41

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS - Pós-Estáciopos.estacio.webaula.com.br/Cursos/POS595/docs/Aula_01.pdf · Juizados especiais cíveis federais. Juizados especiais cíveis fazendários

Embed Size (px)

Citation preview

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 1

Aula 1: Sistema dos juizados especiais .......................................................................................... 2

Introdução ............................................................................................................................. 2

Conteúdo ................................................................................................................................ 4

A previsão constitucional e as leis ordinárias regulamentadoras da matéria ........ 4

Competência para legislar ............................................................................................... 4

Lei nº 9.099/1995 ............................................................................................................... 5

As três normas de sistemas ............................................................................................. 7

Aspectos históricos absolutamente relevantes ......................................................... 10

Procedimento sumariíssimo .......................................................................................... 12

Efetivação de direitos ...................................................................................................... 12

O sistema dos juizados especiais cíveis – características fundamentais previstas na constituição ................................................................................................................. 13

Juízes togados, ou togados e leigos ............................................................................ 13

Competentes para “causas de menor complexidade” ............................................. 14

Resumindo: Competentes para “causas de menor complexidade” ....................... 16

Procedimentos: oral e sumariíssimo............................................................................ 17

Exemplo de procedimentos sumariíssimo ................................................................. 19

Recursos permitidos (apenas) para turmas de juízes “de primeiro grau” ............. 20

Atividade proposta .......................................................................................................... 22

Referências........................................................................................................................... 25

Exercícios de fixação ......................................................................................................... 26

Notas ........................................................................................................................................... 34

Chaves de resposta ..................................................................................................................... 38

Aula 1 ..................................................................................................................................... 38

Exercícios de fixação ....................................................................................................... 38

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 2

Introdução

Nesta primeira aula, você conhecerá a previsão constitucional do sistema dos

juizados especiais cíveis, entendido como aquele que contém os juizados

estaduais (ora denominados de “comuns”) e os juizados “fazendários” em

sentido lato, isto é, aqueles nos quais estão inseridos os “fazendários estaduais”

e os “fazendários federais”. Esses são comumente denominados “federais”,

apenas; no entanto, também são “fazendários”, razão da opção ora

apresentada.

Essas 3 (três) modalidades em conjunto são regidas pelas Leis nº 9.099/1995,

nº 10.259/2001 e nº 12.153/2009 e formam o que podemos chamar de sistema

dos juizados, o que justifica a utilização da referida palavra em itálico e, assim,

elimina eventual interpretação equivocada da expressão.

A presente disciplina aborda as características fundamentais desse sistema,

previstas no inciso I do art. 98 da Constituição da República Federativa de

1988, bem como a relação das referidas leis entre si e delas com outros

comandos legislativos (como o Código de Processo Civil).

Objetivo:

1. Conhecer os aspectos históricos fundamentais a respeito dos juizados

especiais, a fim de se compreender, desde logo, o significado e a previsão

constitucional do sistema que o compõem, bem como do conhecimento da

relação entre as leis que o formam e delas com o Código de Processo Civil;

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 3

2. Compreender as características essenciais impostas pelo legislador da Carta

de 1988.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 4

Conteúdo

A previsão constitucional e as leis ordinárias regulamentadoras da

matéria

O Artigo 98, I, da Constituição da República de 1988 preceitua que a União, no

Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão Juizados Especiais,

providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a

conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor

complexidade, mediante os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos,

nas hipóteses previstas em lei, a transação e julgamentos de recursos por

turmas de juízes de primeiro grau.

Estava traçado o caminho, portanto, para se ir além do que já existia, ou seja,

para se ultrapassar os limites da acanhada Lei dos juizados de pequenas causas

até então existentes, por força da Lei nº 7.244/1984 (o seu histórico será

tratado mais adiante). E assim se procedeu: foi editada a Lei nº 9.099/1995,

a qual, inclusive, expressamente revogou a mencionada Lei nº 7.244/1984

(anterior, portanto, à Carta de 1988).

Competência para legislar

Em 1999, já atendendo aos anseios da doutrina a respeito da matéria, tivemos

o acréscimo de um parágrafo (atualmente, “primeiro”) naquele referido Artigo

98 da Constituição, autorizando que lei federal dispusesse sobre a criação de

juizados especiais no âmbito da Justiça Federal.

1 - Coube ao legislador ordinário agir. Foi editada a Lei nº 10.259/2001, que

“dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito

da Justiça Federal”.

2 - O sistema estava completo, então? Não, pois a Lei nº 10.259/2001 não

tratava de juizados fazendários, no plano estadual e municipal. Apenas, no

plano federal, como salientado.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 5

3 - Para complementar o tratamento e torná-lo efetivamente integral, o

legislador ordinário tinha de tratar desses juizados, o que apenas foi

providenciado em 2009, por meio da Lei nº 12.153, que “dispõe sobre os

Juizados Especiais da Fazenda Pública no âmbito dos Estados, do Distrito

Federal, dos Territórios e dos Municípios”.

4 - Você pode estar se perguntando: como se dá, enfim, a relação dessas Leis

entre elas próprias? Elas são reciprocamente aplicáveis, formando um

microssistema completo? As Leis n° 10.259/2001 e nº 12.153/2009 alteraram a

Lei nº 9.099/1995, naquilo em que essa seja com aquelas incompatível? A

primeira delas (Lei nº 9.099/95) pode ser tratada como a lei geral dos juizados,

entendida como aquela que traz seus fundamentos básicos e, portanto,

aplicável subsidiariamente às demais. É nela também que estarão os preceitos

específicos aos juizados “comuns”, entendidos como os “não fazendários” (no

plano federal, estadual ou municipal).

5 - E quanto às outras? Ora, as outras serão as leis específicas para as suas

respectivas fazendas. Recorre-se a elas quando se tratar de juizado federal (Lei

nº 10.259/2001) ou de juizado fazendário estadual/municipal (Lei nº

12.153/2009). Naquilo em que essas forem omissas, aplica-se a lei geral, ou

seja, da Lei nº 9.099/1995.

Lei nº 9.099/1995

Conheça um pouco mais sobre a Lei nº 9.099/1995:

Lei nº 9.099/1995

“Parte geral” do procedimento

sumariíssimo.

Dispositivos aplicáveis somente aos

“juizados não fazendários”.

Por exemplo: Artigo 2º, que trata dos

princípios norteadores.

Por exemplo: Artigo 8º, que trata da

capacidade de ser parte naqueles

juizados, e não exatamente nos

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 6

“fazendários” e “federais”.

Aplicação subsidiária às leis:

Voltemos a um ponto: as leis posteriores

(nºs 10.259/2001 e 12.153/2009)

alteraram a primeira (9.099/1995)?

Descubra a seguir.

Lei nº 10.259/2001 Lei nº 12.153/2009

Juizados especiais

cíveis federais.

Juizados especiais

cíveis fazendários

(planos estadual e

municipal).

Aplicação subsidiária às leis:

As leis posteriores (nºs 10.259/2001 e 12.153/2009) não alteraram a primeira

(9.099/1995). É a ampla conclusão enxergada na jurisprudência, não obstante

vozes contrárias. Há, é verdade, quem prefira tratar esse sistema como um

microssistema, caracterizador de um estatuto dos juizados, formado,

portanto, por leis que se interagem reciprocamente – com o que não podemos

concordar, por razões que ainda vamos ver mais adiante. Ocorre, repita-se, que

a primeira lei (9.099/1995) serve de base fundamental às demais (10.259/2001

e 12.153/2009), que lhe complementam nos aspectos fazendários (estadual,

municipal e federal) necessários. No entanto, formariam, de fato, um

microssistema, caso as duas leis posteriores houvessem também modificado a

primeira, formando uma total interatividade e reciprocidade.

