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13 | Agosto | 2014 1 - Se Na linha da frente da informação, para que se mantenha sempre informado com rigor e isenção - Nº 3 - Ano 1 | quarta-feira 13 de Julho de 2014 À CONVERSA COM MIGUEL BENTO pág 06-07 GAMSD 4º aniversário Grupo de Amigos da Mina de São Domingos comemorou 4º ani- versário em ambiente de festa, vindos dos quatro cantos do mun- do este almoço serviu para fortalecer o espírito do GAMSD. (...) O concelho de Mértola foi o que mais população perdeu em todo o distrito na última década (16,5%), e qual é a estratégia do PS na Câmara para atenuar essa tragédia? Qual é a estratégia do PS para o problema, dramático, da solidão de centenas de idosos que sobrevivem isolados nas suas casas? Qual a estratégia para ajudar a revitalizar o setor da construção civil? Para responder a estas e outras questão a CDU tem um projeto concreto, e quanto à questão demográfica pensamos que para além das políticas de âmbito na- cional, é obrigatório que os municípios do interiortenham hoje uma atitude de dinamizadores do tecido económico local. (...) Entrevista a Helmfried Horster Administrador Delegado da La Sabina pág 10-11 pág 12-13 Alonso Gomes & Cª Empresa de Navegação por vapor para o Algarve e Guadiana 1870 - 1905

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13 | Agosto | 2014 1

- SeNa linha da frente da informação, para que se mantenha sempre informado com rigor e isenção - Nº 3 - Ano 1 | quarta-feira 13 de Julho de 2014

À C O N V E R S A C O M M I G U E L B E N T O pág 06-07

GAMSD 4º aniversárioGrupo de Amigos da Mina de São Domingos comemorou 4º ani-versário em ambiente de festa, vindos dos quatro cantos do mun-do este almoço serviu para fortalecer o espírito do GAMSD.

(...) O concelho de Mértola foi o que mais população perdeu em todo o distrito na última década (16,5%), e qual é a estratégia do PS na Câmara para atenuar essa tragédia? Qual é a estratégia do PS para o problema, dramático, da solidão de centenas de idosos que sobrevivem isolados nas suas casas? Qual a estratégia para ajudar a revitalizar o setor da construção civil? Para responder a estas e outras questão a CDU tem um projeto concreto, e quanto à questão demográfica pensamos que para além das políticas de âmbito na-cional, é obrigatório que os municípios do interiortenham hoje uma atitude de dinamizadores do tecido económico local. (...)

Entrevista a Helmfried Horster Administrador Delegado da La Sabina

pág 10-11

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Alonso Gomes & Cª Empresa de Navegação por vapor para o Algarve e Guadiana 1870 - 1905

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editorialNesta quarta edição com o seu Nº3

“O Gasómetro” continua o seu destino o de dar luz à notícia o fazer

imergir os talentos escondidos, nesta terra de gentes afáveis, marcadas pelas agruras da vida.

Esta edição é um marco importante no GA-MSD dado que festejaram o seu 4º Aniversário em ambiente de festa, na Mina de São Domin-gos. Um grupo cada vez mais unido na defesa dos interesses da Mina de São Domingos, um grupo despido de cores partidárias, locais de nascimento e outras formas de racismo social que existem espalhadas nas mentes mais preversas.

Para este grupo o que importa é a valorização da localidade de forma séria e sustentada e não servindo-se de distracções sazonais que não passam disso mesmo e em pouco contribuem para o bem estar da pouca população, que ain-da consegue viver neste concelho, que viu a sua taxa de desemprego subir para 16,5% nos últimos anos.

Um concelho sem prespectivas para os jovens e onde se trabalha com o objectivo das urnas, uma terra onde os atropelos ambientais se suce-dem, sem qualquer respeito pelas autoridades.

Nesta edição tentámos por várias vezes que a autarquia na palavra do seu presidente, respon-desse a umas breves questões (que pretendemos serem colocadas a todas as forças políticas de igual modo), o presidente da CMM ignorou os nossos apelos consecutivos, prova de que não tem o mínimo de consideração pela população.

As páginas de “O Gasómetro” estiveram abertas a ouvir os seus esclarecimentos, que de forma grosseira ignorou, nem mesmo se dignan-do a dar uma resposta, ainda que negativa, tenho pena que os destinos de um concelho estejam assim tão bem entregues.

Mas a caravana vai continuar o seu rumo, vai continuar a registar e divulgar a história de um povo de uma localidade, das gentes que nas profundezas da terra lutaram todos os dias contra a morte que os esperava em cada tunel, em cada hora e segundo de uma vida, sofrida.

Mais uma vez recordo que este projecto “O Gasómetro” é de todos nós e apelo à vossa colaboração com o envio de textos históricos, poemas, receitas, lendas e tradições, desta mag-nifíca localidade.

AntóniaFernandes

Correia

momentos d e p o e s i a

Uma canção à Mina

Ó Mina ó linda Mina , ainda não perdi a esperança, de vires a ser o que eras , e como eu tenho na lembrança,como eu tenho na lembrança , como eu tenho na memória,ó Mina ó linda Mina, a tua vida tem história .....

sem seres vila nem cidade, foste uma grande terra,grande terra na verdade, que a tua história encerra,no meu coração estas guardada, ó Mina terra tão bela, vou pintar tua beleza, a óleo, em grande tela ....

também te canto um poema, da tua história passada,e vou pôr na melodia, quanto tu Mina és amada

Por entre sulcos, cavados no terreno agreste pelas últimas águas, seguiam com os passos cansados e o ar ofegante, o chiar das rodas de metal cortava o silêncio aqui e ali. A brisa fresca do final do dia que nos afagava o rosto esquecia o trabalho árduo sem sol e ar que respirar. As enfusas ainda vazias teimavam em saltitar, a passarada fazia voos razantes na Tapada e enchia de vida o lugar.

As mulheres com as enfusas à cabeça esgrimiam o seu equílibrio com o vento que soprava entre o eucaliptal e o terreno incerto que pisavam a muito custo.

Por vezes uma ou outra caia com água ou sem ela, ainda assim por entre o canto do olho corria sempre uma lágrima, os dias eram cinzentos o dinheiro não abundava. Tudo tinha outro significado, as pequenas coisas tinham mais valor.

Chegados à Bomba havia sempre lugar ao descanso, falava-se do dia a dia, do trabalho dos filhos de amores e desamores. Uns troca-vam olhares às escondidas outros tragavam o fumo que lhes enchia mais e mais a vida de uma morte anunciada.

