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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ARQUITETURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO ANDRÉ LUIZ DE ARAÚJO OLIVEIRA NOVOS VELHOS PATRIMÔNIOS: TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO DAS CULTURAS POPULARES BRASILEIRAS (1988 2013) Salvador 2016

NOVOS VELHOS PATRIMÔNIOS: TRAJETÓRIA DA NORMA DE ... · Profª. Dra. Márcia Genésia de Sant‟Anna Doutora pela Universidade Federal da Bahia _____ Prof. Dr. Wilson Rogerio Penteado

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE ARQUITETURA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

ANDRÉ LUIZ DE ARAÚJO OLIVEIRA

NOVOS VELHOS PATRIMÔNIOS:

TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO DAS

CULTURAS POPULARES BRASILEIRAS (1988 – 2013)

Salvador

2016

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ANDRÉ LUIZ DE ARAÚJO OLIVEIRA

NOVOS VELHOS PATRIMÔNIOS:

TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO DAS CULTURAS

POPULARES BRASILEIRAS (1988 – 2013)

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia como requisito para a obtenção do grau de Doutor em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Profª Drª Ana Maria Fernandes.

Salvador

2016

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ANDRÉ LUIZ DE ARAÚJO OLIVEIRA

NOVOS VELHOS PATRIMÔNIOS:

TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO DAS CULTURAS POPULARES BRASILEIRAS (1988 – 2013)

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia, como

requisito para obtenção de grau de Doutor em Arquitetura e Urbanismo, avaliada

pela seguinte Banca Examinadora:

________________________________________________ Profª. Dra. Ana Maria Fernandes (Orientadora)

Doutora pela Université Paris-Est Créteil Val-de-Marne

________________________________________________ Profª. Dra. Odete Dourado Silva

Doutora pela Università Degli Studi Di Roma

________________________________________________ Profª. Dra. Márcia Genésia de Sant‟Anna

Doutora pela Universidade Federal da Bahia

________________________________________________ Prof. Dr. Wilson Rogerio Penteado Júnior

Doutor pela Universidade Estadual de Campinas

________________________________________________ Prof. Dr. Eugenio de Ávila Lins

Doutor pela Universidade do Porto

Salvador, ____ / ____/ 2016.

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Ao meu avô, Seu Tutu, mestre popular do meu SerTão.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais e minha família pelo amor incondiconal.

À minha Mãe, pela paciência e honradez em acreditar comigo, na educação e no

conhecimento como forma de transformação social.

Aos meus novos e velhos amores, pela paciência, pelos carinhos e pelas ajudas

nesse percurso.

À minha orientadora Pró Ana, agradeço pelo cuidado e zelo a mim dedicado, bem

como pelaconvivência com sua inteligência contagiante e inspiradora à construção e

produção do conhecimento ao longo de 8 anos de trabalho juntos. Muito obrigado

pela confiança.

Aos professores e professoras que aceitaram participar do processo de avaliação

desta pesquisa, agredeço imensamente cada contribuição e crítica na melhoria na

qualidade deste trabalho.

Aos meus professores e colegas do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e

Urbanismo (PPG-AU) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da

Bahia (FAUFBA), pelos ensinamentos e companheirismo.

Ao Prof. Dr. Carlos Fortuna, do Centro de Estudos Sociais (CES), da Universidade

de Coimbra, bem como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES), pela realização do Programa de Estagio Doutoral no Exterior

(PDES), enriquecendo sobremaneira nossa pesquisa.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela

bolsa de estudos concedida para realização desta pesquisa de doutorado,

permitindo uma dedicação integral aos estudos.

Ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), pela

disponibilidade no acesso aos dados dessa pesquisa, em especial, ao Arquivo

Noronha Santos, pela sua presteza e eficiência na gestão das informações.

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RESUMO

A pesquisa busca compreender a trajetória da norma de preservação das culturas populares nas cidades brasileiras, observadas a partir das políticas públicas governamentais de preservação do IPHAN sobre os bens culturais. As referências teóricas residem nas ideias da “antijuridicidade da norma” e do “dispositivo de patrimônio” como instrumentos que permitem compreender a norma como não sinônimo de lei, bem como os tensionamentos no exercício do poder que se estabelecem nos processos de patrimonialização dos bens culturais. As abordagens metodológicas residem na compreensão da norma de preservação brasileira a partir das cidades, analisando os processos de tombamento e registros dos bens das culturas populares pelo IPHAN entre os anos de 1988 e 2013. A partir dos bens patrimonializados, a compreensão da norma de preservação é orientada através da observação das dimensões simbólica, social e política que a compõem e dos desdobramentos das ações reguladoras e gestoras nas políticas de preservação dos bens culturais nos processos analisados. Palavras-chave: Patrimônio cultural. Norma de preservação. Culturas populares

brasileiras.

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ABSTRACT

The research seeks to understand the trajectory of the standard of preservation of popular cultures in Brazilian cities, observed from the IPHAN‟s governmental public policies to preserve on cultural goods. The theoretical references lie in the ideas of "juridical impermissibility of the norm” and "heritage device” as instruments to understand the standard as not synonymous with law, as well as tensions in power that are established in heritage processes of cultural property. Methodological approaches lie in understanding the standard of Brazilian preservation from the cities, analyzing the tipping process and records of goods of popular cultures by IPHAN between 1988 and 2013. From the patrimonializated goods, understanding the preservation standard It is guided by observing the symbolic, social and political dimensions that compose it and the consequences of regulatory and management actions in the conservation policies of cultural property in the analyzed processes. Keywords:Cultural heritage. Standard preservation. Brazilian popular culture.

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RÉSUMÉ

La recherche vise à comprendre la trajectoire de la norme de la préservation des cultures populaires des villes brésiliennes, observées à partir des politiques publiques gouvernementales de préservation de l'IPHAN à propos des biens culturels. Les références théoriques se situent dans les idées de « l‟antilégalité de la norme» et du «dispositif de patrimoine » comme des instruments pour comprendre la norme en tant que non synonyme de la loi, ainsi que les tensions dans l'exercice du pouvoir qui sont établies dans les processus de patrimonialisation des biens culturels. Les approches méthodologiques se trouvent dans la compréhension de la norme de préservation brésilienne des villes, à partir de l'analyse du processus de sauvegarde et des registres des biens des cultures populaires par l‟IPHAN entre 1988 et 2013. À partir des biens patrimonialisés, la compréhension de la norme de préservation est guidée par l'observation des dimensions symboliques, sociales et politiques qui le composent et par les conséquences des mesures de réglementation et de gestion dans les politiques de préservation des biens culturels dans les processus analysés. Mots-clés: Patrimoine Culturel. Norme de préservation. Cultures populaires

brésiliennes.

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LISTA DEQUADROS

Quadro 1 – Universo empírico de pesquisa sobre os Bens Culturais Tombados no

Brasil pelo IPHAN entre 1988 e 2013. ....................................................................... 53

Quadro 2 – Universo empírico de pesquisa sobre os bens culturais registrados no

Brasil pelo IPHAN entre 2000 e 2013. ....................................................................... 54

Quadro 3 – Arranjo dos indicadores das dimensões simbólica, social e política nas

fichas descritivas de patrimonialização dos bens culturais no Brasil (1988 -2013). .. 56

Quadro 4 - Pactos e Critérios na patrimonialização dos bens culturais registrados

pelo IPHAN nas cidades brasileiras entre 2000 e 2013. ......................................... 116

Quadro 5 - Bens das culturas populares tombados pelo IPHAN nas cidades

brasileiras entre 1988 e 2013. ................................................................................. 120

Quadro 6 – Bens culturais nas cidades brasileiras reconhecidas como Patrimônios

da Humanidade pela UNESCO entre 1980 e 2013. ................................................ 150

Quadro 7 – Proponentes para o tombamento pelo IPHAN dos bens das Culturas

Populares no Brasil entre 1988 a 2013. .................................................................. 168

Quadro 8 - Patrimônios culturais imateriais registrados pelo IPHAN entre 2000 e

2013 nas cidades brasileiras: Proponentes. ............................................................ 171

Quadro 9 – Agentes envolvidos no tombamento pelo IPHAN dos bens das Culturas

Populares no Brasil entre 1988 a 2013 ................................................................... 175

Quadro 10 - Patrimônios culturais imateriais registrados pelo IPHAN entre 2000 e

2013 nas cidades brasileiras: Agentes envolvidos na patrimonialização. ............... 178

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Aplicativo do Toque dos Sinos em Minas Gerais ...................................... 94

Figura 2 - Chico Mendes em frente a sua casa em Xapuri ..................................... 160

Figura 3 - “Baiana prepara acarajé na região do Rio Vermelho”. ............................ 204

Figura 4 - Plaforma Oya. ......................................................................................... 209

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Classificação por Valores dos bens das culturas populares Registrados

pelo IPHAN nas cidades brasileiras (2000-2013) ...................................................... 71

Gráfico 2 – Representação quantitativa por valores dos Bens Tombados pelo IPHAN

das culturas populares nas cidades brasileiras ......................................................... 73

Gráfico 3 – Representação percentual por categorias de Bens Tombados pelo

IPHAN das culturas populares nas cidades brasileiras ............................................. 74

Gráfico 4 - Tempo dos processos de Registro dos bens das culturas populares pelo

IPHAN entre 1988 e 2013. ...................................................................................... 122

Gráfico 5 - Tempo dos processos de Tombamento dos bens das culturas populares

pelo IPHAN entre 1988 e 2013. ............................................................................... 123

Gráfico 6 - Análise metodológica de patrimonialização bens culturais imateriais com

Registro no IPHAN entre 2000 e 2013. ................................................................... 130

Gráfico 7 – Saberes. Análise metodológica de patrimonialização por valores dos

bens culturais imateriais com Registro no IPHAN entre 2000 e 2013 ..................... 131

Gráfico 8 - Formas de Expressão. Análise metodológica de patrimonialização por

valores dos bens culturais imateriais com Registro no IPHAN entre 2000 e 2013 .. 131

Gráfico 9 – Celebrações. Análise metodológica de patrimonialização por valores dos

bens culturais imateriais com Registro no IPHAN entre 2000 e 2013 ..................... 131

Gráfico 10 - Recomendação de Salvaguardas dos Bens das culturas populares

Registrados pelo IPHAN nas cidades brasileiras (2000-2013) ................................ 133

Gráfico 11 – Ações de Salvaguardas sobre os Bens das culturas populares

Registrados pelo IPHAN nas cidades brasileiras (2000-2013) ................................ 134

Gráfico 12 - Quantidade anuais de projetos contemplados pelos Editais PNPI (2005

– 2011) .................................................................................................................... 137

Gráfico 13 – Proponentes para o tombamento dos bens das culturas populares no

Brasil entre 1988 e 2013. ........................................................................................ 167

Gráfico 14 - Proponentes para o registro dos bens das culturas populares no Brasil

entre 1988 e 2013 ................................................................................................... 171

Gráfico 15 - Distribuição espacial dos Bens das culturas populares Tombados pelo

IPHAN por regiões brasileiras (2000-2013) ............................................................. 185

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1 - Distribuição espacial dos bens das culturas populares Tombados pelo

IPHAN nas cidades brasileiras entre 2000 a 2013 .................................................. 184

Mapa 2 - Distribuição espacial dos bens das culturas populares Registrados em pelo

IPHAN nas cidades brasileiras entre 2000 a 2013 .................................................. 186

Mapa 3 - Distribuição espacial dos bens das culturas populares com Registro em

andamento pelo IPHAN nas cidades brasileiras até 2013 ...................................... 187

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BCR Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados

CDFB Campanha em Defesa do Folklore Brasileiro

CNFCP Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular

CNFL Comissão Nacional do Folklore

CNRC Centro Nacional de Referências Culturais

CPC Centro de Cultura Popular

DPI Diretoria de Patrimônio Imaterial

FNC Fundo Nacional de Cultura

FNPM Fundação Nacional Pró-Memória

FUNARTE Fundação Nacional de Artes

GTPI Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial

IBAC Instituto Brasileiro de Arte e Cultura

IBECC Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura

IBPC Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural

IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

INRC Inventário Nacional de Referências Culturais

ISEB Instituto Superior de Estudos Brasileiros

MEC Ministério da Educação e Cultura

MÊS Ministério da Educação e Saúde

MFB Movimento Folclorista Brasileiro

MINC Ministério da Cultura

ONU Organização das Nações Unidas

SAP Sala do Artista Popular

SPHAN Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

PCH Programa de Cidades Históricas

PNC Plano Nacional de Cultura

PNPI Programa Nacional de Patrimônio Imaterial

PRONAC Programa Nacional de Apoio à Cultura

SNC Sistema Nacional de Cultura

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15

1.1 A PROBLEMATIZAÇÃO ...................................................................................... 16

1.2 AS REFERÊNCIAS TEÓRICAS .......................................................................... 19

1.3 OS ANTECEDENTES INSTITUCIONAIS E SUA CONTEXTUALIZAÇÃO

HISTÓRICA ............................................................................................................... 29

1.4 A CONSTRUÇÃO DAS ABORDAGENS METODOLÓGICAS ............................ 42

1.4.1 As cronologias ............................................................................................... 44

1.4.2 As dimensões e arranjos tensores do patrimônio ......................................... 47

1.4.3 Fontes de pesquisa empírica ........................................................................ 51

2 A DIMENSÃO SIMBÓLICA NA TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO58

2.1 AS “REFERÊNCIAS” AOS BENS DAS CULTURAS POPULARES NA

TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO ...................................................... 61

2.1.1 Os valores atribuídos aos bens culturais ...................................................... 68

2.1.2 Aspectos relevantes à patrimonialização e “referências culturais” ................ 74

2.1.3 Bens associados ao bem cultural: o caráter dinâmico dos bens ................... 80

2.2 “ELASTICIDADE” PATRIMONIALIZANTE E OS PATRIMÔNIOS CULTURAIS

SENSORIAIS: O QUEIJO DE MINAS E O TOQUE DOS SINOS NAS CIDADES

MINEIRAS ................................................................................................................. 85

3 A DIMENSÃO POLÍTICA NA TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO .. 97

3.1OS PACTOS E CRITÉRIOS NA TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO

DAS CULTURAS POPULARES NAS CIDADES BRASILEIRAS ............................ 100

3.1.1 O tempo e a produção institucional do patrimônio ...................................... 120

3.1.2 Por entre pareceres .................................................................................... 124

3.1.3 As metodologias de patrimonialização ........................................................ 127

3.1.4 As salvaguardas e as ações de apoio aos bens culturais ........................... 132

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3.2 A UNESCO nas políticas de preservação das culturas populares brasileiras pelo

IPHAN ..................................................................................................................... 138

4 A DIMENSÃO SOCIAL NA TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO. .... 154

4.1 OS SUJEITOS, OS GRUPOS SOCIAIS E SUAS TRAJETÓRIAS NA NORMA DE

PRESERVAÇÃO ..................................................................................................... 157

4.1.1 Quem propõe o patrimônio? ....................................................................... 166

4.1.2 Os agentes envolvidos na produção do patrimônio .................................... 172

4.1.3 Os territórios e a produção do patrimônio cultural popular .......................... 181

4.2 OS TURISMOS ÉTNICOS E O CONSUMO DOS BENS CULTURAIS AFRO-

BRASILEIROS: OS TERREIROS, O ACARAJÉ E O OFÍCIO DAS BAIANAS ........ 190

CONCLUSÃO ......................................................................................................... 211

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 224

APÊNDICES ........................................................................................................... 234

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho se dedica a reconhecer e, compreender a trajetória da norma de

preservação dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras entre os anos

de 1988 e 2013, através da compreensão das dimensões simbólicas, sociais,

políticas e seus arranjos tensores nessa trajetória, partindo dos discursos

institucionais e das ações de tombamento e registro pelo IPHAN, no Brasil.

Analisa como material empírico os tombamentos e registros dos bens das culturas

populares nas cidades brasileiras, ocorridos entre 1988 e 2013 pelo IPHAN, optando

por compreender a ação do Estado, através dos seus instrumentos jurídicos, e da

produção em política pública governamental dos diversos movimentos e demandas,

como principal agente tensor da trajetória da norma de patrimonialização dos bens

das culturas populares no Brasil.

Sua estrutura compreende esta introdução e três capítulos que, através da análise

das dimensões simbólicas (capítulo 02), políticas (capítulo 03) e sociais (capítulo

04), demonstram a demonstra a trajetória da norma de preservação dos bens das

culturas populares e seus arranjos tensores, nas cidades brasileiras, no período

estudado. Nesse sentido, cada capítulo apresenta uma primeira estrutura, que

demonstra a trajetória da norma de preservação analisada em sua conjuntura

histórico-institucional e verificada através da interpretação dos indicadores

escolhidos e sistematizados nas Fichas Descritivas de Patrimonialização dos bens

culturais tombados e registrados entre1988 e 2013, e uma segunda estrutura, que

se propõe a verificar os arranjos tensoresque emergem das respectivas dimensões e

se verificam ao nível do patrimônio “dispositivo”. Por fim, encontramos a conclusão

numa perspectiva muito mais questionadora do que reveladora. Como apêndice,

podemos encontrar dessa pesquisa as Fichas Descritivas de Patrimonialização dos

bens das culturas populares registrados e tombados pelo IPHAN entre 1988 e 2013

e a Cronologia da Trajetória da Norma de Preservação das Culturas Populares nas

Cidades Brasileiras, sob o mesmo recorte temporal.

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1.1 A PROBLEMATIZAÇÃO

A construção da política preservacionista brasileira, não diferente dos demais

Estados nacionais modernos, fora entrelaçada às instituições e institutos jurídicos

sob o comando do Estado, por interesses e finalidades que atendessem a sua

manutenção e centralização do poder diante das transformações em curso, mas

também almejadasna vida social dessas nações.

A constituição do Estado nacional francês, tendo por base a Revolução Francesa do

final do século XVIII, não somente orientaria novos valores aos bens patrimônios do

novo regime francês, como também aos demais Estados que se formariam a partir

do século XIX, construindo seus valores nacionais, inclusive o Brasil.

Os valores econômicos dos bens culturais patrimônios dos antiquários certificados

pelos eruditos seriam ressignificados no processo de constituição do Estado

moderno nacional francês, após a Revolução Francesa, sobretudo pelos debates em

torno dos bens representativos do novo Estado francês e pela construção de

mecanismos administrativos e jurídicos para uma gestão pública do patrimônio

cultural francês (CHOAY, 2006).

Assim, na arrancada de 1789, todos os elementos necessários a uma autêntica política de conservação do patrimônio monumental da França pareciam reunidos: criação do termo monumento histórico e administração encarregada da conservação, dispondo de instrumentos jurídicos (inclusive disposições penais). (CHOAY, 2006, p. 120, grifo nosso).

A ideia de patrimônio cultural estaria nesse momento atrelada à construção dos

monumentos nacionais, passando a ser revestida por uma norma para proteção

desses monumentos. As construções dos instrumentos jurídicos de proteção dos

patrimônios monumentais resolveriam, a princípio, toda a eficácia e eficiência na

tutela preservacionista através dos comandos legais de fazer ou não fazer. Nesse

sentido, foram criados os órgãos estatais preservacionistas e seus respectivos

instrumentos jurídicos de proteção aos patrimônios monumentais.

No Brasil, a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

(SPHAN), em 1937, e o Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro do mesmo ano,

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transformariam consubstancialmente a tutela jurídica do Estado brasileiro em relação

aos seus bens culturais com o nascimento da Lei de Tombamento.Para além da

constituição do instrumento jurídico de proteção, classificaria os valores dos bens

patrimônios – artístico, histórico, arqueológico, paisagístico, etnográfico – com sua

inscrição no livro de tombo homônimo, perante um procedimento administrativo

discricionário, com decisão vinculada aos sujeitos notáveis do Conselho Consultivo.

A norma preservacionista, portanto, estaria assegurada pelo Estado nacional através

de um corpo administrativo público gestor e pelos instrumentos legais de proteção

aos bens culturais.

Da construção de um projeto de nação nas décadas de 1930 e 1940, à sugestão de

um valor agregado às cidades competitivas no mercado global contemporâneo, a

patrimonialização dos bens culturais no Brasiltêm, na ação do Estado, e nos seus

instrumentos jurídicos que compõem as políticas públicas de preservação, o

principal agente tensor na trajetória normativa, querpor sua condição privilegiada em

uma materialidade institucional enquanto ente da administração pública, pelo IPHAN

quanto pela sua capacidade gestora discricionária de atuação1.

A aplicação do tombamento como único instrumento de proteção aos bens culturais

no Brasil desde 1937 seguiu a orientação legal positivada de proteção à fisicidade

da coisa, orientada pela tradição francesa, construindo uma trajetória gestora no

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), conhecida como a

“política da pedra e cal” (FONSECA, 1997, p. 172), onde somente os bens de

natureza material poderiam ser protegidos, sob os critérios da autenticidade,

monumentalidade e excepcionalidade.

Diante das características dinâmicas dos bens culturais, questões como a ampliação

do conceito de patrimônio e a consequente construção de novos desdobramentos

preservacionistas (seleção, proteção e promoção) acabam por rebater nos

1 Trajetória da norma de patrimonialização – verifica-se através da compreensão de uma “não

sinonímia entre lei e norma” (FOUCAULT, 2006) de que ela, a norma, enquanto comando social estrutura-se sob conflitos e interesse múltiplos. Nesse sentido, a trajetória normativa leva em consideração as ações hegemônica e oficiais: seleção, proteção e salvaguardas; bem como a atuação de demais agentes ( sociais, econômicos, políticos) e valores imbricados (simbólicos e estéticos) tensores na produção e promoção do bem patrimonial (SANT‟ANNA, 2004a; OLIVEIRA, A., 2010).

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processos de patrimonialização, ou seja, na trajetória da norma preservacionista

brasileira.

Perante a limitação imposta pela materialidade como critério para a aplicação do

instrumento de proteção – tombamento –, procurando construir uma política de

proteção aos demais bens culturais que não poderiam ser protegidos por esse

instrumento, desde a criação do IPHAN na década de 1930, a nomenclatura de bens

culturais intangíveis ou imateriais seria somente adotada no Brasil como conceito

que orientaria as políticas institucionais de proteção e promoção aos bens

intangíveis a partir de 2000. Assim, o tombamento e o registro constituem os

principais instrumentos de proteção aos bens culturais brasileiros, representando

objetivamente a atuação do Estado na trajetória da norma de preservação dos bens

culturais no Brasil.

Nesse sentido, ao tentarmos compreender as novas questões que emergem na

produção contemporânea dos patrimônios culturais brasileiros, colocamos o desafio

de compreender como a cultura popular vem sendo problematizada no campo da

proteção dos bens culturais no Brasil e de sua patrimonialização na trajetória da

norma preservacionista, em particular, a partir da Constituição Federal de 1988,

como marco regulador de novos direitos culturais no Brasil.

Assim, a ideia do Estado como principalagente tensor “normativo” remete-nos tão

logo à compreensão da existência de outros agentes tensores atuando na produção

da norma preservacionista percebida, sobretudo, pelas características dinâmicas

que os bens culturais populares possuem, com suas múltiplas referências,

interações, e inserções, desdobradas sobre as diversas dimensões humanas e suas

representações simbólicas, sociais e políticas.

A compreensão dos processos de patrimonialização das culturas populares nas

cidades brasileiras pós-1988, a partir da análise das dimensões variadas da

trajetória da norma preservacionista conquanto política pública de gestão e proteção,

constitui um caminho possível no entendimento da interação que se estabelece

entre os aparelhos de Estado e a sociedade e/ou os demais agentes tensores na

patrimonialização da cultura popular.

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1.2 AS REFERÊNCIAS TEÓRICAS

1.2.1 Tramas normativas

A construção de uma trajetória da norma de patrimonialização como trabalho de

revisão historiográfica no campo do estudo da norma de preservação do patrimônio

cultural nas cidades (SANT‟ANNA, 1995; 2004; OLIVEIRA, A., 2010) apresenta-se

como importante estudo sobre a norma, haja vista a compreensão de uma trama

normativa na construção das práticas preservacionistas, reconhecendo o patrimônio

cultural como “dispositivo de poder” (FOUCAULT, 2006) na “maquinaria

patrimonializante” (JEUDY, 2005), dentro de um importante campo de embates.

Através do entendimento de um não sinônimo entre lei e norma (FOUCAULT, 2005)

e do reconhecimento de que a norma enquanto comando social é tensionado por

interesses múltiplos, a ideia do patrimônio cultural enquanto “dispositivo de poder”

estrutura-se através do entendimento de que o poder não se situa em um ponto só

podendo, portanto, ser exercido através de relações. “Rigorosamente falando, o

poder não existe; existem sim práticas ou relações de poder. O que significa dizer

que o poder é algo que se exerce, que se efetua, que funciona.” (FOUCAULT, 2005,

p. XIV).

[...] o patrimônio é produto de um dispositivo de poder que tem como objetivo principal criar um padrão de conduta com relação a determinados objetos e práticasaos quais se atribuiu um valor especial. Assim, o patrimônio, como entidade totalizadora dos bens que narram a história e identificam a cultura de um grupo ou de uma nação, não existe como algo pronto – é uma construção social permanente. (SANT‟ANNA, 2004).

Assim, as permanentes transformações em torno do “patrimônio-dispositivo”, e os

tensionamentos que se estabelecem nos processos de patrimonialização da cultura

brasileira, indicam-nos que essas forças desdobram-se ou estão entrelaçadas às

dimensões simbólica, política e social, em que os exercícios dos tensionamentos

podem ocorrer em maior ou menor grau.

Ainda de modo a melhor percebermos o quanto o patrimônio cultural configura-se

como um precioso “dispositivo”, convém compreendermos a utilização desse

conceito segundo as palavras de Foucault (2005, p. 244):

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Através desse termo tento demarcar, em primeiro lugar, um conjunto decididamente heterogêneo, que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos [...]. O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre estes elementos. Em segundo lugar, gostaria de demarcar a natureza da relação que pode existir entre estes elementos heterogêneos. Sendo assim, tal discurso pode aparecer como programa de uma instituição [...]. O dispositivo tem, portanto, uma função estratégica dominante.

O poder, bem como os mecanismos e técnicas de exercício desse poder, não se

situam, exclusivamente, nas mãos do estado, ou seja, percebe-se uma “concepção

não-jurídica de poder” (FOUCAULT, 2005, p. XII).Assim, segundo Sant‟Anna (2004,

p. 8), “[...] Foucault contrapõe outra concepção de poder e reivindica uma vontade

analítica do poder que não tome mais o direito como modelo e código”.

O estado funcionaria com um mecanismo específico, uma estrutura dentro de um sistema de poderes. Não o sistema de poder funcionando como mecanismo criado e controlado pelo Estado através da divisão desse sistema e do poder contido na perspectiva da divisão de poderes do Estado moderno [...] Foucault, ao procurar analisar o exercício do poder para além da máquina estatal e do discurso jurídico, ou seja, por meio de práticas sociais e para além da lei, reconhece a antijuridicidade da norma. Procurando evidenciar a relação que pode existir entre os elementos heterogêneos não jurídicos na composição da norma social, Foucault utiliza o conceito de „dispositivo‟ para definir uma rede que se estabelece entre esses elementos. (OLIVEIRA, A., 2010, p. 19).

Nesse sentido, a trajetória da norma preservacionista observada a partir das

políticas públicas de seleção, proteção e promoção tuteladas pelo Estado brasileiro,

em torno do “dispositivo” patrimônio, constitui valioso campo temático de pesquisa,

observando tanto o seu caráter normativo, quanto as possibilidades de

reconhecimento dos elementos heterogêneos e dos tensionamentos que se

desdobram nos jogos de poder.

Na produção acadêmica levantada, poucos são os trabalhos que, até o momento,

utilizam o referencial foucaultiano como substrato analítico do patrimônio.Por outro

lado, a maior parte dos estudos no Brasil, mesmo aqueles que se utilizam da

perspectiva das relações de poder no âmbito institucional e estrutural do estado

(regulador e gestor) na análise do patrimônio cultural, debruça-se sobre o patrimônio

material. Acreditamos aqui poder contribuir em duas direções: através da análise dos

processos de registro dos “bens imateriais” no Brasil e dos “bem materiais”

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tombados como “referências” às culturas populares e tradicionais; e, ainda, através

da patrimonialização, problematizada através da análise de três dimensões da

norma de preservação: os valores e referências que comporiam os processos de

seleção; dos sujeitos ou grupos sociais produtores e reprodutores dos bens culturais;

bem como dos pactos e critérios para a proteção dos bens culturais e seus

instrumentos de tombamentos, registros e inventários.

Nesse sentido, indagar a trajetória da norma de preservação das culturas populares,

decerto, constituiobjeto capaz de transversalizar a materialidade e imaterialidade

presente na norma preservacionista, buscando compreender e questionar os

arranjos tensores das políticas preservacionistas brasileiras.

1.2.2 Culturas Populares

A literatura quanto à patrimonialização da cultura popular é muito pontual (CORREA,

2004; ROCHA, Gilmar, 2009) e os estudos sobre sua direta relação com as cidades

brasileiras é inexistente. As principais abordagens em torno das culturas populares e

da gestão cultural no Brasil remetem aos desdobramentos ocorridos ao longo da

trajetória do IPHAN, sem um foco estabelecido na patrimonialização destes bens

(MAGALHÃES, 1982; 1985; FONSECA, 1997; 2001; 2003; OLIVEIRA, 2000;

SANT‟ANNA, 1995; 2003; 2004; 2009; LIMA FILHO, 2009; PENTEADO JÚNIOR,

2010; CAVALCANTI, 2012; e SOARES, 2014).

Os estudos do conceito ou das ideias de cultura popular no Brasil perpassaram,

sobretudo, por abordagens históricas, antropológicas, sociológicas e, mais

recentemente, políticas. Procuraremos explorar algumas das abordagens em torno

da ideia de cultura popular, priorizando, sobretudo, sua relação com a construção de

uma práxis preservacionista e/ou mesmo patrimonializante e enfatizando sua relação

com as cidades brasileiras.

Dentre os possíveis desdobramentos discursivos sobre a cultura popular, as

abordagens dialéticas entre tradição e modernidade assumiriam o cenário sob uma

orientação baseada, sobretudo, nas ideias de classes que polarizavam os conceitos

de popular e erudito. Como bem demonstra Ferreti (2007), a dialética estabelecida

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entre os valores atribuídos à cultura, enquanto popularou erudita, acabaria por

basear-se nos conceitos de ideologias ou classes sociais como elemento definidor

desses valores. Ou seja, a valorização da cultura erudita como produto das elites,

alçando a cultura popular como instrumento de oposição às elites (GRAMSCI, 1978

apud FERRETI, 2007); como prática produtiva de uma classe subalterna,

instrumento de reflexão política e identitária, uma vez que a cultura popular supõe a

existência de uma cultura dominante, assumindo, portanto, um caráter contestador

da universalidade das elites e demonstrando o caráter híbrido das culturas populares

(CANCLINI, 1983; 1997).

Numa perspectiva mais historicista, Cavalcanti (1992; 2001; 2002) nos mostra que

os estudos e formulações em torno de um conceito de cultura popular, não somente

no Brasil, iniciam-se com os chamados “estudos folclóricos”,nos quais um sistema

de classificação cultural com forte carga valorativa compreenderia as distâncias que

se estabelecem entre os produtos e o consumo cultural das elites e do povo. A

trajetória dos estudos folclóricos, no Brasil, teria como principais precursores Silvio

Romero2, Amadeu Amaral3 e Mário de Andrade4.Este último, enquanto um dos

principais pensadoresmodernos da cultura popular brasileira, compreende a cultura

popular não somente comoum bem cultural, mas também como um patrimônio

nacional, pronto para educar e construir uma nação, necessitando, para tanto, de

uma política nacional de reconhecimento, proteção e promoção da cultura popular

para as cidades brasileiras.

Podemos citar ainda, como importantes estudiosos e promotores do folcloree da

cultura popular no Brasil, na primeira metade do século XX: Mário de Andrade,

Cecília Meireles, Câmara Cascudo, Gilberto Freyre, Artur Ramos, Manoel Diegues

2“Silvio Romero (1851-1914) celebrizou-se pelas coletas empreendidas na áreas da literatura oral e

pelo desejo, de origem positivista, de uma visão mais científica e racional da vida popular”. (CAVALCANTI, 2002). 3“Amadeu Amaral (1875-1929) enfatizava a necessidade de uma coleta cuidadosa das tradições

populares, e empenhava-se pelo desenvolvimento de uma atuação política em prol do folclore, visto como depositário da essência do ser nacional”. (CAVALCANTI, 2002). 4 Mário de Andrade (1893-1945) procurou reconhecer e compreender o folclore em estreito diálogo

com as ciências humanas e sociais então nascentes no País. Para ele, o folclore, expressão da nossa brasilidade, ocupava um lugar decisivo na formulação de um ideal nacional.(CAVALCANTI, 2002).

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Junior, Renato Ribeiro5 e Edison Carneiro, como catalisadores de um grande

“Movimento Folclórico” 6 no Brasil, que culminaria na “Comissão de defesa do

Folklore Brasileiro”, em 1947,comoresultado das recomendações da recém criada

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

(UNESCO), tornando-seo principal e primeiro elemento desencadeador de uma

política brasileira de preservação da cultura popular.

À beira ou à margem das políticas de preservação cultural no Brasil pelo Serviço do

Patrimônio, o folclore evocava, ainda, algumas discussões conceituais, desdobradas

em uma possível definição para a ideia de cultura popular, tendo como ponto de

partida dois importantes elementos constituintes: a sociabilidade na produção e

reprodução do bem cultural, “o que se transmite porque é vivo e assim conservado

pelo constante processo de criação dentro da própria cultura” (ALMEIDA, 1976) e a

ideia de tradição e suas múltiplas construções e conexões semânticas junto às

culturas populares: antigo, atrasado, resistência/persistência, sobrevivência e

reprodutibilidade. Nesse sentido, tendo como principal crítica a ideia de tradição,o

caráter dinâmico dos bens culturais designaria o termo de cultura popular como mais

adequado, em detrimento, por exemplo, da ideia de cultura tradicional: “pensar a

cultura popular como sinônimo de „tradição‟ é reafirmar constantemente a ideia de

que a sua idade de ouro deu-se no passado” (ARANTES, 1981).

No entanto, a partir da década de 1960 e 1970, no Brasil, os estudos e as

construções em torno do conceito de folclore acabariam por estabelecer um cunho

mais político à tensão conceitual, quer pela realidade político-institucional imposta

por um regime político de exceção caracterizado por uma ditadura militar,quer pelas

influências do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), criado em 1955. E

também pelo rompimento da ideia da cultura popular com o “passado”, atentando

para o seu potencial transformador do futuro, onde movimentos urbanos como os

Centros de Cultura Popular (CPC), braço da União Nacional dos Estudantes e criado

em 1961,no Rio de Janeiro, e o Movimento de Cultura Popular (MPC), instituição

5 Cf. CAVALCANTI (2001).

6 Nesse sentido, cf. VILHENA (1997). Obra que é referência fundamental na compreensão do

Movimento Folclórico no Brasil.

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sem fins lucrativos, criada em 1960, no Recife, atentariam ao caráter transformador

e revolucionário da cultura popular. Como bem demonstra Lúcia Oliveira (1992, p.

72): “A identidade entre folclore e cultura popular se rompe no ISEB. Folclore passa

a ser o passado; cultura popular, transformação. Cultura popular passou a significar

um meio para atingir determinado fim, dar consciência ao povo”. Esse momento e

esse pensamento histórico sobre a cultura popular como elemento de transformação

social embasado, sobretudo, por uma luta de classes também urbana podem muito

bem ser representados pelo Teatro e pela música do Movimento Armorial,

capitaneado por Ariano Suassuna7; pela literatura revolucionária de Ferreira Gullar8;

ou pelo Cinema Novo, emblematicamenterepresentado por Glauber Rocha, e sua

obra “Deus e o Diabo na Terra do Sol” 9.

Importante ainda percebermos a direta relação dos processos de construção e

sedimentação de uma cultura popular brasileira e os processos de urbanização que

alcançariam o Brasil, sobretudo após a década de 1950, onde grande número de

trabalhadores do campo começam a ocupar as cidades, não somente como mão de

7 “O Movimento Armorial surgiu sob a inspiração e direção de Ariano Suassuna, com a colaboração

de um grupo de artistas e escritores da região Nordeste do Brasil e o apoio do Departamento de Extensão Cultural da Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários da Universidade Federal de Pernambuco.[...] Foi lançado oficialmente, no Recife, no dia 18 de outubro de 1970. Seu objetivo foi o de valorizar a cultura popular do Nordeste brasileiro, pretendendo realizar uma arte brasileira erudita a partir das raízes populares da cultura do País. Segundo Suassuna, sendo "armorial" o conjunto de insígnias, brasões, estandartes e bandeiras de um povo, a heráldica é uma arte muito mais popular do que qualquer coisa. Desse modo, o nome adotado significou o desejo de ligação com essas heráldicas raízes culturais brasileiras. O Movimento tem interesse pela pintura, música, literatura, cerâmica, dança, escultura, tapeçaria, arquitetura, teatro, gravura e cinema”. (GASPAR, 2015). 8 “José Ribamar Ferreiraou Ferreira Gullar, nascido em São Luis do Maranhão em 1930, participou do

movimento da poesia concreta na década de 1950, e em 1956 participou da exposição concretista que é considerada o marco oficial do início da poesia concreta, tendo se afastado desta em 1959, criando, junto com Lígia Clark e Hélio Oiticica, o neoconcretismo, que valorizava a expressão e a subjetividade em oposição ao concretismo ortodoxo. Posteriormente, ainda no início dos anos de 1960, se afastará deste grupo também, por concluir que o movimento levaria ao abandono do vínculo entre a palavra e a poesia, passando a produzir uma poesia engajada e envolvendo-se com os Centros Populares de Cultura (CPC). Ferreira Gullar foi militante do Partido Comunista Brasileiro e, exilado pela ditadura militar, viveu na União Soviética, na Argentina e Chile”. (FERREIRA GULLAR, 2015). 9 “Glauber Rocha – Deus e o Diabo na Terra do Sol. Rio de Janeiro, 1964. Eu parti do texto poético. A

origem de „Deus e o Diabo...‟ é uma língua metafórica, a literatura de cordel. No nordeste, os cegos, nos circos, nas feiras, nos teatros populares, começam uma história cantando. Toda minha formação foi feita nesse clima. O argumento de Deus e o Diabo na Terra do Sol é uma síntese de fatos e personagens históricos concretos (o cangaço e o mandonismo local dos coronéis no Nordeste, o beatismo ou misticismo de base milenarista, a literatura de Cordel, Lampião e Corisco.” (ROCHA, Glauber, 2015).

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obra necessária às políticas desenvolvimentistas em curso, mas também ocupando

o território com toda uma cultura popular que passa a se reproduzir também no

ambiente urbano. Claras e preciosas são as observações apreendidas por José

Carvalho (2000, p. 23) quanto aos processos de apreensão pelas cidades dos novos

velhos bens culturais brasileiros:

Sobre os efeitos da urbanização, no Brasil, a relação demográfica entre campo e cidade se inverteu nos últimos vinte e cinco anos e hoje setenta por cento da população vive em cidades. Com isso a chamada cultura camponesa, que sempre foi o foco da atenção dos estudiosos de folclore, talvez não venha a representar, em termos sociológicos a parte majoritária da cultura popular, Alem disso, passa a existir, também, um grande circuito de cultura rural nas cidades, na medida em que números grupos transplantados do interior são refeitos (e sua cultura, obviamente, reinterpretada) no meio metropolitano. Assim, vários símbolos que, no campo, funcionam como fortes elementos de caracterização e consolidação da identidade camponesa, passam a ser, na urbe, celebrações do estilo camponês da vida, levadas a cabo por grupos que agora são urbanos. Esse complexo jogo de deslocamentos por que passam os símbolos tradicionais no mundo urbano deve ser ainda melhor compreendido.

A despeito de toda uma crescente visibilidade em torno do folclore, seus

desdobramentos institucionais como a Campanha de defesa do Folklore Brasileiro,

em 195810; e de pesquisas, sobretudo pelos Congressos regionais, nacionais, e

internacional de Folclore, realizados a partir da década de 1950; e literários, através

da Revista Brasileira de Folclore que circulou entre 1961 e 1976, o folclore não

conseguia se estabelecer como um conceito, objeto ou ideia patrimonializante, alvo

de uma política preservacionista. E isto, quer pelas próprias dúvidas institucionais e

operacionais em torno da preservação desses bens culturais; quer pela opção clara

de uma patrimonialização monumental da “pedra e cal”, amparados em valores

artísticos e históricos, presos à fisicidade da coisa; quer, ainda, pela manutenção de

um conceito de produção de bens da cultura popular atrelado às ideias de

tradição/passadismo/ultrapassado como forma de dominação de uma classe em

detrimento de outra, buscando uma homogeneização dos bens e do consumo

10

A Campanha vira Instituto Nacional do Folclore, vinculado à FUNARTE, em 1976; o Instituto Nacional do Folclore torna-se Coordenação de Cultura Popular, vinculada à Fundação Nacional Pró-Memória (FNPM), em 1979; em 1997, a Coordenação é transformada em Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP), vinculado à FUNARTE; e somente em 2003 o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) passa a integrar a estrutura do IPHAN.

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cultural com a nascente industria cultural e sua cultura de massa como um dos

principais fenômenos da sociedade contemporânea.

No entanto, a partir dos anos 1970, sobretudo a partir da expansão dos chamados

“estudos culturais”, ocorreria uma orientação à “convicção de que a maioria

dosdesafios do mundo contemporâneo ganham ao ser questionados pelo prisma da

cultura” (MATTELART; NEVEU, 2004, p. 17)”. A cultura, observada como objeto de

estudo, sobretudo em sua realidade social contemporânea, produzia “trabalhos que

se estendem gradualmente para componentes culturais ligados ao „gênero‟, à

„etnicidade‟, ao conjunto das práticas de consumo” (Ibidem, p. 14).

Trata-se de considerar a cultura em sentido amplo, antropológico, de passar uma reflexão centrada sobre o vínculo cultura-nação para uma abordagem da cultura dos grupos sociais. Mesmo que ela permaneça fixada sobre uma dimensão política, a questão central é compreender em que a cultura de um grupo, e inicialmente a das classes populares, funciona como contestação da ordem social ou, contrariamente, como modo de adesão às relações de poder. (MATTELART; NEVEU, 2004, p. 13).

As possíveis interpretações acerca dos desdobramentos dos “estudos culturais”

constituíram-se numa tarefa acadêmica cotidiana e reiterada. Amparados pelas

condições diversas e plurais, tanto metodológicas, na construção dos objetos de

estudos, e políticas, na busca por uma produção teórica que estivesse colada ao

diálogo na construção de direitos culturais, a cultura popular destaca-se, muito mais

através de uma abordagem classista, que se desdobra pela ideia de “cultura de

massa” e sua direta relação com as “indústrias culturais” (MATTELART;NEVEU,

2004).

A ideia de um pluralismo cultural como desdobramento dos estudos culturais, a

tensão produzida entre países quanto às suas identidades culturais populares não

reconhecidas no campo patrimonial, e a direta relação entre a apropriação e

expropriação dessa cultura popular pela indústria cultural, seriam muito bem

observadas pelo argentino Néstor Canclini (1987), em diversas de suas obras, mas

objetivamente tratadas no documento “La carta del Folklore Americano y la política

cultural em los 80”.

Para Canclini, a troca de uma visão substantiva e ortodoxa da cultura popular por

uma abordagem mais complexa, levando em consideração as questões dinâmicas

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que essas culturas apresentam,expõe os problemas que ameaçariam a própria

constituição e manutenção dessas culturas populares: A produção de uma cultura de

massa, incorrendo numa expropriação da cultura popular pela indústria cultural e sua

reprodução pelos meios de comunicação de massa, a promissora indústria do

turismo, e o crescente processo de urbanização das cidades, onde novas formas de

sociabilidade, representadas, sobretudo, nas novas formas culturais que se

estabelecem, são capazes de sintetizar e integrar diversos elementos simbólicos da

cultura popular urbana.

No Brasil, a reorientação conceitual em torno da ideia de folclore e cultura popular é

construída em 1995, no VIII Congresso Brasileiro de Folclore, realizado em

Salvador, na Bahia, tendo como um dos seus objetivos uma releitura da Carta do

Folclore Brasileiro11, ficando, portanto, assim redefinido o conceito de Folclore:

Folclore é o conjunto das criações culturais de uma comunidade, baseada nas suas tradições expressas individuais ou coletivamente, representativas de sua identidade social. Constituem-se fatores de identificação da manifestação folclórica: aceitação coletiva, tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade. Ressaltamos que entendemos o folclore e cultura popular como equivalentes, em sintonia com o que preconiza a UNESCO. (COMISSÃO NACIONAL DO FOLCLORE, 1995, p. 1).

Diante dessa reorientação conceitual em torno do folclore e dos bens culturais

populares, as ideias sobre a cultura popular encontram no texto “Cultura Popular e

Políticas Públicas”, de Cláudia Márcia Ferreira (2001), a partir de uma fala

institucional e, portanto, formação discursiva normativa estatal, adotada pela

principal instituição brasileira de pesquisa, preservação e difusão do folclore e da

cultura popular, o Centro Nacional do Folclore e Cultura Popular (CNFCP), uma

sofisticada ressignificação conceitual, levando em consideração a operacionalização

de políticas públicas à cultura popular.

Entendendo o folclore como os modos de agir, pensar e sentir de um povo, ou seja, como expressão da cultura desse povo, o CNFCP considera equivalentes as expressões folclore e cultura popular. O universo abrangido por essas duas expressões é vastíssimo, e isso não só pela diversidade de itens que aí se inscrevem, como pelo caráter plural, intrínseco às manifestações culturais. [...] Apenas por razões operativas mantém-se, assim, no singular, a expressão cultura popular, embora se reconheça a

11

Documento resultante do I Congresso Brasileiro de Folclore, realizado no Rio de Janeiro, de 22 a 31 de agosto de 1951.

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existência de tantas culturas quanto são os grupos que as concretizam.[...] O adjetivo popular não designa, por sua vez, uma categoria indistinta de manifestações niveladas por oposição às que são chamadas eruditas.[...] O tradicional não é resíduo do passado, e, sim, um conjunto de práticas sociais e culturais presentes, que se reproduzem por meio do trabalho e do poder de recriação de seus agentes, constituindo sua identidade cultural (FERREIRA, 2001).

Não por acaso, segundo Gilmar Rocha (2009), a partir da década de 1990, o

conceito de patrimônio imaterial viria quase a tornar-se sinônimo de cultura popular,

sobretudo pelas políticas institucionais de preservação que se desenvolviam no seio

do IPHAN.

Dessa forma, a construção de uma política para a proteção da cultura popular

centralizava-se na construção de uma política para os bens intangíveis e sua

proteção como patrimônios imateriais, o que se tornaria evidente e robusto na

década seguinte.

Apesar de todo o avanço e ampliação do significado de cultura e das reflexões epistemológicas desenvolvidas no campo do pensamentoantropológico contemporâneo, o conceito de patrimônio imaterial anda parece direcionado, tendencialmente, para o lado da cultura popular. (ROCHA, Gilmar, 2009, p. 229).

A polissemia da ideia de cultura popular parece indicar um não consenso conceitual

institucional, seja pela sociedade civil, através da resistente “Comissão Nacional do

Folclore” e suas Comissões regionais, discutidano XVII Congresso Brasileiro de

Folclore, realizado em 2015, na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais;seja mesmo

pelo discurso mais amplo e inclusivo do CNFCP, atualmente pertencente à estrutura

administrativa do Departamento de Patrimônio imaterial (DPI), do IPHAN; seja ainda

pelas pesquisas acadêmicas desenvolvidas nos mais diversos grupos de pesquisas

que atuam direta ou indiretamente com a temática da cultura popular.

Cabe ainda salientar que, na busca por referenciais teóricos, não conseguimos

acessar estudos que atuem transversalmente aos bens culturais populares, diluindo

as barreiras da materialidade e da imaterialidade.

Assim, utilizaremos ao longo de nossa pesquisa o conceito de culturas populares

como as culturas produzidas pelo povo, ou seja: um conjunto de práticas sociais e

culturais que se produzem e se renovam por meio do trabalho e de relações de

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sociabilidade, sensorialidade e crenças, e estabelecem nexos profundos com o

círculo social de onde emergem e instigam aproximações com outros universos

sócias e culturais. Temos por base as ideias Cláudia Márcia Ferreira, diretora do

CNFCP, onde os conceitos de “folclore” e “tradição” configuram-se como elementos

constitutivos das culturas populares.

Além dessa breve demonstração conceitual, mas fundamentala nosso ver, o

entendimento do percurso sobre o conceito de cultura popular e seu universo de

significações também constitui importante à compreensão dos arranjos institucionais

que operam os instrumentos jurídicos do Estado, uma vez estatuinte e operador da

norma no sentido restrito de lei e de poder público executivo.

Nesse sentido, fez-se necessário o estudo dos antecedentes e seus arranjos

institucionais à proteção da cultura popular como patrimônio cultural brasileiro,

orientado pela trajetória da norma preservacionista.

1.3 OS ANTECEDENTES INSTITUCIONAIS E SUA CONTEXTUALIZAÇÃO

HISTÓRICA

A construção de um ideário patrimonialista no Brasil data do início do século XX,

como uma série de tentativas em estabelecer um aparato jurídico-institucional que

orientasse as políticas preservacionistas no Brasil12.Nesse momento histórico,são

debatidas e construídas as principais orientações para uma política cultural

institucional brasileira, com maior ênfase na década de 1930, momento

circunstancial de elaboração e implementação de diversos órgãos públicos federais

no Brasil.

Ainda na década de 1930, a valorização da cultura brasileira e sua importância na

constituição de um “Estado Novo” passariam pela concepção de um projeto de

nação. Não por coincidência, a década de 1930 também é marcada pela

12

Cf. SANT‟ANNA (1995). A autora descreve os sucessivos projetos construídos até a construção do Decreto-Lei nº 25/1937.

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30

institucionalização da Sociologia no Brasil como campo científico e de formação

acadêmica, com a criação da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, em

1933; e com a criação da Seção de Sociologia e Ciência Política da Faculdade de

Filosofia da Universidade de São Paulo, em 1934. A busca por uma suposta

identidade nacional na Sociologia seria contemplada com a associação do ensino à

pesquisa, sobretudo a partir de 1936 (LIEDKE FILHO, 2005), revelando Brasis ainda

desconhecidos.

Um pensamento ideológico dominante entre os que compunham e comporiam as

instituições públicas orientaria as políticas de preservação no Brasil: o modernismo.

Ainda que o ideário modernista brasileiro não apresentasse uma unidade de

pensamento estético ou político, embora estivesse distribuído por quase todas as

linguagens artísticas expoentes desde a década de 1920, entre dissensos e

consensos, o espírito ufanístico, como exaltação aos elementos constitutivos de

nossa cultura em detrimento da cultura desenvolvida em países europeus

hegemônicos, traduzidos por uma perspectiva antropofágica, pela “fome e

deglutição” dos elementos históricos, estéticos, e culturais brasileiros, como forma

de construção de uma identidade de nação através da produção cultural

genuinamente brasileira, orientaram, inicialmente as ações no campo da cultura

(LINS, 2009; ORTIZ, C. 2012).

Por entre conceitos difusos e ideias inovadoras, a construção do aparato

institucional e da norma preservacionista brasileira seria marcada, essencialmente,

por dois eventos: o projeto de uma Instituição, proposto pelo modernista Mário de

Andrade para reconhecimento e proteção dos bens culturais brasileiros, embebido

de todo um caráter vanguardista; bem como o Decreto-Lei Nº 25 de 193713, que

instituiria o instrumento do tombamento como instrumento de proteção ao patrimônio

cultural brasileiro, organizando um procedimento para preservação dos bens

culturais. Em 1936, o Ministro Gustavo Capanema solicita ao intelectual e artista

modernista Mário de Andrade um anteprojeto14 para a organização do órgão federal

13

Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/legislacao/Decreto_25_de_30_11_1937.pdf>. Acessoem: 25 jul. 2014. 14

Cf. ANDRADE (1981).

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de preservação dos bens culturais, que atuaria na esfera de competência do

Ministério da Educação e Saúde (MES). O anteprojeto de Mário de Andrade

apresentava características peculiares, aproximando-o daquilo que hoje poderíamos

denominar de cultura popular, entretanto, unificando pelo conceito de arte as

manifestações populares e eruditas como bem culturais de igual valor e referência

para a construção de uma identidade nacional. Dessa forma, Mário de Andrade

propunha a construção de um entendimento de proteção legal a partir do bem

cultural e não a adequação do bem cultural às proteções legais vigentes em outros

países.

A novidade do seu trabalho residia no fato de que ele não ficava preso às formas de proteção legal já consagradas na Europa, destinadas somente à proteção de monumentos históricos e obras de arte. O poeta modernista criou uma nova ideia de patrimônio, que envolvia o registro de manifestações culturais de natureza variada, que poderia ter gerado uma nova matriz legal completamente original se houvesse havido a intenção de traduzi-la juridicamente. (SANT‟ANNA, 1995, p. 83).

A concepção mais abrangente de Mário de Andrade sobre o patrimônio cultural

consegue, em um primeiro momento, alguns desdobramentos práticos.

Otombamento etnográfico do então denominado Museu da Magia Negra15, no Rio de

Janeiro, em 1938, bem como o tombamento com inscrição dupla nos livros do tombo

das Belas Artes e Histórico, dos Morros da Cidade do Rio de Janeiro16, apesar de

não mencionarem a cultura popular como elemento valorativo constituinte do

processo de patrimonialização, constróem importantes relações entre os valores e

referências da cultura popular e os bens protegidos pelo tombamento, sobretudo,

pela representação do valor etnográfico na coisa: nos objetos tombados como

Museu da Magia Negra e na arquitetura vernacular dos Morros no Rio de Janeiro.

Apesar de o projeto de Mário de Andrade ocupar-se e preocupar-se com a

preservação dos elementos da cultura popular brasileira, importantes bens

constituintes do processo de formação de nossa sociedade, o entendimento e as

práticas preservacionistas que tomariam corpo após a instituição do SPHAN, bem

15

Cf. BRASIL. IPHAN. Processo de tombamento Nº 035, de 1938. Coleção: Museu de Magia Negra. Rio de Janeiro / Rio de Janeiro. 16

Cf. BRASIL. IPHAN. Processo de tombamento Nº 099, de 1938. Morros da Cidade do Rio de Janeiro –Rio de Janeiro / Rio de Janeiro.

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como após o Decreto-Lei nº 25/37, não atenderiam de forma institucionalizada à

preservação da cultura popular. Esta, por sua vez, encontraria em outros meandros

e articulações institucionais a possibilidade de fortalecimento enquanto referência

cultural brasileira. No entanto, ela seria operacionalizada marginalmente ao órgão

preservacionista e traduzida num primeiro momento, pela ideia de Folclore.

A Comissão Nacional do Folclore (CNFL), criada em 1947, vinculava-se ao Instituto

Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBECC), através de uma articulação

direta entre o então Ministério do Exterior e a UNESCO17, no contexto do

pósSegunda Guerra Mundial. Importa demonstrar o papel articulador de Renato

Soeiro, intelectual modernista brasileiro, na institucionalização da CNFL no seio do

Ministério do Exterior, como chefe do Serviço de Informações no Itamaraty. “O

Folclore era visto como um instrumento de compreensão entre os povos, […]

permitindo a construção de identidades diferenciadas entre os povos”

(CAVALCANTI, 2012, p. 104) e o Brasil seria o primeiro país a institucionalizar tais

preceitos através da Comissão. Segundo Reis (2008), a Comissão teria como

principal objetivo “o registro e proteção das manifestações folclóricas”. Segundo

Cavalcanti (2012) esse importante marco do Movimento Folclorista Brasileiro (MFB),

a CNFL, acabaria por realizar, entre 1948 e 1964, quatro Semanas Nacionais do

Folclore18, cinco Congressos Brasileiros de Folclore19 e um Congresso Internacional,

em 1954, na cidade de São Paulo, incorrendo em importantes desdobramentos ao

campo do folclore, sobretudo aqueles de cunho conceitual, científico e político-

institucional. A Carta do Folclore Brasileiro, em 1951, definindo o conceito de “Fato

Folclórico” e seu estudo, bem como o Plano Nacional de Pesquisa Folclórica e sua

orientação preservacionista e educacional, constituem documentos importantes da

consolidação de uma política ao folclore brasileiro20. Ainda, importa demonstrar que

a CNFL constitui uma sólida estrutura institucional, com representação em quase

todos os estados brasileiros, muito semelhantes à que hoje possui o IPHAN,

17

Criada em 1946. 18

Rio de Janeiro, 1948; São Paulo, 1949; Porto Alegre, 1950; e Maceió, 1952. 19

Rio de Janeiro, 1951; Curitiba, 1953; Salvador, 1957; Porto Alegre, 1959; e Fortaleza, 1963. 20

Cf. CAVALCANTI, 2012.

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conseguindo grande capilaridade nas políticas públicas que se iniciavam no campo

do folclore brasileiro.

A rede nacional constituída pela CNFL e as comissões estaduais se fazia visível por meio das semanas e congressos dos folclores. […] Esses encontro serão espaços de dimensões múltiplas: além dos fóruns de debates, incluíam apresentações folclóricas, culinária, bem como exposições, cuja proposta era de que servissem de embrião para instalação de futuros museus sobre o tema (BRASIL, 2008a, p. 14).

A década de 1950 seria marcada, na administração pública brasileira, pela

institucionalização das “Campanhas” enquanto ação frente a “ideias de urgências”

(CAVALCANTI, 2012, p. 111).Ainda segundo essa autora, “a década de 1950 foi

particularmente ativa do ponto de vista da organização de eventos agregadores e do

surgimento de iniciativas em prol da institucionalização” (Ibidem, p. 108). Nesse

sentido, no ano de 1958, o então Presidente brasileiro Juscelino Kubitscheck criaria

a Campanha em Defesa do Folklore Brasileiro (CDFB), no então Ministério da

Educação e Cultura (MEC), “[…] com verbas próprias e autonomia para a assinatura

de convênios” (Ibidem, p. 108).

A importância da CDFB numa perspectiva institucional do folclore como política

pública é reconhecida até os dias atuais. Em entrevista21, a Srª Cláudia Márcia

Ferreira, atual Diretora do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, é enfática

em estabelecer a importância da Campanha, quando da sua avaliação da trajetória

no plano institucional de políticas públicas ao folclore: “Nós somos a Campanha, que

se estende até os nossos dias sob a definição de Centro Nacional de Folclore e

Cultura Popular”22.

Pela gestão da CDFB, passariam importantes personalidades, tendo a figura de

Edison Carneiro como o principal expoente. Cronologicamente, a gestão da

Campanha inicia-se em 1958, com Mozart de Araújo, permanecendo na diretoria-

executiva até 1961, quando então assume Edison Carneiro. O principal

desdobramento institucional da gestão de Mozart de Araujo seria a criação da

21

Depoimento colhido em entrevista ao autor do presente trabalho, concedida no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular em 6 de setembro de 2014. 22

Ibidem.

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Biblioteca Amadeu Amaral23, em 1961, com um acervo inicial de 800 documentos,

chegando aos dias atuais com um acervo de 200 mil documentos distribuídos em

hemeroteca, cordelteca, acervos sonoros e visuais e arquivos institucionais24.

Edison Carneiro25 assume a diretoria-executiva da CDFB em 1961, permanecendo

até 1964, quando é afastado do cargo por ser militante do Partido Comunista

Brasileiro.

Com sua saída ocorre uma ruptura no trabalho que vinha sendo realizado: uma longa pausa entre o V e o VI Congresso Brasileiro de Folclore, ocorridos em 1963 e 1970, e a interrupção das negociações para a criação do Instituto Nacional do Folclore. (BRASIL, 2008a, p. 28).

Um dos principais feitos da gestão de Edison Carneiro foi conseguir estabelecer o

início de uma capilaridade de preservação museal do folclore através da

institucionalização de museus nos estados da federação; política reiterada como

principal atuação político-institucional pelo seu sucessor, Renato Almeida, devido às

adversidades advindas do Golpe Militar de 1964.

No período entre 1954 e 1976 foram criados quarenta e quatro museus de folclore pelo país afora, com o apoio e incentivo da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro – e certamente todos eles foram utilizados como ferramentas políticas de sobrevivência desses estudos, pelos folcloristas. O caráter transitório de que se revestem as campanhas, não dava a esses estudos a perenidade pretendida pelos intelectuais folcloristas. Enquanto a luta da Campanha, pela institucionalização em bases mais duradouras continuava, os museus eram os principais baluartes dessa luta. Tecer uma rede de memória constituída por museus de folclore cobrindo o território nacional foi uma estratégia montada e urdida. (OLIVEIRA, V., 2010).

Outra importante ação em defesa do folclore brasileiro na gestão de Edison Carneiro

seria a “articulação e divulgação” (BRASIL, 2008a, p. 75) de importante veículo de

promoção do folclore no contexto da Campanha em Defesa do Folklore Brasileiro de

1958.

A partir de 1961, passaram a contar também com importante veículo de articulação e divulgação, a Revista do Folclore Brasileiro, que, além de boletins e outras publicações organizadas, circulou até 1976, totalizando 41

23

Amadeu Amaral (1875-1929) foi poeta, folclorista, filólogo e ensaista. Dedicou-se aos estudos do dialeto regional caipira paulista no território do vale do Rio Paraíba. 24

Cf. Biblioteca Amadeu Amaral – CNFCP. Disponível em: <http://redarterj.com/centro-nacional-do-folclore-e-cultura-popular-biblioteca-amadeu-amaral/>. Acesso em: 13 nov. 2014. 25

Edison Carneiro (1912-1972) foi jurista, jornalista, poeta e folclorista. Diretor da Campanha em Defesa do Foclore de 1961 a 1964.

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volumes. Tornou-se um difusor e catalisador das pesquisas, contendo, além de artigos, notas de pesquisa e registros de eventos. (OLIVEIRA, V., 2010).

Renato Almeida assume em 1964 a direção, trazendo consigo a responsabilidade

em manter os ideais formadores da Campanha em Defesa do Folklore Brasileiro.

De sua estratégia fazia parte o resgate da proposta de Carneiro, especialmente no que se refere à criação de museus, bibliotecas, filmotecas, fonotecas e centros de documentação, que desde as origens estiveram entre os objetivos principais dos estudiosos do folclore. (OLIVEIRA, V., 2010).

Diferente contribuição da gestão Renato Almeida fora a construção do Dia do

Folclore, dia 22 de agosto, através do Decreto nº 56.747, de 17/08/1965, como

forma de preservação e promoção do folclore Brasileiro. Importa salientar a

importância do dia do folclore no calendário da “educação moral e cívica”, proposta

pelo governo de militares no Brasil26, bem como na “organização social e política

brasileira”, como elemento importante a ser relembrado e ovacionado na afirmação

de nossa identidade nacional.

Por fim, o Museu do Folclore Edison Carneiro, criado em 196027, reiteraria as

políticas de preservações folclóricas através de uma abordagem museográfica, se

instalando definitivamente na cidade do Rio de Janeiro, em 1968,ano do

endurecimento da política da ditadura militar brasileira. Segundo a diretora da

FNFCP, Cláudia Márcia Ferreira28, o Museu abrigaria atualmente um acervo próximo

a 15 mil objetos, distribuídos em coleções de tecnologias tradicionais, festas e

rituais, artistas e manifestações populares brasileiras. Além disso, o Museu abre

espaço para exposições temporárias e contem a Galeria Mestre Vitalino e a SAP -

Sala do Artista Popular, criada em 1983, caracterizada como espaço-pólo de

comercialização para artistas, associações e cooperativas de artistas populares.

A principal instituição de proteção aos bens culturais no país, o IPHAN,

permaneceria convicta de sua política da “pedra e cal”, onde a proteção dos bens

26

Período compreendido entre 1964 a 1985. 27

Segundo OLIVEIRA, V. (2010): “O primeiro núcleo do Museu de Folclore foi instalado em algumas salas do Museu da República, que nessa época constituía uma seção, criada na estrutura do MHN em 15 de novembro de 1960, quando o Palácio deixa de servir de sede do governo federal.” 28

Depoimento colhido em entrevista ao autor do presente trabalho, concedida no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular em 6 de setembro de 2014.

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culturais populares, iniciada ainda sobre a sobra dos ideais andradianos, é

esquecida ao longo dos anos. Em 1967 a aposentadoria de Rodrigo Melo Franco de

Andrade como diretor do IPHAN por 30 anos, e o início da gestão do diretor Renato

Soeiro29, colocaria a possibilidade de uma atuação institucional sobre os bens da

cultura popular para além de uma política inventariante e museal.

A cartografia do pensamento e das ações de Rodrigo revela a clara equivalência semântica entre arquiteturas, artes plásticas, servidor público, causa cívica, intervenções, civilização e, finalmente no topo, a nação. [...] A razão de se explicitar o que chamo de cartografia do pensamento de Rodrigo serve para mostrar o quanto ele se distanciava de uma parte do projeto de Mário de Andrade, que colocava lado a lado a etnografia, o folclore, a cultura popular, a arqueologia e a paisagem, assim como a Repartição Fono-foto-cinematográfica enquanto instrumento inventariante na estrutura do SPHAN. Como num mar de ruínas a proteger, Rodrigo e sua equipe minimizam a noção ampliada de patrimônio pretendida por Mário de Andrade. (LIMA FILHO, 2009).

No campo internacional, novas tensões começam a se estabelecer, sobretudo na

dimensão simbólica dos bens culturais, onde valores e referências que nortearam a

construção dos patrimônios culturais da humanidade, não alcançavam a dimensão

simbólica de muitos países membros da UNESCO. Em 1968, na XV Conferencia

Geral da UNESCO, em Paris, essas tensões começariam a tomar corpo:

[...] por muito tempo, os problemas folclóricos se não estranhos à UNESCO, dela não mereceram a atenção devida. O aspecto mudou porém, depois que os novos países africanos passaram a atuar e hoje o fazem com largo prestigio no seio da Organização. Eles chamaram a atenção para o patrimônio imerso da sabedoria popular de transmissão oral. (PRESERVAÇÃO..., 1969).

No entanto, a Convenção para a Salvaguarda e Proteção do Patrimônio Mundial,

Cultural e Natural ocorrida na 17ª Sessão da Conferência Geral da UNESCO,em

1972, geraria uma tensão explícita e intencionada quanto aos valores

patrimonializantes da instituição, uma vez que países orientais e latino-americanos

não reconheciam em seus bens culturais nacionais os valores nem tampouco a

aplicabilidade dos instrumentos de proteção e salvaguardas contemplados como

patrimônios da humanidade. Mesmo assim, seriam desdobramentos da Convenção

sobre a proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural: as definições do

Patrimônio Cultural e do Patrimônio Natural; o Comitê Intergovernamental para a

29

Renato de Azevedo Duarte Soeiro, diretor do então SPHAN, entre 1967 e 1979.

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proteção do patrimônio mundial cultural e natural; um Fundo para a Proteção do

Patrimônio Mundial Cultural e Natural; bem como condições e modalidades de

assistência internacional. Essa distinção entre patrimônio cultural e natural acenaria

à construção e ou aceitação de novos valores e “referências culturais” como

patrimônios da humanidade. Assim, já em 1973, a Bolívia propõe acrescentar à

Convenção para a Salvaguarda e Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural

um Protocolo a fim de proteger a Cultura Popular de seu país. Um campo

patrimonializável se ampliaria para além dos bens culturais materiais, traduzidos, até

aquele momento, em sua maioria, pela arquitetura – isolada ou em conjunto – e/ou

monumentos artísticos, ainda, resquícios de uma UNESCO orientada por e para

uma reconstrução dos países no pós-segunda guerra mundial, enfatizando, portanto,

a proteção aos bens materiais. (SANT‟ANNA, 2001, 2003)

Segundo SOARES (2012), na mesma década de 1970, o governo brasileiro volta-se

ao folclore como política cultural, sobretudo através do Programa de Ação Cultural –

PAC, traduzido por eventos realizados no país, bem como do fomento ao turismo

cultural, desdobramento do Sistema Nacional de Turismo de EMBRATUR –

Empresa Brasileira de Turismo, criados no governo do Presidente Militar Castelo

Branco. Quanto ao fomento ao turismo, podemos destacar o Simpósio sobre

Folclore e Turismo Cultural, realizado em São Paulo entre os dias de 23 e 28 de

agosto de 1970, bem como o Programa Nacional de Turismo e Folclore, projeto

construído com a EMBRATUR, em Brasília, no ano de 1972.

A Revista Brasileira de Folclore de maio/agosto de 1972 publicaria o documento

“Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro: elementos para um Programa Nacional

de Turismo e Folclore”, onde o

[...] folclore apareceu como elemento de atrativo turístico, sobretudo através dos folguedos e dos objetos de artesanato [...]. E o papel do folclorista, nesse contexto, seria preservar a autenticidade do produto e preparar os elementos de uma propaganda eficiente, sobretudo, através de festivais e feiras de artesanato.(SOARES, 2012, p.15).

Ainda segundo o documento (CAMPANHA..., 1972, p. 211 et seq), seriam diretrizes

orientadoras desse Programa, “[...] um reconhecimento dos elementos tradicionais

em seus aspectos autênticos e de fidelidade do folclore brasileiro” referendando uma

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ideia deautenticidade da cultura e consequentemente dos bens culturais, como

“incentivar e proteger na respectiva autenticidade o artista, a festa folclórica e o

artesanato”; assim, “através do desenvolvimento do turismo, estabelecer de forma

integrada as programações específicas com um calendário promocional, capaz de

garantir a organização das manifestações folclóricas”.

O ano de 1975 marca a política de preservação das culturas populares brasileiras

pela criação do Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC)30, estruturado

através de um convênio entre várias instituições públicas, tendo na figura do design

pernambucano Aloísio Magalhães, à frente de sua coordenação, um dos maiores

defensores à proteção e promoção da cultura popular brasileira.

No clássico “E Triunfo?” (MAGALHÃES, 1985), a fala do próprio Aloísio Magalhães,

em síntese, indica-nos a importância do CNRC no processo de patrimonialização da

cultura popular no Brasil, sobretudo, pelo reconhecimento da necessidade e

possibilidade da inserção de novas “referências culturais”, sobretudo aquelas da

cultura popular, na política brasileira de gestão dos bens culturais.

A partir das décadas de 50 e 60 começou a observar-se uma série de fenômenos curiosos de insatisfação, atingindo todas as áreas do comportamento do homem ocidental. Uma espécie de fastio, monotonia, achatamento de valores causado pelo próprio processo de industrialização muito acelerado e sofisticado. [...] Uma das consequências mais flagrantes do achatamento do mundo é a perda ou diminuição de caracteres próprios das culturas. [...] Se isso é válido em culturas mais assentadas, imagine então o que acontece em países como o nosso. [...] Esses fatores todos provocaram a ideia de criação do Centro, que nasceu em longas conversas, em Brasília, de um grupo muito pequeno de pessoas com responsabilidades diversas. Não somos ainda uma instituição e evitamos sê-lo. Somos um projeto elástico, mas espalhando-se pelo Brasil inteiro. O Centro de um convênio com a Secretaria de Planejamento da Presidência da República, Ministério da Educação e Cultura, Ministério da Indústria e Comércio, do Interior, de Relações Exteriores, Caixa Econômica Federal, Universidade de Brasília e Governo do Distrito Federal. [...] Nosso objetivo é estudar as formas de vida e atividades pré-industriais brasileiras que estão desaparecendo, documentá-las e, numa outra fase, tentar influir sobre elas, ajudando-as a dinamizar-se. (MAGALHÃES, 1985, p. 115-117).

O CNRC marcaria profundamente a política brasileira de gestão dos bens da cultura

popular no Brasil, traduzida operacionalmente pela produção de dados com novas e

30

Resultado da implantação do projeto 01.01.45 do Ministério da Indústria e Comércio, através da Secretaria de Tecnologia Industrial, Convênio de 02 de agosto de 1976,

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disponíveis tecnologias, com um caráter profundamente etnográfico da cultura

brasileira.

Segundo FONSECA (1997, p.172), quanto ao CNRC, “era introduzida, assim, uma

mediação politicamente relevante entre a cultura popular e o interesse nacional”.

Ocorreria, portanto, uma ampliação do conceito de cultura no Brasil, “A noção de

cultura popular foi ampliada de modo a abranger tanto as manifestações populares

tradicionais quanto suas intersecções com o mundo industrial e urbano. Ficava de

fora, apenas, a cultura de massa”, demonstrando-se o interesse pelas

“manifestações culturais „vivas‟, inseridas em práticas sociais contemporâneas”.

Não menos oportuno é este momento para estabelecermos um paralelo entre as

ações institucionais baseadas na ideia de novas “referências culturais, e o

desenvolvimento desta ideia em conceito, instrumento teórico nas políticas

preservacionistas brasileiras”, pela pesquisadora e ex-técnica do IPHAN Maria

Cecília Londres Fonseca (2001, p. 111):

Somente a partir de meados da década de 70, os critérios adotados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) começaram a ser objeto de reavaliações sistemáticas, que levaram à proposta de uma nova perspectiva para a preservação de bens culturais. [...] Entre outras mudanças, foi introduzida, no vocabulário das políticas culturais, a noção de referencia cultural, e foram levantadas questões que, até então, não preocupavam aqueles que formulavam e implementavam as políticas de patrimônio.

Em um sentido complementar, Maria Cecília Londres Fonseca (2001, p. 112) alerta-

nos quanto à importância histórica da ideia de referências culturais na gestão dos

bens culturais brasileiros. Para ela ocorreria “nos anos 70, uma reorientação de uma

prática implementada pelo Estado desde 1937. [...] na medida em que, naquele

momento, remetia-se primordialmente ao patrimônio cultural não consagrado”.

A orientação, sustentada numa perspectiva plural, em evidente conflito com os

critérios objetivos e saberes legitimados, faria da ideia de referência cultural um

importante ponto tensor na construção de uma trama patrimonializante, no processo

de utilização do bem cultural como produto do dispositivo de poder.

Portanto, se considerarmos a atividade de identificar referências como um poder, cabe perguntar: quem teria legitimidade para decidir quais são as referências mais significativas e o que deve ser preservado, sobretudo

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quando estão em jogo diferente versões da identidade de um mesmo grupo? [...] Só muito recentemente, a proteção do meio ambiente e a preservação de referências culturais que não apenas as de valor excepcional (leia-se, do ponto de vista daqueles que detêm o poder de assim defini-las) passou a ser entendida como direito do cidadão, [...] Como se trata, em linguagem jurídica, de interesses difusos, de aferição subjetiva, sua definição para fins de proteção constitui um problema complexo, dificilmente solucionável pela transposição de modelos. [...] Podemos dizer que, a partir dos anos 70, o eixo do problema da preservação deslocou-se de uma esfera eminentemente técnica para um campo em que a negociação política tem reconhecido o seu papel. (FONSECA, 2001, p.114).

Paralelamente à institucionalização e aos desdobramentos do Centro Nacional de

Referencia Cultural, a Campanha de defesa do Folklore Brasileiro é incorporada à

FUNARTE31, em 1975, tornando-se Instituto Nacional do Folclore, em 197632. A

importância de pequena sutileza reside no fato de que uma Campanha, ou seja, uma

política pública tornar-se-ia um Instituto Nacional, portanto, um órgão da

administração pública indireta, dotado de personalidade jurídica e incumbido de

construir uma política pública institucional voltada à valorização do folclore nacional.

A promoção de uma produção do patrimônio cultural envolvendo não apenas os

sujeitos do Estado, e/ou seus conselhos consultivos de notáveis, fica explícita no

documento “Diretrizes para operacionalização da política cultural do MEC”33,

publicado em 1981. Para FONSECA (2001, p. 118), “nesse documento é claramente

afirmado o princípio da parceria entre Estado e comunidade na produção e

preservação dos bens culturais”. Ao verificarmos os princípios definidos no

documento para operacionalização da política do MEC – adescentralização, a

interdisciplinaridade, o reconhecimento da pluralidade cultural, a interação das

diferentes culturas, bem como a valorização dos bens culturais ainda não

consagrados – percebemos os desdobramentos institucionais das ideias de “bens

31

Fundação Nacional das Arte, criada pela Lei Federal Nº 6.312 de 16 de dezembro de 1975. O §2º do art. 1º indica os órgãos e serviços do Ministério da Educação e Cultura a serem incorporados à FUNARTE: Serviço Nacional de Teatro, o Museu Nacional de Belas Artes, a Campanha de Defesa do Folclore e a Comissão Nacional de Belas Artes. 32

O Decreto federal nº 77.300, de 16 de março de 1976, aprovaria a o Estatuto da Fundação Nacional de Arte (FUNARTE) e indicaria em seu inciso V, art. 5º, o Instituto Nacional do Folclore como órgão da estrutura da FUNARTE. 33

O documento “Diretrizes para operacionalização da política cultural do MEC”, de 1981, divide-se basicamente em uma introdução, considerações básicas, princípios de operacionalização e linha programática.

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culturais” e do conceito de “referências culturais” na preservação e promoção dos

bens da cultura popular brasileira.

A Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais da UNESCO, realizada em

Mondiacult, no México, em 1982, reconheceria a importância do “patrimônio cultural

imaterial”, incluindo-o na sua nova definição de cultura e de patrimônio cultural.

Percebamos que a ideia de um patrimônio não material, produzido e reconhecido

por diferentes “referenciais culturais”, começa a permear as discussões da

UNESCO. Posteriormente, a década de 1990 seria marcada profundamente pela

ideia do patrimônio imaterial como “novo” conceito de bem cultural, demandando,

dos Estados membros dessa organização internacional, a construção de políticas de

proteção e promoção desses bens, não contemplados com a proteção do

tombamento.

O tombamento do Terreiro da Casa Branca pela Fundação Nacional Pró-Memória, a

pedido da comunidade localizada no município de Salvador, Bahia, em 1986, teria

como principal fundamento a preservação dos espaços sagrados ameaçados pela

venda do terreno e destruição do Axé (SANT‟ANNA, 1995). Discussões acerca da

valoração do bem em sua perspectiva multiconceitual e consequentemente

multidisciplinar, bem como da utilização do instrumento do Tombamento sobre um

espaço em mutação constante, dificultavam o entendimento do bem cultural em

questão e da aplicação do instrumento de proteção cultural disponível.

Os novos agentes da preservação reivindicavam o reconhecimento do valor histórico e até mesmo artístico desses bens, alegando a necessidade de uma concepção não elitista de arte e história, que permitisse levar em conta o seu próprio código cultural. O caso do Tombamento do Terreiro da Casa Branca, um dos centros de culto afro-brasileiro mais tradicionais e antigos da Bahia, foi sem dúvida, exemplar e ilustrativo da luta ideológica que ocorria na instituição. (SANT‟ANNA, 1995).

O reconhecimento de um patrimônio cultural negro, diverso e conflituoso, ampliaria

os valores e referências até então utilizados na produção do patrimônio;

reconfigurariam os pactos e critérios de seleção amplamente tensionados pelo

tombamento da Casa Branca; inserindo novos sujeitos e grupos sociais no processo

de negociação e diversificação de fundamentos para construção de uma identidade

nacional complexa.

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A inclusão, por parte do Estado brasileiro, de um templo oriundo da cultura nagô como integrante legítimo e de direito da cultura nacional a ser protegido legalmente é, por si só, um fato político de extrema relevância. Por outro lado, essa integração, pelas próprias características do bem tombado, introduziu novas questões, ampliando de maneira extraordinária os debates relativos à preservação dos bens patrimoniais no país. (DOURADO, 2011, p. 6).

Segundo (SANT‟ANNA, 1995), “o saldo positivo ficou por conta de um conceito de

preservação mais abrangente, que foi incorporado aos artigos da nova Constituição

de 1988 [...].” retomando os conceitos de Mário de Andrade.Nesse sentido, a

promulgação da Constituição Federal Brasileira em 1988 vem ampliar a noção do

bem cultural em seu art. 215, §1º, reconhecendo “as manifestações das culturas

populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do

processo civilizatório nacional” (BRASIL, 1988), bem como a natureza imaterial dos

bens culturais, elencados no art. 216 e indicando a necessidade de se estabelecer

novos procedimentos para preservação desses bens.

Percebemos, nesse momento, que a cultura popular, agora tomada como referência

para a formação da sociedade brasileira, conforme dispõe o texto constitucional,

insere-se na trajetória da norma de preservação brasileira de forma expressa,

enquanto objeto a ser protegido pela tutela institucional do aparelho estatal de

preservação do patrimônio cultural, materializado pelo IPHAN. Novas formas de

proteção serão desenvolvidas como Registro, instituído em 2000, paralelamente à

continuidade, em pequenino grau, do Tombamento dos Terreiros de Candomblé na

Bahia, e também no Maranhão, que começam a ocorrer no fim dos anos 1990.

1.4 A CONSTRUÇÃO DAS ABORDAGENS METODOLÓGICAS

Posto que almejamos desenvolver o estudo da preservação das culturas populares

brasileiras através da sua norma de preservação, é importante reafirmar que o

conceito foucaultiano compreende a norma como um comando social e não apenas

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enquanto o imperativo categórico34dos comandos legais. Ou seja, é na

“antijuridicidade da norma” (FOUCAULT, 2005, p. XII), que se percebe essa

“concepção não- jurídica de poder” (FOUCAULT, 2005, p. XV). No entanto também é

possível reconhecer que o Estado, enquanto agente que dispõe da máquina e das

“tecnologias” jurídico-administrativas, goza de posição privilegiada nos

tensionamentos em torno do “dispositivo de patrimônio” (SANT‟ANNA, 1995). O

resultado do uso da máquina do estado e de suas tecnologias na patrimonialização

dos bens culturais populares, traduzidas comumente como “políticas públicas”,

decerto compõem o discurso oficial da norma preservacionista.

O exercício e o funcionamento do poder do estado, materializado pelos procedimentos técnicos de proteção e salvaguarda ao patrimônio cultural, seriam elementos que comporiam uma relação de poder que o estado exerce na composição da norma patrimonial. Nesse sentido, outros procedimentos técnicos que não apenas os estatais tensionariam o exercício de práticas ou relações de poder, atuando na composição normativa do patrimônio cultural. [...] (OLIVEIRA, A., 2010, p. 20).

Retomamos a ideia do patrimônio como “dispositivo de poder”,como algo que se

exerce no plano das relações sociais e sob a existência de elementos heterogêneos,

não necessariamente jurídicos, onde, segundoFoucault (2005), o conceito de

dispositivo seria utilizado para se estabelecer uma relação estratégica entre esses

elementos, articulados e expressos em formas “não discursivas” e “discursivas”,

tanto como “concretas” ou “enunciáveis”.

Buscando compreender a atuação do Estado na composição da norma

preservacionista, percebemos que nossa identidade cultural oficial está diretamente

ligada ao ideário construído pelo Estado - e pelos condicionantes ideológicos de

governabilidade - servindo como “tecnologia” de poder. Diante desse cenário,

percebemos a ação de contrapoderes, sobretudo quanto às discricionariedades que

revestem o Estado no âmbito das práticas preservacionistas.

Portanto, a opção por uma análise da norma preservacionista através de suas

relações de poder, ou seja, partindo do discurso normativo do Estado, enquanto

34

Nesse sentido ver Kant e a contrução/observação de um imperativo categórico, ou comando, através da lei.

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gestor da política pública, mas submetido aos arranjos tensores estabelecidos,

constituiu-se no nosso principal referencial teórico às abordagens metodológicas.

No entanto, como reconhecer nos “dispositivo de patrimônio”, os arranjos tensores

que se estabelecem, a partir dos diversos elementos heterogêneos, em suas formas

“discursivas” ou “não discursivas”, “concretas” ou “enunciáveis”? A evidência ou

ausência de elementos que compõem os arranjos tensores deveriam emergir das

observações em torno de conflitos ou tensões na trajetória normativa empreendida

pelo Estado. Esses conflitos ou tensões seriam compreendidos não somente no

plano da desordem normativa estatal, enquanto conflito jurídico ou administrativo,

como também- considerando os limites desta tese, e de forma não exaustiva -

através das questões que emergem da sistematização de dados dos processos de

tombamento e registro dos bens da cultura popular,de sua recorrência enquanto

objeto de estudo científico, reiterado através das publicações acadêmicas; ou, bem

mesmo, através das publicações e dos discursos institucionais quanto à

patrimonialização de um bem cultural, por exemplo.

Desse modo, desenvolveremos, de forma pormenorizada, as técnicas de pesquisa

utilizadas na compreensão da trajetória da norma de preservação das culturas

populares nas cidades brasileiras, reconhecendo o patrimônio como dispositivo de

poder.

1.4.1As cronologias

Utilizadas como estruturação do pensamento através de um suporte histórico, as

cronologias constituíram-se no ponto de partida dessa pesquisa, uma vez que

procuravam compreender toda uma trajetória conceitual e institucional ligada aos

processos de patrimonialização das culturas populares, considerando variáveis

diversas, tendo em vista a heterogeneidade que envolve os dispositivos de poder.

Elas foram orientadas pela sistematização cronológica dos procedimentos, sujeitos e

conceitos normativos de patrimonialização, sejam estes científicos, literários,

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institucionais, ou mesmo jurídicos, atentando sempre às tensões ou ausências e

seus arranjos normativos.

Assim, as cronologias sobre a trajetória da norma preservacionista das culturas

populares no Brasil foram elaboradas a partir de diversas variáveis, chegando à

seguinte configuração:

Cronologia da produção do pensamento sobre o patrimônio cultural urbano

recente (1980 a 2013) no Brasil;

Cronologia normativa da produção institucional do patrimônio cultural popular

no Brasil 1937 - 2013

Cronologia de sujeitos em destaque na preservação institucional do Folclore e

das culturas populares no Brasil (1900 a 1970);

Cronologia da Revista do Patrimônio (1937 – 2012);

Cronologia normativa dos bens das culturas populares tombados pelo IPHAN,

no Brasil (1937 – 2013);

Cronologia normativa dos bens das culturas populares registrados pelo

IPHAN, no Brasil (2003 a 2013).

Assim, a CronologiaTrajetória da norma de preservação dos bens das Culturas

Populares nas cidades brasileiras (1930 a 2013), disponibilizada em anexo, consiste

em numa construção gráfica que sobrepõe historicamente todas as cronologias,

constituindo-se em um dos mais importantes instrumentos de conformação da

presente pesquisa.

Ao consideramos o patrimônio enquanto “dispositivo de poder” e, portanto, em

permanente relação dinâmica em sua produção e reprodução, reconhecemos as

cronologias como recursos metodológicos que, além de uma localização temporal e

histórica, permitem o acesso à visibilidade de outros elementos heterogêneos,

condição para a abordagem do dispositivo patrimônio.

