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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
CURSO DE ARTES VISUAIS - LICENCIATURA
JÉSSICA ANDRESSA MACHADO PEREIRA
O ENSINO DA ARTE NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
DO ALUNO DISLÉXICO
CRICIÚMA
2016
JÉSSICA ANDRESSA MACHADO PEREIRA
O ENSINO DA ARTE NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
DO ALUNO DISLÉXICO
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de Licenciatura no curso de Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC.
Orientadora: Profª. Ma. Izabel Cristina Marcílio Duarte
CRICIÚMA
2016
JÉSSICA ANDRESSA MACHADO PEREIRA
O ENSINO DA ARTE NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
DO ALUNO DISLÉXICO
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Licenciada, no Curso de Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, com Linha de Pesquisa em Educação e Arte.
Criciúma, 22 de novembro de 2016.
BANCA EXAMINADORA
Profª. Izabel Cristina Marcílio Duarte - Mestre - (UNESC) - Orientadora
Profª. Édina Regina Baumer - Mestre - (UNESC)
Prof°. Marcelo Feldhaus - Mestre - (UNESC)
Esse trabalho está dedicado primeiramente a
Deus, do qual se faz presente em minha Vida, e a
minha amada mãe pelo apoio de realizar esta
conquista.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por demonstrar-se sempre presente no caminho a qual
estou percorrendo e por poder encontrar nele anjos aos quais quero agradecer.
A minha querida mãe, Elisete da Silva, por toda sua dedicação, atenção e amor
incondicional durante esses vinte e dois anos, sempre me apoiando e me ajudando
em tudo o que fosse preciso. Agradeço também a minha querida irmã Chaiane e
minha amiga Leticia Nunes, por todo amor e apoio que me proporcionam.
E agradeço também o meu irmão Daniel (Disléxico), do qual foi fonte de
inspiração sobre minha pesquisa. Às minhas amigas e companheiras de curso Lilian,
Alessandra, Catarina, e a todos meus colegas, com quem compartilhei cinco anos
importantes.
A minha orientadora, Izabel Marcílio Duarte, por ter aceitado o meu convite,
por compartilhar comigo seu conhecimento e sabedoria, por sua paciência e apoio.
Aos professores da banca examinadora, por aceitarem o meu convite e por, ao
longo do curso, terem contribuído para minha formação.
Aos professores e professoras e ao coordenador Marcelo Feldhaus e toda
sua direção do Curso de Artes Visuais, UNESC, por acreditarem nesta pesquisa e
contribuírem para que ela pudesse ser realizada.
A todos e a todas, o meu Muito Obrigada!
.
Nossos olhares, pois, foram e estão sendo educados, e, se queremos transcender as restrições que os molduram e modelam, é preciso refletir sobre outras possibilidades de educação para além das que cotidianamente somos sujeitos e sujeitados, possibilidades essas que nos permitam reinventar nossos modos de ver, de ouvir, de sentir, de pensar, de viver e conviver. Andréa Vieira Zanella
RESUMO
Esta pesquisa é de natureza básica, com abordagem qualitativa intitulada como “O ensino da arte na construção do conhecimento do aluno disléxico”. As questões que nortearam esta pesquisa surgiram a partir dos seguintes questionamentos: Como a arte propicia o olhar do ser sensível? E como o ensino da Arte pode proporcionar o ensino aprendizagem de um aluno disléxico? O público alvo desta pesquisa é formado por professoras de arte da rede municipal de Criciúma SC, a participação é registrada por meio de questionários tendo como objetivo geral, analisar qual é a visão dos professores em relação a dislexia, e quais as possibilidades do ensino da arte na percepção entre o professor e o aluno disléxico. Como objetivo específico: verificar de que maneira o ensino da arte auxilia o professor no processo de ensino aprendizagem do aluno disléxico; analisar a ação do professor como mediador entre a arte e os alunos disléxicos na sala de aula; observar na fala do professor como a arte reflete na produção do aluno disléxico na escola; perceber o olhar sensível do professor como mediador do ensino da arte com os alunos disléxicos; reconhecer que o contato com a arte é fundamental para a qualidade de vida do aluno disléxico. Com o objetivo desse diagnóstico faz-se o uso da abordagem qualitativa, que segundo Minayo, “seu foco é, principalmente, a exploração do conjunto de opiniões e representações sociais sobre o tema que pretende investigar”. (2009, p.79). A pesquisa se insere na linha de Educação e Arte, com abordagem qualitativa, sendo de natureza básica e quanto aos objetivos é exploratória e descritiva partindo da bibliografia e com base em questionários dirigidos aos professores. Fazem parte da pesquisa três professoras de arte da rede municipal que participaram através de questionários, onde conclui-se que há uma certa defasagem de conhecimento, informação ou até mesmo de interesse, sobre a dislexia, onde destacam a importância e a necessidade de um novo olhar, ampliando as possibilidades para um ensino mais significativo, logo abordando de que o papel do professor, independente da disciplina, não é diagnosticar o aluno com dislexia, e sim ampliar as possibilidades na construção do conhecimento deste aluno através do planejamento da disciplina.
Palavras-chave: Arte. Dislexia. Professores. Ensino da Arte.
LISTA DE IMAGEM
Figura 1 – Título: Daniel estudando ......................................................................26
Figura 2 – Título: Daniel estudando ......................................................................26
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABD Associação Brasileira Dislexia AFASC Associação Feminina de Assistência Social CEI Centro de Educação Infantil MEC Ministério de Educação e Cultura NCE Núcleo de Cooperação Educacional TDA Transtorno de Déficit de Atenção UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11
2 O OLHAR SENSÍVEL NA EDUCAÇÃO................................................................15
2.1 O Ensino da arte e sua relação com o olhar sensível na percepção do aluno
disléxico .................................................................................................................... 17
3. O PAPEL DA ESCOLA NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA ........................................ 19
4. UM DISTURBIO DE APRENDIZAGEM CHAMADO DISLEXIA .......................... 22
4.1 Sinais e características da dislexia ................................................................... 23
4.1.1 Conhecendo a dislexia .................................................................................... 26
4.2 Como auxiliar o aluno com dislexia .................................................................. 27
4.2.1 O papel do professor ....................................................................................... 28
4.2.2 O papel dos pais .............................................................................................. 29
5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS .................................................... 32
6. PROJETO DE CURSO:
UM OLHAR SOBRE A DISLEXIA NO ENSINO DA ARTE ..................................... 35
6.1 Ementa ............................................................................................................... 35
6.2 Carga Horária ..................................................................................................... 35
6.3 Público Alvo ........................................................................................................ 35
6.4 justificativa .......................................................................................................... 35
6.5 Objetivo Geral ..................................................................................................... 36
6.6 Objetivo Específico ............................................................................................. 36
6.7 Metodologia ........................................................................................................ 36
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 38
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 40
APÊNDICE(S) ........................................................................................................... 42
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIOS ... ...................................................................... 43
APÊNDICE B – IMAGENS ........................................................................................45 ANEXO(S) ................................................................................................................. 47
ANEXO A – Termo de consentimento livre e esclarecimento do participante ......... 48
11
1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa vem fomentando o interesse do qual eu obtive
através de algumas disciplinas que cursei no longo dos semestres do curso de Artes
Visuais, na UNESC, envolvendo o olhar sensível voltado para o aluno disléxico no
ensino da arte. No decorrer dos semestres duas disciplinas em especial, me
cativaram de tal forma, mesmo sem saber explicar mais foi como se ali eu estivesse
plantado uma sementinha sobre o assunto do meu TCC.
Uma das disciplinas foi no Estágio IV, com o professor Marcelo, quando
em grupo tivemos a oportunidade de trabalhar sobre o ser sensível com todas as
Diretoras de CEI’s (Centro de Educação Infantil) da AFASC (Associação Feminina
de Assistência Social de Criciúma), fizemos uma bela viajem cultural aos museus de
Porto Alegre, e realizamos uma oficina, tudo em prol do olhar sensível e ampliando o
nosso repertório artístico. Esta sem dúvida nenhuma foi uma experiência muito
marcante na minha trajetória acadêmica, e me proporcionou um olhar mais amplo
sobre o ensino da arte, e fez questionar-me: como trabalhar o olhar sensível com os
alunos que não tem a mesma facilidade dos seus respectivos colegas?
