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Novelas de Faroeste V - A CASA DO MAGO DAS LETRAS DE FAROESTE 5… · atingindo na coxa direita, cambaleou e caiu na poeira. — Malditos! — berrou Billy, enraivecido, sacando a

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Novelas de Faroeste

Volume V

L P Baçan

Copyright © 2015 L P Baçan

Todos os direitos reservados. Este livro ou

parte dele não pode ser reproduzido ou

usado de qualquer outra forma nem

divulgado sem a expressa autorização do

autor, exceto o uso de partes para referência

ou comentários.

ISBN 978-1-329-81618-3

Lulu Press, Inc. 3101 Hillsborough St, Raleigh, NC 27607

2015

O Velho e Selvagem Oeste No Velho e Selvagem Oeste, o saloon era

o local mais movimentado e frequentado da

cidade. Ali aconteciam shows, dança, jogo e

muitas brigas. Ali se encontravam mocinhos

e bandidos, pistoleiros e desafiantes,

mulheres bonitas e perigosas. A maior parte

das histórias de faroeste passava por ele.

Dos ambientes mais simples e rudes aos

mais sofisticados, todos, indistintamente

acolhiam moradores e forasteiros, cada um

com sua história, cada um com seu destino.

Famosos pistoleiros criaram fama nesse

local. Outros ali encontraram a morte, na

boca esfumaçada de um Colt. A fumaça da

pólvora negra era o manto lúgubre que

cobria mais um morto. Um punhado de

serragem era jogado sobre a poça de

sangue. Uma rodada gratuita de uísque

barato era servida e minutos depois

ninguém mais se lembrava do ocorrido.

Afinal, o Oeste era mesmo um lugar

selvagem e as Novelas de Faroeste mostram

isso.

Rio da Discórdia

Dois homens caminhavam pela rua

principal de New Rockford, em Dakota do

Norte. Passava um pouco do meio-dia e não

havia sombras, apenas aquele calor intenso

de junho.

A rua estava vazia, mas, por trás das

janelas e portas, todos acompanhavam

aquela caminhada.

Os dois estavam armados. Um era um

velho e o outro, apenas um rapazola. As

armas estavam soltas nos coldres, prontas

para serem sacadas.

Seus olhos estavam fixos no saloon,

diante do qual alguns homens os

observavam.

— Lá estão eles, pai — disse Billy

Colman.

— Sim, já os vejo. Não estou cego assim,

filho — respondeu o velho Slim Colman.

Retardaram um pouco o passo,

analisando suas possibilidades. Eram três

homens, todos pistoleiros do pior tipo, a

serviço de Jim Wallace, o mais poderoso

rancheiro da região.

Os três homens saíram lentamente para a

rua, ajeitando os chapéus sobre a cabeça,

liberando os revólveres nos coldres. Seus

olhares frios e cruéis se fixaram nos dois

oponentes que vinham ao encontro deles.

— Saíam da frente — gritou o velho. —

Queremos falar com Jim Wallace.

— Então porque vêm tão armados assim?

— retrucou um dos pistoleiros.

— Queremos estudar uma forma de

resolver a questão — falou Billy.

— Cale-se, garota! A conversa ainda não

chegou em você — falou Billy.

— Billy é igualmente dono das terras e

tem direito de ser ouvido — ponderou o

velho.

— Na verdade mesmo, vocês já falaram

demais. Já ofenderam o Sr. Wallace e nada

há mais a ser discutido. Puseram cercas nas

nascentes do rio mas nós as tiramos. E isso

vai acontecer de novo se insistirem em

manter as nascentes só para vocês.

— Estou protegendo as nascentes. O

gado de Jim Wallace pode beber mais

abaixo, onde o rio encorpa e as margens são

raras. Nas nascentes eles sujam as águas e

destroem a vegetação. Em breve não haverá

água para ninguém, é o que digo — falou o

velho.

— Não seja tolo, velho! Aquelas

nascentes estão lá há muito tempo...

— Mas o gado de Wallace irá acabar com

elas, se eu não cuidar. As terras são minhas,

o gado pode beber mais abaixo. Vou voltar

a cercar o local e pôr vigias lá. Se alguém se

aproximar, será morto.

A porta do saloon se abriu e um homem

gordo e alto surgiu, acendendo um charuto.

Usava terno elegante, bem cortado e não

portava armas.

Desceu até a rua, os dedos polegares

metidos nos bolinhos do colete, baforando

seu charuto. Parou diante dos dois,

encarando-os. Tirou o charuto da boca.

— É um velho burro, Slim. Tem mais

terras do que pode cuidar e ainda se arvora

em protetor das nascentes do rio. Ouça a

minha oferta: dez mil dólares pelas suas

terras, como estão. Porteira fechada! É

minha última oferta.

— Sabe o que pode fazer com sua oferta,

não? — falou Billy, demonstrando irritação.

— O que faço em minhas terras é

problema meu — ajuntou o velho Colman.

— As nascentes estão em minhas terras...

— Tenho um pasto ao lado — cortou-o

Wallace.

— Mas tem outro, maior, rio abaixo.

Leve seu gado para lá.

— E perder as terras ao lado das suas?

Nunca!

— Então não pode querer invadir meu

rancho.

Wallace se aproximou ainda mais,

soltando fumaça na cara do velho Colman.

— Não seja idiota — disse, entredentes.

— Posso fazer o que quiser aqui. O prefeito

é meu irmão, o juiz é meu primo e o xerife é

meu sobrinho. O que mais preciso para

convencê-lo?

— Não me convencerá. Recorrerei ao

Juiz Federal, em Bismarck. Ele haverá de

fazer justiça — ponderou Colman.

Wallace olhou-o nos olhos, fuzilando-o.

— É um homem morto, Slim!

— Não sacarei contra seus homens. A

cidade toda está acompanhando.

— Melhor ainda. Mato-o como dois cães

sarnentos, depois mando executar a

hipoteca. Já se esqueceu que o presidente do

banco é meu tio? — ironizou Wallace,

começando a rir.

Afastou-se. Os três pistoleiros encaravam

os dois rancheiros. Billy olhou para o pai.

Sabia que não tinham chance.

— Pai! — exclamou o garoto.

— Se vão nos matar, filho, que seja do

modo deles — disse o velho, virando as

costas para os pistoleiros.

— Tem certeza, pai? — indagou o jovem,

virando lentamente as costas também.

— Eles conhecerão a justiça, filho —

afirmou o velho, começando a se afastar.

— Saquem suas armas! — berrou um dos

pistoleiros, disparando entre pai e filho.

A bala zuniu entre os dois, que pararam

por instantes, depois continuaram

caminhando.

— Parem, eu disse! — insistiu o

pistoleiro, disparando para o chão.

A bala fez levantar uma pequena nuvem

de pó na rua, rapidamente desfeita pela

brisa quente do meio-dia.

Outro tiro soou. O velho Colman,

atingindo na coxa direita, cambaleou e caiu

na poeira.

— Malditos! — berrou Billy,

enraivecido, sacando a arma com extrema

rapidez.

Os três pistoleiros, porém, já tinham suas

armas nas mãos. As balas partiram quase

que ao mesmo tempo. O corpo do rapaz foi

jogado para trás.

Caiu na poeira. Uma poça de sangue

começou a se formar ao lado do corpo. A

terra seca foi absorvendo, bebendo a vida

que se esvaía do corpo do rapaz.

— Billy! — gritou o velho Colman, ao

ver o filho estrebuchando na poeira.

Levou a mão ao Colt, mas jamais poderia

se igualar em rapidez aos pistoleiros que o

vigiavam.

Nova saraivada de balas prostrou o velho

ao lado do corpo do filho, as mãos

apertando o peito ferido, o revólver ainda

no coldre, assim como o de Billy.

— Bom trabalho, rapazes! — elogiou

Wallace. — Bebidas por minha conta.

Os pistoleiros foram recarregando suas

armas, enquanto subiam os degraus para o

saloon.

O papa-defuntos correu pela rua, com sua

fita métrica e seu trabalho macabro a ser

feito.

A leste de Rapid City, nos pântanos, um

homem se misturava à vegetação, olhos

fixos na cabana logo adiante, imóvel como

um lagarto prestes a dar o bote.

Seus olhos investigavam os movimentos

no interior da cabana. Cinzas, eles refletiam

tetricamente as cores rubras do pôr-do-sol.

Os dois fugitivos estavam lá dentro.

Vinham de uma série de roubos a banco em

Dakota do Sul, agora, para o Wyoming, na

expectativa de fugir aos xerifes locais.

Ele, porém, era um delegado federal e,

como tal, tinha autonomia em todos os

Estados. Os índios o haviam apelidado de

Olhos Cinzentos. Seus amigos o conheciam

como Delegado Peter Olhos Cinzentos, o

homem que nunca falhava.

Os dois fugitivos eram procurados vivos

ou mortos. Para Peter Olhos Cinzentos isso

não fazia a menor diferença. Levá-los vivos

ou mortos era apenas uma questão de

oportunidade.

Engatilhou sem pressa sua Winchester,

jogando uma bala de quarenta e cinco na

agulha. Apontou para a janela. Podia matar

um deles, se quisesse, mas sempre dava

uma última chance.

— Bob e Ed Freeman! — gritou ele. —

Estão cercados. Saíam com as mãos para

cima e serão levados a um julgamento

justos, antes de serem enforcados.

Em resposta, as duas janelas da cabana

foram fechadas violentamente. Peter

continuou imóvel, misturado à vegetação. A

porta da cabana se entreabriu. Alguém

descarregou um Colt, disparando em todas

as direções.

O homem da lei continuou imóvel. Já

sondara o ambiente. Só havia aquela porta

na cabana, as duas janelas e janelas laterais.

Por onde saíssem, seriam alvos fáceis.

Os cavalos estavam num curral a uns dez

metros da casa. Ambos estavam sem

arreios. Não havia como os dois fugitivos

pudessem correr para apanhar os cavalos,

sem serem abatidos.

As duas janelas foram entreabertas. Os

homens lá dentro sondavam o pântano

diante deles, procurando. O sol se punha

pouco a pouco. Confiavam na escuridão

para uma fuga.

Peter Olhos Cinzentos não se preocupava

com isso. Havia previsto esta situação.

Naquela noite, a lua surgiria rapidamente,

tão logo escurecesse.

Uma lua cheia e generosa, capaz de dar-

lhe a luminosidade que precisava, embora

não precisasse de muita claridade. Não era a

toa que seu apelido era Olhos Cinzentos.

— Quem é você? — gritaram lá de

dentro da cabana.

Ele não respondeu. Era um velho truque.

Se respondesse, eles atirariam na direção do

som de sua voz.

Ao invés disso, moveu-se um pouco mais

para a direita, obtendo uma perfeita visão da

janela entreaberta. Podia ver o chapéu do

homem lá dentro.

Mirou um pouco abaixo da aba. Apertou

o gatilho e girou o corpo para o lado. Da

velha cabana veio um grito e um tiro. Um

dos fugitivos recebera um tiro na cabeça. O

outro disparara, mirando na fumaça

produzida pela Winchester do homem da

lei.

— Maldito seja você! Matou meu irmão!

— berrou o homem lá dentro, furioso.

— Olhos Cinzentos! — respondeu ele,

simplesmente, girando o corpo novamente.

— Maldito federal! Você de novo! —

gritou o outro, saindo à janela e disparando

toda a carga de seu Colt.

Quando o revólver ficou sem munição,

ele sacou outra arma, continuando a

disparar. Peter fez a mira cuidadosamente.

Apertou o gatilho.

O rosto do fugitivo simplesmente sumiu,

quando a bala o atingiu no nariz, afundando

tudo para dentro.

Um silêncio de morte pairou sobre o

pântano. As aves se acalmaram em seus

ninhos. Anoitecia rapidamente. Peter foi

selas os cavalos dos mortos. Queria

pernoitar em Wall, onde deixaria os mortos

e telegrafaria para Bismarck, informando do

sucesso de sua missão.

Precisava, agora, de um descanso. Nos

últimos anos havia percorrido aqueles

territórios de um canto a outro, à caça de

fora-da-lei.

A freira caminhava solenemente na frente

de Lucille Wallace. Ambas percorriam os

austeros corredores do Notre Dame, o

colégio feminino mais famoso de Boston,

deixando a ela das internas e rumando para

o setor da administração, após as salas de

aula, vazias durante o verão.

Como interna, Lucille ainda tinha uma

série de atividades extra-curriculares para

desenvolver. Por isso não entendia a razão

daquela convocação à sala da diretora.

— Irmã Marrie, o que ela quer comigo?

— indagou.

— Silêncio, Lucille. Ela mesma lhe dirá

— respondeu severamente a freira.

A garota respirou fundo e pensou em

alguma travessura que pudesse ter feito para

merecer uma reprimenda.

Nada havia nesse sentido. Nos últimos

meses tinha se comportado bem. Quando

completara dezoito anos, decidira que era

hora de deixar de ser criança e assumir as

responsabilidades da vida adulta.

Estudar era seu prazer, muito embora as

coisas da terra lhe fossem mais cara. Tinha

saudade de New Rockford, de sua infância

no rancho do pai.

À medida que crescia, seu pai fora se

tornando mais poderoso, comprando mais

terras, até se tornar um dos maiores

rancheiros de todo o território.

Ele e sua mãe decidiram que ela deveria

se instruir, por isso fora mandada para

Boston, para se educar.

A viagem era demorada e extenuante, por

isso raramente ela os visitava. Apenas se

correspondiam raramente, pois sua mãe era

agora uma mulher doente e seu pai, muito

ocupado.

— Por aqui, Lucille — indicou a freira.

Entraram na sala da diretora do colégio.

Lucille a cumprimentou. Ao lado dela

estava a Irmã Shelby, a enfermeira-chefe da

escola. Lucille estranhou isso.

— Sente-se, Lucille — ordenou a Madre

Superiora, detrás de sua escrivaninha.

A garota a obedeceu, apreensiva.

— O que houve, irmã? — indagou a

jovem.

— Lucille, os desígnios de Deus estão

além de nossas forças e de nosso controle

— começou a Madre. — Todos tem seu

destino e sua hora, por isso...

— Minha mãe? — indagou a garota,

cheia de suspeita.

— Você tem que ser forte — disse a

Madre.

— Mamãe! — exclamou ela, aturdida.

A enfermeira-chefe a amparou. Lucille

conteve as lágrimas e a emoção. Era uma

mulher do oeste e aprendera a controlar-se.

— Seu pai nos escreveu contando sobre a

morte de sua mãe. Foi uma morte tranqüila,

ela não sofreu. Ele deseja que você retorne

ao rancho por algum tempo.

— Pobre papai! — exclamou ela,

imaginando como seria voltar àquela terra

após tanto tempo.

O que poderia ter mudado por lá? O

mesmo clima seco, a mesma cidade, o

mesmo rancho, tudo teria mudado por lá?

— Quando poderei partir? — indagou

ela.

— Será uma longa viagem, querida.

Partirá em dois dias. Tudo está sendo

providenciado.

Enquanto retornava ao seu quarto, Lucille

lamentava por sua mãe, mas imaginava o

que a esperava na volta a sua terra. As

planícies, o rio, as amigas de infância,

possivelmente já casadas e com filhos.

Alegrou-a, principalmente, a sensação de

liberdade que teria lá, longe dos controles e

da clausura do colégio.

Contou a sua amiga de quarto, Samantha

River, sobre o que acontecera.

— Eu sinto muito por sua mãe. Lucille —

disse a amiga. — Mas a invejo por poder

voltar para aquela terra maravilhosa. Verões

quentes, ardentes, invernos gelados,

estações bem definidas numa paisagem de

liberdade, sem este cheiro de decadência

que há em Boston, esta prisão que é o

colégio...

— Samantha, por que não vem comigo?

— convidou Lucille. — É férias de verão e

somente em agosto você precisará estar de

volta aqui.

— Não, não posso. Meus pais, na

Califórnia, me matariam se soubessem. Vá

você, minha amiga, e aproveite a

oportunidade. Vê se encontra um vaqueiro

daqueles bem machões para você e fica por

lá mesmo.

— Ora, Sam! — protestou ela.

Deitou-se em sua cama. Cobriu o rosto

com as mãos. Sua amiga a conhecia muito

bem para saber que ela queria ficar sozinha.

Discretamente se retirou.

Sozinha, Lucille pode chorar livremente,

lamentando a morte de sua mãe.

Depois, pouco a pouco a foi contagiando

a idéia de voltar para New Rockford, sentir

a amplidão do cenário, aqueles cheiros tão

familiares de sua infância.

Muita coisa mudara, seguramente, mas

ela também mudará. Já era uma mulher, no

alto de seus dezoitos anos. Amigas suas,

muito mais novas, já haviam se casado.

Talvez aquele fosse o seu destino, sendo

rescrito longe do burburinho e da agitação

de Boston. Um destino que se iniciara nas

planícies de Dakota no Norte.

Estava feliz por retornar.

A diligência para o oeste estava pronta

para partir, após uma noite parada em

Tower City, para consertar uma roda. Os

passageiros aproveitaram bem a noite de

sono e, apesar de doloridos, estavam

prontos para seguir viagem ao amanhecer.

Havia uma garota, um casal de velhos e

outro de recém-casados, totalizando cinco

passageiros. Um homem alto entrou no

escritório. Trazia uma mala pequena de

roupas. Usava um chapéu de abas retas,

preto, bem como o resto de suas roupas.

Pelo colarinho da camisa fechada até o

pescoço percebia-se que se tratava de um

pastor.

— Há um lugar para Jamestown? —

indagou a sua voz era forte e marcante.

— Fico com ele — respondeu o religioso,

tirando a carteira e pagando o bilhete.

Virou-se, então, e olhou ao redor. Os

outros passageiros, com ares sonolentos,

espalhavam-se nos bancos encostados nas

paredes. Foi até a porta.

— Oh, desculpe-nos, pastor! — disse o

homem que esbarrou nele, fazendo a mala

cair no assoalho.

— Não foi nada — respondeu ele,

abaixando-se para apanhar a mala.

Quem tivesse reparado bem teria sentido

o quanto seu tom de voz revelava de

indignação. Os dois homens que entraram

estavam bêbados e foram até o balcão.

Conversaram por instantes, depois um

deles se alterou:

— Diabos! Temos de estar em Bismarck

hoje à tarde!

— Nada posso fazer, a diligencia está

lotada.

— Demônios! — explodiu o homem,

virando-se para olhar as pessoas no salão.

O pastor continuava na porta, olhando a

rua e o nascer do sol. Os dois bêbados se

entreolharam, fixando-se no casal de velhos.

Foram até lá.

— Vovô, que tal nos ceder suas

passagens? — indagou um deles com

arrogância.

— Estou indo para o oeste ver meu filho

e por nada neste mundo eu lhes daria as

minhas passagens — respondeu o velho.

— Tem muito tempo para isso, velho. A

próxima diligência passa na semana que

vem. Temos um trabalho a fazer em

Bismarck e...

— Cadê seus cavalos? — questionou o

velho.

— Que cavalos?

— Não têm cavalos?

— Bem, tínhamos, mas... — ia dizendo

um deles.

— O que ele quer dizer é que perdemos

nossos cavalos no jogo, vovô. Agora, você

não tem nada com isso, sabia? Queremos as

passagens, só isso! — insistiu o homem, a

mão direita apoiando-se na coronha do

revólver.

Lá fora o cocheiro gritou que estava tudo

pronto para a partida. Os outros passageiros

se levantaram e foram para a porta, saindo

em seguida.

Os velhos fizeram menção de se levantar.

Um dos homens esbofeteou o idoso,

fazendo-os se sentarem de novo.

— Acho melhor chamarmos o xerife —

disse a mulher.

— O xerife está dormindo e não vamos

incomodá-lo. Agora passe-nos as passagens,

velho.

— Não vou fazer isso...

O velho foi esbofeteado de novo. O

pastor se aproximou. Seus passos soaram

firme e pesados no assoalho.

— Meus filhos, a paciência é um dom de

Deus — foi dizendo.

— Ora, dane-se, pastor! — respondeu um

dos homens, pondo a mão no peito dele para

empurrá-lo.

O pastor a agarrou e, com um gesto

surpreendentemente rápido, torceu-a,

fazendo o pistoleiro cair de joelhos.

Imediatamente sua bota subiu ao encontro

do rosto dele, jogando-o para trás, com uma

máscara de sangue.

— Talvez você queria nos dar a sua

passagem, pastor — foi dizendo o outro

homem, levando a mão à arma.

O pastor enfiou a mão dentro do paletó e

retornou-a com um Colt já engatilhado.

Apontou-o para o centro da testa do

homem diante dele, que começou a tremer.

— Por favor, senhor, leve sua esposa para

a diligência. Avise ao cocheiro que não me

demoro — pediu o pastor ao velhinho.

— Sim, filho — concordou ele,

apressando-se em atendê-lo.

O homem atrás do balcão de bilhetes

acompanhava tudo com visível interesse,

observando a lição que o pastor estava

dando nos dois mal educados.

— É importante que você aprenda uma

coisa, meu filho — disse o pastor. — Na

cara de um homem nunca se bate,

principalmente se tiver idade para ser seu

avô. Entendeu?

— Ora, pastor! Eu quero mais é que você

se... — ia dizendo o homem, mas calou-se

quando a coronha do Colt atingiu-o na testa,

jogando-o para trás com um profundo corte.

O outro homem tentou se levantar. O

pastor chutou-lhe o peito sem piedade, com

o bico da bota. Ele gemeu e caiu,

contorcendo-se em dores.

— Vou matá-lo por isso — disse o

bandido com o corte na testa, tentando se

erguer.

O pastor pisou-lhe no rosto e torceu a

sola da bota de um lado para outro,

quebrando-lhe o nariz.

— Vai nada — afirmou o pastor,

apanhando sua mala e saindo

tranqüilamente.

A diligência o esperava lá fora. Assim

que se acomodou, entre a garota e o velho,

respirou fundo, pensando na viagem que

tinha pela frente.

Iria até Jamestown, onde compraria um

cavalo para chegar até New Rockford.

Lá uma importante missão o esperava.

Olhou ao seu redor, examinando mais de

perto seus companheiros de viagem.

A garota ao seu lado continuava

sonolenta. Era muito bonita e se vestia com

elegância. O cansaço da viagem por dias

seguidos se refletiam, porém, em seu rosto.

— Obrigado por nos ajudar lá dentro —

disse o velho, estendendo a mão.

— Não foi nada! — respondeu ele,

sentindo que a cabeça da jovem se apoiava

em seu ombro.

Aquele peso suave, carregando um

perfume doce e sutil, agradou-lhe os

sentidos.

Olhou-a demoradamente, apreciando de

perto aquela beleza bem acentuada, aquela

juventude que transparecia em todo o corpo

dela.

— Fiquei impressionada com a sua

coragem, pastor — comentou a velha

senhora.

— Hoje em dia, quem está com Deus,

nada teme — respondeu ele, demonstrando

que não estava assim muito familiarizado

com as citações da bíblia.

O caso, porém, foi que, mesmo assim,

conseguiu impressioná-la.

— Tem toda razão, pastor. Só que, além

da proteção de Deus, precisamos contar

com mais alguma coisa — falou ela,

piscando um olho e fazendo um gesto em

relação ao revólver que ele carregava oculto

no paletó.

— Está cem por cento certa, vovó —

respondeu ele, piscando o olho em resposta.

— Vai para o Oeste também, pastor? —

indagou o velho.

— Não, vou até Jamestown. Dali

pretendo chegar até New Rockford...

— New Rockford? — perguntou a

garota, levantando a cabeça e olhando para

o pastor. — Alguém disse New Rockford?

— Oh, querida! Não chegamos lá ainda

— riu a velha senhora. — Foi o pastor que

comentou que estava indo para lá.

— O pastor?

— Sim, meu destino final é New

Rockford. Por que o interesse naquela

cidade? Está indo para lá também?

— Sim, é lá o meu destino. Uma carroça

me espera em Jamestown e...

— Então talvez possa dar uma carona

para o pastor — lembrou a velhinha.

— Será um prazer — assegurou a jovem,

reparando agora no homem ao seu lado.

Tinha uma figura impressionante e um

par de olhos cinzentos que a fizeram

estremecer. Sua voz era forte e poderosa,

mas tinha um acento gentil e carinhoso ao

mesmo tempo.

— Somos o senhor e a senhora Sibley —

apresentou-se o velho.

— Lucille é meu nome — disse a garota.

— E eu sou o Pastor... Gray — falou ele,

após um aligeira hesitação.

— Vai assumir o púlpito em New

Rockford? — quis saber Lucille.

— Sim, o pastor anterior faleceu

repentinamente.

— Já conhece a região?

— Umas pessoas, conhecidas minhas, já

me falaram muito sobre a cidade e sobre o

local, principalmente sobre as nascentes do

rio, mas nunca estive lá antes.

— Eu nasci lá. É tudo muito bonito nesta

época do ano. Aposto como vai gostar de lá,

pastor — assegurou ela, olhando-o com um

brilho intenso e indisfarçável nos olhos.

Jim Wallace caminhou pela calçada,

escoltado por dois de seus capangas. Parou

diante do banco, olhando a rua empoeirada

de New Rockford.

— Vocês esperem aqui — ordenou aos

dois, enquanto entrava no estabelecimento

de crédito.

Foi direto para a sala do presidente,

entrando sem cerimônias.

— Olá, tio! — cumprimentou, sentando-

se numa das poltronas diante da

escrivaninha.

O homem do outro lado era Roger

Wallace, tio de Jim e tão inescrupuloso

quanto o sobrinho.

— Jimboy! — disse, estendendo ao

sobrinho uma caixa de charutos.

— São ótimos, de autêntico fumo da

Virgínia.

Jim apanhou um, mordeu uma das

pontas. Seu tio acendeu um fósforo e

estendeu-o ao sobrinho.

— Bom... Muito bom... — elogiou Jim,

baforando gostosamente.

Roger Wallace acendeu o seu charuto

também. Ficaram, por instantes, produzindo

uma fumaça aromatizada, que impregnou

toda a sala.

— E então, tio? Quando teremos as terras

do velho Colman?

— Em breve, Jim. Mais alguns dias e a

hipoteca estará vencida. As terras serão

levadas a leilão e você poderá arrematá-las

pelo preço da dívida. Vai ser o melhor

negócio de nossas vidas, sobrinho.

— Seguramente, tio — concordou Jim,

sobressaltando-se quando a porta se abriu

repentinamente e um rancheiro entrou.

Pela sua expressão, parecia furioso.

— Escutem aqui vocês dois — foi

dizendo, aproximando-se com o dedo em

riste na cara de Jim Wallace.

Os dois capangas dele surgiram às costas

do rancheiro. Um deles o golpeou na nuca

com a coronha do Colt. Quando o rancheiro

caiu, o outro lhe chutou o rosto.

— Parem com isso, vão manchar todo o

tapete com sangue — protestou Roger. —

Levem esse traste daqui.

O xerife Harry Wallace chegou naquele

momento.

— O que houve? — indagou.

— Esse idiota veio aqui nos importunar,

invadindo a minha sala... — explicou

Roger.

— Eu cuido dele — afirmou Harry,

segurando o rancheiro pelos colarinhos e

erguendo-o.

— Vocês Wallace são todos iguais.

Querem dominar a cidade, mas não vamos

permitir isso...

— Espere! — ordenou Jim, interessado.

Sabia que um grupo vinha se organizando

na cidade, para enfrentá-lo. Por mais que

seus capangas tivessem tentado descobrir,

nada haviam apurado sobre os participantes

do grupo.

Logan Blair, aquele rancheiro

impertinente, parecia saber alguma coisa.

Jim se levantou e foi até ele. Fez um sinal

com a cabeça. Os dois capangas

imobilizaram o rancheiro. Harry apressou-

se em fechar a porta.

— Quem não vai permitir, Roger? —

indagou Jim.

— Você é um covarde mesmo, Jim. Está

com medo... Eu vejo isto em seus olhos...

Mas nada saberá por mim — disse o

rancheiro, cuspindo no rosto do poderoso a

sua frente.

Jim apertou os olhos, contendo sua

indignação. Retirou o lenço e limpou o

rosto. Depois encarou Logan.

— Você tem uma esposa muito bonita em

seu rancho, Logan. E aquela garotinha de

uns ou onze anos, não? O que acha de

mandarmos para lá alguns capangas, só para

ensinarmos algumas coisas da vida para as

suas mulheres?

— Eu o mato se chegar perto delas...

— Vai estar preso, Logan. Enquanto isso,

meus capangas vão se divertir com sua

mulher e com sua família...

— Maldito! Há de queimar no fogo do

inferno se fizer isso!

— Vamos lá, Logan! Quem são os

membros do grupo que estão formando?

Onde se reúnem?

Logan desesperou-se. Se contasse, seria o

fim de seus amigos. Se não o fizesse, sua

esposa e filha pagariam nas mãos daqueles

malditos.

— Estou esperando, Logan — insistiu

Jim.

— Vai haver uma reunião logo mais, nos

fundos do armazém do Alfred.

— A que horas?

— Ao meio-dia.

— Quantas pessoas?

Logan hesitou. Estava não apenas traindo

seus amigos, mas destruindo todos os

planos de tentar manter as nascentes do rio

intactas.

Nas mãos de Jim Wallace elas seriam

devastadas e, em pouco tempo, todo o

fornecimento de água da região estaria

comprometido.

Se isso não acontecesse, Jim poderia,

simplesmente, controlar toda a água e

explorar os outros rancheiros.

— Quantas? — pressionou Jim.

— Uma dez pessoas...

— Certo, Harry. Tranque-o! — ordenou

Jim.

Sorria satisfeito agora, pois toda oposição

a seus planos poderiam ser anuladas a partir

de então.

— Vá ao rancho e traga dez homens

armados — ordenou ao capanga. — Você

vá para a rua e fique vigiando o armazém.

Não quero surpresas. Conte quantos entram

lá.

O capanga saiu para cumprir a ordem.

— O que poderia ser melhor agora? —

indagou Roger Wallace ao sobrinho.

— Tio, estou satisfeito. Com isso

eliminaremos toda a oposição aos nosso

planos. Teremos o controle da água e

poderemos comprar as outras terras a preço

bem barato.

— Excelente, sobrinho! Excelente! E

Lucille, quando chega?

— Oh, foi bom lembrar. Já está a

caminho. Se tudo correr bem, hoje à

tardinha ela deverá chegar. Estou

preparando uma recepção para ela. Vá e

leve a titia também.

— Vai ser bom termos uma festa por aqui

agora — comentou Roger. — Tudo estava

muito triste e muito parado, desde a morte

de Lucy.

— Com a volta de Lucille teremos

novamente vida e agitação no rancho, tio.

— Deve estar uma linda moça agora,

não?

— Sim, já tem dezoito anos...

— Não faltarão pretendentes para ela,

Jim.

— Saberei cuidar disso. Lucille se casará

no momento certo e com a pessoa certa.

— Algum plano quanto a isso?

— Sim, tenho planos. Estou de olho

naquelas terras de Bill Lake, na divisa com

as minhas.

— Bill Lake? O velhote?

— E por que não? É rico, experiente e

velho. Não demorará muito para morrer. Se

Lucille herdou a minha ambição, na certa

perceberá as possibilidades desse

casamento.

Roger sorriu, olhando o sobrinho com

desconfiança. Pelo que se lembrava, Lucille

havia herdado toda a sensibilidade e a

meiguice da mãe. De Jim Wallace ela nada

tinha, exceto o sobrenome.

Alfred Kinney era um homem magro e

franzino, de óculos, com uma voz calma e

modos gentis. Havia muito tocava o único

armazém de New Rockford e, com isso,

conseguira prosperar o bastante para

comprar um pedaço de terra, logo em

seguida às terras dos Colman, após as

nascentes do Rio James.

Criava um pouco de gado e plantava

milho e feijão, além de produtos de

sustento, como hortaliças, verduras e frutas.

Não era um homem ambicioso. Estava

contente com o que tinha. Podia viver

tranqüilamente com a mulher e os filhos,

desde que seu rancho continuasse servido

pelas águas nas nascentes.

Se Jim Wallace conseguisse aquelas

terras, todos os que tinham terras rio abaixo

seriam prejudicados. Jim era um ambicioso,

jamais estava contente com o que tinha.

Queria mais, sempre mais.

Por isso Alfred conseguira reunir um

grupo de pequenos rancheiros, cujas terras

ficavam rio abaixo. Unidos poderiam

derrotar Wallace e Alfred tinha a fórmula.

Verificara no Banco o valor da dívida do

velho Colman. Se todos se cotizassem,

poderiam eles mesmo arrematarem as

terras, preservando-as da cobiça de Wallace.

A reunião que seria realizada nos fundos

de seu armazém tinha esse objetivo.

Os pequenos rancheiros foram chegando

pouco a pouco, arredios, temerosos.

Sabiam do poder de Jim Wallace e da

loucura que seria enfrentá-lo. Mas o temor

de perder as terras era, agora, maior que o

medo de enfrentar o poderoso homem.

Jim tinha a lei nas mãos. Sua família

estava presente em todos os cargos

importantes da cidade.

Não havia como lutar legalmente contra

ele.

— Amigos, fico contente que todos

tenham vindo — começou Alfred, assim

que os rancheiros se acomodaram.

Uns dez homens, curtidos de sol, estavam

ali reunidos.

— Vamos logo com isso, Alfred. Vi um

bando de capangas do Wallace lá fora e não

quero encrencas com eles — disse um dos

rancheiros.

— Eles não poderão fazer nada contra

nós. Alguém viu Logan Blair? — reparou

Alfred.

— Não, mas ele deveria estar aqui. Passei

no seu rancho, quando vinha para cá, e sua

esposa disse que ele saiu bem cedo hoje. Já

deveria estar aqui — comentou outro.

— Tudo bem, vamos começar sem ele

mesmo. Assim que ele chegar, eu o inteiro

do que está se passando. Quando todos já

notaram, convidei os pequenos rancheiros

que ficam rio abaixo das minhas terras e das

terras dos Colman. Terras que irão a leilão

em breve, para pagamento da hipoteca do

Banco. Minha idéia é nos juntarmos e

compramos essas terras — propôs Alfred e

um murmúrio percorreu os presentes.

Conversas paralelas surgiram com

intensidade, alguns concordando com a

idéia, outros hesitando, pois levá-la adiante

seria enfrentar Jim Wallace.

— Calma aí, pessoa! Nós sabemos o que

significará para nós se Wallace se apoderar

daquelas terras. Terá o controle da água.

Não seria surpresa se ele construísse lá uma

represa, destruindo as nascentes e acabando

com o fornecimento de água rio abaixo.

— Alfred tem razão. Se nos juntarmos,

não teremos que desembolsar muito cada

um. Poderemos comprar as terras, evitando

que Wallace ponha as mãos nelas...

— Wallace matou Slim e Billy a sangue-

frio, diante de nossos olhos, porque queria

as terras. Acha que vai se deter diante de

nós? — indagou alguém.

— Ele não terá coragem de matar a todos.

Mesmo para ele, isto seria demais —

ponderou Alfred. — Acho que deveríamos

votar a minha proposta.

— Sim, isso mesmo, mas que fique claro

que, seja qual for o resultado da votação,

todos apoiarão seu resultado — pediu um

dos rancheiros.

— Certo, isso mesmo. Vamos votar,

então? — propôs Alfred.

Todos concordaram. A votação ia ter

início quando, de repente, a porta se abriu

violentamente e meia dúzia de capangas de

Jim Wallace entraram, seguidos do patrão.

— Por que não fui convidado para esta

reunião? — indagou ele.

— É uma reunião particular — disse

Alfred, temeroso, percebendo que, além dos

capangas que haviam entrado, outros

aguardavam do lado de fora.

— Logan Blair não disse nada disso —

afirmou Wallace.

— O que fez com ele? — quis saber

Alfred.

— Nada comparado ao que vai acontecer

aqui, se insistirem em continuar com essa

idéia maluca.

— Não pode nos impedir.

— Pretendem me enfrentar? Sabem que

não poderão. Acham que têm dinheiro o

bastante para arrematar aquelas terras? Eu

posso cobrir toda e qualquer oferta que

fizerem por elas. Jamais ficariam com elas.

Por que, então, não me poupam

aborrecimentos?

— Não nos convence, Wallace. A menos

que deseja matar um por um aqui, não nos

demoverá de nossa idéia — insistiu Alfred.

— Verdade? Vocês iam votar, não? Pois

que se inicie a votação.

— Quem foi a favor de minha proposta,

que erga a mão — pediu Alfred, erguendo

ele mesmo a mão direita para o lato.

Imediatamente um dos capangas se

aproximou por trás dele e o golpeou com o

punho na altura do rim.

O homem gemeu e dobrou os joelhos,

arregalando os olhos. Novo golpe o atingiu

na nuca, jogando-o para frente, contra o

assoalho.

O capanga pisou-lhe na cabeça com

força, depois recuou um passo.

Sangrando, Alfred tentou se levantar. Seu

rosto se transformara numa máscara de

sangue.

— Maldito covarde! — murmurou ele,

olhando para Wallace.

— Muito bem, pessoal! Vocês ouviram a

proposta do Alfred. Quem é a favor dela?

Todos ficaram imóveis, atemorizados,

olhando o rosto machucado do dono do

armazém.

Com dificuldade e corajosamente, Alfred

se levantou, erguendo a mão direita para o

alto.

— Eu voto a favor! — disse ele, cuspindo

sangue.

— É um tolo, Alfred! — exclamou

Wallace, fazendo um sinal para seu

capanga.

Ele sacou uma faca, aproximando-se de

Alfred e, diante dos rancheiros atônitos,

degolou-o.

— A reunião está encerrada, pessoal! —

gritou Jim Wallace, saindo.

Seus capangas caíram sem dó nem

piedade sobre os rancheiros, espancando-os

selvagemente.

Não satisfeitos, acenderam tochas e

puseram fogo no armazém.

Chegaram a Pingree no meio da tarde.

Lucille estava exausta da viagem naquela

carroça sacolejante.

— Não ganharemos tempo se formos a

cavalo — indagou ela ao homem que chefia

o grupo.

— Com certeza que sim, mas meu pai

insistiu para que você fosse lavada na

carroça e...

— Eu desisto! Está viagem está acabando

comigo. Prepara-me um cavalo para mim e

outro para o pastor. Vamos cavalgar de

verdade, senão não chegaremos a New

Rockford antes da noite.

O Pastor Gray concordou com um

sorriso. A impetuosidade e a juventude

daquela garota o impressionavam.

Após uma rápida parada, os cavalos

foram selados. Lucille, que recebia aulas de

equitação no colégio, demonstrou toda a sua

perícia, esporeando seu cavalo e disparando

pela estrada.

— Senhorita Wallace, vá devagar, é

perigoso! — alertou um dos vaqueiros,

temendo que ela se machucasse.

— Eu cuido dela — falou o pastor,

saindo em sua perseguição.

Lucille se divertia como havia muito não

o fazia, cavalgando daquela forma.

A estrada estava razoavelmente

conservada e ela podia exigir tudo do

animal que montava.

Nada a divertia mais, porém, que olhar

para trás e ver aquele homem fascinante em

seu encalço.

Só parou quando seu cavalo começou a

dar sinais de cansaço. Resolveu poupá-lo.

— Cavalga muito bem, Lucille — disse o

pastor, aproximando-se afinal.

— Sempre fui a melhor aluna em

equitação no colégio.

— Fale-me sobre seu colégio — pediu

ele, olhando-a com admiração.

Aqueles cabelos longos e cacheados

haviam se soltado durante a cavalgada e

agora oscilavam soltos e selvagens ao

vento.

— É um colégio de freiras, muito

conservador, cheio de normas e regras...

— E o que fazia para se divertir?

Uma expressão marota desenhou-se em

seu rosto.

— Promete não contar para ninguém?

— Prometo!

— Eu quebrava as regras — disse ela,

começando a rir.

Seu riso era provocador, revelando a

mulher sensual que havia dentro dela,

prestes a desabrochar.

— A que distância acha que estamos de

New Rockford? — perguntou ele.

— Umas vintes milhas — respondeu ela.

O pastor olhou para o céu. Ainda teriam

umas quatro horas de sol, o suficiente para

chegarem até a cidade.

Os vaqueiros foram chegando atrás deles,

após a disparada inicial de Lucille.

Foram conversando sobre a cidade, sobre

o que ela se lembrava de sua infância e

sobre o colégio.

Todas as vezes que ela indagava dele

sobre sua vida, o pastor dava uma desculpa

e acabava nada dizendo, aguçando a

curiosidade dela a seu respeito.

Aquele homem fascinante e misterioso

começava a enfeitiçá-la irresistivelmente.

Para ele, a beleza e a juventude da garota

eram componentes explosivos.

Após toda a correria provocada pelo

incêndio, a cidade voltava à calma, coberta,

porém, por um manto de medo e opressão.

Todos sabiam da morte de Alfred e do

espancamento dos outros rancheiros, mas

ninguém se atrevia a comentar isso.

Jim Wallace desfilou sua arrogância pelas

ruas da cidade, acompanhando de seus

capangas, silenciando de vez toda e

qualquer resistência.

Sua única preocupação agora era tratar da

festa da filha. Reuniu seus homens e rumou

para a casa que tinha na cidade, uma bela

mansão em estilo canadense, com grossas

muralhas circulando-a.

Ao passar diante do saloon, com seus

homens, não reparou no homem de olhar

penetrante que amarrava seu cavalo.

Usava uma capa de viagem comprida,

coberta de pedra, revelando o quanto havia

andando nos últimos dias.

Seu cavalo demonstrava cansaço e fome.

Por momentos ele ficou olhando o séquito

que passava pomposamente na rua. Depois

subiu os degraus da entrada do saloon.

— Garoto! — chamou ele.

Um rapazola que passava na rua se voltou

para olhá-lo.

— Há um estábulo por aqui?

— Sim, rua abaixo, na minha direção.

— Quer ganhar um dólar?

— Claro que sim. O que preciso fazer?

— Leve meu cavalo. Mande escová-lo e

dar-lhe toda comida e toda água que ele

queira.

— Eu faço isso, senhor — disse o garoto,

apanhando no ar a moeda que o forasteiro

havia jogado.

Ele soltou lentamente os botões da capa,

depois a retirou. Usava um paletó. Soltou o

botão, empurrando as abas para trás,

descobrindo o par reluzente de Colts.

Jogou a capa no ombro e entrou no

saloon. Foi direto ao balcão. Suas esporas

tiniam no assoalho.

— Um uísque e uma cerveja — pediu ele

ao barman.

— Quinze centavos, estranho —

respondeu o homem, olhando-o com

desconfiança.

Ele jogou algumas moedas sobre a mesa.

As bebidas foram servidas. Ele tomou o

uísque em um só gole. Depois derramou a

cerveja goela adentro até o fim.

Estalou a língua quando terminou.

Depositou mais algumas moedas sobre o

balcão.

— Pode repetir a dose?

— Está mesmo com sede, não? —

observou o barman.

— Muito, muita mesmo.

— Vem de longe?

— Sim, de Rapid City.

— É uma longa jornada.

— Longa mesmo. Por isso tenho tanta

sede — completou, voltando a beber o

uísque e a cerveja com o mesmo ritual.

Só então relaxou, olhando ao seu redor.

Um grupo de homens jogava pôquer numa

das mesas. Alguns pistoleiros do rancho de

Jim Wallace bebiam no canto do balcão.

Reparam nos Colts que ele trazia no

cinturão.

— Ei, estranho! — chamou um deles. —

Por que usa duas armas?

— Por que é ruim de pontaria e precisa

do dobro de balas para conseguir alguma

coisa — respondeu um outro e os três

pistoleiros riram.

O forasteiro fixou neles seu olhar

cinzento e atemorizador. Lá fora a tarde

chegava ao fim e a noite começava a baixar.

— Aposto como nem sabe sacar ainda —

completou o outro, rindo sempre.

O estranho olhou de novo o salão. Os

homens na mesa de jogo pararam para

observar sua reação. Os pistoleiros

deixaram seu canto no balcão e foram até

ele.

— E então, não vai contar para nós? —

insistiu um deles.

— Que idade tem, rapaz — indagou o

forasteiro.

— O que interesse isso?

— Responda! — intimou ele, com voz

forte e impressionante.

O pistoleiro gaguejou, incapaz de encarar

aqueles olhos cinzentos que faiscavam.

— Vinte e nove anos...

— Se quer completar trinta, deixe-me em

paz, está bem?

— Ele o pegou, Hank — riu um dos

outros pistoleiros.

— Cale-se, Bull! Eu não gostei da

brincadeira, estranho. Quem é você, afinal?

— Não importa. Pelo menos já sei o seu

nome e isso basta.

— Por quê?

— Porque sei o nome que mandarei

escrever na sua lápide.

Hanck percebeu que o forasteiro falava

sério mesmo. Olhou para seus amigos, que

lhe corresponderam com acenos de cabeça.

— Vai engolir tudo o que disse, estranho

— levando a mão à coronha de seu Colt.

Olhos Cinzentos foi mais rápido. Sacou

sua arma e bateu com o cano na testa do

pistoleiro, atordoando-o.

Em seguida, chutou-lhe o joelho,

fazendo-o cair no assoalho. Os outros dois,

atrás dele, recuaram.

— Maldito! Vai me pagar por isso —

afirmou Hank, tentando ainda sacar a arma.

O forasteiro ergueu a bota e bateu com a

espora no alto do chapéu dele, abrindo um

rasgo.

Um filete de sangue começou a escorrer

da testa de Hanck.

— Você... Você... — gaguejou ele,

tentando se erguer.

Peter Olhos Cinzentos pôs a bota em seu

peito e o empurrou para trás. Ficou pisando

o peito dele, mantendo-o deitado.

— Vamos fazer o seguinte: você fica aí

até eu terminar de tomar a minha bebida.

Depois, quando eu for embora, você se

levanta, está bem? Se fizer um movimento,

só um, eu o mato.

Um silêncio respeitoso pairou no saloon.

As pessoas que entravam no saloon não

entendiam aquela cena. Um homem estava

deitado perto do balcão, com olhos

aterrorizados, enquanto um outro bebia,

mantendo-o sob vigilância.

Os outros dois pistoleiros haviam voltado

ao canto do balcão, incapazes de alguma

ação para livrar o amigo naquela posição

ridícula.

Repentinamente, entram dois pistoleiros

de Jim Wallace. Um deles era Crow

Warren, um mestiço índio, de longas

tranças e ar ameaçador.

Fora ele quem degolara Alfred, naquela

tarde. Ao ver Hank naquela situação,

começou a rir.

— Que diabos está fazendo aí? —

indagou, chutando-o sem piedade.

— Deixe-o, Crow, ele não pode se

levantar — informou um dos pistoleiros no

canto do balcão.

— Por que não?

— Porque eu assim ordenei — disse

Peter, sem se voltar.

Crow mediu o forasteiro de cima a baixo.

Aproximou-se do balcão. Peter se voltou

para encará-lo.

O pistoleiro empalideceu ao fixar seu

olhar naqueles olhos cinzentos e frios.

— Eu o conheço... É Peter Olhos

Cinzentos, não?

— Talvez.

— O que faz aqui?

— De passagem. Vim visitar uns amigos.

— O clima não lhe será muito saudável

aqui, sabia?

— E por que não?

— Onde está aquela estrela de lata?

— Do que está falando? — devolveu

Peter, confundindo-o.

O mestiço olhou-o bem, hesitando.

Examinou aquelas pistolas, Hank ainda

deitado no assoalho e os dois pistoleiros

atemorizados no canto do balcão.

Só um homem para conseguir aquilo e ele

estava ali, diante dele.

— É um maldito delegado federal ainda,

não? — insistiu o mestiço.

— E se for?

— Vai ficar muito pouco tempo aqui.

— Ficarei o tempo que quiser.

— Não com minha permissão — falou

Crow, afastando-se.

Fez um sinal para os outros pistoleiros.

Chutou de novo Hank, fazendo-o se

levantar. Cinco homens se dispuseram em

leque diante do delegado federal.

Peter mediu-os. Eram todos pistoleiros

medíocres, vendendo suas armas pela

melhor oferta.

Conhecia os tipos. Eram covardes e se

atemorizavam com facilidade.

— O que pretende, índio? — indagou ele,

tirando o paletó e pondo-os sobre o balcão.

Os dois Colts estavam à mão, prontos

para serem sacados e vomitar chumbo

quente.

— É um homem morto, delegado! —

falou o índio.

— Quem vai sacar primeiro? —

questionou Peter, olhando cada um deles

nos olhos.

A linha de tiro atrás deles estava livre. Os

homens haviam deixado as mesas vazias e

se amontoavam num canto protegido do

saloon, aguardando o desfecho.

— Eu saco primeiro — disse Hank,

furioso.

— Então será o primeiro a morrer —

afirmou Peter, levando as mãos às armas.

Os pistoleiros mal tiveram tempo de tocar

as coronhas de seus Colts.

Peter percebeu que os outros três

imobilizaram-se, desistindo de sacar ao

verem seus amigos caírem.

— Covardes! Galinhas! — disse ele, indo

até os três e esmurrando-os, derrubando-os.

Em seguida, foi chutando o traseiro de

cada um deles até pô-los fora do saloon, sob

os aplausos dos freqüentadores.

Voltou ao balcão, e pediu nova dose de

bebidas.

— Acho que cometeu um erro, estranho

— disse o barman. — Mesmo sendo um

delegado federal, saiba que esta cidade

pertence aos Wallace eles não perdoarão o

que você fez.

— Danem-se os Wallace — respondeu

ele, tomando o uísque e, depois, a cerveja.

— Mão ao alto! — gritou o xerife Harry

Wallace, entrando no saloon com sua

Winchester engatilhada.

— Qual é o problema, xerife? — retrucou

Peter, encarando o homem da lei, que vinha

seguido pelos três pistoleiros que o

delegado havia acabado de expulsar a

pontapés.

— Veja, xerife, ele matou Crow e Hank a

sangue-frio. Os dois nem chegaram a sacar

as armas — apontou um dos pistoleiros.

— Você fez isso? — quis saber Harry

Wallace.

— Tive de fazê-lo. Eram cinco contra

mim. Matei esses dois e aqueles três ali se

acovardaram. Eu os pus para fora a

pontapés.

Harry olhou para os dois homens mortos

e depois para os três atrás dele.

Eram todos pistoleiros de John Wallace,

seu tio. Não conseguia acreditar que apenas

um homem dera conta deles.

Começou a rir.

— Está zombando de mim, estranho?

Enfrentou cinco homens, matou dois e pôs

os outros para correr?

— É verdade, xerife. Ele fez isso — disse

o barman.

— Isso mesmo, xerife. Sozinho. Os três

aí fugiram como covardes — disse alguém,

no meio da multidão que se aglomerava

agora no saloon.

— Não posso acreditar nisso. Acho que

terei de levá-lo preso para... — ia dizendo

Harry.

— Nem pense nisso, xerife. Estou aqui de

passagem, não pretendia arrumar encrenca,

mas esses homens me provocaram. Quanto

a prender-me, você não tem autoridade para

isso — disse Peter, com convicção.

O xerife empalideceu. Ele olhou o

homem a sua frente com receio e, ao mesmo

tempo, raiva.

— Quem pensa que é para... — ia falando

de novo, mas Peter enfiou-lhe o distintivo

na cara.

— Federal... Você é um delegado

federal? — gaguejou o xerife, aturdido.

— Sim, isso mesmo. Não quero me meter

nos problemas da sua cidade. Só quero

visitar meus amigos, descansar uns dias e

depois ir embora. Pode ser?

Harry Wallace engoliu seco. Ninguém o

havia enfrentado até então. Toda a cidade o

temia. Toda cidade temia os Wallace.

Olhando ao redor, percebia a satisfação

nos olhos daquelas pessoas, acostumadas a

serem humilhadas.

Olhou novamente os mortos e os três

pistoleiros que tremiam atrás dele.

Aquele homem a sua frente não era um

pistoleiro qualquer. Era um delegado

federal e dos bons.

— Ok, delgado! Acho que pode fazer o

que pediu. Quem são seus amigos? Posso

ajudá-lo a encontrá-los?

— Acho que sim, xerife. Eles são Slim e

Billy Colman! — falou Peter e um silêncio

de morte pairou no saloon.

Harry ficou sem reação, sem saber o que

dizer. Percebeu que teria encrenca pela

frente.

Aquele delegado federal, ao saber que

Slim e Billy haviam sidos mortos, iria

investigar.

Não demoraria a descobrir toda a trama

armada para que Jim Wallace ficasse com

as terras deles.

Estava ali, porém, um problema que ele

não poderia resolver.

— E então, xerife? Onde posso achá-los?

Sei que têm um rancho aqui perto e...

— Não vai achá-los mais, delegado.

