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NO OLHAR, O ENCONTRO ORIGINÁRIO
1
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
2
NO OLHAR, O ENCONTRO ORIGINÁRIO
3
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
NO OLHAR, O
ENCONTRO
ORIGINÁRIO
1ª edição
Belém / PA
2019
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
4
Copyring© Jonas Matheus Sousa da Silva, 2019
®Todos os direitos reservados
*Correção gramatical e estilística: Prof.: Anselmo
Gomes;
.: Maria Conceição de Lima.
*Diagramação: Jonas Silva
NO OLHAR, O ENCONTRO ORIGINÁRIO
5
NO OLHAR, O ENCONTRO ORIGINÁRIO
Arte belles images femmes –woman. In :
< mamietitine.centerblog.net >
Elabora-se uma hermenêutica filosófica do
poema Teus olhos, de Luciane Oliveira Moraes.
Embasa-se, para tanto, nos pensamentos de
Merleau-Ponty, Jonas, Heidegger, Buber, e Rahner,
entre outras fontes; para refletir o conceito de
Encontro originário, vivenciado pela poetisa,
abrindo a interpretação para o interpessoal-
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
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encontro-inefável, que manifesta o ser-com-os-
outros-no-mundo, fadado ao devir, porém fundado,
assim como todas as coisas, em Deus – “Tu
ete n ”, que mesm in minável, mani esta-se ao
ser humano.
Palavras-chave: Hermenêutica filosófica.
Poema. Encontro originário. Devir. Deus.
1 INTRODUÇÃO
Construindo uma hermenêutica do poema
“Teus lh s”, de Luciane Olivei a M aes, text
disponível na internet, o presente artigo coloca em
relevo a temática do encontro interpessoal, que
parte do olhar como vivência do inefável, momento
do encontro e da compreensão; que acontece no
devir de ser-com-o-outro, enlaçando dois mundos,
nos quais o Tu-humano que advêm ao encontro do
Eu, p ta em si sign da p esença d “Tu ete n ”,
d “Sum ut ”, que dá undament a t d s s
encontros originários e garante, para a pessoa
NO OLHAR, O ENCONTRO ORIGINÁRIO
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humana, a felicidade perene. Certamente, o
encontro originário, experimentado pela poetisa, no
seu fim, impulsionou-a para compor e escrever o
poema em questão, colocando aquele encontro em-
obra-de-verdade.
Embasa-se esta atividade hermenêutica de
“Teus lh s”, nã tant en atizand a biografia de
Luciane Oliveira que, na fonte virtual não oferece
muitas informações sobre si, porém detém-se no
texto poético e nos enfoques filosóficos e
teológicos, os quais pautam os subtemas que
compõem o desenvolvimento desta, e são:
Merleau-Ponty, Hans Jonas, Martin Heidegger,
Martin Buber, Karl Rahner, entre outros que
preservam sua importância na estrutura vigente.
Fundamentando-se em consideráveis
pensamentos filosóficos e teológicos, pode-se
ent a na iluminaçã de “Teus lh s” que c nv ca
a presença do ser humano na sua dignidade de
portador das centelhas de Deus. Encontrar-se com o
outro ser humano que se faz próximo é
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
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compreender que a existência possui um
fundamento eterno.
Deste modo, o presente artigo está
subdividido na seguinte estrutura temática:
◾O p ema “Teus lh s”;
◾Os olhos;
◾Pôr-em-obra-da-verdade;
◾Hermenêutica do encontro;
◾e O advent d “Tu ete n ”.
2. O OEMA “TEUS OLHOS”
A fim de se trabalhar os pensamentos
filosóficos de Heidegger e Buber, entre outros
autores consultados; evidencia-se como a obra de
arte escolhida - desde que o presente artigo almeja
enfatizar conotações, estética e hermenêutica, em
relação ao ato de olhar-o-outro no encontro - o
p ema “Teus lh s” , publicad em mei
eletrônico: <http://www.webartigosos.com>, em 22
de julho de 2011, assinado por Luciane Moraes
NO OLHAR, O ENCONTRO ORIGINÁRIO
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que, além deste poema, divulgou outros escritos
seus, na citada página virtual, intitulados: Mistério
subentendido; Vida; e Sobre equívocos, narcisos e
imediatismos.