Em outra disciplina (Psicologia da Aprendizagem), com a professora
Rosimeri, tínhamos um trabalho em dupla para fazer, cada um com o seu respectivo
tema, o meu era explicar o que seria “Dislexia”, e assim eu pesquisei e apresentei na
semana seguinte. Naquele mesmo semestre minha mãe, acadêmica de Pedagogia
na UNESC (Universidade do Extremo Sul Catarinense), também teve aulas da qual
foram mencionadas as características de uma criança com Dislexia. Foi através
destas aulas que ela pode perceber que meu irmão possuía estas características,
porém até então nunca percebida e mencionada por ela e nem mesmo pelos
professores.
A partir deste momento ela dirigiu-se até a escola falou com a professora
que fizesse um encaminhamento ao NCE (Núcleo de Cooperação Educacional), do
qual deu todo o suporte de atendimento psicológico, fonológico, pedagógico, e
neurológico, somente depois de um ano. Foi através do neurologista que ele obteve
o diagnóstico de Dislexia.
Quando minha mãe me deu a notícia, me pus a refletir, pois este foi o
tema abordado no trabalho apresentado por mim em sala de aula. Naquele
momento surgiram-me muitas perguntas, tal como, porque não havíamos percebido
12
isso antes? Porque os professores deixaram passar despercebido algo tão sério, já
que estava no segundo ano do ensino fundamental? Foi exatamente neste dia que
tive a certeza de que deveria fazer algo, pesquisar estudar mais sobre o assunto, e
de alguma forma, fazer diferença. Então decidi que este seria o assunto “problema”
abordado no meu projeto de pesquisa, e posteriormente em meu TCC. Quais as
possibilidades do ensino da Arte como canal de percepção entre o professor e o
aluno disléxico?
Essa pesquisa pretende, dentro de uma perspectiva de sensibilização e
informação, responder a uma necessidade que se faz essencialmente presente no
atual sistema educacional. A desinformação entre pais e educadores tem deixado à
margem das salas de aula, e do bom convívio familiar e social, as crianças disléxicas
ou com problemas de aprendizagem.
As questões que nortearam esta pesquisa surgiram a partir dos seguintes
questionamentos: Como a arte propicia o olhar do ser sensível? E como o ensino da
Arte pode proporcionar o ensino aprendizagem de um aluno disléxico?
A pesquisa sempre parte de um tipo de problema, de uma interrogação. Dessa maneira, ela vai responder às necessidades de conhecimento de certo problema ou fenômeno. Varias hipóteses são levantadas e a pesquisa pode invalidá-las ou confirmá-las. (MARCONI; LAKATOS, 2002, p.16)
A pesquisa se insere na linha Educação e Arte do Curso de Artes Visuais
– Licenciatura da UNESC, que possui como ementa: Princípios teóricos e
metodológicos sobre educação e arte. A formação de professores as Artes Visuais e
suas relações com as demais linguagens artísticas. Estudos sobre estética, culturas
e suas implicações com a arte e a educação classificada de natureza básica que,
conforme Marconi; Lakatos, 2002:
É aquela que procura o progresso científico, a ampliação de conhecimentos teóricos, sem a preocupação de utilizá-los na prática. É a pesquisa formal, tendo em vista generalizações, princípios, leis. Tem por meta o conhecimento pelo conhecimento. (p. 20)
Quanto à abordagem da pesquisa é de caráter qualitativo. O público alvo
de estudo foi formado por professoras de arte da rede municipal, e a participação foi
registrada por meio de questionários tendo como objetivo geral, analisar qual é a
visão dos professores em relação a dislexia, e quais as possibilidades do ensino da
13
arte na percepção entre o professor e o aluno disléxico. Como objetivo específicos:
verificar de que maneira o ensino da arte auxilia o professor no processo de ensino
aprendizagem do aluno disléxico; analisar a ação do professor como mediador da
arte com os alunos disléxicos na sala de aula; observar na fala do professor como a
arte reflete na produção do aluno disléxico na escola; perceber o olhar sensível do
professor como mediador do ensino da arte com os alunos disléxicos; reconhecer
que o contato com a arte é fundamental para a qualidade de vida do aluno disléxico.
Segundo Silva 2001, o questionário:
[...] é uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por escrito pelo informante. O questionário deve ser objetivo, limitado em extensão e estar acompanhado de instruções. As instruções devem esclarecer o propósito de sua aplicação, ressaltar a importância da colaboração do informante e facilitar o preenchimento. (p.33).
Com o objetivo desse diagnóstico fez-se o uso da abordagem qualitativa,
que segundo Minayo, “seu foco é, principalmente, a exploração do conjunto de
opiniões e representações sociais sobre o tema que pretende investigar”. (2009,
p.79). Trata-se também de uma pesquisa descritiva, pois se trata de um
levantamento de dados que pretende, conforme Marconi; apud Lakatos (1972: 12-
13), uma “[...] descrição, registro, análise e interpretação de fenômenos atuais,
objetivando o seu funcionamento no presente”. (2002, p. 20).
Para esse esclarecimento foi realizado questionários com as professoras
do ensino da arte, da rede municipal de Criciúma/SC, respondendo de acordo com
suas próprias realidades, no eixo escolar, no dia-a-dia com a criança disléxica. Ao
todo foram entregues 8 questionários, porém só obtive retorno de três professoras,
da quais já atuam em sala de aula com alunos disléxicos, da qual se puseram
dispostas a responder todas as 5 questões, voltado para o olhar sensível do
professor relacionado com seus respectivos planejamentos de aula, e a inclusão
deste aluno com dislexia.
Discorro o referencial teórico deste trabalho de pesquisa inicialmente
falando sobre o “Ensino da Arte na construção do conhecimento do aluno disléxico”,
e o ensino de Arte, sua importância na formação do educando. Dou início ao meu
primeiro capítulo intitulado: O olhar sensível na educação, dialogo com Jorge
Larrosa Bondía (2002), Almeida (2008), Freire (1996), Barbosa (2002), e VIGOTSKI
(1989).
14
Em seguida no segundo capítulo para falar do ensino da Arte e sua
relação com o olhar sensível, busco referencial teórico, dialogando com Zamboni
(1998), Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (1997).
No terceiro capítulo trago Barbosa (2003), Mazzotta (2005), Ferreira
(2003), Martins (2003) e discuto sobre o papel da escola na educação inclusiva.
Logo após venho abordando no quarto capítulo sobre um distúrbio de aprendizagem
denominado dislexia: e aparo-me em autores como: Lima (2008) e Lanhez (2002),
Sinais e características da dislexia Lanhez e Nico (2002), conhecendo a dislexia
Lanhez & Nico (2002). Como auxiliar o aluno com dislexia Tavares (2008). A
importância do diagnóstico Lanhez & Nico (2002) e quarto capítulo passo a seguir à
Apresentação e análise de dados, fundamentando as respostas dos questionários. A
seguir apresento um projeto de curso como contribuição para uma maior valorização
do ensino da arte nas escolas e por fim, escrevo a conclusão desta pesquisa.
15
2 O OLHAR SENSÍVEL NA EDUCAÇÃO
Diante do olhar sensível, percebemos que, a técnica a teoria e a prática,
são essenciais para o fazer pedagógico e muitas vezes as experiências são
deixadas de lado.
A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa não o que acontece, ou o que toca. “A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece”. (BONDÍA, 2002, p.21)
Ao contar uma história ou uma experiência, quem escuta é levado a
prestar atenção, a imaginar, e tentar visualizar cores cheiros, gostos, objetos, outras
pessoas ou animais. Além de despertar outros sentidos, o ato de falar ou ouvir gera
emoção, sensibiliza desperta para a percepção do outro e do mundo. Mas para isso,
é preciso antes de tudo, sentir. Pois:
Ninguém conhece no lugar de ninguém. Ninguém se transforma senão a partir de si próprio, de suas próprias experiências e aprendizagens. Conhecimento não se transfere mais propriamente se organiza a partir da experiência do sujeito, de sua curiosidade, de seu espanto interrogativo, de sua construção. É nesse sentido que dizemos que todo conhecimento é subjetivo, apesar de ser compartilhado socialmente. (ALMEIDA, 2008, p.58)
Paulo Freire vem ao encontro desse olhar, quando enfatiza que:
[...] desde os começos do processo (de ensino/ aprendizagem), vai ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e reforma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao formado [...]. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. (1996, p.25).
Entende-se que é de suma importância o papel do professor no ensino da
arte, pois este contribui, por meio de ações educativas, com o estímulo a afetividade,
as trocas sensíveis e ao desenvolvimento da cognição do ser humano.
