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2 0 0 8 Normas e certificações para conquistar o mercado da carne pecuária 360º: a pecuária do futuro Eduardo Kristán Pedroso 1 1 Zootecnista formado pela FZEA/USP; Especialista em Gestão da Qualidade e Segurança dos Alimentos pela FEA/UNICAMP; Gerente Comercial & Relacionamento com o Pecuarista da empresa Independência S/A Artigo preparado para o IV Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia de Carnes, de 09 a 11 de outubro de 2007, na Unicamp – Universidade Estadual de Campinas 1. Introdução Quando se ouve a expressão “dar um giro de 360°”, imagina-se uma volta que retorna ao mesmo ponto de origem. Por mais estranho que possa parecer, a proposta é exatamente esta. Exercitar o raciocínio e visualização da cadeia produtiva da carne bovina como algo circular, contínuo, cíclico e sistêmico. Uma verdadeira rosca sem fim. Imagine- se no centro deste sistema fechado com espectro de visão 360º. As opiniões, demandas, valores e necessidades dos consumidores sendo estudadas e formalizadas para retro-alimentar e aperfeiçoar o planejamento das próximas gerações de bovinos de corte. Os diferentes elos desta cadeia produtiva utilizando a rastreabilidade como ferramenta de gestão efetiva dos processos, até a determinação da genética adequada e dos critérios de seleção recomendados em cada sistema de produção. Demandas específicas para mercados consumidores específicos. Em paralelo, os fornecedores de insumos se especializando ainda mais, potencializando as soluções em nutrição, sanidade e manejo racional. A cadeia produtiva enfocada sob o prisma de uma cadeia de suprimentos consolidada. Projetos industriais de grande porte plenamente integrados a redes organizadas de suprimento de matéria-prima - o gado de abate é na verdade matéria-prima da indústria frigorífica. O acesso ao crédito para financiar estes sistemas de grande porte dependerá de transparência e gestão da qualidade dos processos. Ou seja, eficiência produtiva com comercialização lucrativa e sustentabilidade. Acredita-se que, para o crescimento sustentável, a organização de cada elo da cadeia produtiva deva ser competitivo, disciplinado e transparente, demonstrando aos fornecedores, clientes, consumidores, prestadores de serviço, colaboradores e à sociedade que todos os seus processos e atividades geram produtos da mais alta qualidade, produzidos com respeito ao meio ambiente, preservação da saúde e segurança dos colaboradores, e de forma socialmente responsável (Burim, 2007). O sistema de comercialização será cada vez mais amparado por indicadores mercadológicos isentos e confiáveis, tanto para o mercado físico, quanto para o mercado futuro. A valorização da qualidade será praticada por meio da classificação individual de carcaças, estratificando as especialidades e os mercados. As palavras-chave do futuro da pecuária são: informação e formalização.

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Normas e certificações para conquistar o mercado da carne pecuária 360º: a pecuária do futuro

Eduardo Kristán Pedroso1

1 Zootecnista formado pela FZEA/USP; Especialista em Gestão da Qualidade e Segurança dos Alimentospela FEA/UNICAMP; Gerente Comercial & Relacionamento com o Pecuarista da empresa IndependênciaS/A

Artigo preparado para o IV Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia de Carnes, de 09 a 11 de outubrode 2007, na Unicamp – Universidade Estadual de Campinas

1. Introdução

Quando se ouve a expressão “dar um giro de 360°”, imagina-se uma volta queretorna ao mesmo ponto de origem. Por mais estranho que possa parecer, a proposta éexatamente esta. Exercitar o raciocínio e visualização da cadeia produtiva da carne bovinacomo algo circular, contínuo, cíclico e sistêmico. Uma verdadeira rosca sem fim. Imagine-se no centro deste sistema fechado com espectro de visão 360º.

As opiniões, demandas, valores e necessidades dos consumidores sendo estudadas eformalizadas para retro-alimentar e aperfeiçoar o planejamento das próximas gerações debovinos de corte. Os diferentes elos desta cadeia produtiva utilizando a rastreabilidadecomo ferramenta de gestão efetiva dos processos, até a determinação da genética adequadae dos critérios de seleção recomendados em cada sistema de produção. Demandasespecíficas para mercados consumidores específicos. Em paralelo, os fornecedores deinsumos se especializando ainda mais, potencializando as soluções em nutrição, sanidade emanejo racional.

A cadeia produtiva enfocada sob o prisma de uma cadeia de suprimentosconsolidada. Projetos industriais de grande porte plenamente integrados a redesorganizadas de suprimento de matéria-prima - o gado de abate é na verdade matéria-primada indústria frigorífica. O acesso ao crédito para financiar estes sistemas de grande portedependerá de transparência e gestão da qualidade dos processos. Ou seja, eficiênciaprodutiva com comercialização lucrativa e sustentabilidade.

Acredita-se que, para o crescimento sustentável, a organização de cada elo dacadeia produtiva deva ser competitivo, disciplinado e transparente, demonstrando aosfornecedores, clientes, consumidores, prestadores de serviço, colaboradores e à sociedadeque todos os seus processos e atividades geram produtos da mais alta qualidade,produzidos com respeito ao meio ambiente, preservação da saúde e segurança doscolaboradores, e de forma socialmente responsável (Burim, 2007).

