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ISSN 2176-1396 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A COLETA SELETIVA NO ENSINO FUNDAMENTAL: UM DESAFIO PARA O PROGRAMA CIDADESCOLA DE PRESIDENTE PRUDENTE Augusta Boa Sorte Oliveira Klebis 1 - UNOESTE/SP Alba Regina Azevedo Arana 2 - UNOESTE/SP Grupo de Trabalho - Educação e Meio Ambiente Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Esta pesquisa busca analisar os conhecimentos e significados que alunos do ensino fundamental integral, participantes da oficina de Educação Ambiental possuem sobre lixo e resíduos sólidos, bem como as mudanças de atitudes a partir da adesão à proposta de Coleta Seletiva. Trata-se, portanto, de uma pesquisa realizada numa abordagem qualitativa, que elegeu o estudo de caso como opção metodológica. Este trabalho se inseriu como parte das ações desenvolvidas pelo Programa “Educação Ambiental e Resíduos Sólidos: Potencializando a Cooperlix para Ampliação das Ações Educativas e de Geração de Trabalho e Renda para Catadores de Resíduos Sólidos Recicláveis e Reutilizáveis em Presidente Prudente-Sp”, em parceria com a UNOESTE e UNESP. Teve como objetivo geral: Contribuir para ampliar o debate em torno da importância de uma Educação Ambiental que busque a articulação teoria e prática.Especificamente buscou: a) identificar os conhecimentos que os alunos de ensino fundamental possuem sobre os vários tipos de lixo e seus impactos no meio ambiente; b) analisar os significados que os alunos atribuem à coleta seletiva; c) refletir sobre as mudanças de atitudes com relação à produção e descarte dos resíduos sólidos em duas escolas do Programa de Educação integral Cidadescola. Um dos grandes problemas ambientais na atualidade é a questão do lixo e do destino que a ele é dado. Nesse sentido, o papel da Educação Ambiental é de suma importância para mobilizar os alunos e toda a comunidade escolar para que os conhecimentos sobre os problemas ambientais não fiquem apenas no nível do discurso, mas que sejam traduzidos em mudanças de atitude e ações efetivas. Palavras-Chave: Educação Ambiental. Coleta Seletiva. Resíduos Sólidos. Programa Cidadescola. 1 Doutora em Educação pela UNESP de Marília, Professora e coordenadora do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências, Letras e Educação UNOESTE P. Prudente/SP, pesquisadora do Grupo de Pesquisa: "Gestão, Políticas Públicas, Gestão e Espaço Escolar Inclusivo” - GPPGEI. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Geografia pela USP de São Paulo, Professora da Graduação e Pós Graduação da Unoeste; Diretora da Faculdade de Ciências, Letras e Educação UNOESTE P. Prudente/SP. E-mail: [email protected]

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ISSN 2176-1396

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A COLETA SELETIVA NO ENSINO

FUNDAMENTAL: UM DESAFIO PARA O PROGRAMA

CIDADESCOLA DE PRESIDENTE PRUDENTE

Augusta Boa Sorte Oliveira Klebis1- UNOESTE/SP

Alba Regina Azevedo Arana2- UNOESTE/SP

Grupo de Trabalho - Educação e Meio Ambiente

Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Esta pesquisa busca analisar os conhecimentos e significados que alunos do ensino

fundamental integral, participantes da oficina de Educação Ambiental possuem sobre lixo e

resíduos sólidos, bem como as mudanças de atitudes a partir da adesão à proposta de Coleta

Seletiva. Trata-se, portanto, de uma pesquisa realizada numa abordagem qualitativa, que

elegeu o estudo de caso como opção metodológica. Este trabalho se inseriu como parte das

ações desenvolvidas pelo Programa “Educação Ambiental e Resíduos Sólidos:

Potencializando a Cooperlix para Ampliação das Ações Educativas e de Geração de Trabalho

e Renda para Catadores de Resíduos Sólidos Recicláveis e Reutilizáveis em Presidente

Prudente-Sp”, em parceria com a UNOESTE e UNESP. Teve como objetivo geral: Contribuir

para ampliar o debate em torno da importância de uma Educação Ambiental que busque a

articulação teoria e prática.Especificamente buscou: a) identificar os conhecimentos que os

alunos de ensino fundamental possuem sobre os vários tipos de lixo e seus impactos no meio

ambiente; b) analisar os significados que os alunos atribuem à coleta seletiva; c) refletir sobre

as mudanças de atitudes com relação à produção e descarte dos resíduos sólidos em duas

escolas do Programa de Educação integral Cidadescola. Um dos grandes problemas

ambientais na atualidade é a questão do lixo e do destino que a ele é dado. Nesse sentido, o

papel da Educação Ambiental é de suma importância para mobilizar os alunos e toda a

comunidade escolar para que os conhecimentos sobre os problemas ambientais não fiquem

apenas no nível do discurso, mas que sejam traduzidos em mudanças de atitude e ações

efetivas.