Abaixo, cita-se na integra o texto poético
chamad “Teus lh s”:
“Ah! Teus olhos... /Teus olhos são o puro
reflexo da ascensão, /São o reflexo da glória. /São o
reflexo de alguém que tudo pode /E que tudo vê.
/São olhos soberanos /E eu, sou apenas mais uma
eterna subalterna desse teu olhar... /Teus olhos são
a água da vida /Que convida a humanidade a
banhar-se. /Teus olhos são profundos, /São puras
bênçãos do grande Rei. /Teus olhos são dádivas,
/Minha dívida benigna. /Teus olhos me dão um
prazer indescritível, /Daria tudo para admirá-los
por toda a eternidade. /Ah! Teus olhos... /São
divinos! /Chego a pensar que não são teus, /Que
são de Deus /Pois o seu brilho cintilante emana a
bênção divina sobre nós, /Meros humanos. /Não
merecemos tanto! /O Sol que há em teus olhos; /Dá
luz, calor, vida aos seres, vida ao Universo. /E
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
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causa inveja às outras estrelas, /Pois elas pouco
duram /E não têm o teu brilho de esperança.
/Quando tu pestanejas, /Não significa que a
Esperança acaba /Que a vida morre, /Que o
Universo explode. /E sim, que é o anúncio de que
temos que encher nossos corações, /Repletos de dor
e tristeza com ainda mais Esperança, /Pois o brilho
que virá será ainda mais intenso /E mais
maravilhoso que o anterior. /Quando tu dormes, /É
chegada a noite aqui na Terra /E todos os seres
vivos permanecem acordados /Para vigiar teu sono
e te admirar dormindo. /Ao final, todos dormem de
olhos abertos, /E sonham coisas maravilhosas, /Pois
teus olhos são o ingresso ao Paraíso. /E mesmo
cobertos pelas tuas pálpebras, /Continuam a brilhar,
/Pois teu brilho está refletido e contido na Lua, que
é o teu sorriso. /E quando tu acordas, /E os abres,
lentamente, /Aqui é chegado um novo dia. /Teu
crepúsculo anuncia as boas novas de Deus!
/Quando tu choras, aqui é chuva. /Não chuva de
tristeza, mas de intensa alegria, /Pois tuas lágrimas
são água pura e cristalina, /E lava a alma dos
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homens, /Cura os feridos, /Dá alegria aos que estão
tristes, /Devolve a vida aos que perderam a razão
de viver. /Teus olhos são um enigma indecifrável,
/Eles escondem segredos, /De alguém que tem
muito a dizer; /Mas ninguém ousa tentar descobri-
los /Pois é pecado. /E quem tenta descobrir, /Morre
frustrado, /Apaixonado... /Teus olhos são o reflexo
do Amor, /Não esse amor humano frívolo, /Mas
aquele amor próprio do filho de Deus. /Teus
olhos... /Teus olhos são a luz que me guia dentro
dessa minha escuridão, /Escuridão de sentimentos e
pensamentos. /Teus olhos são a inspiração de uma
poetisa inábil que tem tanto a dizer, /Porém, não
sabe mais escolher e escrever as palavras para
exaltar estes olhos, /Pois as palavras são
Minúsculas e Insignificantes, /Perto desse teu olhar.
/Graças a teus olhos, sei que Deus está no meio de
nós. /Este mesmo Deus a quem peço todos os dias,
/Que não me deixe morrer sem que os veja /Pela
última vez... /Por isso, te imploro que não afastes
de mim estes benditos olhos, /Porque eles me dão a
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
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vida necessária para que, finalmente, /Eu possa
m e p eles”. (MORAES, 2011).
O p ema “Teus lh s” é c mp st de 81
versos, formando uma única e longa estrofe de
configuração-gráfica espiralada. As metáforas que
aparecem nesse texto poético expressam
densamente: fenômenos naturais, oposição trevas-
luz, sentimentos e atos da pessoa humana. O
substantivo olhos, que tematiza esta arte, é repetido
19 vezes, além do título.
