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INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO ALTO URUGUAI
FACULDADES IDEAU
PIOMETRA EM CADELA: RELATO DE CASO
CASSOL, Marcelo¹
DACROCE, Diana¹
LIRA, Silvio¹
RIBEIRO, Bruno Ribas¹
SIMONETTI, Márcio Antonio¹
ALMEIDA,Mauro Antonio²
GRANDO, Rodrigo de Oliveira²
OLIVEIRA, Daniela²
BRUSTOLIN, Joice Magali²
ROSÉS, Thiago de Souza²
GALLIO, Miguel²
__________________________¹ Discentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível 7 2017/2- Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS.² Docentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível 7 2017/2 - Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS.
RESUMOA piometra é a doença bacteriana que mais acomete as fêmeas caninas, mediada por uma desordem hormonal diestral. A contaminação e a proliferação de microorganismos bacterianos deve ser minunciosamente controlada para evitar a piora do quadro clínico do animal, e posterior evolução para caso clínico-cirúrgico. O piometra pode ocorrer de forma aberta ou fechada e o tratamento indicado depende do estágio clínico do paciente. O presente trabalho desenvolve uma revisão teórica sobre as duas formas de ocorrência de piometra, e relata o acompanhamento de um caso clínico-cirúrgigo de piometra aberta, em uma cadela de sete anos de idade. A técnica cirúrgica empregada neste caso, a ovariosalpingohisterectomia (OSH) se mostrou eficiente e menos invasiva, com boa recuperação no pós-cirurgico, corroborando com a literatura atual. Palavras-chave: cadela, piometra, anticoncepcionais, ovariosalpinohisterectomia
ABSTRACT
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1 INTRODUÇÃO
O piometra consiste em uma desordem proveniente do trato urinário ou fecal,
bactérias migram para o lúmem do útero beneficiado pela anatomia do trato urinário da
fêmea, onde o canal é mais largo e curto. Esta desordem se dá também pela hiperplasia
endometrial, no caso de cadelas adultas e idosas, colocando em risco a vida dos animais
acometidos. Também ocorre pelo uso de hormônios para inibir o ciclo estral da fêmea fazendo
com que não ocorra a fecundação. Tal patologia pode ocorrer em duas formas, piometra
aberta ou fechada. A primeira consiste em uma infecção visível a olho nu, com
extravasamento de secreção, a segunda ocorre internamente, com maior dificuldade de
indentificação, tendo somente distensão abdominal como principal sintomatologia. Este
trabalho apresenta uma revisão bibliográfica sobre o piometra e suas formas de ocorrência e
relata um caso clínico-cirurgico de piometra aberta em uma cadela de sete anos de idade.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Segundo Nelson & Feldman (1986), a piometra na cadela é mediada por uma
desordem hormonal diestral. A doença resultaria de uma interação bacteriana com um
endométrio que passou por mudanças patológicas de uma estimulação prolongada ou repetida
por progesterona (HIDALGO et al., 1986). A infecção bacteriana é uma condição secundária
(NELSON & FELDMAN, 1986). Os estímulos hormonais associados a infecção bacteriana,
fatores de crescimento tecidual e hormônio terapia, são um dos principais causadores da
doença (DE BOSCHERE et al, 2002). A ação conjunta de hormônios esteroides como o
estrogênio e a progesterona provoca uma resposta exagerada e anormal do endométrio à
estimulação da progesterona crônica e repetidamente, levando ao acúmulo de fluído no lúmen
uterino e glândulas endometriais, o que explica o aumento de incidência da doença em
animais que recebem estrogênio exógeno durante o diestro para impedir gestação (NELSON
& FELDMAN, 1986).
Na vagina também existe uma flora bacteriana residente e normal, durante o pró-estro
e estro estas bactérias conseguem atravessar o cérvix e alcançar o útero. Em uma fase normal
as bactérias são eliminadas pelas defesas do organismo, caso isso não ocorra estes
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microorganismos irão encontrar um ambiente propício à sua multiplicação, provocando assim
a doença (GARCIA, 2009). Entre as mais diversas bactérias que podem afetar o útero, a mais
comum é a Escherichia coli, devido a habilidade deste organismo a se aderir em sítios
antigênicos específicos no endométrio, as bactérias ascendem pelo cérvix e para dentro do
útero durante o estro (HIDALGO et al., 1986). Relatos bibliográficos citam que a Escherichia
coli é a mais frequentemente isolada do material coletado do conteúdo uterino de cadelas com
piometra (COGGAN et al., 2004; SILVA et al., 2004).