Estão mortos — afirmou Harry, secamente.

Peter olhou-o, sondando-o.

— Como disse?

— Slim e Billy estão mortos, poderá

encontrá-los lá na colina dos Pés Juntos.

— Como morreram?

— Num tiroteio.

— Você investigou.

— Sim, foi um duelo justo, ali mesmo, na

avenida principal.

— Quem os matou? — perguntou Peter e

seus olhos cinzentos faiscavam, revelando

toda a sua fúria.

— O caso foi concluído, nem houve

inquérito. As testemunhas foram unânimes.

Eles sacaram antes, os outros se

defenderam...

— Outros? Quantos?

— Três homens, mas isto não...

— Slim e Billy sacaram contra três

homens? Eram pistoleiros ou rancheiros

como eles?

— Eram empregados do rancho do meu

tio e.. — interrompeu-se Harry. — Olhe

aqui, se quer um conselho, pegue seu cavalo

e vá descansar em outra cidade, delegado.

Garanto que não é bem vindo aqui. É tudo

que posso lhe dizer, está bem? — finalizou

Harry, deixando o saloon.

A encrenca estava feita. Aquele delegado

iria mexer no caso até descobrir toda a

estória.

Jim Wallace teria de encontrar uma

forma de consertar aquilo. Lidar com um

delegado federal era demais para Harry

Wallace.

No Rancho Wallace tudo era euforia,

com a chegada da linda e jovem herdeira.

Uma banda tocava alegremente e os

convidados começavam a chegar.

Lucille estava atônita, cercada pela

atenção do pai e dos demais parentes.

O pastor ficara para trás, na entrada da

casa, assistindo a tudo com interesse.

Lucille comentara que o pai era

rancheiro, mas ele jamais esperava que

fosse tão poderoso.

Bastava ver pelo estilo da casa e pelos

capangas armados que circulavam pelo

pátio.

Um dos vaqueiros que os havia

acompanhando na viagem aproximou-se

dele.

— E então, pastor, o que achou da

recepção?

— Muito bonita! Foi uma bela surpresa

para ela, não?

— Sim. O Sr. Wallace é um homem

muito poderoso. Mas não é um homem

bom, pastor. E pelo amor de Deus, não diga

a ninguém que me ouviu dizer isso. Ele é

um homem cruel e ambicioso. A pobrezinha

não merece mesmo o pai que tem.

O pastor olhou o rapaz demoradamente.

Sentiu que ele não mentia.

— Vai ficar para a festa? — indagou o

vaqueiro.

— Não, tenho que ir para a cidade.

Preciso ver a igreja e tudo o mais...

— Se quiser, eu o acompanho até lá.

— Vai ser ótimo, eu não conheço nada

aqui.

— Quando quiser, então.

O pastor olhou na direção da casa. Seria

inútil tentar falar com Lucille naquele

momento, pensou.

Na certa não faltariam oportunidades para

os dois se encontrarem.

— Vamos já, então — decidiu.

Naquele momento, Harry Wallace

chegava a cavalo, saltando diante da casa

com apreensão.

Correu para o interior, como se tivesse o

diabo em seus calcanhares.

— Esse estava com pressa — observou o

pastor, quando montava.

— É Harry Wallace, o xerife e sobrinho

do Sr. Wallace.

O vaqueiro riu.

— Ainda verá mais, pastor. Há um

Wallace na prefeitura, outro no Banco,

outro é juiz e vai por aí a fora...

Já iam se afastando, quando Lucille

chegou, correndo.

— Pastor, onde vai? — indagou ela.

— Vou para a cidade.

— Por quê não fica?

Ele hesitou, olhando os olhos brilhantes

da garota. A tentação era imensa.

— Tenho que ver a igreja e me

acomodar...

— Quem sabe mais tarde? A festa não

tem hora para acabar.

— Talvez...

— Prometa que virá, por favor! —

suplicou ela.

— A que distância estamos da cidade?

— Há uns cinco minutos, pastor. Do

outro lado da colina — riu o vaqueiro.

— Ora, sendo assim — sorriu o pastor,

para alegria da garota.

— Não falte, por favor! — frisou ela.

— Não faltarei — confirmou ele,

afastando-se.

Minutos mais tarde estava na cidade.

Passaram pela rua principal, diante do

armazém destruído pelo fogo daquela tarde.

— O que houve aqui? — indagou.

— Não sei, pastor. Aí era o armazém do

Alfred. Parece que pegou fogo...

— E foi recente isso...

Seguiram em frente, na direção da

imponente construção da igreja, com seu

alto campanário.

Nos fundos da igreja havia uma casa

pequena, às escuras.

— Á ali que moram os pastores — disse

o vaqueiro.

— Preciso encontrar a Sra. Brown, ela

tem as chaves da casa e da igreja.

— Deve ser a mulher do ferreiro. Eles

moram ali, naquela casa — apontou ele.

— Então tudo bem, eu me viro agora.

Obrigado, rapaz! Você foi muito atencioso

mesmo.

— De nada, pastor! É sempre uma alegria

poder servir a um homem de Deus.

— Leve o cavalo, por favor!

— Vai precisar dele para visitar a

senhorita logo mais, pastor...

— Não, dê um descanso ao pobre animal.

Já cavalgou demais por hoje.

— Quer que eu o venha buscar mais

tarde?

— Obrigado, mas caminharei até lá, não

se preocupe.

— Ok, pastor. Até mais, então — disse o

vaqueiro, afastando-se.

O pastor esperou até que ele sumisse na

rua principal, depois caminhou até a casa

indicada por ele.

Foi recebido alegremente pelo ferreiro e

pela esposa, que insistiram em hospedá-lo e

em servir-lhe um jantar.

— Obrigado, filhos, mas estou cansado

da viagem. Talvez amanhã... — agradeceu

ele, conseguindo se livrar.

De posse das chaves da casa e da igreja,

rumou para lá. Estava mesmo cansado e não

sabia se ir à festa de Lucille seria uma boa

idéia.

A lembrança daquele olhar e daquele

sorriso, no entanto, o fez mudar de idéia.

Cansaço nenhum do mundo o impediria

de ir ao encontro dela de novo.

Entrou na casa após perceber a janela

aberta. Não se importou. Assim que se viu

na sala, riscou um fósforo e olhou ao redor.

Localizou um lampião. Acendeu-o.

Assim que a luz iluminou o aposento, ele

viu o homem deitado no pequeno e estreito

sofá.

O pastor sacou sua arma e se aproximou

lentamente, observando atentamente as

reações do homem adormecido.

Junto dele, inclinou-se. Pôs o revólver

bem no na nariz do homem deitado e

engatilhou.

Imediatamente ouviu o ruído de dois

revólveres sendo engatilhados também.

A capa de viagem se erguera e revelava

os contornou de dois Colts apontados para o

seu ventre.

No pavimento superior as mulheres da

família paparicavam Lucille, que se

desdobrava para responder todas as

perguntas a respeito de Boston, da cidade

grande, dos rapazes de lá, das casas, das

roupas, e tudo enfim.

No térreo, no local reservado para uma

biblioteca, que fazia as vezes de escritório,

os homens da família Wallace estavam

reunidos.

Harry havia contado nervosamente seu

encontro com o delegado federal, momentos

antes.

— E quem garante que ele estava mesmo

só de passagem? — indagou Roger, o

presidente do Banco.

— Esses delegados nunca aparecem

assim por encanto — ponderou Elroy, o juiz

da cidade.

— Eu sabia que as mortes do Slim e do

Billy dariam confusão — falou Thomas, o

prefeito, assustado.

— E agora, o que eu faço? — questionou

Harry.

Sentado em sua escrivaninha, baforando

seu charuto, Jim Wallace pensava, olhando

como seus parentes perdiam facilmente a

calma por qualquer coisinha.

Por isso ele era o líder daquela família, o

homem capaz de manter a cabeça no lugar,

enquanto todos a perdiam.

A situação era delicada, reconhecia ele,

mas não desesperadora. A chegada de um

delegado federal em nada mudaria a rotina

da cidade nem seus planos.

— Por que vocês não calam a boca! —

gritou ele, esmurrando a mesa.

Um silencio total instalou-se na sala e

todos os olhares se voltaram para Jim

Wallace.

— O que há com vocês? Parecem um

bando de mulheres velhas, assustadas por

nada!

— Jim, você não entendeu, ele é um

delegado federal! — observou Harry,

controlando-se.

— Ele pode ser o presidente da republica,

estou pouco ligando para isso. O que ele

pode fazer? Investigar e mais nada.

— Alguém pode falar... — ia dizendo o

juiz.

— Será a palavra de um contra dezenas

de testemunhas a nosso favor. Além do

mais, você é o juiz desta cidade, não? Do

que temos medo? — insistiu.

Os homens se entreolharam, já mais

calmos. A lógica de Jim sempre os

fascinava e convencia.

— Vamos fazer o seguinte, pessoal:

vamos dar a ele todas as facilidades para

fazer seu trabalho. Quanto mais cedo ele

terminar, mais cedo irá embora. E garanto

que irá de mãos vazias — afirmou Jim.

— Acho que Jim tem razão, pessoal —

ajuntou o juiz. — O delegado federal tem

algumas prerrogativas para realizar suas

investigações, mas nada pode fazer à

margem da lei. Sempre terá de prestar

contas de seus atos ao xerife e a mim, o juiz

da cidade. Fora disso, se fizer alguma coisa

errada, poderá ser punido por isso —

explicou Elroy, o magistrado.

— Então está resolvido. Nada de

enfrentamentos nem de provocações.

Vamos facilitar tudo para ele. — decidiu

Jim.

Bateram na porta, que se abriu logo em

seguida. Lucille entrou, rapidamente,

seguida pelas tias e primas.

Havia tomado um banho, posto roupas

limpas e arrumado os cabelos. Ao vê-la, o

pai se emocionou.

— Você está linda, minha filha! —

murmurou ele, aceitando o abraço que a

filha lhe oferecia.

Todos se comoveram com a cena

familiar.

— Senti muito a falta de tudo isto aqui,

pai. Queria ter estado aqui, quando mamãe

morreu.

— Foi uma pena, querida, mas não

pensemos em tristezas agora. Hoje é uma

noite de festa e quero ser o primeiro a

dançar com você — falou Jim, tomando a

filha pela mão e levando-a para o pátio,

onde a banda já tocava animadamente.

Os outros homens ficaram na sala, em

silêncio, pensativos. Trocaram olhares.

— E se Jim estiver enganado? — indagou

o xerife. — E se esse delegado já tiver em

mãos todas as provas necessárias?

— Quem matou Slim e Billy? — indagou

o juiz.

— Foram os capangas de Jim —

respondeu Harry.

— E nós, o que temos com isso? —

retrucou Elroy, olhando para os outros

matreiramente.

Eles sorriram, compreendendo a situação.

Se o delegado federal encontrasse um

culpado, seria Jim e não eles.

— Isso me deixa muito, mas muito

aliviado mesmo — comentou o xerife e os

outros concordaram com ele.

O pastor desengatilhou a arma e guardou-

a, olhando o rosto coberto de poeira do

homem a sua frente.

— Continua o mesmo bicho feio de

sempre, Peter — disse, estendendo a mão.

— E você continua uma lesma. Ainda

cheguei antes de você — afirmou o

delegado, cumprimentando o outro.

— Tive motivos para me atrasar...

— E esse disfarce aí, não tinha nada

melhor?

— Foi o que a agência me arrumou.

Fazer o quê?

— Quero vê-lo assumir as funções de

pastor.

— Já fui pastor, sabia? Estou meio

enferrujado, mas consigo me virar bem na

profissão.

— Você, um agente da Pinkerton, já foi

um pastor?

— Sim, antes de iniciar minha carreira de

crimes. E comecei matando um bocudo que

insistia em gozar com a minha cara — falou

o pastor, furioso.

Peter virou o rosto para poder continuar

rindo. quando parou, encarou o amigo.

— Bem, não entendo por que a Agência

Pinkerton de Detetives o mandou aqui, meu

amigo, mas fiquei feliz quando soube que

estava vindo.

— É simples. A Madre Superiora do

Colégio Notre Dame queria ter certeza que

sua aluna chegaria incólume à casa do pai,

por isso nos contratou.

Peter olhou-o demoradamente, não

acreditando muito na estória que ele

contava.

Só que conhecia muito bem Harry Gray

para saber que ele nada diria sobre os

objetivos de sua missão.

— E você, por que está aqui? — indagou

o pastor.

— Billy e Slim Colman eram meus

parentes. Slim era meu tio — explicou

Peter.

— E o que descobriu? Se é que já

descobriu alguma coisa por aqui.

— Antes de dizer alguma coisa, fale-me

da garota — pediu Olhos Cinzentos.

Harry sorriu, pensativo, lembrando-se

dela. E lembrou-se da festa também.

— Foi bom lembrar. Preciso tomar um

banho. Tenho que ir a uma festa ainda hoje

— disse.

— Há água e tudo o mais lá nos fundos

— disse Peter. — Já a inspecionei a casa. E

que festa é essa?

— Há uma festa na casa de Lucille.

Pretendo ir, fui convidado por ela.

— Vai cair direto na boca do lobo, então.

— Por que diz isso? — quis saber Larry,

enquanto se despia e caminhava pela casa.

— Jim Wallace, o pai dele, está por trás

das mortes dos meus parentes.

— Verei o que posso fazer para ajudá-lo

— afirmou o pastor, retirando roupas limpas

de sua mala e sumindo quase nu no interior

da casa.

Peter voltou ao sofá. Sentou-se e acendeu

um cigarro. Ficou fumando pensativamente.

Larry estava ali com uma missão

específica que ele desconhecia.

De qualquer maneira, era um aliado

importante, embora não pudesse contar com

ele cem por cento.

Larry trabalhava para a Pinkerton, uma

agência particular de detetives que,

esporadicamente, também auxiliava a lei,

desde que seus objetivos particulares não

fossem prejudicados.

A caminho de New Rockford, quando

passara em Bismarck, ficara sabendo das

mortes de Slim e Billy.

Pedira ao seu chefe que o deixasse ir até a

cidade para investigar a morte dos parentes.

— Pode ir, Peter. Acho que lhe devo isso

— dissera o seu chefe. — Vai encontrar

alguém importante lá.

— Quem?

— Larry Gray.

— Larry? Aquele embrulhão? O que ele

estará fazendo lá?

— Pelo que fomos informados, ele estará

acompanhando a filha de Jim Wallace, de

Fargo até New Rockford. Ao longo do

caminho, diversos agentes de Pinkerton se

revezaram, vigiando-a.

— Por que isso?

— Não ficou muito claro. Disseram que a

madre superiora do colégio assim o pediu. a

garota estuda em Boston, num colégio de

freiras famoso e muito rigoroso.

— Entendo. Jamais deixariam a garota

viajar sozinha, sem nenhuma proteção.

— Certo. Larry fará a última etapa da

viagem. Agora, há algo que tem que saber.

— E o que é?

— A garota é filha do homem suspeito de

mandar matar seus parentes.

Larry surgiu logo em seguida,

enxugando-se.

— Como estou agora? — indagou, já

barbeado e limpo.

— Melhor.

Larry começou a se vestir. Parou, então,

voltando-se para o amigo.

— Que tal ir até a festa comigo? —

convidou.

Peter sorriu.

— Falo sério! — insistiu Larry.

— Como eu disse antes, seria cair na

boca do lobo. Já tive um entrevejo com o

xerife e ele é da família Wallace. Eles são

suspeitos das mortes dos meus parentes. Ir

lá seria como provocá-los, não?

— Tem razão. E depois, por que levá-lo

lá? Na certa vai botar os olhos na pequena

Lucille e cair sobre ela como um gavião

matador. Eu o conheço, Peter Colman. Por

isso é melhor não ir mesmo.

— Seu matreiro filho da mãe! —

murmurou Peter, começando a se despir

rapidamente.

Algum tempo depois escolhia em sua

mochila algumas roupas limpas para usar.

— Como foi o encontro com o xerife? —

quis saber Larry.

Peter contou-lhe em detalhes o

acontecido. E acrescentou:

— ... e aconteceu outra coisa hoje na

cidade. O armazém foi incendiado. Dizem

que o proprietário morreu queimado, mas há

alguma coisa por detrás disso...

O delegado interrompeu-se. Havia

percebido um vulto junto à janela. Fez

sinais para que Larry continuasse

conversando e saiu silenciosamente.

Retornou pouco depois, trazendo uma

pessoa franzina pelos colarinhos.

Jogou-a sobre o sofá. O chapéu caiu e os

cabelos ruivos se espalharam como uma

cascata.

— Uma garota? — indagou Peter,

surpreso.

— Sim, meu nome é Hanna Kinney e

meu pai era o dono do armazém que foi

queimado hoje à tarde.

— E o que faz aqui, se esgueirando como

uma cobra venenosa? — indagou Peter,

com rispidez.

— Eu o segui, quando me disseram que

era um delegado federal e que tinha posto

Harry Wallace para correr.

— Você deveria estar velando o seu pai,

garota, ao invés de... — ia dizendo Larry.

— Nada sobrou dele que pudesse ser

velado. Não sou uma garota mimada e

chorona. Meu pai era um homem corajoso e

foi morto por isso.

— Você está dizendo que seu pai foi

assassinado? — interrompeu-a Peter.

— Sim, eles estavam fazendo uma

reunião, quando Jim Wallace e seus

capangas chegaram.

— Reunião? para quê?

— Para se unirem contra Wallace.

Queriam comprar junto as terras dos

Colman, que vão a leilão pelo Banco...

— Espere um pouco, garota — pediu

Peter. — Por que as terras dos Colman vão

a leilão?

— Há uma hipoteca no banco. Não é

muito, por isso meu pai achou que poderia

unir os rancheiros e, juntos, comprarem as

terras.

— E por que essas terras são

importantes?

— Por que lá estão as nascentes do rio.

— Entendo. Quem controlar as nascentes

controlará toda a água, não?

— Sim.

— O que houve na reunião? — continuou

perguntando o delegado federal.

— Wallace e seus homens chegaram.

Agrediram meu pai. Um dos rancheiros me

disse que ele foi degolado. Depois

agrediram todos os outros também e

atearam fogo ao armazém.

— Mais alguém morreu?

— Não, apenas meu pai. Só que os outros

estão tão aterrorizados que jamais falarão.

Muitos tencionam vender as terras e sumir

daqui. Seguramente vão acabar vendendo

para o próprio Wallace, a preço de banana.

— Começo a entender o que está

acontecendo aqui — comentou Peter.

—Prenda-os, delegado. Prenda Jim

Wallace e os capangas que mataram meu

pai e os Colman. Um deles você já pegou

hoje à tarde.

— Qual?

— O mestiço. Foi ele que matou meu pai,

segundo me disseram hoje.

— Um a menos, mas, pelo que vi,

Wallace tem muitos capangas.

— Mas você é um delegado federal! —

insistiu ela.

— Isso não o torna invulnerável, garota

— disse Larry, terminando de se vestir.

— Você não é pastor.

— Larry é um agente secreto e está aqui

para me ajudar — explicou Peter. — Deve

permanecer incógnito. Como pastor ele

poderá me ajudar muito. Não é verdade,

Larry?

O detetive percebeu que Peter queria

forçá-lo a ajudá-lo. Teve de ceder.

— Sim, claro. Trabalhamos juntos —

afirmou.

— Então vão pegá-lo mesmo?

— Sim, eu prometo. Agora vá para casa,

garota. Temos trabalho a fazer — pediu

Peter.

Ela se levantou. Vestia roupas

masculinas, grandes demais para o seu

corpo. Tinha olhos castanhos brilhantes e

um rosto muito bonito, se recebesse os

devidos cuidados.

— Se descobrir mais alguma coisa, eu

virei contar-lhe, delegado.

— Espere! Você sabe os nomes dos

homens que mataram os Colman?

— Não exatamente, mas posso descobrir

isso para você.

— Faça isso — pediu ele e os olhos da

garota brilharam de satisfação.

Ela sumiu pela porta.

— Isto aqui está ficando movimentando

demais para a casa de um pastor —

comentou Larry.

— Percebe onde vamos nos meter indo à

casa de Wallace?

— O homem é uma víbora, mas não

tenho nada com isso, Peter. O delegado

federal é você.

— Só que estou contando com a sua

ajuda.

— Eu não prometi nada e...

— Calma lá! Acabou de me prometer

isso bem diante da garota.

— Mas eu pensei que... Ora, dane-se,

Peter Olhos Cinzentos. Você continua o

mesmo trapaceiro de sempre, não?

Peter riu e tratou de afivelar o cinturão e

de conferir a munição dos Colts.

Não sabia até que ponto aquilo seria

mesmo apenas uma festa.

Os dois homens caminharam pela noite

tranqüilo de New Rockford, na direção da

casa de Jim Wallace, de onde vinha a

música que se espalhava pela pradaria.

Os convidados não paravam de chegar e

os amplos salões da casa iam se enchendo.

Uma enorme mesa, com todo tipo de

comida, estava a disposição de todos.

Casais dançavam animadamente. Parados

junto ao portão, Peter e Larry observavam o

movimento todo.

— É um homem poderoso ou popular? —

indagou Peter.

— Acho que é mais poderoso do que

popular.

— E a garota?

— Já vamos encontrá-la — afirmou

Larry, empurrando Peter para o meio da

multidão.

— Sinto cheiro de comida — disse o

delegado.

— Eu também. Estou faminto.

— Vamos comer alguma coisa primeiro...

— Acalme-se, deixe-me apresentá-lo à

dona da casa antes de mais nada — cortou-o

Larry.

Entraram casa a dentro. Harry Wallace, o

xerife, reconheceu o homem que entrava,

acompanhado de um pastor. Correu à

procura do tio para contar-lhe.

— Pastor! — chamou-o Lucille,

reconhecendo-o e correndo ao seu encontro.

— Fico feliz que tenha vindo. Quer comer

alguma coisa? beber?

— Antes de mais nada, deixe-me

apresentar-lhe um amigo meu — falou

Larry, apresentando Peter.

Os olhos cinzentos do delegado se

alegraram com a visão daquele rosto lindo e

radiante.

Apertou a mão suave, sentindo o perfume

que vinha daquele corpo cheio de vida e

juventude.

— É uma linda moça. Larry estava certo

todo o tempo — disse o delegado,

galantemente.

— O quê? Quem?

— Ah, desculpe-me, o pastor...

— Larry Gray, Lucille — explicou o

pastor, que ainda não havia dito seu

primeiro nome à garota.

— Venham comigo! — disse ela,

segurando a mão do pastor e puxando-o por

entre os convidados.

Os dois homens não tiveram outra

alternativa senão seguir a garota até a sala,

onde os membros masculinos da família

Wallace estavam reunidos.

— Papai, quero lhe apresentar o pastor

Gray, que me acompanhou durante a

viagem, de Fargo até aqui — disse ela,

alegremente.

— Obrigado, pastor, pela sua atenção

para com minha filha — falou Jim Wallace,

estendendo a mão e cumprimentando Larry.

— Ora, Sr. Wallace, foi um prazer —

respondeu ele, sorrindo para a garota, que

não tirava os olhos dele.

— O outro é Peter... — começou ela a

dizer.

— O delegado federal — cortou-a Harry,

o xerife.

— Delegado? Como assim? — estranhou

Lucille.

— Querida, você e o pastor poderiam sair

e se divertir? Tenho um assunto a discutir

com este nosso convidado — pediu Jim

Wallace à filha.

— Papai, não vai falar de negócios no dia

da minha volta? Por que não deixa tudo isso

para amanhã?

— Vá e divirta-se — insistiu ele,

abraçando a filha e levando-a até a porta.

Larry foi esperto, saindo junto com a

garota, sem dar a entender que conhecia

bem o delegado federal.

Assim que o casal saiu, Jim Wallace

fechou a porta. Foi até a escrivaninha e

sentou-se. Apontou uma poltrona.

— Por favor, delegado!

Peter sondou os homens ao seu redor.

Com exceção do xerife, os outros pareciam

desarmados.

Atendeu ao convite, sentando-se em

frente ao dono da casa, que abriu uma caixa

e lhe ofereceu charuto.

— Obrigado! Prefiro fumar dos meus, se

não se importa — respondeu, tirando um

cigarro e acendendo-o, enquanto Jim

Wallace baforava seu charuto.

Os outros homens se acomodaram para

acompanhar a conversa. Se havia alguém

capaz de convencer um delegado federal a

cooperar, esse alguém era Jim.

— Bem, delegado, apesar de ser uma

noite de festa para mim, gosto de resolver

logo tudo que me preocupa. Sua vida aqui

está me causando um certo

constrangimento. Poderia me explicar qual

é o motivo dela?

— Vim visitar alguns parentes, apenas

isso. Só que os encontrei mortos.

— A quem se refere?

— A Slim e Billy Colman.

— Qual o grau de parentesco entre

vocês?

— Slim era irmão de meu pai.

— Foi uma pena...

— Pelo que ouvi, foi assassinato —

cortou-o Peter, olhando-o nos olhos.

O rancheiro mantinha seu olhar no de

Peter, sem se intimidar.

— Ali está o xerife que pode lhe garantir

que as testemunhas foram unânimes em

afirmar que...

— Slim foi morto a sangue frio, assim

como meu primo.

Jim Wallace pigarreou e se remexeu na

sua poltrona, incomodado. Aquele delegado

era duro na queda.

— Veja bem, delegado. O que está feito,

está feito. Nada trará os dois de volta e...

— A questão não é essa, Sr. Wallace.

Seus capangas mataram dois homens a

sangue frio e deveriam ter sido punidos por

isso.

— Eu sou o juiz da cidade e lhe garanto

que a lei foi respeitada. Todos viram os dois

sacarem primeiro. Os empregados de meu

primo apenas se defenderam.

— Três pistoleiros contra dois

rancheiros! Não me faça rir. Os dois foram

forçados a sacara. Mas isso não vem ao

caso. Pretendo investigar o crime e, caso

outras testemunhas confirmem a versão que

ouvi inicialmente, farei com que novo

inquérito seja instaurado.

Jim Wallace estava aborrecido,

percebendo que não seria fácil mesmo lidar

com aquele homem.

— Vocês delegados federais são uns

arrogantes mesmo — falou ele, de dedo em

riste. — Pensam que estão acima da lei, que

podem chegar em minha cidade e irem

ditando as normas. Se pensa assim, está

errado, homem. Aqui as coisas acontecem

conforme eu determino. Você tem duas

alternativas. Ou dança conforme a minha

música ou dá o fora do baile, entendeu? —

falou ele, furiosamente.

— Homens como você me enojam, Jim

— falou em resposta o delegado, que tinha

ouvido tudo sem mover um músculo do

corpo. — Tenho percorrido esses territórios

todos e encontrado gente de sua laia aos

montes. São a praga do oeste, são a

desgraça do país. Homens que desejam mais

do que podem cuidar, que tiram dos outros,

que destroem, roubam e matam sem o

menor escrúpulo. Deixe-me lhe dar um

conselho também. Homens como você eu

mato ou ponho atrás das grades para

sempre. Entendeu? — finalizou,

levantando-se.

Jim Wallace estava lívido. Fez um sinal

para que Harry barrasse a saída do

delegado, mas em vão.

Peter Olhos Cinzentos saiu, batendo a

porta atrás de si. Jim esmurrou a mesa

furiosamente.

— Ele é um homem morto, entendem?

Morto! — vociferou. — Traga Ralph e seus

irmãos aqui, Harry. Vou pô-lo atrás desse

federal.

— Jim, delegados federais são como

praga daninha. Você pode arrancá-la pela

raiz e deixá-la exposta ao sol para morrer,

mas sempre haverá um novo broto surgindo

da terra. Se mandar matar aquele homem,

jamais terá paz, ouça o que lhe digo —

falou Elroy ao primo.

— Ninguém vem até minha casa e me

ofende gratuitamente, primo. Esse delegado

terá de ser posto em seu lugar.

— Espero que saiba o que está fazendo...

— Eu sei, não se preocupe.

Lá fora Peter procurava por Larry. Estava

mais do que evidente que não era bem

vindo ali.

— Não posso ir agora, a garota está

encantada comigo — disse Larry,

envaidecido.

— É melhor que seja assim. Fique e veja

o que pode descobrir. Quanto a mim, o

melhor a fazer é dar o fora. E, mesmo

assim, acho que serei seguido.

— Pode se esconder lá na casa.

— Obrigado, é o que farei! — combinou

Peter, saindo rapidamente, tomando todo o

cuidado para verificar se não estava sendo

seguido.

Foi direto para a casa do pastor. Entrou

sem acender a luz. Ficou na janela

entreaberta, observando.

Três cavaleiros passaram lá fora,

percorrendo a rua principal, vindo da casa

de Jim Wallace.

— Acho que estão procurando por você

— disse uma voz feminina e Peter não

precisou acender a luz para descobrir que

era Hanna, a ruivinha.

— Como sabe?

— Passaram pela rua, antes de você

chegar. Não os viu?

— Vim pelo outro lado.

— Sabia que estariam a sua procura?

— Suspeitava.

Ele havia se aproximado dele. Seus

corpos se tocaram, quando ela olhou pela

janela.

Estava perfumada e usava um vestido, ao

invés de roupas masculinas. Peter percebeu

e aprovou a mudança.

— O que faz aqui?

— Descobri quem são os homens que

mataram seu tio e seu primo.

— E quem são eles?

— Os mesmo que estão procurando por

você lá fora. Ralph Butte e seus irmãos.

— Tem certeza?

— Absoluta. Posso conseguir meia dúzia

de testemunhas para você.

— Pois acho bom que esteja falando a

verdade, Hanna — disse ele, abrindo a porta

e saindo para a rua.

Os três cavaleiros pararam diante do

saloon e desmontaram.

— O que vai fazer?

— Vou pegá-los.

— Quero ver isso...

— Não, é melhor você ir para casa

dormir. Já fez o bastante por hoje. Amanhã

cedo quero falar com você sobre as tais

testemunhas.

— E se você morrer está noite? —

questionou ela e havia angústia em sua voz.

— Não pretendo morrer, sua boba.

— Quero ajudá-lo. Tenho a arma de meu

pai e... — ia dizendo ela, enquanto tirava

um Colt do bolso do vestido.

— Dê-me isso aí — falou ele, irritando,

tomando-lhe a arma. — Vá para casa, não

me faça perder a paciência com você.

Ela abaixou a cabeça, intimidada. Peter

verificou a arma que tomara dela. Estava

carregada.

Guardou-a no cinturão, presa às costas,

sob o paletó. Poderia servir numa

emergência.

— Não tem medo de ir sozinho? —

indagou ela, vendo-o começar a caminhar.

Peter não respondeu. Ela foi

acompanhando suas passadas com olhar

admirado.

Quando viu que ele não a perceberia,

tratou de seguí-lo pelas sombras das casas à

beira da rua.

Peter foi direto para o saloon. Jim

Wallace iniciara o seu ataque e era isso

justamente que desejara, ao provocá-lo na

casa dele.

Quanto mais irritado o rancheiro ficasse,

mais erros cometeria. Com isso seria fácil

incriminá-lo.

Reconhecia, porém, que tinha de ser

prudente. Vira muitos pistoleiros na casa

dele.

Jim Wallace tinha homens o bastante

para começar uma guerra naquele lugar e

isso era coisa que ele, Peter Colman, não

tinha intenção de começar.

Na casa de Jim Wallace, a festa seguia

animada. Um novo e importante convidado

acabara de chegar e o dono da casa mandara

chamar a filha para apresentá-lo.

Lucille entrou na sala acompanhada de

Larry, de quem não se desgrudava, desde

que ele chegara.

— Filha, quero que conheça alguém que

deseja muito conhecê-la — falou ele à

garota, que o olhava com curiosidade.

Um homem de meia-idade, grisalho nas

têmporas, de rosto curtido pelo sol e olhos

penetrantes, se adiantou, tirando o chapéu.

Tinha cabelos ruivos e fartos, apesar da

idade que aparentava. Sorriu e seu sorriso

demonstrava sinceridade e amizade.

Inclinou-se diante da garota com

admiração.

— Tenho ouvido muito falar de você,

Lucille, mas nunca pensei que fosse tão

bonita como diziam. Acho que se

enganaram. Você é mais bonita do que

todos me diziam — falou ele, sem afetação.

— Este é Bill Lake, nosso vizinho e um

dos grandes rancheiros daqui... — ia

dizendo Jim.

— Não tão grande quanto seu pai, mas...

— Ele é modesto, filha! Por que não

dançam um pouco?

— Eu adoraria — falou Bill.

Lucille ficou indecisa, olhando para

Larry, que ficara constrangido também, sem

saber o que fazer, olhando para Bill Lake.

— Mas eu... O pastor... — balbuciou ela,

toda confusa.

— Não se preocupe, filha. Vá dançar com

o Bill. Eu faço sala ao pastor — afirmou

Jim, empurrando o casal para fora da sala.

Larry nada pode fazer, a não se

acompanhar o olhar suplicante que Lucille

lançava na sua direção.

Jim pôs a mão em seu ombro e o levou

para dentro da sala. Ofereceu-lhe um

charuto.

— Bem, pastor, se tudo der certo como

eu espero, em breve estará fazendo o

casamento de minha filha com Bill Lake.

Com isso vamos ter a maior propriedade de

gado de toda a região e, quem sabe, de todo

o território.

— Um bom negócio — comentou Larry,

olhando aquele homem nos olhos.

Jim Wallace não movia um músculo se

não fosse para obter alguma vantagem.

Conhecia tipos como aquele, mas nada

poderia fazer naquele caso. Peter que

resolvesse a situação.

Da parte dele, a missão estava terminada

a partir daquele momento. Só lhe restava,

no dia seguinte, prestar contas ao homem

que estava pagando tudo e dar o fora o mais

rápido possível, antes que tivesse de fazer

um sermão ou de efetuar um casamento.

— Aquele delegado federal, pastor...

Você o conhece? — quis saber Jim,

indagando distraidamente, como se não

desse muita importância ao caso.

— Não, nós nos encontramos no caminho

para cá. Ele veio da cidade, assim como eu,

a pé.

Jim observou-o o tempo todo. Larry

esforçou-se ao máximo para ser

convincente, tendo-o conseguido,

aparentemente.

— É bom termos um novo pastor por

aqui. Se precisar de alguma coisa, não

hesite em me pedir.

— Agradeço a sua oferta e pode estar

certo que o procurarei, Sr. Wallace —

disfarçou ele, caminhando até a porta.

No pátio os casais dançavam

animadamente. Seu olhar procurou Lucille,

que girava nos braços de Bill Lake.

Uma pontinha estranha de ciúme cutucou

seu coração. A garota o havia

impressionado mesmo.

O pior de tudo era que ela parecia

corresponder, pois acabara de vê-lo parado

à porta.

Olhava a todo momento e sorria,

enfeitiçando-o. Jim Wallace percebeu isso e

pôs a mão no ombro dele.

— Pastor, tenho planos para a minha

filha!

— Já me disse, Sr. Wallace.

— Pois bem! Não permitirei que nada,

absolutamente nada interfira nesses planos.

— Entendo o que quer dizer — comentou

Larry, virando-se para encará-lo.

— É bom que nos entendamos logo,

pastor. Detestaria ser obrigado a convencê-

lo da firmeza de meus planos — finalizou o

rancheiro, afastando-se.

Larry sentiu que o conhecia havia muito

pouco, mas já o odiava como um velho

inimigo.

Peter aproximou-se do saloon cheio de

cautela. Sabia que o que estava para fazer

era arriscado, mas precisava apanhar

aqueles homens com vida.

Se os fizesse falar, poderiam acusar Jim

Wallace e isso encurtaria todo o seu

trabalho.

Deveriam ser pistoleiros experientes, por

isso todo cuidado era pouco.

Da porta, sem entrar, olhou o interior do

saloon. Alguns homens jogando e dois

pistoleiros junto ao balcão, bebendo.

Imaginou que aqueles dois fossem parte

dos três que o caçavam. Se assim fosse,

onde estaria o terceiro homem?

Liberou os Colts nos coldres parte dos

três que o caçavam. Se assim fosse, onde

estaria o terceiro homem?

Peter sentiu todos os músculos de seu

corpo se retesarem, quando ouvi o estalido

seco do gatilho de um Colt bem junto ao seu

ouvido.

O terceiro homem o esperava ao lado da

porta. Fora apanhado como um principiante.

— Ora, ora, o que temos aqui? —

indagou um dos pistoleiros, vindo, do

balcão, ao encontro de Peter.

— Parece que não gostou muito da festa

na casa do Sr. Wallace. Saiu muito depressa

— comentou o outro, cujo nome era Ralph,

líder dos três irmãos.

— Estavam a minha procura? — indagou

Peter, tentando manter a calma.

— Sim, claro, queríamos conhecer um

delegado federal de perto — falou Ralph,

retirando os dois revólveres dos coldres do

delegado.

Os homens que jogavam pôquer deram o

jogo por encerrado e saíram. O barman pôs

uma garrafa de uísque sobre o balcão e

sumiu para os fundos.

Peter percebeu que sua situação era

realmente delicada. Estava nas mãos

daqueles três.

— Gostaria de ver o seu famoso

distintivo, delegado — pediu Ralph,

enfiando a mão no bolso da camisa de Peter

e retirando a carteira, onde estava o

distintivo. — Muito bonito!

— Ralph, por que não convidamos o

delegado para beber conosco? — indagou

um dos irmãos.

— Oh, claro, Ted! Que indelicadeza a

minha — comentou Ralph, piscando um

olho para o irmão que mantinha Peter sob a

mira do seu Colt.

Sem aviso, ele vibrou a arma e o cano

atingiu a nuca do federal, fazendo-o

avançar, desequilibrando, até bater a cabeça

no balcão e cair, aturdido.

— O delegado tropeçou, Ralph — riu o

pistoleiro, fazendo menção de ajudá-lo a se

levantar.

Peter se apoiava nos dois braços para se

erguer. O pistoleiro passou-lhe uma rasteira

nos braços, fazendo-o cair de boca no

assoalho.

Cuspiu sangue, quando ergueu a cabeça.

Aqueles homens não sossegariam enquanto

não o matassem.

— Rapazes, o que pensam que estão

fazendo? — questionou Ralph, com

zombaria, segurando o delegado pelos

cabelos e erguendo-o.

Peter se pôs de joelhos. Ralph tentou

chutar-lhe o rosto, mas o delegado

conseguiu bloquear o golpe, segurando-o

pelo tornozelo e girando-o com força.

Desequilibrado, Ralph foi jogado sobre

uma das mesas do saloon, arrebentando-a na

queda.

Levantou-se possesso Peter prometeu a si

mesmo que daria um beijo em Hanna,

quando a encontrasse de novo.

Aquele revólver em suas costas, oculto,

seria a sua salvação. Ralph apanhara um

pedaço da mesa e partira para cima do

homem da lei.

Peter sacou o revólver e o apanhou,

engatilhado, para a cara do pistoleiro, que

imobilizou-se.

— Os três, ali, junto ao balcão, apoiando-

se nele — ordenou aos pistoleiros.

Os três obedeceram. Peter retirou-lhes as

armas, jogando-as atrás do balcão.

— Gostaria de lhe devolver algo — disse

a um deles, golpeando-o na nuca com a

coronha da arma, fazendo-o desabar no

assoalho.

O outro irmão se virou para ver o que

estava acontecendo. Peter bateu-lhe no

queixo com o canos do Colt, derrubando-o

também.

Ralph começou a tremer, apoiado no

balcão.

— Acho que agora poderemos conversar

tranqüilamente, amigo. Qual é o seu nome?

— Ralph... Ralph Butte... — gaguejou o

outro.

— Pois bem, Ralph, tenho meia dúzia de

testemunhas dispostas a jurar que viram

você matar Slim e Billy Colma a sangue

frio...

— Diga isso ao juiz — ironizou o

pistoleiro, com desdém, começando a rir.

Peter socou-o nos rins, fazendo-o gemer e

cair de joelhos. Segurou-o pelos cabelos e

bateu-lhe a cabeça no balcão, fazendo-o cair

para trás em seguida. Pisou-lhe a garganta,

apontando-lhe o Colt no meio da testa.

— Para onde vou levá-lo nenhum juiz

corrupto poderá salvá-lo — informou. —

Será julgado em Bismarck e levado à forca

em seguida.

O pistoleiro não se abalou.

— Como acha que poderá me levar

daqui, delegado?

— É, essa é uma boa pergunta, delegado

— falou um homem, surgindo à porta do

saloon.

Entrou. Trazia uma cartucheira na mão.

Atrás dele entraram mais cinco capangas de

Jim Wallace, todos com espingardas

engatilhadas.

— Roy, que bom que chegou — falou

Ralph, tentando se levantar.

— Fique aí mesmo — avisou o recém-

chegado.

— Mas Roy, eu...

— Cale-se, idiota! Não percebe que está

acabado? — disse-lhe Peter.

— Como assim?

— É inteligente, delegado. Acho que já

percebeu o que vai acontecer aqui, não? —

falou-lhe Roy.

Ele e seus homens se distribuiriam em

leque diante do delegado e dos três irmãos

caídos.

— O que vai acontecer aqui, Roy? —

quis saber Ralph, apavorado.

— Simples, seu burro! O Sr. Wallace é

esperto demais para mandar matar

gratuitamente um delegado federal. Se o

fizesse, outros viriam investigar. O que vai

acontecer estará acima de qualquer suspeita.

O delegado aí soube que vocês haviam

matado os parentes. Envolveram-se num

tiroteio e todos morreram. Com o

testemunho do xerife e do juiz, tudo estará

acabado... — informou Roy.

— Seus malditos! Foi uma armação —

protestou Ralph, tentando se levantar de

novo.

Peter chutou-lhe o queixo, pondo-o

desmaiado no assoalho.

— Detesto sujeito chorão! — comentou

ele, apontando seu Colt na direção de Roy.

— Posso matá-lo primeiro — ameaçou.

— Quando eu disparar os dois canos

desta espingarda, garanto que não vai sobrar

muita coisa aí para apertar o gatilho —

disse Roy, sem se intimidar.

A iluminação do saloon vinha, em sua

maioria, de lampiões afixados numa roda de

carroça, presa no meio do saloon, numa das

traves mais altas, por uma corda cuja ponta

era amarrada atrás do balcão.

Havia dois lampiões atrás do balcão, um

em cada extremidade e mais dois no alto da

escada que conduzia aos quartos.

Tudo aconteceu numa fração de

segundos. Um tiro, vindo da porta, cortou e

deixou todos perplexos.

Os lampiões despencaram sobre os

pistoleiros, que saltaram para os lados.

Dois tiros simultâneos arrebentaram os

lampiões atrás do balcão. Dois outros os

lampiões no alto da escada.

Peter não perdeu tempo. Se os tiros

vinham de fora, lá estava algum amigo.

Correu naquela direção, atirando-se

contra a porta, quando as primeiras balas

começaram a assobiar atrás dele.

Rolou a tempo de ver Larry recarregando

rapidamente seu Colt. De arma em punho,

Peter se pôs de joelhos.

O assoalho começava a pegar fogo, com

o combustível que vazara dos lampiões. Isto

produzia uma claridade que deixava os

pistoleiros lá dentro contra a luz e,

portando, alvos fáceis.

— Quem são eles? — indagou Larry.

— Temos de capturá-los com vida —

pediu Peter.

Três homens surgiram à porta do saloon,

disparando suas espingardas furiosamente.

A poeira levantou-se ao redor de Peter,

onde os balotes de chumbo se cravavam na

terra.

Os homens jogaram as espingardas para o

lado e tentaram sacar as armas.

Larry não lhes deu trégua. Três disparo

rápidos e certeiros puseram fim àquelas

vidas miseráveis.

— Não atirem... O saloon está pegando

fogo — gritou alguém lá dentro.

Era o barman, pedindo ajuda.

— E os outros? — indagou Larry.

— Pelos fundos — gritou Peter, correndo

para o beco ao lado do saloon, a tempo de

ver os vultos perdendo-se na escuridão da

outra rua.

— Maldição! Nós os perdemos —

lastimou Larry.

— Eu os tinha na mão. Eram os malditos

que mataram meus parentes. Os outros

vieram para matar todos nós. Com isso Jim

Wallace planejava criar uma boa desculpa

para a minha morte, o que não seria difícil,

tendo o xerife e o juiz nas mãos.

— E agora?

— Eu volto à estaca zero — lamentou

Peter.

Os gritos do barman atraíram alguns

homens, que agora o ajudavam a apagar o

incêndio.

Pelo beco, uma figura feminina e

delicada surgiu correndo.

— Você está bem? — indagou ele,

parando diante de Peter, olhando-o com

apreensão.

— Ele está bem — disse Larry. — Você

salvou a vida dele me avisando.

— Como assim? — quis saber o

delegado.

— Eu o segui e vi o que estava

acontecendo lá dentro, depois que os outros

capangas chegaram. Larry vinha descendo a

rua. Eu corri pedir-lhe ajuda.

— Garoto, você me salvou a vida duas

vidas nesta noite — falou Peter, tomando-a

nos braços e beijando-a, deixando-a sem

fôlego.

Quando a soltou, a garota tremia de

deslumbramento.

— E eu, não mereço nada por salvar-lhe a

vida? — brincou Larry.

— Eu lhe pago um drinque — falou

Peter. — Mas por que está aqui tão cedo?

Pensei que ficaria na festa até o final?

— Problemas! — disse Larry,

desconsolado, demonstrando sua tristeza.

Hanna continuava imóvel, olhando com

adoração para Peter.

— Quer falar sobre o assunto?

— Pegue aquela garrafa de uísque que vi

sobre o balcão e vamos falar a respeito lá

em casa — propôs Larry.

— Posso ir também? — pediu Hanna.

— Não tem uma casa para onde ir,

garota? — protestou Peter.

— Tenho, mas não tenho ninguém lá me

esperando. Eu vivia com meu pai e ele foi

morto, lembra-se? Não quero ficar sozinha

naquela casa — reclamou ela, com voz

chorosa.

— Está bem, venha conosco, então! —

decidiu Larry.

Mesmo assim, a garota olhou para Peter,

esperando sua aprovação. Ele sorriu e lhe

acariciou suavemente o rosto.

— Vamos lá, menina! — convidou ele e

ela vibrou de alegria.

Numa pausa, Lucille correu indagar ao

pai a respeito do pastor.

— Ele teve de ir, filha. Estava muito

cansado da viagem e tudo o mais —

desculpou-se Jim.

Bill Lake surgiu logo em seguida, no

encalço de Lucille, que não via com bons

olhos aquele assédio, muito embora ele

contasse com a aprovação de seu pai,

conforme ela havia concluído.

— Preciso me refrescar um pouco —

disse a garota ao pai. — Vou subir, tomar

outro banho e me trocar. Este calor está

insuportável.

— Tudo bem, querida. A noite é sua. A

festa só vai acabar quando você assim o

desejar.

— Por mim ela vai até o dia amanhecer,

pai — decidiu ela, esforçando-se para ser

convincente.

Sorriu para Bill Lake, depois sumiu no

meio da multidão.

— Venha tomar um uísque especial, Bill

— convidou-o Jim Wallace.

Os dois rancheiros foram para a sala onde

Jim recebia seus amigos.

Serviu-lhe uma dose de seu melhor

uísque. Sentaram-se frente a frente para

conversar.

— Muito bem, Bill. O que achou de

minha filha?

— É uma garota finíssima, Jim.

— É uma Wallace, Bill. Ali tem sangue

de pioneiros, raça, coragem e dedicação,

tudo coroado com uma educação exemplar,

num dos melhores colégios de Boston.

— Sei disso, Jim. Sua esposa comentava

sobre isso e, ao conhecer sua filha, pude

comprovar tudo.

Jim se levantou e foi até a sua

escrivaninha. Voltou com a caixa de

charuto. Estendeu-a.

— São da Virgínia, os melhores que o

dinheiro pode comprar — informou.

Os charutos foram acesos. Os dois

homens baforaram por algum tempo,

impregnando o ar da sala com aquele cheiro

característico.

Jim observava Bill disfarçadamente.

— Que idade você tem, Bill? — indagou,

sem demonstrar qualquer emoção.

— Fiz quarenta e cinco, Jim.

Jim Wallace baforou mais algumas vezes,

antes da pergunta seguinte.

— Vou lhe dizer uma coisa, Bill.

Acredite, é de dentro do coração que lhe

digo isso. Você tem trabalhado toda a sua

vida. Eu sei disso. Tem parte das melhores

terras da região e uma manada invejável,

igual ou maior que a minha...

— Bondade sua — comentou Bill,

percebendo onde o outro iria chegar.

Esperava aquela conversa desde que

recebera o convite para a festa de Lucille.

Sabia o quanto Jim Wallace gostava das

terras que eram dele. Para Bill, isso já não

era tão importante. Passara toda a sua vida

fazendo fortuna. Agora a tinha, mas isso

nada significava para ele. Precisava, agora,

dedicar-se um pouco.

Nada melhor que uma garota como

Lucille ao lado dele para dar à vida um

sentido todo especial. A juventude que ele

havia desperdiçado sobrava nela.

Queria aproveitar isso. Jim era um

homem ambicioso. Que fosse! Trocaria de

bom grado todas as suas terras pelo amor de

uma garota como Lucille.

— Como eu dizia — continuou Jim. —

Você tem hoje uma grande fortuna. Não é

porque meu tio é presidente do banco que

eu sei disso. Todos na cidade sabem, isto

não é segredo. Lucille é uma garota de

educação refinada. Veja bem o que estou

lhe propondo: case-se com minha filha.

Case-se com ela e aproveite a vida na

companhia de uma mulher fantástica.

Façam uma viagem ao redor do mundo.

Divirtam-se. Dediquem seu tempo a me

proporcionar alguns netos, antes que eu me

acabe. — falou Jim, melosamente.

— Nada no mundo me daria maior

satisfação do que isso, Jim. Jurou-lhe. Mas

minhas terras são enormes... Como cuidar

delas?

— E para que servem os parentes? Vá

viver a vida e deixe o trabalho duro pra

mim, homem.

Bill o olhou nos olhos. Era a proposta que

esperava escutar.

Roy e os outros pistoleiros, que haviam

escapado do fogo no saloon, bateu na porta

da sala onde se encontrava o patrão.

Pela sua expressão, Jim deduziu que

alguma coisa saíra errado, por isso pediu a

Bill Lake que fosse se divertir.

O que era importante já ficara acertado

com ele. Enquanto ele e Lucille viajavam

pelo mundo, após o casamento, Jim tomaria

conta das terras.

Pensava, ainda, seriamente, sem mandar

alguém acompanhá-los durante aquela

viagem, de modo a se certificar que Bill

Lake jamais retornasse dela.

Lucille seria uma jovem rica e viúva, e a

família Wallace teria o controle de todas as

terras ao longo do rio.

— O que houve? — indagou ao seu

capanga, assim que Bill deixou a sala.

— Falhamos, patrão. Havia um outro

homem lá, nos pegou de surpresa...

Bastardos incompetentes! — esbravejou

Jim, esmurrando a cara do pistoleiro.

Roy caiu de joelhos no assoalho.

— Fechem aquela maldita porta! —

ordenou, ao perceber que alguns convidados

acompanhavam a cena. — E Ralph e seus

irmãos, onde estão?

— Nós os prendemos lá nos fundos, no

estábulo. Ficaram furiosos quando

perceberam que seriam mortos — explicou

Roy.

— Vocês fizeram tudo errado mesmo —

lamentou Jim, caminhando de um lado para

outro. — Só há uma forma de consertar isso

agora.

Deixou a sala, seguido pelos capangas, e

foi até o estábulo, onde os três irmãos

estavam trancados.

Ordenou que abrissem a porta.

— Rapazes, acho que houve um mal

entendido — começou, entrando.

— Eles iam nos matar, Sr. Wallace —

protestou Ralph.

— Eu sei, eu sei, mas o objetivo não era

esse. Fizeram um bom com os Colman, só

que apareceu mais um para nos atrapalhar.

Ouçam a minha proposta, rapazes: mil

dólares para cada um se matarem o

delegado federal. Depois disso, vocês irão

sumir por algum tempo, até as coisas

esfriarem. O que me dizem?

Ralph e seus irmãos trocaram olhares

desconfiados. Haviam passado por um maus

bocado naquela noite. Não queria ser

enganado novamente.

Jim Wallace sabia ser convincente. Abriu

a carteira e retirou um punhado de cédulas.

— Aqui tem metade para cada um.

Quando terminarem o serviço, terão o

restante — propôs.

A visão das notas convenceu os irmãos.

Ralph apanhou o dinheiro e o separou entre

eles.

— Precisamos de mais armas — disse.

— Tudo que precisarem. Roy,

providencie! — ordenou.

