sem antes contextualizar o lixo no tempo e no espaço com sólido funda-mento técnico.

sem cair na chatice, Waldman ataca as mazelas contemporâneas, decorrentes de tantas outras porque “temáticas asso-ciadas com resíduos e seu gerenciamento perdem-se na noite dos tempos”, reco-nhece logo na abertura do livro. Dos pri-mórdios da humanidade até chegarmos às “mobilizações que agitaram a rio-92, o lixo ganhou destaque em documentos ambien-tais globais, caso da agenda 21” (ver “Para lembrar”). texto que, “endossado pela maioria dos países, adotou os 3 ‘r’ – re-dução, reutilização e reciclagem – como próceres na governança dos rs”.

com isso se pretenderia ampliar a vida útil dos materiais e mitigar os impactos pro-vocados no meio ambiente, registra o espe-cialista citando fontes categorizadas como o cempre e Fadini & Fadini. surgiram, po-rém, “muitas vozes” a “advogar a inclusão d´outros procedimentos iniciados com a le-tra ‘r’, reforçando um direcionamento mais claro quanto à problemática do estilo de vida, padrões de consumo e universo de va-lores. Por isso, se justificaria um elenco de 5 ‘r’: refletir, recusar, reduzir, reutilizar e

reciclar ou repensar, reduzir, reutilizar, reciclar e recusar e, de resto, uma sequên-cia com 7 ‘r’: respeito a si mesmo, respei-to ao próximo, responsabilidade, reduzir, reutilizar, reciclar, replanejar”.

mas por que não acrescentar a essa lista tantos outros erres, que surgiram em textos a partir de 2002? Waldman consi-dera que talvez os já conhecidos “aparente-mente fossem insuficientes. Deste modo é possível detectar na literatura voltada para os rejeitos 40 ou mais outros ‘r’ “.

Ampliação redundanteDepois de enumerá-los, na página 171

do livro, o professor-pesquisador ironiza: “como podemos observar, a abnegação em encontrar novos termos é tamanha que parece estar em curso um campeonato no qual o vencedor será aquele que conseguir adicionar mais um ‘r’ à listagem. manifes-tadamente, embora apresentados enquanto ‘evolução’ dos 3, 5 ou 7 ‘r’, tais ‘ampliações’ são de tal modo redundantes que poderiam ser consideradas pedagogicamente inope-rantes. indo direto ao ponto: que sentido existiria, por exemplo, em uma exposição de um professor em sala de aula a respeito de 40 ‘r’ de ações ambientalmente corre-tas? o mais provável é que os alunos o re-pudiem, reajam e responsabilizem o mestre em rever seu plano de aula...”.

com boa dose de humor, Waldman avalia: “sem dúvida alguma, raciocinar so-bre o que está em jogo seria bem melhor do que promover uma verdadeira congestão de ‘r’. o correto – sendo o eixo do debate o padrão civilizatório – seria presumir que apenas um ‘r’ adicional, o de repensar,

Especial - Lixo

A Agenda 21 é um documento elaborado sob os auspícios da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU. Adota como princípio central o desenvolvimento sustentável, tal como conceituado pelo Relatório Nosso Futuro Comum (CMMAD, 1988).

Em linhas gerais, a Agenda 21 estabelece a necessidade dos países refletirem a respeito das maneiras como todos os segmentos sociais podem cooperar para solucionar os problemas socioambientais.

Os trabalhos da Agenda 21 iniciaram em 23 de dezembro de 1989 com a aprovação, em assembleia extraordinária das Nações Unidas, da realização de conferência mundial, culminando com a aceitação, na Rio-92, de programa consensado por 179 nações.

A Agenda foi revisada e confirmada nas Conferencias Rio+5 (1997) e na Cúpula de Johanesburgo (2002).

Em 2000, com o apoio de 199 nações, a Agenda 21 incluiu as Metas de Desenvolvimento do Milênio, voltadas para erradicação da pobreza e da fome (Cf. ONU – Division For Sustainable Development – Agenda 21).

PARA LEMBRAR

Fonte: Waldman, Maurício

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Neo Mondo - Setembro 2008 A

bastaria para dar conta da discussão. mais ainda pelo fato de a palavra incluir ganhos conceituais ao apontar modelos alternati-vos de entendimento e gerenciamento dos rejeitos. Por isso mesmo, muitos textos de educação ambiental adotaram um bordão ‘reciclado’ formado por 4 ‘R’: repensar, re-duzir, reutilizar e reciclar. trata-se de um ‘quarteto’ que contempla, sem recair em tautologias, tanto o debate da alteração de hábitos visando a minimização dos refu-gos quanto o da otimização dos materiais”.

ainda no livro, o especialista faz ressal-vas que considera indispensáveis. como a de que “os passos sugeridos pelos 4 ‘r’ são obrigatoriamente hierárquicos. Pois bem: repensar prepondera sobre reduzir, reduzir é mais significativo do que reutilizar e reuti-lizar tem prioridade frente ao reciclar. nesta ordenação, cabendo a hegemonia ao repen-sar, a gestão dos rs deixa de se prender aos processos de mitigação dos rebutes e da recuperação de matérias-primas. Por tabela, aponta para uma releitura do padrão civiliza-tório, posicionamento que extrapola limita-ções encontradas no mundo da produção”.

não menos crucial, acrescenta, “tão importante quanto marcar uma linha de prioridades enunciada na compilação dos 4 ‘r’, temos seu alcance metodológico. embora muitos associem mecanicamen-te a programação dos ‘r’ ao lixo, importa sublinhar que o quarteto não se restringe aos rebotalhos. Ângulo pouco enfatizado, os 4 ‘r’ também se aplicam a dois outros temários de peso para o equacionamento da crise ecológica do mundo atual, a saber: o referente aos recursos hídricos e à matriz energética. esclarecendo: os processos de

purificação da água nada mais consistem do que sua reciclagem; dar outra finalidade aos objetos, ao invés de atirá-los nas lixei-ras, corresponde também a uma reutiliza-ção da água e da energia neles embutidas; a conservação da energia é outro modo de nos referirmos a um processo de redução do consumo; complementando: a tendên-cia que se observa em poupar materiais – como os presentes nas embalagens – nos remete à questão do repensar”.

exemplos que, para o sociólogo, an-tropólogo e geógrafo, “evidenciam por si mesmos a aplicabilidade dos 4 ‘r’ para as questões do lixo, da água e da energia”.

Input energéticoPerguntado sobre se incluiria entre

os erres o da reviravolta, no País – casos de valorizar o aproveitamento da energia solar e da eólica, por exemplo, em vez de insistir nas hidrelétricas –, Waldman pon-dera: “tudo o que produzimos de certo

modo, mais cedo ou mais tarde, se tornará um resíduo. mas podemos retardar o des-carte, diminuir e mitigar os impactos da geração de lixo. tudo que é produzido e consumido utiliza energia. Produtos ele-trointensivos, como o alumínio, solicitam considerável input energético. Para fabri-car uma única lata de alumínio, usamos tanta energia que com ela poderíamos manter uma lâmpada de 100 watts acesa por 3 horas e meia e uma tV por 3 horas!

“temos assim que insistir nas fontes de energia alternativas, o que implica em repensar nossa matriz energética. então que tipo de energia usaríamos? creio que em um país como o nosso, o grande dife-rencial está na energia solar. tecnicamen-te, o Brasil é o maior país solar do mundo. segundo o engenheiro Bautista Vidal, responsável pela criação do Proálcool, o Brasil recebe por dia energia solar equi-valente a 320 mil hidrelétricas de itaipu! todavia, na sequência, não é suficien-te produzir energia de uma forma mais ecologicamente correta. esse circuito se completa apenas quando optamos por materiais e processos que utilizam menor proporção de energia ou predispõem de maior perdurabilidade. nesse sentido, a latinha de alumínio também deve ser repensada. na realidade, não há embala-gem para líquido com um ciclo ambiental mais sustentável do que a garrafa de vidro retornável. Desse modo, podemos enten-der reviravolta como repensar. repensar os modelos de produção de energia, mas também os da sua utilização, com vistas a uma melhor performance ecológica e ge-ração de menos lixo”.

Muita matéria-prima

já foi desperdiçada e o acúmulo de lixo foi gigante, gerando

enorme passivo ambiental

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Neo Mondo - Outubro 200820

no r da reciclagem a situação brasi-leira nada fica a dever à de outros países na comparação do índice alcançado, de acordo com dados do compromisso em-presarial para reciclagem (cempre), que figura entre as instituições mais citadas por Waldman.

num dos rodapés do livro, seu au-tor lembra que o cempre existe desde 1992, fundado por 14 empresas priva-das, e é considerado o principal fórum multissetorial do gênero no Brasil. atua com base em três pontos centrais: pro-mover o conceito de Gerenciamento integrado do resíduo sólido municipal, incentivar a reciclagem pós-consumo e difundir a educação ambiental com foco na teoria dos 3 “r”.

Waldman ressalta aspectos relevan-tes da reciclagem pelos seus vínculos com a conservação da natureza, por represen-tar momento de tomada de consciência ecológica, ao lado dos ganhos socioeco-nômicos que acarreta.

o que pode ser facilmente percebido pelo que acontece em alguns segmentos, a começar pelo de papel de escritório.

46% do papel que circulou no País em 2009 retornou à produção pela reci-clagem, índice que corresponde a aproxi-madamente 642.300 mil toneladas de papel de escritório.

o cempre esclarece que no Brasil existem 22 categorias de aparas – o nome genérico dado aos resíduos de papel, in-dustriais ou domésticos – classificados pelo instituto de Pesquisas tecnológicas de são Paulo e pela associação nacional dos Fabricantes de Papel e celulose. as aparas mais nobres são as “brancas de primeira”, que não têm impressão ou qualquer tipo de revestimento. as aparas mistas são formadas pela mistura de vári-os tipos de papéis.

a intensidade do processo de re-ciclagem de papel é acentuadamente diferente, de acordo com as regiões bra-sileiras onde se realiza. nas regiões sul e sudeste, onde se concentram as prin-cipais indústrias do País, as taxas de re-cuperação são altas, em são Paulo a taxa foi de 36%; minas Gerais – 12,3%; rio de Janeiro – 5,2%; santa catarina – 20,2%; Paraná – 12,9%; rio Grande do sul – 3,5% e os demais estados 10%.

Já quando se trata de papel ondulado, o cempre aponta:

80% do volume total consumido no Brasil em 2009 foi reciclado, sem que houvesse mudança no índice.

