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Novo ciclo de projetos: uma visão global para investir no Brasil o Brasil segue baseado em um tripé saudável: responsabilidade fiscal, regime de câmbio flutuante e política_ monetária focada nas metas de inflação o s indicadores macroeconômicos robustos, a capacidade de resis- tência aos impactos da instabili- dade financeira externa e a atra- ção exerci da por um mercado consumidor crescente, turbinado por uma nova classe média que agrega ao mercado o equivalente à população da França a cada dois anos, fa- zem do Brasil o porto de desembarque mais provável para os grandes investimentos glo- bais ao longo dos próximos anos. A visão dos gestores internacionais presentes no Brasiljá coloca o país em primeiro lugar em todas as plataformas de produtos e serviços de inves- o co ., Q) CJ) < -. CJ) r-fo O a. CO -n O ., Q) 31 FUNDOS DE PENSÃO - NOVEMBRO 2010

Novo ciclo deprojetos - abvcap.com.br · ble dip" prenunciado desde 2008 como um desdobramento mais ou menos inevi- ... será preciso digerir melhor amegaoperação para saber oque

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Novo ciclo de projetos:uma visão global

para investir no Brasilo Brasil segue baseado

em um tripé saudável:

responsabilidade fiscal,

regime de câmbio

flutuante e política_

monetária focada nas

metas de inflação

os indicadores macroeconômicosrobustos, a capacidade de resis-tência aos impactos da instabili-dade financeira externa e a atra-

ção exerci da por um mercado consumidorcrescente, turbinado por uma nova classemédia que agrega ao mercado o equivalenteà população da França a cada dois anos, fa-zem do Brasil o porto de desembarque maisprovável para os grandes investimentos glo-bais ao longo dos próximos anos. A visão dosgestores internacionais presentes no Brasiljácoloca o país em primeiro lugar em todas asplataformas de produtos e serviços de inves-

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timentos na América Latina e em lugar privilegiado entre todosos mercados emergentes.

Do ponto de vista dos gestores ouvidos pela revista Fundosde Pensão, o Brasil, que ocupa em média cerca de 70% a 80%de seus portfólios de investimentos para a América Latina, temum papel claramente dominante na regiãoe deve protagoni-zar, nos próximos anos, um movimento-i~édito de desenvol-vimento de projetos e instrumentos de financiamento, tanto nomercado de dívida como no de capitais.

Os grandes gestores ampliam estratégias para trazer in-vestidores de suas plataformas externas para cá mas tambémaproveitam para estabelecer novas bases de produtos que sa-tisfaçam a demanda por diversificação dos investidores lo-cais e particularmente dos fundos de pensão brasileiros nessenovo ambiente. Nem mesmo o aumento da alíquota de Im-posto sobre Operações Financeiras (IOF), que passou de 2%para 6% para o investimento estrangeiro na tentativa do go-verno de conter a queda do dólar frente ao real, deve estan-car o fluxo, ainda que os gestores de private equity prevejamalgum impacto.

O aumento, se não tiver um diferencial para o longo pra-zo, pode comprometer o fluxo de investimentos em priva teequity e venture capital, acredita Sidney Chameh, presidented ~ssocia ão rasileira de Private E uífJ!.&, enture Ca ital

VCAB "A medida não vai estancar o ingresso de recur-sos, até porque o Brasil está numa fase de crescimento e atra-ção de investimentos estrangeiros, mas, certamente, haveráalguma queda". O grande problema, acredita Chameh, está nageneralização da medida, que não faz diferença entre o capi-

tal de curto prazo e aquele que vempara financiar projetos de longoprazo, típicos do mercado de priva-te equity, Segundo os dados daAB-VCAP, os setores de infraestrutura,energia, óleo e gás, comunicações,TI, entre outros vinham recebendoaportes consideráveis desses recur-sos em função dos grandes eventosesportivos que ocorrerão no Brasilnos próximos anos. A estimativa da

entidade é de que os fundos de private equity e venture ca-pital possuam aproximadamente US$ 10 bilhões disponíveisatualmente para investimentos no país.

A tendência é de que o desenvolvimento do mercado de ca-pitais, aliado à redução do risco Brasil, atue para multiplicar aentrada de recursos. "Essa situação deve gerar oportunidadespara investidores locais e internacionais", frisa Mauro Bergs-tein, diretor da Credit Suisse Asset Management.

