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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE ARQUITETURA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
ANDRÉ LUIZ DE ARAÚJO OLIVEIRA
NOVOS VELHOS PATRIMÔNIOS:
TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO DAS
CULTURAS POPULARES BRASILEIRAS (1988 – 2013)
Salvador
2016
ANDRÉ LUIZ DE ARAÚJO OLIVEIRA
NOVOS VELHOS PATRIMÔNIOS:
TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO DAS CULTURAS
POPULARES BRASILEIRAS (1988 – 2013)
Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia como requisito para a obtenção do grau de Doutor em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Profª Drª Ana Maria Fernandes.
Salvador
2016
ANDRÉ LUIZ DE ARAÚJO OLIVEIRA
NOVOS VELHOS PATRIMÔNIOS:
TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO DAS CULTURAS POPULARES BRASILEIRAS (1988 – 2013)
Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia, como
requisito para obtenção de grau de Doutor em Arquitetura e Urbanismo, avaliada
pela seguinte Banca Examinadora:
________________________________________________ Profª. Dra. Ana Maria Fernandes (Orientadora)
Doutora pela Université Paris-Est Créteil Val-de-Marne
________________________________________________ Profª. Dra. Odete Dourado Silva
Doutora pela Università Degli Studi Di Roma
________________________________________________ Profª. Dra. Márcia Genésia de Sant‟Anna
Doutora pela Universidade Federal da Bahia
________________________________________________ Prof. Dr. Wilson Rogerio Penteado Júnior
Doutor pela Universidade Estadual de Campinas
________________________________________________ Prof. Dr. Eugenio de Ávila Lins
Doutor pela Universidade do Porto
Salvador, ____ / ____/ 2016.
Ao meu avô, Seu Tutu, mestre popular do meu SerTão.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais e minha família pelo amor incondiconal.
À minha Mãe, pela paciência e honradez em acreditar comigo, na educação e no
conhecimento como forma de transformação social.
Aos meus novos e velhos amores, pela paciência, pelos carinhos e pelas ajudas
nesse percurso.
À minha orientadora Pró Ana, agradeço pelo cuidado e zelo a mim dedicado, bem
como pelaconvivência com sua inteligência contagiante e inspiradora à construção e
produção do conhecimento ao longo de 8 anos de trabalho juntos. Muito obrigado
pela confiança.
Aos professores e professoras que aceitaram participar do processo de avaliação
desta pesquisa, agredeço imensamente cada contribuição e crítica na melhoria na
qualidade deste trabalho.
Aos meus professores e colegas do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo (PPG-AU) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da
Bahia (FAUFBA), pelos ensinamentos e companheirismo.
Ao Prof. Dr. Carlos Fortuna, do Centro de Estudos Sociais (CES), da Universidade
de Coimbra, bem como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), pela realização do Programa de Estagio Doutoral no Exterior
(PDES), enriquecendo sobremaneira nossa pesquisa.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela
bolsa de estudos concedida para realização desta pesquisa de doutorado,
permitindo uma dedicação integral aos estudos.
Ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), pela
disponibilidade no acesso aos dados dessa pesquisa, em especial, ao Arquivo
Noronha Santos, pela sua presteza e eficiência na gestão das informações.
RESUMO
A pesquisa busca compreender a trajetória da norma de preservação das culturas populares nas cidades brasileiras, observadas a partir das políticas públicas governamentais de preservação do IPHAN sobre os bens culturais. As referências teóricas residem nas ideias da “antijuridicidade da norma” e do “dispositivo de patrimônio” como instrumentos que permitem compreender a norma como não sinônimo de lei, bem como os tensionamentos no exercício do poder que se estabelecem nos processos de patrimonialização dos bens culturais. As abordagens metodológicas residem na compreensão da norma de preservação brasileira a partir das cidades, analisando os processos de tombamento e registros dos bens das culturas populares pelo IPHAN entre os anos de 1988 e 2013. A partir dos bens patrimonializados, a compreensão da norma de preservação é orientada através da observação das dimensões simbólica, social e política que a compõem e dos desdobramentos das ações reguladoras e gestoras nas políticas de preservação dos bens culturais nos processos analisados. Palavras-chave: Patrimônio cultural. Norma de preservação. Culturas populares
brasileiras.
ABSTRACT
The research seeks to understand the trajectory of the standard of preservation of popular cultures in Brazilian cities, observed from the IPHAN‟s governmental public policies to preserve on cultural goods. The theoretical references lie in the ideas of "juridical impermissibility of the norm” and "heritage device” as instruments to understand the standard as not synonymous with law, as well as tensions in power that are established in heritage processes of cultural property. Methodological approaches lie in understanding the standard of Brazilian preservation from the cities, analyzing the tipping process and records of goods of popular cultures by IPHAN between 1988 and 2013. From the patrimonializated goods, understanding the preservation standard It is guided by observing the symbolic, social and political dimensions that compose it and the consequences of regulatory and management actions in the conservation policies of cultural property in the analyzed processes. Keywords:Cultural heritage. Standard preservation. Brazilian popular culture.
RÉSUMÉ
La recherche vise à comprendre la trajectoire de la norme de la préservation des cultures populaires des villes brésiliennes, observées à partir des politiques publiques gouvernementales de préservation de l'IPHAN à propos des biens culturels. Les références théoriques se situent dans les idées de « l‟antilégalité de la norme» et du «dispositif de patrimoine » comme des instruments pour comprendre la norme en tant que non synonyme de la loi, ainsi que les tensions dans l'exercice du pouvoir qui sont établies dans les processus de patrimonialisation des biens culturels. Les approches méthodologiques se trouvent dans la compréhension de la norme de préservation brésilienne des villes, à partir de l'analyse du processus de sauvegarde et des registres des biens des cultures populaires par l‟IPHAN entre 1988 et 2013. À partir des biens patrimonialisés, la compréhension de la norme de préservation est guidée par l'observation des dimensions symboliques, sociales et politiques qui le composent et par les conséquences des mesures de réglementation et de gestion dans les politiques de préservation des biens culturels dans les processus analysés. Mots-clés: Patrimoine Culturel. Norme de préservation. Cultures populaires
brésiliennes.
LISTA DEQUADROS
Quadro 1 – Universo empírico de pesquisa sobre os Bens Culturais Tombados no
Brasil pelo IPHAN entre 1988 e 2013. ....................................................................... 53
Quadro 2 – Universo empírico de pesquisa sobre os bens culturais registrados no
Brasil pelo IPHAN entre 2000 e 2013. ....................................................................... 54
Quadro 3 – Arranjo dos indicadores das dimensões simbólica, social e política nas
fichas descritivas de patrimonialização dos bens culturais no Brasil (1988 -2013). .. 56
Quadro 4 - Pactos e Critérios na patrimonialização dos bens culturais registrados
pelo IPHAN nas cidades brasileiras entre 2000 e 2013. ......................................... 116
Quadro 5 - Bens das culturas populares tombados pelo IPHAN nas cidades
brasileiras entre 1988 e 2013. ................................................................................. 120
Quadro 6 – Bens culturais nas cidades brasileiras reconhecidas como Patrimônios
da Humanidade pela UNESCO entre 1980 e 2013. ................................................ 150
Quadro 7 – Proponentes para o tombamento pelo IPHAN dos bens das Culturas
Populares no Brasil entre 1988 a 2013. .................................................................. 168
Quadro 8 - Patrimônios culturais imateriais registrados pelo IPHAN entre 2000 e
2013 nas cidades brasileiras: Proponentes. ............................................................ 171
Quadro 9 – Agentes envolvidos no tombamento pelo IPHAN dos bens das Culturas
Populares no Brasil entre 1988 a 2013 ................................................................... 175
Quadro 10 - Patrimônios culturais imateriais registrados pelo IPHAN entre 2000 e
2013 nas cidades brasileiras: Agentes envolvidos na patrimonialização. ............... 178
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Aplicativo do Toque dos Sinos em Minas Gerais ...................................... 94
Figura 2 - Chico Mendes em frente a sua casa em Xapuri ..................................... 160
Figura 3 - “Baiana prepara acarajé na região do Rio Vermelho”. ............................ 204
Figura 4 - Plaforma Oya. ......................................................................................... 209
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Classificação por Valores dos bens das culturas populares Registrados
pelo IPHAN nas cidades brasileiras (2000-2013) ...................................................... 71
Gráfico 2 – Representação quantitativa por valores dos Bens Tombados pelo IPHAN
das culturas populares nas cidades brasileiras ......................................................... 73
Gráfico 3 – Representação percentual por categorias de Bens Tombados pelo
IPHAN das culturas populares nas cidades brasileiras ............................................. 74
Gráfico 4 - Tempo dos processos de Registro dos bens das culturas populares pelo
IPHAN entre 1988 e 2013. ...................................................................................... 122
Gráfico 5 - Tempo dos processos de Tombamento dos bens das culturas populares
pelo IPHAN entre 1988 e 2013. ............................................................................... 123
Gráfico 6 - Análise metodológica de patrimonialização bens culturais imateriais com
Registro no IPHAN entre 2000 e 2013. ................................................................... 130
Gráfico 7 – Saberes. Análise metodológica de patrimonialização por valores dos
bens culturais imateriais com Registro no IPHAN entre 2000 e 2013 ..................... 131
Gráfico 8 - Formas de Expressão. Análise metodológica de patrimonialização por
valores dos bens culturais imateriais com Registro no IPHAN entre 2000 e 2013 .. 131
Gráfico 9 – Celebrações. Análise metodológica de patrimonialização por valores dos
bens culturais imateriais com Registro no IPHAN entre 2000 e 2013 ..................... 131
Gráfico 10 - Recomendação de Salvaguardas dos Bens das culturas populares
Registrados pelo IPHAN nas cidades brasileiras (2000-2013) ................................ 133
Gráfico 11 – Ações de Salvaguardas sobre os Bens das culturas populares
Registrados pelo IPHAN nas cidades brasileiras (2000-2013) ................................ 134
Gráfico 12 - Quantidade anuais de projetos contemplados pelos Editais PNPI (2005
– 2011) .................................................................................................................... 137
Gráfico 13 – Proponentes para o tombamento dos bens das culturas populares no
Brasil entre 1988 e 2013. ........................................................................................ 167
Gráfico 14 - Proponentes para o registro dos bens das culturas populares no Brasil
entre 1988 e 2013 ................................................................................................... 171
Gráfico 15 - Distribuição espacial dos Bens das culturas populares Tombados pelo
IPHAN por regiões brasileiras (2000-2013) ............................................................. 185
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 - Distribuição espacial dos bens das culturas populares Tombados pelo
IPHAN nas cidades brasileiras entre 2000 a 2013 .................................................. 184
Mapa 2 - Distribuição espacial dos bens das culturas populares Registrados em pelo
IPHAN nas cidades brasileiras entre 2000 a 2013 .................................................. 186
Mapa 3 - Distribuição espacial dos bens das culturas populares com Registro em
andamento pelo IPHAN nas cidades brasileiras até 2013 ...................................... 187
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BCR Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados
CDFB Campanha em Defesa do Folklore Brasileiro
CNFCP Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular
CNFL Comissão Nacional do Folklore
CNRC Centro Nacional de Referências Culturais
CPC Centro de Cultura Popular
DPI Diretoria de Patrimônio Imaterial
FNC Fundo Nacional de Cultura
FNPM Fundação Nacional Pró-Memória
FUNARTE Fundação Nacional de Artes
GTPI Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial
IBAC Instituto Brasileiro de Arte e Cultura
IBECC Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura
IBPC Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
INRC Inventário Nacional de Referências Culturais
ISEB Instituto Superior de Estudos Brasileiros
MEC Ministério da Educação e Cultura
MÊS Ministério da Educação e Saúde
MFB Movimento Folclorista Brasileiro
MINC Ministério da Cultura
ONU Organização das Nações Unidas
SAP Sala do Artista Popular
SPHAN Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
PCH Programa de Cidades Históricas
PNC Plano Nacional de Cultura
PNPI Programa Nacional de Patrimônio Imaterial
PRONAC Programa Nacional de Apoio à Cultura
SNC Sistema Nacional de Cultura
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15
1.1 A PROBLEMATIZAÇÃO ...................................................................................... 16
1.2 AS REFERÊNCIAS TEÓRICAS .......................................................................... 19
1.3 OS ANTECEDENTES INSTITUCIONAIS E SUA CONTEXTUALIZAÇÃO
HISTÓRICA ............................................................................................................... 29
1.4 A CONSTRUÇÃO DAS ABORDAGENS METODOLÓGICAS ............................ 42
1.4.1 As cronologias ............................................................................................... 44
1.4.2 As dimensões e arranjos tensores do patrimônio ......................................... 47
1.4.3 Fontes de pesquisa empírica ........................................................................ 51
2 A DIMENSÃO SIMBÓLICA NA TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO58
2.1 AS “REFERÊNCIAS” AOS BENS DAS CULTURAS POPULARES NA
TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO ...................................................... 61
2.1.1 Os valores atribuídos aos bens culturais ...................................................... 68
2.1.2 Aspectos relevantes à patrimonialização e “referências culturais” ................ 74
2.1.3 Bens associados ao bem cultural: o caráter dinâmico dos bens ................... 80
2.2 “ELASTICIDADE” PATRIMONIALIZANTE E OS PATRIMÔNIOS CULTURAIS
SENSORIAIS: O QUEIJO DE MINAS E O TOQUE DOS SINOS NAS CIDADES
MINEIRAS ................................................................................................................. 85
3 A DIMENSÃO POLÍTICA NA TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO .. 97
3.1OS PACTOS E CRITÉRIOS NA TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO
DAS CULTURAS POPULARES NAS CIDADES BRASILEIRAS ............................ 100
3.1.1 O tempo e a produção institucional do patrimônio ...................................... 120
3.1.2 Por entre pareceres .................................................................................... 124
3.1.3 As metodologias de patrimonialização ........................................................ 127
3.1.4 As salvaguardas e as ações de apoio aos bens culturais ........................... 132
3.2 A UNESCO nas políticas de preservação das culturas populares brasileiras pelo
IPHAN ..................................................................................................................... 138
4 A DIMENSÃO SOCIAL NA TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO. .... 154
4.1 OS SUJEITOS, OS GRUPOS SOCIAIS E SUAS TRAJETÓRIAS NA NORMA DE
PRESERVAÇÃO ..................................................................................................... 157
4.1.1 Quem propõe o patrimônio? ....................................................................... 166
4.1.2 Os agentes envolvidos na produção do patrimônio .................................... 172
4.1.3 Os territórios e a produção do patrimônio cultural popular .......................... 181
4.2 OS TURISMOS ÉTNICOS E O CONSUMO DOS BENS CULTURAIS AFRO-
BRASILEIROS: OS TERREIROS, O ACARAJÉ E O OFÍCIO DAS BAIANAS ........ 190
CONCLUSÃO ......................................................................................................... 211
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 224
APÊNDICES ........................................................................................................... 234
15
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho se dedica a reconhecer e, compreender a trajetória da norma de
preservação dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras entre os anos
de 1988 e 2013, através da compreensão das dimensões simbólicas, sociais,
políticas e seus arranjos tensores nessa trajetória, partindo dos discursos
institucionais e das ações de tombamento e registro pelo IPHAN, no Brasil.
Analisa como material empírico os tombamentos e registros dos bens das culturas
populares nas cidades brasileiras, ocorridos entre 1988 e 2013 pelo IPHAN, optando
por compreender a ação do Estado, através dos seus instrumentos jurídicos, e da
produção em política pública governamental dos diversos movimentos e demandas,
como principal agente tensor da trajetória da norma de patrimonialização dos bens
das culturas populares no Brasil.
Sua estrutura compreende esta introdução e três capítulos que, através da análise
das dimensões simbólicas (capítulo 02), políticas (capítulo 03) e sociais (capítulo
04), demonstram a demonstra a trajetória da norma de preservação dos bens das
culturas populares e seus arranjos tensores, nas cidades brasileiras, no período
estudado. Nesse sentido, cada capítulo apresenta uma primeira estrutura, que
demonstra a trajetória da norma de preservação analisada em sua conjuntura
histórico-institucional e verificada através da interpretação dos indicadores
escolhidos e sistematizados nas Fichas Descritivas de Patrimonialização dos bens
culturais tombados e registrados entre1988 e 2013, e uma segunda estrutura, que
se propõe a verificar os arranjos tensoresque emergem das respectivas dimensões e
se verificam ao nível do patrimônio “dispositivo”. Por fim, encontramos a conclusão
numa perspectiva muito mais questionadora do que reveladora. Como apêndice,
podemos encontrar dessa pesquisa as Fichas Descritivas de Patrimonialização dos
bens das culturas populares registrados e tombados pelo IPHAN entre 1988 e 2013
e a Cronologia da Trajetória da Norma de Preservação das Culturas Populares nas
Cidades Brasileiras, sob o mesmo recorte temporal.
16
1.1 A PROBLEMATIZAÇÃO
A construção da política preservacionista brasileira, não diferente dos demais
Estados nacionais modernos, fora entrelaçada às instituições e institutos jurídicos
sob o comando do Estado, por interesses e finalidades que atendessem a sua
manutenção e centralização do poder diante das transformações em curso, mas
também almejadasna vida social dessas nações.
A constituição do Estado nacional francês, tendo por base a Revolução Francesa do
final do século XVIII, não somente orientaria novos valores aos bens patrimônios do
novo regime francês, como também aos demais Estados que se formariam a partir
do século XIX, construindo seus valores nacionais, inclusive o Brasil.
Os valores econômicos dos bens culturais patrimônios dos antiquários certificados
pelos eruditos seriam ressignificados no processo de constituição do Estado
moderno nacional francês, após a Revolução Francesa, sobretudo pelos debates em
torno dos bens representativos do novo Estado francês e pela construção de
mecanismos administrativos e jurídicos para uma gestão pública do patrimônio
cultural francês (CHOAY, 2006).
Assim, na arrancada de 1789, todos os elementos necessários a uma autêntica política de conservação do patrimônio monumental da França pareciam reunidos: criação do termo monumento histórico e administração encarregada da conservação, dispondo de instrumentos jurídicos (inclusive disposições penais). (CHOAY, 2006, p. 120, grifo nosso).
A ideia de patrimônio cultural estaria nesse momento atrelada à construção dos
monumentos nacionais, passando a ser revestida por uma norma para proteção
desses monumentos. As construções dos instrumentos jurídicos de proteção dos
patrimônios monumentais resolveriam, a princípio, toda a eficácia e eficiência na
tutela preservacionista através dos comandos legais de fazer ou não fazer. Nesse
sentido, foram criados os órgãos estatais preservacionistas e seus respectivos
instrumentos jurídicos de proteção aos patrimônios monumentais.
No Brasil, a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(SPHAN), em 1937, e o Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro do mesmo ano,
17
transformariam consubstancialmente a tutela jurídica do Estado brasileiro em relação
aos seus bens culturais com o nascimento da Lei de Tombamento.Para além da
constituição do instrumento jurídico de proteção, classificaria os valores dos bens
patrimônios – artístico, histórico, arqueológico, paisagístico, etnográfico – com sua
inscrição no livro de tombo homônimo, perante um procedimento administrativo
discricionário, com decisão vinculada aos sujeitos notáveis do Conselho Consultivo.
A norma preservacionista, portanto, estaria assegurada pelo Estado nacional através
de um corpo administrativo público gestor e pelos instrumentos legais de proteção
aos bens culturais.
Da construção de um projeto de nação nas décadas de 1930 e 1940, à sugestão de
um valor agregado às cidades competitivas no mercado global contemporâneo, a
patrimonialização dos bens culturais no Brasiltêm, na ação do Estado, e nos seus
instrumentos jurídicos que compõem as políticas públicas de preservação, o
principal agente tensor na trajetória normativa, querpor sua condição privilegiada em
uma materialidade institucional enquanto ente da administração pública, pelo IPHAN
quanto pela sua capacidade gestora discricionária de atuação1.
A aplicação do tombamento como único instrumento de proteção aos bens culturais
no Brasil desde 1937 seguiu a orientação legal positivada de proteção à fisicidade
da coisa, orientada pela tradição francesa, construindo uma trajetória gestora no
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), conhecida como a
“política da pedra e cal” (FONSECA, 1997, p. 172), onde somente os bens de
natureza material poderiam ser protegidos, sob os critérios da autenticidade,
monumentalidade e excepcionalidade.
Diante das características dinâmicas dos bens culturais, questões como a ampliação
do conceito de patrimônio e a consequente construção de novos desdobramentos
preservacionistas (seleção, proteção e promoção) acabam por rebater nos
1 Trajetória da norma de patrimonialização – verifica-se através da compreensão de uma “não
sinonímia entre lei e norma” (FOUCAULT, 2006) de que ela, a norma, enquanto comando social estrutura-se sob conflitos e interesse múltiplos. Nesse sentido, a trajetória normativa leva em consideração as ações hegemônica e oficiais: seleção, proteção e salvaguardas; bem como a atuação de demais agentes ( sociais, econômicos, políticos) e valores imbricados (simbólicos e estéticos) tensores na produção e promoção do bem patrimonial (SANT‟ANNA, 2004a; OLIVEIRA, A., 2010).
18
processos de patrimonialização, ou seja, na trajetória da norma preservacionista
brasileira.
Perante a limitação imposta pela materialidade como critério para a aplicação do
instrumento de proteção – tombamento –, procurando construir uma política de
proteção aos demais bens culturais que não poderiam ser protegidos por esse
instrumento, desde a criação do IPHAN na década de 1930, a nomenclatura de bens
culturais intangíveis ou imateriais seria somente adotada no Brasil como conceito
que orientaria as políticas institucionais de proteção e promoção aos bens
intangíveis a partir de 2000. Assim, o tombamento e o registro constituem os
principais instrumentos de proteção aos bens culturais brasileiros, representando
objetivamente a atuação do Estado na trajetória da norma de preservação dos bens
culturais no Brasil.
Nesse sentido, ao tentarmos compreender as novas questões que emergem na
produção contemporânea dos patrimônios culturais brasileiros, colocamos o desafio
de compreender como a cultura popular vem sendo problematizada no campo da
proteção dos bens culturais no Brasil e de sua patrimonialização na trajetória da
norma preservacionista, em particular, a partir da Constituição Federal de 1988,
como marco regulador de novos direitos culturais no Brasil.
Assim, a ideia do Estado como principalagente tensor “normativo” remete-nos tão
logo à compreensão da existência de outros agentes tensores atuando na produção
da norma preservacionista percebida, sobretudo, pelas características dinâmicas
que os bens culturais populares possuem, com suas múltiplas referências,
interações, e inserções, desdobradas sobre as diversas dimensões humanas e suas
representações simbólicas, sociais e políticas.
A compreensão dos processos de patrimonialização das culturas populares nas
cidades brasileiras pós-1988, a partir da análise das dimensões variadas da
trajetória da norma preservacionista conquanto política pública de gestão e proteção,
constitui um caminho possível no entendimento da interação que se estabelece
entre os aparelhos de Estado e a sociedade e/ou os demais agentes tensores na
patrimonialização da cultura popular.
19
1.2 AS REFERÊNCIAS TEÓRICAS
1.2.1 Tramas normativas
A construção de uma trajetória da norma de patrimonialização como trabalho de
revisão historiográfica no campo do estudo da norma de preservação do patrimônio
cultural nas cidades (SANT‟ANNA, 1995; 2004; OLIVEIRA, A., 2010) apresenta-se
como importante estudo sobre a norma, haja vista a compreensão de uma trama
normativa na construção das práticas preservacionistas, reconhecendo o patrimônio
cultural como “dispositivo de poder” (FOUCAULT, 2006) na “maquinaria
patrimonializante” (JEUDY, 2005), dentro de um importante campo de embates.
Através do entendimento de um não sinônimo entre lei e norma (FOUCAULT, 2005)
e do reconhecimento de que a norma enquanto comando social é tensionado por
interesses múltiplos, a ideia do patrimônio cultural enquanto “dispositivo de poder”
estrutura-se através do entendimento de que o poder não se situa em um ponto só
podendo, portanto, ser exercido através de relações. “Rigorosamente falando, o
poder não existe; existem sim práticas ou relações de poder. O que significa dizer
que o poder é algo que se exerce, que se efetua, que funciona.” (FOUCAULT, 2005,
p. XIV).
[...] o patrimônio é produto de um dispositivo de poder que tem como objetivo principal criar um padrão de conduta com relação a determinados objetos e práticasaos quais se atribuiu um valor especial. Assim, o patrimônio, como entidade totalizadora dos bens que narram a história e identificam a cultura de um grupo ou de uma nação, não existe como algo pronto – é uma construção social permanente. (SANT‟ANNA, 2004).
Assim, as permanentes transformações em torno do “patrimônio-dispositivo”, e os
tensionamentos que se estabelecem nos processos de patrimonialização da cultura
brasileira, indicam-nos que essas forças desdobram-se ou estão entrelaçadas às
dimensões simbólica, política e social, em que os exercícios dos tensionamentos
podem ocorrer em maior ou menor grau.
Ainda de modo a melhor percebermos o quanto o patrimônio cultural configura-se
como um precioso “dispositivo”, convém compreendermos a utilização desse
conceito segundo as palavras de Foucault (2005, p. 244):
20
Através desse termo tento demarcar, em primeiro lugar, um conjunto decididamente heterogêneo, que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos [...]. O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre estes elementos. Em segundo lugar, gostaria de demarcar a natureza da relação que pode existir entre estes elementos heterogêneos. Sendo assim, tal discurso pode aparecer como programa de uma instituição [...]. O dispositivo tem, portanto, uma função estratégica dominante.
O poder, bem como os mecanismos e técnicas de exercício desse poder, não se
situam, exclusivamente, nas mãos do estado, ou seja, percebe-se uma “concepção
não-jurídica de poder” (FOUCAULT, 2005, p. XII).Assim, segundo Sant‟Anna (2004,
p. 8), “[...] Foucault contrapõe outra concepção de poder e reivindica uma vontade
analítica do poder que não tome mais o direito como modelo e código”.
O estado funcionaria com um mecanismo específico, uma estrutura dentro de um sistema de poderes. Não o sistema de poder funcionando como mecanismo criado e controlado pelo Estado através da divisão desse sistema e do poder contido na perspectiva da divisão de poderes do Estado moderno [...] Foucault, ao procurar analisar o exercício do poder para além da máquina estatal e do discurso jurídico, ou seja, por meio de práticas sociais e para além da lei, reconhece a antijuridicidade da norma. Procurando evidenciar a relação que pode existir entre os elementos heterogêneos não jurídicos na composição da norma social, Foucault utiliza o conceito de „dispositivo‟ para definir uma rede que se estabelece entre esses elementos. (OLIVEIRA, A., 2010, p. 19).
Nesse sentido, a trajetória da norma preservacionista observada a partir das
políticas públicas de seleção, proteção e promoção tuteladas pelo Estado brasileiro,
em torno do “dispositivo” patrimônio, constitui valioso campo temático de pesquisa,
observando tanto o seu caráter normativo, quanto as possibilidades de
reconhecimento dos elementos heterogêneos e dos tensionamentos que se
desdobram nos jogos de poder.
Na produção acadêmica levantada, poucos são os trabalhos que, até o momento,
utilizam o referencial foucaultiano como substrato analítico do patrimônio.Por outro
lado, a maior parte dos estudos no Brasil, mesmo aqueles que se utilizam da
perspectiva das relações de poder no âmbito institucional e estrutural do estado
(regulador e gestor) na análise do patrimônio cultural, debruça-se sobre o patrimônio
material. Acreditamos aqui poder contribuir em duas direções: através da análise dos
processos de registro dos “bens imateriais” no Brasil e dos “bem materiais”
21
tombados como “referências” às culturas populares e tradicionais; e, ainda, através
da patrimonialização, problematizada através da análise de três dimensões da
norma de preservação: os valores e referências que comporiam os processos de
seleção; dos sujeitos ou grupos sociais produtores e reprodutores dos bens culturais;
bem como dos pactos e critérios para a proteção dos bens culturais e seus
instrumentos de tombamentos, registros e inventários.
Nesse sentido, indagar a trajetória da norma de preservação das culturas populares,
decerto, constituiobjeto capaz de transversalizar a materialidade e imaterialidade
presente na norma preservacionista, buscando compreender e questionar os
arranjos tensores das políticas preservacionistas brasileiras.
1.2.2 Culturas Populares
A literatura quanto à patrimonialização da cultura popular é muito pontual (CORREA,
2004; ROCHA, Gilmar, 2009) e os estudos sobre sua direta relação com as cidades
brasileiras é inexistente. As principais abordagens em torno das culturas populares e
da gestão cultural no Brasil remetem aos desdobramentos ocorridos ao longo da
trajetória do IPHAN, sem um foco estabelecido na patrimonialização destes bens
(MAGALHÃES, 1982; 1985; FONSECA, 1997; 2001; 2003; OLIVEIRA, 2000;
SANT‟ANNA, 1995; 2003; 2004; 2009; LIMA FILHO, 2009; PENTEADO JÚNIOR,
2010; CAVALCANTI, 2012; e SOARES, 2014).
Os estudos do conceito ou das ideias de cultura popular no Brasil perpassaram,
sobretudo, por abordagens históricas, antropológicas, sociológicas e, mais
recentemente, políticas. Procuraremos explorar algumas das abordagens em torno
da ideia de cultura popular, priorizando, sobretudo, sua relação com a construção de
uma práxis preservacionista e/ou mesmo patrimonializante e enfatizando sua relação
com as cidades brasileiras.
Dentre os possíveis desdobramentos discursivos sobre a cultura popular, as
abordagens dialéticas entre tradição e modernidade assumiriam o cenário sob uma
orientação baseada, sobretudo, nas ideias de classes que polarizavam os conceitos
de popular e erudito. Como bem demonstra Ferreti (2007), a dialética estabelecida
22
entre os valores atribuídos à cultura, enquanto popularou erudita, acabaria por
basear-se nos conceitos de ideologias ou classes sociais como elemento definidor
desses valores. Ou seja, a valorização da cultura erudita como produto das elites,
alçando a cultura popular como instrumento de oposição às elites (GRAMSCI, 1978
apud FERRETI, 2007); como prática produtiva de uma classe subalterna,
instrumento de reflexão política e identitária, uma vez que a cultura popular supõe a
existência de uma cultura dominante, assumindo, portanto, um caráter contestador
da universalidade das elites e demonstrando o caráter híbrido das culturas populares
(CANCLINI, 1983; 1997).
Numa perspectiva mais historicista, Cavalcanti (1992; 2001; 2002) nos mostra que
os estudos e formulações em torno de um conceito de cultura popular, não somente
no Brasil, iniciam-se com os chamados “estudos folclóricos”,nos quais um sistema
de classificação cultural com forte carga valorativa compreenderia as distâncias que
se estabelecem entre os produtos e o consumo cultural das elites e do povo. A
trajetória dos estudos folclóricos, no Brasil, teria como principais precursores Silvio
Romero2, Amadeu Amaral3 e Mário de Andrade4.Este último, enquanto um dos
principais pensadoresmodernos da cultura popular brasileira, compreende a cultura
popular não somente comoum bem cultural, mas também como um patrimônio
nacional, pronto para educar e construir uma nação, necessitando, para tanto, de
uma política nacional de reconhecimento, proteção e promoção da cultura popular
para as cidades brasileiras.
Podemos citar ainda, como importantes estudiosos e promotores do folcloree da
cultura popular no Brasil, na primeira metade do século XX: Mário de Andrade,
Cecília Meireles, Câmara Cascudo, Gilberto Freyre, Artur Ramos, Manoel Diegues
2“Silvio Romero (1851-1914) celebrizou-se pelas coletas empreendidas na áreas da literatura oral e
pelo desejo, de origem positivista, de uma visão mais científica e racional da vida popular”. (CAVALCANTI, 2002). 3“Amadeu Amaral (1875-1929) enfatizava a necessidade de uma coleta cuidadosa das tradições
populares, e empenhava-se pelo desenvolvimento de uma atuação política em prol do folclore, visto como depositário da essência do ser nacional”. (CAVALCANTI, 2002). 4 Mário de Andrade (1893-1945) procurou reconhecer e compreender o folclore em estreito diálogo
com as ciências humanas e sociais então nascentes no País. Para ele, o folclore, expressão da nossa brasilidade, ocupava um lugar decisivo na formulação de um ideal nacional.(CAVALCANTI, 2002).
23
Junior, Renato Ribeiro5 e Edison Carneiro, como catalisadores de um grande
“Movimento Folclórico” 6 no Brasil, que culminaria na “Comissão de defesa do
Folklore Brasileiro”, em 1947,comoresultado das recomendações da recém criada
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO), tornando-seo principal e primeiro elemento desencadeador de uma
política brasileira de preservação da cultura popular.
À beira ou à margem das políticas de preservação cultural no Brasil pelo Serviço do
Patrimônio, o folclore evocava, ainda, algumas discussões conceituais, desdobradas
em uma possível definição para a ideia de cultura popular, tendo como ponto de
partida dois importantes elementos constituintes: a sociabilidade na produção e
reprodução do bem cultural, “o que se transmite porque é vivo e assim conservado
pelo constante processo de criação dentro da própria cultura” (ALMEIDA, 1976) e a
ideia de tradição e suas múltiplas construções e conexões semânticas junto às
culturas populares: antigo, atrasado, resistência/persistência, sobrevivência e
reprodutibilidade. Nesse sentido, tendo como principal crítica a ideia de tradição,o
caráter dinâmico dos bens culturais designaria o termo de cultura popular como mais
adequado, em detrimento, por exemplo, da ideia de cultura tradicional: “pensar a
cultura popular como sinônimo de „tradição‟ é reafirmar constantemente a ideia de
que a sua idade de ouro deu-se no passado” (ARANTES, 1981).
No entanto, a partir da década de 1960 e 1970, no Brasil, os estudos e as
construções em torno do conceito de folclore acabariam por estabelecer um cunho
mais político à tensão conceitual, quer pela realidade político-institucional imposta
por um regime político de exceção caracterizado por uma ditadura militar,quer pelas
influências do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), criado em 1955. E
também pelo rompimento da ideia da cultura popular com o “passado”, atentando
para o seu potencial transformador do futuro, onde movimentos urbanos como os
Centros de Cultura Popular (CPC), braço da União Nacional dos Estudantes e criado
em 1961,no Rio de Janeiro, e o Movimento de Cultura Popular (MPC), instituição
5 Cf. CAVALCANTI (2001).
6 Nesse sentido, cf. VILHENA (1997). Obra que é referência fundamental na compreensão do
Movimento Folclórico no Brasil.
24
sem fins lucrativos, criada em 1960, no Recife, atentariam ao caráter transformador
e revolucionário da cultura popular. Como bem demonstra Lúcia Oliveira (1992, p.
72): “A identidade entre folclore e cultura popular se rompe no ISEB. Folclore passa
a ser o passado; cultura popular, transformação. Cultura popular passou a significar
um meio para atingir determinado fim, dar consciência ao povo”. Esse momento e
esse pensamento histórico sobre a cultura popular como elemento de transformação
social embasado, sobretudo, por uma luta de classes também urbana podem muito
bem ser representados pelo Teatro e pela música do Movimento Armorial,
capitaneado por Ariano Suassuna7; pela literatura revolucionária de Ferreira Gullar8;
ou pelo Cinema Novo, emblematicamenterepresentado por Glauber Rocha, e sua
obra “Deus e o Diabo na Terra do Sol” 9.
Importante ainda percebermos a direta relação dos processos de construção e
sedimentação de uma cultura popular brasileira e os processos de urbanização que
alcançariam o Brasil, sobretudo após a década de 1950, onde grande número de
trabalhadores do campo começam a ocupar as cidades, não somente como mão de
7 “O Movimento Armorial surgiu sob a inspiração e direção de Ariano Suassuna, com a colaboração
de um grupo de artistas e escritores da região Nordeste do Brasil e o apoio do Departamento de Extensão Cultural da Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários da Universidade Federal de Pernambuco.[...] Foi lançado oficialmente, no Recife, no dia 18 de outubro de 1970. Seu objetivo foi o de valorizar a cultura popular do Nordeste brasileiro, pretendendo realizar uma arte brasileira erudita a partir das raízes populares da cultura do País. Segundo Suassuna, sendo "armorial" o conjunto de insígnias, brasões, estandartes e bandeiras de um povo, a heráldica é uma arte muito mais popular do que qualquer coisa. Desse modo, o nome adotado significou o desejo de ligação com essas heráldicas raízes culturais brasileiras. O Movimento tem interesse pela pintura, música, literatura, cerâmica, dança, escultura, tapeçaria, arquitetura, teatro, gravura e cinema”. (GASPAR, 2015). 8 “José Ribamar Ferreiraou Ferreira Gullar, nascido em São Luis do Maranhão em 1930, participou do
movimento da poesia concreta na década de 1950, e em 1956 participou da exposição concretista que é considerada o marco oficial do início da poesia concreta, tendo se afastado desta em 1959, criando, junto com Lígia Clark e Hélio Oiticica, o neoconcretismo, que valorizava a expressão e a subjetividade em oposição ao concretismo ortodoxo. Posteriormente, ainda no início dos anos de 1960, se afastará deste grupo também, por concluir que o movimento levaria ao abandono do vínculo entre a palavra e a poesia, passando a produzir uma poesia engajada e envolvendo-se com os Centros Populares de Cultura (CPC). Ferreira Gullar foi militante do Partido Comunista Brasileiro e, exilado pela ditadura militar, viveu na União Soviética, na Argentina e Chile”. (FERREIRA GULLAR, 2015). 9 “Glauber Rocha – Deus e o Diabo na Terra do Sol. Rio de Janeiro, 1964. Eu parti do texto poético. A
origem de „Deus e o Diabo...‟ é uma língua metafórica, a literatura de cordel. No nordeste, os cegos, nos circos, nas feiras, nos teatros populares, começam uma história cantando. Toda minha formação foi feita nesse clima. O argumento de Deus e o Diabo na Terra do Sol é uma síntese de fatos e personagens históricos concretos (o cangaço e o mandonismo local dos coronéis no Nordeste, o beatismo ou misticismo de base milenarista, a literatura de Cordel, Lampião e Corisco.” (ROCHA, Glauber, 2015).
25
obra necessária às políticas desenvolvimentistas em curso, mas também ocupando
o território com toda uma cultura popular que passa a se reproduzir também no
ambiente urbano. Claras e preciosas são as observações apreendidas por José
Carvalho (2000, p. 23) quanto aos processos de apreensão pelas cidades dos novos
velhos bens culturais brasileiros:
Sobre os efeitos da urbanização, no Brasil, a relação demográfica entre campo e cidade se inverteu nos últimos vinte e cinco anos e hoje setenta por cento da população vive em cidades. Com isso a chamada cultura camponesa, que sempre foi o foco da atenção dos estudiosos de folclore, talvez não venha a representar, em termos sociológicos a parte majoritária da cultura popular, Alem disso, passa a existir, também, um grande circuito de cultura rural nas cidades, na medida em que números grupos transplantados do interior são refeitos (e sua cultura, obviamente, reinterpretada) no meio metropolitano. Assim, vários símbolos que, no campo, funcionam como fortes elementos de caracterização e consolidação da identidade camponesa, passam a ser, na urbe, celebrações do estilo camponês da vida, levadas a cabo por grupos que agora são urbanos. Esse complexo jogo de deslocamentos por que passam os símbolos tradicionais no mundo urbano deve ser ainda melhor compreendido.
A despeito de toda uma crescente visibilidade em torno do folclore, seus
desdobramentos institucionais como a Campanha de defesa do Folklore Brasileiro,
em 195810; e de pesquisas, sobretudo pelos Congressos regionais, nacionais, e
internacional de Folclore, realizados a partir da década de 1950; e literários, através
da Revista Brasileira de Folclore que circulou entre 1961 e 1976, o folclore não
conseguia se estabelecer como um conceito, objeto ou ideia patrimonializante, alvo
de uma política preservacionista. E isto, quer pelas próprias dúvidas institucionais e
operacionais em torno da preservação desses bens culturais; quer pela opção clara
de uma patrimonialização monumental da “pedra e cal”, amparados em valores
artísticos e históricos, presos à fisicidade da coisa; quer, ainda, pela manutenção de
um conceito de produção de bens da cultura popular atrelado às ideias de
tradição/passadismo/ultrapassado como forma de dominação de uma classe em
detrimento de outra, buscando uma homogeneização dos bens e do consumo
10
A Campanha vira Instituto Nacional do Folclore, vinculado à FUNARTE, em 1976; o Instituto Nacional do Folclore torna-se Coordenação de Cultura Popular, vinculada à Fundação Nacional Pró-Memória (FNPM), em 1979; em 1997, a Coordenação é transformada em Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP), vinculado à FUNARTE; e somente em 2003 o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) passa a integrar a estrutura do IPHAN.
26
cultural com a nascente industria cultural e sua cultura de massa como um dos
principais fenômenos da sociedade contemporânea.
No entanto, a partir dos anos 1970, sobretudo a partir da expansão dos chamados
“estudos culturais”, ocorreria uma orientação à “convicção de que a maioria
dosdesafios do mundo contemporâneo ganham ao ser questionados pelo prisma da
cultura” (MATTELART; NEVEU, 2004, p. 17)”. A cultura, observada como objeto de
estudo, sobretudo em sua realidade social contemporânea, produzia “trabalhos que
se estendem gradualmente para componentes culturais ligados ao „gênero‟, à
„etnicidade‟, ao conjunto das práticas de consumo” (Ibidem, p. 14).
Trata-se de considerar a cultura em sentido amplo, antropológico, de passar uma reflexão centrada sobre o vínculo cultura-nação para uma abordagem da cultura dos grupos sociais. Mesmo que ela permaneça fixada sobre uma dimensão política, a questão central é compreender em que a cultura de um grupo, e inicialmente a das classes populares, funciona como contestação da ordem social ou, contrariamente, como modo de adesão às relações de poder. (MATTELART; NEVEU, 2004, p. 13).
As possíveis interpretações acerca dos desdobramentos dos “estudos culturais”
constituíram-se numa tarefa acadêmica cotidiana e reiterada. Amparados pelas
condições diversas e plurais, tanto metodológicas, na construção dos objetos de
estudos, e políticas, na busca por uma produção teórica que estivesse colada ao
diálogo na construção de direitos culturais, a cultura popular destaca-se, muito mais
através de uma abordagem classista, que se desdobra pela ideia de “cultura de
massa” e sua direta relação com as “indústrias culturais” (MATTELART;NEVEU,
2004).
A ideia de um pluralismo cultural como desdobramento dos estudos culturais, a
tensão produzida entre países quanto às suas identidades culturais populares não
reconhecidas no campo patrimonial, e a direta relação entre a apropriação e
expropriação dessa cultura popular pela indústria cultural, seriam muito bem
observadas pelo argentino Néstor Canclini (1987), em diversas de suas obras, mas
objetivamente tratadas no documento “La carta del Folklore Americano y la política
cultural em los 80”.
Para Canclini, a troca de uma visão substantiva e ortodoxa da cultura popular por
uma abordagem mais complexa, levando em consideração as questões dinâmicas
27
que essas culturas apresentam,expõe os problemas que ameaçariam a própria
constituição e manutenção dessas culturas populares: A produção de uma cultura de
massa, incorrendo numa expropriação da cultura popular pela indústria cultural e sua
reprodução pelos meios de comunicação de massa, a promissora indústria do
turismo, e o crescente processo de urbanização das cidades, onde novas formas de
sociabilidade, representadas, sobretudo, nas novas formas culturais que se
estabelecem, são capazes de sintetizar e integrar diversos elementos simbólicos da
cultura popular urbana.
No Brasil, a reorientação conceitual em torno da ideia de folclore e cultura popular é
construída em 1995, no VIII Congresso Brasileiro de Folclore, realizado em
Salvador, na Bahia, tendo como um dos seus objetivos uma releitura da Carta do
Folclore Brasileiro11, ficando, portanto, assim redefinido o conceito de Folclore:
Folclore é o conjunto das criações culturais de uma comunidade, baseada nas suas tradições expressas individuais ou coletivamente, representativas de sua identidade social. Constituem-se fatores de identificação da manifestação folclórica: aceitação coletiva, tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade. Ressaltamos que entendemos o folclore e cultura popular como equivalentes, em sintonia com o que preconiza a UNESCO. (COMISSÃO NACIONAL DO FOLCLORE, 1995, p. 1).
Diante dessa reorientação conceitual em torno do folclore e dos bens culturais
populares, as ideias sobre a cultura popular encontram no texto “Cultura Popular e
Políticas Públicas”, de Cláudia Márcia Ferreira (2001), a partir de uma fala
institucional e, portanto, formação discursiva normativa estatal, adotada pela
principal instituição brasileira de pesquisa, preservação e difusão do folclore e da
cultura popular, o Centro Nacional do Folclore e Cultura Popular (CNFCP), uma
sofisticada ressignificação conceitual, levando em consideração a operacionalização
de políticas públicas à cultura popular.
Entendendo o folclore como os modos de agir, pensar e sentir de um povo, ou seja, como expressão da cultura desse povo, o CNFCP considera equivalentes as expressões folclore e cultura popular. O universo abrangido por essas duas expressões é vastíssimo, e isso não só pela diversidade de itens que aí se inscrevem, como pelo caráter plural, intrínseco às manifestações culturais. [...] Apenas por razões operativas mantém-se, assim, no singular, a expressão cultura popular, embora se reconheça a
11
Documento resultante do I Congresso Brasileiro de Folclore, realizado no Rio de Janeiro, de 22 a 31 de agosto de 1951.
28
existência de tantas culturas quanto são os grupos que as concretizam.[...] O adjetivo popular não designa, por sua vez, uma categoria indistinta de manifestações niveladas por oposição às que são chamadas eruditas.[...] O tradicional não é resíduo do passado, e, sim, um conjunto de práticas sociais e culturais presentes, que se reproduzem por meio do trabalho e do poder de recriação de seus agentes, constituindo sua identidade cultural (FERREIRA, 2001).
Não por acaso, segundo Gilmar Rocha (2009), a partir da década de 1990, o
conceito de patrimônio imaterial viria quase a tornar-se sinônimo de cultura popular,
sobretudo pelas políticas institucionais de preservação que se desenvolviam no seio
do IPHAN.
Dessa forma, a construção de uma política para a proteção da cultura popular
centralizava-se na construção de uma política para os bens intangíveis e sua
proteção como patrimônios imateriais, o que se tornaria evidente e robusto na
década seguinte.
Apesar de todo o avanço e ampliação do significado de cultura e das reflexões epistemológicas desenvolvidas no campo do pensamentoantropológico contemporâneo, o conceito de patrimônio imaterial anda parece direcionado, tendencialmente, para o lado da cultura popular. (ROCHA, Gilmar, 2009, p. 229).
A polissemia da ideia de cultura popular parece indicar um não consenso conceitual
institucional, seja pela sociedade civil, através da resistente “Comissão Nacional do
Folclore” e suas Comissões regionais, discutidano XVII Congresso Brasileiro de
Folclore, realizado em 2015, na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais;seja mesmo
pelo discurso mais amplo e inclusivo do CNFCP, atualmente pertencente à estrutura
administrativa do Departamento de Patrimônio imaterial (DPI), do IPHAN; seja ainda
pelas pesquisas acadêmicas desenvolvidas nos mais diversos grupos de pesquisas
que atuam direta ou indiretamente com a temática da cultura popular.
Cabe ainda salientar que, na busca por referenciais teóricos, não conseguimos
acessar estudos que atuem transversalmente aos bens culturais populares, diluindo
as barreiras da materialidade e da imaterialidade.
Assim, utilizaremos ao longo de nossa pesquisa o conceito de culturas populares
como as culturas produzidas pelo povo, ou seja: um conjunto de práticas sociais e
culturais que se produzem e se renovam por meio do trabalho e de relações de
29
sociabilidade, sensorialidade e crenças, e estabelecem nexos profundos com o
círculo social de onde emergem e instigam aproximações com outros universos
sócias e culturais. Temos por base as ideias Cláudia Márcia Ferreira, diretora do
CNFCP, onde os conceitos de “folclore” e “tradição” configuram-se como elementos
constitutivos das culturas populares.
Além dessa breve demonstração conceitual, mas fundamentala nosso ver, o
entendimento do percurso sobre o conceito de cultura popular e seu universo de
significações também constitui importante à compreensão dos arranjos institucionais
que operam os instrumentos jurídicos do Estado, uma vez estatuinte e operador da
norma no sentido restrito de lei e de poder público executivo.
Nesse sentido, fez-se necessário o estudo dos antecedentes e seus arranjos
institucionais à proteção da cultura popular como patrimônio cultural brasileiro,
orientado pela trajetória da norma preservacionista.
1.3 OS ANTECEDENTES INSTITUCIONAIS E SUA CONTEXTUALIZAÇÃO
HISTÓRICA
A construção de um ideário patrimonialista no Brasil data do início do século XX,
como uma série de tentativas em estabelecer um aparato jurídico-institucional que
orientasse as políticas preservacionistas no Brasil12.Nesse momento histórico,são
debatidas e construídas as principais orientações para uma política cultural
institucional brasileira, com maior ênfase na década de 1930, momento
circunstancial de elaboração e implementação de diversos órgãos públicos federais
no Brasil.
Ainda na década de 1930, a valorização da cultura brasileira e sua importância na
constituição de um “Estado Novo” passariam pela concepção de um projeto de
nação. Não por coincidência, a década de 1930 também é marcada pela
12
Cf. SANT‟ANNA (1995). A autora descreve os sucessivos projetos construídos até a construção do Decreto-Lei nº 25/1937.
30
institucionalização da Sociologia no Brasil como campo científico e de formação
acadêmica, com a criação da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, em
1933; e com a criação da Seção de Sociologia e Ciência Política da Faculdade de
Filosofia da Universidade de São Paulo, em 1934. A busca por uma suposta
identidade nacional na Sociologia seria contemplada com a associação do ensino à
pesquisa, sobretudo a partir de 1936 (LIEDKE FILHO, 2005), revelando Brasis ainda
desconhecidos.
Um pensamento ideológico dominante entre os que compunham e comporiam as
instituições públicas orientaria as políticas de preservação no Brasil: o modernismo.
Ainda que o ideário modernista brasileiro não apresentasse uma unidade de
pensamento estético ou político, embora estivesse distribuído por quase todas as
linguagens artísticas expoentes desde a década de 1920, entre dissensos e
consensos, o espírito ufanístico, como exaltação aos elementos constitutivos de
nossa cultura em detrimento da cultura desenvolvida em países europeus
hegemônicos, traduzidos por uma perspectiva antropofágica, pela “fome e
deglutição” dos elementos históricos, estéticos, e culturais brasileiros, como forma
de construção de uma identidade de nação através da produção cultural
genuinamente brasileira, orientaram, inicialmente as ações no campo da cultura
(LINS, 2009; ORTIZ, C. 2012).
Por entre conceitos difusos e ideias inovadoras, a construção do aparato
institucional e da norma preservacionista brasileira seria marcada, essencialmente,
por dois eventos: o projeto de uma Instituição, proposto pelo modernista Mário de
Andrade para reconhecimento e proteção dos bens culturais brasileiros, embebido
de todo um caráter vanguardista; bem como o Decreto-Lei Nº 25 de 193713, que
instituiria o instrumento do tombamento como instrumento de proteção ao patrimônio
cultural brasileiro, organizando um procedimento para preservação dos bens
culturais. Em 1936, o Ministro Gustavo Capanema solicita ao intelectual e artista
modernista Mário de Andrade um anteprojeto14 para a organização do órgão federal
13
Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/legislacao/Decreto_25_de_30_11_1937.pdf>. Acessoem: 25 jul. 2014. 14
Cf. ANDRADE (1981).
31
de preservação dos bens culturais, que atuaria na esfera de competência do
Ministério da Educação e Saúde (MES). O anteprojeto de Mário de Andrade
apresentava características peculiares, aproximando-o daquilo que hoje poderíamos
denominar de cultura popular, entretanto, unificando pelo conceito de arte as
manifestações populares e eruditas como bem culturais de igual valor e referência
para a construção de uma identidade nacional. Dessa forma, Mário de Andrade
propunha a construção de um entendimento de proteção legal a partir do bem
cultural e não a adequação do bem cultural às proteções legais vigentes em outros
países.
A novidade do seu trabalho residia no fato de que ele não ficava preso às formas de proteção legal já consagradas na Europa, destinadas somente à proteção de monumentos históricos e obras de arte. O poeta modernista criou uma nova ideia de patrimônio, que envolvia o registro de manifestações culturais de natureza variada, que poderia ter gerado uma nova matriz legal completamente original se houvesse havido a intenção de traduzi-la juridicamente. (SANT‟ANNA, 1995, p. 83).
A concepção mais abrangente de Mário de Andrade sobre o patrimônio cultural
consegue, em um primeiro momento, alguns desdobramentos práticos.
Otombamento etnográfico do então denominado Museu da Magia Negra15, no Rio de
Janeiro, em 1938, bem como o tombamento com inscrição dupla nos livros do tombo
das Belas Artes e Histórico, dos Morros da Cidade do Rio de Janeiro16, apesar de
não mencionarem a cultura popular como elemento valorativo constituinte do
processo de patrimonialização, constróem importantes relações entre os valores e
referências da cultura popular e os bens protegidos pelo tombamento, sobretudo,
pela representação do valor etnográfico na coisa: nos objetos tombados como
Museu da Magia Negra e na arquitetura vernacular dos Morros no Rio de Janeiro.
Apesar de o projeto de Mário de Andrade ocupar-se e preocupar-se com a
preservação dos elementos da cultura popular brasileira, importantes bens
constituintes do processo de formação de nossa sociedade, o entendimento e as
práticas preservacionistas que tomariam corpo após a instituição do SPHAN, bem
15
Cf. BRASIL. IPHAN. Processo de tombamento Nº 035, de 1938. Coleção: Museu de Magia Negra. Rio de Janeiro / Rio de Janeiro. 16
Cf. BRASIL. IPHAN. Processo de tombamento Nº 099, de 1938. Morros da Cidade do Rio de Janeiro –Rio de Janeiro / Rio de Janeiro.
32
como após o Decreto-Lei nº 25/37, não atenderiam de forma institucionalizada à
preservação da cultura popular. Esta, por sua vez, encontraria em outros meandros
e articulações institucionais a possibilidade de fortalecimento enquanto referência
cultural brasileira. No entanto, ela seria operacionalizada marginalmente ao órgão
preservacionista e traduzida num primeiro momento, pela ideia de Folclore.
A Comissão Nacional do Folclore (CNFL), criada em 1947, vinculava-se ao Instituto
Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBECC), através de uma articulação
direta entre o então Ministério do Exterior e a UNESCO17, no contexto do
pósSegunda Guerra Mundial. Importa demonstrar o papel articulador de Renato
Soeiro, intelectual modernista brasileiro, na institucionalização da CNFL no seio do
Ministério do Exterior, como chefe do Serviço de Informações no Itamaraty. “O
Folclore era visto como um instrumento de compreensão entre os povos, […]
permitindo a construção de identidades diferenciadas entre os povos”
(CAVALCANTI, 2012, p. 104) e o Brasil seria o primeiro país a institucionalizar tais
preceitos através da Comissão. Segundo Reis (2008), a Comissão teria como
principal objetivo “o registro e proteção das manifestações folclóricas”. Segundo
Cavalcanti (2012) esse importante marco do Movimento Folclorista Brasileiro (MFB),
a CNFL, acabaria por realizar, entre 1948 e 1964, quatro Semanas Nacionais do
Folclore18, cinco Congressos Brasileiros de Folclore19 e um Congresso Internacional,
em 1954, na cidade de São Paulo, incorrendo em importantes desdobramentos ao
campo do folclore, sobretudo aqueles de cunho conceitual, científico e político-
institucional. A Carta do Folclore Brasileiro, em 1951, definindo o conceito de “Fato
Folclórico” e seu estudo, bem como o Plano Nacional de Pesquisa Folclórica e sua
orientação preservacionista e educacional, constituem documentos importantes da
consolidação de uma política ao folclore brasileiro20. Ainda, importa demonstrar que
a CNFL constitui uma sólida estrutura institucional, com representação em quase
todos os estados brasileiros, muito semelhantes à que hoje possui o IPHAN,
17
Criada em 1946. 18
Rio de Janeiro, 1948; São Paulo, 1949; Porto Alegre, 1950; e Maceió, 1952. 19
Rio de Janeiro, 1951; Curitiba, 1953; Salvador, 1957; Porto Alegre, 1959; e Fortaleza, 1963. 20
Cf. CAVALCANTI, 2012.
33
conseguindo grande capilaridade nas políticas públicas que se iniciavam no campo
do folclore brasileiro.
A rede nacional constituída pela CNFL e as comissões estaduais se fazia visível por meio das semanas e congressos dos folclores. […] Esses encontro serão espaços de dimensões múltiplas: além dos fóruns de debates, incluíam apresentações folclóricas, culinária, bem como exposições, cuja proposta era de que servissem de embrião para instalação de futuros museus sobre o tema (BRASIL, 2008a, p. 14).
A década de 1950 seria marcada, na administração pública brasileira, pela
institucionalização das “Campanhas” enquanto ação frente a “ideias de urgências”
(CAVALCANTI, 2012, p. 111).Ainda segundo essa autora, “a década de 1950 foi
particularmente ativa do ponto de vista da organização de eventos agregadores e do
surgimento de iniciativas em prol da institucionalização” (Ibidem, p. 108). Nesse
sentido, no ano de 1958, o então Presidente brasileiro Juscelino Kubitscheck criaria
a Campanha em Defesa do Folklore Brasileiro (CDFB), no então Ministério da
Educação e Cultura (MEC), “[…] com verbas próprias e autonomia para a assinatura
de convênios” (Ibidem, p. 108).
A importância da CDFB numa perspectiva institucional do folclore como política
pública é reconhecida até os dias atuais. Em entrevista21, a Srª Cláudia Márcia
Ferreira, atual Diretora do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, é enfática
em estabelecer a importância da Campanha, quando da sua avaliação da trajetória
no plano institucional de políticas públicas ao folclore: “Nós somos a Campanha, que
se estende até os nossos dias sob a definição de Centro Nacional de Folclore e
Cultura Popular”22.
Pela gestão da CDFB, passariam importantes personalidades, tendo a figura de
Edison Carneiro como o principal expoente. Cronologicamente, a gestão da
Campanha inicia-se em 1958, com Mozart de Araújo, permanecendo na diretoria-
executiva até 1961, quando então assume Edison Carneiro. O principal
desdobramento institucional da gestão de Mozart de Araujo seria a criação da
21
Depoimento colhido em entrevista ao autor do presente trabalho, concedida no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular em 6 de setembro de 2014. 22
Ibidem.
34
Biblioteca Amadeu Amaral23, em 1961, com um acervo inicial de 800 documentos,
chegando aos dias atuais com um acervo de 200 mil documentos distribuídos em
hemeroteca, cordelteca, acervos sonoros e visuais e arquivos institucionais24.
Edison Carneiro25 assume a diretoria-executiva da CDFB em 1961, permanecendo
até 1964, quando é afastado do cargo por ser militante do Partido Comunista
Brasileiro.
Com sua saída ocorre uma ruptura no trabalho que vinha sendo realizado: uma longa pausa entre o V e o VI Congresso Brasileiro de Folclore, ocorridos em 1963 e 1970, e a interrupção das negociações para a criação do Instituto Nacional do Folclore. (BRASIL, 2008a, p. 28).
Um dos principais feitos da gestão de Edison Carneiro foi conseguir estabelecer o
início de uma capilaridade de preservação museal do folclore através da
institucionalização de museus nos estados da federação; política reiterada como
principal atuação político-institucional pelo seu sucessor, Renato Almeida, devido às
adversidades advindas do Golpe Militar de 1964.
No período entre 1954 e 1976 foram criados quarenta e quatro museus de folclore pelo país afora, com o apoio e incentivo da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro – e certamente todos eles foram utilizados como ferramentas políticas de sobrevivência desses estudos, pelos folcloristas. O caráter transitório de que se revestem as campanhas, não dava a esses estudos a perenidade pretendida pelos intelectuais folcloristas. Enquanto a luta da Campanha, pela institucionalização em bases mais duradouras continuava, os museus eram os principais baluartes dessa luta. Tecer uma rede de memória constituída por museus de folclore cobrindo o território nacional foi uma estratégia montada e urdida. (OLIVEIRA, V., 2010).
Outra importante ação em defesa do folclore brasileiro na gestão de Edison Carneiro
seria a “articulação e divulgação” (BRASIL, 2008a, p. 75) de importante veículo de
promoção do folclore no contexto da Campanha em Defesa do Folklore Brasileiro de
1958.
A partir de 1961, passaram a contar também com importante veículo de articulação e divulgação, a Revista do Folclore Brasileiro, que, além de boletins e outras publicações organizadas, circulou até 1976, totalizando 41
23
Amadeu Amaral (1875-1929) foi poeta, folclorista, filólogo e ensaista. Dedicou-se aos estudos do dialeto regional caipira paulista no território do vale do Rio Paraíba. 24
Cf. Biblioteca Amadeu Amaral – CNFCP. Disponível em: <http://redarterj.com/centro-nacional-do-folclore-e-cultura-popular-biblioteca-amadeu-amaral/>. Acesso em: 13 nov. 2014. 25
Edison Carneiro (1912-1972) foi jurista, jornalista, poeta e folclorista. Diretor da Campanha em Defesa do Foclore de 1961 a 1964.
35
volumes. Tornou-se um difusor e catalisador das pesquisas, contendo, além de artigos, notas de pesquisa e registros de eventos. (OLIVEIRA, V., 2010).
Renato Almeida assume em 1964 a direção, trazendo consigo a responsabilidade
em manter os ideais formadores da Campanha em Defesa do Folklore Brasileiro.
De sua estratégia fazia parte o resgate da proposta de Carneiro, especialmente no que se refere à criação de museus, bibliotecas, filmotecas, fonotecas e centros de documentação, que desde as origens estiveram entre os objetivos principais dos estudiosos do folclore. (OLIVEIRA, V., 2010).
Diferente contribuição da gestão Renato Almeida fora a construção do Dia do
Folclore, dia 22 de agosto, através do Decreto nº 56.747, de 17/08/1965, como
forma de preservação e promoção do folclore Brasileiro. Importa salientar a
importância do dia do folclore no calendário da “educação moral e cívica”, proposta
pelo governo de militares no Brasil26, bem como na “organização social e política
brasileira”, como elemento importante a ser relembrado e ovacionado na afirmação
de nossa identidade nacional.
Por fim, o Museu do Folclore Edison Carneiro, criado em 196027, reiteraria as
políticas de preservações folclóricas através de uma abordagem museográfica, se
instalando definitivamente na cidade do Rio de Janeiro, em 1968,ano do
endurecimento da política da ditadura militar brasileira. Segundo a diretora da
FNFCP, Cláudia Márcia Ferreira28, o Museu abrigaria atualmente um acervo próximo
a 15 mil objetos, distribuídos em coleções de tecnologias tradicionais, festas e
rituais, artistas e manifestações populares brasileiras. Além disso, o Museu abre
espaço para exposições temporárias e contem a Galeria Mestre Vitalino e a SAP -
Sala do Artista Popular, criada em 1983, caracterizada como espaço-pólo de
comercialização para artistas, associações e cooperativas de artistas populares.
A principal instituição de proteção aos bens culturais no país, o IPHAN,
permaneceria convicta de sua política da “pedra e cal”, onde a proteção dos bens
26
Período compreendido entre 1964 a 1985. 27
Segundo OLIVEIRA, V. (2010): “O primeiro núcleo do Museu de Folclore foi instalado em algumas salas do Museu da República, que nessa época constituía uma seção, criada na estrutura do MHN em 15 de novembro de 1960, quando o Palácio deixa de servir de sede do governo federal.” 28
Depoimento colhido em entrevista ao autor do presente trabalho, concedida no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular em 6 de setembro de 2014.
36
culturais populares, iniciada ainda sobre a sobra dos ideais andradianos, é
esquecida ao longo dos anos. Em 1967 a aposentadoria de Rodrigo Melo Franco de
Andrade como diretor do IPHAN por 30 anos, e o início da gestão do diretor Renato
Soeiro29, colocaria a possibilidade de uma atuação institucional sobre os bens da
cultura popular para além de uma política inventariante e museal.
A cartografia do pensamento e das ações de Rodrigo revela a clara equivalência semântica entre arquiteturas, artes plásticas, servidor público, causa cívica, intervenções, civilização e, finalmente no topo, a nação. [...] A razão de se explicitar o que chamo de cartografia do pensamento de Rodrigo serve para mostrar o quanto ele se distanciava de uma parte do projeto de Mário de Andrade, que colocava lado a lado a etnografia, o folclore, a cultura popular, a arqueologia e a paisagem, assim como a Repartição Fono-foto-cinematográfica enquanto instrumento inventariante na estrutura do SPHAN. Como num mar de ruínas a proteger, Rodrigo e sua equipe minimizam a noção ampliada de patrimônio pretendida por Mário de Andrade. (LIMA FILHO, 2009).
No campo internacional, novas tensões começam a se estabelecer, sobretudo na
dimensão simbólica dos bens culturais, onde valores e referências que nortearam a
construção dos patrimônios culturais da humanidade, não alcançavam a dimensão
simbólica de muitos países membros da UNESCO. Em 1968, na XV Conferencia
Geral da UNESCO, em Paris, essas tensões começariam a tomar corpo:
[...] por muito tempo, os problemas folclóricos se não estranhos à UNESCO, dela não mereceram a atenção devida. O aspecto mudou porém, depois que os novos países africanos passaram a atuar e hoje o fazem com largo prestigio no seio da Organização. Eles chamaram a atenção para o patrimônio imerso da sabedoria popular de transmissão oral. (PRESERVAÇÃO..., 1969).
No entanto, a Convenção para a Salvaguarda e Proteção do Patrimônio Mundial,
Cultural e Natural ocorrida na 17ª Sessão da Conferência Geral da UNESCO,em
1972, geraria uma tensão explícita e intencionada quanto aos valores
patrimonializantes da instituição, uma vez que países orientais e latino-americanos
não reconheciam em seus bens culturais nacionais os valores nem tampouco a
aplicabilidade dos instrumentos de proteção e salvaguardas contemplados como
patrimônios da humanidade. Mesmo assim, seriam desdobramentos da Convenção
sobre a proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural: as definições do
Patrimônio Cultural e do Patrimônio Natural; o Comitê Intergovernamental para a
29
Renato de Azevedo Duarte Soeiro, diretor do então SPHAN, entre 1967 e 1979.
37
proteção do patrimônio mundial cultural e natural; um Fundo para a Proteção do
Patrimônio Mundial Cultural e Natural; bem como condições e modalidades de
assistência internacional. Essa distinção entre patrimônio cultural e natural acenaria
à construção e ou aceitação de novos valores e “referências culturais” como
patrimônios da humanidade. Assim, já em 1973, a Bolívia propõe acrescentar à
Convenção para a Salvaguarda e Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural
um Protocolo a fim de proteger a Cultura Popular de seu país. Um campo
patrimonializável se ampliaria para além dos bens culturais materiais, traduzidos, até
aquele momento, em sua maioria, pela arquitetura – isolada ou em conjunto – e/ou
monumentos artísticos, ainda, resquícios de uma UNESCO orientada por e para
uma reconstrução dos países no pós-segunda guerra mundial, enfatizando, portanto,
a proteção aos bens materiais. (SANT‟ANNA, 2001, 2003)
Segundo SOARES (2012), na mesma década de 1970, o governo brasileiro volta-se
ao folclore como política cultural, sobretudo através do Programa de Ação Cultural –
PAC, traduzido por eventos realizados no país, bem como do fomento ao turismo
cultural, desdobramento do Sistema Nacional de Turismo de EMBRATUR –
Empresa Brasileira de Turismo, criados no governo do Presidente Militar Castelo
Branco. Quanto ao fomento ao turismo, podemos destacar o Simpósio sobre
Folclore e Turismo Cultural, realizado em São Paulo entre os dias de 23 e 28 de
agosto de 1970, bem como o Programa Nacional de Turismo e Folclore, projeto
construído com a EMBRATUR, em Brasília, no ano de 1972.
A Revista Brasileira de Folclore de maio/agosto de 1972 publicaria o documento
“Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro: elementos para um Programa Nacional
de Turismo e Folclore”, onde o
[...] folclore apareceu como elemento de atrativo turístico, sobretudo através dos folguedos e dos objetos de artesanato [...]. E o papel do folclorista, nesse contexto, seria preservar a autenticidade do produto e preparar os elementos de uma propaganda eficiente, sobretudo, através de festivais e feiras de artesanato.(SOARES, 2012, p.15).
Ainda segundo o documento (CAMPANHA..., 1972, p. 211 et seq), seriam diretrizes
orientadoras desse Programa, “[...] um reconhecimento dos elementos tradicionais
em seus aspectos autênticos e de fidelidade do folclore brasileiro” referendando uma
38
ideia deautenticidade da cultura e consequentemente dos bens culturais, como
“incentivar e proteger na respectiva autenticidade o artista, a festa folclórica e o
artesanato”; assim, “através do desenvolvimento do turismo, estabelecer de forma
integrada as programações específicas com um calendário promocional, capaz de
garantir a organização das manifestações folclóricas”.
O ano de 1975 marca a política de preservação das culturas populares brasileiras
pela criação do Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC)30, estruturado
através de um convênio entre várias instituições públicas, tendo na figura do design
pernambucano Aloísio Magalhães, à frente de sua coordenação, um dos maiores
defensores à proteção e promoção da cultura popular brasileira.
No clássico “E Triunfo?” (MAGALHÃES, 1985), a fala do próprio Aloísio Magalhães,
em síntese, indica-nos a importância do CNRC no processo de patrimonialização da
cultura popular no Brasil, sobretudo, pelo reconhecimento da necessidade e
possibilidade da inserção de novas “referências culturais”, sobretudo aquelas da
cultura popular, na política brasileira de gestão dos bens culturais.
A partir das décadas de 50 e 60 começou a observar-se uma série de fenômenos curiosos de insatisfação, atingindo todas as áreas do comportamento do homem ocidental. Uma espécie de fastio, monotonia, achatamento de valores causado pelo próprio processo de industrialização muito acelerado e sofisticado. [...] Uma das consequências mais flagrantes do achatamento do mundo é a perda ou diminuição de caracteres próprios das culturas. [...] Se isso é válido em culturas mais assentadas, imagine então o que acontece em países como o nosso. [...] Esses fatores todos provocaram a ideia de criação do Centro, que nasceu em longas conversas, em Brasília, de um grupo muito pequeno de pessoas com responsabilidades diversas. Não somos ainda uma instituição e evitamos sê-lo. Somos um projeto elástico, mas espalhando-se pelo Brasil inteiro. O Centro de um convênio com a Secretaria de Planejamento da Presidência da República, Ministério da Educação e Cultura, Ministério da Indústria e Comércio, do Interior, de Relações Exteriores, Caixa Econômica Federal, Universidade de Brasília e Governo do Distrito Federal. [...] Nosso objetivo é estudar as formas de vida e atividades pré-industriais brasileiras que estão desaparecendo, documentá-las e, numa outra fase, tentar influir sobre elas, ajudando-as a dinamizar-se. (MAGALHÃES, 1985, p. 115-117).
O CNRC marcaria profundamente a política brasileira de gestão dos bens da cultura
popular no Brasil, traduzida operacionalmente pela produção de dados com novas e
30
Resultado da implantação do projeto 01.01.45 do Ministério da Indústria e Comércio, através da Secretaria de Tecnologia Industrial, Convênio de 02 de agosto de 1976,
39
disponíveis tecnologias, com um caráter profundamente etnográfico da cultura
brasileira.
Segundo FONSECA (1997, p.172), quanto ao CNRC, “era introduzida, assim, uma
mediação politicamente relevante entre a cultura popular e o interesse nacional”.
Ocorreria, portanto, uma ampliação do conceito de cultura no Brasil, “A noção de
cultura popular foi ampliada de modo a abranger tanto as manifestações populares
tradicionais quanto suas intersecções com o mundo industrial e urbano. Ficava de
fora, apenas, a cultura de massa”, demonstrando-se o interesse pelas
“manifestações culturais „vivas‟, inseridas em práticas sociais contemporâneas”.
Não menos oportuno é este momento para estabelecermos um paralelo entre as
ações institucionais baseadas na ideia de novas “referências culturais, e o
desenvolvimento desta ideia em conceito, instrumento teórico nas políticas
preservacionistas brasileiras”, pela pesquisadora e ex-técnica do IPHAN Maria
Cecília Londres Fonseca (2001, p. 111):
Somente a partir de meados da década de 70, os critérios adotados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) começaram a ser objeto de reavaliações sistemáticas, que levaram à proposta de uma nova perspectiva para a preservação de bens culturais. [...] Entre outras mudanças, foi introduzida, no vocabulário das políticas culturais, a noção de referencia cultural, e foram levantadas questões que, até então, não preocupavam aqueles que formulavam e implementavam as políticas de patrimônio.
Em um sentido complementar, Maria Cecília Londres Fonseca (2001, p. 112) alerta-
nos quanto à importância histórica da ideia de referências culturais na gestão dos
bens culturais brasileiros. Para ela ocorreria “nos anos 70, uma reorientação de uma
prática implementada pelo Estado desde 1937. [...] na medida em que, naquele
momento, remetia-se primordialmente ao patrimônio cultural não consagrado”.
A orientação, sustentada numa perspectiva plural, em evidente conflito com os
critérios objetivos e saberes legitimados, faria da ideia de referência cultural um
importante ponto tensor na construção de uma trama patrimonializante, no processo
de utilização do bem cultural como produto do dispositivo de poder.
Portanto, se considerarmos a atividade de identificar referências como um poder, cabe perguntar: quem teria legitimidade para decidir quais são as referências mais significativas e o que deve ser preservado, sobretudo
40
quando estão em jogo diferente versões da identidade de um mesmo grupo? [...] Só muito recentemente, a proteção do meio ambiente e a preservação de referências culturais que não apenas as de valor excepcional (leia-se, do ponto de vista daqueles que detêm o poder de assim defini-las) passou a ser entendida como direito do cidadão, [...] Como se trata, em linguagem jurídica, de interesses difusos, de aferição subjetiva, sua definição para fins de proteção constitui um problema complexo, dificilmente solucionável pela transposição de modelos. [...] Podemos dizer que, a partir dos anos 70, o eixo do problema da preservação deslocou-se de uma esfera eminentemente técnica para um campo em que a negociação política tem reconhecido o seu papel. (FONSECA, 2001, p.114).
Paralelamente à institucionalização e aos desdobramentos do Centro Nacional de
Referencia Cultural, a Campanha de defesa do Folklore Brasileiro é incorporada à
FUNARTE31, em 1975, tornando-se Instituto Nacional do Folclore, em 197632. A
importância de pequena sutileza reside no fato de que uma Campanha, ou seja, uma
política pública tornar-se-ia um Instituto Nacional, portanto, um órgão da
administração pública indireta, dotado de personalidade jurídica e incumbido de
construir uma política pública institucional voltada à valorização do folclore nacional.
A promoção de uma produção do patrimônio cultural envolvendo não apenas os
sujeitos do Estado, e/ou seus conselhos consultivos de notáveis, fica explícita no
documento “Diretrizes para operacionalização da política cultural do MEC”33,
publicado em 1981. Para FONSECA (2001, p. 118), “nesse documento é claramente
afirmado o princípio da parceria entre Estado e comunidade na produção e
preservação dos bens culturais”. Ao verificarmos os princípios definidos no
documento para operacionalização da política do MEC – adescentralização, a
interdisciplinaridade, o reconhecimento da pluralidade cultural, a interação das
diferentes culturas, bem como a valorização dos bens culturais ainda não
consagrados – percebemos os desdobramentos institucionais das ideias de “bens
31
Fundação Nacional das Arte, criada pela Lei Federal Nº 6.312 de 16 de dezembro de 1975. O §2º do art. 1º indica os órgãos e serviços do Ministério da Educação e Cultura a serem incorporados à FUNARTE: Serviço Nacional de Teatro, o Museu Nacional de Belas Artes, a Campanha de Defesa do Folclore e a Comissão Nacional de Belas Artes. 32
O Decreto federal nº 77.300, de 16 de março de 1976, aprovaria a o Estatuto da Fundação Nacional de Arte (FUNARTE) e indicaria em seu inciso V, art. 5º, o Instituto Nacional do Folclore como órgão da estrutura da FUNARTE. 33
O documento “Diretrizes para operacionalização da política cultural do MEC”, de 1981, divide-se basicamente em uma introdução, considerações básicas, princípios de operacionalização e linha programática.
41
culturais” e do conceito de “referências culturais” na preservação e promoção dos
bens da cultura popular brasileira.
A Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais da UNESCO, realizada em
Mondiacult, no México, em 1982, reconheceria a importância do “patrimônio cultural
imaterial”, incluindo-o na sua nova definição de cultura e de patrimônio cultural.
Percebamos que a ideia de um patrimônio não material, produzido e reconhecido
por diferentes “referenciais culturais”, começa a permear as discussões da
UNESCO. Posteriormente, a década de 1990 seria marcada profundamente pela
ideia do patrimônio imaterial como “novo” conceito de bem cultural, demandando,
dos Estados membros dessa organização internacional, a construção de políticas de
proteção e promoção desses bens, não contemplados com a proteção do
tombamento.
O tombamento do Terreiro da Casa Branca pela Fundação Nacional Pró-Memória, a
pedido da comunidade localizada no município de Salvador, Bahia, em 1986, teria
como principal fundamento a preservação dos espaços sagrados ameaçados pela
venda do terreno e destruição do Axé (SANT‟ANNA, 1995). Discussões acerca da
valoração do bem em sua perspectiva multiconceitual e consequentemente
multidisciplinar, bem como da utilização do instrumento do Tombamento sobre um
espaço em mutação constante, dificultavam o entendimento do bem cultural em
questão e da aplicação do instrumento de proteção cultural disponível.
Os novos agentes da preservação reivindicavam o reconhecimento do valor histórico e até mesmo artístico desses bens, alegando a necessidade de uma concepção não elitista de arte e história, que permitisse levar em conta o seu próprio código cultural. O caso do Tombamento do Terreiro da Casa Branca, um dos centros de culto afro-brasileiro mais tradicionais e antigos da Bahia, foi sem dúvida, exemplar e ilustrativo da luta ideológica que ocorria na instituição. (SANT‟ANNA, 1995).
O reconhecimento de um patrimônio cultural negro, diverso e conflituoso, ampliaria
os valores e referências até então utilizados na produção do patrimônio;
reconfigurariam os pactos e critérios de seleção amplamente tensionados pelo
tombamento da Casa Branca; inserindo novos sujeitos e grupos sociais no processo
de negociação e diversificação de fundamentos para construção de uma identidade
nacional complexa.
42
A inclusão, por parte do Estado brasileiro, de um templo oriundo da cultura nagô como integrante legítimo e de direito da cultura nacional a ser protegido legalmente é, por si só, um fato político de extrema relevância. Por outro lado, essa integração, pelas próprias características do bem tombado, introduziu novas questões, ampliando de maneira extraordinária os debates relativos à preservação dos bens patrimoniais no país. (DOURADO, 2011, p. 6).
Segundo (SANT‟ANNA, 1995), “o saldo positivo ficou por conta de um conceito de
preservação mais abrangente, que foi incorporado aos artigos da nova Constituição
de 1988 [...].” retomando os conceitos de Mário de Andrade.Nesse sentido, a
promulgação da Constituição Federal Brasileira em 1988 vem ampliar a noção do
bem cultural em seu art. 215, §1º, reconhecendo “as manifestações das culturas
populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do
processo civilizatório nacional” (BRASIL, 1988), bem como a natureza imaterial dos
bens culturais, elencados no art. 216 e indicando a necessidade de se estabelecer
novos procedimentos para preservação desses bens.
Percebemos, nesse momento, que a cultura popular, agora tomada como referência
para a formação da sociedade brasileira, conforme dispõe o texto constitucional,
insere-se na trajetória da norma de preservação brasileira de forma expressa,
enquanto objeto a ser protegido pela tutela institucional do aparelho estatal de
preservação do patrimônio cultural, materializado pelo IPHAN. Novas formas de
proteção serão desenvolvidas como Registro, instituído em 2000, paralelamente à
continuidade, em pequenino grau, do Tombamento dos Terreiros de Candomblé na
Bahia, e também no Maranhão, que começam a ocorrer no fim dos anos 1990.
1.4 A CONSTRUÇÃO DAS ABORDAGENS METODOLÓGICAS
Posto que almejamos desenvolver o estudo da preservação das culturas populares
brasileiras através da sua norma de preservação, é importante reafirmar que o
conceito foucaultiano compreende a norma como um comando social e não apenas
43
enquanto o imperativo categórico34dos comandos legais. Ou seja, é na
“antijuridicidade da norma” (FOUCAULT, 2005, p. XII), que se percebe essa
“concepção não- jurídica de poder” (FOUCAULT, 2005, p. XV). No entanto também é
possível reconhecer que o Estado, enquanto agente que dispõe da máquina e das
“tecnologias” jurídico-administrativas, goza de posição privilegiada nos
tensionamentos em torno do “dispositivo de patrimônio” (SANT‟ANNA, 1995). O
resultado do uso da máquina do estado e de suas tecnologias na patrimonialização
dos bens culturais populares, traduzidas comumente como “políticas públicas”,
decerto compõem o discurso oficial da norma preservacionista.
O exercício e o funcionamento do poder do estado, materializado pelos procedimentos técnicos de proteção e salvaguarda ao patrimônio cultural, seriam elementos que comporiam uma relação de poder que o estado exerce na composição da norma patrimonial. Nesse sentido, outros procedimentos técnicos que não apenas os estatais tensionariam o exercício de práticas ou relações de poder, atuando na composição normativa do patrimônio cultural. [...] (OLIVEIRA, A., 2010, p. 20).
Retomamos a ideia do patrimônio como “dispositivo de poder”,como algo que se
exerce no plano das relações sociais e sob a existência de elementos heterogêneos,
não necessariamente jurídicos, onde, segundoFoucault (2005), o conceito de
dispositivo seria utilizado para se estabelecer uma relação estratégica entre esses
elementos, articulados e expressos em formas “não discursivas” e “discursivas”,
tanto como “concretas” ou “enunciáveis”.
Buscando compreender a atuação do Estado na composição da norma
preservacionista, percebemos que nossa identidade cultural oficial está diretamente
ligada ao ideário construído pelo Estado - e pelos condicionantes ideológicos de
governabilidade - servindo como “tecnologia” de poder. Diante desse cenário,
percebemos a ação de contrapoderes, sobretudo quanto às discricionariedades que
revestem o Estado no âmbito das práticas preservacionistas.
Portanto, a opção por uma análise da norma preservacionista através de suas
relações de poder, ou seja, partindo do discurso normativo do Estado, enquanto
34
Nesse sentido ver Kant e a contrução/observação de um imperativo categórico, ou comando, através da lei.
44
gestor da política pública, mas submetido aos arranjos tensores estabelecidos,
constituiu-se no nosso principal referencial teórico às abordagens metodológicas.
No entanto, como reconhecer nos “dispositivo de patrimônio”, os arranjos tensores
que se estabelecem, a partir dos diversos elementos heterogêneos, em suas formas
“discursivas” ou “não discursivas”, “concretas” ou “enunciáveis”? A evidência ou
ausência de elementos que compõem os arranjos tensores deveriam emergir das
observações em torno de conflitos ou tensões na trajetória normativa empreendida
pelo Estado. Esses conflitos ou tensões seriam compreendidos não somente no
plano da desordem normativa estatal, enquanto conflito jurídico ou administrativo,
como também- considerando os limites desta tese, e de forma não exaustiva -
através das questões que emergem da sistematização de dados dos processos de
tombamento e registro dos bens da cultura popular,de sua recorrência enquanto
objeto de estudo científico, reiterado através das publicações acadêmicas; ou, bem
mesmo, através das publicações e dos discursos institucionais quanto à
patrimonialização de um bem cultural, por exemplo.
Desse modo, desenvolveremos, de forma pormenorizada, as técnicas de pesquisa
utilizadas na compreensão da trajetória da norma de preservação das culturas
populares nas cidades brasileiras, reconhecendo o patrimônio como dispositivo de
poder.
1.4.1As cronologias
Utilizadas como estruturação do pensamento através de um suporte histórico, as
cronologias constituíram-se no ponto de partida dessa pesquisa, uma vez que
procuravam compreender toda uma trajetória conceitual e institucional ligada aos
processos de patrimonialização das culturas populares, considerando variáveis
diversas, tendo em vista a heterogeneidade que envolve os dispositivos de poder.
Elas foram orientadas pela sistematização cronológica dos procedimentos, sujeitos e
conceitos normativos de patrimonialização, sejam estes científicos, literários,
45
institucionais, ou mesmo jurídicos, atentando sempre às tensões ou ausências e
seus arranjos normativos.
Assim, as cronologias sobre a trajetória da norma preservacionista das culturas
populares no Brasil foram elaboradas a partir de diversas variáveis, chegando à
seguinte configuração:
Cronologia da produção do pensamento sobre o patrimônio cultural urbano
recente (1980 a 2013) no Brasil;
Cronologia normativa da produção institucional do patrimônio cultural popular
no Brasil 1937 - 2013
Cronologia de sujeitos em destaque na preservação institucional do Folclore e
das culturas populares no Brasil (1900 a 1970);
Cronologia da Revista do Patrimônio (1937 – 2012);
Cronologia normativa dos bens das culturas populares tombados pelo IPHAN,
no Brasil (1937 – 2013);
Cronologia normativa dos bens das culturas populares registrados pelo
IPHAN, no Brasil (2003 a 2013).
Assim, a CronologiaTrajetória da norma de preservação dos bens das Culturas
Populares nas cidades brasileiras (1930 a 2013), disponibilizada em anexo, consiste
em numa construção gráfica que sobrepõe historicamente todas as cronologias,
constituindo-se em um dos mais importantes instrumentos de conformação da
presente pesquisa.
Ao consideramos o patrimônio enquanto “dispositivo de poder” e, portanto, em
permanente relação dinâmica em sua produção e reprodução, reconhecemos as
cronologias como recursos metodológicos que, além de uma localização temporal e
histórica, permitem o acesso à visibilidade de outros elementos heterogêneos,
condição para a abordagem do dispositivo patrimônio.
As cronologias, enquanto técnicas metodológicas de investigação e construção
síntetica de informações temporais, decerto cumpriram o seu papel em orientar a
pesquisa no seu recorte histórico, ou seja, as cronologias permitiram perceber, na
46
trajetória da norma preservacionista, o momento histórico em que a preservação dos
bens da cultura popular passa a ser pautada pela construção de uma política
pública, portanto, elemento constituinte da norma preservacionista. A recepção da
ideia de “referências culturais” pela Constituição Federal Brasileira de 1988 ficaria
evidente com adoção do termo “cultura popular” no § 1º caput do art. 115,
referendando-o como um dos bens culturais a serem protegidos e promovidos pelo
aparelho estatal de preservação; bem como pelo reconhecimento da natureza
“imaterial” dos bens culturais no caput do art. 116, e do instrumento do registro como
forma de proteção desse patrimônio cultural brasileiro, conforme indica o §1º do
mesmo artigo. Assim, a Constituição Federal de 1988 constituiu-se como um marco
na construção da norma de preservação, pois contemplaria o momento propício à
construção de uma política preservacionista brasileira para a patrimonialização dos
novos velhos bens das culturas populares.