“historicamente o setor de papelão ondulado no Brasil tem apresentado taxas de reciclagem altas e sempre em ascensão.

em 1992 essa taxa era de 68,2%, saltou para 71,6% em 1997, passou para 77,3% em 2002, atingiu seu melhor índice em 2004 – 79%, em 2005 e 2006 recuou para 77,4%, em 2006 foram 77% , 2007, 79,5% e em 2008 79,6%”, relata o cempre.

isto se deve ao fato de que neste ano o Brasil aumentou significativamente suas exportações de produtos industrializados, como carne, frango, frutas, calçados, mó-veis, entre outros. Produtos que foram embalados em papelão ondulado produzi-do no Brasil que acabaram gerando recicla-gem no exterior. são as chamadas expor-tações indiretas de papelão ondulado.

no mercado americano, as caixas on-duladas têm 21% de sua composição prove-niente de papel reciclado. muitas caixas têm coloração marrom em suas camadas. algu-mas, contudo, usam uma camada branca, conhecida como mottled white, composta por papel branco de escritório reciclado.

a reciclagem de plásticos no Brasil atingiu, há dois anos, índice superior ao da europeia.

21,2% dos plásticos foram reciclados em 2009, representando aproximadamen-te 556 mil toneladas por ano. a taxa de reciclagem de plásticos na europa é de 18,3 %, sendo que em alguns países a prá-tica é impositiva e regulada por legislações complexas e custosas para a população

A natureza agradece e os ganhos socioeconômicos aparecem

Especial - Lixo

20 neo mondo - setembro/outubro 2012

A reciclagem brasileira dos vários tipos de embalagens de plástico, em torno de 20%, deixa a desejar na visão de Waldman

cempre cempre

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local, diferentemente do Brasil, onde a reciclagem acontece de forma espontânea.

o cempre lembra detalhes importan-tes de cada tipo de plástico encontrado no mercado brasileiro. Plástico filme é uma pe-lícula plástica normalmente usada como sa-colas de supermercados, sacos de lixo, em-balagens de leite, lonas agrícolas e proteção de alimentos na geladeira ou micro-ondas. o material constitui 42,5% das embalagens plásticas em geral nos estados unidos.

nos eua, 51% dos pacotes e sacos, usados para embrulhar e embalar produ-tos, são compostos por plástico. cerca de 44% é papel e 4% é folha de alumínio.

a resina de polietileno de baixa den-sidade (PeBD) e a de polipropileno (PP) são as mais usadas no Brasil, correspondendo cada uma a 23% dos polímeros consumi-dos no mercado brasileiro de plástico.

leve, resistente e prático, o plástico rí-gido é o material que compõe cerca de 77% das embalagens plásticas no Brasil, como garrafas de refrigerantes, recipientes para produtos de limpeza e higiene e potes de ali-mentos. É também matéria-prima básica de bombonas, fibras têxteis, tubos e conexões, calçados, eletrodomésticos, além de baldes, utensílios domésticos e outros produtos. o plástico rígido pode ser reprocessado, geran-do novos artefatos plásticos e energia.

Patamar razoávelWaldman mostra-se mais cauteloso

que o jornalista. “não concordo com a

afirmação de que o país tenha chegado em posição muito significativa quanto à reciclagem ou que estejamos próximos de algum limite para a iniciativa recicladora. na realidade, o país está distante de um patamar razoável no segmento. temos alguns setores que se destacam, como o caso específico das garrafas Pet, com 53% de aproveitamento (cempre, 2007). mas para os plásticos em geral o índice fica em torno dos 20%. outro dado positivo seria o das latas de alumínio, com recupe-ração em torno de 96%, um recorde mun-dial (cempre, 2008). na média geral da recuperação dos materiais descartados, porém, chegamos aos módicos 13%”, diz.

ele lembra que o quadro em outros paí-ses é bem diferente. entre outros, a alema-nha recicla 48%; Bélgica 35%; suécia 35%; os Países Baixos e irlanda, 32%; os eua, considerados nação perdulária em recursos naturais, reciclam 31% do seu lixo.

o professor-pesquisador acrescenta: “não adianta analisar pontualmente. Pre-cisamos avaliar o montante geral de resí-duos e o histórico da atividade recicladora. hoje, reciclamos 13% do lixo nacional, e em 1999 reciclávamos 4%. isso deixa claro que crescemos, mas com avanços recentes que poderiam ser aprimorados. além dis-so, apesar de sermos um grande gerador de lixo, mesmo assim importamos, por exemplo, sucata de Pet. isso porque, com promessas de apoio governamental, várias indústrias de reciclagem de transformação do Pet em fibra têxtil foram abertas. to-

davia, por incrível que pareça, ‘falta’ ma-téria-prima. no caso, devido à carência de logística de captação da sucata, que seria a lição de casa das administrações. Dito de outro modo: há muito Pet descartado inadequadamente, flutuando nos rios e represas, mas que poderiam estar gerando renda, trabalho e menos estorvos como enchentes e inundações. o mais preocu-pante é a importação de lixo estrangeiro, que acaba abrindo brechas para ocorrên-cias muito graves, como o caso recente do lixo hospitalar norte-americano que aca-bou vindo parar aqui no Brasil”.

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Livro foi finalista do Prêmio Jabuti 2011

No montante geral, reciclamos só 13% do lixo nacional

País tem recorde mundial na reciclagem de latinhas de alumínio (mais de 90%), mas na produção delas se consome muita energia

cempre

reprodução

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sujeira para todo lado

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Especial - Lixo

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Montanhas de lixo se acumulam nas ruas indianas, atrapalhando as pessoas e causando doenças

Bruno Molinero (texto e fotos), da Índia,Especial para NEO MONDO

C om um lenço vermelho em volta da cabeça, a mulher abre a janela do segundo andar. o sobrado fica em

uma rua pequena, mas bastante movimen-tada. turistas caminham em direção ao pa-lácio da cidade, vacas ruminam lentamente e motos rasgam o vento buzinando. a mu-lher olha tudo isso com desinteresse e, sa-cando um balde de dentro da casa, despeja todo seu lixo pela janela. uma embalagem de xampu, duas garrafas de um uísque lo-cal, alguns pedaços de pano, uma embala-gem de incenso, três embalagens de isopor utilizadas para armazenar comida, cinco embalagens de salgadinho e um incontável material orgânico agora dividem espaço na rua com pessoas, motos e vacas.

essa cena, que aconteceu na cidade de Jodhpur, na Índia, é comum também nas outras cidades do país. inclusive em nova Délhi, a capital, com mais de 16 milhões de pessoas descartando lixo em vias públicas. o material se acumula de tal forma que impossibilita a passagem de pedestres e automóveis. Periodicamente, o governo até recolhe o lixo descartado. mas a quantida-de é tão grande que é impossível dar conta.

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“Por que você fica guardando essas garra-fas vazias?”, perguntou-me Krishna Deol, 51, ao ver que eu não jogava as garrafas vazias de água pela janela. Quando soube que eu as guardava para descartá-las em uma lixeira qualquer, ele se assombrou. “mas por que, se você pode jogá-la aqui, na rua mesmo?” Krishna é motorista há mais de 20 anos. e, desde que começou, cigarros, embalagens, sacos plásticos e todo o tipo de material que perdeu a utilidade voa da janela de seu carro.

o efeito desse comportamento é a proliferação de insetos e de doenças, prin-cipalmente entre crianças. somado à fal-ta de saneamento básico – estima-se que apenas 58% da população urbana da Índia tenha acesso a saneamento, e que cerca de 50% das pessoas tenham que fazer suas necessidades fora de casa por não possu-írem um banheiro – esses dados preocu-pam as organizações internacionais.

segundo o Banco mundial, a falta de instalações sanitárias e a falta de higiene custam ao país quase r$ 100 bilhões ao ano. o dado leva em conta o tratamento aos doentes, as mortes prematuras e até o turismo perdido por conta disso. todos

os anos, por exemplo, ocorrem cerca de 575 milhões de casos de diarreia na Índia. Destes, 450 mil levam o paciente à morte.

nas cidades do interior, as pessoas saem de suas casas para defecar ao ar livre. Pelas estradas, é comum ver um ônibus parado e cinco pessoas defecando em fila à beira da rodovia. nas grandes cidades, existem ba-nheiros públicos de onde sai um líquido mal-cheiroso que se espalha pelas ruas próximas. Quando encontra um apanhado de lixo, se mistura ao chorume e forma poças que as pessoas são obrigadas a pular. isso sem falar nos excrementos de vacas e de todo animal que habita a rua indiana. caminhar significa não voltar com os sapatos limpos.

todo esse material espalhado pelas ruas tem dois destinos: ele forma um pó amarelo que toma a cidade e gruda na pele ou acaba nos rios do país. o mais famoso deles, o rio Ganges, já é considerado impróprio para o banho em muitas partes. além do lixo natu-ral que as pessoas jogam, sua água é utiliza-da para lavar roupas e lençóis, para despejar as cinzas dos mortos, para lavar a louça de restaurantes, para banhar-se e também para rituais religiosos.

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na cidade de haridwar, perto do himalaia indiano, milhares de indianos se banham num Ganges de água suja. a cida-de está apenas a 200 km da nascente, mas já é possível ver plásticos e diversos ma-teriais descendo a correnteza. na cidade sagrada de Varanasi, por exemplo, a água do Ganges está tão poluída por lixo e es-goto que apenas os indianos têm coragem de entrar no rio. os turistas o olham como se estivessem vendo um córrego poluído.

“eu não sei como eles vivem assim. não sei por que não fazem nada para mu-dar essa situação”, questiona-se Pier Geu-na, 25, turista italiano que pulava o lixo acumulado enquanto visitava Jodhpur. Para Krishna, no entanto, a situação é nor-mal. “É claro que o lixo pode transmitir doenças. mas a Índia tem vários outros problemas com que se preocupar. Fale a verdade: não há tanto lixo na rua, né?”

caminhando pela cidade de udaipur, a cerca de 660 km de nova Délhi, é nor-mal encontrar vacas comendo montanhas de lixo estrategicamente colocadas em pe-quenas vielas para não atrapalhar as vias principais. o caminho entre o lago sagra-do da cidade e o templo principal pode ser feito por uma dessas ruazinhas. Depois de passar pela sujeira, desviar de vacas e rezar para que nenhum morador jogue um balde de lixo na sua cabeça, chega-se à parede do templo. lá de dentro, é possível escu-tar mantras sendo entoados com toda sua beleza. nessa hora, todos os problemas desaparecem. a Índia é como uma flor de lótus: linda e perfumada, mas que nasce de uma água lodosa.

Especial - Lixo

Lixo acumulado nas ruas de Jhodpur, no oeste indiano

Rio tomado por lixo, no Himalaia indiano

Crianças brincam perto do lixo

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O acre e sua capital, rio Branco, não ficam exatamente ali na es-quina. continuam longe à beça

do sul maravilha, mesmo com as passa-gens aéreas mais em conta.

os seringais nova Vida, Floresta e nazaré, na reserva chico mendes, ficam mais longe ainda. Ficam exatamente onde o Judas perdeu as botas, se é que alguém sabe onde ele as perdeu.

