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Novo caçador de planetas encontrou a sua primeira 'Terra" //PÁGS. 16-19

Novo caçador de planetas encontrou a sua primeira 'Terra · TOI 7OO d. Novo caçador de planetas encontrou a sua primeira 'Terra" Zoom // Espaço A 100 anos-luz de nós, na constelação

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Novo caçadorde planetasencontroua sua primeira'Terra"//PÁGS. 16-19

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Espaço

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TOI 7OO d.Novo caçadorde planetasencontrou a suaprimeira 'Terra"

Zoom // Espaço

A 100 anos-luz de nós, na constelação de Dorado,o TOI 700 d está à distância da sua estrela para ter águaem estado líquido, mas será um mundo peculiar:de um lado é sempre dia, do outro, noite eterna.

MARTA F. REISmana. [email protected]

É apenas um pouco maior do que a Ter-

ra, está à distância certa da sua estrela

para ter água em estado líquido - na cha-

mada zona de habitabilidade - e será ummundo rochoso mas com um clima pecu-liar, metade gelado e metade ameno: comodemora o mesmo tempo a girar sobre si

mesmo que a orbitar a sua estrela (37 dias

terrestres), tem sempre a mesma facevirada para o "sol" lá do sítio, o que signi-fica que em metade do globo é sempre de

dia e na outra sempre de noite.É o que por agora pode dizer-se do TOI

700 d, que ontem passou a fazer parteda lista de planetas potencialmente habi-

táveis e parecidos com a Terra desco-

bertos fora do sistema solar. O anúnciofoi feito pela NASA e, apesar de não serum achado inédito, a descoberta foi con-

siderada um marco na missão do saté-

lite TESS (Transiting Exoplanet SurveySatellite) da agência espacial norte-ame-

ricana, lançado em 2018 para detetarexoplanetas nas estrelas brilhantes nanossa vizinhança, perímetro que nas coi-

sas do Espaço implica pensar em gran-de. 0 sistema em torno da estrela TOI700, que além deste candidato tem outros

dois planetas, está a 101 anos-luz, na cons-

telação de Dorado. E se tal como o nome

dado à estrela indica foi o 700.° objetoidentificado pelo TESS, é a primeira "Ter-ra" que ajudou a descobrir.

"O TESS VAI AJUDAR A DESCOBRIR MILHA-

RES DE PLANETAS" Desde 1995, ano em

que foi detetado o primeiro planeta forado sistema solar, o catálogo de exopla-netas já soma mais de 4100 descober-tas, a maioria através das observaçõesdo telescópio Kepler. Agora, os olhosestão postos no TESS, que assenta na

deteção de planetas pelo método de trân-

sito, em que são captadas diminuiçõesno brilho das estrelas causadas pela pas-

sagem de um planeta em órbita. TiagoCampante, investigador do Instituto de

Astrofísica e Ciências do Espaço, quecolabora desde o início na missão cien-tífica do TESS, diz ao i que é esperada a

deteção de milhares de planetas nos pró-ximos anos, sobretudo super-Terras e

mini-Neptunos, planetas com uma mas-sa maior do que a da Terra. Pelo meio,poderão surgir "algumas dezenas" deachados como este, mas será mais difí-cil encontrar uma gémea autêntica da

Terra, o que continua a ser uma das bus-

cas dos caçadores de planetas.Até ao momento os planetas detetados

com massa idêntica à Terra orbitamestrelas vermelhas anãs, com menos

energia do que o sol, o que permite per-

ceber por que motivo, encontrando-setão perto da sua estrela, poderão ter águaem estado líquido. "Para descobrir pla-netas em zonas habitáveis em torno deestrelas solares seria preciso um perío-do de observação mais longo, basta pen-sar que a órbita da Terra demora 365dias". Tiago Campante acredita que só

a missão PLATO, da Agência EspacialEuropeia, com previsão de lançamentopara 2026, poderá permitir esse tipo de

descobertas, já que os segmentos de céu

serão escrutinados durante vários anos,mas cada nova descoberta permite aumen-

tar a investigação sobre a formação pla-netária, na tentativa de perceber o quãocomum será cada tipo de planeta. Damesma forma, a análise mais detalhadadas atmosferas e a confirmação da exis-

tência ou não de água terá de esperarpor novas gerações de equipamentos.

VIDA? É COMPLICADO Para Miguel Gon-

çalves, divulgador de ciência e rostoconhecido da rubrica "Última Frontei-

ra", na RTP, a descoberta de uma 'Ter-ra' na zona de habitabilidade da sua estre-

la, não sendo inédita, é sempre uma boa

oportunidade para refletir sobre a bus-

ca de vida e os desafios reservados à ciên-

cia, destacando o contributo dado nes-

te caso por um estudante de liceu, Alton

Spencer, que ajudou a corrigir dados ini-

ciais da NASA que sugeriam que a estre-la seria mais parecida com o sol. "Como

nos mostra o nosso próprio sistema, estar

numa zona de habitabilidade não é umacerteza de que estamos perante um pla-neta que necessariamente evolui parater condições para albergar vida Olhan-do para o sistema solar, temos três pla-netas na zona de habitabilidade do sol,dois nos extremos e um no meio, quefelizmente somos nós. Mas temos Vénus

Planeta demora apenas37 dias a dar a volta

à sua estrela, uma anãvermelha, menos

luminosa que o Sol

"Estar numa zonade habitabilidade nãoé uma certeza de que

um planeta evoluipara albergar vida"

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e Marte e, até prova em contrário, emnenhum deles se evoluiu para vida", diz.

