29
NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL Em 1874, exactamente no mesmo ano cm que se começavam em Micenas as escavações que haviam de abrir tão vastos horizontes no conhecimento da civilização helénica nos seus primórdios, o acaso punha a descoberto no nosso País, cm Alcácer do Sal, uma série de objectos de grande valor arqueológico, entre os quais se contavam peças de cerâmica de origem grega. Desnecessário se torna salientar aqui a importância desses acha- dos para a reconstiuiição da fisionomia da antiga Salada c. através dela, da amplitude da expansão comercial e colonial dos gregos (1), ou repetir a história do sucessivo aparecimento desses preciosos documentos. Um e outro aspectos foram já devidamente analisados e dados a conhecer (2). Aqui apenas nos importa lembrar que, dois anos depois, se assi- nava uma escritura entre o proprietário do terreno. António Faria Gentil, e o Marquês de Sousa Holsteim então vice-inspector da Acade- mia de Belas-Artes, mediante a qual era concedida ao Estado a posse dos objectos encontrados e a liberdade de efectuar pesquisas no local. (1) Perto de Setúbal, em Chibanes. apareceu também um pequeno frag- mento de vaso grego, citado por Leite de Vasconcelos, História do Museu Etnoló- gico Português {1893-1914), Lisboa. Imprensa Nacional, 1915, p. 184 e 188. Adiante veremos outros exemplos. (2) Respectivamente por Virgílio Correia. Alcácer do Sal. Esboço de unia Monografia in Biblos, vol. vi, 1930, p. 40-59, e M. a de Lourdes Costa Arthur, Necro- polis de Alcácer-do-Sal (Çoiección dei Prof. Dr. Francisco Gentil), separata da Crónica dei II Côngruo Arqueológico Nacional, Madrid, 1951, Cartagena. 1952, p. 369-380. Cf. ainda notícias esparsas cm Virgílio Correia, Fechos de Cinturão da Necrópole de Alcácer do Sal in Biblos. vol. [, 1925, p. 319-326; Uma Conferência sobre a Necrópole de Alcácer do Sal in Biblos, vol. I, 1925, p. 347-363: As Fibulas da Necrópole de Alcácer do Sal in Biblos, vol. vi, 1930, p. 504-509.

NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS

EXISTENTES EM PORTUGAL

Em 1874, exactamente no mesmo ano cm que se começavam em Micenas as escavações que haviam de abrir tão vastos horizontes no conhecimento da civilização helénica nos seus primórdios, o acaso punha a descoberto no nosso País, cm Alcácer do Sal, uma série de objectos de grande valor arqueológico, entre os quais se contavam peças de cerâmica de origem grega.

Desnecessário se torna salientar aqui a importância desses acha­dos para a reconstiuiição da fisionomia da antiga Salada c. através dela, da amplitude da expansão comercial e colonial dos gregos (1), ou repetir a história do sucessivo aparecimento desses preciosos documentos. Um e outro aspectos foram já devidamente analisados e dados a conhecer (2).

Aqui apenas nos importa lembrar que, dois anos depois, se assi­nava uma escritura entre o proprietário do terreno. António Faria Gentil, e o Marquês de Sousa Holsteim então vice-inspector da Acade­mia de Belas-Artes, mediante a qual era concedida ao Estado a posse dos objectos encontrados e a liberdade de efectuar pesquisas no local.

(1) Perto de Setúbal, em Chibanes. apareceu também um pequeno frag­mento de vaso grego, citado por Leite de Vasconcelos, História do Museu Etnoló-gico Português {1893-1914), Lisboa. Imprensa Nacional, 1915, p. 184 e 188. Adiante veremos outros exemplos.

(2) Respectivamente por Virgílio Correia. Alcácer do Sal. Esboço de unia Monografia in Biblos, vol. vi, 1930, p. 40-59, e M.a de Lourdes Costa Arthur, Necro­polis de Alcácer-do-Sal (Çoiección dei Prof. Dr. Francisco Gentil), separata da Crónica dei II Côngruo Arqueológico Nacional, Madrid, 1951, Cartagena. 1952, p. 369-380. Cf. ainda notícias esparsas cm Virgílio Correia, Fechos de Cinturão da Necrópole de Alcácer do Sal in Biblos. vol. [, 1925, p. 319-326; Uma Conferência sobre a Necrópole de Alcácer do Sal in Biblos, vol. I, 1925, p. 347-363: As Fibulas da Necrópole de Alcácer do Sal in Biblos, vol. vi, 1930, p. 504-509.

Page 2: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

17S MARIA HELENA ROCHA PHRLIRA

De novo se fizeram achados casuais vinte anos mais tarde, que entra­ram, por doação, para o Museu de Alcácer do Sal. Finalmente, era 1925, íniciaram-se as escavações metódicas sob a direcção de Virgílio Correia.

Entretanto, os achados adquiridos pelo Estado foram repar­tidos pelo Museu da Artilharia e pelo das Janelas Verdes, e só muitos anos mais tarde deram entrada no Museu Etnológico de Belém, onde se encontram actualmente.

Dentre essas várias peças, vamos considerar apenas as de cerâ­mica grega, as quais, juntamente com outras conservadas no mesmo Museu (I) e um pequeno número de espécimes existentes em colecções particulares (2), constituem a principal representação dessa delicada manifestação da arte helénica entre nós.

O aparecimento dos vasos de Alcácer do Sal não passou desper­cebido nos meios nacionais e estrangeiros. Porém a atribuição da sua origem levou tempo a aceitar, como vamos ver em seguida.

