Notas para uma leitura da teoria das representações sociais em S. Moscovici

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    Paula Castro* Anlise Social,vol. XXXVII(164), 2002, 949-979

    Notas para uma leitura da teoria dasrepresentaes sociais em S. Moscovici**

    OBJECTIVOS

    A noo de representao social referida em muitos trabalhos dasltimas dcadas, surgidos em reas diversas, como a psicologia, a antropo-logia, a sociologia ou a histria. Ela foi cunhada por Moscovici em 1961para ocupar uma posio de ponte entre a psicologia e a sociologia e hoje uma das noes centrais da psicologia social.

    O objectivo do presente texto o de dar uma perspectiva da teoria e doconceito de representao social em Serge Moscovici, analisando sequencial-mente alguns dos textos que este lhes dedicou ao longo das ltimas quatrodcadas.

    Depois da sua primeira apresentao em 1961, o conceito e a teoria dasrepresentaes sociais foram, a pouco e pouco, tendo impacto quer na psi-cologia social, quer nas outras cincias sociais, e existe hoje uma importantecomunidade de investigadores que organizam o seu trabalho terico eemprico em funo desta teoria. Esta comunidade encerra mesmo actual-mente tradies que diferem umas das outras na forma como desenvolveramas propostas originais de Moscovici (cf. S, 1998). Por isso necessrioprecisar que no se trata, no presente texto, de rever a literatura das repre-

    * Instituto Superior de Cincias do Trabalho e da Empresa.

    ** Quero agradecer professora Lusa Lima e ao professor Jorge Vala as sugestes quefizeram a verses preliminares deste texto.

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    sentaes sociais na multiplicidade dos seus interesses tericos e empricos,mesmo porque o leitor portugus dispe de vrias revises na sua lngua(Vala, 1986, 1993 e 2000; S, 1998). Tambm no se trata de dar conta doimpacto do conceito nas cincias Sociais, em geral, e na psicologia social,

    em particular, nem de fazer a histria circunstanciada desta teoria no con-texto da psicologia social europeia. Procurarei sobretudo analisar o quepermaneceu e o que mudou nos textos que Moscovici dedica teoria dasrepresentaes sociais ao longo destes quarenta anos. Por esse motivo come-o com um sumrio da sua obra princepse escolhi para anlise alguns dosseus textos posteriores que considero marcos importantes nos rumos quevieram a dar teoria.

    No entanto, para cumprir estes objectivos terei por vezes de mencionarquer o contexto em que a teoria surge e se desenvolve, quer algumas das

    discusses que origina. ento necessrio precisar tambm que apenas con-siderei como contexto a psicologia social e que ser nesta disciplina queprocurarei algumas das vozes que, ao longo do tempo, questionaram as opesda teoria, em geral, e de Moscovici, em particular. Quando der voz a essasvozes crticas, abrirei tambm espao para as respostas de Moscovici. Assim,acabarei por estar de alguma forma a analisar uma parte do dilogo queocorreu entre Moscovici e a psicologia social ao longo destas dcadas. Os anos60 e 70 assistiram ao nascimento da teoria e, em paralelo, ao nascimento deuma psicologia social europeia. Defenderei que os anos 80 foram os anos de

    grande expanso da teoria e os anos em que, existindo j uma comunidadetransatlntica de psiclogos sociais, Moscovici procurou falar para ela. E queos anos 90 so os anos em que Moscovici privilegia a revitalizao doscomponentes originais da sua teoria que se relacionavam com a linguagem ea comunicao. Procurarei ainda mostrar que Moscovici dedica uma boa partedo dilogo que mantm com a comunidade da psicologia social defesa danecessidade de esta disciplina assumir com maior clareza o seu lugar entre ascincias sociais e evitar ser um ramo da psicologia geral.

    GNESE DE UM CONCEITO E DE UMA TEORIA

    Nem sempre fcil remontar at gnese de um conceito ou de umateoria. No nosso caso, a tarefa est facilitada. A expresso representaosocial foi cunhada por Serge Moscovici aquando da elaborao da sua dis-sertao de doutoramento, publicada em 1961 e intitulada La psychanalyse,son image et son publi c. Esta mesma dissertao, precedida de um avant-propos, reformulada no seu estilo e sem algumas indicaes mais tcnicas, foi

    objecto de uma 2. edio em 1976, com o mesmo ttulo. nestas obras quese encontra a gnese quer do conceito, quer da teoria, formulados ambos para

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    responder ao objectivo aplicado que Moscovici se havia proposto dar contadas representaes sociais da psicanlise, em Frana, na viragem dos anos 50para os 60.

    Recorrerei, para a sntese que se segue, obra de 1976. Desde logo na

    primeira pgina do primeiro captulo , Moscovici nela anuncia que oconceito de representao social foi cunhado para tomar uma posio mis-ta, para fazer uma ponte entre uma srie de conceitos sociolgicos e umasrie de conceitos psicolgicos.

    E por motivos que se prendem com este posicionamento que vai pre-ferir falar de representao social, e no de representao colectiva tra-tava-se de no colocar o conceito no campo exclusivamente sociolgico.Havia sido Durkheim a propor a noo de representao colectiva,e com elaa ideia de que a condio de existncia de todo o pensamento organizado

    a vida social. Por outras palavras, a vida social, com as suas formas carac-tersticas de organizao, produz representaes colectivas, que se impemaos indivduos, mesmo que estes no tenham delas conscincia, ou sobretudoporque notm delas conscincia: Social life must be explained not by theconception of it held by those who participate in it, but by profound causeswhich escape consciouness; and we also think that these causes must besought chiefly in the way in which the associated individuals are grouped(Durkheim, cit.in Harr, 1984, p. 933).

    Para Moscovici (1976), esta noo de Durkheim teria dificuldade em dar

    conta do facto de nas nossas sociedades actuais coexistir uma grande pluralidadede entendimentos e modos de organizao do pensamento (cf. p. 40). Ou seja,Moscovici parece celebrar esta noo pelo que ela traz de possibilidade decompreender as uniformidades e regularidades do pensamento social e, simul-taneamente, consider-la insuficiente para dar conta da diversidade e dacriatividade.

    Assim, em coerncia com o desejo de cunhar o conceito numa posiomista entre a sociologia e a psicologia, Moscovici dir que as representaesde que se vai ocupar no so colectivas, impondo-se s pessoas por via da

    organizao da sociedade. So representaes no nosso universo interior,presentes nos indivduos, mas com caractersticas que nos autorizam a cha-mar-lhes tambm sociais. Moscovici (1976, pp. 74-75) aponta trs. A pri-meira, e mais superficial, o facto de serem expressas por grupos sociais.A segunda est relacionada com o seu processo de produo: qualificar umarepresentao de social significa optar pela hiptese de que ela engendradacolectivamente. A terceira tem a ver com a sua funcionalidade: estas repre-sentaes so sociais porque contribuem para os processos de formao doscomportamentos e de orientao das comunicaes sociais.

    esta a primeira preciso do seu conceito. Passemos segunda, tambmela elaborada em dilogo com a herana de Durkheim. Trata-se de acentuar

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    a especificidade das nossas sociedades face s estudadas por Durkheim:Notre socit diversifie, dans laquelle les individus et les classes jouissent,parfois, dune grande mobilit, voit se dvelopper des systmes trshtrognes, politiques, philosophiques, religieux, artistiques, et des modes de

    contrle de lenvironment moins sujets caution, lexprience scientifique, parexemple. Alors que le mythe constitue, pour lhomme dit primitif, une sciencetotale, une philosophie unique o se rflchit sa pratique, sa perception dela nature des relations sociales, pour lhomme dit moderne la reprsentationsociale nest quune des voies de saisie du monde concret (pp. 41-42).

    E assim, neste mundo moderno marcado pela cincia que escapou aomito, as representaes sociais constituem uma forma de conhecimento es-pecfica e irredutvel a qualquer outra (cf. p. 43). Trata-se ento de umconceito que se quer capaz de explicar a diversidade do pensamento em

    sociedades particulares, aquelas onde os contedos do conhecimento cient-fico passaram a circular.Passemos, por fim, terceira preciso do conceito, decorrente quer da

    anterior, quer do objecto de estudo que ocupa Moscovici. Uma das muitascaractersticas da cincia que ela no cessa de nos propor constantementenovos objectos de pensamento, que nos interpelam e desencadeiam todo umtrabalho do pensamento e do grupo (cf. p. 57). Ora, entre estas descobertascientficas que nos interpelam esto as da psicanlise, que lana sobre nsuma luz que espanta e choca. E chegamos ento ao seu objecto de estudo.

    Para este objecto que desconhecido, lanado na corrente da comunica-o pela cincia, caracterstico do nosso tempo, no familiar , as repre-sentaes sociais so o conceito adequado para dar conta de como ele foiapropriado pela sociedade, pelos grupos, pelos indivduos. Sobretudo se preciso fundamental pensarmos que as representaes cumprem prin-cipalmente a funo de tornar familiar aquilo que era inicialmente nofamiliar. E justamente essa funo que Moscovici (1976) lhes vai atribuir.

