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No planalto há um cruzeiro? Reflexões sobre uma história cruzalmense. Mateus José da Silva Santos 1 Terra do fumo, da Guerra de Espadas, da velha Escola de Agronomia que deu lugar a UFRB. Por essas e outras coisas, Cruz das Almas é, sem dúvida nenhuma, uma das cidades mais conhecidas do Recôncavo, estando juntamente com Santo Antônio de Jesus na condição de município mais populoso da região, segundo os últimos dados do IBGE. 2 A “rainha do planalto” (SANTANA, 2008, p.25), como também é conhecida, chama-nos atenção não somente pelo seu nome peculiar, mas por possuir ainda muitas questões sobre seu passado. A trajetória cruzalmense, contada por nossos pais e presente em alguns livros, mostra uma cidade que emerge muito tardiamente em relação aos demais núcleos do Recôncavo “mais conhecidos”, e, de forma muito rápida, se desenvolve, mas sem muitas explicações sobre como isso se deu. Com as mudanças na ciência histórica durante o século XX, uma das áreas que passaram por novos contornos foram as chamadas história regional e local. Compreender as dinâmicas de uma determinada região ou localidade e articulá-las com contextos mais amplos são somente algumas das problematizações realizadas por esses estudos na atualidade. Uma das grandes consequências desses novos objetivos foi a possibilidade de refletirmos sobre a história dos municípios, no entendimento de que há muito por se investigar sobre os mesmos, tendo em vista tanto as lacunas existentes em muitas narrativas, como também a permanência de mitos ou histórias que não passaram por uma crítica apurada dos historiadores, à luz das novas pesquisas. A nosso ver, este é o caso de Cruz das Almas. A cidade recebeu pouca atenção da historiografia, fruto tanto das dificuldades documentais, mas também por se situar numa área que vem sendo desvendada recentemente, dada as suas diferenças em relação à visão hoje equivocada de um Brasil e, consequentemente de um Recôncavo limitado ao sistema de plantation (BARICKMAN, 2003, p.27), isto é, a produção latifundiária, de mão- de-obra escravista e tendente à monocultura (PRADO JÚNIOR, 1965, p.114-115). Objetivamos, portanto, discutir o que compreendemos como “narrativa oficial” sobre a história de Cruz das Almas, pensando criticamente sobre sua validade com relação às pesquisas históricas sobre a Bahia e o Brasil entre os séculos XVIII e XIX. Fazendo uso de algumas fontes históricas, disponíveis na versão digital da Biblioteca Nacional, apontaremos

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No planalto há um cruzeiro? Reflexões sobre uma história cruzalmense.

Mateus José da Silva Santos1

Terra do fumo, da Guerra de Espadas, da velha Escola de Agronomia que deu lugar a

UFRB. Por essas e outras coisas, Cruz das Almas é, sem dúvida nenhuma, uma das cidades

mais conhecidas do Recôncavo, estando juntamente com Santo Antônio de Jesus na condição

de município mais populoso da região, segundo os últimos dados do IBGE.2 A “rainha do

planalto” (SANTANA, 2008, p.25), como também é conhecida, chama-nos atenção não

somente pelo seu nome peculiar, mas por possuir ainda muitas questões sobre seu passado. A

trajetória cruzalmense, contada por nossos pais e presente em alguns livros, mostra uma

cidade que emerge muito tardiamente em relação aos demais núcleos do Recôncavo “mais

conhecidos”, e, de forma muito rápida, se desenvolve, mas sem muitas explicações sobre

como isso se deu.

Com as mudanças na ciência histórica durante o século XX, uma das áreas que

passaram por novos contornos foram as chamadas história regional e local. Compreender as

dinâmicas de uma determinada região ou localidade e articulá-las com contextos mais amplos

são somente algumas das problematizações realizadas por esses estudos na atualidade. Uma

das grandes consequências desses novos objetivos foi a possibilidade de refletirmos sobre a

história dos municípios, no entendimento de que há muito por se investigar sobre os mesmos,

tendo em vista tanto as lacunas existentes em muitas narrativas, como também a permanência

de mitos ou histórias que não passaram por uma crítica apurada dos historiadores, à luz das

novas pesquisas. A nosso ver, este é o caso de Cruz das Almas. A cidade recebeu pouca

atenção da historiografia, fruto tanto das dificuldades documentais, mas também por se situar

numa área que vem sendo desvendada recentemente, dada as suas diferenças em relação à

visão hoje equivocada de um Brasil e, consequentemente de um Recôncavo limitado ao

sistema de plantation (BARICKMAN, 2003, p.27), isto é, a produção latifundiária, de mão-

de-obra escravista e tendente à monocultura (PRADO JÚNIOR, 1965, p.114-115).

