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USO DE FERRAMENTAS DE BIOINFORMÁTICA E SISTEMATIZAÇÃO MATEMÁTICA NO ESTUDO DOS SISTEMAS DE TRANSPORTE DE CÁTIONS EM FUNGOS E PLANTAS LUIZ CESAR ALI NOVAES FARIA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE - UENF CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ NOVEMBRO 2006

NO ESTUDO DOS SISTEMAS DE T C F - uenf.br · Aos meus irmãos de sangue: Emano, Mônica e Pim. Aos meus irmãos de coração: Lucio, Alex, Paulo, ... estudo de sistemas de transporte

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USO DE FERRAMENTAS DE BIOINFORMÁTICA E SISTEMATIZAÇÃO MATEMÁTICA

NO ESTUDO DOS SISTEMAS DE TRANSPORTE DE CÁTIONS EM FUNGOS E

PLANTAS

LUIZ CESAR ALI NOVAES FARIA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE - UENF

CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ

NOVEMBRO 2006

USO DE FERRAMENTAS DE BIOINFORMÁTICA E SISTEMATIZAÇÃO MATEMÁTICA

NO ESTUDO DOS SISTEMAS DE TRANSPORTE DE CÁTIONS EM FUNGOS E

PLANTAS

LUIZ CESAR ALI NOVAES FARIA

Tese apresentada ao Centro de

Biociências e Biotecnologia da

Universidade Estadual do Norte

Fluminense, como parte das exigências

para a obtenção do título de Mestre em

Biociências e Biotecnologia.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE - UENF

CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ

NOVEMBRO 2006

USO DE FERRAMENTAS DE BIOINFORMÁTICA E SISTEMATIZAÇÃO MATEMÁTICA NO ESTUDO DOS SISTEMAS DE TRANSPORTE DE CÁTIONS EM FUNGOS E

PLANTAS

LUIZ CESAR ALI NOVAES FARIA

Tese apresentada ao Centro de Biociências e Biotecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Biociências e Biotecnologia.

Aprovada em 10 de novembro de 2006. Comissão Examinadora: _______________________________________________ Prof. Carlile Campos Lavor (Dr., Engenharia de Sistemas) – UNICAMP _______________________________________________ Prof. Carlos Jorge Logullo de Oliveira (Dr., Embriogênese de Invertebrados e Metabolismo Energético) – UENF _______________________________________________ Prof. Enrique Medina-Acosta (Dr., Parasitologia Médica e Molecular) – UENF _______________________________________________ Prof. Victor Martin Quintana Flores (Dr., Biociências e Biotecnologia) – UENF

(revisor) _______________________________________________ Prof. Arnoldo Rocha Façanha (Dr., Transporte Iônico e Bioenergética) – UENF

(orientador) _______________________________________________ Prof.ª Anna L. Okorokova-Façanha (Dra., Genética Molecular e Bioquímica de Eucariotos Inferiores) – UENF

(co-orientadora)

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus orientadores, Arnoldo e Anna, por todo o incentivo que

sempre me deram e, principalmente, por serem amigos que me apoiaram, me

criticaram e me elogiaram na hora certa, fazendo com que eu crescesse como

pessoa e como aluno.

À Mestre Inga Gonçalves, por ser sempre uma boa influência e uma boa

amizade. A ela e a Michele Catunda, obrigado pelos dados de cinética das bombas

de H+ em cana-de-açúcar.

Ao Doutor Alessandro Coutinho Ramos, pela amizade, pelo incentivo e pelo

companheirismo. Muito obrigado pelos dados dos fluxos de H+ em fungo micorrízico.

Que bons ventos te guiem nas terras d´além mar.

Ao Professor Tarcísio Thiebaut, pelos ensinamentos e pelo CD do Chico

Buarque.

Ao Professor Carlile Lavor, pela orientação e apoio no campo da matemática.

À Mestre Ana Cristina Dias Machado Lustozza pela colaboração nos estudos

comparativos de localização de transportadores na levedura de fissão.

Aos Professores Fábio Lopes Olivares e Gonçalo Apolinário de Souza Filho

por todo apoio no acesso ao banco de dados do projeto SUCEST.

Aos meus pais, por me apoiarem até mesmo nas coisas mais estranhas e por

me fazerem perseverar.

À minha madrinha, Maria, por tudo.

Aos meus irmãos de sangue: Emano, Mônica e Pim.

Aos meus irmãos de coração: Lucio, Alex, Paulo, Emílio, Lucas, Raul, Daniel,

Ygor, Eldo, Fabrízio, Predileta, Júnior, Gabriela, Amarelo, Antônio Leandro, João

Victor, Felipe, Luiz Cláudio, Sheylla, Rogato, Rubia, Ivana, João, Nelson e Mary.

Aos meus irmãos de insanidade: Ismael, Mariana, Luã, Tunay, Jão, Diogo,

Tonim, David, Rafael, Hamilton, Marcele, Guilherme, Dimas e Nunes.

Aos meus amigos da Equipe de Música do Projeto Túnel do Tempo e da

Banda “E Agora José?”.

À Aline, minha noiva, pela amizade, pelo amor e pelo carinho.

E obrigado a Deus, que me deu paciência. Pois se tivesse me dado força, eu

teria quebrado tudo.

"Entender a natureza é como aprender a

jogar xadrez somente assistindo a partida"

Richard Feynmann

vi

SUMÁRIO

Índice de Tabelas ...........................................…...............................................

Índice de Figuras ..............................................................................................

Lista de Abreviações ........................................................................................

RESUMO ..........................................................................................................

ABSTRACT ......................................................................................................

1- INTRODUÇÃO .............................................................................................

1.1- Sistematização matemática ............................................................

1.2- Utilização de ferramentas de bioinformática ..................................

1.3- Transportadores de membrana ......................................................

1.4- Estudo do transporte iônico em fungos e plantas ..........................

1.5- O modelo biológico: Schizosaccharomyces pombe .......................

1.6- Fungo Micorrízico como modelo para o estudo do fluxo de H+ ......

1.7- Estudos do transporte de H+ em cana-de-açúcar ..........................

2- OBJETIVOS .................................................................................................

3- MATERIAIS E MÉTODOS ...........................................................................

3.1- Transportadores de cátions em S. pombe .....................................

3.1.1- Mineração de dados em bancos de dados .........................

3.1.1.1- Coleta de seqüências de transportadores de cátions

em Saccharomyces cerevisiae .................................................

3.1.1.2- Busca com a ferramenta BLAST .................................

3.1.1.3- Busca por meio de palavras-chave ..............................

3.1.1.4- Coleta de seqüências de transportadores de cátions

em outros organismos ...............................................................

3.1.2- Alinhamento de seqüências ................................................

3.1.3- Identificação de segmentos transmembrana .......................

3.1.4- Análises filogenéticas ..........................................................

3.1.5- Classificação da informação ................................................

3.2- Análise do fluxo de H+ em hifas de Gigaspora margarita ...............

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3.2.1- Aplicação da Transformada Discreta de Fourier .................

3.3- Análise dos transportadores de H+ em Saccharum sp. L. ..............

3.3.1- Mineração de dados ............................................................

3.3.2- Ajuste do número de leituras por tecido ..............................

4- RESULTADOS .............................................................................................

4.1- Transportadores de cátions em Schizosaccharomyces pombe .....

4.2- Fluxo de H+ em hifas de Gigaspora margarita ...............................

4.3- Transporte de prótons em Saccharum sp. L. .................................

5- DISCUSSÃO ................................................................................................

5.1- Transportadores de cátions em Schizosaccharomyces pombe .....

5.1.1- Transportadores de sódio (Na+) ..........................................

5.1.2- Transportadores de potássio (K+) ........................................

5.1.3- Transportadores de cálcio (Ca2+) ........................................

5.1.4- Transportadores de magnésio (Mg2+) .................................

5.1.5- Transportadores de metais pesados ...................................

5.1.6- Visão geral sobre os Transportadores de cátions em

Schizosaccharomyces pombe .......................................................

5.2- Análise dos fluxos de H+ na interação micorrízica arbuscular ........

5.3- Expressão e Atividade dos Transportadores de H+ em

Saccharum sp. L. ..................................................................................

6- CONCLUSÕES ............................................................................................

7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................

ANEXO I - Leitura dos fluxos de H+ por micro-sonda vibrátil

ANEXO II - Análise bioquímica das bombas de H+

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1.1. Doenças de Homo sapiens ligadas à presença de

transportadores de cátions deficientes e os genes homólogos

correspondentes encontrados em S. pombe .................................................

Tabela 4.1. Transportadores de cátions no genoma de S. pombe e S.

cerevisiae .......................................................................................................

Tabela 4.2. Classificação (TC) dos produtos gênicos de S. pombe ..............

Tabela 4.3. Identidade de aminoácidos (%) entre os membros da família

MIT, de transportadores de íons metálicos em S. pombe (Sp) e S.

cerevisiae (Sc) ................................................................................................

Tabela 4.4. Identidade de aminoácidos (%) entre os membros da família

Trk, de transportadores de potássio em S. pombe (Sp) e S. cerevisiae (Sc).

Tabela 4.5. Identidade de aminoácidos (%) entre os membros da família

CPA1 de S. pombe (Sp) e S. cerevisiae (Sc) .................................................

Tabela 4.6. Identidade de aminoácidos (%) entre os transportadores de

Na+ de S. pombe (Sp) e H. sapiens (Hs) .......................................................

Tabela 4.7. Identidade de aminoácidos (%) entre os transportadores de

Na+ de S. pombe (Sp) e A. thaliana (At) ........................................................

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 4.1. Alinhamento dos dois primeiros segmentos transmembrana dos

transportadores da família MIT de S. pombe .................................................

Figura 4.2. Dendograma construído com transportadores de Mg2+ de

espécies de fungos, plantas, mamíferos e uma bactéria ...............................

Figura 4.3. Dendograma construído com transportadores de Na+ de

espécies de fungos, mamíferos, um invertebrado e uma planta ......................

Figura 4.4. Análise de domínios transmembrana de transportadores CPA1.

Figura 4.5. Análise do espectro de potência das oscilações de H+ em hifas

de Gigaspora margarita em meio com fosfato e sem adição de fluido

apoplástico (controle) .....................................................................................

Figura 4.6. Análise do espectro de potência das oscilações de H+ em hifas

de Gigaspora margarita em meio com fosfato e adição de 10μL de fluido

apoplástico .....................................................................................................

Figura 4.7. Análise do espectro de potência das oscilações de H+ em hifas

de Gigaspora margarita em meio com fosfato e adição de 20μL de fluido

apoplástico .....................................................................................................

Figura 4.8. Análise do espectro de potência das oscilações de H+ em hifas

de Gigaspora margarita em meio sem fosfato e sem adição de fluido

apoplástico (controle) .....................................................................................

Figura 4.9. Análise do espectro de potência das oscilações de H+ em hifas

de Gigaspora margarita em meio sem fosfato e adição de 10μL de fluido

apoplástico .....................................................................................................

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Figura 4.10. Análise do espectro de potência das oscilações de H+ em

hifas de Gigaspora margarita em meio sem fosfato e adição de 20μL de

fluido apoplástico ............................................................................................

Figura 4.11. Ocorrência de Seqüências Expressas (ESTs) para a P-H+-

ATPase, V-H+-PPiase e as subunidades A e B da V-H+-ATPase

........................................................................................................................

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xi

LISTA DE ABREVIAÇÕES

ABC – “ATP-binding cassette”, domínio ligador de ATP ACMA – 9-amino-6-cloro-2-metoxiacridina ATP – adenosina trifosfato BLAST – “Basic Local Alignment Search Tool”, Ferramenta de Busca por

Alinhamentos Locais CaCA – “Ca2+:cation antiporter”, Tranportador antiporte Ca2+:cation CCC – “Cation-chloride cotransporter”, Co-transportador cátion-cloreto CDF – “Cation diffusion facilitator”, Facilitador de difusão de cátion CPA1 – “Monovalent cation:proton antiporter-1”, Transportador antiporte cátion

monovalente:próton-1 CPA2 – “Monovalent cation:proton antiporter-2”, Transportador antiporte cátion

monovalente:próton-2 Ctr2 – “Copper transporter-2”, Transportador de cobre-2 DNA – Ácido desoxirribonucléico EC – “Enzyme Commission”, Comissão de Enzima EST – “Expressed Sequence Tags”, Identificadores de Seqüências Expressas FeT – “Low-affinity Fe2+ transporter”, Transportador de Fe2+ de baixa afinidade GO – “Gene Ontology”, Ontologia gênica HMT – “Heavy Metal Transporter”, Transportador de Metal Pesado KUP – “K+ Uptake”, Influxo de K+

MDR – “multidrug-resistant”, resistência a drogas múltiplas MHP – “Metal homeostasis protein”, Proteína de homeostase de metal Mid1 – “The Yeast Stretch-Activated, Cation-Selective, Ca2+ Channel”, Canal de

Ca2+, cátion-seletivo, ativado por tensão das leveduras MIT – “CorA Metal Ion Transporter”, Transportador de íon metálico NCBI – “National Center for Biotechnology Information”, Centro Nacional para

Informação em Biotecnologia NiCoT – “Ni2+-Co2+ Transporter”, Transportador Ni2+-Co2+

NLM – “National Library of Medicine”, Biblioteca Nacional de Medicina NMR – nuclear magnetic resonance, ressonância magnética nuclear Nramp – “Metal ion (Mn2+-iron) transporter”, Transportador de íon metálico (Mn2+-

ferro) OFeT – “Oxidase-dependent Fe2+ transporter”, Transportador de Fe2+ dependente de

oxidase ORF – “Open Reading Frame”, Seqüência aberta de leitura P-ATPase – ATPase tipo P SIB – “Swiss Institute of Bioinformatics”, Instituto Suíço de Bioinformática SIT – “Siderophore-Iron Transporter”, Transportador Sideroporo-Ferro TC – “Transport Commission” Trk – “K+ transporter”, Transportador de K+

VIC – “Voltage-gated ion channel”, Canal iônico acoplado à voltagem ZIP – “Zinc (Zn2+)-iron (Fe2+) permease”, Permease zinco-ferro

xii

RESUMO

A conclusão de diversos projetos genoma tem gerado uma crescente

aplicação de ferramentas de bioinformática para ampliar o acesso e processar as

informações armazenadas em bancos de dados. Paralelamente, os avanços

científicos, principalmente na área biológica, têm possibilitado a geração de grandes

quantidades de dados e a configuração de sistemas cada vez mais complexos, os

quais demandam um nível de sistematização matemática capaz de explorar a

informação neles contida. Neste trabalho, estas duas visões foram empregadas no

estudo de sistemas de transporte transmembranar, na compilação de dados

experimentais obtidos anteriormente pela equipe. Os transportadores de membrana

são peças-chave no metabolismo celular, atuando nos processos de homeostase e

nutrição. Estas proteínas foram abordadas sob a ótica de três temas distintos neste

trabalho: i) classificação filogenética e funcional das proteínas transportadoras de

cátions presentes no genoma da levedura de fissão, Schizosaccharomyces pombe,

através de data mining em diferentes bancos de dados (Swiss-Prot, GeneDB S.

pombe, NCBI) e análises comparativas entre as seqüências obtidas, utilizando-se o

ClustalW e Phylodendron; ii) a análise dos fluxos de H+ em hifas do fungo micorrízico

Gigaspora margarita, por meio da aplicação de Transformadas Discretas de Fourier;

e, iii) estudo comparativo da expressão e atividade dos transportadores de H+ em

Saccharum sp. L., utilizando dados obtidos do banco de dados SUCEST e dados

relativos à atividade catalítica e ao transporte de prótons através da membrana. Os

resultados obtidos são discutidos tendo em vista o desenvolvimento de futuras

estratégias para investigação destes sistemas, que possibilitem a expansão do uso

destas técnicas, bem como a confirmação dos modelos e hipóteses formulados

neste campo.