    As trs clarificaes iniciais do conceito so ento elaboradas em funoda herana de Durkheim. Uma vez este trabalho de clarificao feito,

    possvel passar aos detalhes internos ao conceito. E so duas as principaisespecificaes que lhe so internas. Uma lida com a elaborao descritiva doque uma representao social e a outra com os processospelos quais estasrepresentaes se constituem.

    Em relao primeira dimenso, a proposta de Moscovici (1976) queas representaes so um conjunto de proposies, aces e avaliaes emi-tidas pela opinio pblica, que esto organizadas de formas diversas, segun-do as classes, as culturas ou os grupos, e constituem outros tantos universosde opinies. Cada um destes universos, por sua vez, tem trs dimenses

    a atitude, a informao e o campo da representao. A informao tem a vercom os conhecimentos (cf. p. 66), a atitude com a orientao global,

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    avaliativa, em relao ao objecto (cf. p. 69), e uma organizao psquicaque pode ter uma orientao positiva ou negativa (cf. p. 498). O campo darepresentao, por sua vez, reenvia para a ideia de imagem, como contedoconcreto das proposies que tm a ver com um aspecto especfico do

    objecto da representao (cf. p. 67).Em relao segunda elaborao interna ao conceito, e tendo especifi-cado o raciocnio que o coloca em posio de afirmar que as representaessociais cumprem a funo de tornar familiar o que era no familiar,Moscovici ir especificar os processos atravs dos quais conseguida estafuno. Processos estes que so tambm aqueles pelos quais uma represen-tao social se elabora: a objectivao e a ancoragem.

    A objectivao o processo que permite tornar real um esquemaconceptual, dar a uma imagem uma contrapartida material (cf. p. 107). Para

    Moscovici, esta objectivao conseguida em trs etapas a construoselectiva, a esquematizao e a naturalizao.Vejamos como Moscovici (1976) define a ancoragem: Lancrage, lui,

    dsigne linsertion dune science dans la hirarchie des valeurs et parmi lesoprations accomplies par la socit (p. 170). Trata-se ainda de uma defi-nio muito dependente dos seus objectivos aplicados dar conta dasrepresentaes da psicanlise. A anlise destas ir lev-lo a concluir que aancoragem d conta da constituio de uma rede de significados em tornoda psicanlise, por aproximao a categorias j existentes, e que orienta as

    conexes entre esta e o meio social (cf. p. 288).Estes dois processos funcionam no que Moscovici (1976) chama pensa-mento natural, por oposio ao pensamento da cincia ou da filosofia. Estepensamento natural o pensamento baseado na comunicao de ideias, quetem por objectivo a persuaso. Os processos cognitivos que se manifestamneste pensamento tm ento uma caracterstica especfica: savoir, quelon pense de manire incessante pour ou contre, cest--dire que lonaccepte ou rejette ce qui est dit, et que, moins dviter le dialogue, onforge ses opinions dans et par la controverse (p. 254). Estes processos

    cognitivos do pensamento natural so ainda regulados por um metassistemanormativo.Trata-se ento de uma teoria que pressupe um metassistema de regulaes

    sociais que intervm no sistema de funcionamento cognitivo (cf. p. 157).O sistema social/normativo fornece os contedos e regula normativamente asrepresentaes sociais, o sistema cognitivo opera com elas.

    Nesta articulao fundamental entre metassistema social de regulaessociais e sistema cognitivo reside, igualmente, a razo por que a teoria nopoder dispensar o estudo dos contedos do pensamento em favor da anlise

    exclusiva dos processos deste pensamento, enfatizando ambos. Ao apresen-tar-se como pretendendo articular o social com o individual, a teoria das

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    representaes sociais no pode eximir-se nem a uma anlise dos contedose significados do que dito nem ao estudo dos processos cognitivos queoperam sobre estes e com estes significados.

    Moscovici vai ento estudar as representaes sociais da psicanlise, as-

    sim definidas, percorrendo duas vias diferentes.Em primeiro lugar, vai formar seis grupos um grupo representativoda populao parisiense, outro de classes mdias, outro de profissionaisliberais, outro de operrios, outro de estudantes universitrios e outro dealunos das escolas tcnicas. Construir questionrios diferentes para cadagrupo, com 14 questes comuns a todos; em alguns casos abordar algunsdestes indivduos em entrevistas. Ser com base nas respostas obtidas comestes grupos que desenvolver grande parte das ideias j expostas.

    Em segundo lugar, vai fazer uma anlise de contedo dos artigos sobre

    a psicanlise surgidos na imprensa francesa. E neste segundo movimento deaproximao ao seu objecto de estudo, que constitui a segunda parte dolivro, desenvolver a noo de modalidade comunicati va. As suas anlisesincidiro sobre a imprensa genrica (por exemplo,France Soir ,Elle), sobreas publicaes catlicas (por exemplo,La Croix) e sobre as comunistas (porexemplo,L Humanit). Da anlise destes trs tipos de publicaes,Moscovici conclui que cada uma concretiza uma modalidade diferente decomunicao a difuso, a propagao e a propaganda (cf. p. 292) , asquais determinam ocontedo e a forma das mensagens. Passo a sumarizar

    as suas caractersticas, tal como Moscovici (1976) as apresenta.Difuso.Na difuso, o esforo principal do emissor o de estabeleceruma relao de equivalncia com o seu pblico, levando em conta a coexis-tncia entre os leitores de mundos de valores separados. Os jornais e revistascaracterizados segundo esta modalidade pertencem imprensa generalista, degrande audincia, e assumem-se como rgos de transmisso de um sabercomum que necessrio partilhar. Assim, o discurso no sistemtico, poisno h a necessidade de dar uma expresso estruturada representao dapsicanlise. No se visa criar um comportamento unitrio em relao a esta,

    quer-se to-somente falar e fazer falar do assunto e deixa-se ao leitor ocuidado de tirar as suas concluses. O papel do rgo de comunicao serapenas o de propor uma abertura na direco de opes disponveis e fazercircular a informao sobre elas (cf. p. 330).

    Propagao.Na imprensa catlica associada propagao , osartigos discutem e justificam a psicanlise, preparam mensagens com umaorganizao suficientemente clara para que possam ser retomadas poroutros do mesmo grupo. O seu objectivo exercer presso para a unifor-midade, tentando encontrar um denominador comum abrangente entre as

    bases do catolicismo e as da psicanlise. As comunicaes no visam di-rectamente a instaurao de uma conduta, mas a elaborao de uma norma,

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    uma convergncia em torno de uma doutrina aceitvel. Uma viso da psi-canlise que se ajustou s normas do grupo seria o corolrio deste esforo.A comunicao hierarquizada e os seus fins so os de organizar uma teoriapara a tornar compatvel com os princpios que fundam a unidade de um

    grupo (cf. p. 399) e os de preparar os comportamentos e antecipar-lhes osignificado, sem os impor directamente.Propaganda.Na propaganda identificada no trabalho de Moscovici

    (1976) com a comunicao na imprensa comunista , a psicanlise sobre-tudo criticada. A imprensa comunista trata-a como um corpo inimigo elembra que a psicanlise tem de ser perspectivada a partir do interior de umconjunto de alternativas mutuamente exclusivas Frana-Amrica, cincia--mito. H uma rejeio em bloco, que no se compadece com distinessubtis entre conceitos ou escolas. De acordo com Moscovici (1976), a pro-

    paganda surge aquando da existncia de um conflito que susceptvel deameaar a identidade de um grupo e a unidade da sua representao do real.Desempenha, assim, uma funo reguladora e procura o restabelecimento daidentidade do grupo. A propaganda surge ento como a modalidade decomunicao de um grupo em situao conflitual e visa a aco (cf. p. 442).

    assim que Moscovici sintetiza as modalidades comunicativas: Ladiffusion tend a favoriser leclosiond opini ons sur des problmesspecifiques, la propagation difie des attitudessusceptibles de marquer aussibien les representations que les conduites (p. 401). [...] la propagande estplus concrete, elle ne se contente pas de renouveler la signification duncompor tement, ell e tend le crer ou le renforcer (1976, p. 402).

    Retomando agora a definio de representaes sociais que Moscoviciprope, podemos ver que cada uma das modalidades comunicativas reenviapara uma dimenso diferente das trs que ele havia diferenciado, informa-o, atitude e campo da representao. A propagao conceptualizadacomo relacionada com a atitude,a difuso com a informaoe a propagandacom o comportamento (cf. Doise, 1993).