Meio Ambiente

Gle

ilson

mir

anda

- se

com

a simples imaginação de um local onde não existam luz elétrica, geladeira, Play station ii ou televisão é muito com-plicada para nossos cérebros paulistas, ca-riocas ou sulistas, de modo geral.

assim, fica também difícil imaginar que alguém, já na segunda década do sé-culo XXi, ainda continue vivendo sem essas “benesses” enquanto outras pessoas gastam paciência e cerebelo em pesquisas

neo mondo - setembro/outubro 2012 25

para inventar maneiras de levar energia elétrica a locais tão extremos.

Com vocês, o BMGlux

e é justamente a esse tipo de “pas-satempo” que se dedicou uma equipe da Fundação de tecnologia do acre (Funtac) tendo essa equipe chegado a uma solução tão simples quanto as comunidades a que eles se dedicam em seus estudos.

O FANtÁstICOO FOGÃO QUE MOSTRA

Produto totalmente nacional é, ao lado da placa solar, o grande instrumento de inclusão elétrica dos isolados no Acre

Antonio Marmo

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Meio Ambiente

o grupo de pesquisas do centro de referência de Fontes de energia alter-nativa da Funtac, chefiado por nadma Kunrath, aliado a engenheiros mineiros, concluiu que um simples fogão a lenha, desses que muitos de nós no sul mara-vilha já nem sabemos o que é, pode – e gerou – luz elétrica, energia para tV e o radinho em comunidades onde, desde ganhar a vida até enterrar seus mortos, o dia a dia sempre foi moldado pela ab-soluta carência de tudo.

Pois não se busca tirar energia do gelo do alasca, pela exploração dos hidratos de gás da região? como não gerar luz e força – light & Power – da lenha que apodrece ao redor das casas dos seringueiros?

o trabalho, as pesquisas foram con-cluídos em 2010, segundo nadma Kun-rath tendo o governo do acre deixado a continuidade dos trabalhos por conta da empresa mineira energer - Geradores de energia renovável ltda., dirigida pelo engenheiro ronaldo sato, do grupo BmG, com sede em sabará.

mas nas casas de famílias isoladas da reserva chico mendes já estão instala-dos 27 fogões-pilotos hoje rebatizados de BmGlux.

Três lâmpadas e a TV

Pois os fogões BmGlux são capazes de cozinhar (ou assar) a paca e a cutia de cada dia e, ao mesmo tempo, gerar energia suficiente para acender três lâmpadas e li-

gar uma televisão no Fantástico dominical ou outro equipamento de baixo consumo, como um rádio, por exemplo.

material divulgado pela Funtac se dá ao trabalho de explicar que as fon-tes de energia podem ser classificadas em primárias, secundárias, renováveis e não-renováveis.

as fontes primárias são aquelas cujos combustíveis são substâncias naturais, como o petróleo, o carvão mineral, o gás natural e a lenha. as fontes secundárias são aquelas que trabalham com combus-tíveis derivados de outros combustíveis, como o óleo diesel e a gasolina (derivados do petróleo).

nesse caso, na mesma queima de ma-deira – fonte primaríssima – utilizada para o preparo dos alimentos, o fogão produz energia. o bagaço de cana e o álcool, fon-tes renováveis, não fazem a mesma coisa aqui por baixo?

Famílias isoladas

no acre levam-se em conta as condi-ções já descritas na abertura da matéria. tudo é longe à beça mas há vários estu-dos em andamento para geração de ener-gia: o painel solar, o BmGlux, a biomassa, o biodiesel e as pequenas centrais hidre-létricas (Pchs).

até agora, os dois primeiros apre-sentaram o melhor resultado e a mais positiva relação custo/benefício para atender famílias isoladas. o BmGlux é

também mais ambientalmente correto do que os fogões tradicionais. ele econo-miza até 50% da lenha empregada, além de reter toda a fuligem no próprio fogão.

os pesquisadores aconselham os se-ringueiros a não abandonarem os fogões tradicionais para não gerar problemas de adaptação. as famílias beneficiadas são em geral vinculadas ao projeto de extra-ção de látex ou borracha para uma fábri-ca de preservativos de Xapuri.

os fogões pioneiros foram levados em caminhões até a colocação rio Branco, no seringal Floresta. uma colocação é como se fosse uma sede de comunidade. Dali, seguiram conduzidos em camionetas até a entrada dos varadouros.

os varadouros são trilhas rasgadas na mata, por onde só se entra a pé. os fogões chegaram às residências carregados nas costas pelos trabalhadores do centro de referência de energia alternativa da Fun-tac, em caminhadas que duravam mais de hora mata adentro.

Peso do dito: perto de 70 quilos. De-vido ao peso, alguns foram transportados sem a caixa de madeira de 22 quilos.

Como funciona

na apresentação da empresa, o “BmGlux, é um fogão doméstico que faz uso de biomassa renovável (galhos secos e gravetos entre outros) para geração e acumulação de energia elétrica, enquanto realiza o cozimento diário de alimentos”.

neo mondo - setembro/outubro 201226

Devido a seu peso (cerca de 70 kg), o fogão é transportado nas costas fora da embalagem

O BMGlux não utiliza caldeira, e sua energia é armazenada em bateria comum de carro

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gar, o fogão é a solução. os beneficiados mostram-se satisfeitos.

Junto com a placa solar, que já aten-de a dezenas de famílias, o fogão chega aos isolados como o grande instrumento de inclusão elétrica no acre.

nos seringais ainda prevalece o velho querosene nas lamparinas ou, agora mais raramente, usa-se o sernambi ou sobra de látex, o leite de borracha que escorre das árvores de seringueira. isso fornece uma luz pálida, sendo pouco usado hoje.

a ideia do engenheiro-mecânico ro-naldo sato, de 58 anos conseguiu con-vencer o empresário Flávio Pentagna Guimarães, de 83, que decidiu desen-volvê-la na energer, empresa de energia renovável do Grupo mineiro BmG. tes-tado e provado pelo cepel, o laboratório de pesquisas e desenvolvimento da ele-trobras e também pelo instituto nacio-nal de tecnologia (int), se projeta uma produção inicial de 300 unidades/mês.

nos últimos anos o Grupo BmG prio-rizou o desenvolvimento de empresas e tecnologias ligadas ao desenvolvimento sustentado, dentre elas a geração de ener-gia renovável e o tratamento de água para consumo ou reúso.

com a fabricação em série e o licen-ciamento, os custos podem baixar. os primeiros protótipos foram subsidiados. o preço de fabricação está hoje em cerca de r$ 5.000. a geladeira e a tV não estão nesse preço, claro.

• O fogão produz energia para ligar três lâmpadas e uma TV ou rádio;

• Não há contato com a fuligem ocasionada pela queima da lenha. A inalação de fuligem é apontada pela Organização Mundial de Saúde como a 8ª causa de morte no Brasil. Lá se vai a fumaça pela chaminé, sem poluir o interior da casa;

• Há total aproveitamento do calor, o que não ocorre nos fo-gões a lenha tradicionais;

• Não produz fumaça;

• Consome 50% menos lenha;

• É ambientalmente correto.

Até há pouco tempo os engenheiros se concentravam em buscar ampliar a eficiência na geração de energia, por exemplo, para acender cinco lâmpadas em vez de apenas três.

Hoje, para um funcionamento diário do BMGlux por quatro horas, a energia elétrica gerada é de aproximadamente 456 watts/dia.

RESUMO DE VANTAGENS

o equipamento aproveita o calor desperdiçado em um fogão doméstico, transformando-o em energia térmica, mecânica e elétrica. a energia gerada é acumulada em bateria e permite acen-der lâmpadas, ligar uma televisão e um pequeno freezer, além de aparelhos de baixo consumo.

o equipamento foi projetado para ser utilizado com facilidade e absoluta segu-rança pela dona de casa.

o BmGlux não utiliza caldeira, o que reduziu riscos de acidentes além de sim-plificar a produção. o vapor gerado no tro-cador de calor é transformado em energia mecânica e, a seguir, elétrica.

a energia é armazenada em uma ba-teria comum de automóvel – cerca de 30% de sua carga é suficiente para a ilumina-ção da residência em um período de 4 a 5 horas. Para recarregar a bateria utiliza-se o calor produzido no fogão durante o cozi-mento diário de alimentos.

o kit é composto pelo fogão, baterias e chaminés, além de duas panelas e um bule. a Funtac investiu r$ 500 mil numa primeira fase do projeto, tendo já passado por várias outras fases até se chegar a uma quinta e definitiva em que o motor seria substituído por uma miniturbina mais si-lenciosa e mais leve.

Querosene ou sernambi

onde a rede convencional – tipo pro-grama luz para todos – não consegue che-

27 neo mondo - setembro/outubro 2012

O equipamento foi projetado para ser usado com facilidade e segurança pela mulher

Com a comida de cada dia pronta e quentinha, sobra energia para as lâmpadas e a TV

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28 neo mondo - setembro/outubro 2012

sUsteNtABILIDADe, O MINÉRIO MAIs PReCIOsO

Anglo American privilegia em parcerias o cuidado dos recursos naturais, a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento social das comunidades nas quais se insere

Gabriel Arcanjo Nogueira*

À s vezes fica a impressão de que, no País, muito se fala e pouco se faz para que a sustentabilidade se

firme de fato no mundo dos negócios. não é o que acontece com a anglo american, um dos maiores grupos de mineração do mundo, desde 1973 no Brasil, onde atua em quatro grandes frentes: minério de fer-ro, níquel, fosfato e nióbio.

o minas-rio é definido pelo grupo como o maior projeto de exploração de minério de ferro em desenvolvimento no mundo; suas operações com o níquel concentram-se em Barro alto e niquelândia, em Goiás; as de fosfato, mediante a copebrás, estão em dois municípios goianos: ouvidor e catalão, bem como em cubatão (sP); e o nióbio é explora-do pelo grupo em catalão e ouvidor (Go).

com sede no reino unido e ações negociadas nas bolsas de londres e Joa-nesburgo (África do sul), seus negócios abrangem commodities de alto volume em minério de ferro e manganês, carvão me-talúrgico e carvão térmico; metais básicos: cobre e níquel; metais e minerais precio-sos, nos quais é líder global em platina e diamantes, entre outros produtos.

no i Workshop de mineração para Jor-nalistas, em Belo horizonte, Paulo misk, gerente-geral de operações de nióbio (mineração catalão) da anglo american em catalão e ouvidor/Go, disse que, para o grupo, mais que esse notável elenco de negócios em si, “valem os seus altos pa-drões de segurança e responsabilidade em todos eles e nas localidades nas quais pro-move o desenvolvimento sustentável nas comunidades próximas a suas regiões de atuação”. nada mal para quem desenvol-ve operações e projetos de mineração na África do sul, américa do sul, austrália, américa do norte e Ásia.

