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Nº 11 • SEXTA 14 de JULHO © Luca del Pia Pippo Delbono apresentou no DocLisboa 2016 o documentário também intitulado Evangelho © Rita Carmo E vangelho marca o regresso de Pippo Delbono ao Fes- tival de Almada, depois de, em 2014, ter apresentado Orquí- deas no Palco Grande da Escola D. António da Costa. Curiosa- mente, a mãe do criador italiano esteve na origem de ambos os espectáculos. Há três anos, Pippo Delbono lidava com o vazio dei- xado pelo seu desaparecimento e com o peso dos conflitos que os opuseram durante muitos anos, sobretudo pela forma como a sua mãe, devota e conservadora, rea- gia a cada opção que ele tomava. Agora, o actor e encenador deci- diu seguir uma sugestão daquela que foi, sem dúvida, a mulher da sua vida: fazer um espectáculo so- bre o Evangelho. A leitura que Pi- ppo Delbono faz dos textos sagra- O Evangelho segundo Pippo Delbono dos é, no entanto, a leitura de um ateu, de um ímpio que se comove com o actual estado do Mundo e com o nosso tempo, “tão difícil de contar”. Para si, Deus não passa de uma hipótese, com culpas em muitas guerras e créditos em di- versas obras de arte. Evangelho estreou em Dezembro de 2015, com Pippo Delbono a subir ao palco com os seus companheiros de sempre – um elenco feito de figuras, personalidades e histó- rias muito especiais – e também com actores do Teatro Nacional de Zagreb. O espectáculo é, na verdade, uma conversa longa e franca com o espectador, durante a qual o actor e encenador recorda todos os passos dados antes de o apresentar publicamente. Fala de amor, de ódio, da relação com a mãe, da relação com a música, do seu encontro com os refugia- dos do Centro de Acolhimento de Asti, em Itália (e que entretanto também resultou num filme), e de como era importante para si con- trastar a imagem dolorosa e séria da religião com uma nova ideia de fé, ligada à liberdade e ao sonho. Com as vozes ouvidas nos acam- pamentos ciganos e nos campos de refugiados, mas também com as vozes e as canções ouvidas na rua, eis-me a criar uma música que gostaria que fosse como uma missa laica, ritual e sagrada, mas ao mesmo tempo ligeira”, escreve Pippo Delbono no texto de apre- sentação de Evangelho. “Sei ain- da assim que qualquer coisa das Escrituras – aquela necessidade de amor que a minha mãe evo- cava – pulsará forçosamente no espectáculo”. Evangelho apresenta-se amanhã na Sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II, às 21h. Repete no dia seguinte, às 16h, e é o tema do último Colóquio na Esplanada, que traz o criador italiano ao Festival de Almada pela terceira vez. Uma noite na companhia da música portuguesa contemporânea A manhã, às 22h, é a vez de Samuel Úria tocar na Espla- nada da Escola D. António da Costa, em Almada. Vem apre- sentar o seu último álbum, Carga de ombro, no qual todas as letras e todas as músicas foram escritas por si. Tido como um dos melhores compositores e intérpretes da sua geração, conhecido pelas colabora- ções que o uniram a artistas como Márcia, Miguel Araújo, António Zambujo, Kátia Guerreiro, Clã, HMB ou Ana Moura, é admirado sobretudo pelas canções que não repetem fórmulas, pelas melodias que entram no ouvido, pelas letras que revelam o prazer que sente ao brincar com as palavras e com a língua portuguesa. No concerto de amanhã à noite não faltarão êxitos como “É preciso que eu diminuaou o single que dá nome ao disco – e quem sabe temas de outros discos, como o célebre Império, do álbum Nem lhe tocava (2009). A crítica não tem poupado estre- las na altura de classificar Carga de ombro, nunca lhe atribuindo menos de quatro. Luís Guerra, no Expresso, afirmou por exemplo que “Samuel Úria escreve em por- tuguês com doses equilibradas de tino e inspiração”. Nuno Galopim, na Time Out, fala de um álbum que é “um absoluto primor de escritae Gonçalo Frota, no jornal Públi- co, vaticina: “Há por aqui inven- ção em dose mais do que suficiente para que este homem deixasse de ser ‘aperaltado alternativo’ e co- nhecesse uma outra glória”. Samuel Úria é um dos vultos de relevo da nova música portuguesa

Nº 11 • Sexta 14 de Julho O Evangelho segundo Pippo Delbono · ... a leitura de um ateu, de um ímpio que se comove com o ... da religião com uma nova ideia de fé, ligada à

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Nº 11 • Sexta 14 de Julho

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Pippo Delbono apresentou no DocLisboa 2016 o documentário também intitulado Evangelho