Enquanto os pistoleiros se preparavam,

Jim retornou à casa, onde a festa continuava

animada.

Bill Lake tomava um uísque, observando

os casais que dançavam no pátio.

— E Lucille? — indagou.

— Ainda não desceu.

— Vou mandar chamá-la...

— Não, não se preocupe, Jim. É

compreensível, ela deve estar muito cansada

da viagem. Eu a fiz dançar bastante...

— Mas ela é a dona da festa...

— Por isso mesmo. Deixe-a relaxar um

pouco, pobrezinha. Deve ter sido uma

viagem e tanto.

— Como queria, Bill. Que tal mais um

charuto?

Enquanto retornava à sala, no andar

superior, Lucille permaneceu um pouco

mais, oculta pela cortina, observando o

movimento lá fora.

Vira o pai conversando com seus homens

e os ouvira, também, traçando planos para

matarem o delegado federal.

Um deles, inclusive, comentou que o

pastor ajudara o delegado e que os dois

poderiam ser encontrado juntos.

Eles selaram cavalos e partiram. Lucille

mudou rapidamente de roupas e, usando

uma corda, feita com lençóis, desceu pelos

fundos da casa e foi apanhar um cavalo para

si.

Não precisou selá-lo. Podia cavalgar em

pêlo. Discretamente ela seguiu os homens,

na direção da cidade.

Viu-os pararem diante do saloon, ainda

fumaceando, mas intacto. O fogo queimara

apenas um pedaço do assoalho.

Alguns homens que estavam apagando o

incêndio do saloon indicaram a direção

tomada por Peter e pelo pastor.

Ralph e seus irmãos seguiram em frente.

Lucille se aproximou dos homens em frente

ao saloon.

— Viram o novo pastor? — indagou.

— Ele foi para casa, atrás da igreja —

apontou um deles.

Lucille nem agradeceu. Cavalgou pela

rua, na direção da casa. Viu que os homens

de seu pai contornavam a igreja pela direita.

Ela o fez pela esquerda, saltando do cavalo

e correndo para a porta.

Entrou, ao ver luz na sala. Larry e os

outros se surpreenderam ao vê-la chegando.

Sem uma palavra, Lucille correu até o

lampião e o apagou.

— Preparem-se. Há três homens lá fora

para pegá-los — disse ela.

— Quem são? — quis saber Peter.

— Capangas de meu pai.

Hanna correu para junto de Peter, que, da

janela, observava a rua lá fora.

Larry foi até Lucille.

— Arriscou-se vindo até aqui.

— Eu não podia ficar parada vendo isso...

Não chegou a terminar. Uma saraivada de

balas arrancou lascas e quebrou coisas por

toda a cabana.

— Viu alguma coisa? — indagou Larry,

correndo para a outra janela, trazendo

Lucille consigo.

— Só línguas de fogo — respondeu

Peter.

— De que lado eles estão? — quis saber

Larry.

— Do lado direito da rua — informou

Lucille.

— O que tem em mente? — indagou

Peter.

— Sair pelos fundos, dar a volta na rua e

pegá-los pelas costas.

— Boa idéia!

— Você me dá cobertura?

— Toda — respondeu Peter, já com seus

dois Colts nas mãos, pronto para a ação.

— Tome cuidado! — pediu Lucille,

retendo Larry por alguns instantes.

— Tomarei — prometeu ele, segurando a

mão dela por um breve momento, antes de

sair.

Lá fora tudo era silêncio. Peter viu um

vulto se esgueirando pelas sombras.

Não hesitou. Apontou e atirou

rapidamente. Um gemido se ouviu e o corpo

do pistoleiros rolou na poeira.

— Ele me acertou, Ralph — gritou

dolorosamente um dos irmãos Butte.

— Maldito seja! — berrou Ralph,

despejando chumbo contra a casa, seguido

pelo outro irmão. — Tentem tirá-lo da rua

— ordenou.

O segundo irmão correu em socorro do

ferido, enquanto o irmão mais velho

disparava incessantemente contra Peter.

O delegado esperou até que a munição se

esgotasse. Num breve instante, o irmão que

socorria o ficou a descoberto, parcialmente

curvado.

Peter disparou e a bala varou as costelas

dele, jogando lascas de ossos contra os

órgãos vitais.

Os dois ficaram caídos na rua,

estrebuchando.

— Eu o mato, maldito! — gritou Ralph,

sem perceber que Larry se aproximara por

trás dele.

— Mata coisa nenhuma — afirmou

Larry, encostando o cano do revólver na

nuca do pistoleiro, que ficou paralisado.

Empurrou o capanga na direção da casa,

depois de desarmá-lo. Peter já havia

acendido novamente o lampião.

— Ora se não é o nosso velho conhecido

— comentou, ao reconhecer Ralph.

— Quem é ele? — quis saber Larry.

— Um dos homens que matou meus

parentes. Devo reconhecer que ele é

persistente...

— Ou talvez seja isso que o tenha feito

ser assim — ajuntou Larry, exibindo o

maço de notas que encontrara no bolso do

pistoleiro.

— Na certa foram pagos para me matar

— comentou Peter, obrigando Ralph a se

sentar.

Apanhou um pedaço de corda e amarrou

as mãos dele nas costas da cadeira.

— O que vai fazer agora? — indagou

Hanna.

— Vocês são testemunhas do ataque —

explicou Peter. — Se testemunharem isso

num tribunal federal, Ralph irá para a forca

por atentar contra a vida de um delegado

federal.

— Eu testemunharei com o máximo

prazer — disse Hanna.

— Eu também — ajuntou Lucille,

corajosamente.

— Não pode fazer isso comigo... Sabe

que há alguém por trás disso tudo —

choramingou Ralph.

— Sim, eu sei, mas você está disposto a

testemunhar dizendo quem é? — intimou-o

Peter.

— Estarei morto se fizer isso...

— Se não o fizer estará também. A

escolha é sua. Posso selar meu cavalo e

partir esta noite mesmo. Amanhã à tarde

estaremos em Bismarck e você será jogado

numa cela de onde só sairá para a forca.

Ralph hesitou, percebendo que Peter

falava sério. Não tinha outra alternativa,

senão entregar Jim Wallace.

O maldito bem que merecia isso, pois

tentara matá-lo e aos seus irmãos.

Era uma víbora traiçoeira e merecia ser

traído.

— Está bem, eu testemunharei contra ele

— decidiu-se, afinal.

— Ótimo! — exclamou Peter.

Por momentos, concentrados em ouvir o

que Ralph decidiria, os dois amigos se

descuidaram da guarda.

Não era à toa que Roy era o homem de

confiança de Jim Wallace. percebera o jogo

do patrão, ao tentar convencer os Irmãos

Butte a liquidar o delegado.

Deixou-os partir, depois os seguiu, com

mais alguns capangas. Surpreso, viu a filha

do rancheiro ir até a casa do pastor, avisá-

lo.

Esperou, juntamente com os outros, pelo

desfecho do ataque. Quando Ralph foi

flagrado, imaginou o que aconteceria.

Ao ouví-lo confirmar que testemunharia,

não hesitou. Apontou sua Winchester para o

peito do pistoleiro e puxara o gatilho.

O tiro surpreendeu todos no interior da

casa. O impacto da bala jogou Ralph para

trás.

Roy havia alertado seus homens para

tomarem cuidado com a filha de Jim

Wallace.

No tiroteio que se seguiu, uma bala

atingiu o lampião. Os projéteis cortaram a

escuridão, sem escolher seus alvos.

Larry havia puxado Lucille para junto de

si e se atirado ao assoalho, cobrindo-a com

seu corpo.

Peter fizera o mesmo em relação a

Hanna. Quando seus olhos se encontraram à

escuridão da cabana, ele procurou um alvo

onde atirar, mas os homens já haviam

fugido.

—Diabos, Peter, mataram Ralph! —

comentou Larry.

— Não se mexam. Podem estar aí fora

ainda. Há alguém mais ferido?

— Eu estou bem — confirmou Larry.

— Eu também — falou Lucille.

— Meu ombro está doendo — gemeu

Hanna, sentindo o sangue quente escorrer

de seu ombro.

Larry correu até a janela e, depois, saiu

para a rua, enquanto Peter riscava um

fósforo para examinar o ferimento no

ombro da jovem, que tremia de dor ao seu

lado.

— Já foram — informou Larry,

retornando.

— Há um médico aqui na cidade? —

perguntou Peter a Hanna.

— Rua acima... Depois do saloon... —

disse a jovem, lutando contra a dor.

— Vou até lá — falou Larry.

— Cuidado! — pediu Lucille, indo para a

cozinha e encontrando um outro lampião.

Após acendê-lo, tratou de providenciar

água quente para limpar o ferimento de

Hanna.

A porta fora trancada e, a despeito da

festa lá fora, um clima de desespero

dominava os Wallace ali reunidos.

Jim havia recebido a noticia de Roy e não

se conformava com o que Lucille fizera.

Isso simplesmente jogava por terra a

continuidade de seus planos em relação às

terras de Bill Lake.

Estava justamente expondo isso aos

parentes.

— Bill Lake não precisa saber que

Lucille saiu — disse o juiz.

— Isso mesmo. Basta reunir um grupo de

pistoleiros e mandá-los até a casa do pastor

buscá-la. De passagem poderiam acabar

com aqueles dois intrometidos — propôs o

xerife.

— E você estaria disposto a chefiar esse

grupo? — desafiou-o Jim.

— Ora, Jim, não ficaria bem eu, o xerife,

me metendo numa encrenca como essa.

— Não fica bem a minha filha metida

com aqueles homens. E quem é aquele

pastor, afinal de contas? Um homem de

Deus que porta uma arma e mata como

qualquer bandido? Há alguma coisa errada

nisso tudo, pessoal, e não estou gostando

disso — ponderou o rancheiro, preocupado.

— Veja bem, Jim, você sempre quis fazer

as coisas a seu modo. Por que mandou

Ralph e os irmãos darem cabo do delegado?

— Porque eles terminariam um serviço

que começaram com os Colman. Seria fácil

criar uma estória de vingança, onde o

delegado tentara pegar os assassinos de seus

parentes. Quando os Butte terminassem

com ele, eu mandaria matá-los e não

sobraria ninguém do caso para contar a

estória.

— Tentou ser sutil e não deu certo. Acho

que agora terá de apelas para a violência

mesmo — opinou o juiz.

— O que sugere, primo?

— Mande todos os seus homens contra

eles.

— E Lucille? Terei de tirá-la de lá

primeiro.

— Por que não negocia com ele? —

propôs o banqueiro.

— Tentei...

— A situação é outra. Inicie uma

negociação, cedendo tudo que for

necessário, apenas para libertar Lucille.

Assim que tirá-la de lá, mande seus homens

atacarem com toda a força disponível.

Jim pensou na proposta. Tinha lógica e

poderia funcionar, se bem conduzida.

Olhou para os outros parentes.

— O que acham? — perguntou.

— Acho que dará certo — falou o xerife.

— Eu também — ajuntou o prefeito.

— É isso mesmo — concordou o juiz.

— E então — quis saber o banqueiro,

olhando para o sobrinho, que pensava ainda

a respeito.

— Mande Roy reunir todos os homens

disponíveis lá nos fundos — ordenou a

Harry.

— Posso mediar a negociação, Jim —

propôs o juiz.

— Ótimo, tio! Acho que ficará bem.

Quando tudo terminar, quero ter o prazer de

matar aquele homem pessoalmente, com

minhas próprias mãos — prometeu Jim.

— Quando acabar, poderá fazer com ele

o que desejar. Agora vamos planejar isso

com cuidado para não haver furos —

ponderou o juiz.

Jim respirou fundo e aliviado. Por

momentos julgara que pudesse estar

perdendo o controle da situação.

Para alguma coisa, afinal, seus parentes

estavam servindo, além de sugá-lo

constantemente.

Com a ajuda deles daria um passo

decisivo para consolidar sua posição de

maior rancheiro do Território.

Hanna havia sido atendida pelo médico.

Felizmente a bala havia atravessado seu

ombro, sem ferir nenhum osso.

— Só vai precisar manter esse braço

imóvel por algum tempo. Procure-me

amanhã, lá no consultório, para trocarmos o

curativo — recomendou o doutor.

Peter o acompanhou, depois, até a rua.

— Ouvi rumores sobre sua presença aqui,

delegado. Sei que fará o que é correto para a

cidade, mas fique preparado. Jim Wallace é

um homem traiçoeiro. Nada faz que não

vise proveito próprio, disso pode ter certeza

— falou o médico.

— Gostaria que mais pessoas como você,

doutor, estivessem dispostas a se unir para

combater esse tipo de tirano — ponderou

Jim.

— Isso já foi tentando antes, delegado,

mas acho que sabe no que deu. O pobre

Alfred, pai de Hanna, pagou com a vida

pela ousadia.

— Isso não ficará impune, eu lhe garanto.

— Espero que sim, delegado, mas esteja

preparado.

— Obrigado pelo conselho, doutor —

finalizou Peter, retirando a carteira para

pagar o serviço feito.

— Não é preciso, delegado. Apenas cuide

daquela garota, por favor. É tão ou mais

explosiva que o pai e uma encrenqueira de

mão cheia.

— Já deu para perceber — riu Peter.

Um cavalo relinchou na noite, fazendo-os

olharem rua acima. Um bando de cavaleiros

descia na direção deles.

— Acho que a encrenca está chegando —

disse Peter, despedindo-se do médico e

correndo para a casa. — Prepare-se, Larry,

acho que vamos ter companhia — alertou o

amigo.

— É meu pai! — comentou Lucille.

— Desta vez resolveu vir pessoalmente

— murmurou Peter, tentando contar o

número de cavaleiros.

Passava de duas dezenas, muito mais do

que suas armas poderiam abater.

— Vamos ter que caprichar na pontaria e

economizar munição — disse a Larry.

— Não acho que estão vindo dispostos a

lutar — observou o falso pastor. —

Parecem muito expostos, não?

Peter atentou para esse fato. Jim Wallace

cavalgava na frente do grupo todo. Se

fossem atacar a casa, não o fariam daquela

forma.

— Acho que vem para conversar —

opinou Lucille. — Eu vou falar com ele.

— Cuidado! — alertou Larry, segurando-

a pelo braço e olhando-a nos olhos, como se

tivesse alguma coisa a lhe dizer.

Depois desistiu, soltando-a. A jovem

correu para a rua, na direção do pai.

— É Lucille — gritou alguém.

— Isto vai ser mais fácil do que eu

pensava — comentou Jim. — Roy, pegue-a

e leve-a para casa. Mantenham-na sob

vigilância.

Ante os olhos surpresos de Larry e Peter,

o capanga agarrou Lucille e a levou para

trás do grupo.

Jim Wallace avançou até junto da casa.

— Delegado! — chamou ele.

Peter abriu a porta e foi ao encontro dele,

com as armas livres nos coldres.

— O que quer?

— Vou lhe dar uma última chance. Já

vingou a morte de seus parentes. Pegue seu

cavalo e vá amanhecer o mais longe

possível de New Rockfort.

— Tenho por principio jamais deixar um

serviço incompleto. Você foi o responsável

e vai pagar por isso.

— É um tolo, delegado! Acha que poderá

enfrentar meus homens sozinhos?

— Ele não está sozinho — gritou o

pastor.

Jim Wallace riu alto, zombeteiramente.

— Dois homens contra duas dúzias. Está

superestimando sua capacidade, pastor. Mas

chega de conversa. Não digam depois que

não lhe dei uma chance — falou Jim, dando

meia-volta em seu animal.

— Wallace! — chamou-o Peter.

O rancheiro virou o corpo na sela para

olhá-lo.

— Como membro da família Colman,

pretendo pagar a dívida no Banco e

recuperar aquelas terras — avisou ele.

— Mortos não compram terras —

finalizou Wallace, esporeando seu cavalo.

Nem bem se adiantou alguns metros, seus

capangas começaram a disparar.

Peter correu para a casa, com balas

assobiando ao seu redor. Na janela, Larry

mirou cuidadosamente e disparou, atingindo

um dos pistoleiros.

Os outros debandaram, procurando

proteção, mantendo a casa sob fogo cerrado.

Os dois homens ficaram abaixados atrás

das janelas, enquanto as balas iam

despedaçando tudo a sua frente.

— Alguma idéia, parceiro? — indagou

Larry.

— Bom, só faltam vinte e três.

— Acha que Hanna estará segura?

— Sim, lá no quarto não haverá como as

balas chegarem até ela.

— Precisamos fazer algo.

— Vamos esperar. Eles terão de se

acalmar.

Ouviram passos pesados. Lá fora, se

aproximando da casa. Um homem surgiu na

porta, chutando-a.

Peter mandou-lhe um balanço no peito,

jogando-o de volta para fora.

— Vinte e dois! — gritou Larry. Dois

vultos se desenharam, um em cada uma das

janelas. Peter e Larry dispararam a queima-

roupa, na cara dos dois, fazendo seus

chapéus voarem pelo ar com pedaços de

crânio e cérebro dos atrevidos.

— Vinte! — falou Peter, rastejando até a

porta.

Um homem correu, atravessando a rua.

Peter mirou com calma e disparou. O

pistoleiro rodopiou e caiu estatelado na

poeira.

— Dezenove! — contou Larry.

Nova descarga de chumbo ameaçou

derrubar a casa, de tanta violência. A parede

pontilhada de furos. No interior, as

prateleiras de um armário junto à lareira

enchiam-se de cacos de copos e louças

quebrada.

Depois, tudo ficou em silêncio. Os dois

homens arriscaram uma rápida olhada.

Meia dúzia de homens se esgueiravam na

direção da casa.

— Planejam uma invasão — concluiu

Peter, recarregando suas armas.

Larry fazia o mesmo. O tiroteio

recomeçou. Um homem saltou pela janela,

disparando sua arma.

Peter o apanhou em pleno ar,

atravessando-lhe o corpo com um balaço.

Ele caiu no assoalho estrebuchando, antes

de ficar imóvel.

— Dezoito! — contaram os dois juntos.

Uma tempestade de chumbo invadiu a

cabana. Dois homens rolaram porta adentro,

enquanto que, nas janelas, outros

disparavam em todas as direções.

Peter apertou os gatilhos de seus dois

Colts ao mesmo tempo, fazendo os dois

homens que entravam pela porta rolarem

mortos até a parede oposta.

Larry girou o corpo rapidamente de um

lado para outro, disparando seu Colt com

rapidez, batendo a mão esquerda no gatilho

repetidas vezes.

Chapéu voaram. Um homem ficou

debruçado na janela. Os outros foram

jogados para trás. Gemidos e gritos de dor

cortaram a noite.

— E agora, quantos? — quis saber Peter.

— Acho que acertei três — falou Larry.

— Eu derrubei aqueles dois ali.

— Cinco a menos... Temos treze, no

mínimo, lá fora.

Um silêncio pesado caiu sobre a cidade.

Atrás das portas e janelas as pessoas

observavam o tiroteio, mas ninguém tinha

coragem o bastante para se intrometer.

Sabiam que o delegado federal poderia

libertar a cidade daquela tirania, mas não se

atreviam a ajudar.

— O que eles estão pretendendo agora?

— questionou Larry, olhando discretamente

lá fora.

Viu, então, num beco, o brilho de chamas

e o movimento de sombras na parede.

— Surpresa! — disse ele. — Acho que

vão nos assar vivos.

— Maldição! — praguejou Peter,

olhando também.

Para chegarem até a casa, os homens

teriam, fatalmente, que atravessar a rua.

Seria o único momento em que ficariam

vulneráveis, mas, em contrapartida, o fogo

de cobertura dos demais manteria os

ocupantes da casa abaixados.

Foi realmente o que aconteceu. Os

homens mantiveram o fogo concentrado nas

janelas da casa, enquanto os outros corriam

com as tochas, dispostos a arremessá-las

pela janela.

— Feche as janelas — gritou Peter e

Larry o atendeu.

As tochas bateram contra a madeira,

impregnando-a de óleo e incendiando-a.

Imediatamente Peter abriu novamente sua

janela e, como um pedaço de pano, apagou

o fogo. Larry fez o mesmo.

As tochas haviam caído próximas da

parede. Em pouco tempo acabariam por

incendiar a madeira.

Nova saraivada de balas varreu as janelas

da casa.

— Lá vem eles de novo — alertou Larry.

Quatro homens atravessavam a rua com

tochas nas mãos. Peter abriu a porta

repentinamente e rolou para fora.

Suas armas cuspiram balas, colhendo os

quatro no meio da rua. As chamas ficaram

brilhando tetricamente em meio à poeira

devastada pelos corpos em sua queda.

Havia um tronco ao lado da casa e Peter

rolou na sua direção, escondendo-se.

— Nove! — gritou Larry da cabana.

Os pistoleiros restantes concentraram o

fogo na direção de Peter.

Estava se apavorando. Inapelavelmente

os dois homens estavam matando todos

eles.

Ao desviarem sua atenção para Peter,

abriram a Larry a possibilidade de atacá-los.

Ele se ergueu numa das janelas e foi

disparando sucessivamente contra os

pistoleiros.

Assustados e sem comando, eles

desistiram e começaram a correr. As balas

dos dois homens iam ceifando um a um.

Quando o tiroteio cessou, a rua estava

juncada de cadáveres e um cheiro de

pólvora e sangue tomava conta da noite.

— Acho que fechamos a conta — disse

Peter, recarregando suas armas.

Larry o imitou. As tochas junto à parede

da casa foram apagadas, enquanto, na rua,

as outras brilhavam iluminando aquela cena

macabra.

Timidamente as pessoas começaram a

deixar suas casas e avançar pela rua.

Nunca tinham visto algo como aquilo.

Aqueles dois homens, sozinhos, haviam

vencido um pequeno exército.

Peter e Larry foram ver como estava

Hanna. Felizmente ela adormecera, graças

às pílulas que o médico lhe dera.

— E agora, parceiro? — indagou Peter.

— Acho que só temos uma direção a

tomar — falou Larry. — Lucille está lá e

preciso ir buscá-la.

— Não me diga que se apaixonou pela

garota...

— Pois acredite que sim. Durante a

viagem ela foi sensacional. Sua juventude,

sua beleza e sua energia me cativaram...

— E parece que isso foi recíproco —

observou Peter.

— É, pela primeira vez na vida estou

envolvido com uma missão...

— Como assim?

— A garota... Minha missão era

acompanhá-la...

— Disso eu sei...

— Mas não fomos contratados pela

madre superiora do colégio...

— Não? E por quem?

— Seu pai quer casá-la com um tal de

Bill Lake. Foi ele que contratou a Agência

para acompanhar a garota, investigá-la e, ao

chegar aqui, dar-lhe todas as informações

sobre ela.

— E você fez isso?

— Encontrei Bill Lake esta noite, mas

não pude lhe dar o relatório.

— E fará isso?

— Tenho que fazê-lo. É meu trabalho.

Ele ficará com as informações e eu ficarei

com a garota.

Um tumulto lá fora chamou a atenção dos

dois. Eles correram, de armas em punho, na

direção da rua.

A multidão apedrejava um pistoleiro, que

capengava, correndo rua acima, até alcançar

seu cavalo. Partiu a galope em seguida.

— Vai avisar Jim Wallace — concluiu

Peter.

— Isso era fatal. Não podemos contar

com o elemento surpresa.

— Não será fácil invadir aquela fortaleza,

mas preciso ir até lá e resgatar Lucille.

— Iremos juntos, parceiro, embora não

saiba como fazer isso ainda — falou Peter.

Um homem ouvia a conversa deles e se

aproximou.

— Sou Ollie, o carvoeiro. Acho que sei

como poderão entrar na casa sem serem

percebidos.

— Sabe? E como poderemos fazer isso?

— indagou Larry.

— Amanhã cedo tenho de entregar uma

partida de lenha e de carvão na casa de Jim

Wallace. Normalmente a entrega é feita

pelos fundos, num alçapão que dá direto no

porão da casa.

— E como vamos nos aproximar? —

questionou Larry.

— Onde descarrego não há vigilância

nem como eles vigiarem. Para nos

aproximarmos, faço uma pilha de lenha e

vocês e vocês se escondem conforto, vocês

chegarão até o porão da casa.

— Como vamos nos guiar a partir de lá?

Alguém aqui conhece a casa com mais

detalhes? — quis saber Peter.

— Eu sei — disse um rapazola. — O

porão o levará a duas saídas. Uma direta no

pátio da casa, outra no interior, na sala

principal.

— Acho que estivemos lá hoje, Larry —

lembrou-se Peter. — O que me diz?

— É um plano tão bom que qualquer

outro.

O médico se aproximou, com um rifle.

— Acho que chegou nossa hora de

participarmos também — decidiu ele. — O

que podemos fazer para ajudá-los?

Peter pensou por instantes.

— Não os deixem dormir. Disparem a

noite toda contra a casa, de forma a não

permitir que eles durmam. Mantenham-nos

em vigília. Estarão preocupados em cobrir a

parte de fora da casa e nós poderemos

atacá-los de dentro.

— Certo, pessoal — gritou o médico. —

Quem está comigo? Jim Wallace e sua

família já tiranizaram New Rockford por

muito tempo. Esta cidade é do povo e

vamos provar isso a ele.

— Eu vou com você, doutor. Só me dê

tempo de apanhar meu rifle — gritou

alguém.

— Eu também — ajuntou um outro e, em

poucos instantes, um coro de vozes se unia,

atendendo ao apelo do médico.

O grupo subiu a rua para desempenhar

sua missão. Peter e Larry olharam ao redor.

— Tantas mortes inúteis, não? —

comentou Peter.

— É esse sangue derramado que faz do

oeste essa terra de bravos e de lutadores,

amigo. Sempre foi assim e sempre será.

— Vamos dormir um pouco. Acho que

Jim Wallace terá um pouco de seu próprio

remédio.

— A que horas iremos para lá? —

indagou Larry ao carvoeiro.

— Assim que amanhecer, pensarei por

aqui para apanhá-los, está bem?

— Ok! — concordaram os dois.

Pouco a pouco a rua foi ficando vazia. As

tochas se apagaram. O papa-defuntos e seus

auxiliares removiam os corpos. Ao longo,

na direção da casa de Jim Wallace,

começaram a pipocar os primeiros disparos.

Aquilo soava como música aos ouvidos

de Peter e Larry.

A noite havia sido um inferno na casa de

Jim Wallace. A festa fora encerrada

prematuramente e os convidados foram

dispensados sem maiores explicações.

Quando o médico e seus amigos

começaram a disparar contra a casa, os

primeiros convidados estavam saindo e isso

aumentou a confusão.

Jim reuniu seus familiares e exigiu que

permanecessem com ele. O capanga que

viera da cidade havia contado a chacina que

fora o tiroteio com os dois forasteiros.

Bill Lake, ao se inteirar do que acontecia,

resolvera desistir de Lucille.

Era uma linda garota, mas aquela família

era demais para ele. Não conseguiria

conviver com toda aquela ambição e toda

aquela crueldade.

Durante toda a noite, os moradores e os

pistoleiros foram incomodados com os tiros

disparados da escuridão.

Eles vinham a qualquer momento e de

qualquer direção. Os pistoleiros foram se

enervando e respondiam ao fogo, sem

sucesso.

Roy correu de um lado para outro,

tentando acalmar seus comandados, sem

sucesso.

Alguns, de tão assustados, queriam fugir,

obrigando Roy a mantê-los sob a mira de

armas.

Quando o dia começou a clarear, a trégua

se abateu sobre a casa. Em seu quarto,

insone, Lucille pensava em Larry e no que

poderia ter acontecido com ele.

Aquele medo que pairava entre os muros

da fortaleza de Jim Wallace davam à jovem

a esperança de que ele não havia morrido.

Talvez estivesse lá fora, disparando

também.

Isso a manteve acordada e inquieta toda a

noite. Quando o silêncio das armas de fogo

se impôs, todos, indistintamente, se

acomodaram da melhor maneira e pegaram

no sono, inclusive Lucille.

O carvoeiro e sua carroça se

aproximaram pela parte de trás da casa sem

serem incomodados.

Ele abriu o alçapão e começou a despejar

carvão e lenha direto no porão.

Sorrateiramente, Peter e Larry saltaram

para dentro, caindo sobre o carvão.

Quando se levantaram de armas em

punho, estavam cobertos de fuligem, como

duas assombrações.

— Por onde atacaremos primeiro? —

indagou Peter.

— Preciso encontrar Lucille. Vou sair

pela porta da sala. Por que você não vai ver

como estão as coisas lá no pátio?

— Ok! — concordou Peter, procurando a

saída.

Separarem-se. Peter abriu uma porta e se

viu na varanda que circundava a casa.

A sua frente, encostados nos muros, os

capangas de Wallace dormiam.

Imaginou a melhor forma de dominá-los.

Não queria disparar a esmo, pois isso

acordaria todos e poderia dificultar o

trabalho de Larry.

O pistoleiro mais próximo estava sentado

ali perto, com as costas apoiadas na parede

e cobrindo o corpo com uma capa.

Peter foi até lá. Golpeou-o na cabeça,

depois arrastou-o até o porão. Vestiu a capa.

Foi atacando dessa forma, um por um,

golpeando-os e levando-os para o porão.

Tinha dominado quatro ou cinco deles,

quando, ao se aproximar de mais um, ouviu

o estalido de um Colt sendo engatilhado.

— Que diabos pensa que está fazendo

aqui, eu... — ia dizendo Roy, com a arma

apontada para a cabeça de Peter.

O delegado foi rápido. Bateu com o cano

na boca do chefe dos capangas, quebrando-

lhe alguns dentes.

Abaixou-se, em seguida, bem a tempo.

Roy havia apertado o gatilho e o disparo foi

atingir o pistoleiro que Peter tentava

dominar, matando-o.

Com o tiro, o inferno se abateu

novamente sobre o pátio. Peter disparou

uma vez contra a cabeça de Roy, que caiu

para trás sem um gemido.

Balas bateram no muro, arrancando

lascas. Peter correu para trás de um

bebedouro, respondendo aos tiros.

Derrubou mais dois homens. Oculto atrás

do bebedouro, ouvia as balas batendo na

madeira e assobiarem sobre sua cabeça.

Larry surgiu na varanda, ajudando-o.

Acertou dois pistoleiros, semeando o pânico

entre os demais, que voltaram para ele a

mira de suas armas.

Isso permitiu a Peter derrubá-los como

patinhos num tiro-ao-alvo.

— Para cá! — gritou Larry.

Peter atravessou o pátio e novos disparos

o perseguiram. Eles responderam ao fogo e,

em seguida, tudo ficou em silêncio de novo.

— Por que voltou? — indagou a Larry.

— Há uma dúzia deles, pelo menos, na

sala. Vai ser difícil entrar lá.

— E Lucille?

— Não consegui localizá-la.

Um lenço de seda flutuou no ar e caiu a

poucos passos deles. Larry correu apanhá-

lo.

Ao olhar para cima, viu Lucille na janela,

acenando para ele.

— Fique aí, vou buscá-la! — disse ele.

— Não, eu desço. É muito arriscado

entrar aqui — falou ela, jogando uma corda

de lençóis.

Rapidamente ela caiu nos braços de

Larry, que a levou para um local protegido.

— Já tenho o que vim buscar, Peter —

disse Larry.

— Meu trabalho ainda não terminou...

— Não pretende entrar lá, pretende?

— A lei tem que ser cumprida, Larry.

Desculpe-me dizer isso, Lucille, mas seu

pai foi além dos limites toleráveis. Terei de

prendê-lo.

— O que posso fazer? Pedir clemência

por um homem que sei que é um criminoso,

muito embora seja meu pai? — lamentou

ela, com tristeza.

Larry a segurou pelos ombros, olhando-a

com ternura.

— Querida, não posso deixar meu amigo

sozinho. Quero que vá para fora daqui e me

espere.

— Promete que tomará cuidado?

— Sim, prometo — disse ele, beijando-a

apaixonadamente.

Lucille lançou-lhe um último olhar,

depois correu para o portão. abriu-o e saiu

para a estrada que levava à cidade.

Os dois homens se entreolharam.

— Vamos nessa? — convidou Peter.

Naquele momento, para surpresa deles, o

portão se abriu e Jim Wallace, montado

num imponente cavalo, surgiu, seguido por

um bando de capangas.

Fumava um de seus charutos. Ao lado,

Lucille era carregada por um dos

pistoleiros, que mantinha a arma apontada

para a cabeça da jovem.

As portas da casa se abriram. Os outros

pistoleiros começaram a sair, juntamente

com os outros parentes de Jim Wallace.

Triunfante, no alto de seu cavalo, ele se

sentia como um verdadeiro rei.

— Estive no México há uns vinte anos

atrás. Conheci as haciendas mexicanas e

aprendi com eles a praticidade de se ter uma

saída de emergência em sua casa. Como

vêem, estão cercados agora.

— Solte Lucille. Deixe-a ir, Wallace.

Você está louco de verdade — falou Larry.

— Não, de forma alguma. Lucille é tão

valiosa quanto ouro puro. Vai me comprar

as terras de Bill Lake, sabiam?

A garota não conseguia acreditar no que

ouvia nem no que estava acontecendo.

Seu próprio pai a mantinha sob a mira de

uma arma e falava em dispor dela como se

ela fosse uma simples mercadoria, um

artigo de troca.

Olhando para Larry, ela viu nos olhos

dele a impotência. Não faria nada enquanto

ela estivesse ameaçada.

Ela observou bem a arma encostada em

sua cabeça. Percebeu que, se colocasse o

polegar entre o cão e a culatra, não haveria

como a arma disparar.

Foi o que fez. Levado pelo reflexo, o

pistoleiro apertou o gatilho, prendendo a

mão à arma. Ela gritou de dor e se jogou

para o lado, caindo do cavalo, levando a

arma consigo.

Larry não esperou uma segunda chance.

Abriu fogo contra o homem no cavalo,

abrindo sua cabeça como um melão.

A confusão se generalizou. Peter não deu

tréguas a Jim Wallace. Meteu-lhe um balaço

no peito, depois se voltou para fuzilar Harry

Wallace e o juiz.

Os pistoleiros se confundiram, quando

uma saraivada de balas veio da entrada, na

direção deles.

Soltaram as armas e ergueram as mãos,

entregado-se. Larry correu na direção de

Lucille, erguendo-a nos braços.

A mão dela sangrava, onde o cão do

gatilho perfurara a pele. O médico também

se aproximou e examinou o ferimento.

— Nada mais sério, bastará um curativo

— disse.

— Devemos a vida a vocês — falou

Peter.

— Acho que foi a insistência daquela

garota ali — explicou o médico, apontando

na direção de Hanna.

Um pouco pálida, mas sorridente, ela

caminhou na direção de Peter.

— Não achei justo que eles os deixassem

enfrentar todos os Wallace e seus capangas

sozinhos — contou ela, timidamente, com

os olhos brilhantes fitando Peter com

admiração.

— Você está ficando especialista em

salvar a minha vida — disse ele,

acariciando o rosto dela.

A garota se lançou nos braços dele,

beijando-o ardentemente.

Três meses depois, Lucille parava sua

charrete diante da nova construção do

armazém.

Hanna veio recebê-la na porta.

— Ficou lindo, Hanna — elogiou Lucille.

— Você ainda não viu nada. O estoque

está completo agora. Recebi uma carroça

ontem à noite com cada tecido que você vai

adorar. Venha ver — disse Hanna,

entusiasmada, tomando a amiga pelo braço

e levando-a para o interior do novo

armazém.

Lucille se deslumbrou com as novidades.

— Ficou ótimo! Tenho certeza que você

saberá cuidar disso tudo agora — afirmou

Lucille.

— Tudo graças a você, amiga.

— Que nada! O que fiz foi um ato de

justiça. Ao indenizá-la, estava apenas

pagando a dívida contraída por meu pai.

— Obrigada mesmo assim! — agradeceu

Hanna, abraçando a outra.

Ficaram algum tempo em silêncio. Um

clima de tristeza as envolveu.

— Teve notícias dele? — quis saber

Hanna.

— Não. Ele disse que iria resolver suas

coisas com a Agência e que depois voltaria.

E Peter?

— Nem uma carta nem um telegrama! —

falou ela, furiosa. — Se eu soubesse onde

encontrá-lo, juro como iria atrás dele.

— Eles prometeram voltar. Aguardo

impaciente a volta dele. Sei que a qualquer

momento eu o verei de novo — confessou

Lucille, com convicção.

— Os homens são uns mentirosos!

— Preciso ir. Só passei mesmo para ver

como estava tudo por aqui. Preciso assinar a

escritura das terras que arrematei.

— Dos Colman?

— Sim, vou deixar como está. Mandarei

cercar de novo. Nenhum gado pisará lá. As

nascentes serão sagradas para mim.

— Fico feliz que pense assim — falou

Hanna, acompanhando a amiga até a rua.

Pararam na calçada, olhando o céu. O

pôr-do-sol tingia de sangue o céu limpo e

sem nuvens.

As pessoas passavam, em suas carroças, a

caminho de casa, depois de um dia de

serviço.

Vaqueiros começavam a chegar no

saloon, para uma noitada de bebida e

diversão.

No fim da rua, dois cavaleiros, vestindo

capaz de viagem, entraram lentamente na

cidade.

Hanna os viu primeiro. Firmou os olhos,

querendo acreditar no que seu coração dizia.

— Olhe lá! — disse à amiga.

— O quê? — indagou Lucille, olhando

na direção apontada por ela.

Viu os dois cavaleiros que, pelo andar

dos cavalos, pareciam estar vindo de muito

longe.

— São eles? — indagou Lucille,

contendo sua felicidade.

— Sim, são os malditos! Chegaram,

afinal. Onde vamos fazer o jantar, na minha

casa ou na sua? — questionou Hanna.

— Jantar? Você está pensando em jantar?

— retrucou Lucille, com malícia, descendo

para a rua.

— Sabe que você tem razão? —

concordou Hanna, alcançando-a.

As duas caminharam sem pressa pela rua,

ao encontro de seus homens.

Sangue no Oeste

Seu nome era William Stone, nascido no

Colorado e, por isso, todos o chamavam

dessa forma: Colorado.

Durante muitos anos fora delegado

federal, com jurisdição em três Estados:

Idaho, Montana e Wyoming.

Colorado Stone se transformou numa

lenda, não apenas pelo rigor com que

tratava os malfeitores, mas pela rapidez de

sua arma, considerada a mais rápida

daqueles territórios.

Aos trinta e cinco anos, finalmente,

Colorado julgou que o melhor a fazer era

parar.

Havia viajado demais, tido aventuras

demais. Matara muitos homens, conduzira

outro tanta à prisão.

Conseguira amealhar algum dinheiro,

economizando o salário, engordando-o com

uma e outra recompensa.

Planejava comprar um rancho num local

distante, onde jamais tivessem ouvido falar

de Colorado Stone. Penduraria suas armas e

iria cuidar da terra e viver com mais

estabilidade e paz.

— Como lhe disse, Sr. Stone, esta é a

melhor terra ao sul do Novo México,

próximo da fronteira. Além disso, Las

Cruces é uma cidade estratégica, pois fica

no caminho para El Passo. Suas terras farão

fundos com o Rio Grande. Não encontrará

nada melhor, posso lhe garantir —

assegurou o corretor.

Colorado Stone acendeu um cigarro e se

recostou na cadeira, pensando. Aqueles

nomes tão distantes lhe acenavam com a

possibilidade de iniciar nova vida, em um

novo mundo.

Las Cruces, El Passo, Rio Grande, tudo

era novidade. Lá ninguém o conheceria nem

o chamaria de Colorado. Seria apenas

William Stone, ou Bill Stone, para

simplificar.

— E o preço? — indagou.

— Doze mil dólares.

— Não tenho isso. Consiga uma redução

para dez mil e fechamos o negócio.

— Impossível! O preço inicial era de

quinze mil, não posso fazer mais nada —

descartou o corretor.

— Dê-me alguns dias, então.

— Posso lhe dar uma semana, Sr. Stone.

— É o bastante.

O corretor despediu-se e saiu. Colorado

ficou pensando, enquanto fumava, sozinho

no saloon vazio.

A tarde ia pelo meio. O barman limpava

os copos, preparando-se para o movimento

da noite.

— Dê-me um uísque, Sam — pediu

Colorado.

— Certo, Delegado! — respondeu ele,

servindo-o imediatamente.

Colorado tomou-o num só gole.

Precisava conseguir dois mil dólares e só

conhecia uma forma de fazer isso.

Levantou-se e deixou um dólar sobre a

mesa. Saiu para a rua. As ruas de Laramie

estavam calmas, com apenas algumas

carroças se movimentando

preguiçosamente.

Foi até a cadeia.

— Olá, Colorado — cumprimentou-o o

xerife, que cochilava recostado em sua

cadeira, as botas sobre a mesa.

— Peter! Alguma novidade?

— Tudo calmo, como sempre.

— Falei com o corretor agora...

E então?

— O preço final é doze mil dólares...

Faltam-me dois mil ainda.

— Com mais um ano de trabalho poderá

juntar isso e...

— Não vou esperar tanto tempo, Peter.

Ando cansado demais dessa vida de caçador

de bandidos.

— Conhece outra forma de conseguir

dinheiro?

— Diabos! Claro que não. Onde estão

aqueles cartazes?

O xerife abriu uma gaveta e retirou um

punhado de cartazes de procurados.

— Estão todos aqui, inclusive os que

chegaram esta semana.

— Alguma coisa nova e interessante?

— Há uma quadrilha que anda

infernizando Milles City...

— Nada mais perto?

— Há um assassino fugitivo em

Sheridan, mas duvido que vá encontrá-lo

por lá.

Colorado folheou os cartazes, até

encontrar os que falavam da quadrilha que

atormentava Milles City, em Montana.

Meia dúzia de homens mal encarados.

Havia uma recompensa de quinhentos

dólares pelo chefe e de trezentos para cada

um dos outros.

— Temos quinhentos dólares pelo chefe

e mais... — murmurou ele, fazendo as

contas. — Dois mil dólares, exatamente o

que preciso, mas será uma enorme distância

a percorrer.

— Você tem todo o tempo para isso, não?

— Pelo contrário. Tenho apenas uma

semana para confirmar o negócio.

— Podemos fazer o seguinte: eu lhe

empresto os dois mil dólares e você fecha o

negócio.

— É uma oferta irrecusável, Peter, mas o

que acontecerá se eu não voltar de Milles

City?

— Eu fico com seu rancho. Nada mais

justo, não?

Colorado pensou rapidamente. O que

tinha a perder? Já enfrentara quadrilhas

maiores e mais perigosas.

— Está feito, Peter. Vou fechar o

negócio, então, amigo. Obrigado — disse

Colorado, estendendo a mão.

O xerife apertou-a firmemente.

As grandes planícies ao redor de Milles

City favoreciam a criação de gado. Enormes

fazendas se espalhavam na pradaria, por

onde o gado pastava livremente.

A lei vinha sendo mantida com rigor por

um xerife calejado e rápido nas armas, mas,

inesperadamente, fora morto numa

emboscada.

Imediatamente convocou-se nova eleição,

mas, enquanto isso, uma quadrilha de

ladrões de gado surgiu, causando inúmeros

prejuízos aos fazendeiros.

— Precisamos apressar essa eleição —

dizia o prefeito, numa reunião na sala de

jogos do saloon.

— Já me roubaram centenas de cabeças

— comentou um dos fazendeiros.

— O que me intriga é para onde estão

levando esse gado — comentou outro.

— O único que parece não ter sido

roubado ainda foi o Stanley, não? — disse

um outro, olhando para o maior fazendeiro

da região.

— Tenho cinqüenta atiradores

protegendo minha propriedade. Acha que

alguém se atreveria a tentar roubá-la? —

explicou, sem desviar os olhos das cartas

que tinha nas mãos.

Alguém apostou. Por momentos ficaram

em silêncio, até que as apostas terminaram.

— Acha que seu capataz será um bom

xerife? — indagou alguém a Stanley.

— Oliver é responsável pela segurança

de minha fazenda e tem feito um ótimo

trabalho. Será um excelente xerife. É

inteligente, valente e sabe usar as armas,

como já devem saber — explicou o

fazendeiro.

Ninguém contestou. O jogo terminou.

Stanley ganhara mais uma partida. As cartas

voltaram a ser embaralhadas.

— Tenho visto muita gente nova na

cidade — observou Stanley.

— São os caçadores de recompensa.

Vieram pelos cartazes que espalhamos. Vão

nos ajudar a nos livrarmos dessa quadrilha,

Sr. Stanley — explicou o prefeito.

— Acho que só vão causar problemas. Se

tivesse pedido a minha ajuda, poria Oliver e

um grupo no encalço desses ladrões.

Garanto como os apanharia em dois tempos.

— Ainda está em tempo de fazer isso —

lembrou o prefeito.

— Vamos ver o que os caçadores de

recompensa conseguem. Se até a eleição de

Oliver isso não tiver se resolvido, darei uma

ajuda.

— Isso nos deixa mais tranqüilos —

comentou o prefeito, distribuindo as cartas.

Se soubesse, porém, que naqueles

momento, um grupo de homens fortemente

armado invadia sua fazenda, ao norte da

cidade, o prefeito não estaria tão tranqüilo.

— É uma bela boiada — comentou um

dos cavaleiros.

— E vamos ter sorte. Está vindo chuva.

Vai apagar os rastos. Poderemos levar toda

ela — decidiu o outro.

Um céu escuro e carregado cobria a

pradaria. Os cavaleiros começaram a reunir

o gado.

De repente, no alto de uma colina,

alguém disparou um rifle.

— Há um vigia lá encima — gritou

alguém e os cavaleiros trataram de

encontrar cobertura.

Responderam ao fogo furiosamente,

inquietando o gado. O homem que

disparava no alto da colina silenciara.

— Steve, vá até lá — ordenou o que

chefiava.

— Certo, chefe — respondeu o cavaleiro,

esporando seu cavalo e rumando para a

colina, de onde retornou pouco depois. —

Está morto, mas os tiros podem chamar a

atenção de outros.

— Não estamos longe da sede da

fazenda. Vamos ter de preparar uma

emboscada. Não podemos nos dar ao luxo

de sermos seguidos.

O grupo distribuiu-se, procurando cada

homem um local estratégico para ficar,

armado de rifle, esperando.

Não demorou e o tropel de cavalos se

misturou ao eco dos trovões que

ribombavam no céu.

O barulho se tornou mais confuso,

quando as armas começaram a disparar. Os

vaqueiros eram jogadas de suas selas,

atingidos em cheio pela mortal pontaria de

quadrilha.

Quando tudo silenciou e a fumaça se

dissipou, oito homens da fazenda jaziam

estendidos no pasto.

— Isso servirá de lição para que não

queiram mais nos seguir — disse o chefe.

— Vamos nos apressar. Precisamos chegar

ao esconderijo antes da chuva. Vamos ter

muito trabalho para refazer as marcas de

todas essas reses.

A cidade estava consternada. Já não se

tratava mais de roubo de gado, mas de

assassinatos em massa.

Nove vaqueiros do Rancho Eagle,

pertencentes ao prefeito, haviam sido

mortos e duzentas cabeças de gado

roubadas.

Uma reunião havia sido convocada e se

realizava no interior do saloon.

— Precisamos fazer alguma coisa —

disse o prefeito. — Estão roubando e

matando impunemente...

— Posso lhe dar uma sugestão, prefeito?

— indagou um homem vestido de negro,

com um cinturão onde rebrilhavam detalhes

em prata de lei.

— Pois não, cidadão — falou o prefeito,

dando-lhe a palavra.

— Comece aumentando o valor das

recompensas...

— Isso não vai ajudar em nada — cortou-

o Stanley, olhando-o desafiadoramente. —

Caçadores de recompensa são uma escória

que não precisamos aqui — acrescentou e

três ou quatro pistoleiros ali presentes não

ficaram muito satisfeitos com essa

afirmação. — O que precisamos realmente é

nomear um novo xerife.

— E por que não fazemos isso de

imediato? — indagou alguém.

— Porque passar por cima de tudo isso.

Sabemos que Oliver vai ser eleito xerife.

Por que não passamos por cima da

burocracia e o nomeamos de imediato? com

o distintivo e uma nova turma de ajudantes,

logo estaremos livres desses ladrões. —

insistiu Stanley, demonstrando seu interesse

pelo assunto.

— Não basta um xerife apenas para

resolver isso — disse alguém, a voz grave e

forte soando firmemente no saloon.

Todos se voltaram para aquele estranho,

de pele curtida pelo sol e olhar penetrante.

Parecia um pistoleiro, pelo modo como

portava a pistola, mas havia seriedade em

seu rosto, um ar que inspirava respeito.

— E o que tem a sugerir? — falou o

prefeito, dirigindo-se a Colorado Stone.

— Não acredito que apenas meia dúzia

de homens estejam causando toda essa

confusão. Quando vinha para cá, eu...

— Quer dizer que também é um caçador

de recompensas? — cortou-o Stanley.

Colorado olhou-o com firmeza e Stanley

estremeceu diante daquele olhar reprovador.

Havia algo naquele forasteiro que

intimidava realmente.

— Como eu dizia, no caminho para cá

vim pensando. Como meia dúzia de homens

pode roubar tanto gado e sumir com ele?

Devem ser mágicos, pois estão fazendo o

gado sumir no ar... — disse Colorado, com

ironia.

— O que está sugerindo? — indagou um

dos fazendeiros, percebendo onde Colorado

queria chegar.

— Esse gado deve estar sendo levado

para algum lugar. Pelo que sei, só há

fazendas ao redor de Milles City.

— Acha que eles estão a serviço de

alguém? — insistiu o fazendeiro.

Stanley se calara estranhamente. Olhou

fixamente para a porta, onde um de seus

homens assistia à reunião.

Fez um sinal imperceptível de cabeça. O

capanga se adiantou até postar-se ao lado de

Colorado.

— Está falando asneiras, estranhos.

Quem pensa que é para vir não sei de onde

acusar nossa gente? — falou o pistoleiro,

encarando Colorado.

O ex-delegado federal retribuiu o olhar à

altura, fazendo o outro vacilar.

— Tem uma explicação melhor para o

sumiço do gado?

O outro não teve resposta e Colorado lhe

virou as costas para se dirigir aos homens

na mesa junto ao balcão.

— Não vire as costas para mim — disse o

pistoleiro, pondo a mão no ombro de

Colorado e puxando-o para trás.

Ele se voltou lentamente, encarando

novamente o pistoleiro.

— Jamais repita isso — disse, num fio de

voz ameaçador.

— Você não me faz medo — respondeu

o outro.

— Não foi esse o objetivo. Recebeu um

aviso e isso basta. Afaste-se de mim ou será

um homem morto — prometeu, voltando a

virar as costas para o pistoleiro.

— Há lógica na sua afirmação, estranho

— disse o prefeito. — Esse gado tem de

estar em algum lugar. Pelo que sabemos,

nenhuma grande boiada saiu daqui nos

últimos tempos...

— Procurem o gado roubado. Não só o

encontrarão como extirparão o mal pela

raiz, encontrando o mandante de todos esses

crimes — concluiu Colorado.

— Eih, eu estou reconhecendo você! —

gritou um dos fazendeiros. — Estava em

Cody, no ano passado. Capturou a quadrilha

dos Irmãos Powell. Você é delegado

federal, não?

— Já não sou mais. Pedi minha baixa.

Estão encerrando minha carreira de homem

da lei.

— Talvez cedo demais — falou o

prefeito. — Estamos precisando de um

xerife e um homem com a sua experiência

seria mais valioso que qualquer outro.

— Mas prefeito, temos uma eleição e

Oliver...

— Por mais valente e esforçado que

Oliver seja, jamais poderá se rivalizar com

um delgado federal. Além disso, todos

pediam providências, não? Que acham de

nomearmos um xerife agora mesmo, por

aclamação?

— Esperem um pouco, não vim aqui para

ser xerife. Quero prender a quadrilha,

receber a recompensa e partir.

— Discutiremos isso, delegado...

— Não sou delegado e...

O prefeito pôs em votação a proposição,

que foi aceita por todos, exceto Stanley, que

disfarçava ao máximo seu aborrecimento

com o rumo inesperado tomado pela

situação.

Stanley Ross estava na sala de sua

enorme casa, no rancho. Havia ficado muito

aborrecido com o que houvera na cidade.

A intenção de nomear aquele recém-

chegado como xerife frustrava todos os

planos que havia cuidadosamente

elaborado.

Era um homem poderoso, com amigos

políticos em Washington. Recebia

informações, informações preciosas,

capazes de tornarem um homem rico da

noite para o dia.

Algo grande estava sendo preparado para

Milles City. Stanley sabia que poderia se

tornar o homem mais rico do Oeste, se

soubesse aproveitar aquela chance.