O arquitecto J. da Silva deu a notícia, acompanhada de um dese­nho da peça principal, no Boletim de Archil cr lura e de Archeohgia da Real Associação dos Architectos Civis e Ârcheologos Portugueses. 2.a Série, 1875, Tomo i, n." 6. p. 91-92 e est. 10, sob o título Uma necro­polis romana cm Portugal; daí extraio os seguintes passos:

...«quatro urnas de diversas grandezas no estilo etrusco... Porém a maior, a mais bem conservada, da qual a estampa n." 10 do presente número dá perfeita ideia das pinturas que a ornam na grandeza do original, mostrando-se na composi­ção do assunto o destino da urna, conforme o que se praticava nas cerimónias fúnebres da Etrúria. Esta urna tem 0.25 cen­tímetros de alto e o contorno com 0.51 centímetros...»

( 1 ) Citadas por Leite de Vasconcelos, História do Museu Etnológico Portu­guês, a p. 262-263, sob a designação de «Objectos estrangeiros antigos c modernos»: — ... tDa (iiéeia antiga: fragmentos cerâmicos pintados, vindos das ruinas de Micc-nas c Argos; vasinhos dos séc. v e iv a.C. ...» c ainda a p. 103 da mesma obra.

(2) Emil Hiibncr, Die antiken Bildwerke in Madrid, Anhang, baseando-se numa noticia publicada no Archive Pitíoresco, Lisboa, 1861, vol. iv, p. 48 (que por sua vez já é dubitativa) diz que lhe consta existirem vasos gregos na colecção de arte da Casa Ducal de Palmela. Noutra oportunidade trataremos desses espé­cimes.

Page 3: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

VASOS GREGOS EM PORTUGAL 179

Depois de interpretar a acção da face principal como uma der­radeira refeição, preparada por dois mancebos e uma mulher, enquanto um ancião indica uma árvore de que um homem na força da vida arranca uma folha, para simbolizar a separação, prossegue:

...«A representação da cena do lado oposto desta urna, posto que a cor enegrecida do fundo desaparecesse por causa da humidade do terreno, todavia ainda se descobre um pouco o contorno de três figuras, de que se compunha a pintura, constando de dois guerreiros nus; um deles tem sobre a cabeça um capuz com duas palas caídas sobre os ombros; o outro com a cabeça descoberta mas apresentando tuna cauda de cavalo na extremidade da espinha dorsal; entre eles há uma mulher sustendo na mão esquerda um escudo oval e parece proteger com ele o guerreiro que tem o capuz, enquanto com o braço direito levantado quer evitar que o outro com­batente ataque com a lança o seu adversário. Nota-se a diferença entre os dois atletas, para indicar serem de raças diversas, sendo as cenas desta natureza representadas nas urnas etruscas de incineração para significar que a nossa existência é sempre uma luta constante, e somente a morte lhe põe termo; como mostra a interrução do combate pela atitude da figura que faz cessar a contenda em que se finou um ser.

Os romanos serviam-se de artistas gregos para fabri­carem urnas, porém as suas pinturas representavam cenas menos sanguinolentas; enquanto as pertencentes aos etruscos eram sempre compostas de combates; além de que a época em que a cor das pinturas não era a própria cor da argila, mas sim preto, corresponde ao maior desenvolvimento da arte grega...»

O que nos surpreende nestas linhas não é tanto a classificação de etrusco, pois durante muito tempo se deu aos vasos gregos essa denominação, por se terem achado nesse território os famosos espé­cimes de Vulci, durante a segunda e terceira década do séc. xix, que a princípio foram a fonte mais importante de conhecimento desse género de arte — mas a prodigiosa fantasia demonstrada na interpre­tação das figuras do vaso c das suas atitudes.

Page 4: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

180 MARJA HELENA ROCHA PEREIRA

O mesmo J. da Silva em breve transmitiu a notícia aos seus cole­gas estrangeiros, como se vê pela carta incluída tio Bulletin Monumen­tal, Paris. 1875, n.° 5. p. 372:

«Dans la séance de L'Institut Archéologique de Rome, dont j'ai parlé plus haut, on s'est également occupé de vases étrus­ques, trouvés dans la nécropole d'Alcacer do Sol [sic]. Les membres de cette société ont manifesté le désir d'avoir un calque soigneusement exécuté des ligures qui y sont repré­sentées...»

Alguns arqueólogos começaram a manifestar dúvidas sobre a verdadeira origem dos vasos, como se patenteia neste passo de uma caria de Desjardins, publicada no Bulletin Monumental, Paris. 1875. n.° 5, p. 471-472:

«...11 ne faut voir dans ce vase qu'une oeuvre de la décadence, qui a été exécutée en Sicile ou en Italie, et qui appartient à l'école grecque et non pas aux Étrusques...»

Também o Conde de Conestabile se exprimiu nestes termos, segundo podemos 1er na Crónica do já citado Boletim de Archilectura e de Archeo-bgia, 1876, n." 12, p. 194:

«...C'e>t dès curieux de rencontrer un vase peint de la série greco-italique dans une découverte du Portugal. Je crois que cela arrive pour la première fois et doit attirer vraiment l'attention des archéologues, à cause de la propagation com­merciale de ces monuments céramographiques vers un pays auquel on ne pensait pas du tout...»

