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Trabalho de Projecto Apresentado à Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas da Universidade Nova de Lisboa, para Cumprimento dos Requisitos
Necessários à Obtenção do Grau de Mestre em Gestão do Território, na Área
de Especialização de Planeamento e Ordenamento do Território, Realizado
sob a Orientação Científica do Professor Doutor Nuno Pires Soares e
coorientação da Professora Doutora Maria Júlia Ferreira.
2
DEDICATÓRIA PESSOAL
A história recente da Guiné-Bissau na procura da consolidação da democracia e os
desencontros neste processo ao longo das últimas 3 décadas levam-me a dedicar este
trabalho a todos os activistas, cidadãos comuns, técnicos e políticos que, honesta e
abnegadamente, continuam a lutar por um país melhor, por um território organizado,
com perspectivas de modernidade, dentro quer do espaço regional em que se insere,
quer do espaço lusófono, como porta para o resto do Mundo.
Dedico aos que já morreram, levando consigo o sonho de um dia poderem respirar o ar
da verdadeira independência, de verem a sua pátria transformada, com uma urbanização
de tipo Ocidental, onde os planos de urbanismo mais formalistas tornem preponderante
o alargamento dos antigos centros, com malha ortogonal ou radial e de forte expressão
geométrica e com todas as infra-estruturas básicas instaladas.
Dedico igualmente aos que continuam a lutar com sentimento e olhar críticos sobre tudo
o que continua a minar o verdadeiro arranque do país em vista do desenvolvimento, que
acreditam que é possível dar o salto e acompanhar os novos tempos dos avanços
tecnológicos e que o desenvolvimento sustentável possa ser uma realidade para um país
que ficou parado precisamente há trinta anos.
3
AGRADECIMENTOS
A todos os que, de uma forma directa ou indirecta, contribuíram para este projeto;
Aos Professores Nuno Pires Soares e Maria Júlia Ferreira, orientadores oficiais deste
projecto, muito particularmente às Professoras Maria Júlia Ferreira e Margarida Pereira
pela consolidação da proposta de realizar um trabalho relacionado com o meu país e
aplicando os meus conhecimentos, de quase vinte anos na área da Cartografia e
cadastro, por se tratar de uma ferramenta fundamental para o Planeamento Físico do
Território.
Agradeço igualmente, e sem excepção, a todos os Professores deste departamento de
Geografia e Planeamento regional da Faculdade das Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova de Lisboa que participaram no meu processo de aprendizagem e
preparação, nesses dois ciclos. Conscientes das minhas dificuldades como trabalhador
estudante, souberam acompanhar-me e sempre me encorajaram a não desistir.
Aos Professores Henrique Souto, Pedro Casimiro e Dulce Pimentel que,
incondicionalmente, se prontificaram a disponibilizarem-me alguns dos seus livros para
consulta e aprendizagem.
A todos os “irmãos”, companheiros e colegas que iniciaram comigo a licenciatura e que
contribuíram bastante para a minha caminhada nesses cinco anos de formação superior.
Uns mais que outros foram colegas muito próximos, contudo a todos devo facilidades
em matéria de inserção, a lealdade, o respeito e a compreensão que sempre
manifestaram.
Ao Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (INEC) da Guiné-Bissau, ao Ministério
das Infra-estruturas, com todas as suas Direcções Gerais, à Direcção Geral das
Alfândegas, do Ministério das Finanças, aos delegados regionais pelas áreas de
planeamento, em Gabu e Quebo, aos governadores da região de Bafatá e do Sector de
São Domingos, ao Presidente da Câmara Municipal de Bissau, a todos agradeço os
documentos e informações disponibilizados.
A todos os outros, de quem recolhi disponibilidade, incentivos e apoios pontuais, aos
colegas de trabalho, à minha família, a todos o meu BEM-HAJAM.
4
A REESTRUTURAÇÃO DA REDE URBANA E O SEU CONTRIBUTO PARA O
ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO DA GUINÉ-BISSAU
[TRABALHO DE PROJECTO]
VICTOR JOÃO CALI
5
RESUMO
O objetivo principal deste projeto consiste em refletir sobre a rede urbana e o seu
contributo para o ordenamento do território da Guiné-Bissau e propor soluções para a
sua reestruturação como forma de facilitar as vias do desenvolvimento do país. É
sobejamente sabido que a Guiné-Bissau se encontra numa posição muito rudimentar em
termos de planeamento físico, ordenamento e urbanização das cidades, tal como muitos
países da região onde se insere e, por isso, são campos onde quase tudo está por fazer.
Em termos de atratividade, no contexto da competitividade inter-regional, a República
da Guiné-Bissau é dominada pelas actividades agro-silvo-pastoris, sendo nos últimos
quinze anos predominante a produção e comercialização da castanha de caju, no sector
primário, continuando o Estado com o controlo do terciário e da economia de mercado.
À luz da integração do país na Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental
(CEDEAO), o objectivo deste trabalho passa também por compreender a situação da
Guiné-Bissau, entre os países membros, em matéria de Ordenamento do Território,
sobretudo do sistema urbano, sabendo que, desde a independência, pouco se fez para o
melhoramento do habitat e das condições de habitabilidade das populações.
Os problemas sociocultural, étnico, religioso, acompanhados por uma alta taxa de
analfabetismo e de pobreza, sobretudo das populações camponesas, são também
abordados neste projecto, como consequências da inércia, por parte dos órgãos de
soberania, em matéria de urbanização; os tradicionais hábitos de viver junto das
explorações agrícolas ainda prevalecem em todos os grupos étnicos do país, em
particular em todo o litoral. É urgente inverter as tendências e iniciar, muito
rapidamente, a reestruturação da nossa rede urbana.
PALAVRAS-CHAVE: Guiné-Bissau, Ordenamento do Território, Rede Urbana,
Reestruturação.
6
ABSTRACT
The main objective of this project is to reflect on the urban network and its contribution
to the planning of Guinea-Bissau and propose solutions for their restructuring in order
to facilitate the process of development of the country. It is well known that Guinea-
Bissau is in a position very rudimentary in terms of physical planning, land use and
urbanization of the towns, like many countries in the region where inserts and therefore
are fields where almost everything is done. In terms of attractiveness, in the context of
inter-regional competitiveness, the Republic of Guinea-Bissau is dominated by agro-
silvo-pastoral activities, being predominant in the last fifteen years the production and
commercialization of cashew nuts, in the primary sector, continuing the State with the
tertiary control and the market economy. In the light of the country's integration in the
economic community of West African States (ECOWAS), the objective of this work is
also to understand the situation in Guinea-Bissau, between Member countries in the area
of town planning, especially urban system, knowing that, since independence, little has
been done to improve habitat and the conditions of habitability of populations. The
sociocultural problems, ethnic, religious, accompanied by a high rate of illiteracy and
poverty, especially peasant populations, are also addressed in this draft, as consequences
of inaction on the part of the organs of sovereignty, in terms of urbanization; the
traditional habits of living together of farms still prevail in all ethnic groups in the
country, particularly around the coast. There is an urgent need to reverse trends and start
very quickly, the restructuring of our urban network.
KEYWORDS: Guinea-Bissau, regional planning, urban network, restructuring.
7
Índice
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10
1.1- O Tema e a pertinência da escolha ...................................................................... 10
1.2- Os objectivos ....................................................................................................... 15
1.3- As metodologias .................................................................................................. 16
2. ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO E SÓCIO-ECONÓMICO ....................... 16
2.1- A Guiné-Bissau no contexto da África Subsariana Ocidental: problemas e
desafios ....................................................................................................................... 16
2.2- As dinâmicas socioeconómicas na Guiné-Bissau: debilidades e potencialidade 30
2.2.1. A diversidade étnica e cultural .......................................................................... 30
2.2.2. Os contrastes interior-litoral na base da diversificação cultural ....................... 34
2.2.3. Impactos da dependência da ajuda externa ....................................................... 38
2.2.4 A macrocefalia de Bissau: a desigual distribuição geográfica da população e das
fontes de riqueza ......................................................................................................... 41
2.3- Efeitos das alterações climáticas na distribuição da população e nos recursos
naturais ........................................................................................................................ 44
3. O SISTEMA URBANO GUINEENSE NOS ÚLTIMOS 50 ANOS ..................... 47
3.1 - Uma breve história sobre o povoamento da Guiné-Bissau................................. 47
3.1.1. O povoamento no território da Guiné-Bissau antes da independência ............. 48
a) O período anterior à “descoberta” pelos portugueses ............................................. 48
b) O povoamento da Guiné-Bissau no tempo dos portugueses .................................. 49
3.1.2. O povoamento da Guiné-Bissau no período após a independência .................. 56
a) Factores da distribuição geográfica da população e mudanças em curso ............... 59
b) A actual fase de crescimento urbano e a (sub) urbanidade..................................... 62
3.2 - O sistema urbano guineense: as principais regiões e aglomerados populacionais
do passado à actualidade ............................................................................................. 65
3.2.1. As regiões e a divisão administrativa actual ..................................................... 65
3.2.2. A hierarquia das aglomerações urbanas guineenses ......................................... 68
a) A capital do país e as capitais das oito regiões ....................................................... 71
b) As outras aglomerações urbanas............................................................................. 83
3.3 – As actividades urbanas e o funcionamento do sistema urbano: o peso da
informalidade .............................................................................................................. 84
8
3.4 – Os problemas da gestão urbana: infra-estruturas, equipamentos colectivos, rede
viária e sistema de transportes .................................................................................... 87
4. PERSPECTIVAS E PROPOSTAS DE DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA
URBANO GUINEENSE ............................................................................................ 91
4.1- A evolução do modelo de sistema urbano: papel da descentralização e das
acessibilidades ............................................................................................................ 91
4.2 – As necessidades de alojamento e de infra estruturas urbanas básicas nos pólos
do sistema urbano: os recursos financeiros e o reequilíbrio ambiental .................... 100
4.3- A intervenção na Cidade de Bissau, principal pólo do sistema urbano guineense
.................................................................................................................................... 93
4.4. Propostas para a melhoria do ordenamento e da gestão do território guineense,
tendo por base a reestruturação da rede urbana .......................................................... 97
5. CONCLUSÃO: o contributo da reestuturação do sistema urbano guinenense para a
reorganização do território, culturalmente complexo, e para a integração regional da
Guiné-Bissau ............................................................................................................ 110
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 110
ANEXOS .................................................................................................................. 118
SIGLAS E ACRÓNIMOS IMPORTANTES
APD - Ajuda Pública para o Desenvolvimento
BCEAO – Banco Central dos Estados da África Ocidental
CEDEAO – Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental
CMB – Câmara Municipal de Bissau
CE – Comunidade Europeia
DENARP – Documento de Estratégia Nacional para Redução da Pobreza
ECOWAS - Economic Community of West African States
FMI – Fundo Monetário Internacional
GUC – Gabinete de Urbanização Colonial
GUU – Gabinete de Urbanização do Ultramar
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
9
IHPC – Índice Harmonizado de Preço no Consumido
INEC – Instituto Nacional de Estatísticas e Censos
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa
IPAD – Instituto Português de Ajuda para o Desenvolvimento
MOPCU – Ministério das Obras Públicas Construções e Urbanismo
MU – Ministério do Ultramar
NEPAD – Nova Parceria para o Desenvolvimento em África
OHADA – Organização para a Harmonização do Direito dos Negócios em África
ONG – Organismo Não Governamental
ONU – Organização das Nações Unidas
PAIGC – Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde
PALOP – Países Africanos da Língua Oficial Portuguesa
PASI – Programa de Ação Social e Infraestrutura
PRS – Partido de Renovação Social
PIB – Produto Interno Bruto
PIC – Programa Indicativo da Cooperação
PMBB – Projeto de Melhoramento de Bairros de Bissau
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
POS – Planos de Ocupação do Solo
SIDA – Swedish International Development Authority
10
1. INTRDUÇÃO
1.1- O Tema e a pertinência da escolha;
O tema “REESTRUTURAÇÃO DA REDE URBANA E O SEU
CONTRIBUTO PARA O ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO DA GUINÉ-
BISSAU” implica, por um lado, um trabalho vasto e complexo por incidir sobre um país
com profundos problemas em matéria de Urbanismo e Ordenamento, mas por outro, um
grande desafio, exatamente por esses motivos. As principais palavras-chave estão
contidas no próprio título: Reestruturação, Rede Urbana, Ordenamento do Território e
Guiné-Bissau. Na utilização dos conceitos centrais reportar-nos-emos sobretudo ao
projeto PROVINCIA DA GUINÉ, 1973, MENDY, 2006 e BALDÉ, 2008. A escolha da
temática do projecto resultou de incentivos feitos por alguns professores e vem na
sequência de alguns trabalhos práticos levados a cabo ao longo da licenciatura, que
proporcionaram uma reflexão sobre vários problemas que dificultaram o arranque do
Ordenamento do Território guineense e da urbanização integrada em figuras de
planeamento definidas e reconhecidas oficialmente
Da pesquisa feita sobre a Guiné-Bissau, sobretudo online, nomeadamente em
repertórios de teses e dissertações e documentação de Centros de Estudos Africanos,
concluímos que as publicações versam, quase sempre, questões políticas, sociais e
económicas (a governação, a pobreza, os níveis de desenvolvimento, a saúde e a
educação) e que as preocupações do ordenamento estavam praticamente ausentes.