Teus olhos expressa uma simbiose entre os
polos do encontro interpessoal e da irrupção
mística da divindade; temas estes, defendidos nos
textos de Luciane Moraes, em detrimento da
fugacidade das relações humanas na esfera da Pós-
modernidade, conforme a própria autora afirma,
seguindo a esteira de Zigmunt Bauman - sociólogo
polonês, autor de Modernidade líquida e Amor
líquido, no texto: Sobre equívocos, narcisos e
imediatismos:
“Os indivídu s, in luenciad s pela vivência
em meio a um mercado de consumo marcado pela
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competição, passaram a enxergar o outro como um
inimigo em potencial. Diante disso, entre
relacionamentos superficiais, valores egocêntricos
e atitudes que priorizam o imediato, o altruísmo vai
desfalecendo e se tornando uma raridade no mundo
c ntemp âne ”. (MORAES, 2011).
Zigmunt Bauman
Neste assomo das dimensões do encontro
dialógico e da irrupção do mistério sagrado, os
olhos-do-outro acarretam uma dimensão
transcendente, que dispõe a pessoa que os
c ntempla “apaix nadamente”, num enc nt
ontológico, ou originário.
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
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3 OS OLHOS
Fazendo advir a temática dos olhos, ou da
visão, aclarando-a na palavra poética, enfatiza-se o
sentido da visão nos pensamentos de Merleau-
nty, c m “O lh e espí it ”, e em Hans J nas,
n text : “A n b eza da visão: um estudo sobre a
en men l gia d s sentid s”.
Evidencia-se, com esses pensadores
contemporâneos o fenômeno da visão, ou dos
“ lh s”, que – na composição poética – pertencem
a um Tu humano. Como transcrevemos de Teus
lh s: “Ah! Teus lh s... /Teus lh s são o puro
reflexo da ascensão, /São o reflexo da glória. /São o
e lex de alguém que tud p de /E que tud vê”.
Para Merleau-Ponty, a humanidade do ser
humano se dá pela corporeidade sentida e
visualizada, pois se o ser humano não pudesse
sentir ou olha seu p óp i c p , “[...] esse c p
quase adamantino que, não fosse carne totalmente,
também não seria um corpo de homem, e não
have ia humanidade” (MERLEAU-PONTY, 1984,
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p.89). É com o seu corpo que o ser humano está
atuante no mundo. Enxergando-se como corpo, o
homem tem um impulso para ser consciente de sua
própria existência, na sua possibilidade de ser no
seu mundo cultural, interagindo dialogicamente
com os demais seres humanos. O olhar, ao modo de
propriedade do espírito humano, remete ao pensar-
se e pensar-com-os-outros, pois, para perceber a
existência dos outros seres humanos e entrar em
interação com esses, é necessária a anterior
percepção da própria existência no corpo, pois é
um existir na possibilidade. Os olhos refletem a
ascensão como possibilidade do devir pessoal para
a autenticidade, revelando o homem a si, bem como
ao mundo e aos outros. Possivelmente, é esta a
experiência da poetisa que culmina na redação do
p ema, p is lh é: “Inst ument que se m ve
por si mesmo, meio que inventa seus próprios fins,
o olho é aquilo que foi comovido por um certo
impacto do mundo e que o restitui ao visível pelos
t aç s da mã ” (MERLEAU-PONTY, 1984, p.90-
81).
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
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Os traços grafados pela mão da poetisa, em
Teus olhos, não restitui, pela técnica, sua comoção,
compreendida em seu olhar no encontro, sem
mediação, com o Tu, a quem vê; no entanto, a
poetisa põe o seu mover-se ao encontro, no Tu que
lhe advêm tornando-se tudo, na iluminação
penumbrosa da palavra-poética. Teus olhos fala de
um encontro interpessoal que se dá na
movimentação mundana, mas transcende o mundo,
pois o mundo da autora se compreende com o
mundo do Tu encontrado. Um encontro imediato
que acontece pela somaticidade, esta que é inerente
pelo olhar ao próprio ser humano.
Assim, “A visã não é a metamorfose das
próprias coisas na sua visão, a dupla pertença das
coisas ao grande mundo e a um pequeno mundo
privado. É um pensamento que decifra estritamente
os sinais dados no corpo (MERLEAU-PONTY,
1984, p.95). ”
NO OLHAR, O ENCONTRO ORIGINÁRIO
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Merleau-Ponty in:
< postcogtopics.blogspot.com >
A visão, nesse sentido, é compreensão
esvaziada do Eu que se encontra receptivamente
com a indeterminação do ser do Tu que lhe advêm.
Este é o momento de inominável proximidade de
duas presenças que se dão no olhar místico que
ge a a p esia; esta “[...] visã é enc nt , c m
numa encruzilhada, de tod s s aspect s d se ”
(MERLEAU-PONTY, 1984, p.109).