Objetivamos, portanto, discutir o que compreendemos como “narrativa oficial” sobre

a história de Cruz das Almas, pensando criticamente sobre sua validade com relação às

pesquisas históricas sobre a Bahia e o Brasil entre os séculos XVIII e XIX. Fazendo uso de

algumas fontes históricas, disponíveis na versão digital da Biblioteca Nacional, apontaremos

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algumas possibilidades para novas investigações sobre o passado dessa localidade, no esforço

de uma revisão histórica, no entendimento de que esse é um processo inerente à produção

historiográfica.

Num primeiro momento apresentaremos as versões vigentes ainda na atualidade sobre

o passado da urbis, destacando os seus principais elementos caracterizadores. Em seguida,

iniciaremos discussão a partir do diálogo entre alguns documentos eclesiásticos e perspectivas

conhecidas sobre a história do Recôncavo e da capitania da Bahia, tentando situar a cidade, ou

melhor, o que viria a ser essa numa perspectiva muito mais ampla. De antemão, deixemos

explícito que esse trabalho vem, no sentido de propiciar novas investigações sobre nosso

passado, trazendo muito mais perguntas do que respostas prontas. Assim, procuramos

adentrar na limitada produção historiográfica sobre o passado de Cruz das Almas, dialogando

com os demais autores e permitindo com que pensemos juntos sobre a questão central.

1. Terra dos viajantes, terra da fé: a origem do povoado das Almas.

No que versa as narrativas sobre a origem do objeto de estudo, Alino Matta Santana

(1997) e Mario Pinto da Cunha (1955) (1983) afirmam que duas são as hipóteses principais. A

primeira, e mais detalhada, aponta para a fundação atrelada a condição dessa localidade em

finais do século XVIII e início do XIX. Segundo os mesmos autores, o que entendemos como

Cruz das Almas surgiu a partir do fincamento de uma cruz nas proximidades do que hoje é a

chamada Rua da Estação e a Igreja matriz, no intuito de ali se constituir um pouso para os

viajantes, além de um local para culto dos mortos.3 A autoria desse movimento é atribuída aos

tropeiros, homens que iam de Cachoeira ao Sertão em prol de interesses comerciais

(SANTANA, 1997, p.25). A passagem desses grupos por essa região se devia, segundo

Santana e Cunha, ao fato de, nas margens da atual cidade, estar localizada uma importante via

de conexão entre o porto de São Félix e as regiões do interior, especialmente Rio de Contas.

Desta maneira, a formação do povoado cruzalmense teria, pelo menos num primeiro

momento, sido resultante dos fluxos intracapitania, envolvendo pessoas e produtos.

Outra versão apresentada possui um cunho visivelmente saudosista. Segundo os

autores em questão, o nome Cruz das Almas advém de uma localidade portuguesa, sendo

designada, portanto, por lusos que povoaram o espaço da atual cidade. Essa relação carece de

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mais profundidade, na medida em que não encontramos nenhum registro de qualquer

freguesia portuguesa com este nome.

Ainda como outra possibilidade historiográfica, na Enciclopédia dos Municípios

(1959) há uma breve menção a história de Cruz das Almas, citando o povoamento ainda no

século XVIII por motivações econômicas, especialmente a “uberdade do solo”.4 Neste

processo, os sujeitos envolvidos eram provenientes de Cachoeira, ligados às famílias Batista

de Magalhães e Rocha Passos, dois ramos tradicionais da sociedade cruzalmense.5

Tomando, assim, a primeira versão como aquela que tende a ser a oficial, chamamos a

atenção para três elementos. O primeiro é a datação:

No princípio eram apenas algumas casas em meio á mata circundante.

Poucas, pequenas e modestas moradias, plantadas descuidada e

despretensiosamente, no solo fecundo, nos meados e fim do século XIX

(CUNHA, 1983, p.11)

Cruz das Almas seria, então, a localidade com formação mais recente, considerando as

atuais municipalidades ao seu redor. Formação essa que, se comparado com sua vizinha São

Felipe, excederia mais de 100 anos!6 Outro elemento é a questão da existência de uma estrada

para o sertão nas proximidades dessa região. A historiografia, assim como a própria produção

cartográfica dos séculos XVII e XVIII, apresentam inúmeras controvérsias sobre essa questão,

especialmente quanto a certa hierarquia dos caminhos, o que nos leva a investigar mais de

perto qual a relevância dessa estrada mencionada pela história tradicional, relacionando-a com

a questão da circulação na capitania da Bahia.

Por último, e não menos importante, o caráter religioso dessa origem, relacionado com

a necessidade de um espaço de culto, assim como os interesses em mais um local para

descanso devem ser levados em consideração, o que nos pede compreendermos qual a posição

dessa região em termos eclesiásticos e, até mesmo, demográficos, tentando situar quais os

principais focos de habitação.

