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II Congresso de Educação UEG/UnU Iporá A formação de professores: uma proposta de pesquisa a partir da reflexão sobre a prática docente 152 NINA E SEU DIÁRIO: CONSIDERAÇÕES POR UMA ESCRITA DE SI SOUZA, Maiane Priscila de¹; BORGES, Guilherme Figueira² Universidade Estadual de Goiás Unidade Universitária de Iporá ¹[email protected] RESUMO Este trabalho, intitulado NINA E SEU DIÁRIO: CONSIDERAÇÕES POR UMA ESCRITA DE SI, objetiva pensar a resistência do sujeito Nina a partir de sua relação com o espaço discursivo da trama narrativa da obra O Diário De Nina: O Terror Stalinista Nos Cadernos de Uma Menina Soviética, de Lugovskaia (2005). Este estudo, trata-se de um trabalho ainda em desenvolvimento, mas já podemos dizer que nossas análises serão balizadas pela hipótese de que não se pode dizer qualquer coisa em qualquer ambiente ou circunstância, pois “em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada” (FOUCAULT, 2010, p. 9) com o intuito de se estabelecer disciplina através da linguagem em comum à maioria. Palavras Chaves: Nina . Resistência .Discurso. INTRODUÇÃO Os anos de 1930, na União das Repúblicas Socialistas, atual Rússia, foram um período de grande terror Stalinista. Josef Stalin (1879-1953) dominou a política soviética de 1924 até sua morte de forma tirânica. Stalin buscou eliminar os seus possíveis opositores, “as pessoas desapareciam sem deixar pistas. De repente,[...] ouvia-se bater à noite na porta da casa: o desgraçado era [...] levado para longe da própria família, em geral para nunca mais voltar'' (PEROVA, 2OO5, p. 17). Em tal momento histórico-sócial de grande repressão, Nina Lugovskaia, nascida em Moscou em 25 de dezembro de 1918, começou a escrever um diário em 1913 com 13 anos. Ela era “obrigada a viver num ambiente hostil, quase em clandestinidade” (PEROVA, 2005, p. 14), tendo por único confidente seu diário, vivendo em tal ambiente repressivo, não se era adequado compartilhar segredos ou ideias próprias já que dizer qualquer coisa em ambiente indevido ou repressivo pode acarretar em sanções caso o que é dito se prolifere de forma indevida ferindo o que é aceito como sendo “a verdade” pela maioria em determinada época. Sempre observadora e com enorme talento para a escrita Nina relata de forma detalhada o ambiente repressivo a sua volta, sua atitude perante os colegas de

Nina e Seu Diario - Maiane Priscila de Souza

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Trabalho a respeito do livro "O diário de Nina".

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  • II Congresso de Educao UEG/UnU Ipor A formao de professores: uma proposta de pesquisa a partir da reflexo sobre a prtica docente

    152

    NINA E SEU DIRIO: CONSIDERAES POR UMA ESCRITA DE SI

    SOUZA, Maiane Priscila de; BORGES, Guilherme Figueira

    Universidade Estadual de Gois Unidade Universitria de Ipor

    [email protected]

    RESUMO

    Este trabalho, intitulado NINA E SEU DIRIO: CONSIDERAES POR UMA ESCRITA DE

    SI, objetiva pensar a resistncia do sujeito Nina a partir de sua relao com o espao

    discursivo da trama narrativa da obra O Dirio De Nina: O Terror Stalinista Nos Cadernos

    de Uma Menina Sovitica, de Lugovskaia (2005). Este estudo, trata-se de um trabalho ainda

    em desenvolvimento, mas j podemos dizer que nossas anlises sero balizadas pela hiptese

    de que no se pode dizer qualquer coisa em qualquer ambiente ou circunstncia, pois em toda sociedade a produo do discurso ao mesmo tempo controlada, selecionada (FOUCAULT, 2010, p. 9) com o intuito de se estabelecer disciplina atravs da linguagem em

    comum maioria.

    Palavras Chaves: Nina . Resistncia .Discurso.

    INTRODUO

    Os anos de 1930, na Unio das Repblicas Socialistas, atual Rssia, foram um

    perodo de grande terror Stalinista. Josef Stalin (1879-1953) dominou a poltica sovitica de

    1924 at sua morte de forma tirnica. Stalin buscou eliminar os seus possveis opositores, as

    pessoas desapareciam sem deixar pistas. De repente,[...] ouvia-se bater noite na porta da

    casa: o desgraado era [...] levado para longe da prpria famlia, em geral para nunca mais

    voltar'' (PEROVA, 2OO5, p. 17). Em tal momento histrico-scial de grande represso, Nina

    Lugovskaia, nascida em Moscou em 25 de dezembro de 1918, comeou a escrever um dirio

    em 1913 com 13 anos. Ela era obrigada a viver num ambiente hostil, quase em

    clandestinidade (PEROVA, 2005, p. 14), tendo por nico confidente seu dirio, vivendo em

    tal ambiente repressivo, no se era adequado compartilhar segredos ou ideias prprias j que

    dizer qualquer coisa em ambiente indevido ou repressivo pode acarretar em sanes caso o

    que dito se prolifere de forma indevida ferindo o que aceito como sendo a verdade pela

    maioria em determinada poca. Sempre observadora e com enorme talento para a escrita Nina

    relata de forma detalhada o ambiente repressivo a sua volta, sua atitude perante os colegas de

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    escola, a indiferena dos garotos para com ela, a vida em famlia, sua insatisfao com a

    aparncia (por ser estrbica).