A criança torna-se sujeito das práticas que realiza em sala de aula, e fora
dela, abrindo-se para caminhos outros que levam ao aprofundamento dos vínculos
com a escola e a família, como pontua Paulo Freire.
Karina Dias em seu livro Infância e Educação, também nos traz uma
reflexão sobre os caminhos que a formação da sensibilidade perpassa.
16
A formação da sensibilidade não está restrita ao espaço escolar, ela se dá na vida todos os dias, na relação com as pessoas, na relação com o mundo, que nos cerca e, a cada momento transforma-nos e coloca-nos em continuo movimento (1999, p. 177).
A arte não é como um simples adereço dentro do currículo, mas como
uma disciplina que tem conteúdos próprios e que representa uma forma de pensar e
saber (BARBOSA, 2002). A arte não é um lugar apenas de experimentação, como
afirma Biasoli 1994, p.70. Ela é importante à medida que contribui para se descobrir
novos caminhos de ensino/aprendizagem. De tal modo, quando propomos alguma
situação nova, percebemos que há mais interesse e uma maior aproximação afetiva
entre professor e aluno.
A imaginação nas aulas de arte quando colocada em prática, se torna um
conceito valioso no processo de aprendizagem dos alunos, tornando a aula de arte
cada vez mais produtiva, e assim aproximando mais o aluno da escola com um
repertório de conhecimento ainda maior.
Para Vigotski 1989, p.111:
Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas atividades adquirem um significado próprio num sistema de comportamento social, e sendo dirigidas a objetivos definidos, são refratadas através do prisma do ambiente da criança. O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa através de outra pessoa. Essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre história individuais e história social [...]
Como escreve Pessoa (2004, p.96) em um de seus poemas,
O essencial é saber ver, Saber ver sem estar a pensar, Saber ver quando se vê, E nem pensar quando se vê, Mas isso (tristes de nós, que trazemos a alma vestida!), Isso exige um estudo profundo, Uma aprendizagem de desaprender. 1
Por isso esse é o momento de fazer emergir novas estratégias, para
aprender a desaprender e reaprender o olhar que sente, o olhar sensível, permitindo
que a educação, mais que formar sujeitos para a sociedade, forme seres humanos
para a vida.
1 Trecho Do Poema Intitulado O Que Nós Vemos Das Cousas São As Cousas De Fernando Pessoa.
17
2.1 O ENSINO DA ARTE E SUA RELAÇÃO COM O OLHAR SENSÍVEL NA
PERCEPÇÃO DO ALUNO DISLÉXICO
O conceito de arte é algo não exato e está em constante transformação.
Ao longo dos séculos, os objetos artísticos vêm ganhando novas ideologias e novas
formas de representação. É partindo desta arte que se transforma e que busca
novos olhares que a pesquisa sobre arte se torna algo complexo. Pesquisar sobre
arte é, para mim, buscar conhecer melhor as pessoas e a sociedade em que
vivemos. Pesquisar é buscar solucionar suas dúvidas, é desvendar seus anseios, é
permitir-se ir além do que se quer saber.
Para Zamboni 1998
Pesquisar é desejar solucionar algo, mas pode-se, em condições muito especiais, até encontrar algo que não se estava buscando conscientemente, sem que essa solução ocorra através de pesquisa. A pesquisa sempre implica na premeditação, na vontade clara e determinada de se encontrar uma solução através de trajetória racional engendrada pela razão. (p. 43)
Enfatizo então a importância da Arte na formação básica e sua presença
na escola com seu conteúdo, contextualização, produção e apreciação, segundo os
PCN (1998, p. 49) “o conjunto de conteúdos está articulado dentro do processo de
ensino e aprendizagem e explicitado por intermédio de ações em três eixos
norteadores: produzir, apreciar e contextualizar” com o desejo maior de formar
sujeitos com olhar crítico e sensível.
Da mesma forma, penso sobre a apreciação artística na aprendizagem
sendo ela singular e colaboradora no conhecimento visual de cada educando. Essa
prática influencia na produção artística e na contextualização, pois o educando
identifica características artísticas nas produções artísticas e/ou obras de arte
apreciadas. O aluno produz a partir do que aprendeu.
Sobre a contextualização não podemos diminuir sua importância, pois
sem ela o educando não poderá identificar as características e sua influência está
diretamente ligada na produção e apreciação.
Segundo a Proposta Curricular de Santa Catarina, (1998, p.198):
18
O estudo da história da arte é de grande importância, pois possibilita a compreensão do objeto artístico temporalmente, e a formação de uma cultura visual. Essa cultura permite ao aluno estabelecer relações entre estilos e obras, ampliando sua visão dos bens culturais produzidos pela humanidade, bem como a sua visão de mundo.
O ensino da Arte nas escolas foi considerado obrigatório depois de muita
luta de educadores, que conquistaram o reconhecimento e a importância da Arte na
formação do educando. Atualmente o ensino da Arte é disciplina obrigatória nas
escolas, sendo ela formadora de sujeitos, com seus conteúdos, que o ajudarão a
formar seus conceitos e ideias sobre arte e a sociedade.
Buscando constantemente o desenvolvimento do educando e
considerando que ele é um ser integral, onde o afetivo, o cognitivo e o simbólico
estão integrados levando-o a sentir, pensar, agir e representar, inteirando seu
cotidiano, é possível criar espaços de troca de experiências, sendo assim
reconhecer a importância do ensino da arte. Durante esses processos significativos
vivenciados na escola proporcionados pelas aulas de arte os significados e as ideias
serão constituídos e compartilhados, não priorizando somente o conhecimento
teórico, mas sim sua totalidade, tornando a atividade significativa, e atrativa para o
educando.
Por meio da Arte é possível desenvolver a percepção e a imaginação, aprender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo ao indivíduo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada. (BARBOSA, 2003, p.18)
Com a perspectiva de formar novas concepções artísticas na escola,
mostrando que aprender arte não é apenas aprimoramento de habilidades como
pintar, desenhar, colar e recortar, como já foi vista nos anos anteriores, aprender
arte também é reflexão sobre o seu fazer artístico, perceber-se incluído na realidade
em que vive, despertando seu olhar para a criticidade inovando assim sua
concepção para a arte e o ensino dela, reconhecendo que todos, necessitamos da
arte em nosso repertório para uma formação contínua. O próximo capítulo abordará
sobre a importância do papel da escola na educação inclusiva, da qual se faz de
suma importância no processo de aprendizagem do aluno disléxico.
19
3 O PAPEL DA ESCOLA NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Em 1981 a Assembleia Geral das Nações Unidas 2 intensificou a
integração de alunos especiais em escolas regulares, com o objetivo no qual as
crianças que possuem limitações no processo de ensino-aprendizagem juntamente
com alunos que não possuem essa limitação tem sido defendida por pais,
instituições e profissionais que veem nessa integração uma nova ordem social, pois
isso oferece ao aluno especial uma oportunidade de se sentir inserido na sociedade.
Frias e Menezes enfatiza que:
Para a construção de uma verdadeira sociedade inclusiva é importante, também, que se tenha preocupação e cuidado com a linguagem que se utiliza. Afinal, através da linguagem é possível expressar, voluntariamente ou involuntariamente, aceitação, respeito ou preconceito e discriminação em relação às pessoas ou grupos de pessoas, conforme suas características. (2010, p. 7)
A educação inclusiva trouxe um desafio aos currículos escolares e na
avaliação, pois exigiu uma reforma no planejamento escolar bem como nas
atividades de sala de aula. Ela é muito mais ampla, podemos dizer que se refere à
superação de barreiras que pode ser experienciada por qualquer aluno.
Ainda temos a tendência de pensar em política de inclusão ou educação
inclusiva como aquela que diz respeito aos alunos com deficiência e a outros
caracterizados como tendo necessidades educacionais especiais. Além disso, a
inclusão é frequentemente vista apenas como envolvendo o movimento de alunos
das escolas especiais para o contexto das escolas regulares, com a implicação de
que eles estão incluídos uma vez que fazem parte daquele contexto. Porém a uma
visão que a inclusão é um processo que nunca termina, pois é mais do que um
simples estado de mudança, e depende de um desenvolvimento organizacional e
pedagógico contínuo no sistema regular de ensino. (AINSCOW, 1999, p.218, apud
MITTLER, 2003, p.35).