As cronologias, enquanto técnicas metodológicas de investigação e construção

síntetica de informações temporais, decerto cumpriram o seu papel em orientar a

pesquisa no seu recorte histórico, ou seja, as cronologias permitiram perceber, na

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trajetória da norma preservacionista, o momento histórico em que a preservação dos

bens da cultura popular passa a ser pautada pela construção de uma política

pública, portanto, elemento constituinte da norma preservacionista. A recepção da

ideia de “referências culturais” pela Constituição Federal Brasileira de 1988 ficaria

evidente com adoção do termo “cultura popular” no § 1º caput do art. 115,

referendando-o como um dos bens culturais a serem protegidos e promovidos pelo

aparelho estatal de preservação; bem como pelo reconhecimento da natureza

“imaterial” dos bens culturais no caput do art. 116, e do instrumento do registro como

forma de proteção desse patrimônio cultural brasileiro, conforme indica o §1º do

mesmo artigo. Assim, a Constituição Federal de 1988 constituiu-se como um marco

na construção da norma de preservação, pois contemplaria o momento propício à

construção de uma política preservacionista brasileira para a patrimonialização dos

novos velhos bens das culturas populares.

A partir daí, o período histórico a ser estudado começa a tornar-se visível, ou seja,

trata-se de compreender a trajetória da norma de preservação das culturas

populares no Brasil a partir da Constituição de 1988. Faltava ainda delimitar um

limite temporal final. Nesse sentido, ao verificarmos as cronologias, percebemos que

o ano de 2013 seria marcado pelo decênio da 32ª Sessão da Conferência Geral das

Nações Unidas, onde fora aprovada a Convenção para Salvaguarda do Patrimônio

Cultural Imaterial. Isso nos daria uma margem histórica razoável para

compreendermos a trajetória da norma de preservação desses bens culturais

através da aplicação do Registro enquanto instrumento de proteção ao longo de

mais uma década no Brasil (2000-2013), observando, inclusive, a ideia de

revalidação dos registros dos bens culturais imateriais que devem ocorrer a cada 10

anos de seu registro. Isso possibilita ainda a abordagem de um período histórico de

25 anos (1988-2013).

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1.4.2As dimensões e arranjos tensores do patrimônio

A percepção das cronologias, através dos pontos de convergência onde se efetua a

atualização de forças, indica a composição de dimensões e de arranjos tensores à

construção da trajetória da norma preservacionista dos bens das culturas populares.

Nesse sentido, observando, ao longo das cronologias, os arranjos tensores

operados, vislumbramos que três grandes dimensões assumiam protagonismo na

trajetória da norma de preservação, orientadas por maior ou menor tensão sobre o

“dispositivo patrimônio”: uma dimensão simbólica, orientada em torno dos valores e

das “referências culturais” na trajetória de patrimonialização dos bens culturais

populares; uma dimensão social, onde sujeitos e grupos sociais envolvidos na

produção da norma preservacionista para as culturas populares alcançam

visibilidades, ou são invisíveis; e uma dimensão política, onde os pactos e critérios à

preservação da cultura popular brasileira se efetuam através dos instrumentos de

regulação e gestão do patrimônio que orientam as políticas públicas.

Assim, partindo do pressuposto de que as dimensões simbólica, social e política

estabelecem relações de poder e delas são fruto, surge a necessidade da

compreensão de arranjos tensores que se estabelecem, observados em cada uma

dessas dimensões. Assim, para além da compreensão das relações de poder

instauradas na trajetória da norma de preservação das culturas populares nas

cidades brasileiras, seria possível verificar arranjos tensores que se estabelecem a

partir dessas relações e que merecem ser melhor explicitados, dada a importância

metodológica que essas dimensões assumem.

Ao observarmos as dimensões simbólicas (valores e referências) e as suas relações

na trajetória da norma de preservação, de logo remetemo-nos àideia de que a

produção do patrimônio cultural está amparada, logo no início, pela atribuição de

valor patrimonial ao bem cultural nos procedimentos de seleção empreendidos,

nesse caso, pelo IPHAN. Nesse sentido, assistimos, ao longo de anos, a uma cultura

preservacionista sustentada no valor de excepcionalidade e monumentalidade dos

bens históricos, artísticos, etnográficos, paisagísticos, com orientações e discussões

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atreladas somente ao órgão gestor IPHAN e aos intelectuais modernistas, o que se

estenderia desde a década de 1930 até meados da década de 1970. Como

consequência da ampliação dos conceitos de bens culturais empreendidos pela

Constituição Federal de 1988 e caracterizada como uma década de ressignificação

das práxis preservacionistas, os anos de 1990 são marcados pela preparação de

políticas públicas para os bens culturais, conceitualmente denominados de

imateriais, aumentando, sem dúvida, as “referências culturais” passíveis de serem

patrimonializáveis. No entanto, seria na primeira década do século XXI que a política

pública de preservação do bem cultural imaterial brasileiro, através do Decreto n.

3551 de 2000, possibilitou que celebrações, formas de expressão, saberes e

lugares, nas cidades, poderiam ser reconhecidos como patrimônios culturais

imateriais brasileiros e, já em 2002, ocorreria o primeiro Registro de um bem cultural

imaterial urbano, o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras na cidade de Vitória, no

Espírito Santo. A trajetória normativa traria à dimensão simbólica novos valores

embasados em novas referencias culturais, protegendo, no entanto, velhos bens

culturais, até então não legitimados pela ação estatal.

Em suma, muito mudou quanto ao cenário comumente denominado período da

“pedra e cal”, orientado por valores e referências materiais e

monumentais.Entretanto, sem maiores novidades em relaçãoàquelas já

preconizadas por Mário de Andrade. A orientação de Aloísio de Magalhães, ligado

às culturas populares e tradicionais, atrelado a um processo de redemocratização do

país, e ao quadro de demandas que convergia em processos patrimonializantes no

IPHAN, decerto contribuiu na orientação da proteção de bens culturais populares

nas cidades brasileiras pelo procedimento do registro, em detrimento do

tombamento e da desconstrução cotidiana dos processos sedimentados de

excepcionalidade na atribuição de valor. No entanto, essa orientação ainda

continuava sem a superação da dicotomia da coisa, quer no âmbito da gestão do

bem patrimônio, quer nos instrumentos jurídicos de proteção disponíveis.

O despontar de uma política preservacionista que parelha novos valores e

referências culturais, tais como paisagens culturais e patrimônios sensoriais, aponta

para uma nova “elasticidade” e plasticidade patrimonializante, que passa a se

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estabelecer no Brasil a partir da década de 1980. Nesse sentido,todo um arranjo

tensorem torno de novos valores e referências na cultura popular brasileira tornou-se

visível, em discussões que atravessam tanto os bens denominados intangíveis,

quanto aqueles denominados tangíveis, como objetos representativos de

determinado Saber, compondo arranjos tensores articulados à dimensão simbólica

da trajetória da norma de preservação das culturas populares nas cidades

brasileiras.

A dimensão social, representada pelos sujeitos ou grupos sociais, nunca fora

particularmente objeto de uma política pública preservacionista no Brasil. Mesmo

com o Tombamento Etnográfico, já em 1938, da coleção denominada Museu da

Magia Negra (DOURADO, 2011, p. 6), não existiram proteções que evocassem

valores dos sujeitos ou grupos sociais. Decerto que inúmeros tombamentos levaram

em consideração o uso e gozo do bem cultural pelos sujeitos e grupos sociais, mas

não eram os sujeitos ou grupos sociais os bens culturais. Entre 1982 e 1986, trava-

se um combate no âmbito do IPHAN: como tombar o axé, bem cultural maior de um

território, patrimônio coletivo afro-brasileiro? Desde então um processo de

reconhecimento de sujeitos, práticas, saberes, celebrações, arquiteturas e lugares

não visíveis tem tomado a pauta das políticas preservacionistas brasileiras, com

ênfase às culturas populares, étnicas e identitárias.

Mesmo que uma prática preservacionista dos bens culturais no Brasil não

procurasse atender, inicialmente a essa demanda, questões ligadas aos sujeitos e

aos grupos sociais acabamse tornando mais visíveis, quer pela luta por direitos civis

dos negros brasileiros e sua condição de visibilidade ascendente, quer pela

condição/necessidade de proteção de novos bens culturais, onde a relação dos

sujeitos e grupos sociais está diretamente ligada aos processos dinâmicos de

produção e reprodutibilidade dos bens patrimônios.Ou, ainda, pela referência

expressa, também na Constituição Federal de 1988, em seu art. 216, “à memória

dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira” como elemento passível

de patrimonialização.

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O principal arranjo tensor articulado à dimensão social, que envolve os sujeitos ou

grupos sociais, reside nas discussões que envolvem a mobilização de grupos sociais

em torno da questão da patrimonialização e suas vinculações com segmentos

econômicos, como o turismo e/ou formas autônomas de produção, de organização

social ou de religião.

A dimensão política, representada pelos pactos e critérios estabelecidos na trajetória

da norma de preservação, decerto, constitui uma rica abordagem, tendo em vista a

sua condição privilegiada para o estudo das políticas públicas, por conta de sua

materialidade gestora e reguladora.

Ao percebemos o tombamento de Igrejas, Sobrados, Fazendas, Solares, Quintas,

em detrimento de barbearias, lojas vendedoras de fumo, os secos e molhados,

armarinhos – que só ocorrem em centros históricos ou conjuntos de valores

monumentais – entendemos que os tombamentos de monumentos, no Brasil,

contam uma história que deseja ser história. Assim, a construção dos pactos e

critérios, a princípio, diz respeito aos acordos firmados na produção do patrimônio, a

pactuação material da relação de forças que permitiram um bem ser selecionado,

protegido e salvaguardado, em meio à demanda patrimonializante contemporânea.

Entendemos que, historicamente esses pactos e critérios são firmados no seio do

órgão gestor, através do seu corpo técnico, e referendado por um conselho de

notáveis consultores; assim, a política seria traçada basicamente ex officio,

amparada pelos memoráveis discursos nas reuniões dos conselhos consultivos até a

década de 1980, no IPHAN.

A partir de então, os instrumentos de preservação dos bens culturais tornaram-se os

principais mecanismos a serem pactuados na proteção dos bens culturais,

implicando na necessidade de ampliação dos bens a serem protegidos, na

institucionalização de novos instrumentos de proteção desses bens culturais,

ampliando a proteção para além da fisicidade da coisa. A inclusão de bens

dinâmicos ao rol dos bens culturais que são patrimônio nacional demonstra uma

nova construção normativa em torno da patrimonialização, uma vez que os pactos e

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critérios agora passariam, entre outros, a dialogar diretamente com o indivíduo-

patrimônio.

Ainda, longe de audiências públicas e consultas populares, ou até mesmo alvo de

insurgências ativistas, a construção de novos pactos e critérios do patrimônio para

as culturas populares nas cidades brasileiras, como coisa pública, ainda parece

guardar uma prática que precisa ser reavaliada como estratégia de ação. Em tempo

de escassez da coisa pública, o patrimônio faz valer a lei de mercado, com todos os

privilégios que um heritage pode oferecer.

Ainda na dimensão política que nos possibilita a análise dos acordos firmados na

produção do patrimônio, a ação de uma instituição internacional merecer ser

avaliada, por possuir relevante destaque na trajetória da norma de preservação das

culturas populares no Brasil, a UNESCO.

1.4.3 Fontes de pesquisa empírica

Na compreensão das dimensões e arranjos através das políticas públicas do Estado

gestor, da sua atuação sobre o “dispositivo” patrimônio, seria necessário

adentrarmos as políticas de salvaguarda e os procedimentos administrativos de

seleção, proteção e promoção, que envolvem a norma estatal de preservação dos

bens das culturas populares brasileiras, instrumentalizada juridicamente pelo

tombamento do bem material desde 1937 e pelo registro do bem imaterial desde

2000. Nesse sentido, já orientados pelo recorte temporal de 1988 a 2013, seguimos

a compreensão dos pontos de atualização de forças através do “aparato

tecnológico” estatal, em sua materialidade de ações e posições discursivas,

apresentados na estrutura do órgão gestor das políticas públicas de preservação, o

IPHAN; das legislações preservacionistas; dos documentos administrativos que

compõem os processos e procedimentos de Tombamentos, Registros e Inventários;

das publicações de documentos e estudos sobre as políticas públicas

preservacionistas.

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Ao realizarmos nossapesquisa documental no IPHAN, percebemos que

trabalharíamos entre ações e discursos. Assim, ao delimitarmos nossa pesquisa

através da norma preservacionista do estado brasileiro, faz-se necessário

demonstrar os limites de nossa abordagem metodológica, tendo em vista as

pesquisas documentais institucionais do IPHAN em torno das ações e dos discursos

preservacionistas na trajetória da norma de preservação da cultura popular

brasileira.

O Estado, traduzido operacionalmente na política pública preservacionista brasileira

por uma instituição gestora, e por corpo jurídico regulador que define os

instrumentos de seleção, proteção, e comumente, promoção dos bens culturais

patrimônios da nação, tem no IPHAN, a instituição gestora, uma autarquia do

governo do Brasil, criada em 193735. Ela se desdobra atualmente em 27

Superintendências Regionais mais 31 Escritórios Técnicos, capilarizando todo o

território nacional, e possui um Conselho Consultivo com caráter deliberativo. Numa

perspectiva mais organizacional e operativa sobre a preservação do bem cultural

patrimônio, a gestão ainda se posiciona de forma dicotomizada entre a

materialidade, através do DEPAM – Departamento de Patrimônio Material, e do DPI

– Departamento de Patrimônio Imaterial, onde atualmente situa-se o Centro Nacional

de Folclore e Cultura Popular – CNFCP. O corpo jurídico que define os instrumentos

de preservação (seleção, proteção e promoção) seria representado, sobretudo, pelo

Decreto Lei nº 25 de 1937, que institui e estabelece o instrumento do Tombamento

para os bens culturais tangíveis, e pelo Decreto Federal nº 3. 551 de 2000, onde é

criado o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, que institui o Programa

Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI), condicionando a sua aplicabilidade a outros

instrumentos jurídico-normativos, como Regulamentos e Portarias, que procuram

definir uma certa vinculação ao amplo trabalho discricionário dos atos

administrativos do Estado na produção do patrimônio cultural brasileiro.

Observados os limites temporais e a condição institucional do Estado, nossa

pesquisa desdobra-se, portanto, pelos documentos administrativos que compõem os

35

Pela Lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937.

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processos e os procedimentos de Tombamentos, realizada no Arquivo Noronha

Santos, na cidade do Rio de Janeiro, em agosto de 2013, como também, pelos

processos e procedimentos de Registro dos bens Imateriais que se encontram

arquivados no DPI, em Brasília, e foram acessados em setembro de 2013, servindo

de suporte complementar aos dados dos Registros dos bens imateriais disponíveis

no Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados (BCR)36 do, IPHAN.

Partindo de nosso recorte histórico (1988 a 2013), percebemos, inicialmente, a

necessidade de se definir quais bens das culturas populares tombados e registrados

comporiam esse universo empírico e como se dariam as sistematizações das

informações disponíveis. Importante salientar que nosso recorte temporal atende aos

bens das culturas populares onde o seu processo de produção e reprodução,

dialogue com as cidades brasileiras. Ficam, portanto, excluídos desse universo a

análise da trajetória da norma preservacionista para os povos indígenas. Nosso

universo empírico diz respeito a 32 bens culturais patrimônios, sendo 10 bens

tombados e 22 bens registrados, assim definidos em ordem cronológica:

Itm Bem Cultural Tombado pelo IPHAN Ano de inscrição no

livro do Tombo

01 Terreiro do Axé Opô Afonjá 1999

02 Ilê Iyá Omim Axé Yiamassé 2002

03 Terreiro de Candomblé do Bate-Folha Manso Banduquenqué 2003

04 Terreiro Casa das Minas Jeje 2002

05 Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá Láji 2004

06 Casa de Chico Mendes e seu acervo 2008

07 Canoa Costeira, de nome Dinamar 2012

08 Saveiro de Vela de Içar, de nome, Sombra da Lua, no Recôncavo Baiano

2012

09 Canoa de Tolda Luzitânia 2012

10 Canoa de Pranchão 2012 Quadro 1– Universo empírico de pesquisa sobre os Bens Culturais Tombados no Brasil pelo IPHAN entre 1988 e 2013.

Quanto ao universo de bens culturais imateriais com Registro pelo IPHAN, seguimos

o mesmo recorte temporal, o que permitiu abarcar toda a política pública instituída e

instrumentalizada, uma vez que tem seu inicio operacional em 2000.Também aqui,

36

Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados (BCR), disponibilizado pelo Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI) do IPHAN. Disponível em: <http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf>. Acesso em: 25 jul. 2014.

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consideramos as cidades como recorte e, portanto, não trabalharemoscom os

patrimônios culturais dos povos indígenas37. Ou seja, dos 28 bens registrados entre

2000 e 2013, 6 deles não compõem nosso universo empírico, que se constitui de 22

bens culturais imateriais urbanos, conforme o quadro 02

Item Bem Cultural Registrado pelo IPHAN Data do Registro

01 Ofício das Paneleiras de Goiabeiras 20/12/2002

02 Samba de Roda do Recôncavo Baiano 05/10/2004

03 Círio de Nossa Senhora de Nazaré 05/10/2004

04 Modo de Fazer Viola-de-Cocho 14/01/2005

05 Ofício das Baianas de Acarajé 14/01/2005

06 Jongo no Sudeste 15/12/2005

07 Feira de Caruaru 20/12/2006

08 Frevo 28/02/2007

09 Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto, de Terreiro e Enredo 20/11/2007

10 Tambor de Crioula do Maranhão 20/11/2007

11 Modo artesanal de fazer queijo nas regiões do Serro, da Serra da Canastra e do Salitre

13/06/2008

12 Ofício dos mestres de capoeira 21/10/2008

13 Roda de Capoeira 21/10/2008

14 Modo de fazer Renda Irlandesa Divina Pastora / SE 28/01/2009

15 Ofício de Sineiro 03/12/2009

16 Toque dos Sinos em Minas Gerais tendo como referência São João del Rey e as cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes.

03/12/2009

17 Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis 13/05/2010

18 Festa de Sant' Ana de Caicó 10/12/2010

19 Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão 30/08/2011

20 Fandango Caiçara 29/11/2012

21 Festa do Divino de Paraty 03/04/2013

22 Festa do Senhor do Bonfim 05/06/2013 Quadro 2 – Universo empírico de pesquisa sobre os bens culturais registrados no Brasil pelo IPHAN entre 2000 e 2013.

A partir do universo empírico delimitado, faltava-nos a construção de técnica de

pesquisa que sistematizasse as informações disponíveis nos processos de

Tombamento e Registro sobre a trajetória da norma de preservação dos bens das

culturas populares brasileiras. Nesse sentido, foram construídas as fichas descritivas

da patrimonialização dos bens culturais, tombados e registrados,componentes do

37

Assim, fica de fora a apreciação dos Registros daArte Kusiwa – Pintura corporal e arte gráfica Wajãpi de 2002; a Cachoeira de Iauaretê - Lugar Sagrado dos Povos Indígenas dos rios Uaupés e Papuri, em 2006; o Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro e o Ritual Yaokwa do povo indígena Enawene Nawe, em 2010; os Saberes e Práticas Associados ao modo de fazer Bonecas Karajá e o Ritxòkò: Expressão Artística e Cosmológica do Povo Karajá, em 2012

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nosso universo empírico, apresentadas como anexo ao texto (apêndice 02). Nesse

sentido, foram produzidas 10 fichas com base nos processos de tombamento e 22

fichas com base nos processos de Registro.

As fichas de patrimonialização apresentam os seguintes indicadores de

compreensão da trajetória da norma preservacionista:

01. Nome do bem registrado ou tombado;

02. Número do processo, data da solicitação e do registro ou tombamento;

03. Proponentes

04. Descrição do bem

05. Pareceres para a patrimonialização

06. Valor atribuído ao bem cultural

07. Reunião do conselho consultivo e data: de aprovação

08. Território de produção e reprodução do bem

09. Bens associados ao bem cultural patrimônio

10. Metodologias de patrimonialização

11. Aspectos relevantes à patrimonialização

12. Salvaguardas, através das recomendações e das ações desenvolvidas

13.Os agentes envolvidos no processo de patrimonialização

14. Ações de apoio

Realizadas a partir das informações disponíveis nos documentos oficiais que

compõem os procedimentos de Tombamentos38 e Registros39,os dados dasfichas

foram analisados em função de sua capacidade de articulação às dimensões

simbólicas, sociais e políticas e seus arranjos tensores,lastro que nos permitiria

38

Processos de Tombados disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos, do IPHAN, Rio de Janeiro. 39

Fichas orientadas pelas informações e documentos disponíveis no BCR disponibilizado pelo DPI do IPHAN, bem como pelos respectivos processos de Registro complementando ou subsidiando informações do BCR.

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avançar na busca de compreender a trajetória da norma de preservação a partir

desses arranjos. O quadro abaixo descreve essas relações:

Dimensão Simbólica Dimensão Social Dimensão Política

Descrição do bem (universo simbólico)

Descrição do bem (universo social)

Número do processo, data da solicitação, e data do registro ou tombamento (universo político administrativo)

Valor atribuído ao bem cultural

Proponentes Pareceres para a patrimonialização

Bens associados ao bem cultural patrimônio

Território de produção e reprodução do bem

Reuniões do conselho consultivo

Aspectos relevantes à patrimonialização

Agentes envolvidos no processo de patrimonialização

Metodologias de patrimonialização

Salvaguardas, através das recomendações e das ações desenvolvidas

Ações de apoio

Quadro 3 – Arranjo dos indicadores das dimensões simbólica, social e política nas fichas descritivas de patrimonialização dos bens culturais no Brasil (1988 -2013).

Importante demonstrar a possibilidade de realizarmos o cruzamento desses

indicadores entre as dimensões simbólica, política e social: por exemplo, os

pareceres podem ser analisados sob diversas óticasnas três dimensões.

As informações relativas ao Apoio e Fomento dos bens culturais e suas implicações

na trajetória da norma preservacionista também puderam ser verificadas através das

Ações e Planos de Salvaguardas desenvolvidos com recursos dos Editais do

Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI), assim como através do

“Programa de Apoio e Fomento às Culturas Populares” através de exposições

realizadas na Sala do Artista Popular – SAP do Centro Nacional de Folclore e

Cultura Popular – CNFCP, na cidade do Rio de Janeiro.

Não menos importante no entendimento da atuação do IPHAN na trajetória da

norma de preservação das culturas populares, são as construções discursivas que

se materializam nas publicações de documentos institucionais, e estudos sobre as

políticas públicas preservacionistas; seja na Revista do Patrimônio publicada desde

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1937, bem como nas inúmeras publicações institucionais que relatam o cotidiano

das práticas preservacionistas do estado gestor.

Outros importantes elementos discursivos que compõem ou interpretam a norma

estatal de preservação dos bens das culturas populares seriam as entrevistas

concedidas ao autor pelos gestores do IPHAN, em Brasília, quando de visita para

pesquisa documental. Nesse sentido, buscando uma complementaridade às

construções discursivas institucionais materiais, as entrevistas constituíram

importantes elementos que auxiliaram na compreensão de dimensões operativas do

Estado na trajetória da norma de preservação, para além de sua dimensão política e

reguladora e gestora, traduzidos na política preservacionista brasileira pelos

instrumentos de regulação (leis, decretos, normativas, instruções, ratificações as

convenções internacionais) e dos instrumentos gestores (órgãos de preservação e

seus conselhos, Planos de Cultura, Editais de Promoção).

Com o período histórico definido e o acesso às ações e discursos produzidos pelo

Estado gestor e executor da norma de preservação, devidamente levantados e

sistematizados, a ideia do “dispositivo de patrimônio” nos permitiria então

compreender a trajetória da norma de preservação das culturas populares através

dos pontos de convergência, onde se efetua a atualização de forças, denominados

ao longo do texto como arranjos tensores, compreendidos através das dimensões

simbólicas, sociais e políticas, dimensões essas compostas através dos indicadores

presentes nas cronologias e fichas descritivas de patrimonialização e sua articulação

com a bibliografia consultada e, sobretudo, através da escolha conceitual e

metodológica aqui empreendida.

É a esse desafio a que nos dedicamos nos próximos capítulos.

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2 A DIMENSÃO SIMBÓLICA NA TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO

A abordagem da dimensão simbólica da cultura, percebida através do estudo da

trajetória da norma de preservação das culturas populares nas cidades brasileiras

como políticas preservacionistas do IPHAN entre 1988 a 2013 revela a importância

que a discussão simbólica assume na norma preservacionista.

Assim, a dimensão simbólica na trajetória normativa, representada pelos valores e

critérios à patrimonialização dos bens culturais, pode ser observada tanto na

representação objetiva das políticas públicas governamentais de preservação do

patrimônio cultural brasileiro, concebida nas ações de seleção, proteção e promoção

do patrimônio – abordagem escolhida para nossa leitura da norma de preservação –;

bem como nos discursos em torno da ideia de nação e a atual compreensão de uma

suposta identidade - explorados nessa pesquisa - no entanto, não menos importante

em sua condição de abordagem normativa.

Assim, percebemos que a dimensão simbólica na trajetória da norma

preservacionista do IPHAN apresenta-se muito próxima das ideias de valor ou mérito

que são atribuídos pelo Estado, aos bens culturais no processo de

patrimonialização. Arraigado à materialidade do bem cultural conquanto do seu limite

legal de atuação, o IPHAN, ao longo dos anos, elaborou um sistema valorativo à

patrimonialização, tendo por base a monumentalidade e a excepcionalidade dos

valores históricos, etnográficos, arqueológicos e paisagísticos, ou artísticos dos bens

patrimônio. Ainda que evocada de forma menos elaborada por Mário de Andrade na

construção do IPHAN, as ideias de “Referências culturais” na década de 1970 viriam

permitir uma ampliação valorativa do bem patrimônio, alargando tipologicamente os

bens tombados no Brasil, a partir da década de 1980. Entretanto, ampliação

conceitual do bem cultural brasileiro expressa na Constituição Federal de 1988 e, a

construção de uma política governamental para a preservação dos bens imateriais

no início dos anos 2000, ensejaria uma ampliação significativa na dimensão

simbólica na norma preservacionista no Brasil.

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A ampliação simbólica dos bens patrimônio na norma de preservação dos bens

culturais no Brasil alcançaria, de forma operacional, a proteção de espaços e

territórios afro-brasileiros, como os Terreiros de Candomblé e, consequentemente,

as sociabilidades peculiares em torno do Axé que os une; ou, mesmo, os bens

culturais imateriais até então desprovidos de uma política de preservação, incluindo

no rol de bens culturais patrimônios nacionais uma dimensão simbólica, viva e

cotidiana da cultura brasileira, traduzida em políticas de proteção aos saberes, as

celebrações, as formas de expressão e os lugares.

Procurando compreender a dimensão simbólica dos bens culturais a partir da ideia

de valor, e não da identidade (HALL, 2006; BAUMAN, 2012; ORTIZ, C., 2012),

recorremos às interpretações deGeertz (1978) e Barros (2010), uma vez que

desdobra acerca do valor na construção simbólica.

Assim,a abordagem de uma antropologia interpretativa porGeertz (1978, p. 39)

retomaria a discussão da dimensão simbólica no pensamento da sociedade, ao

demonstrar que as relações humanas seriam um resultado de complexas e diversas

construções simbólicas. Ela aponta para a necessidade de “desvendar o tecido

simbólico”, examinando o significado do universo simbólico no social.Para esse

autor, toda produção humana possui uma dimensão simbólica, e todas as nossas

decisões e ações seriam provenientes desses símbolos que orientam a sociedade e

organizam as “coisas”. Assim, segundo Geertz (1989, p. 109), “as visões de mundo

são constituídas por símbolos que sintetizam um ethos de um povo ou grupo. [...] os

símbolos provocam poderosas, penetrantes e duradouras disposições e motivações

nos homens”.Nesse mesmo sentido, e numa linguagem mais próxima aos processos

de patrimonialização, a dimensão simbólica da cultura, atualmente, estaria ligada

aos “modos de fazer, pensar, e agir” como indicaBarros (2010).

A dimensão simbólica, portanto, poderia ser compreendia através dassociabilidades

humanas, expressas através das línguas, dos valores, das crenças e, sobretudo, das

práticas cotidianas. Nesse sentido, as ações humanas são construídas tendo por

base esses símbolos que formam uma trama ou mesmo uma trajetória de

significados a depender do seu contexto social e histórico. Assim, partindo da

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dimensão simbólica da cultura, a noção de bem cultural estaria, também, articulado

às construções simbólicas traduzidas, sobretudo, pelas ideias de valor e referencias

culturais.

A dimensão simbólica desdobrada agora na ideia do bem cultural como patrimônio

torna-se bem compreendida através das reflexões de (FONSECA, 2005), de como

um signo, resultado da atribuição de valores, se desdobra nas ideias de

pertencimento em um contexto de múltiplas “referências culturais”, construindo,

simbolicamente, a ideia de patrimônio cultural.

Do ponto de vista simbólico, as “referências culturais” descentralizam e questionam

os valores sedimentados, podendo abarcar diversos elementos como referencias -

desde os monumentos arquitetônicos aos saberes, fazeres, celebrações e lugares -

que condicionam a produção/proteção de um dado bem como patrimônio cultural, e

sua reprodutibilidade, em um cotidiano dinâmico e produtivo, nas cidades brasileiras.

A patrimonialização dos bens das culturas humanas passa por uma análise do seu

valor como referência, onde é estabelecido um critério de seleção e um pacto sobre

o bem patrimonializado, articulando sujeitos ou grupos sociais. Os bens da cultura

popular possuem uma dinâmica viva, corrente, e sujeita a uma sociabilidade

complexa que garante a sua reprodutibilidade em determinadas condições.

Assim, as culturas populares nas cidades brasileiras e sua inserção nas políticas

preservacionistas podem ser compreendidas através da dimensão simbólica

presente na trajetória da norma de preservação dessas culturas, e nos demais

processos de patrimonialização.

Haveria, portanto, atualmente, uma tentativa de superação nas interpretações

bipolares da cultura, sobretudo, entre os polos erudito e popular, como nos

esclarece Cavalcanti (2001): “Na atualidade das ciências humanas e sociais, o

modelo interpretativo de, „duas camadas‟ – cultura popular/folclore vesus cultura de

elite – está unanimemente superado”. Assim, a cultura popular inseria-se no rol de

bens culturais brasileiros, portanto, passíveis de inclusão nas políticas de

preservação cultural.

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Ocorre, entretanto, que o conceito de bem cultural no Brasil continuava restrito aos bens móveis e imóveis, contendo ou não valor criativo próprio, impregnados de valor histórico (essencialmente voltados para o passado), ou aos bens de criação individual espontânea, obras que constituem o nosso acervo artístico (música, literatura, cinema, artes plásticas, arquitetura, teatro) quase sempre de apreciação elitista. [...] Permeando essas duas categorias, existe vasta gama de bens - procedentes, sobretudo do fazer popular – que por estarem inseridos na dinâmica viva do cotidiano não são considerados como bens culturais nem utilizados na formulação das políticas. (MAGALHÃES, 1985, p. 60).

Nesse sentido, apesar de algumas superações das dicotomias, a preservação dos

bens das culturas populares no Brasil encontra-se, ainda, dividida entre os bens

materiais ou tangíveis, protegidos pelo Tombamento; e os bem imateriais ou

intangíveis, protegidos pelo Registro. Assimtambém, as culturas populares

compreendidas em sua dimensão simbólicatransversalizam a compreensão jurídica

das coisas ou dos bens, uma vez que se apresentam como bens culturais materiais

e imateriais. Nesse sentido seus possíveis desdobramentos para a proteção,

acabam por ser tuteladas pelo Estado, dentro dos limites jurídicos disponíveis, e

pelos instrumentos possíveis, não incorrendo em uma política pública governamental

específica à proteção as culturas populares.

2.1 AS “REFERÊNCIAS” AOS BENS DAS CULTURAS POPULARES NA

TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO

Desde a criação do IPHAN na década de 1930 até a criação do CNRC na década de

1970, a ideia da atribuição de um – ou mais de um - valor ao bem cultural, atrelada a

um ideal patrimonializante, orientado pela busca da excepcionalidade e

monumentalidade dos bens culturais no Brasil, priorizaria a materialidade do bem, a

fisicidade da coisa, sustentado no padrão monumental necessário ao bem cultural

candidato ao patrimônio.

Amparado pelo discurso da limitação legal imposta pelo tombamento como principal

instrumento de proteção do bem cultural brasileiro, restrito em sua dimensão jurídica

à materialidade do bem, seja ele móvel ou imóvel, priorizou-se o tombamento de

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bens da arquitetura, isolados ou em conjuntos, estabelecendo uma prática

preservacionista que ficaria conhecida com a política da “pedra e cal”40.

No entanto, a partir da década de 1970, as ideias de “referências culturais”

(FONSECA, 2001)trariam às políticas de preservação do patrimônio cultural

brasileiro, no âmbito institucional do IPHAN, a possibilidade de uma nova abordagem

da dimensão simbólica do bem cultural.Do ponto de vista normativo estatal,

podemos perceber os desdobramentos das ideias de “referências culturais”

enquanto dimensão simbólica na norma de preservação das culturas populares nas

cidades brasileiras, tanto em seu aspecto regulador quanto gestor, quanto por

diversas iniciativas patrimonializantes, que se acentuam progressivamente e que

abordaremos com maior detalhe no período compreendido entre 1988 e 2013.

No entanto, importante perceber a dimensão que as ideias de “referências culturais”

assumem institucionalmente, e como essa ideia se desdobra sobre a dimensão

simbólica na norma de preservação.

Essa perspectiva veio deslocar o foco dos bens - que em geral se impõem por sua monumentalidade, por sua riqueza, por seu peso material e simbólico – para a dinâmica de atribuição de sentidos e valores. Ou seja, pra o fato de que os bens culturais não valem por si mesmos, não tem valor intrínseco. O valor lhes é sempre atribuído por sujeitos particulares e em função de determinados critérios e interesses historicamente condicionados. [...] essa perspectiva afirma a relatividade de qualquer processo de atribuição de valor a bens, e põe em questão os critérios até então adotados para a constituição de patrimônios culturais. [...] Relativizando o critério de saber, chamava-se atenção para o papel do poder (FONSECA, 2001, p. 112).

O ano de 1988, assinalado pela promulgação da Constituição Federal Brasileira,

também marcaria as novas dimensões simbólicas presentes na Carta Magna,

sobretudo, por dois conceitos que traduzem as ideias de “referências culturais”: o

reconhecimento dos direitos culturais como garantia constitucional, atrelado à

proteção “das culturas populares”41, ampliando, portanto, as referências culturais

que comporiam a dimensão simbólica de nação, na norma preservacionista42; e a

40

Cf. FONSECA (1997) e SANT‟ANNA (1995). 41

Cf. Art. 105 §1º da Constituição Federal (BRASIL, 1988). 42

Importante reafirmar a dimensão apreendida nesta pesquisa quanto a abordagem da norma preservacionista em sua dimensão de poltica pública governamental, desdobrada em um aparato regulador que protege os bens culturais pelo tombamento e registro, e por um aparelho gestor que

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ampliação do conceito hegemônico de patrimônio cultural, desde 1937, incluindo os

bens imateriais como patrimônio cultural brasileiro, e a instituição de outros

instrumentos jurídicos que dessem conta da proteção de todas essas novas velhas

“referências culturais”, como o Registro e o Inventário43.

Ainda que posteriormente desenvolvida nessa tese, merece ser observada,no

cenário preservacionista internacional, no final da década de 1980, uma ampliação

dos valores e referências na trajetória da norma de preservação tendo em vista as

considerações da 25ª Reunião da Conferência Geral da UNESCO. Assim, em 1989

a Organização Internacional trataria da Salvaguarda da Cultura Tradicional e

Popular, ampliando o conceito de bem cultural numa dimensão global através da

promoção da cultura local, definindo um cenário histórico propício à construção de

políticas de preservação dos bens das culturas populares no mundo e no Brasil.

Com a ampliação do conceito de bem cultural e dos conseguintes valores e

referências culturais a serem protegidos e promovidos, a UNESCO alcança um

arranjo patrimonializante onde o sujeito torna-se o próprio valor a ser protegido,

através do programa “Tesouros Humanos Vivos”.A ideia de Patrimônio vivo, numa

perspectiva institucional, nasce na UNESCO, por iniciativa da Coréia, tendo por base

as experiências no Japão em meados do século XX. Em 1994, o programa Tesouros

Humanos Vivos - Living Human Treasures44 – é institucionalizado no seio da

UNESCO, incentivando aos países membros a construção de políticas de

reconhecimento e titulação de Mestres e Mestras da Cultura Popular, ainda em vida,

permitindo a transmissão de seus conhecimentos tradicionais, mediante o

pagamento de um auxílio financeiro.Segundo (SANT‟ANNA, 2001), o Sistema

Tesouros Humanos Vivos passaria a ter maior divulgação a partir de 1996, tendo por

objetivos a preservação das tradições ameaçadas de desaparecimento, através do

opera as ações de seleção, de proteção (tombamento ou registro) e promoção dos bens culturais brasileiros, empreendida pelo IPHAN, no Brasil, desde 1937. 43

Cf. Art. 216 §1º da Constituição Federal (BRASIL, 1988). 44

“Living Human Treasures are persons who possess to a high degree the knowledge and skills required for performing or re-creating specific elements of the intangible cultural heritage” (UNESCO, 1994).

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apoio aos transmissores dos conhecimentos e práticas tradicionais, tendo por base a

reprodução desses conhecimentos às novas gerações.

O apoio se dá na forma de ajuda financeira para o desenvolvimento das atividades, aquisição de equipamentos, materiais, isenções de impostos, seguro saúde,, seguro de vida, entre outros. O sistema, inspirado na legislação japonesa de 1950, é visto pela UNESCO como forma eficiente de proteção e transmissão de saberes e modos de fazer tradicionais. Países como Coréia, Filipinas, Tailândia, Romênia e Franca já adotam sistemas semelhantes (SANT‟ANNA, 2001).

No Brasil, a despeito de algumas experiências nos estados federados45, não existe

uma política nacional nesse sentido, mesmo diante de alguns tensionamentos em

torno das salvaguardas aos Mestres da Capoeira, bem cultural registrado como

patrimônio nacional.

Outro importante instrumento que estabeleceria significativas discussões em torno

das novas “referências culturais” definidas na Constituição Brasileira e seus

desdobramentos na política preservacionista do IPHAN foi o “Seminário Patrimônio

Imaterial: estratégias e formas de proteção”, realizado em 1997 na cidade de

Fortaleza, no Ceará.

Criado para comemorar os 60 anos do IPHAN a partir das reflexões em torno da

necessidade de construção de uma política de preservação no Brasil, levando em

consideração a dimensão simbólica imaterial dos bens culturais, o Seminário tornou-

se marco na trajetória da norma de preservação dos bens das culturas populares,

pois engatilha toda uma serie de elementos na trajetória normativa, tendo por base

uma discussão dos “novos” valores e “referências culturais”, portanto, da dimensão

simbólica, na construção de um arranjo regulador e gestor institucional.

A “Carta de Fortaleza”, documento final desse seminário, já iria dimensionar a

questão da proteção e promoção dos bens imateriaiscomo principal objetivo a ser

superado, inaugurando formalmente a construção de uma política institucional que

incorporaria as novas “referências culturais” em questão, na trajetória da norma de

preservação das culturas populares brasileiras.

45

Estados da Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte.

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Ainda que não pertencente ao universo instrumental das políticas preservacionistas,

no entanto, não menos importantes na composição da trajetória normativa de

preservação, constituem as publicações do IPHAN. Dentre essas, a Revista do

Patrimônio, que circula desde 1937, constituiu no seu principal veículo discursivo

durante décadas, reafirmando ou readequando posturas e reflexões em torno do

patrimônio cultural brasileiro e, durante essa trajetória, somente em 1999, mais

especificamente na edição nº 28, a Revista do Patrimônio, traria como sua temática

central “Arte e Cultura Popular”, o que acena para uma perceptível inflexão no

IPHAN sobre os novos valores e referências culturais, traduzidos, nesse caso, nas

culturas populares.

As novas “referências culturais”, seriam objetivamente reconhecidas enquanto

patrimônios culturais brasileiros na trajetória da norma de preservação dos bens das

culturas populares, quando da instituição do Registro de Bens Culturais de Natureza

Imaterial e do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial(PNPI), no âmbito do

IPHAN, através do Decreto Federal nº 3.551 de 04 de agosto de 200046. Assim,

segundo o decreto, Saberes, Celebrações, Formas de Expressão e Lugares,

alçariam o valor de se tornarem patrimônios culturais brasileiros, abarcando, nesse

sentido, toda uma considerável parcela de bens da cultura popular. No entanto, não

estão excluídos do alcance do Decreto outros bens que não necessariamente

compõem o universo de bens culturais populares, embora, na prática não há

ocorrências da patrimonialização desses bens.

No que tange aos registros, ocorreria, portanto, uma mudança na própria ideia de

patrimônio que absorve a cultura popular. “O que muda é a concepção mesma de

„cultura popular‟ a partir da renovação epistemológica do conceito de patrimônio”

(ROCHA, Gilmar, 2009, p. 230). Assim, as dinâmicas vivas da cultura brasileira,

traduzidas durante muitos anos pelos conceitos de folclore e tradição alçam a

categoria de patrimônio nacional imaterial.

Esse entendimento amplificado da noção de patrimônio cultural apresenta três consequências. Em primeiro lugar vem diluir certas dicotomias que, tradicionalmente, organizam o campo das políticas culturais: produção x

46

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3551.htm>. Acesso em: 25 jul. 2014.

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preservação; presente x passado; processo x produto; popular x erudito. [...] Em segundo lugar, vem esclarecer certos mal entendidos, como o que restringe a ideia de patrimônio imaterial a Folclore e/ou cultura popular. Embora essas áreas venham a ser mais beneficiadas por uma política de patrimônio mais abrangente, na medida em que têm ficado bastante desassistidas pelas políticas públicas de cultura, não é a suposta imaterialidade ou, pior, uma hipotética „pobreza‟ de seus testemunhos materiais que constituiriam o diferencial em relação a bens culturais de natureza material, que seriam assim associados às manifestações de caráter erudito. Em terceiro lugar, a questão abre espaço para estender a grupos e nações de tradição não-européias as políticas de patrimônio cultural. (FONSECA, 2003, p. 69-70).

Nesse momento,novos velhos patrimônios são evocados e, sobretudo, a concepção

andradiana de cultura concebida em seu projeto para a criação do IPHAN, em 1936,

no qual os bens da cultura popular alcançavam o mesmo patamar dos monumentos

de “pedra e cal”. Os bens da cultura popular seriam, portanto, protegidos através do

Registro do bem cultural, em sua dimensão imaterial.

Resultado de um tensionamento entre forças no próprio IPHAN diante de uma

crescente crítica à política da “pedra e cal”, bem como de demandas da própria

sociedade, que já estariam em vias de formulação, institucionalmente,as ideias de

“referências culturais” passariam a fazer parte do repertório patrimonializante

brasileiro, sobretudo, de modo a atender às demandas que se lançavam na

construção e consolidação de uma política nacional de seleção, proteção e

promoção aos bens de natureza imateriais ou intangíveis que, em sua maioria,

representariam todo um repertório de bens culturais populares.

Percebemos, portanto, que, ainda hoje, não haveria um conceito ou expressão de

consenso capaz de traduzir a abrangência patrimonializante necessária a esses

bens culturais. O conceito de intangível ou imaterial, segundo avaliação deSant‟anna

(2001), enfatizaria a importância dos “processos de criação e manutenção do

conhecimento, sobre o produto da manifestação”, desconsiderando, ainda, as

condições materiais de produção e reprodução do bem. Ainda, segundo a autora,

tentativas de “contornar esses problemas” seriam desdobradas em três outras

expressões, que também não dariam conta da complexidade dos bens da cultura

popular. No entanto, essa dificuldade semântica não viria impedindo a construção de

políticas preservacionistas para esses bens culturais.

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As últimas tentativas de contornar esses problemas se consubstanciam nas expressões „patrimônio oral‟, “espaço cultural” e “paisagem cultural”. A primeira busca, sem sucesso superar os problemas cotidianos expressões „patrimônio imaterial‟ e „intangível‟ e os reducionismos que a expressão „cultura tradicional e popular‟ implica, por meio de uma ênfase na transmissão desses bens. A segunda vincula essas manifestações ao espaço físico ou ao território em que ocorrem e a terceira busca realizar a síntese dos aspectos materiais e imateriais do patrimônio por meio da ideia de paisagem, que abarca todo esse conjunto e o enraíza no território.[...] esta última expressão não permite individuar certas manifestações e não dá

conta de outras que superam uma noção espacial de território.(ROCHA,

Gilmar, 2009, p. 230).

Assim, o patrimônio popular é o bem cultural imaterial, o bem cultural material, ou

até mesmo um patrimônio vivo, como os mestres da cultura popular e tradicional. A

referência cultural definidacomo popular pode recortar transversalmente os discursos

jurídicos quanto à materialidade ou não da coisa; os valores artísticos, históricos,

paisagísticos, etnográficos consolidados na práxis preservacionista

Percebemos, por fim, que a dimensão das imaterialidades humanas vem passando

por uma ressignificação dos seus valores ou referências culturais, uma vez que sua

dinâmica é viva, corrente, até mesmo por uma não sujeição patrimonializante.

Importa ainda demonstrarmos que o Tombamento de bens das culturas populares

brasileiras nunca fora uma prática institucional do IPHAN anterior a CF 1988, a

exceção dos tombamentos andradianos do inicio do Serviço do Patrimônio, no fim da

década de 1930 e, em 1986, com o Tombamento do Terreiro da Casa Branca em

Salvador, BA. No entanto, ao estudarmos os tombamentos realizados pelo IPHAN

entre 1988 e 2013, verificamos que, dos 10 bens culturais tombados, 09 possuem o

caráter etnográfico como valor para o tombamento. Enquanto bens das culturas

populares brasileiras,fica evidente o papel das “referências culturais” às culturas

populares no processo de produção e reprodução desses bens culturais,

constituindo elemento de extrema importância para os tombamentos históricos,

artísticos, arqueológicos, etnográficos e paisagísticos. No que tange o patrimônio

imaterial, o universo de bens das culturas populares nas cidades brasileiras

registrados pelo IPHAN desde 2000 a 2013 abrange o total de 22 bens culturais

registrados, representados por Saberes, Celebrações, Formas de Expressão e

Lugares.

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68

Desse modo, ao construirmos nossa analise sobre a norma de preservação das

culturas populares nas cidades brasileiras tendo por base as políticas públicas

governamentais, passemos a analisar a dimensão simbólica na trajetória da norma

de preservação da cultura popular brasileira, desdobradaatravésdos valores

atribuídos aos bens culturais nos processos de patrimonialização; dos bens

associados ao bem cultural e o seu caráter dinâmico;dos aspectos relevantes à

patrimonialização orientado pela ideia de “referências culturais. Tomamos por base

para essa operação os referidos processos de Tombamento e Registro, pelo IPHAN,

entre 1988 e 2013.

2.1.1 Os valores atribuídos aos bens culturais

A observação dos valores atribuídos aos bens das culturas populares analisados a

partir dos processos de registro e tombamento, dentro do universo definido na

introdução desta pesquisa permitiu-nos desenvolver observações qualitativas acerca

da dimensão simbólica.

Importante consideração deve ser levantada diante da valoração dos bens imateriais

e materiais. Quanto aos últimos, as composições dos livros dos tombos indicam os

valores que são atribuídos aos bens culturais materiais tombados: históricos,

artísticos, arqueológicos, etnográficos e paisagísticos. Quanto aos primeiros, a ideia

de valoração encontra uma dupla possibilidade de interpretação: a primeira47, onde

os valores estão diluídos (artístico, historia, etnográfico, paisagístico, dentre outros)

e observáveis nas dinâmicas culturais dos bens imateriais, onde os Saberes, Formas

de Expressão, Celebrações e Lugares, constituem apenas categorias para a

aplicação do instrumento de Registro, portanto não constituindo valor do bem

cultural.

Nossa interpretação entende que, de modo analógico ao que ocorreu com os bens

materiais no procedimento de tombamento onde os livros de tombo são homônimos

aos valores dos bens culturais, os Saberes, Formas de Expressão, Celebrações e

47

Defendida pela Profª Márcia Sant‟Anna.

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Lugares, também se constituem valores que são atribuídos como uma forma de

aglutinar em um mesmo conceito a diversidade e dinâmica de bens culturais, cuja

produção ou reprodução do bem cultural ocorre imerso sob as mais diversas

linguagens artísticas e sociabilidades, em diferentes contextos históricos e por

diversos sujeitos e grupos sociais. Partindo desse pressuposto, os quadros abaixo

demonstram a atribuição do valor nos processos 22 processos de Registro e nos 10

processos de Tombamento dos bens estudados.

Bem Cultural Registrado pelo IPHAN Valor atribuído Data do Registro

Ofício das Paneleiras de Goiabeiras Saberes 20/12/2002

Samba de Roda do Recôncavo Baiano

Formas de Expressão

Patrimônio Oral

05/10/2004

Círio de Nossa Senhora de Nazaré Celebrações 05/10/2004

Modo de Fazer Viola-de-Cocho Saberes 14/01/2005

Ofício das Baianas de Acarajé Saberes 14/01/2005

Jongo no Sudeste Formas de Expressão 15/12/2005

Feira de Caruaru Lugar 20/12/2006

Frevo Formas de Expressão 28/02/2007

Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto,

de Terreiro e Enredo

Formas de Expressão 20/11/2007

Tambor de Crioula do Maranhão Formas de Expressão 20/11/2007

Modo artesanal de fazer queijo nas regiões do

Serro, da Serra da Canastra e do Salitre.

Saberes. 13/06/2008.

Ofício dos mestres de capoeira Saberes 21/10/2008

Roda de Capoeira Formas de Expressão 21/10/2008

Modo de fazer Renda Irlandesa Divina Pastora / SE Saberes 28/01/2009

Ofício de Sineiro Saberes 03/12/2009

Toque dos Sinos em Minas Gerais tendo como

referência São João del Rey e as cidades de Ouro

Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo,

Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes.

Formas de Expressão 03/12/2009

Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis Celebrações 13/05/2010

Festa de Sant' Ana de Caicó Celebrações 10/12/2010

Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do

Maranhão

Celebrações 30/08/2011

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Fandango Caiçara Formas de Expressão 29/11/2012

Festa do Divino de Paraty Celebrações 03/04/2013

Festa do Senhor do Bonfim Celebrações 05/06/2013

Quadro 05 – Valores atribuídos no Registro dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras

pelo IPHAN entre 2000 e 2013.

Bem Cultural Tombado pelo

IPHAN Valor atribuído

Ano de

Aprovação no

Conselho

Consultivo

Terreiro do Axé Opô Afonjá Arqueológico Etnográfico e

Paisagístico

Histórico

2000

Ilê Iyá Omim Axé Yiamassé Arqueológico Etnográfico e

Paisagístico

Histórico

2005

Terreiro de Candomblé do Bate-

Folha Manso Banduquenqué

Arqueológico Etnográfico e Paisagístico

Histórico

2005

Terreiro Casa das Minas Jeje Arqueológico Etnográfico e

Paisagístico

Histórico

2005

Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá Láji Arqueológico Etnográfico e

Paisagístico

Histórico

2008

Casa de Chico Mendes e seu acervo Histórico 2011

Canoa Costeira, de nome Dinamar

Arqueológico Etnográfico e Paisagístico

Histórico

Belas Artes

2012

Saveiro de Vela de Içar, de nome,

Sombra da Lua, no Recôncavo

Baiano

Arqueológico Etnográfico e Paisagístico

Histórico

Belas Artes

2012

Canoa de Tolda Luzitânia

Arqueológico Etnográfico e Paisagístico

Histórico

Belas Artes

2012

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71

Canoa de Pranchão

Arqueológico Etnográfico e Paisagístico

Histórico

Belas Artes

2012

Fonte: IPHAN - Arquivo Noronha Santos. Processos de Tombamentos

Quadro 04 – Valores atribuídos no Tombamento dos bens das culturas populares nas cidades

brasileiras pelo IPHAN entre 1988 e 2013

Nesse sentido, facilitando a compreensão da trajetória normativa e de sua leitura,

orientamo-nos pela inevitável abordagem dicotômica formulada pela política de

preservação no Brasil e que se desdobra sobre a dimensão simbólica: os bens

imateriais, portanto Registrados; e os bens matérias, tombados.

As distribuições dos valores atribuídos aos bens Registrados pelo IPHAN podem ser

mais bem compreendidas quando verificamos a relação percentual dessa

distribuição no universo dos 22 bens imateriais Registrados

Desse modo, o gráfico a seguir demonstra um predomínio das Formas de Expressão

seguido bem próximo pelos Saberes, e uma baixa representatividade dos Registros

de Lugares, compreendendo apenas um caso, ou 5% de todo o universo estudado.

Gráfico 1 – Classificação por Valores dos bens das culturas populares Registrados pelo IPHAN nas cidades brasileiras (2000-2013)

O que se pode perceber, para além de uma análise da distribuição quantitativa, é

que existe uma heterogeneidade de bens culturais reunidos nas Formas de

Expressão, nos Saberes, nas Celebrações, com exceção do Registro de Lugar que

só possui um único bem registrado, a Feira de Caruaru. Essa heterogeneidade

36%32%

27%

5%

Formas de Expressão

Saberes Celebrações Lugar

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também é percebida numa perspectiva intra-valorativa, sobretudo, entre as Formas

de Expressão e os Saberes. As celebrações compreendem, quase em sua

totalidade, bens culturais de cunho simbólico religioso e têm por exceção o Registro

do Complexo Cultural do Bumba meu Boi do Maranhão.

Outra importante consideração seria quanto à complexidade dos processos de

seleção, uma vez caracterizada a heterogeneidades dos bens protegidos pelo

Registro. Tal situação indica a necessidade de um corpo operacional multidisciplinar

e, sobretudo, da atuação inclusiva dos sujeitos envolvidos nos processos de

patrimonialização, na construção do entendimento das dimensões simbólicas dos

bens culturais e das possíveis valorações ao bem cultural na construção do seu

valor enquanto patrimônio brasileiro a ser protegido pelo Registro.

Apesar da inclusão de bens das culturas populares brasileiras no rol de patrimônios

culturais brasileiros através do tombamento, entre os anos de 1988 e 2013,

demonstra uma clara ampliação da atuação valorativa do IPHAN diante dos bens

materiais brasileiros. A fase monumental ou período da “pedra e cal” demonstra ser

uma realidade institucional que parece ter absorvido as discussões percebidas

diante das novas “referências culturais” introduzidos na dinâmica institucional do

IPHAN a partir da década de 1970, e da ampliação constitucional do conceito de

patrimônio cultural em 1988.

Assim, novos bens culturais materiais passam a possuir valor patrimonial - incluindo

nesse rol os bens das culturas populares nas cidades brasileiras - pelo IPHAN, como

os terreiros de candomblé, por exemplo, ainda que os valores atribuídos aos bens

culturais permanecessem os mesmos: Arqueológico Etnográfico e Paisagístico,

Histórico e, no bem Artístico, através das Belas Artes e das Artes aplicadas.

Outra importante consideração no universo empírico, é que a prática da atribuição

de mais de um valor ao mesmo bem cultural, e a consequente inscrição de um

mesmo bem em mais de um livro do tombo, é reiterada nos tombamentos desse

período, conforme demonstrado no quadro anterior, embora essa não seja uma

característica exclusiva dos tombamentos desse período.

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As leituras desse universo de bens culturais indicam que, a partir dos valores

Arqueológicos, Etnográficos, Paisagísticos, Históricos, e Artísticos através das Belas

Artes, do total de 10 bens tombados, 05seriam Terreiros de Candomblés originários

de três nações48 distintas; 04 embarcações populares como Canoas e Saveiro; e 01

habitação popular seringueira; demonstrando novas “referencias culturais” aos bens

das culturas populares no Brasil que se estabelecem, também, no âmbito da

materialidade, no IPHAN.Os gráficos abaixo demonstram essa análise:

Gráfico 2 – Representação quantitativa por valores dos Bens Tombados pelo IPHAN das culturas populares nas cidades brasileiras

Levando-se em consideração que um mesmo bem cultural pode ser reconhecido

como patrimônio através de mais de um valor cultural, estes bens seriam inscritos,

respectivamente em mais de um livro do tombo, ou seja, podendo possuir tanto um

valor histórico como etnográfico, incorrendo numa sobreposição de valores sob o

mesmo bem cultural conforme demonstra o gráfico 02. Apesar de trabalharmos com

o universo de apenas 10 bens tombados, a sobreposição de tombamentos sobre o

mesmo bem, apresentaria a distribuição demonstrada no gráfico.

48

Constitui na cosmologia histórico-simbólica do Candomblé Brasileiro às “nações” origem dos povos Nagô, Jejê, Angola e Ijexá.

9 10

4

Arqueológico Etnográfico e Paisagístico

Histórico Artístico

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Gráfico 3 – Representação percentual por categorias de Bens Tombados pelo IPHAN das culturas populares nas cidades brasileiras

Diante das possibilidades de discussões que se estabelecem em torno do valor na

dimensão simbólica, uma delas, certamente, merece nosso destaque: a não

superação simbólica, valorativa, da dicotomia entre a materialidade e a

imaterialidade na trajetória da norma de preservação das culturas populares nas

cidades brasileiras, tendo em vista, sobretudo, a adaptação das políticas de

regulação e gestão aos instrumentos jurídicos disponíveis: do tombamento, para os

bens de natureza jurídica intangível ou material, móvel ou imóvel; e do Registro,

para os bens de natureza intangível ou imaterial; políticas públicas governamentais

de preservação que ocorrem em conjunto sob o mesmo órgão preservacionista.

2.1.2 Aspectos relevantes à patrimonialização e “referências culturais”

A variável denominada “aspectos relevantes” à patrimonialização surge através de

um indicador presente nas fichas técnicas do Banco de Dados de Bens Culturais

Registrados (BCR) do DPI/IPHAN49. A necessidade do próprio Estado em indicar

essa informação técnica, nos fez refletir sobre que aspectos para além da

denominação habitual do bem cultural auxiliariam a revelar a importância simbólica

do bem, enquanto patrimônio cultural. Nesse sentido, a variável trabalhada pelo

IPHAN seria incorporada às Fichas descritivas dos procedimentos de registros e

tombamentos de bens culturais, sobretudo, pela direta relação dessa variável com

49

Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/228>. Acesso em: 23 jul. 2014.

50%40%

10%

Terreiros de Candomblé

Embarcações Tradicionais

Habitação Popular

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as ideias de “referências culturais” no processo de patrimonialização, uma vez que

complementam o entendimento dinâmico e plural dos bens intangíveis.

Longe de tentarmos mensurar quantitativamente os “aspectos relevantes” da

patrimonialização dos bens das culturas populares na trajetória da norma de

preservação através do estudo do tombamento e do registro, nossa abordagem

privilegia tentar demonstrar esse cenário simbólico que envolve os “aspectos

relevantes”, considerando, sobretudo, a heterogeneidade dos aspectos envolvidos e

dificuldade de arranjos para a sua compreensão através do agrupamento desses

aspectos através do binômio semelhança e diferença.

Os aspectos relevantes a patrimonialização dizem diretamente dos elementos

simbólicos necessários ao processo de produção do bem cultural. Nesse sentido,

esses aspectos simbólicos podem ser compreendidos como um conjunto de

elementos que traduzem, material ou imaterialmente, as condições, artefatos, rituais,

linguagens artísticas, saberes e fazeres, territorialidades e identidades, que

apresentam sua condição de bem cultural patrimônio. São os aspectos considerados

“relevantes” para que determinado bem cultural fosse valorado como patrimônio

cultural.

A ideia plural dos aspectos relevantes à patrimonialização dificulta um entendimento

sistemático na trajetória da norma de preservação dos bens das culturas populares,

o que nos indica, como saída metodológica, a demonstração de cenários através de

exemplos novamente dualizados pela ideia de materialidade e imaterialidade e seus

respectivos instrumentos de proteção.

No que tange ao Registro, portanto, à patrimonialização dos bens culturais

imateriais, podemos perceber algumas condições comuns aos bens intangíveis, tais

como a existência de grandes rituais populares; pelo processo de fabricação

artesanal dos artefatos de produção e reprodução dos bens culturais; expressões

culturais em diversas linguagens, sobretudo a música e a dança; e reprodução dos

bens culturais em territórios populares; longa temporalidade enraizada,

demonstrando a relação simbólica do bem cultural exercido pelos sujeitos e grupos

sociais.

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No entanto, verificados os aspectos relevantes à patrimonialização, de forma

pormenorizada, percebemos uma maior evidência:

a) nos Saberes, de “aspectos” como o saber-fazer, as condições sócio-

ambientais de produção, os sujeitos reprodutores, as sociabilidades

envolvidas, reprodutibilidade econômica, bem como as questões de ordem

identitárias;

b) nas Celebrações, as questões rituais – pela alta carga simbólica religiosa

destes bens -, as alimentações, as representações dramatizadas e as

alegorias que envolvem diversas linguagens artísticas, os enredos;

c) nas Formas de Expressão, a um predomínio das diversas linguagens

artísticas – músicas, danças, figurinos, alegorias – estabelecem “formas” de

expressar aspectos, sobretudo identitários, territoriais e de sociabilidade, ou

ainda, percebe-se uma heterogeneidade dentro do mesmo bem cultural, no

que se refere a sua forma de expressão;

d) por fim, quanto aos Lugares, como partimos da experiência de apenas um

bem registrado, a Feira de Caruaru, parte de uma heterogeneidade de feiras,

dentro do mesmo lugar, para compor os aspectos relevantes à

patrimonialização.

Assim, ao verificarmos a condição peculiar a cada caso dos aspectos relevantes a

patrimonialização, podemos observar que essa informação revela um processo de

construção de procedimentos que ainda não puderam ser normatizado, sobretudo,

ao alto grau de discricionariedade desses procedimentos.

Tomemos alguns exemplos de forma ilustrativa:

a) O Ofício das Paneleiras de Goiabeiras, enquanto saber possui como aspectos

relevantes para a patrimonialização a “extração da argila, o açoite e a queima

das panelas50“já no Ofício dos Mestres da Capoeira, os Saberes aparecem

como “prática de sociabilidade, como prática cultural e como estratégia de

identidade” indicando um outro arranjo patrimonializante.

50

Fonte: Processo nº 01450.000672/2002-50 do BCR/DPI/IPHAN. Registro das Paneleiras de Goiabeiras. Banco de Dados do BCR.

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b) Nas Celebrações, a Festa do Bonfim, por exemplo, possui um rito religioso

católico e afro-brasileiro que se misturam em missa, procissão e lavagem das

escadarias da Igreja do Bonfim, onde aspectos como a vestimenta da cor

branca pelo fiel, as músicas e as alegorias que compõem a procissão e a

dramatização da “lavagem” das escadarias, ação que se mistura

homonimamente com a festa enquanto Lavagem do Bonfim.

c) Nas Formas de Expressão, a heterogeneidade de expressões que ocorre no

mesmo bem cultural, traz aos aspectos relevantes à patrimonialização desses

bens um rico retrato de nossa diversidade cultural. Assim, por exemplo, no

Frevo, assistimos ao “Frevo de Rua, Frevo-canção, ao Frevo de Bloco51“ ; e

nas Matrizes do Samba do Rio de Janeiro, o “Partido Alto, o Samba de

Terreiro e o Samba Enredo52“ ; ainda, quanto aos aspectos para a produção e

reprodução do bem cultural patrimônio, os “Pontos, os Tambores e os

instrumentos musicais53“comporiam, por exemplo, os aspectos relevantes à

patrimonialização do Jongo no Sudeste.

d) Quanto aos Lugares, a Feira como “lugar de socialização e relevância

cultural” representada através das diversas Feiras, caracterizariam os

aspectos mais relevantes à patrimonialização desse lugar, bem cultural.

Alguns questionamentos, ainda que sem uma condição prévia de respostas, indica a

reflexão em torno do que significaria esse conjunto de diferenças, colocadas lado a

lado em um mesmo processo de patrimonialização.

Em relação aos processos de tombamentos pelo IPHAN de bens das culturas

populares nas cidades brasileiras, os aspectos relevantes à patrimonialização não

estão tão claramente definidos como no caso do Registro, tanto por não existir uma

sistematização das informações dos bens tombados como existe dos bens

registrados, quanto pela diversidade dos documentos e estudos que embasam o

valor de proteção dos bens culturais, esses diluídos em estudos históricos,

51

Fonte: Processo Nº 01450.002621/2006-96 do BCR/DPI/IPHAN. Registro do Frevo. 52

Fonte: Processo Nº 01450.011404/2004-25 do BCR/DPI/IPHAN. Registro das Matrizes do Samba no Rio de Janeiro. 53

Fonte: Processo Nº 01450.005763/2004-43 do BCR/DPI/IPHAN. Registro do Jongo no Sudeste.

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etnográficos e de descrição da situação material do bem cultural, atentando em parte

a normativa para a instrução dos processos de tombamento que auxilia mais não

define ou vincula a condição procedimental para o tombamento pelo IPHAN54.

Assim, dentro do nosso universo empírico, os processos de tombamento, apesar de

seguirem ritos procedimentais muito próximos entre si, nunca seriam homogêneos,

tendo em vista as diferenças existentes entre os bens culturais, e a maior ou menor

habilidade técnica na instrução dos processos, o que implicaria diretamente numa

demonstração mais clara dos aspectos relevantes à patrimonialização nesses bens

culturais. Ainda, é sabido que o limite de alcance protecionista do tombamento

reside na materialidade da coisa, na sua fisicidade, portanto, a composição dos

aspectos relevantes a patrimonialização desses bens culturais, certamente

perpassaram por aspectos materiais, mas não exclusivamente.

No tombamento dos 05 Terreiros de Candomblé, a preservação dos recursos

naturais das roças, necessários à produção e reprodução do bem cultural,

possivelmente constituíram-se em importantes aspectos relevantes à

patrimonialização, uma vez que demarcavam simbolicamente aspectos materiais do

Axé, das práticas religiosas e sociais que envolvem o território afro-brasileiro mais

emblemático nas cidades brasileiras. Outro importante aspecto simbólico relevante à

patrimonialização dos Terreiros pelo IPHAN, diz respeito aos estudos etnográficos

da Casa e da Família de Santo, e do reconhecimento da condição de Casa Matriz,

ou seja, um terreiro originalmente constituído.

A Casa de Chico Mendes, tombada como patrimônio histórico, possui em seu

processo de tombamento características relevantes à sua

54

A Portaria n º11 de 11 de setembro de 1986 indica os aspectos relevantes a patrimonialização, traduzidos na orientação para a instrução do processo: descrição histórica; delimitação de poligonal e sua representação gráfica, o “do mérito do valor cultural de tombamento” atrelada a uma justificativa para o tombamento e das poligonais de entorno: sobre os bens móveis, identificação no terreno dos componentes naturais, agenciados e edificados por levantamento topográfico, fotográfico indicando possível mérito individual ou de elementos coletivos do conjuntos. A ambiência e visibilidade do bem continuam sujeitos as “condições específicas os bens naturais deverão ser analisados por planta topográfica considerando o meio antrópico (agenciamentos humanos), do meio físico (água, ar, solo relevo”) e do meio biológico (flora e fauna); tombamento isolado deve compor plantas de situação, plantas baixas, corte, elevações e cobertura. „no caso de bens imóveis, devem ser relacionados os elementos integrados e identificados os acervos de bens móveis merecedores de tombamento.

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patrimonialização,explicitadas através da condição de habitação popular seringueira

e sua técnica construtiva, bem como da sua condição de implantação e ambiência,

hoje, ameaçada pelo crescimento das cidades e os decorrentes processos de

urbanização.

No entanto, nos processos de tombamento das embarcações populares brasileiras,

percebemos nos aspectos relevantes à patrimonialização um apreço muito maior

aos saberes relacionados às técnicas construtivas e de velejo, do que mesmo com a

materialidade do bem, o que enseja toda uma discussão em torno do registro dos

saberes para a reprodutibilidade e fruição do barco, aspecto fim da

patrimonialização, em detrimento do tombamento das embarcações como proteção

de uma materialidade.

Nesse sentido, percebemos quão importante torna-se a compreensão da variável

trabalhada no processo de produção e reprodução dos bens culturais, uma vez que

nos fornece informações que na maioria das vezes encontram-se diluídas nos

documentos e procedimentos de proteção dos bens culturais patrimônio.

As ideias de “referências culturais” passariam a compor, portanto, o entendimento

das dimensões simbólicas nos procedimentos de seleção, proteção e promoção dos

bens das culturas populares nas cidades brasileiras realizados pelo IPHAN, entre os

anos de 1988 a 2013, chegando a constituir no principal instrumento de seleção de

bens culturais imateriais utilizados pela instituição, o INRC – Inventário Nacional de

Referências Culturais.

A incorporação da ideia de referencias em detrimento dos valores estáticos que se

atribuíam aos bens monumentais, sobretudo, indica outra característica dos bens

das culturas populares. Ainda, a possibilidade de atribuir aos bens das culturas

populares uma construção valorativa mais ampla - incorporando diversos valores ao

mesmo bem cultural - ressignificando os valores históricos e, sobretudo os artísticos,

incorporados á práxis preservacionista do IPHAN, ou mesmo, indicando uma maior

visibilidade dos valores etnográficos nos processos de tombamento dos bens das

culturas populares na norma de preservação.

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Ainda, a dinamicidade do bem, reconhecida nos procedimentos de Tombamento e

Registro estudados através da variável “Bens Associados”, conforme demonstramos

a seguir.

2.1.3 Bens associados ao bem cultural: o caráter dinâmico dos bens

O reconhecimento do caráter dinâmico dos bens das culturas populares brasileiras é

verificável em todos os processos de tombamentos e registros entre 1988 e 2013,

constituindo em um elemento simbólico possibilitador das condições de produção e

reprodução desses bens culturais.

Nesse sentido, ao verificarmos a importância que os bens associados assumem no

procedimento de patrimonialização, abordaremos a questão da dinamicidade versus

estaticidade dos bens culturais patrimônios, tomando o tombamento das

embarcações e dos terreiros como referências.

A dinâmica dos bens culturais é reconhecida como uma consequência da sua

compreensão através de suas “referências culturais”, distante das antigas práticas

preservacionistas que buscavam o tão desejado méritoque justificasse o valor (ou

valores) dos bens culturais, orientada por uma elaboração mais centrada no

monumento, na excepcionalidade do bem como modelo representativo, em

detrimento das dinâmicas que envolvem os bens culturais, sejam eles materiais ou

imateriais.

A heterogeneidade de elementos presentes nas informações quantos aos bens

associados nos indica não ser desejável uma abordagem quantitativa da questão, o

que nos leva, mais uma vez, a explorarmos qualitativamente a questão dos bens

associados.

Nesse sentido, merecem uma atenção especial as dinâmicas que envolvem as

embarcações e os valores patrimoniais atribuídos sobre a sua materialidade, onde,

mesmo clara a necessidade de proteção do ofício, em sua “retórica da perda”,o valor

da materialidade se sobrepõe com o tombamento dessas embarcações.

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O Tombamento das embarcações populares, como Canoa Costeira Dinamar, a

Canoa de Tolda Luzitânia, a Canoa de Pranchão do Rio Grande, e o Saveiro de Vela

de Içar Sombra da Lua, constituem-se como bons exemplos a serem discutidos.

Tombados pelo IPHAN em 2012, todos os bens culturais possuem latente a sua

característica dinâmica enquanto bem cultural, sobretudo, pela sua característica de

ser um bem material móvel.

Assim, por exemplo, o tombamento do Saveiro de Vela de Içar Sombra da Lua

constitui-se muito mais numa valoração museal – como peça representativa de um

dado momento e contexto histórico – do patrimônio, ao compararmos a sua dinâmica

dentro do contexto de “referências culturais” na Baía de Todos os Santos. Um único

saveiro tombado não representará a proteção aos demais saveiros baianos, ainda

existentes. Tampouco, contempla o principal elemento simbólico dessa dinâmica

patrimonializante, a condição de reprodutibilidade do saber fazer dos Saveiros pelos

Mestres construtores, e pelas técnicas de navegação dos Mestres velejadores.

O Tombamento do Terreiro da Casa Branca, em Salvador, ainda no ano de 1986,

certamente introduz a questão da dinamicidade dos bens culturais, tendo como

objeto em questão, um bem material, uma Roça, um Templo Afro-Brasileiro, um

Candomblé.

A discussão em torno da dinamicidade do bem cultural decorrente de suas

referências culturais embasou diversos embates valorativos durante todo o seu

processo de tombamento, onde se procurava entender como se tombaria um bem

dinâmico, portanto, passível de modificações em sua fisicidade (DOURADO, 2011) o

que não impediu que o mesmo fosse tombado, em 1986, como patrimônio histórico,

arqueológico, etnográfico, paisagístico.

Essa compreensão da dinamicidade dos terreiros, mesmo enquanto um bem

material acompanharia todos os processos de tombamento das Casas de

Candomblé ocorridos entre os anos de 1988 e 201355, através dos Tombamentos de

04 Terreiros em Salvador, BA, e 01 Terreiro em São Luis, MA. Interessante

percebermos que essa dinamicidade é bem definida nesses processos de

55

Embora esses tombamentos tenham ocorrido entre os anos de 2000 a 2004.

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tombamento dos Terreiros, nos estudos históricos e etnográficos da casa e família

de santo, nos laudos ou pareceres técnicos emitidos desde as Superintendências

Regionais, quanto na instrução dos processos, onde, às vezes, esse caráter

dinâmico dificultava a instrução dos mesmos, sendo remetidos às instâncias

gestoras superiores ou solicitando o auxilio de notáveis especialistas na instrução de

processos de tombamentos de Terreiros.

Assim, quanto aos terreiros, o entendimento da sua dinamicidade sócio-espacial

está atribuída às próprias referências culturais que simbolicamente compõem o bem

cultural, portanto, passíveis de serem absorvidas nos atributos valorativos nos

procedimentos de patrimonialização. Os bens naturais como árvores, riachos, matas,

constituem os principais bens associados aos Terreiros nos processos de

Tombamento, uma vez a condição simbólica ocupada por esses bens nas práticas

litúrgicas e medicinais, bem como a sociabilidade nas Casas de Candomblé.

Ainda não menos importantes enquanto bens associados ao bem cultural, os

mobiliários, as jóias das Ialorixás, os elementos decorativos, não recebem o devido

tratamento nos processos de tombamento, o que ocorreria, em nosso entendimento,

pelas limitações existentes junto aos objetos ou espaços nos Terreiros de

Candomblé.

As dinamicidades dos bens das culturas populares tombados encontram-se

diretamente atreladas as “referências culturais” que o tornam patrimônio, bem como

os sujeitos e grupos sociais que os produzem e reproduzem. Assim como as

embarcações tradicionais estão inclusas em um contexto de uma paisagem cultural;

as “referências” etnográficas e históricas dos terreiros de candomblé contemplam a

sua condição de existência.

Ao verificarmos os “bens associados” quando tratamos dos bens registrados, a

dinâmica existente nesses bens mostra-se muito mais latente nos procedimentos de

registros, servindo como substrato conceitual na valoração do bem através de suas

“referências culturais”. Assim, cada bem cultural apresentará os seus bens

associados, de forma muito particular, configurando a dinâmica de produção e

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reprodução de cada bem, construindo todo um arranjo simbólico em torno da

patrimonialização dos bens imateriais.

Buscando uma melhor compreensão, tomemos alguns exemplos das dinâmicas que

envolvem os bens culturais registrados, verificados através dos bens associados. A

Feira de Caruaru56, em Pernambuco, constitui um exemplo bastante emblemático.

Caracterizada como um lugar de valor cultural, a Feira de Caruaru é constituída por

diversas feiras que,juntas, compõem o lugar da Feira:

[...] a Feira do Paraguai, do artesanato, da sulanca, do gado, das frutas e verduras, de raízes e ervas medicinais, de troca-troca, de flores e plantas ornamentais, do couro, das confecções populares, dos bolos, seção de gomas e doces, das ferragens, de artigos de cama, mesa e banho, do fumo,

e ainda o Alto do Moura.57

Assim, os bens associados à feira como lugar, patrimônio cultural brasileiro,

demonstram a riqueza de informações que essa variável apresenta na compreensão

da dimensão simbólica que atravessa os bens das culturas populares brasileiras.

Nesse sentido, ainda quanto a dinamicidade dos bens culturais imateriais, “os pratos

capixabas que estão associados ao uso da panela de barro”58constituem os bens

associados ao Oficio das Paneleiras de Goiabeiras, no Espírito Santo;assim como

“as imagens original e a peregrina, a Berlinda, o Recírio, o almoço do Círio, os

brinquedos de Meriti, a Procissão principal, a transladação, a Corda, o Arraial e as

Alegorias59“, constituem os bens associados que compõem toda a celebração em

torno do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, no Pará.

O reconhecimento do caráter dinâmico dos bens das culturas populares na trajetória

da norma de preservação das culturas populares nas cidades brasileiras sugere a

construção de uma política preservacionista pelo IPHAN que extrapola as

orientações de mérito quanto a excepcionalidade e autenticidade do bem cultural

56

Fonte: Processo Nº 01450.002945/2006-24 do BCR/DPI/IPHAN. Registro da Feira de Caruaru. 57

Ibidem. 58

Fonte: Processo nº 01450.000672/2002-50 do BCR/DPI/IPHAN. Registro das Paneleiras de Goiabeiras.. 59

Fonte: Processo nº 01450.010332/2004-07 do BCR/DPI/IPHAN. Registro do Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Banco de Dados de Bens Culturais Registrados-Disponível em : http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/228

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enquanto monumento nacional, introduzindo bens culturais vivos e não meramente

contemplativos, no rol dos bens culturais patrimônios nacionais.

Calçada numa noção antropológica de cultura, desloca-se da aceitação de um produto único, de valor „excepcional‟, e passa a ser pensada como um processo, um resignificar-se, um fazer-se a cada modalidade de interação, a cada configuração de posições e a cada contexto histórico. (SIMÃO, L., 2003, p. 59).

As relações entre tombamento e registro dos bens das culturas populares no que se

refere ao valor e a dinâmica dos bens culturais patrimônios, questionamentos quanto

à duração dos bens tombados e registrados, bem como, quanto aos valores que

encerrariam ou dificultariam essas dinâmicas, constituem importantes

questionamentos que se colocam e carecem de maiores desdobramentos.

Ao momento em que a norma de preservação das culturas populares reconhece o

caráter dinâmico e heterogêneo da dimensão simbólica desses bens, e que estes se

configuram como preciosos “dispositivos de poder”, uma maior probabilidade de

interação entre forças tensoras diante desse dispositivo – os indivíduos que

compõem as dinâmicas desses patrimônios, o estado agente da patrimonialização, o

mercado consumidor e mecenas, dentre outras forças – acabam por construír

arranjos tensores que demonstram as relações de poder que se estabelecem ou que

tentam se estabelecer, no seio do sistema de produção e reprodução dos bens

culturais patrimônios.

Nesse sentido, buscando trazer à pesquisa o caráter tensor das forças que atuam

sobre os bens das culturas populares na trajetória da norma de preservação, tendo

como cenário as cidades brasileiras, nos debruçamos sobre os arranjos tensores

que se estabelecem a partir da dimensão simbólica da norma de preservação. As

práticas que envolvem novos valores e referências atuando sobre o patrimônio

cultural brasileiro, ressignificam a sua dimensão simbólica, através de uma

“elasticidade patrimonializante”. Tratamos aqui de dois bens patrimônios da cultura

popular brasileira, registrados pelo IPHAN: O queijo de Minase o Toque dos Sinos

nas cidades mineiras, onde as condições sensoriais desses bens assumem o

destaque protagonista do bem cultural. O tensionamento de outros agentes em torno

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do dispositivo patrimônio evidencia e condiciona as experiências em torno do bem

cultural, através de uma ressignificação valorativa em torno do seu consumo.

2.2 “ELASTICIDADE” PATRIMONIALIZANTE E OS PATRIMÔNIOS CULTURAIS

SENSORIAIS: O QUEIJO DE MINAS E O TOQUE DOS SINOS NAS CIDADES

MINEIRAS

Constituintes das novas fronteiras de apreensão e fruição do patrimônio cultural e da

cultura popular na contemporaneidade, onde as dimensões locais, regionais,

sensoriais e étnicas, desdobram-se na produção do patrimônio culturais, podemos

observar as novas dimensões alcançadas pela patrimonialização de bens culturais

brasileiros.

Para além das discussões entre a materialidade ou imaterialidade do bem cultural,

seu caráter monumental, excepcional e autêntico, desdobradas nas ações de

seleção, proteção e promoção do patrimônio cultural, novos arranjos patrimoniais

têm vindo à tona, alertando-nos para uma possível ampliação de sua dimensão

simbólica, conquanto da ressignificação dos valores e referências do patrimônio,

desdobrada em políticas preservacionistas. Nesse sentido, deparamo-nos com uma

nova prática patrimonializante, onde a capacidade de produção e reprodução do

patrimônio cultural alcança dimensões paisagísticas, sensórias, étnicas e religiosas,

ressignificando ou construindo o potencial patrimonializante de determinados bens

culturais, até então não inclusos nos rol de bens patrimonializáveis.

Por potencial patrimonializante entendemos, no conjunto de condições favoráveis

para que determinados bens culturais atendam às dinâmicas patrimonializantes da

norma preservacionista atuante, tensões apreendidas em torno da produção do bem

patrimônio, considerando-o enquanto “dispositivo de poder”, em um dado momento

histórico e sob uma dada condição patrimonializante. Assim, as condições favoráveis

ao processo se manifestariam não somente como instrumentos e objetivos técnicos

e/ou jurídicos, mas, sobretudo, pelos arranjos entre os diversos agentes tensores

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interessados no processo de patrimonialização de um dado bem cultural, inserindo-o

na dinâmica normativa preservacionista atuante.

A ressignificação dos critérios e dos próprios bens culturais a serem

patrimonializados se, de um lado, demonstram a inserção de diferentes e diversas

“referências culturais” no processo de produção do patrimônio cultural, indicando a

construção de uma política preservacionista mais plural, do ponto de vista simbólico,

político e social, de outro, demonstra-nos umaprodução do patrimônio muito bem

traduzida no conceito da “maquinaria patrimonializante” (JEUDY, 2005). Para o

autor, o fetiche criado em torno da necessidade de rememoração, onde “o dever de

memória” imposto torna-se uma obrigação moral e seria “controlado pela ordem

patrimonial”, o que interferiria diretamente nos processos de transmissão da cultura,

e “o espírito patrimonial” reinaria “sem ter necessidade de ser reconhecido como tal”.

É estabelecido, portanto, um mecanismo de atualização do passado, esgotando as

diferenças e referências temporais entre passado, presente e futuro, “aniquiladas

graças aos simulacros dessa atualização”(JEUDY, 2005). Haveria, ainda, segundo o

autor, uma direta relação entre esses processos de patrimonialização dos bens

culturais na atualidade e a própria gestão das cidades contemporâneas, tendo em

vista os processos de mercantilização desses territórios frente às atuais demandas

do consumo cultural, atreladas ao projeto de cidades mercadorias, competitivas,

globais. Assim, as cidades precisam produzir suas identidades de modo a competir

no mercado de consumo cultural, atrelando grande parte dos projetos urbanos às

necessidades dos agentes financiadores multinacionais, demandas

homogeneizadoras, traduzidas, sobretudo, na preservação e promoção de áreas

históricas, restauradas e atualizadas ao consumo cultural. Isso nos leva ao

questionamento sobre a produção do patrimônio cultural urbano, e das intervenções

de “revitalização”, “museificação”, “estetização” e “espetacularização” dos tecidos

históricos urbanos, e sua direta relação com novos valores e referências aos bens

culturais e os possíveis desdobramentos no campo simbólico do bem patrimônio. No

Brasil, diante dos novosarranjos que tensionam o processo de patrimonialização, ou

bem mesmo, o bem patrimônio,reconhecemoscomo a “maquinaria patrimonializante”

tem atuado de forma bastante incisiva sobre a norma de preservação dos bens das

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culturas populares nas cidades brasileiras, sobretudo, no âmbito da promoção dos

bens patrimônio.

A partir dessa “maquinaria patrimonializante” que atuaria, sobretudo, dentro dos

centros urbanos, e dos desdobramentos dessa política preservacionista, no Brasil,

podemos tomar por base o conceito de “cidade-atração” (SANT‟ANNA, 2004a),

onde“a cidade histórica brasileira, concebida, em outras épocas, como monumento

artístico e como testemunho de processos históricos de formação de nação, fecha o

século XX como mais uma atração urbana” (SANT‟ANNA, 2004b, p. 54).

Percebemos, portanto, a construção de uma elasticidade patrimonial desdobrada na

(re)produção de novos velhos patrimônios culturais brasileiros, sobretudo visando

atender a uma demanda de estruturação econômica da produção e reprodução dos

bens culturais, que passam a ser orientados pela lógica do consumo cultural, dentro

do sistema econômico capitalista neoliberal contemporâneo. Nesse sentido, os

sistemas de valoração e referência, constituintes da dimensão simbólica na

patrimonialização dos bens culturais, são alterados e adequados à nova lógica de

consumo cultural.

No entanto, ao observamos o patrimônio cultural como dispositivo de poder que vem

sendo tensionado para além do Estado por outros agentes, sobretudo os

econômicos e, mais recentemente, pelos próprios sujeitos e grupos sociais

patrimonializados, imprimem-se novas dinâmicas preservacionistas, sobretudo de

promoção dos bens culturais, não necessariamente previstos nos planos de

salvaguardas.

Assim, aconstrução de novas categorias de bens culturais, bem como os novos

arranjos tensores em torno da produção do patrimônio cultural brasileiro, enseja-nos

a observarmos a patrimonialização (seleção, proteção e promoção) em sua

dimensão simbólica, atravésdos valores e referencias que se estendem aos bens

patrimoniais, desdobrados nos arranjos tensores em torno dospatrimônios culturais

sensoriais einsertos em uma discussão sobre a elasticidade e plasticidade

patrimonializante.

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As experiências apreendidas em nossos cotidianos revelam, para além de um

caráter social das relações humanas e suas possíveis sociabilidades, que nossos

cotidianos estão impregnados de experiências sensoriais, tanto no campo dessas

interações humanas, portanto entre os próprios indivíduos – saberes, fazeres,

ofícios, celebrações – como no plano das relações entre sujeitos e artefatos –

bebidas, músicas, aromas, paladares, imagens.

A dimensão sensorial, portanto, alcançaria diferentes relações entre os sujeitos, os

artefatos e seus grupos sociais, de modo que essas interações acabariam

constituindo valores simbólicos, tornando-se bens culturais, quando amplamente

reconhecidos e utilizados no seio da sociedade. Outro importante constituinte nas

experiências sensoriais, é a interação entre sujeito e meio-ambiente, seja ele

construído, natural ou cultural, onde os sentidos tornam-se “mediadores da

experiência ambiental, base do envolvimento entre o homem e a paisagem”

(GRATÃO, 2011, apud MERGAREJO NETTO, 2012).

Assim, observamos que boa parte dos patrimônios culturais intangíveis em Portugal

e na Espanha,se agrupavam, sobretudo, em políticas de promoção - fóruns, feiras,

seminários - através da ideia dos sentidos humanos: paladar, audição, cheiros, como

forma de “agregar valor” ao patrimônio das cidades. Assim, organizavam redes para

a proteção e promoção desses patrimônios - queijos, vinhos, azeites, danças,

musicas, dentre outros – novamente alertando-nos para toda a critica da

“maquinaria” (JEUDY, 2005)patrimonializante,complementar à constituição de

mecanismos à “cidade atração” (SANT‟ANNA, 2004a). Esse entendimento pode ser

detalhado em nossa norma preservacionista, através do estudo de duas situações

que envolvem a reprodução e promoção de bens culturais patrimônio nacional.

