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SIMPLEX NAS SOCIEDADES COMERCIAIS NEWSLETTER RVR 1 Abril de 2007 NOVO REGIME JURÍDICO DA DISSOLUÇÃO E DA LIQUIDAÇÃO DE ENTIDADES COMERCIAIS Helena Paulos Leitão O Decreto-Lei n.º 76-A, de 29 de Março 2006, veio tornar mais simples os procedimentos relativos à constituição, alteração, fiscalização e ainda dissolução e liquidação de sociedades comerciais, procedendo a profundas alterações na legislação societária e comercial. A dissolução de uma sociedade é uma modificação da situação jurídica que implica a sua entrada em liquidação. Neste sentido, a personalidade jurídica da sociedade conserva- se até ao registo do encerramento da liquidação. Desde 30 de Junho de 2006 que o processo de dissolução de sociedades é mais simples, tendo-se tornado facultativa a celebração de escritura pública nos casos de dissolução da sociedade por deliberação dos sócios. A escritura pública passou a ser apenas necessária nos casos em que existem bens imóveis. Nas outras situações, a escritura passou a ser dispensada, sendo apenas imprescindível a apresentação de uma acta de deliberação da dissolução pela Assembleia-Geral que comprove a aprovação por maioria qualificada do capital social e em que sejam nomeados os representantes da sociedade. Por outro lado, adoptou-se uma modalidade de dissolução e liquidação administrativa e oficiosa de entidades comerciais, por iniciativa do Estado, nos casos em que existem indicadores objectivos de que a entidade em causa já não tem actividade efectiva, embora permaneça juridicamente existente. Consideram-se nesta situação as sociedades que não tenham depositado as contas sociais e não tenham entregue declaração fiscal de rendimentos durante dois anos. Poderá ainda haver recurso a este procedimento quando a administração tributária comunique à conservatória do registo comercial a ausência de actividade da empresa ou a sua cessação de actividade fiscal. Se considerarmos as cerca de 200.000 sociedades legalmente constituídas mas que têm qualquer actividade, dificilmente poderemos questionar a necessidade de criação deste regime. Estamos perante sociedades que nunca foram extintas porque o processo é moroso e complexo. Estas “empresas-fantasma” prejudicam a actuação dos serviços de inspecção do Estado e a monitorização do desempenho da economia nacional. Acolheu-se, igualmente, um procedimento administrativo da competência da conservatória para os casos legais de dissolução e liquidação de entidades comerciais a requerimento de sócios e credores da entidade comercial. Foi criada uma modalidade de “dissolução e liquidação na hora” para as sociedades

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SIMPLEX NAS SOCIEDADES COMERCIAIS NEWSLETTER RVR 1

Abril de 2007

NOVO REGIME JURÍDICO DA DISSOLUÇÃO E DA LIQUIDAÇÃO DE ENTIDADES COMERCIAIS Helena Paulos Leitão

O Decreto-Lei n.º 76-A, de 29 de Março 2006, veio tornar mais simples os procedimentos relativos à constituição, alteração, fiscalização e ainda dissolução e liquidação de sociedades comerciais, procedendo a profundas alterações na legislação societária e comercial. A dissolução de uma sociedade é uma modificação da situação jurídica que implica a sua entrada em liquidação. Neste sentido, a personalidade jurídica da sociedade conserva-se até ao registo do encerramento da liquidação. Desde 30 de Junho de 2006 que o processo de dissolução de sociedades é mais simples, tendo-se tornado facultativa a celebração de escritura pública nos casos de dissolução da sociedade por deliberação dos sócios. A escritura pública passou a ser apenas necessária nos casos em que existem bens imóveis. Nas outras situações, a escritura passou a ser dispensada, sendo apenas imprescindível a apresentação de uma acta de deliberação da dissolução pela Assembleia-Geral que comprove a aprovação por maioria qualificada do capital social e em que sejam nomeados os representantes da sociedade. Por outro lado, adoptou-se uma modalidade de dissolução e liquidação administrativa e oficiosa de entidades comerciais, por iniciativa do Estado, nos casos em que existem indicadores objectivos de que a

entidade em causa já não tem actividade efectiva, embora permaneça juridicamente existente. Consideram-se nesta situação as sociedades que não tenham depositado as contas sociais e não tenham entregue declaração fiscal de rendimentos durante dois anos. Poderá ainda haver recurso a este procedimento quando a administração tributária comunique à conservatória do registo comercial a ausência de actividade da empresa ou a sua cessação de actividade fiscal. Se considerarmos as cerca de 200.000 sociedades legalmente constituídas mas que têm qualquer actividade, dificilmente poderemos questionar a necessidade de criação deste regime. Estamos perante sociedades que nunca foram extintas porque o processo é moroso e complexo. Estas “empresas-fantasma” prejudicam a actuação dos serviços de inspecção do Estado e a monitorização do desempenho da economia nacional. Acolheu-se, igualmente, um procedimento administrativo da competência da conservatória para os casos legais de dissolução e liquidação de entidades comerciais a requerimento de sócios e credores da entidade comercial. Foi criada uma modalidade de “dissolução e liquidação na hora” para as sociedades

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comerciais, assim se permitindo que se extingam e liquidem imediatamente, num atendimento presencial único, nas conservatórias de registo comercial. Este procedimento especial de extinção imediata de entidades comerciais, aprovado pelo regime jurídico dos procedimentos administrativos de dissolução e de liquidação de entidades comerciais, publicado em anexo ao Decreto-Lei n.º 76-A, de 29 de Março 2006, é possível desde que exista uma deliberação unânime dos sócios e declaração de que a sociedade não tem activo nem passivo a liquidar. Consagrou-se um procedimento administrativo para a dissolução e liquidação de sociedades da competência das Conservatórias eliminando-se, salvo alguns casos de liquidação, a necessidade de intervenção do tribunal e de instauração da respectiva acção judicial. Deste, modo, e sem prejuízo da garantia do direito de recurso judicial das decisões administrativas, foi afastado o princípio da

obrigatoriedade de intervenção judicial, que ficou reservada para causas excepcionais de dissolução e liquidação, transferindo-se os processos de dissolução e de liquidação para a competência das conservatórias. Esta medida visou aumentar a transparência, actualidade e verdade da dinâmica empresarial. Assim, basta que todos os sócios estejam de acordo e tenham previamente resolvido as questões relativas ao passivo e ao activo da sociedade, para que possam promover o registo na conservatória e a sociedade se extinga imediatamente, sendo as publicações feitas on-line, pela conservatória. Com uma extinção de sociedades comerciais mais rápida os recursos disponíveis podem ser afectos a novos investimentos mais depressa, pelo que a implementação destas medidas tem satisfeito os propósitos que presidiram à criação deste novo regime simplificado de dissolução e liquidação de sociedades comerciais.

© Regal, Varela, Ramos & Associados – Sociedade de Advogados RL // 2007

Esta informação tem apenas carácter genérico, não constituindo uma forma de publicidade, de solicitação de clientes ou de aconselhamento jurídico. Caso necessite de aconselhamento jurídico sobre estas ou outras matérias sugerimos que contacte um advogado.