A inclusão nas escolas sem dúvida trouxe uma mudança no
comportamento das pessoas que ultrapassou os muros das escolas, além de colocar
a escola num papel mais enfático no que se refere a diversidade existente em nossa
2 O nome Nações Unidas foi concebido por Franklin Delano Roosevelt, presidente dos Estados Unidos, na época da elaboração da Declaração das Nações Unidas em primeiro de janeiro de 1942, durante a Segunda Guerra Mundial. Fonte: http://www.coladaweb.com/historia/historia-da-onu. Acesso em 13/10/2016
20
sociedade na procura de igualdade sendo que é nas diferenças que nós
construímos.
Essas mudanças em relação à educação inclusiva aconteceram desde
1993 tendo a lei 9394/96 como referência nos documentos oficiais do MEC
(Ministério de Educação e Cultura), na política nacional de educação especial,
publicada em 1994 que ressalta:
A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº
9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos
alunos currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas
necessidades; assegura a terminalidade específica àqueles que não atingiram o
nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas
deficiências; e assegura a aceleração de estudos aos superdotados para conclusão
do programa escolar. Também define, dentre as normas para a organização da
educação básica possibilidades de oportunizar aprendizado e “[...] oportunidades
educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus
interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames” (art. 37).
Não podemos negar que mesmo com todo o entendimento e a compreensão da
necessidade em nossa sociedade atual da inclusão de alunos nas escolas ainda há
receio por falta de preparação por parte dos profissionais que atuam na educação.
[...] os argumentos de dúvida sobre a inclusão escolar estão direcionados além do medo e da não aceitação dos professores, muitas das vezes por preconceitos, para questões referentes ao processo de implantação da política inclusiva em termos de base estrutural e pedagógica, como a ausência de atendimento psicológico; o número elevado de alunos de diferentes tipos de deficiência em uma mesma sala e a dúvida de como o professor de educação especial pode dar o suporte técnico ao professor do ensino comum. (OLIVEIRA, 2002, p. 39).
A falta de informação é ainda o principal motivo de discriminação, pois
quando não há informação, não há compreensão e consequentemente a exclusão.
Mazzotta (2005) enfatiza que a inclusão e a integração dependem de nossas ações,
pois quando há compreensão e conhecimento do contexto social, econômico e
cultural das pessoas seus direitos passam a ser respeitados e aceitos.
Mas além da compreensão por parte do corpo docente e discente da escola, é
necessária estrutura pedagógica para esses alunos, investir na formação do
professor para que possa planejar metodologias em que o aluno possa compreender
21
e assim construir seu conhecimento, bem como para os alunos que possuem
dificuldades e necessitam de uma atenção diferenciada, pois sabemos que a
inclusão social não deve ser vista para aqueles que possuem limitações intelectuais,
mas a todos que apresentam dificuldade de ensino-aprendizagem.
Ferreira (2003) afirma que “o essencial não está no tipo de limitação apresentada,
mas no modo como se dá a inserção do sujeito no contexto social” (p.120).
Por isso, se torna urgente a transformação e essa precisa ser plena e
contínua é necessário ver as pessoas como seres que possuem incertezas, medos,
ansiedades, projetos, sonhos, arrancar de dentro de nós que são seres diferentes “o
fato fundamental é entender que as pessoas com necessidades especiais também
têm sonhos, objetivos e realizações” (MARTINS, 2006, p. 65).
No capítulo seguinte vejo a importância de aqui destaca logo após a inclusão, a
questão do que é a dislexia em si, e como lhe dar com este distúrbio de
aprendizagem.
22
4 UM DISTÚRBIO DE APRENDIZAGEM CHAMADO DISLEXIA
A associação Brasileira de Dislexia (ABD), 2006 diz que o vocabulário
dislexia é derivado do grego “dis” (dificuldade) e “lexia” (linguagem), sendo definida
como uma falta de habilidade na linguagem que se reflete na leitura e na escrita.
Várias são as definições sobre este assunto. Segundo a ABD/2007, a
mais utilizada é a de 1994 da Intenational Dyslexia Association (IDA):
Dislexia é um dos muitos distúrbios de aprendizagem. É um distúrbio específico da linguagem, de origem constitucional, caracterizado pela dificuldade de decodificar palavras simples. Mostra uma insuficiência no processo fonológico. Estas dificuldades de decodificar palavras simples não são esperadas em relação a idade. Apesar de submetida a instrução convencional, adequada inteligência, oportunidade sociocultural e não possuir distúrbios cognitivos e sensoriais fundamentais, a criança falha no processo de aquisição da linguagem. A dislexia é apresentada em várias formas de dificuldade com as diferentes formas de linguagem, frequentemente incluídas problemas de leitura, em aquisição e capacidade de escrever e soletrar. (p.23)
Segundo a ABD (Associação Brasileira de Dislexia):
Definida com um distúrbio ou transtorno de aprendizagem na área da leitura, escrita e soletração, a dislexia é o distúrbio de maior incidência nas salas de aula. Pesquisas realizadas em vários países mostram que entre 05% e 17% da população mundial é disléxica. Ao contrário do que muitos pensam a dislexia não é o resultado de má alfabetização, desatenção, desmotivação, condição socioeconômica ou baixa inteligência. Ela é uma condição hereditária com alterações genéticas, apresentando ainda alterações no padrão neurológico.
Muitas crianças disléxicas vivem em busca de tentativas para superarem
suas dificuldades, mais devido ao constante fracasso, elas acabam se auto
deprimindo, fatores dos quais muitas vezes as levam, a se tornar uma criança mais
reservada, tímida, calada, muitas das vezes não conseguindo expressar seus
próprios anseios e com isso acarreta o desestímulo, podendo gerar alguns
problemas de comportamento. Por este e os demais motivos, é necessário que haja
uma união entre os profissionais que atuam nesta área, juntamente com os
familiares e a escola em si, incluindo os professores independentes da disciplina.
O distúrbio de leitura é o início de tudo e consequentemente a escrita e
acaba com um problema que pode para sempre, acompanhado de depressão e em
alguns casos desvio de conduta. (KAPPES et al., 2012). Para evitar essa situação, é
de extrema importância que as pessoas próximas e em especial os pais percebam
23
esses comportamentos como um pedido de socorro e se necessário procurar um
programa de aconselhamento (SMITH; STRICK, 2001).
Deve-se fazer um diagnóstico multidisciplinar com profissionais
qualificados como: fonoaudiólogo, psicólogo, pedagogo, psicopedagogo e
neurologista, dependendo do caso apresentado talvez seja necessário procurar
outros especialistas, vai depender da gravidade de cada caso.
Conforme a ABD:
Como a dislexia é genética e hereditária, se a criança possuir pais ou outros parentes disléxicos quanto mais cedo for realizado o diagnóstico melhor para os pais, à escola e à própria criança. A criança poderá passar pelo processo de avaliação realizada por uma equipe multidisciplinar especializada, mas se não houver processo de alfabetização o diagnóstico será apenas de uma criança de risco. O diagnóstico só pode ser feito após a alfabetização entre a primeira e a segunda série, pois a escola alfabetiza precocemente e a criança não acompanha porque não tem maturidade neurológica suficiente.
A maior importância é fazer com que a criança não se sinta diferente
diante da sociedade, pois cada um tem uma maneira peculiar de mostrar suas
habilidades e seu desenvolvimento. É importante trabalhar com as suas
necessidades cognitivas, assim descobrindo seu autoconhecimento.
É importante que o professor esteja sempre em harmonia com família
para que possa ficar inteirado com as dificuldades que o disléxico sofre. É
responsabilidade do professor instruí-lo para que ele não sofra preconceitos, e assim
agravando suas dificuldades. Pais e professores são os protagonistas principais para
o sucesso do tratamento.
4.1 Sinais e características da dislexia
As crianças disléxicas apresentam sinais característicos deste distúrbio.
Elas tendem a confundir letras do alfabeto com grande frequência, demonstram
diversas dificuldades ao rimar palavras e reconhecer letras e fonemas. Não
conseguem ler palavras curtas que parecem serem simples, pelas demais crianças
da mesma faixa etária, e elas reclamam que ler as palavras, das quais parecem não
estarem em ordem, ou como se refere o garoto protagonista do filme “Como estrelas
na Terra”, [...] professora as palavras dançam quando as tento ler [...]”, tornasse um
24
fardo, e um motivo a mais de chacotas (risadas) dos colegas da escola. Então este
método, nas series iniciais para a criança que sofre deste distúrbio, acaba sendo um
momento de angústia do qual é muito difícil para cada uma delas.