Repita-se, pois, que, apesar de respeitarmos a afirmação de que esses três

diplomas legislativos formariam, reunidos, um microssistema processual

próprio, distinto do CPC, ainda que a ele se tenha de recorrer para se completar

(DONIZETTI, 2016, p. 738 repetindo CÂMARA), não enxergamos uma

reciprocidade entre as três normas. Existe uma unidade, por conta do

compartilhamento dos mesmos princípios informativos, da adoção de rito

basicamente igual e da remissão feita entre as 3 legislações (DONIZETTI, 2016,

p. 739) mas tão somente relação de subsidiariedade em relação à Lei 9.099/95.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 7

Por isso, não podemos concordar com as afirmações de Elpídio Donizetti e

Alexandre Câmara, segundo os quais as leis mencionadas foram um só

estatuto, complementando-se reciprocamente.

As três normas de sistemas

Assim sendo, prefere-se, neste curso, denominar esse conjunto de três normas

de sistema, e não propriamente microssistema. Não exatamente por

discordamos sobre efetivamente as Leis posteriores o terem inovado; elas

trazem alterações importantes e, certamente, muito mais adequadas do que a

primeira (9.099/1995). Mas essa reciprocidade (que daria ensejo ao referido

microssistema) careceria de uma determinação legal que não se fez presente, o

que faz com que o ordenamento, por conseguinte, não a aceite. Pois bem: e

quanto ao Código de Processo Civil? Como se dá sua incidência nesse sistema

dos juizados?

Leis sob estudo

Precisamos concordar com parte da doutrina, segundo a qual, mesmo diante da

ausência específica em duas das leis sob estudo (nºs 9.099/1995 e

10.259/2001) a respeito da aplicação subsidiária do Código de Processo Civil,

esse é aplicável, desde que, sobre o ponto em particular a ser aplicado, não se

trate nas leis especiais, bem como a forma com que o CPC normatize não

contrarie os princípios norteadores do procedimento sumariíssimo.

THEODORO JUNIOR, 2016, p. 607, por exemplo, assim afirma: “Embora a Lei

n. 9.099/95 seja omissa a respeito, é intuitivo que, nas lacunas das normas

específicas do Juizado Especial, terão cabimento as regras do novo Código de

Processo Civil, mesmo porque o seu art. 318, parágrafo único, contém a

previsão genérica que suas normas gerais sobre procedimento comum aplicam-

se subsidiariamente aos procedimentos especiais e aos processos de execução.

Além disso, o NCPC, em seu art. 1.046, parágrafo 2º, explicita que

permanecem vigentes “as disposições especiais dos procedimentos regulados

em outras leis, aos quais se aplicará supletivamente este Código”. Completa

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 8

nosso pensamento a norma fundamental do processo civil, inserida no art. 1º

do NCPC, nestes termos: “o processo civil será ordenado, disciplinado e

interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidas na

CRFB, observando-se as disposições deste Código”.

Temos de lembrar do ENUNCIADO 161 (XXXVIII FONAJE – Novembro de 2015),

segundo o qual, considerado o princípio da especialidade, o CPC/2015 somente

terá aplicação ao Sistema dos Juizados Especiais nos casos de expressa e

específica remissão ou na hipótese de compatibilidade com os critérios previstos

no art. 2º da Lei 9.099/95.

Um razoável exemplo de aplicação é o que consta no art. 1062 do CPC/2015,

segundo o qual se aplica aos juizados o Incidente de desconsideração da

personalidade jurídica, regulamentado nos artigos 133 a 137 do mesmo

estatuto.

Pode-se requerê-lo na própria petição inicial ou em outro momento processual,

caso em que (nesta última hipótese, por exemplo, em fase de execução), faz-se

necessário o respeito ao contraditório, cumprindo-se o estabelecido no art. 135

do CPC/2015.

Nos juizados, porém, tem-se uma situação atípica, qual seja, não será possível

recorrer da decisão a respeito à desconsideração, diante da inaplicabilidade do

art. 1015 do CPC/2015.

Ainda sobre a aplicação subsidiária, não poderíamos deixar de mencionar os

arts. 294 e seguintes do CPC/2015, em que se tem a normatização das tutelas

provisórias, gênero que tem como espécies as tutelas de urgência (antecedente

ou incidente) e de evidência (apenas incidente). As tutelas de urgência,

genericamente falando, abrangem as medidas de natureza cautelar

(instrumental, isto é, não satisfativa) e antecipada (satisfativa), requeridas

anteriormente ao “processo principal” ou incidentemente. A tutela de evidência

tem sempre natureza antecipada (satisfativa) e somente pode ser requerida ao

longo da fase de conhecimento, no que se costuma denominar de “processo

principal”.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 9

Dito isso, é de se esclarecer que somente as tutelas provisórias incidentes são

aplicáveis ao procedimento sumariíssimo. As antecedentes são absolutamente

incompatíveis com os Juizados Especiais, por conta do procedimento próprio a

estes peculiar, não conciliável com a especialidade dos artigos 303 e 304 do

CPC/2015.

Por exemplo, na tutela antecipada de urgência antecedente, o demandante

limita-se a apresentar determinada petição inicial incompleta, sendo certo que,

uma vez deferida (a tutela), sua não impugnação provoca a estabilização. Ora,

nos Juizados não fazendários, em primeiro lugar, sequer cabe recurso contra

esta (ou qualquer outra) decisão interlocutória, o que geraria uma automática

estabilização. Ademais, no procedimento sumariíssimo, há um rito próprio, com

designação da audiência imediatamente após a propositura da ação, impedindo

a aplicação simultânea do previsto nos referidos artigos do CPC/2015 (303 e

304) e do previsto na Lei 9.099/95.

Quanto aos prazos processuais, por sua vez, é defendido na doutrina, que se se

considerar como compatível com o Sistema dos Juizados Especiais o art. 220 do

CPC/2015, que prevê a suspensão do curso dos prazos processuais entre os

dias 20 de dezembro a 20 de janeiro. DONIZETTI (2016, p. 796). No Estado do

Rio de Janeiro, porém, por Resolução (número 02/2016, do COJES), foi vedada

a aplicação. Igualmente, lê-se no ENUNCIADO 164 (XXXVIII FONAJE –

Novembro de 2015) que “o artigo 229, caput, do CPC/2015 não se aplica ao

Sistema de Juizados Especiais”.

Um excelente exemplo de eventual colisão e não aplicação é o que se dá em

relação ao art. 489 do CPC/2015, em relação ao qual há o ENUNCIADO 162

(XXXVIII FONAJE – Novembro de 2015): não se aplica ao Sistema dos Juizados

Especiais a regra do art. 489 do CPC/2015 diante da expressa previsão contida

no art. 38, caput, da Lei 9.099/95.

Por fim, sobre a mesma questão da subsidiária, lembremos do art. 292 do

CPC/2015, que estabelece a obrigatoriedade de se fixar a pretensão de

indenização por danos morais, que deve ser aliado à própria Lei 9.099/95,

segundo a qual não se pode admitir, a princípio, pedido genérico. Logo, pode-

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 10

se defender, principalmente agora (pós novo CPC), a impossibilidade de se

deixar ao inteiro arbítrio do juiz tal fixação.

Aplicação subsidiária

É verdade que deporia contra essa aplicação subsidiária (do CPC) o fato de que

o Artigo 92 da Lei nº 9.099/1995 faz menção específica ao Código de Processo

Penal, citação não repetida em relação ao estatuto processual civil maior. Essa

opção legislativa, no entanto, não é tida por doutrina e jurisprudência como

suficiente a afastar sua aplicação – não apenas pela necessidade prática,

demonstrada ao longo dos anos, mas também porque o próprio legislador

parece ter se “retratado”, já que, no corpo da Lei nº 12.153/2009 (Artigo 27),

frisou, expressamente, a referida aplicação.

Carência de normas suprida

E diga-se mais: mesmo com o socorro do CPC, vimo-nos diante da carência de

normas supridas com regulamentações internas tal como as resoluções de

tribunas e conselhos (conforme exemplos dos quais trataremos mais adiante),

assim como os próprios enunciados do FONAJE e FONAJEF, utilizados também

neste curso como importantes fontes, tal como o fazem, a propósito, os juízos

singulares e turmas recursais.

Aspectos históricos absolutamente relevantes

Agora vamos entender como chegamos até essa complexa normatização! Você

já ouviu falar das small courts dos EUA?

