4
>> GT racismo Publicação trimestral do Ministério Público de Pernambuco Judith P. S. Borba * A Constituição brasileira garante formalmente a igualdade de direitos, sem distinção de qualquer natureza. Garante, ainda, a inviolabilidade do direito à vida e a um envelhecimento digno. Assim, o Estado tem a obrigação de implementar políticas públicas que garantam a proteção de seus cidadãos, para que eles possam desfrutar de um envelhecimento saudável e em condições adequadas. No entanto, mesmo havendo melhorias na expectativa de vida da nossa população em geral, a desigualdade nos índices de longevidade para negros e brancos persiste em um Brasil que é a segunda maior nação negra do mundo, atrás apenas da Nigéria. Dados dos censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados no Atlas Racial Brasileiro confirmam esta realidade. O trabalho produzido pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) e pela Universidade Federal de Minas Gerais deixa claro o tamanho das diferenças. No ano 2000, as mulheres brancas tinham uma esperança de vida ao nascer de 73,8 anos, enquanto para as mulheres negras o índice era 4,3 anos menor. Já entre os homens negros, a expectativa de vida girava em torno dos 63 anos – cerca de 5,3 anos a menos do que para homens brancos. Tanta desigualdade levará 20 anos para ser sanada: é o tempo previsto para que os homens negros – os de menor expectativa de vida – apresentem o mesmo índice das mulheres brancas, que hoje estão no topo do ranking nesta taxa. Tais dados derrubam o mito da democracia racial brasileira, que tem sustentado uma atitude de neutralidade no momento da elaboração de políticas públicas, fazendo pensar erroneamente que estamos construindo uma nação justa, mas nunca contemplando a existência do negro e de suas variadas necessidades. As discussões sobre o tema estão apenas começando, no que se refere à busca de caminhos para superar a discriminação racial através da promoção da igualdade no conteúdo e na aplicação da lei entre a população. Assim, o acesso aos dados de raça é importante para que possamos conhecer como efetivamente se constitui a população brasileira, e cabe a utilização destas informações ESP ERANÇA DE VIDA PARA BRANCOS E NEGROS NÚMERO 6 NOVEMBRO 2006 No Brasil, estima-se que existam mais de 1.000 comunidades quilombolas espa- lhadas por nosso imenso território, sonhando e lutando pelo direito de propriedade das terras que secularmente ocupam, condição primeira para que se concretize a promessa de igualdade e inclusão social inscrita em nossa Carta Magna. Por viverem em locais geralmente afastados das sedes dos municípios e das regiões metropolitanas, em razão de sua história de resistência, essa população é ainda mais invisível do que os demais negros, sem o atendimento de suas necessidades mais básicas, muitas vezes até sem consciência de sua própria condição quilombola. Só em nosso estado já foram identificadas, até agora, 108 comunidades quilombolas, a maioria ainda em processo de reconhecimento, espalhadas por 39 municípios. Lá estão os mais altos índices de analfabetismo entre crianças, adolescentes e adultos, em alguns casos, com taxa de mortalidade infantil que ultrapassa os 50% dos nascidos vivos, como pudemos constatar in loco em audiência pública recentemente realizada pelo GT Racismo na comunidade Negros do Osso, distante 30 quilômetros do município de Pesqueira, cuja história trazemos na matéria da página 6. Apesar dos 18 anos de existência da Constituição Federal, muitas pessoas sequer sabem o que é uma comunidade quilombola, ficando mesmo espantadas quando ouvem falar nelas, incluindo-se entre estes os agentes políticos dos mais variados setores, que têm o dever institucional de implementar as políticas públicas que lhes são legal- mente asseguradas. É vergonhoso que o Estado e a sociedade brasileiros consigam fazer de conta que os quilombolas não existem! Amparados por esta invisibilidade, ignoramos a realida- de para não sermos incomodados com a constatação do racismo, e assim, omitindo-nos, vamos reproduzindo a exclusão e a miséria. Com o intuito de contribuir para uma maior visibilidade dessa população e barrar a violação ininterrupta de seus direitos, para a conscientização da necessidade de urgente intervenção, é que dedicamos esta edição do nosso jornal às comunidades quilombolas de todo o Brasil. Quilombolas: exclusão social Só em nosso Estado já foram identificadas, até agora, 108 comunidades quilombolas, a maioria ainda em processo de reconhecimento, espalhadas por 39 municípios. 8 - GT RACISMO - NÚMERO 6 - NOVE MB RO 2006 para que haja uma mudança no perfil das políticas públicas, no sentido de torná-las universalistas. Somente desta forma poderá ser garantido o acesso real de toda a população brasileira ao desenvolvimento social, com combate às desigualdades raciais de forma a que todos tenham acesso à escola, saúde, coleta de lixo, esgoto, trabalho... Formulando e implantando políticas públicas, sempre de forma transversal, e potencializando a participação da população negra no desenvolvimento brasileiro, os investimentos para as áreas mais pobres do país deverão ser reorientados, de modo a que os serviços públicos possam ser oferecidos democraticamente. Precisamos de iniciativas capazes de dar conta da melhoria das condições de vida e do acesso dos afro- descendentes aos direitos humanos – inclusive o de envelhecer de forma digna – que consistentemente lhes têm sido negados no Brasil. Uma das formas de se conseguir mais rapidamente a igualdade racial é a implantação de um conjunto de medidas legais e de políticas públicas que objetivem eliminar as diversas formas e tipos de discriminação que vêm limitando oportunidades a determinados grupos sociais. Tais medidas têm amparo em nossa Constituição Federal. Desta forma, impõe-se ao Estado a realização de uma ação positiva para erradicar a pobreza e a marginalização, bem como reduzir as desigualdades sociais e regionais, promovendo o bem de todos, sem preconceito de raça, idade ou qualquer forma de discriminação. * Promotora de Justiça em exercício na PJ Idoso e integrante do GT- Racismo