A partir daí, o período histórico a ser estudado começa a tornar-se visível, ou seja,
trata-se de compreender a trajetória da norma de preservação das culturas
populares no Brasil a partir da Constituição de 1988. Faltava ainda delimitar um
limite temporal final. Nesse sentido, ao verificarmos as cronologias, percebemos que
o ano de 2013 seria marcado pelo decênio da 32ª Sessão da Conferência Geral das
Nações Unidas, onde fora aprovada a Convenção para Salvaguarda do Patrimônio
Cultural Imaterial. Isso nos daria uma margem histórica razoável para
compreendermos a trajetória da norma de preservação desses bens culturais
através da aplicação do Registro enquanto instrumento de proteção ao longo de
mais uma década no Brasil (2000-2013), observando, inclusive, a ideia de
revalidação dos registros dos bens culturais imateriais que devem ocorrer a cada 10
anos de seu registro. Isso possibilita ainda a abordagem de um período histórico de
25 anos (1988-2013).
47
1.4.2As dimensões e arranjos tensores do patrimônio
A percepção das cronologias, através dos pontos de convergência onde se efetua a
atualização de forças, indica a composição de dimensões e de arranjos tensores à
construção da trajetória da norma preservacionista dos bens das culturas populares.
Nesse sentido, observando, ao longo das cronologias, os arranjos tensores
operados, vislumbramos que três grandes dimensões assumiam protagonismo na
trajetória da norma de preservação, orientadas por maior ou menor tensão sobre o
“dispositivo patrimônio”: uma dimensão simbólica, orientada em torno dos valores e
das “referências culturais” na trajetória de patrimonialização dos bens culturais
populares; uma dimensão social, onde sujeitos e grupos sociais envolvidos na
produção da norma preservacionista para as culturas populares alcançam
visibilidades, ou são invisíveis; e uma dimensão política, onde os pactos e critérios à
preservação da cultura popular brasileira se efetuam através dos instrumentos de
regulação e gestão do patrimônio que orientam as políticas públicas.
Assim, partindo do pressuposto de que as dimensões simbólica, social e política
estabelecem relações de poder e delas são fruto, surge a necessidade da
compreensão de arranjos tensores que se estabelecem, observados em cada uma
dessas dimensões. Assim, para além da compreensão das relações de poder
instauradas na trajetória da norma de preservação das culturas populares nas
cidades brasileiras, seria possível verificar arranjos tensores que se estabelecem a
partir dessas relações e que merecem ser melhor explicitados, dada a importância
metodológica que essas dimensões assumem.
Ao observarmos as dimensões simbólicas (valores e referências) e as suas relações
na trajetória da norma de preservação, de logo remetemo-nos àideia de que a
produção do patrimônio cultural está amparada, logo no início, pela atribuição de
valor patrimonial ao bem cultural nos procedimentos de seleção empreendidos,
nesse caso, pelo IPHAN. Nesse sentido, assistimos, ao longo de anos, a uma cultura
preservacionista sustentada no valor de excepcionalidade e monumentalidade dos
bens históricos, artísticos, etnográficos, paisagísticos, com orientações e discussões
48
atreladas somente ao órgão gestor IPHAN e aos intelectuais modernistas, o que se
estenderia desde a década de 1930 até meados da década de 1970. Como
consequência da ampliação dos conceitos de bens culturais empreendidos pela
Constituição Federal de 1988 e caracterizada como uma década de ressignificação
das práxis preservacionistas, os anos de 1990 são marcados pela preparação de
políticas públicas para os bens culturais, conceitualmente denominados de
imateriais, aumentando, sem dúvida, as “referências culturais” passíveis de serem
patrimonializáveis. No entanto, seria na primeira década do século XXI que a política
pública de preservação do bem cultural imaterial brasileiro, através do Decreto n.
3551 de 2000, possibilitou que celebrações, formas de expressão, saberes e
lugares, nas cidades, poderiam ser reconhecidos como patrimônios culturais
imateriais brasileiros e, já em 2002, ocorreria o primeiro Registro de um bem cultural
imaterial urbano, o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras na cidade de Vitória, no
Espírito Santo. A trajetória normativa traria à dimensão simbólica novos valores
embasados em novas referencias culturais, protegendo, no entanto, velhos bens
culturais, até então não legitimados pela ação estatal.
Em suma, muito mudou quanto ao cenário comumente denominado período da
“pedra e cal”, orientado por valores e referências materiais e
monumentais.Entretanto, sem maiores novidades em relaçãoàquelas já
preconizadas por Mário de Andrade. A orientação de Aloísio de Magalhães, ligado
às culturas populares e tradicionais, atrelado a um processo de redemocratização do
país, e ao quadro de demandas que convergia em processos patrimonializantes no
IPHAN, decerto contribuiu na orientação da proteção de bens culturais populares
nas cidades brasileiras pelo procedimento do registro, em detrimento do
tombamento e da desconstrução cotidiana dos processos sedimentados de
excepcionalidade na atribuição de valor. No entanto, essa orientação ainda
continuava sem a superação da dicotomia da coisa, quer no âmbito da gestão do
bem patrimônio, quer nos instrumentos jurídicos de proteção disponíveis.
O despontar de uma política preservacionista que parelha novos valores e
referências culturais, tais como paisagens culturais e patrimônios sensoriais, aponta
para uma nova “elasticidade” e plasticidade patrimonializante, que passa a se
49
estabelecer no Brasil a partir da década de 1980. Nesse sentido,todo um arranjo
tensorem torno de novos valores e referências na cultura popular brasileira tornou-se
visível, em discussões que atravessam tanto os bens denominados intangíveis,
quanto aqueles denominados tangíveis, como objetos representativos de
determinado Saber, compondo arranjos tensores articulados à dimensão simbólica
da trajetória da norma de preservação das culturas populares nas cidades
brasileiras.
A dimensão social, representada pelos sujeitos ou grupos sociais, nunca fora
particularmente objeto de uma política pública preservacionista no Brasil. Mesmo
com o Tombamento Etnográfico, já em 1938, da coleção denominada Museu da
Magia Negra (DOURADO, 2011, p. 6), não existiram proteções que evocassem
valores dos sujeitos ou grupos sociais. Decerto que inúmeros tombamentos levaram
em consideração o uso e gozo do bem cultural pelos sujeitos e grupos sociais, mas
não eram os sujeitos ou grupos sociais os bens culturais. Entre 1982 e 1986, trava-
se um combate no âmbito do IPHAN: como tombar o axé, bem cultural maior de um
território, patrimônio coletivo afro-brasileiro? Desde então um processo de
reconhecimento de sujeitos, práticas, saberes, celebrações, arquiteturas e lugares
não visíveis tem tomado a pauta das políticas preservacionistas brasileiras, com
ênfase às culturas populares, étnicas e identitárias.
Mesmo que uma prática preservacionista dos bens culturais no Brasil não
procurasse atender, inicialmente a essa demanda, questões ligadas aos sujeitos e
aos grupos sociais acabamse tornando mais visíveis, quer pela luta por direitos civis
dos negros brasileiros e sua condição de visibilidade ascendente, quer pela
condição/necessidade de proteção de novos bens culturais, onde a relação dos
sujeitos e grupos sociais está diretamente ligada aos processos dinâmicos de
produção e reprodutibilidade dos bens patrimônios.Ou, ainda, pela referência
expressa, também na Constituição Federal de 1988, em seu art. 216, “à memória
dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira” como elemento passível
de patrimonialização.
50
O principal arranjo tensor articulado à dimensão social, que envolve os sujeitos ou
grupos sociais, reside nas discussões que envolvem a mobilização de grupos sociais
em torno da questão da patrimonialização e suas vinculações com segmentos
econômicos, como o turismo e/ou formas autônomas de produção, de organização
social ou de religião.
A dimensão política, representada pelos pactos e critérios estabelecidos na trajetória
da norma de preservação, decerto, constitui uma rica abordagem, tendo em vista a
sua condição privilegiada para o estudo das políticas públicas, por conta de sua
materialidade gestora e reguladora.
Ao percebemos o tombamento de Igrejas, Sobrados, Fazendas, Solares, Quintas,
em detrimento de barbearias, lojas vendedoras de fumo, os secos e molhados,
armarinhos – que só ocorrem em centros históricos ou conjuntos de valores
monumentais – entendemos que os tombamentos de monumentos, no Brasil,
contam uma história que deseja ser história. Assim, a construção dos pactos e
critérios, a princípio, diz respeito aos acordos firmados na produção do patrimônio, a
pactuação material da relação de forças que permitiram um bem ser selecionado,
protegido e salvaguardado, em meio à demanda patrimonializante contemporânea.
Entendemos que, historicamente esses pactos e critérios são firmados no seio do
órgão gestor, através do seu corpo técnico, e referendado por um conselho de
notáveis consultores; assim, a política seria traçada basicamente ex officio,
amparada pelos memoráveis discursos nas reuniões dos conselhos consultivos até a
década de 1980, no IPHAN.
A partir de então, os instrumentos de preservação dos bens culturais tornaram-se os
principais mecanismos a serem pactuados na proteção dos bens culturais,
implicando na necessidade de ampliação dos bens a serem protegidos, na
institucionalização de novos instrumentos de proteção desses bens culturais,
ampliando a proteção para além da fisicidade da coisa. A inclusão de bens
dinâmicos ao rol dos bens culturais que são patrimônio nacional demonstra uma
nova construção normativa em torno da patrimonialização, uma vez que os pactos e
51
critérios agora passariam, entre outros, a dialogar diretamente com o indivíduo-
patrimônio.
Ainda, longe de audiências públicas e consultas populares, ou até mesmo alvo de
insurgências ativistas, a construção de novos pactos e critérios do patrimônio para
as culturas populares nas cidades brasileiras, como coisa pública, ainda parece
guardar uma prática que precisa ser reavaliada como estratégia de ação. Em tempo
de escassez da coisa pública, o patrimônio faz valer a lei de mercado, com todos os
privilégios que um heritage pode oferecer.
Ainda na dimensão política que nos possibilita a análise dos acordos firmados na
produção do patrimônio, a ação de uma instituição internacional merecer ser
avaliada, por possuir relevante destaque na trajetória da norma de preservação das
culturas populares no Brasil, a UNESCO.
1.4.3 Fontes de pesquisa empírica
Na compreensão das dimensões e arranjos através das políticas públicas do Estado
gestor, da sua atuação sobre o “dispositivo” patrimônio, seria necessário
adentrarmos as políticas de salvaguarda e os procedimentos administrativos de
seleção, proteção e promoção, que envolvem a norma estatal de preservação dos
bens das culturas populares brasileiras, instrumentalizada juridicamente pelo
tombamento do bem material desde 1937 e pelo registro do bem imaterial desde
2000. Nesse sentido, já orientados pelo recorte temporal de 1988 a 2013, seguimos
a compreensão dos pontos de atualização de forças através do “aparato
tecnológico” estatal, em sua materialidade de ações e posições discursivas,
apresentados na estrutura do órgão gestor das políticas públicas de preservação, o
IPHAN; das legislações preservacionistas; dos documentos administrativos que
compõem os processos e procedimentos de Tombamentos, Registros e Inventários;
das publicações de documentos e estudos sobre as políticas públicas
preservacionistas.
52
Ao realizarmos nossapesquisa documental no IPHAN, percebemos que
trabalharíamos entre ações e discursos. Assim, ao delimitarmos nossa pesquisa
através da norma preservacionista do estado brasileiro, faz-se necessário
demonstrar os limites de nossa abordagem metodológica, tendo em vista as
pesquisas documentais institucionais do IPHAN em torno das ações e dos discursos
preservacionistas na trajetória da norma de preservação da cultura popular
brasileira.
O Estado, traduzido operacionalmente na política pública preservacionista brasileira
por uma instituição gestora, e por corpo jurídico regulador que define os
instrumentos de seleção, proteção, e comumente, promoção dos bens culturais
patrimônios da nação, tem no IPHAN, a instituição gestora, uma autarquia do
governo do Brasil, criada em 193735. Ela se desdobra atualmente em 27
Superintendências Regionais mais 31 Escritórios Técnicos, capilarizando todo o
território nacional, e possui um Conselho Consultivo com caráter deliberativo. Numa
perspectiva mais organizacional e operativa sobre a preservação do bem cultural
patrimônio, a gestão ainda se posiciona de forma dicotomizada entre a
materialidade, através do DEPAM – Departamento de Patrimônio Material, e do DPI
– Departamento de Patrimônio Imaterial, onde atualmente situa-se o Centro Nacional
de Folclore e Cultura Popular – CNFCP. O corpo jurídico que define os instrumentos
de preservação (seleção, proteção e promoção) seria representado, sobretudo, pelo
Decreto Lei nº 25 de 1937, que institui e estabelece o instrumento do Tombamento
para os bens culturais tangíveis, e pelo Decreto Federal nº 3. 551 de 2000, onde é
criado o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, que institui o Programa
Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI), condicionando a sua aplicabilidade a outros
instrumentos jurídico-normativos, como Regulamentos e Portarias, que procuram
definir uma certa vinculação ao amplo trabalho discricionário dos atos
administrativos do Estado na produção do patrimônio cultural brasileiro.
Observados os limites temporais e a condição institucional do Estado, nossa
pesquisa desdobra-se, portanto, pelos documentos administrativos que compõem os
35
Pela Lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937.
53
processos e os procedimentos de Tombamentos, realizada no Arquivo Noronha
Santos, na cidade do Rio de Janeiro, em agosto de 2013, como também, pelos
processos e procedimentos de Registro dos bens Imateriais que se encontram
arquivados no DPI, em Brasília, e foram acessados em setembro de 2013, servindo
de suporte complementar aos dados dos Registros dos bens imateriais disponíveis
no Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados (BCR)36 do, IPHAN.
Partindo de nosso recorte histórico (1988 a 2013), percebemos, inicialmente, a
necessidade de se definir quais bens das culturas populares tombados e registrados
comporiam esse universo empírico e como se dariam as sistematizações das
informações disponíveis. Importante salientar que nosso recorte temporal atende aos
bens das culturas populares onde o seu processo de produção e reprodução,
dialogue com as cidades brasileiras. Ficam, portanto, excluídos desse universo a
análise da trajetória da norma preservacionista para os povos indígenas. Nosso
universo empírico diz respeito a 32 bens culturais patrimônios, sendo 10 bens
tombados e 22 bens registrados, assim definidos em ordem cronológica:
Itm Bem Cultural Tombado pelo IPHAN Ano de inscrição no
livro do Tombo
01 Terreiro do Axé Opô Afonjá 1999
02 Ilê Iyá Omim Axé Yiamassé 2002
03 Terreiro de Candomblé do Bate-Folha Manso Banduquenqué 2003
04 Terreiro Casa das Minas Jeje 2002
05 Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá Láji 2004
06 Casa de Chico Mendes e seu acervo 2008
07 Canoa Costeira, de nome Dinamar 2012
08 Saveiro de Vela de Içar, de nome, Sombra da Lua, no Recôncavo Baiano
2012
09 Canoa de Tolda Luzitânia 2012
10 Canoa de Pranchão 2012 Quadro 1– Universo empírico de pesquisa sobre os Bens Culturais Tombados no Brasil pelo IPHAN entre 1988 e 2013.
Quanto ao universo de bens culturais imateriais com Registro pelo IPHAN, seguimos
o mesmo recorte temporal, o que permitiu abarcar toda a política pública instituída e
instrumentalizada, uma vez que tem seu inicio operacional em 2000.Também aqui,
36
Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados (BCR), disponibilizado pelo Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI) do IPHAN. Disponível em: <http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf>. Acesso em: 25 jul. 2014.
54
consideramos as cidades como recorte e, portanto, não trabalharemoscom os
patrimônios culturais dos povos indígenas37. Ou seja, dos 28 bens registrados entre
2000 e 2013, 6 deles não compõem nosso universo empírico, que se constitui de 22
bens culturais imateriais urbanos, conforme o quadro 02
Item Bem Cultural Registrado pelo IPHAN Data do Registro
01 Ofício das Paneleiras de Goiabeiras 20/12/2002
02 Samba de Roda do Recôncavo Baiano 05/10/2004
03 Círio de Nossa Senhora de Nazaré 05/10/2004
04 Modo de Fazer Viola-de-Cocho 14/01/2005
05 Ofício das Baianas de Acarajé 14/01/2005
06 Jongo no Sudeste 15/12/2005
07 Feira de Caruaru 20/12/2006
08 Frevo 28/02/2007
09 Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto, de Terreiro e Enredo 20/11/2007
10 Tambor de Crioula do Maranhão 20/11/2007
11 Modo artesanal de fazer queijo nas regiões do Serro, da Serra da Canastra e do Salitre
13/06/2008
12 Ofício dos mestres de capoeira 21/10/2008
13 Roda de Capoeira 21/10/2008
14 Modo de fazer Renda Irlandesa Divina Pastora / SE 28/01/2009
15 Ofício de Sineiro 03/12/2009
16 Toque dos Sinos em Minas Gerais tendo como referência São João del Rey e as cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes.
03/12/2009
17 Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis 13/05/2010
18 Festa de Sant' Ana de Caicó 10/12/2010
19 Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão 30/08/2011
20 Fandango Caiçara 29/11/2012
21 Festa do Divino de Paraty 03/04/2013
22 Festa do Senhor do Bonfim 05/06/2013 Quadro 2 – Universo empírico de pesquisa sobre os bens culturais registrados no Brasil pelo IPHAN entre 2000 e 2013.
A partir do universo empírico delimitado, faltava-nos a construção de técnica de
pesquisa que sistematizasse as informações disponíveis nos processos de
Tombamento e Registro sobre a trajetória da norma de preservação dos bens das
culturas populares brasileiras. Nesse sentido, foram construídas as fichas descritivas
da patrimonialização dos bens culturais, tombados e registrados,componentes do
37
Assim, fica de fora a apreciação dos Registros daArte Kusiwa – Pintura corporal e arte gráfica Wajãpi de 2002; a Cachoeira de Iauaretê - Lugar Sagrado dos Povos Indígenas dos rios Uaupés e Papuri, em 2006; o Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro e o Ritual Yaokwa do povo indígena Enawene Nawe, em 2010; os Saberes e Práticas Associados ao modo de fazer Bonecas Karajá e o Ritxòkò: Expressão Artística e Cosmológica do Povo Karajá, em 2012
55
nosso universo empírico, apresentadas como anexo ao texto (apêndice 02). Nesse
sentido, foram produzidas 10 fichas com base nos processos de tombamento e 22
fichas com base nos processos de Registro.
As fichas de patrimonialização apresentam os seguintes indicadores de
compreensão da trajetória da norma preservacionista:
01. Nome do bem registrado ou tombado;
02. Número do processo, data da solicitação e do registro ou tombamento;
03. Proponentes
04. Descrição do bem
05. Pareceres para a patrimonialização
06. Valor atribuído ao bem cultural
07. Reunião do conselho consultivo e data: de aprovação
08. Território de produção e reprodução do bem
09. Bens associados ao bem cultural patrimônio
10. Metodologias de patrimonialização
11. Aspectos relevantes à patrimonialização
12. Salvaguardas, através das recomendações e das ações desenvolvidas
13.Os agentes envolvidos no processo de patrimonialização
14. Ações de apoio
Realizadas a partir das informações disponíveis nos documentos oficiais que
compõem os procedimentos de Tombamentos38 e Registros39,os dados dasfichas
foram analisados em função de sua capacidade de articulação às dimensões
simbólicas, sociais e políticas e seus arranjos tensores,lastro que nos permitiria
38
Processos de Tombados disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos, do IPHAN, Rio de Janeiro. 39
Fichas orientadas pelas informações e documentos disponíveis no BCR disponibilizado pelo DPI do IPHAN, bem como pelos respectivos processos de Registro complementando ou subsidiando informações do BCR.
56
avançar na busca de compreender a trajetória da norma de preservação a partir
desses arranjos. O quadro abaixo descreve essas relações:
Dimensão Simbólica Dimensão Social Dimensão Política
Descrição do bem (universo simbólico)
Descrição do bem (universo social)
Número do processo, data da solicitação, e data do registro ou tombamento (universo político administrativo)
Valor atribuído ao bem cultural
Proponentes Pareceres para a patrimonialização
Bens associados ao bem cultural patrimônio
Território de produção e reprodução do bem
Reuniões do conselho consultivo
Aspectos relevantes à patrimonialização
Agentes envolvidos no processo de patrimonialização
Metodologias de patrimonialização
Salvaguardas, através das recomendações e das ações desenvolvidas
Ações de apoio
Quadro 3 – Arranjo dos indicadores das dimensões simbólica, social e política nas fichas descritivas de patrimonialização dos bens culturais no Brasil (1988 -2013).
Importante demonstrar a possibilidade de realizarmos o cruzamento desses
indicadores entre as dimensões simbólica, política e social: por exemplo, os
pareceres podem ser analisados sob diversas óticasnas três dimensões.
As informações relativas ao Apoio e Fomento dos bens culturais e suas implicações
na trajetória da norma preservacionista também puderam ser verificadas através das
Ações e Planos de Salvaguardas desenvolvidos com recursos dos Editais do
Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI), assim como através do
“Programa de Apoio e Fomento às Culturas Populares” através de exposições
realizadas na Sala do Artista Popular – SAP do Centro Nacional de Folclore e
Cultura Popular – CNFCP, na cidade do Rio de Janeiro.
Não menos importante no entendimento da atuação do IPHAN na trajetória da
norma de preservação das culturas populares, são as construções discursivas que
se materializam nas publicações de documentos institucionais, e estudos sobre as
políticas públicas preservacionistas; seja na Revista do Patrimônio publicada desde
57
1937, bem como nas inúmeras publicações institucionais que relatam o cotidiano
das práticas preservacionistas do estado gestor.
Outros importantes elementos discursivos que compõem ou interpretam a norma
estatal de preservação dos bens das culturas populares seriam as entrevistas
concedidas ao autor pelos gestores do IPHAN, em Brasília, quando de visita para
pesquisa documental. Nesse sentido, buscando uma complementaridade às
construções discursivas institucionais materiais, as entrevistas constituíram
importantes elementos que auxiliaram na compreensão de dimensões operativas do
Estado na trajetória da norma de preservação, para além de sua dimensão política e
reguladora e gestora, traduzidos na política preservacionista brasileira pelos
instrumentos de regulação (leis, decretos, normativas, instruções, ratificações as
convenções internacionais) e dos instrumentos gestores (órgãos de preservação e
seus conselhos, Planos de Cultura, Editais de Promoção).
Com o período histórico definido e o acesso às ações e discursos produzidos pelo
Estado gestor e executor da norma de preservação, devidamente levantados e
sistematizados, a ideia do “dispositivo de patrimônio” nos permitiria então
compreender a trajetória da norma de preservação das culturas populares através
dos pontos de convergência, onde se efetua a atualização de forças, denominados
ao longo do texto como arranjos tensores, compreendidos através das dimensões
simbólicas, sociais e políticas, dimensões essas compostas através dos indicadores
presentes nas cronologias e fichas descritivas de patrimonialização e sua articulação
com a bibliografia consultada e, sobretudo, através da escolha conceitual e
metodológica aqui empreendida.
É a esse desafio a que nos dedicamos nos próximos capítulos.
58
2 A DIMENSÃO SIMBÓLICA NA TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO
A abordagem da dimensão simbólica da cultura, percebida através do estudo da
trajetória da norma de preservação das culturas populares nas cidades brasileiras
como políticas preservacionistas do IPHAN entre 1988 a 2013 revela a importância
que a discussão simbólica assume na norma preservacionista.
Assim, a dimensão simbólica na trajetória normativa, representada pelos valores e
critérios à patrimonialização dos bens culturais, pode ser observada tanto na
representação objetiva das políticas públicas governamentais de preservação do
patrimônio cultural brasileiro, concebida nas ações de seleção, proteção e promoção
do patrimônio – abordagem escolhida para nossa leitura da norma de preservação –;
bem como nos discursos em torno da ideia de nação e a atual compreensão de uma
suposta identidade - explorados nessa pesquisa - no entanto, não menos importante
em sua condição de abordagem normativa.
Assim, percebemos que a dimensão simbólica na trajetória da norma
preservacionista do IPHAN apresenta-se muito próxima das ideias de valor ou mérito
que são atribuídos pelo Estado, aos bens culturais no processo de
patrimonialização. Arraigado à materialidade do bem cultural conquanto do seu limite
legal de atuação, o IPHAN, ao longo dos anos, elaborou um sistema valorativo à
patrimonialização, tendo por base a monumentalidade e a excepcionalidade dos
valores históricos, etnográficos, arqueológicos e paisagísticos, ou artísticos dos bens
patrimônio. Ainda que evocada de forma menos elaborada por Mário de Andrade na
construção do IPHAN, as ideias de “Referências culturais” na década de 1970 viriam
permitir uma ampliação valorativa do bem patrimônio, alargando tipologicamente os
bens tombados no Brasil, a partir da década de 1980. Entretanto, ampliação
conceitual do bem cultural brasileiro expressa na Constituição Federal de 1988 e, a
construção de uma política governamental para a preservação dos bens imateriais
no início dos anos 2000, ensejaria uma ampliação significativa na dimensão
simbólica na norma preservacionista no Brasil.
59
A ampliação simbólica dos bens patrimônio na norma de preservação dos bens
culturais no Brasil alcançaria, de forma operacional, a proteção de espaços e
territórios afro-brasileiros, como os Terreiros de Candomblé e, consequentemente,
as sociabilidades peculiares em torno do Axé que os une; ou, mesmo, os bens
culturais imateriais até então desprovidos de uma política de preservação, incluindo
no rol de bens culturais patrimônios nacionais uma dimensão simbólica, viva e
cotidiana da cultura brasileira, traduzida em políticas de proteção aos saberes, as
celebrações, as formas de expressão e os lugares.
Procurando compreender a dimensão simbólica dos bens culturais a partir da ideia
de valor, e não da identidade (HALL, 2006; BAUMAN, 2012; ORTIZ, C., 2012),
recorremos às interpretações deGeertz (1978) e Barros (2010), uma vez que
desdobra acerca do valor na construção simbólica.
Assim,a abordagem de uma antropologia interpretativa porGeertz (1978, p. 39)
retomaria a discussão da dimensão simbólica no pensamento da sociedade, ao
demonstrar que as relações humanas seriam um resultado de complexas e diversas
construções simbólicas. Ela aponta para a necessidade de “desvendar o tecido
simbólico”, examinando o significado do universo simbólico no social.Para esse
autor, toda produção humana possui uma dimensão simbólica, e todas as nossas
decisões e ações seriam provenientes desses símbolos que orientam a sociedade e
organizam as “coisas”. Assim, segundo Geertz (1989, p. 109), “as visões de mundo
são constituídas por símbolos que sintetizam um ethos de um povo ou grupo. [...] os
símbolos provocam poderosas, penetrantes e duradouras disposições e motivações
nos homens”.Nesse mesmo sentido, e numa linguagem mais próxima aos processos
de patrimonialização, a dimensão simbólica da cultura, atualmente, estaria ligada
aos “modos de fazer, pensar, e agir” como indicaBarros (2010).
A dimensão simbólica, portanto, poderia ser compreendia através dassociabilidades
humanas, expressas através das línguas, dos valores, das crenças e, sobretudo, das
práticas cotidianas. Nesse sentido, as ações humanas são construídas tendo por
base esses símbolos que formam uma trama ou mesmo uma trajetória de
significados a depender do seu contexto social e histórico. Assim, partindo da
60
dimensão simbólica da cultura, a noção de bem cultural estaria, também, articulado
às construções simbólicas traduzidas, sobretudo, pelas ideias de valor e referencias
culturais.
A dimensão simbólica desdobrada agora na ideia do bem cultural como patrimônio
torna-se bem compreendida através das reflexões de (FONSECA, 2005), de como
um signo, resultado da atribuição de valores, se desdobra nas ideias de
pertencimento em um contexto de múltiplas “referências culturais”, construindo,
simbolicamente, a ideia de patrimônio cultural.
Do ponto de vista simbólico, as “referências culturais” descentralizam e questionam
os valores sedimentados, podendo abarcar diversos elementos como referencias -
desde os monumentos arquitetônicos aos saberes, fazeres, celebrações e lugares -
que condicionam a produção/proteção de um dado bem como patrimônio cultural, e
sua reprodutibilidade, em um cotidiano dinâmico e produtivo, nas cidades brasileiras.
A patrimonialização dos bens das culturas humanas passa por uma análise do seu
valor como referência, onde é estabelecido um critério de seleção e um pacto sobre
o bem patrimonializado, articulando sujeitos ou grupos sociais. Os bens da cultura
popular possuem uma dinâmica viva, corrente, e sujeita a uma sociabilidade
complexa que garante a sua reprodutibilidade em determinadas condições.
Assim, as culturas populares nas cidades brasileiras e sua inserção nas políticas
preservacionistas podem ser compreendidas através da dimensão simbólica
presente na trajetória da norma de preservação dessas culturas, e nos demais
processos de patrimonialização.
Haveria, portanto, atualmente, uma tentativa de superação nas interpretações
bipolares da cultura, sobretudo, entre os polos erudito e popular, como nos
esclarece Cavalcanti (2001): “Na atualidade das ciências humanas e sociais, o
modelo interpretativo de, „duas camadas‟ – cultura popular/folclore vesus cultura de
elite – está unanimemente superado”. Assim, a cultura popular inseria-se no rol de
bens culturais brasileiros, portanto, passíveis de inclusão nas políticas de
preservação cultural.
61
Ocorre, entretanto, que o conceito de bem cultural no Brasil continuava restrito aos bens móveis e imóveis, contendo ou não valor criativo próprio, impregnados de valor histórico (essencialmente voltados para o passado), ou aos bens de criação individual espontânea, obras que constituem o nosso acervo artístico (música, literatura, cinema, artes plásticas, arquitetura, teatro) quase sempre de apreciação elitista. [...] Permeando essas duas categorias, existe vasta gama de bens - procedentes, sobretudo do fazer popular – que por estarem inseridos na dinâmica viva do cotidiano não são considerados como bens culturais nem utilizados na formulação das políticas. (MAGALHÃES, 1985, p. 60).
Nesse sentido, apesar de algumas superações das dicotomias, a preservação dos
bens das culturas populares no Brasil encontra-se, ainda, dividida entre os bens
materiais ou tangíveis, protegidos pelo Tombamento; e os bem imateriais ou
intangíveis, protegidos pelo Registro. Assimtambém, as culturas populares
compreendidas em sua dimensão simbólicatransversalizam a compreensão jurídica
das coisas ou dos bens, uma vez que se apresentam como bens culturais materiais
e imateriais. Nesse sentido seus possíveis desdobramentos para a proteção,
acabam por ser tuteladas pelo Estado, dentro dos limites jurídicos disponíveis, e
pelos instrumentos possíveis, não incorrendo em uma política pública governamental
específica à proteção as culturas populares.
2.1 AS “REFERÊNCIAS” AOS BENS DAS CULTURAS POPULARES NA
TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO
Desde a criação do IPHAN na década de 1930 até a criação do CNRC na década de
1970, a ideia da atribuição de um – ou mais de um - valor ao bem cultural, atrelada a
um ideal patrimonializante, orientado pela busca da excepcionalidade e
monumentalidade dos bens culturais no Brasil, priorizaria a materialidade do bem, a
fisicidade da coisa, sustentado no padrão monumental necessário ao bem cultural
candidato ao patrimônio.
Amparado pelo discurso da limitação legal imposta pelo tombamento como principal
instrumento de proteção do bem cultural brasileiro, restrito em sua dimensão jurídica
à materialidade do bem, seja ele móvel ou imóvel, priorizou-se o tombamento de
62
bens da arquitetura, isolados ou em conjuntos, estabelecendo uma prática
preservacionista que ficaria conhecida com a política da “pedra e cal”40.
No entanto, a partir da década de 1970, as ideias de “referências culturais”
(FONSECA, 2001)trariam às políticas de preservação do patrimônio cultural
brasileiro, no âmbito institucional do IPHAN, a possibilidade de uma nova abordagem
da dimensão simbólica do bem cultural.Do ponto de vista normativo estatal,
podemos perceber os desdobramentos das ideias de “referências culturais”
enquanto dimensão simbólica na norma de preservação das culturas populares nas
cidades brasileiras, tanto em seu aspecto regulador quanto gestor, quanto por
diversas iniciativas patrimonializantes, que se acentuam progressivamente e que
abordaremos com maior detalhe no período compreendido entre 1988 e 2013.
No entanto, importante perceber a dimensão que as ideias de “referências culturais”
assumem institucionalmente, e como essa ideia se desdobra sobre a dimensão
simbólica na norma de preservação.
Essa perspectiva veio deslocar o foco dos bens - que em geral se impõem por sua monumentalidade, por sua riqueza, por seu peso material e simbólico – para a dinâmica de atribuição de sentidos e valores. Ou seja, pra o fato de que os bens culturais não valem por si mesmos, não tem valor intrínseco. O valor lhes é sempre atribuído por sujeitos particulares e em função de determinados critérios e interesses historicamente condicionados. [...] essa perspectiva afirma a relatividade de qualquer processo de atribuição de valor a bens, e põe em questão os critérios até então adotados para a constituição de patrimônios culturais. [...] Relativizando o critério de saber, chamava-se atenção para o papel do poder (FONSECA, 2001, p. 112).
O ano de 1988, assinalado pela promulgação da Constituição Federal Brasileira,
também marcaria as novas dimensões simbólicas presentes na Carta Magna,
sobretudo, por dois conceitos que traduzem as ideias de “referências culturais”: o
reconhecimento dos direitos culturais como garantia constitucional, atrelado à
proteção “das culturas populares”41, ampliando, portanto, as referências culturais
que comporiam a dimensão simbólica de nação, na norma preservacionista42; e a
40
Cf. FONSECA (1997) e SANT‟ANNA (1995). 41
Cf. Art. 105 §1º da Constituição Federal (BRASIL, 1988). 42
Importante reafirmar a dimensão apreendida nesta pesquisa quanto a abordagem da norma preservacionista em sua dimensão de poltica pública governamental, desdobrada em um aparato regulador que protege os bens culturais pelo tombamento e registro, e por um aparelho gestor que
63
ampliação do conceito hegemônico de patrimônio cultural, desde 1937, incluindo os
bens imateriais como patrimônio cultural brasileiro, e a instituição de outros
instrumentos jurídicos que dessem conta da proteção de todas essas novas velhas
“referências culturais”, como o Registro e o Inventário43.
Ainda que posteriormente desenvolvida nessa tese, merece ser observada,no
cenário preservacionista internacional, no final da década de 1980, uma ampliação
dos valores e referências na trajetória da norma de preservação tendo em vista as
considerações da 25ª Reunião da Conferência Geral da UNESCO. Assim, em 1989
a Organização Internacional trataria da Salvaguarda da Cultura Tradicional e
Popular, ampliando o conceito de bem cultural numa dimensão global através da
promoção da cultura local, definindo um cenário histórico propício à construção de
políticas de preservação dos bens das culturas populares no mundo e no Brasil.
Com a ampliação do conceito de bem cultural e dos conseguintes valores e
referências culturais a serem protegidos e promovidos, a UNESCO alcança um
arranjo patrimonializante onde o sujeito torna-se o próprio valor a ser protegido,
através do programa “Tesouros Humanos Vivos”.A ideia de Patrimônio vivo, numa
perspectiva institucional, nasce na UNESCO, por iniciativa da Coréia, tendo por base
as experiências no Japão em meados do século XX. Em 1994, o programa Tesouros
Humanos Vivos - Living Human Treasures44 – é institucionalizado no seio da
UNESCO, incentivando aos países membros a construção de políticas de
reconhecimento e titulação de Mestres e Mestras da Cultura Popular, ainda em vida,
permitindo a transmissão de seus conhecimentos tradicionais, mediante o
pagamento de um auxílio financeiro.Segundo (SANT‟ANNA, 2001), o Sistema
Tesouros Humanos Vivos passaria a ter maior divulgação a partir de 1996, tendo por
objetivos a preservação das tradições ameaçadas de desaparecimento, através do
opera as ações de seleção, de proteção (tombamento ou registro) e promoção dos bens culturais brasileiros, empreendida pelo IPHAN, no Brasil, desde 1937. 43
Cf. Art. 216 §1º da Constituição Federal (BRASIL, 1988). 44
“Living Human Treasures are persons who possess to a high degree the knowledge and skills required for performing or re-creating specific elements of the intangible cultural heritage” (UNESCO, 1994).
64
apoio aos transmissores dos conhecimentos e práticas tradicionais, tendo por base a
reprodução desses conhecimentos às novas gerações.
O apoio se dá na forma de ajuda financeira para o desenvolvimento das atividades, aquisição de equipamentos, materiais, isenções de impostos, seguro saúde,, seguro de vida, entre outros. O sistema, inspirado na legislação japonesa de 1950, é visto pela UNESCO como forma eficiente de proteção e transmissão de saberes e modos de fazer tradicionais. Países como Coréia, Filipinas, Tailândia, Romênia e Franca já adotam sistemas semelhantes (SANT‟ANNA, 2001).
No Brasil, a despeito de algumas experiências nos estados federados45, não existe
uma política nacional nesse sentido, mesmo diante de alguns tensionamentos em
torno das salvaguardas aos Mestres da Capoeira, bem cultural registrado como
patrimônio nacional.
Outro importante instrumento que estabeleceria significativas discussões em torno
das novas “referências culturais” definidas na Constituição Brasileira e seus
desdobramentos na política preservacionista do IPHAN foi o “Seminário Patrimônio
Imaterial: estratégias e formas de proteção”, realizado em 1997 na cidade de
Fortaleza, no Ceará.
Criado para comemorar os 60 anos do IPHAN a partir das reflexões em torno da
necessidade de construção de uma política de preservação no Brasil, levando em
consideração a dimensão simbólica imaterial dos bens culturais, o Seminário tornou-
se marco na trajetória da norma de preservação dos bens das culturas populares,
pois engatilha toda uma serie de elementos na trajetória normativa, tendo por base
uma discussão dos “novos” valores e “referências culturais”, portanto, da dimensão
simbólica, na construção de um arranjo regulador e gestor institucional.
A “Carta de Fortaleza”, documento final desse seminário, já iria dimensionar a
questão da proteção e promoção dos bens imateriaiscomo principal objetivo a ser
superado, inaugurando formalmente a construção de uma política institucional que
incorporaria as novas “referências culturais” em questão, na trajetória da norma de
preservação das culturas populares brasileiras.
45
Estados da Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte.
65
Ainda que não pertencente ao universo instrumental das políticas preservacionistas,
no entanto, não menos importantes na composição da trajetória normativa de
preservação, constituem as publicações do IPHAN. Dentre essas, a Revista do
Patrimônio, que circula desde 1937, constituiu no seu principal veículo discursivo
durante décadas, reafirmando ou readequando posturas e reflexões em torno do
patrimônio cultural brasileiro e, durante essa trajetória, somente em 1999, mais
especificamente na edição nº 28, a Revista do Patrimônio, traria como sua temática
central “Arte e Cultura Popular”, o que acena para uma perceptível inflexão no
IPHAN sobre os novos valores e referências culturais, traduzidos, nesse caso, nas
culturas populares.
As novas “referências culturais”, seriam objetivamente reconhecidas enquanto
patrimônios culturais brasileiros na trajetória da norma de preservação dos bens das
culturas populares, quando da instituição do Registro de Bens Culturais de Natureza
Imaterial e do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial(PNPI), no âmbito do
IPHAN, através do Decreto Federal nº 3.551 de 04 de agosto de 200046. Assim,
segundo o decreto, Saberes, Celebrações, Formas de Expressão e Lugares,
alçariam o valor de se tornarem patrimônios culturais brasileiros, abarcando, nesse
sentido, toda uma considerável parcela de bens da cultura popular. No entanto, não
estão excluídos do alcance do Decreto outros bens que não necessariamente
compõem o universo de bens culturais populares, embora, na prática não há
ocorrências da patrimonialização desses bens.
No que tange aos registros, ocorreria, portanto, uma mudança na própria ideia de
patrimônio que absorve a cultura popular. “O que muda é a concepção mesma de
„cultura popular‟ a partir da renovação epistemológica do conceito de patrimônio”
(ROCHA, Gilmar, 2009, p. 230). Assim, as dinâmicas vivas da cultura brasileira,
traduzidas durante muitos anos pelos conceitos de folclore e tradição alçam a
categoria de patrimônio nacional imaterial.
Esse entendimento amplificado da noção de patrimônio cultural apresenta três consequências. Em primeiro lugar vem diluir certas dicotomias que, tradicionalmente, organizam o campo das políticas culturais: produção x
46
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3551.htm>. Acesso em: 25 jul. 2014.
66
preservação; presente x passado; processo x produto; popular x erudito. [...] Em segundo lugar, vem esclarecer certos mal entendidos, como o que restringe a ideia de patrimônio imaterial a Folclore e/ou cultura popular. Embora essas áreas venham a ser mais beneficiadas por uma política de patrimônio mais abrangente, na medida em que têm ficado bastante desassistidas pelas políticas públicas de cultura, não é a suposta imaterialidade ou, pior, uma hipotética „pobreza‟ de seus testemunhos materiais que constituiriam o diferencial em relação a bens culturais de natureza material, que seriam assim associados às manifestações de caráter erudito. Em terceiro lugar, a questão abre espaço para estender a grupos e nações de tradição não-européias as políticas de patrimônio cultural. (FONSECA, 2003, p. 69-70).
Nesse momento,novos velhos patrimônios são evocados e, sobretudo, a concepção
andradiana de cultura concebida em seu projeto para a criação do IPHAN, em 1936,
no qual os bens da cultura popular alcançavam o mesmo patamar dos monumentos
de “pedra e cal”. Os bens da cultura popular seriam, portanto, protegidos através do
Registro do bem cultural, em sua dimensão imaterial.
Resultado de um tensionamento entre forças no próprio IPHAN diante de uma
crescente crítica à política da “pedra e cal”, bem como de demandas da própria
sociedade, que já estariam em vias de formulação, institucionalmente,as ideias de
“referências culturais” passariam a fazer parte do repertório patrimonializante
brasileiro, sobretudo, de modo a atender às demandas que se lançavam na
construção e consolidação de uma política nacional de seleção, proteção e
promoção aos bens de natureza imateriais ou intangíveis que, em sua maioria,
representariam todo um repertório de bens culturais populares.
Percebemos, portanto, que, ainda hoje, não haveria um conceito ou expressão de
consenso capaz de traduzir a abrangência patrimonializante necessária a esses
bens culturais. O conceito de intangível ou imaterial, segundo avaliação deSant‟anna
(2001), enfatizaria a importância dos “processos de criação e manutenção do
conhecimento, sobre o produto da manifestação”, desconsiderando, ainda, as
condições materiais de produção e reprodução do bem. Ainda, segundo a autora,
tentativas de “contornar esses problemas” seriam desdobradas em três outras
expressões, que também não dariam conta da complexidade dos bens da cultura
popular. No entanto, essa dificuldade semântica não viria impedindo a construção de
políticas preservacionistas para esses bens culturais.
67
As últimas tentativas de contornar esses problemas se consubstanciam nas expressões „patrimônio oral‟, “espaço cultural” e “paisagem cultural”. A primeira busca, sem sucesso superar os problemas cotidianos expressões „patrimônio imaterial‟ e „intangível‟ e os reducionismos que a expressão „cultura tradicional e popular‟ implica, por meio de uma ênfase na transmissão desses bens. A segunda vincula essas manifestações ao espaço físico ou ao território em que ocorrem e a terceira busca realizar a síntese dos aspectos materiais e imateriais do patrimônio por meio da ideia de paisagem, que abarca todo esse conjunto e o enraíza no território.[...] esta última expressão não permite individuar certas manifestações e não dá
conta de outras que superam uma noção espacial de território.(ROCHA,
Gilmar, 2009, p. 230).
Assim, o patrimônio popular é o bem cultural imaterial, o bem cultural material, ou
até mesmo um patrimônio vivo, como os mestres da cultura popular e tradicional. A
referência cultural definidacomo popular pode recortar transversalmente os discursos
jurídicos quanto à materialidade ou não da coisa; os valores artísticos, históricos,
paisagísticos, etnográficos consolidados na práxis preservacionista
Percebemos, por fim, que a dimensão das imaterialidades humanas vem passando
por uma ressignificação dos seus valores ou referências culturais, uma vez que sua
dinâmica é viva, corrente, até mesmo por uma não sujeição patrimonializante.
Importa ainda demonstrarmos que o Tombamento de bens das culturas populares
brasileiras nunca fora uma prática institucional do IPHAN anterior a CF 1988, a
exceção dos tombamentos andradianos do inicio do Serviço do Patrimônio, no fim da
década de 1930 e, em 1986, com o Tombamento do Terreiro da Casa Branca em
Salvador, BA. No entanto, ao estudarmos os tombamentos realizados pelo IPHAN
entre 1988 e 2013, verificamos que, dos 10 bens culturais tombados, 09 possuem o
caráter etnográfico como valor para o tombamento. Enquanto bens das culturas
populares brasileiras,fica evidente o papel das “referências culturais” às culturas
populares no processo de produção e reprodução desses bens culturais,
constituindo elemento de extrema importância para os tombamentos históricos,
artísticos, arqueológicos, etnográficos e paisagísticos. No que tange o patrimônio
imaterial, o universo de bens das culturas populares nas cidades brasileiras
registrados pelo IPHAN desde 2000 a 2013 abrange o total de 22 bens culturais
registrados, representados por Saberes, Celebrações, Formas de Expressão e
Lugares.
68
Desse modo, ao construirmos nossa analise sobre a norma de preservação das
culturas populares nas cidades brasileiras tendo por base as políticas públicas
governamentais, passemos a analisar a dimensão simbólica na trajetória da norma
de preservação da cultura popular brasileira, desdobradaatravésdos valores
atribuídos aos bens culturais nos processos de patrimonialização; dos bens
associados ao bem cultural e o seu caráter dinâmico;dos aspectos relevantes à
patrimonialização orientado pela ideia de “referências culturais. Tomamos por base
para essa operação os referidos processos de Tombamento e Registro, pelo IPHAN,
entre 1988 e 2013.
2.1.1 Os valores atribuídos aos bens culturais
A observação dos valores atribuídos aos bens das culturas populares analisados a
partir dos processos de registro e tombamento, dentro do universo definido na
introdução desta pesquisa permitiu-nos desenvolver observações qualitativas acerca
da dimensão simbólica.
Importante consideração deve ser levantada diante da valoração dos bens imateriais
e materiais. Quanto aos últimos, as composições dos livros dos tombos indicam os
valores que são atribuídos aos bens culturais materiais tombados: históricos,
artísticos, arqueológicos, etnográficos e paisagísticos. Quanto aos primeiros, a ideia
de valoração encontra uma dupla possibilidade de interpretação: a primeira47, onde
os valores estão diluídos (artístico, historia, etnográfico, paisagístico, dentre outros)
e observáveis nas dinâmicas culturais dos bens imateriais, onde os Saberes, Formas
de Expressão, Celebrações e Lugares, constituem apenas categorias para a
aplicação do instrumento de Registro, portanto não constituindo valor do bem
cultural.
Nossa interpretação entende que, de modo analógico ao que ocorreu com os bens
materiais no procedimento de tombamento onde os livros de tombo são homônimos
aos valores dos bens culturais, os Saberes, Formas de Expressão, Celebrações e
47
Defendida pela Profª Márcia Sant‟Anna.
69
Lugares, também se constituem valores que são atribuídos como uma forma de
aglutinar em um mesmo conceito a diversidade e dinâmica de bens culturais, cuja
produção ou reprodução do bem cultural ocorre imerso sob as mais diversas
linguagens artísticas e sociabilidades, em diferentes contextos históricos e por
diversos sujeitos e grupos sociais. Partindo desse pressuposto, os quadros abaixo
demonstram a atribuição do valor nos processos 22 processos de Registro e nos 10
processos de Tombamento dos bens estudados.
Bem Cultural Registrado pelo IPHAN Valor atribuído Data do Registro
Ofício das Paneleiras de Goiabeiras Saberes 20/12/2002
Samba de Roda do Recôncavo Baiano
Formas de Expressão
Patrimônio Oral
05/10/2004
Círio de Nossa Senhora de Nazaré Celebrações 05/10/2004
Modo de Fazer Viola-de-Cocho Saberes 14/01/2005
Ofício das Baianas de Acarajé Saberes 14/01/2005
Jongo no Sudeste Formas de Expressão 15/12/2005
Feira de Caruaru Lugar 20/12/2006
Frevo Formas de Expressão 28/02/2007
Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto,
de Terreiro e Enredo
Formas de Expressão 20/11/2007
Tambor de Crioula do Maranhão Formas de Expressão 20/11/2007
Modo artesanal de fazer queijo nas regiões do
Serro, da Serra da Canastra e do Salitre.
Saberes. 13/06/2008.
Ofício dos mestres de capoeira Saberes 21/10/2008
Roda de Capoeira Formas de Expressão 21/10/2008
Modo de fazer Renda Irlandesa Divina Pastora / SE Saberes 28/01/2009
Ofício de Sineiro Saberes 03/12/2009
Toque dos Sinos em Minas Gerais tendo como
referência São João del Rey e as cidades de Ouro
Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo,
Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes.
Formas de Expressão 03/12/2009
Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis Celebrações 13/05/2010
Festa de Sant' Ana de Caicó Celebrações 10/12/2010
Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do
Maranhão
Celebrações 30/08/2011
70
Fandango Caiçara Formas de Expressão 29/11/2012
Festa do Divino de Paraty Celebrações 03/04/2013
Festa do Senhor do Bonfim Celebrações 05/06/2013
Quadro 05 – Valores atribuídos no Registro dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras
pelo IPHAN entre 2000 e 2013.
Bem Cultural Tombado pelo
IPHAN Valor atribuído
Ano de
Aprovação no
Conselho
Consultivo
Terreiro do Axé Opô Afonjá Arqueológico Etnográfico e
Paisagístico
Histórico
2000
Ilê Iyá Omim Axé Yiamassé Arqueológico Etnográfico e
Paisagístico
Histórico
2005
Terreiro de Candomblé do Bate-
Folha Manso Banduquenqué
Arqueológico Etnográfico e Paisagístico
Histórico
2005
Terreiro Casa das Minas Jeje Arqueológico Etnográfico e
Paisagístico
Histórico
2005
Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá Láji Arqueológico Etnográfico e
Paisagístico
Histórico
2008
Casa de Chico Mendes e seu acervo Histórico 2011
Canoa Costeira, de nome Dinamar
Arqueológico Etnográfico e Paisagístico
Histórico
Belas Artes
2012
Saveiro de Vela de Içar, de nome,
Sombra da Lua, no Recôncavo
Baiano
Arqueológico Etnográfico e Paisagístico
Histórico
Belas Artes
2012
Canoa de Tolda Luzitânia
Arqueológico Etnográfico e Paisagístico
Histórico
Belas Artes
2012
71
Canoa de Pranchão
Arqueológico Etnográfico e Paisagístico
Histórico
Belas Artes
2012
Fonte: IPHAN - Arquivo Noronha Santos. Processos de Tombamentos
Quadro 04 – Valores atribuídos no Tombamento dos bens das culturas populares nas cidades
brasileiras pelo IPHAN entre 1988 e 2013
Nesse sentido, facilitando a compreensão da trajetória normativa e de sua leitura,
orientamo-nos pela inevitável abordagem dicotômica formulada pela política de
preservação no Brasil e que se desdobra sobre a dimensão simbólica: os bens
imateriais, portanto Registrados; e os bens matérias, tombados.
As distribuições dos valores atribuídos aos bens Registrados pelo IPHAN podem ser
mais bem compreendidas quando verificamos a relação percentual dessa
distribuição no universo dos 22 bens imateriais Registrados
Desse modo, o gráfico a seguir demonstra um predomínio das Formas de Expressão
seguido bem próximo pelos Saberes, e uma baixa representatividade dos Registros
de Lugares, compreendendo apenas um caso, ou 5% de todo o universo estudado.
Gráfico 1 – Classificação por Valores dos bens das culturas populares Registrados pelo IPHAN nas cidades brasileiras (2000-2013)
O que se pode perceber, para além de uma análise da distribuição quantitativa, é
que existe uma heterogeneidade de bens culturais reunidos nas Formas de
Expressão, nos Saberes, nas Celebrações, com exceção do Registro de Lugar que
só possui um único bem registrado, a Feira de Caruaru. Essa heterogeneidade
36%32%
27%
5%
Formas de Expressão
Saberes Celebrações Lugar
72
também é percebida numa perspectiva intra-valorativa, sobretudo, entre as Formas
de Expressão e os Saberes. As celebrações compreendem, quase em sua
totalidade, bens culturais de cunho simbólico religioso e têm por exceção o Registro
do Complexo Cultural do Bumba meu Boi do Maranhão.
Outra importante consideração seria quanto à complexidade dos processos de
seleção, uma vez caracterizada a heterogeneidades dos bens protegidos pelo
Registro. Tal situação indica a necessidade de um corpo operacional multidisciplinar
e, sobretudo, da atuação inclusiva dos sujeitos envolvidos nos processos de
patrimonialização, na construção do entendimento das dimensões simbólicas dos
bens culturais e das possíveis valorações ao bem cultural na construção do seu
valor enquanto patrimônio brasileiro a ser protegido pelo Registro.
Apesar da inclusão de bens das culturas populares brasileiras no rol de patrimônios
culturais brasileiros através do tombamento, entre os anos de 1988 e 2013,
demonstra uma clara ampliação da atuação valorativa do IPHAN diante dos bens
materiais brasileiros. A fase monumental ou período da “pedra e cal” demonstra ser
uma realidade institucional que parece ter absorvido as discussões percebidas
diante das novas “referências culturais” introduzidos na dinâmica institucional do
IPHAN a partir da década de 1970, e da ampliação constitucional do conceito de
patrimônio cultural em 1988.
Assim, novos bens culturais materiais passam a possuir valor patrimonial - incluindo
nesse rol os bens das culturas populares nas cidades brasileiras - pelo IPHAN, como
os terreiros de candomblé, por exemplo, ainda que os valores atribuídos aos bens
culturais permanecessem os mesmos: Arqueológico Etnográfico e Paisagístico,
Histórico e, no bem Artístico, através das Belas Artes e das Artes aplicadas.
Outra importante consideração no universo empírico, é que a prática da atribuição
de mais de um valor ao mesmo bem cultural, e a consequente inscrição de um
mesmo bem em mais de um livro do tombo, é reiterada nos tombamentos desse
período, conforme demonstrado no quadro anterior, embora essa não seja uma
característica exclusiva dos tombamentos desse período.
73
As leituras desse universo de bens culturais indicam que, a partir dos valores
Arqueológicos, Etnográficos, Paisagísticos, Históricos, e Artísticos através das Belas
Artes, do total de 10 bens tombados, 05seriam Terreiros de Candomblés originários
de três nações48 distintas; 04 embarcações populares como Canoas e Saveiro; e 01
habitação popular seringueira; demonstrando novas “referencias culturais” aos bens
das culturas populares no Brasil que se estabelecem, também, no âmbito da
materialidade, no IPHAN.Os gráficos abaixo demonstram essa análise:
Gráfico 2 – Representação quantitativa por valores dos Bens Tombados pelo IPHAN das culturas populares nas cidades brasileiras
Levando-se em consideração que um mesmo bem cultural pode ser reconhecido
como patrimônio através de mais de um valor cultural, estes bens seriam inscritos,
respectivamente em mais de um livro do tombo, ou seja, podendo possuir tanto um
valor histórico como etnográfico, incorrendo numa sobreposição de valores sob o
mesmo bem cultural conforme demonstra o gráfico 02. Apesar de trabalharmos com
o universo de apenas 10 bens tombados, a sobreposição de tombamentos sobre o
mesmo bem, apresentaria a distribuição demonstrada no gráfico.
48
Constitui na cosmologia histórico-simbólica do Candomblé Brasileiro às “nações” origem dos povos Nagô, Jejê, Angola e Ijexá.
9 10
4
Arqueológico Etnográfico e Paisagístico
Histórico Artístico
74
Gráfico 3 – Representação percentual por categorias de Bens Tombados pelo IPHAN das culturas populares nas cidades brasileiras
Diante das possibilidades de discussões que se estabelecem em torno do valor na
dimensão simbólica, uma delas, certamente, merece nosso destaque: a não
superação simbólica, valorativa, da dicotomia entre a materialidade e a
imaterialidade na trajetória da norma de preservação das culturas populares nas
cidades brasileiras, tendo em vista, sobretudo, a adaptação das políticas de
regulação e gestão aos instrumentos jurídicos disponíveis: do tombamento, para os
bens de natureza jurídica intangível ou material, móvel ou imóvel; e do Registro,
para os bens de natureza intangível ou imaterial; políticas públicas governamentais
de preservação que ocorrem em conjunto sob o mesmo órgão preservacionista.
2.1.2 Aspectos relevantes à patrimonialização e “referências culturais”
A variável denominada “aspectos relevantes” à patrimonialização surge através de
um indicador presente nas fichas técnicas do Banco de Dados de Bens Culturais
Registrados (BCR) do DPI/IPHAN49. A necessidade do próprio Estado em indicar
essa informação técnica, nos fez refletir sobre que aspectos para além da
denominação habitual do bem cultural auxiliariam a revelar a importância simbólica
do bem, enquanto patrimônio cultural. Nesse sentido, a variável trabalhada pelo
IPHAN seria incorporada às Fichas descritivas dos procedimentos de registros e
tombamentos de bens culturais, sobretudo, pela direta relação dessa variável com
49
Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/228>. Acesso em: 23 jul. 2014.
50%40%
10%
Terreiros de Candomblé
Embarcações Tradicionais
Habitação Popular
75
as ideias de “referências culturais” no processo de patrimonialização, uma vez que
complementam o entendimento dinâmico e plural dos bens intangíveis.
Longe de tentarmos mensurar quantitativamente os “aspectos relevantes” da
patrimonialização dos bens das culturas populares na trajetória da norma de
preservação através do estudo do tombamento e do registro, nossa abordagem
privilegia tentar demonstrar esse cenário simbólico que envolve os “aspectos
relevantes”, considerando, sobretudo, a heterogeneidade dos aspectos envolvidos e
dificuldade de arranjos para a sua compreensão através do agrupamento desses
aspectos através do binômio semelhança e diferença.
Os aspectos relevantes a patrimonialização dizem diretamente dos elementos
simbólicos necessários ao processo de produção do bem cultural. Nesse sentido,
esses aspectos simbólicos podem ser compreendidos como um conjunto de
elementos que traduzem, material ou imaterialmente, as condições, artefatos, rituais,
linguagens artísticas, saberes e fazeres, territorialidades e identidades, que
apresentam sua condição de bem cultural patrimônio. São os aspectos considerados
“relevantes” para que determinado bem cultural fosse valorado como patrimônio
cultural.
A ideia plural dos aspectos relevantes à patrimonialização dificulta um entendimento
sistemático na trajetória da norma de preservação dos bens das culturas populares,
o que nos indica, como saída metodológica, a demonstração de cenários através de
exemplos novamente dualizados pela ideia de materialidade e imaterialidade e seus
respectivos instrumentos de proteção.
No que tange ao Registro, portanto, à patrimonialização dos bens culturais
imateriais, podemos perceber algumas condições comuns aos bens intangíveis, tais
como a existência de grandes rituais populares; pelo processo de fabricação
artesanal dos artefatos de produção e reprodução dos bens culturais; expressões
culturais em diversas linguagens, sobretudo a música e a dança; e reprodução dos
bens culturais em territórios populares; longa temporalidade enraizada,
demonstrando a relação simbólica do bem cultural exercido pelos sujeitos e grupos
sociais.
76
No entanto, verificados os aspectos relevantes à patrimonialização, de forma
pormenorizada, percebemos uma maior evidência:
a) nos Saberes, de “aspectos” como o saber-fazer, as condições sócio-
ambientais de produção, os sujeitos reprodutores, as sociabilidades
envolvidas, reprodutibilidade econômica, bem como as questões de ordem
identitárias;
b) nas Celebrações, as questões rituais – pela alta carga simbólica religiosa
destes bens -, as alimentações, as representações dramatizadas e as
alegorias que envolvem diversas linguagens artísticas, os enredos;
c) nas Formas de Expressão, a um predomínio das diversas linguagens
artísticas – músicas, danças, figurinos, alegorias – estabelecem “formas” de
expressar aspectos, sobretudo identitários, territoriais e de sociabilidade, ou
ainda, percebe-se uma heterogeneidade dentro do mesmo bem cultural, no
que se refere a sua forma de expressão;
d) por fim, quanto aos Lugares, como partimos da experiência de apenas um
bem registrado, a Feira de Caruaru, parte de uma heterogeneidade de feiras,
dentro do mesmo lugar, para compor os aspectos relevantes à
patrimonialização.
Assim, ao verificarmos a condição peculiar a cada caso dos aspectos relevantes a
patrimonialização, podemos observar que essa informação revela um processo de
construção de procedimentos que ainda não puderam ser normatizado, sobretudo,
ao alto grau de discricionariedade desses procedimentos.
Tomemos alguns exemplos de forma ilustrativa:
a) O Ofício das Paneleiras de Goiabeiras, enquanto saber possui como aspectos
relevantes para a patrimonialização a “extração da argila, o açoite e a queima
das panelas50“já no Ofício dos Mestres da Capoeira, os Saberes aparecem
como “prática de sociabilidade, como prática cultural e como estratégia de
identidade” indicando um outro arranjo patrimonializante.
50
Fonte: Processo nº 01450.000672/2002-50 do BCR/DPI/IPHAN. Registro das Paneleiras de Goiabeiras. Banco de Dados do BCR.
77
b) Nas Celebrações, a Festa do Bonfim, por exemplo, possui um rito religioso
católico e afro-brasileiro que se misturam em missa, procissão e lavagem das
escadarias da Igreja do Bonfim, onde aspectos como a vestimenta da cor
branca pelo fiel, as músicas e as alegorias que compõem a procissão e a
dramatização da “lavagem” das escadarias, ação que se mistura
homonimamente com a festa enquanto Lavagem do Bonfim.
c) Nas Formas de Expressão, a heterogeneidade de expressões que ocorre no
mesmo bem cultural, traz aos aspectos relevantes à patrimonialização desses
bens um rico retrato de nossa diversidade cultural. Assim, por exemplo, no
Frevo, assistimos ao “Frevo de Rua, Frevo-canção, ao Frevo de Bloco51“ ; e
nas Matrizes do Samba do Rio de Janeiro, o “Partido Alto, o Samba de
Terreiro e o Samba Enredo52“ ; ainda, quanto aos aspectos para a produção e
reprodução do bem cultural patrimônio, os “Pontos, os Tambores e os
instrumentos musicais53“comporiam, por exemplo, os aspectos relevantes à
patrimonialização do Jongo no Sudeste.
d) Quanto aos Lugares, a Feira como “lugar de socialização e relevância
cultural” representada através das diversas Feiras, caracterizariam os
aspectos mais relevantes à patrimonialização desse lugar, bem cultural.
Alguns questionamentos, ainda que sem uma condição prévia de respostas, indica a
reflexão em torno do que significaria esse conjunto de diferenças, colocadas lado a
lado em um mesmo processo de patrimonialização.
Em relação aos processos de tombamentos pelo IPHAN de bens das culturas
populares nas cidades brasileiras, os aspectos relevantes à patrimonialização não
estão tão claramente definidos como no caso do Registro, tanto por não existir uma
sistematização das informações dos bens tombados como existe dos bens
registrados, quanto pela diversidade dos documentos e estudos que embasam o
valor de proteção dos bens culturais, esses diluídos em estudos históricos,
51
Fonte: Processo Nº 01450.002621/2006-96 do BCR/DPI/IPHAN. Registro do Frevo. 52
Fonte: Processo Nº 01450.011404/2004-25 do BCR/DPI/IPHAN. Registro das Matrizes do Samba no Rio de Janeiro. 53
Fonte: Processo Nº 01450.005763/2004-43 do BCR/DPI/IPHAN. Registro do Jongo no Sudeste.
78
etnográficos e de descrição da situação material do bem cultural, atentando em parte
a normativa para a instrução dos processos de tombamento que auxilia mais não
define ou vincula a condição procedimental para o tombamento pelo IPHAN54.
Assim, dentro do nosso universo empírico, os processos de tombamento, apesar de
seguirem ritos procedimentais muito próximos entre si, nunca seriam homogêneos,
tendo em vista as diferenças existentes entre os bens culturais, e a maior ou menor
habilidade técnica na instrução dos processos, o que implicaria diretamente numa
demonstração mais clara dos aspectos relevantes à patrimonialização nesses bens
culturais. Ainda, é sabido que o limite de alcance protecionista do tombamento
reside na materialidade da coisa, na sua fisicidade, portanto, a composição dos
aspectos relevantes a patrimonialização desses bens culturais, certamente
perpassaram por aspectos materiais, mas não exclusivamente.
No tombamento dos 05 Terreiros de Candomblé, a preservação dos recursos
naturais das roças, necessários à produção e reprodução do bem cultural,
possivelmente constituíram-se em importantes aspectos relevantes à
patrimonialização, uma vez que demarcavam simbolicamente aspectos materiais do
Axé, das práticas religiosas e sociais que envolvem o território afro-brasileiro mais
emblemático nas cidades brasileiras. Outro importante aspecto simbólico relevante à
patrimonialização dos Terreiros pelo IPHAN, diz respeito aos estudos etnográficos
da Casa e da Família de Santo, e do reconhecimento da condição de Casa Matriz,
ou seja, um terreiro originalmente constituído.
A Casa de Chico Mendes, tombada como patrimônio histórico, possui em seu
processo de tombamento características relevantes à sua
54
A Portaria n º11 de 11 de setembro de 1986 indica os aspectos relevantes a patrimonialização, traduzidos na orientação para a instrução do processo: descrição histórica; delimitação de poligonal e sua representação gráfica, o “do mérito do valor cultural de tombamento” atrelada a uma justificativa para o tombamento e das poligonais de entorno: sobre os bens móveis, identificação no terreno dos componentes naturais, agenciados e edificados por levantamento topográfico, fotográfico indicando possível mérito individual ou de elementos coletivos do conjuntos. A ambiência e visibilidade do bem continuam sujeitos as “condições específicas os bens naturais deverão ser analisados por planta topográfica considerando o meio antrópico (agenciamentos humanos), do meio físico (água, ar, solo relevo”) e do meio biológico (flora e fauna); tombamento isolado deve compor plantas de situação, plantas baixas, corte, elevações e cobertura. „no caso de bens imóveis, devem ser relacionados os elementos integrados e identificados os acervos de bens móveis merecedores de tombamento.
79
patrimonialização,explicitadas através da condição de habitação popular seringueira
e sua técnica construtiva, bem como da sua condição de implantação e ambiência,
hoje, ameaçada pelo crescimento das cidades e os decorrentes processos de
urbanização.
No entanto, nos processos de tombamento das embarcações populares brasileiras,
percebemos nos aspectos relevantes à patrimonialização um apreço muito maior
aos saberes relacionados às técnicas construtivas e de velejo, do que mesmo com a
materialidade do bem, o que enseja toda uma discussão em torno do registro dos
saberes para a reprodutibilidade e fruição do barco, aspecto fim da
patrimonialização, em detrimento do tombamento das embarcações como proteção
de uma materialidade.
Nesse sentido, percebemos quão importante torna-se a compreensão da variável
trabalhada no processo de produção e reprodução dos bens culturais, uma vez que
nos fornece informações que na maioria das vezes encontram-se diluídas nos
documentos e procedimentos de proteção dos bens culturais patrimônio.
As ideias de “referências culturais” passariam a compor, portanto, o entendimento
das dimensões simbólicas nos procedimentos de seleção, proteção e promoção dos
bens das culturas populares nas cidades brasileiras realizados pelo IPHAN, entre os
anos de 1988 a 2013, chegando a constituir no principal instrumento de seleção de
bens culturais imateriais utilizados pela instituição, o INRC – Inventário Nacional de
Referências Culturais.
A incorporação da ideia de referencias em detrimento dos valores estáticos que se
atribuíam aos bens monumentais, sobretudo, indica outra característica dos bens
das culturas populares. Ainda, a possibilidade de atribuir aos bens das culturas
populares uma construção valorativa mais ampla - incorporando diversos valores ao
mesmo bem cultural - ressignificando os valores históricos e, sobretudo os artísticos,
incorporados á práxis preservacionista do IPHAN, ou mesmo, indicando uma maior
visibilidade dos valores etnográficos nos processos de tombamento dos bens das
culturas populares na norma de preservação.
80
Ainda, a dinamicidade do bem, reconhecida nos procedimentos de Tombamento e
Registro estudados através da variável “Bens Associados”, conforme demonstramos
a seguir.
2.1.3 Bens associados ao bem cultural: o caráter dinâmico dos bens
O reconhecimento do caráter dinâmico dos bens das culturas populares brasileiras é
verificável em todos os processos de tombamentos e registros entre 1988 e 2013,
constituindo em um elemento simbólico possibilitador das condições de produção e
reprodução desses bens culturais.
Nesse sentido, ao verificarmos a importância que os bens associados assumem no
procedimento de patrimonialização, abordaremos a questão da dinamicidade versus
estaticidade dos bens culturais patrimônios, tomando o tombamento das
embarcações e dos terreiros como referências.
A dinâmica dos bens culturais é reconhecida como uma consequência da sua
compreensão através de suas “referências culturais”, distante das antigas práticas
preservacionistas que buscavam o tão desejado méritoque justificasse o valor (ou
valores) dos bens culturais, orientada por uma elaboração mais centrada no
monumento, na excepcionalidade do bem como modelo representativo, em
detrimento das dinâmicas que envolvem os bens culturais, sejam eles materiais ou
imateriais.
A heterogeneidade de elementos presentes nas informações quantos aos bens
associados nos indica não ser desejável uma abordagem quantitativa da questão, o
que nos leva, mais uma vez, a explorarmos qualitativamente a questão dos bens
associados.
Nesse sentido, merecem uma atenção especial as dinâmicas que envolvem as
embarcações e os valores patrimoniais atribuídos sobre a sua materialidade, onde,
mesmo clara a necessidade de proteção do ofício, em sua “retórica da perda”,o valor
da materialidade se sobrepõe com o tombamento dessas embarcações.
81
O Tombamento das embarcações populares, como Canoa Costeira Dinamar, a
Canoa de Tolda Luzitânia, a Canoa de Pranchão do Rio Grande, e o Saveiro de Vela
de Içar Sombra da Lua, constituem-se como bons exemplos a serem discutidos.
Tombados pelo IPHAN em 2012, todos os bens culturais possuem latente a sua
característica dinâmica enquanto bem cultural, sobretudo, pela sua característica de
ser um bem material móvel.
Assim, por exemplo, o tombamento do Saveiro de Vela de Içar Sombra da Lua
constitui-se muito mais numa valoração museal – como peça representativa de um
dado momento e contexto histórico – do patrimônio, ao compararmos a sua dinâmica
dentro do contexto de “referências culturais” na Baía de Todos os Santos. Um único
saveiro tombado não representará a proteção aos demais saveiros baianos, ainda
existentes. Tampouco, contempla o principal elemento simbólico dessa dinâmica
patrimonializante, a condição de reprodutibilidade do saber fazer dos Saveiros pelos
Mestres construtores, e pelas técnicas de navegação dos Mestres velejadores.
O Tombamento do Terreiro da Casa Branca, em Salvador, ainda no ano de 1986,
certamente introduz a questão da dinamicidade dos bens culturais, tendo como
objeto em questão, um bem material, uma Roça, um Templo Afro-Brasileiro, um
Candomblé.
A discussão em torno da dinamicidade do bem cultural decorrente de suas
referências culturais embasou diversos embates valorativos durante todo o seu
processo de tombamento, onde se procurava entender como se tombaria um bem
dinâmico, portanto, passível de modificações em sua fisicidade (DOURADO, 2011) o
que não impediu que o mesmo fosse tombado, em 1986, como patrimônio histórico,
arqueológico, etnográfico, paisagístico.
Essa compreensão da dinamicidade dos terreiros, mesmo enquanto um bem
material acompanharia todos os processos de tombamento das Casas de
Candomblé ocorridos entre os anos de 1988 e 201355, através dos Tombamentos de
04 Terreiros em Salvador, BA, e 01 Terreiro em São Luis, MA. Interessante
percebermos que essa dinamicidade é bem definida nesses processos de
55
Embora esses tombamentos tenham ocorrido entre os anos de 2000 a 2004.
82
tombamento dos Terreiros, nos estudos históricos e etnográficos da casa e família
de santo, nos laudos ou pareceres técnicos emitidos desde as Superintendências
Regionais, quanto na instrução dos processos, onde, às vezes, esse caráter
dinâmico dificultava a instrução dos mesmos, sendo remetidos às instâncias
gestoras superiores ou solicitando o auxilio de notáveis especialistas na instrução de
processos de tombamentos de Terreiros.
Assim, quanto aos terreiros, o entendimento da sua dinamicidade sócio-espacial
está atribuída às próprias referências culturais que simbolicamente compõem o bem
cultural, portanto, passíveis de serem absorvidas nos atributos valorativos nos
procedimentos de patrimonialização. Os bens naturais como árvores, riachos, matas,
constituem os principais bens associados aos Terreiros nos processos de
Tombamento, uma vez a condição simbólica ocupada por esses bens nas práticas
litúrgicas e medicinais, bem como a sociabilidade nas Casas de Candomblé.
Ainda não menos importantes enquanto bens associados ao bem cultural, os
mobiliários, as jóias das Ialorixás, os elementos decorativos, não recebem o devido
tratamento nos processos de tombamento, o que ocorreria, em nosso entendimento,
pelas limitações existentes junto aos objetos ou espaços nos Terreiros de
Candomblé.
As dinamicidades dos bens das culturas populares tombados encontram-se
diretamente atreladas as “referências culturais” que o tornam patrimônio, bem como
os sujeitos e grupos sociais que os produzem e reproduzem. Assim como as
embarcações tradicionais estão inclusas em um contexto de uma paisagem cultural;
as “referências” etnográficas e históricas dos terreiros de candomblé contemplam a
sua condição de existência.
Ao verificarmos os “bens associados” quando tratamos dos bens registrados, a
dinâmica existente nesses bens mostra-se muito mais latente nos procedimentos de
registros, servindo como substrato conceitual na valoração do bem através de suas
“referências culturais”. Assim, cada bem cultural apresentará os seus bens
associados, de forma muito particular, configurando a dinâmica de produção e
83
reprodução de cada bem, construindo todo um arranjo simbólico em torno da
patrimonialização dos bens imateriais.
Buscando uma melhor compreensão, tomemos alguns exemplos das dinâmicas que
envolvem os bens culturais registrados, verificados através dos bens associados. A
Feira de Caruaru56, em Pernambuco, constitui um exemplo bastante emblemático.
Caracterizada como um lugar de valor cultural, a Feira de Caruaru é constituída por
diversas feiras que,juntas, compõem o lugar da Feira:
[...] a Feira do Paraguai, do artesanato, da sulanca, do gado, das frutas e verduras, de raízes e ervas medicinais, de troca-troca, de flores e plantas ornamentais, do couro, das confecções populares, dos bolos, seção de gomas e doces, das ferragens, de artigos de cama, mesa e banho, do fumo,
e ainda o Alto do Moura.57
Assim, os bens associados à feira como lugar, patrimônio cultural brasileiro,
demonstram a riqueza de informações que essa variável apresenta na compreensão
da dimensão simbólica que atravessa os bens das culturas populares brasileiras.
Nesse sentido, ainda quanto a dinamicidade dos bens culturais imateriais, “os pratos
capixabas que estão associados ao uso da panela de barro”58constituem os bens
associados ao Oficio das Paneleiras de Goiabeiras, no Espírito Santo;assim como
“as imagens original e a peregrina, a Berlinda, o Recírio, o almoço do Círio, os
brinquedos de Meriti, a Procissão principal, a transladação, a Corda, o Arraial e as
Alegorias59“, constituem os bens associados que compõem toda a celebração em
torno do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, no Pará.
O reconhecimento do caráter dinâmico dos bens das culturas populares na trajetória
da norma de preservação das culturas populares nas cidades brasileiras sugere a
construção de uma política preservacionista pelo IPHAN que extrapola as
orientações de mérito quanto a excepcionalidade e autenticidade do bem cultural
56
Fonte: Processo Nº 01450.002945/2006-24 do BCR/DPI/IPHAN. Registro da Feira de Caruaru. 57
Ibidem. 58
Fonte: Processo nº 01450.000672/2002-50 do BCR/DPI/IPHAN. Registro das Paneleiras de Goiabeiras.. 59
Fonte: Processo nº 01450.010332/2004-07 do BCR/DPI/IPHAN. Registro do Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Banco de Dados de Bens Culturais Registrados-Disponível em : http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/228
84
enquanto monumento nacional, introduzindo bens culturais vivos e não meramente
contemplativos, no rol dos bens culturais patrimônios nacionais.
Calçada numa noção antropológica de cultura, desloca-se da aceitação de um produto único, de valor „excepcional‟, e passa a ser pensada como um processo, um resignificar-se, um fazer-se a cada modalidade de interação, a cada configuração de posições e a cada contexto histórico. (SIMÃO, L., 2003, p. 59).
As relações entre tombamento e registro dos bens das culturas populares no que se
refere ao valor e a dinâmica dos bens culturais patrimônios, questionamentos quanto
à duração dos bens tombados e registrados, bem como, quanto aos valores que
encerrariam ou dificultariam essas dinâmicas, constituem importantes
questionamentos que se colocam e carecem de maiores desdobramentos.
Ao momento em que a norma de preservação das culturas populares reconhece o
caráter dinâmico e heterogêneo da dimensão simbólica desses bens, e que estes se
configuram como preciosos “dispositivos de poder”, uma maior probabilidade de
interação entre forças tensoras diante desse dispositivo – os indivíduos que
compõem as dinâmicas desses patrimônios, o estado agente da patrimonialização, o
mercado consumidor e mecenas, dentre outras forças – acabam por construír
arranjos tensores que demonstram as relações de poder que se estabelecem ou que
tentam se estabelecer, no seio do sistema de produção e reprodução dos bens
culturais patrimônios.
Nesse sentido, buscando trazer à pesquisa o caráter tensor das forças que atuam
sobre os bens das culturas populares na trajetória da norma de preservação, tendo
como cenário as cidades brasileiras, nos debruçamos sobre os arranjos tensores
que se estabelecem a partir da dimensão simbólica da norma de preservação. As
práticas que envolvem novos valores e referências atuando sobre o patrimônio
cultural brasileiro, ressignificam a sua dimensão simbólica, através de uma
“elasticidade patrimonializante”. Tratamos aqui de dois bens patrimônios da cultura
popular brasileira, registrados pelo IPHAN: O queijo de Minase o Toque dos Sinos
nas cidades mineiras, onde as condições sensoriais desses bens assumem o
destaque protagonista do bem cultural. O tensionamento de outros agentes em torno
85
do dispositivo patrimônio evidencia e condiciona as experiências em torno do bem
cultural, através de uma ressignificação valorativa em torno do seu consumo.
2.2 “ELASTICIDADE” PATRIMONIALIZANTE E OS PATRIMÔNIOS CULTURAIS
SENSORIAIS: O QUEIJO DE MINAS E O TOQUE DOS SINOS NAS CIDADES
MINEIRAS
Constituintes das novas fronteiras de apreensão e fruição do patrimônio cultural e da
cultura popular na contemporaneidade, onde as dimensões locais, regionais,
sensoriais e étnicas, desdobram-se na produção do patrimônio culturais, podemos
observar as novas dimensões alcançadas pela patrimonialização de bens culturais
brasileiros.
Para além das discussões entre a materialidade ou imaterialidade do bem cultural,
seu caráter monumental, excepcional e autêntico, desdobradas nas ações de
seleção, proteção e promoção do patrimônio cultural, novos arranjos patrimoniais
têm vindo à tona, alertando-nos para uma possível ampliação de sua dimensão
simbólica, conquanto da ressignificação dos valores e referências do patrimônio,
desdobrada em políticas preservacionistas. Nesse sentido, deparamo-nos com uma
nova prática patrimonializante, onde a capacidade de produção e reprodução do
patrimônio cultural alcança dimensões paisagísticas, sensórias, étnicas e religiosas,
ressignificando ou construindo o potencial patrimonializante de determinados bens
culturais, até então não inclusos nos rol de bens patrimonializáveis.
Por potencial patrimonializante entendemos, no conjunto de condições favoráveis
para que determinados bens culturais atendam às dinâmicas patrimonializantes da
norma preservacionista atuante, tensões apreendidas em torno da produção do bem
patrimônio, considerando-o enquanto “dispositivo de poder”, em um dado momento
histórico e sob uma dada condição patrimonializante. Assim, as condições favoráveis
ao processo se manifestariam não somente como instrumentos e objetivos técnicos
e/ou jurídicos, mas, sobretudo, pelos arranjos entre os diversos agentes tensores
86
interessados no processo de patrimonialização de um dado bem cultural, inserindo-o
na dinâmica normativa preservacionista atuante.
A ressignificação dos critérios e dos próprios bens culturais a serem
patrimonializados se, de um lado, demonstram a inserção de diferentes e diversas
“referências culturais” no processo de produção do patrimônio cultural, indicando a
construção de uma política preservacionista mais plural, do ponto de vista simbólico,
político e social, de outro, demonstra-nos umaprodução do patrimônio muito bem
traduzida no conceito da “maquinaria patrimonializante” (JEUDY, 2005). Para o
autor, o fetiche criado em torno da necessidade de rememoração, onde “o dever de
memória” imposto torna-se uma obrigação moral e seria “controlado pela ordem
patrimonial”, o que interferiria diretamente nos processos de transmissão da cultura,
e “o espírito patrimonial” reinaria “sem ter necessidade de ser reconhecido como tal”.
É estabelecido, portanto, um mecanismo de atualização do passado, esgotando as
diferenças e referências temporais entre passado, presente e futuro, “aniquiladas
graças aos simulacros dessa atualização”(JEUDY, 2005). Haveria, ainda, segundo o
autor, uma direta relação entre esses processos de patrimonialização dos bens
culturais na atualidade e a própria gestão das cidades contemporâneas, tendo em
vista os processos de mercantilização desses territórios frente às atuais demandas
do consumo cultural, atreladas ao projeto de cidades mercadorias, competitivas,
globais. Assim, as cidades precisam produzir suas identidades de modo a competir
no mercado de consumo cultural, atrelando grande parte dos projetos urbanos às
necessidades dos agentes financiadores multinacionais, demandas
homogeneizadoras, traduzidas, sobretudo, na preservação e promoção de áreas
históricas, restauradas e atualizadas ao consumo cultural. Isso nos leva ao
questionamento sobre a produção do patrimônio cultural urbano, e das intervenções
de “revitalização”, “museificação”, “estetização” e “espetacularização” dos tecidos
históricos urbanos, e sua direta relação com novos valores e referências aos bens
culturais e os possíveis desdobramentos no campo simbólico do bem patrimônio. No
Brasil, diante dos novosarranjos que tensionam o processo de patrimonialização, ou
bem mesmo, o bem patrimônio,reconhecemoscomo a “maquinaria patrimonializante”
tem atuado de forma bastante incisiva sobre a norma de preservação dos bens das
87
culturas populares nas cidades brasileiras, sobretudo, no âmbito da promoção dos
bens patrimônio.
A partir dessa “maquinaria patrimonializante” que atuaria, sobretudo, dentro dos
centros urbanos, e dos desdobramentos dessa política preservacionista, no Brasil,
podemos tomar por base o conceito de “cidade-atração” (SANT‟ANNA, 2004a),
onde“a cidade histórica brasileira, concebida, em outras épocas, como monumento
artístico e como testemunho de processos históricos de formação de nação, fecha o
século XX como mais uma atração urbana” (SANT‟ANNA, 2004b, p. 54).
Percebemos, portanto, a construção de uma elasticidade patrimonial desdobrada na
(re)produção de novos velhos patrimônios culturais brasileiros, sobretudo visando
atender a uma demanda de estruturação econômica da produção e reprodução dos
bens culturais, que passam a ser orientados pela lógica do consumo cultural, dentro
do sistema econômico capitalista neoliberal contemporâneo. Nesse sentido, os
sistemas de valoração e referência, constituintes da dimensão simbólica na
patrimonialização dos bens culturais, são alterados e adequados à nova lógica de
consumo cultural.
No entanto, ao observamos o patrimônio cultural como dispositivo de poder que vem
sendo tensionado para além do Estado por outros agentes, sobretudo os
econômicos e, mais recentemente, pelos próprios sujeitos e grupos sociais
patrimonializados, imprimem-se novas dinâmicas preservacionistas, sobretudo de
promoção dos bens culturais, não necessariamente previstos nos planos de
salvaguardas.
Assim, aconstrução de novas categorias de bens culturais, bem como os novos
arranjos tensores em torno da produção do patrimônio cultural brasileiro, enseja-nos
a observarmos a patrimonialização (seleção, proteção e promoção) em sua
dimensão simbólica, atravésdos valores e referencias que se estendem aos bens
patrimoniais, desdobrados nos arranjos tensores em torno dospatrimônios culturais
sensoriais einsertos em uma discussão sobre a elasticidade e plasticidade
patrimonializante.
88
As experiências apreendidas em nossos cotidianos revelam, para além de um
caráter social das relações humanas e suas possíveis sociabilidades, que nossos
cotidianos estão impregnados de experiências sensoriais, tanto no campo dessas
interações humanas, portanto entre os próprios indivíduos – saberes, fazeres,
ofícios, celebrações – como no plano das relações entre sujeitos e artefatos –
bebidas, músicas, aromas, paladares, imagens.
A dimensão sensorial, portanto, alcançaria diferentes relações entre os sujeitos, os
artefatos e seus grupos sociais, de modo que essas interações acabariam
constituindo valores simbólicos, tornando-se bens culturais, quando amplamente
reconhecidos e utilizados no seio da sociedade. Outro importante constituinte nas
experiências sensoriais, é a interação entre sujeito e meio-ambiente, seja ele
construído, natural ou cultural, onde os sentidos tornam-se “mediadores da
experiência ambiental, base do envolvimento entre o homem e a paisagem”
(GRATÃO, 2011, apud MERGAREJO NETTO, 2012).
Assim, observamos que boa parte dos patrimônios culturais intangíveis em Portugal
e na Espanha,se agrupavam, sobretudo, em políticas de promoção - fóruns, feiras,
seminários - através da ideia dos sentidos humanos: paladar, audição, cheiros, como
forma de “agregar valor” ao patrimônio das cidades. Assim, organizavam redes para
a proteção e promoção desses patrimônios - queijos, vinhos, azeites, danças,
musicas, dentre outros – novamente alertando-nos para toda a critica da
“maquinaria” (JEUDY, 2005)patrimonializante,complementar à constituição de
mecanismos à “cidade atração” (SANT‟ANNA, 2004a). Esse entendimento pode ser
detalhado em nossa norma preservacionista, através do estudo de duas situações
que envolvem a reprodução e promoção de bens culturais patrimônio nacional.