O sistema de comercialização será cada vez mais amparado por indicadoresmercadológicos isentos e confiáveis, tanto para o mercado físico, quanto para o mercadofuturo. A valorização da qualidade será praticada por meio da classificação individual decarcaças, estratificando as especialidades e os mercados. As palavras-chave do futuro dapecuária são: informação e formalização.

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Considere este artigo como sendo um convite para o exercício de visão comespectro de 360°. Planejamento e integração de todas as tecnologias disponíveis,alinhavadas e formalizadas por meio dos protocolos de certificações, encurtando caminhose acessos de ponta a ponta da cadeia produtiva.

A adoção, quando couber, de normas internacionais (ISO e outras) pode facilitar apenetração e aceitação dos produtos brasileiros além de melhorar a competitividade, pelaeliminação de múltiplas avaliações (Qualiagro, 2007).

2. Cenário Atual da Cadeia Produtiva da Carne Bovina

A figura 1 apresenta a cadeia produtiva da carne bovina em forma de umaampulheta. A parte superior simboliza a base produtiva nacional, larga e heterogênea, commais de 2,19 milhões de estabelecimentos agropecuários que ocupam 225 milhões dehectares (CNA, 2002). Na base inferior, segundo o IBGE, estão os mais de 190 milhões deconsumidores brasileiros e a fatia crescente de mercados consumidores estrangeirosabastecidos através da exportação. Nota-se que o gargalo da ampulheta está na indústriaque representa o menor número de agentes desta cadeia produtiva.

Invernista

Base produtiva

Industria – MI e ME

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Industria – MI e ME

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Figura 1. Representação esquemática da cadeia produtiva da carne bovina (Russo, 2007).

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O Brasil possui cerca de 1500 estabelecimentos de abate, processadores eentrepostos, dos quais 350 sob Inspeção Federal, dos quais 162 habilitados aos mercadosde “Lista Geral” para carne de bovino “in natura” e, apenas 104 plantas habilitadas aexportar para a Europa, entre abatedouros, processadoras e entrepostos (ABIEC, 2007).

A indústria frigorífica, geralmente, recebe as reais demandas do mercado semtransferir aos seus fornecedores, pecuaristas que se habituaram a verificar somente a últimalinha do romaneio de abate: peso total em arrobas (uma arroba equivale a 15 kg) e pesomédio da boiada.

O fato é agravado pelo sistema de comercialização em que o preço pago aoprodutor retrata a média do gado abatido. Bons lotes e bons pecuaristas subsidiando lotes eprodutores abaixo da média. A falta de sistemática e rotina de classificação de carcaças, demodo regular na negociação frigorífico-pecuarista, somente contribui para um mercadonivelado por baixo.

Carne de qualidade é produto de uma somatória de cuidados. A qualidade vem docampo e, na melhor das hipóteses, é mantida pela indústria e cadeia de distribuição até àsmãos do consumidor. Por isso, a melhoria da relação e a integração entre fornecedores(pecuaristas) e indústria são fundamentais.

Se o foco é excelência e valor agregado, de nada adianta matéria-prima dequalidade sem processo industrial de qualidade e vice-versa. Esta é uma premissa quemuitas vezes é confundida ou ignorada por falta de informação. Informação requer gestão.E gestão requer formalização. O mapeamento da demanda apresentado na tabela 1 sinalizaa “ponta do iceberg” das causas do baixo preço da carne brasileira. Um mercadoheterogêneo em todos os sentidos, ou seja, tanto na matéria-prima, quanto na qualidade doprocesso industrial.

Tabela 1- Mapeamento da demanda (Pedroso, 2007).

Tipo de Mercado R$ Matéria-prima Qualidade noprocesso industrial

Mercado Internocarne c/ osso $$ Muito Seletivo Não Seletivo

Mercado Internocarne desossada

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Nichos Seletivos

Em geral, nãoseletivo

Nichos Seletivos

Em geral, não seletivo

Mercado ExternoUnião Européia $$$$ Seletivo Muito Seletivo

Mercado ExternoLista geral $$$ Pouco Seletivo Seletivo

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A figura 2 apresenta o resultado do censo agropecuário realizado pelo IBGE em1996 – último censo concluído disponível. Observar que apenas 11,58% dos proprietáriosdetêm 67,12% do rebanho.

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Proprietários - Total 2.698.197

Figura 2. Curva ABC da pecuária de corte no Brasil (IBGE 1996).

A figura 3 apresenta a coincidente proporção de 12% dos fornecedoresrepresentando 58,89% das 1,5 milhões de cabeças abatidas por uma das principaisempresas exportadoras do país no período de janeiro de 2006 a agosto de 2007.

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Animais Abatidos – TOTAL: 1.486.365

Figura 3. Curva ABC dos fornecedores do Independência Alimentos.

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A análise das figuras 2 e 3, conjuntamente, revelam que apenas uma minoria dospecuaristas tem acesso à indústria e, por conseqüência, à informação – ver a figura 1novamente, pois agora ela fará mais sentido.

Dependendo do prisma de observação, ora o vilão da cadeia é o produtor que seacomoda em comercializar sua produção pela média, ora o vilão é a indústria que, namaioria das vezes, se furta em remunerá-lo de acordo com a qualidade, além de nãotransferir as informações de mercado. Para avançar nesta contextualização, faz-senecessária uma breve linha do tempo.