Palavras-Chave: Educação Ambiental. Coleta Seletiva. Resíduos Sólidos. Programa

Cidadescola.

1 Doutora em Educação pela UNESP de Marília, Professora e coordenadora do Curso de Pedagogia da

Faculdade de Ciências, Letras e Educação – UNOESTE – P. Prudente/SP, pesquisadora do Grupo de Pesquisa:

"Gestão, Políticas Públicas, Gestão e Espaço Escolar Inclusivo” - GPPGEI. E-mail: [email protected]

2 Doutora em Geografia pela USP de São Paulo, Professora da Graduação e Pós Graduação da Unoeste; Diretora

da Faculdade de Ciências, Letras e Educação – UNOESTE – P. Prudente/SP. E-mail: [email protected]

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Introdução

Nos dias atuais, a educação ambiental tornou-se um fator relevante nas discussões,

sobretudo na busca de promover uma relação favorável, ética e consciente no cotidiano das

pessoas. No entanto, embora existam muitos pesquisadores envolvidos com a questão

ambiental, não têm sido suficiente para que a sociedade repense algumas atitudes em prol da

preservação do meio ambiente e no uso sustentável dos recursos naturais. Em pleno século

XXI, o meio ambiente continua a sofrer os efeitos da degradação com sérias consequências

para a vida das pessoas.

É preciso ter claro que o Planeta Terra é um sistema no qual o ser humano é um

elemento que depende dos demais em determinado nível de equilíbrio. Portanto, qualquer

alteração pode acarretar grandes problemas ambientais e afetar drasticamente o equilíbrio

desse sistema, comprometendo a própria existência humana. Diante disso, é que surgiram

várias ações no sentido de preservar e garantir o equilíbrio necessário para que as gerações

futuras continuem a usufruir dos recursos naturais.

Como exemplo, desta tomada de consciência, poderia citar a Conferência

Intergovernamental da UNESCO, em 1977, que propôs o desenvolvimento de programas de

Educação Ambiental com o objetivo de promover a compreensão dos sistemas de relações do

homem/meio ambiente e sensibilizar os cidadãos em relação aos problemas ambientais,

iniciando a ação numa escala local (CARVALHO, 2001). A ideia que se apresenta é que

devemos pensar nos problemas ambientais globalmente, mas agir localmente.

Nessa perspectiva, é que se coloca a necessidade da Educação Ambiental pautada

numa pedagogia ativa em substituição a uma concepção contemplativa da natureza. Exige

ainda, uma compreensão de meio ambiente realizada por meio de reflexões que levem à

tomada de consciência dos problemas ambientais e, consequentemente, a mudanças de

atitudes comprometidas com uma ética planetária, conforme salienta Morin (2005).

Portanto, é papel da Educação Ambiental mobilizar os alunos e toda a comunidade

escolar para que os conhecimentos sobre os problemas ambientais não fiquem apenas no nível

do discurso, mas que possam ser traduzidos em mudanças de atitude e ações efetivas. Nessa

perspectiva, os problemas não são um obstáculo para a educação ambiental, mas um desafio

que necessitamos vencer em direção a um mundo sustentável, no qual as pessoas tenham

garantidas as condições para o exercício pleno da cidadania, com todos os seus direitos e

deveres.

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Sobretudo, não se pode desconsiderar a importância de se aprender a preservar o meio

ambiente desde o início da Educação Básica e assim dar continuidade a vida toda. Cada

habitante da terra tem condição suficiente para desempenhar um papel importante na luta pela

preservação dos recursos naturais que a natureza levou milhões de anos para construir.

Um dos grandes problemas ambientais na atualidade é a questão do lixo, ou melhor,

dizendo, dos resíduos sólidos que são decorrência das atividades desenvolvidas pelo homem.

Segundo o Programa Ambiental das Nações Unidas “existem 46 mil fragmentos de plástico

em cada 2,5 quilômetros quadrados da superfície dos oceanos. Isso significa que esse resíduo

já responde por 70% da poluição marinha por resíduos sólidos” (WALDMAN, 2010, p. 58).

O autor ainda denuncia que no norte do Oceano Pacífico já se constata a formação do

primeiro continente artificial da história, formado por 100 milhões de toneladas de resíduos

sólidos, um verdadeiro continente plastificado (p. 60).

Cabe ainda ressaltar, segundo Waldman (2010) que a destinação desses resíduos não

deixa dúvidas quanto à prática das políticas públicas de “punição da pobreza”, uma vez que os

descartes desses materiais, invariavelmente, são nas áreas mais periféricas das cidades. Assim,

os lixões, aterros sanitários e incineradores, se localizam nas áreas habitadas pela população

de menor poder aquisitivo e, na maioria das vezes, sem as mínimas condições de saneamento

básico.

Segundo Sampaio (2008, apud WALDMAN, 2010, p. 105), existem mais de 15 mil

lixões espalhados em todo o território nacional, acarretando riscos diretos para a saúde de

mais de dois milhões de pessoas. Portanto, uma pergunta que não pode calar: qual o destino

do lixo da sua cidade?

