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1 Neo Mondo - Julho 2008 ENERGIAS ALTERNATIVAS Exemplar de ASSINANTE Venda Proibida R$16,00 Ano 7 - N o 57 - Setembro/Outubro 2013 Rogério Cezar de Cerqueira Leite Iluminado por natureza Círio de Nazaré Devoção e fé Energia Eólica Vai de vento em popa 10 28 38

Neomondo 57 setembro outubro

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1Neo Mondo - Julho 2008

ENERGIASALTERNATIVAS

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R$16,00

Ano 7 - No 57 - Setembro/Outubro 2013

Rogério Cezar de Cerqueira Leite Iluminado por natureza

Círio de Nazaré Devoção e fé

Energia Eólica Vai de vento em popa

10 28 38

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Neo Mondo - Julho 2008 4

ESTÁ NA HORA DE

AGIR COMO A ESPÉCIE

INTELIGENTE DO PLANETA.

AJUDE ONDAZUL.ORG.BR

Imagens Grupo Keystone

Filo SarcodinaParasita que sobrevive ao extrair meios de um outro organismo, conhecido como hospedeiro. Este processo, conhecido como parasitismo, costuma degradar bastante o hospedeiro e até levá-lo à morte. Normalmente, ao m do processo, o parasita também morre.

Homo SapiensParasita que sobrevive ao extrair meios de um outro organismo, conhecido como hospedeiro. Este processo, conhecido como parasitismo, costuma degradar bastante o hospedeiro e até levá-lo à morte. Normalmente, ao m do processo, o parasita também morre.

HoPacoEsbaNo

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Parasita 2 41x27.5.indd 1 24/9/13 7:32 PM

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5Neo Mondo - Julho 2008

ESTÁ NA HORA DE

AGIR COMO A ESPÉCIE

INTELIGENTE DO PLANETA.

AJUDE ONDAZUL.ORG.BR

Imagens Grupo Keystone

Filo SarcodinaParasita que sobrevive ao extrair meios de um outro organismo, conhecido como hospedeiro. Este processo, conhecido como parasitismo, costuma degradar bastante o hospedeiro e até levá-lo à morte. Normalmente, ao m do processo, o parasita também morre.

Homo SapiensParasita que sobrevive ao extrair meios de um outro organismo, conhecido como hospedeiro. Este processo, conhecido como parasitismo, costuma degradar bastante o hospedeiro e até levá-lo à morte. Normalmente, ao m do processo, o parasita também morre.

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Neo Mondo - Julho 2008 6

Sem espaço para sequer esticar as asas

Proteção e respeito a todos os animais

No Brasil, mais de 70 milhões de galinhas poedeiras são confinadas em gaiolas em bateria, espaços tão pequenos

que elas não conseguem andar, empoleirar-se ou sequer esticar as asas.

Diga NÃO a esta crueldade.

Acesse o nosso site para saber mais.

hsi.org/compaixao

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7Neo Mondo - Julho 2008

Sem espaço para sequer esticar as asas

Proteção e respeito a todos os animais

No Brasil, mais de 70 milhões de galinhas poedeiras são confinadas em gaiolas em bateria, espaços tão pequenos

que elas não conseguem andar, empoleirar-se ou sequer esticar as asas.

Diga NÃO a esta crueldade.

Acesse o nosso site para saber mais.

hsi.org/compaixao

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ÁGUA

O sol brilha para todos Energia do astro rei

ESPECIAL ENERGIAS ALTERNATIVAS

Seções

ESPECIAL ENERGIAS ALTERNATIVAS

PERfILRogério Cezar de Cerqueira Leite Iluminado por natureza

Energia que vem das cinzas Usinas flutuantes

Editorial

Oscar Lopes LuizPresidente do Instituto Neo Mondo

[email protected]

Expediente Publicação

Publisher: Oscar Lopes Luiz

Diretora de Redação: Eleni Gritzapis (MTB 27.794)

Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Eleni Gritzapis, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly Martins, Pedro Henrique Passos e Redação: Eleni Gritzapis (MTB 27.794), Rosane Araujo (MTB 38.300)

Revisão: Instituto Neo Mondo

Diretora de Arte: Renata Ariane Rosa

Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo

Tradução: fernanda Sgroglia Tel.: 55 11 99630-6887

Diretor de Relações Internacionais: Marina Stocco

Diretora de Educação – Luciana Mergulhão (mestre em educação)

Diretor de Tecnologia – Roberto Areias de Carvalho

Correspondência: Instituto Neo MondoRua Ministro Américo Marco Antônio nº 204, Sumarezinho – São Paulo – SP – CEP 05442-040

Para falar com a Neo Mondo:[email protected]@[email protected]

Para anunciar: [email protected]. (11) 2619-3054 / 98234-4344 / 97987-1331

Presidente do Instituto Neo Mondo:[email protected]

A Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24.

Tiragem mensal de 70 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas.

Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.

8 Neo Mondo - Setembro/Outubro 2013

Vem da lama mas é limpa Lodo gera energia

ESPECIAL ENERGIAS ALTERNATIVAS

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Fitoterapia A medicina sustentável

Artigo: Márcio Thamos A invenção da humanidade

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Sem título-1 1 28/07/2011 11:12:46

SAúDE

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Artigo: Humberto Mesquita Água cinza

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14 Rogério Cezar de Cerqueira LeiteEnlightened by nature

REPORTS IN ENGLISH

Prezado leitor é com satisfação que preparamos mais uma edição de nEO MOnDO. nela, trazemos uma matéria especial sobre a maior manifestação religiosa católica do Brasil, o Círio de nazaré. Anualmente, no segundo domingo de outubro, milhões de fiéis tomam as ruas de Belém do Pará (PA), para homenagear e render graças às bençãos concedidas por nossa senhora de nazaré, uma comovente reunião de fé, devoção e superação.

Outro destaque é o Especial Energias Alternativas, em que abordamos algumas fontes renováveis de geração de energia complementares ao modelo tradicional, tanto pela sua disponibilidade quanto por seu menor impacto ambiental. Estima-se que mais de 19% do consumo energético mundial venha hoje de fontes renováveis. Esperamos, com este especial, continuar contribuindo para a disseminação deste importante tema.

E, como estamos falando do poder da natureza, o tratamento de doenças por meio de plantas medicinais também é destaque nesta edição, em especial o enorme arsenal terapêutico da flora brasileira.

tenha uma leitura.

nEO MOnDO, tudo por uma vida melhor!

Artigo: Dra. Dilma de Melo Silva Energia pura

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Círio de Nazaré Devoção e fé

CULTURA

ESPECIAL ENERGIAS ALTERNATIVASEnergia Eólica Vai de vento em popa

Gilvan Barreto Papel social da fotografia

CULTURA

Banana is my Business Descontaminação da água

ÁGUA

Artigo: Denise de La Corte Bacci O calor que vem de dentro

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Solução para Cabo verdeDessalinização da água

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Matéria publicada na edição no35

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Neo Mondo - Setembro/Outubro 201310

Neo MoNdo: A saída para o Brasil é insistir na construção de hidrelétri-cas? Por quê? E em que medida esse tipo de usina pode acrescentar como alternativa de energia limpa?

Cerqueira Leite: “a melhor opção para o Brasil ainda é a cogeração em usinas

de álcool e açúcar... a redução de emissões beneficiará o Brasil e o resto do planeta”

Perfil

N uma edição que trata das alterna-tivas de energia limpa, NEO MON-DO foi buscar uma das maiores au-

toridades não só no tema do nosso Caderno Especial, mas também em assuntos de múl-tiplo interesse socioeconômico pela sua car-reira caracterizada pela diversidade de atua-ção: da docência acadêmica a participações como conselheiro, passando pela gestão de instituições privadas e públicas.

Rogério Cezar de Cerqueira Leite é fí-sico, professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mem-bro do Conselho de Ciência e Tecnologia da Presidência da República, presidente do Conselho de Administração da ABTLuS (Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron) e membro do Conselho Edito-rial da Folha de S.Paulo.

A ABTLuS administra o Centro Na-cional de Pesquisas em Energia e Mate-riais, que congrega os quatro laboratórios nacionais (Síncrotron, Biociências, Nano-tecnologia e Etanol).

Cerqueira Leite tem participação impor-tante no desenvolvimento da ciência, espe-cialmente em São Paulo, por ser membro fundador da Academia Paulista de Ciências

e atuar, durante 6 anos, como membro do Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Na qualidade de pesquisador, foi tam-bém presidente do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), de 1985 a 1997, onde ainda atua como presidente do Con-selho de Administração.

Fazem parte de sua trajetória ativida-des como a presidência da Companhia de Desenvolvimento do Pólo de Alta Tecnolo-gia de Campinas, a vice-presidência execu-tiva da Companhia Paulista de Força e Luz, a participação em 1976, como consultor, da Conferência de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento, da Organização das Nações Unidas (ONU), e a participação em missões da Presidência da República do Brasil para acordos de cooperação interna-cional em tecnologia industrial.

Cerqueira Leite não deixou de lado ne-nhuma das questões levantadas e é ao mes-mo tempo visceral e bem-humorado quando trata de assunto que é a bola da vez: a cons-trução de Belo Monte. “ ’Ignocentes’ veem a árvore, mas não percebem a floresta em que ela está inserida”, diz. Vale a pena ler a entre-vista que gentilmente nos concedeu.

Professor emérito da Unicamp, pesquisador emérito do CNPq, conselheiro federal em Ciência e Tecnologia, falar de – e com – energia é com ele mesmo

Da Redação

Cerqueira Leite: No médio e longo prazo o problema ambiental funda-mental será o do aquecimento global; todos os demais serão insignificantes perto deste. Isto, se não tomarmos providências sobre a emissão de gases

do efeito estufa (GEE), e a hidrelétrica ainda é a opção que emite menor quantidade de CO2 e outros gases GEE. Principalmente a longo prazo, pois o tempo de vida de uma usina dessas é de mais de 100 anos.

Iluminadopela própria

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11Neo Mondo - Setembro/Outubro 2013

É claro que outras opções, principal-mente a eólica, podem ser adicionadas a sistemas em que não sejam majoritá-rias. Isto devido à baixa confiabilidade inerente ao regime de ventos.

Neo MoNdo: Por que se investe tão pouco, no país, comparativamente, nas modalidades eólica e solar: Falta vontade política? Falta interesse do setor privado? Falta planejamento? Ou não compensa mesmo? Cerqueira Leite: Investimentos em hidrelétricas são de retorno muito longo, e empresários brasileiros estão acostumados a recuperar seus capitais em poucos anos. Eis porque não são comuns investimentos privados em hi-drelétricas no Brasil. A solução continua sendo investimento público, ou privado com empréstimos a baixos juros. Mes-mo assim o empresário brasileiro tem outras opções de retorno rápido.

Neo MoNdo: Como estão esses investimentos no mundo ou nos países em que há mais avanços? Há casos em que possamos nos espelhar e aplicar as soluções aqui? Cerqueira Leite: Em outros países o setor financeiro não oferece retorno tão generoso como no Brasil e, por isso, o setor de energia tem alguma atrati-vidade para o setor privado. Isto ocorre principalmente nos Estados Unidos, mas não na Europa, onde o setor público se ocupa da produção de energia.

Neo MoNdo: Investir em energia significaria também contribuir para mitigar os efeitos do aquecimento global? Se sim, como? Ou uma coisa não tem a ver com a outra? Cerqueira Leite: É claro que investir em eletricidade produzida por meio de combustíveis fósseis é o mais atra-ente do ponto de vista estritamente financeiro, principalmente porque o período de construção dessas usinas é muito menor, ensejando retornos mais rápidos. Todavia, se torna um atraso essa escolha devido à enorme emissão de GEE. Hoje, do ponto de vista financeiro e ecológico, a melhor opção para o Brasil ainda é a cogeração em usinas de álcool e açúcar. De fato, é um atraso que apenas um percentual muito baixo desse potencial já existente seja atual-mente aproveitado. Esse potencial poderá ser ele mesmo aumentado quando o Brasil vier a exportar álcool, o que terá uma dupla vantagem financeira e ecológica, pois a redução de emissão de GEEs que vier a ocorrer nos países importadores de álcool beneficiará igualmente o Brasil e o resto do planeta.

Neo MoNdo: O senhor vê como po-sitivas as iniciativas de grupos como a União da Indústria de Cana-de--Açúcar (Unica), que estão avança-dos no aproveitamento do potencial que o setor sucroenergético possui?

Cerqueira Leite: Considero que as iniciativas do grupo Unica e outras têm sido eficientes para derrubar barreiras baseadas em falsas premis-sas que foram erguidas na Europa e em outras partes do universo. Embora o governo federal e alguns governos estaduais tenham feito algum esforço no mesmo sentido, o resultado é muito inferior àqueles dos setores sucroalcooleiros.

Neo MoNdo: Como estamos no Brasil em relação a outros países em pesquisas, projetos e realiza-ções para incrementar a oferta de energia limpa? O senhor pode citar exemplos bem-sucedidos ou pelo menos bem encaminhados? Cerqueira Leite: O Brasil domina e está na dianteira quando se trata de tecnolo-gias como as de hidrelétricas e de produ-ção de álcool, mas está atrasado no que se refere a vários tipos de aproveitamen-to de energia solar e eólica. Também no que diz respeito a energia nuclear; apenas recentemente percebeu o Brasil que é necessário um esforço de pesquisa em ciência e tecnologia nuclear, e não a aquisição de pacotes fechados e reatores de grande porte. É um engano imperdoável achar que o Brasil terá alguma competência tecnológica em energia nuclear com-prando mostrengos como Angra 3. Se o Brasil tem hoje alguma compe-tência no setor é porque, opondo-se,

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embora timidamente, a influências externas, desenvolveu seu próprio sistema de enriquecimento de urânio.Devido a interesses puramente financeiros o setor sucroalcooleiro desenvolveu com muita competência a tecnologia de produção de açúcar e álcool de primeira geração. Isto ocorreu, sobretudo, devido à criação ousada do Centro de Pesquisa da Copersucar. Todavia, embora um pouco tardiamente, mas não tarde demais, o governo federal decidiu criar um centro de pesquisas dedica-do principalmente à tecnologia do álcool de segunda geração, isto é, álcool produzido a partir da celulose, inclusive bagaço de palha de cana.Este esforço é concomitante aos que são realizados atualmente pela Petrobrás e pela Embrapa.

Neo MoNdo: Belo Monte parece ser a bola da vez. O que há de mito e realidade na relação custo/benefício neste empreendimento? Cerqueira Leite: Que carnaval estão fazendo ambientalistas e ecopaler-mas em torno da futura usina de Belo Monte, a ser implantada no médio Xingu, na Amazônia.Esse exército extemporâneo de Brancaleone é composto de con-servacionistas de diversas espécies. Além de uma tribo de índios locais e de bem-intencionados, porém mal informados, estudantes e intelectu-ais, veem-se artistas de Hollywood e de outras culturas, malabaristas, fanfarrões e pseudointelectuais. Será que esses senhores deixaram de comprar móveis de mogno, ou se manifestaram perante seus gover-nos, ou boicotaram a carne e a soja produzidas na Amazônia?Será que percebem que a área alagada pelo projeto Belo Monte corresponde a tão-somente 0,01% da Amazônia brasileira e que bastaria

Aquecimento global é o problema ambiental; todos os demais são insignificantes.

E a hidrelétrica ainda é a opção que emite menos gases, no longo prazo

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0,025% do rebanho nacional de gado para invadi-la, dentro da média atual de ocupação? Ou seja, da maneira como está planejada, Belo Monte, usina de fio d’água, não há no Brasil melhor opção do ponto de vista de sustentabilidade, que combine condi-ções ecológicas e também financeiras. Que bênção seria se tivéssemos mais uma meia dúzia de Belo Monte!