2.1 Linha do tempo da pecuária brasileira – pontos relevantes:

• Década de 10 – 1ª Guerra Mundial e a escassez de alimentos na Europa(PARDI, 2006);

• Década de 20 - Primeiros passos do SIF: os estrangeiros exigem que os produtosde origem animal sejam inspecionados sob o ponto de vista sanitário (PARDI,2006);

• Década de 30 – Exportações brasileiras na ordem de 97 mil toneladasequivalente carcaça (PARDI, 2006);

• Década de 40 - Brasileiros vão à Índia em busca de Genética bovina.

• Década de 50 - RIISPOA: Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária deProdutos de Origem Animal. Lei no. 1.283, de 18 de dezembro de 1950;

• Década de 60 – Carência de fósforo afeta gravemente a produtividade dorebanho nacional (FABIANI, 1961);

• Década de 70 –

o Introdução dos Capins do Gênero das Brachiárias: Introduzida nas áreasde cerrados do Brasil Central no início dos anos 70, as brachiáriasexpandiram-se rapidamente e provocaram um grande impacto nacapacidade suporte das pastagens.

o Processo de Federalização dos Serviços de Inspeção Sanitária eIndustrial de Produtos de Origem Animal. Inspeção de carnes.Padronização de técnicas, instalações e equipamentos. Bovinos I. Sala deMatança, currais e Anexos. Processo liderado pelo Inspetor Chefe JoséChristovan Santos (PARDI, 2006).

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• Década de 80 –

o Como país tropical, o Brasil ainda não detém uma tecnologia avançada deprodução animal e não dispõe de estrutura eficiente de serviços, comoocorre nos países desenvolvidos. A taxa de desmama está na ordem de49,6%, taxa de abate 12,2% e peso médio das carcaças 200kg (Corrêa,1989).

• Em apenas duas décadas (90 e 2000) – Brasil é o segundo maior produtormundial de carne com 9 milhões de toneladas equivalente carcaça e o primeiroexportador mundial com 2,4 milhões de toneladas equivalente carcaçaprojetados para 2007 (SECEX/MDIC – dados oficiais). Segundo dados doUSDA o Brasil acessa apenas 43% do mercado mundial de carne bovina –Rússia (17%), UE 25 (11%), Egito (4%), Filipinas (3%), Taiwan (2%, HongKong (2%), Outros (5%). Os novos mercados, ou seja, a parte rica do mundosegue o protocolo sanitário norte americano que não reconhece o zoneamento decontrole e erradicação da febre aftosa no Brasil – EUA (29%), Japão (14%),México (7%), Coréia do Sul (4%) e Canadá (3%).

Ao avaliar a linha do tempo acima descrita, é possível resumir o grande salto dapecuária brasileira como sendo baseado no tripé: zebu – com predominância da raçaNelore, brachiária e sal mineral, desde a década de 70. Quando considerada a jovemparticipação brasileira no cenário internacional de comercio de carnes – menos de umadécada – entende-se o quanto o Brasil é jovem em seu posicionamento e quantoaprendizado há pela frente.

Preços da Arroba de Boi Gordo SP - R$ ago/2007

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GETÚLIO SE SUICIDA

3 PRESIDENTES E 2 ANOS

JUSCELINO E A ESTABILIDADEECONOMICA E POLÍTICA

Instabilidade política e Economica - JANIO e JANGO

GOLPE E ESTABILIZAÇÀO

MILAGRE

CRISES DO PETRÓLEO

4 MOEDAS E 5 PLANOSECONÔMICOS

PLANO REAL

Figura 4 – Preços deflacionados da arroba do boi gordo em R$ nos últimos 50anos (CEPEA/ESALQ).

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A figura 4 demonstra a enorme flutuação dos preços do boi gordo nos últimos 50anos, fruto de diversos momentos políticos e econômicos que o país viveu. Em 1994,quando Fernando Henrique Cardoso enquanto Ministro da Fazenda implementou o planoReal inicia-se um novo momento no Brasil: a era da estabilidade econômica. Este fatoremove a zona de conforto, forçando a busca e implementação de novas tecnologias napecuária e, após duas gerações de bovinos, ou seja, 10 anos, o Brasil se consagra como omaior exportador de carne bovina mundial – figura 5.

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Figura 5 – Exportação Mundial de Carne Bovina (USDA).

Em reais, os preços atuais são os mais baixos dos últimos 50 anos e as tradicionaisreferências de relação de troca se perderam. Isto explica, em parte, a baixa auto-estima depecuaristas que não dominam seus custos de produção. Quando a mesma série histórica éavaliada em dólares, a curva se inverte – Figura 6 – o que sugere a reflexão sobre anecessidade de conquista de novos caminhos comerciais, a importância da informação,formalização e defesa sanitária do rebanho.

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Preços médios do boi gordo em SP – US$/@ a prazo

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Médias Mensais Média no período

Figura 6 - Preços deflacionados da arroba do boi gordo em US$ nosúltimos 50 anos (CEPEA/ESALQ).

O mérito da revolução tecnológica ocorrida na pecuária brasileira, certamente, vemdo campo. A partir do crescimento da oferta de gado para abate com o incremento eganhos em precocidade e conseqüente aumento da taxa de desfrute, houve um impulso nocrescimento da indústria para escoar todo excedente de produção, principalmente naexportação para países emergentes como Rússia e Egito. As empresas frigoríficas estão seorganizando para captação de recursos de longo prazo, provenientes de fundosinternacionais de investimento e oferta de ações listadas em bolsa de valores – figura 7.

