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A IMPORTÂNCIA CIENTl'FICA DOS DADOS EXPERIMENTAIS 49 em condenar o trabalho de um colega como sem importância, porque para eles a importância está, por definição, circunscrita à sua própria coleção de regras. A posição fornece segurança, mas o faz às custas da objeti- vidade, que é o primeiro requisito para a ciência efetiva. Entretanto, não recomendo ao estudante que se permita entrar em luta com todos os dados que lhe despertarem a atenção, aceitando todos desesperadamente, na tentativa de vir a ser o Homem universal. Como observou Bachrach, "Ser eclético pode... significar que tenha os pés firmemente plantados em pleno ar" (4, p. 43). O estudante deve possuir algumas convicções em relação aos dados que são mais necessários à sua ciência. Isto dará direção à sua pesquisa, e o proverá de uma unidade global que lhe permitirá dar uma contribuição mais segura. Mas não deverá jamais estar tão concentrado em suas convicções que ignore metodolo- gicamente os dados que surgem de outros pontos de vista. E, à medida que sua ciência progredir, precisará ser capaz de mudar as direções da sua pesquisa com novos desenvolvimentos. O desenvolvimento cumulativo de uma ciência fornece a única resposta final quanto à importância de qualquer dado em particular; às vezes são os jovens cientistas, que entram no campo livres dos precon- ceitos das controvérsias passadas, que apanham os fios da continuidade do emaranhado da teoria, dados, e pseudo-problemas que formam uma parte de cada estágio do progresso científico.

Fidedignidade e Generalidade Dos Dados

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Page 1: Fidedignidade e Generalidade Dos Dados

A IMPORTÂNCIA CIENTl'FICA DOS DADOS EXPERIMENTAIS 49

em condenar o trabalho de um colega como sem importância, porque para eles a importância está, por definição, circunscrita à sua própria coleção de regras. A posição fornece segurança, mas o faz às custas da objeti­

vidade, que é o prim eiro requisito para a ciência efetiva.Entretanto, não recomendo ao estudante que se permita entrar em

luta com todos os dados que lhe despertarem a atenção, aceitando todos

desesperadamente, na tentativa de vir a ser o Homem universal. Como observou Bachrach, "Ser eclético pode .. . significar que tenha os pés

firmemente plantados em pleno a r" (4, p. 43). O estudante deve possuir

algumas convicções em relação aos dados que são mais necessários à sua

ciência. Isto dará direção à sua pesquisa, e o proverá de uma unidade global que lhe perm itirá dar uma contribuição mais segura. Mas não deverá jamais estar tão concentrado em suas convicções que ignore metodolo­gicamente os dados que surgem de outros pontos de vista. E, à medida

que sua ciência progredir, precisará ser capaz de mudar as direções da sua

pesquisa com novos desenvolvimentos.O desenvolvimento cumulativo de uma ciência fornece a única

resposta final quanto à importância de qualquer dado em particular; às

vezes são os jovens cientistas, que entram no campo livres dos precon­ceitos das controvérsias passadas, que apanham os fios da continuidade do emaranhado da teoria, dados, e pseudo-problemas que formam uma

parte de cada estágio do progresso científico.

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c. a f idedignidade e a generalidade dos dados

A importância científica é apenas um dos critérios pelos quais os dados são avaliados. Já salientei que esta é, quando m uito, uma base duvidosa para aceitar ou rejeitar dados. O restante do livro será dedicado a dois outros critérios, fidedignidade e generalidade, sendo que este capítulo servirá de introdução geral.

Como no caso da importância dos dados, a decjsão sobre fidedigni­dade e generalidade exige maturidade de julgamento. Há, entretanto,

muitos psicólogos que insistem em que fidedignidade e generalidade sejam julgadas em bases puramente impessoais. A aceitação deste ponto de vista é possível devido ao reconhecimento por parte do psicólogo, diante

da natureza do seu objeto de estudo, das fraquezas do julgamento humano. Não lhe agrada confiar decisões importantes aos impulsos do

julgamento pessoal. Mas julgamento individual não é, de forma nenhuma, sinônimo de impulso individual. Embora o julgamento possa não ter

fundamento lógico, e o seu resultado não possa ser expresso em túmeros, apesar disso, lida com coisas tangíveis e verificou-se que

lunciona. Os erros são possíveis, mas há formas de serem notados e corrigidos. A objetividade da ciência consiste não tanto em regras estabelecidas de procedimento, mas na natureza auto corretiva do processo científico.

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A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 51

A prática de julgamento maduro avaliando a fidedignidade e a gene­

ralidade dos dados experimentais é raramente discutida em compêndidos

de métodos experimentais. Contudo, obtivemos um papel básico na avaliação dos dados. Um conhecimento perfeito desse fato comum provará ser mais importante que quaisquer das técnicas de avaliação individual, que são descritos nos capítulos seguintes.

F ID ED IG NIDAD E

Quando perguntamos se os dados são fidedignos, geralmente queremos dizer: "O experimento, se repetido, chegará aos mesmos

resultados?". Em psicologia, esta pergunta é geralmente respondida por meio de uma coleção elaborada de suposições estatísticas e computações

aritméticas.O principal antagonista da fidedignidade estatística é o "Acaso".

A psicologia considera o Acaso como o seu demônio. Todos os dados, no seu nascedouro, são considerados portadores dfe vícios, e qualquer dado que não possa ser provado independentemente do Acaso é imediatamente e irrevogavelmente mandado para o inferno. A Teologia é severa.

Considera-se que a marca do Acaso nunca poderá ser completamente apagada de qualquer dado. O melhor que podemos fazer é determinar

que os dados específicos tenham uma baixa probabilidade de pertencer ao Acaso e, com alguma cautela, incluirmos tais dados no "rebanho".

Se não pertencem ao Acaso, pertencem à Ciência. Desta forma os dados são aceitos pela ciência por exclusão. Não possuem virtudes positivas, somente a virtude negativa de serem devidos ao Acaso, com um baixo

grau de confiança.

O conceito de acaso não significa para a ciência o mesmo que significa para o homem comum. Para ele Acaso é sinônimo de imprevisto.

Mas existe uma ciência do acaso. E quem já ouviu falar de uma ciência cujo objeto de estudo seja imprevisível? De fato, existem as/e/s do acaso, e toda vez que houver lei, haverá previsibilidade. Ë a existência de tais leis que permite aos cientistas avaliarem a fidedignidade dûs seus dados,

diante das linhas de base fornecidas pela teoria estatística.Suponhamos, por exemplo, que conseguimos dois sistemas de

observações quantitativas, um sob condições de controle e outro seguindo alguma manipulação experimental. Dois grupos de números estarão à disposição para a comparação. Agora, será digna de confiança a diferença

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5 2 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

entre eles, ou antes, a média dos dois conjuntos de números? Isto quer dizer, se o experimento fosse realizado com os dois conjuntos de observações obtidos somente sob condições de controle, poderia uma diferença comparável ter ocorrido simplesmente por causa das variações do acaso? O experimentador consciencioso dirá que a diferença não é digna de confiança, e que apareceu por acaso. Então se empenhará em provar que estava errado. Se somente o acaso estivesse operando, e se realmente a variável experimental não tivesse efeito, então os dois

conjuntos de números obtidos teriam que provir de uma mesma popula­ção de origem, que possuísse certas características quantitativas. Fará

então algumas suposições sobre a distribuição de números dentro da

população de origem, depois das quais determinará se os dados obtidos podem ser razoavelmente considerados como tendo sido extraídos ao acaso de tal distribuição. Se seus cálculos lhe disserem que havia somente pouca possibilidade de que os dois conjuntos de valores observados fossem extraídos da mesma distribuição de origem, concluirá que a diferença era real e que os dados eram dignos de confiança.