Neo MoNdo: Como assim, professor. Só há benefícios? Cerqueira Leite: Os mais inteligentes e bem-intencionados “ignocentes” (neologismo composto por 50% de inocência + 50% de ignorância) dirão: e a biodiversidade? Ora, qualquer espécie que esteja espontaneamente restrita a um território de 500 km2, excetuando--se algumas confinadas a pequenas ilhas, já está em extinção. Só um ignorante pode pensar em perda de biodiversidade nessas circunstâncias. E é claro que muitos espécimes vão sucumbir, milhares, se não milhões de formigas, carunchos e talvez até alguns mamíferos. Em compensação, 20 milhões de brasileiros poderão ter luz em suas casas, muitos outros locais passarão a ter benefícios do progresso, poderão ver pela TV o Programa do Ratinho. Indústrias ge-radoras de emprego serão implanta-das. É isso que os “ignocentes” não percebem. Eles veem a árvore, mas não percebem a floresta onde ela está inserida, sem a qual não pode a árvore sobreviver.Quanto à questão social, é preciso lembrar que o caso de Belo Monte é muito diferente do de Três Gargantas, na China, onde a densidade da po-pulação ribeirinha era extremamente elevada. O governo chinês admite que precisou realocar 1 milhão de habitan-tes; outras organizações falam em 2 e até 3 milhões.

Neo MoNdo: A seu ver, como está a convivência e até mesmo a parce-ria entre órgãos públicos, como o Ministério das Minas e Energia e seus derivados ou equivalentes nos estados e municípios, com o setor privado, ONGs, sociedade em geral? Cerqueira Leite: Em casos como esse, em que uma nova oportunidade sur-ge, a ansiedade inicial causa algumas diferenças de opinião; por exemplo, certo constrangimento entre o setor público e o privado ocorreu no que diz respeito à tecnologia do álcool, o que é uma pena, pois o objetivo do setor público é apenas desenvolver tecnologias que sejam aproveitadas pelo setor privado. A mesma falta de entendimento existe entre órgãos do próprio go-verno federal e entre estes e alguns dos órgãos estaduais. Parece ser uma questão apenas de disputa de espa-ços. É uma pena. Todavia, essa compe-tição vem aos poucos se amenizando graças a intervenções do Ministério de Ciência e Tecnologia.

Neo MoNdo: O que tem de ser feito para o Meio Ambiente tornar-se matéria obrigatória nas escolas em todos os níveis, seja nas particulares seja nas públicas? Cerqueira Leite: Algumas escolas se-cundárias têm introduzido a questão ecológica em seus cursos. Obviamente só haverá disciplinas específicas com a conscientização da questão ambiental em diversos setores da sociedade, in-clusive governos estaduais, ministérios e a sociedade como um todo.

Neo MoNdo: O senhor participa de instituições de relevância no cenário nacional. Seria possível resumir o que cada uma delas faz de significativo na questão energético-ambiental? É pos-sível apresentar para nossos leitores os resultados mais expressivos? Cerqueira Leite: A questão da sus-tentabilidade está-se tornando um problema de toda a sociedade, e creio que cada uma das organizações em que atuo, como o Conselho de Ciência e Tecnologia, órgão da Presidência da Republica, tem-se mostrado sensível à questão. O problema atual é que ambientalistas apaixonados com seu extremismo dogmático e pseudocien-

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Perfil

Neo Mondo - Setembro/Outubro 2013

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Instituições de ponta desde estudante

• Engenheiro eletrônico pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA)

• Doutor em Física de Sólidos na Universidade Paris

• Professor do ITA e da Unicamp

• Diretor do Instituto de Física e coordenador geral das Faculdades na Unicamp

tífico tornam difícil uma conscientiza-ção racional dos problemas do meio ambiente. Isto é natural em todo o início de revolução cultural, mas já é tempo de ambientalistas, cientistas e governos se fazerem entender.

Neo MoNdo: No caso da mídia, em recente evento internacional, em Ma-naus, ela foi cobrada por não fazer da questão ambiental uma bandeira, em vez de tratá-la apenas como notícia. O que o senhor acha disso? Cerqueira Leite: É claro que todo mundo acha que é o outro o culpa-do pelos problemas ambientais. A imprensa não é mais culpada do que qualquer outro setor. Durante cinco ou seis anos mantive uma coluna da Folha de S. Paulo denominada “O todo e a parte” e não tive muito sucesso. O amadurecimento em relação à questão ambiental está--se acelerando nestes últimos anos, principalmente na Europa. Acredito que no Brasil isso ocorrerá tan-to mais cedo quanto a sociedade vier a perceber os exageros de suas militâncias. Se um jornal nesse momento fizer uma campanha de esclarecimento, ela não deve ser excessivamente con-tundente. A capacidade de absorção pela população quando se trata de problemas de longo prazo é também lenta. Não devemos esperar milagres.

Neo MoNdo: O que cabe a cada um de nós fazer para termos melhor qua-lidade de vida, a partir dos cuidados socioambientais: o indivíduo, a famí-lia, a escola, as ONGs, as empresas, as instituições acadêmico-científicas? Cerqueira Leite: Hoje creio que ninguém mais defende o desma-tamento. Ele ocorre já no âmbito da marginalidade. Mas devemos lembrar que qualidade de vida não melhora sem uma melhor distribui-ção de renda no país, sem melhores salários, sem empregos; e esta será consequência de melhorias na edu-cação, no saneamento básico e na infraestrutura. A questão ambiental virá como con-sequência dessas outras melhorias.

Neo MoNdo: Obrigado pela entrevis-ta. Fique à vontade para deixar seu re-cado para os leitores de NEO MONDO.

Cerqueira Leite: A questão da bio-diversidade está-se tornando uma religião e não mais um tema de natureza cientifica. Ambientalistas e até mesmo cientistas vêm defendendo a Amazônia devido ao valor financeiro de suas riquezas bioquímicas, de sua biodiversidade, o que é uma reversão histórica. A farmácia até 1950 teve de fato como fonte de seus produtos e de conhecimento a natureza. Hoje, dentre as várias dezenas de milhares de fármacos, apenas um é extraído da natureza. O extrativismo foi a forma inicial de que se valeu a humanidade para sua sobrevivência em seus primórdios; depois vieram a agricultura, a revo-lução industrial, a informática etc. O homem usa hoje a sua inteligência para criar moléculas para toda e qualquer finalidade. Colocar as espe-ranças do desenvolvimento do Brasil em extrativismo, em biodiversidade é um retrocesso inaceitável para um país moderno. Devemos lutar contra o desmatamen-to da Amazônia e de outras áreas que devem ser preservadas, principal-mente devido ao fato de que contêm elas o carbono que pode vir a ser um desastre para a humanidade, pois a quantidade de CO2 que seria produ-zida com a destruição da Amazônia é equivalente àquela devida a todo petróleo que já foi utilizado, mais aquele que ainda resta nas reservas conhecidas. Temos que mantê-la também devido à sua influência no regime de chuvas, essencial para nossa economia Devemos ainda manter a Amazônia porque é parte integrante da iden-tidade nacional.

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Rogério Cezar de Cerqueira Leite

Entre outros títulos recebeu:

• a Ordem Nacional do Mérito da França

• a Cátedra da Universidade de Montreal, no Canadá

• o de Professor Emérito da Unicamp

• o de Pesquisador Emérito do CNPq

• a Ordem Nacional do Mérito (Gran Cruz)

É autor de cerca de 80 trabalhos em revistas especializadas que receberam cerca de 3 mil cita-ções em revistas indexadas.

Títulos e obras

Para o professor e pesquisador eméritos, Brasil não terá competência

em tecnologia nuclear comprando mostrengos como Angra 3

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Neo Mondo - Setembro/Outubro 2013

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Neo Mondo - September/October 201314

Cerqueira Leite: “the best option for Brazil still is the cogeneration of alcohol in sugar

mills… reduced emissions would equally benefit Brazil and the rest of the planet”

Profile

Professor Emeritus of Unicamp, Emeritus CNPq Researcher, and Federal Science &Technology Counselor; when it comes to ‘energy’,

he knows – and shows – what he’s talking aboutFrom the Editor

Enlightenedby his own

I n a month is which we are covering clean energy alternatives, NEO MON-DO sought advice from one of the

greatest authorities in the field, not only for our Special Section article, but also for issues of multiple social and economic in-terests – in light of his expertise and di-versified career: Cerqueira Leite has been a scholar and a Technology Counselor, be-sides having successfully run both private and public institutions.

Rogério Cezar Cerqueira Leite is a Phy-sicist; Professor Emeritus of the State Uni-versity of Campinas (Unicamp), member of the Science & Technology Council of the Presidency of the Republic, President of the Administrative Board of ABTLuS (Brazilian Synchrotron Light Technology Association), and member of Folha de São Paulo’s Publishing Board.

ABTLuS runs the National Energy and Materials Research Center, which is made up of four national labs (Synchrotron, Bio--Sciences, Nanotechnology, and Ethanol).

Cerqueira Leite plays an important role in the development of science, es-pecially in São Paulo, for also being a member and co-founder of the Academia

Paulista de Ciências (Science Academy of São Paulo), besides having acted, for six years, as member of the Higher Council of The São Paulo Scientific Research Support Foundation (Fapesp).

As a researcher, he also chaired the National Synchrotron Light Laboratory (LNLS) from 1985 to 1997, where he still works as President of the Adminis-trative Council.

His track record encompasses activities such as chairing the Campinas Higher Te-chnology Pole Development Company, the Executive Vice-Presidency of the São Paulo Light and Energy Company, consulting jobs for the United Nations (UN) Science and Te-chnology Conference in 1976, and participa-tion in missions on behalf of the Presidency of the Republic of Brazil for international In-dustrial Technology cooperation deals.

Cerqueira Leite did not dodge any of our questions, answering them in a visceral and witty fashion, especially with regard to the issue in the spotlight these days: the cons-truction of ‘Belo Monte’. ‘“Ignocently”, they see a tree, but can’t notice the forest around it”, he says. The interview he kindly granted us is well worth reading.

Cerqueira Leite: On a medium and long term basis our essential envi-ronmental issue is global warming; all other issues seem insignificant compared to it. In other words, if we don’t effectively find an alternative to reducing Greenhouse Gas Emissions

NEO MONDO: Is insisting in the cons-truction of hydroelectric plants the alternative for Brazil? Why? To what extent can this type of energy gene-ration aggregate value as a source of ‘clean energy’ on a medium and long term basis?

(GGE), hydroelectric power will carry on being the alternative with the lo-west CO2 generation and other GHG emissions. And the main impact is clearly in the long run, since a hydro--energy plant is built to work for over

100 years.

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15Neo Mondo - September/October 2013

Of course other options, especially wind power, may be added to syste-ms as secondary energy sources. I say secondary because of the unde-pendability of this type of energy production; the behavior of the wind is inherently hardly ever accurate.

NEO MONDO: Why is there, compa-ratively, so little investment in wind and solar energy in this country: lack of will on the part of the po-liticians? Lack of interest from the private sector? Lack of planning? Or is it simply not worthwhile?Cerqueira Leite: Investments in hydro-electric plants and similar types clean energy generation take long to break even and Brazilian entrepreneurs are used to recovering their investments in just a couple of years. That’s why investments in hydroelectric plants from the private sector are scarce in Brazil. The solution continues being investments from the public sector or loans made to the private sector at very low interest rates. But Brazilian businessmen have many other invest-ment options of quicker ROI.

NEO MONDO: What’s the investment scenario like in the world or in more developed countries? Are there case studies worth replicating and whose solution would be applicable here?Cerqueira Leite: In other countries, interest rates don’t favor speculative investments as generously as in Brazil.

Consequently, the energy segment is somewhat more attractive to the pri-vate sector. That’s particularly true in the North America, but not quite so in Europe, where the public sector still runs the energy generation sector.

NEO MONDO: Do investments in ener-gy also mean contributing to mitiga-ting the effects of global warming? If so, in what way? Or is there no correlation between the two things?Cerqueira Leite: Investing in fossil fuel energy is obviously the most attractive alternative from a strictly financial standpoint, especially because the time to build such plants is relatively shorter, meaning quicker ROI. Howe-ver, such choice becomes onerous if GGE is added to the equation. Today, from both a financial and environ-mental standpoint, the best option for Brazil still is the cogeneration of alcohol in sugar mills. As a matter of fact, it’s a shame that only a tiny share of this potential is actually used and that we still don’t take full advantage of it. This potential might be leveraged when Brazil starts exporting ethanol, which brings a two-fold advantage to the world – financially and envi-ronmentally speaking – since reduced emissions in importing nations would equally benefit Brazil and the rest of the planet.

NEO MONDO: Do you consider positi-ve the initiatives of companies such

as The Industrial Union of Sugar Producers (Unica), who are well ad-vanced in exploiting the potential of the sugar production segment? Cerqueira Leite: I think Unica initiati-ves and those of other groups have been effective in overcoming barriers set by false assumptions that origi-nated in Europe and “elsewhere in the universe”. But even though the Federal government and some State governments have made an effort, however mild it may have been, to fight such backward ideas, the result is still way below the expectations of the sugar-ethanol production sector.

NEO MONDO: When it comes to ‘clean energy’, how do we fare, in Brazil, in relation to other countries, in terms of research, projects, and achievements? Cerqueira Leite: Brazil is at the forefront in terms of hydro energy and sugar-cane ethanol production technology, but we lag behind in terms of solar and wind energy alternatives. Also, when it comes to nuclear power, Brazil has only recen-tly realized that an effort towards incrementing research into science and nuclear technology is necessary, instead of acquiring large-scale ener-gy production projects from abroad. It’s an unforgivable mistake to think that Brazil will ever be competent in nuclear energy technology if we keep on buying outdated white elephants such as Angra 3.

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Profile

Global warming is an environmental issue; all other issues seem insignificant compared to it.

Hydroelectric power will carry on being the alternative with the lowest CO2 generation and other GHG

emissions in the long run

Brazil is only somewhat competent in that field because we went against – though a subtle, shy manner – foreign interests by developing our own ura-nium enrichment system. On account of local interests, which were purely financial, the sugar-cane processing segment very competently developed the 1st generation of refined sugar--ethanol coproduction technology. This happened, above all, because of the bold creation of the ‘Copersucar’ Research Center. However, later on – but not too late – the Federal gover-nment decided to create a dedicated research center focusing mainly on the 2nd generation of ethanol production technology – i.e.: alcohol produced from cellulose – including sugar-cane straw. This initiative is concomitant with the developments brought about by Petrobrás and Embrapa.

NEO MONDO: Belo Monte seems to be in the spotlight these days. What’s myth and what’s fact about the cost--benefit ratio of this endeavor?Cerqueira Leite: The hissy fits these envi-ronmentalists and “eco-morons” are ha-ving and the tantrums they’re throwing in public are totally out of line. Belo Monte is but a hydro-energy plant to be built on the Xingu River in the Amazon. This modern version of Brancaleone’s army is made up of rebel-rousing conser-vationists “of many a species” supported by students armed with good intentions and poor education and the scholars who educated them. Hollywood stars can easily be found in their midst, “amongst other creatures”, alongside myriad foreign and local jugglers, acro-bats, and pseudo-intellectual buffoons. I wonder how many of them haven’t ever bought any mahogany furniture. Have they ever taken a formal manifest to their governments? Would they boycott beef or soybeans produced in the Ama-zon? Don’t they realize that the area to

be flooded by Belo Monte represents only 0.01% of the Amazon and that 0.025% of our cattle would easily use up an equivalent area within the current occupation rates? That means that, as it was planned, Belo Monte, with its running water production technology, has no better option than to be built there, nor is any other lo-cation better in terms of sustainability, combining financial advantages and environmental impact minimization. What a blessing it would be if we had not one, but a dozen Belo Monte!