Nos anos seguintes as dificuldades já não são mais as mesmas, essas
crianças têm dificuldade em soletrar, ler em voz alta, pois tendem a ter muita timidez,
e possuem grande dificuldade quando o envolve algo que se trata em memorizar.
Segundo a pesquisa realizada por Salgado, Lima e Ciasca:
As principais características observadas na Dislexia são: alterações na velocidade de nomeação de material verbal e memória fonológica de trabalho, dificuldades em provas de consciência fonológica (rima, segmentação e transposição fonêmicas), nível de leitura abaixo do esperado para idade e nível de escolaridade, escrita com trocas fonológicas e ortográficas, bom desempenho em raciocínio aritmético, nível intelectual na média ou acima da média, déficits neuropsicológicos em funções perceptuais, memória, atenção sustentada visual (problemas na seleção e recrutamento de recursos cognitivos necessários para o processamento da informação visual) e funções executivas (planejamento, memória operacional, capacidade de mudança de estratégias cognitivas, auto percepção de erros). (LIMA et al, 2008)
Essas dificuldades podem levar as crianças a apresentar problemas
emocionais como depressão e ansiedade, desenvolver transtornos psicológicos,
apresentam baixa autoestima, uma vez que comparam seu rendimento com os
colegas, perdendo a motivação para os estudos.
Lanhez & Nico (2002) destacam algumas características comuns da
dislexia da qual nos convida a observar:
Demora na aquisição da leitura e da escrita;
Lentidão nas tarefas de leitura e escrita, mas não nas orais;
Dificuldades em associações, como, por exemplo, associar os rótulos aos seus produtores;
Dificuldade em memorizar números de telefone mensagens, fazer anotações, ou efetuar alguma tarefa que sobrecarregue a memória imediata. (p.26)
Entre tantos outros pontos da qual as autoras Lanhez & Nico (2002) vem
abordando no decorrer do livro: “Nem sempre é o que parece: Como enfrentar a
dislexia e os fracassos escolares”, três deles me fizeram refletir.
Dificuldade em associar o som ao símbolo;
Dificuldades em nomear objetos, tarefas etc....
Dificuldades em organizar suas tarefas. (p.27)
25
Essas características podem se manifestar de forma isolada ou
combinada e, ainda, se combinarem de diferentes modos em cada dislexia.
Lembrei-me da experiência vivida com meu irmão Daniel 11 anos,
(Disléxico), do qual possuía em sua rotina estes mesmos sintomas.
Durante três meses, estive todas as manhãs na casa de minha mãe,
acompanhando o meu irmão em sua rotina. Pude através dele, observar os sinais da
qual as autoras aqui destacam, que as crianças disléxicas demonstram, e o
acompanhei também em algumas sessões com a psicóloga, e fonoaudióloga, uma
vez por semana, nas quartas-feiras logo pela manhã, da qual ele chama por
“aulinhas”. Pude perceber algumas de suas dificuldades neste processo, destaco
aqui algumas delas: Certa dificuldade em realizar alguma tarefa considerada
“comum” para qualquer criança da idade dele realizar. Por exemplo, arrumar seu
próprio material para as aulas seguintes, pois como ele não consegue no momento
“ler” pelo fato de ser uma criança disléxica ela se limitava até mesmo para saber a
disciplina dos quais teria no seu dia-a-dia. Ao me deparar com esta situação, mostrei
a ele a associação de imagens.
Já que sua dificuldade era olhar seu quadro de horários e não saber quais
disciplinas teria no dia seguinte de aula, então sentamos e começamos a observar
as letras iniciais de cada disciplina, assim trabalhamos a associação de imagem,
como ele não sabe ler até o momento, então procurávamos, identificar a letra inicial
da disciplina, por exemplo: no quadro de horários estava marcando que ele, teria
matemática, então ele associava a primeira letra “M” e gravava esta imagem “M” que
iniciasse nos livros também e associava não só a imagem, mais fazia ligação com as
cores, por exemplo: o caderno de matemática, começa com a letra “M”, tem a cor
vermelha, igual a cor de algumas maçãs, e o livro de matemática que tem a cor
branca, que contém a primeira letra “M”, e tem alguns números na capa. E assim de
uma maneira talvez “simples” fez com que o ajudasse de alguma maneira, a
identificar os materiais do qual ele precisa organizar todos os dias.
Na concepção de Marly Meira,
Trabalhar com imagens e processos de criação e simultaneamente aprendizagem construídas e vivências de Inter subjetivação presentes nas experiências de conceber, processar e articular formas, gestos, forças e dramática poético – estética. (2007, p.33)
26
Fig.01 Fig. 02
Fonte: Acervo pesquisadora 2016 Fonte: Acervo pesquisadora 2016
As autoras Lanhez & Nico (2002) nos puseram a refletir anteriormente,
nas dificuldades enfrentadas por um disléxico, mais elas também destacam os
pontos positivos das mesmas, das quais menciono na seção 4.2.1 O papel do
professor, p.29.
4.1.1. Conhecendo a dislexia
De acordo com Nico (2002), fonoaudióloga e psicopedagoga clínica,
coordenadora e diretora da associação Brasileira de dislexia, aproximadamente 15%
da população mundial é disléxica, o que significa uma média de três a quatro
crianças afetadas em uma sala de aula com 25 alunos. (p.15).
Na última década tem crescido substancialmente o interesse público por
esse distúrbio de aprendizagem específico. A dislexia, mais do que um distúrbio, é
um universo complexo e contraditório.
LANHEZ & NICO (2002) afirma que: A dislexia é hereditária e a maior
incidência é em meninos na proporção de três para um, ou seja, a cada três meninos
que nascem com dislexia, apenas uma menina nasce disléxica. (p. 21-22)
Foi criado um centro especializado para atender, no que for preciso, tanto
para disléxicos, como para os familiares e professores dos mesmos chamado de
27
ABD – (Associação Brasileira de Dislexia), da qual afirma Lanhez & Nico (2002), que
é a única organização existente no Brasil estruturada adequadamente para prestar
serviços aos disléxicos, pais e profissionais. (p.16)
A maioria dos disléxicos são canhotos de acordo com pesquisas feitas por
Lanhez & Nico:
Quanto aos disléxicos, há diferenças estruturais e funcionais no cérebro, indicando que a dominância está do lado direito do hemisfério, o qual rege o lado direito do corpo, tendo como consequência o uso preferencial da mão esquerda. (2002, p, 69)
4.2. Como auxiliar o aluno com dislexia
O aluno que sofre deste distúrbio necessita de um olhar sensível
daqueles que se encontram ao seu redor, tanto os familiares, amigos, escola, quanto
do próprio professor do qual venha a lhe oferecer um suporte do qual o auxilie no
processo de aprendizagem e convívio dentro da sociedade.
É necessário que o professor tenha uma base de conhecimento sobre o
distúrbio que é a dislexia, pois, só assim saberá criar métodos, meios de estratégias
significativas da qual atraia o olhar deste aluno para os conteúdos propostos em sua
aula, objetivando que este mesmo aluno venha construir através destas aulas um
sucesso escolar e profissional. E este mesmo professor precisa ser sempre
motivado pela busca de um novo olhar, sempre ampliando seu repertório de
conhecimento, a partir dessa busca constante conduzindo o seu aluno para que ele
seja capaz de exercer sua cidadania.
Este novo olhar da qual me refiro, cabe a todas as demais pessoas que
estão fora dos muros da escola. Se todas as pessoas que fazem parte deste ciclo da
sociedade, contribuíssem com este novo olhar acredito que os portadores deste
distúrbio e tantos outros não mencionados, se sentiriam muito mais incluídos no
mundo a qual vivemos.
Quanto ao método aplicado para o trabalho com disléxicos, entende-se que deva ser apropriado e possuir as melhores estratégias para inserir os educandos na sala de aula “normal”, juntamente com outras crianças, com um professor que compreenda seus problemas e que organize suas aulas de forma a poder prestar ajuda extra, dentro da sala de aula, sempre que eles precisarem. (TAVARES, 2008 p. 21)
28
O professor precisa pensar suas estratégias de maneira que o aluno
disléxico se sinta parte da turma e em condições de avançar na sua aprendizagem,
para isso o professor necessita de um bom embasamento teórico e conhecimento
profundo das teorias de aprendizagem. Ainda citando Tavares:
O professor deverá criar situações de aprendizagem específicas para esse aluno em questão, se o aluno não consegue compreender a palavra no todo, será necessário que seja apresentada a palavra aos poucos ou até mesmo letra por letra. Outras estratégias podem ser: atividades orais, jogos, desenhos e todas aceitas para avaliação. (TAVARES, 2008, p 31)
É muito importante que os alunos sejam incentivados com mensagens
positivas, pelas conquistas de seus aprendizados, cada passo precisa ser
comemorado. Aos poucos os alunos vão criando estratégias para avançar em sua
aprendizagem, conforme vão sentindo-se mais confiantes.