No Brasil, apesar do propósito preservacionista não indicar a proteção de um valor

"sensorial” de bens culturais, o que vem se construindo em torno dos

desdobramentos do registro do modo artesanal de fazer queijo nas regiões do Serro,

da Serra da Canastra e do Salitre, em Minas Gerais, é a ideia de patrimônio

sensorial, diretamente ligado ao paladar. Nele, os elementos sensoriais dos bens

culturais ganham destaque no processo de patrimonialização, sobretudo nas

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açõesde promoção desses patrimônios, ressignificando os valores e referências que

respaldaram essa patrimonialização.

A posição institucional do IPHAN nos registros desse bem cultural é bem clara, pois

a dimensão que orientou os valores atribuídos aos bens intangíveis, especificamente

no caso do queijo, não recai sobre o objeto, e sim sobre o saber fazer. Nesse

sentido, reconhecemos toda a importância dos registros, necessários, à preservação

da cultura popular brasileira e da promoção dos bens culturais, tendo o plano de

salvaguarda como principal instrumento orientador.

Mas, ao verificarmos a atuação tensora dos agentes econômicos, ou mesmo, dos

sujeitos e grupos produtores, no processo de patrimonialização, sobretudo na

promoção do patrimônio cultural, observamos uma evidente e articulada ação para a

sensibilização do patrimônio sensorial como forma de agregar valor simbólico e

econômico ao bem cultural patrimônio.

A valorização do fazer artesanal do bem, desdobrada sensorialmente no paladar,

tato, olfato, como valores de uma identidade regional, atuam sobre a promoção do

bem cultural, sobretudo em seu caráter econômico, disfarçado por um caráter

gastronômico, alçando-o ao universo fetichista gourmet, mercantilizado nas mais

diversas ações de marketing em torno do consumo do bem cultural patrimônio. Isso

fica bem demonstrado através do festival “Comida de Boteco” e da

coluna“Paladar”60, do Jornal Estado de São Paulo. O “Comida de Boteco” lançou um

abaixo-assinado, denominado “Manifesto Cozinhista Brasileiro”, endereçado

ao Ministério da Agricultura, ANVISA e Governo Federal, para preservar as tradições

da cozinha brasileira.A Paladar, por sua vez, publica, em 29 de outubro de 2014,

60

Paladar é uma coluna permanente sobre gastronomia no site do Estadão (http://blogs.estadao.com.br/paladar). Quanto ao do Manifesto Cozinhista Brasileiro, vários nomes que trabalham na área assinaram o abaixo-assinado, e desde 2012 arrecadou 2.510 assinaturas. Compõe o texto do abaixo assinado: “A preservação da cozinha brasileira significa também preservação social, cultural e ambiental. Neste momento em que o Brasil ganha crescente projeção internacional, é fundamental valorizar o que temos de peculiar, sem medo, de forma a fortalecer nosso mercado interno e mostrar ao mundo nossa riqueza gastronômica. Ora, há exemplos, como o da União Europeia, que mostram ser possível preservar a tradição gastronômica”. Disponível em: <http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2012N28605>. Acesso em: 30 jul. 2015.

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matéria intitulada “queijos como patrimônio”61, por ter sido o queijo brasileiro um dos

temas escolhidos da 6ª edição do “Paladar Cozinha Brasil”,ressaltando que o Queijo

“é um dos produtos em que há mais influencia entre sabor e cultura”62

O Slowfood63, movimento internacional que tem como princípio o “direito ao prazer

da alimentação, utilizando produtos artesanais de qualidade especial64“, respeitando

o meio ambiente e os produtores, através da reportagem “Patrimônio: é de comer?

Reconhecimento da tradição leva ao registro do Queijo Artesanal de Minas” 65,

estabelece, de forma equivocada, uma direta relação entre as dimensões sensoriais

do bem cultural e sua patrimonialização institucional. No entanto, é através da ideia

de “Comunidades do Alimento66“ que o apelo ao consumo do bem cultural, em

dimensões sensoriais, torna-se evidente, tanto numa tensão gourmetizadora do

mercado e do consumidor, quanto do próprio produtor do bem cultural, atrelando seu

produto, a materialidade do bem cultural - nesse caso o Queijo de Minas - a um

“selo” que agregue valor simbólico, de caráter, sobretudo, econômico. Dentre essas

Comunidades do Alimento no Brasil, podemos destacar a Comunidades de

Produtores de queijo minas artesanal de leite cru da Serra do Salitre, em Minas

61

Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/paladar/queijos-como-patrimonio/>. Acesso em: 27 jul. 2015. 62

Ibidem. 63

Movimento fundado na Itália em 1986, e se transformou numa associação internacional sem fins lucrativos em 1989, conta atualmente com mais de 100.000 membros com escritórios na Itália, Alemanha, Suiça, Estados Unidos, França Japão e Reino Unido, e possui apoiadores em mais 150 países. 64

Disponível em: <http://www.slowfoodbrasil.com/slowfood/o-movimento>. Acesso em: 27 jul. 2015. 65

Escrita por Fabiana Thomé da Cruz e publicada no dia 30 de maio de 2008. Disponível em : <http://www.slowfoodbrasil.com/textos/alimentacao-e-cultura/216-patrimonio-e-de-comer-reconhecimento-da-tradicao-leva-ao-registro-do-queijo-artesanal-de-minas>. Acesso em: 27 jul. 2015. 66

“É uma entidade fisicamente identificável, que tem valores, interesses e propósitos comuns e que está engajada no processamento de alimentos, distribuição de alimentos, marketing, educação e outras atividades ecogastronômicas, trazendo produtos artesanais produzidos em pequena escala pelos consumidores (Carlos Petrini,presidente internacional do Slow Food). A comunidade do alimento está intimamente ligada ao próprio território do ponto de vista histórico, social, econômico e cultural, podendo ser de dois tipos: Território, onde os vários produtos produzidos estão ligados pela dimensão geográfica ou sócio-ambientais – comunidades tradicionais; ou de Produto, constituídas pelas várias formas de produção de alimentos, que se distinguem pelas suas características organolépticas – sabor, textura, cheiros etc; ambientais e sociais”. Disponível em: <http://www.slowfoodbrasil.com/comunidades-do-alimento>. Acesso em: 27 jul. 2015.

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Gerais, que unem, nos municípios de Serra do Salitre e Catulés, 20 famílias de

produtores de queijo há cerca de 150 anos67.

Do ponto de vista institucional68, algumas falas também levam em consideração o

apelo sensorial que o bem cultural possui, e como esse apelo é reconhecido na

promoção do patrimônio quando se reconhece que “do ponto de vista gastronômico,

a produção local propicia alternativas de paladar com sutis variações e diferentes

modos de fazer”69. A Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, em boletim

intitulado “Patrimônio do Paladar”70,divulgaria o trabalho desenvolvido pelo Professor

José Newton Coelho Meneses, “contratado para elaborar um dossiê interpretativo

que compõe o Inventário Nacional de Referências Culturais- INRC -do IPHAN”71.

A gourmetização como novo fetiche ao consumo passa a definir identidades e

sociabilidades, que se desdobram para além da dimensão sensorial, uma vez que

englobaria, em uma degustação de queijos, por exemplo, espaços habitados,

mobiliados e equipados; pessoas que se locomovem se hospedam e se vestem para

frequentar esses espaços, de modo que o valor do consumo sobrepõe-se ao valor

simbólico do bem cultural patrimonializado.

Deste modo, a partir desta definição de consumo, nota-se a necessidade que há em consumir determinados bens culturais, [...] pelo fato de darem significado cultural e identitário a indivíduos e a grupos sociais. O consumo cultural é movimentado por essa necessidade, que faz do patrimônio uma mercadoria. (MERGAREJO NETTO, 2012).

De todo modo, entendemos esse processo como desdobramento da trama

preservacionista que opera sobre o bem cultural, patrimônio, de modo que também é

importante demonstrar que nem todo processo de patrimonialização, onde os bens

67

Cf. Slowfood Brasil. Disponível em: <http://www.slowfoodbrasil.com/comunidades-do-alimento/comunidades-brasileiras/21-sudeste/93-produtores-de-queijo-minas-artesanal-de-leite-cru-da-serra-do-salitre-minas-gerais>. Acesso em: 27 jul. 2015. 68

O modo de fazer queijo é reconhecido pelo Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) desde 2002, quando a Associação de Produtores Artesanais do Queijo do Serro (Apaqs) solicitou o registro no órgão do Estado. 69

IEPHA – Modo de Fazer queijo artesanal da Região do Serro. Registro estadual de natureza07imaterial. Inscrição no livro do Registro dos Saberes, em 07/05/2002. Disponível em: <http://www.iepha.mg.gov.br/component/content/article/923>. Acesso em: 27 jul. 2015. 70

UFMG. ”Patrimônios do Paladar”.Boletim Informativo. Disponível em: <https://www.ufmg.br/boletim/bol1610/4.shtml>. Acesso em: 27 jul. 2015. 71

Ibidem.

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culturais atentam, em seu processo de produção e reprodutibilidade, às suas

dimensões sensoriais, tiveram como objetivo a preservação ou promoção dessas

dimensões. Com a proteção do saber fazer do queijo artesanal de Minas, esclarece

em entrevista72 a Professora Márcia Sant‟Anna, ao tempo Diretora de Patrimônio

Imaterial do IPHAN:

[...] os processos de registro do Modo de Fazer Queijo em Minas, não tiveram esse sentido em sua origem. [...] buscou-se atender a reivindicações dos produtores e salvaguardar esse modo de fazer da própria ação do Estado que proibia a circulação desses queijos por serem feitos artesanalmente e com leite cru. Assim, foi uma ação de defesa mesmo de uma tradição [...] Com isso, quero ressaltar que, embora sempre haja o risco de que esses bens sejam apropriados pelo que Jeudy chama de "maquinaria” do patrimônio, esses registros partiram da convicção de que há pessoas que mantêm e propagam saberes e ofícios importantes para a cultura brasileira, e que, assim, deveriam ser reconhecidas e apoiadas. Vale também ressaltar que os respectivos planos de salvaguarda desses bens não estão voltados para a promoção de lugares ou cidades e sim para o apoio necessário a que essas pessoas (em geral, pobres) possam continuar a fazer o que sabem.

Mesmo diante de um processo claro de tensionamento entre forças diversas sobre o

patrimônio em questão, sobretudo, do mercado consumidor e dos próprios

produtores na tentativa de torná-lo um produto atrativo, salientamos que medidas de

promoção, não apenas atreladas ao consumo sensorial do bem patrimônio, e ainda

assim, insertas em políticas de desenvolvimento econômico integrado, são bem

avaliadas por segmentos dos gestores públicos, como processo de sustentabilidade

produtiva e reprodutiva do bem cultural. Um bom exemplo disso é a proteção jurídica

sobre a propriedade intelectual do bem cultural, que perpassa desde o processo

produtivo, até a sua distribuição, assegurando aos produtores o direito ao uso e

comércio desses bens culturais. Iniciativas como essas têm sido pauta das políticas

preservacionistas no Brasil, mais especificamente após a criação do CNRC e dos

insistentes discursos de Aloísio Magalhães, como revela o texto “A experiência

Brasileira no trato das questões Relativas à proteção do Patrimônio Cultural

Imaterial” produzido pelo Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial (2003, p.

105),indicando ser um dos desdobramentos do CNRC “a ideia de um „selo de

72

Informação verbal de depoimento colhido em entrevista ao autor do presente trabalho, concedida em 27 de julho de 2015.

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qualidade‟ que conferiria a produtos de reconhecido valor cultural, como o queijo de

Minas”.

Decerto, o apelo à dimensão sensorial como novo valor agregado ao bem cultural,

em si, não representa um perigo ou ameaça aos processos de produção e

reprodução do bem cultural, desde que introduzido como elemento para fruição e

experiências em torno do patrimônio cultural; ou ainda, em torno da promoção desse

bem, como forma de torná-lo mais visível pela sociedade como mais um elemento

constituinte da cultura brasileira, distante da ideia de marketing cultural e seu

conseguinte consumo fetichista.

Já no que se refere ao Toque dos Sinos de Minas Gerais, também experiências em

torno do valor sensorial, resultado bastante positivo na sua promoção enquanto bem

cultural e patrimônio nacional, poderia ser indicado a partir de um aplicativo

desenvolvido pelo IPHAN para celulares, onde o Toque dos Sinos das cidades

mineiras podem ser “baixados” em qualquer celular do Brasil, promovendo a

promoção desse patrimônio cultural através do seu valor sensorial: a música. Nesse

sentido, ressaltamos o valor sensorial, simbólico, que se desdobra como política

pública governamental em torno do patrimônio imaterial registrado, acenando

institucionalmente à construção de ações de promoção de bens registrados através

da dimensão sensorial que os condiciona enquanto bens culturais.

Os usos das plataformas digitais como forma de difusão dos bens culturais,

configuram-se como ricos elementos de comunicação e interação no mundo digital,

uma vez que podem valorizar a dimensão sensorial do bem para a sua promoção,

sobretudo nas cidades, territórios altamente digitalizados. Decerto, esses

mecanismos não possuem a finalidade de substituir a experiência sensorial dos

toques dos sinos, um dos mecanismos de comunicação nas cidades mais antigos do

Brasil e ainda presente no cotidiano das cidades mineiras de São João Del Rey,

Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas, Diamantina, Sabará, Serro e

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94

Tiradentes. O aplicativo digital “Som dos Sinos”, constitui-se como uma plataforma

pioneira para divulgação dos bens culturais patrimônio no Brasil73.

Ainda que a plataforma promova e difunda o patrimônio imaterial do”toq ue dos

sinos” das cidades mineiras, tal política parece-nos contraditória, uma vez que o

procedimento de salvaguarda para difusão do bem patrimônio tem por base a

digitalização e distribuição da própria forma de expressão que está sendo

preservada, indicando a complexidade que reveste a questão.

Figura 1 - Aplicativo do Toque dos Sinos em Minas Gerais Fonte: http://portal.iphan.gov.br

Nesse sentido, a notícia do IPHAN, “Som dos Sinos: Novas mídias ampliam acesso

ao patrimônio cultural”, publicada em seu site, nos esclarece de forma

pormenorizada a concepção e alcance do projeto.

Plataforma web interativa com conteúdo documental e aplicativo de celular com paisagens sonoras georeferenciadas. Esses são alguns dos dispositivos do Som dos Sinos, projeto que busca mudar a forma com que moradores e visitantes de nove cidades históricas de Minas Gerais se relacionam com o toque dos sinos e o ofício do sineiro, bens culturais registrados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN. O repertório dos sinos é uma forma de comunicação secular. Há mais de 40 tipos de toques de sinos e, de acordo com a quantidade e ritmo das badaladas, os moradores ficam sabendo o que acontece na cidade, horários

73

O projeto tem o patrocínio de Eletrobrás e Furnas, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, Lei Rouanet/ Ministério da Cultura.

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das missas e trabalhos a procissões e anúncios de mortes. Nos dias atuais, a linguagem dos sinos tem sido substituída pelos meios de comunicação contemporâneos, mas se mantém em diversas cidades do interior, emocionando os moradores e encantando os turistas. Som dos Sinos é um projeto multiplataforma, pioneiro na utilização de novas tecnologias para divulgação do patrimônio imaterial brasileiro. Desde o início de maio, moradores, viajantes, internautas e curiosos de todos os tipos vêm experimentando diferentes produtos, dentro e fora do mundo virtual. A proposta mais inovadora é o lançamento de um aplicativo para celular que funciona como um áudio-guia a céu aberto no qual o usuário pode escutar diversos toques de sinos com GPS de localização para igrejas em nove cidades históricas de Minas Gerais. O aplicativo já está disponível para download gratuito na APP Store e na Google Play.

74

A ideia de um patrimônio cultural sensorial, assim constituído, conquanto do

reconhecimento da dimensão sensorial como seu valor, ainda não se apresenta

como uma prática preservacionista institucional. Vale ressaltar que os

desdobramentos mercadológicos em torno dos elementos sensoriais que compõem

os bens da cultura popular, patrimônios, não se constituíram como políticas

institucionais, sobretudo, aquele diretamente ligado ao “consumo cultural” como

forma de “atração” às cidades. Mas, conforme relata a Professora Marcia Sant‟Anna

em entrevista: “esta denominação não é algo „oficial‟no Brasil, e os processos de

registro do Modo de Fazer Queijo em Minas e também o do Toque dos Sinos não

tiveram esse sentido em sua origem”, embora isso pudesse ser esperado, em função

do potencial e da condição patrimonializante que imperam atualmente.

Dessa forma, os arranjos tensores, aqui apresentados em torno da construção de

um patrimônio cultural sensorial, ampliam as dimensões patrimonializantes

simbólicas inicialmente projetadas pela norma de preservação desses bens culturais,

tendo em vista a atuação de diversos agentes tensores atuando no “dispositivo”

patrimônio e, permitem uma ressignificação, ou mesmo, uma constante tensão na

ampliação conceitual do patrimônio, tendo em vista os interesses tensionados.

Assim, certamente, outros arranjos tensores poderiam ser observados e discutidos

tendo em vista os elementos como dinamicidade, heterogeneidade, tangibilidade e

intangibilidade, diante das mais diversas “referências culturais”.

74

IPHAN. Som dos sinos: novas mídias ampliam acesso ao patrimônio cultural. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/2346/som-dos-sinos-aposta-em-novas-midias-para-ampliar-acesso-ao-patrimonio-cultural>. Acesso em: 31 jul. 2015.

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96

Ainda que muitos tombamentos e registros realizados pelo IPHAN entre 1988 e 2013

não estabeleçam uma direta relação entre as ações de seleção, proteção e

salvaguarda e os aspectos sensoriais dos bens culturais patrimônios, percebemos

que diante da adoção das referências culturais na patrimonialização, os elementos

sensoriais tornam-se mais visíveis. Nos bens imateriais registrados o apelo a

explorar os elementos sensoriais torna-se mais explícito, sobretudo, pelas

características desses bens culturais. No entanto, percebemos no tombamento dos

Terreiros de Candomblé e das embarcações tradicionais uma latente aproximação

entre as características sensoriais que envolvem a produção ou reprodução dos

bens culturais patrimônio e sua promoção.

Os sujeitos, os grupos sociais e a compreensão da dimensão social que se

estabelece na trajetória da norma de preservação das culturas populares nas

cidades brasileiras e nos arranjos tensores diante do “dispositivo” patrimônio,

constituem nossa próxima abordagem na pesquisa.

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97

3 A DIMENSÃO POLÍTICA NA TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO

As ações públicas governamentais de preservação - seleção, proteção e promoção -

constituem os principais elementos produtores dos bens culturais no Brasil,

traduzidos objetivamente pelas políticas públicas de inventários, tombamentos e

registros, que são reguladas e geridas pelo aparelho de Estado, através do IPHAN e

de normas jurídicas. Assim, a dimensão política da norma de preservação dos bens

culturais, no Brasil, constitui-se basicamente em uma política pública governamental

estatal, com pouca inserção de uma gestão pública social. A dimensão política do

patrimônio cultural, atrelada à ideia do “exercício de poder”,indicaria a possibilidade

de construção de práticas de preservação não exclusivas do Estado.

Assim, a dimensão política da norma de preservação dos bens culturais, no Brasil,

constitui-se basicamente de uma política pública governamental, ou seja, as ações

de preservação, em seu sentido mais genérico, incluem os procedimentos de

seleção – escolha do bem a se tornar patrimônio -; da proteção – quando o bem

escolhido se torna um patrimônio cultural, uma vez resguardado juridicamente por

um instrumento de proteção, o tombamento ou o registro; e da promoção – onde as

ações de prevenção, restauração, transmissão de conhecimentos, premiações,

dentre outras, auxiliam o acesso e a visibilidade do e para o bem patrimônio.

Ao compreendermos a norma numa perspectiva foucaultiana, onde não haveria um

sinônimo entre lei e norma, sendo a lei mais um elemento que comporia a norma

enquanto arranjo ou comando social, percebemos dois importantes

desdobramentos: o primeiro, diz respeito à existência de outros elementos que

compõem a norma preservacionista para além do aparato jurídico-gestor do Estado;

e outro, diz respeito ao papel protagonista da dimensão política na norma

preservacionista, tendo em vista a posição privilegiada do Estado, e do seu aparelho

regulador e gestor, na norma de preservação dos bens culturais no Brasil.Nesse

sentido, não seria acaso que a maioria das abordagens quanto à prática

preservacionista dos bens culturais no Brasil possua a dimensão política como

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principal fio condutor de suas pesquisas, ou entrelaces de seus objetos, traduzidos

pela ação do estado regulador e gestor.

Importa demonstrar que a dimensão política da trajetória da norma de preservação,

por vezes, confunde-se com a própria norma, uma vez aqui insertos os pactos e

critérios para a patrimonialização, traduzidos pelos instrumentos de seleção do

Estado, pelas legislações de proteção, e pelas ações de promoção, que comporiam

os arranjos necessários para a regulação e gestão dos bens patrimônios, ou seja,

para a definição da política de patrimonialização dos bens culturais no Brasil.

Compreender a preservação do patrimônio cultural no Brasil a partir do e pelo

Estado regulador e gestor, no entanto, não constitui uma tarefa esgotada, tendo em

vista a multiplicidade de arranjos conceituais, objetos e abordagens metodológicas

que ainda podem ser empreendidas na dimensão política observada na norma de

preservação dos bens culturais.

Observar algumas especificidades do processo de institucionalização da prática de invenção do patrimônio brasileiro pode elucidar a configuração que o patrimônio cultural tomou, levando à consagração de certa feição para a nação brasileira, bem como da própria instituição, normas e dispositivos, cujos efeitos estão presentes na realidade das políticas de patrimônio cultural no Brasil, tornando-se importantes para compreensão do Estado Brasileiro. (CHUVA, 2012, p. 68)

Ainda, uma ampliação conceitual sobre a noção de patrimônio ocorrida no IPHAN,

expandindo o universo de bens culturais a serem salvaguardados, implicaria em

mudanças operacionais na política preservacionista no Brasil (CHUVA, 2012, p.67-

68):

Para a realização dessas novas funções, incorporadas aos antigos órgãos de patrimônio cultural, foi necessário estabelecer procedimentos e acionar novos dispositivos, por meio da incorporação de temas clássicos das ciências sociais em geral (tais como a cultura popular ou cultura indígena), que passaram a ser analisados e tratados sob a ótica da patrimonialização. Para tanto, foi preciso também incorporar profissionais das ciências sociais, que passaram a disputar posições com arquitetos, que sempre ocuparam postos centrais no campo. [...] O campo torna-se mais complexo, mais amplo e diversificado em temas e problemas.

Ao reconhecermos os complexos arranjos que se configuram em torno das políticas

de patrimonialização no Brasil, percebemos o tensionamento dos agentes

envolvidos na produção e reprodução dos bens culturais e o processo de

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patrimonialização desses bens, pelo Estado. O reconhecimento do valor dos bens

culturais pelo Estado e a consequente expectativa patrimonializante que se

estabelece demonstram que os sujeitos ou os grupos sociais envolvidos na

produção do próprio bem cultural distinguem a lógica do “dispositivo de

patrimônio”,passando a tensionar a trajetória da norma de preservação das culturas

populares à condição de patrimônio cultural brasileiro.

“Uma nova trajetória se impõe aos bens instituídos como patrimônio, que, a partir desse momento, estão submetidos a uma nova ordem jurídico-legal, bem como a condições de existência diferenciadas, marcadas por essa singularidade [...] Sob essa perspectiva a patrimonialização de práticas culturais promove a concorrência e, por vezes, a dissensão entre grupos, vivenciadas através de tensões e disputas, num contexto de lutas e representação, lutas por legitimidade e lutas políticas, que redundam em disputa direta por recursos direta ou indiretamente. (CHUVA, 2012, p. 74).

Outra importante consideração em torno da dimensão política da preservação dos

bens das culturas populares e sua patrimonialização diz respeito às políticas

públicas integradas que comporiam os processos de patrimonialização (CHUVA,

2012, p. 74-75):

[...] remete a uma série de políticas públicas inter-relacionadas, que colocam em foco a gestão do patrimônio cultural e os próprios processos de patrimonialização. Dentre os setores relacionados, podemos destacar: o turismo, o meio ambiente, as relações exteriores, as patentes envolvendo conhecimentos tradicionais, a questão indígena, a questão agrária, a questão urbana e a cidade patrimonializada, o âmbito jurídico, e a educação.

Ainda que bastante tímida enquanto informação institucional, as ações integradas

nas políticas de preservação do patrimônio no Brasil vêm tomando corpo enquanto

projetos e ações e têm atuado principalmente nas ações de apoio das salvaguardas

articuladas pelo estado gestor.

Assim, a dimensão política na norma de preservação das culturas populares nas

cidades brasileiras ainda constitui uma importante e necessária abordagem nos

estudos da prática preservacionista e, mesmo atentando à atuação de outros

agentes tensores na construção dessa política para além do Estado regulador e

gestor, a atuação dos aparelhos do Estado na trajetória da norma de preservação

tem tensionado de forma privilegiada a dimensão política, sem perder de vista,no

entanto, a supremacia do interesse público. “Assim, constituir patrimônios por meio

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100

de ação do Estado implica em fazer opções e explicitar os motivos que a justificam,

tendo sempre em vista o interesse público.” (SANT‟ANNA, 2011, p.30).

Esse capítulo tem por objetivo analisar a dimensão política da trajetória da norma de

preservação das culturas populares nas cidades brasileiras, partindo do Estado

regulador e gestor das políticas públicas governamentais de patrimonialização,

buscando compreendê-la através dos processos de tombamento e registro de bens

ou expressões das culturas populares pelo IPHAN, entre 1988 e 2013, bem como os

possíveis arranjos tensores que se estabelecem a partir dessa dimensão política.

3.1OS PACTOS E CRITÉRIOS NA TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO

DAS CULTURAS POPULARES NAS CIDADES BRASILEIRAS

Os acordos firmados no processo de patrimonialização dos bens culturais,

desdobrados nos pactos institucionais – gestores e/ou jurídicos – e nos critérios de

seleção, proteção e promoção do bem cultural patrimônio, indicam as intenções da

dimensão política governamental na norma de preservação, constituídos por atos

administrativos discricionários.

Nesse sentido, os instrumentos jurídicos garantidores da proteção aos bens

culturais, como a o Decreto Lei nº 25 de 1937, bem como as resoluções em torno do

procedimento de instrução em processos de tombamento. Apesar de indicarem, de

forma genérica, a garantia de proteção, ao longo dos anos, serviram como limite

mais objetivo à discricionariedade técnica do IPHAN, influenciado diretamente nos

acordos em torno da patrimonialização de bens culturais, garantindo, portanto, o

acesso a direitos culturais difusos e coletivos.

A nova Constituição brasileira, promulgada em 1988, já em uma conformação

jurídica de um estado democrático de direito, viria ampliar significativamente os

direitos culturais, através do alargamento da noção do bem cultural, conforme

mencionado anteriormente em rápida passagem. Em seu artigo 215, inclui a

expressa proteção “às manifestações das culturas populares, indígenas e afro-

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brasileiras, e de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional”

(BRASIL, 1988), bem como reconhece juridicamente uma natureza imaterial nos

bens culturais, elencados nos incisos do artigo 216.Indica ainda a necessidade de se

estabelecer novos procedimentos para preservação desses bens, conformeexpresso

no § 1º do artigo 216:

§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. (BRASIL, 1988)

Os desdobramentos do comando legal imposto pela Constituição Federal de 1988

seriam sentidos institucionalmente pelo IPHAN na trajetória da norma de

preservação dos bens das culturas populares,principalmente a partir dos acordos

estabelecidos na Carta de Fortaleza, em 1997, em torno de um consenso sobre a

preservação do patrimônio imaterial brasileiro, através das respectivas “Comissão” e

“Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial”

Em um contexto mundial, sob a ótica dos acordos preservacionistas, os anos de

1980 finalizam-se com a 25ª Reunião da Conferência Geral da UNESCO, em 1989,

tendo como principal desdobramento a Recomendação sobre a Salvaguarda da

Cultura Tradicional e Popular. Desse modo, as culturas populares e tradicionais

seriam reconhecidas como patrimônios culturais da humanidade e recomendadas as

suas salvaguardas como mecanismo de promoção da cultural local.

A década de 1990 inicia um processo institucional para a consolidação e ampliação

da proteção da cultura popular no Brasil, com a criação de novos instrumentos

voltados para este fim.

Para além da institucionalização do conceito de “cultura popular” dentro da estrutura

gestora cultural brasileira, as transformações que ocorreriam em torno das

demandas do/para o patrimônio, em sua nova condição de elemento estratégico às

cidades, a busca por um desdobramento operacionalde instrumentos para seleção,

proteção e promoção dos novos bens culturais elencados na Constituição Federal

de 1988, traduzidos juridicamente como bens imateriais, tornou-se o mais

emblemático projeto a ser construído no seio do IPHAN.

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Em 1990,reformas administrativas marcariam a dimensão política da norma de

preservação no âmbito do patrimônio no Brasil.AFUNARTE75 e o Instituto Nacional

do Folclore (INF)76 são transformados, respectivamente, no Instituto Brasileiro de

Arte e Cultura (IBAC) e a Coordenação de Cultura Popular, inserta neste Instituto. O

conceito de Cultura Popular é empregado pela primeira vez no âmbito

institucional/gestor no campo das políticas preservacionistas.

O então SPHAN e a FNPM77seriam extintos no Governo do presidente Fernando

Collor (1990-1992) e, por um entendimento político-institucional, em 1992, dariam

lugar ao Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC)78, criado com a função de

executar a política de proteção do Patrimônio, iniciando um período de

sucateamento da gestão pública cultural como um todo, atingindo,

consequentemente o IBPC.

Para além do fenômeno genérico, uma condição, posteriormente denominada de

“crise do setor do patrimônio” (SANT‟ANNA, 2004, p. 31), atingiria as políticas

públicas preservacionistas brasileiras sobre o patrimônio urbano.

Esvaziado, com funções reduzidas e com uma estrutura operacional que foi tornada precária em todos os sentidos, o IPHAN deixou de ser, definitivamente, o locus central de exteriorização da norma preservacionista.Nos anos 90, intervenções locais e programas nacionais tomaram o seu lugar. (SANT‟ANNA, 2004, p. 31).

Assim, os anos de 1990 foram marcados por tentar articular, no Brasil, uma política

de preservação dos bens de natureza imaterial em nível institucional como prevê a

Constituição Federal. Nesse sentido, aideia do Registro como instrumento de

proteção às culturas populares inicia uma discussão institucional em torno do

Patrimônio Cultural Imaterial, culminando no “Seminário Patrimônio Imaterial:

estratégias e formas de proteção”, realizado na cidade de Fortaleza, Estado do

Ceará, em novembro de 1997.

75

Criada em 1975. 76

Criando junto a FUNARTE, também em 1975. 77

Ambos criados em 1979, na gestão de Aloísio de Azevedo. O IPHAN fora dividido em SPHAN (Secretaria), na condição de órgão normativo, e na Fundação Nacional Pró-Memória (FNPM), como órgão executivo. 78

Segundo informações corrigidas pela Professora Márcia Sant‟Anna.

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Tal seminário buscava refletir o que/qual seria e como se constituiriam os

instrumentos de preservação dos bens imateriais previstos na CF 1988, bem como

seus desdobramentos preservacionistas no âmbito das políticas públicas dos “novos

velhos patrimônios”

O objetivo do Seminário foi recolher subsídios que permitissem a elaboração de diretrizes e a criação de instrumentos legais e administrativos viando a identificar, proteger, promover, e fomentar os processos e bens „portadores de referencia à identidade; à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira‟ (Art. 216 da Constituição), considerados em toda a sua complexidade, diversidade e dinâmica, particularmente, „as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações artísticas e tecnológicas‟, com especial atenção àquelas referentes à cultura popular (BRASIL, 2012a, p. 21).

A “Carta de Fortaleza” constitui o resultado objetivo desse Seminário e orientaria,

sobretudo o IPHAN, através de propostas e recomendações, para a construção de

políticas públicas de preservação – seleção, proteção e promoção – dos bens

culturais imateriais, adotando institucionalmente como nomenclatura mais próxima,

daquele momento até os dias atuais, dos bens das culturas populares.

O conceito de patrimônio imaterial pelo IPHAN constituiria no mais importante

resultado do Seminário:

Os Bens Culturais de Natureza Imaterial dizem respeito àquelas práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos lugares (como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas).

79

Ainda, segunda a professora Mácia Sant‟Anna, falta ao conceito às idéias de

domínios da vida social, especialmente valorizados por comunidades e grupos

sociais. Assim, diante das considerações do papel do IPHAN (BRASIL, 2012) na

proteção do “amplo e diversificado patrimônio cultural brasileiro” e das demandas

dos “segmentos sociais organizados” e dos “poderes públicos”, frente à necessidade

de tutela e promoção do patrimônio imaterial, previstos constitucionalmente, o

“plenário”, “propõe e recomenda” o aprofundamento da reflexão sobre o patrimônio

imaterial, o inventário destes, e a criação de um “grupo de trabalho no Ministério da

79

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Disponível em <http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=10852&retorno=paginaIphan>. Acesso em: 15 dez. 2012.

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Cultura, sob a coordenação do IPHAN [...] para propor a edição de instrumento legal,

dispondo sobre a criação do instituto jurídico denominado registro”.

Percebemos, nesse sentido, que o Registro, enquanto instrumento jurídico-

procedimental acenaria, já na “Carta de Fortaleza”, como o mais adequado

instrumento de proteção aos bens imateriais, indicando, portanto, o principal objeto

de política pública preservacionista às culturas populares necessário, portanto,

desdobrá-lo, para ser mais bem compreendido.

Em 1998, a portaria nº 37, de 04 de março, criaria a Comissão e o Grupo de

Trabalho Patrimônio Imaterial (GTPI), onde o Grupo assessoraria a Comissão a

“elaborar propostas visando ao estabelecimento de critérios, normas e formas de

acautelamento80 do patrimônio imaterial brasileiro” (BRASIL, 2012b, p.26). A

comissão teve o prazo para apresentação das propostas prorrogado por mais 90

dias, pela Portaria nº 229 de 06 de julho de 1998 e, por fim, a Portaria nº 485 de 11

de dezembro daquele ano, “considerando não ter havido solução dos referidos

trabalhos” (BRASIL, 2012c, p. 28), prorroga o prazo por “360 dias” e altera a

composição do Grupo de Trabalho.

Assim, em setembro de 1999, a “Carta da Comissão do Patrimônio Imaterial

Brasileiro” ao Ministro da Cultura, então Francisco Weffort, proporia a

regulamentação do registro do patrimônio cultural imaterial, tendo na sua exposição

de motivos as diretrizes que orientaram as decisões: “a primeira diz respeito à opção

pelo registro” em detrimento do tombamento, uma vez ser este “inadequado ao bem

imaterial, dinâmico por sua própria natureza”, seguindo a “tendência internacional”

(BRASIL, 2012c, p. 30). O Registro, dado o caráter dinâmico dos bens culturais,

deveria ser “reavaliado pelo menos a cada dez anos”, recebendo o bem registrado o

título de “Patrimônio Cultural do Brasil” (BRASIL, 2012c, p. 30). A segunda

exposição de motivos trata da indicação do Conselho Consultivo do IPHAN como

órgão deliberativo quanto ao registro dos bens culturais e, em sua terceira exposição

de motivos, o documento reflete quanto à “estratégia para conceituar o bem imaterial

merecedor do registro” (BRASIL, 2012c, p. 30, grifo nosso), enumerando quatro

80

Proteção jurídica do bem cultural.

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livros para o registro dos bens patrimônio. Ainda, “as consequências práticas do

registro” seriam desdobradas na construção de uma política pública até então

inexistente: ou seja, “instituir a obrigação pública, governamental, sobretudo”, de

preservar as culturas registradas; o “reconhecimento e a valorização desses bens

mediante a concessão do direito de utilizar o título de “Patrimônio Cultural do Brasil”

(BRASIL, 2012c, p. 31, grifo nosso).

Dessa forma, a construção de uma política que incluiria a proteção da cultura

popular centralizava-se na construção de uma política para os bens intangíveis e

sua proteção como patrimônios imateriais, o se quetornaria-se evidente e robusto,

na década seguinte

O documento denominado “Relatório Final das Atividades da Comissão e do Grupo

de Trabalho Patrimônio Imaterial81“, fundamentaria e ratificaria, por definitivo, o

registro como instrumento de proteção ao patrimônio cultural imaterial brasileiro, que

subsidiaria, em 17 de maio de 2000, o documento “Exposição de Motivos e Texto

Final do Decreto Presidencial” do Ministro da Cultura, e culminaria na publicação do

Decreto Federal nº 3.551, de 04 de agosto de 2000.

Cabe salientar que, institucionalmente, o texto pesquisado mais antigo que trata a

ideia de um registro dos bens das culturas populares e tradicionais pelo IPHAN,

remete-se ao documento “A preservação dos Processos culturais significativos para

a sociedade brasileira” (IPHAN, 1993, p. 45-48), onde a proteção dos bens culturais

populares seria contemplada com a instrução do “registro administrativo dos

processos que constituem a dinâmica cultural”; ou seja, ainda sem a menção do

patrimônio imaterial como objeto do Registro.

Como é sabido, os processos culturais não são passíveis de cristalização e/ou tombamento. Dessa forma, faze-se necessário analisar com cuidado, não apenas o tipo de natureza do registro administrativo mais conveniente, mas as suas implicações diretas com os requisitos de referência e promoção de processos culturais dinâmicos. Estas considerações serão determinantes para a propositora das características formais do registro, do instrumento legal que lhe dá cobertura e legitimidade, e das suas relações com as etapas de preservação e promoção que lhes complementam. [...] O

81

Assinado pela Coordenadora do Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial, então Arquiteta do IPHAN, Márcia Sant‟Anna,

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registro administrativo da referência cultural estará determinado, antes de tudo, pela natureza dos bens e processos a preservar. Assim, visualizamos três tipos de registro (livro) para referência da dinâmica: registros dos fazeres e tecnologias patrimoniais; registro de produtos de usos e costumes tradicionais e/ou significativos. Cada um desse „livros‟ ou registros (ou ainda arquivos) cobriria uma espécie ou „família‟ de bens culturais, respectivamente, a saber os modos de fazer ou produtos desses „fazeres‟ e, por fim, os usos e costumes socialmente significativos.(IPHAN, 1993, p. 47).

Partindo de um valor ou da referência dos “processos culturais significativos”

(IPHAN, 1993, p. 47) à sociedade brasileira, embora ainda sob o enfoque identitário

nacional, o documento inova ao indicar o registro enquanto procedimento

administrativo, no entanto, sem a proposta de um instrumento jurídico de proteção

ou tutela desses processos. O documento sugere apenas que a Constituição

Brasileira de 1988 já indicava “outros instrumentos de proteção, além do

tombamento” como “os inventários e a identificação” (IPHAN, 1993, p. 47).

Ainda que claramente menos preocupados com o nome do instrumento de proteção

e mais com a sua “regulamentação e os requisitos que impõe”, ou ainda, pelo

caráter de exposição preliminar do documento e da indicação pela constituição de

um grupo de trabalho “para equacionar e propor” o conteúdo apresentado,

percebemos a premência na condução das discussões e construção de políticas

públicas de proteção à cultura popular, aquele instante compreendida

institucionalmente como “processos culturais significativos” à cultura brasileira.

Duas importantes considerações podem ser apreendidas através do documento; a

primeira, diz respeito á necessidade de construção de um instrumento jurídico de

proteção; a segunda indica que o “Registro Administrativo” daria às ações de registro

dos bens das culturas populares um protagonismo institucional preservacionista

ainda não alcançado.

Ainda em 1997, a Coordenação de Cultura Popular é transformada no Centro

Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP)vinculado à FUNARTE. A

construção de uma política para a preservação da cultura popular, iniciada em 1958,

com a Campanha Nacional do Folclore, e agora institucionalizada através do

CNFCP, demonstra o longo caminho para o reconhecimento da cultura popular

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como bem cultural brasileiro, conforme demonstram as palavras de Cláudia Márcia

Ferreira, atual Diretora do CNFCP:

Hoje, a ação institucional se faz tendo em vista que cultura é um processo global que reúne condições do meio ambiente àquelas do fazer do homem. O agente social e seu produto – habitação, templo, artefato, dança, canto, palavra, entre outros – estão necessariamente inseridos num quadro social e ecológico no qual a atividade humana ganha significação. [...] É possível agrupar os programas em quatro vertentes, que se articulam: programas que visam à realização de estudos teóricos e de cunho etnográfico, que contribuem para a ampliação dos acervos bibliográfico, museológico, visual e sonoro; programas que visam ao apoio direto aos produtores culturais, os quais valorizam e divulgam a produção de cultura popular brasileira; programas de premiação que visam à difusão e ao reconhecimento de pesquisas nas áreas de folclore e cultura popular; programas que visam ao intercâmbio e à formação de público, bem como apoio a eventos que tenham continuidade. (FERREIRA, 2001).

A ação preservacionista, representada pelos instrumentos de proteção, não constitui

objetivo ou finalidade do CNFCP. No entanto, o Centro tornou-se o principal parceiro

institucional do IPHAN na construção das políticas preservacionistas para a cultura

popular brasileira, sobretudo nos campos de pesquisa e documentação, no incentivo

à produção através da Sala do Artista Popular (SAP), em funcionamento desde 1983

e, sobretudo, na difusão do patrimônio da cultura popular brasileira em âmbito

nacional e internacional. Nesse sentido, algumas considerações sobre esse

processo de difusão são de extrema importância à nossa compreensão:

É importante esclarecer que as expressões populares têm um circuito de difusão que lhes é próprio e que se organiza com base em redes locais de sociabilidade: festas tradicionais, feiras e mercados, romarias entre outros. Assim sendo, não cabe ao Estado interferir nos modos de organização e expressão próprios das culturas populares. [...] No entanto, cresce no nível internacional a preocupação com a preservação das culturas populares tendo em vista sua utilização pela industria cultural, que, frequentemente, retira do contexto original alguns aspectos do saber popular, destituindo-os de seu significado e desrespeitando os direitos de propriedade intelectual de seus criadores. [...] o CNFCP desenvolve seus programas entendendo que os fenômenos culturais condensam e expressam múltiplos planos da realidade. Não se trata de propor medidas para manter inalteradas as expressões da cultura popular, ou querer protegê-las da economia de mercado, mas, em um mundo cada vez mais homogêneo, os programas desenvolvidos pelo Estado devem privilegiar o significado cultural, valorizando a singularidade das produções que expressam o rico contraste entre diversos grupos sociais. (FERREIRA, 2001).

Por fim, somente no início do século XXI, no ano de 2000, é instituído o Registro de

bens culturais de natureza imaterial como práxis preservacionista à proteção da

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cultura popular, amparado pelo Programa Nacional de Patrimônio Imaterial - PNPI,

tendo por base o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) e como órgão

gestor do IPHAN.

Ainda, a incorporação do CNFCP à estrutura do IPHAN, em 2003, e,

consequentemente, à estrutura do Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI),

criado em 2004, institucionalizaria, de forma definitiva, uma política nacional de

preservação dos bens das culturas populares brasileiras, alçando-os à categoria de

patrimônio cultural nacional, agora, protegidos por um instrumento jurídico, o

Registro de bens culturais.

Nesse momento, novos velhos patrimôniossão evocados e, sobretudo, a concepção

andradiana de cultura concebida em seu projeto para a criação do IPHAN, em 1936,

onde os bens da cultura popular alcançavam o mesmo patamar dos monumentos de

“pedra e cal”. Os bens da cultura popular seriam, portanto, protegidos através do

Registro, em sua dimensão imaterial.

Assim, através do Decreto Federal n. 3.551 de 4 de agosto de 2000, percebemos

que duas grandes novidades são insertas nas políticas públicas preservacionistas

brasileiras: o instrumento jurídico de proteção do bem cultural pelo Registro nos

livros dos Saberes82, Formas de Expressão83, Celebrações84 e Lugares85; bem como

a institucionalização do Inventário Nacional de Referências Culturais – INCR como

metodologia voltada à produção de conhecimento sobre bens culturais e subsídio à

formulação de políticas patrimoniais de reconhecimento, seleção, proteção e

promoção.

O Conceito de Patrimônio Imaterial brasileiro, no entanto, não compõe corpo legaldo

Decreto Federal nº. 3551/2000 que, em seu artigo 1ª, indica apenas a sua finalidade:

“instituir o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem

patrimônio cultural brasileiro”, bem como os livros onde deveriam ser feitos os

82

“Conhecimento e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades”. 83

, “Manifestações literárias, musicais e plásticas, cênicas e lúdicas”. 84

“Rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social”. 85

“Mercados, feiras santuários, praças e demais espaços onde se concentram e se reproduzem práticas culturais coletivas”.

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Registros e os valores atribuídos à patrimonialização dos Bens Culturais de

Natureza Imaterial, como indicam os incisos I a IV do § 1º:

§ 1o Esse registro se fará em um dos seguintes livros:

I - Livro de Registro dos Saberes, onde serão inscritos conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades;

II - Livro de Registro das Celebrações, onde serão inscritos rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social;

III - Livro de Registro das Formas de Expressão, onde serão inscritas manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas;

IV - Livro de Registro dos Lugares, onde serão inscritos mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços onde se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas.

§ 3o Outros livros de registro poderão ser abertos para a inscrição de bens

culturais de natureza imaterial que constituam patrimônio cultural brasileiro e não se enquadrem nos livros definidos no parágrafo primeiro deste artigo.

Ficariam explícitos nos incisos I ao IV do artigo 2º do Decreto Federal nº.

3.551/2000, quais seriam as parte legítimas para “provocar a instauração do

processo de registro”:

I - o Ministro de Estado da Cultura;

II -instituições vinculadas ao Ministério da Cultura;

III - Secretarias de Estado, de Município e do Distrito Federal;

IV - sociedades ou associações civis.

Os fluxos procedimentais de patrimonialização pelo Estado estão expostos nos

artigos 3ª ao 5ª do Decreto, contando com uma novidade no processo de instrução

do Registro, que poderá ser realizado por “outros órgãos do Ministério da Cultura,

pelas unidades do IPHAN, ou por entidade, pública ou privada, que detenha

conhecimentos específicos sobre a matéria”, conforme dispõe o §3º do artigo 3º.

Ainda, o Decreto Federal nº. 3.551/2000 instituiria o instrumento de “revalidação do

título de „Patrimônio Cultural do Brasil”, que ocorreria pela reavaliação dos bens

culturais registrados pelo IPHAN, a cada 10 anos, conforme dispõe o artigo 7º e,

quando negada a revalidação do bem cultural, seria “mantido o registro, como

referência cultural de seu tempo”.

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O Decreto Federal nº. 3.551/2000 instituiria ainda, em seu artigo 8º, o “Programa

Nacional do Patrimônio Imaterial”, que teria como objetivo “a implementação de

política específica de inventário, referenciamento e valorização desse patrimônio”.

SegundoSant‟anna (2003), paralelamente à construção do instrumento de proteção

aos bens intangíveis, o Registro do Patrimônio Imaterial, desenvolveram-se no

IPHAN, pesquisas no intuito de construção de uma metodologia que inventariasse

os bens culturais, trabalhando com a ideia de “referências culturais” dentro das

“categorias instituídas pelo Decreto 3.551/2000” (Sant‟anna, 2003, p. 53) e, como

instrumento de pesquisa “dosprocessos de produção desses bens, dos valores neles

investidos, de sua transmissão e reprodução, bem como das suas condições

materiais de produção” (Sant‟anna, 2003, p. 53). Nesse sentido, uma metodologia de

trabalho para seleção que opera “com o conceito de referência cultural, supera a

falsa dicotomia entre patrimônio material e imaterial” e seria denominada de

Inventário Nacional de Referências Culturais, comumente referidos pela sua sigla

INRC.

Em 2001, ocorre a Implantação do PNPI, com o projeto Celebrações e Saberes da

Cultura Popular, desenvolvido pelo CNFCP e, no ano seguinte, em 2002, ocorre o

primeiro registro do patrimônio imaterial nas cidades brasileiras, com o Registro do

Ofício das Paneleiras de Goiabeiras, no município de Vitória, no Espírito Santo, no

Livro dos Saberes. As ações inventariantes do CNFCP apresentavam-se como

valiosas ferramentas no reconhecimento do patrimônio cultural popular brasileiro,

conquanto importante instrumento técnico no procedimento de Registro do bem

cultural, que também passaria a ter sua instrução proposta pelo CNFCP.

Percebemos, ainda, na fala da pesquisadora Letícia Viana (2001), que a aplicação

do INRC atuaria como mecanismo catalisador da atuação do CNFCP, tendo em vista

sua “experiência” e o “acervo acumulado” e enquadrado nas “quatro dimensões

básicas das políticas do CNFCP: pesquisa, documentação, difusão e fomento”.

Nesse sentido, os inventários vieram compor com ações no âmbito da Sala do Artista Popular e da parceria com o Programa de Apoio a Comunidades Artesanais. E fizeram parte de projetos nos quais foram realizadas pesquisas etnográficas, documentação, oficinas de repasses de técnicas tradicionais, melhoria nas condições de produção e florescimento,

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exposições e publicações sobre a maioria dos bens inventariados. (VIANA, 2004 )

Nesse sentido, uma crítica operacional ao INRC é levantada pela pesquisadora,

indicando que a metodologia do INRC não seria “tão operativa enquanto instrumento

de pesquisa de campo”, sem deixar de mencionar o mérito do INRC enquanto

“metodologia de levantamento, identificação e localização de documentos e

referências sobre os bens”,assim como sua flexibilidade e capacidade de “permitir

algumas adaptações em relação ao padrão sem sacrificar sua lógica interna”

(VIANNA, 2004, p. 20).

A Resolução nº001, de 3 de agosto de 2006, viria estabelecer, no seio do IPHAN,

conforme dispõe o artigo 1º, “os procedimentos a serem observados na instauração

do processo administrativo de Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial”,

pormenorizando, ao longo da Resolução, todas as condições, termos, prazos e

instâncias que o fluxo de patrimonialização institucional deveria percorrer.

Entretanto, as Considerações dos motivos à construção dessa Resolução, que

compõem o próprio texto legal, antecedendo aos comandos legais elencados a partir

do artigo 1º, merecem nossa atenção, uma vez que, nessas considerações, são

expostos os conceitos de bem cultural de natureza imaterial e de tradição, que

orientariam as políticas de preservação dos bens culturais no IPHAN, conforme

decisão do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, em sua 49º reunião, de 03

de agosto de 2006. Assim, transcrevemos as considerações que são estabelecidas

em torno dos conceitos:

CONSIDERANDO que se entende por bem cultural de natureza imaterial as criações culturais de caráter dinâmico e processual, fundadas na tradição e manifestadas por indivíduos ou grupos de indivíduos como expressão de sua identidade cultural e social; CONSIDERANDO que, para os efeitos desta Resolução, toma-se tradição no seu sentido etimológico de “dizer através do tempo”, significando práticas produtivas, rituais e simbólicas que são constantemente reiteradas, transformadas e atualizadas, mantendo, para o grupo, um vínculo do presente com o seu passado; [...].(IPHAN, 2006).

Numa conjuntura mundial, percebamos que, apenas em 2003, a Convenção para

Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, aprovada na 32ª Sessão da

Conferência Geral das Nações Unidas, consideraria a interdependência entre o

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patrimônio cultural imaterial e o patrimônio cultural tangível e natural. A convenção

da UNESCO introduziria internamente, enfim, o conceito de "patrimônio cultural

imaterial", 03 anos depois de o Brasil ter institucionalizado um instrumento de

proteção e uma metodologia para seleção e construção de planos de salvaguarda,

sob a forma legal, o Registro dos Bens Imateriais.

A política preservacionista brasileira para os bens de natureza imaterial apresenta-se

hoje em um estágio maduro, e bastante consolidado86, apresentando um panorama

institucional gestor sem precedentes na história do IPHAN e, segundo Machado,

(2014, p. 182), constitui um processo em construção que consolidaria “um regime

diferenciado de proteção”:

A preservação do PCI prenuncia a consolidação de um regime diferenciado de proteção que vem emergindo no ordenamento jurídico brasileiro, construído gradativamente a partir da experiência do IPHAN nos processos de Registro e salvaguarda. Cada situação específica impõe um tratamento jurídico especial, por guardar peculiaridades relacionadas a diversos ramos do Direito.

O Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL)87 surgiria em 2010, como

uma metodologia inventariante voltada à preservação da diversidade linguística

brasileira e, segundo publicação do IPHAN (2010), naquele mesmo ano, 08

inventários estariam em andamento, sendo 02 deles aplicados em territórios não

indígenas ou quilombolas, territórios urbanos: “A LIBRAS DO NORDESTE, um

levantamento linguístico das variantes usadas nas comunidades de surdos de João

Pessoa – PB e Recife-PE;bem como o Inventário TALIAN88. Em 2014, o IPHAN

reconheceria“as três primeiras línguas - o Talian, o Asurini do Trocará e o Guarani

Mbya - reconhecidas como Referência Cultural Brasileira, que passam a fazer parte

86

O Registro de bens culturais de natureza imaterial nos livros dos Registros dos Saberes, das Formas de Expressão, das Celebrações e dos Lugares; bem como todos os processos administrativos encontram-se disponíveis para o acesso público no BCR (2013). 87

Instituído pelo Decreto Federal nº. 7.387, de 09 de dezembro 2010. 88

“Falado na Região Sul do Brasil, o Talian é a língua utilizada por parte da comunidade italiana que chegou ao país ainda no século XIX, com influência de língua vêneta (do norte da Itália). É considerado patrimônio histórico e cultural dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina”.Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/noticias-destaques/-/asset_publisher/OiKX3xlR9iTn/content/iphan-certifica-tres-linguas-como-referencia-cultural-brasileira/10883>. Acesso em: 22 set. 2015.

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do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL)”89,aprovado por uma

comissão técnica composta por representantes dos ministérios da Cultura,

Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação, Justiça e Planejamento.

Até 2013, 22 bens culturais nas cidades brasileiras, de naturezas imateriais,

espalhados por todo o território nacional, foram registrados nos Livros de Registro

dos Saberes, do Registro das Celebrações, dos Registros das Formas de Expressão

e dos Registros de Lugares, e são protegidos e salvaguardados pelo IPHAN através

do DPI, onde se encontram os processos administrativos dos Registros englobando

toda uma documentação escrita e audiovisual que compõem os “Dossiês de

Registro” no processo administrativo, bem como todos os pareceres administrativos,

jurídicos e consultivos acerca dos Registros realizados. Seria também

responsabilidade do DPI e das demais Superintendências Regionais do IPHAN,

colaborar com os demais entes federativos brasileiros, os estados e município, no

auxílio técnico para formulação de políticas locais de preservação ao patrimônio

imaterial.

A principal metodologia utilizada hoje para o registro dos bens de natureza imaterial

é o INRC, aplicadopela primeira vez como instrumento de patrimonialização de um

bem cultural, em 2005, através do Registro do Círio de Nazaré. O INRC é um

inventário que acompanha o processo de registro dos bens culturais e permite a

construção dos Planos de Salvaguardas, instrumentos que possibilitam assegurar a

continuidade do bem em pequeno, médio e longo prazo, envolvendo o bem cultural

e a sua comunidade de pertencimento. No entanto, em alguns processos de registro,

a metodologia do INRC não fora aplicada, sendo os estudos desenvolvidos através

de pesquisa histórica e documental em trabalho de campo. Ainda segundo

entrevistas da Professora Mácia San‟Anna,todos os bens registrados devem possuir

um plano de Salvaguarda; no entanto, o uso do INRC não constitui obrigatoriedade

metodológica.

89

O IPHAN certifica três línguas como referência cultural brasileira.Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/noticias-destaques/-/asset_publisher/oikx3xlr9itn/content/iphan-certifica-tres-linguas-como-referencia-cultural-brasileira/10883. Acesso em: 22 set. 2015

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Uma outra importante característica da política de preservação dos bens culturais

dinâmicos seria a ação da reavaliação pelo IPHAN, a cada 10 anos, através de

decisão do seu conselho consultivo, sobre a manutenção do título de “Patrimônio

Cultural do Brasil”, ocorrida com o Registro dos bens culturais, conforme determina o

artigo 7º do Decreto nº 3.551/2000. Até 2013, apenas o Ofício das Paneleiras de

Goiabeiras, registrado em 2002, teria tido revalidação através de titulação em 11 de

outubro de 2013.

O quadro abaixo demonstra os desdobramentos da dimensão política da norma de

preservação dos bens culturais registrados pelo IPHAN nas cidades brasileiras entre

2000 e 2013, tendo por base oBanco de Dados dos Bens Culturais Registrados

(BCR)90, bem como os processos de registros e dossiês publicados pelo IPHAN,

onde encontramos rico material quanto às projeções para salvaguardas, sobretudo

as recomendações. Assim, os pactos e critérios utilizados para compreender a

dimensão política, como a data de tombamento, as recomendações ou planos de

salvaguardas, bem como as metodologias de patrimonialização estariam dispostos

no quadro; enquanto que as questões relativas ao tempo de patrimonialização, aos

pareceres para patrimonialização, bem como as ações de apoio, encontram-se

disponíveis e analisadas na segunda parte deste capítulo.

Data de Registro

Bem Cultural Registrado pelo

IPHAN

Estado/ Região Brasil

Recomendações e Planos de Salvaguarda

Metodologia de Patrimonializaç

ão

20/12/2002 Ofício das Paneleiras de Goiabeiras

Espirito Santo

Recomendações de Salvaguarda Ações de Salvaguarda (discussão acerca da questão geográfica das paneleiras produzidas em Goiabeiras Velha)

Pesquisa histórica e documental em trabalho de campo.

05/10/2004 Samba de Roda do Recôncavo Baiano Patrimônio Humanidade O Samba de Roda no Recôncavo Baiano é proclamado pela Unesco Obra-

Bahia Recomendações de Salvaguarda Ações de Salvaguarda: Pontão de Cultura Samba de Roda – Casa do Samba com a associação de sambadeiros e sambadeiras do estado da Bahia; Regularização fundiária e instalação

Pesquisa histórica e documental em trabalho de campo

90

Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR (2013). Página Consultada a 15/12/2012, em <http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf.>

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Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade.

do conselho gestor da Casa do Samba; Montagem de estúdio e áudio para Gravação de CD‟s de Sambas de Roda

05/10/2004 Círio de Nossa Senhora de Nazaré

Pará Recomendações de Salvaguarda Ações de Salvaguarda: Ponto de Cultura Museu do Círio

INRC

14/01/2005 Modo de Fazer Viola-de-Cocho

Mato Grosso Mato Grosso do Sul

Recomendações de Salvaguarda Ações de Salvaguarda: Ponto de Cultura/ Cuiabá MT Ponto de Cultura / CorumbáMS

INRC

14/01/2005 Ofício das Baianas de Acarajé

Bahia Recomendações de Salvaguarda Ponto de cultura – ABAM Associação de baianas de acarajé e mingaus do estado da Bahia Ações de Salvaguarda- Inauguração do Memorial das Baianas de Acarajé

Pesquisa histórica e documental em trabalho de campo

15/12/2005 Jongo no Sudeste Espirito Santo São Paulo Rio de Janeiro Minas Gerais

Recomendações de Salvaguarda; Ações de Salvaguarda: Pontão de Cultura Jongo e Caxambu Niteroi/RJ (em andamento)

INRC

20/12/2006 Feira de Caruaru Pernambuco Recomendações de Salvaguarda Ações de Salvaguarda: Pontão de Cultura da Feira de Caruaru para formação de agentes de turismo para Feira

INRC

28/02/2007 Frevo Pernambuco Recomendações de Salvaguarda INRC

20/11/2007 Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto, de Terreiro e Enredo

Rio de Janeiro

Recomendações de Salvaguarda; Ações de Salvaguarda: Pontão de Cultura memoria do Samba Carioca Rio de Janeiro / RJ (em andamento);

INRC

20/11/2007 Tambor de Crioula do Maranhão

Maranhão Recomendações de Salvaguarda Ações de Salvaguarda: Recuperação e lançamento do curta metragem “Tambor de Crioula” 1978 Criação do Comitê gestor do Plano de Salvaguarda

INRC

13/06/2008.

Modo artesanal de fazer queijo nas regiões do Serro, da Serra da Canastra e do Salitre.

Minas Gerais

Recomendações de Salvaguarda parcerias das agências de pesquisa e financiamentos dos estudos sobre a produção do leite,; a associação e organização daqueles produtores; potencializar comercialmente o produto cultural; denominação de origem controlada e certificação geográfica; adequação à lei estadual nº 14.155, de 31/01/2002

INRC

21/10/2008 Ofício dos mestres de capoeira

Brasil Recomendações de Salvaguarda Ações de Salvaguarda: Elaboração da plataforma on-line de Cadastro Nacional da Capoeira 2010 Articulação com o Ministério da Previdência para aposentadoria dos mestres.

Pesquisa histórica e documental em trabalho de campo

21/10/2008 Roda de Capoeira Brasil Recomendações de Salvaguarda Pesquisa

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Ações de Salvaguarda: Elaboração da plataforma on-line de Cadastro Nacional da Capoeira 2010 Articulação com o Ministério da Previdência para aposentadoria dos mestres.

histórica e documental em trabalho de campo

28/01/2009 Modo de fazer Renda Irlandesa Divina Pastora / SE

Sergipe Recomendações de Salvaguarda Elaboração do Plano de Salvaguarda e organização do Comitê Gestor

Pesquisa histórica e documental em trabalho de campo

03/12/2009 Ofício de Sineiro Minas Gerais

Recomendações de Salvaguarda INRC

03/12/2009 Toque dos Sinos em Minas Gerais tendo como referência São João del Rey e as cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes.

Minas Gerais

Recomendações de Salvaguarda INRC

13/05/2010 Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis

Goiás Recomendações de Salvaguarda INRC

10/12/2010 Festa de Sant' Ana de Caicó

Rio Grande do Norte

Recomendações de Salvaguarda INRC

30/08/2011 Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão

Maranhão Recomendações de Salvaguarda elaborada ao longo do Registro

INRC

29/11/2012 Fandango Caiçara Paraná São Paulo

SI SI

03/04/2013 Festa do Divino de Paraty

Rio de Janeiro

SI SI

05/06/2013 Festa do Senhor do Bonfim

Bahia SI SI

Quadro 4 - Pactos e Critérios na patrimonialização dos bens culturais registrados pelo IPHAN nas cidades brasileiras entre 2000 e 2013. Fonte: Banco de Dados do BCR

Legenda: INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais; SI – sem informação

Não há registros de patrimônio imaterial urbano nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina,

Alagoas,Paraiba, Ceará, Piauí, Tocantins, Distrito Federal, Amapa, Rondônia, Roraima, Acre e Amazonas.

O caráter dinâmico atribuído à cultura popular como patrimônio, a sua posição como

bem cultural intangível, bem como o grande e expoente potencial de

patrimonialização da cultura popular, reivindicariam um instrumento de proteção

jurídica ao bem cultural. Seguindo a tradição civilista francesa dos bens materiais e o

do instituto do tombamento, desde a década de 1930, o critério da coisa, ou seja,

sua tangibilidade ou não, torna, no Brasil, em sua grande maioria, só bens das

culturas populares como sinônimos de patrimônio cultural imaterial, nomenclatura

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adotada pelo estado, desde o ano 2000, quando da instituição do Registro de Bens

Culturais de Natureza Imaterial e do Programa Nacional de Patrimônio Imaterial

(PNPI).No entanto, a associação entre cultura popular e patrimônio imaterial, no

Brasil, entre 1988 e 2013 não excluiu a prática ou adoção do tombamento como

proteção dos bens das culturas populares brasileiras pelo IPHAN, como o

tombamento, por exemplo, dos Terreiros de Candomblé, das Embarcações

Tradicionais, e da Casa de Chico Mendes e sua arquitetura popular.

O Tombamento pelo IPHAN de bens das culturas populares nas cidades brasileiras

entre 1988 e 2013, torna-se mais sistemática a partir do ano de 1999, com a

retomada dos tombamentos dos Templos Afro-Brasileiros, os Terreiros de

Candomblé, (iniciada em 1986, com o Tombamento do Terreiro da Casa Branca, em

Salvador), através do Tombamento do Terreiro do Opô Afonjá, também em

Salvador. A retomada da política de proteção aos Terreiros de Candomblé pelo

IPHAN ensejaria o tombamento de mais 04 terreiros entre 2002 e 2004: oTerreiro do

Gantois em Salvador, e do Terreiro Casa das Minas em São Luís do Maranhão,

ambos em 2002; o do Terreiro do Bate-Folha em 200, e do Terreiro do Alaketu em

2004, também em Salvador. Assim, entre 2000 e 2004 o IPHAN conseguiria

estabelecer uma política bastante eficiente na proteção dos Terreiros de

Candomblés como patrimônios culturais brasileiros, com o tombamento de mais 05

Templos Afro-Brasileiros, num pequeno período de tempo.

Apesar de a solicitação de Tombamento do Terreiro do Gantois ser realizada em

1998, percebemos que a incorporação pelo IPHAN das novas referências em torno

dos bens culturais brasileiros, estabelecidos pela Constituição de 1988 para os

processos de seleção e consequente proteção, enfrenta uma lacuna temporal

considerável. As condições pelo qual o IPHAN atravessou a década de 1990,

reconhecidamente demonstrada como um período de “crise no patrimônio”

(SANT‟ANNA, 2004a) permite-nos compreender as dificuldades operacionais

vivenciada no IPHAN, bem como as importantes considerações levantadas por

Sant‟anna (2011, p. 31):

Esse foi o tempo de que o IPHAN e, de certa forma, parcelas importantes da intelectualidade brasileira e do próprio povo de santo necessitaram para

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aceitar o tombamento como um instrumento de proteção adequado a esses sítios, como também consolidar a ideia de que, no Brasil, existe um valioso patrimônio de matriz africana que, embora distinto dos bens originalmente protegidos pelo estado, também demanda preservação como parte fundamental da formação cultural de nossa sociedade.

A prática do Tombamento de bens das culturas populares nas cidades brasileiras

seria retomada em 2008, com o Tombamento da “Casa de Chico Mendes e seu

acervo”, incorporando ao rol de bens tombados nacionais, a arquitetura vernacular

das habitações seringueiras, suas “referências culturais” sócio-ambientais enquanto

patrimônio histórico, pois além de representar a habitação do homem e da mulher do

seringal, na Amazônia Brasileira, representa a história de um dos grandes homens

seringueiros, Chico Mendes. As relações sócio-ambientais das comunidades

tradicionais seringueiras, seriam preservadas em sua materialidade enquanto bem

cultural histórico, traduzidos pela habitação popular como artefato das condições de

vida e do próprio povo seringueiro, representado na figura de Chico Mendes.

As práticas de preservação dos bens das culturas populares através do

Tombamento voltariam a ocorrer no IPHAN em 2012 com o tombamento de 04

embarcações tradicionais brasileiras, resultados diretos de uma política empreendida

pelo Departamento de Patrimônio Material – DEPAM, em Brasília, a partir do final de

2008, consolidando-se em 2009 como um projetodenominado “Barcos do Brasil”,

que tinhacomo objetivo principal “Identificar, registrar e valorizar o patrimônio naval

brasileiro [...] Proteger, preservar e salvaguardar o patrimônio naval brasileiro e seus

contextos sociais, culturais e ambientais”91. Assim, em 2012, 04 embarcações

tradicionais brasileiras são Tombadas como patrimônios Arqueológico, Etnográfico e

Paisagístico, Históricos e Artísticos: a Canoa Costeira, de nome Dinamar, no

Maranhão; o Saveiro de Vela de Içar, de nome, Sombra da Lua, no Recôncavo

Baiano; a Canoa de Tolda Luzitânia em Sergipe; e a Canoa de Pranchão do Rio

Grande, no Rio Grande do Sul.

A proteção das embarcações tradicionais brasileiras pelo Tombamento demonstra,

sobremaneira, a marcada presença institucional do IPHAN na patrimonialização dos

91

BRASIL. PROJETO BARCOS DO BRASIL. Folder de Lançamento do Projeto. IPHAN, 2009. Disponível em: <http://www.popa.com.br/_2009/IMAGENS/07/pedro-bocca/folder%20barcos%20do%20brasil.pdf>. Acesso em: 22 out. 2015.

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119

bens culturais, sobretudo, na escolha dos instrumentos de proteção a serem

utilizados. A proteção de um bem cultural pelo Tombamento, onde o saber-fazer

prevaleceria na preservação de uma técnica construtiva ou de velejo, permitindo

assim a produção e reprodução do artefato, indica ou uma não superação

institucional desse entendimento ou de uma não observância aos critérios à

proteção dos bens culturais, adequando-os a outros acordos que envolvem critérios

equivocados para patrimonialização.

Mesmo não ocorrendo uma mudança na legislação de preservação dos bens

culturais materiais no Brasil, ainda que a Portaria Nº 11 de 11/09/1986 orientasse a

instrução dos processos de tombamento, certamente, as ideias de “referências

culturais” bem como os novos direitos culturais que se configuram na Constituição

Brasileira de 1988, estenderiam o conceito de patrimônio cultural, permitiram o

tombamento pelo IPHAN de 10 bens das culturas populares entre 1988 e 2013,

representados pelos Terreiros de Candomblé; pelas embarcações tradicionais e por

uma habitação vernacular seringueira.

Nesse sentido, segue tabela síntese cronológica dos Bens das culturas populares

tombados pelo IPHAN nas cidades brasileiras entre 1988 e 2013, levando em

consideração o tempo de patrimonialização e em qual livro do tombo o bem fora

inscrito. Assim como no registro, questões relativas às recomendações ou planos de

salvaguardas, metodologias de patrimonialização, pareceres para patrimonialização,

bem como as ações de apoio aos bens tombados encontram-se disponíveis e

analisadas na segunda parte deste capítulo.

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120

LOCALIZAÇÃO INFORMAÇOES SOBRE O BEM

TOMBADO DADOS DO PROCESSO

APROVAÇÃO CONSELHO CONSULTIVO PARA

INSCRIÇÃO NO LIVRO DO TOMBO

UF

Mu

nic

ípio

No

me d

o B

em

Cla

ssif

icação

An

o d

e A

be

rtu

ra

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og

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e

Pais

ag

ísti

co

His

tóri

co

Bela

s A

rtes

Art

es A

pli

cad

as

BA Salvador Terreiro do Axé

Opô Afonjá Terreiro 1432 1998 1999 1999

BA Salvador Ilê Iyá Omim Axé

Yiamassé Terreiro 1471 2000 2002 2002

MA São Luís Terreiro Casa das

Minas Jeje Terreiro 1464 2000 2002 2002

BA Salvador

Terreiro de Candomblé do

Bate-Folha Manso Banduquenqué

Terreiro 1486 2001 2003 2003

BA Salvador Terreiro do Alaketo,

Ilê Maroiá Láji Terreiro 1481 2001 2004 2004

SE Baixo São Francisco

Canoa de Tolda Luzitânia

Canoa 1473 2001 2012 2012 2012

AC Xapuri Casa de Chico Mendes e seu

acervo

Edificação e Acervo

1549 2007 2008

MA Costa do Maranhão

Canoa Costeira, de nome Dinamar

Canoa 1616 2010 2012 2012 2012

BA Recôncavo

Baiano

Saveiro de Vela de Içar, de nome,

Sombra da Lua, no Recôncavo Baiano

Saveiro 1616 2010 2012 2012 2012

RS Rio

Grande Canoa de Pranchão

do Rio Grande Canoa 1617 2010 2012 2012 2012

Quadro 5 - Bens das culturas populares tombados pelo IPHAN nas cidades brasileiras entre 1988 e 2013

92.

3.1.1 O tempo e a produção institucional do patrimônio

O tempo de produção institucional do patrimônio, ou seja, o período compreendido

para a tramitação dos processos administrativos de tombamento e registro dos bens

culturais patrimônio, possui, mesmo que sob um caráter objetivo procedimental

regulado pelas legislações normativas, uma discricionariedade técnica que ampara e

regula o tempo dos pactos e critérios na produção do patrimônio cultural.

92

FONTE- Lista de Bens Culturais Inscritos nos Livros do Tombo(1938 - 2012). Disponível em:<http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/608>.Processos disponíveis no Arquivo Noronha Santos. Entrevistas DEPAM / BSB.

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121

Assim, ao longo da análise dos processos de tombamento e Registro dos bens das

culturas populares brasileiras realizados pelo IPHAN entre 1988 e 2013, percebemos

que o fator tempo possui uma heterogeneidade temporal relevante numa análise dos

processos de registro, e uma homogeneidadetemporal relevante nos processos de

tombamento, quando comparados sob o mesmo instrumento de proteção; ainda,

quando comparamos o tempo dos tombamentos com os registros, percebemos que

poderíamos organizá-los em torno de quatro arranjos temporais possíveis: até um

ano; de 01 a 02 anos; de 02 a 04 anos; acima de 04 anos.

No entanto, apesar de possuirmos uma uniformidade e uma razoabilidade temporais

na condução dos processos administrativos de proteção dos bens das culturas

populares patrimônios, ocorridos no IPHAN entre o período de 1988 a 2013,

percebemos que, em alguns casos, esse tempo ou se estende, ou se retrai, além de

uma média temporal de produção institucional do patrimônio cultural pelo IPHAN, o

que merece uma análise mais individualizada ao longo desse capítulo.

Ainda, há de se considerar algumas condições ou atos jurídicos, que demarcam

temporalmente a trajetória procedimental dos tombamentos e registros. Assim, por

exemplo, a data da solicitação de tombamento antecede a data da abertura do

processo, quando da sua solicitação pelo setor (divisão, diretoria) responsável ao

Arquivo Noronha Santos. Ou ainda, a data de tombamento, enquanto ato

administrativo constitutivo do processo que se finda com a inscrição no Livro do

Tombo, não necessariamente corresponde a uma decorrência objetiva dos atos

administrativos previstos no rito, e podem ocorrer anos após a data da aprovação

dos pedidos de tombamentos ou registros nas reuniões do conselho consultivos, por

exemplo.

Nesse sentido, o fator tempo constitui em uma importante variável a ser considerada

na trajetória da norma de preservação dos bens das culturas populares nas cidades

brasileiras, uma vez que indica a condição que determinado bem cultural possuiu em

atender às demandas burocráticas da patrimonialização institucional dos bens

culturais no Brasil, bem como a indicação dos principais acordos institucionais que

podem tornar mais ou menos célere a patrimonialização dos bens culturais pelo

IPHAN.

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122

Assim, buscando analisar percentualmente o tempo institucional de produção do

patrimônio na trajetória da norma de preservação dos bens das culturas populares

nas cidades brasileiras, tombados e registrados pelo IPHAN entre 1988 e 2013

necessitaríamos demarcar temporalmente o que seria a data da abertura do

processo, que corresponde, nesta pesquisa, devido à uniformidade de informações,

ao instante em que o IPHAN aceita o pedido e solicita93 ao Noronha Santos a

abertura do processo para a devida instrução; e, como instante do tombamento, o

momento de sua aprovação na reunião do conselho consultivo do IPHAN, também,

devido à uniformidade de informações nos documentos pesquisados, o que não

reflete a legalidade da norma quanto ao tombamento, que se encerra apenas com a

devida inscrição no livro do tombo, informação esta nem sempre presente nos

processos de tombamento, ou mesmo, ainda não realizada.

Nesse sentido, construímos os gráficos do tempo dos processos de Registro e

Tombamento dos bens das culturas populares pelo IPHAN entre 1988 e 2013, onde

percebemos que, no caso dos 22 registros de bens imateriais nas cidades

brasileiras, eles se desdobram de forma bastante regular por todos os segmentos

temporais trabalhados.

Gráfico 4 - Tempo dos processos de Registro dos bens das culturas populares pelo IPHAN entre 1988 e 2013.

Já gráfico abaixo, percebemos que, no universo do tombamento de 10 bens das

culturas populares pelo IPHAN entre 1988 e 2013, há uma concentração de bens

tombados com tempo de processos de tombamento concentrado entre 01 e 02 anos,

estabelecendo uma maioria absoluta neste segmento temporal.

93

Sem tempo previsto entre o recebimento da solicitação e a abertura do processo pelo Noronha Santos, no IPHAN.

23%27%

32%

18%

Até 01 ano de 01 a 02 anos de 02 a 04 anos acima de 04 anos

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123

Gráfico 5 - Tempo dos processos de Tombamento dos bens das culturas populares pelo IPHAN entre 1988 e 2013.

No que tange ao Registro dos bens culturais, destacam-se como processos com

maior tempo entre sua abertura e aprovação no conselho consultivo do IPHAN, o

Registro do Ofício do Sineiro e o Toque dos Sinos em Minas Gerais, que perduraram

por 08 anos entre a abertura dos processos, em novembro de 2001, e aprovação

dos bens culturais patrimônios, em dezembro de 2009. Ao nosso entendimento, tal

processo torna-se atípico pela condição de que inicialmente, a solicitação de registro

do Oficio de Sineiro estaria restrito apenas para São João del Rey, conforme oficio

de solicitação de registro bem. No entanto, os estudos são também estendidos às

cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina,

Sabará, Serro e Tiradentes. Ainda, o parecer técnico enviado ao Departamento de

Patrimônio Imaterial –DPI, quando na instrução do processo pela 13ª SR IPHAN/MG

indica um duplo registro, com a inscrição do Toque dos Sinos como registro das

Formas de Expressão, e a do Oficio de Sineiro como registro de Saberes. Assim, a

instrução de um processo que se restringiria a uma cidade se estende por toda uma

rede de cidades, compondo um território a ser estudado, o que alongaria, para além

do comum, o processo institucional de registro do bem cultural. No pólo oposto, os

Registros da Viola de Cocho, do Samba de Roda do Recôncavo Baiano, do Ofício

das Baianas de Acarajé, da Feira de Caruaru e do Tambor de Crioula, ocorrem num

espaço de tempo inferior a 01 ano.

No que se refere aos processos de tombamento dos bens das culturas populares,

destacamos o processo de Tombamento da Canoa de Tolda Luzitânia que se inicia

em 2001 e finaliza em 2012, com a aprovação do tombamento de mais 03

embarcações tradicionais, compreendendo um período total de 11 anos de

20%

70%

10% 10%

Até 01 ano de 01 a 02 anos

de 02 a 04 anos

acima de 04 anos

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124

processo. Não nos parecer haver outra margem de interpretação que não a de

inoperabilidade técnica institucional diante do bem cultural em questão e da dúvida

quanto ao melhor instrumento jurídico a ser empregado, uma vez que a oficio de sua

construção, também poderia ser contemplado pelo instrumento do Registro. Ainda,

torna-se um exemplo, em condição oposta, o tombamento da Casa de Chico

Mendes e seu acervo, que ocorreria em menos de 01 ano, tendo em vista que o

processo se iniciar em 06/11/2007 sendo o tombamento aprovado na 56ª Reunião

do Conselho Consultivo em 15/05/2008. Também o tombamento do Terreiro do Opô

Afonjá, iniciado em 06/11/1998 e aprovado na 19ª Reunião do Conselho Consultivo

em 07/10/1999.

Aindano tocante à variável tempo, a Resolução nº 001 de 03/08/2006 constitui o

instrumento jurídico mais detalhado sobre prazos processuais, e está diretamente

ligada ao procedimento de registro dos bens imateriais pelo IPHAN.

O tempo, portanto, constitui um interessante e importante instrumento de

compreensão da trajetória da norma de preservação dos bens das culturas

populares nas cidades brasileiras onde podemos verificar, no tempo institucional de

produção do patrimônio, para além de uma análise matemática cronológica, as

condições destoantes no tempo de patrimonialização, alertando-nos, sempre, sobre

a condição do patrimônio dispositivo e dos possíveis arranjos tensores na dimensão

política do patrimônio cultural brasileiro

Assim, algumas questões tornam-se mais visíveis, no entanto, não menos

complexas: a construção de certo ritmo institucional, sobretudo, no registro dos bens

culturais patrimônio, a partir da clareza dos processos nas questões de como

instruir, como aprovar; ou ainda, a rapidez nos processos de registro ocorreria como

resultado de um acúmulo de décadas de trabalho dos folcloristas e suas comissões

na sistematização das informações sobre os bens culturais?

3.1.2 Por entre pareceres

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125

Os processos administrativos de tombamento e de registro dos bens culturais

patrimônio, pelo IPHAN, são acompanhados por um arranjo procedimental em torno

de pareceres quanto ao méritode patrimonialização, constituindo-se em atos

administrativos que compõem os processos e que são essenciais na continuidade do

rito institucional de patrimonialização.

Apesar de não existir uma uniformidade tipológica de pareceres em todos os

processos quanto comparados entre si – registros e tombamento – sobretudo, pelo

fato de seguirem ritos procedimentais diferentes, nos processos de tombamento,

essa não uniformidade é ainda mais evidente.

Percebamos que, dentro de um parecer com a mesma finalidade técnica, o sujeito

ou instituição que o endossa pode variar, sem que a sua finalidade seja modificada.

Assim, um parecer técnico para a instrução de um processo de tombamento ou

registro pode ser realizado por um notável conhecedor, instituição com relevante

saber, ou mesmo o próprio proponente, e endossado pelas Superintendências

Regionais ou mesmo as Diretorias do IPHAN em Brasília; ou através dos contratos

de consultoria, em sua grande parte, de estudos preliminares à instrução dos

processos; como pode ser realizado pela própria equipe técnica do IPHAN. Como

exemplo, a Resolução nº 001 de 03/08/2006, que institui o procedimento de registro

dos bens imateriais pelo IPHAN (2006), no seu artigo 7º, incisos, I e II, estabelece:

Art. 7º A instrução técnica do processo administrativo de Registro é de responsabilidade do DPI podendo ser delegada: I - Ao proponente, desde que tenha competência técnica para tanto; II- A uma ou mais instituições públicas ou privadas, desde que detenham competência para tanto. § 1º A delegação será feita mediante ato formal, ouvida previamente a Câmara do Patrimônio Imaterial.

Assim, procuramos, de forma abrangente, indicar os principais arranjos em torno dos

pareceres para a patrimonialização dos bens culturais, buscando compreender esse

processo de forma conjunta, ou seja, através da análise dos processos, sem

distinção entre tombamento e registro, procurando entender muito mais a atuação

institucional, do que mensurar a quantidade ou distribuição dos pareces no arranjo

institucional.

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Analisando todos os processos de tombamento e registro dos bens das culturas

populares nas cidades brasileiras realizados pelo IPHAN entre 1988 e 2013,

percebemos a seguinte configuração institucional em torno dos pareceres a

patrimonialização dos bens culturais:

1. Os pareceres técnicos institucionais – incluindo os tercerizados- emitidos ou

referendados pelas Superintendências Regionais, ou pelas Diretorias em Brasília,

tanto para a instrução do processo quanto para a justificativa de seu registro ou

tombamento;

2. Os pareceres jurídicos emitidos pela Procuradoria Jurídica - PROJUR do IPHAN –

resguardando juridicamente os atos administrativos do Tombamento ou Registro;

3. Um parecer de um conselheiro, ou seja, de um membro do Conselho Consultivo

que analisa o mérito técnico e jurídico do tombamento ou registro e se pronuncia de

forma favorável ou não; e o Parecer do Conselho Consultivo “em ato declaratório

próprio” (IPHAN, 2006).

Percebe-se, portanto, que os pareceres à produção do patrimônio cultural são

documentos técnicos e institucionais, com pouca ou nenhuma participação dos

sujeitos ou grupos sociais no contexto procedimental da patrimonialização. Assim, a

despeito da possibilidade da participação de um dado segmento da sociedade,

preparado e competente na instrução do registro dos bem culturais,como indica a

Resolução nº 001, essa participação torna-se restritiva ao caráter técnico

discricionário do IPHAN que acataria ou não, por exemplo, um parecer técnico em

torno da patrimonialização do bem cultural pelo próprio grupo proponente. Assim, a

possibilidade disponível do ponto de vista jurídico não necessariamente estaria

disponível no âmbito da norma de preservação.

Ainda, os notáveis conselheiros do IPHAN, em sua maioria, são constituídos de

pesquisadores e técnicos renomados na área do patrimônio, representando um

segmento da sociedade ligado às elites intelectuais, ainda sem a representação da

sociedade comum e dos seus conhecimentos cotidianos.

Os pareceres, portanto, constituem valiosas “tecnologias” do Estado na trajetória da

norma de preservação, uma vez que constituem os documentos legitimadores do

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127

processo de patrimonialização, traduzindo-se operacionalmente no discurso oficial

do estado sobre a patrimonialização dos bens culturais.

3.1.3 As metodologias de patrimonialização

As metodologias de patrimonialização dos bens das culturas populares nas cidades

brasileiras empreendidas pelo IPHAN entre 1988 e 2013 possuem uma abissal

diferença quando comparamos as disposições metodológicas utilizados para o

registro, e a ausência desse arranjo quando se trata do tombamento de bens

culturais, populares.

Apesar de reconhecermos algumas semelhanças procedimentais nos estudos que

orientam a instrução do processo de tombamento, sobretudo, em relação ao

Tombamento de Terreiros, percebemos a inexistência de clareza metodológica

institucional, ainda que a Portaria Nº 11 de 11/09/1986, em seu preâmbulo,

considere “a necessidade de consolidação das normas de procedimento para os

processos de tombamento” no então SPHAN, composta por uma indicação para

“instauração do processo de tombamento”, por uma avaliação técnica apreciativa

pelos “Órgãos do SPHAN”, por um “julgamento pelo Conselho Consultivo e pelo

Ministro da Educação e Cultura”.

Dessa forma, os 10 processos de tombamentode bens das culturas populares aqui

considerados, apresentam, comocaracterísticas comuns metodológicas:

1. uma pesquisa documental quando da solicitação de tombamento, que incluía

uma abordagem histórica, etnográfica, iconográfica, fotográfica, audiovisual;

2. ainda uma composição da leitura espacial, amparada em plantas

topográficas, plantas de situação e plantas de detalhamento arquitetônico,

sobretudo quando analisados os tombamentos dos Terreiros; ou ,mesmo,

uma leitura gráfica do objeto de tombamento, minuciosamente detalhada,

como no caso das embarcações tradicionais;

3. um dossiê para o tombamento do bem, quando se compreende que a

solicitação possui do mérito.

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128

Assim, os documentos que compõem os estudos e a instrução dos processos de

tombamento, constituem documentos de grande valor na compreensão dos bens

culturais e das condições que os configuram como patrimônio nacional, amparados

pela construção de um valor que possibilite que ele seja protegido juridicamente pelo

Estado.

Já os registros dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras são

orientados metodologicamente pelo Inventário Nacional de Referência Cultural, o

INRC. No entanto, nada impede que bens culturais imateriais possam ter sua

importância compreendida através de outras abordagens metodológicas. Assim, o

INRC, como metodologia “oficial”, não consegue impedir a utilização de outros

instrumentos de estudos inventariantes sobre os bens da cultura popular no

processo de patrimonialização, a exemplo das chamadas pesquisas históricas

documentais, enquanto abordagens metodológicas para a patrimonialização.

