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março 2009 viagem e turismo 72 viagem e turismo março 2009 73 No país das 1001 Noites Chay? ou, do idioma farsi para o português, “Vai um chazinho aí?” Nos 30 anos da Revolução islâmica, a VT leva você ao Irã dos bazares, de persépolis, dos aiatolás, das baladas clandestinas e dos jardins desenhados como o paraíso poR adRiaNa CaRRaNCa Fotos Caio Vilela aRte RaFael FujiwaRa DOS AIATOLÁS A Masjid Shohada, a principal mesquita de Shiraz, numa sexta-feira, dia de oração: isolado do Ocidente, o Irã é deslumbrante

No país das 1001 noites

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março 2009  viagem e turismo72 viagem e turismo  março 2009 73

No país das 1001 NoitesChay? ou, do idioma farsi para o português, “Vai um chazinho aí?” Nos 30 anos da Revolução islâmica, a VT leva você ao Irã dos bazares, de persépolis, dos aiatolás, das baladas clandestinas e dos jardins desenhados como o paraíso

poR adRiaNa CaRRaNCa Fotos Caio Vilela aRte RaFael FujiwaRa

DOS AIATOLÁSA Masjid Shohada, a

principal mesquita de Shiraz, numa sexta-feira,

dia de oração: isolado do Ocidente, o Irã é

deslumbrante

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IRÃ

são 9h35 quando o avião desliga as tur-binas no aeroporto internacional iman Khomeini (iKa). No voo eK 971 da emi-rates airlines, com pouco mais de duas 

horas de duração desde Dubai, a tela do airbus a330 indicava no mapa a localização de meca, ci-dade sagrada em direção a qual os muçulmanos se ajoelham em oração cinco vezes ao dia. a primei-ra reza acontece antes de o sol nascer. Fui instru-ída a colocar o hijab, véu islâmico, assim que a ae-ronave entrasse no espaço aéreo iraniano. Para as mulheres, mesmo as turistas, se cobrir é lei. Por um minuto, me deu aquele frio na barriga: o que estou fazendo aqui? Foi em uma exposição de fo-tos no Centro Cultural são Paulo, muito mais per-to de casa do que eu estava àquela altura, que de-cidi seguir a trilha dos aiatolás. eram imagens deslumbrantes, diferentes das que eu jamais po-deria imaginar sobre o país dos homens de longa barba branca e turbante na cabeça. 

No coração da mais conturbada região do mun-do – na fronteira com iraque, à esquerda, afega-nistão, Paquistão e turcomenistão, à direita, e turquia ao norte – o irã foi, no passado, berço de uma das mais importantes civilizações: o império Persa. os 2 500 anos de história estão preservados na arquitetura, nos costumes, no farsi (idioma in-do-europeu falado pelos persas), na literatura e na gastronomia. e em oito patrimônios da humanida-de, como Persépolis, onde estão as ruínas da anti-ga capital da Pérsia. são riquezas ainda pouco co-nhecidas pela maioria dos ocidentais graças a uma controversa política externa que praticamente iso-lou o irã da rota do turismo internacional. inter-namente, no entanto, o clima é tranquilo para os turistas. Quase não existe criminalidade e os ba-sidjs, a polícia da moral, raramente importunam os estrangeiros, desde que sigam algumas regras de conduta (veja quadro da pág. 81). 

aos PÉs De aLBorZNas ruas, a primeira coisa que chama atenção são as placas e os sinais de trânsito em inglês. No en-tanto, poucos falam o idioma, exceto nos restau-

rantes caros e nos hotéis – por isso, antes de sair, peça na recepção que escrevam em farsi os ende-reços e as direções. É meio da manhã e o calor ba-te em 380C. o sol forte se reflete nos picos ainda brancos da imponente cordilheira de alborz, que ladeia o mar Cáspio do azerbaijão ao turcomenis-tão, e faz teerã parecer pequena a seus pés – Dar-mavand, a montanha mais alta, tem 5 671 metros e neve quase o ano todo. o horizonte bucólico con-trasta com prédios modernos, vias largas e bem asfaltadas, trânsito caótico, poluição. são sinais da metrópole de 14 milhões de habitantes. mais de 70% da população tem até 29 anos – nascida de-pois da revolução islâmica, a nova geração pouco se identifica com o regime dos aiatolás, que estabe-leceram a teocracia no país, em que a sharia (lei is-lâmica) substituiu a Constituição e o Código Civil e passou a reger o cotidiano de quem vive no irã. 