4.2.1 O papel do professor
É importante mencionarmos aqui, que nem os pais, nem os professores e
nem mesmo a família sabem de tudo, é preciso ter um bom senso e criar meios de
comunicação da qual eleve o auto estima do disléxico, fazendo assim ele se sentir
incluso tanto na vida familiar quanto no ambiente escolar, dando o devido espaço
necessário em que ele se sinta autoral de suas próprias escolhas.
É de extrema necessidade que as pessoas que sofrem deste distúrbio
sejam reconhecidas, acolhidas e destacadas por aquilo que fazem de melhor.
Lanhez & Nico (2002) destacam em seu livro “Nem tudo é o que parece:
como enfrentar a dislexia”, que as crianças disléxicas não possuem apenas
dificuldades, pelo contrário, algumas possuem um bom desenvolvimento em
diferentes áreas.
- Facilidade para construir, ou consertar as coisas quebradas. - Ser um ótimo amigo. - Ter ideias criativas e achar soluções originais para os problemas. - Desenhar e/ou pintar muito bem. - Ter ótimo desempenho no esporte. - Ter ótimo desempenho na música. - Demonstrar grande afinidade com a matemática. - Revelar-se bom contador de histórias. (p.27-28)
Habilidades das quais outras crianças que não são disléxicas a maioria
29
das vezes não apresentam com a mesma facilidade.
Ao identificar um aluno com dislexia, o professor pode procurar caminhos,
e alternativas, para atender as necessidades da qual o aluno encontrará durante o
seu processo de aprendizagem. É importante o aluno se sentir especial, aos
cuidados de quem esta ao seu redor, evitar que no processo das atividades
escolares, ele se sinta constrangido, por ler algo mais lentamente, ou
incorretamente, pois isto fará que o mesmo se sinta inferior em relação aos outros
colegas da classe.
Este mesmo professor poderá atribuir algumas sugestões para a inclusão
deste aluno, podendo obter um melhor resultado em seu respectivo aprendizado,
substituindo a avaliação escrita, pela a avaliação oral. O professor deve ter o
cuidado de procurar sempre um local tranquilo ou sala individual para tais
avaliações, não só para evitar comentários e chacotas de seus colegas, como
também para que o aluno possa focar a sua atenção na tarefa a ser realizada.
O professor quando passa a observar o aluno com um novo olhar
sensível, sobre ele, e criando novas metodologias de ensino, torna-se o principal
elemento para o seu respectivo desenvolvimento tanto na vida educacional quanto a
vida profissional.
Nas palavras de Lanhez & Nico:
Um professor pode elevar a autoestima de um aluno ao interessar-se por ele como pessoa. Isso significa proporcionar um ambiente acolhedor na classe, aceitando realmente a criança como ela é, e enfatizando cada sucesso que ela consiga. (2002, p 112)
4.2.2 O papel dos pais
Os pais têm o papel fundamental em estar atentos a quaisquer sinais já
aqui mencionados sobre o distúrbio da dislexia, uma vez percebido, deve partir deles
a procura de profissionais para ser realizado um diagnóstico mais preciso, é
importante os pais manterem um diálogo constante com os professores e a escola,
mostrando preocupados ao desempenho deste aluno para que assim o mesmo
venha semear bons resultados referente as atividades desenvolvidas no âmbito
escolar.
Rotta 2006 afirma que:
30
A família também deve oferecer condições adequadas para que o binômio ensino-aprendizagem se realize com sucesso. A escolaridade dos pais, principalmente das mães, nas diferentes pesquisas desempenha um papel fundamental na estimulação da criança para um melhor envolvimento com os estudos. O hábito da leitura na família, sem duvida, constitui um diferencial na estimulação pedagógica do escolar. Nesse contexto, as condições socioeconômicas, na maioria das vezes com renda familiar insuficiente, são relevantes e com frequência estão implicadas no fracasso
escolar. (p. 173)
O aluno que sofre deste distúrbio, passa ou passará por momentos de
fracasso escolar, talvez em uma leitura, uma produção, ou até mesmo em suas
próprias falas. Sua cognição nem sempre será a mesma comparando com os
demais alunos da mesma classe. Por isso menciono novamente a grande
importância da participação proativa dos pais ou responsáveis. O aluno precisa
sentir-se confiante mediante os novos métodos oferecidos a eles tanto na escola
quanto em casa para que possa sentir-se capaz de realizar a mesma tarefa que os
demais colegas da turma.
Ao conversar com este aluno, mostrando outras maneiras de aprender, ou
exercitar aquilo que ela possui grande dificuldade de aprender, lhe trará esperanças
e entusiasmo, e a tarefa acaba se tornando mais prazerosa, facilitando a expressão
de sentimentos dos pais e professores com ele. Assim todos estarão proporcionando
um estimulo muito maior para este aluno.
O olhar destes pais poderá partir desde as simples funções de ter o
cuidado de ajudar seus filhos disléxicos, até mesmo na hora da organização de suas
atividades cotidianas, por exemplo: mostrar o interesse ao filho, perguntando quais
serão suas disciplinas no dia seguinte, quais atividades ele precisa fazer, se precisa
de ajuda para organizar seus cadernos. Cito isso como exemplo, por experiência
própria, quando estive com o meu irmão disléxico de 11 anos de idade. Perguntei a
ele se gostaria que eu o ajudasse a organizar seus livros e cadernos para o dia
seguinte de aula, foi neste momento onde pude observar onde ele encontrava-se
totalmente perdido, pois tinha uma grande dificuldade em identificar as palavras.
Então acabava ficando com vergonha, não falava para ninguém, e nem pedia ajuda.
Estas pequenas falhas refletiam na escola, pois na hora das atividades ele nem
sempre estava com os livros e cadernos certos das respectivas aulas. Naquele
momento, foi onde eu percebi esta dificuldade, e usei como estratégias, associar a
imagem das letras iniciais e as cores dos livros e cadernos. Este simples ato, fez
com que hoje ele organize seus próprios materiais corretamente, sabendo identificar,
31
por exemplo, qual o caderno e o livro de Matemática.
Os pais têm este papel, como fundamental: ter paciência de explicar
quantas vezes forem necessárias, e prestar atenção em quais pontos seu filho, tem
mais dificuldades, e então sobre ele, organizar novas linhas de estratégias do qual o
ajude a perceber de que ele também é capaz de realizar sozinho.
LANHEZ & NICO 2002, destacam que:
[...] os pais devem ter mais paciência, com seus filhos disléxicos. O disléxico leva mais tempo para realizar algumas tarefas, e poderá ter de repeti-las várias vezes para retê-las. [...] ir em busca de uma instituição educacional que entenda da melhor maneira as necessidades da criança. [...] não lhe diga somente “ tente esforçar-se”, incentivando naquilo de que ela gosta e faz bem feito. (p. 104-106).
O aluno disléxico vai refletir aquilo que ela também recebe. Se receber
amor e carinho dos familiares, amigos, escola e professor, ela se sentira motivada e
estimulada a dar sempre o melhor de si.
Havendo uma suposta suspeita de que o aluno esteja apresentando
algum distúrbio de aprendizagem, o melhor é não tentar adivinhar, ou diagnosticar,
mas entrar em contato com a orientação da escola. Para obter um diagnóstico
preciso deste distúrbio, o aluno necessita passar por uma avaliação em um conjunto
de especialistas, sendo eles, psicólogos, onde eles analisam a vida da criança e o
convívio onde a mesma está inserida. A dislexia ela pode ser adquirida
hereditariamente por isso eles questionam se há algum familiar da criança para
descobrir se existem outros casos com esse mesmo distúrbio. E assim
sucessivamente o disléxico passará por várias avaliações com os especialistas
como a psicóloga, neurologista, fonoaudiólogos, pedagoga, psicopedagoga etc....,
da qual em um acompanhamento em conjunto poderão então dar o diagnóstico
constatado do distúrbio da dislexia.