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de R

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Proje¨›es de investimento

Figura 7- Evolução dos investimentos em infra-estrutura da IndústriaNacional. Exportadora (ABIEC, 2007)

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3. A conquista de novos mercados

Para que a busca por valor agregado se concretize, por uma questão desobrevivência, é necessário que haja compreensão por parte de todos os envolvidos dacadeia de valor da carne bovina.

Estudo da cadeia de valor é o conjunto de atividades criadoras de valor, desde asfontes de matérias-primas básicas, passando por fornecedores de componentes, até oproduto final entregue nas mãos do consumidor. Ganhar e sustentar uma vantagemcompetitiva requer compreensão de todo o sistema, não apenas a parte da cadeia de valorda se qual participa. Os fornecedores e os clientes, os fornecedores dos fornecedores, e osclientes dos clientes têm particularidades e margens de lucros que são importantes deserem identificadas para a compreensão do posicionamento custo / diferenciação, porqueos clientes finais, em última instância, pagam por todas as margens de lucro ao longo dacadeia de valor.

A expansão do parque industrial frigorífico abatedouro no país gera uma demandade bovinos terminados para abate cada vez maior, durante o ano todo. Certamente omodelo atual de suprimento de matéria-prima das indústrias evoluirá, ou seja, odepartamento de compra de gado terá de efetuar uma compra cada vez mais técnica, deacordo com a qualidade, planejada com antecedência e amparada por ferramentasfinanceiras que possibilitam negociações a partir de indicadores isentos e confiáveis para omercado físico e futuro. É o início de uma revolução comercial sem precedentes napecuária.

É necessário que todos os envolvidos conheçam quais os gargalos da cadeia, o queestrangula o mercado, o quanto a indústria exportadora perde com matéria-prima ruim,qual o impacto social e ambiental da atividade em todas as suas etapas, como se formam ospreços tanto da arroba do boi quanto da carne no varejo. Enfim, conhecimentosmacroeconômicos e específicos da atividade nas suas mais diversas fases são bem vindospara aprimorar essa compreensão recíproca, de forma a encontrar alternativas de integraçãotécnica e comercial.

É fundamental entender, por exemplo, como funciona a indústria. Para ser eficiente,ela deve operar toda a sua capacidade produtiva, com o máximo de volume / dia, em todosos dias do ano. Para tal, a indústria precisa deslocar a curva de peso e gordura, índicemedido, por exemplo, por um gabarito de metas (vide Tabela 1) e otimizar seus custos,equilibrando a conta valor da @, frete e bônus pela qualidade. Observar que o perfil damatéria-prima adquirida apresenta uma baixa performance de excelência (25,49%) e muitobom (14 %), estando 60,51% das carcaças avaliadas com os conceitos bom, regular eindesejável. A falta de padronização de carcaças é um fator que contribui decisivamentepara os baixos preços auferidos pela carne brasileira no cenário nacional e internacional.

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Tabela 1 – Gabarito de Metas para Carcaças de Machos Castrados. Fonte: Serviço deAtendimento ao Pecuarista, Independência Alimentos – 1,15 milhão de machoscastrados abatidos no período de janeiro de 2006 à agosto de 2007.

EscoreGordura < 15@ 15–16@ 16-17@ 17-18@ 18-23@ >23@

1 (< 1mm)ausente

Indesejável0,17%

Indesejável0,25%

Indesejável0,32%

Regular0,27%

Regular0,37%

Indesejável0,04%

2 (1 a 3 mm)escassa

Indesejável2,18%

Indesejável5,58%

Regular10,06%

Bom9,85%

Bom13,45%

Indesejável0,47%

3 (3 a 6 mm)mediana

Indesejável1,11%

Regular4,57%

Bom10,76%

Muito Bom13,39%

Excelente25,49%

Indesejável0,83%

4 (6 a 10 mm)uniforme

Indesejável0,00%

Regular0,02%

Bom0,06%

Muito Bom0,10%

Muito Bom0,51%

Indesejável0,13%

5 (> 10 mm)excessiva

Indesejável0,00%

Indesejável0,00%

Indesejável0,00%

Indesejável0,00%

Indesejável0,01%

Indesejável0,02%

3.1 Exportar é preciso

O Brasil produziu 9 milhões de toneladas equivalente carcaça em 2006, sendo75,58% destinado ao consumo interno e 24,42% destinado à exportação (SECEX/MDIC –dados oficiais). A demanda do mercado interno é três vezes maior para os cortes de traseirodo que para os cortes de dianteiro e ponta de agulha (costela). Esse fato determina a vitalnecessidade da conquista de novos mercados externos, sobretudo, para os cortes dedianteiro e ponta de agulha (retorne à tabela 1, na página 3, e verifique o mapeamento dademanda da carne brasileira).

Em 1 carcaça, temos:• (48%) 2 Traseiros• (38%) 2 Dianteiros• (14%) 2 PA

Excedente que desequilibra a apuração

Demanda do MI édescompensada.