NÚMERO 6 ESPERANÇA DE VIDA PARA BRANCOS E … · conduta com o Ministério Público de Pernambuco se comprometendo a implan-tar, a partir do ano letivo de 2007, as medidas necessárias

Embed Size (px)

Citation preview

>>

GTracismo Publicação trimestral do Ministério Público de Pernambuco

Judith P. S. Borba *

A Constituição brasileira garante formalmente a igualdade de direitos, sem distinção de qualquer natureza. Garante, ainda, a inviolabilidade do direito à vida e a um envelhecimento digno. Assim, o Estado tem a obrigação de implementar políticas públicas que garantam a proteção de seus cidadãos, para que eles possam desfrutar de um envelhecimento saudável e em condições adequadas.

No entanto, mesmo havendo melhorias na expectativa de vida da nossa população em geral, a desigualdade nos índices de longevidade para negros e brancos persiste em um Brasil que é a segunda maior nação negra do mundo, atrás apenas da Nigéria.

Dados dos censos do Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE) divulgados no Atlas Racial Brasileiro confi rmam esta realidade. O trabalho produzido pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) e pela Universidade Federal de Minas Gerais deixa claro o tamanho das diferenças.

No ano 2000, as mulheres brancas tinham uma esperança de vida ao nascer de 73,8 anos, enquanto para as mulheres negras o índice era 4,3 anos menor. Já entre os homens negros, a expectativa de vida girava em torno dos 63 anos – cerca de 5,3 anos a menos do que para homens brancos.

Tanta desigualdade levará 20 anos para ser sanada: é o tempo previsto para que os homens negros – os de menor expectativa de vida – apresentem o mesmo índice das mulheres brancas, que hoje estão no topo do ranking nesta taxa.

Tais dados derrubam o mito da democracia racial brasileira, que tem sustentado uma atitude de neutralidade no momento da elaboração de políticas públicas, fazendo pensar erroneamente que estamos construindo uma nação justa, mas nunca contemplando a existência do negro e de suas variadas necessidades.

As discussões sobre o tema estão apenas começando, no que se refere à busca de caminhos para superar a discriminação racial através da promoção da igualdade no conteúdo e na aplicação da lei entre a população.

Assim, o acesso aos dados de raça é importante para que possamos conhecer como efetivamente se constitui a população brasileira, e cabe a utilização destas informações

ESPERANÇA DE VIDA PARA BRANCOS E NEGROS

NÚMERO 6NOVEMBRO 2006

No Brasil, estima-se que existam mais de 1.000 comunidades quilombolas espa-lhadas por nosso imenso território, sonhando e lutando pelo direito de propriedade das terras que secularmente ocupam, condição primeira para que se concretize a promessa de igualdade e inclusão social inscrita em nossa Carta Magna.

Por viverem em locais geralmente afastados das sedes dos municípios e das regiões metropolitanas, em razão de sua história de resistência, essa população é ainda mais invisível do que os demais negros, sem o atendimento de suas necessidades mais básicas, muitas vezes até sem consciência de sua própria condição quilombola. Só em nosso estado já foram identificadas, até agora, 108 comunidades quilombolas, a maioria ainda em processo de reconhecimento, espalhadas por 39 municípios.

Lá estão os mais altos índices de analfabetismo entre crianças, adolescentes e adultos, em alguns casos, com taxa de mortalidade infantil que ultrapassa os 50% dos nascidos vivos, como pudemos constatar in loco em audiência pública recentemente realizada pelo GT Racismo na comunidade Negros do Osso, distante 30 quilômetros do município de Pesqueira, cuja história trazemos na matéria da página 6.

Apesar dos 18 anos de existência da Constituição Federal, muitas pessoas sequer sabem o que é uma comunidade quilombola, ficando mesmo espantadas quando ouvem falar nelas, incluindo-se entre estes os agentes políticos dos mais variados setores, que têm o dever institucional de implementar as políticas públicas que lhes são legal-mente asseguradas.