Os inventários, enquanto instrumentos de preservação dos bens da cultura popular,

desde os folcloristas, também identificam ou catalogam as manifestações das

culturas populares nos ambientes urbanos, ou melhor, nas cidades brasileiras. No

entanto, até a utilização do INRC, institucionalmente, muito pouco se desenvolveu

sobre referências culturais no âmbito dos inventários realizados sobre as cidades,

uma vez, ainda, da prevalência da leitura da cidade a partir dos bens imóveis, de

forma isolada ou em conjuntos, ainda nos estudos das paisagens urbanas, muito

mais próximos de uma relação com a natureza, do que com os modos de vida e sua

reprodução sob esse ambiente, distantes das idéias de referências culturais.

Nesse sentido, o INRC trouxe, enquanto metodologia inventariante, a possibilidade

de uma leitura dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras, não mais

desconectadas da fisicidade do espaço, nem tampouco, da materialidade do

território, impregnada de “cal e pedra”. Assim, o cheiro do acarajé, mesmo oriundo

da rua do fundo, de arquitetura vernacular simples, poderia imprimir um alargamento

de uma fronteira poligonal de proteção de um centro histórico, por exemplo, uma vez

que o cheiro, componente sensorial codificado por uma dada sociedade como

elemento identitário aquele espaço, constitui importante “referencia cultural” aquela

cidade, tanto quanto os seculares sobrados, da rua da frente.

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129

A Feira de Caruaru, por ser um registro de lugar, possivelmente possua os

elementos mais contundentes para essa afirmação. Assim, o entendimento da Feira

de Caruaru como diversas feiras, sem uma hierarquia de valor espacial, incluindo

como referência cultural daquele lugar, desde as feiras dos objetos mais tradicionais

como os bonecos de Mestre Vitalino, a feira de couro ou mesmo de animais; até as

feiras da “sulanca” e dos eletrônicos, não desconsidera, por exemplo, a necessidade

de tombamento do Alto do Moura, por tratar-se de local fundamental de produção e

reprodução de saberes e fazeres ligados a vários tipos de artesanato,

especialmente, a cerâmica.

A utilização do INRC, enquanto método, encontra na fala da Diretora do DPI à

época, sua melhor explicação:

Como método, o INRC prevê três níveis sucessivos de abordagem. No levantamento preliminar, são realizadas pesquisas em fontes secundárias e em documentos oficiais, entrevistas com a população e contatos com instituições, propiciando um mapeamento geral dos bens existentes num determinado sítio e a seleção dos que serão identificados. Na fase de identificação e documentação, são aplicados os formulários de inventário que descrevem e tipificam os bens selecionados; mapeiam as relações entre os identificados e outros bens e práticas relevantes; identificam-se, portanto, os aspectos básicos do processo de configuração da manifestação, seus executantes, mestres, aprendizes e público, assim como suas condições materiais de produção (matérias-primas acesso a estas, recursos financeiros envolvidos, comercialização, distribuição, etc.). A etapa final inclui ainda uma documentação, por meio de registro audiovisual mínimo, ficando seu detalhamento e complementação como atividade especializada a ser realizada na fase final do registro (SANT‟ANNA, 2003, p. 53).

A Instrução Normativa nº 01, de 02 de março de 2009, disporia sobre as condições

de autorização de uso do INRC:

“Considerando que o Inventário Nacional de Referências Culturais INRC é uma metodologia de pesquisa desenvolvida pelo IPHAN, que objetiva auxiliá-lo na produção de conhecimento e diagnóstico sobre os domínios da vida social aos quais são atribuídos sentidos e valores que constituem referencia de identidade para os grupos sociais“;

Vai-se permitir o licenciamento e estabelecer os parâmetros para utilização dessa

metodologia fora do IPHAN.

Assim, na análise metodológica de patrimonialização bens culturais imateriais, com

Registro no IPHAN entre 2000 e 2013, percebemos que a Pesquisa Histórica

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130

Documental – PHD teria sido utilizada como metodologia em 06 processos de

registro, perfazendo 27% do total de bens registrados, enquanto que o Inventário

Nacional de Referências Culturais – INRCfoi utilizado em 13 processos de registro,

totalizando 59% do total de 22 bens culturais populares registrados. Ainda, 03

processos não apresentam informação detalhada quanto à metodologia de

patrimonialização, compreendendo 14% do universo pesquisado.

Gráfico 6 - Análise metodológica de patrimonialização bens culturais imateriais com Registro no IPHAN entre 2000 e 2013.

Ainda, ao analisarmos a metodologia de patrimonialização dos bens registrados,

considerando como variável os valores atribuídos aos bens culturais (saberes,

formas de expressão, celebrações e lugares) conseguimos visualizar as condições

de metodologias distintas.

Nos 07 bens Registrados como Saberes, 04 utilizaram a Pesquisa Histórica

Documental como metodologia perfazendo um total de 57%em detrimento de 03

registros que utilizaram o INRC como metodologia compreendendo 43%, dos bens

registrados como Saberes. O INRC tende a se afirmar como metodologia.

27%

59%

14%

Pesquisa Histórica Documental [PDH]

Inventário Nacional de Referências Culturais [INRC]

Sem informação [SI]

57%43%

Pesquisa Histórica Documental [PDH]

Inventário Nacional de Referências Culturais [INRC]

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131

Gráfico 7 – Saberes. Análise metodológica de patrimonialização por valores dos bens culturais imateriais com Registro no IPHAN entre 2000 e 2013

Nos 08 Registros das Formas de Expressão, 02 bens culturais foram registrados

pela Pesquisa Histórica Documental, com 25% do total das Formas de Expressão,

05 bens foram registrados utilizando o INRC como metodologia, perfazendo 63%

dos registros das Formas de Expressão, e 01 bem registrado não apresentava

informação quanto à metodologia.

Gráfico 8 - Formas de Expressão. Análise metodológica de patrimonialização por valores dos bens culturais imateriais com Registro no IPHAN entre 2000 e 2013

As celebrações, compostas por 06 bens registrados, possuem 04 bens registrados

sob a metodologia do INRC, perfazendo 67% do total, sendo que deste, 02 bens não

apresentaram a informação quanto a metodologia de patrimonialização.

O Registro dos Lugares com apenas um bem registrado, a Feira de Caruaru, teve o

INRC como metodologia empregada, ou seja, 100%.

Gráfico 9 – Celebrações. Análise metodológica de patrimonialização por valores dos bens culturais imateriais com Registro no IPHAN entre 2000 e 2013

25%

63%

13%

Pesquisa Histórica Documental [PDH]

Inventário Nacional de Referências Culturais

[INRC]

Sem informação [SI]

33%

67%

Sem Informação Inventário Nacional de Referências Culturais [INRC]

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132

As metodologias utilizadas pelo IPHAN na patrimonialização dos bens das culturas

populares nas cidades brasileiras seriam mais bem orientadas e sistematizadas

enquanto procedimento institucional, em relação ao patrimônio imaterial, sobretudo,

através do INRC, onde as ações de levantamento preliminar, identificação e

documentação são componentes demarcados no processo institucional de produção

do patrimônio imaterial brasileiro, ainda que, 41% dos registros aqui analisados,

sejam feitos sem o INRC ou sem a informação quanto à metodologia.

3.1.4 As salvaguardas e as ações de apoio aos bens culturais

As salvaguardas dos bens culturais brasileiros não foram objeto de uma política

preservacionista, de forma sistemática e orgânica pelo IPHAN, até os anos 2000,

quando se inicia a política de registro dos bens imateriais e a prática da construção

de “Planos de Salvaguardas” para os bens registrados torna-se uma prática

recorrente94.

Os Planos de Salvaguardas comporiam os estudos técnicos para registros dos bens

culturais imateriais, operacionalizados através de recomendações, tendo como

principal objetivo a garantia das condições de reprodutibilidade dos bens culturais,

geralmente estabelecidos em parceria com entidades estatais ou organizações civis,

visando sua exequibilidade nos termos e garantias previstas nos Planos, e dentro

dos limites jurídicos da execução pelos entes parceiros.

As ações que contribuem para a melhoria das condições socioambientais de produção, reprodução e transmissão de bens culturais imateriais são organizados em iniciativas chamadas planos de salvaguardas. [...] Atuam, portanto, no sentido de melhoria das condições de vida materiais, sociais e econômicas que favoreçam a vivência do grupo produtor, e a transmissão e continuidade dessas manifestações culturais. O conjunto de ações envolvidas é amplo e variado, e pode ser assim resumido:1) apoio à

94

Em entrevista a este autor, concedida em setembro de 2013 pela Coordenadora-Geral de SalvaguardaRivia Bandeira, ela afirma não existir um procedimento semelhante aos Planos de Salvaguardas para os bens tombados. Ainda, indica a dificuldade institucional em articular ações de salvaguardas que tranversalizem a materialidade e imaterialidade do bem, articulando-o em torno de uma ação comum. O não tombamento até 2013 do Alto do Moura na cidade de Caruaru, indicado no Plano de Salvaguarda do Registro de Lugar da Feira de Caruaru, constituiria a época, um exemplo dessa dificuldade institucional.

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transmissão do conhecimento às gerações mais novas; 2) promoção e divulgação do bem cultural; 3) valorização de mestres e executantes; 4) melhoria das condições de acesso a matérias-primas e mercados consumidores; 5) organização das atividades comunitárias (CAVALCANTI, 2008, p. 24).

Importa demonstrar que, mesmo ausente nos processos de tombamentos, os bens

tombados podem apresentar ações de salvaguardas, diretamente ligadas a

premiações em editais do sistema MINC. Por exemplo, os Terreiros de Candomblé,

contemplados com recursos provenientes do Fundo Nacional de Cultura (FNC),

através doPrograma Nacional de Apoio a Cultura – PRONAC, mais conhecida como

Lei Rouanet95.

Assim, no âmbito das salvaguardas dos bens de natureza imaterial no Brasil,

percebemos que a maioria absoluta do universo pesquisado de 22 bens registrados,

19 bens possui como desdobramento, a “Recomendação de Salvaguarda”,

documento importante, pois reflete as demandas cotidianas dos bens culturais

durante o processo do Registro, permitindo a elaboração de uma recomendação

inicial que se desdobre em ações de salvaguardas em pequeno, médio e longo

prazos. Dos 22 registros pesquisados, 03 não apresentam informações quanto à

metodologia utilizada. No entanto ao analisarmos os processos, as metodologias

desses registros aproximam-se bastante, com estudos históricos e etnográficos do

bem cultural. O gráfico abaixo demonstra a relação das metodologias empregadas

na patrimonialização dos bens imateriais no Brasil entre 2000 e 2013.

Gráfico 10 - Recomendação de Salvaguardas dos Bens das culturas populares Registrados pelo IPHAN nas cidades brasileiras (2000-2013)

95

Lei Federal nº8.313 de 23 de dezembro de 1991.

86%

14%

bens que apresentam a Recomendação

não apresentam informação

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134

No entanto, ao observarmos os bens culturais com ações de salvaguardas

desenvolvidas, apenas 14 bens dos 22 registrados, ou seja, 74% estão envolvidos

diretamente com essas ações. O gráfico a seguir resume essa realidade.

Gráfico 11 – Ações de Salvaguardas sobre os Bens das culturas populares Registrados pelo IPHAN nas cidades brasileiras (2000-2013)

As ações de salvaguardas, comumente, estão articuladas aos editais de premiação

de projetos culturais financiados pelo Fundo Nacional de Cultura (FNC) e aos

projetos desenvolvidos pelas secretarias que compõem o sistema MINC.Nesse

sentido, percebemos que as ações de salvaguardas institucionais atuam não

restritamente ligadas ao âmbito do IPHAN, mas constituem uma rede de articulação

que envolve tanto o Sistema MINC,quanto suas secretarias. Assim, seria dentro da

Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural(SCDC) que se desenvolve o

grande programa diretamente ligado à promoção dos bens da cultura popular

brasileira, incluindo, neste rol, patrimônios culturais imateriais brasileiros: o programa

“Cultura Viva”, que tem como principal projeto os “Pontos de Cultura”96, ou “Pontões

de Cultura”97, geridos através de “Pontos de Redes”98e das “Teias”99. O programa

96

“Entidades/grupos/coletivos com atuação comprovada na área cultural, selecionados por edital de responsabilidade do Ministério da Cultura (MinC), em parceria com outros órgãos do governo federal e com governos estaduais e municipais” Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/cidadaniaediversidade>. Acesso em: 27 jul. 2014. 97

“são entidades de natureza e finalidade cultural que se destinam à mobilização, à troca de experiências, ao desenvolvimento de ações conjuntas com governos locais e à articulação entre os diferentes”. Ibidem. 98

Os Pontos de Rede podem ter o caráter tanto de uma Rede Federativa “São as parcerias do governo federal com os governos estaduais, municipais e consórcios intermunicipais dentro do escopo de ações do Programa Cultura Viva, que visam a ampliação de sua capilaridade, firmadas por meio da assinatura de protocolos. Esta parceria é prevista a partir da adesão do ente federado ao Sistema Nacional de Cultura (SNC)” ou como de Redes Temáticas ou Identitárias, que “São redes

74%

26%16%

bens que desenvolvem ações de salvaguarda

bens que não desenvolvem ações de

salvaguarda

não informaram

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Cultura Viva tem seu início em 2005, e era formado inicialmente por 05 ações:

“Pontos de Cultura (convênios), Escola Viva, Griôs, Cultura Digital, Cultura e Saúde,

sendo todas as atividades vinculadas aos Pontos de Cultura”100:

Seu objetivo é fortalecer o protagonismo cultural da sociedade brasileira, valorizando as iniciativas culturais de grupos e comunidades excluídas e ampliar o acesso aos bens culturais, principalmente no apoio a projetos de espaços culturais denominados Pontos de Cultura.

A continuidade do Programa Cultura Viva foi ampliada para a concessão de bolsas e

prêmios por meio de editais101conseguindo “importantes resultados, ao fomentar,

desde sua implantação, em 2005, e até o ano de 2011102, o total de 3.670 Pontos de

Cultura em todos os estados da federação”103.

Importante observar a atuação do CNFCP na salvaguarda das culturas populares no

período compreendido nesta pesquisa, sobretudo, através do projeto Celebrações e

Saberes da Cultura Popular, desenvolvido como desdobramento do Programa

Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI) entre 2001 e 2006.

Desde o início, o Projeto contou com recursos Ministério da Cultura e várias parcerias e apoios integrados. Em 2004 e 2005, o escopo das ações foi ampliado com o patrocínio da Petrobras, que proporcionou pesquisas, exposições, discussões e publicações [...] integralmente articuladas ao campo constituído. (CAVALCANTI, 2008, p. 27).

A institucionalização do CNFCP no seio da gestão do patrimônio cultural,

incorporado ao Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI) do IPHAN, em 2003,

formadas por Pontos de Cultura, Pontões, Grupos, Coletivos, instituições e outros agrupamentos que se articulam para atuar em um segmento ou tema específico. São exemplos de Redes Temáticas: a Rede de Pontos de Cultura Indígena, que prevê a instalação e funcionamento de no mínimo um Ponto de Cultura em cada Terra Indígena; a Rede Saúde e Cultura, que articula experiências em cultura e saúde para a promoção da qualidade de vida. Os Pontos das Redes Federativas podem participar de uma ou mais Rede Temática”. Ibidem. 99

“são encontros dos Pontos e Pontões de Cultura e das comunidades envolvidas com o Programa Cultura Viva em todo o país, para promover uma mostra ampla e diversificada da produção cultural dos Pontos, debater a cultura brasileira e suas expressões regionais, propor estratégias de políticas públicas culturais e analisar e avaliar o programa. A TEIA é o encontro nacional e regional dos Pontos de Cultura”. Ibidem. 100

Ibidem. 101

“Prêmio Cultura Viva, Prêmio Agente Escola Viva, Prêmio Agente Cultura Viva, Prêmio Intercâmbio Cultura Ponto a Ponto, Prêmio Cultura e Saúde, Prêmio Tuxaua, Prêmio Interações Estéticas, Prêmio Pontos de Mídia Livre, Prêmio Areté, Prêmio Estórias de Pontos de Cultura, Prêmio Ludicidade e Pontinhos de Cultura”.Ibidem. 102

Dados disponíveis até 2011. 103

BRASIL. Ministério da Cultura. Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/cidadaniaediversidade>. Acesso em: 27 jul. 2014.

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136

traria toda a experiência do CNFCP no trato com a cultura popular brasileira não

somente através dos seus estudos104 e inventários, mas, sobretudo, pela sua

atuação na construção de mecanismos de promoção das culturas populares, através

da Sala do Artista Popular (SAP), em funcionamento desde 1981. Segundo a

publicação do IPHAN (2010, p.99) que trata da política de salvaguarda desenvolvida

pela instituição para o patrimônio imaterial no Brasil, a SAP, entre os anos de 2003 e

2010 teria realizado 53 exposições sobre os mais diversos bens da cultura popular

no Brasil, com uma representatividade de quase todos os estados brasileiros. Sua

principal função é apresentar ao público e ao mercado as produções plásticas

populares e suas tecnologias como mecanismo de promoção de bens culturais que

não possuem uma visibilidade fora do seu contexto de produção.

O Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI), desde 2005, tem contemplado

ações preservacionistas desenvolvidas pela sociedade civil, universidades, órgãos

estaduais de preservação e coletivos culturais, através de uma seleção pública de

projetos por edital, com objetivo definido de premiar ações de salvaguardas, em um

sentido bastante amplo de atuação, como demonstra a fala institucional

Desde 2005, o IPHAN lança, anualmente, o Edital do PNPI, que é uma seleção pública de projetos voltados à identificação, documentação e/ou melhoria das condições de sustentabilidade dos conhecimentos, modos de fazer, formas de expressão, festas, rituais, celebrações, lugares e espaços que abrigam práticas culturais coletivas vinculadas às tradições culturais dos grupos formadores da sociedade brasileira. O objetivo do Edital é difundir a política de salvaguarda do patrimônio imaterial de modo a proporcionar o envolvimento e a participação da sociedade civil e demais instituições públicas na condução desta política. Os projetos são realizados por meio de parcerias, ou convênios, entre o Iphan e instituições públicas e privadas, e contam sempre com a participação e o consentimento prévio e informado das comunidades envolvidas, ou das instituições que as representam

105

Os editais de fomento do PNPI têm sido um importante programa institucional de

apoio aos bens das culturas populares no Brasil, como podemos perceber na

regularidade da iniciativa, embora com flutuações importantes no número de projetos

contemplados, conforme gráfico abaixo.

104

Inclusos as publicações do CNFCP, bem como o acervo que compõem o Concurso Silvio Romero de monografias sobre cultura popular, que ocorre anualmente, de forma sistemática. 105

BRASIL. IPHAN. Editais do Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI). Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/865/>. Acesso em: 2 nov. 2015.

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137

Gráfico 12 - Quantidade anual de projetos contemplados pelos Editais PNPI (2005 – 2011)

Importa ressaltar que, mesmo realizados nos anos de 2012 e 2013, os dados

referentes aos editais desses dois anos, não estão disponíveis pelo IPHAN.

Uma importante reflexão indica que mesmo uma política institucional, o acesso ao

financiamento de ações e projetos acabam ficando sob a responsabilidade dos

registrados em concorrer aos editais, e todo o seu sistema burocrático, tornando

invisível outras formas de salvaguardas empreendidas diretamente pelo estado

gestor.

Ainda outro importante instrumento de apoio institucional para a promoção dos bens

das culturas populares brasileiras, incluindo alguns desses registrados pelo IPHAN,

foram os “Projetos fomentados pelo Edital de Apoio à Produção de Documentários

Etnográficos”, patrocinados pela Petrobras nos anos de 2007 e 2008, permitindo

uma visibilidade nacional desses bens culturais, uma vez transmitido pelas TV‟s

educadoras,

As ações de apoio aos bens das culturas populares ainda são contemplados com

aprovação de projetos junto ao Programa Nacional de Apoio à Cultura – (PRONAC)

não somente via o Fundo Nacional da Cultura (FNC), mas através da aprovação de

projetos junto às empresas que, por incentivos fiscais, aderemao mecenato cultural.

Importa compreender que o mecenato constitui um repasse de recursos públicos,

pois advém de uma contrapartida do Estado em ceder parte da arrecadação em

impostos para uma negociação direta entre empresas e o setor cultural.Esses

recursos, no entanto, são conquistados em menor escala pelos grupos e sujeitos

sociais produtores das culturas populares brasileiras.

11

7

12

2

12

8

11

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

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138

Dentre as dificuldades no acesso por parte dos grupos e sujeitos das culturas

populares ao mecenato cultural no Brasil, podemos citar a necessidade de

constituição de uma pessoa jurídica representativa dos grupos ou sujeitos e toda a

manutenção burocrática da capacidade jurídica para receber recursos; a menor

concentração de produtores e captadores de recursos para os bens das culturas

populares, ainda não apropriados em larga escala pela indústria e pelo consumo

cultural; bem como a concentração de captação de recursos para as culturas

populares em projetos mais ligados ao espetáculo à propaganda, como o Samba

Enredo no Rio de Janeiro, e o Frevo do carnaval de Recife e Olinda.

Importante compreender que, para além da necessária promoção e apoio aos bens

das culturas populares nas cidades brasileiras, de forma institucional, a produção e

reprodução desses bens nunca estiveram condicionados a uma atuação promotora

ou mesmo preservacionista institucional do Estado, desenvolvendo essa prática,

sobretudo, a partir dos planos de salvaguardas nos anos 2000. Isso reforça na

nossa tese de que os novos patrimônios seriam os velhos bens culturais, cotidianos,

produzidos e reproduzidos pelo povo, em redes de sociabilidade e cooperação,

movidos pela alegria, pela tradição, ou mesmo pela fé.

3.2 A UNESCO NAS POLÍTICAS DE PRESERVAÇÃO DAS CULTURAS

POPULARES BRASILEIRAS PELO IPHAN

As políticas públicas de preservação dos bens das culturas populares no Brasil e

suas “inter-relacões”106com as políticas externas brasileiras sempre foram muito

próximas, antes mesmo de uma ação institucional de proteção pelo IPHAN através

dos tombamentos e registros. Já o momento fundador de uma política de

preservação do folclore brasileiro mostra que o Instituto Brasileiro de Educação,

Ciência e Cultura (IBECC)– criado em 1946 por Renato Almeida107, chefe do Serviço

de Informações no Itamaraty no então Ministério das Relações Exteriores, - “ foi

106

Ver CHUVA (2012). 107

Secretario Geral daComissão Nacional do Folclore - IBECC / MEC /UNESCO 1947 a 1964 e Diretor Executivo da Campanha Nacional do Folclore / entre 1964 e 1971

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criado como uma comissão nacional” da UNESCO incorporando a Comissão

Nacional do Folclore (CNFL), criada em 1947, Já então, uma estreita relação entre

os arranjos de preservação do Folclore brasileiro junto às políticas internacionais do

país pode ser observada.

Nesse contexto, o Brasil seria o primeiro país a institucionalizar os preceitos de

respeito às diferenças e identidades dos povos, preconizados pela recém criada

UNESCO, através da preservação de suas manifestações culturais pela Comissão

Nacional do Folclore. Essa adesão colocava o Brasil como representante e

legitimador de uma orientação política universal de preservação sobre o patrimônio

popular que começava a se constituir. Assim, a realização, em 1954, do Congresso

Internacional do Folclore em São Paulo- SP, ocorreria diante da necessidade de

uma nova reunião internacional no campo dos estudos do folclore, segundo as

recomendações da UNESCO. Em 1958, o então Ministério da Educação e Cultura

institucionalizaria a Campanha em Defesa do Folclore Brasileiro, que se estenderia

até o ano de 1976, quando a Campanha torna-se Instituto Nacional do Folclore,

vinculado à FUNARTE.

Em 1972, a Convenção para a Salvaguarda e Proteção do Patrimônio Mundial,

Cultural e Natural, na 17ªSessão da Conferência Geral da UNESCO, geraria uma

tensão quanto aos valores patrimonializantes da instituição, questionados pelos

países orientais e latino-americanos. Mas, somente em 1982 a UNESCO organizaria

um Comitê de peritos sobre a salvaguarda do Folclore e, em 1989, a 25ª Reunião da

Conferência Geral da UNESCO, teria, enfim, como principal encaminhamento, a

Recomendação sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular.

Segundo Sant‟anna (2004a), “os anos 90 inauguravam um novo período de

transformação da prática de preservação”.Entre as mais siginificativas: a

descentralização operacional na gestão do patrimônio cultural brasileiro desdobra-se

sobre a discussão da gestão executiva regional e local através de programas; as

transformações de cunho orçamentário, com a entrada do capital financiador,

sobretudo a Caixa Econômica Federal (CEF), o Banco Nacional de Desenvolvimento

Social (BNDES) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); ou ainda, as

cartilhas operacionais gestoras da UNESCO e a atuação do Governo Francês, como

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apoio na forma de consultorias à Caixa Econômica Federal. Essas “inter-relações”

na esfera internacional, pactuadas nas políticas de preservação do patrimônio

cultural brasileiro, tornar-se-iam emblemáticas através do Programa denominado

“Monumenta”108, iniciado em 1999 e finalizado em 2010109. Nesse sentido, a então

“bem sucedida” experiência de requalificação em tecidos históricos na cidade de

Quito, em 1994, daria o tom das novas políticas preservacionistas, onde um ajuste

entre um agente financiador para políticas de reabilitação de centros históricos e

monumentos e os órgãos gestores, imprimiriam os novos mecanismos de gestão do

patrimônio, através dos padrões operacionais empresariais denominados de

“planejamento estratégico”, visão que se tornaria hegemônica nos procedimentos e

regras para a preservação do patrimônio cultural pela UNESCO e,

consequentemente, em nosso caso, ao Brasil.

Ainda, importantes transformações na orientação da gestão do patrimônio cultural

urbano são implementadas no Brasil, com adesão do IPHAN, referendando um

processo de patrimonialização, onde “a função de atrair pessoas e atividades por

meio de projetos de cunho turístico, comerciais e de lazer às cidades

patrimonializadas ou ao patrimônio urbano”110. Ou seja, colaboram para a criação de

cidades “atração”111às cidades, parte do processo acirrado de competição em um

mercado agora globalizado e sedento por novos produtos. Agregar valor às cidades

e às suas materialidades impunha-se como nova condição competitiva, ampliando

ainda seu alcance para elementos não materiais, diretamente ligados à cultura

popular ou tradicional, que surgem como novos bens culturais capazes de trazer

essa dinâmica agregadora e diferenciá-la,em meio ao mercado competitivo entre

cidades.

108

Contrato de empréstimo nº 1200 OC-Br entre a República federativa do Brasil e o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Programa de Preservação do Patrimônio Histórico Urbano. (MONUMENTA), 04 de dezembro de 1999. 109

Percebe-se nesse momento uma mudança no modelo vigente de gestão e regulação do setor do patrimônio, sobretudo, pela descentralização gerencial do programa Monumenta, a cargo do Ministério da Cultura através das Unidade Centrais de Gerenciamento – UCG e das Unidades Executoras de Projetos - UEP, pulverizadas em 32 municípios brasileiros, atrelando ao IPHAN a função fiscalizadora do patrimônio a sofrer intervenção (SANT‟ANA, 2004). 110

Comentários da Professora Márcia Sant‟Anna ao memorial de tese para o exame de qualificação, realizado em 2 de outubro de 2015. 111

Ver SANT‟ANNA (2004a).

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141

Importante demonstrar que, no âmbito sul americano, reuniões e articulações, tendo

por base a preservação da cultura regional e os parâmetros universalizantes da

UNESCO para a produção dos patrimônios da humanidade, seriam desdobradas em

quatro importantes documentos: a “Carta de Brasília”, de 1995, documento Regional

do Cone Sul que, sobretudo, tensiona a ideia de autenticidade da; a “Declaração de

São Paulo II”,de 1996,apresentando as recomendações brasileiras à XI Assembléia

Geral do ICOMOS e, em julho do mesmo ano, a“Carta de Mar Del Plata sobre o

patrimônio intangível”, resultado das primeiras Jornadas do MERCOSUL sobre

patrimônio intangível, ocorrido entre os dias 10 e 13 de junho de 1997, na cidade de

Mar Del Plata na Argentina; bem como a “Carta de Cartagena de Índias”, em maio

de 1999, na Colômbia, indicando a proteção, recuperação de bens culturais do

patrimônio arqueológico, histórico, etnológico, paleontológico e artístico da

comunidade Andina. Percebemos, nesse momento, uma resistência latino-

americana diante da política patrimonializante adota pela UNESCO, ainda que,

desde 1989, existisse uma Recomendação sobre a Salvaguarda da Cultura

Tradicional e Popular, contudo, sem efeitos mais objetivos quanto aos instrumentos

de proteção e às políticas de salvaguardas aos novos velhos patrimônios.

A década de 1990 marcaria institucionalmente a UNESCO pela criação de

programas tendo em vista a preservação de bens culturais não materiais,

aproximando-a de uma proteção aos bens das culturas populares. Inicialmente, o

Sistema Tesouros Humanos Vivos, em 1994 e, posteriormente, o programa de

Proclamação de Obras Primas do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade, em

1997, acabariam juntando-se aos programas “Idiomas e Línguas em Perigo” e

“Música Tradicional”, na composição da Seção do Patrimônio Imaterial, que é

incorporadoà Divisão do Patrimônio Cultural, em 1998.

Dentre as ações desenvolvidas pela UNESCO, a ideia da preservação do Patrimônio

Vivo, embora não fosse recepcionado pelo IPHAN como política pública de

preservação do patrimônio, acaba sendo bem desenvolvida como políticas estaduais

de proteção dos Mestres e Mestras das culturas populares na Região Nordeste do

Brasil. A ausência dessa política na trajetória da norma de preservação dos bens

das culturas populares pelo IPHAN e sua presença em outras estruturas normativas

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142

dos estados federativos, decerto, constituem um importante arranjo tensor à norma

preservacionista do IPHAN sobre os bens das culturas populares no Brasil. Isso se

deve ao enfrentamento direto estabelecido com a execução de políticas sobre o

patrimônio vivo em escala regional, além de uma visível demanda para a construção

de uma política em escala nacional, pressionada, sobretudo, pelos Mestres

Capoeiristas, ofício registrado como patrimônio imaterial do IPHAN. Nesse sentido,

alargaremos a discussão em torno dessa política da UNESCO e seus

desdobramentos no cenário brasileiro.

Assim, nasce na UNESCO, a ideia de Patrimônio Vivo, por iniciativa da Coréia,

tendo por base as experiências no Japão em meados do século XX. Em 1994, o

programa Tesouros Humanos Vivos - Living Human Treasures112 – é

institucionalizado no seio da UNESCO, incentivando os países membros à

construção de políticas de reconhecimento e titulação de Mestres e Mestras da

Cultura Popular, ainda em vida, permitindo a transmissão de seus conhecimentos

tradicionais, mediante o pagamento de um auxílio financeiro.SegundoSant‟anna

(2001), o Sistema Tesouros Humanos Vivos passaria a ter maior divulgação a partir

de 1996, tendo por objetivo a preservação das tradições ameaçadas de

desaparecimento, através do apoio aos transmissores dos conhecimentos e práticas

tradicionais, tendo por base a reprodução desses conhecimentos às novas

gerações.

O apoio se dá na forma de ajuda financeira para o desenvolvimento das atividades, aquisição de equipamentos, materiais, insenções de impostos, seguro saúde, seguro de vida, entre outros. O sistema, inspirado na legislação japonesa de 1950, é visto pela UNESCO como forma eficiente de proteção e transmissão de saberes e modos de fazer tradicionais. Países como Coréia, Filipinas, Tailândia, Romênia e Franca já adotam sistemas semelhantes. (SANT‟ANNA, 2001).

Conceitualmente, as políticas adotadas voltam-se ao reconhecimento, à proteção –

através do reconhecimento dos mestres da cultura tradicional popular – e à

salvaguarda – através da transmissão dos saberes e fazeres –, visando a

continuidade de saberes e técnicas passíveis de extinção ou necessárias à

continuidade de dada dinâmica cultural em um dado território. Essas práticas

112

Cf. UNESCO (1994).

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143

assumem grande importância na Constituição Brasileira de 1988, onde, em seu

artigo 216, o legislador reconhece os bens de natureza imaterial, incluindo “as

formas de expressão e os modos de criar, fazer e viver”.

Analisando as legislações estaduais, no Brasil, essa política tem conseguido imprimir

um reconhecimento sistemático dos Mestres e Mestras, atrelado a um caráter mais

assistencialista com o pagamento a eles de um valor/pecúnio nos estados do Ceará,

Paraíba, Pernambuco, Alagoas. Iniciativa semelhante vem se articulando na Bahia e

no Rio Grande do Norte, apesar da existência de uma legislação que ainda não fora

colocada em prática. Alvo de muitas críticas, as ações de preservação do patrimônio

vivo trazem, no entanto, grandes inovações enquanto política pública, pois esta

reconhece no sujeito o bem cultural, e ressignifica a dimensão da fruição do bem e

das ações de salvaguardas, que passam a ser atreladas à titulação dos Mestres e

Mestras da Cultura Popular e Tradicional Brasileira.

Mesmo não sendo uma política nacional de preservação do denominado “patrimônio

vivo”, institucionalizada pelo IPHAN, procuraremos indicar, de forma sintética,

através da análise das legislações preservacionistas e das políticas e ações

implementadas, nos estados nordestinos da Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco,

Alagoas e Rio Grande do Norte, os principais elementos da política do “Patrimônio

Vivo”.

A aparente semelhança conceitual torna entre as legislaçõesna definição do

“Patrimônio Vivo” vinculada aos seguintes aspectos: pessoa natural, detentora de

conhecimentos ou técnicas necessárias à produção e preservação da cultura

tradicional popular de uma comunidade estabelecida no estado. No entanto, a

legislação do Estado de Pernambuco e do Rio Grande do Norte amplia sua definição

do bem tutelado ao “grupo de pessoas naturais, dotado ou não de personalidade

jurídica”. Outra singularidade encontrada na definição do bem-patrimônio na

legislação dos estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Alagoas seria a

ampliação do alcance do conceito de bens culturais a serem protegidos conforme a

terminologia “cultura tradicional ou popular”,reconhecendo as condições tradicionais

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ou populares do bem cultural – ou seja, o caráter alternativo. Já a legislação baiana

e cearense sintetiza o bem-patrimônio na definição “cultura tradicional popular”.113

.

Ainda, as legislações dos estados de Alagoas, Bahia, Ceara, Pernambuco e Rio

Grande do Norte assemelham-se nos critérios para inscrição dos sujeitos.

Ressaltamos os seguintes aspectos: estar vivo, participação do concorrente na

produção cultural do estado há, no mínimo, 20 anos; capacidade de transmitir

conhecimentos e técnicas (dispensado em caso de doença grave); relevância de

vida e obra para a cultura; reconhecimento público; permanência na atividade e

capacidade de transmissão dos conhecimentos; larga vivência e experiência dos

costumes e tradições; situação de carência econômica e social.

As principais diferenças diante dos sujeitos bens patrimônios encontram-se nas

legislações de Pernambuco e Rio Grande do Norte, uma vez que abrem a

possibilidade da inscrição de Grupos Culturais e não somente de sujeitos. Esses

deverão estar em atividade, constituídos sob qualquer forma associativa, sem fins

lucrativos, dotados ou não de personalidade jurídica e com participação em

atividades culturais há mais de 20 anos.

Os mestres e mestras, além do reconhecimento público de suas vidas como

patrimônio, pois atreladas à produção e reprodução de bens culturais, sobretudo

aqueles da cultura popular, recebem um Diploma e um Título de Mestres ou Mestras

da Cultura, com o pagamento de um pecúnio, pelo estado que o titula. Isso estaria

atreladoà transferência de conhecimentos e técnicas aos aprendizes, através de

programas de ensino e aprendizagem, insertos em programas de salvaguardas, o

que não vem ocorrendo em nenhum dos estados.

Entretanto, desenvolvem-se críticas e questionamentos quanto à construção e

aplicação da política governamental dos estados para a proteção do patrimônio vivo:

entre elas, o critério de antiguidade dos mestres e mestras, seu reconhecimento –

113

Para cada estado, a nomenclatura é: Alagoas, “Patrimônio Vivo do Estado de Alagoas”; Bahia, “Mestre dos Saberes e Fazeres da Cultura Tradicional Popular – Tesouro Vivo”; Ceará, “Mestre da Cultura Tradicional Popular – Tesouro Vivo”; Pernambuco, “Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco” ; Rio Grande do Norte, “Patrimônio Vivo do Estado do Rio Grande do Norte” ; Paraíba, “Mestres das Artes”

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cultural e financeiro- ao final da vida, e sua impossibilidade ou dificuldade de

transmissão dos saberes; a exposição da condição de vulnerabilidade social dos

mestres e mestras; a precariedade jurídica ou insegurança que reside em torno do

pagamento financeiro, em muitos casos questionados pelas próprias procuradorias

estaduais, tendo como principais argumentos, a inexistência de despesas

pecuniárias sem o devido vínculo laboral ou previdenciário dos mestres e mestras.

Nesse sentido, pertinente é a fala de Acselrad (2008, p.6):

No caso da “idade ou antiguidade do grupo”, o caráter reparatório, a restituição ao final da vida, em idade avançada, de tudo que não foi valorizado ao longo deste processo, sugere uma preocupação talvez assistencialista de garantir uma “aposentadoria” para os mestres da cultura popular, fazendo com que os mais velhos sempre sejam mais bem pontuados do que os mais novos, ou ainda, do que aqueles que se encontram em melhores condições de repasse do seu conhecimento. A “carência social”, uma percepção de que a cultura popular e tradicional reside nas classes populares da sociedade, estimula uma competição entre os candidatos pela maior situação de indigência, implicando às vezes numa caricatura da própria miséria em que se encontram realmente muitos dos candidatos e, talvez, o que é mais grave, uma “secundarização” do papel representativo que aquele potencial patrimônio vivo possui, em detrimento da condição miserável de outro, menos significativo.

Percebemos um encaminhamento para o fortalecimento regional desta prática,

sobretudo nos estados do Nordeste brasileiro. Destacamos, ainda, uma ausência

dessa discussão no IPHAN, em torno da Salvaguarda dos Mestres dos Ofícios

registrados, sobretudo, os Mestres Capoeiristas, como indica o texto do Portal da

Capoeira.

Pastinha morreu na miséria. Bimba em situação precária. Bobó, Gato, Cobrinha Verde, Waldemar, Caiçara e mais recentemente Bigodinho, todos passaram seus últimos dias de vida sem um amparo digno que a condição de “guardiões da capoeira” deveria lhes proporcionar. E, assim como eles, quantos e quantos mestres das tradições populares vivem e morrem no mais completo abandono, sem qualquer auxílio por parte das autoridades nesse país. Aposentadoria para os Velhos Mestres.

114

Atualmente, o Projeto de Lei 1176/2011 tramita na Câmara dos Deputados e objetiva

criar o Programa de Proteção e Promoção dos Mestres e Mestras dos Saberes e

Fazeres das Culturas Populares, visando a sua proteção previdenciária.

114

APOSENTADORIA PARA OS VELHOS MESTRES DE CAPOEIRA. Disponível em: <http://portalcapoeira.com/capoeiragem/205-cronicas-da-capoeiragem/4540-aposentadoria-para-os-qvelhos-mestresq>. Acesso em: 13 out. 2014.

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146

No que tange a preservação dos bens culturais imateriais, percebemos que o Brasil

é precussor na formulação de uma política pública de proteção e promoção em

relação à UNESCO. O Seminário do Patrimônio Imaterial realizado em Fortaleza, no

ano de 1997, traduzido no documento “Carta de Fortaleza” reconheceria os valores

e referências dos bens imateriais à política governamental de proteção aos bens

culturais a ser desenvolvido pelo IPHAN, traduzida operacionalmente 3 anos mais

tarde, em 2000, através do decreto federal nº 3.551/2000, que instituiria no Brasil,

instrumentos para a preservação dos bens culturais imateriais: uma metodologia de

seleção, o INRC; um instrumento de proteção, o Registro; uma política

preservacionista definida pelo Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI); e

como consequência do decreto, uma unidade gestora institucional, o Departamento

de Patrimônio Imaterial (DPI).

Assim, o Brasil, através de uma política pública governamental muito bem articulada,

antecipa-se à própria UNESCO, tanto do ponto de vista do reconhecimento dos

valores e das referências de determinados bens culturais, e da consequente adesão

ao conceito de patrimônio imaterial; quanto da organização institucional reguladora e

gestora para a preservação desse patrimônio.

Somente em 2003,na XXXII Sessão da Conferência Geral das Nações Unidas a

Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial é aprovada, e os bens

culturais imateriais passariam a possuir um valor universal, institucionalizado pela

UNESCO e o Brasil, como pais signatário, reforçaria a sua política pública para a

preservação do patrimônio imaterial brasileiro. Assim, quando analisamos as

questões levantadas pela Convenção da UNESCO, percebemos que estas já

estavam presentes na política preservacionista brasileira, sobretudo quanto às

questões-fim da própria convenção:

[...] (a) para salvaguardar o patrimônio cultural imaterial;(b) para assegurar o respeito pelo patrimônio cultural imaterial das comunidades, grupos e indivíduos em causa;(c) sensibilização a nível local, nacional e internacional da importância do patrimônio cultural imaterial, e de assegurar seu reconhecimento mútuo; (d) para fins de cooperação e assistência internacional.

115

115

Disponível em: <http://www.unesco.org/culture/ich/index.php?lg=en&pg=00006>. Acesso em: 15 dez. 2012.

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Nessa Convenção, foram estabelecidas indicações quanto à definição do bem

cultural imaterial, e segundo a professora Márcia Sant‟Anna, “o conceito da

convenção também evitaria os termos tradicional e popular, sendo esta uma das

principais críticas à Recomendação de 1989”116.

O patrimônio cultural imaterial significa as práticas, representações, expressões, conhecimentos, aptidões - bem como os instrumentos, objetos, artefatos e espaços culturais que lhe estão associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte de sua identidade cultural herança. Este patrimônio cultural imaterial, transmitido de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, sua interação com a natureza e sua história, e proporciona-lhes um sentimento de identidade e continuidade, promovendo o respeito à diversidade cultural e criatividade humana.

117

O Brasil ratificaria, em 2006, a XXXIIConvenção da UNESCO através do Decreto

Federal nº 5.753/06, conforme indica o contundente artigo primeiro do Decreto:

Art. 1o A Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial,

adotada em Paris, em 17 de outubro de 2003, e assinada em 3 de novembro de 2003, apensa por cópia ao presente Decreto, será executada e cumprida tão inteiramente como nela se contém.

118

Importante demonstrar que a ratificação da 32ª convenção da UNESCOpelo Brasil,

não coloca a o Decreto Federal nº 3.551/2000 em condição subordinada ao

conteúdo da convenção, mas, apenas, indica que o Brasil confirma e sustenta o

discurso universal em torno dos bens culturais construído pela UNESCO.

Em 2008, na 3ª Sessão do Comitê Intergovernamental para a salvaguarda do

Patrimônio Imaterial da UNESCO, na Turquia, o Samba de Roda do Recôncavo

Baiano, tornar-se-ia o primeiro bem das culturas populares brasileiras a ter seu

nome inscrito na “Listas Representativas do Patrimônio Cultural Imaterial da

Humanidade”, o que impulsionaria o IPHAN a adotar uma política institucional sobre

a necessidade de fomentar e operacionalizar a inscrição dos bens culturais

116

Comentários da Professora Márcia Santa´Anna ao memorial de tese para o exame de qualificação, realizado em 2 de outubro de 2015. 117

Disponível em: <http://www.unesco.org/culture/ich/index.php?lg=en&pg=00006>. Acesso em: 15 dez. 2012. 118

BRASIL. Decreto nº 5.753, de 12 de abril de 2006. Promulga a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, adotada em Paris, em 17 de outubro de 2003, e assinada em 3 de novembro de 2003.

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brasileiros nas listas da UNESCO: a Lista Representativa e a Lista dos bens em

perigo.

Nesse sentido, a Resolução do IPHAN nº 001, de 5 de junho de 2009, disporia sobre

a candidatura à seleção e os procedimentos na “preparação de dossiês de

candidaturas de bens culturais imateriais para inscrição na Lista dos Bens em

Necessidade de Salvaguarda Urgente e na Lista Representativa do Patrimônio

Cultural” (IPHAN, 2009), afinando sua “inter-relação” com as políticas

preservacionistas da UNESCO e suas deliberações. Assim, ao verificarmos as

considerações elencadas nessa Resolução, bem como o seu objetivo principal,

percebemos uma clara adesão do IPHAN às políticas representativas das listas da

UNESCO, fortalecidos como instrumento normativo institucional. Nesse sentido,

torna-se importante a leitura literal das considerações e objetivo da Resolução nº

001/2009:

CONSIDERANDO as disposições da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, aprovada pela Conferência Geral da Unesco em sua 32a Sessão, em 29 de setembro de 2003, e ratificada pelo Governo brasileiro em 1o de março de 2006,

CONSIDERANDO as disposições estabelecidas nas Diretrizes Operacionais para a Implementação da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial adotadas pela Assembléia Geral dos Estados Partes em sua 2a Reunião Ordinária, realizada em junho de 2008,

CONSIDERANDO as disposições contidas no Decreto no 3.551, de 04 de agosto de 2000, que cria o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial,

CONSIDERANDO a necessidade de elaboração de listas indicativas para o encaminhamento de candidaturas de bens culturais de natureza imaterial às listas da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial;

Dos objetivos

Art. 1º Estabelecer e tornar públicos os critérios de elegibilidade e seleção, bem como os procedimentos a serem observados na proposição e preparação de dossiês de candidaturas de bens culturais imateriais para inscrição na Lista dos Bens em Necessidade de Salvaguarda Urgente e na Lista Representativa do Patrimônio Cultural da Humanidade, criadas pela Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial.

Art. 2º Estabelecer e tornar públicos os critérios de elegibilidade e seleção, bem como os procedimentos a serem observados na seleção de programas, projetos e atividades como práticas que melhor refletem e incorporam os princípios e objetivos da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial.

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Atualmente, dos 15 bens culturais brasileiros reconhecidos como patrimônio da

humanidade, como demonstra a tabela abaixo, 03 bens das culturas populares

passam a fazer parte das listas de bens da humanidade da UNESCO todos na

condição de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade: em 2008, com a inscrição

do Samba de Roda no Recôncavo Baiano119; em 2012, com a inscrição do Frevo:

arte do espetáculo do carnaval de Recife; e, em 2013, a inscrição do Círio de

Nazaré: procissão da imagem de Nossa Senhora de Nazaré.

Bem Cultural Localização Classificação do

Bem Cultural Data/Inscrição

Cidade Histórica de Ouro Preto

Ouro Preto - MG Cidade Histórica 1980

Centro Histórico de Olinda

Olinda - PE Centro Histórico 1982

Missões Jesuíticas Guarani: San Ignacio Miní, Santa Ana, Nossa Senhora de Loreto, Santa Maria, a Maior e Ruínas de São Miguel das Missões

Rio Grande do Sul - RS

Ruínas Inscrito em 1983,

ampliação em 1984.

Centro Histórico de Salvador

Salvador - BA Centro Histórico 1985

Santuário de Bom Jesus de Matosinhos

Congonhas do Campo - MG

Santuário 1985

Parque Nacional do Iguaçu

Paraná Parque Natural 1986

Plano Piloto de Brasília Brasilia - DF Plano Piloto 1987

Centro Histórico de São Luís

São Luis - MA Centro Histórico 1997

Centro Histórico de Diamantina

Diamantina - MG Centro Histórico 1999

Centro Histórico de Goiás

Goias Velha - GO Centro Histórico 2001

O Samba de Roda no Recôncavo Baiano

Recôncavo - BA Patrimônio Cultural

Imaterial da Humanidade

2008

Praça de São Francisco São Cristovão -

SE Praça 2010

Paisagem cultural do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro - RJ

Cidade 2012

Frevo: arte do Recife - PE Patrimônio Cultural 2012

119

Proclamado anteriormente pela UNESCO, em 2005, como Obra-Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade.

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espetáculo do carnaval de Recife

Imaterial da Humanidade

Círio de Nazaré: procissão da imagem de Nossa Senhora de Nazaré.

Belém - PA Patrimônio Cultural

Imaterial da Humanidade

2013

Quadro 6 – Bens culturais nas cidades brasileiras reconhecidas como Patrimônios da Humanidade pela UNESCO entre 1980 e 2013

120.

Ainda segundo publicação do IPHAN, a “Lista das candidaturas às listas da

Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO” 121,

até o ano de 2010 relacionaria, os projetos e programas “Série Cultura Popular Viola

Corrêa”, que envolvem os estados de Goiás e Minas Gerais; o “Museu Vivo do

Fandango”, representando os estados de São Paulo e Paraná; bem como, em

âmbito nacional o programa do CNFCP/IPHAN “Sala do Artista Popular (SAP)” que

aguardariam resultado quanto às suas inscrições na lista dos “Registros de Boas

Práticas de Salvaguardas”, da UNESCO.

Elizabeth Travassos (2006), em seu texto “Poder e valor das listas nas políticas de

patrimônio e na música popular”, questiona a política de patrimônio estabelecida

pela UNESCO, tendo por base a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Oral

e Imaterial de 2003 e a necessidade de proteção das culturas vivas e vulneráveis.

Concordam então os especialistas e os técnicos do patrimônio que as ações de proteção devem incidir sobre os grupos, comunidades e indivíduos para quem o “patrimônio” constitui referência identitária. Mas seu principal mecanismo é, no nível da UNESCO, discursivo: trata-se de proclamar. A proclamação é um ato que distingue, marca com um selo. Ao reconhecer o valor do objeto eleito – objeto oriundo de uma comunidade minoritária e subalterna, como os índios Wayãpi, ou os praticantes do samba-de-roda –, a política de patrimônio cria, de fato, um novo valor, pois o objeto é ipso facto projetado em circuitos que envolvem mercado, turismo, design, galerias de arte etc. (TRAVASSOS, 2006, p. 2)

Esta discussão torna-se bastante oportuna ao tentarmos compreender a dimensão

política, ou seja, os pactos e critérios vinculados à patrimonialização, reconhecidos,

120

Fonte: UNESCO.http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-cultural-heritage-list-brazil/#c1414250 121

BRASIL. IPHAN, Os Sambas, as rodas, os bumbas, os meus e os bois. A trajetória da salvaguarda do patrimônio imaterial no Brasil. 2006 a 2010. Brasília: IPHAN, Brasília/ DF 2010, 82e 83p.

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sobretudo, nos acordos para a produção da política do patrimônio, reconhecidos

através dos arranjos tensores em torno do “dispositivo de patrimônio”.

A certificação de bens culturais pela UNESCO, certamente, indicia que aquele bem

cultural possui uma relevância à humanidade, ao ponto de ser proclamada como

bem de seu interesse. Para além do reconhecimento e de um possível

desdobramento preservacionista governamental ou social ao bem cultural, tendo em

vista a sua maior visibilidade, conferida pela certificação e inscrição nas listas da

UNESCO, percebemos uma apropriação desses pactos e critérios em acordos que

inserem os bens culturais em projetos atrelados ao turismo cultural, transformando

as certificações em um valor agregado ao consumo desses mesmos bens.

Assim, Travassos (2006, p. 3) alerta-nos sobre composição desses arranjos, no

“fenômeno das listas”:

Pode-se argumentar que há muito mais coisa envolvida na política do patrimônio, além das listas, e é verdade. Muitas outras ações antecedem e sucedem a entrada de um item numa dessas listas: há dotações orçamentárias alocadas nos organismos culturais dos estados signatários da Convenção da UNESCO, destinadas às ações de identificação e elaboração dos dossiês de candidatura, assim como há, também, alocação de recursos financeiros para implementar planos concretos de salvaguarda. Contudo, a parte visível da atuação da UNESCO no terreno dopatrimônio são as listas de “obras-primas”.

Outra importante crítica que se estabelece seria quanto à legitimidade daqueles que

julgariam a inclusão de determinado bem cultural, tendo em vista que “a distância

entre o júri da UNESCO e as práticas culturais que eles elegem a cada proclamação

permanece gigantesca” (TRAVASSOS, 2006, p. 8), importante questionamento que

poderia ser levado às nossas atuais práticas preservacionistas no IPHAN.

Importante perceber, portanto, a condição universal das políticas de preservação do

patrimônio cultural da UNESCO e os acordos que emergem dessas políticas

universais nos planos locais.

A preservação do patrimônio cultural desde as suas origens atendeu à agenda das relações entre Estados e, na atualidade, estabelecendo padrões internacionais de proteção ao patrimônio cultural (de natureza material ou imaterial). (CHUVA, 2012, p. 73).

Outro importante acordo firmado entre o Brasil e a UNESCO quanto aos bens das

culturas populares, ainda que numa perspectiva não patrimonializante, sem deixar

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de ser preservacionista, seria a proteção e promoção da diversidade das expressões

culturais. Assim, a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, de 2001, seria

o primeiro instrumento de fomento à construção de políticas à diversidade cultural

pela UNESCO, tendo por princípios a soberania nacional e a cooperação no plano

internacional pelos países membros. No entanto, seria a 33ª Conferência Geral da

UNESCO, em 2005, que estabeleceria uma Convenção sobre a Proteção e

Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, como monstram trechos do

documento122:

Ciente de que a diversidade cultural, constitui patrimônio comum da humanidade, a ser valorizado e cultivado em benefício de todos,[...] Reconhecendo que a diversidade das expressões culturais, incluindo as expressões culturais tradicionais, é um fator importante, que possibilita aos indivíduos e aos povos expressarem e compartilharem com outros as suas ideias e valores, [...] Considerando que a cultura assume formas diversas através do tempo e do espaço, e que esta diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade das identidades, assim como nas expressões culturais dos povos e das sociedades que formam a humanidade, [...]” Reconhecendo que a diversidade das expressões culturais, incluindo as expressões culturais tradicionais, é um fator importante, que possibilita aos indivíduos e aos povos expressarem e compartilharem com outros as suas ideias e valores (UNESCO, 2006, p. 2).

O Brasil constitui um país signatário da Convenção sobre a Proteção e Promoção da

Diversidade das Expressões Culturais da UNESCO e,institucionalmente, numa

perspectiva patrimonializante dessas expressões culturais, o Inventário Nacional da

Diversidade Linguística (INDL)123 representaria o principal instrumento de

preservação desenvolvido no campo patrimonial.

Tendo em vista que o ano de 2013 marca o contexto de dez anos da Convenção

para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO e mais de uma

década da construção de uma política para o patrimônio imaterial brasileiro pelo

IPHAN, deparamo-nos com processos de patrimonialização de imaterialidades que

articulam iniciativas de ordem local e de ordem internacional, tendo em vista a

possibilidade de proteção local dos bens das culturas populares pelo registro no

IPHAN, e pela salvaguardas desenvolvidas pela UNESCO, sobretudo pela Lista

Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da humanidade.

122

Texto ratificado pelo Brasil por meio do Decreto Legislativo 485/2006. 123

Instituído pelo Decreto Federal nº. 7.387, de 09 de dezembro 2010.

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Assim, a adesão do IPHAN às políticas de preservação da UNESCO, em maior ou

menor grau, não estariam isentas de uma adequação ao caráter universal de

patrimonialização, ficando bastante evidente a relação política existente entre a

gestão pública governamental brasileira das culturas populares e a Organização das

Nações Unidas (ONU) na trajetória da norma de preservação. Ainda que não

constitua um caráter de total submissão do IPHAN às políticas da UNESCO,

percebemos o seu alinhamento e construção de uma política de preservação na

mesma direção daquela empreendida em escala internacional.

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154

4 A DIMENSÃO SOCIAL NA TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO.

A dimensão social na trajetória da norma de preservação, verificada pela atuação

dinâmica e cotidiana dos sujeitos e grupos sociais envolvidos no processo de

produção e reprodução do bem cultural patrimônio, constitui importante abordagem

na compreensão da norma preservacionista.

Compreender os sujeitos e grupos sociais institucionais ou socialmente organizados

e sua atuação na trajetória da norma de preservação das culturas populares nas

cidades brasileiras permitiu-nos perceber o quanto opaca é a compreensão da

dimensão social, na produção do patrimônio cultural brasileiro e na atuação sobre

ele

Assim, a condição opaca da percepção da dimensão social na trajetória da norma,

compreendida tanto por uma análise temporal cronológica, quanto na apresentação

dos sujeitos e grupos sociais não institucionais envolvidos na patrimonialização,

acaba por imprimir uma maior visibilidade na atuação, no Brasil, de intelectuais e

acadêmicos, bem como do corpo técnico e do conselho consultivo do IPHAN

enquanto agentes da patrimonialização.

Outra importante consideração que se apreende da dimensão social na trajetória da

norma de preservação é a compreensão de que o patrimônio cultural também se

constitui como uma construção social, histórica, produto da interação entre os

sujeitos sociais. Portanto, é necessária a observação da atuação dos sujeitos e

grupos sociais na norma de preservação, para além dos operadores das políticas

estatais.

O ponto de partida tácito é que o patrimônio cultural é construção social e, assim sendo, torna-se necessário considerá-lo no contexto das práticas sociais que o geram e lhe conferem sentido (ARANTES, 2006, p. 426).

A indagação do autor, decorrente das reflexões em torno do reconhecimento de

grupos sociais, seus contextos e práticasé relevante para a compreensão das novas

práticas patrimonializantes: “Cabe indagar, portanto, qual o objetivo dessa prática,

quais são os sujeitos que a põem em marcha, em que condições e quadro

institucional isso ocorre”. (ARANTES, 2006, p. 426).

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Assim, ao buscarmos compreender essa dimensão social através dos Sujeitos e

grupos sociais produtores do patrimônio, não institucionais, percebemos que esses

passariam a atuar como “novas referências” nos procedimentos de seleção e

proteção dos bens culturais patrimônio, a partir da década de 1980, quando a

política operada no IPHAN para a proteção aos monumentos excepcionais

representativos da cultura de sujeitos e grupos sociais, em sua maioria luso-

europeus, é sacudida com a solicitação de tombamento um tempo de culto afro-

brasileiro, o Terreiro da Casa Branca, em 1982. Assim, a solicitação de tombamento

de um templo de culto afro-brasileiro, desprovido das reiteradas condições de

monumentalidade e excepcionalidade ao tombamento pelo IPHAN, vê-se

contemplado se assumida a condição de compreender o bem cultural pela referência

cultural que ele possui enquanto patrimônio cultural brasileiro, em detrimento de uma

condição valorativa institucionalmente arraigada.

A noção de referência cultural pressupõe a produção de informações e a pesquisa de suportes materiais para documentá-las, mas significa algo mais: um trabalho de elaboração desses dados, de compreensão da ressemantização de bens e práticas realizadas por determinados grupos sociais, que visa à construção de um sistema referencial da cultura daquele contexto específico. Nesse processo, a situação de diálogo que necessariamente se estabelece entre pesquisadores e membros da comunidade propicia uma troca com a qual todos sairão enriquecidos: para os agentes externos, valores antes desconhecidos virão ampliar seu conhecimento e compreensão do patrimônio cultural; para os habitantes da região, esse contato pode significar a oportunidade de recuperar e valorizar partes do seu acervo de bens culturais e de incorporá-las ao desenvolvimento da comunidade (FONSECA, 2001, p. 119).

Percebemos, portanto, que, nessa ampliação das “referências

culturais”,determinados sujeitos e/ou grupos sociais, sobretudo aqueles ligados às

culturas étnicas indígenas e afro-brasileiras, começam a reivindicar o seu lugar de

memória na norma de preservação brasileira, indicando a necessidade de uma

ampliação conceitual do patrimônio cultural e de uma política de preservação que

pudesse abarcar esses novos velhos sujeitos e seus grupos sociais, no repertório de

bens culturais-patrimônio.

É uma noção de patrimônio que busca abarcar a produção dos esquecidos reforçando seu valor cultural. Situado num movimento maior de revisão da historiografia e que, no Brasil, coincide com o surgimento dos movimentos sociais no processo de redemocratização, o conceito de patrimônio cultural colocou no centro do debate outros atores que não os burocratas e intelectuais. Neste sentido, o patrimônio passou a ser visto não apenas

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como remanescente de uma memória histórica informadora de uma identidade nacional que pouco diz à maioria da população, mas como importante testemunho das temporalidades que compõem as múltiplas experiências vividas, individual ou coletivamente; portanto, campo privilegiado na reelaboração das novas identidades coletivas e instrumento fundamental para o reconhecimento dos grupos sociais que as constróem. (NOGUEIRA, A., 2008, p. 243).

Desse modo, a compreensão da inserção dos bens culturais populares, produzidos

pelos sujeitos e grupos sociais “esquecidos”, revela a importância da dimensão

social na compreensão da trajetória da norma de preservação das culturas

populares nas cidades brasileiras.

Não seria sem razão a legitimação de práticas patrimoniais estendida aos “brancos,

índios e negros” pelo estado brasileiro com o advento da Constituição Federal de

1988, reconhecendo-os como elementos constitutivos da nação brasileira

(PENTEADO JUNIOR, 2010).

Nesse sentido, a dimensão social do patrimônio, verificada através das novas

condições de produção de patrimônio cultural brasileiro, permitiria que diferentes

sujeitos e diversos grupos sociais, com base no disposto constitucional, acessassem

os canais de diálogo, através de uma luta política inclusiva nas práticas

preservacionistas, buscando também atuar como “agentes do patrimônio”.

Hoje, os agentes do patrimônio vêm negociando com os grupos historicamente marginalizados ações de salvaguardas e de preservação dessas memórias periféricas. São práticas sociais não valorizadas, não reconhecidas como significativas e que, recentemente, passaram a ser incorporadas como repertórios representativos de determinados segmentos da sociedade e que merecem a chancela do Estado brasileiro (SIMÃO, L., 2003).

Assim, partindo de qual objetivo, sujeitos, condições e quadro institucional,

interessa-nos entender, na dimensão social da trajetória da norma de preservação

da cultura popular nas cidades brasileiras, o objetivo dessas novas práticas

patrimonializantes, bem como reconhecer os sujeitos e grupos sociais que engrenam

as condições procedimentais e os arranjos institucionais para a patrimonialização

dos novos velhos bens culturais. Ainda, perceber também as possíveis condições e

conformações dos arranjos tensores na patrimonialização de bens culturais de novos

sujeitos e/ou grupos sociais, sempre tomando por base os tombamentos e os

registros da cultura popular no Brasil, realizados pelo IPHAN, entre 1988 e 2013.

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4.1 OS SUJEITOS, OS GRUPOS SOCIAIS E SUAS TRAJETÓRIAS NA NORMA DE

PRESERVAÇÃO

A Constituição Federal de 1988 instaura um importante marco regulador na trajetória

da norma de preservação das culturas brasileiras, sobretudo ao analisarmos a

dimensão social das conquistas no campo dos direitos culturais, como o manifesto

apoio no artigo 215, parágrafo 1º da proteção “às manifestações das culturas

populares, indígenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do

processo civilizatório nacional”, e com a ampliação conceitual do patrimônio cultural

aos bens imateriais, instituindo instrumentos diversos de proteção, conforme dispõe

o artigo 216, ampliando as possibilidades dos arranjos patrimonializantes de grupos

sujeitos e grupos sociais “esquecidos” ou exclusos.

A dimensão conceitual mais ampliada da cultura na Constituição Brasileira de 1988

reconheceria “as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras”

como bens culturais de importância simbólica à construção da identidade nacional e,

consequentemente, passíveis de serem patrimonializados. Desse modo, na nova

política preservacionista, é prevista a inserção dos sujeitos, suas comunidades e

grupos, no processo de construção da cultura brasileira, através dos processos de

produção e de transmissão da diversidade cultural em seus contextos históricos e

ambientais.

A construção social de uma monumentalidade presente na materialidade dos bens

culturais passaria a dialogar com os sujeitos e grupos sociais cuja cultura não era

pautada pelo culto aos monumentos, mas à valoração dos modos de fazer, criar, e

viver, das formas de expressão e das criações dos grupos sociais, sobretudo os

étnicos afro-brasileiros e indígenas. Importa demonstrar ainda que o reconhecimento

das “manifestações das culturas populares”, como bens culturais da nação,

implicaria numa ressignificação operacional da ideia de bens culturais no Brasil,

onde o próprio texto constitucional indicaria novos instrumentos de promoção e

proteção, contando com a “colaboração da comunidade”.

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A ampliação conceitual do patrimônio cultural e dos instrumentos de proteção,

previstos na Constituição de 1988, segue a década de 1990 de forma reflexiva,

culminando, em 1997, em dois importantes eventos que destacariam a importância

dos sujeitos e grupos sociais na trajetória da norma de preservação.

A Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional nº 24, de 1996, traria como

temática a discussão sobre Cidadania, com prefácio do então Ministro da Cultura

Francisco Weffort,apresentação por Glauco Campelo Presidente do IPHAN e

introdução por Antonio A. Arantes, consultor e pesquisador.No ano seguinte, em

1997, a edição denº 25, teria como tema o Negro Brasileiro Negro, sendo organizada

pelo antropólogo Joel Rufino dos Santos. Percebemos, nesse sentido, tanto a

incorporação às reflexões editoriais do IPHAN da questão da Cidadania e do

patrimônio cultural, como uma edição da Revista do IPHAN dedicada ao Negro

brasileiro, remetem a uma reflexão institucional acerca dos sujeitos que constituem

esses grupos representados pelos afro-brasileiros.

Outro importante evento que marcaria o fim dos anos 1990 seria a realização do

Seminário Patrimônio Imaterial: estratégias e formas de proteção, em 1997, na

cidade de Fortaleza, quando são discutidos os instrumentos legais e administrativos

de preservação dos bens culturais de natureza imateriais brasileiros, o que permitiria

a inclusão de novos velhos sujeitos e grupos sociais, conforme demonstra o objetivo

explicitado na “Carta de Fortaleza”:

O objetivo do Seminário foi recolher subsídios que permitissem a elaboração de diretrizes e a criação de instrumentos legais e administrativos visando a identificar, proteger, promover e fomentar os processos e bens "portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira” (Artigo 216 da Constituição), considerados em toda a sua complexidade, diversidade e dinâmica, particularmente, "as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artística e tecnológicas", com especial atenção àquelas referentes à cultura popular. (BRASIL, 2012a, p. 21).

Os sujeitos e grupos sociais brasileiros que, até então, não compunham o rol de

bens culturais, passam a receber uma maior atenção por parte do IPHAN, ainda que

numa perspectiva mais reflexiva e indicativa, do que a institucionalização de uma

prática de proteção e promoção desses sujeitos e grupos sociais de forma

organizada e sistemática..

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A solicitação do tombamento do Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá Láji, e do Terreiro do

Axé Opô Afonjá, ambos em Salvador, no ano de 1998, marcaria um processo de

reorientação técnica institucional no IPHAN, no sentido da instrução dos processos

de tombamento destes bens culturais e conseguinte construção de pareceres

técnicos que argumentassem favoráveis ou não ao tombamento desses templos

afro-brasileiros. Nesse sentido, inicia-se uma política preservacionista para o

tombamento de Terreiros do Candomblé, tendo em vista a demanda dos pedidos de

tombamentos que se torna reiterada. Assim, o Terreiro do Gantois - Ilê Iyá Omim

Axé Yiamassé, e o Terreiro Casa das Minas Jeje, solicitam o tombamento em 2000;e

o Terreiro de Candomblé do Bate-Folha Manso Banduquenqué, em 2001.

As demandas de preservação dos Terreiros de Candomblé, oriundas das casas de

santo, do pode público, e do próprio IPHAN, atuariam em confronto com a

consolidada percepção valorativa materialista e monumental do órgão, que

demonstrava claramente, no tombamento do Terreiro da Casa Branca não estar

confortável diante da solicitação de tombamento de um Terreiro de Candomblé,

onde a dimensão viva do bem cultural, materialmente mutante, plasticamente

revelada e espiritualmente administrada, destoava das demandas cotidianas do

IPHAN. Ainda que sobre um aparente desconforto por parte do conselho consultivo

do IPHAN, a aprovação do tombamento se daria por um resultado favorável bastante

apertado e com a abstenção de alguns conselheiros, o que demonstrava as

incertezas e questionamentos acerca do tombamento desses bens culturais pelo

IPHAN.

A incorporação pelo IPHAN dos Terreiros de Candomblé enquanto patrimônios

culturais brasileiros, passíveis de serem tombados, não somente amplia a dimensão

social da norma, pela inserção de novos sujeitos e grupos sociais no rol de bens

culturais patrimônios, mais inserem, no contexto patrimonial brasileiro, os valores da

sociabilidade do povo de santo em torno de um espaço sagrado, reconhecendo a

importância cultural das dinâmicas dos grupos sociais, suas sociabilidades, próprias

a condição de produção e reprodução dos bens patrimônios.

A direta relação dos sujeitos do axé como agentes mobilizadores ao processo de

patrimonialização e, conseqüentemente, com as políticas de promoção do bem

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patrimônio, indica uma maior atuação dos sujeitos nos procedimentos de

patrimonialização. Ainda que numa condição de intelectuais ou artistas, diversos

sujeitos mobilizaram-se para a preservação dos terreiros de candomblé, indicando a

proximidade dos sujeitos no processo de patrimonialização desses bens culturais.

O tombamento da Casa de Chico Mendes e do seu acervo em 2008, talvez seja o

bem cultural protegido visivelmente mais próximo da história do povo como

patrimônio. Chico Mendes foi um homem do povo, e sua casa e seu acervo

representam o seu valor através do espaço arquitetônico eminentemente popularna

floresta amazônica.

Figura 2 - Chico Mendes em frente a sua casa em Xapuri Fonte: http://www.ct.ceci-br.org/ceci/noticias/693-casa-de-chico-mendes-xapuriac.html

Chico Mendes fora um dos mais importantes ativistas políticos brasileiros do século

XX, reconhecido nacional e internacionalmente pela defesa do meio ambiente e da

relação produtiva sustentável entre os homens e mulheres da floresta frente à

exploração dos sistemas produtivos industriais e capitalistas, do contexto sócio-

ambiental dos seringueiros. Atuou sobretudo em sua cidade, Xapuri, no estado do

Acre.

A convivência de Chico com a floresta e o conhecimento que adquiriu sobre como obter da natureza os meios de vida instigaram sua curiosidade e deram origem a uma teoria que seria, mais tarde, comprovada: a de que os benefícios derivados da manutenção da floresta são maiores do que o valor que se obtém com a sua derrubada.Foi essa matriz ideológica formada pelo sindicalismo, pela defesa dos direitos humanos, pelo respeito à floresta

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marcou a identidade de Chico Mendes como líder político e que transcendeu sua localidade e conquistou o respeito do internacional. Entre 1987 e 1988 Chico Mendes ganhou o Global 500, prêmio da ONU, na Inglaterra, e a Medalha de Meio Ambiente da Better World Society, nos Estados Unidos e deu entrevistas aos principais jornais do mundo. Jornalistas e pesquisadores o visitaram nos seringais e difundiram suas ideias pelo planeta.Mas ao mesmo tempo em que Chico conquistava o respeito internacional, era mais ameaçado em Xapuri. Os empates terminavam em prisão. As promessas de regularização dos conflitos fundiários não se concretizavam. A ideia de criação de reservas extrativistas se arrastava na burocracia federal. Em 22 de dezembro de 1988, em uma emboscada nos fundos de sua casa, ele foi assinado a mando de Darly Alves, grileiro de terras com história de violência em vários lugares do Brasil.

124

A Casa de Chico Mendes e seu acervo, tombados em 2008, foram inscritos

unicamente no livro histórico, o que nos remete diretamente ao reconhecimentopelo

IPHAN do valor histórico atribuído ao homem seringueiro, às suas formas de viver e

habitar, materialmente representadas pela casa de um dos seringueiros que teria

marcado profundamente a história do nosso país recente. Portanto, a atribuição de

um valor histórico ao bem cultural, reconhece não somente o valor histórico do

homem e sua casa, mas também de um contexto político, econômico e social e de

um pensamento de sociabilidade e produção com respeito às culturas dos povos das

florestas.

As dinâmicas sociais dos bens culturais seriam, no entanto, selecionadas e

promovidas, com o advento do Decreto 3.551 de 4 de agosto de 2000125, que

reconheceria os bens de natureza imaterial como patrimônio cultural brasileiro, e os

protegeria através do Registro, instrumento adequado às condições dinâmicas de

produção e reprodução dos bens culturais.

Através do referido decreto, as ações, modos de fazer, criar e viver, e as formas de

expressão operadas pelos sujeitos e produzidos e reiterados pelos grupos sociais,

tornam-se objeto passível de patrimonialização, já que a produção humana,

intangível, torna-se passível de ser protegida por um instrumento jurídico, o registro.

Percebemos, portanto, que a ideia de patrimônio imaterial dialogaria de forma mais

expressiva e próxima dos sujeitos e grupos sociais que produzem e reproduzem

124

CHICO Mendes. Histórico. Disponível em: <http://memorialchicomendes.org/chico-mendes/> Acesso em: 19 nov. 2015. 125

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3551.htm>. Acesso em: 27 jul. 2015.

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cotidianamente práticas culturais que não seriam possíveis de serem protegidas pelo

tombamento. Ela ainda acena para uma prática preservacionista que viabiliza a

preservação de bens culturais até então indisponíveis juridicamente à proteção

institucional.

No entanto, a ideia de “Referencia Cultural” seria absorvida pela institucionalização

do Inventário Nacional de Referências Culturais –INRC, em 2000, como principal

metodologia institucional para produção de conhecimento sobre os bens da cultura

popular brasileira. Ele demonstra, de forma explícita, a importância dos sujeitos e

grupos sociais observados através de suas referências na construção de uma

política pública preservacionista mais ampla, plural e democrática. Assim, o INRC

tem funcionado como instrumento de reconhecimento dos agentes e dos grupos

sociais na ação de produção do patrimônio.

O Programa Nacional de Patrimônio Imaterial - PNPI, decerto, se constituiu na

principal prática preservacionista da cultura popular na trajetória da norma de

preservação do patrimônio cultural brasileiro. Analisados de forma geral, até 2013,

todos os 28 bens culturais registrados eram constituídos por bens das culturas

populares, sendo que, destes, 22 bens permeiam as cidades brasileiras,

caracterizando uma considerável proteção de bens culturais imateriais nas cidades,

mais próximos dos sujeitos e grupos sociaisque os produzem e reproduzem. Os

outros 06 bens culturais registrados estariam diretamente ligados aos bens

indígenas, portanto, em condições territoriais bastante distintas das cidades, que

aqui nos interessam.

Ainda, ao observarmos a constituição valorativa e/ou classificatória dos bens

culturais imateriais pelo IPHAN no Brasil, percebemos que os valores das dinâmicas

sociais e culturais seriam representadas pelos Saberes, Celebrações, Formas de

Expressões e Lugares, apontando para um claro alargamento da dimensão social na

trajetória da norma de preservação das culturas populares nas cidades brasileiras.

Assim, as Celebrações, as Formas de Expressões e os Lugares, imprimem uma

condição de produção e reprodução do bem cultural mais coletiva, como o Círio de

Nossa Senhora de Nazaré, Pará, ou o Samba de Roda do Recôncavo Baiano /

Bahia. Já os Saberes imprimem uma maior visibilidade aos sujeitos detentores dos

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saberes-fazeres, das tecnologias, aproximando-se dos Mestres e das Mestras das

culturas populares e tradicionais, como por exemplo, o Modo de fazer a renda

Irlandesa de Divina Pastora / Sergipe, ou mesmo ao Oficio dos Sineiros em Minas

Gerais.

Importante observar a dimensão social que envolve os mestres e mestras da cultura

popular brasileira no seu cotidiano, sobretudo, na Região Nordeste do Brasil, onde

os processos de produção e reprodutibilidade dos bens culturais ainda que em

menor grau, estão inseridos no dia-a-dia das cidades nordestinas, desde as menores

cidades do interior deste território, até suas capitais, com milhões de habitantes.Por

exemplo em, Salvador, Recife ou Fortaleza, há centenas de grupos sociais que se

constituem como pólos de produção e reprodução de bens culturais, sobretudo, pela

atuação dos mestres e mestras das culturas populares.

Não por acaso, os estados da Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Rio

Grande do Norte, insistem numa tentativa de implementar ou aprimorar a prática de

proteção ao patrimônio vivo, estabelecendo legislações estaduais com essa

intenção.

O reconhecimento – ainda que externo e vertical - de uma dinâmica social e potente,

ou mesmo ameaçada pela precariedade de sua reprodutibilidade, indicaria a cultura

popular, segmento “esquecido” durante décadas na produção do patrimônio cultural

brasileiro, à categoria de patrimônio cultural vivo, com a valorização das culturas

tradicionais, das identidades locais e da diversidade cultural brasileira.

Importa demonstrar, no entanto, que nada impede que ofícios, modos de fazer e

criar, bem como quaisquer tipos de tecnologias produtivas, populares ou não,

tornem-se um bem cultural imaterial. A diferença que se estabelece na adoção de

uma proteção pelo instrumento do Registro, é que o bem cultural patrimônio não

seria o sujeito, mas o seu conhecimento, o seu oficio, portanto, os seus Saberes, as

suas formas de expressões, suas celebrações e lugares.

A adoção institucional de políticas para a patrimonialização dos Saberes pelo

IPHAN, através do Registro dos bens culturais, no entanto, parece não ser um

consenso, e a materialidade, em dados contextos, ainda consegue prevalecer sobre

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o saber fazer daquele bem material. Os tombamentos das embarcações tradicionais

brasileiras, em detrimento do reconhecimento das técnicas construtivas e de velejo

para cada embarcação, parecem indicar nessa direção.

Os Tombamentos das embarcações tradicionais brasileiras, ocorridos em 2012,

resultam de uma ação institucional para a proteção jurídica destas embarcações,

ainda que pelo instituto do Tombamento. Ao verificarmos o folder de lançamento do

projeto “Barcos do Brasil”126, em 2009, percebemos, em seus objetivos, a tentativa

de construção de uma política pública governamental com objetivos bastante

enfáticos quanto à promoção das condições sociais, ambientais e culturais de

produção e reprodução desses bens culturais:

Objetivos

Identificar, registrar e valorizar o patrimônio naval brasileiro e seus contextos sociais, culturais e ambientais;

Proteger, preservar e salvaguardar o patrimônio naval brasileiro e seus contextos sociais, culturais e ambientais;

Valorizar a atividade e a cultura da pesca artesanal, garantir a qualificação profissional para pescadores artesanais, o apoio à produção e a cadeia produtiva da pesca, o apoio ao associativismo e cooperativismo, e o apoio à pesquisa e fomento tecnológico para o desenvolvimento sustentável da pesca.

Identificar os mestres de carpintaria náutica e as técnicas tradicionais de construção de embarcações, visando a salvaguarda do patrimônio cultural;

Desenvolver ações de capacitação e a qualificação profissional dos trabalhadores envolvidos com a carpintaria náutica tradicional no país e sua inserção no mercado de trabalho.

Valorizar, qualificar e reabilitar contextos culturais ocupados por população detentora de referências culturais específicas relacionadas ao patrimônio cultural naval.

Desenvolver ações de destinação, uso e cultivo sustentável das matérias primas necessárias à construção e reparo de embarcações tradicionais e de seus apetrechos.

Promover a pesquisa sobre o patrimônio naval brasileiro, com destaque para tecnologias de construção de embarcações tradicionais.

Difundir o patrimônio naval brasileiro, priorizando as formas que promovam a sustentabilidade dos pescadores artesanais, trabalhadores envolvidos com a carpintaria náutica e tripulações de embarcações à vela emtodo o país.

126

PROJETO Barcos do Brasil. MINC / IPHAN, 2009, p. 7.Disponível em: <http://www.popa.com.br/_2009/IMAGENS/07/pedro-bocca/folder%20barcos%20do%20brasil.pdf>. Acesso em: 25 out. 2015.

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No entanto, talvez por constituir uma construção política com formato pré definido,

com a presença de um projeto patrono de promoção dos bens culturais que

antecede a própria patrimonialização, percebemos a ausência de sujeitos ou grupos

sociais como parceiros institucionais na construção da política de preservação,

conforme demonstra o folder de lançamento do projeto “Barcos do Brasil”.

A construção da política de preservação das embarcações tradicionais pelo IPHAN

acabaria por restringir-se aos tombamentos, em 2012, da Canoa Costeira, de nome

Dinamar, no Maranhão; da Canoa de Tolda Luzitânia, na foz do São Francisco, em

Sergipe; da Canoa de Pranchão do Rio Grande, no Rio Grande do Sul; e do Saveiro

de Vela de Içar, de nome, Sombra da Lua, no Recôncavo Baiano, constituindo peças

museográficas em seus contextos sócio-ambientais e culturais.

Ainda que o Saveiro de Vela de Içar Sombra da Lua, através da Associação Viva

Saveiro tenha sido premiado pelo Prêmio Rodrigo Melo Franco em 2010 e, a Canoa

de Tolda Luzitânia, através daSociedade Socioambiental do Baixo São Francisco,

em 2011, recebendo o mesmo prêmio, o caráter de promoção dos bens patrimônios

ficou restrito à sua materialidade, portanto, ao restauro das embarcações, em

detrimento da transmissão do saber fazer dos mestres construtores e velejadores.

Todas essas questões encontram-se fundamentadas em critérios não apenas técnicos, visto que a “representatividade” dos bens, em termos da diversidade social e cultural do país, é essencial para que a função do patrimônio realize-se, no sentido de que os diferentes grupos sociais possam se reconhecer nesse repertório. [...] É necessária, uma mudança de procedimentos, com o propósito de abrir espaços para a participação da sociedade no processo de construção e de apropriação de seu patrimônio cultural (FONSECA, 2003, p. 65).

A leitura da dimensão social nos processos de tombamento e registro no IPHAN,

entre 1988 e 2013, certamente apresenta-nos importantes reflexões em torno da

atuação dos sujeitos e grupos sociais na norma de preservação das culturas

populares brasileiras. Nesse sentido, passemos a analisar os sujeitos e grupos

sociais envolvidos, através dos proponentes para a abertura dos processos de

tombamento e registro, dos agentes envolvidos nesse processo de

patrimonialização, da dimensão territorial ligando os sujeitos e bens culturais, bem

como das condições de sociabilidades presentes nos territórios onde as culturas

populares se produzem e reproduzem.

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Nesse sentido, procuraremos demonstrar as mudanças no entendimento do IPHAN

com relação à dimensão social evoluída nos processos de patrimonialiação dos bens

das culturas populares brasileiras.

4.1.1 Quem propõe o patrimônio?

As condições para a propositura e abertura dos processos administrativos para a

proteção dos bens culturais no Brasil são regidas por duas grandes legislações

genéricas. Ou seja, elas podem ser aplicadas a todo bem cultural, desde que atenda

aos valores discricionários do IPHAN à preservação do bem cultural.Para os bens

materiais, o tombamento segue as orientações expressas no Decreto-Lei nº 25 de

1937, que disciplina o instrumento no Brasil. No caso dos imateriais, o registro dos

bens culturais é regulado pelo Decreto Federal nº 3.551 de 2000.

O tombamento ou o registro, enquanto atos administrativos, não são vinculados à

decisão de mérito desde a sua propositura. Tal liberalidade técnico- política, decerto,

também poderia permitir um maior acesso dos sujeitos e grupos sociais “esquecidos”

à propositura de proteção dos seus bens culturais.Propositor é toda pessoa de

direitos que, atendendo aos requisitos legais, provoca os órgãos gestores e

protecionistas – nesse caso o IPHAN - à abertura do processo para tombamento ou

registro, mediante justificativa para inclusão do bem cultural no rol de patrimônio

cultural nacional e nas consequentes políticas públicas governamentais de

promoção.

Assim, ao analisarmos os tombamentos dos bens das culturas populares realizados

pelo IPHAN entre 1988 e 2013, verificamos claramente uma expressiva atuação da

sociedade civil na propositura de tombamentos, acompanhada da solicitação pelo

poder público e ainda, ex officio, ou seja, pelo próprio IPHAN, conforme demonstra o

gráfico abaixo.

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Gráfico 13 – Proponentes para o tombamento dos bens das culturas populares no Brasil entre 1988 e 2013.

Assim, dos 10 processos de tombamento realizados pelo IPHAN no período de 1988

a 2013 analisados em nosso universo empírico, 08 deles foram propostos pela

Sociedade Civil - Ilê Iyá Omim Axé Yiamassé, Terreiro de Candomblé do Bate-Folha

Manso Banduquenqué, Terreiro Casa das Minas Jeje, Casa de Chico Mendes e seu

acervo, Saveiro de Vela de Içar, de nome, Sombra da Lua, no Recôncavo Baiano,

Canoa de Tolda Luzitânia, Canoa de Pranchãoperfazendo - um total de 80% das

solicitações. Dois foram propostos pela Administração Pública: a Prefeitura Municipal

de Salvador, no tombamento do Terreiro do Alaketu e pela Secretaria de Ciência e

Tecnologia do Estado do Maranhão, no tombamento da Canoa Costeira, de nome

Dinamar; representando 20% do total dos bens tombados. Uma propositura fora

realizada pelo próprio IPHAN, no caso do Terreiro do Afonjá pelo DEPROT / IPHAN

– Departamento de Proteção, tendo em vista atender a solicitação do Jornalista

Fernando Coelho, representando 10% do total dos bens tombados.

Importante salientarmos que todos os processos de tombamentos das embarcações

tradicionais seriam solicitados por associações ou entidades civis diretamente

ligadas à questão naval e preservação desses bens, com exceção da solicitação do

tombamento da Canoa de Pranchão do RS, solicitada pelo Museu Náutico da Furg /

Centro de Convívio dos Meninos do Mar (CCMar/Furg).O quadro abaixo indica os

proponentes dos Tombamentos objeto de estudo desta pesquisa.

NOME DO BEM PROPONENTES PARA O TOMBAMENTO ANO127

Terreiro do Axé Opô Afonjá DEPROT / IPHAN – Departamento de Proteção, tendo em vista atender a solicitação do Jornalista Fernando Coelho.

1999

Ilê Iyá Omim Axé Yiamassé Memorial Mãe Menininha do Gantois (Mônica Millet) / 2002

127

Aprovação do Tombamento no Conselho Consultivo do IPHAN.

70%

10%20%

Sociedade Civil IPHAN Administração Pública

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Associação São Jorge – Ebé Oxossi

Terreiro de Candomblé do Bate-Folha Manso Banduquenqué

Sociedade Cruz Santa do Axé de Opô Afonjá, ratificada pela Sociedade Beneficente Santa Bárbara, ambas de Salvador, Bahia

2003

Terreiro Casa das Minas Jeje

Imandade da Casa das Minas (Denil Prata Jardim). Assinam a solicitação: Presidente da Comissão Maranhese de Folclore e Prof da UFMA; Centro de Cultura Popular da FUNCMA (Fundação de Culutra do Estado do Maranhão); Curador da Fundação Gilberto Freyre.

2002

Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá Láji

Prefeitura Municipal de Salvador – emoficio n 68 ao IPHAN / Brasília. Assina Prefeito Antonio Imbassay.