Não contava, porém, com aquela

mudança repentina nos seus planos. A

chegada daquele caçador de recompensas

mudava toda a estória e exigia, agora, uma

ação drástica.

Havia mandado Oliver à cidade e

esperava, agora, a chegada dele.

Já entardecia. Os vaqueiros retornavam à

fazenda, após mais um dia duro de trabalho.

Uma das mulheres que trabalhava na

cozinha veio ter com ele.

— Devemos servir o jantar agora, Sr.

Stanley?

— Não, Maria. Ainda não. Estou

esperando um convidado. Deixe tudo

preparado. Avisarei quando ele chegar.

Enquanto a mulher se retirava, Stanley

foi até um armário, abriu-o e escolheu sua

bebida predileta.

Serviu uma dose generosa. Caminhou até

uma escrivaninha. Sentou-se e abriu uma

das gavetas.

Retirou alguns maços de notas e os

guardou no bolso interno de seu elegante

paletó.

Terminava o uísque, quando Oliver

chegou com o convidado. Era o homem de

negro que Stanley vira lá no saloon, durante

a reunião daquela manhã.

— Aqui está o homem, Sr. Stanley —

disse o capanga.

Stanley examinou-o cuidadosamente. Era

alto e forte, de olhar duro e penetrante.

Portava dois Colts de coronhas de

madrepérola bem baixos, ao alcance das

mãos.

— É bom nisso? — indagou Stanley,

apontando as armas.

— Tenho me mantido vivo, não? —

retrucou o outro, dando a entender que não

era homem de muitas palavras.

— Conhece Colorado Stone?

— Sim, já cruzei com ele.

— É tão bom como dizem?

— Um dos melhores.

— Acha que pode detê-lo num duelo?

O outro sorriu ligeiramente, tentando

entender onde Stanley queria chegar.

Enquanto o pistoleiro pensava, Stanley

foi até o armário e retornou com dois copos

de bebida.

Entregou um deles ao pistoleiro, que

tomou um gole, estalando a língua.

— É foi bom! — comentou.

— É escocês, vem de navio direto para

mim.

O pistoleiro deu uma olhada ao seu redor.

Não precisava analisar muito para perceber

que estava falando com um homem rico e

poderoso.

— O que quer de mim realmente? —

indagou.

— Vamos discutir isso no jantar. Oliver,

avise as mulheres da cozinha — ordenou.

Enquanto Oliver se apressava em cumprir

a ordem, Stanley conduziu o pistoleiro até

uma outra sala, onde havia uma mesa

ricamente decorada.

Sentaram-se. Oliver foi se juntar a eles.

As mulheres começaram a servir a mesa.

O pistoleiro percebeu que havia muita

coisa em jogo na proposta até então velada

que Stanley lhe fizera.

— Por que eu deveria enfrentar Colorado

Stone? — indagou, após algumas garfadas.

— Acha que isto é um bom motivo? —

retrucou Stanley, depositando um pacote de

notas diante dele, que apanhou e contou

rapidamente.

— Quinhentos dólares? para enfrentar

Colorado Stone? É pouco, muito pouco —

respondeu, devolvendo o pacote para

Stanley.

— Sr. Stanley, eu posso fazer isso, se me

deixar — adiantou-se Oliver.

— De forma alguma, temos de ficar de

fora disso. Você ainda será o xerife de

Milles City e tudo correrá conforme eu

planejei. Aquele intrometido tem de ser

morto por alguém de fora e acho que nosso

amigo aqui pode fazê-lo. É tudo uma

questão de preço, senhor... — falou Stanley,

querendo saber o nome do pistoleiro.

— Dam Rowlings!

— Exatamente, Sr.Rowlings. Qual é o

seu preço para fazer o trabalho?

— Nada menos que dois mil dólares...

— Eu e mais alguns homens poderíamos

emboscá-lo e... — ia dizendo Oliver, mas

calou-se quando Stanley lhe fez um sinal

rispidamente.

— Sei que poderia fazê-lo, Oliver, mas

deixe-me conduzir isto da minha maneira,

está bem?

— Sim, senhor — concordou o capanga,

abaixando a cabeça.

— Aqui tem mil dólares — falou Stanley,

depositando outro maço de notas sobre o

primeiro e empurrando-o na direção de

Dam. — Quando terminar o serviço,

receberá o restante.

— Trato feito. Quando quer que eu o

mate?

— O mais depressa possível!

— Ele não passará desta noite, eu lhe

garanto — disse Dam, levantando-se da

mesa.

Fez um sinal de cabeça e saiu. Momentos

depois ouvia-se o galope de seu cavalo.

— Por que não me deixou fazer o

trabalho? — indagou Oliver, humildemente.

— Dam Rowlings é um pistoleiro sem

eira nem beira. Quando terminar o serviço,

nós sumimos com ele e não haverá

testemunhas para nos incomodar, entendeu?

Oliver ficou pensativo por instantes,

depois sorriu, ao perceber o plano do patrão.

— É um homem inteligente, Sr. Stanley.

— As coisas devem ser feitas com

cautela, Oliver. Só assim se pode garantir o

sucesso. Depois do jantar, quero que vá

chamar Sinclair e sua quadrilha. Vamos

passar à segunda fase do meu plano o mais

depressa possível.

Ao Sul de Milles City, às margens do rio

Yellowscone, ficava a pequena fazenda de

Hank Bosler, um velho pioneiro que

chegara ali no inicio da colonização.

Ele e muitos outros eram donos eram

donos das pequenas propriedades que mais

sofriam com o ataque daquela quadrilha de

ladrões de gado.

Ultimamente, com constantes ataques de

artrite e gota, vivia imobilizado, gritando

ordens de uma cadeira no alpendre da casa.

Todo o trabalho duro, na verdade, era

feito por Anne, sua filha, que comandava os

poucos vaqueiros.

Naquela noitinha, quando ajudava os

vaqueiros a separarem algumas vacas

prenhas no curral, Anne estava preocupada,

muito embora tentasse esconder isso.

Quando terminaram o trabalho e os

vaqueiros se dirigiram ao dormitório,

chamou Frank, uma espécie de capataz.

— Frank, teve mais alguma notícia

daqueles homens? — indagou ela.

— Não, srta. Bosler. Os vaqueiros

comentaram que os viram ao longe. O

mesmo aconteceu em outras fazendas desta

parte do rio.

— Acha que podem ser os ladrões?

— O que mais poderia ser? Quando

tentamos nos aproximar deles simplesmente

se afastaram rapidamente.

— Vamos ter de pôr guardas nesta noite.

— Vou cuidar disso, apesar de saber

como os vaqueiros estão apavorados. Não

estão acostumados a tratar com ladrões,

principalmente gente tão perigosa como

essa.

— Eu entendo, mas o que mais podemos

fazer? Já perdemos mais de cem cabeças de

gado. Se continuar assim, estaremos falidos

e o banco tomará nossa propriedade.

— Eu sinto muito, Srta. Bosler. Vou

fazer o possível.

— Sim, Frank, por favor! Talvez

devêssemos mandar alguém à cidade

informar o novo xerife, se é que ele é

confiável, o que não se sabe até agora —

ponderou ela.

— Já ouvi falar de Colorado Stone,

senhorita. É um homem sério e de valor.

Seu nome é respeitado por toda parte.

— Então mande alguém avisá-lo do que

viu hoje.

— Certo. Essa movimentação pode não

ser nada, mas pode ser o prenúncio de um

novo ataque.

Anne despediu-se de Frank e rumou para

a casa principal da fazenda. Estava faminta

e cansada, além de realmente preocupada

com a presença de estranhos em suas terras.

— E então, Anne, como vai indo a

criação? — indagou-lhe o pai, sentado à

mesa, jantando.

— Separamos mais uma dúzia de vacas

prenhas, pai.

— Bom sinal, querida. Nosso rebanho

logo estará enorme — falou o velho, com

satisfação.

— Com toda certeza — assegurou Anne,

indo até lá e beijando-o no rosto. — E as

dores?

— Suportáveis, mas poderia ser melhor

se você não escondesse meu uísque.

Anne sorriu e deu de ombros.

— O médico o proibiu de beber. Agora

termine a sua comida. Vou tomar um banho

rápido e volto para fazer-lhe companhia —

falou a garota, indo para o seu quarto.

Fechou a porta atrás de si, respirando

fundo. Não havia contado para seu pai sobre

os roubos do gado que haviam sofrido.

Simplesmente não tivera coragem.

O velho lutara sempre com muita

dificuldade e não merecia aquele tipo de

aborrecimento.

Diante dela o espelho mostrava uma

figura nada feminina. Fez cara de tristeza e

se aproximou.

Alisou os cabelos amassados pelo

chapéu. As calças largas escondiam seu

corpo, assim como a camisa e o colete de

vaqueiros disfarçavam seus seios rijos e

empinados.

O rosto estava coberto de poeira e sujeira.

— Ângela! — chamou ela e, pouco

depois, a porta se abriu e a mexicana

empregada da casa se apresentou.

— Si, patroa!

— Prepare-me um banho, por favor!

Estou imunda e cansada.

Rapidamente a mulher tratou de

providenciar o que lhe fora ordenado. Anne

tomou um banho rápido, esfregando-se

vigorosamente e lavando os cabelos.

Desistiu de escová-los. Estavam cheios

de nós, ondulados e louros. Amarrou uma

toalha na cabeça, vestiu seu roupão e foi

para a cozinha.

Seu pai dormia na cadeira, após ter

jantando. Anne sorriu e se sentou a mesa

sentindo-se terrivelmente solitária.

Sentado atrás daquela escrivaninha,

Colorado Stone tentava entender como fora

parar ali.

Simplesmente se deixara envolver pelos

apelos do prefeito e de todos aqueles

fazendeiros.

Além disso, o prefeito usara um

argumento a que ele não pudera resistir.

— Livre-nos da quadrilha e lhe daremos

a recompensa, mais mil dólares de

gratificação. Até conseguir isso, terá casa,

comida e um salário de cem dólares por

mês. Aceita? — indagara o prefeito,

cercado por todos aqueles fazendeiros e

cidadãos.

Dois mil dólares era o que precisava para

terminar de pagar o seu rancho. Mil dólares

a mais seriam úteis para ele começar a se

estabelecer. Não havia como recusar.

— Gostaria que vocês se apresentassem

— pediu ele aos ajudantes perfilados diante

da escrivaninha.

Eram três rapazes altos e fortes, de

aparência decidida.

— Meu nome é Rock e sou o guarda da

cadeia. Como não há presos, ajudo a fazer a

ronda. Não atiro muito bem, mas sei usar

uma faca como ninguém — disse o jovem.

Colorado olhou para o seguinte, que se

aprumou, respirando fundo.

— E você? — indagou.

— Sou Faster, meio índio, meio branco.

Faço a ronda nos estabelecimentos e sou o

melhor rastreador deste lado do Oeste.

— É tão bom assim?

— Sou capaz de seguir um pássaro pelo

cheiro que ele deixa no ar — brincou o

mestiço.

— Se é assim, por acaso você tentou

seguir alguma das pistas deixadas pelos

ladrões de gado? Afinal, gados tem patas e

patas deixam marcas no chão.

O rapaz se remexeu todo, perturbado.

— O xerife não deixou.

— Como assim?

— Um dia tentamos seguir uma pista.

Apontei a direção para onde o gado poderia

ter sido levado. O xerife desistiu de seguir a

trilha e jamais entendi o motivo.

— Estranho, não?

— Alguns dias depois o xerife foi morto

e eu jamais soube mesmo seus motivos para

não ter seguido aquela pista fresca.

— Pressinto que você terá uma nova

chance, Faster. Eu lhe prometo isso. E

você? Quem é e o que sabe fazer? —

indagou ao terceiro ajudante.

— Emmet é o meu nome e sou bom nisso

— afirmou o rapaz, mostrando seu rifle de

repetição.

— É um caçador?

— Sim, caço desde pequeno. Meu pai me

ensinou tudo sobre uma arma como esta.

— O que é capaz de fazer com ela?

— Acertar um pássaro em pleno vôo?

Colorado assobiou, maravilhado.

— Fala sério?

— É verdade, xerife — confirmou Rock.

— Bom, temos aqui um belo grupo de

ajudantes, rapazes. Espero que gostem de

trabalhar comigo. Em primeiro lugar, quero

saber se estão satisfeitos com o salário que

recebem.

— Não vejo por que não? — disse

Emmet, intrigado com a pergunta.

— É um serviço fácil — ajuntou Faster.

— É só enjaular uns bêbados nos finais

de semana e...

— Acho que não entenderam, rapazes.

Estou falando de serem homens da lei e não

brincarem de ser isso. Vamos enfrentar

gente perigosa, realmente perigosa. Vocês

vão arriscar a vida e não posso garantir que

um ou outro não seja baleado.

Os jovens se entreolharam assustados.

— Homens da lei de verdade? —

procurou confirmar Emmet.

— Sim, homens da lei de verdade —

confirmou Colorado.

— Eu sempre achei que estava grande

para brincar. Quero ver como é isso de

verdade — afirmou Rock.

— Nós também, não é Emmet?

— Pode apostar que sim.

Colorado Stone sorriu. Tinha uma equipe

valente e com algumas habilidades. Talvez

conseguisse fazer dar certo.

O vaqueiro entrou respeitosamente,

torcendo as abas do chapéu com as mãos.

— Olá, rapazes — cumprimentou,

dirigindo-se aos ajudantes do xerife.

— É o MacClusky, xerife, trabalha no

Rancho Bosler, às margens do rio —

informou Rock.

— Pois não, MacClusky, o que podemos

fazer por você? — indagou-lhe Colorado.

— Minha patroa pediu que o avisasse,

xerife. Durante todo o dia houve uma

movimentação de homens por aquela

região. Parecia o bando que vem roubando

gado...

— Algum ataque?

— Não, e isso que pareceu estranho.

Apenas andaram por ali, de um lado para

outro, como se estivessem observando o

terreno.

— Estranho, não? Ninguém os

reconheceu?

— Estavam longe e, quando tentamos nos

aproximar, eles se afastaram. Os rapazes de

outros ranchos também os perceberam...

— Obrigado pelo aviso, rapaz! —

agradeceu Colorado.

— Vai fazer alguma coisa, xerife?

— Acho que vamos lá dar uma olhada

pela manhã.

— Está bem, avisarei minha patroa —

despediu-se o vaqueiro, saindo.

— Estranho isso, rapazes, não acham? —

indagou Colorado, assim que o vaqueiro

saiu. — Alguma notícia desse tipo de ação

antes?

— Que eu saiba, jamais. Eles

simplesmente chegavam e atacavam —

informou Emmet.

— Veremos isso amanhã. Agora eu estou

faminto. Onde posso comer um bom bife

com arroz? — quis ele saber.

— Lá no saloon, xerife. É o melhor bife

da cidade — avisou Faster.

— Algum quer me acompanhar?

— Não, vamos fazer a ronda. Bom

apetite, xerife.

Colorado deixou a cadeia e rumou para o

saloon. A cidade estava calma. Parecia uma

cidade calma.

Tinha uma missão pela frente e esperava

resolver tudo bem rápido e rumar para seu

rancho.

Quando entrou no saloon, fez-se um

silêncio respeitoso.

— Dizem que posso comer um bom bife

aqui — comentou com o barman.

— Vou mandar preparar um, xerife. Por

que não se senta naquela mesa? Mandarei

servi-lo. quer beber alguma coisa?

— Um uísque e uma cerveja.

O barman atendeu prontamente. Colorado

levou os copos até a mesa e sentou-se.

Percebeu, então, junto ao balcão, o

pistoleiro de negro, olhando-o com desdém.

Reconheceu-o imediatamente. Eram Dam

Rowlings, um caçador de recompensa.

O outro continuou olhando com

insistência. Colorado já vira aquele tipo de

atitude antes. Farejou encrenca no ar.

Suas previsões se confirmaram, quando o

pistoleiro caminhou até a mesa e se sentou

provocativamente.

Antes que Colorado fizesse um gesto,

Dam tomou o copo de uísque e entornou-o.

Depois apagou o cigarro no copo de cerveja

do xerife.

Colorado respirou fundo e reclinou o

corpo na cadeira. Dam o olhava com

desdém, sorrindo ligeiramente.

Sabia que não haveria outra forma de

apagar aquele sorriso idiota dos lábios dele,

a não ser com uma bala.

Apenas não entendia por que Dam se

metia a provocá-lo gratuitamente.

— Eu o julgava um homem inteligente,

Dam — comentou Colorado, olhos fixos no

seu interlocutor.

— Por que diz isso?

— Está fazendo algo idiota, sabia?

— Eu o aborreci?

— Muito.

— E o que pretende fazer a respeito?

— Se você me pedir desculpas e sair

daqui, talvez eu poupe a sua vida — disse

Colorado, ameaçadoramente.

Dam riu alto, reclinando-se na cadeira e

olhando ao seu redor. Conseguira chamar a

atenção.

— Não vai beber sua cerveja, xerife?

Colorado segurou o copo, levantou-o no

ar e fez menção de levar o copo até a boca,

surpreendendo Dam.

Inesperadamente, porém, atirou todo o

seu conteúdo no rosto do pistoleiro.

— Maldito! — berrou Dam, dando um

salto e pondo-se em pés, as mãos

procurando as armas.

Colorado não lhe deu tréguas. Precisava

dar-lhe uma lição definitiva. A ele e a

qualquer outro idiota que tentasse desafiar

sua autoridade.

Dam sacou rapidamente, mas não chegou

a disparar. O xerife bateu-lhe com o copo na

testa, espatifando-o.

O rosto do pistoleiro se cobriu de cacos e

de sangue. Colorado segurou o pulso dele

na testa, espatifando-o.

Um estalido seco e a mão de Rowlings

ficou numa posição grotesca, com o pulso

quebrado.

— Vai pagar por isso, Colorado —

prometeu, tentando sacar a arma da

esquerda.

O xerife não lhe deu tréguas novamente.

Enfiou seu punho no estômago dele, depois

golpeou-lhe a nuca com a mão fechada.

Dam caiu pesadamente no assoalho,

agora desarmado. Tentou se erguer, mas

levou um chute em pleno rosto, sendo

jogado para trás como um saco de palha.

Arrastou-se até o balcão e tentou apanhar

uma garrafa. Colorado puxou-o pelo

colarinho e golpeou-lhe os rins repetidas

vezes, Dam gemeu, o corpo fraquejando.

— Isto é por beber meu uísque — falou

Colorado, jogando-o contra o balcão.

O pistoleiro estava coberto de sangue, o

rosto transformado numa máscara.

— Isto é por estragar a minha cerveja —

ajuntou, chutando o rosto do pistoleiro, que

tombou inanimado, vertendo sangue.

Virou-se para o barman.

— mande pôr este traste encima de uma

cavalo e o despachem para fora da cidade.

Só quero agora um uísque, uma cerveja e

aquele bife — disse ao barman.

— como quiser, xerife — falou ele,

apressando-se em servir novamente.

Colorado retornou para a mesa. Arrumou

a cadeira. Sentou-se. Tudo era silêncio ao

seu redor.

Bebeu lentamente o uísque, saboreando-

o. Dois homens apanharam o pistoleiro

ensangüentado e o levaram para fora.

Terminou o uísque e começou a bebericar

a cerveja. Ouviu vozes alteradas lá fora. Os

dois homens retornaram, assustados,

olhando na direção do xerife.

O motivo logo surgiu na porta do saloon.

com uma espingarda de cano serrado na

mão e o rosto coberto de sangue, Dam

Rowlings retornava para tirar satisfações.

— Cometeu um erro, xerife — disse ele,

caminhando na direção da mesa.

Colorado percebeu que a arma estava

engatilhada. Eram dois canos devastadores,

serrados daquela forma.

Mesmo machucado daquele jeito, não

seria difícil para Rowlings cortá-lo ao meio,

disparando aquele canhão.

— Acho que o erro foi seu — respondeu

Colorado, calmamente, apoiando a ponta

das botas nas pernas da mesa a sua frente.

— Vou matá-lo, maldito! Vou espalhar

seu cadáver contra aquela parede —

anunciou o pistoleiro, cada vez mais perto.

Colorado o olhava fixamente. Esperava a

qualquer momento um sinal do momento do

disparo.

— É um homem morto, xerife —

afirmou, torcendo o canto da boca.

A arma se levantou imperceptivelmente,

mirando o peito de Colorado, que empurrou

a mesa para frente, ao mesmo tempo em que

jogava o corpo para trás.

O movimento inesperado surpreendeu

Dam Rowlings, que disparou os dois canos

da arma.

O saloon encheu-se de fumaça por

instantes. Todos julgaram que o xerife

estivesse morto.

Quando a fumaça se dissipou, Dam jazia

tombado contra o balcão e Colorado tinha

na mão uma pistola fumegante.

— Não ouvi o seu disparo — comentou

alguém.

— Disparou ao mesmo tempo que o

pistoleiro...

— É muito rápido...

Os ajudantes chegaram em seguida.

Colorado explicou-lhes o que houvera. O

papa-defuntos também se fez presente,

revistando o morto, como era de costume.

Se tivesse dinheiro, seria usado no

funeral. Caso contrário, seria jogado

simplesmente num buraco na colina dos pés

juntos.

— Xerife, veja isso — comentou o papa-

defuntos, indo até ele, exibindo dois maços

de notas.

Colorado apanhou o dinheiro e contou

rapidamente.

— É muito dinheiro para um homem

como este — comentou, percebendo que as

notas eram novas e que ainda estavam

presas como uma cinta de papel do banco

local.

Poderia ser uma pista importante. Desde

o principio, aquela atitude de Rowlings lhe

parecera forçada.

Por que se meteria a desafiá-lo? Não

tinha um motivo plausível, a menos que

tivesse sido pago para isso. Mas quem

pagaria um pistoleiro para matar um xerife,

no dia de sua posse?

Somente alguém com culpa em cartório.

— Vou confiscar este dinheiro — disse,

retirando algumas notas e entregando-as ao

papa-defuntos. — Venda as armas e o

cavalo dele para cobrir o resto das despesas.

— Sim, xerife — concordou rapidamente

o homem, soltando o cinturão do falecido.

As armas estavam sobre o balcão.

Sempre havia alguém interessado num par

de pistolas como aquelas.

Colorado retornou a sua mesa, disposto a

terminar o jantar, antes de qualquer

interrupção.

Do lado de fora do saloon, pela janela,

Oliver e alguns homens haviam

acompanhado todos os acontecimentos.

Tratou de retornar ao rancho e contar ao

patrão o insucesso da tentativa.

Anne acordou com o barulho dos tiros,

com os gritos, tropel de cavalos e as chamas

que iluminavam seu quarto.

Vestiu-se rapidamente, tentando ver, da

janela, o que estava acontecendo.

O dormitório dos vaqueiros estava em

chamas. Alguns deles estavam nas janelas,

disparando contra um grupo de homens

mascarados, que revidavam.

— Anne! — ouviu a voz de seu pai

gritando.

Correu para o quarto ao lado, onde o

velho, tendo escorregado da cama,

procurava alcançar a janela.

Tinha na mão seu Colt e estava disposto a

se defender da agressão.

— O que está havendo lá fora? —

indagou.

— Estamos sendo atacados.

— Mas por quem?

— Não sei talvez os ladrões de gado.

— Pegue meu rifle, depois me ajude a

chegar até a janela.

Anne fez como seu pai pedira. Da janela

os dois tentaram acertar os agressores, mas

eles estavam fora do campo de visão.

Ouviu, então, barulho de vidros

quebrando, depois passos pesados e

apressados subindo a escadaria.

Virou-se, julgando que fosse um dos

vaqueiros, mas era um dos mascarados.

— Maldito! — gritou ela, disparando.

O homem foi mais rápido, desviando-se e

disparando em resposta.

Anne sentiu o impacto quente em seu

ombro, fazendo a arma voar longe.

Depois, tudo escureceu e ela desfaleceu,

acordando algum tempo depois, sentindo o

ombro em fogo.

— Está bem, Srta. Bosler? — indagou-

lhe Frank.

— Meu ombro...

— Felizmente a bala atravessou, mas

vamos precisar levá-la para a cidade. Além

disso, há outros feridos também...

— Quantos?

— Dois feridos e outros três mortos... —

informou Frank, com pesar.

— Oh, meu Deus! — exclamou ela,

tentando se erguer. Eles a havia posto numa

carroça, juntamente com os outros feridos.

O dormitório estava em chamas. A casa

igualmente.

Ver o seu lar ardendo daquela forma pôs

lágrimas nos olhos da garota e um ódio

insano em seu coração.

Só então deu pela falta do pai.

— E meu pai? Onde está o meu pai? —

indagou, saltando da carroça, ainda

atordoada.

— Acalme-se, senhorita, por favor. Nós

tentamos tirá-lo, mas era tarde demais. Ele

estava morto... Ficou lá encima, na casa...

— Oh, não! Papai! — gritou ela, em

desespero, tentando correr na direção da

casa, mas foi contida por Frank, que a

segurou com firmeza, abraçando-a.

Ela encostou a cabeça no peito do

vaqueiro e chorou desconsoladamente.

— Malditos! Por que fizeram isso?

— Não sei dizer, senhorita. Atacaram

sem mais nem menos, queimaram o

dormitório e a casa e foram embora.

— Conseguiram acertar algum deles?

— Difícil dizer, no meio de toda aquela

confusão.

Anne sentiu seu braço latejando. Morna e

lentamente o sangue escorria de seu ombro,

empapando a camisa.

— Vamos, senhorita, precisamos ir para a

cidade. Está perdendo muito sangue —

alertou Frank.

— Eu estou bem — murmurou ele,

desfalecendo em seguida.

Frank a levou de volta para a carroça. Os

poucos vaqueiros que sobraram sem

ferimentos haviam selado seus cavalos.

— Onde vão, rapazes? — quis saber

Frank.

— Dar o fora daqui. Sou vaqueiro, não

pistoleiro — respondeu um deles.

— Isto aqui está ficando perigoso demais

— ajuntou outro.

— Não podemos fazer isso dessa forma.

É o que esses bandidos estão querendo, nos

assustar e... — ia dizendo.

— Se era isso, conseguiram. Não vou

ficar para levar um tiro ou ser morto. É

decisão final, Frank. Vamos procurar um

rancho mais seguro para trabalhar. Depois

mandaremos buscar o que tivermos para

receber de salário — finalizou o vaqueiro e

o pequeno grupo partiu rapidamente.

Frank assumiu a boléia da carroça e

chicoteou os cavalos. Precisavam chegar

logo à cidade.

Colorado Stone foi acordado ao

amanhecer por um dos ajudantes. passara a

noite numa das celas da cadeia, enquanto

preparavam uma casa onde ele iria morar.

— O que houve, Emmet? — indagou

sonolento, aceitando a xícara de café que o

rapaz lhe estendia.

— Encrencas, xerife. O Rancho Bosler

foi atacado nessa noite. Houve mortes e

feridos.

— Refere-se ao Rancho mencionado por

aquele vaqueiro ontem à noite? — indagou,

lembrando-se.

— Sim, esse mesmo.

— Diabos! — lamentou, julgando que

alguma coisa poderia ter sido evitada se

tivesse tomado alguma providencia.

— Os feridos estão lá na casa do médico.

O proprietário do rancho está morto e sua

filha foi ferida.

— Vamos lá dar uma olhada nisso.

Faster. Vamos ver se ele é tão bom

rastreador como diz — ordenou, terminando

o café e afivelando o cinturão.

— Vou levá-lo até a casa do médico,

depois procurarei Faster — disse Emmet.

Pouco depois, Colorado estava na

enfermaria da casa do médico, que

terminava de costurar o último dos

vaqueiros.

— Todos vão ficar bem, inclusive a

garota. Perdeu muito sangue, mas é forte.

Só precisa de repouso agora — disse o

médico, assim que o xerife chegou.

— Quantos mortos? — perguntou Frank.

— Três mortos, incluindo o patrão.

— Onde fica esse rancho?

— Ao sul, por quê?

— Pretendo seguir as pistas. Devem estar

frescas ainda.

— Se permitir, vou com você, xerife.

Tenho muito a me vingar desses malditos

bastardos — pediu Frank.

Colorado foi até a cama onde Anne havia

sido acomodada. Surpreendeu-se com a

beleza da jovem, apesar dos cabelos

anelados e embaraçados.

Deixou rapidamente a enfermaria. Faster

e Emmet surgiram logo em seguida.

— Mande selar meu cavalo, Emmet. Peça

ao Rock para cuidar de tudo aqui, enquanto

estivermos fora.

Algum tempo depois o grupo partiu, na

direção do Rancho Bosler. Colorado tinha

esperança de poder seguir uma pista fresca

ainda, localizando o esconderijo da

quadrilha.

Quando chegaram no rancho, só

encontraram desolação e morte. As

construções fumegavam, tendo queimado

até os alicerces.

Os cadáveres dos vaqueiros estavam ao

relento. Colorado mandou que os

enterrassem rapidamente.

Depois, saiu com o grupo dar uma olhada

ao redor. Viu o gado no pasto.

— Faster, já localizou a pista?

— Sim, xerife. Eles vieram do norte e

para lá retornaram. É um grupo pequeno,

seis homens no máximo.

— Como sabe que retornaram para lá? E

o gado? Não levaram nenhum gado?

— Vieram direto para a sede do rancho e

de lá voltaram pelo mesmo caminho. Não

cruzaram os pastos.

— Por que não levaram gado desta vez?

— intrigou-se Colorado. — Tem mesmo

certeza disso?

— Haveria pistas, xerife. Só vi os rastos

vindo e voltando.

— Vamos seguí-los, então, mas com

muito cuidado.

O grupo rumou para o norte, sempre

guiados por Faster, que se mostrava mesmo

um ótimo rastreador.

Colorado Stone ia pensando no que

estava acontecendo e sentia que as coisas

não se encaixavam.

— Tomaram a direção do Rancho Ross

— disse Faster, após cavalgarem metade da

manhã.

— Pertence a Stanley Ross, o maior

fazendeiro da região. Suas terras chegam até

Rocky Springs, umas cem milhas ao norte,

xerife — explicou Emmet.

— Tudo isso?

— Ouvi dizer que ele anda comprando

toda terra disponível de Clendive para cá.

Acho que deseja se tornar o mais rico

rancheiro de gado desta parte do Oeste,

xerife — continuou Emmet.

Repentinamente, foram surpreendidos

por um disparo. Logo em seguida, um grupo

de dez cavaleiros os cercou, apontando

armas.

— Onde pensam que vão? — indagou um

deles.

— Este é o novo xerife e estamos

seguindo uma pista — explicou Faster.

— Não nestas terras — determinou o

outro.

Colorado encarou-o.

— Está atrapalhando o trabalho da lei,

rapaz — disse firmemente.

— Nada sei sobre o seu trabalho, xerife.

Sei que o meu é patrulhar estas terras e

ninguém entra nelas sem autorização do

meu patrão. Além disso, que pista

pretendem seguir?

—A dos homens que atacaram o Rancho

Bosler nesta noite. Foram naquela região —

apontou Faster.

— Lamento, mas sua pista acaba aqui

mesmo — disse o homem, fazendo um sinal

para que o seguissem.

Subiram rapidamente uma colina. À

frente deles, uma enorme manada pastava

tranqüilamente. A pista conduzia

diretamente para o meio delas.

— Vai ser impossível agora, xerife —

afirmou Faster, desconsolado.

— Não viram esse bando passando por

aqui? — perguntou o xerife aos homens.

— Não, xerife. Estivemos de guarda a

noite toda e nada vimos — afirmou o líder

dos capangas que vigiavam a fazenda.

— Tempo perdido, rapazes. Vamos voltar

à cidade — decidiu Colorado Stone.

Cavalgaram por algum tempo, até se

afastarem das vistas dos guardas. Colorado

fez um sinal para que seus dois ajudantes

parassem.

— Tenho certeza que eles estão mentido,

rapazes — começou a dizer.

— Também tenho, xerife. Se estiveram

por ali, durante toda a noite, teriam visto o

bando tanto na ida quanto na volta. Não

poderiam passar despercebidos —

concordou Faster.

— É certo que sim. Mas por que estão

fazendo isso? Por que acobertam os ladrões

e assassinos? — intrigou-se o xerife.

— Também não entendi essa, xerife —

ajuntou Emmet.

— Você conhece bem esta região, Faster?

— questionou-o o homem da lei.

— Pode ter certeza que sim, xerife.

— Há algum lugar onde um bando possa

se esconder?

— Posso me lembrar de uns dois ou três

lugares.

— O que acha de circular por aí, com

toda cautela, para ver o que consegue

descobrir?

— Vou gostar disso, xerife. Posso fazer

isso de olhos fechados.

— Então veja o que consegue descobrir.

Vimos que o bando cavalgou sempre em

direção ao norte. Siga essa direção e veja o

que tem pela frente.

O mestiço esporeou seu cavalo e se

afastou rapidamente. Colorado e Emmet

retornaram à cidade.

Passaram pela casa do médico.

— Como estão eles, doutor.

— Estão bem. A garota está muito

agitada, mas creio que é pela morte do pai.

— Dê-me notícias — pediu, saindo.

Quando chegou à cadeia, o prefeito

estava a sua espera.

— Bom dia, xerife! Soube que foi seguir

uma pista, é verdade?

— Sim, estivemos trabalhando durante

toda a manhã.

— E o que descobriu?

— Ainda não descobri nada, mas fiquei

tranqüilo que tenho algumas suspeitas.

— Suspeitas? Gostaria de saber quais

são.

— É cedo. Eu o manterei informado.

— Ah, ia me esquecendo. Mandei levar

suas coisas para a casa onde vai ficar

alojado. Rock lhe mostrará o caminho. Uma

vizinha cuidará da comida, de suas roupas e

da limpeza. Tudo por conta da cidade.

— Ótimo, prefeito! Agradeço as

providências.

Colorado apanhou um pouco de café,

depois foi se sentar. Pôs os pés sobre a

escrivaninha e ficou pensando.

Rock e Emmet se entreolharam,

observando a atitude do chefe. Colorado

estava intrigado.

Era muita coincidência os rastros da

quadrilha virem da fazenda de um homem

que estava comprando muita terra, além de

toda a que já tinha.

Mas qual o seu interesse em aterrorizar

um pequeno fazendeiro como o dono do

rancho Bosler?

Começaram roubando gado. Um gado

que não poderia estar desaparecendo no ar.

Agora passavam para o ataque

simplesmente para matar e queimar.

Era estranho, muito estranho, como se

isso fizesse parte de um plano que Colorado

não conseguia entender.

— A que horas abre o banco? —

indagou.

— Já está aberto, xerife.

— Ótimo, vou dar um pulo até lá.

Cuidem de tudo por aqui — ordenou,

apanhando os maços de notas que estavam

com o pistoleiro morto na noite anterior.

Foi até o banco. O próprio gerente o

atendeu. Colorado depositou os dois maços

de cédulas sobre a mesa.

— Retirei isto de um pistoleiro morto

ontem à noite. Preciso saber se ele sacou

esse dinheiro pessoalmente. Pode me trazer

os livros?

O homem hesitou, empalidecendo

rapidamente. Suas mãos tremerem, quando

examinou as cédulas.

— Não sei se posso mostrar-lhe os

livros... Afinal, isto é confidencial e...

— Estamos falando de assassinatos e

roubos aqui. Posso resolver isso de uma

forma drástica, mas prefiro contar com a

sua colaboração — exigiu Colorado,

incisivo.

O gerente não teve outra alternativa. Fez

um sinal, chamando o guarda-livros.

— Lembra-se de uma retirada de mil

dólares, feita ontem ou antes de ontem? —

perguntou-lhe.

— Mil dólares, ninguém retirou esse

valor.

— Tem certeza disso? — insistiu

Colorado.

— Claro que sim, xerife. Eu me

lembraria de um valor desses — confirmou.

— Pode me mostrar os livros com os

registros dos últimos dias?

O guarda-livros olhou para o gerente, que

concordou com um aceno de cabeça.

Minutos depois, Colorado examinou os

lançamentos. Nenhuma retirada vultuosa

fora feita nos dias anteriores.

Continuou voltando as páginas. Cinco

dias antes, houvera uma retirada de três mil

dólares no banco.

Não se surpreendeu ao ver o nome do

sacador: Stanley Ross. Agradeceu e

retornou à cadeia.

— Descobriu alguma coisa, xerife? —

quis saber Emmet.

— Pistas... Apenas pistas... Falem-me

sobre esse tal de Stanley Ross — pediu.

— É um homem muito rico. Chegou aqui

há uns cinco anos. Começou a comprar

terras e gado e, desde então, não parou. Fica

cada vez mais rico. Soube que andou

fazendo umas ofertas pelas terras ao sul da

cidade e na direção Billings.

— Há um mapa do território por aí? —

quis saber o xerife.

— Sim, numa dessas gavetas aí —

apontou Emmet.

Colorado procurou, até encontrar. Abriu-

o. Examinou a posição de Milles City, entre

Glendive e Billings. Era uma enorme

extensão de terra. Qual o interesse de

Stanley Rose naquelas propriedades todas?

Todas as suas investigações o conduziam

àquele nome. O dinheiro com o pistoleiro.

Não fora sacado por nenhum outro cliente,

exceto Stanley Ross.

O mesmo Stanley era o dono das terras

por onde a quadrilha de ladrões e assassinos

circulava livremente.

Além disso, estava comprando terras.

Precisava de muito mais dinheiro do que se

poderia imaginar para fizer tudo isso.

De onde estava vindo esse dinheiro? De

seu enorme rancho? Do gado roubado? De

onde?

— Falando no diabo, olha ele ali em

pessoa — comentou Rock, olhando pela

janela.

Colorado foi até lá. Stanley Ross passava

na rua, todo imponente, num cavalo branco

puro-sangue.

Vestia-se com elegância e usava um

chapéu de abas largas, projetando sombra

em seu rosto.

Colorado observou que Stanley parou ao

passar diante do banco. O gerente foi até a

rua e conversou alguma coisa com ele.

Stanley demonstrou certo aborrecimento,

pois esporeou o cavalo, quase derrubando o

gerente do banco.

— Acho que preciso conhecer de perto

essa figura — falou Colorado.

— É bom tomar cuidado, xerife. Aqueles

homens que o acompanham são pistoleiros

da pior espécie.

— Estou acostumado a lidar com esse

tipo de gente — afirmou o xerife, checando

sua arma, antes de sair da cadeia.

Faster sabia que seu instinto índio estava

certo. Seguindo a direção da pista deixada

pela quadrilha, só havia uma possibilidade

de encontrar um esconderijo.

À beira de um regato, junto a uma colina,

havia uma cabana, que os vaqueiros usavam

no inverno, quando vinham à procura de

desgarradas.

Teve certeza que havia gente lá dentro

pela fumaça. Além disso, havia seis cavalos

no curral.

Deixou seu cavalo a uma distância

prudente e se aproximou, procurando se

certificar.

Afinal, podiam ser apenas alguns

vaqueiros, por isso ficou a espreita,

aguardando.

Viu quando um deles deixou a cabana

com um balde na mão e foi até o rancho

apanhar água.

Pela maneira como carregava a arma não

parecia um vaqueiro. Além disso, a maneira

desconfiada como sondava os arredores

demonstrava que era alguém que esperava,

a qualquer momento, uma surpresa, coisa

típica de quem tem culpa em cartório.

O xerife iria gostar de saber daquilo. A

quadrilha encontrara um bom esconderijo,

no meio da fazenda de Stanley Ross.

Faster foi apanhar seu cavalo e se

apressar em retornar à cidade, tomando todo

o cuidado para não ser apanhado por uma

das patrulhas dos guardas daquele rancho.

Stanley e seus capangas estavam no

saloon. Colorado entrou, memorizando a

posição de cada um deles.

Eram pistoleiros experientes aqueles, pois

se postaram ao lado da porta, na janela, no

fundo do saloon e ao lado do balcão,

enquanto o patrão se sentava a uma mesa,

protegido por aquele círculo armado.

Havia uma garrafa sobre a mesa onde

Stanley se sentara, juntamente com um

copo. Assim que Colorado entrou, Stanley

olhou-o com desdém.

— Venham beber comigo, xerife —

convidou. — Pegue um copo para você no

balcão.

O xerife não gostou do tom usado pelo

fazendeiro. Parecia o patrão dando ordens a

um subordinado.

— Não, eu agradeço. Estou de serviço —

disse Colorado, puxando a cadeira e se

sentando.

Na posição em que estava podia ver

quatro dos capangas ali presentes. O quinto

ficara exatamente a suas costas.

Não gostava daquilo. Punha-o nervoso.

— Soube que meus homens o barraram

na entrada de minhas terras — comentou o

latifundiário, bebericando seu uísque.

— Nós seguíamos uma pista inútil. Ela

acabava no meio de sua manada.

— Uma pena, xerife. Se tivesse ido me

procurar e pedido a minha ajuda...

— Pelo contrário, acho que você deveria

pedir a minha ajuda — cortou-o o xerife.

— Não entendo — comentou Stanely.

— Se minhas conclusões não forem

falhas, aquele bando está se escondendo em

suas terras, talvez misturando o gado

roubado com o seu. Já imaginou está

possibilidade?

Stanley Ross empalideceu. A mão que

segurava o copo tremeu ligeiramente.

Colorado viu os pistoleiros a sua frente se

aprumarem, como que incomodados com

alguma coisa.

— Talvez queira vasculhar minha

propriedade — falou o fazendeiro, tentando

demonstrar naturalidade.

— Eu agradecerei a sua autorização.

— Está concedida, xerife. Tudo o que

precisar para apanhar essa quadrilha.

— É bom contar com cidadões como

você, Stanley. A propósito, fez algum

pagamento grande nos últimos dias?

— Ora, xerife, mexo constantemente com

grandes quantias. Por que pergunta?

— Fez algum negócio de mil dólares? —

insistiu Colorado, tentando provocar o

fazendeiro.

Vira sua reação, quando o gerente do

banco conversara com ele. Se o assunto fora

a visita do xerife ao banco, a reação de

Stanley era um sinal de que tinha alguma

coisa a ver com o dinheiro encontrado com

Dam Rowlings.

— Não me lembro das quantias, xerife,

mas tenho tudo registrado em meus livros.

Se quiser olhá-los...

— Não, agradeço. Acho que não

encontraria o que procuro.

Levantou-se e fez menção de sair. Parou,

no entanto, voltando a encarar o fazendeiro.

— O que há de especial entre Clendive e

Billings? — indagou, sondando a reação do

outro.

Stanley empalideceu novamente. O brilho

em seus olhos refletiu um ódio inesperado.

Colorado sentiu que estava conseguindo

perturbá-lo.

— Terras são a minha paixão — disse

Stanley, num fio de voz.

— Eu também gosto de terras. Até

comprei uma "hacenda" em Las Cruces, na

divisa com o México. Não é tão grande

como sua propriedade, mas me satisfaz,

Stanley — ironizou, rumando para a porta.

Atrás dele, Stanley fez um sinal para o

capanga que estava junto da porta. Quando

Colorado se aproximou, o pistoleiro se pôs

diante dele.

— Você é um ex-delegado federal, não?

— comentou.

— Sim, e o que tem?

— Eu o vi matar um homem há dois

anos, em Búfalo. Nem deu uma chance ao

pobre diabo. Ainda bem que usava uma

estrela. Caso contrário, teria sido linchado

como um covarde qualquer — continuou o

outro, com a deliberada intenção de

provocá-lo.

Colorado entendeu imediatamente a

jogada. Havia mais quatro homens no

saloon, esperando a chance para matá-lo.

Stanley se precipitara e isso era um bom

sinal. Apavorá-lo a ponto de fazê-lo ordenar

sua morte era a resposta que procurava.

Conseguira atingi-lo, dando a entender que

suas investigações caminhavam no rumo

certo.

— Eu não gosto dessa palavra que você

usou — murmurou o xerife, recuando um

passo.

Ouviu o movimento dos homens atrás de

si. Pelo canto dos olhos observou Stanley

acompanhar toda a cena sem intervir.

— E o que fará a respeito? — desafiou o

capanga.

A porta do saloon se abriu e Faster e

Emmet entraram com suas espingardas

engatilhadas.

— Algum problema, xerife? — indagou

Emmet.

— Um bocudo precisando de uma lição

— respondeu e, antes que o pistoleiro diante

do si pudesse esboçar um gesto de reação,

Colorado esmurrou-o no queixo, jogando-o

para fora do saloon.

— Todo mundo quieto — berrou Emmet.

— Essa conversa é particular — explicou,

mantendo os outros sob a mira, assim como

o fazia Faster.

Lá fora, atordoado, o capanga de Stanley

tentou se levantar, mas a ponta da bota do

xerife atingiu-lhe a boca, fazendo-o engolir

alguns dentes.

O homem gemeu, tombando na poeira.

Sua mão procurou a arma. Mais rápido,

Colorado sacou a sua e disparou uma única

vez.

A bala atingiu a cabeça do pistoleiro,

rachando-a como a uma abóbora madura,

num som seco e tétrico.

O capanga estrebuchou no meio da rua.

Colorado retornou ao saloon.

— Eu sinto muito, xerife. Trabalhava

para mim, mas parece que não se

simpatizava com você... — zombou

Stanley.

— Quando eu terminar por aqui, pode ter

certeza que muita gente não vai se

simpatizar comigo — prometeu, saindo,

seguido pelos ajudantes.

Mantê-los do lado de fora do saloon fora

uma boa medida. Não fosse isso, teria

corrido um risco enorme lá dentro, com

aqueles cinco pistoleiros.

— Bom trabalho, rapazes! Acho que dei

o que pensar ao Stanley.

— Ouvi quando ele autorizou a entrada

nas terras dele, xerife. Pretende mesmo

voltar lá? — quis saber Emmet.

— Tudo vai depender do que Faster

descobrir por lá — respondeu.

Frank, o capataz do Rancho Bosler, foi ao

encontro do grupo.

— Olá, xerife! Quero agradecê-lo por

sepultar os rapazes lá no rancho.

— Ora, esqueça! como estão os feridos?

— Em recuperação. Minha patroa já

acordou e pediu para falar com você.

— Vamos até lá, então.

— Estive lá no rancho, xerife, e na volta

passei nas outras propriedades — foi

dizendo Frank, enquanto caminhavam. —

Os pequenos rancheiros estão apavorados.

Falam em vender as terras...

— Para Stanley Ross?

— Sim, todos já haviam recebido uma

oferta antes. Com o ataque ao rancho

ontem, todos se apavoraram. Stanley veio à

cidade hoje apenas para negociar com eles.

Veja, estão começando a chegar — disse,

apontando as carroças que seguiam devagar

pela rua principal.

— Vender as propriedades é fazer o jogo

de Stanley veio à cidade hoje apenas para

negociar com eles. Veja, estão começando a

chegar — disse, apontando as carroças que

seguiam devagar pela rua principal.

— Vender as propriedades é fazer o jogo

do Stanley. Não posso deixar isso acontecer

— afirmou Colorado, retornando ao saloon.

Quando entrou, Stanley discursava para

os pequenos fazendeiros ali presentes.

— ... com o dinheiro poderão ir para o

oeste, para a Califórnia, onde há terras

baratas, bom clima, excelente oportunidade

para todos.

— Mas temos nossas casas aqui e tudo o

mais — lembrou alguém.

— O velho Bosler tinha uma casa até

ontem à noite. O que ele tem hoje? —

argumentou Stanley, provocando um

murmúrio de pavor entre aquela gente

simples.

— Meus amigos! — interrompeu

Colorado. — Não há motivos para pânico.

Não vendam suas terras assim...

— E por que não, xerife? Onde estava

ontem à noite, quando mandaram avisá-lo

de que seríamos atacados? — disse alguém

com raiva.

— Ninguém falou em ataque ontem à

noite. O aviso que recebi falava da

movimentação de alguns homens naquela

região. O que eu poderia ter feito?

— E o que poderá fazer de agora em

diante, com seus três ajudantes? É um

homem, não um mágico, xerife. Como vai

patrulhar toda a região? — insistiu um dos

rancheiros.

— Tempo, um pouco de tempo, é tudo

que lhes peço. Tempo para concluir minhas

investigações. As pistas que tenho em mão

são importantes e podem me levar à solução

de todo esse problema — afirmou,

observando a reação de Stanley.

A segurança do xerife dava a entender ao

fazendeiro que havia fortes pistas em jogo.

— Não tenho pressa, rapazes, em

comprar as terras. Estou aguardando umas

propostas do pessoal de Glendive. Se eu não

comprar aqui, comprarei lá — falou

Stanley, tentando forçar uma decisão.

— Só preciso de mais uns dias. Esperem

um pouco — pediu o xerife.

— Eu digo que nós podemos confiar no

xerife — disse uma voz feminina, firme,

apesar de combalida.

Todos se voltaram para a porta. Anne

Bosler entrava, apoiada em Frank.

— Estas terras são a nossa vida. Meu pai

morreu defendendo a dele. O xerife é um

homem incomum, acostumado a lidar com

bandidos como esses que nos aterrorizam.

Tenho certeza que ele irá apanhá-los mais

depressa do que imaginamos.

— Confia nele tanto assim, Anne? —

perguntou um dos rancheiros.

— Totalmente.

— Se Anne confia nele, nós também

confiamos — decidiu um, logo seguido

pelos outros.

Stanley, irritado, deixou o saloon

apressadamente. Colorado foi ter com

Anne. Mais do que nunca, aquela figura

feminina tão decidida o impressionava.

— É uma mulher corajosa, senhorita, mas

deveria estar repousando — observou

Colorado.

— Terei muito tempo para descansar

depois, xerife. Agora quero fazer o possível

para ajudá-lo a prender aqueles bandidos.

— Vai me ajudar se concentrar apenas

em recuperar a saúde. Ainda está pálida e

fraca...

— Não o bastante para ficar presa numa

cama, xerife. Precisamos estabelecer um

plano para evitar que novos ranchos sejam

atacados. Pode nos ajudar nisso?

— Claro que sim — prontificou-se

Colorado.

Com a ajuda dos rancheiros, foi montado

um grupo de vigilantes que patrulharia os

limites das propriedades menores com as de

Stanley.

Colorado não disse isso claramente, mas

deu a entender que de lá é que vinha a

ameaça.

— Agora que já resolvemos essa parte,

gostaria que fosse repousar — pediu

Colorado e Anne.

— Não vou voltar para aquela

enfermaria, nem posso voltar para o meu

rancho — disse a garota.

Colorado pensou por instantes.

— Acho que sei onde pode ficar —

decidiu. — Rock, leve-a até a casa que

destinaram a mim.

— Não posso aceitar isso — protestou

Anne.

— Por que não? Vou estar ocupado

demais para ocupar uma casa. Além disso,

se tiver sono, durmo numa das celas da

cadeia...

— Está sendo bondoso demais —

afirmou ela.

— Esqueça. Só passarei lá mais tarde

para apanhar uma muda de roupa. Minhas

coisas foram todas levadas para lá.

Anne aquiesceu com um sorriso terno e

agradecido.

Mal havia deixado a cidade, Stanley

freou violentamente seu cavalo, fazendo o

animal empinar e relinchar de dor.

Estava possesso com a situação do xerife

que, além de humilha-lo matando um de

seus capangas, ainda frustrara todo o seu

plano de comprar as terras ao sul da cidade.

Aquilo exigia providências drásticas.

— Joe, quero que procure Oliver lá nos

pastos e que diga para ele mandar três

daqueles pistoleiros que vieram de

Tombstone à cidade. Quero que matem o

xerife.

— Certo, patrão!

O capanga saiu a galope. Stanley

esporeou seu cavalo, rumando para a sede

de sua propriedade. Quando lá chegou,

percebeu que alguém o esperava, pois havia

um par de cavalos estranhos amarrados à

porta.

Quando entrou, já sabia de quem se

tratava. Engoliu seco e adotou um ar

submisso.

— Stanley, o que está havendo? —

indagou um dos homens sentados

tranqüilamente na sala. — Está trocando os

pés pelas mãos?

— Não, apenas um acidente de percurso,

mas está tudo sob controle...

— Então por que a pressa? Bastava

roubar o gado deles, deixá-los endividados.

Então tomaríamos as terras. Por que a

pressa? — insistiu o homem, que vestia

uma elegante casaca.

— Prometo que tudo se resolverá, Sr.

Wordland.

— Espero que sim, Stanley. Eu e meus

sócios estamos investindo muito dinheiro

nesta operação. Não vá pôr tudo a perder.

— É aquele xerife... Vou cuidar dele —

falou Stanley, indo apanhar um uísque.

— Nisso você também está exagerando

— comentou o outro. — Não é mesmo,

prefeito.

— Concordo com você. Fizemos toda

aquela encenação para dar a entender que

tínhamos interesse em resolver o assunto.

Colorado Stone seria o bode expiatório no

momento certo...