Somente quando o encontro se encerra, com a
não-presença do Tu, o Eu enuncia a essência do
encontro com a palavra-poética, na meia-luz que,
metaforicamente, mostra e esconde o que se deu no
encontro originário.
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
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O olho, como “[...] janela pa a mund e a
mesm temp espelh da alma” (LURKER, 1997,
p.497), assoma, na simb l gia lite á ia de “Teus
lh s”, como elucidação de um autêntico encontro
sem palavras, donde brota a obra de arte.
A visão não se detém à boa saúde dos olhos,
mas está como capacidade inerente ao ser humano,
também chamada contemplação, como quer Hans
J nas: “Os ceg s p dem ‘ve ’ p mei de suas
mãos, não por lhes faltar o uso dos olhos, mas, sim,
por serem dotados da capacidade universal da
‘c ntemplaçã ’ e só acidentalmente te em sid s
p ivad s d ó gã da visã ” (JONAS, 2004, p.165).
Distanciar-se do que é visto, possibilita
pensar no momento do encontro e recompô-lo na
linguagem. “A distância d que é vist nece uma
‘imagem neut a’, e esta, di e entemente d e eit ,
pode ser contemplada e comparada, conservada na
memória e recordada, variada na imaginação e
recomposta a bel-p aze ” (JONAS, 2004, p.172).
Em “Teus lh s”, adve samente a um
discurso científico, temos uma recomposição
NO OLHAR, O ENCONTRO ORIGINÁRIO
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artística na metáfora poética, que não se deixa
reduzir à relação gnosiológica entre sujeito e
objeto, no entanto, conserva o caráter presencial,
pois a palavra-poética, chama à presença, o
encontro originário.
4 PÔR-EM-OBRA-DA-VERDADE
Trilhando o caminh que desc b e “Teus
lh s”, t azem s p ema à luz da he menêutica da
linguagem, de Martin Heidegger. Para tanto,
evidenciaremos os conceitos heideggerianos que
bem casam com os versos da arte em questão, pois
aqui a “[...] inte p etaçã nada mais é do que o
desenvolvimento do compreender, apropriando-se
das possibilidades em que o poder-se p jeta”
(NUNES, 2002, p.18).
Desse modo, chamam a atenção nas palavras
poéticas de Luciane Moraes, os temas: glória-luz;
anúncio; descobrimento; morte; e palavras,
conforme enfatizamos.
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
20
Em “A igem da b a de a te”, Heidegge
a i ma que a essência da b a de a te é “pô -se-em-
obra-da-ve dade” d ente, quando elaborou a
inte p etaçã d quad “Os sapat s da
camp nesa”, de Van G gh. “Na b a de a te, põe-
se em ob a a ve dade d ente: ‘pô ’ signi ica aqui,
erigir. Um ente, um par de sapatos de camponês,
acede na obra ao estar na clareira do seu ser. O ser
d ente acede à pe manência d seu b ilh ”
(HEIDEGGER, 1991, p.27).
"Os sapatos da camponesa", de Van Gogh
Assim, a essência da obra de arte é erigir na
linguagem o desvelamento, à meia-luz, do ente que
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é um não-nada. Um desvelamento-encobrimento, o
que signi ica “à meia-luz”, d ente na b a de a te,
que é linguagem e, por conseguinte, poesia,
constitui o momento originário no qual a poetisa se
confronta com o desvelamento do ser do ente; é o
momento do encontro de dois mundos presenciais –
sobretud n cas de “Teus lh s”; é este
momento de enlaçar-se-com, diferentemente de
aprisionar- , desde que “enc nt ” implique
advent e m viment , “[...] lá nde nã
encontramos a palavra certa para dizer o que nos
concerne, o que nos provoca, oprime ou
entusiasma” (HEIDEGGER, 2003, p.123).