A mesma classificação de ítalo-grego, alternando com a de etrusco, numa confusão compreensível para a época, e ainda a mesma surpresa por se encontrarem produtos dessa origem neste recanto da Península

de tal maneira que o autor chegou a suspeitar de uma fraude que, confessa, nenhum indício veio confirmar revclam-se nestas pala­vras de I mile Cartailhac. Les Âges Préhistoriques de VEspagne et du

Page 5: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

VASOS GRIîGOS EM PORTUGAL 181

Portugal. Paris, 1886, p. 252-261, em que, depois de fazer alusão a «des vases en terre peints Italo-Grecs», prossegue deste modo:

«Cette découverte de vases dits étrusques n'était point passée inaperçue en Portugal; le Boletim <T architecture les publia, mais cette feuille était peu répandue hors du pays...Ces pro­duits exotiques sont au moins, les uns du lit1', siècle avant notre ère, les autres du VIe. Ce ne sont pas les seuls objets dus à l'importation...On admet aujourd'hui que les Étrusques après la ruine de leur puissance maritime, se tournèrent vers le nord, pour trouver le débit des armes, outils,, objets d'art... Ce commerce... aura it-il été plus étendu qu'on ne le soup­çonnait? ...La céramique, avec personnages figurés, bien connue sous l'appellation d'Étrusque, va nous révéler d'autres fails plus importants pour nous. On sait que ces vases étaient fort souvent copiés d'après de liés anciens modèles grecs...»

Iinfini, Estácio da Veiga, ao referir-se aos achados de Alcácer do Sal, nas suas Antiguidades Monumentais do Algarve, Lisboa, 1886, vol. iv, p. 267 seqq., também hesita tia atribuição da proveniência:

•...Duas urnas de barro de cor escura, com figuras emble­máticas pintadas, das vulgarmente chamadas etruscas, ou gregas, sendo desiguais nas dimensões...»

I . Alves Pereira, cm nota a um artigo publicado em O Archeologo Português, vol. XX. p. 1-16, sob o título Novas Figuras de Guerreiros Lusitanos Descritas pelo Dr. L. de Figueiredo Guerra, apenas comenta prudentemente:

«Tudo isto é ante-romano».

Porém já em 1905. pelo menos, se sabia que os vasos eram gregos, e até se estabelecia uma cronologia mais aceitável, pois lc-se na Notice Sommaire sur le Musée Ethnologique Portugais, Lisbonne, publicada por Leite de Vasconcelos na mesma revista, vol. x, 1905, n.° 3-5, p. 65-71, e mais tarde incluída na já citada História do Museu Etnológico Portu­guês, que o Museu possuía «des vases grecs, trouvés à Alcácer do Sal».

Page 6: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

182 MARIA HELENA ROCHA PEREIRA

E, nesta última obra, no capítulo consagrado às «Antiguidades Nacio­nais», a p. 187-188, ao falar da já famosa necrópolc, precisa bem:

«...Achar am-se aí armas e instrumentos agrários de ferro, loiças gregas do séc. iv-in a .C, objectos de adorno corporal (fibulas e braceletes)...A loiça grega relaciona-se com outros achados da mesma natureza feitos no Sul de Portugal...»

A terminologia é estranha, mas a classificação e data já são mais aproximadas.

Em 1924, J. de C. Serra Ráfols, encarregado de escrever o artigo sobre Alcácer do Sal para o ReaJlexikon der Vorgeschichie de Ebert, atribuiu os vasos ao último terço do séc. iv a .C, hesitando,,embora, entre a proveniência itálica ou grega(1).

Por isso não admira que Virgílio Correia, certo dia em que teve oportunidade de encontrar o Prof. Beazley num congresso cm Madrid, o interrogasse sobre o assunto, o que lhe permitiu afirmar, no vol. t da Bibhs, 1925, p. 319-326:

«...Embora já recentemente, rompendo com a mais lata deno­minação de vasos ítalo-gregos, alguns autores classificassem estas crateras como gregas, eu tive a boa sorte de ouvir con­firmar em Madrid, pela boca de uma autoridade cm cerâmica helénica, o Professor Beazley, da Universidade de Oxford, que tais vasos deveriam denominar-se áticos, pois que áticos eram, da decadência e da primeira metade do séc. IV».

Os autores que depois se ocuparam dos achados de Alcácer do Sal (2) adoptaram, evidentemente, esta classificação e cronologia.

(1) A p. % do vol. i: «...aus dem letzten Driltel des 4. Jh. v. Chi'.: besonders dadurch intéressant, weil sic die SiJdgrcnzc der gcnannten Kultiir markiert. ..Die Funde hcstehen aus [...] und Keramik, untcr der zwei jiingere rotfigurige Kraterc griech, oder ital. Herkunft. Die rotfigurigen Vasen...sind wahrscheinlich alter ais das Ietztè Driltel des 4. Jh. v. Cht...»

(2) Entre eles A. A. Mendes Correia, numa breve referência, a p. 160 do vol, i da História c/e Portugal dirigida por Damião Peres; e, com mais minúcia, Gar­cia y Bellido, Los tíaliazgos Griegos en EspaHa, Madrid, 1936, p. 101-102, e His­pânia Graeca, Barcelona, 1948, vol. 2, p. 187-188 e ainda M.n de Lourdes Costa Arthur, op. laite/., p. 369-380.

Page 7: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

VASOS GREGOS EM PORTUGAL 183

Esta é, nas suas fases principais, a história do conhecimento dos vasos gregos encontrados em Alcácer do Sal, que se conservam no Museu Etnológico de Belém, em dois anuários envidraçados da sala principal, juntamente com alguns pratos, taças ou fragmentos não pintados, provenientes de Moura e Elvas.