Assim, a temática que nos propomos estudar parecia ser de inquestionável pertinência.
Nas instituições oficiais e respetivos programas de ação (nomeadamente, ONU,
NEPAD, Parceria Europa-União africana, CEDEAO, INEC-Guiné, INEP) encontramos
documentos interessantes para enquadrar esta reflexão.
Esta reflexão foi inspirada, em 1º lugar, na obra, ainda do período colonial,
PROVÍNCIA DA GUINÉ, 1973, Ordenamento Rural e Urbano na Guiné Portuguesa,
que manifesta um esforço interessante no sentido da reorganização territorial deste
território (apresentava 61 centros populacionais com plano de zonamento aprovados e
21 por aprovar, como forma de elevar o nível de vida e o bem-estar das pessoas). Em 2º
lugar, na tese de doutoramento de François Mendy, 2006, La Ville de Bissau:
Amenagemnet et Gestion Urbaine, que abordou a problemática de planeamento e das
11
carências em Bissau e, em 3º lugar, na dissertação de mestrado de Saico Baldé, 2008,
Buba-Quebo: Corredor de Desenvolvimento no Sul da Guiné-Bissau, que estudou uma
área específica mas enquadrando-a no conjunto do país.
A urbanização intensiva, devida ao grande aumento dos quantitativos da
população, em curso nos países em desenvolvimento, nomeadamente nos que
constituem a África Ocidental, onde se situa a Guiné-Bissau, torna ainda mais pertinente
esta abordagem sobre o sistema urbano.
Esta urbanização, acelerada e intensiva, tem vindo a exercer uma pressão muito
forte sobre os recursos naturais ainda disponíveis, apelando à intervenção no sentido de
inverter situações que podem comprometer a nossa sobrevivência. Segundo um relatório
divulgado a 13 de Março de 2007 pela ONU (Organização das Nações Unidas), o
Mundo terá um aumento de 2,5 mil milhões de habitantes nos próximos 43 anos,
passando dos 6,7 mil milhões, em 2007, para alcançar os 9,2 mil milhões em 2050,
passando os países em desenvolvimento dos 5,4, em 2007, para 7,9 mil milhões de
habitantes, em 2050. Os motivos apresentados para esse aumento são os saldos
fisiológicos e a longevidade (aumento da esperança de vida) que traduz um conjunto de
condições em que se destaca a melhoria no acesso à saúde, nomeadamente ao
tratamento do VIH/SIDA. (http://www1.folha.uol.com.br, 20-09-2010).
O êxodo do campo para a cidade, sem que esta oferecesse condições de
acolhimento e de emprego, exerceu grande pressão sobre a organização urbanística dos
centros populacionais desenvolvidos já no período colonial. Nos arredores dos “centros
asfaltados” da época colonial, todos os dias surgem bairros sobrelotados, sem condições
de habitabilidade, ou estendem-se progressivamente os existentes. No entanto, segundo
Augusto Trindade (2000: 164), estas “migrações são indiscutivelmente um fenómeno
muito importante na vida como nas relações entre os povos. Por serem o resultado da
articulação entre vários factores, onde as desigualdades de desenvolvimento e as
perturbações políticas endémicas de certas regiões sobrepõem, repercutindo-se muitas
vezes de forma negativa no desenvolvimento”.
Nos países de forte aumento demográfico e com fracos recursos financeiros, a
situação tenderá a piorar porque os governos não conseguirão garantir uma necessária
equidade na gestão urbana e na distribuição dos recursos, podendo-se agudizar ainda
mais as diferenças socioeconómicas existentes. Por isso, muitos países em
12
desenvolvimento, principalmente os de descolonização ainda recente, têm vindo a
adotar novas políticas em matéria da organização e planeamento do território (ou
pretendem fazê-lo), como forma de ultrapassar alguns constrangimentos e
irracionalidades na ocupação e transformação de uso do solo e apostar na preservação
do meio ambiental.
Acreditamos que a definição de uma rede urbana adequada ajudará a programar
as outras redes que fazem parte de um território estruturado, como sejam as dos
transportes e dos equipamentos colectivos e, por isso, decidimos fazer esta reflexão em
torno do sistema urbano tendo em vista o ordenamento do território guineense.
Desde a independência, a expansão das povoações na Guiné-Bissau tem sido
dominada pela informalidade, levando à “luta pela urbanização”; esta luta tornou-se
uma das principais apostas em quase todos os países do Terceiro Mundo nos últimos
tempos, particularmente em toda a África subsariana, como uma das medidas para a
redução da pobreza, controlo de doenças endémicas, como a malária, e de outros
factores que comprometem o seu desenvolvimento sustentável; por esse facto, iremos
abordar a temática da “informalidade urbana” num dos subcapítulos deste trabalho.
Na Guiné-Bissau os problemas urbanos são muito graves e estão associados a
um dos mais baixos níveis de desenvolvimento humano e, por isso, exigem aos órgãos
de soberania daquele país, uma tomada de consciência e a mudança de paradigma no
que se refere à gestão urbana e à utilização dos recursos naturais não renováveis.
Depois do golpe militar de 14 de Novembro de 1980, o país nunca mais
conheceu um período de paz suficiente para se poder organizar e acompanhar os
parceiros económicos na dinamização da região onde se insere, situando-se hoje nos
últimos três lugares de pobreza no ranking mundial.
No contexto dos países lusófonos a Guiné-Bissau afasta-se negativamente em
relação aos índices de desenvolvimento dos outros: ocupa o 173º lugar no ranking com
um IDH de, apenas, 0.349; Portugal tem o IDH mais elevado, contudo mundialmente
ocupa apenas o 27º lugar, tendo um IDH de 0.904; no 69º lugar está o Brasil com o IDH
de 0.792; no 105º Cabo Verde com 0.722; no 127º São Tomé e Príncipe, 0.607; 142º
Timor-Leste, 0.512; 161º Angola, 0.439; 168º Moçambique, 0.390; (vozdipovo-
online.com; Cabo-Verde, 29-05-2009).
13
Nas últimas décadas da era colonial pretendeu-se desenvolver um pouco mais
este território, nomeadamente através do Estatuto dos Indígenas das Províncias da
Guiné, Angola e Moçambique, apresentado “em 20 de Maio de 1954, regulamentado
pelo Decreto-Lei n.º 39.666. No seu Capítulo III, artigo 56, estavam definidas as
condições para que o “indígena” alcançasse a condição de cidadão: ter mais de 18 anos;
falar correctamente a língua portuguesa; exercer profissão, arte ou ofício de que aufira
rendimento necessário para o sustento próprio e das pessoas de família a seu cargo, ou
possuir bens suficientes para o mesmo fim; ter bom comportamento e ter adquirido a
ilustração dos hábitos pressupostos para a integral aplicação do direito público e privado
dos cidadãos portugueses; não ter sido notado como refractário ao serviço militar nem
dado como desertor” (ANDRADE, M. 1976) citado por (FRANCO, 2009, 75) decreto
esse que foi difícil implementar na Guiné porque até a presente data, ainda se regista
uma alta taxa de analfabetismo. Sob olhares de vários especialistas relativamente a
resistência guineense, “René Pélissier considerou a cobrança de impostos como causa
essencial das principais acções militares, no período de 1841 a 1936 e constatou que a
“fiscalidade” vinha em primeiro lugar. Sistematizando para esse período, um total de 89
intervenções, a cobrança de impostos e a pressão administrativa causaram o maior
número de conflitos, com cinquenta e três casos (59,6%). As demais causas estavam
assim distribuídas: defesa dos vassalos contra a repressão (treze ocorrências ou 14,6%);
pirataria ou pilhagem (oito casos ou 9%); a oposição à expansão dos fulas (seis
ocorrências ou 6,6%); hostilidade comercial (cinco casos ou 5,6%); insatisfação dos
grumetes (três ocorrências ou 3,5%); combate ao trabalho forçado (um caso ou 1,1%).
(…) A Guiné, observou-se “um quase contínuo estado de guerra até os anos 20, apenas
interrompido esporadicamente: 1893, 1896, 1898-99, 1905-06, 1910-11, 1916”
(FRANCO, 2009, 50-51). Tudo isso trilhou o que até hoje se constata na Guiné em
termos de urbanismo e da promoção social.
Em toda a extensão do território Guineense, a par da Capital Bissau, apenas
Bolama e Bafatá (dois antigos Centros Administrativos) tiveram um tratamento um
pouco digno de centros urbanos com alguns troços da rede de água canalizada. Apesar
dos esforços que as duas entidades com competências na gestão territorial e urbana têm
estado a despender, Ministério das Obras Públicas Construção e Urbanismo (MOPCU)
e a Câmara Municipal de Bissau (CMB), ainda está quase tudo por fazer em matéria de
14
urbanismo, planeamento e ordenamento do território, quer ao nível da definição da rede
urbana nacional quer da urbanização efectiva e da gestão urbana, ao nível local.
“Depois de um Plano Geral Urbanístico de Bissau, ainda da época colonial, que
contemplava um território urbanizado para cerca de 20.000 habitantes, no princípio dos
anos 1970, só nos meados dos anos 1990, ou seja, cerca de 20 anos mais tarde e com
uma população urbana de quase 300.000 habitantes, o governo fez aprovar o novo Plano
Director de Bissau e o respectivo Regulamento Geral da Construção e Habitação, assim
como a Lei do Ordenamento Territorial e Urbano. Relativamente aos principais centros
urbanos, nomeadamente para as Sedes Regionais, o Governo mandou elaborar Planos
de Ocupação do Solo (POS) que deveriam servir como instrumentos de base no uso e
ocupação do solo das respetivas cidades” (RAMOS, 2005, 148).
No entanto, aquele pacote legislativo nunca entrou em vigor, pelo que não se
aproveitou a sua operacionalidade para o processo de gestão urbanística nem para o
desenvolvimento do sistema urbano Guineense em geral. Por isso nos finais dos anos
oitenta e ao longo da década de noventa do século passado, viveu-se na Cidade de
Bissau e nos principais centros urbanos regionais que compõem a rede urbana nacional,
um intenso crescimento urbano e de forma desordenada, um crescimento que aumentou
a pressão sobre os recursos e pôs em causa a capacidade de carga da Capital, levando à
proliferação dos bairros precários nos seus arredores e pondo em risco o equilíbrio
ambiental e o bem-estar das populações.