É vergonhoso que o Estado e a sociedade brasileiros consigam fazer de conta que os quilombolas não existem! Amparados por esta invisibilidade, ignoramos a realida-de para não sermos incomodados com a constatação do racismo, e assim, omitindo-nos, vamos reproduzindo a exclusão e a miséria.

Com o intuito de contribuir para uma maior visibilidade dessa população e barrar a violação ininterrupta de seus direitos, para a conscientização da necessidade de urgente intervenção, é que dedicamos esta edição do nosso jornal às comunidades quilombolas de todo o Brasil.

Quilombolas:exclusão socialQuilombolas:exclusão socialQuilombolas:

Só em nosso Estado já foram identificadas, até agora, 108 comunidades quilombolas, a maioria ainda em processo de reconhecimento, espalhadas por 39 municípios.

8 - GT RACISMO - NÚMERO 6 - NOVEMBRO 2006

para que haja uma mudança no perfi l das políticas públicas, no sentido de torná-las universalistas. Somente desta forma poderá ser garantido o acesso real de toda a população brasileira ao desenvolvimento social, com combate às desigualdades raciais de forma a que todos tenham acesso à escola, saúde, coleta de lixo, esgoto, trabalho...

Formulando e implantando políticas públicas, sempre de forma transversal, e potencializando a participação da população negra no desenvolvimento brasileiro, os investimentos para as áreas mais pobres do país deverão ser reorientados, de modo a que os serviços públicos possam ser oferecidos democraticamente.

Precisamos de iniciativas capazes de dar conta da melhoria das condições de vida e do acesso dos afro-descendentes aos direitos humanos – inclusive o de envelhecer de forma digna – que consistentemente lhes têm sido negados no Brasil.

Uma das formas de se conseguir mais rapidamente a igualdade racial é a implantação de um conjunto de medidas legais e de políticas públicas que objetivem eliminar as diversas formas e tipos de discriminação que vêm limitando oportunidades a determinados grupos sociais.

Tais medidas têm amparo em nossa Constituição Federal. Desta forma, impõe-se ao Estado a realização de uma ação positiva para erradicar a pobreza e a marginalização, bem como reduzir as desigualdades sociais e regionais, promovendo o bem de todos, sem preconceito de raça, idade ou qualquer forma de discriminação.

* Promotora de Justiça em exercício na PJ Idoso e integrante do GT- Racismo

conduta com o Ministério Público de Pernambuco se comprometendo a implan-tar, a partir do ano letivo de 2007, as medidas necessárias para promover o cumpri-mento da lei 10.639/2003 nas escolas da rede muni-cipal de educação. A legis-lação obriga à inclusão do ensino de cultura e história africana e dos afrobrasilei-ros, como uma forma de promover a igualdade racial. O acordo foi assinado pelo

prefeito José Augusto Maia no dia 30 de outubro, durante a realização de um curso de capacitação para os professores da rede municipal que ocorreu durante todo o dia no Teatro Municipal de Santa Cruz do Capibaribe (foto). O evento contou com a participação do Promotor de Justiça do municí-pio, Hodir Flávio Guerra Leitão de Melo – autor da proposta de acordo – e da coordenadora do GT Racismo do MPPE, Procuradora Maria Ber-nadete Azevedo, como palestrantes.

CRIME DE RACISMOA Central de Inquéritos do MPPE denunciou

João Alberto Pinto Carvalho por crime de racis-mo (artigo 20 da Lei 7.716 c/c art. 71 do Código Penal) praticado contra Armando Souza de Oli-veira. A ação penal tramita na 7ª Vara Criminal da Comarca do Recife, perante o Promotor de Justiça Petrúcio José Luna de Aquino.

Santa Cruz do Capibaribe: termode ajustamento

PESQUISA ENTRE POLICIAISPara marcar a passagem do Dia da Consciên-

cia Negra, comemorado em 20 de novembro, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) vai promover um debate sobre a questão do racismo institucional. O evento acontece às 9h, no Salão dos Órgãos Colegiados, na sede do MPPE. O evento terá como palestrante o capitão da PM Geová da Silva Barros, que vai apresentar os re-sultados da pesquisa sobre racismo institucional dentro da corporação. O trabalho analisa 1.538 boletins de ocorrência e traz 923 entrevistas de pessoas ligadas à PM. O estudo apontou, por exemplo, que 65,1% dos policiais admitiram priorizar abordagens a pessoas negras ou pardas. No entanto, 77% deles disseram já ter escutado a frase “você sabem com quem está falando?” durante o trabalho, e em 62% das situações as pessoas abordadas eram brancas.

Como debatedores, estão convidados o dire-tor-adjunto de redação do Jornal do Commercio, Laurindo Ferreira; o sociólogo e professor visi-tante da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Ronaldo Laurentino de Sales Júnior; e o diretor da Academia de Polícia Civil, delegado Idelfonso Antônio Gouveia. Serão convidados representan-tes de diversas instituições governamentais e do movimento negro.