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Apesar da elevação doIOF para investimentos

estrançetros. a tendênciaé de que os atrativos

continuem crescendo

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AtrativosOs três principais vetores que preocupa-

ram os investidores em 2010 - ciclo de ele-vação do juro, eleição presidencial e a me-gaoperação de capitalização da Petrobras-, não deverão mais influenciar tanto osmercados em 2011, o que, somado ao fatode o Brasil ainda ser um dos países maisbaratos, diversificados e líquidos para in-vestimentos entre os emergentes (BRICs),tenderá a atrair volumes cada vez maioresde investimentos para o país. Se o Brasiltem taxas de crescimento inferiores às deChina e Índia, por exemplo, em contrapar-tida suas companhias abertas são incompa-ravelmente mais transparentes do que as deChina e Rússia e, no confronto com a eco-nomia indiana, a questão do equilíbrio dodéficit fiscal naquele país é um problemaque coloca o Brasil em nítida vantagem,assim como a maior carência de infraestru-tura do lado indiano do que do lado bra-sileiro. A análise é de Will Landers, prin-cipal gestor de fundos na América Latinada Black Rock - maior administradora derecursos do mundo, com um total de US$3,4 trilhões sob gestão, dos quais US$ 9,5bilhões naAL, sendo 72% desse total apli-cados no Brasil.

Aproximadamente dois terços dosrecursos investidos na região pela Bla-ck Rock estão alocados em ativos liga-dos aos mercados internos desses países,notadamente o brasileiro. E, apesar da ele-vação do IOF para investimentos estran-geiros, a tendência é de que os atrativoscontinuem crescendo. "O Brasil passou aser um país ao qual os investidores vol-tam em primeiro lugar assim que começaa haver recuperação de uma crise, o quedemonstra sua atratividade em vários ní-veis", observa Landers.

Novo patamar

O olhar mundial sobre o Brasil con-tinua positivo mesmo dentro de um am-biente global de incertezas. A expectati-

va, segundo avalia Mauro Bergstein, é decrescimento forte para os próximos anos."Talvez estejamos assistindo de fato à pas-sagem do país para um novo patamar decrescimento anual do PIE, que deve ficarem tomo de 4% a 5% ao ano, com me-lhor distribuição de renda e maior ofertade crédito". A inflação sob controle, pertodo centro da meta estabelecida pelo Ban-co Central, e a retomada, em 2011, do mo-vimento para a redução do juro, reforçamjunto aos gestores internacionais a idéiade que o Brasil segue baseado num tripésaudável: responsabilidade fiscal; regimede câmbio flutuante e política monetáriafocada nas metas de inflação.

Indústria de financiamentoo motor de demanda de investimen-

tos é grande e crescente à medida que vãose agilizando os mecanismos para concre-tizar e financiar novos projetos, incluin-do as Parcerias Público-Privadas. Há umatendência muito sólida de que, à medidaque as PPPs sejam viabilizadas, aumenteo número de projetos para a indústria definanciamento, conforme lembra PhilippeVentoze, responsável pela área de Finan-ciamento Estruturado do banco francêsBNP Paribas no Brasil.

O risco de mergulho recessivo duplona economia mundial, o tão temido "dou-ble dip" prenunciado desde 2008 comoum desdobramento mais ou menos inevi-tável da crise, é um risco que permanece,na opinião de Ventoze. "Não é o cenáriobase com que trabalhamos mas a economiados EUA depende muito dos movimentosde seu Banco Central e poderá vir outromovimento forte para reduzir a liquidez nomercado local, o que deve estimular a con-tinuidade do fluxo para outros mercados".Para o gestor do BNP Paribas, as perspec-tivas favoráveis ao desenvolvimento dosmercados e à multiplicação do número deprojetos no Brasil criam um momento bas-tante particular em que os fundos de pen-são brasileiros podem se permitir exigir o

melhor dos mundos, ou seja, ativos com rating alto (BR duploA, no mínimo); rentabilidade diferenciada acima dos títulos dogoverno e indexador em IPCA.

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A estimativa dos gestofes é de que a Bovespa atinja o pata-mar de 90 mil pontos sem dificuldade em 2011 e se há risco deerro nessa projeção certamente deve ser para mais e não paramenos. A valorização das companhias pode surpreender favo-ravelmente, estima Will Landers, e está na hora de os analistasatualizarem seus modelos adequando-os a um cenário de jurosmais baixos.