    Construa-se um imaginrio de Unio Sovitica como o lugar da utopia realizada no

    presente, um pas rico e farto na dimenso material, como fraterno e solidrio nas relaes

    humanas (FILHO; FERREIRA; ZENHA 2000, p. 81), discurso utpico que no condizia a

    realidade vivenciada por Nina o restante do pas, a garota menciona em seu dirio seu

    descontentamento e revolta com o governo, a situao de desigualdade social a qual vivncia

    e a falta de perspectiva ao povo Russo. Lugovskaia usa seu dirio como forma de resistncia e

    critica ao intolerante regime sovitico que vivncia. Ela manifesta no dirio sua revolta ao

    comunismo sovitico como no episodio da manifestao de 5 de maio de 1932:

    Hoje nos obrigaram a marchar pelas ruas, [] eu insultava dentro de mim o poder sovitico com todas as suas invenes, os mritos de que ele se

    vangloria diante dos estrangeiros, etc., e fazia caretas de repulsa pelos cantos

    desafinados e desordenados que somos obrigados entoar. (LUGOVSKAIA,

    2005, p. 43)

    Dor, revolta, humilhaes e morte, Nina vivencia um ambiente hostil, onde falta

    alimento, moradia, emprego, dignidade e razes para viver, constantemente a jovem escreve

    uma citao de um poema de Mikhail Iurievich Lermont intitulado Tdio e Tristeza: A vida

    se olharmos em volta com fria ateno, no passa de uma gracejo vazio e estpido.

    (LUGOVSKAIA,2005, p. 61). Nina relata sua revolta com a vida injusta em que o povo

    sovitico vive, usa o dirio como instrumento particular de denuncia e descontentamento, vive

    ali uma Nina verdadeira que no pode ser manifestada na vida real por correr risco de sofrer

    graves sanes que poderia lhe custar a vida. O dirio de Nina srvio como objeto

    incriminatrio. Os trechos considerados incriminatrios foram sublinhados e a jovem detida,

    acusada de ter intenes terroristas contra Josef Stalin. Nina foi forada a assinar uma

    confisso na qual dizia ter tentado matar Stalin (PEROVA, 2005, p. 22). Pode-se, ento, que

    Nina, de certo modo, foi apenas uma culpada sem culpa, mais uma dentre as vrias vidas

    que foram destrudas pelo terror stalinista (PEROVA, 2005,p.)

    MATERIAIS E MTODOS

    Em um primeiro momento, elaboraremos uma interpretao do corpus de

    anlise que consistir em recortes de fragmentos da obra O Dirio de Nina, O terror stalinista

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    nos cadernos de uma menina sovitica, de LUGOVSKAIA (2005). Em um momento ulterior

    procederemos anlise do corpus a partir da qual buscaremos analisar o sujeito Nina a partir

    da sua resistncia as relaes de poder durante o perodo stalinista. As anlises, no campo da

    Anlise do Discurso, do-se de forma qualitativa e interpretativa.

    RELEVNCIA DA DISCUSSO

    A obra O DIRIO DE NINA: o terror stalinista nos cadernos de uma menina

    sovitica, por se tratar de uma obra autobiogrfica, pode ser pensada enquanto escrita de si,

    uma vez que a partir de seu dirio, Nina constitui uma forma de resistncia ao ambiente

    repressivo da poca no qual se encontra, buscaremos em tal aspecto , analisar o dirio da

    jovem enquanto forma de resistncia ao terror sovitico que vivencia , o dirio foi a forma

    encontrada pela jovem, de ir contra o discurso tido como '' a verdade'' da poca.

    CONSIDERAES FINAIS

    Como esse trabalho se encontra em uma fase inicial, gostaramos de, como

    consideraes finais, evocar uma voz para o qual o discurso no simplesmente aquilo que

    traduz, mas aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominao, mas aquilo por que, pelo

    que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar (FOUCAULT, 1996, p. 10), Nina

    Lugovskaia fez sua ltima anotao em 2 de janeiro de 1937, no dia seguinte, o NKVD (a

    polcia secreta precursora do KGB), invadiu o apartamento onde a jovem vivia com a famlia

    e confiscou os documentos que ali se encontravam, inclusive o dirio no qual escrevia sobre si

    e sobre o momento histrico em que estava inserida. Nina foi uma entre as varias vitimas de

    Stalin.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    FERNANDES, C. A. Anlise do discurso: reflexes introdutrias. Goinia: Trilhas

    Urbanas, 2005.

    FERNANDES, C.; NAVARRO, P. Discurso E Sujeito: Reflexes Tericas E Dispositivos

    De Anlise. Curitiba: Prismas, 2011.

    FILHO, D. A. R.; FERREIRA, J.; ZENHA, C. O SCULO XX, O TEMPO DAS CRISES.

  • II Congresso de Educao UEG/UnU Ipor A formao de professores: uma proposta de pesquisa a partir da reflexo sobre a prtica docente

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    Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2000.

    FOUCAULT, M. A Ordem Do Discurso. So Paulo: Loyola, 1996.

    LUGOVSKAIA, N. O Dirio De Nina: O terror stalinista nos cadernos de uma menina

    sovitica. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.

    NADAI, E.; NEVES, J. Histria Geral Moderna Contempornia.So Paulo: Saraiva,1993.

    PEROVA, N. introduo. In: LUGOVSKAIA, Nina. O Dirio De Nina: O terror stalinista nos cadernos de uma menina sovitica. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005, p.13-22