2. “O ‘logar’ da Cruz das Almas”: tentativas de reconstrução.

Ao se debruçar sobre a história das municipalidades do Recôncavo baiano,

especialmente das cidades que pertenceram a Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da

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Cachoeira, o leitor certamente se depara com uma produção pequena, realizada por

historiadores e também cidadãos dessas localidades, como no caso de Nelson Brito (2012) e

Anfilófio de Castro (1941) para Muritiba. Desta maneira, pouco se tem de referência sobre

Cruz das Almas na historiografia e produção acadêmica voltada para as questões locais ou

mesmo, sob uma perspectiva mais ampla, regional. No entanto, é necessário destacar que

antes de se tornar uma freguesia, isto é, ganhar uma das principais subdivisões da política

administrativa e eclesiástica da colônia e também do império, a atual região de Cruz das

Almas pertenceu durante boa parte do século XIX a freguesia de Nossa Senhora do Desterro

do Outeiro Redondo.

Diante disso, estudar a formação dos primeiros núcleos que futuramente viriam a ser

nossa cidade é uma tarefa extremamente complicada, na medida em que se torna necessário

levar em consideração essas mudanças na questão da administração do território.7 Assim, é

preciso levar em consideração a configuração dos espaços anteriormente citados, tentando

pensar nossa questão central a partir das dinâmicas entre esses territórios. Dito isso, como

nosso objetivo maior é a realização de uma problematização, comecemos então nossa breve

discussão pelo ponto central da chamada narrativa oficial: a estrada.

a) A derrota do Porto de São Félix para as minas do Rio de Contas.

O processo de expansão e interligação entre o sertão e a região do Recôncavo,

incluindo também Salvador, foi, sem dúvida nenhuma, facilitada pela existência de alguns

rios, como o Paraguaçu, Rio de Contas, Jaguaripe, Itapicuru e outros também de menor porte

que desaguam na Baia ou no oceano, propiciando assim a existência de uma considerável

circulação marítima e/ou hidroviária.8 No entanto, as dinâmicas entre essas diferentes regiões

não se deram apenas pelo uso de vias hídricas. Os caminhos terrestres, alguns herdados das

antigas trilhas indígenas, possuíram fundamental importância nesse processo de integração, na

medida em que conseguia abranger um maior número de povoações e espaços

socioeconômicos em sua extensão.

As estradas, tanto para a Bahia colonial, como também para toda a América

portuguesa, em termos metafóricos, eram como a circulação sanguínea ao, juntamente com o

transporte hidroviário, promoverem dinâmicas entre os diferentes espaços coloniais. Pensando

por uma perspectiva braudeliana,9 a circularidade de bens e pessoas no interior da capitania da

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Bahia e, consequentemente do Recôncavo, era reflexo de um movimento muito maior, a

primeira integração entre aquilo que ficou entendido como velho e novo mundo, característica

marcante do processo de expansão ultramarina. 10

Voltando para a região, as estradas possuíam o papel de construção de uma dinâmica

própria, que integrava a vila de Cachoeira com as demais áreas sob sua jurisdição. Assim,

eram por esses caminhos que convergiam todas as questões comerciais, administrativas,

socioculturais e religiosas em direção ao centro político e econômico dessa região. No

entanto, o estudo da rede urbana do Recôncavo aponta também para a relação intrafreguesias,

não necessariamente mediada pela vila da margem direita do Paraguaçu. Deste modo,

verifica-se a existência de inúmeras rotas de menor porte integrando as pequenas povoações.

Admitindo a existência de uma hierarquia entre os caminhos, vale destacar primeiramente

aquele que, sem dúvida nenhuma, era o principal ponto de circulação na margem esquerda do

Paraguaçu.

Márcio dos Santos (2010), em Fronteiras do Sertão Baiano (1640-1750), aponta a

existência de uma importante via de ligação entre o porto da Cachoeira e a região das Minas

de Rio de Contas. Tal caminho com datação incerta, mas certamente com o trajeto

consolidado no início do século XVIII, foi preciosamente descrito por Miguel Pereira da

Costa e também por Antonil (1982), o que evidencia sua importância para a economia

colonial. A chamada “Derrota do Porto de São Pedro da Muritiba para as Minas do Rio de

Contas” compreendia uma longa via de mais de 105 léguas, percorridas pelo primeiro viajante

em ao menos 21 dias de marchas diárias (NEVES, 2002). No entanto, não cabe aqui detalhar

essa importante via em todos os seus pontos. Para nosso estudo, é necessário considerarmos

apenas uma parte daquele, especialmente o trecho entre São Félix e a fazenda Curralinho, um

dos mais importantes pousos para aqueles que adentravam nessa longa jornada:

De Curralinho a fazenda Candeal de Sebastião Barbosa que cria gado há

legua e meia e desta ao Genipapo há uma legua de estrada, bom caminho e o

Genipapo á fazenda de gado, onde estão os filhos de Pedro Barbosa. [...] Da

Genipapo a Cerca sitio de mantimentos e suas eguas há 4 leguas de estrada,

estão mais 3 sitios neste caminho que é bom [...] Da Cerca a S. Pedro da

Muritiba 4 leguas, bom caminho, quase todo povoado desde um sitio que

chamão da Catinga até Muritiba (FREIRE, 1906, p.502-503.)