No capítulo das políticas externas, a Guiné-Bissau tem beneficiado de ajudas
importantes para reverter a situação, nomeadamente de Portugal no contexto da
cooperação bilateral; o Programa Indicativo da Cooperação Portugal/Guiné-Bissau (PIC
2007-2010), que assume os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) e tendo
em conta o Documento de Estratégia Nacional de Redução da Pobreza (DENARP) e o
Plano de Combate ao Narcotráfico, traduz essas preocupações, concentrando-se
sectorialmente nos seguintes eixos:
a) Boa Governação, Participação e Democracia;
b) Desenvolvimento Sustentável e Luta contra a Pobreza.
Mas a ajuda externa só pode surtir efeitos no desenvolvimento da Guiné-Bissau
se resultar da força de vontade por parte de Bissau, para combater as desigualdades e
15
melhor gerir os recursos disponíveis. Este trabalho pretende ser uma pequena ajuda para
a boa governação no que se refere ao território, sobretudo “urbano”, o que envolve
princípios de participação pública e de democracia, e para o desenvolvimento
sustentável, pois se conseguirmos uma rede urbana equilibrada, poderemos controlar
melhor o desgaste dos recursos naturais não renováveis.
1.2- Os objetivos
Atendendo ao estado em que se encontra o sistema urbano guineense, com o
trabalho deste projecto pretende-se:
a) - Dar um contributo para os compromissos que se advinham em matéria de
Planeamento Territorial;
b) – À luz da integração do país na Comunidade Económica dos Estados da
África Ocidental (CEDEAO), compreender a situação da Guiné-Bissau, entre os países
membros, em matéria de Ordenamento do Território, sobretudo do sistema urbano;
c) – Propor ou reformular o modelo de ordenamento do sistema urbano
adequando-o à realidade sociocultural, étnica e religiosa guineense.
Como objetivos específicos do Projecto, pretende-se:
a) - Efectuar um levantamento das potencialidades e debilidades do território,
das oportunidades e ameaças que possam existir, principalmente nos grandes centros
urbanos;
b) - Valorizar a utilização da Cartografia e do Cadastro no processo de gestão
territorial, nomeadamente no conhecimento e controlo, a urbanização anárquica dos
novos bairros (sobretudo em Bissau) e na execução dos instrumentos de gestão
territorial pela Câmara Municipal de Bissau;
c) - Analisar os impactes ambientais em relação à falta de ordenamento de
território, no que se refere sobretudo à gestão urbana e ao sistema de transportes, nas
oito regiões do país;
d) - Propor a reformulação do sistema urbano e a utilização das novas
tecnologias de informação como ferramentas de análise e de controlo dos usos do solo,
potenciando, assim, fatores do desenvolvimento sustentável
16
1.3- As metodologias
Da revisão bibliográfica, ao trabalho de campo e ao uso das tecnologias de
informação e cartografia no processo de planeamento territorial e na gestão urbana, a
pesquisa a levar a cabo irá apoiar-se numa metodologia que consistirá em:
a) - Revisão bibliográfica sobre a informação de referência (livros, projectos,
revistas ou outros documentos) sobre os problemas e os modelos de intervenção nos
diferentes tipos de sistemas urbanos na África subsariana e, em particular, o da Guiné-
Bissau, para compreender a situação desta em matéria de Planeamento e Ordenamento
do Território.
b) - Recolha da documentação referente ao último recenseamento geral da
população e habitação, realizado pelo INEC/Guiné-Bissau, em 2008 e os dados sobre a
cartografia em uso para fins cadastrais e como base do processo de Gestão do Território.
c) - Levantamento cartográfico da situação dos principais centros urbanos,
nomeadamente dos perímetros urbanos, avaliando o peso do crescimento informal em
torno deles.
d) - Realização de trabalho de campo com a deslocação ao país, para recolha de
informações indispensáveis para o projecto, junto das entidades e instituições
responsáveis pelo Planeamento e Ordenamento do Território, em matéria sobretudo do
sistema urbano, da sua organização e gestão e dos instrumentos considerados adequados
para uma intervenção eficaz e adequada às condições sociais, económicas, culturais e
políticas do país.
2. ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO E SÓCIO-ECONÓMICO
2.1- A Guiné-Bissau no contexto da África Subsariana Ocidental: problemas e
desafios;
A reflexão sobre a questão urbanística das principais cidades que compõem a
rede urbana guineense neste trabalho, implica antes de mais, apresentar algumas notas
de enquadramento da situação geográfica desse país Guiné-Bissau, conceitos e teorias;
para tal, é sugestiva uma citação das Nações Unidas. “A Guiné-Bissau encontra-se
situada na costa ocidental de África (coordenadas geográficas: 11º 51´N, 15º 35´W),
com uma área de 36.120 Km2 (13.946 milhas quadradas) sendo que 10% do território é
17
periodicamente submerso por águas pluviais. Em frente á parte continental encontra-se
o Arquipélago dos Bijagós e várias outras ilhas costeiras, incluindo Jeta, Bolama e
Melo. Estende-se por 336 km (209 mi) N-S e 203 km (126 mi) E-W. A Guiné-Bissau
faz fronteira ao Norte com o Senegal, a Este e Sudeste com a Guiné-Conacri e Oeste e
Sudoeste pelo Oceano Atlântico, com uma extensão fronteiriça de 1,074 km (667 mi) ”
(http://www.onu-guineebissau.org/profil.htm, 21-09-2010). Ainda sobre a localização
geográfica, uma outra nota diz que “A atual Guiné-Bissau corresponde a um pequeno
território, afinal o remanescente das antigas áreas de influência portuguesa, muito mais
vastas antes do século XIX. Da Gorea e Casamansa, no Senegal e Gâmbia, e ao Golfo
da Guiné com as suas ilhas, inúmeras possessões lusas se foram perdendo até
Oitocentos. Os núcleos urbanos com significado neste último período serão pois apenas
os incluídos no actual território da Guiné-Bissau”, (Fernandes e Janeiro, 2005, 30).
Quanto aos conceitos e teorias, poderão encontrar ao longo deste trabalho,
conceitos como “reestruturação”, “rede urbana” e “ordenamento do território” que
servirão de suporte teórico por aquilo que se pretende desenvolver. A “reestruturação” é
um termo que segundo o dicionário da língua portuguesa da Porto Editora, significa
restruturação, sendo esta por sua vez, o ato ou efeito de restruturar; tornar a estruturar;
dar nova estrutura a; remodelar; reformar etc.; Ainda segundo o dicionário online de
Português, é sinónimo de reforma, regeneração, renovação, reorganização e
restruturação, podendo ter outro significado noutras áreas do saber. Ou seja, o que se
pretende levar concretizar neste trabalho.
A “rede urbana” antes de mais nada, o termo “rede” que segundo o dicionário da
língua portuguesa da Porto Editora, e, entre muitos outros significados, (…) é totalidade
dos circuitos e dispositivos de comunicação que permitem a ligação entre equipamentos
terminais de dados. Rede urbana é um conceito muito explorado dentro das ciências
sociais e humana, arquitetura e urbanismo, podendo designar segundo Teresa Barata
Salgueiro, 1992, “ao conjunto de lugares e respetivos territórios adjacentes ligados por
relações de ordem hierárquica a um centro urbano principal”. Um artigo brasileiro sobre
a geografia acrescenta que “a rede urbana é formada pelo sistema de cidades, quer
dentro do território de uma região ou de cada país, interligadas umas às outras através
dos sistemas de transportes e de comunicações, pelos quais fluem pessoas, mercadorias,
informações etc.” (http://www.frigoletto.com.br, 19-3-2012).
18
Por fim, “ordenamento do território”, um outro termo que tem vinda a ganhar
espaço na problemática de planeamento territorial, muito embora, “não existem grandes
reflexões sobre o que abrange este conceito” (ALVES, 2007, 48). De seguida, entende
que “ordenamento do território é um neologismo, cujo significado etimológico tem a
ver com todas as temáticas que dizem respeito à evolução, conceção e gestão da
organização do território” (Idem). Muitas outras obras se seguiram com a de Merlin e
Choay (1996) citado em, (ALVES, 2007, 48), que considera ordenamento do território
“um processo que tem em vista a disposição no espaço e no tempo dos homens e das
suas atividades, dos equipamentos, as infraestruturas e os meios de comunicação que
eles podem utilizar, numa visão prospetava e dinâmica, tendo em conta as
condicionantes naturais, humanas e económicas”.
Jorge Gaspar, 1995, p.5 citado em (http://www.igeo.pt/conceito_ot.org.pdf, 19-
03-2012), sublinha que “o ordenamento do território é a arte de adequar as gentes e a
produção de riqueza ao território numa despectiva de desenvolvimento”. Mas ainda
sobre este tema, um documento oficial muito relevante, a Carta Europeia do
Ordenamento do Território (Conselho da Europa, 1988, p. 9 e 10) citado pelo mesmo
artigo, diz que o ordenamento do território “ é a tradução espacial das políticas:
económica, social, cultural e ecológica da sociedade. (…) É, simultaneamente, uma
disciplina científica, uma técnica administrativa e uma política que se desenvolve numa
perspetival interdisciplinar e integrada tendente ao desenvolvimento equilibrado das
regiões e à organização física do espaço segundo uma estratégia de conjunto”. De
acordo com estes pressupostos, entende que “o ordenamento do território deve ter em
consideração a existência de múltiplos poderes de decisão, individuais e institucionais
que influenciem a organização do espaço, o caracter aleatório de todo o estudo
prospetivo, os constrangimentos do mercado, as particularidades dos sistemas
administrativos, a diversidade das condições socioeconómicas e ambientais”.
Com base nestas teorias apresentadas, a rede urbana guineense apresenta ainda
muitas lacunas na sua conectividade e definição hierárquica. Sabemos que no contexto
africano, a Guiné-Bissau insere-se numa região de África que até meados dos anos 50
do século passado ainda fazia parte das regiões mais pobres do mundo, onde se pode
naturalmente encontrar um número de “cidades urbanizadas” muito reduzido. Esta
tendência só começa a inverter-se a partir de 1990, altura em que a região passa por um
19
acentuado aumento da população urbana, o que fez com que em 2000, já contava com
muitas cidades onde vivem mais de 50.000 habitantes cada, conforme os estudos das
Nações Unidas, ver a figura-1. Qualquer país daquela comunidade da sub-região
conserva as características próprias, problemas e desafios, sendo alguns mais similares
conforme as políticas herdadas dos seus colonizadores. Relativamente aos costumes e
modo de vida, quase, se não todos eles, comungam da mesma realidade; muitos
apresentam ainda altas taxas de analfabetismo, pobreza profunda, falta de segurança,
equidade e bem-estar social.
No capítulo da hierarquia das cidades no sistema urbano, nesta região de África,
nota-se a existência de um considerável número de Cidades onde vivem entre 2.000.000
a 4.500.000 habitantes, mais do que em qualquer outra sub-região do continente.
Existem três Cidades com 4.500.000 a 10.000.000 habitantes e uma Mega Cidade de
Lagos que alberga entre 10.000.000 a 18.500.000 habitantes. Essa dinâmica
demográfica pode ser reflexo de muitas situações desde a viragem no capítulo das
estruturas familiares, do saldo migratório por um lado e por outro, o acesso às novas
tecnologias no controlo dos efeitos da degradação climática e do melhoramento das
condições básicas da vida das populações.
Apesar das alterações climáticas a nível global e em particular, do ameaçador
avanço do clima saheliano, que já afeta alguns países da sub-região, particularmente os
situados mais a norte (Mauritânia, Mali, Níger tal como as regiões norte do Senegal e
Burkina Faso), no cômputo geral, trata-se de uma região geograficamente bem situada.