É claro que há uma boa dose de volatilidade relacionada a em-presas como Vale e Petrobras mas também é verdade que essascompanhias continuam sendo negociadas a múltiplos menoresdo que suas similares no resto do mundo. No caso da Petrobrasserá preciso digerir melhor a megaoperação para saber o que vaiacontecer. A influência política sobre a companhia é uma preo-cupação dos investidores, diz Landers, "porque a Petrobras sem-pre foi uma empresa bem vista por sua gestão independente, en-tão é preciso mostrar ao mercado que isso ainda é uma verdade".A Black Rock, que não participou da capitalização da Petrobrase acabou reduzindo sua participação na companhia, observa comatenção o momento de voltar a aumentar essa posição.

Na comparação com os demais mercados, a percepção éde que o Brasil me-rece ser negociadocom múltiplos me-lhores do que os atu-ais, então a tendênciaé atrair muito inves-timento. Quanto aosvetores que chegarama gerar alguma insta-bilidade e contribuí-

Múltiplos baixos

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Os fundos de pensãobrasileiros podem se permitirexiQir o melhor dos mundos- ativos com rating alto(BRduplo A, no mínimo);rentabilidade diferenciadaacima 90S títulos do Qovernoe indexador em IPCA

ram para "segurar" aBolsa em 2010, Lan-ders discorda da cor-rente de analistas queesperam novas pres-sões altistas sobre osjuros em 201l. "Comum pouco mais de controlê sobre o lado fiscal e alguma coi-sa no sentido de reformas para reduzir o custo Brasil, alémde um crescimento do PIE .que deverá ficar entre 4,5% a 5%ao ano, levando em conta que o Brasil ainda é um dos paísesmais baratos, líquidos e diversificados do mundo, temos to-dos os ingredientes paracontinuar atraindo capital". 33

FUNDOS DE PENSÃO - NOVEMBRO 2010

IPOs em alta

As medidas adotadas pelo governo desde 2008 paraminimizar os impactos da crise global ajudaram a garantir oequilíbrio buscado pelos investidores internacionais e locais,fator ao qual pode ser acrescentado o fato de que a maioria dosIPOs (ofertas públicas iniciais de ações) no mercado brasileirotem acontecido no Novo Mercado (segmento de governançamais avançada na BM&FBovespa). Essas companhias, obser-va Landers, "são tão abertas como se fossem listadas em NovaYork, o que dá segurança ao investidor".

ão é por outro motivo que a absorção das ofertas públicasde companhias brasileiras passou de uma média de 15% a 20%para 30% entre os investidores institucionais europeus, ressaltaDiogo Castro e Silva, diretor executivo do BCG Brasil (Cai-xa Geral de Depósitos, o maior banco de Portugal). "Os insti-tucionais europeus têm demonstrado interesse crescente peloBrasil, principalmente no que diz respeito à compra de equitiesbrasileiros e participação nas ofertas públicas de ações".

Para a gestão focada no longo prazo é essencial a continui-dade da política econômica de estabilização da inflação. "Opresidente Lula deu continuidade ao Plano Real e o Banco Cen-tral tem atuado de maneira super focada nas metas de inflação,

e desde que o paíscontinue buscandomanter o superávitfiscal, os sinais sãotodos favoráveis a

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"Na China, muitas companhiassão controladas pelo QovernQ,

o foco em lucratividade nãoé tão Qrande como aqui, e atransparência das empresas

chinesas e russas não pode sercomparada à das brasileiras."

um cenário em queo juro real continu-ará caindo", afirmaLanders. E os fun-damentos econômi-cos mais importan-tes analisados pelaBlack Rock são ani-madores, destacan-

do a expectativa de continuidade para a expansão do crédi-to e do mercado de hipotecas, o que acaba favorecendo todosos segmentos de empresas envolvidos com o desenvolvimentoimobiliário e o aumento de investimentos em projetos de in-fraestrutura.