Neste cenário é que se justifica a relevância deste estudo, vinculado ao Projeto

“Educação Ambiental e Resíduos Sólidos: Potencializando a Cooperlix para Ampliação das

Ações Educativas e de Geração de Trabalho e Renda para Catadores de Resíduos Sólidos

Recicláveis e Reutilizáveis em Presidente Prudente-Sp”, em parceria com a UNOESTE e

UNESP, com apoio da FAPESP e envolvendo vários colaboradores, dentre os quais a rede

municipal de educação.

Dessa forma, essa pesquisa se propôs a dar a sua contribuição para que a questão dos

resíduos sólidos em Presidente Prudente seja debatida e aprofundada, em especial no curso de

Pedapogia da Unoeste e nas escolas envolvidas e, consequentemente, possa ter algum reflexo

nas mudanças de atitudes que a realidade impõe.

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Para tanto, definiu como objetivo geral contribuir para ampliar o debate em torno da

importância de uma Educação Ambiental que busque a articulação teoria e prática. Mais

especificamente buscou: a) identificar os conhecimentos que os alunos de ensino fundamental

possuem sobre os vários tipos de lixo e seus impactos no meio ambiente; b) analisar os

significados que os alunos atribuem à coleta seletiva; c) refletir sobre as mudanças de atitudes

com relação à produção e descarte dos resíduos sólidos em uma escola do Programa de

Educação integral Cidadescola.

Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, cuja opção metodológica foi pelo

estudo de caso, uma vez que buscou analisar os conhecimentos e significados sobre lixo e

tipos de resíduos sólidos que alunos do ensino fundamental de uma escola do Programa

Cidadescola possuem, bem como os desafios enfrentados a partir da adesão dessas escolas à

Coleta Seletiva. Os procedimentos adotados para coleta de dados foram: a) Observação de

vários aspectos da organização das escolas: recreio, merenda, organização dos espaços,

armazenamento e coleta do lixo; c) Entrevista com professor que ministra oficina de

Educação Ambiental no programa Cidadescola; d) Conversa com os alunos; e) Participação

em eventos e atividades relacionadas à educação ambiental.

Não podemos deixar de citar também a importância do estudo da produção

bibliográfica de diversos autores que versam sobre o tema, bem como dos subsídios

produzidos pelo MEC, que deram o embasamento teórico a esse trabalho.

Concepções sobre Meio Ambiente

Reigota (2009, p. 36) define meio ambiente como um espaço “determinado e/ ou

percebido onde estão em relação à dinâmica e em constante interação os aspectos naturais e

sociais. Essas relações acarretam processos de criação cultural e tecnológica e processos

históricos e políticos de transformações da natureza e da sociedade” . Considera o ambiente

como produto das relações e interações entre o meio natural e social, portanto, em constante

mutação.

O meio ambiente não é formado apenas por flora e fauna, água, solo e ar, como

tradicionalmente definido. Neste sentido, se torna necessário e importante considerar aspectos

políticos, éticos, econômicos, sociais, ecológicos e culturais para uma visão global e holística.

A visão de Meio Ambiente também está presente nos Parâmetros Curriculares

Nacionais, que enfatizam os aspectos relativos a mudanças comportamentais e legaliza a

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obrigatoriedade de trabalhar o tema ambiental de forma transversal, conforme foi proposto no

PCN, que foi definido como um:

espaço com seus componentes bióticos e abióticos e suas interações em que um ser

vive e se desenvolve, trocando energia e interagindo com ele, sendo transformado e

transformando-o. No caso do ser humano, ao espaço físico e biológico soma-se o

espaço sócio e cultural. Ao interagir com os elementos de seu ambiente, a

humanidade provoca modificações e ao transformar o ambiente o homem muda sua

própria visão a respeito da natureza e do mundo que está inserido (BRASIL, 2001).

Diante disso, compreendemos que o homem precisa aprender que ele não é o dono do

mundo, mas sim um integrante da natureza e por isso ele precisa se lembrar, de que os

recursos naturais devem ser usados com cuidado e sem abuso para que a natureza tenha tempo

de se renovar.

Noutras palavras, para preservar meio ambiente significa que devemos entendê-lo

como nosso, da mesma forma como o quintal da nossa casa. Isso exige uma mudança em

nossa forma de entender o mundo, de estabelecer um convívio saudável com outras pessoas e

seres vivos, percebendo que a relação entre produzir e consumir tem que ser regida por

princípios éticos e responsáveis.

A visão de diversos autores e dos documentos oficiais sobre Educação Ambiental

No Brasil a Educação Ambiental se tornou parte obrigatória do Currículo Nacional

com a Lei Federal N° 9.795, de 27 de Abril de 1999. Em seu Art. 2° afirma que, “A

Educação Ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional,

devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo

educativo, em caráter formal e não formal”. Complementando a ideia o Artigo 3º do inciso II,

estabelece que seja dever das “instituições educativas promover a Educação Ambiental de

maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem” (BRASIL, 1999).