A análise1 estatística tem os seus méritos para certos tipos de experi­mentos, mas um número de dificuldades sérias está a ela relacionado. Por exemplo, a população de origem, com a qual os dados empíricos deverão ser comparados, apresenta um problema. Idealistica mente, a forma e os parâmetros da distribuição de origem terão sido empiricamente determinados, mas esse caso é raro. Postular as propriedades de ta l d is tri­buição envolve grandes riscos, porque há um número infindo de d is tribu i­ções à escolha. Especialmente arriscada, em razão da sua circularidade, é a

prática, que já fo i geral, de deduzir as propriedades da distribuição de origem dos dados que estão sendo testados. Esta prática tem agora uma aceitação declinante. Mesmo a chamada estatística não paramétrica de livre-distribuição não escapa totalm ente deste dilema, porque sempre se

requer alguma distribuição como linha de base com a qual se comparam as

observações empíricas.A questão de que se o experimento, quando repetido, produzir uma

diferença comparável entre as observações experimentais e de controle, provoca um segundo problema da fidedignidade — não o mesmo problema

que consistia em perguntar se o acaso poderia contar para a diferença obtida em um experimento, mas antes um problema de replicação. Uma operação experimental determinada pode, na realidade, não ter nenhum efeito significativo. Mas uma série de replicações provavelmente irá pro­duzir algumas estimativas das diferenças estatisticamente significativas entre observações experimentais e de controle. Em uma série de

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A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 5 3

replicações do mesmo experimento, é possível que ocorra, certo número

de vezes, uma diferença estatisticamente significativa, unicamente baseada no acaso. Da mesma forma, mesmo que a variável experimental tenha um efeito real, é provável que uma série de replicações produza poucos fatos estatisticamente significantes. Um único experimento sem replicações está, então, sujeito a qualquer destes dois tipos de erro. Um julgamento estatís­tico de significação ou não significação pode ser ele mesmo um produto

do acaso.Finalmente, ficamos com o problema básico do que significa "aca­

so". As observações experimentais serão sempre o resultado do acaso? Para alguns experimentadores, acaso é simplesmente o nome para efeitos combinados de variáveis não controladas. Se tais variáveis forem de fato

controláveis, então acaso nesse sentido é simplesmente uma desculpa para a experimentação descuidada, e nada mais há a comentar. Se as variáveis

não controladas são realmente desconhecidas, então, como disse Boring, é

um sinônimo de ignorância. A ciência está presumivelmente dedicada a estampar a ignorância, mas a avaliação estatística dos dados diante de uma linha de base, cujas características são determinadas por variáveis desco­

nhecidas, constitui uma aceitação passiva de ignorância. Esta é uma curiosa negação dos objetivos professados pela ciência. Mais compatível com aqueles objetivos está a avaliação de dados por meio do controle experimental, um conjunto alternativo de técnicas, que será a maior preo­

cupação dos capítulos seguintes.Pode-se aceitar que o acaso seja sinônimo da ignorância, mas pode-se

argumentar que as estatísticas são necessárias para avaliar o grau de igno­rância de alguém. Com base na informação assim obtida, utiliza-se então o controle experimental para identificar e d im inu ir o papel de fatores não

controlados. O procedimento, se bem sucedido, não pode ser condenado.

Mas, como apontarei depois, a avaliação da variabilidade não controlada

deve levar em conta um número de fatores que não podem ser levados a

qualquer tratamento estatístico conhecido; que, de fato, são muitas vezes

bem subjetivos e idiossincráticos de um experimentador em particular ou um laboratório determinado. Mesmo entre os que declaram que conside­

ram úteis as técnicas avaliativas estatísticas, estas outras considerações

podem obter precedência.Para alguns experimentadores, acaso significa a mesma coisa que

para o homem comum: imprevisibilidade. Ainda que a verdadeira impre-

visibilidade ponha o cientista natural fora de ação. Se ele se refere ao tipo de imprevisibilidade estatística, que se tornou conhecida na física, então se sentiria obrigado a procurar as leis estatísticas que governam tal "impre-

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54 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

visibilidade", e a basear seus testes de fidedignidade dos dados nessas leis, em vez de baseá-los nas suposições que se desenvolveram a partir das esta­

tísticas de inferência.

G EN ER ALID AD E

Problemas como os que apareceram acima não são novos. Esses e outros têm sido percebidos há m uito tempo pelos estatísticos e psicólogos que usam estatísticas, e as soluções continuam a ser procuradas.

Existe uma situação semelhante no que se refere à generalidade dos

dados. Métodos estatísticos tornaram-se, na verdade, quase que uma condi­ção sine qua non para a determinação da generalidade. Mas, generalidade tem vários significados, e os métodos estatísticos, mesmo quando livres das suas próprias dificuldades intrínsecas, não seriam aplicáveis na avaliação

de todos os tipos de generalidade.

Generalidades do sujeito ou representatividade. Se um determinado

resultado experimental tiver sido obtido com um único sujeito, quão representativo será esse resultado para outros organismos da mesma espécie? Esta é uma questão decepcionantemente simples. Qual o aspecto dos dados que faz com que alguém deseje testar em busca da genera­lidade? Será simplesmente pelo fato de uma variável ser efetiva? Estará esse alguém interessado no aspecto geral de uma relação funcional? Ou serão de importância crítica os valores quantitativos, os números reais? É na resposta a essas perguntas que deve ser levada em conta a intenção do experimentador. Muitas vezes, em psicologia, alguns aspectos dos

dados em um experimento demonstram ordenação considerável, enquanto

outros aspectos parecem caóticos. O experimentador, então, preocupar-

-se-á com a representatividade daquela porção de dados que apresentam

ordem. A ciência raramente tenta fazer da desordem um caso, porque o progresso surge quando conseguimos controlar dados aparentemente caóticos. Porisso, não se deve criticar os dados' experimentais que não

apresentam regularidade em todos os seus aspectos. A única exceção ocorre

quando temos motivos para suspeitar razoavelmente de que a variabili­dade possa ter obscurecido os dados críticos, ou tenha neles interferido de alguma forma.

Uma vez que o experimentador tenha isolado as características dos dados com os quais está particularmente preocupado, como proceder para determinar a sua generalidade? Esse problema será discutido detalha-

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A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 55

damente nos capítulos sobre replicação, mas cabe aqui um comentário negativo. Não podemos tratar o problema da generalidade do sujeito empregando grandes grupos de sujeitos e usando medidas estatísticas,

tais como, a média e a variação dos grupos. Não é verdade que quanto

maior o grupo, maior a generalidade dos dados. A representatividade é um problema atuarial, para o qual o planejamento estatístico, atualmente em voga, não se aplica. Suponhamos que alguém, por exemplo, exponha

um grupo de sujeitos a uma determinada condição experimental e propo­nha uma medida experimental estabelecida em termos de desvio médio e padrão. Então alguém perguntará, "Quão representativos são esses dados? A quantos sujeitos da população são aplicáveis?"