2004

Casa de Chico Mendes e seu acervo

INSTITUTO CHICO MENDES. Elenira Mendes, filha do Seringueiro Chico Mendes.

2008

Canoa Costeira, de nome Dinamar

Centro Vocacional Estaleiro Escola e da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Maranhão.

2010

Saveiro de Vela de Içar, de nome, Sombra da Lua, no Recôncavo Baiano

Instituto Viva Saveiro, Salvador, Bahia 2010

Canoa de Tolda Luzitânia Canoa de Tolda – Sociedade Sócioambiental do Baixo São Francisco, uma organização não governamental (ONG) e atual proprietária da embarcação, Brejo Grande/SE

2010

Canoa de Pranchão Museu Náutico da FURG / Centro de Convívio dos Meninos do Mar (CCMar/FURG)

2010

Quadro 7– Proponentes para o tombamento pelo IPHAN dos bens das Culturas Populares no Brasil entre 1988 a 2013.

As proposições para o registro dos bens culturais imateriais brasileiros estão

vinculadas a um grupo de pessoas jurídicas públicas ou privadas, conforme

demonstra o artigo 2º do Decreto 3.551 de 2000, que institui o PNPI.

Art. 2o São partes legítimas para provocar a instauração do processo de

registro: I - o Ministro de Estado da Cultura; II -instituições vinculadas ao Ministério da Cultura; III - Secretarias de Estado, de Município e do Distrito Federal; V - sociedades ou associações civis.

Ainda que o Programa Nacional de Patrimônio Imaterial, e o instrumento de Registro

para os bens imateriais acenassem a uma dimensão social mais arejada na norma

de preservação das culturas populares das cidades brasileiras, sobretudo, pela

possibilidade de proteção aos Saberes, Celebrações, Formas de Expressão e

Lugares, dimensões do patrimônio mais próximos aos sujeitos e grupos sociais,

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169

percebemos uma limitação social no acesso à propositura de Registro, sobretudo,

quando indica, no artigo 3º, que o pedido deverá ser acompanhado de

“documentação técnica”, afunilando ainda mais esse acesso.

O quadro abaixo indica os proponentes dos Registros dos bens imateriais objeto de

estudo desta pesquisa.

NOME DO BEM PROPONENTES PARA O REGISTRO ANOS128

Ofício das Paneleiras de Goiabeiras

Associação das Paneleiras de Goiabeiras. Rua Leopoldo Gomes Sales, Goiabeiras Velhas. Vitória-ES. Secretaria Municipal de Cultura de Vitória

2001 / 2002

Samba de Roda do Recôncavo Baiano

Associação Cultural Filhos de Nagô. Praça Dois de Julho n°19. São Félix-BA

2004 / 2004

Círio de Nossa Senhora de Nazaré

Arquidiocese de Belém. Avenida Gov. José Malta n°915. Belém – PA

2000 / 2004

Modo de Fazer Viola-de-Cocho

Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular. Rua do Catete 179, Catete. Rio de Janeiro –. Site: www.cnfcp.org.br.

2004 / 2005

Ofício das Baianas de Acarajé

Associação de Baianas de Acarajé e Mingau do Estado da Bahia -ABAM. Memorial das baianas, Belvedere da Sé, Praça da Sé, Centro. Salvador – BA.

2004 / 2005

Jongo no Sudeste Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular. Rua do Catete 179, Catete. Rio de Janeiro – RJSite: www.cnfcp.org.br.

2001 / 2005

Feira de Caruaru Prefeitura Municipal de Caruaru 2006 / 2006

Frevo Prefeitura Municipal do Recife. 2006 / 2007

Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto, de Terreiro e Enredo

Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Rua Jacinto 67, Méier. Site: www.aescrj.com.br. Em 20 de junho de 2006, sambistas do Rio de Janeiro encaminham um abaixo-assinado como documento de anuência ao pedido de registro do bem (18 páginas).

2004 / 2007

Tambor de Crioula do Maranhão

Prefeitura de São Luís do Maranhão. Avenida D. Pedro II. São Luís-MA CEP.: 65010-450.Site: www.saoluis.ma.gov.br

2007 / 2007

Modo artesanal de fazer queijo nas regiões do Serro, da Serra da Canastra e do Salitre.

Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais. Praça da Liberdade 317. Belo Horizonte - MG. Site: www.cultura.mg.gov.br. O pedido de registro, apesar de ter sido realizado pela SEC - Secretaria de Educação e Cultura de Minas Gerais, conta com anuência e apoio de diversas instituições e entidades, a seguir: Carta de Anuência: AASER – Associação dos Amigos de Serro, de 26/02/2007. Cartas de apoio: A1) cidadãos e associações da Cidade de Serro, em 16/11/2001; A2) apoio da Câmara Municipal de Serro, em 04/02/2002; A3) apoio da Prefeitura Municipal de Serro, em 02/03/2007; A4) apoio EMATER – Empresa de Assistência Técnica Rural, em 01/03/2007; A5) Texto de manifestação para o IPHAN: Prefeitura Municipal de Serro, P.M. de Sabinópolis, P.M. de Dom

2001 / 2008

128

Ano de solicitação do Registroe ano deaprovação do Regsitro no Conselho Consultivo do IPHAN

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170

Joaquim, P.M. de Alvorada de Minas, P.M. de Rio Vermelho, P.M. de Materlândia, P.M. de Serra Azul de Minas, P.M. de Santo Antônio de Itambé, P.M. de Paulistas, P.M. de Conceição de Mato Dentro, em 05/03/2007; A6) Cooperativa dos Produtores de Derivados de Leite do Alto Parnaíba. Serra do Salitre, em 02/03/2007; A7) Sociedade Civil Slow Foods Tiradentes, em 02/03/2007; A8) IEPHA/MG – Instituto do Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, em 14/03/2007; A10) Prefeitura Municipal de Medeiros. Serra da Canastra, em 12/04/2007; A11) APROCAME – Associação Produtores de Queijo Canastra de Medeiros, em 13/04/2007; A12) apoio EMATER – Empresa de Assistência Técnica Rural, em 13/04/2007.

Ofício dos mestres de capoeira

Gabinete da Presidência do IPHAN/Brasília - DF. Site: www.iphan.gov.br. Anuência ao registro composto por dois abaixo-assinados, totalizando 60 páginas, com assinaturas de capoeiristas oriundos sobretudo do Rio de janeiro, Bahia e Pernambuco

2006 / 2008

Roda de Capoeira Gabinete da Presidência do IPHAN/Brasília - DF. Site: www.iphan.gov.br. Anuência ao registro composto por dois abaixo-assinados, totalizando 60 páginas, com assinaturas de capoeiristas oriundos sobretudo do Rio de janeiro, Bahia e Pernambuco

2006 / 2008

Modo de fazer Renda Irlandesa Divina Pastora / SE

Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlandesa de Divina Pastora ASDEREN - Localização: Divina Pastora/SE. Endereço: Praça da Matriz, nº 125 centro. Fone: (79)3271-1289. Anuência ao registro composto por abaixo-assinado, totalizando 180 assinaturas de rendeiras em Divina Pastora.

2007 / 2009

Ofício de Sineiro Governo do Estado de Minas Gerais (13 de agosto de 2001/Secretaria do Estado de Cultura).Endereço: Belo Horizonte/MG, Palacete Dantas, Praça da Liberdade, 317.Site: www.cultura.mg.gov.br.

2001 / 2009

Toque dos Sinos em Minas Gerais tendo como referência São João del Rey e as cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes.

Governo do Estado de Minas Gerais (13 de agosto de 001/Secretaria do Estado de Cultura).Endereço: Belo Horizonte/MG, Palacete Dantas, Praça da Liberdade, 317.Site: www.cultura.mg.gov.br.

2001 / 2009

Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis

Pedido de Registro 14ª SR IPHAN; Prefeitura Municipal de Pirenópolis; Pedido de Registro Irmandade do Santíssimo Sacramento da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário; Pedido de Registro Instituto Cultural "Cavalhadas de Pirenópolis".

2008 / 2010

Festa de Sant' Ana de Caicó

Diocese de Caicó e Paróquia de Sant´Ana de Caicó. Localização: Caicó/RN. Endereço: Rua de João Maria 27 – Centro.

2008 / 2010

Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão

Comissão Interinstitucional de Trabalho: Superintendente do IPHAN/MA. Secretário Estadual de Cultura do MA; Presidente da Fundação Municipal de Cultura; Comissão Maranhense de Folclore; Grupo de Pesquisa Religião e Cultura Popular UFMA; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque da Baixada; Grupos de Bumba-meu boi do

2008 / 2011

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171

Sotaque de Zabumba; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Costa-de-mão; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Orquestra; Grupos de bumba-meu-boi alternativos

Fandango Caiçara Associação de Cultura Popular Mandicuera. Localização: Paranaguá/PR. Endereço: R 49 - Jd 7 de Setembro, 0 - Ilha de Valadares

2008 / 2012

Festa do Divino de Paraty

Instituto Histórico e Artístico de Paraty - Localização: Paraty/RJ. Endereço: Antiga Cadeia - Largo de Santa Rita Centro Histórico. Site: www.ihap.org.br.

2011 / 2013

Festa do Senhor do Bonfim

Devoção do Senhor Bom Jesus do Bomfim. Localização: Salvador/BA Endereço: Largo do Bonfim, 236 - Bonfim. CEP: 40415-475.

2010 / 2013

Quadro 8 - Patrimônios culturais imateriais registrados pelo IPHAN entre 2000 e 2013 nas cidades brasileiras: Proponentes.

O Gráfico a seguir ilustra a distribuição percentual dos proponentes para o registro

dos bens imateriais.

Gráfico 14 - Proponentes para o registro dos bens das culturas populares no Brasil entre 1988 e 2013

Assim, ao analisamos 22 processos de Registros de bens das culturas populares

nas cidades brasileiras pelo IPHAN entre 2002 e 2013, percebemos uma ligeira

27%

14%

9% 9%

14%

18%

9%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

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172

maioria da sociedade civil nas proposituras do Registro, o que nos indica a crescente

institucionalização em pessoas jurídicas de alguns grupos sociais de modo a atender

as demandas burocráticas das políticas públicas governamentais, perfazendo um

total de 06 solicitações ou 27% do total. A presença institucional do Estado seja

através do próprio IPHAN, do Centro Cultural de Folclore e Cultura Popular

(CNFCP), ou das administrações públicas diretas estaduais e municipais, marca

profundamente as ações de propositura do registro, onde 04 solicitações foram feitas

pelo próprio IPHAN, perfazendo 18%, o CNFCP com 02 solicitações e 9% do total,

prefeituras com 04 solicitações, e governo de Estados, com 03 solicitações por cada

ente representando, respectivamente,18% e 14% dos registros analisados. Ao

somarmos todas as solicitações que partiram do Estado, percebemos que 12 delas,

ou seja, 59% das solicitações partem da máquina estatal, o que revela um

considerável grau de atuação do estado também nos processos de seleção dos

bens culturais.

Ainda, 03 solicitações de Registros foram realizadas por instituições religiosas

católicas (diocese e arquidiocese), perfazendo um total de 14% dos bens registrados

em estudo e, certamente, o arranjo propositivo mais inclusivo, do ponto de vista

social, quando da solicitação do Registro da Celebração do Complexo Cultural do

Bumba meu Boi, no Maranhão, conduzida por uma Comissão Interinstitucional129

que agregava estado, sociedade civil organizada, e grupos sociais não organizados

juridicamente, compondo apenas uma solicitação de registro, e 5% do universo

pesquisado.

4.1.2 Os agentes envolvidos na produção do patrimônio

129

Bumba-meu-boi do Maranhão.Número Do Processo:01450.007272/2008-61.Comissão Interinstitucional de Trabalho conforme designado no próprio processo: Superintendente do IPHAN/MA. Secretário Estadual de Cultura do MA; Presidente da Fundação Municipal de Cultura; Comissão Maranhense de Folclore; Grupo de Pesquisa Religião e Cultura Popular UFMA; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque da Baixada; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Zabumba; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Costa-de-mão; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Orquestra; Grupos de bumba-meu-boi alternativos.

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173

O avanço conceitual em torno de novos sujeitos e grupos sociais patrimônios

brasileiros, advindo da CF de 1988, bem como das políticas de registros dos bens

culturais imateriais pelo IPHAN em 2000, geraria uma difícil tarefa, qual seja, a de

inserir esses novos velhos sujeitos e grupos sociais no processo de produção do

patrimônio cultural popular nas cidades brasileiras.

A ampliação conceitual dos bens culturais, através do entendimento alargado das

manifestações culturais e seus sujeitos ou grupos produtores, e a conseguinte

ampliação dos instrumentos de proteção às manifestações trariam o desafio de

inserir esses mesmos sujeitos e grupos sociais nas ações de preservação, portanto,

nos procedimentos de seleção, proteção e promoção dos bens culturais patrimônios.

Nesse sentido, percebemos, através dos estudos dos processos de tombamento e

registros de bens das culturas populares nas cidades brasileiras, entre 1988 e 2013,

que os sujeitos e grupos sociais atuariam como “agentes do patrimônio”, com maior

visibilidade, nos procedimentos de seleção e nas ações de promoção dos bens

culturais patrimônio, através das ações de apoio. No que poderíamos chamar como

fluxo procedimental à patrimonialização, seja ela via tombamento ou registro, a

atuação dos sujeitos como “agentes do patrimônio” torna-se menos visível nos

processos de tombamento, apresentando uma função de informador, e nunca de

formador das condições de patrimonialização. Os sujeitos e grupo sociais, nos

processos de tombamento, configuram-se muito mais como “bens etnográficos”

passíveis de uma valoração institucional, do que sujeitos ou grupos atuantes nos

procedimentos técnicos. O seu espaço é o da colaboração coadjuvante.

A identificação de itens culturais a serem protegidos e a implementação de procedimentos de proteção resultam de um processode negociação complexo, e frequentemente conflituoso, que envolve mediadores culturais, ou seja, agentes de políticas públicas (tecnicos e burocratas) e agentes profissionais, políticos e empresariais – e não parte da cultura comum – que coloca em cena o Estado como representante simbólico da nação e da identidade dos grupos que a formam. (ARANTES, 2006, p. 426-427).

Quando analisamos os sujeitos ou grupos sociais envolvidos na produção do

patrimônio cultural, decerto, buscamos reconhecer os diferentes “agentes do

patrimônio”, tentando reconhecer os arranjos possíveis a serem observados. A

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heterogeneidade de agentes e as condições especiais de cada processo é

indicadapela leitura do quadro abaixo.

Inicialmente, vejamos o quadro de agentes envolvidos no processo de

patrimonialização dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras entre

1988 e 2013, levando em consideração os bens tombados e aqueles registrados,

pelo IPHAN, nesse período.

Os quadros abaixo indicam os agentes envolvidos nos processos de Tombamento e

Registros dos bens culturais objetos de estudo nesta pesquisa.

BEM CULTURAL TOMBADO PELO

IPHAN

AGENTES ENVOLVIDOS NO TOMBAMENTO ANO130

Terreiro do Axé Opô Afonjá

DEPROT / IPHAN – Departamento de Proteção, Jornalista Fernando Coelho, 7ª Superintendência Regional do IPHAN em Salvador, estudos de Antonio Risério, Fundação Cultura Palmares e notificação ao então prefeito Municipal de Salvador, Antonio Imbassahy.

1999

Ilê Iyá Omim Axé Yiamassé

A 7ª Superintendência Regional do IPHAN em Salvador solicita a funcionária licenciada Márcia Sant‟Anna que “instrua o processo em tela” contando com sua colaboração.

2002

Terreiro de Candomblé do Bate-Folha Manso Banduquenqué

Instruído pela A 7ª Superintendência Regional do IPHAN em Salvador. Pareceres de especialistas convidados, como os antropólogos Ordep Serra e Raul Lody. Fundação Cultural Palmares definindo-o como Território Cultural Afro-Brasileiro e o Município de Salvador o incluiu em área de preservação ambiental e cultural no PDDU.

2003

Terreiro Casa das Minas Jeje

A 6ª Superintendência Regional do IPHAN em São Luis do Maranhão. Presidente da Comissão Maranhese de Folclore; UFMA; Centro de Cultura Popular da FUNCMA (Fundação de Culutra do Estado do Maranhão); Fundação Gilberto Freyre. Escola de Samba Beija Flor de Ninópolis / RJ – Samba enrredo de 2001.

2002

Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá Láji

A 7ª Superintendência Regional do IPHAN em Salvador, solicita a funcionária licenciada Márcia Sant‟Anna auxilio na instrução do processo contando com sua colaboração. Sociedade Mantenedora Sociedade São Jerônimo do Alaketu (Terceiro volume, denominado de anexo, constitui material recolhido e fornecido pelo Terreiro). Fundação Cultural Palmares. Documentos do Professor, antropólogo e Babalorixá Julio Braga,do antropólogo Renato da Silveira,

2004

Casa de Chico Mendes e seu acervo

Instrução do processo pela 16ª Superintendência Regional do IPHAN Acre/Rondônia. Comitê Chico Mendes, representativo de mais de vinte instituições, entre elas o Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular (CDHEP), o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) e a União das Nações Indígenas do Acre e Sul do Amazonas.

2008

130

Aprovação Conselho Consultivo do IPHAN para inscrição no Livro do Tombo.

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175

Canoa de Tolda Luzitânia

Superintendência Regional do IPHAN em Sergipe. DEPAM – Departamento e Patrimônio Material do IPHAN

2010

Canoa Costeira, de nome Dinamar,

6ª Superintendência Regional do IPHAN no Maranhão. DEPAM – Departamento e Patrimônio Material do IPHAN. Centro Vocacional Estaleiro Escola e da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Maranhão.

2010

Saveiro de Vela de Içar, de nome, Sombra da Lua, no Recôncavo Baiano

Instituto Viva Saveiro. 7ª Superintendência Regional do IPHAN em Salvador. DEPAM – Departamento e Patrimônio Material do IPHAN.

2010

Canoa de Pranchão

Museu Náutico da FURG e DEPAM – Departamento e Patrimônio Material do IPHAN

2010

Quadro 9 –Agentes envolvidos no tombamento pelo IPHAN dos bens das Culturas Populares no Brasil entre 1988 a 2013

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BEM CULTURAL REGISTRADO PELO IPHAN

AGENTES ENVOLVIDOS NO REGISTRO

ANO131

Ofício das Paneleiras de Goiabeiras

IPHAN e Associação das Paneleiras de Goiabeiras, Universidade Federal do Espírito Santo, Secretaria Municipal de Cultura de Vitória, Central ArteSol.

2002

Samba de Roda do Recôncavo Baiano

IPHAN e Associação Cultural Filhos de Nagô. Associação Cultural do Samba de Roda Dalva Damiana de Freitas. Associação de Pesquisa em Cultura Popular e Música Tradicional do Recôncavo. Associação dos Sambadeiros e Sambadeiras do Estado da Bahia (17/04/2005. AMAFRO – Sociedade de Amigos da Cultura Afro-brasileira. Prefeituras que aderiram ao Termo de Compromisso e Adesão, que visa à execução do Plano de salvagurada do Samba de Roda até setembro de 2006 (MinC, IPHAN, MRB). Os munícipios foram: Cabaceiras do Paraguaçú, São Sebastião do Passé, Santo Amaro, São Félix, Castro Alves, Teodoro Sampaio, Saubara. ACBANTU – Associação Cultural de Preservação de Patrimônio Bantu, CEAO – UFBA, PRONAC – Petrobras.

2004

Círio de Nossa Senhora de Nazaré

IPHAN, Arquidiocese de Belém, Sindicato dos Arrumadores do Estado do Pará.

2004

Modo de Fazer Viola-de-Cocho

MT: Município de Jangadas, Diamantino, Nobres, Cuiabá, Livramento, Poconé, Rosário Oeste. MS: Corumbá, Ladário

2005

Ofício das Baianas de Acarajé

CEAO – UFBA; Terreiro Ylê Axé Opô Ofonjá; CNFCP; Setor de Difusão Cultural; Equipe Técnica do Projeto Celebração de Saberes da Cultura Popular

2005

Jongo no Sudeste Grupo Cultural Jongo da Serrinha; Associação da Comunidade Negra de Remanescente de Quilombo da Fazenda São José; Morro do Cruzeiro (Município de Miracema); Morro da Serrinha (Rio de Janeiro); Município de Pinheiral; Bracuí; Mambucada; Morro do Carmo (Município de Angra dos Reis); Município de Barra do Piraí; Município de santo Antônio de Pádua; Fazenda São José da Serra (Município de Valença); todos do Estado do Rio de Janeiro. Municípios de Capivari, Cunha, Guaratinguetá, Lagoinha, Piquete, Piracicaba, São Luís do Paraitinga, Tietê; no Estado de São Paulo. São Mateus, no Espírito santo. Belo Horizonte, em Minas Gerais.

2005

Feira de Caruaru Centro de Estudo de História Municipal/PE (CEHM); TV Asa Branca (Coordenadora Eleny Pinto da Silveira); Equipe de Jornalismo Diário de Pernambuco (Jailson da Paz, jornalista); Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Caruaru (FAFICA);

Fundação de Cultura de Caruaru/PE (Presidente ‐ José Lira Serôdio Filho); Documentação e Patrimônio Cultural (Walmiré Dimerón Porto); Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ, Presidente Fernando Soares Lyra); Fundação Roberto Marinho (Silvia Finguerut, jornalista); FUNTEP (Tadeu Godoy, Diretor Superintendente); Prefeitura Municipal de Caruaru (Prefeito Antônio Geraldo Rodrigues da Silva); Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Capibaribe (Prefeito José Augusto Maia); Prefeitura Municipal de Toritama (Prefeito José Marcelo

Marques de Andrade e Silva); Programa Pós‐graduação em Antropologia/UFPE;Rede Globo Nordeste (Equipe de

2006

131

Ano deaprovação do Registro no Conselho Consultivo do IPHAN.

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Jornalismo Rede TV) ; Bina Mariano (Editora Regional).

Frevo Superintendência da 5ª Regional do IPHAN – PE; Equipe Técnica o IPHAN para capacitação INRC; Prefeitura do Recife; Escritório do Frevo; Arquivo Público Estadual João Emerenciano.

2007

Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto, de Terreiro e Enredo

Superintendência da 6ª Regional do IPHAN – RJ; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; FNFCP; Centro Cultural Cartola; Liga Independente das Escolas de Samba - LIESA; Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro.

2007

Tambor de Crioula do Maranhão

Superintendência da 3ª Regional do IPHAN – MA; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; FNFCP; Prefeitura Municipal de São Luis

2007

Modo artesanal de fazer queijo nas regiões do Serro, da Serra da Canastra e do Salitre.

Registro-Superintendência da 13ª Regional do IPHAN – MG (Seção de Ouro Preto); Equipe Técnica do DPI/IPHAN; Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais. Apoio técnico para Salvaguarda: EMATER – Empresa de Assistência Técnica Rural; IMA – Instituto Mineiro de Agropecuária; UFV – Universidade Federal de Viçosa; UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais; CETEC – Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais; IEPHA /MG; AASER – Associação dos Amigos de Serro.

2008

Ofício dos mestres de capoeira

Registro-Superintendência da 7ª Regional do IPHAN – BA; Superintendência da 6ª Regional do IPHAN – RJ; Superintendência Regional do IPHAN – PE; Equipe Técnica do DPI/IPHAN.

2008

Roda de Capoeira Registro-Superintendência da 7ª Regional do IPHAN – BA; Superintendência da 6ª Regional do IPHAN – RJ; Superintendência Regional do IPHAN – PE; Equipe Técnica do DPI/IPHAN.

2008

Modo de fazer Renda Irlandesa Divina Pastora / SE

Registro-Superintendência do IPHAN em Sergipe; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; CNFCP – Centro Nacional do Foclore e Cultura Popular.

2009

Ofício de Sineiro Registro-Superintendência do IPHAN em Minas Gerais; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; ANUÊNCIA: Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural de Ouro Preto; Museu da Inconfidência; Prefeitura Municipal de Ouro Preto; Diretor do Museu de Arte Sacra de Ouro Preto; Arquidiocese de Mariana; Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais; PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO: 1ª Etapa Fundação de Ensino Superior de São João del-Rey – FUNREI / 2ª Etapa Santa Rosa Bureau Cultural / 3ª Etapa Núcleo Brasileiro de Percussão – NBP. ELABORAÇÃO DO DOSSIÊ: Ana Lúcia de Abreu Gomes.

2009

Toque dos Sinos em Minas Gerais tendo como referência São João del Rey e as cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes.

Registro-Superintendência do IPHAN em Minas Gerais; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; ANUÊNCIA: Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural de Ouro Preto; Museu da Inconfidência; Prefeitura Municipal de Ouro Preto; Diretor do Museu de Arte Sacra de Ouro Preto; Arquidiocese de Mariana; Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais; PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO: 1ª Etapa Fundação de Ensino Superior de São João del-Rey – FUNREI / 2ª Etapa Santa Rosa Bureau Cultural / 3ª Etapa Núcleo Brasileiro de Percussão – NBP. ELABORAÇÃO DO DOSSIÊ: Ana Lúcia de Abreu Gomes. Inicialmente previsto apenas para São João del Rey, conforme oficio de solicitação de registro bem, os estudos são estendidos

2009

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às cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes. Ainda, o parecer técnico enviado ao DPI pede um duplo registro, com a inscrição do Toque dos Sinos como registro das formas de Expressão, e do oficio do sineiro como registro de Saberes

Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis

Registro-Superintendência do IPHAN em Goiás; Equipe Técnica do DPI/IPHAN. ANUÊNCIA: Agência de Cultura Pedro Ludovico – AGEPEL, Pirenópolis; Câmara Municipal de Pirenópolis; Imperadores da Festa do Divino Espírito Santo; PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO: RESTARQ / RESTAURAÇÃO ARQUITETURA E ARTE – NBP. ELABORAÇÃO DO DOSSIÊ: Marina A. M. De Macedo Soares

2010

Festa de Sant' Ana de Caicó

Diocese de Caicó, Paróquia de Sant'Ana de Caicó, Museu do Seridó e Casa de Cultura de Caicó; Zezinho Vídeo, Lydia Brito, Fábrica Murielle, Tarcisio Salustiano Silva, Site Kurtição, SEBRAE-CAICÓ, REDESIST/IE/UFRJ, Associação dos Caminhoneiros de Caicó.

2010

Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão

Livro de Adesão datado de abril de 2007,anterior à solicitação de registro, com 1433 assinaturas. Ainda, conta o pedido de abertura dos estudos para Registro as assinaturas: Superintendente do IPHAN/MA. Secretário Estadual de Cultura do MA; Presidente da Fundação Municipal de Cultura; Comissão Maranhense de Folclore; Grupo de Pesquisa Religião e Cultura Popular UFMA; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque da Baixada; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Zabumba; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Costa-de-mão; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Orquestra; Grupos de bumba-meu-boi alternativos

2011

Fandango Caiçara As entidades que pleitearam o pedido de registro foram: Associação de Cultura Popular Mandicuéra (PR), Associação dos Fandangueiros de Cananéia (SP), Associação dos Fandangueiros do Município de Guaraqueçaba (PR), Associação dos Jovens da Juréia. (SP), Associação Rede Cananéia (SP), Associação Cultural Caburé (RJ), Instituto de Pesquisas Cananéia (SP), Instituto Silo Cultural José Kleber (RJ), Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas em Áreas Úmidas Brasileiras da Universidade de São Paulo (SP). Processo de Registro:envolveu o IPHAN ( DPI; FNFCP; Regional do IPHAN em SP e PR) e Associação Cultural Caburé.

2012

Festa do Divino de Paraty

Abaixo assinado com 38 assinaturas da população de Paraty, através de documento organizado pelo Instituto Histórico e Artístico de Paraty eIPHAN Regional do Rio de Janeiro.

2013

Festa do Senhor do Bonfim

Sem informação. 2013

Quadro 10 - Patrimônios culturais imateriais registrados pelo IPHAN entre 2000 e 2013 nas cidades brasileiras: Agentes envolvidos na patrimonialização.

O IPHAN, as Universidades e a Administração Pública direta ou indireta dos entes

federativos (união, estados e municípios) ocupam um espaço de destaque no

processo de patrimonialização dos bens culturais, e ainda funcionam como os

principais mediadores entre os “agentes do patrimônio”, não podendo ser diferente,

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tendo em vista que o processo de patrimonialização constitui em processo

administrativo do Estado, revestido de uma alta discricionariedade técnica.

Na realidade, a prática de preservação não legitima simplesmente sentidos socialmente atribuídos pela cultura comum e cotidiana a determinados aspectos da cultura, mas põe em prática os critérios, as concepções e os valores que são defendidos por técnicos e especialistas (arquitetos, urbanistas, historiadores, arqueólogos, antropólogos e geógrafos, entre outros). Consequentemente, as decisões das instituições de preservação podem estar em desacordo – e não raramente – com os valores vigentes locais.(ARANTES, 2006, p. 427).

Os “valores locais”,em grande parte envolvem dinâmicas de organização social,

onde relações simbólicas de devoção, crença, ou mesmo hierarquias, constituem a

base da coesão dos grupos. Muitas vezes, não conseguem, portanto, adaptar-se ao

alto grau burocratizado nas relações que se estabelecem entre bens culturais e o

estado preservacionista, através de ONG‟s, por exemplo.

No entanto, é crescente e diversa a participação da sociedade civil organizada na

produção do patrimônio cultural institucionalizado no Brasil, representada por grupos

e associações culturais, associações religiosas, sindicatos, fundações, arquivos

públicos e privados, e museus, em sua maioria. Quanto aos sujeitos da e para a

patrimonialização, cresce o interesse pela história oral dos Mestres e Mestras das

culturas tradicionais como contribuição aos pareceres técnicos, ainda que de forma

hierarquizada. Ou ainda, em sentido oposto, alguns processos são instruídos e

aprovados pelo conselho consultivo com baixa adesão no envolvimento de agentes

não institucionais, ou seja, onde quase não se percebe a atuação dos sujeitos ou

grupos sociais o processo de patrimonialização.

Ainda, percebemos exemplos de uma alta permeabilidade dos sujeitos e grupos

sociais no processo de produção do patrimônio cultural, como é o caso do Registro

do Complexo Cultural do Bumba-meu-boi, onde os proponentes são compostos por

uma Comissão Interinstitucional de Trabalho composta pelo Superintendente do

IPHAN/MA, pelo Secretário Estadual de Cultura do MA;pelo Presidente da Fundação

Municipal de Cultura; pela Comissão Maranhense de Folclore; pelo Grupo de

Pesquisa Religião e Cultura Popular UFMA;pelos Grupos de Bumba-meu boi do

Sotaque da Baixada;pelos Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Zabumba;

pelos Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Costa-de-mão; pelos Grupos de

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Bumba-meu boi do Sotaque de Orquestra; e pelos Grupos de bumba-meu-boi

alternativos, e ainda, consegue estabelecer uma mobilização social com a coleta de

1.433 assinaturas junto a comunidade do Maranhão no “Livro de Adesão”. Tal

axesão por parte da sociedade indica que os processos de mobilização social para a

patrimonialização dos bens culturais é possível e viável enquanto mecanismo

procedimental, revestindo as políticas públicas governamentais de um caráter mais

social e menos centrado nas instituições.

As percepções dos arranjos tensores em torno da patrimonialização dos bens

culturais desdobrado em reflexões cotidianas, no final desse capítulo, exemplificam

muito bem a condição de multiplicidade de agentes tensionando o “dispositivo de

patrimônio”, o que indicia não uma construção de assertivas definidas quanto à

condição dos agentes e grupos sociais na produção do patrimônio, mas as

condições ao exercício da reflexão a cada situação tensora na trajetória da norma de

preservação das culturas populares.

No entanto as atuações dos agentes não institucionais na produção e reprodução

dos bens da cultura popular, patrimônios culturais brasileiros, continuarão a ser os

principais garantidores da continuidade e permanência dos bens considerados

patrimônios. Assim como um Terreiro sem o povo de Santo perde a sua dimensão

social de patrimônio, a Renda Irlandesa de Divina Pastora, realizada fora do seu

contexto de sociabilidade das calçadas das ruas da cidade, também imprime uma

perda da dimensão social existente nos bens culturais patrimônios

A produção do patrimônio cultural nas cidades brasileiras, analisada através da

patrimonialização dos bens das culturas populares, indica uma atuação de múltiplos

agentes, não apenas os institucionais, na produção desses bens patrimônios pelo

IPHAN. Apesar de possuírem inicialmente um papel coadjuvante na produção do

patrimônio, a própria condição de implementação das políticas de proteção e

promoção, dependem dos sujeitos e grupos sociais não institucionais, quer para

manutenção da produção e reprodução do bem patrimônio cultural; quer pela

intenção das políticas em construir um protagonismo dos sujeitos, mesmo que

dentro das propostas e possibilidades institucionais.

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A atuação de diversos agentes no processo de patrimonialização, se estendendo

para além da figura dos proponentes, indica-nos a existência de uma multiplicidade

de sujeitos e grupos sociais que atuam nesse processo. Ainda longe de uma

conclusão acerca da questão, vislumbramos uma multiplicidade de agentes

envolvidos no mesmo bem cultural, ou uma multiplicidade de iguais agentes que

envolveriam os diferentes fazeres. Quanto ao primeiro tomemos por exemplo a Feira

de Caruaru, e quanto ao segundo a Capoeira, indicando possíveis desdobramentos

acerca da questão.

Decerto que a atuação de agentes não institucionais arejaria a construção de

políticas públicas governamentais. No entanto, o papel desses agentes ainda

constitui-se como atores apenas quando solicitados ou convocados, pelo Estado

gestor, no auxilio ao entendimento do Estado sobre sua condição ou não de

patrimônio cultural brasileiro. Ou ainda quando insertos em programas ou ações de

promoção pensadas sob medida para os sujeitos e grupos sociais.

A inexistência do termo audiências públicas em quaisquer dos processos analisados,

mesmo que reuniões semelhantes tenham ocorrido, mas sem a mesma carga

semântica; a inexistência de uma cartografia social - mesmo observando o uso dos

mapas mentais em alguns processos de registros -, na identificação e delimitação

das áreas de proteção aos terreiros ou da construção da paisagem cultural a ser

protegida para o uso das embarcações tradicionais, também não são aplicadas,

indica que os sujeitos e grupos sociais podem e devem contribuir apenas

“tecnicamente”, ou seja, no processo de patrimonialização dos bens das culturas

populares nas cidades brasileiras.

4.1.3 Os territórios e a produção do patrimônio cultural popular

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Os territórios, enquanto espaços materiais de produção e reprodução dos bens das

culturas populares patrimônios, constituem ricos elementos na compreensão da

dimensão social da norma de preservação, uma vez que dialogam diretamente com

os sujeitos ou grupos sociais.

Não apenas pela questão da distribuição espacial, mas também pelas condições

sócio-ambientais que apresentam, ele constituem elementos definidores da

existência ou continuidade de determinados bens patrimônios, tendo em vista a

relação que se estabelece no processo de produção e reprodução destes bens.

Enfatiza-se, portanto, enfatizam a importância de compreender as territorialidades

que envolvem os bens das culturas populares, patrimônios brasileiros.

As relações políticas e simbólicas,segundo (HAESBAERT, 2004, p. 2, estariam

diretamente ligadas à acepção da ideia de território. No entanto, seriam os sujeitos e

as sua relações de poder nesses territórios que estabeleceriam um controle dos

“processos sociais que os compõem” enquanto “continuum”:

Território, assim, em qualquer acepção, tem a ver com poder, mas não apenas ao tradicional “poder político”. Ele diz respeito tanto ao poder no sentido mais concreto, de dominação, quanto ao poder no sentido mais simbólico, de apropriação. [...] A diferença é que, se o espaço social aparece de maneira difusa por toda a sociedade e pode, assim, ser trabalhado de forma genérica, os territórios devem ser distinguidos através dos sujeitos que efetivamente exercem poder, que de fato controlam esse (s) espaço (s) e, consequentemente, os processos sociais que o (s) compõe (m). [...] Enquanto “continuum” dentro de um processo de dominação e/ou apropriação, o território e a territorialização devem ser trabalhados na multiplicidade de suas manifestações – que é também e, sobretudo, multiplicidade de poderes, neles incorporados através dos múltiplos agentes/ sujeitos envolvidos. Assim, devemos primeiramente distinguir os territórios de acordo com os sujeitos que os constroem, sejam eles indivíduos, grupos sociais, o Estado, empresas, instituições como a Igreja etc. As razões do controle social pelo espaço variam conforme a sociedade ou cultura, o grupo e, muitas vezes, com o próprio indivíduo.

Ainda, ao compreendermos a importância da condição social que se estabelece em

um dado território, e dessa importante relação entre o território, os sujeitos e os

grupos sociais produtores e reprodutores dos bens culturais desse território, e a

representação patrimonial construída pelas políticas públicasgovernamentais de

preservação das culturas populares nesses territórios, indicamos a compreensão

dos processos de territorialização, ou seja, das “propriedades necessárias à

construção territorial”, que podem, ou não, coincidir com o projeto dos sujeitos ou

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grupos previamente territorializados. Assim, segundo Haesbaert (2004,p. 4), a

territorialidade “enquanto „imagem‟ ou símbolo de um território, existe e pode inserir-

se eficazmente como uma estratégia político-cultural, mesmo que o território ao qual

se refira não esteja concretamente manifestado”.

Compreendidos os contornos conceituais da ideia de territórios, buscamos ressaltar

os seus principais desdobramentos a partir da norma de preservação das culturas

populares nas cidades brasileiras, tendo por base o universo empírico dos bens

tombados e registrados pelo IPHAN, entre 1988 e 2013.

Nesse sentido, podemos estabelecer importantes reflexõesentre os territórios e a

produção do patrimônio cultural popular no Brasil, que dizem respeito à análise da

distribuição dos bens patrimônios pelo território nacional, sejam eles tombados ou

registrados, o que nos permitiria compreender a capilaridade das políticas públicas

governamentais de preservação do patrimônio cultural no Brasil; ao reconhecimento

de áreas com maior ou menor incidência de patrimonialização de bens culturais

populares, através de uma análise quantitativa de bens distribuídos pelos estados

federados; bem como os arranjos territoriais que se apresentam na norma de

preservação.

Assim, buscando compreender a distribuição dos bens patrimônios pelo território

nacional bem como as áreas com maior ou menor incidência de patrimonialização,

indicamos, de forma espacializada, a distribuição dos bens das culturas populares

brasileirastombados e registrados pelo IPHAN entre 1988 e 2013.

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Mapa 1 - Distribuição espacial dos bens das culturas populares Tombados pelo IPHAN nas cidades brasileiras entre 2000 a 2013

O Tombamento dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras, ocorridos

no IPHAN, entre 1988 e 2013, revelam uma concentração territorial no Nordeste

brasileiro, onde, dos 10 bens tombados neste período, 08 deles, ou seja 80%,

encontram-se nesta região do país. A explicação para esse fenômeno reside no fato

de que 05Terreiros de Candomblé foram tombados neste período, e 04 destes

encontram-se no estado da Bahia e 01 no estado do Maranhão, concentrando

metade do conjunto de bens tombados no período. Ademais, dentre os 04bens

tombados que compunham o rol de embarcações tradicionais brasileiras, 03 destes

também se encontram na região nordeste, mais precisamente no Maranhão, em

Sergipe e na Bahia. O estado da Bahia, ainda, concentraria 05 dos 10 bens

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tombados, ou seja, 50% de todos os bens tombados no período.O Maranhão, com

02 bens tombados, perfazendo 20%, e o estado de Sergipe, com 01 bem tombado,

ou 10% dos bens, comporiam esse arranjo concentrado na Região Nordeste

brasileira.Complementam a distribuição espacial de bens tombados, o tombamento,

no Rio Grande do Sul, Região Sul do país, da Canoa de Pranchão, contribuindo com

mais um bem ou 10% do total de tombamentos, assim com 01 tombamento, da Casa

de Chico Mendes, no Acre, Região Norte do país.

Gráfico 15 - Distribuição espacial dos Bens das culturas populares Tombados pelo IPHAN por regiões brasileiras (2000-2013)

A distribuição geográfica dos bens Registrados pelo IPHAN no mapa abaixo é

interpretada pelo Gráfico 07 que mostra a distribuição dos bens registrados no país

por cada região do território nacional.

Gráfico 7 - Distribuição espacial dos Bens das culturas populares Registrados pelo IPHAN por regiões brasileiras (2000-2013)

80%

0% 0%10% 10%

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

45%

35%

10%5% 5%

Nordeste Sudeste Centro-Oeste Sul Norte

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Já o mapa abaixo indica a distribuição espacial dos bens registrados pelo IPHAN no

período entre 1988 e 2013.

Mapa 2 - Distribuição espacial dos bens das culturas populares Registrados em pelo IPHAN nas cidades brasileiras entre 2000 a 2013

Entre os anos de 2002, ano do primeiro registro de um bem cultural no Brasil e 2013,

recorte temporal limite desta pesquisa, não houve registros de patrimônio imaterial

urbano nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Alagoas,Paraiba, Ceará,

Piauí, Tocantins, Distrito Federal, Amapa, Rondônia, Roraima, Acre e Amazonas.

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Importante demonstrar que, dos 28 bens culturais registrados até 2013, 22 destes

utilizam as cidades e suas redondezas como território de produção ou reprodução do

bem cultural patrimônio, indicando que 78,6% dos bens registrados encontram uma

direta relação com as cidades, dialogando com os modos de viver e criar na urbe.

Mapa 3 - Distribuição espacial dos bens das culturas populares com Registro em andamento pelo IPHAN nas cidades brasileiras até 2013

O Mapa 03 mostra esses 15 bens, indicando-nos que a concentração de pedidos de

registro torna-se mais evidente nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil, e se

espalha por mais estados.

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Ao verificarmos os bens culturais em processo de Registro como patrimônio imaterial

no Brasil, considerando os valores/referências; bem como a localização geográfica

no território nacional, verificou-se uma lista de 15 bens culturais urbanos com

processo de registro em andamento até o ano de 2013.

Assim, buscando compreender as territorialidades construídas em relaçãoaos bens

culturais, percebemos que essas territorialidades podem revelar-se como

homônimas do próprio bem patrimônio, no caso dos Registros de Lugares, como o

Registro da Feira de Caruaru, em Pernambuco, ou ainda, como elementos

constituintes da própria condição de existência do patrimônio, como no caso dos

Terreiros de Candomblé, enquanto territórios de coletividade e sociabilidade do Axé.

Ainda quanto aos territórios e a produção do patrimônio, no Tombamento dos

Terreiros, bem como de quaisquer outros bens culturais materiais imóveis, a aferição

da propriedade para a notificação de tombamento, constitui elemento procedimental

e regulamentado pelo Decreto-Leinº 25 de 1937.

Outra importante consideração em torno da territorialidade construída na norma de

preservação dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras diz respeito à

construção de redes de cidades ou territórios a partir do processo de

patrimonialização de bens culturais desses territórios. Ainda que não previstas em

nossa norma preservacionista, embora bastante usual como política pública –

governamental e social – na Europa, a construção do bem patrimônio, incluindo o

território como um valor ou um bem associado à patrimonialização, tem ganhado

espaço na norma de preservação dos bens culturais no Brasil.

O “controle dessas conexões” em territorialidades, segundoHaesbaert (2004, p. 5),

“nas sociedades „de controle‟ ou „pós-modernas‟[...] leva a que o território passe

gradativamente, de um território mais “zonal” ou de controle de áreas para um

„território-rede‟ ou de controle de redes”,o que nos habilita a um olhar mais crítico à

prática preservacionista e seus desdobramentos na norma de preservação.

Nesse sentido, da formação de territórios-rede patrimoniais, encontramos um

mecanismo indutivo, onde diversas cidades territorializam um patrimônio em torno

do mesmo bem cultural, como seria o caso do Toque dos Sinos nas Cidades

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Mineiras. Inicialmente solicitada apenas para São João del Rey - conforme oficio de

solicitação de registro do bem - os estudos são estendidos às cidades de Ouro

Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e

Tiradentes, sendo que o parecer técnico enviado ao DPI pede um duplo registro,

com a inscrição do Toque dos Sinos como registro das formas de Expressão, e do

Oficio do Sineiro como registro de Saberes. Ou encontramos ainda, um mecanismo

dedutivo que registra o Samba de Roda do Recôncavo Baiano, diluindo a

territorialidade do bem cultural por uma série de cidades em torno de um conceito

geopolítico, econômico, cultural de um território, o recôncavo baiano.

Assim, desde a importância da matéria prima para a construção do bem patrimônio

que apenas se encontra disponível em um dado território, como ocorre com o Ofício

das Paneleiras de Goiabeiras, à Roda de Capoeira, que apresenta uma

territorialidade transitória, os territórios passam a configurar importante elemento no

entendimento da dimensão social da trajetória da norma de preservação das culturas

populares nas cidades brasileiras.

Os territórios do patrimônio cultural são, em sua maioria, territórios urbanos, onde a

complexidade na produção e reprodução dos bens culturais extrapola a apreensão

através da distribuição espacial. Daí a importância que o “dispositivo de patrimônio”

vem assumindo frente às territorialidades patrimonializantes, tendo em vista,

sobretudo,a “multiplicidade de territórios” e/ou a “multiterritorialidade”, conceitos bem

demarcados por Haesbaert (2004, p.10):

A pluralidade de territórios, característica que pode se confundir com a noção aqui proposta de múltiplos territórios, pode estar compreendida de duas formas nos “territórios plurais” (noção mais próxima de nossa concepção de multiterritorialidade) – uma, vista a partir do “território plural” como conjunto justaposto de diversos territórios compreendidos no seu interior, outra, a partir do “território plural” como conjunto superposto de vários territórios (ou territorialidades) cuja abrangência pode ir bem além dos seus limites.

Saberes, Formas de Expressão, Celebrações e Lugares passam a compor o

patrimônio cultural urbano brasileiro, como resultado da patrimonialização de bens

das culturas populares em centros urbanos. Assim, as cidades que “re” criam novas

identidades, a partir da ação de sujeitos e grupos sociais como “novos

patrimônios”,atendem ao cumprimento de uma agenda patrimonialista

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contemporânea, atrelada, sobretudo, à ideia de um marketing cultural como

fenômeno de massa; aos processos de gentrificação de tecidos históricos; e à

criação de um mercado para a economia da cultura, nas cidades (FERNANDES,

1995; FERNANDES, 2006).

4.2 OS TURISMOS ÉTNICOS E O CONSUMO DOS BENS CULTURAIS AFRO-

BRASILEIROS: OS TERREIROS, O ACARAJÉ E O OFÍCIO DAS BAIANAS

Os arranjos tensores que se estabelecem na norma de preservação das culturas

populares nas cidades brasileiras, decerto, ao serem observados em sua dimensão

social, ou seja, onde os sujeitos e grupos sociais tornam-se –ou deveriam tornar-se–

mais visíveis, podem ser analisados, levando em consideração tanto os aspectos

estruturais – regulação e gestão – da norma preservacionista, conforme realizado na

primeira parte deste capítulo, mas também, através das condições onde forças

tensoras se atualizam. A dimensão social na normapode ser vista através de

experiências dinâmicas cotidianas emblemáticas, onde sujeitos e grupos sociais –

produtorese reprodutores dos bens patrimônios –tornam-se sujeitos da

espetacularização do patrimônio cultural.

A agenda patrimonialista contemporânea entende os sujeitos e grupos sociais como

valores agregados ao consumo cultural e a espetacularização do patrimônio

encontra no turismo seu principal agente aliado na composição dos arranjos

tensores que se desdobram sobre o bem cultural patrimônio.

A relação entre patrimônio cultural e turismo no Brasil, de forma mais estreita e

institucional, data da década de 1960, quando das discussões sobre a reabilitação

de cidades históricas, após o encontro realizado pela Organização dos Estados

Americanos, em Quito, no ano de 1967. Assim, pensou-se um modelo de

desenvolvimento econômico atrelado ao patrimônio, tendo por base o turismo como

mecanismo de dinamização econômica e social das áreas históricas centrais

degradadas nas cidades, através da intervenção financiada em grandes

monumentos, visando a instalação de equipamentos culturais, e implantação de uma

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infra-estrutura para o turismo nas áreas de intervenção.No Brasil, esse mecanismo

denominou-se Programa de Cidades Históricas (PCH).

A principal função do PCH seria a possibilidade de gerar recursos para a

conservação dos monumentos e atração de investimentos privados às áreas em

reabilitação, garantindo um processo de sustentabilidade. No Brasil, com o apoio da

UNESCO, o PCH desenvolveu-se entre 1973 e 1983132 e conseguiu articular

instituições federais e estaduais tanto no âmbito da coordenação, quanto da

execução. Além disso, “movimentou, em 10 anos, cerca de US$ 73,8 milhões,

financiando 193 projetos distribuídos em 12 estados brasileiros” (SANT‟ANNA,

1995): Maranhão, Piauí, Alagoas, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,

Pernambuco, Sergipe e Bahia (na região nordeste); eMinas Gerais, Rio de Janeiro e

Espírito Santo (na região sudeste). As principais ações do PCH podem ser

elencadas como: recuperação de imóveis; implantação de infra-estrutura hoteleira

mínima; restauração de monumentos para uso institucional, turístico ou cultural e

promoção do patrimônio local. Ainda, foram investidos recursos no aperfeiçoamento

e capacitação de mão-de-obra e pesquisas. Por fim, sem ter os resultados

esperados com a sua implementação, segundo Sant‟anna (1995133), a principal

herança do PCH para as políticas preservacionistas brasileiras foi o fortalecimento

de instituições e políticas do patrimônio no âmbito estadual, até então diretamente

atreladas ao IPHAN, órgão federal. Nesse sentido, a promoção do turismo cultural e

as políticas de patrimônio tornam-se mais próximas a partir desse período. Segundo

Vicente (2009) essa política fica bem clara após a criação da Empresa Brasileira de

Turismo (EMBRATUR), em 1966, vinculada ao então Ministério da Indústria e do

Comércio. Ela teria sua criação

[...] justificada pela contribuição que o turismo daria à economia nacional, trazendo novas fontes de divisas e empregos, e pela necessidade de haver um órgão que pudesse tratar da ampliação do parque hoteleiro e fiscalizar as agências de viagens. [...] A EMBRATUR também foi responsável por

132

Segundo a pesquisadora Márcia Sant‟Anna, pesquisas novas, como a de Sandra Correia, mostram que durou até 1987. 133

“Entretanto, em termos de promoção de uma conservação sustentada do patrimônio, o saldo do programa foi muito baixo. Áreas como o Pelourinho, por exemplo – que foi uma das mais beneficiadas com recursos do programa – rapidamente retornou ao antigo estado de deterioração. A ideia de que os investimentos do Estado atrairiam o interesse privado e um público permanente não se verificou.” (SANT‟ANNA, 2004a, p.255).

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incentivar a criação de conselhos e empresas de turismo nos estados brasileiros, momento em que surgem empresas de turismo estaduais, como a EMPETUR (1967) e a BAHIATURSA (1968), entre outras, tendo, como um dos seus objetivos, o de coletar e organizar um registro sistemático da entrada de turistas no país e nos estados.

A ideia de um turismo cultural no Brasil, portanto, nasceria com objetivos definidos

pela ideia de um produto cultural brasileiro e, ao longo dos anos que se seguem,

percebemos uma maior apropriação da cultura e do urbano pelo turismo.

Questões como a necessidade de expansão do mercado de turismo, tendo como

resultado o processo de turisficação do espaço (CRUZ, 2002) e a turisficação de

lugares como forma de reaquecimento econômico adequando-os às demandas do

mercado turístico (LUCHIARI, 1998) indicam a necessidade de (re) organização dos

conteúdos dos territórios à conveniência do mercado turístico, incorrendo

numa(re)produção sócio espacial emulada pelo objeto de consumo. (PINHEIRO;

SANTOS, 2012).

A apropriação de áreas centrais para o turismo cultural constituiu-se, ao longo dos

últimos 40 anos, como um dos principais lugares-objeto dos tours nas cidades

brasileiras, devido à sua carga simbólica histórico-social, traduzida nos monumentos

da arquitetura e nos elementos materiais decorativos da paisagem cultural urbana –

obeliscos, fontes, estátuas, entre outros.Nesse sentido, o conceito de turismo

cultural, reiterado pela EMBRATUR134, demonstra-se consoante ao valor

monumental e plural dos bens culturais destinados ao consumo turístico:

Aquele que se pratica para satisfazer o desejo de emoções artísticas e informação cultural, por meio da visita a momentos históricos ou relacionados a obras de arte, relíquias, antiguidades, concertos, musicais, museus, pinacotecas.

No entanto, o conceito institucional de Turismo cultural para a Política Nacional de

Turismo, veiculado pelo Ministério do Turismo através do documento “Turismo

cultural: orientações básicas” (BRASIL, 2008b)demonstra que outras dimensões das

cidades brasileiras acabariam se constituindo em “atividades

134

EMBRATUR. Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil. Disponível em: <http://www.embratur.gov.br/>. Acesso em: 6 jun. 2015

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turísticas”,relacionando-se “às vivências” agora possíveis de serem empreendidas

na dimensão imaterial do patrimônio cultural.

Turismo Cultural compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura. (BRASIL, 2008b, p. 60)

Ainda que o patrimônio cultural torne-se empreendimento turístico diversificado, a

lógica desenvolvimentista priorizou, nas ações institucionais de preservação nas

cidades brasileiras, ações de conservação e restauração sobre os monumentos de

“pedra e cal”. Nesse sentido, programas como o “Monumenta” possuía toda a sua

política de restauração e requalificação de monumentos e áreas/centros históricos

atrelada ao desenvolvimento econômico e social, e tinha no turismo um dos

principais instrumentos para o desejado desenvolvimento “sustentável”.

Em meados da década de 1990, com a denominada “crise do setor patrimônio” e

com a então bem sucedida experiência de requalificação em tecidos históricos na

cidade de Quito, em 1994, ajustes gestores entre o IPHAN e um agente financiador

para políticas de reabilitação de centros históricos e monumentos resultaria no

programa “Monumenta”, através de um contrato de empréstimo entre a República

Federativa do Brasil e o Banco Interamericano de Desenvolvimento BID, assinado

em 04 de dezembro de 1999.

O IPHAN estava disposto a construir uma política pública para os bens culturais

urbanos alicerçados no desenvolvimento “sustentável” e “integrado”,tanto com

recursos provenientes de aporte privado em investimentos locais, dos demais entes

federativos (estados e municípios) e, sobretudo, através de empréstimos com o BID

– Banco Interamericano de Desenvolvimento. A sustentabilidade das ações com

parcerias que promovessem ou renovassem o fluxo de investimento inicial do estado

(empréstimo) nas áreas do projeto, tornando aprazíveis as condições geradoras de

parceiros dispostos a investir, constituiriam as bases dos projetos. Assim, a possível

sustentabilidade do programa e suas ações foram atreladas à atração de parceiros,

desde a construção até a implementação de ações capazes de promover a

dinamização econômica e renovação dos investimentos privados nas áreas de

Projeto. O custo estimado do Programa Monumenta foi de US$ 125 milhões, sendo

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metade do montante financiado pelo BID, e a outra metade através de contrapartida

nacional - União 24%, Estados e Municípios 16%, e 10% para o setor privado.

Quanto a esse último, sua contribuição poderia ocorrer sob a forma de doações,

contratação de obras ou serviços, ou por ações de patrocínio através de incentivos

fiscais (BRASIL, 2001). O programa Monumenta possuiu um enfoque predominante

no turismo cultural, em ações nos centros antigos das cidades, conseguindo

articular, de certo modo, ações integradas entre monumentos e cidades.Destaca-se

a articulação empreendida com outros Ministérios na gestão pública brasileira, como

o Ministério do Turismo e o Ministério das Cidades, conseguindo integrar ações de

restauração de mobiliário com requalificação urbana. Tem seu término em 2010,

com o saldo de intervenção em 32 cidades brasileiras.

Atualmente, na esteira do extinto programa Monumenta, um novo projeto

desenvolvimentista vem à tona desde 2009, denominado de PAC Cidades

Históricas, novamente priorizando o patrimônio cultural material e monumental das

cidades brasileiras.

Atrelado ao Programa de Aceleração de Crescimento, o PAC programa criado nas

duas últimas gestões do Parido dos Trabalhadores - PT, estrutura suas ações sob os

ideais desenvolvimentistas: projetos de infra estrutura por todo o território nacional,

atrelado à geração de emprego e renda e consequente aumento de postos de

trabalho e acesso ao consumo pela massa trabalhadora empregada. Denominados

como PAC 1, teoricamente concluso oucom demandas projetadas para o PAC 2, as

cidades históricas brasileiras acabariam por ser contempladas nessa segunda etapa

do projeto.

O PAC Cidades Históricas consiste em ações sobre 44 cidades brasileiras, com

recursos oriundos do Ministério da Cultura/IPHAN, bem como investimentos de

outros Ministérios como o Ministério das Cidades e Ministério do Turismo, que

complementariam as ações estruturantes do PAC, conjuntamente aos investimentos

possíveis de serem feitos pelos estados e municípios contemplados pelo programa.

Inicialmente, são anunciados no documento PAC Cidades Históricas: patrimônio,

desenvolvimento e cidadaniainvestimentos deU$91 milhões em 2009, com uma

perspectiva de U$ 126 milhões previstos para 2010 na Lei de Diretrizes

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Orçamentárias. Na etapa da publicização e adesão ao PAC Cidades Históricas,em

2009, 173 cidades históricas brasileiras teriam atendido à primeira chamada pública,

discutindo as linhas básicas dos seus Planos de Ação juntamente ao IPHAN.

Atualmente, segundo informações do site do IPHAN, 44 cidades foram

contempladas em seus planos de ações, num montante total de U$ 937, 26 milhões

em investimento público.

Atualmente, a Política Nacional de Turismo no Brasil apresenta o seguinte

entendimento sobre o patrimônio cultural

O patrimônio cultural, mais do que atrativo turístico, é fator de identidade cultural e de memória das comunidades, fonte que as remete a uma cultura partilhada, a experiências vividas, a sua identidade cultural e, como tal, deve ter seu sentido respeitado. A opção pelo desenvolvimento turístico deve conciliar-se aos objetivos de manutenção do patrimônio, do uso cotidiano dos bens culturais e da valorização das identidades culturais locais. O uso turístico deve sempre atuar no sentido do fortalecimento das culturas. Assim, a atividade turística é incentivada como estratégia de preservação do patrimônio, em função da promoção de seu valor econômico. (BRASIL, 2008b, p. 15-16).

Percebemos um crescente olhar da academia para o chamado turismo cultural e,

dentre os vários conceitos possíveis e encontrados, as ideias desenvolvidas por

(QUEIROZ, 2009), parecem contribuir ao nosso debate:

Dentre os aspectos relevantes encontrados nas definições do Turismo Cultural, vale ainda destacar: o entendimento desse turismo como um meio de proporcionar o encontro de culturas e de estabelecer relações com valores adquiridos; uma tendência, cada vez maior, em buscar a experiência, a interação – o turista não quer ser apenas um expectador passivo, procura relacionar-se com o contexto, compreendê-lo, vivenciá-lo –, embora cada experiência seja única para cada pessoa; a vivência passa a ser contextualizada, inserida em uma realidade da qual o turista também participa. Busca- se uma rica interação entre as comunidades com apelo turístico aos seus visitantes.

As experiências sensoriais em torno do bem cultural popular nas cidades brasileiras,

embora discutidas anteriormente, retomam a sua “visibilidade” sob outros contextos,

ou “enunciados”, operando no campo das (com)vivências, interações e experiências.

O expectador da cultura monumental deseja a ampliação das relações com os bens

culturais para além da contemplação monumental, e encontra, na cultura cotidiana,

na cultura do povo, em sua maioria reproduzida em uma dimensão intangível, o

universo sensorial que desperta o interesse pelos espaços e lugares.

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Nesse contexto, os denominados Turismos Étnicos têm surgido como forma de

promoção de determinados bens culturais, atrelando as ideias de experiências e

convivências, como mecanismo para geração de renda local.

A ideia de turismo étnico, sobretudo, é bem desenvolvida nos desdobramentos

operacionais em torno do conceito de turismo cultural no Ministério do Turismo, e

insere-se em um contexto de turismo cultural bastante amplo, conceitual e

reflexivamente:

Convém ressaltar que os deslocamentos motivados por interesses religiosos, místicos, esotéricos, cívicos e étnicos são aqui entendidos como recortes no âmbito do Turismo Cultural e podem constituir outros segmentos para fins específicos: Turismo Cívico, Turismo Religioso, Turismo Místico e Esotérico e Turismo Étnico. O Turismo Gastronômico, entre outros, pode também instituir-se no âmbito do Turismo Cultural, desde que preservados os princípios da tipicidade e identidade. (BRASIL, 2008b, p. 18).

Assim, para a EMBRATUR, turismo étnico é a atividade turística destinada a

favorecer a criação de correntes turísticas específicas para conhecer, conviver e

integrar-se com as diferentes etnias formadoras da naçãobrasileira. “Assim sendo, o

turismo étnico é uma subdivisão do turismo cultural ligada à motivação de conhecer

características de etnias específicas” (BRASIL, 2008b, p. 6).

Diferentemente das políticas culturais de promoção do bem cultural, onde, apesar de

economia também ser reconhecida como fator importante ao processo sustentável

de produção e reprodução dos bens culturais - sobretudo aqueles insertos numa

dinâmica viva -, as políticas turísticas de promoção dos bens culturais populares nas

cidades brasileiras estruturam-se sob a lógica do mercado turístico, onde entre

diversos elementos, a chamada capacidade empreendedora ainda constitui

elemento primordial ao investimento e manutenção de quaisquer produtos do

mercado capitalista. Nesse sentido, a ideia de empreendedorismo étnico consegue

demonstrar o potencial de mercado que a etnicidade pode oferecer enquanto bem

cultural que gera consumo e lucro.

Pode-se dizer que o empreendedorismo étnico é caracterizado pela utilização das características de uma etnia para gerar novos negócios, produtos ou serviços capazes de atrair recursos para o desenvolvimento local sustentável. Logicamente, o empreendedorismo étnico está relacionado à existência de empreendedores étnicos. O uso eficaz destes recursos étnicos é capaz de fomentar a criação e apoiar a sobrevivência de

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iniciativas de negócios na comunidade, bem como a construção e a manutenção de mecanismos de cooperação (LEMOS et al, 2008).

O documento “Turismo cultural: orientações básicas”, elaborado pelo Ministério do

Turismo, através da Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, define muito bem

esse potencial empreendedor da etnicidade.

[...] o Turismo Étnico constitui-se das atividades turísticas decorrentes da vivência de experiências autênticas em contatos diretos com os modos de vida e a identidade de grupos étnicos. Envolve as comunidades representativas dos processos imigratórios europeus e asiáticos, as comunidades indígenas, as comunidades quilombolas e outros grupos sociais que preservam seus legados étnicos como valores norteadores em seu modo de vida. (BRASIL, 2008b).

Como desdobramento de uma ação promotora das políticas preservacionistas à

cultura popular nas cidades brasileiras, temos assistido de forma sistemática,

àconstrução institucional de um empreendedorismo voltado ao turismo étnico no

Brasil, muito mais próximo das searas dos campos institucionais do turismo e das

políticas de igualdade racial, e cada vez mais distantes das orientações

preservacionistas previstas no processo de patrimonialização desses bens culturais.

O reconhecimento mundial do nosso patrimônio cultural indígena, bem como do seu

processo de produção e reprodutibilidade, independentes do cotidiano urbano, já

constitui alvo de políticas de incentivo a um turismo étnico. Apesar de a cultura

indígena possuir um considerável potencial de patrimonialização, não possui, numa

perspectiva econômica capitalista, o grau necessário de empreendedorismo étnico

ao processo de tensão e “captura” desses bens culturais. Nesse sentido, os

Turismos étnicos euro-brasileiros, concentrados no sul do país, que valorizam o

resgate as tradições italianas, alemãs, polonesas, em suas pequenas vilas, possuem

um maior grau de empreendedorismo étnico, em detrimento de um potencial

patrimonializante, ou seja, conseguem atender a lógica do consumo cultural, sem, no

entanto, apelar ou precisar que esses bens culturais tornem-se patrimônios

nacionais. O turismo étnico afro-brasileiro consegue atender tanto à demanda de um

alto potencial patrimonializante, bem como um alto grau de empreendedorismo

étnico, ocupando, portanto, um espaço de destaque enquanto bem de consumo

cultural.

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Como o “turismo de raízes” refere-se a atividades, experiências e desejos de pessoas e grupos, uma outra questão que se levanta nessa arena turística diz respeito aos agentes sociais nela envolvidos (locais, nacionais e internacionais) e as relações de poder que nela se estabelecem, uma vez que a estruturação de um mercado especialmente voltado para esse turismo inclui, hoje, uma rede de agentes diversos, com interesses diferenciados e muitas vezes conflituosos. O “Turismo de Raízes Africanas” ou “Étnico (Afro)”, como tem sido denominado pelos organismos gestores da atividade na Bahia e em nível federal (MTur), é, portanto, um campo de investigação recente e complexo que envolve as especificidades culturais, históricas e políticas de cada local de destino. (QUEIROZ, 2009, p.6).

Nesse sentido, são muito importantes as considerações de Queiroz (2009, p. 6),

quanto à construção da nossa atual política de turismo étnico afro-brasileiro, na qual

“a mercantilização de aspectos étnicos culturais torna-se um diferencial tanto para os mercados como para as estratégias turísticas públicas na perspectiva do desenvolvimento[...].Apontando nessa direção como novas alternativas e possibilidades, esse fenômeno tem se refletido também na oferta de um subsegmento do Turismo Cultural, de natureza peculiar – de herança, de herança cultural, de legado, étnico, de raízes –, atraindo a atenção do turismo em vários lugares do mundo, inclusive na Bahia., como uma alternativa estratégica para gerar riqueza, empregos e distribuição de renda, especialmente para a população afro descendente local.”

Buscando observar os enunciados em torno da construção de uma política de

promoção da cultura nos moldes do empreendedorismo e do mercado do turismo

étnico no Brasil, interessa-nos refletir sobre tal prática como mecanismo de

promoção dos Terreiros de Candomblé enquanto bens culturais, uma vez que os

templos de culto-afro brasileiros configuram-se como principal bem cultural

identitário afro-brasileiro na norma de preservação dos bens das culturais brasileiros.

A Reportagem “Experiências exitosas do turismo étnico são apresentados na

SEPROMI”, datada de 27 de julho de 2015, vinculada no site da Secretaria135,

divulgava, junto à Comissão gestora da Política Estadual de Fomento ao

Empreendedorismo de Negros e Mulheres, o sucesso do Turismo Étnico136, a

135

Disponível em: <http://www.igualdaderacial.ba.gov.br/2015/07/experiencias-exitosas-do-turismo-etnico-sao-apresentadas-na-sepromi/>. Acesso em: 5 ago. 2015. 136

Comissão gestora da Política Estadual de Fomento ao Empreendedorismo de Negros e Mulheres, instituída pela Lei 13.208/14 Não há a presença da Secretaria de Cultura. Coordenado pela (SEPROMI), o comitê é composto ainda por representantes das Secretarias estaduais de Políticas para Mulheres (SPM), de Planejamento (SEPLAN), da Fazenda (SEFAZ) e de Desenvolvimento Econômico (SDE). Também integram o grupo as secretarias do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (SETRE), de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS) e da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Reforma Agrária, Pesca e Aquicultura (SEAGRI)

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importância que essa política teria para a promoção dos Terreiros de Candomblé, na

Bahia.

O turismo étnico tem atraído diversos visitantes à Bahia para conhecer o candomblé, a culinária ancestral, a capoeira e os quilombos, entre outros segmentos tradicionais. Além de revelar sua importância cultural para o mundo, pode ser uma oportunidade para empreender [...] Já o candomblé é a segunda demanda do Disque Bahia Turismo. A representante da pasta contou a experiência desenvolvida na Casa de Oxumarê, na capital baiana, com a qualificação de jovens para receptivo, que pode ser ampliada para outros terreiros. Também falou das oportunidades nas comunidades quilombolas, como foi feito em Santiago do Iguape, a partir de capacitação, promoção internacional, sinalização e infra-estrutura.Tâmara Azevedo, que falou pela Secretaria de Turismo (SETUR) “Eles vêm para imersão cultural; querem levar tudo que é de referência”, concluiu. Para o coordenador de Promoção da Igualdade Racial da SEPROMI, Sérgio São Bernardo, o desafio é pensar políticas públicas, em conjunto com os demais órgãos governamentais e a sociedade civil, direcionadas ao empreendedorismo de negros e mulheres sem perder “a identidade e a essência de cada segmento

137

Percebemos que a promoção dos terreiros de candomblé, representados

porexemplares considerados patrimônios culturais brasileiros, não é estabelecida

pelo Ministério da Cultura, órgão responsável pela promoção do patrimônio, mas

dentro das ações da SEPROMI - Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade

Racial, através do “Programa de Ação do Turismo Étnico Afro da Bahia”,

desenvolvido desde 2007, respaldado e financiado pelo Ministério do Turismo, tendo

por finalidade inserir os Terreiros de Candomblé nos roteiros turísticos de Salvador.

[...] este programa pretende captar o público afro-americano, gerar emprego e renda, construir home-stays - Unidades de hospedagem com dois leitos cada, que serão instaladas anexas a centros culturais e Terreiros de Candomblé de Salvador e do Recôncavo baiano- e tem como produto principal a criação de roteiros de visitação aos Terreiros de Candomblé. [...] Até o referido programa, os Terreiros podem ser visitados de acordo com o calendário festivo de cada casa, não há cobranças na entrada. Porém algumas operadoras de turismo já divulgam esse culto como atrativo turístico cobrando por essa visitação e normalmente não repassam nenhum valor para essas casas. Ainda não se sabe qual a dinâmica deste processo após a interferência do Estado, com uma divulgação massiva desses atrativos.(QUEIROZ, 2009, p.6).

Ainda segundoQueiroz (2009), a atuação dessa política também serviria para

desconstruir uma ideia equivocada em torno da possibilidade do uso dos Terreiros

de Candomblé à atividade turística. Essa atuação, assim, “pode ser melhor

137

Disponível em: <http://www.igualdaderacial.ba.gov.br/2015/07/experiencias-exitosas-do-turismo-etnico-sao-apresentadas-na-sepromi/>. Acesso em: 5 ago. 2015.

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compreendida se houver um treinamento dos agentes diretos do trade turístico para

desmitificar alguns pré-conceitos tão enraizados na memória coletiva dos povos” ;

procurando evidenciar os Terreiros situados nas periferias de Salvador, em

detrimento dos Terreiros mais centrais “com melhor acesso aos visitantes”.

Aquele que conhece um candomblé, menos ou mais atrativo ao mercado turístico,

decerto perceberá a importância que esse espaço exerce sobre seus filhos, seus

visitantes, seus expectadores. As músicas, danças, roupas, decoração, cores,

comidas, dialogam sensorial e experimentalmente com o humano, imprimindo, por

vezes, vivências individuais que extrapolam a dimensão da cultura, da

representação humana, estabelecendo não apenas respeito, mas também

curiosidade à condição “exótica” ou “espetacular”, dessas experiências sociais

vividas no axé.

Importa sublinhar, que explorar todo esse universo simbólico afro-brasileiro

representado no e pelo Candomblé, como forma de promoção de todo o potencial da

cultura afro-brasileira, no Brasil, e no mundo, tem se tornado uma ação dos próprios

sujeitos do e no Axé. Atualmente, por exemplo, “blocos de carnaval afro-baianos”

reconhecem, na cultura afro-brasileira, precioso dispositivo de poder, que tende a se

comportar de maneiras bem distintas. Blocos Afro-baianos como o Ilê Aye, o

Bankoma e o Malê de Balê, são exemplos do reconhecimento do potencial político e

social que a cultura afro-brasileira pode promover, diferentemente do caráter

marcadamente mercadológico de outros blocos que utilizam a cultura afro-brasileira

como referência simbólica, como o Cortejo Afro ou mesmo a Timbalada.

Percebemos, por fim, que o Terreiro extrapola o seu espaço físico e se derrama por

toda a cidade do Salvador, há muito.

A Capital da Bahia, Salvador, notoriamente, constitui-se como um dos principais territórios de matriz africana, no mundo, não só pela sua expressiva densidade populacional negra, mas, sobretudo, pelos significativos elementos simbólico-culturais que delineiam a identidade desta cidade. [...] Os desdobramentos desses elementos simbólico-culturais africanos podem ser percebidos através do rico acervo cultural que delineia a Cidade da Baía: sons, cores, cheiros, danças, vocabulários, vestes, credos, festas, todos, traduzidos numa perspectiva geográfica e social por quase todo território urbano. [...] Os Terreiros de Candomblé, construção baiana, para não afirmar soteropolitana, acabaram, quer pela sua singularidade, ou, excepcionalidade – reunião resistente da imaterialidade e materialidade de uma cultura afro-brasileira -, constituindo-se num dos mais

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ricos elementos simbólico-culturais-africanos-brasileiros da Cidade do Salvador (OLIVEIRA, A., 2010, p. 92-93).

A despeito de um crescente processo de espetacularização dos terreiros de

candomblé na Bahia (Salvador e Recôncavo), sobretudo diante do fortalecimento

institucional pela SEPROMI do turismo étnico nos templos de culto afro-brasileiros

soteropolitanos, em nota recente (11 de agosto de 2015), o Terreiro de Oxumarê,

atualmente situado próximo à Avenida Vasco da Gama, Casa de grande respeito na

cidade, patrimônio tombado pelo IPHAN, em nota pública, se coloca veementemente

contrário ao processo de expropriação e espetacularização em torno dos “Registros

Audiovisuais de Orixás e Cerimônias”.

O Conselho Religioso da Casa de Oxumarê, organismo que cumpre o papel de assessorar o Babalorixá e a comunidade sobre assuntos da tradição religiosa, cultural e social, vem a público lamentar que algumas Casas descendentes do Terreiro de Oxumarê desconsiderem a orientação de não autorizar a produção de imagens e vídeos de Orixás e cerimônias.

A Casa de Oxumarê é contrária à produção destas imagens e sua divulgação na internet e outros meios de comunicação social, visto que as mesmas expõem a mística da incorporação e dos rituais. Esta acontece no plano espiritual e não pode ser percebida pelas lentes de uma câmera, podendo somente ser sentida pelas pessoas presentes nas cerimônias e pela ótica da espiritualidade. A apresentação destas imagens remete a incógnitas muitas vezes mal interpretadas pelos olhos das pessoas que não tem a percepção espiritual, deixando margem para se tornarem alvo de especulações contraditórias e profanas.

Apesar de admitir que existem opiniões divergentes sobre o assunto, é da profunda convicção deste Conselho que esta orientação precisa ser observada por todas as Casas descendentes para que seja mantida a unanimidade e coerência enquanto família de axé. Atender a esta orientação representa respeito à tradição e hierarquia religiosa da Casa de Oxumarê e não deve ser entendida como uma critica pessoal ou particular a uma determinada Casa.

A Casa de Oxumarê conclama a todos, em união e convicção nos ensinamentos ancestrais, a ter comprometimento com a defesa das tradições do candomblé e salvaguarda dos mistérios da nossa fé.

138

Assim, os Terreiros vêm sendo utilizados, para a promoção turística da Bahia e de

Salvador, em especial, incorrendo em um dos mais perigosos desdobramentos da

mercantilização da cultura: a padronização do bem cultural ao consumo turístico,

138

CASA de Oxumarê. Instituição Religiosa. Centro Religioso. Nota Pública Sobre Registros Audiovisuais de Orixás e Cerimônias. Facebook: página pública. Disponível em: <https://www.facebook.com/casadeoxumare?fref=nf>. Acesso em: 11 ago. 2015.

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diante de um dos bens da cultura popular brasileira mais plural em suas dimensões

simbólica, social e política.

No entanto, como desdobramentos de uma política institucional brasileira de

proteção e preservação dos bens da cultura popular, os Terreiros de Candomblé

constituem-se como os bens culturais que, parece, mais tenham reconhecido o seu

poder tensionador nessas políticas preservacionistas. Daí a importância do seu

reconhecimento como cultura tradicional popular afro-brasileira, concebida, cultuada

e evocada na ideia da tradição, da oralidade, da sociabilidade da família de santo,

do acolhimento da população e das dimensões políticas e sociais que esse bem,

patrimônio da cultura popular brasileira, representa.

Outros interesses, muito bem representados por aqueles do mercado de turismo

cultural no Brasil, expropriam, sobretudo, as dimensões simbólicas desses

patrimônios culturais, tornando-os verdadeiros espetáculos, anunciados como um

atrativo que agrega valor ao turismo na cidade.Quando se olha para a cidade de

Salvador, como destino turístico, esse processo é sentido conforme o

anúncio/reportagem de um blog de viagens:

CANDOMBLÉ #10 de 28 atrativos culturais em Salvador. As melhores ocasiões para conhecer os terreiros de candomblé de Salvador são durante as festas dedicadas aos orixás, que acontecem geralmente entre agosto e dezembro. Tombados pelo patrimônio histórico, os terreiros perpetuaram, além da religiosidade, a música, a culinária e as danças típicas africanas trazidas pelos escravos.

139

Os anúncios de pacotes turísticos indicam o tom da espetacularização do turismo

étnico-cultural e a possibilidade de cesso ao bem cultural e a seu consumo.

Salvador: ao encontro do sincretismo e dos orixás. O que torna Salvador diferente de qualquer outro destino no Brasil é o caldo de cultura afro-baiana. Da comida de rua à música, às bijuterias, à cor que de se deve vestir na sexta feira (branco!), a vida na cidade é fortemente influenciada pelo Candomblé e pelo sincretismo [...]. No seu hotel você deve encontrar panfletos oferecendo idas a terreiros de candomblé. Nunca fui dessa maneira, e intuo que a possibilidade de acabar numa arapuca-pra-turistas

139

CANDOMBLÉ #10 de 28 atrativos culturais em Salvador. Disponível em: <http://www.feriasbrasil.com.br/ba/salvador/candomble.cfm>. Acesso em: 05 ago. 2015.

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seja grande. O jeito de fazer uma visita ou participar de uma celebração autêntica num terreiro é por meio de algum frequentador.

140

Ou até mesmo o consumo cultural sem acesso ao bem:

Mas você não precisa ir a um terreiro para entrar em contato com esse universo. O sincretismo está na rua, e suas festas e cerimônias são abertas a quem quiser participar. E os rituais para os orixás nos terreiros servem como base para o belíssimo espetáculo que o Balé Folclórico da Bahia encena nas noites de segunda a sábado num teatro do Pelourinho

141

Em um suposto roteiro cultural para Salvador, proposto pelo UOL Viagem, mais uma

experiência em torno do consumo do bem do cultural, sem o acesso a ele é

indicada:

Fora a semana do Carnaval, quando a ênfase claramente está no presente, a cidade de Salvador parece quase obcecada pelo seu passado africano. Em nenhum outro lugar no Brasil a profunda influência de três séculos e meio de escravidão é tão óbvia, da cor da pele das pessoas à cor de seus alimentos (frequentemente laranja, devido ao uso ubíquo do óleo de dendê); da profunda influência das tradições religiosas de origem africana do candomblé aos ritmos musicais do axé e do samba. Perto do Largo da Cira fica o adorável restaurante baiano XXXX XXXXXXXXXX 71-XXXX-XXXX; (www.XXXXXXXXXX.com.br). O interior é decorado como um terreiro de candomblé (onde as cerimônias religiosas são realizadas), com telhado de palha, paredes brancas e toques de cor distribuídos de forma parcimoniosa. XXXXX XXXXXX, a proprietária, encheu o cardápio com pratos tradicionais com influência africana que estavam sendo esquecidos, como o arroz-de-hauçá), uma porção de arroz de coco, charque desfiado e molho de camarão defumado com azeite dendê e cebola

142.

140

Salvador: ao encontro do sincretismo e dos orixás. In: Blog Viaje na Viagem.Disponível em: <http://www.viajenaviagem.com/2014/01/salvador-passeios-sincretismo-orixas>. Acesso em: 5 de jul. 2015 141

Ibidem. 142

36 Horas em Salvador: Vida noturna, candomblé e acarajé na capital da Bahia. UOL Viagem. Disponível em: <http://viagem.uol.com.br/noticias/2009/04/26/36-horas-em-salvador-vida-noturna-candomble-e-acaraje-na-capital-da-bahia.htm>. Acesso em:11 jul. 2015.

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Figura 3 -“Baiana prepara acarajé na região do Rio Vermelho”. Fonte: http://viagem.uol.com.br

As experiências em torno do consumo dos bens culturais afro-brasileiros não se

restringem apenas aos Terreiros de Candomblé, e alcançam, sobretudo, os

elementos que extrapolaram os terreiros, e ganharam as ruas, representados pelas

Baianas de acarajé e seu ofício de vender comidas em um tabuleiro.

Nesse sentido, a despeito do reconhecimento de toda uma ancestralidade negra na

Cidade da Baía, um antigo ofício, hoje patrimônio imaterial com Registro no Livro

dos Saberes, o Ofício das Baianas de Acarajé, constituiu-se em um importante

arranjo tensor na trajetória da norma de preservação das culturas populares nas

cidades brasileiras.

Longe de uma apresentação etnográfica, o acarajé constitui-se como uma comida

oferecida a Oyá, orixá dos ventos, raios e trovões. A comida de Terreiro ganharia as

ruas de Salvador de forma mais recorrente ainda no século XIX, através da venda

itinerante dessa iguaria pelas Baianas que mercavam, carregando acima do seu

torço, um balaio contendo o bolinho de feijão frito no azeite de dendê.

A prática da venda do acarajé nas ruas da cidade de Salvador constituiu-se ao longo

de gerações em um ofício realizadas por mulheres negras, iniciadas no Candomblé,

constituindo o sustento de incontáveis famílias.

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A importância deste ofício na composição da identidade cultural nacional alçaria o

ofício das Baianas de Acarajé ao status de patrimônio cultural imaterial brasileiro, o

que acenaria para uma composição tensora em torno do “dispositivo de patrimônio”,

envolvendo os sujeitos produtores do oficio, as baianas de acarajé e um possível

plano de salvaguarda, que passariam a indicar arranjos operativos para um ofício

espontâneo. Ou, mesmo, requerer o resguardo às composições “tradicionais” do

ofício, aproximando-o de sua condição de comida de santo, em detrimento de mais

uma comida de rua, implicando em atrito entre as próprias baianas de aracajé e a

reprodutibilidade deste ofício.

SegundoMartins (2013), o IPHAN escolheria a Associação de Baianas de Acarajé,

Mingaus, Receptivos e Similares do Estado da Bahia (ABAM) como entidade civil

para gerir o plano de salvaguarda, pela prerrogativa que seria dada às associações

com vínculos ou constituídas pelos sujeitos e grupos sociais detentores dos bens

culturais registrados pelo IPHAN.

Formada em 1992, a ABAM surge em um contexto de crescimento deste ofício no estado. Esta década coincide com um crescimento vertiginoso do turismo em Salvador, e com uma valorização deste ofício como atividade de mercado até então de uso exclusivo de mulheres, muitas vezes, em estreita relação com os cultos afro-brasileiros. Neste cenário polêmicas são formadas sobre a venda de acarajé por homens e por evangélicos que comercializavam o „acarajé de Jesus‟, numa clara tentativa de desvinculá-lo de suas raízes afro-brasileiras. (MARTINS, 2013, p. 41).

Assim, diante dos embates que se colocam, a ABAM estabeleceria uma

obrigatoriedade no uso de indumentária e regulamentação para os tabuleiros.

Percebe-se, portanto, que sobre um oficio popular centenário, recairia uma

normatização municipal de vigilância sanitária apoiada pela ABAM. “O tabuleiro e

suas vestimentas foram devidamente normatizados” (MARTINS, 2013)

Em 2005 após o registro, a ABAM começa a se utilizar da categoria de patrimônio [...] Acionam a sua titularidade a todo momento buscando legitimar seus argumentos e posições. O registro para estas baianas significou muito mais um recurso teórico a ser utilizado em processos de negociação de suas demandas do que propriamente a possibilidade de resguardar seus aspectos simbólicos. A categoria de patrimônio permite diversas apropriações[...] São demandas reais e concretas, que envolvem regulamentação trabalhista, acesso a bens e serviços, condições mais dignas de trabalho, enfim questões que muitas vezes extrapolam a jurisdição do IPHAN. (MARTINS, 2013, p.43).

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Ainda em 2011, ao tempo que a ABAM teria a inscrição de 2 mil baianas, a SESP –

Secretaria de Serviços Públicos da Prefeitura Municipal de Salvador, indicava a

existência de, pelo menos, 4 mil baianas registradas na Prefeitura, o que indicaria

uma condição conflitante entre os próprios sujeitos, as baianas de acarajé e a

organização social que os representaria, a ABAM.

Segundo MACHADO (2014, 242p) a proteção do Oficio das Baianas pelo IPHAN,

pelo Registro, “vincula a ação estatal no sentido de que esse instrumento jurídico

legitima a sua participação efetiva nos processos de discussão que envolve o bem

cultural tutelado”, garantindo sua condição de destaque decisório nas ações ou

projetos de salvaguardas, para o ofício protegido.

Ainda MACHADO (2014) ressalta a necessidade de uma gestão do Ponto de

Cultura entre IPHAN – ABAM – solicitada pela Associação - em 2009, e da

impossibilidade de gestão autônoma do seu memorial em 2010, como ressalta Tozi

(2010. 2012. apud MACHADO (2014, 244p)

“Foi nesse contexto que o DPI apontou a necessidade de a ABAM informar e solicitar, formalmente, apoio técnico à Superintendência do Iphan na Bahia, bem como requerer autorização à Prefeitura de Salvador para a realização das obras, já que o imóvel é bem público, de propriedade da municipalidade. Não houve, contudo, a obediência à necessidade de formalização do pedido de apoio e intervenção ao IPHAN, como indicado pelo DPI, o que somente se deu no mês de abril de 2011, quando a ABAM encaminhou e-mail, noticiando o fechamento do espaço e a interrupção das atividades do Memorial”

Ainda, segundo MACHADO (2014, 244p), é nesse contexto de enfraquecimento

gestor da Associação, que uma empresa de refrigerantes se aproxima da ABAM

estabelecendo uma proposta comercial para “reforma e adequação do memorial” em

troca de propaganda publicitária deste refrigerante em 150 pontos de venda de

acarajé em Salvador.

“Tendo em vista a tipologia de ações de salvaguarda contempladas no “Termo de Referência de Plano de Salvaguarda” e as normativas relativas ao tipo de proposta pela ABAM, Empresa de Refrigerantes e Prefeitura de Salvador, o DPI solicitou o auxílio técnicojurídico da Procuradoria Federal no IPHAN, que acompanhou todo o processo, analisando o material publicitário apresentado pela Empresa e que continha informações até então desconhecidas pelo IPHAN. Era necessário discutir as implicações jurídicas decorrentes dos termos da parceria proposta pela Empresa, já que

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envolviam a apropriação de discursos patrimonializantes em detrimento de interesses comerciais que, à primeira vista, pareciam escusos. [...]