— Mas ele tem pistas, pistas fortes e... —

ia dizendo Stanley.

— Que pistas? Rastros que se perdem no

meio de uma boiada? Um maço de notas? O

fato de você estar comprando terras? E daí?

O que isso quer dizer? Nada! Ele nada tem

contra você, percebeu? — repreendeu-o o

outro.

O prefeito concordou com movimentos

de cabeça, quando Stanley olhou na sua

direção.

— Mandei matar o xerife — informou o

fazendeiro.

— Não foi uma boa idéia...

— Espere aí, se o Stanley se sente mais

tranqüilo com o xerife fora do caminho,

tudo bem. Podemos nomear Oliver em

seguida e tudo será como havíamos

planejado no começo.

O outro ficou pensativo por instantes,

depois concordou, para alívio de Stanley.

— Como pode ter certeza de que era

mesmo a quadrilha e não vaqueiros ou

capangas que vigiam o rancho? — indagou

Colorado a Faster, que havia acabado de

chegar.

— Os cavalos ainda estavam suados,

xerife, como se tivessem cavalgado toda a

maldita noite. Vaqueiros não fazem isso. O

homem que saiu para apanhar água, saiu

armado e olhava para os lados como se

esperasse uma emboscada. Para finalizar,

segui a direção que a pista apontava. Só

havia aquele esconderijo, num raio de

cinqüenta milhas.

— A que distância eles estão?

— A uma três horas daqui.

— Devem estar descansando da noite

atribulada e preparando novos ataques.

Precisamos pegá-los de surpresa. Ao

entardecer seria o melhor horário —

ponderou o xerife.

— Se são eles e se os pegarmos,

solucionaremos todos os problemas dos

rancheiros — falou Rock.

— Nem todos, Rock. Acho que os

problemas aqui são mais sérios do que eu

pensava. Me intriga o fato de Stanley estar

comprando tanta terra. Por quê? E de onde

vem tanto dinheiro assim? — intrigava-se o

homem da lei.

— São planícies e pastos, com algumas

ravinas e colinas, nada além disso, xerife —

observou Emmet.

— Se for para criar gado, onde ele

arranjará tantas cabeças para preencher

essas terras? — completou Faster.

— Há alguma coisa grande por trás de

tudo isso e acho que sei quem poderá nos

ajudar.

— Quem, xerife?

— Um amigo na Secretária da Justiça,

em Washington. Era o meu chefe, quando

eu era delegado federal. Vou lhe mandar

uma carta pela diligência, pedindo que faça

algumas investigações.

— Por que não usa o telégrafo? —

questionou Rock.

— Sigilo, Rock! Em pouco tempo toda a

cidade saberia o que procuro e isso alertaria

um bocado de gente.

— Do que desconfia afinal, xerife?

— Vocês ficaram sabendo no devido

tempo. Agora vou escrever aquela carta —

decidiu Colorado, indo para sua

escrivaninha.

Quando terminou, pediu a Rock que

despachasse e foi ao saloon, almoçar.

Pediu um bom bife e feijão, atacando o

prato vorazmente. Na volta decidiu passar

pela casa que lhe fora destinada e apanhar

umas roupas.

Anne o recebeu com alegria. Parecia bem

melhor, pois as cores haviam voltado a suas

faces e seus olhos brilhavam, cheios de vida

novamente.

— Tomei a liberdade de passar suas

roupas, xerife — disse ela. — Estavam

todas amarrotadas.

— Não precisava se incomodar...

— Ora, era o mínimo que eu poderia

fazer, depois de sua gentileza.

— Fique o quanto quiser — ofereceu ele.

— Apareça quando quiser, também. Sou

boa cozinheira, adoraria fazer-lhe o jantar

qualquer dia desses.

— Sim, qualquer dia desses —

concordou ele, agradecendo e saindo.

Anne ficou na porta, olhando-o se afastar.

Era um homem maduro, calejado, mas com

um bom coração por trás de toda aquela

aparência de durão.

Um homem de verdade, que despertava

nela desejos de mulher. Voltou para o

interior da casa e parou diante de um

espelho.

Seus cabelos estavam horríveis. Ela

estava toda horrível. O que Colorado

poderia ver nela?

Aborreceu-se com essa idéia.

Billy Cachorro Louco, Dodge Bull e Red

Daniel era um trio da pior espécie.

Expulsou de Tombostone por roubar nas

cartas e promover arruaças, o trio acabara

indo parar em Milles City.

Suas habilidades com as armas logo

chamaram a atenção e Oliver os contratará

para patrulhar as terras de Stanley Ross.

Eram homens sem escrúpulos e

ambiciosos. Poucos na cidade sabiam que

eles trabalhavam para Stanley, mas isso era

o de menos naquele momento.

O importante era que Oliver os julgava

talhados para a missão toda especial que

estabelecida pelo patrão.

— Quem é esse xerife que vamos matar?

— indagou Billy Cachorro Louco, um

mestiço apache que se vestia como um

branco e se parecia com um branco, exceto

pelos longos e lisos cabelos.

— Seu nome é Colorado Stone —

informou Oliver.

Os três trocaram olhares cheios de

significado. Conheciam o Delegado Stone.

Não seria uma tarefa das mais fáceis,

mesmo sendo três contra um.

— Quanto ganharemos com isso? — quis

saber Dodge Moore, um homem

esquelético, que se vestia de preto, como se

fosse um pastor.

— O recado que recebi não falava em

dinheiro, mas sei que o Sr. Stanley será

generoso, caso façam o trabalho como ele

pediu — falou Oliver.

— Não será fácil matar Colorado Stone

— comentou Red Daniel, um irlandês alto e

gordo, de longas barbas e suíças, rosto

vermelho e inchado.

— Por isso vocês três estão sendo

mandados. Se há alguém que possa fazer o

trabalho, são vocês — elogiou Oliver.

— O que acham, rapazes? — indagou

Billy, olhando interrogativamente para os

parceiros.

— Acho que podemos fazer o serviço

depois discutir o preço. Como Oliver disse,

o Sr. Stanley é um homem muito generoso

— ponderou Red Daniel, com seu vozeirão

grave e tonitroante.

— Então vamos para a cidade. Quero

pegar esse xerife antes do escurecer. Será

seu último pôr-do-sol — sentenciou Dodge.

O trio foi selar os cavalos e, momentos

mais tarde, partiam rumo à cidade.

— Como vamos fazer a coisa? —

indagou Billy.

— Do nosso jeito, você sabe — disse

Dodge, rindo.

— É disso que eu gosto — gritou Red

Daniel, gritando e esporeando seu cavalo.

Chegaram à cidade pouco antes do

entardecer. Assim que atingiram o começo

da rua principal, sacaram suas armas e

começaram a disparar para o alto, gritando e

uivando como um bando de vaqueiros

bêbados.

Os cidadões pacatos correram em busca

de proteção. Carroças disparam. Cavalos se

assustaram, lançando cavaleiros no chão. O

trio passou como um furacão diante da

cadeia e foi parar em frente do saloon, onde

desmontaram e entraram com grande

alarido.

— Que diabos foi isso? — quis saber

Colorado, saindo à porta.

— Parece um grupo de vaqueiros

festejando, xerife — informou Rock.

— Alguém deveria ensinar bons modos a

eles. Poderiam ter matado alguém com essa

balbúrdia...

— Deixe comigo, xerife. Vou até lá

conversar com eles, enquanto vocês se

preparam para ir no encalço daquela

quadrilha — propôs o garoto.

— Certo, Rock, mas não se arrisque. Se

surgir problema, venha nos avisar.

— Não se preocupe, xerife — disse

Rock, apanhando sua cartucheira e rumando

para o saloon.

De vez em quando os vaqueiros se

exaltavam e descarregavam suas armas para

o céu. Nada de mais. Estavam apenas

comemorando.

Entrou no saloon com tranqüilidade. O

grupo estava no balcão, bebendo e

recarregando as armas.

— Ok, rapazes! Vamos deixando de lado

essa artilharia — disse, sem suspeitar de

nada.

Os homens guardaram as armas nos

coldres, depois levantaram os olhos para o

ajudante.

Rock estremeceu. Já vira tipos perigosos

na aparência, mas aqueles pareciam ser os

piores.

— Onde está seu chefe? — indagou

Billy.

— Mandando meninos fazerem o

trabalho de homens — provocou Dodge.

O rapaz recuou lentamente. A espingarda

em sua mão seria inútil naquele momento.

Antes que fizesse um gesto, seria morto.

Red Daniel se adiantou e cortou a saída

de Rock, ficando entre ele e a porta.

— Acho melhor se comportarem,

rapazes, ou vão arrumar encrenca...

— Encrenca é o nosso nome, garoto.

Comemos e bebemos encrenca. Encrenca é

a nossa vida. Adoramos isso — comentou

Billy. — Nossa diversão e brincar com

garotinhos como você, que pensam que são

homens, mas não passam de bebes de

fraldas sujas.

As poucas pessoas que já haviam

chegado ao saloon para a noitada trataram

de ir saindo. somente os quatro ficaram.

— E então, bebê? Para que carrega essa

arma aí? — provocou Red Daniel.

— Acho melhor se acalmarem. O xerife

está vindo aí e... — não chegou a terminar.

Red Daniel se adiantou e arrancou a

espingarda de sua mão. Quando fez menção

de protestar, a coronha da arma se afundou

em seu estômago.

Rock sentiu que todo o ar de seus

pulmões fora expelido de uma só vez.

Dobrou-se para frente. A coronha da arma

subiu, como um relâmpago amarelado,

atingindo-o na testa, jogando-o para trás,

sobre uma das mesas.

Red Daniel riu, assanhado pelo cheiro de

sangue. Avançou para Rock e o segurou

pelos colarinhos, erguendo-o com

facilidade.

Rock puxou a faca que trazia à cintura e

golpeou entre as costelas do seu agressor.

Red urrou de dor e fúria, atirando o rapaz

contra o balcão, como se ele fosse um

graveto.

Retirou a faca. O sangue manchou sua

camisa.

— Maldita! Vou matá-lo por isso —

rosnou, avançando contra Rock, que tentava

se pôr em pé.

Red o agarrou pelos cabelos e pôs a faca

contra a garganta do ajudante.

— Não faça isso! — gritou Colorado,

surgindo à porta.

Alguém que saíra do saloon correra

avisá-lo da encrenca em que Rock estava se

metendo.

Por momentos seu olhar e o de Red

Daniel se cruzaram, faiscantes. O

desesperado sorriu malignamente e deslizou

a faca com força, cortando a garganta de

Rock, que rouqueijou macabramente e

esperneou, suspenso pelos cabelos.

Red voltou a repetir o movimento com a

faca, separando a cabeça do corpo, que caiu

no assoalho e ficou estremecendo.

Colorado já vira coisas incríveis em sua

vida, mas nada se comparava ao olhar

surpreso e desesperado de seu ajudantes.

Aquela cabeça ainda não estava consciente

da morte que chegava rapidamente.

Billy e Dodge pretendiam não dar chance

ao xerife, aproveitando-se de sua surpresa

para sacar suas armas.

Não tiveram tempo para isso. A arma do

xerife voou para fora do coldre. O primeiro

tiro atingiu a testa de Red Daniel, que

balançou, mas continuou em pé, segurando

a cabeça de Rock.

O segundo tiro explodiu no peito de Billy

Cachorro Louco, lançando-o pata trás,

contra o balcão.

Dodge desistiu de sacar e tentou correr

em busca de abrigo ou proteção.

O terceiro tiro de Colorado o atingiu na

espinha, um pouco abaixo do pescoço.

O corpo do pistoleiro estremeceu e se

desgovernou, caindo no assoalho como um

boneco desarticulado.

Ficou piscando e gemendo, boca aberta,

por onde escorria um filete de sangue.

Colorado sabia que a morte era uma

questão de tempo para o pobre diabo.

O que o punha surpreso era Red Daniel,

ainda em pés, com o sangue escorrendo

pelo orifício em sua testa, segurando a

cabeça do ajudante.

Os olhos do bandoleiro estavam fixos e

sem brilho, como se a vida se esvaísse

rapidamente por eles.

Colorado disparou mais uma vez, desta

feita contra o peito do seu oponente, que

definitivamente, tombou sem vida.

Por um longo tempo o xerife ficou ali,

olhando aquela cena, maldizendo a morte

inútil de um jovem promissor e cheio de

vida.

— Alguém os conhece? — indagou às

pessoas que foram se ajuntando.

— Eu já os vi aqui, xerife, há algum

tempo atrás — falou o ferreiro. —

Deixaram seus cavalos para serem ferrados,

fizeram algumas arruaças, depois partiram,

dizendo que haviam encontrado trabalho...

— Quem daria trabalho para homens

como esses? — indagou o homem da lei.

— Saíram da cidade com Oliver, o

capataz do Sr. Ross — informou o homem.

— Maldito! — vociferou Colorado.

A cada vez mais se convencia de que o

rancheiro estava por trás de tudo aquilo que

acontecia naquela cidade.

— Faster, vamos fazer aquela visita.

Alguém avise a família de Rock, mas não a

deixem ver o rapaz nesse estado. Peçam ao

papa-defuntos para caprichar no trabalho —

decidiu o xerife, cheio de ódio e desejo de

vingança.

Wolf Baker e seus cincos irmãos

atacaram vorazmente a comida sobre a

mesa, comendo como verdadeiros animais,

disputando avidamente cada pedaço de

guisado com feijão.

— Como vai ser hoje à noite, Wolf? —

indagou Bret, o mais novo dos irmãos,

cuspindo para longe a rolha da garrafa de

uísque.

Tomou um gole. Antes que terminasse,

seu outro irmão, ao lado, arrancou

bruscamente a garrafa de seus lábios.

— Me dá isso de volta — protestou Bret,

mas Willy deu-lhe um cascudo no alto da

cabeça, mandando-o ficar quieto.

— Há aquele pequeno rancho, perto da

ravina, a umas cinco milhas do Rancho

Bosler. Sei que há apenas o capataz e meia

dúzia de homens lá — informou Wolf,

tomando a garrafa da mão de Willy e

entornando-a.

A bebida encheu sua boca, quase

engasgando-o, derramando-se pelo seu

queixo e indo encharcar seu peito.

— E os vigilantes? Oliver mandou avisar

que eles formaram um grupo de vigilantes

— lembrou Pierce, outro dos irmãos.

— Não gosto de vigilantes, Wolf — disse

Murdo, numa voz estranha, gutural, fruto de

uma bala que lhe atravessara a garganta

num duelo.

— Esses vigilantes não são de nada.

Quando surgirmos disparando, eles vão

borrar nas calças e correr até o Canadá —

brincou Mott, o mais louco de todos eles,

caindo na gargalhada.

— Acho que devemos ir e tentar localizar

esses vigilantes, Wolf. — disse Bret. — Se

nós os pegarmos, ninguém mais vai querer

brigar conosco.

— Acho que Bret tem razão, Wolf —

concordou Pierce.

— Assim que se fala, rapazes — falou

Mott, tomando a garrafa de uísque de

despejando o líquido goela a dentro.

Lá fora anoitecia. em breve uma enorme

lua cheia viria para clarear a pradaria. Os

Baker se preparavam para mais uma

cavalgada noturna.

O grupo cavalgava em silêncio, no lusco-

fusco do entardecer. O sol já se pusera, mas

ainda persistia sobre a pradaria uma

claridade esmaecida.

Todos ainda estavam chocados com a

morte inesperada e violenta de Rock,

naquela tarde.

O mais enfurecido de todos eles era

Colorado, que não podia tirar de sua mente

aquela cena estarrecedora.

Em toda a sua vida de delegado federal,

correndo o oeste em busca de foras-da-lei,

vira as piores atrocidades. Nenhuma,

porém, se igualava àquela.

Concluiu que estava mesmo cansado

daquela vida. Precisava acabar logo com

aquele serviço, pendurar as armas e ir

cuidar de sua hacienda em Las Cruces.

— Ainda falta muito? — indagou

Emmet, que cavalgava com o rifle apoiado

contra a coxa, como se esperasse encrenca a

qualquer momento.

— Não muito — respondeu Faster, de

olho em um bando de pirilampos que

circulava ao redor deles.

Com uma habilidade incomum, Faster

apanhou alguns, seguido por Emmet.

— Para que isso? — indagou Colorado.

— Nunca caçou à noite, xerife? —

retrucou Faster.

— Sim, mas nunca cacei vaga-lumes.

— Não estamos caçando vaga-lumes.

Estamos caçando com vaga-lumes —

corrigiu o ajudante.

— E qual é a diferença?

— Faster só o está confundindo, xerife.

Veja isso — disse Emmet, esmagando um

vaga-lume na mira do rifle, depois outro na

ponta do cano.

Entregou a arma a Colorado, que fez mira

com ela. A luminosidade impregnada na

alça de mira e na mira tornava fácil

enquadrar uma presa e disparar.

— Bem pensado, rapazes — elogiou,

devolvendo a arma e Emmet e tratando de

apanhar seus próprios vaga-lumes.

Pouco depois chegavam próximos da

colina. Faster recomendou que deixassem

os cavalos e seguissem à pé.

Aproximaram-se cautelosamente da

cabana. A lua cheia e enorme começava a

surgir no céu.

— Vejam, lá está a cabana, como eu falei

— apontou Faster. — Os cavalos ainda

estão no curral e há fumaça.

— Bom trabalho, Faster — elogiou o

xerife. — Precisamos pegá-los de surpresa e

nos certificarmos de que se trata mesmo da

quadrilha que procuramos.

— Como pretende fazer isso? — indagou

Emmet.

— Só há uma forma. Indo lá e

perguntando para eles — respondeu

Colorado Stone.

— Assim tão simples? — retrucou

Emmet, perplexo.

— Assim tão simples — confirmou o

homem da lei. — Vocês me seguem e me

dão cobertura. Vou entrar na cabana. Assim

que entrar, sairei para o lado, permitindo

que você, Faster, tenha uma visão do

interior, enquanto que Emmet assume sua

posição naquela janela aberta. Entenderam?

— Sim — confirmaram os dois.

— Talvez não sejam eles e não tenhamos

problemas. Mas, se Faster estiver certo,

preparem-se para toda sorte de encrenca,

rapazes — alertou o xerife, examinando seu

revolver, depois sua Winchester.

Os ajudantes fizeram o mesmo.

— Estão prontos? — quis saber

Colorado.

— Preparados! — respondeu Emmet e

Faster confirmando com um aceno de

cabeça.

Os três começaram a descer lentamente a

colina, na direção da cabana.

A lua subia lentamente, jogando uma

claridade de prata sobre a planície. O regato

tornava fresco o ar, mas pairava um cheiro

de morte naquele lugar.

Músculos tensos e sentidos em alerta

conduziram aqueles três homens ao

encontro de seus destinos.

Repentinamente, a porta se abriu e a luz

de um lampião alongou-se diante da cabana.

Bret ficou um segundo surpreso e

estático, vendo aqueles três vultos que

caminhavam silenciosamente na sua

direção.

— Alto! Quem vem lá? — indagou,

levando a mão à cintura.

Colorado percebeu que haviam perdido o

efeito surpresa. Viu o vulto na porta da

cabana tentar sacar a arma. Antes que o

fizesse, ele e seus ajudantes levantaram os

rifles e dispararam quase que ao mesmo

tempo.

A idéia dos ajudantes funcionou. Foi fácil

enquadrar o homem na porta da cabana.

Três tiros soaram ao mesmo tempo e o

corpo ensangüentado e sem vida de Bret foi

atirado para dentro.

Tudo transcorreu no tempo de um

simples segundo. O lampião foi arrebentado

com um tiro. Uma chuva de balas partiu da

cabana, na direção dos homens na lei.

— Protejam-se! — gritou Colorado,

saltando atrás de um tronco.

Seus ajudantes conseguiram também se

cobrir a tempo e as balas zumbiram como

abelhas sobre suas cabeças.

— Malditos! Mataram meu irmão

caçula... Ele está morto — berrava no

interior da cabana um dos homens.

— Cale a boca, Mott, e mande balas

nesses malditos...

— Eu vou sair, Wolf... Vou lá fora

apanhá-los...

— Não seja idiota... Abaixe-se —

ordenou Wolf Baker ao seu irmão.

Do lado de fora, Colorado se lembrou

daqueles nomes. Wolf Baker e Mott Baker.

Possivelmente junto com eles estavam Bret,

Willy, Pierce e Murdo, a Quadrilha Baker,

um bando de arruaceiros e assassinos

procurados em todo o Oeste.

— Rendam-se Bakers — gritou

Colorado. — Tenho aqui uma patrulha e

muita munição. Poderemos ficar aqui toda a

noite, mas não tenho paciência para isso.

Prefiro queimar logo essa cabana e acabar

com o assunto rápido — ameaçou ao final.

— Quem está falando? — quis saber

Wolf.

— Colorado Stone, o xerife de Milles

City.

— Maldito seja mil vezes por matar meu

irmão caçula, xerife. Não nos pegará vivos.

Terá de vir nos buscar — afirmou Wolf,

sondando a semi-escuridão lá fora.

Quando a lua surgisse de todo, poderia

ver o tamanho daquela patrulha. Até então,

não sabia quantos homens havia lá fora.

— Conseguiram ver quantos há lá fora?

— indagou aos irmãos.

— Não. Quando disparamos eles apenas

se esconderam e não responderam ao fogo.

Pode ser meia dúzia ou cinqüenta, quem

saberá? — retrucou Murdo, com sua voz

estranha.

— Fogo neles! Vamos ver se reagem —

ordenou Wolf e os irmãos voltaram a

disparar selvagemente.

— Não atirem, rapazes — ordenou

Colorado, lá fora. — Eles ainda não sabem

quantos somos.

— O que faremos em seguida, xerife? —

quis saber Emmet, o rifle apontado para a

cabana à procura de um alvo, mas apenas as

línguas de fogo das armas eram visíveis.

— Vamos ter que agir rápido, rapazes.

Quando a lua surgir de todo, seremos alvos

fáceis.

— Xerife, posso rastejar pelo barranco do

rancho até um ponto longe da visão deles e

retornar esgueirando-me por aquelas

árvores — apontou. — Dali posso atear

fogo no telhado da cabana. O que me diz?

— Acho que é a melhor coisa a fazer,

Faster. Enquanto isso, Emmet, vamos ver se

você é bom mesmo com esse rifle. Mire um

pouco à esquerda do clarão das armas —

ordenou o xerife.

Faster recuou sorrateiramente. Emmet

mirou cuidadosamente. Quando uma das

armas disparou na cabana, ele respondeu ao

fogo.

Um grito de dor se ouviu logo em

seguida.

— Maldito! Ele me acertou, Wolf...

Estou sangrando... Estou baleado, rapazes...

— ficou repetindo Willy, estendido no chão

da cabana.

Os demais irmãos concentraram fogo no

ponto de onde partira o disparo. Emmet se

protegeu, enquanto as balas assobiavam e

arrancavam lascas do tronco atrás do qual se

ocultara.

Colorado aproveitou o momento. Mirou

na direção da cabana e apertou o gatilho.

Pierce Baker parou de atirar no mesmo

instante e caiu de joelhos. Passou a mão no

peito. Sentiu-o molhado. O cheiro de

sangue impregnava o ar.

— Wolf — chamou ele.

— O que foi, Pierce?

— Acho que ele me acertou — respondeu

o facínora, caindo de cara no chão.

— Parem de atirar, rapazes! — ordenou

Wolf.

Willy havia parado de gemer. Estava

morto.

— Wolf, eles já mataram Bret, Willy e

Pierce — comentou Murdo.

— Eu sei, diabos!

— Eles vão nos matar como patos numa

lagoa, Wolf — comentou Mott. — Vamos

sair disparando...

— Seríamos mortos mais rápido ainda —

observou Wolf, posicionando-se junto à

janela. — Você aí fora! — gritou.

— O que quer? — respondeu Colorado.

— O que nos acontecerá se nos

entregarmos? — quis saber o bandido.

— O que está falando, Wolf? —

protestou Murdo.

— Cale-se, idiota! Estou tentando salvar

nossas peles.

— Depende do que tiver a nos oferecer

— negociou Colorado.

— Como assim?

— Sei que não estão agindo por conta

própria. Quero uma confissão e o nome do

mandante de tudo isso que estão fazendo.

— Deixe-me conversar com meus

irmãos.

Faster tomou posição na lateral da

cabana, preparando para atear-lhe fogo,

esperando um sinal do xerife.

Lá dentro os irmãos confabulavam.

— Como pode negociar com alguém que

matou três dos nossos irmãos? — protestou

Murdo.

— Ele tem razão — concordava Mott.

— Ouçam-me, seus imbecis. É a única

forma de nos livrarmos dessa encrenca.

Fazemos um negócio com eles até que

possamos nos vingar. Não pensem que vou

deixar por menos as mortes de nossos

irmãos. Façam o seguinte. Escondam

algumas armas pela cabana. Vamos nos

entregar e esperar uma chance.

Wolf foi até a janela e se expôs, gritando:

— Estou pronto para negociar, xerife.

— Está bem! Acendam um lampião e

saiam com as mãos para cima — ordenou o

xerife.

— Vou levar uma arma comigo — disse

Mott, prendendo-as às costas, no cinto.

— Eu também — confirmou Murdo.

— Faça o mesmo, Wolf — pediu Mott.

— Está bem — concordou afinal.

Um lampião foi aceso. os três homens

começaram a sair lentamente. Motto foi à

frente, com o lampião seguro acima da

cabeça. Assim que saíram, Faster, oculto ao

lado da cabana, viu as armas que eles

haviam escondido nas costas.

— Eles estão armados, xerife — gritou.

No mesmo instante com o lampião. A

bala que Emmet disparou atingiu o lampião,

jogando querosene no corpo do facínora,

que imediatamente pegou fogo,

transformando-se numa tocha que pulava e

berrava como um demônio possesso.

A bala que Faster disparou jogou Mott

para frente. O tiro de Colorado, atingindo-o

na testa, fez seu corpo rodopiar no ar e se

estatelar na poeira.

Mott correu na direção do rio. Wolf

conseguiu sacar sua arma, mas estava

confuso demais para perceber seus alvos.

— Não o matem! — gritou Colorado. —

Renda-se, Wolf. Há armas demais

apontadas para o seu corpo.

— Malditos sejam... Bastardo... —

murmurou o pistoleiro, vendo seu irmão em

chamas cair, pouco antes do riacho e ficar

estrebuchando até morrer.

Faster se adiantou e o desarmou. Depois

deu-lhe uma coronhada nos rins, fazendo o

facínora gemer e ajoelhar-se.

— Isto é pelos homens que mataram,

malditos! — vociferou.

— Acalme-se, Faster. Esse homem pode

ser muito importante para nós agora —

ponderou Colorado, agarrando-o pelos

colarinhos e erguendo-o.

Empurrou Wolf na direção da cabana,

onde acenderam um outro lampião?

— Onde estão os outros? — quis saber

Wolf, cheio de fúria.

— Só nós — respondeu Colorado.

— Você é o delegado Stone, não?

— Sim, me conhece?

— Já ouvi falar.

— Pena que nossos caminhos não

tivessem se cruzado antes, seu canalha.

Muitas vidas teriam sido salvas.

— O que fazemos com estes corpos,

xerife? — indagou Emmet, apontando os

cadáveres dos Bakers dentro da cabana.

— Jogue-os lá fora. Que sirvam de pasto

os coiotes. Vocês serão as testemunhas da

morte deles. Quanto a você, vai me

responder algumas perguntas — falou

Colorado, encarando Wolf.

— Se pensa que vou delatar quem nos

está pagando, está muito enganado, xerife.

Esse é o meu trunfo e não vou abrir mão

dele.

Colorado respirou fundo. Não gostava

daquilo, mas não havia outra forma de obter

a informação que precisava.

— Amarrem-no, rapazes! — ordenou.

Emmet se apressou em atender o pedido

do xerife. Wolf foi amarrado firmemente

numa cadeira.

— Faster, você disse quem tem um pouco

de sangue índio, não é verdade?

— Sim, xerife.

— O que sua metade índia sabe fazer

para que um homem fale como a mais

tagarela das mulheres — continuou

Colorado.

— Uma porção de coisas, xerife —

respondeu Faster, com um sorriso,

percebendo onde o outro queria chegar.

— O quê, por exemplo?

Faster sacou uma faca Bowie que levava

às costas. A enorme lâmina afiada

rebrilhou.

— Eu, particularmente, gosto de começar

cortando as orelhas da vítima. Dizem que

elas ouvem melhor nossas perguntas,

quando lhes cortamos as orelhas.

— E depois?

— Para tornar tudo muito amigável,

cortamos os lábios e deixamos os dentes à

mostra. A pessoa morre com um sorriso nos

lábios. É muito divertido.

— E se ainda assim não conseguir?

— Começamos a tirar a pele a partir do

couro cabelo. Polegada a polegada, a pele se

solta como se fosse uma máscara. Não é um

espetáculo bonito, mas sempre funciona.

Wolf começou a rir.

— Não me mete medo com essas

brincadeiras de criança, xerife. Isso não me

assusta — zombou ele.

— Você ouviu o homem, Faster — disse

Colorado.

Faster nada disse. Aproximou-se de

Wolf, pôs a lâmina da faca no alto da testa

dele, junto à linha de cabelos, e deslizou-a

num gesto decidido.

Wolf Baker era duro na queda, mas,

quando Faster começou a puxar seu couro

cabeludo para cima, deslocando-o de seu

crânio, percebeu que o mestiço estava

brincando.

— Pare este maldito! — berrou, o sangue

deslizando pelo seu rosto numa máscara

macabra.

— Deixe-me continuar, xerife — pediu

Faster, a lâmina da faca tinta de sangue.

— Foi Stanley Baker e seus sócios —

falou Wolf, cuspindo sangue enquanto

falava.

— Como disse? sócios? Que sócios?

Wolf gargalhou da surpresa de Colorado

Stone, o rosto transformado numa máscara

ridícula.

— Não suspeitava de nada, xerife? —

indagou o pistoleiro.

— Tinha algumas dúvidas mas nenhuma

conclusão. Quem são esses sócios?

— O que me oferece em troca?

— Nada posso lhe prometer, mas talvez

consiga livrá-lo da forca...

— Quero mais, xerife. Quero a minha

liberdade. E justo, após você ter

exterminado minha família.

Colorado pensou por instantes. Não só

havia dado cabo na quadrilha, como poderia

solucionar todo o caso de Milles City.

Libertar Wolf Baker seria até um ato de

caridade, depois de todas a ajuda que ele

estava prestando.

— Está bem, Wolf. Trato feito. Você

testemunha contra Stanley e seus sócios e,

depois do julgamento, eu o liberto.

— Trato feito então, xerife — concordou

o outro.

— Quem são esses sócios, afinal?

Wolf abriu a boca para falar, mas o

estampido de uma arma soou na janela e o

rosto do pistoleiro simplesmente

desapareceu, afundando por uma carga de

chumbo grosso.

Seu corpo foi jogado para trás e, quando

bateu no chão, já estava morto.

Uma chuva de balas veio lá de fora,

obrigando o xerife e seus ajudantes se

atiraram no chão em busca de proteção.

As balas entravam pela janela e pela

porta, arrebentando tudo pela frente,

arrancando grossas lascas dos troncos da

cabana.

A situação acabava por se inverter.

Concentrados em fazer Wolf falar haviam

se esquecido de que haviam patrulhas do

rancho ao redor.

Uma delas fora atraída pelos tiros e Wolf

havia sido liquidado antes de entregar seus

patrões.

Colorado disparou um tiro contra o

lampião, apagando-o. As balas continuaram

zumbindo. O terreno do lado de fora se

iluminava com os clarões dos disparos.

— Fogos pegos numa ratoeira — disse

Colorado.

— O que podemos fazer, xerife? — quis

saber Emmet.

— Faster, você sondou o terreno lá fora.

Há alguma chance de sairmos daqui?

— Acho que não, xerife. É tudo campo

aberto. Aqui, pelo menos, temos a proteção

dos troncos da cabana.

— Vamos tentar descobrir quantos são os

homens lá fora — propôs o xerife,

esgueirando-se até debaixo da janela.

Havia uma fresta entre dois troncos, logo

abaixo da janela. Pode observar por ali.

Contou pelo menos meia dúzia de armas,

protegidas atrás de troncos e pedras.

— Emmet, vamos testar de novo a sua

pontaria. Veja o que consegue fazer —

ordenou o homem da lei.

Emmet rastejou até junto da porta,

observando lá fora. viu um vulto,

iluminando pela lua, esgueirar-se na direção

de uma árvore.

Levantou o rifle e fez fogo de imediato,

fazendo o homem que corria rodopiar e se

estatelar no chão.

— Belo tiro! — elogiou Colorado.

— Xerife, veja o que encontrei aqui —

disse Faster, aproximando-se do xerife.

Na claridade do luar Colorado pode ver

um arco indígena e uma aljava com algumas

flechas.

Começou a rir.

— Vamos matá-los a flechadas, Faster?

— indagou, sem entender o objetivo do

ajudante.

— Mais do que isso, xerife. Já esteve

num daqueles parques de diversão, onde se

fica atirando contra patinhos?

— Sim, mas o que isso tem a ver com as

flechas?

— Observe — pediu Faster, indo apanhar

o lampião que Colorado apagara com um

tiro.

Enrolou alguns trapos nas pontas das

flechas, depois molhou-os com o

combustível do lampião.

Aproximou-se da janela.

— Quando eu retesar o arco, acenda o

trapo na ponta — pediu.

Ainda sem entender, Colorado atendeu.

Quando Faster retesou o arco, o trapo foi

aceso.

As balas choveram com maior

intensidade no momento em que o fogo

envolveu a ponta da flecha.

Faster disparou-a. A chama cruzou o céu,

fazendo um arco e indo cair atrás de onde

estavam os atacantes.

Por momentos o fogo bruxoleou, depois

começou a se espalhar pela relva.

— Mais uma — pediu Faster e Colorado

acendeu-a.

Lá fora os homens cessaram de atirar,

tentando entender o que se passava.

Faster disparou uma série de flechas e,

em pouco tempo, a pradaria ardia. Os

agressores se destacaram facilmente contra

o fundo brilhante.

Os cavalos deles se assustaram,

relinchando e disparando. A confusão se

instalou entre eles.

— Vamos ser torrados — berrou um

deles, levantando-se.

Mal dera alguns passos e seu chapéu saiu

voando de sua cabeça, como se um vento

repentino o houvesse arrancado.

A bala disparada por Emmet fora certeira.

Junto com o chapéu também foi parte do

crânio do pistoleiro.

Colorado e Faster aproveitaram a chance.

Os homens lá fora se dispersaram, aturdidos

e acossados pelo fogo, que avançava na

direção deles.

Foi uma verdadeira carnificina. Um a um,

em plena corrida, eles foram sendo abatidos

como patos de tiro ao alvo.

Quando o último deles tombou, um

silencio de morte se abateu sobre o local.

— Bom trabalho, Faster! —

cumprimentou-o xerife. — Conseguimos

livrar nosso couro, mas ficamos sem prova

nenhuma de envolvimento de Stanley. Com

a morte de Wolf, perdemos a nossa única

testemunha.

O grupo ficou em silencio por instantes.

Repentinamente, o rosto de Emmet brilhou.

— Espere um pouco, xerife! Nós

sabemos que Wolf e seus irmãos estão

mortos, mas Stanley Ross não. Vamos

deixar todos os cadáveres aqui, exceto o de

Wolf. Basta amarrar algumas pedras e jogá-

los num ponto do riacho.

— Excelente idéia, Emmet! vocês dois

estão se saindo melhor que a encomenda.

Vamos fazer isso imediatamente, depois dar

o fora daqui. Esse jogo vai atrair outras

patrulhas e não estou com munição para

outro tiroteio.

Trataram de executar o plano e partir

imediatamente. À luz da lua cheia, o grupo

cavalgou velozmente na direção da cidade.

Stanley Ross estava possesso, andando de

um lado para outro de sua sala, enquanto

Oliver o punha a par do que houvera.

— Encontramos os cadáveres de todos os

irmãos Baker, exceto o de Wolf, patrão.

— Não procuraram direito. Foi isso. O

que poderia ter acontecido com Wolf?

Voando por sobre as chamas? — berrou,

fora de si, o rancheiro.

— Pior que isso, patrão — disse Oliver.

Só então Stanley parou para pensar,

encarando o capataz.

— Está vivo! — exclamou.

— E o que é pior, nas mãos do xerife.

— Demônios! Isso Não podia ter

acontecido. Aquele bastardo vai abrir o bico

e pôr tudo a perder.

— Esse tipo de gente não é confiável,

patrão. O que quer eu faça?

Stanley nadou de um lado para outro,

depois foi se servir de uma dose de uísque.

Bebeu-o num só gole, depois voltou a

encher o copo.

As coisas estavam mesmo fora de

controle. Aquele maldito xerife era mais

esperto do que pensara. Não só matara os

três pistoleiros de Tombstone, como

liquidara com a quadrilha dos Bakers.

Tinha de tomar uma medida drástica, ou

iria ter problemas para explicar tudo aquilo

aos seus sócios.

Só que, desta vez, as coisas precisavam

ser feitas com precisão, sem nenhum erro.

Antes de mais nada, precisava deter o

xerife antes que fizesse Wolf Baker falar.

Se isso acontecesse, a cidade toda se

voltaria contra ele.

Em pouco tempo um bando de loucos se

abateria sobre o rancho, clamando por

vingança. Tinha de se apressar e mostrar

sua força 4e sua astúcia.

Se conseguisse tirar aquele xerife do seu

caminho, seria fácil continuar aterrorizando

os rancheiros, fazendo-os venderem suas

terras como havia sido planejado.

Tudo passava, então, pela morte do

xerife.

— Oliver, esta missão pode ser a mais

importante de todas a que já recebeu. Quero

selecionar um grupo de dez homens. Os

melhores atiradores e os mais rápidos

cavaleiros. Devem partir imediatamente

para a cidade e matar o xerife e Wolf Baker,

antes que eles consigam por toda a cidade

contra nós.

— Como quer que isso seja feito, patrão?

— Use tudo que estiver ao seu alcance.

Quero aquele homem morto. quero Wolf

morto. Quero a cidade aterrorizada. usem

máscara, fogo, balas, dinamite, o diabo que

for preciso, mas faça o que estou

ordenando, Oliver. Não se arrependerá

disso, eu prometo —a firmou Stanley e seu

rosto tinha um brilho insano e preocupado.

— Pode contar comigo, patrão —

prometeu Oliver, deixando a casa.

Seus homens o esperavam do lado de fora

da casa.

— Tenho uma missão importante e vou

precisar de dez de vocês. Vou apontar cada

um. Peguem os melhores cavalos, toda a

munição que puderem carregar, inclusive

dinamite tochas. Haverá um prêmio pelo

trabalho desta noite e eu garanto

pessoalmente que ninguém se arrependerá

de estar comigo fazendo-o.

— O que será afinal, Oliver — indagou

um deles.

— Vamos invadir a cadeia e matar o

delegado e Wolf Baker, antes que o dia

amanheça, rapazes.

Um silencio pesado se abateu sobre o

grupo. Todos ficaram na expectativa da

escolha. Oliver foi caminhando entre eles,

fazendo a escolha.

Cada cavalheiro apontado corria para o

curral para escolher um dos melhores

cavalos, antes de ir ao deposito apanhar

armas, tochas e dinamite.

Do alpendre da casa, Stanely observava

tudo com satisfação. Tinha poder e

dinheiro. Isso comprava tudo, inclusive

homens para morrerem em seu lugar ou

fazerem o trabalho sujo que ele não tinha

coragem de fazer.

Quando retornaram à cidade, não havia

ninguém nas ruas de Milles City. Os pálidos

lampiões jogavam uma claridade suja na

poeira que se levantava à passagem dos

animais extenuados.

Diante da cadeia, Colorado se

surpreendeu ao ver Anne, sentada numa

cadeira, esperando-os.

— Graças a Deus estão vivos —

murmurou ela, observando os semblantes

cansados e tensos dos homens da lei.

— O que faz aqui? — indagou Colorado,

parando diante dela e mergulhando na paz

daquele olhar feminino e sedutor, tão cheio

de ternura e calor.

Naquele momento, depois de tudo que

havia passado naquele dia, Colorado daria

tudo para abraçar aquele corpo de mulher e

esquecer o perigo e a fatalidade que o

acompanhara.

— Vim lhe trazer comida. Deixei lá

dentro, sobre o fogão. Há o bastante para

todos vocês — disse ela.

— Anne, esta foi a melhor notícia que

recebi hoje — falou Emmet, adiantando-se

e entrando antes de Faster.

Os dois se empurraram cadeia a dentro.

Momentos depois, ouviam-se os elogios e

os murmúrios de satisfação dos dois

rapazes.

— São ótimos rapazes — disse Colorado.

— Devo a minha vida a eles.

— O que conseguiu descobrir?

— Tudo e nada ao mesmo tempo — disse

ele, com expressão cansada e abatida.

— Pobre xerife! sussurrou ela, fazendo

uma carícia no rosto áspero do homem a sua

a frente.

Colorado estremeceu, arrepiando-se por

inteiro, tocado profundamente por aquela

carícia despreendida e espontânea.

— Tenho mais comida lá em casa. Por

que não vamos até lá, xerife? Pode tomar

um banho, fazer a barba, trocar de roupa —

sugeriu ela, num tom de voz irrecusável.

— Rapazes, cuidem de tudo por aqui —

pediu ele, indo até a porta.

— Onde vai, xerife? — quis saber

Emmet.

— Nem se atreva a perguntar, seu

estúpido — disse-lhe Faster, dando-lhe um

tapa na cabeça.

— O que foi que eu fiz, idiota? —

protestou Emmet.

Colorado já se afastara pela rua

silenciosa, na companhia de Anne. Um

certo constrangimento pairava entre eles,

mas, caminhando junto daquela mulher, o

homem da lei sentiu uma sensação que

havia muito tempo não experimentava.

Assim que chegaram na casa, Anne

colocou água para esquentar. Serviu um

uísque ao xerife, que, sem jeito, perambulou

de um lado para outro, enquanto ela cuidava

de tudo.

A água esquentava. A mesa foi posta. A

comida começou a ser esquentada. Anne

trouxe uma muda de roupa limpa e passada.

Colorado foi apanhar sua navalha no

alforge.

O banho ficou pronto.

— Assim que terminar, o jantar estará

pronto, xerife — falou a garota.

Só então Colorado reparou. Os cabelos

dela estavam diferentes, soltos, envolvidos

num perfume delicioso.

Anne não vestia calças de vaqueiro nem

camisa rústica, de homem. Usava um

vestido vaporoso, com um decote discreto,

mas provocante, que deixava a mostra parte

de seu colo e delineava sutilmente os

contornos rijos de seus seios.

Colorado fraquejou.

— Você está linda! — murmurou ele.

— Por que não toma um banho e faz a

barba, Bill?

— Bill? como sabe?

— Uma mulher sabe o que é importante

para ela — explicou a garota, um brilho

promissor no olhar.

Quando a garota o olhava daquela forma

e lhe dava uma ordem, Colorado jamais

deixava de obedecer. Correu para o banho

pois sabia que todos os acontecimentos

trágicos daquele maldito dia seriam

rapidamente esquecidos junto ao corpo

morno e perfumado de Anne Bosler.

A explosão abalou a cidade

inesperadamente, semeando o terror no

meio da noite.

Colorado saltou da cama, procurando por

sua arma. Anne se levantou em seguida,

acendendo o lampião.

— Você ouviu? — indagou ele, aturdido,

quando a luz invadiu o quarto.

Anne não teve tempo de responder. Uma

fuzilaria terrível se seguiu na rua principal,

como se uma guerra tivesse sido deflagrada

naquela noite.

O xerife se vestiu rapidamente. Anne

tentou segurá-lo, mas Colorado havia tido

um pressentimento.

Correu na direção da cadeia, de arma em

punho. Um bando de cavaleiros

mascarados, portando tochas, disparava

contra o que sobrara da cadeia dinamitada.

— Emmet! Faster! — exclamou ele, sem

se importar com o perigo.

Os cavaleiros haviam terminado o

macabro trabalho e partiram a galope pela

rua.

Colorado se arrastou agoniado na direção

dos escombros.

— Malditos! Mil vezes malditos! —

murmurou, enquanto se aproximava daquele

quadro de desolação.

Caiu de joelhos na poeira da rua.

Colorado Stone era um homem duro,

calejado, mas não conseguiu resistir.

Lágrimas deslizaram de seus olhos contra a

sua vontade.

Anne surgiu correndo e parou atrás dele,

abraçando-o.

— Oh, Bill! — exclamou ela, apertando

contra si o corpo dele, que tremia de

indignação, ódio, fúria, desejo de vingança.

Não havia dúvidas a respeito de quem

estava por detrás de tudo aquilo. Com

certeza Stanley Ross soubera do que

acontecera na pradaria, das mortes da

quadrilha Baker, dos patrulheiros, capangas

que vigiavam a propriedade.

A armadilha sugerida por Emmet surtira

um efeito contrário. Provocara a reação

imediata de morte e destruição.

Pessoas começaram a chegar,

aglomerando-se diante da cadeia. Os

familiares de Emmet e Faster, ao

perceberem o que havia acontecido, caíram

no desespero, lastimando em altos brandos.

As chamas que ardiam nos escombros

lançavam um jogo de sombras tenebroso no

rosto contraído de Colorado Stone.

Tinha certeza agora de que o jogo era

pesado, muito pesado. Mas não o suficiente

para um homem como ele, que já havia feito

de tudo na vida e nada mais tinha a perder,

exceto o amor de uma mulher e o conforto

de um rancho pelo qual sonhara toda a sua

vida.

Stanley Ross era a sombra que tornaria

tudo isso um pesadelo, algo que jamais ele

poderia desfrutar sem se sentir culpado.

Se Stanley sabia atacar no meio da noite,

de forma devastadora, ele também poderia

fazer isso.

Levantou-se. Anne se agarrou nele,

tentando detê-lo.

— Onde vai, querido? — indagou ela,

percebendo aquela firme e mortal decisão

nos olhos dele.

— Resolver esta situação da única

maneira possível — falou ele, com decisão.

— Como?

— Olho por olho... Dente por dente... —

murmurou ele, segurando o rosto dela entre

as mãos trêmulas. — Não se preocupe,

querida. Tenho de resolver isto a minha

maneira. Eu voltarei, eu prometo. —

afirmou ele, beijando-a levemente e se

afastando.

Stanley Ross saltitava de satisfação,

enquanto Oliver lhe contava os detalhes da

operação daquela noite.

— Não lhes dei tempo para nada —

contava Oliver. — Disparamos contra as

janelas, quebrando-as. Atiramos a dinamite

lá dentro e nos afastamos. Quando tudo

explodiu, retornamos e varremos tudo com

chumbo. Não deve ter sobrado uma viva

alma lá dentro, posso lhe garantir, patrão.

Os cavalos estavam diante da cadeia...

Três... Só três cavalos! — finalizou Oliver,

percebendo, de repente, que alguma coisa

não batia em tudo aquilo.

— O que quer dizer com isso? — quis

saber Stanley.

— Três cavalos... Três homens... O xerife

e dois ajudantes... E Wolf?

— De que está falando afinal, Oliver —

irritou-se o rancheiro.

— Pelas pegadas, três cavaleiros

chegaram e três cavaleiros partiram.

Nenhum levou carga extra. Não localizamos

Wolf e supusemos que ele tivesse sido

levado pelo xerife. Se assim fosse, deveria

haver quatro cavalos diante da cadeia e não

três...

— Não seja tão preocupado, Oliver. Na

certa um dos ajudantes foi ido para casa. Vá

repousar. Você merece. Diga aos rapazes

que amanhã receberão o prêmio pelo

trabalho.

Oliver deixou a casa pensativo e

intrigado. Depois de tudo que já acontecera,

sabia que não menosprezar o trabalho

daquele xerife.

Era um homem perigoso demais, alguém

de quem se poderia esperar de tudo.

— O patrão está satisfeito — disse aos

homens diante da casa. — Vamos

descansar. Amanhã vamos receber nosso

prêmio.

Os rapazes gritaram de satisfação e foram

para o curral, tirar as selas dos cavalos e

soltarem-nos.

Do alto de sua janela, Stanley observou

com satisfação. Livrara-se do perigo.

Poderia tranqüilizar seus sócios. Tudo

seguiria o plano pré-estabelecido.

Levantou os olhos para o céu. Em breve,

cortando o silêncio da pradaria, numa noite

de lua cheia como aquela, um novo

elemento viria se incorporar àquela

paisagem.

Uma novidade que vinha do leste,

avançando rapidamente, levando o

progresso e fazendo fortunas.

A ferrovia avançava inexoravelmente. De

Glendive, na divisa com Dakota do Norte,

ela avançaria pelas pradarias de Montana na

direção de Milles City e, dali, para Billings,

rumando para o oeste.

Quem tivesse terras no caminho do

progresso lucraria, não só com a

valorização, com o preço da desapropriação,

mas com a facilidade de transportar o gado

para os centros de consumo, no Leste.

Lamentou não ter tido capital suficiente

para ter bancado tudo aquilo sozinho.

Só que havia muito, mas muito dinheiro

mesmo em jogo. Mais do que poderia gastar

em toda a sua vida.

O que mais poderia desejar? apenas que

ninguém, mas ninguém mesmo, se

intrometesse entre ele a fortuna.

Terminou de fumar um cigarro, depois

foi para o seu quarto. Deitou-se para dormir

como um homem de bem, com todo o

futuro pela frente, sem peso nenhum em sua

consciência.

Lá fora havia um grupo de homens

sempre dispostos a fazer todo o trabalho

sujo que ele não tinha coragem de fazer.

Realmente, Oliver e seus homens eram

pagos para isso. Só que muito bem pagos.

Era nisso que o capataz pensava, após

haver tirado o arreio de seu cavalo e o

soltado no curral.

Pôs o arreio encaixado sobre a trave de

uma das baias, depois se voltou para ir para

o dormitório.

Estava ansioso por um gole de uísque.

Depois do trabalho daquela noite, tinha

certeza de que tudo ficaria mais fácil para

seu patrão.

Ao passar diante de um lampião,

percebeu um homem no fundo de uma baia,

parado.

— Vamos dormir, rapaz. Já trabalhamos

demais para uma noite — disse,

descontraído.

— Será? — respondeu o outro, num tom

de voz que fez com que Oliver se

arrepiasse.

— Quem está aí? — indagou.

O outro avançou lentamente, as sombras

cobrindo seu corpo. Gradativamente a luz

foi subindo por suas pernas, iluminando o

cinturão de pistoleiro, refletindo-se na

estrela prateada do peito.

— Quem diabos... — ia dizendo, mas

calou-se quando Colorado engatilhou o

Colt, apontando-o para a cabeça do capataz.

— Fez sua última besteira — disse o

xerife, com voz ameaçadora.

Oliver esboçou um sorriso de desafio.

— Há cinqüenta homens armados

naquele dormitório, xerife. Todos virão

correndo, assim que ouvirem o disparo de

sua arma.

— Eu duvido — comentou Colorado.

— Por quê? — insistiu Oliver,

estranhando aquele tom.

— Mortos não correm — respondeu o

xerife, retirando o relógio do bolso do

colete e olhando as horas.

Oliver olhou-o sem entender.

Repentinamente, um clarão iluminou o céu,

como se o sol resolvesse surgir no meio da

madrugada.

A explosão em seguida estremeceu o

chão. O dormitório dos capangas

simplesmente se desfez em milhões de

lascas que voaram pelos ares, iluminados

pela luz ofuscante e tétrica da explosão.

— O que foi que fez, seu maldito? —

questionou Oliver, o corpo tremendo de

espanto e indignação.

— Olho por olho, dente por dente —

sentenciou o xerife.

Oliver sabia que era seu fim, mas

resolveu arriscar suas chances.

Levou a mão rapidamente à arma. Era

rápido, muito rápido, um dos mais rápidos

que Colorado já enfrentara.

As duas armas disparam com uma fração

mínima de diferença entre ambas.

A bala disparada por Colorado atingiu o

peito de Oliver e, naquela fração de

segundo, provocou uma ligeira alteração na

mira instintiva do pistoleiro.

Colorado sentiu o calor e o impacto em

seu ombro esquerdo. O braço pesou

repentinamente.

Oliver caiu de joelhos, segurando

tremulamente o Colt em sua mão, olhando o

sangue que empapava sua camisa.

— Maldito! — balbuciou, levantando os

olhos para o xerife, percebendo o sangue

que escorria também no corpo dele. — Vai

morrer comigo — acrescentou, tentando

levantar a arma.

O chapéu voou de sua cabeça, assim

como metade de seu crânio, quando

Colorado disparou.

