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130 www.backstage.com.br NO PALCO COM Los Hermanos E Rogério Leão [email protected] Dia 13 de maio, duas horas da tarde, já era possível encontrar pequenos grupos de jovens na entrada principal da Fundição Progresso, no Rio de Janeiro. A tradicional casa de shows, com ar de centro cultural, iria receber nessa mesma noite a festa Loud e o conjunto carioca Los Hermanos. ntre as idas e vindas pelo Brasil e pelo exterior da turnê do disco 4, o conjunto Los Hermanos não só re- alizou mais uma ótima apresentação em sua cidade natal, mas também se apresen- tou para seu público mais fiel. A festa Loud, na Fundição Progresso, é um dos pontos mais estratégicos possíveis para uma apresentação da banda. Há mais de uma década, a Fundição Progresso serve de ponto de encontro para a cena independente carioca. Durante a década de 90, muitos foram os eventos al- ternativos com grupos que surgiam, como Vulgue Tostoi, Funk Fuckers e Planet Hemp. A partir do final daquela década, esses conjuntos começaram a ser acompa- nhados por outros artistas. Cursos de músi- ca, teatros, ateliês e estúdios de dança migraram para o que veio a se tornar um centro pulsante de produção artística. E como o processo natural das coisas funcio- na, antes mesmo da banda ser abraçada pelo gosto nacional já existia um público fiel que seguia todos os passos da banda. Os instrumentos utilizados pelo con- junto deixam claras as suas influências. Instrumentos usados que precisaram ou não de reparos. Equipamentos bem dis- tantes da realidade carioca e compará- veis, sim, com as influências estrangeiras da banda como Weezer ou Radiohead. Obviamente, não está aqui dito que eles são os únicos que procuram por tais ins- trumentos. Muitos outros músicos, prin- cipalmente em São Paulo, gastam horas de seus dias procurando por lojas de ins- trumentos usados em busca de um tim- bre característico. O diferencial é o fato de que o Los Hermanos talvez seja a ban- da mais bem-sucedida do mercado musi- cal brasileiro a ter essa preferência e, por conseqüência, a que melhor pode sus- tentar esse caro e complicado hábito. Durante o show, o espectador pôde pre- senciar uma banda formada por uma série de conjuntos diferentes. São quase in- contáveis as combinações possíveis, levan- do em conta os quartetos (com Marcelo Camelo ou Rodrigo Amarante tocando contrabaixo), quintetos (com o baixista Gabriel Bubu tocando contrabaixo ou gui- tarra junto a Marcelo Camelo ainda como baixista) ou com essas possibilidades acres- cidas dos instrumentistas de sopro Valtecir “Bubuzão” Freitas Silva no trompete, Luis Pimenta Monteiro no Trombone e Marcelo “Índio” Costa no sax tenor e clarineta. Shows onde existem muitas mudan- ças de instrumentos podem criar um am- biente de variedade muito interessante, mas a constante movimentação dos mú- sicos de um instrumento para outro não raramente faz com que se criem longas pausas. Brechas dentro da apresentação acabam se tornando pequenas duchas frias. Para que esse efeito fosse minimi- zado, são montados dois sistemas de bai- Fotos: Divulgação A Hofner Verithin de Camelo

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130 www.backstage.com.br

NO PALCO COM

Los Hermanos

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Rogério Leã[email protected]

Dia 13 de maio, duashoras da tarde, já erapossível encontrarpequenos grupos dejovens na entradaprincipal da FundiçãoProgresso, no Rio deJaneiro. A tradicionalcasa de shows, comar de centro cultural,iria receber nessamesma noite a festaLoud e o conjuntocarioca LosHermanos.

ntre as idas e vindas pelo Brasil epelo exterior da turnê do disco 4, oconjunto Los Hermanos não só re-

alizou mais uma ótima apresentação emsua cidade natal, mas também se apresen-tou para seu público mais fiel. A festaLoud, na Fundição Progresso, é um dospontos mais estratégicos possíveis parauma apresentação da banda.