MI – 3 : 1 : 1

2 : 2

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3.2 Tipificação de Cortes e Valor Agregado

Em todo o mundo, os cortes mais nobres e valorizados da carcaça bovina sãodestinados ao preparo de grelhados macios e suculentos. É o chamado Rump&loins oucortes da família da alcatra - miolo da alcatra, picanha e maminha, contra-filé e filémignon. Estes são mais valorizados de acordo com o peso das peças, cobertura de gorduraacima de 3 mm, mármore, pH abaixo de 5,8 – diretamente ligado à coloração vermelhocereja brilhante da carne e tempo mínimo de maturação de 15 dias.

CF UK (c/a, c/c, c/g) =Alcatra Completa =

FM (s/c, c/espelho) =Total Rump & loins =

23% x 48% =

9,8% do Traseiro10,4% do Traseiro

2,8% do Traseiro23 % do traseiro11 % da carcaça

O padrão de carcaça ideal para produção destes cortes com potencial de valoragregado e máximo rendimento industrial são carcaças de animais jovens, de 270 – 345 kg(18 a 23@) e cobertura de gordura mediana (3-6 mm).

3.3 Diferentes Perfis de Carcaças

A carcaça bovina é matéria-prima a ser desmontada dentro da indústria frigorífica.Sem levar em consideração os diferentes padrões raciais, o fatorial multiplicativo das 3possibilidades de sexo, 5 escores de acabamento, 5 faixas de peso, 3 de maturidade e 2 deconformação, resulta em 450 variações de perfis de carcaças. Isto significa pelo menos 450variações nas especificações de calibragem de cada corte - diferentes tamanhos de peças,pesos e cobertura de gordura, sem levar em conta as variações de qualidade como maciez,cor da carne, cor da gordura e mármore, alem das inúmeras possibilidades de refile,desdobramentos de porcionamento e apresentação dos cortes.

Sexo:(C) Macho Castrado

(M) Macho Inteiro (F) Fêmea

(3)

Acabamento:(1) Ausente(2) Escassa (3) Mediana(4) Uniforme(5) Excessiva

(5)

Peso:(1) < 16 @(2) 16 – 17 @ (3) 17 – 18 @(4) 18 -23 @(5) > 23 @

(5)

Maturidade(J) 0 – 4 d.i.p.(I) 6 d.i.p(A) 8 d.i.p.

(3)

X X X

Conformação(1) Inferior

Sub-côncavaCôncava

(2) SuperiorRetilínia

Sub-convexaConvexa

(2)

X

450 diferentes perfis de carcaças

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A homogeneidade dos lotes (animais, cujo conjunto de características - peso,acabamento, raça, sexo, e idade - estejam bem próximos da igualdade) é de sumaimportância para a indústria, pois está relacionada à padronização dos produtos, que,conseqüentemente, influenciam a fidelidade dos consumidores bem como na agilidade deprodução dos contratos de venda. Esse aspecto é de grande relevância econômica.

4. Conceito de uma Empresa Frigorífica Modelo de Sustentabilidade (Burim, 2007).

A cada dia, se faz mais importante para a continuidade de um negócio, oplanejamento, a formalização e a divulgação clara e objetiva de seus alicerces e valores.Esta objetividade de norteio e propósitos, auxilia, sobremaneira, o engajamento e a adesãodas partes envolvidas para o alcance das metas estabelecidas na visão de futuro.

4.1 Missão, valores e visão de futuro

Um bom exemplo de missão para uma empresa frigorífica é o de oferecer produtose serviços dentro do mais alto padrão de qualidade e inovação, com respeito eresponsabilidade no relacionamento com colaboradores, clientes, fornecedores e acomunidade, criando condições para crescimento e perenidade. Destacar os valores naconfiança no ser humano, em sua capacidade e desejo de evoluir. Desenvolvimento daspessoas através da educação pelo e para o trabalho. Visualizar o futuro onde os clientesanalisarão não só o produto, mas também o modo como são oferecidos seus serviços.Atendimento direcionado, cuidados com o meio ambiente e sua relação com a sociedadeorientam todas as ações, garantindo a saúde econômica da empresa assim como o seudesenvolvimento sustentável.

4.1 Governança Corporativa

Para que o setor se consolide conforme tendência observada, se faz necessáriolançar mão de ferramentas adequadas. Os grupos frigoríficos instalados no país caminhama passos largos na adoção de boas práticas administrativas, também chamada degovernança corporativa.

Governança corporativa é o conjunto de boas práticas administrativas que tem porfinalidade otimizar o desempenho de uma empresa ao proteger e harmonizar os interessesde todas as partes envolvidas tais como acionistas,investidores, credores, colaboradores, fornecedores e clientes. Os objetivos são:

• Melhorar a qualidade da administração e o desempenho da empresa;• Atingir padrões internacionais de contabilidade, auditados por empresas de

primeira linha;• Transparência e prestação de contas confiáveis;• Separação das funções de gestão e monitoramento;• Trabalhar com planejamento, metas e resultados;• Foco sobre resultados e geração de valor;

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• Estruturação do Conselho Deliberativo (Administração), com membrosindependentes e de formação diversa, para facilitar e melhorar a definição deestratégias.

• Que a grande maioria dos colaboradores conheça e pratique os princípios evalores da companhia;

• Diferenciar a empresa no mercado;• Contribuir para a continuidade da empresa;• Aumentar o valor da empresa; e,• Facilitar o acesso da empresa ao capital.