De regresso, as enfusas já cheias, os passos doiam ainda mais, a secura na boca tomava conta de nós e o ar que se respirava parecia não querer entrar, as mulheres com os cântaros à cabeça, sobre a rodilha bem encaixada, faziam pausas amiude, assim a ladeira era mais ou menos inclinada.

Chegados a casa, enfusas no poial, sopas na mesa, dois dedos de conversa sentados ao fresco e recolhiam-se na cama de sonhos fugidios, que há muito teimavam em não vol-tar. No outro dia de manhã bem cedo ainda o sol vinha lá longe muito longe no horizonte, desciam ao ventre da terra mãe, sempre com uma esperança enorme de respirar de novo o ar do fim da tarde.

A Bomba essa espreita o casario e espera o rebuliço que a anima todos os dias quando o sol foge e se esconde no horizonte.

TxT e Foto: António Peleja

A Bomba

Foto: António Peleja

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Durante o passeio que se efectuou pela manhã, até à Achada do Gamo, pelo caminho foram várias as paragens para se poder recordar os tempos idos e falarmos um pouco da história e histórias dos locais

O 4º aniversário do GAMSD (Grupo de Amigos da Mina de São Domingos) foi marcado este ano, pelo primeiro almoço convívio do GAMSD e

um passeio fotográfico até à Achada do Gamo.A data do encontro não proporcionou a muitos dos

amigos do GAMSD estar presente por questões de ca-lendário, para o ano faremos os possiveis por tornar este encontro num maior sucesso de adesões.

A escolha da data este ano prendeu-se com a presença entre nós do fundador do GAMSD, que marcou na sua

agenda esta data para poder estar entre nós, vindo do outro lado do mundo a Austrália.

O ambiente durante todo o dia foi de festa, foi o en-contro de amigos de infância, alguns que não se viam há muitos anos, foi um dia de partilha de histórias, onde as desigualdades ficaram à porta, reunimos pessoas de todas as cores partidárias, nascidos ou não nascidos na Mina, aqui o que imperou foi o amor incondicional a esta terra que nos une e nos torna mais fortes a cada ano que passa.

Contando ao momento com 6.838 menbros o GAMSD

GAMSD Grupo de Amigos da Mina de São Domingos Comemora 4º Aniversário em ambiente de festa na Mina de São Domingos com passeio e almoço convívio

pretende que este grupo para além de ser a sala de conví-vio de quem está espalhado pelo mundo e que se reveja nesta localidade, sejam eles quais forem os seus motivos, contribuam com ideias e com o aumento de sinergias de modo a podermos dar ao espaço da Mina de São Domingos e suas envolventes a dignidade que tanto merece.

A manhã começou com o passeio à Achada do Gamo, pelo caminho fomos ouvindo relatos contados na primeira pessoa da vida de então, quando a Mina ainda laborava, foi um passeio cheio de história e com muitas histórias

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pelo meio, o regresso fez-se pela hora de almoço e foi a Pensão, este ano o local escolhido para o Almoço.

Com perto de 40 pessoas presentes no almoço e com uma ementa tipicamente alentejana tudo correu pelo melhor à mesa era muita a agitação pois todos queriam matar sau-dades, o fernesim era muito e a troca de lugares constante trocaram-se contactos, ouve beijos e abraços apertos de mãos

enérgicos, reviram-se amigos de longa data e alguns virtuais.Na minha opinião foi algo que refrescou este GAMSD,

algo que fez com que as distâncias se encortassem, nos olhares de todos sem excepcções existia o brilho de uma meninice, cantou-se, contaram-se anedotas, brincou-se.

Para o ano ficou apromessa de novo encontro em data que seja mais favorável para todos e com um programa

de festa mais amplo.Obrigado a todos os presentes por este momento fan-

tástico e obrigado a todos os elementos do GAMSD que fazem com que esta terra não seja esquecida e se mantenha dentro dos nossos corações para sempre.

As imagens penso que falam por elas, não me alongo em mais considerações e deixo-vos com o registo do momento.

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Qual o balanço que faz do mandato da presente autarquia até ao momento?

Os balanços devem fazer-se no final dos ciclos, pelo que só no final do mandato se poderá fazer uma análise mais consistente. De qualquer modo, na CDU estamos muito apreensivos e preocupados quanto aquilo que nós consideramos ser a falta de uma estratégia para o concelho por parte da maioria socialista, já que este primeiro ano tem sido marcado “por mais do mesmo”. Consideramos que para além da ação tradicional dos municípios nos domínios clássicos das infraestruturas, da educação ou do ambiente por exemplo, impõe-se hoje uma dinâmica virada para o desenvolvimento socioeconómico dos territórios, e isso é ainda mais necessário nos concelhos de interior. Infelizmente neste primeiro ano a atual maioria ainda não deu sinal de ter entendido essa necessidade. O problema central do concelho de Mértola é sociodemográfico. A Câmara não pode continuar a fingir que esse problema não existe. Logo na primeira reunião de Câmara tivemos o cuidado de nos disponibilizar para colaborar com a maioria, pois pensamos que só de mãos-dadas os poucos que cá estão poderão criar condições para atenuar ou até inverter este marasmo em que o Concelho caiu na última década. Infelizmente a maioria socialista tem outro entendimento e teima em caminhar para o abismo.

A Mina de São Domingos tem estado em destaque e nem sempre pelas melhores razões,

tem havido muita contestação em relação a algumas medidas que a CMM tomou e destas contestações têm resultado coimas para a autarquia, o que dá razão aos contestatários. O que foi feito pela oposição para travar estes trabalhos?

Pensamos que se referem ao disparate que foi feito na Praia Fluvial. A oposição nada poderia fazer pois só tivemos conhecimento depois dos factos consumados. Quanto a isso o que dizemos é que a Câmara tem lidado mal com o assunto. A todos os níveis. Primeiro porque não poderia ter feito o que fez abatendo aquelas árvores e realizando outras intervenções ao arrepio dos instrumentos legais de ordenamento. Depois porque não reconheceu o erro, já que daquilo que temos lido e até das intervenções públicas do Presidente da Câmara, nomeadamente quando o questionámos acerca deste assunto na reunião de Câmara, ele insiste no disparate, reafirmando que aquilo que aconteceu foi bem feito e legal. Esta postura é lamentável, pois os políticos devem ser o primeiro exemplo de humildade, reconhecendo os erros como prova de que estão disponíveis para apreender. De qualquer modo estão a decorrer três processos de contraordenação, instaurados por entidades diferentes e que obviamente irão ter o seu desfecho. Um dos exemplos mais gritantes da falta de sensibilidade e arrogância com que a Câmara tem lidado com este e outros assuntos é o facto de já ter sido condenada pelo Tribunal Administrativo de Beja por se ter recusado a

cumprir a Lei ao não responder atempadamente a uma cidadã que legitimamente pretendia ser informado do processo. Mais do que o montante da multa em causa, esta condenação da Câmara de Mértola é simbólica da sua relação com os cidadãos.

