NOVO JOGO COMUNICACIONAL: A fidedignidade do Jornalismo colaborativo e participativo no site Conversa Afiada

8/2/2019 NOVO JOGO COMUNICACIONAL: A fidedignidade do Jornalismo colaborativo e participativo no site Conversa Afiada

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INTRODUÇÃO

Com o aperfeiçoamento das técnicas digitais e o surgimento da Internet, a sociedade

contemporânea assiste a uma das maiores transformações sociais da história. Com a revolução

digital, a audiência, o Jornalismo e o próprio jornalista ganharam novos atributos no cenário

comunicacional. O profissional de Jornalismo dispõe, a partir dos anos 80, de novas e melhores

ferramentas para trabalhar; a profissão, com isso, tem sofrido algumas mudanças para adequar-

se ao novo contexto. Contuto, a maior transformação ocorrida nos meios comunicacionais da

atualidade é o novo papel do público no Jornalismo.

Neste cenário, a pesquisa realizada visa a esclarecer os novos papéis dos agentes

comunicacionais, na atualidade. Pretende-se, por meio de uma reflexão das características

clássicas do Jornalismo, discutir a fidedignidade dos trabalhos publicados na rede mundial de

computadores e elucidar se os trabalhos podem, de fato, ser considerados objetos jornalísticos.

Para tanto, no capítulo 1, são apresentados os aspectos históricos da Internet e as interferências

causadas pela ferramenta no comportamento da sociedade e nas comunicações sociais. Com o

surgimento da Internet e o aperfeiçoamento tecnológico, o universo da comunicação para públicos amplos teve uma reviravolta, e a informação que antes era quase exclusividade dos

grandes veículos de comunicação estendeu-se a todos os setores da sociedade, permitindo que o

público, inclusive, tivesse ferramentas para a publicação de informação-notícia. A comunicação

entre jornalistas, fontes e audiência se tornou rápida e ágil.

O fato é que os computadores se tornaram peças imprescindíveis no mundo contemporâneo e,

por conta deles, a forma de comunicar-se e fazer Jornalismo mudou. Entretanto, todas asmudanças que a Internet impôs são muito recentes, e algumas conclusões sobre as intervenções

causadas podem apresentar-se precipitadas.

No capítulo 2, é discutida a nova realidade comunicacional, na qual o público pôde, enfim, ter

maiores interferências na construção da notícia. Com o alcance facilitado, as produções se

multiplicaram e reproduzir qualquer opinião na web se tornou possível. Mas como dar

confiabilidade a um veículo ou determinado trabalho colaborativo publicado na rede?



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O questionamento sobre a confiabilidade de determinado veículo não é exclusividade do

Jornalismo digital. A indagação é válida para todas as plataformas. Seja na televisão, rádio ou

qualquer meio de comunicação, a imprensa não é a dona da verdade, ela tem o intuito de narrar

os fatos e discuti-los. Para esclarecer o questionamento, no capítulo, são discutidas as

qualidades jornalísticas e a objetividade e subjetividade da profissão.

No capítulo 3 é feita uma análise minuciosa do site Conversa Afiada para esclarecer se um

trabalho colaborativo, realizado à margem dos grandes meios de comunicação, pode ser

considerado objeto jornalístico.



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2 INTERNET: NOVOS PARADIGMAS E AS INTERFERÊNCIAS CAUSADAS NA

SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

A Internet é considerada uma das maiores invenções tecnológicas da contemporaneidade. A

ferramenta é responsável por facilitar a vida das pessoas em todas as esferas. Entretanto, com a

criação deste novo paradigma de comunicação, inúmeros questionamentos se fazem pertinentes

em relação à sobrevivência das técnicas anteriores à rede mundial de computadores e como a

sociedade irá se relacionar neste novo cenário.

2.1 Aspectos históricos da Internet

Originalmente, a Internet surgiu como instrumento de defesa militar dos Estados Unidos emmeio à Guerra Fria contra a União Soviética, na década de 1960. Com a possibilidade de um

ataque soviético às bases de informação norte-americanas, foi desenvolvido um modelo de troca

e compartilhamento de informação que permitia a descentralização dos documentos

confidenciais de guerra. Começava a nascer a rede mundial de computadores.

Em 1969, o primeiro e-mail da história foi enviado. Por problemas no computador destinatário

do Stanford Research Institute, a mensagem ‘LOGIN’, enviada pela Universidade da Califórniaem Los Angeles (UCLA), chegou ao destino apenas como ‘LO.’. A primeira troca de

mensagem entre computadores utilizou como suporte a rede da ARPA (Advanced Research

Projects Agency).

A partir da década de 70, os estudos e conhecimentos da Internet começaram a extrapolar os

limites do exército para se proliferarem nas universidades, entre professores e alunos, até chegar

aos moldes atuais de uma rede livre, levando informação de um ponto a outro. Foi nos anos1990 que a Internet começou a amadurecer-se. Em 1992, o engenheiro britânico Tim Berners-

Lee desenvolveu a World Wide Web, permitindo o uso de uma interface gráfica mais

interessante e fácil de ser utilizada, possibilitando a criação de sites mais dinâmicos e

sofisticados. A partir daí, a Internet começou a crescer em ritmo acelerado.

Deixando de ser uma ferramenta de uso exclusivo acadêmico e militar, a Internet passou a ser

utilizada por vários segmentos sociais, principalmente por jovens. À medida que conquistava

novos adeptos, empresas de comunicação, softwares, aplicativos e outras do ramo começavam a

ganhar um mar de oportunidades. A rede passou a ser uma grande vitrine.



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O Google, site mais visitado da Internet1, foi criado, em 1998, pelos estudantes da Universidade

de Stanford, Sergey Brin e Larry Page. O site, de forma simplificada, é um buscador de

informações que processa mais de um bilhão de solicitações por dia. Para tal, possui mais de um

milhão de servidores em data centers em todo o mundo.

Os anos 2000 trouxeram algumas novidades que certamente mudaram a forma de a sociedade

pensar e agir. A febre das redes sociais começou em 2004. Fundado por Mark

Zuckerberg, Dustin Moskovitz, Eduardo Saverin e Chris Hughes, o Facebook surgiu como uso

exclusivo dos estudantes da Universidade Harvard. Dois anos depois, o site de relacionamento

social foi aberto para o grande público. O site permite, entre outras possibilidades, visualizações

de fotos e trocas de informações em tempo real.

Seguindo os passos de Mark Zuckerberg e seus colegas, Jack Dorsey, em 2006, criou o Twitter.

O servidor é uma rede social que permite a troca de informações entre os seus usuários,

possibilitando o envio e recebimento de atualizações pessoais de outros contatos.

A partir de 2010, uma outra febre tomou conta da Internet no mundo inteiro. Conhecidos como

sites de compras coletivas, eles fazem o intermédio entre empresas e consumidores. Na prática,estes sites fazem compra de uma grande quantidade de produtos – conseguindo um preço menor

que o de mercado – para revender aos consumidores finais a preços considerados 50% menores.

Todo o desenvolvimento tecnológico permite o desenvolvimento intelectual. Assim como o

surgimento do telefone, do rádio e da televisão, a Internet mudou a forma de a sociedade

interagir, mas o seu alcance, sem precedentes, revolucionou a comunicação e fez com que o

dispositivo se tornasse a maior revolução contemporânea.

Briggs e Burke (2006) destacam que os computadores, atualmente, não exercem mais uma

interferência limitada como de origem. “Logo que os computadores deixaram de ser

considerados simples máquinas de calcular ou úteis acessórios de escritório, eles passaram a

fazer com que todos os tipos de serviço, não somente os de comunicações, tomassem novas

formas”. (BRIGGS & BURKE, 2006, p.273)

1 Alexa – The Web Information Company. Disponível em: <http://www.alexa.com/topsites/global>. Acesso em08 nov. 2011.



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Atualmente, com mais de 75 milhões de pessoas usando a rede, o Brasil é o quarto país do

mundo com o maior número de usuários de Internet. Segundo pesquisa realizada, em janeiro de

2011, pela CIA World Factbook, a China lidera o ranking com 389 milhões de usuários, seguida

por Estados Unidos e Japão, com 245 milhões e 99 milhões, respectivamente.

Número de usuários de Internet no mundo em Janeiro de 2011

389.000.000

245.000.000

99.182.000

75.982.000

65.125.000

61.338.000

51.444.000

China

EUA

Japão

Brasil

Alemanha

Índia

Reino Unido

Fonte: CIA World Factbook (jan/2011)

2.2 A revolução da Internet na sociedade contemporânea

Logo em sua instauração, a Internet não era analisada como uma ameaça a outros tipos de

media. No final da década de 1990, foi realizado um estudo pela Telecom Britânica (BT), no

qual 2.600 indivíduos foram ouvidos em mil domicílios do Reino Unido, que constatou:

Não há indícios de que indivíduos que têm agora acesso à Internet em casa e autilizam estejam gastando menos tempo assistindo televisão, lendo livros, ouvindorádio ou envolvidos em atividade social na casa se comparando a indivíduos que nãotêm (ou não tem mais) acesso à Internet em casa. As únicas mudanças que podemser associadas ao ganho de acesso à Internet são um aumento óbvio do tempodedicado ao e-mail e ao surfe na Web – um resultado espantosamente óbvio. Asúnicas mudanças que podem ser associadas à perda do acesso à Internet são o menor tempo gasto no preparo da comida, mudanças em circunstâncias educacionais e noemprego remunerado baseado em casa. (CASTELLS, 2001, p.101)

A velocidade da Internet é diretamente proporcional às transformações que ela produz.

Passados cerca de dez anos desde a pesquisa realizada pela Telecom Britânica, é notável que ouso do dispositivo, hoje, exerce outra interferência na sociedade, principalmente naqueles que



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alguns autores classificam como geração Y2. No final do século XX, 500 milhões de pessoas

utilizavam a Internet no mundo. Segundo levantamento realizado pela União Internacional de

Telecomunicações (UIT), este número aumentou quatro vezes, alcançando, em 2011, dois

bilhões de usuários em todo o planeta. E com o aumento da demanda, os hábitos dos usuários

não são mais os mesmos.