Infraestrutura e riqueza

34Os projetos de infraestrutura assumem um caráter dupla-

mente importante, analisam os gestores. Além de garantir quehaverá suporte para o crescimento do PIB em termos de ener-gia, estradas, portos, hidrelétricas, etc., esses projetos signi-

FUNDOS DE PENSÃO - NOVEMBRO 2010 -

ficam também um impacto positivo dascompanhias envolvidas sobre a economia,gerando empregos mais bem pagos e queajudam a impulsionar o mercado domés-tico. "Dá mais conforto ao investidor apli-car em companhias ligadas ao mercado do-

- méstico brasileiro", diz Landers.O investimento no país hoje tem a ver

muito mais com o crescimento do poderaquisitivo da população e com a emergên-cia de uma classe média cada vez mais nu-merosa do que com vetores ligados à eco-nomia mundial, um ponto que sem dúvidatem sido o referencial da atratividade bra-sileira para os investidores globais e locais .."Mesmo em situação de risco maior lá forao Brasil tende a performar "melhor e con-tinua sendo um dos primeiros mercados aregistrar o retorno dos investidores". Con-ceito fundamental para o investidor comvisão de longo prazo nacional ou interna-cional, pontua Landers, é o de que "o Bra-sil tem uma população jovem que está fi-cando cada vez mais rica".

Observado como parte dos BRICs, oBrasil tem algumas vantagens essenciais. Éverdade que a China continua a ser o motordo crescimento do mundo e todos queremparticipar desse crescimento, então a liqui-dez lá é maior, "mas se olharmos os emer-gentes como um todo, muitos desses paí-ses são mais dependentes do crescimentoglobal do que o Brasil", lembra o gestor. Ofoco em retorno e lucratividade das compa-nhias brasileiras está entre os pontos maisfortes nesse diferencial. "Na China, mui-tas companhias são controladas pelo go-verno, então o foco em lucratividade nãoé tão grande como aqui, e a transparênciadas empresas chinesas e russas não podeser comparada à das brasileiras."

Além da Copa

Olhar a infraestrutura além da Copa doMundo e das Olimpíadas é uma necessi-dade, mas nem por isso esses dois eventosdevem ser minimizados ..De acordo com ogestor da Black Rock, o Brasil pode fazer

como fez a África do Sul e surpreenderapresentando o país ao mundo de modoa desenvolver a parte turística, que ain-da está subdesenvolvida por aqui: "Te-mos que transformar o turismo em umanova fonte de crescimento para a econo-mia brasileira".

O tema da infraestrutura é mundial eos grandes fundos de investimentos nessesetor estão olhando, de maneira crescente,as oportunidades no Brasil, como é o casodo fundo Global lnfrastructure Partners,de US$ 5,5 bilhões, montado pelo CreditSuisse em joint-venture com a OE Capi-tal. "Temos conversado com investidoresestrangeiros que estão fortemente interes-sados nas ações ligadas ao setor aqui noBrasil e, no segmento de private equity, ofoco principal está sem dúvida na infraes-trutura, área em que os grandes fundos depensão brasileiros também já investem pe-sadamente", diz Bergstein.

O investimento no setor, apesar de todoo seu potencial, exige cuidados especiaiscom a governança dos projetos, lembramos especialistas. Dúvidas sobre a influên-cia do governo nos projetos e a falta de ins-trumentos de investimento que ofereçammaior segurança em termos de governançapodem ser fatais. "Tanto o arcabouço legalcomo a governança do produto de infraes-trutura têm que ser fortes", alerta MarceloMello, vice-presidente da Sul América In-vestimentos, associada ao grupo INO. Emprivate equity, o ambiente é de consolida-ção e crédito barato, o que facilita o cami-nho para a capitalização das empresas inte-ressadas em fusões e aquisições.

O ciclo de grandes investimentos aque o Brasil está dando início exige dosgestores uma análise cuidadosa projeto aprojeto, estruturando operações financei-ras que assegurem retomo de longo pra-zo estável e risco limitado, considerandoos fundos de pensão como players rele-vantes. Entretanto, os projetos ligados aeventos como a Copa do Mundo e Olim-píadas não são vistos com o mesmo entu-siasmo por todos os gestores.

Por terem um calendário apertado, "com hora marcada",eles devem absorver boa parte da capacidade de execução e in-vestimento da máquina do Estado, o que significa que podemnão ser tão atrativas do ponto de vista do setor privado, avaliaDiogo Castro e Silva. "São eventos originados pelo Estado,que tem capacidade limitada de execução e de investimento,e a Copa, por exemplo, vai colocar muita pressão sobre a má-quina do Estado". A percepção é de que talvez não sobre es-paço no calendário de licenças ambientais e outras etapas deexecução das obras, o que tomaria esse tipo de projeto menosinteressante para o setor privado. O BCO tem um foco maiorna área de financiamento de longo prazo, atuando como estru-turador de projetos a exemplo do Rodoanel de São Paulo, em2009, e da Rota das Bandeiras.