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Seguindo uma característica fundamental no processo de formação das vias terrestres

no Brasil Colônia, essa estrada segue, de certa maneira, parte do traçado do Rio Paraguaçu,

desviando do mesmo em poucos momentos. Em sua primeira parte, se considerarmos

estarmos partindo em direção ao Sertão, ocorre a travessia da freguesia de São Pedro da

Muritiba, passando do interior do povoado situado no monte até a região da Serra do Aporá,

situada à 6 léguas da sede da freguesia (SAINT-ADOLPHE, 1845), importante ponto de

referência para aqueles viajantes.

Para termos uma visão ainda mais específica, basta vermos algumas das codificações

dos locais de parada nos roteiros de viagem, elaborada por Erivaldo Fagundes Neves e

Antonieta Miguel (2007) acerca da mesma estrada em 1721,11 baseada na expedição de

Pereira da Costa, observe que o traçado é praticamente o mesmo, modificando apenas alguns

dos pontos citados:

De cachoeira (Freguesia de São Pedro) a Rio de Contas:

01. Freguesia de São Pedro (Cachoeira)

02. Aporá Pequeno.

03. Fazenda Genipapo (Município de Castro Alves)

04. Fazenda Curralinho (Origem da Vila de Castro Alves).

Tanto o mapa como a descrição citada anteriormente não indicam nenhum pouso

chamado Cruz das Almas e nem mesmo cita alguma localidade que faziam referência ao

núcleo original da cidade. Apesar de, se considerarmos o período histórico em estudo, o

chamado Caminho do Ouro da Boa Pinta abranger também partes da Freguesia do Outeiro

Redondo, o fato é que o mesmo não engloba nem a sua sede e nem tampouco as áreas mais

próximas da mesma. A dita estrada para o sertão citada pela narrativa tradicional, portanto,

não foi aquela que se tornou uma das rotas mais realizadas no interior da Capitania da Bahia.

Conforme Adriano Bittencourt Andrade (2013), as diferentes integrações entre os

espaços urbanos do Recôncavo Setecentista, apresenta-nos uma grande quantidade de mapas e

produções artísticas sobre a malha urbana do Recôncavo. Malha essa não apenas constituída

pela via principal, o caminho real, mas também por inúmeras estradas de menor porte que

permitiam a ligação entre os diferentes povoados e espaços rurais da região.

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Grande parte das produções apontam a existência de uma estrada interligando uma

parte da estrada que ligava o porto de São Felix à Freguesia de Maragogipe e tinha seu final

na região do Aporá,12 permitindo o acesso à estrada do Rio de Contas. O mais importante é

que, dentre os principais pousos citados, estão Outeiro Redondo e São José, o pequeno

povoado fumageiro pertencente à freguesia de São Pedro da Muritiba. Estando paralela ao rio

Capivary, sem dúvida nenhuma foi essa a estrada que cruzava a região do núcleo central de

Cruz das Almas, tendo boa parte de seu trajeto original facilmente identificável nos dias

atuais. Apesar disso, uma questão é fundamental: qual a relevância dessa estrada para a

região? Estaria ela associada diretamente às movimentações em direção ao sertão?

Tanto a documentação como os demais estudos consultados sobre o Recôncavo no

século XVIII fazem pouca referência sobre essa região da Freguesia do Outeiro. Sabe-se, no

entanto, do predomínio da produção de subsistência e, também, da cultura fumageira,

constituído parte dos Campos da Cachoeira.13 Uma petição de 1763 explicita a necessidade de

construir-se uma ponte sobre o Rio Capivary, muito provavelmente nas proximidades da

estrada em estudo, de modo a permitir o fluxo de produtos como farinha e tabaco para a

região do porto da Cachoeira. Este caso é muito significativo, pois indica o papel econômico

dessa região e sua importância para as redes de comércio.

Neste sentido, entendemos que essa estrada que passava pela então Cruz das Almas

como uma via de escoamento da produção, sendo, portanto, vital para os moradores locais. O

fato de possuir uma ligação com o caminho para o Rio de Contas permite pensarmos também

que o trajeto entre o Aporá e São Félix poderia ser feito via São José e Cruz das Almas,14 mas

estando numa condição inferior em relação a via principal, tendo em vista que essa última era

reconhecidamente mais bem movimentada e com um histórico de acesso muito mais antigo.

b) Uma Cruz do século XIX ou XVIII?