O primeiro problema é selecionar o aspecto dos dados cuja genera­lidade se quer provar. Pode-se indagar sobre a generalidade da forma

especial de distribuição que fo i obtida. A adição de sujeito ao grupo irá, sem dúvida, ajudar a responder a esta pergunta, e talvez possamos declarar, com um alto grau de confiança, que todos os sujeitos da população,

em algum ponto, cairão dentro da distribuição obtida. Por uma razão simples, nenhuma pesquisa experimental em psicologia fo i levada suficien­temente longe para que fornecesse tal informação: seria um trabalho

insano, e não valeria a pena. Uma tal latitude de especificação produziria um grau de generalidade para o qual, por definição, poderia não haver exceção. Qualquer dado seria automaticamente representativo.

Tipicamente, entretanto, um aspecto mais restrito de distribuição é escolhido para ênfase. Por exemplo, podemos perguntar quão represen­tativo é o valor médio de todos os sujeitos da população. Na prática atual, tal questão é raramente respondida. Se o fosse, poderíamos 1er nos trabalhos publicados, não somente o valor médio do grupo, mas também o número de sujeitos que estão incluídos realmente no valor médio. Se o grupo fosse suficientemente grande, seríamos então capazes

de afirmar que, por exemplo, 30 por cento dos sujeitos produziriam um valor médio y, da medida comportámental. Esta seria uma afirmação verdadeira do grau de representatividade da média do grupo. Seria o tipo

de informação ú til para o estatístico de seguros, ou para o psicólogo que está interessado na d istribuição populacional das características com­portamentais. Realmente, poucos psicólogos experimentais estão preocu­

pados com tal distribuição populacional. Se houvesse um grande interesse, veríamos mais dados experimentais expressos, não simplesmente em termos de medidas comportamentais, mas sim em termos de número de sujeitos que fornecem cada valor da medida comportamental. A menos que os dados comportamentais sejam expressos dessa maneira, o uso de

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56 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

grandes grupos de sujeitos nada acrescenta à representatividade dos resul­tados. Da mesma forma, a menos que o tipo de distribuição da população

seja conhecido, será impossível determinar a representatividade dentro de uma espécie, simplesmente por média e desvio padrão de uma amostra

de distribuição obtida através de experimentos.Métodos estatísticos para assegurar a generalidade do sujeito indu­

bitavelmente parecem necessários em razão da grande soma de variabi­lidade comumente observada entre os sujeitos, nos experimentos compor­

tamentais. Infelizmente, devido à concepção lim itada do programa de experimentação, o fato da variabilidade parece ter tido exploração experi­mental relativamente pequena. Com o crescimento do interesse no compor­

tamento do indivíduo, entretanto, alguns fatos elementares sobre a variabilidade parece que estão surgindo, fatos que tornam possível uma abordagem diferente do problema da generalidade do sujeito. No experi­

mento psicológico tradicional, e ainda comum, dois grupos de sujeitos são expostos, cada um por sua vez, a diferentes valores de alguma variável

independente. Enquanto cada grupo pode mostrar um valor médio d ife­rente de comportamento resultante, haverá uma dispersão em torno dessas médias, com possível justaposição entre os dois grupos. O problema trad i­cional da generalidade em tal situação tem sido "se todos os membros de uma população pudessem ter sido expostos a um ou outro desses valores da variável independente, quão representativos seriam os sujeitos desses dois grupos?"

A questão serve somente para enganar o perguntador. Um número

suficiente de investigações experimentais têm demonstrado que o compor­tamento do sujeito individual é uma função ordenada de um grande número das assim chamadas variáveis independentes. Na verdade, podemos

agora supor que tal ordenamento seja uma regra, mais do que uma exceção. A variação entre os sujeitos freqüentemente deriva das d ife­

renças dos parâmetros das relações funcionais entre comportamento e suas condições de controle. Por exemplo, a relação funcional entre duas variáveis pode ser uma relação linear, com indivíduos diferindo na inc li­

nação e nas intersecções da função (veja Figura 1). Ou as curvas relacio­nando as duas variáveis podem passar por um máximo, com sujeitos diferindo na posição do máximo (como na Figura 2). Qualquer grupo

suficientemente grande de sujeitos mostrará variabilidade comportamental consistente com a distribuição populacional dos parâmetros da relação funcional. Na Figura 1, por exemplo, a maior parte da população pode se assemelhar ao Sujeito S2. Se a amostra, presumivelmente uma amostra adequada, fo r exposta ao valor X, de uma variável experimental, as

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A FID ED IG N ID AD E E A G ENERALIDAD E DOS DADOSI

57

Valores da variável independente

Figura 1. Um conjunto de curvas de uma população hipotética de sujeitos experimentais. O comportamento de cada sujeito está relacionado linearmente à variável independente, mas as inclinações e intersecções das curvas diferem.

medidas comportamentais irão se concentrar em torno do valor Y 2. Mas alguns dos sujeitos também irão reagir à variável experimental com o comportamento representado por Y 1( Y 3, e Y4. O número de sujeitos

em cada uma das classes dependerá da distribuição populacional daqueles fatores que produzem as diferenças na inclinação e intersecção das curvas individuais.

A Figura 2 pode ser analisada da mesma maneira. O tipo de curva­tura da relação mostrado aqui também serve para revelar mais claramente ou tro aspecto da variabilidade. Sujeitos S3 e S4 mostrarão respostas quantitativas m uito semelhantes ao valor X, da variável experimental.

De fato, esse valor da variável dependente atinge os Sujeitos S3 e S4 em fases acentuadamente diferentes do processo que está representado pela função curvilínea. O delineamento tradicional do grupo não revelará este fato, porque as funções tradicionais do indivíduo não são examinadas, nem mesmo obtidas. Temos aqui um caso no qual a generalidade será

falsamente atribuída aos dados. A semelhança quantitativa do compor-

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58 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTl'FICA

oaE

-o

Valores da variável independente

Figura 2. Um sistema de curvas de uma população hipotética de sujeitos experi­mentais. 0 comportamento de cada sujeito passa por um valor máximo enquanto a variável independente cresce em magnitude, mas cada sujeito reage maximamente a um valor diferente da variável.independente.

tamento dos sujeitos é um a rtifíc io de um plano experimental que não

permite a análise das causas da variabilidade.

As diferenças ou semelhanças quantitativas entre sujeitos em pontos únicos isolados de uma relação funcional não fornece critérios de avali­ação da representatividade dos dados experimentais. Além disso, ninguém

se importa realmente, a não se possivelmente por certas aplicações práticas,

quantos ratos, por exemplo, emitem 100 respostas de extinção após 20 reforços, e quantos emitem 200, etc. Tal variabilidade preocupa o

experimentador sistemático somente na medida em que lhe mostra que

não possui a informação e a capacidade técnica para obter os dados nos

quais está realmente interessado. Informa-o de que tem uma considerável soma de trabalho a fazer antes de poder mesmo começar a avaliar a representatividade dos seus dados. A dispersão de um valor médio fornece poucas informações sobre as relações ordenadas, como as das Figuras 1

e 2, cuja variabilidade é refletida por tal dispersão. Se fo r possível demons­trar que um fa tor determinado produz o mesmo tipo de normatização nos indivíduos da população, então a descoberta possui uma grande generalidade, apesar do fato das diferenças quantitativas serem ainda observadas. É a generalidade de tais relações normativas que deveria ser

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A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 59

a principal preocupação, e não a representatividade de números esoecí-

ficos extraídos do contexto.