    Depois desta busca da gnese do conceito na obra onde inicialmente foiexposto, que sumrio possvel fazer? Este primeiro trabalho (1961-1976)apresenta-nos um conceito, o de representao social ,e o esboo de umateoria e permite dizer que esta engloba nesse momento:

    1. Um conceito com trs dimenses internas informao, atitude ecampo da representao;

    2. Dois processos, postulados como sendo aqueles pelos quais se consti-tuem as representaes objectivao e ancoragem;

    3. A proposta de um sistema cognitivo regulado por um metassistemasocial/normativo, que dirige o primeiro;

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    4. Uma caracterizao das formas de comunicao das representaes,caracterizadas por um contedo e uma estrutura difuso, propaga-o, propaganda;

    5. Uma formulao clara do posicionamento disciplinar desejado da teo-

    ria entre a psicologia e a sociologia, entre o individual e o social;6. Um objectivo especfico analisar a penetrao social e as transfor-maes que sofrem os conceitos cientficos quando apropriados pelosenso comum;

    7. Um objectivo amplo o de tentar explicar o carcter simultneo dedois fenmenos observveis nas sociedades actuais, os fenmenos si-multneos da diversidade e do consenso, da diferenciao e da seme-lhana.

    Apresentada a gnese do conceito e da teoria, a tarefa que se segue ade descrever a sua evoluo e irei faz-lo de acordo com uma perspectivahistrico-temporal, organizada em funo das dcadas. Queria ento repetirque no se trata aqui de dar conta dos desenvolvimentos da teoria dasrepresentaes sociais, hoje matriz de um campo diversificado1. Irei apenasabordar sequencialmente alguns dos textos de Moscovici posteriores a este eneles procurarei o fio condutor para dar conta de como ele foi concebendoa teoria. Por vezes irei afastar-me deste rumo para relatar certas crticas teoria que instigaram respostas do seu autor, mas de forma geral privilegiarei

    os textos de Moscovici.

    OS ANOS 60 E 70

    Tudo comeou no princpio dos anos 60 deste sculo. Naquele perodopode dizer-se que havia psiclogos sociais em muitos pases do nosso con-tinente. Mas ainda no existia uma psicologia social europeia (Moscovici,2001, p. 47).

    Depois de em 1961 apresentar a noo de representao social, nas duasdcadas seguintes Moscovici vai ocupar-se tambm de outros tpicos da

    1S (1998) descreve assim a situao actual: A grande teor iadas representaes sociais como chamamos s proposies originais bsicas de Moscovici desdobra-se em trscorrentes tericas complementares: uma mais fiel teoria original, liderada por Denise Jodelet,em Paris; uma que procura articul-la com uma perspectiva mais sociolgica, liderada porWilliam Doise, em Genebra; uma que enfatisa a dimenso cognitivo-estrutural das represen-taes, liderada por Jean-Claude Abric, em Aix-en-Provence. possvel ainda que esteja aconfigurar-se uma quarta alternativa complementar, atravs das recentes releituras tericas que

    esto a ser feitas por alguns leitores sensveis s crticas ps-modernistas s representaes,como o ilustra o posicionamento de Wolfgang Wagner (p. 65).

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    psicologia social, as atitudes (Moscovici, 1963), a polarizao (Moscovici eZavalloni, 1969) e a influncia das minorias (Moscovici e Fauchaux, 1972;Moscovici e Lage, 1978)2. Ao mesmo tempo, outros comearam a ocupar--se da teoria das representaes sociais por exemplo, Herzlich (1969),

    Abric e Kahan (1972) e Flament (1967).Comecemos por enquadrar este conjunto de trabalhos no contexto dapoca. Se no incio dos anos 60 no havia psicologia social europeia, osamericanos resolveram dar um empurro e patrocinaram, em 1963, a primei-ra conferncia de psiclogos sociais europeus, que reuniu em Sorrento cercade quarenta profissionais, metade europeus, metade americanos (Turner, 1996;Moscovici e Markov, 2000; Moscovici, 2001)3. Em 1964 tem lugar umasegunda conferncia em Frascati, onde decidido criar a EuropeanAssociation of Experimental Social Psychology e em 1966 ocorre o primeiro

    plenrio oficial da EAESP, em Royaumont, que elege S. Moscovici comoprimeiro presidente (Turner, 1996). O plenrio seguinte, em 1969, emLouvain, eleger H. Tajfel como segundo presidente da EAESP. O EuropeanJournal of Social Psychologyser fundado em 1971, adoptando o ingls comolngua oficial, no sem resistncias (Manstead, 1990).

    Ou seja, a exportao da sua agenda de investigao, que ocorre no ps--guerra (Wallerstein et al.,1996), leva os americanos a estimularem tambma fundao de uma psicologia social europeia, que em poucos anos frutifica4.Esta ligao aos americanos, porm, ir alterar em muito o panorama prvio

    sua entrada em cena.Como relata Moscovici, o nascimento da noo de representao social ocor-reu naquela a que ele chama a suaera da inocncia, uma era em que havia poucapsicologia social em Frana e durante a qual ele did not have any contact withAmerican or English colleagues (Moscovici e Markov, 2000, p. 227). Porisso, quando se refere s tradies que enformam a sua formulao inicial dateoria, Moscovici (1989b, 1998a e 1998b) ir sempre referir Piaget e Vygotsky,por um lado, e Durkheim e Levy-Bruhl, por outro.

    2E ocupar-se- tambm da histria da cincia e das ideias (Moscovici, 1972a e 1974).3De acordo com Farr, a key role in this process was often played by the Scientific

    Liaison Officer of the Office of Naval Research, based in the American Embassy in London(1996, p. 9). Este era J. Lanzetta, cujo papel igualmente destacado por Moscovici:Diplomata, adido da Embaixada dos Estados Unidos em Londres [...] ei-lo que um belodia chega aos nossos gabinetes em Louvain, Oxford ou Paris para nos convidar para umaconferncia geral [a de 1963] (Moscovici, 2001, pp. 47-48; v. tambm Jesuno, 1993, e

    Turner, 1996, a este propsito).4Como sintetiza Farr (1996): The intellectual leadership of the Association, of course,

    was provided by prominent Europeans like Tajfel and Moscovici [...] Traditions of researchdeveloped that were indigenous to Europe. Two of the most influential of these European

    traditions of research were Tajfels theory of social identity and Moscovicis theory of socialrepresentations (pp. 9-10).

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    No entanto, de meados dos anos 60 para a frente, os colegas americanose europeus passaro a ser interlocutores constantes.

    E os americanos sero interlocutores estimulantes: Tenho a certeza deque sem aqueles debates [com os americanos, nas primeiras conferncias] e

    sem aquele projecto [o da Associao] no teria existido uma teoria dainovao ou da influncia das minorias, por exemplo. Queramos mostrarque na Europa se podiam descobrir aspectos tericos e experimentais indi-tos e foi por estes motivos que escolhemos fenmenos centrais da psicologiasocial (Moscovici, 2001, p. 58).

    Mas os americanos sero interlocutores que suscitam tambm desde muitocedo a crtica patente, por exemplo, no volume editado por Israel e Tajfelem 1972. Os anos 60 e 70 so nos Estados Unidos o momento de nascimentoe ascenso de uma orientao para a psicologia social que viria a ficar

    conhecida como social cognition (McGuire, 1986), perspectiva cognitiva(Markus e Zajonc, 1985), ou paradigma do processamento da informao(Duveen, 2000). E este volume atesta as crticas europeias dirigidas a algunsaspectos dessa orientao nascente a exclusividade concedida ao mtodoexperimental e uma concepo restritiva de cognio.

    O texto de Moscovici (1972b) nesse volume defende que the central andexclusive object of social psychology should be the study of all that pertainsto ideologyand communication from the point of view of their structure,their genesis and their function (Moscovici, 1972b, p. 54). S com estes

    objectos de estudo, recusando a exclusividade do mtodo experimental e siste-matizando os processos de interaco em funo do tringulo ego-alter-objecto5,a psicologia social poderia tornar-se uma cincia capaz de descobrir dangeroustruths (p. 62). Naquele momento, afirma Moscovici, social psychology hasbecome a science of private life, and at the same time it has managed totransform its practitioners into members of a private club (1972b, p. 63). Ouseja, o autor defende que a sua disciplina, ao confundir o comportamentosimblico com os processos psicolgicos gerais conhecidos como cognitivos,estava a criar um fosso entre si e as outras cincias sociais (cf. p. 61).

    Como se v, temos, chegados aos anos 70, uma psicologia social que j seorganizou na Europa e que mantm j um dilogo transatlntico, no qualcomeam a emergir vozes crticas, como as vozes europeias reunidas em Israele Tajfel (1972) ou a voz americana de K. Gergen (1973), que viro a confluirna que posteriormente foi chamada a crise dos anos 70, da qual emergemnovas perspectivas para a disciplina e cujo balano abordaremos mais frente.

    5Trata-se de conceber uma psicologia social para a qual a construo do conhecimentos pode ser compreendida partindo da seguinte premissa: The relationship between ego andobject is mediated through the intervention of another subject; this relationship becomes a

    complex triangular one in which each of the terms is fully determined by the other two(Moscovici, 1972b, p. 52).

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    OS ANOS 80

    O INCIO DA DCADA, DIFUSO DE UM CAMPO DE PESQUISA

    No contexto desta nova psicologia social europeia que fala agora entre sie com os americanos, e que portanto tem de falar muito frequentemente emingls, seguir os textos dos anos 80 de Moscovici sobre as representaessociais j seguir textos que pretendem falar para uma psicologia socialeuropeia e americana.