A maioria dos pesquisadores e cientistas é unânime ao dizer que o surgimento de qualquer meio

de comunicação (jornal, rádio, televisão etc) não substituiu o anterior. O mesmo acontece com a

Internet. Mas ao invés de excluir, a rede mundial de computadores tem como característica a

convergência de todos eles. Com isso, a forma de como conhecemos os meios de comunicação

anteriores vem sofrendo algumas alterações, principalmente na forma de nos interagirmos comeles.

A partir do surgimento da Internet, a sociedade experimenta uma profunda mudança que tem

refletido nas mais diferentes manifestações sociais, políticas e econômicas. Castells (2001)

destaca a importância do surgimento das redes sociais na Internet para a sociabilidade dos

indivíduos:

A noção de “comunidades virtuais”, proposta pelos pioneiros da interação social naInternet, tinha uma grande virtude: chamava atenção para o surgimento de novossuportes tecnológicos para a sociabilidade, diferentes de formas anteriores deinteração, mas não necessariamente inferiores a elas. (CASTELLS, 2001. p.105)

O conceito de comunidade e rede social não é novo. Desde que o homem passou a viver em

sociedade e passou a usufruir do grupo de vivência para sobreviver, a humanidade assiste às

vantagens (e desvantagens) de uma rede social. Com o passar dos (milhares) de anos, as redes

sociais sofreram inúmeras transformações. Desde os primórdios, uma sociedade sofre

interferência intelectual, social e política de um líder. Não importa se um líder genuinamente

escolhido ou não, mas sempre houve a imagem de uma ponta da sociedade manipulando a

outra.

A grande transformação das redes sociais na Internet é que, agora, qualquer um pode opinar,

discutir, discordar, fazer e não fazer. O indivíduo ganha força na sociedade. Este ganho faz com

que a sociedade possa se organizar com mais rapidez. Episódios recentes exemplificam esta

ideia. Em agosto de 2011, milhares de jovens, na maioria de baixa renda, se reuniram para se

2 Geração Y são os jovens nascidos na década de 80 e 90. Esta geração já nasceu com a Internet implementada e

a usufruem desde criança.



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rebelar nas ruas de Londres. A princípio, sem uma razão propriamente estabelecida, estes

motins nasceram, foram estimulados e multiplicaram-se nas redes sociais para então chegar às

ruas. Possivelmente estes motins não ocorreriam com tanta intensidade, e em lugares distintos,

se os incentivos fossem feitos boca a boca.

Com o boom das redes sociais, nota-se como um nicho social pode influenciar milhares de

pessoas. Nos últimos anos, vários acontecimentos foram atribuídos a discussões em rede sociais

como o Twitter e o Facebook. Não que estes movimentos ou acontecimentos deixassem de

acontecer caso a Internet não estivesse instaurada, mas a velocidade com que as informações

circulam e seu alcance são singulares, o que torna a Internet um catalisador para a ação dos

homens.

Na economia, a Internet também tem passado por mudanças. Pesquisa realizada pelo IDG Now

constatou que o crescimento da publicidade brasileira na rede mundial de computadores

superou todas as outras mídias no primeiro semestre de 2011, comparado com o primeiro

semestre de 2010, com um aumento de 16%. Superando televisão, revista e TV por assinatura

com 1,9%, 3,25% e 9,86% respectivamente. A publicidade no rádio no mesmo período de

comparação teve uma queda de -2,16%.

Com a publicidade cada vez mais forte na Internet, como constatado em levantamento realizado

pelo IDG Now, o comportamento dos usuários mudou. Pesquisa apresentada pelo Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2009) apontou que 19% dos internautas brasileiros

passaram a utilizar os serviços de compras online. Mesmo com os antigos vilões, como os vírus

e os spams, o serviço de compras na Internet está aquecido.

A sociedade ainda está assistindo às transformações que a Internet tem proporcionado. Com

menos da metade da população mundial acessando a rede, ainda é difícil fazer alguma previsão

de como as próximas gerações serão afetadas quando a Internet tornar-se presença prosaica em

todo o planeta. O fato é que a tecnologia está quebrando paradigmas e mudando os hábitos da

nossa sociedade. O indivíduo nunca teve tanta importância como na atualidade. O planeta nunca

foi tão heterogêneo. Entretanto, como em uma contradição endógena, os diversos grupos

formados por esta heterogeneidade constituem outros novos grupos homogêneos menores, nos

quais os integrantes se identificam e consomem as mesmas informações. A soma destes vários

pequenos nichos será a responsável por ditar as características das próximas gerações.



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2.2.1 Sintomas negativos da Internet

O uso da Internet, hoje, é considerado vital em centros de pesquisas, escolas e universidades,

governos e em quaisquer instituições que priorizem a vanguarda do conhecimento. Todavia, o

uso da rede mundial de computadores tem apresentado alguns sintomas negativos em parte dos

usuários.

Em pesquisa realizada, em 2011, pela consultoria Gartner, especializada em tecnologia da

informação, constatou-se uma certa fadiga nos usuários de redes sociais. Foram ouvidos 6,3 mil

pessoas, em 11 países, incluindo o Brasil. Do total, 24% dos entrevistados disseram que estão

usando sites como Facebook e Twitter menos do que costumavam usar. Para os respondentes, afalta de privacidade é a maior razão para desistir de acessar as redes sociais.

Este cansaço reflete o descontentamento por parte dos usuários que estão na contramão do uso

descomedido da Internet e suas ferramentas. Em estudo realizado pelo Yahoo, em 2008, 42%

dos internautas se disseram infelizes quando não recebiam mensagens com frequência em suas

caixas de e-mail. Já para 63% dos entrevistados, estar desconectados pode fazê-los perder uma

oportunidade de emprego. Nota-se que, ao invés de contribuir, o aumento do uso da Internet pode causar desconforto físico, psicológico e social nos usuários.

Castells (2001) chegou a afirmar que o uso da rede não prejudicava a vida dos usuários, todavia,

psicólogos afirmam que o uso contínuo da rede mundial de computadores pode causar conflitos

para o indivíduo, tais como dificuldade de relacionamento no mundo real, alienação, aumento

da ansiedade e insegurança. São indiscutíveis as vantagens desta media, entretanto, se usada de

forma indiscriminada e prolongada, pode ocasionar diversos problemas.

2.3 Números da Internet no Brasil

No Brasil, os primeiros sinais da Internet surgiram em 1988, ligando universidades brasileiras e

instituições dos EUA. No ano seguinte, o Ministério da Ciência e Tecnologia lançou um projeto

inovador, a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Ainda existente, em sua origem, a RNP

tinha como principal objetivo operar uma rede acadêmica de alcance nacional. O dispositivo foi

de domínio acadêmico até 1995, quando o governo brasileiro começou a fornecer conectividade



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a provedores de acesso comerciais. Até o princípio da década de 2000, a Internet brasileira era

predominantemente formada por redes locais de alta velocidade. Foi só a partir de 2005 que a

rede começou a ser ampliada com o uso de tecnologia óptica, dando maior velocidade e

qualidade para a internet no país.

Atualmente, segundo dados3 do Ibope Nielsen Online, divulgados em agosto de 2011, o Brasil é

o quarto país com o maior número de internautas no mundo, com cerca de 78 milhões de

usuários. Na média mensal em frente ao computador, segundo a mesma pesquisa, os brasileiros

não perdem para ninguém, passam em média 69 horas conectados todos os meses. De acordo

com o Ibope, dos 78 milhões de usuários, 37 milhões se conectam em seus domicílios.

Os portais de Educação e Carreira representaram o maior número de acessos únicos, em agosto

de 2011, alcançando 25,8 milhões de usuários. A categoria Comunidade, que abrange os sites

de redes sociais, alcançou 39,3 milhões de usuários, o que equivale a 87% dos internautas

ativos. O Ibope apurou, ainda, que o brasileiro gasta, em média, 7 horas e 14 minutos, por mês,

em sites de redes sociais.

De acordo com levantamento divulgado4

pela empresa de pesquisa de mercado GfK, emsetembro de 2011, longe do trabalho, o brasileiro usa a Internet basicamente para quatro

atividades, segundo mostra o estudo "Hábitos dos brasileiros que acessam a internet para fins

particulares". A troca de e-mails entre amigos e familiares foi citada por 44% dos respondentes

como o principal uso da rede mundial de computadores. Em um empate técnico, leitura de

notícias foi lembrada por 40% dos entrevistados, seguidas pelas citações para redes sociais

(39%) e busca de informações gerais (39%).

Ainda para fins particulares, 40% dos entrevistados disseram utilizar a rede entre uma e duas

horas diárias, 18% passa menos de uma hora na web e 19% não usam a Internet diariamente.

Como principal finalidade da Internet, a troca de e-mails é mais comum entre as mulheres.

Segundo a pesquisa, essa atividade foi citada por 51% delas, contra 38% dos homens.

3Internet no Brasil chega a 78 milhões de usuários. Disponível em:<http://www.oxigenweb.com.br/noticias/internet-no-brasil-chega-a-78-milhoes-de-usuarios/>. Acesso em 20nov. 2011.

4Brasileiro usa a internet para quatro atividades. Disponível em:<http://info.abril.com.br/noticias/internet/brasileiro-usa-internet-para-4-atividades-09092011-2.shl>. Acesso em:20 nov. 2011.



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Segundo levantamento do site alexa.com5, em outubro de 2011, dos 20 sites mais acessados no

Brasil, seis são majoritariamente de notícias, a lista é encabeçada por portais de buscas: 1)

Google Brasil; 2) Google; 3) Facebook; 4) YouTube; 5) Uol; 6) Windows Live; 7)

Globo.com; 8) Blogger.com; 9) Orkut.com.br; 10) Yahoo; 11) Terra; 12) Twitter; 13)

Orkut; 14) MSN; 15) iG; 16) Wikipedia; 17) Mercado Livre Brasil; 18) Abril; 19)

WordPress.com; 20) Banco Itaú.

2.4 A Internet e o Jornalismo

Com o surgimento da Internet, foi muito questionado se o Jornalismo, como era conhecido atéentão, estava fadado ao fim. Entretanto, o pensamento sugerido por Pierre Lévy (1999) de um

possível término do Jornalismo, em função do desenvolvimento do dispositivo, hoje, se

apresenta como uma simplificação descabida, a qual o própio Levy reconhece.