Segundo Dias (2004), a Educação Ambiental vem para proporcionar a todos a

possibilidade de adquirir os conhecimentos, o sentido dos valores, o interesse ativo e as

atitudes necessárias para proteger e melhorar o meio ambiente, desenvolvendo um senso de

preocupação para o entendimento das relações do homem com o ambiente em sua volta.

Conforme Medina (2001) a Educação Ambiental, deve tornar propício a preparação

das pessoas para a sua vida enquanto membros deste planeta, introduzindo novas formas de

conduta nos indivíduos e na sociedade a respeito do meio ambiente, visando a adoção

“consciente e participativa a respeito das questões relacionadas com a conservação e a

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adequada utilização dos recursos naturais, para a melhoria da qualidade de vida e a eliminação

da pobreza extrema e do consumismo desenfreado” (MEDINA, 1997, apud MEDINA, 2001,

p. 17-24).

De acordo com Philippi, Pelicioni e Foncesi (2005) a EA é um processo educativo que

envolve ciência, ética e uma nova filosofia de vida associada com a reflexão e a esperança,

mantendo a ênfase, porém, no âmbito comportamental. Implica em se ter uma visão crítica

dos fatos e estimular as pesquisas científicas para relacionar as causas e consequências que

ocorrem no nosso planeta. O autor ainda enfatiza que somente por meio da educação obter-se-

á um planejamento para o processo de desenvolvimento sustentável.

Dias (2004) também enfatiza a EA enquanto instrumento de mudança cultural e

comportamental do consumidor, e as gerações que forem assim formadas crescerão dentro de

um novo modelo de educação criando novas visões do que é o planeta Terra. O autor define

Educação Ambiental como sendo “um processo permanente no qual os indivíduos e a

comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores,

habilidades, experiências e determinação que os tornem aptos a agir e resolver problemas

ambientais, presentes e futuros” (DIAS, 2004, p. 523).

Para Dias (2004) a Educação Ambiental não pode ser compreendida sem as suas

dimensões políticas, econômicas e sociais. Para o autor os objetivos dessa educação devem

estar voltados para ajudar as pessoas a compreenderem claramente a existência da

interdependência ecológica, econômica, social e política nas zonas urbanas e rurais.

Neste sentido, é imprescindível oferecer possibilidades das pessoas adquirirem

conhecimentos e valores capazes de lhes despertar o interesse para proteger e melhorar o meio

ambiente. Da mesma forma, é importante que as pessoas sejam informadas sobre a legislação

ambiental para que possam fazer valer os seus direitos constitucionais de cidadãos, de ter uma

boa qualidade de vida e um ambiente ecologicamente equilibrado.

A EA tem o intuito de promover o resgate de ações que venham valorizar práticas

individuais e coletivas que estejam assentadas em verdadeiros atos de cooperação e

contribuição à causa ambiental e, concomitantemente, espera-se que cada um faça a sua parte,

independente do outro.

Nessa perspectiva, a percepção dos grandes problemas ambientais, passa também pelo

compromisso em buscar soluções possíveis para que os problemas ambientais não assumam

proporções irreparáveis. Um dos grandes problemas vivenciados na atualidade é a produção

exagerada de resíduos pela humanidade. Portanto, refletir sobre o destino dos resíduos sólidos

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tem como seu principal objetivo melhoria ou a manutenção da saúde, ou seja, o bem estar

físico, mental e social da população.

Para que tais metas se concretizem é necessário pensar em estratégias para o

gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos, capazes de atender aos objetivos presentes na

necessidade em se reduzir, reutilizar e reciclar. Nesse sentido, a oficina “Meio Ambiente” do

Programa Cidadescola3 se propôs a enfrentar os desafios de implantação da proposta de

Coleta Seletiva nas escolas.

Coleta seletiva e a importância da oficina meio ambiente - Programa Cidadescola

Hoje, não podemos desconsiderar o papel da escola em garantir aos alunos a

apropriação dos conhecimentos e valores necessários ao seu desenvolvimento humano e ao

exercício da cidadania no mundo atual, de forma sustentável, solidária e com qualidade de

vida. Implica, portanto, em ela estar atenta aos problemas atuais e assim e provocar mudanças

de atitudes que converjam para a necessidade de cada um se sentir comprometido com o

cuidar do meio ambiente como de si próprio. Partindo desse pressuposto a pesquisa de campo

em questão teve como foco a participação de vinte e três alunos que frequentam a oficina de

“Meio Ambiente” do programa Cidadescola, desenvolvida em uma das escolas da rede

municipal de Presidente Prudente.