REUNIÃO PROVEITOSANo último dia 18 de setembro, as Promotoras

do Direito Humano à Educação, Taciana Alves de Paula Rocha e Eleonora Marise Silva Rodri-gues, juntamente com a coordenadora do GT-

JORNAL DE RECORTES

2 - GT RACISMO - NÚMERO 6 - NOVEMBRO 2006

MP EM AÇÃONessa coluna o GT Racismo reserva espaço para publicação de notícias de ações, inquéritos e procedimentos de investigação relacionados à atuação dos Promotores e Procuradores de Justiça no combate ao racismo. Envie seu material e participe das discussões sobre discriminação e promoção da igualdade racial.

>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>

GT RACISMO - NÚMERO 6 - NOVEMBRO 2006 - 7

NOTAS >>>A coordenadora do GT-Racismo, Maria Bernadete de Azevedo Figueiroa, partici-pou como convidada, do XII Encontro Na-cional de Procuradoras e Procuradores dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal, em Brasília, no dia 15 de agosto. A participação se deu no painel “Diálogo com Parceiros”, onde foi apresentada a experiência do GT-Racismo do Ministério Público de Pernambuco no combate ao racismo institucional. Na oportunidade, foi apresentada pelo professor José Jorge de Carvalho, do Departamento de Antro-pologia da Universidade de Brasília (UNB), uma pesquisa realizada no âmbito do MPF com o tema Perfi l Racial e Percepção do Racismo naquela instituição.

>>> O GT Racismo participou no dia 15 de

setembro, na Gerência Regional de Ensino (Gere) de Nazaré da Mata, do seminário Diretrizes Curriculares – Lei 10.629/2003 – Ensino Religioso de Matriz Africana nas Escolas Públicas, organizado pelo Obser-vatório Nacional de Alfabetização (Onace), sob a coordenação do Professor Jorge Ar-ruda. O Evento contou com a participação da professora Judite Botafogo,diretora da daquela Gere, diretores de escola, pro-fessores, e gestores públicos da área de educação.

>>> A integração dos novos servidores do MPPE, realizada pela Escola Superior do Ministério Público, teve como um dos temas uma refl exão sobre o compromisso da instituição com o combate ao racismo como forma de inclusão social. Realizada

pelo GT-Racismo, a palestra contou com a divulgação do plano de atuação do grupo e com a apresentação do vídeo “Vista minha pele”, que trata sobre o tema. Divididos em grupos, os novos servidores refl etiram sobre a discriminação racial e os danos que dela resultam.

>>> A advogada e coordenadora do Ob-servatório Negro, Rebeca Oliveira, defen-deu tese de mestrado em Ciência Política, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sobre o tema Nos Alicerces do mun-do: o dilema e a dialética na afi rmação da identidade negra. Trata-se de um estudo científi co e atualizado sobre a inserção da problemática racial na agenda das políti-cas públicas no Brasil. O trabalho, defendi-do em agosto, representa um contribuição

excelente na construção do conhecimento sobre o assunto.

>>> Também defendeu trabalho de dou-torado em Sociologia o professor e mili-tante do movimento negro, Ronaldo Sales Júnior. O trabalho, também realizado na UFPE, abordou o tema Raça e Justiça: o mito da Democracia Racial e o racismo Institucional no fl uxo da Justiça. O texto traz um estudo minucioso sobre as várias manifestações do racismo, com destaque para o racismo institucional e sua interferência na trami-tação dos processos de racismo no sistema de justiça. Contribuição fundamental e indispensável para todos que desejam se apropriar de conhecimentos sobre um tema que está na agenda das instituições sintonizadas com a sociedade.

>>

SOFRIMENTO NO PARTOJornal do Commercio, 27.10.2006

Às negras e pardas, menos alívio para as dores do parto normal e mais difi culdade na busca por atendimento médico. A constatação é de um dos estudos citados ontem pelo ministro da Saúde, realizado por pesquisadores da Fundação Oswal-do Cruz, no período entre 1999 e 2001. Depois da análise dos prontuários médicos e de entrevistas com 9.633 grávidas atendidas no município do Rio em maternidades públicas, conveniadas com o Serviço Único de Saúde (SUS) e particulares, eles descobriram, por exemplo, que a anestesia foi amplamente usada em todos os grupos raciais. Porém a proporção de mães que não tiveram acesso ao procedimento foi maior entre as negras

e pardas, respectivamente, 21,8% e 16,4%.Elas também penaram muito mais na peregrinação até a sala de parto. A proporção das que não con-seguiram ser atendidas na primeira maternidade procurada foi de 31,8% entre as negras, e 28,8% entre as pardas. Já entre as mães de cor branca a taxa é expressivamente menor, de 18,5%.

MINISTRO ADMITE RACISMOJornal do Commercio, 27.10.2006

O ministro da Saúde, Agenor Álvares (foto), admi-tiu que há racismo no atendimento a negros no Sistema Único de Saúde (SUS). Essa discriminação se refl ete em diagnósticos incompletos, exames que deixam de ser feitos e até na ausência do toque ao paciente, disse o ministro, citando pes-

quisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz. “Esse ra-cismo cria condições muito perversas que temos de combater fortemente. Queremos construir uma nova cultura e criar valores de solidariedade e tolerância em re-lação à população negra”, afi rmou o ministro, que par-ticipou da abertura de seminário no Rio em que foram discu-tidas as bases para a nova Política Nacional de Saúde da População Negra.