O Piometra é uma das doenças reprodutivas mais rotineiras em cadelas não castradas
de meia idade e que tem o histórico de uso de anticoncepcional para prevenção da prenhez,
sua principal característica é um acumulo de pus no interior do útero (GARCIA, 2009). A
classificação é feita conforme a sua apresentação: aberta caracterizada pela secreção vaginal e
cérvix aberta (com consequente drenagem do conteúdo intra-luminal), como na Figura 1 e
fechada caracterizada pela distensão abdominal e cérvix fechada (COUTO & NELSON,
1998; GILBERT et al., 1989), conforme Figura 2, em que o conteúdo é restrito ao útero e,
portanto, trata-se de afecção de caráter de emergência (VEIGA, 2013).
Figura 01: Piometra aberta, com drenagem via vaginal de conteúdo intrauterino de aspecto purulento (VEIGA, 2013)
Os animais mais velhos são mais predispostos e não há predileção por raças, porém a
literatura apresenta uma maior incidência em Golden Retriever, Schnauzer, Terrier Irlandês,
Saint Bernard, Airedale Terrier, Cavalier King Charles Spaniel, Rouggh Collie, Rottweiler
Bernese, Cocker Spaniel (LIMA, 2009).
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Figura 02:Piometra fechada e ausência de corrimento vaginal, caracterizando a secreção restrita. VEIGA (2013)
As manifestações clínicas clássicas da Piometra são poliúria, polidipsia, vômito,
diarréia, letargia, desidratação, depressão, anorexia/inapetência e aumento do volume do
útero, facilmente palpável. A temperatura corpórea é variável, frequentemente está normal
mas pode apresentar um aumento por causa da infecção bacteriana, secundária, septicemia ou
toxemia (LIMA, 2009).
O diagnóstico pode ser feito por meio da avaliação clínica observando-se o aumento
de volume uterino pela palpação cuidadosa e a confirmação deve ocorrer por meio da
radiografia ou ultrasonografia (FELDMAN & NELSON, 1996). Pode-se também basear-se
nos indicadores do hemograma, para anemia normocítica normocrômica não regenerativa de
grau leve a moderado, sendo que isso ocorre devido a um efeito supressor das toxinas
bacterianas na medula óssea e também devido à perda de hemácias que migram para o local
da infecção por diapedese (COUTO; NELSON, 1998; FELDMAN & NELSON, 1996). O
volume globular pode estar aumentado devido à desidratação (JOHNSON, 1995).
Em alguns casos de piometra aberta, o leucograma pode apresentar-se normal,
enquanto que em casos de piometra fechada esse exame pode estar alterado, apresentando
uma leucocitose por neutrofilia com desvio à esquerda e neutrófilos tóxicos (JOHNSON,
1995). Entretanto, segundo Corricho (2012) pacientes com piometra podem apresentar tanto
leucocitose como leucopenia, e, ainda sim, há casos em que não há alteração leucocitária.
No exame de ultrassonografia, pode-se avaliar o tamanho e a espessura do útero e
muitas vezes também é possível notar a secreção acumulada no lúmen uterino, também
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permite diferenciar um aumento de volume uterino. Ao ultrasom, a piometra aparece como
uma estrutura tubular com fluído anecóico ou hipoecóico (GARCIA, 2009). O curso da
piometra é variável, alguns casos se revelam agudos e graves em uma a duas semanas e requer
atenção imediata e precoce para que se possa salvar a vida do animal. Em outros,
especialmente aqueles em que a cérvix está aberta por onde há drenagem de conteúdo
purulento, a doença pode persistir por um mês ou mais (ROBERTS, 1979). Entretanto, o
quadro de desidratação associado ao choque séptico por E.coli pode levar o animal a uma
azotemia pré-renal. Além disso, a presença da bactéria gera uma glomerulonefrite de origem
imunológica. Esses fatores podem levar a uma insuficiência renal aguda (OLIVEIRA et al,
2007).