Além destas peças, aparecidas no nosso País, o Museu possui ainda um grupo de objectos mais antigos, repartidos por dois escapa­rates envidraçados, na chamada «Sala das Condecorações de Bernar­dino Machado», os quais foram adquiridos por Leite de Vasconcelos em 1905. segundo o próprio nos informa no vol. xi de O Areheologo Português (1), e provC-m das ruinas de Miccnas e Argos e de outros locais da Grécia nào especificados.

Encontra-se na posse do Sr. Presidente do Conselho um vaso da época geométrica, que lhe foi oferecido pelo Primeiro Ministro da Grécia, quando da sua visita oficial ao nosso País. em 1954.

Na colecção particular do Prof. Doutor F. Gentil guardam-se dois outros vasos pintados, encontrados na sua propriedade de Alcá­cer do Sal.

É este conjunto de peças de cerâmica grega que nos propomos estudar em seguida, não sem agradecer primeiramente a autorização para as examinar c fotografar, que nos foi pronta e amavelmente con­cedida por Sua Excelência o Sr. Presidente do Conselho, Prof. Dou­tor A. de Oliveira Salazar, pelo Sr. Prof. Doutor Francisco Gentil e pelo Sr. Prof. Doutor Manuel Heleno. Director do Museu Etnológico de Belém. A Prof. Sir John Beazley, de quem tive a honra de ser dis­cípula das duas vezes que frequentei a Universidade de Oxford, em 1951 e 1954, devo preciosos esclarecimentos sobre a cronologia e inter­pretação de algumas peças e a atribuição de autoria de uma delas.

(I) Este grupo figura na lista das «AcquisieÕes do Museu Etnológico Por­tuguês» de Abril de 1905: ...«Também entrou no Museu uma colecção de mais de quatrocentos objectos arqueológicos que adquiri na Grécia, Itália. Suiça, França e Hespanha» (Vol. \i . 1906, p. 92), Também se faz referência a «uma taça grega dos séc. iii-ii a.C. que obteve cm Roma» no vol. win, 1913, p. 163, entre as aqui­sições de Outubro de 1912.

Page 8: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

184 MARIA HELENA ROCHA PEREIRA

a) VASO GREGO PERTENCENTE AO SR. PRESIDENTE DO CONSELHO

I—Es te belo espécime inédito de vaso do período geométrico

(fig-, 1), proveniente de Atenas, data do séc. viu a.C. c, pela sua forma,

mostra que se destinava a conter líquidos. Hm contraste com o uso

da época protogeométrica, e de acordo com a prática usual do período

que se lhe seguiu, está decorado em toda a sua superfície com dese­

nhos lineares diversos, entre os quais se salientam, no friso do bojo,

os cavalos estilizados da maneira característica tão conhecida de outros

exemplares coevos. As zonas mais largas contêm, além desse motivo,

o da grega, do triglifo, do lozango, da linha ondulada vertical e hori­

zontal. Nas zonas menores predomina o «chaveirão». A base está

ornamentada com pequenos círculos. Muitos destes motivos exis­

tiam já na época micénica(l). Porém a fornia do vaso, com bojo

ovalado e colo largo, quase da mesma altura, a sua decoração contínua,

com alternâncias entre as linhas rectas e curvas, entre as zonas estreitas

e largas (2), e a inserção de um motivo animal, tudo isto caracteriza

a peça como geométrica e lhe dá uma harmonia de conjunto que pre­

nuncia claramente a sua origem ática.

(1) Cf. A. Furumark, The Mycenaean Pottery. Analysis and Classification, kungl. Vitterhets Historic och Antikvitets Akademicn, Stockolm, 1941, cap. «The I kments of Mycenaean Decoration», p. 236-429.

(2) Em V. R. d'A. Desborough, Protogeometric Pottery, Oxford, at the Cla­rendon Press. 1952, p. 125, defme-se com perfeito rigor este estilo, por oposição ao precedente: olhe succeeding Geometric style introduces new shapes and radical alterations of old ones: both basic and subsidiary decoration adapt themselves to these, and fresh ideas are evident. The clay-ground technique of the preceding period which, in spile of the increasing popularity of dark ground, had never comple­tely been discarded, disappears, but now the simple dark-ground technique, whereby paint was applied uninterrupted!) over most of the surface of the vase, is increasingly broken up by systems of bands which no longer emphasize a change of plane, but are related more closely to the general effect of the vase, and by zones of subsidiary decoration, the neck and belly areas of the larger closed vases receiving particular attention, and at least the neck of the smaller ones, Secondary zones of subsidiary decoration are used in addition to the main ones — a fact which can best, be seen on lhe pointed pyxides. In the details of the subsidiary decoration circles are now only rarely used, and semicircles go out of fashion altogether; other motives also disappear, and fresh ones take their place, chief of which are perhaps the meander and the multiple chevron».

Page 9: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

VASOS GREGOS HM PORTUGAL 185

b) VASOS DO MUSEU ETNOLÓGICO DE BELÉM

a) DA «SALA DAS CONDECORAÇÕES DE BERNARDINO MACHADO»

Este grupo de vasos foi. como já dissemos, adquirido na Grécia por Leite de Vasconcelos e está inédito, segundo supomos.

2 — Taça com uma asa (tig. 2)

A peça mais antiga de quantas existem no nosso País é esta taça com uma asa. que deve datar-se do Micénico tardio. A forma é a mesma que vem descrita e desenhada em A. Furumark, The Mycenaean Pottery, p. 48. tipo n." 220.

