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(/sites/default/files/gn/14/03/foto31pol-101-amapa-a10.jpg)Em linha com oPSOL, sindicato dos professores cobra do prefeito o pagamento do piso nacional para a categoria
31/03/2014 - 05:00
No poder, PSOL faz ajuste, defende PPP e enfrentagrevistas
Por Fernando Taquari
A greve nacional de professores da rede pblica de ensino paralisou por mais de uma hora o trnsito em
trecho da Avenida FAB, a principal v ia de Macap, na manh de 17 de maro. Com faixas, bandeiras e um
carro de som, docentes protestavam em frente prefeitura depois de cumprirem o mesmo ritual na sede do
palcio do governo, a 200 metros dali. Com megafones, gritavam palavras de ordem contra o prefeito Clcio
Luis (PSOL) e exigiam o pagamento do piso nacional para a categoria.
"Clcio no cumpre a promessa que fez na campanha. Alega que no h dinheiro disponvel no oramento,
mas prioriza gastos com publicidade", esbravejou Ailton Costa, v ice-presidente do sindicato dos professores.
Macap a primeira capital administrada pelo PSOL e a nica a pagar menos do que o piso nacional da
categoria. "No queremos a volta da direita. Apenas que o prefeito d ouvido aos trabalhadores que
ajudaram a eleg-lo em 2012", afirma Costa.
Na mesma tarde, o prefeito recebeu os sindicalistas. Com nmeros na ponta da lngua, explicou que no h
recursos disponveis no oramento para atender reiv indicao, umas das bandeiras do PSOL no mbito
nacional.
Em sua defesa, lembrou que o municpio aprovou projeto do Executivo que destina 100% dos roy alties do
petrleo para educao. Essa cifra representa, atualmente, R$ 2,9 milhes. A expectativa que o montante
possa crescer com a explorao de 12 blocos na costa amapaense a partir de 2019. Os estudos para
determinar o potencial da regio comeam em 2015. Gegrafo de formao e professor da rede pblica,
Clcio j negociou com a categoria no perodo em que foi secretrio estadual de educao (1998-1999) na
gesto do hoje senador Joo Capiberibe (PSB).
O discurso inflexvel e crtico do PSOL contra a iniciativa privada, a austeridade fiscal e o modelo de coalizo
do governo federal contrasta com outras prticas adotadas pela Prefeitura de Macap, base eleitoral do
senador e candidato Presidncia da Repblica Randolfe Rodrigues (PSOL). O prefeito governa com o apoio
dos partidos que o apoiaram na eleio de 2012.
Na economia, promoveu um ajuste fiscal para enquadrar o municpio dentro da Lei de Responsabilidade
Fiscal (LRF). Alm disso, v nas Parcerias Pblico-Privadas (PPPs) uma forma de atrair investimentos para
uma cidade em aperto oramentrio.
Clcio assumiu o cargo depois de derrotar o ento prefeito Roberto Ges (PDT) por pouco mais de dois mil
votos. O engajamento de Randolfe e, na reta final, do governador do Amap, Camilo Capiberibe (PSB), foi
determinante para a v itria, mesmo com o pedetista tendo passado, alguns meses antes, 58 dias preso na
Papuda, em Braslia, em um desdobramento da Operao Mos Limpas, da Polcia Federal (PF), que
investigou o desv io de verbas pblicas.
A maior parte dos seis partidos (PPS, PV, PRTB, PTC, PMN, PCB) que apoiaram Clcio na campanha eleitoral
est contemplada com cargos na prefeitura, sejam secretarias ou coordenaes. Esse modelo de coalizo, no
entanto, sempre foi combatido pelo PSOL. O PPS comanda a Macap Prev i. O PV est frente das secretarias
de Assistncia Social e de Meio Ambiente. J o coordenador de agncias distritais foi indicado pelo PRTB.
