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30 Janeiro / Junho 2009 O processo de envelhecimento tem início logo após o nos- so nascimento, mas infeliz- mente, só nos preocupamos com os seus efeitos quando os sur- gem os primeiros sinais da velhice. Segundo dados do IBGE de 2008, nos últimos 10 anos o número de pessoas acima de 60 anos no Brasil cresceu 47,8%, como resul- tado dos avanços da medicina e dos meios de comunicação. Hoje, o conceito de uma velhice saudá- vel não se mede mais pelo quadro clínico, mas pela capacidade de manter-se funcional. O que está em jogo na terceira idade é a au- tonomia, ou seja, a possibilidade de colocar em prática suas vonta- des e atividades diárias, através do exercício físico, do lazer ou até mesmo do trabalho. Doenças muito comuns em ido- sos, como as cardíacas, a diabetes e a hipertensão, já podem ser con- troladas através da alimentação e de hábitos saudáveis, minimizan- do os riscos de ataques súbitos e aumentando a qualidade de vida dessa faixa etária. Com esses re- cursos é possível proporcionar uma maior integração social e uma ve- lhice mais tranqüila e feliz para os indivíduos. Segundo a nutricionista Beatriz Campos, é possível manter cor- po e mente saudáveis após os 60 anos através de pequenos hábi- tos diários. “Homens e mulheres a partir dos 50 anos devem re- dobrar os cuidados com a saúde. Fazer exames a cada seis meses ou um ano garante boa saúde e a detecção precoce de doenças que acometem os indivíduos em idade mais avançada.” Para Beatriz, envelhecer faz par- te da vida e não significa o fim dos sonhos. A partir de certa idade, a alimentação exerce um papel im- portantíssimo na prevenção de do- enças. “A dieta deve conter alimen- tos capazes de fornecer todos os nutrientes necessários ao processo de envelhecimento. É preciso não exagerar no excesso de sal, açúcar e gorduras dos alimentos. As refei- ções diárias devem ser em número de seis, divididas em intervalo de, aproximadamente, três horas en- tre cada uma delas”, afirma. Além de uma boa alimentação, os especialistas são unânimes em afir- mar que os exercícios físicos devem fazer parte do dia a dia do idoso. “Caminhar, nadar, alongar, dan- çar e tantas outras atividades que podem ser praticadas por pessoas da terceira idade, previnem a per- da de massa muscular, aumentam a força e a resistência físicas, além de permitirem maior interação so- cial entre os indivíduos. É possível transformar os anos que ainda nos restam em momentos de alegria, bem estar, harmonia, saúde e vida longa. São necessárias apenas de- dicação e vontade de viver bem” completou a nutricionista. Ângela Soares, de 72 anos, é professora aposentada do estado do Rio de Janeiro. Quando ela e o marido pararam de trabalhar, decidiram que estava na hora de mudar a rotina. “Com uma boa dose de coragem vendemos tudo o Envelhecer, mas com saúde ELISA SOARES E MARIANA GUEDES Não deixe a idade se tornar uma vilã Ângela, à esquerda, e sua mãe

Ângela, à esquerda, e sua mãepuc-riodigital.com.puc-rio.br/media/8 - envelhecer, mas com saúde.pdf · O que está em jogo na terceira idade é a au-tonomia, ou seja, a possibilidade

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30Janeiro / Junho 2009

O processo de envelhecimento tem início logo após o nos-so nascimento, mas infeliz-mente, só nos preocupamos

com os seus efeitos quando os sur-gem os primeiros sinais da velhice. Segundo dados do IBGE de 2008, nos últimos 10 anos o número de pessoas acima de 60 anos no Brasil cresceu 47,8%, como resul-tado dos avanços da medicina e dos meios de comunicação. Hoje, o conceito de uma velhice saudá-vel não se mede mais pelo quadro clínico, mas pela capacidade de manter-se funcional. O que está em jogo na terceira idade é a au-

tonomia, ou seja, a possibilidade de colocar em prática suas vonta-des e atividades diárias, através do exercício físico, do lazer ou até mesmo do trabalho.

Doenças muito comuns em ido-sos, como as cardíacas, a diabetes e a hipertensão, já podem ser con-troladas através da alimentação e de hábitos saudáveis, minimizan-do os riscos de ataques súbitos e aumentando a qualidade de vida dessa faixa etária. Com esses re-cursos é possível proporcionar uma maior integração social e uma ve-lhice mais tranqüila e feliz para os indivíduos.

Segundo a nutricionista Beatriz Campos, é possível manter cor-po e mente saudáveis após os 60 anos através de pequenos hábi-tos diários. “Homens e mulheres a partir dos 50 anos devem re-dobrar os cuidados com a saúde. Fazer exames a cada seis meses ou um ano garante boa saúde e a detecção precoce de doenças que acometem os indivíduos em idade mais avançada.”