Princípios:

Transparência: Mais do que “a obrigação de informar”, a administração devecultivar o “desejo de informar”, sabendo que da boa comunicação interna e externa,particularmente quando espontânea, franca e rápida, resulta um clima de confiança, tantointernamente, quanto nas relações da empresa com terceiros. A transparência é a base paraa confiança que precisa existir entre o negócio e todos aqueles que têm interesse em seusucesso.

Equidade: Caracteriza-se pelo tratamento justo e igualitário de todos os gruposminoritários, sejam do capital ou das demais partes interessadas, como colaboradores,clientes,fornecedores ou credores.

Prestação de Contas: Os agentes da governança corporativa devem prestar contasde sua atuação a quem os elegeu e respondem integralmente por todos os atos quepraticarem no exercício de seus mandatos.

Responsabilidade Corporativa: Conselheiros e executivos devem zelar pelacontinuidade das organizações (visão de longo prazo, planejamento, sustentabilidade) e,portanto, devem incorporar considerações sociais e ambientais na definição dos negócios eoperações da empresa.

4.3 Sistema Integrado de Gestão de Processos

O Sistema Integrado de Gestão – SIG pode estar baseado nas normas ISO 9001(Sistema de Gestão da Qualidade), ISO 14001 (Sistema de Gestão do Meio Ambiente),OHSAS 18001 (Sistema de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional) e SA 8000(Sistema de Gestão de Responsabilidade Social).

Nesta abordagem o Sistema Integrado de Gestão (SIG) é o sistema definido pelaorganização para consolidar a sua imagem de sustentabilidade relacionada às questõessócio-ambientais e da qualidade através da identificação e avaliação de riscos inerentes asua operação, definindo, implementando e mantendo rotinas e procedimentos com ênfaseem processos produtivos e de apoio em busca da melhoria contínua.

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4.3.1 Sistema de Gestão da Qualidade

A adoção de forma sistemática e transparente de um sistema de gestão visa àmelhoria contínua do desempenho empresarial. São premissas:

- Relacionamento disciplinado, harmonioso e eficaz com seus fornecedores,clientes e prestadores de serviços;

- Técnica avançada, amplos conhecimentos e tecnologia para garantir o mesmopadrão de qualidade dos produtos e serviços;

- Foco no cliente;- Liderança;- Envolvimento das pessoas;- Abordagem de processos;- Abordagem sistêmica para a gestão;- Abordagem de tomada de decisões sobre fatos;- Melhoria contínua e benefícios mútuos nas relações com os fornecedores,

integrados no dia-a-dia das operações;

4.3.2 Sistema de Gestão Ambiental

Respeitar o meio ambiente é zelar pelo futuro das novas gerações. Sabe-se que issoé possível por meio do uso da melhor tecnologia disponível e da educação de todos oscolaboradores. A gestão ambiental tem como fundamento o uso racional dos recursosnaturais, a produção minimizada de efluentes, emissões atmosféricas e resíduos, bem comoa máxima reciclagem e reaproveitamento de tudo o que é eliminado no processo. Algunsdos objetivos são:

• Prevenção da poluição e preservação dos recursos naturais, através do tratamentoadequado dos resíduos sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas;

• Do planejamento à conclusão das atividades, o compromisso de atender alegislação do Meio Ambiente, utilizando práticas, materiais e produtos queevitem, reduzam ou controlem a poluição;

• Promover entre colaboradores o respeito ao meio ambiente como um dos pilaresdas ações ambientais;

• Desenvolver um Programa de Educação Ambiental simples e de fácilentendimento para que todos os colaboradores possam participar;

• Proporcionar treinamento e conscientização ambiental periódicos, com palestras,filmes, informativos e quadros de aviso da empresa;

• Promover educação ambiental nas escolas locais, com capacitação de professores edoação de material didático;

Medidas de controle

• Comissão Interna de Meio Ambiente (CIMA).• Monitoramento constante das ETEs (Estações de Tratamento de Efluentes).• Monitoramento dos cursos d’água superficiais e subterrâneos, fiscalizado pelos

órgãos ambientais em laboratórios credenciados.

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• Transformação de resíduos sólidos orgânicos e lodos de ETEs em adubo orgânico.• Sistema informatizado para acesso à legislação ambiental federal, estadual e

municipal em vigor que possibilita a identificação de impactos e consulta livre portodos os departamentos.

Projeto Efluente Zero

Visa à utilização dos efluentes tratados nas unidades para a atividade defertirrigação, aproveitando os nutrientes remanescentes para a adubação de pastos.

Controle das Emissões Atmosféricas

Realizado através de monitoramento da concentração de material particulado.Segue plano de ação específico para otimizar os processos de combustão, assim comotestes com combustíveis alternativos, para minimizar a utilização de lenha.

Florestamento

Para a auto-suficiência na demanda de lenha, recomenda-se a prática doflorestamento, preservando a vegetação natural e minimizando os impactos ambientais.

Adubo orgânico

Os resíduos industriais dispostos de maneira inadequada na natureza setransformam em sério problema ambiental. A partir dessa visão, desenvolver produtos quediminuem o impacto desses resíduos no meio ambiente e aumentar a produtividadeagropecuária. Recomenda-se a produção de adubo orgânico a partir dos resíduos sólidos,tais como conteúdo ruminal, carvão das caldeiras, poda de gramados, restos de alimentosdos refeitórios, resíduos sólidos das estações de tratamento de efluentes de curtumes efrigoríficos. Estes resíduos, sob a ação de um biocatalizador e a adição de nutrientes dafarinha-de-osso e pós-de-rocha, transformam-se num produto nobre, o adubo organofértil.

