Nossa vigilância é a sua segurança a cooperação CENIMAR · PDF fileComo eles agiam, os subterrâneos da ditadura militar: espionagem e polícia política. 2001: p.93. Anais do

  • Upload
    lythu

  • View
    218

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 1

    Nossa vigilncia a sua segurana:

    a cooperao CENIMAR e DOPS/MG

    Luiz Fernando Figueiredo Ramos1

    Como acredito que na unio de nossos esforos reside a grande arma de ao em

    favor da segurana e desenvolvimento de nosso pas. Coloco-me disposio de

    V.Sa. , esperando contar com a valiosa colaborao desse rgo de segurana.

    Joaquim Janurio de Arajo Coutinho Netto. Contra-Almirante diretor do

    CENIMAR. Em carta de comunicao de posse dirigida ao chefe do DOPS/MG, 12

    de maio de 1971.

    Introduo

    Um dos temas mais controversos da histria da ditadura civil-militar que

    governou o Brasil entre 1964 e 1985 sem dvida, a denominada Comunidade de

    Informaes2, responsvel em grande medida pelas arbitrariedades do regime, que

    envolveram: prises extrajudiciais, espionagem ilegal, torturas, assassinatos,

    desaparecimentos forados de pessoas e outras formas de medidas coercitivas que

    estigmatizaram as foras de segurana responsveis diretas pela ao repressiva do

    regime.

    Boa parte do conhecimento sobre a articulao entre os diversos rgos e centros

    repressivos que compunham a Comunidade de Informaes e segurana interna se deve

    em boa parte a abertura dos arquivos dos Departamentos de Ordem Poltica e Social nos

    estados, conhecidos pela sigla DOPS. Durante um logo perodo da histria do Brasil

    republicano os DOPS foram responsveis pelo policiamento da sociedade, procurando

    1 Mestrando em Histria Social Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES.

    [email protected]

    2 Segundo Carlos Fico, a expresso comunidade de informaes que acabou assumindo conotao

    pejorativa na imprensa e mesmo entre oficiais no integrantes da linha dura era oficialmente usada.

    O que pode ser comprovado em vrios documentos. FICO, Carlos. Como eles agiam, os

    subterrneos da ditadura militar: espionagem e polcia poltica. 2001: p.93.

    mailto:[email protected]

  • Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 2

    controlar e neutralizar os elementos tidos como subversivos3 ordem interna,

    anarquistas e comunistas, principalmente estes ltimos.

    Para efeito tomaremos como objeto de analise, um estudo de caso, a articulao

    entre o Centro de Informaes da Marinha (CENIMAR) e o DOPS de Minas Gerais.

    Mas um lado especificamente desta colaborao: a vigilncia e a perseguio s

    organizaes revolucionrias de esquerda e, aos suspeitos de pertencerem a tais grupos.

    Com a inteno de alcanarmos o nosso objetivo utilizaremos como principais

    fontes a documentao do acervo do DOPS/MG que se encontra sob a guarda do

    Arquivo Pblico Mineiro (APM) 4. Para completar esta documentao e fundamentar

    esta discusso histrica utilizaremos basicamente a bibliografia produzida sobre a ao

    repressiva do regime militar, alm de um documento tratando dos redimensionamentos

    do CENIMAR disponvel no site do Senado Federal.

    Ainda devemos destacar que esta temtica est inserida no que conhecemos

    como histria do tempo presente5. Desta forma possvel compreender a dimenso do

    processo repressivo em que foi submetida sociedade, j que os formuladores da

    poltica de segurana da ditadura colocaram a sociedade nas exigncias de uma guerra

    interna, fsica e psicolgica, onde a lgica da suspeio pautava a margem de ao dos

    agentes encarregados da conteno dos movimentos e pessoas consideradas

    subversivas.

    3 Entendemos que o termo subversivo empregado pelos agentes das foras de segurana civis e militares

    conservadores, tem conotao pejorativa, pois, aplicava-se em todos que manifestava alguma

    discordncia do regime independente de oposio armada. Embora entendamos que tais grupos so

    subversivos no sentido de que desejavam subverter o status quo vigente. Por isso utilizaremos o termo

    entre aspas.

    4 O acervo composto de dossis sobre organizaes de esquerda e o movimento estudantil, Inquritos

    Policiais Militares, pedidos de busca e apreenso, termos de declaraes de presos polticos, pedidos

    de antecedentes poltico-sociais de suspeitos de atividades subversivas e, tambm documentos

    oriundos dos centros de informaes militares que comprovam tal colaborao.

    5 Para a histria do tempo presente ver: CHAUVEAU, Agns e TTART, Philippe (Orgs). Questes para

    a histria do presente.

  • Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 3

    Polcia e Foras Armadas no combate s organizaes guerrilheiras

    A entrada oficial das Foras Armadas no combate s organizaes revolucionrias de

    esquerda comea a ser ensaiada em meados de 1968, a partir da edio do Ato

    Institucional nmero cinco (AI-5) em dezembro e do redimensionamento do CENIMAR

    no mesmo ano. Com o crescimento das aes da guerrilha urbana, no ano seguinte,

    emitido um decreto que subordinava as polcias militares estaduais ao Exrcito, um ano

    depois esta medida reforada com o Decreto n 66.862 de oito de julho de 1970

    que aprovava o Regulamento para as polcias militares e corpos de bombeiros 6. A

    partir de ento tem incio uma poltica voltada especificamente para a represso aos

    inimigos internos do regime.

    No segundo semestre de 1970 os generais Emlio Garrastazu Mdici e Orlando

    Geisel, mais uma comisso formada por destacveis membros do governo, formularam

    o que ficou conhecido como: Diretrizes Especiais de Segurana Interna, que tinha

    como objetivo estabelecer mecanismos de conteno das aes das organizaes

    armadas de esquerda. Foi ento criado o Sistema Nacional de Segurana Interna

    (SISSEGIN), e seus rgos subordinados; o Centro de Operaes de Defesa Interna

    (CODI), de carter normativo responsvel pela coordenao e planejamento das

    medidas repressivas e, o Destacamento de Operaes de Informaes (DOI) ao qual era

    atribuda a execuo das medidas repressivas. Este sistema repressivo que conjugava

    esforos entre polcia e Foras Armadas, ficaria conhecido pela sigla DOI-CODI.

    Integravam este sistema repressivo, as polcias estaduais, mais Exrcito, Marinha e a

    Fora Area. A centralizao e o comando das aes de represso poltica ficaram a

    cargo do Exrcito. Buscava-se deste modo centralizar a atividade de represso e

    policiamento poltico. A inspirao para construo deste modelo de central repressiva

    veio de So Paulo, da conhecidssima Operao Bandeirante7.

    Sendo assim, com a criao do SISSEGIN, Foras Armadas e polcia unificaram

    esforos para enfrentar a ameaa subversiva. Com relao s polcias estaduais,

    6 Disponvel em: http://www.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes,action?id=197250. Em 18-11-

    2008.

    7 A Operao Bandeirantes (OBAN) foi criada em 1969 por iniciativa do Comando do II Exrcito e

    contou com a colaborao do Governo do Estado de So Paulo e empresrios locais. Ver: FICO,

    Carlos. Como eles agiam: 2001, p.115-135.

    http://www.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes

  • Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 4

    sobretudo o DOPS, passaram a integrar o sistema, fornecendo recursos e emprestando

    seus agentes. Em Belo Horizonte, com a implementao do sistema DOI-CODI em

    1971, a estrutura repressiva se organizava da seguinte forma; uma seo de informaes

    e uma de operaes, ambas comandadas por oficiais do 12 Regimento de Infantaria,

    composta de trs equipes de busca, uma do DOPS, uma da Polcia Militar e outra do

    Exrcito, as trs equipes subordinavam-se a seo de operaes do CODI/BH8.

    Com relao polcia mineira, desde 1922 havia um Gabinete de Investigaes e

    Capturas, ao qual estava atribudo represso s desordens sociais decorrente do

    perigo suscitado pela influncia de ideologias subversivas como o anarquismo e o

    comunismo. Em 1927, este gabinete substitudo pelo Servio de Investigaes, melhor

    estruturado, era formado pelo corpo de segurana e diversas delegacias, entre elas, a

    Delegacia de Segurana Pessoal e Ordem Poltica e Social que deram origem ao

    DOPS9. O organograma abaixo reproduz a organizao do sistema repressivo em Minas

    Gerais.

    Em muitos casos, a colaborao entre os diferentes centros de represso

    poltica, dependia do bom relacionamento entre os comandantes, conforme aponta

    8 Com base no estatuto do CODI/BH de 21 -01-1971. APM - Fundo DOPS/MG, Rolo 050, Pasta 4002,

    Imagens 139-145.

    9 ASSUNO, Rosngela Pereira de. DOPS/MG: imaginrio anticomunista e policiamento poltico

    (1935-1964). 2006: P.32.

    CENIMAR

    SISTEMA NACIONAL DE

    SEGURANA INTERNA

    CODI

    DOI

    DOPS/MG 12 RI PMMG

  • Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria ANPUH So Paulo, julho 2011 5

    Antunes10

    . Entre os militares lotados na rea de segurana e informaes do regime,

    existem diferentes opinies em torno desta cooperao, segundo o brigadeiro Joo Paulo

    Burnier, chefe do Centro de Informaes e Segurana da Aeronutica (CISA), esta

    competio no existia, os contatos eram muito diretos e havia confiana entre ns, (...)

    havia honestidade de propsitos, ento no existia competio11

    . Para o vice-