No Brasil, apesar do propósito preservacionista não indicar a proteção de um valor
"sensorial” de bens culturais, o que vem se construindo em torno dos
desdobramentos do registro do modo artesanal de fazer queijo nas regiões do Serro,
da Serra da Canastra e do Salitre, em Minas Gerais, é a ideia de patrimônio
sensorial, diretamente ligado ao paladar. Nele, os elementos sensoriais dos bens
culturais ganham destaque no processo de patrimonialização, sobretudo nas
89
açõesde promoção desses patrimônios, ressignificando os valores e referências que
respaldaram essa patrimonialização.
A posição institucional do IPHAN nos registros desse bem cultural é bem clara, pois
a dimensão que orientou os valores atribuídos aos bens intangíveis, especificamente
no caso do queijo, não recai sobre o objeto, e sim sobre o saber fazer. Nesse
sentido, reconhecemos toda a importância dos registros, necessários, à preservação
da cultura popular brasileira e da promoção dos bens culturais, tendo o plano de
salvaguarda como principal instrumento orientador.
Mas, ao verificarmos a atuação tensora dos agentes econômicos, ou mesmo, dos
sujeitos e grupos produtores, no processo de patrimonialização, sobretudo na
promoção do patrimônio cultural, observamos uma evidente e articulada ação para a
sensibilização do patrimônio sensorial como forma de agregar valor simbólico e
econômico ao bem cultural patrimônio.
A valorização do fazer artesanal do bem, desdobrada sensorialmente no paladar,
tato, olfato, como valores de uma identidade regional, atuam sobre a promoção do
bem cultural, sobretudo em seu caráter econômico, disfarçado por um caráter
gastronômico, alçando-o ao universo fetichista gourmet, mercantilizado nas mais
diversas ações de marketing em torno do consumo do bem cultural patrimônio. Isso
fica bem demonstrado através do festival “Comida de Boteco” e da
coluna“Paladar”60, do Jornal Estado de São Paulo. O “Comida de Boteco” lançou um
abaixo-assinado, denominado “Manifesto Cozinhista Brasileiro”, endereçado
ao Ministério da Agricultura, ANVISA e Governo Federal, para preservar as tradições
da cozinha brasileira.A Paladar, por sua vez, publica, em 29 de outubro de 2014,
60
Paladar é uma coluna permanente sobre gastronomia no site do Estadão (http://blogs.estadao.com.br/paladar). Quanto ao do Manifesto Cozinhista Brasileiro, vários nomes que trabalham na área assinaram o abaixo-assinado, e desde 2012 arrecadou 2.510 assinaturas. Compõe o texto do abaixo assinado: “A preservação da cozinha brasileira significa também preservação social, cultural e ambiental. Neste momento em que o Brasil ganha crescente projeção internacional, é fundamental valorizar o que temos de peculiar, sem medo, de forma a fortalecer nosso mercado interno e mostrar ao mundo nossa riqueza gastronômica. Ora, há exemplos, como o da União Europeia, que mostram ser possível preservar a tradição gastronômica”. Disponível em: <http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2012N28605>. Acesso em: 30 jul. 2015.
90
matéria intitulada “queijos como patrimônio”61, por ter sido o queijo brasileiro um dos
temas escolhidos da 6ª edição do “Paladar Cozinha Brasil”,ressaltando que o Queijo
“é um dos produtos em que há mais influencia entre sabor e cultura”62
O Slowfood63, movimento internacional que tem como princípio o “direito ao prazer
da alimentação, utilizando produtos artesanais de qualidade especial64“, respeitando
o meio ambiente e os produtores, através da reportagem “Patrimônio: é de comer?
Reconhecimento da tradição leva ao registro do Queijo Artesanal de Minas” 65,
estabelece, de forma equivocada, uma direta relação entre as dimensões sensoriais
do bem cultural e sua patrimonialização institucional. No entanto, é através da ideia
de “Comunidades do Alimento66“ que o apelo ao consumo do bem cultural, em
dimensões sensoriais, torna-se evidente, tanto numa tensão gourmetizadora do
mercado e do consumidor, quanto do próprio produtor do bem cultural, atrelando seu
produto, a materialidade do bem cultural - nesse caso o Queijo de Minas - a um
“selo” que agregue valor simbólico, de caráter, sobretudo, econômico. Dentre essas
Comunidades do Alimento no Brasil, podemos destacar a Comunidades de
Produtores de queijo minas artesanal de leite cru da Serra do Salitre, em Minas
61
Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/paladar/queijos-como-patrimonio/>. Acesso em: 27 jul. 2015. 62
Ibidem. 63
Movimento fundado na Itália em 1986, e se transformou numa associação internacional sem fins lucrativos em 1989, conta atualmente com mais de 100.000 membros com escritórios na Itália, Alemanha, Suiça, Estados Unidos, França Japão e Reino Unido, e possui apoiadores em mais 150 países. 64
Disponível em: <http://www.slowfoodbrasil.com/slowfood/o-movimento>. Acesso em: 27 jul. 2015. 65
Escrita por Fabiana Thomé da Cruz e publicada no dia 30 de maio de 2008. Disponível em : <http://www.slowfoodbrasil.com/textos/alimentacao-e-cultura/216-patrimonio-e-de-comer-reconhecimento-da-tradicao-leva-ao-registro-do-queijo-artesanal-de-minas>. Acesso em: 27 jul. 2015. 66
“É uma entidade fisicamente identificável, que tem valores, interesses e propósitos comuns e que está engajada no processamento de alimentos, distribuição de alimentos, marketing, educação e outras atividades ecogastronômicas, trazendo produtos artesanais produzidos em pequena escala pelos consumidores (Carlos Petrini,presidente internacional do Slow Food). A comunidade do alimento está intimamente ligada ao próprio território do ponto de vista histórico, social, econômico e cultural, podendo ser de dois tipos: Território, onde os vários produtos produzidos estão ligados pela dimensão geográfica ou sócio-ambientais – comunidades tradicionais; ou de Produto, constituídas pelas várias formas de produção de alimentos, que se distinguem pelas suas características organolépticas – sabor, textura, cheiros etc; ambientais e sociais”. Disponível em: <http://www.slowfoodbrasil.com/comunidades-do-alimento>. Acesso em: 27 jul. 2015.
91
Gerais, que unem, nos municípios de Serra do Salitre e Catulés, 20 famílias de
produtores de queijo há cerca de 150 anos67.
Do ponto de vista institucional68, algumas falas também levam em consideração o
apelo sensorial que o bem cultural possui, e como esse apelo é reconhecido na
promoção do patrimônio quando se reconhece que “do ponto de vista gastronômico,
a produção local propicia alternativas de paladar com sutis variações e diferentes
modos de fazer”69. A Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, em boletim
intitulado “Patrimônio do Paladar”70,divulgaria o trabalho desenvolvido pelo Professor
José Newton Coelho Meneses, “contratado para elaborar um dossiê interpretativo
que compõe o Inventário Nacional de Referências Culturais- INRC -do IPHAN”71.
A gourmetização como novo fetiche ao consumo passa a definir identidades e
sociabilidades, que se desdobram para além da dimensão sensorial, uma vez que
englobaria, em uma degustação de queijos, por exemplo, espaços habitados,
mobiliados e equipados; pessoas que se locomovem se hospedam e se vestem para
frequentar esses espaços, de modo que o valor do consumo sobrepõe-se ao valor
simbólico do bem cultural patrimonializado.
Deste modo, a partir desta definição de consumo, nota-se a necessidade que há em consumir determinados bens culturais, [...] pelo fato de darem significado cultural e identitário a indivíduos e a grupos sociais. O consumo cultural é movimentado por essa necessidade, que faz do patrimônio uma mercadoria. (MERGAREJO NETTO, 2012).
De todo modo, entendemos esse processo como desdobramento da trama
preservacionista que opera sobre o bem cultural, patrimônio, de modo que também é
importante demonstrar que nem todo processo de patrimonialização, onde os bens
67
Cf. Slowfood Brasil. Disponível em: <http://www.slowfoodbrasil.com/comunidades-do-alimento/comunidades-brasileiras/21-sudeste/93-produtores-de-queijo-minas-artesanal-de-leite-cru-da-serra-do-salitre-minas-gerais>. Acesso em: 27 jul. 2015. 68
O modo de fazer queijo é reconhecido pelo Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) desde 2002, quando a Associação de Produtores Artesanais do Queijo do Serro (Apaqs) solicitou o registro no órgão do Estado. 69
IEPHA – Modo de Fazer queijo artesanal da Região do Serro. Registro estadual de natureza07imaterial. Inscrição no livro do Registro dos Saberes, em 07/05/2002. Disponível em: <http://www.iepha.mg.gov.br/component/content/article/923>. Acesso em: 27 jul. 2015. 70
UFMG. ”Patrimônios do Paladar”.Boletim Informativo. Disponível em: <https://www.ufmg.br/boletim/bol1610/4.shtml>. Acesso em: 27 jul. 2015. 71
Ibidem.
92
culturais atentam, em seu processo de produção e reprodutibilidade, às suas
dimensões sensoriais, tiveram como objetivo a preservação ou promoção dessas
dimensões. Com a proteção do saber fazer do queijo artesanal de Minas, esclarece
em entrevista72 a Professora Márcia Sant‟Anna, ao tempo Diretora de Patrimônio
Imaterial do IPHAN:
[...] os processos de registro do Modo de Fazer Queijo em Minas, não tiveram esse sentido em sua origem. [...] buscou-se atender a reivindicações dos produtores e salvaguardar esse modo de fazer da própria ação do Estado que proibia a circulação desses queijos por serem feitos artesanalmente e com leite cru. Assim, foi uma ação de defesa mesmo de uma tradição [...] Com isso, quero ressaltar que, embora sempre haja o risco de que esses bens sejam apropriados pelo que Jeudy chama de "maquinaria” do patrimônio, esses registros partiram da convicção de que há pessoas que mantêm e propagam saberes e ofícios importantes para a cultura brasileira, e que, assim, deveriam ser reconhecidas e apoiadas. Vale também ressaltar que os respectivos planos de salvaguarda desses bens não estão voltados para a promoção de lugares ou cidades e sim para o apoio necessário a que essas pessoas (em geral, pobres) possam continuar a fazer o que sabem.
Mesmo diante de um processo claro de tensionamento entre forças diversas sobre o
patrimônio em questão, sobretudo, do mercado consumidor e dos próprios
produtores na tentativa de torná-lo um produto atrativo, salientamos que medidas de
promoção, não apenas atreladas ao consumo sensorial do bem patrimônio, e ainda
assim, insertas em políticas de desenvolvimento econômico integrado, são bem
avaliadas por segmentos dos gestores públicos, como processo de sustentabilidade
produtiva e reprodutiva do bem cultural. Um bom exemplo disso é a proteção jurídica
sobre a propriedade intelectual do bem cultural, que perpassa desde o processo
produtivo, até a sua distribuição, assegurando aos produtores o direito ao uso e
comércio desses bens culturais. Iniciativas como essas têm sido pauta das políticas
preservacionistas no Brasil, mais especificamente após a criação do CNRC e dos
insistentes discursos de Aloísio Magalhães, como revela o texto “A experiência
Brasileira no trato das questões Relativas à proteção do Patrimônio Cultural
Imaterial” produzido pelo Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial (2003, p.
105),indicando ser um dos desdobramentos do CNRC “a ideia de um „selo de
72
Informação verbal de depoimento colhido em entrevista ao autor do presente trabalho, concedida em 27 de julho de 2015.
93
qualidade‟ que conferiria a produtos de reconhecido valor cultural, como o queijo de
Minas”.
Decerto, o apelo à dimensão sensorial como novo valor agregado ao bem cultural,
em si, não representa um perigo ou ameaça aos processos de produção e
reprodução do bem cultural, desde que introduzido como elemento para fruição e
experiências em torno do patrimônio cultural; ou ainda, em torno da promoção desse
bem, como forma de torná-lo mais visível pela sociedade como mais um elemento
constituinte da cultura brasileira, distante da ideia de marketing cultural e seu
conseguinte consumo fetichista.
Já no que se refere ao Toque dos Sinos de Minas Gerais, também experiências em
torno do valor sensorial, resultado bastante positivo na sua promoção enquanto bem
cultural e patrimônio nacional, poderia ser indicado a partir de um aplicativo
desenvolvido pelo IPHAN para celulares, onde o Toque dos Sinos das cidades
mineiras podem ser “baixados” em qualquer celular do Brasil, promovendo a
promoção desse patrimônio cultural através do seu valor sensorial: a música. Nesse
sentido, ressaltamos o valor sensorial, simbólico, que se desdobra como política
pública governamental em torno do patrimônio imaterial registrado, acenando
institucionalmente à construção de ações de promoção de bens registrados através
da dimensão sensorial que os condiciona enquanto bens culturais.
Os usos das plataformas digitais como forma de difusão dos bens culturais,
configuram-se como ricos elementos de comunicação e interação no mundo digital,
uma vez que podem valorizar a dimensão sensorial do bem para a sua promoção,
sobretudo nas cidades, territórios altamente digitalizados. Decerto, esses
mecanismos não possuem a finalidade de substituir a experiência sensorial dos
toques dos sinos, um dos mecanismos de comunicação nas cidades mais antigos do
Brasil e ainda presente no cotidiano das cidades mineiras de São João Del Rey,
Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas, Diamantina, Sabará, Serro e
94
Tiradentes. O aplicativo digital “Som dos Sinos”, constitui-se como uma plataforma
pioneira para divulgação dos bens culturais patrimônio no Brasil73.
Ainda que a plataforma promova e difunda o patrimônio imaterial do”toq ue dos
sinos” das cidades mineiras, tal política parece-nos contraditória, uma vez que o
procedimento de salvaguarda para difusão do bem patrimônio tem por base a
digitalização e distribuição da própria forma de expressão que está sendo
preservada, indicando a complexidade que reveste a questão.
Figura 1 - Aplicativo do Toque dos Sinos em Minas Gerais Fonte: http://portal.iphan.gov.br
Nesse sentido, a notícia do IPHAN, “Som dos Sinos: Novas mídias ampliam acesso
ao patrimônio cultural”, publicada em seu site, nos esclarece de forma
pormenorizada a concepção e alcance do projeto.
Plataforma web interativa com conteúdo documental e aplicativo de celular com paisagens sonoras georeferenciadas. Esses são alguns dos dispositivos do Som dos Sinos, projeto que busca mudar a forma com que moradores e visitantes de nove cidades históricas de Minas Gerais se relacionam com o toque dos sinos e o ofício do sineiro, bens culturais registrados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN. O repertório dos sinos é uma forma de comunicação secular. Há mais de 40 tipos de toques de sinos e, de acordo com a quantidade e ritmo das badaladas, os moradores ficam sabendo o que acontece na cidade, horários
73
O projeto tem o patrocínio de Eletrobrás e Furnas, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, Lei Rouanet/ Ministério da Cultura.
95
das missas e trabalhos a procissões e anúncios de mortes. Nos dias atuais, a linguagem dos sinos tem sido substituída pelos meios de comunicação contemporâneos, mas se mantém em diversas cidades do interior, emocionando os moradores e encantando os turistas. Som dos Sinos é um projeto multiplataforma, pioneiro na utilização de novas tecnologias para divulgação do patrimônio imaterial brasileiro. Desde o início de maio, moradores, viajantes, internautas e curiosos de todos os tipos vêm experimentando diferentes produtos, dentro e fora do mundo virtual. A proposta mais inovadora é o lançamento de um aplicativo para celular que funciona como um áudio-guia a céu aberto no qual o usuário pode escutar diversos toques de sinos com GPS de localização para igrejas em nove cidades históricas de Minas Gerais. O aplicativo já está disponível para download gratuito na APP Store e na Google Play.
74
A ideia de um patrimônio cultural sensorial, assim constituído, conquanto do
reconhecimento da dimensão sensorial como seu valor, ainda não se apresenta
como uma prática preservacionista institucional. Vale ressaltar que os
desdobramentos mercadológicos em torno dos elementos sensoriais que compõem
os bens da cultura popular, patrimônios, não se constituíram como políticas
institucionais, sobretudo, aquele diretamente ligado ao “consumo cultural” como
forma de “atração” às cidades. Mas, conforme relata a Professora Marcia Sant‟Anna
em entrevista: “esta denominação não é algo „oficial‟no Brasil, e os processos de
registro do Modo de Fazer Queijo em Minas e também o do Toque dos Sinos não
tiveram esse sentido em sua origem”, embora isso pudesse ser esperado, em função
do potencial e da condição patrimonializante que imperam atualmente.
Dessa forma, os arranjos tensores, aqui apresentados em torno da construção de
um patrimônio cultural sensorial, ampliam as dimensões patrimonializantes
simbólicas inicialmente projetadas pela norma de preservação desses bens culturais,
tendo em vista a atuação de diversos agentes tensores atuando no “dispositivo”
patrimônio e, permitem uma ressignificação, ou mesmo, uma constante tensão na
ampliação conceitual do patrimônio, tendo em vista os interesses tensionados.
Assim, certamente, outros arranjos tensores poderiam ser observados e discutidos
tendo em vista os elementos como dinamicidade, heterogeneidade, tangibilidade e
intangibilidade, diante das mais diversas “referências culturais”.
74
IPHAN. Som dos sinos: novas mídias ampliam acesso ao patrimônio cultural. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/2346/som-dos-sinos-aposta-em-novas-midias-para-ampliar-acesso-ao-patrimonio-cultural>. Acesso em: 31 jul. 2015.
96
Ainda que muitos tombamentos e registros realizados pelo IPHAN entre 1988 e 2013
não estabeleçam uma direta relação entre as ações de seleção, proteção e
salvaguarda e os aspectos sensoriais dos bens culturais patrimônios, percebemos
que diante da adoção das referências culturais na patrimonialização, os elementos
sensoriais tornam-se mais visíveis. Nos bens imateriais registrados o apelo a
explorar os elementos sensoriais torna-se mais explícito, sobretudo, pelas
características desses bens culturais. No entanto, percebemos no tombamento dos
Terreiros de Candomblé e das embarcações tradicionais uma latente aproximação
entre as características sensoriais que envolvem a produção ou reprodução dos
bens culturais patrimônio e sua promoção.
Os sujeitos, os grupos sociais e a compreensão da dimensão social que se
estabelece na trajetória da norma de preservação das culturas populares nas
cidades brasileiras e nos arranjos tensores diante do “dispositivo” patrimônio,
constituem nossa próxima abordagem na pesquisa.
97
3 A DIMENSÃO POLÍTICA NA TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO
As ações públicas governamentais de preservação - seleção, proteção e promoção -
constituem os principais elementos produtores dos bens culturais no Brasil,
traduzidos objetivamente pelas políticas públicas de inventários, tombamentos e
registros, que são reguladas e geridas pelo aparelho de Estado, através do IPHAN e
de normas jurídicas. Assim, a dimensão política da norma de preservação dos bens
culturais, no Brasil, constitui-se basicamente em uma política pública governamental
estatal, com pouca inserção de uma gestão pública social. A dimensão política do
patrimônio cultural, atrelada à ideia do “exercício de poder”,indicaria a possibilidade
de construção de práticas de preservação não exclusivas do Estado.
Assim, a dimensão política da norma de preservação dos bens culturais, no Brasil,
constitui-se basicamente de uma política pública governamental, ou seja, as ações
de preservação, em seu sentido mais genérico, incluem os procedimentos de
seleção – escolha do bem a se tornar patrimônio -; da proteção – quando o bem
escolhido se torna um patrimônio cultural, uma vez resguardado juridicamente por
um instrumento de proteção, o tombamento ou o registro; e da promoção – onde as
ações de prevenção, restauração, transmissão de conhecimentos, premiações,
dentre outras, auxiliam o acesso e a visibilidade do e para o bem patrimônio.
Ao compreendermos a norma numa perspectiva foucaultiana, onde não haveria um
sinônimo entre lei e norma, sendo a lei mais um elemento que comporia a norma
enquanto arranjo ou comando social, percebemos dois importantes
desdobramentos: o primeiro, diz respeito à existência de outros elementos que
compõem a norma preservacionista para além do aparato jurídico-gestor do Estado;
e outro, diz respeito ao papel protagonista da dimensão política na norma
preservacionista, tendo em vista a posição privilegiada do Estado, e do seu aparelho
regulador e gestor, na norma de preservação dos bens culturais no Brasil.Nesse
sentido, não seria acaso que a maioria das abordagens quanto à prática
preservacionista dos bens culturais no Brasil possua a dimensão política como
98
principal fio condutor de suas pesquisas, ou entrelaces de seus objetos, traduzidos
pela ação do estado regulador e gestor.
Importa demonstrar que a dimensão política da trajetória da norma de preservação,
por vezes, confunde-se com a própria norma, uma vez aqui insertos os pactos e
critérios para a patrimonialização, traduzidos pelos instrumentos de seleção do
Estado, pelas legislações de proteção, e pelas ações de promoção, que comporiam
os arranjos necessários para a regulação e gestão dos bens patrimônios, ou seja,
para a definição da política de patrimonialização dos bens culturais no Brasil.
Compreender a preservação do patrimônio cultural no Brasil a partir do e pelo
Estado regulador e gestor, no entanto, não constitui uma tarefa esgotada, tendo em
vista a multiplicidade de arranjos conceituais, objetos e abordagens metodológicas
que ainda podem ser empreendidas na dimensão política observada na norma de
preservação dos bens culturais.
Observar algumas especificidades do processo de institucionalização da prática de invenção do patrimônio brasileiro pode elucidar a configuração que o patrimônio cultural tomou, levando à consagração de certa feição para a nação brasileira, bem como da própria instituição, normas e dispositivos, cujos efeitos estão presentes na realidade das políticas de patrimônio cultural no Brasil, tornando-se importantes para compreensão do Estado Brasileiro. (CHUVA, 2012, p. 68)
Ainda, uma ampliação conceitual sobre a noção de patrimônio ocorrida no IPHAN,
expandindo o universo de bens culturais a serem salvaguardados, implicaria em
mudanças operacionais na política preservacionista no Brasil (CHUVA, 2012, p.67-
68):
Para a realização dessas novas funções, incorporadas aos antigos órgãos de patrimônio cultural, foi necessário estabelecer procedimentos e acionar novos dispositivos, por meio da incorporação de temas clássicos das ciências sociais em geral (tais como a cultura popular ou cultura indígena), que passaram a ser analisados e tratados sob a ótica da patrimonialização. Para tanto, foi preciso também incorporar profissionais das ciências sociais, que passaram a disputar posições com arquitetos, que sempre ocuparam postos centrais no campo. [...] O campo torna-se mais complexo, mais amplo e diversificado em temas e problemas.
Ao reconhecermos os complexos arranjos que se configuram em torno das políticas
de patrimonialização no Brasil, percebemos o tensionamento dos agentes
envolvidos na produção e reprodução dos bens culturais e o processo de
99
patrimonialização desses bens, pelo Estado. O reconhecimento do valor dos bens
culturais pelo Estado e a consequente expectativa patrimonializante que se
estabelece demonstram que os sujeitos ou os grupos sociais envolvidos na
produção do próprio bem cultural distinguem a lógica do “dispositivo de
patrimônio”,passando a tensionar a trajetória da norma de preservação das culturas
populares à condição de patrimônio cultural brasileiro.
“Uma nova trajetória se impõe aos bens instituídos como patrimônio, que, a partir desse momento, estão submetidos a uma nova ordem jurídico-legal, bem como a condições de existência diferenciadas, marcadas por essa singularidade [...] Sob essa perspectiva a patrimonialização de práticas culturais promove a concorrência e, por vezes, a dissensão entre grupos, vivenciadas através de tensões e disputas, num contexto de lutas e representação, lutas por legitimidade e lutas políticas, que redundam em disputa direta por recursos direta ou indiretamente. (CHUVA, 2012, p. 74).
Outra importante consideração em torno da dimensão política da preservação dos
bens das culturas populares e sua patrimonialização diz respeito às políticas
públicas integradas que comporiam os processos de patrimonialização (CHUVA,
2012, p. 74-75):
[...] remete a uma série de políticas públicas inter-relacionadas, que colocam em foco a gestão do patrimônio cultural e os próprios processos de patrimonialização. Dentre os setores relacionados, podemos destacar: o turismo, o meio ambiente, as relações exteriores, as patentes envolvendo conhecimentos tradicionais, a questão indígena, a questão agrária, a questão urbana e a cidade patrimonializada, o âmbito jurídico, e a educação.
Ainda que bastante tímida enquanto informação institucional, as ações integradas
nas políticas de preservação do patrimônio no Brasil vêm tomando corpo enquanto
projetos e ações e têm atuado principalmente nas ações de apoio das salvaguardas
articuladas pelo estado gestor.
Assim, a dimensão política na norma de preservação das culturas populares nas
cidades brasileiras ainda constitui uma importante e necessária abordagem nos
estudos da prática preservacionista e, mesmo atentando à atuação de outros
agentes tensores na construção dessa política para além do Estado regulador e
gestor, a atuação dos aparelhos do Estado na trajetória da norma de preservação
tem tensionado de forma privilegiada a dimensão política, sem perder de vista,no
entanto, a supremacia do interesse público. “Assim, constituir patrimônios por meio
100
de ação do Estado implica em fazer opções e explicitar os motivos que a justificam,
tendo sempre em vista o interesse público.” (SANT‟ANNA, 2011, p.30).
Esse capítulo tem por objetivo analisar a dimensão política da trajetória da norma de
preservação das culturas populares nas cidades brasileiras, partindo do Estado
regulador e gestor das políticas públicas governamentais de patrimonialização,
buscando compreendê-la através dos processos de tombamento e registro de bens
ou expressões das culturas populares pelo IPHAN, entre 1988 e 2013, bem como os
possíveis arranjos tensores que se estabelecem a partir dessa dimensão política.
3.1OS PACTOS E CRITÉRIOS NA TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO
DAS CULTURAS POPULARES NAS CIDADES BRASILEIRAS
Os acordos firmados no processo de patrimonialização dos bens culturais,
desdobrados nos pactos institucionais – gestores e/ou jurídicos – e nos critérios de
seleção, proteção e promoção do bem cultural patrimônio, indicam as intenções da
dimensão política governamental na norma de preservação, constituídos por atos
administrativos discricionários.
Nesse sentido, os instrumentos jurídicos garantidores da proteção aos bens
culturais, como a o Decreto Lei nº 25 de 1937, bem como as resoluções em torno do
procedimento de instrução em processos de tombamento. Apesar de indicarem, de
forma genérica, a garantia de proteção, ao longo dos anos, serviram como limite
mais objetivo à discricionariedade técnica do IPHAN, influenciado diretamente nos
acordos em torno da patrimonialização de bens culturais, garantindo, portanto, o
acesso a direitos culturais difusos e coletivos.
A nova Constituição brasileira, promulgada em 1988, já em uma conformação
jurídica de um estado democrático de direito, viria ampliar significativamente os
direitos culturais, através do alargamento da noção do bem cultural, conforme
mencionado anteriormente em rápida passagem. Em seu artigo 215, inclui a
expressa proteção “às manifestações das culturas populares, indígenas e afro-
101
brasileiras, e de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional”
(BRASIL, 1988), bem como reconhece juridicamente uma natureza imaterial nos
bens culturais, elencados nos incisos do artigo 216.Indica ainda a necessidade de se
estabelecer novos procedimentos para preservação desses bens, conformeexpresso
no § 1º do artigo 216:
§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. (BRASIL, 1988)
Os desdobramentos do comando legal imposto pela Constituição Federal de 1988
seriam sentidos institucionalmente pelo IPHAN na trajetória da norma de
preservação dos bens das culturas populares,principalmente a partir dos acordos
estabelecidos na Carta de Fortaleza, em 1997, em torno de um consenso sobre a
preservação do patrimônio imaterial brasileiro, através das respectivas “Comissão” e
“Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial”
Em um contexto mundial, sob a ótica dos acordos preservacionistas, os anos de
1980 finalizam-se com a 25ª Reunião da Conferência Geral da UNESCO, em 1989,
tendo como principal desdobramento a Recomendação sobre a Salvaguarda da
Cultura Tradicional e Popular. Desse modo, as culturas populares e tradicionais
seriam reconhecidas como patrimônios culturais da humanidade e recomendadas as
suas salvaguardas como mecanismo de promoção da cultural local.
A década de 1990 inicia um processo institucional para a consolidação e ampliação
da proteção da cultura popular no Brasil, com a criação de novos instrumentos
voltados para este fim.
Para além da institucionalização do conceito de “cultura popular” dentro da estrutura
gestora cultural brasileira, as transformações que ocorreriam em torno das
demandas do/para o patrimônio, em sua nova condição de elemento estratégico às
cidades, a busca por um desdobramento operacionalde instrumentos para seleção,
proteção e promoção dos novos bens culturais elencados na Constituição Federal
de 1988, traduzidos juridicamente como bens imateriais, tornou-se o mais
emblemático projeto a ser construído no seio do IPHAN.
102
Em 1990,reformas administrativas marcariam a dimensão política da norma de
preservação no âmbito do patrimônio no Brasil.AFUNARTE75 e o Instituto Nacional
do Folclore (INF)76 são transformados, respectivamente, no Instituto Brasileiro de
Arte e Cultura (IBAC) e a Coordenação de Cultura Popular, inserta neste Instituto. O
conceito de Cultura Popular é empregado pela primeira vez no âmbito
institucional/gestor no campo das políticas preservacionistas.
O então SPHAN e a FNPM77seriam extintos no Governo do presidente Fernando
Collor (1990-1992) e, por um entendimento político-institucional, em 1992, dariam
lugar ao Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC)78, criado com a função de
executar a política de proteção do Patrimônio, iniciando um período de
sucateamento da gestão pública cultural como um todo, atingindo,
consequentemente o IBPC.
Para além do fenômeno genérico, uma condição, posteriormente denominada de
“crise do setor do patrimônio” (SANT‟ANNA, 2004, p. 31), atingiria as políticas
públicas preservacionistas brasileiras sobre o patrimônio urbano.
Esvaziado, com funções reduzidas e com uma estrutura operacional que foi tornada precária em todos os sentidos, o IPHAN deixou de ser, definitivamente, o locus central de exteriorização da norma preservacionista.Nos anos 90, intervenções locais e programas nacionais tomaram o seu lugar. (SANT‟ANNA, 2004, p. 31).
Assim, os anos de 1990 foram marcados por tentar articular, no Brasil, uma política
de preservação dos bens de natureza imaterial em nível institucional como prevê a
Constituição Federal. Nesse sentido, aideia do Registro como instrumento de
proteção às culturas populares inicia uma discussão institucional em torno do
Patrimônio Cultural Imaterial, culminando no “Seminário Patrimônio Imaterial:
estratégias e formas de proteção”, realizado na cidade de Fortaleza, Estado do
Ceará, em novembro de 1997.
75
Criada em 1975. 76
Criando junto a FUNARTE, também em 1975. 77
Ambos criados em 1979, na gestão de Aloísio de Azevedo. O IPHAN fora dividido em SPHAN (Secretaria), na condição de órgão normativo, e na Fundação Nacional Pró-Memória (FNPM), como órgão executivo. 78
Segundo informações corrigidas pela Professora Márcia Sant‟Anna.
103
Tal seminário buscava refletir o que/qual seria e como se constituiriam os
instrumentos de preservação dos bens imateriais previstos na CF 1988, bem como
seus desdobramentos preservacionistas no âmbito das políticas públicas dos “novos
velhos patrimônios”
O objetivo do Seminário foi recolher subsídios que permitissem a elaboração de diretrizes e a criação de instrumentos legais e administrativos viando a identificar, proteger, promover, e fomentar os processos e bens „portadores de referencia à identidade; à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira‟ (Art. 216 da Constituição), considerados em toda a sua complexidade, diversidade e dinâmica, particularmente, „as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações artísticas e tecnológicas‟, com especial atenção àquelas referentes à cultura popular (BRASIL, 2012a, p. 21).
A “Carta de Fortaleza” constitui o resultado objetivo desse Seminário e orientaria,
sobretudo o IPHAN, através de propostas e recomendações, para a construção de
políticas públicas de preservação – seleção, proteção e promoção – dos bens
culturais imateriais, adotando institucionalmente como nomenclatura mais próxima,
daquele momento até os dias atuais, dos bens das culturas populares.
O conceito de patrimônio imaterial pelo IPHAN constituiria no mais importante
resultado do Seminário:
Os Bens Culturais de Natureza Imaterial dizem respeito àquelas práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos lugares (como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas).
79
Ainda, segunda a professora Mácia Sant‟Anna, falta ao conceito às idéias de
domínios da vida social, especialmente valorizados por comunidades e grupos
sociais. Assim, diante das considerações do papel do IPHAN (BRASIL, 2012) na
proteção do “amplo e diversificado patrimônio cultural brasileiro” e das demandas
dos “segmentos sociais organizados” e dos “poderes públicos”, frente à necessidade
de tutela e promoção do patrimônio imaterial, previstos constitucionalmente, o
“plenário”, “propõe e recomenda” o aprofundamento da reflexão sobre o patrimônio
imaterial, o inventário destes, e a criação de um “grupo de trabalho no Ministério da
79
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Disponível em <http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=10852&retorno=paginaIphan>. Acesso em: 15 dez. 2012.
104
Cultura, sob a coordenação do IPHAN [...] para propor a edição de instrumento legal,
dispondo sobre a criação do instituto jurídico denominado registro”.
Percebemos, nesse sentido, que o Registro, enquanto instrumento jurídico-
procedimental acenaria, já na “Carta de Fortaleza”, como o mais adequado
instrumento de proteção aos bens imateriais, indicando, portanto, o principal objeto
de política pública preservacionista às culturas populares necessário, portanto,
desdobrá-lo, para ser mais bem compreendido.
Em 1998, a portaria nº 37, de 04 de março, criaria a Comissão e o Grupo de
Trabalho Patrimônio Imaterial (GTPI), onde o Grupo assessoraria a Comissão a
“elaborar propostas visando ao estabelecimento de critérios, normas e formas de
acautelamento80 do patrimônio imaterial brasileiro” (BRASIL, 2012b, p.26). A
comissão teve o prazo para apresentação das propostas prorrogado por mais 90
dias, pela Portaria nº 229 de 06 de julho de 1998 e, por fim, a Portaria nº 485 de 11
de dezembro daquele ano, “considerando não ter havido solução dos referidos
trabalhos” (BRASIL, 2012c, p. 28), prorroga o prazo por “360 dias” e altera a
composição do Grupo de Trabalho.
Assim, em setembro de 1999, a “Carta da Comissão do Patrimônio Imaterial
Brasileiro” ao Ministro da Cultura, então Francisco Weffort, proporia a
regulamentação do registro do patrimônio cultural imaterial, tendo na sua exposição
de motivos as diretrizes que orientaram as decisões: “a primeira diz respeito à opção
pelo registro” em detrimento do tombamento, uma vez ser este “inadequado ao bem
imaterial, dinâmico por sua própria natureza”, seguindo a “tendência internacional”
(BRASIL, 2012c, p. 30). O Registro, dado o caráter dinâmico dos bens culturais,
deveria ser “reavaliado pelo menos a cada dez anos”, recebendo o bem registrado o
título de “Patrimônio Cultural do Brasil” (BRASIL, 2012c, p. 30). A segunda
exposição de motivos trata da indicação do Conselho Consultivo do IPHAN como
órgão deliberativo quanto ao registro dos bens culturais e, em sua terceira exposição
de motivos, o documento reflete quanto à “estratégia para conceituar o bem imaterial
merecedor do registro” (BRASIL, 2012c, p. 30, grifo nosso), enumerando quatro
80
Proteção jurídica do bem cultural.
105
livros para o registro dos bens patrimônio. Ainda, “as consequências práticas do
registro” seriam desdobradas na construção de uma política pública até então
inexistente: ou seja, “instituir a obrigação pública, governamental, sobretudo”, de
preservar as culturas registradas; o “reconhecimento e a valorização desses bens
mediante a concessão do direito de utilizar o título de “Patrimônio Cultural do Brasil”
(BRASIL, 2012c, p. 31, grifo nosso).
Dessa forma, a construção de uma política que incluiria a proteção da cultura
popular centralizava-se na construção de uma política para os bens intangíveis e
sua proteção como patrimônios imateriais, o se quetornaria-se evidente e robusto,
na década seguinte
O documento denominado “Relatório Final das Atividades da Comissão e do Grupo
de Trabalho Patrimônio Imaterial81“, fundamentaria e ratificaria, por definitivo, o
registro como instrumento de proteção ao patrimônio cultural imaterial brasileiro, que
subsidiaria, em 17 de maio de 2000, o documento “Exposição de Motivos e Texto
Final do Decreto Presidencial” do Ministro da Cultura, e culminaria na publicação do
Decreto Federal nº 3.551, de 04 de agosto de 2000.
Cabe salientar que, institucionalmente, o texto pesquisado mais antigo que trata a
ideia de um registro dos bens das culturas populares e tradicionais pelo IPHAN,
remete-se ao documento “A preservação dos Processos culturais significativos para
a sociedade brasileira” (IPHAN, 1993, p. 45-48), onde a proteção dos bens culturais
populares seria contemplada com a instrução do “registro administrativo dos
processos que constituem a dinâmica cultural”; ou seja, ainda sem a menção do
patrimônio imaterial como objeto do Registro.
Como é sabido, os processos culturais não são passíveis de cristalização e/ou tombamento. Dessa forma, faze-se necessário analisar com cuidado, não apenas o tipo de natureza do registro administrativo mais conveniente, mas as suas implicações diretas com os requisitos de referência e promoção de processos culturais dinâmicos. Estas considerações serão determinantes para a propositora das características formais do registro, do instrumento legal que lhe dá cobertura e legitimidade, e das suas relações com as etapas de preservação e promoção que lhes complementam. [...] O
81
Assinado pela Coordenadora do Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial, então Arquiteta do IPHAN, Márcia Sant‟Anna,
106
registro administrativo da referência cultural estará determinado, antes de tudo, pela natureza dos bens e processos a preservar. Assim, visualizamos três tipos de registro (livro) para referência da dinâmica: registros dos fazeres e tecnologias patrimoniais; registro de produtos de usos e costumes tradicionais e/ou significativos. Cada um desse „livros‟ ou registros (ou ainda arquivos) cobriria uma espécie ou „família‟ de bens culturais, respectivamente, a saber os modos de fazer ou produtos desses „fazeres‟ e, por fim, os usos e costumes socialmente significativos.(IPHAN, 1993, p. 47).
Partindo de um valor ou da referência dos “processos culturais significativos”
(IPHAN, 1993, p. 47) à sociedade brasileira, embora ainda sob o enfoque identitário
nacional, o documento inova ao indicar o registro enquanto procedimento
administrativo, no entanto, sem a proposta de um instrumento jurídico de proteção
ou tutela desses processos. O documento sugere apenas que a Constituição
Brasileira de 1988 já indicava “outros instrumentos de proteção, além do
tombamento” como “os inventários e a identificação” (IPHAN, 1993, p. 47).
Ainda que claramente menos preocupados com o nome do instrumento de proteção
e mais com a sua “regulamentação e os requisitos que impõe”, ou ainda, pelo
caráter de exposição preliminar do documento e da indicação pela constituição de
um grupo de trabalho “para equacionar e propor” o conteúdo apresentado,
percebemos a premência na condução das discussões e construção de políticas
públicas de proteção à cultura popular, aquele instante compreendida
institucionalmente como “processos culturais significativos” à cultura brasileira.
Duas importantes considerações podem ser apreendidas através do documento; a
primeira, diz respeito á necessidade de construção de um instrumento jurídico de
proteção; a segunda indica que o “Registro Administrativo” daria às ações de registro
dos bens das culturas populares um protagonismo institucional preservacionista
ainda não alcançado.
Ainda em 1997, a Coordenação de Cultura Popular é transformada no Centro
Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP)vinculado à FUNARTE. A
construção de uma política para a preservação da cultura popular, iniciada em 1958,
com a Campanha Nacional do Folclore, e agora institucionalizada através do
CNFCP, demonstra o longo caminho para o reconhecimento da cultura popular
107
como bem cultural brasileiro, conforme demonstram as palavras de Cláudia Márcia
Ferreira, atual Diretora do CNFCP:
Hoje, a ação institucional se faz tendo em vista que cultura é um processo global que reúne condições do meio ambiente àquelas do fazer do homem. O agente social e seu produto – habitação, templo, artefato, dança, canto, palavra, entre outros – estão necessariamente inseridos num quadro social e ecológico no qual a atividade humana ganha significação. [...] É possível agrupar os programas em quatro vertentes, que se articulam: programas que visam à realização de estudos teóricos e de cunho etnográfico, que contribuem para a ampliação dos acervos bibliográfico, museológico, visual e sonoro; programas que visam ao apoio direto aos produtores culturais, os quais valorizam e divulgam a produção de cultura popular brasileira; programas de premiação que visam à difusão e ao reconhecimento de pesquisas nas áreas de folclore e cultura popular; programas que visam ao intercâmbio e à formação de público, bem como apoio a eventos que tenham continuidade. (FERREIRA, 2001).
A ação preservacionista, representada pelos instrumentos de proteção, não constitui
objetivo ou finalidade do CNFCP. No entanto, o Centro tornou-se o principal parceiro
institucional do IPHAN na construção das políticas preservacionistas para a cultura
popular brasileira, sobretudo nos campos de pesquisa e documentação, no incentivo
à produção através da Sala do Artista Popular (SAP), em funcionamento desde 1983
e, sobretudo, na difusão do patrimônio da cultura popular brasileira em âmbito
nacional e internacional. Nesse sentido, algumas considerações sobre esse
processo de difusão são de extrema importância à nossa compreensão:
É importante esclarecer que as expressões populares têm um circuito de difusão que lhes é próprio e que se organiza com base em redes locais de sociabilidade: festas tradicionais, feiras e mercados, romarias entre outros. Assim sendo, não cabe ao Estado interferir nos modos de organização e expressão próprios das culturas populares. [...] No entanto, cresce no nível internacional a preocupação com a preservação das culturas populares tendo em vista sua utilização pela industria cultural, que, frequentemente, retira do contexto original alguns aspectos do saber popular, destituindo-os de seu significado e desrespeitando os direitos de propriedade intelectual de seus criadores. [...] o CNFCP desenvolve seus programas entendendo que os fenômenos culturais condensam e expressam múltiplos planos da realidade. Não se trata de propor medidas para manter inalteradas as expressões da cultura popular, ou querer protegê-las da economia de mercado, mas, em um mundo cada vez mais homogêneo, os programas desenvolvidos pelo Estado devem privilegiar o significado cultural, valorizando a singularidade das produções que expressam o rico contraste entre diversos grupos sociais. (FERREIRA, 2001).
Por fim, somente no início do século XXI, no ano de 2000, é instituído o Registro de
bens culturais de natureza imaterial como práxis preservacionista à proteção da
108
cultura popular, amparado pelo Programa Nacional de Patrimônio Imaterial - PNPI,
tendo por base o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) e como órgão
gestor do IPHAN.
Ainda, a incorporação do CNFCP à estrutura do IPHAN, em 2003, e,
consequentemente, à estrutura do Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI),
criado em 2004, institucionalizaria, de forma definitiva, uma política nacional de
preservação dos bens das culturas populares brasileiras, alçando-os à categoria de
patrimônio cultural nacional, agora, protegidos por um instrumento jurídico, o
Registro de bens culturais.
Nesse momento, novos velhos patrimôniossão evocados e, sobretudo, a concepção
andradiana de cultura concebida em seu projeto para a criação do IPHAN, em 1936,
onde os bens da cultura popular alcançavam o mesmo patamar dos monumentos de
“pedra e cal”. Os bens da cultura popular seriam, portanto, protegidos através do
Registro, em sua dimensão imaterial.
Assim, através do Decreto Federal n. 3.551 de 4 de agosto de 2000, percebemos
que duas grandes novidades são insertas nas políticas públicas preservacionistas
brasileiras: o instrumento jurídico de proteção do bem cultural pelo Registro nos
livros dos Saberes82, Formas de Expressão83, Celebrações84 e Lugares85; bem como
a institucionalização do Inventário Nacional de Referências Culturais – INCR como
metodologia voltada à produção de conhecimento sobre bens culturais e subsídio à
formulação de políticas patrimoniais de reconhecimento, seleção, proteção e
promoção.
O Conceito de Patrimônio Imaterial brasileiro, no entanto, não compõe corpo legaldo
Decreto Federal nº. 3551/2000 que, em seu artigo 1ª, indica apenas a sua finalidade:
“instituir o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem
patrimônio cultural brasileiro”, bem como os livros onde deveriam ser feitos os
82
“Conhecimento e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades”. 83
, “Manifestações literárias, musicais e plásticas, cênicas e lúdicas”. 84
“Rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social”. 85
“Mercados, feiras santuários, praças e demais espaços onde se concentram e se reproduzem práticas culturais coletivas”.
109
Registros e os valores atribuídos à patrimonialização dos Bens Culturais de
Natureza Imaterial, como indicam os incisos I a IV do § 1º:
§ 1o Esse registro se fará em um dos seguintes livros:
I - Livro de Registro dos Saberes, onde serão inscritos conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades;
II - Livro de Registro das Celebrações, onde serão inscritos rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social;
III - Livro de Registro das Formas de Expressão, onde serão inscritas manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas;
IV - Livro de Registro dos Lugares, onde serão inscritos mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços onde se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas.
§ 3o Outros livros de registro poderão ser abertos para a inscrição de bens
culturais de natureza imaterial que constituam patrimônio cultural brasileiro e não se enquadrem nos livros definidos no parágrafo primeiro deste artigo.
Ficariam explícitos nos incisos I ao IV do artigo 2º do Decreto Federal nº.
3.551/2000, quais seriam as parte legítimas para “provocar a instauração do
processo de registro”:
I - o Ministro de Estado da Cultura;
II -instituições vinculadas ao Ministério da Cultura;
III - Secretarias de Estado, de Município e do Distrito Federal;
IV - sociedades ou associações civis.
Os fluxos procedimentais de patrimonialização pelo Estado estão expostos nos
artigos 3ª ao 5ª do Decreto, contando com uma novidade no processo de instrução
do Registro, que poderá ser realizado por “outros órgãos do Ministério da Cultura,
pelas unidades do IPHAN, ou por entidade, pública ou privada, que detenha
conhecimentos específicos sobre a matéria”, conforme dispõe o §3º do artigo 3º.
Ainda, o Decreto Federal nº. 3.551/2000 instituiria o instrumento de “revalidação do
título de „Patrimônio Cultural do Brasil”, que ocorreria pela reavaliação dos bens
culturais registrados pelo IPHAN, a cada 10 anos, conforme dispõe o artigo 7º e,
quando negada a revalidação do bem cultural, seria “mantido o registro, como
referência cultural de seu tempo”.
110
O Decreto Federal nº. 3.551/2000 instituiria ainda, em seu artigo 8º, o “Programa
Nacional do Patrimônio Imaterial”, que teria como objetivo “a implementação de
política específica de inventário, referenciamento e valorização desse patrimônio”.
SegundoSant‟anna (2003), paralelamente à construção do instrumento de proteção
aos bens intangíveis, o Registro do Patrimônio Imaterial, desenvolveram-se no
IPHAN, pesquisas no intuito de construção de uma metodologia que inventariasse
os bens culturais, trabalhando com a ideia de “referências culturais” dentro das
“categorias instituídas pelo Decreto 3.551/2000” (Sant‟anna, 2003, p. 53) e, como
instrumento de pesquisa “dosprocessos de produção desses bens, dos valores neles
investidos, de sua transmissão e reprodução, bem como das suas condições
materiais de produção” (Sant‟anna, 2003, p. 53). Nesse sentido, uma metodologia de
trabalho para seleção que opera “com o conceito de referência cultural, supera a
falsa dicotomia entre patrimônio material e imaterial” e seria denominada de
Inventário Nacional de Referências Culturais, comumente referidos pela sua sigla
INRC.
Em 2001, ocorre a Implantação do PNPI, com o projeto Celebrações e Saberes da
Cultura Popular, desenvolvido pelo CNFCP e, no ano seguinte, em 2002, ocorre o
primeiro registro do patrimônio imaterial nas cidades brasileiras, com o Registro do
Ofício das Paneleiras de Goiabeiras, no município de Vitória, no Espírito Santo, no
Livro dos Saberes. As ações inventariantes do CNFCP apresentavam-se como
valiosas ferramentas no reconhecimento do patrimônio cultural popular brasileiro,
conquanto importante instrumento técnico no procedimento de Registro do bem
cultural, que também passaria a ter sua instrução proposta pelo CNFCP.
Percebemos, ainda, na fala da pesquisadora Letícia Viana (2001), que a aplicação
do INRC atuaria como mecanismo catalisador da atuação do CNFCP, tendo em vista
sua “experiência” e o “acervo acumulado” e enquadrado nas “quatro dimensões
básicas das políticas do CNFCP: pesquisa, documentação, difusão e fomento”.
Nesse sentido, os inventários vieram compor com ações no âmbito da Sala do Artista Popular e da parceria com o Programa de Apoio a Comunidades Artesanais. E fizeram parte de projetos nos quais foram realizadas pesquisas etnográficas, documentação, oficinas de repasses de técnicas tradicionais, melhoria nas condições de produção e florescimento,
111
exposições e publicações sobre a maioria dos bens inventariados. (VIANA, 2004 )
Nesse sentido, uma crítica operacional ao INRC é levantada pela pesquisadora,
indicando que a metodologia do INRC não seria “tão operativa enquanto instrumento
de pesquisa de campo”, sem deixar de mencionar o mérito do INRC enquanto
“metodologia de levantamento, identificação e localização de documentos e
referências sobre os bens”,assim como sua flexibilidade e capacidade de “permitir
algumas adaptações em relação ao padrão sem sacrificar sua lógica interna”
(VIANNA, 2004, p. 20).
A Resolução nº001, de 3 de agosto de 2006, viria estabelecer, no seio do IPHAN,
conforme dispõe o artigo 1º, “os procedimentos a serem observados na instauração
do processo administrativo de Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial”,
pormenorizando, ao longo da Resolução, todas as condições, termos, prazos e
instâncias que o fluxo de patrimonialização institucional deveria percorrer.
Entretanto, as Considerações dos motivos à construção dessa Resolução, que
compõem o próprio texto legal, antecedendo aos comandos legais elencados a partir
do artigo 1º, merecem nossa atenção, uma vez que, nessas considerações, são
expostos os conceitos de bem cultural de natureza imaterial e de tradição, que
orientariam as políticas de preservação dos bens culturais no IPHAN, conforme
decisão do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, em sua 49º reunião, de 03
de agosto de 2006. Assim, transcrevemos as considerações que são estabelecidas
em torno dos conceitos:
CONSIDERANDO que se entende por bem cultural de natureza imaterial as criações culturais de caráter dinâmico e processual, fundadas na tradição e manifestadas por indivíduos ou grupos de indivíduos como expressão de sua identidade cultural e social; CONSIDERANDO que, para os efeitos desta Resolução, toma-se tradição no seu sentido etimológico de “dizer através do tempo”, significando práticas produtivas, rituais e simbólicas que são constantemente reiteradas, transformadas e atualizadas, mantendo, para o grupo, um vínculo do presente com o seu passado; [...].(IPHAN, 2006).
Numa conjuntura mundial, percebamos que, apenas em 2003, a Convenção para
Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, aprovada na 32ª Sessão da
Conferência Geral das Nações Unidas, consideraria a interdependência entre o
112
patrimônio cultural imaterial e o patrimônio cultural tangível e natural. A convenção
da UNESCO introduziria internamente, enfim, o conceito de "patrimônio cultural
imaterial", 03 anos depois de o Brasil ter institucionalizado um instrumento de
proteção e uma metodologia para seleção e construção de planos de salvaguarda,
sob a forma legal, o Registro dos Bens Imateriais.
A política preservacionista brasileira para os bens de natureza imaterial apresenta-se
hoje em um estágio maduro, e bastante consolidado86, apresentando um panorama
institucional gestor sem precedentes na história do IPHAN e, segundo Machado,
(2014, p. 182), constitui um processo em construção que consolidaria “um regime
diferenciado de proteção”:
A preservação do PCI prenuncia a consolidação de um regime diferenciado de proteção que vem emergindo no ordenamento jurídico brasileiro, construído gradativamente a partir da experiência do IPHAN nos processos de Registro e salvaguarda. Cada situação específica impõe um tratamento jurídico especial, por guardar peculiaridades relacionadas a diversos ramos do Direito.
O Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL)87 surgiria em 2010, como
uma metodologia inventariante voltada à preservação da diversidade linguística
brasileira e, segundo publicação do IPHAN (2010), naquele mesmo ano, 08
inventários estariam em andamento, sendo 02 deles aplicados em territórios não
indígenas ou quilombolas, territórios urbanos: “A LIBRAS DO NORDESTE, um
levantamento linguístico das variantes usadas nas comunidades de surdos de João
Pessoa – PB e Recife-PE;bem como o Inventário TALIAN88. Em 2014, o IPHAN
reconheceria“as três primeiras línguas - o Talian, o Asurini do Trocará e o Guarani
Mbya - reconhecidas como Referência Cultural Brasileira, que passam a fazer parte
86
O Registro de bens culturais de natureza imaterial nos livros dos Registros dos Saberes, das Formas de Expressão, das Celebrações e dos Lugares; bem como todos os processos administrativos encontram-se disponíveis para o acesso público no BCR (2013). 87
Instituído pelo Decreto Federal nº. 7.387, de 09 de dezembro 2010. 88
“Falado na Região Sul do Brasil, o Talian é a língua utilizada por parte da comunidade italiana que chegou ao país ainda no século XIX, com influência de língua vêneta (do norte da Itália). É considerado patrimônio histórico e cultural dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina”.Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/noticias-destaques/-/asset_publisher/OiKX3xlR9iTn/content/iphan-certifica-tres-linguas-como-referencia-cultural-brasileira/10883>. Acesso em: 22 set. 2015.
113
do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL)”89,aprovado por uma
comissão técnica composta por representantes dos ministérios da Cultura,
Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação, Justiça e Planejamento.
Até 2013, 22 bens culturais nas cidades brasileiras, de naturezas imateriais,
espalhados por todo o território nacional, foram registrados nos Livros de Registro
dos Saberes, do Registro das Celebrações, dos Registros das Formas de Expressão
e dos Registros de Lugares, e são protegidos e salvaguardados pelo IPHAN através
do DPI, onde se encontram os processos administrativos dos Registros englobando
toda uma documentação escrita e audiovisual que compõem os “Dossiês de
Registro” no processo administrativo, bem como todos os pareceres administrativos,
jurídicos e consultivos acerca dos Registros realizados. Seria também
responsabilidade do DPI e das demais Superintendências Regionais do IPHAN,
colaborar com os demais entes federativos brasileiros, os estados e município, no
auxílio técnico para formulação de políticas locais de preservação ao patrimônio
imaterial.
A principal metodologia utilizada hoje para o registro dos bens de natureza imaterial
é o INRC, aplicadopela primeira vez como instrumento de patrimonialização de um
bem cultural, em 2005, através do Registro do Círio de Nazaré. O INRC é um
inventário que acompanha o processo de registro dos bens culturais e permite a
construção dos Planos de Salvaguardas, instrumentos que possibilitam assegurar a
continuidade do bem em pequeno, médio e longo prazo, envolvendo o bem cultural
e a sua comunidade de pertencimento. No entanto, em alguns processos de registro,
a metodologia do INRC não fora aplicada, sendo os estudos desenvolvidos através
de pesquisa histórica e documental em trabalho de campo. Ainda segundo
entrevistas da Professora Mácia San‟Anna,todos os bens registrados devem possuir
um plano de Salvaguarda; no entanto, o uso do INRC não constitui obrigatoriedade
metodológica.
89
O IPHAN certifica três línguas como referência cultural brasileira.Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/noticias-destaques/-/asset_publisher/oikx3xlr9itn/content/iphan-certifica-tres-linguas-como-referencia-cultural-brasileira/10883. Acesso em: 22 set. 2015
114
Uma outra importante característica da política de preservação dos bens culturais
dinâmicos seria a ação da reavaliação pelo IPHAN, a cada 10 anos, através de
decisão do seu conselho consultivo, sobre a manutenção do título de “Patrimônio
Cultural do Brasil”, ocorrida com o Registro dos bens culturais, conforme determina o
artigo 7º do Decreto nº 3.551/2000. Até 2013, apenas o Ofício das Paneleiras de
Goiabeiras, registrado em 2002, teria tido revalidação através de titulação em 11 de
outubro de 2013.
O quadro abaixo demonstra os desdobramentos da dimensão política da norma de
preservação dos bens culturais registrados pelo IPHAN nas cidades brasileiras entre
2000 e 2013, tendo por base oBanco de Dados dos Bens Culturais Registrados
(BCR)90, bem como os processos de registros e dossiês publicados pelo IPHAN,
onde encontramos rico material quanto às projeções para salvaguardas, sobretudo
as recomendações. Assim, os pactos e critérios utilizados para compreender a
dimensão política, como a data de tombamento, as recomendações ou planos de
salvaguardas, bem como as metodologias de patrimonialização estariam dispostos
no quadro; enquanto que as questões relativas ao tempo de patrimonialização, aos
pareceres para patrimonialização, bem como as ações de apoio, encontram-se
disponíveis e analisadas na segunda parte deste capítulo.
Data de Registro
Bem Cultural Registrado pelo
IPHAN
Estado/ Região Brasil
Recomendações e Planos de Salvaguarda
Metodologia de Patrimonializaç
ão
20/12/2002 Ofício das Paneleiras de Goiabeiras
Espirito Santo
Recomendações de Salvaguarda Ações de Salvaguarda (discussão acerca da questão geográfica das paneleiras produzidas em Goiabeiras Velha)
Pesquisa histórica e documental em trabalho de campo.
05/10/2004 Samba de Roda do Recôncavo Baiano Patrimônio Humanidade O Samba de Roda no Recôncavo Baiano é proclamado pela Unesco Obra-
Bahia Recomendações de Salvaguarda Ações de Salvaguarda: Pontão de Cultura Samba de Roda – Casa do Samba com a associação de sambadeiros e sambadeiras do estado da Bahia; Regularização fundiária e instalação
Pesquisa histórica e documental em trabalho de campo
90
Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR (2013). Página Consultada a 15/12/2012, em <http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf.>
115
Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade.
do conselho gestor da Casa do Samba; Montagem de estúdio e áudio para Gravação de CD‟s de Sambas de Roda
05/10/2004 Círio de Nossa Senhora de Nazaré
Pará Recomendações de Salvaguarda Ações de Salvaguarda: Ponto de Cultura Museu do Círio
INRC
14/01/2005 Modo de Fazer Viola-de-Cocho
Mato Grosso Mato Grosso do Sul
Recomendações de Salvaguarda Ações de Salvaguarda: Ponto de Cultura/ Cuiabá MT Ponto de Cultura / CorumbáMS
INRC
14/01/2005 Ofício das Baianas de Acarajé
Bahia Recomendações de Salvaguarda Ponto de cultura – ABAM Associação de baianas de acarajé e mingaus do estado da Bahia Ações de Salvaguarda- Inauguração do Memorial das Baianas de Acarajé
Pesquisa histórica e documental em trabalho de campo
15/12/2005 Jongo no Sudeste Espirito Santo São Paulo Rio de Janeiro Minas Gerais
Recomendações de Salvaguarda; Ações de Salvaguarda: Pontão de Cultura Jongo e Caxambu Niteroi/RJ (em andamento)
INRC
20/12/2006 Feira de Caruaru Pernambuco Recomendações de Salvaguarda Ações de Salvaguarda: Pontão de Cultura da Feira de Caruaru para formação de agentes de turismo para Feira
INRC
28/02/2007 Frevo Pernambuco Recomendações de Salvaguarda INRC
20/11/2007 Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto, de Terreiro e Enredo
Rio de Janeiro
Recomendações de Salvaguarda; Ações de Salvaguarda: Pontão de Cultura memoria do Samba Carioca Rio de Janeiro / RJ (em andamento);
INRC
20/11/2007 Tambor de Crioula do Maranhão
Maranhão Recomendações de Salvaguarda Ações de Salvaguarda: Recuperação e lançamento do curta metragem “Tambor de Crioula” 1978 Criação do Comitê gestor do Plano de Salvaguarda
INRC
13/06/2008.
Modo artesanal de fazer queijo nas regiões do Serro, da Serra da Canastra e do Salitre.
Minas Gerais
Recomendações de Salvaguarda parcerias das agências de pesquisa e financiamentos dos estudos sobre a produção do leite,; a associação e organização daqueles produtores; potencializar comercialmente o produto cultural; denominação de origem controlada e certificação geográfica; adequação à lei estadual nº 14.155, de 31/01/2002
INRC
21/10/2008 Ofício dos mestres de capoeira
Brasil Recomendações de Salvaguarda Ações de Salvaguarda: Elaboração da plataforma on-line de Cadastro Nacional da Capoeira 2010 Articulação com o Ministério da Previdência para aposentadoria dos mestres.
Pesquisa histórica e documental em trabalho de campo
21/10/2008 Roda de Capoeira Brasil Recomendações de Salvaguarda Pesquisa
116
Ações de Salvaguarda: Elaboração da plataforma on-line de Cadastro Nacional da Capoeira 2010 Articulação com o Ministério da Previdência para aposentadoria dos mestres.
histórica e documental em trabalho de campo
28/01/2009 Modo de fazer Renda Irlandesa Divina Pastora / SE
Sergipe Recomendações de Salvaguarda Elaboração do Plano de Salvaguarda e organização do Comitê Gestor
Pesquisa histórica e documental em trabalho de campo
03/12/2009 Ofício de Sineiro Minas Gerais
Recomendações de Salvaguarda INRC
03/12/2009 Toque dos Sinos em Minas Gerais tendo como referência São João del Rey e as cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes.
Minas Gerais
Recomendações de Salvaguarda INRC
13/05/2010 Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis
Goiás Recomendações de Salvaguarda INRC
10/12/2010 Festa de Sant' Ana de Caicó
Rio Grande do Norte
Recomendações de Salvaguarda INRC
30/08/2011 Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão
Maranhão Recomendações de Salvaguarda elaborada ao longo do Registro
INRC
29/11/2012 Fandango Caiçara Paraná São Paulo
SI SI
03/04/2013 Festa do Divino de Paraty
Rio de Janeiro
SI SI
05/06/2013 Festa do Senhor do Bonfim
Bahia SI SI
Quadro 4 - Pactos e Critérios na patrimonialização dos bens culturais registrados pelo IPHAN nas cidades brasileiras entre 2000 e 2013. Fonte: Banco de Dados do BCR
Legenda: INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais; SI – sem informação
Não há registros de patrimônio imaterial urbano nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina,
Alagoas,Paraiba, Ceará, Piauí, Tocantins, Distrito Federal, Amapa, Rondônia, Roraima, Acre e Amazonas.
O caráter dinâmico atribuído à cultura popular como patrimônio, a sua posição como
bem cultural intangível, bem como o grande e expoente potencial de
patrimonialização da cultura popular, reivindicariam um instrumento de proteção
jurídica ao bem cultural. Seguindo a tradição civilista francesa dos bens materiais e o
do instituto do tombamento, desde a década de 1930, o critério da coisa, ou seja,
sua tangibilidade ou não, torna, no Brasil, em sua grande maioria, só bens das
culturas populares como sinônimos de patrimônio cultural imaterial, nomenclatura
117
adotada pelo estado, desde o ano 2000, quando da instituição do Registro de Bens
Culturais de Natureza Imaterial e do Programa Nacional de Patrimônio Imaterial
(PNPI).No entanto, a associação entre cultura popular e patrimônio imaterial, no
Brasil, entre 1988 e 2013 não excluiu a prática ou adoção do tombamento como
proteção dos bens das culturas populares brasileiras pelo IPHAN, como o
tombamento, por exemplo, dos Terreiros de Candomblé, das Embarcações
Tradicionais, e da Casa de Chico Mendes e sua arquitetura popular.
O Tombamento pelo IPHAN de bens das culturas populares nas cidades brasileiras
entre 1988 e 2013, torna-se mais sistemática a partir do ano de 1999, com a
retomada dos tombamentos dos Templos Afro-Brasileiros, os Terreiros de
Candomblé, (iniciada em 1986, com o Tombamento do Terreiro da Casa Branca, em
Salvador), através do Tombamento do Terreiro do Opô Afonjá, também em
Salvador. A retomada da política de proteção aos Terreiros de Candomblé pelo
IPHAN ensejaria o tombamento de mais 04 terreiros entre 2002 e 2004: oTerreiro do
Gantois em Salvador, e do Terreiro Casa das Minas em São Luís do Maranhão,
ambos em 2002; o do Terreiro do Bate-Folha em 200, e do Terreiro do Alaketu em
2004, também em Salvador. Assim, entre 2000 e 2004 o IPHAN conseguiria
estabelecer uma política bastante eficiente na proteção dos Terreiros de
Candomblés como patrimônios culturais brasileiros, com o tombamento de mais 05
Templos Afro-Brasileiros, num pequeno período de tempo.
Apesar de a solicitação de Tombamento do Terreiro do Gantois ser realizada em
1998, percebemos que a incorporação pelo IPHAN das novas referências em torno
dos bens culturais brasileiros, estabelecidos pela Constituição de 1988 para os
processos de seleção e consequente proteção, enfrenta uma lacuna temporal
considerável. As condições pelo qual o IPHAN atravessou a década de 1990,
reconhecidamente demonstrada como um período de “crise no patrimônio”
(SANT‟ANNA, 2004a) permite-nos compreender as dificuldades operacionais
vivenciada no IPHAN, bem como as importantes considerações levantadas por
Sant‟anna (2011, p. 31):
Esse foi o tempo de que o IPHAN e, de certa forma, parcelas importantes da intelectualidade brasileira e do próprio povo de santo necessitaram para
118
aceitar o tombamento como um instrumento de proteção adequado a esses sítios, como também consolidar a ideia de que, no Brasil, existe um valioso patrimônio de matriz africana que, embora distinto dos bens originalmente protegidos pelo estado, também demanda preservação como parte fundamental da formação cultural de nossa sociedade.
A prática do Tombamento de bens das culturas populares nas cidades brasileiras
seria retomada em 2008, com o Tombamento da “Casa de Chico Mendes e seu
acervo”, incorporando ao rol de bens tombados nacionais, a arquitetura vernacular
das habitações seringueiras, suas “referências culturais” sócio-ambientais enquanto
patrimônio histórico, pois além de representar a habitação do homem e da mulher do
seringal, na Amazônia Brasileira, representa a história de um dos grandes homens
seringueiros, Chico Mendes. As relações sócio-ambientais das comunidades
tradicionais seringueiras, seriam preservadas em sua materialidade enquanto bem
cultural histórico, traduzidos pela habitação popular como artefato das condições de
vida e do próprio povo seringueiro, representado na figura de Chico Mendes.
As práticas de preservação dos bens das culturas populares através do
Tombamento voltariam a ocorrer no IPHAN em 2012 com o tombamento de 04
embarcações tradicionais brasileiras, resultados diretos de uma política empreendida
pelo Departamento de Patrimônio Material – DEPAM, em Brasília, a partir do final de
2008, consolidando-se em 2009 como um projetodenominado “Barcos do Brasil”,
que tinhacomo objetivo principal “Identificar, registrar e valorizar o patrimônio naval
brasileiro [...] Proteger, preservar e salvaguardar o patrimônio naval brasileiro e seus
contextos sociais, culturais e ambientais”91. Assim, em 2012, 04 embarcações
tradicionais brasileiras são Tombadas como patrimônios Arqueológico, Etnográfico e
Paisagístico, Históricos e Artísticos: a Canoa Costeira, de nome Dinamar, no
Maranhão; o Saveiro de Vela de Içar, de nome, Sombra da Lua, no Recôncavo
Baiano; a Canoa de Tolda Luzitânia em Sergipe; e a Canoa de Pranchão do Rio
Grande, no Rio Grande do Sul.
A proteção das embarcações tradicionais brasileiras pelo Tombamento demonstra,
sobremaneira, a marcada presença institucional do IPHAN na patrimonialização dos
91
BRASIL. PROJETO BARCOS DO BRASIL. Folder de Lançamento do Projeto. IPHAN, 2009. Disponível em: <http://www.popa.com.br/_2009/IMAGENS/07/pedro-bocca/folder%20barcos%20do%20brasil.pdf>. Acesso em: 22 out. 2015.
119
bens culturais, sobretudo, na escolha dos instrumentos de proteção a serem
utilizados. A proteção de um bem cultural pelo Tombamento, onde o saber-fazer
prevaleceria na preservação de uma técnica construtiva ou de velejo, permitindo
assim a produção e reprodução do artefato, indica ou uma não superação
institucional desse entendimento ou de uma não observância aos critérios à
proteção dos bens culturais, adequando-os a outros acordos que envolvem critérios
equivocados para patrimonialização.
Mesmo não ocorrendo uma mudança na legislação de preservação dos bens
culturais materiais no Brasil, ainda que a Portaria Nº 11 de 11/09/1986 orientasse a
instrução dos processos de tombamento, certamente, as ideias de “referências
culturais” bem como os novos direitos culturais que se configuram na Constituição
Brasileira de 1988, estenderiam o conceito de patrimônio cultural, permitiram o
tombamento pelo IPHAN de 10 bens das culturas populares entre 1988 e 2013,
representados pelos Terreiros de Candomblé; pelas embarcações tradicionais e por
uma habitação vernacular seringueira.
Nesse sentido, segue tabela síntese cronológica dos Bens das culturas populares
tombados pelo IPHAN nas cidades brasileiras entre 1988 e 2013, levando em
consideração o tempo de patrimonialização e em qual livro do tombo o bem fora
inscrito. Assim como no registro, questões relativas às recomendações ou planos de
salvaguardas, metodologias de patrimonialização, pareceres para patrimonialização,
bem como as ações de apoio aos bens tombados encontram-se disponíveis e
analisadas na segunda parte deste capítulo.
120
LOCALIZAÇÃO INFORMAÇOES SOBRE O BEM
TOMBADO DADOS DO PROCESSO
APROVAÇÃO CONSELHO CONSULTIVO PARA
INSCRIÇÃO NO LIVRO DO TOMBO
UF
Mu
nic
ípio
No
me d
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Art
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pli
cad
as
BA Salvador Terreiro do Axé
Opô Afonjá Terreiro 1432 1998 1999 1999
BA Salvador Ilê Iyá Omim Axé
Yiamassé Terreiro 1471 2000 2002 2002
MA São Luís Terreiro Casa das
Minas Jeje Terreiro 1464 2000 2002 2002
BA Salvador
Terreiro de Candomblé do
Bate-Folha Manso Banduquenqué
Terreiro 1486 2001 2003 2003
BA Salvador Terreiro do Alaketo,
Ilê Maroiá Láji Terreiro 1481 2001 2004 2004
SE Baixo São Francisco
Canoa de Tolda Luzitânia
Canoa 1473 2001 2012 2012 2012
AC Xapuri Casa de Chico Mendes e seu
acervo
Edificação e Acervo
1549 2007 2008
MA Costa do Maranhão
Canoa Costeira, de nome Dinamar
Canoa 1616 2010 2012 2012 2012
BA Recôncavo
Baiano
Saveiro de Vela de Içar, de nome,
Sombra da Lua, no Recôncavo Baiano
Saveiro 1616 2010 2012 2012 2012
RS Rio
Grande Canoa de Pranchão
do Rio Grande Canoa 1617 2010 2012 2012 2012
Quadro 5 - Bens das culturas populares tombados pelo IPHAN nas cidades brasileiras entre 1988 e 2013
92.
3.1.1 O tempo e a produção institucional do patrimônio
O tempo de produção institucional do patrimônio, ou seja, o período compreendido
para a tramitação dos processos administrativos de tombamento e registro dos bens
culturais patrimônio, possui, mesmo que sob um caráter objetivo procedimental
regulado pelas legislações normativas, uma discricionariedade técnica que ampara e
regula o tempo dos pactos e critérios na produção do patrimônio cultural.
92
FONTE- Lista de Bens Culturais Inscritos nos Livros do Tombo(1938 - 2012). Disponível em:<http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/608>.Processos disponíveis no Arquivo Noronha Santos. Entrevistas DEPAM / BSB.
121
Assim, ao longo da análise dos processos de tombamento e Registro dos bens das
culturas populares brasileiras realizados pelo IPHAN entre 1988 e 2013, percebemos
que o fator tempo possui uma heterogeneidade temporal relevante numa análise dos
processos de registro, e uma homogeneidadetemporal relevante nos processos de
tombamento, quando comparados sob o mesmo instrumento de proteção; ainda,
quando comparamos o tempo dos tombamentos com os registros, percebemos que
poderíamos organizá-los em torno de quatro arranjos temporais possíveis: até um
ano; de 01 a 02 anos; de 02 a 04 anos; acima de 04 anos.
No entanto, apesar de possuirmos uma uniformidade e uma razoabilidade temporais
na condução dos processos administrativos de proteção dos bens das culturas
populares patrimônios, ocorridos no IPHAN entre o período de 1988 a 2013,
percebemos que, em alguns casos, esse tempo ou se estende, ou se retrai, além de
uma média temporal de produção institucional do patrimônio cultural pelo IPHAN, o
que merece uma análise mais individualizada ao longo desse capítulo.
Ainda, há de se considerar algumas condições ou atos jurídicos, que demarcam
temporalmente a trajetória procedimental dos tombamentos e registros. Assim, por
exemplo, a data da solicitação de tombamento antecede a data da abertura do
processo, quando da sua solicitação pelo setor (divisão, diretoria) responsável ao
Arquivo Noronha Santos. Ou ainda, a data de tombamento, enquanto ato
administrativo constitutivo do processo que se finda com a inscrição no Livro do
Tombo, não necessariamente corresponde a uma decorrência objetiva dos atos
administrativos previstos no rito, e podem ocorrer anos após a data da aprovação
dos pedidos de tombamentos ou registros nas reuniões do conselho consultivos, por
exemplo.
Nesse sentido, o fator tempo constitui em uma importante variável a ser considerada
na trajetória da norma de preservação dos bens das culturas populares nas cidades
brasileiras, uma vez que indica a condição que determinado bem cultural possuiu em
atender às demandas burocráticas da patrimonialização institucional dos bens
culturais no Brasil, bem como a indicação dos principais acordos institucionais que
podem tornar mais ou menos célere a patrimonialização dos bens culturais pelo
IPHAN.
122
Assim, buscando analisar percentualmente o tempo institucional de produção do
patrimônio na trajetória da norma de preservação dos bens das culturas populares
nas cidades brasileiras, tombados e registrados pelo IPHAN entre 1988 e 2013
necessitaríamos demarcar temporalmente o que seria a data da abertura do
processo, que corresponde, nesta pesquisa, devido à uniformidade de informações,
ao instante em que o IPHAN aceita o pedido e solicita93 ao Noronha Santos a
abertura do processo para a devida instrução; e, como instante do tombamento, o
momento de sua aprovação na reunião do conselho consultivo do IPHAN, também,
devido à uniformidade de informações nos documentos pesquisados, o que não
reflete a legalidade da norma quanto ao tombamento, que se encerra apenas com a
devida inscrição no livro do tombo, informação esta nem sempre presente nos
processos de tombamento, ou mesmo, ainda não realizada.
Nesse sentido, construímos os gráficos do tempo dos processos de Registro e
Tombamento dos bens das culturas populares pelo IPHAN entre 1988 e 2013, onde
percebemos que, no caso dos 22 registros de bens imateriais nas cidades
brasileiras, eles se desdobram de forma bastante regular por todos os segmentos
temporais trabalhados.
Gráfico 4 - Tempo dos processos de Registro dos bens das culturas populares pelo IPHAN entre 1988 e 2013.
Já gráfico abaixo, percebemos que, no universo do tombamento de 10 bens das
culturas populares pelo IPHAN entre 1988 e 2013, há uma concentração de bens
tombados com tempo de processos de tombamento concentrado entre 01 e 02 anos,
estabelecendo uma maioria absoluta neste segmento temporal.
93
Sem tempo previsto entre o recebimento da solicitação e a abertura do processo pelo Noronha Santos, no IPHAN.
23%27%
32%
18%
Até 01 ano de 01 a 02 anos de 02 a 04 anos acima de 04 anos
123
Gráfico 5 - Tempo dos processos de Tombamento dos bens das culturas populares pelo IPHAN entre 1988 e 2013.
No que tange ao Registro dos bens culturais, destacam-se como processos com
maior tempo entre sua abertura e aprovação no conselho consultivo do IPHAN, o
Registro do Ofício do Sineiro e o Toque dos Sinos em Minas Gerais, que perduraram
por 08 anos entre a abertura dos processos, em novembro de 2001, e aprovação
dos bens culturais patrimônios, em dezembro de 2009. Ao nosso entendimento, tal
processo torna-se atípico pela condição de que inicialmente, a solicitação de registro
do Oficio de Sineiro estaria restrito apenas para São João del Rey, conforme oficio
de solicitação de registro bem. No entanto, os estudos são também estendidos às
cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina,
Sabará, Serro e Tiradentes. Ainda, o parecer técnico enviado ao Departamento de
Patrimônio Imaterial –DPI, quando na instrução do processo pela 13ª SR IPHAN/MG
indica um duplo registro, com a inscrição do Toque dos Sinos como registro das
Formas de Expressão, e a do Oficio de Sineiro como registro de Saberes. Assim, a
instrução de um processo que se restringiria a uma cidade se estende por toda uma
rede de cidades, compondo um território a ser estudado, o que alongaria, para além
do comum, o processo institucional de registro do bem cultural. No pólo oposto, os
Registros da Viola de Cocho, do Samba de Roda do Recôncavo Baiano, do Ofício
das Baianas de Acarajé, da Feira de Caruaru e do Tambor de Crioula, ocorrem num
espaço de tempo inferior a 01 ano.
No que se refere aos processos de tombamento dos bens das culturas populares,
destacamos o processo de Tombamento da Canoa de Tolda Luzitânia que se inicia
em 2001 e finaliza em 2012, com a aprovação do tombamento de mais 03
embarcações tradicionais, compreendendo um período total de 11 anos de
20%
70%
10% 10%
Até 01 ano de 01 a 02 anos
de 02 a 04 anos
acima de 04 anos
124
processo. Não nos parecer haver outra margem de interpretação que não a de
inoperabilidade técnica institucional diante do bem cultural em questão e da dúvida
quanto ao melhor instrumento jurídico a ser empregado, uma vez que a oficio de sua
construção, também poderia ser contemplado pelo instrumento do Registro. Ainda,
torna-se um exemplo, em condição oposta, o tombamento da Casa de Chico
Mendes e seu acervo, que ocorreria em menos de 01 ano, tendo em vista que o
processo se iniciar em 06/11/2007 sendo o tombamento aprovado na 56ª Reunião
do Conselho Consultivo em 15/05/2008. Também o tombamento do Terreiro do Opô
Afonjá, iniciado em 06/11/1998 e aprovado na 19ª Reunião do Conselho Consultivo
em 07/10/1999.
Aindano tocante à variável tempo, a Resolução nº 001 de 03/08/2006 constitui o
instrumento jurídico mais detalhado sobre prazos processuais, e está diretamente
ligada ao procedimento de registro dos bens imateriais pelo IPHAN.
O tempo, portanto, constitui um interessante e importante instrumento de
compreensão da trajetória da norma de preservação dos bens das culturas
populares nas cidades brasileiras onde podemos verificar, no tempo institucional de
produção do patrimônio, para além de uma análise matemática cronológica, as
condições destoantes no tempo de patrimonialização, alertando-nos, sempre, sobre
a condição do patrimônio dispositivo e dos possíveis arranjos tensores na dimensão
política do patrimônio cultural brasileiro
Assim, algumas questões tornam-se mais visíveis, no entanto, não menos
complexas: a construção de certo ritmo institucional, sobretudo, no registro dos bens
culturais patrimônio, a partir da clareza dos processos nas questões de como
instruir, como aprovar; ou ainda, a rapidez nos processos de registro ocorreria como
resultado de um acúmulo de décadas de trabalho dos folcloristas e suas comissões
na sistematização das informações sobre os bens culturais?
3.1.2 Por entre pareceres
125
Os processos administrativos de tombamento e de registro dos bens culturais
patrimônio, pelo IPHAN, são acompanhados por um arranjo procedimental em torno
de pareceres quanto ao méritode patrimonialização, constituindo-se em atos
administrativos que compõem os processos e que são essenciais na continuidade do
rito institucional de patrimonialização.
Apesar de não existir uma uniformidade tipológica de pareceres em todos os
processos quanto comparados entre si – registros e tombamento – sobretudo, pelo
fato de seguirem ritos procedimentais diferentes, nos processos de tombamento,
essa não uniformidade é ainda mais evidente.
Percebamos que, dentro de um parecer com a mesma finalidade técnica, o sujeito
ou instituição que o endossa pode variar, sem que a sua finalidade seja modificada.
Assim, um parecer técnico para a instrução de um processo de tombamento ou
registro pode ser realizado por um notável conhecedor, instituição com relevante
saber, ou mesmo o próprio proponente, e endossado pelas Superintendências
Regionais ou mesmo as Diretorias do IPHAN em Brasília; ou através dos contratos
de consultoria, em sua grande parte, de estudos preliminares à instrução dos
processos; como pode ser realizado pela própria equipe técnica do IPHAN. Como
exemplo, a Resolução nº 001 de 03/08/2006, que institui o procedimento de registro
dos bens imateriais pelo IPHAN (2006), no seu artigo 7º, incisos, I e II, estabelece:
Art. 7º A instrução técnica do processo administrativo de Registro é de responsabilidade do DPI podendo ser delegada: I - Ao proponente, desde que tenha competência técnica para tanto; II- A uma ou mais instituições públicas ou privadas, desde que detenham competência para tanto. § 1º A delegação será feita mediante ato formal, ouvida previamente a Câmara do Patrimônio Imaterial.
Assim, procuramos, de forma abrangente, indicar os principais arranjos em torno dos
pareceres para a patrimonialização dos bens culturais, buscando compreender esse
processo de forma conjunta, ou seja, através da análise dos processos, sem
distinção entre tombamento e registro, procurando entender muito mais a atuação
institucional, do que mensurar a quantidade ou distribuição dos pareces no arranjo
institucional.
126
Analisando todos os processos de tombamento e registro dos bens das culturas
populares nas cidades brasileiras realizados pelo IPHAN entre 1988 e 2013,
percebemos a seguinte configuração institucional em torno dos pareceres a
patrimonialização dos bens culturais:
1. Os pareceres técnicos institucionais – incluindo os tercerizados- emitidos ou
referendados pelas Superintendências Regionais, ou pelas Diretorias em Brasília,
tanto para a instrução do processo quanto para a justificativa de seu registro ou
tombamento;
2. Os pareceres jurídicos emitidos pela Procuradoria Jurídica - PROJUR do IPHAN –
resguardando juridicamente os atos administrativos do Tombamento ou Registro;
3. Um parecer de um conselheiro, ou seja, de um membro do Conselho Consultivo
que analisa o mérito técnico e jurídico do tombamento ou registro e se pronuncia de
forma favorável ou não; e o Parecer do Conselho Consultivo “em ato declaratório
próprio” (IPHAN, 2006).
Percebe-se, portanto, que os pareceres à produção do patrimônio cultural são
documentos técnicos e institucionais, com pouca ou nenhuma participação dos
sujeitos ou grupos sociais no contexto procedimental da patrimonialização. Assim, a
despeito da possibilidade da participação de um dado segmento da sociedade,
preparado e competente na instrução do registro dos bem culturais,como indica a
Resolução nº 001, essa participação torna-se restritiva ao caráter técnico
discricionário do IPHAN que acataria ou não, por exemplo, um parecer técnico em
torno da patrimonialização do bem cultural pelo próprio grupo proponente. Assim, a
possibilidade disponível do ponto de vista jurídico não necessariamente estaria
disponível no âmbito da norma de preservação.
Ainda, os notáveis conselheiros do IPHAN, em sua maioria, são constituídos de
pesquisadores e técnicos renomados na área do patrimônio, representando um
segmento da sociedade ligado às elites intelectuais, ainda sem a representação da
sociedade comum e dos seus conhecimentos cotidianos.
Os pareceres, portanto, constituem valiosas “tecnologias” do Estado na trajetória da
norma de preservação, uma vez que constituem os documentos legitimadores do
127
processo de patrimonialização, traduzindo-se operacionalmente no discurso oficial
do estado sobre a patrimonialização dos bens culturais.
3.1.3 As metodologias de patrimonialização
As metodologias de patrimonialização dos bens das culturas populares nas cidades
brasileiras empreendidas pelo IPHAN entre 1988 e 2013 possuem uma abissal
diferença quando comparamos as disposições metodológicas utilizados para o
registro, e a ausência desse arranjo quando se trata do tombamento de bens
culturais, populares.
Apesar de reconhecermos algumas semelhanças procedimentais nos estudos que
orientam a instrução do processo de tombamento, sobretudo, em relação ao
Tombamento de Terreiros, percebemos a inexistência de clareza metodológica
institucional, ainda que a Portaria Nº 11 de 11/09/1986, em seu preâmbulo,
considere “a necessidade de consolidação das normas de procedimento para os
processos de tombamento” no então SPHAN, composta por uma indicação para
“instauração do processo de tombamento”, por uma avaliação técnica apreciativa
pelos “Órgãos do SPHAN”, por um “julgamento pelo Conselho Consultivo e pelo
Ministro da Educação e Cultura”.
Dessa forma, os 10 processos de tombamentode bens das culturas populares aqui
considerados, apresentam, comocaracterísticas comuns metodológicas:
1. uma pesquisa documental quando da solicitação de tombamento, que incluía
uma abordagem histórica, etnográfica, iconográfica, fotográfica, audiovisual;
2. ainda uma composição da leitura espacial, amparada em plantas
topográficas, plantas de situação e plantas de detalhamento arquitetônico,
sobretudo quando analisados os tombamentos dos Terreiros; ou ,mesmo,
uma leitura gráfica do objeto de tombamento, minuciosamente detalhada,
como no caso das embarcações tradicionais;
3. um dossiê para o tombamento do bem, quando se compreende que a
solicitação possui do mérito.
128
Assim, os documentos que compõem os estudos e a instrução dos processos de
tombamento, constituem documentos de grande valor na compreensão dos bens
culturais e das condições que os configuram como patrimônio nacional, amparados
pela construção de um valor que possibilite que ele seja protegido juridicamente pelo
Estado.
Já os registros dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras são
orientados metodologicamente pelo Inventário Nacional de Referência Cultural, o
INRC. No entanto, nada impede que bens culturais imateriais possam ter sua
importância compreendida através de outras abordagens metodológicas. Assim, o
INRC, como metodologia “oficial”, não consegue impedir a utilização de outros
instrumentos de estudos inventariantes sobre os bens da cultura popular no
processo de patrimonialização, a exemplo das chamadas pesquisas históricas
documentais, enquanto abordagens metodológicas para a patrimonialização.