Força das parceriasa anglo american avalia que um de

seus trunfos é privilegiar os trabalhos volun-tários que desenvolve com seus parceiros de ideias semelhantes seja nos setores privados seja nos públicos, bem como em onGs. o grupo observa: importa é atingir objetivos onde quer que suas operações estejam, espe-cialmente em países nos quais os benefícios do desenvolvimento ainda têm de chegar a algumas partes da sociedade.

sem descuidar, porém, da sua preocu-pação recorrente com os recursos naturais e a preservação do meio ambiente, áreas em que sobressaem as suas iniciativas para promover o desenvolvimento social das comunidades nas quais se insere.

algumas dessas parcerias:• o convênio com a reprolatina permite à

anglo american promover a conscienti-zação das pessoas em educação sexual e saúde reprodutiva, formando multiplica-dores do conhecimento para contribuir com a redução dos índices de Dsts, hiV/aids e gravidez na adolescência. são mais de 18 mil pessoas beneficiadas no ama-pá, Goiás, minas Gerais e são Paulo.

• com a onG agenda Pública a anglo american criou em Barro alto (Go) a escola de Governo e cidadania, com 20 cursos para servidores públicos e autori-dades. o que tem permitido a governan-tes mais bem capacitados pela escola de-senvolverem o potencial do município.

Ganhos ambientaisÉ no cuidado do meio ambiente que o

grupo traduz, de modo acentuado, a sua

* com informações de cDn comunicação corporativa

Meio Ambiente

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29 neo mondo - setembro/outubro 2012

Entendendo a dualidadePara a professora e consultora maria

José Gazzi salum, “recursos da biodiver-sidade são bens sem os quais é impossí-vel a sobrevivência humana e de outras espécies vivas”, de onde se pode avaliar a importância do setor de mineração, uma vez que “toda a história da civilização está assentada sob bases minerais: saúde, in-fraestrutura básica de saneamento, mora-dia, transporte e comunicação dependem de insumos minerais”.

maria José foi uma das palestran-tes no workshop, promovido pela anglo american, em agosto. ao falar sobre “mi-neração e Desenvolvimento sustentável”, acentuou que “não se trata de confrontar valores socioeconômicos com valores am-bientais porque ambos são importantes e apenas juntos conferem bases sustentá-veis ao desenvolvimento”.

com ampla vivência nas áreas docente, administrativa e de pesquisa nos setores de beneficiamento de minérios, desenvol-vimento sustentável na mineração e meio ambiente, não lhe falta autoridade para indicar caminhos para vencer os desafios: “conciliar os valores intangíveis dos ativos ambientais com os socioeconômicos é o grande desafio. essa é uma equação que deve ser equilibrada e cuja solução requer visão sistêmica, integrada da preservação ambiental associada à produção mineral”.

a demanda de recursos minerais é crescente, o que faz a especialista acon-selhar que se produza mais a partir de minérios mais pobres e mais complexos, com competitividade e menor impacto ambiental, associados a ganhos sociais, entre eles: inovações nos processos de produção; inovações na indústria de base mineral (parceria mineração e in-dústria da transformação mineral); bus-ca pelo rejeito zero; e investimentos so-ciais (construção do futuro sustentável das comunidades).

preocupação recorrente com a diminuição do consumo de recursos, a exemplo da água e da energia. o que é feito por meio de suas unidades de negócios. há núme-ros expressivos, entre eles:• na planta de níquel codemin, em ni-

quelândia (Go), 65% da energia vêm de fontes renováveis, como a biomassa ob-tida do cavaco de madeira proveniente de reflorestamento, e a hidreletricidade.

• o cavaco de madeira é também utiliza-do na planta de fosfato (copebrás). o grupo contabiliza, além dos ganhos di-retos obtidos com essa prática, a redu-ção da quantidade de carbono emitido na atmosfera.

• em sua unidade de negócios minério de Ferro Brasil o grupo também neutraliza as emissões de carbono com o plantio de árvores: mais de 170 mil plantadas na área da mina do Projeto minas-rio.

• em decorrência desse mesmo projeto cerca de r$ 1 milhão foram investidos na implantação de sete estações de trata-mento de água, beneficiando 5 mil pesso-as com água potável na região da usina de beneficiamento e do mineroduto.

• outros r$ 1,6 milhão são investidos na construção de aterro sanitário coletivo, que irá atender a 10 cidades mineiras e fluminenses nas quais o mineroduto do minas-rio está em construção.

• a unidade de negócios níquel, du-rante 2011, investiu mais de r$ 2,4 milhões em monitoramentos ambien-tais, que resultaram em prevenção e gestão ambiental, disposição de resí-duos, tratamento de emissões e custos de remediação.a anglo american ressalta que esse

conjunto de ações voltadas ao meio am-biente integra-se em um sistema de Ges-tão que, desde 2001, é certificado pela isso 14001 e hoje segue o “Padrão para Gestão ambiental” desenvolvido pelo pró-prio grupo.

Paulo Misk: “altos padrões de segurança e responsabilidade”

Jair campos

Jair campos

Atenção aos requisitos legaisa dimensão ambiental da atividade

mineradora, lembrou maria José, não pode ser ignorada pelas empresas devido ao seu “significativo impacto e, como tal, ela tem de cumprir com diversos requisitos legais, como: recuperação das áreas mineradas; lançamento de efluentes líquidos dentro dos padrões especificados em normas legais; dis-posição adequada de estéreis e rejeitos; sem esquecer de que há inúmeras tecnologias disponíveis para que a mineração cumpra os requisitos legais ambientais”. em suma, “independentemente do seu porte, (a ativi-dade) tem de ser bem feita”.

ronaldo Guimarães Divulgação

... adultos o grupo forma cidadãos e multiplicadores de boas práticas

Nas ações em parcerias de sustentabilidade para adolescentes e ...

Maria José defende equação equilibrada com visão sistêmica

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30 neo mondo - setembro/outubro 2012

A Anglo American informa ter no País o maior receptor mundial de seus aportes: cerca de US$ 14 bilhões desde 2007; e a peça-chave na estratégia glo-bal de crescimento de sua carteira de produtos e do volume de produção em 35% até 2014.

São três as suas unidades de negó-cio no Brasil: Níquel, Minério de Ferro Brasil e Outros Negócios de Mineração e Indústria (OMI), responsável pelas operações de nióbio, fosfato (Cope-brás) e pelo Sistema Amapá; mais a sua divisão de Exploração.

Dois dos quatro maiores investi-mentos mundiais do grupo nos últimos anos estão aqui: Barro Alto, em Goiás, que iniciou em 2011 a produção de fer-roníquel, e o Minas-Rio, que se encon-tra em fase de obras, em Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Novos processos e tecnologias Duas plantas industriais compõem

a sua unidade Níquel, ambas em Goiás. Uma delas, a Codemin, produziu

seu primeiro metal em 1982, e sua operação estimulou o desenvolvimen-to local de Niquelândia, no interior do estado; são 475 empregados diretos nessa empresa, conhecida como “es-cola de ferroníquel”, atesta o grupo.

A Anglo American ressalta que além da capacitação de empregados recém-chegados à companhia, na unidade são testados novos processos e tecnologias, tanto para otimização de procedimentos quanto para redução do uso de recursos naturais. Toda essa experiência é com-partilhada com a unidade em Barro Alto (GO) e em Loma de Níquel, na Venezuela.

Na planta industrial de Barro Alto, inaugurada em 2011, são 800 emprega-dos diretos e investimento no projeto, até o início das operações, de US$ 1,9 bilhão. A expectativa é chegar a 36 mil toneladas/ano de ferroníquel produzi-do e, quando estiver a plena capacida-de, essa empresa mais que dobrará a produção de ferroníquel do grupo.

A unidade Minério de Ferro Brasil é composta pelo projeto Minas-Rio, em fase de implantação e previsão para operar no segundo semestre de 2014. A capacidade inicial prevista é de 26,5 milhões de toneladas/ano.

O empreendimento inclui mina e unidade de beneficiamento em Con-ceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas (MG); o maior mineroduto do mundo, com 525 km de extensão por 32 municípios mineiros e fluminenses; e o terminal de minério de ferro do Porto de Açu, em São João da Barra (RJ).

40 anos de Brasil

O grupo estima que serão criados 1.200 empregos diretos e 3.500 indi-retos na fase inicial de operação do projeto, no qual trabalham hoje 12 mil pessoas.

A unidade Outros Negócios de Mi-neração e Indústria é formada no Brasil pela Copebrás (Fosfato), fundada em 1955, pela Mineração Catalão (Nióbio), em operação desde 1976, e pelo Siste-ma Amapá (minério de ferro).

A localização da Copebrás, uma das maiores produtoras de fertilizan-tes nacionais, é estratégica por estar no coração da região agrícola brasi-leira, em Catalão e Ouvidor (GO), e próxima ao Porto de Santos, em Cuba-tão (SP). A Mineração Catalão, por sua vez, é uma das três maiores pro-dutoras de nióbio, que entre outras propriedades colabora para reduzir emissões de CO2 ao permitir a produ-ção de veículos mais leves e de menor consumo de combustível. Já o Sistema de Minério de Ferro Amapá, com iní-cio de produção em 2007, está numa área de recursos geológicos estima-dos em 200 milhões de toneladas, o que representa 15 anos de operação. Seus níveis de produção, em processo de evolução, chegaram em 2011 a 4,8 milhões de toneladas.

Meio Ambiente

Em Barro Alto (GO), a Anglo American iniciou em 2011 um de seus quatro maiores investimentos mundiais

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neo mondo - setembro/outubro 2012 31

C elebrou-se em 2011 o ano inter-nacional das Florestas, conforme decisão da onu, mas a devasta-

ção das matas ainda continua, a natureza continua a ser destruída. em 2012 reali-zou-se a conferência para o Desenvolvi-mento sustentável da onu, a rio + 20, na cidade do rio de Janeiro. no período de 4 a 6 de junho de 2012 várias delega-ções vindas de todos os países do mun-do debateram no riocentro as propostas para um mundo sustentável.

em 1992 tivemos a eco 92 e muitas das pautas discutidas e aprovadas estão aguardando implementação; depois de 20 anos o debate avançou, mas há um longo caminhar pela frente.