É nas montanhas de alborz que esses jovens encontram diversão. No  inverno,  lotam as pis-tas de esqui. a disputada Dizin é um dos 50 pon-tos mais altos do mundo para o esporte, 3 500 me-tros acima do nível do mar. Já Darband reúne as mais badaladas chaykhuneh (casas de chá) – a pa-lavra mais ouvida durante a viagem, aliás, sempre seguida de um ponto de interrogação para o qual não se aceita negativa, é o familiar “Chay?” (“vai um chazinho aí?”), servido quente em qualquer lugar que se entre. Como bebidas alcoólicas são proibidas, os jovens de teerã se reúnem em tor-no do guelium, o cachimbo d’água, mais conheci-do no Brasil como narguilé, em diferentes sabores – o de maçã é preferência nacional. Na maioria das casas, não há mesa ou cadeira, mas lounges, deco-rados com cobiçados tapetes persas sobre pedras e coloridas almofadas. Nos restaurantes de comida regional, nos jardins do Parque Jamshidiyeh, ain-da aos pés de alborz, a comida também é servida sobre os tapetes e todo mundo se senta no chão, ao redor de diferentes tipos de kebab. o mais tra-dicional é o de carneiro, que não chega a ser novi-dade para o paladar ocidental e, por isso, um tan-to sem graça. Para os turistas dispostos ao risco, a culinária persa pode surpreender. está em al-

CERIMÔNIAS Acima, kebab de carneiro, vaca e frango e, em sentido horário, jovens estudantes tomam chá e fumam no guelium; e o Monumento Azadi, em Teerã, emoldurado pelas montanhas de Alborz

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gum ponto entre as cozinhas árabe e indiana. um exemplo: frango shirin, temperado com especiarias levemente apimentadas e servido com arroz adoci-cado, misturado a pedacinhos de pistache e lascas de casca de laranja. Para beber, suco de romã, fru-ta que simboliza amor e fertilidade. 

o clima de montanha, a decoração típica das ca-sas, o aroma dos chás, a simpatia dos mercadores, a fumaça do guelium, a música cantada em farsi, o colorido dos véus... É fácil se imaginar dentro do cenário de um dos contos de sherazade, a perso-nagem central do clássico Livro das Mil e Uma Noi-tes. a literatura é motivo de orgulho no irã, prin-cipalmente a poesia, declamada pelos jovens nas rodas de bar. a escrita é uma forma de transgres-são – o farsi é o 28o idioma mais falado no mundo, mas chega a ser o segundo da blogosfera, ao lado do francês. escritores, jornalistas, artistas, aman-tes da literatura e do cinema se reúnem nas várias cafeterias de teerã, como o Café 78, administrado por uma simpática armênia cristã, e o Café Ketab, que significa “Café do Livro” e fica na sobreloja da livraria Cheshmeh. são bons lugares para encon-trar iranianos com quem conversar, em inglês ou espanhol, num clima bem informal. 

Longe dos olhares dos basidgis, as garotas se permitem deixar o véu caído, mostrando parte das madeixas, e segurar um cigarro entre os dedos com unhas bem pintadas – não é proibido fumar nos bares. Já as unhas... Na rua do shopping tan-dis, na subida para Darband, presenciei uma jo-vem ser levada pelos policiais por excesso de ma-quiagem, salto alto e unhas vermelhas, o que os conservadores chamam de “visual anti-islâmico”. Na delegacia, os pais são chamados e assinam um termo pela “má conduta” da menina. 