Tudo isto não é para sugerir que a variabilidade quantitativa possa

ser ignorada, como indicarão os próximos capítulos. O tópico apareceu

aqui somente para ilustrar a inadequação das concepções tradicionais de variabilidade na determinação da representatividade dos resultados

experimentais. Provavelmente é válido, a esta altura, prestar atenção à

queixa, "Mas e os problemas experimentais que, pela própria natureza, não podem sér conduzidos à pesquisa com sujeitos individuais? Não

será a avaliação estatística tradicional da generalidade o único caminho

que se nos oferece em tais casos?"A primeira resposta a esta pergunta queixosa é que tais situações

estão se tornando cada vez mais raras. Técnicas novas e engenhosas reduziram bastante o número de fenômenos comportamentais que pare­cem somente ser passíveis de tratamento estatístico em grupo e pode-se esperar que muitos mais fiquem à margem enquanto o controle experi­mental se torna mais refinado. Mas a chave da maioria destas técnicas repousa na reversibilidade dos fenômenos comportamentais. Se uma manipulação experimental produzir uma mudança irreversível no aspecto do comportamento de um indivíduo que estamos observando, pode-se tornar muito d if íc il, se não impossível, obter relações funcionais do tipo retratado nas Figuras 1 e 2. E, embora a evidência seja dificilm ente conclusiva até agora, alguns processos comportamentais podem na verdade demonstrar que são irreversíveis.

Se a verdadeira irreversibilidade deve ser enfrentada, há uma solução honesta à disposição: estudar tais processos como ocorrem na natureza. Um processo irreversível deve ser aceito como tal, e as técnicas para estudá-lo devem levar em conta a propriedade da irreversibilidade. A irreversibilidade, se puder ser demonstrada inequivocamente, será uma

propriedade fundamental de qualquer comportamento que a revele, e não

pode ser posta de lado. Estatística de grupo não é a resposta. Um

processo de comportamento irreversível existe no indivíduo e não tem continuidade de um grupo de indivíduos para outro.

Tomemos, por exemplo, o clássico problema da relação entre o

número de reforços e a resistência à extinção; e aceitemos, pelo menos

por agora, a suposição de que uma exposição original à extinção experi­

mental exerce uma influência irreversível sobre exposições posteriores.

Esta suposição pareceria impedir qualquer tentativa de usar um sujeito individual para determinar a relação funcional entre o número de reforços

e a resistência à extinção, porque isto iria exigir exposições repetidas

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60 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

do sujeito ao processo de extinção, seguindo períodos interpolados de recondicionamento com números variados de reforços. Mas as operações sucessivas de extinção iriam ser supostamente contaminadas pelas ante­

riores, e os dados resultantes não seriam uma pura função do número de reforços; seriam também uma função das operações de extinção

precedentes.A solução usual para esse problema tem sido expor grupos separados

de sujeitos a cada valor da variável Independente, número de reforços, e então expor cada grupo uma só vez à extinção experimental. Os resul­tados desse procedimento nos fornecerão algumas informações práticas

úteis. Se os dados forem adequadamente tratados, seremos capazes de

fazer uma estimativa do número de reforços a serem dados a um sujeito se quisermos, em razão de algum propósito experimental, gerar uma determinada resistência à extinção. O grau de precisão com o qual nos satisfaremos dependerá da tarefa em questão. Mas a função assim obtida

não representa um processo comportamental. O uso de grupos separados destrói a continuidade de causa e efeito que caracteriza um processo comportamental irreversível. Dados da extinção "não contaminados", obtidos de grupos separados, produzem uma relação funcional que não tem contrapartida no comportamento do indivíduo. A função obtida

do indivíduo é o resultado de um processo interativo que se estende de um para ou tro segmento do comportamento do sujeito. Os pontos empíricos na função obtida de grupos separados não mantêm tal relação entre si.

Se fo r impossível obter uma relação não contaminada entre o número de reforços e a resistência à extinção em um único sujeito,

em razão do fato de que extinções sucessivas interagem entre si, então a relação "p u ra ", simplesmente não existe. A solução para o nosso

problema é deixar de tentar descobrir tal relação pura, e d irig ir nossa pesquisa para o estudo do comportamento como existe na reali­dade. Se a reversibilidade não existe na natureza, não existe no labora­tório.

O fato de a função de um grupo não ter contrapartida no compor­tamento individual é independente do problema da possibilidade da curva de um grupo poder ter a mesma forma que a curva individual. Este problema tem sido amplamente discutido na literatura (5, 27, 41, 55, 68). O caso que venho discutindo é aquele no qual as curvas individuais e de grupo simplesmente não podem fornecer a mesma informação, ainda que suas formas sejam idênticas. A distinção entre os dois tipos de função pode ser feita, não com base em raciocínios lógicos e matemáticos.

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A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 61

mas baseada nos fenômenos comportamentais que representam. Onde é encontrada a irreversibilidade, não há curva individual que possa

responder a questões que forem propostas à curva de grupo, e vice-versa. O estudante não deveria ser levado a concluir que o tipo grupai de experimento de qualquer modo forneça um substituto mais adequada­

mente controlado ou mais generalizável para os dados individuais.

Se a minha idéia fo r bem aceita, deveria levar o estudante a reavaliar

muitos dos dados supostamente sistemáticos da psicologia experimental. Descobrirá que esta distinção não tem sido feita com freqüência, e que os dois tipos de dados, individuais e de grupo, estão freqüentemente misturados dentro de uma única estrutura sistemática. Em conseqüência, há um grande trabalho de elucidação a ser fe ito. Quando isso fo r feito, pode ser que o estudante ache que deva abandonar muitas das mais caras generalizações da psicologia. Também é provável que se encontre diante de uma escolha. Porque os dois tipos de dados representam, em um sentido bem real, dois diferentes objetos de estudo. Pensará, de fato, que alguns experimentadores e sistematizadores já fizeram a sua escolha em relação a quais tipos de dados, individuais ou de grupo, formarão as bases da ciência que estão tentando edificar. Esta escolha não representa necessa­riamente limitação de interesse. É muitas vezes o resultado de uma decisão bem considerada e consciente sobre o tipo de dados mais ade­quados ã uma ciência do comportamento. Em cada área da ciência,

existem ocasiões críticas em que tais decisões devem ser feitas, e as conseqüências são de longo alcance. Se a decisão correta é aceita em

geral, a ciência progredirá. Se fo r adotada a decisão incorreta, a ciência passará por um período de estagnação até que a situação seja retificada.

Se não houver nenhuma decisão, o resultado pode levar a uma desesperada confusão de princípios e dados basicamente incompatíveis. Na alegação de que o ecletismo seja o caminho da generalização pode estar a armadilha

da indecisão.

Generalidade entre espécies. As descobertas experimentais serão obtidas com uma espécie que pode ser generalizada a outras espécies de organismos? Este é o problema da generalidade entre as espécies, e tem um passado histórico m uito infeliz. A solução proposta por muitos psicó­logos representa um dos últimos vestígios da falácia do homem, que se considera o centro do universo. O fato da modificação evolutiva é aceito em outras áreas da biologia; apesar disso, freqüentemente se considera que o Comportamento Humano representa uma transição descontínua do Comportamento Sub-humano. Além disso, muitos dos que consideram

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62 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

que o comportamento se desenvolveu através de um processo normal de evolução, ainda pensam no homem como algo especial. Ainda mais,

não somente se sustenta que o comportamento seja diferente, em prin­cíp io, do comportamento de outros organismos, mas também que o comportamento de qualquer uma das espécies seja pretensamente diferente do comportamento da espécie imediatamente inferior. A cada passo da

evolução, se admite que algum avanço fo i fe ito em direção àquela façanha final, da qual o psicólogo, por suposição, é um exemplar.