Início da década de 80

No início da década de 80, o advogado e secretário executivo do Programa

Nacional da Desburocratização, João Piquet Carneiro, viajou aos Estados Unidos

(EUA), especificamente à Nova York, a fim de melhor conhecer as experiências

internacionais no tratamento de conflitos de baixo valor econômico.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 11

Juizados de pequenas causas de Nova York

Deparou-se, pois, com os juizados de pequenas causas de Nova York (small

claim court), criados para descongestionar o Poder Judiciário. Surpreendeu-se,

pelo número expressivo de processos julgados e de forma célere. Registra-se

na literatura que, em 1982, os referidos órgãos daquele país haviam julgado

70.000 casos, especificamente causas até US$ 1.000 (mil dólares).

Características principais das small courts

São características principais das small courts: cada juizado era presidido por

um juiz togado, com assistência de diversos árbitros escolhidos entre

advogados com ampla experiência profissional; apenas pessoas físicas, maiores

de 19 anos de idade, poderiam apresentar ações nos juizados; as pessoas

jurídicas somente poderiam figurar no polo passivo; a presença de advogado

era facultativa; a competência dos juizados era relativa; as decisões dos

árbitros eram irrecorríveis.

Elaboração do anteprojeto que deu ensejo à Lei nº 7.244/1984

Após a relatada viagem aos EUA, nomeou-se no Brasil uma comissão de juristas

responsável pela elaboração do anteprojeto que deu ensejo à Lei nº

7.244/1984, embrião do que hoje é a Lei nº 9.099/1995.

Ampliação do acesso à justiça

Não se discute, após se entender esse histórico e tudo o mais quanto se lê

neste material, serem os juizados especiais o produto de tensão existente entre

os interesses de ampliação do acesso à justiça e de desafogamento da máquina

judiciária. Simultaneamente, assegura-se o acesso ao Poder Judiciário para

solução de causas de menor complexidade de forma inteiramente gratuita em

1º grau de jurisdição, sem permissão de recursos à 2ª instância, com claro

incentivo à conciliação.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 12

Procedimento sumariíssimo

Como você já percebeu, um procedimento sumariíssimo não nos era estranho,

ou seja, não era algo novo no direito brasileiro.

Em 1988, portanto, já tínhamos a Lei nº 7.244/1984, propositalmente revogada

por ocasião da primeira lei (pós-1988) pertinente ao sistema de que estamos

tratando neste curso. E é fácil perceber por que o legislador constituinte, em

1988, estava evidentemente empenhado em desenvolver o procedimento até

então aplicado aos “juizados de pequenas causas”, por meio da criação de

órgãos especiais para

“causas de menor complexidade”.

A celeridade e a necessidade de instrumentos aptos a fortalecê-la constituíram

evidente preocupação, primeiramente, do legislador constituinte e, em seguida,

das leis ordinárias dele derivadas.

Efetivação de direitos

Você já teve ou conhece alguém que teve o dissabor (e, muitas vezes, ainda

está tendo) de aguardar anos (talvez, décadas) pela efetivação de direitos, os

quais, apesar de reconhecidos pelo legislador, parecem inalcançáveis?

A demora do processo jurisdicional sempre foi um entrave para a efetividade

dos direitos subjetivos (ou mesmo potestativos) dos jurisdicionados. Valendo-se

de importantes palavras de Marinoni, já que não tem sentido que o Estado

proíba a justiça de mão própria, mas não confira ao cidadão um meio adequado

e tempestivo para solução de seus conflitos e se o tempo do processo

configura, certamente, um prejuízo à parte que tenha razão, é certo que

quanto mais demorado for o processo civil, mais ele prejudicará alguns e

interessará a outros.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 13

Definitivamente, era preciso agir, não? Era preciso “construir” normas mais

complexas do que a Lei nº 7.244/1984 até então existente, ampliando o acesso

à justiça e sua democratização.

O sistema dos juizados especiais cíveis – características

fundamentais previstas na constituição

Nesse contexto e sob a influência dessas demandas e preocupações, impôs o

referido Artigo 98, I, CR/1988, as seguintes características a esses “órgãos

competentes para causas de menor complexidade”:

Juízes togados, ou togados e leigos;

Competentes para “causas de menor complexidade”;

Procedimentos: oral e sumariíssimo;

Permitindo-se recursos (apenas) para turmas de juízes “de primeiro

grau”.

Essas são quatro características fundamentais baseadas naquelas em que foram

construídas (ao menos se buscou construir) as leis ordinárias que cuidaram de

reger essa importante matéria. Precisamos entender, ainda que de forma

genérica, a pretensão do legislador constituinte de 1988. E o faremos

apresentando cada uma dessas características, conforme a seguir.

Juízes togados, ou togados e leigos

Essa é uma autorização ímpar no ordenamento jurídico brasileiro, qual seja,

permitir o julgamento por juízes “leigos”, os quais, verdadeiramente, leigos não

são, mas sim juízes não togados, cuja atuação é regulamentada, em primeiro

lugar, pelo legislador ordinário (Lei nº 9.099/1995) e regida e organizada por

cada Estado segundo suas normatizações próprias. Por exemplo, prevê o Artigo

7º da Lei nº 9.099/1995 que serão os leigos, preferencialmente, advogados de

mais de cinco anos de advocacia de experiência.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 14

A atuação de árbitros nas “pequenas cortes” dos EUA inspirou, certamente,

essa permissão constitucional relativamente diferenciada. Não absolutamente,

já que sabemos da competência constitucional do Poder Legislativo, por

exemplo, para exercer excepcionalmente a jurisdição, e, com isso, vemos a

atuação jurisdicional de não togados.

Assim como naquele país, os juízes togados aqui não são dispensados. Os

togados podem, naturalmente, exercer sua condução processual judicante

isoladamente (ainda que auxiliado pelos serventuários), enquanto os leigos

atuarão, necessariamente, com os togados, ou seja, sob sua “direção” e

“orientação”, segundo o que o legislador ordinário previsse.

Valemo-nos do Artigo 40 da Lei nº 9.099/1995, por meio do qual se percebe

que o juiz togado pode optar por não homologar a decisão do juiz leigo e:

• Proferir outra sentença, em substituição à do juiz leigo;

• Converter a homologação em diligência, determinando a

complementação de provas que reputar indispensáveis, proferindo-se,

em seguida, nova decisão.

Competentes para “causas de menor complexidade”

A competência para “causas de menor complexidade” consiste na característica

principal dessas “pequenas cortes” reforçadas pela carta de 1988. Veja só:

Lei nº 9.099/1995

Juizados especiais - A Lei nº 9.099/1995 chama-as de juizados especiais

fundamentalmente por conta da “menor complexidade” que tem íntima relação

com as demais características (ou mesmo poderíamos dizer ser sua causa).

Permite a atuação de juízes leigos - Permite-se a atuação de juízes leigos,

impõem-se procedimentos oral e sumariíssimo e mitigam-se os recursos, tudo

por conta, essencialmente, da menor complexidade que se instaura.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 15

Lei nº 7.244/1984

Critério único às “pequenas causas” - Afastando-se da essência da Lei nº

7.244/1984, não se limitou o legislador constituinte a ter como critério único as

“pequenas causas”. Ao falar em “menor complexidade”, abriu espaço para

“causas grandes”, ou seja, de grande valor, serem encaminhadas aos juizados,

desde que, por critérios razoavelmente objetivos, pudessem ser considerada

como de “menor complexidade”.

Menor complexidade - Quando falamos hoje em juizados especiais cíveis,

estamos falando da denominação dada pelo legislador ordinário (Lei nº

9.099/1995) aos órgãos para causas de “menor complexidade”, previstos pela

Constituição (Artigo 98, I), que são competentes para: “pequenas causas” de

“menor complexidade”, assim consideradas em função de seu valor, dentre

outros critérios que as enquadram como “menor”. Outras causas igualmente de

“menor complexidade”, por critérios razoavelmente objetivos, independente do

valor, ou seja, ainda que se tratem de “grandes causas”.

