193
4 IMPASSES OA ENERGIA NUCLEOELéTRICA NO BRASIL NA DÉCADA DE 80". Oi»scrtaç3o de Mestrado apresentada ao Programa de Mestrado em Sociologia Política, da UFSC, para obtençfto do Grau de Mestre em Sociologia. Maria Dorothea Post Darci la Florianópol s, novembro de 1989.

NO BRASIL NA DÉCADA DE 80. Oi»scrtaç3o de Mestrado ... · Fábrica de Elementos Combustíveis. 253 11.4. Usina de Reprocessamento. ., 254 12. Nuclebras x CNEN + Personagens * mandos

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • 4IMPASSES OA ENERGIA NUCLEOELéTRICA

    NO BRASIL NA DÉCADA DE 80".

    Oi»scrtaç3o de Mestrado apresentadaao Programa de Mestrado emSociologia Política, da UFSC, paraobtençfto do Grau de Mestre emSociologia.

    Maria Dorothea Post Darci la

    Florianópol s, novembro de 1989.

  • "IMPASSES DA ENERGIA NUCLEOELETRICA

    NO BRASIL IMA DÉCADA DE OO •" .

    Maria Dorothea Poet Dareila

    Esta dissertação foi julgada e aprovadaem sua forma final pelo Orientador eMembros da Banca Exaeinadora, compostapelos Professores i

    Prof. Dr. Eduardo José Viola - Orientador

    Prof. Dr. Ary r nineiIa

    Prof. Dr. Christian Buy Caubet

    Florianópolis, 14 de dezembro de 1989.

  • "Kcine Mau* kaeme auf die Idee Hau»efallenzu bauen. r1en»chen bauen Atomwaffan". (undAtomkraftwerke).

    "Nanhum rato ttria a idéia de construirratoeira», Pessoa» constróem bomba»atômica»", (e reatorc» atômico»).

    (de um muro da Alemanha Ocidentei)

  • E*te trabalho é dedicado ao movimentoantinuelear no Bratil e no mundo, pelatenacidade na luta e pela perspectiva de umfuturo, de um Planeta melhor.

  • AGRADECIMENTOS

    Ao olhar para trás tinto que nesse» vinte e dois últimosmeses a caminhada só foi possível devido i compreensão ecolaboraçio de muitas pessoas, seja em Florianópolis,Brasília, Rio de Janeiro e Angra dos Reis.

    Mencionar todas seria impossível, mas gostaria de citaralgumas, dirigindo meus agradecimentos

    à Profa. II se Scherer-Narren e ao Prof. Ary César Minei Ia,componentes da banca do projeto de dissertaçio, pelasoportunas e válidas anotações em relaçio ao mesmo, emagosto/BB;. i Prof. Maria Ignêz PauliIo, pelas importantes observaçõesquando da apresentação de parte da pesquisa aos alunos doMestrado, em agosto/89i

    a todos os entrevistados, que me cederam tempo eensinamentos valiosos». ao Diretor do Museu de Antropologia da Universidade Federalde Santa Catarina, Prof. Luiz Carlos Halfpap, pelacompreensão e apoio ininterrupto;

    aos funcionários do Museu de Antropologia, meus colegas detrabalho, pelo crédito depositado na pesquisa e peloconstante estímulo e confiança;

    à Heloísa Tartarotti, assessora do Senado Federal, pelointeresse demonstrado e material a mim encaminhado;

    a meus amigos, irmãos e cunhados que, próximos ou nadistância, náo pouparam palavras e atos de apoio, me fazendosempre de novo acreditar que valia a pena o caminhar;

    a Gerardus Post, meu pai, pelo material trazido da Europa.A Elisabeth Geriinger minha mSe, pela cuidadosa correçio etambém pela vibraçlo. A ambos devo o início da caminhada, hámuitos anos atrás;

    è Marianne Kutassy da Silva, pela carinhosa e fundamentalacolhida em Niterói no mès de maio/89, de onde eu levantavav6o para as entrevistas e pesquisas nas cidades do Rio deJaneiro c Angra dos Reis;

    a Thomas Post e Vera Lúcia da Silva, pelo competentetrabalho que pode ser observado na apresentação final dadissertação;

    ao Prof. Eduardo Viola, por ter aceito a orientaçio destetrabalho t por ter trilhado junto comigo nesta tarefa que lheexigiu tempo e dedicaçio;

    è Ivandina Darei Ia, pelo respeito a minha opçfo e pelaforça ininterrupta a mim dirigida;

    a Roía dos Passos, sem a qual este trabalho nfo seriapossível .

    A Wilson, Clarissa e Joio Augusto reservo meu especialagradecimento, pelo que encerra a convivência com umapesquisadora e sua tarefa de pesquisar. Houve aqui um casoexemplar de incentivo, actitsçlo, compreensão, apoio, torcidae paciência.

    i v

  • SUHiBI 0

    LISTA DE QUADROS. FIGURA E MAPA viii

    LISTA DAS PRINCIPAIS SIGLAS E ABREVIATURAS i>

    RESUMO * * i

    INTRODUÇiO 001

    CAPÍTULO I - "ENERGIA NUCLEAR ? NIO, OBRIGADO".

    1. O Universo - A Terra - O Hone» 008

    2. Ciência 014

    3. Tecnologia 082

    4. Crescimento x desenvolvimento 038

    5. Energia 0335.1. Crise de energia elétrica ? 0455.2. Conservaçio de energia elétrica 0526. Energia Nuclear 0576.1. A opçio energética 065

    Notas e referências bibliográficas 076

    CAPÍTULO II - ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE A HISTÓRIA E ASITUAÇIO DOS REATORES NUCLEARES NO MUNDO.

    1. Da radioatividade natural á artificial.

    Do reator è bomba 088

    S. Mas. o que é um reator nuclear ? 099

    3. Reatores no mundo. 105

    Notas e referências bibliográfica» ,t, , 188

    CAPÍTULO III - ALGUNS ELEMENTOS DA HISTÓRIA DA ENERGIANUCLEOELÉTRICA NO BRASIL ANTERIOR ADÉCADA DE 80.

    1. Breve histórico da energia nucleoelétrica no Brasil(1850-1974) 140

  • 2. De 1975 a 1979 - O deslanchamento do Programa NuclearBrasilei ro.

    2.1. 1975 1542.1.1. Alemanha 1562.1.2. O Acordo Brasil - Alemanha 1582.2. 1976 e 1977. 1692.3. 197B e 1979 173

    Notas e referências bibliográficas 176

    CAPITULO IV - IMPASSES DA ENERGIA NUCLEOELÉTRICA NO

    BRASIL NA DÉCADA DE 80 181

    1. 1980 - A Nuclebrés continua forte 183

    2. 1981 - Os atrasos nas usinas Angra 1, 2 e 3

    persistem 187

    3. 1982 - Entra em cena o FM» 192

    4. 1983 - A força da Nuclebrés sofre erosSo.Crescem as manifestaçftes que questionam

    "o nuclear" 194

    5. 1984 - Cuidado : Angra 1 a 100% de potência 198

    6. 1985 - 0 início da atuação da "Nova República*

    no nuclear 200

    7. 1986 - A manutenção do Programa Nuclear Brasileiro. .. 205

    8. 1987 - 0 declínio acentuado da Nuclebrás 213

    9. 19B8 - Ano da criaçio do Conselho Superior dePolítica Nuclear e da primeira perícia

    civil em Angra 1 220

    10. 19B8 - E o plano de emergência para a populaçio ? ... 237

    11. Usinas do ciclo do combustível nuclear 24611.1. NUCLEP 24711.2. Complexo Hínero - Industrial do Planalto de

    Poços de Caldas . 25011.3. Complexo Industrial de Resende 25111.3.1. Usina de Conversfo 25111.3.2. Usina de Enriquecimento Isotópico (NUCLEI). ..... 25211.3.3. Fábrica de Elementos Combustíveis. 25311.4. Usina de Reprocessamento. ., 25412. Nuclebras x CNEN + Personagens * mandos e

    desmandos no setor nucIeoelétr•co do Brasil 254

    v i

  • 13. Depósitos de rejeitos radioativos 262

    14. Plano d* emergência. 268

    15. Pesquisas de opinito pública e plebiscito nuclear. .. 275

    16. As perspectivas para Angra na década de 90 281

    Notas e referências bibliográficas 291

    ALGUMAS CONCLUSÕES E REFLEXÕES SOBRE A UTILIZAÇÃODE ENERGIAS RENOVÁVEIS 296

    APÊNDICE

    Introdução a Cronologia 306

    Cronologia 1974 - 1989 309

    Quadro I 400

    Quadro II , 401

    Quadro III 402

    Quadro IV 403

    Quadro V 404

    Quadro VI 405

    Quadro VII 406

    Quadro VIM 407

    Quadro IX 408

    Ouadro X. 409

    Mapa No. 1 410

    BIBLIOGRAFIA 411

    v t t

  • LISTUE QUADROS. FIGURA E MAPA

    Constantes no texto :

    Quadro No.1

    Quadro No.2

    Quadro No.3

    Ouadro No.4

    Quadro No.5

    Quadro No. 6

    Quadro No.7

    Figura No. 1

    Constantes no

    Quadro I

    Ouadro I I

    Quadro I 11

    Ouadro IV

    Quadro V

    Ouadro VI

    Quadro VII

    Ouadro VIII

    Ouadro IX

    Ouadro X

    Mapa No, 1

    - Evolução do consumo elétrico dos setoresindustrial e residencial - 1980/85 (Gwh).

    - Energia elétrica e PIB - 1980/85.

    - Reatores no mundo (1980-1988).

    - Estimativa do uso de nucleoeletricidadeno mundo de 1987 a 3005 C%).

    - Angra 2 - Cronograma para entrada em-funcionamento.

    - Angra 3 - Cronograma para entrada emfuncionamento.

    - População das cidades de Angra dos Reis,Itaguaí, Mangaratiba, Parati, Resende eRio Claro em 1970, 1980 e 1989.

    - Diagrama funcional de central nuclearcom reator a água pressurtzada (PWR).

    Apêndice :

    - Reatores nucleares no mundo - (1980).

    - Reatores nucleares no mundo - (01.01.81).

    - Reatores nucleares no mundo - (1983).

    * Reatores nucleares no mundo - (1983).

    - Reatores nucleares no mundo - (1985).

    - Reatores nucleares no mundo - (1985).

    - Reatores nucleares no mundo - (1986).

    - Reatores nucleares no mundo - (1987).

    - Reatores nucleares no mundo - (1988).

    - Síntese da apreciaçlo dos quesitosrespondidos na visita ao reator Angra 1•m ie.ii.ee.

    - Usina nuclear de Angra * Localização.

    V I I I

  • LISTA DAS PRINCIPAIS StCLâS E ABREVIATURAS

    ABOIB - Associação Brasileira para o Desenvolvimento dasIndustrias de Base

    ALERJ - Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro

    AIE - Área Interdisei piinar de Energia da COPPE/UFRJ

    AIEA - Agência Internacional de Energia Atômica

    CNO - Construtora Norberto Odebrecht

    CNEA - Comistio Nacional de Energia Atômica (Argentina)

    CNEN - Comissão Nacional de Energia Nuclear

    COPPE/UFRJ - Coordenação dos Programas de Pós-Graduaçio emEngenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro

    CNAAA - Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto

    CPI - Comissão Parlamentar de Inquérito

    CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente

    CBTN - Companhia Brasileira de Tecnologia Nuclear

    C5N - Conselho de Segurança Nacional

    CNPq - Conselho Nacional de Pesquisas (atualmente i ConselhoNacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)

    CSPN - Conselho Superior de Política Nuclear

    CB - Correto Braziliense

    DOU - Diário Oficial ó» Uniio

    DC * Diário Catarinense

    EA IA - Estudo de Avaliação do Impacto Ambiental

    ES6 - Escola Superior de Guerra

    ESP - 0 Estado de Slo Paulo

    FEC - Fábrica de Elemento» Combustíveis

    FEEMA - Fundação Estadual de Engenharia c Meio Ambiente daSecretaria de Estado do Meio Ambiente do RJ

    FSP - Folha de Slo Paulo

    i %

  • FMI - Fundo Monetário Internacional

    GH * 6azeta Mercantil

    GW - Gigawatt (1.000 UM)

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

    IBOPE - Instituto Brasileiro de Opiniio Pública e EstatísticaLtda.

    INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

    IPEN - Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (USP)

    INB - Indústrias Nucleares do Brasil S.Jt.

    IRD - Instituto de Radioproteçio e Dosimetria

    ISS - Imposto Sobre Serviços

    IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano

    IAEA - International Atomic Energy Agency (AIEA)

    IOEAG - Initiative Oesterreichischer Atomkraftwerksgegner

    JT - Jornal da Tarde

    JB - Jornal do Brasil

    JM - Jornal Maré

    J8f - Jornal de Brasília

    JC - Jornal do Comércio

    kW - quilowatt (1.000 watts)

    kWh - quilowatt/hora

    KWU - Kraftwcrk Union (Alemanha)

    MME - Ministério das Minas e Energia

    MVT - Jornal Movimento

    MINTER - Ministério do Interior

    MRE - Ministério das Relações Exttriores

    MW ou MWe - megawatt (1.000 kW)

    NUCLEP - Nuclebré» Equipamentos Ptsados S, A.

    x

  • OG - O Globo

    OE - 0 Estado

    OIEA - Organ »%iro Internacional de Energia Atômica (AIEA)

    PNEN - Programa Nacional de Energia Nuclear

    PNB - Programa Nuclear Brasileiro

    PNP * Programa Nuclear Paralelo

    PIB - Produto Interno Bruto

    RFA - República Federal da Alemanha

    RIMA - Relatório de Impacto do Meio Ambiente

    RS - Revi sta Senhor

    SEST - Secretaria Especial de Controle das Empresas Estatais

    SADEN - Secretaria de Assessoramento da Defesa Nacional

    SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

    5BF - Sociedade Brasileira de Física

    SEMA - Secretaria Especial do Meio Ambiente

    5APE - Sociedade Angrense de Proteção Ecológica

    TMI - Three Mile Island

    TNP - Tratado de Nio-Proliferaç&o

    TI - Tribuna da Imprensa

    TFR - Tribunal Federal de Recursos

    TW - Terwatt (1.000 CW)

    URENCO - Uranium Enrichment Consortium

    W - watt (unidade de medida de potência no SistemaIntenac íonal )

    Wh - watt/hora (unidade de medida de energia)

    x i

  • RESUMO

    A geração de energia elétrica a partir de usinasnucleares é desnecessária no Brasil. A opção tecnológica,procedente de países industrializados, situados no hemisférionorte, concretizada a partir do início da década de 70,significou uma decisão poIítico-ideoIógica, de caráterautoritário e estratégico, e não técnico-científica ou mesmoética. Teve início com a compra de Angra 1 e foiintensificada em 1975, com a assinatura do Acordo NuclearBrasiI-Alemanha, encerrando dupla dependência í a dosreatores nucleares e a do combustível. Para o governofederal, interessado na transferência e domínio datecnologia, era secundária a produção de energia elétrica,ainda que essa fosse a justificativa dada ao país, já que suaoferta era superior a demanda. Para além disso, a históriados reatores nucleares de potência no mundo parte da&pesquisas para rrmamento nuclear, a partir de 1948. De 1956em diante, ano em que o primeiro reator comercial entrou emfuncionamento, houve um aumento considerável da quantidade dereatores em operação no mundo, sendo que a média de 1980 a19BB é de 21 a 22 reatores/ano. Concern;tantemente pode serpercebida a diminuição do número de reatores em construção, auma média de 16 reatores/ano no mesmo período. Cm 1979, noBrasil, entra em cena o Programa Nuclear Paralelo, nãosujeito a inspeções internacionais e sob o controle exclusivodas Forças Armadas e da Comissão Nacional de Energia Nuclear,cujo fortalecimento durante toda a década de 80 é notório.Por sua vez, o Programa Nuclear Brasileiro perde, na décadade 80, a vitalidade que podia ser observada na décadaanterior, incorrendo em erros técnicos acentuados eapresentando um quadro de extrema gravidade principalmente noque diz respeito ao plano de emergência para a população deAngra dos Reis e cidades circunvizinhas, e aos rejeit tradioativos, que continuam sem destino definitivo e semsolução. Concluí-se que não é possível prosseguir com umapolítica energética que subsidia energia elétrica - a maisbarata do mundo - preponderantemente ao setor industrial, ainiciativa privada nacional e transnational. Nesse quadro nãopode e não deve haver lugar para a energia termonuclear,onerosa aos cofres públicos, perigosa a população, ao meioambiente, ao Planeta como um todo. Entra aí a premência daconservação de energia elétrica, sua melhor utilização, oaumento da eficiência e a negação do desperdício. Anecessidade de questionar e modificar o estilo de vida econsequentemente o consumo, de seguir por rumos que enveredempelas energias renováveis, efetivadas desccntralizadamentepor sociedades desenvolvidas e democráticas.

    x i t

  • ABSTRACT

    The production of electrical energy by nuclear reactorsis unnecessary in Brazil. This technological option, whichwas concrete by the beginning of the 1970's, had its originsin the industrialized countries of the northern hemisphere.It signified a political ideological decision of anauthoritarian and strategic nature, and not a technical-scientific or ethical one. It began with the purchase ofAngra 1 and was intensified in 1975, with the signing of theBrazilian-German Nuclar Agreement, establishing a doubledependency: that of the nuclear reactors and that ofcombustion. The federal governnent was interested in thetransference and connand of technology, the production ofelectrical energy being secondary. Even though it «as usedas a justification for the country, the offer of electricalenergy was already greater than the denand. Besides this,the history of the powerful nuclear reactors in the worldcones fro» those of research on nuclear armament beginningin 1942. After 1956, the year in which the first commercialreactor began to function, there was a considerable increasein the number of reactors in operation in the world. Between1980 and 1986 the average increase was between 21 and 22 peryear. Concomitantly, a reduction in the number of reactorsin construction could be perceived, an average of 16reactors per year for the sane period. In 1979, the ParallelNuclear Program entered the scene. It was not subject tointernational inspections and was under exclusive control ofthe Armed Forces and the National Commission of NuclearEnergy, whose growing strength during the entire decade ofthe 1980 s is notorious. At the sane time, the BrazilianNuclear Program lost in the 1980's the vitality that couldbe observe, for the previous decade. It incurred accentuatedtechnical errors and presented an extremely serioussituation principally with regards to the emergency plan forthe population of Angra dos Reis and neighboring cities andfor the disposal of radioactive residues, which continuewithout a solution or definitive place. It is concluded thatit is not possible to proceed with a energy policy thatsubsidizes electrical energy - the least expensive in theworld - preponderantly to the industrial sector, for theprivate national and transnational initiative. In thissituation there is no room for thermonuclear energy, onerousto the public coffers and dangirous to the population, tothe natural environment and to the entire Planet. Attentionshould be given to the priorty of conservation of electricalenergy, its best utilization, an increase of its efficiencyand a negation of its waste. He must question and modify ourlife style and consequently consumption, following in thedirection of renewable energies, effectively descentralizedby developed and democratic societies.

    xiii

  • INTRODUÇIO

    Hé certamente temas mais agradáveis de serem pesquisados

    do oue a energia nucleoelétrlea no Brasil. Seria até salutar

    e conveniente que o tema fosse inexistente no país, porque

    ele se caracteriza num problema, nas creio seja tarefa das

    ciências sociais realizar também essas pesquisas, concatenar

    idéias e informacOes, devolver à sociedade trabalhos e

    resultados que de uma forma ou de outra tenham utilidade,

    contribuir para a soluçlo do problema. Trata-se de um tema

    atuai, que está correlacionado diretamente com poder e

    dinheiro, nas que também pode influir para a reavaliação do

    estilo de vida e de civilização.

    Através do livro "Energia e classes sociais no Brasil"

    de Antonio Carlos Bôa Nova me aproximei do tema ENERGIA e a

    possibilidade de trabalhar esse assunto vasto, denso, que

    requer urgentes transformações neste país, como categoria de

    a n á M s e sociológica. A seguir, a leitura de "Estado nuclear

    no Brasil", escrito por Carlos Augusto Glrottl, me levou è

    decislo em torno do tema de pesquisa : ENERGIA N U C L E A R .

    A princípio decidi enveredar na política nuclear

    brasileira como um todo, abarcando num dos capítulos a

    energia termonuclear, hoje vejo que o tempo nlo me permitiria

    a empreitada, mas o acertado alerta partiu do orientador.

    Tencionei entlo fazer uma crítica è política energética

    brasileira e à utllfzaçto da energia nuclear, que eu

    considerava totalmente desnecessária, isso se deu em meados

  • 002

    de 19B7. Hoje, fins de 1989, a crítica se •ctrrou.

    Quatro capítulos compõe • dissertação, sendo o primeiro

    una reflexão sobre o significado da utilizado da energia

    nuclear no planeta, sobre a atual "civilização" e política

    energética, é nele que procuro elaborar a crítica da opçlo

    tecnológica para geraçlo de eletricidade no Brasil, diante do

    potencial hídrico disponível, da possibilidade de usufruto de

    outras energias renováveis, da necessidade de conservaçlo e

    Melhor utllizaç8o da energia elétrica no país.

    O segundo capítulo tenta relatar resumidamente o início

    da era da radioatividade artificiai e oferecer uma vislo da

    situado da nuci eoeletr id dade no mundo. Os quadros relativos

    às usinas nucleares de potência nos diferentes países slo

    encontrados no Apêndice e procuram oferecer dados em parte

    analisados no texto.

    O capítulo terceiro, relatando um brtyt histórico da

    energia nucieoelétrica no Brasil, quer ter o sentido de uma

    introdudo/preparado ao quarto capítulo. A década de 70

    principalmente vai oferecer dados importantes para a

    compreensão dos fatos desta década. Entra aí o Acordo Nuclear

    Brasii-Aiemanna, assinado em 1975, que tem repercussões

    durante toda a década de 80.

    O capftuto quarto centra-se no relato e interpretação

    dos fatos ocorridos nesta década, qut transformados em

    constantes problemas e Ininterruptos impasses, expOe a um

    patamar oem precedentes a incompetência da nucleocracia

    brasileira.

  • 003

    A P Ó S as conciusOes e algumas reflexões sobre as energias

    renovável», que slo exatamente as que se contrapOe ès nlo-

    renováveis, dentre elas a nuclear, apresento um Apêndice,

    formado, além dos quadros Já citados, pela Cronologia 1S74--

    1989. E B sua introdução faço esclarecimentos quanto è

    obtençio de dados, que igualmente slo válidos para o trabalho

    todo. Gostaria de sugerir, quando da leitura dos capítulos

    ill e IV, o acompanhamento concomitante dos dados contidos na

    Cronologia, que complementa informações do texto.

    A pesquisa teve Infciú em Brasília, onde residi de

    fevereiro a novembro de 1988. Cm contato com as bibliotecas

    da câmara dos Deputados, Senado Federai, HUE, une, com uma

    das assessoras do Senado Federal - Heloísa Tartarotti - , com

    a secretaria das CPI's do Senado Federal, o PRODASEN

    (Processamento de Oados do Senado Federai), pude coletar

    documentos, dados, bibliografia, material da Imprensa

    escrita, necessários è elaborado da dlssertaçSo. é de se

    ressaltar que todo o material coletado e trabalhado é de

    acesso público. Nlo procurei me enfronnar em documentos

    •igiiosos, que nlo estlo disponíveis ou melhor, que ainda nlo

    o estlo. isso exigiria uma outra pesquisa.