NEO MONDO: What do you mean, Professor? Are there only advanta-ges? No downsides? Cerqueira Leite: The most intelligent good-willed “ignocents” (neologism meaning 50% ignorant; 50% innocent) would say: what about biodiversity? Please! Any species spontaneously res-tricted to a 500 Km2 territory, except for those few confined in restricted islands, is already in extinction! Only an unedu-cated simpleton would ever consider loss of biodiversity under these circums-tances. And of course many species will succumb; thousands, if not millions of ants, worms, and maybe even a couple of mammals. On the other hand, 20 million Brazilians will have electricity in their homes, countless places will be entitled to a little progress and their people will finally be able to watch the ‘Ratinho’ show on TV. Companies will be attracted to those remote regions and create jobs where today there’s mass unemployment. That’s what our “igno-cent” whiners fail to realize. They see a tree, but fail to notice the forest around it, without which the tree can’t survive. As for the social issue, one must remember that the Belo Monte Case is very different from that of the Tree Gorges, in China, where the popula-tion living alongside river banks was enormous. The Chinese government

admits having to relocate 1 million inhabitants; but other organizations claim they were 2, or even 3 million.

NEO MONDO: In your point of view, how good is the relationship and even the partnership between public agencies, such as the Ministry of Mi-ning & Energy and its State and mu-nicipal counterparts with the private sector, NGOs, and society at large?Cerqueira Leite: In cases such as that, in which a new opportunity arises, the initial anxiety brings about some conflicting opinions – for example; there was some friction between the public and private sectors with regard to ethanol technology. That’s unfortunate, since the private sector’s objective is merely to develop tech-nologies which may be used by the public sector as well. The same lack of understanding is present between Fe-deral and State government agencies themselves. It seems to be a matter of territorial dispute, which is truly a shame. Nonetheless, such competition has been slowly losing momentum thanks to the intervention of the Ministry of Science & Technology.

NEO MONDO: What must be done for environmental studies to beco-me a mandatory subject at all levels of both public and private schools? Cerqueira Leite: Some high schools have added general environmen-tal issues to the courses they teach. Obviously specific subjects will only be formally introduced when several so-cial segments, including State govern-ments, Ministries, and the population at large, become fully aware of the importance of environmental issues.

NEO MONDO: You’re a member of important institutions in the natio-nal scenario. Would it be possible to briefly describe the key things each of them does with regard to the energy/ environment issues? Cerqueira Leite: Sustainability is becoming a growing concern for all society. And I believe that each of the organizations in which I participate, such as the Science & Technology Council – an agency of the Federal government – has been showing interest in this issue.

Neo Mondo - September/October 2013

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At the forefront of education ever since a student

• Electronic Engineering degree from the Air-force Technology Institute (ITA)

• PhD in Physics – Solids – University of Paris

• Professor at ITA and Unicamp

• Director of the Physics Institute and General Faculty Coordinator of Unicamp

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Rogério Cezar de Cerqueira Leite

Among other awards and titles:

• National Order of Merit of France

• Professor of the University of Montreal, Canada

• Professor Emeritus of Unicamp

• CNPq Emeritus Researcher

• National Order of Merit (Gran Cruz)

Author of over 80 works in spe-cialized magazines, which have been quoted over 3,000 times in other publications.

The problem these days is that passiona-te environmentalists filled with dogma-tic and pseudo-scientific radicalism make it hard to foster rational awareness of true environmental issues. This is only natural at the beginning of any cultural revolution, but it’s about time environ-mentalists, scientists, and governments tune up to the same wavelength and start understanding each other.

NEO MONDO: Regarding the media, during a recent international event in Manaus, the press was asked why they don’t turn environmental issues into one of their flagships instead of treating them as common news. What do you think about that?Cerqueira Leite: Of course, we all like to put the blame for environmental issues on others. The press isn’t any guiltier than any other sector of the economy. For five or six years I had a column in the Folha de São Paulo newspaper na-med “The Whole and the Fragment”, which didn’t do very well. Maturity towards environmental issues has been gaining momentum in the last few years, especially in Europe. But in Brazil I believe this will only happen once society realizes the hindrance posed by environmentalist radicalism. If a news-paper now made an awareness cam-paign clarifying the issue it would bear no fruit. The population can’t promptly grasp the importance long-term issues. We shouldn’t expect any miracles.

NEO MONDO: What part does each of us have to play to have a better quality of life from a social-envi-ronmental point of view; that is: individuals, families, schools, NGOs, companies, and academic-scientific institutions?Cerqueira Leite: I believe that no-wadays no one’s openly in favor of deforestation anymore; it’s beco-me a criminal activity. But we must remember that quality of living is directly proportional to better income distribution in the country, better salaries, enough jobs and it’s also a direct consequence of effective invest-ments in education, basic sanitation, and infrastructure. Environmental awareness will surface as a by-product of these other improvements.

NEO MONDO: Thank you for the in-terview. Feel free to leave your mes-sage to the readers of NEO MONDO. Cerqueira Leite: The biodiversity issue is becoming a religion rather than an issue of scientific nature.Environmentalists and even scien-tists are defending the Amazon on account of the economic value of its biochemical resources, of its biodiver-sity, which is like looking back in time. The pharmaceutical industry, until 1950, truly depended on its knowled-ge of nature to survive. Today, of all pharmaceutical products, only one in tens of thousands is extracted from nature. Exploiting natural resources was the primal means of survival for humanity in its early evolutionary stages; which was then followed by agriculture, the industrial revolution, computer science, etc. Humans use their intelligence today to synthe-size any molecule they might need to meet any imaginable purpose. To think all hopes for Brazil lie on extracting natural resources and on our biodiversity is an unacceptable setback for a modern nation. We must fight against the deforesta-tion of the Amazon and other areas that should be preserved mainly because of the carbon they contain, which, if turned into CO2 through deforesting fires, would be equivalent to burning all petroleum ever used to-date plus all reserves known and yet to be exploited – and that would be a disaster for humanity. We must also preserve such areas in light of their influence on the rain, which is essential to our economy. Last but not least, we must preserve the Amazon because it’s an essential part of our national identity.

For the Emeritus Researcher and Professor, Brazil will not be competent in nuclear

energy buying outdated white elephants, such as Angra 3

Awards and achievements

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A mesma lama que pode atrapalhar navios e outras embarcações de tra-fegarem pelo Porto do Rio Grande,

localizado no município gaúcho de mesmo nome, agora contribuirá para alimentar veí-culos e equipamentos do próprio porto.

Projeto desenvolvido pelo Laboratório de Controle de Poluição da Fundação Universida-de Rio Grande (Furg) utilizará a lama dragada do oceano como fonte de geração de energia para baterias utilizadas nesses equipamentos.

O processo aproveita os elétrons envol-vidos na respiração dos micro-organismos encontrados na lama, que durante a quei-ma (oxidação) da matéria orgânica liberam elétrons, que são captados por um eletrodo, gerando uma corrente elétrica. Associado a este reator, um circuito elétrico converte a voltagem desta reação para valores comer-ciais tradicionais (110 ou 220 volts).

“Em escala industrial, estima-se que pos-sam ser gerados até 580 MW, considerando que a dragagem do Porto produz 1,5 milhão de metros cúbicos de sedimentos ao ano”, explicou o professor Dr. Fabricio Santana, que coordena a pesquisa ao lado da profes-sora Dra. Christiane Saraiva Ogrodowski.

Coordenadores da pesquisa Furg, Fabricio Santana e Christiane Ogrodowski mostram a lama retirada do porto

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Vem da lama, mas é LIMPA

Especial - Energias Alternativas

Pesquisadores da Fundação Universidade Rio Grande (Furg), do Rio Grande do Sul, vão aproveitar lodo do porto para geração de energia

Da Redação

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Energia a partir da lama

1º passo – Dragagem As dragagens removem sedimentos que se acumulam com o tempo no fundo do mar, a fim de manter ou aumentar a profundidade dos canais portuários, garantindo o acesso seguro dos navios. O material retirado é separado, parte vira areia e é comercializada e a outra parte, que seria despejada de volta no oceano em profundidades maiores, vai para a Unidade de Tratamento.

2 º passo - Unidade de Tratamento de SedimentosA parte dos sedimentos onde estão instalados os microrganismos capazes de gerar energia é utilizada na geração de energia por meio da queima da matéria orgânica (oxidação).

3º passo – Utilização da energiaA energia gerada é utilizada para carregar as baterias de equipamentos e veículos do próprio Porto do Rio Grande.

A geração de energia seria suficiente para abastecer uma cidade de até 600 mil habitantes.

Segundo Santana, o objetivo é criar uma Unidade de Tratamento de Sedimen-tos de Dragagem, cuja previsão para início das atividades é janeiro de 2011.

Há dois anos, o processo de bioconver-são da lama em energia elétrica vem sendo estruturado pelos pesquisadores que con-tam com o apoio de outros profissionais participantes de convênios com órgãos de fomento estaduais, federais e privados.

O projeto conta com financiamento da Secretaria Estadual de Ciência e Tecno-logia do Rio Grande do Sul, que investirá R$ 300 mil, e do Porto do Rio Grande, que injetou R$ 60 mil, além do custo estima-do em R$ 300 mil que será pago pela Furg pelo trabalho dos pesquisadores.

“Atualmente, encontra-se em fase de laboratório, estão sendo realizados experi-mentos para o dimensionamento da planta piloto, próxima etapa do estudo”, revelou.

Assim que implantada, a Unidade será a única do gênero no mundo, já que as ou-tras iniciativas de que se tem conhecimen-to visavam utilizar o sedimento oceânico para geração de energia, mas sem removê--lo da superfície marinha.

“Esta alternativa é muito questionada, já que pode provocar um desequilíbrio no meio ambiente”, contou Santana.

O projeto gaúcho, ao contrário, é total-mente seguro à vida marinha, pois utiliza o material já retirado, oferecendo solução para um problema de esfera mundial, que é a destinação desses sedimentos.

Menor impactoA lama retirada dos portos contém

uma parte inerte (areia), que corresponde a 96% e pode ser comercializada. O res-tante do sedimento, onde estão presen-tes micro-organismos capazes de gerar eletricidade, é armazenado e depois des-pejado no oceano, em áreas onde causa menor impacto ambiental.

Segundo o professor Santana, a lama do Porto do Rio Grande pode ter sido benefi-ciada pelo fato de ser este canal uma ligação natural da Lagoa dos Patos com o oceano, proporcionando maior teor de matéria orgâ-nica e criando características diferenciadas.

“Mas isso não impediria a aplicação desta tecnologia a outros portos”, garantiu.

Ao menos no Porto do Rio Grande, o se-gundo do país e um dos mais importantes da América Latina devido à sua posição geográ-fica e extensão, a geração de energia limpa é uma questão de tempo.

Para o professor Santana, mesmo a ge-ração biológica não sendo a alternativa mais desenvolvida atualmente, em comparação à eólica, solar e hidráulica, por exemplo, soma-das, essas tecnologias podem incrementar a matriz energética do país.

“Sabe-se que a solução para a escassez de energia não está associada com o uso de apenas um tipo de tecnologia ou fonte e sim com o aproveitamento pleno destas possibi-lidades”, encerrou.

A estimativa é que e, em escala industrial, possam ser

gerados até 580 MW

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Vem da lama, mas é LIMPA

Porto do Rio Grande é considerado um dos mais importantes da América Latina devido à localização estratégica

Representação da geração de energia a partir da instalação da Unidade de Tratamento

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A clássica pergunta “o que você leva-ria para uma ilha deserta” pode ago-ra ser projetada em outro contexto

– esse sim, muito mais real. O cenário é a Ilha de Marajó, localizada na foz do rio Amazonas, considerada a maior ilha flu-vial-marítima do mundo. Em vez de itens de beleza, tecnologia e entretenimento, o Grupo de Energia, Biomassa e Meio Am-biente, da Universidade Federal do Pará, de-cidiu levar aos moradores da ilha um item de difícil acesso, mas essencial: energia.

O grupo, criado com o intuito de de-senvolver pesquisas e projetos aplicados na área de produção de energia a partir da queima direta de biomassa, foi respon-sável pela criação de usinas de porte pe-

Alternativa que vem

Usinas flutuantes de biomassa reaproveitam sobras de materiais e renovam comunidades inteiras no Pará

Da Redação

queno para atender a demanda de comu-nidades isoladas da ilha. “Até então, essas pessoas contavam com geradores a diesel para ter energia elétrica – a pouca renda que tinham ainda tinha que dar para a compra do combustível. Nós entendemos a dificuldade em gerar energia”, afirma o coordenador Gonçalo Rendeiro.

O especialista em energia de biomassa explica que as usinas se adequam ao perfil e à demanda de cada comunidade e apro-veitam os resíduos locais – “um vetor de desenvolvimento acoplado a um processo produtivo.” O projeto, que tem apoio do Ministério das Minas e Energia, do CNPq, da Eletrobrás e da Rede Celpa, proporcio-na duas vantagens que se destacam. Além

da possibilidade de gerar energia a partir de restos que iriam para o lixo (como óleo vegetal, lascas de madeira, folhas, frutos e até lixo), economiza-se o dinheiro anterior-mente destinado para compra de óleo die-sel - vendido exclusivamente por empresas sediadas no Centro-Sul do país e causador de impactos ambientais, como chuva ácida e emissão de gases estufa.

O sistema tem um ciclo sustentável re-dondo: além de não agredir a natureza, as usinas aproveitam resíduos extrativistas, ajudam no desenvolvimento econômico da região e ainda beneficiam os trabalhadores responsáveis pela plataforma, que são trei-nados e acompanhados até serem capazes de gerenciar o processo de forma independente.

Especial - Energias Alternativas

das cinzAs

Projeto Usina Flutuante: potência de 50 kW acoplada a uma fábrica de extração de óleo vegetal

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Cada unidade é constituída basicamente por uma caldeira, uma turbina, um gerador, um condensador, um tanque de condensados, um sistema de bombea-mento e um sistema de tratamento de água.

Quando a biomassa é queimada na fornalha da caldeira, gera-se calor. O calor, ao entrar em contato com a água, se transforma em vapor que, por estar em alta pressão e alta temperatura, gira as pás da turbina. A rotação da turbina aciona o gerador, que produz energia suficiente e estável para o funciona-mento da usina e para a comunidade.

como funciona a biomassa

Tudo novo, de novoO primeiro projeto voltado para aten-

der as demandas de energia elétrica em locais distantes aconteceu em 2004. As duas primeiras usinas eram de alvenaria e levaram pouco mais de um ano para ser construídas. No meio desse processo, surgiram os obstáculos. “Havia dificulda-de em encontrar mão-de-obra e material, além do problema do transporte – aqui os rios são as estradas”, conta Rendeiro.

Por isso, a equipe criou plataformas flutuantes. Além de levar menos tempo para construir (seis meses apenas), esses tipos de usina podem deslocar-se facil-mente por rios e atracar em comunidades ribeirinhas, que vão de 80 a 300 pessoas.

Segundo o coordenador, três unidades já funcionam e cinco irão ficar prontas ainda neste ano. Uma delas, responsável pela geração de 50kW de energia, atende a comunidade de Santo Antônio e fornece eletricidade para uma fábrica de gelo, uma fábrica de extração de óleo e uma câmara frigorífica que armazena produtos agríco-las e pescado.

Com esse sistema é possível tornar praticamente todos os tipos de resíduo em biomassa para produção de energia – até lixo. Rendeiro conta que atualmente essa possibilidade passa por análise da prefei-tura local e garante a viabilidade desse tipo de aplicação. “Com o auxílio das usi-nas, é possível diminuir a quantidade de lixo e ainda gerar energia elétrica. E ainda existe o benefício de que esse projeto pode ser aplicado em qualquer lugar”, conclui.