A Igreja da Mina está num impasse, há tempos houve movimentações de obras mas foram interrompidas e até hoje não reataram, consegue elucidar os leitores do que se passa?

Se se refere às pinturas, penso que nesta data os trabalhos estão a decorrer. Decorreu algum tempo entre a aprovação do subsídio municipal para o efeito e o início dos trabalhos. Penso no entanto que seria injusto culpar o município por isso.

A coexistência num território como o da Mina com a La Sabina é fácil? Que propostas tem a CDU?

Quanto à relação com a La sabina a questão não se coloca. Foi aliás a CDU quando estava na Câmara que conseguiu estabelecer um acordo tripartido (Estado Português, Câmara e La Sabina), que de algum modo viabilizou tudo o que entretanto foi feito. Temos capacidade de diálogo e utilizamo-lo apenas com uma condição: os interesses das empresas são legítimos desde que isso não se sobreponha aos interesses coletivos.

As dificuldades nessa relação prendem-se no entanto com os elevadíssimos passivos ambientais

Miguel Bentoà conversa com ...

CDU está muito apreensiva

e preocupada quanto aquilo que considera

ser a falta de uma estratégia

para o concelho por parte

da maioria socialista

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e sociais que século e meio de exploração e meio século de abandono por parte do Estado desencadearam. Mas isso deve ser apenas razão para arregaçar as mangas e ir em frente. Foi isso que a CDU fez quando estava na Câmara, ao estabelecer o acordo já referido que permitiu criar um Gabinete de trabalho que foi determinante numa série de aspetos como por exemplo a venda das casas, que permitiu avançar com as redes de água e saneamento ou com a própria Praia Fluvial, que como se recorda, quando a inaugurámos, e na boca dos nossos adversários, não prestava, pois a “água tinha sanguessugas”. Mas sabe, nós quando decidimos fazer a Praia Fluvial tínhamos em mente completar esta infraestrutura com outras intervenções como era o caso dos arruamentos e de um Parque de Campismo e de Caravanismo. Entretanto saímos da Câmara e todos esses projetos não se concretizaram.

Que projectos futuros estão previstos pela CDU para a Mina de São Domingos?

As propostas da CDU para o Concelho, e para a Mina em concreto, foram aquelas que em devido tempo apresentámos às populações. Nós temos um Programa Municipal de Desenvolvimento Socio Económico e onde a Mina tem um papel importante. Em primeiro lugar teríamos, caso tivéssemos vencido, dado prioridade à infraestruturação da localidade a nível de arruamentos e espaços verdes. Não só por uma questão de justiça para com os residentes e naturais que ali regressam regularmente, mas também porque isso ajudaria a resolver alguns problemas crónicos da localidade, como é o caso dos clandestinos, uma vez que os arruamentos em toda a localidade iriam ser decisivos no definir dos limites entre aquilo que é público e o que é privado. Fazer como a atual Câmara está a fazer, aos soluços e de uma forma desarticulada não nos parece uma boa solução. Depois consideramos que seria fundamental criar condições para alojar a nível turístico alguma procura que a Mina tem por parte de campistas e caravanistas. Isso é perfeitamente viável do ponto de vista económico pois são investimentos de baixo custo, para além de terem a vantagen de ajudar a criar postos de trabalho diretos e indiretos por via da dinamização do comércio local. Todo este trabalho iria ser coordenado por um Gabinete que pretendíamos reinstalar da Mina em que para além destas frentes de trabalho iria dar uma especial atenção à dinamização turística.

Qual a posição da CDU em relação ao cumprimento do Plano de Pormenor da Tapada Grande e às questões ambientais, em geral?

A posição da CDU só pode ser uma. Podemos não concordar com este ou aquele aspeto de um instrumento, mas os Planos são para cumprir. Quando consideramos que eles não respondem aos objetivos propostos, então, e dentro dos mecanismos legais, procedemos à sua alteração, mas é óbvio que os Planos são para cumprir. Quanto às questões ambientais o assunto é mais preocupante, sobretudo pela dimensão. Penso que talvez a Câmara tenha pecado por não ter conseguido utilizar as entidades regionais e nacionais de Espanha para resolver este assunto, como forças de pressão junto das autoridades portuguesas, uma vez que eles são dos principais

interessados em que tudo se resolva, já que as escorrências do antigo complexo mineiro acabam por ir parar à Barragem do Chança e essa represa é vital para abastecimento humano e agrícola em todo o andévalo ocidental. Mas enfim, queremos acreditar que neste domínio a Câmara estará a fazer o melhor que pode e reconhecemos que a margem de manobra da Câmara neste tipo de assuntos, desta ou de qualquer outra, por vezes é pequena.

Em relação aos 20 milhões de euros atribuídos para a descontaminação do território, a CDU tem tido palavra activa nas decisões? Ou tem simplesmente acompanhado o processo?

Este assunto, e ao contrário do que a a maioria quis fazer passar a ideia, decorre de uma Diretiva Comunitária neste sector que obriga os governos da Comunidade Europeia a cumprir determinados parâmetros em termos ambientais. O papel da Câmara, nomeadamente do Presidente foi pouco mais do que figurante. Nem sequer o Governo português teve uma palavra decisiva, uma vez que os critérios da afetação das verbas é feita nos corredores de Bruxelas sem qualquer interferência dos poderes locais. E dizemos tudo isto com desgosto pois entendemos que o reforço do poder local também passa pela interferência positiva dos seus representantes. Na atual conjuntura supranacional não é no entanto isso que acontece. Quanto ao montante, e segundo informações que temos de técnicos especialistas nesta área, será bom que as pessoas ganhem consciência que é muitíssimo pouco para a gravidade da situação. É no entanto o início do processo de descontaminação e vai permitir resolver algumas questões que carecem de resolução imediata.