A participação das EFPCs deverá ser cada vez maior emprojetos ligados a estradas,· portos e energia (renovável ounão), envolvendo a matriz hídrica, investimentos em energiaeólica e no setor térmico. Essas áreas serão essenciais para as-segurar o crescimento da demanda da economia, afirma Castroe Silva. "O consensode mercado é de cres-cimento de 5% a 6%do PIB a longo prazoe para assegurar issotanto o governo comoos atores relevantes domercado têm como ob-jetivo a infraestrutura,além de pensar em ou-tro gargalo preocupan-te que é a falta de mão-de-obra qualificada". Nesse ambiente, o banco português atuapara estabelecer parcerias com players brasileiros para ofere-cer projetos aos investidores estrangeiros.

Os projetos liQados aeventos como a Copa doMundo e Olimpíadas nãosão vistos com entusiasmopor todos os Qestores

Mercado de capitais e de dívida

Com R$ 28 bilhões sob administração no Brasil, dos quaisR$ 9 bilhões são de investidores internacionais que buscamoportunidades na América Latina, particularmente no Brasil, eoutros R$ 9 bilhões em recursos de investidores institucionaisbrasileiros, incluindo fundos de pensão, o BNP Paribas está en-volvido em duas grand~s .operações no país, tanto por meio desua asset management como do'banco de investimentos. Umdeles é o trem de alta velocidade (TAV), projeto que, se vence-dor o consórcio do qual participa, permitirá ao banco oferecerum FIP aos fundos de pensão, e o outro, que já está mais adian-tado e deverá estar concluído em até 30 dias: é o investimentoem projetos ligados ao programa Minha Casa, Minha Vida. Se-

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rão montadas Sociedades de Propósito Específico para ofe-recer o investimento às fundações.

Há espaço para crescimento expressivo dos investimen-tos no Brasil tanto no mercado de capitais como no de dí-vida e um fator relevante para isso, acredita Ventoze, seráa redução da atividade do BNDES junto ao mercado. "OBNDES ou está encontrando seu limite oujá não tem maischão para crescer tudo o que cresceu, então há um espa-ço grande para a intervenção dos fundos de pensão tantoem dívida como em mercado de capitais", diz o gestor. Aexpectativa é de que o número de projetos disponíveis nomercado seja alavancado ainda mais a partir do momentoem que o BNDES começar a refrear sua atuação e passar aser menos competitivo.

No mercado de dívida, o destaque fica por conta dosProject bonds (debêntures de projetos), segmento no quala operação Rota das Bandeiras foi emblemática e que temmovimentado uma série de agentes do mercado, desde de-senvolvedores de projetos até as agências de rating, todosansiosos para ter uma alternativa de financiamento fora

do BNDES. São projetoscom rentabilidade atre-lada ao IPCA e perfil delongo prazo, ou seja, exa-tamente o tipo de investi-mento compatível com asnecessidades das EFPCs."Já há alguns anos os fun-dos de pensão brasileirosestão preparando um mo-vimento para diversificarseus investimentos nessadireção mas nunca estive-mos tão perto disso acon-tecer", acredita Ventoze.

Ao avaliar o potencial de investimentos nos três grandesblocos de mercados - EUA, zona do euro e Ásia (excluindoChina), a América Latina surge como um alternativa rele-vante, tendo o Brasil como seu principal player. Com maisde 40% do PIB da região, o Brasil, aliás, já representa umpeso de 70% na composição do índice do Morgan Stan-ley, o MSCI Latin America, e é visto pelo investidor globalcomo a "casa de força" da região, segundo a revista britâ-nica The Economist.

Até três anos atrás, o maior interesse dos investidoresinternacionais era voltado ao mercado de ações. De lá paracá, lembra Ventoze, começou a crescer também a deman-da por títulos públicos, por conta da atratividade dos jurosfrente a um cenário de juro zero em muitas das principais

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"O BNDES está

encontrando seu limite,

então há um espaço

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dos fu ndos de pensão

tanto em dívida como em

mercado de capitais"

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economias mundiais, e também por ativoscom lastro em dívida corporativa. O câm-bio certamente ajudou esse movimento, re-conhecem os gestores. "Estamos entrandona terceira fronteira, que é a de exploraçãode equities e dívida corporativa com maiorforça", diz o gestor.