Nesse sentido, percebe-se que a atuação institucional se daria no sentido de

proteção ao bem público patrimônio, indicando as condições positivas que podem

ser empreendidas pelo IPHAN enquanto seu papel de decisor nas ações ou projetos

de salvaguardas aos bens registrados. Assim, embora extensa, transcrevemos os

desdobramentos das ações do IPHAN, diante do projeto de promoção em pauta,

conforme demontra MACHADO (2014, 250/253p):

“Na proposta visual inicialmente apresentada pela Empresa de Refrigerantes para a campanha publicitária, a venda de acarajé estava associada ao consumo do refrigerante “X”, havendo o comprometimento de exclusividade de 150 pontos de baianas, em diversos pontos de Salvador. De outro lado, a Empresa promoveria algumas obras no Memorial, cursos de capacitação para a venda de acarajé e o pagamento de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) mensais para a manutenção predial durante o período de um ano.[...] Evidente o sentido de exploração, espoliação e constituição de monopólio na proposta apresentada pela Empresa privada. A Imagem das baianas iria ficar completamente amarrada à marca do Refrigerante “X”, o que não tem qualquer sentido quando se está diante de um bem cultural de fruição coletiva.[ ...] Questionou-se, em síntese, acerca da necessidade da Prefeitura de Salvador participar e figurar no contrato, considerando que o Município é o proprietário do imóvel onde funciona o Memorial das Baianas; sobre a competência legal da ABAM para “liberar” os pontos de venda para a realização das campanhas publicitárias da Empresa de Refrigerantes; analisar o conteúdo da expressão “liberar os pontos de vendas para ativação”; indicar, no texto do ajuste, qual a situação desses pontos de venda e como ficariam as baianas que por ventura perdessem a licença para comercialização de acarajé, emitida pela Prefeitura de Salvador; duração de 4 anos do contrato; validade da cláusula de confidencialidade; necessidade de participação de, no mínimo, 50% das associadas para aprovação do contrato. [...]A Autarquia entrou em cena justamente em defesa de um coletivo maior. O contrato proposto colocaria, em realidade, a marca “X” e o Acarajé lado a lado, como se fossem iguais, ou pior, o acarajé seria rebaixado à condição de subproduto, o que fere todo um sistema de proteção e promoção do bem cultural como importante elemento da identidade brasileira. As baianas deixariam de ser protagonistas e seriam meras coadjuvantes[...] Até o momento, a Procuradoria Federal no IPHAN não se pronunciou sobre o quanto questionado pelo DPI à época e não houve notícias de que o contrato tenha se firmado entre a ABAM e a

Empresa de Refrigerantes”

Tal posição do IPHAN evidencia o importante papel que o órgão gestor do

patrimônio pode e deve assumir quando os interesses em torno da promoção dos

bens culturais patrimônios encontram-se ameaçados, ainda que os sujeitos e grupos

sociais não consigam perceber esse perigo.

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No que tange aos conflitos de ordem instrumental e operativa em torno da

comercialização do acarajé, o emblemático embate na venda do bolinho na Fonte

Nova e seus arredores, durante a Copa do Mundo de 2014, tornou-se emblemático

como forma de resistência da cultura local e afro-brasileira. Anterior à solução do

problema, o Jornal A Tarde, vincularia em 2012 e seguinte nota:

A Arena Fonte Nova pode ficar sem acarajé. A venda do tradicional bolinho, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como patrimônio imaterial, é caracterizado como comércio ambulante. A FIFA recomenda o afastamento dessa modalidade de comércio num perímetro de até dois quilômetros das praças de jogos. O acarajé, em tese, não pode ser concorrente dos hambúrgueres produzidos pela rede McDonald‟s, patrocinadora oficial da FIFA

143.

Segundo MACHADO (2014, 254) as baianas de acarajé, em decorrência das

informações veiculadas pela mídia, procurariam “o apoio do Ministério Público do

Estado da Bahia, através do Núcleo de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e

Cultural (NUDEPHAC)”, que aceitaria a reclamação e instauraria “o procedimento

administrativo 003.0.222967/2012, em 25 de outubro de 2012”. O procedimento

administrativo teria por finalidade “apurar as causas veiculadas pela mídia sobre a

não comercialização ou provável proibição da comercialização” do acarajé pelas

Baianas “nas dependências e no entorno do estádio de futebol denominado Arena

Fonte Nova, em Salvador, quando da realização da Copa das Confederações e

Copa do Mundo.” Depois de uma primeira notificação ao IPHAN para que se

pronunciasse, o MPE /BA estenderia essa Notificação às demais instituições

envolvidas no projeto da Copa do Mundo, - Secretaria Estadual para Assuntos da

Copa (Secopa), à Secretaria Estadual de Cultura e à Empresa de Turismo do

Município de Salvador (Saltur). Após um período de longa discussão institucional e

articulação com a Itaipava Arena Fonte Nova, a comercialização do aracajé nas

dependências e ao redor da arena é confirmada pela administração da Itaipava

Arena Fonte Nova. A atuação da associação das baianas, nesse caso, constituiu-se

independente das ações de proteção do IPHAN, evidenciando o caráter variante em

torno do tensionamento a proteção do dispositivo de patrimônio

143

Notícia veiculada no Jornal ATarde, 5 out. 2012.

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Mais recentemente, diferentes considerações em torno da patrimonialização do

Oficio das Baianas de Acarajé levam tanto o IPHAN a uma cobrança em torno de

uma “razão prática” (MARTINS, 2013, p. 44) na salvaguarda do Oficio, bem como a

própria ABAM “questiona o alcance e resultados do registro” (MARTINS, 2013, p.

44). No entanto, a despeito de quaisquer divergências operacionais quanto às

salvaguardas do Ofício, recentemente, em 2015, o IPHAN e a ABAM criaram um

plataforma digital que dispõe de ferramentas para localização das Baianas de

Acarajé, indicando sua banca, até mesmo o dia e horário de funcionamento. O nome

Plataforma Oyá Digital é uma homenagem ao orixá patrono do ofício de baiana de

acarajé - Oyá ou Iansã.

O Iphan investiu R$ 100 mil no desenvolvimento do projeto de organização e digitalização do acervo documental e na implantação da plataforma digital, que contém os dados cadastrais da Associação das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares (Abam), da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) de Salvador e da Federação Nacional do Culto Afro-Brasileiro (Fenacab). A ação teve o apoio do Instituto Palmares.

144

Figura 4 - Plaforma Oya.

Fonte: http://www.oyadigital.com.br/

144

IPHAN Lança plataforma digital sobre baianas de Acarajé. 8 de junho de 2015. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/2365/iphan-lanca%C2%A0plataforma-digital-sobre%C2%A0baianas%C2%A0de%C2%A0acaraje>. Acesso em: 24 out. 2015.

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As discussões em torno da promoção dos bens patrimônios da cultura popular

brasileira, em si, ensejam maiores e mais profundas discussões, avaliando e

comparando, por exemplo, a atuação do turismo étnico sobre outros territórios e, de

forma secundária, como por exemplo, o turismo nas “favelas” cariocas; bem como a

atuação desse segmento turístico sobre outras “etnias”, as euro-brasileira, nos

territórios do sul do Brasil.

[...] considerando-se que o “Turismo Étnico (Afro)”, enquanto construção sociocultural e como uma possibilidade para o desenvolvimento sustentável, resultará de uma relação dialógica complexa entre os múltiplos atores envolvidos, com objetivos e programas diversos e também com cotas desiguais de poder, o debate sobre este tema não pode nem deve passar ao largo dos debates sobre culturas, identidades e racismo na sua transversalidade com os interesses e relações de poder em nível local e global. (QUEIROZ, 2009).

Ainda, muitos conceitos e debates carecem e podem ser desdobrados a partir do

turismo étnico em um país que possui, desde 1938, um acervo denominado “Museu

da Magia Negra”, tombado pelo Patrimônio. No entanto, o caráter eminentemente

econômico desse turismo étnico, onde o bem cultural torna-se um produto a ser

consumido como valor agregado a um território ou a um grupo cultural, leva-nos ao

questionamento das opções empreendidas em torno da promoção e de uma maior

visibilidade do patrimônio cultura afro-brasileiro nos arranjos demonstrados.

Outra importante consideração, é que no caso do ofício das baianas, não se trata

apenas de um conflito gerado por um desdobramento do turismo étnico, mas de

apropriações simbólicas de um oficio/bem/produto que se vincula a uma esfera de

produção mercantil coorporativa e de grande escala.

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CONCLUSÃO

O estudo sobre a norma de preservação dos bens das culturas populares nas

cidades brasileiras, orientada pela gestão pública governamental do IPHAN, entre os

anos de 1988 e 2013, não se projetou em torno de uma conclusão propositiva, mas

ensejou a compreensão da norma de preservação através das suas dimensões

simbólica, social e política, tendo em vista as idéias de “antijuridicidade da norma” e

do “dispositivo de patrimônio”, o que imprime um resultado muito mais questionador

sobre a pesquisa e sobre os processos de patrimonialização das culturas populares

no Brasil.

Amparados pela síntese instrumental teórica, pela metodologia desdobrada em um

entendimento tridimensional da norma de preservação e por um breve histórico

político institucional da norma, resolvemos aqui utilizar a seqüência da própria

tese,ao abordar a dimensão simbólica - os valores e referências à patrimonialização;

a dimensão política – que envolve os acordos, pactos e critérios sobre o patrimônio;

ea dimensão social – os sujeitos e grupos sociais envolvidos na mesma produção

patrimonial.

Portanto, de forma bastante geral, poderíamos indicar a composição de um arranjo

síntese que se constrói como uma reflexão aberta, não menos isenta, no entanto, de

uma posição enquanto resultado de uma pesquisa acadêmica. A cultura popular,

traduzida institucionalmente pelo conceito de Folclore e constituída por uma tímida

política preservacionista no Brasil fora do serviço do Patrimônio, receberia um novo

olhar a partir de meados da década de 1970, quando é alçada à categoria de “bem

cultural” pelo CNRC e passa a compor as novas “referências culturais” no campo

das políticas públicas preservacionistas pelo IPHAN. Ainda em um arranjo muito

abstrato, a preservação das culturas populares no Brasil passa a constituir um

Direito Cultural, com a indicação expressa na Constituição Brasileira de 1988, em

seu artigo 215, § 1º, onde dispõe que “O Estado protegerá as manifestações das

culturas populares”.. A Constituição Federal de 1988 construiria as bases conceituais

para a norma de preservação dos bens das culturas populares, quando osreconhece

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como patrimônio cultural brasileiro ampliando tanto a dimensão conceitual do bem

patrimônio ao reconhecer sua imaterialidade, quanto a possibilidade de outros

instrumentos de regulação e gestão pública, para além do tombamento.

A despeito de alguns poucos tombamentos de bens das culturas populares terem

sido realizados pelo IPHAN - ainda que sem um declarado valor enquanto cultura

popular, valor revelado, sobretudo, pelo seu caráter etnográfico - as políticas

públicas governamentais de preservação dos bens das culturas populares nas

cidades brasileiras ganhariam um corpo regulador e gestor somente em 2000, com o

advento do Decreto Federal Nº 3.551, que instituiria o Registro de Bens Culturais de

Natureza Imaterial e criaria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial – PNPI.

Nesse sentido, mesmo que o PNPI constituai-se em um programa para a

preservação de quaisquer bens imateriais brasileiros, buscando uma superação na

dicotomia entre as chamadas dimensões eruditas e populares dos bens culturais

patrimônio, nenhum bem “erudito” teria sido registrado até o ano de 2013, resultando

em que o PNPI seja o principal programa gestor preservacionista e o Registro o

instrumento mais utilizado na proteção dos bens das culturas populares no Brasil.

Nesse sentido, até 2013, possuíamos 32 bens das culturas populares protegidos

pelo IPHAN como patrimônios culturais brasileirosnas cidades, sendo 22 bens

registrados como patrimônios imateriais e 10 bens tombados como patrimônios

materiais.

Assim, buscando construir nossa reflexão em torno da norma de preservação dos

bens das culturas populares nas cidades brasileiras, recorremos à estrutura de

análise da própria pesquisa, onde a norma é observada através das dimensões

simbólica, social e política nos processos de tombamento e registro, e desdobrada

nos arranjos tensores demonstrados em cada dimensão da norma de preservação.

Na Dimensão Simbólica, os valores e referências à patrimonialização dos bens das

culturas populares, assumem um papel definidor na construção das políticas

públicas governamentais para a proteção dos bens das culturas populares, pois é

responsável por uma ampliação do conceito de patrimônio cultural no Brasil,

incorporando valores estendidos ao rol dos bens culturais patrimônio, mesmo se

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esses valores se mantenham dicotomizados pela idéia da materialidade e

imaterialidade. Esses valores atenderiam muito mais à idéia de referência cultural,

incluindo saberes, celebrações, ofícios e bens não arquitetônicos no rol de bens

culturais patrimônio nacional.

A atuação do Patrimônio Imaterial na construção de uma identidade nacional em

bases multiculturais com o uso da idéia de “referências culturais”, permitiu maior

abertura nos processos depatrimonialização a segmentos da cultura popular,

representativos a cultura brasileira, conforme define a Constituição Federal de 1988.

Poderíamos dizer que a necessidade de uma construção identitária nacional daria

lugar à construção de uma identidade de sociedade brasileira, tendo por base o

sujeito, seu cotidiano, práticas e espaço, em detrimento do conceito de nação, tal

qual propunha o projeto moderno de Estado, e os modernistas fundadores do

Serviço do patrimônio. A afirmação de uma sociedade brasileira multicultural, através

do reconhecimento dos seus bens culturais a partir da diferença, e não da

semelhança, implica na adoção de valores e referências culturais plurais e,

conseqüentemente, inclusivas do ponto de vista político e social

Os valores e as referências que atuam na norma de preservação dos bens das

culturas populares, ainda, são aqueles que orientaram o pensamento

preservacionista de Mário de Andrade e seu projeto para o Serviço do Patrimônio em

1936; aqueles que pautaram a idéia de “bem cultural” e suas “referências” na política

do IPHAN a partir de meados da década de 1970; e alcançariam com base

constitucional, o despontar dos anos 2000, com a criação do registro de bens

imateriais e do PNPI. São os novos velhos patrimônios que, do Folclore ao bem

cultural, ressignificam os valores e as referências da norma de preservação

Assim, para além dos valores artísticos, históricos, arqueológicos, etnográficos e

paisagísticos, atribuídos aos bens culturais entre 1937 e 2000, celebrações, ofícios,

formas de expressão e lugares, também passariam a compor o rol de valorações

patrimoniais institucionalizadas no IPHAN, incorporando outros aspectos relevantes

à patrimonialização, tendo em vista o caráter dinâmico e vivo dos bens culturais a

serem protegidos.

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A monumentalidade ou a excepcionalidade, elementos proclamados durante anos

pelo IPHAN como condição para análise do mérito de proteção, portanto, valores

discricionários que antecedem a própria valoração cultural do bem, esbarram na

construção de novas “referências culturais” que passariam a valorar os bens

culturais, levando em consideração outros aspectos relevantes à patrimonialização

diretamente ligados à idéia de bens associados, por entender a condição plural na

construção dos bens das culturas populares brasileiras. Assim, mesmo no

tombamento, percebemos que os Terreiros de Candomblé, ou mesmo as

embarcações tradicionais, tornam-se patrimônios inseridos em contextos de

referências culturais – religiosas, ambientais, laborais, etc. Nos bens culturais

Registrados, a patrimonialização dos bens culturais, em si, necessita da sua

associação aos aspectos relevantes e seus bens associados, no sentido de

compreender os processos de produção e reprodução do bem cultural patrimônio. A

pluralidade de bens associados a cada bem patrimônio indica uma heterogeneidade

nas condições de produção e reprodução dos bens culturais, uma condição de

riqueza nos processos criativos das culturas populares, bem como um imenso

desafio gestor promotor.

Essa pluralidade ou heterogeneidade nos elementos constituintes à valoração do

bem cultural patrimônio, por tratar-se de um sistema dinâmico, envolvendo sujeitos,

grupos sociais e interesse extra-patrimoniais, uma vez que o bem cultura encontra-

se inserido em todo um contexto de produção e reprodução, permite o

tensionamento na construção de diferentes valores àqueles considerados no

processo de patrimonialização. Nesse sentido, valores patrimonializantes

diretamente ligados aos processos do oficio, do saber fazer, podem ser diminuídos

em detrimento de uma valoração tensionada em torno do objeto final patrimônio,

sobretudo, pela sua potência de inserção como produto ao consumo cultural. As

discussões em torno da “certificação de culturas” e do conseqüente “fenômeno das

listas”, constituem arranjos tensores que demonstram a atuação de outros agentes

que não os econômicos na adoção mecanismos que agreguem valor ao consumo

dos bens culturais.

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Assim, conforme demonstrado na tese, assistimos a uma crescente elasticidade

patrimonial em torno dos valores dos bens patrimônios, ampliando o seu valor,

sobretudo em sua vinculação às necessidade do mercado consumidor, influenciando

diretamente nos processos de produção e reprodução dos bens culturais

patrimônios, o que demonstra um grande desafio à proteção e promoção dos bens

das culturas populares no Brasil.

No mesmo sentido, os processos de (re) valoração dos bens culturais patrimônios

podem transformá-los em elementos museográficos ou episódicos na cidade,

apropriando-se da dinâmica cotidiana dos bens imateriais, tornando-os objeto-

espetáculo ou mercadoria cultural de consumo imediato. Com isso, esvai-se o

contexto de reprodutibilidade de saberes, fazeres, modos de vida, incluindo o bem

cultural imaterial apenascomo mais um produto de mercado, muitas vezes vinculado

a processos de (re)valorização de cidades ou territórios, adequando-as às condições

de promoção e consumo do bem patrimônio.

A Dimensão Política, ao envolver os acordos, pactos e critérios sobre e sob a norma

de preservação dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras, decerto

demonstra a dimensão mais reconhecida nessa norma, pois indica as condições

operacionais para a produção do bem patrimônio e, portanto, para sua

patrimonialização. Não por acaso, essa dimensão é objeto do maior número de

abordagens acadêmicas no estudo da gestão pública governamental de preservação

dos bens culturais no Brasil.

Importa demonstrar que a dimensão política institucionaliza todo o arranjo regulador

(leis e decretos de proteção) e gestor (instituições, programas e ações) da política

pública governamental. Ela atualmente é constituída pelos instrumentos de proteção

do tombamento e do registro, revestida por uma estratégica discricionariedade

técnica atuante sobre os instrumentos de proteção. É também pelas ações de

promoção do bem cultural, principais instrumentos políticos que possibilitam a

preservação e reprodutibilidade dos bens patrimônio.

Utilizado de forma hegemônica como forma de proteção aos bens culturais no Brasil,

o tombamento funcionaria como o único instrumento garantidor à preservação dos

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bem culturais, limitado à fisicidade do bem cultural e, portanto, aos bens culturais

materiais. Amparados sobre os valores artísticos, históricos, etnográficos,

arqueológicos e paisagísticos, os tombamentos, como práticas preservacionistas,

seriam reorientados, a partir de meados da década de 1970,pelo conceito de

“referências culturais”, e estendidos a “novos” bens, com a ampliação dos direitos

culturais previstos na Constituição Federal de 1988. Assim, ainda que instrumento

de proteção aos bens culturais materiais, o tombamento seria ampliado para além

dos parâmetros da monumentalidade e excepcionalidade do bem material e se

estende em novos arranjos patrimonializantes em torno dos bens materiais, incluindo

o tombamento de templos de culto afro-brasileiro, e de embarcações tradicionais do

litoral brasileiro.

No entanto, seria com o reconhecimento do comando constitucional de proteção aos

bens imateriais, que o Decreto Federal nº 3.551 de 2000, instituiria o registro como

forma de proteção ao bem imaterial e, o PNPI, como programa gestor desses

“novos” patrimônios. Assim, todo um rol de bens culturais brasileiros que, apesar do

seu notório valor como patrimônio cultural,não dispunha de um instrumento de

proteção, bem como de uma política de preservação, passaria a ser protegido com o

registro das celebrações, das formas de expressão, dos ofícios, e dos lugares e

promovidos através de planos de salvaguardas.

Tendo por base a análise dos 22 bens culturais registrados e os 10 bens culturais

tombados, objetos de estudo desta pesquisa, buscamos compreender os principais

desdobramentos que a dimensão política possui dentro da norma de preservação

dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras. Nesse sentido as variáveis,

tempo; pareceres à patrimonialização; as metodologias empreendidas; as ações de

salvaguardas e apoio constituíram como elementos importantes no entendimento da

dimensão política, portanto, dos pactos e critérios na patrimonialização dos bens das

culturas populares.

A variável tempo, que considera não somente o período de trâmite procedimental à

patrimonialização, mas também as diversas composições temporais que envolvem

os procedimentos de tombamento e registro (data de solicitação, data de aprovação

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no conselho consultivo, data de inscrição no livro do tombo ou registro), ao variar

consideravelmente, ressalta a condição discricionária que envolve o rito

administrativo, a conjuntura envolvida e as dificuldades encontradas.

As metodologias para patrimonialização encontram no procedimento de registro uma

maior uniformidade no processo, uma vez que se dividem basicamente na

metodologia oficial do PNPI, o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) e

nas pesquisas históricas documentais Já o tombamento, não possui uma

metodologia patrimonializante definida. Ainda importante considerar o caráter

ampliado e inclusivo do INRC em relação aos bens culturais, quando interioriza,

enquanto prática metodológica, os preceitos reiterados de uma política

preservacionista tendo por base as referências culturais.

As salvaguardas e ações de apoio constituem os principais instrumentos de

promoção dos bens culturais patrimônio, podendo operar sob os mais diversos

arranjos para as salvaguardas, possibilitando ações de conservação e restauração

dos bens materiais, bem como, a promoção dos meios, dispositivos ou condições à

produção e reprodução dos bens culturais em sua dinâmica. Orientadas em sua

maioria por ações governamentais, as salvaguardas dos bens imateriais estariam

previstas nos “planos de salvaguardas” quando do registro do bem cultural e foram

executadas, em sua maioria, através de articulações intra-governamentais,

sobretudo, através do Ministério da Cultura, seja através dos Pontos de Cultura, de

premiações ou de editais lançados.

Dentre os inúmeros arranjos tensores possíveis em torno da dimensão política da

norma de preservação dos bens das culturas populares, portanto, associados aos

acordos, pactos e critérios para a patrimonialização, vimos, na estreita e longa

relação que se estabelece entre a UNESCO e o IPHAN, um importante arranjo

tensor. Ao verificamos, mais recentemente, a adoção, pelo IPHAN, de critérios

institucionais ao incentivo e adequação dos bens culturais patrimônios brasileiros a

um possível reconhecimento no âmbito mundial, como patrimônios da humanidade,

replica-se aqui a idéia de “certificação de culturas”, ou seja, a composição de um

valor agregado aos bens patrimônios, incentivando uma visibilidade dos bens

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culturais às custas de incentivar uma concorrência interna entre os bens culturais

brasileiros, o que, certamente, implica na adoção institucional, pelo IPHAN, de

medidas que privilegiam os bens culturais em destaque no cenário mundial.

A Dimensão Social da norma de preservação dos bens das culturas populares nas

cidades brasileiras, nesta pesquisa, foi concebida como um espaço para a análise e

compreensão dos sujeitos e dos grupos sociais envolvidos no processo de

patrimonialização, empreendido pelo IPHAN, enquanto política pública

governamental, entre os anos de 1988 e 2013, tendo por base os 32 processos de

tombamento e registro analisados.

Divididos entre os sujeitos ativos da patrimonialização - estado regulador e gestor da

política de preservação -, e os sujeitos passivos desse processo - os sujeitos e

grupos sociais envolvidos no processo de produção e reprodução do bem cultural

patrimônio, assim como visto na dimensão simbólica se tornam mais plurais. A a

idéia de “referência cultural” passa a dar visibilidade a outros grupos sociais ou

sujeitos, não ligados aos processos de produção dos bens materiais monumentais.

O tombamento, pelo IPHAN, do Terreiro da Casa Branca, em 1986, acena às novas

visibilidades de sujeitos e grupos sociais, os afro-brasileiros, que, marcadamente,

imprimem sua importância enquanto bem cultural patrimônio nacional, mas também

enquanto sujeitos culturais ativos.

No entanto, assim também como no campo simbólico, a Constituição Federal de

1988, assumiria um importante papel na construção dos novos direitos culturais

brasileiros eampliaria a visibilidade de grupos sociais, como as “culturas populares,

indígenas e afro-brasileiras” reconhecendo a sua importância “no processo

civilizatório nacional”.

A construção social que envolve a prática patrimonializante no IPHAN passaria

então a dialogar com novos sujeitos e grupos sociais, tanto como objetos de

patrimonialização, como na condição participativa dos processos de seleção,

proteção e promoção, conforme indicia o texto constitucional, através da

“colaboração da comunidade”.

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As condições que permitem um maior acesso à patrimonialização dos novos sujeitos

e grupos sociais diretamente envolvidos nos processos de produção e reprodução

dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras deram lugar a uma sólida

política de reconhecimento dos grupos sociais envolvidos na produção e reprodução

de bens culturais, sobretudo, os “novos” bens imateriais. Assim, a proteção aos bens

imateriais e seus registros, bem como o crescente número de tombamentos que se

estabelecem, apesar de indicarem uma ampliação e diversificação dos sujeitos

envolvidos, mostram sua inserção na norma de preservação numa condição de

objeto e não de sujeito da política de preservação.

Ao verificarmosos condicionamentos dessa política aos processos de tombamento e

registros, nos deparamos com a importante restrição sobre quem pode propor o

patrimônio. A necessidade de uma associação juridicamente registrada - enquanto

figura mais próxima, ainda que bem distante - dos grupos sociais produtores e

reprodutores dos bens culturais patrimônio para a propositura do procedimento, ao

IPHAN, para estudos preliminares ao registro ou tombamento revela as dificuldades

a serem enfrentadas por muitos grupos sociais às políticas públicas de preservação.

Portanto, se existe uma ampliação conceitual na trajetória da norma de preservação

das culturas populares brasileiras, não existe, paralelamente, uma ampliação

procedimental no que diz o acesso à solicitação de Registro, que ainda deve ser

feita por entidades legalmente constituídas. Isso dificulta a construção de uma

relação direta com os sujeitos e grupos sociais, uma vez que muitos dos bens

culturais não são representados por figuras jurídicas o que acaba por impor

mediadores na solicitação de registros, em geral externos ao próprio processo de

produção do bem cultural.

Ao buscarmos compreender os agentes diretamente envolvidos na patrimonialização

dos bens culturais, ainda que metodologias mais inclusivas venham sendo

utilizadas, como o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), o acesso à

colaboração da comunidade, torna-se restrito à lógica burocrática da gestão pública

governamental, além de avaliado por uma dimensão técnica que prioriza as

possibilidades de operacionalidade, executabilidade e sustentabilidade dos projetos.

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Esses obstáculos têm sido uma reflexão constante no campo da promoção da

cultura, pautada, sobretudo, pelos sujeitos e grupos sociais que buscam o acesso

aos mecanismos institucionais estabelecidos para esse fim.

Assim, ao analisarmos a trajetória da norma de preservação da cultura popular após

a Constituição de 1988, encontramos uma participação da comunidade no processo

de patrimonialização muito aquém das possibilidade abertas pela CF de 1988,

tornando-se mais frequente no processo de mobilização para a solicitação do

tombamento ou registro do bem, e na aplicação do INRC.

As territorialidades constituídas na norma de preservação dos bens das culturas

populares estão diretamente ligadas aos sujeitos e grupos sociais em seu processo

de produção e reprodução dos bens culturais. Assim, nessa pesquisa,a

compreensão das territorialidades, tanto em uma perspectiva intra-patrimonial,

quando constituinte do processo de patrimonialização, quanto extra-patrimonial,

quando indicativo de um pertencimento político-espacial, resultou em um

protagonismo singular do território nas políticas de preservação no Brasil.

Da sinonímia entre valor e bem cultural - no Registro de Lugar do bem imaterial -,

aos tombamentos significativos de territórios urbanosatravés das roças,dos templos

afro-brasileiros, à localização dos bens tombados e registrados no espaço do país,

emerge a necessidade de percebemos a importância que o tema apresenta e,

portanto, um maior aprofundamento na questão, tendo em vista, sobretudo, a direta

e conflituosa relação dos territórios nos espaços urbanos.

Ao analisarmos a trajetória da norma de preservação das culturas populares nas

cidades brasileiras, percebemos que as políticas públicas governamentais instituídas

no IPHAN não atenderiam ainda a uma demanda patrimonializante do sujeito, ou

seja, do patrimônio vivo, numa perspectiva universalizante dessa prática como

vigora na UNESCO. Os embates jurídicos, a estadualização dessa política e suas

relações com o órgão federal, o IPHAN, são elementos importantes de serem

seguidos nos desdobramentos da política de preservação dos bens das culturas

populares no Brasil.

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A idéia da produção de bens culturais vivos ainda tensiona de forma bastante

peculiar a trajetória da norma de preservação das culturas populares nas cidades

brasileiras, atrelada tanto aos desdobramentos de uma política do patrimônio

imaterial, atuando sobre o sujeito, produtor e reprodutor do bem cultural a ser

preservado, como à construção de uma política pública de preservação, específico

para a cultura popular. Nela estaria inserida a dinâmica viva e cotidiana dos mestres

e das mestras da cultura popular, como bem cultural a ser protegido e substrato de

todos e quaisquer planos de salvaguardas, pois detentores dos saberes e fazeres do

bem cultural.

Nesse sentido, mesmo se compreender os objetivos das novas práticas

patrimonializantesconstitui uma tarefa em construção, a ampliação da dimensão

social na trajetória da norma de preservação das culturas populares nas cidades

brasileiras é visível e reconquistada cotidianamente pelos sujeitos e grupos sociais.

No entanto, estão ainda distantes dos procedimentos de patrimonialização,

encarados institucionalmente como atividades técnicas e, portanto, limitadoras da

atuação de grupos e sujeitos nos procedimentos e arranjos institucionais de

patrimonialização.

Compreendidos os principais desdobramentos da política de preservação dos bens

das culturas populares nas cidades brasileiras, encontramos, no turismo étnico e no

consumo dos bens culturais afro-brasileiros, um consistente arranjo tensor a ser

problematizado, tendo em vista a necessidade de demonstrar como o “dispositivo de

patrimônio” pode ser tensionado em busca de resultados diversos daqueles

empreendidos na lógica patrimonializante. Assim, ao verificarmos, no universo afro-

brasileiro, os tensionamentos que se estabelecem em torno do consumo dos bens

culturais, verificamos, sobretudo, a convergência de diversas lógicas de promoção

do bem patrimônio: da diluição dos sujeitos ou mesmo dos grupos sociais em torno

de uma visibilidade pautada pelo consumo cultural, muitas vezes atrelado ao

espetáculo, às disputas em torno de um ofício realizado eminentemente por

mulheres negras, que tende a tornar-se cada vez mais comercial, em detrimento de

um saber fazer que as sustenta econômica, social e culturalmente.

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Importante ainda demonstrarmos o valor que três idéias assumem nessa tese, após

analisarmos a norma de preservação dos bens das culturas populares nas cidades

brasileiras.

A primeira diz respeito aos arranjos tensores como instrumentos de verificação do

exercício do poder sobre o dispositivo patrimônio, ou seja, a situação onde ocorre a

atualização de forças dos diversos agentes tensores da norma, apreendida através

de arranjos que se estabelecem, sobretudo, como conseqüência de conflitos

decorrentes da atualização dessas forças. Nesse sentido, os arranjos tensores

constituem importantes instrumentos de verificação prática da atualização de forças

tensoras sobre o dispositivo de patrimônio e foram tomados como abordagem

teórico-metodológica para melhor compreensão da atuação das forças e agentes

que atuam na produção do patrimônio cultural.

A segunda idéia reside no fato da existência de um fluxo de patrimonialização, onde

esses arranjos tensores atuam, dentro de uma perspectiva institucional de

patrimonialização. Nesse sentido, a idéia de fluxo não se confunde com a de

procedimento, uma vez que não se trata apenas do percurso institucional de

patrimonialização, mas a composição de um campo contínuo, onde os arranjos

tensores podem tornar-se mais ou menos visíveis, a depender da conjuntura

histórica e, sobretudo, dos agentes e suas permanentes tensões em torno da

produção do patrimônio em torno dos bens das culturas populares.

A terceira idéia remete diretamente ao título desta tese, os novos velhos patrimônios,

indicando que os bens das culturas populares nas cidades brasileiras, apesar da

recente política institucional de inserção desses bens no rol de patrimônios materiais

e imateriais, o reconhecimento de seu potencial de patrimonialização figura o

imaginário preservacionista brasileiro desde a década de 1930, sobretudo pelas

propostas de Mário de Andrade em seu projeto para a política reguladora e gestora

do patrimônio cultural no Brasil. Nesse sentido, a norma de preservação do IPHAN

para os novos patrimônios, figurados pelos bens das culturas populares, trazem de

novo, apenas, a tutela jurídica de proteção do registro, inserindo velhos bens

culturais, patrimônios brasileiros não institucionais, na política preservacionista. Não

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por acaso, os mestres dos mamulengos, em Pernambuco, denominam-se

“patrimônios por eles mesmos”, uma vez que as condições de produção e

reprodução do bem cultural existem e independem da certificação pelo tombamento

ou registro do IPHAN.

Por fim, o estudo da norma de preservação dos bens das culturas populares nas

cidades brasileiras, aqui empreendido, constitui muito mais um painel que abre a

discussão e enseja maiores desdobramentos a serem explorados do que uma

construção propositiva para a política pública governamental. No entanto,

gostaríamos de estabelecer duas considerações nessa abordagem: a primeira diz

respeito à possibilidade de estabelecermos uma gestão pública para a preservação

dos bens das culturas populares bem mais ampla do que aquela habitualmente

denominada como governamental, contirbuindo, portanto, uma gestão pública social,

com a participação dos sujeitos e grupos sociais envolvidos direta e indiretamente

nos processos de patrimonialização, nas ações de preservação, incluindo seleção e

proteção, ampliando a construção cidadã na norma de preservação dos bens das

culturas populares. A segunda diz respeito à formalização de instrumentos de

controle sobre a patrimonialização dos bens culturais e sua promoção, mobilizando

outros segmentos dos poderes públicos na construção, por exemplo, de Termos de

Ajustamento de Conduta (TAC), com o objetivo de rápida solução extrajudicial aos

conflitos em torno do bem patrimônio; ou ainda, o uso vinculado de Audiências

Públicas, sobretudo na construção das políticas para a proteção, na escolha dos

bens a proteger e dos respectivos instrumentos de proteção, imprimindo um caráter

menos técnico – e, consequentemente, menos discricionário – e mais cidadão, na

construção da norma de preservação no Brasil.

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APÊNDICES

1. Cronologias da trajetória de patrimonialização dos bens culturais populares no Brasil (1930-2013)

A. Cronologia da produção do pensamento sobre o patrimônio cultural urbano recente (1980 a 2013) no Brasil

B. Cronologia normativa da produção institucional do patrimônio cultural popular no Brasil 1937 – 2013

C. Cronologia de sujeitos em destaque na preservação institucional do Folclore e das culturas populares no Brasil (1900 a 1970)

D. Cronologia da Revista do Patrimônio (1937 – 2012) E. Cronologia normativa dos bens das culturas populares tombados pelo

IPHAN, no Brasil (1937 – 2013) F. Cronologia normativa dos bens das culturas populares registrados pelo

IPHAN, no Brasil (2003 a 2013)

2. Fichas descritivas dos procedimentos de registros de bens culturais pelo IPHAN (2000-2013)

A. Ficha 01. Ofício das Paneleiras de Goiabeiras B. Ficha 02 - Samba de Roda do Recôncavo Baiano C. Ficha 03 - Círio de Nossa Senhora de Nazaré D. Ficha 04 Modo de fazer Viola-de-Cocho é E. Ficha 05 - Ofício das Baianas de Acarajé. F. Ficha 06 - Jongo no Sudeste. G. Ficha 07 - Feira de Caruaru H. Ficha 08 -. Frevo I. Ficha 09- Matrizes no Samba do Rio de Janeiro: Partido Alto, Samba de

Terreiro e Samba-enredo. J. Ficha 10- Tambor de Crioula do Maranhão K. Ficha 11 -. Modo artesanal de fazer queijo nas regiões do Serro, da Serra

da Canastra e do Salitre L. Ficha 12 - Ofício dos Mestres de Capoeira M. Ficha 13 -. Ofício da Roda de Capoeira N. Ficha 14 - Modo de Fazer Renda Irlandesa, tendo como referência este

ofício em Divina Pastora/SE. O. Ficha 15 -. Ofício do Sineiro P. Ficha 16 -. Toque dos Sinos em Minas Gerais Q. Ficha 17 - Festa do Divino Espírito Santo em Pirenópolis/Goiás R. Ficha 18 - Festa de Sant‟Ana de Caicó/RN S. Ficha 19 -. Bumba-meu-boi do Maranhão T. Ficha 20 -. Fandango Caiçara U. Ficha 21 –Festa do Divino Espírito Santo de Paraty/RJ. V. Ficha 22 -. Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim

3. Fichas descritivas dos procedimentos de tombamento de bens das culturas populares pelo IPHAN (1937-2013)145

A. Ficha 01 –Tombamento do Terreiro Axé Opô Afonja B. Ficha 02 - Ilê Iyá Omim Axé Yiamassé

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Arquivo Noronha Santos

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C. Ficha 03 - Terreiro de Candomblé do Bate-Folha Manso Banduquenqué D. Ficha 04 - Terreiro Casa das Minas Jeje E. Ficha 05 - Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá Láji F. Ficha 06 - Casa de Chico Mendes e seu acervo G. Ficha 07 - Canoa Costeira, de nome Dinamar H. Ficha 08 - Saveiro de Vela de Içar, de nome, Sombra da Lua, no

Recôncavo Baiano I. Ficha 09 - Canoa de Tolda Luzitânia

J. Ficha10-Canoa de Pranchão do Rio Grande

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN146

1. BEM REGISTRADO: Arte Kusiwa – Pintura corporal e arte gráfica Wajãpi.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.000678/2002-27 ABERTURA: REGISTRO: 20/12/2002.

3. PROPONENTE: Conselho das Aldeias Wajãpi (Alpina) e pelo Museu do Índio.

Fonte: Banco de Dados de Bens Culturais Registrados- BCR/IPHAN

4. DESCRIÇÃO DO BEM: “A Arte Kusiwa - pintura corporal e arte gráfica Wajãpi - foi o primeiro bem registrado no Livro de Registro das Formas de Expressão. Trata-se de um sistema de representação, de uma linguagem gráfica dos índios Wajãpi do Amapá, que sintetiza seu modo particular de conhecer, conceber e agir sobre o universo. O sistema gráfico kusiwa opera como um catalisador da expressão, de conhecimentos e de práticas que envolvem desde relações sociais, crenças religiosas e tecnologias até valores estéticos e morais. O excepcional valor dessa forma de expressão está na capacidade de condensar, transmitir e renovar, através da criatividade dos desenhistas e dos narradores, todos os elementos particulares e únicos de um modo de pensar e de se posicionar no mundo próprio dos Wãjapi do Amapá. A linguagem kusiwa é uma forma de expressão complementar aos saberes transmitidos oralmente a cada nova geração e compartilhados por todos os membros do grupo. É um conhecimento que se encontra, principalmente, nos relatos orais que esse grupo indígena, hoje com quinhentos e oitenta indivíduos, continua a transmitir aos seus filhos e que explica como surgiram as cores, os padrões dos desenhos e as diferenças entre as pessoas. A arte gráfica e a arte verbal dos Wajãpi lhes permite agir sobre múltiplas dimensões do mundo: sobre o visível e sobre o invisível, sobre o concreto e sobre o mundo ideal. Não se trata de um saber abstrato, mas sim de uma prática permanentemente interativa, viva e dinâmica. A arte Kusiwa se expressa em desenhos e pinturas de corpos e objetos, a partir de um repertório definido de padrões gráficos e de suas variantes, que representam, de forma sintética e abstrata, partes do corpo ou da ornamentação de animais, como sucuris, jibóias, onças, jabotis, peixes, borboletas, e objetos, como limas de ferro e bordunas. Com denominações próprias, os padrões gráficos podem ser combinados de muitas maneiras diferentes, que não se repetem, mas são sempre reconhecidos pelos Wajãpi como Kusiwa. Trata-se de um acervo cultural que se transforma de forma dinâmica, através da inclusão de novos elementos, do desuso de alguns ou da modificação, através de suas variantes, de outros.”

146Ficha elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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5. PARECERES: Parecer técnico da 2ª Regional- Pará; Parecer Técnico do Setor de Referencias Culturais CPI/IPHAN; Parecer da Coordenação de Patrimônio Imaterial-DEPROT; Parecer Jurídico.

6. VALOR: Forma de expressão.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 38ª Reunião – 11/12/2002.

8. TERRITÓRIO: Amapá e Norte do Pará.

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica e documental em trabalho de campo.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Padrões gráficos e seus usos e significados atribuídos.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Articulação entre Conselho Consultivo do Plano de Salvaguarda Wajãpi: Museu do Índio – Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Conselho das Aldeias Wajãpi (Alpina), Agência de Promoção da Cidadania do Governo do Estado do Amapá, Núcleo de História Indígena e o Indigenismo/NHII, da Universidade de São Paulo; Núcleo de Educação Indígena do Amapá. ( X ) AÇÕES. Ações de salvaguarda 2010; em andamento. Ponto de cultura arte e vida dos povos indígenas do Amapá e norte do Pará; em andamento.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Conselho Consultivo do Plano de Salvaguarda Wajãpi.

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Revalidação através de titulação em 11/10/2013.

16. OBSERVAÇÕES:

17. FICHA Nº 001 DATA: 20/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN147

1. BEM REGISTRADO: Ofício das Paneleiras de Goiabeiras.

2. NÚMERO DO PROCESSO / PERÍODO: 01450.000672/2002-50 ABERTURA: 26/03/2001. REGISTRO: 20/12/2002.

3. PROPONENTE: Associação das Paneleiras de Goiabeiras. Rua Leopoldo Gomes Sales, Goiabeiras Velhas. Vitória-ES. Site: www.paneleirasdegoiabeiras.hpqvip.ig.com.br. Contatos: [email protected]. Secretaria Municipal de Cultura de Vitória.

Fonte: Banco de Dados de Bens Culturais Registrados- BCR/IPHAN

4. DESCRIÇÃO DO BEM: “Oficio das Paneleiras: É o saber que envolve a prática artesanal de fabricação de panelas de barro, atividade econômica culturalmente enraizada na localidade de Goiabeiras, bairro de Vitória, Capital do Estado do Espírito Santo. Produto da cerâmica de origem indígena, o processo de produção das panelas de Goiabeiras conserva todas as características essenciais que a identificam com a prática dos grupos nativos das Américas, antes da chegada de europeus e africanos. As panelas continuam sendo modeladas manualmente com o auxílio de ferramentas rudimentares, a partir de argila sempre da mesma procedência. Depois de secas ao sol são polidas, queimadas a céu aberto e impermeabilizadas com tintura de tanino. A técnica cerâmica utilizada é reconhecida como legado cultural Tupi-Guarani e Una, com maior número de elementos identificados com os da tradição Una. O processo de produção das panelas de barro emprega tradicionalmente matérias-primas provenientes do meio natural: a argila é extraída de jazida, denominada barreiro, no Vale do Mulembá, localizado na Ilha de Vitória, que até pouco tempo só era acessado por canoa; a casca de Rhysophora mangle, popularmente denominada mangue vermelho, com que é feita a tintura de tanino, é coletada diretamente do manguezal que margeia a localidade de Goiabeiras. Da mesma forma, dois dos principais instrumentos do ofício – a cuia e a vassourinha de muxinga – são feitos a partir de espécies vegetais encontradas nas proximidades. A atividade, eminentemente feminina, é tradicionalmente repassada pelas artesãs paneleiras, às suas filhas, netas, sobrinhas e vizinhas, no convívio doméstico e comunitário. Apesar das transformações urbanas ocorridas ao longo do tempo, a localidade de Goiabeiras, conhecida como Goiabeiras Velha, permanece como um reduto de ocupação

147Ficha elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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antiga, os quintais repartidos com as famílias de filhos e netos, onde saber fazer estas panelas de barro é o principal elemento formador da identidade cultural daquele grupo social.”

5. PARECERES: Parecer técnico da 21ª Regional- Espírito Santo; Parecer da Coordenação de Patrimônio Imaterial-DEPROT; Parecer Jurídico.

6. VALOR: Saberes.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 37ª Reunião - 21/11/2002.

8. TERRITÓRIO: Goiabeiras Velhas. Vitória-ES.

9. BENS ASSOCIADOS: Pratos típicos capixabas que estão associados ao uso da panela de barro.

10. METODOLOGIA: INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais, aplicado sob a supervisão do antigo Departamento de Identificação, atual DPI.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Extração da argila; tintura de tanino; açoite das panelas; queima das panelas; puxadas.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Ações de Salvaguarda (discussão acerca da questão geográfica das panelas produzidas em Goiabeiras Velhas), parceria do Artesanato Solidário – Programa de Apoio ao Artesanato e à Geração de Renda, através do diagnóstico das condições atuais de produção (realizado pela Central Artesol). Apoio do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular para promoção e comercialização das panelas de barro. ( X ) AÇÕES. Ações de salvaguarda 2010; em andamento. Articulações institucionais para amadurecimento do debate acerca de registros de indicações geográficas para panelas produzidas em Goiabeiras Velhas. Concluído. Recomendações de salvaguarda: voltado para o acompanhamento dos processos e das atividades tradicionais e das ocorrências de intervenções nas condições de produção, comercialização e promoção das panelas de barro.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: IPHAN e Associação das Paneleiras de Goiabeiras, Universidade Federal do Espírito Santo, Secretaria Municipal de Cultura de Vitória, Central ArteSol.

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Revalidação através de titulação em 11/10/2013.

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16. OBSERVAÇÕES: Preocupação sobre a matéria-prima e suas condições de exploração e estocagem, na perspectiva das possibilidades de seu fornecimento, ou mesmo, da identificação de material alternativo, com características similares, de forma a assegurar a salvaguarda do ofício.

17. FICHA Nº 002 DATA: 20/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN148

1. BEM REGISTRADO: Samba de Roda do Recôncavo Baiano

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.010146/2004/60 ABERTURA: 13/08/2004. REGISTRO: 05/10/2004.

3. PROPONENTE: Associação Cultural Filhos de Nagô. Praça Dois de Julho n°19. São Félix-BA.

Fonte: Banco de Dados de Bens Culturais Registrados- BCR/IPHAN

4. DESCRIÇÃO DO BEM: “O Samba de Roda baiano é uma expressão musical, coreográfica, poética e festiva das mais importantes e significativas da cultura brasileira. Presente em todo o estado da Bahia, ele é especialmente forte e mais conhecido na região do Recôncavo, a faixa de terra que se estende em torno da Baía de Todos os Santos. Seus primeiros registros, já com esse nome e com muitas das características que ainda hoje o identificam, datam dos anos 1860. O Samba de Roda traz como suporte determinante tradições culturais transmitidas por africanos escravizados e seus descendentes. Tais tradições incluem, entre outros, o culto aos orixás e caboclos, o jogo da capoeira e a chamada comida de azeite. A herança negro-africana no Samba de Roda se mesclou de maneira singular a traços culturais trazidos pelos portugueses – como certos instrumentos musicais, viola e pandeiro principalmente – e à própria língua portuguesa nos elementos de suas formas poéticas. O Samba de Roda pode ser realizado em associação com o calendário festivo – caso das festas da Boa Morte, em Cachoeira, em agosto, de São Cosme e Damião, em setembro, e de sambas ao final de rituais para caboclos em terreiros de candomblé. Mas ele pode também ser realizado em qualquer momento, como uma diversão coletiva, pelo prazer de sambar. Essa expressão musical possui inúmeras variantes, que podem ser divididas em dois tipos principais: o samba chula, cujo similar na região de Cachoeira chama-se “barravento”, e o samba corrido (ver "aspectos relevantes"). Historiadores da música popular consideram o Samba de Roda baiano como uma das fontes do samba carioca que, como se sabe, veio a tornar-se, no decorrer do século XX, um símbolo indiscutível de brasilidade. A narrativa de origem do samba carioca remete à migração de negros baianos para o Rio de Janeiro ao final do século XIX, que teriam buscado reproduzir, nos bairros situados entre o canal do Mangue e o cais do porto, seu ambiente cultural de origem, onde a religião, a culinária, as festas e o samba eram partes destacadas. O Samba de Roda é uma das jóias da cultura brasileira, por suas qualidades intrínsecas de beleza, perfeição técnica, humor e poesia, e pelo papel proeminente que vem desempenhando nas próprias definições da identidade nacional”

148Ficha elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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5. PARECERES: Parecer do Conselho Consultivo; Parecer do Relator do Processo de Registro Maria Cecília Londres Fonseca, em 28/09/2004; Parecer Técnico Museu Villa-Lobos (Carlos Zandrone); Parecer Jurídico.

6. VALOR: Formas de Expressão Patrimônio Oral.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 44ª Reunião - 30/09/2004.

8. TERRITÓRIO: Recôncavo Baiano - BA.

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica e documental em trabalho de campo; dossiê para registro: Coord. Carlos Zandrone, Sup. Técn. Márcia San‟Anna e Ana Gita de Oliveira.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Variantes: samba chula e samba corrido; coreografia; o canto no samba de roda; instrumentos musicais.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Os objetivos do plano integrado de salvaguarda e valorização do Samba de Roda foram estabelecidos em um programa a curto, médio e longo prazos, entorno das seguintes linhas de ação: a)Pesquisa e documentação; b) Reprodução e transmissão às novas gerações; c) Promoção; d) Apoio. Na fase 01 (2004-2005), destacam-se: a organização jurídica da Associação dos Sambadeiros e Sambadeiras do Estado da Bahia; medidas emergenciais relativas à Viola e Marchetes. Na fase 02 (2005-2006), criação do Centro de Referência do Samba de Roda, sediado no Solário Araújo Pinho, também conhecido como Solar Subaé, em Santo Amaro da Purificação, em 24 de agosto de 2006. Termos de Compromisso e Adesão ao Plano de Salvaguarda do Samba de Roda, assinados pelos prefeitos do Recôncavo Baiano, também em 24 de agosto de 2006, constituindo assim a rede de Casas do Samba. Lançamento do CD Samba de Roda – Patrimônio da Humanidade, parceria do IPHAN e da AMAFRO – Sociedade de Amigos da Cultura Afro-brasileira. Fase 03 (2006-2008), conclusão da implantação física do Centro de Referência do Samba de Roda e da Oficina de Luteria tradicional Clarindo dos Santos. Continuidade da implantação da rede de casas do Samba. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Ações previstas para a fase 04 de Plano de Salvaguarda (2008-2009). Em andamento. Finalização da implantação da rede de Casas de Samba. Ações de avaliação do andamento e eficácia do plano desenvolvido. Avaliação dos impactos das Salvaguardas no Samba de Roda. Ações de salvaguarda 2010; em andamento. Renovação de convênio com o centro de cultura; doação à casa de Samba do Acervo de Sonoro do Samba de Roda do Recôncavo Baiano produzido por Tiago Oliveira Pinto; instalação do Conselho Gestor da Casa do Samba.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: IPHAN e Associação Cultural Filhos de Nagô. Associação Cultural do Samba de Roda Dalva Damiana de Freitas. Associação de Pesquisa em Cultura Popular e Música Tradicional do Recôncavo. Associação dos Sambadeiros e Sambadeiras do Estado da Bahia (17/04/2005.

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AMAFRO – Sociedade de Amigos da Cultura Afro-brasileira. Prefeituras que aderiram ao Termo de Compromisso e Adesão, que visa à execução do Plano de salvagurada do Samba de Roda até setembro de 2006 (MinC, IPHAN, MRB). Os munícipios foram: Cabaceiras do Paraguaçú, São Sebastião do Passé, Santo Amaro, São Félix, Castro Alves, Teodoro Sampaio, Saubara. ACBANTU – Associação Cultural de Preservação de Patrimônio Bantu, CEAO – UFBA, PRONAC – Petrobras.

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN Ponto de Cultura. UNESCO. Samba de Roda no Recôncavo Baiano é proclamado pela Unesco Obra-Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade (25/11/2005).

15. REVALIDAÇÃO DE TÍTULOS: Revalidação através de titulação em 11/10/2013.

16. OBSERVAÇÕES:

17. FICHA Nº 003 DATA: 20/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN149

1. BEM REGISTRADO: Círio de Nossa Senhora de Nazaré.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.010332/2004-07 ABERTURA: 2000. REGISTRO: 05/10/2004.

3. PROPONENTE: Arquidiocese de Belém. Avenida Gov. José Malta n°915. Belém – PA.

Fonte: Banco de Dados de Bens Culturais Registrados- BCR/IPHAN

4. DESCRIÇÃO DO BEM: “A Festa do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém do Pará, é uma celebração constituída de vários rituais de devoção religiosa e expressões culturais, cujo clímax ocorre na procissão do Círio, no segundo domingo de outubro. Para os paraenses, é o grande momento anual de demonstração de devoção e solidariedade, de reiteração de laços familiares, assim como de manifestação social e política. O Círio de Nazaré apresenta uma estrutura complexa que agrega diferentes celebrações e festividades antes e depois do evento principal. Essas práticas têm desdobramentos regionais e congregam, anualmente, em torno de um milhão e meio de pessoas na cidade de Belém. Grande parte dessa massa humana vem pagar promessas ou agradecer pedidos realizados. A festa, instituída em 1793, é marcada pelo sentido da rememoração. O Círio de Nazaré reconta, por meio de seu cerimonial religioso, a lenda que envolve o achado, em 1700, da imagem de Nossa Senhora de Nazaré por um caboclo denominado Plácido. Sua duração temporal está associada à permanência da participação popular e à disseminação regional dos devotos, o que torna Belém, todos os anos, um lugar de peregrinação. Destaca-se, contudo, que a celebração, desde a origem, está envolta por práticas profanas, entre elas a montagem de um arraial dedicado historicamente ao comércio de alimentos e produtos regionais. Os elementos sagrados e profanos que marcam a festa configuram uma face múltipla, a que estão associadas diferentes significações decorrentes da diversidade das formas de inserção no evento, da apropriação simbólica e da diferenciação social dos participantes. A relevância do Círio de Nazaré como manifestação cultural pode ser reconhecida no longo e dinâmico processo que reitera e constrói essa celebração há 211 anos. O Círio de Nossa Senhora do Nazaré foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil, passando a ser o primeiro bem inscrito no Livro de Registro das Celebrações.”

5. PARECERES: Parecer Técnico da 2ª Regional do Pará; Parecer Técnico no DPI.

149Ficha elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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6. VALOR: Celebrações.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 44ª Reunião - 30/09/2004.

8. TERRITÓRIO: Belém - PA.

9. BENS ASSOCIADOS: As imagens original e peregrina; a Berlinda; o Recírio; o almoço do Círio; os brinquedos de Meriti; a Procissão principal; a Transladação; a Corda; o Arraial; as Alegorias.

10. METODOLOGIA: INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Em andamento. Ponto de Cultura A Corda – Museu do Círio (2009 – 2010: capacitação, oficinas, geração de renda, inclusão social). ( X ) AÇÕES. Em andamento. Ponto de Cultura A Corda – Museu do Círio (capacitação, oficinas, geração de renda, inclusão social).

13. AGENTES ENVOLVIDOS: IPHAN, Arquidiocese de Belém, Sindicato dos Arrumadores do Estado do Pará.

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Revalidação através de titulação em 11/10/2013.

16. OBSERVAÇÕES:

17. FICHA Nº 004 DATA: 20/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN150

1. BEM REGISTRADO: Modo de fazer Viola-de-cocho.

2. NÚMERO DO PROCESSO / DATA: 01450.01090/2004-03 18/08/2004 – 14/01/2005.

3. PROPONENTE: Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular. Rua do Catete 179, Catete. Rio de Janeiro – RJ (à época, Centro de Cultura Popular). Site: www.cnfcp.org.br. Contatos: Cláudia Márcia Ferreira, [email protected].

Fonte: Fábio Neves.

4. DESCRIÇÃO DO BEM: A Viola-de-Cocho é um instrumento musical singular quanto à forma e sonoridade, produzido exclusivamente de forma artesanal, com a utilização de matérias-primas existentes na Região Centro-Oeste do Brasil. É parte de uma realidade eco-sócio-cultural construída historicamente pelos sucessivos grupos sociais que vêm ocupando os atuais estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, em suas relações de troca com o meio natural e com a sociedade envolvente. O nome Viola-de-cocho deve-se à técnica de escavação da caixa de ressonância da viola em uma tora de madeira inteiriça, mesma técnica utilizada na fabricação de cochos (recipientes em que é depositado o alimento para o gado). Nesse cocho, já talhado no formato de viola, são afixados um tampo e, em seguida, as partes que caracterizam o instrumento, como cavalete, espelho, rastilho e cravelhas. A confecção, artesanal, determina variações observadas de artesão para artesão, de braço para braço, de forma para forma. A produção de violas-de-cocho é realizada por mestres cururueiros, seja para uso próprio, seja para atender à demanda do mercado local, também constituída por cururueiros e mestres da dança do siriri. Os materiais utilizados tradicionalmente para sua confecção são encontrados no eco-sistema regional, correspondendo a tipos especiais de madeiras para o corpo, tampo e demais detalhes do instrumento; ao sumo da batata „sumbaré‟ ou, na falta desta, a um grude feito da vesícula natatória dos peixes (ou poca) para a colagem das partes componentes; a fios de algodão revestidos para trastes (que, na região, também são denominados pontos) e tripa de animais para as cordas. Sua confecção, feita de forma artesanal, determina variações observadas de artesão para artesão, de braço para braço, de fôrma para fôrma. As violas podem ser decoradas, desenhadas a fogo e pintadas, ou mantidas na madeira crua, envernizadas ou não. As fitas coloridas amarradas no cabo indicamo número de rodas de cururu em que a viola foi tocada em homenagem a algum santo – que possui, cada qual, sua cor particular.

150Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.

6. VALOR: Saberes.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 45ª Reunião – 14/01/2005.

8. TERRITÓRIO: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

9. BENS ASSOCIADOS: Rodas de Cururu e de Siriri.

10. METODOLOGIA: Projeto Celebração de Saberes da Cultura Popular/Centro Nacional da Cultura Popular; DPI – Coord. Geral Letícia Vianna; INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Sem descrição. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Ponto de Cultura em Mato Grosso – MT: instituição gestora Secretaria do Estado de Cultura; recuperação da Casa Cuiabana, para sediar o Ponto de Cultura; compra de mobiliário e equipamentos; instalação da estufa de mudas das espécies para fabricação das violas. Em andamento. Ponto de Cultura em Mato Grosso do Sul – MS: instituição gestora Prefeitura Municipal de Corumbá; assinatura de convênio para instalação de Ponto de Cultura. Em andamento. Ações de salvaguarda 2010. Renovação do convênio do Ponto de Cultura da Casa Cuiabana – Centro Cultural da Viola-de-cocho, com a Secretaria do Estado de Cultura do Mato Grosso; assinatura do convênio do Ponto de Cultura Viola-de-cocho, com a Prefeitura de Corumbá. Em andamento.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: MT: Município de Jangadas, Diamantino, Nobres, Cuiabá, Livramento, Poconé, Rosário Oeste. MS: Corumbá, Ladário.

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Revalidação através de titulação em 11/10/2013.

16. OBSERVAÇÕES:

17. FICHA Nº 005 DATA: 22/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN151

1. BEM REGISTRADO: Ofício das Baianas de Acarajé.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.008675/2004-01 ABERTURA: 08/2004 REGISTRO: 14/01/2005.

3. PROPONENTE: Associação de Baianas de Acarajé e Mingau do Estado da Bahia. Memorial das baianas, Belvedere da Sé, Praça da Sé, Centro. Salvador – BA.

Fonte: Luiz Antônio Dualibi / Salvador / Bahia / 1983.

4. DESCRIÇÃO DO BEM: É a prática tradicional de produção e venda, em tabuleiro, das chamadas comidas de baiana, feitas com azeite de dendê e ligadas ao culto dos orixás, amplamente disseminadas na cidade de Salvador, Bahia. Dentre as comidas de baiana destaca-se o acarajé, bolinho de feijão fradinho preparado de maneira artesanal, na qual o feijão é moído em um pilão de pedra (pedra de acarajé), temperado e posteriormente frito no azeite de dendê fervente. Sua receita tem origens no Golfo do Benim, na África Ocidental, tendo sido trazida para o Brasil com a vinda de escravos dessa região. A atividade de produção e comércio é predominantemente feminina, e encontra-se nos espaços públicos de Salvador, principalmente praças, ruas, feiras da cidade e orla marítima, como também nas festas de largo e outras celebrações que marcam a cultura da cidade. A indumentária das baianas, característica dos ritos do candomblé, constitui também um forte elemento de identificação desse ofício, sendo composta por turbantes, panos e colares de conta que simbolizam a intenção religiosa das baianas. Os bolinhos de feijão fradinho, destituídos do recheio utilizado para o comércio, são, inclusive atualmente, oferecidos nos cultos às divindades do candomblé, especialmente a Xangô e Oiá (Iansã). Para sua comercialização são utilizados vatapá, caruru e camarão seco como recheio e o tabuleiro no qual é vendido também é composto por outros quitutes tais como abará, passarinha (baço bovino frito), mingaus, lelê, bolinho de estudante, cocadas, pé de moleque e outros. Os aspectos referentes ao Ofício das Baianas de Acarajé e sua ritualização compreendem: o modo de fazer as comidas de baianas, com distinções referentes à oferta religiosa ou à venda informal em logradouros soteropolitanos; os elementos associados à venda como a indumentária própria da baiana, a preparação do tabuleiro e dos locais onde se instalam; os significados atribuídos pelas baianas ao seu ofício e os sentidos atribuídos pela sociedade local e nacional a esse elemento simbólico constituinte da identidade baiana. A feitura das comidas de baiana constitui uma prática cultural de longa continuidade histórica, reiterada no cotidiano dos ritos do candomblé e constituinte de forte fator de identidade na cidade de Salvador.

151Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.

6. VALOR: Saberes.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 45ª Reunião – 14/01/2005.

8. TERRITÓRIO: Salvador - BA.

9. BENS ASSOCIADOS: Significado do Acarajé no Candomblé.

10. METODOLOGIA: INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais. Projeto Celebração de Saberes da Cultura Popular: Coord. Geral Letícia Vianna / Pesquisadores responsáveis pelo inventário Raul Lody e Elizabete Mendonça . Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, com o apoio da Secretaria de Patrimônio, Museus e Artes Plásticas de MinC.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Produção e venda, e indumentária das baianas.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Sem descrição. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Ações de salvaguarda 2010, em andamento. Inauguração do Memorial das Baianas de Acarajé, em parceria com a Prefeitura Municipal de Salvador e com o IPAC. Em andamento. Ponto de Cultura: instituição gestora ABAM; oficinas de repasse de saberes tradicionais, fios de conta e acarajé; conclusão da adequação de espaço do Memorial das Baianas; montagens e exposição permanente no memorial; e inauguração do Memorial da Baiana de Acarajé.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: CEAO – UFBA; Terreiro Ylê Axé Opô Ofonjá; CNFCP; Setor de Difusão Cultural; Equipe Técnica do Projeto Celebração de Saberes da Cultura Popular.

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Revalidação através de titulação em 11/10/2013. A titulação é datada de 11/06/2008.

16. OBSERVAÇÕES: O Departamento de Identificação e Documentação abre um dossiê de estudos em 2002, quando o ofício é encaminhado ao Ministro da Cultura em 05/11/2002.

17. FICHA Nº 006 DATA: 22/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN152

1. BEM REGISTRADO: Jongo no Sudeste.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.005763/2004-43 ABERTURA: 24/05/2001. REGISTRO: 15/12/2005.

3. PROPONENTE: Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular - CNFCP

Fonte: Cris Isidoro, Diadorim Ideias (Pontão de Cultura do Jongo).

4. DESCRIÇÃO DO BEM: O jongo é uma forma de expressão afro-brasileira que integra percussão de tambores, dança coletiva e práticas de magia. É praticado nos quintais das periferias urbanas e em algumas comunidades rurais do sudeste brasileiro. Acontece nas festas de santos católicos e divindades afro-brasileiras, nas festas juninas, nas festas do Divino, no 13 de maio da abolição da escravatura. É uma forma de louvação aos antepassados, consolidação de tradições e afirmação de identidades. Tem suas raízes nos saberes, ritos e crenças dos povos africanos, principalmente os de língua bantu. São sugestivos dessas origens o profundo respeito aos ancestrais, a valorização dos enigmas cantados e o elemento coreográfico da umbigada. No Brasil, o jongo consolidou-se entre os escravos que trabalhavam nas lavouras de café e cana-de-açúcar, no sudeste brasileiro, principalmente no vale do Rio Paraíba. Trata-se de uma forma de comunicação desenvolvida no contexto da escravidão e que serviu também como estratégia de sobrevivência e de circulação de informações codificadas sobre fatos acontecidos entre os antigos escravos por meio de pontos que os capatazes e senhores não conseguiam compreender. O Jongo sempre esteve, assim, em uma dimensão marginal onde os negros falam de si, de sua comunidade, através da crônica e da linguagem cifrada. É também conhecido pelos nomes de tambu, batuque, tambor e caxambu, dependendo da comunidade que o pratica. Iniciado o toque dos tambores, forma-se uma roda de dançarinos que cantam em coro, respondendo ao solo de um deles. Os tambores e os batuqueiros estão sempre na roda ou perto dela. São várias as maneiras de se dançar o jongo. Sozinhos ou em pares os praticantes vão ao centro da roda, dançam até serem substituídos por outros jongueiros. Muitas vezes nota-se, no momento da substituição, o elemento coreográfico da umbigada.

5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.

152Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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6. VALOR: Forma de expressão.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 48ª Reunião – 10/11/2005.

8. TERRITÓRIO: Região Sudeste brasileira.

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

10. METODOLOGIA: INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais. Projeto Celebração de Saberes da Cultura Popular: Coord. Geral Letícia Vianna. Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Pontos, tambores e instrumentos musicais.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Sem descrição. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Pontão de Cultura do Jongo e Caxambu. Instituição gestora: Fundação Euclides da Cunha de apoio institucional UFF; ampliação do número de 13 para 18 grupos participantes; formação do coletivo jongueiro; lançamento do calendário das comunidades jongueiras; constituição da comissão gestora do Pontão; aquisição de equipamentos; realização de cursos, seminários e oficinas; e edição de “Um Jongo na escola”, contendo 09 vídeos-documentários. Niterói – RJ. Ações de salvaguarda 2010, em andamento. Renovação de convênio do Pontão de Cultura do Jongo Caxambu com a UFF; articulação para implantação do Ponto de Cultura do Jongo no Espírito Santo.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Grupo Cultural Jongo da Serrinha; Associação da Comunidade Negra de Remanescente de Quilombo da Fazenda São José; Morro do Cruzeiro (Município de Miracema); Morro da Serrinha (Rio de Janeiro); Município de Pinheiral; Bracuí; Mambucada; Morro do Carmo (Município de Angra dos Reis); Município de Barra do Piraí; Município de santo Antônio de Pádua; Fazenda São José da Serra (Município de Valença); todos do Estado do Rio de Janeiro. Municípios de Capivari, Cunha, Guaratinguetá, Lagoinha, Piquete, Piracicaba, São Luís do Paraitinga, Tietê; no Estado de São Paulo. São Mateus, no Espírito santo. Belo Horizonte, em Minas Gerais.

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN. Associação Cachuera (Vale do Rio Paraíba); ONG Grupo Cultural Jongo da Serrinha; UFF.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES:

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17. FICHA Nº 007 DATA: 22/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN153

1. BEM REGISTRADO: Cachoeira de Iauaretê - Lugar Sagrado dos Povos Indígenas dos rios Uaupés e Papuri.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.010743/2005-75 ABERTURA: 28/08/2005. REGISTRO: 10/08/2006.

3. PROPONENTE: Associações Indígenas de Iauaretê, Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro - FOIRN. Contatos: [email protected]

Fonte:Geraldo Andrello.

4. DESCRIÇÃO DO BEM: A Cachoeira de Iauaretê, ou Cachoeira da Onça, corresponde a um lugar de referência fundamental para os povos indígenas que habitam a região banhada pelos rios Uaupés e Papuri, reunidos em dez comunidades, multiculturais na maioria, compostas pelas etnias de filiação lingüística Tukano Oriental, Aruaque e Maku. Várias das pedras, lajes, ilhas e paranás da Cachoeira de Iauaretê simbolizam episódios de guerras, perseguições, mortes e alianças descritos nos mitos de origem e nas narrativas históricas destes povos. Para eles, a Cachoeira de Iauaretê é seu Lugar Sagrado, onde está marcada a história de sua origem e fixação nessa região, assim como a história do estabelecimento das relações de afinidade que vêm permitindo, até hoje, a convivência e o compartilhamento de padrões culturais entre os diversos grupos que coabitam naquele território, desde há milênios. Apesar do multilingüismo e das diferenças culturais, as quatorze etnias presentes nessa região – Arapaso, Bará, Barasana, Desana, Karapanã, Kubeo, Makuna, Miriti-tapuya, Pira-tapuya, Siriano, Tariana, Tukano, Tuyuka e Wanano – encontram-se articuladas em uma rede de trocas e identificadas no que diz respeito à cultura material, à organização social e à visão de mundo. É nesse contexto mais amplo que se insere a Cachoeira de Iauaretê: além de sua natureza geográfica, constrói-se ali uma paisagem cultural constituída por lugares sagrados, assim considerados pela densidade de sentidos que os mitos lhe conferem. Como depositária de referências políticas e sócio-econômicas, a Cachoeira de Iauaretê expressa espacialmente uma hierarquia – fortemente marcada na região – de fundamental importância na organização das diferenças e da diversidade ali presentes. Hierarquia que, por sua vez, está referenciada nos mitos, nos ritos e narrativas históricas, os quais especificam as origens e fixação de cada etnia, definem territórios, atribuem significados, revelam códigos de manejo social, econômico, político, ambiental e fundiário, e definem os parâmetros de interação e de convivência social entre elas. Os moradores indígenas da localidade destacam vários pontos no conjunto das pedras da Cachoeira de Iauaretê e suas imediações, locais onde ocorreram fatos marcantes relacionados à criação da humanidade e ao surgimento de suas respectivas etnias. Esses lugares remetem à criação das plantas, dos animais e de tudo o que seria necessário à vida no local e à sobrevivência dos descendentes

153Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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dos primeiros ancestrais. No processo de Registro estão documentados dezessete desses pontos de referência na Cachoeira de Iauaretê, testemunhos fundamentais da fixação desses grupos naquele território. A localização exata da Cachoeira de Iauaretê possui as seguintes coordenadas: 67574.17 latitude e 4777685.87 longitude. UTM, WGS 84, zona 19 e 0° 36‟ 899” N e 69° 12‟ 1.953” W. LAT/LONG, Datum WGS 84.”

5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.

6. VALOR: Lugar.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA:

49ª Reunião – 03/08/2003.

8. TERRITÓRIO: Povos indígenas dos rios Uaupés e Papuri.

9. BENS ASSOCIADOS:

Sem informações.

10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, levantamento documental e trabalho de campo. Elaboração do dossiê: a)Pesquisa e texto: Ana Gita de Oliveira (IPHAN), Geraldo Andrello (ISA); b) Instituições parceiras: Instituto Sócio Ambiental (ISA), Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – FOIRN, Vídeo nas Aldeias. c) Organizações indígenas locais: Coordenação das Organizações Indígenas do Distrito de Iauaretê (COIDI), Associação de Língua e Cultura Tariana do Distrito de Iauaretê (ALCTDI), Centro de Estudo e Revitalização das Culturas Indígenas de Iauaretê (CERTII). Não foi aplicado o INRC.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: A Cachoeira de Iauaretê como local de referência.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Sem descrição. Foi aplicada em São Gabriel de Cachoeira - AM. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Ponto de Cultura do Rio Negro. Aquisição de equipamentos, instalação de estúdio de áudio. Em andamento. Ações de salvaguarda 2010. Em andamento. Renovação de convênio do Ponto de Cultura Centro de Referências Culturais do Rio Negro, executado pela FOIRN, em São Gabriel de Cachoeira – AM.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Instituições parceiras: Instituto Sócio Ambiental (ISA), Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – FOIRN, Vídeo nas Aldeias. c) Organizações indígenas locais: Coordenação das Organizações Indígenas do Distrito de Iauaretê (COIDI), Associação de Língua e Cultura Tariana do Distrito de Iauaretê (ALCTDI), Centro de Estudo e Revitalização das Culturas Indígenas de Iauaretê (CERTII).

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.

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15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES:

17. FICHA Nº 008 DATA: 22/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN154

1. BEM REGISTRADO: Feira de Caruaru.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.002945/2006-24 ABERTURA: 30/06/2006. REGISTRO: 20/12/2006.

3. PROPONENTE: Prefeitura Municipal de Caruaru.

Crédito: João Tavares, 1992.

4. DESCRIÇÃO DO BEM: A Feira de Caruaru, localizada na cidade de Caruaru, estado de Pernambuco, surgiu em uma fazenda situada em um dos caminhos do gado, entre o sertão e a zona canavieira, onde pousavam vaqueiros, tropeiros e mascates. No final do século XVIII, foi construída nesse local a capela de Nossa Senhora da Conceição, ampliando a convergência social e fortalecendo as relações de trocas comerciais em torno do lugar. Assim, a feira cresceu juntamente com a cidade e foi um dos principais motores do seu desenvolvimento social e econômico. A Feira de Caruaru é um lugar de memória e de continuidade de saberes, de fazeres, de produtos e de expressões artísticas tradicionais que continuam vivos no comércio do gado e dos produtos de couro, nos brinquedos reciclados, nas figuras de barro inventadas por Mestre Vitalino, nas redes de tear, nos utensílios de flandres, no cordel, nas gomas e farinhas de mandioca e nas ervas e raízes medicinais. Sem a dinâmica e o mercado da feira, esses saberes e fazeres já teriam desaparecido.

5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.

6. VALOR: Lugar.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 51ª Reunião – 07/12/2006.

8. TERRITÓRIO: Caruaru - PE.

9. BENS ASSOCIADOS: Bens associados às feiras: Feira do Paraguai, do artesanato, da sulanca, do gado, das frutas e verduras, de raízes e ervas medicinais, de troca-troca, de flores e plantas ornamentais, do couro, de confecções populares, dos bolos, seção de gomas e doces, das ferragens, de artigos de cama mesa e banho, do fumo. Alto do Moura.

154Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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10. METODOLOGIA: INRC - Feira de Caruaru; Coordenação da equipe: Bartolomeu Figueirôa de Medeiros (Frei Tito).

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: A feira como lugar de socialização e referência cultural.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Sem descrição. Condições de sustentabilidade e apoio à feira (IPHAN, Ministério Público, IBAMA, Secretaria de Defesa Social do Estado de Pernambuco, Prefeitura Municipal de Caruaru). ( X ) AÇÕES. Em andamento. Ações de salvaguarda 2010. Em andamento. Aditivação de prazo de execução de convênio do Pontão de Cultura da Feira de Caruaru, com a Fundação de Cultura de Caruaru, da Prefeitura Municipal de Caruaru; execução do projeto de formação guias mirins da Feira.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Centro de Estudo de História Municipal/PE (CEHM); TV Asa Branca (Coordenadora Eleny Pinto da Silveira); Equipe de Jornalismo Diário de Pernambuco (Jailson da Paz, jornalista); Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Caruaru (FAFICA); Fundação de Cultura de Caruaru/PE (Presidente ‐ José Lira Serôdio Filho); Documentação e Patrimônio Cultural (Walmiré Dimerón Porto); Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ, Presidente Fernando Soares Lyra); Fundação Roberto Marinho (Silvia Finguerut, jornalista); FUNTEP (Tadeu Godoy, Diretor Superintendente); Prefeitura Municipal de Caruaru (Prefeito Antônio Geraldo Rodrigues da Silva); Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Capibaribe (Prefeito José Augusto Maia); Prefeitura Municipal de Toritama (Prefeito José Marcelo Marques de Andrade

e Silva); Programa Pós‐graduação em Antropologia/UFPE; Rede Globo Nordeste (Equipe de Jornalismo Rede TV) ; Bina Mariano (Editora Regional).

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES: Acompanha indicações de tombamento de bens imóveis conforme parecer do DPI.

17. FICHA Nº 009 DATA: 22/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN155

1. BEM REGISTRADO: Frevo.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.002621/2006-96 ABERTURA: 20/02/2006. REGISTRO: 28/02/2007.

3. PROPONENTE: Prefeitura Municipal do Recife.

Fonte: Museu da Cidade do Recife Fundação Joaquim Nabuco CEMCAPE – Centro de Música Carnavalesca Pernambucana.

4. DESCRIÇÃO DO BEM: O Frevo é uma forma de expressão musical, coreográfica e poética, densamente enraizada em Recife e Olinda, no Estado de Pernambuco. Gênero musical urbano, o Frevo surge no final do século 19, no carnaval, em um momento de transição e efervescência social como uma forma de expressão das classes populares na configuração dos espaços públicos e das relações sociais nessas cidades. As bandas militares e suas rivalidades, os escravos recém-libertos, os capoeiras, a nova classe operária e os novos espaços urbanos foram elementos definidores da configuração do Frevo. Do repertório eclético das bandas de música, composto por variados estilos musicais, resultaram suas três modalidades, ainda vigentes: Frevo-de-rua, Frevo-de-bloco e Frevo-canção. Simultaneamente à música, foi-se inventando o passo, isto é, a dança frenética característica do Frevo. Improvisada na rua, liberta e vigorosa, criada e recriada por passistas, a dança de jogo de braços e de pernas é atribuída à ginga dos capoeiristas, que assumiam a defesa de bandas e blocos, ao mesmo tempo em que criavam a coreografia. Produto desse contexto sócio-histórico singular, desde suas origens, o Frevo expressa um protesto político e uma crítica social em forma de música, de dança e de poesia, constituindo-se em símbolo de resistência da cultura pernambucana e em expressão significativa da diversidade cultural brasileira.

5. PARECERES: Parecer Técnico da 5ª Regional de Pernambuco; Parecer Técnico do DPI; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.

6. VALOR: Forma de expressão.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 52ª Reunião – 28/02/2007.

8. TERRITÓRIO: Municípios de Recife e Olinda - PE.

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

155Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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10. METODOLOGIA: INRC; Na tentativa de atingir uma maior abrangência nas variáveis pertencentes ao frevo, objetivando proporcionar uma compreensão da dimensão desse patrimônio, deu-se à pesquisa a seguinte estruturação final para o dossiê: a) Aspectos Históricos; b) Descrição do bem; c) O frevo e suas apropriações contemporâneas; d) Frevo: Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil: justificativa do registro e Plano Integrado de Salvaguarda. Este recorte foi incorporado à proposta de investigação do Inventário, e, considerando a relevância para cada categoria, elencou-se a maior quantidade possível de variáveis, adequando–as às seguintes categorias de bens sugeridas pelo IPHAN: 1) Celebração; 2) Formas de expressão; 3) Saberes e modos de fazer; 4) Edificações; 5) Lugares. A conclusão da Pesquisa resulta no Inventário composto do dossiê; das fichas referentes às categorias de bens adotadas pelo IPHAN para o INRC e de dois vídeos que captados em formato digital.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Frevo-de-Rua, Frevo-canção, Frevo-de-bloco, o passo.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Sem descrição. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Sem descrição.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Superintendência da 5ª Regional do IPHAN – PE; Equipe Técnica o IPHAN para capacitação INRC; Prefeitura do Recife; Escritório do Frevo; Arquivo Público Estadual João Emerenciano

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES: Analisar os agentes envolvidos na pesquisa do dossiê: IPHAN e Prefeitura do Recife/Escritório do Frevo.

17. FICHA Nº 010 DATA: 22/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN156

1. BEM REGISTRADO: Matrizes no Samba do Rio de Janeiro: Partido Alto, Samba de Terreiro e Samba-enredo.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.011404/2004-25 ABERTURA: 14/09/2004. REGISTRO: 20/11/2007.

3. PROPONENTE: Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Rua Jacinto 67, Méier. Site: www.aescrj.com.br.

Fonte: Fundação Cultural Cartola.

4. DESCRIÇÃO DO BEM: No começo do século XX, a partir de influências rítmicas, poéticas e musicais do jongo, do samba de roda baiano, do maxixe e da marcha carnavalesca, consolidaram-se três novas formas de samba: o partido alto, vinculado ao cotidiano e a uma criação coletiva baseada em improvisos; o samba-enredo, de ritmo inventado nas rodas do bairro do Estácio de Sá e apropriado pelas nascentes escolas de samba para animar os seus desfiles de Carnaval; e o samba de terreiro, vinculado à quadra da escola, ao quintal do subúrbio, à roda de samba do botequim. Essas matrizes referenciais do samba no Rio de Janeiro distinguem-se de outros subgêneros de samba criados posteriormente e guardam relação direta com os padrões de sociabilidade de onde emergem. Há autoria individual, porém a performance é necessariamente coletiva e se funda em comunidades situadas em áreas populares da cidade do Rio de Janeiro. O improviso é outro aspecto importante dessa dimensão coletiva e ainda se encontra bastante enraizado na prática amadora ou comunitária dessas formas de expressão – está vivo e presente nos quintais dos subúrbios, nas rodas de samba e terreiros dos morros e bairros populares da cidade. O samba de partido alto, o samba de terreiro e o samba-enredo são expressões cultivadas há mais de 90 anos por essas comunidades. Não são simplesmente gêneros musicais, mas formas de expressão, modos de socialização e referenciais de pertencimento. São também referências culturais relevantes no panorama da música produzida no Brasil. Constituído a partir dessas matrizes, em suas muitas variantes, o samba carioca é uma expressão da riqueza cultural do país e em especial de seu legado africano, constituindo-se em um símbolo de brasilidade em todo o mundo.

5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.

156Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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6. VALOR: Forma de expressão.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 54ª Reunião – 09/10/2007.

8. TERRITÓRIO: Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

10. METODOLOGIA: INRC. Trabalho de pesquisa e elaboração do dossiê de registro foi supervisionado pelo DPI/IPHAN, acompanhado e orientado pelo CNFCP, responsável pelo treinamento e orientação da equipe de pesquisa no uso e aplicação do INRC. O trabalho contou ainda com o apoio da 6ªSR/IPHAN, SEPPIR e Fundação Palmares.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Partido Alto, Samba de Terreiro e Samba-enredo.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Pesquisa e documentação; transmissão do saber; produção; registro; promoção e apoio à organização. O dossiê encomenda a criação de um plano de salvaguarda, proposto com base nos indicadores acima. Não há como aferir a conclusão das recomendações de salvaguarda, pois não existe projetos de ações definidas. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Pontão de Cultura Memória do Samba Carioca. As ações: Seminário sobre o Samba; Encontro com a Velhas Guardas das escolas de Samba; gravação dos encontros e produção de DVD; curso de capacitação para gestores; gravação de 40 depoimentos de personalidades do samba do Rio de Janeiro; aquisição de bibliografia e documentação para constituição do acervo do Centro de Memória (funciona desde janeiro de 2009, gerido pelo Centro Cultural Cartola). Ações de Salvaguarda 2010. Atividades do Pontão/Convênio com o Centro Cultural Cartola, constituição de acervo de pesquisa por meio de aquisição de obras fonográficas e de gravação de 40 depoimentos.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Superintendência da 6ª Regional do IPHAN – RJ; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; FNFCP; Centro Cultural Cartola; Liga Independente das Escolas de Samba - LIESA; Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Em 20 de junho de 2006, sambistas do Rio de Janeiro encaminham um abaixo-assinado como documento de anuência ao pedido de registro do bem (18 páginas).

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

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16. OBSERVAÇÕES: O expedido de registro foi solicitado por Centro Cultural Cartola, Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, e a LIESA (Liga Independente das Escolas de Samba).

17. FICHA Nº 011 DATA: 22/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN157

1. BEM REGISTRADO: Tambor de Crioula do Maranhão.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.005742/2007-71. ABERTURA: março/2007. REGISTRO: 20/11/2007.

3. PROPONENTE: Prefeitura de São Luís do Maranhão. Avenida D. Pedro II. São Luís-MA CEP.: 65010-450. Site: www.saoluis.ma.gov.br

Fonte: Edgar Rocha. São Luís do Maranhão.

4. DESCRIÇÃO DO BEM: O Tambor de Crioula é uma manifestação afro-brasileira que ocorre na maioria dos municípios do Maranhão, envolvendo uma dança circular feminina, canto e percussão de tambores. Dela participam as coreiras ou dançadeiras, conduzidas pelo ritmo intenso dos tambores e pelo influxo das toadas evocadas por tocadores e cantadores, culminando na punga ou umbigada – gesto característico, entendido como saudação e convite. O Tambor de Crioula inclui-se entre as expressões do que se convencionou chamar de samba, derivadas, originalmente, do batuque, assim como o jongo no Sudeste, o samba de roda do Recôncavo Baiano, o coco no Nordeste e algumas modalidades do samba carioca. Além de sua origem comum, constatam-se, entre essas expressões do samba, traços convergentes na polirritmia dos tambores, no ritmo sincopado, nos principais movimentos coreográficos e na umbigada. Praticado livremente, seja como divertimento ou em devoção a São Benedito, o Tambor de Crioula não tem local definido, nem época fixa de apresentação, embora se observe uma maior ocorrência desse evento durante o Carnaval e nas manifestações de Bumba-meu-boi. Trata-se de um referencial de identidade e resistência cultural dos negros maranhenses, que compartilham um passado comum. Os elementos rituais do Tambor permanecem vivos e presentes, propiciando o exercício dos vínculos de pertencimento e a reiteração de valores culturais afro-brasileiros.

5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.

6. VALOR: Forma de expressão.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 53ª Reunião – 20/11/2007.

8. TERRITÓRIO: Maranhão.

9. BENS ASSOCIADOS: “Situações que motivam a realização do Tambor de Crioula.”

157Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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10. METODOLOGIA: INRC. O trabalho em questão equivale a continuidade do INRC de São Luís, implementado naquela localidade pela 3ªSR/IPHAN, entre 2004 e 2006, com o apoio do DPI/IPHAN. Após a realização da primeira etapa do INRC (levantamento preliminar), a 3ªSR entendeu direcionar as pesquisas à manifestação cultural conhecida como Tambor de Crioula.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: A Punga (dança), o canto e os instrumentos.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. O dossiê não apresenta recomendaçõe ou ações de salvaguarda. O Parecer Técnico do DPI indica: “faz-se necessário prever outras medidas de apoio e fomento estruturadas na forma de um plano de salvaguarda de Tambor de Crioula no Maranhão, que contemple os aspectos a seguir relacionados, bem como se proporcione a continuidade e a sustentabilidade desta forma de expressão. Assim, são diretrizes indicadas por pesquisadores, estudiosos, e pelos produtores e praticantes desse saber-fazer, entre outras ...” ( X ) AÇÕES. Em andamento. Ações de Salvaguarda 2010. Recuperação e lançamento do cu4rta metragem “tambor de Crioula” realizado entre 1978 e 1979 pelo cineasta marenhese Murilo Santos; Promoção de reuniões e realizações de assembléias para a criação do Comitê Gestor do Plano de Salvaguarda; Adoção das medidas jurídico adminstrativas para Termo de Cooperação entre IPHAN e instituições locais tendo em vista a criação do Comitê Gestor do Plano de Salvaguarda; Inicio das articulações para o estabelecimento de Pontão de Cultura do Tambor de Crioula no Maranhão.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Superintendência da 3ª Regional do IPHAN – MA; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; FNFCP; Prefeitura Municipal de São Luis

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES: 40 páginas de um abaixo assinado contendo diversos segmentos da população de são Luis, e apensada ao processo de registro. (Sociedade de Umbanda B. Esperança, Tambor de Crioula Milagre de São Benedito, Tambor de Crioula Unidos de São Benedito, Tambor de Crioula Brilho de São Benedito, Tambor de Crioula Turma dos Crioulos, Tambor de Crioula Proteção de São Benedito, T. Ubakldo, Tambor de Crioula Alto São Benedito.