    Findas as leituras - a grande maioria delas - , fui ao

    Rio de Janeiro e Angra dos Reis em maio/89, para a pesquisa

    fle campo. No Rio de Janeiro entrevistei Tanla Melheiro» -

    Jornalista da FSP, Anselmo S a n e s Páschoa - professor da PUC,

    doutor em Física Nuclear, Carlos Mine - deputado estadual

    peit coiigaçlo P T / P V , Ricardo Arnt - jornalista do Jfl, Lutz

  • 004

    pinguei 11 Rosa - diretor e professor da COPPE/UFRJ» doutor em

    Física Nuclear. Procurei a biblioteca de Furnas centrals

    Elétricas e o Centro de Informações da GNEN.

    Em Angra dos Reis realizei pesquisa nos arquivos do

    jornal Maré e entrevistei uma de suas diretoras, a jornalista

    Dailzftnia Lima Melo. Tive oportunidade, com autorlzaçlo da

    Assessoria de Comunicado Social de Furnas / RJ, de visitar a

    CNAAA. onde conheci o Edifício da Administrado, do

    Turbogerador, a sala de controle de Angra 1, o Centro de

    informações, as vilas residenciais de Praia Brava e

    Mambucaba, o Centro de Treinamento, o Laboratório de

    Radioecologia e o simulador de Angra 2. Na C N A A A pude

    entrevistar Rubens Pinto Pinheiro, do Centro de Treinamento e

    Alofsio Mendes dos Santos Filho, químico nuclear do

    Laboratório de Radioecologia.

    Fundada em 1502, Angra dos Reis é quase tio antiga

    quanto a Inclusão destas terras aos domínios de Portugal.

    Passou a ser cidade em 1834. Ali vivem os Guaranl-Nhandeva,

    único agrupamento indígena do Estado do Rio de Janeiro,

    Instalados no sertlo do Bracuí. A M se situa, na Ilha Grande,

    o instituto Penal Cindido Mendes, considerado presídio de

    segurança máxima.

    Quando da pesquisa nos arquivos do Jornal Maré,

    constatei que a cidade nlo foge aos problemas existentes no

    país hoje : pesca predatória, degradaçlo ambiental, água

    contaminada, enchentes, constantes deslizamentos de terra na

    única via de acesso, crescente poluiçlo das praias e égua do

  • 005

    Mtr, violência contra a mulher, falta de é9ua, saneamento

    básico e escolas, etc. Por outro lado, neste me saio município

    carente estlo instaladas usinas nucleares de altíssimos

    custos, com os quais o país sequer tem condiçBes de arcar.

    Essas instalações até o momento apresentaram pouquíssimos

    resultados concretos. verifica-se, pois. um contundente

    contraste entre os dois quadros apresentados.

    Em algumas edíçDes do Jornal Maré podem ser lidas

    propagandas da Nuclebrás e de Furnas e matérias que informam

    sobre o repasse de verbas de ambas ao município, o que nao

    deixa de ser, no segundo caso, um reconhecimento de que

    apesar do vultuoso capital investido na CNAAA, n9o houve uma

    influência proporcional sobre a economia de Angra dos Reis.

    Ao contrário, houve degradação.

    Em Florianópolis realizei entrevistas com Carlos Alberto

    Brezolln - Diretor do Departamento de Planejamento da CELESC

    e com Paulo Roberto Cavalcanti Souza - Diretor do

    Departamento de Planejamento da ElETROSUL.

    Optei por realizar entrevistas qualitativas, sendo que

    as realizadas no Rio de Janeiro e em Florianópolis tiveram

    roteiros preparados anteriormente. Para as de Angra dos Reis

    isso nSo foi possível, uma vez que surgiram quando da própria

    estada.

    Trechos das entrevistas estlo presentes nos capítulos i,

    •i e iv, selecionados de acordo com o desenrolar do texto.

    O estudo dos "impasses da energia nucleoelétrlea no

    Brasil na década de 80" se desenvolve até 31 de outubro de

  • 006

    1989. sendo que nlo é a n a l i s a d o o P r o g r a m a Nuclear P a r a l e l o

    (ainda que a s e p a r a d o da energia nuclear pacífica e o PNP

    nem sempre possa ser e f e t i v a d a , h a v e n d o , por c o n s e g u i n t e ,

    alguma a b o r d a g e m a r e s p e i t o ) , o a r m a m e n t o n u c l e a r , o a d o e n t e

    de G o i â n i a , a u t i l i z a ç ã o da t e c n o l o g i a nuclear na m e d i c i n a ,

    indústria, a g r i c u l t u r a (ou ainda em o u t r o s s e t o r e s ) , a f u s l o

    a f r i o .

    Todo t r a b a l h o , assim como todo p e s q u i s a d o r p r e c i s a m ser

    c o n t e x t u a l i z a d o s : estfto inseridos num d e t e r m i n a d o t e m p o ,

    espaço, c u l t u r a , classe s o c i a l . Essa c o n t e x t u a l t 2 a ç ã o

    oeii: ~s o trabaino, o a n d o - i n e um viés p a r t i c u l a r , s i n g u l a r .

    Para f i n a l i z a r , pode parecer c o n t r a d i t ó r i a a u t i l i z a ç ã o

    do computador para a a p r e s e n t a ç ã o ftnai da dissertaçfto, m a s

    certamente ele nlo consumiu m a i s energia elétrica q u a n t o

    utilizaria uma m á q u i n a de e s c r e v e r . Além d i s s o , fazer uso

    dessa t e c n o l o g i a p r o p o r c i o n o u e c o n o m i a de energia interior,

    Ja que tive a p o s s i b i l i d a d e de realizar correções até o

    último m o m e n t o .

  • "Não existe poder nuclearc i v i l " .

    Paul V i r i I i o

  • C A P I T U L O I

    " E N E R G I A NUCLEAR ? N l O . O B B I 6 A D Q " .

    " T i v e m o s que abandonar a t r a n q ü i l a q u i e t u d e de já ter

    d e c i f r a d o o m u n d o " .

    IIya Pr tgogi ne

    1. 0 U N I V E R S O - A TERRA - 0 H O M E M .

    O c a m i n h o t r i l h a d o para a c o m p r e e n s ã o e o c o n h e c i m e n t o

    sobre o u n i v e r s o desde A r i s t ó t e l e s , p a s s a n d o por P t o l o m e u ,

    C o p é r n i c o , G a l i l e u , K e p l e r , N e w t o n , Kant e E i n s t e i n (para

    citar a p e n a s a l g u n s ) , desde a G r é c i a até e s t e final de

    s é c u l o , foi á r d u o , longo e p r o f í c u o em c o n j e c t u r a s e

    af i r m a ç ò e s .

    As d e s c o b e r t a s sfto c o n s t a n t e s e t e m - s e h o j e a c e r t e z a de

    que o c o n h e c i m e n t o a c u m u l a d o sobre o u n i v e r s o é m u i t o m a i o r

    do que em q u a l q u e r outra é p o c a , e m b o r a as t e o r i a s a i n d a

    p e r s i s t a m s e n d o p a r c i a i s e p o v o a d a s de i n c e r t e z a s .

    0 d e s e j o de saber cada vez m a i s s o b r e o u n i v e r s o tem se

    d e p a r a d o com o s limites da p e s q u i s a c i e n t í f i c a , no c a s o , c o m

    a falta de p o s s i b i l i d a d e de c o m p r o v a ç l o e m p í r i c a , a l é m de se

    p e r p e t u a r e m q u e s t õ e s que p o d e r i a m ser c o n s i d e r a d a s s i m p l e s ,

    caso nao se t r a t a s s e m do u n i v e r s o , tais como s t e r á h a v i d o um

    começo no c o s m o s , no e s p a ç o e no tempo? H a v e r á um fim?

    S u p õ e - s e que o universo tinha t a m a n h o z e r o e t e m p e r a t u r a

  • 0 0 9

    i n f i n i t e m e n t e q u e n t e q u a n d o da g r a n d e e x p l o s & o ( t e o r i a do Big

    B a n g ) . A p r o x i m a d a m e n t e 1 0 0 s e g u n d o s a p ó s a g r a n d e e x p l o s ã o , a

    t e m p e r a t u r a t e r i a c a í d o p a r a 1 b i l h ã o de g r a u s .

    H o u v e a l g o a n t e s do Big B a n g , q u e não se p o d e

    d e t e r m i n a r . E ' a c e i t á v e l , p o i s , q u e o t e m p o t e n h a c o m e ç a d o

    n e s t e p r i m e i r o i n s t a n t e , a p a r t i r d o qual h o u v e c o n s t a n t e

    e x p a n s ã o e d i m i n u i ç ã o da t e m p e r a t u r a .

    Em 1 9 2 9 , E d w i n H u b b l e f o r m u l o u o que v i r i a a s i g n i f i c a r

    uma d a s g r a n d e s r e v o l u ç õ e s i n t e l e c t u a i s : a a s s e r t i v a de que

    o u n i v e r s o p e r m a n e c e e m e x p a n s ã o . Tal d e s c o b e r t a h a v i a sido

    p r e v i s t a e m 1 9 2 2 por A l e x a n d e r F r i e d m a n n .

    A d i s t â n c i a , p o i s , e n t r e as g a l á x i a s a u m e n t a

    c o n s t a n t e m e n t e . 0 i n f i n i t o é, a s s i m , c a d a vez m a i s i n f i n i t o .

    E m e s m o que o u n i v e r s o t e n h a um fim, tal não se d a r á

    antes de 1 0 0 b i l h õ e s de a n o s , uma vez q u e e l e já vem se

    e x p a n d i n d o há p e l o m e n o s e s t e m e s m o t e m p o .

    C á l c u l o s d ã o c o n t a da e x i s t ê n c i a de c e n t e n a s de m i l h a r e s

    de m i l h õ e s de g a l á x i a s , que p o d e m ser v i s t a s a t r a v é s de

    m o d e r n o s t e l e s c ó p i o s , a i n d a que o t a m a n h o do u n i v e r s o

    o b s e r v á v e l s e j a de um s e t i l h ã o de q u i l ô m e t r o s . Não se s a b e o

    que e s t á a c o n t e c e n d o r.um t e m p o d i s t a n t e do u n i v e r s o , já q u e a

    luz que se o b s e r v a em g a l á x i a s d i s t a n t e s d e i x o u - a s há m i l h õ e s

    de a n o s , A e s t r e l a m a i s p r ó x i m a , c h a m a d a P r ó x i m a C e n t a u r i ,

    e&tá d i s t a n t e c e r c a de q u a t r o a n o s - l u z ou a p r o x i m a d a m e n t e 37

    m i l h õ e s de q u i l ô m e t r o s .

    E ' até p o s s í v e l a e x i s t ê n c i a de um n ú m e r o i n f i n i t o de

    uni v e r s o s . . .

  • 010

    O Sol, estrela de 2a. ou 3a. geraçio, formada há cerca

    de 5 bilhões de anos atrás, é o centro deste sistema solar em

    torno do qual giram, pela ordem de afastamento, os planetas

    Mercúrio, Vènus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano,

    Netuno e PlutSo. Destes nove planetas, apenas um detém

    possibilidades de vida tal como nós a conhecemos.

    Inicialmente a Terra era muito quente e sem atmosfera.

    Se resfriou gradativãmente e adquiriu uma atmosfera a partir

    da emissão de gases das rochas. Nao havia oxigênio. Os

    primeiros dois bilhões de anos da existência do planeta, pelo

    seu calor, nSo possibilitaram o desenvolvimento de qualquer

    organismo complexo. Nos outros três bilhões de anos,

    aproximadamente, iniciou-se um lento processo de evolução. A

    atmosfera foi se modificando e garantindo o desenvolvimento

    de formas mais elevadas de vida, dando lugar por fim, à

    espécie humana.

