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Newsletter nº 20 | Abril de 2009 | Abreu Advogados www.abreuadvogados.com NOVO REGIME JURÍDICO DE PROTECÇÃO NA PARENTALIDADE A - Introdução Foi aprovado em Conselho de Ministros no passado dia 12 de Fevereiro, no âmbito da aprovação da revisão do Código do Trabalho (Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro), o regime jurídico de protecção social da agora denominada parentalidade, o qual veio a ser definido e regulamentado pelo Decreto-Lei 91/2009, de 9 de Abril, esse cuja entrada em vigor se encontra prevista para o próximo dia 1 de Maio. Este novo regime elege como prioridades o incentivo à natalidade, à igualdade do género, a procura da melhoria da conciliação da vida familiar e profissional, o reforço da partilha da licença entre os progenitores, assim como da partilha no seio da própria instituição Família, fortalecendo, ainda, os direitos do pai trabalhador, bem como dos avós. Cumpre relembrar que no âmbito do regime de protecção da parentalidade, três conceitos surgem como fundamentais, a saber: I. Trabalhadora grávida – a trabalhadora em estado de gestação que informe o empregador do seu estado, por escrito, com apresentação de atestado médico; II. Trabalhadora puérpera – a trabalhadora parturiente e durante um período de 120 dias subsequentes ao parto que informe o empregador do seu estado, por escrito, com apresentação de atestado médico ou certidão de nascimento do filho; III. Trabalhadora lactante a trabalhadora que amamenta o filho e informe o empregador do seu estado, por escrito, com apresentação de atestado médico. Atentos os conceitos acima mencionados, por regra, só beneficiam do regime da parentalidade as trabalhadoras que informem o respectivo empregador do seu estado e o comprovem. Sublinhe-se, no entanto, que com as alterações ao Código do Trabalho, prevê-se agora que poderão também beneficiar da protecção conferida pelo Código à parentalidade as trabalhadoras que demonstrem que o empregador (ainda que não tenha sido expressamente informado) tinha conhecimento da situação ou do facto relevante. B – O que Mudou... 1. ...na licença parental inicial quando partilhada por ambos os progenitores? Conforme constava do regime anteriormente previsto no Código do Trabalho, o pai e a mãe

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Newsletter nº 20 | Abril de 2009 | Abreu Advogados

www.abreuadvogados.com

NOVO REGIME JURÍDICO DE PROTECÇÃO NA PARENTALIDADE

A - Introdução

Foi aprovado em Conselho de Ministros no passado dia 12 de Fevereiro, no âmbito da aprovação da revisão do Código do Trabalho (Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro), o regime jurídico de protecção social da agora denominada parentalidade, o qual veio a ser definido e regulamentado pelo Decreto-Lei 91/2009, de 9 de Abril, esse cuja entrada em vigor se encontra prevista para o próximo dia 1 de Maio. Este novo regime elege como prioridades o incentivo à natalidade, à igualdade do género, a procura da melhoria da conciliação da vida familiar e profissional, o reforço da partilha da licença entre os progenitores, assim como da partilha no seio da própria instituição Família, fortalecendo, ainda, os direitos do pai trabalhador, bem como dos avós. Cumpre relembrar que no âmbito do regime de protecção da parentalidade, três conceitos surgem como fundamentais, a saber: I. Trabalhadora grávida – a trabalhadora em estado de

gestação que informe o empregador do seu estado, por escrito, com apresentação de atestado médico;

II. Trabalhadora puérpera – a trabalhadora parturiente

e durante um período de 120 dias subsequentes ao parto que informe o

empregador do seu estado, por escrito, com apresentação de atestado médico ou certidão de nascimento do filho; III. Trabalhadora lactante – a trabalhadora que

amamenta o filho e informe o empregador do seu estado, por escrito, com apresentação de atestado médico.

Atentos os conceitos acima mencionados, por regra, só beneficiam do regime da parentalidade as trabalhadoras que informem o respectivo empregador do seu estado e o comprovem. Sublinhe-se, no entanto, que com as alterações ao Código do Trabalho, prevê-se agora que poderão também beneficiar da protecção conferida pelo Código à parentalidade as trabalhadoras que demonstrem que o empregador (ainda que não tenha sido expressamente informado) tinha conhecimento da situação ou do facto relevante. B – O que Mudou... 1. ...na licença parental inicial quando partilhada por ambos os progenitores? Conforme já constava do regime anteriormente previsto no Código do Trabalho, o pai e a mãe

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continuam, pelo nascimento de filho, a poder gozar uma licença de 120 ou 150 dias consecutivos. Agora, esta licença poderá ser aumentada em 30 dias caso haja uma repartição do seu gozo entre o pai e a mãe, e desde que ambos os progenitores gozem, cada um, 30 dias consecutivos ou dois períodos de 15 dias consecutivos, após o período de 6 semanas subsequentes ao nascimento a gozar pela mãe (este último obrigatório).