Causas de “menor complexidade”

Exemplo 1 - “Pequenas causas” de “menor complexidade”: ação de indenização

por danos morais, com pedido de condenação em valor de R$ 15.000,00

(quinze mil reais) proposta por pessoa física capaz em face de fornecedor que

incluiu seus dados em órgão restritivo de crédito, indevidamente. Nesse

exemplo, preocupou-se em limitar o valor, por ser esse um dos critérios. Mas

também se fazia necessário não violar as demais características impositivas da

“menor complexidade”.

Exemplo 2 - Outras causas igualmente de “menor complexidade”, independente

do valor: ação de ressarcimento por danos (cujos valores já estão liquidados)

causados em acidente de veículo de via terrestre, proposta por pessoa física

capaz que pede a condenação de outrem, responsável pela colisão, ao

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 16

pagamento de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais), sendo certo que, para solução

da lide, não será necessária outra prova senão documental e oral. Outras

características devem ser observadas: não depender de perícia; não depender a

tutela de um procedimento especial e de observação obrigatória, como ocorre

com a ação de consignação em pagamento ou ação de prestação de contas.

Juizado de pequenas causas X juizados especiais cíveis

Artigo 24 - Para encerrar esse item, não poderíamos deixar de lembrar que,

nesse contexto, a Constituição da República, em seu Artigo 24, X, menciona o

que o dispositivo chama de juizado de pequenas causas, enquanto o Artigo 98,

I (da mesma carta), por sua vez, fala em juizados especiais cíveis.

Dicotomia “pequenas causas” x “menor complexidade” - O legislador ordinário,

por meio da Lei nº 9.099/1995, deixou evidente que seriam esses órgãos a

mesma coisa. Tratam-se do mesmo órgão, conclusão a que se chega ao se

perceber que a referida lei optou pela revogação (pura e simples) da Lei nº

7.244/1984. Criou-se um só órgão jurisdicional, chamado de juizado especial

cível, com competência para causas cíveis de pequeno valor e de menor

complexidade, independente do valor, como antes se disse.

Resumindo: Competentes para “causas de menor complexidade”

Vejamos, pois, o seguinte quadro conclusivo:

Artigos 24, X e 98, I, CRFB/1988

Juizados especiais cíveis, ou órgãos competentes para “causas de

menor complexidade”

“Lei geral” (Lei nº 9.099/1995)

“Menor complexidade” pelo valor “Menor complexidade” independente

do valor

Exemplo: Exemplo:

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 17

Artigo 3º, I: causas até o equivalente

a 40 (quarenta) salários mínimos

Art. 3º, II: causas enumeradas no

art. 275, II, do antigo CPC/73 (que

permanece em vigor, para efeito da

Lei 9.099/95, assunto do qual já

vamos tratar novamente),

independente de seu valor.

Procedimentos: oral e sumariíssimo

É bastante relevante perceber a forma com que o legislador constituinte dispôs

a respeito: menciona duas características autônomas (portanto, distintas). O

procedimento deverá ser oral e sumariíssimo. Essas pessoas, ao se socorrerem

dos juizados, devem encontrar um processo em que vigore duas características

diferentes e marcantes:

Procedimento oral

Um modelo processual em que, além da simples prevalência da palavra falada

sobre a escrita, haja postulados em que o juiz dirigente do processo,

verdadeiramente, valha-se da simplicidade oriunda de sua utilização em

detrimento das formalidades dos registros escritos (ratio constituinte). O

processo oral não é, então, apenas um modelo de processo em que se usa

prevalentemente a palavra falada. Trata-se de um modelo processual que,

como ensinava Chiovenda, baseia-se em cinco postulados fundamentais:

• Prevalência da palavra falada sobre a escrita;

• Concentração dos atos processuais em audiência;

• Imediatidade entre o juiz e a fonte da prova oral;

• Identidade física do juiz;

• Irrecorribilidade em separado das decisões interlocutórias.

Procedimento sumariíssimo

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 18

Um procedimento mais célere do que o modelo já conhecido como “sumário”,

por isso, denominado de sumariíssimo. Esse procedimento necessita de uma

eliminação de determinados atos inerentes aos demais procedimentos e

concentração em atos que, verdadeiramente, devam existir para não ferirmos

as garantias constitucionais intransponíveis do processo.

É permitido a nós, intérpretes, compreender a vontade do legislador

constituinte: tornar a celeridade um ponto fundamental ao alcance dos

propósitos dos juizados, de aproximação do jurisdicionado do Estado-juiz,

elevação do acesso à justiça e ampliação da efetivação dos direitos cujas

causas sejam de “menor complexidade”. Essa celeridade, por sua vez, seria

alcançada, dentre outras causas, por meio da simplificação do procedimento,

especificamente, eliminando e concentrado atos.

Atenção

Não estamos aqui a dizer, portanto, que, no procedimento

sumariíssimo, prevalece a oralidade ou mesmo que isso significa a

preponderância da palavra falada sobre a escrita. A determinação

constitucional dá-se nos seguintes termos: são dois modelos

processuais que devem coexistir em prol de um benefício maior,

isto é, a elevação da efetivação de direitos por intermédio da

elevação do acesso à justiça àqueles cujas lides enquadrem-se

nas “causas de menor complexidade”.

Citemos passagem doutrinária histórica a respeito do tema:

acesso à justiça, longe de confundir-se com acesso ao judiciário,

significa algo mais profundo; pois importa no acesso ao justo

processo, como conjunto de garantias capaz de transformar o

mero procedimento em um processo tal, que viabilize, concreta e

efetivamente, a tutela jurisdicional.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 19

Exemplo de procedimentos sumariíssimo

Por exemplo, no momento da apresentação da demanda, já é designada a data

da audiência (da qual o autor já toma ciência) e, independente de autuação, já

são expedidos os documentos necessários à citação do réu. Isso não ocorre, de

fato, no Procedimento Sumário. Comparemos melhor, por exemplo, as

sequências do antigo procedimento sumário, de que tratava o art. 275, CPC

(revogado) e do sumariíssimo, ora sob estudo:

Ordinário Distribuição

da Ação

Designação

da Audiência

de

Conciliação

Audiência de

Conciliação

Respostas do

Réu

Saneamento Instrução Sentença

SUMARIÍS-

-SIMO:

Distribuição

da ação, já

com

designação

da data da A

C I J e

expedição

dos

documentos

necessários à

citação do

réu.

Citação

AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO, INSTRUÇÃO E JULGAMENTO:

Tentativa de

conciliação

Apresentação da

contestação

Instrução

probatória

Sentença

Observa-se, facilmente, que, enquanto no sumário, temos, de forma clara,

cinco ou seis momentos processuais distintos, separados, comumente, por

meses, no sumariíssimo, esses momentos são reduzidos a três, isto é, em

regra, a metade. E nem se está falando da celeridade gerada.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 20

Recursos permitidos (apenas) para turmas de juízes “de primeiro

grau”

Você verá como o legislador, seja o constituinte ou o ordinário, consegue

“enrolar-se” nas próprias palavras e induzir o leitor desatento a conclusões

absolutamente equivocadas.

Você tem dúvida de que “grau de jurisdição” não é sinônimo de “instância”?

Você tem dúvida de que, ao se julgar um recurso contra sentença, está sendo

exercido um segundo grau de jurisdição?

Você sabe, certamente, que não são sinônimos e que, ao se julgar um recurso

contra sentença, não se exerce um primeiro grau de jurisdição. Bem, vamos

entender por que foram relembrados os conceitos anteriormente. Estabelece-se

no Artigo 98, I, da carta de 1988 que eventual recurso que haja será

encaminhado a juízes “de primeiro grau”.

Já o Artigo 41 da Lei nº 9.099/1995, buscando atender à determinação

constitucional, estabeleceu, por sua vez, o cabimento de recurso “para o

próprio Juizado”, o qual será julgado por uma turma composta por três juízes

togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição. Afirma, por fim, o Artigo

46 da mesma Lei nº 9.099/1995 que existirá um julgamento em “segunda

instância”.