Este preconceito produziu uma solução curiosa para o problema

da generalidade dos dados comportamentais nas espécies. A psicologia comparada tornou-se uma disciplina largamente devotada a descobrir. diferenças de comportamento entre as várias espécies de organismos. Quando se encontram semelhanças, material de que é feita a maioria

das ciências, são abandonadas, como fenômenos sem importância. A medida em que se faz a abordagem do homem ao longo da escala filoge- nética, as diferenças que visam o desenvolvimento dos processos de ordem superior são escolhidas como os únicos dados comparativos va­liosos.

Uma psicologia comparada que procura determinar as diferenças,

mais do que as semelhanças, entre as espécies, realmente tem um trabalho fácil. As diferenças não são difíceis de ser encontradas. Qualquer experi­mento no qual a espécie é a variável de maior preocupação também incluirá as diferenças entre outras variáveis importantes ligadas ao conti­nuum das espécies. Por exemplo, gatos e macacos diferem, não somente na classificação filogenética, mas também nos tipos e quantidades de reforços que manterão o seu comportamento, nos tipos e graus de privação que são exeqüíveis, na capacidade de manipulação, na acuidade sensorial, no tempo de vida, etc. Diante das dificuldades em equacionar estes fatores, as diferenças entre as espécies poderiam facilmente resultar deles, mais do que da classificação das espécies em si mesmas.

Examinemos um experimento hipotético da psicologia comparada Uma uva é posta diante de um macaco para que ele a veja e então, enquanto o macaco aparenta observá-la, a uva é colocada debaixo de uma das duas caixas diferentes. Uma tela então é abaixada entre o macaco

e as caixas, para que não as possa ver, nem alcançar. Depois de trans­corrido um certo tempo, a tela é^erguida e o macaco pode virar as

caixas. O experimentador observa se o macaco escolhe a caixa "certa",

isto é, a que contém a uva. O experimento será repetido com intervalos de tempo cada vez maiores entre o abaixar e erguer a tela, e será deter­

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A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 63

minado o máximo espaço de tempo em que o animal poderá "lembrar-se"

de qual das caixas é a que contém a uva.

Então é realizado um estudo comparativo, com um cachorro como sujeito. Mas os cachorros normalmente não comem uvas, então um bife é posto para substituí-las. Descobre-se (suponhamos) que o macaco é

capaz de adiar a sua resposta, sem erro, por mais tempo que o cão. Desde que a resposta adiada seja, obviamente, uma "função superior", não será uma surpresa para o psicólogo comparativo que o macaco,

parente mais próxim o do psicólogo comparativo do que o cão, seja o

melhor executor.

Mas o que aconteceria se o cão tivesse sido privado de alimento

há três dias? Ou se na caixa tivessem colocado o dobro de carne? Ou se cada um dos animais, ou ambos, fossem mais velhos ou mais jovens? Ou se o experimento tivesse sido realizado na semi-escuridão? Ou se a carne de cavalo e laranjas tivessem substituído o bife e as uvas? É bem possível que fatores como esses teriam alterado os resultados da experiência, tanto aumentando a superioridade aparente do macaco, como dando van­

tagem ao cão.

Não há uma solução segura para esta dificuldade. Se fosse possível conseguir as condições ideais para ambas as espécies, poderíamos fazer uma comparação do desempenho ideal. Mas até agora, não temos o conhe­cimento para que se realize tal experimentação. No estágio atual do assunto, as variações em qualquer dos vários parâmetros conhecidos ou

supostos poderiam inverter nossa avaliação da generalidade nas espécies em experimentos de resposta adiada. Então, o que buscamos para aferir a generalidade nas espécies de dados experimentais? Isto nos faz voltar ao mesmo problema que encontramos no caso da generalidade do sujeito

— a saber, generalidade do quê? O que segue é apenas uma lista parcial dos tipos de generalidade que se pode procurar determinar. (Pode-se também notar que esses aspectos da generalidade são importantes em

si mesmos, independente dos problemas da generalidade do sujeito e das espécies.)

Generalidade das variáveis. No atual estado, relativamente prim itivo

da ciência comportamental, é importante determinar se uma variável determinada, ou classe de variáveis, é relevante fora dos limites de um experimento em particular. A generalidade assim definida pode ser deter­minada pela alteração de alguns aspectos do experimento original ou pela realização de experimentos novos e aparentemente não relacionados.

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64 TÁTICAS DA PESQUJSA CIENTl'FICA

Pode-se empregar os mesmos sujeitos até o fim , ou outros sujeitos da

mesma espécie, ou de espécie inteiramente diferente. Se puder ser demons­

trado que uma variável determinada influencia o comportamento de tocjos esses experimentos, ou mesmo de vários, terá sido alcançada uma

forma de generalidade.A intermitência de reforço, por exemplo, é uma variável de ampla

generalidade relativa ao seu efe ito sobre a resistência à extinção. Se um

rato receber um reforço alimentar a cada resposta de pressão à barra (reforçamento contínuo), um certo número de respostas será em itido mesmo depois que tornarmos o mecanismo de distribuição de alimento inoperante, para que não surjam mais reforços alimentares (extinção). Mas se originalmente somente reforçarmos as respostas que seguem o reforço precedente depois de dois minutos, por exemplo, então um número bem maior de respostas será subseqüentemente em itido na

extinção, depois que tivermos desligado o alimentador (81, pp. 133 e

seguintes). O fa to de reforçarmos somente uma proporção relativamente pequena das respostas do animal parece tornar o comportamento mais persistente, depois do reforço ter sido completamente eliminado. A gene­ralidade desta variável tem sido estabelecida de maneiras diversas. O reforço interm itente também aumenta a resistência à extinção, por exem­plo, quando empregamos diferentes esquemas de intermitência. Podemos dar reforços depois de períodos de tempo variáveis, em vez de fixos, ou podemos tornar os reforços condicionados a um número fix o ou variado de respostas. Além disso, a intermitência tem um efeito seme­lhante sobre a extinção do comportamento que está sob outros tipos de

controle que não o reforço positivo. Se uma resposta fo r d im inuída pelo castigo ocasional com choques, levará algum tempo para o com porta­mento ser recuperado depois que a punição fo r descontínua, mais do que se o choque tiver sido dado a cada resposta (26). Também, se um

animal receber choques inevitáveis no final de, digamos, um estímulo de alerta de cinco minutos, seu comportamento usualmente cessará durante o período de apresentação do estímulo (29). Entretanto, o animal logo recuperará o comportamento se fo r perm itido que o estí­

mulo termine sem choque subseqüente. Mas se os choques forem admi- nisjrados não juntamente com os estímulos, mas somente com uma pequena proporção deles, o comportamento levará um tempo m uito maior para voltar ao normal, depois dos choques terem sido desconti­nuados (76).