    Neste sentido, o conjunto de textos reunidos por Forgas (1981) e por Farre Moscovici (1984) no incio desta dcada parece-me particularmente impor-tante, pois concretiza uma inteno de difuso para o mundo anglo-saxnicoda investigao em representaes sociais que entretanto se havia acumulado

    em vrios pases europeus6.Assim, irei agora rever os textos de Moscovici nestes volumes. O artigo

    de 1984 resulta da traduo para ingls das comunicaes do ColquioInternacional sobre Representaes Sociais, que teve lugar na Maison desSciences de l Homme,em Paris, em Janeiro de 1979. Os editores quiseramposteriormente publicar este volume em ingls to facilitate the diffusion ofa knowledge of this tradition of research throughout the English-speakingworld (Farr e Moscovici, 1984, p. X). Como estes processos levam tempo,o volume s surge em 1984, e j havia surgido em 1981 o texto de

    Moscovici no livro de Forgas. Comearei ento por uma sntese do texto de1984.

    Para me ater a esta inteno sinttica face a um texto extenso como estedefenderei que Moscovici (1984a) vai expor as suas ideias recorrendo a umasrie de dicotomias. Para precisar as diferenas na dicotomia representaescolectivas/representaes sociaisrecorre s dicotomias conceito/fenmeno,esttico/dinmico, impostas aos indivduos/trabalhadas pelos indivduos.

    As representaes colectivas seriam um conceito porque conceptualizadascomo mecanismos explicativos, mas no susceptveis de anlise e de expli-

    cao em si mesmas. Como o tomo antes da fsica subatmica, ou os genesantes de Crick e Watson. As representaes sociais seriam um fenmeno7,porque podem e devem ser analisadas na sua estrutura e componentes. Asrepresentaes colectivas estudam ideias que se tornaram tradies imutveis.As representaes sociais preocupam-se em estudar fenmenos actuais, queainda no tiveram tempo para sedimentar. Muitos destes fenmenos e repre-sentaes so continuamente fornecidos sociedade pensante pela cincia,

    6E desse facto d conta a compilao da bibliografia das representaes sociais data

    existente, publicada no volume de Farr e Moscovici (1984).7 Este texto de Moscovici intitula-se The phenomenon of social representations.

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    pelos seus saberes e pelos seus praticantes. As representaes sociais ocupam--se do estudo do senso comum alimentado pela cincia.

    Depois, Moscovici vai usar um novo conjunto de dicotomias para preci-sar as relaes entre as representaes sociais e a cincia, universo reificado/

    universo consensual, equaes/linguagem, desfamiliarizar/familiarizar, fora/dentro.O universo reificado o universo da cincia, onde a linguagem subs-

    tituda por equaes e as noes retiradas ao quotidiano so desfamiliarizadase desindividualizadas. No mundo consensual no h realidade em si. Ela socialmente construda: We are never provided with any informationwhich as not been distorted by representations superimposed on objects andon persons (p. 6). Porm, no mundo reificado, com a ajuda dos instrumentoscientficos, este acesso realidade em si parece ser possvel. O universo

    consensual aquele com que lidam as representaes sociais (cf. p. 22), ondese familiariza o que estranho e se torna de dentro o que vem de fora pelo acto de representar. Como se consegue isto? Pelos processos de anco-ragem e objectivao. O primeiro est bem explicitado no texto de 1981.

    Na primeira frase deste artigo, Moscovici (1981) anuncia que vai apre-sentar um pr imeiro esboo de uma teoriadas representaes sociais. E elaassenta em quatro pilares, o conceito de representao social, os universosreificado e consensual e os dois processos da ancoragem e objectivao.O conceito refere-se uma forma de adquirir conhecimento e de o comunicar,a qual, pela ancoragem e pela objectivao, tende a tornar familiar o que noo era. A ancoragem, it allows something unfamiliar and troubling, whichincites our curiosity, to be incorporated into our own network of categoriesand allows us to compare it with what we consider to be a typical memberof the category (p. 193).

    O que social neste processo at aqui semelhante aos processospostulados para categorizao, de forma geral a escolha das categoriaspara ancoragem, ou a escolha dos contedos, que determinada pelo grupo:

    It can always be observed that the initial direction, the angle from whicha group will try to cope with the non-familiar, will be determined by theimages, concepts and languages shared by that group (p. 189). O que diferente em relao aos processos gerais da categorizao, portanto, opressuposto de um metassistema social de regulao dos mecanismoscognitivos. E ainda o facto de a incluso do novo numa determinadacategoria o posicionar imediatamente numa hierarquia de valor. No caso daobjectivao, no h grandes novidades em relao s propostas j apresen-tadas em 1976.

    Como comentrio geral, o que este artigo de 1981 contm de novo areferncia a trabalhos da rea da cognio social e a forma como procura

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    situar-se face a ela. Usa-os quer para apoiar propostas prprias (nomeada-mente as que se relacionam com a ancoragem), quer para apontar certasfalhas que poderiam ser colmatadas com as propostas da teoria das represen-taes sociais. uma apresentao da teoria que vem no esprito de propor

    uma especificidade europeia a acrescentar psicologia social norte-america-na, partilhando com esta o interesse pelos processos cognitivos e procurandojuntar-lhe um interesse mais consistente pelo social.

    ALGUMAS CRTICAS EXTERNAS

    A publicao dos volumes de Farr e Moscovici (1984) e de Forgas(1981) no s implicou que as representaes sociais passassem a ser maisconhecidas no mundo anglo-saxnico, mas tambm suscitou nele o que

    poderamos considerar uma srie de reptos que foram lanados teoria apartir de meados dos anos 80. Para estes reptos possvel recensear diferen-tes reas de provenincia. A rea onde os artigos sero possivelmente maisnumerosos aquela em que os autores esto relacionados com as abordagensdiscursivas que emergem do outro lado do canal da Mancha nos anos 70.Comecemos por eles.

    Em 1984 R. Harr vem questionar a teoria das representaes sociais,abordando a questo das relaes entre as representaes e os grupos e per-guntando se far mais sentido estudar as representaes sociais em pluralidades

    distributivas, ou grupos taxonmicos, isto , grupos formados pelas semelhan-as entre os seus membros, ou em pluralidades colectivas, ou gruposestruturados, isto , grupos formados com base em relaes reais entre os seusmembros e nos quais o grupo tem atributos que so mais do que a soma dosatributos dos membros. Harr defende que o que Moscovici fez foi estudar asrepresentaes sociais da psicanlise em grupos taxonmicos, e no em gruposestruturados. E que, em consequncia desta opo, as suas representaesare not social in the sense of belonging to the group, they are individualrepresentations, each of which is similar to every one of the rest (p. 930),

    e portanto, this use of the concept of the social is still, in the lastanalysis, a version of individualism (p. 931).Em suma, Harr (1984) vai defender que as representaes sociais no

    so ainda suficientemente sociais,pois no so estudadas como um produtode grupos estruturados, e portanto como algo que mais do que a simplessoma das representaes individuais de cada um dos membros do grupo.

    No mesmo nmero da mesma revista, Moscovici (1984b) responder sobjeces de Harr, abrindo duas linhas de resposta. Por um lado, aceita quede facto estudou grupos taxonmicos e salienta a importncia de os estudar

    para que se entenda a forma epidmica como as representaes se disseminam,por uma espcie de contgio (cf. p. 958). Por outro lado, assinala que estudou

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    tambm grupos estruturados ao estudar as representaes da psicanlise naspublicaes comunistas e catlicas. E conclui: In dealing with complex anddifferentiated societies, both types of grouping must be studied, the formercharacterized by taxonomy, the latter by structure [...] (p. 960). S assim

    poderemos dar conta de um fenmeno que no cessa de nos espantar: Mansobstinate rediscovery and reiteration of the same themes and his extraordinaryprolificness in inventing ideas, urged on by a poetic instinct (p. 967).

    Em 1985 Litton e Potter publicam um artigo onde problematizam ateoria a partir da necessidade de ligar as representaes ao estudo da lingua-gem e aos seus contextos de utilizao. J anteriormente Potter e Litton(1985) haviam elencado um conjunto de objeces teoria. Irei focar doisdos problemas que lhe apontam o problema do consenso e o das relaesentre grupos e representaes sociais.

    Baseados em trs investigaes enquadradas pela teoria das representaessociais as de Di Giacomo (1980), Hewstone et al. (1982) e Herzlich(1973) , Potter e Litton (1985) argumentam que so as metodologias deestudo utilizadas pelos investigadores que salientam o consenso e que deixamna sombra a questo da diversidade que poderia existir dentro dos grupos.E afirmam que os grupos so tratados, nestas pesquisas, como naturallyoccuring phenomena which can be used as an unproblematic base forresearch conclusions (p. 83). Uma opo a que eles objectam, tendo emvista que satisfying one index of membership, however objective, does not

    entail that the individual will identify with, or act in terms of, the specifiedgroup (p. 83). Em suma, Potter e Litton (1985) objectam a que os grupossejam definidosa priorie que seja nesses gruposa pri orique se busque entoo consenso, esquecendo a diversidade que neles poderia existir por via demaiores ou menores identificaes dos indivduos com eles.