Diga-se, de imediato e ainda antes de se adequar as palavras mal utilizadas

pelo legislador, que os juizados, evidentemente, fazem parte da 1ª instância,

assim como os demais juízos singulares que compõem, regularmente, suas

respectivas justiças (Estadual e Federal). Também é fato que faz parte das

questões fundamentais dos juizados o não cabimento de recursos à 2ª

instância, consoante indubitável interpretação do Artigo 98, I, CRFB/1988.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 21

Percebe-se, portanto, que o recurso contra sentença, nos juizados, não é

julgado pelo “próprio juizado” e nem por uma “segunda instância”. Os

equívocos dos comandos legislativos acima, enfim, são notórios.

Dessa forma, o primeiro grau de jurisdição está intimamente vinculado à

competência originária exercida no caso sob análise, seja em 1ª ou 2ª

instância. O segundo grau de jurisdição estará presente se o órgão jurisdicional

(independente da instância, diga-se novamente) estiver, no caso sob análise

(frise-se, também), julgando determinado recurso (classificado como ordinário),

principalmente contra sentença.

Atenção

Certamente, “grau de jurisdição” e “instância” não se confundem.

Enquanto o primeiro está relacionado com a função exercida,

especificamente, no caso sob análise, o segundo caracteriza uma

“divisão” (ou “classificação”) naturalmente (portanto,

previamente) estabelecida entre os órgãos jurisdicionais, segundo

a atividade que, em regra, prestam.

Por tudo isso, não podemos confundir:

• Ao se propor a ação pelo procedimento sumariíssimo, esta

é dirigida à 1ª instância (como parte da Justiça Estadual ou

Federal, mas não do respectivo tribunal);

• O recurso contra a respectiva sentença (ou, ainda, nos

casos específicos de recurso contra decisões

interlocutórias, previstos nas Leis nº 10.259/2001 e nº

12.153/2009) não é direcionado à 2ª instância, pois a

competência do tribunal, no procedimento sumariíssimo,

não é admitida, consoante pacífica interpretação do Artigo

98, I,CRFB/1988;

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 22

• São julgados, precisamente, esses recursos, portanto,

pelas chamadas turmas recursais, compostas de três

juízes, os quais, contudo, não atuam em 1º grau, mas sim

em evidente 2º grau de jurisdição.

Atividade proposta

O sistema dos juizados tem um procedimento diferenciado segundo

características próprias impostas pelo legislador ordinário, as quais, certamente,

se por um lado são capazes de ampliar o acesso à justiça e a celeridade, podem

comprometer a segurança jurídica, diante de decisões construídas em uma

relação jurídica processual cujo contraditório e ampla defesa foram mitigados.

Disserte a respeito desse confronto, apresentando elementos que demonstrem

essa mitigação e conclua a respeito de eventual inconstitucionalidade das Leis

nº 10.259/2001 e nº 12.153/2009 ao determinarem a competência absoluta

dos juizados de que tratam.

Chave de resposta: A busca incessante por economia e celeridade cria,

justamente, um conflito objeto do enunciado, qual seja, entre o acesso e

democratização da justiça gerados pelos juizados e o eventual

comprometimento da segurança jurídica em razão de uma possível exacerbada

simplificação existente em seu procedimento, o que se agrava quando

lembramos que, nos juizados estaduais fazendários e federais, sua

competência, por lei, é absoluta.

Veja o que se espera de um pós-graduado.

Espera-se do pós-graduando que passe e contra-argumente os fundamentos

abaixo, retirados da obra de importante doutrinador carioca Alexandre Freitas

Câmara (2012, p. 19-21), Juizados especiais cíveis estaduais federais e da

fazenda pública: uma abordagem crítica:

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 23

O caráter obrigatório dos juizados de natureza fazendário seria

inconstitucional, por se tratar de um sistema processual capaz de produzir

resultados inaceitáveis.

No curso que se desenvolve perante os juizados especiais cíveis não cabe

recurso especial, o que significa dizer que, embora os juizados apliquem a

legislação federal, suas decisões não se submetem ao controle do STJ.

As decisões de mérito transitadas em julgado, proferidas pelos juizados

especiais cíveis, não ficam sujeitas à ação rescisória.

Nos processos que tramitam pelos juizados, cada parte só pode arrolar três

testemunhas.

O doutrinador em questão ainda defende:

(...) Casos outros há, porém, em que não há qualquer

peculiaridade no direito material capaz de justificar a

criação de procedimentos diferenciados para prestação da

tutela jurisdicional. Nesses casos são razões de política

legislativa que levam à criação desses modelos

diferencias, considerando o legislador que determinada

hipótese, embora pudesse ser tratada pelas vias

ordinárias, merece tratamento diferenciado. É o que se

dá, por exemplo, no procedimento monitório ou no

mandado de sentença. Os casos que se submetem a essas

vias processuais também poderiam ser deduzidas pelas

vias ordinárias. Pareceu ao legislador, porém, que valia a

pena estabelecer mecanismos de tratamento diferenciado,

capaz de permitir a obtenção de tutela jurisdicional mais

rapidamente, ou de forma mais eficaz, através de

procedimentos diferenciados.

(...) Nos casos em que a prestação da tutela jurisdicional

se dá de modo diferenciado por razões de direito material,

só através do meio diferenciado será possível prestar a

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 24

tutela jurisdicional ao titular do direito. De outro lado,

quando se está diante de uma hipótese em que a

prestação da tutela jurisdicional se dá de modo

diferenciado por razões políticas, e não por conta das

peculiaridades do direito material, a tutela jurisdicional –

que poderia ser também obtida pelas vias ordinárias e via

diferenciada – está posta no sistema à disposição do

demandante como opção, podendo ele escolher entre a

via ordinária e a via diferenciada.

(...) Ainda durante a vacatio legis, em Congresso

destinado exclusivamente ao estudo da Lei 9.099/95, tive

a honra de participar de um painel dedicado ao exame dos

Juizados Especiais Cíveis, composto também pelos

professores Gustavo Tepedino, Paculo Cezar Pinheiro

Carneiro, Helcio Alves de Assumpção, Luiz Felipe Salomão

e Dilson Neves Chagas, em que sustentei o caráter

opcional dos juizados especiais. (...) Posteriormente,

vários outros autores se manifestaram no mesmo sentido,

entre os quais Candido Rangel Dinamarco, Athos Gusmão

Carneiro e José Eduardo Carreira Alvim. (...)

Os argumentos em questão são bastante coerentes e, de fato, chamam a

atenção para a realidade segundo a qual o procedimento sumariíssimo tem

seus benefícios, aos quais, contudo, contrapõem-se tanto à queda de

rendimento quanto à qualidade das decisões e, consequentemente, do justo

processo.

Porém, devemos saber (ainda que seja, eventualmente, para discordar) que a

ordem jurídica, considerada como um todo, e os tribunais superiores estão

dando legitimidade cada vez mais a instrumentos que sumarizam os processos

em prol da celeridade e tempestividade, ainda que em detrimento da segurança

jurídica (mesmo porque a própria ordem jurídica e os tribunais não concordam

que essa segurança estaria prejudicada).

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 25

Assim, o que se pode concluir é que, ao aplicar a razoabilidade a fim de se

decidir a respeito de confrontos como esse (entre a apreciação jurisdicional

célere e devida apreciação), o STF, por exemplo, e os próprios juristas

responsáveis pelos últimos projetos de lei destinados às reformas processuais

(incluindo o projeto de novo Código de Processo Civil) têm evidenciado que

aproximar o jurisdicionado do Judiciário, abrindo-lhe mais (e não,

necessariamente, melhor) as portas, bem como torná-lo capaz de julgar mais

processos (e mais uma vez: não, necessariamente, melhor) são as demandas a

serem satisfeitas, ainda que, eventualmente, com algum comprometimento da

devida (justa) apreciação dessas matérias.

Fiquemos, para encerrar, com os seguintes exemplos do estatuto processual

maior (Código de Processo Civil): art. 332, art. e 932.

Referências

CÂMARA, Alexandre Freitas. Juizados especiais cíveis estaduais federais e

da fazenda pública: uma abordagem crítica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Lumen

Juris, 2012.

CAMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo:

Atlas, 2015.

CUNHA, Luciana Gross. Juizado especial: criação, instalação, funcionamento

e democratização do acesso à justiça. São Paulo: Saraiva, 2009.