Podemos citar, por exemplo, o proto-colo de Quioto que foi executado somen-te pelos países europeus, pois os estados unidos não ratificaram o que foi acorda-do no Japão.

a pergunta que se deve formular diz respeito ao nosso posicionamento frente às questões ambientais: o que realmente estamos realizando enquanto cidadãos deste país? o que o poder público tem fei-to com relação a esta temática?

nós, moradores do aBcD, paulistas vemos, diariamente,como pequenas coisas poderiam – e deveriam – ser implementa-das em nossas cidades e não o são.

no que se refere à coleta de lixo, seria uma questão bem próxima do cotidiano

Professora doutora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade

de São Paulo, socióloga pela FFLCH\USP, mestre pela Universidade

de Uppsala, Suécia, e Professora convidada para ministrar aulas sobre Cultura Brasileira na Universidade de

Estudos Estrangeiros, no Japão, em Kyoto.E-mail: [email protected]

de cada um de nós; bem simples separar o lixo que será destruído daquele outro que pode se reciclado (papel, papelão, plástico, vidro, metais), isso é feito em minha casa. mas, no momento de colocá-lo fora, temos que levar a algum supermercado pois a co-leta nÃo é seletiva; felizmente existem postos de entrega voluntária (PeV) em locais estratégicos que ajudam na opera-ção da coleta seletiva em locais públicos. a mobilização da sociedade, a partir das campanhas, pode estimular iniciativas em conjuntos habitacionais, shopping centers e edifícios comerciais e públicos. e aumen-tar a educação ambiental nas escolas de todos os níveis.

mas, na minha rua, o caminhão reco-lhe tudo e inicia ali mesmo a ação de elimi-nação de todos os resíduos, mesmo que a maioria deles seja reaproveitável.

na área artística tivemos em 2010 um exemplo que nos faz refletir sobre as pos-sibilidades de uso dos resíduos. o artista Vik muniz realizou o documentário lixo extraordinário que foi acompanhado de um projeto social com catadores do lixão de Gra-macho, em Duque de caxias, rio de Janeiro, considerado o maior da américa latina.

essa produção teve até indicação para premiação do oscar da academia de hollywood e projetou internacionalmente o seu idealizador, conhecido por produzir fotografias que reproduzem imagens ar-tísticas (mona lisa de leonardo da Vinci:

uma feita com geleia e outra com manteiga de amendoim). também recriou a Última ceia usando açúcar, fios, arame e xarope de chocolate.

outros exemplos de seu trabalho fo-ram vistos recentemente na tV na aber-tura da novela Passione. o documentário lixo extraordinário esteve em cartaz em 2011 nas cidades de são Paulo, rio de Ja-neiro, Belo horizonte e salvador, tendo tido uma trajetória de sucesso em diver-sos festivais internacionais e nacionais dos quais participou.

isso nos leva a concluir que nem todo resíduo produzido por nós deva ser des-truído, podemos e devemos reaproveitar muito que atualmente está sendo jogado fora, basta termos um olhar diferenciado e percebermos o que se pode fazer com tais resíduos. são exemplos de lixo reciclável os resíduos constituídos de vidro, plástico, papel, papelão, ferro, aço e alumínio que não devem pois serem misturados aos ou-tros resíduos.

a primeira cidade a efetivar essas ações de coleta seletiva do lixo foi niterói no es-tado do rio de Janeiro, em 1985, no bairro de são Francisco. a experiência foi fruto de uma parceria entre o centro comunitário de são Francisco (ccsF), a associação de moradores local e a universidade Federal Fluminense (uFF). no início contou tam-bém com técnicos da Feema (Fundação estadual de engenharia do meio ambiente - rJ) e da comlurb (companhia municipal de limpeza urbana - rio de Janeiro).

Belo exemplo a ser seguido!

Dilma de Melo Silva

Longo caminho a percorrer em busca da SUSTENTABILIDADE

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38 neo mondo - Julho/agosto 2012

Não se trata de ecologia militante, mas de necessidade coletiva; ou seja,“não é uma tendência, uma moda, mas um valor fundamental”

Camila Turriani Bertoldo, de Viareggio (Itália),Especial para NEO MONDO

A sUsteNtABILIDADe como PARADIgMA

A sustentabilidade é o novo para-digma da sociedade e não deveria mais ser encarada apenas como

uma alternativa politico-econômica ou um luxo para poucos. mas, sim, ditar um

Meio Ambiente

novo modelo de vida, no qual cidadãos, empresas e governos fundamentem suas atitudes cotidianas. não se trata, por-tanto, de uma ecologia militante, mas de uma necessidade coletiva.

o conceito – do sociólogo, escritor e jornalista Francesco morace – é explicado pelo próprio na entrevista exclusiva para neo monDo, cujos tópicos principais estão a seguir.

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Neo Mondo - Setembro 2008 A

NEO MONDO - o senhor presta consulto-ria a empresas, designers e profissionais da criação em geral. Qual é a lição sobre a sustentabilidade?

Morace - a meu ver, empresas que não pensam em termos de sustentabilidade não terão a mínima possibilidade de sobre-viver no futuro próximo. ao mesmo tem-po, produtos ecológicos e sustentáveis cus-tam caro, e em um momento de crise esse fator é um problema. o que eu aconselho é adotar uma sensibilidade sustentável na vida cotidiana, mantendo a estética e a ca-pacidade criativa, mas tendo como ponto de partida o valor da sustentabilidade.Portanto, sugiro-lhes manter a criatividade, originalidade, inovação, mas não mais se-guindo a estrada do luxo, e sim conciliando esses elementos numa via ética e sustentável.isso é muito importante, porque mesmo as pessoas que não têm muita disponibilidade econômica fazem escolhas de qualidade; com-pram menos produtos, mas compram melhor.

NEO MONDO - Pode-se dizer que a susten-tabilidade é um princípio visto com bons olhos por uma pequena militância ecológi-ca, mas relativamente difícil de entrar nos atuais governos, nos quais outros valores acabam pesando mais? Morace - a ecologia militante nasce nos anos 1960/70 com uma forte conotação político-ideológica; era, portanto uma sen-sibilidade que pertencia ao progressismo mais forte, a uma esquerda mais radical. em muitos países (na itália ainda é assim), muitos confundem o movimento ecológi-co-militante com a sustentabilidade.a sustentabilidade é um valor apolítico, transversal, que interessa à qualidade da vida de todos nós, e não é de esquerda ou de direita; trata-se da nossa felicidade cotidiana.

NEO MONDO - Portanto a prática sustentá-vel é uma escolha pessoal? Morace - É um paradigma coletivo, uma escolha coletiva, exatamente como foi a higiene no final do século XiX. hoje não se fala mais no paradigma higiene porque está superconsolidado. a sustentabilidade

daqui a 20 anos será assim também. não se trata de uma escolha pessoal, mas de uma exigência coletiva, na qual cada um poderá escolher o seu estilo. NEO MONDO - ainda há uma certa relu-tância, conflitos de interesse que atrasam a implementação da sustentabilidade... Morace - É evidente que os governos e as instituições mundiais devam enfrentar esse tema deixando de lado a famosa con-tradição ideológica. como já disse antes, não se trata de direita ou esquerda parti-dária, trata-se, na verdade, de entender que quando existe um paradigma é neces-sário fazer as contas com ele. a alemanha e todos os países escandinavos estão mui-to avançados nessa direção. NEO MONDO - em tempo de crise, como o atual, isso é possível? Morace - a crise claramente evidencia a contradição do sistema - empresarial, indus-trial, financeiro - que até mesmo teve pro-blemas porque não soube ser sustentável e suficientemente equilibrado. a sustentabi-lidade significa escolher a via do equilíbrio; temos que ter sempre em mente a relação entre o homem e a natureza, como também a relação dos homens entre eles mesmos. o modelo econômico-financeiro tipicamente anglo-saxão, dos grandes bancos de inve-stimento, como a falida americana lehman Brothers, não é um modelo sustentável.a crise está demostrando que a sustenta-bilidade será o tema do futuro. e eu a vejo como um acelerador desses valores.

Temos que ter sempre em mente

a relação entre o homem e a natureza; a relação

dos homens entre eles mesmos

Francesco Morace é presidente do Future Concept Lab, instituto de pesquisa e consultoria estratégica, com sede em Milão e filial em São Paulo, aberta em 2011. Docente na Domus Academy e no Politecnico de Milano, realizou conferências, cursos e seminários em 25 países.

Autor de 20 ensaios, o último deles “I Paradigmi del Futuro. Lo scenario dei trend” (dezembro de 2011), disponível em inglês em versão digital (abril de 2012); e coautor do livro Consum-Autori: Le generazioni come imprese creative (dezembro de 2008), publicado no Brasil em 2009 com o título Consumo Autoral”, edição revisada e ampliada neste ano, Morace colabora regularmente com publicações nacionais e internacionais.

Com mais de 30 anos de trabalho no âmbito da pesquisa mercadológica e como presidente de um dos centros mais avançados em pesquisa de marketing e elaboração e previsão de tendências de consumo, Morace - em seus recentes estudos e conferências realizados em diversas partes do globo, entre elas o Brasil - acentua a importância da sustentabilidade em todos os setores de atividade. “É preciso esclarecer que esta não é uma tendência, uma moda, mas um valor fundamental“, diz.

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34 neo mondo - setembro/outubro 2012

VeNtOs sOPRANDO CADA Vez MAIs FORteEnergia eólica já é a segunda mais barata do país, perdendo apenas para a hidrelétrica; investimentos na cadeia continuamRosane Araujo

E ntre 2004 e 2011, o investimento da indústria eólica em leilões rea-lizados no Brasil chegou a r$ 25

bilhões. o país já tem 2GW de capacida-de instalada e até o fim de 2016, a meta é inserir no sistema elétrico nacional 8,4 GW de potência eólica, o que significará 5,4% de participação na matriz elétrica brasileira, contra os atuais 1,5%. entretan-to, o País tem potencial para muito mais: 300GW, concentrados principalmente no nordeste e no sul. o número foi revisto recentemente pela aneel, já que no pri-meiro levantamento realizado sobre o as-sunto, em 2001, o potencial apontado era de 143GW.

“o cenário da eólica é bastante favo-rável em termos de perspectivas futuras porque, além de inserir essa fonte na ma-triz, nós trouxemos a cadeia produtiva, de suprimentos, como um todo”, afirmou à agência Brasil a presidente executiva da associação Brasileira de energia eólica (abeeólica), elbia melo. De 2008 a 2011, o número de fabricantes de equipamen-tos no país passou de dois para 11.

os investimentos realizados na últi-ma década tornaram este tipo de energia a segunda modalidade mais barata, per-

dendo somente para a hidrétrica. segun-do a presidente, os avanços tecnológicos realizados na insdútria explicam a grande competitividade apresentada pela fonte eólica. as torres para produção de energia a partir dos ventos, que tinham 50 metros de altura até 2009, hoje têm 100 metros, o que melhorou a captação do vento e a produtividade, tornando os custos de pro-dução mais baratos.

e, ao que tudo indica, o status de se-gunda energia mais barata dificilmente será ameaçado. a expectativa é que mais r$ 40 bilhões sejam investidos neste setor até 2020. essa nova fase da energia eólica, iniciada em 2009, totaliza a contratação de 6,7 gigawatts (GW) de potência, ao preço de r$ 100 por megawatt/hora (mWh).

Falta de transmissão impede funcionamento de 32 parques

apesar dos investimentos na expan-são da energia eólica, o setor ainda en-frenta limitações na infraestrutura para funcionar em plena capacidade. segundo reportagem do jornal o estado de s. Paulo, dos 71 parques eólicos leiloados em 2009, 32 não estão funcionando por falta de li-nhas de transmissão.

Energia Limpa

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Mais de R$ 1 trilhão serão investidos no setor de energia do país nos próximos dez anos, segundo estimativa da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). A maior parte desse montante será direcionada para o setor de óleo e gás, mas os derivados de cana-de-açúcar e a energia eólica também devem receber parte deste investimento.