Ao invés de impor um fim, a Internet permite a potencialização dos diversos formatos do

Jornalismo. Bardoel e Deuze (2001), ao desenvolverem um estudo das características do

Jornalismo para a Web, assinalaram quatro elementos distintivos que podem estar presentes narede: Interatividade, Customização de Conteúdo, Hipertextualidade e Multimidialidade. Estes

elementos já existiam de forma reduzida no Jornalismo impresso, no rádio ou na TV, todavia, a

Internet possibilitou a convergência de todos eles em um só veículo, tornando-os mais eficazes.

Palacios (2003), com a mesma preocupação, acrescenta outras duas características: Memória e

Instantaneidade.

A Interatividade característica de uma notícia online faz com que o leitor se sinta mais parte do processo jornalístico. Isto pode ser reconhecido nos fóruns de discussões, nos comentários das

notícias ou em trocas de e-mails entre jornalistas e leitores. Esta troca de informação autoriza o

leitor a construir a notícia.

Na Internet, alguns veículos permitem que o leitor realize a Customização de Conteúdo do site,

fazendo com que a leitura seja mais adequada ao perfil individual de cada usuário. Alguns sites

de notícias possibilitam a pré-seleção dos assuntos e até a escolha de diagramação da página.

5Alexa – The Web Information Company. Disponível em: <http://www.alexa.com/topsites/countries/BR>.Acesso em: 13 nov. 2011.



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Esta personalização atende os interesses específicos de cada leitor, facilitando o uso das

ferramentas que lhe são apresentadas, o que acaba por fidelizar o usuário.

Na web, Bardoel e Deuze (2001) destacam a possibilidade da interconexão de textos, fotos,

vídeos, sons ou qualquer outro bloco de informação através de links. Por conta da

Hipertextualidade, através de um clique, é possível ir de uma notícia à outra, relacionada ao

assunto ou não, enriquecendo o conteúdo noticiado.

Em um contexto de agregação e soma, a Multimidialidade converge os formatos das mídias

tradicionais (imagem, som e texto) na construção na narração do fato jornalístico. Na Internet,

as múltiplas plataformas e suportes do Jornalismo são reunidos em uma só media.

Uma das características mais extraordinárias da Internet é o fato de se poder armazenar um

volume incontável de dados. Com isso, Palacios (2003) afirma que “a Memória torna-se

coletiva através do processo de hiperligação entre os diversos nós que a compõe” (PALACIOS,

2003, p.4). Ainda que haja uma limitação física da capacidade de armazenamento de um banco

de dados ou de um hardware, é possível considerar a Internet um espaço ilimitado de reunião de

informação, com acesso a qualquer hora.

Por fim, o sexto elemento que caracteriza o Jornalismo na Internet é a Instantaneidade. A

rapidez de acesso, aliada à facilidade de produção – propiciada pelas técnicas de digitalização

da informação –, permitem uma agilidade na publicação e atualização de notícias. Ao contrário

do Jornalismo impresso, na rede, uma informação pode ser corrigida, na hora, caso esteja

apresentada de forma errônea – no impresso, a informação só seria corrigida no dia seguinte,

em forma de errata.

As ações instantâneas também permitem uma cobertura em tempo real mais contundente se

comparada à televisão, haja vista que um material online não é refém da grade de programação

como é característico da TV.

2.4.1 O jornalista na Internet



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A partir de uma reflexão do novo papel do jornalista no mundo cibernético, diversos autores

questionam se a profissão está caminhando para o seu fim. Aroso (2003), entretanto, pondera

que a web pode ser um objeto modificador, assim como Lasica (1997) 6 observa que “a Internet

tem o potencial de reformular os fundamentos do Jornalismo, do mesmo modo que a televisão

alterou as regras da profissão” (LASICA, 1997 apud AROSO, 2003).

A Internet, além de modificar o mundo, interfere diretamente no Jornalismo e no jornalista. O

profissional deve se adequar às novas ferramentas e transformar-se em um jornalista

multimídia, além de se construir como fornecedor de conteúdo. Aquele profissional que mais se

preparar e conseguir lançar mão das ferramentas disponíveis será o que irá se sobressair nestenovo Jornalismo. É como exemplifica Harper (1998)7: “Na edição eletrônica, o repórter leva

consigo uma caneta, um bloco de notas, um gravador de áudio, uma máquina fotográfica digital

e por vezes uma câmera de filmar de uso doméstico” ( HARPER, 1998 apud AROSO, 2003).

Atualmente, o jornalista perdeu o monopólio do jogo informativo, muito embora esteja longe de

perder a sua importância. Aroso (2003) vislumbra a profissão de jornalista como sendoessencial para dar credibilidade ao campo da web, como também observa Zamora (2001)8: “O

trabalho do jornalista será muito importante nesta nova era. Será o responsável por hierarquizar,

organizar e apresentar a informação que interesse a cada pessoa segundo suas necessidades”

(ZAMORA, 2001 apud AROSO, 2003).

Nesta nova realidade, o jornalista é de extrema importância para que o Jornalismo tenha

credibilidade. O profissional de Jornalismo ainda é peça fundamental para distinguir os valores

dos critérios de noticiabilidade e a qualidade da informação. Com isso, a profissão não está

falida.

6 LASICA, J. D. So you want to be an online journalist? American Journalism Review, 1997. Disponível em:<http://ajr.newslink.org/ajrjd23.html>. Acesso em: 29 mar. 2011.

7 HARPER, Christopher. What’s new in mass communication – readings on media and culture. New York: St.Martins’ Press, 1998.

8 ZAMORA, Lizy Navarro. Los periódicos on line: sus características, sus periodistas y sus lectores. Sala de Prensa, 2001. Disponível em: <http://www.saladeprensa.org/art253.htm>. Acesso em: 29 mar. 2011.



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3 O NOVO JOGO COMUNICACIONAL: QUANDO PARTICIPAR É NOTÍCIA

Uma das grandes revoluções que a Internet proporcionou na esfera jornalística é o fato de que,

agora, ao contrário do monopólio sofrido em grande parte do século XX – exercido pelos

grandes meios de comunicação –, o leitor, além de ler ou ver a notícia, possui ferramentas para

interferir sobre ela e também produzi-la. Mas quando uma informação publicada na rede

mundial se torna material jornalístico?

3.1 De poucos para muitos: o monopólio da informação

Em grande parte do século XX, a comunicação foi gerida por um modelo monopolizador de

informação de poucos para muitos. A teoria hipodérmica da comunicação entendia que uma

informação alcançaria todos os indivíduos da sociedade de uma forma quase automática. Era

claramente um modelo de propaganda absorvido por uma sociedade pós Revolução Industrial e

doente pelas Grandes Guerras. A teoria hipodérmica surgiu, justamente, com a novidade do próprio fenômeno das comunicações de massa. Este contexto histórico contribuiu diretamente

para a construção de uma teoria que compreendia o isolamento e a alienação das massas –

exercidos pelos grandes agentes de comunicação –, nas quais os indivíduos eram posicionados

isoladamente e anônimos: sem importância.

Ao analisar a sociedade de massa e a teoria hipodérmica, Wolf (2003) exemplifica que, naquela

perspectiva, se o indivíduo fosse apanhado pela propaganda, ele, então, seria controlado,

manipulado e tentado a agir da forma como era instruído. A pessoa era persuadida a agir da

forma como a mass media pretendia. Wright (1975) sintetiza com a afirmação de que “todo

membro do público de massa é pessoal e diretamente ‘atacado’” (WRIGHT, 1975 apud WOLF,

2003).

No entanto, Bauer (1964, apud Wolf, 2003) observa que, no período da teoria hipodérmica, a

maior parte dos efeitos não é estudada: estes são dados como previstos. Wolf (2003) salienta

que a descrição da sociedade de massa contribuiu para acentuar a simplicidade do modelo de



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comunicação E R (Estímulo Resposta), entretanto, o autor pondera a novidade do

fenômeno:

Na realidade, os meios de persuasão de massa constituíam um fenômeno completamentenovo, desconhecido, do qual não havia ainda um conhecimento suficiente por parte do

público, e o contexto social em que esses meios apareciam e eram usados era o dos regimestotalitários ou de sociedade, que estavam se organizando em torno da superação das formascomunitárias precedentes, e nas quais vastas massas de indivíduos eram – segundotradições heterogêneas de pensamento, mas concordantes a esse respeito – representadascomo atomizadas, alienadas, “primitivas”. [WOLF, 2003, p.11]

Com o passar dos anos, a teoria behaviorista9 (hipodérmica) se mostrava insuficiente para a

compreensão da comunicação, e, em 1948, Lasswell criou um modelo que, ainda hoje, segundo

Wolf (2003), pode ser considerado esquema analítico “adequado” para uma pesquisa que se

desenvolveu largamente em contraposição à teoria hipodérmica, da qual o novo modelo foi

devedor. O modelo tem características mais amplas, havendo, inclusive, análise da audiência e

dos efeitos da informação difundida:

Um modo apropriado de descrever um ato de comunicação é responder às seguintes perguntas:quemdiz o quê

por qual canala quemcom qual efeito?O estudo científico do processo de comunicação tende a se concentrar numa ou noutradessas interrogações. [LASSWELL, 1948, apud WOLF, 2003, p.12]

A nova fórmula criada por Lasswell organizou a nascente communication research, que, entre

outras características, começava a dar mais valor à audiência. E a partir desta teoria, outras

várias foram desenvolvidas para a análise das mass media, da audiência, da Indústria Cultural e

da sociedade de massa. Estes modelos, muitas vezes, não apresentavam fronteiras entre si e, em

grande parte do século XX, as teorias da comunicação de massa interpretaram a mídia comofonte de alienação da sociedade.

Lazarsfeld e Merton salientam que, quando sustentados por empresas que priorizam os lucros

econômicos, os meios de comunicação podem apresentar alguns vícios e podem ser

responsáveis pela manutenção do sistema social carente de pluralidade:

Desde o momento em que são sustentados pelas grandes empresas inseridas no atualsistema econômico e social, os meios de comunicação de massa contribuem para amanutenção desse sistema [...]; o impulso que leva ao conformismo e é exercitado pelos

9Estudo psicológico que privilegia o comportamento de cada indivíduo.