Palavras-chave: Biologia computacional, H+-ATPase vacuolar, H+-pirofosfatase,

transporte iônico, FMA, cana-de-açúcar

xiii

ABSTRACT

The conclusion of various genome projects has generated an increasing need

for bioinformatics tools to extend the access and use of the information stored in

databases. Parallel to this, scientific advances, mainly in the biological area, have

generated data that delineate very complex systems which have demanded a higher

level of mathematical systematization to elaborate and explore the information hidden

in such complexity. In this work, these two approaches were used to study

transmembranar transport systems for the compilation of experimental data

previously obtained by our group. Membrane transporters are key protagonists of

cellular metabolism, as they play a key role in both homeostasis and nutrition

processes. Three distinct issues have been addressed in this work: i) a phylogenetic

and functional classification of cation transporters encoded in the genome of the

fission yeast Schizosaccharomyces pombe, by means of data mining in different

databases (Swiss-Prot, GeneDB S. pombe, NCBI) and comparative analysis

between the sequences using the ClustalW and Phylodendron softwares; ii) the

analysis of H+ fluxes from Gigaspora margarita mycorhizal fungal hyphaes by means

of the application of Fast Fourier Transforms; and, iii) a comparative study of the

expression and activity of H+ transporters from Saccharum spp. L., which used data

obtained from the SUCEST database and from catalytic activity and proton transport

across membrane vesicles. The results obtained are discussed in light of the

development of future strategies for investigation of these systems aiming to expand

the potential of these techniques as well as to confirm the models and hypotheses

formulated in this field.

Keywords: computational biology, vacuolar H+-ATPase, H+-pyrophosphatase, ion

transport, AMF, sugarcane

1

1- INTRODUÇÃO

1.1- Sistematização matemática

Tornam-se cada vez mais patentes os benefícios das colaborações entre

cientistas de diferentes áreas no desenvolvimento de projetos interdisciplinares e a

necessidade de que os pesquisadores resgatem a noção mais abrangente da

ciência. O que se observa atualmente é uma retomada, ainda que tímida, do

reconhecimento de que a utilização apropriada da matemática pode auxiliar na

interpretação de qualquer tipo de dado (Cohen, 2004). No estudo de mecanismos de

transdução de sinal, as aplicações incluem a modelagem da função de canais

mecanossensíveis, o cálculo do fluxo de cálcio em compartimentos subcelulares e a

predição computacional dos resíduos-chave em superfícies de interação de

proteínas (Ray et al., 2004). Além da utilização da matemática em outros campos da

biologia como ecologia, evolução e filogenia, podemos destacar ainda a aplicação

de modelos probabilísticos gráficos à organização de dados conflitantes gerados por

seqüenciamento automático em larga-escala de projetos genoma e proteoma

(Friedman, 2004), e o emprego de equações diferenciais para averiguar se

processos dinâmicos simples podem construir uma ponte sobre o presumido

“abismo de informação” entre a quantidade de informação nos genomas dos

organismos e a grande variedade de padrões encontrados na natureza (Cho, 2004).

Neste trabalho buscamos utilizar conhecimentos da área matemática e

computacional para o estudo de problemas biológicos relacionados aos

transportadores de cátions de fungos e plantas.

1.2- Utilização de ferramentas de bioinformática

O uso de uma abordagem bioinformática na apreciação de um problema é de

grande importância, visto que com o computador o pesquisador pode lidar com

grandes quantidades de dados mais facilmente, possibilitando sondar a complexa

dinâmica da natureza através de programas especiais (Luscombe et al., 2001),

2

gerando eletronicamente informação relevante que pode ser utilizada para melhor

formulação de novas hipóteses, experimentos e modelos.

A bioinformática é classicamente definida como o conjunto de abordagens

computacionais utilizadas no armazenamento e busca, bem como na análise ou na

simulação, da composição e/ou da estrutura das biomoléculas (Counsell, 1999). Em

outras palavras, é a aplicação da tecnologia de informática na organização e no

entendimento, em larga escala, da informação associada à biologia molecular

(Luscombe et al., 2001), bem como à bioquímica e à biologia celular. Existe uma

vasta quantidade de dados sendo gerados por meio de técnicas de seqüenciamento

de alta processividade, estimulando o surgimento de novos recursos computacionais

para o gerenciamento, manutenção e acesso aos bancos de dados, e novos

serviços que explorem a informação biológica nestes contida (Venkatesh, 1999).

A bioinformática não se limita apenas à análise de seqüências genéticas. Sua

utilização se expandiu e se diversificou no que se chama de era pós-genômica,

abrangendo outros aspectos das biomoléculas. Um desses avanços foi no sentido

de avaliar as funções e associações dos genes através da presença de domínios

específicos, campo da bioinformática conhecido como genômica funcional (Counsell,

1999). Ainda, alguns campos da biologia que precedem a bioinformática utilizam-se

dos novos recursos, como a genômica comparativa, que analisa as diferenças e

similaridades entre os genomas de múltiplas espécies e vem sendo utilizada na

construção de árvores taxonômicas e a transcriptômica, que estuda a expressão dos

genes de um organismo em diferentes estágios do seu desenvolvimento, nos

diferentes tecidos e em diferentes condições (Counsell, 1999). Além disso, diversas

destas disciplinas são utilizadas em conjunto com outras – bancos de dados sobre

diagnósticos e sintomas de doenças, bem como sobre tratamentos e efeitos

colaterais de drogas, entre outros experimentos biomédicos – para o

desenvolvimento e aperfeiçoamento de drogas utilizadas no combate a doenças.

Outro importante campo que surge destes estudos é a farmacogenômica, que

estuda como o perfil genético de um indivíduo afeta a resposta do corpo às drogas.

No presente trabalho, utilizamos a genômica funcional e a genômica

comparativa para identificar genes que codificam proteínas transmembranares que

atuam como transportadores de cátions.

3

1.3- Transportadores de membrana

A membrana plasmática define o limite entre a célula e o meio externo,

desempenhando funções de percepção do ambiente, manutenção da homeostase e

proteção da maquinaria celular. A membrana é constituída, basicamente, por uma

dupla camada de fosfolipídios, além de proteínas periféricas e integrais, e se

comporta como um ‘mosaico fluido’. Sua função de proteger o conteúdo celular

decorre tanto por constituir uma barreira físico-química, como da permeabilidade

seletiva, que permite criar e manter as condições adequadas para que as reações

metabólicas ocorram. Tal característica se deve à presença de proteínas que são

capazes de regular a entrada e saída de substâncias, bem como perceber as

condições do meio externo. Evolutivamente, essas proteínas sensoriais originaram

os mecanismos de sinalização celular e há evidências de que foi a partir de sensores

e sinalizadores transmembranares que surgiram os primeiros transportadores,

responsáveis pela aquisição de nutrientes através da membrana plasmática (Van

Belle e André, 2001). Os transportadores de membrana cumprem esta e outras

funções essenciais à vida, como o controle osmótico, indispensável à própria

manutenção da integridade da bicamada lipídica, e a exclusão ou

compartimentalização de substâncias indesejáveis. No contexto evolutivo, a

formação de endossomas, lisossomas, vacúolos e de outros compartimentos

intracelulares, como o retículo endoplasmático, que originou a carioteca que protege

o genoma nuclear, além de fenômenos endossimbióticos que originaram

mitocôndrias, cloroplastos e hidrogenossomos; elevaram as células proto-

eucarióticas a um nível de complexidade onde as trocas de íons e outras

substâncias passaram a ocorrer também entre estes compartimentos e o citoplasma.

Tal compartimentação do metabolismo se concretizou por meio de uma grande

diversificação nas proteínas transportadoras, nas células eucariontes, o que, por sua

vez, foi vantajoso para estes organismos por aumentar a eficiência de tarefas que

passaram a ficar organizadas espacialmente nas organelas.

A passagem de pequenas moléculas não carregadas através da membrana

pode ocorrer por simples difusão, através da bicamada lipídica. Contudo, o

transporte realizado por proteínas se faz necessário na maioria dos casos. O

transporte mediado por proteínas pode ocorrer na forma de transporte ativo, que é

4

dependente de energia e produz gradientes de concentração de substrato e/ou de

potencial elétrico. Estes gradientes produzidos por meio de sistemas de transporte

primarios são utilizados para a energização dos sistemas de transporte secundário.

Estima-se que no genoma de um dado organismo aproximadamente 10% dos

genes existentes codifiquem proteínas envolvidas no transporte transmembrana

(Saier, 1999). Isso que enfatiza a importância de sua caracterização para se

entender melhor os processos biológicos ligados ao metabolismo energético e à

estruturação da célula. Considerando-se, ainda, a importância do controle do pH

celular, bem como a requisição de íons específicos para o funcionamento de

determinadas proteínas, o transporte de cátions assume um papel de destaque

neste contexto. Cátions, como cálcio e potássio, têm papel central em diversas vias

de sinalização celular. As cascatas de sinalização desencadeadas por cálcio são

fenômenos ubíquos no mundo biológico. Este íon atua na regulação de diferentes

processos celulares, principalmente atuando como ‘segundo mensageiro’ nos mais

diversos organismos (Berridge, 2005; Plieth, 2005; Brette et al., 2006), em conjunção

com outras moléculas da cascata de sinalização (Patterson et al., 2005; Borodinsky

e Spitzer, 2006; Zhang e Li, 2006). Em algumas situações o cálcio também pode

assumir função de primeiro mensageiro (Breitwieser, 2006). Outro íon que possui

papel destacado é o potássio. Ele está associado ao controle do volume celular

(Strange et al., 2006) e, juntamente com o cloro, atua na sinalização do processo de

apoptose (Lang et al., 2005). Além disso, o potássio é um importante íon para

células excitáveis, como neurônios, músculos lisos e células beta do pâncreas

(Teramoto, 2006; Levitan, 2006; MacDonald et al., 2005), e também regula diversos

processos na célula vegetal (Ashley et al., 2006).

1.4- Estudo do transporte iônico em fungos e plantas

O estudo do transporte iônico em fungos e plantas tem possibilitado a

elucidação de mecanismos envolvidos em importantes fenômenos ecológicos como

a interação entre fungos micorrízicos e vegetais. O domínio do conhecimento desta

interação simbiótica mutualista é de relevância estratégica para o desenvolvimento

da maioria das culturas economicamente importantes (Peterson et al., 1984). As

5

micorrizas ocorrem em cerca de 90% das plantas terrestres (Bonfante, 2003) e

aumentam a potencialidade das plantas na aquisição de nutrientes no solo, o que

resulta em uma utilização menos freqüente de fertilizantes (Rengel e Marschner,

2005). Assim, vamos abordar neste trabalho três temas desta linha de pesquisa: os

transportadores de cátions da levedura Schizosaccharomyces pombe, a relação

entre expressão e funcionalidade de transportadores de H+ em cana-de-açúcar e a

análise matemática dos fluxos de prótons em raízes e hífas de fungos que

participam na interação micorrízica.

1.5- O modelo biológico: Schizosaccharomyces pombe

O arquiascomiceto Schizosaccharomyces pombe, conhecido como a levedura

de fissão, é um dos mais importantes modelos no estudo da biologia da célula

eucarionte. Foi na década de 1950 que a primeira chamou a atenção dos biólogos

em virtude do seu modo de divisão celular binária. A partir daí, métodos para a

manutenção das cepas, crescimento vegetativo, cruzamentos genéticos e

isolamento de mutantes foram estabelecidos e, ao longo dos anos, várias de suas

semelhanças com outros eucariontes – além de detalhes do processo de fissão

binária – foram descobertas, como a organização dos centrômeros e a presença de

um complexo protéico responsável pelo processo de “splicing” (Sunnerhagen, 2002).

O estudo de S. pombe apresenta ainda outras vantagens, como a sua ascendência

de uma cepa de laboratório monolítica, o que significa dizer que todas as cepas

desta levedura utilizadas em experimentos científicos derivam de um único isolado, o

que garante maior uniformidade nos resultados (Leopold, 1993 apud Sunnerhagen,

2002), enquanto as cepas da levedura de brotamento, Saccharomyces cerevisiae,

comumente usadas possuem contribuições importantes em sua composição

genética de pelos menos três cepas bastante diversas (Mortimer e Johnston, 1986).