Há mais de uma década, a FundiçãoProgresso serve de ponto de encontro paraa cena independente carioca. Durante adécada de 90, muitos foram os eventos al-ternativos com grupos que surgiam, comoVulgue Tostoi, Funk Fuckers e PlanetHemp. A partir do final daquela década,esses conjuntos começaram a ser acompa-nhados por outros artistas. Cursos de músi-ca, teatros, ateliês e estúdios de dançamigraram para o que veio a se tornar umcentro pulsante de produção artística. Ecomo o processo natural das coisas funcio-na, antes mesmo da banda ser abraçadapelo gosto nacional já existia um públicofiel que seguia todos os passos da banda.

Os instrumentos utilizados pelo con-junto deixam claras as suas influências.Instrumentos usados que precisaram ounão de reparos. Equipamentos bem dis-tantes da realidade carioca e compará-veis, sim, com as influências estrangeirasda banda como Weezer ou Radiohead.Obviamente, não está aqui dito que elessão os únicos que procuram por tais ins-trumentos. Muitos outros músicos, prin-cipalmente em São Paulo, gastam horasde seus dias procurando por lojas de ins-trumentos usados em busca de um tim-bre característico. O diferencial é o fato

de que o Los Hermanos talvez seja a ban-da mais bem-sucedida do mercado musi-cal brasileiro a ter essa preferência e, porconseqüência, a que melhor pode sus-tentar esse caro e complicado hábito.

Durante o show, o espectador pôde pre-senciar uma banda formada por uma sériede conjuntos diferentes. São quase in-contáveis as combinações possíveis, levan-do em conta os quartetos (com MarceloCamelo ou Rodrigo Amarante tocandocontrabaixo), quintetos (com o baixistaGabriel Bubu tocando contrabaixo ou gui-tarra junto a Marcelo Camelo ainda comobaixista) ou com essas possibilidades acres-cidas dos instrumentistas de sopro Valtecir“Bubuzão” Freitas Silva no trompete, LuisPimenta Monteiro no Trombone e Marcelo“Índio” Costa no sax tenor e clarineta.

Shows onde existem muitas mudan-ças de instrumentos podem criar um am-biente de variedade muito interessante,mas a constante movimentação dos mú-sicos de um instrumento para outro nãoraramente faz com que se criem longaspausas. Brechas dentro da apresentaçãoacabam se tornando pequenas duchasfrias. Para que esse efeito fosse minimi-zado, são montados dois sistemas de bai-

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A Hofner Verithin de Camelo

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NO PALCO COM

xo no palco. Um dos sistemas é exclusivode Bubu, enquanto o segundo é usadotanto por Marcelo quanto por Rodrigo.

Os dois sistemas não poderiam se dife-renciar mais. De um lado o equipamentode Bubu. Um baixo elétrico exclusivo fa-bricado pelo luthier Gil, do Rio de Janei-ro, suas caixas coloridas e reluzentes comum amplificador Ampeg Svt 3-Pro e pe-dais bem atuais, quase todos da Boss. Damarca, Bubu usou um Hyper Fuzz, umafinador e um line selector enquantousava ainda um Guyatone BB2.

Do outro lado dos baixos, encontram-seduas antiguidades: um contrabaixo italianoSonelli modelo Hispaña ligado direto a umamplificador Yamaha B100 II com uma cai-xa de um alto-falante de doze polegadas damesma época. Os instrumentos italianosdesde a década de sessenta se destacampelo seu design típico, cheio de degradés emadrepérolas e seus timbres exóticos comformatos não tradicionais e materiais únicos.Eles foram os primeiros a trazer o uso de plás-ticos para a fabricação de instrumentos.

Agora, se Amarante e Camelo usaramum contrabaixo ligado diretamente ao am-plificador, eles não economizaram nos pe-dais em seus instrumentos principais. No pal-co, um grande espaço estava sendo ocupa-do pelos dois cases de pedais e alguns outrosefeitos que não couberam nas mesmas e es-tavam conectados ao redor.