A decoração consiste em círculos concêntricos junto da base e uma zona mais larga, ornamentada com um desenho que se repete em toda a volta. É muito semelhante à taça do British Museum, C 631, de F.nkomi. que figura no Corpus Va.sorum Antiquomm, B. M. I, est. 5.12-26, e vem reproduzida também em F. H. Stubbings. Mycenaean Pottery from the Levant, Cambridge University Press. 1951, est. xii, n.° 13. Somente no nosso caso a decoração dessa zona é constituída pelo chamado motivo do f/(l), frequente no Micénico tardio.

3 e 4 — Alahastron (íig. 2)

Os dois alabastro são coríntios e do final do séc. VII a.C. O da esquerda tem como motivo básico da sua decoração pequenos círculos. O da direita apresenta faixas largas cm alternância com círculos.

Os modelos são vulgares e conhecidos. Basta citar os que vêm em Corpus Vasorum Antiquontm. Danemark. 2, est. 94 (n.° 12, 13).

4 — Cantil (tig. 2)

Este pequeno vaso de bojo largo, decorado com grupos de riscas estreitas às quais correm paralelas duas riscas mais largas, e com gar­galo pequeno e uma asa, é um modelo cipriota de cerca de 600 a.C.

(I) Cf. A. Furumark, op. land., p. 345, fig. 58, n.û 45 e p. 351-352.

Page 10: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

186 MARTA HELENA ROCHA PEREIRA

6-7-8 - Lekythos (fig. 3)

Dos três îekythoi existentes no Museu, todos eles de origem ática, 0 que se encontra do lado direito da fotografia deve datar-se do pri­meiro quartel do séc. v a.C. O motivo principal da sua decoração são palmeias negras. Um desenho semelhante encontra-se, por exem­plo, em Corpus Vasorum Antiquorum, Danemark, Copenhague, Musée National, est. 112, n.° 15-16.

Os outros dois são lekythoi brancos. O maior, que pode datar-sc de c. 640 a .C, representa um homem com um bordão na mão(l) . O do lado esquerdo da fotografia, do segundo quartel do séc. V a .C, apresenta uma decoração de folhas e bagas de hera que é comum nessa época. Cf. Corpus Vasorum Antiquorum, Bruxelles, 2. est. I.

9 — Lekythos aribalesco (fig. 4)

Este pequeno lekythos aribalesco ou arredondado é também ático e do final do séc. v a.C. Um vaso semelhante, mas com decoração vegetal, c não linear, como aqui, figura em Corpus Vasorum Antiquo-rum, France, Musée de Sèvres, 13, est. 46, n.° 4.

10-11-12 — Ânforas miniaturais e «lacrimatorium» (fig. 5)

As ânforas miniaturais e ponteagudas devem ser tardias, mas não é fácil datá-las com exactidão. Quanto ao vasinho para perfumes conhecido pela designação de lacrimatorium, é da época romana.

— Noutro escaparate de vidro encontram-se três tabuleiros de fragmentos da época miecnica e geométrica.

(i) DA SALA PRINCIPAL DO PRIMEIRO PAVIMENTO

É cm dois armários envidraçados desta sala que se guardam os vasos gregos aparecidos em Alcácer do Sal, Moura e Elvas. Anali­saremos só os que são decorados com pinturas.

(I) O desenho está bastante apagado, o que não nos permite dizer mais. À primeira vista poderia julgar-se que Asclépios segurava na mão o animal que o simbolizava — a serpente —mas esta interpretação é difieil de confirmar.

Page 11: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

VASOS GREGOS FM PORTUGAL 187

13— Krater de sino. de figuras \ermelhas (fig. 6, 7 e 8)

lista c a mais famosa de todas as espécies cerâmicas encontradas em Alcácer do Sal. Encontra-se reproduzida em gravura de J. da Silva publicada no Boletim de Architecture! e cie Archeologia, vol. i. n.° 6, 1875. est. 10. p. 91-92, e no Bulletin Monumental, 1875. n." 5. p. 471-472; em fotografia por Ebert, Realle.xikon der Vorgeschichte (artigo Alcácer do Sal, de Serra Ráfols), vol. ív, p. 96, Tafel 26, por A. A. Mendes Correia in História de Portugal, dirigida por Damião Peres, vol. i, p. 160 c por Garcia y Bellido. Hispânia Graeca, vol. ill. Iam. CXLH. O próprio Museu editou uni postal ilustrado com este vaso.

Quanto à forma, trata-se de um krater (I) de sino. 1: ático e do primeiro quartel do séc. IV a.C.

A interpretação tem sido muito discutida. Pondo de parte, por inteiramente fantasista, a de .1. da Silva, já citada acima, vamos ana­lisar em seguida as principais, para depois apresentarmos a que nos parece mais provável.

Para Desjardins, em carta publicada no Bulletin Monumental. 1875. n.° 5. p. 471-472, a cena da face principal descrevía-se deste modo:

...«Sur les cinq figures qui forment le sujet, celle qui repré­sente un vieillard, du côte gauche, et la prêtresse, mettant le feu au bûcher, sont des plus incorrectes d'ensemble aussi bien que de détails. Les trois autres, avec un mouvement meilleur, ne sont pas plus parfaites dans la reproduction des extrémités...Quant au sujet, il me semble y voir une invoca­tion, faite par les deux personnages, places aux extrémités du tableau. Tous deux semblent faire un voeu en élevant la main sur un bûcher qu'une prêtresse allume, et que deux jeunes gens attisent.»