4.3.3 Sistema de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional

Resultados eficazes são obtidos ao se criar um ambiente de trabalho organizado,limpo, saudável e seguro. Considera este um dos maiores incentivos que uma organizaçãopode proporcionar à sua equipe de trabalho.

Para minimizar e/ou eliminar os riscos ocupacionais relacionados às atividades eprocessos, sugere-se:

• Avaliação sistêmica dos perigos e riscos ocupacionais inerentes às atividades;• Serviço Especializado em Engenharia, Segurança e Medicina do Trabalho;• Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA);

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• Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional e Proteção de RiscosAmbientais;

• Controle dos equipamentos de proteção individual e coletiva;• Programas Anuais de Treinamento envolvendo todos os trabalhadores;• Programas de otimização da infra-estrutura e equipamentos que interagem com a

saúde e segurança dos colaboradores e prestadores de serviços.

4.3.4 Sistema de Gestão de Responsabilidade Social

Comprometida com o exercício da responsabilidade social, a empresa deve manteruma relação sólida, de parceria e confiança com seus colaboradores, clientes efornecedores. O sistema de Gestão de Responsabilidade Social, prevê:

• Irrestrita oposição à utilização do trabalho infantil, trabalho forçado, práticasdisciplinares abusivas e/ou qualquer forma de discriminação;

• Respeito ao direito de associação, remuneração justa, jornada de trabalholimitada e práticas de saúde e segurança segundo requisitos legais;

• Contínua manutenção e melhoria das questões sociais internas, proporcionandoplena condição de desenvolvimento e crescimento profissional;

• Atividades protegidas pela noção de respeito e segurança, contribuindo para asustentabilidade e sucesso empresarial;

Política de Combate e Reparação do Trabalho Infantil

Não utilizar, não aprovar e combater firmemente o trabalho infantil. Através dereuniões e ações diversas, os gerentes, diretores e representantes do Sistema de Gestãofiscalizam permanentemente as atividades de todos os agentes envolvidos a fim deidentificar, inibir e eliminar a eventual utilização de mão-de-obra infantil, sugerindopolíticas e procedimentos de reparação, tais como:

• Suspensão imediata do trabalho infantil;• Ação de aconselhamento;• Apoio adequado para que a criança volte a freqüentar normalmente a escola e de

preferência em período diurno;• Pagamento de bolsa equivalente a um salário mínimo vigente à época até que a

criança alcance a maioridade e de forma que seja mantida a renda familiar;

Política de Proteção do Menor Aprendiz e Jovem Trabalhador

Obedecendo aos requisitos estabelecidos pela legislação e mediante convênios eparcerias com entidades de ensino profissionalizantes, as empresas devem adotar mão-de-obra do menor aprendiz com o intuito de integrar a formação escolar e apoiar odesenvolvimento do jovem trabalhador. Neste caso o menor aprendiz deverá:

• Ter a autorização do representante legal;• Realizar atividades que não sejam forçadas;• Não ser exposto a situações perigosas, inseguras, insalubres e/ou que prejudiquem

a sua moral;

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• Ter uma jornada de trabalho, período escolar e transporte diário (residência-trabalho-escola-residência) não superior a 10 horas por dia;

• Freqüentar normalmente a escola e apresentar comprovante de comparecimentoàs aulas;

• Não realizar trabalho noturno;• Receber um salário proporcional ao do adulto.

Perfil dos fornecedores

Deve-se definir uma sistemática de avaliação, seleção e reavaliação de fornecedorese prestadores de serviços que, das mais variadas formas, têm impacto na gestão e naqualidade dos produtos da empresa. Todos os produtos e serviços adquiridos devem sermonitorados continuamente, privilegiando fornecedores comprometidos com a qualidade,meio ambiente, segurança e saúde ocupacional e responsabilidade social.

Periodicamente, devem-se realizar reuniões com produtores (fornecedores) paradiscutir questões técnicas. Por meio de palestras dirigidas às empresas parceiras,estabelecer-se-á um ótimo relacionamento fazenda–indústria e melhorar a comunicação dacadeia em geral. Através de consultas técnicas, cabe à empresa esclarecer ao produtor oque o mercado exige e mostrar o que existe de mais avançado em termos de melhoramentogenético, boas práticas de manejo, bem estar animal, nutrição animal, certificações deconformidade e novas formas de comercialização.

Programa de Qualidade de Bovinos: do produtor ao consumidor

Para atender às exigências do consumidor e aos anseios do pecuarista que produz amatéria-prima ideal para a indústria frigorífica, deve-se praticar classificação individual decarcaças com bonificação pela qualidade. Objetivos:

• Comercializar a matéria-prima (bovinos/carcaças) de acordo com um sistema declassificação e tipificação de carcaças;

• Remunerar o produtor fiel que fornece o produto desejado pela indústria;• Avaliar os resultados dos abates, orientando o produtor quanto ao melhor tipo de

mercadoria a ser apresentada visando à melhoria da qualidade dos rebanhos e ofornecimento de bovinos padronizados. Desse modo aumenta-se à remuneraçãopor abates futuros e cresce a produtividade da indústria, atraindo fornecedores dequalidade e aumentando a satisfação do consumidor.