Deve-se ressaltar, também, que S. pombe separou-se dos demais representantes de

sua Classe há 330-440 milhões de anos (Wood et al., 2002) e conservou, ao longo

de sua evolução, alguns conjuntos de genes que foram perdidos ou são

significativamente divergentes em S. cerevisiae (Aravind et al., 2000). Isso faz de S.

pombe um alvo em estudos evolutivos. Esta levedura é, também, utilizada como um

6

modelo eucariótico em estudos de sensibilidade a drogas, uma vez que a aparente

ausência de genes de resistência possibilita averiguar quais entidades protéicas são

alvos destas substâncias (Sunnerhagen, 2002).

Muitos aspectos celulares da levedura de fissão continuam pouco elucidados,

como seu metabolismo energético, a biossíntese de suas organelas, a classificação

de suas proteínas e o transporte membranar (Sunnerhagen, 2002). De acordo com

os dados armazenados em páginas disponíveis na Internet e gerenciadas pelo The

Wellcome Trust Sanger Institute (website:

http:/www.sanger.ac.uk/Projects/S_cerevisiae/FUNCAT/GO_0006810.shtml), sobre

transportadores em Saccharomyces cerevisiae das 266 proteínas transportadoras de

membrana existentes, somente 191 são caracterizadas (71.8%). Já em

Schizosaccharomyces pombe são caracterizados funcionalmente apenas 36 dos 167

(21,6%) transportadores catalogados por The Gene Ontology Consortium, no banco

de dados AmiGO (disponível em: http://www.genedb.org/amigo/perl/go.cgi).

O lançamento da seqüência completa de seu genoma em 2002, aliado à

disponibilidade de sofisticadas metodologias de manipulação genética e perfil de

expressão (expression profiling; técnica através da qual se averiguam os padrões de

expressão gênica de um organismo em uma dada situação), deu um novo impulso

aos estudos utilizando este fungo (Wood et al., 2002). A investigação dos

transportadores desta levedura através da bioinformática pode, portanto, ser útil na

sua caracterização e utilização como modelo biológico. Estudos sobre genes

regulados especificamente durante o ciclo celular têm utilizado recursos de

bioinformática com sucesso para elucidar detalhes da biologia celular desta levedura

(de Lichtenberg et al., 2005; Marguerat et al., 2006).

O primeiro passo neste sentido deve ser a análise do genoma de S. pombe

em busca de genes possivelmente ligados ao transporte de substâncias através da

membrana. Subseqüentemente, passa-se à obtenção das seqüências peptídicas

correspondentes a cada um dos ORFs encontrados, o que possibilita uma

abordagem de alinhamentos comparativos que visa determinar a que família de

transportadores pertencem. Assim, pode-se investigar e inferir características

relativas ao metabolismo das membranas biológicas deste microrganismo. Goffeau

et al. (1997) estabeleceram uma classificação para a sub-família de transportadores

MDR, em S. cerevisiae, baseados na homologia entre ORFs do fungo e seqüências

7

estabelecidas dessas proteínas em bactérias, e puderam estendê-la a bombas

desse tipo já caracterizadas em outros fungos. No estudo realizado com o genoma

completo de S. cerevisiae, as análises filogenéticas permitiram classificar 139

transportadores não-caracterizados da levedura em famílias com função conhecida,

além de possibilitar o estabelecimento de comparações com as proporções relativas

dessas proteínas na bactéria Escherichia coli, no que concerne às classes de

substrato e tipos de transportadores (Paulsen et al., 1998).

Um exame realizado em S. pombe revelou a presença de vários tipos de

ATPases similares aos de S. cerevisiae, mostrando, uma identidade geralmente

baixa nas do tipo P e diferenças quanto aos substratos transportados, o que pode

refletir as diferenças fisiológicas existentes entre esses dois fungos (Okorokova-

Façanha et al., 2003). No âmbito da genômica funcional, um problema interessante a

ser tratado é a indeterminação da função de alguns dos genes estudados,

principalmente no que tange ao substrato transportado por seus produtos protéicos.

A realização de análises comparativas entre diferentes fungos e entre fungos e

organismos de outros reinos abrange o aspecto da taxonomia molecular. Desta

forma, podemos substituir os padrões morfométricos celulares (que podem variar

amplamente numa mesma espécie, em função de condições ambientais diferentes)

por uma busca da definição de que genes são comuns a essas espécies e quais são

exclusivos para cada uma delas, traçando um perfil das peculiaridades gênicas de

cada uma dessas espécies.

Além disso, a busca por transportadores de cátions no genoma de S. pombe

oferece um meio de se apontar bons alvos para o estudo, em levedura, do

mecanismo de ação de proteínas homólogas que causam diversas doenças em

humanos (Wood et al., 2002). A Tabela 1.1 mostra algumas doenças metabólicas e

neurológicas de seres humanos relacionadas a problemas em determinados genes,

juntamente com genes de S. pombe que apresentam identidade aos genes de H.

sapiens. Tais genes podem ter sua função melhor caracterizada na levedura,

possibilitando, eventualmente, estudos de transferência e expressão de genes de

humanos em S. pombe para elucidar como esses genes afetam a célula eucarionte

de modo geral.

8

Tabela 1.1. Doenças de Homo sapiens ligadas à presença de transportadores

de cátions deficientes e os genes homólogos correspondentes encontrados em S.

pombe.

Tipo de Doença

Doença e gene relacionado Função Referência Gene de S.

pombe

Doença de Hailey-Hailey

(ATP2C1) Ca2+-ATPase Hu et al., 2000 SPBC31E1.02C

Doença de Wilson (ATP7B) Cu2+-ATPase Lutsenko et al.,

2002 SPBC29A3.01

Síndrome de Gitelman

(SLC12A3)

Schepkens et al., 2001

Metabólica

Síndrome de Bartter

(SLC12A1)

Cotranspor-tador Na+-K+-

Cl- Karolyi et al., 1998

SPBC18H10.16

Síndrome de Menkes (ATP7A)

Cu2+-ATPase Voskoboinik e Camakaris, 2002 SPBC29A3.01

Neurológica Ataxia medulo-cerebelar tipo 6

(CACNA1A)

Canal de Ca2+ sensível à voltagem

Ishikawa et al., 1999 SPAC6F6.01

1.6- Fungo Micorrízico como modelo para o estudo do fluxo de H+

Micorrizas arbusculares são o principal de tipo de relação simbiótica entre

fungos e plantas. Cerca de 6.000 espécies de fungos de todo o Filo Fungi colonizam

as raízes de mais de 240.000 espécies de plantas terrestres (Bonfante, 2003) em

associações mutualísticas, onde os açúcares fotossintetizados pela planta são

trocados por fosfato e outros minerais obtidos do solo pelo fungo (Smith e

Gianinazzi-Pearson, 1988; Smith et al., 2003). A sacarose é a principal forma por

meio da qual o carbono fixado pelos vegetais é transportado ao longo do floema até

as raízes, mas, uma vez no apoplasto da raiz, a sacarose é hidrolisada por

invertases exógenas, produzindo hexoses que podem ser utilizadas pelos fungos

9

micorrízicos (Shachar-Hill et al., 1995). Apenas as hifas intra-radiculares, formadas

pelo fungo em contato direto com as raízes do vegetal, exibem uma absorção

substancial de açúcar. Mas mesmo antes de seu primeiro contato com a raiz do

hospedeiro, no estágio assimbiótico quando o fungo apresenta apenas um

metabolismo basal de carbono, a absorção de glicose e frutose também foi

observada em seus tubos germinativos (Pfeffer et al., 1999; Bago et al., 1999, 2002).

Altas concentrações de sacarose podem surtir efeitos negativos no desenvolvimento

dos fungos micorrízicos tanto na fase assimbiótica, como na simbiótica (Mosse,

1959; Mugnier e Mosse, 1987). Similarmente, altas concentrações de fosfato no solo

inibem a interação micorrízica (Gianinazzi-Pearson e Gianinazzi, 1983). Desta forma,

fosfato e sacarose, os principais nutrientes trocados entre os simbiontes e plantas,

podem ser considerados como fatores que também controlam o crescimento das

hifas e a interação micorrízica. As bases fisiológicas e celulares deste fenômeno

ainda não foram bem elucidadas.

Há poucas evidências sobre os primeiros eventos de sinalização

responsáveis pelo desenvolvimento e reconhecimento dos fungos micorrízicos.

Hiper-polarização da membrana plasmática da hifa de Gigaspora margarita em

resposta a extratos de raiz do hospedeiro foi descrita, sugerindo que os primeiros

estágios da interação micorrízica ocorrem por meio de efeitos diretos na membrana

da hifa, e não por meio de expressão gênica (Ayling et al., 2000). Isto está de acordo

com a noção de que a ativação de fluxos iônicos é uma das primeiras respostas da

célula depois do reconhecimento inicial entre elicitor e receptor (Blumwald et al.,

1998). O envolvimento da dinâmica dos íons no crescimento e nutrição celular de

fungos e plantas está ligado à regulação dos gradientes elétricos e de pH gerados

em suas membranas pelas H+-ATPases tipo P (Serrano, 1989; Feijó et al., 1999;

Portillo, 2000). A expressão de diferentes isoformas de H+-ATPases de fungos pode

ser regulada pela condição simbiótica ou assimbiótica, bem como pela concentração

dos nutrientes fosfato e sacarose (Requena et al., 2003). Tais dados corroboram a

noção de que tanto os gradientes intracelulares como os extracelulares,

principalmente de íons H+ e Ca2+, estão associados com o crescimento polarizado

em células de fungos e vegetais (Harold e Caldwell, 1990; Jackson e Heath, 1993).

O estudo destes fluxos de H+ in vivo em hifas de fungo e em raízes vegetais

pode fornecer informações cruciais para a compreensão dos intricados mecanismos

10

que regem este fenômeno. O nosso propósito, de acordo com o que nos permitem

as técnicas disponíveis, é a sistematização matemática dos dados obtidos, por meio

da aplicação de técnicas como séries de Fourier, análise estatística de séries

temporais e análise de caos, que possibilitam uma maior compreensão dos padrões

intrínsecos destes fenômenos, bem como uma maior gama de informações

necessárias à modelagem matemática destes processos biológicos. Os possíveis

padrões intrínsecos das diferenças espaciais e temporais existentes nos fluxos de

prótons nas diferentes regiões das hifas fúngicas e das raízes vegetais medidos a

intervalos de tempo distintos podem, então, ser acessados e estudados.

A ocorrência de comportamentos oscilatórios nas células pode ser vista como

conseqüência dos ciclos responsáveis pela homeostase e pelo crescimento celular.

Desta forma, devemos buscar meios eficientes para se estudar as variações que

ocorrem dentro destas oscilações. A regressão em séries temporais pode ser linear

no tempo, para ajustar seqüencialmente os períodos de teste; ou linear na

freqüência, para ajustar seqüencialmente os componentes harmônicos desde um

período inicial fundamental. Assim, a aproximação do problema através de um

sistema linear pode restringir a análise a um pequeno número de freqüências que

correspondem a do estímulo controlado e a suas harmônicas principais. Uma

abordagem não-linear do problema, através do uso de Transformadas Discretas de

Fourier, poderia tornar possível estimar as correlações espaciais existentes e

combinar os resultados para deduzir a interferência espaço-temporal (Lange e

Zeger, 1997). E a aplicação da análise de caos permitiria analisar a natureza destes

padrões em dimensões fractais, aumentando a compreensão acerca de seu

comportamento. Tais padrões podem estar relacionados não apenas com a

alteração do pH da rizosfera, mas também a fenômenos ainda não elucidados de

sinalização entre fungo e vegetal no estabelecimento da interação micorrízica. Esta

sinalização, dependente de um íon, já tem sido caracterizada para o cálcio, Ca2+

(Wymer et al., 1997; Malhó et al., 1998; Sanders et al., 1999), onde a ocorrência de

oscilações, ondas e suas derivadas possuem uma gama de efeitos que são

sensivelmente percebidos pela célula. No caso do H+, sua importância na

sinalização já foi aventada (Zhou et al., 2000), mas ainda não tem sido amplamente

abordada ou reconhecida no meio cientifico.

11

1.7- Estudos do transporte de H+ em cana-de-açúcar

A produção de cana-de-açúcar é uma das mais importantes atividades

agrícolas de regiões tropicais e subtropicais do mundo, principalmente em países em

desenvolvimento. Apesar da grande importância econômica desta cultura, que no

Brasil está diretamente relacionada à sua eficiência energética na produção em

larga escala de álcool combustível e açúcar, ainda existe relativamente pouca

informação sobre o metabolismo energético da cana-de-açúcar. Em uma busca por

artigos científicos no Google Scholar (disponível em: http://scholar.google.com)

encontra-se um número consideravelmente maior de artigos publicados sobre milho

(em torno de 8 vezes mais em relação à cana-de-açúcar), cultura em que se baseia

a produção de etanol e outros insumos nos Estados Unidos, por exemplo.

Em função dos aumentos sucessivos no preço do petróleo, além das

previsões de futura escassez e inexorável exaustão deste recurso, tem-se dado

grande importância ao desenvolvimento de fontes de energia renováveis. Neste

âmbito, uma tecnologia de produção de biocombustível já estabelecida como a do

etanol vem atraindo investimentos para o setor, em função do crescente interesse de

governos, empresas e investidores. Grupos empresariais como Mitsubishi, Mitsui e

Google estão entre os interessados na produção de álcool combustível no Brasil.

Recentemente, o investidor húngaro George Soros fechou um negócio de 200

milhões de dólares na compra de uma usina em Minas Gerais (Salomão e Onaga,

2006).

Uma vez que os processos de produção dos principais derivados da cana são

diretamente dependentes da quantidade de sacarose armazenada no vegetal.