    A resposta de Moscovici (1985) a Potter e Litton (1985) recusa que, porexemplo, a investigao de Di Giacomo tenha suposto grupos a pri ori,tendoeste antes efectuado quite a number of preliminary explorations andcomparisons before choosing his categories (Moscovici, 1985, p. 91). No

    tocante questo do consenso, Moscovici (1985) dir que a teoria dasrepresentaes sociais supe um universo consensual, mas no supe a exis-tncia de consenso para todos os elementos da representao, a todos osnveis. Isto , dada a funcionalidade das representaes na comunicao, oconsenso no se reduz uniformidade nem impede a diversidade (cf. p. 92).Dito de outra forma, a comunicao possvel apenas porque existe algo decomum, ou de consensual, entre os comunicantes e porque simultaneamenteexiste tambm algo de diferente pois que funcionalidade poderia ter acomunicao entre seres absolutamente idnticos?

    Tambm Parker, em 1987, se pronuncia sobre a teoria das Representaessociais e vai, segundo uma sugesto de Farr (1984), desenvolver a ideia de que

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    o programa das representaes sociais, ao fim destes anos, pode ser visto comotendo uma verso fortee outra fraca. A verso forteestaria espelhada na im-portncia atribuda por Moscovici ao estudo dos contedos. A verso fracaintegraria a simultnea insistncia de Moscovici nos aspectos cognitivos das

    representaes. Seria esta verso fracaaquela que permitiria fazer a ponte coma psicologia social tradicional e que estaria a ser apropriada pelo mundo anglo--saxnico, impedindo o desenvolvimento de uma psicologia social no indivi-dualista, uma das promessas originais das representaes sociais.

    Por fim, vem Billig, em 1988, afirmar que o conceito de representaoSocial estaria a ser utilizado com duas acepes. Na sua acepo particular,as representaes sociais dariam conta de um fenmeno especfico dos nossosdias a apropriao quotidiana dos conhecimentos cientficos. Na suaacepo universal,o conceito estaria relacionado com a apropriao e trans-

    formao de qualquer tipo de conhecimento, cientfico ou no. Para Billigno importa decidir se uma teoria das representaes sociais deveria serbaseada numa ou noutra acepo. Importa antes clarificar conceptualmentea questo, que ele liga tambm questo dos processos constitutivos dasrepresentaes para ele a ancoragem seria um processo universal e aobjectivao um processo particular. Reunindo estas duas ideias, a sua cha-mada de ateno teoria das representaes sociais implica que nem o sensocomum nas sociedades actuais se esgota num senso comum alimentado pelacincia, nem todos os processos de construo de representaes implicam a

    objectivao, pois podem, por exemplo, implicar a transcendentalizao.Em consequncia, Billig (1988) incita os tericos das representaes sociaisa no se esquecerem de procurarem ver para alm da homogeneidade e aprocurarem descrever os temas contraditrios de que o senso comum se alimen-ta, analisando as representaes no somente como produto do dilogo, mastambm da argumentao e da negao de outros pontos de vista (cf. p. 74).

    Para terminar o exame de alguns dos reptos lanados teoria durante osanos 80, vejamos o conjunto de objeces ao programa das representaessociais que, em 1988, G. Jahoda expe noEuropean Journal of Social

    Psychology.Jahoda prope que as relaes que o conceito de representaes sociaismantm com outros conceitos contguos precisam urgentemente de ser cla-rificadas. Esses conceitos contguos podem pertencer ao campo de anlisesocietal ou ao campo de anlise individual (Doise, 1982). De um ponto devista macroscpico, os conceitos com os quais as relaes no so claras, deacordo com Jahoda, so os de ideologia, de cultura e de cincia/conhecimen-to cientfico. No respeitante ao nvel de anlise individual, Jahoda afirmano haver nada que sustente realmente a ideia de que h uma base

    motivacional para a transformao de noes no familiares em representa-es sociais. Defende ainda que h tambm necessidade de clarificar a noo,

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    pois parece-lhe insuficientemente explcito por que motivos as representaessociais seriam conceptualmente diferentes da noo de conceito(p. 202). Emsuma, para ele the two horns of the dilemma in which Moscovici is caughthere, are, on one hand, his wish to avoid any individual or cognitive

    reductionism, while on the other hand he is unable to dispense with thosecognitive processes whose very relevance he appears to deny (p. 202). Porisso, with regard to the psychological processes entailed in socialrepresentations it would be more realistic to tie this up.with the growingbody of work on social cognition, rather than claim the unverified existenceof some special domain (p. 207).

    Ou seja, a soluo de Jahoda seria, pelo menos ao nvel do estudo dosprocessos de elaborao das representaes, abandonar a ideia da existnciade um domnio especfico o programa das representaes sociais eligar aquele estudo aos desenvolvimentos da cognio social.

    O FIM DA DCADA, DUAS RESPOSTAS DE MOSCOVICI

    Abrirei agora espao para duas respostas de Moscovici primeiro o textode 1988, que responde s observaes de Jahoda e publicado na mesmarevista, e depois um texto de 1989.

    No texto de 1988 Moscovici ir primeiro situar a abordagem das represen-taes sociais. Torna claro que, ao partir da noo de representao e aoconceptualiz-la como um problem of the relationship between mental and

    material elements in social life (p. 212), est a recorrer a uma noo que umproduto da tradio clssica e que o leva a ver a psicologia social como sendouma cincia social, como a antropologia ou a sociologia. Est, portanto, aencarar a disciplina como pertencente a um campo onde no se pretende emulara fsica e onde as teorias so entendidas simultaneamente como abordagens aosfenmenos sociais e como um sistema que os descreve e explica. E por estesmotivos se recusa a ser mais especfico ao definir as representaes sociais(cf. p. 213). Quer que elas tenham, porm, um duplo significado, whilerepresentations are often to be located in the minds of men and women, they

    can just as often be found in the world and as such examined separately(p. 214). Assim, o pensamento simultaneamente uma prtica individual e umaprtica social. Em primeiro lugar, porque s derivamos uma poro nfima dosnossos conhecimentos dos nossos encontros com os factos do mundo, a grandemaioria -nos passada atravs da comunicao com os outros. Em segundolugar, porque, entre os outros, we think, as I dared to write, with our mouths,ou seja, thinking and arguing amount to the same thing (p. 215)8.

    8Esta ideia est claramente presente nas formulaes iniciais de Moscovici (cf. p. 254 dolivro de 1976) e a sua repetio aqui poderia considerar-se uma resposta a Billig (1988), que

    havia referido a necessidade de as representaes sociais serem entendidas como produtos daargumentao.

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    Neste ponto, Moscovici vai propor que existem, pelo menos, trs manei-ras de as representaes serem sociais, dependentes das relaes entre osmembros dos grupos. As representaes mais consensuais, ou inquestionadas,e mesmo coercivas, objectivadas nas estruturas e instituies de cada socieda-

    de, denomina-as Moscovici (1988a) de hegemnicas. As representaes so-ciais emancipadas,por sua vez, so produzidas pela discusso de ideias noseio de grupos em contacto directo e so partilhadas por diferentes grupos.Finalmente, as representaes sociais polmicas so aquelas que resultam doconflito entre vises opostas de grupos opostos e so frequentemente expres-sas em termos de um dilogo com um interlocutor imaginrio (pp. 221-222).

    Moscovici (1988) vai ainda deter-se nas questes da familiarizao. Sa-lienta que concebe as representaes como uma forma de construir a reali-dade atravs da sua dupla face performativa e construtiva. A face performa-tiva respeita s capacidades das representaes para fazerem as coisasacontecerem por via da forma como constroem/definem as situaes. A faceconstrutiva refere-se capacidade para pr em relao pessoas e objectossociais.

    E salienta ainda que, no que respeita aos modelos de conceptualizao dacognio, ele desde o incio havia defendido uma posio de que a cogniosocial pela voz, por exemplo, de Markus e Zajonc (1985) veio aaproximar-se, ao propor o esquema O-S-O-R (organismo-estmulo-resposta--organismo)9.

    O ponto em que Moscovici ser talvez mais veemente neste artigo ser o

    da no redutibilidade da teoria das representaes sociais abordagem dacognio social. O incio da dcada de 80 havia visto um movimento deaproximao das representaes sociais cognio social, animado pela ideiade que as representaes sociais representavam a uniquely European approachto the study of social cognition, different from and complementary to, recentNorth American research (Moscovici, 1981, p. 182). No fim da dcada,porm, as diferenas parecem ter-se tornado mais salientes do que as aproxi-maes. O movimento que se estabeleceria na psicologia social sob a desig-nao de cognio social no integrou as propostas das representaes so-

    ciais. E Jahoda (1988) acaba por propor que seja antes o programa dasrepresentaes sociais a abandonar muitas das suas propostas de especificidadee a adoptar conceitos da cognio social.