17. FICHA Nº 012 DATA: 22/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN158

1. BEM REGISTRADO: Modo artesanal de fazer queijo nas regiões do Serro, da Serra da Canastra e do Salitre.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.012192/2006-65. ABERTURA: agosto/2001. REGISTRO: 13/06/2008.

3. PROPONENTE: Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais. Praça da Liberdade 317. Belo Horizonte - MG. Site: www.cultura.mg.gov.br. E-mail: [email protected].

Fonte: Cristina Leme. INRC/IPHAN (2006).

4. DESCRIÇÃO DO BEM: A produção artesanal do queijo de leite cru nas regiões serranas de Minas Gerais representa até hoje uma alternativa bem sucedida de conservação e aproveitamento da produção leiteira regional, em áreas cuja geografia limita o escoamento dessa produção. O modo artesanal de fazer queijo constitui um conhecimento tradicional e um traço marcante da identidade cultural dessas regiões. Cada uma delas forjou um modo de fazer próprio, expresso na forma de manipulação do leite, dos coalhos e das massas, na prensagem, no tempo de maturação (cura), conferindo a cada queijo aparência e sabor específicos. Nessa diversidade constituem aspectos comuns o uso de leite cru e a adição do pingo, um fermento láctico natural, recolhido a partir do soro que drena do próprio queijo e que lhe transfere as características específicas, condicionadas pelo tipo de solo, pelo clima e pela vegetação de cada região. O modo próprio de fazer queijo de Minas sintetiza, no queijo do Serro, no queijo da Canastra, no queijo do Salitre ou Alto Paranaíba, ou ainda Cerrado, um conjunto de experiências, símbolos e significados que definem a identidade do mineiro, reconhecida por todos os brasileiros. Por se tratar de um modo de fazer enraizado na comunidade mineira, o Modo Artesanal de fazer Queijo de Minas é considerado Patrimônio Cultural do Brasil sendo assim, o quarto bem registrado no Livro de Registro dos Saberes.

5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Técnico 13ªSR/IPHAN – MG; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.

6. VALOR:

Saberes. 7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO

CONSULTIVO / DATA: 56ª Reunião – 15/05/2008.

158Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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8. TERRITÓRIO:

Região do Serro, da Serra da Canastra e do Salitre.

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

10. METODOLOGIA: INRC. O trabalho se desenvolveu através de uma parceria entre o DPI e a 13ªSR/IPHAN. Elaboração de dossiê e dos anexos, Outros Projetos e Consultorias, com pesquisa e texto de José Newton Coelho Meneses.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Adição do pingo (fermento láctico natural a partir do soro que drena do próprio queijo e lhe transfere as características específicas.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. “Os instrumentos de salvaguarda, considerando o modelo de território do queijo artesanal de Minas devem: desenvolver um sentimento de pertencimento do grupo ao patrimônio e de afirmação da identidade local por parte dos habitantes da região; construir uma imagem que singulariza o produto e convida a conhecer o seu território; criar instrumentos de informação que sejam foco de atração para se conhecer e consumir o produto; potencializar comercialmente o produto cultural reconhecido. A par dessas prerrogativas, a construção de instrumentos de salvaguarda do queijo artesanal de Minas Gerais deve considerar, em amplitude toda a complexidade de seu território. (pg. 80, dossiê de salvaguarda).” “Recomendam-se as seguintes medidas: a) buscar parcerias das agências de pesquisa e financiamentos dos estudos sobre a produção do leite; b) estimular a associação e organização daqueles produtores envolvidos na fatura do queijo artesanal de Minas, que não se encontram organizados; c) contribuir para a valorização do bem como patrimônio cultural; d) criar instrumentos de informação para conhecimento e consumo do produto; e) potencializar comercialmente o produto cultural reconhecido; f) fomentar estudos, reuniões e parcerias para a aplicação de legislação referentes a denominação de origem controlada e certificação geográfica; g) adequar as unidades produtoras queijeiras à lei estadual nº 14.155, de 31/01/2002 (boas práticas na fabricação artesanal do queijo de Minas) pgs. 15 e 16, relatório DPI.” O dossiê de registro não apresenta um plano de salvaguarda; e as ações de salvaguarda estariam elencadas como indicativo no relatório técnico do DPI. Não há como aferir a sua conclusão ( X ) AÇÕES. Em andamento. Ações de Salvaguarda 2010. Reuniões entre os detentores do saber e parceiros para a elaboração do plano de salvaguarda e conformação do Comitê Gestor.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Registro-Superintendência da 13ª Regional do IPHAN – MG (Seção de Ouro Preto); Equipe Técnica do DPI/IPHAN; Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais. Verificar informações sobre parcerias nas observações.

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN. Apoio técnico: EMATER – Empresa de Assistência Técnica Rural; IMA – Instituto Mineiro de Agropecuária; UFV – Universidade Federal de Viçosa; UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais; CETEC – Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais; IEPHA /MG;

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AASER – Associação dos Amigos de Serro.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES: O pedido de registro, apesar de ter sido realizado pela SEC - Secretaria de Educação e Cultura de Minas Gerais, conta com anuência e apoio de diversas instituições e entidades, a seguir: Carta de Anuência de 26/02/2007, da AASER – Associação dos Amigos de Serro. Cartas de apoio: A1) cidadãos e associações da Cidade de Serro, em 16/11/2001; A2) apoio da Câmara Municipal de Serro, em 04/02/2002; A3) apoio da Prefeitura Municipal de Serro, em 02/03/2007; A4) apoio EMATER – Empresa de Assistência Técnica Rural, em 01/03/2007; A5) Texto de manifestação para o IPHAN: Prefeitura Municipal de Serro, P.M. de

Sabinópolis, P.M. de Dom Joaquim, P.M. de Alvorada de Minas, P.M. de Rio Vermelho, P.M. de Materlândia, P.M. de Serra Azul de Minas, P.M. de Santo Antônio de Itambé, P.M. de Paulistas, P.M. de Conceição de Mato Dentro, em 05/03/2007;

A6) Cooperativa dos Produtores de Derivados de Leite do Alto Parnaíba. Serra do Salitre, em 02/03/2007;

A7) Sociedade Civil Slow Foods Tiradentes, em 02/03/2007; A8) IEPHA/MG – Instituto do Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais,

em 14/03/2007; A10) Prefeitura Municipal de Medeiros. Serra da Canastra, em 12/04/2007; A11) APROCAME – Associação Produtores de Queijo Canastra de Medeiros, em 13/04/2007; A12) apoio EMATER – Empresa de Assistência Técnica Rural, em 13/04/2007.

17. FICHA Nº 013 DATA: 22/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN159

1. BEM REGISTRADO: Ofício dos Mestres de Capoeira.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.002863/2006-80. ABERTURA: março/2006. REGISTRO: 21/10/2008.

3. PROPONENTE: IPHAN/Brasília - DF. Site: www.iphan.gov.br.

Fonte: Eduardo Monteiro. IPHAN .

4. DESCRIÇÃO DO BEM: -----------------------------------.

5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Técnico 7ªSR/IPHAN – BA; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.

6. VALOR: Saberes.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 57ª Reunião – 15/07/2008.

8. TERRITÓRIO: Brasil.

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, levantamento documental e trabalho de campo. A equipe técnica que compôs o dossiê de registro do bem foi coordenada por Wallace de Deus Barbosa, Assistente de Coordenação Maurício Barros de Castro, consultores Frederico J. de Abreu e Matthias R. Assunção, acompanhamento técnico da Superintendência Regional do IPHAN de Pernambuco Elaine Muller, e da Bahia Maria Paula Adinolfi.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Capoeira como prática de sociabilidade; como prática cultural; como estratégia identitária.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. O relatório técnico do DPI não apresenta plano ou ações de salvaguarda. O dossiê para registro do bem recomenda as seguintes medidas de salvaguarda: Reconhecimento do notório saber do mestre de capoeira pelo Ministério da Educação (MEC); plano de

159Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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previdência especial para os velhos mestres de capoeira; estabelecimento de um Programa de Incentivo da Capoeira no Mundo; criação de um Centro Nacional de Referências da Capoeira; plano de manejo da biriba e outros recursos; Fórum da Capoeira; Banco de Histórias de Mestres de Capoeira; realização de Inventário da Capoeira em “pgs. 94, 95 e 96 do dossiê de registro.” ( X ) AÇÕES. Em andamento. Realização de 11 reuniões do GTPC no Iphan-DPI; elaboração do edital de Concurso de Oscips; elaboração do edital Viva Meu Mestre-Minc; adaptação do edital Capoeira Viva do Ipac-Bahia; elaboração da plataforma on-line do Cadastro Nacional da Capoeira (início de 2010); elaboração da logomarca do Programa; articulação de colaboração com o Ministério da Previdência para aposentadoria dos mestres.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Registro-Superintendência da 7ª Regional do IPHAN – BA; Superintendência da 6ª Regional do IPHAN – RJ; Superintendência Regional do IPHAN – PE; Equipe Técnica do DPI/IPHAN.

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES: Anuência ao registro composto por dois abaixo-assinados, totalizando 60 páginas, com assinaturas dos capoeiristas oriundos sobretudo do Rio de janeiro, Bahia e Pernambuco. Apresenta também como apoio a indicação da Câmara dos Deputados, de 02/06/2003, a inscrição da Capoeira como Patrimônio Imaterial, através de pedido realizado pela Deputada Alice Portugal, que encaminha ofício ao IPHAN solicitando prosseguimento do registro.

17. FICHA Nº 014 DATA: 22/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN160

1. BEM REGISTRADO: Ofício da Roda de Capoeira.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.02863/2006-80. ABERTURA: fevereiro/2006. REGISTRO: 21/10/2008.

3. PROPONENTE: Presidente do IPHAN. Site: www.iphan.gov.br.

Fonte: Eduardo Monteiro/Arembepe/Bahia (fev/2006).

4. DESCRIÇÃO DO BEM: A capoeira é uma manifestação cultural presente hoje em todo o território brasileiro e em mais de 150 países, com variações regionais e locais criadas a partir de suas “modalidades” mais conhecidas: as chamadas “capoeira angola” e “capoeira regional”. O conhecimento produzido para a instrução do processo permitiu identificar os principais aspectos que constituem a capoeira como prática cultural desenvolvida no Brasil: o saber transmitido pelos mestres formados na tradição da capoeira e como tal reconhecidos por seus pares; e a roda onde a capoeira reúne todos os seus elementos e se realiza de modo pleno. A Roda de Capoeira é um elemento estruturante desta manifestação, espaço e tempo onde se expressam simultaneamente o canto, o toque dos instrumentos, a dança, os golpes, o jogo, a brincadeira, os símbolos e rituais de herança africana - notadamente banto - recriados no Brasil. Profundamente ritualizada, a roda de capoeira congrega cantigas e movimentos que expressam uma visão de mundo, uma hierarquia e um código de ética que são compartilhados pelo grupo. Na roda de capoeira se batizam os iniciantes, se formam e se consagram os grandes mestres, se transmitem e se reiteram práticas e valores afro-brasileiros.

5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Técnico 7ªSR/IPHAN – BA; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.

6. VALOR: Forma de expressão.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 57ª Reunião – 15/07/2008.

8. TERRITÓRIO: Brasil.

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

160Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, levantamento documental e trabalho de campo. A equipe técnica que compôs o dossiê de registro do bem foi coordenada por Wallace de Deus Barbosa, Assistente de Coordenação Maurício Barros de Castro, consultores Frederico J. de Abreu e Matthias R. Assunção, acompanhamento técnico da 7ª SR da Bahia pela antropóloga Maria Paula Adinolfi.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Capoeira com pratica de sociabilidade -Como jogo, e nas suas diferentes configurações, a capoeira induz à socialização, à cooperação e à hierarquização, explicitando, também, uma ética perfeitamente codificada. Como diz a antropóloga do IPHAN, Maria Paula Fernandes Adinalfi no parecer 31/2008 incluído no processo, sob esse aspecto a capoeira representa “a formação de redes de sociabilidade e constituição da identidade e da autoestima de grupos afro-brasileiros, (...) a convivência respeitosa e harmoniosa entre diferentes grupos étnicos-raciais, etários e de gênero, no país e fora dele, promovendo, mais que uma ideologia, uma prática de diversidade cultural e de combate ao racismo e outras formas de preconceito (...) a socialização de crianças e jovens e o deselvolvimento de formas de ensino-aorendizagem capazes de envolver múltiplas dimensões de sua formação (física, psíquica, étnica, afetiva, lúdica) ”. Fonte: Parecer Conselho Consultivo; Capoeira como prática Cultural - capoeira constitui-se num referencial do legado cultural africano, especialmente bantu, no cadinho heterogêneo da formação brasileira. Mas como prática cultural historicamente ativa, ela se modifica no curso de sua historicidade, gerando as formas regionais e a “contemporânea”. Os elementos constitutivos da roda são talvez o principal aspecto dessa prática, já que envolvem dança, canto, toque de instrumentos, luta, golpes, brincadeiras, rituais e símbolos. Mas a eles se acrescentam o ofício do mestre de capoeira, supondo conhecimentos e habilidades especificas e sua instrução aos neófitos. Este ofício, por sua vez, com seu “mestre”, remete ao papel dessa figura medieval (o mestre de ofícios) e, outras manifestações culturais que se estendem do Brasil colonial ao contemporâneo, como o mestre das festas do Divino ou da Folia de Reis, entre outros. Por isso, a capoeira constitui-se também uma visão de mundo, que se expressa em diferentes configurações, como a lúdica, a estética, a física e a desportiva. Africanidade, historicidade, sobrevivência estrutural no tempo e visão de mundo informam a prática cultural da capoeira, assegurando-lhe a personalidade. Fonte: parecer Conselho Consultivo; Capoeira como estratégia identitária - Desde os estudos do antropólogo Melville Herskovits, na década de 40, mostrou-se a relação da capoeira com “danças de combates” semelhantes encontradas em diferentes culturas da África e da própria América. Entretanto, isso não significa elidir o fato de que, em diferentes momentos da história brasileira, a capoeira constituiu-se como uma estratégia identiária de grupos étnicos, inclusive de resistência negra e como tal foi percebido não só por seus praticantes, como por aqueles que procuram reprimi-los. Por este fato e pela disseminação da capoeira ao longo do século XX, ela sem dúvida contribuiu e contribui para a identidade nacional brasileira, sendo um de seus trações marcantes e expressando-se como tal em variados aspectos da produção cultura, e particularmente artística, do país. Parecer Conselho Consultivo.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. O relatório técnico do DPI não apresenta plano ou ações de salvaguarda. O dossiê para registro do bem recomenda as seguintes medidas de salvaguarda: reconhecimento do notório saber do mestre de capoeira pelo Ministério da Educação (MEC); plano de previdência especial para os velhos mestres de capoeira; estabelecimento de um Programa de Incentivo da Capoeira no Mundo; criação de um Centro Nacional de Referências da Capoeira; plano de manejo da biriba e outros recursos; Fórum da Capoeira; Banco de Histórias de Mestres de Capoeira; realização de Inventário da Capoeira em Pernambuco

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“pgs. 94, 95 e 96 do dossiê de registro.” ( X ) AÇÕES. Em andamento desde 2010. Realização de 11 reuniões do GTPC no Iphan-DPI; elaboração do edital de Concurso de Oscips; elaboração do edital Viva Meu Mestre-Minc; adaptação do edital Capoeira Viva do Ipac-Bahia; elaboração da plataforma on-line do Cadastro Nacional da Capoeira (início de 2010); elaboração da logomarca do Programa; articulação de colaboração com o Ministério da Previdência para aposentadoria dos mestres.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Registro-Superintendência da 7ª Regional do IPHAN – BA; Superintendência da 6ª Regional do IPHAN – RJ; Superintendência Regional do IPHAN – PE; Equipe Técnica do DPI/IPHAN.

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES: Anuência ao registro composto por dois abaixo-assinados, totalizando 60 páginas, com assinaturas dos capoeiristas oriundos sobretudo do Rio de janeiro, Bahia e Pernambuco. Apresenta também como apoio a indicação da Câmara dos Deputados, de 02/06/2003, a inscrição da Capoeira como Patrimônio Imaterial, através de pedido realizado pela Deputada Alice Portugal, que encaminha ofício ao IPHAN solicitando prosseguimento do registro.

17. FICHA Nº 015 DATA: 24/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN161

1. BEM REGISTRADO: Modo de Fazer Renda Irlandesa, tendo como referência este ofício em Divina Pastora/SE.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.001501/2007-52. ABERTURA: janeiro/2007. REGISTRO: 29/01/2009.

3. PROPONENTE: Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlandesa de Divina Pastora ASDEREN Localização: Divina Pastora/SE. Endereço: Praça da Matriz, nº 125 centro. Fone:(79)3271-1289.

Fonte: Acervo IPHAN.

4. DESCRIÇÃO DO BEM: O modo de fazer Renda Irlandesa se constitui de saberes tradicionais que foram ressignificados pelas rendeiras do interior sergipano a partir de fazeres seculares, que remontam à Europa do século XVII, e são associados à própria condição feminina na sociedade brasileira, desde o período colonial até a atualidade. Trata-se de uma renda de agulha que tem como suporte o lacê, cordão brilhoso que, preso a um debuxo ou risco de desenho sinuoso, deixa espaços vazios a serem preenchidos pelos pontos. Estes pontos são bordados compondo a trama da renda com motivos tradicionais e ícones da cultura brasileira, criados e recriados pelas rendeiras. O “saber-fazer” é a qualidade mais característica da produção da Renda Irlandesa, a qual é compartilhada pelas rendeiras sob a liderança de uma mestra reconhecida pelo grupo. As mestras traçam o risco definidor da peça, que é apropriado coletivamente. Fazer Renda Irlandesa é, portanto, uma atividade realizada em conjunto, o que permite conversar, trocar idéias sobre projetos, técnicas e pontos. Neste universo de sociabilidades, são reafirmados sentimentos de pertença e de identidade cultural, possibilitando a transmissão da técnica e o compartilhamento de saberes, valores e sentidos específicos. A cidade de Divina Pastora se tornou o principal pólo da Renda Irlandesa em razão de condições históricas de produção vinculadas à tradição dos engenhos canavieiros, à abolição da escravatura e às mudanças econômicas que culminaram na apropriação popular do ofício de rendeira, restrito originalmente à aristocracia. Reinventando a técnica, os usos e os sentidos desse saber-fazer, as mulheres de Divina Pastora fizeram dele seu meio de vida.

5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.

161Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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6. VALOR: Saberes.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 58ª Reunião – 27/11/2008.

8. TERRITÓRIO: Divina Pastora/SE.

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, levantamento documental e trabalho de campo.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: PONTOS. Os pontos com os quais se faz a Renda Irlandesa sofreram e sofrem re-leituras

pelas rendeiras e são, muitas vezes, re-apropriados de outras rendas. São duas dezenas de

pontos apresentados em mostruário que consta no processo de Registro, os quais são

nomeados com base na analogia com formas semelhantes a animais e vegetais que

integram o universo das rendeiras, como por exemplo, pé-de-galinha, dente-de-jegue,

espinha-de-peixe, aranha, boca-de-sapo, casinha-de-abelha e abacaxi. Fonte: Parecer

DPI/IPHAN.

RISCO. O risco ou debuxo constitui-se no principal roteiro para a produção da Renda

Irlandesa, pois é a partir dele que se terá o produto final. O risco projeta no papel o desenho

da peça concebida pela artesã. No entanto, a arte de debuxar é restrita a poucas rendeiras,

pois conseguir a harmonia, regularidade, proporção e distribuição de volteios em uma peça

não é tarefa fácil. Quem sabe riscar está em patamar diferenciado em relação a outras

rendeiras e é, em geral, uma mestra do ofício. Sem risco não há renda e, em função disso,

os riscos são ambicionados e guardados ansiosamente pelas rendeiras que detêm sua

posse. Os riscos, além de significarem poder ao criarem dependência a uma detentora de

debuxo, são também mercadorias a serem vendidas. Fonte: Parecer DPI/IPHAN.

LACÊ. Cordão achatado, sedoso e com bastante brilho que desempenha a tarefa de dar suporte à renda. O desenho sinuoso feito pelo lacê sobre o debuxo é o que forma os espaços que serão preenchidos pela linha e agulha. Esse material foi introduzido nessa arte pelas mulheres da região de Divina Pastora e passou, atualmente, a ser elemento identificador da Renda Irlandesa. Tal cordão brilhante confere sofisticação, distintividade e identidade à essa renda, distanciando-a da renda Renascença, que apresenta o mesmo traçado sinuoso e pleno de volteios. Fonte: Parecer DPI/IPHAN.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. O dossiê para registro do bem e o relatório técnico do DPI não apresenta planos ou ações de salvaguardas. O relatório do DPI ao apontar o modo de fazer renda irlandesa no contexto da salvaguarda do patrimônio cultural elenca linhas de ações identificadas com a colaboração das rendeiras: fortalecimento da associação; divulgação do modo de fazer renda na própria comunidade em que vivem as rendeiras; inserção da renda numa rota turística;Não há como aferir a conclusão dessas ações identificadas pelo IPHAN como recomendações.

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( X ) AÇÕES. Em andamento desde 2010. Reuniões entre os detentores do saber e parceiros para a elaboração do plano de salvaguarda e conformação de Comitê Gestor.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Registro-Superintendência do IPHAN em Sergipe; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; CNFCP – Centro Nacional do Foclore e Cultura Popular.

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES: Anuência ao registro composto por abaixo-assinados, totalizando 180 assinaturas de rendeiras em Divina Pastora.

17. FICHA Nº 016 DATA: 24/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN162

1. BEM REGISTRADO: Ofício do Sineiro

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.011821/2009-82. ABERTURA: novembro/2001. REGISTRO: 03/12/2009.

3. PROPONENTE: Governo do Estado de Minas Gerais (13 de agosto de 2001/Secretaria do Estado de Cultura). Endereço: Belo Horizonte/MG, Palacete Dantas, Praça da Liberdade, 317. Site: www.cultura.mg.gov.br.

Fonte: Acervo IPHAN.

4. DESCRIÇÃO DO BEM: O Ofício de Sineiro, tendo como referência as cidades de São João del-Rei, Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes, em Minas Gerais, é uma prática tradicional, vinculada ao ato de tocar os sinos das igrejas católicas para anunciar rituais e celebrações religiosas, atos fúnebres e marcação das horas, entre outras comunicações de interesse coletivo. A tradição do toque dos sinos, eminentemente masculina, se mantém viva nessas cidades como referência de identidade cultural da população local, e como atividade afetiva, lúdica e devocional de sineiros voluntários e profissionais. A estrutura, composição e o saber tocar sinos estão na memória e na habilidade dos sineiros, que conhecem de cor um repertório não escrito de toques, constituídos de pancadas, badaladas e repiques (executados com o sino paralisado) e de dobres (executados com o sino em movimento), adequados às ocasiões festivas ou fúnebres. Os sineiros são, portanto, os detentores e os responsáveis pela reiteração e transmissão da habilidade e do conhecimento requeridos por essa forma de expressão e do seu repertório, pois essa prática não se aprende na escola. É aprendizado que requer observação, envolvimento e dedicação desde a infância, quando os meninos, que não têm acesso às torres, começam a reproduzir os sons dos campanários em panelas, postes, enxadas, picaretas e em tudo o mais que possa servir como objeto de percussão. Em geral, a partir da adolescência, eles passam a frequentar as torres das igrejas para ouvir, ver e acompanhar a execução dos toques. Aos domingos, na cidade de São João del-Rei, há a chamada Via Sacra, quando os aprendizes de sineiros percorrem as torres das principais igrejas da cidade para aprender e, ocasionalmente, tocar os sinos. Outra característica da formação dos sineiros está na profunda relação que costumam manter com bandas, orquestras, liras, escolas de samba e outros espaços de expressão da musicalidade, seja popular ou erudita. É possível, pelo toque, identificar um sineiro. A atividade de sineiro é uma prática e uma arte que envolve criação e aprimoramento dos toques, indo além, portanto, da mera repetição de um repertório. Sineiros experientes podem criar adereços para os sinos e novas técnicas que são incorporadas ao seu trabalho, como é

162Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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o caso da colocação de um gancho entre o badalo e a corda. Esta inovação, em especial, proporcionou significativa valorização do toque dos sinos e destaque a seus praticantes. Os sineiros se autoclassificam como antigos sineiros - aqueles que tocam os sinos esporadicamente e são chamados para esclarecer dúvidas; jovens sineiros - os que tocam os sinos no dia-a-dia; zeladores sineiros - os que devem dar condição aos jovens sineiros de executar a sua tarefa e tocar os sinos quando estes não conseguem; e mestres sineiros - os sineiros já falecidos que fazem parte da história da localidade e são referências desse saber e do seu ofício.

5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer PROFER; Parecer do Conselho Consultivo; Parecer Técnico de 13ª SR IPHAN/MG.

6. VALOR: Saberes.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 62ª Reunião – 03/12/2009.

8. TERRITÓRIO: Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Serro, Tiradentes.

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

10. METODOLOGIA: INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais (material sistematizado na forma de bibliografia, entrevistas, fichas do INRC, cadernos de textos, dossiês).

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. As recomendações de salvaguarda do ofício de sineiro são: •1. Documentar, com a qualidade técnica e precisão necessárias, os diferentes toques de sinos existentes nessas cidades; •2. Promover oficinas para recuperação dos toques nas cidades onde estes se perderam, considerando a memória local; •3. Promover oficinas para troca e difusão do repertório dos toques; •4. Incentivar a pesquisa acerca dessa forma de expressão bem como de sua história ao longo do tempo; •5. Difundir por outros mecanismos como publicações, documentação sonora e audiovisual, os resultados das pesquisas realizadas; •6. Realizar obras de manutenção e conservação das torres e dos sinos, de modo a viabilizar a continuidade dos seus toques e a melhoria das suas condições de expressão e reprodução; •7. Valorizar ofício de sineiro por meio da regulamentação de sua atividade nas igrejas, como uma forma de reconhecimento de sua contribuição para a preservação da cultura brasileira; •8. Identificar e documentar as irmandades, os rituais litúrgicos e as celebrações religiosas associados aos toques dos sinos, como forma de promover sua continuidade. Fonte: Parecer do Departamento do Patrimônio Imaterial. ( X ) AÇÕES. Em andamento.

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Sem informações.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Registro-Superintendência do IPHAN em Minas Gerais; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; ANUÊNCIA: Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural de Ouro Preto; Museu da Inconfidência; Prefeitura Municipal de Ouro Preto; Diretor do Museu de Arte Sacra de Ouro Preto; Arquidiocese de Mariana; Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais; PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO: 1ª Etapa Fundação de Ensino Superior de São João del-Rey – FUNREI / 2ª Etapa Santa Rosa Bureau Cultural / 3ª Etapa Núcleo Brasileiro de Percussão – NBP. ELABORAÇÃO DO DOSSIÊ: Ana Lúcia de Abreu Gomes.

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES: Inicialmente previsto apenas para São João del Rey, conforme oficio de solicitação de registro bem, os estudos são estendidos às cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes. Ainda, o parecer técnico enviado ao DPI pede um duplo registro, com a inscrição do Toque dos Sinos como registro das formas de Expressão, e do oficio do sineiro como registro de Saberes.

17. FICHA Nº 017 DATA: 24/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN163

1. BEM REGISTRADO: Toque dos Sinos em Minas Gerais

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.011821/2009-82. ABERTURA: novembro/2001. REGISTRO: 03/12/2009.

3. PROPONENTE: Governo do Estado de Minas Gerais (13 de agosto de 2001/Secretaria do Estado de Cultura). Endereço: Belo Horizonte/MG, Palacete Dantas, Praça da Liberdade, 317. Site: www.cultura.mg.gov.br.

Fonte: Acervo IPHAN.

4. DESCRIÇÃO DO BEM: O Toque dos Sinos em Minas Gerais é uma forma de expressão sonora produzida pela percussão dos sinos das igrejas católicas, para anunciar rituais religiosos e celebrações, como festas de santos e padroeiros, Semana Santa, Natal, casamentos, batizados, atos fúnebres e marcação das horas, entre outras comunicações de interesse coletivo. Esta prática, reiterada cotidianamente, especialmente em São João del-Rei, tem sido sustentada por irmandades religiosas leigas, que se constituíram junto a essas cidades durante o ciclo do ouro, e que se responsabilizam, desde então, pelos ofícios litúrgicos oferecidos à população, dentre estes, o de tocar os sinos. Onde as irmandades deixaram de existir, o toque dos sinos ainda se mantém como atividade afetiva, lúdica e devocional de sineiros voluntários, pois, em geral, não há envolvimento da Igreja com o toque dos sinos. Em contrapartida, naquelas cidades onde a presença desses sodalícios foi maior, o enraizamento da prática sineira é mais forte. Particularmente em São João del-Rei e em Ouro Preto, ainda se conservam diversos toques que existiam em antigas vilas e cidades da América portuguesa, atestando a continuidade histórica de suas expressões na memória coletiva das comunidades identificadas, que ainda hoje são capazes de decodificar a linguagem dos sinos e de entender seus significados. A forma de expressão do toque dos sinos relaciona sua dimensão estética à percepção sensorial e à sua função comunicativa, onde a ocasião e a estrutura do toque estão necessariamente associadas. A ocasião determina o ritmo a ser impresso ao toque: em celebrações festivas, ritmos acelerados, em ocasiões fúnebres, ritmos mais lentos e solenes. A estrutura dos toques é determinada por sua execução: com o sino paralisado são tocadas pancadas, badaladas e repiques; com o sino em movimento se tocam os dobres. A expressão dos sinos em São João del-Rei se constitui em referência para as demais cidades porque seus toques compõem um conjunto complexo não só de badaladas, pancadas, repiques e dobres, todos nomeados e com uma estrutura formal precisa, mas, também, porque apresentam um alto grau de sofisticação em sua forma de execução. Os repiques, geralmente, são executados com um conjunto mínimo de três sinos que “conversam” entre si: o sino menor (mais agudo) faz a marcação, o médio (meião) “pergunta” e o grande

163Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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(grave) “responde”. Uma forte influência da matriz cultural africana se faz presente na forma como os sinos eram e são tocados. Em Minas Gerais o barroco permanece, não apenas como estilo e expressão artística dominante no patrimônio cultural do estado, mas, ainda, como uma espécie de ethos ou visão de mundo que marca as cidades do ciclo do ouro e a expressão contemporânea do toque dos sinos. Esta, por sua vez, envolve uma complexa rede de relações entre irmandades, liturgia católica, religiosidade popular, musicalidade e sineiros, aos quais cabe a missão de manter e transmitir seus conhecimentos, habilidades e repertório de toques às novas gerações. O toque dos sinos é expressão reveladora da identidade das cidades inventariadas e da diversidade cultural brasileira. Seus habitantes se reconhecem e se distinguem daqueles de outras cidades porque atribuem um significado particular ao toque dos sinos, ao repertório dos toques, e ao som diferenciado de cada um dos sinos de bronze das torres das várias igrejas das suas cidades.

5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer PROFER; Parecer do Conselho Consultivo; Parecer Técnico de 13ª SR IPHAN/MG.

6. VALOR: Forma de expressão.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 62ª Reunião – 03/12/2009.

8. TERRITÓRIO: Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Serro, Tiradentes.

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

10. METODOLOGIA: INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais (material sistematizado na forma de bibliografia, entrevistas, fichas do INRC, cadernos de textos, dossiês).

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. As recomendações de salvaguarda do ofício de sineiro são: •1. Documentar, com a qualidade técnica e precisão necessárias, os diferentes toques de sinos existentes nessas cidades; •2. Promover oficinas para recuperação dos toques nas cidades onde estes se perderam, considerando a memória local; •3. Promover oficinas para troca e difusão do repertório dos toques; •4. Incentivar a pesquisa acerca dessa forma de expressão bem como de sua história ao longo do tempo; •5. Difundir por outros mecanismos como publicações, documentação sonora e audiovisual, os resultados das pesquisas realizadas; •6. Realizar obras de manutenção e conservação das torres e dos sinos, de modo a viabilizar a continuidade dos seus toques e a melhoria das suas condições de expressão e reprodução; •7. Valorizar ofício de sineiro por meio da regulamentação de sua atividade nas igrejas, como uma forma de reconhecimento de sua contribuição para a preservação da cultura brasileira;

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•8. Identificar e documentar as irmandades, os rituais litúrgicos e as celebrações religiosas associados aos toques dos sinos, como forma de promover sua continuidade. Fonte: Parecer do Departamento do Patrimônio Imaterial. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Sem informações.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Registro-Superintendência do IPHAN em Minas Gerais; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; ANUÊNCIA: Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural de Ouro Preto; Museu da Inconfidência; Prefeitura Municipal de Ouro Preto; Diretor do Museu de Arte Sacra de Ouro Preto; Arquidiocese de Mariana; Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais; PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO: 1ª Etapa Fundação de Ensino Superior de São João del-Rey – FUNREI / 2ª Etapa Santa Rosa Bureau Cultural / 3ª Etapa Núcleo Brasileiro de Percussão – NBP. ELABORAÇÃO DO DOSSIÊ: Ana Lúcia de Abreu Gomes.

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES: Inicialmente previsto apenas para São João del Rey, conforme oficio de solicitação de registro bem, os estudos são estendidos às cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes. Ainda, o parecer técnico enviado ao DPI pede um duplo registro, com a inscrição do Toque dos Sinos como registro das formas de Expressão, e do oficio do sineiro como registro de Saberes.

17. FICHA Nº 018 DATA: 24/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN164

1. BEM REGISTRADO: Festa do Divino Espírito Santo em Pirenópolis/Goiás.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.000715/2010-15. ABERTURA: fevereiro/2008. REGISTRO: 13/05/2010.

3. PROPONENTE: Pedido de Registro 14ª SR. Pedido de Registro Prefeitura Municipal de Pirenópolis. Pedido de Registro Irmandade do Santíssimo Sacramento da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário. Pedido de Registro Instituto Cultural "Cavalhadas de Pirenópolis".

Fonte: Maurício Pinheiro - Acervo INRC (IPHAN/2008).

4. DESCRIÇÃO DO BEM: Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis, no Estado de Goiás., segundo bem inscrito no Livro de Registro das Celebrações. É uma celebração de origem portuguesa, disseminada no período colonial pelo território brasileiro, com variações em torno de uma estrutura básica e dos símbolos principais do ritual - as folias, a coroação de um imperador, e o império. A esta estrutura básica, os agentes da Festa do Divino de Pirenópolis vêm incorporando outros ritos e representações, como as encenações de mascarados e cavalhadas, responsáveis pela grande notoriedade da festa, que se realiza nesta cidade a cada ano, desde 1819, durante cerca de 60 dias, com clímax no Domingo de Pentecostes, cinqüenta dias após a Páscoa. Constituída por vários rituais religiosos e expressões culturais, a Festa do Divino é uma celebração profundamente enraizada no cotidiano dos moradores de Pirenópolis e determinante dos padrões de sociabilidade local. Seus elementos essenciais, por ordem de ocorrência, são: as Folias “da Roça” e “da Rua”, que “giram” pela zona rural e pela cidade, levando as bandeiras do Divino e angariando donativos para a festa; a coroa, a figura do Imperador, as cerimônias e rituais do Império, com alvoradas, cortejos, novena, jantares e outras refeições coletivas, missas cantadas, levantamento do mastro, queima de fogos, distribuição de “verônicas”, sorteio e coroação do Imperador; as Cavalhadas, encenações de batalhas medievais entre mouros e cristãos, em honra do Imperador e do Espírito Santo; os Mascarados com máscaras de papel pintado, que circulam a pé e a cavalo pela cidade e pelo Campo das Cavalhadas; o Hino do Divino; o Coral de Nossa Senhora do Rosário; a Banda de Música Phoenix e a Banda de Couro ou Zabumba, que marcam os diversos rituais e cerimônias da celebração. Além destas, também constituem a Festa do Divino de Pirenópolis outras expressões e rituais agregados - desde seu início ou há várias décadas - e constantes da programação oficial, como a encenação de dramas, operetas e do auto natalino “As Pastorinhas”; o

164Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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Reinado de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito, com seus Congos e Congadas, realizados na segunda e terça-feira seguintes ao Domingo de Pentecostes; os ranchões dançantes; a feira livre e a Cavalhadinha, que é a reprodução-mirim dos rituais da festa. Realizada no feriado de Corpus Christi por crianças de até 12 anos, a Cavalhadinha busca transmitir para as novas gerações os valores e referências da identidade cultural da sociedade de Pirenópolis, de modo a estimular a continuidade da Festa do Divino.

5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer do Conselho Consultivo.

6. VALOR: Celebrações.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 63ª Reunião – 15/04/2010.

8. TERRITÓRIO: Pirenópolis/GO

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

10 METODOLOGIA: INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais; A empresa contratada para a pesquisa,

a Restarq – Arquitetura, Restauração e Arte Ltda, atendendo ao pressuposto da metodologia

do INRC. Foi agregado à equipe de pesquisa um técnico do Escritório do IPHAN de

Pirenópolis.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Medidas de Salvaguarda de implementação imediata: 1) Publicar glossário da Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis, de acordo com o Anexo de Bens Culturais do INRC produzido durante a pesquisa. Este glossário poderá se constituir em um importante instrumento de consolidação e divulgação das tradições locais, devendo ser distribuído às escolas e bibliotecas do município, além dos pontos de atendimento ao turista; 2) Devolver à população o conhecimento produzido durante a pesquisa, por meio de exposições de fotografia e exibição dos vídeos produzidos para a instrução do processo de Registro; 3) Criar mecanismos de consulta à população, para que esta se manifeste a respeito dos modos de proteção e manutenção da festa que considerem adequados, orientando e fortalecendo a construção de políticas de proteção e medidas de salvaguarda. Medidas de Salvaguarda de médio prazo: 1) Regular as atividades turísticas no município, promovendo o turismo cultural e o respeito às atividades da festa; 2) Implantar uma Escola Superior ou Conservatório de Música, para fortalecer a vocação musical da cidade e apoiar os talentos locais. Medidas de Salvaguarda de longo prazo: Construir e implantar políticas públicas voltadas para as questões de infra-estrutura do município, com especial atenção para as áreas de saúde e educação. Segundo o Banco de dados do IPHAN, as ações de recomendações estariam conclusas,

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sem podermos aferir quanto às demais recomendações. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Sem informações.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Registro-Superintendência do IPHAN em Goiás; Equipe Técnica do DPI/IPHAN. ANUÊNCIA: Agência de Cultura Pedro Ludovico – AGEPEL , Pirenópolis; Câmara Municipal de Pirenópolis; Imperadores da Festa do Divino Espírito Santo; PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO: RESTARQ / RESTAURAÇÃO ARQUITETURA E ARTE – NBP. ELABORAÇÃO DO DOSSIÊ: Marina A. M. De Macedo Soares.

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES: Inicialmente previsto apenas para São João del Rey, conforme oficio de solicitação de registro bem, os estudos são estendidos às cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes. Ainda, o parecer técnico enviado ao DPI pede um duplo registro, com a inscrição do Toque dos Sinos como registro das formas de Expressão, e do oficio do sineiro como registro de Saberes.

17. FICHA Nº 019 DATA: 24/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN165

1. BEM REGISTRADO: Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.010779/2007-11. ABERTURA: agosto/2007. REGISTRO: 05/11/2010.

3. PROPONENTE: ACIMRN – Associação das Comunidades Indígenas do Rio Negro. Localização: Santa Isabel do Rio Negro/AM. Endereço: Rua Laura Vicunã 01, 69740–000. Fone: (97) 3441-1258. E-mail: [email protected].

Fonte: Laure Emperaire – IRD

4. DESCRIÇÃO DO BEM: O Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro é entendido como um conjunto estruturado, formado por elementos interdependentes: as plantas cultivadas, os espaços, as redes sociais, a cultura material, os sistemas alimentares, os saberes, as normas e os direitos. Esse bem cultural está ancorado no cultivo da mandioca brava (manihot esculenta) e apresenta como base social os mais de 22 povos indígenas, representantes das famílias linguísticas Tukano Oriental, Aruak e Maku (não identificadas), localizados ao longo do rio Negro em um território que abrange os municípios de Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas, até a fronteira do Brasil com a Colômbia e com a Venezuela. O Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro organiza um conjunto de saberes e modos de fazer enraizados no cotidiano dos povos indígenas que habitam a região noroeste do Amazonas, ao longo da calha do Rio Negro e das bacias hidrográficas tributárias. Esse bem cultural acontece em um contexto multiétnico e multilinguístico em que os grupos indígenas compartilham formas de transmissão e circulação de saberes, de práticas, de serviços ambientais e de produtos. É possível identificá-lo, uma vez que ele é elaborado constantemente pelas pessoas que o vivenciam. A bacia do Rio Negro é formada por um mosaico de paisagens naturais: floresta de terra firme, campina, vegetação de igapó e chavascal (fonte: ISA). Esta diversidade repercute na vida da população, especialmente nas atividades de caça, de pesca, de agricultura e na coleta de materiais para fabricação de artefatos e de malocas. Os povos indígenas detêm o conhecimento sobre o manejo florestal e sobre os locais apropriados para cultivar, coletar,

165Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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pescar e caçar. O saber envolvido no Sistema Agrícola do Rio Negro é estratégico para lidar com as limitações e potencialidades do ecossistema da região sem degradá-lo. Esse sistema está baseado na coivara, que é a derrubada de uma área de floresta primária ou de capoeira alta que, em seguida, é deixada para secar e depois é queimada. Nessas clareiras, são plantadas roças por um período de dois a três anos. Depois disso, são gradualmente abandonadas, sendo visitadas, apenas, para a coleta de frutos. Esse tipo de agricultura exige, também, a transferência contínua dos cultígenos de uma roça para a outra. Nesse sentido, fazer uma roça supõe estar inserido em uma rede de troca, fator essencial para a existência do sistema. O Sistema ocorre em condições de baixa pressão demográfica e implica na diferenciação de, no mínimo, três unidades: roças de primeiro ciclo de plantio da mandioca, roças de segundo ciclo com mandioca que serão progressivamente enriquecidas com fruteiras (sistemas agroflorestais) e capoeira. Essa prática de agricultura de queima e pousio é fundamental para esse sistema, pois daí advém seu caráter sustentável e de invisibilidade diante do manejo do agronegócio no Brasil, onde a paisagem é marcada por extensas plantações de monocultura. A agricultura de coivara é destinada ao consumo familiar e à venda de produtos em pequena escala. A mandioca é o principal cultígeno e sua importância nesse sistema não se restringe ao tubérculo comestível, mas, além disso, abrange toda a espécie que a planta representa, ou seja, a sua variedade genética. Todos os sentidos das agricultoras estão voltados para a espécie, deixando o tubérculo em segundo lugar. Diante dessa concepção singular de produto agrícola, é notável a grande diversidade de mandioca cultivada nas roças indígenas. Revela-se, assim, um sistema marcado pela produção de variedades de plantas como um valor em si, uma vez que não há relação direta entre o uso de uma variedade de mandioca e determinado produto (farinha, beiju, mingau, caxiri, etc). Nesse sentido, outros valores, que divergem daqueles que marcam a agricultura ocidental, estão na base desse sistema. Na agricultura ocidental, há uma estreita relação entre o cultígeno e o seu produto final e ocorre uma busca pela homogeinezação e pela alta produtividade. Outro aspecto de divergência entre a agricultura ocidental e a elaborada pelos indígenas do Rio Negro é que para estes a produção dessa diversidade é um bem coletivo que, necessariamente, deve circular e estar na rede de trocas das etnias envolvidas, enquanto para aquela trata-se de uma propriedade privada e da criação de patentes, o que implica no pagamento de royalties.

5. PARECERES: Parecer da Procuradoria Federal da República.

6. VALOR: Saberes.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 65ª Reunião – 4 e 5/11/2010.

8. TERRITÓRIO: Médio Rio Negro/AM (São Gabriel da Cachoeira, Santa Izabel do Rio Negro e Barcelos).

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, levantamento documental e trabalho de campo. Não foi aplicado o INRC.

• Pesquisa Médio Rio Negro o Programa PACTA – CNPq, Unicamp / Projeto DPI,

Documentação e Pesquisa sobre os sistemas agrícolas do Rio Negro / AM, ISA – DPI /

IPHAN;

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• Dossiê Organização: Laure Emperaire – IRD.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: • Plantas Cultivadas: Os elementos que estruturam este sistema são interdependentes e formam um todo organizado, entre eles, constam as plantas cultivadas. A principal é a mandioca, outras variedades de plantas acompanham a mandioca e, muitas vezes, são selecionadas por serem benéficas ao cultivo dessa. Nesse sentido, a presença de uma diversidade de espécies em uma roça é fundamental para o bom desenvolvimento de outras. Além disso, uma variedade ampla de plantas em uma roça é um indicativo de prestígio da agricultora. Para ter essa variedade, a agricultora deve estar inserida em uma rede de transmissão, isto é, de trocas de mudas, onde doadoras e receptoras realizam este trânsito que passa a fazer parte fundamental do melhoramento genético dessas plantas. Nesse contexto, é possível reconstituir a história da planta: de onde veio, para onde irá e por quais processos de melhoramento passou e passa. As roças, também, requerem um cuidado rigoroso das agricultoras, pois critérios estéticos estão implícitos na definição de uma boa agricultora. Entre as imagens que são construídas por uma agricultora faz parte ser generosa, saber trocar e cuidar bem de sua roça. Deste sistema, destaca-se, principalmente: a produção de uma diversidade de plantas provenientes do melhoramento genético feito pelas agricultoras e a necessidade de ter as mudas circulando entre essas mulheres. Essa circulação repousa sobre um vínculo coletivo de solidariedade, de manutenção de um patrimônio comum e de um compartilhamento de uma identidade entre as pessoas envolvidas e com as plantas. Fonte: Nota Técnica e Parecer do DPI; • Espaços - Os elementos que estruturam este sistema são interdependentes e formam um todo organizado, entre eles, constam os espaços. Na região do rio Negro, há uma maneira peculiar de atuar no espaço. As redes de trocas são independentes e passíveis de serem mapeadas, sendo que essas são efetivadas sem ter a sobreposição no plano espacial. Além disso, as agricultoras manejam de forma diferenciada, aproximadamente, dez áreas (vários tipos de roças, copeiras, espaços próximos às casas que abrigam plantas medicinais, fruteiras e plantas condimentares, etc). Nesse contexto, a superfície realmente utilizada é mínima e está inserida em uma matriz florestal em vários estágios de regeneração. Espaços fundamentais nesse sistema são os arredores da casa de forno ou casa de farinha e/ou espaços perto da casa, pois nesses acontece o manejo dessa diversidade agrícola, isto é, a experimentação de novas variedades. Fonte: Nota Técnica e Parecer do DPI; • Cultura Material - Os elementos que estruturam este sistema são interdependentes e formam um todo organizado, entre eles, consta a cultura material. O processamento da mandioca em seus vários produtos (farinha, goma, sumo e etc) acontece por etapas, que são realizadas com o uso de vários artefatos e cestarias. Os utensílios usados na transformação da mandioca são fabricados localmente, comprados ou trocados com outras etnias indígenas. Nas casas de forno estão concentrados estes utensílios, diante da diversidade de objetos aí encontrados, é possível perceber a complexidade envolvida no cultivo e processamento da mandioca. Os artefatos e objetos são as engrenagens da produção agrícola e alimentar, nesse sentido, a diversidade de plantas e de alimentos está diretamente ligada aos objetos em jogo na preparação dos alimentos. Fonte: Nota Técnica e Parecer do DPI; • Redes Sociais - Os elementos que estruturam este sistema são interdependentes e formam um todo organizado, entre eles, constam as redes sociais. A troca entre agricultoras é fundamental na circulação de sementes e de artefatos usados no processamento dos produtos. Como foi mencionado anteriormente (item 1), a elevada diversidade de plantas de uma produtora está relacionada à rede social construída por ela. A circulação de plantas se dá no âmbito familiar, circulam preferencialmente, entre a mãe ou a sogra e ego. Geralmente, essa rede de intercâmbio é formada por 15 a 30 “doadoras” por agricultora. Fonte: Nota Técnica e Parecer do DPI;

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• Sistemas Alimentares - Os elementos que estruturam este sistema são interdependentes e formam um todo organizado, entre eles, constam os sistemas alimentares. Na região do rio Negro, a alimentação tradicional é baseada no consumo de peixe e mandioca. Desse modo, os produtos derivados da mandioca figuram como os principais alimentos. A referência como prato típico comum às diferentes etnias é o quinhãpira, caldo de peixe com pimenta, consumida com beijus. Devido à complexidade dos modos de preparo dos derivados da mandioca, que demandam tempo, espaço e um alto consumo de água, nas cidades, estes produtos não são tão consumidos pelas etnias indígenas e são substituídos por outros. O consumo do caxiri, derivado da mandioca e juntamente com outros tubérculos como carás, batatas, aparece na literatura antropológica como fundamental nas culturas amazônicas. No entanto, nesta região, foi proibido por missionários, passou a ter uma conotação negativa e foi sendo, gradualmente, substituído por outras bebidas alcoólicas industrializadas. Nesses novos contextos, religiosos e em centros urbanos, onde se encontram as etnias indígenas do rio Negro, há modificações nos hábitos alimentares. Mesmo assim, ainda é possível ver a peculiaridades desse sistema alimentar local, construído sobre um amplo conhecimento do meio ambiente, do manejo agro-florestal, da domesticação de numerosas espécies vegetais e da preparação dos alimentos. Fonte: Nota Técnica e Parecer do DPI; • Saberes, Normas e Direitos - Os elementos que estruturam este sistema são interdependentes e formam um todo organizado, entre eles, constam os saberes, normas e direitos. Na região do rio Negro, a atividade agrícola, especialmente, o cuidado com a roça e o manejo de novas variedades é uma atividade feminina. Nesta atividade percebe-se uma habilidade tecnológica, um conhecimento para conservar e produzir uma alta diversidade de plantas, o que permite reconhecer a população local como “melhoristas”. Marca esta região o caráter coletivo da prática agrícola, tanto no que se refere ao acesso à terra quanto às plantas cultivadas. A ampla variedade de plantas aí encontradas provem da importância e do dinamismo das redes de trocas onde circulam mudas e sementes. Relações de sociabilidade definem todo este sistema, entre as agricultoras e suas doadoras de mudas e entre as próprias plantas. Neste contexto social, vigora um sistema de normas centrado em regras de uso coletivo em detrimento de regras de propriedade particular. Fonte: Nota Técnica e Parecer do DPI.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído segundo o banco de dados. O Dossiê de registro apresenta a composição de ações recomendadas a seguir: As demandas locais: perda dos valores culturais e simbólicos ligados ao sistema agrícola; debate das interfaces entre os saberes locais agronômicos e os saberes tecnológicos nesta mesma área; iniciativas de aproximação dos jovens; continuidade e fortalecimento de processos de pesquisas interculturais e experimentações; Ações de valorização cultural: primeira ação deste plano de salvaguarda no fomento à discussão sobre a construção de um novo projeto político pedagógico voltado às escolas diferenciadas com inclusão das questões afetas ao sistema agrícola local; Pesquisa e documentação: dimensão histórica do sistema agrícola; conservação de um patrimônio biológico; inserção econômica dos produtos agrícolas; A pesquisa prevê a realização de oficinas para: • definição de um quadro referencial das pesquisas a serem empreendidas; • capacitação em técnicas de base para documentação (principalmente GPS, vídeo,fotografia digital, uso de imagem satélite, gravação áudio, eventualmente lupa binocular); • discussão sobre temas de interesse local (arqueologia, história regional, história das comunidades, alimentação, instrumentos legais de proteção, mecanismos locais de regulação da produção, ...); Promoção de um diálogo entre gerações; Consulta regional sobre as demandas em torno do sistema agrícola.

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( X ) AÇÕES. Em andamento. Sem informações.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Instituições: Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro – ACIMRN, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, o Instituto Sócio Ambiental – ISA, o Programa PACTA – Populações, Agrobiodiversidade e Conhecimentos Tradicionais na Amazônia, cooperação bilateral Brasil-França do CNPq Universidade Estadual de Campinas – Unicamp e Institut de Recherche pour le Développement – IRD. Parcerias: Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – FOIRN o Associação Indígena de Barcelos – ASIBA. Dossiê Organização: Laure Emperaire – IRD.

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.

14. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES: Solicitação a Procuradoria da República de parecer. Apesar de não ser aplicado o INRC, o Dossiê de Registro é um dos mais completos enquanto pesquisa, indicadores e construção de ações de preservação do bem cultural. Ata de reuniaõ na Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro FOIRN com anuência de 214 associados, através de abaixo assinado em "monção" o registro do bem cultural.

17. FICHA Nº 020 DATA: 24/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN166

1. BEM REGISTRADO: Ritual Yaokwa do povo indígena Enawene Nawe.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.011160/2006-42. ABERTURA: agosto/2006. REGISTRO: 05/11/2010.

3. PROPONENTE: OPAN - Operação Amazônia Nativa. Localização: Cuiabá/MT. Endereço: Av. Ipiranga, 97 - Bairro Goiabeira. Site: www.opan.org.br.

Fonte: Acervo do IPHAN.

4. DESCRIÇÃO DO BEM: O Ritual Yaokwa é considerado a principal cerimônia do complexo calendário ritual dos Enawene Nawe, povo indígena de língua Aruak, cujo território tradicional e Terra Indígena estão localizados na região noroeste do estado de Mato Grosso. Com duração de sete meses, este ritual define o princípio do calendário anual Enawene, quando se dá a saída dos homens para a realização da maior de suas pescas - a pesca coletiva de barragem. O Ritual Yaokwa estende-se durante o período da seca, época marcada pelas interações com os temidos seres naturais do patamar subterrâneo, os Yakairiti. Na perspectiva nativa, estes seres estão condenados a viver com uma fome insaciável e precisam dos Enawene Nawe para satisfazer seu desejo voraz por sal vegetal, peixe e outros alimentos derivados do milho e da mandioca. Assim, os Enawene Nawe devem estabelecer uma relação de troca constante com esses espíritos para manter a ordem social e cósmica, trocas estas que ocorrem por meio de um complexo ciclo ritual que se distribui ao longo do ano. Para a realização deste ritual, o povo Enawene Nawe se divide entre os Harikare e os Yaokwa, em conformidade com os clãs que organizam sua sociedade. Os Harikare são os anfitriões, ou seja, os responsáveis pela organização do ritual e, como tais, permanecem na aldeia junto às mulheres, devendo preparar o sal vegetal, cuidar da lenha, acender o fogo e oferecer os alimentos, assim como limpar o pátio e os caminhos. Já os Yaokwa são os pescadores, que partem em expedições para acumular uma grande quantidade de peixe defumado e, assim, poder retornar para a aldeia e oferecer a pesca aos Yakairiti. O Ritual Yaokwa inicia-se em janeiro, com a colheita da mandioca e a coleta das matérias-primas, casca de árvore e cipó, para a construção do Mata - corpo central das armadilhas de pesca que deve ser acoplado às barragens a serem construídas nos rios. Neste período, realizam-se as primeiras oferendas de alimentos, cantos e danças aos Yakairiti. A pescaria do Ritual Yaokwa é organizada com a divisão da aldeia em nove grupos rituais de acordo com os clãs e com o conjunto de espíritos Yakairiti a que estão vinculados. Os pescadores, tendo removido os adornos que os identificam como humanos e se dividido em grupos, partem então para acampar às margens de rios de médio porte: rio Joaquim Rios (Tinuliwina e Muxikiawina), tributário do rio Camararé; rio Arimena e rio Preto (Olowina e Adowina),

166Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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tributários do rio Juruena e rio Nambikwara (Huyakawina), tributário do rio Doze de Outubro. O momento exato da partida é indicado, principalmente, pela floração da gramínea ohã (Gymnopogo foliosu) e pela fase lunar Tonaytiri. Estes sinais indicam o movimento migratório dos peixes das áreas alagáveis para as calhas dos rios, após a piracema. Chegando aos acampamentos, os pescadores dão início à construção da barragem de pesca, que deve seguir um procedimento rigoroso para evitar seu rompimento pela força da água. A pesca de barragem se baseia no mito de Dokoi, morto pelos peixes, cujo pai, Dataware, para vingar a morte do filho, arremessava paus nas águas dos rios, e esses se transformavam em barragens que passaram a funcionar como armadilha na captura dos peixes. A construção das barragens pelos Enawene Nawe os torna cúmplices dessa vingança. Nas barragens, a pesca dura dois meses e é orientada por homens mais velhos, conhecedores dos sinais emitidos pela natureza, que indicam cada etapa do rito. Em cada barragem, um ancião emissor de sopros e palavras poderosas, tendo o sal vegetal em mãos, volta-se para um dos pescadores, que representa os seres Yakairiti, oferece o sal como troca pelos peixes que os Yaokwa pretendem pescar com as armadilhas, e espera que esses seres conduzam os peixes até elas. O sal, então, é consumido, indicando que foi selada a parceria entre humanos e seres sobrenaturais. Com o estoque de peixes obtido, os pescadores se preparam para o retorno. No pátio da aldeia, eles representam os agressivos Yakairiti, enquanto os anfitriões representam os próprios Enawene Nawe, que os recepcionam aos pulos e gritos. Quando tudo parece se acalmar, as trocas iniciam-se: os pescadores entregam os peixes e recebem o sal vegetal e as bebidas de mandioca e de milho. Isto significa que a ira dos Yakairiti foi aplacada e que eles foram domesticados. Os anfitriões, em seguida, repõem nos pescadores os adornos retirados, humanizando-os. Os peixes e os alimentos vegetais então produzidos e acumulados irão abastecer os banquetes festivos que ocorrerão diariamente ao longo de mais alguns meses, em noites iluminadas por fogueiras e acompanhadas por cantos com flautas e danças. Orientado pela cosmologia Enawene e regulado pelos ciclos da natureza, o Ritual Yaokwa integra complexas relações de ordem simbólica e articula domínios distintos, porém indissociáveis e interdependentes da sociedade, da cultura e da natureza. Para que ele seja realizado, é necessário que se satisfaça um conjunto de elementos que estrutura, material e imaterialmente, performances específicas. Estes elementos envolvem determinadas condições ambientais que garantem a obtenção dos produtos animais e vegetais necessários à execução do rito. Engloba também um repertório de tradições orais, danças, cantos, instrumentos e outros saberes tradicionais. Fonte: Banco de Dados de Bens Culturais Registrados - BRC.

5. PARECERES: Parecer DPI, Parecer Conselho, Parecer Procuradoria Federal.

6. VALOR: Celebrações.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 65ª Reunião – 5/11/2010.

8. TERRITÓRIO: Mato Grosso.

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, levantamento documental e trabalho de campo. Elaboração do Dossiê INICIATIVA E PRODUÇÃO CULTURAL - Povo Enawene Nawe / OPAN- Operação Amazônia Nativa. COORDENAÇÃO DE PESQUISA: Andrea Jakubaszko; EQUIPE DE PESQUISA: Ana Paula Lima Rogers - Musica/Partituras, Instrumentos Musicais e Coreografias; Andrea Jakubaszko -Revisão Bibliográfica e Transmissão dos Conhecimentos;

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José Maria Andrade - Edificações e Arquitetura REDAÇÃO DO DOSSIÊ: Andrea Jakubaszko. Não foi aplicado o INRC.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Difícil de aferir sua conclusão. As Recomendações expostas no Dossiê são: 1. Que o Estado Brasileiro, no cumprimento da legislação e constituição brasileira, promova umacoordenação mais integrada, e equilibrada, entre as ações e competências dos diversos órgãose ministérios; 2. Que sejam efetivadas as recomendações propostas pela Câmara dos Deputados, de acordocom o relatório da VIII Caravana de Direitos Humanos, realizada em 2003, que estabelece determinações para os Ministérios, FUNAI, STF, STJ e TRFs, Congresso Nacional especificamente aos estados de MT, MS, SC e BA. 3. Que o Estado faça valer o cumprimento das determinações previstas pela Convenção do Clima; Convenção sobre a Biodiversidade; OIT; e Agenda 21; 4. Que o Estado garanta o direito de acesso aos recursos do ICMS Ecológico, junto aos municípios de Sapezal, Juína e Comodoro. ( X ) AÇÕES. Em andamento desde 2010. Sem informações.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Povo Enawene Nawe; OPAN- Operação Amazônia Nativa; IPHAN / MT; DPI / IPHAN.

14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES: Rico material iconográfico no dossiê. Não foi aplicado o INRC.

17. FICHA Nº 021 DATA: 26/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN167

1. BEM REGISTRADO: Festa de Sant‟Ana de Caicó/RN.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.004977/2008-26. ABERTURA: março/2008. REGISTRO: 10/12/2010.

3. PROPONENTE: Diocese de Caicó e Paróquia de Sant´Ana de Caicó. Localização: Caicó/RN. Endereço: Rua de João Maria 27 – Centro.

Fonte: Maria Iglê / Acervo INRC Seridó (IPHAN ) / 2007.

4. DESCRIÇÃO DO BEM: A Festa de Sant'Ana de Caicó/RN é uma celebração tradicional que ocorre há mais de 260 anos e reúne diversos rituais religiosos, profanos e outras manifestações culturais da região do Seridó norte-rio-grandense. A Festa está profundamente enraizada na história de Caicó, em particular, e do sertão potiguar, em geral, remontando aos processos de formação da sociedade brasileira, ainda, no período da colonização portuguesa. Ocorre anualmente da quinta-feira anterior ao dia 26 de julho, dia de Sant'Ana, até o domingo subsequente. A Festa inclui também um "ciclo preparatório" que se inicia, geralmente, no mês de abril. Ao longo dos séculos foram alteradas as composições cerimoniais e, atualmente, os principais eventos que ocorrem nos dias festivos são: o "ciclo de preparação da Festa de Sant'Ana" que inclui as Peregrinações Rurais e Urbanas e seus rituais de missa e procissão, assim como o Encontro das Imagens e a Peregrinação a Sant'Ana "Caravana Ilton Pacheco"; abertura oficial da Festa marcada por caminhada solene, quando o estandarte de Sant'Ana é hasteado em mastro localizado em frente à Catedral; as programações sócio-culturais promovidas tanto pela paróquia quanto pelo governo e população em geral, entre os quais se incluem: Jantar e a Feirinha de Sant'Ana, Arrastão da Juventude, Marcha dos Idosos, Baile dos Coroas, a Festa da Juventude, eventos na Ilha de Sant'Ana, Festa do Re-encontro, Festas dos Ex-alunos; as novenas, bênçãos, missas, demais ritos litúrgicos e expressões culturais a eles relacionadas, como o Ofício de Sant'Ana e o Hino de Sant'Ana; a Cavalgada e o Leilão de Sant'Ana, expressão de devoção dos vaqueiros e de rememoração; a Carreata de Sant'Ana, momento em que os motoristas, caminhoneiros, motoqueiros, ciclistas e pedestres seguem em cortejo para receber benção e acompanhar a novena em sua homenagem; a Missa Solene na qual ocorre também o fim da ornamentação do andor; o momento do "beija" que ocorre antes e depois da Procissão Solene; a Procissão de encerramento da Festa de Sant'Ana quando o andor circula pela cidade. Além das celebrações, os dias da Festa incorporam muitas outras manifestações culturais que contribuem para a construção das identidades e para a expressão deste complexo cultural. Desta forma, destacam-se também: os ofícios e modos de produção tradicionais das "comidas" do Seridó potiguar e dos muitos artesanatos sertanejos como, por exemplo, os bordados do Seridó; os diversos lugares significativos para a história e a identidade seridoense em geral e caicoense em particular como, por exemplo, o Poço de Sant'Ana; as

167Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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músicas e bandas, os Hinos, os poemas, o "Beija" e demais formas de expressão do sertão norte-rio-grandense. A Festa de Sant'Ana de Caicó/RN, constantemente ressignificada, se transforma também em ponto de convergência para a população de todo o Seridó, para migrantes, para turistas e para muitos que através dela reforçam seus sentimentos de pertencimento e de identidade. Este evento demarca um tempo e um espaço de sociabilidade no qual o sagrado e o profano se entrelaçam e se misturaram também a outras expressões culturais da região. Além de uma celebração representativa para este município, permite vislumbrar a diversidade das manifestações culturais e possibilita a compreensão abrangente de todo o Seridó potiguar. Assim, o espaço sagrado, as expressões narrativas, os atores sociais envolvidos e a tradição festiva são elementos que permitem manter a continuidade entre passado e presente. Fonte: Banco de Dados de Bens Culturais Registrados - BRC.

5. PARECERES: Parecer DPI, Parecer Procuradoria Federal, Parecer Conselho Consutivo.

6. VALOR: Celebrações.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 66ª Reunião – 9 e 10/12/2010.

8. TERRITÓRIO: Rio Grande do Norte.

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

10. METODOLOGIA: Sem metodologia descrita no dossiê que se assemelha a um estudo histórico antropológico, levando em considerações os valores históricos e artísticos da celebração como fator patrimonializante. O parecer do DPI indica a realização do INRC na Região do Seridó, tendo como consequência, a indicação da Festa de Sant‟Ana de Caicó/RN como bem cultural a ser registrado.CONSULTORIA IPHAN – INVENTÁRIO Romero de Oliveira e Marcos Vinícius Garcia; COORDENAÇÃO GERAL DO INVENTÁRIO DA CULTURA DO SERIDÓ: Julie Cavignac (DAN/UFRN) e Jeanne F. Leite Nesi (IPHAN/RN); COORDENADORES DO INRC – SERIDÓ POTIGUAR Muirakytan Kennedy (Celebrações).

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.

12. SALVAGUARDAS: Não há informações sobre salvaguardas nos dossiê de registro do bem cultural. O parecer do DPI indica algumas sugestões em pequeno, médio e longo prazos. Registro e documentação dos ofícios de chouriço e bordadeiras; comitê gestor para a festa; auxilio do poder publico na realização da festa; Recuperar e proteger o Poço de Sant‟Ana, Educação patrimonial nas escolas; incentivar pesquisas e publicações, bem com o Memória de Sant‟Ana; Criação de um roteiro histórico da festa para atração de visitantes.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Diocese de Caicó, Paróquia de Sant'Ana de Caicó, Museu do Seridó e Casa de Cultura de Caicó Zezinho Vídeo, Lydia Brito, Fábrica Murielle, Tarcisio Salustiano Silva , Site Kurtição, SEBRAE-CAICÓ, REDESIST/IE/UFRJ, Associação dos Caminhoneiros de Caicó.

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14. AÇÕES DE APOIO: Sem informações.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES: O processo de registro apresenta o apoio da população de Caicó somando 1330 assinaturas.

17. FICHA Nº 022 DATA: 26/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN168

1. BEM REGISTRADO: Bumba-meu-boi do Maranhão.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.007272/2008-61. ABERTURA: abril/2008. REGISTRO: 30/08/2011.

3. PROPONENTE: Comissão Interinstitucional de Trabalho: Superintendente do IPHAN/MA. Secretário Estadual de Cultura do MA; Presidente da Fundação Municipal de Cultura; Comissão Maranhense de Folclore; Grupo de Pesquisa Religião e Cultura Popular UFMA; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque da Baixada; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Zabumba; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Costa-de-mão; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Orquestra; Grupos de bumba-meu-boi alternativos.

Fonte: Edgard Rocha / 2007.

4. DESCRIÇÃO DO BEM: O Bumba-meu-boi é uma festa tradicional em que a figura do boi é o elemento central, porém reúne diversas outras manifestações culturais e assim se configura como um vasto “complexo cultural”. Muitas vezes definido como um folguedo popular, o Bumba-meu-boi extrapola o aspecto lúdico da brincadeira para fazer sentido como uma grande celebração em cujo centro gravitacional encontram-se o boi, o seu ciclo vital e o universo místico-religioso. Profundamente enraizado no cristianismo e, em especial, no catolicismo popular, o Bumba-meu-boi envolve a devoção aos santos juninos São João, São Pedro e São Marçal, que mobilizam promessas e marcam algumas datas comemorativas. Contudo, os cultos religiosos afro-brasileiros do Maranhão, como o Tambor de Mina e o Terecô, também estão presentes nessa celebração, uma vez que ocorre o sincretismo entre os santos juninos e os orixás, voduns e encantados que requisitam um boi como obrigação espiritual. O Bumba-meu-boi é vivenciado pelos brincantes ao longo de todo o ano. As apresentações dos Bois ocorrem em todo o estado do Maranhão e concentram-se durante os festejos juninos. Seu ciclo festivo e de apresentações pode ser apreendido em quatro etapas: os ensaios, o batismo do boi, as apresentações e a morte. O Bumba-meu-boi do Maranhão comporta diversos estilos de brincar - chamados de sotaques - sem que, contudo, se tornem manifestações distintas. Em geral, dividem-se os sotaques em cinco: Baixada, Matraca,

168Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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Zabumba, Costa-de-mão, Orquestra; contudo, estes estilos não são os únicos e existem ainda muitas variações, assim como Bois alternativos. Alguns aspectos intrinsecamente relacionados à celebração são o boi, a festa, os rituais, a devoção aos santos associados à manifestação, as músicas, as danças, as performances dramáticas, os personagens, os artesanatos e demais ofícios, os instrumentos, os diversos estilos (sotaques) de brincar o Bumba-meu-boi e o caráter lúdico. Assim, esta celebração articula várias formas de expressão e saberes. O Bumba-meu-boi é uma manifestação com grande capacidade de mobilização social, que reforça laços de solidariedade entre os brincantes e, consequentemente, contribui na (re)construção identitária. Fonte: Banco de Dados de Bens Culturais Registrados - BRC.

5. PARECERES: Parecer DPI, Parecer Conselho, Parecer Procuradoria Federal.

6. VALOR: Celebrações.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 68ª Reunião – 30/08/2011.

8. TERRITÓRIO: Doze municípios maranhenses: São Luís, Paço do Lumiar, Viana, Cedral, Mirinzal, Matinha, Curupu, Guimarães, Rosário, Axixar, Presidente Juscelino, Central do Maranhão, Penalva.

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

10. METODOLOGIA: INRC – Entre os anos de 2001 e 2004 fora realizado o inventario pelo CNFCP – Centro

nacional de Folclore e Cultura Popular, fruto do projeto de pesquisa Celebrações e Saberes

da Cultura Popular. sem ações subsequentes, complementado em 2007 pelo DPI.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.

12. SALVAGUARDAS: Recomendações de salvaguarda elaboradas ao longo do processo de Registro, dificultando o processo de verificação da recomendação e andamentos. O dossiê indica considerações genéricas, sobretudo quanto a documentação, transmissão, educação patrimonial, promoção audiovisual, articulação de lideranças e festivais.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Livro de Adesão datado de abril de 2007 com 1433 assinaturas. Ainda, conta o pedido de abertura dos estudos para Registro as assinaturas: Superintendente do IPHAN/MA. Secretário Estadual de Cultura do MA; Presidente da Fundação Municipal de Cultura; Comissão Maranhense de Folclore; Grupo de Pesquisa Religião e Cultura Popular UFMA; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque da Baixada; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Zabumba; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Costa-de-mão; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Orquestra; Grupos de bumba-meu-boi alternativos.

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14. AÇÕES DE APOIO: Sem informações.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES: Sem informações.

17. FICHA Nº 023 DATA: 26/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS

CULTURAIS PELO IPHAN169

1. BEM REGISTRADO: Saberes e Práticas Associados ao modo de fazer Bonecas Karajá.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.005542/2010. ABERTURA: abril/2010. REGISTRO: 25/01/2012.

3. PROPONENTE: Iny Mahadu Coordenação Localização: São Félix do Araguaia/MT Endereço: Rua do Comércio nº 227, Centro. E-mail: [email protected].

Fonte: Telma Camargo da Silva / 2009.

4. DESCRIÇÃO DO BEM: Os Saberes e Práticas Associados ao modo de fazer Bonecas Karajá são uma referência cultural significativa para o povo Karajá e representam, muitas vezes, a única ou a mais importante fonte de renda das famílias. Atualmente, a confecção dessas figuras de cerâmica, denominadas na língua nativa de ritxòkò (na ala feminina) e/ou ritxòò (na ala masculina), é uma atividade exclusiva das mulheres e envolve técnicas e modos de fazer considerados tradicionais e transmitidos de geração em geração. O processo de confecção envolve o uso de três matérias-primas básicas: a argila ou o barro – suù, que é a matéria-prima principal; a cinza – que funciona como antiplástico; a água utilizada para umedecer a mistura proveniente do barro e da cinza. Apesar de guardar algumas especificidades conforme as aldeias de Santa Isabel do Morro ou de Buridina, pode-se dizer que o modo de fazer ritxòkò consiste, basicamente, nas seguintes etapas: 1) extração do barro; 2) preparação do barro;3) modelagem das figuras;4) queima;5) pintura. A pintura e a decoração das cerâmicas estão associadas, respectivamente, à pintura corporal dos Karajá e às peças de vestuário e adorno consideradas tradicionais. Indicativos de categorias de gênero, idade e estatuto social, a pintura e os adereços complementam a representação figurativa das bonecas, que identificam então “o Karajá” homem ou mulher, solteiro ou casado, com todos os atributos que “a cultura” cria para distinguir convencionalmente essas categorias. O processo (criativo) de produção das ritxòkò ocorre por meio de um jogo de elaboração e variação de formas e conteúdos determinado por uma série de fatores, como a experiência, a habilidade técnica e a preferência estética da ceramista pela combinação dos motivos temáticos e dos diversos padrões de grafismo aplicados, a função do objeto, o acesso às matérias-primas e a disponibilidade de recursos financeiros para a compra de materiais, a exigência do mercado interno e/ou externo às aldeias, entre outros.

169Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Procuradoria Federal ; Parecer do Conselho Consultivo.

6. VALOR: Saberes.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 69ª Reunião – 25 de janeiro de 2012.

8. TERRITÓRIO: Território Karajá – GO/TO.

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

10. METODOLOGIA: As informações resultam de pesquisa de campo etnográfica e estudos bibliográfico (dossiê, introdução).

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Plano de salvaguardo elaborado com a auto-determinação indígena, respeitando direitos; salvaguardar o oficio o os modos de fazer as ritxókó; maior articulação entre os entes federativos ao desenvolvimento de projetos pela Associação da Aldeia Karajá e Associação Indígena Iny Mahadu, como oficinas para transmissão do saber fazer das bonecas, seus padrões gráficos, nome e significados, com a produção de livro; produção da cerâmica utilitária em desaparecimento. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Sem informações.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Abaixo assinado em Apoio contendo a assinatura de 72 indígenas. IPHAN, UFG, Museu Antopológico da UFG, FAPEG. MINC, FUNAI, FUNASA, MPU. Aldeia Wataú da Ilha de Bananal (TO). Iny Mahadu Coordenação com atuação em 15 aldeias Karajá (Aruanã, Mirindiba, Nova Tytemã, Watau, JK, Stª Isabel do Morro, Axiwe, Fontoura, Krehãwa, Hãwalora, Itxala, Ibutuna, Macaubas e Lago Grande). Universidade Católica de Goias.

14. AÇÕES DE APOIO: Sem informações.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES: População inserida em contexto urbano que envolve um contato Inter étnico cada vez mais regular e intenso com a sociedade regional envolvente. O turismo nas cidades de Aruanã e São Felix do Araguáia MT , onde as bonecas são vendidas, vem impactando negativamente nessas comunidades.

17. FICHA Nº 024 DATA: 26/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN170

1. BEM REGISTRADO: Ritxòkò: Expressão Artística e Cosmológica do Povo Karajá.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.005542/2010. ABERTURA: abril/2010. REGISTRO: 25/01/2012.

3. PROPONENTE: Iny Mahadu Coordenação Localização: São Félix do Araguaia/MT Endereço: Rua do Comércio nº 227, Centro. E-mail: [email protected].

Fonte: Raíssa Ladeira Tavares / 2010.

4. DESCRIÇÃO DO BEM: As Ritxòkò - Expressão Artística e Cosmológica do Povo Karajá - são uma referência cultural significativa para o povo Karajá e representam, muitas vezes, a única ou a mais importante fonte de renda das famílias. Atualmente, a confecção dessas figuras de cerâmica, denominadas na língua nativa de ritxòkò (na ala feminina) e/ou ritxòò (na ala masculina), é uma atividade exclusiva das mulheres e envolve técnicas e modos de fazer considerados tradicionais e transmitidos de geração em geração. As bonecas Karajá condensam e expressam importantes aspectos da identidade do grupo, além de simbolizar diferentes planos da sua sóciocosmologia. Mais do que objetos meramente lúdicos, as ritxòkòs são consideradas representações culturais que comportam significados sociais profundos, por meio dos quais se reproduz o ordenamento sócio-cultural e familiar dos Karajá. Com motivos rituais, mitológicos, da vida cotidiana e da fauna, as bonecas Karajá são importantes instrumentos de socialização das crianças que, brincando, se vêem nesses objetos e aprendem a ser Karajá. A pintura e a decoração das cerâmicas estão associadas, respectivamente, à pintura corporal dos Karajá e às peças de vestuário e adorno consideradas tradicionais. Indicativos de categorias de gênero, idade e estatuto social, a pintura e os adereços complementam a representação figurativa das bonecas, que identificam então “o Karajá” homem ou mulher, solteiro ou casado, com todos os atributos que “a cultura” cria para distinguir convencionalmente essas categorias. O processo (criativo) de produção das ritxòkò ocorre por meio de um jogo de elaboração e variação de formas e conteúdos determinado por uma série de fatores, como a experiência, a habilidade técnica e a preferência estética da ceramista pela combinação dos motivos temáticos e dos diversos padrões de grafismo aplicados, a função do objeto, o acesso às matérias-primas e a disponibilidade de recursos financeiros para a compra de materiais, a exigência do mercado interno e/ou externo às aldeias, entre outros.

170Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Procuradoria Federal ; Parecer do Conselho Consultivo.

6. VALOR: Formas de expressão.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 69ª Reunião – 25 de janeiro de 2012.

8. TERRITÓRIO: Território Karajá – GO/TO.

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

10. METODOLOGIA: As informações resultam de pesquisa de campo etnográfica e estudos bibliográfico (dossiê,

introdução).

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Plano de salvaguardo elaborado com a auto-determinação indígena, respeitando direitos; salvaguardar o oficio o os modos de fazer as ritxókó; maior articulação entre os entes federativos ao desenvolvimento de projetos pela Associação da Aldeia Karajá e Associação Indígena Iny Mahadu, como oficinas para transmissão do saber fazer das bonecas, seus padrões gráficos, nome e significados, com a produção de livro; produção da cerâmica utilitária em desaparecimento. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Sem informações.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Abaixo assinado em Apoio contendo a assinatura de 72 indígenas. IPHAN, UFG, Museu Antopológico da UFG, FAPEG. MINC, FUNAI, FUNASA, MPU. Aldeia Wataú da Ilha de Bananal (TO). Iny Mahadu Coordenação com atuação em 15 aldeias Karajá (Aruanã, Mirindiba, Nova Tytemã, Watau, JK, Stª Isabel do Morro, Axiwe, Fontoura, Krehãwa, Hãwalora, Itxala, Ibutuna, Macaubas e Lago Grande). Universidade Católica de Goias.

14. AÇÕES DE APOIO: Sem informações.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES: Indicação para registro como resultado do Dossiê Descritivo sobre o Ofício e os Modos de Fazer as Bonecas karajá. População inserida em contexto urbano que envolve um contato Inter étnico cada vez mais regular e intenso com a sociedade regional envolvente. O turismo nas cidades de Aruanã e São Felix do Araguáia MT , onde as bonecas são vendidas, vem impactando negativamente nessas comunidades.

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17. FICHA Nº 025 DATA: 26/08/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN171

1. BEM REGISTRADO: Fandango Caiçara.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.014268/2008-59. ABERTURA: novembro/2008. REGISTRO: 29/11/2012.

3. PROPONENTE: Associação de Cultura Popular Mandicuera. Localização: Paranaguá/PR. Endereço: R 49 - Jd 7 de Setembro, 0 - Ilha de Valadares.

Fonte: Felipe Varanda/ Vila Fátima - Ilha do Superagui -

Guaraqueçaba/PR/ junho 2005.

4. DESCRIÇÃO DO BEM: O Fandango Caiçara é uma expressão musical-coreográfica-poética e festiva, cuja área de ocorrência abrange o litoral sul do estado de São Paulo e o litoral norte do estado do Paraná. Essa forma de expressão possui uma estrutura bastante complexa e se define em um conjunto de práticas que perpassam o trabalho, o divertimento, a religiosidade, a música e a dança, prestígios e rivalidades, saberes e fazeres. O Fandango Caiçara se classifica em batido e bailado ou valsado, cujas diferenças se definem pelos instrumentos utilizados, pela estrutura musical, pelos versos e toques. Nos bailes, como são conhecidos os encontros onde há Fandango, se estabelecem redes de trocas e diálogos entre gerações, intercâmbio de instrumentos, afinações, modas e passos viabilizando a manutenção da memória e da prática das diferentes músicas e danças. O Fandango Caiçara é uma forma de expressão profundamente enraizada no cotidiano das comunidades caiçaras, um espaço de reiteração de sua identidade e determinante dos padrões de sociabilidade local.

5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Procuradoria Federal ; Parecer do Conselho Consultivo.

6. VALOR: Formas de expressão.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 71ª Reunião – 29 de novembro de 2012.

8. TERRITÓRIO: SP/PR (litoral norte do PR ao sul do Sp) As localidades seguiram a divisão municipal (Morretes, Paranaguá, Guaraqueçaba, Cananéia e Iguape).

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

171Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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10. METODOLOGIA: “Não existem dados de Metodologia de Pesquisa para exibir até o momento” Texto descritivo intitulado: Fandango Caiçara: expressões de um sistema cultural, apresenta-se, como o Dossiê de Registro do Fandango Caiçara.Responsável pelo inventário: Associação Cultural Caburé. Aplicação do INRC: oficina de treinamento da equipe coordenação com técnicos do Iphan e do CNFCP - Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, voltada especialmente para o preenchimento das fichas do INRC ( somente as fichas quanto ás formas de expressão) As informações resultam de pesquisa de campo etnográfica e estudos bibliográfico (dossiê, introdução).

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Elaboração de um Pré Plano de salvaguardo elaborado com as distribuição das linhas de Ação por temas a saber: Ensino/Aprendizagem; Apoio/Ajutório; Encontro, troca rede e multirão; Pesquisa e Memória; Importância e Condições de Continuidade; Divulgação. ( ) AÇÕES. Sem informação no processo de patrimonialização. Ações são desenvolvidas conforme dossiê de registro, anteriormente à titulação, conforme descrito na observação.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: As entidades que pleitearam o pedido de registro foram: Associação de Cultura Popular Mandicuéra (PR), Associação dos Fandangueiros de Cananéia (SP), Associação dos Fandangueiros do Município de Guaraqueçaba (PR), Associação dos Jovens da Juréia. (SP), Associação Rede Cananéia (SP), Associação Cultural Caburé (RJ), Instituto de Pesquisas Cananéia (SP), Instituto Silo Cultural José Kleber (RJ), Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas em Áreas Úmidas Brasileiras da Universidade de São Paulo (SP).Processo de Registro: IPHAN ( DPI; FNFCP; Regional do IPHAN em SP e PR e Associação Cultural Caburé.

14. AÇÕES DE APOIO: Sem informações.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES: As entidades que pleitearam o pedido de registro foram: Associação de Cultura Popular Mandicuéra (PR), Associação dos Fandangueiros de Cananéia (SP), Associação dos Fandangueiros do Município de Guaraqueçaba (PR), Associação dos Jovens da Juréia. (SP), Associação Rede Cananéia (SP), Associação Cultural Caburé (RJ), Instituto de Pesquisas Cananéia (SP), Instituto Silo Cultural José Kleber (RJ), Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas em Áreas Úmidas Brasileiras da Universidade de São Paulo (SP).Processo de Registro: IPHAN ( DPI; FNFCP; Regional do IPHAN em SP e PR e Associação Cultural Caburé.

17. FICHA Nº 026 DATA: 26/08/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN172

1. BEM REGISTRADO: Festa do Divino Espírito Santo de Paraty/RJ.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.015103/2007-13 ABERTURA: agosto/2011. REGISTRO: 03/04/2013.

3. PROPONENTE: Instituto Histórico e Artístico de Paraty Localização: Paraty/RJ. Endereço: Antiga Cadeia - Largo de Santa Rita Centro Histórico. Site: www.ihap.org.br.

Fonte: Lívia Lima.

4. DESCRIÇÃO DO BEM: A celebração do Espírito Santo é uma manifestação cultural e religiosa, de origem portuguesa, disseminada no período da colonização e ainda hoje presente em todas as Regiões do Brasil, com variações em torno de uma estrutura básica: a Folia, a Coroação de um imperador, e o Império do Divino, símbolos principais do ritual. A esta estrutura básica, a Festa do Divino de Paraty vêm incorporando outros ritos e representações que agregam elementos próprios e específicos relacionados à história e à formação de sua sociedade. O conhecimento produzido para a instrução do processo permitiu identificar os elementos constitutivos deste bem cultural, desde sua origem até sua expressão contemporânea, cuja síntese é a seguinte: A Festa do Divino Espírito Santo de Paraty, Rio Janeiro, é uma celebração profundamente enraizada no cotidiano dos moradores daquela cidade, um espaço de reiteração de sua identidade e determinante dos padrões de sociabilidade local. Constituída por vários rituais religiosos e expressões culturais, a Festa se realiza a cada ano, iniciando no Domingo de Páscoa, com o levantamento do mastro, e suas manifestações e rituais ocorrem ao longo da semana que antecede o Domingo de Pentecostes, principal dia da festa. A celebração propicia momentos importantes, símbolos de caridade e de colaboração entre a comunidade, como o almoço do Divino, a distribuição de carne

abençoada e de doces.

5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Procuradoria Federal ; O parecer do Conselho Consultivo não está disponibilizado.

6. VALOR: Celebrações.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 72ª Reunião – 03 de abril 2013.

172Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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8. TERRITÓRIO: Paraty – RJ.