DIDIER JUNIOR, Fred. Curso de Direito Processual Civil, 17 ed. v.1.

Salvador: Jus Podium, 2015.

DIDIER JUNIOR, Fred, BRAGA, Paula Sarmo, OLIVEIRA, Rafael Alexandria.

Curso de Direito Processual Civil, 11 ed. v.2. Salvador: Jus Podium, 2016.

DIDIER JUNIOR, Fred, CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito

Processual Civil, 13 ed. v.3. Salvador: Jus Podium, 2016.

DONIZETTI, Elpidio. Curso didático de direito processual civil. 19 ed. São

Paulo: Atlas, 2016.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 26

FLEXA, Alexandre, MACEDO, Daniel, BASTOS, Fabrício. Novo Código de

Processo Civil – temas inéditos, mudanças e supressões.2 ed. Salvador:

Jus Podium, 2016.

FONAJE. [Site do Fórum Nacional de Juizados Especiais. Apresenta

conteúdo sobre serviços judiciários prestados em Juizados Especiais].

Disponível em: <http://www.fonaje.org.br>. Acesso em: 29 ago. 2014.

MARINONI, Luiz Guilherme Bittencourt. O custo e o tempo do processo civil

brasileiro. Porto Alegre: Síntese, 2002.

PINHO. Humberto Dalla Bernadina de Pinho. Direito processual civil

contemporâneo – teoria geral do processo. 6 ed. São Paulo: Saraiva,

2016.

THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 56 ed.

Vol. I. Rio de Janeiro: Forense, 2015.

THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 50 ed.

Vol. II. Rio de Janeiro: Forense, 2016.

WATANABE, Kazuo (Coord.). Juizado especial de pequenas causas. São

Paulo: RT, 1985.

XAVIER, Flavia da Silva; SAVARIS, José Antonio. Manual dos recursos nos

juizados especiais federais. 2ª ed. Curitiba: Juruá, 2011.

Exercícios de fixação

Questão 1

Segundo o art. 98, I, da Constituição da República de 1988, a União, no Distrito

Federal criará juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e

leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas

cíveis de menor complexidade, mediante os procedimentos oral e sumariíssimo.

Logo:

a) O legislador constituinte originário (portanto, em 1988) já autorizava a

União a criar seus juizados especiais federais. O legislador ordinário, por

conveniência sua, criou-os apenas em 2001, por meio da Lei

10.259/2001.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 27

b) Ainda que determine o referido dispositivo que a competência seja para

a conciliação e execução de causas cíveis de menor complexidade, seria

possível ao juiz homologar acordo em valor equivalente a 80 (oitenta)

salários mínimo e a execução ocorreria no próprio juizado.

c) As causas de menor complexidade são todas aquelas cujo valor não

exceda a 40 (quarenta) salários mínimos.

d) Para que um procedimento seja considerado como oral, basta que

prevaleça a palavra falada sobre a escrita.

Questão 2

Clara, pessoa física capaz, propôs ação de indenização por danos morais, no

valor equivalente a 40 (quarenta) salários mínimos, em face de Cristano,

pessoa física igualmente capaz, perante o juizado especial cível estadual (não

fazendário). Considerando-se o exposto, e eventuais alterações mencionadas

nas respectivas questões, responda: caso a referida ação fosse proposta

perante a Vara Cível do foro do domicílio do Réu, qual seria a resposta correta?

I. O juiz deveria declinar da competência para o competente juizado especial

cível, considerando-se os termos do art. 98, I, da CRFB/1988, já que a causa

está dentro do teto do procedimento sumariíssimo.

II. O juiz deveria suspender o processo, dando prazo ao autor para que

optasse, expressamente, em prosseguir pelo procedimento comum ou desistir

da ação para, em seguida, propô-la perante o juizado especial cível

competente.

III. O juiz deveria extinguir o processo, proferindo-se sentença sem resolução

de mérito, considerando-se a competência absoluta dos juizados.

a) É verdadeira apenas a assertiva I

b) É verdadeira apenas a assertiva II

c) É verdadeira apenas a assertiva III

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 28

d) São todas incorretas

Questão 3

Clara, pessoa física capaz, propôs ação de indenização por danos morais, no

valor equivalente a 40 (quarenta) salários mínimos, em face de Cristano,

pessoa física igualmente capaz, perante o juizado especial cível estadual (não

fazendário). Considerando-se o exposto, e eventuais alterações mencionadas

nas respectivas questões, responda: tivesse a referida ação valor de causa de

60 (sessenta) salários mínimos (e não 40 salários mínimos, como dito no

enunciado), qual seria a resposta correta?

a) O juiz (do juizado) poderia condenar o réu em valor até o equivalente a

60 (sessenta) salários mínimos, já que a Lei nº 10.259/2001 alterou a Lei

nº 9.099/1995, por lhe ser posterior e tratar da mesma matéria.

b) O juiz deveria indeferir a petição inicial, por incompetência do juizado

especial cível, na forma dos artigos 3º, I e 51, II, ambos da Lei nº

9.099/1995.

c) A audiência de conciliação, instrução e julgamento deveria ser

designada, regularmente, considerando-se a possibilidade de transação

em valor superior ao do teto, como também pelo fato de que o valor que

exceder ao teto (de 40 salários mínimos) é passível de renúncia.

d) O juiz deveria declinar da competência para a Vara Cível ou órgão

equivalente competente, a fim de que ação prossiga pelo procedimento

comum.

Questão 4

Entre as Leis nº 8.078/1990 (art. 90) e 7.347/1985 (art. 21) forma-se,

efetivamente, um microssistema. Considerando-se que essa assertiva seja

verdadeira, opte pela alternativa correta:

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 29

a) Segundo o entendimento doutrinário e jurisprudencial predominante, isso

não se repete no sistema dos juizados, o que se demonstra, por

exemplo, por se ter mantido a competência dos juizados estaduais não

fazendários em causas até 40 (quarenta) salários mínimos.

b) É, exatamente, o que ocorre entre as três leis dos juizados (9.099/1995,

10.259/2001 e 12.153/2009), o que se considera bastante justo, já que

as leis posteriores têm redações muito mais apropriadas ao moderno

processo civil.

c) Pelas mesmas razões do enunciado, pode-se dizer que existe um

Estatuto dos juizados formado, exatamente, por suas três Leis

(9.099/1995, 10.259/2001 e 12.153/2009).

d) A ação civil pública objeto do estatuto dos processos coletivos formado

pelas leis mencionadas no enunciado é cabível perante os juizados.

Questão 5

Comparando-se os juizados especiais cíveis atuais (estaduais não fazendários)

brasileiros e as small courts dos EUA, podem ser identificadas as seguintes

características em comum, exceto:

I - A competência de natureza relativa.

II - A presença de advogado, em regra, não obrigatória.

III - A capacidade de ser parte autora exclusive de pessoas físicas.

Opte pela alternativa correta:

a) Somente a assertiva I possui característica distinta entre ambos os

países.

b) Somente a assertiva II possui característica distinta entre ambos os

países.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 30

c) Somente a assertiva III possui característica distinta entre ambos os

países.

d) Em todas as assertivas, as características são iguais em ambos os países.

Questão 6

Foi proposta ação de cobrança no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), de que é

autora determinada empresa (S/A), que teve como faturamento no último ano

valor superior a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais), tendo como ré

pessoa física capaz. A ação seguiu pelo procedimento sumário.

Considerando-se o exposto, e eventuais alterações mencionadas nas

respectivas questões, responda: entre o procedimento pelo qual tramita a ação

do enunciado e o procedimento sumariíssimo, temos em comum:

a) São competentes para julgar a causa juízes togados ou togados e leigos.

b) Todas as decisões proferidas hão de ser, invariavelmente,

fundamentadas.

c) Prevalece, em ambos os procedimentos, a palavra falada sobre a escrita.

d) Não é possível recorrer das decisões interlocutórias, em separado.

Questão 7

Foi proposta ação de cobrança no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), de que é

autora determinada empresa (S/A), que teve como faturamento no último ano

valor superior a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais), tendo como ré

pessoa física capaz. A ação seguiu pelo procedimento sumário.