    Mas, qual a posiçío que a Terra ocupa no universo? Em

    que direção a Via Láctea se expande? Oual a significancia

    deste planeta na vastidio do cosmos? Por que < e nao somente

    o que) aconteceu a grande explosfio?

    0 universo nao é estático, como também n&o é imutável.

    Há teorias, há incertezas, inclusive a incerteza se há teoria

    que dê conta do universo.(1)

    Possui o planeta Terra uma rara singularidade : o

    confronto dos três estados físicos (sólido, líquido, g a s o s o ) ,

    uma correta gravidade e rotaçio, as condições químicas e

  • D11

    físicas ideais para consubstanciar a «ida, que para seu

    estágio atual de evolução necessitou de cerca de 5 bilhões de

    anos.(?)

    Inúmeros estudos se debruçam sobre essa evoluçfto,

    datando-a e narrando-a. Hoje, ela está ameaçada. 0 planeta

    agoniza. Oue estudos podem prever o futuro? Descobertas

    ctentíficas podem explicar o passado e o presente, ainda que

    parcialmente. Descobertas científicas podem também destruir a

    Humanidade, o seu futuro.

    Cinco mil anos de história documentadaO) possibilitam

    avaliar o esforço do Homem em descobrir, conhecer, avançar,

    progredir e se beneficiar dos recursos naturais, do

    equilíbrio e da harmonia quase sempre presentes neste período

    no Planeta(4>. As mais diversas épocas e culturas oferecem

    aprendizados quanto á relação Homem-Natureza.

    Mas é no século XIX, com o advento da Revoluçfto

    industrial, que o Homem mais e mais se posiciona como

    dominador da natureza e inicia um processo de destruiçio do

    que há de mais vital para a vida ; o ar, o solo, a água.

    0 Homo Saoiens(5) marca profundamente a sua presença no

    planeta. A partir de sua açio existem já há alguns anos

    riscos de longo prazo e em escala planetária, a partir

    inclusive de uma utílízaçlo insensata dos recursos

    terrestres, A crise se fez global, culminando com a

    possibilidade do extermínio da espécie como um todo.

    0 que levou muitos milhfte» de anos para evoluir, pode em

    P O U C O S anos ser massacrado, aniquilado.

  • 0 1 ?

    A d e g r a d a ç ã o a m b i e n t a l , s o c i a l , e c o n ô m i c a , p o l í t i c a ,

    c u l t u r a l faz c o m que se d i s c u t a e a v a l i e n e c e s s a r i a m e n t e a

    n o ç ã o d e c i ê n c i a , de d e s e n v o l v i m e n t o , d e c r e s c i m e n t o , de

    p r o g r e s s o , de t e c n o l o g i a , de c i v i l i z a ç ã o .

    Final da d é c a d a de 8 0 . F i n a l d o s é c u l o X X .

    B u s c a - s e i n t e n s a m e n t e c o n h e c i m e n t o s s o b r e o p a s s a d o e a

    c o m p r e e n s ã o do p r e s e n t e . E q u a n t o ao f u t u r o ? F a l a r d e um

    m u n d o -futuro s i g n i f i c a r e c o n h e c e r l i m i t e s p l a n e t á r i o s e a

    n e c e s s i d a d e de r e d e f i n i ç õ e s no que diz r e s p e i t o a p r o d u ç ã o ,

    ao c o n s u m o , ao e s t i l o de v i d a .

    A p o p u l a ç ã o da T e r r a a t i n g i u , s e g u n d o a O N U , 5,2 b i l h õ e s

    de s e r e s h u m a n o s , m a i s da m e t a d e v i v e n d o d e forr?a m i s e r á v e l .

    J. B A U O R I L L A R D ( 6 ) a f i r m o u que a a n á l i s e d o s o b j e t o s de

    c o n s u m o l e v a r a m - n o a i n t e r r o g a r a e s f e r a da p r o d u ç ã o ,

    a c a b a n d o por se p e r g u n t a r se e s t a não f a b r i c a v a m a i s a i g n o s

    do q u e m e r c a d o r i a s . P a r a e l e , é a t r a v é s d o s o b j e t o s que as

    d e s s e s f a v o r e c i d a s r e a t u a l i z a m p e r p e t u a m e n t e s e u s

    p r i v i l é g i o s c u l t u r a i s .

    M a i o r i a d e p a u p e r a d a e m i n o r i a p r i v i l e g i a d a . . . e s s e s

    s e r e s , a par ou não d o s p r o b l e m a s c o n s t a n t e s na b i o s f e r a ( 7 ) ,

    se e n c o n t r a m numa e n c r u z i l h a d a que a p o r t a a l g u n s a s p e c t o s e

    possibiI i d a d e s ,

    A p r i m e i r a p o s s i b i l i d a d e , a ser e n c a r a d a c o m o

    n e c e s s á r i o r e a l i s m o , é o p o d e r i o a r m a m e n t i s t a n u c l e a r ( a f o r a

    o c o n v e n c i o n a l e as a r m a s q u í m i c a s ) , s u f i c i e n t e p a r a e l i m i n a r

    » e s p é c i e h u m a n a , a v i d a da s u p e r f í c i e do p l a n e t a . 0 t.-óprio

  • 013

    planeta(B).

    A. K0ESTLERÍ9) declarou que se o pedissem para mencionar

    a data mais importante da história e da pré-história da

    espécie humana, responderia • 6 de agosto de 1945, porque até

    essa data o homem conviveu com a perspectiva de sua morte

    como indivíduo. A partir da bomba de Hiroshima, a humanidade

    tem de conviver com a perspectiva de sua extinçSo como

    espécie.

    0 segundo aspecto que nSo é uma possibilidade e sim um

    fato, diz respeito ao aumento vertiginoso da população, que

    pode atingir B bilhões em uma ou duas gerações, o que requer

    um urgente planejamento populacional. A qualidade de vida em

    detrimento da quantidade,

    0 terceiro aspecto é o dos grandes desequilíbrios

    biológicos e químicos, bem como, as variações dialéticas

    provocadas pelas atividades humanas. Dentre os primeiros

    deve-se chamar a atençfo para a destruição da camada de

    ozônio estratosférica que filtra uma parte do componente

    ultravioleta da radiaçio solar, bem como do aumento da

    temperatura na superfície da Terra, causado por gás carbônico

    e conhecido como "efeito estufa".

    0 quarto fato sao os desperdícios energéticos, o quinto

    o da perda do patrimônio genético, havendo ainda ostros mats

    (10 ), Iigados entre si,

    Obviamente o homem desenvolveu formas positivas de

    expressão, como a linguagem, a ciência, a arte. Fez

    descobertas imprescindíveis para o seu bem estar. Galgou

  • 014

    degraus fundamentais em direção a um maior conhecimento da

    psique humana. Buscou compreender o exterior a si e seu

    interior.

    Embora essa c a m i n h a d a continue em voga, empreendida por

    um número cada vez maior de pessoas, a realidade d e n o t a que o

    crescimento nSo teve limites, sofreu de falta de lógica, se

    abalou por interesses d i t a d o s pelo capital, pelo lucro, pelo

    poder, pela ambição e g a n â n c i a . 0 chamado d e s e n v o l v i m e n t o se

    perdeu na desordem e projetou infelicidade, m i s é r i a ,

    desigualdade. T r a n s f o r m o u o oi fcos num habitat enfermo,

    militarizado e p a t r i a r c a l . Transformou seus habitantes em

    espectadores de sua própria ação, quase sem forças de se

    sobrepujarem ao atual estado de coisas ou ainda vivendo uma

    expectativa de vida c o n s u m i s t a e predatória praticada por uma

    parcela menor da p o p u l a ç ã o , que insiste disparadamente no ter

    (e a produtividade i n d u s t r i a l ) , irrelevando o ser (e a

    convivencial i d a d e X 1 1 ) .

    Enquanto a realidade apresenta incríveis p o t e n c i a l i d a d e s

    voltadas para o benefício da população, deixa transparecer

    também a evidência da amplitude e global idade da c r i s e .

    2. CIÊNCIA

    "En ei momento de Ia historia en que Ia racionalidadcientífica alcanzar su pleno desarrollo en una formaindustrial y social, de esta misma racionalidad surge tambíénIa amenaza dei cao», Ia posibilidad de un desorden total dei

    está ausente Ia razón".

    Patrick L a g a d e c d S )

  • 015

    Aceitando-se que a ntissio do conhecimento é a resolução

    de enigmas e a revelação de mistérios (desde as partículas

    até a conquista do espaço), é de se perguntar qual o

    conhecimento capaz de abarcar a «ida, de conceber a noção de

    vida em sua plenitude.

    0 papel da ciência na sociedade modificou-se

    profundamente desde o século XVII. 0 conhecimento científico,

    a partir do século XVII até o século XX, encetou progressos

    extraordinários, sendo que durante o século XX, a ciência

    tornou-se uma pesada instituição subvencionada e alimentada

    pela sociedade, controlada pelos poderes «conômicos e

    estatats.

    Concomitante à constante renovação do conhecimento

    científico, ao progresso do conhecimento desde o começo deste

    século, há um progresso de incertezas, sendo que reconhecê-

    las também constitui um progresso. O conhecimento científico

    nio é, pois, passível dê ser definitivamente verificado. Ele

    é prov i sóri o.

    O corte entre ciência e filosofia a partir do século

    XVII, com a dissolução formulada por Descartes entre o eu

    pensante e a coisa material, arrancou da ciência sua

    capacidade auto-reflexiva, separou o sujeito do objeto

    pesquisado, eliminou o observador da observação.

    Porém, a partir do século XIX a ciência clássica

    (determinista) entra cm crise, a noçlo de progresso é

    Questionada, a noção de conhecimento é avaliada. lnicia*se um

    movimento de auto-interrogação da ciência. A ciência da

  • 016

    ciência ( e p i s t e m o l o g i a ) . Entrar em c r i s e , e n t r e t a n t o , nao

    significa deixar de e x i s t i r , e a c i ê n c i a c l á s s i c a ainda reina

    hoje e l i m i n a n d o o é t i c o , a r e s p o n s a b i l i d a d e , o sujeito do

    c o n h e c i m e n t o .