Ou seja, para além da influência e das mais-valias que se pode obter com o Rio Níger, a
região ainda apresenta muitos países com o índice de pluviosidade muito significativo.
Possui grandes extensões de reservas florestais, solos férteis para a agricultura e é
detentora de muitos recursos endógenos pelo que as grandes e médias cidades podem
funcionar como importantes polos de atracção para o Investimento Estrangeiro a fim de
beneficiar as populações residentes.
20
Fig.1: Cidades africanas com população acima dos 50.000 habitantes em 2000
Fonte: UNHABITAT, 2010
A Guiné-Bissau é um país da sub-região da África Ocidental constituída esta por
um conjunto de 17 países incluindo Santa Helena: Benim, Burkina Faso, Cabo Verde,
Costa de Marfim, Guiné Conakry, Guiné-Bissau, Gambia, Gana, Libéria, Mali,
Mauritânia, Níger, Nigéria, Santa Helena, Senegal, Serra Leoa e Togo. O Mesmo
documento das Nações Unidas sobre a África, declara que em 1950, aquela sub-região
apenas contava com 6,6 milhões de indivíduos a viverem nas Cidades. Alguns anos
mais tarde tudo mudou, obrigando a taxa de crescimento da população urbana
aproximar-se da média continental, situando-se em 92,1 milhões de habitantes em 2000,
prevendo que tenha atingido 137,2 milhões em 2010. Sobre esse assunto, podemos
afirmar que “a África Ocidental constitui um espaço imenso, de cerca de 6,7 milhões de
km2, com uma população estimada em quase 200 milhões de habitantes. O incremento
demográfico é rápido em função de taxas de crescimento anual situadas acima dos2,5%
que fazem prever a população, em condições normais, duplique nos próximos 20 anos,
passando os 400 milhões” (NÓBREGA, 2003: 37).
Prevê-se um aumento da população urbana na ordem dos 6.24% para um período
de dez anos (2020 a 2030), caso mantenha aquele ritmo de crescimento. Ainda com base
21
nas estimativas do Observatório das Nações Unidas para a África, aquela região, da
África Ocidental, poderá tornar-se predominantemente urbana, podendo atingir 195.3
milhões de citadinos até 2020, sendo que até 2050, essa cifra poderá atingir os 427.7
milhões, equivalente 68,36% do total da população. A figura-2 mostra os Estados que
compõem a região da África Ocidental sem Santa Helena.
Fig. 2: Estados da África Ocidental (2011)
Fonte: http://www.google.pt/imgres?q=afrique+de+l%27ouest (24-10-2011)
No contexto da África Subsaariana Ocidental, a Guiné-Bissau é membro da
Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), uma organização
de integração económica regional que engloba quinze países de África Ocidental:
Benim, Burkina Fasso, Cabo Verde, Costa de Marfim, Gâmbia, Gana, Guine Conakry,
Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo.
Dizer que essa comunidade desempenha hoje um papel muito importante na
economia internacional, uma vez que oito dos seus países membros (Benim, Burquina
Faso, Costa do Marfim, Guiné-Bissau, Mali, Níger, Senegal e Togo) integram por sua
vez a União Económica e Monetária do Oeste Africano (UEMOA) partilhando em
comum a mesma moeda (franco CFA) com a indexação ao euro, também a moeda de
uma economia hoje em dia mais integrada entre Estados independentes, a União
Europeia e a sua zona do euro. Esta é, no entanto, uma realidade que mostra que “ao
nível do relacionamento externo, a Guiné-Bissau privilegia as relações com os países da
África Ocidental, quer a nível bilateral, nomeadamente com o Senegal, Guiné-Conakry
e Nigéria, quer a nível multilateral, através de múltiplas organizações como a UEMOA
22
e a Comunidade Económica de Desenvolvimento da África Ocidental (CEDEAO).
Desde a adesão à UEMOA, a Guiné-Bissau tem desenvolvido esforços com vista à
efectiva implementação de leis adotadas pelos vários órgãos da União nos capítulos
monetário, institucional e económico. Estas medidas são complementadas por outras no
âmbito da estrutura da Organização para a Harmonização do Direito dos Negócios em
África (OHADA) e da Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NEPAD) “
(PIC 2007-2010).
Sobre as tendências da população urbana Quadro-1, a África Ocidental detinha
em 1950, 6.629.000 habitantes nas Cidades, correspondentes a 9,79% da população
total, sendo esse valor de 14,40%, no total do continente Africano. Cinquenta anos mais
tarde, ou seja, em 2000, a população urbana passou dos 6.629.000 habitantes para
92.162.000 habitantes, equivalente a 38,76 %, ultrapassando os 35,95% verificados no
total do continente para o mesmo período. A variação aritmética da população é, em
média, de 5.79%, de dez em dez anos, prevendo-se que esse valor aumente para 6,09 %,
até 2010. Caso se mantenha as tendências apresentadas, a população desta sub-região
poderá atingir os 427.675.000 habitantes, em 2050. O estudo mostra ainda, em termos
percentuais, a tendência para o aumento populacional na sub-região, situando-se acima
do esperado para toda África, desde 1990.
Quadro-1: Tendências da População Urbana na África Ocidental, 1950-2050.
Fonte: UNHABITAT, 2010, 61.
Quanto á tendência de urbanização por países da sub-região, a Guiné-Bissau
posiciona-se no grupo dos que têm as mais baixas percentagens da população urbana
ver o Quadro-2. Segundo os dados, a Guiné-Bissau contava com mais de 10% da sua
população a viver nos centros urbanos, posicionando-se abaixo de oito países e acima de
outros oito; vinte anos mais tarde, em 1970, ou seja quatro anos antes da sua
independência, já perdia o nono lugar, posicionando abaixo de doze países e acima de
apenas quatro (Burkina Faso, Mali, Mauritânia e Níger). Em 2000 apenas supera
23
Burkina Faso e Níger, sendo ultrapassada por catorze países, tendência que se previa
manter até 2010. Para o ano 2050, a tendência mostra que a Guiné-Bissau será
ultrapassada por Burkina Faso, passando para a penúltima posição apenas acima de
Níger que atingirá os 36,81%, mas mesmo assim, a sua população urbana ficará nos
52,74 % no total.
Atendendo as desproporcionalidades territoriais e populacionais existentes entre
os países da região, essas tendências analisadas reflectem a realidade que se vive pelo
menos na Guiné-Bissau do pós independência, quanto a matéria de urbanização e do
planeamento das cidades. Pelo facto de ser um país territorialmente pequeno,
teoricamente poder-se-ia supor que seja de fácil urbanização, desde que se possa contar
com a boa vontade dos seus governantes. Porém, não foi o que se viu, porque outras
estratégias mereceram mais atenção dos sucessivos governos em detrimento da
implementação de uma política de cidades que passe pelo desenvolvimento sustentável.
Quadro - 2: Tendência da Urbanização nos países da África Ocidental, 1950-2050
(%)
Fonte: UNHABITAT, 2010, 100.
No âmbito da hierarquia das Cidades, como se pode ver ao analisar o Quadro-3,
a Guiné-Bissau tinha apenas duas delas com mais de 10.000 habitante, relativamente ao
24
ano 2000, todavia, segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatísticas e
Censos (INEC) sobre o recenseamento geral da população e habitação em 2009, a
Guiné-Bissau já ultrapassou o valor previsto para 2020 pela ONU, passando a contar
com nove das suas cidades com mais de 10.000 habitantes cada.
Quadro - 3: Número de Cidades com a população acima de 10.000 (1960-2020)
Fonte: UNHABITAT, 2010, 103.
A Nigéria foi sempre o país mais populoso da sub-região. Já contava com 133
Cidades com mais 10.000 habitantes em 1960; vinte anos depois, quase que duplicou a
cifra, chegando a 438, em 2000. A previsão para esse país aponta para 574 Cidades com
mais de 10 mil habitantes, até ao ano 2020. Aliás, a Nigéria é o país mais populoso de
África e o oitavo mais populoso do Mundo. O Gana e Costa de Marfim são outros dois
países mais homogéneos quanto ao número de cidades com a população acima dos
10.000 habitantes, posicionando-se em segundo e terceiro lugar respectivamente.
Seguem-se Benim e Burkina Faso que também ocupam a quarta e quinta posição
respectivamente. Cabo Verde, Gâmbia, Guiné-Bissau e Mauritânia continuam a
25
constituir o grupo dos países com menos cidades com população acima dos 10.000
habitantes.
Os estudos realizados sobre as dinâmicas da população urbana dessa sub-região
apontavam para uma possível duplicação até 2020. No entanto, essa previsão poderá ser
antecipada graças ao rápido crescimento populacional na região junto ao golfo da
Guiné, com tendência para seguir o ritmo de crescimento das cidades de Lagos
(Nigéria) e Kinshasa (República Democrática de Congo, que embora pertença a sub-
região da África Central, é uma cidade com um crescimento populacional muito forte).
Ou seja, as conurbações junto ao golfo da Guiné constituem uma sub-região com
potencialidades de, em breve tornar-se anfitriã de duas maiores aglomerações urbanas
em África, caso se mantiver as intensas concentrações demográficas já referidas de
Lagos e Kinshasa. Esta é uma realidade subjacente, porque com a rápida subida destas
duas grandes aglomerações ao topo da hierarquia urbana africana, as pequenas ações de
crescimento demográfico das cidades abaixo de um milhão de habitantes em primeiro
lugar, acabarão por serem absorvidas e em seguida as de 500.000, onde se situam cerca
de três quartos do total daquelas que preveem algum crescimento, conforme o relatório
das Nações Unidas.
Não se esquecer que dependendo das potencialidades históricas, políticas,
culturais e das oportunidades de desenvolvimento, as grandes cidades da África
Ocidental manifestam tipos de urbanização bem diferentes ver a figura-3. Exceptuando
as regiões desérticas do Mali, Mauritânia e Níger, o estudo mostra ainda que, em termos
gerais, a sub-região tem vindo a crescer de uma forma muito acelerada a partir dos
últimos trinta anos. O mapa mostra igualmente quatro subgrupos ou sub-regiões com
cidades relativamente homogéneas entre si, em termos de urbanização. A área número
um, na legenda, corresponde àquela cuja mais alta densidade populacional da África
Ocidental, sendo a Nigéria o principal país com mais centros urbanos que constituem a
rede de cidades dessa área. Em segundo lugar, a região que se estende ao longo do golfo
da Guiné, a área número dois na legenda, com uma densidade populacional urbana
inferior a primeira área, apresentando no entanto uma razoável rede de cidades
importantes na hierarquia urbana da sub-região.
A área número três na legenda onde a Guiné-Bissau é abrangida, corresponde a
uma região caracterizada pela perda de pequenas e médias cidades, baixa densidade
26
populacional, estagnação dos espaços urbanos e da ausência das grandes cidades. Níger
é um dos demais países com as mais baixas taxas de urbanização dessa área, o que torna
a sua rede de cidades mais fraca em relação à segunda área. Por último, temos a área
número quatro na legenda, como a mais pobre de todas, em termos de urbanização.
“Esta é uma área particularmente inóspita onde as cidades são escassas. Os
assentamentos ali existentes como Zouerate, Chinguetti e Taoudeni (Noroeste de
Sahara) experimentam novo tipo de desenvolvimento devido às condições climáticas,
falta de conexões funcionais e ausência de um reservatório demográfico rural para
alimentar as cidades” (UNHABITAT, 2010, 103). Realmente trata-se de uma região
desértica situada numa faixa climaticamente muito hostil a vida humana e que se
estende desde o mar vermelho a Este, até ao Oceano Atlântico, a Oeste, funcionando
como zona geográfica de transição entre o Magreb e a região subsariana. O clima muito
árido, para além das tensões políticas, económicas e a insegurança que se vive em
muitos países dessa área, são acima de tudo, os entraves para a urbanização e ao
crescimento da rede de cidades com algum peso funcional que garanta a integração da
sub-região.