Sobre a questão da estrada que supostamente teria dado origem ao povoado de Cruz

das Almas, outro aspecto a ser discutido é o seu marco tempo. Matta Santana e Pinto da

Cunha convergem quanto ao final do século XVIII e início do XIX como o momento de

organicidade desse núcleo. Pensando sob um ponto de vista mais macro, em relação à

capitania da Bahia como um todo, faria muito sentido pensarmos isso, pois na medida em que

a mesma obteve um crescimento econômico considerável, acompanhando uma tendência que

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se verifica para a colônia toda, a expansão da produção dos gêneros “carro-chefe” da

economia bainense, como o fumo, poderia acarretar no surgimento de novos espaços para seu

desenvolvimento, ou mesmo também a formação de novos núcleos de poder.

Quando paramos para analisar o histórico das principais vilas, freguesias e povoados

no entorno, torna-se extremamente difícil concebermos o povoado das Almas apenas naquele

período. Se tomarmos a região de São Tiago do Iguape, a menos de duas léguas daquilo que

seria o núcleo original de Cruz, vemos que aquele se formou já no início da segunda metade

do século XVI (SCHWARTZ, 1988, p.81). Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira,

sede da comarca que abrangia boa parte do Recôncavo, tornou-se vila em 1693, ou seja, quase

cem anos antes em relação ao período dado para Cruz das Almas.

A questão é ainda mais complexa quando olhamos para a Freguesia do Outeiro, datada

de 1718,15 e alguns estudos que apontam o registro do povoado do São José já em 1705. São

Felipe das Roças, região historicamente ligada a Maragogipe, mas não muito distante de Cruz

das Almas tem sua formação reconhecida já em finais do século XVII.

Rae Jean Flory (1978), em seu estudo sobre a produção de açúcar e tabaco, cita

localidades que atualmente pertencem ao munícipio de Sapeaçu, como o caso do Muricy, já

para o início do XVIII. Desta maneira, toda a região no entorno de Cruz das Almas já era

povoada e integrada às lógicas comerciais, culturais e políticas desde pelo menos a entrada

dos setecentos. Em um Recôncavo relativamente populoso, detentor de uma integração entre

seu espaço urbano e seu espaço rural, como então nossa cidade veio a tomar corpo apenas

mais de setenta anos depois?16

José da Costa Valle, vigário da igreja do Outeiro Redondo, em 1757, foi responsável por

redigir uma breve descrição da freguesia, movimento realizado por toda a colônia em virtude

das reformas pombalinas. No início do texto, o religioso nos deixa uma importantíssima

contribuição para nosso estudo:

Principia esta dita freguesia de Nossa Senhora do Desterro á beira do rio

Cachoeira chamado Perauassú e navegável em o logar da Varginha doente

tem a capella de Nossa Senhora da Conceição com povoação de huã dúzia de

casas de pescadores, e desta povoação se sobe para este Oiteiro Redondo,

logar da Matriz com a distancia de legoa e coarto, e logo se segue o logar de

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Caminahve donde estão situadas rossas de farinhas e tabacos athe o logar da

Cruz das Almas em distancia de legoa e trez quartos pouco mais ou menos

donde tem a capella de Nossa Senhora do Bom Successo, com povoação de

dez ou doze moradores, e desta se vay ao logar da Embira em distancia de

meya legoa donde tem a capela de Nossa Senhora da Conceição, em logar

deserto que apenas tem a dita capella e a casa da administradora e do seo

capellão.

Levando em consideração as grandes dimensões da freguesia do Oiteiro, Costa Valle

se ateve principalmente nas regiões que estão mais próximas da sede, dando, portanto, uma

descrição mais detalhada da região que estamos a estudar. Duas coisas são fundamentais

nesse relato. A primeira é o reconhecimento de Cruz das Almas como uma parte integrante

dessa freguesia. Isso significa que a região já era reconhecida muito antes de 1757, tendo em

vista que a mesma era composta pela capela e também por alguns moradores, muito

provavelmente em seu entorno.

Outro elemento importante é a descrição de partes limítrofes à Cruz das Almas como

no caso da Embira e do atual Caminhoá. Reconheceu-se a existência, desde esse período, de

uma paisagem permeada por roças de tabaco e farinha,17 característica dessa região apontada

por inúmeros historiadores do Recôncavo para diferentes períodos históricos. Assim, a

povoação, que outrora foi datada para o final do século XVIII, possui seguramente sua origem

muito antes deste período, como atesta o relato do vigário.