A referida oficina tem como um de seus objetivos conscientizar alunos e familiares

sobre a importância da coleta seletiva para a preservação do meio ambiente e a necessidade de

implantá-la nas escolas e comunidade. As vinte e três crianças, sujeitos dessa pesquisa, foram

caracterizadas no instrumento de análise com as letras “A1, A2, A3...”. Os dados foram

coletados por meio da aplicação de um questionário composto por 12 itens, com questões

fechadas e abertas.

Considerou-se também importante compreender os significados que a Educação

Ambiental tem para o professor que trabalha com alunos na educação integral. Dessa forma, a

presente pesquisa se propôs a realizar uma entrevista com um professor que ministra a Oficina

“Educação Ambiental” no Programa Cidadescola. O questionário foi composto por cinco

questões abertas, nas quais o professor teve a oportunidade de colocar sua concepção de

educação ambiental e os desafios da coleta seletiva implantada nas escolas.

3 Programa Cidadescola instituído em Presidente Prudente por meio do Decreto 21.142 de 17/08/2010, tem por

objetivo oferecer uma educação integral em tempo integral, redimensionando e enriquecendo a estrutura

organizacional da escola com novos espaços que ultrapassam os limites da escola e com um currículo ampliado,

além do investimento na formação dos profissionais que nele atuam.

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Análise dos dados coletados: a visão dos alunos

É importante ressaltar que os alunos se mostraram bastantes receptivos em relação a

sua participação na pesquisa. Outro ponto que merece destaque é o fato de o Programa

Cidadescola ter aderido à proposta de implantação da coleta seletiva em suas unidades

escolares, como um desafio para enfrentar o problema do descarte dos resíduos sólidos pela

comunidade escolar.

As primeiras questões se relacionavam dados pessoais dos alunos. Quanto à idade

dessas crianças verificou-se a faixa etária entre 9 a 11 anos e que 17 (74%) moram no mesmo

bairro da escola, sendo que os outros 6 (26%) se redistribuem nos bairros próximos.

O questionário aplicado também buscou identificar o conhecimento dos alunos sobre

preservação do meio ambiente; problemas ambientais no seu cotidiano e coleta seletiva.

Na questão de número 6 lhes foi perguntado: “Você acha importante preservar o Meio

Ambiente”? Todos responderam que sim, e quando indagados do “por que”, observou-se que

suas respostas poderiam ser agrupadas em três categorias: a) “é imprescindível para a

sobrevivência humana” (30,4%); b) “é importante para se viver melhor e com saúde, num

planeta mais limpo e agradável” (43,5%); c) “é importante porque a natureza tem vida e é

legal” (26,1%).

Na primeira categoria “é imprescindível para a sobrevivência humana” temos como

exemplo das respostas dos alunos:

“Porque a gente precisa dele para viver” (Aluno 4)

“Porque se não cuidarmos do planeta não teremos onde viver” (Aluno 5)

“Porque senão a gente não consegue viver no mundo” (Aluno 16)

“Porque se a gente não preservar o meio ambiente morreremos” (Aluno 23)

Quanto à segunda categoria “é importante para se viver melhor e com saúde num

planeta mais limpo e agradável” as respostas foram:

“Porque é bom para a saúde” (Aluno 22)

“Porque o lixo não fica acumulado e o ar fica limpo” (Aluno 21)

“Porque ajuda a ter um ambiente saudável e bom para nós e os animais vivermos”

(Aluno 17)

Na terceira categoria “é importante porque a natureza tem vida e é legal” as respostas

demonstram maior ingenuidade e menos clareza com as consequências do descompromisso

com o meio ambiente:

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“Porque a natureza tem vida” (Aluno 15)

“Porque é importante para nós e é legal” (Aluno 1)

Observa-se que a maioria das respostas dos alunos vem ao encontro do que apregoa a

Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999) em seu Art. 1º e da visão dos

autores Dias (2004) e Medina (2001) que enfatizam importância da preservação do meio

ambiente para uma melhor qualidade de vida. Contudo os alunos cujas respostas se encontram

na categoria “a”, demonstram que possuem maior consciência sobre a urgência de se pensar

na preservação do meio ambiente, colocando como uma questão vital para a humanidade.

Quanto a questão sete “De quem você recebeu mais informaçãoes sobre Meio

Ambiente?” – as respostas apresentadas deixam bem claro que a escola é o principal local em

que os alunos têm acesso aos conhecimentos, necessários para a concientização da

importância de preservar o o meio ambiente. Entretanto, a escola não é o único local que esse

conhecimento circula, como podemos observar nas respostas dos alunos, conforme demonstra

o gráfico 1.

Gráfico 1 – Locais que mais recebeu informações sobre Meio Ambiente

Fonte: Trabalho de campo, 2013.

Vale ressaltar que, de acordo com 15 alunos (65%) a escola foi o único local que

propiciou esse conhecimento. Por outro lado, 3 alunos (13%) não incluíram a escola como um

dos locais de acesso a informações sobre o meio ambiente, assinalando as opções Internet,

revistas, jornais, livros, TV e rádio. Observou-se ainda que 2 (9%,) além da escola,

receberam informações na internet, revistas, jornais e livros e 3 (13%) incluiu a família,

juntamente com todos os outros meios assinalados.