Com informações de Beira do Rio

Projeto Enermad/Buriti: usina de de 200 kW. estufa para secagem de madeira e uma Fábrica de Extração de óleo vegetal

Projeto Marajó: usina de 200 kW, fábrica de gelo com câmara frigorífica e fábrica de extração de óleo vegetal

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Fábrica de extração de óleo Vegetal

Usina de 200kW

Usina de 1 kW para atendimento de 5 residências isoladas

Fábrica de Gelo e Câmara Frigorífica Fábrica de Óleo

Vegetal

Usina de Geração de Energia Elétrica

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Especial - Energias Alternativas

O S l brilha para todos

Os benefícios, novidades e perspectivas proporcionados pela energia do astro-rei

Da Redação

Quem diria que toda a tecnologia re-lacionada à energia solar, uma das vedetes responsáveis por oferecer

uma alternativa limpa e renovável, pode ser comparada ao funcionamento de orga-nismos presentes num jardim - as plantas. Por meio da clorofila (substância verde das folhas semelhante à hemoglobina do nos-so sangue) esses organismos são capazes de capturar os raios de sol e transformá--los no próprio alimento. Este mesmo con-ceito pode ser aplicado aos painéis solares, que utilizam o sol para aquecer ou gerar energia elétrica.

As vantagens desses tipos de sistema vão do bolso do consumidor até o meio am-biente. Não é à toa que cerca de 1 milhão de estabelecimentos (dos quais 66% são re-sidências) já adotaram esse mecanismo, de acordo com a Associação Brasileira de Re-frigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento / Departamento Nacional de Aquecimento Solar (Abrava/Dasol). Com o aquecimento solar é possível economizar até 70% de energia elétrica ao ano - por ser capaz de substituir o gás e a eletricidade - e recuperar o preço do investimento entre 2 e 3 anos, segundo a fabricante Soletrol. Além

disso, o fato de ser um tipo de energia re-novável e que não agride a natureza pode beneficiar a consciência de muita gente que deseja contribuir com a causa sustentável.

Apesar dos benefícios, a energia foto-voltaica ainda engatinha aqui no Brasil. Os principais motivos são a inexistência de uma política nacional que viabilize a produção em larga escala e os obstáculos para a produção de silício grau solar. Este tipo específico de silício, elemento básico para a produção das células fotovoltaicas, caracteriza-se pelo elevado custo de produ-ção e pela alta pureza, que aumenta sua pro-

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O S l brilha para todos

Os benefícios, novidades e perspectivas proporcionados pela energia do astro-rei

Da Redação

jeto de Lei do Senado 336/09, que concede isenção do Imposto de Importação às células solares fotovoltaicas, assim como suas partes e acessórios, de autoria do senador João Vi-cente Claudino (PTB-PI).

Apesar da lentidão do processo legislati-vo e da demora pela aprovação dos referidos projetos de lei, o advogado Diego Medina explica que ainda é possível contar com outras formas de fomento à energia limpa. De créditos especiais em bancos privados, bolsas, editais e subsídios até programas de órgãos governamentais que podem investir em novas tecnologias (como a Financiadora de Estudos e Projetos - Finep, do Ministério da Ciência e Tecnologia), benefícios fiscais ou Terceiro Setor, opções não faltam. “Há estados que concedem isenções tributárias nas operações com equipamentos e compo-nentes para o aproveitamento das energias solar e eólica. Por isso, quem quer investir em energia limpa deve estar atento à legisla-ção nacional e regional”.

Eventos de grande porte como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 também prometem impulsionar e disseminar a aplicação dessa tecnologia. Mesquita afirma que o seminário Copa do Mundo de 2014: normatização para obras sustentáveis, promovido pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), apresentou o aquecimento solar como uma importante contribuição para a infraestrutura neces-sária aos eventos por ser limpo, com um excelente potencial energético e economi-camente viável. “Temos uma verdadeira usina solar limpa e gratuita, funcionando o ano todo, em todas as regiões. Por isso, pre-vemos aplicações em hotéis, alojamentos,

priedade de semicondutor elétrico e ramifi-ca seu uso para chips e outros componentes eletrônicos. O professor Paulo Roberto Mei, do Departamento de Engenharia de Mate-riais, da Unicamp, explica que o mercado nacional ainda foca no silício metalúrgico, a forma impura do mineral, que é facilmente encontrado na natureza e que é usado nesse setor principalmente para dar liga metálica no aço, latão e bronze. Por esses motivos, o Brasil atualmente importa placas fotovoltai-cas de marcas como Kyocera, Sharp, Sanyo e SS Solar.

O gestor da Dasol Marcelo Mesquita afirma que os pontos de maior dificuldade são o valor de produção e a pouca maturi-dade do setor. “Apesar da redução do IPI e da devolução do ICMS, [o custo] ainda é um impeditivo para a competição no mercado de aquecimento de água. A desverticaliza-ção do setor, por sua vez, requer desenvol-vimento de toda a cadeia e a formação de profissionais instaladores para atender a demanda crescente.” Além disso, Mesquita acredita que o desenvolvimento da cultura ecológica na sociedade seja um ponto vital. “A conscientização da população pode ser considerada como desafio, apesar de já es-tar acontecendo de maneira acelerada.”

Uma nova era solar?

As expectativas para a mudança do cenário atual são grandes. O especialista e professor da Universidade Federal de San-ta Catarina (UFSC) Ricardo Ruther afirma que o aumento dos custos de produção de energia elétrica e a futura redução das despesas de fabricação das placas fotovol-taicas serão um verdadeiro impulso para a área. “Temos boa insolação e a maior re-serva de quartzo do mundo, de onde se ex-trai o silício, usado nas células solares. De-senvolver o setor é questão de dez anos”.

Para Mesquita, uma das novidades po-sitivas no setor é a busca da utilização do sistema de aquecimento solar em projetos habitacionais, como nos programas da Companhia de Desenvolvimento Habita-cional e Urbano (CDHU), das Companhias de Habitação (Cohab) e das casas construí-das pelo programa da Caixa Econômica Fe-deral Minha Casa Minha Vida. “As vanta-gens em usar o chuveiro solar híbrido são grandes, pois os chuveiros elétricos ficam desligados como reserva para eventuais si-tuações de longo período sem sol.”

Embora cogitada como item obrigató-rio no início do projeto, as placas solares serão opcionais e chegarão a apenas uma

parte do 1 milhão de casas que o governo pretende construir. O grupo de trabalho, que tem representantes dos ministérios do Meio Ambiente, de Minas e Energia, das Cidades, além da Caixa Econômica Federal, do Instituto Nacional de Metrolo-gia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) e empresários do setor, ainda não definiu metas ou o número mínimo de unidades habitacionais que deverão re-ceber o sistema de aquecimento solar. De acordo com Vânia Soares, coordenadora de Energia e Meio Ambiente da Secretaria e Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, essa iniciativa irá depen-der das construtoras ou das prefeituras.

Saindo do papel

“A legislação vem-se consolidando e aperfeiçoando suas aplicações. À medida que o aquecedor solar é implantado em municípios, aumenta a obrigatoriedade nas edificações e em alguns segmentos produti-vos da sociedade”, destaca Mesquita.

A maior dificuldade, de fato, é aprovar e aplicar o que está no papel. Algumas das iniciativas nacionais que ainda tramitam no Congresso Nacional são o Projeto de Lei 630/03, que institui um fundo especial para financiar pesquisas e fomentar a produção de energia elétrica e térmica a partir da energia solar e da energia eólica, de autoria do depu-tado Roberto Gouveia (PT-SP); o Projeto de Lei do Senado 311/09, que institui o Regime Especial de Tributação para o Incentivo ao Desenvolvimento e à Produção de Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Reinfa) e estabelece medidas de estímulo à produção e ao consumo de energia limpa, de autoria do senador Fernando Collor (PTB-AL); e o Pro-

Placas solares são cogitadas em projetos habitacionais e podem aparecer em obras da Copa do Mundo e Olimpíadas

Neo Mondo - Setembro/Outubro 2013

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novidade do setor. Ainda em fase de con-sultas com empresas do setor energético, órgãos do governo e empresas de con-servação de energia, o projeto tem como pontos principais a conscientização da po-pulação, do setor público e medidas que possam trazer benefícios financeiros e fis-cais (como leilões de eficiência energética, estímulos para indústrias, programas de etiquetagem, entre outros).

A elaboração do plano tem passado atupor grandes complexidades devido a

Além de depender da energia solar, ambos os processos precisam de placas específicas que serão res-ponsáveis por captar e transformar a energia. Entenda em detalhes como funciona a energia solar:

As placas para aquecer água são es-curas com o intuito de absorver o má-ximo possível de radiação solar. O calor é então passado para as serpentinas internas da placa (geralmente feitas de cobre, um material altamente condu-tor), que contém água fria provenien-te de um reservatório ligado à caixa d’água. Após passar por esse tubo, a água esquenta e vai para o boiler, um reservatório térmico específico para manter a temperatura. Dessa forma, a água chega muito quente aos chuvei-ros da casa, o que explica a necessidade de ter uma torneira para cada tipo de água (quente e fria), para poder atingir uma temperatura agradável.

A energia fotovoltaica, por sua vez, requer placas compostas por células fei-tas de materiais semicondutores, como o silício (já citado anteriormente). Quando partículas de luz solar (fótons) se chocam com os átomos do material que reves-

restaurantes, hospitais, lavanderias, vestiá-rios, piscinas, entre outros.”

Apesar da localização privilegiada do Brasil, que permite uma boa taxa de in-solação em várias regiões no ano todo, o país ainda está no 10 º lugar no ranking de utilização da matriz solar como fonte de energia – ficamos atrás de China, Israel, Áustria, Índia, Turquia, Alemanha, Japão, Estados Unidos e Austrália.

Com metas de longo prazo, o Plano Nacional de Eficiência Energética é outra

Irmãos de Sol

Especial - Energias Alternativas

uma série de alinhamentos que precisam ser feitos para garantir o não aumento de tarifas, o respeito a contratos existentes (principalmente das concessionárias com o governo e dos consumidores com as dis-tribuidoras), a expansão rápida do acesso à rede elétrica em todas as regiões do país e integração sul-americana.

Apesar disso, o diretor do Departa-mento de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas Energia, Hamilton Moss, afirma que o plano será anunciado antes do final de 2010 e estará alinhado com a meta de reduzir em 10% a deman-da por eletricidade no país até 2030. Para ele, o Brasil, comparado a outros países, tem menos urgência para implementar ações na área devido aos números atuais relacionados à eficiência energética: cerca de 70% da matriz elétrica e 48% da matriz energética total brasileiras provêm de fon-tes renováveis.

Com informações de Revista Sustentabilida-de, Inovação Tecnológica, Soletrol, Planeta Sustentável, SuperInteressante, EcoDesen-volvimento, Energia

Segundo o Estudo Prospectivo para Energia Fotovoltaica, desenvol-vido pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), o Brasil precisa seguir alguns mandamentos para que se torne uma das principais lide-ranças no setor de energia solar:

• Laboratórios modernos• Centros de referência

integrados

O que nos falta

• Investir em desenvolvimento de tecnologia (para obter energia solar fotovoltaica a baixo custo)

• Estabelecer um programa de distribuição de energia com sistemas que conectem casas, empresas, indústria e prédios públicos

• Especialistas para o mercado – estima-se que o mundo irá precisar de 37 milhões de profissionais para atuar no setor até 2030

Fonte: EcoDesenvolvimento

Com informações de Soletrol, Guia da Energia Solar e artigo de Miguel C. Brito e José A. Silva, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

te a placa, elétrons se deslocam, e essa energia gerada carrega uma bateria. A tecnologia requerida por este processo vem sendo aprimorada com o tempo, já que em 1839 o físico francês Edmund Bec-querel descobriu o efeito fotovoltaico em uma experiência com eletrólitos (substân-cias que se tornam condutoras de eletri-cidade com a adição de um solvente ou aquecimento). Trinta e oito anos depois, W.G. Adams e R.E. Day construíram a pri-

meira célula solar com selênio, elemento que converte luz diretamente em eletri-cidade, mas com baixíssimo rendimento. O silício grau solar para fins industriais só veio a ser desenvolvido em 1940/1950, quando o método Czochralski (nome de um cientista polonês) foi desenvolvido para fins industriais. Atualmente, cada metro quadrado de coletor fornece 170 watts - pouco menos que três lâmpadas comuns de 60 watts.

água quenteágua fria

coletor solarboiler(reservatório térmico de água quente)

caixa d’água da residência

sistema auxiliar elétrico(para dias em que o sol não aquece a água plenamente)

Neo Mondo - Setembro/Outubro 2013

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Neo Mondo - Setembro/Outubro 2013 25

Marcio Thamos

N o limiar do terceiro milênio, vemos o surgimento de uma preocupação socioambiental auspiciosa. Uma

outra ordem, mais democrática, mais sen-sível, mais humana, gradualmente parece impor-se no mundo globalizado, ao mesmo tempo em que, com os rápidos avanços da ciência e da tecnologia, vislumbramos, fas-cinados, um novo nível civilizacional que a humanidade estaria apta a atingir.

Mas uma ampla consciência ecológica só poderá ser alcançada mediante esforços con-tínuos visando a uma educação que favoreça decisivamente o processo de interação do homem com o meio ambiente. Ao insistir na necessidade de colaboração internacional para a preservação da vida e para a elevação da qualidade de vida no planeta, a ideia de uma fraternidade universal naturalmente tende a se reforçar. Assim, o conceito de hu-manidade se expande na medida em que o espírito humano encontra condições para se desenvolver (eis aí o que parece um impor-tante ganho do nosso tempo).

A ciência e a tecnologia, no entanto, não podem por si mesmas apontar esse caminho para a evolução do homem. Tudo o que com elas se faça depende e dependerá sempre de escolhas ditadas por valores socialmente construídos, lenta e moralmente arraigados. A ciência e a tecnologia em si mesmas não são boas nem más – são possibilidades que se co-locam à disposição da vontade humana, crian-

Mitologia clássica: a invenção da

do novos meios que podem influir tanto na elevação quanto na dissipação da inteligência. Tudo depende do uso que deles se faça. Daí a necessidade de alimentar continuamente o espírito, educando a sensibilidade. Daí a im-portância da cultura e da imaginação, funda-mentais na estruturação do pensamento.

Por conta de um pragmatismo e de um imediatismo crescentes nos dias de hoje, o estudo da cultura clássica, base de todo o hu-manismo, foi sendo relegado em nossas es-colas a ponto de desaparecer dos currículos oficiais do ensino fundamental e médio. Em consequência, o acesso ao legado do antigo mundo greco-romano e o despertar para os valores clássicos, sobre os quais se assentou a sociedade ocidental desde o Renascimen-to, tornou-se mais difuso e pouco sistemáti-co para as jovens gerações. A perda que daí advém para a formação do espírito é certa-mente incalculável. E, por isso mesmo, num tempo em que tudo escoa pelo crivo simplis-ta e quantificador das planilhas de avaliação, não podendo ser reduzido imediatamente a números, esse prejuízo passa despercebido.

Ninguém menos do que Einstein afir-mava que a imaginação é mais importante que o conhecimento (uma vez que o progres-so do conhecimento, o que de fato importa, depende de nossa capacidade criativa).

A invenção da humanidade – isto é, o reconhecimento de características específi-cas do homem, que nos distinguem como

seres no mundo, a valorização de nossa própria natureza e a consciência de que per-tencemos a um grupo maior, ao qual perma-necemos ligados por laços intrínsecos – se deu inequivocamente na Grécia Antiga, após um imemorial processo de evolução do pen-samento primitivo. Perscrutando o mistério da existência, a imaginação do povo helêni-co criou uma série praticamente inesgotável de relatos míticos que sobreviveram por muitas gerações e foram o tesouro dos po-etas antigos. Assimilado e enriquecido pelos romanos, esse patrimônio cultural jamais deixou de influenciar as artes e as ciências das épocas posteriores, no mundo que se re-construiu sobre os fundamentos da cultura greco-romana. Na essência, ainda somos o que fomos desde então.