    Em 1989 editado um nmero temtico especial do European Journalof Social Psychologyque pretende fazer um ponto de situao da psicologiasocial no final dos anos 80 e depois da crise dos anos 70. Para avaliar sealgum paradigma novo havia efectivamente emergido desta crise, os editoresdeste nmero especial invited contributions from some of the major

    9Para uma explanao destas concepes no contexto desta discusso, v. Castro (1995)e Vala (2000).

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    representatives of the positions that were then involved in the controversy(Rijsman e Stroebe, 1989, p. 341).

    De acordo com Rijsman e Stroebe (1989), o que se passou na sequnciada crise foi que ela se resolveu com a fractura da disciplina. De um lado desta

    fractura ficaram os representantes de uma abordagem psicologia social ba-seada nos mtodos das cincias naturais e na crena na existncia de mecanis-mos causais internos. No outro extremo perfilaram-se os representantes donovo paradigma, propondo que se deve estudar o comportamento socialcomo uma actividade discursiva que leva construo do sentido. Para almdestes dois extremos, one could think of the position of Doise and Moscovicias being in the middle of a continuuum, ranging from strong psychologismto strong social constructionism (Rijsman e Stroebe, 1989, p. 342).

    Neste nmero especial de balano da disciplina, o artigo de Moscovici(1989a) parece sobretudo fazer um balano de todo o seu trabalho na psi-cologia social.

    Em primeiro lugar, Moscovici (1989a) vai deter-se na explanao de qualdeve ser o lugar a ocupar por uma disciplina que se denomina psicologiasocial deve ser uma cincia que estabelea uma continuidade entre fen-menos individuais e fenmenos colectivos. Uma ideia que se perdeu nosltimos anos, trazendo duas consequncias a fragmentao da disciplinae a sua subsidiarizao face psicologia geral.

    contra esta subsidiarizao que ele se insurge. Trying to turn socialpsychology into a branch of psychology has the effect of consigning it to the

    role of a minor science, whereas in the scheme of social sciences it seemsdestined to function as a major discipline, studying the link between culture andnature, as well as between social and psychic phenomena (p. 410). Mas tambm contra a fragmentao que escreve: The admirable research efforts ofour American colleagues have elaborated a modern and rigorous socialpsychology, to be sure, thereby inspiring a belief in its expansion. Nevertheless,for reasons that historians will have to elucidate, this expansion failed to mate-rialize. The incessant shifs of focus and the equally incessant fragmentation ofresearch objects have kept the mayonnese from setting (pp. 414). Para contra-

    riar este estado de coisas, o estudo das representaes sociais constitui umaalternativa. Porque estas so concebidas num quadro que pressupe a construosocial da realidade (cf. pp. 415-416) e porque chamam a ateno para oscontedos, sem os quais o estudo das estruturas cognitivas intil (pp. 416).

    Tendo exposto a importncia dos contedos, Moscovici vai defender a im-portncia da descrio essa long neglected task (pp. 418), que lhe parecemais urgente, no momento, do que a da explicao. Por fora, por um lado, danatureza do objecto de estudo rehabilitating description involves ourdelivering what is expected of us, that we study a shared object which has a

    recognized social meaning (pp. 425). E por fora, por outro lado, do estadode avano da nossa cincia: The truth is that laboratory research on causal

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    attributions or schemata does not have and will not have explanatory power. Itcan only supply us with a set of information that awaits its Kepler, or itsMendeleev (p. 426).

    H assim neste texto um posicionamento de afastamento da investigao

    de cariz unicamente experimental e a favor da necessidade de abrir novoscontinentes de fenmenos, atravs do recurso a teorias abrangentes e ametodologias mais consentneas com a descrio.

    CONSOLIDAO DA TEORIA NO FINAL DOS ANOS 80

    Em 1989 D. Jodelet edita Les representations sociales,um livro que reneum leque diversificado de autores e que consolida a ideia das representaessociais como um domnio em expanso. No texto que incluiu nesta colectneae que intitula precisamente Representations sociales, un domaine enexpansion, Jodelet (1989) vai salientar trs vertentes que lhe parecem caracte-rizar ao fim da dcada a pesquisa em representaes sociais: a vitalidade,a transversalidade e a complexidade. E a atestar esta afirmao encontramos osartigos por ela colectados e uma nova bibliografia das representaes sociais,actualizada.

    Do artigo de Moscovici neste livro, depois de tudo o que j foi sumarizadodos seus escritos, destacarei alguns comentrios com que o encerra. Na con-tinuao do que escreveu, Moscovici (1989b) continua a defender que o campode estudos das representaes tenha sempre presente a ideia de que elas se

    alimentam sobretudo da difuso dos conhecimentos cientficos (cf. p. 83) eque esta diviso do trabalho entre quem cria e quem transforma um dostraos fundamentais das representaes sociais.

    OS ANOS 90

    UMA SNTESE DOS ANOS ANTERIORES

    Depois do que ficou dito sobre crticas e respostas, parece til fazer um ponto

    de situao. Creio que possvel sumarizar as discusses das dcadas anteriorescomo lidando com trs tpicos principais (cf. Raty e Snellman, 1992).

    A ambiguidade do conceito

    Em relao ao conceito, Moscovici (1972, 1976, 1988 e 1989) veementedefensor da necessidade de o manter aberto10, includo numa teoria que no

    10Claro que este no-fechamento no caracterstica exclusiva deste conceito. Conceitoscomo cultura ou ideologia foram aceitando definies sucessivas. E mesmo em relao a um

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    pretende como uma cpia das teorias da fsica, mas defende que permaneaaberta, sem buscar uma operacionalizao que geraria mais um conjunto deinformaes fragmentrias. Assim, so bem-vindas ligaes com as outrascincias sociais e conexes com outros conceitos, quer os mais, quer os menos

    abrangentes.

    As questes relacionadas com a metodologia

    No mesmo sentido, foi-se impondo ao longo destes anos a ideia de que asmetodologias de estudo das representaes sociais no tm obrigatoriamente de serde um ou de outro tipo. Para Moscovici (1989), as metodologias devem serajustadas aos objectos de estudo especficos. E devem conter uma importantededicao descrio, antes de se lanarem, prematuramente, na via explicativa11.

    As questes que se prendem com a dimenso social, com os seguintessubpontos:

    a)Construo social do sentido. Parece claro que Moscovici formulacada vez mais explicitamente a ideia de uma construo social dosentido. Isto muito claro nos textos de 1988 e 1989. Por outro lado,nas suas formulaes, a ideia de uma construo social do sentido faz--se sempre acompanhar da ideia de que este sentido socialmenteconstrudo se encontra presente nos indivduos. Esta articulao social-

    -individual, que se faz por via de uma representao cognitivaguiada por processos sociais, parece ser o garante, na teoria, de queela ocupar a posio, desejada pelo autor, de teoria mista entre asociologia e a psicologia. E o garante de que poder continuar aresponder s questes de como e por que mudam as representaes aolongo do tempo e como e por que permanecem elas ao longo dotempo. A resposta a mesma para ambas as faces desta moeda:mudam e permanecem porque so simultaneamente transmitidas aos

    conceito de uma corrente mais preocupada com definies operacionais, como a cogniosocial, como o de esquema, Markus & Zajonc (1985) pronunciam-se assim: The generalconcept of schema is probably a right one, but it has yet to be properly characterized orformulated (p. 149).

    11 Estas questes avanaro nos anos 90 a partir daqui por exemplo, no volume deBreakwell e Canter (1993), apresentado como querendo deslocar o foco do debate metodolgico:ao invs de se continuar a debater quais as metodologias mais apropriadas, dever-se- discutircomo integrar informaes provenientes de metodologias diferentes. Neste sentido, e no deprivilegiar a descrio, o volume explora mtodos estatsticos multivariados. Tambm no volumede Doise, Clemence e Lorenzi-Cioldi (1992), estes mtodos so explorados e os autores chamama ateno dos investigadores para a necessidade de no estudarem apenas os aspectos consensuais

    das representaes, incitando-os a trazerem luz os princpios organizadores das diferenas entreas respostas individuais.

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    indivduos e aos grupos, de fora, e porque so mudadas pelos grupose pelos indivduos, de dentro. Porque grupos e indivduos as recebem,mas tambm as trabalham;

    b) O consenso nos grupos. A questo do consenso nos grupos prende-se

    com a anterior. Depois de uma srie de reflexes sobre as relaes doconceito de representao social com o de representao colectiva,Moscovici, em 1988, vai, como se viu, propor a noo de represen-tao social hegemnicapara fazer mais explicitamente a passagementre os dois e, assim, dar conta das representaes mais consensuais.E acrescentar as noes de representaes emancipadase polmicaspara dar conta daquelas que o so menos12;

    c) A relao entre grupos e representaes soci ais. Boa parte das crticasdos autores que subscrevem abordagens discursivas assenta na falta de

    clarificao desta relao. objeco de Harr (1984) de que asrepresentaes sociais para serem verdadeiramente sociais deveriamser estudadas em grupos estruturados replicou Moscovivi (1984b),como se viu, que, graas s caractersticas da nossa sociedade actual,elas poderiam e deveriam ser estudadas tanto em grupos taxonmicoscomo em grupos estruturados. Quanto s crticas de naturalizao, ouessencializao, dos grupos nos estudos empricos sobre representa-es sociais, vrias propostas iro aparecer ao longo da dcada de 90que iro abordar esta questo13.