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meios de comunicação de massa deriva não só de tudo o que neles é dito, mas, mais ainda,de tudo o que não dizem. De fato, não só continuam a apoiar o status quo como também, ena mesma medida, deixam de levantar as questões essenciais quanto à estrutura social [...]Os meios de comunicação comercializados ignoram os objetivos sociais quando essesobjetivos se chocam com o lucro econômico [...] Ao ignorar sistematicamente os aspectos

controversos da sociedade, a pressão econômica incita ao conformismo. [LAZARSFELD &MERTON, 1948, apud WOLF, 2003, p. 58]

Na prática, com o passar dos anos, os modelos monopolizadores de comunicação de massa se

mostravam cada vez mais lucrativos para os manipuladores e inviáveis para a sociedade e seus

indivíduos considerados alienados e carentes. No final do século XX, novos modelos de leitura

crítica da comunicação começavam a surgir para pôr fim nas práticas vigentes na época.

Naquela época éramos todos vítimas (quem sabe até justamente) de um modelo dos mass

media que era uma cópia daquele das relações de poder: um emissor centralizado, com planos políticos e pedagógicos precisos, controlados pelo Poder (econômico ou político), asmensagens por intermédio de canais tecnológicos reconhecíveis (onda, canais, fios,aparelhos caracterizáveis como um vídeo de cinema ou TV, um rádio, a página de umarevista) e os destinatários, vítimas da doutrinação ideológica. Teria bastado ensinar osdestinatários a “ler” as mensagens, a criticá-las, quem sabe se teria chegado à era daliberdade intelectual, da consciência crítica... [ECO, 1984, p.179]

Com as limitadas ferramentas dispostas ao público até os anos 1980, pouco se podia fazer para

uma revolução comunicacional. O sistema estava imposto, era extramamente lucrativo, e os

grandes meios de comunicação estavam, no momento, no topo de uma escala de poder sócio-

político-econômica. Em um cenário pós-ditaduras – exercidas e apoiadas pelas grandes nações

conservadoras –, a sociedade tentava buscar saídas para uma interação mais saudável e

participativa.

Neste contexto, nasceu a rede mundial de computadores. E, a partir deste momento (anos 1990),

a sociedade pôde, graças a uma revolução tecnológica e o uso de novas ferramentas, começar a

fazer parte do jogo comunicacional, interfirindo no processo de criação e distribuição da

informação-notícia.

3.2 O receptor se torna o emissor (mas com ressalvas)

Com a possibilidade de romper a relação de monopólio exercida pelos grandes agentes da

comunicação, os cidadãos, desde os anos 1990, assumem um papel mais interventivo nos

processos comunicacionais de massa. De forma mais simples e rápida, hoje, é possível que

qualquer pessoa produza conteúdo na rede mundial de computadores. Este fato fez com que o



21

conceito estático de emissores e receptores da comunicação de massa se tornasse ainda mais

obsoleto.

Com o surgimento da Internet, o aperfeiçoamento tecnológico e a aplicação de técnicas digitais,

o universo da comunicação teve uma reviravolta, e o que antes era de controle de uma minoria,

se estendeu para todos os setores da sociedade. Pinho (2003) salienta que, com o advento da

internet, a comunicação entre jornalistas, fontes e leitores se tornou rápida e ágil. Bowman e

Willis (2003) compartilham o mesmo pensamento e alertam que a hegemonia do agente da

informação está ameaçada.

A venerável profissão do jornalista se encontra em um raro momento da história em que, pela primeira vez, sua hegemonia como selecionador das notícias é ameaçada não apenas pela nova tecnologia ou competidores, mas, potencialmente, pela própria audiência a queela serve. Armados de ferramentas de fácil publicação, conexões rápidas e instrumentos

portáteis em constante desenvolvimento, a audiência online tem todos os meios para setornar participante ativa da criação e disseminação de notícias. [BOWMAN & WILLIS,2003, p. 7]

Neste cenário, a web é o motor que impulsiona a participação do cidadão em um processo mais

interventivo. Entretanto, Moretzsohn (2006) é taxativa ao dizer que nenhuma “tecnologia é

capaz de, por si, alterar as relações sociais; pelo contrário, são as relações sociais, a luta

política, os conflitos e contradições historicamente determinados que vão conformar a utilização

dessa tecnologia” (MORETZSOHN, 2006, p.64). Em outras palavras, não é possível que

melhorias ocorram sem o compromisso da sociedade.

Apesar de Moretzsohn (2006) não compartilhar a ideia de que novas tecnologias são

revolucionárias por si só, a autora acredita que novas ferramentas digitais servem para melhorar

as já existentes, mas com algumas ressalvas. Em casos como o Wikipédia, a autora destaca que

o veículo “é um excelente site para procurar pistas sobre as mais diversas matérias, desde que as

possa verificar em verdadeiras obras de referência, escritas por especialistas em quem confie”

(MORETZSOHN, 2006, p.65).

Mesmo que a verdade tenda a prevalecer em cima da falsidade e mesmo que um cidadão-

jornalista consiga ultrapassar os limites impostos pela agenda jornalística, Moretzsohn (2006)

pondera que só profissionais capacitados podem informar determinado público

independentemente, evidenciando “tratar de um tipo de Jornalismo mais viável em nichos de

mercados especializados, onde supõe-se um equilíbrio na qualificação de quem participa desse

fórum e implica um alcance limitado” (MORETZSOHN, 2006, p.69).



22

Apesar de a prática colaborativa estar em voga a partir do começo dos anos 2000, esse formato

de produção não é novo. Sbarai (2009) relembra os primórdios do Jornalismo influenciado pelo

leitor.

Em 1690, Publick Occurrences Both Forreign and Domestick , o primeiro jornal publicadono continente americano, tinha uma de suas quatro páginas de publicação em branco. Aidéia era que o leitor produzisse seu próprio fato, acontecimento, antes de repassar osuporte comunicacional a outras pessoas. [SBARAI, 2009, p.4]

Mesmo que, anteriormente, o leitor pudesse interagir com o conteúdo, somente no século XXI,

esse fenômeno ganhou formas e nomes. “Ao comparar nomenclaturas e confrontar conceitos de

um mesmo fim, o termo mais próximo e adequado para denominar um processo participativoem ambientes virtuais é o Jornalismo Colaborativo.” (SBARAI, 2009, p.7). A partir daí, o autor

esclarece os diversos formatos deste Jornalismo.

Jornalismo Grassroots designa, por exemplo, um público específico: as camadas periféricas. Jornalismo Participativo não abrange todo o processo de colaboração e temum princípio apenas de auxiliar; participar pressupõe compartilhar, ter parte em ou dividir algo que foi produzido e idealizado por apenas uma pessoa. Jornalismo Cidadão, por suavez, não sintetiza a prática virtual pessoal. É uma nomenclatura complexa e sem precisão.Por último, o Jornalismo Open Source parte de uma premissa de alteração contínua de

conteúdo, técnica visível em sites wiki. [SBARAI, 2009, p.7]

Foschini e Taddei (2006) diferenciam o Jornalismo Participativo do Colaborativo com mais

clareza. Para os autores, o Jornalismo Participativo ocorre “por exemplo, nas matérias

publicadas por veículos de comunicação que incluem comentários dos leitores. Os comentários

somam-se aos artigos, formando um conjunto novo” (FOSCHINI & TADDEI, 2006, apud

SBARAI, 2009, p.5). O Jornalismo Colaborativo, por sua vez, é classificado pelos autores

quando mais de uma pessoa contribuiu para o resultado final daquilo que é publicado.

Até o final do século XX, era pouco provável a produção de uma informação-notícia realizada

pelos então denominados ‘receptores’. Entretanto, com o surgimento de novas ferramentas

comunicacionais, o jogo virou. As informações passaram a circular instantaneamente e o

público, agora, se tornou, também, agente da notícia. Não há dúvidas que um testemunho de um

cidadão sempre será importante, porém, sempre haverá a necessidade de se checar a

fidedignidade da fonte e do fato narrado. O problema não é a informação instantânea, mas a

informação inútil.



23

3.3 Informação, interpretação e opinião no Jornalismo

Uma das principais funções do Jornalismo é a mediação entre o fato e a sociedade. Além da

incumbência primária, o jornalista tem a função social e política, que proporciona aos cidadãos

as informações que são necessárias para o cumprimento do papel da pessoa interessada na vida

social e na governabilidade. E o Jornalismo tem, ainda, a sua função cívica, disponibilizando à

audiência os interesses do cotidiano.

Para cumprir as funções da profissão, Adelmo Genro Filho (1987)10 pondera que o jornalista

divulga os fatos sob três aspectos: informação, interpretação e opinião. O Jornalismo

informativo observa e descreve os fatos e assegura a informação à população por meio dofactual: não questiona, afirma. O Jornalismo interpretativo faz a explanação do caso, explica e

analisa as causas do fato, o contexto e os seus desdobramentos. Já o Jornalismo opinativo vai

além da interpretação. Por meio de dados, análises e teorias das ciências sociais, lança mão de

ideias e pontos de vistas explícitos. Pode-se dizer, então, que o Jornalismo interpretativo e

opinativo é mais rico, com análises e ponderações e, como afirma Alberto Dines (1986), é

justamente o que o público procura.

O leitor de hoje não quer apenas saber o que acontece à sua volta, mas assegurar-se da suasituação dentro dos acontecimentos. Isso só se consegue com o engrandecimento dainformação a tal ponto que ela contenha os seguintes elementos: 1) a dimensão comparada,2) a remissão do passado, 3) a interligação com outros fatos, 4) a incorporação do fato auma tendência e 5) a sua projeção para o futuro. [ALBERTO DINES, 1986, p. 44]

Portanto, é informação dizer que a candidata Dilma Roussef ganhou as eleições de 2010. É

interpretação analisar quais foram as causas e o contexto que levaram a candidata à vitória e,

ainda, analisar as possíveis consequências do fato. E é opinião dizer que a nova presidente só

mandará no papel, haja vista os dois mandatos do presidente anterior e a influência que eleainda exerce, opinando que quem realmente terá a última palavra é o ex-presidente Lula.

Os três diferentes aspectos de noticiar um fato (informativo, interpretativo e opinativo) se

constroem sobre a noção de objetividade e subjetividade ou imparcialidade e parcialidade. Na

forma objetiva, o produto do Jornalismo “é apresentado como sendo uma transmissão não

expurgada da realidade, um espelho” (TRAQUINA, 2005, p.146). O Jornalismo informativo é

considerado, portanto, parte do Jornalismo imparcial, isento de valores e preocupado apenas10 GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da pirâmide - para uma teoria marxista do jornalismo. Porto Alegre:

Tchê, 1987. pp. 39-52.