Nesse sentido, é que Dias (1999) deixa claro que as informações sobre meio ambiente

devem chegar a todas as pessoas, onde elas estiverem dentro ou fora das escolas. É importante

que essas informações estejam voltadas para sua realidade social, econômica, política e

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cultural, de modo a promover o resgate e a criação de novos valores para um desenvolvimento

sustentável.

Referente à questão de número oito “Quais os problemas ambientais que você conhece

ou já ouviu falar?” a grande maioria dos alunos demonstra preocupação com os problemas

atuais. Assim, observou-se que 5 (22%) dos alunos apontavam o “desmatamento”; 7 (31%) a

“poluição do ar, incêndios, lixo jogados na rua”; 7 (30%) a poluição dos rios, extinção dos

animais; 2 (9%) as “enchentes ”; 1 (4%) a “falta de reciclagem do lixo” e 1 (4%) relatou que

não conhecia nenhum problema ambiental.

Quanto a questão nove “Que tipo de problemas ambientais você percebe que existem

na rua ou no bairro onde você mora”? – a grande maioria aponta o lixo que é jogado em

qualquer lugar e as consequências sofridas pela pequena mata que existe no bairro, além do

desperdicio de água. Podemos verificar que a maioria dos alunos já tem a conciência do

descaso com o meio ambiente existente em sua comunidade como observamos pelas suas

respostas:

“Muito lixo jogado na rua e terrenos” (aluno 1).

“Eu vejo muito lixo na rua e queimada na mata e nos terrenos baldios” (aluno 18).

“Lixo na rua e desperdicio de água também” (aluno 23).

Pelas respostas dos alunos o destino do lixo é um problema, 56% ou seja 13 alunos,

percebem lixo na rua e nos terrenos; 6 (26%) apontam além do lixo na rua as queimadas na

mata e nos terrenos; 2 (9%) ressaltam o lixo na rua e desperdicio de água; 9% ou seja 2 alunos

declararam que não sabem nada a respeito, evidenciando que não conseguiram atribuir sentido

aos conhecimentos veiculados na escola sobre os problemas do meio ambiente.

No entanto, observou-se que a maioria dos alunos tem conhecimento sobre os

problemas ambientais existentes e na questão dez, “Você já ouviu falar sobre coleta seletiva”?

- todos responderam que “sim”, não deixando dúvida que o tema é recorrente.

E quando indagados na questão 10.1 “Com quem ou onde você aprendeu sobre a

coleta seletiva”? - a escola foi citada por todos como sendo o único ou um dos locais que

adquiriam essas informações: 15 (65%) aprenderam sobre a coleta seletiva somente na escola;

7 (31%) aprenderam em casa com os pais e na escola; 1 (4%) adquiriram tais informações em

outros lugares além da escola e da familia.

Como enfatiza Dias (1999), a escola não se constitui o único espaço para que se

aprenda sobre meio ambiente , mas como verificamos ela vem sendo o principal local para se

obter esse tipo de informação.

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Na questão de número 10.2 perguntou-se “Existe coleta seletiva em seu Bairro?”

Conforme as respostas dos alunos 22, ou seja 96% assinalaram que “sim” e somente 1 (4%)

não soube responder. A questão seguinte era: “Você costuma separar o material para a

coleta seletiva?”. Nas respostas dos alunos ficou evidenciado um fato relevante com relaçao

à Proposta da Coleta Seletiva, que apesar de ser um projeto da escola, transcedeu o espaço

escolar e atingiu as casas dos alunos, bem como, o proprio bairro onde moram.

Embora a escola seja o principal local que se aprende sobre o meio ambiente e sobre a

coleta seletiva, não é o principal local que se separa os materiais recicláveis uma vez que 14

(61%) dos alunos colocaram que separam somente em casa; 8 (35%) assinalaram que em casa

e na escola e por fim 1 aluno (4%) declarou que realiza essa separação.

Segundo Dias (2004) a Educação Ambiental tem o intuito de promover ações que

valorizem as práticas individuais e coletivas em favor da causa ambiental e espera-se que cada

um faça a sua parte, independente dos outros, como pode ser observado uma porcentagem

consideravel de alunos (96%) afiam praticarem tais ensinamentos.

Na questão onze perguntou-se “Que tipo de material pode ser separado para a coleta

seletiva?’ Constatou-se que eles sabem os materiais mais comuns que podem ser reciclados.

Entretanto o vidro não foi citado, mas, segundo Braido (1998), o descarte do vidro em aterros

sanitários leva mais de 10.000 anos para se degradar na natureza e causa sérios perigos nos

aterros por serem cortantes. Portanto, a reciclagem do vidro além de trazer vários benefícios

ao meio ambiente gera muitos empregos diretos e indiretos.