    OS TEXTOS DE MOSCOVICI NA DCADA DE 90

    Abordarei agora alguns dos textos de Moscovici dos anos 90. Limitar--me-ei a textos de Moscovici para no sobrecarregar o presente texto, em-bora o dilogo com as perspectivas discursivas tenha continuado nos anos9014. Analisarei um texto de 1994 (Moscovici e Vignaux, 1994), dois de1998 e um de 1999, resultante da lio do doutoramento honoris causaquelhe foi concedido pela Universidade de Bolonha15.

    12Nos anos 90, esta proposta de Moscovici (1988) ir ser desenvolvida (v., por exemplo,Wagner, 1995, e Vala et al., 1998).

    13 Ela foi abordada atravs de uma articulao com a teoria da identidade social(Breakwell, 1993a e 1993b; Vala, 1992 e 2000; Wagner e Elejabarrieta, 1994).

    14Posso remeter o leitor interessado para McKinlay et al. (1993), Billig (1993), Harr(1998) e Edwards e Potter (1999), bem como para os comentrios de Doise (1993), Duveen(2000) e Markov (2000).

    15 Os textos dos anos 90 escolhidos para esta anlise coincidem com aqueles que

    Moscovici republicou na antologia denominada Social Representations e organizada porDuveen (2000), tendo-lhe eu apenas somado o pequeno texto do Honoris Causa.

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    No texto de 1994, Moscovici e Vignaux vo desenvolver o conceito dethemata,proposto como uma forma de concretizar le lien entre cognitionet communication, oprations mentales et oprations linguistiques (p. 32).

    Uma ligao que, para os autores, se torna necessrio desenvolver melhor,

    pois, pour des raisons diverses qui tiennent en grand partie aux orientationsdominantes en psychologie sociale, nous avons eu tendance mettre enveilleuse une des rfrences essentielles de la thorie des rpresentationssociales. Nous voulons parler de leur rfrence la communication, aulangage, bref, laspect discursif des savoirs labors en commun [] Maisjustement, la thorie des representations sociales a ds le dbut insist sur lelien profond entre cognition et communication, entre les oprations mentaleset les oprations linguistiques, entre informations et significations (p. 32).

    E o que so ento os themata?Nas palavras dos autores, les themata

    conceptuels pouvent donc tre considres comme ides-sources (luniversest une machine physique; il obit donc des lois mathemtiques; le soleilets au centre de lunivers comme Dieu et la lumire), oprant lengendrementdaxiomatiques nouvelles dans levolution de nos rpresentations du monde(Moscovici e Vignaux, 1994, p. 62). A noo de temathaparece ento surgirpara dar conta mais claramente da ligao entre representaes e comunicaese da forma como o passado recente e mais antigo ressurge constantemente nasrepresentaes e nas comunicaes. E a noo atesta ainda como na dcada de90 Moscovici se vai preocupar em pr em maior evidncia o componentecomunicativo da sua teoria.

    Esta mesma preocupao pode ser detectada num texto de 1998, no qualMoscovici (1998a) procura dar uma perspectiva histrica da noo de repre-sentao social. Neste ele comea por criticar a viso restritiva dos processossociais e das pessoas da perspectiva da cognio social e prossegue relatandoas influncias e as tradies a que o conceito se filia as de Durkheim, Levy--Bruhl, Piaget e Vygotsky. Neste processo vai retomar os temas que j encontr-mos diversas vezes nos seus escritos os temas da permanncia/mudana,

    imposio social aos indivduos/trabalho dos indivduos, universo consensuale universo reificado. Sero os mesmos temas e um desenvolvimento bastantemais detalhado daquelas quatro influncias fundadoras o que encontramosabordado num outro texto do mesmo ano (Moscovici, 1998b).

    No h, no entanto, aqui espao para uma anlise cuidadosa destas influn-cias. Irei apenas sintetizar o ponto que Moscovici (1998a) intitula adefinition of social representations, no qual me parece haver matria parareflexo no que diz respeito ao objectivo do presente texto, que o de seguiros desenvolvimentos da teoria nos textos de Moscovici.

    Nele, Moscovici comea por distinguir dois sentidos para a expresso. Noseu sentido esttico,as representaes sociais seriam como teorias, organi-

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    zadas e ordenadas em torno de um tema e contendo definies que permitemclassificar e explicar coisas e pessoas e contendo tambm exemplos quecorrespondem a ilustraes concretas da hierarquia de valores pressupostapelas classificaes da teoria (cf. p. 243).

    No seu sentido dinmico,as representaes sociais aparecem como umarede de ideias, metforas e imagens, articuladas de uma forma fluida e,portanto, mais mveis do que as teorias. A propsito das representaessociais no seu sentido dinmico, afirma Moscovici, it seems that we cannotget rid of the impression that we have an encyclopoedia of such ideas,metaphors and images which are connected one to another according to thenecessity of the kernels, the core beliefs, stored separately in our collectivememory and around which these networks form (p. 244).

    Estas representaes so, antes de mais, formadas com o duplo objectivo

    de agir e avaliar, isto , esto vocacionadas para a aco e para a avaliao.Por isso no supem o domnio do conhecimento como um domnio sepa-rado dos domnios da avaliao e da aco. neste sentido que os contedosdas representaes so, em si, uma forma de aco e de avaliao, o que temcomo consequncia que os contedos mentais sejam imperativos mais fortesdo que as formas cognitivas. Ou, se se quiser, o que tem como consequnciaque aquiloque as pessoas pensam determine comopensam (p. 245).

    Claro que possvel reconhecer nestas definies das representaessociais semelhanas com as propostas dos autores que trabalham com pers-

    pectivas discursivas.Esta aproximao tambm reconhecida por Moscovici nos pargrafosfinais deste ponto: I have the idea that the majority of the research ondiscourse by Billig (1987), Potter & Litton (1985; see also Harr, chapter8, and Potter e Wetherell, chapter 9, this volume) does not contradict thetheory of social representations. On the contrary, they complement it,deepen this aspect of it [o da construo social da realidade]. To ask then,whether language or representations is the better model can have no morepsychological meaning then asking the question, does a man walk with the

    help of his left leg or his right leg?. But, to realize just how true and deepthis contribution is, and to accept it, one would need to begin with a muchgreater coherence in psychology itself. While waiting for this, I have nohesitation therefore in treating what we have learnt about rhetoric, aboutlinguistic accounts, as being very closely related to social representations(1998a, p. 246).

    Uma mesma nfase na comunicao e na linguagem aparece no texto de1999. Neste, Moscovici comea por rejeitar a ideia de que o surgimento dapsicologia social tenha resultado de uma especializao da psicologia geral

    que pusesse num contexto social os fenmenos que esta estuda. Defende, aoinvs, que a psicologia social nunca lhe pareceu uma especializao, mas um

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    campo autnomo. Antes de mais vocacionado para os fenmenos dainteraco e da institucionalizao, pois os objectos sobre os quais nsagimos e que conhecemos no so, como se supe em certos campos dapsicologia, objectos fsicos ou mentais, mas objectos antropolgicos, inves-

    tidos de cultura (p. 222).E por este motivo que uma teoria psicossocial tem de almejar a com-preenso sistemtica da comunicao humana, das suas formas e da influn-cia que procura, tem de descobrir uma taxonomia das formas ou gneros dacomunicao e analisar as modificaes sintcticas e cognitivas relacionadascom a linguagem (cf. p. 222). Pela comunicao passa tambm o estudo dasrepresentaes sociais. Estas so apresentadas como um conceito necessriopara colher o conhecimento comum na sua gnese, mas um conceito que aindahoje parece problemtico a muitos psiclogos sociais. E porqu? Sem dvida,

    porque no parti de representaes individuais, ou melhor, cognitivas.E porque no creio que por associao, conexo ou difuso estatstica aquelasgerem uma representao social coerente e estvel. Com efeito, estas so factosinstitucionais, de comunicaes prescritas e reguladas (p. 223).

    CONCLUSO

    ESTABILIDADE E MUDANA

    Depois do que ficou dito, irei tentar sintetizar o que, em meu entender,permaneceu estvel nas formulaes de Moscovici e o que se alterou e, parafinalizar, comentarei a sua comunicao para com o grupo da psicologia social.

    Em primeiro lugar, e contrastando os seus diversos textos (1972b, 1976,1981, 1984a, 1984b, 1985, 1988, 1989a, 1994, 1998a e 1999), direi que o queme parece ter perdurado do programa traado em 1961-1976 so os ltimospontos do sumrio que fiz do livro de 1976 e que repito agora:

    1. A proposta de um sistema cognitivo regulado por um metassistemanormativo/social;

    2. Uma formulao clara do posicionamento disciplinar desejado da teo-ria entre a psicologia e a sociologia (1976). A esta ideia vai agregar--se uma outra, muito clara, a de que a psicologia social no e no deveser um ramo da psicologia geral, mas uma disciplina autnoma, queenfileira ao lado das outras cincias sociais, ao lado da antropologia, dahistria, da sociologia (Moscovici, 1988, 1989a e 1999);

    3. A diferenciao entre um universo consensual e um universo reificado,uma diferenciao de que ele ainda no abdicou (cf. Moscovici, 1998a).