    Mas a c r i s e e n g e n d r o u algumas a f i r m a ç õ e s :

    a) o d e s e n v o l v i m e n t o das d i s c i p l i n a s c i e n t í f i c a s causou a

    fragmentação do saber. Os c o n h e c i m e n t o s e s p e c i a l i z a d o s

    desmembram 0 C o n h e c i m e n t o - A Ciência, aqui vistos nao como

    uma única v e r d a d e , mas como finalidade de aliviar a m i s é r i a

    da existência humana, como diria B e r t o l d Brecht, ou como

    ligação ao destino do homem, como d i r i a IIya Prigogine,

    destróem o c o n h e c i m e n t o - s a b e d o r i a . Ocorre a

    i n c o m u n i c a b i I i d a d e entre as d i s c i p l i n a s , que e s f o r ç o s

    i nterdisei pi inares não c o n s e g u e m s u p e r a r . Seria necessária a

    t r a n s d i s c i p l i n a r i e d a d e já que a h i p e r e s p e c i a i i z a ç ã o reduziu o

    saber c i e n t í f i c o a migalhasi

    b) a separação entre as c i ê n c i a s da n a t u r e z a e as ciências do

    homem, as s o c i a i s , é nociva. As c i ê n c i a s naturais não tem

    consciência que as implicações c e r e b r a l , cultural, social,

    histórica c o - d e t e r m i n a m sempre o o b j e t o de c o n h e c i m e n t o . As

    ciências h u m a n a s nfto tem c o n s c i ê n c i a das determinações

    físicas, q u í m i c a s , b i o l ó g i c a s dos f e n ô m e n o s humanosi

    c) o progresso c i e n t í f i c o produz tantas p o t e n c i a l i d a d e s

    benéficas quanto m o r t a i s , ou seja, a ciência progride como

    conhecimento, mas sua» c o n s e q ü ê n c i a s podem ser mortais»

    d> ocorre um p r o g r e s s o c r e s c e n t e dos poderes da ciência; bem

    como uma impotência c r e s c e n t e dos c i e n t i s t a s na sociedade cm

  • 017

    relação aos próprios poderes da ciência, esmigalhados ao

    nível da investigação, mas reconcentrados ao nível dos

    poderes econômico e políticos

    e) é impossível separar o conceito de ciência do de

    tecnologia, do de indústria, do de sociedade. A civilização

    ocidental evolui e se transforma neste circuito;

    f) se faz imprescindível que toda a ciência se interrogue

    sobre as suas estruturas ideológicas e seu enraizamento

    sóc i o-cuItura I;

    g) o problema do controle da atividade científica tornou-se

    crucial e supõe um controle dos cidadãos sobre o Estado, que

    os controla, e uma recuperação do controle da ciência pelos

    cientistas. Cientistas conscientes da transformação e não

    linearidade da ciênciai cientistas sabedores que a ciência

    elucidativa, enriquecedora, conquistadora, tríunfante

    antepõe o planeta a problemas mais graves que se referem ao

    conhecimento que produz, à ação que determina, a sociedade

    que transforma, ao Estado que se apropria do conhecimento e

    que tem o poder de subjugar o homem;

    h) a modificação da relação entre ciência e sociedade, com o

    passar dos séculos, e que apresenta o outro lado do

    progresso, qual seja degradação, dispersão, desorganização,

    desordem, entropia*

    •> necessidade de conjugar duas visões ; uma feita de ordem e

    harmonia e a outra de desordens e lutas. A relação

    complexidade - diversidade, vida - morte, antagonismo

    compiementariedade, adaptação - destruição, ambiente -

  • 018

    sociedade passa a fazer parte do novo.

    A ciência nova já emergiu, trazendo em seu seio a

    mudança de paradigma. 0 paradigma de complexidade que rompe

    com o conhecimento atomizado, parcelado e redutor,

    reivindicando o direito a reflexftos que busca um modo de

    pensamento capaz de respeitar a muitidimensionalidade, a

    riqueza, o mistério do realt Q»e acredita que a fronteira que

    separa o homo sapiens dos outros seres vivos nao é natural e

    sim cultural (há na biosfera, por exemplo, 2 milhões de

    espécies de insetos, 1 milhão de espécies de plantas, 50.000

    espécies de peixes, 8.700 espécies de aves); que acredita que

    os autos (individual) e o o i fcos (habitat) se complementam e

    sao vitalmente necessários um ao outro; que entende que

    quanto mais o homem controla a natureza e subjuga a biosfera,

    mais e mais controlado pela natureza se encontra e mais

    subjugado pela biosfera vivei que reintroduz o sujeito no

    objeto da pesquisa.

    A mudança de paradigma comanda simultaneamente um

    princípio de complexidade, uma restauraçlo/renovaçSo da idéia

    de natureza, uma ciência de tipo novo, uma tomada de

    consciência e uma práxis, rompendo com as visões

    simp|ificadoras que isolavam os seres do seu ambiente ou

    reduziam os seres ao seu amb i ente. (13)

    0 exercício de redefinir o que é ciência, para o que e

    quem está sendo utilizada cresce no meio científico,

    sionado pela própria transformação do conhecimento

  • 019

    (e o questionamento do seu estatuto, de sua racionalidade, de

    seu desenvolvimento), bem como por acontecimentos e

    evidências que poderiam ser explicitadas como "externas",

    como 1) a crescente dominação do homem pelo hornemi 2) a

    crescente exploração da natureza pelo homem com a conseqüente

    degradação daquela ej 3 ) os múltiplos movimentos sociais, que

    trazem em seu bojo um potencial de questionamento sobre as

    formas do pensar tradicional, como por exemplo os movimentos

    democráticos, socialistas, estudantis, feministas,

    pacifistas, anti-nucleares, de minorias étnicas e culturais,

    religiosos, eco Iogistas.(14)

    Os problemas que afligem o planeta, os seus ecossistemas

    terrestres e marítimos, os seres vivos e o homem são

    crescentes e se por um lado foram engendrados pela ciência ->

    tecnologia -> indústria -> sociedade, numa cosmovisão

    ocidental, devem igualmente retornar ao circuito para que

    lhes seja proposta a solução. Nas o primeiro passo, por

    certo, seria dado por cientistas que, ao controlarem a

    ciência, fariam dela uma ciência ética, necessariamente

    voltada para o bem estar e sobretudo para a paz,

    Esta seria a ciência que sacudiria os valores ocidentais

    e que unindo-se ft sabedoria, se tornaria a ciência da

    essência(15)» que fundindo o intelecto com a intuição, a

    razão e a emoção, a informação e o significado, as

    descobertas e as mudanças, a autonomia e o relacionamento com

    0 mundo chegaria a uma ciência nio totalitária, na qual há

    diálogo entre as culturas ocidental e orientaI.(16 )

  • oaoPensar a ciência a partir da global idade é também saber

    inferir valores justos à evolução da vida no planeta e aos

    tempos biológicos» que segundo E. TlEZZI são importantes para

    medir o passado e o futuro, são inversamente p r o p o r c i o n a i s

    aos tempos t e c n o l ó g i c o s e econômicos, e seguem ritmos

    diferentes aos tempos históricos. A c r e d i t a , assim, ser

    necessária uma ciência jovem que propugne o equilíbrio do

    homem com o ambiente, com seus semelhantes e consigo m e s m o .

    Propugna uma nova cultura do desenvoivintento.(17)

    Como a ciência tem reforçado a tendência ao parcelamento

    da realidade, não conduzindo a uma visão e c r í t i c a global do

    que ocorre, o ÍIVÍHIÇH ihj cirncia apenas se dará a partir de um

    enfoque t o t a l i z a n t e . A ciência deve ser capaz de analisar o

    ambiente como uma totalidade dinâmica e em permanente

    transformação. Para L. V I T A L E C 1 B ) , a nova ciência analisará o

    homem como parte indissolúvel do ambiente, h a v e n d o ret ação

    entre história da natureza e história da h u m a n i d a d e .

    Para E. M0RIN, essa nova ciência também pode ter

    conhecida como cco-bio-socio-Iogia, incorporando ainda os

    domínios da física e da antropologia. 0 que o estimula é a

    preocupação de ocultar o menos possível a c o m p l e x i d a d e do

    real.(19)

    A nova ciência pode ter muitos nomes, m a s significa uma

    nova visão da realidade que se baseia na compreensão e

    «aplicação da realidade, consciente do "estado de inter-r*iação - interdependência essencial de todos os fenômenosf i s c o s , b i o l ó g i c o s , psicológicos, sociais e c u l t u r a i s , Essavisão transcende as atuais fronteiras d i s e i p I i n a r e s econceituais e será explorada no âmbito de novas instituiçôes.N*o existe, no presente momento, uma estrutura bem

  • 021

    estabelecida» conceituai ou institucional, que acomode aformulação do novo paradigma, mas as linhas m e s t r a s de talestrutura já estão sendo formuladas por m u i t o s indivíduos,comunidades e organizações que estio d e s e n v o l v e n d o novasformas de pensamentos e que se estabelecem de acordo comnovos princípi os.(20)

    0 questionamento que envolveu o c o n h e c i m e n t o , o saber

    científico, não deixou incólume as ciências sociais, fazendo

    reconhecer que o pensamento social (predominantemente

    patriarcal) também estava adquirindo os vícios da

    especialização, além do que sofria da fragmentação

    cultura/sociedade - ambiente e de competência sequer para

    responder a razão da profunda crise que afeta a Pachamama

    (Mãe Terra) e consequentemente a vida de todos os seus

    habitantes. Entretanto, do interior do próprio saber

    científico das ciências sociais efervesceu a crítica à

    conquista da natureza, cresceu a consciência da necessidade

    de mudança radical do que, porque, para que e de como

    pesquisar. E a consciência da necessidade de introdução da

    dimensão ecológica/biológica nas ciências sociais para a sua

    transformação.

    Consciência, transformação se efetivam através da razão,

    que é um conceito básico de toda ciência social, -no dizer de

    A, GUERREIRO R A M O S O D . Este autor traz uma contribuição

    fundamental para o entendimento de como uma ciência social

    alternativa poderia tomar o lugar da ciência social

    estabelecida, trabalhando o conceito de r a c i o n a l i d a d e .

    A ciência social estabelecida se fundamenta numa

    racionalidade instrumental, funcional, característica do

    t'&tema de mercado, que solapa qualificações éticas üa vida

  • 0 2 2

    humana e que e n t e n d e o indivíduo como d o m i n a d o e c o m o a g e n t e ,

    já a c i ê n c i a social a l t e r n a t i v a se c a l c a n u m c o n c e i t o de

    r a c i o n a l i d a d e m a i s sadio» d e n o m i n a d a s u b s t a n t i v a . N e s t e c a s o ,

    o indivíduo é o g e r a d o r da r a c i o n a l i d a d e . N e s t e c a s o há a

    e m a n c i p a ç ã o do h o m e m e o d e s e n v o l v i m e n t o d e suas

    p o t e n c i a l i d a d e s de a u t o - r e f I e x i o , bem como a p r e o c u p a ç ã o em

    como p r a t i c a r a razão no mundo social e na bios-fera.

    A r a z S o c o m o dever dos seres r a c i o n a i s ( 2 2 ) , c o m o

    p r a t i c a , como f e r t i l i z a n t e da nova c i ê n c i a , q u e , j u s t a m e n t e é

    um i n s t r u m e n t o de r e c o n s t r u ç ã o social é o q u e q u e r e m o s

    circundar n e s t e i n s t a n t e , situando i g u a l m e n t e a i n t e r l i g a ç ã o

    entre c i ê n c i a e p o l í t i c a , entre ciência e t e c n o l o g i a .

    E " o p o d e r que determina o uso da c i ê n c i a e, por

    c o n s e g u i n t e , da t e c n o l o g i a . A m u d a n ç a p o l í t i c a é q u e p o d e

    possibilitar q u e a c o m u n i d a d e c i e n t í f i c a se d e d i q u e a r e a i s

    p r o b l e m a s , ès n e c e s s i d a d e s da p o p u l a ç ã o e à c o n s e r v a ç ã o dos

    recursos n a t u r a i s .

    3. T E C N O L O G I A

    E n q u a n t o que para J. BAUTISTA VIDAL ( 5 3 ) a t e c n o l o g i a é

    resultado de um v a s t o p r o c e s s o de n a t u r e z a s o c i a l , c u l t u r a l ,

    política, no qual está imbutida a c o m p o n e n t e t é c n i c a e

    e v e n t u a l m e n t e a c o n t r i b u i ç ã o c i e n t í f i c a , a p e s a r de e n t e n d e r

    a c i ê n c i a e a t e c n o l o g i a têm uma p e r m a n e n t e c o r r e l a ç ã o de

    causa e e f e i t o , E, MOR IN a d v e r t e ser impossível isolar o

    conceito de t e c n o l o g i a a r g u m e n t a n d o que o " d e s e n v o l v i m e n t o do

    c o n h e c i m e n t o c i e n t í f i c o é inseparável de uma t e c n o l o g i a , ela

  • 023

    mesma ligada a uma s o c i e d a d e , a uma e i v i I i z a ç ã o " ( 2 4 > . 0 autor

    dá um e x e m p l o d e s s a c o n e x ã o ao citar que na época g a l i l é i c a

    se observava o u n i v e r s o com lunetasi h o j e t e l e s c ó p i o s e

    r a d i o t e l e s c ó p t o s , a l é m dos satélites de p e s q u i s a , m o d i f i c a m o

    campo real, a i a r g a n d o - o . No f u t u r o , e s t a ç õ e s e s p a c i a i s

    certamente i n s c r e v e r ã o n o v o s c a r a c t e r e s no c o n h e c i m e n t o sobre

    o i nf i n i to.