Quanto à segunda parte da questão colocada, é claro que sabemos de tudo pela comunicação social e por alguns contactos que temos tido com especialistas, já que a quem compete agendar os assuntos para a reunião de Câmara é o Presidente e até agora este processo ainda não constou de qualquer ordem de trabalhos.

Quais as entidades envolvidas? Já sabem para quando o avanço dos trabalhos?

Não temos mais informações, para além do que antes se refere.

Estas são algumas das questões que preocupam os habitantes da Mina a par das acessibilidades que de Inverno e como bem sabe são muito difíceis, para quando está calendarizado o arranjo total dos arruamentos? Qual o papel da CDU enquanto oposição em relação a estes e outros assuntos que afectam as populações no seu dia a dia?

Quanto aos arruamentos pensamos já ter respondido acerca do assunto. Quanto ao nosso papel de oposição passa por fiscalizar a ação da maioria e ao mesmo tempo apresentar propostas concretas. É isso que temos feito.

A nossa ação é no entanto dificultada pelo facto do termos uma acentuada divergência relativamente à maioria no que toca a alguns domínios, quer no diagnóstico que fazemos da situação, quer nas soluções que apresentamos. Apenas alguns exemplos em áreas que são transversais a todo o Concelho:

O concelho de Mértola foi o que mais população perdeu em todo o distrito na última década (16,5%), e qual é a estratégia do PS na Câmara para atenuar essa tragédia? Qual é a estratégia do PS para o problema, dramático, da solidão de centenas de idosos que sobrevivem isolados nas suas casas? Qual a estratégia para ajudar a revitalizar o setor da construção civil? Para responder a estas e outras questão a CDU tem um projeto concreto, e quanto à questão demográfica pensamos que para além das políticas de âmbito nacional, é obrigatório que os municípios do interior tenham hoje uma atitude de dinamizadores do tecido económico local. Por isso apresentámos um Programa de Desenvolvimento Socioeconómico assente em quatro grandes eixos, nomeadamente a Medida CASA que permitia apoio técnico e financeiro à Reabilitação Urbana; a Medida MÉRTOLA PRÁ-FRENTE – que visava a criação líquida de postos de trabalho por parte das empresas; a Medida INVESTE JOVEM , de apoio técnico e financeiro à criação de novas empresas por parte dos jovens do Concelho, através de uma Bolsa Anual de valor variável em função dos postos de trabalho a criar e a Medida CÂMARA AMIGA, com forte incidência no domínio da proteção social, com um renovado apoio às IPSS(s) do Concelho, e uma atenção especial à população idosa, (com prioridade total no apoio à construção do Lar de Idosos das 5 Freguesias), deficiente e desempregada.

E sobre todos estes problemas e estas propostas concretas da CDU qual é a posição da Câmara? Não se conhece. Nem sequer podem invocar falta de verbas já que ainda recentemente a Câmara tinha cerca de três milhões de euros , um milhão dos quais a prazo.

Em face de tudo isto é evidente que não podemos concordar quando a Câmara gasta centenas de milhares de euros em iniciativas lúdicas e festivas que praticamente nenhum retorno trazem para o Concelho. Por isso votámos contra o facto de a Câmara gastar mais de cem mil euros nas festas da vila em paralelo com o que acontece com outras iniciativas que para além do foguetório nada deixam de consistente ao concelho.

A Autarquia na pele do seu presidente ignora os apelos da população e dos seus descendentes, por várias vezes foi alvo de coimas e continua a ignorar os eleitores.

É este também o papel em relação às forças da oposição?

Pensamos que a questão que colocam, e nos termos em que a colocam, não tem a ver com ser poder ou oposição. Tem a ver com postura democrática…e já agora as pessoas, para o poder político, em particular para o poder político local, não deverão ser vistos como eleitores, mas sim como cidadãos, com deveres e com direitos. É assim que a CDU entende o exercício da atividade politica. Em maioria ou em minoria e em todos os órgãos.

Que mensagem gostaria de deixar aos habitantes da Mina de São Domingos e aos leitores de “O Gasómetro”

Queríamos aproveitar estar oportunidade para saudar o “O Gasómetro”, na esperança que ajude a iluminar o caminho de todos os mineiros. Bem Hajam pela vossa iniciativa e pela vossa determinação.

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ESTA PÁGINA ESTAVA DEDICADA A ENTREVISTA COM O PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE MÉRTOLA QUE IGNOROU AS NOSSAS PERGUNTAS, POR DIVERSAS TENTATIVAS QUE EFECTUÁMOS

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ESTA PÁGINA ESTAVA DEDICADA A ENTREVISTA COM O PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE MÉRTOLA QUE IGNOROU AS NOSSAS PERGUNTAS, POR DIVERSAS TENTATIVAS QUE EFECTUÁMOS

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A La Sabina, desde 1860 ligada a Mina de São Domingos, tornou-se proprietária do antigo património da Mason & Barry, em 1972, depois da Barry and Mason, exploradores da conceção, terem declarado falência em 1968.

A partir de então tem sido um trabalho árduo na tentativa de rentabilizar e recuperar o investimento efectuado. Os projectos que tem desenvolvido

para a Mina têm esbarrado consecutivas vezes no insucesso, seja pelos acontecimentos políticos ou pela burocracia complicada e por vezes não compreensível que se pratica em Portugal.

Viu recusada entre outras a instalação de fábricas de células e painéis solares e da maior central fotovoltaica da Europa um projecto que traria para a Mina de São Domingos cerca de 550

postos de trabalho directos e que permitiria através de vários acordos de parcerias colocar a Mina como um ponto de referência e estudo no âmbito desta matéria das Fotovoltaicas, sem explicações o projecto foi chumbado, o que lhe levanta muitas considerações quanto ao funcionamento transparente das instituições públicas em Portugal.

Apesar deste desapontamento La Sabina

Helmfried Horster nasceu em 1940

em Berlim, durante a II Guerra

Mundial.De educação escolar clássica, licenciou-se

em Ciências Sociais e Económicas

na Universidade de Colónia.

Visitou Portugal pela primeira vez em

1964 e mudou-se para este simpático país, como ele próprio refere,

em 1971. Por outras palavras

já vive há mais tempo em Portugal

do que o que viveu na Alemanha.