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E vangelho marca o regresso de Pippo Delbono ao Fes-tival de Almada, depois de,

em 2014, ter apresentado Orquí-deas no Palco Grande da Escola D. António da Costa. Curiosa-mente, a mãe do criador italiano esteve na origem de ambos os espectáculos. Há três anos, Pippo Delbono lidava com o vazio dei-xado pelo seu desaparecimento e com o peso dos conflitos que os opuseram durante muitos anos, sobretudo pela forma como a sua mãe, devota e conservadora, rea-gia a cada opção que ele tomava. Agora, o actor e encenador deci-diu seguir uma sugestão daquela que foi, sem dúvida, a mulher da sua vida: fazer um espectáculo so-bre o Evangelho. A leitura que Pi-ppo Delbono faz dos textos sagra-

O Evangelho segundo Pippo Delbono

dos é, no entanto, a leitura de um ateu, de um ímpio que se comove com o actual estado do Mundo e com o nosso tempo, “tão difícil de contar”. Para si, Deus não passa de uma hipótese, com culpas em muitas guerras e créditos em di-versas obras de arte. Evangelho estreou em Dezembro de 2015, com Pippo Delbono a subir ao palco com os seus companheiros de sempre – um elenco feito de figuras, personalidades e histó-rias muito especiais – e também com actores do Teatro Nacional de Zagreb. O espectáculo é, na verdade, uma conversa longa e franca com o espectador, durante a qual o actor e encenador recorda todos os passos dados antes de o apresentar publicamente. Fala de amor, de ódio, da relação com a

mãe, da relação com a música, do seu encontro com os refugia-dos do Centro de Acolhimento de Asti, em Itália (e que entretanto também resultou num filme), e de como era importante para si con-trastar a imagem dolorosa e séria da religião com uma nova ideia de fé, ligada à liberdade e ao sonho. “Com as vozes ouvidas nos acam-pamentos ciganos e nos campos de refugiados, mas também com

as vozes e as canções ouvidas na rua, eis-me a criar uma música que gostaria que fosse como uma missa laica, ritual e sagrada, mas ao mesmo tempo ligeira”, escreve Pippo Delbono no texto de apre-sentação de Evangelho. “Sei ain-da assim que qualquer coisa das Escrituras – aquela necessidade de amor que a minha mãe evo-cava – pulsará forçosamente no espectáculo”.

Evangelho apresenta-se amanhã na Sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II, às 21h. Repete no dia seguinte, às 16h, e é o tema do último Colóquio na Esplanada, que traz o criador italiano ao Festival de Almada pela terceira vez.

Uma noite na companhia da música portuguesa contemporânea

Amanhã, às 22h, é a vez de Samuel Úria tocar na Espla-nada da Escola D. António

da Costa, em Almada. Vem apre-sentar o seu último álbum, Carga de ombro, no qual todas as letras e todas as músicas foram escritas por si. Tido como um dos melhores compositores e intérpretes da sua geração, conhecido pelas colabora-ções que o uniram a artistas como Márcia, Miguel Araújo, António Zambujo, Kátia Guerreiro, Clã, HMB ou Ana Moura, é admirado sobretudo pelas canções que não

repetem fórmulas, pelas melodias que entram no ouvido, pelas letras que revelam o prazer que sente ao brincar com as palavras e com a língua portuguesa. No concerto de amanhã à noite não faltarão êxitos como “É preciso que eu diminua” ou o single que dá nome ao disco – e quem sabe temas de outros discos, como o célebre Império, do álbum Nem lhe tocava (2009). A crítica não tem poupado estre-las na altura de classificar Carga de ombro, nunca lhe atribuindo menos de quatro. Luís Guerra, no

Expresso, afirmou por exemplo que “Samuel Úria escreve em por-tuguês com doses equilibradas de tino e inspiração”. Nuno Galopim, na Time Out, fala de um álbum que é “um absoluto primor de escrita”

e Gonçalo Frota, no jornal Públi-co, vaticina: “Há por aqui inven-ção em dose mais do que suficiente para que este homem deixasse de ser ‘aperaltado alternativo’ e co-nhecesse uma outra glória”.

Samuel Úria é um dos vultos de relevo da nova música portuguesa

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RESTAURANTE DA ESPLANADA

• Lasanha • Ceviche de camarão

Hoje

Amanhã

• Caril de frango• Pataniscas de bacalhau

com arroz de feijão

os anos que “Golem” demorou a ser levado

à cena, entre desenhos, workshops e ensaios.

NUMEROLOGIAJoanna Crowley e a 1927Ontem, na Esplanada da Escola D. António da Costa, pelas 18h, decorreu mais um colóquio – desta vez com Joanna Crowley, a produtora e distribuidora da compa-nhia inglesa 1927, que nos trouxe o espectáculo Golem.