24

com a narração do fato. Por outro lado, as vertentes interpretativas e opinativas da profissão são

consideradas parciais, nas quais é possível identificar, além da narrativa do fato, posturas

ideológicas e políticas, julgamento e juízo de valor.

Contudo, a objetividade jornalística é bastante relativa. Mesmo que os fatos falem por si, por

trás das narrativas sempre haverá uma subjetividade implícita devido à participação efetiva do

repórter na construção da notícia. Um texto, na maioria das vezes, é composto por

características pessoais daqueles que o escreve e, ainda, passa pela hierarquização da redação e

pelos critérios jornalísticos de seleção. Clóvis Rossi (1984) argumenta a dificuldade da

imparcialidade.

É realmente inviável exigir dos jornalistas que deixem em casa todos essescondicionamentos e se comportem, diante da notícia, como profissionais assépticos, oucomo a objetiva de uma máquina fotográfica, registrando o que acontece sem imprimir, aofazer seu relato, as emoções e as impressões puramente pessoais que o fato neles provocou.[ROSSI, 1984, p. 15]

É importante destacar a crônica, o artigo, o editorial e a coluna como gêneros jornalísticos que

configuram os aspectos interpretativos e opinativos da profissão.

3.3.1 Breves exemplos dos Jornalismos interpretativo e opinativo

No século XIX, para quebrar o estilo analítico e pesado das reportagens e editoriais da época,

surgia um novo estilo de texto jornalístico. Com malícia, ironia, humor e o lado pitoresco da

notícia, a Coluna aparecia para dar uma ‘leveza’ ao noticiário. Com um texto enxuto e direto, o

colunista dava o seu recado.

Atualmente, a coluna é um espaço disputado nos jornais, principalmente, por suascaracterísticas de furo e destaque político e social. Hoje, é estruturada por pequenas

informações de caráter variado, trabalha com o factual e emite juízos de valor.

Representando a voz do veículo, o Editorial tem uma posição de destaque no Jornalismo. A

política editorial é a linha filosófica do grupo mantedor do jornal, obedece a princípios éticos e

tem a função de orientar e formular critérios à luz dos fatos. No Jornalismo impresso,

geralmente é encontrado na página 2.



25

De caráter convincente, o editorial analisa a notícia e pode transcender a ela. O espaço revela a

opinião da empresa e pode conter pontos de vistas e sugestões para solucionar um impasse de

âmbito comum. No entanto, assim como analisa Raúl Rivadeneira Prada (apud MARQUES DE

MELO 1994), vale salientar que, em uma sociedade capitalista, o editorial não representa a voz

do dono da empresa e, sim, os seus interesses.

Além dos acionistas majoritários, há financiadores que subsidiam a operação das empresas,existem anunciantes que carreiam recursos regulares para os cofres da organização atravésda compra de espaço, além de braços do aparelho burocrático do Estado que exerce grandeinfluência sobre o processo jornalístico pelos controles que exercem no âmbito fiscal,

previdenciário, financeiro. Assim sendo, o editorial configurasse como um espaço decontradições. Seu discurso constitui uma teia de articulações políticas e por isso representaum exercício permanente de equilíbrio semântico. Sua vocação é a de apreender e conciliar

os diferentes interesses que perpassam sua operação cotidiana. [MARQUES DE MELO,1994, p. 96]

O Artigo e o editorial são gêneros semelhantes, embora haja diferenças. O Artigo tem o

compromisso com a clareza, o raciocínio, o factual e esbarra com frequência nas premissas da

profissão. Todavia, apesar de também apresentar caráter analítico e explicativo, expor

julgamentos e pontos de vistas e servir como orientação e referência – assim como o editorial –,

o artigo utiliza-se do humor e da ironia, expõe o ponto de vista em primeira pessoa, não se

prende às diretrizes da política editorial da empresa e a conclusão não é necessariamente

incisiva, afastando-se, desta maneira, do editorial.

Também possuindo características dos gêneros citados acima, a Crônica é a poesia do

Jornalismo. Ela é ‘solta’, pode ser factual ou não. Pode ser verdadeira ou não, fazer sentido ou

ser simples devaneios. O gênero se aproxima à literatura. Luis Beltrão (1980) observa as

semelhanças entre artigo e crônica com as diferenças se comparados aos gêneros objetivos:

Articulistas e cronistas são autênticos literatos, e não tendo, como o profissional do dia-a-dia, de submeter-se à maior pressão do tempo reduzido da produção coercitiva diária,

podem burilar suas matérias, não raro tornando-as antológicas e conferindo-lhes aquela perenidade que constitui exceção no exercício da atividade jornalística. [BELTRÃO, 1980, p. 65]

Portanto, a crônica é, também, semelhante ao artigo, contudo, é menos rígida e ambiciosa, pois

não lança mão de generalizações teóricas ao interpretar o fato abordado. Ralph Lowenstein

(1965) resume preciosamente: “O noticiário representa para o jornalista o seu pão de cada dia...

a crônica representa a sobremesa.” (LOWENSTEIN, 1965 apud BELTRÃO, 1980).

3.4 A confiabilidade e qualidade de uma informação



26

Com a produção de informação-notícia em domínio universal, novos questionamentos se fazem

pertinentes em relação à qualidade do material produzido. Para se tornar um objeto jornalístico,

Otto Groth, na década de 1960, destacava, como características essenciais do Jornalismo,

peridiocidade, universalidade, atualidade e difusão. Aliado às características definidas por

Groth, um trabalho jornalístico é aquele que possui as premissas de investigação, apuração,

compromisso com a verdade, análise do fato e relacionamento com as fontes. Mesmo com todos

os compromissos listados, o Jornalismo, muitas vezes, apresenta-se de forma oportunista e

interesseira, independente da plataforma ou do veículo.

Se afastando dos interesses que guiam os grandes meios de comunicação, atualmente, o nichos

comunicacionais vêm ganhando outros integrantes. Haja vista a facilidade de acesso àsferramentas digitais, as produções se multiplicaram e reproduzir qualquer opinião na web

tornou-se possível. Na mesma medida, indagações sobre a veracidade daquilo que é publicado

se tornaram frequentes. Porém, o questionamento sobre a confiabilidade de determinado veículo

não é exclusividade do mundo digital. A indagação é válida para todas as plataformas. Seja na

televisão, rádio, jornal impresso ou qualquer meio de comunicação, a imprensa não é a dona da

verdade, ela tem o objetivo de esclarecer os fatos e discuti-los.

O que torna o questionamento latente ao discutir a fidedignidade dos trabalhos na rede é a

facilidade da (re)produção na Internet. Qualquer um (re)produz o que quiser. A opinião, por

mais inverídica que seja, pode ser publicada e um leitor, desavisado, a entende como autêntica.

Com o surgimento da Internet e o aperfeiçoamento tecnológico, a informação deixou de ser

monopolizada. Na mesma medida, a produção se multiplicou e nem sempre se torna um objeto

jornalístico em essência. “Blogueiros independentes não são jornalistas porque não há um editor entre o autor e o leitor”11. (LASICA, 2003, p.1, tradução livre).

Para distinguir o que é notícia de um acontecimento trivial presenciado por um jornalista,

Galtung e Ruge (1965) foram os primeiros autores a esclarecer critérios de noticiabilidade.

Após os estudos originais dos autores, alguns elementos de valor-notícia foram evidenciados

por Shoemaker (1991):

11 LASICA, Joseph Daniel. What is Participatory Journalism? Online Journalism Review, 2003. Disponível em:<http://www.ojr.org/ojr/workplace/1060217106.php>. Acesso em: 20 mar. 2011.



27

A oportunidade, a proximidade, a atualidade, o provável interesse do público, aimportância, o impacto, as consequências e repercussões, o interesse, o conflito ou acontrovérsia, a negatividade, a frequência, a dramatização, a crise, o desvio, osensacionalismo, a emoção, a proeminência das pessoas envolvidas, a novidade, aexcentricidade e a singularidade (no sentido de pouco usual). [SHOEMAKER, 1991 apud

SOUZA, 2001, p. 41]12

Compartilhando as ideias de Shoemaker (1991), Nelson Traquina (1999) destaca o improvável

e o raro como objetos de interesse jornalístico.

É acontecimento tudo aquilo que irrompe na superfície lisa da história de entre umamultiplicidade aleatória de factos virtuais. Pela sua natureza, o acontecimento situa-se,

portanto, algures na escala das probabilidades de ocorrência, sendo tanto mais imprevisívelquanto menos provável for a sua realização. É por isso em função da maior ou menor

previsibilidade que um facto adquire o estatuto de acontecimento pertinente o ponto devista jornalístico: quanto menos previsível for, mais probabilidades tem de se tornar notíciae de integrar assim o discurso jornalístico. É por isso que se diz, gracejando, que um cãoque morde um homem não é facto jornalístico, mas se um homem morder um cão entãoestamos perante um facto susceptível de se tornar notícia. O acontecimento jornalístico é,

por conseguinte, um acontecimento de natureza especial, distinguindo-se do númeroindeterminado dos acontecimentos possíveis em função de uma classificação ou de umaordem ditada pela lei das probabilidades, sendo inversamente proporcional à probabilidadede ocorrência. (TRAQUINA, 1999, p.27)

Ao analisar os elementos acima, entende-se que para um acontecimento tornar-se notícia é

necessária uma gama de fatores que permitem tal distinção. Muito embora, para uma

informação tornar-se objeto jornalístico, não seja necessária a reunião de todas essascaracterísticas. Apesar de Lasica (2003) não considerar produtores independentes como

geradores de trabalhos jornalísticos, o autor pondera que “quando o blogueiro faz um

comentário pessoal baseado em estudos originais científicos ou se é feito por uma autoridade no

assunto, este conteúdo se torna um produto jornalístico”13 (LASICA, 2003, p.1, tradução livre).

Assim, pode-se dizer que uma informação se torna fidedigna quando é publicada por alguém

que tem conhecimento sobre aquilo que está discutindo.