Pesquisadores poderiam utilizar o conhecimento mais amplo acerca de sua

bioenergética na seleção de híbridos mais eficientes energeticamente, ou mesmo

fundamentar a criação de exemplares transgênicos, o que independentemente da

melhoria nas tecnologias de produção utilizadas, poderia gerar um novo salto

quantitativo e qualitativo na produtividade desta cultura.

A maior parte do transporte de íons e outros metabólitos em células vegetais,

relacionado com os processos fisiológicos de nutrição, é realizado por meio da

utilização da energia de gradientes eletroquímicos gerados nas membranas por

12

bombas de H+. Em função disto, uma considerável quantidade do ATP celular é

consumida por estes sistemas primários de transporte de H+, que constituem,

portanto, o principal dreno energético da célula vegetal (Roberts et al., 1997). Assim,

faz-se necessário um estudo mais profundo sobre o funcionamento e integração dos

transportadores de H+ com o metabolismo, para que se possa entender, mais

claramente, o balanço energético entre os sistemas de síntese e consumo de ATP

na célula vegetal. Quanto melhor for o acoplamento energético destas enzimas,

tanto menor será a quantidade de ATP necessária para sustentar o gradiente

eletroquímico mantido por esses sistemas de transporte necessário à homeostase

(Bunney et al., 2001). Por conseqüência, maior será a disponibilidade energética

excedente para regular a diminuição da quebra de glicose proveniente da

fotossíntese e o aumento do armazenamento do açúcar. Assim, uma variedade de

cana-de-açúcar com maior concentração de açúcar armazenada em seus tecidos

produziria um melhor rendimento na obtenção de açúcar e álcool a partir desta

cultura. Por outro lado, a pesquisa básica sobre estas proteínas é um caminho

importante no entendimento das relações existentes entre aspectos ainda pouco

conhecidos da fisiologia da cana-de-açúcar e de seu metabolismo e biologia celular.

O Projeto SUCEST (Sugar Cane EST Genome Project, disponível em:

http://sucest.lbi.dcc.unicamp.br/en/) vem, desde 1999, empreendendo esforços para

identificar, seqüenciar e anotar genes da cana-de-açúcar em larga escala. Contando

com uma rede de laboratórios distribuída por diversos estados brasileiros e o suporte

financeiro da FAPESP, este projeto conseguiu armazenar 300.000 EST (“expressed

sequence tags”) relativas a genes expressos em diferentes condições ambientais

nos diversos tecidos da cana (Vettore et al., 2003). Com a finalização do projeto

genoma da cana-de-açúcar uma grande quantidade de dados está disponível aos

pesquisadores associados, tornando o emprego de ferramentas de bioinformática o

método mais apropriado para a aquisição de informações biológicas relevantes.

Ainda, a integração entre os dados obtidos desta maneira e por meio de análises

cinéticas das proteínas transportadoras de H+ representa uma forma ainda mais

consistente de se estudar a distribuição, regulação e função desses sistemas de

transporte em diferentes tecidos da cana. Tendo em vista os diferentes níveis de

expressão dos genes que codificam transportadores de H+ em cada um dos tecidos

13

da cana-de-açúcar pode-se apontar alvos para estudos bioquímicos mais

aprofundados com estas proteínas (Ferreira, 2002).

14

2- OBJETIVOS

Objetivo Geral

Explorar a aplicação da matemática e de recursos de informática na análise das

características do transporte iônico em sistemas biológicos de fungos e plantas.

Objetivos Específicos

• Organizar dados genômicos em um inventário dos transportadores de

cátions de Schizosaccharomyces pombe, que facilite futuros estudos

relacionados tanto à caracterização da funcionalidade de tais

proteínas, quanto à filogenia desta e de outras espécies;

• Realizar uma análise teórica dos dados de fluxos de prótons em

Gigaspora margarita e Trifolium repens buscando construir modelos

que descrevam a participação dos sistemas de transporte de H+ na

energização de membranas e sinalização da interação micorrízica;

• Analisar comparativamente os dados de atividade das bombas de

prótons em vesículas de membrana isoladas de híbridos

intraespecíficos de Saccharum sp. L. (cana-de-açúcar) com os dados

do data mining realizado no banco de dados do SUCEST para a

validação desta técnica na previsão da distribuição e função dessas

enzimas nos diferentes tecidos da cana-de-açúcar.

15

3- MATERIAIS E MÉTODOS

3.1- Transportadores de cátions em S. pombe

3.1.1- Mineração de dados em bancos de dados

As buscas em bancos de dados foram realizadas em computadores

conectados à internet por meio de programas disponibilizados em endereços web

que foram acessados com a utilização do software Internet Explorer.

Foram realizadas buscas no banco de dados do genoma de S. pombe por

genes relacionados ao transporte de cátions através da membrana.

3.1.1.1- Coleta de seqüências de transportadores de cátions em Saccharomyces cerevisiae

Primeiramente, foram coletadas as seqüências de aminoácidos codificadas

pelos genes da levedura S. cerevisiae previamente identificados como

transportadores de cátions (Paulsen et al., 1998) no banco de dados protéico Swiss-

Prot (disponível em http://www.swiss-prot.org).

3.1.1.2- Busca com a ferramenta BLAST As seqüências da levedura S. cerevisiae foram alinhadas utilizando a

ferramenta Quick BlastP search (Altschul et al., 1997), acessível na página de

visualização padrão de cada proteína do Swiss-Prot, a qual discrimina as seqüências

com os melhores alinhamentos locais feitos contra todas as seqüências disponíveis

neste banco de dados. Dentre estes ORFs foram selecionados aqueles pertencentes

à levedura S. pombe, com e-values inferiores a e-10. Estas computações foram

realizadas no SIB (Swiss Institute of Bioinformatics), utilizando os serviços da rede

BLAST.

Adicionalmente, o banco de dados GeneDB S. pombe (disponível em

http://www.genedb.org/genedb/pombe/index.jsp) hospedado por The Wellcome Trust

Sanger Institute, onde ficam armazenados os ORFs seqüenciados e anotados pelo

projeto genoma da levedura de fissão, foi consultado para obtenção de informações

de melhor qualidade sobre essas proteínas.

16

3.1.1.3- Busca por meio de palavras-chave Após esta etapa inicial da mineração de dados, foram acessadas as entradas

existentes para outros genes anotados como transportadores de cátions, a partir do

catálogo de busca AmiGO (disponível em http://www.genedb.org/amigo/perl/go.cgi),

na seção relacionada a transporte (GO:0006810 : transport), utilizando-se como

fonte de dados o GeneDB S. pombe (representado como GeneDB_Spombe).

A partir da página relativa a cada um desses genes, o hipertexto remete o

usuário à visualização das informações referentes ao número de acesso

correspondente, catalogado no Swiss-Prot, onde estão disponíveis as seqüências de

aminoácidos e informações suplementares.

3.1.1.4- Coleta de seqüências de transportadores de cátions em outros organismos

Foram obtidas por meio de buscas por palavras-chave as seqüências de

aminoácidos de transportadores de potássio, sódio e magnésio dos organismos

Arabidopsis thaliana e Homo sapiens, além de transportadores de sódio de Candida

albicans, Neurospora crassa, Caenorhabditis elegans, Rattus norvegicus e Mus

musculus e transportadores de Mg2+ de S. pombe, Saccharomyces cervisiae,

Escherichia coli, Arabidopsis thaliana, Oryza sativa, Homo sapiens e Rattus

norvegicus para a posterior análise comparativa. Estas buscas foram realizadas no

banco de dados mantido pelo NCBI (National Center for Biotechnology Information),

que é hospedado pela NLM (National Library of Medicine) pertencente ao National

Institute of Health do Governo Norte-Americano (disponível em

http://www.ncbi.nlm.nih.gov).

A ferramenta BLAST (Atlschul et al., 1990) do NCBI foi utilizada, ainda, para

uma busca, restrita ao genoma humano, de proteínas homólogas às proteínas

transportadoras de K+ Trk1 e Trk2 de S. pombe.

17

3.1.2- Alinhamento de seqüências

As seqüências de aminoácidos, coletadas em formato FASTA (Pearson e

Lipman, 1988), de S. pombe e S. cerevisiae com alguma similaridade foram

comparadas, em sua extensão total, duas a duas utilizando a ferramenta ClustalW

(Thompson et al., 1994) disponível no servidor da Network Protein Sequence

@nalysis (Combet et al., 2000) hospedado pelo Pôle Bioinformatique Lyonnais (Lion,

França) com o objetivo de determinar a identidade total de seus aminoácidos através

de um método que retorna os dados com maior nível de precisão e, com isso,

permite consolidar a mineração de dados realizada.

Mais alinhamentos foram feitos utilizando as seqüências de duas a duas para

demonstrar as identidades totais entre seqüências pertencentes a S. pombe. Este

tipo de série de alinhamentos também foi realizado entre seqüências das leveduras

S. pombe e S. cerevisiae. Estes dados foram gerados com o intento de se inferir as

possíveis relações filogenéticas entre as seqüências.

De maneira análoga, seqüências de interesse dentre as de S. pombe foram

comparadas com as de A. thaliana e H. sapiens utilizando-se a mesma metodologia.

Apenas seqüências de aminoácidos foram utilizadas, pois estas oferecem

mais parâmetros de comparação que as seqüências de DNA na busca por proteínas

que compartilhem a mesma função.

3.1.3- Identificação de segmentos transmembrana

Domínios transmembranares hipotéticos das seqüências de aminoácidos

foram deduzidos com a utilização e comparação de resultados obtidos com os

softwares MEMSAT (McGuffin et al., 2000), disponível em

http://bioinf.cs.ucl.ac.uk/psipred/psiform.html, e TMHMM (Krogh et al., 2001),

disponível em http://www.cbs.dtu.dk/services/TMHMM/.

18

3.1.4- Análises filogenéticas

Foi usado o programa ClustalW versão 1.75, utilizando-se os valores padrão

de alinhamento, empregado pela ferramenta on-line “Graphical Phylogenetic Trees”

(disponível em: http://www.genebee.msu.su/clustal/basic.html). Esta versão do

algoritmo possibilita ao usuário o retorno de parâmetros que são utilizados com a

ferramenta on-line “Phylodendron” (disponível em:

http://iubio.bio.indiana.edu/treeapp/) para gerar gráficos de árvores filogenéticas ou

dendogramas.

3.1.5- Classificação da informação

Os transportadores de cátions identificados no genoma de S. pombe foram

classificados de acordo com os padrões estabelecidos pela TC, Transport

Commission, que podem ser encontrados on-line na página do TC-DB: Transport

Protein Database (disponível em http://www.tcdb.org). Para tal, foi utilizada a

ferramenta BLAST disponível em http://www.tcdb.org/progs/blast.php para identificar

a quais categorias de transportadores transmembrana pertencem cada uma das

seqüências de S. pombe identificadas.

3.2- Análise do fluxo de H+ em hifas de Gigaspora margarita

3.2.1- Aplicação da Transformada Discreta de Fourier

Esta análise conta com dados previamente obtidos pelo Dr. Alessandro

Coutinho Ramos durante o seu período de estágio de ‘doutorado-sandwich’ no

Instituto Gulbenkian de Ciência, em Portugal, de acordo com metodologia

apresentada no Anexo I e que foram cedidos para que tivessem seu estudo refinado

através da utilização de uma análise matemática.

Os dados apresentam a medição dos fluxos de H+ ao redor da membrana do

fungo micorrízico Gigaspora margarita e foram analisados por meio do uso de

19

Transformadas Discretas de Fourier (Fast Fourier Transforms - FFT), como descrito

em Zonia e Feijó, 2003.

Para isto foi utilizado o software Scilab 4.0 (disponível em http://

www.scilab.org). Primeiramente, os dados foram organizados e armazenados em

matrizes de duas colunas, uma para o tempo e outra para as leituras da intensidade

dos fluxos de prótons. Estas matrizes serviram de entrada para a função fft do

Scilab, que aplica a Transformada Rápida de Fourier (Fast Fourier Transforms -

FFT) a um conjunto de dados. Visto que o resultado desta função é simétrico,

pudemos utilizar apenas metade dos dados do resultado obtido e utilizamos a

função plot do Scilab para gerar os gráficos mostrando as potências das freqüências

presentes no sinal originado pela medição dos fluxos de prótons.

3.3- Análise dos transportadores de H+ em Saccharum sp. L.

3.3.1- Mineração de dados

A pesquisa em Saccharum sp. L. enfocou a relação entre os padrões de

expressão in silico de genes e a atividade protéica de três sistemas primários de

transporte de prótons (P-H+-ATPase, V-H+-ATPase e V-H+-PPiase). Foram utilizadas

as senhas de acesso ao projeto SUCEST fornecidas pelos colaboradores deste

projeto, Prof. Dr. Fábio Lopes Olivares e Prof. Dr. Gonçalo Apolinário de Souza

Filho, para acessar o banco de dados transcriptômico da cana-de-açúcar, onde as

seqüências que condificam as H+-ATPases de plasmalema e tonoplasto e a H+-

pirofosfatase vacuolar (H+-PPiase) foram coletadas para análise da expressão em

cada tecido.

Buscas por seqüências de cDNA foram realizadas utilizando a ferramenta

“Cluster by keyword” do SUCEST (disponível em

http://sucest.lad.dcc.unicamp.br/cgi-bin/prod/blastkwsearch/blastkwsearch.pl) e

retornaram seqüências cujos nomes ou código de acesso são relacionados com

transportadores de prótons de membrana plasmática e vacuolar.

Seqüências de DNA que codificam proteínas caracterizadas de Arabidopsis

thaliana, Nicotiniana plumbaginifolia, Lycopersicon esculentum e Zea mays foram

20

obtidas do banco de dados do NCBI (National Center for Biotechnology Information,

disponível em http://www.ncbi.nlm.nih.gov). Estas seqüências foram utilizadas no

software BLAST (Altschul et al., 1990) do SUCEST (disponível em

http://sucest.lad.dcc.unicamp.br/cgi-bin/prod/blast/form_maker.pl) para uma busca

baseada em seqüências consenso.