A filha do casal nasceu e estudou em Portugal, Helmfried Horster é

Administrador Delegado da La Sabina

La SabinaENTR

EVIST

A

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continuava com a transformação do antigo Palácio no Hotel São Domingos e, em geral, não tem estado parada. Como é óbvio tem todo o interesse em rentabilizar este património, tem projectos em curso como seja o loteamento da Zona de Expansão Mista na Mina de São Domingos e ainda procura investidores para o Parque de Campismo e Caravanismo que está previsto no PDM (Plano Director Municipal).

Não deita as culpas do insucesso para cima de terceiros e compreende que é uma sumula de factores que infelizmente têm feito com que estes não tenham tido sucesso. Recorda inclusive um projecto de uma Aldeia de 3ª idade que já tinha investidores luso-franceses mas entretanto a crise politica em França fez os mesmos recuarem e desistirem posteriormente do projecto.

Ao longo dos anos desde 1972 até esta parte a La Sabina não parou na tentativa de trazer para a Mina de São Domingos algo que a faça reviver de novo os seus tempos áureos, de fixar os jovens na freguesia de lhes dar condições de permanência nesta localidade, no entanto o caminho tem sido árduo e não tem mostrado saídas viáveis.

Em resposta a algumas questões colocadas pelo Gasómetro foi explícito, e defende que só em conjunto, autarquia, população, grupos de amigos e La Sabina se pode levar ao desenvolvimento sustentado desta localidade. Cada vez mais devemos juntar esforços para termos resultados a curto médio prazo que sejam uma mais-valia para a localidade.

Existem projectos a curto/médio prazo para investimentos na Mina de São Domingos?

Neste momento a La Sabina não tem capital próprio para investir, daí estar à procura de investidores ou parceiros para poder concretizar alguns dos projectos que tem em mãos. Destes projectos entre outros salienta-se o Parque de Campismo e Caravanismo que segundo Horster já se encontra previsto em PDM (Plano Director Municipal)

Quais as maiores dificuldades com que se debate a empresa?

Como referi anteriormente a falta de liquidez, e lentidões burocráticas por parte dos elementos decisores.

Em relação à autarquia como tem sido a relação entre a La Sabina e a referida autarquia?

Em termos políticos bastante positivos, no entanto em termos práticos levantam-se sempre muitas dificuldades e entraves quando por vezes existe necessidade de uma resolução rápida pois os investidores não podem ter o dinheiro parado durante muito tempo. A burocracia em Portugal é exagerada chegando por vezes a afugentar determinados investidores.

Está de acordo com algumas das decisões da autarquia, como seja o abate de eucaliptos na Tapada Grande, sem aviso prévio nem da

população nem da proprietária La Sabina?

Só tivemos conhecimento do abate através de terceiros a CMM (Câmara Municipal de Mértola) não nos informou do abate e quando confrontada com o sucedido disse tratar-se de 4 (quatro) eucaliptos que estavam doentes, o que viemos mais tarde a saber não corresponder à verdade já que o abate foi de perto de 20 (vinte) eucaliptos.

O que se passa em relação à pintura da Igreja?

A Igreja segundo Helmfried Horster, não consta do Registo Predial nem da Matriz da La Sabina, sabe-se que foi construída pela Barry & Mason, mas aparentemente tornou-se um bem público, refere.

Como vê no futuro a La Sabina a Mina de São Domingos?

Temos de reconhecer os esforços por parte da Câmara Municipal de Mértola para melhorar as condições para a população. Claro que há sempre desejos adicionais, mas desde que a Europa, e em particular Portugal, entraram em crises sucessivas, a procura de meios ficou cada vez mais problemática. Gostava de ver os arruamentos ainda mais dignos, e alguns projectos que fixassem os jovens na freguesia, pois só assim podemos almejar um futuro com desenvolvimento sustentável.

Existe material que foi utilizado na Mina ao longo dos anos guardado?

Não quase todo o material existente foi vendido, saqueado ou vandalizado, neste momento a La Sabina detém em sua posse alguns documentos fotográficos, e gráficos e pouco mais do que isso. A Câmara Municipal, porém, conseguiu recolher e guardar uma série de espólio da antiga actividade mineira que vai provavelmente expôr oportunamente numa instalação museológica na Mina de São Domingos.

Um parque de campismo na Mina de São Domingos qual a sua opinião?

O Parque de Campismo seria uma mais-valia para a Mina de São Domingos em vários aspectos tanto económicos como de fixação de jovens na região já que um projecto deste tipo poderia criar uma dezena de postos de trabalho directos e dar à região durante todo o ano um poder económico mais forte. Como já referi o Parque de Campismo está previsto no PDM para a parte norte da Tapada Pequena e espera somente por um investidor que queira tomar os seus comandos. Já contactámos vários clubes de caravanismo da Europa que só por eles nos podem assegurar uma taxa de ocupação (muito) acima dos 50% durante todo o ano o que é deveras magnífico.

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Os navios

“ Gomes “e - ou “ Gomes 1º”

Porto de registo: Lisboa, 26.11.1876

Construtor: Hugh Parry & Genros, Ginjal, 1867 ex “Pr incípe D. Car los” - 1867-1876 Armava em escuna, casco de ferro, movido por rodas. Tonelagens: Tab 78,- to > Tal 45,- to C o m p r i m e n t o s : F f 3 3 m t > P p 2 1 m t > B c 3 , 7 m t > P t l 2 , - m t Ignora-se qual o destino.

Postal de Mértola com o “Gomes 1º” fundeado no Guadiana

Detalhe do postal anterior

“Gomes 2º”Porto de registo: Lisboa, 10.02.1875

Construtor: Roberts & Cº., Seacombe, Inglaterra, ?? ex “Ballina” - Irish Sea Passenger Steamers, ??-1875 A r m a v a e m i a t e , c a s c o d e f e r r o , p r o a d i r e i t a e p o p a r e d o n d a . Tonelagens: Tab 78,- to > Tal 166,- to C o m p r i m e n t o s : P p 4 1 , 5 0 m t > B o c a 5 , 8 0 m t > P o n t a l 3 , 0 0 m t A d q u i r i d o p o r A l b e r t o B . C e n t e n o , n o m e “ A l g a r v e ” , 1 8 8 5 - 1 8 8 6 Ve n d i d o à A r m a d a - A l f â n d e g a L i s b o a , n o m e “ A ç o r ” , 1 8 8 6 - 1 9 3 4 Vendido para demolição em 1934

Alonso Gomes & Cª Empresa de Navegação por vapor para o Algarve e Guadiana 1870 - 1905

Alonso Gomes nasceu e viveu em Mértola, destacando-se na atividade mineira. Através desse trabalho,

descobriu e explorou a sua mina de manganésio, na freguesia de Alcaria, situada bem dentro dos limites do Concelho.