(1) Embora os autores portugueses c|ue se ocuparam do assunto usem a forma cratera, preferimos manter a designação original grega, como fizemos para os demais vasos, sempre que ela representa um termo técnico, de aceitação universal entre os especialistas, porque só reconhecemos vantagens na uniformização da nomenclatura.

Alem disso, preferimos di/.cr krater ile sino. como equivalente do inglês bell--krater e do alemão Glockenkrater, termo que, modernamente, veio suhstituir-sc, por mais expressivo, ao antigo oxybaphon, que deixou de se usar.

Page 12: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

188 MARIA HELENA ROCHA PEREIRA

Fmil Hubner, no apêndice à sua obra Die aníiken Bildwerke in Madrid, Berlin. 1882, p. 333, consagra algumas linhas a este vaso. que interpreta da seguinte maneira:

...«Vor einem Altar mit brennendem Opfer steht links ein Priester, den Oberkõrper entblõsst, rechts eine Frau im Chi­ton; hinter dem Priest ist auf einem Pedestal das Bild einer Gottin deutlich, doch fehlen bestimmende Attribute. Es folgen auf beiden Seiten noch mehrere andere Figuren, doch sind sie meist bcschádigt...»

Também F. Alves Pereira se ocupou desta cena numa breve nota ao artigo Novas Figuras de Guerreiros Lusitanos Descritas pelo Dr. L. de Figueiredo Guerra in O Archeologo Português, vol. xx. p. 14, mas parece considerar que tudo decorre no interior, pois afirma:

«...palmetas pintadas que balizam dos lados a casa cultual. Duas das personagens, que nela figuram, sustentam uns uten­sílios, que não são senão os espetos utilizados nesta cerimónia do culto doméstico...»

1'clo contrário. Garcia y Bellido, ao analisar este vaso na sua Hispânia Graeca, Vol. ir, p. 187-188, reconhece que tudo se passa no exterior:

«...una grán cratera...con figuras de buen arte, representaba una eseena de sacrifício ante una ara. en un paisaje natural (árboles); actúan dos sacerdotisas asistidas por un mancebo desnudo; cn los extremos de la eseena un nombre barbado vestido de larga ropa (izquierda) y un varón joven, también vestido de largo (derecha)».

li Tora de dúvida que se trata de um sacrifício executado sobre uma ara. onde está a lenha à qual a sacerdotiza, vestida com um chi-íon, pega o fogo. Do lado direito, um jovem envolto no seu himation segura um espeto; à esquerda, um rapaz tem outro na mão. Ao lado do altar ergue-se um loureiro que faz pensar que o deus a quem se está

Page 13: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

VASOS GRFGOS FM PORTUGAL IS9

a prestar culto seja Apolo (I). No entanto, como nota Hiibner, fal­tam atributos característicos à figura sobre o pedestal, à direita, que tem o braço estendido. O mesmo se pode dizer da que se encontra do lado oposto, em atitude perfeitamente simétrica, e também envolta num himation.

O conjunto tem harmonia. A centralização da cena representada é típica da pintura de vasos do sec. iv a.C.

Encontra-se no Museu do Louvre (2) um krater com uma com­posição semelhante: à sombra de um arbusto, um homem coroado c dois efebos assam carne; à direita, uma divindade, que talvez seja Apolo.

Quanto à outra face do krater, que se encontra muito danificada, além das considerações imaginosas que sobre ela teceu J. da Silva, e que já referimos, só conhecemos a interpretação de Garcia y Bellido. op. laud.:

«En la parte opuesta mai nades com tympano danzando entre dos satyros con thyrsos...»

Trata-se, com efeito, de uma ménade com um tímpano, ladeada por dois sátiros, que parecem dançar com Ursos na mão.

— Fragmento de outro krater.

Devia ser um vaso da mesma qualidade do anterior. Apenas se conserva a parte inferior, na qual se vê um bocado da decoração (uma grega e uma palmeta) e a orla de um chiton.

— Fragmentos da mesma proveniência, em número de catorze.

14 — Pelike de figuras vermelhas (fig. 9 c 10).

Rste vaso encontra-se reproduzido em Leite de Vasconcelos, His­tória do Museu Etnológico Português, fig. 56-56 A. p. 367, Garcia y Bellido, Hispânia Graeca, vol. m. Iam. CXLII e A. Martins Afonso, História da Civilização Portuguesa, p. 21.

(I) Cf. uma maneira semelhante de indicar o culto de Apolo num vaso publi­cado em Corpus Vasorwn Antiquorum, Danemark, Musée National, Copenhague, 4, est. 147-la.

<2) Corpus Vasorwn Antiquorum, France, 8, est. 35, 2.

Page 14: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

190 MARIA HELENA ROCHA PEREIRA

É uma pelike de origem ática, da primeira metade do séc. iv a.C. Foi descrita por Garcia y Bellido, op. laud, como «un pelike de mal arte...con figuras dionysiacas (delante) y dos personajes cnvueltos en sus mantos (detrás)».

Particularizando mais, podemos dizer que o anverso representa uma ménade com um tímpano nas mãos, sentada entre dois jovens, dos quais o da direita segura um tirso. A qualidade do desenho bastante inferior.

Cenas semelhantes podem ver-se também cm vasos do chamado estilo Ap., por exemplo, C.V.A., Copenhague, Musée National, 6, est. 250, 2a c b , c est. 253, la.

O reverso apresenta uma cena que é extremamente comum em vasos de menor categoria artística e que veio a tornar-se corrente no mesmo estilo Ap.: dois jovens conversam em pé. envoltos no seu hima-!ÍOfl(\).