Considerando o exposto acima, o tratamento deve ser imediato e agressivo, já que a
septicemia e/ou a endotoxemia podem se desenvolver em qualquer momento, se já não
estiverem presentes (JOHNSON, 1995). Para tanto, é indicada a fluidoterapia intravenosa
para melhorar a função renal, para manter a perfusão tecidual correta e para correção de
déficits eletrolíticos existentes (GILBERT, 1992; JOHNSON, 1995). Também deve ser
administrado um antibiótico de amplo espectro de ação até que sejam conhecidos os
resultados dos testes de susceptibilidade aos antibióticos (GILBERT, 1992). Porém,
atualmente, a OSH (ovariosalpingohisterectomia) é o tratamento de eleição para a piometra
(JOHNSON, 1995).
A ovariosalpingohisterectomia (OSH) em cadelas é um procedimento cirúrgico
comumente realizado na prática veterinária, São várias as técnicas cirúrgicas utilizadas, sendo
a mais comum o acesso mediano ventral retroumbilical e a minilaparotomia pela técnica do
gancho. No entanto, nessas técnicas, todos os órgãos internos do sistema reprodutor, como
ovários, tubas e cornos uterinos, são retirados, mas a simples exérese dos ovários
(ovariectomia) também pode ser utilizada para castrar cadelas. Tal técnica era considerada
inadequada devido à possibilidade de ocorrência de piometra no útero inativo. No entanto,
estudos realizados em longo prazo não confirmaram tal ocorrência (QUESSADO, 2014).
Apesar de ser procedimento cirúrgico aplicável em qualquer idade, se esta cirurgia for
realizada antes do primeiro ciclo ovariano, a incidência de neoplasias de glândulas mamárias
diminui para menos que 0,5 %. Logo após o primeiro cio, o risco aumenta para 8%; depois de
dois ciclos, sobe para 26%, e depois dos dois anos e meio de idade não se tem mais este efeito
(SCHNEIDER, et al., 1969).
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MATERIAL E MÉTODOS
Uma cadela da raça Border Collie, com 7 anos de idade, pesando 15 kg foi atendida
numa Clínica Veterinária no Município de Erechim, Rio Grande do Sul. A proprietária relatou
que a cadela havia parado de se alimentar há aproximadamente 3 dias, teve vários episódios
de vômito, foi tratada com doxiciclina, mas os sintomas se intensificaram, também informou
que a cadela entrou no cio a 40 dias e sempre utilizou anticoncepcionais.
Ao avaliar o animal, o Médico Veterinário identificou sinais clínicos significativos
como abdômen distendido, apatia, emagrecimento, secreção purulenta na vagina e aumento
dos linfonodos inguinais. No exame clínico o animal apresentava TPC (tempo de
preenchimento capilar) maior que 2 segundos, desidratação de 5%, temperatura retal 38,7ºC,
mucosas rosadas e demais parâmetros fisiológicos dentro dos valores de referência para a
espécie.
Foi coletado amostra de sangue para a realização de hemograma que, conforme Figura
3, apresentou anemia microcítica hipocrômica por leucocitose por neutrofilia, monocitose e
basofilia.
Figura 03: Resultado do Hemograma pré-cirúrgico. DACROCE, D. (2017)
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Foi realizado ultrassom para a confirmação do diagnóstico da piometra aberta
conforme Figura 4, onde observa-se aumento do tamanho do útero, sendo que em seu estado
fisiológico seria de difícil visualização.
Figura 04: Imagem do útero com piometra no Ultrassom (CASSOL, M. 2017)
De acordo com os resultados dos exames e sinais clínicos apresentados pelo animal o
diagnóstico definitivo foi piometra aberta. Desta forma a paciente foi encaminhada para a
ovariosalpingohisterectomia.
Primeiramente realizou-se o procedimento pré operatório com a seguinte MPA:
Acepromazina 0,15ml e Morfina 0,15ml, levando o animal a um estado de sedação,
possibilitando assim realizar o acesso venoso na veia braquecefalica. Com o acesso, iniciou-se
fluidoterapia para corrigir a desidratação, já mantendo o vaso preparado para receber as
medicações. Realizou-se tricotomia ampla na região ventral do abdomem e após, feito a
assepsia da pele com clorexcidine ® 2 % em toda a região próxima ao ponto de incisão. Após
esse procedimento o animal foi levado ao bloco cirúrgico, iniciou-se os procedimentos para o
ato cirurgico com indução por anestésico Propofol 0,15ml. Com o animal já anestesiado, foi
inserida a sonda endotraqueal para utilização da anestesia inalatória com Isofurano, afim de
manutenção do plano anestésico. A manutenção foi realizada com anestésicos voláteis,
isoflurano, sendo indicado em estudos pois causa pouca redução na função cardiovascular e o
ritmo cardíaco permanece estável. (McKELVEY & HOLLINGSHEAD, 2000). Em seguida o
paciente foi colocado em decúbito dorsal pelo auxiliar, que executou mais uma assepsia com
Clorecdine ®, desta vez a 5%.