“ assand a essaltament de c nceit s
heideggerianos no poema em questão, iniciamos
pela temática “gló ia-luz”, c n me ev ca
p ema: “Sã e lex da gló ia. /[...] /O S l que há
em teus olhos; /Dá luz, calor, vida aos seres, vida
a Unive s ”. Fala de “gló ia-luz” é e e i -se ao
advento glorioso da divindade que, na meia-luz, dá
sentido a um mundo, o mundo da poetisa. Para
tant , s lh s p ssuem um “s l”, d qual depende
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
22
a sua vida e de t d “unive s ”; s lhos,
cantad s pela “p etisa da luz”, chegam n enc nt
com uma potência divina, pois estes fazem aparecer
todo um movimento de entes num universo,
iluminando- s. a a Heidegge : “Dignidade e
esplendor não são propriedades, a par e por detrás
das quais está ainda o deus, pelo contrário, na
dignidade, no esplendor, é que advém o deus. No
reflexo deste esplendor, reluz, i. é., brilha o que
chamam s mund ” (HEIDEGGER, 1991, p.34). A
presença, encontrada nos olhos, pelo olhar da
poetisa, é pela arte poética a glorificação divina que
abre um mundo na linguagem.
Na perspectiva do anúncio, “ esia é cant
[...]. O canto é a festa de chegada dos deuses, a
chegada quand tud se aquieta” (HEIDEGGER,
2003, p.141); n p ema, s lh s sã “[...]
anúncio de que temos que encher nossos corações,
/Repletos de dor e tristeza com ainda mais
Espe ança”. Os lh s cantad s anunciam sua
chegada só mediante a linguagem; desse modo, o
NO OLHAR, O ENCONTRO ORIGINÁRIO
23
que anuncia é a poesia, onde os olhos cantados
advêm, manifestando-se.
Exprimindo a temática da “m talidade”, a
poesia canta a morte intrínseca ao encontro dado-
na-luz. De fato, se a morte não fosse peculiar ao
encontro originário, não se comporia o poema, já
que a arte é uma convocação do não presente que
está vindo.
Canta p ema: “E quem tenta descobrir,
/Morre frustrado, /Apaixonado... / [...] /Porque eles
me dão a vida necessária para que, finalmente, /Eu
p ssa m e p eles”.
Tentar descobrir implica movimento
apropriador sobre o ser do ente, que se dá no
encontro à meia-luz; essa violência sobre o Tu é
frustrada porque o ser é dinâmico; ousar acorrentar
o ser é decretar a morte do encontro, é fechar-se ao
que advêm com a finalidade de se dá no
desvelamento-velador. Tentar descobrir é matar o
encontro, desde que se atenta contra o devir próprio
do ser-do-ente-adveniente; o que significa
robustecer a mortalidade-temporalidade do ser.
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
24
“A m te é uma p ssibilidade nt lógica que
a própria presença sempre tem de assumir. Com a
morte, a própria presença é independente em seu
poder-ser mais próprio. Nessa possibilidade, o que
está em jogo para a presença é pura e simplesmente
seu ser-no-mundo. Sua morte é a possibilidade de
p de nã mais se p esença”. (HEIDEGGER,
2009, p.326).
Presença, segundo Marcia Schuback – uma
entre os tradutores de Heidegger no Brasil –
equivale a c nceit heidegge ian “Dasein”, que
compreende a condição humana que é existência;
ser-no-mundo; ser-com-os-outros; e ser-para-a-
morte. Nesses sentidos, tanto o ser do ente que tem
s lh s c l cad s “em-obra-de-ve dade”, quant à
própria poetisa, são presenças que se compreendem
num inominável encontro originário, que veio a ser
poesia pelo caráter mortal do próprio encontro-de-
presenças-mortais. A vida, que a poetisa recebe no
encontro da presença que se desvela no olhar, está
na propriedade de enlaçar-se-com no movimento
inefável do ser e, por isso, a mortalidade da poetisa,
NO OLHAR, O ENCONTRO ORIGINÁRIO
25
que consiste numa entrega de si, acontece no grafar
e publicar o poema, que traz à luz o seu encontro
originário com a presença do Tu, por quem dá a sua
vida.
Quanto à esfera da linguagem, expressa em
“Teus lh s”, t az à luz a p etisa: “Teus lh s sã
a inspiração de uma poetisa inábil que tem tanto a
dizer, /Porém não sabe mais escolher e escrever as
palavras para exaltar estes olhos, /Pois as palavras
são Minúsculas e Insignificantes, /Perto desse teu
lha ”.
Nesses versos, estão elucidadas a in-
apreensão da linguagem acerca do encontro
originário e a dispa idade ent e “se -acontecendo-
aí”, perante o ato de pensar o encontro que morreu
e o posterior, convocá-lo na nominação poética,
que é di e ente d pensa . is: “A linguagem é a
casa do ser. Nessa habitação do ser mora o homem.