Lanhez & Nico 2002, afirmar que: “Cada caso de dislexia é um caso á
parte. Além do que, embora a dislexia seja um distúrbio de leitura e escrita, nem
todo distúrbio de leitura e escrita é dislexia”. (p. 30)
Através do diagnóstico os pais poderão levar o laudo constatando o diagnóstico, do
qual será repassado para os demais professores da escola, do qual poderão a partir
dele organizar novas metodologias que ajudarão este aluno em seu processo de
aprendizagem. O sucesso desta criança conta com a orientação e colaboração de
ambas as partes profissionais e familiares.
32
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Foi realizado um questionário contendo cinco questões acerca do
distúrbio de aprendizagem chamado dislexia. A pesquisa que agora apresento foi
realizada com professores da rede municipal de Criciúma. No primeiro momento
houve dificuldade em encontrar professores que tinham conhecimento sobre o
distúrbio bem como diagnosticar o aluno disléxico. No entanto encontrei três
professoras que responderam o questionário, sendo que duas professoras
perceberam a dislexia e a outra professora foi devido a presença da estagiária que
acompanha o aluno, e é bom deixar claro que este aluno é acompanhado de outra
profissional devido ao transtorno de déficit de atenção (TDA). Isso nos faz refletir que
não é dada a devida atenção a esse distúrbio.
Apresentamos agora as respostas das professoras envolvidas com a
pesquisa, sendo elas identificadas pelas letras A B e C. As perguntas elaboradas
nesta pesquisa foram as seguintes: 1). Como você percebeu que seu aluno possui
Dislexia? 2). Na sua opinião a disciplina de arte pode ajudar no diagnóstico? 3).
Quais as dificuldades você encontrou para planejar uma atividade voltado para o
aluno disléxico? 4). Qual o papel da imagem na construção do conhecimento para o
aluno disléxico? 5). Você acha que as linguagens da Arte podem contribuir para a
leitura de (mundo) deste aluno?
Na primeira pergunta as professoras A e B relatam que perceberam a
dislexia devido à dificuldade de leitura e escrita dos alunos, sendo que a professora
C como já mencionado anteriormente iniciou o ano letivo sabendo do diagnóstico do
aluno. Partindo para a segunda pergunta todas as professoras acreditam que a arte
pode sim ajudar no diagnóstico de um aluno disléxico, no entanto destacamos a
resposta da professora A: “Acredito que como ele tem dificuldade na leitura e na
escrita, o processo artístico que envolve a disciplina de Arte, possa abrir uma
possibilidade a mais de expressão e compreensão a esse aluno”. Esta resposta nos
remete ao pensamento de Deleuze e Guattari quando afirma que:
Visualizadas, imagens podem ser deslocadas de maneira volátil e, ao penetrar na mente, criam pegadas simbólicas. Elas se diferenciam dos produtos artísticos porque percorrem o espaço com desenvoltura e mobilidade, mais sem ocupa-lo. Sugerem e oferecem conexões rizomáticas que articulam a dissolução de espaço “originários” e de identidade “autênticas”, noções herdadas da modernidade com a pretensão de carregar verdades insondáveis sobre arte, ciência, história, realidade, etc.
33
(DELEUZE e GUATTARI apud MARTINS 2008, p. 32)
Na terceira resposta a professora C deixa evidente que encontra
dificuldade quando a atividade envolve leitura e escrita: “Quando se trata de teoria,
encontro muita dificuldade por não saber elaborar (visualmente) o que é pedido. Falo
isso das avaliações teóricas exigidas trimestralmente na escola que leciono. Quando
a atividade é prática essa dificuldade diminui, pois verbal e visualmente ele
consegue atingir o objetivo da aula”.
Esse relato nos mostra o quanto a imagem está intimamente ligada a
vários contextos, tantos políticos, quanto sociais e culturais, pois a imagens estão
associadas a formas de compreender o mundo. Por isso é necessário dar a devida
importância a cultura visual, conforme enfatiza Fernando Hernandez: “[...] a cultura
visual refere-se a uma diversidade de práticas e interpretações críticas em torno das
relações entre as posições subjetivas e as práticas culturais e sociais do olhar”. (
2007 , p.22).
Na quarta pergunta no qual questionava a imagem na construção do
conhecimento do aluno disléxico, todas as professoras responderam que a imagem
é a linguagem que mais aproximou o aluno do conhecimento, destacamos aqui a
resposta da professora B: “ O aluno disléxico consegue visualizar a imagem como
um todo e compreende o seu contexto, a mensagem que esta transmite, é mais fácil
para ele entender as mensagens do professor quando ele visualiza, por isso a
imagem é tão importante”.
Meira (2007) contribui com esta fala, referente as imagens aqui citadas:
“Trabalhar com imagens e processos de criação é simultaneamente aprendizagem
construída e vivências de Inter subjetivação presentes nas experiências de conceber
um novo contexto. ” (p.33)
Na quinta e última pergunta, em que se refere as demais linguagens da
arte na composição da leitura de mundo do educando, todas responderam que o uso
das demais linguagens na aula de arte aumentaram ainda mais a compreensão do
aluno em relação ao tema proposto, como relata a professora C: “Sem dúvida. Pois
percebo que é na leitura (textual) que existe a dificuldade. Trabalhei, cinema,
animação, música e em todas essas linguagens o aluno conseguiu participar sem
nenhuma (grande) dificuldade para executar as atividades, ou seja, algum
conhecimento foi adquirido através das linguagens da arte”.
34
Nestas poucas questões feitas aos professores foi percebido de imediato
o quanto o ensino da arte contribui para o processo de aprendizagem do aluno, pois
a leitura de imagens é algo que todos os envolvidos conseguem realizar. A falta
deste olhar em relação ao conceito de leitura que restringe ao textual, impossibilita o
aluno de se aproximar do conhecimento. No filme Como estrelas na terra, o
professor de Arte sempre associa as letras a alguma imagem e assim o aluno
consegue enfim fazer leitura de frases e palavras.
É necessário num primeiro momento que o professor perceba o aluno
disléxico e então saber que outras formas de leituras fazem parte do seu processo
de aprendizagem, aproximando assim o aluno da escola, sentir-se inserido e capaz,
construindo-se assim como sujeito participante da sociedade em que vive.
35
6 PROJETO DE CURSO
TÍTULO: Um olhar sobre a dislexia no Ensino da Arte
6.1 EMENTA: Formação de professores. Distúrbios de aprendizagem. Discussão
sobre o ensino da arte. Dislexia. Artes Visuais – Licenciatura.
6.2 CARGA HORÁRIA: 8 horas
6.3 PÚBLICO ALVO: Professores do ensino da arte da Educação Infantil até o
Ensino Médio das redes públicas e privada.
6.4 JUSTIFICATIVA:
Durante esta pesquisa foi percebido a dificuldade que existe em relação a
identificar um aluno com dislexia, e o quanto essa falta de percepção pode
influenciar negativamente no desenvolvimento intelectual e cognitivo desses
sujeitos.
O ensino da arte é uma disciplina que interage diretamente no aluno
como um todo, pois traz conhecimento científico bem como sua percepção de
mundo, sua sensibilidade e o envolve com seu universo estético.
Quando a dislexia é diagnosticada, traz ao professor possibilidades de
envolvê-lo em atividades que contribuem para a sua construção de conhecimento.
A proposta deste curso vem ao encontro de uma necessidade em busca
de um olhar sensível sobre as dificuldades dos alunos disléxicos, assim podendo
contribuir na construção do planejamento de aula, no qual faz parte do processo de
ensino-aprendizagem.
Um diagnóstico correto, feito no momento adequado, ou seja, logo que as dificuldades se fizerem presentes, presta um grande serviço tanto para a criança quanto para seus pais, uma vez que, frequentemente libera ambos da suspeita de deficiência intelectual. Suspeita essa que traumatiza e pode paralisar a criança. (LANHEZ & NICO, 2002, p. 28).
36
Sendo assim temos como objetivo neste encontro, de projetar esse
diagnóstico também aos professores, que se conseguirem perceber a dislexia do
aluno, encaminha-lo para uma avaliação com os devidos multiprofissionais, do qual
o avaliaram e darão o diagnóstico mais preciso. Dado o diagnóstico, o olhar do
professor deverá ser voltado á novos métodos de ensino. Pois sabemos que ainda
há muitos alunos disléxicos nas escolas sem e com diagnóstico dos quais não
receberam um olhar diferenciado, e não percebidos em sala de aula e passam a ser
vistos simplesmente como um aluno rebelde, hiperativo ou com dificuldades de
aprendizagem.