Na prática, isto significa que a mãe nunca poderá gozar sozinha os 180 dias de licença.

Optando os progenitores por esta licença partilhada de 180 dias, o montante do subsídio diário a atribuir pela Segurança Social (designado de subsídio parental inicial) é igual a 83% da remuneração de referência do beneficiário.

Na eventualidade de o período de licença corresponder a 120 dias, tal montante será de 100%; sendo de 80% no caso da licença corresponder a 150 dias e de 100% se a licença tiver uma duração de 150 dias, mas for partilhada entre os dois progenitores. I.e., cada um dos progenitores terá de gozar 30 dias consecutivos ou dois períodos de 15 dias consecutivos, após o período de 6 semanas após o nascimento a gozar pela mãe.

Decidindo partilhar o gozo da licença, ambos os pais devem informar os respectivos empregadores, até 7 dias após o parto, do início e termo dos períodos a gozar por cada um, entregando, para o efeito, uma declaração conjunta.

2. ...na licença parental exclusiva do pai? Verifica-se um alargamento da licença parental exclusiva do pai por nascimento de filho para 20 dias úteis: (i) 10 dias úteis obrigatórios, dos quais 5 têm de ser gozados de modo consecutivo imediatamente a seguir ao nascimento e os restantes 5 dias nos 30 dias seguintes ao nascimento do filho, de modo seguido ou interpolado; (ii) 10 dias úteis facultativos, seguidos ou interpolados, os quais devem ser gozados após o gozo do período obrigatório já referido e em simultâneo com o gozo da licença parental inicial da mãe.

A licença parental exclusiva do pai é totalmente subsidiada pela Segurança Social, sendo o subsídio

equivalente a 100% da remuneração de referência do beneficiário. O pai trabalhador deverá avisar o respectivo empregador com a antecedência possível do início e termo dos períodos que vai gozar e com uma antecedência não inferior a 5 dias, no que diz respeito ao gozo da licença parental exclusiva de natureza facultativa.

3. ...na licença parental inicial complementar?

Outra novidade deste regime é a possibilidade de a licença parental alargada ser subsidiada, pela Segurança Social, em 25% da remuneração de referência do beneficiário, no caso dos pais prolongarem a licença parental inicial por mais 3 meses e desde que a respectiva licença seja gozada no período imediatamente subsequente à licença parental inicial ou à licença parental complementar, na modalidade de alargada, do outro progenitor.

4. ...no trabalho a tempo parcial para acompanhamento de filho até 12 anos? Uma outra importante novidade prende-se com o facto de o trabalho a tempo parcial para acompanhamento de filho durante os primeiros 12 anos de vida ser agora contado em dobro para efeitos de contribuições para a Segurança Social, i.e., se o trabalhador presta trabalho a tempo parcial o valor da retribuição para efeitos de contribuição para a Segurança Social seria de metade da retribuição que normalmente aufere; contudo, determina-se que haja um registo adicional de remunerações no dobro da remuneração registada a título de trabalho a tempo parcial - até ao limite do valor da remuneração média registada a título de trabalho a tempo completo.

5. ...na licença por adopção? Neste âmbito, o novo regime de protecção da parentalidade veio equiparar o regime da adopção ao da maternidade e paternidade, estabelecendo o mesmo período de licença parental inicial, bem como o mesmo montante no que ao subsídio que é pago pela Segurança Social respeita, em caso de adopção de menor de 15

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anos (a saber, 120 ou 150 dias ou 180 dias nos mesmos termos referidos para a licença parental inicial). Na anterior legislação previa-se um período de 100 dias apenas.

De referir que, para efeitos de realização de avaliação para a adopção, os trabalhadores têm agora direito a 3 dispensas ao trabalho para deslocação aos serviços da segurança social ou recepção dos técnicos no seu domicílio. 6. ...nas faltas para assistência a netos? Veio reforçar-se os direitos dos avós, na medida em que se cria a possibilidade de faltarem ao trabalho, em substituição dos progenitores, para a prestação de assistência inadiável e imprescindível, em caso de doença ou acidente, a neto menor ou, independentemente da idade, com deficiência e doença crónica, faltas que são subsidiadas até ao limite correspondente aos dias de faltas remanescentes não gozadas pelos progenitores (conforme melhor explicado abaixo), sendo o subsídio igual a 65% da remuneração de referência do beneficiário.