Por isso estou pensando em recontar aqui um pouco dessas fábulas que incremen-taram nossa imaginação no decorrer dos tempos e, de certo modo, levaram à inven-ção do que chamamos humanidade.

Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas

junto ao Departamento de Linguística da UNESP-FCL/CAr,

credenciado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da mesma instituição.

Coordenador do Grupo de Pesquisa LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica.

E-mail: [email protected]

HUMANIDADE

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E stive em Hiroshima, em Nagasaki, cidades bombardeadas por ordem do presidente dos EUA, Harry Tru-

man. E também em aldeias africanas des-truídas por napalm por aviões da Otan por ordem dos generais de Salazar.

Nesses locais, totalmente destruídos pela insensatez de poderosos, a natu-reza deverá trabalhar milhares de anos para que o meio ambiente volte a ter vida,para que a terra novamente frutifi-que.Foram experiências marcantes que nunca irei esquecer.

O que me faz refletir sobre a origem da vida, e nossa sobrevivência neste plane-ta. A terra é a fonte primeira da energia e devemos preservá-la, com a seriedade dos líderes sioux quando discutem se podem ou não derrubar uma árvore, e se esse ato irá ou não prejudicar a oitava geração.

Precisamos aprender com a sabedoria milenar do taoísmo, budismo, xintoísmo, dos povos africanos e pré-colombianos de Nossa América. Os pressupostos de seus

nova visão de mundo seja no contexto científico seja sociológico, onde a carac-terística unilateral é a concepção da uni-dade e da coexistência e alternância de valores opostos.

Esse pensamento em física surge com a teoria da relatividade, enquanto que nas tradições filosóficas do Oriente a maior parte de seus conceitos inclui o tempo e a mudança como elementos essenciais. Essa concepção é a parte in-tegrante da visão da realidade que se torna à base das tecnologias, sistemas econômicos e instituições sociais. Daí a necessidade de dominar e de controlar o conhecimento científico para uma atitu-de de cooperação e não de violência na sociedade, ou ao meio ambiente.

Nós, enquanto seres vivos, observa-mos e estudamos a movimentação da energia vital em nosso planeta; os avanços da Física no século XX, com a descoberta dos quanta, pode nos ser extremamente útil, pois aponta para o papel do observa-

ensinamentos – confirmados pela física contemporânea – afirmam que o mundo é constituído de energia vital, de uma força presente nos seres humanos, nas coisas animadas e inanimadas, no mundo exis-tente e no preexistente.

Os homens/mulheres são poderosos, pois são a força com inteligência capaz de manipular a força destituída de inteligên-cia (ou seja, todo o meio ambiente que nos cerca). Assim, cabe a nós, seres vivos, com domínio sobre a natureza, cuidar dela, mantê-la, preservá-la afinal, fazemos parte da mesma.

Como nos ensina F.Capra(1), fazemos parte do universo, somos parte consti-tuinte do mesmo (leiam a obra “O tao da Física” ou “Ponto de mutação); esse cien-tista nos recomenda cuidar do planeta como um animal cuida de seus filhotes, e jamais nos arriscarmos a destruir a ener-gia viva existente no mesmo. Nessa obra, faz um paralelo entre a Física Moderna e o pensamento oriental levando a uma

O cosmos é

em movimento

Neo Mondo - Setembro/Outubro 2013

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27

Professora doutora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade

de São Paulo, socióloga pela FFLCH\USP, mestre pela Universidade

de Uppsala, Suécia, e Professora convidada para ministrar aulas sobre

Cultura Brasileira na Universidade de Estudos Estrangeiros,

no Japão, em Kyoto.E-mail: [email protected]

Dilma de Melo Silva

dor na constituição da realidade, a impor-tância dos processos cognitivos relaciona-dos às estruturas sociais.

Autores como Maturama, Varela, Ca-pra, Pregogine, Morin são alguns dos que apontam para a importância do observa-dor na constituição da realidade, já que o mundo nos é dado através da experiência do sujeito, o meio e suas interações estão referidos a esse sujeito.

Todos os sistemas vivos são unidades de interações,interagimos entre nós – seres vivos, animados, com inteligência/consciên-cia – e também com os demais seres vivos, sem inteligência, sem consciência de si.

A realidade é feita de inter-relações dos diferentes níveis de concretude da força/energia vital, dentro e fora de nós.Nas primeiras décadas do século XX o avanço cientifico passa ter uma alteração complexa, surgindo em primeiro plano o princípio da complexidade.

A Física Contemporânea com o princi-pio da incerteza/complexidade/complemen-

taridade de Bohr e de Heisenberg introduz o observador na observação. O objeto da ciência não é mais um objeto, mas um sis-tema com atividades autorreguladoras, cada elemento último esperado pela Física não é encontrado, mas sim o incerto, o contraditó-rio – a partícula ora se comporta como onda, ora como corpúsculo. Após a descoberta do átomo, tivemos a descoberta da partícula, e depois a descoberta dos quanta, que nos re-mete ao principio da incerteza.

Desde Heráclito de Éfeso (século V a.C.) temos uma visão processual da rea-lidade como um vir-a-ser, como um mo-vimento, como metamorfoses, como mu-tações, essa linha de pensamento propõe uma visão processual da realidade, num permanente fazer-se.

Como nos bem ensinou Ruy Galvão de Andrada Coelho, valendo-se de Hus-serl, a realidade não se dá a conhecer em sua totalidade, em sua essência, mas atra-vés de manifestações, de fenômenos atra-vés do quais o real se apresenta à consci-

ência humana(2). O conhecimento resulta do encontro do objeto – naquilo que ele se dá à percepção – com a consciência intencional do homem. Assim, sujeito e objeto se fundem; existe uma relação recíproca entre noese e noema, entre os fatores constituintes e constituídos no processo de conhecimento.

Torna-se, assim, imprescindível per-ceber a subjetividade como fator partí-cipe da formação do conhecimento; a própria afirmação: visão de mundo pres-supõe a existência de um sujeito e, desse modo, reconhecer o papel indispensável da consciência no processo cognitivo, nos vermos como ser-no-mundo, fundi-dos e interligados uns com o(s) outro(s) e com a natureza.

O mundo é feito de energia, o cosmos é feito de energia pura, energia em mo-vimento, num caos de incertezas, no qual está imersa a vida. E o equilíbrio é instá-vel, cabendo a nós seres humanos a tarefa de mantê-lo.

Citações:CAPRA, F. O ponto de mutação, Cannes: 1990 (vídeo)O tão da física,SP:Ed. Cultrix,1983COELHO,R.G.A. Ficção e Realidade in Re-vista Arte Cultura da América Latina.SP: CESA,2004

O cosmos é

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de vento em popa

Especial - Energias Alternativas

Usina eólica na cidade de Walla Walla, Estados Unidos. País lidera a lista dos que mais geram este tipo de energia

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D ados divulgados pelo Conselho Global de Energia Eólica (GWEC, na sigla em inglês), em fevereiro,

apontaram que a produção de energia eó-lica no Brasil cresceu mais do que o do-bro da média mundial, que registrou 31%. O crescimento brasileiro foi maior, por exemplo, que o dos Estados Unidos, que teve aumento de 39%, o da Índia (13%) e o da Europa (16%), mas menor que o da China, cuja capacidade de geração am-pliou-se em 107%.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Ricardo Simões, o aquecimento do setor é reflexo de um processo que vem desde 2002, quando o governo federal instituiu o Programa de Incentivo às Fontes Al-ternativas de Energia Elétrica (Proinfa).

“Vários parques eólicos participantes do Proinfa entraram em operação no ano passado. Contudo, o grande fato foi o Leilão de Energia de Reserva que contra-tou 1.800 MW de potência instalada para entrada em operação em 2012”, explicou.

O leilão, realizado em dezembro, foi o primeiro exclusivo de energia eólica e os 1.805 MW comercializados se di-vidirão em investimentos a serem rea-lizados em cinco estados brasileiros: o Rio Grande do Norte com 657 MW, o Ceará com 542 MW, a Bahia com 390 MW, o Rio Grande do Sul com 189 MW e Sergipe com 30 MW.

“Foi uma mudança de paradigma. Para que se tenha uma ideia, hoje a capacidade instalada de energia eólica no Brasil é de 700 MW, entre o final deste ano e início do próximo passaremos para 1,4 mil MW e já em 2012, como consequência do leilão, teremos 3,4 mil MW de capacidade de ge-

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Emissão reduzida de CO2 e matéria-prima abundante são alguns dos atrativos da

modalidade que cresceu 77,7% no país, em 2009Da Redação

ração de energia eólica. Isso significa dizer que iremos quadruplicar a capacidade ins-talada em relação a 2010. Mas isso não é muito, e o que impressiona é que esse vo-lume corresponde apenas a 2,5% da capaci-dade instalada no país”, completou Simões.

Se no território nacional, a força dos ventos ainda é pouco representativa, em termos mundiais a participação do Brasil é ainda menor. Mesmo com tanto cresci-mento, o país ainda representa cerca de 0,38% da produção mundial.

Segundo Simões, um dos principais entraves para o desenvolvimento do setor é o peso da carga tributária.

“Para enfrentar essa dificuldade é ne-cessário um regime tributário específico que contemple a cadeia produtiva como um todo, e não com benefícios fiscais iso-lados e temporários”, opinou.

Neste sentido, a Abeeólica vem discu-tindo com o governo federal a implemen-tação do Renovento, regime tributário especial para desonerar desde a matéria--prima até a operação dos parques eólicos.

A eólica é irmã siamesa da energia hidráulica e absolutamente complementar a esta“ ”

Simões prevê quadruplicar capacidade até 2012

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Publicado na edição 36

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Mas por que a opção eólica, se o Bra-sil tem tanto potencial hidráulico para gerar energia?

A resposta, segundo Simões, está na diversificação. “Temos o privilégio de pos-suir recursos hidráulicos extraordinários e, assim, por muitos anos a nossa matriz continuará sendo predominantemente da forma que conhecemos hoje - com as hidroelétricas - e é bom que seja assim, porque essa é a mais competitiva de todas

E é justamente neste ponto que, segun-do ele, o crescimento da oferta de energia calcada em bases hidráulicas e eólicas, dada a complementaridade e contrasazonalida-de, faz com que o Brasil tenha uma condi-ção extremamente diferenciada e competi-tiva, em comparação com outros países.

Como estimulante da competitividade, o Leilão de Energia de Reserva (LER) fun-cionou bem já que também estimulou o aumento da escala na fabricação de equipa-mentos e componentes de geração eólica.

Por isso Simões destaca a importância desta política. “A continuidade de leilões específicos para energia eólica pode tornar o Brasil uma plataforma de domínio tec-nológico desta rota de geração”, opinou. Ao menos na edição do LER 2010, que será realizada em agosto, as eólicas terão que dividir espaço com termelétricas mo-vidas a biomassa (bagaço de cana-de-açú-car, resíduos de madeira e capim elefante) e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Até agora, porém, segundo informa-ções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), as usinas movidas a vento são a grande maioria: representam 82% das 517 usinas cadastradas para concorrer ao leilão de fontes alternativas destina-das ao fornecimento de energia em 2013. Juntas, todas as cadastradas terão uma ca-pacidade instalada de 15.774 megawatts (MW), sendo que as 425 eólicas têm capa-cidade para 11.214 MW.

Mesmo com dados tão promissores, o setor ainda tem desafios pela frente. Para que a energia que vem dos ventos se firme de vez em solo brasileiro é preciso resolver uma importante questão: o alto custo de produção.

A energia gerada por essa alternativa cus-ta entre 60% e 70% a mais que a mesma quan-tidade oriunda de uma usina hidrelétrica.

Segundo Simões, o processo para bai-xar este custo já começou.

“A energia eólica no Brasil está em fase de ampliação da sua competitivi-dade. Basta comparar o preço praticado no Proinfa e o preço médio do Leilão de 2009. No Proinfa os valores são de R$ 260/MWh, enquanto no leilão o preço médio foi de R$ 148/MWh”, destacou.

Segundo ele, a melhoria na qualidade dos projetos, a percepção de risco dos in-vestidores com o contrato ofertado no lei-lão, a situação cambial do ano passado e os efeitos da crise de 2008 influenciaram na redução dos custos.

as fontes. Mas a eólica é irmã siamesa da energia hidráulica e absolutamente com-plementar a esta”, afirmou.

Segundo ele, a característica comple-mentar pode ser verificada até em termos de sazonalidade.

“Os ventos são mais fortes e mais constantes justamente quando não está chovendo, nos períodos em que os re-servatórios de água das hidros estão secando”, explicou.

Especial - Energias Alternativas

Turbina da usina localizada em Macau, no Rio Grande do Norte, pertencente à Petrobrás

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Como funciona?Energia eólica é a energia cinética contida nas massas de ar em movimento (vento). Seu aproveitamento ocorre por meio da conversão da energia cinética de translação em energia cinética de rotação, com o emprego de turbi-nas eólicas, também denominadas aerogeradores, para a geração de eletricidade, ou cataventos (e moinhos), para trabalhos mecânicos como bombeamento d’água.As primeiras tentativas de geração de eletricidade surgiram no final do século 19, mas somente cerca de um século depois é que foram desenvolvidos equipa-mentos para produção em escala comercial.

Fonte: Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica

VantagensA energia eólica atende às três principais preocupa-ções em termos de geração de energia sustentável:• Segurança de suprimento – ao contrário de combustíveis

fósseis, como o petróleo, a energia eólica utiliza-se de matéria-prima permanentemente disponível em praticamente todos os países do mundo;

• Independência de preços externos do petróleo e do gás natural - Cada quilowatt / hora gerado por energia eólica tem potencial para substituir importações de combustíveis fósseis, melhorando a segurança do abastecimento e da balança comercial dos países;

• Emissão reduzida de CO2 – o setor energético é a maior fonte de emissões de CO2, representando cerca de 40%. Na opção eólica, porém, a emissão é baixíssima: três a seis meses de atividade de uma turbina eólica compensam as emissões geradas durante a fabricação da própria turbina.

DiferencialAs três vantagens acima podem ser observadas também nas usinas hidrelétricas. O grande diferencial das eólicas refere-se ao baixo impacto ambiental que provocam.O equipamento ocupa 1% da área da usina eólica e o restante pode ser ocupado por lavoura ou pastagem.Além disso, é possível a uma distância de 400 metros das usinas eólicas sem que seu ruído cause danos ou perturbações ao ser humano.

DesvantagensO custo da energia gerada por essa alternativa é entre 60% e 70% mais alto do que a mesma quantidade produzida em uma usina hidrelétrica. Programas governa-mentais de incentivo estão tentando mudar esta realidade.

Pelo mundoOs Estados Unidos ocupam o topo da lista dos países com maior capacidade instalada em comparação com o potencial energético, somando 20,8%. Em seguida, vem a Alemanha, com 19,8%.

Fonte: Conselho Global de Energia Eólica (GWEC)

No BrasilO país tem posição destacada no contexto regional, pois terminou o ano de 2009 com uma capacidade instala-da de 606 MW, tendo apresentado um crescimento de 77,7% sobre os 341 MW instalados até o final de 2008.