Fig. 3: Tipologia da Urbanização na África Ocidental (2010)
Fonte: UNHABITAT, 2010, 103.
Como conclusão da análise dos problemas e desafios com que a sub-região da
África Ocidental se depara, em termos da urbanização e dos efeitos das alterações
climáticas na região em que a Guiné-Bissau se insere, apresentamos a figura-4, que
mostra uma possível prospectiva para a Rede e Clusters Urbanos assim como
27
Regionais, para ano 2020, como forma de ajudar a compreender como Bissau se
distancia do resto das principais “cidades económicas” da sub-região.
Do ponto de vista do importante papel que uma cidade desempenha no
desenvolvimento local ou regional, os Clusters regionais merecem uma especial
atenção, principalmente quando resultam de espontâneos processos espaciais ou
geográficos. De salientar que a par dos Clusters regionais, “os Clusters urbanos são
importantes centros principalmente de actividades económicas mas também da tomada
de decisões por parte dos stakeholders locais e de mais agentes com cargos públicos”
(UNHABITAT, 2010, 102-106). Por isso, a concentração das cidades, pessoas e das
actividades económicas pode ser benéfica e deve ser promovida levando em linha de
conta que essa concentração cria ou poderá criar confiança nos agentes de produção, ou
seja, “uma economia de aglomeração onde os problemas com as ligações entre os
mercados e as deslocações às grandes distâncias dos centros não se colocam, a
proximidade da logística assim como boas acessibilidades aos nós das infra-estruturas
de transportes tais como portos, estações de caminhos-de-ferro, aeroportos etc., tornam
por assim dizer, um Cluster num grande polo de atracção” (idem).
Fig. 4 - Prospectiva para a Rede Urbana e Clusters Regionais (2020)
Fonte: UNHABITAT, 2010, 105.
No contexto desses Clusters urbanos, na África ocidental, e situando-se muito
afastado da região do golfo da Guiné, onde se concentram importantes Clusters urbanos
28
com potencialidades económicas tanto nos mercados formais e informais locais ou
regionais, a Guiné-Bissau só pode contar com a relativa vizinhança do mercado
senegalês, cuja grande região de Dakar desenvolveu um Cluster local de atracção
regional. Por outro lado, apresentando uma profunda falta de infraestruturas de
transportes, uma fraca capacidade organizativa na economia de mercado, a conurbação
urbana da ilha de Bissau constitui per si, o único Cluster regional, do país. Este vai ser
um grande desafio para os próximos governos até 2020, uma vez que até à data
presente, a Guiné-Bissau não possui nenhum terminal portuário com as características
normais exigidas internacionalmente. Vai precisar de apostar rapidamente nessa
infraestrutura para consolidar esse Cluster. Ainda faltam autoestradas e vias rápidas de
interligações regionais, tendo atualmente quase 75% da sua rede viária por asfaltar. Daí,
a urgência na reestruturação da rede urbana com base no que já existe, melhoramento de
conectividade intrarregionais para que haja condições aceitáveis ou indispensáveis para
um desejável desenvolvimento sustentável na sub-região.
O êxodo rural tem contribuído para o aumento da população urbana nas
principais cidades guineenses, cerca de 39,6% da população do país nos últimos trinta
anos, onde 60,4% ainda representa o contingente rural, segundo os dados dos últimos
censos de 2009. Em todos os países da África Ocidental predomina o sector primário,
reflectindo um conjunto de constrangimentos que não foram ultrapassados pelos
governantes, talvez por falta de visão ou de interesse pelos problemas de urbanismo.
Muitos dos países desta região, incluindo a Guiné-Bissau, caso não mudem de
paradigmas em matéria de urbanização sustentável rumo ao desenvolvimento, poderão
comprometer as obrigações do milénio assumidas junto das Nações Unidas para o
horizonte de 2015, com destaque a redução da pobreza urbana e a melhoria das
condições de vida das populações.
Apesar das melhorias verificadas em alguns indicadores, a proporção da
população urbana que vive em bairros degradados entre 1990 e 2010 na África
subsariana ainda apresenta valores muito preocupantes como se pode constatar no
Gráfico-1. Para além da difícil situação dos países que estão a sair dos conflitos, a
região subsariana apresenta 70% da população em condições de pobreza em 1990 e só
melhorou em 8% dez anos depois.
29
Gráfico:1- Proporção da População Urbana que vive em Bairros Degradados (1990-2010;
%)
Fonte: ONU, Relatório sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, 2010: 64
De salientar que numa acção conjunta entre UEMOA, que exorta a todos os
países membros para implementação de acções mais importantes em favor de uma
melhor gestão ambiental e de recursos disponíveis, através de uma política de
Ordenamento do Território comunitário e PDM (Partenariat pour le Développement
Municipal) que por seu lado implementa um programa de renovação das políticas de
Ordenamento do Território á escala da África Ocidental e Central, onde propõe aos
agentes promotores locais, nacionais e da sub-região em geral, a motivação para aquele
desafio no âmbito da descentralização e da integração regional, foi realizada pela
primeira vez um seminário internacional de Ministros responsáveis pelo Ordenamento
do Território nos países membros a 19 de Outubro de 2004 em Ouagadougou (Burkina
Faso). Na declaração final desse seminário, para além do objectivo principal que passa
pela elaboração e implementação das políticas do Ordenamento Territorial regional que
favoreça a integração económica, a coesão social e um desenvolvimento sustentável da
30
sub-região e a definição de estratégias para cada país e conjuntas sobre as políticas
sectoriais e espaciais coerentes com os projectos de NEPAD baseados em mais
integração, foram ainda definidos os seguintes “objectivos específicos:
a) Gestão da população e da sub-região;
b) Organização do sistema de transportes e suas transformações;
c) Desenvolvimento das Cidades secundárias e dos territórios produtivos;
d) A promoção das Metrópoles competitivas á escala da economia regional e
mundial;
e) Definição e implementação de programas de cooperação transfronteiriça;
f) Gestão de recursos no quadro de um desenvolvimento sustentável”
(Ouagadougou, 2004).
Apesar de todo esse esforço, as fragilidades políticas e socioeconómicas, a falta
da cultura de tolerância e o abuso do poder prevalecem em alguns desses países, o que
torna cada vez mais necessária a conjugação dos esforços para o melhoramento das
condições de vida das populações, pautada pela política de habitação na defesa da
habitabilidade condigna para todos, com o recurso às matérias-primas locais. A Guiné-
Bissau pode servir de porta de entrada dos PALOP nos mercados da vasta região
económica da África Ocidental. Este assunto merecerá mais detalhes no ponto seguinte,
principalmente no que se refere às debilidades e potencialidades.
2.2- As dinâmicas socioeconómicas na Guiné-Bissau: debilidades e potencialidade.
2.2.1. A diversidade étnica e cultural;
Para compreendermos a forma desajustada de como a rede urbana guineense no
contexto das dinâmicas socioeconómicas da atualidade, atendendo por outro lado as
próprias especificidades do país por ser “um território pequeno em área mas “enorme”
na sua riqueza humana” (SOEIRO de Brito,1997, 106), vamos fazer algumas referências
às origens e ao povoamento dessas terras, pelo facto de terem sido alvo da ocupação e
domínio de sucessivos grandes impérios e reinos africanos e por fim de europeus. Não
obstante, como resultado dessas dominações, surgiu uma rica diversidade étnica
singular na sub-região, mas que por outro lado também, tem vindo a fragilizar a
consciência e a identidade nacional dos guineenses, com reflexos na fraca interação
social dentro da rede urbana, quer no litoral como no interior.
31
Na figura-5, podemos ver como é formado o mosaico da localização espacial
das principais etnias que habitam o território guineense e além-fronteiras.
Fig. 5- Localização Espacial das principais Etnias Transfronteiriças
Fonte: Atlas da Lusofonia, 2001, 53.
Nota-se que o litoral é densamente habitado pelas comunidades hierarquizadas,
destacando entre elas os Manjacos, Papeis e Brames ou Mancanhas. Segundo
(NOBREGA, 2003), São grupos organizados tradicionalmente sob a forma de regulados
que podem ser entendidos como pequenas unidades políticas independentes em
território limitado pela tradição e pela história. Nestes tipos de organização é tradicional
o poder dos chefes de família submeter-se ao dos chefes de tabancas e destes, ao dos
régulos que são normalmente coadjuvados por um grupo de anciãos, vulgos homens-
grandes. Há no entanto outros grupos do litoral com o tipo da organização social
horizontal, como os Balantas, Felupes, Nalús etc., cuja resolução dos problemas cabe
aos homens-grandes. Na figura-6, podemos igualmente encontrar as etnias interiores,
ou seja, aquelas que não se projetam para lá das fronteiras. Todas elas fazem parte das
consideradas etnias tradicionais quer pela organização social, quer pelas atividades
costumeiras.
32
Fig. 6 - Localização Espacial das principais Etnias Interiores
Fonte: Atlas da Lusofonia, 2001, 54.
O interior, ou seja as regiões a montante dos limites das marés, é mais habitado
pelos Fulas e Mandinga, comunidades étnicas islamizadas, resultado da difusão do Islão
na antiga Senegâmbia e na faixa Sul do Sahel, desde o século VII. Sabe-se que esses
povos pertenciam a uma sociedade altamente estratificada de nobres e aristocratas,
homens livres e escravos, pastores, ferreiros, ourives, tecelões, griô etc., todos fiéis e
praticantes dos ensinamentos do alcorão. Normalmente organizados em torno dos
chefes religiosos coadjuvados pelos anciãos, ou seja, também possuíam uma política
centralizada e caracterizada por uma forte hierarquia social. Em termos de acumulação
de riquezas, os Fulas e Mandingas têm por hábito apoderarem-se de terras para a criação
de gados, com destaque ao bovino, ovino e caprino.
Também são excelentes produtores de cereais para o consumo interno mas
devido a alterações climáticas sentidas na Guiné-Bissau nos últimos trinta anos,
alteraram-se também alguns hábitos no uso e na transformação do solo. Devido às
carências de vária ordem nas tradicionais localidades, um considerável contingente da
população ativa abandona anualmente a sua propriedade agrícola para se dedicar ao
comércio nos pequenos centros urbanos mais próximos com algumas infraestruturas e
serviços, sendo uma boa parte migra sazonalmente para Capital Bissau. São práticas que
atrasam a criação de polos locais de atração, mas a pobreza assim o determina.
33
Recuando um pouco na história da ocupação estrangeira, vale a pena lembrar
que antes da chegada dos Portugueses à costa Ocidental africana, em 1446, o litoral das
terras da Guiné-Bissau já tinha sido habitado por grandes grupos étnicos vindos do
interior do continente, mais concretamente do Vale do Níger. “A população do litoral da
Guiné compõe-se de numerosos grupos étnicos. Estes estavam já todos estabelecidos
nesta região, quando os Portugueses chegaram a estas terras (século XV). Foram
empurrados para o litoral numa época antiga (sem dúvida, séculos XIII e XIV) com a
chegada dos Mandingas. As suas tradições dizem frequentemente que vieram do interior
do continente onde ocuparam antigamente, territórios mais ou menos vastos. (…) A
maior parte eram animistas (não muçulmanos). São em geral, excelentes agricultores
(de arroz). Uns viviam e vivem ainda em comunidades independentes, sem classe
dominante ou chefes dominadores, outros tinham uma organização hierarquizada e
estavam organizados em Estados, como os Mandingas” (PAIGC, 1974, 48). São assim
quatro, os grandes grupos que habitam o litoral, subdivididos da seguinte forma:
a)- Grupo Diola (Felupes, Baiotes) Balantas
São excelentes cultivadores de arroz, especialistas de cultura irrigada de arroz
nas zonas marítimas, estavam em geral organizados em comunidades familiares livres,
sem a dominação de classe. Os Felupes e os Baiotes constituem os ramos do povo
Diola, que ocupa as duas margens da baixa Casamansa, e estão instalados sobretudo na
margem esquerda, entre Casamansa e o rio Cacheu.