VeNtOs sOPRANDO CADA Vez MAIs FORte

35 neo mondo - setembro/outubro 2012

a companhia hidrelétrica do são Francisco (chesf), do grupo eletrobrás, é a responsável pelo fornecimento das linhas de transmissão, mas está atrasada e, em alguns casos, sequer deu início às obras.

o atraso tem gerado situações embaraço-sas, como a que ocorreu no complexo eólico na região de caetité, no sudoeste da Bahia, e que foi relatada por o estado. a cerimônia de inauguração do complexo, o maior da améri-ca latina, aconteceu no dia 9 de julho e con-tou com políticos e moradores da região, mas apesar de os 184 geradores estarem prontos para entrar em funcionamento, não foi pos-sível gerar nenhum megawatt de energia, já que a chesf não iniciou as obras das linhas de transmissão, que deveriam estar prontas juntamente com o parque.

construído pela renova energia, empresa com participação da light e da cemig, o complexo alto sertão tem ca-pacidade de geração de 300 mW, energia suficiente para abastecer uma cidade como Brasília. ele custou r$ 1,2 bilhão e demo-rou 17 meses para ser concluído, mas não se sabe quando entrará em funcionamen-to, já que as obras das linhas de transmis-são não foram iniciadas.

apesar de não poderem produzir ener-gia, as geradoras poderão receber a receita fixa prevista nos contratos de concessão. Pelos cálculos da aneel, as 32 usinas têm receitas de r$ 370 milhões a receber.

enquanto as eólicas aguardam a solu-ção do caso para entrar em funcionamen-to, consumidores do nordeste veem suas contas de luz aumentando em virtude da seca. uma transferência de energia térmi-ca de 2,5 mil megawatts (mW) foi feita com o objetivo de complementar a energia gerada pelas hidrelétricas, que foi insufi-ciente para abastecer a região. “Qualquer

geração térmica complementar, seja por restrição elétrica ou razão energética, é paga como encargo de serviço do sistema e isso vai para a conta do consumidor”, explicou hermes chipp, diretor geral do operador nacional do sistema elétrico (ons). ele descartou, entretanto, qualquer possibilidade de falta de energia na região.

Crescimento atrai interesse de players do mercado internacional

em setembro, o diretor geral do ons realizou um almoço-palestra no rio de Janeiro, com empresários espanhóis. o encontro foi promovido pelo comitê de energia da câmara española de comercio em Brasil.

Durante o evento, o diretor apresen-tou uma expectativa de crescimento de 29% na geração de energia do País até 2016. com isso, as hidrelétricas, principal fonte da matriz energética brasileira, pas-sarão a representar 71,2% do total gerado, ao contrário dos 78,7% atuais.

enquanto a hídrica perderá espaço, se-gundo o diretor, a eólica é a modalidade que mais crescerá, chegando a representar 5,6% de toda a energia gerada. atualmen-te, ela representa 1,1%, ou seja, em apenas quatro anos, espera-se um salto de 509%.

o alto potencial de crescimento do se-tor parece ter despertado o interesse dos empresários espanhóis, que têm grande ex-petise na área uma vez que a espanha é um dos líderes mundiais em geração de energia eólica. ‘’a perspectiva em geral no Brasil é boa para as empresas espanholas que têm o conhecimento, o capital econômico e hu-mano e, como sabem que na europa não há dinheiro, buscam outros mercados’’, disse à agência efe néstor casado, presidente do comitê de energia da câmara espanhola.

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E nquanto o mercado de veículos mo-vidos a energia solar ainda engati-nha, com grandes fábricas apenas

iniciando seus testes (como é o caso da europeia smart, que apresenta em setem-bro no salão de Frankfurt, na alemanha, seu primeiro protótipo de carro movido 100% a energia elétrica), o cenário é bem diferente na Índia. na cidade de udaipur, a 680 km da capital nova Délhi, 14 protó-tipos de veículos movidos a energia solar podem ser vistos no the Vintage & classic car collection – uma espécie de museu do automóvel da cidade.

entre os veículos estão carros, motos, barcos e até rickshaws, típico meio de trans-porte indiano, também conhecido como tuk-tuk. todos são movidos a painéis sola-res e não utilizam combustível fóssil para se locomover. construídos ainda em 2003, os

primeiros exemplares foram vencedores de diversos prêmios nacionais e internacionais de sustentabilidade. mesmo estando expos-tos, nenhum deles nasceu para ficar parado em uma vitrine de museu. Quem visita udai-pur pode realmente andar em um desses ve-ículos e conhecer de perto a tecnologia.

“muitas pessoas vêm à Índia para se pu-rificar espiritualmente, mas não percebem que acabam impactando o meio ambiente no meio do processo. esse tipo de iniciativa faz muito sentido por aqui”, conta Gaëtan hivert, turista francês, enquanto navegava pelo lago Pichola em um dos barcos sola-res. segundo a eternal mewar, instituição que desenvolve os protótipos e a tecnolo-gia, os barcos normais “são barulhentos e despejam materiais tóxicos que contribuem para a poluição da água.” o objetivo então é transformar esses barcos velhos, verdadei-

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ros agentes poluidores, em uma alternativa de energia limpa a partir da implantação de células de energia fotovoltaica. Depois da transformação e adaptação, eles deixariam de utilizar combustível fóssil e passariam a ser movidos exclusivamente com a ajuda do sol.

mas quem está por trás da iniciativa? na verdade, todo o investimento é feito pela an-tiga família real de udaipur. após a indepen-dência da Índia, e a transformação do país em uma república, as diversas famílias reais viram seu poder político simplesmente desa-parecer. contudo, seus membros continua-vam na lista das pessoas mais ricas. assim, a dinastia mewar, que tinha seu centro do po-der em udaipur, decidiu investir seu capital na criação da instituição eternal mewar, que desenvolve projetos nas áreas de cultura, turismo, educação e, claro, meio ambiente.

Energia Limpa

Udaipur, na Índia, desenvolve protótipos de carros movidos a energia solar desde 2003

Bruno Molinero, da Índia,Especial para NEO MONDO

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um desses projetos foi a criação da mewar solar cell, em 2003, célula foto-voltaica utilizada em todos os protótipos de veículos. o resultado deu tão certo que, já em abril daquele ano, 21 partici-pantes fizeram parte de um rally pelas rodovias de udaipur com veículos mo-vidos exclusivamente por energia solar. em 2004, 33 corredores participaram da segunda edição, completando 1.200 km a aproximadamente 20 a 25 km/h.

Longe da escala industrialmesmo com o sucesso da iniciativa,

essa tecnologia está longe de ser comer-cializada em escala industrial. Grandes fábricas internacionais de automóveis, e até mesmo a gigante indiana tata, não demonstraram interesse em inves-tir nas células.

com isso carros como o tuk-tuk “udai-pur solar nº1”, que tem capacidade de levar até 4 pessoas, saem raramente da garagem. com boa luz solar, esse automó-vel é capaz de ultrapassar os 20 km/h sem qualquer prejuízo ao meio ambiente.

se essa velocidade parece muito pe-quena e insuficiente para angariar inves-timentos, a motocicleta “udaipur solar nº 6” chega a atingir 60 km/h. construída nos eua com a tecnologia indiana, ela funcio-na com baterias solares que substituem o motor movido a combustível fóssil.

aos que gostam de velocidade, o “udaipur solar nº 7”, testado no rally de 2003, chegou a atingir 85 km/h, movido exclusivamente a energia solar. o veículo parece um carrinho de golfe com painéis gigantes no teto. o único problema é que ele pôde caminhar uma distância de ape-nas 35 km até quebrar. “o segredo é com-binar essa eficiência com a longa duração”, ensina o instituto. “nós mostramos o ca-minho. agora falta o investimento.”

enquanto isso não ocorre, turistas podem aproveitar um pouco dos carros do futuro para diversão. além do barco no lago Pichola, é possível encontrar um rickshaw solar andando pela rua. “chegar aqui mostra como nossa sociedade está er-rada.Vivemos no meio do caos, da pressa, da poluição. enquanto aqui vemos que é possível viver em harmonia com a nature-za”, filosofa Gaëtan.

do outro lado do mundosUsteNtABILIDADe Divulgação

Divulgação Divulgação

Divulgação

O “Uidapur Solar nº 1” (C) ultrapassa 20 km/h; as motos podem atingir 60 km/h

Típico meio de transporte, o tuk-tuk é movido a painel solar

Modelo bateu nos 85 km/h, mas andou apenas 35 km

Moto com tecnologia indiana, construída nos EUA, utiliza baterias solares

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A soja, conforme dados da empresa Brasileira de Pesquisa agropecuá-ria (embrapa) 2008, é o principal

grão oleaginoso cultivado no mundo; os demais grãos são girassol, canola, amen-doim, algodão e mamona. segundo dados da soy stats e da usDa – united states Department of agriculture – foram cul-tivados cerca de 267,3 milhões de tone-ladas do grão no mundo durante a safra de 2010/2011, sendo os estados unidos da américa o principal produtor mundial, acompanhado pelo Brasil e pela argentina.

os estados unidos foram, portanto, responsáveis por 34,4% da produção de soja mundial, equivalente a 90,6 milhões de toneladas plantadas em 31 milhões de hectares. a américa do sul produziu cerca de 135,7 milhões de toneladas, numa área total plantada de 47,5 milhões de hectares.

Deste modo, segundo o Banco na-cional do Desenvolvimento econômico e social, “pode-se dizer, sem medo de errar, que a expansão da cultura da soja foi a principal responsável pela introdução do conceito de agronegócio no país”, o que demonstra sua importância.

em conformidade com essa definição, segundo dados preliminares da conab (2011), o Brasil produziu, durante a safra de 2010/2011, 75,3 milhões de toneladas deste grão em uma área de 24,2 milhões de hecta-res. Pelos dados apontados pela conab, os estados que mais se destacaram na produção nacional de soja nesta safra foram o mato Grosso, com 27,1% de toda a produção, e o Paraná, com produção de 15,4 milhões de toneladas em 4,6 milhões de hectares (20,5% da produção nacional).

Quanto às exportações da produção brasileira, de janeiro a dezembro de 2011, foram enviados para o exterior cerca de 49 milhões de toneladas da soja aqui plantada, divididas em grãos, óleo e farelo, conforme detalhamento: foram 33 milhões de tone-ladas de grãos de soja (ncm – nomencla-tura comum do mercosul – 12010090), 1,5 milhão de toneladas de óleo (ncm 15071000) e 14,5 milhões de toneladas de farelos e cascas de soja (ncms 23040090, 23040010 e 23025000). (mDic, 2012)

no que tange ao mercado doméstico, o Brasil tem destaque relacionado ao es-magamento no grão quando comparado

ao mercado mundial, conforme dados do ministério da Fazenda, Pecuária e abas-tecimento (maPa), secretaria de Política agrícola (sPa) e instituto interamericano de cooperação para agricultura (iica – 2007). e ainda, visto que o valor monetá-rio da matéria-prima é definido pela Bolsa de chicago, o preço sofre influência dos três maiores produtores do grão; estados unidos, Brasil e argentina.

além disso, outro fim importante do grão de soja é a produção de biocombustível, utilizado em motores de ignição por com-pressão, segundo iica/maPa/sPa – 2007, bem como a relação da soja com a nutrição da cadeia bovina; assim, o BnDes em 2007 lançou um estudo mostrando que no caso da soja, para a obtenção do biodiesel, esmaga-se o grão, obtendo o óleo e tendo como re-squício de subproduto o farelo, utilizado na nutrição de animais.