Os pensadores e os poetas são os guardas dessa
habitação. A guarda que exercem é o consumar a
manifestação do ser, na medida em que a levam à
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
26
linguagem e nela a c nse vam” (HEIDEGGER,
1998, p.31).
De certo, as palavras são inferiores a
realidade do encontro-acontecendo. As palavras,
em “Teus lh s”, não esgotam o encontro
originário, pois na metáfora poética esse vem à luz
da linguagem, isso o mata, no entanto, pela
imprecisão poética da metáfora, com sua
penumbra. O encontro originário é sempre: vivo,
móvel e adveniente; o encontro cantado na poesia
t anscende a p esia. “A enúncia que p eta
aprende é do tipo de uma abnegação plena, à qual
somente se prenuncia o que há muito se vela e
p p iamente já semp e se c nsente”
(HEIDEGGER, 2003, p. 129 – 130).
Na arte, o momento originário é sempre
possibilidade de acontecimento, pois esse inaugura
um mundo que anuncia o advento do ser no ente,
que, por sua vez, convoca o encontro à meia-luz, o
encontro imediato, presencial e inefável.
NO OLHAR, O ENCONTRO ORIGINÁRIO
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5 HERMENÊUTICA DO ENCONTRO
Foram enfatizados neste, os termos: encontro,
compreensão e diálogo; temas estes que vêm a
propósito ao pensar-se numa hermenêutica do
encontro, dada em “Teus lh s”; essa, sublinham -
la a partir do pensamento de Martin Buber, desde
sua b a “Eu e Tu”. Nesta, a es e a das elações
científicas difere da esfera das relações pessoais, a
que n s inte essa. “O mund , como experiência,
diz respeito à palavra-princípio EU-ISSO. A
palavra princípio EU-TU fundamenta o mundo da
elaçã ” (BUBER, 2004, p.55).
Martin Buber
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
28
Em “Teus lh s”, a elaçã “Eu–Tu”,
vivenciada pela poetisa, é explícita. Na obra de arte
em questão, os olhos são de um Tu–humano, tanto
quanto a poetisa é uma pessoa humana, conforme o
p ema: “Quand tu ch as, aqui é chuva. /Nã
chuva de t isteza, mas de intensa aleg ia”. Este
“ch a de aleg ia”, d Eu pe ante o Tu que, por
seu turno também chora, não consiste num sadismo
ou perversidade do Eu, porém numa verdadeira
alegria, numa alegria que comove as entranhas do
ser Eu, por ter encontrado um Tu humano que dá
sentido para a sua existência. Tampouco é, aquela,
uma alegria egoísta, no sentido do Eu alegrar-se
primordialmente pela própria possibilidade de ser,
instrumentalizando o encontro com o Tu, pois na
esfera da relação Eu – Tu está o inefável e a relação
científica Sujeito–Objeto não penetra o imediato do
Eu–Tu. “A elaçã c m Tu é imediata. Ent e Eu
e o Tu não se interpõe nenhum jogo de conceitos,
nenhum esquema, nenhuma fantasia; e a própria
memória se transforma no momento em que passa
d s detalhes à t talidade” (BUBER, 2004, p.59).
NO OLHAR, O ENCONTRO ORIGINÁRIO
29
Na totalidade do encontro Eu–Tu, enfatizada
n s ecentes ve s s de “Teus lh s”, citad s acima,
a relação aparece como condição sem a qual a
pessoa humana não se realiza na sua história
dialógica e de comunhão de sentimentos
propriamente humanos. Aqui tocamos na temática
do destino e da liberdade das pessoas humanas;
ambos impulsionam o ser humano para adentrar ou
rejeitar a esfera do encontro dialógico, desde que
este encontro convoca o Eu a compreender-se
responsavelmente com o Tu, descobrindo sua
realização na vigência do encontro com o Tu; assim
diz p ema: “ iss , te impl que nã a astes
de mim estes bendit s lh s”.