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    Ela liga-se a um dos objectivos especficos da teoria, analisar astransformaes que sofrem os conceitos cientficos quando apropria-dos pelo senso comum. Este objectivo especfico liga-o Moscovici,por sua vez, ao perodo em que formulou a teoria: There was a

    problem that my generation widely debated, the problem of science.It was after all, the problem of modernity (Moscovici e Markov,2000, p. 227);

    4. Um objectivo vasto o de tentar explicar o carcter simultneo dedois fenmenos observveis nas sociedades actuais, os fenmenos si-multneos da diversidade e do consenso, da diferenciao e da seme-lhana. Ou o objectivo vasto de estudar o material de que feito osenso comum (Moscovici e Markov, 2000, p. 240). Com este ob-jectivo, came the difficult question, what idea, what concept

    would be fruitful in order to study common sense? [] I mean anidea or concept which has a theoretical meaning based on ademonstration that knowledge or thinking is necessari ly social, just asin physics you demonstrate that matter has to be necessarily atomic(Moscovici e Markov, 2000, p. 249, itlicos meus). E ser talvez estaideia de um pensamento necessar iamente social que um alicerceconstante e estvel da sua teoria.

    O conceito de representao social, em si, parece-me ter-se ido transfor-

    mando, ou talvez aprofundando:

    1. Cada vez mais prximo da ideia de uma construo social do sentidoe de uma construo social da realidade. Reforando as ideias de queno existe corte entre o individual e o colectivo, entre sujeito eobjecto;

    2. Mais explicitamente formulado para acolher tanto o consenso asrepresentaes hegemnicas como a diversidade as representa-es emancipadas e as polmicas;

    3. E dando cada vez mais importncia comunicao e linguagem, porvia de uma aproximao, nos ltimos textos, da informao acoe avaliao. No que a anlise da linguagem no tivesse estado desdeo incio presente nos textos de Moscovici. Estava presente atravs dasanlises das modalidades comunicativas, logo na obra original, ecomo programa de estudo para a psicologia social, logo no texto de1972. No entanto, nos anos 80 esse componente no foi o mais privi-legiado. Ser nos anos 90 que as representaes sero equacionadascada vez mais insistentemente como fenmenos de uma comunicao

    regulada por regras culturais. Mas elas tambmnoso equacionadasapenascomo fenmenos da linguagem: If some people declare that

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    the level of language is enough and that we can do without the levelof representation, that is to be regretted (Moscovici e Vignaux,1994, p. 176). A ligao entre estes dois nveis da linguagem e darepresentao pode ser tambm reconhecida atravs da ideia que

    Moscovici assim expressa: Basically, I thought that, just as languageis polyssemous, so knowledge is polyphasic (p. 241). Ou seja, estaligao passa pela noo de polifasia cognitiva: The hypothesis ofcognitive polyphasia assumes that our tendency to employ diverse andeven opposite ways of thinking such as scientific and religious,metaphorical and logical, and so on is a normal state of affairs inordinary life and in communication (Moscovici e Markov, 2000,p. 245). A ideia de uma polifasia cognitiva estava presente na formu-lao original, atravs da caracterizao do que Moscovici (1961/76)

    chamou pensamento natural, mas parece-me que agora esta hiptesese liga com mais clareza ao estudo da linguagem e ao caracterpolissmico desta, justamente atravs da noo de themata.

    MOSCOVICI E A PSICOLOGIA SOCIAL

    Para a psicologia social, os anos 60 e 70 foram os da fundao de umacomunidade de psiclogos sociais europeus, estimulada pelos americanos, oque permitiu o comeo de um dilogo desta entre si e com os americanos.

    Assim, os anos 80 foram a dcada de um dilogo multivozes, mas foramtambm os anos em que a psicologia social se fragmentou num archipelagoof lonely paradigms (Moscovici, 1985, p. 91). E durante os anos 90 acontinuada predominance of information-processing paradigms and theemergence of varieties of post-modernist forms of social psychology haveincreased the segmentation of the field (Duveen, 2000, p. 10).

    Neste contexto, the reception of the theory of social representations withinthe broader discipline of social psychology has been both fragmentary andproblematic (Duveen, 2000, p. 9). A despeito do surgimento e do fortaleci-

    mento de uma comunidade de estudiosos das representaes sociais que man-tm hoje um dilogo a que Farr (1996) chama transatlntico16, a teoria no actualmente e nunca foi o mainstream da disciplina. O mainstream dadisciplina j era nos anos 70, continuou a ser nos 80 e permanece nos 90 a

    16The dialogue is transatlantic and not North American. Research on social represen-tations is now also a multi-lingual dialogue. There is a significant body of research on socialrepresentations in Italian, Spanish and Portuguese and the beginnings of a literature inGerman. With a burgeoning literature in Spanish and Portuguese, there is currently aconsiderable transatlantic traffic between Europe and South America in relation to the study

    of social representations (Farr, 1996, p. 11). E, na realidade, neste momento h j o esboode um dialgo com a Amrica do Norte (v. Deaux e Philogne, 2001).

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    perspectiva da cognio social (Rijsman e Stroebe, 1989; Farr, 1996;Duveen, 2000).

    Neste contexto, os textos de Moscovici do comeo da dcada de 80testemunham um movimento de aproximao entre a teoria das representa-

    es sociais e a cognio social. Porm, a dcada de 80 j termina com oclaro afastamento dessa perspectiva e a de 90 parece ter fechado com umaenfse sempre mais clara posta na linguagem.

    Ou, se se quiser, no incio da dcada de 80 a estratgia de propagao,empregue por Moscovici nas suas comunicaes para dentro do grupo dapsicologia social, parece virar-se para a cognio social, com base no quepartilham a ideia de que a mente e as suas representaes devem serobjecto de estudo da psicologia social. No final da dcada de 90, porm, essamesma estratgia de propagao parece ter-se deslocado para o eixo da

    construo social do sentido, desde o incio igualmente presente na teoria,e encontrado na psicologia de base discursiva novos interlocutores.

    Talvez porque no decurso destes anos o significado da palavracognitivo tambm sofreu variaes subtis e o seu significado foi sendonegociado dentro da disciplina de uma forma que acabou por eliminar po-tencialidades ainda presentes nos anos 60 e 70? Como assinala Flick (1998)(e havia assinalado Moscovici em 1972b), interessar-se pela cognio come-ou por querer indicar um interesse pelos significados (meaning),justamenteaquilo que faltava ao behaviorismo. No entanto, ao longo deste anos,cognitivo veio lentamente a querer dizer cada vez mais individual, asignificar processos e estruturas na mente individual das pessoas. Comoassinala Moscovici, a propsito destas modificaes, moroever, I do notknow what is meant by cognitive, because todaythe word cognitive hasa very general meaning and it applies to any kind of information processing.Social representations are of course related to symbolic thought and anyform of mental life that presupposes language (Moscovici e Markov, 2000,p. 225, itlico meu).

    Assim, no incio dos anos 80 Moscovici ainda via a possibilidade de sefundar uma abordagem europeia para a psicologia social de orientaocognitiva. Teoria das representaes sociais e cognio social ainda se podiamver, nessa poca, como duas faces da mesma moeda de resistncia aobehaviorismo, via cognitivismo, via o postulado de um sujeito que atribuisignificado ao seu mundo. Ao longo dos anos 80 e 90, porm, e medida queesta atribuio de significado se vai na cognio social tornando cada vez maisum processo introvertido e a estudar na mente do indivduo, parece haverindcios de que Moscovici comea a encontrar outros interlocutores.

    Foi possvel ver como alguns dos actuais representantes das abordagensdiscursivas comearam por dialogar com as representaes sociais (Potter e

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    Litton, 1985; Harr, 1984; Billig, 1988). Mesmo que Potter e colaboradores,como assinala Doise (1993), recorram frequentemente propaganda quandose referem teoria das representaes sociais17. Contudo, como Doise tam-bm aponta (1999, p. 227), a propaganda a forma comunicativa das

    minorias. E claro que dentro da psicologia social os grupos tambm podemser hierarquizados em funo do seu estatuto mais ou menos minoritrio. Sea cognio social mais mainstreamdo que as representaes sociais, tam-bm as representaes sociais so mais mainstreamdo que as abordagensdiscursivas (Rijsman e Stroebe, 1989).

    Em suma, portanto, se a comunicao de Moscovici para dentro do grupoda psicologia social comeou por se virar para a cognio social, tomandoa forma da propagao face a esta, no final da dcada de 90 esta comuni-cao parece-me ter dado uma renovada prioridade a fenmenos como a

    linguagem e a comunicao, procurando desenvolver novos laos tericosentre eles e a teoria, e ter continuado a tomar a forma da propagao, aindaque com outros interlocutores.

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