Os inventários, enquanto instrumentos de preservação dos bens da cultura popular,
desde os folcloristas, também identificam ou catalogam as manifestações das
culturas populares nos ambientes urbanos, ou melhor, nas cidades brasileiras. No
entanto, até a utilização do INRC, institucionalmente, muito pouco se desenvolveu
sobre referências culturais no âmbito dos inventários realizados sobre as cidades,
uma vez, ainda, da prevalência da leitura da cidade a partir dos bens imóveis, de
forma isolada ou em conjuntos, ainda nos estudos das paisagens urbanas, muito
mais próximos de uma relação com a natureza, do que com os modos de vida e sua
reprodução sob esse ambiente, distantes das idéias de referências culturais.
Nesse sentido, o INRC trouxe, enquanto metodologia inventariante, a possibilidade
de uma leitura dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras, não mais
desconectadas da fisicidade do espaço, nem tampouco, da materialidade do
território, impregnada de “cal e pedra”. Assim, o cheiro do acarajé, mesmo oriundo
da rua do fundo, de arquitetura vernacular simples, poderia imprimir um alargamento
de uma fronteira poligonal de proteção de um centro histórico, por exemplo, uma vez
que o cheiro, componente sensorial codificado por uma dada sociedade como
elemento identitário aquele espaço, constitui importante “referencia cultural” aquela
cidade, tanto quanto os seculares sobrados, da rua da frente.
129
A Feira de Caruaru, por ser um registro de lugar, possivelmente possua os
elementos mais contundentes para essa afirmação. Assim, o entendimento da Feira
de Caruaru como diversas feiras, sem uma hierarquia de valor espacial, incluindo
como referência cultural daquele lugar, desde as feiras dos objetos mais tradicionais
como os bonecos de Mestre Vitalino, a feira de couro ou mesmo de animais; até as
feiras da “sulanca” e dos eletrônicos, não desconsidera, por exemplo, a necessidade
de tombamento do Alto do Moura, por tratar-se de local fundamental de produção e
reprodução de saberes e fazeres ligados a vários tipos de artesanato,
especialmente, a cerâmica.
A utilização do INRC, enquanto método, encontra na fala da Diretora do DPI à
época, sua melhor explicação:
Como método, o INRC prevê três níveis sucessivos de abordagem. No levantamento preliminar, são realizadas pesquisas em fontes secundárias e em documentos oficiais, entrevistas com a população e contatos com instituições, propiciando um mapeamento geral dos bens existentes num determinado sítio e a seleção dos que serão identificados. Na fase de identificação e documentação, são aplicados os formulários de inventário que descrevem e tipificam os bens selecionados; mapeiam as relações entre os identificados e outros bens e práticas relevantes; identificam-se, portanto, os aspectos básicos do processo de configuração da manifestação, seus executantes, mestres, aprendizes e público, assim como suas condições materiais de produção (matérias-primas acesso a estas, recursos financeiros envolvidos, comercialização, distribuição, etc.). A etapa final inclui ainda uma documentação, por meio de registro audiovisual mínimo, ficando seu detalhamento e complementação como atividade especializada a ser realizada na fase final do registro (SANT‟ANNA, 2003, p. 53).
A Instrução Normativa nº 01, de 02 de março de 2009, disporia sobre as condições
de autorização de uso do INRC:
“Considerando que o Inventário Nacional de Referências Culturais INRC é uma metodologia de pesquisa desenvolvida pelo IPHAN, que objetiva auxiliá-lo na produção de conhecimento e diagnóstico sobre os domínios da vida social aos quais são atribuídos sentidos e valores que constituem referencia de identidade para os grupos sociais“;
Vai-se permitir o licenciamento e estabelecer os parâmetros para utilização dessa
metodologia fora do IPHAN.
Assim, na análise metodológica de patrimonialização bens culturais imateriais, com
Registro no IPHAN entre 2000 e 2013, percebemos que a Pesquisa Histórica
130
Documental – PHD teria sido utilizada como metodologia em 06 processos de
registro, perfazendo 27% do total de bens registrados, enquanto que o Inventário
Nacional de Referências Culturais – INRCfoi utilizado em 13 processos de registro,
totalizando 59% do total de 22 bens culturais populares registrados. Ainda, 03
processos não apresentam informação detalhada quanto à metodologia de
patrimonialização, compreendendo 14% do universo pesquisado.
Gráfico 6 - Análise metodológica de patrimonialização bens culturais imateriais com Registro no IPHAN entre 2000 e 2013.
Ainda, ao analisarmos a metodologia de patrimonialização dos bens registrados,
considerando como variável os valores atribuídos aos bens culturais (saberes,
formas de expressão, celebrações e lugares) conseguimos visualizar as condições
de metodologias distintas.
Nos 07 bens Registrados como Saberes, 04 utilizaram a Pesquisa Histórica
Documental como metodologia perfazendo um total de 57%em detrimento de 03
registros que utilizaram o INRC como metodologia compreendendo 43%, dos bens
registrados como Saberes. O INRC tende a se afirmar como metodologia.
27%
59%
14%
Pesquisa Histórica Documental [PDH]
Inventário Nacional de Referências Culturais [INRC]
Sem informação [SI]
57%43%
Pesquisa Histórica Documental [PDH]
Inventário Nacional de Referências Culturais [INRC]
131
Gráfico 7 – Saberes. Análise metodológica de patrimonialização por valores dos bens culturais imateriais com Registro no IPHAN entre 2000 e 2013
Nos 08 Registros das Formas de Expressão, 02 bens culturais foram registrados
pela Pesquisa Histórica Documental, com 25% do total das Formas de Expressão,
05 bens foram registrados utilizando o INRC como metodologia, perfazendo 63%
dos registros das Formas de Expressão, e 01 bem registrado não apresentava
informação quanto à metodologia.
Gráfico 8 - Formas de Expressão. Análise metodológica de patrimonialização por valores dos bens culturais imateriais com Registro no IPHAN entre 2000 e 2013
As celebrações, compostas por 06 bens registrados, possuem 04 bens registrados
sob a metodologia do INRC, perfazendo 67% do total, sendo que deste, 02 bens não
apresentaram a informação quanto a metodologia de patrimonialização.
O Registro dos Lugares com apenas um bem registrado, a Feira de Caruaru, teve o
INRC como metodologia empregada, ou seja, 100%.
Gráfico 9 – Celebrações. Análise metodológica de patrimonialização por valores dos bens culturais imateriais com Registro no IPHAN entre 2000 e 2013
25%
63%
13%
Pesquisa Histórica Documental [PDH]
Inventário Nacional de Referências Culturais
[INRC]
Sem informação [SI]
33%
67%
Sem Informação Inventário Nacional de Referências Culturais [INRC]
132
As metodologias utilizadas pelo IPHAN na patrimonialização dos bens das culturas
populares nas cidades brasileiras seriam mais bem orientadas e sistematizadas
enquanto procedimento institucional, em relação ao patrimônio imaterial, sobretudo,
através do INRC, onde as ações de levantamento preliminar, identificação e
documentação são componentes demarcados no processo institucional de produção
do patrimônio imaterial brasileiro, ainda que, 41% dos registros aqui analisados,
sejam feitos sem o INRC ou sem a informação quanto à metodologia.
3.1.4 As salvaguardas e as ações de apoio aos bens culturais
As salvaguardas dos bens culturais brasileiros não foram objeto de uma política
preservacionista, de forma sistemática e orgânica pelo IPHAN, até os anos 2000,
quando se inicia a política de registro dos bens imateriais e a prática da construção
de “Planos de Salvaguardas” para os bens registrados torna-se uma prática
recorrente94.
Os Planos de Salvaguardas comporiam os estudos técnicos para registros dos bens
culturais imateriais, operacionalizados através de recomendações, tendo como
principal objetivo a garantia das condições de reprodutibilidade dos bens culturais,
geralmente estabelecidos em parceria com entidades estatais ou organizações civis,
visando sua exequibilidade nos termos e garantias previstas nos Planos, e dentro
dos limites jurídicos da execução pelos entes parceiros.
As ações que contribuem para a melhoria das condições socioambientais de produção, reprodução e transmissão de bens culturais imateriais são organizados em iniciativas chamadas planos de salvaguardas. [...] Atuam, portanto, no sentido de melhoria das condições de vida materiais, sociais e econômicas que favoreçam a vivência do grupo produtor, e a transmissão e continuidade dessas manifestações culturais. O conjunto de ações envolvidas é amplo e variado, e pode ser assim resumido:1) apoio à
94
Em entrevista a este autor, concedida em setembro de 2013 pela Coordenadora-Geral de SalvaguardaRivia Bandeira, ela afirma não existir um procedimento semelhante aos Planos de Salvaguardas para os bens tombados. Ainda, indica a dificuldade institucional em articular ações de salvaguardas que tranversalizem a materialidade e imaterialidade do bem, articulando-o em torno de uma ação comum. O não tombamento até 2013 do Alto do Moura na cidade de Caruaru, indicado no Plano de Salvaguarda do Registro de Lugar da Feira de Caruaru, constituiria a época, um exemplo dessa dificuldade institucional.
133
transmissão do conhecimento às gerações mais novas; 2) promoção e divulgação do bem cultural; 3) valorização de mestres e executantes; 4) melhoria das condições de acesso a matérias-primas e mercados consumidores; 5) organização das atividades comunitárias (CAVALCANTI, 2008, p. 24).
Importa demonstrar que, mesmo ausente nos processos de tombamentos, os bens
tombados podem apresentar ações de salvaguardas, diretamente ligadas a
premiações em editais do sistema MINC. Por exemplo, os Terreiros de Candomblé,
contemplados com recursos provenientes do Fundo Nacional de Cultura (FNC),
através doPrograma Nacional de Apoio a Cultura – PRONAC, mais conhecida como
Lei Rouanet95.
Assim, no âmbito das salvaguardas dos bens de natureza imaterial no Brasil,
percebemos que a maioria absoluta do universo pesquisado de 22 bens registrados,
19 bens possui como desdobramento, a “Recomendação de Salvaguarda”,
documento importante, pois reflete as demandas cotidianas dos bens culturais
durante o processo do Registro, permitindo a elaboração de uma recomendação
inicial que se desdobre em ações de salvaguardas em pequeno, médio e longo
prazos. Dos 22 registros pesquisados, 03 não apresentam informações quanto à
metodologia utilizada. No entanto ao analisarmos os processos, as metodologias
desses registros aproximam-se bastante, com estudos históricos e etnográficos do
bem cultural. O gráfico abaixo demonstra a relação das metodologias empregadas
na patrimonialização dos bens imateriais no Brasil entre 2000 e 2013.
Gráfico 10 - Recomendação de Salvaguardas dos Bens das culturas populares Registrados pelo IPHAN nas cidades brasileiras (2000-2013)
95
Lei Federal nº8.313 de 23 de dezembro de 1991.
86%
14%
bens que apresentam a Recomendação
não apresentam informação
134
No entanto, ao observarmos os bens culturais com ações de salvaguardas
desenvolvidas, apenas 14 bens dos 22 registrados, ou seja, 74% estão envolvidos
diretamente com essas ações. O gráfico a seguir resume essa realidade.
Gráfico 11 – Ações de Salvaguardas sobre os Bens das culturas populares Registrados pelo IPHAN nas cidades brasileiras (2000-2013)
As ações de salvaguardas, comumente, estão articuladas aos editais de premiação
de projetos culturais financiados pelo Fundo Nacional de Cultura (FNC) e aos
projetos desenvolvidos pelas secretarias que compõem o sistema MINC.Nesse
sentido, percebemos que as ações de salvaguardas institucionais atuam não
restritamente ligadas ao âmbito do IPHAN, mas constituem uma rede de articulação
que envolve tanto o Sistema MINC,quanto suas secretarias. Assim, seria dentro da
Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural(SCDC) que se desenvolve o
grande programa diretamente ligado à promoção dos bens da cultura popular
brasileira, incluindo, neste rol, patrimônios culturais imateriais brasileiros: o programa
“Cultura Viva”, que tem como principal projeto os “Pontos de Cultura”96, ou “Pontões
de Cultura”97, geridos através de “Pontos de Redes”98e das “Teias”99. O programa
96
“Entidades/grupos/coletivos com atuação comprovada na área cultural, selecionados por edital de responsabilidade do Ministério da Cultura (MinC), em parceria com outros órgãos do governo federal e com governos estaduais e municipais” Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/cidadaniaediversidade>. Acesso em: 27 jul. 2014. 97
“são entidades de natureza e finalidade cultural que se destinam à mobilização, à troca de experiências, ao desenvolvimento de ações conjuntas com governos locais e à articulação entre os diferentes”. Ibidem. 98
Os Pontos de Rede podem ter o caráter tanto de uma Rede Federativa “São as parcerias do governo federal com os governos estaduais, municipais e consórcios intermunicipais dentro do escopo de ações do Programa Cultura Viva, que visam a ampliação de sua capilaridade, firmadas por meio da assinatura de protocolos. Esta parceria é prevista a partir da adesão do ente federado ao Sistema Nacional de Cultura (SNC)” ou como de Redes Temáticas ou Identitárias, que “São redes
74%
26%16%
bens que desenvolvem ações de salvaguarda
bens que não desenvolvem ações de
salvaguarda
não informaram
135
Cultura Viva tem seu início em 2005, e era formado inicialmente por 05 ações:
“Pontos de Cultura (convênios), Escola Viva, Griôs, Cultura Digital, Cultura e Saúde,
sendo todas as atividades vinculadas aos Pontos de Cultura”100:
Seu objetivo é fortalecer o protagonismo cultural da sociedade brasileira, valorizando as iniciativas culturais de grupos e comunidades excluídas e ampliar o acesso aos bens culturais, principalmente no apoio a projetos de espaços culturais denominados Pontos de Cultura.
A continuidade do Programa Cultura Viva foi ampliada para a concessão de bolsas e
prêmios por meio de editais101conseguindo “importantes resultados, ao fomentar,
desde sua implantação, em 2005, e até o ano de 2011102, o total de 3.670 Pontos de
Cultura em todos os estados da federação”103.
Importante observar a atuação do CNFCP na salvaguarda das culturas populares no
período compreendido nesta pesquisa, sobretudo, através do projeto Celebrações e
Saberes da Cultura Popular, desenvolvido como desdobramento do Programa
Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI) entre 2001 e 2006.
Desde o início, o Projeto contou com recursos Ministério da Cultura e várias parcerias e apoios integrados. Em 2004 e 2005, o escopo das ações foi ampliado com o patrocínio da Petrobras, que proporcionou pesquisas, exposições, discussões e publicações [...] integralmente articuladas ao campo constituído. (CAVALCANTI, 2008, p. 27).
A institucionalização do CNFCP no seio da gestão do patrimônio cultural,
incorporado ao Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI) do IPHAN, em 2003,
formadas por Pontos de Cultura, Pontões, Grupos, Coletivos, instituições e outros agrupamentos que se articulam para atuar em um segmento ou tema específico. São exemplos de Redes Temáticas: a Rede de Pontos de Cultura Indígena, que prevê a instalação e funcionamento de no mínimo um Ponto de Cultura em cada Terra Indígena; a Rede Saúde e Cultura, que articula experiências em cultura e saúde para a promoção da qualidade de vida. Os Pontos das Redes Federativas podem participar de uma ou mais Rede Temática”. Ibidem. 99
“são encontros dos Pontos e Pontões de Cultura e das comunidades envolvidas com o Programa Cultura Viva em todo o país, para promover uma mostra ampla e diversificada da produção cultural dos Pontos, debater a cultura brasileira e suas expressões regionais, propor estratégias de políticas públicas culturais e analisar e avaliar o programa. A TEIA é o encontro nacional e regional dos Pontos de Cultura”. Ibidem. 100
Ibidem. 101
“Prêmio Cultura Viva, Prêmio Agente Escola Viva, Prêmio Agente Cultura Viva, Prêmio Intercâmbio Cultura Ponto a Ponto, Prêmio Cultura e Saúde, Prêmio Tuxaua, Prêmio Interações Estéticas, Prêmio Pontos de Mídia Livre, Prêmio Areté, Prêmio Estórias de Pontos de Cultura, Prêmio Ludicidade e Pontinhos de Cultura”.Ibidem. 102
Dados disponíveis até 2011. 103
BRASIL. Ministério da Cultura. Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/cidadaniaediversidade>. Acesso em: 27 jul. 2014.
136
traria toda a experiência do CNFCP no trato com a cultura popular brasileira não
somente através dos seus estudos104 e inventários, mas, sobretudo, pela sua
atuação na construção de mecanismos de promoção das culturas populares, através
da Sala do Artista Popular (SAP), em funcionamento desde 1981. Segundo a
publicação do IPHAN (2010, p.99) que trata da política de salvaguarda desenvolvida
pela instituição para o patrimônio imaterial no Brasil, a SAP, entre os anos de 2003 e
2010 teria realizado 53 exposições sobre os mais diversos bens da cultura popular
no Brasil, com uma representatividade de quase todos os estados brasileiros. Sua
principal função é apresentar ao público e ao mercado as produções plásticas
populares e suas tecnologias como mecanismo de promoção de bens culturais que
não possuem uma visibilidade fora do seu contexto de produção.
O Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI), desde 2005, tem contemplado
ações preservacionistas desenvolvidas pela sociedade civil, universidades, órgãos
estaduais de preservação e coletivos culturais, através de uma seleção pública de
projetos por edital, com objetivo definido de premiar ações de salvaguardas, em um
sentido bastante amplo de atuação, como demonstra a fala institucional
Desde 2005, o IPHAN lança, anualmente, o Edital do PNPI, que é uma seleção pública de projetos voltados à identificação, documentação e/ou melhoria das condições de sustentabilidade dos conhecimentos, modos de fazer, formas de expressão, festas, rituais, celebrações, lugares e espaços que abrigam práticas culturais coletivas vinculadas às tradições culturais dos grupos formadores da sociedade brasileira. O objetivo do Edital é difundir a política de salvaguarda do patrimônio imaterial de modo a proporcionar o envolvimento e a participação da sociedade civil e demais instituições públicas na condução desta política. Os projetos são realizados por meio de parcerias, ou convênios, entre o Iphan e instituições públicas e privadas, e contam sempre com a participação e o consentimento prévio e informado das comunidades envolvidas, ou das instituições que as representam
105
Os editais de fomento do PNPI têm sido um importante programa institucional de
apoio aos bens das culturas populares no Brasil, como podemos perceber na
regularidade da iniciativa, embora com flutuações importantes no número de projetos
contemplados, conforme gráfico abaixo.
104
Inclusos as publicações do CNFCP, bem como o acervo que compõem o Concurso Silvio Romero de monografias sobre cultura popular, que ocorre anualmente, de forma sistemática. 105
BRASIL. IPHAN. Editais do Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI). Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/865/>. Acesso em: 2 nov. 2015.
137
Gráfico 12 - Quantidade anual de projetos contemplados pelos Editais PNPI (2005 – 2011)
Importa ressaltar que, mesmo realizados nos anos de 2012 e 2013, os dados
referentes aos editais desses dois anos, não estão disponíveis pelo IPHAN.
Uma importante reflexão indica que mesmo uma política institucional, o acesso ao
financiamento de ações e projetos acabam ficando sob a responsabilidade dos
registrados em concorrer aos editais, e todo o seu sistema burocrático, tornando
invisível outras formas de salvaguardas empreendidas diretamente pelo estado
gestor.
Ainda outro importante instrumento de apoio institucional para a promoção dos bens
das culturas populares brasileiras, incluindo alguns desses registrados pelo IPHAN,
foram os “Projetos fomentados pelo Edital de Apoio à Produção de Documentários
Etnográficos”, patrocinados pela Petrobras nos anos de 2007 e 2008, permitindo
uma visibilidade nacional desses bens culturais, uma vez transmitido pelas TV‟s
educadoras,
As ações de apoio aos bens das culturas populares ainda são contemplados com
aprovação de projetos junto ao Programa Nacional de Apoio à Cultura – (PRONAC)
não somente via o Fundo Nacional da Cultura (FNC), mas através da aprovação de
projetos junto às empresas que, por incentivos fiscais, aderemao mecenato cultural.
Importa compreender que o mecenato constitui um repasse de recursos públicos,
pois advém de uma contrapartida do Estado em ceder parte da arrecadação em
impostos para uma negociação direta entre empresas e o setor cultural.Esses
recursos, no entanto, são conquistados em menor escala pelos grupos e sujeitos
sociais produtores das culturas populares brasileiras.
11
7
12
2
12
8
11
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
138
Dentre as dificuldades no acesso por parte dos grupos e sujeitos das culturas
populares ao mecenato cultural no Brasil, podemos citar a necessidade de
constituição de uma pessoa jurídica representativa dos grupos ou sujeitos e toda a
manutenção burocrática da capacidade jurídica para receber recursos; a menor
concentração de produtores e captadores de recursos para os bens das culturas
populares, ainda não apropriados em larga escala pela indústria e pelo consumo
cultural; bem como a concentração de captação de recursos para as culturas
populares em projetos mais ligados ao espetáculo à propaganda, como o Samba
Enredo no Rio de Janeiro, e o Frevo do carnaval de Recife e Olinda.
Importante compreender que, para além da necessária promoção e apoio aos bens
das culturas populares nas cidades brasileiras, de forma institucional, a produção e
reprodução desses bens nunca estiveram condicionados a uma atuação promotora
ou mesmo preservacionista institucional do Estado, desenvolvendo essa prática,
sobretudo, a partir dos planos de salvaguardas nos anos 2000. Isso reforça na
nossa tese de que os novos patrimônios seriam os velhos bens culturais, cotidianos,
produzidos e reproduzidos pelo povo, em redes de sociabilidade e cooperação,
movidos pela alegria, pela tradição, ou mesmo pela fé.
3.2 A UNESCO NAS POLÍTICAS DE PRESERVAÇÃO DAS CULTURAS
POPULARES BRASILEIRAS PELO IPHAN
As políticas públicas de preservação dos bens das culturas populares no Brasil e
suas “inter-relacões”106com as políticas externas brasileiras sempre foram muito
próximas, antes mesmo de uma ação institucional de proteção pelo IPHAN através
dos tombamentos e registros. Já o momento fundador de uma política de
preservação do folclore brasileiro mostra que o Instituto Brasileiro de Educação,
Ciência e Cultura (IBECC)– criado em 1946 por Renato Almeida107, chefe do Serviço
de Informações no Itamaraty no então Ministério das Relações Exteriores, - “ foi
106
Ver CHUVA (2012). 107
Secretario Geral daComissão Nacional do Folclore - IBECC / MEC /UNESCO 1947 a 1964 e Diretor Executivo da Campanha Nacional do Folclore / entre 1964 e 1971
139
criado como uma comissão nacional” da UNESCO incorporando a Comissão
Nacional do Folclore (CNFL), criada em 1947, Já então, uma estreita relação entre
os arranjos de preservação do Folclore brasileiro junto às políticas internacionais do
país pode ser observada.
Nesse contexto, o Brasil seria o primeiro país a institucionalizar os preceitos de
respeito às diferenças e identidades dos povos, preconizados pela recém criada
UNESCO, através da preservação de suas manifestações culturais pela Comissão
Nacional do Folclore. Essa adesão colocava o Brasil como representante e
legitimador de uma orientação política universal de preservação sobre o patrimônio
popular que começava a se constituir. Assim, a realização, em 1954, do Congresso
Internacional do Folclore em São Paulo- SP, ocorreria diante da necessidade de
uma nova reunião internacional no campo dos estudos do folclore, segundo as
recomendações da UNESCO. Em 1958, o então Ministério da Educação e Cultura
institucionalizaria a Campanha em Defesa do Folclore Brasileiro, que se estenderia
até o ano de 1976, quando a Campanha torna-se Instituto Nacional do Folclore,
vinculado à FUNARTE.
Em 1972, a Convenção para a Salvaguarda e Proteção do Patrimônio Mundial,
Cultural e Natural, na 17ªSessão da Conferência Geral da UNESCO, geraria uma
tensão quanto aos valores patrimonializantes da instituição, questionados pelos
países orientais e latino-americanos. Mas, somente em 1982 a UNESCO organizaria
um Comitê de peritos sobre a salvaguarda do Folclore e, em 1989, a 25ª Reunião da
Conferência Geral da UNESCO, teria, enfim, como principal encaminhamento, a
Recomendação sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular.
Segundo Sant‟anna (2004a), “os anos 90 inauguravam um novo período de
transformação da prática de preservação”.Entre as mais siginificativas: a
descentralização operacional na gestão do patrimônio cultural brasileiro desdobra-se
sobre a discussão da gestão executiva regional e local através de programas; as
transformações de cunho orçamentário, com a entrada do capital financiador,
sobretudo a Caixa Econômica Federal (CEF), o Banco Nacional de Desenvolvimento
Social (BNDES) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); ou ainda, as
cartilhas operacionais gestoras da UNESCO e a atuação do Governo Francês, como
140
apoio na forma de consultorias à Caixa Econômica Federal. Essas “inter-relações”
na esfera internacional, pactuadas nas políticas de preservação do patrimônio
cultural brasileiro, tornar-se-iam emblemáticas através do Programa denominado
“Monumenta”108, iniciado em 1999 e finalizado em 2010109. Nesse sentido, a então
“bem sucedida” experiência de requalificação em tecidos históricos na cidade de
Quito, em 1994, daria o tom das novas políticas preservacionistas, onde um ajuste
entre um agente financiador para políticas de reabilitação de centros históricos e
monumentos e os órgãos gestores, imprimiriam os novos mecanismos de gestão do
patrimônio, através dos padrões operacionais empresariais denominados de
“planejamento estratégico”, visão que se tornaria hegemônica nos procedimentos e
regras para a preservação do patrimônio cultural pela UNESCO e,
consequentemente, em nosso caso, ao Brasil.
Ainda, importantes transformações na orientação da gestão do patrimônio cultural
urbano são implementadas no Brasil, com adesão do IPHAN, referendando um
processo de patrimonialização, onde “a função de atrair pessoas e atividades por
meio de projetos de cunho turístico, comerciais e de lazer às cidades
patrimonializadas ou ao patrimônio urbano”110. Ou seja, colaboram para a criação de
cidades “atração”111às cidades, parte do processo acirrado de competição em um
mercado agora globalizado e sedento por novos produtos. Agregar valor às cidades
e às suas materialidades impunha-se como nova condição competitiva, ampliando
ainda seu alcance para elementos não materiais, diretamente ligados à cultura
popular ou tradicional, que surgem como novos bens culturais capazes de trazer
essa dinâmica agregadora e diferenciá-la,em meio ao mercado competitivo entre
cidades.
108
Contrato de empréstimo nº 1200 OC-Br entre a República federativa do Brasil e o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Programa de Preservação do Patrimônio Histórico Urbano. (MONUMENTA), 04 de dezembro de 1999. 109
Percebe-se nesse momento uma mudança no modelo vigente de gestão e regulação do setor do patrimônio, sobretudo, pela descentralização gerencial do programa Monumenta, a cargo do Ministério da Cultura através das Unidade Centrais de Gerenciamento – UCG e das Unidades Executoras de Projetos - UEP, pulverizadas em 32 municípios brasileiros, atrelando ao IPHAN a função fiscalizadora do patrimônio a sofrer intervenção (SANT‟ANA, 2004). 110
Comentários da Professora Márcia Sant‟Anna ao memorial de tese para o exame de qualificação, realizado em 2 de outubro de 2015. 111
Ver SANT‟ANNA (2004a).
141
Importante demonstrar que, no âmbito sul americano, reuniões e articulações, tendo
por base a preservação da cultura regional e os parâmetros universalizantes da
UNESCO para a produção dos patrimônios da humanidade, seriam desdobradas em
quatro importantes documentos: a “Carta de Brasília”, de 1995, documento Regional
do Cone Sul que, sobretudo, tensiona a ideia de autenticidade da; a “Declaração de
São Paulo II”,de 1996,apresentando as recomendações brasileiras à XI Assembléia
Geral do ICOMOS e, em julho do mesmo ano, a“Carta de Mar Del Plata sobre o
patrimônio intangível”, resultado das primeiras Jornadas do MERCOSUL sobre
patrimônio intangível, ocorrido entre os dias 10 e 13 de junho de 1997, na cidade de
Mar Del Plata na Argentina; bem como a “Carta de Cartagena de Índias”, em maio
de 1999, na Colômbia, indicando a proteção, recuperação de bens culturais do
patrimônio arqueológico, histórico, etnológico, paleontológico e artístico da
comunidade Andina. Percebemos, nesse momento, uma resistência latino-
americana diante da política patrimonializante adota pela UNESCO, ainda que,
desde 1989, existisse uma Recomendação sobre a Salvaguarda da Cultura
Tradicional e Popular, contudo, sem efeitos mais objetivos quanto aos instrumentos
de proteção e às políticas de salvaguardas aos novos velhos patrimônios.
A década de 1990 marcaria institucionalmente a UNESCO pela criação de
programas tendo em vista a preservação de bens culturais não materiais,
aproximando-a de uma proteção aos bens das culturas populares. Inicialmente, o
Sistema Tesouros Humanos Vivos, em 1994 e, posteriormente, o programa de
Proclamação de Obras Primas do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade, em
1997, acabariam juntando-se aos programas “Idiomas e Línguas em Perigo” e
“Música Tradicional”, na composição da Seção do Patrimônio Imaterial, que é
incorporadoà Divisão do Patrimônio Cultural, em 1998.
Dentre as ações desenvolvidas pela UNESCO, a ideia da preservação do Patrimônio
Vivo, embora não fosse recepcionado pelo IPHAN como política pública de
preservação do patrimônio, acaba sendo bem desenvolvida como políticas estaduais
de proteção dos Mestres e Mestras das culturas populares na Região Nordeste do
Brasil. A ausência dessa política na trajetória da norma de preservação dos bens
das culturas populares pelo IPHAN e sua presença em outras estruturas normativas
142
dos estados federativos, decerto, constituem um importante arranjo tensor à norma
preservacionista do IPHAN sobre os bens das culturas populares no Brasil. Isso se
deve ao enfrentamento direto estabelecido com a execução de políticas sobre o
patrimônio vivo em escala regional, além de uma visível demanda para a construção
de uma política em escala nacional, pressionada, sobretudo, pelos Mestres
Capoeiristas, ofício registrado como patrimônio imaterial do IPHAN. Nesse sentido,
alargaremos a discussão em torno dessa política da UNESCO e seus
desdobramentos no cenário brasileiro.
Assim, nasce na UNESCO, a ideia de Patrimônio Vivo, por iniciativa da Coréia,
tendo por base as experiências no Japão em meados do século XX. Em 1994, o
programa Tesouros Humanos Vivos - Living Human Treasures112 – é
institucionalizado no seio da UNESCO, incentivando os países membros à
construção de políticas de reconhecimento e titulação de Mestres e Mestras da
Cultura Popular, ainda em vida, permitindo a transmissão de seus conhecimentos
tradicionais, mediante o pagamento de um auxílio financeiro.SegundoSant‟anna
(2001), o Sistema Tesouros Humanos Vivos passaria a ter maior divulgação a partir
de 1996, tendo por objetivo a preservação das tradições ameaçadas de
desaparecimento, através do apoio aos transmissores dos conhecimentos e práticas
tradicionais, tendo por base a reprodução desses conhecimentos às novas
gerações.
O apoio se dá na forma de ajuda financeira para o desenvolvimento das atividades, aquisição de equipamentos, materiais, insenções de impostos, seguro saúde, seguro de vida, entre outros. O sistema, inspirado na legislação japonesa de 1950, é visto pela UNESCO como forma eficiente de proteção e transmissão de saberes e modos de fazer tradicionais. Países como Coréia, Filipinas, Tailândia, Romênia e Franca já adotam sistemas semelhantes. (SANT‟ANNA, 2001).
Conceitualmente, as políticas adotadas voltam-se ao reconhecimento, à proteção –
através do reconhecimento dos mestres da cultura tradicional popular – e à
salvaguarda – através da transmissão dos saberes e fazeres –, visando a
continuidade de saberes e técnicas passíveis de extinção ou necessárias à
continuidade de dada dinâmica cultural em um dado território. Essas práticas
112
Cf. UNESCO (1994).
143
assumem grande importância na Constituição Brasileira de 1988, onde, em seu
artigo 216, o legislador reconhece os bens de natureza imaterial, incluindo “as
formas de expressão e os modos de criar, fazer e viver”.
Analisando as legislações estaduais, no Brasil, essa política tem conseguido imprimir
um reconhecimento sistemático dos Mestres e Mestras, atrelado a um caráter mais
assistencialista com o pagamento a eles de um valor/pecúnio nos estados do Ceará,
Paraíba, Pernambuco, Alagoas. Iniciativa semelhante vem se articulando na Bahia e
no Rio Grande do Norte, apesar da existência de uma legislação que ainda não fora
colocada em prática. Alvo de muitas críticas, as ações de preservação do patrimônio
vivo trazem, no entanto, grandes inovações enquanto política pública, pois esta
reconhece no sujeito o bem cultural, e ressignifica a dimensão da fruição do bem e
das ações de salvaguardas, que passam a ser atreladas à titulação dos Mestres e
Mestras da Cultura Popular e Tradicional Brasileira.
Mesmo não sendo uma política nacional de preservação do denominado “patrimônio
vivo”, institucionalizada pelo IPHAN, procuraremos indicar, de forma sintética,
através da análise das legislações preservacionistas e das políticas e ações
implementadas, nos estados nordestinos da Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco,
Alagoas e Rio Grande do Norte, os principais elementos da política do “Patrimônio
Vivo”.
A aparente semelhança conceitual torna entre as legislaçõesna definição do
“Patrimônio Vivo” vinculada aos seguintes aspectos: pessoa natural, detentora de
conhecimentos ou técnicas necessárias à produção e preservação da cultura
tradicional popular de uma comunidade estabelecida no estado. No entanto, a
legislação do Estado de Pernambuco e do Rio Grande do Norte amplia sua definição
do bem tutelado ao “grupo de pessoas naturais, dotado ou não de personalidade
jurídica”. Outra singularidade encontrada na definição do bem-patrimônio na
legislação dos estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Alagoas seria a
ampliação do alcance do conceito de bens culturais a serem protegidos conforme a
terminologia “cultura tradicional ou popular”,reconhecendo as condições tradicionais
144
ou populares do bem cultural – ou seja, o caráter alternativo. Já a legislação baiana
e cearense sintetiza o bem-patrimônio na definição “cultura tradicional popular”.113
.
Ainda, as legislações dos estados de Alagoas, Bahia, Ceara, Pernambuco e Rio
Grande do Norte assemelham-se nos critérios para inscrição dos sujeitos.
Ressaltamos os seguintes aspectos: estar vivo, participação do concorrente na
produção cultural do estado há, no mínimo, 20 anos; capacidade de transmitir
conhecimentos e técnicas (dispensado em caso de doença grave); relevância de
vida e obra para a cultura; reconhecimento público; permanência na atividade e
capacidade de transmissão dos conhecimentos; larga vivência e experiência dos
costumes e tradições; situação de carência econômica e social.
As principais diferenças diante dos sujeitos bens patrimônios encontram-se nas
legislações de Pernambuco e Rio Grande do Norte, uma vez que abrem a
possibilidade da inscrição de Grupos Culturais e não somente de sujeitos. Esses
deverão estar em atividade, constituídos sob qualquer forma associativa, sem fins
lucrativos, dotados ou não de personalidade jurídica e com participação em
atividades culturais há mais de 20 anos.
Os mestres e mestras, além do reconhecimento público de suas vidas como
patrimônio, pois atreladas à produção e reprodução de bens culturais, sobretudo
aqueles da cultura popular, recebem um Diploma e um Título de Mestres ou Mestras
da Cultura, com o pagamento de um pecúnio, pelo estado que o titula. Isso estaria
atreladoà transferência de conhecimentos e técnicas aos aprendizes, através de
programas de ensino e aprendizagem, insertos em programas de salvaguardas, o
que não vem ocorrendo em nenhum dos estados.
Entretanto, desenvolvem-se críticas e questionamentos quanto à construção e
aplicação da política governamental dos estados para a proteção do patrimônio vivo:
entre elas, o critério de antiguidade dos mestres e mestras, seu reconhecimento –
113
Para cada estado, a nomenclatura é: Alagoas, “Patrimônio Vivo do Estado de Alagoas”; Bahia, “Mestre dos Saberes e Fazeres da Cultura Tradicional Popular – Tesouro Vivo”; Ceará, “Mestre da Cultura Tradicional Popular – Tesouro Vivo”; Pernambuco, “Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco” ; Rio Grande do Norte, “Patrimônio Vivo do Estado do Rio Grande do Norte” ; Paraíba, “Mestres das Artes”
145
cultural e financeiro- ao final da vida, e sua impossibilidade ou dificuldade de
transmissão dos saberes; a exposição da condição de vulnerabilidade social dos
mestres e mestras; a precariedade jurídica ou insegurança que reside em torno do
pagamento financeiro, em muitos casos questionados pelas próprias procuradorias
estaduais, tendo como principais argumentos, a inexistência de despesas
pecuniárias sem o devido vínculo laboral ou previdenciário dos mestres e mestras.
Nesse sentido, pertinente é a fala de Acselrad (2008, p.6):
No caso da “idade ou antiguidade do grupo”, o caráter reparatório, a restituição ao final da vida, em idade avançada, de tudo que não foi valorizado ao longo deste processo, sugere uma preocupação talvez assistencialista de garantir uma “aposentadoria” para os mestres da cultura popular, fazendo com que os mais velhos sempre sejam mais bem pontuados do que os mais novos, ou ainda, do que aqueles que se encontram em melhores condições de repasse do seu conhecimento. A “carência social”, uma percepção de que a cultura popular e tradicional reside nas classes populares da sociedade, estimula uma competição entre os candidatos pela maior situação de indigência, implicando às vezes numa caricatura da própria miséria em que se encontram realmente muitos dos candidatos e, talvez, o que é mais grave, uma “secundarização” do papel representativo que aquele potencial patrimônio vivo possui, em detrimento da condição miserável de outro, menos significativo.
Percebemos um encaminhamento para o fortalecimento regional desta prática,
sobretudo nos estados do Nordeste brasileiro. Destacamos, ainda, uma ausência
dessa discussão no IPHAN, em torno da Salvaguarda dos Mestres dos Ofícios
registrados, sobretudo, os Mestres Capoeiristas, como indica o texto do Portal da
Capoeira.
Pastinha morreu na miséria. Bimba em situação precária. Bobó, Gato, Cobrinha Verde, Waldemar, Caiçara e mais recentemente Bigodinho, todos passaram seus últimos dias de vida sem um amparo digno que a condição de “guardiões da capoeira” deveria lhes proporcionar. E, assim como eles, quantos e quantos mestres das tradições populares vivem e morrem no mais completo abandono, sem qualquer auxílio por parte das autoridades nesse país. Aposentadoria para os Velhos Mestres.
114
Atualmente, o Projeto de Lei 1176/2011 tramita na Câmara dos Deputados e objetiva
criar o Programa de Proteção e Promoção dos Mestres e Mestras dos Saberes e
Fazeres das Culturas Populares, visando a sua proteção previdenciária.
114
APOSENTADORIA PARA OS VELHOS MESTRES DE CAPOEIRA. Disponível em: <http://portalcapoeira.com/capoeiragem/205-cronicas-da-capoeiragem/4540-aposentadoria-para-os-qvelhos-mestresq>. Acesso em: 13 out. 2014.
146
No que tange a preservação dos bens culturais imateriais, percebemos que o Brasil
é precussor na formulação de uma política pública de proteção e promoção em
relação à UNESCO. O Seminário do Patrimônio Imaterial realizado em Fortaleza, no
ano de 1997, traduzido no documento “Carta de Fortaleza” reconheceria os valores
e referências dos bens imateriais à política governamental de proteção aos bens
culturais a ser desenvolvido pelo IPHAN, traduzida operacionalmente 3 anos mais
tarde, em 2000, através do decreto federal nº 3.551/2000, que instituiria no Brasil,
instrumentos para a preservação dos bens culturais imateriais: uma metodologia de
seleção, o INRC; um instrumento de proteção, o Registro; uma política
preservacionista definida pelo Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI); e
como consequência do decreto, uma unidade gestora institucional, o Departamento
de Patrimônio Imaterial (DPI).
Assim, o Brasil, através de uma política pública governamental muito bem articulada,
antecipa-se à própria UNESCO, tanto do ponto de vista do reconhecimento dos
valores e das referências de determinados bens culturais, e da consequente adesão
ao conceito de patrimônio imaterial; quanto da organização institucional reguladora e
gestora para a preservação desse patrimônio.
Somente em 2003,na XXXII Sessão da Conferência Geral das Nações Unidas a
Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial é aprovada, e os bens
culturais imateriais passariam a possuir um valor universal, institucionalizado pela
UNESCO e o Brasil, como pais signatário, reforçaria a sua política pública para a
preservação do patrimônio imaterial brasileiro. Assim, quando analisamos as
questões levantadas pela Convenção da UNESCO, percebemos que estas já
estavam presentes na política preservacionista brasileira, sobretudo quanto às
questões-fim da própria convenção:
[...] (a) para salvaguardar o patrimônio cultural imaterial;(b) para assegurar o respeito pelo patrimônio cultural imaterial das comunidades, grupos e indivíduos em causa;(c) sensibilização a nível local, nacional e internacional da importância do patrimônio cultural imaterial, e de assegurar seu reconhecimento mútuo; (d) para fins de cooperação e assistência internacional.
115
115
Disponível em: <http://www.unesco.org/culture/ich/index.php?lg=en&pg=00006>. Acesso em: 15 dez. 2012.
147
Nessa Convenção, foram estabelecidas indicações quanto à definição do bem
cultural imaterial, e segundo a professora Márcia Sant‟Anna, “o conceito da
convenção também evitaria os termos tradicional e popular, sendo esta uma das
principais críticas à Recomendação de 1989”116.
O patrimônio cultural imaterial significa as práticas, representações, expressões, conhecimentos, aptidões - bem como os instrumentos, objetos, artefatos e espaços culturais que lhe estão associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte de sua identidade cultural herança. Este patrimônio cultural imaterial, transmitido de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, sua interação com a natureza e sua história, e proporciona-lhes um sentimento de identidade e continuidade, promovendo o respeito à diversidade cultural e criatividade humana.
117
O Brasil ratificaria, em 2006, a XXXIIConvenção da UNESCO através do Decreto
Federal nº 5.753/06, conforme indica o contundente artigo primeiro do Decreto:
Art. 1o A Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial,
adotada em Paris, em 17 de outubro de 2003, e assinada em 3 de novembro de 2003, apensa por cópia ao presente Decreto, será executada e cumprida tão inteiramente como nela se contém.
118
Importante demonstrar que a ratificação da 32ª convenção da UNESCOpelo Brasil,
não coloca a o Decreto Federal nº 3.551/2000 em condição subordinada ao
conteúdo da convenção, mas, apenas, indica que o Brasil confirma e sustenta o
discurso universal em torno dos bens culturais construído pela UNESCO.
Em 2008, na 3ª Sessão do Comitê Intergovernamental para a salvaguarda do
Patrimônio Imaterial da UNESCO, na Turquia, o Samba de Roda do Recôncavo
Baiano, tornar-se-ia o primeiro bem das culturas populares brasileiras a ter seu
nome inscrito na “Listas Representativas do Patrimônio Cultural Imaterial da
Humanidade”, o que impulsionaria o IPHAN a adotar uma política institucional sobre
a necessidade de fomentar e operacionalizar a inscrição dos bens culturais
116
Comentários da Professora Márcia Santa´Anna ao memorial de tese para o exame de qualificação, realizado em 2 de outubro de 2015. 117
Disponível em: <http://www.unesco.org/culture/ich/index.php?lg=en&pg=00006>. Acesso em: 15 dez. 2012. 118
BRASIL. Decreto nº 5.753, de 12 de abril de 2006. Promulga a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, adotada em Paris, em 17 de outubro de 2003, e assinada em 3 de novembro de 2003.
148
brasileiros nas listas da UNESCO: a Lista Representativa e a Lista dos bens em
perigo.
Nesse sentido, a Resolução do IPHAN nº 001, de 5 de junho de 2009, disporia sobre
a candidatura à seleção e os procedimentos na “preparação de dossiês de
candidaturas de bens culturais imateriais para inscrição na Lista dos Bens em
Necessidade de Salvaguarda Urgente e na Lista Representativa do Patrimônio
Cultural” (IPHAN, 2009), afinando sua “inter-relação” com as políticas
preservacionistas da UNESCO e suas deliberações. Assim, ao verificarmos as
considerações elencadas nessa Resolução, bem como o seu objetivo principal,
percebemos uma clara adesão do IPHAN às políticas representativas das listas da
UNESCO, fortalecidos como instrumento normativo institucional. Nesse sentido,
torna-se importante a leitura literal das considerações e objetivo da Resolução nº
001/2009:
CONSIDERANDO as disposições da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, aprovada pela Conferência Geral da Unesco em sua 32a Sessão, em 29 de setembro de 2003, e ratificada pelo Governo brasileiro em 1o de março de 2006,
CONSIDERANDO as disposições estabelecidas nas Diretrizes Operacionais para a Implementação da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial adotadas pela Assembléia Geral dos Estados Partes em sua 2a Reunião Ordinária, realizada em junho de 2008,
CONSIDERANDO as disposições contidas no Decreto no 3.551, de 04 de agosto de 2000, que cria o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial,
CONSIDERANDO a necessidade de elaboração de listas indicativas para o encaminhamento de candidaturas de bens culturais de natureza imaterial às listas da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial;
Dos objetivos
Art. 1º Estabelecer e tornar públicos os critérios de elegibilidade e seleção, bem como os procedimentos a serem observados na proposição e preparação de dossiês de candidaturas de bens culturais imateriais para inscrição na Lista dos Bens em Necessidade de Salvaguarda Urgente e na Lista Representativa do Patrimônio Cultural da Humanidade, criadas pela Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial.
Art. 2º Estabelecer e tornar públicos os critérios de elegibilidade e seleção, bem como os procedimentos a serem observados na seleção de programas, projetos e atividades como práticas que melhor refletem e incorporam os princípios e objetivos da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial.
149
Atualmente, dos 15 bens culturais brasileiros reconhecidos como patrimônio da
humanidade, como demonstra a tabela abaixo, 03 bens das culturas populares
passam a fazer parte das listas de bens da humanidade da UNESCO todos na
condição de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade: em 2008, com a inscrição
do Samba de Roda no Recôncavo Baiano119; em 2012, com a inscrição do Frevo:
arte do espetáculo do carnaval de Recife; e, em 2013, a inscrição do Círio de
Nazaré: procissão da imagem de Nossa Senhora de Nazaré.
Bem Cultural Localização Classificação do
Bem Cultural Data/Inscrição
Cidade Histórica de Ouro Preto
Ouro Preto - MG Cidade Histórica 1980
Centro Histórico de Olinda
Olinda - PE Centro Histórico 1982
Missões Jesuíticas Guarani: San Ignacio Miní, Santa Ana, Nossa Senhora de Loreto, Santa Maria, a Maior e Ruínas de São Miguel das Missões
Rio Grande do Sul - RS
Ruínas Inscrito em 1983,
ampliação em 1984.
Centro Histórico de Salvador
Salvador - BA Centro Histórico 1985
Santuário de Bom Jesus de Matosinhos
Congonhas do Campo - MG
Santuário 1985
Parque Nacional do Iguaçu
Paraná Parque Natural 1986
Plano Piloto de Brasília Brasilia - DF Plano Piloto 1987
Centro Histórico de São Luís
São Luis - MA Centro Histórico 1997
Centro Histórico de Diamantina
Diamantina - MG Centro Histórico 1999
Centro Histórico de Goiás
Goias Velha - GO Centro Histórico 2001
O Samba de Roda no Recôncavo Baiano
Recôncavo - BA Patrimônio Cultural
Imaterial da Humanidade
2008
Praça de São Francisco São Cristovão -
SE Praça 2010
Paisagem cultural do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro - RJ
Cidade 2012
Frevo: arte do Recife - PE Patrimônio Cultural 2012
119
Proclamado anteriormente pela UNESCO, em 2005, como Obra-Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade.
150
espetáculo do carnaval de Recife
Imaterial da Humanidade
Círio de Nazaré: procissão da imagem de Nossa Senhora de Nazaré.
Belém - PA Patrimônio Cultural
Imaterial da Humanidade
2013
Quadro 6 – Bens culturais nas cidades brasileiras reconhecidas como Patrimônios da Humanidade pela UNESCO entre 1980 e 2013
120.
Ainda segundo publicação do IPHAN, a “Lista das candidaturas às listas da
Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO” 121,
até o ano de 2010 relacionaria, os projetos e programas “Série Cultura Popular Viola
Corrêa”, que envolvem os estados de Goiás e Minas Gerais; o “Museu Vivo do
Fandango”, representando os estados de São Paulo e Paraná; bem como, em
âmbito nacional o programa do CNFCP/IPHAN “Sala do Artista Popular (SAP)” que
aguardariam resultado quanto às suas inscrições na lista dos “Registros de Boas
Práticas de Salvaguardas”, da UNESCO.
Elizabeth Travassos (2006), em seu texto “Poder e valor das listas nas políticas de
patrimônio e na música popular”, questiona a política de patrimônio estabelecida
pela UNESCO, tendo por base a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Oral
e Imaterial de 2003 e a necessidade de proteção das culturas vivas e vulneráveis.
Concordam então os especialistas e os técnicos do patrimônio que as ações de proteção devem incidir sobre os grupos, comunidades e indivíduos para quem o “patrimônio” constitui referência identitária. Mas seu principal mecanismo é, no nível da UNESCO, discursivo: trata-se de proclamar. A proclamação é um ato que distingue, marca com um selo. Ao reconhecer o valor do objeto eleito – objeto oriundo de uma comunidade minoritária e subalterna, como os índios Wayãpi, ou os praticantes do samba-de-roda –, a política de patrimônio cria, de fato, um novo valor, pois o objeto é ipso facto projetado em circuitos que envolvem mercado, turismo, design, galerias de arte etc. (TRAVASSOS, 2006, p. 2)
Esta discussão torna-se bastante oportuna ao tentarmos compreender a dimensão
política, ou seja, os pactos e critérios vinculados à patrimonialização, reconhecidos,
120
Fonte: UNESCO.http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-cultural-heritage-list-brazil/#c1414250 121
BRASIL. IPHAN, Os Sambas, as rodas, os bumbas, os meus e os bois. A trajetória da salvaguarda do patrimônio imaterial no Brasil. 2006 a 2010. Brasília: IPHAN, Brasília/ DF 2010, 82e 83p.
151
sobretudo, nos acordos para a produção da política do patrimônio, reconhecidos
através dos arranjos tensores em torno do “dispositivo de patrimônio”.
A certificação de bens culturais pela UNESCO, certamente, indicia que aquele bem
cultural possui uma relevância à humanidade, ao ponto de ser proclamada como
bem de seu interesse. Para além do reconhecimento e de um possível
desdobramento preservacionista governamental ou social ao bem cultural, tendo em
vista a sua maior visibilidade, conferida pela certificação e inscrição nas listas da
UNESCO, percebemos uma apropriação desses pactos e critérios em acordos que
inserem os bens culturais em projetos atrelados ao turismo cultural, transformando
as certificações em um valor agregado ao consumo desses mesmos bens.
Assim, Travassos (2006, p. 3) alerta-nos sobre composição desses arranjos, no
“fenômeno das listas”:
Pode-se argumentar que há muito mais coisa envolvida na política do patrimônio, além das listas, e é verdade. Muitas outras ações antecedem e sucedem a entrada de um item numa dessas listas: há dotações orçamentárias alocadas nos organismos culturais dos estados signatários da Convenção da UNESCO, destinadas às ações de identificação e elaboração dos dossiês de candidatura, assim como há, também, alocação de recursos financeiros para implementar planos concretos de salvaguarda. Contudo, a parte visível da atuação da UNESCO no terreno dopatrimônio são as listas de “obras-primas”.
Outra importante crítica que se estabelece seria quanto à legitimidade daqueles que
julgariam a inclusão de determinado bem cultural, tendo em vista que “a distância
entre o júri da UNESCO e as práticas culturais que eles elegem a cada proclamação
permanece gigantesca” (TRAVASSOS, 2006, p. 8), importante questionamento que
poderia ser levado às nossas atuais práticas preservacionistas no IPHAN.
Importante perceber, portanto, a condição universal das políticas de preservação do
patrimônio cultural da UNESCO e os acordos que emergem dessas políticas
universais nos planos locais.
A preservação do patrimônio cultural desde as suas origens atendeu à agenda das relações entre Estados e, na atualidade, estabelecendo padrões internacionais de proteção ao patrimônio cultural (de natureza material ou imaterial). (CHUVA, 2012, p. 73).
Outro importante acordo firmado entre o Brasil e a UNESCO quanto aos bens das
culturas populares, ainda que numa perspectiva não patrimonializante, sem deixar
152
de ser preservacionista, seria a proteção e promoção da diversidade das expressões
culturais. Assim, a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, de 2001, seria
o primeiro instrumento de fomento à construção de políticas à diversidade cultural
pela UNESCO, tendo por princípios a soberania nacional e a cooperação no plano
internacional pelos países membros. No entanto, seria a 33ª Conferência Geral da
UNESCO, em 2005, que estabeleceria uma Convenção sobre a Proteção e
Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, como monstram trechos do
documento122:
Ciente de que a diversidade cultural, constitui patrimônio comum da humanidade, a ser valorizado e cultivado em benefício de todos,[...] Reconhecendo que a diversidade das expressões culturais, incluindo as expressões culturais tradicionais, é um fator importante, que possibilita aos indivíduos e aos povos expressarem e compartilharem com outros as suas ideias e valores, [...] Considerando que a cultura assume formas diversas através do tempo e do espaço, e que esta diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade das identidades, assim como nas expressões culturais dos povos e das sociedades que formam a humanidade, [...]” Reconhecendo que a diversidade das expressões culturais, incluindo as expressões culturais tradicionais, é um fator importante, que possibilita aos indivíduos e aos povos expressarem e compartilharem com outros as suas ideias e valores (UNESCO, 2006, p. 2).
O Brasil constitui um país signatário da Convenção sobre a Proteção e Promoção da
Diversidade das Expressões Culturais da UNESCO e,institucionalmente, numa
perspectiva patrimonializante dessas expressões culturais, o Inventário Nacional da
Diversidade Linguística (INDL)123 representaria o principal instrumento de
preservação desenvolvido no campo patrimonial.
Tendo em vista que o ano de 2013 marca o contexto de dez anos da Convenção
para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO e mais de uma
década da construção de uma política para o patrimônio imaterial brasileiro pelo
IPHAN, deparamo-nos com processos de patrimonialização de imaterialidades que
articulam iniciativas de ordem local e de ordem internacional, tendo em vista a
possibilidade de proteção local dos bens das culturas populares pelo registro no
IPHAN, e pela salvaguardas desenvolvidas pela UNESCO, sobretudo pela Lista
Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da humanidade.
122
Texto ratificado pelo Brasil por meio do Decreto Legislativo 485/2006. 123
Instituído pelo Decreto Federal nº. 7.387, de 09 de dezembro 2010.
153
Assim, a adesão do IPHAN às políticas de preservação da UNESCO, em maior ou
menor grau, não estariam isentas de uma adequação ao caráter universal de
patrimonialização, ficando bastante evidente a relação política existente entre a
gestão pública governamental brasileira das culturas populares e a Organização das
Nações Unidas (ONU) na trajetória da norma de preservação. Ainda que não
constitua um caráter de total submissão do IPHAN às políticas da UNESCO,
percebemos o seu alinhamento e construção de uma política de preservação na
mesma direção daquela empreendida em escala internacional.
154
4 A DIMENSÃO SOCIAL NA TRAJETÓRIA DA NORMA DE PRESERVAÇÃO.
A dimensão social na trajetória da norma de preservação, verificada pela atuação
dinâmica e cotidiana dos sujeitos e grupos sociais envolvidos no processo de
produção e reprodução do bem cultural patrimônio, constitui importante abordagem
na compreensão da norma preservacionista.
Compreender os sujeitos e grupos sociais institucionais ou socialmente organizados
e sua atuação na trajetória da norma de preservação das culturas populares nas
cidades brasileiras permitiu-nos perceber o quanto opaca é a compreensão da
dimensão social, na produção do patrimônio cultural brasileiro e na atuação sobre
ele
Assim, a condição opaca da percepção da dimensão social na trajetória da norma,
compreendida tanto por uma análise temporal cronológica, quanto na apresentação
dos sujeitos e grupos sociais não institucionais envolvidos na patrimonialização,
acaba por imprimir uma maior visibilidade na atuação, no Brasil, de intelectuais e
acadêmicos, bem como do corpo técnico e do conselho consultivo do IPHAN
enquanto agentes da patrimonialização.
Outra importante consideração que se apreende da dimensão social na trajetória da
norma de preservação é a compreensão de que o patrimônio cultural também se
constitui como uma construção social, histórica, produto da interação entre os
sujeitos sociais. Portanto, é necessária a observação da atuação dos sujeitos e
grupos sociais na norma de preservação, para além dos operadores das políticas
estatais.
O ponto de partida tácito é que o patrimônio cultural é construção social e, assim sendo, torna-se necessário considerá-lo no contexto das práticas sociais que o geram e lhe conferem sentido (ARANTES, 2006, p. 426).
A indagação do autor, decorrente das reflexões em torno do reconhecimento de
grupos sociais, seus contextos e práticasé relevante para a compreensão das novas
práticas patrimonializantes: “Cabe indagar, portanto, qual o objetivo dessa prática,
quais são os sujeitos que a põem em marcha, em que condições e quadro
institucional isso ocorre”. (ARANTES, 2006, p. 426).
155
Assim, ao buscarmos compreender essa dimensão social através dos Sujeitos e
grupos sociais produtores do patrimônio, não institucionais, percebemos que esses
passariam a atuar como “novas referências” nos procedimentos de seleção e
proteção dos bens culturais patrimônio, a partir da década de 1980, quando a
política operada no IPHAN para a proteção aos monumentos excepcionais
representativos da cultura de sujeitos e grupos sociais, em sua maioria luso-
europeus, é sacudida com a solicitação de tombamento um tempo de culto afro-
brasileiro, o Terreiro da Casa Branca, em 1982. Assim, a solicitação de tombamento
de um templo de culto afro-brasileiro, desprovido das reiteradas condições de
monumentalidade e excepcionalidade ao tombamento pelo IPHAN, vê-se
contemplado se assumida a condição de compreender o bem cultural pela referência
cultural que ele possui enquanto patrimônio cultural brasileiro, em detrimento de uma
condição valorativa institucionalmente arraigada.
A noção de referência cultural pressupõe a produção de informações e a pesquisa de suportes materiais para documentá-las, mas significa algo mais: um trabalho de elaboração desses dados, de compreensão da ressemantização de bens e práticas realizadas por determinados grupos sociais, que visa à construção de um sistema referencial da cultura daquele contexto específico. Nesse processo, a situação de diálogo que necessariamente se estabelece entre pesquisadores e membros da comunidade propicia uma troca com a qual todos sairão enriquecidos: para os agentes externos, valores antes desconhecidos virão ampliar seu conhecimento e compreensão do patrimônio cultural; para os habitantes da região, esse contato pode significar a oportunidade de recuperar e valorizar partes do seu acervo de bens culturais e de incorporá-las ao desenvolvimento da comunidade (FONSECA, 2001, p. 119).
Percebemos, portanto, que, nessa ampliação das “referências
culturais”,determinados sujeitos e/ou grupos sociais, sobretudo aqueles ligados às
culturas étnicas indígenas e afro-brasileiras, começam a reivindicar o seu lugar de
memória na norma de preservação brasileira, indicando a necessidade de uma
ampliação conceitual do patrimônio cultural e de uma política de preservação que
pudesse abarcar esses novos velhos sujeitos e seus grupos sociais, no repertório de
bens culturais-patrimônio.
É uma noção de patrimônio que busca abarcar a produção dos esquecidos reforçando seu valor cultural. Situado num movimento maior de revisão da historiografia e que, no Brasil, coincide com o surgimento dos movimentos sociais no processo de redemocratização, o conceito de patrimônio cultural colocou no centro do debate outros atores que não os burocratas e intelectuais. Neste sentido, o patrimônio passou a ser visto não apenas
156
como remanescente de uma memória histórica informadora de uma identidade nacional que pouco diz à maioria da população, mas como importante testemunho das temporalidades que compõem as múltiplas experiências vividas, individual ou coletivamente; portanto, campo privilegiado na reelaboração das novas identidades coletivas e instrumento fundamental para o reconhecimento dos grupos sociais que as constróem. (NOGUEIRA, A., 2008, p. 243).
Desse modo, a compreensão da inserção dos bens culturais populares, produzidos
pelos sujeitos e grupos sociais “esquecidos”, revela a importância da dimensão
social na compreensão da trajetória da norma de preservação das culturas
populares nas cidades brasileiras.
Não seria sem razão a legitimação de práticas patrimoniais estendida aos “brancos,
índios e negros” pelo estado brasileiro com o advento da Constituição Federal de
1988, reconhecendo-os como elementos constitutivos da nação brasileira
(PENTEADO JUNIOR, 2010).
Nesse sentido, a dimensão social do patrimônio, verificada através das novas
condições de produção de patrimônio cultural brasileiro, permitiria que diferentes
sujeitos e diversos grupos sociais, com base no disposto constitucional, acessassem
os canais de diálogo, através de uma luta política inclusiva nas práticas
preservacionistas, buscando também atuar como “agentes do patrimônio”.
Hoje, os agentes do patrimônio vêm negociando com os grupos historicamente marginalizados ações de salvaguardas e de preservação dessas memórias periféricas. São práticas sociais não valorizadas, não reconhecidas como significativas e que, recentemente, passaram a ser incorporadas como repertórios representativos de determinados segmentos da sociedade e que merecem a chancela do Estado brasileiro (SIMÃO, L., 2003).
Assim, partindo de qual objetivo, sujeitos, condições e quadro institucional,
interessa-nos entender, na dimensão social da trajetória da norma de preservação
da cultura popular nas cidades brasileiras, o objetivo dessas novas práticas
patrimonializantes, bem como reconhecer os sujeitos e grupos sociais que engrenam
as condições procedimentais e os arranjos institucionais para a patrimonialização
dos novos velhos bens culturais. Ainda, perceber também as possíveis condições e
conformações dos arranjos tensores na patrimonialização de bens culturais de novos
sujeitos e/ou grupos sociais, sempre tomando por base os tombamentos e os
registros da cultura popular no Brasil, realizados pelo IPHAN, entre 1988 e 2013.
157
4.1 OS SUJEITOS, OS GRUPOS SOCIAIS E SUAS TRAJETÓRIAS NA NORMA DE
PRESERVAÇÃO
A Constituição Federal de 1988 instaura um importante marco regulador na trajetória
da norma de preservação das culturas brasileiras, sobretudo ao analisarmos a
dimensão social das conquistas no campo dos direitos culturais, como o manifesto
apoio no artigo 215, parágrafo 1º da proteção “às manifestações das culturas
populares, indígenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do
processo civilizatório nacional”, e com a ampliação conceitual do patrimônio cultural
aos bens imateriais, instituindo instrumentos diversos de proteção, conforme dispõe
o artigo 216, ampliando as possibilidades dos arranjos patrimonializantes de grupos
sujeitos e grupos sociais “esquecidos” ou exclusos.
A dimensão conceitual mais ampliada da cultura na Constituição Brasileira de 1988
reconheceria “as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras”
como bens culturais de importância simbólica à construção da identidade nacional e,
consequentemente, passíveis de serem patrimonializados. Desse modo, na nova
política preservacionista, é prevista a inserção dos sujeitos, suas comunidades e
grupos, no processo de construção da cultura brasileira, através dos processos de
produção e de transmissão da diversidade cultural em seus contextos históricos e
ambientais.
A construção social de uma monumentalidade presente na materialidade dos bens
culturais passaria a dialogar com os sujeitos e grupos sociais cuja cultura não era
pautada pelo culto aos monumentos, mas à valoração dos modos de fazer, criar, e
viver, das formas de expressão e das criações dos grupos sociais, sobretudo os
étnicos afro-brasileiros e indígenas. Importa demonstrar ainda que o reconhecimento
das “manifestações das culturas populares”, como bens culturais da nação,
implicaria numa ressignificação operacional da ideia de bens culturais no Brasil,
onde o próprio texto constitucional indicaria novos instrumentos de promoção e
proteção, contando com a “colaboração da comunidade”.
158
A ampliação conceitual do patrimônio cultural e dos instrumentos de proteção,
previstos na Constituição de 1988, segue a década de 1990 de forma reflexiva,
culminando, em 1997, em dois importantes eventos que destacariam a importância
dos sujeitos e grupos sociais na trajetória da norma de preservação.
A Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional nº 24, de 1996, traria como
temática a discussão sobre Cidadania, com prefácio do então Ministro da Cultura
Francisco Weffort,apresentação por Glauco Campelo Presidente do IPHAN e
introdução por Antonio A. Arantes, consultor e pesquisador.No ano seguinte, em
1997, a edição denº 25, teria como tema o Negro Brasileiro Negro, sendo organizada
pelo antropólogo Joel Rufino dos Santos. Percebemos, nesse sentido, tanto a
incorporação às reflexões editoriais do IPHAN da questão da Cidadania e do
patrimônio cultural, como uma edição da Revista do IPHAN dedicada ao Negro
brasileiro, remetem a uma reflexão institucional acerca dos sujeitos que constituem
esses grupos representados pelos afro-brasileiros.
Outro importante evento que marcaria o fim dos anos 1990 seria a realização do
Seminário Patrimônio Imaterial: estratégias e formas de proteção, em 1997, na
cidade de Fortaleza, quando são discutidos os instrumentos legais e administrativos
de preservação dos bens culturais de natureza imateriais brasileiros, o que permitiria
a inclusão de novos velhos sujeitos e grupos sociais, conforme demonstra o objetivo
explicitado na “Carta de Fortaleza”:
O objetivo do Seminário foi recolher subsídios que permitissem a elaboração de diretrizes e a criação de instrumentos legais e administrativos visando a identificar, proteger, promover e fomentar os processos e bens "portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira” (Artigo 216 da Constituição), considerados em toda a sua complexidade, diversidade e dinâmica, particularmente, "as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artística e tecnológicas", com especial atenção àquelas referentes à cultura popular. (BRASIL, 2012a, p. 21).
Os sujeitos e grupos sociais brasileiros que, até então, não compunham o rol de
bens culturais, passam a receber uma maior atenção por parte do IPHAN, ainda que
numa perspectiva mais reflexiva e indicativa, do que a institucionalização de uma
prática de proteção e promoção desses sujeitos e grupos sociais de forma
organizada e sistemática..
159
A solicitação do tombamento do Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá Láji, e do Terreiro do
Axé Opô Afonjá, ambos em Salvador, no ano de 1998, marcaria um processo de
reorientação técnica institucional no IPHAN, no sentido da instrução dos processos
de tombamento destes bens culturais e conseguinte construção de pareceres
técnicos que argumentassem favoráveis ou não ao tombamento desses templos
afro-brasileiros. Nesse sentido, inicia-se uma política preservacionista para o
tombamento de Terreiros do Candomblé, tendo em vista a demanda dos pedidos de
tombamentos que se torna reiterada. Assim, o Terreiro do Gantois - Ilê Iyá Omim
Axé Yiamassé, e o Terreiro Casa das Minas Jeje, solicitam o tombamento em 2000;e
o Terreiro de Candomblé do Bate-Folha Manso Banduquenqué, em 2001.
As demandas de preservação dos Terreiros de Candomblé, oriundas das casas de
santo, do pode público, e do próprio IPHAN, atuariam em confronto com a
consolidada percepção valorativa materialista e monumental do órgão, que
demonstrava claramente, no tombamento do Terreiro da Casa Branca não estar
confortável diante da solicitação de tombamento de um Terreiro de Candomblé,
onde a dimensão viva do bem cultural, materialmente mutante, plasticamente
revelada e espiritualmente administrada, destoava das demandas cotidianas do
IPHAN. Ainda que sobre um aparente desconforto por parte do conselho consultivo
do IPHAN, a aprovação do tombamento se daria por um resultado favorável bastante
apertado e com a abstenção de alguns conselheiros, o que demonstrava as
incertezas e questionamentos acerca do tombamento desses bens culturais pelo
IPHAN.
A incorporação pelo IPHAN dos Terreiros de Candomblé enquanto patrimônios
culturais brasileiros, passíveis de serem tombados, não somente amplia a dimensão
social da norma, pela inserção de novos sujeitos e grupos sociais no rol de bens
culturais patrimônios, mais inserem, no contexto patrimonial brasileiro, os valores da
sociabilidade do povo de santo em torno de um espaço sagrado, reconhecendo a
importância cultural das dinâmicas dos grupos sociais, suas sociabilidades, próprias
a condição de produção e reprodução dos bens patrimônios.
A direta relação dos sujeitos do axé como agentes mobilizadores ao processo de
patrimonialização e, conseqüentemente, com as políticas de promoção do bem
160
patrimônio, indica uma maior atuação dos sujeitos nos procedimentos de
patrimonialização. Ainda que numa condição de intelectuais ou artistas, diversos
sujeitos mobilizaram-se para a preservação dos terreiros de candomblé, indicando a
proximidade dos sujeitos no processo de patrimonialização desses bens culturais.
O tombamento da Casa de Chico Mendes e do seu acervo em 2008, talvez seja o
bem cultural protegido visivelmente mais próximo da história do povo como
patrimônio. Chico Mendes foi um homem do povo, e sua casa e seu acervo
representam o seu valor através do espaço arquitetônico eminentemente popularna
floresta amazônica.
Figura 2 - Chico Mendes em frente a sua casa em Xapuri Fonte: http://www.ct.ceci-br.org/ceci/noticias/693-casa-de-chico-mendes-xapuriac.html
Chico Mendes fora um dos mais importantes ativistas políticos brasileiros do século
XX, reconhecido nacional e internacionalmente pela defesa do meio ambiente e da
relação produtiva sustentável entre os homens e mulheres da floresta frente à
exploração dos sistemas produtivos industriais e capitalistas, do contexto sócio-
ambiental dos seringueiros. Atuou sobretudo em sua cidade, Xapuri, no estado do
Acre.
A convivência de Chico com a floresta e o conhecimento que adquiriu sobre como obter da natureza os meios de vida instigaram sua curiosidade e deram origem a uma teoria que seria, mais tarde, comprovada: a de que os benefícios derivados da manutenção da floresta são maiores do que o valor que se obtém com a sua derrubada.Foi essa matriz ideológica formada pelo sindicalismo, pela defesa dos direitos humanos, pelo respeito à floresta
161
marcou a identidade de Chico Mendes como líder político e que transcendeu sua localidade e conquistou o respeito do internacional. Entre 1987 e 1988 Chico Mendes ganhou o Global 500, prêmio da ONU, na Inglaterra, e a Medalha de Meio Ambiente da Better World Society, nos Estados Unidos e deu entrevistas aos principais jornais do mundo. Jornalistas e pesquisadores o visitaram nos seringais e difundiram suas ideias pelo planeta.Mas ao mesmo tempo em que Chico conquistava o respeito internacional, era mais ameaçado em Xapuri. Os empates terminavam em prisão. As promessas de regularização dos conflitos fundiários não se concretizavam. A ideia de criação de reservas extrativistas se arrastava na burocracia federal. Em 22 de dezembro de 1988, em uma emboscada nos fundos de sua casa, ele foi assinado a mando de Darly Alves, grileiro de terras com história de violência em vários lugares do Brasil.
124
A Casa de Chico Mendes e seu acervo, tombados em 2008, foram inscritos
unicamente no livro histórico, o que nos remete diretamente ao reconhecimentopelo
IPHAN do valor histórico atribuído ao homem seringueiro, às suas formas de viver e
habitar, materialmente representadas pela casa de um dos seringueiros que teria
marcado profundamente a história do nosso país recente. Portanto, a atribuição de
um valor histórico ao bem cultural, reconhece não somente o valor histórico do
homem e sua casa, mas também de um contexto político, econômico e social e de
um pensamento de sociabilidade e produção com respeito às culturas dos povos das
florestas.
As dinâmicas sociais dos bens culturais seriam, no entanto, selecionadas e
promovidas, com o advento do Decreto 3.551 de 4 de agosto de 2000125, que
reconheceria os bens de natureza imaterial como patrimônio cultural brasileiro, e os
protegeria através do Registro, instrumento adequado às condições dinâmicas de
produção e reprodução dos bens culturais.
Através do referido decreto, as ações, modos de fazer, criar e viver, e as formas de
expressão operadas pelos sujeitos e produzidos e reiterados pelos grupos sociais,
tornam-se objeto passível de patrimonialização, já que a produção humana,
intangível, torna-se passível de ser protegida por um instrumento jurídico, o registro.
Percebemos, portanto, que a ideia de patrimônio imaterial dialogaria de forma mais
expressiva e próxima dos sujeitos e grupos sociais que produzem e reproduzem
124
CHICO Mendes. Histórico. Disponível em: <http://memorialchicomendes.org/chico-mendes/> Acesso em: 19 nov. 2015. 125
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3551.htm>. Acesso em: 27 jul. 2015.
162
cotidianamente práticas culturais que não seriam possíveis de serem protegidas pelo
tombamento. Ela ainda acena para uma prática preservacionista que viabiliza a
preservação de bens culturais até então indisponíveis juridicamente à proteção
institucional.
No entanto, a ideia de “Referencia Cultural” seria absorvida pela institucionalização
do Inventário Nacional de Referências Culturais –INRC, em 2000, como principal
metodologia institucional para produção de conhecimento sobre os bens da cultura
popular brasileira. Ele demonstra, de forma explícita, a importância dos sujeitos e
grupos sociais observados através de suas referências na construção de uma
política pública preservacionista mais ampla, plural e democrática. Assim, o INRC
tem funcionado como instrumento de reconhecimento dos agentes e dos grupos
sociais na ação de produção do patrimônio.
O Programa Nacional de Patrimônio Imaterial - PNPI, decerto, se constituiu na
principal prática preservacionista da cultura popular na trajetória da norma de
preservação do patrimônio cultural brasileiro. Analisados de forma geral, até 2013,
todos os 28 bens culturais registrados eram constituídos por bens das culturas
populares, sendo que, destes, 22 bens permeiam as cidades brasileiras,
caracterizando uma considerável proteção de bens culturais imateriais nas cidades,
mais próximos dos sujeitos e grupos sociaisque os produzem e reproduzem. Os
outros 06 bens culturais registrados estariam diretamente ligados aos bens
indígenas, portanto, em condições territoriais bastante distintas das cidades, que
aqui nos interessam.
Ainda, ao observarmos a constituição valorativa e/ou classificatória dos bens
culturais imateriais pelo IPHAN no Brasil, percebemos que os valores das dinâmicas
sociais e culturais seriam representadas pelos Saberes, Celebrações, Formas de
Expressões e Lugares, apontando para um claro alargamento da dimensão social na
trajetória da norma de preservação das culturas populares nas cidades brasileiras.
Assim, as Celebrações, as Formas de Expressões e os Lugares, imprimem uma
condição de produção e reprodução do bem cultural mais coletiva, como o Círio de
Nossa Senhora de Nazaré, Pará, ou o Samba de Roda do Recôncavo Baiano /
Bahia. Já os Saberes imprimem uma maior visibilidade aos sujeitos detentores dos
163
saberes-fazeres, das tecnologias, aproximando-se dos Mestres e das Mestras das
culturas populares e tradicionais, como por exemplo, o Modo de fazer a renda
Irlandesa de Divina Pastora / Sergipe, ou mesmo ao Oficio dos Sineiros em Minas
Gerais.
Importante observar a dimensão social que envolve os mestres e mestras da cultura
popular brasileira no seu cotidiano, sobretudo, na Região Nordeste do Brasil, onde
os processos de produção e reprodutibilidade dos bens culturais ainda que em
menor grau, estão inseridos no dia-a-dia das cidades nordestinas, desde as menores
cidades do interior deste território, até suas capitais, com milhões de habitantes.Por
exemplo em, Salvador, Recife ou Fortaleza, há centenas de grupos sociais que se
constituem como pólos de produção e reprodução de bens culturais, sobretudo, pela
atuação dos mestres e mestras das culturas populares.
Não por acaso, os estados da Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Rio
Grande do Norte, insistem numa tentativa de implementar ou aprimorar a prática de
proteção ao patrimônio vivo, estabelecendo legislações estaduais com essa
intenção.
O reconhecimento – ainda que externo e vertical - de uma dinâmica social e potente,
ou mesmo ameaçada pela precariedade de sua reprodutibilidade, indicaria a cultura
popular, segmento “esquecido” durante décadas na produção do patrimônio cultural
brasileiro, à categoria de patrimônio cultural vivo, com a valorização das culturas
tradicionais, das identidades locais e da diversidade cultural brasileira.
Importa demonstrar, no entanto, que nada impede que ofícios, modos de fazer e
criar, bem como quaisquer tipos de tecnologias produtivas, populares ou não,
tornem-se um bem cultural imaterial. A diferença que se estabelece na adoção de
uma proteção pelo instrumento do Registro, é que o bem cultural patrimônio não
seria o sujeito, mas o seu conhecimento, o seu oficio, portanto, os seus Saberes, as
suas formas de expressões, suas celebrações e lugares.
A adoção institucional de políticas para a patrimonialização dos Saberes pelo
IPHAN, através do Registro dos bens culturais, no entanto, parece não ser um
consenso, e a materialidade, em dados contextos, ainda consegue prevalecer sobre
164
o saber fazer daquele bem material. Os tombamentos das embarcações tradicionais
brasileiras, em detrimento do reconhecimento das técnicas construtivas e de velejo
para cada embarcação, parecem indicar nessa direção.
Os Tombamentos das embarcações tradicionais brasileiras, ocorridos em 2012,
resultam de uma ação institucional para a proteção jurídica destas embarcações,
ainda que pelo instituto do Tombamento. Ao verificarmos o folder de lançamento do
projeto “Barcos do Brasil”126, em 2009, percebemos, em seus objetivos, a tentativa
de construção de uma política pública governamental com objetivos bastante
enfáticos quanto à promoção das condições sociais, ambientais e culturais de
produção e reprodução desses bens culturais:
Objetivos
Identificar, registrar e valorizar o patrimônio naval brasileiro e seus contextos sociais, culturais e ambientais;
Proteger, preservar e salvaguardar o patrimônio naval brasileiro e seus contextos sociais, culturais e ambientais;
Valorizar a atividade e a cultura da pesca artesanal, garantir a qualificação profissional para pescadores artesanais, o apoio à produção e a cadeia produtiva da pesca, o apoio ao associativismo e cooperativismo, e o apoio à pesquisa e fomento tecnológico para o desenvolvimento sustentável da pesca.
Identificar os mestres de carpintaria náutica e as técnicas tradicionais de construção de embarcações, visando a salvaguarda do patrimônio cultural;
Desenvolver ações de capacitação e a qualificação profissional dos trabalhadores envolvidos com a carpintaria náutica tradicional no país e sua inserção no mercado de trabalho.
Valorizar, qualificar e reabilitar contextos culturais ocupados por população detentora de referências culturais específicas relacionadas ao patrimônio cultural naval.
Desenvolver ações de destinação, uso e cultivo sustentável das matérias primas necessárias à construção e reparo de embarcações tradicionais e de seus apetrechos.
Promover a pesquisa sobre o patrimônio naval brasileiro, com destaque para tecnologias de construção de embarcações tradicionais.
Difundir o patrimônio naval brasileiro, priorizando as formas que promovam a sustentabilidade dos pescadores artesanais, trabalhadores envolvidos com a carpintaria náutica e tripulações de embarcações à vela emtodo o país.
126
PROJETO Barcos do Brasil. MINC / IPHAN, 2009, p. 7.Disponível em: <http://www.popa.com.br/_2009/IMAGENS/07/pedro-bocca/folder%20barcos%20do%20brasil.pdf>. Acesso em: 25 out. 2015.
165
No entanto, talvez por constituir uma construção política com formato pré definido,
com a presença de um projeto patrono de promoção dos bens culturais que
antecede a própria patrimonialização, percebemos a ausência de sujeitos ou grupos
sociais como parceiros institucionais na construção da política de preservação,
conforme demonstra o folder de lançamento do projeto “Barcos do Brasil”.
A construção da política de preservação das embarcações tradicionais pelo IPHAN
acabaria por restringir-se aos tombamentos, em 2012, da Canoa Costeira, de nome
Dinamar, no Maranhão; da Canoa de Tolda Luzitânia, na foz do São Francisco, em
Sergipe; da Canoa de Pranchão do Rio Grande, no Rio Grande do Sul; e do Saveiro
de Vela de Içar, de nome, Sombra da Lua, no Recôncavo Baiano, constituindo peças
museográficas em seus contextos sócio-ambientais e culturais.
Ainda que o Saveiro de Vela de Içar Sombra da Lua, através da Associação Viva
Saveiro tenha sido premiado pelo Prêmio Rodrigo Melo Franco em 2010 e, a Canoa
de Tolda Luzitânia, através daSociedade Socioambiental do Baixo São Francisco,
em 2011, recebendo o mesmo prêmio, o caráter de promoção dos bens patrimônios
ficou restrito à sua materialidade, portanto, ao restauro das embarcações, em
detrimento da transmissão do saber fazer dos mestres construtores e velejadores.
Todas essas questões encontram-se fundamentadas em critérios não apenas técnicos, visto que a “representatividade” dos bens, em termos da diversidade social e cultural do país, é essencial para que a função do patrimônio realize-se, no sentido de que os diferentes grupos sociais possam se reconhecer nesse repertório. [...] É necessária, uma mudança de procedimentos, com o propósito de abrir espaços para a participação da sociedade no processo de construção e de apropriação de seu patrimônio cultural (FONSECA, 2003, p. 65).
A leitura da dimensão social nos processos de tombamento e registro no IPHAN,
entre 1988 e 2013, certamente apresenta-nos importantes reflexões em torno da
atuação dos sujeitos e grupos sociais na norma de preservação das culturas
populares brasileiras. Nesse sentido, passemos a analisar os sujeitos e grupos
sociais envolvidos, através dos proponentes para a abertura dos processos de
tombamento e registro, dos agentes envolvidos nesse processo de
patrimonialização, da dimensão territorial ligando os sujeitos e bens culturais, bem
como das condições de sociabilidades presentes nos territórios onde as culturas
populares se produzem e reproduzem.
166
Nesse sentido, procuraremos demonstrar as mudanças no entendimento do IPHAN
com relação à dimensão social evoluída nos processos de patrimonialiação dos bens
das culturas populares brasileiras.
4.1.1 Quem propõe o patrimônio?
As condições para a propositura e abertura dos processos administrativos para a
proteção dos bens culturais no Brasil são regidas por duas grandes legislações
genéricas. Ou seja, elas podem ser aplicadas a todo bem cultural, desde que atenda
aos valores discricionários do IPHAN à preservação do bem cultural.Para os bens
materiais, o tombamento segue as orientações expressas no Decreto-Lei nº 25 de
1937, que disciplina o instrumento no Brasil. No caso dos imateriais, o registro dos
bens culturais é regulado pelo Decreto Federal nº 3.551 de 2000.
O tombamento ou o registro, enquanto atos administrativos, não são vinculados à
decisão de mérito desde a sua propositura. Tal liberalidade técnico- política, decerto,
também poderia permitir um maior acesso dos sujeitos e grupos sociais “esquecidos”
à propositura de proteção dos seus bens culturais.Propositor é toda pessoa de
direitos que, atendendo aos requisitos legais, provoca os órgãos gestores e
protecionistas – nesse caso o IPHAN - à abertura do processo para tombamento ou
registro, mediante justificativa para inclusão do bem cultural no rol de patrimônio
cultural nacional e nas consequentes políticas públicas governamentais de
promoção.
Assim, ao analisarmos os tombamentos dos bens das culturas populares realizados
pelo IPHAN entre 1988 e 2013, verificamos claramente uma expressiva atuação da
sociedade civil na propositura de tombamentos, acompanhada da solicitação pelo
poder público e ainda, ex officio, ou seja, pelo próprio IPHAN, conforme demonstra o
gráfico abaixo.
167
Gráfico 13 – Proponentes para o tombamento dos bens das culturas populares no Brasil entre 1988 e 2013.
Assim, dos 10 processos de tombamento realizados pelo IPHAN no período de 1988
a 2013 analisados em nosso universo empírico, 08 deles foram propostos pela
Sociedade Civil - Ilê Iyá Omim Axé Yiamassé, Terreiro de Candomblé do Bate-Folha
Manso Banduquenqué, Terreiro Casa das Minas Jeje, Casa de Chico Mendes e seu
acervo, Saveiro de Vela de Içar, de nome, Sombra da Lua, no Recôncavo Baiano,
Canoa de Tolda Luzitânia, Canoa de Pranchãoperfazendo - um total de 80% das
solicitações. Dois foram propostos pela Administração Pública: a Prefeitura Municipal
de Salvador, no tombamento do Terreiro do Alaketu e pela Secretaria de Ciência e
Tecnologia do Estado do Maranhão, no tombamento da Canoa Costeira, de nome
Dinamar; representando 20% do total dos bens tombados. Uma propositura fora
realizada pelo próprio IPHAN, no caso do Terreiro do Afonjá pelo DEPROT / IPHAN
– Departamento de Proteção, tendo em vista atender a solicitação do Jornalista
Fernando Coelho, representando 10% do total dos bens tombados.
Importante salientarmos que todos os processos de tombamentos das embarcações
tradicionais seriam solicitados por associações ou entidades civis diretamente
ligadas à questão naval e preservação desses bens, com exceção da solicitação do
tombamento da Canoa de Pranchão do RS, solicitada pelo Museu Náutico da Furg /
Centro de Convívio dos Meninos do Mar (CCMar/Furg).O quadro abaixo indica os
proponentes dos Tombamentos objeto de estudo desta pesquisa.
NOME DO BEM PROPONENTES PARA O TOMBAMENTO ANO127
Terreiro do Axé Opô Afonjá DEPROT / IPHAN – Departamento de Proteção, tendo em vista atender a solicitação do Jornalista Fernando Coelho.
1999
Ilê Iyá Omim Axé Yiamassé Memorial Mãe Menininha do Gantois (Mônica Millet) / 2002
127
Aprovação do Tombamento no Conselho Consultivo do IPHAN.
70%
10%20%
Sociedade Civil IPHAN Administração Pública
168
Associação São Jorge – Ebé Oxossi
Terreiro de Candomblé do Bate-Folha Manso Banduquenqué
Sociedade Cruz Santa do Axé de Opô Afonjá, ratificada pela Sociedade Beneficente Santa Bárbara, ambas de Salvador, Bahia
2003
Terreiro Casa das Minas Jeje
Imandade da Casa das Minas (Denil Prata Jardim). Assinam a solicitação: Presidente da Comissão Maranhese de Folclore e Prof da UFMA; Centro de Cultura Popular da FUNCMA (Fundação de Culutra do Estado do Maranhão); Curador da Fundação Gilberto Freyre.