    P r o p o r - s e ao q u e s t i o n a m e n t o da t e c n o l o g i a não é s i n ô n i m o

    de recusá-la ou a b a n d o n á - l a . E ' muito m a r s incorrer num

    exercício de r e d e f i n i - l a , se Iecioná-I a, reapropriá-I a,

    adequá-la às n e c e s s i d a d e s a t u a i s . S i g n i f i c a p r o j e ç ã o do

    futuro e não incursão ao passado. D e n o t a investigação

    histórica do seu papel em b e n e f í c i o da h u m a n i d a d e , do

    pianeta.

    A t e c n o l o g i a é um instrumento de poder, um instrumento

    político de d o m í n i o que visa e x p a n s ã o e e x p l o r a ç ã o e que

    perpassa o m o d e l o de d e s e n v o l v i m e n t o / c r e s c i m e n t o no qual se

    está inserido.

    Não tendo sido f o r j a d a para a c r i s e , mas sendo uma de

    suas principais c a u s a s , dela adveio o "sistema de o r g a n i z a ç ã o

    política e social b a s e a d o na p r e d o m i n â n c i a dos t é c n i c o s "- a

    tecnocracia, i r r e v e r e n t e com o p a t r i m ô n i o c o m u m da

    humanidade, com a m e l h o r u t i l i z a ç ã o dos recursos r e n o v á v e i s e

    ftao renováveis, com o bem estar do homem e dos seres vivos em

    geral .

    Ameaçando o e q u i l í b r i o do planeta, ir relevou a vida,

    trouxe a ilusão do p r o g r e s s o , se despiu de quaisquer v a l o r e s ,

  • 024

    se investiu de m e g a l o m a n i a e colocou em risco a s o b r e v i v ê n c i a

    de gerações futuras.

    Encrustada na elite e m p r e s a r i a l , p o l í t i c a , intelectual e

    militar, a tecnologia segue seu rumo p r e d a t ó r i o , imediatista

    e extremamente conveniente para alguns p o u c o s . Como se isso

    não bastasse, segue a lógica do lucro, da m e c a n i z a ç ã o

    avassaladora, da c o m p u t a d o r i z a ç ã o c r e s c e n t e e sobretudo :

    serve para a guerra. Para a sua preparação infinita.

    Pensar a tecnologia implica em indagar a que ela está

    servindo. E a quem. Ameaçando o e q u i l í b r i o , deveria conhecer

    como restaura-1 o; tendo uma atitude de ruptura com o ambiente

    e os ecossistemas, deveria saber como resgatar a u n i d a d e ;

    instalando a hierarquisação e c e n t r a l i z a ç ã o de f u n ç õ e s ,

    deveria incorrer em caminho oposto* a l i e n a n d o o homem do

    trabalho, da produção, deveria ser capaz de resgatar o auto-

    desenvolvimento p e s s o a l .

    A tecnologia por si não poderia tomar tal a t i t u d e . As

    decisões tecnológicas são d e c i s õ e s p o l í t i c a s e essas d e v e r i a m

    estar incluídas no e x e r c í c i o da c i d a d a n i a , porque dizem

    respeito a todos os c i d a d ã o s .

    Usamos e usufruímos da tecnologia ou acabamos sendo

    usados por ela? Temos clareza de suas implicações ou a c a b a m o s

    Por nos adequar ao caos que uma parte das invenções impõe 7

    Prevalece o conforto provisório e fugaz em d e t r i m e n t o da

    mudança de atitude"?

    Pensar a tecnologia implica em se arvorar na tarefa de

    indagar sobre sua substância, seus riscos « a c i d e n t e s dela

  • 025

    provenientes. Seu produto» enfim.

    E' necessário conhecer o enigma da tecnologia e

    trabalhar sobre ele, pois "... chega de ilusões a respeito da

    tecnologia. Não controlamos o que produzimos. Saber como

    fazer não significa que saibamos o que estamos fazendo".(25)

    Compreender que a função da tecnologia nao é meramente

    técnica, que sua escolha corresponde a opção por um conjunto

    de vetores correspondentes a padrões de consumo da sociedade,

    a formas de utilização da força de trabalho, a perfis de

    investimento, a modos de exploração das matérias-primas,

    recursos naturais e energéticos, à estrutura do sistema

    educacional e da pesquisa científica no contexto de um

    determinado estilo de desenvolvimento(26) é, por certo,

    compreender que não podemos depositar vida e liberdade em

    mãos de uma elite subserviente ao poder e a ambição,

    incompetente e sem qualquer apreço pelo povo. Que não podemos

    permitir sermos modelados e subjugados cada vez mais pela

    tecnologia. Essa mesma tecnologia já ultrapassou a

    possibilidade de explicação no seu todo.

    Quais as certezas qu€ temos sobre os rumos que estão

    sendo tomados, alheios ao nosso conhecimento e a nossa

    vontade? A certeza é a de que o domínio do homem pela

    ferramenta foi substituído pelo domínio da ferramenta sobre o

    homem.(27)

    Exemplo disso pode ser encontrado na medicina, nos

    transportes(SB), na indústria química, etc,, com centenas de

    •nvençôes se multiplicando anualmente.

  • 026

    Enquanto que não se pode d u v i d a r do valor de a l g u m a s

    invenções t e c n o l ó g i c a s , g r a n d e p a r t e d e t a s está a s e r v i ç o dos

    m i l i t a r e s , da guerra e da m o r t e , ( 2 9 )

    Se c o m p r e e n d e m o s que o h o m e m e o a m b i e n t e não p o d e m ser

    s u b j u g a d o s , d o m i n a d o s , a l i e n a d o s p e l a t e c n o l o g i a e que

    c u l t u r a l m e n t e não é possível r e g r e s s a r a t e m p o s p r é -

    t e c n o l ó g i c o s , c o m p r e e n d e m o s que e x i s t e uma v a l o r a ç ã o para sua

    invenção e sua u t i l i z a ç ã o , bem c o m o a a c e i t a b i l i d a d e do risco

    que ela carrega c o n s i g o .

    Vivemos em m e i o ao g r a n d e r i s c o t e c n o l ó g i c o , f a z e m o s

    parte da " c i v i l i z a ç ã o do r i s c o " , p r e d a d o r a por e x c e l ê n c i a ,

    que quanto m a i s avança e p r o g r i d e , t a n t o m a i s e r o s i o n a a

    capacidade de e x p l i c a ç ã o s o b r e e l a .

    A liberdade do c i d a d ã o leva a eleger a d i r e ç ã o do

    progresso, os riscos t e c n o l ó g i c o s q u e quer e n f r e n t a r . A

    indústria m o d e r n a cria c o n s t a n t e m e n t e novos r i s c o s sem a

    permtssão dos c i d a d ã o s , que s e q u e r têm c o n h e c i m e n t o da

    fragilidade e f a l i b i l i d a d e que o s i s t e m a h o m e m - m á q u i n a

    engendra.

    Não é racional l a n ç a r - s e em i n o v a ç õ e s sem c o n s i d e r a r

    seriamente os riscos i m p l í c i t o s . Não é razoável p r e t e n d e r

    despojar o cidadão de sua c a p a c i d a d e de juízo, Há que ser

    reforçada a aptidão das s o c i e d a d e s para e l e g e r livres,

    voluntárias e r e s p o n s á v e i s , sua f o r m a de d e s e n v o l v i m e n t o , seu

    estilo de vida e suas t e c n o I o g i a s . ( 3 0 )

    A variável t e c n o l ó g i c a persegui ria o e q u i l í b r i o entre

    cinco d i m e n s õ e s ! ( 3 1 )

  • 0 ? 7

    a ) e c o n ô m i c a : p r e f e r ê n c i a por t é c n i c a s i n t e n s i v a s em m ã u - d e -

    obra e pouco intensivas em ca p i t a l j

    b) e c o l ó g i c a : p r e f e r ê n c i a pela u t i l i z a ç ã o de r e c u r s o s

    r e n o v á v e i s e danos m í n i m o s ao ambientei

    c ) s ó c i o - c u I t u r a l • t e c n o l o g i a para s a t i s f a ç ã o d a s

    ne c e s s i d a d e s da p o p u l a ç ã o , p o s t u l a n d o d i v i s ã o igualitária de

    renda;

    d ) p o l í t i c a £ s e l e ç ã o de t e c n o l o g i a p a r a e s t í m u l o do

    d e s e n v o l v i m e n t o a u t ô n o m o *

    r ) t é c n i c a ' u t i l i z a ç ã o de t é c n i c a s que e s t i m u l e m a

    i n d e p e n d ê n c i a e o d e s e n v o l v i m e n t o c i e n t í f i c o e t é c n i c o .

    D e c i d i n d o o que p r o d u z e c o n t r o l a n d o a p r o d u ç ã o , o homem

    se i r : e r e na d i s c u s s ã o d e m o c r á t i c a e c o n t r a r i a o a x i o m a

    o c i d e n t a l p r o f u n d a m e n t e a r r a i g a d o do c r e s c i m e n t o m a t e r i a l

    i l i m i t a d o , q u a n t i t a t i v o . A i d é i a é a r e d e f i n i ç ã o da

    t e c n o l o g i a , bem como da c i ê n c i a . 0 e s f o r ç o é na d i r e ç ã o da

    c r i a t i v i d a d e e da i m a g i n a ç ã o p e r m a n e c e n d o a r e c o n s t r u ç ã o

    t o t a l da s o c i e d a d e , t e n d o como p a n o de f u n d o a r e a l i d a d e

    p r e s e n t e .

    0 d e s e n v o l v i m e n t o de t e c n o l o g i a s m a i s e m a i s c o m p l e x a s ,

    i n t e n s i v a s em m a t é r i a , e n e r g i a e c a p i t a l , p e r t u r b a a

    s o c i e d a d e , os s e r e s v i v o s em g e r a l , o a m b i e n t e . F o m e n t a

    9 ' a n d e s i n s t i t u i ç õ e s b u r o c r á t i c a s q u e v i s a m l u c r o , g o v e r n o s

    c e n t r a l i z a d o r e s e p o I i c i a I e s c o s , q u e v i s a m p o d e r e que ao

    •nvé& de c o n t r o l a r e f i c a z m e n t e a a t i v i d a d e p r o d u t i v a , a

    P r o t e g e m , Fomentam também uma p o p u l a ç ã o a l h e i a ás d e c i s õ e s de

    «"»• e l i t e t e c n o c r á t i c a e p o l í t i c a .

  • ERRATA

    cn se xe Leia-se

    )ü'J> fast-breeder

    141 suacorapetência

    144 MéxicoTendc

    !4*- •:;• para essas quais afigurava-se

    1 M por muitospaíses

    !M .- Acordoanravós de

    1 "71- prestar serviçosà

    1H4 foi publicado pelo JBr na mesma

    data, personas non gratas

    IB" cometido eguívicos

    1**-' CNAAA, empreendimanto

    Filsar: Enqenhabria

    n Real (PA)

    fast-breeder

    sua competência

    México. Tende

    e para essas afiguravs-se

    por muitos países

    o Acordo através de

    prestar serviços ã

    foi publicado pelo JBr na

    mesma data, especificande

    personas non gratas

    cometido equívocos

    CNAAA, empreendimento

    Filsan Engenharia

    Lagoa Real (BA)

  • 0B8

    Rever o sentido de prosperidade, da qualidade de vida,

    duvidar da eficiência do sistema social que é imposto e em

    grande parte assimilado, erosionar essa profunda desordem na

    qual nos encontramos e vivemos é responsabilidade dos

    cidadãos atuantes e conscientes da necessidade de rechaçar

    energicamente o atual modelo de desenvolvimento e de

    desencadear um real desenvolvimento das potencialidades

    humanas.