Oliver tombou para trás, o corpo

retorcido numa posição grotesca.

— Filho de uma cadela — murmurou

Colorado, sentindo a dor aumentar,

latejando em seu ombro.

A cabeça girou, como se a explosão ainda

fizesse o chão balançar sobre seus pés.

As coisas começavam a ficar confusas

em sua mente. Sabia que tinha uma missão

a cumprir, mas havia perdido todo o senso

de direção, após a bala.

As forças começavam a se esvair,

juntamente com o sangue que já gotejava

em suas botas.

Virou-se, na direção da entrada da

estábulo. Percebeu um vulto caminhando na

sua direção.

— Que diabos fiz para merecer um

demônio como você em minha cola? —

indagou Stanley, engatilhando a

Winchester.

Longos anos de condicionamento e

reflexos treinados se fizeram senti naquele

momento.

O estalido metálico de uma arma sendo

engatilhada sempre provocara em Colorado

uma mesma reação.

O senso de defesa e de preservação falou

mais alto. Inicialmente ele procurou sair do

campo de tiro, jogando-se para o lado.

A bala assobiou a centímetros de sua

cabeça, enquanto ele caía atordoado,

Colorado sentiu a arma escapar de sua mão.

Rastejou, então, por entre as baias,

sentindo seu corpo perder rapidamente as

forças.

— Ora, xerife! Que pena! Perdeu sua

arma — comentou Stanley, com satisfação,

vendo o que ocorrera. — Quanto tempo vai

suportar? Está ferido, perdendo sangue.

Suas forças o estão abandonando, xerife.

Logo estará a minha mercê... — continuou

Stanley, com zombaria e arrogância, seguro

de si.

Rastejando por entre as fezes dos

animais, evitando os pisões dos cavalos

assustados, Stone, só conseguia pensar em

Rock, com a cabeça decepada, e em Emmet

e Faster, três bons rapazes.

A voz irritante e zombateira de Stanley

era como um ferro em brasa ardendo em seu

coração.

— Não adianta fugir, xerife! Você está

em minhas mãos — disse Stanley, voltando

a engatilhar a Winchester.

Como sempre, aquela seqüência metálica

sempre provocava uma reação inesperada

em Colorado Stone.

Clac!

A cápsula deflagrada saltava longe.

Clec!

A alavanca recuava. A chapa metálica se

embutia à frente do gatilho, deixando a

arma pronta para o disparo.

Dentro dela, o mecanismo já instalara

uma outra bala no percursor.

Bastava puxar o gatilho e o projétil

surgiria pelo cano, carregando a morte.

Colorado sentiu o cabo do ancinho em

sua mão. Era sua arma. Era a única arma ao

seu alcance.

Stanley arregalou os olhos, surpresos. O

tridente rasgou seu peito num barulho

enjoativo e brutal.

Diante dele, com o peito coberto de

sangue, Colorado Stone movia o cabo de

ancinho para cima e para baixo, alargando

as feridas.

O ferimento havia sido profundo e

Colorado perdera muito sangue. Por longos

dias ele lutou contra a morte, numa cama,

sendo assistido por um anjo.

Anne não se desgrudava do leito dele,

atormentando-se com os delírios que o

tomavam de assalto.

Havia muitas fantasmas na vida do

delegado Colorado Stone. Em sua febre, ele

tentava exorcisá-los e, ao mesmo tempo,

superar o ferimento e voltar à vida.

Em momento nenhum Anne esmoreceu.

Tinha plena convicção de que ele iria

superar a doença.

Tornara-se importante demais para ela.

Precisava dele como precisava do ar que

respirava. Sem ele, nada mais teria sentido,

já que perdera sua casa e sua família.

Colorado era a chance de recomeçar tudo

em sua vida. Para ele, em seus pesadelos,

havia a nítida sensação de que os

verdadeiros culpados por tudo aquilo ainda

não haviam sido punidos.

Tinha consciência de que matara Stanley

Ross, mas as palavras zombeteiras de Wolf

ecoavam em sua mente, no delírio da febre.

Quem eram os sócios? O que havia por

detrás de tudo aquilo?

Noites e dias de tormento se sucederam,

enquanto ele oscilava entre a vida e a morte.

Sua constituição robusta, no entanto,

prevaleceu. A febre começou a ceder,

graças aos cuidados de Anne.

O sono atribulado e atormentado foi

sendo substituído por um descanso

benéfico.

Finalmente, numa fresca manhã de

outono, Colorado Stone recuperou

definitivamente a consciência.

Passeou os olhos por aquele quarto que

ele desconhecia. Viu Anne adormecida

numa cadeira, ao lado da cama.

— Anne! — murmurou ele e,

imediatamente, ela abriu os olhos.

E ao vê-lo desperto, os olhos dela

marejaram.

— Oh, Bill! Graças a Deus! — exclamou

ela, caindo de joelhos ao lado da cama.

— O que houve? — indagou ele,

aturdido.

— Você foi ferido... Esteve entre a vida e

a morte... Nós o encontramos no rancho

Ross, naquela noite...

— Há quanto tempo estou nesta cama?

— Muitos dias, querido. Muitos dias! —

suspirou ela, abraçando-o e começando a

chorar.

— Calma, Anne! Estou vivo! Não precisa

chorar agora — consolou-a ele, acariciando-

lhe os cabelos.

— Temi por você, Bill.

— Agora estou bem. Acho que as coisas

se resolveram, não?

Ela hesitou, antes de responder, dando a

entender que todo aquele trabalho fora em

vão.

— O que há, Anne?

— Está tudo começando de novo,

Colorado. Uns homens chegaram do Leste,

reclamando a propriedade do rancho de

Stanley Ross, Voltaram a fazer ofertas para

compra dos ranchos dos pequenos

proprietários. Homens mal encarados

começaram a chegar à cidade.

— Malditos! O que há por trás disso

tudo? — indagou o xerife, intrigado.

— Não pense nisto agora. Descanse.

Recupere-se. Poderá se preocupar com tudo

depois que estiver bom.

Colorado respirou fundo, sentindo que

nada estava resolvido. No entanto, nada

havia que pudesse fazer naquele estado.

Seguindo os conselhos do médico e sob

os cuidados de Anne, ele rapidamente foi se

recuperando.

Em uma semana conseguia se pôr em pé.

Alguns dias mais tarde já pode caminhar

pela cidade. Quinze dias depois já

cavalgava e podia exercitar o saque e o

disparo, nos arredores da cidade.

Certa tarde, quando retornava após haver

treinado sua pontaria, foi chamado pelo

prefeito.

— Tome, acho que isto resolve tudo —

disse o maioral da cidade entregando-lhe

um envelope.

Intrigado, Colorado o abriu. Havia

dinheiro lá dentro. Muito dinheiro. Mais do

que o combinado.

— Há dois mil dólares pela captura dos

Bakers, mil dólares que encontramos nos

escombros da cadeia, mais mil de

bonificação e outros dois para compensar

todo esse tempo que esteve de cama, xerife.

Com isso está liberado, com a gratidão da

cidade.

Colorado o olhou desconfiadamente.

— Estou sendo despedido? — indagou.

— Fez o seu trabalho e, diga-se de

passagem, muito bem feito. É digno de

todos os elogios. A cidade lhe será

eternamente grata, xerife. Quando pretende

partir?

Colorado não estava preparado para

aquela decisão. Havia a hacienda em Las

Cruces, com um gancho na parede onde

penduraria as suas armas.

— Assim que me recuperar totalmente,

entregarei o distintivo e partirei.

— Não precisa se apressar. Estamos

convocando novas eleições para xerife,

dentro de quinze dias. Até lá, sinta-se em

casa.

Colorado agradeceu e voltou para casa.

Sentou-se no alpendre e acendeu um

cigarro. Anne surgiu, trazendo-lhe uma

xícara de café. Algumas mulheres passaram

diante deles, cochichando com desprezo,

olhando-os de soslaio.

Colorado percebeu isso, assim como a

garota, que ficou constrangida.

— Não vêem com bons olhos nós

morarmos juntos, querida — comentou ele.

— Eu não me importo...

— Mas eu sim. Recebi minha demissão

ainda há pouco do prefeito. Pagou-me e me

desejou boa sorte. Posso partir no momento

em que desejar.

Os olhos dela brilharam de expectativa.

— Recebi uma oferta pelo rancho hoje...

Acho que vou vender.

— Daquela gente que você falou?

— Não, foi de George Flannagan, meu

vizinho. A irmã o cunhando chegaram do

Leste para se estabelecer aqui e decidiram

comprar o meu rancho. A oferta é justa.

Colorado pensou por instantes.

— Quer ir comigo para Las Cruces? —

convidou ele.

— Pensei que nunca fosse me convidar

— exclamou ela, ajoelhando-se ao lado dele

e depositando a cabeça sobre as coxas do

homem da lei.

Colorado ficou acariciando os cabelos

dela, enquanto seus olhos acompanhavam a

movimentação na rua.

Alguns homens de terno, juntamente com

o xerife, deixaram a prefeitura e

caminharam pela rua principal até o banco.

— Conhece aquela gente? — indagou

ele, apontando-os.

— São os homens que estão comprando

as terras por aqui.

Os olhos do xerife brilharam

repentinamente.

— Falando em terras, o que houve com o

rancho de Stanley Ross?

— Pelo que sei, foi confiscado pelo

Banco. Havia uma dívida que ninguém sabe

qual. Só sei que o negócio parece ter sido

honesto, pois foi o prefeito quem cuidou de

tudo.

Em algum lugar, de alguma forma, dentro

do cérebro do homem da lei, algumas peças

começaram a se encaixar.

— O cunhando de George Flannagan

ofereceu metade do dinheiro agora e a outra

metade em um ano — comentou Anne, mas

Colorado não a ouviu inteiramente.

Estava atento, acompanhando a chegada

da diligência. Isso o fazia se lembrar de

algo, embora não soubesse exatamente o

que era.

A garota se apressou em atender.

Retornou em seguida, com uma carta na

mão.

— É para você... Vem de Washington —

comentou ela, entregando-a.

Colorado se lembrou, então. Havia

mandado uma carta ao seu ex-chefe,

pedindo algumas informações.

Abriu-a avidamente e a leu. Seu

semblante se alterou. Anne percebeu isso de

imediato.

— O que houve, querido? Más noticias?

Colorado entregou-lhe a carta. Enquanto

Anne lia ele foi até a sala e apanhou o

cinturão, prendendo-o à cinturão.

Verificou a arma. Estava carregada. O

Colt retornou ao coldre, pronto para agir.

Anne foi ter com ele.

— Isso explica tudo — comentou ela e,

ao ver o cinturão preso à cintura dele,

empalideceu. — O que vai fazer?

— Terminar o que comecei, querida.

Acha que pode por tudo que pretende levar

numa carroça? — indagou ele.

— Não tenho muito o que levar.

— Passaremos ao rancho Flannagan para

fechar o negócio. Assim que eu terminar o

trabalho, nós partiremos — disse ele.

Anne viu decisão, coragem e uma

vontade férrea no olhar daquele homem.

Embora temesse por ele, sabia que nada no

mundo o demoveria de seu intento.

— Querido— chamou ela, quando ele se

voltou, pronto para abrir a porta.

— Sim? — respondeu ele, olhando-a

longamente.

— Tenha cuidado — murmurou ela, num

sopro de voz.

— Terei. Espere-me preparada para

partir. Temos um longo caminho pela

frente.

— Estarei pronta — confirmou ela.

Colorado caminhou pela rua principal,

silenciosa e mal iluminada.

O único sinal de vida vinha do saloon,

onde viu o prefeito e seus comparsas

entrando, após o que parecia ter sido uma

reunião no banco.

Havia pouco movimento no

estabelecimento. Os homens que ele

procurava festejavam numa sala reservada,

com as melhores mulheres do local.

Assim que entrou, Colorado contou-os.

Eram seis homens de terno. Homem de

ambição, dispostos a tudo.

Conhecia o prefeito. Também o gerente

do banco. Não sabia quem eram os outros

quatro.

Havia seis homens festejando ali dentro,

assim como havia seis balas no seu

revólver.

Sua expressão intimou as garotas, que,

farejando encrenca, saíram rapidamente.

— Lamento não tê-lo convidado, xerife.

É uma festa particular, mas já que está aqui,

venha festejar conosco — foi dizendo o

prefeito, levantando-se e caminhando na

direção dele.

Colorado pensou em Rock, em Emmet e

em Faster. Lembrou-se dos vaqueiros

mortos no rancho de Anne e do terror que

havia sido instalado ali.

O sorriso cínico do prefeito não o

convenceu. Sem poder se conter, Colorado

golpeou-o fortemente na boca, fazendo-o

engolir fragmentos de dentes, enquanto

tombava sobre a mesa farta e ricamente

servida.

Os outros homens se puseram em pé

rapidamente. Sob os paletós Colorado viu

faiscarem armas de coronhas trabalhadas e

corpos cromados.

— A ferrovia explica tudo, não? — falou

ele.

— O que sabe sobre a ferrovia? —

retrucou um dos homens, surpreso.

— O bastante para jogar toda a cidade

contra vocês, seus bastardos gananciosos —

respondeu.

— Jamais permitiremos que faça isso.

— E como pretendem me impedir?

A resposta foi muda, mas muito

significativa. Os homens se espalharam pela

sala, diante de Colorado, procurando

dificultar sua ação.

O ex-delegado já estivera em situação

como aquela. Sondou os rostos dos homens

a sua frente.

— Por quê? Por que tanta morte, tanta

destruição? — indagou, sem entender as

razões que moviam homens como aqueles.

— É o progresso... É a riqueza... As

oportunidades que não podem ser

desperdiçadas... — respondeu um deles.

— E as vidas humanas? De nada valem?

— São peões num jogo de poderosos, seu

bastardo — disse o prefeito, cuspindo

sangue e adiantando-se um passo. — Acha

que pode lutar contra isso? Acha que pode

lutar contra nós? É um homem morto,

Colorado.

— Muitos já tentaram isso antes, prefeito.

Hoje moram na colina dos pés juntos —

disse o xerife.

O que tinha a fazer não livraria o oeste de

gente como aquela, que o explorariam até a

exaustão.

O que tinha a fazer era ditado por sua

consciência, por sua coragem, por sua vida

de homem da lei.

A seqüência era sempre a mesma em sua

mente, onde os reflexos rápidos decidiam

quem vivia ou morria.

Colorado soube medir os movimentos de

cada um daqueles homens. Atirou nos mais

rápidos primeiro. Uma bala para cada um.

Não podia se dar ao luxo de errar.

Foram seis disparos sucessivos, sem que

seus oponentes disparassem uma vez.

Quando a fumaça se dissipou, ele teve

certeza de que fizera a sua parte. Rock,

Emmet e Faster, em algum lugar no céu,

deveriam estar agradecendo-o pela

vingança. Uma aglomeração se formou à

porta da sala. Colorado soube então, que

teria que contar muita coisa ao pessoal da

cidade, antes de partir com Anne.

Uma hacienda em Las Cruces o esperava.

Uma hacienda e uma mulher.

Terra da Discórdia

Antes do amanhecer, o Capitão Dave

Byron, dos Texas Ranges, já deixara a

cidade. Levava uma estrela de metal

espetada na capa de viagem e todas as suas

armas consigo. Além dos dois Colt

Peacemaker na cintura, levava um rifle

Winchester e uma cartucheira Overland, de

dois canos, uma arma em cada lado da sela,

em coldres de couro especialmente

montados por um celeiro de El Paso.

Galopou na direção de um rancho, local

onde poderia encontrar o homem que

procurava. Era o tipo de missão que o

aborrecia. Enquanto os outros oficiais eram

encarregados de casos mais complicados e

perigosos, davam-lhe aquele tipo de

trabalho.

Alguém não confiava em seu trabalho e

isso o aborrecia muito.

Chegou lá quando os vaqueiros se

levantavam e dirigiam-se para o refeitório.

— Onde posso achar Elb Porter? —

indagou a um vaqueiro que passava

apressado, na direção do seu café da manhã.

— Se ficar aqui, vai vê-lo passar. É o

único idiota neste lado do Rio Grande que

usa um cinturão com dois coldres, como se

fosse um pistoleiro perigoso.

— Duas armas?

— Eu lhe disse que ele era um idiota.

Para que um vaqueiro precisa de duas

armas? — confirmou o rapaz, afastando-se.

O policial não precisou esperar muito.

Logo um dos vaqueiros, com um cinturão

com duas armas, saiu pela porta do

dormitório.

Era um tipo magro, todo vestido com

couro negro e aquele cinturão com coldres

baixos, onde balançava um par de pistolas

Smith & Wesson, modelo Scolfield, com

elegantes coronhas de madrepérola.

Quando avançou, Dave pôs seu cavalo no

caminho dele.

— Quem é você? O que pensa que está

fazendo? — indagou ele, com arrogância,

sem perceber a estrela.

Dave havia tirado a espingarda Overland,

de canos duplos, ocultando-a sob a capa.

— Você tem uma conta para acertar e

estou aqui para cobrá-la — disse-lhe Dave,

mostrando-lhe a estrela.

O vaqueiro sorriu com cinismo e ia dizer

alguma coisa. O ruído dos gatilhos da

espingarda alertou-o. Os dois canos

surgiram discretamente, apontados para ele.

— Tenho pressa e gostaria de resolver o

assunto o mais depressa possível e com um

mínimo de sangue e de sujeira. Cada vez

que aperto os gatilhos desta beleza aqui,

alguém me acusa de estar sujando o mundo.

Na verdade, detesto ficar espalhando merda

nas paredes, mas se você quiser, vai ser um

prazer para mim — falou friamente o

Ranger.

— Do que está falando? — indagou o

cowboy, num fio de voz.

— Falo de uma maldita dívida de cem

dólares que deixou no armazém da cidade,

justamente pela compra desse par de

porcarias que trás pendurado nos quadris.

Lembra-se disso?

Elb engoliu seco. A expressão daquele

ranger, seu tom de voz e aquela espingarda

não lhe davam muita escolha.

— Espere um pouco... Não tenho esse

dinheiro... Mas tenho dez bons cavalos...

Posso dá-los pela dívida. Valem mais do

que dez dólares. Estão lá no curral. Terá de

pegá-los — falou o vaqueiro.

— Não, vaqueiro, o devedor aqui é você.

Vá lá e os pegue. Amarre todos eles pelo

pescoço numa só corda e os traga para mim.

Vou levá-los para a cidade. Se o dono do

armazém aceitar, está resolvida a questão.

Se não, eu volto atrás de você. E,

sinceramente, detesto este tipo de trabalho.

Ele me aborrece e me irrita, por isso torça

para que ele aceita sua oferta. Agora vamos

cuidar disso logo.

— Ei, Elb, algum problema? — indagou

um de seus amigos.

— Não, está tudo tranqüilo por aqui. Só

estamos negociando alguns cavalos —

explicou Dave. — Não é mesmo, Elb.

— Sim, claro — concordou ele,

caminhando na direção do curral.

Enquanto ele reunia os cavalos, Dave

mantinha-o sob a mira da arma. Quando

terminou, pegou a ponta da corta e prendeu

no arção de sua sela.

— Quer assinar um recibo agora? Fará a

transação ficar legalizada, se o dono do

armazém aceitar — exigiu Dave Byron.

A maneira como Elb o olhava e abria e

fechava a mão indicava que o vaqueiro

estava indignado por ter de fazer aquilo.

Dave Byron sabia que aquilo não ficaria

barato, por isso, assim que se afastou do

rancho, resolveu pôr-se na defensiva.

Escolheu um bom lugar de onde pudesse

observar o rancho e de onde pudesse

preparar uma emboscada para algum

perseguidor que, com certeza, viria atrás

dele.

Desmontou, amarrou bem os cavalos e

apanhou sua Winchester, subindo no alto

das rochas. Esperou pacientemente. Sabia

que em breve uma nuvem de poeira

indicaria que Elb Porter e seus amigos

estavam a caminho.

Não teve tempo nem de enrolar um

cigarro. Um bando de vaqueiros surgiu na

curva do caminho, vindo da direção do

rancho. Pela rapidez e decisão com que

cavalgavam, não havia como duvidar de

suas intenções.

Dave engatilhou sua arma. Elb era um

alvo fácil, na frente dos outros, com um

chapéu branco, de abas bem largas, que

tremulavam ao vento, enquanto ele

esporeava seu cavalo.

Dave mirou cuidadosamente e apertou o

gatilho. Elb julgou que o vento tivesse

arrancado o chapéu de sua cabeça. No

momento seguinte, quando o eco do tiro

soou pela planície, percebeu que fora algo

mais perigoso que isso.

— Emboscada! — gritou e o bando

espalhou-se.

Dave mirou de novo, com toda calma,

quando viu Elb desviando-se para a direita.

Detestava fazer aquilo, mas não tinha

alternativa.

— Sujeito idiota! — praguejou ele,

quando apertou o gatilho e viu o cavalo

montado por Elb dobrar as patas da frente e

girar sobre si mesmo algumas vezes,

enquanto o vaqueiro era atirado na poeira.

Alguns vaqueiros atiraram a esmo, na

direção nas rochas. Dave visou um deles e

arrancou-lhe o chapéu da cabeça com um

balaço.

Fez o mesmo com mais dois ou três,

depois, dando-se por satisfeito, foi apanhar

os cavalos e ir embora.

Sabia que a coragem daqueles vaqueiros

havia sido posta violentamente à prova.

— Bastardo, filho da mãe! — berrava

Elb, todo sujo de poeira, olhando seu

cavalo.

O tiro fora certeiro. O animal não sofrera.

Estava morto, quando caiu.

— Seu chapéu, Elb — disse-lhe um dos

amigos, aproximando-se e entregando-o.

O vaqueiro olhou o buraco de bala pouco

acima de onde estava sua cabeça e engoliu

em seco.

— É um belo furo, Elb e tenho certeza

que não foi por acaso. Se ele quisesse, não

teria apenas ventilado seu chapéu — falou

outro e todos concordaram com acenos de

cabeça.

— O que estão esperando, seus

bastardos? Ele está indo embora. Temos que

ir no encalço dele. Está roubando meus

cavalos... — protestou ele.

— Elb, se quiser, eu lhe empresto meu

cavalo para você ir atrás dele, mas eu não

vou. Aquele homem atira demais. Viu o que

fez no seu chapéu. Viu o que fez com o

cavalo... — ponderou um deles.

— Ele não atira bem... Não se deixem

impressionar...

Um dos vaqueiros, com o dedo indicador

enfiado no buraco feito na copa do seu

chapéu, mostrou-o a Elb.

— Não seja estúpido, Elb. Se ele

quisesse, teria acertado minha cabeça —

disse ele.

— Maldição! — praguejou Elb, atirando

seu chapéu no chão e pisando-o, num

acesso de raiva.

Nada havia a ser feito a não ser amargar o

prejuízo. No fundo, reconhecia que seus

amigos tinham razão.

Aquele homem que o fora procurar tinha

a morte nos olhos. Seria loucura ir atrás dele

agora e tentar enfrentá-lo abertamente.

Sabia que não teria chance.

Afinal, aquele era um maldito Ranger do

Texas.

O dia avançava lento na cidade

empoeirada, naquele verão quente. Até

alguns dias antes, tudo estivera

sinistramente parado e pouca gente se

atrevia a sair às ruas e enfrentar o calor.

Agora, repentinamente, os homens

haviam começado a chegar, trazendo

dinheiro em suas carteiras, ocupando os

quartos vazios do hotel, comprando armas

novas e munição no armazém, fazendo o

dono do saloon abrir um novo barril de

uísque.

As poucas garotas do saloon tinham

agora trabalho. Elas se revezavam no

trabalho de dar àqueles homens um pouco

de diversão naquela cidade parada.

Ninguém se importava com o que eles

teriam vindo fazer ali. A maioria olhava

para eles e via apenas a cor do dinheiro.

Ninguém se atrevia a perguntar.

— Há dias que eles chegam, já observou?

— indagou Tim Arnold, o ferreiro, a Luther

Malory.

O dono do armazém coçou o queixo,

antes de responder:

— Sim e não vejo nada de errado. É bom

para a cidade um pouco de movimento.

- Concordo com você. Eles chegam,

gastam e não causam problemas, mas acho

que são todos pistoleiros.

— Pistoleiros? Que tolice, Tim.

— E por que não? Olhe para aqueles dois

na porta do saloon. Veja o modo como

observam as pessoas, a maneira de portar a

arma no coldre...

— Não quer dizer nada. Muitos viajantes

passam por aqui.

— Mas nunca tantos ficaram tanto tempo.

Parecem estar se agrupando.

— Tolice! — exclamou o dono do

armazém, indo atender a um freguês.

Tim Arnold atravessou a rua e se dirigiu

ao local onde trabalhava.

Naquele momento três homens entravam

na cidade. Não se pareciam com pistoleiros

e usavam roupas de cavalheiros.

Desceram a rua calmamente, parando

diante do Escritório de Terras, onde se

entreolharam.

Só então desmontaram. Um deles entrou

na frente. Os outros dois ficaram do lado de

fora, olhando para a entrada da cidade.

— Em que posso servi-lo? — indagou

Milan Dewar.

— Meu nome é Arbuckle Miles e preciso

de algumas informações, Sr...

— Milan Dewar.

— Sim, Sr. Dewar. Gostaria de saber a

quem pertencem as terras marcadas aqui no

mapa — falou Arbuckle Miles,

desdobrando um papel que trazia no bolso.

— Posso saber qual seu interesse nestas

terras? — indagou Milan.

— Gostaria de comprá-las.

— Comprá-las? — riu Milan, com

surpresa. — Não valem grande coisa. Afora

um ou dois ranchos, aquela terra é

praticamente imprestável para qualquer

coisa que se possa imaginar.

— Não me importo com isso. Poderia me

fornecer uma lista dos proprietários?

— Sim, claro, se aguardar um pouco.

— Não tenho pressa — disse Arbuckle,

sentando-se.

Milan apanhou o mapa e começou a

assiná-lo, enquanto escrevia em uma folha

de papel.

— Vou numerar os lotes no mapa. Ficará

mais fácil para entender a relação.

— Obrigado, Sr. Dewar.

Enquanto Milan Dewar elaborava a

relação, os dois homens que estavam à porta

entraram.

Um deles disse a Arbuckle:

— Ele acaba de chegar.

— Ótimo, logo terminarei aqui.

— Quer que ele reuna o pessoal?

— Depois que se instalar. Quero que tudo

seja muito discreto. Não quero chamar a

atenção demais.

— Direi isso a ele.

— Sim, faça isso.

Momentos depois a relação estava pronta.

Antes de entregá-la, Milan Dewar indagou:

— Posso lhe perguntar o que pretende

fazer com aquelas terras?

— Criar cavalos — disse Arbuckle,

estendendo a mão para apanhar a relação.

Milan sorriu de modo especial, retendo a

relação em suas mãos.

Arbuckle ficou sério, demonstrando que

não apreciara aquele gesto.

— Algum problema, Sr. Dewar? —

indagou Arbuckle.

— Verá, pela relação, que parte daquelas

terras me pertencem, Sr. Miles. Herdei-as

de meu avô e até alguns minutos atrás eu as

venderia por qualquer preço.

— E o que o fez mudar de idéia?

— Ninguém precisa de tanta terra para

criar cavalos, Sr. Miles — falou Milan, com

ironia.

— O quer dizer com isso?

— Que estou farejando mais que um bom

negócio.

— Escute aqui, Sr. Dewar: se não quer

vender suas terras é problema seu. Agora, se

não se importa, poderia me entregar a

relação?

— Além disso, tenho a opção de compra

da maioria daquelas terras. O pessoal anda

louco para vender e achou que seria mais

fácil deixando tudo em minhas mãos.

— Falarei com todos eles. A menos que

compre todas aquelas terras, creio que os

proprietários estarão dispostos a negociar

comigo — ponderou Arbuckle.

— Acontece que posso comprar todas

aquelas terras.

— E por que faria isso?

— Porque tenho em você um comprador

em potencial.

— Não gosto de seu modo de agir, Sr.

Dewar.

— Por que não somos sinceros um com o

outro? Qual é o seu verdadeiro interesse

naquelas terras?

— Já lhe disse, pretendo criar cavalos e...

— Não me engana, Sr. Miles. A menos

que fale francamente, ficará sem as terras.

— Vou correr o risco. Dê-me a relação.

— Cinco dólares pelo trabalho.

Arbuckle Miles pagou os cinco dólares,

saindo aborrecido. Lá fora, um dos homens

lhe indagou:

— Alguma coisa errada?

— Sim, o sujeito aí quer dar uma de

espertinho. Parece que farejou alguma

coisa.

— Ele pode causar algum tipo de

problema?

— Sim, ele pode.

— Podemos cuidar dele.

— Não, não seria bom começar algo

assim. É preciso que tudo seja feito

discretamente, nada que possa alarmar a

população e levá-los a descobrir o

verdadeiro motivo porque desejamos as

terras.

— Como faremos, então?

— Você e Dam irão visitar os

proprietários. Aqui está a relação e o mapa.

Eu estarei no hotel. Sinto-me um pouco

cansado. — Está bem, repouse então. Eu e

Dam cuidaremos disso — falou Wilde

Miles, irmão de Arbuckle.

— Seja discreto com os proprietários.

Não demonstre muito interesse.

— Não se preocupe, irmão. Já estudamos

isso em cada mínimo detalhe. Não vamos

perder essa chance.

Arbuckle se despediu do irmão e de Dam,

indo para o hotel, onde se hospedou.

No saloon, um pistoleiro chamado Ryle

Jenkins jogava raivosamente sobre a mesa

as cartas que tinha nas mãos, dizendo:

— Vá para o inferno você e sua sorte,

Greg!

— O que há, Ryle? Parece nervoso.

— Sim, estou farto dessa espera. Quero

ação! — gritou o pistoleiro, sacando a arma.

— Sossegue, homem. Você sabe das

ordens.

— Ao diabo com as ordens! — gritou

Ryle, disparando contra algumas garrafas na

prateleira.

O barman se abaixou atrás do balcão. As

pessoas ali presentes fugiram, buscando a

saída.

— Pare com isso, Ryle! — ordenou Greg.

— Cale a boca você também — disse

Ryle, voltando a arma para o amigo.

— Vá com calma, não gosto de

brincadeiras assim — avisou Greg.

— O que vai fazer, então? — indagou

Ryle, engatilhando a arma bem diante dos

olhos de Greg.

Naquele instante, um homem entrou no

saloon, de armas na mão.

Trazia uma estrela de xerife no peito e

parecia decidido a resolver o problema.

— Ponha essa arma sobre a mesa e se

levante — ordenou o homem da lei.

Ryle voltou o rosto para encarar o xerife,

sem soltar a arma, no entanto.

— O que há, xerife? Não fiz nada de

errado. Há alguma lei contra se divertir um

pouco?

— Discutiremos isso mais tarde. Agora

solte essa arma.

Ryle sorriu, sem obedecer a ordem.

Alguns homens surgiram à porta.

Um deles olhou ferozmente para Ryle,

que estremeceu, depositando a arma sobre a

mesa.

— Muito bem, agora vamos conversar

sobre o que houve — falou o xerife, se

aproximando.

— Pode deixar que eu cuido disso, xerife

— falou o homem que olhara para Ryle.

— Você conhece esse maluco? — quis

saber o xerife.

— Sim, ele trabalha para mim. Eu cuido

dele, não se preocupe. Pagarei pelos

prejuízos e prometo que isso não se repetirá.

O xerife olhou para o barman, indagando:

— Está bem para você?

— Claro, xerife.

— Está certo, mas da próxima vez vou

trancá-lo até que se acalme — avisou o

xerife, guardando as armas e se retirando.

O recém-chegado foi até o balcão e

pagou os prejuízos. Assim que o barman

recolheu as notas, ele indagou:

— Há algum lugar onde se possa

conversar em paz?

— Naquela porta ali, leva a uma sala nos

fundos — informou o barman.

— Obrigado! — respondeu o recém-

chegado, indo até a mesa onde estava Ryle.

— Olá, Wyoming! — cumprimentou

Ryle.

— Venha comigo! — ordenou Wyoming,

dirigindo-se para o local indicado pelo

barman.

Ryle olhou para os outros homens que

haviam chegado com Wyoming, depois

apanhou sua arma e a pôs no coldre.

— Venha! — insistiu Wyoming, à porta

da sala dos fundos.

Ryle caminhou até lá.

— Entre! — ordenou Wyoming.

O pistoleiro sorriu cinicamente, depois

entrou. Wyoming entrou em seguida,

fechando a porta.

— Não queria estar na pele de Ryle agora

— comentou um dos homens do lado de

fora.

— Ele bem que merece uma lição —

falou Greg.

Dentro da sala havia uma mesa com duas

cadeiras.

— Sente-se! — ordenou Wyoming.

— Até quando pensa que vai continuar

me dando ordens? — replicou Ryle, furioso.

A resposta foi um potente murro que o

atingiu no nariz. Ryle foi jogado contra a

parede.

O sangue escorreu de suas narinas. Ele

esfregou a manga da camisa no rosto,

depois olhou surpreso para Wyoming.

— Você sabia das recomendações. Nada

de criar caso ou chamar a atenção, seu

idiota.

— Acontece que eu... — ia dizer Ryle,

mas o punho de Wyoming enterrou-se em

seu estômago, fazendo-o tossir.

Antes que Ryle pudesse recobrar o

fôlego, o punho de Wyoming bateu contra

seu queixo secamente, fazendo-o arregalar

os olhos e cair pesadamente para trás.

Com raiva, Ryle apanhou uma cadeira,

mas antes que a pudesse atirar contra

Wyoming, este o atingiu com um pontapé.

Ryle urrou de dor, contorcendo-se no

assoalho. Wyoming o agarrou pela camisa,

fazendo-o ficar em pé.

Depois o golpeou novamente no

estômago. Ryle gemeu, subjugado.

— Pare! — pediu ele, ofegante.

Wyoming o empurrou contra a parede,

onde o pistoleiro ficou apoiado com

dificuldade.

— Eu o avisei antes, Ryle. Ainda quer

continuar conosco? — indagou Wyoming,

esfregando o punho com que golpeara Ryle.

— Sim, quero.

— Então vou avisá-lo pela última vez:

meta-se novamente em uma encrenca e eu o

matarei a pancadas. Entendido?

— Certo, Wyoming, você manda.

Wyoming abriu a porta e deixou a sala.

Ryle firmou o corpo, fazendo uma careta.

Em seus olhos havia ódio, demonstrando

sua disposição de se vingar na primeira

oportunidade.

Wyoming deixou o saloon, indo

diretamente para o hotel, onde se avistou

com Arbuckle Miles.

— O que houve lá no saloon? — quis

saber Miles.

— Aquele idiota do Ryle, nervoso

novamente.

— Eu sabia que aquele imprestável só

nos traria aborrecimentos.

— Não se preocupe com ele, dei-lhe uma

boa lição.

— O xerife esteve lá, não?

— Sim, mas eu o descartei.

— Como é ele?

— Do tipo durão.

— Eu já esperava por isso.

— Como vai agir com ele?

— Do modo como combinamos.

— Acha que ele se venderá?

— Todo homem tem seu preço,

Wyoming. Você sabe que eu sou

especialista em comprá-los.

— Assim espero, ou teremos um bocado

de complicações.

— Não se preocupe com isso. Amanhã

conversarei com o xerife. Garanto que ele

virá para o nosso lado.

— Onde estão Wilde e Dam?

— Foram à procura dos proprietários das

terras.

— Então está tudo correndo bem...

— Talvez tenhamos complicações com

Milan Dewar, do escritório de Terras.

— Como assim?

— Quis dar uma de esperto. Farejou um

negócio.

— Basta comprá-lo...

— Ou silenciá-lo. Depois verei o que

deve ser feito. Agora, por favor, preciso

repousar. Estou muito cansado.

— Certo Arbuckle. Estarei no saloon.

Vou ver como está todo o pessoal.

Após a saída de Wyoming, Arbuckle se

deitou para descansar, só se levantando após

o anoitecer, quando Wilde e Dam Hodgson

retornaram.

— Como foi tudo? — indagou Arbuckle.

— Mais difícil do que esperávamos —

informou Wilde.

— Como assim?

— A maioria do pessoal entregou suas

terras para que Milan Dewar as vendesse.

Alguns estão dispostos a negociar conosco e

há dois rancheiros, aqui e aqui — falou

Wilde, apontando no mapa.

— O que há com esses?

— Deixaram claro que não pretendem

vender as terras.

— Há algum motivo especial?

— De todas as terras, estes ranchos

representam a única parte aproveitável.

— Oh, sim! Dewar já havia me falado a

respeito.

— Como vê, Dewar nos tem em suas

mãos — falou Wilde.

— É possível. Quanto a esses rancheiros,

percebeu se uma boa oferta os convenceria?

— Sim, eu os fiz ver isso, mas creio que

não mudarão de idéia.

— Bem, eu já esperava por casos assim.

Wyoming e seu homens cuidarão disso.

Quanto a Milan Dewar, preciso pensar em

um modo de anulá-lo.

— Já falou com o xerife?

— Não, ainda não. Ele é do tipo durão,

mas conseguirei dobrá-lo.

— O que tem em mente?

— Oferecer uma pequena participação a

ele.

— Não acha arriscado?

— Um homem desses ganha uma miséria

para arriscar sua vida. Só faz isso porque

sabe que, cedo ou tarde, terá a sua chance

de fazer um grande negócio.

— Acha mesmo?

— Fique tranqüilo quanto a isso.

Conhece muito bem essa gente. Estou

acostumado a tratar com elas.

— Sim, seria ótimo tê-lo do nosso lado.

Será mais fácil agir contra os que se

recusarem a vender.

— Esses não me preocupam. Milan

Dewar é que está atravessado em minha

garganta.

— Deixe que Wyoming cuide dele.

— Não podemos nos arriscar a isso. É

bem possível que nomeiem um outro agente

de terras que seguramente saberá do que vai

acontecer.

— Então temos que negociar com ele.

— Sim, mas ele pretende ditar as regras e

não posso permitir isso.

— Encontraremos um modo de

convencê-lo — falou Wilde.

— Bom, pelo visto ele é ambicioso. Só

que sabe que sua vida nada vale em nossas

mãos. Não é um sujeito burro. Vai negociar,

tenho certeza.

— Eu também acho. Com ele do nosso

lado acho que temos quase cem por cento

do trabalho feito, por isso acho que

poderemos fazer-lhe algumas concessões.

Se ele ficar muito ambicioso, o que não

acredito, nós daremos um jeito nele.

— Com certeza!

Alguns dias depois, três vaqueiros do

Rancho de George Byron se aproximaram

da casa principal, atraindo a atenção de

outros vaqueiros.

Preso a um laço, logo atrás deles,

caminhava um desconhecido.

— Sr. Byron! — chamou um dos

vaqueiros.

O velho rancheiro saiu à porta,

indagando:

— O que está havendo aqui, Arnold?

— Apanhamos esse sujeito nas

proximidades do rancho. Parecia muito

interessado em observar tudo que acontecia

por aqui.

— Muito interessante! — exclamou

George, aproximando-se do prisioneiro até

encará-lo.

— Seus vaqueiros estão errados, eu só

estava de passagem — defendeu-se o

pistoleiro.

— Ninguém passa por dentro do rancho,

quando há uma estrada — contestou

Arnold. — Além disso, você não tinha seu

cavalo.

— Meu cavalo sofreu um acidente e...

— Mentira! — falou Arnold. — Nós

vimos seu cavalo muito bem para um

animal ferido. Ele estava espionando o

rancho e não tenho a menor idéia por que

fazia isso.

— Deixem que eu resolvo isso — falou

George, voltando a encarar o pistoleiro.

— Qual é seu nome, filho?

— Al Beddoes — respondeu ele.

— Para quem trabalha?

— Não trabalho para ninguém, aliás, no

momento estou desempregado.

— O que fazia no meu rancho?

— É como eu disse, só estava de

passagem. Pensava em pedir emprego...

— Oculto atrás de algumas árvores e com

isso nas mãos? — atalhou Arnold,

mostrando uma luneta.

George Byron olhou para o objeto nas

mãos de seu capataz e depois para o

prisioneiro.

— Não devia mentir, filho — disse ele.

— Não estou mentindo, juro.

— É um bastardo nojento! — falou

George, com desprezo. — Vou lhe dizer o

que fazia em meu rancho: trabalha para

aqueles homens que vieram aqui tentando

comprar minhas terras, não é verdade?

— Não, eu...

— Cale-se! Ainda não terminei. Não sei

porque eles desejam todas as terras da

região, mas sei que não ficaram satisfeitos

com minha recusa. Por isso você estava lá,

espionando, para que, de um modo ou de

outro, eles encontrassem um modo de me

forçar a vender.

— Não, o senhor está enganado... — ia

dizendo Al Beddoes, mas calou-se diante do

olhar duro de George Byron.

— Vou lhe mostrar como nós aqui

tratamos com mentirosos, rapaz — disse

George, fazendo um sinal para Arnold.

Este arrastou Al para junto de uma

árvore. Ali, soltou o laço e prendeu as mãos

do pistoleiro.

Em seguida, atirou a corda por cima de

um galho e a esticou.

Al ficou pendurado pelos braços. Arnold

sacou de uma faca e cortou a camisa do

prisioneiro, deixando-o com o tronco nu.

— O que vão fazer comigo? — indagou

Al, apavorado.

— Vamos lhe dar uma lição, rapaz.

Apenas isso — falou George, aproximando-

se com um chicote na mão...

— Não, por favor, eu... — tentou explicar

Al, mas suas palavras foram cortadas por

um grito de dor.

A primeira chicotada desenhou-lhe um

riso vermelho nas costas, por onde o sangue

escorreu rapidamente.

Al urrou de dor, gritando a cada vez que

o chicote estalava em sua pele.

Quando suas costas já estavam em carne

viva, George interrompeu o castigo,

ordenando a Arnold:

— Vá buscar o cavalo desse pobre

coitado.

— Sim, Sr. Byron — disse o capataz,

apressando-se em cumprir a ordem.

— Quanto a você — falou George a Al.

— Volte e diga a seus patrões que não

venderei minhas terras. E que, caso eles

insistam, não hesitarei em aplicar neles o

mesmo castigo que você recebeu.

Dito isso, apanhou sua faca e cortou a

corda que prendia os pulsos do pistoleiro.

Al foi ao chão, gemendo de dor.

Momentos depois, Arnold chegou, trazendo

o cavalo.

— Ajudem-no a montar — ordenou

George.

Seus homens puseram Al sobre o animal.

George chicoteou o cavalo, fazendo-o se

afastar a galope.

— Desse estamos livres — disse o

rancheiro. — Agora, estão todos convidados

a receber o pagamento da semana —

finalizou ele.

Seus vaqueiros atiraram o chapéu para

cima e gritaram de alegria.

— Teremos a tarde de folga, Sr. Byron?

— indagou Arnold.

— Sim, desde que prometam voltar

sóbrios amanhã.

Novamente os vaqueiros fizeram

algazarras, satisfeitos com a decisão do

patrão.

Quando Al chegou à cidade, sentia-se

mais morto do que vivo. Seu corpo pendeu

da cela e ele caiu, diante do saloon.

Wyoming e alguns homens já corriam em

seu auxílio.

— O que houve? — indagou Wyoming.

Al mal podia responder.

— Ele não me parece muito bem — disse

um outro pistoleiro.

— Sim, vamos levá-lo ao médico —

ordenou Wyoming — Moe, vá avisar o Sr.

Miles.

Algum tempo depois, quando Al já havia

sido medicado, foi deixado a sós com os

irmãos Miles e Wyoming.

— Conte-nos o que houve, Al — pediu

Arbuckle.

— Foi o velho, eles me pegaram de

surpresa. Seus vaqueiros me surpreenderam

e...

— Está bem, já entendi — interrompeu

Arbuckle. — Eu já sabia que aquele velho

nos causaria muitos aborrecimentos.

— Temos o xerife do nosso lado agora —

opinou Wilde. — Podíamos jogá-lo contra o

velho.

— Não daria certo. Havia os vaqueiros,

eles testemunharam tudo e protegerão o

patrão.

— Se deixarmos que ele se julgue

vitorioso desta vez, ele poderá influenciar

aquele seu vizinho a não vender o rancho.

Aí nossos problemas começarão a se

complicar.

— Já pensei nisso e não vou deixar que

ele leve a melhor sobre nós. Encontrarei um

modo de lhe dar uma lição — prometeu

Arbuckle.

Os irmãos Miles e Dam Hodgson

deixaram o consultório do médico e foram

até o Escritório de Terras.

Milan Dewar sorriu ao vê-los entrar,

indagando:

— E então, sócios? Como vão indo os

negócios?

— Está na pior, Milan, por culpa

daqueles dois rancheiros.

— Refere-se ao velho Byron e a August

Carry?

— Sim, principalmente o velho. Eu havia

deixado um homem tomando conta daquele

rancho, mas ele foi apanhado e chicoteado.

Quase o mataram.

— É um problema sério — ponderou

Milan, coçando o queixo.

— Quando teremos as escrituras dos

outros ranchos? — quis saber Arbuckle.

— Dentro de alguns dias. Estou

aguardando os proprietários para as

assinaturas.

— Bom, pelo menos essa parte já está

solucionada. O que me preocupa agora são

aqueles dois ranchos.

— Por que não age drasticamente contra

eles? O xerife não apoiará?

— Não quero estragar minha imagem

diante da população, Dewar. Isso é

importante para o que virá depois. Tenho

contribuído com um bom dinheiro para as

senhoras dos membros do Conselho da

Cidade, em suas atividades filantrópicas.

Por isso os tenho do meu lado. Um passo

errado e todo o meu prestígio se acabará.

— Bem, minha parte eu estou cumprindo

— falou Dewar. — Você se responsabilizou

pelo resto. Quando os homens da ferrovia

chegarem por aqui para...

— Cale-se imbecil! — ordenou

Arbuckle. — Se alguém o ouve mencionar

isso a notícia se espalhará e nossos negócios

irão por terra.

— Está bem, desculpe-me.

— Vá em frente com as escrituras. Eu

cuidarei do resto.

Arbuckle e os outros deixaram o

Escritório de Terras. Wyoming, saindo do

saloon, se aproximou deles.

— Acho que descobri um modo de

pressionar o velho — disse o pistoleiro.

— Como? — indagou Arbuckle,

interessado.

— Hoje é dia dos vaqueiros do rancho

receberem seus pagamentos. Segundo o

barman, eles costumam festejar no saloon.

Se assustarmos aqueles vaqueiros o

bastante, creio que o velho não terá

ninguém para ajudá-lo no rancho.

— Sim, mas seja duro com eles, usando a

surra que aplicaram em Al como pretexto.

— Eu havia pensado justamente nisso. E

quanto ao xerife?

— Falarei com ele. Ele deixará a cidade

estrategicamente, de modo a não estar

presente quando tudo acontecer.

— Certo, boa idéia. Logo os vaqueiros

começarão a chegar. Vou reunir o pessoal.

— Dê a entender que as coisas para o

pessoal daquele rancho não serão fáceis de

agora em diante. Se for preciso, mate dois

ou três deles.

— Direi isso aos rapazes. Eles devem

estar esperando por isso, depois do que

aconteceu com Al.

Wyoming se afastou, indo reunir seus

homens. Arbuckle e os outros rumaram para

o hotel.

Já nos aposentos de Arbuckle, Wilde

apanhou um pouco de uísque numa garrafa

sobre um móvel, depois indagou:

— Creio que já podemos dar por

resolvido o caso com o velhote. E quanto ao

outro rancheiro, o tal de August Carry?

— Acho que já sei como tratar dele —

disse Arbuckle, olhando pela janela.

Seu rosto se abriu num sorriso e ele

parecia estar observando algo, muito

interessado, na rua.

Wilde se aproximou da janela para olhar.

Daryl Carry acabava de passar com seu

cavalo.

— Algo a ver com a garota? — indagou

Wilde.

— E por que não? Não acho que seria

ponderado lutar contra August Carry. O

melhor seria se aliar a ele.

— Através da filha?

— Sim, ela e a mãe são as diretoras do

Clube Feminino da cidade. Assim, tenho

todo o prestígio diante das duas em virtude

das doações que já fiz.

— Isso não quer dizer nada — falou

Dam. — Você já tentou algo com a garota?

— Não, mas farei isso assim que

possível. Lembre-se de que temos um mês

ainda, até que o pessoal da ferrovia comece

a chegar.

— Mesmo assim, creio que é pouco

tempo para se aproximar da garota e ainda

convencer o pai dela a vender o rancho.

— Eu sei o que faço — arrematou

Arbuckle. — Farei ver à garota que o pai

faria um bom negócio vendendo o rancho.

Além disso, há terras melhores ao sul

daqui. August Carry talvez venha se

interessar por alguma.

— Arbuckle está certo, Dam — atalhou

Wilde. — Até agora ele soube muito bem

conduzir as coisas dentro dos planos.

Vamos deixar que ele cuide disso, do

mesmo modo como cuidou de Milan Dewar

e do xerife.

— O xerife é um elemento importante em

nosso plano. Quanto a Milan, é totalmente

dispensável, a partir do momento em que

tenhamos as escrituras.

— O que pretende fazer com ele,

Arbuckle?. — quis saber Dam.

— Wyoming cuidará dele — sentenciou

Arbuckle. — Agora, se me permitem, vou

me avistar com a Srta. Carry.

Algum tempo depois, Arnold e os

vaqueiros do rancho de George Byron

chegaram ao saloon.

Alegremente, se aproximaram do balcão

e exigiram bebidas. O pianista se apressou

em uma canção.

As garotas do saloon, cientes que os

vaqueiros haviam recebido os pagamentos,

se apressaram em agradá-los.

Arnold e os vaqueiros, então, foram se

sentar em algumas mesas do fundo. As

garotas os acompanharam, tornando o

ambiente descontraído e festivo.

Assim, a presença de Wyoming e dez de

seus melhores pistoleiros passou

desapercebida.

Os pistoleiros se encostaram ao balcão.

Wyoming ordenou bebida para seus

homens.

— Quando vamos agir, Wyoming? —

indagou Ryle Jenkins.

— Não se apresse, nervozinho. Temos a

tarde toda para isso. Vamos deixar que eles

bebam um pouco. Tornará as coisas mais

fáceis para nós.

Os vaqueiros continuaram a festejar o

pagamento. Um deles, o novato da equipe,

se levantou para ir apanhar mais bebida.

Wyoming piscou um olho para Ryle. Este

se preparou para iniciar a confusão.

Quando o vaqueiro se encostou ao balcão

e pediu uma garrafa de uísque, Ryle o

encarou, dizendo:

— Desde quando covardes bebem bebida

de homem?

O vaqueiro se voltou para ele, sem

entender a insinuação.

— O que disse? — indagou.

— Eu o chamei de covarde. Soube que

surraram um de meus amigos e não gostei

nada daquilo.

O vaqueiro recuou um passo, depois

olhou para Arnold e os outros.

— Arnold, está aqui um homem tomando

as dores daquele pistoleiro que foi surrado.

— Realmente? — indagou Arnold,

pondo-se em pé.

Imediatamente os outros vaqueiros

fizeram o mesmo. As garotas, prevendo

encrencas, foram se escondendo no outro

lado do saloon.

O mesmo fizeram os outros fregueses que

ali estavam. Wyoming se adiantou.

— Não só ele, como todos nós — disse

ele.

— Então estejam avisados de que, na

próxima vez que aparecerem por lá, terão o

mesmo castigo — falou Arnold.

— Claro, todos vocês contra um de nós.

Isso mostra o quanto vocês são corajosos.

— Está duvidando disso? — indagou

Arnold, caminhando até junto de Wyoming.

— Sim, estou — respondeu Wyoming,

soltando uma baforada de seu cigarro na

cara de Arnold.

— Sei que você é um pistoleiro — falou

Arnold. — Mas será que sabe lutar como

homem? Porque não deixa cair esse

cinturão e mostra que sabe lutar com os

punhos?

— Você é um idiota! — disse Wyoming,

iniciando lentamente o gesto de desafivelar

o cinturão, enquanto seus olhos de

mantinham fixos em seu oponente.

Arnold se virou para olhar seus homens e

sorrir. Quando se virou para Wyoming, este

o golpeava com o cano de seu Colt.

Arnold recuou, aturdido. Um dos

vaqueiros levou a mão à arma.

Wyoming o fulminou com um tiro

certeiro que o atingiu entre os olhos.

Imediatamente os outros pistoleiros

sacaram suas armas, apontando-as para os

vaqueiros.

— Você começou tudo, vaqueiro — disse

Wyoming ao capataz.

— Pelo contrário, você e seus patrões

começaram tudo quando vieram para cá,

tentando se apoderar das terras do velho

Byron.