2002
Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá Láji
Prefeitura Municipal de Salvador – emoficio n 68 ao IPHAN / Brasília. Assina Prefeito Antonio Imbassay.
2004
Casa de Chico Mendes e seu acervo
INSTITUTO CHICO MENDES. Elenira Mendes, filha do Seringueiro Chico Mendes.
2008
Canoa Costeira, de nome Dinamar
Centro Vocacional Estaleiro Escola e da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Maranhão.
2010
Saveiro de Vela de Içar, de nome, Sombra da Lua, no Recôncavo Baiano
Instituto Viva Saveiro, Salvador, Bahia 2010
Canoa de Tolda Luzitânia Canoa de Tolda – Sociedade Sócioambiental do Baixo São Francisco, uma organização não governamental (ONG) e atual proprietária da embarcação, Brejo Grande/SE
2010
Canoa de Pranchão Museu Náutico da FURG / Centro de Convívio dos Meninos do Mar (CCMar/FURG)
2010
Quadro 7– Proponentes para o tombamento pelo IPHAN dos bens das Culturas Populares no Brasil entre 1988 a 2013.
As proposições para o registro dos bens culturais imateriais brasileiros estão
vinculadas a um grupo de pessoas jurídicas públicas ou privadas, conforme
demonstra o artigo 2º do Decreto 3.551 de 2000, que institui o PNPI.
Art. 2o São partes legítimas para provocar a instauração do processo de
registro: I - o Ministro de Estado da Cultura; II -instituições vinculadas ao Ministério da Cultura; III - Secretarias de Estado, de Município e do Distrito Federal; V - sociedades ou associações civis.
Ainda que o Programa Nacional de Patrimônio Imaterial, e o instrumento de Registro
para os bens imateriais acenassem a uma dimensão social mais arejada na norma
de preservação das culturas populares das cidades brasileiras, sobretudo, pela
possibilidade de proteção aos Saberes, Celebrações, Formas de Expressão e
Lugares, dimensões do patrimônio mais próximos aos sujeitos e grupos sociais,
169
percebemos uma limitação social no acesso à propositura de Registro, sobretudo,
quando indica, no artigo 3º, que o pedido deverá ser acompanhado de
“documentação técnica”, afunilando ainda mais esse acesso.
O quadro abaixo indica os proponentes dos Registros dos bens imateriais objeto de
estudo desta pesquisa.
NOME DO BEM PROPONENTES PARA O REGISTRO ANOS128
Ofício das Paneleiras de Goiabeiras
Associação das Paneleiras de Goiabeiras. Rua Leopoldo Gomes Sales, Goiabeiras Velhas. Vitória-ES. Secretaria Municipal de Cultura de Vitória
2001 / 2002
Samba de Roda do Recôncavo Baiano
Associação Cultural Filhos de Nagô. Praça Dois de Julho n°19. São Félix-BA
2004 / 2004
Círio de Nossa Senhora de Nazaré
Arquidiocese de Belém. Avenida Gov. José Malta n°915. Belém – PA
2000 / 2004
Modo de Fazer Viola-de-Cocho
Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular. Rua do Catete 179, Catete. Rio de Janeiro –. Site: www.cnfcp.org.br.
2004 / 2005
Ofício das Baianas de Acarajé
Associação de Baianas de Acarajé e Mingau do Estado da Bahia -ABAM. Memorial das baianas, Belvedere da Sé, Praça da Sé, Centro. Salvador – BA.
2004 / 2005
Jongo no Sudeste Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular. Rua do Catete 179, Catete. Rio de Janeiro – RJSite: www.cnfcp.org.br.
2001 / 2005
Feira de Caruaru Prefeitura Municipal de Caruaru 2006 / 2006
Frevo Prefeitura Municipal do Recife. 2006 / 2007
Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto, de Terreiro e Enredo
Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Rua Jacinto 67, Méier. Site: www.aescrj.com.br. Em 20 de junho de 2006, sambistas do Rio de Janeiro encaminham um abaixo-assinado como documento de anuência ao pedido de registro do bem (18 páginas).
2004 / 2007
Tambor de Crioula do Maranhão
Prefeitura de São Luís do Maranhão. Avenida D. Pedro II. São Luís-MA CEP.: 65010-450.Site: www.saoluis.ma.gov.br
2007 / 2007
Modo artesanal de fazer queijo nas regiões do Serro, da Serra da Canastra e do Salitre.
Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais. Praça da Liberdade 317. Belo Horizonte - MG. Site: www.cultura.mg.gov.br. O pedido de registro, apesar de ter sido realizado pela SEC - Secretaria de Educação e Cultura de Minas Gerais, conta com anuência e apoio de diversas instituições e entidades, a seguir: Carta de Anuência: AASER – Associação dos Amigos de Serro, de 26/02/2007. Cartas de apoio: A1) cidadãos e associações da Cidade de Serro, em 16/11/2001; A2) apoio da Câmara Municipal de Serro, em 04/02/2002; A3) apoio da Prefeitura Municipal de Serro, em 02/03/2007; A4) apoio EMATER – Empresa de Assistência Técnica Rural, em 01/03/2007; A5) Texto de manifestação para o IPHAN: Prefeitura Municipal de Serro, P.M. de Sabinópolis, P.M. de Dom
2001 / 2008
128
Ano de solicitação do Registroe ano deaprovação do Regsitro no Conselho Consultivo do IPHAN
170
Joaquim, P.M. de Alvorada de Minas, P.M. de Rio Vermelho, P.M. de Materlândia, P.M. de Serra Azul de Minas, P.M. de Santo Antônio de Itambé, P.M. de Paulistas, P.M. de Conceição de Mato Dentro, em 05/03/2007; A6) Cooperativa dos Produtores de Derivados de Leite do Alto Parnaíba. Serra do Salitre, em 02/03/2007; A7) Sociedade Civil Slow Foods Tiradentes, em 02/03/2007; A8) IEPHA/MG – Instituto do Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, em 14/03/2007; A10) Prefeitura Municipal de Medeiros. Serra da Canastra, em 12/04/2007; A11) APROCAME – Associação Produtores de Queijo Canastra de Medeiros, em 13/04/2007; A12) apoio EMATER – Empresa de Assistência Técnica Rural, em 13/04/2007.
Ofício dos mestres de capoeira
Gabinete da Presidência do IPHAN/Brasília - DF. Site: www.iphan.gov.br. Anuência ao registro composto por dois abaixo-assinados, totalizando 60 páginas, com assinaturas de capoeiristas oriundos sobretudo do Rio de janeiro, Bahia e Pernambuco
2006 / 2008
Roda de Capoeira Gabinete da Presidência do IPHAN/Brasília - DF. Site: www.iphan.gov.br. Anuência ao registro composto por dois abaixo-assinados, totalizando 60 páginas, com assinaturas de capoeiristas oriundos sobretudo do Rio de janeiro, Bahia e Pernambuco
2006 / 2008
Modo de fazer Renda Irlandesa Divina Pastora / SE
Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlandesa de Divina Pastora ASDEREN - Localização: Divina Pastora/SE. Endereço: Praça da Matriz, nº 125 centro. Fone: (79)3271-1289. Anuência ao registro composto por abaixo-assinado, totalizando 180 assinaturas de rendeiras em Divina Pastora.
2007 / 2009
Ofício de Sineiro Governo do Estado de Minas Gerais (13 de agosto de 2001/Secretaria do Estado de Cultura).Endereço: Belo Horizonte/MG, Palacete Dantas, Praça da Liberdade, 317.Site: www.cultura.mg.gov.br.
2001 / 2009
Toque dos Sinos em Minas Gerais tendo como referência São João del Rey e as cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes.
Governo do Estado de Minas Gerais (13 de agosto de 001/Secretaria do Estado de Cultura).Endereço: Belo Horizonte/MG, Palacete Dantas, Praça da Liberdade, 317.Site: www.cultura.mg.gov.br.
2001 / 2009
Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis
Pedido de Registro 14ª SR IPHAN; Prefeitura Municipal de Pirenópolis; Pedido de Registro Irmandade do Santíssimo Sacramento da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário; Pedido de Registro Instituto Cultural "Cavalhadas de Pirenópolis".
2008 / 2010
Festa de Sant' Ana de Caicó
Diocese de Caicó e Paróquia de Sant´Ana de Caicó. Localização: Caicó/RN. Endereço: Rua de João Maria 27 – Centro.
2008 / 2010
Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão
Comissão Interinstitucional de Trabalho: Superintendente do IPHAN/MA. Secretário Estadual de Cultura do MA; Presidente da Fundação Municipal de Cultura; Comissão Maranhense de Folclore; Grupo de Pesquisa Religião e Cultura Popular UFMA; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque da Baixada; Grupos de Bumba-meu boi do
2008 / 2011
171
Sotaque de Zabumba; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Costa-de-mão; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Orquestra; Grupos de bumba-meu-boi alternativos
Fandango Caiçara Associação de Cultura Popular Mandicuera. Localização: Paranaguá/PR. Endereço: R 49 - Jd 7 de Setembro, 0 - Ilha de Valadares
2008 / 2012
Festa do Divino de Paraty
Instituto Histórico e Artístico de Paraty - Localização: Paraty/RJ. Endereço: Antiga Cadeia - Largo de Santa Rita Centro Histórico. Site: www.ihap.org.br.
2011 / 2013
Festa do Senhor do Bonfim
Devoção do Senhor Bom Jesus do Bomfim. Localização: Salvador/BA Endereço: Largo do Bonfim, 236 - Bonfim. CEP: 40415-475.
2010 / 2013
Quadro 8 - Patrimônios culturais imateriais registrados pelo IPHAN entre 2000 e 2013 nas cidades brasileiras: Proponentes.
O Gráfico a seguir ilustra a distribuição percentual dos proponentes para o registro
dos bens imateriais.
Gráfico 14 - Proponentes para o registro dos bens das culturas populares no Brasil entre 1988 e 2013
Assim, ao analisamos 22 processos de Registros de bens das culturas populares
nas cidades brasileiras pelo IPHAN entre 2002 e 2013, percebemos uma ligeira
27%
14%
9% 9%
14%
18%
9%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
172
maioria da sociedade civil nas proposituras do Registro, o que nos indica a crescente
institucionalização em pessoas jurídicas de alguns grupos sociais de modo a atender
as demandas burocráticas das políticas públicas governamentais, perfazendo um
total de 06 solicitações ou 27% do total. A presença institucional do Estado seja
através do próprio IPHAN, do Centro Cultural de Folclore e Cultura Popular
(CNFCP), ou das administrações públicas diretas estaduais e municipais, marca
profundamente as ações de propositura do registro, onde 04 solicitações foram feitas
pelo próprio IPHAN, perfazendo 18%, o CNFCP com 02 solicitações e 9% do total,
prefeituras com 04 solicitações, e governo de Estados, com 03 solicitações por cada
ente representando, respectivamente,18% e 14% dos registros analisados. Ao
somarmos todas as solicitações que partiram do Estado, percebemos que 12 delas,
ou seja, 59% das solicitações partem da máquina estatal, o que revela um
considerável grau de atuação do estado também nos processos de seleção dos
bens culturais.
Ainda, 03 solicitações de Registros foram realizadas por instituições religiosas
católicas (diocese e arquidiocese), perfazendo um total de 14% dos bens registrados
em estudo e, certamente, o arranjo propositivo mais inclusivo, do ponto de vista
social, quando da solicitação do Registro da Celebração do Complexo Cultural do
Bumba meu Boi, no Maranhão, conduzida por uma Comissão Interinstitucional129
que agregava estado, sociedade civil organizada, e grupos sociais não organizados
juridicamente, compondo apenas uma solicitação de registro, e 5% do universo
pesquisado.
4.1.2 Os agentes envolvidos na produção do patrimônio
129
Bumba-meu-boi do Maranhão.Número Do Processo:01450.007272/2008-61.Comissão Interinstitucional de Trabalho conforme designado no próprio processo: Superintendente do IPHAN/MA. Secretário Estadual de Cultura do MA; Presidente da Fundação Municipal de Cultura; Comissão Maranhense de Folclore; Grupo de Pesquisa Religião e Cultura Popular UFMA; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque da Baixada; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Zabumba; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Costa-de-mão; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Orquestra; Grupos de bumba-meu-boi alternativos.
173
O avanço conceitual em torno de novos sujeitos e grupos sociais patrimônios
brasileiros, advindo da CF de 1988, bem como das políticas de registros dos bens
culturais imateriais pelo IPHAN em 2000, geraria uma difícil tarefa, qual seja, a de
inserir esses novos velhos sujeitos e grupos sociais no processo de produção do
patrimônio cultural popular nas cidades brasileiras.
A ampliação conceitual dos bens culturais, através do entendimento alargado das
manifestações culturais e seus sujeitos ou grupos produtores, e a conseguinte
ampliação dos instrumentos de proteção às manifestações trariam o desafio de
inserir esses mesmos sujeitos e grupos sociais nas ações de preservação, portanto,
nos procedimentos de seleção, proteção e promoção dos bens culturais patrimônios.
Nesse sentido, percebemos, através dos estudos dos processos de tombamento e
registros de bens das culturas populares nas cidades brasileiras, entre 1988 e 2013,
que os sujeitos e grupos sociais atuariam como “agentes do patrimônio”, com maior
visibilidade, nos procedimentos de seleção e nas ações de promoção dos bens
culturais patrimônio, através das ações de apoio. No que poderíamos chamar como
fluxo procedimental à patrimonialização, seja ela via tombamento ou registro, a
atuação dos sujeitos como “agentes do patrimônio” torna-se menos visível nos
processos de tombamento, apresentando uma função de informador, e nunca de
formador das condições de patrimonialização. Os sujeitos e grupo sociais, nos
processos de tombamento, configuram-se muito mais como “bens etnográficos”
passíveis de uma valoração institucional, do que sujeitos ou grupos atuantes nos
procedimentos técnicos. O seu espaço é o da colaboração coadjuvante.
A identificação de itens culturais a serem protegidos e a implementação de procedimentos de proteção resultam de um processode negociação complexo, e frequentemente conflituoso, que envolve mediadores culturais, ou seja, agentes de políticas públicas (tecnicos e burocratas) e agentes profissionais, políticos e empresariais – e não parte da cultura comum – que coloca em cena o Estado como representante simbólico da nação e da identidade dos grupos que a formam. (ARANTES, 2006, p. 426-427).
Quando analisamos os sujeitos ou grupos sociais envolvidos na produção do
patrimônio cultural, decerto, buscamos reconhecer os diferentes “agentes do
patrimônio”, tentando reconhecer os arranjos possíveis a serem observados. A
174
heterogeneidade de agentes e as condições especiais de cada processo é
indicadapela leitura do quadro abaixo.
Inicialmente, vejamos o quadro de agentes envolvidos no processo de
patrimonialização dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras entre
1988 e 2013, levando em consideração os bens tombados e aqueles registrados,
pelo IPHAN, nesse período.
Os quadros abaixo indicam os agentes envolvidos nos processos de Tombamento e
Registros dos bens culturais objetos de estudo nesta pesquisa.
BEM CULTURAL TOMBADO PELO
IPHAN
AGENTES ENVOLVIDOS NO TOMBAMENTO ANO130
Terreiro do Axé Opô Afonjá
DEPROT / IPHAN – Departamento de Proteção, Jornalista Fernando Coelho, 7ª Superintendência Regional do IPHAN em Salvador, estudos de Antonio Risério, Fundação Cultura Palmares e notificação ao então prefeito Municipal de Salvador, Antonio Imbassahy.
1999
Ilê Iyá Omim Axé Yiamassé
A 7ª Superintendência Regional do IPHAN em Salvador solicita a funcionária licenciada Márcia Sant‟Anna que “instrua o processo em tela” contando com sua colaboração.
2002
Terreiro de Candomblé do Bate-Folha Manso Banduquenqué
Instruído pela A 7ª Superintendência Regional do IPHAN em Salvador. Pareceres de especialistas convidados, como os antropólogos Ordep Serra e Raul Lody. Fundação Cultural Palmares definindo-o como Território Cultural Afro-Brasileiro e o Município de Salvador o incluiu em área de preservação ambiental e cultural no PDDU.
2003
Terreiro Casa das Minas Jeje
A 6ª Superintendência Regional do IPHAN em São Luis do Maranhão. Presidente da Comissão Maranhese de Folclore; UFMA; Centro de Cultura Popular da FUNCMA (Fundação de Culutra do Estado do Maranhão); Fundação Gilberto Freyre. Escola de Samba Beija Flor de Ninópolis / RJ – Samba enrredo de 2001.
2002
Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá Láji
A 7ª Superintendência Regional do IPHAN em Salvador, solicita a funcionária licenciada Márcia Sant‟Anna auxilio na instrução do processo contando com sua colaboração. Sociedade Mantenedora Sociedade São Jerônimo do Alaketu (Terceiro volume, denominado de anexo, constitui material recolhido e fornecido pelo Terreiro). Fundação Cultural Palmares. Documentos do Professor, antropólogo e Babalorixá Julio Braga,do antropólogo Renato da Silveira,
2004
Casa de Chico Mendes e seu acervo
Instrução do processo pela 16ª Superintendência Regional do IPHAN Acre/Rondônia. Comitê Chico Mendes, representativo de mais de vinte instituições, entre elas o Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular (CDHEP), o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) e a União das Nações Indígenas do Acre e Sul do Amazonas.
2008
130
Aprovação Conselho Consultivo do IPHAN para inscrição no Livro do Tombo.
175
Canoa de Tolda Luzitânia
Superintendência Regional do IPHAN em Sergipe. DEPAM – Departamento e Patrimônio Material do IPHAN
2010
Canoa Costeira, de nome Dinamar,
6ª Superintendência Regional do IPHAN no Maranhão. DEPAM – Departamento e Patrimônio Material do IPHAN. Centro Vocacional Estaleiro Escola e da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Maranhão.
2010
Saveiro de Vela de Içar, de nome, Sombra da Lua, no Recôncavo Baiano
Instituto Viva Saveiro. 7ª Superintendência Regional do IPHAN em Salvador. DEPAM – Departamento e Patrimônio Material do IPHAN.
2010
Canoa de Pranchão
Museu Náutico da FURG e DEPAM – Departamento e Patrimônio Material do IPHAN
2010
Quadro 9 –Agentes envolvidos no tombamento pelo IPHAN dos bens das Culturas Populares no Brasil entre 1988 a 2013
176
BEM CULTURAL REGISTRADO PELO IPHAN
AGENTES ENVOLVIDOS NO REGISTRO
ANO131
Ofício das Paneleiras de Goiabeiras
IPHAN e Associação das Paneleiras de Goiabeiras, Universidade Federal do Espírito Santo, Secretaria Municipal de Cultura de Vitória, Central ArteSol.
2002
Samba de Roda do Recôncavo Baiano
IPHAN e Associação Cultural Filhos de Nagô. Associação Cultural do Samba de Roda Dalva Damiana de Freitas. Associação de Pesquisa em Cultura Popular e Música Tradicional do Recôncavo. Associação dos Sambadeiros e Sambadeiras do Estado da Bahia (17/04/2005. AMAFRO – Sociedade de Amigos da Cultura Afro-brasileira. Prefeituras que aderiram ao Termo de Compromisso e Adesão, que visa à execução do Plano de salvagurada do Samba de Roda até setembro de 2006 (MinC, IPHAN, MRB). Os munícipios foram: Cabaceiras do Paraguaçú, São Sebastião do Passé, Santo Amaro, São Félix, Castro Alves, Teodoro Sampaio, Saubara. ACBANTU – Associação Cultural de Preservação de Patrimônio Bantu, CEAO – UFBA, PRONAC – Petrobras.
2004
Círio de Nossa Senhora de Nazaré
IPHAN, Arquidiocese de Belém, Sindicato dos Arrumadores do Estado do Pará.
2004
Modo de Fazer Viola-de-Cocho
MT: Município de Jangadas, Diamantino, Nobres, Cuiabá, Livramento, Poconé, Rosário Oeste. MS: Corumbá, Ladário
2005
Ofício das Baianas de Acarajé
CEAO – UFBA; Terreiro Ylê Axé Opô Ofonjá; CNFCP; Setor de Difusão Cultural; Equipe Técnica do Projeto Celebração de Saberes da Cultura Popular
2005
Jongo no Sudeste Grupo Cultural Jongo da Serrinha; Associação da Comunidade Negra de Remanescente de Quilombo da Fazenda São José; Morro do Cruzeiro (Município de Miracema); Morro da Serrinha (Rio de Janeiro); Município de Pinheiral; Bracuí; Mambucada; Morro do Carmo (Município de Angra dos Reis); Município de Barra do Piraí; Município de santo Antônio de Pádua; Fazenda São José da Serra (Município de Valença); todos do Estado do Rio de Janeiro. Municípios de Capivari, Cunha, Guaratinguetá, Lagoinha, Piquete, Piracicaba, São Luís do Paraitinga, Tietê; no Estado de São Paulo. São Mateus, no Espírito santo. Belo Horizonte, em Minas Gerais.
2005
Feira de Caruaru Centro de Estudo de História Municipal/PE (CEHM); TV Asa Branca (Coordenadora Eleny Pinto da Silveira); Equipe de Jornalismo Diário de Pernambuco (Jailson da Paz, jornalista); Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Caruaru (FAFICA);
Fundação de Cultura de Caruaru/PE (Presidente ‐ José Lira Serôdio Filho); Documentação e Patrimônio Cultural (Walmiré Dimerón Porto); Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ, Presidente Fernando Soares Lyra); Fundação Roberto Marinho (Silvia Finguerut, jornalista); FUNTEP (Tadeu Godoy, Diretor Superintendente); Prefeitura Municipal de Caruaru (Prefeito Antônio Geraldo Rodrigues da Silva); Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Capibaribe (Prefeito José Augusto Maia); Prefeitura Municipal de Toritama (Prefeito José Marcelo
Marques de Andrade e Silva); Programa Pós‐graduação em Antropologia/UFPE;Rede Globo Nordeste (Equipe de
2006
131
Ano deaprovação do Registro no Conselho Consultivo do IPHAN.
177
Jornalismo Rede TV) ; Bina Mariano (Editora Regional).
Frevo Superintendência da 5ª Regional do IPHAN – PE; Equipe Técnica o IPHAN para capacitação INRC; Prefeitura do Recife; Escritório do Frevo; Arquivo Público Estadual João Emerenciano.
2007
Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto, de Terreiro e Enredo
Superintendência da 6ª Regional do IPHAN – RJ; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; FNFCP; Centro Cultural Cartola; Liga Independente das Escolas de Samba - LIESA; Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro.
2007
Tambor de Crioula do Maranhão
Superintendência da 3ª Regional do IPHAN – MA; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; FNFCP; Prefeitura Municipal de São Luis
2007
Modo artesanal de fazer queijo nas regiões do Serro, da Serra da Canastra e do Salitre.
Registro-Superintendência da 13ª Regional do IPHAN – MG (Seção de Ouro Preto); Equipe Técnica do DPI/IPHAN; Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais. Apoio técnico para Salvaguarda: EMATER – Empresa de Assistência Técnica Rural; IMA – Instituto Mineiro de Agropecuária; UFV – Universidade Federal de Viçosa; UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais; CETEC – Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais; IEPHA /MG; AASER – Associação dos Amigos de Serro.
2008
Ofício dos mestres de capoeira
Registro-Superintendência da 7ª Regional do IPHAN – BA; Superintendência da 6ª Regional do IPHAN – RJ; Superintendência Regional do IPHAN – PE; Equipe Técnica do DPI/IPHAN.
2008
Roda de Capoeira Registro-Superintendência da 7ª Regional do IPHAN – BA; Superintendência da 6ª Regional do IPHAN – RJ; Superintendência Regional do IPHAN – PE; Equipe Técnica do DPI/IPHAN.
2008
Modo de fazer Renda Irlandesa Divina Pastora / SE
Registro-Superintendência do IPHAN em Sergipe; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; CNFCP – Centro Nacional do Foclore e Cultura Popular.
2009
Ofício de Sineiro Registro-Superintendência do IPHAN em Minas Gerais; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; ANUÊNCIA: Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural de Ouro Preto; Museu da Inconfidência; Prefeitura Municipal de Ouro Preto; Diretor do Museu de Arte Sacra de Ouro Preto; Arquidiocese de Mariana; Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais; PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO: 1ª Etapa Fundação de Ensino Superior de São João del-Rey – FUNREI / 2ª Etapa Santa Rosa Bureau Cultural / 3ª Etapa Núcleo Brasileiro de Percussão – NBP. ELABORAÇÃO DO DOSSIÊ: Ana Lúcia de Abreu Gomes.
2009
Toque dos Sinos em Minas Gerais tendo como referência São João del Rey e as cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes.
Registro-Superintendência do IPHAN em Minas Gerais; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; ANUÊNCIA: Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural de Ouro Preto; Museu da Inconfidência; Prefeitura Municipal de Ouro Preto; Diretor do Museu de Arte Sacra de Ouro Preto; Arquidiocese de Mariana; Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais; PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO: 1ª Etapa Fundação de Ensino Superior de São João del-Rey – FUNREI / 2ª Etapa Santa Rosa Bureau Cultural / 3ª Etapa Núcleo Brasileiro de Percussão – NBP. ELABORAÇÃO DO DOSSIÊ: Ana Lúcia de Abreu Gomes. Inicialmente previsto apenas para São João del Rey, conforme oficio de solicitação de registro bem, os estudos são estendidos
2009
178
às cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes. Ainda, o parecer técnico enviado ao DPI pede um duplo registro, com a inscrição do Toque dos Sinos como registro das formas de Expressão, e do oficio do sineiro como registro de Saberes
Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis
Registro-Superintendência do IPHAN em Goiás; Equipe Técnica do DPI/IPHAN. ANUÊNCIA: Agência de Cultura Pedro Ludovico – AGEPEL, Pirenópolis; Câmara Municipal de Pirenópolis; Imperadores da Festa do Divino Espírito Santo; PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO: RESTARQ / RESTAURAÇÃO ARQUITETURA E ARTE – NBP. ELABORAÇÃO DO DOSSIÊ: Marina A. M. De Macedo Soares
2010
Festa de Sant' Ana de Caicó
Diocese de Caicó, Paróquia de Sant'Ana de Caicó, Museu do Seridó e Casa de Cultura de Caicó; Zezinho Vídeo, Lydia Brito, Fábrica Murielle, Tarcisio Salustiano Silva, Site Kurtição, SEBRAE-CAICÓ, REDESIST/IE/UFRJ, Associação dos Caminhoneiros de Caicó.
2010
Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão
Livro de Adesão datado de abril de 2007,anterior à solicitação de registro, com 1433 assinaturas. Ainda, conta o pedido de abertura dos estudos para Registro as assinaturas: Superintendente do IPHAN/MA. Secretário Estadual de Cultura do MA; Presidente da Fundação Municipal de Cultura; Comissão Maranhense de Folclore; Grupo de Pesquisa Religião e Cultura Popular UFMA; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque da Baixada; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Zabumba; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Costa-de-mão; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Orquestra; Grupos de bumba-meu-boi alternativos
2011
Fandango Caiçara As entidades que pleitearam o pedido de registro foram: Associação de Cultura Popular Mandicuéra (PR), Associação dos Fandangueiros de Cananéia (SP), Associação dos Fandangueiros do Município de Guaraqueçaba (PR), Associação dos Jovens da Juréia. (SP), Associação Rede Cananéia (SP), Associação Cultural Caburé (RJ), Instituto de Pesquisas Cananéia (SP), Instituto Silo Cultural José Kleber (RJ), Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas em Áreas Úmidas Brasileiras da Universidade de São Paulo (SP). Processo de Registro:envolveu o IPHAN ( DPI; FNFCP; Regional do IPHAN em SP e PR) e Associação Cultural Caburé.
2012
Festa do Divino de Paraty
Abaixo assinado com 38 assinaturas da população de Paraty, através de documento organizado pelo Instituto Histórico e Artístico de Paraty eIPHAN Regional do Rio de Janeiro.
2013
Festa do Senhor do Bonfim
Sem informação. 2013
Quadro 10 - Patrimônios culturais imateriais registrados pelo IPHAN entre 2000 e 2013 nas cidades brasileiras: Agentes envolvidos na patrimonialização.
O IPHAN, as Universidades e a Administração Pública direta ou indireta dos entes
federativos (união, estados e municípios) ocupam um espaço de destaque no
processo de patrimonialização dos bens culturais, e ainda funcionam como os
principais mediadores entre os “agentes do patrimônio”, não podendo ser diferente,
179
tendo em vista que o processo de patrimonialização constitui em processo
administrativo do Estado, revestido de uma alta discricionariedade técnica.
Na realidade, a prática de preservação não legitima simplesmente sentidos socialmente atribuídos pela cultura comum e cotidiana a determinados aspectos da cultura, mas põe em prática os critérios, as concepções e os valores que são defendidos por técnicos e especialistas (arquitetos, urbanistas, historiadores, arqueólogos, antropólogos e geógrafos, entre outros). Consequentemente, as decisões das instituições de preservação podem estar em desacordo – e não raramente – com os valores vigentes locais.(ARANTES, 2006, p. 427).
Os “valores locais”,em grande parte envolvem dinâmicas de organização social,
onde relações simbólicas de devoção, crença, ou mesmo hierarquias, constituem a
base da coesão dos grupos. Muitas vezes, não conseguem, portanto, adaptar-se ao
alto grau burocratizado nas relações que se estabelecem entre bens culturais e o
estado preservacionista, através de ONG‟s, por exemplo.
No entanto, é crescente e diversa a participação da sociedade civil organizada na
produção do patrimônio cultural institucionalizado no Brasil, representada por grupos
e associações culturais, associações religiosas, sindicatos, fundações, arquivos
públicos e privados, e museus, em sua maioria. Quanto aos sujeitos da e para a
patrimonialização, cresce o interesse pela história oral dos Mestres e Mestras das
culturas tradicionais como contribuição aos pareceres técnicos, ainda que de forma
hierarquizada. Ou ainda, em sentido oposto, alguns processos são instruídos e
aprovados pelo conselho consultivo com baixa adesão no envolvimento de agentes
não institucionais, ou seja, onde quase não se percebe a atuação dos sujeitos ou
grupos sociais o processo de patrimonialização.
Ainda, percebemos exemplos de uma alta permeabilidade dos sujeitos e grupos
sociais no processo de produção do patrimônio cultural, como é o caso do Registro
do Complexo Cultural do Bumba-meu-boi, onde os proponentes são compostos por
uma Comissão Interinstitucional de Trabalho composta pelo Superintendente do
IPHAN/MA, pelo Secretário Estadual de Cultura do MA;pelo Presidente da Fundação
Municipal de Cultura; pela Comissão Maranhense de Folclore; pelo Grupo de
Pesquisa Religião e Cultura Popular UFMA;pelos Grupos de Bumba-meu boi do
Sotaque da Baixada;pelos Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Zabumba;
pelos Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Costa-de-mão; pelos Grupos de
180
Bumba-meu boi do Sotaque de Orquestra; e pelos Grupos de bumba-meu-boi
alternativos, e ainda, consegue estabelecer uma mobilização social com a coleta de
1.433 assinaturas junto a comunidade do Maranhão no “Livro de Adesão”. Tal
axesão por parte da sociedade indica que os processos de mobilização social para a
patrimonialização dos bens culturais é possível e viável enquanto mecanismo
procedimental, revestindo as políticas públicas governamentais de um caráter mais
social e menos centrado nas instituições.
As percepções dos arranjos tensores em torno da patrimonialização dos bens
culturais desdobrado em reflexões cotidianas, no final desse capítulo, exemplificam
muito bem a condição de multiplicidade de agentes tensionando o “dispositivo de
patrimônio”, o que indicia não uma construção de assertivas definidas quanto à
condição dos agentes e grupos sociais na produção do patrimônio, mas as
condições ao exercício da reflexão a cada situação tensora na trajetória da norma de
preservação das culturas populares.
No entanto as atuações dos agentes não institucionais na produção e reprodução
dos bens da cultura popular, patrimônios culturais brasileiros, continuarão a ser os
principais garantidores da continuidade e permanência dos bens considerados
patrimônios. Assim como um Terreiro sem o povo de Santo perde a sua dimensão
social de patrimônio, a Renda Irlandesa de Divina Pastora, realizada fora do seu
contexto de sociabilidade das calçadas das ruas da cidade, também imprime uma
perda da dimensão social existente nos bens culturais patrimônios
A produção do patrimônio cultural nas cidades brasileiras, analisada através da
patrimonialização dos bens das culturas populares, indica uma atuação de múltiplos
agentes, não apenas os institucionais, na produção desses bens patrimônios pelo
IPHAN. Apesar de possuírem inicialmente um papel coadjuvante na produção do
patrimônio, a própria condição de implementação das políticas de proteção e
promoção, dependem dos sujeitos e grupos sociais não institucionais, quer para
manutenção da produção e reprodução do bem patrimônio cultural; quer pela
intenção das políticas em construir um protagonismo dos sujeitos, mesmo que
dentro das propostas e possibilidades institucionais.
181
A atuação de diversos agentes no processo de patrimonialização, se estendendo
para além da figura dos proponentes, indica-nos a existência de uma multiplicidade
de sujeitos e grupos sociais que atuam nesse processo. Ainda longe de uma
conclusão acerca da questão, vislumbramos uma multiplicidade de agentes
envolvidos no mesmo bem cultural, ou uma multiplicidade de iguais agentes que
envolveriam os diferentes fazeres. Quanto ao primeiro tomemos por exemplo a Feira
de Caruaru, e quanto ao segundo a Capoeira, indicando possíveis desdobramentos
acerca da questão.
Decerto que a atuação de agentes não institucionais arejaria a construção de
políticas públicas governamentais. No entanto, o papel desses agentes ainda
constitui-se como atores apenas quando solicitados ou convocados, pelo Estado
gestor, no auxilio ao entendimento do Estado sobre sua condição ou não de
patrimônio cultural brasileiro. Ou ainda quando insertos em programas ou ações de
promoção pensadas sob medida para os sujeitos e grupos sociais.
A inexistência do termo audiências públicas em quaisquer dos processos analisados,
mesmo que reuniões semelhantes tenham ocorrido, mas sem a mesma carga
semântica; a inexistência de uma cartografia social - mesmo observando o uso dos
mapas mentais em alguns processos de registros -, na identificação e delimitação
das áreas de proteção aos terreiros ou da construção da paisagem cultural a ser
protegida para o uso das embarcações tradicionais, também não são aplicadas,
indica que os sujeitos e grupos sociais podem e devem contribuir apenas
“tecnicamente”, ou seja, no processo de patrimonialização dos bens das culturas
populares nas cidades brasileiras.
4.1.3 Os territórios e a produção do patrimônio cultural popular
182
Os territórios, enquanto espaços materiais de produção e reprodução dos bens das
culturas populares patrimônios, constituem ricos elementos na compreensão da
dimensão social da norma de preservação, uma vez que dialogam diretamente com
os sujeitos ou grupos sociais.
Não apenas pela questão da distribuição espacial, mas também pelas condições
sócio-ambientais que apresentam, ele constituem elementos definidores da
existência ou continuidade de determinados bens patrimônios, tendo em vista a
relação que se estabelece no processo de produção e reprodução destes bens.
Enfatiza-se, portanto, enfatizam a importância de compreender as territorialidades
que envolvem os bens das culturas populares, patrimônios brasileiros.
As relações políticas e simbólicas,segundo (HAESBAERT, 2004, p. 2, estariam
diretamente ligadas à acepção da ideia de território. No entanto, seriam os sujeitos e
as sua relações de poder nesses territórios que estabeleceriam um controle dos
“processos sociais que os compõem” enquanto “continuum”:
Território, assim, em qualquer acepção, tem a ver com poder, mas não apenas ao tradicional “poder político”. Ele diz respeito tanto ao poder no sentido mais concreto, de dominação, quanto ao poder no sentido mais simbólico, de apropriação. [...] A diferença é que, se o espaço social aparece de maneira difusa por toda a sociedade e pode, assim, ser trabalhado de forma genérica, os territórios devem ser distinguidos através dos sujeitos que efetivamente exercem poder, que de fato controlam esse (s) espaço (s) e, consequentemente, os processos sociais que o (s) compõe (m). [...] Enquanto “continuum” dentro de um processo de dominação e/ou apropriação, o território e a territorialização devem ser trabalhados na multiplicidade de suas manifestações – que é também e, sobretudo, multiplicidade de poderes, neles incorporados através dos múltiplos agentes/ sujeitos envolvidos. Assim, devemos primeiramente distinguir os territórios de acordo com os sujeitos que os constroem, sejam eles indivíduos, grupos sociais, o Estado, empresas, instituições como a Igreja etc. As razões do controle social pelo espaço variam conforme a sociedade ou cultura, o grupo e, muitas vezes, com o próprio indivíduo.
Ainda, ao compreendermos a importância da condição social que se estabelece em
um dado território, e dessa importante relação entre o território, os sujeitos e os
grupos sociais produtores e reprodutores dos bens culturais desse território, e a
representação patrimonial construída pelas políticas públicasgovernamentais de
preservação das culturas populares nesses territórios, indicamos a compreensão
dos processos de territorialização, ou seja, das “propriedades necessárias à
construção territorial”, que podem, ou não, coincidir com o projeto dos sujeitos ou
183
grupos previamente territorializados. Assim, segundo Haesbaert (2004,p. 4), a
territorialidade “enquanto „imagem‟ ou símbolo de um território, existe e pode inserir-
se eficazmente como uma estratégia político-cultural, mesmo que o território ao qual
se refira não esteja concretamente manifestado”.
Compreendidos os contornos conceituais da ideia de territórios, buscamos ressaltar
os seus principais desdobramentos a partir da norma de preservação das culturas
populares nas cidades brasileiras, tendo por base o universo empírico dos bens
tombados e registrados pelo IPHAN, entre 1988 e 2013.
Nesse sentido, podemos estabelecer importantes reflexõesentre os territórios e a
produção do patrimônio cultural popular no Brasil, que dizem respeito à análise da
distribuição dos bens patrimônios pelo território nacional, sejam eles tombados ou
registrados, o que nos permitiria compreender a capilaridade das políticas públicas
governamentais de preservação do patrimônio cultural no Brasil; ao reconhecimento
de áreas com maior ou menor incidência de patrimonialização de bens culturais
populares, através de uma análise quantitativa de bens distribuídos pelos estados
federados; bem como os arranjos territoriais que se apresentam na norma de
preservação.
Assim, buscando compreender a distribuição dos bens patrimônios pelo território
nacional bem como as áreas com maior ou menor incidência de patrimonialização,
indicamos, de forma espacializada, a distribuição dos bens das culturas populares
brasileirastombados e registrados pelo IPHAN entre 1988 e 2013.
184
Mapa 1 - Distribuição espacial dos bens das culturas populares Tombados pelo IPHAN nas cidades brasileiras entre 2000 a 2013
O Tombamento dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras, ocorridos
no IPHAN, entre 1988 e 2013, revelam uma concentração territorial no Nordeste
brasileiro, onde, dos 10 bens tombados neste período, 08 deles, ou seja 80%,
encontram-se nesta região do país. A explicação para esse fenômeno reside no fato
de que 05Terreiros de Candomblé foram tombados neste período, e 04 destes
encontram-se no estado da Bahia e 01 no estado do Maranhão, concentrando
metade do conjunto de bens tombados no período. Ademais, dentre os 04bens
tombados que compunham o rol de embarcações tradicionais brasileiras, 03 destes
também se encontram na região nordeste, mais precisamente no Maranhão, em
Sergipe e na Bahia. O estado da Bahia, ainda, concentraria 05 dos 10 bens
185
tombados, ou seja, 50% de todos os bens tombados no período.O Maranhão, com
02 bens tombados, perfazendo 20%, e o estado de Sergipe, com 01 bem tombado,
ou 10% dos bens, comporiam esse arranjo concentrado na Região Nordeste
brasileira.Complementam a distribuição espacial de bens tombados, o tombamento,
no Rio Grande do Sul, Região Sul do país, da Canoa de Pranchão, contribuindo com
mais um bem ou 10% do total de tombamentos, assim com 01 tombamento, da Casa
de Chico Mendes, no Acre, Região Norte do país.
Gráfico 15 - Distribuição espacial dos Bens das culturas populares Tombados pelo IPHAN por regiões brasileiras (2000-2013)
A distribuição geográfica dos bens Registrados pelo IPHAN no mapa abaixo é
interpretada pelo Gráfico 07 que mostra a distribuição dos bens registrados no país
por cada região do território nacional.
Gráfico 7 - Distribuição espacial dos Bens das culturas populares Registrados pelo IPHAN por regiões brasileiras (2000-2013)
80%
0% 0%10% 10%
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
45%
35%
10%5% 5%
Nordeste Sudeste Centro-Oeste Sul Norte
186
Já o mapa abaixo indica a distribuição espacial dos bens registrados pelo IPHAN no
período entre 1988 e 2013.
Mapa 2 - Distribuição espacial dos bens das culturas populares Registrados em pelo IPHAN nas cidades brasileiras entre 2000 a 2013
Entre os anos de 2002, ano do primeiro registro de um bem cultural no Brasil e 2013,
recorte temporal limite desta pesquisa, não houve registros de patrimônio imaterial
urbano nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Alagoas,Paraiba, Ceará,
Piauí, Tocantins, Distrito Federal, Amapa, Rondônia, Roraima, Acre e Amazonas.
187
Importante demonstrar que, dos 28 bens culturais registrados até 2013, 22 destes
utilizam as cidades e suas redondezas como território de produção ou reprodução do
bem cultural patrimônio, indicando que 78,6% dos bens registrados encontram uma
direta relação com as cidades, dialogando com os modos de viver e criar na urbe.
Mapa 3 - Distribuição espacial dos bens das culturas populares com Registro em andamento pelo IPHAN nas cidades brasileiras até 2013
O Mapa 03 mostra esses 15 bens, indicando-nos que a concentração de pedidos de
registro torna-se mais evidente nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil, e se
espalha por mais estados.
188
Ao verificarmos os bens culturais em processo de Registro como patrimônio imaterial
no Brasil, considerando os valores/referências; bem como a localização geográfica
no território nacional, verificou-se uma lista de 15 bens culturais urbanos com
processo de registro em andamento até o ano de 2013.
Assim, buscando compreender as territorialidades construídas em relaçãoaos bens
culturais, percebemos que essas territorialidades podem revelar-se como
homônimas do próprio bem patrimônio, no caso dos Registros de Lugares, como o
Registro da Feira de Caruaru, em Pernambuco, ou ainda, como elementos
constituintes da própria condição de existência do patrimônio, como no caso dos
Terreiros de Candomblé, enquanto territórios de coletividade e sociabilidade do Axé.
Ainda quanto aos territórios e a produção do patrimônio, no Tombamento dos
Terreiros, bem como de quaisquer outros bens culturais materiais imóveis, a aferição
da propriedade para a notificação de tombamento, constitui elemento procedimental
e regulamentado pelo Decreto-Leinº 25 de 1937.
Outra importante consideração em torno da territorialidade construída na norma de
preservação dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras diz respeito à
construção de redes de cidades ou territórios a partir do processo de
patrimonialização de bens culturais desses territórios. Ainda que não previstas em
nossa norma preservacionista, embora bastante usual como política pública –
governamental e social – na Europa, a construção do bem patrimônio, incluindo o
território como um valor ou um bem associado à patrimonialização, tem ganhado
espaço na norma de preservação dos bens culturais no Brasil.
O “controle dessas conexões” em territorialidades, segundoHaesbaert (2004, p. 5),
“nas sociedades „de controle‟ ou „pós-modernas‟[...] leva a que o território passe
gradativamente, de um território mais “zonal” ou de controle de áreas para um
„território-rede‟ ou de controle de redes”,o que nos habilita a um olhar mais crítico à
prática preservacionista e seus desdobramentos na norma de preservação.
Nesse sentido, da formação de territórios-rede patrimoniais, encontramos um
mecanismo indutivo, onde diversas cidades territorializam um patrimônio em torno
do mesmo bem cultural, como seria o caso do Toque dos Sinos nas Cidades
189
Mineiras. Inicialmente solicitada apenas para São João del Rey - conforme oficio de
solicitação de registro do bem - os estudos são estendidos às cidades de Ouro
Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e
Tiradentes, sendo que o parecer técnico enviado ao DPI pede um duplo registro,
com a inscrição do Toque dos Sinos como registro das formas de Expressão, e do
Oficio do Sineiro como registro de Saberes. Ou encontramos ainda, um mecanismo
dedutivo que registra o Samba de Roda do Recôncavo Baiano, diluindo a
territorialidade do bem cultural por uma série de cidades em torno de um conceito
geopolítico, econômico, cultural de um território, o recôncavo baiano.
Assim, desde a importância da matéria prima para a construção do bem patrimônio
que apenas se encontra disponível em um dado território, como ocorre com o Ofício
das Paneleiras de Goiabeiras, à Roda de Capoeira, que apresenta uma
territorialidade transitória, os territórios passam a configurar importante elemento no
entendimento da dimensão social da trajetória da norma de preservação das culturas
populares nas cidades brasileiras.
Os territórios do patrimônio cultural são, em sua maioria, territórios urbanos, onde a
complexidade na produção e reprodução dos bens culturais extrapola a apreensão
através da distribuição espacial. Daí a importância que o “dispositivo de patrimônio”
vem assumindo frente às territorialidades patrimonializantes, tendo em vista,
sobretudo,a “multiplicidade de territórios” e/ou a “multiterritorialidade”, conceitos bem
demarcados por Haesbaert (2004, p.10):
A pluralidade de territórios, característica que pode se confundir com a noção aqui proposta de múltiplos territórios, pode estar compreendida de duas formas nos “territórios plurais” (noção mais próxima de nossa concepção de multiterritorialidade) – uma, vista a partir do “território plural” como conjunto justaposto de diversos territórios compreendidos no seu interior, outra, a partir do “território plural” como conjunto superposto de vários territórios (ou territorialidades) cuja abrangência pode ir bem além dos seus limites.
Saberes, Formas de Expressão, Celebrações e Lugares passam a compor o
patrimônio cultural urbano brasileiro, como resultado da patrimonialização de bens
das culturas populares em centros urbanos. Assim, as cidades que “re” criam novas
identidades, a partir da ação de sujeitos e grupos sociais como “novos
patrimônios”,atendem ao cumprimento de uma agenda patrimonialista
190
contemporânea, atrelada, sobretudo, à ideia de um marketing cultural como
fenômeno de massa; aos processos de gentrificação de tecidos históricos; e à
criação de um mercado para a economia da cultura, nas cidades (FERNANDES,
1995; FERNANDES, 2006).
4.2 OS TURISMOS ÉTNICOS E O CONSUMO DOS BENS CULTURAIS AFRO-
BRASILEIROS: OS TERREIROS, O ACARAJÉ E O OFÍCIO DAS BAIANAS
Os arranjos tensores que se estabelecem na norma de preservação das culturas
populares nas cidades brasileiras, decerto, ao serem observados em sua dimensão
social, ou seja, onde os sujeitos e grupos sociais tornam-se –ou deveriam tornar-se–
mais visíveis, podem ser analisados, levando em consideração tanto os aspectos
estruturais – regulação e gestão – da norma preservacionista, conforme realizado na
primeira parte deste capítulo, mas também, através das condições onde forças
tensoras se atualizam. A dimensão social na normapode ser vista através de
experiências dinâmicas cotidianas emblemáticas, onde sujeitos e grupos sociais –
produtorese reprodutores dos bens patrimônios –tornam-se sujeitos da
espetacularização do patrimônio cultural.
A agenda patrimonialista contemporânea entende os sujeitos e grupos sociais como
valores agregados ao consumo cultural e a espetacularização do patrimônio
encontra no turismo seu principal agente aliado na composição dos arranjos
tensores que se desdobram sobre o bem cultural patrimônio.
A relação entre patrimônio cultural e turismo no Brasil, de forma mais estreita e
institucional, data da década de 1960, quando das discussões sobre a reabilitação
de cidades históricas, após o encontro realizado pela Organização dos Estados
Americanos, em Quito, no ano de 1967. Assim, pensou-se um modelo de
desenvolvimento econômico atrelado ao patrimônio, tendo por base o turismo como
mecanismo de dinamização econômica e social das áreas históricas centrais
degradadas nas cidades, através da intervenção financiada em grandes
monumentos, visando a instalação de equipamentos culturais, e implantação de uma
191
infra-estrutura para o turismo nas áreas de intervenção.No Brasil, esse mecanismo
denominou-se Programa de Cidades Históricas (PCH).
A principal função do PCH seria a possibilidade de gerar recursos para a
conservação dos monumentos e atração de investimentos privados às áreas em
reabilitação, garantindo um processo de sustentabilidade. No Brasil, com o apoio da
UNESCO, o PCH desenvolveu-se entre 1973 e 1983132 e conseguiu articular
instituições federais e estaduais tanto no âmbito da coordenação, quanto da
execução. Além disso, “movimentou, em 10 anos, cerca de US$ 73,8 milhões,
financiando 193 projetos distribuídos em 12 estados brasileiros” (SANT‟ANNA,
1995): Maranhão, Piauí, Alagoas, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco, Sergipe e Bahia (na região nordeste); eMinas Gerais, Rio de Janeiro e
Espírito Santo (na região sudeste). As principais ações do PCH podem ser
elencadas como: recuperação de imóveis; implantação de infra-estrutura hoteleira
mínima; restauração de monumentos para uso institucional, turístico ou cultural e
promoção do patrimônio local. Ainda, foram investidos recursos no aperfeiçoamento
e capacitação de mão-de-obra e pesquisas. Por fim, sem ter os resultados
esperados com a sua implementação, segundo Sant‟anna (1995133), a principal
herança do PCH para as políticas preservacionistas brasileiras foi o fortalecimento
de instituições e políticas do patrimônio no âmbito estadual, até então diretamente
atreladas ao IPHAN, órgão federal. Nesse sentido, a promoção do turismo cultural e
as políticas de patrimônio tornam-se mais próximas a partir desse período. Segundo
Vicente (2009) essa política fica bem clara após a criação da Empresa Brasileira de
Turismo (EMBRATUR), em 1966, vinculada ao então Ministério da Indústria e do
Comércio. Ela teria sua criação
[...] justificada pela contribuição que o turismo daria à economia nacional, trazendo novas fontes de divisas e empregos, e pela necessidade de haver um órgão que pudesse tratar da ampliação do parque hoteleiro e fiscalizar as agências de viagens. [...] A EMBRATUR também foi responsável por
132
Segundo a pesquisadora Márcia Sant‟Anna, pesquisas novas, como a de Sandra Correia, mostram que durou até 1987. 133
“Entretanto, em termos de promoção de uma conservação sustentada do patrimônio, o saldo do programa foi muito baixo. Áreas como o Pelourinho, por exemplo – que foi uma das mais beneficiadas com recursos do programa – rapidamente retornou ao antigo estado de deterioração. A ideia de que os investimentos do Estado atrairiam o interesse privado e um público permanente não se verificou.” (SANT‟ANNA, 2004a, p.255).
192
incentivar a criação de conselhos e empresas de turismo nos estados brasileiros, momento em que surgem empresas de turismo estaduais, como a EMPETUR (1967) e a BAHIATURSA (1968), entre outras, tendo, como um dos seus objetivos, o de coletar e organizar um registro sistemático da entrada de turistas no país e nos estados.
A ideia de um turismo cultural no Brasil, portanto, nasceria com objetivos definidos
pela ideia de um produto cultural brasileiro e, ao longo dos anos que se seguem,
percebemos uma maior apropriação da cultura e do urbano pelo turismo.
Questões como a necessidade de expansão do mercado de turismo, tendo como
resultado o processo de turisficação do espaço (CRUZ, 2002) e a turisficação de
lugares como forma de reaquecimento econômico adequando-os às demandas do
mercado turístico (LUCHIARI, 1998) indicam a necessidade de (re) organização dos
conteúdos dos territórios à conveniência do mercado turístico, incorrendo
numa(re)produção sócio espacial emulada pelo objeto de consumo. (PINHEIRO;
SANTOS, 2012).
A apropriação de áreas centrais para o turismo cultural constituiu-se, ao longo dos
últimos 40 anos, como um dos principais lugares-objeto dos tours nas cidades
brasileiras, devido à sua carga simbólica histórico-social, traduzida nos monumentos
da arquitetura e nos elementos materiais decorativos da paisagem cultural urbana –
obeliscos, fontes, estátuas, entre outros.Nesse sentido, o conceito de turismo
cultural, reiterado pela EMBRATUR134, demonstra-se consoante ao valor
monumental e plural dos bens culturais destinados ao consumo turístico:
Aquele que se pratica para satisfazer o desejo de emoções artísticas e informação cultural, por meio da visita a momentos históricos ou relacionados a obras de arte, relíquias, antiguidades, concertos, musicais, museus, pinacotecas.
No entanto, o conceito institucional de Turismo cultural para a Política Nacional de
Turismo, veiculado pelo Ministério do Turismo através do documento “Turismo
cultural: orientações básicas” (BRASIL, 2008b)demonstra que outras dimensões das
cidades brasileiras acabariam se constituindo em “atividades
134
EMBRATUR. Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil. Disponível em: <http://www.embratur.gov.br/>. Acesso em: 6 jun. 2015
193
turísticas”,relacionando-se “às vivências” agora possíveis de serem empreendidas
na dimensão imaterial do patrimônio cultural.
Turismo Cultural compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura. (BRASIL, 2008b, p. 60)
Ainda que o patrimônio cultural torne-se empreendimento turístico diversificado, a
lógica desenvolvimentista priorizou, nas ações institucionais de preservação nas
cidades brasileiras, ações de conservação e restauração sobre os monumentos de
“pedra e cal”. Nesse sentido, programas como o “Monumenta” possuía toda a sua
política de restauração e requalificação de monumentos e áreas/centros históricos
atrelada ao desenvolvimento econômico e social, e tinha no turismo um dos
principais instrumentos para o desejado desenvolvimento “sustentável”.
Em meados da década de 1990, com a denominada “crise do setor patrimônio” e
com a então bem sucedida experiência de requalificação em tecidos históricos na
cidade de Quito, em 1994, ajustes gestores entre o IPHAN e um agente financiador
para políticas de reabilitação de centros históricos e monumentos resultaria no
programa “Monumenta”, através de um contrato de empréstimo entre a República
Federativa do Brasil e o Banco Interamericano de Desenvolvimento BID, assinado
em 04 de dezembro de 1999.
O IPHAN estava disposto a construir uma política pública para os bens culturais
urbanos alicerçados no desenvolvimento “sustentável” e “integrado”,tanto com
recursos provenientes de aporte privado em investimentos locais, dos demais entes
federativos (estados e municípios) e, sobretudo, através de empréstimos com o BID
– Banco Interamericano de Desenvolvimento. A sustentabilidade das ações com
parcerias que promovessem ou renovassem o fluxo de investimento inicial do estado
(empréstimo) nas áreas do projeto, tornando aprazíveis as condições geradoras de
parceiros dispostos a investir, constituiriam as bases dos projetos. Assim, a possível
sustentabilidade do programa e suas ações foram atreladas à atração de parceiros,
desde a construção até a implementação de ações capazes de promover a
dinamização econômica e renovação dos investimentos privados nas áreas de
Projeto. O custo estimado do Programa Monumenta foi de US$ 125 milhões, sendo
194
metade do montante financiado pelo BID, e a outra metade através de contrapartida
nacional - União 24%, Estados e Municípios 16%, e 10% para o setor privado.
Quanto a esse último, sua contribuição poderia ocorrer sob a forma de doações,
contratação de obras ou serviços, ou por ações de patrocínio através de incentivos
fiscais (BRASIL, 2001). O programa Monumenta possuiu um enfoque predominante
no turismo cultural, em ações nos centros antigos das cidades, conseguindo
articular, de certo modo, ações integradas entre monumentos e cidades.Destaca-se
a articulação empreendida com outros Ministérios na gestão pública brasileira, como
o Ministério do Turismo e o Ministério das Cidades, conseguindo integrar ações de
restauração de mobiliário com requalificação urbana. Tem seu término em 2010,
com o saldo de intervenção em 32 cidades brasileiras.
Atualmente, na esteira do extinto programa Monumenta, um novo projeto
desenvolvimentista vem à tona desde 2009, denominado de PAC Cidades
Históricas, novamente priorizando o patrimônio cultural material e monumental das
cidades brasileiras.
Atrelado ao Programa de Aceleração de Crescimento, o PAC programa criado nas
duas últimas gestões do Parido dos Trabalhadores - PT, estrutura suas ações sob os
ideais desenvolvimentistas: projetos de infra estrutura por todo o território nacional,
atrelado à geração de emprego e renda e consequente aumento de postos de
trabalho e acesso ao consumo pela massa trabalhadora empregada. Denominados
como PAC 1, teoricamente concluso oucom demandas projetadas para o PAC 2, as
cidades históricas brasileiras acabariam por ser contempladas nessa segunda etapa
do projeto.
O PAC Cidades Históricas consiste em ações sobre 44 cidades brasileiras, com
recursos oriundos do Ministério da Cultura/IPHAN, bem como investimentos de
outros Ministérios como o Ministério das Cidades e Ministério do Turismo, que
complementariam as ações estruturantes do PAC, conjuntamente aos investimentos
possíveis de serem feitos pelos estados e municípios contemplados pelo programa.
Inicialmente, são anunciados no documento PAC Cidades Históricas: patrimônio,
desenvolvimento e cidadaniainvestimentos deU$91 milhões em 2009, com uma
perspectiva de U$ 126 milhões previstos para 2010 na Lei de Diretrizes
195
Orçamentárias. Na etapa da publicização e adesão ao PAC Cidades Históricas,em
2009, 173 cidades históricas brasileiras teriam atendido à primeira chamada pública,
discutindo as linhas básicas dos seus Planos de Ação juntamente ao IPHAN.
Atualmente, segundo informações do site do IPHAN, 44 cidades foram
contempladas em seus planos de ações, num montante total de U$ 937, 26 milhões
em investimento público.
Atualmente, a Política Nacional de Turismo no Brasil apresenta o seguinte
entendimento sobre o patrimônio cultural
O patrimônio cultural, mais do que atrativo turístico, é fator de identidade cultural e de memória das comunidades, fonte que as remete a uma cultura partilhada, a experiências vividas, a sua identidade cultural e, como tal, deve ter seu sentido respeitado. A opção pelo desenvolvimento turístico deve conciliar-se aos objetivos de manutenção do patrimônio, do uso cotidiano dos bens culturais e da valorização das identidades culturais locais. O uso turístico deve sempre atuar no sentido do fortalecimento das culturas. Assim, a atividade turística é incentivada como estratégia de preservação do patrimônio, em função da promoção de seu valor econômico. (BRASIL, 2008b, p. 15-16).
Percebemos um crescente olhar da academia para o chamado turismo cultural e,
dentre os vários conceitos possíveis e encontrados, as ideias desenvolvidas por
(QUEIROZ, 2009), parecem contribuir ao nosso debate:
Dentre os aspectos relevantes encontrados nas definições do Turismo Cultural, vale ainda destacar: o entendimento desse turismo como um meio de proporcionar o encontro de culturas e de estabelecer relações com valores adquiridos; uma tendência, cada vez maior, em buscar a experiência, a interação – o turista não quer ser apenas um expectador passivo, procura relacionar-se com o contexto, compreendê-lo, vivenciá-lo –, embora cada experiência seja única para cada pessoa; a vivência passa a ser contextualizada, inserida em uma realidade da qual o turista também participa. Busca- se uma rica interação entre as comunidades com apelo turístico aos seus visitantes.
As experiências sensoriais em torno do bem cultural popular nas cidades brasileiras,
embora discutidas anteriormente, retomam a sua “visibilidade” sob outros contextos,
ou “enunciados”, operando no campo das (com)vivências, interações e experiências.
O expectador da cultura monumental deseja a ampliação das relações com os bens
culturais para além da contemplação monumental, e encontra, na cultura cotidiana,
na cultura do povo, em sua maioria reproduzida em uma dimensão intangível, o
universo sensorial que desperta o interesse pelos espaços e lugares.
196
Nesse contexto, os denominados Turismos Étnicos têm surgido como forma de
promoção de determinados bens culturais, atrelando as ideias de experiências e
convivências, como mecanismo para geração de renda local.
A ideia de turismo étnico, sobretudo, é bem desenvolvida nos desdobramentos
operacionais em torno do conceito de turismo cultural no Ministério do Turismo, e
insere-se em um contexto de turismo cultural bastante amplo, conceitual e
reflexivamente:
Convém ressaltar que os deslocamentos motivados por interesses religiosos, místicos, esotéricos, cívicos e étnicos são aqui entendidos como recortes no âmbito do Turismo Cultural e podem constituir outros segmentos para fins específicos: Turismo Cívico, Turismo Religioso, Turismo Místico e Esotérico e Turismo Étnico. O Turismo Gastronômico, entre outros, pode também instituir-se no âmbito do Turismo Cultural, desde que preservados os princípios da tipicidade e identidade. (BRASIL, 2008b, p. 18).
Assim, para a EMBRATUR, turismo étnico é a atividade turística destinada a
favorecer a criação de correntes turísticas específicas para conhecer, conviver e
integrar-se com as diferentes etnias formadoras da naçãobrasileira. “Assim sendo, o
turismo étnico é uma subdivisão do turismo cultural ligada à motivação de conhecer
características de etnias específicas” (BRASIL, 2008b, p. 6).
Diferentemente das políticas culturais de promoção do bem cultural, onde, apesar de
economia também ser reconhecida como fator importante ao processo sustentável
de produção e reprodução dos bens culturais - sobretudo aqueles insertos numa
dinâmica viva -, as políticas turísticas de promoção dos bens culturais populares nas
cidades brasileiras estruturam-se sob a lógica do mercado turístico, onde entre
diversos elementos, a chamada capacidade empreendedora ainda constitui
elemento primordial ao investimento e manutenção de quaisquer produtos do
mercado capitalista. Nesse sentido, a ideia de empreendedorismo étnico consegue
demonstrar o potencial de mercado que a etnicidade pode oferecer enquanto bem
cultural que gera consumo e lucro.
Pode-se dizer que o empreendedorismo étnico é caracterizado pela utilização das características de uma etnia para gerar novos negócios, produtos ou serviços capazes de atrair recursos para o desenvolvimento local sustentável. Logicamente, o empreendedorismo étnico está relacionado à existência de empreendedores étnicos. O uso eficaz destes recursos étnicos é capaz de fomentar a criação e apoiar a sobrevivência de
197
iniciativas de negócios na comunidade, bem como a construção e a manutenção de mecanismos de cooperação (LEMOS et al, 2008).
O documento “Turismo cultural: orientações básicas”, elaborado pelo Ministério do
Turismo, através da Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, define muito bem
esse potencial empreendedor da etnicidade.
[...] o Turismo Étnico constitui-se das atividades turísticas decorrentes da vivência de experiências autênticas em contatos diretos com os modos de vida e a identidade de grupos étnicos. Envolve as comunidades representativas dos processos imigratórios europeus e asiáticos, as comunidades indígenas, as comunidades quilombolas e outros grupos sociais que preservam seus legados étnicos como valores norteadores em seu modo de vida. (BRASIL, 2008b).
Como desdobramento de uma ação promotora das políticas preservacionistas à
cultura popular nas cidades brasileiras, temos assistido de forma sistemática,
àconstrução institucional de um empreendedorismo voltado ao turismo étnico no
Brasil, muito mais próximo das searas dos campos institucionais do turismo e das
políticas de igualdade racial, e cada vez mais distantes das orientações
preservacionistas previstas no processo de patrimonialização desses bens culturais.
O reconhecimento mundial do nosso patrimônio cultural indígena, bem como do seu
processo de produção e reprodutibilidade, independentes do cotidiano urbano, já
constitui alvo de políticas de incentivo a um turismo étnico. Apesar de a cultura
indígena possuir um considerável potencial de patrimonialização, não possui, numa
perspectiva econômica capitalista, o grau necessário de empreendedorismo étnico
ao processo de tensão e “captura” desses bens culturais. Nesse sentido, os
Turismos étnicos euro-brasileiros, concentrados no sul do país, que valorizam o
resgate as tradições italianas, alemãs, polonesas, em suas pequenas vilas, possuem
um maior grau de empreendedorismo étnico, em detrimento de um potencial
patrimonializante, ou seja, conseguem atender a lógica do consumo cultural, sem, no
entanto, apelar ou precisar que esses bens culturais tornem-se patrimônios
nacionais. O turismo étnico afro-brasileiro consegue atender tanto à demanda de um
alto potencial patrimonializante, bem como um alto grau de empreendedorismo
étnico, ocupando, portanto, um espaço de destaque enquanto bem de consumo
cultural.
198
Como o “turismo de raízes” refere-se a atividades, experiências e desejos de pessoas e grupos, uma outra questão que se levanta nessa arena turística diz respeito aos agentes sociais nela envolvidos (locais, nacionais e internacionais) e as relações de poder que nela se estabelecem, uma vez que a estruturação de um mercado especialmente voltado para esse turismo inclui, hoje, uma rede de agentes diversos, com interesses diferenciados e muitas vezes conflituosos. O “Turismo de Raízes Africanas” ou “Étnico (Afro)”, como tem sido denominado pelos organismos gestores da atividade na Bahia e em nível federal (MTur), é, portanto, um campo de investigação recente e complexo que envolve as especificidades culturais, históricas e políticas de cada local de destino. (QUEIROZ, 2009, p.6).
Nesse sentido, são muito importantes as considerações de Queiroz (2009, p. 6),
quanto à construção da nossa atual política de turismo étnico afro-brasileiro, na qual
“a mercantilização de aspectos étnicos culturais torna-se um diferencial tanto para os mercados como para as estratégias turísticas públicas na perspectiva do desenvolvimento[...].Apontando nessa direção como novas alternativas e possibilidades, esse fenômeno tem se refletido também na oferta de um subsegmento do Turismo Cultural, de natureza peculiar – de herança, de herança cultural, de legado, étnico, de raízes –, atraindo a atenção do turismo em vários lugares do mundo, inclusive na Bahia., como uma alternativa estratégica para gerar riqueza, empregos e distribuição de renda, especialmente para a população afro descendente local.”
Buscando observar os enunciados em torno da construção de uma política de
promoção da cultura nos moldes do empreendedorismo e do mercado do turismo
étnico no Brasil, interessa-nos refletir sobre tal prática como mecanismo de
promoção dos Terreiros de Candomblé enquanto bens culturais, uma vez que os
templos de culto-afro brasileiros configuram-se como principal bem cultural
identitário afro-brasileiro na norma de preservação dos bens das culturais brasileiros.
A Reportagem “Experiências exitosas do turismo étnico são apresentados na
SEPROMI”, datada de 27 de julho de 2015, vinculada no site da Secretaria135,
divulgava, junto à Comissão gestora da Política Estadual de Fomento ao
Empreendedorismo de Negros e Mulheres, o sucesso do Turismo Étnico136, a
135
Disponível em: <http://www.igualdaderacial.ba.gov.br/2015/07/experiencias-exitosas-do-turismo-etnico-sao-apresentadas-na-sepromi/>. Acesso em: 5 ago. 2015. 136
Comissão gestora da Política Estadual de Fomento ao Empreendedorismo de Negros e Mulheres, instituída pela Lei 13.208/14 Não há a presença da Secretaria de Cultura. Coordenado pela (SEPROMI), o comitê é composto ainda por representantes das Secretarias estaduais de Políticas para Mulheres (SPM), de Planejamento (SEPLAN), da Fazenda (SEFAZ) e de Desenvolvimento Econômico (SDE). Também integram o grupo as secretarias do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (SETRE), de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS) e da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Reforma Agrária, Pesca e Aquicultura (SEAGRI)
199
importância que essa política teria para a promoção dos Terreiros de Candomblé, na
Bahia.
O turismo étnico tem atraído diversos visitantes à Bahia para conhecer o candomblé, a culinária ancestral, a capoeira e os quilombos, entre outros segmentos tradicionais. Além de revelar sua importância cultural para o mundo, pode ser uma oportunidade para empreender [...] Já o candomblé é a segunda demanda do Disque Bahia Turismo. A representante da pasta contou a experiência desenvolvida na Casa de Oxumarê, na capital baiana, com a qualificação de jovens para receptivo, que pode ser ampliada para outros terreiros. Também falou das oportunidades nas comunidades quilombolas, como foi feito em Santiago do Iguape, a partir de capacitação, promoção internacional, sinalização e infra-estrutura.Tâmara Azevedo, que falou pela Secretaria de Turismo (SETUR) “Eles vêm para imersão cultural; querem levar tudo que é de referência”, concluiu. Para o coordenador de Promoção da Igualdade Racial da SEPROMI, Sérgio São Bernardo, o desafio é pensar políticas públicas, em conjunto com os demais órgãos governamentais e a sociedade civil, direcionadas ao empreendedorismo de negros e mulheres sem perder “a identidade e a essência de cada segmento
137
Percebemos que a promoção dos terreiros de candomblé, representados
porexemplares considerados patrimônios culturais brasileiros, não é estabelecida
pelo Ministério da Cultura, órgão responsável pela promoção do patrimônio, mas
dentro das ações da SEPROMI - Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade
Racial, através do “Programa de Ação do Turismo Étnico Afro da Bahia”,
desenvolvido desde 2007, respaldado e financiado pelo Ministério do Turismo, tendo
por finalidade inserir os Terreiros de Candomblé nos roteiros turísticos de Salvador.
[...] este programa pretende captar o público afro-americano, gerar emprego e renda, construir home-stays - Unidades de hospedagem com dois leitos cada, que serão instaladas anexas a centros culturais e Terreiros de Candomblé de Salvador e do Recôncavo baiano- e tem como produto principal a criação de roteiros de visitação aos Terreiros de Candomblé. [...] Até o referido programa, os Terreiros podem ser visitados de acordo com o calendário festivo de cada casa, não há cobranças na entrada. Porém algumas operadoras de turismo já divulgam esse culto como atrativo turístico cobrando por essa visitação e normalmente não repassam nenhum valor para essas casas. Ainda não se sabe qual a dinâmica deste processo após a interferência do Estado, com uma divulgação massiva desses atrativos.(QUEIROZ, 2009, p.6).
Ainda segundoQueiroz (2009), a atuação dessa política também serviria para
desconstruir uma ideia equivocada em torno da possibilidade do uso dos Terreiros
de Candomblé à atividade turística. Essa atuação, assim, “pode ser melhor
137
Disponível em: <http://www.igualdaderacial.ba.gov.br/2015/07/experiencias-exitosas-do-turismo-etnico-sao-apresentadas-na-sepromi/>. Acesso em: 5 ago. 2015.
200
compreendida se houver um treinamento dos agentes diretos do trade turístico para
desmitificar alguns pré-conceitos tão enraizados na memória coletiva dos povos” ;
procurando evidenciar os Terreiros situados nas periferias de Salvador, em
detrimento dos Terreiros mais centrais “com melhor acesso aos visitantes”.
Aquele que conhece um candomblé, menos ou mais atrativo ao mercado turístico,
decerto perceberá a importância que esse espaço exerce sobre seus filhos, seus
visitantes, seus expectadores. As músicas, danças, roupas, decoração, cores,
comidas, dialogam sensorial e experimentalmente com o humano, imprimindo, por
vezes, vivências individuais que extrapolam a dimensão da cultura, da
representação humana, estabelecendo não apenas respeito, mas também
curiosidade à condição “exótica” ou “espetacular”, dessas experiências sociais
vividas no axé.
Importa sublinhar, que explorar todo esse universo simbólico afro-brasileiro
representado no e pelo Candomblé, como forma de promoção de todo o potencial da
cultura afro-brasileira, no Brasil, e no mundo, tem se tornado uma ação dos próprios
sujeitos do e no Axé. Atualmente, por exemplo, “blocos de carnaval afro-baianos”
reconhecem, na cultura afro-brasileira, precioso dispositivo de poder, que tende a se
comportar de maneiras bem distintas. Blocos Afro-baianos como o Ilê Aye, o
Bankoma e o Malê de Balê, são exemplos do reconhecimento do potencial político e
social que a cultura afro-brasileira pode promover, diferentemente do caráter
marcadamente mercadológico de outros blocos que utilizam a cultura afro-brasileira
como referência simbólica, como o Cortejo Afro ou mesmo a Timbalada.
Percebemos, por fim, que o Terreiro extrapola o seu espaço físico e se derrama por
toda a cidade do Salvador, há muito.
A Capital da Bahia, Salvador, notoriamente, constitui-se como um dos principais territórios de matriz africana, no mundo, não só pela sua expressiva densidade populacional negra, mas, sobretudo, pelos significativos elementos simbólico-culturais que delineiam a identidade desta cidade. [...] Os desdobramentos desses elementos simbólico-culturais africanos podem ser percebidos através do rico acervo cultural que delineia a Cidade da Baía: sons, cores, cheiros, danças, vocabulários, vestes, credos, festas, todos, traduzidos numa perspectiva geográfica e social por quase todo território urbano. [...] Os Terreiros de Candomblé, construção baiana, para não afirmar soteropolitana, acabaram, quer pela sua singularidade, ou, excepcionalidade – reunião resistente da imaterialidade e materialidade de uma cultura afro-brasileira -, constituindo-se num dos mais
201
ricos elementos simbólico-culturais-africanos-brasileiros da Cidade do Salvador (OLIVEIRA, A., 2010, p. 92-93).
A despeito de um crescente processo de espetacularização dos terreiros de
candomblé na Bahia (Salvador e Recôncavo), sobretudo diante do fortalecimento
institucional pela SEPROMI do turismo étnico nos templos de culto afro-brasileiros
soteropolitanos, em nota recente (11 de agosto de 2015), o Terreiro de Oxumarê,
atualmente situado próximo à Avenida Vasco da Gama, Casa de grande respeito na
cidade, patrimônio tombado pelo IPHAN, em nota pública, se coloca veementemente
contrário ao processo de expropriação e espetacularização em torno dos “Registros
Audiovisuais de Orixás e Cerimônias”.
O Conselho Religioso da Casa de Oxumarê, organismo que cumpre o papel de assessorar o Babalorixá e a comunidade sobre assuntos da tradição religiosa, cultural e social, vem a público lamentar que algumas Casas descendentes do Terreiro de Oxumarê desconsiderem a orientação de não autorizar a produção de imagens e vídeos de Orixás e cerimônias.
A Casa de Oxumarê é contrária à produção destas imagens e sua divulgação na internet e outros meios de comunicação social, visto que as mesmas expõem a mística da incorporação e dos rituais. Esta acontece no plano espiritual e não pode ser percebida pelas lentes de uma câmera, podendo somente ser sentida pelas pessoas presentes nas cerimônias e pela ótica da espiritualidade. A apresentação destas imagens remete a incógnitas muitas vezes mal interpretadas pelos olhos das pessoas que não tem a percepção espiritual, deixando margem para se tornarem alvo de especulações contraditórias e profanas.
Apesar de admitir que existem opiniões divergentes sobre o assunto, é da profunda convicção deste Conselho que esta orientação precisa ser observada por todas as Casas descendentes para que seja mantida a unanimidade e coerência enquanto família de axé. Atender a esta orientação representa respeito à tradição e hierarquia religiosa da Casa de Oxumarê e não deve ser entendida como uma critica pessoal ou particular a uma determinada Casa.
A Casa de Oxumarê conclama a todos, em união e convicção nos ensinamentos ancestrais, a ter comprometimento com a defesa das tradições do candomblé e salvaguarda dos mistérios da nossa fé.
138
Assim, os Terreiros vêm sendo utilizados, para a promoção turística da Bahia e de
Salvador, em especial, incorrendo em um dos mais perigosos desdobramentos da
mercantilização da cultura: a padronização do bem cultural ao consumo turístico,
138
CASA de Oxumarê. Instituição Religiosa. Centro Religioso. Nota Pública Sobre Registros Audiovisuais de Orixás e Cerimônias. Facebook: página pública. Disponível em: <https://www.facebook.com/casadeoxumare?fref=nf>. Acesso em: 11 ago. 2015.
202
diante de um dos bens da cultura popular brasileira mais plural em suas dimensões
simbólica, social e política.
No entanto, como desdobramentos de uma política institucional brasileira de
proteção e preservação dos bens da cultura popular, os Terreiros de Candomblé
constituem-se como os bens culturais que, parece, mais tenham reconhecido o seu
poder tensionador nessas políticas preservacionistas. Daí a importância do seu
reconhecimento como cultura tradicional popular afro-brasileira, concebida, cultuada
e evocada na ideia da tradição, da oralidade, da sociabilidade da família de santo,
do acolhimento da população e das dimensões políticas e sociais que esse bem,
patrimônio da cultura popular brasileira, representa.
Outros interesses, muito bem representados por aqueles do mercado de turismo
cultural no Brasil, expropriam, sobretudo, as dimensões simbólicas desses
patrimônios culturais, tornando-os verdadeiros espetáculos, anunciados como um
atrativo que agrega valor ao turismo na cidade.Quando se olha para a cidade de
Salvador, como destino turístico, esse processo é sentido conforme o
anúncio/reportagem de um blog de viagens:
CANDOMBLÉ #10 de 28 atrativos culturais em Salvador. As melhores ocasiões para conhecer os terreiros de candomblé de Salvador são durante as festas dedicadas aos orixás, que acontecem geralmente entre agosto e dezembro. Tombados pelo patrimônio histórico, os terreiros perpetuaram, além da religiosidade, a música, a culinária e as danças típicas africanas trazidas pelos escravos.
139
Os anúncios de pacotes turísticos indicam o tom da espetacularização do turismo
étnico-cultural e a possibilidade de cesso ao bem cultural e a seu consumo.
Salvador: ao encontro do sincretismo e dos orixás. O que torna Salvador diferente de qualquer outro destino no Brasil é o caldo de cultura afro-baiana. Da comida de rua à música, às bijuterias, à cor que de se deve vestir na sexta feira (branco!), a vida na cidade é fortemente influenciada pelo Candomblé e pelo sincretismo [...]. No seu hotel você deve encontrar panfletos oferecendo idas a terreiros de candomblé. Nunca fui dessa maneira, e intuo que a possibilidade de acabar numa arapuca-pra-turistas
139
CANDOMBLÉ #10 de 28 atrativos culturais em Salvador. Disponível em: <http://www.feriasbrasil.com.br/ba/salvador/candomble.cfm>. Acesso em: 05 ago. 2015.
203
seja grande. O jeito de fazer uma visita ou participar de uma celebração autêntica num terreiro é por meio de algum frequentador.
140
Ou até mesmo o consumo cultural sem acesso ao bem:
Mas você não precisa ir a um terreiro para entrar em contato com esse universo. O sincretismo está na rua, e suas festas e cerimônias são abertas a quem quiser participar. E os rituais para os orixás nos terreiros servem como base para o belíssimo espetáculo que o Balé Folclórico da Bahia encena nas noites de segunda a sábado num teatro do Pelourinho
141
Em um suposto roteiro cultural para Salvador, proposto pelo UOL Viagem, mais uma
experiência em torno do consumo do bem do cultural, sem o acesso a ele é
indicada:
Fora a semana do Carnaval, quando a ênfase claramente está no presente, a cidade de Salvador parece quase obcecada pelo seu passado africano. Em nenhum outro lugar no Brasil a profunda influência de três séculos e meio de escravidão é tão óbvia, da cor da pele das pessoas à cor de seus alimentos (frequentemente laranja, devido ao uso ubíquo do óleo de dendê); da profunda influência das tradições religiosas de origem africana do candomblé aos ritmos musicais do axé e do samba. Perto do Largo da Cira fica o adorável restaurante baiano XXXX XXXXXXXXXX 71-XXXX-XXXX; (www.XXXXXXXXXX.com.br). O interior é decorado como um terreiro de candomblé (onde as cerimônias religiosas são realizadas), com telhado de palha, paredes brancas e toques de cor distribuídos de forma parcimoniosa. XXXXX XXXXXX, a proprietária, encheu o cardápio com pratos tradicionais com influência africana que estavam sendo esquecidos, como o arroz-de-hauçá), uma porção de arroz de coco, charque desfiado e molho de camarão defumado com azeite dendê e cebola
142.
140
Salvador: ao encontro do sincretismo e dos orixás. In: Blog Viaje na Viagem.Disponível em: <http://www.viajenaviagem.com/2014/01/salvador-passeios-sincretismo-orixas>. Acesso em: 5 de jul. 2015 141
Ibidem. 142
36 Horas em Salvador: Vida noturna, candomblé e acarajé na capital da Bahia. UOL Viagem. Disponível em: <http://viagem.uol.com.br/noticias/2009/04/26/36-horas-em-salvador-vida-noturna-candomble-e-acaraje-na-capital-da-bahia.htm>. Acesso em:11 jul. 2015.
204
Figura 3 -“Baiana prepara acarajé na região do Rio Vermelho”. Fonte: http://viagem.uol.com.br
As experiências em torno do consumo dos bens culturais afro-brasileiros não se
restringem apenas aos Terreiros de Candomblé, e alcançam, sobretudo, os
elementos que extrapolaram os terreiros, e ganharam as ruas, representados pelas
Baianas de acarajé e seu ofício de vender comidas em um tabuleiro.
Nesse sentido, a despeito do reconhecimento de toda uma ancestralidade negra na
Cidade da Baía, um antigo ofício, hoje patrimônio imaterial com Registro no Livro
dos Saberes, o Ofício das Baianas de Acarajé, constituiu-se em um importante
arranjo tensor na trajetória da norma de preservação das culturas populares nas
cidades brasileiras.
Longe de uma apresentação etnográfica, o acarajé constitui-se como uma comida
oferecida a Oyá, orixá dos ventos, raios e trovões. A comida de Terreiro ganharia as
ruas de Salvador de forma mais recorrente ainda no século XIX, através da venda
itinerante dessa iguaria pelas Baianas que mercavam, carregando acima do seu
torço, um balaio contendo o bolinho de feijão frito no azeite de dendê.
A prática da venda do acarajé nas ruas da cidade de Salvador constituiu-se ao longo
de gerações em um ofício realizadas por mulheres negras, iniciadas no Candomblé,
constituindo o sustento de incontáveis famílias.
205
A importância deste ofício na composição da identidade cultural nacional alçaria o
ofício das Baianas de Acarajé ao status de patrimônio cultural imaterial brasileiro, o
que acenaria para uma composição tensora em torno do “dispositivo de patrimônio”,
envolvendo os sujeitos produtores do oficio, as baianas de acarajé e um possível
plano de salvaguarda, que passariam a indicar arranjos operativos para um ofício
espontâneo. Ou, mesmo, requerer o resguardo às composições “tradicionais” do
ofício, aproximando-o de sua condição de comida de santo, em detrimento de mais
uma comida de rua, implicando em atrito entre as próprias baianas de aracajé e a
reprodutibilidade deste ofício.
SegundoMartins (2013), o IPHAN escolheria a Associação de Baianas de Acarajé,
Mingaus, Receptivos e Similares do Estado da Bahia (ABAM) como entidade civil
para gerir o plano de salvaguarda, pela prerrogativa que seria dada às associações
com vínculos ou constituídas pelos sujeitos e grupos sociais detentores dos bens
culturais registrados pelo IPHAN.
Formada em 1992, a ABAM surge em um contexto de crescimento deste ofício no estado. Esta década coincide com um crescimento vertiginoso do turismo em Salvador, e com uma valorização deste ofício como atividade de mercado até então de uso exclusivo de mulheres, muitas vezes, em estreita relação com os cultos afro-brasileiros. Neste cenário polêmicas são formadas sobre a venda de acarajé por homens e por evangélicos que comercializavam o „acarajé de Jesus‟, numa clara tentativa de desvinculá-lo de suas raízes afro-brasileiras. (MARTINS, 2013, p. 41).
Assim, diante dos embates que se colocam, a ABAM estabeleceria uma
obrigatoriedade no uso de indumentária e regulamentação para os tabuleiros.
Percebe-se, portanto, que sobre um oficio popular centenário, recairia uma
normatização municipal de vigilância sanitária apoiada pela ABAM. “O tabuleiro e
suas vestimentas foram devidamente normatizados” (MARTINS, 2013)
Em 2005 após o registro, a ABAM começa a se utilizar da categoria de patrimônio [...] Acionam a sua titularidade a todo momento buscando legitimar seus argumentos e posições. O registro para estas baianas significou muito mais um recurso teórico a ser utilizado em processos de negociação de suas demandas do que propriamente a possibilidade de resguardar seus aspectos simbólicos. A categoria de patrimônio permite diversas apropriações[...] São demandas reais e concretas, que envolvem regulamentação trabalhista, acesso a bens e serviços, condições mais dignas de trabalho, enfim questões que muitas vezes extrapolam a jurisdição do IPHAN. (MARTINS, 2013, p.43).
206
Ainda em 2011, ao tempo que a ABAM teria a inscrição de 2 mil baianas, a SESP –
Secretaria de Serviços Públicos da Prefeitura Municipal de Salvador, indicava a
existência de, pelo menos, 4 mil baianas registradas na Prefeitura, o que indicaria
uma condição conflitante entre os próprios sujeitos, as baianas de acarajé e a
organização social que os representaria, a ABAM.
Segundo MACHADO (2014, 242p) a proteção do Oficio das Baianas pelo IPHAN,
pelo Registro, “vincula a ação estatal no sentido de que esse instrumento jurídico
legitima a sua participação efetiva nos processos de discussão que envolve o bem
cultural tutelado”, garantindo sua condição de destaque decisório nas ações ou
projetos de salvaguardas, para o ofício protegido.
Ainda MACHADO (2014) ressalta a necessidade de uma gestão do Ponto de
Cultura entre IPHAN – ABAM – solicitada pela Associação - em 2009, e da
impossibilidade de gestão autônoma do seu memorial em 2010, como ressalta Tozi
(2010. 2012. apud MACHADO (2014, 244p)
“Foi nesse contexto que o DPI apontou a necessidade de a ABAM informar e solicitar, formalmente, apoio técnico à Superintendência do Iphan na Bahia, bem como requerer autorização à Prefeitura de Salvador para a realização das obras, já que o imóvel é bem público, de propriedade da municipalidade. Não houve, contudo, a obediência à necessidade de formalização do pedido de apoio e intervenção ao IPHAN, como indicado pelo DPI, o que somente se deu no mês de abril de 2011, quando a ABAM encaminhou e-mail, noticiando o fechamento do espaço e a interrupção das atividades do Memorial”
Ainda, segundo MACHADO (2014, 244p), é nesse contexto de enfraquecimento
gestor da Associação, que uma empresa de refrigerantes se aproxima da ABAM
estabelecendo uma proposta comercial para “reforma e adequação do memorial” em
troca de propaganda publicitária deste refrigerante em 150 pontos de venda de
acarajé em Salvador.
“Tendo em vista a tipologia de ações de salvaguarda contempladas no “Termo de Referência de Plano de Salvaguarda” e as normativas relativas ao tipo de proposta pela ABAM, Empresa de Refrigerantes e Prefeitura de Salvador, o DPI solicitou o auxílio técnicojurídico da Procuradoria Federal no IPHAN, que acompanhou todo o processo, analisando o material publicitário apresentado pela Empresa e que continha informações até então desconhecidas pelo IPHAN. Era necessário discutir as implicações jurídicas decorrentes dos termos da parceria proposta pela Empresa, já que
207
envolviam a apropriação de discursos patrimonializantes em detrimento de interesses comerciais que, à primeira vista, pareciam escusos. [...]