"Há fatores mais complexos que é pre-ciso ter em conta. A Terra está na zonade habitabilidade mas além disso temuma atmosfera suficientemente proteto-ra, que também foi evoluindo, e que con-seguiu proteger a evolução da vida, porexemplo de impactos de asteroides e de

radiação cósmica. Marte não se pode darao luxo disso: tem uma atmosfera mui-to reduzida e que sabemos que se per-deu ao longo do tempo." Se vê no desta-

que dado à descoberta sobretudo umaboa dose de "marketing institucional" daNASA em tomo do TESS, Miguel Gonçal-ves sublinha que o fenómeno de rotaçãosíncrona, que faz com que o planeta tenha

sempre a mesma face virada para o sol,da mesma forma que vemos sempre a

mesma face da lua, acaba por ser dos

aspetos mais fascinantes. E poderá darcontributos para os estudos no campodo clima. "Pode ser muito interessantepara tipificar o que acontece nas zonasde transição, há muitos modelos quedizem que são zonas de muita instabili-dade, com tempestades violentas".

Já se a vida poderá evoluir num plane-ta com estas características é uma per-gunta de difícil resposta: não existemmuitos estudos. Miguel Gonçalves voltano entanto ao conceito de zona de habi-

tabilidade, a distância certa para ter águalíquida, para notar que, mesmo no siste-ma solar, há sinais de que pode ser ummito. E que falamos sempre da vida comoa conhecemos, que não tem de ser a úni-ca. "Júpiter e Saturno têm luas que são

geladas à superfície mas que debaixoescondem oceanos gigantescos e emalguns deles já sabemos que existem ele-mentos químicos essenciais para a vidae fontes geotermais, e estamos a falar de

Rotação síncrona podeser importante para

estudar clima a partirdo efeito da fronteira

entre noite e dia

Estudante norte-¦americano ajudou

NASA a corrigirdados sobre

a estrela TOI 700

planetas muito longe da zona de habita-bilidade da nossa estrela."

Miguel Gonçalves aponta também umnovo capítulo de descobertas para osnovos equipamentos, em particular o

telescópio James Webb, que a NASA pre-vê lançar em 2021, e permitirá o estudodas atmosferas destes mundos distantes.Se algum dia será possível visitar algumdestes vizinhos com potencial para alber-

gar vida - e o mais próximo é PróximaCentauri b, a 4,2 anos-luz da Terra - é

por agora uma incógnita. "O Nobel daFísica de 2019 disse que jamais os visita-remos, não sou tão pessimista. Em ciên-cia custa-me dizer nunca. Vai ser numtempo muito distante, mas vamos dartempo à ciência", diz Miguel Gonçalves,dando o exemplo de entusiastas como omilionário Yuri Milner, disposto a finan-ciar o envio de sondas a Alpha Centauri."Há estudos que sugerem que será pos-sível enviar drones a velocidades próxi-mas da velocidade de luz e aí pensar emviagens de 30 ou 40 anos já seria algomais comportável". As Voyager, até hojecom o recorde de distância, continuam"no nosso bairro", sorri. A mais distante,a Voyager 1, está a 108 unidades astronó-micas. Demora cerca de 20 horas-luz acomunicar com a Terra. Para chegar aorecém-descoberto TOI 700 d, seria pre-ciso vencer mais de 100 anos-luz.

Próxima Centauri b4,2 ANOS LUZ

É o exoplanetapotencialmente habitávelmais próximo da Terra de quetemos conhecimento. Orbitauma estrela anã, a PróximaCentauri, a estrela maispróxima do sol. Foi detetadoem 2016.

Kepler-186f561 ANOS-LUZ

Foi o primeiro planeta comuma massa semelhanteà Terra descoberto na zonahabitável da sua estrela,um feito conseguido pelotelescópio Kepler em 2014.

Trappist-141 ANOS-LUZ

A descoberta do sistemaTrappist-1

,anunciada

em 201 7, foi uma das maismarcantes dos últimos anos.E um sistema com seteplanetas semelhantes à Terrae dois poderão ter águaem estado líquido.

Kepler-62 f990 ANOS-LUZ

Entre os planetaspotencialmente habitáveis,esta é a deteção mais remota.Pensa-se que é uma super-Terra à distância certa da suaestrela para ter água líquida efoi detetada pelo Kepler a uns

impressionantes mil anos-luz.

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