Após séculos de monopólio de informação, qualquer que seja a participação do cidadão na

construção de uma informação-notícia é válida. Seja em um blog ou comentando uma matéria

publicada em algum veículo comunicacional, a interferência do leitor é justamente o que

constroi o novo cenário do Jornalismo contemporâneo. Sbarai (2009) observa, ainda, que

12 SOUZA, Jorge Pedro. Elementos de jornalismo impresso, 2001. Disponível em<http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro-elementos-de-jornalismo-impresso.pdf>. Acesso em 18 out.2011

13 LASICA, Joseph Daniel. What is Participatory Journalism? Online Journalism Review, 2003. Disponível em:<http://www.ojr.org/ojr/workplace/1060217106.php>. Acesso em: 20 mar. 2011.



28

colaborar transcende participar. Implica contribuir e produzir em parceria, sendo o colaborador

responsável, também, pelo conteúdo.

4 A FIDEDIGNIDADE DO SITE CONVERSA AFIADA



29

Uma das grandes revoluções que a internet proporcionou na esfera jornalística é o fato de que,

agora, além de ler a notícia, o leitor possui mais ferramentas para também produzi-la. Mas

quando uma informação publicada na rede mundial se torna material jornalístico?

Em quaisquer veículos de comunicação, a confiabilidade da informação é de responsabilidade,

também, do público. O que leva determinada pessoa ao encontro de certo veículo é, muitas

vezes, o compartilhamento das mesmas ideias e linhas editoriais. Na web não é diferente.

Nos anos 2000, foi possível notar a explosão da blogosfera na rede mundial de computadores.

Muitos dos blogs discutem, inclusive, o papel da imprensa na atualidade. Mas muito se

questiona se estes veículos podem ser considerados jornalísticos.

Para analisar o trabalho jornalístico na web e a confiabilidade de um trabalho colaborativo, o

objeto desta pesquisa é o site Conversa Afiada, do jornalista Paulo Henrique Amorim. O portal

está no ar desde 2006 e tem como intuito “levar informação de qualidade e opinião enérgica”14,

segundo o próprio site propõe. O portal tem teor político e mostra claramente a sua posição

partidária, e foi, nas eleições de 2010, um defensor do governo Lula e da então candidata Dilma

Roussef.

4.1 Recorte temporal

O material empírico utilizado nesta análise é originário de uma semana composta (20/05/2011;

28/05/2011; 05/06/2011; 13/06/2011; 21/06/2011; 29/06/2011 e 06/07/2011), de todos os textos

publicados no endereço eletrônico Conversa Afiada, do jornalista Paulo Henrique Amorim.

Devido ao fato de os textos publicados serem de diferentes colaboradores e assuntos, para setornar satisfatória, essa pesquisa estendeu-se por tal espaço de tempo.

4.2 Breve história do portal Conversa Afiada

A história do portal começou em 2006, no site iG, onde esteve hospedado até março de 2008,

quando foi abruptamente retirado do ar. Em nota, o site informou que a audiência esperada

estava aquém da obtida e os custos com a manutenção do blog não mais se justificavam. Por

14Quem somos. Disponível em: < http://www.conversaafiada.com.br/quem-somos/>. Acesso em: 13 out. 2011.



30

outro lado, na época, Paulo Henrique Amorim (PHA)15 afirmou que, devido às críticas que fez

ao processo de fusão de duas grandes marcas – segundo a qual o jornalista afirmava que várias

personalidades políticas seriam beneficiadas ilicitamente –, o contrato havia sido encerrado.

Desde então, o jornalista mantém o blog no endereço eletrônico www.conversaafiada.com.br.

Mesmo já tendo trabalhado em grandes conglomerados comunicacionais, nos quais os

jornalistas são subordinados às linhas editoriais dos veículos, em seu blog, PHA é parcial,

crítico e apresenta os seus juízos de valor.

4.3 Análise do site Conversa Afiada

Além de alterar o modelo da comunicação e os modos de acesso à informação, a web tambémmudou o perfil do próprio jornalista. Neste novo contexto, fica evidente que o profissional de

Jornalismo deve se adequar às novas ferramentas e tirar proveito das possibilidades que a rede

dispõe. À luz das teorias que foram discutidas nos capítulos anteriores, o site Conversa Afiada é

analisado.

Atualmente, o portal, de responsabilidade do jornalista Paulo Henrique Amorim e direção de

Geórgia Pinheiro, é dividido em nove editorias/assuntos: 1) Política; 2) Economia; 3) Brasil;4)PiG; 5) Galeria de fotos; 6) Multimídia; 7) Não e sim com PHA; 8) Bessinha; 9) Olhar afiado.

Segundo relatório da Inter.net e divulgação16 do próprio site, o número de pages views do portal

atingiu mais de 11 milhões, em outubro de 2010 – mês das eleições presidenciais. Ainda

segundo a pesquisa, o número de visitantes únicos – navegantes que só visitam o portal – foi de

977 mil, no mesmo período. Este alto índice é reflexo do grande uso da Internet pelo brasileiro,

como ficou evidenciado no capítulo 2.

4.3.1 Análise dos textos

Dentre todas as editorias/assuntos, a de Política é a que mais se destaca, possuindo um maior

número de publicações. No dia 5 de junho de 2011, 100% dos artigos publicados foram

hospedados nessa editoria/assunto. No mesmo dia, 85% dos textos foram assinados pelo

15Paulo Henrique Amorim é ex-funcionário da revista Veja, da Rede Globo e da Rede Bandeirantes.Atualmente, é funcionário da Rede Record.

16 Audiência do C Af chega a 12 milhões. Alô, alô Serra, Dantas e Gilmar!. Disponível em:<http://www.conversaafiada.com.br/video/2010/11/24/audiencia-do-c-af-chega-a-12-milhoes-alo-alo-serra-dantas-e-gilmar/>. Acesso em: 13 out. 2011.



31

jornalista Paulo Henrique Amorim. Em grande maioria, os textos publicados são uma análise de

matérias/reportagens já publicadas em outros veículos, fazendo com que a argumentação de

Zamora (2001 apud Aroso, 2003) de que o novo papel do jornalista na rede mundial de

computadores é hierarquizar, organizar e apresentar a informação que interesse a cada pessoa,

seja, no portal, reconhecida.

Saiu na primeira pág, da Folha (*):“Dilma decide ouvir Lula sobre destino de Palocci”Dilma vai ouvir o antecessor antes de decidir se demite ou não o Ministro da Casa Civil.

Este ansioso blog considera que ela deveria aproveitar e fazer logo a limpa.

E começar a limpeza pelo Zé, aquele que foi advogado do passador de bola apanhado no

ato de passar bola, enquanto acumulava a função de “consultor” e representante do povo deSão Paulo na Câmara dos Deputados.

Zé e sua Polícia Federal são cama que o gato espera para armar. [Dilma a Lula: toma que o

filho (Palocci) é teu, 05/06/201117]

Ao fazer uma análise dos fatos acontecidos, os autores (na grande maioria, jornalistas) utilizam

recursos do Jornalismo subjetivo. Os textos publicados no site Conversa Afiada apresentam

características que os aproximam das crônicas e, principalmente, editoriais e artigos, vertentes

do Jornalismo que evidenciam a intimidade do autor com o leitor e a interpretação e opinião

perante os fatos. Além de aproximarem-se dos gêneros subjetivos, os textos possuem premissas

dos princípios básicos do Jornalismo, como apuração, investigação, análise dos fatos e

compromisso com a verdade.

Nos textos publicados no portal, lança-se mão de vários recursos que a Internet proporciona a

fim de uma pluralização do conteúdo, elementos que Bardoel e Deuze (2001) destacam ao

desenvolverem um estudo das características do Jornalismo para a web. Os autores do site

Conversa Afiada disponibilizam hiperlinks, arquivos multimídia, ilustrações, chamadas para

outras matérias e, inclusive, chamadas para outros veículos, possibilitando que os internautas

migrem de um artigo a um tema mencionado, por meio de um clique, como fica evidenciado em

“A Carta Capital, na pág. 25 desta semana, mostra:”18, no qual abre-se um link para a17 Dilma a Lula: toma que o filho (Palocci) é teu. Disponível em:<http://www.conversaafiada.com.br/politica/2011/06/05/dilma-a-lula-toma-que-o-filho-palocci-e-teu/> . Acessoem: 13 out. 2011.

18Comissão de Ética não aplicou as próprias regras a Palocci. Disponível em:<http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/06/05/comissao-de-etica-nao-aplicou-as-proprias-regras-a-



32

visualização, na íntegra, do texto mencionado da revista Carta Capital . Desta maneira, o

conteúdo do portal CA enquadra-se nas novas formas de Jornalismo na Internet, nas quais as

novas ferramentas digitais permitem um enriquecimento do conteúdo oferecido.

O portal é, também, campo aberto para polêmicas. “O Conversa Afiada [...] é um espaço

jornalístico com uma linguagem nova. E uma vocação para a polêmica”19. Divergências que

permitiram a criação de protestos, trocadilhos e siglas envolvendo os grandes meios de

comunicação brasileiro.

(*) Folha [de São Paulo] é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS decondenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa daDilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos,reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque odono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aostorturadores. [RDC: Ideli manda Sarney, Folha (*) e empreiteiro passear, 21/06/201120]

Abaixo, um dos maiores ‘inimigos’ do portal, se referindo aos conglomerados de comunicação

que detêm parcela significativa dos maiores veículos comunicacionais do país.

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade

técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm noBrasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.[Presidente da OAB acusado de receber $$$ ilegal, 14/11/201121]

As características destes textos de protesto, mais uma vez, os aproximam dos editoriais e artigos

jornalísticos. Embora não seja regra no gênero, é possível encontrar, muitas vezes, tons de

revolta e insatisfação em textos desta natureza.

Devido a ataques constantes a figuras políticas e empresários, o jornalista Paulo Henrique

Amorim já foi condenado pela justiça a pagar indenização aos personagens citados em textos e

comentários publicados no portal.

palocci/>. Acesso em: 13 out. 2011

19Quem somos. Disponível em: < http://www.conversaafiada.com.br/quem-somos/>. Acesso em: 13 out. 2011

20 RDC: Ideli manda Sarney, Folha (*) e empreiteiro passear. Disponível em:<http://www.conversaafiada.com.br/politica/2011/06/21/rdc-ideli-manda-sarney-folha-e-empreiteiro-passear/>.Acesso em: 08 nov. 2011.

21 Presidente da OAB acusado de receber $$$ ilegal. Disponível em:<http://www.conversaafiada.com.br/politica/2011/11/14/presidente-da-oab-acusado-de-receber-ilegal/>. Acessoem: 14 nov. 2011.