7. ...nas faltas para assistência a filhos? Os pais trabalhadores podem faltar até 30 dias por ano ou durante todo o período da hospitalização (sendo o caso) para a prestação de assistência inadiável e imprescindível, em caso de doença ou acidente, a filho menor de 12 anos (ao abrigo da anterior legislação este direito era contemplado no caso de filhos menores de 10 anos) ou, independentemente da idade, a filho com deficiência ou doença crónica.

Tratando-se de filho com 12 ou mais anos de idade ou, sendo maior, que faça parte do seu agregado familiar, o trabalhador poderá faltar ao trabalho até 15 dias por ano para prestar assistência inadiável e imprescindível em caso de doença ou acidente.

O montante do subsídio diário para assistência a filhos nos termos acima expostos é de 65% da remuneração de referência do beneficiário.

8. ...nas faltas para assistência a membro do agregado familiar?

No intuito de conferir um maior protecção à instituição Família, determina-se que o trabalhador tem direito a faltar ao trabalho até 15 dias por ano para prestar assistência inadiável e imprescindível, em caso de doença ou acidente, ao cônjuge (ou pessoa com quem viva em união de facto ou economia comum), parente ou afim na linha recta ascendente (nomeadamente avós do trabalhador ou do cônjuge, pais, padrasto ou madrasta, sogros) ou no 2º grau da linha colateral (irmãos e cunhados).

Tais faltas determinam a perda de retribuição. 9. ...na assistência a menor com deficiência?

Os progenitores de menor com deficiência ou doença crónica, com idade não superior a 1 ano, têm direito a redução de 5 horas do período normal de trabalho semanal, ou outras condições de trabalho especiais, para assistência ao filho.

Não há lugar ao exercício deste direito, sempre que um dos progenitores não exercer actividade profissional e não esteja impedido ou inibido totalmente de exercer o poder paternal. Se ambos os progenitores forem titulares do direito, a redução do período normal de trabalho pode ser utilizada por qualquer deles ou por ambos em períodos sucessivos.

10. ...na dispensa para consultas pré-natais?

Clarifica-se que a preparação para o parto é equiparada a consulta pré-natal e como tal a trabalhadora grávida tem direito à dispensa ao trabalho pelo tempo e número de vezes necessários.

Constitui uma outra novidade deste regime o facto de o pai ter direito a 3 dispensas ao trabalho, sem perda de retribuição, para acompanhar a trabalhadora (mãe) às consultas pré-natais.

Relembramos que, sem prejuízo deste direito às dispensas, as mesmas devem, sempre que possível, ser realizadas fora do horário de trabalho, podendo o empregador exigir dos trabalhadores a prova de que as consultas apenas se podem realizar durante o horário de trabalho e que as mesmas se efectuaram.

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C - Aplicação no tempo Conforme anunciado pelo Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social será aplicado o novo regime de protecção da parentalidade aos progenitores que já se encontrem em gozo de algumas das licenças previstas na Lei.

Nestes termos, convém salientar que apenas se poderá aplicar o novo regime aos trabalhadores que se encontrem em gozo das seguintes licenças: i. Licença por maternidade (anterior designação

legal); ii. Licença por paternidade por decisão conjunta dos

pais (anterior designação legal); iii. Licença por adopção.

Sendo, nessas situações, contabilizados os períodos de gozo de licença já decorridos.

Decorre do exposto, que apenas nas situações acima elencadas poderão os trabalhadores em gozo das respectivas licenças usufruir de alguns dos novos direitos previstos na Lei, não lhes sendo aplicáveis, por exemplo, no caso dos pais, o gozo da licença parental exclusiva referida no ponto 2 acima.

De referir, por último, que os trabalhadores que pretendam beneficiar do direito acima referido, deverão informar os respectivos empregadores (observando os procedimentos que se encontram previstos para cada uma das licenças que esteja em causa) no prazo de 15 dias a contar da entrada em vigor da presente legislação, ou seja, até ao dia 15 de Maio de 2009.

Esta Newsletter contém informações e opiniões expressas de carácter geral, não substituindo o recurso a aconselhamento jurídico para a resolução de casos concretos. Para mais informações, por favor contacte-nos atráves do email [email protected]

Lisboa Avenida Forças Armadas, 125—12º 1600-079 Lisboa Tel.: (+351) 21 723 18 00 Fax: (+351) 21 723 18 99 E-mail: [email protected]

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