— Byron recebeu uma proposta honesta

— retrucou Wyoming.

— O mesmo tipo de honestidade que

você mostrou agora, atacando-me à traição.

Wyoming o encarou, furioso. Depois

desafivelou o cinto, jogando suas armas

sobre o balcão.

— Vou fazê-lo engolir suas palavras,

vaqueiro — prometeu ele.

— Estou esperando por isso.

— É bom que saibam que isso vai

acontecer para todos que trabalharem para o

velho Byron.

— Você fala demais — disse Arnold, se

atirando sobre Wyoming.

O pistoleiro foi mais rápido, desviando o

corpo. Arnold se chocou contra o balcão e,

quando pensou em se voltar, uma joelhada o

atingiu nas costelas, fazendo-o perder o

fôlego.

Wyoming não lhe deu trégua. Seus

punhos se abateram implacavelmente sobre

o corpo do capataz.

Em poucos instantes Arnold perdeu os

sentidos. Wyoming, no entanto, continuou

golpeando-o.

— Acho que está exagerando... — disse

um vaqueiro, adiantando-se.

— Então vá se juntar a ele — falou Ryle,

disparando contra o vaqueiro.

Dois outros amigos de Arnold resolveram

intervir, mas tiveram seus corpos varados

por diversos balaços.

Os outros acharam por bem assistir a tudo

sem nenhuma reação.

Estavam sob a mira das armas dos

pistoleiros e a única coisa que poderiam

fazer era aquilo.

Wyoming, finalmente, cessou o brutal

espancamento a que submetera Arnold.

O capataz do Rancho Byron estava mais

morto que vivo e mal respirava.

O pistoleiro encarou os outros vaqueiros:

— Isso é o que acontecerá a cada um de

vocês, se voltarem a trabalhar no Rancho

Byron.

— Sim, e não se esqueçam que vocês

começaram tudo, quando espancaram um de

nossos rapazes.

— Agora caiam fora! — ordenou

Wyoming.

— Não sei porque se interessa tanto por

aquelas terras, Sr. Miles — comentou a bela

Daryl Carry.

Estavam diante da loja do modista da

cidade. A Sra. Carry experimentava um

vestido.

Daryl e Arbuckle Miles conversavam.

— Estou adquirindo todas as terras ao

redor do rancho de seu pai, Daryl. Assim, é

importante adquirir aquele rancho também.

— Isso não explica suas intenções.

— Negócios, Daryl. Pretendo criar

cavalos.

— Muitos cavalos, pelo que vejo.

— Sim, bastante realmente. Acha que seu

pai aceitaria o negócio?

— Ele está estudando sua proposta, mas

não creio que ele venda o rancho. Razões

sentimentais, acho que entende...

— Sim, talvez.

Conversaram durante mais algum tempo,

até a saída da Sra. Carry.

Arbuckle foi muito cavalheiro com

ambas, procurando, em especial, agradar à

jovem.

Daryl, porém, não parecia demonstrar

nenhum interesse maior por Arbuckle

Miles.

Quando elas se afastaram de volta ao

rancho, Arbuckle ficou pensativo.

— O que conseguiu, Arbuckle? —

indagou Wilde, aproximando-se.

— Pensei que fosse me sair melhor.

— Não se aborreça por isso. Podemos

agir a nosso modo.

— Estou pensando seriamente nisso. E

Wyoming, deu uma lição naqueles

vaqueiros? Eu os vi sair assustados, após o

tiroteio lá no saloon.

— Wyoming cuidou bem de tudo.

Garanto que nenhum daqueles homens

voltará a trabalhar no Rancho Byron.

— Penso que teremos de fazer o mesmo

com os homens do Rancho Carry.

— Basta dar a ordem.

— Vamos esperar um pouco mais. Ainda

pretendo me avistar novamente com o pai

de Daryl.

— Não se esqueça de que o tempo

trabalha contra nós.

— Estou ciente disso. Depois do que

houve hoje, apenas o pai de Daryl nos

separará de uma verdadeira fortuna.

— Sim, graças a informação que obtemos

em Dallas, sobre a abertura da...

— Não fale. Ninguém mais deve saber

sobre isso — finalizou Arbuckle, dirigindo-

se ao hotel, em companhia do irmão.

Enquanto isso, os vaqueiros do Rancho

Byron começaram a chegar lá.

George Byron saiu à porta, estranhando o

fato de seus homens haverem retornado tão

cedo. Normalmente, quando saíam para

festejar, só voltavam quando o dia

amanhecia.

— O que há, rapazes? Não gostaram do

uísque dessa vez? — brincou ele.

Um dos vaqueiros apontou para os

cavalos que traziam os vaqueiros mortos.

Arnold, que mal se firmava sobre a sela,

foi ao chão. George Byron correu para ele.

— Deus do céu! O que houve com ele?

— quis logo saber.

— Foram os amigos do homem que

chicoteamos aqui — informou um dos

vaqueiros.

— Malditos! — Esperem-me aqui,

rapazes. Vou buscar minhas armas. Iremos

à cidade acertar contas com eles...

— Não, Sr. Byron, não iremos à cidade

— respondeu o vaqueiro.

— E por que não, Emmet?

— Estamos caindo fora, Sr. Byron.

— Caindo fora? — espantou-se o velho

homem.

— Sim, Só voltamos aqui para apanhar

nossas coisas.

— Não podem fazer isso, há muito

trabalho aqui e...

— Eles foram muito claros, Sr. Byron.

Doravante vai ser muito perigoso trabalhar

aqui.

— Eu sempre disse que isso era trabalho

para homens.

— Isso não nos ofende, Sr. Byron.

Prezamos nossas peles, não queremos

acabar como eles. A briga é sua, resolva-a

sozinho.

— Nunca pensei que os veria

acovardados um dia — lamentou George.

— Desculpe-nos, Sr. Byron. Somos

vaqueiros, não pistoleiros — argumentou

Paul. — Pelo que vimos na cidade, não será

saudável continuar aqui.

Ele o os outros vaqueiros rumaram para

os alojamentos, onde arrumaram suas

coisas.

Minutos depois, todos eles partiam.

George se viu só, diante de um homem

ferido e alguns cadáveres.

Ele olhou, então, para Arnold, que

parecia muito mal, quase agonizante.

— Pode se levantar?— indagou ele.

— Não sei, sinto que todos os meus ossos

estão quebrados.

— Está bem, firme o corpo em mim —

disse George.

Arnold apoiou-se, mas gemeu

dolorosamente ao tentar se pôr em pé.

— Eles o surraram de verdade, não?

— Sim, mas um homem só fez isso. Eu

não consegui evitar.

— Não se preocupe com isso agora, filho.

Eu vou levá-lo para dentro — falou George,

erguendo Arnold em seus braços.

Vergado ao peso do vaqueiro, George

caminhou apressadamente para dentro da

casa.

Depositou Arnold em sua própria cama.

Depois tratou dele, cuidando de seus

ferimentos.

— Como se sente agora? — indagou ele,

ao final.

— Bem melhor, mas essa dor...

— Vamos cuidar dela agora — falou

George, indo apanhar uma garrafa de seu

melhor uísque. — Tome, isso vai aliviar a

dor.

— Obrigado, Sr. Byron — agradeceu o

capataz.

— Trate de descansar. Amanhã você se

sentirá bem melhor — disse o velho,

deixando o aposento.

Foi até o celeiro e apanhou uma pá.

Depois rumou até uma colina, onde cavou

as sepulturas para os vaqueiros mortos.

Após enterrá-los, George Byron retornou

à casa.

— O que pretende fazer, Sr. Byron? —

indagou Arnold, percebendo que o velho

apanhava suas armas e recarregava cada

uma delas com movimentos decididos.

— Cuidar disso definitivamente, ou acha

que vou permitir que assustem e expulsem

meus homens?

— Não terá nenhuma chance, Sr. Byron.

Eles são muitos. Além disso, são todos

pistoleiros de aluguel.

— Já decidi isso, Arnold. Vou à cidade

falar com o xerife. Se ele não tomar uma

providência, eu o farei pessoalmente.

Antes que Arnold pudesse argumentar

com ele, George Byron apanhou um cavalo

e rumou para a cidade.

Lá, após procurar pelo xerife, parou

indeciso à porta do xerifado.

Viu o ferreiro em sua oficina, do outro

lado da rua e foi até lá.

— Viu o xerife? — indagou George.

— Não. Acho que ele deixou a cidade.

Foi um pena o que aconteceu com seus

vaqueiros.

— Isso tem de ter um fim. Acho que terei

que fazer algo pessoalmente.

— Se pretende realmente, é melhor

passar primeiro pelo papa-defuntos, George.

— Feche essa boca agourenta. Apesar de

tudo, você me deu uma idéia — disse

George, olhando para o prédio onde

funcionava o Correio.

— O que vai fazer?

— Depois conversaremos — respondeu o

rancheiro indo até o Correio.

Após passar um telegrama, George Byron

saiu à porta do prédio, olhando para o

saloon.

Ouviu algazarra e música. Após verificar

sua arma, o velho rumou para lá. Sabia que

aquilo era algo que tinha de fazer ou tudo

porque lutara teria sido em vão.

Quando entrou, a música e o barulho

foram cessando pouco a pouco.

Um silêncio macabro pairou no ambiente.

George caminhou até o balcão.

— O que vai ser, Byron? — indagou o

barman.

— Um uísque.

Da outra ponta do balcão, Wyoming,

Ryle e alguns pistoleiros olhavam com

provocação.

— Quais deles fizeram aquilo? —

indagou o velho ao barman.

— Refere-se ao que aconteceu com seus

vaqueiros?

— Sim.

— Todos eles estão metidos nisso.

— Quem surrou Arnold?

— Wyoming, aquele mais alto, na ponta

do balcão.

— Ele é bom pistoleiro?

— Um dos melhores que já vi. Não vá

me dizer que pretende enfrentá-lo...

— Tudo vai depender dele — disse

George, emborcando o uísque de uma só

vez.

Após pagar, caminhou lentamente na

direção dos pistoleiros. Estes o receberam

com um sorriso de ironia aos lábios.

— Parece que vocês exageraram um

pouco — disse George, olhando-os

fixamente.

— Você começou tudo, vovô — retrucou

Wyoming.

— Eu estava no meu direito. Aquele

homem havia invadido a minha

propriedade.

— Então vamos dizer que seus vaqueiros

também fizeram o mesmo.

— Vocês não são os donos da cidade.

— Quer apostar nisso, vovô?

— Vá para o inferno! — rugiu George

Byron, sacando suas armas.

Wyoming, muito mais jovem e ágil, o

dominou, tomando-lhe as armas.

— Ryle, vá buscar um chicote —

ordenou o pistoleiro.

— O que pretende fazer?

— Dar ao velho aqui um pouco de seu

próprio remédio — informou Wyoming.

— Não conseguirá isso — gritou George

Byron, livrando-se dos braços de Wyoming.

Com a força do desespero, o velho soltou

seu punho na direção do rosto do pistoleiro.

Wyoming recuou alguns passos, ante a

força o impacto, que fez sangrar seus lábios.

— Velho idiota! — rugiu ele, limpando o

sangue de sua boca com a manga da camisa.

Ryle tentou segurar o velho, mas recebeu

um murro no estômago.

Os outros pistoleiros, porém, atacaram

George e o subjugaram.

Ryle, ansioso por se vingar, se aproximou

do velho. Este, porém, atingiu um pontapé

em seu estômago, fazendo com que o

pistoleiro fosse ao chão dessa vez.

Wyoming, com seu lábios ainda

sangrando, fez sinal para um dos homens

que estavam atrás de George.

O pistoleiro chutou violentamente as

pernas do velho, fazendo-o se dobrar.

Só então Wyoming se aproximou. Olhou

George Byron com ódio mortal, depois o

socou diversas vezes no estômago, fazendo

isso com um prazer todo especial.

Quando o velho mal podia respirar,

Wyoming o golpeou no rosto, fazendo-o

sangrar.

— Soltem-no — ordenou ele, ao final.

O corpo de George Byron caiu

pesadamente no assoalho do saloon.

Ryle, sacando sua arma, disparou contra

ele, matando-o instantaneamente.

— Seu idiota! — falou Wyoming,

vibrando uma bofetada no rosto de Ryle.

— Para mim chega! — gritou Ryle,

apontando sua arma na direção de

Wyoming — Não vou obedecer suas ordens

e...

Não chegou a terminar. Wilde Miles por

trás dele, o golpeou na cabeça.

Ryle se estatelou no soalho.

— Eu devia matá-lo! — vociferou

Wyoming, sacando suas armas.

— Pare, acho que Ryle nos prestou um

grande favor — falou Wilde.

Wyoming hesitou por instantes, depois

guardou suas armas.

— Sim, acho que tem razão. Com o velho

fora do caminho, será fácil se apoderar das

terras dele.

— Silêncio! não queremos comentários

sobre isso — pediu Wilde, após se certificar

que ninguém havia ouvido as palavras de

Wyoming.

O barman estava na outra ponta do

balcão. As garotas se amontoavam atrás das

escadas.

— Está tudo bem — falou Wilde. —

Acho que Arbuckle ficará satisfeito com

essa notícia. Vou avisá-lo agora mesmo.

Wilde foi ao hotel, onde narrou ao irmão

o que acontecera. Após ouví-lo, Arbuckle

sorriu com satisfação.

— Vá chamar Milan Dewar. Creio que

ele deve ter uma solução para isso.

— Como assim?

— Ele deve ter algum recurso legal que

nos permita pôr as mãos nas terras do velho,

sem desembolsar dinheiro nenhum.

— Farei isso agora mesmo — disse

Wilde, saindo.

Momentos depois estava diante de Milan

Dewar, o Agente de Terras.

Após informá-lo do ocorrido, rumaram os

dois para o hotel, onde se avistaram com

Arbuckle Miles e Dam Hodgson.

— Wilde me disse que seus pistoleiros

mataram... — ia dizendo Dewar.

— Sim, o velho está morto. Acho que

isto nos deixa mais próximos de controlar

todas as terras por onde passará a ferrovia

— falou Arbuckle.

— Não tão perto assim — desmentiu

Dewar.

— Como não? Acho que você poderá

encontrar um modo de nos fazer ficar com

as terras e...

— Nada disso.

— Explique-se, então.

— Todos na cidade sabem que George

tinha um sobrinho, a quem suas terras

passariam após sua morte.

— Quer dizer que o velho tinha um

herdeiro?

— Sim, seu sobrinho Dave Byron.

— E onde está ele?

— Vive em Dallas, segundo o que sei.

— Mas ele não sabe nada sobre o velho.

Podemos passar as terras em nosso nome

e...

— Não é tão fácil assim. Há um

testamento legando as terras ao sobrinho.

— Então negociaremos com esse

sobrinho.

— Talvez seja a solução mais sensata. O

rapaz, por certo, não vai desejar tomar posse

das terras. Mesmo assim, é preciso ir à

Dallas falar com ele.

— Faremos isso — decidiu Arbuckle. —

Afinal, temos muito em jogo com isso.

— Espere um pouco, Arbuckle. Por que

não telegrafa àquele seu amigo que lhe deu

a informação e pede que ele procure o

jovem Byron? — sugeriu Dam.

— Sim, grande idéia, Dam — aceitou

Arbuckle. — Wilde, vá cuidar disso agora

mesmo. Telegrafe ao nosso amigo e dê o

nome do sobrinho do velho. Peça que

localize o rapaz e que negocie com ele.

— Certo, vou fazer isso agora mesmo.

Espero que em poucos dias tenhamos isso

resolvido.

— Teremos, fique tranqüilo.

Wilde entrou no prédio do Telégrafo,

saindo dali algum tempo depois, um tanto

atrapalhado.

Ficou parado à porta durante algum

tempo, como se raciocinasse.

Depois rumou apressadamente para o

hotel, onde se avistou com o irmão.

— Telegrafou para Carl, em Dallas? —

indagou Arbuckle.

— Não, isso não vai adiantar agora.

— Como assim?

— O telegrafista mencionou que aquele

seria o segundo telegrama que mencionava

a mesma pessoa. Eu indaguei a respeito e

descobri que o velho, antes de morrer,

telegrafou ao sobrinho, solicitando sua

vinda.

— Tem certeza disso?

— Sim, eu vi o papel que ele escreveu.

— Creio que isto, então, vai facilitar o

nosso trabalho.

— Acha mesmo?

— E por que não?

— Bem, a vinda dele pode dificultar tudo

de novo. Não sabemos o que ele pensa ou

sabe a respeito das terras...

— Pelo contrário. Será mais fácil agora.

Assim que aquele rapaz chegar, estaremos à

espera dele com os papéis da escritura.

Bastará ele assinar e depois morrer.

Wilde sorriu de modo especial, aliviado

com o plano do irmão.

— Wilde, você é muito eficiente quando

se trata de agir, mas não é muito bom nisso

— falou Arbuckle, apontando para sua

própria cabeça.

— Você é o cérebro da família, Arbuckle.

Qual é a idéia?

— Esse rapaz, vivendo em Dallas, deve

ser um almofadinha que nada sabe sobre a

vida por essas bandas. Na certa virá com a

diligência. O que temos a fazer é passar o

telegrama, pedindo ao nosso amigo que o

localize e informe da morte do dia, dizendo

que há uma herança em jogo. Com certeza

isso vai trazê-lo para cá o mais depressa

possível. Escalaremos alguns de nossos

rapazes para esperarem por ele, na estrada.

— Sim, entendo agora. Eles pararão a

diligência e farão o rapaz descer.

— Com uma desculpa que não alarme os

outros passageiros, é claro. — lembrou

Arbuckle.

— Grande! Falarei com Wyoming, ele

cuidará disso.

— Sim. A diligência só passa aqui de

quinze em quinze dias, será fácil vigiar.

Qualquer dia desses o rapaz aparecerá por

aqui, se tiver pressa. Assim, a partir dessa

data, Wyoming deverá mandar alguns dos

pistoleiros para a estrada, sempre que for

dia de chegada da diligência, entendido?

— Cuidarei disso agora mesmo.

Cinco semanas dias depois, quatro

pistoleiros bocejavam num ponto qualquer

da estrada que vinha de Dallas.

— A que horas passará a diligência? —

indagou um deles.

— Já devia ter passado, Albee.

— Acha mesmo que ele virá na diligência

desta vez?

— Já deve ter recebido a carta do tio.

Claro que sim. Um almofadinha não se

arriscaria no lombo de um cavalo. Conheço

esse pessoal.

De repente, os quatro foram alertados

pelo som de uma rabeca e de um homem

cantando.

— Sosseguem, é apenas um vaqueiro —

falou Albee.

Momentos depois, o vaqueiro parava

diante deles, indagando:

— Falta muito para chegar à cidade?

— Umas dez milhas.

— Estou vendo um bule de café ali,

posso me servir?

— À vontade — respondeu Albee.

O vaqueiro desmontou e foi até a

fogueira, servindo-se de uma caneca de

café.

— Isso ficaria melhor com um pouco de

uísque — disse ele, após tomar um gole.

— Só vai achar uísque na cidade,

vaqueiro. Está a procura de trabalho? —

indagou Albee.

— Sim, pode-se dizer que sim.

— Sabe atirar?

— Por que acha que carrego essas armas?

— retrucou o vaqueiro, batendo as mãos nas

coronhas de seus Colts.

— Se souber usar isso, procure por

Wyoming ou Arbuckle Miles, lá na cidade.

Naquele momento, um tropel de cavalos

alertou os pistoleiros.

— É a diligência — afirmou Moe.

Os quatro homens pararam em fila, lado a

lado, no meio da estrada.

O cocheiro, ao vê-los, diminuiu a marcha.

O guarda engatilhou sua espingarda.

— Algum problema, rapazes? — indagou

o cocheiro.

— Nada em especial, homem. Leva um

passageiro chamado Dave Byron?

— Nunca o vi mais gordo — respondeu o

cocheiro.

— Tem certeza?

— Se não acredita, pergunte ali dentro.

— Trabalhamos no rancho dele e estamos

esperando por ele — explicou Albee.

Nenhuma das pessoas na diligência se

manifestou.

— Sinto muito, rapazes. Talvez na

próxima viagem — falou o cocheiro,

chicoteando os cavalos assim que os

pistoleiros deixaram a estrada.

— Diabos! — praguejou Albee. —

Vamos ter de esperar mais dois dias.

— Esperam pelo patrão? — indagou o

vaqueiro, que os observava com

curiosidade.

— Que patrão, que nada! — resmungou

Albee, aborrecido. Se esse tal de Dave

Byron soubesse o que o espera...

O vaqueiro terminou de tomar o café,

depois foi para o seu cavalo.

— É uma pena que eu não possa ajudá-

los, rapazes — disse ele após montar.

— A menos que se chamasse Dave Byron

e estivesse disposto a morrer, abatido como

se fosse um coelhinho assustado — falou

Moe, começando a rir.

Os outros pistoleiros riram com ele. O

vaqueiro sorriu levemente, depois

agradeceu pelo café e partiu.

Havia se afastado um pouco, quando

freou sua montaria e retornou.

— Não diga que deseja mais café —

ironizou Albee.

— Não, trata-se de outra coisa — disse o

vaqueiro.

— O que é?

— O que desejam realmente com esse

Dave Byron?

Albee olhou para seus amigos, fazendo

uma careta. Depois encarou o vaqueiro,

dizendo:

— Nada que possa interessá-lo, vaqueiro.

— Talvez isso possa me...

— Dê o fora — ordenou Albee,

aborrecido.

O vaqueiro hesitou por alguns instantes,

depois desmontou. Os quatro pistoleiros se

entreolharam.

— Está procurando encrenca, vaqueiro?

— indagou-lhe Moe.

— Talvez.

— Garanto que vai encontrá-la. Albee já

lhe disse para dar o fora, por que não faz o

que ele sugere?

— Porque vocês não responderam a

minha pergunta.

— Que pergunta?

— O que desejam realmente com Dave

Byron.

— Quer mesmo saber?

— É o que estou perguntando.

— Vamos matá-lo, depois de conseguir

sua assinatura neste papel — explicou

Albee, mostrando a folha que Milan Dewar

preparara para elaborar a escritura do

rancho.

— Posso ver isso?

— Para quê?

— Posso querer entrar para a turma —

riu o rapaz.

— Você está abusando da sorte,

vaqueiro. Já sabe demais sobre nós. Se

pretende entrar para a turma, tudo bem. Se é

um linguarudo, considere-se um homem

morto.

O vaqueiro encarou os quatro homens

com um sorriso irônico nos lábios.

— Vocês me dão pena — falou ele.

— Basta! — ordenou Albee. — Vou

fazê-lo engolir sua rabeca para deixar de ser

intrometido.

O punho de Albee se deslocou, na

direção do queixo do vaqueiro.

Sem que o pistoleiro pudesse entender

como, o vaqueiro se desviou.

Seu punho se enterrou no estômago de

Albee, fazendo-o se dobrar, praticamente

sem fôlego.

— Assinou sua sentença de morte —

informou Moe, levando as mãos às armas.

Seus amigos o imitaram, com exceção de

Albee, que se contorcia no chão, após o

murro que recebera.

Antes que os pistoleiros pudessem

perceber o que acontecia, as armas do

vaqueiro já cuspiam fogo.

Moe teve sua garganta varada por um

balaço certeiro. Seus dois amigos tiveram as

cabeças partidas.

Os três homens tombaram agonizantes na

poeira. Moe reuniu forças para apertar o

gatilho de sua arma ainda.

A dor atrapalhou sua pontaria, pois ele

não conseguia atingir o vaqueiro.

Este, porém, não ter um mínimo de

piedade e uma pontaria excelente.

Simplesmente varou-lhe o coração com

dois disparos rápidos e certeiros.

— Pare aí mesmo! — ordenou o

vaqueiro, virando-se a apontando suas

armas para Albee, no exato momento que o

pistoleiro pretendia sacar as suas.

— Quem é você, afinal de contas? —

indagou Albee, levantado os braços.

— Dave Byron, em pessoa. Agora

explique-me o que significa esse papel.

— É um recibo de venda.

— Passe-o para cá.

Albee retirou cautelosamente o papel de

seu bolso, estendendo-o ao vaqueiro.

Este o apanhou com a mão direita,

enquanto a esquerda ainda apontava uma

arma para Albee.

— Solte seu cinturão — ordenou Dave,

antes de ler o papel.

— Agora vá para junto daquela árvore —

ordenou Dave.

Assim que Albee se encostou ao tronco,

Dave começou a ler o papel.

Ao final, parecia não haver entendido

nada do que ele significava.

— Quem é Arbuckle Miles? — indagou.

— É um dos homens para quem eu

trabalho.

— O que sabe sobre isso? — perguntou

Dave, exibindo a folha de papel.

— Sei tanto quanto você. Disseram-me

que eu deveria retirá-lo da diligência e fazê-

lo assinar isso.

— E depois?

— Bem...

— Diga logo! — ordenou Dave,

disparando rente a cabeça do pistoleiro.

— Nós deveríamos matá-lo.

Dave o encarou com seriedade. Albee

estremeceu diante daquele olhar frio e

implacável.

— Apanhe seu cinturão — ordenou

Dave.

— O que pretende?

— Dar-lhe a chance que eu não teria.

— Pretende me obrigar a duelar com

você?

— Sim, isso mesmo.

— Não farei isso. Eu vi você sacar, eu

não teria uma chance.

— Acontece que essa é sua chance. Ao

menos que deseje morrer como um cão,

apanhe suas armas.

Albee, sem outra alternativa, foi apanhar

seu cinturão. Após afivelá-lo em seu

quadril, encarou Dave.

— Saque quando tiver pronto — falou

Dave, guardando sua arma no coldre.

O pistoleiro ficou indeciso. Suas mãos

tremiam, próximas das armas.

Dave demonstrava segurança e

tranqüilidade. Suas mãos se mantinha

próximas das armas, à espera de um

movimento de Albee.

— Acho bom sossegar, Byron — falou

Albee, relaxando repentinamente.

— Saque sua arma ou o matarei a

sangue-frio.

— Agora mesmo, atrás de você, um de

meus amigos lhe aponta uma arma — disse

Albee, com segurança.

— Não vou cair nesse truque tão velho.

— Problema seu. Meu amigo o matará

imediatamente.

Dave Byron sorriu ligeiramente, girando

o corpo como se pretendesse olhar para trás.

Albee sorriu triunfante, sacando suas

armas. Seu truque não deu resultado.

Dave já havia sacado suas armas e

disparado duas vezes. Ferido no peito,

Albee caiu de joelhos, com as armas nas

mãos.

Uma careta de dor se estampava em seu

rosto. Ele tentou levantar os braços, mas

Dave não lhe deu chance.

O tiro de misericórdia atingiu a cabeça de

Albee, fazendo-o cair para trás, numa

posição grotesca.

Dave olhou para o céu. Alguns abutres

voavam ao longe. Logo farejariam o cheiro

de morte e se aproximariam.

Guardou suas armas e montou seu cavalo,

rumando para a cidade.

Assim que chegou, dirigiu-se ao saloon.

Havia muito movimento, principalmente

por parte dos homens de Arbuckle Miles.

Dave se aproximou do balcão.

— O que vai ser? — indagou o barman.

— Cerveja.

Quando o barman lhe trouxe o copo,

Dave lhe indagou:

— Conhece George Byron?

Alguns homens, que estavam junto dele

no balcão, se voltarão para olhá-lo.

Depois olharam na direção da mesa onde

Ryle Jenkins e outros pistoleiros bebiam,

acompanhados de algumas garotas.

O barman percebeu isso, ficando

constrangido.

— Eu lhe fiz uma pergunta — falou

Dave, depositando uma moeda sobre o

balcão.

— Sim, eu conhecia George Byron —

respondeu o barman.

— Conhecia?

— Sim, conhecia.

— O que houve com ele?

— Foi morto, aqui mesmo, neste saloon.

— George Byron foi morto? Como

aconteceu isso?

O barman notou que Ryle e alguns

pistoleiros se aproximavam, pois haviam

ouvido a conversa.

— Não é muito saudável falar nisso —

respondeu o barman, afastando-se.

Dave, ainda sem acreditar na morte do

tio, se voltou para olhar na direção onde o

barman olhara.

Ryle, já próximo dele, indagou:

— O que deseja saber a respeito de

George Byron?

— Tudo que for possível.

— Está pedindo demais...

— E por quê?

— Acho melhor não insistir. Tudo que

precisa saber é que ele está morto. Agora

tome sua cerveja e dê o fora. George Byron

não vai dar emprego a mais ninguém por

aqui.

— E como ele morreu? — insistiu o

rapaz, demonstrando que queria saber toda a

verdade sobre o assunto.

— Você é mesmo um idiota teimoso. Ele

está morto, entendeu? Alguém o ajudou a

fazer isso, fazendo alguns buracos no couro

velho dele — falou Ryle, rindo divertido.

Seus amigos no saloon riram da mesma

forma, zombando do forasteiro.

Dave não se intimidou, lançando a todos

eles um olhar gélido que fez o sorriso

morrer nos lábios deles.

— Você tem alguma coisa a ver com

morte dele? — indagou Dave,

corajosamente.

— Mas você é mesmo muito petulante,

muito louco e muito idiota para me fazer

uma pergunta como essa. E se eu tive? O

que isso lhe interessa? — replicou Ryle,

disposto a intimidá-lo.

— Eu diria que é um covarde. É como eu

considero alguém que mata um velho —

falou Dave.

Fez-se um silêncio de morte no saloon.

Rapidamente as pessoas se afastaram do

balcão.

Um pequeno tumulto se formou junto à

porta, quanto as pessoas se empurraram, na

ânsia de sair logo dali.

Dave ficou diante de Ryle e outros três

pistoleiros. Ao fundo do saloon, meia dúzia

de outros pistoleiros observavam os

acontecimentos.

O silêncio que caiu era opressivo e

angustiante, mas não tirava a concentração

de Dave.

Ryle sorriu cinicamente, tragando seu

cigarro, jogando a fumaça na cara do rapaz

e apagando-o no copo de cerveja do Texas

Ranger.

Este não se intimidou, continuando a

encarar o pistoleiro com seus olhos frios,

fazendo o outro vacilar por instantes, diante

daquele olhar duro e impiedoso.

— Você é muito corajoso. Diria até que

um pouco imbecil — falou Ryle,

lentamente.

— Desculpe-me se o ofendi — retrucou

Dave com a mesma ironia. — É que,

realmente, eu só aprecio covardes de uma

forma: mortos e enterrados.

Ryle ficou sério. Seus punhos se

fecharam ameaçadoramente, enquanto

olhava com preocupação o homem diante

dele.

Inesperadamente, porém, o xerife entrou

no saloon. Sua chegada serviu para acalmar

um pouco os ânimos.

— O que está havendo por aqui, Ryle? —

indagou ao pistoleiro.

— O vaqueiro aqui está a procura de

encrenca.

O xerife se voltou para Dave Byron,

dizendo:

— Termine sua cerveja e vá dando o fora,

rapaz. Não queremos encrencas por aqui.

— Pode deixar que eu cuido dele —

antecipou-se Ryle.

— Trate de se acalmar, Ryle. Deixe o

vaqueiro em paz.

— Olhe aqui, xerife — falou Ryle,

ameaçador — Não queira me dar ordens,

você sabe muito bem de sua função.

— Sei que não me obrigam a obedecer

ordens de ratos como você, Ryle. Agora

trata de esfriar ou quebro-lhe a cabeça.

O pistoleiro estremeceu de raiva, as mãos

próximas das armas.

Sabia, no entanto, que não poderia vencer

o xerife. Assim, resolveu atender as ordens

recebidas.

— Está certo, xerife, mas qualquer hora

dessas eu terei que acertar minhas contas...

— Está bem, estarei à sua disposição.

Agora feche essa boca e caia fora.

— Quanto a você, vaqueiro — disse

Ryle, encarando Dave. — É bom que dê o

fora da cidade. Se nossos caminhos se

cruzarem novamente, vou fazê-lo se

arrepender disso.

— Você não me assusta nem um pouco

— falou Dave, calmamente, virando-se para

pedir outra cerveja.

Quando o barman o serviu, Dave lhe

disse:

— Aquele cavalheiro vai pagar pela

cerveja.

O barman olhou para Ryle e depois para

Dave.

— Cobre dele — insistiu Dave, tomando

sua cerveja.

Quando ia sair, encontrou o xerife à

porta.

— Se quer se ver livre de encrencas, dê o

fora daqui — aconselhou o xerife.

— Pensarei nisso. Pode me dizer onde

fica o Rancho de George Byron?

— O que pretende fazer lá?

— Assunto particular.

— Problema seu, então. Siga em frente,

pela estrada. A umas cinco milhas verá a

entrada para o rancho.

— Obrigado, xerife — agradeceu Dave,

indo apanhar seu cavalo.

Dave tomou aquela direção. Algum

tempo depois, chegava à entrada do rancho.

Estava tudo deserto e silencioso. Dave se

aproximou cuidadosamente da casa

principal.

Quando já estava próximo, ouviu uma

série de disparos. Saltou de seu cavalo, já de

armas nas mãos.

Ocultou-se atrás de uma cerca. Minutos

depois, os disparos recomeçaram.

Dave correu até a casa. Os disparos

vinham dos fundos. Cautelosamente ele a

contornou.

Após um instante de silêncio, nova série

de tiros foi ouvida.

Dave se adiantou, surpreendendo um

homem que recarregava o revólver.

— Maldito! Apanhou-me sem munição

— falou Arnold, imobilizando-se.

— Quem é você? — indagou Dave.

— Como se você não soubesse.

— Realmente não sei.

— Não vamos brincar de adivinhações

agora. Deixe-me terminar de recarregar

minha arma e decidiremos tudo, então.

— Acho que está havendo um engano por

aqui, amigo.

— Não sou seu amigo — retrucou

Arnold, com ódio.

— Meu nome é Dave Byron — falou o

recém-chegado.

— Byron? Dave Byron?

— Sim, meu tio me telegrafou, pedindo

que eu viesse.

— Você é mesmo o sobrinho do Sr.

Byron?

— É o que estou dizendo — falou Dave,

guardando suas armas.

Arnold o olhou, ainda indeciso. Depois

guardou sua arma e se aproximou.

— Tem algum documento aí?

— Sim, tenho — disse Dave, mostrando

a carteira.

— Mas esse é o emblema dos Texas

Ranger...

— Sim, sou o capitão Dave Byron. Agora

quer me explicar quem é você e o que fazia?

— Meu nome é Arnold, eu era o capataz

de seu tio.

— Ele está morto, realmente?

— Sim, foi covardemente assassinado lá

na cidade.

— Por que isso?

— Uns homens chegaram à cidade

comprando todas as terras desta região. Seu

tio se recusou a vender. Então eles o

mataram.

— E o resto dos vaqueiros?

— Os pistoleiros assustaram.

— E você, por que ficou?

— Devo confessar que era o único sem

condições de fugir. Se não fosse por seu tio,

talvez eu estivesse morto agora.

— Por que estava treinando tiro-ao-alvo?

— Porque desejo vingar George Byron.

— Está bem, Arnold. Por que não

entramos e você me conta com detalhes

tudo que aconteceu por aqui?

— Certo, Dave.

Enquanto isso, na cidade, um pistoleiro

desmontava apressadamente diante do hotel.

Subiu rapidamente as escadas, parando

diante do quarto de Arbuckle Miles.

— Entre! — ordenou este, assim que o

homem bateu na porta.

— Sr. Miles, fui levar mantimentos a

Albee e os outros e adivinhe o que encontrei

lá?

— Como vou saber, seu idiota?

— Todos eles mortos.

— Mortos?

— Sim, foram mortos a tiros.

— Sabe como aconteceu?

— Não tenho a menor idéia.

— Vá procurar meu irmão e os outros.

O pistoleiro tratou de cumprir a ordem o

mais depressa possível.

Momentos depois, Wilde, Dam,

Wyoming e Ryle estavam lá, ouvindo o

acontecido.

— Diabos! Isso só pode significar uma

coisa — falou Dam.

— Acha que o sobrinho dele fez aquilo?

— indagou Wilde.

— Só pode ter sido.

— Esperem um pouco. Um homem

esteve no saloon procurando por George

Byron — falou Ryle.

— Pode ser o sobrinho do velho, então —

concluiu Arbuckle.

— Mas tinha todas as características de

um vaqueiro comum — contestou Ryle.

— E você sabe como era esse sobrinho?

Ninguém aqui sabe nada sobre ele. Você

deveria ter nos avisado disso — observou

Arbuckle.

— Para onde ele foi? — indagou Wilde?

— Para o rancho do velho.

— Então é o homem que esperávamos —

concluiu Arbuckle.

— O que vamos fazer, irmão? — indagou

Wilde.

— Isso não muda nada, agora que ele está

aqui. Ryle, reuna alguns homens e vá ao

rancho cuidar do sobrinho do velho.

— Farei isso com todo prazer.

— Por que não me deixa cuidar disso? —

pediu Wyoming. — Ryle talvez não dê

conta do recado.

— Pare de me provocar, Wyoming.

— Acalmem-se os dois — ordenou

Arbuckle. — Vou precisar de você,

Wyoming. Ryle, vá cumprir minhas ordens.

Assim que o pistoleiro deixou o quarto,

Arbuckle disse a Wyoming:

— Você irá comigo ao Rancho Carry.

Vou ter uma última conversa com August

Carry. Tomei a decisão de acabar logo com

isso.

— E se o rancheiro não quiser negociar?

— falou Wilde.

— Já pensei num plano que vai

convencê-lo.

— O que pretende?

— Algo que ele não poderá fugir. Vamos

usar a filha como meio de fazê-lo

concordar.

— Como assim?

— Se ele se recusar a vender o rancho

hoje, Wyoming se encarregará de raptar

Daryl.

— Está falando sério?

— Sim, August Carry negociará, quando

souber que temos a filha em nossas mãos.

— E depois? É certo que ele vai criar um

caso muito grande.

— Só precisamos de August Carry até

que ele assine a venda do rancho. Depois

disso, sua vida não vale um níquel para nós.

— Você é um gênio, irmão — elogiou

Wilde, sorrindo de modo especial.

No rancho Byron, Arnold acabara de

contar em detalhes tudo que acontecia por

ali.

— Então apenas meu tio e August Carry

ainda não negociaram suas terras.

— Sim. São as únicas terras produtivas

desta região.

— Miseráveis! Pretendiam enriquecer

facilmente — comentou Dave.

— Mas por quê? Afora esses dois

ranchos, o resto das terras não tem valor

algum.

— Agora, Arnold. Imagine o que a

ferrovia pagará por elas.

— Ferrovia?

— Sim, Arnold. Pode entender agora o

plano desta gente?

— Com todas as terras nas mãos deles,

ficarão ricos, pressionando a ferrovia. Isso,

infelizmente, está acontecendo em toda

parte por onde a ferrovia está passando.

— Foram muito espertos, mas agora eu

estou aqui para cuidar disso. E o que me diz

do xerife da cidade?

— Foi comprado também, assim como o

prefeito e alguns conselheiros.

— A situação está pior do que eu

imaginava, então.

— Vai lutar contra eles, Dave?

— Sim, é meu dever.

— Quero ajudá-lo, então.

— Não posso obrigá-lo a isso, Arnold,

mas estou disposto a aceitar todo tipo de

ajuda.

— Não atiro muito bem com um

revólver, mas nunca fui batido com um

rifle.

Naquele momento, ouviu-se um tropel de

cavalos. Dave e Arnold foram à janela.

Um grupo de cavaleiros se aproximava.

Dave disse a Arnold, então:

— Penso que chegou a hora de provar a

sua pontaria com o rifle, Arnold. Conheço o

que vem na frente.

— Ele é um dos que mataram seu tio.

— São seis homens ao todo. Vamos ter

um pouco de ação.

— Vou apanhar um rifle.

Arnold correu para um armário de armas,

retirando uma Winchester.

Após municiá-la, meteu uma caixa de

balas no bolso de seu colete.

— O que acha que eles querem aqui? —

indagou Arnold, notando que os pistoleiros

haviam desmontado a alguma distância da

casa.

— Acho que vieram atrás de mim.

— Já se avistou com eles?

— Sim, lá no saloon.

— Teve sorte, então.

— Eles não sabiam ainda que eu era

Dave Byron. Não me dariam a menor

chance lá, se o soubessem.

Do lado de fora, Ryle ordenava aos

homens:

— Cerquem a casa. Vamos ver se o faço

sair sem maiores problemas.

— O que pretende fazer?

— Vou tentar atraí-lo para fora da casa.

Assim que ele sair, quero que o matem.

— E a assinatura de que Arbuckle

precisa?

— Milan Dewar saberá como falsificar

isso. O importante é que ele esteja morto.

— Está bem, estaremos atentos.

Os pistoleiros se espalharam. Ryle se

adiantou gritando:

— Byron! Sais daí, precisamos

conversar.

— Pode falar, eu o estou ouvindo —

respondeu Dave.

— Saia, só queremos negociar.

— Conheço o tipo de negócio que

pretendem comigo. Saiba que eu o tenho

sob a mira de minha arma. Se fizer um

movimento, será um homem morto.

— O que pretende?

— Chame o resto de seus homens. Quero

todos reunidos diante da casa, ou você será

um homem morto.

Ryle estremeceu. Podia ver, nas janelas

da casa, duas armas apontadas para ele.

— O que está esperando, pistoleiro? Dou-

lhe cinco segundos para reunir seu pessoal.

— Está bem, eles farão isso — disse

Ryle, notando que dois de seus homens se

aproximavam da casa.

Dave e Arnold quase foram

surpreendidos. Os dois pistoleiros se

postaram diante das janelas, disparando

suas armas.

Ryle aproveitou o momento para se

esconder atrás de uma carroça.

Arnold mostrou que era bom com o seu

rifle. Seu disparo atingiu a cara do

pistoleiro, jogando-o para fora do alpendre.

Dave não deixou por menos. Duas balas

se alojaram no peito do pistoleiro que

atirara contra ele.

Ryle entendeu, então, que os dois homens

na casa estavam dispostos a vender caro

suas vidas.

Tratou de reunir seu pessoal, dando novas

ordens.

— Não será fácil tirá-los de lá. Não

vamos perder tempo trocando tiros com

eles. Quero que incendeiem a casa. Eles

terão de sair como ratos assustados.

— Vamos cuidar disso — disse um dos

pistoleiros, apontando para a carroça de

feno.

Ryle e os outros a empurraram em

direção da casa. Quando iam atear fogo,

porém, uma voz atrás deles ordenou:

— Fiquem quietos! Um movimento e os

mato sem piscar.

Ryle se voltou lentamente, assim como os

outros. Dave e Arnold estavam atrás deles,

apontando suas armas.

Enquanto estiveram ocupados com a

carroça, Dave e Arnold simplesmente

haviam saído pelos fundos da casa e dado a

volta para ficar atrás de seus atacantes.

— Você é mesmo um idiota! — falou

Dave.

— Está bem, você nos apanhou —

concordou Ryle.

— Joguem suas armas para cá.

— Não faremos isso.

— Você não teria a menor chance.

— É o que veremos.

— Como você disse, só queremos

conversar agora — disse Dave — O que

pretendiam aqui?

— Você me parece bastante esperto para

saber isso, não? — retrucou Ryle, com

ironia.

— Quem os mandou?

— Não é de sua conta.

— Dou-lhe a chance de viver. Se me

contarem tudo, não os matarei.

Ryle sorriu nervosamente.

— Acham que vencerão nós quatro?

— Se eu estivesse lutando contra quatro

homens, pensaria no assunto. Vocês não

passam de ratos.

— Está bem, valentão. Diz isso porque

tem suas armas na mão.

Dave sorriu, olhando para Arnold. Depois

guardou seus revólveres nos coldres.

Arnold baixou seu rifle. Os dois homens

encararam os pistoleiros.

— E agora, seu covarde? Estamos na

mesma situação.

— Foi seu erro, idiota. Vai morrer como

um imbecil — disse Ryle, levando a mão às

armas.

Seus amigos o imitaram.

O ar se encheu, repentinamente, de

fumaça. Ryle e seus amigos rodopiaram

como bonecos de mola.

Os disparos certeiros das armas de Dave

os atingiram, antes mesmo que Arnold

pudesse erguer seu rifle.

Ao final, quatro cadáveres estavam

estendidos na poeira.

— Caramba! — exclamou Arnold. —

Nunca vi alguém atirar assim.

— A gente aprende a se defender,

Arnold.

— O que faremos com eles?

— Vamos pô-los em seus cavalos e

enxotá-los daqui.

— Vai ser uma bela surpresa se eles

voltarem à cidade, não acha?

— Sim — concordou Dave.

Ele e Arnold trataram de pôr os cadáveres

dos pistoleiros sobre seus cavalos.

Depois os enxotaram do rancho. Os

cavalos se dirigiram calmamente na direção

da cidade.

— Vai ser o diabo agora, Dave — falou

Arnold.

— Sei disso. Em que direção fica o

rancho de August Carry?

— É vizinho do nosso, podemos ir por

aqui.

— Está mesmo disposto a ficar comigo?

— Sim, jurei que vingaria a morte de seu

tio.

— Está bem, Arnold, mas faremos isso,

se possível, dentro da lei.

— Sabe que isso vai ser impossível,

Dave.

— Se não houver outro modo, agiremos

pelas armas, então. Vamos para o Rancho

Carry.

Enquanto isso, Arbuckle Miles, seu

irmão, Dam e Wyoming cavalgavam na

direção do Rancho Carry também.

Quando se aproximavam, Wyoming lhes

apontou algo.

— Aquela não é a garota?

Todos olharam na direção indicada.

Daryl Carry estava passeando a cavalo.

— Parece que estamos com sorte. Se

August Carry não quiser negociar por bem,

teremos a garota em nossas mãos.

— Quer que a pegue agora mesmo? —

indagou Wyoming.

— Não, ainda não, mas fique aqui e a

mantenha sob vigia. Na volta eu lhe direi o

que fazer.

Algum tempo depois eles estavam na

sede do rancho. O proprietário do rancho,

porém, deixou claro que não o venderia.

Arbuckle ainda tentou argumentar, mas

August Carry acabou por colocar um ponto

final na conversa.

— Está perdendo um bom negócio, Sr.

Carry — falou Arbuckle, aborrecido.

— Pode ser, mas já estou neste rancho há

muito tempo.

— Há outras terras melhores no outro

lado da cidade. Poderia fazer um bom

negócio se...

— Compre-as, então — finalizou August

Carry, sorrindo.

— Está bem, mas não diga depois que

não lhe dei nenhuma chance — despediu-se

Arbuckle.

Eles e os outros retornaram

apressadamente, encontrando Wyoming à

espera deles.

— Onde está a garota? — indagou

Arbuckle.

— Logo após aquela colina.

— Ainda está só?

— Sim.

— Pegue-a, então.

— Para onde devo levá-la?

— Se não me engano, há um rancho

abandonado nas terras que compramos, a

duas milhas naquela direção. Leve-a para lá.

Assim que eu chegar à cidade, lhe mandarei

um grupo de rapazes.

— Não acha muito perigoso levá-la para

tão perto assim? — indagou Wilde.

— Claro que não. Ninguém se lembraria

de procurá-la tão perto do rancho dela, se

lembraria? — finalizou Arbuckle, sorrindo

de modo especial.

— Acho que tem razão — concordou

Wilde.

Wyoming já ia se afastar, quando

Arbuckle o avisou:

— Não a machuque, Wyoming. Depois

que tudo isso terminar, tenho algo pessoal

para tratar com ela.

— Entendo — respondeu o pistoleiro,

sorrindo com ironia.

Enquanto o grupo voltava para a cidade,

Wyoming tratava de ir cumprir a ordem.

— Como fará para dar a notícia para

August Carry? — indagou Wilde.

— Vou esperar que ele procure pela filha

por algum tempo. Quando ele estiver

desesperado, darei o golpe final.

— Genial, Arbuckle. Simplesmente

genial! — elogiou Wilde.

Enquanto isso, Dave e Arnold chegavam

ao Rancho Carry, sendo recebidos pelo

proprietário.

Após Dave expor tudo que estava

ocorrendo, August ficou pensativo e

indagou:

— Acha mesmo que é tudo tão sério

assim?

— Pode ter certeza que sim, Sr. Carry.

— Mas o Sr. Miles sempre se mostrou

um cavalheiro. Não posso crer que ele seja

capaz de uma coisa dessas. — argumentou

August.

— Dave não mentiria sobre isso, August.

— falou Arnold. — Além disso, mais do

que ninguém, ele tem autoridade para

decidir o que fazer.

— Como assim?

Dave, então, exibiu suas credencias de

Texas Ranger.

— O caso aqui já é de conhecimento dos

Rangers? — quis saber August.

— Não, Sr. Carry. Eu vim para cá apenas

para atender um chamado de meu tio. Só

depois de minha chegada tomei

conhecimento da situação.

— O que pretende fazer?

— Falar com o xerife, inicialmente, e ver

sua verdadeira posição em tudo isso. Caso

ele tenha se vendido, eu o destituirei a

assumirei o xerifado, até que tudo esteja

normalizado.

— O que posso fazer para ajudá-lo nisso

tudo?

— Não negocie o rancho, Sr. August.

Estas terras, bem como todas as outras,

serão muito valiosas. Não lhe direi o

motivo, mas peço que acredite em mim.

— Está bem, Dave. Farei como disse.

Naquele momento, houve uma

movimentação incomum por parte dos

vaqueiros, do lado de fora da casa.

— O que está havendo? — indagou

August, indo até a porta para verificar.

— O cavalo de Daryl acaba de retornar

sem ela — informou um vaqueiro.

August Carry ficou muito preocupado,

ordenando uma busca imediata.

— Espere um instante, Sr. Carry. Se

houver uma busca, esta poderá destruir

alguma pista que ainda exista, concorda

Dave? — disse Arnold.

— O que tem em mente? — indagou

August Carry.

— Calma, Arnold. Não creio que

devamos alarmar o Sr. Carry. Afinal, a

garota pode ter sofrido uma queda apenas.

— Não, espere. Acho que Arnold tem

razão, considerando que Arbuckle Miles e

os outros saíram daqui a menos de quinze

minutos.

— Realmente? — disse Dave, olhando

interessado na direção do rancheiro. — O

que ele queria?

— Comprar minhas terras. Pelo modo

como ele agiu, deu a entender que aquela

seria sua última oferta. Agora posso

entender isso. Com minhas filha nas mãos,

eu não tenho outra escolha.

— Acalme-se, Sr. Carry. Deixe-me

cuidar disso pessoalmente. Vou tentar

localizar sua filha.

— Acha isso possível?

— Tentaremos. Em que parte do rancho

sua filha costuma passear? — indagou

Dave.

— Eu os levarei ao locais preferidos dela.

— Talvez consigamos encontrar um

pista.

Naquele momento, na cidade, os cavalos

de Ryle e de seus amigos começavam a

chegar.

Tão logo Arbuckle tomou conhecimento

do fato, foi à procura do xerife.

Encontrou-o às voltas com os cadáveres.

— Quem diabos fez isso? — indagou o

xerife a Arbuckle.

— Vamos lá dentro conversar.

— E os cadáveres?

— O papa-defuntos tomará conta deles

— disse Arbuckle, rumando para o

xerifado.

Wilde e Dam, como sempre, o

acompanhavam.

— Muito bem, xerife, é hora de merecer

o ordenado que pagamos.

— O que quer que eu faça?

— Aquele vaqueiro que chegou é

sobrinho de George Byron. Já matou dez de

meus homens, pode acreditar nisso?

— Eu o vi no saloon, parecia muito

corajoso.

— E deve ser mesmo, além de ótimo

atirador.

— Quer que eu vá atrás dele?

— Sim, é o único que pode fazer isso

agora. Ele não permitirá a aproximação de

meus pistoleiros.

— É um trabalho arriscado, se ele já sabe

que eu estou do lado de vocês.

— Ele não teve meios ainda de saber.

— Está bem, irei atrás dele e o trarei à

cidade. O resto é com vocês. — decidiu o

xerife.

— Consiga prendê-lo e terá feito o

suficiente. Ele deve estar no rancho que

pertenceu ao tio.

— O rancho é dele, agora.

— Não por muito tempo, xerife. Não por

muito tempo — ponderou Arbuckle.

Naquele momento, no rancho Carry,

Dave havia descoberto uma pista, junto a

um grupo de árvores.

— Parece que houve luta aqui — apontou

ele, após examinar o local.

— Acha que ela está bem? — indagou

August Carry, preocupado.

— Eles não fariam mal a ela, não

enquanto esperam forçá-lo a vender as

terras.

— Pode descobrir que direção tomaram?

— É o que eu estou tentando fazer —

falou Dave, continuando a examinar o

terreno.