Considere que a ação narrada no enunciado houvesse sido proposta perante o

Juizado Especial Cível estadual não fazendário. Logo:

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 31

a) O juiz deveria indeferir a petição inicial, por incompetência do juizado

especial cível, na forma dos artigos 3º, I e 51, II, ambos da Lei nº

9.099/1995.

b) A audiência de conciliação, instrução e julgamento deveria ser

designada, regularmente, considerando-se a possibilidade de transação

entre as referidas partes, mesmo nos juizados.

c) O juiz deveria declinar da competência para a Vara Cível ou órgão

equivalente competente, a fim de que a ação prossiga pelo procedimento

comum.

d) O juiz deveria proferir a chamada "sentença liminar de improcedência",

na forma do art. 332, do CPC/2015, considerando-se que a pessoa

jurídica em questão não poderia ser autora nos juizados.

Questão 8

Em ação pelo procedimento sumariíssimo, os pedidos foram acolhidos e contra

essa decisão foi interposto recurso, julgado pelo colegiado competente. Logo:

1. O recurso em questão é julgado em 2ª instância, tal como diz o art. 46 da

Lei nº 9.099/1995.

2. O recurso em questão é julgado por juízes em exercício em 1º grau de

jurisdição, tal como diz o art 98, I da Constituição de 1988.

3. Contra essa decisão, na verdade, não cabia recurso, razão pela qual sequer

deveria ter sido recebido.

a) Somente a assertiva I está correta

b) Somente a assertiva II está correta

c) Somente a assertiva II está correta

d) Nenhuma está correta

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 32

Questão 9

Foi movida ação de indenização decorrente de acidente de veículo terrestre em

sede de juizado especial cível estadual não fazendário, em que se pede o valor

equivalente a 90 salários mínimos. Trata-se de lide entre pessoas físicas e

capazes. Logo, é possível afirmar:

1. Essa ação é considerada, em princípio, como “de menor complexidade”, não

obstante não se tratar de uma “pequena causa”.

2. Essa ação apenas não será considerada como “de menor complexidade”,

caso tenha alguma característica que a exclua da competência dos juizados,

como, por exemplo, necessidade de perícia complexa.

3. Essa ação poderia ter sido ajuizada valendo-se o autor do procedimento

sumário.

Diante do exposto, é possível afirmar que:

a) Todas estão corretas

b) Apenas I e II estão corretas

c) Apenas II e III estão corretas

d) Apenas I e III estão corretas

Questão 10

Viu-se nesta aula que se permite julgamento por árbitros. A respeito da

arbitragem e os juizados é possível afirmar, exceto:

a) Não obstante a Lei nº 9.099/1995 permitir recurso contra a sentença e

contra as sentenças que homologam o laudo arbitral, não é cabível

recurso.

b) Não obstante a lei de arbitragem (Lei nº 9.307/1996) estabelecer que a

decisão do árbitro não está sujeita à homologação do juiz togado, como

também não obstante ser uma lei especial e posterior à Lei nº

9.099/1995, é necessário, nos juizados, a homologação em questão.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 33

c) Respeitando-se o que determina a lei de arbitragem (Lei nº 9.307/1996),

os árbitros são escolhidos, livremente, pelos litigantes, entre pessoas

capazes e de sua confiança.

d) O juiz, assim como o arbitro, pode adotar a decisão que reputar mais

justa e equânime, atendendo aos fins sociais da lei e às exigências do

bem comum.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 34

Anteprojeto: Watanabe, um dos autores do refeito anteprojeto, frisou

naquela oportunidade (inicio da década de 1980) que a ideia da criação dos

juizados em questão estaria ligada, especialmente, ao que ele próprio

denominou de litigiosidade contida, ou seja, o fato de que muitos conflitos

sociais não seriam resolvidos de forma satisfatória, por não serem

encontradas no Judiciário respostas eficazes ou por simplesmente não se ter

acesso ao Judiciário – pela renúncia total ao direito pelo prejudicado

(principalmente por conta da crença de que a justiça seja lenta, cara,

complicada e, por isso, além de dificil, ser inútil ir ao Judiciário em busca da

tutela do direito). Oportunamente, lembra-se da exposição de motivos da

referida lei, segundo a qual o sistema teria como público-alvo o cidadão

comum, na solução dos conflitos de reduzido valor econômico, que, pelos

altos custos da demanda, lentidão e quase certeza da inviabilidade ou

inutilidade do ingresso em juízo, deixava de ingressar no Judiciário.

Aplicação: Pensou o legislador na efetividade prática de seu incentivo à

conciliação (um dos princípios tratados no item anterior), de forma que o

consensualismo superaria a necessidade de um aprofundamento

procedimental pelas leis sob estudo. A realidade demonstrou-se diferente. A

concentração de atos em audiência, seguida da composição amigável nem

sempre se faz presente, principalmente nos processos que tramitam perante

os juizados fazendários (lato), cujo polo passivo não tem essa prática como

hábito, ainda que, legalmente, nesse caso, pudesse fazê-lo. Leia-se, a

propósito, obra de Xavier e Savaris (2011, p. 38): a partir da leitura de seu

trabalho, pode ser observado como os quase 20 anos da publicação da Lei nº

9.099/1995 deixaram claro que ela e as duas outras (principais) que a

complementaram (10.259/2001 e 12.153/2009) são insuficientes para

regulamentar todo o procedimento sumariíssimo, tornando-se essencial o

socorro do Código de Processo Civil, sob pena de se dar oportunidade a uma

instabilidade procedimental gerada pela aplicação desenfreada de

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 35

mecanismos diversos frutos da criatividade individual de cada magistrado que

se veja diante de uma ação perante esse importante “órgão competente para

causas de menor complexidade”.

Art. 27: Aplica-se, subsidiariamente, o disposto nas Leis nº 5.869, de 11 de

janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), nº 9.099, de 26 de setembro de

1995 e nº 10.259, de 12 de julho de 2001.

Juizados de pequenas causas: Em 1981, o Ministério da

Desburocratização formou uma comissão para discutir a criação dos juizados

especiais, inicialmente denominados de “pequenas causas”. Foi presidida por

João Carneiro e constituída por Kazuo Watanabe, Candido Rangel Dinamarco

e Ada Pellegrini Grinover, dentre outros. O grupo tinha a tarefa de elaborar o

anteprojeto de lei dos referidos juizados, que recebeu, posteriormente, o

número de 1.950/1983.

Em agosto de 1983, foi encaminhado ao Congreso Nacional o referido projeto

e sua respectiva justificativa elaborada pelo ministro Hélio Beltrão. Durante

sua tramitação, não houve mudanças significativas no texto, cuja aprovação

na Câmara e no Senado foi sancionada pelo Presidente da República em

novembro de 1984, dando ensejo à Lei nº 7.244/1984, que já tinha as

seguintes características marcantes enfatizadas, inclusive, em sua exposição

de motivos: (i) início do procedimento por meio de apresentação de pedido

escrito ou oral; (ii) descabimento de intervenção de terceiros, inclusive

assistência; (iii) facultatividade de opção pelo rito; (iv) a busca permanente

de conciliação; (v) a simplicidade, informalidade, oralidade, economia

processual, celeridade e a amplitude dos poderes do juiz.

Lei nº 9.099/1995: Não se apresentava como suficientemente preparada a

regulamentar o procedimento sumariíssimo de que pudesse participar a

fazenda pública como parte. Ao contrário, veda, como se vê, por exemplo,

em seu art. 8º, as pessoas jurídicas de direito público e as empresas públicas

da União. Em parte, suas limitações vinham do próprio comando

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 36

constitucional originário, não autorizador, em princípio, de juizados especiais

no âmbito da Justiça Federal.

Microssistema: Defende Alexandre Freitas Câmara (2012, p. 4) que, ao

sentir dele, elas formam entre si um só estatuto, ou seja, um microssistema.