A superfície dos pedais do vencedor demelhor músico no prêmio multishow era amaior das duas e apesar de ter muitos efei-tos seguia um padrão muito simples, uma

série de efeitos conectados em série e al-guns efeitos mais exóticos conectados atra-vés de um loop. Primeiramente, as guitarraspassam por um seletor de canais morleyque vai para um afinador Boss tu-2 (igualao do Bubu e do Camelo). Em seguida, es-tão três pedais de distorção, dois Turbo Ratse um Fox Drive. Esse pedal é feito sobre en-comenda pelo Dan´s amp, em São Paulo.Ele também é responsável pela manuten-ção dos equipamentos do grupo e pelaconstrução das coloridas caixas do Bubu.As conexões em série acabam com um pe-dal de delay Danelectro Dan´echo e umBoss psm-5 que é responsável pela seleçãodo loop de efeitos. Dentro do loop, estão li-gados nessa ordem um wah automáticoDunlop Q-zone, um tremolo Lux, um Mr.Vibromatic da Sib, um delay Boss DM-3 eum antigo pedal Giannini super fuzz.

A combinação dos pedais de Marceloera um pouco mais simples. Em série, esta-vam conectados a um afinador Boss, umtremolo Voodoo Labs, algumas distorções,um reverber Rv-5 da Boss, outro reverber,dessa vez um Holygrail da Eletro-harmonixe um delay Dd3 da Boss. As distorçõeseram nessa ordem: um “The Rat da ProCo,um doublé Muff da Eletro-Harmonix e umIbanez Ts9. Uma distorção, um fuzz e umoverdrive, respectivamente.

A amplificação das guitarras nesseshow foi uma exceção, mas surpreen-dentemente simples. Os dois músicos es-tavam conectados em amplificadoresFender Hotrod Deville iguais, excetopela combinação de alto-falantes, dois

alto-falantes de 12 polegadas no caso deAmarante e quatro de 10 polegadas nocaso de Camelo. O exótico nessa situaçãoera a substituição da já conhecida potên-cia 295 e caixa mesa boogie de Camelo. Omúsico já há algum tempo vem tentandosubstituir o primeiro amplificador que elecomprou por outros equipamentos, masnunca se sente confortável o suficientepara deixar o mesmo totalmente de lado.

Antes de falarmos sobre as guitarrasusadas no show vamos fazer uma inter-venção para falarmos sobre os outros doismembros fundadores da banda: RodrigoBarba e Bruno Medina. São eles, respec-tivamente, o baterista e o tecladista dogrupo. Seus equipamentos de palco sãobem simples. Rodrigo usa uma bateriaDw de maple com um tomtom, pratosZildjian Avedis e peles Evans. Bruno usaum teclado Nord junto a uma pequenaescaleta e um outro clássico da Yamaha,o piano elétrico CP 20.

Já Camelo só trouxe um instrumentopara o evento. Tratava-se de uma guitarraHofner Verithin de aproximadamente 1966.O próprio músico não sabia dizer qual o mo-delo do instrumento, já que ele se trata deum modelo especial com cortes florentinos ecom três captadores ao invés dos tradicionaisdois dos outros modelos da mesma época(corte florentino significa que os espaçospara acesso às casas mais altas do braço se-guem um padrão estético típico, mais espe-cificamente profundo e anguloso).

Pudemos localizar várias excentricida-des durante o show, fossem elas nas combi-nações dos músicos ou nos equipamentosusados, e essa é uma das razões pelas quaiso conjunto conseguiu criar uma identida-de tão clara. Seus acordes em inversões tí-picas de bossa nova, passando por distor-ções mil e acompanhados por timbres tãoinstigantes quanto extremos e mais aindaas vozes claramente “João Gilbertianas” fi-zeram do Los Hermanos um conjunto me-recedor do seu sucesso.

A bateria de Rodrigo BarbaO clássico Yamaha Cp20