    4. CRESCIMENTO x DESENVOLVIMENTO

    0 "modelo" de crescimento econômico imposto após a

    Revolução Industrial, traz em seu bojo um processo de

    dominaçio da máquina sobre o homem e deste sobre a natureza,

    a ilusão da infinitude dos recursos naturais, a partir do que

    se instalou um sistema com aspectos sedutores que esconde a

    destruição do ambiente.

    A imposição incorre também sobre um maior consumo, que

    oferece muitas vezes apenas um conforto questionável, já que

    engendra incertezas em relação w possibilidade de futuro.

    Engendra desequilíbrio e devastação.

    0 crescimento infinito calca-se na lógica do consumo

    infinito sustentado pelo desperdício em larga escala, pela

    obsolescência planejada, pela exploração irresponsável dos

    recursos naturais e ainda na aceleração do desejo de ascensão

    social e econômica de milhões de p e s s o a s O S ) , que permitem

    lhes seja impingida uma falsa noção de prosperidade e

    Progresso,

  • OSS

    No entanto, o discurso do progresso é falacioso porque

    expurga a qualidade, a -felicidade, o desenvolvimento total do

    ser humano, em consonância com a biosfera que o cerca. Além

    disso, objetiva claramente uma parcela da população que tem

    resolvidas suas necessidades materiais, ainda que nem tanto

    as imateriais, cavando um fosso mais e mais acentuado entre

    aqueles que lutam desesperadamente para não morrer de fome e

    aqueles que vivem sobejamente.

    0 crescimento econômico não elucidou dúvidas

    existenciais, mais caminha fazendo de conta que não há

    desigualdade nem injustiça social.

    Abaixo pontuaremos algumas diferenciações entre

    crescimento e desenvolvimento :

    Crescimento econômico Desenvolvimento

    - consumo acentuado - consumo qualificado

    - envelhecimento premeditado - bens de consumo duráveisdos bens de consumo

    * criação de necessidadesfictícias

    - utilização predatória dosrecursos naturais

    - dependência de recursosexternos

    • latifúndios improdutivos,monoculturas extensivas,desmatamento

    " dependência tecnológica

    urbanização crescente

    aumento vertiginoso daPopulação

    - produção de necessidades reais

    - utilização racionaldos recursos naturais

    - independência do capitalinternacional

    agricultura biodin&mica paraprodução de alimentos, em1a. instância, refloresta-mento

    - independência tecnológica

    - urbanização decrescente

    - planejamento populacional

  • 0 3 0

    - mi I itarização da s o c i e d a d e - d e s m i l i t a r i z a ç ã o da s o c i e d a d e

    - aumento de e m p r e g o s sem - a u m e n t o de t r a b a l h o c r i a t i v osubstânc i a

    - maior u t i l i z a ç ã o de f o n t e s - t e n d ê n c i a à u t i l i z a ç ã o dee n e r g é t i c a s não r e n o v á v e i s f o n t e s e n e r g é t i c a s r e n o v á v e i s

    Esses p o u c o s a s p e c t o s e v i d e n c i a m , por e x e m p l o , que o

    B r a s i l , e n v e r e d a por um c a m i n h o de c r e s c i m e n t o , m a s e s t a n d o

    ainda num p a t a m a r de p a t s s u b d e s e n v o l v i d o . E n ã o é livre pelo

    fato de c a r r e g a r o peso de 40 a 50 m i l h õ e s de b r a s i l e i r o s na

    m a i s completa m i s é r i a e por possuir uma d í v i d a e x t e r n a de US$

    118,870 b i l h õ e s ( 3 3 ) , que deveria ser s u s p e n s a .

    "Visto de um m o d o g l o b a l , o país d e p e n d e n t e , t e n d o o

    consumo como p a d r ã o de f e l i c i d a d e e p r e s t í g i o , é m o v i d o por

    m a c i ç a p r o p a g a n d a , sem a l t e r n a t i v a s , q u e e m b o t a a

    s e n s i b i l i d a d e geral e impede, em toda p a r t e , a f o r m a ç ã o de

    uma c o n s c i ê n c i a c r í t i c a sobre a r e a I i d a d e " . ( 3 4 )

    Mas o que poderia ser m a i s u r g e n t e • criar m a t s e m a i s

    e m p r e g o s , a i n d a que seja i n d i f e r e n t e o que se p r o d u z a e para

    quem se p r o d u z a , o b j e t i v a n d o d i m i n u i r a m i s é r i a , ou

    qualificar de imediato a p r o d u ç ã o , c o l o c a n d o - a a s e r v i ç o da

    c o l e t i v i d a d e e n a l t e c e n d o a t a r e f a da r e c o n s t r u ç ã o da

    sociedade ?

    Para L. PIN6UELLI ROSA ( 3 5 ) , o Brasil c r e s c e e c o n ô m i c a ,

    demográfica e u r b a n a m e n t e , p D d e n d o - s e m u d a r o perfil de

    crescimento, o que não é simples por e n v o l v e r n e c e s s a r i a m e n t e

    *»pecto& p o l í t i c o s e c u l t u r a i s a r r a i g a d o s nas c a b e ç a s das

    P*fc&oa&, q u e & e h a b i t u a m em a m b i c i o n a r p a d r õ e s de vida e a

  • 031

    m a n t ê - l o s . E ' possível r e d u z i r o consumo t a m b é m no Brasil e

    p r o v a v e l m e n t e justiça social se dê c o m b i n a n d o r e d i s t r i b u i ç a o

    com c r e s c i m e n t o e c r e s c i m e n t o com r e d i s t r i b u i ç l o . Has é

    preciso as p e s s o a s v i v e r e m , terem um e m p r e g o (ainda que

    f a b r i c a n d o o b j e t o s d e s n e c e s s á r i o s e inúteis) e acima de tudo

    pararem de comer na lata de lixo.

    A m i s é r i a deve acabar i m e d i a t a m e n t e , m a s é n e c e s s á r i o

    redefinir os rumos da p r o d u ç ã o e inserir g r a d a t i v ã m e n t e no

    c r e s c i m e n t o , valores que o t r a n s f i g u r e m em d e s e n v o l v i m e n t o ,

    que e n v o l v e a noção do limite à economia e o f e r e c e uma nova

    s o c i e d a d e , na qual tão imprescindível q u a n t o se a l i m e n t a r ,

    habitar, se e d u c a r , cuidar da saúde, etc, seja ser livre, ser

    c r i a t i v o , ter identidade, e x e c u t a r o e x e r c í c i o da c i d a d a n i a e

    assim por d i a n t e .

    J. GALTUNG (36) p r o p õ e que partir das n e c e s s i d a d e s

    f u n d a m e n t a i s constitui e l e m e n t o indispensável para os e s t u d o s

    de d e s e n v o l v i m e n t o . M e s m o p o r q u e uma s o c i e d a d e só pode ser

    d e s e n v o l v i d a , quando os seres h u m a n o s são d e s e n v o l v i d o s » o

    que implica em a t e n d i m e n t o de n e c e s s i d a d e s m a t e r i a i s e nao-

    m a t e r i a i s , f i s i o l ó g i c a s e p s í q u i c a s . A s a t i s f a ç ã o de a l g u m a s

    n e c e s s i d a d e s não pode, e n t r e t a n t o , o b s t a c u l i z a r a s a t i s f a ç ã o

    de o u t r a s . Os indivíduos d e v e r i a m a u t o - d e f i n i r suas

    prioridades ( 3 7 ) , mesmo p o r q u e há as e s p e c i f i c i d a d e s de cada

    sociedade. (3B)

    A noção de d e s e n v o l v i m e n t o exige m u i t o m a i s do que

    crescimento e c o n ô m i c o r á p i d o . Exige avanço c o n t í n u o ,

    Prosperidade repartida e o e n r a i z a m e n t o da a t i v i d a d e

  • 035

    criativa, para que o processo alcance auto-sustentaçfto. (39)

    0 Brasil, maior economia do 3o. mundo, Ba. economia do

    mundo, país com riquezas naturais incomensuráveís, com uma

    imensa potencialidade, é um país que cavou sua dependência

    externa e sua crise a partir de decisões políticas tomadas

    desde o Brasil Império. As riquezas são e estão mal

    distribuídas, imensos recursos são desviados para o

    supérfluo enquanto que recursos insuficientes são destinados

    para atender às necessidades da população. Nesse contexto,

    encontra-se um atraso político e social suficientemente

    profundo para gerar inconformismo.

    E' necessária a reversão do processo concentrador de

    renda, bem como o estabelecimento de uma política de

    desenvolvimento (40) que envolva o ser humano como um todo, o

    ambiente e todos os seres humanos.

    Há inúmeras questões que podem ser abordadas para a

    análise do modus wiwendi da sociedade (principalmente da

    urbana, industrializada, consumista), mas foi preciso optar

    por uma... 0 desenvolvimento requer ENERGIA. Já o crescimento

    econômico sem fim requer energia sem fim. 0 modelo energético

    das sociedades industrializadas, sustentado em larga escala

    sobre recursos naturais não-renováveis, entra aqui como

    categor ia de anali se.

  • 0 3 3

    5. E N E R G I A

    "As p o l í t i c a s de e n e r g i a que serão a p l i c a d a s nospróximos dez anos d e c i d i r ã o a r e s p e i t o da m a r g e m de l i b e r d a d eque poderá usufruir uma s o c i e d a d e no ano 2 0 0 0 . Uma p o l í t i c ade baixo consumo de e n e r g i a permite uma grande v a r i e d a d e dem o d o s de vida e de c u l t u r a . A t é c n i c a m o d e r n a pode sere c o n ô m i c a em t e r m o s de e n e r g i a e assim deixa o c a m i n h o a b e r t opara d i f e r e n t e s o p ç õ e s p o l í t i c a s . Se, ao c o n t r á r i o d i s t o , umasociedade p r o n u n c i a a favor de um forte c o n s u m o de e n e r g i a ,e i a se verá e n t ã o o b r i g a t o r i a m e n t e d o m i n a d a . e m suae s t r u t u r a , pela t e c n o c r a c i a ; e, seja num r e g i m e c a p i t a l i s t aou s o c i a l i s t a , isto se t o r n a r á i n t o l e r á v e l . "

    I van I I Iich (41 )

    Sendo a e n e r g i a (do grego e n e r g i a , do latim e n e r g i a ) a

    m u s importante fonte de s o b r e v i v ê n c i a do h o m e m e do

    a m b i e n t e , a própria p o s s i b i l i d a d e de realização de t r a b a l h o ;

    tendo e n e r g i a se t o r n a d o o c o n c e i t o - c h a v e da f í s i c a no século

    xix e fazendo p a r t e de toda a história s o c i a l ; e s t a n d o a

    energia r e l a c i o n a d a com t o d a s as a t i v i d a d e s p r o d u t i v a s , sendo

    um componente do s i s t e m a e c o n ô m i c o e s o c i a l , não é de

    estranhar que seja o b j e t o de reflexão da s o c i o l o g i a .