6.5 OBJETIVO GERAL:
Propiciar uma reflexão e discussão sobre a dislexia, da sua falta de
diagnóstico e do quanto é necessário perceber esse distúrbio de aprendizagem e
como o ensino da arte pode contribuir no papel de mediador no processo de ensino
aprendizagem.
6.6 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Apresentar os questionários desta pesquisa realizada com os
professores da rede municipal de Criciúma – SC.
Mostrar através desta pesquisa a trajetória de dificuldades que um
aluno disléxico possui quando não diagnosticado.
Proporcionar uma discussão com experiências dos docentes
relacionados à dislexia.
6.7 METODOLOGIA
Primeiramente irei me apresentar como professora de Artes Visuais,
mostrar que a motivação desta pesquisa se deu pelo fato de ter um irmão disléxico e
perceber a dificuldade que a escola e nós familiares tivemos de diagnosticar o
distúrbio.
37
Irei relatar o quanto sua aprendizagem evoluiu após o diagnóstico,
afirmando assim a importância de tê-lo e do quanto contribui para a sua
aprendizagem num todo.
Após toda a explanação, iremos assistir ao filme COMO ESTRELAS NA
TERRA em que relata a história de um menino disléxico, a exclusão por parte dos
professores, colegas e inclusive dos pais. Da sua angústia de não ser compreendido
e que isso só mudou quando um professor de arte que também era disléxico o
percebeu e soube criar metodologias no qual fez o aluno se sentir inserido na
comunidade escolar. Redescobriu sua habilidade com o desenho e aprendeu a ler e
escrever.
Em seguida iremos fazer uma roda de discussão e juntos analisar como
podemos perceber a dislexia e inserir em nosso planejamento escolar métodos que
contribua para o processo de ensino-aprendizagem do aluno.
REFERÊNCIAS
LANHEZ, Maria Eugênia & NICO, Maria Ângela. Nem sempre é o que parece: Como enfrentar a dislexia e os fracassos escolares. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
38
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os autores que fizeram parte do referencial teórico nos mostram que a
arte associada a uma prática pedagógica, auxilia e facilita a aprendizagem do aluno
e que o olhar sensível voltado para o aluno disléxico se torna essencial a
aprendizagem significativa, pois instiga o educando não só produzir, mas também
apreciar e contextualizar seu fazer artístico unidos por um principio único um ensino
e aprendizagem melhor.
Atualmente, nota-se uma falta de conhecimento dos professores e dos
pais, em relação à dislexia e em função de um número significativo de crianças com
esse distúrbio. É importante saber sobre as causas, o diagnóstico, o tratamento e
principalmente saber o que a escola e os pais podem fazer para minimizar as
consequências do mesmo na vida destes alunos.
Seria de extrema urgência que todos os professores soubessem o que é
dislexia. Destaca-se que apesar da presente pesquisa ter sido realizada em uma
única base de dados, considera-se que há um número restrito de estudos
relacionados ao tema.
Este trabalho foi realizado através de pesquisa bibliográfica, procurou-se
em diversas fontes saber o que realmente é a dislexia, e como lidar com pessoas
que sofrem desse distúrbio, e além da pesquisa bibliográfica, também foi realizado
um questionário, com as professoras de Arte das escolas municipais na região de
Criciúma/SC, sobre a dislexia na sala de aula, por serem eles os profissionais que
primeiro se confrontam com este distúrbio.
Através da revisão bibliográfica, podemos observar que a dislexia não tem
cura, mas que se diagnosticada e tratada em tempo certo a criança pode melhorar
muito o seu desempenho em sala de aula. Sabe-se que a dislexia é um distúrbio
específico da linguagem, caracterizado pela dificuldade em decodificar palavras
simples, dificuldades estas que não são esperadas em relação à idade. É importante
que seja feito um diagnóstico preciso, multidisciplinar e de inclusão, pois são várias
as causas que podem intervir no processo da aquisição da linguagem. Quanto mais
amplo o contexto que observamos a dislexia, mais fácil será de entender suas
causas e de lidar com ela.
Assegurar a criança disléxica um sistema educacional de qualidade é
muito importante, e para que isso aconteça é indispensável à colaboração de pais e
39
educadores na tarefa de ajudar essas crianças, encorajando-as; compreendendo-as,
tendo muita paciência, pois o disléxico leva mais tempo para realizar suas tarefas,
lembrar sempre que ele é capaz e criativo, saber a forma apropriada para ensinar a
criança, não fazer comparações com outros membros da família ou da escola.
Motive-a, incentive-a, essas são apenas algumas das dicas que irão
ajudar você a lidar com o disléxico, portanto é necessário procurar sempre se
informar sobre o melhor a fazer em cada situação, tendo consciência de que é
necessário que cada um faça sua parte e assim com certeza ficará muito mais fácil
se relacionar com as crianças que sofrem desse distúrbio.
Através da pesquisa de campo pode-se notar que, os professores embora
tentem, ainda estão despreparados para lidar com alunos disléxicos, pois há uma
grande carência na região, de cursos de especialização específicos na área da
dislexia.
Todas as professoras responderam ao questionário, afirmando saberem o
que é a dislexia, mais que ainda estão despreparadas para lidar com o distúrbio em
sala de aula, por falta de oportunidade, ou por falta de tempo ou até mesmo por falta
de interesse no assunto. Espera-se que este trabalho seja referência a muitos
educadores e pais, para que os ajudem a lidar com os disléxicos, propiciando a eles
uma vida em ambiente escolar e em casa sem preconceito e sem repreensão.
40
REFERÊNCIAS
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41
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APÊNDICE(S)
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO
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Estamos realizando a coleta de dados através deste questionário para o
Trabalho de Conclusão de Curso intitulado – O ENSINO DA ARTE NA
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO DO ALUNO DISLÉXICO.
1 - Como você percebeu que seu aluno possui a Dislexia?
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2 – Em sua opinião a disciplina de arte pode ajudar no diagnóstico?
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3 – Quais as dificuldades você encontrou para planejar uma atividade voltada
para o aluno Disléxico?
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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC
UNIDADE ACADÊMICA DE HUMANIDADES, CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO
CURSO DE ARTES VISUAIS – LICENCIATURA
ACADÊMICA: JÉSSICA ANDRESSA MACHADO PEREIRA
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4 – Qual o papel da imagem na construção do conhecimento para com o aluno
disléxico?
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5 – Você acha que as linguagens da Arte podem contribuir para a leitura de (mundo) deste aluno? ___________________________________________________________________
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APÊNDICE(S)
APÊNDICE B – IMAGEM
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ANEXO (S)
ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO
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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DO
PARTICIPANTE
Estamos realizando a coleta de dados para o Trabalho de Conclusão de Curso
intitulado:
O ENSINO DA ARTE NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO DO ALUNO
DISLÉXICO
O (a) s.r. (a): ________________________________________________ (Ex:
secretário de cultura, Diretor de Escola) Diretor da
______________________________ (Secretaria, Escola, Instituição) foi plenamente
esclarecido de que autorizando a coleta de dados desse projeto na (nome da turma
ou série ou escola), estará participando de um estudo de cunho acadêmico, que tem
como um dos objetivos (seu objetivo geral).
Embora o (a) s.r. (a) venha a aceitar a participar neste projeto, estará garantido que
a unidade escolar no qual representa poderá desistir a qualquer momento bastando
para isso informar sua decisão. Foi esclarecido ainda que, por ser uma participação
voluntária e sem interesse financeiro o (a) sr (a) não terá direito a nenhuma
remuneração. Desconhecemos qualquer risco ou prejuízos por participar dela. Os
dados referentes a unidade escolar serão sigilosos e privados, preceitos estes
assegurados pela Resolução nº 196/96 sendo que o (a) sr (a) poderá solicitar
informações durante todas as fases do projeto, inclusive após a publicação dos
dados obtidos a partir desta.
A coleta de dados será realizada pela acadêmica Jéssica Andressa Machado
Pereira (48) 9936-8982 da 8ª fase de Artes Visuais – Licenciatura da UNESC
orientada pela professora Izabel Marcílio Duarte.
Criciúma (SC) ____de______________de 2016.
______________________________________________________
Assinatura do Responsável pela Unidade Escolar e/ou Instituição