Outro documento, desta vez de 1774, contribui para levantarmos ainda mais dúvidas

acerca do crescimento da povoação em estudo. Numa petição para a divisão da freguesia do

Outeiro Redondo, o vigário José Nunes Cabral cita Cruz das Almas ao final do documento,

fazendo referência, portanto, ao local aonde este se encontrava. No entanto, ao verificarmos

um pouco a história da freguesia do Outeiro, o que vemos são grandes modificações de nomes

e sedes, tendo em vista mais uma vez sua enorme extensão. Para se ter ideia, em 1745

encontramos uma documentação que intitula a freguesia como Nossa Senhora do Desterro do

Aporá, mas reconhecendo que a sede esteve situada no Outeiro.

Assim, pensando na assinatura daquele vigário, poderíamos ter a hipótese de que a

residência eclesiástica poderia já estar localizada em Cruz das Almas, no entanto o corpus

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documental consultado não traz maiores indícios disso. De todo modo, do ponto de vista do

desenvolvimento da povoação, esta petição já atesta a importância de Cruz das Almas para a

freguesia, tendo em vista que mesmo estando relativamente próxima a sede, recebia visitas do

pároco, um elemento que esteve no centro das contestações dos moradores de regiões mais

distantes como o Andarahi, Moquem e Maracazes.

Fora do estudo da história religiosa, Jean Baptiste Nardi (1996), em sua clássica obra

sobre a história do fumo no Brasil, identifica a existência de 26 fazendas dessa cultura na

região de Cruz. Apesar de não trazer maiores detalhes sobre a composição do povoado, este

número é muito significativo, pois, por um lado demonstra a participação da localidade na

produção de fumo do chamado Campos da Cachoeira como, por outro, atesta seu próprio

desenvolvimento interno, pois reflete o crescimento da população, acompanhado de uma

expansão em sua produção.

Sendo parte integrante do Recôncavo, espaço onde rural e urbano eram praticamente

indissociáveis, a formação da cidade de Cruz das Almas deve ser compreendida a partir da

simbiose desses dois espaços, o que, portanto, reitera a importância de identificarmos o seu

passado ruralizado. Assim, por de trás daquelas “casinhas em meio a mata circundante” há

muita história. História essa que, a partir de algumas fontes e estudos citados, demonstra que é

necessário passar por um processo de revisão, levando em consideração as dinâmicas políticas

e econômicas da região.

Considerações finais

Situada na região planáltica, na margem direita do Paraguaçu, Cruz das Almas é uma

cidade que ainda possui muita história para se contar. Tendo em vista a relevância da história

local, as evidências apresentadas constituem um corpus argumentativo em favor da retomada

da pesquisa histórica sobre nosso munícipio. Pesquisa essa que, ao avaliarmos a produção

historiográfica da região, vemos lacunas acerca do passado de municípios que outrora

possuíram um lugar especial na história da Bahia e do Brasil.

Os dois pilares da história tradicional, a estrada e a datação, demonstraram certas

fragilidades quando confrontados com documentações que antecedem o período que, a partir

do consenso da produção histórica sobre Cruz até o momento, foi consagrado como aquele de

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fundação e desenvolvimento do povoado. A via de ligação entre o Porto de Cachoeira aos

sertões correspondia, na verdade, a uma estrada que passava por Muritiba e ia em direção a

região da Serra do Aporá, não tangenciando, portanto, o planalto que futuramente sediaria a

nossa cidade.

Quanto a periodização que constitui-se num dos pontos mais problemáticos, a

documentação eclesiástica aponta para a existência de um pequeno núcleo nas proximidades

da capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso pelo menos já em 1757. Essa mesma descrição,

acompanhada de algumas referências bibliográficas, demonstram que essa região,

considerando também povoados limítrofes, já possuía uma paisagem formada por roças de

mandioca, tabacos e demais gêneros de subsistência muito antes da segunda metade do

referido século. Neste sentido, a área que ficou consagrada pela existência de um cruzeiro nas

proximidades da estrada correspondia a uma parte, a uma engrenagem, da configuração

socioeconômica do outro lado da Baía.

Compreendendo a hinterland da Bahia como uma das regiões mais prósperas do

período colonial,18 é preciso situar a formação e o desenvolvimento daquilo que viria a ser

nossa cidade num processo muito mais amplo, no entanto sem deixar de reconhecer as

especificidades de uma região que, mesmo ligada à Vila de Nossa Senhora do Rosário do

Porto da Cachoeira, possuiu uma constituição político-social que difere um tanto das demais

localidades da antiga comarca. Isso significa dizer que a história de Cruz das Almas não é um

elemento isolado no interior da trajetória da Bahia ou mesmo do Brasil.