Os Balantas (160.000 indivíduos no recenseamento de 1950) compõem o grupo
étnico mais numeroso do litoral; ocupam a região central e florestal do litoral e dividem-
se em vários ramos, alguns dos quais são estreitamente aparentados aos Mandingas.
Encontram-se também ao Sul e ao Norte do rio Geba.
b)- O Grupo Manjaco (Brame, Papel) e Banhum (Cassangas, Cobianas)
São também agricultores e animistas, mas tinham uma organização social
hierarquizada no modelo Mandinga (nobres, homens de culto, artesões). Manjacos,
Brames e Papeis são estreitamente aparentados pela língua. (12.000 indivíduos no
recenseamento de 1950; 71.000 Manjacos, 36.000 Papeis, 16.000 Brames). Os Brames
criaram, no litoral norte, uma agricultura aperfeiçoada, permanente, baseada no sistema
34
de substituição das culturas todos os três anos e na utilização do estrume. Os Papeis
ocupam a ilha de Bissau. Os Banhuns (na sua língua, lágar), os Cassangas (na sua
língua, lhadjá), os Cobianas, estabelecidos entre Foghy e o rio Cacheu, que são hoje
muito pouco numerosos, desempenharam no entanto, no passado um papel importante.
c)- O Grupo Beafadas e Nalús
Estes povos são muito marcados pela influência dos Mandinga, com os quais,
provavelmente, são aparentados. Os Beafadas estão estabelecidos no sul do rio Geba.
Os Nalús, que se encontram também na República da Guiné Conakry, vivem no
extremo sul, no litoral. São excelentes cultivadores de arroz.
e) - O Grupo de Bijagós, Cocoli, Padjadincas
Os Bijagós vivem no arquipélago com o mesmo nome. Ocupavam-se
principalmente de palmeiras e da pesca, não conheciam a cultura de arroz. São
igualmente aparentados aos Nalús, Cocoli e Padjadincas que se encontram também na
República da Guiné Conakry, vivem isolados, em pequenos grupos, no interior. Os
Cocoli viviam antigamente no litoral” (PAIGC, 1974, 48-51).
Esta análise mostra como não é fácil estruturar a população guineense através de
um ordenamento do território de tipo europeu porque este “procura determinar as
condições de equilíbrio dinâmico na estrutura biofísica de território tendo em conta
aspetos económicos, sociais, culturais e políticos, no sentido de as entender com pré-
condições ao processo de planeamento de território” (ALVES, 2007, 49), o que vai
levar muito tempo até que o cidadão comum consiga entender e aceitar qualquer que
seja mudança na s estruturas do seu habitat. Por causa de contrastes ainda prevalecentes,
vai continuar a existir por muito tempo as pequenas tabancas dispersas por todo
território, tanto no litoral como no interior, o que só vai fragilizar a hierarquização no
sistema urbano.
2.2.2. Os contrastes interior-litoral na base da diversificação cultural;
No caso da dicotomia interior/litoral trata-se apenas das características
geomorfológicas do país, que condicionam em parte, alguns hábitos das populações
residentes. Por isso se diz que “o estudo étnico de qualquer país ou região não conduz a
35
uma linha de acção estratégica clara, pelo que se torna necessário associar ao factor
étnico o elemento linguístico, procurando as línguas nativas de raiz comum. (...) Deve
também avaliar-se a projecção de alguns grupos étnicos-linguísticos para além e para
aquém-fronteiras” (Atlas da Lusofonia, 2001, 51). O caso da Guiné-Bissau, nessa
matéria, precisa de uma abordagem diferente, uma vez que mesmo dentro da região do
litoral existe um mosaico etnográfico muito complexo e que consiste na diferença
étnolinguistica claramente perceptível seja por qualquer visitante. Para exemplificar,
temos “os grupos Diolas e Balantas que aparecem como aparentados em termos de usos
e costumes, são por outro lado muito diferentes linguisticamente. Os Manjacos, Papeis e
Brames linguisticamente aparentados, são diferentes nas técnicas de construção de
habitações, práticas agrícolas” (SIDA,1981, 165) e de alguns ritos cerimoniais etc.. A
figura-7 pode ajudar a compreender melhor a origem da designação “litoral/interior” a
partir da compreensão dos fenómenos das marés, uma vez que, o limite superior da sua
influência divide nitidamente o território.
Fig. 7 - Limite Interior das Marés
Fonte: Atlas da Lusofonia, 2001, 48.
O interior predominantemente habitado pelos Fulas e Mandingas, é mais ou
menos homogéneo em termos de hábitos, usos e costumes desses povos. Apesar das
pequenas rivalidades muito antigas entre eles, são no entanto muito aparentados em
muitas coisas, a religião muçulmana por exemplo, embora em diferentes confrarias
36
(Cadjiria e a Tidjania). A formação de aglomerados populacionais de forma orgânica,
construção típica de casas baixas por parte dos Fulas que os mandingas também já
imitam, o fabrico de idênticos instrumentos para cultivar a terra, etc., são alguns dos
exemplos.
Todos estes pormenores caracterizam o contraste interior/litoral. O litoral
guineense alberga grupos étnicos na sua maioria animistas, que ainda acreditam na
feitiçaria e obedecem aos tradicionais responsáveis religiosos, ou aqueles que se
encarregam da realização das cerimónias e ritos sagrados. O fanado (circuncisão) que,
para além do seu carácter meramente de higiene e cultural, praticado há vários Séculos,
passou a ser encarado por muitos como cerimónia da iniciação de jovens para a vida
adulta. Tornou-se num acto de pura especulação e subserviência por parte dos
candidatos a favor dos responsáveis organizadores. Outra prática prende-se com o ritual
pagão conhecido em crioulo por Toca-Tchur, como forma de reconhecer e dignificar um
familiar falecido perante a sociedade. É entendido como um dever, onde cada membro
da família em idade adulta, sente a obrigação de tomar parte nela, podendo sacrificar
entre uma ou mais cabras ou vacas, para além de outros gastos com a alimentação de
bebidas alcoólicas que por regra, devem fazer-se acompanhar.
São práticas deste tipo que, em meu entender, contribuem para a alta taxa de
mortalidade no país, baixo índice de esperança de vida principalmente nos homens,
promove o atraso no desenvolvimento, porque em muitas etnias só trabalha-se para o
cumprimento dessas obrigações, mesmo vivendo em mais desumanas condições de
vida.
No interior, ou chão de Mandingas e Fulas como se diz na Guiné-Bissau, não há
dessas práticas mas em contrapartida, generalizou-se a prática da mutilação genital
feminina, um fenómeno bem enraizado e que há muito, tenta contra a saúde e a
dignidade da mulher como ser humano. Todas essas diferenças comportamentais entre
os povos do litoral e do interior, refletem bastante na forma como são encarados os
problemas da ocupação e transformação do uso do solo.
Foi sempre assim, levando o país a não encontrar até a presente data, caminhos
para superar as suas debilidades económicas, continuando a depender
fundamentalmente do sector primário e das ajudas externas como se afirma,
nomeadamente, no (PICGB, 2007-2010) que fazemos menção de transcrever
Fonte: foto do Google
37
longamente. “Ao longo da sua história como país independente, a Guiné-Bissau tem
tido grande dificuldade em alterar substancialmente o tecido produtivo assente no sector
primário. A economia guineense vem apresentando, cada vez mais, sinais de
fragilidade, com destaque para uma balança comercial muito deteriorada e para os
elevados valores da dívida externa. Na década de 80, por pressão da Comunidade
Internacional, foram implementadas uma série de reformas no sentido da liberalização
da economia, da promoção da estabilização financeira e monetária, reforço da
administração fiscal e da melhoria da gestão dos recursos públicos.
Esta estratégia culminou, em 1997, com a adesão da Guiné-Bissau à União
Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA), encontrando-se a sua política
económica e monetária sob a chancela de um Banco Comum dos países membros. A
adesão à UEMOA veio favorecer uma maior estabilidade cambial permitindo,
simultaneamente, a sua melhor integração no mercado regional da África Ocidental. O
conflito político-militar de 1998-1999 e as crises políticas que se lhe seguiram,
afectaram negativamente o crescimento do PNB. A partir de 2003, começou a ser
visível uma lenta recuperação da economia nacional, a qual acabou por não se revelar
sustentável.
Devida a muitas práticas que conduzem á pobreza, o crescimento económico na
Guiné-Bissau desceu de 3.5% de 2005 para 1.8% em 2006. No contexto africano, onde
a média de crescimento se situa nos 5.7%, a Guiné-Bissau é um dos países com menor
crescimento. As causas do fraco desempenho económico prendem-se com factores
internos, instabilidade política e redução do preço da castanha de caju, produto
responsável por 30% do RNB, e de factores externos, como a subida do preço do
petróleo. A situação do atraso dos pagamentos à função pública é um problema
repetente que provoca tensões sociais permanentes.
Com vista a estabelecer as suas prioridades, o Governo guineense elaborou o
Documento de Estratégia Nacional de Redução da Pobreza (DENARP), o qual define a
estratégia de acção do Governo para o período 2007-2010, sendo considerado uma peça
indispensável para a retoma de iniciativas de apoio ao seu desenvolvimento por parte
das agências especializadas do Sistema das Nações Unidas, que Portugal tem procurado
acompanhar como doador. (…) A economia guineense está muito dependente da ajuda
externa, sendo particularmente problemática a situação da dívida externa, a qual é
bastante elevada para as capacidades financeiras do país.
38
Os sectores económicos mais importantes são a agricultura, onde se destacam a
exportação da castanha de caju e a pesca, feita essencialmente por navios estrangeiros
que actuam através da concessão de licenças de pesca. O subsolo guineense é rico em
minerais, sendo uma área com um elevado potencial e que começa a ser estudado com
mais atenção, sendo de destacar, os depósitos de fosfatos em Farim, as reservas de
bauxite no Boé e as potencialidades petrolíferas no off-shore. O sector industrial é muito
limitado” (PICGB- 2007- 2010, 16-17).
2.2.3. Impactos da dependência da ajuda externa;
A Guiné-Bissau continua a depender muito do exterior por “fazer parte dos vinte
países mais pobres do mundo. As frequentes crises políticas que têm afectado o país
desde 1998 destabilizaram o Estado e reduziram muito a sua capacidade de governação.
Acresce que, nos últimos anos, surgiu outro factor de instabilidade política e social: o
narcotráfico. A economia guineense é bastante frágil, caracterizando-se por fracos
recursos internos e por depender fortemente do sector primário” (Avaliação do PIC 208-
2010, 13). Desta forma condiciona o cumprimento das estratégias destacadas no
(PICGB-2007-2010) sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio saídos da
declaração de Paris sobre a eficácia da ajuda ao desenvolvimento e da Conferência
Internacional de Lisboa (2007).
O Quadro-4 demonstra essa dependência e, de alguma forma, testemunha os
momentos de instabilidade já referidos. Os dois momentos negativos verificados na
balança comercial dos anos 2001 e 2004, de 15,9 e 9,8 mil milhões de Fcfa (moeda
local) respectivamente, reflectem claramente as crises provocadas pela guerra civil de
1998-1999 que derrubou o Presidente Nino Vieira e pelo levantamento militar que
também culminou com o afastamento do Presidente Kumba Yalá a 14 de Setembro de
2003.