Racismo, Maria Bernadete Azevedo, realizaram reunião bastante proveitosa com a Secretaria de Educação do Estado, representada por Sara Lima, diretora Executiva de Desenvolvimento da Edu-cação; Fernanda Alencar, gerente de Educação Básica; Silvana de Fátima, chefe da Unidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA); e Fabiana Mendes. A reunião teve por objetivo verifi car quais as ações que vem sendo desenvolvidas pela Secretaria para a implementação, em Pernam-buco, da Lei Federal 10.639 de 09 de janeiro de 2003 que determina a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afrobrasileira e africana nos ensinos fundamental e médio, na capital e no interior.

COMPROMISSO FIRMADO A Prefeitura de Santa Cruz do Capibaribe,

no Agreste, fi rmou um termo de ajustamento de

GALERIA//Comunidade Negros do Osso, zona rural de Pesqueira, Agreste Comunidade Negros do Osso, zona rural de Pesqueira, Agreste C pernambucano>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>

O vilarejo é composto por casas de taipa, habitado por 115 pessoas completamente desprovidas dos serviços de saúde e saneamento básico. (Fotos de Renata Beltrão)

GT RACISMO - NÚMERO 6 - NOVEMBRO 2006 - 54 - GT RACISMO - NÚMERO 6 - NOVEMBRO 2006

Em seu trabalho, você mostra dois momentos de invisibilidade da população negra brasileira; uma delas voluntária, na época de criação dos quilombos, servia para aumentar as chances de sobrevivência. Hoje, de onde vem a invisibilidade?

Hoje, a invisibilidade é diferente. Primeiro, ela vem da não percepção da identidade étnica por parte dos membros da própria comunidade; além disso, é decorrente do fato de que a população negra não é vista pelo poder público em sua especifi cidade. No entanto, a própria Lei federal 4.887/03

ENTREVISTA>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>

Juscélio Alves Arcanjo é autor do trabalho Negros do Osso: resistência negra no Agreste Pernambucano, defendido como monografi a no curso de pós-graduação em História da Faculdade de Formação de Professores de Garanhuns, e mestrando do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos (Pós-Afro) da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

JUSCÉLIO ALVES ARCANJO>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>

diz que a comunidade que se autodetermina como quilombola tem a possibilidade de requerer o seu reconhecimento junto à Fundação Cultural Palmares. Mas a comunidade não percebe isso: é como se os negros estivessem ainda saindo do período pré-abolição e sendo jogados direto para a marginalização.

Como, ao longo do tempo, se perdeu essa autodeterminação da comunidade enquanto remanescente de escravos?

O que se perdeu ao longo do tempo, na verdade, foi a auto-estima. Hoje os Negros do Osso vivem em uma situação de exclusão social com relação às comunidades vizinhas, que ainda os vêem como os “negros da senzala”, como se eles ainda estivessem no cativeiro. Para os vizinhos, eles são apenas mão-de-obra barata. Proprietários de terra vão lá, buscam os trabalhadores de que precisam e depois eles voltam ao “cativeiro”. Além disso, o quilombola não precisa ter origens na escravidão. A formação da comunidade também pode se dar através de um processo de uso e ocupação do solo que os caracteriza como remanescentes de quilombo. Muito embora, retroagindo à idade de Manuela, a fundadora da comunidade, ela provavelmente deve ter nascido entre 1870 a 1885, ou seja, ainda no período escravista.

Qual a responsabilidade do poder público nesta situação?A omissão, a falta de políticas afi rmativas que possibilitem o

Quilombolas em revistaOs quilombolas de Pernambuco co-

meçam a escrever sua própria história. Em uma iniciativa inédita, professores de oito comunidades negras do estado vão produzir o material didático para ser utilizado na educação de estudantes dos ensinos fundamental e médio destas localidades. A Revista Quilombola terá oito capítulos, trazendo textos sobre a formação das comunidades a partir da relação com o espaço, a realidade atual destas populações e outras informações relevantes para a formação de sua iden-tidade. A expectativa é de que o material seja lançado em novembro, a tempo de ser utilizado no ano letivo de 2007.

Os detalhes para a edição da revista foram acertados durante um encontro realizado em outubro no Recife, com 16 representantes de oito escolas quilom-bolas espalhadas pelo estado. “A revista terá caráter didático, com a intenção de contar a história das comunidades qui-lombolas em Pernambuco”, disse Fabia-na Mendes, coordenadora da Educação Quilombola da Secretaria Estadual de Educação, Cultura e Esportes (Seduc), órgão responsável pela iniciativa. A aber-tura do encontro teve a participação da Procuradora de Justiça Maria Bernadete Martins de Azevedo, coordenadora do GT Racismo do Ministério Público de

Pernambuco (MPPE). Durante o seminário, os professores

quilombolas receberam orientações do mestrando em História pela Universi-dade Federal de Pernambuco (UFPE), Pablo Porfírio, que explicou aos partici-pantes algumas técnicas para a documen-tação da trajetória de um povo através da oralidade. “Trabalharemos algumas técnicas de entrevista e reportagem, de forma a utilizar melhor os depoimentos coletados, e, a partir da edição, dar senti-do a falas fragmentadas, construindo um texto histórico interessante”, explicou.