Além destes e de outros tipos de situações experimentais, a inter­mitência do reforço tem demonstrado exercer um efeito semelhante

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A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 65

quando são estudadas outras formas de respostas, e em outras espécies,

inclusive a humana. Apesar da intermitência não ter o mesmo efeito quantitativo em todos os casos — há ainda algumas condições sob as

quais a resistência à extinção decresce — o fa to de que a variável seja

tão amplamente eficiente constitui uma generalização importante.Quando as diferenças quantitativas são observadas, o experimentador

se vê diante de um problema de investigação mais extenso. No caso da intermitência de reforço, por exemplo, estudos subseqüentes revelaram

um número de fatores contribuintes que podem servir para atenuar, ou de alguma forma m odificar, o resultado básico. Se os reforços interm i­tentes se tornam dependentes da emissão de um número fix o de respostas,

as características do comportamento de extinção subseqüente serão bem diferentes do caso no qual os reforços são dados depois de períodos fixos de tempo (81, pp. 293 e segs.). O estágio de condicionamento

no qual a extinção fo i iniciada também será um fa tor relevante, como o serão as condições históricas mais remotas. Mas o fa to qualitativo de que uma variável determinada seja em vários contextos experimentais diferentes e/ou em diferentes espécies de organismos é uma forma básica

de generalidade que precisa ser atingida antes que uma análise mais sofis­

ticada seja realizada.Há uma distinção importante entre os métodos para avaliar a gene­

ralidade do sujeito e aqueles para avaliar a generalidade de uma variável. A generalidade do sujeito pode ser avaliada, pelo menos parcialmente. em termos do número de replicações bem sucedidas que foram realizadas entre os membros de uma espécie determinada. Não há forma mais honesta de avaliar a generalidade de uma variável, poraue cada experi­

mento sucessivo que sirva para ampliar tal generalidade será necessaria­

mente diferente, de alguma forma, dos experimentos precedentes. No

caso do reforço interm itente, por exemplo, a maior generalidade é alcan­çada por meio dos experimentos nos quais o esquema de reforço fo i variado, ou naqueles em que foram usadas técnicas de controle aversivo? Ninguém ainda planejou uma técnica estatística bem sucedida para res­ponder tal questão. Nem existe nenhuma técnica para ser rigorosamen­

te derivada das regras da lógica.

Não há, de fato, critério objetivo, que possa derivar de qualquer fonte, que permita uma resposta inequívoca a esta pergunta. E, posso acrescentar, o mesmo é verdadeiro para o processo da generalidade, que

será discutido a seguir. Quando a replicação é sistemática, e não direta (veja Capítulos 3 e 4), os critérios avaliativos necessariamente envolvem áreas de julgamento que estão acima de qualquer método de qualificação

Page 18: Fidedignidade e Generalidade Dos Dados

conhecido no momento. Temos aqui, em miniatura, o problema não

resolvido do raciocínio indutivo.

A indução e a avaliação da generalidade. Não tenho a intenção

de estabelecer um tratado sobre a indução, porque estaria bem além do

objetivo deste livro. Mas tenho me referido à indução anteriormente, em contraste com o método dedutivo de teorização (pág. 23), e terei ocasião de mencioná-la novamente, tanto explicitamente como indireta­mente, em conexão com o papel da experiência na avaliação dos dados.

Algumas palavras, entretanto, sobre a indução, que adaptei do pequeno livro fascinante de Polya, Induction and Analogy in Mathematics (63).

Em uma frase em que descreve a atitude indutiva, acredito que Polya

tenha mais do que ninguém se aproximado do âmago do problema. “ Esta atitude tem como objetivo adaptar nossas crenças à nossa expe­riência, da maneira a mais eficiente possível" (61, p. 7). Se estivesse familiarizado com a linguagem da análise comportamental, Polya bem poderia ter remodelado a sua afirmação assim, "Nosso comportamento indutivo é uma função da história do nosso re forço". A indução é um processo comportamental, e não um processo lógico, o que é a razão da análise lógica ter fracassado ao se responsabilizar por ele. Podemos fazer ou não uma inferência indutiva, e o grau de tenacidade com o qual nos apegamos a essa inferência, dependerá da nossa história comporta­mental (experiência). Refiro-me a essa história quando digo que a avalia­ção da generalidade é uma questão de julgamento. A partir de um ato de indução baseado em nossa experiência acumulada, julgamos a soma de generalidade que deve ser acrescentada a uma variável quando se revela

eficiente nos experimentos que têm pouca, ou nenhuma, conexão opera­cional entre si.

Para que o estudante não sinta que fu i m uito longe ao interpretar a afirmação de Polya sobre a indução, deixem-me citar o seguinte; a última frase fala por si mesma:

A experiência modifica o comportamento hum ano.. .

Sim, e modifica o comportamento animal também.

Na minha vizinhança há um cachorro comum que late e pula nas pessoas sem ser provocado. Mas descobri que posso me proteger com muita facilidade. Se me abaixar e fing ir que vou pegar uma

pedra, o cachorro foge ganindo. Nem todos os cães fazem o mesmo, e é fácil imaginar que tip o de experiência causou esse comporta­mento no cão.

Page 19: Fidedignidade e Generalidade Dos Dados

A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 67

O urso no zoo "im plora com ida". Isto é, quando há algum obser­vador por perto, assume aquela postura rid ícula que com muita

freqüência leva o visitante a jogar um torrão de açúcar na gaiola. Os ursos que .não estão cativos provavelmente jamais assumirão tal atitude absurda e é fácil imaginar que tipo de experiência levou o urso do zoo a esmolar.Uma investigação cuidadosa da indução deveria incluir, talvez, o estudo do comportamento animal (63, p. 10).

Ao estabelecermos a generalidade de uma variável, de um processo,

de um método, etc., estamos tentando verificar nossas observações iniciais dentro de um conjunto de condições cada vez mais amplo. Polya sugeria uma base sobre a qual os cientistas avaliariam o grau de verificação fornecido por qualquer extensão determinada das condições. Sua discussão é camuflada em termos de verificação de uma "con jun tura", mas as

substituições podem ser feitas facilmente:

Os procedimentos mentais do naturalista experimentado não são essencialmente diferentes daqueles do homem comum, mas são

mais conscientes. Tanto o homem comum como o cientista são levados a conjecturar por algumas observações e ambos prestam

atenção aos casos mais recentes que poderiam estar ou não de acordo com a conjectura. Um caso concordante torna a conjectura mais provável, o discordante, a contradiz, e aqui começa a diferença: Gente comum está geralmente mais apta a procurar o primeiro tipo de casos, mas o cientista procura o segundo tipo. A razão é que

todo o mundo é um tanto vaidoso, tanto o homem comum como o cientista, mas gente diferente se orgulha de coisas diferentes. O senhor João Ninguém não gosta de confessar, mesmo para si, que estava errado, e como não gosta de casos conflitantes, evita-os, e está mesmo inclinado a minimizá-los com explicações, quando surgem. O cientista, ao contrário, está suficientemente pronto a reconhecer uma conjectura errônea, mas não gosta de deixar pro­blemas sem solução. Mas, um caso concordante não resolve o problema definitivamente, mas um conflitante o faz. O cientista, na procura de uma decisão definitiva, vai em busca de casos que

têm uma chance de perturbar a conjectura, e quanto mais chances aparecerem, mais serão bem recebidas. Há um ponto importante a observar. Se um caso que ameace perturbar a conjectura, depois de tudo, passar a concordar com ela, a conjectura sairá do teste

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6 8 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

grandemente fortalecida. Quanto mais perigo, maior glória; passar pelo exame mais ameaçador confere o maior reconhecimento, evi­dência experimental mais fo rte à conjectura. Há exemplos e exem­plos, verificações e verificações. Um exemplo que provavelmente será mais conflitante, de qualquer forma aproxima melhor a conjec­tura da decisão do que um exemplo menos conflitante, e isso explica a preferência do cientista. . .Um caso um pouco diferente de casos previamente examinados,

se concordar com a conjectura, aumenta a nossa confiança, é claro, mas aumenta pouco. De fato, facilmente acreditamos antes do

teste, que o caso em questão se comportará como os casos ante­riores, dos quais só difere um pouco. Desejamos não somente outra verificação, mas uma verificação de outro t ip o ... (63, p. 41).