Te n d o A l o n s o G o m e s r e q u e r i d o Diploma do descobrimento legal da mina de manganés io da Cruz do Peso , na Freguesia de Alcaria, Concelho de Mértola;

Alonso Gomes deveria ter imaginado anos antes, que tendo a mina a trabalhar, o difícil não seria tirar o minério da terra, mas sim retirá-lo de Mértola, abrindo perspectivas de mercado, no país e no estrangeiro. Daí que optou por antecipar a fundação de uma Companhia de Navegação, que lhe facilitasse o transporte do minério. Por esse motivo deu os primeiros passos, com a aquisição do primeiro navio, o “Gomes”, em 1870, para estabelecer uma carreira regular no rio Guadiana, entre Mértola e Vila Real de Santo António. Como este tráfego de mercadoria e passageiros foi bem sucedido, o Governo achou que havia condições para aumentar e melhorar essa ligação, confirmado pelo acordo entre ambas as partes, em 6 de Outubro de 1874. Esse acordo previa o estabelecimento de um serviço de navegação regular, entre Lisboa e portos no Algarve, com escala em Sines, além do serviço fluvial já iniciado. Ficava assim Alonso Gomes obrigado perante o Reino, de dois serviços dentro das seguintes condições: 1º- Carreira de Lisboa para o Algarve Com vapores de pelo menos 200 toneladas e um mínimo de 40 passageiros, em 1ª e 2ª classes e 60 em 3ª, com saídas regulares de Lisboa todos os dias 1 e 16 de cada mês. Para a efetivação deste serviço, teria a comparticipação do Estado através de um subsídio anual de 10 contos de reis.

2º- Carreira de Mértola para Vila Real de Santo António Vapor com dimensões que permitisse a navegação no rio Guadiana, com lotação para 100 passageiros a distribuir por 3 classes. Viagens

redondas diárias entre Mértola e Vila Real de Santo António, exceptuando os Domingos. No entanto essa exceção perdia a regra, sempre que a mala do correio entre Lisboa e o Algarve seguisse pelo Guadiana. Pelo trabalho assegurado nesta carreira, teria igualmente um subsídio anual do Estado, no valor de 4.000,000 reis. Fica desde então estabelecido, que os subsídios vigoram durante o período de validade do contrato, conforme publicado no Diário do Governo, Nº 241, de 26 de Outubro de 1874. Para fazer face ao acordo com o Estado, ainda nesse mesmo ano de 1874, foi comprada uma segunda unidade de maior porte, destinada à ligação entre os portos da costa Algarvia, sendo batizado “Gomes 2º”.

D o i s a n o s m a i s t a r d e a f r o t a é a u m e n t a d a c o m m a i s u m n a v i o , o “Gomes 3º”, seguindo-se a alteração do nome do primeiro vapor para “Gomes 1º”. Com a entrada ao serviço do “Gomes IV”, fica com carácter definitivo a representação em Lisboa a cargo do Despachante Oficial Alberto B. Centeno & Cª, que passa a integrar a sociedade, participando na compra dos navios seguintes. Enquanto isso é decidido que no Porto, a representação será da responsabilidade da firma José de Sousa Faria, com sede no Nº 85 do Muro dos Bacalhoeiros, actuando na qualidade de agentes. Com o alargamento natural da actividade, a Companhia leva os navios a escalar outros portos nacionais, incluindo uma linha regular para o rio Douro. Esse maior fluxo de escalas nos vários portos, serve para dar resposta aos acordos entretanto firmados com a Empreza Nacional de Navegação, que recebia os passageiros e as mercadorias de cabotagem em transito para as Colónias em África, mantendo contrato similar com a Companhia Francesa Charguers Reúnis, relativamente a portos com destino no Brasil e em Moçambique. Depois da compra do “Gomes 5º”, do “Gomes VI”, do “Gomes 7º” e do “Gomes VIII” e também muito por causa dos naufrágios de que foram vitimas, a Companhia começa a entrar em declínio, situação agravada pela deterioração do estado de saúde de Alonso Gomes, que viria a falecer em 1904. No decorrer de 1904 e durante o ano de 1905, por via das dissidências dos sócios da Companhia e por indiscriminada ausência de entendimento, o seu legal representante Alberto B. Centeno decidiu-se pela venda dos navios ainda a operar, até à final e completa dissolução da empresa.

E D I Ç Ã O: A N T Ó N I O PA C H E C OF O N T E: N AV I O S E N AV E G A D O R E S

P U B L I C A Ç Ã O D E “R E I M A R”

E T I Q U E TA S:C O M PA N H I A S P O RT U G U E S A S

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O “Açor” ex “Gomes 2º” na Horta - postal da Armada

“Gomes 3º”Porto de registo: Lisboa, 21.10.1876

Construtor: Winsford, Colchester, Inglaterra, 1875 A q u i s i ç ã o d i r e c t a a o e s t a l e i r o p e l o preço de 2.400 libras. Convés com salto, casco de madeira , movido por rodas . T o n e l a g e n s : T a b 5 6 , - t o Comprimentos: Ff 25,0 mt > Boca 3,60 mt > Pontal 1,60 mt

Em Julho de 1910, o casco do navio encontrava-se encalhado na praia de Vila Real de Santo António, à venda para demolição.

“Gomes IV”Porto de registo: Lisboa, Maio de 1884

Construtor: Dobson & Charles, Grangemouth, Inglaterra, 1882 ex “Strathcarron” - 1882-1884 Tonelagens: Tab 420,- to > Tal 292,- to Comprimentos: Pp 47,40 mt > Boca 4,90 mt > Pontal 3,20 mt

Vendido a José de Sousa Maciel (Empreza de Navegação do Rio de Janeiro), em 1901. Mudou o nome para “Murupy”, tendo ainda navegado por mais de 20 anos.

“Gomes 5º”Porto de registo: Lisboa, 04.01.1887

Construtor: Burrel & Son, Dumbarton, Escócia, 1883 ex “Toreador” - Baird & Brown (W. Cunlife - W. Yeoman), 1883-86 Tonelagens: Tab 435,- to > Tal 310,- to Comprimentos: Ff 55,90 mt > Boca 9,00 mt > Pontal 4,00 mt

Naufragou após encalhe nas pedras Sorlingas, devido a denso nevoeiro em 09.07.1888. Os 18 tripulantes salvaram-se.