Com relação a pergunta “O que você aprendeu ou fez de importante com esse

projeto?” As respostas dos alunos nos remete a Waldman (2010) que afirma ser o lixo um

problema mundial, e que ter o conhecimento sobre as formas de reciclagem e a sua

importância para o meio ambiente, favorece não somente na qualidade de vida da população

local, como também pode se tornar um recurso com variados campos para a sua utilização.

É interessante notar que 88% (20 alunos) ressaltaram que aprenderam sobre a

importância de respeitar, cuidar e preservar o meio ambiente, de reduzir a poluição, de

reciclar, de não jogar o lixo nas nas vias públicas. Mas se pensarmos em ações mais

concretas, apenas 1 (4%) fala que aprendeu a fazer a coleta seletiva para preservar o meio

ambiente e 1 aluno (4%) destaca que “aprendeu a confeccionar brinquedos com materiais

recicláveis”.

No entanto, na última questão ao perguntar aos alunos “De que forma você participa

do projeto”? Pôde ser observado que a grande maioria dos alunos, ou seja, 21 (90%)

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declararam que é reciclando, participando da coleta seletiva; 1 aluno (5%) afirma que é

estudando no projeto Cidadescola e 1 das crianças (5%) diz que é cuidando do meio ambiente.

Há que se considerar a importância do programa cidadescola que possibilitou a esses

alunos adquirirem o conhecimento sobre o meio ambiente, bem como o fato de valorizarem o

seu espaço e se engajarem em um projeto que trará mudanças significativas para o meio

ambiente. Frente a isso, não se pode negar a importância de a escola desenvolver projetos que

permitam aos alunos repensar conceitos, habilidades e atitudes que possam fazer a diferença

na qualidade de suas vidas e da sociedade na qual estão inseridos.

Portanto, vemos que a sociedade necessita desta importante parceria entre a escola, o

aluno e sua comunidade, visto que, todas as transformações que acontecem ultrapassam os

limites da escola. Sobretudo, é válido frisar que as relações dos seres humanos são construídas

por meio da convivência entre todos, em especial, nos espaços mais utilizados pelas crianças.

A qualidade dessas relações, segundo Compiani (2001) é imprescindível para o

desenvolvimento do caráter e do aprendizado para o futuro, como profissional e acima de

tudo como ser humano .

Análise dos dados coletados: a visão do professor

A professora entrevistada é efetiva no Ensino Fundamental e atua no Programa

Cidadescola, com a oficina de “Educação Ambiental” no período complementar ao currículo

básico, em três das escolas integrantes do programa de educação integral em tempo integral.

Na resposta da professora à primeira questão “Qual a importância que você dá á

inclusão da EA no currículo escolar?” A professora demonstra preocupação com a geração

futura e que EA seja significativa e se configure como uma prática educativa diária no

currículo escolar. Conforme pode ser observado em sua resposta:

”É uma questão de sobrevivência, garantir de forma consciente através de práticas

educativas diárias, a conservação do Meio Ambiente no currículo escolar”.

Conforme pode ser observada, a resposta menciona a importância do aluno em

entender o seu papel na sociedade e que se reconheça como participante desse sistema, bem

como as mudanças necessárias em seu comportamento a fim de conservar o meio ambiente.

Quanto à segunda questão: “Na sua visão como deve se trabalhar a EA?” De acordo

com a professora a Educação Ambiental deve estar presente em todo o currículo escolar,

desde as séries iniciais até o ensino médio. A escola deve trabalhar com uma visão

globalizante e interdisciplinar que esse tema deve ter:

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“Desde a educação infantil até o ensino médio com conteúdos e práticas para cada

etapa escolar, sempre aliando a teoria à prática (visitas a Cooperlix, levantamento de

propostas para a utilização e destino dos resíduos sólidos, passeatas, mobilizações diversas,

projeção de vídeos)”.

Evidencia-se o papel da escola como principal responsável para desenvolver no aluno

uma visão ampla dos problemas da atualidade, buscando sempre articular a teoria a prática e

de forma a favorecer as transformações necessárias na comunidade local.

Com relação à questão três: “Um dos grandes problemas ambientais é o destino dos

resíduos sólidos. Em sua opinião, como essa questão deve ser trabalhada na escola?” Fica

claro que a escola deve orientar as crianças desde cedo, mostrando a elas as consequências de

seus atos para o futuro, e de como se deve atuar na sociedade:

“Através de práticas educativas, a partir da sala de aula e em todo o contexto escolar,

as crianças aprendem onde serão depositados os tipos de resíduos sólidos, jogando o lixo

produzido nos cestos apropriados”.

Como se observou, a professora acredita que a educação ambiental na escola contribui

para a formação de cidadãos que reconhece seus direitos e deveres e colabora para a

preservação de tudo o que está ao seu redor.