3.3.2- Ajuste do número de leituras por tecido

Os dados de expressão gênica em cana-de-açúcar foram normalizados,

considerando um Fator Tecido Específico (F.T.E.). Durante o seqüenciamento dos

ORFs em diferentes tecidos e condições um número diferente de leituras foi obtido

para cada um deles. Estas leituras ou reads representam o aparecimento

redundante de um dado ORF durante o processo de seqüenciamento. Este Fator

Tecido Específico iguala a proporção das amostras analisadas e foi calculado

dividindo-se o número total de reads no tecido com maior número de reads, dentre

todos os tecidos analisados, pelo número total de reads no tecido analisado em

questão, de acordo com a seguinte fórmula:

F.T.E. = número total de reads no tecido com maior número de reads

número total de reads no tecido analisado

Os gráficos gerados para o número relativo de leituras para cada uma das

seqüências estudadas foram obtidos pela multiplicação do número absoluto de

leituras daquela seqüência pelo F.T.E. calculado.

21

4- RESULTADOS

4.1- Transportadores de cátions em Schizosaccharomyces pombe

Estima-se que Schizosaccharomyces pombe possua 4.940 genes (Wood et

al., 2002), enquanto que em Saccharomyces cerevisiae este número está em torno

de 6.256 genes. Foram descritos 56 transportadores de cátions em S. cerevisiae (De

Hertogh et al., 2002) e o número de proteínas deste tipo, descritas no presente

trabalho, em S. pombe foi de 39, como mostrado na Tabela 4.1.

Tabela 4.1. Transportadores de cátions no genoma de S. pombe e S. cerevisiae.

Organismo Nº total de genes N º de transportadores de cátions

% do genoma

S. pombe 4.940 39 0,77 %

S. cerevisiae 6.256 56 0,89 %

A Tabela 4.2 apresenta os diversos transportadores de cátions de S. pombe,

os quais foram classificados de acordo com o sistema da TC, a partir do alinhamento

com as seqüências de S. cerevisiae, que apresentaram identidade entre 25 e 45%.

O nome das famílias de transportadores foi repetido para que houvesse a indicação

do nome original em inglês, que determina as correspondentes abreviaturas. As

proteínas caracterizadas funcionalmente estão relacionadas às respectivas

publicações no campo “Referências”. No campo “Descrição/Substrato(s)”, para as

proteínas não-caracterizadas, a especificidade aos substratos foi inferida

eletronicamente, além de conter informações sobre o funcionamento das proteínas

homólogas que caracterizam aquela família de transportadores, como estabelece o

sistema da TC. Neste mesmo campo, as anotações marcadas com 1 foram as que

tiveram sua afinidade por substratos inferidas no presente trabalho e as marcadas

com 2 foram as que tiveram a sua localização celular determinada por Matsuyama e

colaboradores (2006).

22

23

24

25

Os transportadores de S. pombe e os genes relacionados, por pertencerem à

mesma família pelo sistema TC ou por possuírem afinidade pelo mesmo substrato,

foram selecionados para análises detalhadas devido a algumas de suas

peculiaridades. Os três genes da família MIT (Metal Ion Transporter) de S.

cerevisiae, ScALR1, ScALR2 e ScMNR2 transportam Mg2+, os dois primeiros

conferem resistência ao alumínio (MacDiarmid e Gardner, 1998) e o terceiro está

associado à resistência ao manganês, foram comparados aos dois genes de S.

pombe pertencentes à mesma família, conforme mostrado na Tabela 4.3.

Tabela 4.3. Identidade de aminoácidos (%) entre os membros da família MIT, de

transportadores de íons metálicos em S. pombe (SP) e S. cerevisiae (Sc).

SPBC27B12.12c

SPAC17A2.14 ScALR1 ScALR2 ScMNR2

SPBC27B12.12c 100,00 28,92 29,77 28,41 23,61

SPAC17A2.14 100,00 26,56 27,98 28,69

ScALR1 100,00 69,53 21,18

ScALR2 100,00 22,08

ScMNR2 100,00

* o valor em negrito corresponde à maior identidade encontrada, em cada

linha.

A Figura 4.1 mostra um alinhamento dos segmentos transmembrana de três

transportadores de S. pombe cujo substrato inferido foi o Mg2+, ressaltando a

presença do domínio GMN, responsável pelo transporte de magnésio (MacDiarmid e

Gardner, 1998). Além disso, foi feito um dendograma, mostrado na Figura 4.2, com

transportadores de Mg2+ de algumas espécies representantes dos fungos, vegetais e

mamíferos, além da proteína ancestral dos transportadores de magnésio, a proteína

CorA de Escherichia coli.

26

Figura 4.1. Alinhamento dos dois primeiros segmentos transmembrana dos transportadores da família MIT de S. pombe. Os resíduos de aminoácidos GMN,

que compõe o motivo transportador de Mg2+, são conservados nos transportadores

da família CorA. Resíduos idênticos estão em vermelho, resíduos fortemente

similares são representados em verde, os fracamente similares em azul e os

resíduos diferentes estão em preto.

27

Figura 4.2. Dendograma construído com transportadores de Mg2+ de espécies de fungos, plantas, mamíferos e uma bactéria. (Sp) S. pombe, (Sc)

Saccharomyces cerevisiae, (Ec) Escherichia coli, (At) Arabidopsis thaliana, (Os)

Oryza sativa, (Hs) Homo sapiens e (Rn) Rattus norvegicus.

Os transportadores codificados pelos genes Trk1 e Trk2 de S. cerevisiae são

responsáveis pelo transporte de potássio através da membrana, com alta e baixa

afinidade, respectivamente, e possuem identidade de ~40% entre si. Os

transportadores da família Trk (K+ Transporter) em S. pombe (Calero et al., 2000)

possuem maior identidade com ScTRK2 do que com ScTRK1, conforme

apresentado na Tabela 4.4. Arabidopsis thaliana possui 13 transportadores de

potássio, muito bem caracterizados, pertencentes à família KUP e 1 transportador da

28

família Trk (Mäser et al., 2001). Entretanto, eles apresentam uma identidade muito

baixa com as proteínas da família Trk de S. pombe , variando entre 9 e 15%.

Tabela 4.4. Identidade de aminoácidos (%) entre os membros da família Trk, de

transportadores de potássio em S. pombe (Sp) e S. cerevisiae (Sc).

SpTRK1 SpTRK2 ScTRK1 ScTRK2

SpTRK1 100 32,85 27,60 32,44

SpTRK2 100 23,72 30,02

ScTRK1 100 39,95

ScTRK2 100

* o valor em negrito corresponde à maior identidade encontrada, em cada

linha.

Outro grupo de seqüências utilizado neste tipo de comparação foi a família

CPA1 (Transportador cátion:próton antiporte), que engloba proteínas

transportadoras do íon sódio (Na+). Dentre elas, ScNHX1 (também designada

ScNHA2), que tem localização no compartimento pré-vacuolar da levedura (Nass e

Rao, 1998) e reconhecida homologia com o transportador mitocondrial de sódio de

H. sapiens, NHE6 (Numata et al., 1998), possui uma grande identidade com a

seqüência SPAC15A10.06 de S. pombe; enquanto a seqüência SPAC3A11.09 de S.

pombe, por sua vez, mostra maior identidade com ScNHA1, da membrana

plasmática de S. cerevisiae (Prior et al., 1996), como mostrado na Tabela 4.5.

Ao comparar os trocadores de Na+ de S. pombe e H. sapiens, mostrados na

Tabela 4.6, observou-se que na espécie humana os transportadores guardam um

bom nível de homologia entre si, com exceção de NHE6, que apresenta maior

identidade com SPAC15A10.06 de S. pombe do que com outras seqüências de H.

sapiens.

29

Tabela 4.5. Identidade de aminoácidos (%) entre os membros da família CPA1 de S.

pombe (Sp) e S. cerevisiae (Sc).

SpSOD2 SPAC15A10.06

SPAC3A11.09 ScNHX1 ScNHA1

SpSOD2 100 13,40 28,68 12,17 19,86

SPAC15A10.06 100 10,92 48,66 9,54

SPAC3A11.09 100 12,50 33,64

ScNHX1 100 12,49

ScNHA1 100

* o valor em negrito corresponde à maior identidade encontrada, em cada

linha.

Tabela 4.6. Identidade de aminoácidos (%) entre os transportadores de Na+ de S.

pombe (Sp) e H. sapiens (Hs).

SpS

OD

2

SP

AC

15A

10.0

6

SP

AC

3A11

.09

HsN

HE

1

HsN

HE

2

HsN

HE

3

HsN

HE

5

HsN

HE

6

SpSOD2 100 13,40 28,68 11,53 11,89 11,58 9,62 12,15

SPAC15A10.06 100 10,92 17,37 18,16 17,75 16,63 29,14

SPAC3A11.09 100 13,92 11,18 12,47 13,29 13,14

HsNHE1 100 43,18 34,24 30,60 19,98

HsNHE2 100 39,10 35,70 21,26

HsNHE3 100 49,02 20,93

HsNHE5 100 18,60

HsNHE6 100

* o valor em negrito corresponde à maior identidade encontrada, em cada linha.

30

Ainda, ao comparar os trocadores de Na+ de S. pombe e A. thaliana pode-se

observar as maiores identidades dos trocadores do vegetal com SPAC15A10.06,

assinalando esta proteína como o transportador de Na+ da levedura de fissão mais

conservado em outros reinos, como mostrado na Tabela 4.7. Além disso, a grande

identidade apresentada entre AtNHX1 e AtNHX2 e entre AtNHX5 e AtNHX6

representa uma confirmação dos eventos de duplicação genômica ou de duplicação

de genes em larga escala pelo quais A. thaliana vem passando há mais de 70

milhões de anos atrás (Raes et al., 2003). Tais eventos levaram ao aparecimento de

genes parálogos, como os citados acima.

Tabela 4.7. Identidade de aminoácidos (%) entre os transportadores de Na+ de S.

pombe (Sp) e A. thaliana (At).

SpS

OD

2

SP

AC

15A

10.0

6

SP

AC

3A11

.09

AtN

HX

1

AtN

HX

2

AtN

HX

4

AtN

HX

5

AtN

HX

6

SpSOD2 100 13,40 28,68 15,07 15,55 15,23 16,64 17,07

SPAC15A10.06 100 10,92 23,97 23,97 25,39 28,30 27,43

SPAC3A11.09 100 13,55 14,04 11,21 11,30 15,26

AtNHX1 100 87,00 56,51 25,78 25,55

AtNHX2 100 56,18 26,68 25,63

AtNHX4 100 26,12 26,48

AtNHX5 100 77,49

AtNHX6 100

* o valor em negrito corresponde à maior identidade encontrada, em cada

linha.

As seqüências de transportadores de Na+ de alguns fungos, um invertebrado

modelo C. elegans, um vegetal e três mamíferos foram utilizadas na construção de

um dendograma, apresentada na Figura 4.3, que evidencia a localização intracelular

31

de SPAC15A10.06 em virtude da sua homologia com HsNHE6 e ScNHX1, que tem

sua localização já caracterizada em endomembranas.

Figura 4.3. Dendograma construído com transportadores de Na+ de espécies de fungos, mamíferos, um invertebrado e uma planta. Transportadores de Na+ de

S. pombe (Sp), S. cerevisiae (Sc), Candida albicans (Ca), Neurospora crassa

(CAF05976), Homo sapiens (Hs), Rattus norvegicus (Rn), Mus musculus (Mm),

Caenorhabditis elegans (Ce) e Arabidopsis thaliana (At). A ramificação I da árvore

contém a maior parte dos transportadores de mamíferos, juntamente com o de C.

elegans; a ramificação II é constituída por uma família específica de fungos; o ramo

IIIa possui membros com localização intracelular, que apresentam similaridade com

32

os transportadores de A. thaliana e em IIIb estão os outros transportadores de Na+

do vegetal.

Por fim, realizamos a análise de domínios transmembranares deste

transportador da família CPA1, SPAC15A10.06, para averiguar a presença de

resíduos de aminoácidos em sua seqüência que caracterizam os transportadores de

Na+ como tendo uma localização em endomembranas, obtendo-se a confirmação da

presença destes resíduos como mostrado na Figura 4.4.

Figura 4.4. Análise de domínios transmembrana de transportadores CPA1. Os

resíduos de aminoácidos marcados com uma ponta de seta são aqueles que

diferenciam estes transportadores como tendo localização intracelular. Resíduos

idênticos estão em vermelho, resíduos fortemente similares são representados em

verde, os fracamente similares em azul e os resíduos diferentes estão em preto.

4.2- Fluxo de H+ em hifas de Gigaspora margarita

Os gráficos obtidos através da aplicação da Transformada Rápida de Fourier

apresentam as freqüências (em Hz) dos sinais representados pelos fluxos de H+ em

função da potência do sinal, que é caracterizada pela amplitude da onda (unidade de

medida adimensional). Picos de freqüência indicam uma periodicidade do fluxo, o

que podem levar a caracterização de um padrão no transporte de H+ em uma dada

condição. As Figuras 4.5 a 4.7 mostram a análise do espectro de potência do fluxo

de prótons em meio com fosfato, inibidor da interação micorrízica.

33

Figura 4.5. Análise do espectro de potência das oscilações de H+ em hifas de Gigaspora margarita em meio com fosfato e sem adição de fluido apoplástico (controle). (A) TIP (ponta da hifa), (B) de 10 a 20 μm de distância da ponta, e (C) a

200 μm de distância da ponta.

34

Figura 4.6. Análise do espectro de potência das oscilações de H+ em hifas de Gigaspora margarita em meio com fosfato e adição de 10μL de fluido apoplástico. (A) TIP (ponta da hifa), (B) de 10 a 20 μm de distância da ponta, e (C)

a 200 μm de distância da ponta.

35

Figura 4.7. Análise do espectro de potência das oscilações de H+ em hifas de Gigaspora margarita em meio com fosfato e adição de 20μL de fluido apoplástico. (A) TIP (ponta da hifa), (B) de 10 a 20 μm de distância da ponta, e (C)

a 200 μm de distância da ponta.