A criação de um material didático próprio foi reivindicação das próprias comunidades, que manifestaram este desejo durante a realização de um semi-nário para discussão de políticas públicas voltadas aos quilombolas, em março des-te ano. A publicação atende, também, ao que determina a Lei federal 10.639, que desde 2003 obriga à inclusão de discipli-na sobre a cultura e história afro-brasi-leira nas salas-de-aula dos ensinos médio e fundamental. Atualmente, apenas os municípios de Tracunhaém, Garanhuns, Nazaré da Mata e Buenos Aires cumprem esta determinação, mas o GT Racismo tem como meta incentivar a adoção da disciplina em todas as escolas do estado até 2008.

Artesanato em Conceição das Creoulas

Os quilombolas de Conceição das Creoulas, no Sertão pernambucano, ga-nharam um Centro de Produção Artesanal para facilitar a fabricação e a comercializa-ção dos produtos da comunidade. O cen-tro foi inaugurado no dia 1º de novembro na Casa Comunitária Francisca Ferreira, que vinha sendo reformada desde agosto, numa parceria entre a Associação Quilom-bola de Conceição das Creoulas, as organi-zações não governamentais Oxfam, Action Aid, Centro de Cultura Luiz Freire e Ima-ginário Pernambucano, além da Prefeitura de Salgueiro, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Salgueiro e Serviço Internacional (Unais).

Secretaria realiza censo das comunidades

A Secretaria Estadual de Educação, Cultura e Esportes (Seduc) espera reali-zar o primeiro censo das comunidades quilombolas pernambucanas no ano que vem. Além de identifi car e contabilizar as comunidades e seus moradores, o trabalho terá o objetivo de arrecadar informações a respeito das características sociais e educa-cionais dos grupos, identifi cando em quais deles há escolas, quantas pessoas estão ou não nas salas-de-aulas, dentre outros da-dos. Os detalhes da pesquisa ainda serão discutidos pela Comissão Estadual das Comunidades Quilombolas. Atualmente, há apenas duas comunidades reconhecidas pela Fundação Palmares em Pernambuco, nos municípios de Palmares e Conceição das Creoulas, mas se estima que existam mais de 115 comunidades no estado, com população de mais de 43 mil pessoas.

reconhecimento da comunidade como remanescente de quilombo, para que eles possam usufruir dos direitos previstos em Lei. Suas histórias e memórias devem ser incluídas nas políticas sociais e na prática educativa do município, pois a identidade étnica tem relação direta com os critérios de diferenciação e de interação com o outro. Não se pode pensar nos Negros do Osso sem pensar nos fazendeiros, nas escolas circunvizinhas que se encontram a dois quilômetros da comunidade, para a qual as crianças do ensino fundamental I vão e voltam a pé na estrada de barro, enquanto as do fundamental II são transportadas em caminhão aberto até o distrito de Mimoso.

Apenas depois do seu trabalho na comunidade dos Negros do Osso os habitantes começaram a se entender enquanto quilombolas. Como você se sente com isso?

É gratifi cante para o pesquisador. Eu me coloco na proposta de que o meu trabalho venha a produzir algum retorno social e possa contribuir para alguma ação afi rmativa, para aumentar a auto-estima da comunidade, ao invés de fi car restrito ao meio acadêmico. A falta de provimento das necessidades básicas da comunidade é o principal motivo que afeta a auto-estima do grupo. Os negros e negras também são responsáveis pela construção deste país, e espero que o meu trabalho possa contribuir para elevar a auto-estima e a (re)construção de sua própria identidade.

Edições serão destinadas a estudantes dos ensinos fundamental e médio das comunidades do Estado

Renata Beltrão

AGENDA DO PCRISomos ou não somos racistas? A discussão envolve, há mais de um século, legisladores, intelectuais, cientistas e historiadores. A polêmica ganhou destaque com o recente lançamento do livro Não somos racistas (Nova Fronteira), do jornalista Ali Kamel. Como o próprio subtítulo do ensaio indica, trata-se de “uma reação aos que querem nos transformar numa nação bicolor”. O livro defende a idéia de que compomos uma nação predominantemente mestiça e que o racismo existe como manifestação minoritária e não institucional, sendo a pobreza o principal problema do país. Pretende criticar as reivindicações do movimento negro e os projetos de adoção de cotas raciais nas universidades públicas brasileiras. Apesar de polêmica, a tese não é nova. O chamado “elogio da mestiçagem brasileira” é visto por muitos como uma tentativa de esconder o racismo existente no país e a exclusão do negro ao longo dos cinco séculos de formação do Brasil. Do lado dos que defendem esta posição está o antropólogo e Doutor em Ciências Humanas pela Universidade de São Paulo, Kabengele Munanga em seu Rediscutindo a Mestiçagem no Brasil (Editora Autêntica) .