Após pequena divulsão do tecido subcutâneo, o suficiente para se visualizar a linha
alba, fez-se a invasão da cavidade abdominal, seguida da incisão abdominal na linha média,
desde o púbis até meio caminho entre o umbigo e o processo xifoide. O auxílio de pinças __________________________________________________________________________________________
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cirúrgicas faz com que possa-se suspender os tecidos organizadamente. Assim, com o auxílio
de pinça dente de rato, suspendeu-se a parede abdominal pela linha alba e introduziu-se a
lâmina do bisturi voltada para cima, realizando-se incisão pequena o suficiente para a
exteriorização dos ovários, que foram então isolados com auxílio de compressas. Com o
rompimento do ligamento redondo utilizou-se três pinças no corpo do útero acima da cérvix,
seccionando entre as duas superiores. Exteriorizou-se, então, o corpo uterino, protegendo-se a
artéria e a veia uterinas, fez-se uma "janela" no mesométrio e, com o bisturi, dissecou-se o
mesmo até Seccionar o ligamento largo direito e esquerddo. A aparência do útero era grande,
de consistência macia e repleto de líquido purulento, confirmando a suspeita de piometra
(Figura 06 e 07).
A intervenção cirúrgica foi realizada com sucesso e Após o procedimento cirúrgico a
paciente permaneceu internada por 3 dias para instituir o tratamento pós cirúrgico com o uso
de Tramadol ® 2mg/kg, SC, BID; Cefaleccina ® 300mg/kg, IM, BID; Ranitidina ® 2mg/kg,
SC, BID e Metoclopramida ® 0,5mg/kg, IV, BID. Durante a internação o animal permaneceu
em fluidoterapia com Ringuer Lactato com complexo de vitamina B. Os episódios de vômito
sessaram após 2 dias internada e nesse dia o animal se alimentou. Após a melhora do quadro a
paciente teve a alta, retornando 8 dias após para retirada dos pontos estando em boas
condições de saúde.
Nos cuidados pós cirúrgicos, em casa, foi recomendado Cefaleccina ® 300mg 1cp via
oral, BID por 10 dias; Meloxican ® 2mg 1cp via oral SID por 5 dias; Tramadol ® 1cp BID
por 7 dias;
A pedido da proprietária foi realizado novo hemograma 12 dias após a cirurgia para
avaliar o estado de saúde do animal e comprarar se havia uma melhora na infecção. conforme
mostra a figura 05. Tendo como resultado uma melhora do quadro de Anemia Microcitica
Hipocromica sem a presença de infecção pois os leucócitos e neutrófilos encontravam-se
dentro dos parâmetros. (figura 5)normais.
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Figura 05: Ressultados do Hemograma pós-cirúrgico. LIRA, S. (2017)
3 RESULTADOS E ANÁLISE
O histórico de uso de hormônios pela paciente, considerando os estudos de Ferrari,
2008, pode ser responsável pela estimulação progestacional crônica e repetida que levou à
respostas exageradas e anormais do endométrio denominada Hiperplasia Endometrial Cística.
(Figura 6).
Figura 06: Útero com piometra. SIMONETTI, M. (2017)
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O aumento do nível da progesterona estimulou o crescimento e a atividade secretora
das glândulas endometriais e reduziu a atividade miometrial, permitindo, o acúmulo de
secreções glandulares uterinas conforme estudos de Fossum (2008). O aumento do útero
diminui a circulação sanguínea e dos sistemas de defesa do útero, das contrações uterinas que
somadas ao fechamento do colo uterino produziram a retenção de líquido dentro do órgão e a
abertura do colo uterino durante o estro permitindo a entrada de bactérias comparando-se aos
estudos de Sorribas, 2006.