As Figuras 4.8 a 4.10 mostram a análise do espectro de potência do fluxo de

prótons em meio sem fosfato, o que aumenta a velocidade de crescimento

polarizado das hifas e os fluxos de H+ na região apical.

36

Figura 4.8. Análise do espectro de potência das oscilações de H+ em hifas de Gigaspora margarita em meio sem fosfato e sem adição de fluido apoplástico (controle). (A) TIP (ponta da hifa), (B) de 10 a 20 μm de distância da ponta, e (C) a

200 μm de distância da ponta.

37

Figura 4.9. Análise do espectro de potência das oscilações de H+ em hifas de Gigaspora margarita em meio sem fosfato e adição de 10μL de fluido apoplástico. (A) TIP (ponta da hifa), (B) de 10 a 20 μm de distância da ponta, e (C)

a 200 μm de distância da ponta.

38

Figura 4.10. Análise do espectro de potência das oscilações de H+ em hifas de Gigaspora margarita em meio sem fosfato e adição de 20μL de fluido apoplástico. (A) TIP (ponta da hifa), (B) de 10 a 20 μm de distância da ponta, e (C)

a 200 μm de distância da ponta.

4.3- Transporte de prótons em Saccharum sp. L.

Com base em dados que demonstravam uma aparente expressão diferencial

de algumas proteínas transportadoras de H+ em diversos tecidos da cana-de-açúcar

(Ferreira, 2002), procedeu-se à investigação mais detalhada dos bancos de dados

genômicos da cana-de-açúcar do Projeto SUCEST. Tal busca, utilizando palavras-

chave e seqüências-consenso, permitiu a identificação de possíveis transportadores

de H+, bem como seus níveis de expressão em cada tecido, por meio de uma

39

normalização do número de leituras obtidas para a dada seqüência e o tecido como

um todo.

A mineração de dados (“data mining”) realizado no banco do SUCEST

mostrou uma maior expressão de genes relacionados ao transporte de prótons em

células da casca (“stem bark”) da cana-de-açúcar em comparação com as células do

colmo da cana na região dos entre-nós sem a casca (“stem devoid of bark from the

inter-node region”). A Figura 4.11 mostra o número de EST, corrigido por tecido,

correspondente às proteínas translocadores de prótons: H+-ATPase tipo P, H+-

PPiase vacuolar e as subunidades A e B da H+-ATPase do tipo V. Ocorre uma

expressão seis vezes maior da H+-PPiase nas células da casca da cana em relação

às células do colmo.

A análise cinética da hidrólise dos substratos e do transporte de H+ de

vesículas de plasmalema e tonoplasto isoladas da casca e do colmo (ANEXO II),

demonstrou que a quantificação da expressão das proteínas obtida in silico guarda

uma razoável correspondência com os estímulos verificados na atividade das

proteínas envolvidas no transporte de H+ através das membranas de células de

cana-de-açúcar.

40

Figura 4.11. Ocorrência de Seqüências Expressas (ESTs) para a P-H+-

ATPase, V-H+-PPiase e as subunidades A e B da V-H+-ATPase.

41

5- DISCUSSÃO

5.1- Transportadores de cátions em Schizosaccharomyces pombe

Os métodos utilizados resultaram na ampliação do número de transportadores

de cátions até então catalogados para S. pombe permitindo uma comparação mais

fidedigna entre os transportadores desta levedura com os dados existentes sobre os

transportadores de S. cerevisiae. Neste contexto, duas observações foram

evidenciadas inicialmente: o menor número de transportadores em S. pombe e a

ausência de alguns transportadores nesta levedura em relação a S. cerevisiae.

A primeira observação pode ser reflexo das amplas duplicações observadas

no genoma da levedura de brotamento, S. cerevisiae, as quais não ocorreram na

levedura de fissão ao longo do processo evolutivo. Diversas famílias de

transportadores possuem um maior número de representantes em S. cerevisiae do

que em S. pombe. Algumas das famílias, nas quais possivelmente, houve estas

duplicações, puderam ser apontadas, sendo elas as famílias ZIP, CDF, MIT, OfeT e

Nramp. Dentre estas, podemos ressaltar a família MIT, que foi utilizada em

comparações mais detalhadas para a averiguação desta possibilidade. ALR1 e

ALR2, duas proteínas transportadoras de Mg2+, que conferem resistência ao Al3+

(MacDiarmid e Gardner, 1998), podem ser consideradas um exemplo dos eventos

de duplicação do genoma de S. cerevisiae, pois apresentam identidade bastante

elevada, cerca de 70%.

Já a segunda observação tem conseqüências mais expressivas na fisiologia

da levedura de fissão, uma vez que a ausência de um tipo específico de

transportador implica a necessidade de vias alternativas para o transporte do

substrato em questão. Um exemplo é a ausência de uma proteína homóloga ao

canal TOK1 de S. cerevisiae (Ketchum et al., 1995) em S. pombe. Este membro da

família VIC regula a passagem de potássio de acordo com o potencial elétrico da

membrana numa dada situação. Apesar de não haver nenhuma seqüência anotada

com esta função na levedura de fissão, evidência da ocorrência deste tipo de canal

foi demonstrada por Vacata e colaboradores (1993). O outro exemplo é um

transportador da família CHP (Ca2+ Homeostasis Protein, proteína de homeostase

42

de cálcio), representado pela proteína CSG2 (Beeler et al., 1994) de S. cerevisiae,

que armazena cálcio no vacúolo.

Subseqüentemente, pode-se observar de maneira mais apurada os

transportadores caracterizados da levedura de fissão, bem como a representação

das proteínas em cada uma das famílias.

5.1.1- Transportadores de sódio (Na+)

O sódio é um íon que apresenta peculiaridades marcantes quando seu metabolismo

é comparado nas duas espécies de levedura. S. pombe não possui uma bomba de

transporte ativo de sódio (Benito et al., 2002; Okorokova-Façanha et al., 2003), ao

passo que S. cerevisiae possui de três a cinco P-ATPases com especificidade para

este íon (Catty et al., 1997); contudo, a primeira levedura possui três transportadores

antiporte Na+/H+, enquanto a outra possui apenas dois transportadores deste tipo

(Tabela 4.5). Estes dois são ScNHX1 localizado exclusivamente em compartimentos

pré-vacuolares, equivalentes aos endossomos tardios das células animais (Nass e

Rao, 1998) e ScNHA1 da plasmalema, que tem grande importância na regulação do

pH intracelular (Banuelos et al., 1998).

Parece haver uma relação direta entre ScNHX1 e SPAC15A10.06 (48,66% de

identidade entre suas seqüências de aminoácidos) e entre ScNHA1 e SPAC3A11.09

(33,64% de identidade), enquanto o único transportador de sódio caracterizado de S.

pombe, SOD2, possui maior identidade com SPAC3A11.09 (28,68%). Este trocador

pode realizar influxo ou efluxo de prótons em resposta à concentração externa de

sódio, sem ser afetado pelo potencial de membrana ou o gradiente de prótons da

membrana plasmática (Hahnenberger et al., 1996), tendo, portanto, importância na

tolerância ao sódio, na regulação do pH e no controle do volume celular, bem como

no crescimento polarizado da levedura de fissão, tendo em vista sua localização nos

pólos da célula (Dibrov et al., 1997).

Considerando-se as comparações com Homo sapiens, cujos transportadores

de antiporte Na+/H+ foram alinhados aos da levedura de fissão, dois genes, HsNHE6

e SPAC15A10.06, possuem um nível de identidade em torno de 30% (Tabela 4.6), o

que indica a possibilidade de seus produtos e apresentarem a mesma localização

celular (mitocôndria, como caracterizado para HsNHE6). Estes dados são

43

reafirmados pela localização dos transportadores de sódio na árvore filogenética que

indica o agrupamento destas duas proteínas, além de ScNHX1, que também tem

localização intracelular. Além disso, este transportador foi localizado através de

expressão de seu gene conjugado com uma proteína de fluorescência no complexo

de Golgi (Matsuyama et al., 2006), o que confirma nossa inferência.

5.1.2- Transportadores de potássio (K+)

A proteína SpTRK1 é expressa em altos níveis por células na fase

exponencial de crescimento (Soldatenkov et al., 1995) e juntamente com SpTRK2

definem o principal sistema de transporte de potássio na levedura de fissão. A

expressão de qualquer uma das duas proteínas é suficiente para garantir o

desenvolvimento normal da célula em níveis normais de potássio (Calero et al.,

2000).

S. pombe conta, ainda, com uma K+-ATPase, CTA3, de importância vital para

qualquer organismo de vida livre, por expulsar íons potássio da célula (Benito et al.,

2002).

Ambas as proteínas da família Trk em S. pombe possuem maior identidade

com ScTRK2 do que com ScTRK1. Entretanto, não parece haver nenhuma relação

entre os transportadores de K+ de Arabidopsis thaliana e S. pombe, por

apresentarem uma identidade muito baixa. Já no caso humano, não foram

encontradas seqüências de trocadores K+/H+ simporte em H. sapiens, apesar da

grande quantidade de Na+/K+-ATPases, de canais de potássio, cotransportadores e

transportadores inespecíficos Na+/K+ não relacionados à família Trk de S. pombe e

outras leveduras.

5.1.3- Transportadores de cálcio (Ca2+)

A família Mid1 corresponde a canais de cálcio ativados por tensão e SpEHS1

(YAM8) foi caracterizado como um possível homólogo de ScMID1 (Iida et al., 1994),

uma vez que está envolvido no influxo de cálcio e recupera o fenótipo de morte

44

induzida pelo feromônio de conjugação em S. cerevisiae, que é característico de

células mutantes para MID1 (Tasaka et al., 2000). Além disso, existe uma proteína

que foi classificada por homologia como pertencente à família VIC que possui um

domínio Na+/Ca2+ que merece maiores estudos, inclusive experimentais, que

elucidem melhor sua verdadeira função.

Ainda existem duas cálcio ATPases do tipo SPCA e PMCA, SpPMR1 e

SpPMC1. Uma P5 ATPase codificada pela levedura de fissão, CTA4, foi localizada

no retículo endoplasmático e demonstrada ser envolvida na homeostase de cálcio

(Okorokova-Façanha et al., 2002). Interessantemente, SpPMR1 foi também

localizada no retículo endoplasmático e não no complexo de Golgi, como seu

homólogo em S. cerevisiae, sugerindo que sinalização de cálcio pelo RE em

levedura de fissão seja mais complexa do que em S. cerevisiae.

5.1.4- Transportadores de magnésio (Mg2+)

Os transportadores de íons metálicos do tipo CorA, família MIT (homólogos

das proteínas CorA de bactérias), são proteínas bem caracterizadas, como ScALR1

e ScALR2, que conferem tolerância ao Al3+ e ao Ga3+, através do transporte de Mg2+

(MacDiarmid e Gardner, 1998). Outro representante desta família é ScMNR2, que

confere resistência ao Mn2+, transportando também o Mg2+.

As proteínas desta família em S. pombe apresentam níveis de identidade

muito próximos a estes três transportadores de S. cerevisiae, girando em torno de 26

e 30% (Tabela 4.3).

A presença de outro transportador deste íon na levedura de fissão foi

detectada. SPBC25H2.08c, pertencente à subfamília MRS2 que foi caracterizada a

partir de ScMRS2, que se localiza na membrana interna da mitocôndria e garante o

influxo de magnésio na organela, fundamental para o funcionamento das proteínas

envolvidas na retirada de introns (splicing), por exemplo (Kolisek et al., 2003).

Estes dados não permitem nenhuma conclusão determinante sobre o efeito

destas proteínas da levedura de fissão em seus mecanismos de resistência a íons, e

nem mesmo sobre qual seria o substrato destes transportadores. Assim, buscamos

outros meios de se avaliar estes transportadores e verificamos que eles possuem

45

homologia com os transportadores de Mg2+ de S. cerevisiae (Figura 4.2). Além disso,

as proteínas da família MIT em S. pombe possuem o motivo composto pelos

resíduos de aminoácidos GMN em seu primeiro domínio transmembrana, motivo

este que é responsável pelo transporte de Mg2+ e nos permite inferir que estas

proteínas de S. pombe são transportadores deste íon.

Destacamos, portanto, as proteínas desta família como um bom alvo para se

buscar um melhor entendimento dos mecanismos de resistência a alumínio em S.

pombe, pois os dados indicam homologia entre os transportadores da levedura de

fissão e outros transportadores de S. cerevisiae que desempenham esta função.

5.1.5- Transportadores de metais pesados

A levedura de fissão possui dois transportadores de Zn2+, SPBC16D10.06

(hipotético, família ZIP) e ZHF1 (família CDF). Este último é responsável também

pela tolerância ao Co2+ e Cd2+, acumulando estes metais no retículo endoplasmático

(Clemens et al., 2002). S. cerevisiae possui um sistema de tolerância ao zinco cujo

funcionamento pode ser estendido a S. pombe: ScZRT1 e ScZRT2 (família ZIP;

35,04 e 31,45% de identidade com SPBC16D10.06) transportam os íons para dentro

do citoplasma, enquanto ScZRC1 (Kamizono et al., 1989) e ScCOT1 – família CDF;

39,46 e 37,33% de identidade com SpZHF1 – armazenam zinco no vacúolo

(MacDiarmid et al., 2000). Esta diferença na organela onde estes metais são

armazenados, pode tem um grande significado biológico, na medida em que

possibilita uma maior elucidação dos mecanismos de toxicidade do Cd2+ em S.

pombe, bem como abre campo para estudos da importância do zinco na célula. Vale

a pena ressaltar que o Zn2+ é crucial para funcionamento de proteínas nucleares

como fatores de transcrição, RNA polimerase e histona deacetilase. Ainda em

respeito ao cádmio, existe um transportador da superfamília ABC, SpHMT1

(SPCC737.09c), que pode estar ligado a compartimentação deste metal no vacúolo

(Ortiz et al., 1992).