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

10. METODOLOGIA: “Não existem dados de Metodologia de Pesquisa para exibir até o momento”. Segundo parecer do DPI o INRC fora aprovado com restrições, devendo ser refeito, conforme notas técnicas 07 e 09/2011 (pg 02) A instrução do Processo de Registro foi realizada inteiramente pela Regiona do IPHAN no RJ.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Segundo parecer do DPI o dossiê de Registro traz algumas recomendações (soltas) de salvaguardas que apontam incisivamente sobre a valorização da festa: calendário cultural da cidade; incentivo ao turismo religioso; produção, reprodução e circulação do bem cutural; sensibilização do poder local; valorização das formas de expressão e Mestres da Festa do Divino; promoção e divulgação do bem cultural. ( ) AÇÕES. Sem informação no processo de patrimonialização.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Abaixo assinado com 38 assinaturas da população de Paraty, através de documento organizado pelo Instituto Histórico e Artístico de Paraty. IPHAN Regional do Rio de Janeiro.

14. AÇÕES DE APOIO: Sem informações.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES: Pesquisa para registro realizada inteiramente pela Regional do IPHAN no Rio de Janeiro.

17. FICHA Nº 027 DATA: 26/08/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN173

1. BEM REGISTRADO: Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim.

2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.000828/2010-11. ABERTURA: ? REGISTRO: 05/06/2013.

3. PROPONENTE: Devoção do Senhor Bom Jesus do Bomfim Localização: Salvador/BA Endereço: Largo do Bonfim, 236 - Bonfim. CEP: 40415-475.

Fonte: Marcelo Reis / INRC Salvador/ 2010.

4. DESCRIÇÃO DO BEM: É uma celebração tradicional que ocorre desde o século XVIII. Sua origem remonta à Idade Média, na península ibérica e tem fundamento na devoção ao Senhor Bom Jesus, ou Cristo Crucificado. Esta celebração integra o calendário litúrgico e o ciclo de Festas de Largo da cidade de Salvador, e é realizada anualmente, sem interrupção, desde o ano de 1745. A Festa reúne ritos e representações religiosos, além de manifestações profanas e de conteúdo cultural, durante onze dias do mês de janeiro, iniciando-se um dia após a Epifania, ou do Dia de Reis. O conhecimento produzido para a instrução do processo permitiu identificar os elementos constitutivos deste bem cultural, desde sua origem até sua expressão contemporânea, cuja síntese é a seguinte: a Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim é uma celebração que articula duas matrizes religiosas distintas, a católica e a afrobrasileira, assim como incorpora diversas expressões da cultura e da vida social soteropolitana. Está profundamente enraizada no cotidiano dos habitantes de Salvador, é constituidora da identidade brasileira e manifestação com grande capacidade de mobilização social. Os elementos estruturais da Festa, por ordem de ocorrência, são os seguintes: as Novenas e Missas, como elementos estruturantes da liturgia, iniciam-se um dia após o Dia de Reis e terminam no sábado, véspera do Dia do Senhor do Bonfim; o Cortejo, um percurso de oito quilômetros que se forma na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, na Cidade Baixa, e culmina com a Lavagem da Igreja do Bonfim. Ocorre na quinta-feira anterior ao domingo e é o ponto de destaque da festa; a Lavagem das escadarias e do adro da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, propriamente dita, é realizada por baianas e filhas de Santo como missão familiar e religiosa. Com suas “quartinhas” com flores e água de cheiro, elas reverenciam o orixá Oxalá e abençoam os devotos; os Ternos de Reis, que se apresentam após o encerramento da última novena, no sábado à noite, em frente à Igreja do Bonfim; a Missa Campal, de caráter solene, no adro da Igreja do Bonfim, representando o ápice dos eventos litúrgicos e o encerramento da parte religiosa desta celebração. É realizada no segundo domingo após a Epifania e a Procissão dos Três Desejos com a presença da imagem peregrina do Senhor do Bonfim, esta última incorporada mais recentemente ao conjunto ritualístico da Festa. Além destas, há outro bens, expressões e rituais agregados e

173Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –

Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).

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também constitutivos da Festa do Bonfim, como: os Afoxés e grupos musicais que acompanham o Cortejo; os grupos de Capoeira que se apresentam espontaneamente ao longo do percurso e no Largo do Bonfim; os grupos de Bumba-meu-Boi; os Mascarados e a Burrinha; as carroças enfeitadas, puxadas por jegues, que inicialmente levavam a água usada na Lavagem; os rituais que envolvem a Medida do Senhor do Bonfim, fitas de tecido que são amarradas no pulso ou no gradil da Igreja; o cumprimento de promessas por parte dos devotos, as romarias e o depósito de ex-votos em dependência da Basílica. A Festa se completa com as rodas de samba na praça e nas barracas que se distribuem ao longo do percurso e no entorno da Igreja.

5. PARECERES:

6. VALOR: Celebrações.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 73ª Reunião – 05 de junho de 2013.

8. TERRITÓRIO: Salvador – BA.

9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.

10. METODOLOGIA:

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. As recomendações para salvaguardas, aparecem dispostas no texto do dossiê (pg 72-75) em articulações, sem a destinação de ações específicas, a saber: garantia de segurança aos participantes; apoio financeiro aos grupos de baianas, músicos e Ternos de Reis; cuidado com os animais existentes no cortejo; intervenção nas musicas executadas levando em consideração o hino popular e o repertorio de samba em homenagem ao Santo; educação patrimonial e promoção do bem cultural. ( ) AÇÕES. Sem informação no processo de patrimonialização.

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Abaixo assinado com 38 assinaturas da população de Paraty, através de documento organizado pelo Instituto Histórico e Artístico de Paraty. IPHAN Regional do Rio de Janeiro.

14. AÇÕES DE APOIO:Sem informações.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.

16. OBSERVAÇÕES:

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17. FICHA Nº 028 DATA: 26/09/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)174

1. BEM TOMBADO: Terreiro do Axé Opô Afonja

2. NÚMERO DO PROCESSO 1432- T 98 PERÍODO: ABERTURA.06/11/1998 NOTIFICAÇÃO 10/09/1999 TOMBAMENTO: 10/07/2000

3. PROPONENTE: DEPROT / IPHAN – Departamento de Proteção, tendo em vista atender a solicitação do Jornalista Fernando Coelho.

Fonte: portal.iphan.gov.br

4. DESCRIÇÃO DO BEM: Presente no dossiê de tombamento. Caráter descritivo histórico e etnográfico do terreiro e da família de santo. Descrição do terreno, edificações e elementos da natureza que compões o axé.

5. PARECERES: Parecer Jurídico. PGU/IPHAN, Parecer da Conselheira, Parecer do Conselho.

6. VALOR: Histórico; Etnográfico e Paisagístico.

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 19ª Reunião - 07/10/1999 .

8. TERRITÓRIO: Salvador Ba

9. BENS ASSOCIADOS: .Bens naturais (arvores, rios, etc)

10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico, Estudo topográfico. Estudo das edificações. Apresentação de dossiê para tombamento.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Em 09/03/99. 7SR encaminha a DEPROT oficio referente documentação probatória de propriedade do imóvel.Indica a inscrição no livro de tombo histórico e etnográfico, arqueológico e paisagístico.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Não encontrada ( X ) AÇÕES. Não encontrada

174Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de

Janeiro. IPHAN, até 2013.

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13. AGENTES ENVOLVIDOS: Proposta Ex officio em Memorando 249/98 da DEPROT / IPHAN, em virtude de uma solicitação do Jornalista Fernando Coelho , em oficio nº 22/09/98.r O eng e historiador da arte Marcus Tadeu Daniel Ribeiro, responde a Coordenação de Proteção quanto as dúvidas ainda existentes nos procedimentos de seleção dos terreiros, carentes de estudos e recomendações operacionais -. “Acredito que este, como também, vários outros temas culturais, necessitam de uma reflexão mais criteriosa, arrimados em estudos temáticos aprofundados, para que a Instituição possa Estabelecer, uma ótica de valoração e salvaguarda de nosso patrimônio cultural em sua visão mais ampla vernacular e a partir de uma política que permita – especialmente nos caso que escasseiam precedentes analógicos pelos quais o órgão, possa guiar-se – acautelar conjunto de coisas representativas da pluralidade cultura que se afirmou, tempos afora no lento processo de formação cultural da Nação Brasileira.”013pp Dossiê enviado pela 7SR contem analise histórica do Gantois por Antonio Risério, Fundação Cultural palmares solicita informações em janeiro de 1999 Quando da notificação de tombamento ao Terreiro em set/1999 o mesmo foi realizado com oficio encaminhado a PMS Antonio Imbassay, prefeito.

14. AÇÕES DE APOIO: Sem informação

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado

16. TRAJETORIA Proposta Ex officio DEPROT / IPHAN, em virtude de uma solicitação do Jornalista Fernando Coelho. Em 22/09/98. Direção do Departamento de documentação e Identificação encaminha oficio ao Arquivo Noronha Santos, para abertura do processo e reenvio ao DEPROT em Brasília para “inicio de sua instrução” reiterado pelo oficio nº 146 GAB/DEPROT. Em 15/01/99. A 7SR encaminha a DEPROT documentação referente ao processo de instrução. contem analise histórica do Gantois por Antonio Risério, documentação fotográfica que envolve as edificações e arvores sagradas), que é complementada com as informações adicionais de planta de situação, planta de delimitação, planta de entorno, documentação fotográfica complementar, lei municipal 3.515/85 que protege o terreiro através da APCP. Fundação cultura palmares solicita informações em janeiro de 1999 Em 09/03/99. 7SR encaminha a DEPROT oficio referente documentação probatória de propriedade do imóvel. (certidão de registro de imóveis) Em 22/04/99 a DEPROT encaminha parecer nº 20/99 a Procuradoria do IPHAN referente ao processo de tombamento e aborda (a organização dos cultos africanos no Brasil e o surgimento dos terreiros de candomblé e sua trajetória historia, o modo espacial do terreiro jeje-nagô, o terreiro do Axé Opô Afonjá em uma abordagem histórico e etnográfica da família de santo, bem como das questões espaciais das edificações e bens naturais) indicando o tombamento do terreiro e sua inscrição nos livros do tombo histórico e etnográfico, arqueológico e paisagístico. Compõem ainda o processo, acervo iconográfico, fotográfico, mapas, plantas, recortes de jornais que auxiliaram a compor o parecer da DEPROT. Em 02/09/99 a PROJUR emite parecer favorável ao tombamento Em 10/09/99 o IPHAN notifica o terreiro do Tombamento 28/09/99 o processo é encaminhado a conselheira Maria da Conceição de Moraes Coutinho

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Beltrão para examinar e opinar, e em 07/10/1999 a conselheira opina favoravelmente ao tombamento em seu parecer. 04/11/99 diretor do IPHAN encaminha homologação do tombamento que foi realizado por PORTARIA 499/99 E NÃO DECRETO. Em 16 de maio de 2000, é determinada a inscrição nos livros do tombo histórico e etnográfico, arqueológico e paisagístico pela Presidência do IPHAN, inscritos no livro de tombo em 10 de julho de 2000.

17. FICHA Nº 01 DATA: 20/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)175

1. BEM TOMBADO: Terreiro do Gantois, Ilê Iyá Omin Axé IYamassê

2. NÚMERO DO PROCESSO 1471 T 00 PERÍODO: ABERTURA.14/11/2000 NOTIFICAÇÃO 08/10/2002 TOMBAMENTO: 27/11/2007

3. PROPONENTE: Memorial Mãe Menininha do Gantois (Mônica Millet) / Associação São Jorge – Ebé Oxossi

Fonte: ceao.ufba.br

4. DESCRIÇÃO DO BEM: Presente no dossiê de tombamento. Caráter descritivo histórico e etnográfico do terreiro e da família de santo. Descrição do terreno, edificações e elementos da natureza que compões o axé.

5. PARECERES: Parecer da 7 SR; Parecer Jurídico.PGU/IPHAN, , Parecer do Conselho..

6. VALOR: Historico; Etnográfico e paisagístico..

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 37ª Reunião - 21/11/2002.

8. TERRITÓRIO: Salvador Ba

9. BENS ASSOCIADOS: .Bens naturais (arvores, rios, etc)

10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico, Estudo topográfico. Estudo das edificações. Apresentação de dossiê para tombamento.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Em 09/03/99. 7SR encaminha a DEPROT oficio referente documentação probatória de propriedade do imóvel.Indica a inscrição no livro de tombo histórico e etnográfico, arqueológico e paisagístico.

175Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de

Janeiro. IPHAN, até 2013.

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12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Não encontrada ( X ) AÇÕES. Não encontrada

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Solicitação de tombamento pela Memorial Mãe Menininha do Gantois (Mônica Millet) / Associação São Jorge – Ebé Oxossi em 30/06/2000 Em 20/05/2002 a 7 SR Solcicita a funcionária licenciada Marcia Sant‟Anna que “instrua o processo em tela”. Em 03/06/2002 a funcionária aceita a empreitada aguardando instruções da 7 SR. Prefeito notificado em oficio pelo iphan bsb em 04/10/2015.

14. AÇÕES DE APOIO: Sem informação

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado

16. TRAJETORIA Solicitação de tombamento pela Memorial Mãe Menininha do Gantois (Mônica Millet) / Associação São Jorge – Ebé Oxossi em 30/06/2000 Acompanha memorial Descritivo e estudo topográfico realizado pela Fundação Palmares em novembro de 1999. Do reconhecimento pela Fundação Palmares do Terreiro como Território Cultural Brasileiro em 23/02/2000 com descrição do perímetro + legislação soteropolitana terreiro como APCP desde 1985 Em 05/07/2000 o gabinete do presidente do IPHAN encaminha ao DEPROT a documentação de solicitação de tombamento. O despacho nº 478/00 da Direção de Proteção envia a 7 SR é notificada da instrução, que a pedido da divisão técnica de arquitetura indica a devolução do processo ao DEPROT alegando não possuir condição técnica para instrução.em 22/12/2000. Em 26/12/2000, a 7SR envia oficio a DEPROT alegando não ter condições de instruir o processo por: “tombamento especial”, “escassez técnica da 7SR” para instrução, solicita do DEPROT que envie técnico especializado ou contrate “pessoa credenciada” p20 para as pesquisas e estudos. Em 14/02/2002 a 7 SR solicita a PMS plantas das APCP e documentação relativa a desapropriação que responde em 22/02/2002 Em 21/03/2002 a 7 Sr informa o Gantois que os procedimentos para tombamento continuam, e solicita autorização para levantamento fotográfico e cartográfico, bem como estudo de bens móveis. Em 20/05/2002 a 7 SR Solicita a funcionária licenciada Marcia Sant‟Anna que “instrua o processo em tela”. Em 03/06/2002 a funcionária aceita a empreitada aguardando instruções da 7 SR. Em 31/05/2002 o processo retorna a 7SR ao seu pedido,. Inicia-se discussão sobre a comprovação da propriedade. A 7 SR Solicita ao 1º Cartório de Registro de Imóveis quanto a duvida que o terreno pertencesse a fazenda Garcia, portanto, espólio de Úrsula Martins Catharino. È apresentado um contrato de aforamento entre as partes datado de 1982 e reconhecido em cartório. O Cartório responde em certidão de 29/08/2002 a propriedade do imóvel aquém teria sido aforado. São anexados como documento o estatuto da Associação São Jorge – Ebé Oxossi, seu CGC d pessoa física. Assina um laudo antropológico denominado “Exposição de motivos para instrução de pedido

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de tombamento do Terreiro do Gantois” o antropólogo e professor Ordep Serra que indicava Caráter descritivo histórico e etnográfico do terreiro e da família de santo, e da importância do bem afro-brasileiro como referencia a identidade nacional. “ O Axé Iá Imassé goza, por isso (e pelos valores que defende) de elevada consideração na sociedade brasileira. Serve de Referência cultural insubstituível na crônica de um povo que teve destacada importância na formação da riqueza do Brasil, na construção de sua identidade e de sua cultura.pg081 Em 03/09/2002 ”a 7 SR através do Parecer Técnico n 383/02 se pronunciaria quanto ao tombamento do Gantois abordando( histórico do candomblé e da proteção dos terreiros, o “complexo jeje-nagô e a organização dos seus centros de cultos nos Brasil, o terreiro do Gantois em sua historia e família de santo, a justificativa de tombamento) assinado pela arquiteta Márcia Sant‟Anna.O processo agora se organiza em identificação do bem cultural, livro de tombo a se escrito, localização, delimitação da área a ser tombada. Critérios para a intervenção das áreas tombadas (limitada ao terreno), delimitação da área de entorno (critérios materiais), critérios para intervenção na área de entorno. Documentação fotográfica. Planta de localização, legislação municipal complementar, Indica-se o tombamento com inscrição nos livros histórico e etnográfico, paisagístico e arqueológico. Em 09/09/2002 o Parecer Técnico da 7 SR é encaminhado a DEPROT. Em 18/09/2002, a DEPROT encaminha a PROJUR o processo, referendando o parecer técnico da 7 SR. A NOTIFICAÇÃO para o tombamento é expedida pelo presidente sem data e sai no DOU de 08 de outubro de 2002. O oficio ao Terreiro seria em 08/10/0015 Em 04/10/2015, a PROJUR se posiciona favorável ao tombamento Prefeito notificado em oficio pelo IPHAN BSB em 08/10/2015. Em 21/10/2002 o processo em único volume é remetido ao conselheiro Luiz Phelipe Castro Andrès , e em 18/11/2002 responde de forma favorável ao tombamento histórico e etnográfico, paisagístico e arqueológico Através da portaria 683 de 17/12/2003, o MINC homologa a decisão do conselho e Somente em 07/01/2004 a Direção ao IPHAN solicita a inscrição no livro do Tombo que ocorre em

17. FICHA Nº 02 DATA: 20/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)176

1. BEM TOMBADO: Terreiro de Candomblé do Bate Folha Manso Banduquenqué.

: www.seppir.gov.br

2. NÚMERO DO PROCESSO 1486- T 01 PERÍODO: ABERTURA.06//2001 NOTIFICAÇÃO TOMBAMENTO: 14/08/2003

3. PROPONENTE: Sociedade Cruz Santa do Axé de Opô Afonjá, ratificada pela Sociedade Beneficente Santa Bárbara, ambas de Salvador, Bahia, no ano de 2000.

Fonte: www.seppir.gov.br

4. DESCRIÇÃO DO BEM: Presente no dossiê de tombamento. Caráter descritivo histórico e etnográfico do terreiro e da família de santo. Descrição do terreno, edificações e elementos da natureza que compões o axé.

5. PARECERES: Parecer Jurídico.PGU/IPHAN, Parecer da Conselheira, Parecer do Conselho.

6. VALOR: Histórico; Etnográfico e paisagístico. .

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 39ª Reunião - 14/08/2003

8. TERRITÓRIO: Salvador Ba

9. BENS ASSOCIADOS: .Bens naturais (mata, arvores, rios, etc)

10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico, Estudo topográfico. Estudo das edificações. Apresentação de dossiê para tombamento.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: ,Indica a inscrição no livro de tombo histórico e etnográfico, arqueológico e paisagístico. “No conjunto dos terreiros congo-angola existentes na Bahia, o Terreiro do Bate Folha, ou Manso Banduquenqué, é, reconhecidamente, o mais antigo em funcionamento e aquele que logrou preservar de modo mais bem sucedido seu espaço e suas tradições. É inegavelmente uma referência nacional do rito angola e de sua tradução espacial, bem como uma

176Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de

Janeiro. IPHAN, até 2013. Atas da 39ª Reunião do Conselho Consultivo (http://portal.iphan.gov.br/atasConselho)

Artigo Revitsta Rua.nº08 (http://www.portalseer.ufba.br/index.php/rua/article/viewFile/3240/2358)

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inestimável fonte de informação sobre as tradições religiosas e línguas trazidas pelo povo banto para o Brasil. O Terreiro do Bate Folha é ainda um exemplo de resistência popular a degradação ambienta1 de nossas cidades e de preservação do uso ritual e medicinal da nossa flora. Juntamente com outros terreiros de candomblé, testemunha a resistência cultural do povo negro no Brasil e a lenta e penosa construção de espaços para sua expressão religiosa e civil no seio de uma sociedade hostil. Testemunha ainda a contribuição negra ao nosso processo de urbanização e como modelos de organização especial de origem africana foram também responsáveis pela configuração de alguns bairros de nossas cidades,'” Marcia Santana in Ata do conselho consultivo. “"Reconhecer a importância e valor destes santuários, que abrigam em sua história toda a diáspora dos povos africanos, é portanto, trabalhar, ainda que de forma modesta, para a sua proteção e assim fazendo, cumprir uma obrigação constitucional de defesa da cultura do país. Tão expressiva é a carga de contribuições que os centros de culto afro-brasileiros abrigam para o entendimento do Brasil de hoje, que o ato de tombamento assume, neste caso, a plenitude de seus múltiplos significados. O primeiro deles tem o sentido de proteção e valorização de um bem cultural inestimável, mas há também o significado de reconhecimento, ainda que tardio, do legado imaterial, ou ainda o sentido de penitência face ao sacrifício desumano a que foram submetidas estas populações e que a nação não tem, de fato, como resgatar; e finalmente o sentido de homenagem a todos aqueles que anonimamente lutaram durante séculos pela preservação dos ritos religiosos para que chegassem até os dias de hoje" (Processo n° 1471- T-00, 2002)” fala do relator Luiz Phelipe. VALOR – Fala de Luiz Fernando, Presidente do IPHAN. “Trata-se de eminentes monumentos do patrimônio nacional, porque se encontram carregados da aura de "autenticidade" popular, privada e artesanal.”

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. “Ameaças de invasão do parque, de poluição das fontes, de depredação das construções - decorrentes do adensamento de uma ocupação urbana precária no entorno do Terreiro dificilmente serão contidas pela alteração formal do estatuto da instituição e do bem” 27p. Fala do relator Luiz Phelipe. ( X ) AÇÕES. Não encontrada

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Sociedade Cruz Santa do Axé de Opô Afonjá, ratificada pela Sociedade Beneficente Santa Bárbara, ambas de Salvador, Bahia, no ano de 2000. Sociedade Beneficente Santa Bárbara pessoa jurídica do Terreiro. Pareceres de especialistas convidados, como os antropólogos Ordep Serra (Caráter descritivo histórico e etnográfico do terreiro e da família de santo.) e Raul Lody (seu ciclo anual de festividades ),a Fundação Cultural Palmares já o definiu como Território Cultural Afro-Brasileiro e o Município de Salvador o incluiu em área de preservação

14. AÇÕES DE APOIO: Sem informação

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado

16. TRAJETORIA PROCEDIMENTAL Aberto em 2000. Instruído pela 7Sr. Laudo antropológico de Ordep Serra em setembro de 2002.Data da Homologação do Tombamento10/10/2003

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17. FICHA Nº DATA

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)177

1. BEM TOMBADO: Terreiro Casa das Minas Jeje

2. NÚMERO DO PROCESSO 1464 T 00 PERÍODO: ABERTURA.16/06/2000 NOTIFICAÇÃO 05/06/2002 TOMBAMENTO: 24/06/2009

3. PROPONENTE: Imandadade da Casa das Minas (Denil Prata Jardim) Assinam a solicitação: Presidente da Comissão Maranhense de Folclore e Prof. da UFMA; Centro de Cultura Popular da FUNCMA (Fundação de Cultura do Estado do Maranhão); Curador da Fundação Gilberto Freyre.

Fonte: http://casadasminas.blogspot.com.br/

4. DESCRIÇÃO DO BEM: Presente no dossiê de tombamento. Caráter descritivo histórico e etnográfico do terreiro e da família de santo. Descrição do terreno, edificações e elementos da natureza que compões o axé.

5. PARECERES: Parecer Técnico da SR, Parecer Jurídico.PGU/IPHAN, Parecer da Conselheira, Parecer do Conselho..

6. VALOR: Histórico; Etnográfico e paisagístico. .

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 35ª Reunião - 22/08/2002 .

8. TERRITÓRIO: São Luis do Maranhão

9. BENS ASSOCIADOS: Calendário litúrgico e Casa da Minas

10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico, Estudo topográfico. Estudo das edificações. Apresentação de dossiê para tombamento.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Recomendação para instrução do processo (art. 4º da portaria n11 de 11/09/1986): descrição histórica; delimitação de poligonal e sua representação gráfica, o “do mérito do valor cultural de tombamento” atrelada a uma justificativa para o tombamento e das

177Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de

Janeiro. IPHAN, até 2013.

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poligonais de entorno: sobre os bens móveis, identificação no terreno dos componentes naturais, agenciados e edificados por levantamento topográfico, fotográfico indicando possível mérito individual ou de elementos coletivos do conjuntos. A ambiência e visibilidade do bem continuam sujeitos as “condições específicas os bens naturais deverão ser analisados por planta topográfica considerando o meio antrópico (agenciamentos humanos), do meio físico (água, ar, solo relevo”) e do meio biológico (flora e fauna); tombamento isolado deve compor plantas de situação, plantas baixas, corte, elevações e cobertura. „no caso de bens imóveis, devem ser relacionados os elementos integrados e identificados os acervos de bens móveis merecedores de tombamento; Solicitação das certidões de propriedade, dispensadas quando imóveis da união estado e municípios. O uso e função sócio-cultural do bem ao longo do tempo, devem ser considerados .Não devem ser juntados aos processos bilhetes, anotações e correspondências informais A FUNCMA envia em um dossiê contendo as seguintes informações: “ 01 – CATEGORIA – Arquitetura Civil par Fins religiosos; MUNICIPIO: São Luis, LOCALIZAÇÃO, DENOMINAÇÃO. Casa das Minas,DADOS JURÍDICOS Maria Hosana e outros, PERÍODO século XIX, QUALIFICAÇÃO – arquitetura vernacular de valor principalmente ritualístico e ambiental, UTILIZAÇÃO ATUAL; residência e local de culto religioso (obrigações,)PERIGOS POTENCIAS, infiltração por água fluvial na cobertura e paredes, ESTADO DE CONSERVAÇÃO – bom e PROTEÇÃO EXISTENTE (nenhuma)28p..

12. SALVAGUARDAS: ( ) RECOMENDAÇÕES. Não encontrada ( ) AÇÕES. Não encontrada

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Imandadade da Casa das Minas (Denil Prata Jardim) Assinam a solicitação: Presidente da Comissão Maranhense de Folclore e Prof. da UFMA; Centro de Cultura Popular da FUNCMA (Fundação de Cultura do Estado do Maranhão); Curador da Fundação Gilberto Freyre. Escola de Samba Beija Flor de Nilópolis / RJ – Samba enredo de 2001.

14. AÇÕES DE APOIO: Sem informação

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado

16. TRAJETORIA Em 09 /05/2000 o Gabinete do Presidente envia a DEPROT cópia da solicitação. Em 02/06/2000 o DEPROT solicita a abertura do processo de tombamento encaminhado ao Departamento de Identificação e Documentação - DID.. Em 06/06/200 o DID solicita ao Arquivo Noronha Santos abertura do Processo, que encaminha à Chefe de divisão de estudo e acautelamento para “definição da denominação a ser utilizada quando da abertura do processo de tombamento opg05 Em 16/06 o processo é aberto notifica ao DEPROT setor de arqueologia em 19/06/2000, que se pronuncia ao DID favorável em 20/062000, indicando que a 3SR deverá ser notificada para instução do processo de tombamento, solicitando apoio da irmandade nessa instrução. Em 19/12/2000 a Comissão Estadual de Folclore encaminha a FUNCMA documentação para instrução do processo. A Comissão Maranhense de Folclore encaminha a 3 SR, em 21/12/2000 os seguintes

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documentos para compor e auxiliar a instrução do processo.(02 pranchas com o levantamento físico da Casa das Minas.-plantas com cortes e fachada ) Ainda, Sergio Ferreti, encaminha artigos sobre Caráter descritivo histórico e etnográfico do terreiro e da família de santo Jêje no Maranhão; bem como ensaios para revistas e jornais sobre o mesmo assunto. A FUNCMA envia em um dossiê a 3 SR contendo as seguintes informações sobre a Casa da Minas: “ 01 – CATEGORIA – Arquitetura Civil par Fins religiosos; MUNICIPIO: São Luis, LOCALIZAÇÃO, DENOMINAÇÃO. Casa das Minas,DADOS JURÍDICOS Maria Hosana e outros, PERÍODO século XIX, QUALIFICAÇÃO – arquitetura vernacular de valor principalmente ritualístico e ambiental, UTILIZAÇÃO ATUAL; residência e local de culto religioso (obrigações,)PERIGOS POTENCIAS, infiltração por água fluvial na cobertura e paredes, ESTADO DE CONSERVAÇÃO – bom. PROTEÇÃO EXISTENTE (nenhuma)28p Em 22/01/2001, Comissão Maranhense de Folclore, envia aoIPHAN BSB texto “Sobre o Entorno da Casa de Minas Jêje do Maranhão” Em 02/01/2001 a 3SR encaminha ao DID através do memorial 01/01 todos os documentos acima para serem incorporados ao processo de tombamento, incluindo ainda, Em 30/05/2001 a 3 SR recebe instruções pelo memorial 301/01 da DEPROT no sentido de instruir o processo de tombamento na SR. Em 04/06/2001 a Comissão Maranhense de Folclore encaminha a 3 SRdocumentação fotográfica e documentos históricos entre 1876 a 1914 . Em 26/03/2001 a 3 Sr solicita ao cartório de registro de imóveis a copia dos registros dos imóveis. Em 27/08/2001 a Comissão Maranhense de Folclore encaminha estudo fotográfico dos objetos da casa, do, do quintal e dos membros da Casa. Em 10/10/2001, a Divisão Técnica de Arquitetura remete a Diretora da 3 Sr o devido processo instruído, contendo: histórico, comprovação probatória de propriedade, Fotografias (exterior, inteiro da Casa, bens móveis e integrados, festas e entorno) plantas arquitetônicas e urbanísticas, proposta de delimitação de entorno, inspeção técnica e parecer técnico. Em 19/10/2001 a 3 SR encaminha a DEPROT o processo instruído endossando o parecer técnico da Divisão de Arquitetura. Em 21/03/2002 a DEPROT encaminha processo para PROJUR, Em 09/05/2002 a PROJUR emite parecer favorável ao tombamento Em 03/06/02 o IPHAN notifica o terreiro do Tombamento Em 29/07/02 o processo é encaminhado a conselheiro Luiz Phelipe Carvalho Castro Andrès para examinar e opinar, e em 17/08/2002 o conselheiro opina favoravelmente ao tombamento em seu parecer. Em 25/11/2002 o tombamento é homologado pela PORTARIA 637/02 E NÃO DECRETO. Em 02 de maio de 2004, é determinada a inscrição nos livros do tombo histórico e etnográfico, arqueológico e paisagístico pela Presidência do IPHAN, inscritos no livro de tombo em 24 de junho de 2009. Aviso do tombamento definitivo em 07 de maio de 2009.

17. FICHA Nº 04 DATA: 25/11/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)178

1. BEM TOMBADO: .Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá Láji

2. NÚMERO DO PROCESSO 1481- T 01 PERÍODO: ABERTURA.24/07/2001 NOTIFICAÇÃO 02/09/2004 TOMBAMENTO: 10/06/2009

3. PROPONENTE: Prefeitura Municipal de Salvador – em oficio n 68 ao IPHAN / BSB 10 abril de 2001. Assina Prefeito Antonio Imbassay

Fonte: http://www.terreiros.ceao.ufba.br/

4. DESCRIÇÃO DO BEM: Presente no dossiê de tombamento. Caráter descritivo histórico e etnográfico. Descrição do terreno, edificações e elementos da natureza que compões o axé.

5. PARECERES: Parecer técnico da 7SR-; Parecer Jurídico.PGU/IPHAN, Parecer do Conselheiro, Parecer do Conselho.

6. VALOR: Histórico; Etnográfico e paisagístico. .

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 45ª Reunião - 01/12/2004 .

8. TERRITÓRIO: Salvador Ba

9. BENS ASSOCIADOS: .Bens naturais (arvores, rios, etc)

10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico, Estudo topográfico. Estudo das edificações. Apresentação de dossiê para tombamento.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Terreno do terreiro, registrado no Registro Imobiliário de Salvador, desde 19/06/1858 como “A Roça de João Francisco Régis Recomendação para instrução do processo (art. 4º da portaria n11 de 11/09/1986): descrição histórica; delimitação de poligonal e sua representação gráfica, o “do mérito do valor cultural de tombamento” atrelada a uma justificativa para o tombamento e das poligonais de entorno: sobre os bens móveis, identificação no terreno dos componentes naturais, agenciados e edificados por levantamento topográfico, fotográfico indicando

178Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de

Janeiro. IPHAN, até 2013.

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possível mérito individual ou de elementos coletivos do conjuntos. A ambiência e visibilidade do bem continuam sujeitos as “condições especificados os naturais de verão ser analisados por planta topográfica considerando o meio antrópico (agenciamentos humanos), do meio físico (água, ar, solo relevo”) e do meio biológico (flora e fauna); tombamento isolado deve compor plantas de situação, plantas baixas, corte, elevações e cobertura. „no caso de bens imóveis, devem ser relacionados os elementos integrados e identificados os acervos de bens móveis merecedores de tombamento; Solicitação das certidões de propriedade, dispensadas quando imóveis da união estado e municípios. O uso e função sócio-cultural do bem ao longo do tempo, devem ser considerados .Não devem ser juntados aos processos bilhetes, anotações e correspondências informais: Justificativas de tombamento pelo parecer 0163/04 da 7 SR em 2004: importância histórica e etnográfica e degradação do espaço. Indica a inscrição no livro de tombo histórico e etnográfico, arqueológico e paisagístico.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Não encontrada ( X ) AÇÕES. Não encontrada

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Sociedade Mantenedora Sociedade São Jerônimo do Alaketu – (estatuto da associação é aprovada pela sociedade em 17 de maio de 1988) constituída juridicamente em 15/05/1989, sendo ao tempo da solicitação a Yalorixá da Casa Mãe Olga Francisca Régis.( a sacerdotisa, Olga de Alaketu, nascida Olga Francisaca Régis, é da 5ª geração de Otampe Ojarô, uma das princesas gêmeas raptadas em Ketu e trazida para o Brasil como escravas Fundação Cultural Palmares (Restauro em 2001, subsidia tecnicamente os estudos com plantas, levantamento topográfico através de empresa contratada. Um documento datado de 06/06/2002 do Professor, antropólogo e Babalorixá Julio Braga à 7 SR, informa aquilo que chama de “colcha de retalhos” no sentido de subsidiar a notificação do terreiro. O documento possui 19 pg e da conta de uma abordagem histórica etnográfica focada na família de santo da casa e na cosmologia do terreiro, além de uma descrição da situação física do terreiro. Em 2002, Interessante a atuação da PMS junto ao Terreiro, onde solicita ao IPHAN antes mesmo da notificação de tombamento da casa, um projeto para reforma da cozinha do terreiro, que é realizada pelo IPHAN e enviada a PMS o projeto completo com estudo topográfico, fotográfico planas de situação e de reforma antes da devida instrução do processo Em 2004, a 7 SR na pessoa do arquiteto e Diretor da Regional Frederico Mendonça solicita a servidora do IPHAN Márcia Sant‟Anna licenciada para doutorado que auxilie a instrução do processo, tendo em vista a sua atuação na instrução dos processos dos Terreiros do Opô Afonjá, Gantois e Bate Folha, que responde positivamente . O antropólogo Renato da Silveira prepararia um documento intitulado em 2004“Sobre a fundação do Terreiro do Alaketu” com 36 paginas e segue a mesma orientação do documento de Julio Braga, contudo mais bem elaborado. 50 Arrendatários do terreno e planta de localização. E o Terceiro volume, denominado de anexo,, constitui material recolhido e fornecido pelo Terreiro, procurando auxiliar na compreensão da importância de sua trajetória histórica, e seu valor etnográfico enquanto patrimônio afro-brasileiro. Compõem esse volume entrevista com Mãe Olga e outros membros do axé. Fotografias e recortes de jornais também compõem esse volume FORTE PRESENÇA DA COMUNIDADE NESSE DOCUMENTO.

14. AÇÕES DE APOIO: Sem informação

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15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado

16. TRAJETORIA Acompanha oficio solicitação descrição da família de santo da casa via analise historia e das condições físicas da casa. Em 2001 a direção do IPHAN solicita ao Prefeito de Salvador novo ofício para abertura do processo de tombamento ainda não ocorrido institucionalmente pelo oficio nº02 de 19 de janeiro de 2001, que ocorre através dooficio n 68 ao IPHAN / BSB 10 abril de 2001. Assina Prefeito Antonio Imbassay Em 13 de setembro de 2001 a Divisão de Estudos e Acautelamento e informada DEPROT – Departamento de Proteção da abertura do processo e da necessidade em notificar o bem. Em 01/02/2002 a 7ª SR do IPHAN na Bahia notifica o prefeito da abertura do processo e solicita auxilio na documental para o processo. Em 23/03/2004 a 7SR emite o parecer nº 0163/04-7SR referente ao processo de tombamento do Alaketu.(introduz a trajetória desse processo, aspectos históricos, descrição da roça hoje, legislação incidente e proposta de poligonal de tombamento, justificativas de tombamento, planta de localização, arrendatários do terreno, legislação municipal incidente de proteção natural , Área de proteção Sócio Ecológico APSE com limites de usos e ocupação, Os documentos do processo seriam divididos em três volumes, um primeiro com todas as informações ate aqui descritas até acomposição do parecer que indica o bem para tombamento; e um segundo volume, que constituiria o processo administrativo de tombamento após a indicação de mérito pela 7 SR. Constituem o 2º volume documento inicial que indica: identificação do bem cultural, livro de tombo a se escrito, localização, delimitação da área a ser tombada. Critérios para a intervenção das áreas tombadas (limitada ao terreno), delimitação da área de entorno (critérios materiais), critérios para intervenção na área de entorno. Documentação fotográfica e os documentos que compõem o fluxo burocrático do procedimento administrativo de tombamento até o decreto federal e a inscrição nos respectivos livros dos tombos. E o3º volume, denominado de anexo, constitui material recolhido e fornecido pelo Terreiro, procurando auxiliar na compreensão da importância de sua trajetória histórica, e seu valor etnográfico enquanto patrimônio afro-brasileiro. Compõem esse volume entrevista com Mãe Olga e outros membros do axé. Fotografias e recortes de jornais também compõem esse volume FORTE PRESENÇA DA COMUNIDADE NESSE DOCUMENTO Em 26/03/2004 o documento é encaminhado a então Gerência de Patrimônio Arquitetônico e bens móveis do IPHAN. Em 30/08/2004 a procuradoria federal no IPHAN se pronuncia através do parecer 010/04 que o processo encontra-se em condições de ser submetido ao conselho consultivo. Sem setembro de 2004. é lançado o edital para “notificação dos proprietários ou demais interessados no efeito do tombamento do terreiro do Alaketu. A PMS e a Sacerdotisa seria notificados por oficio, ambos, em 06/09/2004 No dia 08/09/2004 o processo é encaminhado pelo presidente do IPHSN ao conselheiro Luiz Phelipe de Carvalho Castro Andrès, para examinar e opinar e se pronuncia por Parecer em 25 de setembro de 2004. Em 17 de dezembro de 2004 o IPHAN envia ao MINC os volumes do processo de tombamento para Encaminhamentos como registro no livro o tombo e decreto de tombamento. O decreto de tombamento ocorre com a portaria federal nº348 de 21 de dezembro de 2004, assinada pelo então Ministro Gilberto Gil Moreira. Oficio da PROJUR de 02/04/2007 indica ao diretor do DEPAN da necessidade em efetuar a inscrição do bem nos respectivos livros do tombo

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17. FICHA Nº 05 DATA: 20/05/2014.

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)

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1. BEM TOMBADO: Casa de Chico Mendes e seu acervo

2. NÚMERO DO PROCESSO 1549- T 07 PERÍODO: ABERTURA.06/11/2007 NOTIFICAÇÃO 13/02/2008 TOMBAMENTO: 15/05/2008

3. PROPONENTE: INSTIUTO CHICO MENDES Elenira Mendes, filha do Seringueiro.

Fonte: http://www.ceci-br.org/

4. DESCRIÇÃO DO BEM: Trata-se de uma pequena casa de madeira o local da tragédia que comoveu o mundo e estabeleceu um novo período para a luta dos seringueiros e excluídos do Acre, o local que acabou virando atração turística e já chegou a receber mais de dez mil visitantes por ano. A primeira reforma financiada pelo Governo do Estado manteve as características originais da casa, da mesma época em que o líder ambientalista foi executado.A casa de Chico Mendes é um imóvel simplório, que obedece a um sistema construtivo tradicional da região, ainda de uso freqüente. A casa cabloca em madeira coberta de telha de barro possui apenas 4m de largura e pode ser edificada em menos de uma semana. Todo composto de tábuas verticais, inclusive as portas e janelas, o imóvel possui telhado em formato de V, de telha francesa.

5. PARECERES: Parecer Técnico da 16SR Parecer do DEPAM Parecer Jurídico.PGU/IPHAN, Parecer da Conselheira, Parecer do Conselho..

6. VALOR: Histórico;. .

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 56ª Reunião - 15/05/2008

8. TERRITÓRIO: Xapuri - AC

9. BENS ASSOCIADOS: .Bens naturais (mata, arvores, rios, etc)

10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico. Apresentação de dossiê para tombamento.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: A necessidade de proteção dessa singela construção de madeira, pintada de azul turquesa,

179Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de

Janeiro. IPHAN, até 2013. Atas da 56ª Reunião do Conselho Consultivo (http://portal.iphan.gov.br/atasConselho)

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surgiu a partir de 2005, devido a uma descaracterização do bosque que compõe a paisagem da casa, com a derrubada de algumas árvores e uma invasão urbana , "A Casa de Chico Mendes é, sem sombra de dúvida, uma casa histórica, porque remete simbolicamente à memória de uma pessoa importante que se notabilizou pela sua ação incansável em prol dos trabalhadores rurais, índios e seringueiros e pelas suas idéias preservacionistas que encontraram acolhida no mundo inteiro", destaca José Aguilera, arquiteto do IPHAN que apreciou o processo de tombamento. “Cumpre assim examinar se os bens aqui propostos ao tombamento -- uma casa com seu entorno e seus pertences -- têm sido mediadores sociais de memória, identidade e ação” 38p.conselheiro relator

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Não encontrada ( X ) AÇÕES. Não encontrada

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Comitê Chico Mendes, representativo de mais de vinte instituições, entre elas o Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular (CDHEP), o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) e a União das Nações Indígenas do Acre e Sul do Amazonas (UN

14. AÇÕES DE APOIO: Sem informação

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado

16. TRAJETORIA PROCEDIMENTAL A solicitação de tombamento, datada de 16 de agosto de 2006, foi encaminhada à 16 SR (Rondônia l Acre) pela Fundação. Chico Mendes e pelo Comitê Chico Mendes. O processo de tombamento foi aberto a 06 de novembro de 2007 (fls.141). Contém o processo fotografias, entrevistas, recortes jornais, catas, documentos dos processos Parecer PROJUR em de 18 de janeiro de 2008 Data da Homologação do Tombamento13/02/2008 OBS - Com efeito, a Constituição de 1988 permite ir-se além do critério de "vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil", como consta do art. 10. do Decreto-lei 25/1937 -- critério às vezes transformado nesse fenômeno virótico de contaminação cultural automática -- para níveis mais profundos e adequados

17. FICHA Nº 06 DATA 29/06/2015

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)180

1. BEM TOMBADO: Canoa de Tolda Lusitânia

2. NÚMERO DO PROCESSO 14473 T 01 PERÍODO: ABERTURA.2001 NOTIFICAÇÃO TOMBAMENTO: 22/06/2012

3. PROPONENTE: Canoa de Tolda – Sociedade Socioambiental do Baixo São Francisco, uma organização não governamental (ONG) e atual proprietária da embarcação, Brejo Grande/SE

Fonte: http://canoadetolda.org.br/

4. DESCRIÇÃO DO BEM: A canoa de tolda é o maior símbolo do Rio São Francisco e só existe no Brasil. As toldas originais eram grandes embarcações, mas a brasileira possui somente 16 metros de casco. É composta de leme, tábua de bolina, moitão e a tolda que servia para abrigo da alimentação e dos canoeiros. Teve grande importância econômica no transporte de mercadorias em toda a região do Baixo São Francisco.

5. PARECERES: Parecer Técnico da 16SR Parecer do DEPAM Parecer Jurídico.PGU/IPHAN, Parecer da Conselheira, Parecer do Conselho..

6. VALOR: Histórico;.artístico, etnográfico paisagístico .

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 66ª Reunião - 09/12/2010

8. TERRITÓRIO: Sergipe

9. BENS ASSOCIADOS: .Bens naturais (mata, arvores, rios, etc)

10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico. Apresentação de dossiê para tombamento.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO:

180Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de

Janeiro. IPHAN, até 2013. Atas da 66ª Reunião do Conselho Consultivo (http://portal.iphan.gov.br/atasConselho)

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12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Não encontrada ( X ) AÇÕES. Prêmio Rodrigo Melo Franco

13. AGENTES ENVOLVIDOS:

14. AÇÕES DE APOIO: Premio Rodrigo de Melo Franco de Andrade do IPHAN em 2011.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado

16. TRAJETORIA PROCEDIMENTAL Portaria MinC nº 77, de 19 de junho de 2012 homologa o tombamento nos livros do tombo.

17. FICHA Nº 07 DATA 25/10/2014

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)181

1. BEM TOMBADO: Saveiro de Vela de Içar, de nome, Sombra da Lua

2. NÚMERO DO PROCESSO 1615- T 10 PERÍODO: ABERTURA.20/10/2010 NOTIFICAÇÃO TOMBAMENTO: 22/06/2012

3. PROPONENTE: Instituto Viva Saveiro.

Fonte: www.vivasaveiro.org

4. DESCRIÇÃO DO BEM: Embarcação típica baiana, cantada e declamada, na poesia de Jorge Amado, na música de Dorival Caymmi, retratado nas fotografias de Pierre Verger, nas pinturas de Carybé. O Sombra de Lua é um dos últimos saveiros que preservam, na íntegra, as características originais de um saveiro de vela de içar de um mastro. Com tijupá e popa torada, possui 12,5 metros de comprimento por 4 de largura. De acordo com a Associação Viva Saveiro, foi construído pelo carpinteiro naval José Simão provavelmente em 1923.

5. PARECERES: Parecer do DEPAM Parecer Jurídico.PGU/IPHAN, Parecer da Conselheira, Parecer do Conselho..

6. VALOR: Histórico, Etnográfico, Paisagístico e Artístico

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 66ª Reunião - 09/12/2010

8. TERRITÓRIO: Recôncavo Baiano, BA

9. BENS ASSOCIADOS: .

10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico. Apresentação de dossiê para tombamento.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Retórica da perda “Por seus inequívocos valores históricos, artísticos e etnográficos, declara-se o IPHAN favorável ao tombamento do Saveiro Sombra da Lua, que enquanto primeiro e único exemplar protegido de embarcação desta tipologia passa a representar todos os últimos saveiros da Bahia, e recomenda sua inscrição nos Livros do Tombo Histórico, das Belas

181Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de

Janeiro. IPHAN, até 2013. Atas da 66ª Reunião do Conselho Consultivo (http://portal.iphan.gov.br/atasConselho)

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Artes e Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico” relatório técnico do DEPAM 12p. do modo de fazer das embarcações artesanais de forma a complementar esta estratégia, garantindo maior integração entre os dois departamentos. Pois se trata também do reconhecimento do quanto está contido nas memórias de velhos mestres carpinteiros navais e artesãos, construtores de embarcações, dos segredos e conhecimentos seculares que são transmitidos de pai para filho no anonimato de seus estaleiros artesanais muitas vezes perdidos em longínquas praias desertas ou margens e curvas de rios e lagos navegáveis. O tema das embarcações e das navegações está obrigatoriamente ligado à origem de grande parte das nossas cidades. Gravuras de época apenas nos relembram o óbvio de que as cidades da frente litorânea tinham incorporadas à sua paisagem a figura majestosa de grandes veleiros oceânicos ancorados, mas sempre cercados por centenas de pequenas e médias embarcações de madeira, como batéis, catraios e diversos tipos de canoas que tinham o papel vicinal de transferir cargas e passageiros e auxiliarem nas operações de embarque e desembarque

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Não encontrada ( X ) AÇÕES. Prêmio Rodrigo Melo Franco

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Associação Viva Saveiro, 7 SR, DEPAM

14. AÇÕES DE APOIO: Premio Rodrigo de Melo Franco de Andrade do IPHAN à Associação Viva Saveiro em 2010.

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado

16. TRAJETORIA PROCEDIMENTAL A solicitação de tombamento, datada de 20/10/2010 Parecer Técnico do DEPAM em 16/11/2010. Portaria MinC nº 75, de 19 de junho de 2012 homologa o tombamento com inscrição no livro do tombo.

17. FICHA Nº DATA

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)182

1. BEM TOMBADO: Canoa Costeira de Nome Dinamar

2. NÚMERO DO PROCESSO 1615- T 10 PERÍODO: ABERTURA.20/10/2010 NOTIFICAÇÃO TOMBAMENTO: 22/06/2012

3. PROPONENTE: Centro Vocacional Estaleiro Escola e da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Maranhão.

Fonte: http://www.secti.ma.gov.br/estaleiro-escola/

4. DESCRIÇÃO DO BEM: Os cúteres ou canoas costeiras são um dos maiores barcos tradicionais do Brasil. O convés é fechado, arrematado por cabine rasa. Na proa há um alongado gurupés (pau de giba) e a bita (frade), que usualmente apresenta forma de cabeça humana. O formato da vela, com cores vivas, é dado pela forte inclinação da carangueja, que, visualmente, converte sua forma quadrada em triangular. Quando navegam, essas embarcações impressionam: inclinam-se suavemente com o vento, enquanto colorem a Baía de São Marcos, no Maranhão, com as diferentes tonalidades de seus cascos e velas. Ainda hoje é possível encontrar exemplares que possuem o fundo do casco constituído por uma peça única, acrescida de outras tábuas que dão a forma final ao modelo, porém esta prática foi abolida por escassez de árvores, junto à costa, de tamanho e qualidade adequados.

5. PARECERES: Parecer do DEPAM Parecer Jurídico.PGU/IPHAN, Parecer da Conselheira, Parecer do Conselho..

6. VALOR: Histórico, Etnográfico, Paisagístico e Artístico .

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 66ª Reunião - 09/12/2010

8. TERRITÓRIO: Costa do Maranhão.

9. BENS ASSOCIADOS: .

10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico. Apresentação de dossiê para tombamento.

182Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de

Janeiro. IPHAN, até 2013. Atas da 66ª Reunião do Conselho Consultivo (http://portal.iphan.gov.br/atasConselho)

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11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Adesão ao programa “Barcos do Brasil”

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Não encontrada ( X ) AÇÕES. Não encontrada

13. AGENTES ENVOLVIDOS: Centro Vocacional Estaleiro Escola e da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Estado do Maranhão

14. AÇÕES DE APOIO: Sem informação

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado

16. TRAJETORIA PROCEDIMENTAL Parecer Tecnico do DEPAM em 16/11/2010., Edital de notiticação de tombamento em dou de 26/11/2010. Portaria MinC nº 73, de 19 de junho de 2012 INSCRIÇÃO LIVRO DO TOMBO

17. FICHA Nº 09 DATA 25/11/204

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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)1

1. BEM TOMBADO: Canoa de Pranchão do Rio Grande

2. NÚMERO DO PROCESSO 1615- T 10 PERÍODO: ABERTURA.20/10/2010 NOTIFICAÇÃO TOMBAMENTO: 22/06/2012

3. PROPONENTE: Museu Náutico da Furg / Centro de Convívio dos Meninos do Mar (CCMar/Furg)

Fonte: http://www.popa.com.br

4. DESCRIÇÃO DO BEM: Único modelo de embarcação tradicional propriamente desenvolvido no Rio Grande. A canoa de pranchão sobrevive a partir de ação institucional que garantiu a sobrevivência das últimas quatro centenárias canoas de pranchão de Rio Grande, todas de propriedade do Museu Náutico e restauradas pelo construtor naval José Vernetti.

5. PARECERES: Parecer do DEPAM Parecer Jurídico.PGU/IPHAN, Parecer da Conselheira, Parecer do Conselho..

6. VALOR: Histórico, Etnográfico, Paisagístico e Artístico .

7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 66ª Reunião - 09/12/2010

8. TERRITÓRIO: Rio Grande do Sul

9. BENS ASSOCIADOS: .

10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico. Apresentação de dossiê para tombamento.

11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Retórica da perda Saberes e fazeres Trata-se dos últimos exemplares de embarcações que faziam parte da rotina do País, seja

1Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de Janeiro.

IPHAN, até 2013. Atas da 66ª Reunião do Conselho Consultivo (http://portal.iphan.gov.br/atasConselho)

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na pesca, no comércio ou no transporte de pessoas e mercadorias. Atualmente, essas embarcações, apesar de frágeis, ainda guardam excepcionalidades tipológicas e construtivas, além do forte significado simbólico e afetivo loca O Brasil, apesar de sua riqueza e diversidade de embarcações, ainda não dispunha de nenhum exemplar sob proteção federal. Somente agora o país desperta para a importância que tem o seu patrimônio naval e a necessidade de conservá-lo para as gerações futuras.

12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Não encontrada ( X ) AÇÕES. Não encontrada

13. AGENTES ENVOLVIDOS:

14. AÇÕES DE APOIO: Sem informação

15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado

16. TRAJETORIA PROCEDIMENTAL Parecer Técnico do DEPAM em 16/11/2010., Edital de notificação de tombamento em dou de 26/11/2010. Portaria MinC nº 73, de 19 de junho de 2012 homologa o tombamento e inscrição no livro do tombo.

17. FICHA Nº DATA

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CRONOLOGIAS cronologia normativa da produção do pensamento sobre o patrimônio cultural urbano recente no Brasil entre 1980 e 2013

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2012 CARNEIRO kelly NEVES Estela CHUVA Marcia Política pública patrimonial em goiás-go o programa monumentabid (1995 a 2012) a recuperação dos imóveis privadosI Seminário sobre políticas públicas e aspectos das mudanças institucionais no brasil e em goiás. 2012.www.prp.ueg.br/revista/index.php/ppub/article/download/685/414

2012 PERES TORELLY, Luiz Philippe. Patrimônio cultural. Notas sobre a evolução do conceito. Arquitextos, São Paulo, 13.149, Vitruvius, out

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2013 PENTEADO, Fernanda C. FABRIANI Carmen B. FRANCO, Laura F de R. Patrimônio cultural, desenvolvimento sustentável e cidadania: o desafio das práticas preservacionistas.Revista Direitos Culturais › Núm. 14, Janeiro 2013. 1-8p

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2012 LACERDA, Norma. ZANCHETI, Sílvio Mendes.Plano de Gestão da Conservação Urbana: Conceitos e Métodos. Olinda: Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada, 2012

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2013 CASGRAIN Antoine. JANOSCHKA, Michael. Gentrificación y resistencia en las ciudades latinoamericanas el ejemplo de Santiago de Chile. Andamia, Volumen 10, número 22, mayo­agosto, 2013, pp. 19­44

2013 SCHNEIDER, Giselda. Política urbana brasileira: análise a partir da gestão democrática e da participação local para proteção do patrimônio cultural. Revista Latino-Americana de História Vol. 2, nº. 7 – Setembro de 2013 – Edição Especial © by PPGH-UNISINOS

2013 JR VIEIRA, Nivaldo A. “Novas” questões na teoria da restauração do patrimônio urbano: identidades culturais, função social e participação dos usuários. parc vol3 n4 campinas abril 2013 p.58-71

2013 NIGRO, Cíntia. Preservação do Patrimônio Ubano e Participação Social. Anais do VIII Enampur. Recife, 2013.

2013 MARTINS Patricia.Somos todos mestiços patrimônio imaterial como objeto de política pública no Brasil.Cadernos NAUI Vol. 2, n. 2, jan-jun 2013

2013 FABRIANI, Carmen Beatriz. FRANCO, Laura Ferreira de Rezende. PENTEADO, Fernanda Camargo. Patrimônio cultural, desenvolvimento sustentável e cidadania: o desafio das práticas preservacionistas. Revista Direitos Culturais, Núm. 14, 2013. http://br.vlex.com/source/direitos-culturais-4991

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cronologia normativa da Revista do Patrimônio do IPHAN 1937 -2012

tempo Referencia bibliográfica referencia/valor pactos e critérios/instrumentos sujeitos

1937 Revista do IPHAN nº01 – Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Sem temática. Ministerio da Educação e Saúde

Diretor Rodrigo M. F. Andrade

1943 Revista do IPHAN nº07 – Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Casas de residencia no brasil Diretor Rodrigo M. F. Andrade LLValthier / Gilberto Freyre

1945 Revista do IPHAN nº09 – Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Casa de moradia. Como nasceu Sabará Diretor Rodrigo M. F. Andrade J.Wasth Rodrigues /Salomão Vasconcelos

1947 Revista do IPHAN nº11 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Guia histórico dos municipio do Pará Diretor Rodrigo M. F. Andrade Artur Cesar Ferreira Reis

1955 Revista do IPHAN nº12 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Como nasceu Ouro Preto Diretor Rodrigo M. F. Andrade Salomão Vasconcelos

1961 Revista do IPHAN nº15 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Obras no antigo edificio da Academia Imperial de Belas Artes

Diretor Rodrigo M. F. Andrade Alfredo Galvão

1968 Revista do IPHAN nº16 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Evidencia dos Monumentos históricos Diretor Renato de Azevedo Duarte Soeiro José de Souza Reis

1969 Revista do IPHAN nº17 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Palestra Rodrigo M. F. Abdrade emm Ouro Preto 01/07/1978 O ecumenismo na pintura Religiosa Brasileira As primeiras telas paisagísticas e cidade

Diretor Renato de Azevedo Duarte Soeiro Rodrigo M. F.Andrade Clarival do Prado Valadares Glberto Ferrez

1984 Revista do IPHAN nº19 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

“ a publicação – MULTIDISCIPLINAR – por excelencia e aberta a colaboração academica … pretende

Mudança brupta na diagramação e comunicação.

Apresenta conselho editorial

Diretor Renato de Azevedo Duarte Soeiro Conselho Editorial:

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incorporar e refetir a inquietação teórica em torno do que é cultura, do que é patrimônio cultural e de como preservá-lo”03p

Apresenta pela primeira vez chamada de temas na capa: São Miguel das Missões; Solo Urbano e Política de preservação; A casa Brasilira; Ecologia e Governo, O fururo do Patrimônio Arquitetônico

Casa Brasileira: Casa, Rua & outro mundo: reflexões sobre o espaço e a sociedade. Roberto da Matta. 4-13p

Solo urbano e poltica de preservação: Centros Históricos: notas sobre a politica brasileira de preservação. Augusto C. da Silva Telles 28-32p / O planejamento urbano como instrumento de preservação. Maurício Nogueira Batista. 33-39p

Projetos - Morro da Conceição do Rio: uma proposta de preservação sem tombamento. Jurema Kopke Eis Arnaut. 97-11p

Ideias – O futuro do Patrimônio Arquitetônico. Michael Parent

Augusto Carlos da Silva Telles; Irapoan Cavalcanti Lyra; José Mindlin; Luis Otávio de Melo Cavalcante; Marcos Vinícios Villaça.

1984 Revista do IPHAN nº20 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Editorial “Qualidade de vida e identidade cultural são experiencias fundamentais hoje no pensamento preservacionista. Aproximados, os dois conceitos tem o dom de recolocar as reflexões sobre o patrimônio cultural no nível de abrangência de vida. Ambos apontam sentidos finais da preservação: de um lado garantir ou melhorar as condições de existência, e, de outro, salvaguardar o reconhecimento de produções e projetos comum de vida, práticas e axpirações constantes que caracterizam um povo e

Primeira Edição Temática: A restauração do Paço Imperial e o futuro da Praça XV no Rio,

Temas Politica de Preservção: Bem cultural e Identidade Cultural. Benedito Lima Toledo 28-32p; Antropologia e Patrimônio Cultural. Gilberto Velho 37-39p; Bens Culturais: instrumentos para um desenvolvimento harmonioso, Aloísio Magalhães 40-44p; Política de Preservação e Democracia. Joaquim Falcão 45-49p.

Projetos: Praça XV (imediações, interbenções e permanências – Vera alcantara, Augusto Ivan)

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permanecem legitimadas pela vontade coletiva. Relembram, portanto, uma evid<~encia muitas vezes eesquecida ou substimada: seja qual for o conceito de patrimônio cultural, sua significação plena só é alcançadano cotidiano, enquanto vivência, bem compartilhado pela comunidade. …. O sentido de preservação de bens culturais – entendido como parte do conjunto de ações que visam ao bem estar-social – é uma questão que permeia essa edição. …. Na diversidade de discursos, destaca-se, porem, a consciência de que pensar o patrimônio cutural é pensar em condições alternativas de vida, o que implica em analisar todas as políticas de desenvolvimento.” P3

1986 Revista do IPHAN nº21 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Temas – identidade dos bairros e expansão urbana: A grande cidade Brasielira: Sobre heterogneidade e diversidade culturais. Gilberto Velho 49-50/ Preservação e Desenvolvimento: as duas faces de uma mpeda urbana. Lúcia Helena Fontes, Mª das Graças Spencer Coelho, Alice Amaral dos Reis, Mª Lúcia Neves. Projeto – A cidade Latino Americana: repercurssões e revitalização, a experiência de Olinda. Vera Bosi.

Min. Cultura – Celso Furtado. SPHAN Angelo Oswaldo de Araujo Santos ; - Conselho Editorial: Angelo Oswaldo de Araujo Santos; Augusto Carlos da Silva Telles; Fernando Moreira Sales; Joaquim de Arruda Falcão; José Mindlin.

1987 Revista do IPHAN nº22 – Revista do Editorial Estado e Cultura: Concepção Oficial de Diretor do SPHAN

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Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

“concebida e elaborada no quadro do cinquentenário em 1987 da criação, do hoje, SPHAN … o objetivo é possibilitar, através da pluralidade de enfoques e opiniões, uma avaliação do que foifeito ao ongo de meio século e, também, a formalidade nas posições e perspectivas de rumos. Jugou-se pertinente fazer proceder o debate sobre apreservaçãode um outro que está permanentemente na ordem do dia: a relação cultura e estado; tema sugestivo e carregado de nuances, sobre o qual descorrem alguns nomes expressivos da intelectualidade brasileira militante da área de ciencia humanas… Este número contem assim, no plano da problemática geral de preservação, artigos e ensaios voltados para a investigação de conceitos e metodologias… A prática institucional, pos sua vez, sucita um conjunto de questões …. Instituto legal do tombamento …. Conservação e/ou restauraçãp do patrimônio edificado (imóveis tombados isoladamente, núcleos urbanos e centros históricos protegidos; tratamento dado aos entornos dos bens tombados …. Os temas inerentes à inserção do trabalho de prservação na dinâmica socio-cultural”

Cultura e processo cultural. Gabriel Cohn07-10p; O estado e os problemas da política cultural no Brasil hoje. Leandro Konder 11-17p. Cultura Popular. Octavio Ianni 30-33p; SPHAN Resumo Cronológico 34p. Presrvação: Restaura-se o Patrim^pnio ângelo Oswaldo de Araujo Santos 37-39p; O paço ou o Povo: uma visãonpossível do cinquentenário Antônio Cândido 42-43p; SPHAN refrigério da Cultura Oficial. Sergio Miceli 45-47p. Tombamento: Mesa Redonda, Lúcia Helena Fontes, Mª das Graças Spencer Coelho, Dina Lener, Dora Alcantara, Sonia Rabelo 69-79p; Algumas divagações sobre o conceito e tombamento, Roberta Marinho de Azevedo 80-81p; Por um inventário do patrimonio cultural brasileiro, Paulo Ormindo de Azevedo 82-85p. Patrimônio Edificado: Mesa Redonda Conservação e Restauração Antônio Pedro Alcântara, Augusto Silva Telles, Carlos Alberto Reis Campos, Lia Motta, Rodrigo Andrade 90-105p; O SPHAN em Ouro Preto: uma história de conceitos e critérios, Lia Motta, 102-22p; Mesa Redonda Sítios históricos/núcleos urbanos/ entorno:Carlos Ivan de Freitas Pinheiro, Carlos Nelson F. dos Santos, Fernando Colagrossi, Jurema Kopke Eis Arnault, Luis Fernando Franco, Vera Bosi.

Oswaldo José de Campos Melo

1994 Revista do IPHAN nº23 – Revista do Tema Cidade Cidade ou cidades? Heloisa Buarque de Ministro da Cultura Luis

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Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Holanda 15-91p; Colecionando Arte e Cultura, James Cliford, 69-89; O Patrimônio Cultural e a construção maginária do nacional, Nestor Garcia Canclini, 95- 115; Pattrimônio e Cidade, Cidade e Patrimônio, Glauco Campello, 116-125p; Será o Novo pelourinho um engano? Roberto Marinho de Azevedo, 10-137p; Espaçoe Pode, Michael Foucault, 138-145p; A paisagem Urbana, Wim Wenders, 180-189; A guerra dos Lugares, Antônio Arantes, 190- 203.

Roberto do Nascimento e Silva Presidente do IPHAN Glauco campello Conselho Editorial Heloisa Buarque de Holanda; Ítalo Campofiorito; Jurema Arnaudt; Laura cavalcante; Glauco Campello

1996 Revista do IPHAN nº24 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Tema Cidadania Prefácio, Cultura, Democracia e Identidade Nacional, Francisco Weffort 05-06p; Introdução, Cultura e Cidadania, Antônio A. Arantes, 09-14p; Cidadania e Alteridade: o recinhecimento da pluralidade, Elizabeth Jelin; Cidadania Racismo e Pluralismo: presença das soxiedades indígenas nas organizações dos estados nacionais, João Pacheco de Oliveira, 27-34p; Nasce a academia SPHAN, Mº Velloso Mota Santos, 77-98p; Da modernização a participação: a política Federal de preservação nos anos 70 e 80. Mª Cecilia L. Fonseca, 153-162p; Preservação na Gestão das Cidades, Mª Beatriz Setubal de Rezende Silva, 163-174p; Memória, Cidadania e Culturas Populares. Mª Célia Paoli e Marco Antônio de Almeida, 185-194p; Paisagens urbanas pós-modernas: mapeamento cultural e poder, Sharon Zukin, 203-219; O álibe do patrimônio: crise da cidade, gestão urbana e nostalgia do passado, Jérôme Monnet, 220-2228p; Cultura da Cidade: animação sem frase, Otília Arantes, 229-242; Espaços de Cidadania Insurgente, James Houston, 243-

Ministro Francisco Weffort

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254p; Restauração da Paisagem Urbana, Felix Guattari, 293p.

1997 Revista do IPHAN nº25 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Tema – Negro Brasileiro Organização Joel Rufino Santos “ A Revista do Patrimônio é uma publicação do IPHAN e do MINC. Os artigos são autorais não refletindo necessariamente a posição do IPHAN” Contracapa pg 02

SANTOS, Joel Rufino. Culturas negras, civilização Brasileira. 05-10p. DIEGUES JR, Manuel. A áfrica na vida e na cultura do Brasil. 11-28p. SODRE, Muniz, Corporalidade e liturgia negra. 29-34p HOLLANDA, Heloisa Buarque. A mão Afro-brasileira: resenha antiga. 35-37p. FERRETI, Sergio. Casa das Minas – Religião Popular e Mudanças.388-42p. MELLO, Eduardo. O mercado de Madureira. 50-62p LAETSCHER, Hugo. A arte como patrimônio sobre manoel Araujo 63-70p. FRANCISCO,Carlos Alberto Messeder. Santuário da Penha e o Bloco Cacique de Ramos. 279-285. D‟ADESKY, Jacques. Acesso diferenciado dos modos de representação afro-brasileira no espaço público. 306-316 FERRAZ, Encarnação. O tombamento de um marco da africanidade: a pedra do sal LINGUAGENS ARTÍSTICAS – Teatro, cinema, mpb, poesia, literatura, fotografia AFIRMAÇÃO DA RAÇA –zumbi, negros no sul do pais.

Ministro Francisco Weffort Pres IPHAN GlaucoCampello Conselho Editorial Heloisa Buarque de Holanda; Ítalo Campofiorito; Jurema Arnaudt; Laura cavalcante; Glauco Campello

1997 Revista do IPHAN nº26 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Tema 60 anos da Revista do Patrimônio Organização Ítalo Campofiorito “ A Revista do Patrimônio é uma publicação do IPHAN e do MINC. Os artigos são autorais não refletindo necessariamente a posição do IPHAN” Contracapa pg 02

CAMPOFIORITO, Ítalo. Introdução: as primeiras árvores. 11-19p. Publicação destinada a reproduçãode textos publicados em edições anteriores e comentadas por ilustres.

Ministro Francisco Weffort Pres IPHAN GlaucoCampello Conselho Editorial Heloisa Buarque de Holanda; Ítalo Campofiorito; Jurema Arnaudt; Laura cavalcante;

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Glauco Campello, Benício Neiva Medeiros

1998 Revista do IPHAN nº27 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Tema: Fotografia Ministro Francisco Weffort Pres IPHAN GlaucoCampello Conselho Editorial Heloisa Buarque de Holanda; Ítalo Campofiorito; Jurema Arnaudt; Laura cavalcante; Glauco Campello, Benício Neiva Medeiros

1999 Revista do IPHAN nº28 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Tema: Arte e Cultura Popular Organização Elizabeth Travassos

SANDRONI, Carlos. Notas sobre Mário de Andrade e a Missão Folclórica de 1938. 60-73p. WALDECK, Gracira. Exibindo o povo: invenção ou documento? 82-99p. MARIANI, Alayde. A memória popular no registro do patrimônio. 156-173. BARBOSA, Walace de Deus. O artezanato indígena e os “novos índios” do nordeste. 216-225p VIANNA, Letícia. Bezerra da Silva: um artista popular. 254-267. TEMAS RECORRENTES: Museu do Folclore e Artes Popular; música colonial popuar, xilogravura.

2001 Revista do IPHAN nº29 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Tema: Olhar o Brasil Organização Sebastião Uchoa Leite

LEITE, Sebastião Uchoa. Olhar o Brasil. 7-9p LIMA Costa Luiz. Brasil, por onde olhar? 66-81p CASCO, Ana Carmem A. Reinventando a Cidade. 82-101p ALCÂNTARA, Antônio Pedro. As aparências das coisas. 170-197p COCHIARALE, Feranando. Da antropologia ao experimentalismo. 230-241p

Presidente do IPHAN – Carlos H Heck Conselho Editorial Antônio Augusto Arantes; Laura Augusta de Paiva Cavalcanti; Márcio de Souza, Marta Rosseti Batista; Mº Cecília Londres Fonseca; Mariza Veloso.

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351

TEMAS RECORRENTES: linguagens artísticas; artes, música, teatro, dança, fotografia.

2002 Revista do IPHAN nº30 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Tema: Mario de Andrade Organização Marta Rosseti Batista

BATISTA, Marta Rosseti. Introdução.6-23p SILVA, Fernando Feranandes da. Mário e o patrimônio um projeto ainda atual. 128-137. MIRANDA, Alcides da Rocha. Não foi fácil, não havia gente. Entrevista. 246-253. ANDRADE, Mário de. Anteprojeto para a criação do SPHAN. 270-287.

2007 Revista do IPHAN nº33 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Tema Patrimônio Arqueológico: o desafio da preservação

Ministro da Cultura Gilbeto Gil IPHAN Luiz Fernando de Almeida

2012 Revista do IPHAN nº34 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Tema História e Patrimônio Organização Márcia Chuva

CHUVA, Márcia. Introdução – História e Patrimônio: entre o risco e o traço, a trama. 11-26p. PARTE I – EM FOCO O CAMPO DO PATRIMÔNIO. FOULOT, Dominique. A razão Patrimonial na europa do século XVIII ao XXI. 27-44p REIS, José Carlos. O tempo histórico como representação intelectual. 45-60p COLI, Jorge. Materialidade e imaterialidade. 67-78. GUIMARÃES, manoel L. Salgado. História ,memória e patrimônio.91-112p DAHER, Andréa. Objeto cultural e bem patrimonial: representações e práticas. 113-130. CONDURU, roberto. Artifícios para inventar e destruir arquitetura, história , preservação cultural. 131-146p CHUVA, Márcia. Por uma história da noção de patrimônio cultural no Brasil. 147-166p.

,

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PARTE II HISTÓRIA E POLÍTICA THOMPSON, Ana Lúcia. LEAL, Claudio F. B. SORGINE, Juliana. TEIXEIRA, Luciano do S. História e Civilização material na Revista do Patrimônio. 167-198p. DIAS, Carla do C. LIMA, Antonio Carlos S. O museu nacional e a construção do patrimônio histórico nacional. 199-222p. RIBEIRO, Marcos. Entre o ser e o coletivo: o tombamento dos casos históricos. 223-248. MOTTA, Lia. O patrimônio cultural urbano à luz do diálogo entre história e arquitetura. 249-280. WILLIANS, Daryle. Além da história pátria as missões jesuítica-guaranis, o patrimônio da humanidade e outras histórias. 281-302 TRINDADE, Joelson B. Patrimônio e história a abordagem territorial. 303-336. PARTE II –NOVOS OBJETOS DE PATRIMONIALIZAÇÃO GOMES, Flávio. Terra e camponeses negros o legado do pós-emancipação. 375-396.

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cronologia normativa da produção institucional do patrimônio cultural popular no Brasil 1937 - 2013

Tempo Evento

1936 O projeto de Oswald de Andrade

1937 Criação do SPHAN

1937 Decreto-Lei nº 25

1938 Criação do Conselho Consultivo do SPHAN. O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural é constituído por nove representantes de instituições públicas e privadas e por 13 representantes da sociedade civil, indicados pela presidência do IPHAN e designados pelo Ministério da Cultura. O mandato dos conselheiros é de quatro anos, permitida a recondução. É presidido pelo presidente do IPHAN que o integra como membro nato. O Decreto nº 6.844, de 07 de maio de 2009, estabelece a estrutura organizacional do IPHAN. O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural está inserindo dentro dessa estrutura, como órgão colegiado.REF - http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=15026&retorno=paginaIphan

1938 Tombamento do Museu da Magia Negra

1946 O SPHAN tem o seu nome alterado para Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN).

1947 Comissão nacional do Folklore

1948 Declaração Universal de Direitos Humanos

1958 Campanha de defesa do Folklore Brasileiro

1961 Criação da Biblioteca Amadeu Amaral

1967 Aposentadoria de Rodrigo Melo Franco de Andrade

1967 Início da Gestão de Renato Soeiro

1968 Criação do Museu do Folclore Edison Carneiro

1970 O DPHAN é transformado em Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)

1972 17ª Sessão da Conferência Geral da Unesco, a Convenção sobre a proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural.

1975 Conselho consultivo perde caráter deliberativo

1975 CNRC – Centro Nacional de Referencias Culturais

1976 Carta do Turismo Cultural

1976 A Campanha vira Instituto Nacional do Folclore, vinculado a FUNART

1977 criação de áreas especiais e de locais de interesse turistico

1979 Fim da gestão Renato Soeiro

1979 GestãoAloísio Magalhaes

1979 O IPHAN é dividido em SPHAN (Secretaria), na condição de órgão normativo, e na Fundação Nacional Pró-Memória (FNPM), como órgão executivo.

1979 Fundação Nacional Pró-Memória.

1981 “Diretrizes para operacionalização da política cultural do MEC – Ministério de Educação e Cultura”

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1983 Criação da Sala do Artista Popular

1985 “Declaração do México”

1986 Tombamento de Terreiros de candombléIlê Axé IyáNassôOká, Terreiro da Casa Branca – Salvador - Bahia.

1988 Constituição Federal do Brasil de 1988 art. 216

1989 25ª.Reunião da Conferência Geral da Unesco

1989 Carta de Cabo Frio

1990 A SPHAN e a FNPM foram extintas para darem lugar ao Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC)

1991 PRONAC

1992 O IBPCtransforma-se em Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN

1994 Conferência de Nara

1995 Carta de Brasília

1996 Declaração de Sofia

1996 Declaração de São Paulo II -

1996 Tesouros Vivo da Humanidade

1997 A Coordenação de Cultura Popular é transformadoem Centro Nacional deFolclore e Cultura Popular (CNFCP),vinculado à Funarte

1997 Realização do Seminário Patrimônio Imaterial: estratégias e formas de proteção, em Fortaleza

1997 A “Carta de Mar Del Plata sobre o patrimônio intangível”, de junho. REF - http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=269

1998 São criados a Comissão Interinstitucionalpara elaborar proposta de regulamentação do Registro do patrimônio cultural imaterial e o Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial (GTPI)para assessorar esta Comissão

1999 Carta de Cartagena de Índias, Colômbia - Maio de 1999. 2000 Instituição do Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial e do Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI)

2000 Desenvolvimento do instrumento técnico de Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC)

2000 Tombamento do Ilê Axé Opô Afonjá, Salvador – Bahia..

2001 Implantação do PNPI com o projeto Celebrações e Saberes da Cultura Popular desenvolvido pelo CNFCP

2002 Declaração de Istambul

2002 Registro do Ofício das Paneleiras de Goiabeiras/Vitória/ES

2002 Tombamento da Casa das Minas – Querebentã de Zomadonu / São Luis - MA

2003 O Centro Nacional deFolclore e Cultura Popular (CNFCP) passa a integrar a estrutura do IPHAN

2003 Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, aprovada na 32ª Sessão da Conferência Geral das Nações Unidas

2004 Criação doDepartamento do Patrimônio Imaterial do Iphan (DPI)ao qual foi agregado o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP).

2004 Registro das Formas de Expressão doSamba de Roda do Recôncavo Baiano

2004 Registro das Celebrações do Círio de Nossa Senhora de Nazaré no Pará

2005 Tombamento do Terreiro de Candomblé Ilê IyáOmin Axé Iyamassê, e do Terreiro Bate Folha Manso Banduquemqué em Salvador, Bahia;

2005 Registro das Formas de Expressão do Jongo no Sudeste

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2005 O Samba de Roda no Recôncavo Baiano é proclamado pela Unesco Obra-Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade.

2006 Resolução n° 001, de 03 de agosto de 2006

2006 VIII congresso internacional de reabilitação do patrimônio arquitetônico e edificação

2006 Brasil ratificou a Convenção da Unescosobre a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial

2006 Registro de Lugar Feira de Caruaru

2007 Registro das Formas de Expressão do Frevo; do Tambor de Crioula do Maranhão; das Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto, de Terreiro e Enredo; e da Roda de Capoeira

2008 Tombamento do Terreiro de Alaketo, Ilê MaroiáLáji / Salvador - Ba

2008 Registro do Ofício dos Mestres de Capoeira

2009 Registro do Ofício das Baianas de Acarajé

2009 Registro do Modo de fazer Renda Irlandesa em Divina Pastora / Sergipe

2009 Registro do Ofício de Sineiro

2009 Registro das Formas de Expressão do toque dos Sinos em Minas Gerais (São João Del Rey, Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes)

2010 I Fórum Nacional do Patrimônio Cultural

2010 Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL), instituído pelo Decreto nº. 7.387, de 09 de dezembro

2010 Registro das Celebrações - Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis (Goiás), e da Festa de Sant' Ana de Caicó, (Ceará

2011 Registro das Celebrações Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão

2012 Registro das Formas de Expressão do Fandango Caiçara

2013 Registro das Celebrações - Festa de Nosso Senhor do Bonfim (Salvador/BA)

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cronologia normativa dos bens das culturas populares tombados pelo IPHAN, no Brasil (1937 – 2013)

LOCALIZAÇÃO INFORMAÇOES SOBRE O BEM DADOS DO PROCESSO

INSCRIÇÃO NO LIVRO DO TOMBO

UF Município Nome do Bem Classificação Numero Ano de

Abertura

ArqueológicoEtnográfico e Paisagístico

Histórico

Belas Artes

Artes Aplicadas

AL União dos Palmares

Quilombo dos Palmares; República dos Palmares

Serra da Barriga, parte mais acantilada, conforme descrição

constante na Informação nº123/85

1069 1982 1986 1986

BA Saveiro de Vela de Içar, de nome, Sombra da Lua, no

Recôncavo Baiano Embarcação Tradicional 1616 2010 2012 2012 2012

BA Andaraí Ruínas de habitações em pedra; Xique-Xique do Igatu; Cidade de

Pedras

Conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico na

cidade de Igatu, inclusive as ruínas de habitações de pedra

1411 1998 2000 2000 2000

BA Monte Santo

Monte Santo (Serra) - conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico; Santuário de

Santa Cruz do Monte Santo; Rua Senhor dos Passos; Rua

Frei Apolônio Toddi, Rua Coronel José Cordeiro; Rua

Barão de Geremoabo; Rua das Flores

1060 1982 1983

BA Salvador Ilê Axé Nassô Oká

Terreiro da Casa Branca contituído de uma área de aproximadamente 6.800

m2, com as edificações, árvores e principais objetos sagrados,

situado na Avenida Vasco da Gama s/nº

1067 1982 1986 1986

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BA Salvador Terreiro do Bate Folha Terreiro de Candomblé do Bate-

Folha Manso Banduquenqué 1086 2001 2005 2005

BA Salvador Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá

Láji Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá

Láji 1481 1998 2008 2008

BA Salvador Terreiro do Axé Opô Afonjá Terreiro do Axé Opô Afonjá 1432 1998 2000 2000

BA Salvador Ilê Iyá Omim Axé Yiamassé Terreiro do Gantois - Ilê Iyá

Omim Axé Yiamassé 1471 2000 2005 2005

MA Canoa Costeira, de nome

Dinamar

Canoa Costeira, de nome Dinamar, na Baía de São

Marcos 1616 2010 2012 2012 2012

MA São Luís Terreiro Casa das Minas Jeje

Terreiro Casa das Minas Jeje, situado na Rua de São

Pantaleão nº 857 e 857a

1464 2000 2005 2005

MG Belo Horizonte Presépio de Pipiripau Presépio de Pipiripau 1115 1984 1984

MG Congonhas

Coleção constituída de 89 ex-votos pintados pertencentes ao

Santuário do Bom Jesus de Matozinhos

Coleção constituída de 89 ex-votos pintados pertencentes ao

Santuário do Bom Jesus de Matozinhos

1039 1980 1981 1981

PB João Pessoa Fábrica de Vinho Tito Silva Fábrica de Vinho Tito Silva 1054 1982 1984

RJ Rio de Janeiro Conjunto de habitação coletiva denominado Avenida Modelo

Conjunto de habitação coletiva denominado Avenida Modelo na

Rua Regente Feijó nº 55; Vila Na

Rua Regente Feijó, 55

1085 1983 1985

RJ Rio de Janeiro Morros da Cidade do Rio de

Janeiro Morros do Distrito Federal 0099 1938 1938 1938

RJ Rio de Janeiro Museu da Magia Negra Museu da Magia Negra, acervo 0035 1938 1938

SE Canoa de Tolda Luzitânia

Canoa de Tolda Luzitânia, de propriedade da Sociedade

Socioambiental do Baixo São Francisco

1473 2001 2012 2012 2012

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Cronologia normativa dos bens das culturas populares registrados pelo IPHAN, no Brasil (2003 a 2013).

Nome do Bem Valor Data de Registro

Ofício das Paneleiras de Goiabeiras Saberes 20/12/2002

Samba de Roda do Recôncavo Baiano Formas de Expressão 05/10/2004

Círio de Nossa Senhora de Nazaré Celebrações 05/10/2004

Modo de Fazer Viola-de-Cocho Saberes 14/01/2005

Ofício das Baianas de Acarajé Saberes 14/01/2005

Jongo no Sudeste Formas de Expressão 15/12/2005

Feira de Caruaru Lugar 20/12/2006

Frevo Formas de Expressão 28/02/2007

Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto, de Terreiro e Enredo Formas de Expressão 20/11/2007

Tambor de Crioula do Maranhão Formas de Expressão 20/11/2007

Ofício dos mestres de capoeira Saberes 21/10/2008

Roda de Capoeira Formas de Expressão 21/10/2008

Modo de fazer Renda Irlandesa Divina Pastora / SE Saberes 28/01/2009

Ofício de Sineiro Saberes 03/12/2009

Toque dos Sinos em Minas Gerais tendo como referência São João del Rey e as cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes.

Formas de Expressão 03/12/2009

Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis Celebrações 13/05/2010

Festa de Sant' Ana de Caicó Celebrações 10/12/2010

Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão Celebrações 30/08/2011

Fandango Caiçara Formas de Expressão 29/11/2012

Festa do Divino de Paraty Celebrações 03/04/2013

Festa do Senhor do Bonfim Celebrações 05/06/2013

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Cronologia de sujeitos em destaque na preservação institucional do Folclore e das culturas populares no Brasil (1900 a 1970)

sujeitos tempo Atuação / destaque

Silvio Romero 1851 - 1914 Estudo da Poesia Popular – Literatura Oral - Crítica –Dilantismo / Teorizações Imaginosas.

Mário de Andrade 1893- 1945 Poeta, romancista, contista, cronista, etnografo.

Amadeu Amaral 1875 - 1929 chegou a criar a Sociedade de Estudos Paulistas em 1921

Artur Ramos 1903 - 1949 médico psiquiatra,psicólogo social, etnólogo, folclorista e antropólogo brasileiro.

Aloísio Magalhaes 1927 - 1982 forma-se em direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 1950.Com bolsa do governo francês, estuda museologia em Paris, entre 1951 e 1953. Em 1956, com bolsa concedida pelo governo americano, viaja aos Estados Unidos, onde se dedica às artes gráficas e à programação visual. Em 1960, volta ao Brasil e abre um escritório voltado à comunicação visual, campo no qual é um dos pioneiros no país, e realiza projetos para empresas e órgãos públicos. Em 1963, colabora na criação da Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), onde leciona comunicação visual. 1979: nomeado diretor do então Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional. 1979: presidente da Fundação Nacional Pró-Memória. 1980: presidente do Conselho Administrativo da Fundação Raymundo Ottoni de Castro Maya. 1981: vice-presidente do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco, em Sidney. 1981-82: membro do Bureau do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco. 1981-82: membro do Conselho Superior da Fundação Brasileira para Conservação da Natureza. 1981: secretário da Cultura do MEC.

Cecília Meireles 1901- 1964 Relação folclore e educação. Cecília foi integrante da Comissão Nacional de Folclore desde sua instalação, em 1947

Luís de Câmara Cascudo 1898-1986 fundou a Sociedade Brasileira de Folclore na cidade de Natal (RN), em 1941,

Edson Carneiro 1912 - 1972 Jurista, jornalista, poeta e folclorista http://www.bv2dejulho.ba.gov.br/portal/index.php/exposicoes-virtuais/edisoncarneiro/140-obras.html

Rodrigo de Melo Franco 1898 - 1969 Advogado, jornalista, escritor

Carlos Drumond de Andrade 1902 - 1987 Bel em Famácia pela UFMG

Florestan Fernandes 1920 - 1995 Estagiário de pesquisa do Prof Roger Bastide em pesquisas sobre aspectos da cultura Popular.

Renato Almeida 1895-1981 Musicologo, folclorista, escritor, jornalista e diplomata. Bel em direito. Baiano Santo Antonio de Jesus

Renato de Azevedo Duarte Soeiro Formado pela Escola Nacional de Belas Artes, ocupando quadro de arquitetos do DPHAN. Getor do patrimonio passou pela DPHAN (41 anos), MEC, UNESCO, OEA.

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