A prefeitura nega o loteamento de cargos. Alega que h um aproveitamento de quadros dessas legendas,
partindo do critrio tcnico. Clcio reconhece que a situao cria "certo embarao". "Por outro lado,
acredito que nesse equilbrio de perdas e ganhos, a prefeitura ganha mais se dialogarmos com a populao. O
povo no est nem a para os partidos em geral", afirma. Desde que tomou posse, o prefeito conseguiu
aprovar os 12 projetos que enviou para a Cmara Municipal, sendo a maioria de cunho social, como a
contratao emergencial de professores.
Pesou a favor de Clcio o pedido de trgua que fez aos parlamentares para o primeiro ano de governo, uma
vez que a prefeitura estava com as contas no vermelho. O suporte do vereador Lucas Barreto (PSD), que se
intitula independente, tambm tem sido determinante nas votaes. Carismtico e influente na Cmara,
Barreto espera ter o PSOL em sua coligao na eleio para o governo do Estado.
"Clcio e Randolfe firmaram um compromisso de apoiar minha candidatura em 2014 em troca do apoio que
dei a eles em 2012 e em 2010", diz Barreto, que chegou ao 2 turno da eleio estadual em 2010. Na
cerimnia de filiao do vereador ao PSD no ano passado, Randolfe e Clcio fizeram uma srie de elogios a
Barreto. O evento contou com a participao do presidente nacional do PSD, o ex-prefeito de So Paulo
Gilberto Kassab. A despeito do suposto compromisso, o PSOL lanou a pr-candidatura do secretrio
municipal de Governo, Charles Chelala, sucesso estadual, o que pode complicar a relao de Clcio com a
Cmara.
O prefeito recorreu sua base para engavetar um pedido de instalao de uma Comisso Parlamentar de
Inqurito (CPI) para investigar o aluguel de 7 1 veculos populares por R$ 2,5 milhes para o transporte de
serv idores municipais. A licitao foi feita v ia prego eletrnico. "Gastamos 40% menos com o aluguel de
automveis do que o governo anterior. Isso sem contar que nossa frota chega a 60% do que se tinha
anteriormente", diz Chelala.
A justificativa no convence o vereador Augusto Aguiar (PMDB), autor do pedido de CPI. "O contrato
imoral. H uma srie de demandas na sade e na educao e torramos o dinheiro pblico dessa maneira",
afirma Aguiar.
"O prefeito muito preparado e tem procurado preencher os cargos com critrio tcnico. Ocorre que a
poltica igual em qualquer lugar. Existem as composies. Ningum aprova nada de graa no Legislativo",
observa o economista Antonio Peres, professor na Universidade Federal do Amap (Unifap), que considera
o PSOL mais moderado no Estado. "Clcio e Randolfe so lideranas que conversam com todos os segmentos
da poltica local. Ao contrrio do PSOL nacional, que se isola como se fosse um nus ser governo", ressalta
Peres.
Clcio ainda promoveu ajustes na economia. Com um oramento de R$ 520 milhes em 2013, ele herdou R$
(/sites/default/files/gn/14/03/foto31pol-102-amapa-a10.jpg)Clcio: "Sousocialista, mas a prefeitura no . Temos que fazer o dever de casa"
240 milhes em dv idas. Conseguiu normalizar a situao financeira no ano passado ao instituir metas
oramentrias e um conjunto de aes para aumentar a arrecadao de impostos, alm de cortar gastos com
pessoal. A prefeitura, por exemplo, reduziu de 62% para 53,8% as despesas com a folha de pagamentos, fora
dos 51% exigidos pela LRF, mas dentro dos 54% permitidos desde que o municpio comprove medidas para
diminuir o ndice.
"Temos uma luta histrica contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas ela hoje nos ajuda a ter uma gesto
mais saudvel porque traz mais recursos para o municpio. Precisamos equilibrar despesa e receita, sem
reduzir os direitos da populao",afirma Clcio. "Sou socialista, mas a prefeitura no . No tem municpio
socialista. No tenho essa iluso. Tem prticas de governo que reiv indicam o socialismo, mas no estado em
que estamos, precisamos, primeiro, fazer o dever de casa nos marcos regulatrios v igentes", acrescenta.