O Tu humano está em movimento perante o
Eu, assim como tudo o que venha a se configurar
como um Tu para um eu e seja aquém da esfera
divina. No entanto, é na liberdade do Eu e do Tu,
sobretudo se humanos, que estes se-movimentam-
para-o-outro, encontrando o enlace feliz do ser-eu-
apenas-no-outro, o que configura a liberdade
pess al n enc nt : “[...] h mem liv e nã tem,
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
30
aqui, uma finalidade e, lá, os meios para obtê-lo;
ele possui somente um objetivo e sempre um: a
resolução de ir ao encontro de seu destin ”
(BUBER, 2004, p. 91).
Dado que o encontro do Eu com qualquer Tu
que não seja o divino é fadado ao devir, ao findar-
se no tempo e na mortalidade, o Tu-ausente passa a
se configurar como Isso para o Eu, que, nessa
perspectiva, pode pensar esse Isso e trazê-lo à luz
pela linguagem da obra de arte, que convoca o Tu
cantado (o Isso), à presença, para que passe
novamente a ser Tu, não apenas para a poetisa,
porém também para as demais pessoas humanas
que poderão vivenciar um encontro Eu – Tu, com a
b a de a te; u seja, a “expe iência estética”, p is,
“[...] a b a de a te nã p ssui nenhuma utilidade a
não ser aquela para a qual é construída –
proporciona a expe iência estética” (DUARTE
JUNIOR, 2003, p.42).
A partir da fugacidade de qualquer Tu que se
torne Isso, para o Eu, este Eu busca a realização
plena que preencha o vazio deixado pela ausência
NO OLHAR, O ENCONTRO ORIGINÁRIO
31
do Tu-não-divino. Aqui, o Eu se volta para a esfera
divina como seu fim último, que não é marcado
pela m tal temp alidade, p is ali habita “Tu
ete n ”, d qual Tu human já p ta sinal
c nv cad . “As linhas de t das as elações, se
prolongadas, entrecruzam-se no Tu eterno./ Cada
Tu individualizado é uma perspectiva para ele.
Através de cada Tu individualizado, a palavra-
p incípi inv ca Tu ete n ” (BUBER, 2004,
p.101).
Perante o Eu, assim como o Tu-aquém-do-
humano convoca o Tu humano – na sua limitação
temporal perante a personalidade humana, esta
convoca o Tu eterno, quando esse Tu humano
torna-se Isso. Certamente, aquele Tu humano, ao se
encontrar com o Eu, já faz habitar, no encontro,
centelhas do Tu eterno.
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
32
6 O ADVENTO DO “TU ETERNO”
Na pess a que vem a enc nt em “Teus
lh s”, c m en atizam s, há a inv caçã da
divindade, p tant d “Tu ete n ”, d Deus
inominável. O Tu que vem ao encontro do Eu, é -
no poema - sinal da esfera transcendente; como
canta p ema: “Ah! Teus lh s... /Sã divin s!
/Chego a pensar que não são teus, /Que são de
Deus”.
“Deus”, esc it c m inicial maiúscula,
designa o nome da divindade na tradição cristã que
chega aos nossos dias, para falar da divindade em
língua portuguesa. Neste itinerário, pode-se inferir
que, para a poetisa, o Deus que advêm no encontro
com o Tu humano é o Deus dos cristãos, o Deus
uno e trino que habita o coração da pessoa humana,
como escreveu a mística católica, Elisabete da
Trindade, na Carta 258, codificada no seu
epist lá i : “Que aleg ia c e que Deus n s ama a
ponto de habitar em nós, de fazer-se companheiro
de nosso exílio, o confidente, o amigo de todos os
NO OLHAR, O ENCONTRO ORIGINÁRIO
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m ment s” (TRINDADE apud SCIADINI, 2006,
p. 218).
Santa Elisabete da Trindade, ocd
Na relação imediata com a pessoa próxima,
há a presença do mistério inefável que envolve e
une o Eu com o Tu na dimensão do encontro.
Trata-se da presença divina que põe em evidência o
Tu que porta a presença inominável, pois, nas
elações humanas c m Deus, “[...] a igu a-se que
Ele está conosco, mantendo-se silencioso atrás de
nós, enquanto não O chamamos e não nos voltamos
para olhá-l’O; mas, se por ventura o fazemos, no
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
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mesm instante, Ele desapa ece” (RAHNER, 1961,
p.41).
De “Teus lh s”, sabe-se que o encontro da
poetisa com o homem dos olhos cantados, não é
algum evento que se dê na ausência de fundamento,
pois a fundação desta relação imediata está na
própria presença de Deus que se dá refletida no Tu
que é recebido com amor, como escreve a poetisa:
“Teu c epúscul anuncia as b as n vas de Deus!