“Gomes VI”Porto de registo: Lisboa, 26.04.1889

Construtor: John Elder & Co., Glasgow, Escócia, 1875 ex “Barnsley” - Manchester, Sheff ie ld & Lincolnshi re , 1875-1889 Tonelagens: Tab 575,- to > Tal 327,- to C o m p r i m e n t o s : P p 5 6 , 4 0 m t > B o c a 8 , 2 0 m t > P o n t a l 4 , 6 0 m t Vendido a J. Soares Franco, 16.02.1905-06.03.1905 Ve n d i d o a J o ã o F o n s e c a e S á , 0 6 . 0 3 . 1 9 0 5 - D e z e m b r o d e 1 9 0 5 Vendido à Emp. Nac. de Navegação, nome “Lobito”, 1906-1909

Naufragou após encalhe no Sul da Ilha do Maio, em Cabo Verde, em 04.02.1909. Não há registo de vitimas.

O “Lobito” ex “Gomes VI” no serviço de cabotagem em Angola imagem editada por Eduardo Osório , Luanda

“Gomes 7º”Porto de registo: Lisboa, 1891

Construtor: Hall Russel & Co., Aberdeen, Escócia, ?? ex “Banchory” - Grampian Steamship Co., Ltd., ??-1891 Tonelagens: Tab 576,- to > Tal 372 to C o m p r i m e n t o s : F f 5 3 , 2 0 m t > B o c a 7 , 9 0 m t > P o n t a l 4 , 4 0 m t Naufragou após encalhe na barra do rio Douro, em 01.03.1893, salvando-se a tripulação.

“Gomes VIII”Porto de registo: Lisboa, 01.05.1893

Construtor: Edwards Shipbuilding Co. Ltd., Newcastle, Ing., 1891 ex “Montague” - Merchant Banking Corp., 1891-1893 Tonelagens: Tab 645,- to > Tal 485,- to Comprimentos: Ff 53,90 mt > Boca 8,50 mt > Pontal 4,30 mt

Naufragou após encalhe no baixo Chaldrão, meia milha a Norte das Berlengas devido a nevoeiro cerrado, em viagem do Porto para Lisboa, sob o comando do Capitão Manuel da Costa. O navio transportava 32 passageiros que se salvaram, havendo contudo a lamentar a morte de 1 tripulante.

O “Gomes VIII” a entrar na doca do primitivo porto comercial de Viana do Castelo

Documentos

O título de transporte, vulgarizado como conhecimento de embarque

A publicidade através dos vespertinos, publicitando a chegada dos navios, quantas vezes enchendo por completo as páginas dos principais jornais.

O bilhete postal com o aviso da chegada do navio, avisando ter espaço disponível para meter mercadoria, sistema adaptado por muitas companhias e que foi prática comum durante muitos anos.

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estórias com história

JoséAntónio Estevão

RELÓGIO DE BOLSO

Porque vivemos hoje num mundo digitalizado, é difícil imaginar, que há apenas meia dúzia de décadas atrás, as dificuldades dos nossos avós naquelas noites de inverno, a levantarem-se da cama de manhã na Corte do Pinto, para pegar ao trabalho às 7.30h na mina, chegar a horas ao trabalho e sem relógio.

De dia, o sol e as sombras ajudavam a calcular o tempo, nas noites de céu estrelado, não sei como, ... mas havia quem quase com a precisão de um Big Ben conseguisse ver as horas no universo, Mas naquelas noites escuras invernosas, nem o cantar dos galos ajudava, os galos sérios, cantavam a anunciar a madrugada, mas havia os outros que despistavam cantando tão descoordenadamente que parecia terem apanhado um valente “pifo” na noite anterior.

Saber as horas sem relógio era complicado

O meu avô contava que resolveu comprar a prestações o seu relógio de bolso, no dia do nascimento do seu 5º filho, o meu tio Estêvão. Pendurado numa corrente em prata, presa na casa de um botão e guardado no bolso do lado oposto, era nesse tempo uma ostentação de luxo no colete de um mineiro pobre. Ainda me lembro bem de vizinhos à espera que o meu avô passasse para lhe perguntarem as horas. O meu avô estimava aquele relógio como se fosse a coisa mais impor-tante do mundo.

Um dia na labuta do seu trabalho duro da forja e da bigorna nas oficinas da mina, o relógio de bolso do meu avô sofreu um acidente, continuava a trabalhar, mas perdeu o ponteiro dos minutos. Chegou a casa desgostoso, e faltava ainda uma semana até ao próximo “Pago”, onde teria de comprar o ponteiro em falta.

No dia de pago, como habitualmente fui com a minha mãe à Mina ao encontro do meu pai, e no pago, junto à tenda do ourives lá estava o meu avô, mas estranhamente, em discussão bem acesa ...

O meu avô queria um ponteiro dos minutos, o ourives só lhe vendia o conjunto dos dois pontei-ros, o das horas e o dos minutos. O avô insistia que o das horas estava a funcionar no relógio e só precisava do ponteiro grande o ourives dizia que só podia vender o conjunto dos dois ponteiros, e que lhe custariam 25 escudos mas o meu avô teimava com o ourives que apenas precisava de um ponteiro, e caramba, com 25 mil réis compro a farinha para o pão da semana e um só ponteiro teria de ser bem mais barato mas o ourives não desarmava, ou os dois ponteiros, ou nada!

… e o meu avô também não … ou apenas um ponteiro ou nada… e... e o avô desistiu de com-prar os ponteiros e teria de continuar a calcular as horas apenas com o ponteiro mais pequeno. No dia seguinte, quando chegou do trabalho da mina, convidou-me para ir com ele dar de comer ao porco que estava na pocilga lá em baixo na margem do barranco. Depois de dar de comer ao porco, cortou com o canivete uma ramada de loendro verde e diz-me:

Vai, e vê se consegues apanhar um gafanhoto, mas, ouve bem, não é um gafanhoto qualquer, tem de ser um gafanhoto especial, não entendi para mim um gafanhoto era um gafanhoto e eram todos iguais mas lá fui de ramada de loendro na mão à caça do gafanhoto e apanhei um, que lhe entre-guei. Observou-o, e não, não, este não serve ...!