A questão quatro: “Quais os desafios para a proposta da coleta seletiva você

encontrou nas escolas em que trabalhou?” Apesar de todo o trabalho de conscientização

sobre a questão ambiental realizada pela escola, educadores, pesquisadores e pela mídia, ainda

existe uma lacuna muito grande entre a teoria e a prática. Na resposta abaixo fica evidente o

papel do professor e também a importância de toda a equipe escolar (inspetores de alunos,

merendeiras, pessoal da limpeza, diretor, coordenador, secretario, etc) para que se consiga um

trabalho que tenha significado, dentro e fora da escola:

“Os pais, ou seja, a sociedade em geral não tem essa prática “separar o lixo”, então

faço um trabalho dentro da sala de aula, e as cozinheiras, serviços gerais e outros

departamentos escolares misturam tudo, o que se torna frustrante para os alunos”.

Fica explícito na resposta da professora que na prática cotidiana ainda existe uma

lacuna entre o que o professor planeja e a proposta pedagógica da escola. Não se pode pensar

em mudanças qualitativas na educação (não apenas a ambiental) se não houver

comprometimento e envolvimento de toda a equipe escolar. Seria um a passo fundamental

para se conseguir também o envolvimento da família.

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Da mesma forma, é imprescindível que sejam pensadas em políticas de formação

continuada que contemplem a EA como um tema relevante na prática docente e que

possibilitem e incentive as escolas desenvolver projetos voltados para a problemática

ambiental local.

Considerações Finais

Esta pesquisa possibilitou uma maior compreensão da importância da educação

ambiental e de projetos que envolvem a coleta seletiva como o do Programa Cidadescola, que

aqui apresentamos. Neste sentido, coloca como fundamental que se discuta as transformações

que a ação do homem causou e os prejuízos que nosso ambiente sofreu, bem como a forma

como os problemas ambientais e, mais especificamente a questão do lixo, se insere no

contexto das escolas para que os alunos aprendam, além do valor da coleta seletiva, sua

relevância para a sustentabilidade do planeta.

Promover o desenvolvimento de atitudes simples como a separação dos materiais que

podem vir a ser reciclados e o encaminhamento correto para o descarte dos resíduos sólidos

favorecem a preservação e o cuidado com o meio ambiente, além de contribuir com

oportunidades de trabalho e aumento de renda dos antigos catadores nas cooperativas de

materiais reciclados de aumentarem a sua renda.

É imprescindível que professores, gestores e educadores em geral tenham clareza que

o principal objetivo da instituição escolar é garantir que os alunos, por meio de uma

aprendizagem significativa, se apropriem de conhecimentos e valores que lhes permitam agir

e interagir no meio em que vivem, numa perspectiva de sociedade mais justa, inclusiva e

sustentável.

No entanto, sabemos que é uma difícil tarefa. A sociedade atual precisa muito mais do

que adultos que tenham desenvolvido as competências para o mercado de trabalho. É preciso

pensar em um currículo que contribua, de forma significativa, para a emancipação cultural e

social de todos os alunos, como sujeitos históricos, portanto, capazes de promover as

mudanças necessárias.

Não obstante, as diferenças sociais, cada vez mais evidentes, e as desigualdades de

acesso aos meios educacionais mais estruturados, as camadas menos privilegiadas da

população precisam compreender a força do conhecimento e da solidariedade para mudar a

realidade em que vivem.

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Sem dúvida, um aprendizado relevante para nossos alunos, entender a importância de

de se tornarem sujeitos ativos na sociedade, conhecedores de seus deveres, direitos e

principalmente do respeito a si e ao próximo e, consequentemente, ao meio em que vivem.

Para tanto, é fundamental que cada professor compreenda o seu papel de alimentar a

curiosidade em seus alunos para as descobertas, em favorecer que todos busquem

conhecimentos, contribuindo para a formação humana e integral dos estudantes.

Um fator relevante a ser destacado é que embora o projeto Coleta Seletiva, implantado

no Programa Cidadescola, ressalte a importância de se trabalhar a educação ambiental, não se

pode perder o foco sobre o longo caminho que ainda terá que percorrer. Ou seja, para que haja

uma verdadeira mudança de hábito cultural de um povo que, mesmo com uma lixeira perto,

por exemplo, ainda joga o lixo no chão ou não possui a preocupação de separar os resíduos

sólidos, mesmo que o caminhão da coleta seletiva passe na porta da casa de cada um para

recolhê-lo.

Portanto, é preciso ampliar a participação da família nos projetos desenvolvidos nas

escolas e propiciar que a escola chegue até a casa do seu aluno, criando uma ponte entre os

conhecimentos e as práticas. Quem sabe assim não estaremos mais perto de uma efetiva

aprendizagem da educação ambiental, ou seja, que se traduza em atitudes comprometidas com

a preservação ambiental e com um planeta mais sustentável e mais humano.

REFERÊNCIAS

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PHILIPPI, Junior; PELICIONE, Arlindo; FONCESI, Maria Cecilia. Educação ambiental e

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resíduos sólidos. São Paulo: Cortez, 2010.