/[...] /Graças a teus olhos, sei que Deus está no
mei de nós”.
Esses versos se erguem contra os
pensamentos niilistas da morte de Deus e negação
do fundamento, dado que é o ser humano que, na
sua mortalidade, falha ao colocar a divindade como
objeto do seu limitado conhecimento. Certamente,
é o ser humano fadado ao devir, quem se projeta
tentando, sem êxito, conceituar Deus e lhe atribuir
a mortalidade. Assim, visto que todo o ser humano
seja mortal, quer queira ou não, a sua mortalidade
anuncia o que Deus não é, dado que o insondável
undament pe manece, desde que, “[...] a palav a
NO OLHAR, O ENCONTRO ORIGINÁRIO
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‘Deus’ nã é palav a qualque , mas é a palav a na
qual a língua – ou seja, a consciência de si do
mundo e da existência conjuntamente, que se
expressa – apreende a si em seu undament ”
(RAHNER, 1989, p.67).
Pe. Karl Rahner sj
Enquanto na relação imediata entre pessoas
humanas se der importância para a evocação da
divindade presente no Tu que se encontra, as
relações humanas acontecerão na autenticidade,
posto que estejam fundamentadas na presença
transcendente do mistério inefável, que garante a
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dignidade do amor ao próximo, ao modo de evento
basilar de um diálogo genuíno, que perpasse o ser-
do-outro no olhar, até que brote no âmago do ser
humano a palavra autêntica, que garanta a
felicidade à pessoa humana, como ser-com-os-
outros-no-mundo, que na mortalidade manifeste o
assomo do eterno e inefável mistério de Deus.
7 CONCLUSÃO
Colocar à luz, pela linguagem poética, a
experiência de um encontro originário, que se
compreendeu no tempo com uma pessoa humana, é
dar relevância a este evento e à pessoa que advêm
com seu olhar, ou seja, com a abertura do seu ser,
num momento inominável, que inclusive convoca -
na sua constituição ontológica, desvelada à meia-
luz no encontro fundante – o advento de Deus,
como “Tu ete n ”, que garante a felicidade de todo
o ser humano, inclusive fundamentando toda a
realidade fadada ao devir existencial e,
paradoxalmente, continuando presente e
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inominável, advindo na linguagem místico-poética,
quando respaldada na fé.
Esta he menêutica de “Teus lh s” coloca,
numa linguagem pensada, uma resposta ofensiva a
qualquer investida niilista e relativista, suposto que
o Deus único e eterno, mesmo permanecendo
inominável para o conhecimento humano, funda
todas as coisas, sobretudo o ser-com-os-outros-no-
mundo, mesmo estando este vinculado
existencialmente ao devir.
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
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REFERÊNCIAS
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Paulo: Brasiliense, 2003.
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<http://www.webartigosos.com/artigos/sobre-equivocos-
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<http://www.webartigosos.com/artigos/teus-olhos/72123/>.
Acesso em: 25 out. 2011.
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SCIADINI, Frei Patrício. Eu, Elisabete da Trindade. São
Paulo: Loyola, 2006.
NO OLHAR, O ENCONTRO ORIGINÁRIO
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BIOGRAFIA DO AUTOR
Jonas Matheus Sousa da Silva é paraense, de
Capanema, nascido em 1989. Franciscano-
capuchinho e padre da Igreja Católica Romana. É
licenciado em Filosofia pelo Instituto de Estudos
Superiores do Maranhão e cursou Teologia na
Arquidiocese de Belém. Coach pela FEBRACIS. Já
publicou seis de seus livros filosóficos e poéticos.
Dispõe sua obra literária nas plataformas virtuais:
Recanto das Letras e Clube de Autores. Colaborou
com diversos artigos para os jornais impressos: O
Liberal e O Estado do Maranhão.
JONAS MATHEUS SOUSA DA SILVA
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO, p.6
2. O POEMA “TEUS OLHOS”,p.8
3 OS OLHOS,p.14
4 PÔR-EM-OBRA-DA-VERDADE,p.19
5 HERMENÊUTICA DO ENCONTRO,p.27
6 O ADVENTO DO “TU ETERNO”,p.32
7 CONCLUSÃO ,p.36
REFERÊNCIAS,p.38