    A questão e n e r g é t i c a se articula e s t r e i t a m e n t e com a

    questão do m o d e l o de c r e s c i m e n t o , sendo possível a t r a v é s

    daquela questionar o p a r a d i g m a d e s t e . Q u e s t i o n a r a f i n i t u d e

    dos recursos m a t e r i a i s , a d e t e r i o r a ç ã o do a m b i e n t e e a

    «nsustentabiI idade da s o c i e d a d e de c o n s u m o . ( 4 2 )

    "A energia é a c h a v e para entender estas i n t e r a ç õ e s : um

    t>stema baseado em e n e r g i a s n ã o - r e n o v ó v e i s c a t a l i s a uma s é r i e

    ov reações em cadeia que levam, i n e v i t a v e l m e n t e , à d e s t r u i ç ã o

    °o meio a m b i e n t e , à e x a u s t ã o dos r e c u r s o s n a t u r a i s e, em

  • 034

    última análise, ã crise econômica". (43)

    O 1o. princípio da Termodinâmica (J. P. Joule), também

    pode ser considerado como a lei da conservação da massa e da

    energia, tratando apenas do balanço geral da energia.

    O 2o. princípio da Termodinâmica (Sadi Carnot), porém,

    explica existir uma tendência no universo para a "forma

    calor" da energia, que é uma forma de "degradação" da

    energia. Introduz o conceito de entropia e seu constante

    aumento no universo, no sistema solar, até sua "morte

    Térmica* .

    T a m b é m o p l a n e t a c a m i n h a d e uma e n t r o p i a m e n o r p a r a uma

    e n t r o p i a m a i o r . E i s um d o s d a d o s p a r a a r e v i s ã o da c r e n ç a no

    p r o g r e s s o i l i m i t a d o ! n ã o h á r e c u r s o s n a t u r a i s , n ã o há

    ener g i a s u f i c i e n t e p a r a a i m p r u d ê n c i a , o d e s p e r d í c i o . A

    e n t r o p i a , a s s i m , se t r a n s f o r m o u e m a r g u m e n t o p o l í t i c o e em

    alerta d a s g e r a ç õ e s a t u a i s p a r a c o m as f u t u r a s . S e a e n t r o p i a

    já é um f e n ô m e n o f í s i c o i r r e v e r s í v e l , por q u e i n s i s t i r na

    u t i l i z a ç ã o de m a i s e m a i s e n e r g i a m a t e r i a l ? ( 4 4 ) C o m o d i s s e

    t. P R I G O G I N E , os f e n ô m e n o s d e c r e s c i m e n t o da e n t r o p i a

    d e l i m i t a m n o s s o p o d e r . ( 4 5 ) A d e m a i s e n e r g i a p a r a q u e e p a r a

    quem ?

    A e s p o l i a ç ã o a m b i e n t a l e e n e r g é t i c a se d e u g r a d a t i v a e

    i n c e s s a n t e m e n t e , s e n d o q u e na A m é r i c a L a t i n a , a h i s t ó r i a do

    •mb i e n t e se d i v i d e em c i n c o f a s e s , s e g u n d o L. V I T A L E i

    "• +a&e - o m e i o n a t u r a l a n t e s da a p a r i ç ã o do h o m e m ;

    «•• *a&e - 3 era da i n t e g r a ç ã o do h o m e m ( p o v o s c a ç a d o r e s ,

    P e c a d o r e s e c o l e t o r e s ) a n a t u r e z a *

  • D35

    3a. fase - início da alteração dos e c o s s i s t e m a s

    I atinoamericanos e do processo de controle de energia. As

    cidades possuíam unidade indissolúvel com o campo, não tinham

    alto grau de consumo energético e nem eram um conglomerado

    importador de energia.

    Essa fase começa com a revolução dos povos agricultores

    e metalúrgicos que alcança sua culminação nas culturas maia,

    inca e asteca.

    4a. fase - inicia com a colonização espanhola e se estende

    até a industrialização. 0 extermínio de grande parte da

    população indígena afetou seriamente os e c o s s i s t e m a s , porque

    esses povos haviam conseguido uma substancial integração com

    Ü ambiente. Enquanto as cidades indígenas tinham -Fluxos

    energéticos próprios, as cidades dos colonizadores não os

    tinham, acarretando dependência de energia externa.

    Ba. fase - a partir de 1 9 3 0 , a sociedade índustriaI-urbana

    desencadeou a crise ambiental na América-Lattna. Deu-se

    tnício a um elevadíssimo consumo de energia.

    No modelo atual de civilização e de progresso, a

    qualidade de vida está associada ao consumo de e n e r g i a ( 4 6 ) ,

    •sto é, mais energia é igual a mais a l i m e n t a ç ã o , m o r a d i a ,

    saúde, lazer, felicidade, bem estar, Essa noção precisa ser

    '«•lat i v liada e esclarecida.

    Um modelo c»viIizatório "energívoro" vinha se

    ro*unaizando cada vez mais intensamente desde as primeiras

  • 0 3 6

    d é c a d a s d e s t e s é c u l o no m u n d o t o d o . No Brasil a -fase da

    i n d u s t r i a l i z a ç ã o se d e s e n v o l v e u ainda m a i s v e e m e n t e e

    r a p i d a m e n t e d u r a n t e o g o v e r n o de J u s c e l i n o K u b i t s c h e k , na

    década de 5 0 - f a s e d e s e n v o l v i m e n t i s t a - , p r i n c i p a l m e n t e no

    que diz r e s p e i t o à i n d ú s t r i a a u t o m o b i l í s t i c a . 0 B r a s i l

    p r e t e n d i a i g u a l d a d e c o m os p a í s e s já i n d u s t r i a l i z a d o s . E essa

    p r o p u l s ã o da i n d u s t r i a l i z a ç ã o se d a r i a com c r e s c i m e n t o de

    oferta de e n e r g i a , a p a r t i r do p e t r ó l e o e da

    h i d r e l e t r ic i d a d e .

    0 c o n s u m o de d e r i v a d o s de p e t r ó l e o , que no B r a s i l só

    começou em 1 9 1 8 , c r e s c e u d é c a d a a d é c a d a . N o s a n o s 3 0 o

    petróleo era t o d o i m p o r t a d o e em 1 9 3 9 se fez a p r i m e i r a

    d e s c o b e r t a c o m e r c i a l de p e t r ó l e o no Brasil em L o b a t o , no

    R e c ô n c a v o B a i a n o . Em 1 9 5 3 foi c r i a d a a P e t r o b r á s , s e n d o q u e a

    produção nacional de p e t r ó l e o a u m e n t o u de 2 0 . 0 0 0 t o n e l a d a s em

    1950 para 4,5 m i l h õ e s de t o n e l a d a s em 1 9 6 4 .

    A partir de 1 9 6 8 , no e n t a n t o , a p o l í t i c a de

    a u t o s u f i c i ê n c i a p e t r o l í f e r a foi s u b t i t u í d a pelo a j u s t a m e n t o

    do setor e n e r g é t i c o as c o n d i ç õ e s v i g e n t e s no m e r c a d o

    i n t e r n a c i o n a l , A o p ç ã o do r e g i m e m i l i t a r foi : do a b a n d o n o

    c r e s c e n t e ( a i n d a q u e nSo t o t a l ) da e x p l o r a ç ã o de p e t r ó l e o em

    território nacional ao c r e s c e n t e a u m e n t o da d e p e n d ê n c i a

    •«terna, uma vez que o m e r c a d o i n t e r n a c i o n a l o f e r e c i a

    Petróleo a b u n d a n t e e b a r a t o . P a r a l e l a m e n t e a d í v i d a e x t e r n a

    D^a&iieira inchava e t o m a v a p r o p o r ç õ e s i n u s i t a d a s .

    Não a p e n a s o g o v e r n o e o e m p r e s a r i a d o b r a s i l e i r o , m a s

    *»m os de t o d o s os p a í s e s i n d u s t r i a l i z a d o s , e n v e r e d a d o s pelo

  • 037

    caminho suicida da crescente utilização deste recurso nSo-

    renovável, estava absolutamente convencido do sucesso da

    marcha do "milagre" econômico, cujo "carro-chefe" era a

    indústria automobilística.

    Talvez o "sucesso" estivesse de fato garantido não fosse

    a criação da OPEP (Organização dos Países Produtores de

    Petróleo) em 1960. Esses países que detinham em 1971 cerca da

    metade da produção mundial de petróleo, deflagraram em 1973

    uma crise energética declarando que a "era" do petróleo

    abundante e barato havia chegado ao fim. (47) A OPEP passou

    então a fixar cs preços do petróleo.

    Mas, e o Brasil ? Nesse ano de 1973, o país importava

    80% do petróleo consumido e em 1978» esse número aumentava

    para 82,4%. "As elevadas importações do combustível fóssil e

    B decisão de mantê-los como base do modelo energético foram

    •t principais causas dos prolongados desequilíbrios do nosso

    balanço de pagamentos." (48)

    A conseqüência à atitude da OPEP deveria ser a

    inauguração de uma nova ordem econômica mundial, menos

    predadora e poluidora e que considerasse as potencialidades

    energéticas renováveis de cada país e região.

    0 que ocorreu, contrariamente, foi a "adaptação" de cada

    pais à nova situação e o prosseguimento do estilo de vida já

    •ntfto vigente e que tem no "progresso" ilimitado sua meta

    "»• i o r ,

    fcntre 1978 e 1 9 8 3 , o c o n s u m o do ó l e o c o m b u s t í v e l e da

    ina foi r e d u z i d o d r a s t i c a m e n t e no B r a s i l , c r e s c e n d o o da

  • 0 3 8

    eletricidade, do carvio e do álcool.

    Mas se a crise energética brasileira estava concentrada

    no campo dos combustíveis automotivos, era oportunidade de

    procurar outros caminhos. N&o obstante, a política de

    transportes persistiu incentivando a estrutura rodoviária

    (49) em detrimento da -ferroviária (50) e da hidrovia,

    insistiu nos transportes individuais em detrimento dos

    coletivos.

    Nesse sentido -foi criado o Programa Nacional do álcool

    (Próalcool) já em 1973 com a finalidade de promover a

    substituição de combustíveis derivados do petróleo, que

    somente em 1977 teve um aumento significativo na produção do

    álcool, por falta de interesse dos usineiros (até 1975 era

    alto o preço do açúcar).Mas "a Secretaria de TecnologiaIndustrial, já em meados de 1975, havia dominado soluções quelevariam o Brasil a uma rápida auto-suficiência emcombustíveis líquidos renováveis, adequados a substituiçãodo» derivados de petróleo que vinham tendo utilizados namovimentação da frota automotora nacional. As soluçõespropostas não foram, entretanto, implementadas nas dimensõesadequadas e surgiram, em seu lugar, "pacotes" de gigantescosprojetos, sem qualquer relação direta com a crise energéticabrasileira, como o programa nuclear, a construção das grandesusinas hidrelétricas, entre outros, todos de difíciljustificação. Criou-se assim forte componente adicional paraengrossar a dívida externa". (51)

    L. PINGUELLI ROSA, em seu depoimento, afirma que o

    álcool resolveu, na época da crise do petróleo, o problema

    dos automóveis particulares, o que nío chegava a ser uma

    prioridade. Mas foi efetivo, funcionou e agora se tornou um

    Problema, pelo fato das opções nao terem sido bem

    • Ministradas, ficando o país com excesso de gasolina e falta

    •• »lcool

  • 0 3 9

    P a r a o r e g i m e m i l i t a r o c h o q u e do p e t r ó l e o s e r v i u c o m o

    a r g u m e n t o p a r a i n t e n s i f i c a r o i n v e s t i m e n t o no s e t o r e l é t r i c o ,

    a p e s a r do p a í s n&o ter s i d o i m p o r t a d o r de p e t r ó l e o p a r a

    q e r a ç ã o de e n e r g i a e l é t r i c a , c o m o o c o r r i a e m v á r i o s o u t r o s

    pai s e s .

    No início da d é c a d a de 70» e n t ã o , o g o v e r n o d e c i d i u por

    g i g a n t e s c o s p r o