Nesse sentido, percebe-se que a atuação institucional se daria no sentido de
proteção ao bem público patrimônio, indicando as condições positivas que podem
ser empreendidas pelo IPHAN enquanto seu papel de decisor nas ações ou projetos
de salvaguardas aos bens registrados. Assim, embora extensa, transcrevemos os
desdobramentos das ações do IPHAN, diante do projeto de promoção em pauta,
conforme demontra MACHADO (2014, 250/253p):
“Na proposta visual inicialmente apresentada pela Empresa de Refrigerantes para a campanha publicitária, a venda de acarajé estava associada ao consumo do refrigerante “X”, havendo o comprometimento de exclusividade de 150 pontos de baianas, em diversos pontos de Salvador. De outro lado, a Empresa promoveria algumas obras no Memorial, cursos de capacitação para a venda de acarajé e o pagamento de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) mensais para a manutenção predial durante o período de um ano.[...] Evidente o sentido de exploração, espoliação e constituição de monopólio na proposta apresentada pela Empresa privada. A Imagem das baianas iria ficar completamente amarrada à marca do Refrigerante “X”, o que não tem qualquer sentido quando se está diante de um bem cultural de fruição coletiva.[ ...] Questionou-se, em síntese, acerca da necessidade da Prefeitura de Salvador participar e figurar no contrato, considerando que o Município é o proprietário do imóvel onde funciona o Memorial das Baianas; sobre a competência legal da ABAM para “liberar” os pontos de venda para a realização das campanhas publicitárias da Empresa de Refrigerantes; analisar o conteúdo da expressão “liberar os pontos de vendas para ativação”; indicar, no texto do ajuste, qual a situação desses pontos de venda e como ficariam as baianas que por ventura perdessem a licença para comercialização de acarajé, emitida pela Prefeitura de Salvador; duração de 4 anos do contrato; validade da cláusula de confidencialidade; necessidade de participação de, no mínimo, 50% das associadas para aprovação do contrato. [...]A Autarquia entrou em cena justamente em defesa de um coletivo maior. O contrato proposto colocaria, em realidade, a marca “X” e o Acarajé lado a lado, como se fossem iguais, ou pior, o acarajé seria rebaixado à condição de subproduto, o que fere todo um sistema de proteção e promoção do bem cultural como importante elemento da identidade brasileira. As baianas deixariam de ser protagonistas e seriam meras coadjuvantes[...] Até o momento, a Procuradoria Federal no IPHAN não se pronunciou sobre o quanto questionado pelo DPI à época e não houve notícias de que o contrato tenha se firmado entre a ABAM e a
Empresa de Refrigerantes”
Tal posição do IPHAN evidencia o importante papel que o órgão gestor do
patrimônio pode e deve assumir quando os interesses em torno da promoção dos
bens culturais patrimônios encontram-se ameaçados, ainda que os sujeitos e grupos
sociais não consigam perceber esse perigo.
208
No que tange aos conflitos de ordem instrumental e operativa em torno da
comercialização do acarajé, o emblemático embate na venda do bolinho na Fonte
Nova e seus arredores, durante a Copa do Mundo de 2014, tornou-se emblemático
como forma de resistência da cultura local e afro-brasileira. Anterior à solução do
problema, o Jornal A Tarde, vincularia em 2012 e seguinte nota:
A Arena Fonte Nova pode ficar sem acarajé. A venda do tradicional bolinho, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como patrimônio imaterial, é caracterizado como comércio ambulante. A FIFA recomenda o afastamento dessa modalidade de comércio num perímetro de até dois quilômetros das praças de jogos. O acarajé, em tese, não pode ser concorrente dos hambúrgueres produzidos pela rede McDonald‟s, patrocinadora oficial da FIFA
143.
Segundo MACHADO (2014, 254) as baianas de acarajé, em decorrência das
informações veiculadas pela mídia, procurariam “o apoio do Ministério Público do
Estado da Bahia, através do Núcleo de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e
Cultural (NUDEPHAC)”, que aceitaria a reclamação e instauraria “o procedimento
administrativo 003.0.222967/2012, em 25 de outubro de 2012”. O procedimento
administrativo teria por finalidade “apurar as causas veiculadas pela mídia sobre a
não comercialização ou provável proibição da comercialização” do acarajé pelas
Baianas “nas dependências e no entorno do estádio de futebol denominado Arena
Fonte Nova, em Salvador, quando da realização da Copa das Confederações e
Copa do Mundo.” Depois de uma primeira notificação ao IPHAN para que se
pronunciasse, o MPE /BA estenderia essa Notificação às demais instituições
envolvidas no projeto da Copa do Mundo, - Secretaria Estadual para Assuntos da
Copa (Secopa), à Secretaria Estadual de Cultura e à Empresa de Turismo do
Município de Salvador (Saltur). Após um período de longa discussão institucional e
articulação com a Itaipava Arena Fonte Nova, a comercialização do aracajé nas
dependências e ao redor da arena é confirmada pela administração da Itaipava
Arena Fonte Nova. A atuação da associação das baianas, nesse caso, constituiu-se
independente das ações de proteção do IPHAN, evidenciando o caráter variante em
torno do tensionamento a proteção do dispositivo de patrimônio
143
Notícia veiculada no Jornal ATarde, 5 out. 2012.
209
Mais recentemente, diferentes considerações em torno da patrimonialização do
Oficio das Baianas de Acarajé levam tanto o IPHAN a uma cobrança em torno de
uma “razão prática” (MARTINS, 2013, p. 44) na salvaguarda do Oficio, bem como a
própria ABAM “questiona o alcance e resultados do registro” (MARTINS, 2013, p.
44). No entanto, a despeito de quaisquer divergências operacionais quanto às
salvaguardas do Ofício, recentemente, em 2015, o IPHAN e a ABAM criaram um
plataforma digital que dispõe de ferramentas para localização das Baianas de
Acarajé, indicando sua banca, até mesmo o dia e horário de funcionamento. O nome
Plataforma Oyá Digital é uma homenagem ao orixá patrono do ofício de baiana de
acarajé - Oyá ou Iansã.
O Iphan investiu R$ 100 mil no desenvolvimento do projeto de organização e digitalização do acervo documental e na implantação da plataforma digital, que contém os dados cadastrais da Associação das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares (Abam), da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) de Salvador e da Federação Nacional do Culto Afro-Brasileiro (Fenacab). A ação teve o apoio do Instituto Palmares.
144
Figura 4 - Plaforma Oya.
Fonte: http://www.oyadigital.com.br/
144
IPHAN Lança plataforma digital sobre baianas de Acarajé. 8 de junho de 2015. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/2365/iphan-lanca%C2%A0plataforma-digital-sobre%C2%A0baianas%C2%A0de%C2%A0acaraje>. Acesso em: 24 out. 2015.
210
As discussões em torno da promoção dos bens patrimônios da cultura popular
brasileira, em si, ensejam maiores e mais profundas discussões, avaliando e
comparando, por exemplo, a atuação do turismo étnico sobre outros territórios e, de
forma secundária, como por exemplo, o turismo nas “favelas” cariocas; bem como a
atuação desse segmento turístico sobre outras “etnias”, as euro-brasileira, nos
territórios do sul do Brasil.
[...] considerando-se que o “Turismo Étnico (Afro)”, enquanto construção sociocultural e como uma possibilidade para o desenvolvimento sustentável, resultará de uma relação dialógica complexa entre os múltiplos atores envolvidos, com objetivos e programas diversos e também com cotas desiguais de poder, o debate sobre este tema não pode nem deve passar ao largo dos debates sobre culturas, identidades e racismo na sua transversalidade com os interesses e relações de poder em nível local e global. (QUEIROZ, 2009).
Ainda, muitos conceitos e debates carecem e podem ser desdobrados a partir do
turismo étnico em um país que possui, desde 1938, um acervo denominado “Museu
da Magia Negra”, tombado pelo Patrimônio. No entanto, o caráter eminentemente
econômico desse turismo étnico, onde o bem cultural torna-se um produto a ser
consumido como valor agregado a um território ou a um grupo cultural, leva-nos ao
questionamento das opções empreendidas em torno da promoção e de uma maior
visibilidade do patrimônio cultura afro-brasileiro nos arranjos demonstrados.
Outra importante consideração, é que no caso do ofício das baianas, não se trata
apenas de um conflito gerado por um desdobramento do turismo étnico, mas de
apropriações simbólicas de um oficio/bem/produto que se vincula a uma esfera de
produção mercantil coorporativa e de grande escala.
211
CONCLUSÃO
O estudo sobre a norma de preservação dos bens das culturas populares nas
cidades brasileiras, orientada pela gestão pública governamental do IPHAN, entre os
anos de 1988 e 2013, não se projetou em torno de uma conclusão propositiva, mas
ensejou a compreensão da norma de preservação através das suas dimensões
simbólica, social e política, tendo em vista as idéias de “antijuridicidade da norma” e
do “dispositivo de patrimônio”, o que imprime um resultado muito mais questionador
sobre a pesquisa e sobre os processos de patrimonialização das culturas populares
no Brasil.
Amparados pela síntese instrumental teórica, pela metodologia desdobrada em um
entendimento tridimensional da norma de preservação e por um breve histórico
político institucional da norma, resolvemos aqui utilizar a seqüência da própria
tese,ao abordar a dimensão simbólica - os valores e referências à patrimonialização;
a dimensão política – que envolve os acordos, pactos e critérios sobre o patrimônio;
ea dimensão social – os sujeitos e grupos sociais envolvidos na mesma produção
patrimonial.
Portanto, de forma bastante geral, poderíamos indicar a composição de um arranjo
síntese que se constrói como uma reflexão aberta, não menos isenta, no entanto, de
uma posição enquanto resultado de uma pesquisa acadêmica. A cultura popular,
traduzida institucionalmente pelo conceito de Folclore e constituída por uma tímida
política preservacionista no Brasil fora do serviço do Patrimônio, receberia um novo
olhar a partir de meados da década de 1970, quando é alçada à categoria de “bem
cultural” pelo CNRC e passa a compor as novas “referências culturais” no campo
das políticas públicas preservacionistas pelo IPHAN. Ainda em um arranjo muito
abstrato, a preservação das culturas populares no Brasil passa a constituir um
Direito Cultural, com a indicação expressa na Constituição Brasileira de 1988, em
seu artigo 215, § 1º, onde dispõe que “O Estado protegerá as manifestações das
culturas populares”.. A Constituição Federal de 1988 construiria as bases conceituais
para a norma de preservação dos bens das culturas populares, quando osreconhece
212
como patrimônio cultural brasileiro ampliando tanto a dimensão conceitual do bem
patrimônio ao reconhecer sua imaterialidade, quanto a possibilidade de outros
instrumentos de regulação e gestão pública, para além do tombamento.
A despeito de alguns poucos tombamentos de bens das culturas populares terem
sido realizados pelo IPHAN - ainda que sem um declarado valor enquanto cultura
popular, valor revelado, sobretudo, pelo seu caráter etnográfico - as políticas
públicas governamentais de preservação dos bens das culturas populares nas
cidades brasileiras ganhariam um corpo regulador e gestor somente em 2000, com o
advento do Decreto Federal Nº 3.551, que instituiria o Registro de Bens Culturais de
Natureza Imaterial e criaria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial – PNPI.
Nesse sentido, mesmo que o PNPI constituai-se em um programa para a
preservação de quaisquer bens imateriais brasileiros, buscando uma superação na
dicotomia entre as chamadas dimensões eruditas e populares dos bens culturais
patrimônio, nenhum bem “erudito” teria sido registrado até o ano de 2013, resultando
em que o PNPI seja o principal programa gestor preservacionista e o Registro o
instrumento mais utilizado na proteção dos bens das culturas populares no Brasil.
Nesse sentido, até 2013, possuíamos 32 bens das culturas populares protegidos
pelo IPHAN como patrimônios culturais brasileirosnas cidades, sendo 22 bens
registrados como patrimônios imateriais e 10 bens tombados como patrimônios
materiais.
Assim, buscando construir nossa reflexão em torno da norma de preservação dos
bens das culturas populares nas cidades brasileiras, recorremos à estrutura de
análise da própria pesquisa, onde a norma é observada através das dimensões
simbólica, social e política nos processos de tombamento e registro, e desdobrada
nos arranjos tensores demonstrados em cada dimensão da norma de preservação.
Na Dimensão Simbólica, os valores e referências à patrimonialização dos bens das
culturas populares, assumem um papel definidor na construção das políticas
públicas governamentais para a proteção dos bens das culturas populares, pois é
responsável por uma ampliação do conceito de patrimônio cultural no Brasil,
incorporando valores estendidos ao rol dos bens culturais patrimônio, mesmo se
213
esses valores se mantenham dicotomizados pela idéia da materialidade e
imaterialidade. Esses valores atenderiam muito mais à idéia de referência cultural,
incluindo saberes, celebrações, ofícios e bens não arquitetônicos no rol de bens
culturais patrimônio nacional.
A atuação do Patrimônio Imaterial na construção de uma identidade nacional em
bases multiculturais com o uso da idéia de “referências culturais”, permitiu maior
abertura nos processos depatrimonialização a segmentos da cultura popular,
representativos a cultura brasileira, conforme define a Constituição Federal de 1988.
Poderíamos dizer que a necessidade de uma construção identitária nacional daria
lugar à construção de uma identidade de sociedade brasileira, tendo por base o
sujeito, seu cotidiano, práticas e espaço, em detrimento do conceito de nação, tal
qual propunha o projeto moderno de Estado, e os modernistas fundadores do
Serviço do patrimônio. A afirmação de uma sociedade brasileira multicultural, através
do reconhecimento dos seus bens culturais a partir da diferença, e não da
semelhança, implica na adoção de valores e referências culturais plurais e,
conseqüentemente, inclusivas do ponto de vista político e social
Os valores e as referências que atuam na norma de preservação dos bens das
culturas populares, ainda, são aqueles que orientaram o pensamento
preservacionista de Mário de Andrade e seu projeto para o Serviço do Patrimônio em
1936; aqueles que pautaram a idéia de “bem cultural” e suas “referências” na política
do IPHAN a partir de meados da década de 1970; e alcançariam com base
constitucional, o despontar dos anos 2000, com a criação do registro de bens
imateriais e do PNPI. São os novos velhos patrimônios que, do Folclore ao bem
cultural, ressignificam os valores e as referências da norma de preservação
Assim, para além dos valores artísticos, históricos, arqueológicos, etnográficos e
paisagísticos, atribuídos aos bens culturais entre 1937 e 2000, celebrações, ofícios,
formas de expressão e lugares, também passariam a compor o rol de valorações
patrimoniais institucionalizadas no IPHAN, incorporando outros aspectos relevantes
à patrimonialização, tendo em vista o caráter dinâmico e vivo dos bens culturais a
serem protegidos.
214
A monumentalidade ou a excepcionalidade, elementos proclamados durante anos
pelo IPHAN como condição para análise do mérito de proteção, portanto, valores
discricionários que antecedem a própria valoração cultural do bem, esbarram na
construção de novas “referências culturais” que passariam a valorar os bens
culturais, levando em consideração outros aspectos relevantes à patrimonialização
diretamente ligados à idéia de bens associados, por entender a condição plural na
construção dos bens das culturas populares brasileiras. Assim, mesmo no
tombamento, percebemos que os Terreiros de Candomblé, ou mesmo as
embarcações tradicionais, tornam-se patrimônios inseridos em contextos de
referências culturais – religiosas, ambientais, laborais, etc. Nos bens culturais
Registrados, a patrimonialização dos bens culturais, em si, necessita da sua
associação aos aspectos relevantes e seus bens associados, no sentido de
compreender os processos de produção e reprodução do bem cultural patrimônio. A
pluralidade de bens associados a cada bem patrimônio indica uma heterogeneidade
nas condições de produção e reprodução dos bens culturais, uma condição de
riqueza nos processos criativos das culturas populares, bem como um imenso
desafio gestor promotor.
Essa pluralidade ou heterogeneidade nos elementos constituintes à valoração do
bem cultural patrimônio, por tratar-se de um sistema dinâmico, envolvendo sujeitos,
grupos sociais e interesse extra-patrimoniais, uma vez que o bem cultura encontra-
se inserido em todo um contexto de produção e reprodução, permite o
tensionamento na construção de diferentes valores àqueles considerados no
processo de patrimonialização. Nesse sentido, valores patrimonializantes
diretamente ligados aos processos do oficio, do saber fazer, podem ser diminuídos
em detrimento de uma valoração tensionada em torno do objeto final patrimônio,
sobretudo, pela sua potência de inserção como produto ao consumo cultural. As
discussões em torno da “certificação de culturas” e do conseqüente “fenômeno das
listas”, constituem arranjos tensores que demonstram a atuação de outros agentes
que não os econômicos na adoção mecanismos que agreguem valor ao consumo
dos bens culturais.
215
Assim, conforme demonstrado na tese, assistimos a uma crescente elasticidade
patrimonial em torno dos valores dos bens patrimônios, ampliando o seu valor,
sobretudo em sua vinculação às necessidade do mercado consumidor, influenciando
diretamente nos processos de produção e reprodução dos bens culturais
patrimônios, o que demonstra um grande desafio à proteção e promoção dos bens
das culturas populares no Brasil.
No mesmo sentido, os processos de (re) valoração dos bens culturais patrimônios
podem transformá-los em elementos museográficos ou episódicos na cidade,
apropriando-se da dinâmica cotidiana dos bens imateriais, tornando-os objeto-
espetáculo ou mercadoria cultural de consumo imediato. Com isso, esvai-se o
contexto de reprodutibilidade de saberes, fazeres, modos de vida, incluindo o bem
cultural imaterial apenascomo mais um produto de mercado, muitas vezes vinculado
a processos de (re)valorização de cidades ou territórios, adequando-as às condições
de promoção e consumo do bem patrimônio.
A Dimensão Política, ao envolver os acordos, pactos e critérios sobre e sob a norma
de preservação dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras, decerto
demonstra a dimensão mais reconhecida nessa norma, pois indica as condições
operacionais para a produção do bem patrimônio e, portanto, para sua
patrimonialização. Não por acaso, essa dimensão é objeto do maior número de
abordagens acadêmicas no estudo da gestão pública governamental de preservação
dos bens culturais no Brasil.
Importa demonstrar que a dimensão política institucionaliza todo o arranjo regulador
(leis e decretos de proteção) e gestor (instituições, programas e ações) da política
pública governamental. Ela atualmente é constituída pelos instrumentos de proteção
do tombamento e do registro, revestida por uma estratégica discricionariedade
técnica atuante sobre os instrumentos de proteção. É também pelas ações de
promoção do bem cultural, principais instrumentos políticos que possibilitam a
preservação e reprodutibilidade dos bens patrimônio.
Utilizado de forma hegemônica como forma de proteção aos bens culturais no Brasil,
o tombamento funcionaria como o único instrumento garantidor à preservação dos
216
bem culturais, limitado à fisicidade do bem cultural e, portanto, aos bens culturais
materiais. Amparados sobre os valores artísticos, históricos, etnográficos,
arqueológicos e paisagísticos, os tombamentos, como práticas preservacionistas,
seriam reorientados, a partir de meados da década de 1970,pelo conceito de
“referências culturais”, e estendidos a “novos” bens, com a ampliação dos direitos
culturais previstos na Constituição Federal de 1988. Assim, ainda que instrumento
de proteção aos bens culturais materiais, o tombamento seria ampliado para além
dos parâmetros da monumentalidade e excepcionalidade do bem material e se
estende em novos arranjos patrimonializantes em torno dos bens materiais, incluindo
o tombamento de templos de culto afro-brasileiro, e de embarcações tradicionais do
litoral brasileiro.
No entanto, seria com o reconhecimento do comando constitucional de proteção aos
bens imateriais, que o Decreto Federal nº 3.551 de 2000, instituiria o registro como
forma de proteção ao bem imaterial e, o PNPI, como programa gestor desses
“novos” patrimônios. Assim, todo um rol de bens culturais brasileiros que, apesar do
seu notório valor como patrimônio cultural,não dispunha de um instrumento de
proteção, bem como de uma política de preservação, passaria a ser protegido com o
registro das celebrações, das formas de expressão, dos ofícios, e dos lugares e
promovidos através de planos de salvaguardas.
Tendo por base a análise dos 22 bens culturais registrados e os 10 bens culturais
tombados, objetos de estudo desta pesquisa, buscamos compreender os principais
desdobramentos que a dimensão política possui dentro da norma de preservação
dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras. Nesse sentido as variáveis,
tempo; pareceres à patrimonialização; as metodologias empreendidas; as ações de
salvaguardas e apoio constituíram como elementos importantes no entendimento da
dimensão política, portanto, dos pactos e critérios na patrimonialização dos bens das
culturas populares.
A variável tempo, que considera não somente o período de trâmite procedimental à
patrimonialização, mas também as diversas composições temporais que envolvem
os procedimentos de tombamento e registro (data de solicitação, data de aprovação
217
no conselho consultivo, data de inscrição no livro do tombo ou registro), ao variar
consideravelmente, ressalta a condição discricionária que envolve o rito
administrativo, a conjuntura envolvida e as dificuldades encontradas.
As metodologias para patrimonialização encontram no procedimento de registro uma
maior uniformidade no processo, uma vez que se dividem basicamente na
metodologia oficial do PNPI, o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) e
nas pesquisas históricas documentais Já o tombamento, não possui uma
metodologia patrimonializante definida. Ainda importante considerar o caráter
ampliado e inclusivo do INRC em relação aos bens culturais, quando interioriza,
enquanto prática metodológica, os preceitos reiterados de uma política
preservacionista tendo por base as referências culturais.
As salvaguardas e ações de apoio constituem os principais instrumentos de
promoção dos bens culturais patrimônio, podendo operar sob os mais diversos
arranjos para as salvaguardas, possibilitando ações de conservação e restauração
dos bens materiais, bem como, a promoção dos meios, dispositivos ou condições à
produção e reprodução dos bens culturais em sua dinâmica. Orientadas em sua
maioria por ações governamentais, as salvaguardas dos bens imateriais estariam
previstas nos “planos de salvaguardas” quando do registro do bem cultural e foram
executadas, em sua maioria, através de articulações intra-governamentais,
sobretudo, através do Ministério da Cultura, seja através dos Pontos de Cultura, de
premiações ou de editais lançados.
Dentre os inúmeros arranjos tensores possíveis em torno da dimensão política da
norma de preservação dos bens das culturas populares, portanto, associados aos
acordos, pactos e critérios para a patrimonialização, vimos, na estreita e longa
relação que se estabelece entre a UNESCO e o IPHAN, um importante arranjo
tensor. Ao verificamos, mais recentemente, a adoção, pelo IPHAN, de critérios
institucionais ao incentivo e adequação dos bens culturais patrimônios brasileiros a
um possível reconhecimento no âmbito mundial, como patrimônios da humanidade,
replica-se aqui a idéia de “certificação de culturas”, ou seja, a composição de um
valor agregado aos bens patrimônios, incentivando uma visibilidade dos bens
218
culturais às custas de incentivar uma concorrência interna entre os bens culturais
brasileiros, o que, certamente, implica na adoção institucional, pelo IPHAN, de
medidas que privilegiam os bens culturais em destaque no cenário mundial.
A Dimensão Social da norma de preservação dos bens das culturas populares nas
cidades brasileiras, nesta pesquisa, foi concebida como um espaço para a análise e
compreensão dos sujeitos e dos grupos sociais envolvidos no processo de
patrimonialização, empreendido pelo IPHAN, enquanto política pública
governamental, entre os anos de 1988 e 2013, tendo por base os 32 processos de
tombamento e registro analisados.
Divididos entre os sujeitos ativos da patrimonialização - estado regulador e gestor da
política de preservação -, e os sujeitos passivos desse processo - os sujeitos e
grupos sociais envolvidos no processo de produção e reprodução do bem cultural
patrimônio, assim como visto na dimensão simbólica se tornam mais plurais. A a
idéia de “referência cultural” passa a dar visibilidade a outros grupos sociais ou
sujeitos, não ligados aos processos de produção dos bens materiais monumentais.
O tombamento, pelo IPHAN, do Terreiro da Casa Branca, em 1986, acena às novas
visibilidades de sujeitos e grupos sociais, os afro-brasileiros, que, marcadamente,
imprimem sua importância enquanto bem cultural patrimônio nacional, mas também
enquanto sujeitos culturais ativos.
No entanto, assim também como no campo simbólico, a Constituição Federal de
1988, assumiria um importante papel na construção dos novos direitos culturais
brasileiros eampliaria a visibilidade de grupos sociais, como as “culturas populares,
indígenas e afro-brasileiras” reconhecendo a sua importância “no processo
civilizatório nacional”.
A construção social que envolve a prática patrimonializante no IPHAN passaria
então a dialogar com novos sujeitos e grupos sociais, tanto como objetos de
patrimonialização, como na condição participativa dos processos de seleção,
proteção e promoção, conforme indicia o texto constitucional, através da
“colaboração da comunidade”.
219
As condições que permitem um maior acesso à patrimonialização dos novos sujeitos
e grupos sociais diretamente envolvidos nos processos de produção e reprodução
dos bens das culturas populares nas cidades brasileiras deram lugar a uma sólida
política de reconhecimento dos grupos sociais envolvidos na produção e reprodução
de bens culturais, sobretudo, os “novos” bens imateriais. Assim, a proteção aos bens
imateriais e seus registros, bem como o crescente número de tombamentos que se
estabelecem, apesar de indicarem uma ampliação e diversificação dos sujeitos
envolvidos, mostram sua inserção na norma de preservação numa condição de
objeto e não de sujeito da política de preservação.
Ao verificarmosos condicionamentos dessa política aos processos de tombamento e
registros, nos deparamos com a importante restrição sobre quem pode propor o
patrimônio. A necessidade de uma associação juridicamente registrada - enquanto
figura mais próxima, ainda que bem distante - dos grupos sociais produtores e
reprodutores dos bens culturais patrimônio para a propositura do procedimento, ao
IPHAN, para estudos preliminares ao registro ou tombamento revela as dificuldades
a serem enfrentadas por muitos grupos sociais às políticas públicas de preservação.
Portanto, se existe uma ampliação conceitual na trajetória da norma de preservação
das culturas populares brasileiras, não existe, paralelamente, uma ampliação
procedimental no que diz o acesso à solicitação de Registro, que ainda deve ser
feita por entidades legalmente constituídas. Isso dificulta a construção de uma
relação direta com os sujeitos e grupos sociais, uma vez que muitos dos bens
culturais não são representados por figuras jurídicas o que acaba por impor
mediadores na solicitação de registros, em geral externos ao próprio processo de
produção do bem cultural.
Ao buscarmos compreender os agentes diretamente envolvidos na patrimonialização
dos bens culturais, ainda que metodologias mais inclusivas venham sendo
utilizadas, como o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), o acesso à
colaboração da comunidade, torna-se restrito à lógica burocrática da gestão pública
governamental, além de avaliado por uma dimensão técnica que prioriza as
possibilidades de operacionalidade, executabilidade e sustentabilidade dos projetos.
220
Esses obstáculos têm sido uma reflexão constante no campo da promoção da
cultura, pautada, sobretudo, pelos sujeitos e grupos sociais que buscam o acesso
aos mecanismos institucionais estabelecidos para esse fim.
Assim, ao analisarmos a trajetória da norma de preservação da cultura popular após
a Constituição de 1988, encontramos uma participação da comunidade no processo
de patrimonialização muito aquém das possibilidade abertas pela CF de 1988,
tornando-se mais frequente no processo de mobilização para a solicitação do
tombamento ou registro do bem, e na aplicação do INRC.
As territorialidades constituídas na norma de preservação dos bens das culturas
populares estão diretamente ligadas aos sujeitos e grupos sociais em seu processo
de produção e reprodução dos bens culturais. Assim, nessa pesquisa,a
compreensão das territorialidades, tanto em uma perspectiva intra-patrimonial,
quando constituinte do processo de patrimonialização, quanto extra-patrimonial,
quando indicativo de um pertencimento político-espacial, resultou em um
protagonismo singular do território nas políticas de preservação no Brasil.
Da sinonímia entre valor e bem cultural - no Registro de Lugar do bem imaterial -,
aos tombamentos significativos de territórios urbanosatravés das roças,dos templos
afro-brasileiros, à localização dos bens tombados e registrados no espaço do país,
emerge a necessidade de percebemos a importância que o tema apresenta e,
portanto, um maior aprofundamento na questão, tendo em vista, sobretudo, a direta
e conflituosa relação dos territórios nos espaços urbanos.
Ao analisarmos a trajetória da norma de preservação das culturas populares nas
cidades brasileiras, percebemos que as políticas públicas governamentais instituídas
no IPHAN não atenderiam ainda a uma demanda patrimonializante do sujeito, ou
seja, do patrimônio vivo, numa perspectiva universalizante dessa prática como
vigora na UNESCO. Os embates jurídicos, a estadualização dessa política e suas
relações com o órgão federal, o IPHAN, são elementos importantes de serem
seguidos nos desdobramentos da política de preservação dos bens das culturas
populares no Brasil.
221
A idéia da produção de bens culturais vivos ainda tensiona de forma bastante
peculiar a trajetória da norma de preservação das culturas populares nas cidades
brasileiras, atrelada tanto aos desdobramentos de uma política do patrimônio
imaterial, atuando sobre o sujeito, produtor e reprodutor do bem cultural a ser
preservado, como à construção de uma política pública de preservação, específico
para a cultura popular. Nela estaria inserida a dinâmica viva e cotidiana dos mestres
e das mestras da cultura popular, como bem cultural a ser protegido e substrato de
todos e quaisquer planos de salvaguardas, pois detentores dos saberes e fazeres do
bem cultural.
Nesse sentido, mesmo se compreender os objetivos das novas práticas
patrimonializantesconstitui uma tarefa em construção, a ampliação da dimensão
social na trajetória da norma de preservação das culturas populares nas cidades
brasileiras é visível e reconquistada cotidianamente pelos sujeitos e grupos sociais.
No entanto, estão ainda distantes dos procedimentos de patrimonialização,
encarados institucionalmente como atividades técnicas e, portanto, limitadoras da
atuação de grupos e sujeitos nos procedimentos e arranjos institucionais de
patrimonialização.
Compreendidos os principais desdobramentos da política de preservação dos bens
das culturas populares nas cidades brasileiras, encontramos, no turismo étnico e no
consumo dos bens culturais afro-brasileiros, um consistente arranjo tensor a ser
problematizado, tendo em vista a necessidade de demonstrar como o “dispositivo de
patrimônio” pode ser tensionado em busca de resultados diversos daqueles
empreendidos na lógica patrimonializante. Assim, ao verificarmos, no universo afro-
brasileiro, os tensionamentos que se estabelecem em torno do consumo dos bens
culturais, verificamos, sobretudo, a convergência de diversas lógicas de promoção
do bem patrimônio: da diluição dos sujeitos ou mesmo dos grupos sociais em torno
de uma visibilidade pautada pelo consumo cultural, muitas vezes atrelado ao
espetáculo, às disputas em torno de um ofício realizado eminentemente por
mulheres negras, que tende a tornar-se cada vez mais comercial, em detrimento de
um saber fazer que as sustenta econômica, social e culturalmente.
222
Importante ainda demonstrarmos o valor que três idéias assumem nessa tese, após
analisarmos a norma de preservação dos bens das culturas populares nas cidades
brasileiras.
A primeira diz respeito aos arranjos tensores como instrumentos de verificação do
exercício do poder sobre o dispositivo patrimônio, ou seja, a situação onde ocorre a
atualização de forças dos diversos agentes tensores da norma, apreendida através
de arranjos que se estabelecem, sobretudo, como conseqüência de conflitos
decorrentes da atualização dessas forças. Nesse sentido, os arranjos tensores
constituem importantes instrumentos de verificação prática da atualização de forças
tensoras sobre o dispositivo de patrimônio e foram tomados como abordagem
teórico-metodológica para melhor compreensão da atuação das forças e agentes
que atuam na produção do patrimônio cultural.
A segunda idéia reside no fato da existência de um fluxo de patrimonialização, onde
esses arranjos tensores atuam, dentro de uma perspectiva institucional de
patrimonialização. Nesse sentido, a idéia de fluxo não se confunde com a de
procedimento, uma vez que não se trata apenas do percurso institucional de
patrimonialização, mas a composição de um campo contínuo, onde os arranjos
tensores podem tornar-se mais ou menos visíveis, a depender da conjuntura
histórica e, sobretudo, dos agentes e suas permanentes tensões em torno da
produção do patrimônio em torno dos bens das culturas populares.
A terceira idéia remete diretamente ao título desta tese, os novos velhos patrimônios,
indicando que os bens das culturas populares nas cidades brasileiras, apesar da
recente política institucional de inserção desses bens no rol de patrimônios materiais
e imateriais, o reconhecimento de seu potencial de patrimonialização figura o
imaginário preservacionista brasileiro desde a década de 1930, sobretudo pelas
propostas de Mário de Andrade em seu projeto para a política reguladora e gestora
do patrimônio cultural no Brasil. Nesse sentido, a norma de preservação do IPHAN
para os novos patrimônios, figurados pelos bens das culturas populares, trazem de
novo, apenas, a tutela jurídica de proteção do registro, inserindo velhos bens
culturais, patrimônios brasileiros não institucionais, na política preservacionista. Não
223
por acaso, os mestres dos mamulengos, em Pernambuco, denominam-se
“patrimônios por eles mesmos”, uma vez que as condições de produção e
reprodução do bem cultural existem e independem da certificação pelo tombamento
ou registro do IPHAN.
Por fim, o estudo da norma de preservação dos bens das culturas populares nas
cidades brasileiras, aqui empreendido, constitui muito mais um painel que abre a
discussão e enseja maiores desdobramentos a serem explorados do que uma
construção propositiva para a política pública governamental. No entanto,
gostaríamos de estabelecer duas considerações nessa abordagem: a primeira diz
respeito à possibilidade de estabelecermos uma gestão pública para a preservação
dos bens das culturas populares bem mais ampla do que aquela habitualmente
denominada como governamental, contirbuindo, portanto, uma gestão pública social,
com a participação dos sujeitos e grupos sociais envolvidos direta e indiretamente
nos processos de patrimonialização, nas ações de preservação, incluindo seleção e
proteção, ampliando a construção cidadã na norma de preservação dos bens das
culturas populares. A segunda diz respeito à formalização de instrumentos de
controle sobre a patrimonialização dos bens culturais e sua promoção, mobilizando
outros segmentos dos poderes públicos na construção, por exemplo, de Termos de
Ajustamento de Conduta (TAC), com o objetivo de rápida solução extrajudicial aos
conflitos em torno do bem patrimônio; ou ainda, o uso vinculado de Audiências
Públicas, sobretudo na construção das políticas para a proteção, na escolha dos
bens a proteger e dos respectivos instrumentos de proteção, imprimindo um caráter
menos técnico – e, consequentemente, menos discricionário – e mais cidadão, na
construção da norma de preservação no Brasil.
224
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234
APÊNDICES
1. Cronologias da trajetória de patrimonialização dos bens culturais populares no Brasil (1930-2013)
A. Cronologia da produção do pensamento sobre o patrimônio cultural urbano recente (1980 a 2013) no Brasil
B. Cronologia normativa da produção institucional do patrimônio cultural popular no Brasil 1937 – 2013
C. Cronologia de sujeitos em destaque na preservação institucional do Folclore e das culturas populares no Brasil (1900 a 1970)
D. Cronologia da Revista do Patrimônio (1937 – 2012) E. Cronologia normativa dos bens das culturas populares tombados pelo
IPHAN, no Brasil (1937 – 2013) F. Cronologia normativa dos bens das culturas populares registrados pelo
IPHAN, no Brasil (2003 a 2013)
2. Fichas descritivas dos procedimentos de registros de bens culturais pelo IPHAN (2000-2013)
A. Ficha 01. Ofício das Paneleiras de Goiabeiras B. Ficha 02 - Samba de Roda do Recôncavo Baiano C. Ficha 03 - Círio de Nossa Senhora de Nazaré D. Ficha 04 Modo de fazer Viola-de-Cocho é E. Ficha 05 - Ofício das Baianas de Acarajé. F. Ficha 06 - Jongo no Sudeste. G. Ficha 07 - Feira de Caruaru H. Ficha 08 -. Frevo I. Ficha 09- Matrizes no Samba do Rio de Janeiro: Partido Alto, Samba de
Terreiro e Samba-enredo. J. Ficha 10- Tambor de Crioula do Maranhão K. Ficha 11 -. Modo artesanal de fazer queijo nas regiões do Serro, da Serra
da Canastra e do Salitre L. Ficha 12 - Ofício dos Mestres de Capoeira M. Ficha 13 -. Ofício da Roda de Capoeira N. Ficha 14 - Modo de Fazer Renda Irlandesa, tendo como referência este
ofício em Divina Pastora/SE. O. Ficha 15 -. Ofício do Sineiro P. Ficha 16 -. Toque dos Sinos em Minas Gerais Q. Ficha 17 - Festa do Divino Espírito Santo em Pirenópolis/Goiás R. Ficha 18 - Festa de Sant‟Ana de Caicó/RN S. Ficha 19 -. Bumba-meu-boi do Maranhão T. Ficha 20 -. Fandango Caiçara U. Ficha 21 –Festa do Divino Espírito Santo de Paraty/RJ. V. Ficha 22 -. Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim
3. Fichas descritivas dos procedimentos de tombamento de bens das culturas populares pelo IPHAN (1937-2013)145
A. Ficha 01 –Tombamento do Terreiro Axé Opô Afonja B. Ficha 02 - Ilê Iyá Omim Axé Yiamassé
145
Arquivo Noronha Santos
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C. Ficha 03 - Terreiro de Candomblé do Bate-Folha Manso Banduquenqué D. Ficha 04 - Terreiro Casa das Minas Jeje E. Ficha 05 - Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá Láji F. Ficha 06 - Casa de Chico Mendes e seu acervo G. Ficha 07 - Canoa Costeira, de nome Dinamar H. Ficha 08 - Saveiro de Vela de Içar, de nome, Sombra da Lua, no
Recôncavo Baiano I. Ficha 09 - Canoa de Tolda Luzitânia
J. Ficha10-Canoa de Pranchão do Rio Grande
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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN146
1. BEM REGISTRADO: Arte Kusiwa – Pintura corporal e arte gráfica Wajãpi.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.000678/2002-27 ABERTURA: REGISTRO: 20/12/2002.
3. PROPONENTE: Conselho das Aldeias Wajãpi (Alpina) e pelo Museu do Índio.
Fonte: Banco de Dados de Bens Culturais Registrados- BCR/IPHAN
4. DESCRIÇÃO DO BEM: “A Arte Kusiwa - pintura corporal e arte gráfica Wajãpi - foi o primeiro bem registrado no Livro de Registro das Formas de Expressão. Trata-se de um sistema de representação, de uma linguagem gráfica dos índios Wajãpi do Amapá, que sintetiza seu modo particular de conhecer, conceber e agir sobre o universo. O sistema gráfico kusiwa opera como um catalisador da expressão, de conhecimentos e de práticas que envolvem desde relações sociais, crenças religiosas e tecnologias até valores estéticos e morais. O excepcional valor dessa forma de expressão está na capacidade de condensar, transmitir e renovar, através da criatividade dos desenhistas e dos narradores, todos os elementos particulares e únicos de um modo de pensar e de se posicionar no mundo próprio dos Wãjapi do Amapá. A linguagem kusiwa é uma forma de expressão complementar aos saberes transmitidos oralmente a cada nova geração e compartilhados por todos os membros do grupo. É um conhecimento que se encontra, principalmente, nos relatos orais que esse grupo indígena, hoje com quinhentos e oitenta indivíduos, continua a transmitir aos seus filhos e que explica como surgiram as cores, os padrões dos desenhos e as diferenças entre as pessoas. A arte gráfica e a arte verbal dos Wajãpi lhes permite agir sobre múltiplas dimensões do mundo: sobre o visível e sobre o invisível, sobre o concreto e sobre o mundo ideal. Não se trata de um saber abstrato, mas sim de uma prática permanentemente interativa, viva e dinâmica. A arte Kusiwa se expressa em desenhos e pinturas de corpos e objetos, a partir de um repertório definido de padrões gráficos e de suas variantes, que representam, de forma sintética e abstrata, partes do corpo ou da ornamentação de animais, como sucuris, jibóias, onças, jabotis, peixes, borboletas, e objetos, como limas de ferro e bordunas. Com denominações próprias, os padrões gráficos podem ser combinados de muitas maneiras diferentes, que não se repetem, mas são sempre reconhecidos pelos Wajãpi como Kusiwa. Trata-se de um acervo cultural que se transforma de forma dinâmica, através da inclusão de novos elementos, do desuso de alguns ou da modificação, através de suas variantes, de outros.”
146Ficha elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
237
5. PARECERES: Parecer técnico da 2ª Regional- Pará; Parecer Técnico do Setor de Referencias Culturais CPI/IPHAN; Parecer da Coordenação de Patrimônio Imaterial-DEPROT; Parecer Jurídico.
6. VALOR: Forma de expressão.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 38ª Reunião – 11/12/2002.
8. TERRITÓRIO: Amapá e Norte do Pará.
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica e documental em trabalho de campo.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Padrões gráficos e seus usos e significados atribuídos.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Articulação entre Conselho Consultivo do Plano de Salvaguarda Wajãpi: Museu do Índio – Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Conselho das Aldeias Wajãpi (Alpina), Agência de Promoção da Cidadania do Governo do Estado do Amapá, Núcleo de História Indígena e o Indigenismo/NHII, da Universidade de São Paulo; Núcleo de Educação Indígena do Amapá. ( X ) AÇÕES. Ações de salvaguarda 2010; em andamento. Ponto de cultura arte e vida dos povos indígenas do Amapá e norte do Pará; em andamento.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Conselho Consultivo do Plano de Salvaguarda Wajãpi.
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Revalidação através de titulação em 11/10/2013.
16. OBSERVAÇÕES:
17. FICHA Nº 001 DATA: 20/05/2014.
238
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN147
1. BEM REGISTRADO: Ofício das Paneleiras de Goiabeiras.
2. NÚMERO DO PROCESSO / PERÍODO: 01450.000672/2002-50 ABERTURA: 26/03/2001. REGISTRO: 20/12/2002.
3. PROPONENTE: Associação das Paneleiras de Goiabeiras. Rua Leopoldo Gomes Sales, Goiabeiras Velhas. Vitória-ES. Site: www.paneleirasdegoiabeiras.hpqvip.ig.com.br. Contatos: [email protected]. Secretaria Municipal de Cultura de Vitória.
Fonte: Banco de Dados de Bens Culturais Registrados- BCR/IPHAN
4. DESCRIÇÃO DO BEM: “Oficio das Paneleiras: É o saber que envolve a prática artesanal de fabricação de panelas de barro, atividade econômica culturalmente enraizada na localidade de Goiabeiras, bairro de Vitória, Capital do Estado do Espírito Santo. Produto da cerâmica de origem indígena, o processo de produção das panelas de Goiabeiras conserva todas as características essenciais que a identificam com a prática dos grupos nativos das Américas, antes da chegada de europeus e africanos. As panelas continuam sendo modeladas manualmente com o auxílio de ferramentas rudimentares, a partir de argila sempre da mesma procedência. Depois de secas ao sol são polidas, queimadas a céu aberto e impermeabilizadas com tintura de tanino. A técnica cerâmica utilizada é reconhecida como legado cultural Tupi-Guarani e Una, com maior número de elementos identificados com os da tradição Una. O processo de produção das panelas de barro emprega tradicionalmente matérias-primas provenientes do meio natural: a argila é extraída de jazida, denominada barreiro, no Vale do Mulembá, localizado na Ilha de Vitória, que até pouco tempo só era acessado por canoa; a casca de Rhysophora mangle, popularmente denominada mangue vermelho, com que é feita a tintura de tanino, é coletada diretamente do manguezal que margeia a localidade de Goiabeiras. Da mesma forma, dois dos principais instrumentos do ofício – a cuia e a vassourinha de muxinga – são feitos a partir de espécies vegetais encontradas nas proximidades. A atividade, eminentemente feminina, é tradicionalmente repassada pelas artesãs paneleiras, às suas filhas, netas, sobrinhas e vizinhas, no convívio doméstico e comunitário. Apesar das transformações urbanas ocorridas ao longo do tempo, a localidade de Goiabeiras, conhecida como Goiabeiras Velha, permanece como um reduto de ocupação
147Ficha elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
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antiga, os quintais repartidos com as famílias de filhos e netos, onde saber fazer estas panelas de barro é o principal elemento formador da identidade cultural daquele grupo social.”
5. PARECERES: Parecer técnico da 21ª Regional- Espírito Santo; Parecer da Coordenação de Patrimônio Imaterial-DEPROT; Parecer Jurídico.
6. VALOR: Saberes.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 37ª Reunião - 21/11/2002.
8. TERRITÓRIO: Goiabeiras Velhas. Vitória-ES.
9. BENS ASSOCIADOS: Pratos típicos capixabas que estão associados ao uso da panela de barro.
10. METODOLOGIA: INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais, aplicado sob a supervisão do antigo Departamento de Identificação, atual DPI.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Extração da argila; tintura de tanino; açoite das panelas; queima das panelas; puxadas.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Ações de Salvaguarda (discussão acerca da questão geográfica das panelas produzidas em Goiabeiras Velhas), parceria do Artesanato Solidário – Programa de Apoio ao Artesanato e à Geração de Renda, através do diagnóstico das condições atuais de produção (realizado pela Central Artesol). Apoio do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular para promoção e comercialização das panelas de barro. ( X ) AÇÕES. Ações de salvaguarda 2010; em andamento. Articulações institucionais para amadurecimento do debate acerca de registros de indicações geográficas para panelas produzidas em Goiabeiras Velhas. Concluído. Recomendações de salvaguarda: voltado para o acompanhamento dos processos e das atividades tradicionais e das ocorrências de intervenções nas condições de produção, comercialização e promoção das panelas de barro.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: IPHAN e Associação das Paneleiras de Goiabeiras, Universidade Federal do Espírito Santo, Secretaria Municipal de Cultura de Vitória, Central ArteSol.
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Revalidação através de titulação em 11/10/2013.
240
16. OBSERVAÇÕES: Preocupação sobre a matéria-prima e suas condições de exploração e estocagem, na perspectiva das possibilidades de seu fornecimento, ou mesmo, da identificação de material alternativo, com características similares, de forma a assegurar a salvaguarda do ofício.
17. FICHA Nº 002 DATA: 20/05/2014.
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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN148
1. BEM REGISTRADO: Samba de Roda do Recôncavo Baiano
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.010146/2004/60 ABERTURA: 13/08/2004. REGISTRO: 05/10/2004.
3. PROPONENTE: Associação Cultural Filhos de Nagô. Praça Dois de Julho n°19. São Félix-BA.
Fonte: Banco de Dados de Bens Culturais Registrados- BCR/IPHAN
4. DESCRIÇÃO DO BEM: “O Samba de Roda baiano é uma expressão musical, coreográfica, poética e festiva das mais importantes e significativas da cultura brasileira. Presente em todo o estado da Bahia, ele é especialmente forte e mais conhecido na região do Recôncavo, a faixa de terra que se estende em torno da Baía de Todos os Santos. Seus primeiros registros, já com esse nome e com muitas das características que ainda hoje o identificam, datam dos anos 1860. O Samba de Roda traz como suporte determinante tradições culturais transmitidas por africanos escravizados e seus descendentes. Tais tradições incluem, entre outros, o culto aos orixás e caboclos, o jogo da capoeira e a chamada comida de azeite. A herança negro-africana no Samba de Roda se mesclou de maneira singular a traços culturais trazidos pelos portugueses – como certos instrumentos musicais, viola e pandeiro principalmente – e à própria língua portuguesa nos elementos de suas formas poéticas. O Samba de Roda pode ser realizado em associação com o calendário festivo – caso das festas da Boa Morte, em Cachoeira, em agosto, de São Cosme e Damião, em setembro, e de sambas ao final de rituais para caboclos em terreiros de candomblé. Mas ele pode também ser realizado em qualquer momento, como uma diversão coletiva, pelo prazer de sambar. Essa expressão musical possui inúmeras variantes, que podem ser divididas em dois tipos principais: o samba chula, cujo similar na região de Cachoeira chama-se “barravento”, e o samba corrido (ver "aspectos relevantes"). Historiadores da música popular consideram o Samba de Roda baiano como uma das fontes do samba carioca que, como se sabe, veio a tornar-se, no decorrer do século XX, um símbolo indiscutível de brasilidade. A narrativa de origem do samba carioca remete à migração de negros baianos para o Rio de Janeiro ao final do século XIX, que teriam buscado reproduzir, nos bairros situados entre o canal do Mangue e o cais do porto, seu ambiente cultural de origem, onde a religião, a culinária, as festas e o samba eram partes destacadas. O Samba de Roda é uma das jóias da cultura brasileira, por suas qualidades intrínsecas de beleza, perfeição técnica, humor e poesia, e pelo papel proeminente que vem desempenhando nas próprias definições da identidade nacional”
148Ficha elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
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5. PARECERES: Parecer do Conselho Consultivo; Parecer do Relator do Processo de Registro Maria Cecília Londres Fonseca, em 28/09/2004; Parecer Técnico Museu Villa-Lobos (Carlos Zandrone); Parecer Jurídico.
6. VALOR: Formas de Expressão Patrimônio Oral.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 44ª Reunião - 30/09/2004.
8. TERRITÓRIO: Recôncavo Baiano - BA.
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica e documental em trabalho de campo; dossiê para registro: Coord. Carlos Zandrone, Sup. Técn. Márcia San‟Anna e Ana Gita de Oliveira.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Variantes: samba chula e samba corrido; coreografia; o canto no samba de roda; instrumentos musicais.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Os objetivos do plano integrado de salvaguarda e valorização do Samba de Roda foram estabelecidos em um programa a curto, médio e longo prazos, entorno das seguintes linhas de ação: a)Pesquisa e documentação; b) Reprodução e transmissão às novas gerações; c) Promoção; d) Apoio. Na fase 01 (2004-2005), destacam-se: a organização jurídica da Associação dos Sambadeiros e Sambadeiras do Estado da Bahia; medidas emergenciais relativas à Viola e Marchetes. Na fase 02 (2005-2006), criação do Centro de Referência do Samba de Roda, sediado no Solário Araújo Pinho, também conhecido como Solar Subaé, em Santo Amaro da Purificação, em 24 de agosto de 2006. Termos de Compromisso e Adesão ao Plano de Salvaguarda do Samba de Roda, assinados pelos prefeitos do Recôncavo Baiano, também em 24 de agosto de 2006, constituindo assim a rede de Casas do Samba. Lançamento do CD Samba de Roda – Patrimônio da Humanidade, parceria do IPHAN e da AMAFRO – Sociedade de Amigos da Cultura Afro-brasileira. Fase 03 (2006-2008), conclusão da implantação física do Centro de Referência do Samba de Roda e da Oficina de Luteria tradicional Clarindo dos Santos. Continuidade da implantação da rede de casas do Samba. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Ações previstas para a fase 04 de Plano de Salvaguarda (2008-2009). Em andamento. Finalização da implantação da rede de Casas de Samba. Ações de avaliação do andamento e eficácia do plano desenvolvido. Avaliação dos impactos das Salvaguardas no Samba de Roda. Ações de salvaguarda 2010; em andamento. Renovação de convênio com o centro de cultura; doação à casa de Samba do Acervo de Sonoro do Samba de Roda do Recôncavo Baiano produzido por Tiago Oliveira Pinto; instalação do Conselho Gestor da Casa do Samba.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: IPHAN e Associação Cultural Filhos de Nagô. Associação Cultural do Samba de Roda Dalva Damiana de Freitas. Associação de Pesquisa em Cultura Popular e Música Tradicional do Recôncavo. Associação dos Sambadeiros e Sambadeiras do Estado da Bahia (17/04/2005.
243
AMAFRO – Sociedade de Amigos da Cultura Afro-brasileira. Prefeituras que aderiram ao Termo de Compromisso e Adesão, que visa à execução do Plano de salvagurada do Samba de Roda até setembro de 2006 (MinC, IPHAN, MRB). Os munícipios foram: Cabaceiras do Paraguaçú, São Sebastião do Passé, Santo Amaro, São Félix, Castro Alves, Teodoro Sampaio, Saubara. ACBANTU – Associação Cultural de Preservação de Patrimônio Bantu, CEAO – UFBA, PRONAC – Petrobras.
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN Ponto de Cultura. UNESCO. Samba de Roda no Recôncavo Baiano é proclamado pela Unesco Obra-Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade (25/11/2005).
15. REVALIDAÇÃO DE TÍTULOS: Revalidação através de titulação em 11/10/2013.
16. OBSERVAÇÕES:
17. FICHA Nº 003 DATA: 20/05/2014.
244
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN149
1. BEM REGISTRADO: Círio de Nossa Senhora de Nazaré.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.010332/2004-07 ABERTURA: 2000. REGISTRO: 05/10/2004.
3. PROPONENTE: Arquidiocese de Belém. Avenida Gov. José Malta n°915. Belém – PA.
Fonte: Banco de Dados de Bens Culturais Registrados- BCR/IPHAN
4. DESCRIÇÃO DO BEM: “A Festa do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém do Pará, é uma celebração constituída de vários rituais de devoção religiosa e expressões culturais, cujo clímax ocorre na procissão do Círio, no segundo domingo de outubro. Para os paraenses, é o grande momento anual de demonstração de devoção e solidariedade, de reiteração de laços familiares, assim como de manifestação social e política. O Círio de Nazaré apresenta uma estrutura complexa que agrega diferentes celebrações e festividades antes e depois do evento principal. Essas práticas têm desdobramentos regionais e congregam, anualmente, em torno de um milhão e meio de pessoas na cidade de Belém. Grande parte dessa massa humana vem pagar promessas ou agradecer pedidos realizados. A festa, instituída em 1793, é marcada pelo sentido da rememoração. O Círio de Nazaré reconta, por meio de seu cerimonial religioso, a lenda que envolve o achado, em 1700, da imagem de Nossa Senhora de Nazaré por um caboclo denominado Plácido. Sua duração temporal está associada à permanência da participação popular e à disseminação regional dos devotos, o que torna Belém, todos os anos, um lugar de peregrinação. Destaca-se, contudo, que a celebração, desde a origem, está envolta por práticas profanas, entre elas a montagem de um arraial dedicado historicamente ao comércio de alimentos e produtos regionais. Os elementos sagrados e profanos que marcam a festa configuram uma face múltipla, a que estão associadas diferentes significações decorrentes da diversidade das formas de inserção no evento, da apropriação simbólica e da diferenciação social dos participantes. A relevância do Círio de Nazaré como manifestação cultural pode ser reconhecida no longo e dinâmico processo que reitera e constrói essa celebração há 211 anos. O Círio de Nossa Senhora do Nazaré foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil, passando a ser o primeiro bem inscrito no Livro de Registro das Celebrações.”
5. PARECERES: Parecer Técnico da 2ª Regional do Pará; Parecer Técnico no DPI.
149Ficha elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
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6. VALOR: Celebrações.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 44ª Reunião - 30/09/2004.
8. TERRITÓRIO: Belém - PA.
9. BENS ASSOCIADOS: As imagens original e peregrina; a Berlinda; o Recírio; o almoço do Círio; os brinquedos de Meriti; a Procissão principal; a Transladação; a Corda; o Arraial; as Alegorias.
10. METODOLOGIA: INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Em andamento. Ponto de Cultura A Corda – Museu do Círio (2009 – 2010: capacitação, oficinas, geração de renda, inclusão social). ( X ) AÇÕES. Em andamento. Ponto de Cultura A Corda – Museu do Círio (capacitação, oficinas, geração de renda, inclusão social).
13. AGENTES ENVOLVIDOS: IPHAN, Arquidiocese de Belém, Sindicato dos Arrumadores do Estado do Pará.
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Revalidação através de titulação em 11/10/2013.
16. OBSERVAÇÕES:
17. FICHA Nº 004 DATA: 20/05/2014.
246
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN150
1. BEM REGISTRADO: Modo de fazer Viola-de-cocho.
2. NÚMERO DO PROCESSO / DATA: 01450.01090/2004-03 18/08/2004 – 14/01/2005.
3. PROPONENTE: Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular. Rua do Catete 179, Catete. Rio de Janeiro – RJ (à época, Centro de Cultura Popular). Site: www.cnfcp.org.br. Contatos: Cláudia Márcia Ferreira, [email protected].
Fonte: Fábio Neves.
4. DESCRIÇÃO DO BEM: A Viola-de-Cocho é um instrumento musical singular quanto à forma e sonoridade, produzido exclusivamente de forma artesanal, com a utilização de matérias-primas existentes na Região Centro-Oeste do Brasil. É parte de uma realidade eco-sócio-cultural construída historicamente pelos sucessivos grupos sociais que vêm ocupando os atuais estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, em suas relações de troca com o meio natural e com a sociedade envolvente. O nome Viola-de-cocho deve-se à técnica de escavação da caixa de ressonância da viola em uma tora de madeira inteiriça, mesma técnica utilizada na fabricação de cochos (recipientes em que é depositado o alimento para o gado). Nesse cocho, já talhado no formato de viola, são afixados um tampo e, em seguida, as partes que caracterizam o instrumento, como cavalete, espelho, rastilho e cravelhas. A confecção, artesanal, determina variações observadas de artesão para artesão, de braço para braço, de forma para forma. A produção de violas-de-cocho é realizada por mestres cururueiros, seja para uso próprio, seja para atender à demanda do mercado local, também constituída por cururueiros e mestres da dança do siriri. Os materiais utilizados tradicionalmente para sua confecção são encontrados no eco-sistema regional, correspondendo a tipos especiais de madeiras para o corpo, tampo e demais detalhes do instrumento; ao sumo da batata „sumbaré‟ ou, na falta desta, a um grude feito da vesícula natatória dos peixes (ou poca) para a colagem das partes componentes; a fios de algodão revestidos para trastes (que, na região, também são denominados pontos) e tripa de animais para as cordas. Sua confecção, feita de forma artesanal, determina variações observadas de artesão para artesão, de braço para braço, de fôrma para fôrma. As violas podem ser decoradas, desenhadas a fogo e pintadas, ou mantidas na madeira crua, envernizadas ou não. As fitas coloridas amarradas no cabo indicamo número de rodas de cururu em que a viola foi tocada em homenagem a algum santo – que possui, cada qual, sua cor particular.
150Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
247
5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.
6. VALOR: Saberes.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 45ª Reunião – 14/01/2005.
8. TERRITÓRIO: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
9. BENS ASSOCIADOS: Rodas de Cururu e de Siriri.
10. METODOLOGIA: Projeto Celebração de Saberes da Cultura Popular/Centro Nacional da Cultura Popular; DPI – Coord. Geral Letícia Vianna; INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Sem descrição. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Ponto de Cultura em Mato Grosso – MT: instituição gestora Secretaria do Estado de Cultura; recuperação da Casa Cuiabana, para sediar o Ponto de Cultura; compra de mobiliário e equipamentos; instalação da estufa de mudas das espécies para fabricação das violas. Em andamento. Ponto de Cultura em Mato Grosso do Sul – MS: instituição gestora Prefeitura Municipal de Corumbá; assinatura de convênio para instalação de Ponto de Cultura. Em andamento. Ações de salvaguarda 2010. Renovação do convênio do Ponto de Cultura da Casa Cuiabana – Centro Cultural da Viola-de-cocho, com a Secretaria do Estado de Cultura do Mato Grosso; assinatura do convênio do Ponto de Cultura Viola-de-cocho, com a Prefeitura de Corumbá. Em andamento.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: MT: Município de Jangadas, Diamantino, Nobres, Cuiabá, Livramento, Poconé, Rosário Oeste. MS: Corumbá, Ladário.
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Revalidação através de titulação em 11/10/2013.
16. OBSERVAÇÕES:
17. FICHA Nº 005 DATA: 22/05/2014.
248
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN151
1. BEM REGISTRADO: Ofício das Baianas de Acarajé.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.008675/2004-01 ABERTURA: 08/2004 REGISTRO: 14/01/2005.
3. PROPONENTE: Associação de Baianas de Acarajé e Mingau do Estado da Bahia. Memorial das baianas, Belvedere da Sé, Praça da Sé, Centro. Salvador – BA.
Fonte: Luiz Antônio Dualibi / Salvador / Bahia / 1983.
4. DESCRIÇÃO DO BEM: É a prática tradicional de produção e venda, em tabuleiro, das chamadas comidas de baiana, feitas com azeite de dendê e ligadas ao culto dos orixás, amplamente disseminadas na cidade de Salvador, Bahia. Dentre as comidas de baiana destaca-se o acarajé, bolinho de feijão fradinho preparado de maneira artesanal, na qual o feijão é moído em um pilão de pedra (pedra de acarajé), temperado e posteriormente frito no azeite de dendê fervente. Sua receita tem origens no Golfo do Benim, na África Ocidental, tendo sido trazida para o Brasil com a vinda de escravos dessa região. A atividade de produção e comércio é predominantemente feminina, e encontra-se nos espaços públicos de Salvador, principalmente praças, ruas, feiras da cidade e orla marítima, como também nas festas de largo e outras celebrações que marcam a cultura da cidade. A indumentária das baianas, característica dos ritos do candomblé, constitui também um forte elemento de identificação desse ofício, sendo composta por turbantes, panos e colares de conta que simbolizam a intenção religiosa das baianas. Os bolinhos de feijão fradinho, destituídos do recheio utilizado para o comércio, são, inclusive atualmente, oferecidos nos cultos às divindades do candomblé, especialmente a Xangô e Oiá (Iansã). Para sua comercialização são utilizados vatapá, caruru e camarão seco como recheio e o tabuleiro no qual é vendido também é composto por outros quitutes tais como abará, passarinha (baço bovino frito), mingaus, lelê, bolinho de estudante, cocadas, pé de moleque e outros. Os aspectos referentes ao Ofício das Baianas de Acarajé e sua ritualização compreendem: o modo de fazer as comidas de baianas, com distinções referentes à oferta religiosa ou à venda informal em logradouros soteropolitanos; os elementos associados à venda como a indumentária própria da baiana, a preparação do tabuleiro e dos locais onde se instalam; os significados atribuídos pelas baianas ao seu ofício e os sentidos atribuídos pela sociedade local e nacional a esse elemento simbólico constituinte da identidade baiana. A feitura das comidas de baiana constitui uma prática cultural de longa continuidade histórica, reiterada no cotidiano dos ritos do candomblé e constituinte de forte fator de identidade na cidade de Salvador.
151Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
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5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.
6. VALOR: Saberes.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 45ª Reunião – 14/01/2005.
8. TERRITÓRIO: Salvador - BA.
9. BENS ASSOCIADOS: Significado do Acarajé no Candomblé.
10. METODOLOGIA: INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais. Projeto Celebração de Saberes da Cultura Popular: Coord. Geral Letícia Vianna / Pesquisadores responsáveis pelo inventário Raul Lody e Elizabete Mendonça . Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, com o apoio da Secretaria de Patrimônio, Museus e Artes Plásticas de MinC.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Produção e venda, e indumentária das baianas.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Sem descrição. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Ações de salvaguarda 2010, em andamento. Inauguração do Memorial das Baianas de Acarajé, em parceria com a Prefeitura Municipal de Salvador e com o IPAC. Em andamento. Ponto de Cultura: instituição gestora ABAM; oficinas de repasse de saberes tradicionais, fios de conta e acarajé; conclusão da adequação de espaço do Memorial das Baianas; montagens e exposição permanente no memorial; e inauguração do Memorial da Baiana de Acarajé.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: CEAO – UFBA; Terreiro Ylê Axé Opô Ofonjá; CNFCP; Setor de Difusão Cultural; Equipe Técnica do Projeto Celebração de Saberes da Cultura Popular.
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Revalidação através de titulação em 11/10/2013. A titulação é datada de 11/06/2008.
16. OBSERVAÇÕES: O Departamento de Identificação e Documentação abre um dossiê de estudos em 2002, quando o ofício é encaminhado ao Ministro da Cultura em 05/11/2002.
17. FICHA Nº 006 DATA: 22/05/2014.
250
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN152
1. BEM REGISTRADO: Jongo no Sudeste.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.005763/2004-43 ABERTURA: 24/05/2001. REGISTRO: 15/12/2005.
3. PROPONENTE: Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular - CNFCP
Fonte: Cris Isidoro, Diadorim Ideias (Pontão de Cultura do Jongo).
4. DESCRIÇÃO DO BEM: O jongo é uma forma de expressão afro-brasileira que integra percussão de tambores, dança coletiva e práticas de magia. É praticado nos quintais das periferias urbanas e em algumas comunidades rurais do sudeste brasileiro. Acontece nas festas de santos católicos e divindades afro-brasileiras, nas festas juninas, nas festas do Divino, no 13 de maio da abolição da escravatura. É uma forma de louvação aos antepassados, consolidação de tradições e afirmação de identidades. Tem suas raízes nos saberes, ritos e crenças dos povos africanos, principalmente os de língua bantu. São sugestivos dessas origens o profundo respeito aos ancestrais, a valorização dos enigmas cantados e o elemento coreográfico da umbigada. No Brasil, o jongo consolidou-se entre os escravos que trabalhavam nas lavouras de café e cana-de-açúcar, no sudeste brasileiro, principalmente no vale do Rio Paraíba. Trata-se de uma forma de comunicação desenvolvida no contexto da escravidão e que serviu também como estratégia de sobrevivência e de circulação de informações codificadas sobre fatos acontecidos entre os antigos escravos por meio de pontos que os capatazes e senhores não conseguiam compreender. O Jongo sempre esteve, assim, em uma dimensão marginal onde os negros falam de si, de sua comunidade, através da crônica e da linguagem cifrada. É também conhecido pelos nomes de tambu, batuque, tambor e caxambu, dependendo da comunidade que o pratica. Iniciado o toque dos tambores, forma-se uma roda de dançarinos que cantam em coro, respondendo ao solo de um deles. Os tambores e os batuqueiros estão sempre na roda ou perto dela. São várias as maneiras de se dançar o jongo. Sozinhos ou em pares os praticantes vão ao centro da roda, dançam até serem substituídos por outros jongueiros. Muitas vezes nota-se, no momento da substituição, o elemento coreográfico da umbigada.
5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.
152Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
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6. VALOR: Forma de expressão.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 48ª Reunião – 10/11/2005.
8. TERRITÓRIO: Região Sudeste brasileira.
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
10. METODOLOGIA: INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais. Projeto Celebração de Saberes da Cultura Popular: Coord. Geral Letícia Vianna. Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Pontos, tambores e instrumentos musicais.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Sem descrição. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Pontão de Cultura do Jongo e Caxambu. Instituição gestora: Fundação Euclides da Cunha de apoio institucional UFF; ampliação do número de 13 para 18 grupos participantes; formação do coletivo jongueiro; lançamento do calendário das comunidades jongueiras; constituição da comissão gestora do Pontão; aquisição de equipamentos; realização de cursos, seminários e oficinas; e edição de “Um Jongo na escola”, contendo 09 vídeos-documentários. Niterói – RJ. Ações de salvaguarda 2010, em andamento. Renovação de convênio do Pontão de Cultura do Jongo Caxambu com a UFF; articulação para implantação do Ponto de Cultura do Jongo no Espírito Santo.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Grupo Cultural Jongo da Serrinha; Associação da Comunidade Negra de Remanescente de Quilombo da Fazenda São José; Morro do Cruzeiro (Município de Miracema); Morro da Serrinha (Rio de Janeiro); Município de Pinheiral; Bracuí; Mambucada; Morro do Carmo (Município de Angra dos Reis); Município de Barra do Piraí; Município de santo Antônio de Pádua; Fazenda São José da Serra (Município de Valença); todos do Estado do Rio de Janeiro. Municípios de Capivari, Cunha, Guaratinguetá, Lagoinha, Piquete, Piracicaba, São Luís do Paraitinga, Tietê; no Estado de São Paulo. São Mateus, no Espírito santo. Belo Horizonte, em Minas Gerais.
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN. Associação Cachuera (Vale do Rio Paraíba); ONG Grupo Cultural Jongo da Serrinha; UFF.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES:
252
17. FICHA Nº 007 DATA: 22/05/2014.
253
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN153
1. BEM REGISTRADO: Cachoeira de Iauaretê - Lugar Sagrado dos Povos Indígenas dos rios Uaupés e Papuri.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.010743/2005-75 ABERTURA: 28/08/2005. REGISTRO: 10/08/2006.
3. PROPONENTE: Associações Indígenas de Iauaretê, Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro - FOIRN. Contatos: [email protected]
Fonte:Geraldo Andrello.
4. DESCRIÇÃO DO BEM: A Cachoeira de Iauaretê, ou Cachoeira da Onça, corresponde a um lugar de referência fundamental para os povos indígenas que habitam a região banhada pelos rios Uaupés e Papuri, reunidos em dez comunidades, multiculturais na maioria, compostas pelas etnias de filiação lingüística Tukano Oriental, Aruaque e Maku. Várias das pedras, lajes, ilhas e paranás da Cachoeira de Iauaretê simbolizam episódios de guerras, perseguições, mortes e alianças descritos nos mitos de origem e nas narrativas históricas destes povos. Para eles, a Cachoeira de Iauaretê é seu Lugar Sagrado, onde está marcada a história de sua origem e fixação nessa região, assim como a história do estabelecimento das relações de afinidade que vêm permitindo, até hoje, a convivência e o compartilhamento de padrões culturais entre os diversos grupos que coabitam naquele território, desde há milênios. Apesar do multilingüismo e das diferenças culturais, as quatorze etnias presentes nessa região – Arapaso, Bará, Barasana, Desana, Karapanã, Kubeo, Makuna, Miriti-tapuya, Pira-tapuya, Siriano, Tariana, Tukano, Tuyuka e Wanano – encontram-se articuladas em uma rede de trocas e identificadas no que diz respeito à cultura material, à organização social e à visão de mundo. É nesse contexto mais amplo que se insere a Cachoeira de Iauaretê: além de sua natureza geográfica, constrói-se ali uma paisagem cultural constituída por lugares sagrados, assim considerados pela densidade de sentidos que os mitos lhe conferem. Como depositária de referências políticas e sócio-econômicas, a Cachoeira de Iauaretê expressa espacialmente uma hierarquia – fortemente marcada na região – de fundamental importância na organização das diferenças e da diversidade ali presentes. Hierarquia que, por sua vez, está referenciada nos mitos, nos ritos e narrativas históricas, os quais especificam as origens e fixação de cada etnia, definem territórios, atribuem significados, revelam códigos de manejo social, econômico, político, ambiental e fundiário, e definem os parâmetros de interação e de convivência social entre elas. Os moradores indígenas da localidade destacam vários pontos no conjunto das pedras da Cachoeira de Iauaretê e suas imediações, locais onde ocorreram fatos marcantes relacionados à criação da humanidade e ao surgimento de suas respectivas etnias. Esses lugares remetem à criação das plantas, dos animais e de tudo o que seria necessário à vida no local e à sobrevivência dos descendentes
153Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
254
dos primeiros ancestrais. No processo de Registro estão documentados dezessete desses pontos de referência na Cachoeira de Iauaretê, testemunhos fundamentais da fixação desses grupos naquele território. A localização exata da Cachoeira de Iauaretê possui as seguintes coordenadas: 67574.17 latitude e 4777685.87 longitude. UTM, WGS 84, zona 19 e 0° 36‟ 899” N e 69° 12‟ 1.953” W. LAT/LONG, Datum WGS 84.”
5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.
6. VALOR: Lugar.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA:
49ª Reunião – 03/08/2003.
8. TERRITÓRIO: Povos indígenas dos rios Uaupés e Papuri.
9. BENS ASSOCIADOS:
Sem informações.
10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, levantamento documental e trabalho de campo. Elaboração do dossiê: a)Pesquisa e texto: Ana Gita de Oliveira (IPHAN), Geraldo Andrello (ISA); b) Instituições parceiras: Instituto Sócio Ambiental (ISA), Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – FOIRN, Vídeo nas Aldeias. c) Organizações indígenas locais: Coordenação das Organizações Indígenas do Distrito de Iauaretê (COIDI), Associação de Língua e Cultura Tariana do Distrito de Iauaretê (ALCTDI), Centro de Estudo e Revitalização das Culturas Indígenas de Iauaretê (CERTII). Não foi aplicado o INRC.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: A Cachoeira de Iauaretê como local de referência.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Sem descrição. Foi aplicada em São Gabriel de Cachoeira - AM. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Ponto de Cultura do Rio Negro. Aquisição de equipamentos, instalação de estúdio de áudio. Em andamento. Ações de salvaguarda 2010. Em andamento. Renovação de convênio do Ponto de Cultura Centro de Referências Culturais do Rio Negro, executado pela FOIRN, em São Gabriel de Cachoeira – AM.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Instituições parceiras: Instituto Sócio Ambiental (ISA), Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – FOIRN, Vídeo nas Aldeias. c) Organizações indígenas locais: Coordenação das Organizações Indígenas do Distrito de Iauaretê (COIDI), Associação de Língua e Cultura Tariana do Distrito de Iauaretê (ALCTDI), Centro de Estudo e Revitalização das Culturas Indígenas de Iauaretê (CERTII).
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.
255
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES:
17. FICHA Nº 008 DATA: 22/05/2014.
256
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN154
1. BEM REGISTRADO: Feira de Caruaru.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.002945/2006-24 ABERTURA: 30/06/2006. REGISTRO: 20/12/2006.
3. PROPONENTE: Prefeitura Municipal de Caruaru.
Crédito: João Tavares, 1992.
4. DESCRIÇÃO DO BEM: A Feira de Caruaru, localizada na cidade de Caruaru, estado de Pernambuco, surgiu em uma fazenda situada em um dos caminhos do gado, entre o sertão e a zona canavieira, onde pousavam vaqueiros, tropeiros e mascates. No final do século XVIII, foi construída nesse local a capela de Nossa Senhora da Conceição, ampliando a convergência social e fortalecendo as relações de trocas comerciais em torno do lugar. Assim, a feira cresceu juntamente com a cidade e foi um dos principais motores do seu desenvolvimento social e econômico. A Feira de Caruaru é um lugar de memória e de continuidade de saberes, de fazeres, de produtos e de expressões artísticas tradicionais que continuam vivos no comércio do gado e dos produtos de couro, nos brinquedos reciclados, nas figuras de barro inventadas por Mestre Vitalino, nas redes de tear, nos utensílios de flandres, no cordel, nas gomas e farinhas de mandioca e nas ervas e raízes medicinais. Sem a dinâmica e o mercado da feira, esses saberes e fazeres já teriam desaparecido.
5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.
6. VALOR: Lugar.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 51ª Reunião – 07/12/2006.
8. TERRITÓRIO: Caruaru - PE.
9. BENS ASSOCIADOS: Bens associados às feiras: Feira do Paraguai, do artesanato, da sulanca, do gado, das frutas e verduras, de raízes e ervas medicinais, de troca-troca, de flores e plantas ornamentais, do couro, de confecções populares, dos bolos, seção de gomas e doces, das ferragens, de artigos de cama mesa e banho, do fumo. Alto do Moura.
154Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
257
10. METODOLOGIA: INRC - Feira de Caruaru; Coordenação da equipe: Bartolomeu Figueirôa de Medeiros (Frei Tito).
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: A feira como lugar de socialização e referência cultural.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Sem descrição. Condições de sustentabilidade e apoio à feira (IPHAN, Ministério Público, IBAMA, Secretaria de Defesa Social do Estado de Pernambuco, Prefeitura Municipal de Caruaru). ( X ) AÇÕES. Em andamento. Ações de salvaguarda 2010. Em andamento. Aditivação de prazo de execução de convênio do Pontão de Cultura da Feira de Caruaru, com a Fundação de Cultura de Caruaru, da Prefeitura Municipal de Caruaru; execução do projeto de formação guias mirins da Feira.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Centro de Estudo de História Municipal/PE (CEHM); TV Asa Branca (Coordenadora Eleny Pinto da Silveira); Equipe de Jornalismo Diário de Pernambuco (Jailson da Paz, jornalista); Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Caruaru (FAFICA); Fundação de Cultura de Caruaru/PE (Presidente ‐ José Lira Serôdio Filho); Documentação e Patrimônio Cultural (Walmiré Dimerón Porto); Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ, Presidente Fernando Soares Lyra); Fundação Roberto Marinho (Silvia Finguerut, jornalista); FUNTEP (Tadeu Godoy, Diretor Superintendente); Prefeitura Municipal de Caruaru (Prefeito Antônio Geraldo Rodrigues da Silva); Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Capibaribe (Prefeito José Augusto Maia); Prefeitura Municipal de Toritama (Prefeito José Marcelo Marques de Andrade
e Silva); Programa Pós‐graduação em Antropologia/UFPE; Rede Globo Nordeste (Equipe de Jornalismo Rede TV) ; Bina Mariano (Editora Regional).
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES: Acompanha indicações de tombamento de bens imóveis conforme parecer do DPI.
17. FICHA Nº 009 DATA: 22/05/2014.
258
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN155
1. BEM REGISTRADO: Frevo.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.002621/2006-96 ABERTURA: 20/02/2006. REGISTRO: 28/02/2007.
3. PROPONENTE: Prefeitura Municipal do Recife.
Fonte: Museu da Cidade do Recife Fundação Joaquim Nabuco CEMCAPE – Centro de Música Carnavalesca Pernambucana.
4. DESCRIÇÃO DO BEM: O Frevo é uma forma de expressão musical, coreográfica e poética, densamente enraizada em Recife e Olinda, no Estado de Pernambuco. Gênero musical urbano, o Frevo surge no final do século 19, no carnaval, em um momento de transição e efervescência social como uma forma de expressão das classes populares na configuração dos espaços públicos e das relações sociais nessas cidades. As bandas militares e suas rivalidades, os escravos recém-libertos, os capoeiras, a nova classe operária e os novos espaços urbanos foram elementos definidores da configuração do Frevo. Do repertório eclético das bandas de música, composto por variados estilos musicais, resultaram suas três modalidades, ainda vigentes: Frevo-de-rua, Frevo-de-bloco e Frevo-canção. Simultaneamente à música, foi-se inventando o passo, isto é, a dança frenética característica do Frevo. Improvisada na rua, liberta e vigorosa, criada e recriada por passistas, a dança de jogo de braços e de pernas é atribuída à ginga dos capoeiristas, que assumiam a defesa de bandas e blocos, ao mesmo tempo em que criavam a coreografia. Produto desse contexto sócio-histórico singular, desde suas origens, o Frevo expressa um protesto político e uma crítica social em forma de música, de dança e de poesia, constituindo-se em símbolo de resistência da cultura pernambucana e em expressão significativa da diversidade cultural brasileira.
5. PARECERES: Parecer Técnico da 5ª Regional de Pernambuco; Parecer Técnico do DPI; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.
6. VALOR: Forma de expressão.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 52ª Reunião – 28/02/2007.
8. TERRITÓRIO: Municípios de Recife e Olinda - PE.
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
155Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
259
10. METODOLOGIA: INRC; Na tentativa de atingir uma maior abrangência nas variáveis pertencentes ao frevo, objetivando proporcionar uma compreensão da dimensão desse patrimônio, deu-se à pesquisa a seguinte estruturação final para o dossiê: a) Aspectos Históricos; b) Descrição do bem; c) O frevo e suas apropriações contemporâneas; d) Frevo: Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil: justificativa do registro e Plano Integrado de Salvaguarda. Este recorte foi incorporado à proposta de investigação do Inventário, e, considerando a relevância para cada categoria, elencou-se a maior quantidade possível de variáveis, adequando–as às seguintes categorias de bens sugeridas pelo IPHAN: 1) Celebração; 2) Formas de expressão; 3) Saberes e modos de fazer; 4) Edificações; 5) Lugares. A conclusão da Pesquisa resulta no Inventário composto do dossiê; das fichas referentes às categorias de bens adotadas pelo IPHAN para o INRC e de dois vídeos que captados em formato digital.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Frevo-de-Rua, Frevo-canção, Frevo-de-bloco, o passo.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Sem descrição. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Sem descrição.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Superintendência da 5ª Regional do IPHAN – PE; Equipe Técnica o IPHAN para capacitação INRC; Prefeitura do Recife; Escritório do Frevo; Arquivo Público Estadual João Emerenciano
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES: Analisar os agentes envolvidos na pesquisa do dossiê: IPHAN e Prefeitura do Recife/Escritório do Frevo.
17. FICHA Nº 010 DATA: 22/05/2014.
260
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN156
1. BEM REGISTRADO: Matrizes no Samba do Rio de Janeiro: Partido Alto, Samba de Terreiro e Samba-enredo.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.011404/2004-25 ABERTURA: 14/09/2004. REGISTRO: 20/11/2007.
3. PROPONENTE: Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Rua Jacinto 67, Méier. Site: www.aescrj.com.br.
Fonte: Fundação Cultural Cartola.
4. DESCRIÇÃO DO BEM: No começo do século XX, a partir de influências rítmicas, poéticas e musicais do jongo, do samba de roda baiano, do maxixe e da marcha carnavalesca, consolidaram-se três novas formas de samba: o partido alto, vinculado ao cotidiano e a uma criação coletiva baseada em improvisos; o samba-enredo, de ritmo inventado nas rodas do bairro do Estácio de Sá e apropriado pelas nascentes escolas de samba para animar os seus desfiles de Carnaval; e o samba de terreiro, vinculado à quadra da escola, ao quintal do subúrbio, à roda de samba do botequim. Essas matrizes referenciais do samba no Rio de Janeiro distinguem-se de outros subgêneros de samba criados posteriormente e guardam relação direta com os padrões de sociabilidade de onde emergem. Há autoria individual, porém a performance é necessariamente coletiva e se funda em comunidades situadas em áreas populares da cidade do Rio de Janeiro. O improviso é outro aspecto importante dessa dimensão coletiva e ainda se encontra bastante enraizado na prática amadora ou comunitária dessas formas de expressão – está vivo e presente nos quintais dos subúrbios, nas rodas de samba e terreiros dos morros e bairros populares da cidade. O samba de partido alto, o samba de terreiro e o samba-enredo são expressões cultivadas há mais de 90 anos por essas comunidades. Não são simplesmente gêneros musicais, mas formas de expressão, modos de socialização e referenciais de pertencimento. São também referências culturais relevantes no panorama da música produzida no Brasil. Constituído a partir dessas matrizes, em suas muitas variantes, o samba carioca é uma expressão da riqueza cultural do país e em especial de seu legado africano, constituindo-se em um símbolo de brasilidade em todo o mundo.
5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.
156Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
261
6. VALOR: Forma de expressão.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 54ª Reunião – 09/10/2007.
8. TERRITÓRIO: Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
10. METODOLOGIA: INRC. Trabalho de pesquisa e elaboração do dossiê de registro foi supervisionado pelo DPI/IPHAN, acompanhado e orientado pelo CNFCP, responsável pelo treinamento e orientação da equipe de pesquisa no uso e aplicação do INRC. O trabalho contou ainda com o apoio da 6ªSR/IPHAN, SEPPIR e Fundação Palmares.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Partido Alto, Samba de Terreiro e Samba-enredo.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Pesquisa e documentação; transmissão do saber; produção; registro; promoção e apoio à organização. O dossiê encomenda a criação de um plano de salvaguarda, proposto com base nos indicadores acima. Não há como aferir a conclusão das recomendações de salvaguarda, pois não existe projetos de ações definidas. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Pontão de Cultura Memória do Samba Carioca. As ações: Seminário sobre o Samba; Encontro com a Velhas Guardas das escolas de Samba; gravação dos encontros e produção de DVD; curso de capacitação para gestores; gravação de 40 depoimentos de personalidades do samba do Rio de Janeiro; aquisição de bibliografia e documentação para constituição do acervo do Centro de Memória (funciona desde janeiro de 2009, gerido pelo Centro Cultural Cartola). Ações de Salvaguarda 2010. Atividades do Pontão/Convênio com o Centro Cultural Cartola, constituição de acervo de pesquisa por meio de aquisição de obras fonográficas e de gravação de 40 depoimentos.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Superintendência da 6ª Regional do IPHAN – RJ; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; FNFCP; Centro Cultural Cartola; Liga Independente das Escolas de Samba - LIESA; Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Em 20 de junho de 2006, sambistas do Rio de Janeiro encaminham um abaixo-assinado como documento de anuência ao pedido de registro do bem (18 páginas).
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
262
16. OBSERVAÇÕES: O expedido de registro foi solicitado por Centro Cultural Cartola, Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, e a LIESA (Liga Independente das Escolas de Samba).
17. FICHA Nº 011 DATA: 22/05/2014.
263
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN157
1. BEM REGISTRADO: Tambor de Crioula do Maranhão.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.005742/2007-71. ABERTURA: março/2007. REGISTRO: 20/11/2007.
3. PROPONENTE: Prefeitura de São Luís do Maranhão. Avenida D. Pedro II. São Luís-MA CEP.: 65010-450. Site: www.saoluis.ma.gov.br
Fonte: Edgar Rocha. São Luís do Maranhão.
4. DESCRIÇÃO DO BEM: O Tambor de Crioula é uma manifestação afro-brasileira que ocorre na maioria dos municípios do Maranhão, envolvendo uma dança circular feminina, canto e percussão de tambores. Dela participam as coreiras ou dançadeiras, conduzidas pelo ritmo intenso dos tambores e pelo influxo das toadas evocadas por tocadores e cantadores, culminando na punga ou umbigada – gesto característico, entendido como saudação e convite. O Tambor de Crioula inclui-se entre as expressões do que se convencionou chamar de samba, derivadas, originalmente, do batuque, assim como o jongo no Sudeste, o samba de roda do Recôncavo Baiano, o coco no Nordeste e algumas modalidades do samba carioca. Além de sua origem comum, constatam-se, entre essas expressões do samba, traços convergentes na polirritmia dos tambores, no ritmo sincopado, nos principais movimentos coreográficos e na umbigada. Praticado livremente, seja como divertimento ou em devoção a São Benedito, o Tambor de Crioula não tem local definido, nem época fixa de apresentação, embora se observe uma maior ocorrência desse evento durante o Carnaval e nas manifestações de Bumba-meu-boi. Trata-se de um referencial de identidade e resistência cultural dos negros maranhenses, que compartilham um passado comum. Os elementos rituais do Tambor permanecem vivos e presentes, propiciando o exercício dos vínculos de pertencimento e a reiteração de valores culturais afro-brasileiros.
5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.