Como o regime  iraniano  impõe restrições – roupas justas, músicas ocidentais e paquera estão proibidos a ambos os sexos –, grande parte da vi-da social acontece dentro de casa. isso faz com que a vida noturna iraniana não seja das mais anima-das do mundo para os turistas. exceto pelos res-taurantes e pelas casas de chá, não há muito a fa-zer. Festas privadas são divulgadas somente no 

boca-a-boca para não chamar atenção de guardas e vizinhos. se tiver tempo de fazer amigos locais e sorte de ser convidado a uma delas, não perca. imagine aqueles inocentes bailinhos que aconte-ciam na sala de casa, com os móveis arrastados. o mP3 player toca de tudo, de rap a rock iranianos produzidos no exterior e contrabandeados na ba-gagem de amigos estrangeiros ou baixados da in-ternet – apesar de o governo tentar bloquear sites em inglês. Bebidas alcoólicas são contrabandeadas e há como comprar cerveja e vinho de cristãos ar-mênios, com entrega na porta de casa (numa socie-dade em que quase tudo ocorre entre quatro pare-des, o delivery é um dos mais eficientes serviços). Portas e janelas fechadas, as mulheres se sentem à vontade para deixar de lado o manto e o véu, pen-durados à entrada. Nas festas entre amigos e fami-liares, elas usam vestidos, minissaias e decotes. 

“as  iranianas são muito sofisticadas”, diz o vendedor de roupas amir salah, com loja no sho-pping safavieh, onde as vitrines exibem marcas como gucci, versace, Dolce & gabbana. Fica no bairro de valiasr, uma das áreas mais nobres de teerã e onde os jovens se conhecem no sobe-e-des-ce da rua Jordan. Para evitar a polícia, eles pas-sam a pé ou de carro trocando números de telefo-ne e seguem a conversa por mensagens via celular, mesmo a poucos metros de distância. as irania-nas frequentam academias, tomam sol de biquíni nas piscinas públicas de teerã e banho de mar nas lindas praias do golfo Pérsico, mas jamais com al-guém do sexo oposto. são locais segregados, assim como o refeitório das empresas e de algumas uni-versidades. Beijos em público nem pensar, mes-mo se casados. os muitos parques, como o Park-e mellat, também em valiasr, são o refúgio preferi-do. os jardins iranianos são herança da antiga Pér-sia, desenhados como pequenas porções do “paraí-so” (palavra que, em farsi, quer dizer “jardim entre muros”). sua arquitetura foi extensamente copia-da e chegou à Índia – o taj mahal é um exemplar de jardim persa. os Jardins suspensos da Babilô-nia foram construídos por Nabucodonosor para agradar sua mulher, amitis, que era persa. os jar-

LUZ PRÓPRIA Entrada da mesquita Sheik Lotfollah, em Isfahan, uma das mais preciosas obras da arquitetura islâmica

LUZ PRÓPRIA Entrada da mesquita Sheik Lotfollah, em Isfahan, uma das mais preciosas obras da arquitetura islâmica

IRÃ

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CERIMÔNIAS Acima, kebab de carneiro, vaca e frango e, em sentido horário, jovens estudantes tomam chá e fumam no guelium; e o Monumento Azadi, em Teerã, emoldurado pelas montanhas de Alborz

dins da Pérsia, sempre monumentais, misturam bosques, canteiros de flores, fontes, lagos e imen-sos gramados. Lotam nos fins de tarde de quarta-feira, véspera do fim de semana. sim, sábado e do-mingo para os iranianos são quinta e sexta-feira, dias de descanso e oração, respectivamente.

a CamiNHo Da aNtiga PÉrsia a rota mais visitada no irã é entre teerã e Per-sépolis. são 640 quilômetros, passando por Qom e isfahan. Qom, 155 quilômetros ao sul de teerã, primeiro ponto de parada, é considerada uma ci-dade sagrada e centro da teologia xiita, com su-as mais de 200 madrassas (escolas religiosas) e a maior concentração de mulás (clérigos do islã e lí-deres das mesquitas) do mundo. Dizem que, entre seus muros, foi orquestrada a revolução islâmica. mulheres, só de chador! Destruída depois de du-as invasões, a cidade foi reconstruída pelos safavi-ds (dinastia que dominou o irã no século 16), que instituíram a fé xiita como religião oficial do irã. as principais atrações são o santuário de Hazrat-e masumeh, o impressionante complexo de palácios e mesquitas construído pela dinastia safavid, e o museu do santuário sagrado, na Praça astaneh. Não é necessário, porém, mais que uma tarde para conhecer tudo e experimentar o sohan, um biscoito doce e quebradiço feito de pistache e açafrão.