15 — Skyphos de figuras vermelhas (fig. 11 e 12).

Referido por Garcia y Bellido, op. laud., como «un skyphos con dos personajes cnvueltos en sus mantos a ambos lados».

O mesmo motivo do reverso da pelike anteriormente estudada figura nas duas faces destes skyphos de figuras vermelhas, também ático c da primeira metade do séc. iv a.C. O desenho c extremamente grosseiro.

16 — Prato de figuras vermelhas (fig. 13).

Descrito por Garcia y Bell ido, op. laud., como «un plato con dos peces grandes, otros dos pequenos y un cefalópodo». Inédito.

Além dos dois peixes grandes e do eefalópode, distinguem-se mais quatro pequenos e um ao meio. O rebordo está pintado com motivos em espiral.

Trata-se de um prato italiota do séc. iv a.C. O motivo é muito frequente em vasos dessa proveniência, embora se encontre também

(1) Entre muitos exemplos, podem citar-sc C.V.A.. Oestcrreich, I, Wicn, Kunsthistorisches Museum, est. 30 e 34; Danemark, Copenhague, Musée National, est. 250, 2 b; 25E la, 2b; est. 252, 1b, 2b; est. 253, 2b, 3b; France, Musée du Lou­vre, 8, est. 2, 6.

Page 15: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

VASOS GREGOS EM PORTUGAL 191

em exemplares áticos. Era sobretudo das olarias da Campania que saíam pecas ornamentadas neste gosto. Encontram-se muitos mode­los semelhantes no Corpus Vasoruin Antiquorum, Bruxelles. 3, est. 1 ; Copenhague, Musée National. 6. est. 249, etc., etc.. mas com mais fino desenho.

c) DA COLECÇÃO DO PROF. DR. F. GENTIL

17--Skyphos de figuras vermelhas (íig. 14 e 15).

Este skyphos ático, de figuras vermelhas e da primeira metade do see. iv a. C , é idêntico ao que descrevemos anteriormente, sob o n.° 15, mas menos bem conservado, pois tem uma asa partida. Como ele. representa dois jovens envoltos no seu himation, de ambos os Iados( I ). Somente aqui o da direita segura um bastào. No lado oposto do vaso. o outro efebo tem na mão um objecto que não é íacil identificar, devido sobretudo à extrema imperfeição do desenho, mas que parece ser uma estrígil.

18 — Krater de sino. de figuras vermelhas (fig. 16, 17, 18).

Publicado, entre outros, por M.:i de Lourdes Costa Arthur. Necro­polis de Alcácer do Sal, separata da Crónica dei li Congreso Arqueoló­gico Nacional. Madrid, 1951. Cartagena, 1952.

É um krater de sino de proveniência ática c da primeira metade do séc. iv a.C.

Dele se ocupou muito sucintamente Garcia y Bellido. op. laud., vol. Il, p. 187-188(2) e, com mais desenvolvimento, M.a de Lourdes Costa Arthur, na comunicação acima citada, era que o interpreta deste modo:

«.,. de izquierda a derecha, una bacante, teniendo elevada en la mano izquierda una bandeja y en la derecha una antor-cha ( ?); vuclto hacia cila un sátiro, de gran cola equina, danza. En medio y en situation destacada, otra diosa bacante que

(1) Descrito por M.» Lourdes Costa Arthur, op, laud., como «un skifos en cl cual vemos, por cada uno de los dos lados, dos figuras masculinas cnvueltas en mantos».

(2) «Una de las kratoras tiene mainades y sathyros con pintura blanca».

Page 16: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

192 MARIA HELENA ROCHA PEREIRA

tienc, como la primera, el tono de la piei sobresaliendo dei bianco de la pintura, sujeto cou In mano izquierda cl tirso y, a juzgar por el sentido del movimiento. que cl artista supo imprimir en la túnica que viste, décimos que está bailando, vuelto liacia oiro sátiro que sentado toca un pequeno instru­mento de viento; en el reverso, três personajes envueltos en sus mantos...»

A face principal representa, com efeito, uma cena dionisíaca, que tem por figura central uma ménade a dançar, com um tirso na mão esquerda, ao som da música da flauta tocada por um sátiro, sentado numa pedra. Do lado esquerdo, outro sátiro apoiado a um tirso e que, tanto quanto o estado de conservação — e de restauro — do vaso permite ver, traz também às costas uma pele de animal, adorno corrente destas figuras. Tanto ele como a ménade que lhe fica próxima pare­cem sentir o êxtase dionisíaco. lista última leva na mão esquerda um prato de fruta e na direita um archote.

Uma característica notável deste krater é apresentar as chamadas linhas cie relevo no corpo dos sátiros.

A face oposta representa três jovens envoltos no seu hUnation, estando os dois dos extremos com um braço estendido. O da esquerda tem um aryballos. Penduradas da parede vêm-se tabuinhas de escre­ver. O motivo de dois ou três efebos a conversar, cm pc, é, como vimos, muito usado, sobretudo para ornamentar o reverso. E curioso que se encontra no Museu de Chipre um kalyx-krawr com uma pintura ( I ) quase exactamente igual a esta, mas que é, contudo, um pouco mais perfeita.

São um motivo muito frequente nos vasos de figuras vermelhas as cenas báquicas. O exemplo mais célebre, pelo seu alto valor artís­tico, é o da famosa ânfora de Munique, 2344. E as composições no género daquela de que estamos à ocupar-nos são em grande número. Bastará lembrarmos dois krateres de sino de Galera (Garcia y Bellido, /-/. G'., III, est. cxxxvi. 5 c est. cxxxvin, 7).