A Força dos ventos

TOP 10 – CAPACIDADE TOTAL INSTALADA 2008

MW %

EUA 25,170 20.8

Alemanha 23,903 19.8

Espanha 16,754 13.9

China 12,210 10.1

Índia 9,615 8.0

Italia 3,736 3.1

França 3,404 2.8

Inglaterra 3,241 2.7

Dinamarca 3,180 2.6

Portugal 2,862 2.4

Resto do mundo 16,693 13.8

Total TOP 10 104,104 86.2

Total mundo 120,798 100.0

Portugal

França

Índia

China

Resto do mundo

Alemanha

Espanha

InglaterraDinamarca

Estados Unidos

Geração Eólica no Brasil

Capacidade instalada

Ano 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

MW 22 29 29 29 237 247 341 606 1423*

*projeção com a finalização do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA)

Fonte: Abeeólica

Itália

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Especial - Energias Alternativas

USINAS do tipo Eólica em Operação

Usina Potência Fiscalizada (kW)

Destino da Energia Proprietário Município

Eólica de Prainha 10.000 PIE 100% para Wobben Wind Power Industria e Comércio Ltda Aquiraz - CE

Eólica de Taíba 5.000 PIE 100% para Wobben Wind Power Industria e Comércio LtdaSão Gonçalo do Amarante - CE

Eólica - Elétrica Experimental do Morro do Camelinho

1.000 REG 100% para CEMIG Geração e Transmissão S/A Gouveia - MG

Eólio - Elétrica de Palmas 2.500 PIE 100% para Centrais Eólicas do Paraná Ltda Palmas - PR

Eólica de Fernando de Noronha 225 REG 100% para Centro Brasileiro de Energia Eólica - FADE/UFPE Fernando de Noronha - PE

Parque Eólico de Beberibe 25.600 PIE 100% para Eólica Beberibe S.A. Beberibe - CE

Mucuripe 2.400 REG 100% para Wobben Wind Power Industria e Comércio Ltda Fortaleza - CE

RN 15 - Rio do Fogo 49.300 PIE 100% para Energias Renováveis do Brasil S.A. Rio do Fogo - RN

Praia do Morgado 28.800 PIE 100% para Central Eólica Praia do Morgado S/A Acaraú - CE

Pirauá 4.950 PIE 100% para Eólica Pirauá Geradora de Energia S.A. Macaparana - PE

Eólica de Bom Jardim 600 REG 100% para Parque Eólico de Santa Catarina Ltda Bom Jardim da Serra - SC

Foz do Rio Choró 25.200 PIE 100% para SIIF Cinco Geração e Comercialização de Energia S.A. Beberibe - CE

Praia Formosa 104.400 PIE100% para Eólica Formosa Geração e

Comercialização de Energia S.A.Camocim - CE

Eólica Olinda 225 REG 100% para Centro Brasileiro de Energia Eólica - FADE/UFPE Olinda - PE

Eólica Canoa Quebrada 10.500 PIE100% para Rosa dos Ventos Geração e

Comercialização de Energia S.A.Aracati - CE

Lagoa do Mato 3.230 PIE100% para Rosa dos Ventos Geração e

Comercialização de Energia S.A.Aracati - CE

Parque Eólico do Horizonte 4.800 REG 100% para Central Nacional de Energia Eólica Ltda Água Doce - SC

Eólica Icaraizinho 54.600 PIE100% para Eólica Icaraizinho Geração e

Comercialização de Energia S.A.Amontada - CE

Eólica Paracuru 23.400 PIE100% para Eólica Paracuru Geração e

Comercialização de Energia S.A.Paracuru - CE

Eólica Praias de Parajuru 28.804 PIE 100% para Central Eólica Praia de Parajuru S/A Beberibe - CE

Pedra do Sal 18.000 PIE 100% para Eólica Pedra do Sal S.A. Parnaíba - PI

Parque Eólico Enacel 31.500 PIE 100% para Bons Ventos Geradora de Energia S.A. Aracati - CE

Macau 1.800 REG 100% para Petróleo Brasileiro S/A Macau - RN

Canoa Quebrada 57.000 PIE 100% para Bons Ventos Geradora de Energia S.A. Aracati - CE

Eólica Água Doce 9.000 PIE 100% para Central Nacional de Energia Eólica Ltda Água Doce - SC

Parque Eólico de Osório 50.000 PIE 100% para Ventos do Sul Energia S/A Osório - RS

Parque Eólico Sangradouro 50.000 PIE 100% para Ventos do Sul Energia S/A Osório - RS

Taíba Albatroz 16.500 PIE 100% para Bons Ventos Geradora de Energia S.A.São Gonçalo do Amarante - CE

Parque Eólico dos Índios 50.000 PIE 100% para Ventos do Sul Energia S/A Osório - RS

Bons Ventos 50.000 PIE 100% para Bons Ventos Geradora de Energia S.A. Aracati - CE

Xavante 4.950 PIE 100% para Eólica Gravatá - Geradora de Energia S.A. Pombos - PE

Mandacaru 4.950 PIE 100% para Eólica Gravatá - Geradora de Energia S.A. Gravatá - PE

Santa Maria 4.950 PIE 100% para Eólica Gravatá - Geradora de Energia S.A. Gravatá - PE

Gravatá Fruitrade 4.950 PIE 100% para Eólica Gravatá - Geradora de Energia S.A. Gravatá - PE

Millennium 10.200 PIE 100% para SPE Millennium Central Geradora Eólica S/A Mataraca - PB

Presidente 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Camurim 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Albatroz 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Coelhos I 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Coelhos III 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Atlântica 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Caravela 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Coelhos II 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Coelhos IV 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Mataraca 4.500 PIE 100% para Vale dos Ventos Geradora Eólica S.A Mataraca - PB

Total: 45 Usina(s) Potência Total: 794.334 kW

SP - Serviço Público PIE - Produção Independente de Energia REG - RegistroFonte: ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica

Neo Mondo - Setembro/Outubro 2013

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NEO MONDO não pretende explicar a violência urbana. Apenas faz um apelo às pessoas para que não se isolem à frente de um computador; saiam de si mesmas e convivam mais; eduquem-se para o Bem; cerquem-se de pessoas sempre melhores do que elas próprias;

busquem o conhecimento na pesquisa, no estudo, na troca de ideias e de experiências posi-tivas seja no campo pessoal seja no coletivo; cuidem-se e cuidem dos mais fracos, dos mais

carentes, das crianças e adolescentes, dos idosos, das plantas, dos animais.

Somente pessoas de mentes e corpos sadios saberão salvar o Planeta do fim dos tempos. O gênero humano e a Terra agradecem!

desArME-se

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Saúde

Ginseng, carqueja, guaraná, confrei, ginko biloba, espinheira santa, sene, guaco, boldo....difícil encon-

trar quem nunca utilizou ou pelo menos ouviu falar dessas plantas medicinais, tão eficazes e em muitos casos, acessíveis. Elas integram um rol de plantas cujas substâncias podem ser utilizadas com fi-nalidade terapêutica. Muitas delas são, in-clusive, matérias-primas para o preparo de medicamentos sintéticos.

O uso de plantas medicinais remon-ta a própria história da humanidade, permanecendo até os dias atuais como a base da terapêutica moderna, porém, no Brasil ainda há pouca aplicabilidade se comparado a outros países, como a Alemanha, onde 75% da população já utiliza fitoterápicos. Por aqui, sobretudo nos grandes centros, os médicos e mui-tas vezes, os próprios pacientes, resis-tem ao uso desses medicamentos, que possuem eficácia comprovada e agregam inúmeros valores sociais, econômicos e ambientais, que os levam a serem con-siderados pelos seus defensores como os biocombustíveis da saúde, pois po-

Apesar desse movimento favorável, ele diz que a fitoterapia ainda não con-ta com a adesão do Conselho Regional de Medicina. “O médico, ainda conhece pouco sobre esta opção terapêutica. Mas estamos melhorando” – esclareceu ele.

Alves explicou que o medicamento fi-toterápico é aquele obtido exclusivamente de matérias-primas vegetais, processado tecnologicamente, com benefícios com-provados nas finalidades curativas, profi-láticas ou diagnóstica.

Fonte de RiquezaAlém do aspecto que envolve a saúde,

estamos falando de um mercado que mo-vimenta US$ 22 bilhões/ano, sendo US$ 8,5 bilhões, na Europa e US$ 6,3 bilhões nos Estados Unidos. O Brasil tem a parcela de apenas US$ 400 milhões.

Fitoterapiaa medicina sustentável

“ ”A fitoterapia é a grande chance do Brasil

embarcar definitivamente na milionária rota

tecnológica da indústria farmacêutica

O Brasil ainda não despertou para a riqueza incalculável

de suas espécies terapêuticas.Da Redação

deriam representar fonte de riquezas e divisas incalculáveis para o país.

De todo modo, ainda ouviremos fa-lar muito sobre Fitoterapia. Ela foi re-comendada pela Organização Mundial de Saúde como medida estratégica para universalizar os direitos à utilização de medicamentos e tem recebido amplo apoio do Ministério da Saúde brasilei-ro. O médico Luiz Sérgio Passos Alves (*), especialista em Plantas Medicinais e responsável pelo módulo de medicina na pós de fito da Universidade Federal de Lavras, explicou que a política nacio-nal, que define as regras e os recursos destinados à Fitobrasil, é ainda muito recente, mas que a quantidade de pós--graduações e cursos universitários já quadruplicou, trazendo no seu rastro trabalhos científicos de boa qualidade.

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a medicina sustentável

35Neo Mondo - Junho 2008

A Alemanha detém 39% do merca-do europeu, apesar de possuir apenas 20 plantas endêmicas (próprias da região), contra 25.000 espécies brasileiras. Porém, os alemães formaram o maior centro de pesquisa mundial em fito (Comissão E). O tema é matéria curricular obrigatória nas faculdades de medicina, sendo prescrita por 70% dos médicos, contra 3% no Brasil.

“Possuímos a maior grife ecológica do Planeta. Um hectare da Floresta Amazô-nica tem mais espécies de plantas do que todo o Continente Europeu (200 a 300)” – confirmou o especialista.

No entanto, como 65% das Indústrias Farmacêuticas instaladas no Brasil são multinacionais, 80% dos Fitoterápicos pro-duzidos aqui são feitos com plantas exóti-cas (não-nativas do Brasil). Nos raros ca-sos onde o produto brasileiro é valorizado, como o açaí e a castanha-do-pará, torna-se possível oferecer emprego para mais de 30.000 pessoas.

Para Alves, “a fitoterapia é a grande chance do Brasil embarcar definitiva-mente na milionária rota tecnológica da indústria farmacêutica”. Isso sem contar

a questão da sustentabilidade e qualidade que poderia reverter um triste panorama brasileiro: a saúde pública.

Biodiversidade e BiopiratariaA união da grande biodiversidade com

a falta de um controle efetivo de nossos recursos naturais, faz do Brasil a maior ví-tima mundial da Biopirataria.

A CPI da Biopirataria acusa diversos países por patentes indevidas de nossas plantas nativas: cupuaçú, biribiri, man-dioca selvagem, açaí.... Calcula-se que o conhecimento sobre a biodiversidade brasileira tenha um valor de US$ 2 tri-lhões (quatro vezes o PIB nacional). “Um exemplo disso é que entre os anos de 1983 e 1994, 60% dos antineoplásicos descobertos vinham diretamente das plantas. A folha da graviola que nasce e cresce em abundância no Brasil (subes-pontânea) demonstrou ser eficaz no tra-tamento do adenocarcinoma de cólon” – disse o médico. O mundo científico vasculha o Brasil em busca de plantas para tratamento do câncer, AIDS, hepa-tite B, herpes e gripe.

Publicado na edição 4

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Estudos apontam que o uso de plantas como medi-camento faz parte do extinto de sobrevivência animal. Dentre os inúmeros exemplos está o chimpanzé, que consome 16 tipos de ervas, que não possuem nem sa-

bor agradável nem valor nutricional, apenas terapêu-tico. Também o gavião, que quando picado por cobra, ingere folhas de guaco, cujas propriedades antiofídicas foram recentemente comprovadas pela ciência.

Já o homem que, desde a antigüidade, utilizava plantas com fins terapêuticos, traçou rumos diferentes. Com a evolução da química e a possibilidade da síntese de medicamentos a nível industrial, a fitoterapia caiu no descrédito total, até que nos anos 60, com o advento da Talidomida ¹, se percebeu uma nova doença desastrosa: o efeito colateral e os riscos oferecidos pelo uso indiscri-minado de medicamentos sintéticos. O mundo então vol-tou seu olhar, novamente, para as alternativas naturais.

INSTINTO DE SOBREVIVÊNCIA

1) Guaraná, simboliza os olhos de um pequeno índio prodígio da tribo Mauê, que foi morto perversamente pelo Deus do mau. Seus olhos foram arrancados e plantados por ordem do Deus Tupã, onde nasceu o primeiro pé de guaraná, que significa força e vigor. Veja que a semente do guaraná parece com olhos mesmo;

2) Cordia verbenacea, o 1º fito Brasil, antiinflamatório para entorses;

Plantas medicinais

3) Maytenus (espinheira santa)para gastrites;

4) Catharanthus roseus. Dela se extrai a vincristina e a vimblastina, quimiote-rápico para o tratamento de linfomas e leucemias;

5) Mikania glomerata,(guaco)broncodilatador e expectorante;

6) Passiflora Edulis, potente ansiolítico;

7) A flor do nosso Pequi usado para curar gripese resfriados;

8) Bixa orelana, semente do urucu (coloral), usado nas dermatoses;

9) ritual do Santo D’aime, com a erva que altera o nível de consciência e é a grande novidade da ciência para o tratamento do Mal de Parkinson.

(*) contato com o médico Luiz Sérgio Passos Alves : [email protected](1) A talidomida (C13H10N2O4) é uma substância usualmente utilizada como medicamento sedativo, anti-inflamatório e hipnótico. Se usada durante a gravidez, pode causar má-formação ou ausência de membros no feto

FARMÁCIAS VIVAS Os fitoterápicos produzidos com tin-

turas e extratos vegetais custam de duas a quinze vezes menos que os remédios industrializados. Muitos estados bra-sileiros (Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, etc) possuem Farmácias Vivas, onde se planta, manipula e dispensa gra-

tuitamente fitos, prescritos pelos médi-cos locais. Este já pode ser considerado um reflexo positivo da implantação da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que tem o objetivo de garantir o acesso seguro e o uso racio-nal, visando a sustentabilidade desses recursos naturais.

Em 2004, a ANVISA (Agência Nacio-nal de Vigilância Sanitária) publicou uma resolução (RE 89) que facilitava o registro de 34 fitoterápicos, com a intenção de in-centivar a produção e baratear o custo ao usuário. “Infelizmente esta lista só conti-nha três plantas nativas do Brasil (guaco, espinheira-santa e guaraná)” - diz Alves.

Saúde

Neo Mondo - Setembro/Outubro 2013

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Plantas Terapêuticas

As 34 ervas com registro facilitado no MS/ANVISA são:

Complexidade Mas não tem sido tão simples assim.

As plantas possuem seu próprio laboratório de síntese. Tão perfeito e complexo que o ho-mem jamais conseguiu imitar. Talvez esteja aí o grande desafio desse resgate ao natural, que precisa estar adaptado às necessidades do mercado: padronização, uniformidade, produtividade contínua, quantidade, qua-lidade, tamanho, aspecto, homogenidade, freqüência, etc. “Não é tarefa fácil. Por isto, a Fitoterapia é uma ciência eminentemente interdisciplinar. Não adianta o médico pres-crever sem a mobilização de biólogos, taxono-mistas, agrônomos, químicos, farmacêuticos e, principalmente, a agregação do conheci-mento popular” – considerou o especialista.

RiscosNas últimas décadas, a fitoterapia

ganhou notoriedade mundial por ser considerada segura, eficaz e com baixa incidência de efeitos colaterais. Contudo, é preciso desmistificar o dito popular: “É natural, não faz mal”. Alves cita o exemplo do confrei, que foi utilizado indiscrimina-damente para prevenção e tratamento de leucemias, mas acabou provocando inú-meros tumores hepáticos malignos.

Outros agravantes são: a incidência de contaminação (bactérias, mofo, coliformes fecais, insetos e metais pesados), a adultera-ção intencional e a identificação errônea das ervas, assim como a manipulação e preparo de forma inadequada, que podem levar a resultados desastrosos e perigosos. A asso-ciação entre fitos e sintéticos também pode oferecer riscos ao paciente. Por isso mesmo, a prescrição médica é indispensável.