Esperamos que este artigo venha a ser não um ponto final nas discussões sobre nosso

passado, mas a entrada para a retomada das pesquisas e dos debates. As fontes citadas

compõem um corpus documental totalmente digitalizado, todavia não se constituem nos

únicos vestígios de nosso passado, cabendo, assim, aos historiadores, cruzalmenses ou não,

voltarem-se aos arquivos do Brasil e de Portugal, buscando maiores respostas para uma

problemática que, a nosso ver, ainda está em aberto.

1 Graduando em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). E-mail: [email protected] 2 Segundo os dados de 2017, estima-se que Cruz das Almas tivesse em torno de 64900 habitantes, enquanto

Santo Antônio de Jesus fosse composta por aproximadamente 103 mil habitantes.

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3 Na história das vias terrestres que ligavam o litoral aos sertões, os pousos (na forma também de ranchos e

vendas) consistiam um elemento fundamental para a circulação e a formação de dinâmicas entre diferentes

regiões, principalmente ao serem locais de parada dos viajantes, tanto para abastecimento como também para o

descanso (PRADO JÚNIOR, 1965, p.264-265). Ao redor de muitos destes se formaram municípios como o caso

de Castro Alves, herdeiro da antiga fazenda Curralinho, um dos principais pontos de parada da estrada que

iremos discutir mais a frente. 4 Esta versão também é citada por Silva Oliveira em sua breve revisão bibliográfica sobre a história de Cruz das

Almas (OLIVEIRA, 2012). 5 Ao discutir as festas juninas em Cruz das Almas, Silva Oliveira destaca a necessidade de pensarmos essa

história também como pertencente a outros sujeitos de diferentes segmentos sociais, tais como os escravizados

(OLIVEIRA, 2012, p.27). 6 Em nosso levantamento bibliográfico, não encontramos nenhum trabalho específico sobre a história de São

Felipe. Tomando como base a versão encontrada na Enciclopédia dos Municípios e no site do IBGE, a

pacificação do Recôncavo ocorrida através das expedições de Braz Arzão e Baião Parente possibilitou a

ocupação das terras mais ao Oeste, no caso de São Felipe, através dos irmãos Felipe e Tiago Dias Gato (IBGE). 7 Tais dificuldades são explicadas, dentre outras coisas, pelo número pequeno de fontes sobre a região. Segundo

Jorge Ricardo Fonseca, os livros mais antigos da Paróquia do Outeiro Redondo se perderam, restando apenas os

de batismo que cobrem o período entre 1791 a 1812 (FONSECA, 2011) 8 A importância dos rios para o Recôncavo se encontra inscrita desde momentos mais remotos do Brasil Colônia,

como destaca Stuart Schwartz, apontando um relato de Diogo de Campos Moreno em 1612 (SCHWARTZ,

1988, p. 79) 9 De acordo com Fernand Braudel, denomina-se como economia-mundo “um fragmento do universo, um pedaço

do planeta economicamente autônomo, capaz, no essencial, de bastar a si próprio e ao qual suas ligações e trocas

internas conferem certa unidade orgânica” (1996, p.12). Desta maneira, estudar as relações econômicas à nível

mundial, significa reconhecer a existência de zonas de maior efervescência econômica, atreladas à um

determinado centro. Tais zonas possuem também ligações entre si. 10 A integração econômica do Recôncavo e de Salvador com diferentes regiões do globo encontra respaldo em

estudos como o de Avanete Pereira e Sousa (2016), ao apontar algumas das redes comerciais existentes no

século XVIII. Em nível de exemplificação, o fumo, um dos produtos de maior destaque do Recôncavo no XVIII,

tinha em Salvador seu principal ponto de escoamento, sendo encaminhado para Portugal e África (2016, p.106) 11 Neves e Miguel elaboraram alguns quadros contendo os principais pontos de pouso e povoações da referida

estrada. Fazendo referência à Planta Chorográfica de São Félix aos Montes Altos (1758), calcula-se em 8 léguas

a distância entre São Pedro da Muritiba e Curralinho, um dos principais pousos do percurso (p.49). 12 Em O outro lado da baía, Bittencourt Andrade (2013) realiza um razoável levantamento acerca da produção

cartográfica referente ao Recôncavo e suas estradas entre os séculos XVIII e XIX, além de elaborações do

próprio autor, tendo como base as fontes documentais. O décimo quarto anexo trata-se de um fragmento do

“Mapa da Commarca da Bahia de Todos os Santos seguindo a continuação della para o poente”, datado de algum

momento do século XVIII, cita uma estrada que, passando por Cruz das Almas, interligava partes do Outeiro

Redondo ao São José, atingindo posteriormente a região do Aporá (ANDRADE, 2013, p.252). 13 Compreende-se como Campos da Cachoeira as localidades do Recôncavo que se caracterizavam pela

produção de tabaco. Segundo Albuquerque, suas principais áreas foram as freguesias de São José das