6 - GT RACISMO - NÚMERO 6 - NOVEMBRO 2006

EXPEDIENTE

GT-RACISMO - MPPE

Sales de Albuquerque, Procurador Geral de Justiça

Maria Bernadete Martins Azevedo (Coordenadora), Gilson Roberto de Melo Barbosa (Sub-coordenador), Judith Pinheiro Silveira Borba, Roberto Brayner Sampaio, Maria Ivana Botelho Vieira da Silva, Helena Capela Gomes Carneiro Lima, Taciana Alves de Paula Rocha Almeida, Maria Betânia Silva e Janeide de Oliveira Lima.www.mp.pe.gov.brE-mail: [email protected]. Promotor de Justiça Roberto LyraRua do Imperador, 473 - S tº Antônio Recife/PE Fone: 3419-7000Jornalista Responsável: Ricardo Melo Registro Profi ssional: 2.204 - MGRedação: Renata Beltrão

Apoio: PNUD/DFIDPrograma das Nações Unidas para Desenvolvimento Ministério para Desenvolvimento Internacional do Reino Unido

GT RACISMO - NÚMERO 6 - NOVEMBRO 2006 - 3

DICAS DE LEITURA

Renata Beltrão

“Dizem que os pais dos bisavôs da gente era tudo negro pegado a dente de cachorro”, pegado a dente de cachorro”, pegadocontam os habitantes da comunidade Negros do Osso, um local escondido na zona rural de Pesqueira, no Agreste pernambucano. O vilare-jo composto por casas de taipa, habitado por 115 pessoas completamente desprovidas dos serviços de saúde e saneamento básico, é prati-camente invisível ante o poder público e a po-pulação do município. Invisibilidade essa que também atinge os próprios habitantes quanto a suas origens e direitos – tanto que poucos deles se arriscam a explicar a frase acima, que busca resumir com simplicidade uma história há muito esquecida. Até bem pouco tempo os Negros do Osso não sabiam, mas ele são uma comunidade quilombola que só agora começa a acordar para a própria identidade.

Esta situação chegou ao conhecimento do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) em setembro deste ano, através de uma denún-cia, encaminhada por uma professora, de que as crianças da comunidade estariam morrendo de doenças diretamente ligadas à má-nutri-ção, falta de saneamento e assistência médica, como diarréia e até sapinho. No mesmo mês, a instituição realizou uma audiência pública na própria comunidade com a presença de repre-sentantes do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), do Observatório Negro e de diversas secretarias municipais de

Pesqueira. Na visita, os Promotores de Justiça Roberto

Brayner (que integra o GT Racismo) e Jeanne Bezerra (de Pesqueira) observaram que os qui-lombolas estão quase completamente excluídos do sistema público de saúde. O posto médico mais próximo da comunidade só funciona duas vezes por mês, e para atender no máximo 16 pessoas a cada dia. Uma das moradoras da co-munidade, Maria de Jesus Ferreira de Macena, contou aos Promotores que teve 22 gestações ao longo de seus 35 anos de idade. Dezoito de seus fi lhos morreram ainda na infância vítimas de doenças banais. “O último faleceu há três meses, com só quinze dias de nascido”, disse a agricultora, que vive em um casebre de dois cô-modos com marido e os quatro fi lhos restantes.

Nenhuma das 35 famílias detém posse da terra onde vive e, apesar de se declararem agri-cultores, a maioria não têm condições de produ-zir nem para a própria subsistência. Para agravar este quadro, várias famílias ainda não foram integradas a programas sociais de distribuição de renda. A comunidade sofre ainda com a completa falta de assistência no quesito sanea-mento básico: nenhuma das casas tem banhei-ro e a água vem de um tanque construído por um proprietário de terras vizinho, que permite a retirada do produto para consumo humano. Sobre tudo isso, paira uma auto-estima severa-mente abalada pela total falta de perspectiva dos moradores quanto ao presente e ao futuro.

O próprio auto-reconhecimento de sua

situação enquanto quilombolas é muito inci-piente entre os Negros do Osso. A história des-ta redescoberta começou em 2002, quando o pesquisador em História Juscélio Alves Arcanjo tomou conhecimento da existência da comu-nidade e resolveu buscar suas origens, baseado nos relatos orais de seus moradores. Mais do que o passado, no entanto, chamou a atenção de Juscélio a situação total de abandono, mi-séria e estigma impostos à comunidade, que ele classifi cou como “invisibilidade social” em seu trabalho Negros do Osso: resistência negra no Agreste pernambucano.