Programa de Classificação da Qualidade do Couro

Buscando a excelência, a empresa deve estimular a integração entre produtor,indústria frigorífica e indústria curtidora, através do repasse de incentivos financeiros aoprodutor pela qualidade do couro. Além disso, a proposta é buscar o comprometimento detodos envolvidos através do retorno da informação de desempenho de classificação daspeles de cada lote abatido ao produtor, bem como orientações quanto à qualidade daprodução e manejo adequado.

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Capital humano

O aumento da produtividade aliado à qualidade dos produtos, proteção ambiental,segurança ocupacional e respeito às pessoas, são desafios permanentes que a empresaenfrenta com programas de motivação e treinamento. Isto vale para os colaboradores eprestadores de serviços.

Treinamento

A capacitação é promovida toda vez que uma necessidade específica é identificada,levando em conta o perfil dos participantes, quando da aquisição de novos equipamentos;introdução ou incorporação de novas tecnologias ou processos de trabalho; implementaçãode novos sistemas de gestão; aperfeiçoamento das relações de trabalho (interpessoais,hierárquicas e funcionais); e necessidade de perenizar os conceitos relativos à qualidade,meio ambiente, segurança e saúde ocupacional e responsabilidade social.

Saúde

Deve-se oferecer assistência médico-hospitalar, odontológica, audiológica,fisioterápica e ergonômica para os casos ocupacionais decorrentes das atividades a serviçoda empresa. Como trabalho preventivo e de conscientização, a empresa deverá manter umcalendário anual da saúde, com a abordagem de temas como a prevenção ao câncer demama, de útero e próstata, AIDS, doenças sexualmente transmissíveis, campanhas deorientação alimentar na prevenção do colesterol, diabetes, cuidados com o coração,incluindo o fornecimento de dietas alimentares elaboradas por nutricionistas, tambémaplicadas em programas de apoio às gestantes.

Diversas ações, rotinas e equipamentos dão suporte aos programas citados: higienepessoal, higiene e limpeza das instalações, alimentação balanceada e adequada àsatividades, água de boa qualidade para o consumo; equipamentos de proteção individual ecoletiva, uniformes limpos, instrumentos de trabalho higienizados e em condições segurasde uso, atendimento fisioterápico preventivo e curativo, programa de gerenciamentoergonômico com ginástica laboral e acompanhamento audiométrico.

5. Conclusões

Deve-se trabalhar com foco na melhoria das relações comerciais entre pecuarista eindústria a partir de conceitos de gestão da qualidade e entendimento das reais demandasde mercado. É preciso que a relação hoje paternalista evolua para uma relação profissional,baseada em classificação individual de carcaças com valorização pela qualidade.

A tendência de mercado é que a indústria exportadora de carne opere com 100% desua escala de abate garantida sob contrato, com especificações de qualidade previamenteacordadas. É o caminho de integração com empresas pecuárias igualmente geridas ecertificadas sob conceitos de boas práticas administrativas e governança: da genéticabovina ao curral do frigorífico, com planejamento mínimo de uma geração futura (5 anos).

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A encomenda das características da matéria-prima (gado de abate) será definida a partir doventre da vaca, quando do planejamento de concepção do bezerro de corte.

Esta será a pecuária corporativa, cada vez mais profissional, integrada à indústria. Eeste é o momento de dar um passo adiante e buscar o amadurecimento comercial. Umaação integrada entre agricultura, pecuária, indústria, governo e mercado consumidor. Faz-se notório o aprendizado com a agricultura, por exemplo, a tratar os custos na ponta dolápis, sabendo exatamente quanto custa produzir cada arroba de carcaça e quanto custavendê-lo, além de tratar a pastagem como lavoura.

A pecuária do futuro colocará em prática a seleção massal orientada porperformance das progênies, o desenvolvimento de linhagens parentais, a facilidade deacesso à genética de ponta, eliminando assim os touros “cabeceira de boiada”. Osprocessos de cria, recria e engorda estarão focados na gestão, contando com assessoriatécnica (zootécnica, agronômica e veterinária) e comercial.

A conseqüência direta desses grandes projetos de integração são as certificaçõesinternacionais como de Gestão da Qualidade, Gestão Ambiental, Gestão da Saúde eSegurança Ocupacional e Gestão de Responsabilidade Social em todas as fases produtivasaté a carne chegar às mãos do consumidor. Ganham destaque também certificaçõesoperacionais como análise de perigos e pontos críticos de controle (APPCC), as BoasPráticas de Fabricação (BPF) e procedimento padrão de higiene operacional (PPHO), alémdas certificações de conformidade, tais como Orgânica e Boas práticas Agropecuárias.Essas certificações alicerçam e conferem reconhecimento ao trabalho que está sendo feito.

Nesse contexto, ao governo cabe dar respaldo macro-econônico à atividade, comoabertura de novos mercados, diplomacia internacional e defesa sanitária do rebanho. Aomercado consumidor, é preciso atender às suas expectativas, gerar fidelidade pelodesenvolvimento de marcas padronizadas – a carne deve ter nome (origem) e sobrenome(onde foi processada) - e oferecer uma atrativa relação custo-benefício.

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