Panorama internacional versus nacional do complexo soja

Dentre os maiores produtores de soja estão eua (35%), Brasil (27%), argentina (21%) e china (6%).

SOJA COMO MATÉRIA-PRIMApara a produção de biodiesel e suas questões ambientais

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João Carlos Mucciacito

João Carlos MucciacitoQuímico da CETESB, Mestre em

Tecnologia Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas da

Universidade de São Paulo, professor no SENAC, no Centro Universitário Santo André - UNI-A e na FAENG -

Fundação Santo AndréE-mail: [email protected]

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a partir da análise do fluxograma verifi-ca-se que, apesar de os eua serem os maiores produtores do grão, a china é a maior pro-dutora de farelo, com 38,6 milhões de tone-ladas, e isso se deve ao fato de ela importar o grão de países como o Brasil e triturá-los, produzindo assim mais farelo que os demais países e pouco menos óleo que os eua. Dessa forma, ocupa o segundo lugar em produção de óleo e o primeiro em farinha, vendendo-o aos países de origem do grão, como o Brasil.

Dessa forma, segundo publicação do BnDes ao analisar a relação entre o com-plexo grão-farelo e o óleo, visto que os dois primeiros possuem a mesma tendência, pois o farelo segue as tendências do grão no que tange à concorrência, assim, o preço do grão é determinante para o farelo. Já em relação ao óleo tem-se a concorrência dos diversos tipos de óleos vegetais – por exemplo, óleos prove-nientes da palma, do algodão, do coco, entre outros –, seja para uso doméstico ou misto.

nos últimos anos, segundo dados da usDa (2009), a argentina vem consolidan-do a sua liderança nas exportações de farelo, uma vez que os estados unidos aumenta-

ram o consumo interno de farelo de soja e o Brasil vem privilegiando as exportações do grão, o que se explica pelo fato da implan-tação da lei complementar nº 87, de 13 de setembro de 1996, mais conhecida como lei Kandir, que desonerou do imposto sobre circulação de mercadorias (icms) as expor-tações de produtos in natura.

Porém, de acordo com a tabela, é possível aferir que no âmbito de exportações do com-plexo, verifica-se que os eua mantêm sua li-derança, assim como na produção, contando com aproximadamente 44% das exportações mundiais, seguido pelo Brasil que é respon-sável por aproximadamente 30,8%. segundos dados da Fao (2009) – Food and agriculture organization, os maiores exportadores de óleo de soja são argentina, Brasil e estados unidos, países que, em conjunto, são respon-sáveis por aproximadamente 71% das expor-tações desta commodity.

Biodiesel de soja, produção doméstica e internacional

Diante do sistema capitalista, onde a energia, ou melhor, o combustível é o que move o mundo, a problemática relacionada ao aquecimento global “saltou de um tema entre muitos outros no rosário ambientalista para a condição de maior desafio do século 21” (hoGan, 2009). logo, os países têm procurado nos últimos anos promover um desenvolvimento sustentável, baseado na busca por combustíveis que não produzam tantos gases poluentes à atmosfera; com isso, o aumento da produção nacional e mundial de biodiesel deverá modificar a composição das exportações brasileiras de óleo e farelo de soja, os quais vinham perdendo espaço na pauta de exportações do complexo soja; porém, esta produção ainda é incipiente.

Devido à grande disponibilidade de óleo de soja no Brasil, que é o insumo para a fa-bricação de biodiesel, a sua utilização é de suma importância para a implantação do Programa Brasileiro de Biodiesel, a partir de 2008, que é uma mistura compulsória de 2% do biodiesel ao diesel. este programa visa à utilização de terras que não são utilizadas para a plantação de gêneros alimentícios.

De acordo com dados do usDa, a pro-dução de óleo de soja no ano de 2006/2007 foi de 5,9 milhões de toneladas, dos quais 2,6 milhões de toneladas foram exportados como óleo bruto. Já em 2008 este excedente de óleo pôde ser utilizado para a produção de biodiesel, beneficiando o Brasil, uma vez que este deixou de importar 800 milhões de litros de diesel por ano.

Finalizando a análise do mercado brasi-leiro, vê-se que o processo de produção de biodiesel vem ganhando importância, porém, ainda é incipiente; demanda mais atenção dos órgãos reguladores como incentivadores da produção, por meio da adoção de políticas a exemplo da francesa, que prevê a utilização de biocombustíveis na proporção de até 30% para os veículos de frotas cativas, notadamen-te o transporte público coletivo.

Produção mundial do grão de soja:

260,1 milhões de ton.

EUA: 35% Brasil 27% Argentina: 21% China: 6%

Grão: 91,4 milhões de ton.

Farelo: 37,8 milhões de ton.

Óleo: 8,8 milhões de ton.

Grão: 69 milhões de ton.

Farelo: 26 milhões de ton.

Óleo: 6,4 milhões de ton.

Grão: 54,5 milhões de ton.

Farelo: 26,4 milhões de ton.

Óleo: 6,4 milhões de ton.

Grão: 14,7 milhões de ton.

Farelo: 33,6 milhões de ton.

Óleo: 8,7 milhões de ton.

Fonte: UsDA 2008/ 2009.

PaísQuantidade em mil toneladas

Estados Unidos 40,852

Brasil 28,578

Argentina 13,088

Paraguai 5,350

Canadá 2,247

Outros 2,668

Exportações mundiais do complexo soja

Produção mundial de grão de soja

Fonte: UsDA- soybeans: World supply and Distribution 2009/10.

referências Bibliográficas

aGÊncia De Fomento Do estaDo Da Bahia (DesenBahia). Boletim anual do mercado de Grãos: soja. safra 2008/2009 e expectativas para 2009/10. Di-sponível em: <http://www.desenbahia.ba.gov.br/upload-s/0906201109563437rel_soja_2009.pdf>.associaÇÃo Brasileira Das inDÚstrias De Óleos VeGetais (aBioVe). complexo soja - Balanço oferta / Demanda. Disponível em: <http://www.abiove.com.br/balanco_br.html>.amaral, D. F. Desmistificando o Programa nacional de Produção e uso do Biodiesel – a Visão da indústria Brasileira de Óleos Vegetais. associação Brasileira das indústrias de Óleos Vegetais - aBioVe, são Paulo, agosto, 2009, 21p.inteGraÇÃo Das caDeias ProDutiVas De soJa e BioDiesel: um Paralelo internacional Para o BiocomBustÍVel Brasileiro congresso nacional de excelência em Gestão cneQ/2012

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Terence Trennepohl

Terence TrennepohlSócio de Martorelli e Gouveia Advogados

Senior Fellow na Universidade de Harvard

Doutor e Mestre em Direito (UFPE)Bolsista da CAPES

E-mail: [email protected]

Correspondente especial de Boston – Estados Unidos

O ETANOL brasileiro e os Estados Unidos

A despeito do que bradam ferozes e radicais vozes em prol de um meio ambiente saudável e por

vezes imaculado, o Brasil sabe como pre-servar suas riquezas florestais.

temos atualmente 14,7% do nosso ter-ritório pertencente a reservas indígenas, ou seja, 1.250.000 km2; possuímos, ainda, 13,7% destinado a reservas ambientais protegidas, totalizando 1.170.000 km2. Portanto, 28,4% do território nacional (sem contar áreas de preservação permanente e áreas de reserva legal) são intocáveis por determinação legal. Demais disso, é de se ressaltar que somos o segundo maior país do mundo em termos de preservação florestal, com 477 milhões de ha (hectares) aproveitáveis, ficando somente atás da rússia, com 800 milhões de ha (sendo mais da metade dessa área inaproveitável, em razão das baixas temperaturas), e seguido do canadá, com 280 milhões de ha.

segundo recente pesquisa da Fao, o país apresenta a maior área para ser utilizada para expansão do setor agrícola, seguido dos esta-dos unidos e rússia. Vale mencionar também que china e Índia, nossas parceiras no Bric, não possuem mais áreas que possam ser utili-zadas para expansão de seu agronegócio.

Pois bem, a despeito das inúmeras, e muitas vezes desarrazoadas, restrições ad-ministrativas impostas pela legislação am-biental brasileira, e comumente seguida pela desmedida busca por preservação ambiental a qualquer custo de um ministério Público desapegado do senso de desenvolvimento em um país carente de infraestrutura, e ape-gado à literalidade da lei, continuamos a ser o maior produtor mundial de açúcar, café e

suco de laranja, e o segundo produtor mun-dial de etanol, soja e carne. isso tudo atuan-do em consonância com as restrições legais impostas, no mais das vezes, décadas atrás e sem o compromisso com o desenvolvimento.

estudo recente da agência ambiental americana (ePa) mostrou que o etanol da cana-de-açúcar é 61% menos poluente que a gasolina, enquanto o etanol do milho apenas 21%. essa foi uma vitória técnica expressiva para que o agronegócio brasileiro, principal-mente representado pelo setor sucroalcoo-leiro, tivesse motivos para comemorar.

nesse cenário, a produção mundial de etanol, nos últimos dez anos, saltou de 30 bilhões de litros em 2000 para 90 bilhões de litros em 2009.

alguns números comparando Brasil e estados unidos assustam. enquanto temos aproximadamente 36 milhões de veículos, os estados unidos contam com uma frota de 250 milhões. enquanto nosso consumo de gasolina é de 4 bilhões de galões por ano, os estados unidos consomem 140 bilhões!

Pois bem, no começo deste ano a uni-versidade de harvard publicou dois estudos dando conta das vantagens da implantação da cana-de-açúcar em países subdesenvolvi-dos como forma de um upgrade econômico e social nessas regiões pobres. além disso, pro-pôs a adoção de uma maior mistura de etanol à gasolina americana (que nos estados uni-dos é de 5% e no Brasil voltou a ser de 25%). lembre-se que desde 2 de maio deste ano, a proporção de álcool anidro na gasolina voltou a ser de 25%. Desde 1º de fevereiro, o patamar tinha sido reduzido para 20%, cumprindo a determinação de uma portaria, válida por 90

dias, dos ministérios da agricultura, de mi-nas e energia, da Fazenda e do Desenvolvi-mento, indústria e comércio exterior.

enfim, esses estudos são importantes formadores de opinião na comunidade científica e empresarial americana e estão sendo largamente divulgados por aqui.

como nenhum país do mundo conse-guiu implantar um sistema tão eficiente de substituição da gasolina por um com-bustível menos poluente, como o uso do etanol no Brasil, somos um exemplo a ser seguido. Demais disso, se a gasolina usada mundialmente fosse substituída por 5% de etanol, o Brasil teria de aumentar sua produção de 28 milhões de litros em 2010 para 102 bilhões de litros até 2020.

outro mercado importante é a união europeia, que, seguindo a orientação esta-belecida em 2007, ao pretender substituir 5,6% de sua frota por veículos flex-fuel, precisará de aproximadamente 18 bilhões de litros nos próximos anos.