6. VALOR: Forma de expressão.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 53ª Reunião – 20/11/2007.
8. TERRITÓRIO: Maranhão.
9. BENS ASSOCIADOS: “Situações que motivam a realização do Tambor de Crioula.”
157Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
264
10. METODOLOGIA: INRC. O trabalho em questão equivale a continuidade do INRC de São Luís, implementado naquela localidade pela 3ªSR/IPHAN, entre 2004 e 2006, com o apoio do DPI/IPHAN. Após a realização da primeira etapa do INRC (levantamento preliminar), a 3ªSR entendeu direcionar as pesquisas à manifestação cultural conhecida como Tambor de Crioula.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: A Punga (dança), o canto e os instrumentos.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. O dossiê não apresenta recomendaçõe ou ações de salvaguarda. O Parecer Técnico do DPI indica: “faz-se necessário prever outras medidas de apoio e fomento estruturadas na forma de um plano de salvaguarda de Tambor de Crioula no Maranhão, que contemple os aspectos a seguir relacionados, bem como se proporcione a continuidade e a sustentabilidade desta forma de expressão. Assim, são diretrizes indicadas por pesquisadores, estudiosos, e pelos produtores e praticantes desse saber-fazer, entre outras ...” ( X ) AÇÕES. Em andamento. Ações de Salvaguarda 2010. Recuperação e lançamento do cu4rta metragem “tambor de Crioula” realizado entre 1978 e 1979 pelo cineasta marenhese Murilo Santos; Promoção de reuniões e realizações de assembléias para a criação do Comitê Gestor do Plano de Salvaguarda; Adoção das medidas jurídico adminstrativas para Termo de Cooperação entre IPHAN e instituições locais tendo em vista a criação do Comitê Gestor do Plano de Salvaguarda; Inicio das articulações para o estabelecimento de Pontão de Cultura do Tambor de Crioula no Maranhão.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Superintendência da 3ª Regional do IPHAN – MA; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; FNFCP; Prefeitura Municipal de São Luis
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES: 40 páginas de um abaixo assinado contendo diversos segmentos da população de são Luis, e apensada ao processo de registro. (Sociedade de Umbanda B. Esperança, Tambor de Crioula Milagre de São Benedito, Tambor de Crioula Unidos de São Benedito, Tambor de Crioula Brilho de São Benedito, Tambor de Crioula Turma dos Crioulos, Tambor de Crioula Proteção de São Benedito, T. Ubakldo, Tambor de Crioula Alto São Benedito.
17. FICHA Nº 012 DATA: 22/05/2014.
265
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN158
1. BEM REGISTRADO: Modo artesanal de fazer queijo nas regiões do Serro, da Serra da Canastra e do Salitre.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.012192/2006-65. ABERTURA: agosto/2001. REGISTRO: 13/06/2008.
3. PROPONENTE: Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais. Praça da Liberdade 317. Belo Horizonte - MG. Site: www.cultura.mg.gov.br. E-mail: [email protected].
Fonte: Cristina Leme. INRC/IPHAN (2006).
4. DESCRIÇÃO DO BEM: A produção artesanal do queijo de leite cru nas regiões serranas de Minas Gerais representa até hoje uma alternativa bem sucedida de conservação e aproveitamento da produção leiteira regional, em áreas cuja geografia limita o escoamento dessa produção. O modo artesanal de fazer queijo constitui um conhecimento tradicional e um traço marcante da identidade cultural dessas regiões. Cada uma delas forjou um modo de fazer próprio, expresso na forma de manipulação do leite, dos coalhos e das massas, na prensagem, no tempo de maturação (cura), conferindo a cada queijo aparência e sabor específicos. Nessa diversidade constituem aspectos comuns o uso de leite cru e a adição do pingo, um fermento láctico natural, recolhido a partir do soro que drena do próprio queijo e que lhe transfere as características específicas, condicionadas pelo tipo de solo, pelo clima e pela vegetação de cada região. O modo próprio de fazer queijo de Minas sintetiza, no queijo do Serro, no queijo da Canastra, no queijo do Salitre ou Alto Paranaíba, ou ainda Cerrado, um conjunto de experiências, símbolos e significados que definem a identidade do mineiro, reconhecida por todos os brasileiros. Por se tratar de um modo de fazer enraizado na comunidade mineira, o Modo Artesanal de fazer Queijo de Minas é considerado Patrimônio Cultural do Brasil sendo assim, o quarto bem registrado no Livro de Registro dos Saberes.
5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Técnico 13ªSR/IPHAN – MG; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.
6. VALOR:
Saberes. 7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO
CONSULTIVO / DATA: 56ª Reunião – 15/05/2008.
158Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
266
8. TERRITÓRIO:
Região do Serro, da Serra da Canastra e do Salitre.
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
10. METODOLOGIA: INRC. O trabalho se desenvolveu através de uma parceria entre o DPI e a 13ªSR/IPHAN. Elaboração de dossiê e dos anexos, Outros Projetos e Consultorias, com pesquisa e texto de José Newton Coelho Meneses.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Adição do pingo (fermento láctico natural a partir do soro que drena do próprio queijo e lhe transfere as características específicas.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. “Os instrumentos de salvaguarda, considerando o modelo de território do queijo artesanal de Minas devem: desenvolver um sentimento de pertencimento do grupo ao patrimônio e de afirmação da identidade local por parte dos habitantes da região; construir uma imagem que singulariza o produto e convida a conhecer o seu território; criar instrumentos de informação que sejam foco de atração para se conhecer e consumir o produto; potencializar comercialmente o produto cultural reconhecido. A par dessas prerrogativas, a construção de instrumentos de salvaguarda do queijo artesanal de Minas Gerais deve considerar, em amplitude toda a complexidade de seu território. (pg. 80, dossiê de salvaguarda).” “Recomendam-se as seguintes medidas: a) buscar parcerias das agências de pesquisa e financiamentos dos estudos sobre a produção do leite; b) estimular a associação e organização daqueles produtores envolvidos na fatura do queijo artesanal de Minas, que não se encontram organizados; c) contribuir para a valorização do bem como patrimônio cultural; d) criar instrumentos de informação para conhecimento e consumo do produto; e) potencializar comercialmente o produto cultural reconhecido; f) fomentar estudos, reuniões e parcerias para a aplicação de legislação referentes a denominação de origem controlada e certificação geográfica; g) adequar as unidades produtoras queijeiras à lei estadual nº 14.155, de 31/01/2002 (boas práticas na fabricação artesanal do queijo de Minas) pgs. 15 e 16, relatório DPI.” O dossiê de registro não apresenta um plano de salvaguarda; e as ações de salvaguarda estariam elencadas como indicativo no relatório técnico do DPI. Não há como aferir a sua conclusão ( X ) AÇÕES. Em andamento. Ações de Salvaguarda 2010. Reuniões entre os detentores do saber e parceiros para a elaboração do plano de salvaguarda e conformação do Comitê Gestor.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Registro-Superintendência da 13ª Regional do IPHAN – MG (Seção de Ouro Preto); Equipe Técnica do DPI/IPHAN; Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais. Verificar informações sobre parcerias nas observações.
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN. Apoio técnico: EMATER – Empresa de Assistência Técnica Rural; IMA – Instituto Mineiro de Agropecuária; UFV – Universidade Federal de Viçosa; UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais; CETEC – Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais; IEPHA /MG;
267
AASER – Associação dos Amigos de Serro.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES: O pedido de registro, apesar de ter sido realizado pela SEC - Secretaria de Educação e Cultura de Minas Gerais, conta com anuência e apoio de diversas instituições e entidades, a seguir: Carta de Anuência de 26/02/2007, da AASER – Associação dos Amigos de Serro. Cartas de apoio: A1) cidadãos e associações da Cidade de Serro, em 16/11/2001; A2) apoio da Câmara Municipal de Serro, em 04/02/2002; A3) apoio da Prefeitura Municipal de Serro, em 02/03/2007; A4) apoio EMATER – Empresa de Assistência Técnica Rural, em 01/03/2007; A5) Texto de manifestação para o IPHAN: Prefeitura Municipal de Serro, P.M. de
Sabinópolis, P.M. de Dom Joaquim, P.M. de Alvorada de Minas, P.M. de Rio Vermelho, P.M. de Materlândia, P.M. de Serra Azul de Minas, P.M. de Santo Antônio de Itambé, P.M. de Paulistas, P.M. de Conceição de Mato Dentro, em 05/03/2007;
A6) Cooperativa dos Produtores de Derivados de Leite do Alto Parnaíba. Serra do Salitre, em 02/03/2007;
A7) Sociedade Civil Slow Foods Tiradentes, em 02/03/2007; A8) IEPHA/MG – Instituto do Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais,
em 14/03/2007; A10) Prefeitura Municipal de Medeiros. Serra da Canastra, em 12/04/2007; A11) APROCAME – Associação Produtores de Queijo Canastra de Medeiros, em 13/04/2007; A12) apoio EMATER – Empresa de Assistência Técnica Rural, em 13/04/2007.
17. FICHA Nº 013 DATA: 22/05/2014.
268
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN159
1. BEM REGISTRADO: Ofício dos Mestres de Capoeira.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.002863/2006-80. ABERTURA: março/2006. REGISTRO: 21/10/2008.
3. PROPONENTE: IPHAN/Brasília - DF. Site: www.iphan.gov.br.
Fonte: Eduardo Monteiro. IPHAN .
4. DESCRIÇÃO DO BEM: -----------------------------------.
5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Técnico 7ªSR/IPHAN – BA; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.
6. VALOR: Saberes.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 57ª Reunião – 15/07/2008.
8. TERRITÓRIO: Brasil.
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, levantamento documental e trabalho de campo. A equipe técnica que compôs o dossiê de registro do bem foi coordenada por Wallace de Deus Barbosa, Assistente de Coordenação Maurício Barros de Castro, consultores Frederico J. de Abreu e Matthias R. Assunção, acompanhamento técnico da Superintendência Regional do IPHAN de Pernambuco Elaine Muller, e da Bahia Maria Paula Adinolfi.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Capoeira como prática de sociabilidade; como prática cultural; como estratégia identitária.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. O relatório técnico do DPI não apresenta plano ou ações de salvaguarda. O dossiê para registro do bem recomenda as seguintes medidas de salvaguarda: Reconhecimento do notório saber do mestre de capoeira pelo Ministério da Educação (MEC); plano de
159Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
269
previdência especial para os velhos mestres de capoeira; estabelecimento de um Programa de Incentivo da Capoeira no Mundo; criação de um Centro Nacional de Referências da Capoeira; plano de manejo da biriba e outros recursos; Fórum da Capoeira; Banco de Histórias de Mestres de Capoeira; realização de Inventário da Capoeira em “pgs. 94, 95 e 96 do dossiê de registro.” ( X ) AÇÕES. Em andamento. Realização de 11 reuniões do GTPC no Iphan-DPI; elaboração do edital de Concurso de Oscips; elaboração do edital Viva Meu Mestre-Minc; adaptação do edital Capoeira Viva do Ipac-Bahia; elaboração da plataforma on-line do Cadastro Nacional da Capoeira (início de 2010); elaboração da logomarca do Programa; articulação de colaboração com o Ministério da Previdência para aposentadoria dos mestres.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Registro-Superintendência da 7ª Regional do IPHAN – BA; Superintendência da 6ª Regional do IPHAN – RJ; Superintendência Regional do IPHAN – PE; Equipe Técnica do DPI/IPHAN.
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES: Anuência ao registro composto por dois abaixo-assinados, totalizando 60 páginas, com assinaturas dos capoeiristas oriundos sobretudo do Rio de janeiro, Bahia e Pernambuco. Apresenta também como apoio a indicação da Câmara dos Deputados, de 02/06/2003, a inscrição da Capoeira como Patrimônio Imaterial, através de pedido realizado pela Deputada Alice Portugal, que encaminha ofício ao IPHAN solicitando prosseguimento do registro.
17. FICHA Nº 014 DATA: 22/05/2014.
270
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN160
1. BEM REGISTRADO: Ofício da Roda de Capoeira.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.02863/2006-80. ABERTURA: fevereiro/2006. REGISTRO: 21/10/2008.
3. PROPONENTE: Presidente do IPHAN. Site: www.iphan.gov.br.
Fonte: Eduardo Monteiro/Arembepe/Bahia (fev/2006).
4. DESCRIÇÃO DO BEM: A capoeira é uma manifestação cultural presente hoje em todo o território brasileiro e em mais de 150 países, com variações regionais e locais criadas a partir de suas “modalidades” mais conhecidas: as chamadas “capoeira angola” e “capoeira regional”. O conhecimento produzido para a instrução do processo permitiu identificar os principais aspectos que constituem a capoeira como prática cultural desenvolvida no Brasil: o saber transmitido pelos mestres formados na tradição da capoeira e como tal reconhecidos por seus pares; e a roda onde a capoeira reúne todos os seus elementos e se realiza de modo pleno. A Roda de Capoeira é um elemento estruturante desta manifestação, espaço e tempo onde se expressam simultaneamente o canto, o toque dos instrumentos, a dança, os golpes, o jogo, a brincadeira, os símbolos e rituais de herança africana - notadamente banto - recriados no Brasil. Profundamente ritualizada, a roda de capoeira congrega cantigas e movimentos que expressam uma visão de mundo, uma hierarquia e um código de ética que são compartilhados pelo grupo. Na roda de capoeira se batizam os iniciantes, se formam e se consagram os grandes mestres, se transmitem e se reiteram práticas e valores afro-brasileiros.
5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Técnico 7ªSR/IPHAN – BA; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.
6. VALOR: Forma de expressão.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 57ª Reunião – 15/07/2008.
8. TERRITÓRIO: Brasil.
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
160Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
271
10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, levantamento documental e trabalho de campo. A equipe técnica que compôs o dossiê de registro do bem foi coordenada por Wallace de Deus Barbosa, Assistente de Coordenação Maurício Barros de Castro, consultores Frederico J. de Abreu e Matthias R. Assunção, acompanhamento técnico da 7ª SR da Bahia pela antropóloga Maria Paula Adinolfi.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Capoeira com pratica de sociabilidade -Como jogo, e nas suas diferentes configurações, a capoeira induz à socialização, à cooperação e à hierarquização, explicitando, também, uma ética perfeitamente codificada. Como diz a antropóloga do IPHAN, Maria Paula Fernandes Adinalfi no parecer 31/2008 incluído no processo, sob esse aspecto a capoeira representa “a formação de redes de sociabilidade e constituição da identidade e da autoestima de grupos afro-brasileiros, (...) a convivência respeitosa e harmoniosa entre diferentes grupos étnicos-raciais, etários e de gênero, no país e fora dele, promovendo, mais que uma ideologia, uma prática de diversidade cultural e de combate ao racismo e outras formas de preconceito (...) a socialização de crianças e jovens e o deselvolvimento de formas de ensino-aorendizagem capazes de envolver múltiplas dimensões de sua formação (física, psíquica, étnica, afetiva, lúdica) ”. Fonte: Parecer Conselho Consultivo; Capoeira como prática Cultural - capoeira constitui-se num referencial do legado cultural africano, especialmente bantu, no cadinho heterogêneo da formação brasileira. Mas como prática cultural historicamente ativa, ela se modifica no curso de sua historicidade, gerando as formas regionais e a “contemporânea”. Os elementos constitutivos da roda são talvez o principal aspecto dessa prática, já que envolvem dança, canto, toque de instrumentos, luta, golpes, brincadeiras, rituais e símbolos. Mas a eles se acrescentam o ofício do mestre de capoeira, supondo conhecimentos e habilidades especificas e sua instrução aos neófitos. Este ofício, por sua vez, com seu “mestre”, remete ao papel dessa figura medieval (o mestre de ofícios) e, outras manifestações culturais que se estendem do Brasil colonial ao contemporâneo, como o mestre das festas do Divino ou da Folia de Reis, entre outros. Por isso, a capoeira constitui-se também uma visão de mundo, que se expressa em diferentes configurações, como a lúdica, a estética, a física e a desportiva. Africanidade, historicidade, sobrevivência estrutural no tempo e visão de mundo informam a prática cultural da capoeira, assegurando-lhe a personalidade. Fonte: parecer Conselho Consultivo; Capoeira como estratégia identitária - Desde os estudos do antropólogo Melville Herskovits, na década de 40, mostrou-se a relação da capoeira com “danças de combates” semelhantes encontradas em diferentes culturas da África e da própria América. Entretanto, isso não significa elidir o fato de que, em diferentes momentos da história brasileira, a capoeira constituiu-se como uma estratégia identiária de grupos étnicos, inclusive de resistência negra e como tal foi percebido não só por seus praticantes, como por aqueles que procuram reprimi-los. Por este fato e pela disseminação da capoeira ao longo do século XX, ela sem dúvida contribuiu e contribui para a identidade nacional brasileira, sendo um de seus trações marcantes e expressando-se como tal em variados aspectos da produção cultura, e particularmente artística, do país. Parecer Conselho Consultivo.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. O relatório técnico do DPI não apresenta plano ou ações de salvaguarda. O dossiê para registro do bem recomenda as seguintes medidas de salvaguarda: reconhecimento do notório saber do mestre de capoeira pelo Ministério da Educação (MEC); plano de previdência especial para os velhos mestres de capoeira; estabelecimento de um Programa de Incentivo da Capoeira no Mundo; criação de um Centro Nacional de Referências da Capoeira; plano de manejo da biriba e outros recursos; Fórum da Capoeira; Banco de Histórias de Mestres de Capoeira; realização de Inventário da Capoeira em Pernambuco
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“pgs. 94, 95 e 96 do dossiê de registro.” ( X ) AÇÕES. Em andamento desde 2010. Realização de 11 reuniões do GTPC no Iphan-DPI; elaboração do edital de Concurso de Oscips; elaboração do edital Viva Meu Mestre-Minc; adaptação do edital Capoeira Viva do Ipac-Bahia; elaboração da plataforma on-line do Cadastro Nacional da Capoeira (início de 2010); elaboração da logomarca do Programa; articulação de colaboração com o Ministério da Previdência para aposentadoria dos mestres.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Registro-Superintendência da 7ª Regional do IPHAN – BA; Superintendência da 6ª Regional do IPHAN – RJ; Superintendência Regional do IPHAN – PE; Equipe Técnica do DPI/IPHAN.
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES: Anuência ao registro composto por dois abaixo-assinados, totalizando 60 páginas, com assinaturas dos capoeiristas oriundos sobretudo do Rio de janeiro, Bahia e Pernambuco. Apresenta também como apoio a indicação da Câmara dos Deputados, de 02/06/2003, a inscrição da Capoeira como Patrimônio Imaterial, através de pedido realizado pela Deputada Alice Portugal, que encaminha ofício ao IPHAN solicitando prosseguimento do registro.
17. FICHA Nº 015 DATA: 24/05/2014.
273
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN161
1. BEM REGISTRADO: Modo de Fazer Renda Irlandesa, tendo como referência este ofício em Divina Pastora/SE.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.001501/2007-52. ABERTURA: janeiro/2007. REGISTRO: 29/01/2009.
3. PROPONENTE: Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlandesa de Divina Pastora ASDEREN Localização: Divina Pastora/SE. Endereço: Praça da Matriz, nº 125 centro. Fone:(79)3271-1289.
Fonte: Acervo IPHAN.
4. DESCRIÇÃO DO BEM: O modo de fazer Renda Irlandesa se constitui de saberes tradicionais que foram ressignificados pelas rendeiras do interior sergipano a partir de fazeres seculares, que remontam à Europa do século XVII, e são associados à própria condição feminina na sociedade brasileira, desde o período colonial até a atualidade. Trata-se de uma renda de agulha que tem como suporte o lacê, cordão brilhoso que, preso a um debuxo ou risco de desenho sinuoso, deixa espaços vazios a serem preenchidos pelos pontos. Estes pontos são bordados compondo a trama da renda com motivos tradicionais e ícones da cultura brasileira, criados e recriados pelas rendeiras. O “saber-fazer” é a qualidade mais característica da produção da Renda Irlandesa, a qual é compartilhada pelas rendeiras sob a liderança de uma mestra reconhecida pelo grupo. As mestras traçam o risco definidor da peça, que é apropriado coletivamente. Fazer Renda Irlandesa é, portanto, uma atividade realizada em conjunto, o que permite conversar, trocar idéias sobre projetos, técnicas e pontos. Neste universo de sociabilidades, são reafirmados sentimentos de pertença e de identidade cultural, possibilitando a transmissão da técnica e o compartilhamento de saberes, valores e sentidos específicos. A cidade de Divina Pastora se tornou o principal pólo da Renda Irlandesa em razão de condições históricas de produção vinculadas à tradição dos engenhos canavieiros, à abolição da escravatura e às mudanças econômicas que culminaram na apropriação popular do ofício de rendeira, restrito originalmente à aristocracia. Reinventando a técnica, os usos e os sentidos desse saber-fazer, as mulheres de Divina Pastora fizeram dele seu meio de vida.
5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Jurídico; Parecer do Conselho Consultivo.
161Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
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6. VALOR: Saberes.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 58ª Reunião – 27/11/2008.
8. TERRITÓRIO: Divina Pastora/SE.
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, levantamento documental e trabalho de campo.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: PONTOS. Os pontos com os quais se faz a Renda Irlandesa sofreram e sofrem re-leituras
pelas rendeiras e são, muitas vezes, re-apropriados de outras rendas. São duas dezenas de
pontos apresentados em mostruário que consta no processo de Registro, os quais são
nomeados com base na analogia com formas semelhantes a animais e vegetais que
integram o universo das rendeiras, como por exemplo, pé-de-galinha, dente-de-jegue,
espinha-de-peixe, aranha, boca-de-sapo, casinha-de-abelha e abacaxi. Fonte: Parecer
DPI/IPHAN.
RISCO. O risco ou debuxo constitui-se no principal roteiro para a produção da Renda
Irlandesa, pois é a partir dele que se terá o produto final. O risco projeta no papel o desenho
da peça concebida pela artesã. No entanto, a arte de debuxar é restrita a poucas rendeiras,
pois conseguir a harmonia, regularidade, proporção e distribuição de volteios em uma peça
não é tarefa fácil. Quem sabe riscar está em patamar diferenciado em relação a outras
rendeiras e é, em geral, uma mestra do ofício. Sem risco não há renda e, em função disso,
os riscos são ambicionados e guardados ansiosamente pelas rendeiras que detêm sua
posse. Os riscos, além de significarem poder ao criarem dependência a uma detentora de
debuxo, são também mercadorias a serem vendidas. Fonte: Parecer DPI/IPHAN.
LACÊ. Cordão achatado, sedoso e com bastante brilho que desempenha a tarefa de dar suporte à renda. O desenho sinuoso feito pelo lacê sobre o debuxo é o que forma os espaços que serão preenchidos pela linha e agulha. Esse material foi introduzido nessa arte pelas mulheres da região de Divina Pastora e passou, atualmente, a ser elemento identificador da Renda Irlandesa. Tal cordão brilhante confere sofisticação, distintividade e identidade à essa renda, distanciando-a da renda Renascença, que apresenta o mesmo traçado sinuoso e pleno de volteios. Fonte: Parecer DPI/IPHAN.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. O dossiê para registro do bem e o relatório técnico do DPI não apresenta planos ou ações de salvaguardas. O relatório do DPI ao apontar o modo de fazer renda irlandesa no contexto da salvaguarda do patrimônio cultural elenca linhas de ações identificadas com a colaboração das rendeiras: fortalecimento da associação; divulgação do modo de fazer renda na própria comunidade em que vivem as rendeiras; inserção da renda numa rota turística;Não há como aferir a conclusão dessas ações identificadas pelo IPHAN como recomendações.
275
( X ) AÇÕES. Em andamento desde 2010. Reuniões entre os detentores do saber e parceiros para a elaboração do plano de salvaguarda e conformação de Comitê Gestor.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Registro-Superintendência do IPHAN em Sergipe; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; CNFCP – Centro Nacional do Foclore e Cultura Popular.
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES: Anuência ao registro composto por abaixo-assinados, totalizando 180 assinaturas de rendeiras em Divina Pastora.
17. FICHA Nº 016 DATA: 24/05/2014.
276
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN162
1. BEM REGISTRADO: Ofício do Sineiro
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.011821/2009-82. ABERTURA: novembro/2001. REGISTRO: 03/12/2009.
3. PROPONENTE: Governo do Estado de Minas Gerais (13 de agosto de 2001/Secretaria do Estado de Cultura). Endereço: Belo Horizonte/MG, Palacete Dantas, Praça da Liberdade, 317. Site: www.cultura.mg.gov.br.
Fonte: Acervo IPHAN.
4. DESCRIÇÃO DO BEM: O Ofício de Sineiro, tendo como referência as cidades de São João del-Rei, Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes, em Minas Gerais, é uma prática tradicional, vinculada ao ato de tocar os sinos das igrejas católicas para anunciar rituais e celebrações religiosas, atos fúnebres e marcação das horas, entre outras comunicações de interesse coletivo. A tradição do toque dos sinos, eminentemente masculina, se mantém viva nessas cidades como referência de identidade cultural da população local, e como atividade afetiva, lúdica e devocional de sineiros voluntários e profissionais. A estrutura, composição e o saber tocar sinos estão na memória e na habilidade dos sineiros, que conhecem de cor um repertório não escrito de toques, constituídos de pancadas, badaladas e repiques (executados com o sino paralisado) e de dobres (executados com o sino em movimento), adequados às ocasiões festivas ou fúnebres. Os sineiros são, portanto, os detentores e os responsáveis pela reiteração e transmissão da habilidade e do conhecimento requeridos por essa forma de expressão e do seu repertório, pois essa prática não se aprende na escola. É aprendizado que requer observação, envolvimento e dedicação desde a infância, quando os meninos, que não têm acesso às torres, começam a reproduzir os sons dos campanários em panelas, postes, enxadas, picaretas e em tudo o mais que possa servir como objeto de percussão. Em geral, a partir da adolescência, eles passam a frequentar as torres das igrejas para ouvir, ver e acompanhar a execução dos toques. Aos domingos, na cidade de São João del-Rei, há a chamada Via Sacra, quando os aprendizes de sineiros percorrem as torres das principais igrejas da cidade para aprender e, ocasionalmente, tocar os sinos. Outra característica da formação dos sineiros está na profunda relação que costumam manter com bandas, orquestras, liras, escolas de samba e outros espaços de expressão da musicalidade, seja popular ou erudita. É possível, pelo toque, identificar um sineiro. A atividade de sineiro é uma prática e uma arte que envolve criação e aprimoramento dos toques, indo além, portanto, da mera repetição de um repertório. Sineiros experientes podem criar adereços para os sinos e novas técnicas que são incorporadas ao seu trabalho, como é
162Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
277
o caso da colocação de um gancho entre o badalo e a corda. Esta inovação, em especial, proporcionou significativa valorização do toque dos sinos e destaque a seus praticantes. Os sineiros se autoclassificam como antigos sineiros - aqueles que tocam os sinos esporadicamente e são chamados para esclarecer dúvidas; jovens sineiros - os que tocam os sinos no dia-a-dia; zeladores sineiros - os que devem dar condição aos jovens sineiros de executar a sua tarefa e tocar os sinos quando estes não conseguem; e mestres sineiros - os sineiros já falecidos que fazem parte da história da localidade e são referências desse saber e do seu ofício.
5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer PROFER; Parecer do Conselho Consultivo; Parecer Técnico de 13ª SR IPHAN/MG.
6. VALOR: Saberes.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 62ª Reunião – 03/12/2009.
8. TERRITÓRIO: Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Serro, Tiradentes.
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
10. METODOLOGIA: INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais (material sistematizado na forma de bibliografia, entrevistas, fichas do INRC, cadernos de textos, dossiês).
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. As recomendações de salvaguarda do ofício de sineiro são: •1. Documentar, com a qualidade técnica e precisão necessárias, os diferentes toques de sinos existentes nessas cidades; •2. Promover oficinas para recuperação dos toques nas cidades onde estes se perderam, considerando a memória local; •3. Promover oficinas para troca e difusão do repertório dos toques; •4. Incentivar a pesquisa acerca dessa forma de expressão bem como de sua história ao longo do tempo; •5. Difundir por outros mecanismos como publicações, documentação sonora e audiovisual, os resultados das pesquisas realizadas; •6. Realizar obras de manutenção e conservação das torres e dos sinos, de modo a viabilizar a continuidade dos seus toques e a melhoria das suas condições de expressão e reprodução; •7. Valorizar ofício de sineiro por meio da regulamentação de sua atividade nas igrejas, como uma forma de reconhecimento de sua contribuição para a preservação da cultura brasileira; •8. Identificar e documentar as irmandades, os rituais litúrgicos e as celebrações religiosas associados aos toques dos sinos, como forma de promover sua continuidade. Fonte: Parecer do Departamento do Patrimônio Imaterial. ( X ) AÇÕES. Em andamento.
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Sem informações.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Registro-Superintendência do IPHAN em Minas Gerais; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; ANUÊNCIA: Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural de Ouro Preto; Museu da Inconfidência; Prefeitura Municipal de Ouro Preto; Diretor do Museu de Arte Sacra de Ouro Preto; Arquidiocese de Mariana; Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais; PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO: 1ª Etapa Fundação de Ensino Superior de São João del-Rey – FUNREI / 2ª Etapa Santa Rosa Bureau Cultural / 3ª Etapa Núcleo Brasileiro de Percussão – NBP. ELABORAÇÃO DO DOSSIÊ: Ana Lúcia de Abreu Gomes.
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES: Inicialmente previsto apenas para São João del Rey, conforme oficio de solicitação de registro bem, os estudos são estendidos às cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes. Ainda, o parecer técnico enviado ao DPI pede um duplo registro, com a inscrição do Toque dos Sinos como registro das formas de Expressão, e do oficio do sineiro como registro de Saberes.
17. FICHA Nº 017 DATA: 24/05/2014.
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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN163
1. BEM REGISTRADO: Toque dos Sinos em Minas Gerais
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.011821/2009-82. ABERTURA: novembro/2001. REGISTRO: 03/12/2009.
3. PROPONENTE: Governo do Estado de Minas Gerais (13 de agosto de 2001/Secretaria do Estado de Cultura). Endereço: Belo Horizonte/MG, Palacete Dantas, Praça da Liberdade, 317. Site: www.cultura.mg.gov.br.
Fonte: Acervo IPHAN.
4. DESCRIÇÃO DO BEM: O Toque dos Sinos em Minas Gerais é uma forma de expressão sonora produzida pela percussão dos sinos das igrejas católicas, para anunciar rituais religiosos e celebrações, como festas de santos e padroeiros, Semana Santa, Natal, casamentos, batizados, atos fúnebres e marcação das horas, entre outras comunicações de interesse coletivo. Esta prática, reiterada cotidianamente, especialmente em São João del-Rei, tem sido sustentada por irmandades religiosas leigas, que se constituíram junto a essas cidades durante o ciclo do ouro, e que se responsabilizam, desde então, pelos ofícios litúrgicos oferecidos à população, dentre estes, o de tocar os sinos. Onde as irmandades deixaram de existir, o toque dos sinos ainda se mantém como atividade afetiva, lúdica e devocional de sineiros voluntários, pois, em geral, não há envolvimento da Igreja com o toque dos sinos. Em contrapartida, naquelas cidades onde a presença desses sodalícios foi maior, o enraizamento da prática sineira é mais forte. Particularmente em São João del-Rei e em Ouro Preto, ainda se conservam diversos toques que existiam em antigas vilas e cidades da América portuguesa, atestando a continuidade histórica de suas expressões na memória coletiva das comunidades identificadas, que ainda hoje são capazes de decodificar a linguagem dos sinos e de entender seus significados. A forma de expressão do toque dos sinos relaciona sua dimensão estética à percepção sensorial e à sua função comunicativa, onde a ocasião e a estrutura do toque estão necessariamente associadas. A ocasião determina o ritmo a ser impresso ao toque: em celebrações festivas, ritmos acelerados, em ocasiões fúnebres, ritmos mais lentos e solenes. A estrutura dos toques é determinada por sua execução: com o sino paralisado são tocadas pancadas, badaladas e repiques; com o sino em movimento se tocam os dobres. A expressão dos sinos em São João del-Rei se constitui em referência para as demais cidades porque seus toques compõem um conjunto complexo não só de badaladas, pancadas, repiques e dobres, todos nomeados e com uma estrutura formal precisa, mas, também, porque apresentam um alto grau de sofisticação em sua forma de execução. Os repiques, geralmente, são executados com um conjunto mínimo de três sinos que “conversam” entre si: o sino menor (mais agudo) faz a marcação, o médio (meião) “pergunta” e o grande
163Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
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(grave) “responde”. Uma forte influência da matriz cultural africana se faz presente na forma como os sinos eram e são tocados. Em Minas Gerais o barroco permanece, não apenas como estilo e expressão artística dominante no patrimônio cultural do estado, mas, ainda, como uma espécie de ethos ou visão de mundo que marca as cidades do ciclo do ouro e a expressão contemporânea do toque dos sinos. Esta, por sua vez, envolve uma complexa rede de relações entre irmandades, liturgia católica, religiosidade popular, musicalidade e sineiros, aos quais cabe a missão de manter e transmitir seus conhecimentos, habilidades e repertório de toques às novas gerações. O toque dos sinos é expressão reveladora da identidade das cidades inventariadas e da diversidade cultural brasileira. Seus habitantes se reconhecem e se distinguem daqueles de outras cidades porque atribuem um significado particular ao toque dos sinos, ao repertório dos toques, e ao som diferenciado de cada um dos sinos de bronze das torres das várias igrejas das suas cidades.
5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer PROFER; Parecer do Conselho Consultivo; Parecer Técnico de 13ª SR IPHAN/MG.
6. VALOR: Forma de expressão.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 62ª Reunião – 03/12/2009.
8. TERRITÓRIO: Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Serro, Tiradentes.
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
10. METODOLOGIA: INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais (material sistematizado na forma de bibliografia, entrevistas, fichas do INRC, cadernos de textos, dossiês).
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. As recomendações de salvaguarda do ofício de sineiro são: •1. Documentar, com a qualidade técnica e precisão necessárias, os diferentes toques de sinos existentes nessas cidades; •2. Promover oficinas para recuperação dos toques nas cidades onde estes se perderam, considerando a memória local; •3. Promover oficinas para troca e difusão do repertório dos toques; •4. Incentivar a pesquisa acerca dessa forma de expressão bem como de sua história ao longo do tempo; •5. Difundir por outros mecanismos como publicações, documentação sonora e audiovisual, os resultados das pesquisas realizadas; •6. Realizar obras de manutenção e conservação das torres e dos sinos, de modo a viabilizar a continuidade dos seus toques e a melhoria das suas condições de expressão e reprodução; •7. Valorizar ofício de sineiro por meio da regulamentação de sua atividade nas igrejas, como uma forma de reconhecimento de sua contribuição para a preservação da cultura brasileira;
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•8. Identificar e documentar as irmandades, os rituais litúrgicos e as celebrações religiosas associados aos toques dos sinos, como forma de promover sua continuidade. Fonte: Parecer do Departamento do Patrimônio Imaterial. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Sem informações.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Registro-Superintendência do IPHAN em Minas Gerais; Equipe Técnica do DPI/IPHAN; ANUÊNCIA: Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural de Ouro Preto; Museu da Inconfidência; Prefeitura Municipal de Ouro Preto; Diretor do Museu de Arte Sacra de Ouro Preto; Arquidiocese de Mariana; Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais; PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO: 1ª Etapa Fundação de Ensino Superior de São João del-Rey – FUNREI / 2ª Etapa Santa Rosa Bureau Cultural / 3ª Etapa Núcleo Brasileiro de Percussão – NBP. ELABORAÇÃO DO DOSSIÊ: Ana Lúcia de Abreu Gomes.
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES: Inicialmente previsto apenas para São João del Rey, conforme oficio de solicitação de registro bem, os estudos são estendidos às cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes. Ainda, o parecer técnico enviado ao DPI pede um duplo registro, com a inscrição do Toque dos Sinos como registro das formas de Expressão, e do oficio do sineiro como registro de Saberes.
17. FICHA Nº 018 DATA: 24/05/2014.
282
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN164
1. BEM REGISTRADO: Festa do Divino Espírito Santo em Pirenópolis/Goiás.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.000715/2010-15. ABERTURA: fevereiro/2008. REGISTRO: 13/05/2010.
3. PROPONENTE: Pedido de Registro 14ª SR. Pedido de Registro Prefeitura Municipal de Pirenópolis. Pedido de Registro Irmandade do Santíssimo Sacramento da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário. Pedido de Registro Instituto Cultural "Cavalhadas de Pirenópolis".
Fonte: Maurício Pinheiro - Acervo INRC (IPHAN/2008).
4. DESCRIÇÃO DO BEM: Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis, no Estado de Goiás., segundo bem inscrito no Livro de Registro das Celebrações. É uma celebração de origem portuguesa, disseminada no período colonial pelo território brasileiro, com variações em torno de uma estrutura básica e dos símbolos principais do ritual - as folias, a coroação de um imperador, e o império. A esta estrutura básica, os agentes da Festa do Divino de Pirenópolis vêm incorporando outros ritos e representações, como as encenações de mascarados e cavalhadas, responsáveis pela grande notoriedade da festa, que se realiza nesta cidade a cada ano, desde 1819, durante cerca de 60 dias, com clímax no Domingo de Pentecostes, cinqüenta dias após a Páscoa. Constituída por vários rituais religiosos e expressões culturais, a Festa do Divino é uma celebração profundamente enraizada no cotidiano dos moradores de Pirenópolis e determinante dos padrões de sociabilidade local. Seus elementos essenciais, por ordem de ocorrência, são: as Folias “da Roça” e “da Rua”, que “giram” pela zona rural e pela cidade, levando as bandeiras do Divino e angariando donativos para a festa; a coroa, a figura do Imperador, as cerimônias e rituais do Império, com alvoradas, cortejos, novena, jantares e outras refeições coletivas, missas cantadas, levantamento do mastro, queima de fogos, distribuição de “verônicas”, sorteio e coroação do Imperador; as Cavalhadas, encenações de batalhas medievais entre mouros e cristãos, em honra do Imperador e do Espírito Santo; os Mascarados com máscaras de papel pintado, que circulam a pé e a cavalo pela cidade e pelo Campo das Cavalhadas; o Hino do Divino; o Coral de Nossa Senhora do Rosário; a Banda de Música Phoenix e a Banda de Couro ou Zabumba, que marcam os diversos rituais e cerimônias da celebração. Além destas, também constituem a Festa do Divino de Pirenópolis outras expressões e rituais agregados - desde seu início ou há várias décadas - e constantes da programação oficial, como a encenação de dramas, operetas e do auto natalino “As Pastorinhas”; o
164Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
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Reinado de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito, com seus Congos e Congadas, realizados na segunda e terça-feira seguintes ao Domingo de Pentecostes; os ranchões dançantes; a feira livre e a Cavalhadinha, que é a reprodução-mirim dos rituais da festa. Realizada no feriado de Corpus Christi por crianças de até 12 anos, a Cavalhadinha busca transmitir para as novas gerações os valores e referências da identidade cultural da sociedade de Pirenópolis, de modo a estimular a continuidade da Festa do Divino.
5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer do Conselho Consultivo.
6. VALOR: Celebrações.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 63ª Reunião – 15/04/2010.
8. TERRITÓRIO: Pirenópolis/GO
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
10 METODOLOGIA: INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais; A empresa contratada para a pesquisa,
a Restarq – Arquitetura, Restauração e Arte Ltda, atendendo ao pressuposto da metodologia
do INRC. Foi agregado à equipe de pesquisa um técnico do Escritório do IPHAN de
Pirenópolis.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Medidas de Salvaguarda de implementação imediata: 1) Publicar glossário da Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis, de acordo com o Anexo de Bens Culturais do INRC produzido durante a pesquisa. Este glossário poderá se constituir em um importante instrumento de consolidação e divulgação das tradições locais, devendo ser distribuído às escolas e bibliotecas do município, além dos pontos de atendimento ao turista; 2) Devolver à população o conhecimento produzido durante a pesquisa, por meio de exposições de fotografia e exibição dos vídeos produzidos para a instrução do processo de Registro; 3) Criar mecanismos de consulta à população, para que esta se manifeste a respeito dos modos de proteção e manutenção da festa que considerem adequados, orientando e fortalecendo a construção de políticas de proteção e medidas de salvaguarda. Medidas de Salvaguarda de médio prazo: 1) Regular as atividades turísticas no município, promovendo o turismo cultural e o respeito às atividades da festa; 2) Implantar uma Escola Superior ou Conservatório de Música, para fortalecer a vocação musical da cidade e apoiar os talentos locais. Medidas de Salvaguarda de longo prazo: Construir e implantar políticas públicas voltadas para as questões de infra-estrutura do município, com especial atenção para as áreas de saúde e educação. Segundo o Banco de dados do IPHAN, as ações de recomendações estariam conclusas,
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sem podermos aferir quanto às demais recomendações. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Sem informações.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Registro-Superintendência do IPHAN em Goiás; Equipe Técnica do DPI/IPHAN. ANUÊNCIA: Agência de Cultura Pedro Ludovico – AGEPEL , Pirenópolis; Câmara Municipal de Pirenópolis; Imperadores da Festa do Divino Espírito Santo; PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO: RESTARQ / RESTAURAÇÃO ARQUITETURA E ARTE – NBP. ELABORAÇÃO DO DOSSIÊ: Marina A. M. De Macedo Soares.
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES: Inicialmente previsto apenas para São João del Rey, conforme oficio de solicitação de registro bem, os estudos são estendidos às cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes. Ainda, o parecer técnico enviado ao DPI pede um duplo registro, com a inscrição do Toque dos Sinos como registro das formas de Expressão, e do oficio do sineiro como registro de Saberes.
17. FICHA Nº 019 DATA: 24/05/2014.
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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN165
1. BEM REGISTRADO: Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.010779/2007-11. ABERTURA: agosto/2007. REGISTRO: 05/11/2010.
3. PROPONENTE: ACIMRN – Associação das Comunidades Indígenas do Rio Negro. Localização: Santa Isabel do Rio Negro/AM. Endereço: Rua Laura Vicunã 01, 69740–000. Fone: (97) 3441-1258. E-mail: [email protected].
Fonte: Laure Emperaire – IRD
4. DESCRIÇÃO DO BEM: O Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro é entendido como um conjunto estruturado, formado por elementos interdependentes: as plantas cultivadas, os espaços, as redes sociais, a cultura material, os sistemas alimentares, os saberes, as normas e os direitos. Esse bem cultural está ancorado no cultivo da mandioca brava (manihot esculenta) e apresenta como base social os mais de 22 povos indígenas, representantes das famílias linguísticas Tukano Oriental, Aruak e Maku (não identificadas), localizados ao longo do rio Negro em um território que abrange os municípios de Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas, até a fronteira do Brasil com a Colômbia e com a Venezuela. O Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro organiza um conjunto de saberes e modos de fazer enraizados no cotidiano dos povos indígenas que habitam a região noroeste do Amazonas, ao longo da calha do Rio Negro e das bacias hidrográficas tributárias. Esse bem cultural acontece em um contexto multiétnico e multilinguístico em que os grupos indígenas compartilham formas de transmissão e circulação de saberes, de práticas, de serviços ambientais e de produtos. É possível identificá-lo, uma vez que ele é elaborado constantemente pelas pessoas que o vivenciam. A bacia do Rio Negro é formada por um mosaico de paisagens naturais: floresta de terra firme, campina, vegetação de igapó e chavascal (fonte: ISA). Esta diversidade repercute na vida da população, especialmente nas atividades de caça, de pesca, de agricultura e na coleta de materiais para fabricação de artefatos e de malocas. Os povos indígenas detêm o conhecimento sobre o manejo florestal e sobre os locais apropriados para cultivar, coletar,
165Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
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pescar e caçar. O saber envolvido no Sistema Agrícola do Rio Negro é estratégico para lidar com as limitações e potencialidades do ecossistema da região sem degradá-lo. Esse sistema está baseado na coivara, que é a derrubada de uma área de floresta primária ou de capoeira alta que, em seguida, é deixada para secar e depois é queimada. Nessas clareiras, são plantadas roças por um período de dois a três anos. Depois disso, são gradualmente abandonadas, sendo visitadas, apenas, para a coleta de frutos. Esse tipo de agricultura exige, também, a transferência contínua dos cultígenos de uma roça para a outra. Nesse sentido, fazer uma roça supõe estar inserido em uma rede de troca, fator essencial para a existência do sistema. O Sistema ocorre em condições de baixa pressão demográfica e implica na diferenciação de, no mínimo, três unidades: roças de primeiro ciclo de plantio da mandioca, roças de segundo ciclo com mandioca que serão progressivamente enriquecidas com fruteiras (sistemas agroflorestais) e capoeira. Essa prática de agricultura de queima e pousio é fundamental para esse sistema, pois daí advém seu caráter sustentável e de invisibilidade diante do manejo do agronegócio no Brasil, onde a paisagem é marcada por extensas plantações de monocultura. A agricultura de coivara é destinada ao consumo familiar e à venda de produtos em pequena escala. A mandioca é o principal cultígeno e sua importância nesse sistema não se restringe ao tubérculo comestível, mas, além disso, abrange toda a espécie que a planta representa, ou seja, a sua variedade genética. Todos os sentidos das agricultoras estão voltados para a espécie, deixando o tubérculo em segundo lugar. Diante dessa concepção singular de produto agrícola, é notável a grande diversidade de mandioca cultivada nas roças indígenas. Revela-se, assim, um sistema marcado pela produção de variedades de plantas como um valor em si, uma vez que não há relação direta entre o uso de uma variedade de mandioca e determinado produto (farinha, beiju, mingau, caxiri, etc). Nesse sentido, outros valores, que divergem daqueles que marcam a agricultura ocidental, estão na base desse sistema. Na agricultura ocidental, há uma estreita relação entre o cultígeno e o seu produto final e ocorre uma busca pela homogeinezação e pela alta produtividade. Outro aspecto de divergência entre a agricultura ocidental e a elaborada pelos indígenas do Rio Negro é que para estes a produção dessa diversidade é um bem coletivo que, necessariamente, deve circular e estar na rede de trocas das etnias envolvidas, enquanto para aquela trata-se de uma propriedade privada e da criação de patentes, o que implica no pagamento de royalties.
5. PARECERES: Parecer da Procuradoria Federal da República.
6. VALOR: Saberes.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 65ª Reunião – 4 e 5/11/2010.
8. TERRITÓRIO: Médio Rio Negro/AM (São Gabriel da Cachoeira, Santa Izabel do Rio Negro e Barcelos).
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, levantamento documental e trabalho de campo. Não foi aplicado o INRC.
• Pesquisa Médio Rio Negro o Programa PACTA – CNPq, Unicamp / Projeto DPI,
Documentação e Pesquisa sobre os sistemas agrícolas do Rio Negro / AM, ISA – DPI /
IPHAN;
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• Dossiê Organização: Laure Emperaire – IRD.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: • Plantas Cultivadas: Os elementos que estruturam este sistema são interdependentes e formam um todo organizado, entre eles, constam as plantas cultivadas. A principal é a mandioca, outras variedades de plantas acompanham a mandioca e, muitas vezes, são selecionadas por serem benéficas ao cultivo dessa. Nesse sentido, a presença de uma diversidade de espécies em uma roça é fundamental para o bom desenvolvimento de outras. Além disso, uma variedade ampla de plantas em uma roça é um indicativo de prestígio da agricultora. Para ter essa variedade, a agricultora deve estar inserida em uma rede de transmissão, isto é, de trocas de mudas, onde doadoras e receptoras realizam este trânsito que passa a fazer parte fundamental do melhoramento genético dessas plantas. Nesse contexto, é possível reconstituir a história da planta: de onde veio, para onde irá e por quais processos de melhoramento passou e passa. As roças, também, requerem um cuidado rigoroso das agricultoras, pois critérios estéticos estão implícitos na definição de uma boa agricultora. Entre as imagens que são construídas por uma agricultora faz parte ser generosa, saber trocar e cuidar bem de sua roça. Deste sistema, destaca-se, principalmente: a produção de uma diversidade de plantas provenientes do melhoramento genético feito pelas agricultoras e a necessidade de ter as mudas circulando entre essas mulheres. Essa circulação repousa sobre um vínculo coletivo de solidariedade, de manutenção de um patrimônio comum e de um compartilhamento de uma identidade entre as pessoas envolvidas e com as plantas. Fonte: Nota Técnica e Parecer do DPI; • Espaços - Os elementos que estruturam este sistema são interdependentes e formam um todo organizado, entre eles, constam os espaços. Na região do rio Negro, há uma maneira peculiar de atuar no espaço. As redes de trocas são independentes e passíveis de serem mapeadas, sendo que essas são efetivadas sem ter a sobreposição no plano espacial. Além disso, as agricultoras manejam de forma diferenciada, aproximadamente, dez áreas (vários tipos de roças, copeiras, espaços próximos às casas que abrigam plantas medicinais, fruteiras e plantas condimentares, etc). Nesse contexto, a superfície realmente utilizada é mínima e está inserida em uma matriz florestal em vários estágios de regeneração. Espaços fundamentais nesse sistema são os arredores da casa de forno ou casa de farinha e/ou espaços perto da casa, pois nesses acontece o manejo dessa diversidade agrícola, isto é, a experimentação de novas variedades. Fonte: Nota Técnica e Parecer do DPI; • Cultura Material - Os elementos que estruturam este sistema são interdependentes e formam um todo organizado, entre eles, consta a cultura material. O processamento da mandioca em seus vários produtos (farinha, goma, sumo e etc) acontece por etapas, que são realizadas com o uso de vários artefatos e cestarias. Os utensílios usados na transformação da mandioca são fabricados localmente, comprados ou trocados com outras etnias indígenas. Nas casas de forno estão concentrados estes utensílios, diante da diversidade de objetos aí encontrados, é possível perceber a complexidade envolvida no cultivo e processamento da mandioca. Os artefatos e objetos são as engrenagens da produção agrícola e alimentar, nesse sentido, a diversidade de plantas e de alimentos está diretamente ligada aos objetos em jogo na preparação dos alimentos. Fonte: Nota Técnica e Parecer do DPI; • Redes Sociais - Os elementos que estruturam este sistema são interdependentes e formam um todo organizado, entre eles, constam as redes sociais. A troca entre agricultoras é fundamental na circulação de sementes e de artefatos usados no processamento dos produtos. Como foi mencionado anteriormente (item 1), a elevada diversidade de plantas de uma produtora está relacionada à rede social construída por ela. A circulação de plantas se dá no âmbito familiar, circulam preferencialmente, entre a mãe ou a sogra e ego. Geralmente, essa rede de intercâmbio é formada por 15 a 30 “doadoras” por agricultora. Fonte: Nota Técnica e Parecer do DPI;
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• Sistemas Alimentares - Os elementos que estruturam este sistema são interdependentes e formam um todo organizado, entre eles, constam os sistemas alimentares. Na região do rio Negro, a alimentação tradicional é baseada no consumo de peixe e mandioca. Desse modo, os produtos derivados da mandioca figuram como os principais alimentos. A referência como prato típico comum às diferentes etnias é o quinhãpira, caldo de peixe com pimenta, consumida com beijus. Devido à complexidade dos modos de preparo dos derivados da mandioca, que demandam tempo, espaço e um alto consumo de água, nas cidades, estes produtos não são tão consumidos pelas etnias indígenas e são substituídos por outros. O consumo do caxiri, derivado da mandioca e juntamente com outros tubérculos como carás, batatas, aparece na literatura antropológica como fundamental nas culturas amazônicas. No entanto, nesta região, foi proibido por missionários, passou a ter uma conotação negativa e foi sendo, gradualmente, substituído por outras bebidas alcoólicas industrializadas. Nesses novos contextos, religiosos e em centros urbanos, onde se encontram as etnias indígenas do rio Negro, há modificações nos hábitos alimentares. Mesmo assim, ainda é possível ver a peculiaridades desse sistema alimentar local, construído sobre um amplo conhecimento do meio ambiente, do manejo agro-florestal, da domesticação de numerosas espécies vegetais e da preparação dos alimentos. Fonte: Nota Técnica e Parecer do DPI; • Saberes, Normas e Direitos - Os elementos que estruturam este sistema são interdependentes e formam um todo organizado, entre eles, constam os saberes, normas e direitos. Na região do rio Negro, a atividade agrícola, especialmente, o cuidado com a roça e o manejo de novas variedades é uma atividade feminina. Nesta atividade percebe-se uma habilidade tecnológica, um conhecimento para conservar e produzir uma alta diversidade de plantas, o que permite reconhecer a população local como “melhoristas”. Marca esta região o caráter coletivo da prática agrícola, tanto no que se refere ao acesso à terra quanto às plantas cultivadas. A ampla variedade de plantas aí encontradas provem da importância e do dinamismo das redes de trocas onde circulam mudas e sementes. Relações de sociabilidade definem todo este sistema, entre as agricultoras e suas doadoras de mudas e entre as próprias plantas. Neste contexto social, vigora um sistema de normas centrado em regras de uso coletivo em detrimento de regras de propriedade particular. Fonte: Nota Técnica e Parecer do DPI.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído segundo o banco de dados. O Dossiê de registro apresenta a composição de ações recomendadas a seguir: As demandas locais: perda dos valores culturais e simbólicos ligados ao sistema agrícola; debate das interfaces entre os saberes locais agronômicos e os saberes tecnológicos nesta mesma área; iniciativas de aproximação dos jovens; continuidade e fortalecimento de processos de pesquisas interculturais e experimentações; Ações de valorização cultural: primeira ação deste plano de salvaguarda no fomento à discussão sobre a construção de um novo projeto político pedagógico voltado às escolas diferenciadas com inclusão das questões afetas ao sistema agrícola local; Pesquisa e documentação: dimensão histórica do sistema agrícola; conservação de um patrimônio biológico; inserção econômica dos produtos agrícolas; A pesquisa prevê a realização de oficinas para: • definição de um quadro referencial das pesquisas a serem empreendidas; • capacitação em técnicas de base para documentação (principalmente GPS, vídeo,fotografia digital, uso de imagem satélite, gravação áudio, eventualmente lupa binocular); • discussão sobre temas de interesse local (arqueologia, história regional, história das comunidades, alimentação, instrumentos legais de proteção, mecanismos locais de regulação da produção, ...); Promoção de um diálogo entre gerações; Consulta regional sobre as demandas em torno do sistema agrícola.
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( X ) AÇÕES. Em andamento. Sem informações.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Instituições: Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro – ACIMRN, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, o Instituto Sócio Ambiental – ISA, o Programa PACTA – Populações, Agrobiodiversidade e Conhecimentos Tradicionais na Amazônia, cooperação bilateral Brasil-França do CNPq Universidade Estadual de Campinas – Unicamp e Institut de Recherche pour le Développement – IRD. Parcerias: Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – FOIRN o Associação Indígena de Barcelos – ASIBA. Dossiê Organização: Laure Emperaire – IRD.
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.
14. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES: Solicitação a Procuradoria da República de parecer. Apesar de não ser aplicado o INRC, o Dossiê de Registro é um dos mais completos enquanto pesquisa, indicadores e construção de ações de preservação do bem cultural. Ata de reuniaõ na Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro FOIRN com anuência de 214 associados, através de abaixo assinado em "monção" o registro do bem cultural.
17. FICHA Nº 020 DATA: 24/05/2014.
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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN166
1. BEM REGISTRADO: Ritual Yaokwa do povo indígena Enawene Nawe.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.011160/2006-42. ABERTURA: agosto/2006. REGISTRO: 05/11/2010.
3. PROPONENTE: OPAN - Operação Amazônia Nativa. Localização: Cuiabá/MT. Endereço: Av. Ipiranga, 97 - Bairro Goiabeira. Site: www.opan.org.br.
Fonte: Acervo do IPHAN.
4. DESCRIÇÃO DO BEM: O Ritual Yaokwa é considerado a principal cerimônia do complexo calendário ritual dos Enawene Nawe, povo indígena de língua Aruak, cujo território tradicional e Terra Indígena estão localizados na região noroeste do estado de Mato Grosso. Com duração de sete meses, este ritual define o princípio do calendário anual Enawene, quando se dá a saída dos homens para a realização da maior de suas pescas - a pesca coletiva de barragem. O Ritual Yaokwa estende-se durante o período da seca, época marcada pelas interações com os temidos seres naturais do patamar subterrâneo, os Yakairiti. Na perspectiva nativa, estes seres estão condenados a viver com uma fome insaciável e precisam dos Enawene Nawe para satisfazer seu desejo voraz por sal vegetal, peixe e outros alimentos derivados do milho e da mandioca. Assim, os Enawene Nawe devem estabelecer uma relação de troca constante com esses espíritos para manter a ordem social e cósmica, trocas estas que ocorrem por meio de um complexo ciclo ritual que se distribui ao longo do ano. Para a realização deste ritual, o povo Enawene Nawe se divide entre os Harikare e os Yaokwa, em conformidade com os clãs que organizam sua sociedade. Os Harikare são os anfitriões, ou seja, os responsáveis pela organização do ritual e, como tais, permanecem na aldeia junto às mulheres, devendo preparar o sal vegetal, cuidar da lenha, acender o fogo e oferecer os alimentos, assim como limpar o pátio e os caminhos. Já os Yaokwa são os pescadores, que partem em expedições para acumular uma grande quantidade de peixe defumado e, assim, poder retornar para a aldeia e oferecer a pesca aos Yakairiti. O Ritual Yaokwa inicia-se em janeiro, com a colheita da mandioca e a coleta das matérias-primas, casca de árvore e cipó, para a construção do Mata - corpo central das armadilhas de pesca que deve ser acoplado às barragens a serem construídas nos rios. Neste período, realizam-se as primeiras oferendas de alimentos, cantos e danças aos Yakairiti. A pescaria do Ritual Yaokwa é organizada com a divisão da aldeia em nove grupos rituais de acordo com os clãs e com o conjunto de espíritos Yakairiti a que estão vinculados. Os pescadores, tendo removido os adornos que os identificam como humanos e se dividido em grupos, partem então para acampar às margens de rios de médio porte: rio Joaquim Rios (Tinuliwina e Muxikiawina), tributário do rio Camararé; rio Arimena e rio Preto (Olowina e Adowina),
166Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
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tributários do rio Juruena e rio Nambikwara (Huyakawina), tributário do rio Doze de Outubro. O momento exato da partida é indicado, principalmente, pela floração da gramínea ohã (Gymnopogo foliosu) e pela fase lunar Tonaytiri. Estes sinais indicam o movimento migratório dos peixes das áreas alagáveis para as calhas dos rios, após a piracema. Chegando aos acampamentos, os pescadores dão início à construção da barragem de pesca, que deve seguir um procedimento rigoroso para evitar seu rompimento pela força da água. A pesca de barragem se baseia no mito de Dokoi, morto pelos peixes, cujo pai, Dataware, para vingar a morte do filho, arremessava paus nas águas dos rios, e esses se transformavam em barragens que passaram a funcionar como armadilha na captura dos peixes. A construção das barragens pelos Enawene Nawe os torna cúmplices dessa vingança. Nas barragens, a pesca dura dois meses e é orientada por homens mais velhos, conhecedores dos sinais emitidos pela natureza, que indicam cada etapa do rito. Em cada barragem, um ancião emissor de sopros e palavras poderosas, tendo o sal vegetal em mãos, volta-se para um dos pescadores, que representa os seres Yakairiti, oferece o sal como troca pelos peixes que os Yaokwa pretendem pescar com as armadilhas, e espera que esses seres conduzam os peixes até elas. O sal, então, é consumido, indicando que foi selada a parceria entre humanos e seres sobrenaturais. Com o estoque de peixes obtido, os pescadores se preparam para o retorno. No pátio da aldeia, eles representam os agressivos Yakairiti, enquanto os anfitriões representam os próprios Enawene Nawe, que os recepcionam aos pulos e gritos. Quando tudo parece se acalmar, as trocas iniciam-se: os pescadores entregam os peixes e recebem o sal vegetal e as bebidas de mandioca e de milho. Isto significa que a ira dos Yakairiti foi aplacada e que eles foram domesticados. Os anfitriões, em seguida, repõem nos pescadores os adornos retirados, humanizando-os. Os peixes e os alimentos vegetais então produzidos e acumulados irão abastecer os banquetes festivos que ocorrerão diariamente ao longo de mais alguns meses, em noites iluminadas por fogueiras e acompanhadas por cantos com flautas e danças. Orientado pela cosmologia Enawene e regulado pelos ciclos da natureza, o Ritual Yaokwa integra complexas relações de ordem simbólica e articula domínios distintos, porém indissociáveis e interdependentes da sociedade, da cultura e da natureza. Para que ele seja realizado, é necessário que se satisfaça um conjunto de elementos que estrutura, material e imaterialmente, performances específicas. Estes elementos envolvem determinadas condições ambientais que garantem a obtenção dos produtos animais e vegetais necessários à execução do rito. Engloba também um repertório de tradições orais, danças, cantos, instrumentos e outros saberes tradicionais. Fonte: Banco de Dados de Bens Culturais Registrados - BRC.
5. PARECERES: Parecer DPI, Parecer Conselho, Parecer Procuradoria Federal.
6. VALOR: Celebrações.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 65ª Reunião – 5/11/2010.
8. TERRITÓRIO: Mato Grosso.
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, levantamento documental e trabalho de campo. Elaboração do Dossiê INICIATIVA E PRODUÇÃO CULTURAL - Povo Enawene Nawe / OPAN- Operação Amazônia Nativa. COORDENAÇÃO DE PESQUISA: Andrea Jakubaszko; EQUIPE DE PESQUISA: Ana Paula Lima Rogers - Musica/Partituras, Instrumentos Musicais e Coreografias; Andrea Jakubaszko -Revisão Bibliográfica e Transmissão dos Conhecimentos;
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José Maria Andrade - Edificações e Arquitetura REDAÇÃO DO DOSSIÊ: Andrea Jakubaszko. Não foi aplicado o INRC.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Concluído. Difícil de aferir sua conclusão. As Recomendações expostas no Dossiê são: 1. Que o Estado Brasileiro, no cumprimento da legislação e constituição brasileira, promova umacoordenação mais integrada, e equilibrada, entre as ações e competências dos diversos órgãose ministérios; 2. Que sejam efetivadas as recomendações propostas pela Câmara dos Deputados, de acordocom o relatório da VIII Caravana de Direitos Humanos, realizada em 2003, que estabelece determinações para os Ministérios, FUNAI, STF, STJ e TRFs, Congresso Nacional especificamente aos estados de MT, MS, SC e BA. 3. Que o Estado faça valer o cumprimento das determinações previstas pela Convenção do Clima; Convenção sobre a Biodiversidade; OIT; e Agenda 21; 4. Que o Estado garanta o direito de acesso aos recursos do ICMS Ecológico, junto aos municípios de Sapezal, Juína e Comodoro. ( X ) AÇÕES. Em andamento desde 2010. Sem informações.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Povo Enawene Nawe; OPAN- Operação Amazônia Nativa; IPHAN / MT; DPI / IPHAN.
14. AÇÕES DE APOIO: Ações de salvaguarda do IPHAN.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES: Rico material iconográfico no dossiê. Não foi aplicado o INRC.
17. FICHA Nº 021 DATA: 26/05/2014.
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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN167
1. BEM REGISTRADO: Festa de Sant‟Ana de Caicó/RN.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.004977/2008-26. ABERTURA: março/2008. REGISTRO: 10/12/2010.
3. PROPONENTE: Diocese de Caicó e Paróquia de Sant´Ana de Caicó. Localização: Caicó/RN. Endereço: Rua de João Maria 27 – Centro.
Fonte: Maria Iglê / Acervo INRC Seridó (IPHAN ) / 2007.
4. DESCRIÇÃO DO BEM: A Festa de Sant'Ana de Caicó/RN é uma celebração tradicional que ocorre há mais de 260 anos e reúne diversos rituais religiosos, profanos e outras manifestações culturais da região do Seridó norte-rio-grandense. A Festa está profundamente enraizada na história de Caicó, em particular, e do sertão potiguar, em geral, remontando aos processos de formação da sociedade brasileira, ainda, no período da colonização portuguesa. Ocorre anualmente da quinta-feira anterior ao dia 26 de julho, dia de Sant'Ana, até o domingo subsequente. A Festa inclui também um "ciclo preparatório" que se inicia, geralmente, no mês de abril. Ao longo dos séculos foram alteradas as composições cerimoniais e, atualmente, os principais eventos que ocorrem nos dias festivos são: o "ciclo de preparação da Festa de Sant'Ana" que inclui as Peregrinações Rurais e Urbanas e seus rituais de missa e procissão, assim como o Encontro das Imagens e a Peregrinação a Sant'Ana "Caravana Ilton Pacheco"; abertura oficial da Festa marcada por caminhada solene, quando o estandarte de Sant'Ana é hasteado em mastro localizado em frente à Catedral; as programações sócio-culturais promovidas tanto pela paróquia quanto pelo governo e população em geral, entre os quais se incluem: Jantar e a Feirinha de Sant'Ana, Arrastão da Juventude, Marcha dos Idosos, Baile dos Coroas, a Festa da Juventude, eventos na Ilha de Sant'Ana, Festa do Re-encontro, Festas dos Ex-alunos; as novenas, bênçãos, missas, demais ritos litúrgicos e expressões culturais a eles relacionadas, como o Ofício de Sant'Ana e o Hino de Sant'Ana; a Cavalgada e o Leilão de Sant'Ana, expressão de devoção dos vaqueiros e de rememoração; a Carreata de Sant'Ana, momento em que os motoristas, caminhoneiros, motoqueiros, ciclistas e pedestres seguem em cortejo para receber benção e acompanhar a novena em sua homenagem; a Missa Solene na qual ocorre também o fim da ornamentação do andor; o momento do "beija" que ocorre antes e depois da Procissão Solene; a Procissão de encerramento da Festa de Sant'Ana quando o andor circula pela cidade. Além das celebrações, os dias da Festa incorporam muitas outras manifestações culturais que contribuem para a construção das identidades e para a expressão deste complexo cultural. Desta forma, destacam-se também: os ofícios e modos de produção tradicionais das "comidas" do Seridó potiguar e dos muitos artesanatos sertanejos como, por exemplo, os bordados do Seridó; os diversos lugares significativos para a história e a identidade seridoense em geral e caicoense em particular como, por exemplo, o Poço de Sant'Ana; as
167Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
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músicas e bandas, os Hinos, os poemas, o "Beija" e demais formas de expressão do sertão norte-rio-grandense. A Festa de Sant'Ana de Caicó/RN, constantemente ressignificada, se transforma também em ponto de convergência para a população de todo o Seridó, para migrantes, para turistas e para muitos que através dela reforçam seus sentimentos de pertencimento e de identidade. Este evento demarca um tempo e um espaço de sociabilidade no qual o sagrado e o profano se entrelaçam e se misturaram também a outras expressões culturais da região. Além de uma celebração representativa para este município, permite vislumbrar a diversidade das manifestações culturais e possibilita a compreensão abrangente de todo o Seridó potiguar. Assim, o espaço sagrado, as expressões narrativas, os atores sociais envolvidos e a tradição festiva são elementos que permitem manter a continuidade entre passado e presente. Fonte: Banco de Dados de Bens Culturais Registrados - BRC.
5. PARECERES: Parecer DPI, Parecer Procuradoria Federal, Parecer Conselho Consutivo.
6. VALOR: Celebrações.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 66ª Reunião – 9 e 10/12/2010.
8. TERRITÓRIO: Rio Grande do Norte.
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
10. METODOLOGIA: Sem metodologia descrita no dossiê que se assemelha a um estudo histórico antropológico, levando em considerações os valores históricos e artísticos da celebração como fator patrimonializante. O parecer do DPI indica a realização do INRC na Região do Seridó, tendo como consequência, a indicação da Festa de Sant‟Ana de Caicó/RN como bem cultural a ser registrado.CONSULTORIA IPHAN – INVENTÁRIO Romero de Oliveira e Marcos Vinícius Garcia; COORDENAÇÃO GERAL DO INVENTÁRIO DA CULTURA DO SERIDÓ: Julie Cavignac (DAN/UFRN) e Jeanne F. Leite Nesi (IPHAN/RN); COORDENADORES DO INRC – SERIDÓ POTIGUAR Muirakytan Kennedy (Celebrações).
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.
12. SALVAGUARDAS: Não há informações sobre salvaguardas nos dossiê de registro do bem cultural. O parecer do DPI indica algumas sugestões em pequeno, médio e longo prazos. Registro e documentação dos ofícios de chouriço e bordadeiras; comitê gestor para a festa; auxilio do poder publico na realização da festa; Recuperar e proteger o Poço de Sant‟Ana, Educação patrimonial nas escolas; incentivar pesquisas e publicações, bem com o Memória de Sant‟Ana; Criação de um roteiro histórico da festa para atração de visitantes.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Diocese de Caicó, Paróquia de Sant'Ana de Caicó, Museu do Seridó e Casa de Cultura de Caicó Zezinho Vídeo, Lydia Brito, Fábrica Murielle, Tarcisio Salustiano Silva , Site Kurtição, SEBRAE-CAICÓ, REDESIST/IE/UFRJ, Associação dos Caminhoneiros de Caicó.
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14. AÇÕES DE APOIO: Sem informações.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES: O processo de registro apresenta o apoio da população de Caicó somando 1330 assinaturas.
17. FICHA Nº 022 DATA: 26/05/2014.
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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN168
1. BEM REGISTRADO: Bumba-meu-boi do Maranhão.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.007272/2008-61. ABERTURA: abril/2008. REGISTRO: 30/08/2011.
3. PROPONENTE: Comissão Interinstitucional de Trabalho: Superintendente do IPHAN/MA. Secretário Estadual de Cultura do MA; Presidente da Fundação Municipal de Cultura; Comissão Maranhense de Folclore; Grupo de Pesquisa Religião e Cultura Popular UFMA; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque da Baixada; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Zabumba; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Costa-de-mão; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Orquestra; Grupos de bumba-meu-boi alternativos.
Fonte: Edgard Rocha / 2007.
4. DESCRIÇÃO DO BEM: O Bumba-meu-boi é uma festa tradicional em que a figura do boi é o elemento central, porém reúne diversas outras manifestações culturais e assim se configura como um vasto “complexo cultural”. Muitas vezes definido como um folguedo popular, o Bumba-meu-boi extrapola o aspecto lúdico da brincadeira para fazer sentido como uma grande celebração em cujo centro gravitacional encontram-se o boi, o seu ciclo vital e o universo místico-religioso. Profundamente enraizado no cristianismo e, em especial, no catolicismo popular, o Bumba-meu-boi envolve a devoção aos santos juninos São João, São Pedro e São Marçal, que mobilizam promessas e marcam algumas datas comemorativas. Contudo, os cultos religiosos afro-brasileiros do Maranhão, como o Tambor de Mina e o Terecô, também estão presentes nessa celebração, uma vez que ocorre o sincretismo entre os santos juninos e os orixás, voduns e encantados que requisitam um boi como obrigação espiritual. O Bumba-meu-boi é vivenciado pelos brincantes ao longo de todo o ano. As apresentações dos Bois ocorrem em todo o estado do Maranhão e concentram-se durante os festejos juninos. Seu ciclo festivo e de apresentações pode ser apreendido em quatro etapas: os ensaios, o batismo do boi, as apresentações e a morte. O Bumba-meu-boi do Maranhão comporta diversos estilos de brincar - chamados de sotaques - sem que, contudo, se tornem manifestações distintas. Em geral, dividem-se os sotaques em cinco: Baixada, Matraca,
168Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
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Zabumba, Costa-de-mão, Orquestra; contudo, estes estilos não são os únicos e existem ainda muitas variações, assim como Bois alternativos. Alguns aspectos intrinsecamente relacionados à celebração são o boi, a festa, os rituais, a devoção aos santos associados à manifestação, as músicas, as danças, as performances dramáticas, os personagens, os artesanatos e demais ofícios, os instrumentos, os diversos estilos (sotaques) de brincar o Bumba-meu-boi e o caráter lúdico. Assim, esta celebração articula várias formas de expressão e saberes. O Bumba-meu-boi é uma manifestação com grande capacidade de mobilização social, que reforça laços de solidariedade entre os brincantes e, consequentemente, contribui na (re)construção identitária. Fonte: Banco de Dados de Bens Culturais Registrados - BRC.
5. PARECERES: Parecer DPI, Parecer Conselho, Parecer Procuradoria Federal.
6. VALOR: Celebrações.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 68ª Reunião – 30/08/2011.
8. TERRITÓRIO: Doze municípios maranhenses: São Luís, Paço do Lumiar, Viana, Cedral, Mirinzal, Matinha, Curupu, Guimarães, Rosário, Axixar, Presidente Juscelino, Central do Maranhão, Penalva.
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
10. METODOLOGIA: INRC – Entre os anos de 2001 e 2004 fora realizado o inventario pelo CNFCP – Centro
nacional de Folclore e Cultura Popular, fruto do projeto de pesquisa Celebrações e Saberes
da Cultura Popular. sem ações subsequentes, complementado em 2007 pelo DPI.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.
12. SALVAGUARDAS: Recomendações de salvaguarda elaboradas ao longo do processo de Registro, dificultando o processo de verificação da recomendação e andamentos. O dossiê indica considerações genéricas, sobretudo quanto a documentação, transmissão, educação patrimonial, promoção audiovisual, articulação de lideranças e festivais.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Livro de Adesão datado de abril de 2007 com 1433 assinaturas. Ainda, conta o pedido de abertura dos estudos para Registro as assinaturas: Superintendente do IPHAN/MA. Secretário Estadual de Cultura do MA; Presidente da Fundação Municipal de Cultura; Comissão Maranhense de Folclore; Grupo de Pesquisa Religião e Cultura Popular UFMA; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque da Baixada; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Zabumba; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Costa-de-mão; Grupos de Bumba-meu boi do Sotaque de Orquestra; Grupos de bumba-meu-boi alternativos.
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14. AÇÕES DE APOIO: Sem informações.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES: Sem informações.
17. FICHA Nº 023 DATA: 26/05/2014.
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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS
CULTURAIS PELO IPHAN169
1. BEM REGISTRADO: Saberes e Práticas Associados ao modo de fazer Bonecas Karajá.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.005542/2010. ABERTURA: abril/2010. REGISTRO: 25/01/2012.
3. PROPONENTE: Iny Mahadu Coordenação Localização: São Félix do Araguaia/MT Endereço: Rua do Comércio nº 227, Centro. E-mail: [email protected].
Fonte: Telma Camargo da Silva / 2009.
4. DESCRIÇÃO DO BEM: Os Saberes e Práticas Associados ao modo de fazer Bonecas Karajá são uma referência cultural significativa para o povo Karajá e representam, muitas vezes, a única ou a mais importante fonte de renda das famílias. Atualmente, a confecção dessas figuras de cerâmica, denominadas na língua nativa de ritxòkò (na ala feminina) e/ou ritxòò (na ala masculina), é uma atividade exclusiva das mulheres e envolve técnicas e modos de fazer considerados tradicionais e transmitidos de geração em geração. O processo de confecção envolve o uso de três matérias-primas básicas: a argila ou o barro – suù, que é a matéria-prima principal; a cinza – que funciona como antiplástico; a água utilizada para umedecer a mistura proveniente do barro e da cinza. Apesar de guardar algumas especificidades conforme as aldeias de Santa Isabel do Morro ou de Buridina, pode-se dizer que o modo de fazer ritxòkò consiste, basicamente, nas seguintes etapas: 1) extração do barro; 2) preparação do barro;3) modelagem das figuras;4) queima;5) pintura. A pintura e a decoração das cerâmicas estão associadas, respectivamente, à pintura corporal dos Karajá e às peças de vestuário e adorno consideradas tradicionais. Indicativos de categorias de gênero, idade e estatuto social, a pintura e os adereços complementam a representação figurativa das bonecas, que identificam então “o Karajá” homem ou mulher, solteiro ou casado, com todos os atributos que “a cultura” cria para distinguir convencionalmente essas categorias. O processo (criativo) de produção das ritxòkò ocorre por meio de um jogo de elaboração e variação de formas e conteúdos determinado por uma série de fatores, como a experiência, a habilidade técnica e a preferência estética da ceramista pela combinação dos motivos temáticos e dos diversos padrões de grafismo aplicados, a função do objeto, o acesso às matérias-primas e a disponibilidade de recursos financeiros para a compra de materiais, a exigência do mercado interno e/ou externo às aldeias, entre outros.
169Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
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5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Procuradoria Federal ; Parecer do Conselho Consultivo.
6. VALOR: Saberes.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 69ª Reunião – 25 de janeiro de 2012.
8. TERRITÓRIO: Território Karajá – GO/TO.
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
10. METODOLOGIA: As informações resultam de pesquisa de campo etnográfica e estudos bibliográfico (dossiê, introdução).
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Plano de salvaguardo elaborado com a auto-determinação indígena, respeitando direitos; salvaguardar o oficio o os modos de fazer as ritxókó; maior articulação entre os entes federativos ao desenvolvimento de projetos pela Associação da Aldeia Karajá e Associação Indígena Iny Mahadu, como oficinas para transmissão do saber fazer das bonecas, seus padrões gráficos, nome e significados, com a produção de livro; produção da cerâmica utilitária em desaparecimento. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Sem informações.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Abaixo assinado em Apoio contendo a assinatura de 72 indígenas. IPHAN, UFG, Museu Antopológico da UFG, FAPEG. MINC, FUNAI, FUNASA, MPU. Aldeia Wataú da Ilha de Bananal (TO). Iny Mahadu Coordenação com atuação em 15 aldeias Karajá (Aruanã, Mirindiba, Nova Tytemã, Watau, JK, Stª Isabel do Morro, Axiwe, Fontoura, Krehãwa, Hãwalora, Itxala, Ibutuna, Macaubas e Lago Grande). Universidade Católica de Goias.
14. AÇÕES DE APOIO: Sem informações.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES: População inserida em contexto urbano que envolve um contato Inter étnico cada vez mais regular e intenso com a sociedade regional envolvente. O turismo nas cidades de Aruanã e São Felix do Araguáia MT , onde as bonecas são vendidas, vem impactando negativamente nessas comunidades.
17. FICHA Nº 024 DATA: 26/05/2014.
301
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN170
1. BEM REGISTRADO: Ritxòkò: Expressão Artística e Cosmológica do Povo Karajá.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.005542/2010. ABERTURA: abril/2010. REGISTRO: 25/01/2012.
3. PROPONENTE: Iny Mahadu Coordenação Localização: São Félix do Araguaia/MT Endereço: Rua do Comércio nº 227, Centro. E-mail: [email protected].
Fonte: Raíssa Ladeira Tavares / 2010.
4. DESCRIÇÃO DO BEM: As Ritxòkò - Expressão Artística e Cosmológica do Povo Karajá - são uma referência cultural significativa para o povo Karajá e representam, muitas vezes, a única ou a mais importante fonte de renda das famílias. Atualmente, a confecção dessas figuras de cerâmica, denominadas na língua nativa de ritxòkò (na ala feminina) e/ou ritxòò (na ala masculina), é uma atividade exclusiva das mulheres e envolve técnicas e modos de fazer considerados tradicionais e transmitidos de geração em geração. As bonecas Karajá condensam e expressam importantes aspectos da identidade do grupo, além de simbolizar diferentes planos da sua sóciocosmologia. Mais do que objetos meramente lúdicos, as ritxòkòs são consideradas representações culturais que comportam significados sociais profundos, por meio dos quais se reproduz o ordenamento sócio-cultural e familiar dos Karajá. Com motivos rituais, mitológicos, da vida cotidiana e da fauna, as bonecas Karajá são importantes instrumentos de socialização das crianças que, brincando, se vêem nesses objetos e aprendem a ser Karajá. A pintura e a decoração das cerâmicas estão associadas, respectivamente, à pintura corporal dos Karajá e às peças de vestuário e adorno consideradas tradicionais. Indicativos de categorias de gênero, idade e estatuto social, a pintura e os adereços complementam a representação figurativa das bonecas, que identificam então “o Karajá” homem ou mulher, solteiro ou casado, com todos os atributos que “a cultura” cria para distinguir convencionalmente essas categorias. O processo (criativo) de produção das ritxòkò ocorre por meio de um jogo de elaboração e variação de formas e conteúdos determinado por uma série de fatores, como a experiência, a habilidade técnica e a preferência estética da ceramista pela combinação dos motivos temáticos e dos diversos padrões de grafismo aplicados, a função do objeto, o acesso às matérias-primas e a disponibilidade de recursos financeiros para a compra de materiais, a exigência do mercado interno e/ou externo às aldeias, entre outros.
170Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
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5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Procuradoria Federal ; Parecer do Conselho Consultivo.
6. VALOR: Formas de expressão.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 69ª Reunião – 25 de janeiro de 2012.
8. TERRITÓRIO: Território Karajá – GO/TO.
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
10. METODOLOGIA: As informações resultam de pesquisa de campo etnográfica e estudos bibliográfico (dossiê,
introdução).
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Plano de salvaguardo elaborado com a auto-determinação indígena, respeitando direitos; salvaguardar o oficio o os modos de fazer as ritxókó; maior articulação entre os entes federativos ao desenvolvimento de projetos pela Associação da Aldeia Karajá e Associação Indígena Iny Mahadu, como oficinas para transmissão do saber fazer das bonecas, seus padrões gráficos, nome e significados, com a produção de livro; produção da cerâmica utilitária em desaparecimento. ( X ) AÇÕES. Em andamento. Sem informações.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Abaixo assinado em Apoio contendo a assinatura de 72 indígenas. IPHAN, UFG, Museu Antopológico da UFG, FAPEG. MINC, FUNAI, FUNASA, MPU. Aldeia Wataú da Ilha de Bananal (TO). Iny Mahadu Coordenação com atuação em 15 aldeias Karajá (Aruanã, Mirindiba, Nova Tytemã, Watau, JK, Stª Isabel do Morro, Axiwe, Fontoura, Krehãwa, Hãwalora, Itxala, Ibutuna, Macaubas e Lago Grande). Universidade Católica de Goias.
14. AÇÕES DE APOIO: Sem informações.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES: Indicação para registro como resultado do Dossiê Descritivo sobre o Ofício e os Modos de Fazer as Bonecas karajá. População inserida em contexto urbano que envolve um contato Inter étnico cada vez mais regular e intenso com a sociedade regional envolvente. O turismo nas cidades de Aruanã e São Felix do Araguáia MT , onde as bonecas são vendidas, vem impactando negativamente nessas comunidades.
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17. FICHA Nº 025 DATA: 26/08/2014.
304
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN171
1. BEM REGISTRADO: Fandango Caiçara.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.014268/2008-59. ABERTURA: novembro/2008. REGISTRO: 29/11/2012.
3. PROPONENTE: Associação de Cultura Popular Mandicuera. Localização: Paranaguá/PR. Endereço: R 49 - Jd 7 de Setembro, 0 - Ilha de Valadares.
Fonte: Felipe Varanda/ Vila Fátima - Ilha do Superagui -
Guaraqueçaba/PR/ junho 2005.
4. DESCRIÇÃO DO BEM: O Fandango Caiçara é uma expressão musical-coreográfica-poética e festiva, cuja área de ocorrência abrange o litoral sul do estado de São Paulo e o litoral norte do estado do Paraná. Essa forma de expressão possui uma estrutura bastante complexa e se define em um conjunto de práticas que perpassam o trabalho, o divertimento, a religiosidade, a música e a dança, prestígios e rivalidades, saberes e fazeres. O Fandango Caiçara se classifica em batido e bailado ou valsado, cujas diferenças se definem pelos instrumentos utilizados, pela estrutura musical, pelos versos e toques. Nos bailes, como são conhecidos os encontros onde há Fandango, se estabelecem redes de trocas e diálogos entre gerações, intercâmbio de instrumentos, afinações, modas e passos viabilizando a manutenção da memória e da prática das diferentes músicas e danças. O Fandango Caiçara é uma forma de expressão profundamente enraizada no cotidiano das comunidades caiçaras, um espaço de reiteração de sua identidade e determinante dos padrões de sociabilidade local.
5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Procuradoria Federal ; Parecer do Conselho Consultivo.
6. VALOR: Formas de expressão.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 71ª Reunião – 29 de novembro de 2012.
8. TERRITÓRIO: SP/PR (litoral norte do PR ao sul do Sp) As localidades seguiram a divisão municipal (Morretes, Paranaguá, Guaraqueçaba, Cananéia e Iguape).
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
171Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
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10. METODOLOGIA: “Não existem dados de Metodologia de Pesquisa para exibir até o momento” Texto descritivo intitulado: Fandango Caiçara: expressões de um sistema cultural, apresenta-se, como o Dossiê de Registro do Fandango Caiçara.Responsável pelo inventário: Associação Cultural Caburé. Aplicação do INRC: oficina de treinamento da equipe coordenação com técnicos do Iphan e do CNFCP - Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, voltada especialmente para o preenchimento das fichas do INRC ( somente as fichas quanto ás formas de expressão) As informações resultam de pesquisa de campo etnográfica e estudos bibliográfico (dossiê, introdução).
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Elaboração de um Pré Plano de salvaguardo elaborado com as distribuição das linhas de Ação por temas a saber: Ensino/Aprendizagem; Apoio/Ajutório; Encontro, troca rede e multirão; Pesquisa e Memória; Importância e Condições de Continuidade; Divulgação. ( ) AÇÕES. Sem informação no processo de patrimonialização. Ações são desenvolvidas conforme dossiê de registro, anteriormente à titulação, conforme descrito na observação.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: As entidades que pleitearam o pedido de registro foram: Associação de Cultura Popular Mandicuéra (PR), Associação dos Fandangueiros de Cananéia (SP), Associação dos Fandangueiros do Município de Guaraqueçaba (PR), Associação dos Jovens da Juréia. (SP), Associação Rede Cananéia (SP), Associação Cultural Caburé (RJ), Instituto de Pesquisas Cananéia (SP), Instituto Silo Cultural José Kleber (RJ), Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas em Áreas Úmidas Brasileiras da Universidade de São Paulo (SP).Processo de Registro: IPHAN ( DPI; FNFCP; Regional do IPHAN em SP e PR e Associação Cultural Caburé.
14. AÇÕES DE APOIO: Sem informações.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES: As entidades que pleitearam o pedido de registro foram: Associação de Cultura Popular Mandicuéra (PR), Associação dos Fandangueiros de Cananéia (SP), Associação dos Fandangueiros do Município de Guaraqueçaba (PR), Associação dos Jovens da Juréia. (SP), Associação Rede Cananéia (SP), Associação Cultural Caburé (RJ), Instituto de Pesquisas Cananéia (SP), Instituto Silo Cultural José Kleber (RJ), Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas em Áreas Úmidas Brasileiras da Universidade de São Paulo (SP).Processo de Registro: IPHAN ( DPI; FNFCP; Regional do IPHAN em SP e PR e Associação Cultural Caburé.
17. FICHA Nº 026 DATA: 26/08/2014.
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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN172
1. BEM REGISTRADO: Festa do Divino Espírito Santo de Paraty/RJ.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.015103/2007-13 ABERTURA: agosto/2011. REGISTRO: 03/04/2013.
3. PROPONENTE: Instituto Histórico e Artístico de Paraty Localização: Paraty/RJ. Endereço: Antiga Cadeia - Largo de Santa Rita Centro Histórico. Site: www.ihap.org.br.
Fonte: Lívia Lima.