Juro real como dlvlsor

Como parte desse movimento de glo-balização do mercado local, os fundos depensão e suas necessidades de diversifica-ção entraram definitivamente no foco dosgestores globais. As EFPCs brasileiras jáaceitam um pouco mais de risco, observaMauro Bergstein, e embora a taxa de juroreal ainda seja elevada para os padrõesdos investidores globais, já começa a serinsuficiente para que as fundações brasi-leiras atinjam suas metas, então começade maneira mais clara o movimento paracompreender melhor as opções de médioe longo prazo.

Para os fundos de pensão brasileiros,acredita Landers, enquanto a taxa real con-tinuar nos atuais patamares, será difícil for-çar um movimento de investimentos fora darenda fixa tradicional. O retomo dos títulospúblicos continua elevado, atraindo inclu-sive os investidores internacionais para omercado de renda fixa aqui já que lá foraas taxas de juros estão pouco atrativas e atémesmo negativas no caso de EUA e Japão.Na opinião do gestor, "os institucionais bra-sileiros vão ter que olhar com mais carinhopara o mercado de equities, isso ainda nãoestá acontecendo de fato por conta de umaSelic de 10,75% e retornos de dois dígitos,mas fatalmente terá que começar a ocorrerquando o juro real chegar a patamares me-nores e forçar esse movimento".

Os fundos de pensão têm um papelfundamental para promover a liqui dez dasações das companhias em todo o mundo eaqui não será diferente, acredita o gestor, éuma posição que será assumida de maneirainevitável e está ligada diretamente à que-da da taxa de juro real para 3% ou 4%.

As fundações locais, que vêm de umcenário muito folgado de investimentosem renda fixa, haviam começado um mo-vimento de diversificação na renda variá-vel mas, com a crise de 2008, que destruiuum pouco o valor dos ativos, houve umainterrupção dessa tendência, até porque ojuro voltou a subir e deixou as EFPCs no-vamente confortáveis em relação aos re-tomas garantidos pela renda fixa no cur-to prazo. Mas esse conforto é conjuntural,afirma Luiz Sorge, diretor da BNP ParibasAsset Management.

Do ponto de vista estrutural, a expec-tativa é de juro real em tomo de 4% a 5%ao ano no prazo de três anos, o que toma-rá indispensável abrir mão da liquidez ebuscar um pouco mais de risco. Ao mes-mo tempo, o Brasil está lançando grandesprojetos principalmente em infraestruturae no setor de petróleo e gás, o que abre

espaço para investimentos por meio de FIPs, fundos imobiliá-rios ou mesmo investimentos diretos. Nesse ambiente, acredi-ta Sorge, os projetos ligados a obras de infraestrutura, pré-sale aos eventos da Copa do Mundo e das Olimpíadas tendem aganhar espaço crescente nas carteiras dos fundos de pensão."Porque as duas coisas vêm juntas, ou seja, a necessidade debuscar retomos diferenciados e a oportunidade de participarde grandes projetos".

"Com o mundo inteiro praticando juro baixo, em muitoscasos até negativos, o dinheiro vai continuar barato e o ape-tite do estrangeiro por ativos no Brasil deve continuar forte",estima Mello. O fato é que a cada dois anos surge uma Françainteira em nova classe média no Brasil, diz ele, então o mer-cado de private equity vai continuar crescendo, com boa go-vemança e produtos já conhecidos. Também está claramenteidentificada a demanda para as aplicações no mercado imo-biliário, fundos multimercados e fundos de ações ativistas."O investidor institucional está muito atento ao futuro, estáaberto a entender e a alocar de modo que o retomo permitaatingir suas metas e qualquer instrumento que ofereça upsidede retomo e boa govemança terá demanda". •

15 Anos Cultivando Relacionamentos

Sugerido e idealizado pela então Comissão Técnica Nacional de Comunicação Social e Marketing e, lançado em junho de~995, o ABRAPP ATENDE constitui o principal canal de relacionamento junto às associadas e ao público em geral.

Por respeito e, em agradecimento a essa trajetória de 15 anos, não podemos deixar de comemorar valorizandoainda mais àquelas que são nossa razão de existir: NOSSAS ASSOCIADAS.

E é por isso que, pela primeira vez, estaremos à disposição noEstande Institucional Abrapp, Sindapp e ICSS durante o31° Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão.

Venha nos visitar:

Aline Almeida: (aa) 3043.87841 Renata Tatiany: (ii) 3043.87831 Valéria Pereira: (ii) 3043.8785E-mal!: [email protected] 1 Site. www.portaldosfundosdepensao.org.br

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