33

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro condenou o blogueiro Paulo Henrique Amorim aindenizar o banqueiro Daniel Dantas em R$ 200 mil. A 1ª Câmara Cível decidiu, por unanimidade, que Amorim abusou do direito de crítica e infligiu danos morais aoempresário [...] Amorim foi condenado não só por textos assinados por ele, mas também

por comentários anônimos, em tese, feitos por leitores, no blog. [Paulo Henrique Amorim

deve indenizar Daniel Dantas, 06/05/201122]

4.3.2 Manifestação geral do público

No portal, a grande maioria dos textos são de autoria do jornalisa PHA, entretanto, colaborações

de outros autores e até e-mails enviados para o site são publicações regulares no CA. Isto,

segundo Foschini e Taddei (2006, apud Sbarai, 2009), evidencia a importância do colaborador,

não necessariamente jornalista, na construção de uma informação-notícia, como pode ser

observado na reprodução do e-mail enviado pelo internauta Marcelo Zelic, no dia 13 de junho

de 2011:

O Conversa Afiada reproduz e-mail que recebeu do amigo navegante Marcelo Zelic:

Caro Paulo Henrique, o ATO PÚBLICO que ocorre amanhã na Sede Regional doMinistério Público Federal em São Paulo para repatriação dos documentos do ProjetoBrasil: Nunca Mais, que se encontram em Chicago e em Genebra, é um marco na busca por

justiça no Brasil.

Começam a circular rumores de que a Senadora Ideli Salvatti já trabalha para manter overgonhoso SIGILO ETERNO de documentos sobre o período da ditadura civil-militar de1964-1985. Tal postura se adotada pelo governo da Presidenta Dilma Rousseff irá colidir defrente com a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

O Brasil foi condenado pelos crimes de lesa-humanidade praticados neste período e asentença aponta para atitudes concretas que deverão ser tomadas no sentido de desobstruir a

justiça, ou seja, rever a decisão do STF sobre a ADPF 153 que protege os torturadores, aabrir os arquivos, a localizar e entregar para o sepultamento digno os desaparecidos

políticos, a trabalhar as escolas de formação das forças de segurança adequando-as ao Nunca Mais e à democracia.

Repatriar os documentos do Brasil: Nunca Mais e abrir acesso universal, livre e gratuito aum milhão de páginas pela internet, iniciativa do Armazém Memória, Arquivo Público doEstado de São Paulo, Ministério Público Federal, com apoio do Arquivo Nacional,Conselho Mundial de Igrejas, CRL-LAMP e Instituto de Políticas Relacionais e OAB doRio de Janeiro, é um chamado a razão, é um clamor para que o estado brasileiro cumpraintegralmente a decisão que condenou o Brasil na Corte.

Assim convidamos os internautas e amigos navegantes a comparecerem no Ato Público e juntos reafirmarmos a necessidade da sociedade conhecer seu passado histórico e fazer justiça.A decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos é fundamental para odesenvolvimento da cidadania, por isso, CUMPRA-SE. [Cumpra-se a decisão da OEA.Tortura nunca mais, 13/06/2011]23

22 Paulo Henrique Amorim deve indenizar Daniel Dantas. Disponível em: Disponível em:<http://www.conversaafiada.com.br/video/2010/11/16/video-assustador-globo-de-sc-tem-odio-de-pobre/>.Acesso em 05 nov. 2011.



34

Dentre as colaborações mais regulares, artigos do jornalista Luís Nassif são os que mais são

publicados no CA. Em sua maioria, são reproduções – trechos ou na íntegra – de um texto já

publicado. Em um setor permanente, há um espaço denominado ‘Links’ direcionando o

internauta para outros sites de colaboradores: Blog do Azenha; Blog do Protógenes; Blog do

Rodrigo Vianna; Carta Capital; Nassif: Caso Veja; Teletime; Tijolaço. Este espaço demonstra a

importância dos colaboradores para o site.

São publicadas, ainda, diversas charges de autoria de Bessinha, que, segundo o próprio site

informa, é o principal colunista do Conversa Afiada.

Bessinha prefere não revelar a identidade e muito menos oferecer uma foto aos leitores.Como se sabe, ele é o principal colunista do Conversa Afiada. Bessinha entende de tudo.Astrologia, arqueologia, anatomia, antropologia, astronomia. Só para ficar na letra “a”. Enem assim consegue superar a urubóloga. Como o Conversa Afiada, Bessinha é afiado erápido. O Conversa Afiada achou que devia criar o espaço exclusivo para o Bessinha.Como se fosse a Grande Galerie do Louvre. Modestamente. [Mas quem é esse Bessinha, 20nov. 2011]24

No dia 13 de junho de 2011, 60% das publicações continham a ilustração de Bessinha.

Aos que se calaram diante da violação da Satiagraha (13/06/2011)25

23Cumpra-se a decisão da OEA. Tortura nunca mais. Disponível em:<http://www.conversaafiada.com.br/politica/2011/06/13/cumpra-se-a-decisao-da-oea-tortura-nunca-mais/>.Acesso em: 08 nov. 2011.

24 Mas quem é esse Bessinha? Disponível em: <http://www.conversaafiada.com.br/bessinha/>. Acesso em: 20nov. 2011

25 Aos que se calaram diante da violação da Satiagraha. Disponível em:<http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/06/13/aos-que-se-calaram-diante-da-violacao-da-satiagraha/>.Acesso em 13 jun. 2011.



35

PMDB de Temer: chantagista ou assaltante? (13/06/2011)26

PMDB de Temer: chantagista ou assaltante? (13/06/2011)27

26 PMDB de Temer: chantagista ou assaltante? Disponível em:<http://www.conversaafiada.com.br/politica/2011/06/13/pmdb-de-temer-chantagista-ou-assaltante/>. Acesso em13 jun. 2011.

27 PMDB de Temer: chantagista ou assaltante? Disponível em:<http://www.conversaafiada.com.br/politica/2011/06/13/pmdb-de-temer-chantagista-ou-assaltante/>. Acesso em13 jun. 2011.

http://www.conversaafiada.com.br/wp-content/uploads/2011/06/charge-bessinha_bronca-pmdb.jpg

http://www.conversaafiada.com.br/wp-content/uploads/2011/06/chargeSTJSatiagraha1.jpg



36

Cumpra-se a decisão da OEA. Tortura Nunca Mais (13/06/2011)28

Mantendo uma relação de proximidade com o leitor, na editoria/assunto Olhar Afiado, o site

CA destina um espaço para que o leitor publique suas fotos.

Este é o espaço que o Conversa Afiada dedica ao leitor que deseja, através da fotografia,denunciar, mostrar um flagrante, um momento inesquecível, o seu cotidiano.

28Cumpra-se a decisão da OEA. Tortura Nunca Mais. Disponível em:<http://www.conversaafiada.com.br/politica/2011/06/13/cumpra-se-a-decisao-da-oea-tortura-nunca-mais/>.Acesso em 13 jun. 2011.

http://www.conversaafiada.com.br/wp-content/uploads/2011/06/bessinha-com.jpg

http://www.conversaafiada.com.br/wp-content/uploads/2011/06/charge-bessinha_pt-garcom.jpg



37

Claro, o olhar tem que ser afiado, assim como o Conversa Afiada.

Seja criativo e envie para o endereço [email protected] o seu olhar afiado.

Conte a sua história. [Olhar Afiado, 13/11/2011]29

A presença de mais de um autor nos textos publicados no site Conversa Afiada – na maioria das

vezes, isto se dá de forma indireta, uma vez que os textos não são produzidos a quatro mãos – ,

faz com que o conteúdo do portal se aproxime ao Jornalismo Colaborativo. Fato corroborado

com a possibilidade da publicação de conteúdo produzido por não jornalistas.

4.3.3 Comentários

Em todos os textos publicados e seções do site são destinados espaços, com grande repercussão,

para comentários do público. A publicação mais comentada, “Vídeo assustador: Globo de SC

tem ódio de pobre”30 (16/11/2010), possui 1637 interferências da audiência. No vídeo, o

jornalista da Rede Globo de Santa Catarina, Luiz Carlos Prates, responsabiliza a facilidade de

aquisição de carros populares pelas classes mais pobres pelo alto índice de mortes nas estradas

brasileiras. O comentário carregado de preconceito foi alvo de uma enxurrada de críticas, o quemostra que o público do Conversa Afiada não está satisfeito com com o que é publicado pela

grande mídia e, muitas vezes, a questiona.

O sujeito até que tinha começado bem o comentário. Seu recado mortal foi atribuir aos pobres a imprudência no volante, como se ricos fossem imbuídos de uma ilimitadasabedoria no dirigir... Mas é aí que se revela: sua raiva não é com o excesso de veículosque, em sua visão miope, vem não da ausência de boas políticas de transporte público, esim da inclusão da classe D no universo automobilístico31.

Apesar do grande número de comentários para a publicação acima, no período de análise, a

maioria dos textos possuíam menos de 100 comentários. Para adicionar um comentário, basta o

internauta escrever a mensagem no espaço destinado, ao final do texto. Esta intervenção só é

publicada após análise de um moderador. Estes comentários somam-se aos atigos, formando um

29 Olhar Afiado. Disponível em: <http://www.conversaafiada.com.br/olhar-afiado/>. Acesso em: 13 nov. 2011.

30Vídeo assustador: Globo de SC tem ódio de pobre. Disponível em:<http://www.conversaafiada.com.br/video/2010/11/16/video-assustador-globo-de-sc-tem-odio-de-pobre/>.Acesso em 05 nov. 2011.

31 Comentário de Eduardo, publicado em: Vídeo assustador: Globo de SC tem ódio de pobre. Disponível em:<http://www.conversaafiada.com.br/video/2010/11/16/video-assustador-globo-de-sc-tem-odio-de-pobre/>.Acesso em 05 nov. 2011.



38

conjunto novo que, segundo Foschini e Taddei (2006, apud SBARAI, 2009), faz com que o

material publicado no site Conversa Afiada se aproxime ao Jornalismo Participativo.

O perfil dos comentaristas do site Conversa Afiada é semelhante aos dos autores dos textos

publicados. A maioria dos comentários aprovam os textos e, muitas vezes, o espaço serve como

forma de protesto e de mostrar insatisfação com o fato narrado.