Evolução Terapêutica nos Últimos 4000 Anos:

Queixa: dor de ouvido;

Tratamento proposto:

• 2000 aC: coma esta raiz;

• 1000 dC: raiz é pagã, reze esta oração;

• 1800 dC: oração é crendice, tome esta poção;

• 1900 dC: poção é veneno de bruxa, engula esta pílula;

• 1950 dC: pílula é paliativa, use este antibiótico;

• 2000 dC; antibiótico é prejudicial à saúde, coma esta raiz.

• castanha-da-india: fragilidade capilar, varizes; • alho: hipertensão arterial leve, dislipidemia e prevenção da aterosclerose; • babosa: queimadura térmica grau 1 e 2 e de radiação; • uva-ursi: infecção do trato urinário;• calêndula: cicatrizante e antiinflamatório dermatológico; • centela asiática: insuficiência venosa dos membros inferiores; • cimicifuga racemosa: sintomas do climatério; • alcachofra: estimulante da função hepática; • echinácea: preventivo e coadjuvante na terapia de resfriado e infecção do trato urinário; • ginkgo biloba: vertigens e zumbidos, insuficiência vascular cerebral;• hypericum: estados depressivos leves e moderados;• camomila: anti-espasmódico, antiinflamatório tópico, distúrbios digestivos, insônia leve; • espinheira santa: dispepsia e coadjuvante no tratamento de úlcera gástrica; • melissa: anti-espasmódico, carminativo, distúrbios do sono; • hortelã: cólicas intestinais, carminativo, expectorante; • ginseng: fadiga física e mental, adaptógeno;• passiflora: sedativo; • guaraná: astenia, estimulante do SNC;• boldo-do-chile: estimulante hepático, distúrbios gastrintestinais espásticos; • anis: antiespasmódico, carminativo, expectorante;• kava-kava: ansiedade, insônia, tensão nervosa, agitação; • cáscara-sagrada: constipação intestinal; • salgueiro: antitérmico, antiinflamatório, analgésico;• sene: laxativo; • saw palmeto: hipertrofia benigna de próstata;• confrei: cicatrizante tópico; • tanaceto: profilaxia da enxaqueca; • gengibre: profilaxia dos vômitos causados por movimentos e pós-cirúrgicos; • valeriana: insônia leve, sedativo, ansiolítico; • guaco: expectorante, broncodilatador;• hamamelis: hemorróidas e equimoses; • poligala: bronquito, faringite;• eucalipto: antitussígeno e antibacteriano das vias aéreas superiores, expectorante .

Neo Mondo - Setembro/Outubro 2013

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DEVoção E fé

Cultura

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A cada ano, em Belém do Pará (PA), milhões de fiéis de todas as idades, etnias e classes sociais,

muitos de olhos marejados e mãos es-tendidas, se reúnem pelas ruas da ca-pital paraense em torno de um mesmo objetivo: homenagear Nossa Senhora de Nazaré. Relatos de fé, vitórias, conquis-tas, superações e solidariedade marcam os mais de 200 anos de história do Círio

Anualmente, milhões de fíeis se reúnem, em Belém do Pará (PA), na maior manifestação religiosa católica do Brasil, o Círio de Nazaré Eleni Gritzapis

de Nazaré, a maior manifestação religio-sa católica do Brasil e um dos maiores eventos religiosos do mundo.

Celebrada, desde 1793, no segundo domingo de outubro, o Círio atrai, a cada ano, mais e mais devotos. Em 2012, mais de dois milhões de pessoas se reuniram em torno da corda do Círio, em uma ca-minhada de 3,6 quilômetros, com várias paradas, para homenagear a Santa. E, em

2013, é esperado um novo recorde. Por sua grandiosidade, o Círio de Belém foi re-gistrado, em setembro de 2004, pelo Ins-tituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), como Patrimônio Cultu-ral de Natureza Imaterial.

A introdução da devoção à Senhora da Nazaré, no Pará, foi feita pelos padres jesuítas, no século XVII. A origem da pro-cissão está ligada à lenda da descoberta da

Fotos: Ascom Basílica Santuário de Nazaré

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imagem de Virgem de Nazaré. Em 1700, às margens do igarapé Murucutú, o caboclo Plácido José de Souza encontrou a imagem de Nossa Senhora. Ele levou a estátua para sua cabana, mas, no outro dia, ela não es-tava mais lá. Plácido a achou novamente no igarapé onde a havia encontrado no dia anterior. Este é considerado o primei-ro milagre da Virgem de Nazaré. Assim, o Círio refaz há mais de dois séculos o ca-minho da imagem. O local onde Plácido a encontrou é hoje a Basílica de Nazaré. Assim, na noite de sábado, uma procissão a velas, chamada de transladação, leva a imagem da Basílica de Nazaré para a Cate-dral da Sé, no centro histórico de Belém,

próximo de onde ficava a cabana de Plá-cido. Na manhã de domingo, acontece a principal procissão quando a imagem sai da Catedral da Sé e segue para a Basílica de Nazaré, onde a imagem da Virgem fica exposta para veneração dos fiéis durante 15 dias. O termo “Círio” tem origem na pa-lavra latina “cereus” (de cera), que significa vela grande de cera.

Além da procissão de domingo, o Cí-rio agrega várias outras manifestações de devoção, como a trasladação, a romaria fluvial e diversas outras peregrinações e romarias. A festa tem ainda vários even-tos e comemorações, que duram cerca de quatro semanas.

Apesar de o Círio de Nazaré de Be-lém ser o mais conhecido, o Círio mais antigo do Brasil data de 8 de setembro 1630 na cidade de Saquarema, no Rio de Janeiro. Procissões semelhantes são rea-lizadas em várias outras cidades do Pará e do Brasil. As mais famosas são o Círio de Soure, o Círio de Vigia, além das pro-cissões realizadas em Castanhal, Breves e em outras cidades paraenses. A cida-de do Rio de Janeiro realiza a procissão no mês de setembro, em Copacabana. Brasília, Manaus e Macapá são algumas capitais onde o Círio de Nazaré foi in-troduzido por paraenses que moram em outros estados.

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fé e solidariedade

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O Círio de Nazaré é cercado de objetos e rituais simbólicos. Conheça, abaixo, os principais:

A corda, espaço de pagamento de promessas dos romeiros e pesa aproximadamente 700 quilos, de puro sisal torcido. Foi incorporada à celebração em 1868.

O manto, sempre com uma conotação mística, relatando partes do evangelho. A cada procissão, há sempre um novo manto envolvendo a figura de Nossa Senhora. Sua confecção é feita com a ajuda de doações, quase sempre anônimas.

Os carros de promessas ou dos milagres, que recolhem os ex-votos ilustrativos das graças alcançadas pelos fiéis.

As crianças, tradicionalmente vestidas de anjos

As novenas, ciclos de orações realizadas durante as semanas que antecedem a festividade, por devotos que realizam pequenas romarias pelas casas de vizinhos.

O almoço com a família, realizado no domingo da procissão, como um ato de comunhão. Tradicionalmente é composto de Pato no Tucupi e Maniçoba, pratos tradicionais da região.

Os brinquedos feitos de miriti, uma palmeira típica do Norte do Brasil.

O Círio de Nossa Senhora de Nazaré é experiência de fé, mas é também fonte de solidariedade. O lixo recolhido durante as romarias do Círio de Nazaré se transforma em renda para famílias de catadores da capital paraense. Em 2012, foram recolhidos mais de 770 toneladas de lixo durante as procissões; sendo cerca de 400 toneladas de materiais recicláveis.

Todo o material que pode ser reciclado é levado até um galpão localizado no bairro de Val-de-caes, em Belém, onde

passa por uma triagem. Tudo é vendido para empresas e grupos e a renda é dividida igualmente entre os catadores.

Além disso, grande parte da arrecadação da Festa é investida nas Obras Sociais da Paróquia de Nazaré (Ospan). Milhares de pessoas são beneficiadas anualmente em seus projetos de atendimento médico e odontológico, distribuição de sopa, creches infantis e iniciativas para o desenvolvimento da comunidade, como o programa de inserção no mercado de trabalho e o programa adolescente trabalhador.

Símbolos da tradição

Cultura

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Jornalista, Escritor e Editorialista.Apresentador de TV e Rádio.

Humberto Mesquita

A água é a peça mais importante nesse quebra-cabeça que se chama Planeta Terra, porque toda e qualquer forma

de vida aqui está relacionada com este recurso natural. Muito se fala a respeito das reservas de água do mundo e segundo as estatísticas mais respeitáveis existe um milhão, trezentos e oitenta e seis quilômetros cúbicos de água na terra, e permanecem constantes nesses últimos milhões de anos. Só que dessas re-servas, 97,5% constituem mares e oceanos, e os restantes 2,5% de água doce, sendo que dessa minúscula parte grande quantidade está congelada nas calotas polares e nas geleiras. O pouco que resta para o consumo diário sofre processo de degradação pela ação nociva do homem que já conseguiu obstruir a chegada de água potável a algumas regiões do plane-ta. Nesses últimos 50 anos triplicou o uso da água no mundo, e hoje muitos paises africa-nos sofrem com a falta de água. A previsão é de que mais de 200 milhões de africanos so-frerão com a escassez de água em 2025. Nesse mesmo ano, 3 bilhões de pessoas viverão em países com completa falta de água, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

Hoje sabemos que a água potável salva mais vidas que todas as instituições médi-cas do mundo e ao mesmo tempo essa mes-ma água, sendo contaminada, é responsá-vel por 80% das doenças do Planeta.

Tudo isso nos leva a uma reflexão mais profunda a respeito da necessidade de medi-

das que devam ser adotadas para se econo-mizar o precioso líquido. As campanhas são intensas e todas no mesmo sentido da cons-cientização de todos para o risco do fim da água boa que possa abastecer as populações.

Todo esforço é importante, mas nós queremos aqui abordar um método que está sendo disseminado no mundo inteiro que é o aproveitamento da chamada água cinza, aquela proveniente de chuveiros, ba-nheiras, lavatórios, máquinas de lavar e até mesmo das piscinas.

Ela difere da água negra usada em sani-tários ou pias de cozinha que podem conter algum tipo de coliforme fecal ou bactérias com potencial patogênico.

Essa água cinza pode ser coletada e reu-tilizada na casa em outras formas, para fins que exigem qualidades não potáveis, como irrigação dos jardins, lavagem de veículos e na irrigação de campos agrícolas e pasta-gens. Para viabilizar tal procedimento e reu-tilizar a água de uma residência ou centro co-mercial é importante separar a água cinza da negra, com a instalação de um equipamento de tratamento capaz de fornecer um sistema de irrigação adequado e direcionado.

As águas cinzas podem ser esterilizadas nas residências a partir da instalação de dois tipos de tratamento: o primeiro é a irrigação por infiltração subterrânea, onde as águas não passam por nenhum tratamento especí-fico; apenas os sólidos suspensos devem ser retidos e a água é armazenada corretamente

ÁGUA CINZA, uma grande solução

e bombeada para a irrigação. O outro pro-cesso é a irrigação superficial, onde as águas cinzas de reúso devem ser tratadas, envol-vendo basicamente filtragem para retirada de odores e esterilização.

O mais certo é instalar esses proce-dimentos ainda na fase da construção da casa ou do edifício para se planejar o que há de mais correto.

O reúso da água cinza é muito impor-tante sob o ponto de vista ambiental porque num plano maior diminui a demanda por no-vas estações de tratamento de água e esgoto, além dos proveitos econômicos pela redução dos gastos de água. No Brasil esse procedi-mento é ainda incipiente, mas em cidades como Tóquio, o reúso das águas é obrigatório para prédios grandes com potencial de reúso de 100 metros cúbicos por dia. Os Estados Unidos e a Austrália também adotam uma rigorosa política de reúso da água.

O Brasil tem buscado essa fórmula no laboratório Casa Autônoma de Arquitetu-ra Sustentável, que mantém uma pesquisa para o reúso das águas.

A grande verdade é que o mundo acor-dou para a necessidade de se buscar medi-das que possam proteger o meio ambien-te, definindo novas regras em favor de uma vida mais limpa e mais sustentável.

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O Olhar SOcial pelas lentes deCultura

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Gilvan Barreto

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O Olhar SOcial pelas lentes de

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Cada vez mais, as imagens assumem um papel de relevância na comuni-cação. Fotos de catástrofes urbanas,

ondas destruindo cidades, vítimas da vio-lência, cenas do sertão, o padrão de beleza estampado em outdoors, a exuberância ou a miséria, circulam o mundo e ficam regis-trados na história e na mente das pesso-as. A mídia, a publicidade, a comunicação empresarial exploram com muita compe-tência essa ferramenta, que invade nossas retinas em todo momento. Estudos na área apontam que inconscientemente, as pessoas entendem as imagens como uma verdade inequívoca do acontecimento. Por trás de todo esse poder “documental”, es-tão os profissionais da fotografia que fo-cam e definem os fragmentos da realidade a ser registrada. Assim, numa sociedade “viciada em imagens”, a responsabilidade

Gilvan Barreto

social desses profissionais cresce na mes-ma proporção que o uso desenfreado des-se recurso visual.

O fotógrafo Gilvan Barreto, que traz na bagagem o registro de imagens dos cantos mais remotos do mundo e, possui o olhar treinado para captar os diversos elementos que compõem uma fotogra-fia, acredita que de fato, ela possui o poder de sensibilizar e de transformar opiniões públicas. Advindo da escola de jornalismo, o fotógrafo crê que esse tipo de trabalho deve possuir uma carga ética, ideológica e humanitária. “Vamos a lugares e situações de pouco acesso, onde o cidadão comum nem sempre chega. É nossa função revelar essa rea-lidade e se possível provocar reflexões, gerar mudanças ou pelo menos quebrar preconceitos” – explica.

O papel social da fotografia,

numa sociedade que supervaloriza as imagens.

Da Redação

Publicado na edição 6

Neo Mondo - Setembro/Outubro 2013

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projetos de cunho social, envolvendo a África e a Ásia. “Tudo isso é muito estimu-lante, saber que as grandes organizações dão importância a esse tipo de fotografia”. – afirmou. Sua profissão também o levou ao Nepal onde conheceu o trabalho desen-volvido por uma mestre de yoga, em peni-tenciárias de Katmandu. O projeto dessa nepalesa humanizou e amenizou as con-dições daquelas pessoas e a reportagem fotográfica de Barreto é um dos poucos registros dessa experiência.

Nas suas imagens o ser humano é a fonte principal de inspiração. Ele, que se considera um retratista, diz que ao foto-grafar pessoas busca extrair a essência delas. Para isso, a aceitação de quem está sendo fotografado é muito importante

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Barreto, que presta serviços para Ongs como a Oxfam International, a Unicef e o Greenpeace, percebe que o Terceiro Setor, no exterior, já entendeu a força desse re-curso e investe na documentação fotográ-fica, inclusive das questões sociais brasi-leiras, das quais, já encomendou inúmeros trabalhos. Ele revela que as organizações nacionais, com exceções daquelas muito bem estruturadas, ainda não utilizam mui-to essa ferramenta.

TRABALHOSCom foco social, tem realizado alguns

trabalhos na América Latina. Em 2007, fotografou a colheita de café orgânico nas montanhas de Honduras, um dos lugares mais pobres do mundo. Ainda há outros

Não concordo em exibir seres humanos em estado degradante“ ”

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Cultura

Neo Mondo - Setembro/Outubro 2013

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e essa confiança precisa ser adquirida com conversa, com aproximação, com a disposição de entrar no mundo particu-lar de cada um. “O que busco é que o re-tratado entenda que sua imagem poderá servir de exemplo para outras pessoas. Que ele possui algo de especial para ser mostrado”. – disse. Em se tratando de um trabalho com abordagem social, essa compreensão já é a primeira mudança conquistada: a valorização desses perso-nagens da vida real.