Itapororocas, São Pedro da Muritiba, São Gonçalo dos Campos, Santo Estevão do Jacuípe, Outeiro Redondo e

Cachoeira (SILVA, 2015, p.51). 14 Um mapa pertencente ao século XVIII, denominado “Mapa da Commarca da Bahia de Todos os Santos

seguindo a continuação della para o poente”, disponível na Biblioteca Nacional Digital, aponta para a existência

dessa ligação, tratando-se de uma estrada paralela ao Rio Capivari. 15 Estudando os rendimentos paroquiais no século XVIII, Silva (2016) aponta uma controvérsia para a fundação

da freguesia do Outeiro Redondo. Ao contrário do que encontramos em um documento no Arquivo Público de

São Félix, o autor data de 1682 a elevação de Nossa Senhora do Desterro do Outeiro Redondo à condição de

freguesia (p.51) 16 De acordo com Bert Barickman (1988), o povoamento do Recôncavo entre finais do século XVIII e início do

XIX, do ponto de vista da distribuição, ainda era irregular. A maior parte da população se concentrava após a

margem direita do Paraguaçu, ao contrário, portanto, da região que compreendia Cruz das Almas e demais

localidades próximas. Em Notícia Geral de Toda Esta Capitania da Bahia, José Antônio Caldas (1759) calcula

um número de 2947 almas para a extensa Freguesia de Nossa Senhora do Desterro do Outeiro Redondo,

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enquanto que, segundo o mesmo autor, a Freguesia de Nossa Senhora do Rosário da Vila da Cachoeira possuía

cerca de 5814 almas. 17 No estudo da produção fumageira, é comum encontrar a alternância ou mesmo a simultaneidade entre a

plantação de fumo e a existência de outra cultura ou atividade econômica, conforme aponta Barickman (1988, p.

291-303). Ana Silva de Albuquerque (1774-1830), estudando a cultura de fumo no Recôncavo, aponta que, para

a freguesia do Outeiro Redondo, mais de 70% das propriedades se dedicavam à produção fumageira e a

mandioca, não encontrando referências sobre a combinação entre fumo e pecuária (SILVA, 2015, p. 62). 18 Pensando nas relações entre centro e periferia no mundo luso-brasileiro, Russell-Wood toma emprestado da

geografia os termos unlund, vorland e hinterland para tecer sua análise. Em relação a um determinado centro, a

hinterland corresponde a uma área mais distante, ampla, porém contígua e ligada ao núcleo central por meio de

relações econômicas e culturais (RUSSELL-WOOD, 1998, p.4; SOUSA, 2016, pp.100-101).

Referências documentais

OFFICIO do Padre José Nunes Cabral, parocho da Freguezia de N.S. do Desterro do Outeiro

Redondo, n oqual informa o Arcebispo acerca da seguinte petição, 03/05/ 1774, AHU –

Projeto Resgate – Bahia Eduardo de Castro e Almeida (1613-1807). Cx.46. Doc. 8632.

RELAÇÃO da Freguesia de Nossa Senhora do Desterro, sita no logar do Outeiro Redondo,

pelo vigário encommendado José da Costa Vale, 1757, AHU – projeto Resgate – Bahia

Eduardo de Castro e Almeida (1613-1807). Cx. 15. Doc. 2705.

REPRESENTAÇÃO dos moradores de moquém Maracazes, Andarahi, Rio das Contas e

Paraguaçu, em que pedem para lhes ser enviado um padre que ministrasse os sacramentos por

causa da enorme distância a que se achavam da sede da freguesia de N.S. do Desterro do

Outeiro Redondo, 3/05/ 1774, AHU – Projeto Resgate – Bahia Eduardo de Castro e Almeida

(1613-1807). Cx. 46. Doc. 8633.

REPRESENTAÇÃO do juiz de Fora, Vereadores e procurador da Câmara da vila de

Cachoeira ao rei [D. José], solicitando a urgência em se construir uma ponte no Rio Capivari,

que se localiza no termo da Vila. Refere as razões que levam a urgência da solicitação,

02/07/1766, AHU – Projeto Resgate – Bahia Avulsos (1604-1828). Cx. 156. Doc. 11936.

REQUERIMENTO do vigário da igreja matriz de Nossa Senhora do Desterro do Aporá José

da Costa Vale ao rei [D. João V] solicitando ordem para que se construa o prédio da referida

igreja matriz, 07/10/ 1745, AHU – projeto Resgate – Bahia Avulsos (1604 – 1828). Cx. 84.

Doc. 6851.

Referências Bibliográficas

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https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/santo-antonio-de-jesus

https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/sao-felipe/historico