Quisera eu também que o sol nascesse sobre o sistema Judiciário do Brasil “cedo ou tarde”.Porém, “cedo” é que não poderá ser mais, pois já se faz muito tarde. Mas antes tarde do quenunca. Como se provou, é mais fácil encontrar e abrir a caixa-preta do avião da Air Francecaído no fundo do oceano Atlântico do que mudar um pouco que seja esse nosso Judiciário.A maior das caixas-pretas32.

Muitas vezes, os comentaristas dialogam com o autor, evidenciando um estreitamento de laços,

entre o articulista e o leitor, por conta do espaço aberto para depoimentos.

PHA, acho que o foco da discussão poderia ser o seguinte: 1ª pergunta:do final dogoverno da ditadura militar, com a eleição de DR. Tancredo Neves, de lá para cá,qual governo o PMDB ficou fora? 2ª pergunta: Por que o PMDB, mesmo sendo umdos maiores partidos do Brasil, não apresenta candidato à Presidência? 3ª pergunta:essa situação de ter que decidir situações políticas do país, não seria mais cômodo?4ª pergunta: se esse partido se manteve em, praticamente, todos os governos e équem decide votações no CN, na realidade, é ele quem governa o país desde a

ditadura, ou não é? Daí, o dr. Ciro pode estar com a razão. Vaidade, egoísmo,arrogância, prepotência, etc, tendem a ser virtudes de quem, às vezes, sem o devido

preparo e compromisso com a nação, detém o poder. Essa característica não é só doPMDB. Reforma Política e Partidária neles, o momento é esse33.

Embora haja um grande número de comentários na maioria das publicações do site, durante

todo o tempo de análise, nenhum dos autores ou responsáveis pelo site Conversa Afiada

publicou, respondeu, analisou ou fez quaisquer tipos de comentários no espaço destinado para

tal.

A forma de linguagem dos artigos e comentários publicados no Conversa Afiada, asseguram ao

portal características semelhantes aos gêneros jornalísticos de subjetividade. Muitas vezes em

primeira pessoa, com uma relação de proximidade com o leitor e fazendo uma análise dos fatos

32Comentário de Roberto, publicado no artigo Gilmar quer tirar poder da Dilma e dar pra ele. Disponível em:<http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/06/13/gilmar-quer-tirar-poder-da-dilma-e-dar-pra-ele/>. Acessoem 05 nov. 2011.

33Comentário de Ajuricaba da Amazônia, no artigo PMDB de Temer: chantagista ou assaltante? Disponível em:<http://www.conversaafiada.com.br/politica/2011/06/13/pmdb-de-temer-chantagista-ou-assaltante/>. Acesso em05 de nov. 2011.



39

ocorridos e já publicados em outros veículos, os textos do site CA contém características

presentes nas crônicas, artigos, editoriais e colunas.

Mesmo que o autores dos textos não tenham o costume de responder a nenhum comentário

realizado pelo público, a presença constante de comentaristas aproxima o site Conversa Afiada

ao Jornalismo Participativo, no qual os comentários somam-se ao conteúdo original, formando

um novo conjunto.

CONCLUSÃO



40

Analisadas as interferências na sociedade contemporânea causadas pela instauração da Internet

e o desenvolvimento de tecnologias digitais, é possível concluir que os modos de comunicação

entre os homens vêm sofrendo uma profunda mudança desde o final do século XX. Além de

suas próprias qualidades, os novos dispositivos tecnológicos propiciam o aperfeiçoamento de

todos os tipos de serviço, inclusive, da comunicação.

É inegável que a tecnologia e os seus desdobramentos causaram melhorias nos relacionamentos

da comunicação social e do Jornalismo; garantindo mais facilidade ao acesso a informações, um

rico acervo de dados, um estreitamento na relação jornalista-audiência e a possibilidade de uma

intervenção direta na produção de informação-notícia. Contudo, com a multiplicação de

possibilidades, a qualidade das publicaçãoes nem sempre é garantida.

Com a proliferação de portais eletrônicos de discussões, as informações transmitidas pelos

agentes comunicacionais clássicos deixaram de ser exclusivas e passaram a ser, inclusive,

questionadas pela audiência. Apesar destes questionamentos sempre terem sido feitos,

atualmente, as reflexões são mais latentes, como pôde ser constatado nos comentários do site

Conversa Afiada.

Por meio da pesquisa efetuada, constatou-se que o portal realiza uma análise das notícias,

principalmente de caráter político, que são publicadas nos grandes veículos de comunicação

brasileiros. Percebeu-se que os textos publicados no site apresentam-se com características que

os aproximam dos editoriais e artigos, vertentes do Jornalismo que evidenciam a intimidade do

autor com o leitor e a interpretação e opinião perante os fatos. Nestes gêneros, a opinião dos

autores é claramente apresentada e fundamentada por habilidades conferidas ao profissional.

Somados às ideias originais dos autores, nos textos disponibilizados no portal são publicados

comentários dos leitores, gerando terceiras opiniões ao conteúdo, qualificando o site como

Jornalismo Participativo. É bem verdade, claro, que o artigo em si é o conteúdo principal da

informação, porém, mesmo que com menos importância e evidência, os comentários dos

leitores também se tornam parte do texto no momento em que são hospedados no mesmo

espaço/página do artigo e possibilitam o desdobramento de outras discussões. Gillmor (2004)

pondera que a publicação do indivíduo ‘comum’ não é apenas o ponto final, mas sim a parte

que deverá ser completada pela conversação.



41

Verificou-se, ainda, que o conteúdo do site Conversa Afiada é, em alguns casos, feito com a

colaboração direta do público, o que caracteriza o portal como Jornalismo Colaborativo.

Entretanto, notou-se que a grande maioria dos textos publicados são de autoria do jornalista

responsável pelo site, Paulo Henrique Amorim, o que evidencia que o conteúdo do portal não é

predominantemente colaborativo.

Os textos do portal, em sua maioria, são carentes de imparcialidade, o que poderia desclassificar

o site enquanto objeto jornalístico. Mas será que todas as premissas do Jornalismo são

intocáveis e indispensáveis? A profissão pressupõe que haja um critério de noticiabilidade e

uma imparcialidade para narrar os fatos mais relevantes à população. De acordo com a análise

realizada, pôde constatar-se que, em alguns momentos, o site Conversa Afiada distancia-se dealguns pressupostos clássicos. Contudo, observou-se que outras importantes marcas do

Jornalismo são presentes nos textos do portal, como o compromisso com a verdade, apuração e

cacterísticas dos gêneros opinativos e interpretativos do Jornalismo, como análise e

contextualização dos fatos, aprofundamento do tema com possíveis desdobramentos, sugestões

para desfecho de um fato de interesse comum, formulação de critérios e função de orientação.

Imaginar um objeto jornalístico livre de posicionamento, muitas vezes, torna-se irreal. O jornalista é, em sua essência, o intérprete daquilo que acontece, com isso, é permitida ao agente

da informação uma análise dos fatos que ele narra. E para tanto, o profissional de Jornalismo

lança mão de todas as suas habilidades para descrever a realidade do tempo em que vive e não

lhe é determinadamente vedada a opinião. Esta descrição é condicionada às experiências

pessoais do repórter, métodos de trabalho, contexto da atividade, normas de redação do veículo

e outras variáveis que permitem que o mesmo fato possa ser narrado por diferentes pontos de

vista.

Para discutir quando um material jornalístico pode ser publicado à margem dos meios de

comunicação clássicos, Moretzsohn (2006) pondera que só profissionais capacitados podem

informar um público independentemente, evidenciando “tratar de um tipo de Jornalismo mais

viável em nichos de mercados especializados, onde supõe-se um equilíbrio na qualificação de

quem participa desse fórum” (MORETZSOHN, 2006, P.69). Compartilhando a mesma ideia,

Lasica (2003) salienta que “quando um blogueiro faz um comentário pessoal baseado em

estudos originais científicos ou se é feito por uma autoridade no assunto, este conteúdo se torna

um produto jornalístico” (LASICA, 2003, p.1 tradução livre). Assim, pode-se dizer que uma



42

informação torna-se fidedigna quando é publicada por alguém que possui conhecimento de alto

nível sobre aquilo que é discutido e quando é feito em plataformas especializadas, nas quais as

informações serão discutidas ou absorvidas por pessoas também gabaritadas.

No caso do portal Conversa Afiada, notou-se que o espaço é um nicho especializado em

discussões, principalmente, políticas. Esta troca de ideias e discussões pôde ser constatada pelo

grande interesse do público pelos assuntos publicados, evidenciado pelo alto número de

comentários. Entretanto, vale salientar que a maioria dos comentaristas são favoráveis às ideias

publicadas e, muitas vezes, são, inclusive, induzidos a inclinarem-se a elas, como em qualquer

veículo de transmissão de notícias e informações. O site é de responsabilidade do jornalista

Paulo Henrique Amorim, profissional gabaritado pelas experiências profissionais que possui, oque qualifica o CA como um espaço especializado.

Portanto, analisadas as características do Jornalismo, as intenções e responsabilidades da

profissão, e realizando uma análise qualitativa e quantitativa do site Conversa Afiada, conclui-

se que um trabalho colaborativo e participativo na Internet pode ser considerado um objeto

jornalístico. Para tanto, um material publicado na rede mundial de computadores necessita,

principalmente, de qualidade. Algumas características clássicas do Jornalismo como apuração e, principalmente, compromisso com a verdade são indispensáveis para um conteúdo de alto nível,

todavia, a ausência de imparcialidade não o desclassifica.

Neste novo contexto comunicacional, no qual a audiência ganhou posição de destaque na

produção e circulação de informação-notícia, o consumidor do conteúdo torna-se também

responsável pelo produto. Ele o escolhe por identificação de ideias e por compartilhar pontos de

vista semelhantes.

Havendo qualidade, compromisso com a verdade e o respaldo de um profissional com nível

adequado à função, um trabalho que seja apresentado em uma plataforma independente, que

distancia-se dos vícios e interesses do Jornalismo tradicional, pode, inclusive, ser considerado

um material jornalístico mais rico e completo. Cabe ao consumidor da notícia escolher a forma

de como se informar, se entreter ou ajudar na construção da comunicação.



43

REFERÊNCIAS

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NOVO JOGO COMUNICACIONAL: A fidedignidade do Jornalismo colaborativo e participativo no site Conversa Afiada