Quadro: 4- Comercio externo - Balança comercial (em mil milhões de FCFA)
GUINÉ-BISSAU 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Exportação FOB 27,09 29,2624 34,8704 28,109 39,9158 45,2623
Importação CAF 42,945 28,9311 29,2095 37,8832 33,9411 29,21
Balança comercial -15,9 0,3 5,7 -9,8 6,0 16,1
Fonte: Instituto Nacional de Estatística e Censos (INEC, Bissau)
39
Ainda segundo os dados do último Recenseamento Geral da População e
Habitação de 2009, a Importação para esse ano foi de 54,9 mil milhões de Fcfa, sendo a
Exportação ficou em 34,5 mil milhões de Fcfa. No ano de 2010, o PIB foi de 418,8 mil
milhões de Fcfa, com a taxa de Crescimento real em 3,5%, e a taxa de Inflação anual a
situar-se em 1,9%. O país cria poucas riquezas a partir das suas potencialidades
internas; Importa muito mais do que consegue Exportar, o que é negativo para o
desenvolvimento que se pretende levar a cabo. Vale a pena lembrar que entre muitos
parceiros de cooperação internacional com a Guiné-Bissau, Portugal ocupa o primeiro
lugar no quadro do Comité da Ajuda Bilateral, fruto “de um encontro de vontades
centrado, por um lado, nas mais-valias (língua, matriz jurídica e passado comuns) e na
estratégia da cooperação portuguesa (CP) e, por outro, nas prioridades de
desenvolvimento da Guiné-Bissau” (Aval. PICGB 2008-2010, 25), como se pode ver no
quadro-5 que se segue.
Quadro: 5 - Síntese da Ajuda à Guiné-Bissau (2010)
40
De 1999 a 2008, a Ajuda Pública para o Desenvolvimento (APD) de Portugal,
através do IPAD, tem disponibilizado anualmente Milhares de Dólares Americanos para
no âmbito da cooperação ajudar no desenvolvimento da Guiné-Bissau. Apesar do
quadro-5 contemplar apenas três anos (2006, 2007 e 2008), apenas a União Europeia
no âmbito da ajuda multilateral ultrapassa a participação portuguesa num universo de
dezoito parceiros entre Estados e Organismos não-governamentais. A Espanha ocupa o
terceiro lugar no cômputo geral de doadores e o segundo no âmbito bilateral. A França
que em 2006 contribuiu com 9,9 Milhões de Dólares, baixou muito em 2007 para 3,4
milões e com uma ligeira subida no ano seguinte. Contrariamente a ajuda da França,
IDA, que em 2006 participou com 1,7 Milhões, teve um aumento exponencial nos dois
anos que se seguiram. O FMI, que claramente deixou de acreditar na consistência fiscal
da economia guineense, tem, no entanto, continuado a ajudar, uma vez que diminuiu de
-3,8 Milhões em 2006 para -2,0 Milhões de Dólares em 2008.
Mesmo em diferentes níveis de contribuição entre parceiros, o total de 334,7
Milhões de Dólares durante esses três anos ou seja, uma média de mais ou menos 111,5
Milhões de Dólares por ano, constituem um forte impacte na manutenção e na
credibilização da economia guineense na sub-região.
Quadro: 6- Distribuição Sectorial da APD bilateral Portuguesa
Quanto à distribuição sectorial da ajuda para o desenvolvimento bilateral
portuguesa entre 2007 a 2009, para além dos sublinhados no Quadro-6, com o sector
das Infra-estruturas e Serviços Sociais no topo, seguido dos Sectores de Produção e
41
Infra-estruturas e Serviços Económicos por serem talvez os mais considerados
prioritários, a Educação tem absorvido importantes somas, uma média de 30% durante
os três anos referidos. O Governo e Sociedade Civil assim como Outras Infra-estruturas
e Serviços Sociais foram outras áreas que mais beneficiaram. A Ajuda aos Refugiados
(no País Doador) assim como a Ajuda Humanitária foram as áreas que menos
beneficiaram das verbas da APD bilateral portuguesa, ficando em 0,01% e 0,03%
respectivamente do total doado em três anos referenciados.
Após esta análise sobre o grau de dependência do país das ajudas externas, não
deixa dúvidas de que ainda está tudo por fazer. Alguns dos antigos centros urbanos
estão a perder o tradicional peso funcional, pelas reduzidas condições de conectividade
com Capital, o que faz deslocar as suas atratividades para vizinhos centros mais
acessíveis. É imperativo revitalizar as redes de comunicações, a equidade regional com
a ajuda do poder central, para que essas cidades voltem a ter uma expressão condigna na
coesão do sistema urbano nacional. A Cidade de Bissau foi sempre a mais beneficiada
de todas as ajudas pela sua macrocefalia e onde muitos organismos internacionais estão
sediados como se poderá constatar no próximo ponto.
2.2.4 A macrocefalia de Bissau: a desigual distribuição geográfica da população e
das fontes de riqueza;
Segundo os últimos censos gerais da população e habitação de 2009, conforme o
Gráfico-2, os dados finais mostram que o Sector Autónomo de Bissau (SAB) continua
a ser a preferência de muita gente para habitar. Em termos populacionais, conta
actualmente com 387.909 habitantes ou seja, 25,5 % do contingente nacional. É claro
que esse resultado seria de outra dimensão caso fosse em relação à população urbana
nas principais povoações. Seguem-se as regiões de Oio com 224.644 habitantes ou
14,77%, Gabu com 215.530 habitantes ou 14,17%, Bafatá com 210.007 habitantes ou
14,80% e Cacheu com 192.508 habitantes ou 12,76%. As regiões de Tombali, Quinara,
Bolama Bijagós e Biombo, ainda se situam abaixo dos 100.000 habitantes cada, contudo
os dados mostram indícios de crescimento e de abertura ao mercado nacional.
42
Gráfico: 2 - Distribuição da População por Regiões Administrativas (%)
Fonte: Autoria própria, com dados do INEC, (Junho de 2011)
A questão da macrocefalia do Sector Autónomo de Bissau, já enfatizada, não
obsta a análise de outras tendências que começam a manifestar-se. A preferência pelas
regiões de Oio, Gabu, Bafatá e Cacheu para a fixação de residência, podem estar
associadas às questões da mobilidade, levando à emergência das suas Cidades Capitais
na dinâmica da economia nacional, nestes últimos anos. A construção das duas pontes
regionais sobre os rios Cacheu e Mansoa, em substituição das antigas travessias por
jangadas em S. Vicente e João Landim respectivamente, assim como o melhoramento
das suas estradas, foram fundamentais para o desenvolvimento da região de Cacheu e
em particular, uma mais-valia para as pequenas povoações emergentes de Ingoré e S.
Domingos, na fronteira com a República do Senegal a norte do país.
A região de Oio, actualmente a segunda mais populosa do país, talvez por razões
históricas em termos da distribuição étnica, continua a deparar-se com a profunda falta
de estradas alcatroadas, em particular os eixos rodoviários Farim-Ingoré e Bissorã-
Barro. A construção de uma ponte regional sobre o Rio Farim podia impulsionar a
economia local, atraindo mais pessoas para a cidade de Farim. É por esta e por outras
razões que o sector de Mansoa está cada vez mais dinâmico, com mais infraestruturas
do que a própria Capital regional.
Bafatá e Gabú são duas regiões que beneficiam de um importante eixo
rodoviário que as liga à Capital, Bissau. Aliás, como fontes de receitas, Gabú e Bafatá
43
detêm as três principais portas de entrada das mercadorias vindas do Senegal e Guiné
Conakry, para o abastecimento do mercado nacional, através de Pirada, Buruntuma e
Cambaju, seguidos de Jeguê em S. Domingos, região de Cacheu, também a porta mais
procurada em termos da travessia de pessoas e bens para o Senegal. De salientar que
todas estas portas fronteiriças têm o controlo permanente das delegações regionais
desconcentradas dos serviços alfandegários de Bissau.
No que toca a distribuição geográfica das fontes de riqueza, sabe-se que o setor
primário ocupa o primeiro lugar, contudo, apenas as cidades de Bissau, Bafatá e Bolama
possuem algumas pequenas-indústrias transformadoras, ainda que em estado de
degradação. O serviço bancário só abrange o SAB, regiões de Cacheu, Bafatá e Gabú. O
fluxo de mercadorias no mercado guineense, é garantido por três meios de transporte
(marítimo, terrestre/rodoviário e aéreo), pois, ainda não existem caminhos-de-ferro.
Sobre esta matéria, o Sr. António Vaz, Técnico Aduaneiro da Direção Geral das
Alfândegas, nosso entrevistado em Bissau, recorreu aos dados estatísticos dos Serviços
Alfandegários de Bissau para o ano de 2009, para melhor se posicionar. Das 81.000
toneladas importadas nesse ano, o transporte por via marítima representou 68% do total;
o transporte por via terrestre (rodoviário) atingiu os 21%, e o transporte por via aérea
apenas 1%. As exportações no valor de 41.000 toneladas, o transporte por via marítima
representou 92%, o transporte por via terrestre (rodoviário) 7% e o transporte por via
aérea também 1% apenas. Em 2008, as importações atingiram cerca de 70.000 toneladas
contra 26.000 toneladas de produtos exportados, ainda com o transporte marítimo a
ocupar o primeiro lugar.
A Cidade de Bissau continua a concentrar as actividades de importação e
exportação por ser detentora do único porto marítimo do país; há, por isso, um grande
desequilíbrio em matéria de infra-estruturas de transporte, em relação ao resto das
regiões que compõem a rede urbana nacional. Como se sabe, ”as infra-estruturas de
transporte marítimo e fluvial na Guiné-Bissau são particularmente condicionadas pela
existência de diversas rias muito para o interior, permitindo assim a circulação de navios
de longo curso em muitos locais do litoral, mas quando cessa a navegabilidade destes,
as lanchas asseguram a continuidade do transporte fluvial. Existem diversos portos
rudimentares, dos quais se destacam os de Cacheu, Bolama, Bubaque e Buba; cinco
portos fluviais, mais destacados são os de Binta, Bambadinca e Cacine com capacidade
44
até 300 toneladas, todavia estes portos não dispõem sobretudo de uma elevada
capacidade de armazenamento” (Atlas da Lusofonia, 2001, 45-46).
Perante tudo isso, e sabendo que a população da Guiné-Bissau maioritariamente
rural, quer agrícola ou pastoril, depende muito da terra que “por não ser fertilizada tem
vindo progressivamente a empobrecer, além de que não lhe tem assegurada a desejada
produtividade por carência de técnicas actualizadas de trabalho, de selecção de
sementes, de ensilagem de pastos, de implantação de novas culturas”, etc. (A. Spínola in
PROVINCIA DA GUINÉ,1973), o que obrigou as actividades agrícola e pastorícia
tornarem-se itinerantes e consequentemente a dispersão dos aglomerados populacionais.
Daí que, os Fulas e Mandingas habitantes em maior número das regiões de Gabú e
Bafatá, especializaram-se na criação do gado ovino, caprino e bovino por possuírem
terras com boas condições para pastagem.
Quando assim é, as questões culturais acabam por deixar as suas marcas. Por
isso, o caprino e ovino fazem parte não só da fonte de riqueza para as famílias, mas de
grandes valores para as práticas religiosas e culturais como dotes em casamentos ou
para as cerimónias do fanado (circuncisão), festas do calendário muçulmano ou
Tabasqui, conhecida como (festa do carneiro). A questão climática deve ser tida em
conta nesta macrocefalia de Bissau, por ser responsável em parte, pelo acentuado êxodo
rural para as grandes cidades com poderemos ver no próximo ponto.