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Jo começou por explicar como tudo começou, e como artis-tas de áreas muito distintas se

juntaram para constituírem a com-panhia 1927. Disse mesmo que foi essa a chave para o sucesso da companhia. Suzanne Andrade fazia pequenos espectáculos em cabarets. Paul Barritt, designer, criava fi lmes e animações com desenhos da sua autoria. Quando Esme Appleton, Lilian Henley e Joanna Crowley se juntaram à dupla, formou-se o núcleo de cinco pessoas que ainda hoje se mantém. A pouco e pouco foram--se conhecendo e começaram a

trabalhar juntos, fundindo as ani-mações com o teatro e a música. Os primeiros espectáculos eram muito curtos, com cerca de sete minutos, e eram apresentados em pequenos espaços como ca-fés-concerto ou salões de poesia. Na segunda vez que estiveram no Festival de Edimburgo tive-ram bastante êxito, com as salas sempre esgotadas. Joanna Crow-ley explicou ainda o processo de trabalho da companhia, nomea-damente o tempo que demoram a criar os espectáculos e de como é preciso uma “orquestração per-feita” entre actores e técnicos: “A

ENCONTRO DA CERCAA nova geração do teatro português

Decorre amanhã, às 10h30, na Casa da Cer-ca, em Almada, o En-

contro da Cerca deste Festival. A conversa é dedicada ao ciclo O novíssimo teatro português e às condições de que os jovens criadores dispõem para desen-volverem os seus projectos no nosso País. Na mesa estarão, para além do jornalista João Carneiro, que modera a con-versa, Anouschka Freitas, cria-dora e intérprete de Por nascer uma puta não acaba a Prima-vera; Ricardo Boléo, drama-turgista e encenador de A mor-te do príncipe; Ricardo Neves--Neves, fundador do Teatro do Eléctrico e encenador de Karl Valentin Kabarett; Guilherme Gomes, um dos fundadores do Teatro da Cidade e intérprete em Topografi a; e, fi nalmente, Levi Martins, co-fundador e director artístico da companhia Mascarenhas-Martins, sediada no Montijo.

Juni Dahr despediu-se hoje do Festival de Almada. O sentido dos Mestres terminou ontem,

com uma sessão mais emotiva que incluiu uma fotografi a de grupo e um brinde no fi nal. Ao longo da tarde, a actriz e encenadora quis ouvir a opinião dos participantes sobre a tradução portuguesa de Hedda Gabler que foi usada no workshop e partilhou a sua expe-riência na fi xação do texto de Mu-lheres de Ibsen, o espectáculo que trouxe ao Festival de Almada de 2013 e para o qual, por represen-tar em inglês, consultou diversas

traduções até estabelecer uma sua. Ontem também deu continuidade aos exercícios de interpretação de texto que já tinha ocupado gran-de parte das últimas três sessões, pontuando cada performance com conselhos e sugestões, e respondeu a perguntas – nomeadamente sobre se nunca parava de imaginar possi-bilidades para as diferentes perso-nagens, e de efabular acerca da sua personalidade e do seu passado. Juni respondeu com graça: “Só a proximidade da estreia me obriga a parar!”. Para o futuro, a encena-dora levou projectos na bagagem.

Experimentar, experimentar

Suzanne [Andrade] costuma di-zer que, para os actores, é como estarem num colete-de-forças. É como se aprendessem um bai-lado”. Finalmente, referiu que “no início, o nosso público não era convencional; tratava-se de pessoas que se interessavam por música ou animação, e foi o facto de termos feito muitas digressões pelo Mundo que nos ajudou a afi r-marmo-nos no Reino Unido”. O último Colóquio na Esplanada é já no próximo domingo, dia 16 de Julho, às 19h. Será protagonizado por Pippo Delbono, o criador do espectáculo Evangelho.

AGENDA DE AMANHÃ

TEATRO

10:30 O novíssimo teatro portuguêsCasa da Cerca

18:00 A morte do príncipe Fórum Romeu Correia

TEATRO

21:00 Proyecto VoltairePraça da Portela (Feijó/Laranjeiro)

ESPECTÁCULO DE RUA

ENCONTRO DA CERCA

21:00 Evangelho Teatro Nacional D. Maria II

20:00 Crassh Duo CircusRua Cândido dos Reis (Cacilhas)

ESPECTÁCULO DE RUA

22:00 Samuel ÚriaEscola D. António da Costa

MÚSICA NA ESPLANADA

21:30 Primeira imagemTeatro Nacional D. Maria II

TEATRO