4. DESCRIÇÃO DO BEM: A celebração do Espírito Santo é uma manifestação cultural e religiosa, de origem portuguesa, disseminada no período da colonização e ainda hoje presente em todas as Regiões do Brasil, com variações em torno de uma estrutura básica: a Folia, a Coroação de um imperador, e o Império do Divino, símbolos principais do ritual. A esta estrutura básica, a Festa do Divino de Paraty vêm incorporando outros ritos e representações que agregam elementos próprios e específicos relacionados à história e à formação de sua sociedade. O conhecimento produzido para a instrução do processo permitiu identificar os elementos constitutivos deste bem cultural, desde sua origem até sua expressão contemporânea, cuja síntese é a seguinte: A Festa do Divino Espírito Santo de Paraty, Rio Janeiro, é uma celebração profundamente enraizada no cotidiano dos moradores daquela cidade, um espaço de reiteração de sua identidade e determinante dos padrões de sociabilidade local. Constituída por vários rituais religiosos e expressões culturais, a Festa se realiza a cada ano, iniciando no Domingo de Páscoa, com o levantamento do mastro, e suas manifestações e rituais ocorrem ao longo da semana que antecede o Domingo de Pentecostes, principal dia da festa. A celebração propicia momentos importantes, símbolos de caridade e de colaboração entre a comunidade, como o almoço do Divino, a distribuição de carne
abençoada e de doces.
5. PARECERES: Parecer Técnico do DPI; Parecer Procuradoria Federal ; O parecer do Conselho Consultivo não está disponibilizado.
6. VALOR: Celebrações.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 72ª Reunião – 03 de abril 2013.
172Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
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8. TERRITÓRIO: Paraty – RJ.
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
10. METODOLOGIA: “Não existem dados de Metodologia de Pesquisa para exibir até o momento”. Segundo parecer do DPI o INRC fora aprovado com restrições, devendo ser refeito, conforme notas técnicas 07 e 09/2011 (pg 02) A instrução do Processo de Registro foi realizada inteiramente pela Regiona do IPHAN no RJ.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Segundo parecer do DPI o dossiê de Registro traz algumas recomendações (soltas) de salvaguardas que apontam incisivamente sobre a valorização da festa: calendário cultural da cidade; incentivo ao turismo religioso; produção, reprodução e circulação do bem cutural; sensibilização do poder local; valorização das formas de expressão e Mestres da Festa do Divino; promoção e divulgação do bem cultural. ( ) AÇÕES. Sem informação no processo de patrimonialização.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Abaixo assinado com 38 assinaturas da população de Paraty, através de documento organizado pelo Instituto Histórico e Artístico de Paraty. IPHAN Regional do Rio de Janeiro.
14. AÇÕES DE APOIO: Sem informações.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES: Pesquisa para registro realizada inteiramente pela Regional do IPHAN no Rio de Janeiro.
17. FICHA Nº 027 DATA: 26/08/2014.
308
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE REGISTROS DE BENS CULTURAIS PELO IPHAN173
1. BEM REGISTRADO: Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim.
2. NÚMERO DO PROCESSO: 01450.000828/2010-11. ABERTURA: ? REGISTRO: 05/06/2013.
3. PROPONENTE: Devoção do Senhor Bom Jesus do Bomfim Localização: Salvador/BA Endereço: Largo do Bonfim, 236 - Bonfim. CEP: 40415-475.
Fonte: Marcelo Reis / INRC Salvador/ 2010.
4. DESCRIÇÃO DO BEM: É uma celebração tradicional que ocorre desde o século XVIII. Sua origem remonta à Idade Média, na península ibérica e tem fundamento na devoção ao Senhor Bom Jesus, ou Cristo Crucificado. Esta celebração integra o calendário litúrgico e o ciclo de Festas de Largo da cidade de Salvador, e é realizada anualmente, sem interrupção, desde o ano de 1745. A Festa reúne ritos e representações religiosos, além de manifestações profanas e de conteúdo cultural, durante onze dias do mês de janeiro, iniciando-se um dia após a Epifania, ou do Dia de Reis. O conhecimento produzido para a instrução do processo permitiu identificar os elementos constitutivos deste bem cultural, desde sua origem até sua expressão contemporânea, cuja síntese é a seguinte: a Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim é uma celebração que articula duas matrizes religiosas distintas, a católica e a afrobrasileira, assim como incorpora diversas expressões da cultura e da vida social soteropolitana. Está profundamente enraizada no cotidiano dos habitantes de Salvador, é constituidora da identidade brasileira e manifestação com grande capacidade de mobilização social. Os elementos estruturais da Festa, por ordem de ocorrência, são os seguintes: as Novenas e Missas, como elementos estruturantes da liturgia, iniciam-se um dia após o Dia de Reis e terminam no sábado, véspera do Dia do Senhor do Bonfim; o Cortejo, um percurso de oito quilômetros que se forma na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, na Cidade Baixa, e culmina com a Lavagem da Igreja do Bonfim. Ocorre na quinta-feira anterior ao domingo e é o ponto de destaque da festa; a Lavagem das escadarias e do adro da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, propriamente dita, é realizada por baianas e filhas de Santo como missão familiar e religiosa. Com suas “quartinhas” com flores e água de cheiro, elas reverenciam o orixá Oxalá e abençoam os devotos; os Ternos de Reis, que se apresentam após o encerramento da última novena, no sábado à noite, em frente à Igreja do Bonfim; a Missa Campal, de caráter solene, no adro da Igreja do Bonfim, representando o ápice dos eventos litúrgicos e o encerramento da parte religiosa desta celebração. É realizada no segundo domingo após a Epifania e a Procissão dos Três Desejos com a presença da imagem peregrina do Senhor do Bonfim, esta última incorporada mais recentemente ao conjunto ritualístico da Festa. Além destas, há outro bens, expressões e rituais agregados e
173Tabela elaborada através do Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados – BCR, disponibilizado pelo DPI –
Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN (http://www.iphan.gov.br/bcrE/pages/indexE.jsf ).
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também constitutivos da Festa do Bonfim, como: os Afoxés e grupos musicais que acompanham o Cortejo; os grupos de Capoeira que se apresentam espontaneamente ao longo do percurso e no Largo do Bonfim; os grupos de Bumba-meu-Boi; os Mascarados e a Burrinha; as carroças enfeitadas, puxadas por jegues, que inicialmente levavam a água usada na Lavagem; os rituais que envolvem a Medida do Senhor do Bonfim, fitas de tecido que são amarradas no pulso ou no gradil da Igreja; o cumprimento de promessas por parte dos devotos, as romarias e o depósito de ex-votos em dependência da Basílica. A Festa se completa com as rodas de samba na praça e nas barracas que se distribuem ao longo do percurso e no entorno da Igreja.
5. PARECERES:
6. VALOR: Celebrações.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 73ª Reunião – 05 de junho de 2013.
8. TERRITÓRIO: Salvador – BA.
9. BENS ASSOCIADOS: Sem informações.
10. METODOLOGIA:
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Sem informações.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. As recomendações para salvaguardas, aparecem dispostas no texto do dossiê (pg 72-75) em articulações, sem a destinação de ações específicas, a saber: garantia de segurança aos participantes; apoio financeiro aos grupos de baianas, músicos e Ternos de Reis; cuidado com os animais existentes no cortejo; intervenção nas musicas executadas levando em consideração o hino popular e o repertorio de samba em homenagem ao Santo; educação patrimonial e promoção do bem cultural. ( ) AÇÕES. Sem informação no processo de patrimonialização.
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Abaixo assinado com 38 assinaturas da população de Paraty, através de documento organizado pelo Instituto Histórico e Artístico de Paraty. IPHAN Regional do Rio de Janeiro.
14. AÇÕES DE APOIO:Sem informações.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica.
16. OBSERVAÇÕES:
310
17. FICHA Nº 028 DATA: 26/09/2014.
311
FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)174
1. BEM TOMBADO: Terreiro do Axé Opô Afonja
2. NÚMERO DO PROCESSO 1432- T 98 PERÍODO: ABERTURA.06/11/1998 NOTIFICAÇÃO 10/09/1999 TOMBAMENTO: 10/07/2000
3. PROPONENTE: DEPROT / IPHAN – Departamento de Proteção, tendo em vista atender a solicitação do Jornalista Fernando Coelho.
Fonte: portal.iphan.gov.br
4. DESCRIÇÃO DO BEM: Presente no dossiê de tombamento. Caráter descritivo histórico e etnográfico do terreiro e da família de santo. Descrição do terreno, edificações e elementos da natureza que compões o axé.
5. PARECERES: Parecer Jurídico. PGU/IPHAN, Parecer da Conselheira, Parecer do Conselho.
6. VALOR: Histórico; Etnográfico e Paisagístico.
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 19ª Reunião - 07/10/1999 .
8. TERRITÓRIO: Salvador Ba
9. BENS ASSOCIADOS: .Bens naturais (arvores, rios, etc)
10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico, Estudo topográfico. Estudo das edificações. Apresentação de dossiê para tombamento.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Em 09/03/99. 7SR encaminha a DEPROT oficio referente documentação probatória de propriedade do imóvel.Indica a inscrição no livro de tombo histórico e etnográfico, arqueológico e paisagístico.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Não encontrada ( X ) AÇÕES. Não encontrada
174Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de
Janeiro. IPHAN, até 2013.
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13. AGENTES ENVOLVIDOS: Proposta Ex officio em Memorando 249/98 da DEPROT / IPHAN, em virtude de uma solicitação do Jornalista Fernando Coelho , em oficio nº 22/09/98.r O eng e historiador da arte Marcus Tadeu Daniel Ribeiro, responde a Coordenação de Proteção quanto as dúvidas ainda existentes nos procedimentos de seleção dos terreiros, carentes de estudos e recomendações operacionais -. “Acredito que este, como também, vários outros temas culturais, necessitam de uma reflexão mais criteriosa, arrimados em estudos temáticos aprofundados, para que a Instituição possa Estabelecer, uma ótica de valoração e salvaguarda de nosso patrimônio cultural em sua visão mais ampla vernacular e a partir de uma política que permita – especialmente nos caso que escasseiam precedentes analógicos pelos quais o órgão, possa guiar-se – acautelar conjunto de coisas representativas da pluralidade cultura que se afirmou, tempos afora no lento processo de formação cultural da Nação Brasileira.”013pp Dossiê enviado pela 7SR contem analise histórica do Gantois por Antonio Risério, Fundação Cultural palmares solicita informações em janeiro de 1999 Quando da notificação de tombamento ao Terreiro em set/1999 o mesmo foi realizado com oficio encaminhado a PMS Antonio Imbassay, prefeito.
14. AÇÕES DE APOIO: Sem informação
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado
16. TRAJETORIA Proposta Ex officio DEPROT / IPHAN, em virtude de uma solicitação do Jornalista Fernando Coelho. Em 22/09/98. Direção do Departamento de documentação e Identificação encaminha oficio ao Arquivo Noronha Santos, para abertura do processo e reenvio ao DEPROT em Brasília para “inicio de sua instrução” reiterado pelo oficio nº 146 GAB/DEPROT. Em 15/01/99. A 7SR encaminha a DEPROT documentação referente ao processo de instrução. contem analise histórica do Gantois por Antonio Risério, documentação fotográfica que envolve as edificações e arvores sagradas), que é complementada com as informações adicionais de planta de situação, planta de delimitação, planta de entorno, documentação fotográfica complementar, lei municipal 3.515/85 que protege o terreiro através da APCP. Fundação cultura palmares solicita informações em janeiro de 1999 Em 09/03/99. 7SR encaminha a DEPROT oficio referente documentação probatória de propriedade do imóvel. (certidão de registro de imóveis) Em 22/04/99 a DEPROT encaminha parecer nº 20/99 a Procuradoria do IPHAN referente ao processo de tombamento e aborda (a organização dos cultos africanos no Brasil e o surgimento dos terreiros de candomblé e sua trajetória historia, o modo espacial do terreiro jeje-nagô, o terreiro do Axé Opô Afonjá em uma abordagem histórico e etnográfica da família de santo, bem como das questões espaciais das edificações e bens naturais) indicando o tombamento do terreiro e sua inscrição nos livros do tombo histórico e etnográfico, arqueológico e paisagístico. Compõem ainda o processo, acervo iconográfico, fotográfico, mapas, plantas, recortes de jornais que auxiliaram a compor o parecer da DEPROT. Em 02/09/99 a PROJUR emite parecer favorável ao tombamento Em 10/09/99 o IPHAN notifica o terreiro do Tombamento 28/09/99 o processo é encaminhado a conselheira Maria da Conceição de Moraes Coutinho
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Beltrão para examinar e opinar, e em 07/10/1999 a conselheira opina favoravelmente ao tombamento em seu parecer. 04/11/99 diretor do IPHAN encaminha homologação do tombamento que foi realizado por PORTARIA 499/99 E NÃO DECRETO. Em 16 de maio de 2000, é determinada a inscrição nos livros do tombo histórico e etnográfico, arqueológico e paisagístico pela Presidência do IPHAN, inscritos no livro de tombo em 10 de julho de 2000.
17. FICHA Nº 01 DATA: 20/05/2014.
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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)175
1. BEM TOMBADO: Terreiro do Gantois, Ilê Iyá Omin Axé IYamassê
2. NÚMERO DO PROCESSO 1471 T 00 PERÍODO: ABERTURA.14/11/2000 NOTIFICAÇÃO 08/10/2002 TOMBAMENTO: 27/11/2007
3. PROPONENTE: Memorial Mãe Menininha do Gantois (Mônica Millet) / Associação São Jorge – Ebé Oxossi
Fonte: ceao.ufba.br
4. DESCRIÇÃO DO BEM: Presente no dossiê de tombamento. Caráter descritivo histórico e etnográfico do terreiro e da família de santo. Descrição do terreno, edificações e elementos da natureza que compões o axé.
5. PARECERES: Parecer da 7 SR; Parecer Jurídico.PGU/IPHAN, , Parecer do Conselho..
6. VALOR: Historico; Etnográfico e paisagístico..
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 37ª Reunião - 21/11/2002.
8. TERRITÓRIO: Salvador Ba
9. BENS ASSOCIADOS: .Bens naturais (arvores, rios, etc)
10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico, Estudo topográfico. Estudo das edificações. Apresentação de dossiê para tombamento.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Em 09/03/99. 7SR encaminha a DEPROT oficio referente documentação probatória de propriedade do imóvel.Indica a inscrição no livro de tombo histórico e etnográfico, arqueológico e paisagístico.
175Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de
Janeiro. IPHAN, até 2013.
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12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Não encontrada ( X ) AÇÕES. Não encontrada
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Solicitação de tombamento pela Memorial Mãe Menininha do Gantois (Mônica Millet) / Associação São Jorge – Ebé Oxossi em 30/06/2000 Em 20/05/2002 a 7 SR Solcicita a funcionária licenciada Marcia Sant‟Anna que “instrua o processo em tela”. Em 03/06/2002 a funcionária aceita a empreitada aguardando instruções da 7 SR. Prefeito notificado em oficio pelo iphan bsb em 04/10/2015.
14. AÇÕES DE APOIO: Sem informação
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado
16. TRAJETORIA Solicitação de tombamento pela Memorial Mãe Menininha do Gantois (Mônica Millet) / Associação São Jorge – Ebé Oxossi em 30/06/2000 Acompanha memorial Descritivo e estudo topográfico realizado pela Fundação Palmares em novembro de 1999. Do reconhecimento pela Fundação Palmares do Terreiro como Território Cultural Brasileiro em 23/02/2000 com descrição do perímetro + legislação soteropolitana terreiro como APCP desde 1985 Em 05/07/2000 o gabinete do presidente do IPHAN encaminha ao DEPROT a documentação de solicitação de tombamento. O despacho nº 478/00 da Direção de Proteção envia a 7 SR é notificada da instrução, que a pedido da divisão técnica de arquitetura indica a devolução do processo ao DEPROT alegando não possuir condição técnica para instrução.em 22/12/2000. Em 26/12/2000, a 7SR envia oficio a DEPROT alegando não ter condições de instruir o processo por: “tombamento especial”, “escassez técnica da 7SR” para instrução, solicita do DEPROT que envie técnico especializado ou contrate “pessoa credenciada” p20 para as pesquisas e estudos. Em 14/02/2002 a 7 SR solicita a PMS plantas das APCP e documentação relativa a desapropriação que responde em 22/02/2002 Em 21/03/2002 a 7 Sr informa o Gantois que os procedimentos para tombamento continuam, e solicita autorização para levantamento fotográfico e cartográfico, bem como estudo de bens móveis. Em 20/05/2002 a 7 SR Solicita a funcionária licenciada Marcia Sant‟Anna que “instrua o processo em tela”. Em 03/06/2002 a funcionária aceita a empreitada aguardando instruções da 7 SR. Em 31/05/2002 o processo retorna a 7SR ao seu pedido,. Inicia-se discussão sobre a comprovação da propriedade. A 7 SR Solicita ao 1º Cartório de Registro de Imóveis quanto a duvida que o terreno pertencesse a fazenda Garcia, portanto, espólio de Úrsula Martins Catharino. È apresentado um contrato de aforamento entre as partes datado de 1982 e reconhecido em cartório. O Cartório responde em certidão de 29/08/2002 a propriedade do imóvel aquém teria sido aforado. São anexados como documento o estatuto da Associação São Jorge – Ebé Oxossi, seu CGC d pessoa física. Assina um laudo antropológico denominado “Exposição de motivos para instrução de pedido
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de tombamento do Terreiro do Gantois” o antropólogo e professor Ordep Serra que indicava Caráter descritivo histórico e etnográfico do terreiro e da família de santo, e da importância do bem afro-brasileiro como referencia a identidade nacional. “ O Axé Iá Imassé goza, por isso (e pelos valores que defende) de elevada consideração na sociedade brasileira. Serve de Referência cultural insubstituível na crônica de um povo que teve destacada importância na formação da riqueza do Brasil, na construção de sua identidade e de sua cultura.pg081 Em 03/09/2002 ”a 7 SR através do Parecer Técnico n 383/02 se pronunciaria quanto ao tombamento do Gantois abordando( histórico do candomblé e da proteção dos terreiros, o “complexo jeje-nagô e a organização dos seus centros de cultos nos Brasil, o terreiro do Gantois em sua historia e família de santo, a justificativa de tombamento) assinado pela arquiteta Márcia Sant‟Anna.O processo agora se organiza em identificação do bem cultural, livro de tombo a se escrito, localização, delimitação da área a ser tombada. Critérios para a intervenção das áreas tombadas (limitada ao terreno), delimitação da área de entorno (critérios materiais), critérios para intervenção na área de entorno. Documentação fotográfica. Planta de localização, legislação municipal complementar, Indica-se o tombamento com inscrição nos livros histórico e etnográfico, paisagístico e arqueológico. Em 09/09/2002 o Parecer Técnico da 7 SR é encaminhado a DEPROT. Em 18/09/2002, a DEPROT encaminha a PROJUR o processo, referendando o parecer técnico da 7 SR. A NOTIFICAÇÃO para o tombamento é expedida pelo presidente sem data e sai no DOU de 08 de outubro de 2002. O oficio ao Terreiro seria em 08/10/0015 Em 04/10/2015, a PROJUR se posiciona favorável ao tombamento Prefeito notificado em oficio pelo IPHAN BSB em 08/10/2015. Em 21/10/2002 o processo em único volume é remetido ao conselheiro Luiz Phelipe Castro Andrès , e em 18/11/2002 responde de forma favorável ao tombamento histórico e etnográfico, paisagístico e arqueológico Através da portaria 683 de 17/12/2003, o MINC homologa a decisão do conselho e Somente em 07/01/2004 a Direção ao IPHAN solicita a inscrição no livro do Tombo que ocorre em
17. FICHA Nº 02 DATA: 20/05/2014.
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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)176
1. BEM TOMBADO: Terreiro de Candomblé do Bate Folha Manso Banduquenqué.
: www.seppir.gov.br
2. NÚMERO DO PROCESSO 1486- T 01 PERÍODO: ABERTURA.06//2001 NOTIFICAÇÃO TOMBAMENTO: 14/08/2003
3. PROPONENTE: Sociedade Cruz Santa do Axé de Opô Afonjá, ratificada pela Sociedade Beneficente Santa Bárbara, ambas de Salvador, Bahia, no ano de 2000.
Fonte: www.seppir.gov.br
4. DESCRIÇÃO DO BEM: Presente no dossiê de tombamento. Caráter descritivo histórico e etnográfico do terreiro e da família de santo. Descrição do terreno, edificações e elementos da natureza que compões o axé.
5. PARECERES: Parecer Jurídico.PGU/IPHAN, Parecer da Conselheira, Parecer do Conselho.
6. VALOR: Histórico; Etnográfico e paisagístico. .
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 39ª Reunião - 14/08/2003
8. TERRITÓRIO: Salvador Ba
9. BENS ASSOCIADOS: .Bens naturais (mata, arvores, rios, etc)
10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico, Estudo topográfico. Estudo das edificações. Apresentação de dossiê para tombamento.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: ,Indica a inscrição no livro de tombo histórico e etnográfico, arqueológico e paisagístico. “No conjunto dos terreiros congo-angola existentes na Bahia, o Terreiro do Bate Folha, ou Manso Banduquenqué, é, reconhecidamente, o mais antigo em funcionamento e aquele que logrou preservar de modo mais bem sucedido seu espaço e suas tradições. É inegavelmente uma referência nacional do rito angola e de sua tradução espacial, bem como uma
176Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de
Janeiro. IPHAN, até 2013. Atas da 39ª Reunião do Conselho Consultivo (http://portal.iphan.gov.br/atasConselho)
Artigo Revitsta Rua.nº08 (http://www.portalseer.ufba.br/index.php/rua/article/viewFile/3240/2358)
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inestimável fonte de informação sobre as tradições religiosas e línguas trazidas pelo povo banto para o Brasil. O Terreiro do Bate Folha é ainda um exemplo de resistência popular a degradação ambienta1 de nossas cidades e de preservação do uso ritual e medicinal da nossa flora. Juntamente com outros terreiros de candomblé, testemunha a resistência cultural do povo negro no Brasil e a lenta e penosa construção de espaços para sua expressão religiosa e civil no seio de uma sociedade hostil. Testemunha ainda a contribuição negra ao nosso processo de urbanização e como modelos de organização especial de origem africana foram também responsáveis pela configuração de alguns bairros de nossas cidades,'” Marcia Santana in Ata do conselho consultivo. “"Reconhecer a importância e valor destes santuários, que abrigam em sua história toda a diáspora dos povos africanos, é portanto, trabalhar, ainda que de forma modesta, para a sua proteção e assim fazendo, cumprir uma obrigação constitucional de defesa da cultura do país. Tão expressiva é a carga de contribuições que os centros de culto afro-brasileiros abrigam para o entendimento do Brasil de hoje, que o ato de tombamento assume, neste caso, a plenitude de seus múltiplos significados. O primeiro deles tem o sentido de proteção e valorização de um bem cultural inestimável, mas há também o significado de reconhecimento, ainda que tardio, do legado imaterial, ou ainda o sentido de penitência face ao sacrifício desumano a que foram submetidas estas populações e que a nação não tem, de fato, como resgatar; e finalmente o sentido de homenagem a todos aqueles que anonimamente lutaram durante séculos pela preservação dos ritos religiosos para que chegassem até os dias de hoje" (Processo n° 1471- T-00, 2002)” fala do relator Luiz Phelipe. VALOR – Fala de Luiz Fernando, Presidente do IPHAN. “Trata-se de eminentes monumentos do patrimônio nacional, porque se encontram carregados da aura de "autenticidade" popular, privada e artesanal.”
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. “Ameaças de invasão do parque, de poluição das fontes, de depredação das construções - decorrentes do adensamento de uma ocupação urbana precária no entorno do Terreiro dificilmente serão contidas pela alteração formal do estatuto da instituição e do bem” 27p. Fala do relator Luiz Phelipe. ( X ) AÇÕES. Não encontrada
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Sociedade Cruz Santa do Axé de Opô Afonjá, ratificada pela Sociedade Beneficente Santa Bárbara, ambas de Salvador, Bahia, no ano de 2000. Sociedade Beneficente Santa Bárbara pessoa jurídica do Terreiro. Pareceres de especialistas convidados, como os antropólogos Ordep Serra (Caráter descritivo histórico e etnográfico do terreiro e da família de santo.) e Raul Lody (seu ciclo anual de festividades ),a Fundação Cultural Palmares já o definiu como Território Cultural Afro-Brasileiro e o Município de Salvador o incluiu em área de preservação
14. AÇÕES DE APOIO: Sem informação
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado
16. TRAJETORIA PROCEDIMENTAL Aberto em 2000. Instruído pela 7Sr. Laudo antropológico de Ordep Serra em setembro de 2002.Data da Homologação do Tombamento10/10/2003
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17. FICHA Nº DATA
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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)177
1. BEM TOMBADO: Terreiro Casa das Minas Jeje
2. NÚMERO DO PROCESSO 1464 T 00 PERÍODO: ABERTURA.16/06/2000 NOTIFICAÇÃO 05/06/2002 TOMBAMENTO: 24/06/2009
3. PROPONENTE: Imandadade da Casa das Minas (Denil Prata Jardim) Assinam a solicitação: Presidente da Comissão Maranhense de Folclore e Prof. da UFMA; Centro de Cultura Popular da FUNCMA (Fundação de Cultura do Estado do Maranhão); Curador da Fundação Gilberto Freyre.
Fonte: http://casadasminas.blogspot.com.br/
4. DESCRIÇÃO DO BEM: Presente no dossiê de tombamento. Caráter descritivo histórico e etnográfico do terreiro e da família de santo. Descrição do terreno, edificações e elementos da natureza que compões o axé.
5. PARECERES: Parecer Técnico da SR, Parecer Jurídico.PGU/IPHAN, Parecer da Conselheira, Parecer do Conselho..
6. VALOR: Histórico; Etnográfico e paisagístico. .
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 35ª Reunião - 22/08/2002 .
8. TERRITÓRIO: São Luis do Maranhão
9. BENS ASSOCIADOS: Calendário litúrgico e Casa da Minas
10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico, Estudo topográfico. Estudo das edificações. Apresentação de dossiê para tombamento.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Recomendação para instrução do processo (art. 4º da portaria n11 de 11/09/1986): descrição histórica; delimitação de poligonal e sua representação gráfica, o “do mérito do valor cultural de tombamento” atrelada a uma justificativa para o tombamento e das
177Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de
Janeiro. IPHAN, até 2013.
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poligonais de entorno: sobre os bens móveis, identificação no terreno dos componentes naturais, agenciados e edificados por levantamento topográfico, fotográfico indicando possível mérito individual ou de elementos coletivos do conjuntos. A ambiência e visibilidade do bem continuam sujeitos as “condições específicas os bens naturais deverão ser analisados por planta topográfica considerando o meio antrópico (agenciamentos humanos), do meio físico (água, ar, solo relevo”) e do meio biológico (flora e fauna); tombamento isolado deve compor plantas de situação, plantas baixas, corte, elevações e cobertura. „no caso de bens imóveis, devem ser relacionados os elementos integrados e identificados os acervos de bens móveis merecedores de tombamento; Solicitação das certidões de propriedade, dispensadas quando imóveis da união estado e municípios. O uso e função sócio-cultural do bem ao longo do tempo, devem ser considerados .Não devem ser juntados aos processos bilhetes, anotações e correspondências informais A FUNCMA envia em um dossiê contendo as seguintes informações: “ 01 – CATEGORIA – Arquitetura Civil par Fins religiosos; MUNICIPIO: São Luis, LOCALIZAÇÃO, DENOMINAÇÃO. Casa das Minas,DADOS JURÍDICOS Maria Hosana e outros, PERÍODO século XIX, QUALIFICAÇÃO – arquitetura vernacular de valor principalmente ritualístico e ambiental, UTILIZAÇÃO ATUAL; residência e local de culto religioso (obrigações,)PERIGOS POTENCIAS, infiltração por água fluvial na cobertura e paredes, ESTADO DE CONSERVAÇÃO – bom e PROTEÇÃO EXISTENTE (nenhuma)28p..
12. SALVAGUARDAS: ( ) RECOMENDAÇÕES. Não encontrada ( ) AÇÕES. Não encontrada
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Imandadade da Casa das Minas (Denil Prata Jardim) Assinam a solicitação: Presidente da Comissão Maranhense de Folclore e Prof. da UFMA; Centro de Cultura Popular da FUNCMA (Fundação de Cultura do Estado do Maranhão); Curador da Fundação Gilberto Freyre. Escola de Samba Beija Flor de Nilópolis / RJ – Samba enredo de 2001.
14. AÇÕES DE APOIO: Sem informação
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado
16. TRAJETORIA Em 09 /05/2000 o Gabinete do Presidente envia a DEPROT cópia da solicitação. Em 02/06/2000 o DEPROT solicita a abertura do processo de tombamento encaminhado ao Departamento de Identificação e Documentação - DID.. Em 06/06/200 o DID solicita ao Arquivo Noronha Santos abertura do Processo, que encaminha à Chefe de divisão de estudo e acautelamento para “definição da denominação a ser utilizada quando da abertura do processo de tombamento opg05 Em 16/06 o processo é aberto notifica ao DEPROT setor de arqueologia em 19/06/2000, que se pronuncia ao DID favorável em 20/062000, indicando que a 3SR deverá ser notificada para instução do processo de tombamento, solicitando apoio da irmandade nessa instrução. Em 19/12/2000 a Comissão Estadual de Folclore encaminha a FUNCMA documentação para instrução do processo. A Comissão Maranhense de Folclore encaminha a 3 SR, em 21/12/2000 os seguintes
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documentos para compor e auxiliar a instrução do processo.(02 pranchas com o levantamento físico da Casa das Minas.-plantas com cortes e fachada ) Ainda, Sergio Ferreti, encaminha artigos sobre Caráter descritivo histórico e etnográfico do terreiro e da família de santo Jêje no Maranhão; bem como ensaios para revistas e jornais sobre o mesmo assunto. A FUNCMA envia em um dossiê a 3 SR contendo as seguintes informações sobre a Casa da Minas: “ 01 – CATEGORIA – Arquitetura Civil par Fins religiosos; MUNICIPIO: São Luis, LOCALIZAÇÃO, DENOMINAÇÃO. Casa das Minas,DADOS JURÍDICOS Maria Hosana e outros, PERÍODO século XIX, QUALIFICAÇÃO – arquitetura vernacular de valor principalmente ritualístico e ambiental, UTILIZAÇÃO ATUAL; residência e local de culto religioso (obrigações,)PERIGOS POTENCIAS, infiltração por água fluvial na cobertura e paredes, ESTADO DE CONSERVAÇÃO – bom. PROTEÇÃO EXISTENTE (nenhuma)28p Em 22/01/2001, Comissão Maranhense de Folclore, envia aoIPHAN BSB texto “Sobre o Entorno da Casa de Minas Jêje do Maranhão” Em 02/01/2001 a 3SR encaminha ao DID através do memorial 01/01 todos os documentos acima para serem incorporados ao processo de tombamento, incluindo ainda, Em 30/05/2001 a 3 SR recebe instruções pelo memorial 301/01 da DEPROT no sentido de instruir o processo de tombamento na SR. Em 04/06/2001 a Comissão Maranhense de Folclore encaminha a 3 SRdocumentação fotográfica e documentos históricos entre 1876 a 1914 . Em 26/03/2001 a 3 Sr solicita ao cartório de registro de imóveis a copia dos registros dos imóveis. Em 27/08/2001 a Comissão Maranhense de Folclore encaminha estudo fotográfico dos objetos da casa, do, do quintal e dos membros da Casa. Em 10/10/2001, a Divisão Técnica de Arquitetura remete a Diretora da 3 Sr o devido processo instruído, contendo: histórico, comprovação probatória de propriedade, Fotografias (exterior, inteiro da Casa, bens móveis e integrados, festas e entorno) plantas arquitetônicas e urbanísticas, proposta de delimitação de entorno, inspeção técnica e parecer técnico. Em 19/10/2001 a 3 SR encaminha a DEPROT o processo instruído endossando o parecer técnico da Divisão de Arquitetura. Em 21/03/2002 a DEPROT encaminha processo para PROJUR, Em 09/05/2002 a PROJUR emite parecer favorável ao tombamento Em 03/06/02 o IPHAN notifica o terreiro do Tombamento Em 29/07/02 o processo é encaminhado a conselheiro Luiz Phelipe Carvalho Castro Andrès para examinar e opinar, e em 17/08/2002 o conselheiro opina favoravelmente ao tombamento em seu parecer. Em 25/11/2002 o tombamento é homologado pela PORTARIA 637/02 E NÃO DECRETO. Em 02 de maio de 2004, é determinada a inscrição nos livros do tombo histórico e etnográfico, arqueológico e paisagístico pela Presidência do IPHAN, inscritos no livro de tombo em 24 de junho de 2009. Aviso do tombamento definitivo em 07 de maio de 2009.
17. FICHA Nº 04 DATA: 25/11/2014.
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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)178
1. BEM TOMBADO: .Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá Láji
2. NÚMERO DO PROCESSO 1481- T 01 PERÍODO: ABERTURA.24/07/2001 NOTIFICAÇÃO 02/09/2004 TOMBAMENTO: 10/06/2009
3. PROPONENTE: Prefeitura Municipal de Salvador – em oficio n 68 ao IPHAN / BSB 10 abril de 2001. Assina Prefeito Antonio Imbassay
Fonte: http://www.terreiros.ceao.ufba.br/
4. DESCRIÇÃO DO BEM: Presente no dossiê de tombamento. Caráter descritivo histórico e etnográfico. Descrição do terreno, edificações e elementos da natureza que compões o axé.
5. PARECERES: Parecer técnico da 7SR-; Parecer Jurídico.PGU/IPHAN, Parecer do Conselheiro, Parecer do Conselho.
6. VALOR: Histórico; Etnográfico e paisagístico. .
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 45ª Reunião - 01/12/2004 .
8. TERRITÓRIO: Salvador Ba
9. BENS ASSOCIADOS: .Bens naturais (arvores, rios, etc)
10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico, Estudo topográfico. Estudo das edificações. Apresentação de dossiê para tombamento.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Terreno do terreiro, registrado no Registro Imobiliário de Salvador, desde 19/06/1858 como “A Roça de João Francisco Régis Recomendação para instrução do processo (art. 4º da portaria n11 de 11/09/1986): descrição histórica; delimitação de poligonal e sua representação gráfica, o “do mérito do valor cultural de tombamento” atrelada a uma justificativa para o tombamento e das poligonais de entorno: sobre os bens móveis, identificação no terreno dos componentes naturais, agenciados e edificados por levantamento topográfico, fotográfico indicando
178Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de
Janeiro. IPHAN, até 2013.
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possível mérito individual ou de elementos coletivos do conjuntos. A ambiência e visibilidade do bem continuam sujeitos as “condições especificados os naturais de verão ser analisados por planta topográfica considerando o meio antrópico (agenciamentos humanos), do meio físico (água, ar, solo relevo”) e do meio biológico (flora e fauna); tombamento isolado deve compor plantas de situação, plantas baixas, corte, elevações e cobertura. „no caso de bens imóveis, devem ser relacionados os elementos integrados e identificados os acervos de bens móveis merecedores de tombamento; Solicitação das certidões de propriedade, dispensadas quando imóveis da união estado e municípios. O uso e função sócio-cultural do bem ao longo do tempo, devem ser considerados .Não devem ser juntados aos processos bilhetes, anotações e correspondências informais: Justificativas de tombamento pelo parecer 0163/04 da 7 SR em 2004: importância histórica e etnográfica e degradação do espaço. Indica a inscrição no livro de tombo histórico e etnográfico, arqueológico e paisagístico.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Não encontrada ( X ) AÇÕES. Não encontrada
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Sociedade Mantenedora Sociedade São Jerônimo do Alaketu – (estatuto da associação é aprovada pela sociedade em 17 de maio de 1988) constituída juridicamente em 15/05/1989, sendo ao tempo da solicitação a Yalorixá da Casa Mãe Olga Francisca Régis.( a sacerdotisa, Olga de Alaketu, nascida Olga Francisaca Régis, é da 5ª geração de Otampe Ojarô, uma das princesas gêmeas raptadas em Ketu e trazida para o Brasil como escravas Fundação Cultural Palmares (Restauro em 2001, subsidia tecnicamente os estudos com plantas, levantamento topográfico através de empresa contratada. Um documento datado de 06/06/2002 do Professor, antropólogo e Babalorixá Julio Braga à 7 SR, informa aquilo que chama de “colcha de retalhos” no sentido de subsidiar a notificação do terreiro. O documento possui 19 pg e da conta de uma abordagem histórica etnográfica focada na família de santo da casa e na cosmologia do terreiro, além de uma descrição da situação física do terreiro. Em 2002, Interessante a atuação da PMS junto ao Terreiro, onde solicita ao IPHAN antes mesmo da notificação de tombamento da casa, um projeto para reforma da cozinha do terreiro, que é realizada pelo IPHAN e enviada a PMS o projeto completo com estudo topográfico, fotográfico planas de situação e de reforma antes da devida instrução do processo Em 2004, a 7 SR na pessoa do arquiteto e Diretor da Regional Frederico Mendonça solicita a servidora do IPHAN Márcia Sant‟Anna licenciada para doutorado que auxilie a instrução do processo, tendo em vista a sua atuação na instrução dos processos dos Terreiros do Opô Afonjá, Gantois e Bate Folha, que responde positivamente . O antropólogo Renato da Silveira prepararia um documento intitulado em 2004“Sobre a fundação do Terreiro do Alaketu” com 36 paginas e segue a mesma orientação do documento de Julio Braga, contudo mais bem elaborado. 50 Arrendatários do terreno e planta de localização. E o Terceiro volume, denominado de anexo,, constitui material recolhido e fornecido pelo Terreiro, procurando auxiliar na compreensão da importância de sua trajetória histórica, e seu valor etnográfico enquanto patrimônio afro-brasileiro. Compõem esse volume entrevista com Mãe Olga e outros membros do axé. Fotografias e recortes de jornais também compõem esse volume FORTE PRESENÇA DA COMUNIDADE NESSE DOCUMENTO.
14. AÇÕES DE APOIO: Sem informação
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15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado
16. TRAJETORIA Acompanha oficio solicitação descrição da família de santo da casa via analise historia e das condições físicas da casa. Em 2001 a direção do IPHAN solicita ao Prefeito de Salvador novo ofício para abertura do processo de tombamento ainda não ocorrido institucionalmente pelo oficio nº02 de 19 de janeiro de 2001, que ocorre através dooficio n 68 ao IPHAN / BSB 10 abril de 2001. Assina Prefeito Antonio Imbassay Em 13 de setembro de 2001 a Divisão de Estudos e Acautelamento e informada DEPROT – Departamento de Proteção da abertura do processo e da necessidade em notificar o bem. Em 01/02/2002 a 7ª SR do IPHAN na Bahia notifica o prefeito da abertura do processo e solicita auxilio na documental para o processo. Em 23/03/2004 a 7SR emite o parecer nº 0163/04-7SR referente ao processo de tombamento do Alaketu.(introduz a trajetória desse processo, aspectos históricos, descrição da roça hoje, legislação incidente e proposta de poligonal de tombamento, justificativas de tombamento, planta de localização, arrendatários do terreno, legislação municipal incidente de proteção natural , Área de proteção Sócio Ecológico APSE com limites de usos e ocupação, Os documentos do processo seriam divididos em três volumes, um primeiro com todas as informações ate aqui descritas até acomposição do parecer que indica o bem para tombamento; e um segundo volume, que constituiria o processo administrativo de tombamento após a indicação de mérito pela 7 SR. Constituem o 2º volume documento inicial que indica: identificação do bem cultural, livro de tombo a se escrito, localização, delimitação da área a ser tombada. Critérios para a intervenção das áreas tombadas (limitada ao terreno), delimitação da área de entorno (critérios materiais), critérios para intervenção na área de entorno. Documentação fotográfica e os documentos que compõem o fluxo burocrático do procedimento administrativo de tombamento até o decreto federal e a inscrição nos respectivos livros dos tombos. E o3º volume, denominado de anexo, constitui material recolhido e fornecido pelo Terreiro, procurando auxiliar na compreensão da importância de sua trajetória histórica, e seu valor etnográfico enquanto patrimônio afro-brasileiro. Compõem esse volume entrevista com Mãe Olga e outros membros do axé. Fotografias e recortes de jornais também compõem esse volume FORTE PRESENÇA DA COMUNIDADE NESSE DOCUMENTO Em 26/03/2004 o documento é encaminhado a então Gerência de Patrimônio Arquitetônico e bens móveis do IPHAN. Em 30/08/2004 a procuradoria federal no IPHAN se pronuncia através do parecer 010/04 que o processo encontra-se em condições de ser submetido ao conselho consultivo. Sem setembro de 2004. é lançado o edital para “notificação dos proprietários ou demais interessados no efeito do tombamento do terreiro do Alaketu. A PMS e a Sacerdotisa seria notificados por oficio, ambos, em 06/09/2004 No dia 08/09/2004 o processo é encaminhado pelo presidente do IPHSN ao conselheiro Luiz Phelipe de Carvalho Castro Andrès, para examinar e opinar e se pronuncia por Parecer em 25 de setembro de 2004. Em 17 de dezembro de 2004 o IPHAN envia ao MINC os volumes do processo de tombamento para Encaminhamentos como registro no livro o tombo e decreto de tombamento. O decreto de tombamento ocorre com a portaria federal nº348 de 21 de dezembro de 2004, assinada pelo então Ministro Gilberto Gil Moreira. Oficio da PROJUR de 02/04/2007 indica ao diretor do DEPAN da necessidade em efetuar a inscrição do bem nos respectivos livros do tombo
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17. FICHA Nº 05 DATA: 20/05/2014.
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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)
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1. BEM TOMBADO: Casa de Chico Mendes e seu acervo
2. NÚMERO DO PROCESSO 1549- T 07 PERÍODO: ABERTURA.06/11/2007 NOTIFICAÇÃO 13/02/2008 TOMBAMENTO: 15/05/2008
3. PROPONENTE: INSTIUTO CHICO MENDES Elenira Mendes, filha do Seringueiro.
Fonte: http://www.ceci-br.org/
4. DESCRIÇÃO DO BEM: Trata-se de uma pequena casa de madeira o local da tragédia que comoveu o mundo e estabeleceu um novo período para a luta dos seringueiros e excluídos do Acre, o local que acabou virando atração turística e já chegou a receber mais de dez mil visitantes por ano. A primeira reforma financiada pelo Governo do Estado manteve as características originais da casa, da mesma época em que o líder ambientalista foi executado.A casa de Chico Mendes é um imóvel simplório, que obedece a um sistema construtivo tradicional da região, ainda de uso freqüente. A casa cabloca em madeira coberta de telha de barro possui apenas 4m de largura e pode ser edificada em menos de uma semana. Todo composto de tábuas verticais, inclusive as portas e janelas, o imóvel possui telhado em formato de V, de telha francesa.
5. PARECERES: Parecer Técnico da 16SR Parecer do DEPAM Parecer Jurídico.PGU/IPHAN, Parecer da Conselheira, Parecer do Conselho..
6. VALOR: Histórico;. .
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 56ª Reunião - 15/05/2008
8. TERRITÓRIO: Xapuri - AC
9. BENS ASSOCIADOS: .Bens naturais (mata, arvores, rios, etc)
10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico. Apresentação de dossiê para tombamento.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: A necessidade de proteção dessa singela construção de madeira, pintada de azul turquesa,
179Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de
Janeiro. IPHAN, até 2013. Atas da 56ª Reunião do Conselho Consultivo (http://portal.iphan.gov.br/atasConselho)
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surgiu a partir de 2005, devido a uma descaracterização do bosque que compõe a paisagem da casa, com a derrubada de algumas árvores e uma invasão urbana , "A Casa de Chico Mendes é, sem sombra de dúvida, uma casa histórica, porque remete simbolicamente à memória de uma pessoa importante que se notabilizou pela sua ação incansável em prol dos trabalhadores rurais, índios e seringueiros e pelas suas idéias preservacionistas que encontraram acolhida no mundo inteiro", destaca José Aguilera, arquiteto do IPHAN que apreciou o processo de tombamento. “Cumpre assim examinar se os bens aqui propostos ao tombamento -- uma casa com seu entorno e seus pertences -- têm sido mediadores sociais de memória, identidade e ação” 38p.conselheiro relator
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Não encontrada ( X ) AÇÕES. Não encontrada
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Comitê Chico Mendes, representativo de mais de vinte instituições, entre elas o Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular (CDHEP), o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) e a União das Nações Indígenas do Acre e Sul do Amazonas (UN
14. AÇÕES DE APOIO: Sem informação
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado
16. TRAJETORIA PROCEDIMENTAL A solicitação de tombamento, datada de 16 de agosto de 2006, foi encaminhada à 16 SR (Rondônia l Acre) pela Fundação. Chico Mendes e pelo Comitê Chico Mendes. O processo de tombamento foi aberto a 06 de novembro de 2007 (fls.141). Contém o processo fotografias, entrevistas, recortes jornais, catas, documentos dos processos Parecer PROJUR em de 18 de janeiro de 2008 Data da Homologação do Tombamento13/02/2008 OBS - Com efeito, a Constituição de 1988 permite ir-se além do critério de "vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil", como consta do art. 10. do Decreto-lei 25/1937 -- critério às vezes transformado nesse fenômeno virótico de contaminação cultural automática -- para níveis mais profundos e adequados
17. FICHA Nº 06 DATA 29/06/2015
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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)180
1. BEM TOMBADO: Canoa de Tolda Lusitânia
2. NÚMERO DO PROCESSO 14473 T 01 PERÍODO: ABERTURA.2001 NOTIFICAÇÃO TOMBAMENTO: 22/06/2012
3. PROPONENTE: Canoa de Tolda – Sociedade Socioambiental do Baixo São Francisco, uma organização não governamental (ONG) e atual proprietária da embarcação, Brejo Grande/SE
Fonte: http://canoadetolda.org.br/
4. DESCRIÇÃO DO BEM: A canoa de tolda é o maior símbolo do Rio São Francisco e só existe no Brasil. As toldas originais eram grandes embarcações, mas a brasileira possui somente 16 metros de casco. É composta de leme, tábua de bolina, moitão e a tolda que servia para abrigo da alimentação e dos canoeiros. Teve grande importância econômica no transporte de mercadorias em toda a região do Baixo São Francisco.
5. PARECERES: Parecer Técnico da 16SR Parecer do DEPAM Parecer Jurídico.PGU/IPHAN, Parecer da Conselheira, Parecer do Conselho..
6. VALOR: Histórico;.artístico, etnográfico paisagístico .
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 66ª Reunião - 09/12/2010
8. TERRITÓRIO: Sergipe
9. BENS ASSOCIADOS: .Bens naturais (mata, arvores, rios, etc)
10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico. Apresentação de dossiê para tombamento.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO:
180Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de
Janeiro. IPHAN, até 2013. Atas da 66ª Reunião do Conselho Consultivo (http://portal.iphan.gov.br/atasConselho)
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12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Não encontrada ( X ) AÇÕES. Prêmio Rodrigo Melo Franco
13. AGENTES ENVOLVIDOS:
14. AÇÕES DE APOIO: Premio Rodrigo de Melo Franco de Andrade do IPHAN em 2011.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado
16. TRAJETORIA PROCEDIMENTAL Portaria MinC nº 77, de 19 de junho de 2012 homologa o tombamento nos livros do tombo.
17. FICHA Nº 07 DATA 25/10/2014
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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)181
1. BEM TOMBADO: Saveiro de Vela de Içar, de nome, Sombra da Lua
2. NÚMERO DO PROCESSO 1615- T 10 PERÍODO: ABERTURA.20/10/2010 NOTIFICAÇÃO TOMBAMENTO: 22/06/2012
3. PROPONENTE: Instituto Viva Saveiro.
Fonte: www.vivasaveiro.org
4. DESCRIÇÃO DO BEM: Embarcação típica baiana, cantada e declamada, na poesia de Jorge Amado, na música de Dorival Caymmi, retratado nas fotografias de Pierre Verger, nas pinturas de Carybé. O Sombra de Lua é um dos últimos saveiros que preservam, na íntegra, as características originais de um saveiro de vela de içar de um mastro. Com tijupá e popa torada, possui 12,5 metros de comprimento por 4 de largura. De acordo com a Associação Viva Saveiro, foi construído pelo carpinteiro naval José Simão provavelmente em 1923.
5. PARECERES: Parecer do DEPAM Parecer Jurídico.PGU/IPHAN, Parecer da Conselheira, Parecer do Conselho..
6. VALOR: Histórico, Etnográfico, Paisagístico e Artístico
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 66ª Reunião - 09/12/2010
8. TERRITÓRIO: Recôncavo Baiano, BA
9. BENS ASSOCIADOS: .
10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico. Apresentação de dossiê para tombamento.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Retórica da perda “Por seus inequívocos valores históricos, artísticos e etnográficos, declara-se o IPHAN favorável ao tombamento do Saveiro Sombra da Lua, que enquanto primeiro e único exemplar protegido de embarcação desta tipologia passa a representar todos os últimos saveiros da Bahia, e recomenda sua inscrição nos Livros do Tombo Histórico, das Belas
181Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de
Janeiro. IPHAN, até 2013. Atas da 66ª Reunião do Conselho Consultivo (http://portal.iphan.gov.br/atasConselho)
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Artes e Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico” relatório técnico do DEPAM 12p. do modo de fazer das embarcações artesanais de forma a complementar esta estratégia, garantindo maior integração entre os dois departamentos. Pois se trata também do reconhecimento do quanto está contido nas memórias de velhos mestres carpinteiros navais e artesãos, construtores de embarcações, dos segredos e conhecimentos seculares que são transmitidos de pai para filho no anonimato de seus estaleiros artesanais muitas vezes perdidos em longínquas praias desertas ou margens e curvas de rios e lagos navegáveis. O tema das embarcações e das navegações está obrigatoriamente ligado à origem de grande parte das nossas cidades. Gravuras de época apenas nos relembram o óbvio de que as cidades da frente litorânea tinham incorporadas à sua paisagem a figura majestosa de grandes veleiros oceânicos ancorados, mas sempre cercados por centenas de pequenas e médias embarcações de madeira, como batéis, catraios e diversos tipos de canoas que tinham o papel vicinal de transferir cargas e passageiros e auxiliarem nas operações de embarque e desembarque
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Não encontrada ( X ) AÇÕES. Prêmio Rodrigo Melo Franco
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Associação Viva Saveiro, 7 SR, DEPAM
14. AÇÕES DE APOIO: Premio Rodrigo de Melo Franco de Andrade do IPHAN à Associação Viva Saveiro em 2010.
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado
16. TRAJETORIA PROCEDIMENTAL A solicitação de tombamento, datada de 20/10/2010 Parecer Técnico do DEPAM em 16/11/2010. Portaria MinC nº 75, de 19 de junho de 2012 homologa o tombamento com inscrição no livro do tombo.
17. FICHA Nº DATA
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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)182
1. BEM TOMBADO: Canoa Costeira de Nome Dinamar
2. NÚMERO DO PROCESSO 1615- T 10 PERÍODO: ABERTURA.20/10/2010 NOTIFICAÇÃO TOMBAMENTO: 22/06/2012
3. PROPONENTE: Centro Vocacional Estaleiro Escola e da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Maranhão.
Fonte: http://www.secti.ma.gov.br/estaleiro-escola/
4. DESCRIÇÃO DO BEM: Os cúteres ou canoas costeiras são um dos maiores barcos tradicionais do Brasil. O convés é fechado, arrematado por cabine rasa. Na proa há um alongado gurupés (pau de giba) e a bita (frade), que usualmente apresenta forma de cabeça humana. O formato da vela, com cores vivas, é dado pela forte inclinação da carangueja, que, visualmente, converte sua forma quadrada em triangular. Quando navegam, essas embarcações impressionam: inclinam-se suavemente com o vento, enquanto colorem a Baía de São Marcos, no Maranhão, com as diferentes tonalidades de seus cascos e velas. Ainda hoje é possível encontrar exemplares que possuem o fundo do casco constituído por uma peça única, acrescida de outras tábuas que dão a forma final ao modelo, porém esta prática foi abolida por escassez de árvores, junto à costa, de tamanho e qualidade adequados.
5. PARECERES: Parecer do DEPAM Parecer Jurídico.PGU/IPHAN, Parecer da Conselheira, Parecer do Conselho..
6. VALOR: Histórico, Etnográfico, Paisagístico e Artístico .
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 66ª Reunião - 09/12/2010
8. TERRITÓRIO: Costa do Maranhão.
9. BENS ASSOCIADOS: .
10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico. Apresentação de dossiê para tombamento.
182Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de
Janeiro. IPHAN, até 2013. Atas da 66ª Reunião do Conselho Consultivo (http://portal.iphan.gov.br/atasConselho)
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11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Adesão ao programa “Barcos do Brasil”
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Não encontrada ( X ) AÇÕES. Não encontrada
13. AGENTES ENVOLVIDOS: Centro Vocacional Estaleiro Escola e da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Estado do Maranhão
14. AÇÕES DE APOIO: Sem informação
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado
16. TRAJETORIA PROCEDIMENTAL Parecer Tecnico do DEPAM em 16/11/2010., Edital de notiticação de tombamento em dou de 26/11/2010. Portaria MinC nº 73, de 19 de junho de 2012 INSCRIÇÃO LIVRO DO TOMBO
17. FICHA Nº 09 DATA 25/11/204
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FICHA DESCRITIVA DAS POLÍTICAS DE TOMBAMENTO DE BENS DA CULTURA POPUILAR PELO IPHAN (1988-2013)1
1. BEM TOMBADO: Canoa de Pranchão do Rio Grande
2. NÚMERO DO PROCESSO 1615- T 10 PERÍODO: ABERTURA.20/10/2010 NOTIFICAÇÃO TOMBAMENTO: 22/06/2012
3. PROPONENTE: Museu Náutico da Furg / Centro de Convívio dos Meninos do Mar (CCMar/Furg)
Fonte: http://www.popa.com.br
4. DESCRIÇÃO DO BEM: Único modelo de embarcação tradicional propriamente desenvolvido no Rio Grande. A canoa de pranchão sobrevive a partir de ação institucional que garantiu a sobrevivência das últimas quatro centenárias canoas de pranchão de Rio Grande, todas de propriedade do Museu Náutico e restauradas pelo construtor naval José Vernetti.
5. PARECERES: Parecer do DEPAM Parecer Jurídico.PGU/IPHAN, Parecer da Conselheira, Parecer do Conselho..
6. VALOR: Histórico, Etnográfico, Paisagístico e Artístico .
7. APROVAÇÃO REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO / DATA: 66ª Reunião - 09/12/2010
8. TERRITÓRIO: Rio Grande do Sul
9. BENS ASSOCIADOS: .
10. METODOLOGIA: Pesquisa histórica, etnográfica. Levantamento fotográfico. Apresentação de dossiê para tombamento.
11. ASPECTOS RELEVANTES À PATRIMONIALIZAÇÃO: Retórica da perda Saberes e fazeres Trata-se dos últimos exemplares de embarcações que faziam parte da rotina do País, seja
1Tabela elaborada através dos Processos de Tombamento disponibilizados pelo Arquivo Noronha Santos – Rio de Janeiro.
IPHAN, até 2013. Atas da 66ª Reunião do Conselho Consultivo (http://portal.iphan.gov.br/atasConselho)
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na pesca, no comércio ou no transporte de pessoas e mercadorias. Atualmente, essas embarcações, apesar de frágeis, ainda guardam excepcionalidades tipológicas e construtivas, além do forte significado simbólico e afetivo loca O Brasil, apesar de sua riqueza e diversidade de embarcações, ainda não dispunha de nenhum exemplar sob proteção federal. Somente agora o país desperta para a importância que tem o seu patrimônio naval e a necessidade de conservá-lo para as gerações futuras.
12. SALVAGUARDAS: ( X ) RECOMENDAÇÕES. Não encontrada ( X ) AÇÕES. Não encontrada
13. AGENTES ENVOLVIDOS:
14. AÇÕES DE APOIO: Sem informação
15. REVALIDAÇÃO DE REGISTRO: Não se aplica ao bem tombado
16. TRAJETORIA PROCEDIMENTAL Parecer Técnico do DEPAM em 16/11/2010., Edital de notificação de tombamento em dou de 26/11/2010. Portaria MinC nº 73, de 19 de junho de 2012 homologa o tombamento e inscrição no livro do tombo.
17. FICHA Nº DATA
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CRONOLOGIAS cronologia normativa da produção do pensamento sobre o patrimônio cultural urbano recente no Brasil entre 1980 e 2013
data Referencia bibliográfica
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Casas de residencia no brasil Diretor Rodrigo M. F. Andrade LLValthier / Gilberto Freyre
1945 Revista do IPHAN nº09 – Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Casa de moradia. Como nasceu Sabará Diretor Rodrigo M. F. Andrade J.Wasth Rodrigues /Salomão Vasconcelos
1947 Revista do IPHAN nº11 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Guia histórico dos municipio do Pará Diretor Rodrigo M. F. Andrade Artur Cesar Ferreira Reis
1955 Revista do IPHAN nº12 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Como nasceu Ouro Preto Diretor Rodrigo M. F. Andrade Salomão Vasconcelos
1961 Revista do IPHAN nº15 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Obras no antigo edificio da Academia Imperial de Belas Artes
Diretor Rodrigo M. F. Andrade Alfredo Galvão
1968 Revista do IPHAN nº16 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Evidencia dos Monumentos históricos Diretor Renato de Azevedo Duarte Soeiro José de Souza Reis
1969 Revista do IPHAN nº17 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Palestra Rodrigo M. F. Abdrade emm Ouro Preto 01/07/1978 O ecumenismo na pintura Religiosa Brasileira As primeiras telas paisagísticas e cidade
Diretor Renato de Azevedo Duarte Soeiro Rodrigo M. F.Andrade Clarival do Prado Valadares Glberto Ferrez
1984 Revista do IPHAN nº19 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
“ a publicação – MULTIDISCIPLINAR – por excelencia e aberta a colaboração academica … pretende
Mudança brupta na diagramação e comunicação.
Apresenta conselho editorial
Diretor Renato de Azevedo Duarte Soeiro Conselho Editorial:
345
incorporar e refetir a inquietação teórica em torno do que é cultura, do que é patrimônio cultural e de como preservá-lo”03p
Apresenta pela primeira vez chamada de temas na capa: São Miguel das Missões; Solo Urbano e Política de preservação; A casa Brasilira; Ecologia e Governo, O fururo do Patrimônio Arquitetônico
Casa Brasileira: Casa, Rua & outro mundo: reflexões sobre o espaço e a sociedade. Roberto da Matta. 4-13p
Solo urbano e poltica de preservação: Centros Históricos: notas sobre a politica brasileira de preservação. Augusto C. da Silva Telles 28-32p / O planejamento urbano como instrumento de preservação. Maurício Nogueira Batista. 33-39p
Projetos - Morro da Conceição do Rio: uma proposta de preservação sem tombamento. Jurema Kopke Eis Arnaut. 97-11p
Ideias – O futuro do Patrimônio Arquitetônico. Michael Parent
Augusto Carlos da Silva Telles; Irapoan Cavalcanti Lyra; José Mindlin; Luis Otávio de Melo Cavalcante; Marcos Vinícios Villaça.
1984 Revista do IPHAN nº20 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Editorial “Qualidade de vida e identidade cultural são experiencias fundamentais hoje no pensamento preservacionista. Aproximados, os dois conceitos tem o dom de recolocar as reflexões sobre o patrimônio cultural no nível de abrangência de vida. Ambos apontam sentidos finais da preservação: de um lado garantir ou melhorar as condições de existência, e, de outro, salvaguardar o reconhecimento de produções e projetos comum de vida, práticas e axpirações constantes que caracterizam um povo e
Primeira Edição Temática: A restauração do Paço Imperial e o futuro da Praça XV no Rio,
Temas Politica de Preservção: Bem cultural e Identidade Cultural. Benedito Lima Toledo 28-32p; Antropologia e Patrimônio Cultural. Gilberto Velho 37-39p; Bens Culturais: instrumentos para um desenvolvimento harmonioso, Aloísio Magalhães 40-44p; Política de Preservação e Democracia. Joaquim Falcão 45-49p.
Projetos: Praça XV (imediações, interbenções e permanências – Vera alcantara, Augusto Ivan)
346
permanecem legitimadas pela vontade coletiva. Relembram, portanto, uma evid<~encia muitas vezes eesquecida ou substimada: seja qual for o conceito de patrimônio cultural, sua significação plena só é alcançadano cotidiano, enquanto vivência, bem compartilhado pela comunidade. …. O sentido de preservação de bens culturais – entendido como parte do conjunto de ações que visam ao bem estar-social – é uma questão que permeia essa edição. …. Na diversidade de discursos, destaca-se, porem, a consciência de que pensar o patrimônio cutural é pensar em condições alternativas de vida, o que implica em analisar todas as políticas de desenvolvimento.” P3
1986 Revista do IPHAN nº21 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Temas – identidade dos bairros e expansão urbana: A grande cidade Brasielira: Sobre heterogneidade e diversidade culturais. Gilberto Velho 49-50/ Preservação e Desenvolvimento: as duas faces de uma mpeda urbana. Lúcia Helena Fontes, Mª das Graças Spencer Coelho, Alice Amaral dos Reis, Mª Lúcia Neves. Projeto – A cidade Latino Americana: repercurssões e revitalização, a experiência de Olinda. Vera Bosi.
Min. Cultura – Celso Furtado. SPHAN Angelo Oswaldo de Araujo Santos ; - Conselho Editorial: Angelo Oswaldo de Araujo Santos; Augusto Carlos da Silva Telles; Fernando Moreira Sales; Joaquim de Arruda Falcão; José Mindlin.
1987 Revista do IPHAN nº22 – Revista do Editorial Estado e Cultura: Concepção Oficial de Diretor do SPHAN
347
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
“concebida e elaborada no quadro do cinquentenário em 1987 da criação, do hoje, SPHAN … o objetivo é possibilitar, através da pluralidade de enfoques e opiniões, uma avaliação do que foifeito ao ongo de meio século e, também, a formalidade nas posições e perspectivas de rumos. Jugou-se pertinente fazer proceder o debate sobre apreservaçãode um outro que está permanentemente na ordem do dia: a relação cultura e estado; tema sugestivo e carregado de nuances, sobre o qual descorrem alguns nomes expressivos da intelectualidade brasileira militante da área de ciencia humanas… Este número contem assim, no plano da problemática geral de preservação, artigos e ensaios voltados para a investigação de conceitos e metodologias… A prática institucional, pos sua vez, sucita um conjunto de questões …. Instituto legal do tombamento …. Conservação e/ou restauraçãp do patrimônio edificado (imóveis tombados isoladamente, núcleos urbanos e centros históricos protegidos; tratamento dado aos entornos dos bens tombados …. Os temas inerentes à inserção do trabalho de prservação na dinâmica socio-cultural”
Cultura e processo cultural. Gabriel Cohn07-10p; O estado e os problemas da política cultural no Brasil hoje. Leandro Konder 11-17p. Cultura Popular. Octavio Ianni 30-33p; SPHAN Resumo Cronológico 34p. Presrvação: Restaura-se o Patrim^pnio ângelo Oswaldo de Araujo Santos 37-39p; O paço ou o Povo: uma visãonpossível do cinquentenário Antônio Cândido 42-43p; SPHAN refrigério da Cultura Oficial. Sergio Miceli 45-47p. Tombamento: Mesa Redonda, Lúcia Helena Fontes, Mª das Graças Spencer Coelho, Dina Lener, Dora Alcantara, Sonia Rabelo 69-79p; Algumas divagações sobre o conceito e tombamento, Roberta Marinho de Azevedo 80-81p; Por um inventário do patrimonio cultural brasileiro, Paulo Ormindo de Azevedo 82-85p. Patrimônio Edificado: Mesa Redonda Conservação e Restauração Antônio Pedro Alcântara, Augusto Silva Telles, Carlos Alberto Reis Campos, Lia Motta, Rodrigo Andrade 90-105p; O SPHAN em Ouro Preto: uma história de conceitos e critérios, Lia Motta, 102-22p; Mesa Redonda Sítios históricos/núcleos urbanos/ entorno:Carlos Ivan de Freitas Pinheiro, Carlos Nelson F. dos Santos, Fernando Colagrossi, Jurema Kopke Eis Arnault, Luis Fernando Franco, Vera Bosi.
Oswaldo José de Campos Melo
1994 Revista do IPHAN nº23 – Revista do Tema Cidade Cidade ou cidades? Heloisa Buarque de Ministro da Cultura Luis
348
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Holanda 15-91p; Colecionando Arte e Cultura, James Cliford, 69-89; O Patrimônio Cultural e a construção maginária do nacional, Nestor Garcia Canclini, 95- 115; Pattrimônio e Cidade, Cidade e Patrimônio, Glauco Campello, 116-125p; Será o Novo pelourinho um engano? Roberto Marinho de Azevedo, 10-137p; Espaçoe Pode, Michael Foucault, 138-145p; A paisagem Urbana, Wim Wenders, 180-189; A guerra dos Lugares, Antônio Arantes, 190- 203.
Roberto do Nascimento e Silva Presidente do IPHAN Glauco campello Conselho Editorial Heloisa Buarque de Holanda; Ítalo Campofiorito; Jurema Arnaudt; Laura cavalcante; Glauco Campello
1996 Revista do IPHAN nº24 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Tema Cidadania Prefácio, Cultura, Democracia e Identidade Nacional, Francisco Weffort 05-06p; Introdução, Cultura e Cidadania, Antônio A. Arantes, 09-14p; Cidadania e Alteridade: o recinhecimento da pluralidade, Elizabeth Jelin; Cidadania Racismo e Pluralismo: presença das soxiedades indígenas nas organizações dos estados nacionais, João Pacheco de Oliveira, 27-34p; Nasce a academia SPHAN, Mº Velloso Mota Santos, 77-98p; Da modernização a participação: a política Federal de preservação nos anos 70 e 80. Mª Cecilia L. Fonseca, 153-162p; Preservação na Gestão das Cidades, Mª Beatriz Setubal de Rezende Silva, 163-174p; Memória, Cidadania e Culturas Populares. Mª Célia Paoli e Marco Antônio de Almeida, 185-194p; Paisagens urbanas pós-modernas: mapeamento cultural e poder, Sharon Zukin, 203-219; O álibe do patrimônio: crise da cidade, gestão urbana e nostalgia do passado, Jérôme Monnet, 220-2228p; Cultura da Cidade: animação sem frase, Otília Arantes, 229-242; Espaços de Cidadania Insurgente, James Houston, 243-
Ministro Francisco Weffort
349
254p; Restauração da Paisagem Urbana, Felix Guattari, 293p.
1997 Revista do IPHAN nº25 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Tema – Negro Brasileiro Organização Joel Rufino Santos “ A Revista do Patrimônio é uma publicação do IPHAN e do MINC. Os artigos são autorais não refletindo necessariamente a posição do IPHAN” Contracapa pg 02
SANTOS, Joel Rufino. Culturas negras, civilização Brasileira. 05-10p. DIEGUES JR, Manuel. A áfrica na vida e na cultura do Brasil. 11-28p. SODRE, Muniz, Corporalidade e liturgia negra. 29-34p HOLLANDA, Heloisa Buarque. A mão Afro-brasileira: resenha antiga. 35-37p. FERRETI, Sergio. Casa das Minas – Religião Popular e Mudanças.388-42p. MELLO, Eduardo. O mercado de Madureira. 50-62p LAETSCHER, Hugo. A arte como patrimônio sobre manoel Araujo 63-70p. FRANCISCO,Carlos Alberto Messeder. Santuário da Penha e o Bloco Cacique de Ramos. 279-285. D‟ADESKY, Jacques. Acesso diferenciado dos modos de representação afro-brasileira no espaço público. 306-316 FERRAZ, Encarnação. O tombamento de um marco da africanidade: a pedra do sal LINGUAGENS ARTÍSTICAS – Teatro, cinema, mpb, poesia, literatura, fotografia AFIRMAÇÃO DA RAÇA –zumbi, negros no sul do pais.
Ministro Francisco Weffort Pres IPHAN GlaucoCampello Conselho Editorial Heloisa Buarque de Holanda; Ítalo Campofiorito; Jurema Arnaudt; Laura cavalcante; Glauco Campello
1997 Revista do IPHAN nº26 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Tema 60 anos da Revista do Patrimônio Organização Ítalo Campofiorito “ A Revista do Patrimônio é uma publicação do IPHAN e do MINC. Os artigos são autorais não refletindo necessariamente a posição do IPHAN” Contracapa pg 02
CAMPOFIORITO, Ítalo. Introdução: as primeiras árvores. 11-19p. Publicação destinada a reproduçãode textos publicados em edições anteriores e comentadas por ilustres.
Ministro Francisco Weffort Pres IPHAN GlaucoCampello Conselho Editorial Heloisa Buarque de Holanda; Ítalo Campofiorito; Jurema Arnaudt; Laura cavalcante;
350
Glauco Campello, Benício Neiva Medeiros
1998 Revista do IPHAN nº27 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Tema: Fotografia Ministro Francisco Weffort Pres IPHAN GlaucoCampello Conselho Editorial Heloisa Buarque de Holanda; Ítalo Campofiorito; Jurema Arnaudt; Laura cavalcante; Glauco Campello, Benício Neiva Medeiros
1999 Revista do IPHAN nº28 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Tema: Arte e Cultura Popular Organização Elizabeth Travassos
SANDRONI, Carlos. Notas sobre Mário de Andrade e a Missão Folclórica de 1938. 60-73p. WALDECK, Gracira. Exibindo o povo: invenção ou documento? 82-99p. MARIANI, Alayde. A memória popular no registro do patrimônio. 156-173. BARBOSA, Walace de Deus. O artezanato indígena e os “novos índios” do nordeste. 216-225p VIANNA, Letícia. Bezerra da Silva: um artista popular. 254-267. TEMAS RECORRENTES: Museu do Folclore e Artes Popular; música colonial popuar, xilogravura.
2001 Revista do IPHAN nº29 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Tema: Olhar o Brasil Organização Sebastião Uchoa Leite
LEITE, Sebastião Uchoa. Olhar o Brasil. 7-9p LIMA Costa Luiz. Brasil, por onde olhar? 66-81p CASCO, Ana Carmem A. Reinventando a Cidade. 82-101p ALCÂNTARA, Antônio Pedro. As aparências das coisas. 170-197p COCHIARALE, Feranando. Da antropologia ao experimentalismo. 230-241p
Presidente do IPHAN – Carlos H Heck Conselho Editorial Antônio Augusto Arantes; Laura Augusta de Paiva Cavalcanti; Márcio de Souza, Marta Rosseti Batista; Mº Cecília Londres Fonseca; Mariza Veloso.
351
TEMAS RECORRENTES: linguagens artísticas; artes, música, teatro, dança, fotografia.
2002 Revista do IPHAN nº30 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Tema: Mario de Andrade Organização Marta Rosseti Batista
BATISTA, Marta Rosseti. Introdução.6-23p SILVA, Fernando Feranandes da. Mário e o patrimônio um projeto ainda atual. 128-137. MIRANDA, Alcides da Rocha. Não foi fácil, não havia gente. Entrevista. 246-253. ANDRADE, Mário de. Anteprojeto para a criação do SPHAN. 270-287.
2007 Revista do IPHAN nº33 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Tema Patrimônio Arqueológico: o desafio da preservação
Ministro da Cultura Gilbeto Gil IPHAN Luiz Fernando de Almeida
2012 Revista do IPHAN nº34 – Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Tema História e Patrimônio Organização Márcia Chuva
CHUVA, Márcia. Introdução – História e Patrimônio: entre o risco e o traço, a trama. 11-26p. PARTE I – EM FOCO O CAMPO DO PATRIMÔNIO. FOULOT, Dominique. A razão Patrimonial na europa do século XVIII ao XXI. 27-44p REIS, José Carlos. O tempo histórico como representação intelectual. 45-60p COLI, Jorge. Materialidade e imaterialidade. 67-78. GUIMARÃES, manoel L. Salgado. História ,memória e patrimônio.91-112p DAHER, Andréa. Objeto cultural e bem patrimonial: representações e práticas. 113-130. CONDURU, roberto. Artifícios para inventar e destruir arquitetura, história , preservação cultural. 131-146p CHUVA, Márcia. Por uma história da noção de patrimônio cultural no Brasil. 147-166p.
,
352
PARTE II HISTÓRIA E POLÍTICA THOMPSON, Ana Lúcia. LEAL, Claudio F. B. SORGINE, Juliana. TEIXEIRA, Luciano do S. História e Civilização material na Revista do Patrimônio. 167-198p. DIAS, Carla do C. LIMA, Antonio Carlos S. O museu nacional e a construção do patrimônio histórico nacional. 199-222p. RIBEIRO, Marcos. Entre o ser e o coletivo: o tombamento dos casos históricos. 223-248. MOTTA, Lia. O patrimônio cultural urbano à luz do diálogo entre história e arquitetura. 249-280. WILLIANS, Daryle. Além da história pátria as missões jesuítica-guaranis, o patrimônio da humanidade e outras histórias. 281-302 TRINDADE, Joelson B. Patrimônio e história a abordagem territorial. 303-336. PARTE II –NOVOS OBJETOS DE PATRIMONIALIZAÇÃO GOMES, Flávio. Terra e camponeses negros o legado do pós-emancipação. 375-396.
353
cronologia normativa da produção institucional do patrimônio cultural popular no Brasil 1937 - 2013
Tempo Evento
1936 O projeto de Oswald de Andrade
1937 Criação do SPHAN
1937 Decreto-Lei nº 25
1938 Criação do Conselho Consultivo do SPHAN. O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural é constituído por nove representantes de instituições públicas e privadas e por 13 representantes da sociedade civil, indicados pela presidência do IPHAN e designados pelo Ministério da Cultura. O mandato dos conselheiros é de quatro anos, permitida a recondução. É presidido pelo presidente do IPHAN que o integra como membro nato. O Decreto nº 6.844, de 07 de maio de 2009, estabelece a estrutura organizacional do IPHAN. O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural está inserindo dentro dessa estrutura, como órgão colegiado.REF - http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=15026&retorno=paginaIphan
1938 Tombamento do Museu da Magia Negra
1946 O SPHAN tem o seu nome alterado para Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN).
1947 Comissão nacional do Folklore
1948 Declaração Universal de Direitos Humanos
1958 Campanha de defesa do Folklore Brasileiro
1961 Criação da Biblioteca Amadeu Amaral
1967 Aposentadoria de Rodrigo Melo Franco de Andrade
1967 Início da Gestão de Renato Soeiro
1968 Criação do Museu do Folclore Edison Carneiro
1970 O DPHAN é transformado em Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)
1972 17ª Sessão da Conferência Geral da Unesco, a Convenção sobre a proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural.
1975 Conselho consultivo perde caráter deliberativo
1975 CNRC – Centro Nacional de Referencias Culturais
1976 Carta do Turismo Cultural
1976 A Campanha vira Instituto Nacional do Folclore, vinculado a FUNART
1977 criação de áreas especiais e de locais de interesse turistico
1979 Fim da gestão Renato Soeiro
1979 GestãoAloísio Magalhaes
1979 O IPHAN é dividido em SPHAN (Secretaria), na condição de órgão normativo, e na Fundação Nacional Pró-Memória (FNPM), como órgão executivo.
1979 Fundação Nacional Pró-Memória.
1981 “Diretrizes para operacionalização da política cultural do MEC – Ministério de Educação e Cultura”
354
1983 Criação da Sala do Artista Popular
1985 “Declaração do México”
1986 Tombamento de Terreiros de candombléIlê Axé IyáNassôOká, Terreiro da Casa Branca – Salvador - Bahia.
1988 Constituição Federal do Brasil de 1988 art. 216
1989 25ª.Reunião da Conferência Geral da Unesco
1989 Carta de Cabo Frio
1990 A SPHAN e a FNPM foram extintas para darem lugar ao Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC)
1991 PRONAC
1992 O IBPCtransforma-se em Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN
1994 Conferência de Nara
1995 Carta de Brasília
1996 Declaração de Sofia
1996 Declaração de São Paulo II -
1996 Tesouros Vivo da Humanidade
1997 A Coordenação de Cultura Popular é transformadoem Centro Nacional deFolclore e Cultura Popular (CNFCP),vinculado à Funarte
1997 Realização do Seminário Patrimônio Imaterial: estratégias e formas de proteção, em Fortaleza
1997 A “Carta de Mar Del Plata sobre o patrimônio intangível”, de junho. REF - http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=269
1998 São criados a Comissão Interinstitucionalpara elaborar proposta de regulamentação do Registro do patrimônio cultural imaterial e o Grupo de Trabalho Patrimônio Imaterial (GTPI)para assessorar esta Comissão
1999 Carta de Cartagena de Índias, Colômbia - Maio de 1999. 2000 Instituição do Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial e do Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI)
2000 Desenvolvimento do instrumento técnico de Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC)
2000 Tombamento do Ilê Axé Opô Afonjá, Salvador – Bahia..
2001 Implantação do PNPI com o projeto Celebrações e Saberes da Cultura Popular desenvolvido pelo CNFCP
2002 Declaração de Istambul
2002 Registro do Ofício das Paneleiras de Goiabeiras/Vitória/ES
2002 Tombamento da Casa das Minas – Querebentã de Zomadonu / São Luis - MA
2003 O Centro Nacional deFolclore e Cultura Popular (CNFCP) passa a integrar a estrutura do IPHAN
2003 Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, aprovada na 32ª Sessão da Conferência Geral das Nações Unidas
2004 Criação doDepartamento do Patrimônio Imaterial do Iphan (DPI)ao qual foi agregado o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP).
2004 Registro das Formas de Expressão doSamba de Roda do Recôncavo Baiano
2004 Registro das Celebrações do Círio de Nossa Senhora de Nazaré no Pará
2005 Tombamento do Terreiro de Candomblé Ilê IyáOmin Axé Iyamassê, e do Terreiro Bate Folha Manso Banduquemqué em Salvador, Bahia;
2005 Registro das Formas de Expressão do Jongo no Sudeste
355
2005 O Samba de Roda no Recôncavo Baiano é proclamado pela Unesco Obra-Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade.
2006 Resolução n° 001, de 03 de agosto de 2006
2006 VIII congresso internacional de reabilitação do patrimônio arquitetônico e edificação
2006 Brasil ratificou a Convenção da Unescosobre a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial
2006 Registro de Lugar Feira de Caruaru
2007 Registro das Formas de Expressão do Frevo; do Tambor de Crioula do Maranhão; das Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto, de Terreiro e Enredo; e da Roda de Capoeira
2008 Tombamento do Terreiro de Alaketo, Ilê MaroiáLáji / Salvador - Ba
2008 Registro do Ofício dos Mestres de Capoeira
2009 Registro do Ofício das Baianas de Acarajé
2009 Registro do Modo de fazer Renda Irlandesa em Divina Pastora / Sergipe
2009 Registro do Ofício de Sineiro
2009 Registro das Formas de Expressão do toque dos Sinos em Minas Gerais (São João Del Rey, Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes)
2010 I Fórum Nacional do Patrimônio Cultural
2010 Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL), instituído pelo Decreto nº. 7.387, de 09 de dezembro
2010 Registro das Celebrações - Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis (Goiás), e da Festa de Sant' Ana de Caicó, (Ceará
2011 Registro das Celebrações Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão
2012 Registro das Formas de Expressão do Fandango Caiçara
2013 Registro das Celebrações - Festa de Nosso Senhor do Bonfim (Salvador/BA)
356
cronologia normativa dos bens das culturas populares tombados pelo IPHAN, no Brasil (1937 – 2013)
LOCALIZAÇÃO INFORMAÇOES SOBRE O BEM DADOS DO PROCESSO
INSCRIÇÃO NO LIVRO DO TOMBO
UF Município Nome do Bem Classificação Numero Ano de
Abertura
ArqueológicoEtnográfico e Paisagístico
Histórico
Belas Artes
Artes Aplicadas
AL União dos Palmares
Quilombo dos Palmares; República dos Palmares
Serra da Barriga, parte mais acantilada, conforme descrição
constante na Informação nº123/85
1069 1982 1986 1986
BA Saveiro de Vela de Içar, de nome, Sombra da Lua, no
Recôncavo Baiano Embarcação Tradicional 1616 2010 2012 2012 2012
BA Andaraí Ruínas de habitações em pedra; Xique-Xique do Igatu; Cidade de
Pedras
Conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico na
cidade de Igatu, inclusive as ruínas de habitações de pedra
1411 1998 2000 2000 2000
BA Monte Santo
Monte Santo (Serra) - conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico; Santuário de
Santa Cruz do Monte Santo; Rua Senhor dos Passos; Rua
Frei Apolônio Toddi, Rua Coronel José Cordeiro; Rua
Barão de Geremoabo; Rua das Flores
1060 1982 1983
BA Salvador Ilê Axé Nassô Oká
Terreiro da Casa Branca contituído de uma área de aproximadamente 6.800
m2, com as edificações, árvores e principais objetos sagrados,
situado na Avenida Vasco da Gama s/nº
1067 1982 1986 1986
357
BA Salvador Terreiro do Bate Folha Terreiro de Candomblé do Bate-
Folha Manso Banduquenqué 1086 2001 2005 2005
BA Salvador Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá
Láji Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá
Láji 1481 1998 2008 2008
BA Salvador Terreiro do Axé Opô Afonjá Terreiro do Axé Opô Afonjá 1432 1998 2000 2000
BA Salvador Ilê Iyá Omim Axé Yiamassé Terreiro do Gantois - Ilê Iyá
Omim Axé Yiamassé 1471 2000 2005 2005
MA Canoa Costeira, de nome
Dinamar
Canoa Costeira, de nome Dinamar, na Baía de São
Marcos 1616 2010 2012 2012 2012
MA São Luís Terreiro Casa das Minas Jeje
Terreiro Casa das Minas Jeje, situado na Rua de São
Pantaleão nº 857 e 857a
1464 2000 2005 2005
MG Belo Horizonte Presépio de Pipiripau Presépio de Pipiripau 1115 1984 1984
MG Congonhas
Coleção constituída de 89 ex-votos pintados pertencentes ao
Santuário do Bom Jesus de Matozinhos
Coleção constituída de 89 ex-votos pintados pertencentes ao
Santuário do Bom Jesus de Matozinhos
1039 1980 1981 1981
PB João Pessoa Fábrica de Vinho Tito Silva Fábrica de Vinho Tito Silva 1054 1982 1984
RJ Rio de Janeiro Conjunto de habitação coletiva denominado Avenida Modelo
Conjunto de habitação coletiva denominado Avenida Modelo na
Rua Regente Feijó nº 55; Vila Na
Rua Regente Feijó, 55
1085 1983 1985
RJ Rio de Janeiro Morros da Cidade do Rio de
Janeiro Morros do Distrito Federal 0099 1938 1938 1938
RJ Rio de Janeiro Museu da Magia Negra Museu da Magia Negra, acervo 0035 1938 1938
SE Canoa de Tolda Luzitânia
Canoa de Tolda Luzitânia, de propriedade da Sociedade
Socioambiental do Baixo São Francisco
1473 2001 2012 2012 2012
358
Cronologia normativa dos bens das culturas populares registrados pelo IPHAN, no Brasil (2003 a 2013).
Nome do Bem Valor Data de Registro
Ofício das Paneleiras de Goiabeiras Saberes 20/12/2002
Samba de Roda do Recôncavo Baiano Formas de Expressão 05/10/2004
Círio de Nossa Senhora de Nazaré Celebrações 05/10/2004
Modo de Fazer Viola-de-Cocho Saberes 14/01/2005
Ofício das Baianas de Acarajé Saberes 14/01/2005
Jongo no Sudeste Formas de Expressão 15/12/2005
Feira de Caruaru Lugar 20/12/2006
Frevo Formas de Expressão 28/02/2007
Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto, de Terreiro e Enredo Formas de Expressão 20/11/2007
Tambor de Crioula do Maranhão Formas de Expressão 20/11/2007
Ofício dos mestres de capoeira Saberes 21/10/2008
Roda de Capoeira Formas de Expressão 21/10/2008
Modo de fazer Renda Irlandesa Divina Pastora / SE Saberes 28/01/2009
Ofício de Sineiro Saberes 03/12/2009
Toque dos Sinos em Minas Gerais tendo como referência São João del Rey e as cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes.
Formas de Expressão 03/12/2009
Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis Celebrações 13/05/2010
Festa de Sant' Ana de Caicó Celebrações 10/12/2010
Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão Celebrações 30/08/2011
Fandango Caiçara Formas de Expressão 29/11/2012
Festa do Divino de Paraty Celebrações 03/04/2013
Festa do Senhor do Bonfim Celebrações 05/06/2013
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Cronologia de sujeitos em destaque na preservação institucional do Folclore e das culturas populares no Brasil (1900 a 1970)
sujeitos tempo Atuação / destaque
Silvio Romero 1851 - 1914 Estudo da Poesia Popular – Literatura Oral - Crítica –Dilantismo / Teorizações Imaginosas.
Mário de Andrade 1893- 1945 Poeta, romancista, contista, cronista, etnografo.
Amadeu Amaral 1875 - 1929 chegou a criar a Sociedade de Estudos Paulistas em 1921
Artur Ramos 1903 - 1949 médico psiquiatra,psicólogo social, etnólogo, folclorista e antropólogo brasileiro.
Aloísio Magalhaes 1927 - 1982 forma-se em direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 1950.Com bolsa do governo francês, estuda museologia em Paris, entre 1951 e 1953. Em 1956, com bolsa concedida pelo governo americano, viaja aos Estados Unidos, onde se dedica às artes gráficas e à programação visual. Em 1960, volta ao Brasil e abre um escritório voltado à comunicação visual, campo no qual é um dos pioneiros no país, e realiza projetos para empresas e órgãos públicos. Em 1963, colabora na criação da Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), onde leciona comunicação visual. 1979: nomeado diretor do então Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional. 1979: presidente da Fundação Nacional Pró-Memória. 1980: presidente do Conselho Administrativo da Fundação Raymundo Ottoni de Castro Maya. 1981: vice-presidente do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco, em Sidney. 1981-82: membro do Bureau do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco. 1981-82: membro do Conselho Superior da Fundação Brasileira para Conservação da Natureza. 1981: secretário da Cultura do MEC.
Cecília Meireles 1901- 1964 Relação folclore e educação. Cecília foi integrante da Comissão Nacional de Folclore desde sua instalação, em 1947
Luís de Câmara Cascudo 1898-1986 fundou a Sociedade Brasileira de Folclore na cidade de Natal (RN), em 1941,
Edson Carneiro 1912 - 1972 Jurista, jornalista, poeta e folclorista http://www.bv2dejulho.ba.gov.br/portal/index.php/exposicoes-virtuais/edisoncarneiro/140-obras.html
Rodrigo de Melo Franco 1898 - 1969 Advogado, jornalista, escritor
Carlos Drumond de Andrade 1902 - 1987 Bel em Famácia pela UFMG
Florestan Fernandes 1920 - 1995 Estagiário de pesquisa do Prof Roger Bastide em pesquisas sobre aspectos da cultura Popular.
Renato Almeida 1895-1981 Musicologo, folclorista, escritor, jornalista e diplomata. Bel em direito. Baiano Santo Antonio de Jesus
Renato de Azevedo Duarte Soeiro Formado pela Escola Nacional de Belas Artes, ocupando quadro de arquitetos do DPHAN. Getor do patrimonio passou pela DPHAN (41 anos), MEC, UNESCO, OEA.
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