Se aplicarmos este critério ao nosso próprio problema (pág. 65), poderemos então decidir que o experimento que envolve o estímulo de

aviso e choque inevitável acrescenta a maior soma de generalidade à variável intermitência. Porque naquele experimento alteramos não apenas

o esquema temporal de reforço, mas também o tipo de reforço (de alimento para choque), e, tornando o choque inevitável, eliminamos qual­

quer relação necessária entre ele e o comportamento medido. Talvez haja aqui uma sugestão de critério objetivo para avaliar qual a diferença entre

os dois casos e, com isso, avaliar o grau de confirmação fornecido por cada um deles. Mas um simples cálculo das diferenças de procedimento não resolve o assunto. Todas as mudanças de procedimento não podem

receber um peso igual, porque não têm a mesma probabilidade de alterar os resultados de um experimento. 0 peso a ser a tribuído a qualquer mudança determinada das condições experimentais dependerá tanto do estágio geral do conhecimento existente na área c ientífica em questão, como do conhecimento que qualquer cientista em especial desenvolveu em relação a essa área. O grau de confiança que prevalece em uma comu­

nidade científica relativo a qualquer indução particular será, entretanto,

uma função da extensão em que os membros dessa comunidade compar­tilham uma história comum de experiência.

Generalidade do processo. O term o "processamento comporta- m ental" é geralmente usado nos dois sentidos. Um deles se refere à interaçao das variáveis. Quando interagem algumas variáveis diferentes ou operações experimentais, freqüentemente caracterizamos o comporta-

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A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 69

mento resultante como um processo. Por exemplo, operações de reforço

e extinção podem ser combinadas de form a a produzir um processo

comportamental que estamos acostumados a chamar de "discrim inação".

Ou contingências de reforçamento podem ser estabelecidas de tal maneira

que as diferentes formas de comportamento se combinem em um processo

chamado timing. A identificação de tais processos, enquanto forem interações complexas de diferentes variáveis "elementares", representa

um avanço integrativo. Mas a demonstração da generalidade do processo entre espécies é, às vezes, d if íc il de realizar. A própria complexidade de

um processo comportamental d ificu lta a avaliação de todos os fatores

relevantes, tanto quantitativa quanto qualitativamente.Os problemas se multiplicam quando a replicação é tentada com

uma nova espécie. Por essa razão, o trabalhador cuidadoso nem mesmo tentará demonstrar a existência de um processo comportamental em uma nova espécie até que tenha explorado completa e cuidadosamente seus vários aspectos nos sujeitos originais. Uma tentativa mal sucedida é um desperdício, não somente quanto ao tempo e custos, mas também em termos de dados úteis que poderiam ser obtidos em seu lugar, se a genera­lização mal sucedida tivesse sido adiada. O ponto em que é possível procurar o processo de generalidade entre as espécies é um problema cuja solução dependerá da experiência do cientista em particular e dos outros que trabalham na mesma área.

A experiência acumulada pode indicar que a generalidade do proces­so, em uma área dada de pesquisa, seja relativamente fácil de atingir, e

assim muitos experimentadores podem preferir nem mesmo tentar a demonstração de um determinado processo. Em tal caso, o problema pode ser passado para o estudante que faz o seu mestrado, ou mesmo para os membros de um curso de laboratório para não graduados. É importante que os experimentos sejam realizados, ao menos para evitar que aqueles

que trabalham em uma área determinada façam suposições em demasia. Podem assumir a missão importante de salientar a necessidade da explora­ção mais profunda dos fenômenos que consideravam estar bem compreen­

didos.Por ou tro lado, em algumas áreas, a generalidade do processo pode

ser d if íc il de atingir. O experimentador então deverá ter cuidado com o

seu programa de pesquisa. Deve-se observar, entretanto, que um fracasso

em demonstrar a generalidade em outras espécies não nega a possível

importância de um processo comportamental. A variabilidade, ainda que dentro ou entre espécies, resulta não da precocidade dos sujeitos experi­mentais, mas da ignorância por parte do investigador.

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70 TÁTICAS DA PESQUISÀ CIENTIFICA

O comportamento do sujeito é normal com respeito às variáveis de

controle. O fracasso em replicar um resultado, em uma espécie ou entre

espécies, é o resultado da compreensão incompleta das variáveis de con- trole. Esta abordagem positiva, quando contrastada com a atitude negativa que o fracasso em replicar deve marcar um processo como não geral, é realmente o único caminho para uma avaliação adequada da generalidade. A maioria dos experimentadores são cuidadosos no proclamar que um

efeito é "re a l". Mas o cuidado cien tífico nem sempre prevalece, em geral, quando os experimentos deixam de demonstrar um fenômeno. Ainda a negativa falsa é um erro tão importante quanto a falsa afirmação. A acei­tação desta pode minar a utilidade do trabalho posterior, mas a primeira impedirá que m uito trabalho ú til seja tentado e pode impedir o progresso

por um tempo considerável.Há ocasiões em que as demonstrações da generalidade do processo

podem parecer triviais. O que se ganha, por exemplo, quando se mostra que um fenômeno chamado de "transposição" (88) é comum tanto nos homens como nos macacos? Realmente, cada vez que extrapolamos com sucesso um processo para ou tro organismo tendemos a realizar mais do que a extensão de um fenômeno restrito. Isto é particularmente verdade se o

processo em questão é somente um segmento de uma sistematização mais

amplà. Em tal caso a extensão de um aspecto do sistema aumenta a proba­bilidade de que outros aspectos possuam um grau semelhante de genere-

lidade. Suponhamos, por exemplo, que fosse observado um processo, que poderíamos chamar de "extinção descriminada", tanto na "Espécie A " , como na "Espécie B ". Extinção descriminada é o nome que se dá ao

declínio gradual, observado na extinção da resposta em uma série de expe­

rimentos alternados de extinção e recondicionamento (62). A confirmação' desse processo particular na Espécie B também estenderá nossa confiança

na aplicabilidade à Espécie B, de muitos princípios relacionados de condi­

cionamento e extinção.

O processo satisfatório de generalização nunca requer a replicação exata de cada parte de um sistema. Quantas demonstrações individuais de

generalidade exigimos antes de aceitar a generalidade de uma estrutura

total? Não há uma resposta quantitativa simples a essa pergunta. O ponto final variará de acordo com considerações como a complexidade das gene­ralizações bem sucedidas, sua obviedade, a reputação dos experimenta­dores envolvidos, a magnitude dos efeitos demonstrados, a coesão do siste­ma como um todo, a espécie particular para a qual a generalização é reali­zada, e outros julgamentos quantitativos nos quais a maturidade de uma ciência e dos seus cientistas membros desempenham um papel importante.

Page 23: Fidedignidade e Generalidade Dos Dados

A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 71

O segundo sentido no qual usamos o termo, processo comporta­

mental, realmente representa o aspecto quantitativo da generalidade da

variável. Determinando os efeitos de uma ampla gama de valores quantita­

tivos de uma variável dada, pode-se obter um quadro mais completo do seu modo de agir. O quadro pode ser apresentado em forma de uma curva

que relaciona quantitativamente alguma medida de comportamento aos

valores diferentes da variável experimental. Poderíamos achar que a medi­

da comportamental cresce linearmente, enquanto a variável experimental

cresce em magnitude; ou que o comportamento cresce, passa por um valor máximo, e depois dim inui; ou qualquer uma de um número in fin ito de outras relações funcionais possíveis. Então, muitas vezes caracterizamos a relação funcional observada como um processo comportamental. Conta-

-nos como se modifica o estado do comportamento em resposta às varia­ções sistemáticas em pelo menos uma de suas condições de controle.