Macap depende basicamente de transferncias federais e estaduais. Em mdia, a Unio responde por 44%
dos recursos disponveis nos cofres municipais, enquanto a participao do Estado representa 24% do total.
Peres acredita que a prefeitura tem condies de promover uma reforma administrativa para enxugar mais o
tamanho da mquina pblica. Descontados a folha de pagamentos, salrios atrasados, dv idas
prev idencirias, passivos trabalhistas e despesas obrigatrias, sobram cerca de R$ 5 milhes para
investimentos.
Com o objetivo de reduzir a dependncia da Unio e do Estado, Clcio implantou a Nota Fiscal Eletrnica e
lanou um Programa de Recuperao Fiscal. Os contribuintes que pagarem v ista ganham at 100% de
desconto para quitar multas pela falta de pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e do
Imposto Sobre Serv ios (ISS). Um estudo de 2012 estimou em R$ 180 milhes a dv ida tributria da cidade.
Chelala observa que o montante teria crescido ao longo dos anos porque no houve esforo no sentido de
conscientizar a populao sobre a importncia de pagar os tributos. Apesar disso, a receita prpria de
Macap cresceu 20% em 2013. O secretrio realizou um levantamento com 60 municpios com a mesma
populao da capital amapaense, que aparece na penltima posio no que se refere arrecadao de IPTU.
Com o recadastramento domiciliar, espera que a cidade possa arrecadar at R$ 7 0 milhes de IPTU. H um
potencial de crescimento tambm no caso do ISS (R$ 35 milhes em 2013). "Em dois meses aumentamos em
80% a arrecadao deste imposto s com a disseminao da Nota Fiscal Eletrnica", afirma Chelala. O
prefeito reconhece que a questo dos tributos tem um custo poltico e partidrio. Ressalta, porm, que as
medidas v isam resgatar a sade financeira de Macap. "Posso ser questionado por essas iniciativas dentro do
meu espectro poltico, mas so aes fundamentais para um governo de esquerda reconstituir suas funes e
dar uma resposta sociedade", argumenta Clcio.
Em regime de concesso, a prefeitura ainda estabeleceu uma parceria com a iniciativa privada na coleta de
informaes para a regularizao de lotes urbanos na capital amapaense. " quase uma PPP, o que causa
certa ojeriza em setores mais sectrios do PSOL. Acontece que, sem essa parceria, no legalizaramos os
terrenos na mesma rapidez. No vejo problema nesse tipo de concesso, considerando nossos princpios
contra o neoliberalismo", complementa o secretrio.
O prefeito tambm investiu em bandeiras histricas do PSOL, como a participao da populao na
montagem do Plano Plurianual (PPA 2014-2017 ). Foram feitas reunies e plenrias para dar formao aos
7 00 delegados escolhidos para fiscalizar as aes da prefeitura. Depois de 17 encontros no estilo democracia
direta definiu-se as prioridades do PPA. "As demandas so muito maiores do que as condies da prefeitura.
Cada bairro quer puxar para si as obras. De todo modo o processo foi importante porque todos se sentiram
moradores do municpio", afirma Clcio.
Em linha com a proposta do presidencivel Randolfe, de tarifa zero para o transporte pblico, a Prefeitura de
Macap foi a nica capital no Brasil a baixar a tarifa de nibus abaixo do valor fixado antes das
manifestaes. Com isenes de impostos municipais s empresas de transporte coletivo, o preo da
passagem passou de R$ 2,30 para R$ 2,10. Houve desonerao no ISS, de 5% para 3%, e na Taxa de
Gerenciamento, de 6% para 3%, pagos pelas empresas de transporte coletivo em Macap. No clculo tambm
foi levado em conta a reduo de 17 % no ICMS na compra de combustvel pelas empresas, concedido pelo
governo do Estado.
" No precisamos estatizar ou municipalizar as empresas. Temos que buscar estratgias para financiar a tarifa
zero. Isso depende de uma responsabilizao tripartite e da sociedade como um todo", argumenta o prefeito,
que junto com o governador lanou tambm o Passe Social Estudantil, que garante gratuidade no transporte
coletivo para alunos carentes da rede pblica de ensino.