O conteúdo dessas imagens extrapola a estética, pois há outros valores envolvi-dos nessa composição. “Um retrato ver-dadeiro é aquele que conta a história das pessoas” – afirmou.

Apesar de fotografar em locais mui-to remotos, por vezes pobres e desfa-vorecidos, Barreto tem uma visão di-ferenciada e não explora a estética da miséria. Faz uso de um olhar positivis-ta, como forma de resguardar a integri-dade dos retratados. “Não concordo em exibir seres humanos em estado degra-dante”. Para ele, há alternativas mais eficazes, respeitosas, instigantes e até mesmo bonitas para tratar o assunto e provocar mudanças. As marcas de so-frimento, a rudeza da vida, a pobreza, podem estar presentes, mas a dignida-de, o brilho de esperança no olhar, a grandeza e o melhor de cada um tam-bém coexistem como elementos desses documentos sociais.

45 Neo Mondo - Setembro/Outubro 2013

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C abo Verde é um país africano com pouco mais de 500 mil habitantes – e com um dos maiores problemas

do mundo atual. Embora não tenha da-dos oficiais sobre o acesso à água potável, o conjunto de ilhas sofre com a escassez deste recurso.

Mas a ajuda pode estar a caminho, vin-da do outro lado do Atlântico. Um sistema mecânico capaz de transformar água do mar em água potável foi desenvolvido na Escola Politécnica da USP. O autor, Juvenal Rocha Dias, nasceu em Cabo Verde e rea-lizou as pesquisas durante o mestrado e o doutorado na Universidade. E o melhor: o processo funciona a partir de energias reno-váveis, com um custo final menor do que o dos processos conhecidos atualmente.

Explicar a falta de água no mundo nem sempre é muito fácil. Qualquer crian-

ça, ao tomar conhecimento do problema, logo pergunta: “Mas a Terra não é o Pla-neta Água?”. Na verdade, é. Mas não da água potável. Apenas 0,007% da água do mundo pode ser consumida. O resto está nas geleiras, no subsolo e, sobretudo, nos mares e oceanos.

Transformar a água salgada em algo próprio para ser ingerido é um grande desafio. Não só pela tecnologia, mas pelo custo e pelo impacto que o processo gera. Atualmente, os processos de des-salinização utilizam a energia elétrica e o diesel como combustíveis. Em média, esses processos gastam 10 kWh para produzir 1 m³ de água potável. O siste-ma de Juvenal, por outro lado, promete gastar apenas 2,8 kWh para a mesma quantidade de água, utilizando a energia eólica como combustível.

O processo funciona como um gran-de filtro. “A dessalinização começa com o bombeamento de água salgada para a par-te superior de uma grande coluna, onde há um reservatório”, conta. Com o acúmulo de água, o reservatório pressiona uma es-pécie de êmbolo, que, por sua vez, “empur-ra” um segundo reservatório cheio d’água salgada. A água contida nele é forçada a passar por uma membrana, que funciona como filtro: os sais ficam retidos, enquan-to apenas a água consegue passar.

Com isso obtém-se a água potável. Como utiliza basicamente as leis da física no processo, a dimensão da coluna está di-retamente ligada à quantidade de água a ser purificada. Uma coluna de 25 metros, por exemplo, consegue produzir água po-tável para 10 pessoas ao longo de um dia (aproximadamente 5 mil metros cúbicos).

Água

Engenheiro da Universidade de São Paulo desenvolve processo sustentável de dessalinização da água

Da Redação

Solução para Cabo Verde

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Neo Mondo - Setembro 2008 A

Longo prazoO custo final e o impacto sobre o meio

ambiente são menores, mas o processo de-senvolvido por Juvenal não é um milagre. É preciso encarar a dessalinização como um projeto a longo prazo. Afinal, colunas de aço de mais de 20 metros não brotam do dia para a noite.

“Os gastos com a construção e insta-lação do sistema podem ser caros. Porém, o investimento pode valer a pena a longo prazo”, diz a orientadora do estudo, pro-fessora Eliane Fadigas. Segundo ela, os go-vernos de países subdesenvolvidos que so-frem com a escassez de água, como Cabo Verde, podem redirecionar o dinheiro da compra de diesel para a implantação do projeto, por exemplo.

Os estudos na Poli foram feitos com-pletamente em escala. Em vez de monu-mentos de aço, estruturas menores de papelão e concreto foram utilizadas para construir a coluna. Com isso fica difícil di-zer com absoluta certeza o grau de eficácia do processo. Perdas por atrito, por exem-plo, não foram calculadas.

Outro problema é a própria energia eó-lica. Mesmo sendo mais limpa e ecológica, os ventos também podem se tornar ini-migos. “Uma vez que é movido a energia eólica, depende das condições dos ventos. Há também a limitação de espaço. Quanto mais cataventos, mais potência – mas nem sempre isso é possível”, relata Juvenal.

Mesmo assim o engenheiro está oti-mista com os resultados das pesquisas. Segundo ele, a coluna de dessalinização pode ser utilizada para outros fins, como despoluir rios. Basta uma pequena adapta-ção em seu funcionamento: com a utiliza-ção de filtros específicos, em vez de filtrar

o sal, a coluna pode separar poluentes da água. “Poderíamos utilizá-la ainda como fonte de água para a agricultura ou na produção de energia elétrica”, acrescenta a professora Eliane.

Porém, não basta separar o sal da água e não saber onde descartá-lo. Jogá-lo no solo ou em aterros sanitários seria um de-sastre, uma vez que provocaria a saliniza-ção de todo o local. Então, o que fazer? A solução encontrada foi devolver o sal ao

mar. “Esse ‘resto’ deve ser devolvido ao mar, mas de uma forma controlada”, reve-la o engenheiro.

Com isso o processo consegue mini-mizar os efeitos negativos sobre o ecos-sistema. Como ainda não há uma previsão para a implantação em larga escala, países como Cabo Verde continuam reféns de processos não-sustentáveis de dessalini-zação. Mas, se depender de Juvenal, por pouco tempo.

R1água do mar

mangueiraextensivel

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água dessalinizada

módulo de membrana

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COLUNA DEDESSALINIZAÇÃO

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água de alimentação

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T - TravaR - Reservatório

Água do mar

Salmoura

Água potável

Válvula

Processo de Dessalinização

Não é fácil o processo de dessalinização, mas é preciso fazer algo para aumentar o potencial de água potável disponível

no Planeta, que não chega a 1%

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Em termos de energia térmica, o in-terior do nosso planeta é uma fonte inesgotável, considerando a escala

de tempo humano.A transferência de calor da Terra ocor-

re por meio de três mecanismos: Condução: que acontece pela transfe-

rência de calor entre moléculas pelo con-tato físico entre elas. A condução depende da estrutura molecular do material.

Convecção: que é a transferência de calor pelo deslocamento de um fluido, que ocorre no núcleo externo da Terra.

Radiação: os objetos emitem radiação eletromagnética. Esse processo pode ocor-

rer quando os dois mecanismos acima são impossíveis, pois independe do contato molecular e torna-se particularmente efi-ciente quando a temperatura ultrapassa os 1.000o C. Esse é o mecanismo principal de transferência de calor do núcleo da Terra para as camadas mais periféricas.

A conversão do calor natural do inte-rior da Terra em energia (geotérmica) para aquecimento e geração de eletricidade é usada desde o início do século XX. No en-tanto, o interesse por esse tipo de energia aumentou na década de 70, com a crise do petróleo. Constitui-se numa fonte de ener-gia limpa, uma vez que o vapor e a água

geotermal não produzem resíduos e geral-mente contêm baixa quantidade de CO

2.

O aproveitamento dessa fonte exige regiões com fluxo alto de calor, onde a fonte é relativamente próxima da superfí-cie (3-10 km). Locais apropriados são onde ocorrem gêisers com atividade vulcânica recente ou outros pontos quentes como, por exemplo, os do Parque de Yellowsto-ne (EUA). Os gêisers se caracterizam como uma atividade ligada à interferência de calor do magma com a água subterrânea, caracterizado por jatos intermitentes de água quente e vapor que surgem através de fraturas na crosta da Terra.

Os vapores geotermais são empregados em usinas de produção de eletricidade em regiões da Europa, Nova Zelândia, Japão, Is-lândia, América Central, América do Norte e América do Sul. O maior campo de ex-ploração localiza-se na costa da Califórnia (EUA), com uma produção atual de 1.200 MW de energia, suficiente para abastecer uma cidade de 1 milhão de pessoas.

No Brasil as águas quentes são usadas em algumas regiões com a finalidade de la-zer, em balneários com piscinas aquecidas por essas fontes naturais. Presidente Pru-

Categoria Energia

Recursos acessíveis 140 000 000

Recursos acessíveis sem utilidade 600 000

Recursos (porção dos recursos acessíveis que tem expectativa de se tornarem econômicas em 40 -50 anos)

5 000

Recursos (porção dos recursos acessíveis que tem expectativa de se tornarem econômicas em 40 -50 anos)

500

Potencial anual de energia geotérmica (EJ)

Fonte: Palmerini, 1993; Bjornsson et al, 1998.

O Calor que vem de dentro

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O Calor que vem de dentro

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Denise de La Corte Bacci

Denise de La Corte BacciGraduada em Geologia pela UNESP, Campus de Rio Claro, mestrado em Geociências e Meio Ambiente pela

UNESP e doutorado em Geociências e Meio Ambiente pela UNESP. Estágios na Università di Milano e University

of Missouri_Rolla. Pós-doutorado em Engenharia Mineral pela POLI-USP.

Atualmente é docente do Instituto de Geociências da USP.

E-mail: [email protected]

dente (SP), Termas do Rio Quente (GO) e de Gravatal (SC) são locais bem conhecidos.

Dependendo das características geoló-gicas locais, os sistemas de aproveitamento das fontes geotermais são diferentes. Os mais conhecidos são aqueles que compre-endem reservatórios naturais de água e va-por em profundidade, que recebem o calor constante do magma. Próximo à superfície, onde a pressão é menor, a água flui na for-

Referência BibliográficaTaioli, F. Recursos Energéticos e meio ambiente. In: Teixeira, W.; Fairchild, T.R.; Toledo, M.C.M.; Taioli, F. Decifrando a Terra. Companhia Editora Nacional, 2ª edi-ção. 2009. São Paulo. Cap 18. (p. 486-507).

ma de vapor superaquecido que é captado e canalizado para turbinas que produzem a energia elétrica. Nesse sistema, a recarga de água subterrânea lenta permite que as ro-chas quentes convertam a água em vapor.

O aproveitamento geotérmico se dá pela captação de água quente em perfurações fei-tas a até 2 mil metros. Através dos poços, o vapor é conduzido até a central elétrica geo-térmica. Tal como numa central elétrica nor-

mal, o vapor faz girar as lâminas da turbina como uma ventoinha. A energia mecânica da turbina é transformada em energia elétrica através do gerador. A diferença destas cen-trais elétricas é que não é necessário queimar um combustível para produzir eletricidade.

Após passar pela turbina o vapor é conduzido para um tanque onde vai ser resfriado. A fumaça branca que se vê sain-do das usinas é o vapor que se transforma novamente em água no processo de res-friamento. A água é de novo canalizada para o reservatório onde será naturalmen-te aquecida pelas rochas quentes.

Os impactos ambientais provenientes do aproveitamento intensivo das fontes geotermais são menores que os de outras fontes, considerando sua extensão e que não é necessário o transporte de matéria prima ou beneficiamento de combustível. No entanto, seu aproveitamento ocorre em locais muito particulares, nos quais os condicionantes geológicos são favoráveis. Os impactos, dessa forma, também são lo-cais, constituindo em ruídos e geração de gases. No entanto, não há queima ou dis-posição de resíduos na geração de energia.

Vapo

r de

isob

utan

o

Trocador de calor

Isobutano

TurbinaGerador

Torre de resfriamento

Água Água

Ar Ar

Bomba

Reinjeção da águaFuro de produção

Fluido frioFluido quente

Ar e vapor de água

Condensador

Usina Geotermal

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P oucos, ao longo da história, foram mais maltratados do que a casca de banana. A cena é repetitiva: alguém

vem andando – geralmente um mocinho bem-apessoado, embora variantes do qua-dro sejam bem-aceitas – quando ela surge no meio do caminho. E aí, tombos burles-cos dignos de comerciais de pomada anti--inflamatória se tornam quase obrigação.

Pois a maior inimiga dos distraídos rece-beu sua carta de alforria e foi liberta da con-dição de vilã. A responsável por isso é a pes-quisadora Milena Boniolo. Doutoranda da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Milena descobriu que é possível desconta-minar água poluída com metais pesados, uti-lizando, para surpresa geral da nação, a casca de banana. E ainda de um jeito barato.

O processo é bastante simples. Antes de tudo, colocam-se as cascas sob o sol para que elas possam secar. Depois, inicia--se o processo de moê-las. Quando o resul-tado é um pó bem fino, chega a hora de passá-lo por uma espécie de peneira, para que fique homogêneo. Só depois é mistu-rado à água contaminada. Com isso os me-tais se unem ao pó de banana, permitindo sua extração.

“Por meio de alguns testes, descobri moléculas específicas na casca de banana que possuem cargas elétricas negativas. Elas têm afinidade pelas cargas positi-

vas dos metais”, conta Milena. Para cada 100 ml de água contaminada, utilizam-se cerca de 5 mg do pó de casca de banana.

Todas as pesquisas foram feitas com contaminação por urânio. Mas, segundo a pesquisadora, outros metais pesados como cádmio, níquel, crômio e chumbo também podem ser removidos. “É impor-tante dizer que as cascas de banana não são queimadas antes de se fazer o pó. Se fosse assim, qualquer coisa teria o mesmo efeito”, diz.

Um dos problemas da nova técnica é a porcentagem de purificação. Nos testes, em média 65% dos metais pesados foram removidos da água. Quando questionada sobre a eficiência do projeto, Milena já tem a resposta na ponta da língua. “De que adianta uma remoção de 100% em um mi-lésimo de segundo se o processo é caro?”.

E outra: o índice de descontaminação de 65% é o mínimo obtido em um proces-so. De acordo com a pesquisadora, é pos-sível elevar essa porcentagem repetindo a purificação inúmeras vezes, até chegar próximo à descontaminação desejada.

Mas repetir o processo significa torná-lo demorado – o que pode inviabilizar o projeto em escala industrial. Contudo, os testes em maior escala ainda não foram feitos.

“Quando as indústrias me procuram, elas imaginam que é só chegar e instalar.

Na verdade, preciso de uma oportunidade para testar tudo isso em escala industrial antes de sair ‘vendendo’ a ideia”, conta. Por enquanto, o certo é que as cascas de banana têm um grande potencial. Mas, para viabilizar economicamente o proces-so, são necessários mais testes.

Apesar dos inconvenientes, as cascas de banana resolvem outra grande questão por tabela. É claro que a contaminação da água por metais pesados gera um gran-de desequilíbrio ambiental, ocasionando sérios danos ao ecossistema. Contudo, a solução proposta pela pesquisadora para esse desequilíbrio propicia saídas para ou-tro impasse: o problema do lixo.

“Ao trabalhar com as cascas de banana, tratamos dois problemas de uma só vez: despoluímos a água com as cascas que iriam parar no lixo. Assim temos o chamado de-senvolvimento sustentável”, diz orgulhosa.

Apenas na Grande São Paulo, cerca de 4 toneladas de cascas de banana são sim-plesmente descartadas por ano. Como é um produto praticamente sem valor econômico agregado, algumas empresas já até se dispo-nibilizaram a doar suas cascas para Milena.

Com isso o volume de lixo orgânico diminui. E pode, inclusive, gerar renda e agregar valor a um produto que antes era sinônimo de lixo. E de vilão.

Isso sim é desenvolvimento sustentável.

Água

Bananasis my business

Da Redação

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