É importante salientar que por ser um método de esterilização, alguns proprietários
prefiram tentar o tratamento com antibióticos, que na maioria dos casos se mostra pouco
eficaz, principalmente afim de não perder o valor genético da fêmea, não sendo neste caso
viável devido a evolução do quadro. Para tais casos os antibióticos mais utilizados são:
trimetropin sulfonamidas, ampicilina, amoxicilina mais clavulanato de potássio, cefazolina, o
antibiótico pode ser mudado quando houver os resultados de cultura e antibiograma
(SLATTER, 1998). Um tratamento ideal requer um diagnóstico correto com avaliação
adequada da gravidade da doença. Os fatores fundamentais para o sucesso do tratamento são:
cessação dos efeitos da progesterona endógena sobre o útero, a evacuação completa de pus do
útero e o restabelecimento de funções de órgãos além do útero (ROOTWELT- ANDERSEN e
FARSTAD, 2006).
A técnica de três pinças, aplicada na OSH, permite uma facilidade no procedimento
que substituiu técnicas mais antigas, até mesmo a tradicional técnica de OH, gradualmente se
vê a diminuição de cirurgiões que executam OH em cães, sendo escassos os estudos referentes
a comparações destas técnicas na literatura. A esterilização eletiva é a indicação mais comum
para essa operação, a qual também foi comumente indicada no tratamento de diferentes
afecções uterinas e/ou ovarianas (FERRANTI, 2015).
Os estudos de FELDMAN e NELSON (1996) e SLATTER (1998) confirmam que
ováriosalpingohisterectomia, técnica utilizada neste trabalho, é o tratamento mais freqüente
utilizado, é um método definitivo e satisfatório e sempre deve ser manuseado com cuidado o
útero, conforme Figura 7, pois dependendo do grau de distensão uterina, esse órgão pode estar
friável e se romper com grande facilidade.
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Figura 07: Utero retirado com sucesso. RIBAS, B. (2017)
A remoção cirúrgica do útero infectado deve ser feito dentro de 6 a 12 horas, após o
diagnóstico, ou até mais cedo caso o útero esteja sobre risco de ruptura (RABELO, 2005). Em
casos de ruptura do útero e conseqüentemente peritonite, a cavidade abdominal deve ser
lavada com solução de cloreto de sódio 0.9% (soro fisiológico) levemente aquecido e deve ser
prescrito para o tratamento antimicrobiano associação de mais de um fármaco (MARTINS,
2007; FOSSUM, 2008). As cadelas submetidas à OSH terão uma acentuada diminuição dos
valores do seu quadro leucocitário a partir do 12˚ dia pós cirúrgico e com 3 semanas esses
valores já estarão normalizados (GRUNERT, BIRGEL E VAL, 2005).
Migliari, R. (2000) verificou que o tempo total de cirurgia caiu substancialmente,
quando comparado ao tempo trans-operatório de outras técnicas, diminuindo o consumo de
anestésico por cirurgia e aumentando a possibilidade de se operar vários pacientes por turno.
A incisão de pequena extensão, o tipo e o fio de sutura, somados a uma única administração
de antibioticoterapia logo após a cirurgia, permitiu eliminar os retornos pós-operatórios. A
reduzida quantidade de material e instrumental utilizado, associado aos demais fatores acima
expostos resultaram na diminuição no custo total da cirurgia, o que a torna acessível para um
espectro mais amplo das camadas de classe média e baixa da população.
4 CONCLUSÃO
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Por ser uma das doenças que mais acometem fêmeas caninas, é de suma importância o
conhecimento dos procedimentos padrões para tal patogenia, sempre priorizando por uma boa
inspeção do paciente desde o atendimento clínico até os exames complementares, podendo
assim diagnosticar o quadro e a evolução da doença para optar pelo melhor método de
tratamento baseado em cada caso. O Ultrasom é o diagnóstico mais indicado para esta
suspeita. As novas técnicas cirúrgicas trazem facilidades no procedimento, bem como
proporcionam um pós-operatório mais tranquilo, sendo menos nocivo ao cão. Para prevenção
destes casos é necessária uma correta orientação dos fatores que predispõem tal patogenia,
dentre eles o uso correto de hormônios como o da progesterona exógena como regulador de
ciclo estral das cadelas sendo o principal causador da doença. O prognóstico é dado através da
evolução da doença, início do tratamento e do estado geral do paciente. Embora de cunho
grave, se houver rapidez no tratamento, a piometra não tem altos índices de mortalidade.
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