a parada seguinte é em isfahan, 250 quilôme-tros adiante, um museu da arquitetura  islâmi-ca a céu aberto. vale passar, pelo menos, dois dias na cidade. No coração dela está a Praça imam, de 1593, cercada por imponentes mesquitas. Jameh é a maior do irã, construída no local onde antes era um templo zoroastrista do século 11 – a religião mo-noteísta que surgiu no irã e influenciou o judaís-mo, o cristianismo e o próprio islã. o melhor pas-seio é às margens do rio Zayandeh, cortado por 11 pontes de pedra. em isfahan está também o velho Bazar-e Bozorg. tem artigos autênticos, como os frascos feitos com osso de camelo para armazenar rímel natural, uma mistura de óleo e farelo de pe-dras pretas. É a maquiagem usada pelas iranianas desde os tempos da Pérsia. o palito finíssimo, para 

não errar o traço no contorno dos olhos, também é feito de osso de camelo. entre maravilhosos va-sos, que reproduzem os mosaicos de verde, azul e vermelho, presentes na arquitetura, há ainda jogos de chá em vidros trabalhados, luminárias doura-das e, claro, os tradicionais tapetes iranianos. Pe-ça para dar uma olhadinha. mas, se não tiver com intenções de comprar, se limite às vitrines. os co-merciantes iranianos, pouco acostumados aos eu-ros dos turistas, ganham dos turcos na insistência. um dos luminosos avisa: “tapetes voadores”. 

Persépolis representa o ponto alto da história iraniana. suas ruínas são os últimos vestígios do império Persa, que dominou todo o oriente mé-dio a partir de 552 a.C. escadarias, imensas co-lunas e  imponentes portais ficaram soterrados até serem descobertos em 1930. À entrada, os vi-sitantes atravessam o Portal de todas as Nações, construído por Xerxes e onde está escrito: “eu sou Xerxes, o grande rei, o rei dos reis, o rei dessas terras onde muitos idiomas são falados; o rei des-sa vasta terra, longe e próxima, o filho do rei Da-rio, o aquemênida”. ali estão os restos do Palácio das Cem Colunas, onde o rei recebia os convida-dos mais importantes. em seus tempos áureos, o complexo de palácios sobre o monte rahmat che-gou a ocupar 125 mil metros quadrados. os festejos de ano-Novo, então comemorado em março, reu-niam gente de todas as partes do império, que vi-nham pagar tributo. Naquele que servia como ha-rém de Xerxes funciona, hoje, o museu Haremsara (o ingresso custa 30 000 rials, a moeda iraniana), que exibe uma série de artefatos da época.

o maneira mais indicada para aproveitar a re-gião como se deve é ficar em shiraz, a 70 quilôme-tros. o lugar organiza excursões de um dia inteiro. elas podem ser com ou sem guia – em inglês, ale-mão, francês, italiano, japonês e, mais raro, espa-nhol – e saem de quase todos os hotéis da cidade. Durante o verão, sempre às 20h30, acontece um show de sons e luzes entre as ruínas de Persépo-lis. É o momento em que a Pérsia encontra o irã – um país complexo, orgulhoso de seu passado e com um futuro tão incerto pelo frente.  t

IRÃ

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ONDE É MELHOR

TEErã E 98-21

h FIC AR

A Avenida Valiasr e suas trans-versais, na zona norte da cidade, concentram os melhores hotéis, de padrão internacional. O clas-sudo Laleh Hotel (Avenida Dr. H. Fatemi, 889-650-219, 889-660-219, lalehhotel.com; diárias des-de US$ 132) tem piscina, sauna e restaurantes de culinária per-sa, asiática e francesa. Do amplo lobby aos 380 quartos predomi-nam acessórios dourados. Ou-tros dois hotelões, com diárias a US$ 150, em média, são dicas certas. O Esteghlal Grand Hotel (Avenida Valiasr, 226-600-1125, es-teghlalhotel.com), um prédio de 15 andares construído em 1962, fica aos pés da bela Montanha de Alborz. Tem 542 quartos, deco-rados com peças de arte irania-na, cinco restaurantes e até um shopping center. Um andar mais alto, o Homa Hotel Tehran (Rua Shahid Khoddami, 877-302139), com 172 quartos, fica próximo à Praça Vanak e fácil acesso às principais atrações culturais, aos prédios diplomáticos e centros comerciais de Teerã.