A generalidade pode ser pesquisada tentando replicar a função sob novas condições experimentais e/ou com outros organismos. Quando a função é determinada para espécies diferentes, temos os fundamentos de uma verdadeira ciência da psicologia comparada. A pergunta que estamos fazendo é se uma variável dada exerce influência semelhante nas várias

espécies. A variável atua similarmente sobre toda a sua série de valores possíveis? Gera o mesmo processo comportamental nas várias espécies? Poderíamos achar, por exemplo, nos ratos, que a freqüência da resposta de esquiva, em certas condições, mantém uma relação logarítmica com a extensão de tempo em que cada resposta de esquiva adia o choque (veja

Figura 27, Capítulo 8). Poderíamos então procurar a generalidade das espécies determinando se a relação logarítmica também se mantém com gatos, pombos, macacos e homens. Se se mantiver, teremos alcançado mais

do que a generalidade de uma simples variável. Saberemos não apenas que

a variável é efetiva em todas as espécies que verificamos, mas também que exerce seus efeitos de forma quantitativamente semelhante em uma ordem global de valores.

Mesmo desta forma, uma resposta negativa não pode ser aceita como

final. Suponha que percebamos, por exemplo, que, com o gato como sujeito, a relação seja linear e não logarítmica. Ainda não sabemos se as

mudanças em outros parâmetros da função podem ser responsáveis pela

diferença. Talvez a intensidade do choque seja crítica. Podemos achar que em ambas as espécies a relação funcional passa gradualmente de logarít­mica para linear, à medida que, de forma sistemática, variarmos a intensi­dade do choque. As mudanças em outras variáveis podem então produzir semelhanças onde previamente somente foram encontradas diferenças. Por

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72TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

0SSa r.^ão o investigador deveria abster-se de verificar a generalidade dasespeci'H até que tivesse verificado a generalidade do processo, sob diversas

^es, com a espécie original. Tentativas prematuras em demonstrar a— T>\iríade das espécies podem ser um desperdício de tempo e trabalho;

tambe^----- ;------- ------- ---------;— ;-------------------------------------------------- podem resultar em conclusoes enganosas.

go ^ u ã o rigorosamente uma replicação deveria nos satisfazer na avalia-.• ^ generalidade de uma relação funcional? Deveremos procurar a

■ ^ão quantitativamente exata de uma espécie para outra? ou de um

de condições auxiliares para outro? AoreciMP-flUS se exigirá, na:^ ^ p % o da generalidade de uma relação funcional, dependerá do estado~ ~ ^Q _ijesenvolvim ento da ciência. Em alguns casos poderíamos nos

Har se todas as várias espécies produzissem, digamos, uma função cr cscçk*te, independente de que essa função fosse linear, logarítmica, expo-nenciQi

dade etc‘ outros casos, poderíamos ficar satisfeitos com a si mi lar i- mater>?a orma 013 relação funcional, como está descrita péla expressão

„ ^§tica adequada, sem insistir em uma correspondência exata entreaS C O h

de evv antes °*a exPressão. Raramente, na psicologia, estamos em posição Nossa uma rePi‘cai?ao numérica exata de uma relação funcional, tal ta ^ técnicas de controle experimental são, em geral, inadequadas a uma em gr ^ a> O ^rau de generalidade que podemos atingir será determinado

^~\n d e parte pela precisão de nossas técnicas experimentais.

técni ^ eneral'dade Metodológica. As demonstrações da generalidade das

proor^ 5 experimentais de uma espécie para outra é um tipo im portante de f-n ^ fr^ s o c ientífico . Isto é particularmente verdadeiro para técnicas de

p o rta^*8 comportamental. Tomemos como exemplo o controle do com- ra air» através da manipulação dos esquemas de reforçamento. Embo-re fo rç ^ a haja m uito que aprender sobre as propriedades dos esquemas de seus 6^ ment° . um amplo grau de generalidade tem sido atingido quanto a

até o * e'tos sobre o comportamento das diferentes espécies, desde o polvo

de ta i ^ omem- Uma razão da importância da demonstração da generalidade conve^ técnicas deriva do fato de que nem todas as espécies são igualmente

ratóri den te s como sujeitos experimentais. As técnicas de controle de labo-

possí\^ Podem e devem possuir um grau de rigor e precisão que seria im-

fossery^* ^e imaginar com o código ético em vigor, se os seres humanos

princi os suJeitos experimentais. Assim, os pesquisadores cujo interesse

Podetv^3' esta no comportamento humano têm dois caminhos a seguir, ciand^x* usar seres humanos nos seus experimentos de laboratório, renun- que ^ deliberadamente a um alto grau de precisão e rigor na esperança de

^ variáveis que manipulam provarão ser suficientemente poderosas

Page 25: Fidedignidade e Generalidade Dos Dados

A FIDEDIGNIDADE E A GENERALIDADE DOS DADOS 73

para produzir dados significativos; ou poderão obter um grau satisfatório de controle experimental usando animais inferiores como sujeitos dos seus experimentos, com a esperança de que seus dados demonstrem ser mais

tarde generalizáveis, direta ou indiretamente, para seres humanos.I I

Com este ú ltim o caminho, a demonstração da generalidade das

técnicas de controle para as espécies é de suprema importância. Quando

uma técnica demonstra ser aplicável a várias espécies, ganhamos mais confiança nas técnicas relacionadas. Algumas técnicas — por exemplo,

métodos de controle aversivo — provavelmente não serão testadas com seres humanos. Esta situação não é peculiar à psicologia, e a solução do problema para os psicólogos deve ser a mesma que é usada em outras ciências, como a farmacologia. As técnicas devem ser aplicadas a uma variedade de organismos inferiores que se aproximam do homem o máximo possível. Quanto maior o número de espécies a que uma técnica possa ser estendida, maior poderá ser nossa confiança em que também seja aplicável ao homem. A extensão final para o comportamento humano

pode então ser feita, não baseada no método em si mesmo, mas sim baseada na informação obtida com o uso do método em organismos inferiores, aplicando os princípios derivados do método para o comporta­

mento humano e realizando, com seres humanos, experimentos permi­tidos, baseados em um fundamento lógico derivado do trabalho mais recente.

Algumas vezes uma técnica de controle comportamental mostrar- -se-á efetiva na manipulação do comportamento humano, mas não repli­cará dados obtidos com outras espécies. Como exemplo hipotético, um esquema de reforçamento de intervalo fixo pode produzir um padrão

temporal característico da resposta com um sujeito humano, mas este padrão temporal pode não ser exatamente o mesmo que é demonstrado

por um pombo. O esquema exerce um efeito controlador em ambos os casos, mas os tipos de controle são diferentes. A primeira tarefa de um

investigador, então, deveria ser a determinação de que outros parâmetros, além da espécie, poderiam ser responsáveis pelas diferenças. Através da manipulação de outras variáveis, podemos tornar o comportamento do pombo semelhante ao do homem e vice-versa? Mesmo que a tentativa seja in fru tífera , a extensão da técnica de controle para o comporta­mento humano permaneceria uma contribuição ú.til. Outro meio de abordar o estudo do comportamento humano ter-se-ia tornado disponível.

A aplicação da técnica em espécies inferiores não representa um desper­dício de trabalho, porque teríamos, então, uma verdadeira diferença entre espécies — talvez uma diferença importante - que jamais poderia

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74 TÁTICAS DA PESQUISA CIENTIFICA

ter sido avaliada sem o conjunto de informações obtidas através <

estudo de organismos inferiores.