Repentinamente, parou junto a algumas

marcas de ferraduras. Após examiná-las

com as pontas dos dedos, seguiu-as durante

um trecho.

— O que há naquela direção? — indagou

ele, apontando.

— O Rancho de Silas Zake, mas está

abandonado agora.

— A que distância fica?

— Menos de duas milhas.

— Acho que foram naquela direção. É

apenas um cavalheiro que raptou sua filha.

— Como sabe?

— As marcas de ferraduras são mais

profundas. Indica que o animal levava um

peso extra. Vamos segui-las.

Dave, Arnold e August Carry seguiram as

pistas até as proximidades do rancho

abandonado.

— Escondam-se, estou ouvindo um

tropel de cavalos — alertou Dave.

Os três homens levaram seus cavalos

para trás de algumas rochas e desmontaram.

Depois procuraram um local de onde

pudessem vigiar o que se passava ali.

Um grupo de meia dúzia de homens

desmontou diante da casa. Um homem foi

recebê-los.

— Você conhece aquele? — indagou

Dave.

— É Wyoming, o chefe dos pistoleiros

dos Miles — respondeu Arnold. — Foi ele

que matou seu tio.

Os olhos de Dave brilharam

estranhamente, mas nenhum músculo de seu

rosto se moveu.

— O que vamos fazer agora? — indagou

Arnold.

— Vamos esperar e ver o que acontece.

Junto a casa, os homens conversaram

com Wyoming, depois se espalharam, cada

um com seu rifle.

Wyoming entrou na casa por instantes,

depois saiu e apanhou seu cavalo.

— Acho que ele vai voltar para à cidade

— disse Arnold.

— Sim, os outros estão vigiando a casa.

— Como tiraremos minha filha de lá?

— Não há nada que possamos fazer no

momento. O melhor será esperar anoitecer.

— Vamos voltar ao rancho, então. Trarei

um grupo de vaqueiros e... — ia dizendo

August.

— Não, Sr. Carry. Teremos de fazer isso

com todo cuidado ou poremos em risco a

vida de sua filha.

— O que decide, então?

Dave olhou cuidadosamente na direção

da casa, mentalizando o terreno.

— Aproximar daquela casa fica muito

difícil. É campo aberto. Se houvesse um

modo de eliminar os guardas

silenciosamente, sem que fosse preciso se

aproximar deles para isso, teríamos uma

chance.

— Isso vai ser difícil, a menos que você

saiba disparar um flecha — ponderou

Arnold.

— Espere, acho que é isso mesmo. Você

acaba de nos dar uma boa idéia, Arnold.

— Se for, há um arco apache e algumas

flechas lá no rancho. Seu tio os guardava

como recordação. Estão em um armário,

num dos quartos.

— Vou buscá-las. Arnold ficará vigiando

aqui. O Sr. Carry vem comigo.

— Prefiro ficar.

— Por favor, faça como eu disse. Sua

filha será salva.

August acabou cedendo. Momentos

depois eles se afastavam dali.

Dave aconselhou o rancheiro a esperar

em sua casa, até que Daryl fosse salva.

Depois rumou para seu rancho, à procura

do arco e das flechas.

Assim que chegou, desmontou e entrou

rapidamente na casa. Quando havia

localizado o que buscava e se dispunha a

sair, notou um homem que lhe apontava

uma arma.

Dave estacou, pronto para sacar suas

armas. Ao ver a estrela de prata, porém,

relaxou os músculos.

— Foi bom encontrá-lo aqui, xerife.

Precisava mesmo falar com você.

— Sem conversa, vaqueiro. Vá soltando

o cinturão, sem nenhum movimento em

falso.

— O que quer de mim, xerife?

— Eu não quero nada, mas parece que

você é um aborrecimento para algumas

pessoas que conheço.

— As mesmas pessoas que o

compraram?

O xerife sorriu cinicamente,

respondendo:

— Você não me ofende com isso, rapaz.

Cansei de prender vaqueiros bêbados nas

noites de sábado e nada lucrar com isso.

— Saiba que está desonrando sua estrela.

— E o que vale isso?

— Está bem, xerife. Fez sua escolha.

Antes que faça qualquer outra coisa, porém,

é bom ver o que há aqui no bolso de minha

camisa.

— Não caio em truques tão idiotas, rapaz.

— Falo sério, xerife.

— Está bem, o que há aí?

Dave retirou sua carteira. O xerife sorriu

satisfeito, pois concluiu que Dave estava

disposto a pagar por sua vida.

— Coloque sua carteira sobre a mesa,

rapaz.

Dave obedeceu. O xerife a apanhou e,

quando a abriu, seu rosto se transformou em

uma careta de espanto.

— Você é um Texas Ranger?

— Sim...

— Isso aqui não quer dizer nada agora,

Texas Ranger. Pelo contrário, acaba de

decretar sua sentença de morte.

— Eu não faria isso se fosse você, xerife

— respondeu Adam, deixando cair o arco e

as flechas.

Suas mãos ficaram próximas das armas.

O xerife vacilou por instantes.

— Você não pode ser tão bom quanto

pensa... — falou o xerife, esfregando a

manga da camisa no rosto para secar o suor

que escorria, revelando seu medo.

— Eu não tentaria se fosse você, xerife

— alertou-o o Ranger, com tranqüilidade.

— Sabe que não me deixa escolha

agora...

— Você fez sua escolha quando resolveu

trair seu distintivo, xerife...

— Sim, eu sei, mas estava cansado de

ganhar míseros vinte dólares por mês...

Sabe como é...

— Não, xerife, eu não sei como é. Se

quer ter a chance de um julgamento justo,

entregue seu distintivo e suas armas agora

mesmo. Caso contrário terei de exercer meu

poder de polícia e destituí-lo...

— É seu direito, Ranger, mas não pense

que será fácil — falou o xerife, levando a

mão direita na direção do cabo de sua

pistola.

Com desespero, porém, percebeu tarde

demais que o Ranger era muito mais rápido.

Viu a mão do outro descer velozmente na

direção do Colt, sacá-lo, enquanto o polegar

puxava o cão do gatilho para trás, deixando

a arma pronta para matar.

Hesitou por instantes, imaginando se não

seria mais inteligente render-se, mas era

tarde demais.

Isso lhe custou a vida. A arma de Dave

saiu do coldre despejando chumbo.

O corpo do xerife rodopiou e bate contra

a parede, caindo para frente de braços

abertos.

Dave se certificou de que o xerife não

mais vivia. Depois guardou suas armas.

Em seguida apanhou o arco e as flechas,

mas, antes de partir, arrastou o corpo do

xerife para fora.

Procurou pelo cavalo do falso homem da

lei. Amarrou o laço na sela e depois o

prendeu nas pernas do xerife.

Antes de espantar o cavalo, Dave retirou

a estrela de prata e a espetou em seu próprio

peito.

Depois cavalgou ao encontro de Arnold.

Ao anoitecer, Dave e Arnold procuraram

se aproximar o mais possível da casa.

— Há dois guardas do lado de fora. Os

outros quatro estão na casa — informou

Arnold.

— Sim, eu os vejo.

— Acha que pode atingí-los daqui?

— Preciso tentar — respondeu Dave,

apanhando o arco e uma flecha. — Fique

pronto para qualquer emergência, Arnold.

Um dos guardas estava, naquele

momento, circulando ao redor da casa.

Dave aguardou até que ele fugisse das

vistas do outro guarda, plantado diante da

casa.

Quando isso aconteceu, o Texas Ranger

distendeu a corda do arco o mais que pôde.

A flecha sibilou, cravando-se nas costas

do pistoleiro que, sem um gemido, abriu os

braços e caiu de frente na poeira.

— Belo tiro, Dave. — elogiou Arnold. —

Onde aprendeu isso?

— Tínhamos treinamento no companhia.

Vamos ver o outro, agora — respondeu

Dave, apanhando outra flecha.

Com a mesma pontaria, fez a flecha se

encravar no peito do segundo pistoleiro.

Este encolheu o corpo, caindo imóvel.

— Agora poderemos nos aproximar —

falou Dave.

Ele e Arnold deixaram seu esconderijo e

caminharam lentamente na direção da casa.

Repentinamente, a porta se abriu. Um

pistoleiro surgiu, dizendo:

— Larry, John, venham jantar. Nós

vamos substituí-los.

— Ele nos confundiu com seus amigos

— murmurou Arnold.

— Vamos nos aproximar. A escuridão

nos favorece.

O pistoleiro que estava à porta saiu ao

encontro dos dois.

Quando já estava próximo, indagou,

levando a mão às armas:

— Quem são vocês?

— Tarde demais, amigo — falou Dave,

enterrando sua faca no estômago do

pistoleiro.

Este, no entanto, ainda conseguiu sacar

uma de suas armas e disparar a esmo.

— A garota — exclamou Dave,

entendendo que aquilo poderia ser o fim

para ela.

Dois pistoleiros surgiram à porta, de

armas na mão. Dave e Arnold dispararam

sobre eles quase que ao mesmo tempo.

Os dois renegados tentaram se sustentar

um ao outro, mas acabaram indo ao chão.

Dave, preocupado com a garota e o

último dos pistoleiros, se jogou pela porta

aberta.

Suas armas estavam prontas para

disparar, mas ele interrompeu qualquer

movimento, ficando imóvel no assoalho.

O pistoleiro apontava seu Colt para a

cabeça da jovem amarrada em uma cadeira.

— Se fizer um movimento, eu mato a

garota — ameaçou o pistoleiro.

Dave deixou cair suas armas, enquanto se

levantava lentamente.

— Quem é você? Onde conseguiu essa

estrela?

— Sou o novo xerife da cidade.

— Cometeu um erro vindo aqui, xerife. O

que houve com meus amigos?

— Eu os matei — disse Dave, tentando

manter a atenção do pistoleiro, já que

Arnold se aproximava de uma das janelas.

— Vai pagar por isso, então —

sentenciou o pistoleiro, apontando a arma

para a cabeça de Dave.

Antes que ele pudesse disparar sobre o

Texas Ranger, Arnold se antecipou,

abatendo-o com dois certeiros balaços.

Dave tratou, então, de soltar a garota.

— Quem são vocês? Arnold, eu o

reconheço agora — falou ela, assim que o

Texas Ranger lhe tirou a mordaça.

— Tudo bem com você, Daryl? —

indagou Arnold.

— Sim, não fui maltratada, apesar das

ameaças constantes.

— Este é Dave Byron, sobrinho de

George Byron — apresentou Arnold.

— Olá, Daryl. Fico aliviado de encontrá-

la a salvo.

— Como souberam disso?

— Estávamos no rancho de seu pai,

quando seu cavalo retornou sem você —

explicou Dave.

— E papai, onde está agora?

— Ele nos espera no rancho. Vamos

retornar agora mesmo.

Enquanto isso, na cidade, havia um

alvoroço causado pela chegada do corpo do

xerife, arrastado pelo seu cavalo.

Arbuckle Miles e os outros se mostraram

bastantes preocupados.

Estavam reunidos no saloon, discutindo o

que fazer em seguida.

— Aquele homem é perigoso — dizia

Wyoming. — Acho que chegou a hora de

me deixarem cuidar disso, precisamos

cuidar do caso da garota — respondeu

Arbuckle.

— Isso já são favas contadas — antecipo-

se Wilde. — O que me preocupa é esse

homem solto por aí. Quem sabe o que fará

em seguida?

— Está bem, acho que devemos agir

drasticamente a partir de agora, ou corremos

o risco de perdermos tudo que já

conseguimos — decidiu Arbuckle.

— O que faremos, então? — indagou

Dam.

— Ao amanhecer, iremos falar com

August Carry e lhe dar um ultimato quanto

à venda do rancho. Enquanto isso,

Wyoming cuidará de manter a cidade sob

vigia, nos informando se aquele vaqueiro

aparecer.

— Como poderei fazer isso se não o

conheço?

— Diga aos homens que detenham todo

desconhecido que se aproximar da cidade.

— Está bem, eles farão isso —

concordou Wyoming, indo reunir os

pistoleiros.

— Alguns dos rapazes já o viram lá no

saloon, quando discutiu com Ryle —

lembrou Dam.

— Sim, isso mesmo — emendou

Arbuckle. — Deixe um deles em cada

grupo que permanecerá de vigia. Quero que

todos fiquem atentos. Estamos lidando com

um sujeito perigoso.

Wyoming, então, tratou de cumprir as

ordens recebidas, enquanto os outros

ficavam bebendo e conversando.

Naquele momento, Dave, Arnold e Daryl

chegavam ao rancho Carry.

Foram recebidos com muita alegria,

principalmente por parte dos pais da garota.

Dave assistiu, com emoção, ao

reencontro da garota com seus familiares.

Depois, August os convidou para o

jantar. Após isso, sentaram-se no alpendre

para conversar.

— O que pretende fazer em seguida,

Dave, já que está de posse da estrela de

xerife? — indagou August.

— Pretendo ir à cidade e fazer valer meu

cargo — respondeu Dave corajosamente.

— Vai ser difícil conseguir isso. Terá a

cidade contra você. Para os outros,

Arbuckle Miles e seus comparsas são os

novos benfeitores da cidade.

— Sim, eu estava justamente pensando

nisso. Vai ser difícil abrir os olhos daquele

pessoal, a menos que...

— O que tem em mente, Dave? —

indagou Arnold.

— A menos que toda cidade saiba da

chegada da ferrovia.

— E como fazer isso? Acho que vai ser

difícil até para conseguir entrar na cidade.

— Precisamos encontrar um meio. Se a

população não nos acreditar, pelo menos

teremos lançado uma suspeita. Se eles não

nos ajudarem, ficarei satisfeito se não se

intrometerem na luta.

— Acho que há um modo de fazer isso,

Dave — disse Daryl.

— O que sugere?

— Sabe manobrar uma impressora

tipográfica?

— Penso que sim. Qual é a idéia?

— Há uma na cidade, usada para

imprimir boletins. Você poderia usá-la para

editar uma espécie de alerta à população,

falando-lhes do que está acontecendo.

— Sim, é uma idéia muito boa —

concordou Dave.

— Eu posso ajudá-lo nisso — propôs

Arnold.

— Conto com você, então. Se formos

para a cidade agora e trabalharmos durante

toda a noite, teremos os boletins logo pela

manhã. Quando a cidade acordar, eles

estarão espalhados por toda parte.

— Eu também vou com vocês. Vão

precisar de muito café e de alguma comida

— ofereceu-se Daryl.

— Pode ser perigoso — alertou Dave,

não escondendo sua satisfação pela oferta.

— Com vocês dois por perto, Não tenho

medo de nada — disse ela.

— O que acha, Sr. August? — indagou

Dave ao rancheiro.

— Daryl toma suas próprias decisões.

— Então está decidido, irei com vocês.

— finalizou ela.

Algum tempo depois, naquela mesma

noite, Dave, Arnold e Daryl se

aproximavam da cidade.

— Nota alguma coisa de anormal? —

indagou Arnold.

— Parece tudo calmo, mas é bom não

confiar nisso. Vamos nos aproximar.

— Poderemos chegar à tipografia pela

entrada dos fundos. Assim não

precisaremos entrar direto na cidade —

lembrou Daryl.

— Boa idéia, Daryl. Pode nos guiar?

— Claro, Dave. Vamos por ali.

Os três cavalgaram cautelosamente,

aproximando-se da cidade. Repentinamente,

três homens surgiram à frente deles, quando

já chegavam aos primeiros prédios da

cidade.

— Parem! — ordenou um deles.

— O que desejam? — indagou Arnold.

— Quem são vocês?

— Eu, meu irmão e minha cunhada

estávamos visitando um amigo doente —

mentiu Arnold.

— Qual é o seu nome?

— Albert Carlyle.

O pistoleiro se aproximou um pouco

mais. Um dos que estavam mais afastados,

riscou um fósforo para acender um lampião.

Arnold, com rapidez, deu um pontapé no

queixo do pistoleiro que se aproximava.

Dave esporeou seu cavalo sobre os outros

dois, derrubando-os.

Antes que ele se levantassem, Dave já

lhes apontava suas armas.

— Fiquem quietos ou os matarei como

ratos — ameaçou o Texas Ranger.

— É ele! — exclamou o pistoleiro que

havia sido golpeado no queixo.

— Procuravam por mim? — indagou

Dave.

— Sim, toda a cidade está atrás de você.

— Pior para vocês. Arnold, traga cordas,

vamos amarrar esses três.

— Não farão isso — respondeu o

pistoleiro, desafiador.

— Prefere morrer?

— Talvez, mas se você disparar sua arma

contra nós, terá todo o bando sobre vocês,

ansiosos para matá-los. Garanto que não é

isso que deseja, não?

Dave percebeu que o pistoleiro tinha

razão, notando que eles se preparavam para

reagir.

Poderia matá-los facilmente, mas os

disparos atrairiam a atenção dos outros.

Assim, Dave esperou pelo ataque de dois

pistoleiros que estavam perto dele.

O cano de sua arma atingiu a cabeça de

um deles. Uma joelhada fulminante fez o

outro se dobrar.

Arnold avançou para o pistoleiro junto

dele, tentando atingí-lo.

Este, porém, foi mais rápido, foi mais

rápido, desviando-se de Arnold e

golpeando-o com um murro.

Antes que os dois homens pudessem

fazer alguma coisa, o pistoleiro correu para

longe deles.

— Pare! — ainda ordenou Dave.

O pistoleiro, no entanto, não o obedeceu.

Dave, então, guardou suas armas, dizendo

para Arnold e Daryl:

— Vamos sair rápido daqui, ele vai dar o

alarme!

— Venham comigo, estamos perto da

tipografia.

— Vamos deixar os cavalos — lembrou

Dave.

Os três se esgueiraram por entre os

prédios, guiados por Daryl.

Pouco depois estavam na porta dos

fundos da tipografia.

— É aqui — informou Daryl.

— Mora alguém aí dentro?

— Não, isso não é muito usado. Foi

abandonado por um jornal falido e se

mostra útil às vezes.

— Nesse caso, não temos escolha —

falou Dave, abrindo a porta com um

pontapé.

— Eles revistarão a cidade a nossa

procura — falou Arnold, indo até uma das

janelas da frente, de onde se podia observar

o que acontecia na rua.

— Não acho que se lembrarão de nos

procurar aqui. Vamos escurecer as janelas e

as frestas da porta — ordenou Dave,

espalhando papel e alguns cobertores que

estavam ali.

— Temos muito trabalho a fazer.

Após tamparem as janelas, puderam

acender alguns lampiões. Dave verificou o

material e a prensa, depois tratou de pôr se

plano em prática.

Enquanto isso, no saloon, Arbuckle e os

outros tomavam conhecimento da chegada

de Dave Byron à cidade, através do

pistoleiro que o vira.

— Tem certeza de que era ele mesmo? —

insistiu Wilde.

— Sim, não há dúvida nenhuma.

— Quem estava com ele?

— Arnold, aquele capataz do rancho e a

garota Carry.

— Daryl? Tem certeza disso?

— Sim, mal pude acreditar, mas era ela

mesma.

— Diabos! Isso põe em terra todos os

nossos planos — praguejou Arbuckle,

esmurrando o balcão.

— Além disso — continuou o pistoleiro

que trouxera a informação. — Aquele

indivíduo estava usando a estrela do xerife.

— Isso quer dizer que ele sabe sobre nós,

então — deduziu Dam.

— Deixem-me cuidar disso pessoalmente

— pediu Wilde.

— O que me preocupa é saber o que ele

veio fazer aqui na cidade, principalmente

acompanhado daquela garota — falou

Arbuckle.

— Só temos que encontrá-los para saber

isso.

— Tem alguma idéia de como fazê-lo?

— Eu tenho — antecipou-se Wyoming.

— Qual é sua idéia?

— Vou reunir todo o pessoal.

Cercaremos toda a cidade e depois

acordaremos toda a população.

Revistaremos casa por casa.

— É uma boa idéia, mas como a cidade

reagirá a isso? — indagou Dam.

— Só temos de convencê-la de que o

assassino do xerife se ocultou aqui. Ela

ficará do nosso lado — respondeu

Arbuckle.

— Sim, é isso mesmo. Vou reunir o

pessoal agora mesmo decidiu Wyoming.

— Acho que todos devemos participar

disso — falou Arbuckle Miles. — O futuro

de nosso investimento está em jogo.

— É apenas um homem, Arbuckle —

lembrou Wilde.

— Mas ele já mostrou do que é capaz. Se

não o liquidarmos essa noite mesmo, tenho

a absoluta certeza de que estaremos

perdidos.

Dave interrompeu seu trabalho para olhar

na direção de Arnold e dizer:

— Arnold, saia pelos fundos e veja o que

está havendo lá fora. Parece que toda a

cidade está saindo às ruas.

O vaqueiro obedeceu prontamente.

Quando retornou, parecia bastante

alarmado.

— E então, o que houve? — indagou

Dave.

— Eles estão revistando casa por casa. A

cidade parece cercada.

— Casa por casa?

— Sim, há diversos grupos deles fazendo

isso e parece que não estão brincado em

serviço.

— Por essa eu não esperava! —

exclamou Dave, pensativo.

— O que vamos fazer, Dave? Fatalmente

seremos descobertos.

Dave, então, apagou os lampiões e depois

foi observar por uma das janelas.

— Se sairmos daqui, acabaremos

descobertos também — lembrou Arnold.

— Não se estivermos disfarçados.

— Disfarçados?

— Sim, estou vendo alguns mexicanos lá

fora. Se conseguíssemos ponchos e

sombreros, passaríamos desapercebidos na

multidão.

— Talvez eu possa conseguir isso —

falou Daryl. — A filha do proprietário do

armazém é minha amiga.

— Pode ser perigoso — alertou Arnold.

— Eles estão muito preocupados em

encontrar vocês dois. Eu posso fazer isso.

— Daryl tem razão, Arnold. Acho que

vale a pena tentar — decidiu Dave.

— Sairei pelos fundos.

A garota se afastou. Dave e Arnold se

postaram à janela, observando os

acontecimentos lá fora.

Um grupo de pistoleiros estavam a alguns

prédios dali. Felizmente Daryl retornou a

tempo.

— Pronto, aqui está tudo de que precisam

— disse ela.

Dave e Arnold vestiram os ponchos e os

sombreros, escondendo seus chapéus.

Depois saíram pelos fundos e foram se

misturar à população nas ruas.

— Alguma idéia agora, Dave? —

indagou Arnold.

— Sim, acho que devíamos aproveitar

toda essa gente e avisá-los a respeito do que

está acontecendo.

— Seríamos denunciados assim que nos

revelássemos. — lembrou Arnold.

— Daryl fará isso. É conhecida de todos.

— Diga o que devo fazer, Dave.

— Muito bem, Daryl. Conte-lhes de que

sou um Texas Ranger e peça-lhes que

voltem para suas casas, à medida que elas

forem sendo revistadas. Não quero que

ninguém se machuque.

— E vocês, o que farão?

Dave olhou na direção do saloon, antes

de responder:

— Acho que vamos entrar direto na boca

do lobo.

— Não pretende entrar lá, pretende? —

indagou Daryl, apreensiva.

— Não seremos reconhecidos. Assim

poderemos observar o que se passa lá

dentro. Além disso, chegou o momento de

decidir esta questão. Agora faça o que eu

disse, Daryl. É importante para todos nós.

Daryl concordou. Dave e Arnold, metidos

em seus disfarces, rumaram para o saloon.

Foram se sentar numa das mesas ao

fundo, debruçando suas cabeças como se

estivessem dormindo.

Arbuckle e os outros estavam em uma

das mesas no outro lado do saloon e

pareciam muito nervosos.

— O que faremos agora, Dave? —

indagou Arnold.

— Vamos esperar para ver o que

acontece. Não poderemos agir enquanto

aquele pessoal estiver lá nas ruas.

— Eu gostaria de ter o meu rifle comigo

agora.

— Vai ter que se contentar com seu

revólver mesmo, Arnold.

Repentinamente, porém, dois pistoleiros

entraram no saloon, escoltando Daryl Carry.

— Diabos! Ela foi apanhada — falou

Arnold.

— Calma, vamos observar apenas —

ordenou Dave.

Daryl foi levada à presença de Arbuckle

Miles e dos outros.

— É uma surpresa encontrá-la aqui,

Daryl — falou Arbuckle.

— Acredito realmente. Na certa pensava

que eu ainda estivesse na prisioneira de seus

homens, não? É um covarde desprezível,

sabia?

— Agora chega, Daryl. Isto aqui não vai

ser uma reunião social. Quero saber onde

está aquele vaqueiro intrometido.

— Vaqueiro? Dave Byron é mais do que

isso, Arbuckle. Ele é um Texas Ranger.

— Texas Ranger! — exclamou Arbuckle

surpreso.

Os outros homens se entreolharam,

apreensivos.

— O que os Texas Rangers têm contra

nós? — indagou Wilde.

— Posso dizer que ela já sabe de todos os

seus planos, inclusive a respeito da ferrovia.

Arbuckle se levantou, encarando Daryl,

seriamente.

— Onde está ele?

— Está perdendo seu tempo procurando

aqui na cidade. Ele e Arnold rumaram para

o rancho Byron.

— Não pensa realmente que vou

acreditar nisso...

— Então espere. Dave foi se encontrar

com uma patrulha da Texas Ranger. Logo

eles estarão aqui, de volta, para acabar com

você e seus comparsas.

— Reuna os homens — ordenou

Arbuckle a Wyoming.

— Não vai acreditar nela, vai?

— E por que não? Ela será nossa refém.

Se estiver mentindo, sua vida não valerá um

níquel.

— E se houver realmente essa patrulha?

— indagou Wyoming.

— Acabe com todos. Se pegá-los de

surpresa, eles não terão chance.

— Está bem, cuidarei disso — falou

Wyoming, saindo.

Momentos mais tarde, um tropel de

cavalos indicava que os pistoleiros estavam

saindo da cidade.

— Muito esperta a garota — comentou

Dave a Arnold.

— Sim, isso praticamente deixa o

caminho livre para nós agirmos.

Junto a outra mesa, os dois pistoleiros

ainda vigiavam Daryl.

Arbuckle olhou para a garota de modo

especial. Daryl não gostou daquele olhar,

mas se sentiu protegida ao notar a presença

de Dave e Arnold, ali no saloon.

— O que podemos fazer enquanto

esperamos? — indagou Dam.

— Tenho uma boa idéia — disse

Arbuckle, ainda olhando Daryl do mesmo

modo. — Eu serei o primeiro.

Daryl tentou escapar aos braços que a

seguravam, mas os pistoleiros a prendiam

firmemente.

— Deixem-na comigo, rapazes — falou

Arbuckle, segurando o braço da garota. —

Venha comigo e seja boazinha. Prometo que

não a machucarei.

Daryl hesitou por instantes, mas acabou

confiando na ação de Dave e Arnold,

deixando-se conduzir por Arbuckle para o

andar superior do saloon.

— O que faremos? — indagou Arnold.

— Fique aqui, eu cuido disso

pessoalmente — falou Dave, levantando-se

e deixando o saloon.

Imediatamente contornou o prédio,

chegando aos fundos. Havia uma escada

que conduzia ao andar de cima.

Rapidamente ele subiu. Ao abrir uma

porta e entrar num corredor, Dave sacou

suas armas.

De um dos quartos vinha um ruído

abafado de luta. Dave caminhou rente a

parede, para não ser visto pelos que estavam

na parte de baixo do saloon.

Diante da porta, experimentou o trinco.

Arbuckle se sentia realmente muito

confiante, pois nem trancara a porta.

Dave a empurrou e entrou. Arbuckle

deixou Daryl e se levantou rapidamente.

— Não toque nessas armas — ordenou

Dave.

— Maldito! Eu devia saber que se tratava

de um truque.

— Chegou ao fim, Miles. Você e os

outros pagarão pelas trapaças que

realizaram.

— Não pense que vou facilitar as coisas

para você, Texas Ranger. Meu irmão e Dam

Hodgson estão lá embaixo. Se disparar suas

armas, eles subirão aqui e você não terá a

menor chance com eles.

— Eles estão lá embaixo, Arbuckle

Miles, mas nós estamos aqui. Pretende jogar

com sua vida?

Daryl, que havia se levantado, tentou

correr para junto de Dave.

Arbuckle a segurou pelo braço, sacando

sua arma. Dave não pôde atirar, temendo

ferir Daryl.

— Agora inverteram-se os papéis, Texas

Ranger. Solte suas armas ou mato a garota.

— Não faça isso Dave. Enfrente-o —

pediu Daryl.

— Não posso fazer isso, Daryl — disse

Dave, abaixando suas armas.

Arbuckle, triunfante, deixou de apontar

sua arma para a cabeça de Daryl.

A garota, percebendo isso, jogou-se no

chão. Arbuckle ficou indeciso e isto lhe

custou a vida.

Dave rapidamente levantou suas armas,

disparando certeiramente.

O corpo de Arbuckle, mortalmente

ferido, foi bater contra a parede e depois

escorregou lentamente para o chão.

— Fique aqui, Daryl — ordenou Dave,

correndo para a porta.

Wilde Miles e Dam subiam

apressadamente as escadas, já de armas em

punho.

Ao perceberem Dave, dispararam suas

armas com rapidez. Dave recuou. Balas se

encravaram perigosamente na porta.

— Proteja-se, Daryl — ordenou Dave,

após fechar a porta.

Wilde e Dam se postaram um de cada

lado da porta.

— Era o Texas Ranger, tenho certeza —

falou Wilde.

— Sim, eu também o vi.

— Diabos! Se ao menos Wyoming e os

outros estivessem aqui.

— O Texas Ranger está encurralado, não

tem como sair daí.

— E como podemos tirá-lo? Não se

esqueça de que meu irmão está aí dentro.

— Pode apostar que ele já está morto,

Wilde

— Se isso aconteceu, eu esfolarei esse

Texas Ranger vivo.

— Vamos ter de entrar aí.

— Proteja-me, eu farei isso — disse

Wilde.

Antes que pudesse se mover, no entanto,

Arnold chegava ao topo da escada e lhes

apontava suas armas.

— Não se movam! — ordenou.

Wilde, o mais desesperado dos dois,

girou o corpo, apontando suas armas para

Arnold.

O vaqueiro disparou apressadamente. As

balas não atingiram Wilde, que respondeu

ao fogo.

Mortalmente atingido, o corpo de Arnold

rolou pela escada, indo se estatelar lá

embaixo.

Antes que Wilde e Dam pudessem se

refazer daquele ataque, a porta se abriu

violentamente.

As armas de Dave dispararam com

incrível rapidez. Os corpos de Wilde e Dam

se contorceram, à medida que eram

atingidos.

Quando as armas de Dave silenciaram,

Wilde e Dam ainda tentavam se manter

agarrados ao corrimão, com o sangue

escorrendo generosamente de seus corpos.

O corpo de Wilde escorregou lentamente

para o assoalho. O de Dam se soltou,

rodopiando no ar.

Com um baque surdo, seu corpo bateu

contra o assoalho, ficando imóvel.

— Arnold! — gritou Dave, correndo para

a escada.

Quando se preparava para descê-la,

Wyoming e cinco pistoleiros entraram no

saloon, apontando suas armas.

— Eu bem que imaginava — falou o

pistoleiro. — Pare aí mesmo, Texas Ranger.

— Vocês não tem mais motivos para

lutarem, homens. Acabo de matar seus

patrões.

— Isso não quer dizer nada. Agora eu sou

o patrão aqui — retrucou Wyoming.

— Estou lhes dando uma chance de

escaparem desta sem qualquer outro

problema.

— Já estamos metidos nisso e vamos até

o fim. Pena que mandei o resto dos homens

para o seu rancho. Gostaria que todos

estivessem aqui para ver como se mata um

Texas Ranger.

— É valente porque tem armas e alguns

capangas. Por que não me enfrenta cara a

cara?

— Não sou estúpido, Texas Ranger.

Arbuckle se precipitou a seu respeito.

Aposto como não há nenhuma patrulha da

Texas Ranger por aqui. Você tomou

conhecimento disso por coincidência.

— Aposta sua vida nisso?

— Meus homens estão preparados.

Cercarão seu rancho. Se houver algum

Texas Ranger por lá, será morto sem

piedade, mas eu duvido que esteja falando a

verdade.

— Nesse caso, somos apenas nós.

— Mas você está liquidado. Suas armas

estão nos coldres, as minhas estão prontas

para disparar.

— O que está havendo aqui? — indagou

Milan Dewar, entrando repentinamente no

saloon.

— Fique fora disso, agente de terras —

ordenou Wyoming, desviando os olhos para

olhar Dewar.

Aquele segundo de indecisão foi o

bastante para o possibilitar a Dave uma

reação.

Ele se atirou escada abaixo, buscando a

proteção do balcão. As armas do pistoleiro

dispararam, arrebentando garrafas.

Dave se levantou na outra ponta do

balcão. Suas armas dispararam com incrível

pontaria.

Um a um os pistoleiros foram tombando,

varados por balas certeiras, inclusive Milan

Dewar.

Restou apenas Wyoming, oculto atrás de

uma das mesas. Dave disparou contra ele.

As balas arrancaram lascas, mas não

atingiram o pistoleiro. De repente, no

saloon, ouviu-se apenas os estalidos secos

dos gatilhos das armas de Dave, sem

munição.

Wyoming riu alto, cheio de confiança.

Adiantou-se, saltando sobre o balcão.

Dave o encarou, esperando pela morte.

— O que está esperando? — indagou o

Texas Ranger.

— Quero vê-lo implorar por sua vida, seu

bastardo maldito — disse Wyoming.

— Vai esperar em vão — respondeu

Dave, fazendo menção de jogar suas armas

contra Wyoming.

Um tiro soou no saloon. Depois outro. O

rosto de Wyoming, dominado por um

sorriso, se transformou em uma careta de

dor. As balas haviam atravessado seu corpo

e agora o sangue escorria dos dois lados

dele, descendo por suas pernas e enchendo

sua bota. Quando ele cambaleou, suas botas

fizeram um ruído grotesco.

As armas escorregaram de suas mãos. Se

corpo desabou pesadamente.

No alto da escada, Daryl ainda segurava

um revólver fumegante, que havia apanhado

junto ao cadáver de Wilde.

— De repente, senti uma vontade enorme

de abraçá-la e beijá-la — falou Dave,

sorrindo para Daryl.

— Falaremos nisso depois que você

cuidar daquele bando de pistoleiros que

estará de volta daqui a pouco — respondeu

ela, começando a descer as escadas.

— Então temos que nos preparar para

eles — falou Dave, caminhando ao encontro

dela.

Abraçaram-se com força. Dave sentiu

que o corpo dela tremia.

— O que vamos fazer? — indagou ela.

— Acho que devíamos ir ao encontro

deles.

— Fala sério?

— Sim, aqui na cidade poderiam pôr em

risco a vida de inocentes. Acha que

encontraremos alguma ajuda aqui?

— Duvido muito. Você está matando a

galinha dos ovos de ouro deles.

— Acho que tem razão. Agora vamos,

temos de nos apressar.

Um tropel de cavalos lá fora indicou que

um grupo de cavaleiros vinha a todo galope

pela rua principal.

A garota correu até a porta para verificar,

enquanto Dave recarregava as armas, tendo

retirado os cartuchos que encontrava nos

cinturões dos pistoleiros mortos.

— O que foi? — indagou ele.

— Temos visitas! — informou ela.

Dave sabia que tipo de visita seria aquele.

Correu pelo saloon, recolhendo armas e

munição, levando-as para trás do balcão,

onde Daryl foi ter com ele.

— Já vi que sabe usar uma dessas —

observou ele, entregando a Winchester para

a garota.

— Farei o melhor que puder — disse ela,

engatilhando a arma com familiaridade.

Dave municiou uma espingarda que

encontrara atrás do balcão, juntamente com

uma caixa de cartuchos, depois observou os

homens que desmontavam e se postavam lá

fora.

Eles formavam um grupo decidido, que

esperava o melhor momento para invadir o

saloon.

— Quantos são? — indagou ele.

— Meia dúzia, no máximo... Talvez

sete...

Dave observou as sombras que se

deslocavam do lado de fora, preparando-se

para o ataque.

— São oito — contou ele. — Vão nos

cercar... E todos gente da pior espécie, que

não hesitará em furar nosso couro por nada.

— Vamos ficar e nos defender?

— Você fica aqui e atrai a atenção deles.

Vou impedir que eles nos cerquem — falou

ele, correndo para a porta que levava para

os fundos do saloon.

Daryl foi no seu encalço.

— O que vai fazer?

— Vou sair pelos fundos e contorná-los.

Fique atrás do balcão e comece a disparar

contra eles. Estão todos aos lados da porta e

da janela.

— Deixe comigo... Vou começar a

assustá-los — garantiu ela.

— Mas tome muito cuidado. Não quero

que nada lhe acontece. Fora isso, chumbo

naqueles bastardos! E atire para matar. Sabe

que eles não nos darão nenhuma chance...

Daryl obedeceu-o. Enquanto ele saia

pelos fundos, ela foi para o seu posto.

Apoiou o cano da arma no balcão,

procurando por um alvo.

Olhou para a janela, enquanto mirava

cuidadosamente. Viu que os homens se

movimentavam pelos chapéus que

passavam rapidamente sob a janela.

Continuou apontando. Quando enquadrou

um deles na mira, apertou o gatilho.

Através da fumaça ela viu o pistoleiro ser

atirado para o meio da rua, com um grito de

dor.

Um buraco ficou indicando, na madeira

sob a janela, o local para onde ela apontara.

Imediatamente os atacantes começaram a

disparar suas armas para o interior do

saloon.

Felizmente o balcão era feito de grossas

pranchas de madeira maciça, resistindo aos

impactos das balas, mas o mesmo não

acontecia com a porta e a janelas e

prateleira de bebidas atrás dela, que se

lascavam e estilhaçavam todas com o

impacto dos projéteis, que iam estilhaçando

garrafas e copos lá dentro.

Daryl abaixou-se, tapando os ouvidos

com as mãos, enquanto a saraivada de balas

continuava.

Lá fora, Dave havia se afastado o

suficiente para ter uma boa visão do

tiroteio.

Os homens haviam tomando suas

posições. Um deles foi na sua direção, sem

vê-lo, enquanto disparava furiosamente

contra a janela do saloon.

Dave esperou até que ele estivesse perto.

Então, surgindo inesperadamente de um

beco diante do pistoleiro, bateu com a

coronha da arma na cara do outro, fazendo-

o cair e rolar na poeira com o rosto banhado

de sangue.

Antes que o fora-da-lei tivesse condições

de entender o que estava acontecendo, Dave

caiu sobre ele, golpeando-o de novo, desta

vez sobre o nariz, com a coronha da

espingarda.

O homem gemeu, enquanto o sangue

escorria generosamente, transformando sua

cara numa máscara sangrenta.

Ainda assim ele tentou sacar seu

revólver. Dave praticamente encostou o

cano da arma na garganta dele e apertou os

dois gatilhos, degolando-o.

Um cheiro nauseando de carne queimada

misturou-se à fumaça. Rapidamente ele

remuniciou a espingarda.

Contou o número de armas que

disparavam agora contra o saloon cabana.

Eram quatro. Daryl deveria ter acertado

mais dois deles, concluiu ele, dando graças

à pontaria mortal daquela corajosa garota.

— Demônios! — berrou, quando um

cavaleiro surgiu praticamente sobre ele,

atropelando-o com o animal, derrubando-o

e pisoteando-o.

Dave rolou na poeira da rua. O cavaleiro

havia se atrasado em relação ao grupo e

chegava naquela hora. Vira quando o

Ranger atacara seu amigo e viera em seu

socorro.

Dave, ignorando as dores em seu corpo,

só se preocupava com aquele Colt apontado

para ele agora.

O tiroteio continuava cerrado contra o

saloon. Dave Byron rolava

desesperadamente, tentando fugir às patas

do cavalo e ao revólver que era apontado

contra ele. Não conseguia mirar o cavaleiro.

Não teve escolha, então. Apontou a

espingarda contra as patas do cavalo e

disparou, estraçalhando-as. O animal foi ao

chão e o homem sobre ele rolou. Sua arma

voou longe.

— Oh, meu Deus! O que você fez com a

minha perna? — indagou ele, gemendo,

olhando a perna quebrada e o osso que

furara o tecido da calça.

— Minha perna... Minha perna... —

repetia, sem entender o que aquele osso

estava fazendo fora de seu lugar normal.

Dave recarregou a arma. Apontou para o

cavalo e sacrificou-o. Depois, mancando,

aproximou-se do homem caído, que

levantou para ele seus olhos suplicantes.

— Ajude-me! — pediu ele,

pateticamente. — Você tem que me

ajudar... Olhe o que aconteceu com a minha

perna...

— É, está feio mesmo... Tive um cavalo

que sofreu uma queda e aconteceu isso com

a pata dele... — falou Dave, friamente,

olhando o outro nos olhos.

— E o que você fez? — indagou

pateticamente o pistoleiro, pálido como um

fantasma.

— Nunca fui de deixar um animal sofrer

— disse Dave, apontando a arma para a

cabeça do outro e apertando o gatilho.

— Piedade! — suplicou o outro, num fio

trêmulo e acovardado de voz.

Sua cabeça transformou-se numa massa

sanguinolenta e disforme, fumegando ainda

pelo tiro disparado à queima-roupa.

Não havia piedade alguma ou remorso

nos olhos do policial. Sabia que gente

daquela espécie não merecia consideração.

Eram piores que cascavéis.

Ele correu, então, para um ponto

privilegiado. Viu que os homens

disparavam suas armas contra o saloon e

que um deles preparava uma tocha.

— Diabos! — preocupou-se ele, pois

aqueles homens pretendia queimar Daryl lá

dentro. — Não posso deixar que nada

aconteça a ela — acrescentou, analisando a

situação.

O homem com a tocha se aproximava da

porta do saloon. Com toda aquela bebida

caída lá dentro, aquilo queimaria como uma

enorme fogueira de gravetos.

— Diabos! — praguejou de novo,

observando também a posição dos outros

atiradores.

Dos oito que haviam chegado

inicialmente, restavam quatro. Daryl

continuava disparando, mas já não podia

mirar com calma.

Ele correu, então, até onde estavam o

homem que ele havia acabado de matar e

apanhou o rifle de sua sela.

De volta ao seu posto, apontou com

calma para o homem que levava a tocha e

estava agora perigosamente junto da porta

do saloon.

Quando apertou o gatilho, viu o chapéu

voar da cabeça do homem, enquanto ele

caía para o lado com a cabeça partida.

Restavam três agora, mas não seria fácil

pegá-los, pois eles haviam percebido sua

localização.

As balas começaram a assobiar sobre sua

cabeça. Ele se escondeu. Daryl aproveitou-

se da distração dos homens lá fora e pôde

mirar atentamente contra um deles,

atingindo-o.

— Só faltam dois bastardos agora —

comentou Dave, agradecendo Daryl pela

pontaria.

Os últimos dos pistoleiros que haviam

chegado para o ataque pararam de atirar e

abaixaram-se, olhando um para o outro,

com caras de assustados.

— Diabos, Doug, só restamos nós.

— Não temos escolha, Hutch. Ele é um

Ranger, depois de tudo que aconteceu aqui,

seremos enforcados.

O outro parecia muito assustado.

— Doug... Diabos, homem, mas eu não

quero morrer assim... Eu não quero morrer

como um rato encurralado...

— Fique calmo, Hutch, nós vamos sair

disso...

— Eu estou com medo — revelou ele,

trêmulo e suando frio, sentindo a sombra da

morte pairando sobre ele.

Apavorava-o o fato de que todos os seus

amigos estavam mortos. Se ficasse ali, teria

o mesmo destino. Em pânico, correu

apanhar seu cavalo.

— Não seja covarde! — gritou-lhe Doug.

O pistoleiro não lhe deu resposta.

Esporeou seu cavalo e tentou afastar-se dali

o mais depressa possível.

— Covarde maldito! — berrou Doug,

fora de si, apontando seu rifle para o

homem em fuga e apertando o gatilho.

Com um grito o cavaleiro tombou para

frente, na sela, depois foi pendendo para o

lado, até cair. Seu pé ficou preso ao estribo

e seu corpo foi arrastado pelo animal em

disparada, levantando poeira no meio da

rua.

— Agora eu o pego — murmurou Daryl,

enquadrando Doug sua mira e apertando o

gatilho.

O pistoleiro gemeu, erguendo os braços e

deixando cair sua arma. Rolou para trás,

amaldiçoando o tiro que lhe arrancava

sangue e provocava uma dor lancinante no

ombro.

Ao vê-lo atingido, Dave precipitou-se de

onde estava, correndo até o pistoleiro, que

tentava rastejar na direção de seu cavalo.

Quando o alcançou, o rancheiro chutou-

lhe o corpo sem piedade repetidas vezes,

fazendo-o gemer e rolar na poeira.

A bala que Daryl disparara contra ele

havia atingido seu ombro direito e aberto

um enorme buraco, por onde o sangue fluía

continuamente.

— Estou morrendo, homem — disse

Doug, olhando os olhos frios de seu

oponente.

— Que se dane você, maldito! Que o

inferno o receba com todas as honras e que

Satanás tenha um bom lugar reservado para

você...

Doug continuava olhando aqueles olhos

frios e sem emoção que apenas observavam

sua agonia.

Tossiu, sentindo fortes dores nas costelas,

quebradas a pontapés. O sangue não cessava

de escorrer de seu ferimento. Daryl

aproximou-se dos dois.

— O que vai fazer com ele? — indagou

ela.

— Sangrando assim, não vai durar muito.

— Ei, Ranger... Se um animal está

sofrendo, você o sacrifica, não? Não me

deixe sangrar até morrer... Mate-me! —

suplicou o pistoleiro.

Dave encarou-o com frieza.

— Pode estar certo que tocou meu ponto

fraco, pistoleiro, mas não vou matá-lo.

Preciso poupar pelo menos um para ser

enforcado e servir de exemplo, bastardo! —

falou ele, virando-lhe as costas.

O pistoleiro traiçoeiramente encolheu

uma das pernas, retirando dali uma faca.

Com dificuldade ergueu-a, prestes a

arremessá-la contra o homem da lei.

Daryl, no entanto, percebeu o

movimento. Com rapidez ela levantou o

rifle que tinha mas mãos, disparando na

cara do pistoleiro.

O corpo do malfeitor estrebuchou no

meio da rua, com aquele buraco aberto em

sua cara.

Dave olhou-se sem nenhuma piedade.

Depois se voltou para olhar a garota.

— Acha que acabou agora? — indagou

ela.

— Sim, penso que sim...

— O que vai acontecer agora? — quis

saber ela.

— Terei de fazer um relatório para meu

comandante... Vou explicar como estava a

situação aqui. Haverá uma intervenção, até

que um novo xerife seja eleito..

Enquanto ele falava, ela o olhava

fixamente. Dave percebeu isso.

— Por que não se candidata? Não há

mais ninguém nesta cidade capaz de manter

a lei — disse ela.

As portas e janelas começavam a se abrir.

Timidamente as pessoas saíam à rua. O

prefeito e os conselheiros da cidade

surgiram, com armas engatilhadas nas

mãos.

Dave retirou seu distintivo de Texas

Ranger e estendeu-o na direção deles.

— Acho que temos muito que conversar,

senhores. O povo desta cidade precisa saber

da novidade...

— Que novidade, moço? — indagou

alguém.

— Sobre a passagem da ferrovia pela

cidade. O governador deverá anunciar

oficialmente isso na próxima semana, mas

já havia alguns espertalhões que sabiam

disso antes e queriam lucrar. Peçam ao

prefeito e aos outros que o acompanham

para explicar melhor — falou ele, tomando

Daryl pelo braço e se afastando.

— E então, o que me diz? — indagou ela.

— Primeiro precisamos resolver aquela

questão do beijo — falou ele, passando o

braço pelo ombro dela.

Daryl não protestou. Pelo contrário.

Abraçou-o pela cintura e encostou-se bem

nele, enquanto caminhavam.

Coleção Novelas de

Faroeste

Se gostou deste livro ou é um

apreciador de histórias do Velho Oeste,

publicadas nos anos 70/80 em formato de

bolsilivro, com certeza vai desejar conhecer

os outros títulos desta coleção.

L P Baçan O Mago das Letras

1975: escreveu e publicou seu primeiro

livro de bolso, a novela Uma Tese

para o Amor, pela Editora Cedibra,

Rio de Janeiro, passando, daí, a

escrever mensalmente novelas por

encomenda para essa e outras

editoras.

1985: teve 11 letras incluídas no LP

Saudação ao Mato Grosso, da dupla

Estudante & Caminhoneiro.

1986: teve 6 letras incluídas no LP

Oração de Um Caminhoneiro, da

mesma dupla.

1991: participou da Coletânea do I

Concurso Nacional de Literatura da

FENAE, com um conto premiado

em 1º. lugar.

1994: participou da Antologia Os Poetas,

do V Concurso Helena Kolody de

Poesia, Governo do Paraná, Curitiba

– PR.

1995: traduziu a obra El Contuberneo

Judeo-Maçónico-Comunista, de José

Antonio Ferrer Benimelli, em 2

volumes intitulados Maçonaria &

Satanismo, para a Editora "A

Trolha".

1996: publicou a novela rural Sassarico,

sobre o fim do ciclo do café, início

da rotação de culturas (soja e trigo)

e surgimento dos bóias-frias e editou

os livros Vida Minha, de Emília

Ramos de Oliveira (biografia) e

Círculo Vicioso, de Arlene Cirino de

Oliveira.

1997: participou da coletânea Poema,

Poesia... Maçom, Maçonaria,

organizada por Mário Cardoso para

a Editora Arte Real.

1998: publicou o livro de poemas

Alchimia.

1999: publicou o livro Redação Passo a

Passo e editou o livro URAÍ - Nossa

Terra, Nossa Gente, 2 volumes, de

Emília Ramos de Oliveira.

2000: teve 2 letras incluídas no CD

Nosso Negócio É Cantar, da dupla

Márcio Rogério & Luciano e 3 letras

no CD Mais, do cantor Cícero de

Souza. Publicou, neste ano de 2000,

Brincando nos Caminhos do Senhor,

revista infantil cristã, Editora e

Gráfica Cotação da Construção,

Londrina – PR.

2001: editou e prefaciou o livro

Templários, de Lori Andrei Perez

Baçan.

2002: foi o autor da letra do hino da Loja

Maçônica Londrina, em parceria

com o músico Wilmar Cirino.

2004: organizou, editou e participou do

livro I Antologia do Portal "Cá

Estamos Nós".

2006: organizou, editou e participou do

livro II Antologia do Portal "Cá

Estamos Nós".

2007: publicou os livros A Sabedoria dos

Salmos, A Sociedade Secreta dos

Templários e O Livro Secreto da

Maçonaria, pela Universo dos

Livros Editora Ltda.

2010: publicou os livros Manual da

Futura Mamãe, Quem Disse Que

Cozinha Não è Lugar de Homem e

Receitas Naturais pela editora

Universo dos Livros. Editou o livro

de contos Solidariedade, do autor

baiano João Justiniano da Fonseca.

Produziu, dirigiu e apresentou uma

série de 7 (sete) programas

radiofônicos Vila das Artes, na

Rádio Boa Nova FM, de Pérola, PR,

sobre literatura atual.

2012: traduziu, editou e publicou o livro

A Origem do Satanismo na

Maçonaria, de Arthur Edward

Waite.

2013: traduziu, editou e publicou em

formato eletrônico os livros Carmila,

de J Sheridan LeFanu, e Teoria da

Esgrima a Cavalo, de Alex Muller,

Anjos, o Caminho de Volta, Os Olhos

do Carrasco, Novelas de Terror

(Volumes I e II) Novelas Policiais

(Volumes I a 7) e Novelas de Faroeste

(Volumes I a IX) pela Lulu Press, Inc.

e Editora Saraiva.

1975 até 2015: hoje escreveu mais de 700

livros, publicados em sua maioria

em formato de bolso, sobre os mais

diferentes assuntos, como:

romances, erotismo, palavras

cruzadas, charadas, passatempos,

literatura infantil, passatempos

infantis, horóscopos, esoterismo,

simpatias populares, rezas, orações,

intenções, anjos, fadas, gnomos,

elementais, amuletos, talismãs,

estresse, manuais práticos, religião e

outros livros de bolso com os mais

diversos temas e letras para músicas.

Já editou em formato eletrônico

mais de 1000 títulos, entre

publicações individuais e antologias,

de autores de Língua Portuguesa e

Espanhola.

Publicou ao longo dos últimos 40 anos

poemas e contos em jornais de

circulação regional. Ultimamente,

Tem traduzido e editado livros

eletrônicos e empenhado em editar

todos seus títulos em formato

eletrônico para serem

disponibilizados a seus leitores.

www.acasadomagodasletras.net