r COMER

Entre os restaurantes mais tra-dicionais estão o Khayyam (Rua Khayyam, 5580-0760), um oásis no meio do movimentado Bazar de Teerã, e o Azari Restaurante Tradicional (Praça Rah-ahan, 5537-3665), uma velha casa em que, para entrar, é preciso pas-sar as mãos sobre as chamas de um fogareiro. Ninguém ali sabe explicar de onde vem a supers-tição, mas garantem que dá sor-te. Os dois locais têm apresenta-ções de música folclórica irania-na, todas as noites. Os restau-rantes do Park-e Jamsshidiyeh, na Avenida Feizieh, têm uma linda vista. Três deles são de co-mida étnica: o Khaneh Azarbai-jan (2282-0114), com pratos da região próxima ao Azerbaijão,

restaurante asiático do Laleh Hotel, em Teerã

o Kurdish House (2280-1309), de especialidades curdas, e o Turkmen (2281-0106), com culi-nária dos turcos do norte. E há também um típico iraniano, o Zagros House (2281-0107), uma enorme tenda no topo da mon-tanha. Se a ideia é tomar um ca-fé, o 78 (Rua Aban, 78, 8891-9862) e o Ketab (esquina das ruas Ka-raim Khan e Mirzaye-Shirazi, 8892-2071) são os melhores.

x PASSE AR

O Bagh e Melli, ou Jardim Na-cional (Avenida Imam Khomeini e Rua Si-e-Tir), erguido em 1906, é um imponente pórtico de en-trada para um complexo de pré-dios, que inclui o imperdível Mu-seu Nacional do Irã (6670-2061, nationalmuseumofiran.ir), com seus objetos de arte milenares e peças arqueológicas encontra-dos nas escavações de Persépo-lis e inscrições da época de Dario I, e o Museu e Biblioteca Malek (6672-6613), que conta a história do Irã do século 19. O Golestan Palace (Praça Ark, 3113-3358, go-lestanpalace.org) é um impres-sionante complexo de palácios monumentais, e sete deles, que misturam arquitetura persa e europeia, estão abertos a visita-

ção. O Park-e Laleh é ótimo lugar para um piquenique entre uma visita ao Museu de Arte Con-temporânea de Teerã (Aveni-da Kargar-e Shomali, 889-55754) e ao Museu do Tapete (entre as avenidas Kargar e Fatemi, 889-67707), que tem modelos desde o século 16. No verão, o teleféri-co (Avenida Velenjak, 2240-4001, tochal.org) que faz o transporte dos esquiadores até as monta-nhas de Tochal, o centro de es-qui mais próximo de Teerã, fica aberto a turistas. Um tour pe-la cultura islâmica deve incluir

a Madrassa Va Masjed-e Se-pahsalar, na Praça Baharestan. Construído entre 1878 e 1890 e com poesias escritas em suas torres, é um dos prédios mais bonitos de arquitetura islâmica e persa. Já o Museu do Período Islâmico (Praça Imam Khomeini, 6670-2061) reúne arte sacra – o ponto alto é a Porta do Paraíso, do século 14 – e algumas edições históricas do Alcorão. O Mauso-léu de Khomeini, com sua cúpu-la de ouro e que reúne, além do sepulcro, mesquita e centro de compras de artigos religiosos e está distante meia hora de me-trô do centro de Teerã (pegue a Linha 1 até a última estação Ha-ram-e-Motahar). Para entrar, é preciso tirar os sapatos, mulhe-res têm de vestir o chador e fo-tografias são proibidas. O Monu-mento Azadi, na avenida homô-nima e cujo significado é “liber-dade”, foi erguido em 1971 pa-ra celebrar os 2 500 anos do Im-pério Persa, mas acabou se tor-nando um dos principais mo-numentos da revolução islâmi-ca de 1979. Foi ali que milhares de iranianos se reuniram para comemorar a posse de Khomei-ni e o fim do reinado do xá Re-za Pahlevi, considerado na épo-ca um fantoche dos americanos por acobertar agentes da CIA no