... e apanhei outro, ... e mais outro, ... e mais outro .. mas nenhum servia .Até que, olá, … este sim, este sim, este, é o tal gafanhoto especial que te falava é mesmo este, este é que é o tal especial

fiquei sem perceber porquê, pois para mim, era um gafanhoto igualzinho aos outros. Com todo o cuidado, arrancou-lhe uma pata e guardou-a no bolso do colete. Não entendi mesmo para que queria o meu avô o raio da pata de um gafanhoto a que chamou de especial. À noitinha chamou-me, parecendo orgulhoso , abriu a caixa que protegia o relógio, ...e agora sim ... o relógio de bolso do meu avô já tinha o ponteiro dos minutos ...

Logo logo, achei estranho, mas vendo bem, o raio daquela estranha pata, atè fazia um ponteiro bonito e original, torneado com aquela espécie de serrilha e, funciona? Perguntei eu, já está a funcionar, ... respondeu-me o avô ...

Aquela pata, nunca mais saltou suportando o corpo asado do gafanhoto, ... mas andou quiló-metros às voltas daquele mostrador, informando durante anos, as horas certas ao meu avô. Quando a mina acabou o meu avô já estava reformado; e um pouco mais tarde os avós foram trazidos para a zona de Camarate pelas minhas tias só para ficarem pertinho delas e a partir daí, perdi o contacto que tinha quase diário com o meu avô. Quando há cerca de 40 anos o meu avô morreu, a minha avó Joaquina deu o relógio do avô ao meu pai por ser o filho mais velho, e o meu pai de imediato entregou-mo, toma é para ti, sei que mais ninguém o irá estimar melhor que tu, mas, com muita pena minha, alguém mandou substi-tuir por ponteiros novos a tal pata serrilhada do gafanhoto especial mas apesar disso, sou hoje o proprietário desta grande fortuna, não pelo valor monetário, mas pelas histórias saudosas que este relógio me conta de cada vez que olho para ele, como esta, da célebre pata feita ponteiro dos mi-nutos do tal gafanhoto especial, imaginada por este avô engenheiro, licenciado em ferreiro na faculdade do calor da forja e da dureza da bigorna, na universidade das oficinas da mina, da Mina de S. Domingos .

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AntóniaFernandes

Correia

momentos d e p o e s i a

Minha terra foi mineiraMinha terra foi mineira , de um precioso metal, em

cobre foi a primeira , deste nosso Portugal.Toneladas de minério, se extraíam de lá , apenas

de picareta, com o auxilio de uma pá.

O esforço era supremo, pelo pobre do safreiro, que para ganhar a vida , tinha mesmo de ser mineiro, a empresa era inglesa, que cá estava a explorar, que para tirar bons lucros, fazia-os bem trabalhar .

O ordenado era pequeno, que mal dava para viver, sustentar mulher e filhos, era um constante sofrer. O nosso país deixava, tudo nas mãos dos estrangeiros, que assim faziam fortunas sugando o sangue aos mineiros.

Da ténua luz do gasómetro, que alumiavam as escadas, para as entranhas da terra, com tão perigosas entradas, e ao chegar às galerias, dispunham as energias, num trabalho desenfreado, deixavam de ser humanos, para robôs comandados.

Os ratos e as toupeiras, eram suas companheiras, deles se faziam amigos, e com as suas chiadeiras, lhes anunciavam os perigos.

Mas quando a fatalidade, às vezes não os poupava, e o minério desabava, e sem dó nem compaixão, as suas vidas ceifava.

Os filhos e mulheres, ficavam desamparados, que para sobreviver se fartavam de sofrer, pela vida mal tratados e os que ficavam lastimados, ficavam inutilizados, pró, resto das suas vidas, e sem mesmo ser compensados, pelas vidas destruídas.

Mas a vida continua , lá no fundo , na labuta no en-cher muitos zorritos, numa frenética luta, divididos em três turnos chamados de pionadas, pareciam toupeiras humanas, a viverem soterradas, e quando de lá saíam não eram identificados, vinham pretos farruscados, pois só os olhos luziam, nem sequer se conheciam.

Era assim que se vivia na minha terra mineira, que no coração tenho guardada, pela minha vida inteira.

DIFERENÇAS

Porque sou eu diferente de ti?porque me mascaro na importância do serporque faço de conta que não existesquando o que quero é ter-te em mimporque escolho o preto e o branco para a diferençaporque escolho o magro e o gordo para a maldadequando o que quero é ter-te em mim

Porque faço o que não queropara parecer o que não souporque me vendo à sociedade, e tu nãoporque mascaro o corpo de desejoquando por dentro morro de sofrimentoas sirenes entoam cânticos de discórdiae eu teimo em ouvir a música dos deuses

Porque te olho com indiferença, e tu nãoporque vejo o mal, onde tu fazes o bemporque vejo escuridão, onde nasce a luzporque me interrogo, e tu nãoporque deixo esta diferença consumir-me por dentro, e tu nãoMasturbação de palavras, ávidas de sentimento

Quando em ti poiso o olharenche-se de água o meu serseco as lágrimas que não choreie como as palavras que não escrevilá dentro sinto que vivo um sonhouma necessidade enorme de amarum poder enorme de dar sem receber

A diferença que nos separaserá a força que nos uneo não medo de fugir à regraa necessidade de fecundar uma ideiade ficar prenhe de amorrodopiar sobre o ser, até que o amanhã nasçae o sol nos faça de todas as coresuns gordos e outros magroscomo devem ser todas as diferençasdiferentes, mas por demais iguais

António Peleja

A propósito de tudo aquilo que devemos ser, diferentes, mas iguais, temos deveres e direitos que nunca devemos esquecer, e somos mais iguais do que aquilo que por vezes queremos parecer.

Porque nos escondemos orgulhosamente nas cores partidárias para não darmos as mãos e lutar em conjunto, já pensaram que de facto a união faz a força e o que não nos une, só nos torna mais fracos.

Só acredito nos interesses comuns quando despidos de cor, iguais como todos somos, ligados no verdadeiro sentido da palavra na defesa sustentada de uma região.

Não acredito em falsas demagogias e na hipocrisia de alguns partidocráticos, que escondem dentro deles o lápis azul da censura que utilizam sempre que são contrariados.

Pessoas que se acham acima de tudo e todos, vejam só, porque nasceram nas coordenadas X, Y, Z.

Igualdade é respeito, igualdade é ouvir, igualdade é dar as mãos para percorrermos esta estrada da vida.

Dois registos do passeio fotográfico à Achada do Gamo, aquando do Almoço Convívio do GAMSD no dia 26 de Julho de 2014.