Além disso, o estilo do desenho faz com que se deva identificar 0 autor, segundo Prof. Sir John Bcazley, a cuja apreciação subme­

ti) Publicado por Sir John Bcazley, Some Attic Vases in the Cyprus Museum, from the Proceedings of the Rritish Academy, London, 1937, estampa S. Analisado na p. 49 do mesmo estudo.

Page 17: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

FIG. r

Page 18: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

F I G . 2

FIG. 3

Page 19: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

FIG. 4

Fio. 5

Page 20: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

FIG. 6

FIG. 7

Page 21: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

FIG. 8

Page 22: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

FIG. 9

FIG.10

Page 23: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

FH>. I i

I n ; . 12

Page 24: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

PUR \ \

Fir,. 13

Page 25: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

FIG. 14

FIG. 15

Page 26: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

Fie. I6

FIG. 17

Page 27: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

FIG. I 8

Page 28: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

VASOS GREGOS LM PORTUGAL 193

temos as fotografias, com o chamado Pintor dos Tirsos Negros (Black-

-Thyrsus Painter), famoso ar t is ta ático dos começos do séc. iv a.C.

Deste m o d o . o krater de sino da Colecção Gentil é mais u m espécime

a acrescentar à lista das obras (I) desse pintor, estabelecida pelo céle-

(I) A lista, que Prol'. Beazley teve a liberalidade de nos comunicar, já com os aditamentos por ele feitos desde a data da publicação da obra até à actualidade, é a seguinte:

KRATERES DE SINO

Louvre G 511. CV, e est. 3, I e 3. Londres 1950. 4-26.1. A, Tillyard, Hope Vases est. 27, 168. Salonica, 38.576. Robinson. Qlynthus 13, est. 48-50. Viena 624. Lamberg, olim. A, La Bordes, est. 80. Mastrillo, olim. Passeri, est. 215. Madrid, proveniente de Tútugi. A, Boletin de Excursiones 28, p, 247, fig. 9-

A, Garcia y Bellido est. 136, dir. Sofia. Ivanov Apoloníya. 32-3. Ancona. Madrid, proveniente de Ba ena. A, Garcia y Bellido, est. 133 esq. Salpnica 38.513, fragmento. Robinson, Qlynthus 13, est. 121, b. Granada, Rodriguez Acosta, proveniente de Tútugi. Boletin 28, 247 e 250.

figs. 10-1 I; Garcia y Bellido, est. 138. Munique, Bayerlin. Vaticano, inv. 9099. Lnglefield, olim, Passeri est. 212: A, Moses Englefield, est. 13-14. Cápua 7538. CV. est. 21. 2 e 4-5. Sofia. A. Izv. B/g, II. 130, fig. 119. Ostia, fr. Ostia I est. 23, cm baixo à direita, C. Nápoles 918. Londres, col. particular. Nápoles 942 A, Jáhreshefte 32-39. Oxford 1954. 265, fer. Parte in J.H.S. 59. 34, 83. Louvre G. 523. CV. e est. 5. 9-10. Copenhague Chr. VIU. 83. Aniik-.Cabinett 1951, 75. Barcelona, proveniente de Ampurias. A, Garcia y Bellido, est. I 10, esq. Leninegrado (St. 1174). A. Schefold Untersuchungen est. 27, 4. Atenas, Pnyx. 328. fr. Hesperia, supp. X, est. 33, 328. Salonica, 8, 235 fr, Robinson, Qlynthus 5, est. 137, 361. Alicante, IV., proveniente de ísla dei Campello. Garcia y Bellido est. 123, 45,

sup. direito. O fragm. ibidem, inf. esquerdo, pode pertencer-lhe. Salonica 328, fr. Robinson Qlynthus 5, est. 104, 163. Oxford, fr.

PELIKE

Nova Iorque GR 524. A, Schefold, Untersuchungen, fig. 80.

Page 29: NOTÍCIA SOBRE VASOS GREGOS EXISTENTES EM PORTUGAL

194 MARIA HELENA ROCHA PEREIRA

bre especialista num livro que marcou uma época, Adie Red-figure Vase Pain/ers, Oxford, 1942, pp. 878-9 e 966. É curioso notar que muitos dos vasos pintados por este artista têm sido encontrados na Península.

Conforme acaba de se verificar, a cerâmica grega do nosso País aqui analisada não é muito numerosa nem muito valiosa. Além disso está longe de conter espécimes de todas as grandes épocas (falia por completo o estilo de figuras negras) ou sequer as formas principais de cada período {apenas o Jekythos, o lekythos aribalesco, o alabas-tron, o krater de sino, a pelike, e o skyphos). Na maior parte dos casos, o desenho é de qualidade inferior. Exceptuam-sc apenas, den­tre os espécimes vindos do estrangeiro, o grande vaso geométrico, que é um belíssimo exemplar, e, dentre os encontrados no nosso País, os dois kraíeres provenientes das escavações de Alcácer do Sal, que ao seu valor documental aliam um valor artístico mais elevado. Estes últimos têm além disso uma importância que sempre lhes ficou adstrita desde o seu aparecimento, qual é a de testemunharem, em época tâo recuada, o contacto dos habitantes do extremo ocidental da Península Ibérica com uma das formas mais requintadas da arte helénica.

MARIA HELENA Rot HA PEREIRA