golpe contra o então primeiro-ministro, Mohammad Mossade-gh. O clima da época ainda está retratado no prédio da antiga Embaixada dos Estados Unidos em Teerã (Avenida Taleqani), on-de 53 diplomatas americanos fo-ram mantidos reféns por revolu-cionários, em 1979, por 444 dias. O prédio não é aberto ao públi-co, mas, do lado de fora, ainda se veem grafites com frases co-mo “Abaixo os EUA” e um dese-nho da Estátua da Liberdade em forma de caveira.

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O Bazar de Teerã (Avenida Khor-dad, 15) se estende por mais de 10 km de ruas estreitas e cober-tas, apinhadas de lojinhas, uma ao lado da outra. Cada corredor tem a sua especialidade: tape-tes, cozinha, cama, mesa e ba-nho, prataria, joias e bijuterias, roupas e gastronomia. No pró-prio bazar existem casas de chá para um bom descanso entre as compras, e 12 mesquitas, dentre elas a Imam Khomeini, das mais tradicionais. Usado pelos locais, o Mazar de Teerã é uma espécie de 25 de Março local. E, se qui-ser levar peças genuinamente iranianas, fique atento às eti-quetas made in China, Índia, Pa-quistão etc., bastante comuns. O Shopping Tandis (Avenida Ashra-fi Esfahani) é um bom lugar para comprar véus e outras peças de roupas típicas do país. Não cus-ta procurar alguma boa oferta por lá.

O ESSENCIAL

DOCUMENTOS Para obter o vis-to é preciso enviar à embaixada do Irã (Avenida das Nações, qua-dra 809, lote 31, Brasília, 61/3242-5733, webiran.org.br) o formulá-rio (disponível no site) preenchi-do, duas fotos 3x4, o comprovan-te de depósito referente ao pa-gamento da taxa (R$ 150) e uma

cópia da passagem aérea ou da reserva. O documento demora cerca de 15 dias para ficar pron-to e deve ser pedido, no mínimo, quatro semanas antes da via-gem. A embaixada também po-de ajudar na indicação de tradu-tores e fornecer um manto para as viajantes mulheres.

COMO CHEGAR Os dois aeropor-tos de Teerã – Imam Khomeini, ao sul, e Mehrabad, mais próxi-mo ao centro – recebem voos internacionais. Há rotas dire-tas das principais capitais euro-peias. A KLM (11/4003-1888, klm.com) tem voos com conexão de quatro horas em Amsterdã des-de U$S 1 256. A British Airways (11/4004-4440, ba.com) tem pas-sagens desde U$S 1 623, com co-nexão de dez horas em Londres. Também é possível chegar a Tee-rã por Dubai. A Emirates Airlines (11/5503-5000, emirates.com/br) faz a rota com conexão de du-as horas (na volta, a parada é de quatro horas) desde U$S 1 718.

QUEM LEVA A Mundus (11/3289-9786, mundus.com.br) leva por Kerman, Mahan, Rayen e boa parte das cidades citadas nes-ta reportagem, como Persépo-lis, Shiraz, Isfahan e Teerã, num roteiro de 11 noites, desde U$S 2 635 (não inclui aéreo). Um pou-co mais longo, o pacote da Ven-turas e Aventuras (11/3872-0362, venturas.com.br), de 16 noites, também visita essas quatro ci-dades, além de Yazd, Kharanag e Masuleh, desde U$S 4 490. Con-sulte também seu agente de via-gens.