Veja-se: “É certo por um lado, que a Lei dos Juizados Federais afirma,

expressamente, que a Lei dos juizados estaduais lhe é subsidiariamente

aplicável. A recíproca, porém, embora não esteja expressa, também é

verdadeira. Não há qualquer razão para que não se possa aplicar nos

juizados estaduais as conquistas e inovações contidas na Lei dos Juizados

Federais, sempre que entre os dois diplomas não haja qualquer

incompatibilidade (...)”. Por exemplo, fosse um microssistema, a competência

dos juizados especiais cíveis comuns, regulamentados, primeiramente, pela

Lei nº 9.099/1995, teria sido elevada a causas cujo valor não ultrapassassem

60 (sessenta) salários mínimos, como também seria de natureza absoluta.

Não é verdade uma afirmação nem a outra. Veja-se, a propósito, o:

“Enunciado 133 do FONAJE – O valor de alçada de 60 salários mínimos

previsto no artigo 2º da Lei 12.153/09, não se aplica aos Juizados Especiais

Cíveis, cujo limite permanece em 40 salários mínimos (XXVII Encontro –

Palmas/TO)”.

Parágrafo: Inicialmente, “único”; posteriormente a Emenda Constitucional

45/2004 criou o parágrafo 2º, o que o fez se tornar, naturalmente, um

“parágrafo 1º”.

Retratado: O termo, obviamente, está sendo utilizado de maneira informal,

para demonstrar que, entre as Leis nº 9.099/1995 e nº 12.153/2009, parece

ter ocorrido uma evidente evolução, já que, inicialmente, não se viu a

necessidade de menção do CPC, expressamente, ao passo que, 14 anos

depois, com a experiência de todo esse período, percebeu-se a

essencialidade de sua aplicação.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 37

Sumariíssimo: A palavra tem, de fato, duas vogais “i”, segundo a norma

padrão da língua portuguesa, por se tratar do superlativo de sumário,

exatamente como foi previsto (e escrito) pelo legislador constituinte.

Turmas recursais: Seguem três bons exemplos ilustrados com o CPC e com

enunciados do FONAJE:

I. Aplicação da tutela de urgência, seja de natureza antecipada ou cautelar,

desde que incidental. Respeito, por exemplo, aos arts. 294 e seguintes (CPC)

(exceto os instrumentos precedentes, que não são aplicáveis, como a tutela

antecipada antecedente), considerando-se as necessidades do direito

material, cujos titulares, muitas vezes, não dispõem de semanas ou meses

(eventualmente, nem mesmo de dias) a espera da audiência designada,

como é caso de antecipação de tutela relativa à saúde (para impor, por

exemplo, uma obrigação de fazer à determinada seguradora de saúde e/ou

hospital de autorização e realização de uma cirurgia absolutamente essencial

à vida do paciente-demandante);

II. Permissão de julgamentos monocráticos, nas turmas recursais, de recurso

interposto contra sentença, em aplicação subsidiária do art. 932 (CPC), ao

menos na parte em que permite (e em que termos permite) essa espécie de

decisão – vê-se total adequação dessa possibilidade com os princípios

norteadores, por simplificar e agilizar o trâmite recursal;

III. Aplicação do prazo de 15 dias para pagamento da obrigação de pagar

estipulada em sentença, assim como todo o caput (pelo menos) do art. 523

(CPC), que também estipula a multa de 10 %, caso seja ele (prazo)

desrespeitado.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 38

Aula 1

Exercícios de fixação

Questão 1 - B

Justificativa: Cada alternativa se justifica pelo seguinte:

Apenas após a Emenda Constitucional número 22, de 2009, autorizou-se a

União a criar, no âmbito da Justiça Federal, os respectivos juizados especiais,

denominados, então, de juizados especiais federais.

Sim, devidamente autorizado pelo art. 57 da Lei nº 9.099/1995.

Como se viu ao longo da Aula, temos as causas de menor complexidade

segundo valor e aquelas que o são segundo outros critérios por conveniência

do Legislador, como as causas mencionadas no (revogado) art. 275, II, do

antigo CPC (o novo CPC prevê um (único) procedimento comum, sem a atual

divisão em ordinário e sumário).

Vivemos, segundo a determinação constitucional, um verdadeiro modelo oral de

processo, o que significa, além da prevalência da palavra falada sobre a escrita,

outras características, como a imediatidade do juiz e a irrecorribilidade das

decisões interlocutórias em separado.

Questão 2 - D

Justificativa: Seguindo o que já dispunha a Lei nº 7.244/1984, bem como o

próprio modelo previsto nos EUA, a competência dos juizados especiais cíveis

estaduais não fazendários é relativa. É, portanto, opção do demandante valer-

se dele ou, se preferir, utilizar o procedimento comum. E, se assim preferir

(valer-se do procedimento comum), nada poderá o juiz fazer, senão permitir

que o processo prossiga, regularmente, desde que, evidentemente, preencha

os requisitos processuais conhecidos, como condições da ação e pressupostos.

Questão 3 - C

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 39

Justificativa: Considerando-se os artigos 3º e 57 da Lei nº 9.099/1995, existe,

de fato, a possibilidade de transação, bem como de renúncia, caso não haja a

transação. Logo, não há porque proferir-se sentença liminarmente.

Questão 4 - A

Justificativa: Não há esse microssistema, como apresentado, pela simples razão

de que não existe a reciprocidade de mão dupla prevista no estado dos

processos coletivos. É o que se vê no Enunciado 133 do FONAJE (o valor de

alçada de 60 salários mínimos previsto no artigo 2º da Lei nº 12.153/2009 não

se aplica aos juizados especiais cíveis, cujo limite permanece em 40 salários

mínimos (XXVII Encontro – Palmas/TO).

Questão 5 - C

Justificativa: Nos EUA, apenas pessoas físicas capazes poderiam propor ação

nos órgãos competentes para “pequenas causas”, enquanto nos juizados atuais

determinadas pessoas jurídicas, como microempresas, podem ser autoras, o

que foi feito, justamente, com o propósito de ampliar o acesso à justiça por

intermédio do procedimento sumariíssimo.

Questão 6 - B

Justificativa: A característica presente na alínea B é uma das garantias

constitucionais fundamentais do processo, presente no art. 93, IX, da

CRFB/1988 e, portanto, presente em ambos os procedimentos.

Todas as outras são características apenas do procedimento sumariíssimo.

Questão 7 - A

Justificativa: A possibilidade de transação não ultrapassa questões processuais

de ordem pública, tal como a capacidade. Somente as pessoas físicas capazes e

as jurídicas exclusivamente mencionadas no art. 8º da Lei nº 9.099/1995

podem ser autoras, fato que, se desrespeitado, impõe ao juiz que profira

sentença na forma do art. 51, inciso II, da mesma lei.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 40

Questão 8 - D

Justificativa: Como vimos em nossa aula, e pelas razões nela expostas, não há

atuação da 2ª instância, em sede de juizados, sendo certo que os recursos

contra as sentenças (e as decisões de tutela de urgência, nos juizados de

natureza fazendária) são encaminhados a órgãos colegiados de 1ª instância,

mas em 2º grau de jurisdição, pela competência recursal exercida.

Questão 9 - A

Justificativa: Aprendemos nesta aula que as causas são de “menor

complexidade” segundo seu valor e também outros critérios definidos pelo

legislador, como as ações de despejo para uso próprio e as ações mencionadas

no (revogado) art. 275, II, do CPC (sem correspondente no CPC/2015). Assim,

independente do valor, como a lide mencionada no enunciado encontra-se no

art. 3º da Lei 9.099/1995, é considerada como de “menor complexidade” e,

facultativamente, pode ser apresentada ao juizado competente.

Questão 10 - C

Justificativa: Respeita-se o Enunciado 7 do FONAJE (XXXIV ENCONTRO),

segundo o qual a sentença que homologa o laudo arbitral é irrecorrível.

Também é verdade que se deve respeitar, quanto à escolha dos árbitros, o que

dispõe a Lei nº 9.099/1995 e não a Lei nº 9.307/1996, segundo entendimento

doutrinário e jurisprudencial a respeito da matéria. Segundo a Lei nº

9.099/1995 (art. 24), o árbitro será escolhido entre os juízes leigos.