Existe um transportador de Ni2+ em S. pombe, que possui uma significante

similaridade com uma família de permeases de bactérias que realizam o influxo com

alta afinidade deste metal de transição através da membrana plasmática. Esta

46

proteína, SpNIC1 (SPCC1884.02), foi previamente caracterizada (Eitinger et al.,

2000) e aparentemente não possui ortólogo em S. cerevisiae.

O sistema de influxo de alta afinidade de Fe2+ é bastante conservado nas

duas leveduras, apresentando apenas uma oxidase (SpFIO1 e ScFET3,

respectivamente) e uma permease (SpFIP1 e ScFTR1). Estes genes apresentam

similaridade significativa e este sistema de transporte provavelmente está presente

em outros eucariontes (Askwith e Kaplan, 1997). Há ainda três carreadores deste

metal que funcionam como transportadores sideroporo-ferro (SpSTR1, SpSTR2,

SpSTR3), que possibilitam a assimilação do ferro a partir do ferro-cromo (Pelletier et

al., 2003).

Outro sistema relevante de transporte envolve o cobre, que é um importante

co-fator enzimático e atua diretamente na maquinaria de transporte de ferro,

possibilitando seu funcionamento correto, além de participar na proteção contra o

estresse oxidativo. Seu influxo, com alta afinidade, é mediado pelos transportadores

SpCTR4 (Labbe et al., 1999) e SpCTR5, que formam um complexo heteromérico na

membrana plasmática (Zhou e Thiele, 2001), além da presença de SpCTR6 que

disponibiliza Cu2+ armazenado no vacúolo em situações de baixa disponibilidade do

íon (Bellemare et al., 2002). Em S. cerevisiae, o transporte deste metal é realizado

por outros 3 carreadores: CTR1, CTR2 e CTR3. Entretanto, ScCTR1 e ScCTR3 têm

estrutura diferente das proteínas da levedura de fissão e de uma proteína hipotética

de humano (Labbe et al., 1999).

5.1.6- Visão geral sobre os Transportadores de cátions em Schizosaccharomyces pombe

A utilização de ferramentas de bioinformática em bancos de dados dos

projetos genoma de fungos, valeu-se da utilização de bancos de dados gratuitos

disponíveis na internet, como o do NCBI e do Sanger Institute. Ferramentas de

bioinformática disponíveis on-line foram utilizadas no alinhamento de seqüências e

construção gráfica de árvores filogenéticas. Desta forma, este trabalho classificou as

proteínas de membrana transportadoras de cátions da levedura

47

Schizosaccharomyces pombe, tanto as de função estabelecida, como as hipotéticas,

utilizando o sistema de classificação da Transport Commission.

Análises comparativas da identidade entre proteínas possibilitaram a

inferência de possíveis substratos para cinco carreadores que estão somente

anotados como transportadores de metais de um modo geral no banco de dados

GeneDB S. pombe, sendo elas SPAC17D4.03c (possivelmente um trocador de

Zn2+), SPBC29A3.01 (uma P-ATPase que pode estar envolvida no transporte de

Cu2+), SPBP26C9.03c (transportador de ferro) e SPAC17A2.14 e SPBC27B12.12c

(ambas homólogas a transportadores de Mg2+ da família MIT caracterizados em S.

cerevisiae). Ainda, foi verificada a possibilidade de que SPAC6F6.01 seja um canal

de Ca2+, e não de Na+ como anotado, além do caso de SPBC25H2.08c que

provavelmente transporta íons Mg2+ como seus homólogos em S. cerevisiae.

A análise da representação dessas proteínas nesta levedura, bem como a

comparação com outros organismos eucariontes, suscitou especulações acerca do

funcionamento dos seus sistemas de transporte de cátions, permitindo uma melhor

compreensão dos fatores envolvidos na homeostase destes organismos. Relações

de similaridade e divergência entre aspectos do funcionamento desses sistemas

puderam ser avaliadas, utilizando-se principalmente a levedura Saccharomyces

cerevisiae, o vegetal Arabidopsis thaliana e o homem. Relativamente ao K+, a

presença de uma P-ATPase ligada a seu transporte parece ser uma característica

presente nos outros reinos analisados, entretanto, outros carreadores de potássio de

S. pombe (os da família Trk), homólogos aos da levedura de brotamento, parecem

não estar representados no genoma humano e, apesar destes trocadores terem sido

observados na planta, suas seqüências se mostraram bastante divergentes nas

comparações realizadas. Os transportadores do íon Na+ apresentam-se, contudo,

como um alvo potencial para estudos comparativos entre estas espécies. O gene

SPAC15A10.06 codifica para uma proteína que é um possível transportador

intracelular, sendo relacionado com outros trocadores de sódio que possuem esta

localização na célula, como HsNHE6 e ScNHX1. Além disso, os dados indicam que

os outros dois carreadores de sódio desta levedura (SpSOD2 e SPAC3A11.09)

estão proximamente relacionados a outros transportadores deste íon de outros

fungos, o que aponta na direção da caracterização de uma nova subfamília de

transportadores de sódio característica deste reino.

48

Estes dados ilustram as diferentes estratégias de transporte adotadas por

estes organismos perante os desafios a que sua homeostase foi exposta. Os

eventos que afetaram cada uma das espécies estão ligados à evolução das famílias

de transportadores, o que remonta às adaptações que determinaram seu sucesso

evolutivo.

Outra abordagem possível é utilizar o banco de dados do ORFeome

(Matsuyama et al., 2006) de S. pombe, que contem a localização das proteínas

codificadas pelos ORFs deste fungo, para corroborar as inferências de localização

celular feitas neste estudo. Dados comparativos com este trabalho estão presentes

na Tabela 4.2 e confirmam nossa inferência no caso do transportador de Na+

SPAC15A10.06.

5.2- Análise dos fluxos de H+ na interação micorrízica arbuscular

O fungo Gigaspora margarita é uma das espécies que participa da interação

micorrízica arbuscular, uma das mais importantes relações de simbiose entre

microrganismos e plantas. Devido a intensa troca de substâncias entre os

simbiontes, temos estudado o fluxo de íons e as bombas de H+ presentes nas

membranas celulares de fungos e plantas buscando revelar o papel do gradiente

eletroquímico de H+ não só na energética da interação, mas também para a

sinalização do processo (Ramos, 2005).

No presente trabalho, os fluxos de H+ foram considerados como circuitos

oscilatórios e seu estudo foi feito por meio da aplicação de Transformadas Discretas

de Fourier, capaz de caracterizar as freqüências existentes em diferentes condições

e revelar possíveis freqüências harmônicas, sub-harmônicas ou super-harmônicas

ressonantes que possam conter informações relacionadas à sinalização celular

(Zonia e Feijó, 2003). A aplicação de Transformadas Discretas de Fourier pode ser

utilizada para caracterização dos circuitos oscilatórios compostos pelos fluxos de H+

ao longo do tempo para identificação de possíveis freqüências destes fluxos

características de cada condição ou estágio da interação. Um padrão destas

freqüências pode explicar em termos quantitativos a influência dos tratamentos no

comportamento das hifas fúngicas e células de raízes envolvidas nesta relação

49

simbiótica. As diferenças existentes entre os fluxos de H+, em termos das

freqüências apresentadas, nas diferentes condições (Figuras 4.5 a 4.10) teve sua

análise comprometida, pois não existia uma uniformidade no número de pontos de

leitura para as diferentes amostras. Como exemplo, temos o gráfico C da Figura 4.8

que possui o menor numero de pontos de leitura (19) e o gráfico B da Figura 4.5,

com o maior numero de leituras (268). Quanto maior o número de pontos de leituras

disponível, melhor é a capacidade da técnica em analisar as freqüências em que os

sistemas primários de transporte geram os fluxos de H+ para energizar o transporte

secundário de outros íons. Com base nos tratamentos com maior número de pontos

de leitura disponíveis, pudemos observar que as bombas de prótons trabalham em

variadas freqüências, o que é compatível com os ciclos de crescimento e nutrição

que devem se suceder em diferentes intervalos de tempo. Ou seja, as freqüências

verificadas devem corresponder à alternância de fluxos que descreve a energização

de diferentes transportadores secundários na membrana plasmática os quais

dissipam o gradiente eletroquímico de H+ durante o transporte de seus substratos, e

ao ciclo de crescimento celular dependente da manutenção deste mesmo gradiente

de H+ para a acidificação e distensão da parede celular. Corroborando esta hipótese,

ficou evidente neste estudo que as elevações de intensidade dos fluxos ocorrem na

região subapical correspondente a região de alongamento da hifa (de 10 a 20 μm de

distância da ponta da hifa). Compatível com um possível papel na sinalização dos

eventos que precedem a interação, os maiores estímulos do fluxo de H+ foram

verificados nas condições onde fora adicionado fluido apoplástico extraído de raízes

de plantas micotróficas, sugerindo que a planta secreta elementos de estímulo ao

crescimento da hifa que interferem primariamente nos sistemas de transporte de H+.

De maneira similar, mesmo no controle do meio sem fosfato, a região de

alongamento da hifa apresenta fluxos mais pronunciados em relação às outras

regiões, o que também está relacionado a um maior crescimento das hifas fúngicas

nesta condição (Ramos, 2005).

O fato de o nosso íon objeto de estudo ser o próton dificulta análises mais

detalhadas em virtude das dinâmicas e múltiplas interações em que este íon

participa em meio aquoso. Não existe ainda uma descrição molecular clara para o

comportamento de prótons hidratados (Headrick et al., 2005), de modo que estudos

no campo da mecânica quântica, da análise de espectro vibracional dos prótons e

50

da dinâmica molecular das proteínas e solutos em relação a suas conchas de

hidratação, precisam avançar mais para possibilitar uma modelagem precisa das

‘assinaturas de prótons’ que sinalizam diversos fenômenos celulares.

Tanto a classificação por similaridade das proteínas transportadoras em

levedura, como a exploração do banco de dados genômico e caracterização

funcional das bombas de prótons em cana-de-açúcar fornece um conjunto de

informações que podem ser utilizadas na construção de um cenário para o estudo

da interação simbiótica entre fungos micorrízicos e plantas. Para tanto um estudo

comparativo in silico com espécies que participam da interação micorrízica, como os

fungos Glomus mosseae e Gigaspora margarita e a planta Medicago truncatula,

poderia ser feito para se averiguar a similaridade entre os transportadores de H+

destes organismos modelo e os organismos utilizados em nossa pesquisa e

estabelecer parâmetros de comparação funcional, a fim de lançar bases para

estudos futuros de modelagem matemática da sinalização e da troca de nutrientes.

Entretanto, os bancos de dados genômicos destes organismos ainda não estão

disponíveis abertamente na internet, para possibilitar tal estudo.

Outra possível abordagem seria a análise de séries temporais, que é uma

área da Estatística dedicada ao estudo de observações que apresentam

dependência no tempo. Este tipo de abordagem possibilita diagnosticar e prever o

comportamento de variáveis em função do tempo possibilitando uma melhor

compreensão destes sistemas, bem como viabiliza a introdução de medidas de

intervenção, juntamente com a previsão dos possíveis resultados. A análise de

séries temporais busca possíveis padrões de repetição que podem ser

significativamente diferentes entres os diferentes tratamentos a que foram expostas

a hifas fúngicas e raízes vegetais.

A análise de caos poderia fornecer uma caracterização mais complexa do

comportamento do fluxo de prótons ao longo do tempo e em cada condição em

virtude da capacidade desta técnica em diferenciar condições de caos, semi-

periodicidade e periodicidade por meio da computação dos expoentes de Lyapunov,

que mede a taxa de divergência média em relação a uma condição inicial. Com base

nos valores dos expoentes dimensionais encontrados para o sistema, pode-se

determinar em que tipo de situação, caótica ou não, ele se encontra. Os fluxos de

prótons são considerados como um sistema dinâmico, onde o mapeamento de

51

expoentes de Lyapunov em dimensões fractais possibilita averiguar a ocorrência de

padrões não-lineares de caos ou semi-periodicidade em sistemas multi-dimensionais

onde uma perturbação foi inserida, baseado nas diferenças em relação a condição

inicial (Chirikov, 1979). O inconveniente desta técnica é que ela necessita de uma

quantidade muito grande de dados, em torno de 25.000 pontos de leitura

experimental seqüencial, para que possa fornecer informações confiáveis. Tal

quantidade de dados é simulada computacionalmente em experimentos mecânicos

que utilizam a técnica de Lyapunov. Por limitações técnicas do aparelho de sonda

vibrátil o tempo de leitura necessário para tal se obter tal coleção de dados torna

inviável, pois excede o tempo de crescimento da própria amostra biológica. Uma

possibilidade viável futuramente, a partir do melhor entendimento das interações

moleculares características dos prótons em solução num ambiente próximo à célula

e da dinâmica molecular das proteínas que os transportam, é a simulação

computacional dos dados dos fluxos de H+ para que os expoentes de Lyapunov

associados a esse fenômeno possam começar a ser estudados.

5.3- Expressão e Atividade dos Transportadores de H+ em Saccharum sp. L.

Analisamos a expressão de genes codificando proteínas transportadoras de

prótons da cana-de-açúcar por meio de ferramentas de bioinformática, uma técnica

conhecida como “in silico Northern”. Os resultados sugerem que a mineração de

dados em bancos genômicos pode ser útil na revelação de padrões inusitados da

expressão de proteínas específicas em diferentes tecidos, uma vez que possibilita a

visualização abrangente de várias seqüências representativas de uma dada

condição ou tecido. O estudo da atividade das proteínas transportadoras de prótons

em membranas de cana-de-açúcar permitiu averiguar a existência de uma relação

entre os níveis de expressão gênica avaliada in silico e a atividade cinética das

bombas de H+ nos mesmos tecidos.