Diante de todos esses dados, só nos resta esperar o movimento do mercado e aproveitar as oportunidades. o Brasil, portanto, há de estar preparado para essas oportunidades, que se avizinham num ho-rizonte não muito distante.

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Terence Trennepohl

Terence TrennepohlPartner of Martorelli & Gouveia Advogados

Senior Fellow at Harvard UniversityPhD and Masters in Law (UFPE)

CAPES Grant HolderE-mail: [email protected]

Special Correspondent from Boston, USA

Brazilian EThANOL and the United States

I n spite of radical voices fiercely crying out in favor of a healthy and immaculate environment, Brazil knows how to pre-

serve its forest riches. We now have 14.7% of our territory belonging to indian reserves, accounting for 1.25 million km2, with an additional 13.7% designated for protected en-vironmental reserves, representing an addi-tional 1.17 million km2. therefore, in total, 28.4% of the country’s territory (excluding permanent preservation areas and legal reser-ve areas) are untouchable by law. in fact, we are the second largest country in the world in terms of forest preservation, with 477 million ha (hectares) of usable protected land, only behind russia, with 800 million ha (of which more than half is unusable because of the low temperatures) and ahead of canada which preserves 280 million ha.

according to a recent survey conduc-ted by Fao, the country has the largest land area potential for agricultural expan-sion, followed by the united states and russia. it is also worth mentioning that china and india, our Bric partners, do not have any land areas left that could be used for expanding their agribusiness.

as such, and in spite of the numerous and often unreasonable, administrative res-trictions imposed by Brazilian environmen-tal legislation, commonly enforced by the Federal Prosecutor’s ministry through an unbridled pursuit of environmental preserva-tion at any cost, with an exacerbating literal interpretation of the law and, most impor-tantly, without the sense of development of a country lacking infrastructure, we remain the world’s largest producer of sugar, coffee, and

orange juice, and the second largest producer of ethanol, soy, and meat products. and all this production acts in line with the legal res-trictions in force, which, in most cases, were imposed decades ago without any reasonable commitment to development.

a recent study published by the u.s. environmental agency (ePa) showed that ethanol from sugar cane is 61% less pollu-ting than gasoline, while corn ethanol is only 21%. this represents a significant vic-tory for the Brazilian agribusiness and a reason to celebrate the recognition of Bra-zilian technology, especially in the develo-pment of the sugar-based ethanol sector.

in this scenario, world production of ethanol in the last ten years, jumped from 30 billion liters in 2000 to 90 billion liters in 2009. some figures comparing the producti-vity of the united states and Brazil are quite frightening. While we have approximately 36 million vehicles, the united states has a fleet of 250 million. While our consumption of gasoline is 4 billion gallons a year, the united states consumes 140 billion gallons!

earlier this year harvard university pu-blished two studies on the benefits of de-ploying sugar cane production in underde-veloped countries as a means of fostering an economic upgrade and social development in these poor regions. in addition, the stu-dies proposed the adoption of a higher mix of ethanol to u.s. gasoline (which in the u.s. is set at 5% and in Brazil is, once again, 25%).

let’s also remember that since may 2nd of this year, the proportion of ethanol in gasoli-ne has been increased back to 25%. since Fe-bruary1st, the levels had been reduced to 20%,

fulfilling the determination of a federal decree, valid for 90 days, issued by the ministries of agriculture, mines and energy, Finance and Development, industry and Foreign trade.

Finally, these studies act as important opinion makers in the american business and scientific communities and are being widely disseminated here. since no country in the world is able to deploy a more effi-cient system to replace gasoline with a less polluting fuel such as ethanol, as is the case in Brazil, this should be used as an example to be followed. in addition, if worldwide ga-soline usage were partially replaced by a 5% ethanol mix, Brazil would have to increase its production of 28 million liters (2010) to 102 billion liters by 2020.

the european union is another im-portant market, which, following the guidelines established in 2007, intends to substitute 5.6% of its motorized fleet with flex-fuel vehicles, and to do so, will requi-re approximately 18 billion liters of alter-native energy sources in the coming years.

in light of the data mentioned above, all we can do is wait for market forces to take advantage of the opportunities. But to do so, Brazil needs to be prepared to capitalize on these opportunities, which, quite frankly, are quickly approaching on the distant horizon.

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Marcio Thamos

F aetonte era filho de apolo, o deus sol, e muito se orgulhava disso. mas, na verdade, não conhecia o

pai e só sabia de sua ascendência divina porque a mãe assim lhe dissera. um dia, não parava de se gabar, achando-se muito superior, já que era filho de um deus tão importante, quando um colega lhe jogou na cara estas palavras:

— Você é um bobo mesmo! acredita em tudo que sua mãe fala e fica aí pensan-do que é o tal...

Faetonte sentiu-se envergonhado e teve que engolir o desaforo, pois, de fato não tinha como provar que apolo era seu pai. meio ressabiado, procurou a mãe e de-pois de relatar o acontecido assim lhe pede:

— se sou mesmo filho do sol, mãe, me dê alguma prova! Que eu possa ao me-nos rebater a calúnia que sofri!

e ela, ao mesmo tempo indignada e piedosa, lhe responde:

— Juro, meu filho, que não menti para você! É celeste, sim, e luminosa a sua ori-gem. não é difícil chegar à casa de seu pai. nem é distante da nossa a terra onde ele nasce todos os dias. se é o que deseja, vá até lá e pergunte a ele você mesmo.

o rapaz não se conteve de alegria. sem hesitar, percorre a África, atravessa a Índia

e logo chega à terra do sol nascente. ali, o palácio do sol erguia-se, majestoso e relu-zente, no alto de uma colina escarpada. ao entrar, Faetonte vê o pai coberto por um manto de púrpura. Para à distância, ofus-cado com tanta luz. e apolo, de seu trono resplendente de esmeraldas, lhe pergunta a que viera.

— Ó luz mais brilhante que ilumina o mundo, meu pai, se é que assim posso chamá-lo, eu queria uma prova de minha origem, uma prova que não deixe dúvida de que sou seu filho.

apolo, emocionado, tirando da cabeça a fulgurante coroa de raios que usava, cha-mou o rapaz para perto de si e num caloro-so abraço lhe disse:

— Faetonte, meu filho, é verdade o que sua mãe lhe contou, sou seu pai, e não há por que negar. Para que você não fique com nenhuma dúvida, escolha um presen-te, peça o que quiser, e juro pelas águas do estige que eu lhe darei.

o estige é um rio subterrâneo que per-corre o mundo dos mortos. o juramento por suas águas era solene entre os deuses e signi-ficava não poder de modo algum voltar atrás na palavra dada. Por isso apolo imediata-mente se arrependeu da promessa que fizera, pois, mal acabara de falar, o jovem disparou:

— eu quero dirigir o seu carro por um dia e guiar os cavalos voadores!

— o que me pede, Faetonte, é a única coisa que eu gostaria de lhe negar – retru-cou o deus, aflito. — Por favor, meu filho, retire esse pedido! nem mesmo os deu-ses imortais conseguiriam guiar o carro do dia. só eu sei como fazê-lo, e mesmo para mim não é fácil a tarefa. Peça outra coisa, seja o que for, e eu lhe darei, mas não me force a consentir num perigo tão grande para você. reconheça na minha preocupação como sou, sem dúvida, o seu verdadeiro pai.

apolo adiou a partida o quanto pôde, mas o dia precisava nascer, e Faetonte se mostrava irredutível. a aurora chegou para atrelar os cavalos ao carro, e não hou-ve jeito de convencer o rapaz a desistir da ideia temerária. sorrindo, ele assumiu as rédeas e açulou os animais. a subida era lenta e excitante. mas quando alcançou o alto do céu, o jovem se deu conta de que não tinha o mínimo controle do carro. os corcéis bateram em disparada entre as constelações, galopando no vazio, fora do trilho costumeiro. ora subiam muito e ameaçavam incendiar as moradas dos deuses, ora davam rasantes sobre a terra, secando rios e destruindo colheitas intei-ras. tarde demais, Faetonte lamentou-se da própria teimosia. apavorado, entregou-se ao medo e à sorte incerta e, trazendo consigo a pura luz da vida, acabou por en-contrar a noite eterna.

Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas

junto ao Departamento de Linguística da UNESP-FCL/CAr,

credenciado no Programa de Pós-Grad-uação em Estudos Literários da mesma

instituição. Coordenador do Grupo de Pesquisa

LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica.E-mail: [email protected]

Mitologia Clássica:Faetonte e o carro do Sol

A queda de Faetonte de Jan van Eyck

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Neo Mondo - Outubro 2008 A

Espaço Gourmet Villa natural

Alexandra Midori Morita Zanoli

Villa Natural Restaurante

Rua Cel. Ortiz, 726 – V. Assunção – Santo André(11) 2896-0065 – www.villanatural.com.br

Formada em Educação Física Pós-graduada em Nutrição Desportiva

Pós-graduada em Ginástica Postural CorretivaProfessora de Yoga

Chef e Sócia do Villa Natural

Ingredientes

• 250 gramas de Quinoa grãos• 400 gramas de Tomate• 250 gramas de Pepino Japonês• 1 Cebola Roxa• Zathar a gosto• Sal marinho a gosto• Uma pitada de Hortelã seco• 3 colheres de Hortelã fresco• 3 colheres de Salsinha• Suco de 1 Limão• Azeite extra-virgem a gosto

Tabule de QuinoaModo de fazer:Cozinhe a quinua com água,deixe esfriar e reserve,corte em cubos pequenos o tomate,pepino e a cebola, reserve.Pique o hortelã e a salsinha, reserve.Junte todos os ingredientes.

Quinoa ou Quinua Real é um grão com alto poder nutritivo, possui baixo teor de colesterol, proteína de alta qualidade, quantidade significativa de fibras e grandes quantidades de vitaminas e minerais.

O grão regula o intestino, aumenta a disposição, retarda o envelhecimento, recupera as fibras musculares, combate a anemia, problemas urinários e doenças do fígado. Também controla os níveis de colesterol, glicemia e triglicérides no sangue.

Uma boa aliada para as mulheres, pois combate os sintomas da TPM e da menopausa, auxilia na dieta e previne o câncer de mama, osteoporose, doenças do coração e outras alterações decorrentes da falta de estrogênio.

BENEFICIOS DA QUINOA

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