A partir das conversas com o pesquisador é que alguns moradores começaram a enten-der seus direitos como quilombolas, e hoje eles já falam em organizar uma associação para começar a brigar pela posse da terra e demais garantias estipuladas pela lei federal 4.887/03. Nesse contexto, a audiência pública organiza-da pelo MPPE teve o objetivo de conseguir da prefeitura de Pesqueira a promessa de que fi r-mará um termo de compromisso com o objeti-vo de estabelecer metas para a implementação de melhorias no quilombola Negros do Osso, bem como iniciar contatos com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para resolver a questão da posse da terra. A comitiva do MPPE foi integrada pelo coordenador do Departamento de Fiscalização do Cremepe, Antônio Jordão de Oliveira Neto, e pela psicóloga do Observatório Negro, Maria de Jesus Moura.

QUILOMBOLA ESQUECIDONa abertura do Conselho de Direitos

Humanos da ONU, em setembro último, em Genebra, Suiça, o relator especial da entidade para o combate ao racismo, o se-negalês Doudou Diène, fez várias críticas ao governo brasileiro. Ele denunciou em um documento que partes do Estado, do Judiciário e da sociedade civil resistem a medidas de combate ao racismo. “A ques-tão do racismo precisa entrar na agenda das eleições”, afi rmou Diène. Segundo ele, as comunidades mais pobres do País são as mesmas que historicamente foram discriminadas – negros e índios.

Diène esteve no Brasil há um ano, in-vestigando a situação para produzir o rela-tório. Ele identifi ca o racismo como uma conseqüência do período da escravidão e aponta que o governo tenta enfrentar essa herança. O problema é que nem as medidas nem os recursos são sufi cientes, em seu ponto de vista. “Viajar pelo Brasil é como mover-se entre dois planetas: um das ruas, com cores vivas e raças mistura-das, e outro dos corredores brancos dos poderes político, social, econômico e da mídia”, diz o relatório, distribuído a to-dos os países.

Diène acredita que uma mudança in-telectual e cultural será necessária para combater a discriminação. “Democracia racial é a máscara ideológica da elite bra-

sileira para não dizer que há racismo”, critica o relator.

Um dos alertas da ONU é sobre a re-lação entre a discriminação e a pobreza. O relatório destaca que 47% dos negros vivem abaixo da linha da pobreza, con-tra 22% dos brancos. Os níveis de anal-fabetismo são “inaceitavelmente altos”. As mulheres negras ganham 40% dos salários pagos a um homem branco. Um quinto delas é trabalhadora doméstica, das quais 17% não recebem salário.

Diène reconhece que o governo to-mou importantes medidas, como criação de uma secretaria de Esta-do para tratar do tema e adotou um programa de discriminação positiva, de cotas, nas universida-des. O relator, porém, pede mais dinheiro aos programas públicos e que seja criado um plano nacio-

nal anti-racismo. Ele ainda pede que medidas sejam to-

madas para lidar com a violência e para o treinamento de procuradores e juízes. “O Judiciário é muito conservador e com preconceitos raciais”, afi rma. As reco-mendações também falam na inclusão de aula de história da África nas escolas e na criação de um memorial para as vítimas da escravidão. (Matéria publicada no Jornal do Com-mercio, em19.09.2006)

ONU CRITICA POLÍTICA DE COMBATE AO RACISMO

Relator da ONU para luta contra a discriminação racial, Doudou Diène reconhece avanços no setor mas cobra das autoridades brasileiras investimentos maiores

REDISCUTINDO A MESTIÇAGEM NO BRASILAutor: Kabengele MunangaPreço médio: R$27,00Editora: Autêntica

NÃO SOMOS RACISTASAutor: Ali KamelPreço médio: R$22,00Editora: Nova Fronteira

O EXEMPLO DO RECIFEO Programa de Combate ao Racismo Insti-

tucional (PCRI) foi tema de reunião entre repre-sentantes das prefeituras de Recife e Fortaleza, na véspera do Encontro dos Gestores da Região Nordeste do Fórum Intergovernamental da Igual-dade Racial, que aconteceu no dia 20 de outubro na capital cearense. A prefeitura de Fortaleza pretende implantar o modelo recifense do PCRI, adotado desde 2004, priorizando as áreas de edu-cação, saúde, trabalho, cultura e acesso à justiça. A Prefeitura do Recife já realizou diversas ofi cinas de sensibilização e capacitação com os funcioná-rios do município. A reunião teve a participação do diretor da Igualdade Racial da Secretaria de Direi-tos Humanos e Segurança Cidadã do Recife, Lindi-

valdo Júnior, do vice-prefeito de Fortaleza, Carlos Veneranda, além da assessora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Luiza Bairros.

PNUD APÓIA PESQUISAO Programa das Nações Unidas para o Desen-

volvimento (PNUD) vai apoiar a realização de uma pesquisa interna do Ministério Público de Pernam-buco (MPPE) com objetivo de montar um diag-nóstico sobre o racismo, para identifi car possíveis práticas discriminatórias no âmbito da instituição. A pesquisa faz parte da implantação do Progra-ma de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) dentro do MPPE, e a expectativa é de que ela seja realizada em 2007.