TRANSPORTE As linhas de me-trô (tehranmetro.com) são pou-cas e as de ônibus, confusas pa-ra quem não fala farsi. Portanto, apesar de ser difícil encontrar al-gum motorista que fale inglês, os táxis são o meio mais fácil de se locomover em Teerã. Por se-gurança, chame-o no hotel e ne-

gocie o preço antes (3 000 rials é o que os locais pagam por uma corrida para a maioria dos des-tinos centrais), pois não existe taxímetro. Do aeroporto Imam Khomeini até o centro, por exem-plo, a corrida pode chegar a 50 000 rials (cheque antes se o ho-tel não oferece traslado). E não se espante se o motorista pas-sar de ponto em ponto pegan-do outros passageiros. Compar-tilhar táxis é usual no Irã. Por is-so, para mulheres sozinhas, uma boa dica é usar o Women’s Ta-xi (disque 1821 se estiver em Te-erã, ou 5586-3380 se estiver fora da cidade, womentaxi.ir), a coo-perativa de taxistas iranianas só para mulheres. Para ir a outras cidades, confortáveis ônibus sa-em da Estação Central (Praça Ar-zhnantin, 8873-2535). E na Esta-ção Ferroviária (Praça Rah-Ahan) os destinos estão escritos em in-glês. A Iran Air (iranair.com) ope-ra voos domésticos aos princi-pais destinos turísticos.

QUANDO IR Durante a primave-ra e o outono, quando as tempe-raturas ficam mais amenas. No verão, podem ultrapassar os 40 graus e, no inverno, neva e os termômetros vão abaixo de ze-ro. Agora, se seu objetivo é es-quiar, janeiro e fevereiro são a

alta temporada. Evite ir ao Irã durante o Ramadan, mês do je-jum para os muçulmanos, quan-do quase todos os restaurantes e as casas de chá fecham, e no No Ruz, o Ano-Novo iraniano, en-tre 21 e 24 de março, quando os hotéis ficam lotados e os preços vão às alturas.

DINHEIRO Por causa dos embar-gos econômicos, o Irã está fora do sistema bancário internacio-nal, o que significa que quase nenhum lugar aceita cartão de crédito. Só dinheiro. Inclusive pa-ra pagar o hotel. Para complicar, há duas moedas em vigor, mas a mais usada é o rial. Um real bra-sileiro, na data de fechamento desta edição, equivalia a 4 150 rials. Euros são mais fáceis de trocar. As casas de câmbio es-tão concentradas na Rua Ferdo-si e na Avenida Jomhuri-ye Esla-mi, além do aeroporto.

EMBAIXADA Leve o telefone da Embaixada do Brasil em Teerã (Rua Yekta, 26, 2274-3996, 2274-3997, 2274-3998, [email protected]) para onde você for.

TELEFONE Cartões de telefone internacionais são incomuns. A melhor opção é ir até um ciber-café e ligar pela rede.

regras de conduta

As mulheres têm de vestir blusão largo até os joelhos e

de mangas compridas, calça comprida e véu sobre os ca-

belos. Fora de Teerã, os costumes são ainda mais con-

servadores. Para não ser importunada, prefira roupa e

véu pretos. O mesmo nos escritórios oficiais, caso preci-

se, por exemplo, estender seu visto. O chador – um man-

to negro que cobre da cabeça aos pés – pode ser exigido.

Aos homens, basta ser discretos. Namorados não podem

se hospedar no mesmo quarto de hotel. Só com certi-

dão de casamento, exigida no check-in. Nas ruas, beijos e

abraços estão proibidos. Entre estranhos, só um simples

aperto de mão. E a iniciativa tem de ser do homem.

De Teerã a PersépolisÓtimas estradas separam Teerã das ruínas da antiga ca-

pital do Império Persa. A primeira parada, a 100 km, é

em Qom, a cidade mais religiosa do Irã. Duzentos e cin-

quenta quilômetros adiante está Isfahan e seu bazar

de peças autênticas e dos singulares tapetes. Vale ficar

mais de um dia – o Isfahan Kowsar International Hotel

(Mellat Bulevar, 31/1624-0230, hotelkowsar.com; diárias

desde US$ 72) é uma boa. O ponto alto da viagem, que de

ônibus leva 9 horas, é Persépolis. Da Estação Central de

Teerã (Praça Arzhnantin, 8873-2535) saem ônibus confor-

táveis, com ar-condicionado, DVD (os filmes são em farsi

e sem legenda) e lanchinho. Há paradas para rezas.