Para Beatriz, envelhecer faz par-te da vida e não significa o fim dos sonhos. A partir de certa idade, a alimentação exerce um papel im-portantíssimo na prevenção de do-enças. “A dieta deve conter alimen-tos capazes de fornecer todos os nutrientes necessários ao processo de envelhecimento. É preciso não exagerar no excesso de sal, açúcar e gorduras dos alimentos. As refei-ções diárias devem ser em número de seis, divididas em intervalo de, aproximadamente, três horas en-tre cada uma delas”, afirma.

Além de uma boa alimentação, os especialistas são unânimes em afir-mar que os exercícios físicos devem fazer parte do dia a dia do idoso. “Caminhar, nadar, alongar, dan-çar e tantas outras atividades que podem ser praticadas por pessoas da terceira idade, previnem a per-da de massa muscular, aumentam a força e a resistência físicas, além de permitirem maior interação so-cial entre os indivíduos. É possível transformar os anos que ainda nos restam em momentos de alegria, bem estar, harmonia, saúde e vida longa. São necessárias apenas de-dicação e vontade de viver bem” completou a nutricionista.

Ângela Soares, de 72 anos, é professora aposentada do estado do Rio de Janeiro. Quando ela e o marido pararam de trabalhar, decidiram que estava na hora de mudar a rotina. “Com uma boa dose de coragem vendemos tudo o

Envelhecer, mas com saúde

elisA soAres e mAriAnA Guedes

Não deixe a idade se tornar uma vilã

Ângela, à esquerda, e sua mãe

Page 2: Ângela, à esquerda, e sua mãepuc-riodigital.com.puc-rio.br/media/8 - envelhecer, mas com saúde.pdf · O que está em jogo na terceira idade é a au-tonomia, ou seja, a possibilidade

Vilões e Vilanias31

que tínhamos no Rio e compramos uma casa em Teresópolis. Meu ma-rido sempre sonhou com uma vida menos acelerada”, conta. Durante a semana, o casal pratica hidro-ginástica três vezes na semana, aulas de alongamento, pilates e ginástica localizada.

A cardiologista Diana Monte-verde, que trabalha com a tercei-ra idade há 10 anos, é enfática ao afirmar que o sedentarismo é uma porta de entrada para a depressão nos idosos. “De início, o indivíduo poderá apresentar uma tendência à reclusão. Essa falta de contato com outros irá acarretar um déficit cognitivo, paralelamente à dimi-nuição da auto-estima e, por fim, ao abandono dos autocuidados. Dessa forma, problemas que antes não eram limitadores, como a dia-betes e eventuais problemas cardía-cos, passam a ser e, então, o risco de complicações das doenças cardio-vasculares aumenta muito”, diz.

A médica explica que com o en-velhecimento, o corpo sofre uma diminuição na produção de ener-gia para realizar as tarefas simples quando se é jovem. Por causa disso, há perda de massa óssea e muscu-lar, retenção de líquidos e diminui-

Fibras regulam o funcionamento intestinal;

Frutas são fontes de vitaminas e minerais e devem ser consumidas diariamente;

Prefira as proteínas de origem animal presentes nas carnes brancas e derivados do leite sempre desnatado.

Coma sempre muita salada crua no almoço. É recomendável que ela componha pelo menos 80% da refeição

ção do metabolismo. “O ideal para controlar o avanço da idade e se manter saudável é fazer um treino três vezes por semana, priorizando os membros inferiores e abdômen, assim como os membros chamados estabilizadores, que são aqueles lo-calizados no tronco, responsáveis pelo equilíbrio”, explica.

O envelhecimento saudável é encarado hoje como um equilíbrio entre as dimensões física e mental, sem significar, necessariamente, a ausência de um problema de saúde. A qualidade de vida está na manu-tenção da capacidade funcional do idoso e em hábitos saudáveis diá-rios, que proporcionarão uma ter-ceira idade mais longa e feliz.

Sobre isso, Ângela comenta que, se não fosse pelo tamanho dos seus netos, não iria perceber que está envelhecendo. “A idade não me atrapalha. Nunca tive um mo-mento em que disse: estou ficando velha”. Ela consulta sempre sua geriatra e faz uso da medicina or-tomolecular. Além do exercício fí-sico, a aposentada lê muito, não perde um filme, vive participando

de campeonatos de buraco e costu-ra filantropicamente uma vez por semana. Quando é questionada sobre as vantagens da idade, ela não hesita. “Para começar, temos prioridades na maioria dos luga-res, em segundo, temos sempre desconto, e o melhor é que posso organizar minha vida do jeito que eu quiser”.

O truque é, na verdade, nunca deixar de aproveitar as vantagens que cada fase da vida apresenta, afinal, ninguém tem o poder de pa-rar o tempo. Sábio era Mario Quin-tana que já dizia: “O tempo é um ponto de vista. Velho é quem é um dia mais velho que a gente...”

“A idade não me atrapalha”

Como usar os alimentos a seu favor

Dra. Diana MonteverdeBeatriz Campos