A maior expressão destes sistemas transportadores primários de prótons nas

membranas de células da casca da cana-de-açúcar pode ser considerada como um

fato estranho numa análise superficial, mas que pode ser explicado pelo papel

desempenhado por essas proteínas no crescimento das células vegetais, não

52

apenas com relação à nutrição, mas, neste caso, existe uma relação com a Teoria

do Crescimento Ácido (Hager, 2003). Foi demonstrado que o alongamento de

células vegetais ocorre juntamente com um aumento na atividade da H+-ATPase de

membrana plasmática mediado pela auxina, o que aumenta a extrusão de H+ e, por

outro lado, faz com que a concentração intracelular de K+ cresça. Este transporte de

prótons faz com que o pH da parede celular baixe, ativando enzimas e proteínas

sensíveis ao pH que atuam no afrouxamento e no crescimento da parede celular.

Um mecanismo idêntico foi demonstrado para o crescimento cambial em brotos de

álamo, Populus nigra e Populus trichocarpa (Arend et al., 2002). Portanto, é possível

que estas proteínas estejam relacionadas ao crescimento do diâmetro do colmo da

cana-de-açúcar. E, ainda, é possível que esta maior quantidade de proteínas tenha

também ligação com o fato das células da casca serem a interface do vegetal com o

meio ambiente, necessitando, portanto, de uma barreira adicional de proteção. Isso

teria relação com a modulação da atividade da H+-ATPase em processos de

estresse e em respostas de defesa e hipersensibilidade, já demonstrada em outros

vegetais (Magnotta e Gogarten, 2002; Schaller e Oecking, 1999; Sugimoto et al.,

2004).

Contudo, os resultados de um “Northern” eletrônico de uma proteína

codificada por várias famílias de genes (como as H+-ATPases do tipo P) devem ser

analisados mais cuidadosamente, levando em consideração a ocorrência de várias

isoformas. Isto ocorre porque diferentes isoformas da P-H+-ATPase ficaram

agrupadas no nosso tratamento in silico, mas podem ter mecanismos de regulação

bastante diversos, afetando a atividade demonstrada nos experimentos bioquímicos

(Morsomme e Boutry, 2000), o que inspira estudos futuros abordando

especificamente estes transportadores e a participação de cada uma das isoformas

na bioenergética de Saccharum sp. L.

As medições de atividade das proteínas mostraram que as bombas de

prótons exibem maior atividade na casca da cana-de-açúcar do que nos tecidos

adjacentes mais internos com destaque para a H+-PPiase que também parece estar

mais ativa na casca do que no colmo. A participação da H+-PPiase no transporte de

H+ no tonoplasto faz com que o PPi seja um metabólito-chave nos sistemas vegetais,

permitindo a economia de ATP (Rea et al., 1992; Maeshima, 2000). Na cana-de-

açúcar, este transporte tem seu papel ressaltado, pois um menor gasto de ATP

53

significa um maior acúmulo de açúcar, alvo do interesse comercial nesta cultura.

Estes dados sobre a indução da expressão das bombas de H+ vacuolares também

pode estar relacionada com a Teoria do Crescimento Ácido segundo sua versão

mais recente que inclui a ativação destas bombas para possibilitar a entrada de K+ e

água necessários ao turgor celular e expansão do vacúolo central e da célula como

um todo (Zandonadi et al., 2007).

54

6- CONCLUSÕES

Este trabalho ressalta a importância da elaboração teórica e sistematização

dos dados obtidos em experimentos biológicos, bem como a utilização de diferentes

abordagens que empregam recursos de tecnologia da informação na busca da

integração do conhecimento sobre transporte iônico em membranas biológicas de

plantas e fungos.

Um inventário dos genes que codificam para proteínas transportadoras de

cátions da levedura de fissão, S. pombe, foi apresentado, bem como um estudo

funcional e filogenético de algumas destas seqüências, ressaltando a importância da

utilização da bioinformática para orientar a formulação de experimentos em

organismos com genoma seqüenciado.

A análise dos dados dos fluxos de H+ em hifas do fungo micorrízico Gigaspora

margarita ainda não possibilita a descrição de modelos consistentes para a

influência deste fluxo como sinalizadores do crescimento celular. Todavia, o

presente estudo apresenta alguns caminhos para a aplicação da sistematização

matemática em estudos de sistemas translocadores de íons, havendo testado o

potencial e revelado limitações que podem balizar futuras abordagens mais efetivas

no delineamento dos padrões existentes no fluxo de H+ para finalmente revelar o

que chamamos de assinaturas de prótons da sinalização celular.

Por fim, iniciamos um estudo de validação da avaliação da expressão gênica

in silico procedendo à comparação dos dados do banco SUCEST com as atividades

dos sistemas primários transportadores de H+ da cana-de-açúcar. A caracterização

de uma maior indução e ativação da H+-PPiase na casca do colmo em relação aos

tecidos mais internos, representa um passo inicial na revelação das particularidades

bioenergéticas envolvidas na alta eficiência desta espécie na produção de açúcar.

55

7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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i

ANEXO I

Leitura dos fluxos de H+ por micro-sonda vibrátil

Esta metodologia foi aplicada pelo Dr. Alessandro Coutinho Ramos durante o

seu período de estágio de ‘doutorado-sandwich’ no Instituto Gulbenkian de Ciência,

em Portugal (Ramos, 2005) e os dados por ele cedidos foram utilizados para o

estudo com Transformadas Discretas de Fourier apresentado neste trabalho.

Os dados detalhados temporalmente sobre o transporte de prótons nas hifas

foram obtidos por meio de micro-sondas vibráteis. A grande vantagem desta técnica

é que estas sondas são capazes de medir diferenças de potencial em meio líquido e,

desta forma, possibilitam o estudo de material biológico in vivo. O fluxo extracelular

de prótons foi medido usando uma micro-sonda vibrátil seletiva ao próton (Kühtreiber

e Jaffe, 1990; Kochian et al., 1992; Feijó et al., 1999), contendo um ionóforo seletivo

a este íon. Os sinais foram medidos através de um amplificador

(www.applicablelectronics.com), sendo que a vibração e o posicionamento do

eletrôdo foram obtidos através de motores posicionais (stepper-motors), que

permitem um movimento tridimensional, ajustados através de software. A aquisição

dos dados, o seu processamento preliminar, o controle de posicionamento

tridimensional do eletrodo e a focalização do microscópio foram feitos com o

software ASET (Science Wares [East Falmouth, MA] – www.sciencewares.com). A

sonda oscila com uma distância de excursão de 10μm, em ciclos de 2,33s. A

medição do potencial elétrico feita mais próxima a célula foi subtraída da medição

feita a 10μm de distância, ao fim do ciclo. Esta subtração representa a capacidade

de auto-referência da sonda e permite dizer se há influxo ou efluxo líquido de íons

numa dada região da membrana. Referências do meio foram tomadas a mais de

2mm do material analisado e subtraídas dos valores diferenciais, em mV, durante o

processamento dos dados. O tratamento posterior dos dados necessário para

calcular o fluxo iônico em um determinado ponto [x, y, z] do espaço, foi realizado

através da aplicação da lei de Fick (expressa pela equação: J = – D (Δc/Δx)), que

define um fluxo (J), em função da difusividade (D) e da relação entre as diferenças

de concentração (Δc) e distância (Δx).

ii

A dinâmica do processo de micorrização foi estimulada artificialmente por

meio de extratos radiculares. O transporte de prótons em hifas do fungo micorrízico

Gigaspora margarita foi estudado sob efeito de duas concentrações (10μL e 20μL)

de fluido apoplástico de raízes de trevo, Trifolium repens, para medir o estímulo

deste fluido no crescimento das hifas. Dois diferentes meios, com ou sem fosfato,

foram utilizados, para averiguar a inibição da interação micorrízica mediada por este

íon. Para cada um destes tratamentos, as medições dos fluxos foram realizadas em

três diferentes regiões da hifa: na ponta da hifa (TIP), de 10 a 20 µm de distância da

ponta e a 200 µm da ponta.

Feijó, J.A., Sainhas, J., Hackett, G. R., Kunkel, J.G. e Hepler, P.K. (1999) Growing

pollen tubes possess a constitutive alkaline band in the clear zone and a

growth-dependent acidic tip. J Cell Biol. 144:483–496.

Kochian, L.V., Shaff, J.E., Kühtreiber, W.M., Jaffe, L.F., Lucas, W.J. (1992) Use of an

extracellular, ion-selective, vibrating microelectrode system for the

quantification of K+, H+, and Ca2+ fluxes in maize roots and maize

suspension cells. Planta. 188, 601-610.

Kühtreiber, W.M., Jaffe, L.F. (1990) Detection of extracellular calcium gradients with

a calcium-specific vibrating electrode. J Cell Biol. 110:1565-1573.

Ramos, A.C. (2005) Papel do fluxo de prótons na sinalização das diferentes fases da

interação micorrízica arbuscular. Tese (Doutorado em Produção Vegetal) –

Campos dos Goytacazes – RJ, Universidade Estadual do Norte Fluminense

– UENF.

i

ANEXO II

Análise bioquímica das bombas de H+

Os dados relativos à atividade catalítica e ao transporte de prótons através da

membrana foram obtidos e cedidos pela mestre Inga Gonçalves e pela doutoranda

Michele Catunda.

O material vegetal utilizado consistiu em amostras da casca do colmo e do

colmo destituído da casca da cana-de-açúcar coletadas de híbridos interespecíficos

da variedade SP80-3280 de Saccharum sp. L. Para a preparação das vesículas de

plasmalema e tonoplasto foi utilizado o método de centrifugação diferencial (Giannini

e Briskin, 1987), que emprega uma ultra-centrífuga (centrífuga HITACHI himac CP).

A purificação das vesículas de membrana plasmática e de tonoplasto foi realizada

através de um gradiente de sacarose (Serrano, 1989).

A determinação da concentração destas proteínas foi feita em

espectrofotometria a 595 nm (Bradford, 1976) utilizando-se um espectrofotômetro

SHIMADZU UV – 120. As atividades H+-ATPásica e H+-pirofosfatásica foram

determinadas colorimetricamente (Fiske e Subbarow, 1925), pela dosagem de

fosfato inorgânico (Pi) liberado durante a hidrólise enzimática de ATP ou PPi.

O monitoramento do gradiente de prótons foi feito pela medição da taxa de

decréscimo da fluorescência da sonda fluorescente metacromática ACMA (9-amino-

6-cloro-2-metoxiacridina), excitada com um feixe de λ= 415 nm e a emissão captada

a λ= 485 nm, em fluorímetro HITACHI F 4500. Em posse dos dados obtidos com a

curva de ΔpH, determinou-se a velocidade inicial da reação (V0) e a variação da

fluorescência máxima (ΔFmáx), através das seguintes equações:

V0 = [F0 / (Fmáx * T)] * 100 (eq. 1) onde:

F0 = fluorescência dependente de V0 em um tempo T qualquer, determinada

pela extrapolação de uma reta tangente à maior inclinação inicial da curva para o

eixo do tempo;

Fmáx = fluorescência máxima;

ii

T = tempo de reação em minutos.

ΔFmáx = Feq / Fmáx * 100 (eq. 2) onde:

Feq = fluorescência de equilíbrio, determinada como fluorescência que reflete

o equilíbrio entre o influxo e o efluxo de H+ nas vesículas, sendo determinada pela

equação 3:

Feq = Fmáx – FF (eq. 3) onde:

Fmáx = fluorescência máxima;

FF = fluorescência final.

Os ensaios contiveram aproximadamente 100μg de proteína da casca ou do

colmo sem casca da cana-de-açúcar, respectivamente, em 2mL de volume de

reação. Para as proteínas P-H+-ATPase (gráficos com a letra A) e V-H+-ATPase

(gráficos com a letra B) foi adicionado 0.1M ATP para iniciar sua atividade, e no caso

da V-H+-PPiase (gráficos com a letra C) houve a adição de 10mM PPi. Ao final do

tempo de medição, 20 mM NH4Cl foi usado para recuperar a perda da fluorescência.

As Figuras II.1 e II.2 mostram, respectivamente, dados sobre a atividade

hidrolítica e a velocidade inicial das enzimas H+-ATPase tipo P (P-H+-ATPase), H+-

PPiase vacuolar (V-H+-PPiase) e H+-ATPase do tipo V (V-H+-ATPase). Tanto a H+-

ATPase tipo P quanto a H+-PPiase tipo V tiveram uma atividade em torno de seis

vezes maior na casca em relação ao colmo, e a H+-ATPase do tipo V teve um

aumento menos destacado na casca, mas ainda assim com o dobro da atividade do

colmo.

O bombeamento de H+ através da membrana de vesículas extraídas de

células da casca e do colmo da cana-de-açúcar é mostrado na Figura II.3. A perda

de fluorescência da sonda ACMA ocorre à medida que os prótons vão sendo

bombeados através da membrana. Quanto mais acentuada a curva de perda de

fluorescência, maior estará sendo o transporte de H+ naquela vesícula. Confirmando

os dados obtidos nos outros experimentos, a principal diferença no transporte de H+

iii

quando se compara a casca (gráficos com o número 1) e o colmo sem a casca

(gráficos com o número 2), ocorre com a V-H+-PPiase (gráficos 1C e 2C).

Figura II.1. Comparação das atividades hidrolíticas da P-H+-ATPase, V-H+-

PPiase e V-H+-ATPase de Saccharum sp. L. As atividades foram medidas depois de

30 minutos de incubação a 30ºC.

Figura II.2. Velocidade inicial das enzimas P-ATPase, V-PPiase e V-ATPase

em vesículas de membranas das células da casca (stem bark) e do colmo (stem

devoid of bark) da cana-de-açúcar.

iv

Figura II.3. Bombeamento de H+ em vesículas de membranas da casca (1) e

do colmo (2) de cana-de-açúcar. A perda de fluorescência da sonda ACMA sensível

a H+ foi iniciada pela adição de 1mM ATP para a P-ATPase (A) e a V-ATPase (B) e

de 0,1mM PPi para a V-PPiase (C). Os ensaios contiveram ~100μg de proteína em

2mL de volume de reação. 20 mM NH4Cl foi usado para dissipar o gradiente de H+ e

recuperar a perda da fluorescência.

v

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