2.3- Efeitos das alterações climáticas na distribuição da população e nos recursos
naturais;
Os efeitos das alterações climáticas constituem hoje uma preocupação de índole
internacional contudo desde a assinatura do Protocolo de Quioto a 11 de Dezembro de
1997 (Japão) em que “foram fixadas metas concretas que estabelecem onde as emissões
devem ser reduzidas e o volume de tal redução: até 2012, os países da União Europeia
devem diminuir suas emissões em 8% em comparação ao ano-base de 1990; os Estados
Unidos, em 7% e o Japão, em 6%” (http://www.dw-world.de/dw/article; 05-10-2011).
Segundo o mesmo artigo, muitas outras conferências que se seguiram sobre este
tema foram marcadas pela busca de como fugir das metas estabelecidas em 1997 por
parte de muitos países industrializados com os Estados Unidos da América em primeiro
lugar. Para confirmar aquela pretensão, lembrar de que a Administração dos EUA
45
recusou-se a ratificar o documento que entrou em vigor em 2005, condicionando desta
forma a não concretização do estabelecido em Quioto, segundo a mesma fonte.
Partindo desta realidade, importa salientar que os países mais pobres e em
particular os da sub-região em que a Guiné-Bissau se insere, são os mais atingidos uma
vez que os seus recursos naturais endógenos ou exógenos não estão a ser bem
explorados nem bem geridos para o benefício de todos, tudo por falta de equipamentos e
conhecimentos tecnológicos. Sendo os recursos naturais os bens que a própria natureza
disponibiliza ao homem para a satisfação das suas necessidades e que podem ser
agrupados em endógenos e exógenos, nem sempre foram bem tratados de forma a
garantir a saúde ambiental desses países. É bom lembrar que a intervenção do homem
na transformação daquilo que a natureza lhe proporciona, entra inevitavelmente os
fatores vivência, cultura, sociedade e sua história que também diferem de país para país.
Falando de países pobres como a Guiné-Bissau, a mitigação desse tipo de
fenómenos naturais, requer custos insuportáveis para os cofres dos Estados, o que pode
dificultar ainda mais os orçamentos desses países do terceiro mundo, com profundos
problemas financeiros. Os valores do volume da precipitação expressos na figura-8,
mostram o grau da vulnerabilidade e riscos com a seca que cada um desses países da
África Ocidental pode vir a enfrentar.
Fig. 8- Volume da Precipitação Anual na África Ocidental e Central em mm, 2003.
Fonte: http://www.amenagement-afrique.com/article.php, (10-10-2011)
46
Neste âmbito, a Guiné-Bissau ainda resiste à falta de água graças ao recurso
“água-doce” que abunda no litoral e da pluviosidade que se situa entre os 1500 a 2000
mm por ano. Nos países onde existem secas intensas que levam à escassez da comida e
de outros bens da primeira necessidade, a tendência sempre foi no sentido do abandono
do campo, onde já não existem condições para garantir a sobrevivência, rumo à cidade,
à procura de melhores condições de vida. Essas migrações podem piorar os locais de
acolhimento, porque quando falham as expectativas, começam as frustrações que podem
traduzir-se na exclusão social e às formas de comportamento marginal (delinquência,
prostituição, assaltos ou outras práticas não recomendáveis). Muitas cidades da nossa
sub-região já enfrentam esta realidade onde, em cada dia que passa, se assiste à
proliferação dos sem-abrigo, ao aumento de ilhas de pobreza extrema, à criminalidade e
ao crescimento descontrolável dos Bairros de lata etc.
A forma natural como foi feita a distribuição da população em todo território
guineense é ainda bem visível, porque baseou-se na constante busca de boas terras que
garantam a produtividade. Para além de muitos outros fatores, já se notam algumas
alterações no coberto florestal em certas regiões do interior, alguns rios secam por
completo durante a estação seca do ano. As migrações sazonais aumentaram
abrangendo muitas etnias, para além do tradicional nomadismo do grupo fula. Contudo,
assim que começa a estação das chuvas, muitos tendem a voltar para os lugares de
origem a fim de se ocuparem das suas terras. Sabe-se no entanto, que muitos acabam
por fixar a sua residência na cidade com espectativas de ali encontrar novas e melhores
condições de vida. Esta prática fez disparar a taxa da população urbana em Bissau,
Bafatá e Gabu nos últimos anos, para além das repercuções sentidas com a liberalização
do comércio e a integração do país na UEMOA em 1997, que aumentou a invasão
estrangeira no cumprimento das obrigações de um espaço comunitário. Como exemplo
disso, é bom lembrar que o aumento da delinquência juvenil que as principais cidades
da Guiné-Bissau têm estado a enfrentar nos últimos dez anos, não resulta das alterações
climáticas mas sim da introdução da utilização do território nacional pela rede
internacional de tráfico de droga, como porta de saída para o mercado europeu, das
drogas vindas da América latina.
47
3. O SISTEMA URBANO GUINEENSE NOS ÚLTIMOS 50 ANOS
3.1 - Uma breve história sobre o povoamento da Guiné-Bissau;
Sem querer tornar repetitiva esta análise sobre a história do povoamento
guineense, voltamos a falar nele apenas para reafirmar que muito antes da chegada dos
portugueses àquelas terras em 1446, toda esta costa ocidental africana já tinha sido
habitada pelos povos vindos de vários pontos do interior do mesmo continente,
principalmente do vale do Níger. Não passava de apenas um território descoberto pelos
navegadores europeus, portugueses em particular, que ao longo dos tempos descobriram
e transformaram os problemas encontrados em excelentes oportunidades para a
realização de comércio, como se pode constatar no atlas da lusofonia.
De uma forma muito natural, os “indígenas” como eram tratados, foram
desenvolvendo os seus assentamentos em grupos de indivíduos consoante as parecenças
linguísticas e de vivências cotidianas. Já se falou sobre os hábitos alimentares, usos e
costumes dos povos do litoral e do interior, que em função do tipo da organização social
de cada grupo, também a escolha de cada sítio era objecto da decisão dos anciões de
cada clã. Por isso, encontram-se ainda hoje, pequenos agrupamentos populacionais com
apenas cinco a sete palhotas, em muitos casos com menos de vinte pessoas,
principalmente em regiões com boas condições para a agricultura.
Segundo o atlas da lusofonia, a sã coabitação entre nativos e comerciantes
portugueses começa a ter novos contornos, a partir de 1588 com a construção do forte
de Cacheu, altura em que os portugueses começam a mostrar intenções de afirmar a sua
soberania e permanecer naquelas paragens. Os nativos começam a resistir contra a
presença dos brancos que já não viam como meros comerciantes mas sim, inimigos. Ao
longo desse tempo, muitas fortificações foram erguidas no actual território guineense
para a guarnição das importantes feitorias ali existentes, sendo muitos destes locais
constituem hoje grandes polos do sistema urbano nacional. Aliás, “em 1830 as
conquistas ao longo da costa estendiam desde os 10º,0’ aos 13º,0’ Norte, numa área
dominada por (Guiné de Cabo Verde) que se dividia em dois Distritos: Distrito de
Bissau que compreendia as fortificações de Bissau (praça de S. José de Bissau), Geba,
Fá e as ilhas de Bolama e das Galinhas; o Distrito de Cacheu que compreendia as
fortificações de Cacheu, Ziguinchor, Farim e Bolor” (Atlas da lusofonia, 2001, 13). Para
48
concluir, urge lembrar que todas as fortificações aqui referidas situam-se no actual
território da Guiné-Bissau, com a excepção do Ziguinchor que fica na embocadura do
Rio Casamansa, dentro da actual República do Senegal ou seja, desde há muito tempo
que o território guineense coabita com as marcas da presença e da influência
portuguesa. Os pontos que se seguem vão enfatizar com mais detalhe a cada período da
ocupação e influência estrangeira na história do povoamento guineense.
3.1.1. O povoamento no território da Guiné-Bissau antes da independência.
a) O período anterior à “descoberta” pelos portugueses;
Os conhecimentos sobre a antiga história dos países da África ao sul do deserto
do Sara, foram sempre limitados por falta de documentos e registos para a investigação.
Sabe-se, no entanto, tratar-se de uma região por onde passaram consecutivamente três
grandes impérios naquela costa africana: Gana, Mali e Songhay, tal como se pode ver
na figura-9, contudo todas as histórias relacionadas com esses impérios ou a maior
parte delas eram contadas oralmente ou através dos cantos griô.
Segundo os relatos, o Império de Gana foi provavelmente fundado durante os
anos 300, onde até 770, os seus governantes pertenciam a dinastia dos Magas, uma
família berbere, apesar de, o povo ser constituído por negros das tribos Soninkés. Em
770 os Magas foram derrubados pelos Soninkés, e o império expandiu-se grandemente
sob o domínio de Kaya Maghan Sissé, que foi rei por volta de 790.
Depois de muitos anos de luta, a dinastia dos Almorávidas berberes subiu ao
poder, que no entanto não conseguiu conservar por muito tempo. O império entrou em
declínio e, em 1240 foi absorvido pelo Império de Mali sob o comando de Sundiata
Keita. A chegada e invasão dos Almorávidas do norte mudou tudo, porque estes
submeteram e converteram os nativos à religião muçulmana, dissolvendo desta forma, a
anterior estrutura social tradicional e criaram uma sociedade de hierarquias rígidas,
sobretudo dentro das etnias convertidas. O rei Sundiata era mandinga, um dos grupos
étnicos de povos negros que ainda vivem no Mali dos nossos dias, na Guiné-Bissau e no
vizinho Senegal. Muito tempo depois, entre o séc. XV e XVI, ergue-se o império de
Songhay, um dos três maiores impérios africanos da história.
Antes do império Songhay, a região tinha sido dominada pelo império de Mali,
que no início do séc. XV, começou a declinar. O império de Songhay cresceu e
dominou uma vasta área na costa ocidental africana, incluindo a actual Guiné-Bissau.
49
Invadido pelos guerreiros marroquinos vindos do Norte no final do séc. XVI, o império
de Songhay ficou arrasado, política e economicamente, dando lugar a fragmentados
estados independentes, sendo o mais importante desses estados, o reino de Gabu. Esta
região de Gabu ocupa hoje o terceiro lugar na hierarquia das regiões administrativas da
Guiné-Bissau, em termos do número da população residente. Desde então, sucederam-
se períodos de guerras tribais, invasões, perdas ou conquistas de terras, como sucedeu
com o último estado fula de Futa-djalon que se estabeleceu em meados do séc. XVIII,
nas fronteiras das acuais regiões de Tombali e Quinara no sul da Guiné-Bissau. Todas
essas ocupações não só deixaram as marcas religiosas mas também ao nível da
organização das estruturas sociais que ainda refletem na forma da fixação desses povos.
O monopólio dos mercadores norte-africanos naquela sub-região só terminou nos finais
do séc. XVI com o início do mercado marítimo entre a África ocidental e alguns países
europeus.
Fig. 9- Antigos Grandes Impérios Africanos na Região de África Ocidental
Fonte: pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Gana (15/5/2009)
b) O povoamento da Guiné-Bissau no tempo dos portugueses;
Sabendo que o propósito deste trabalho consistia em analisar a situação do
Sistema Urbano guineense apenas nos últimos cinquenta anos, ou seja, começar a partir
de 1960, há no entanto, uma necessidade de recuar um pouco no tempo, para que se
possa avaliar bem a Guiné no quadro do império português. Importa lembrar que muito
antes da Guiné do séc. XX, a presença e a afirmação da soberania portuguesa nestas
paragens com consequente edificação dos fortes nas margens dos importantes rios, o
povoamento guineense nunca mais ficou como antes.
A título de exemplo e segundo o Atlas da lusofonia, Cacheu foi o primeiro ponto
de contacto dos portugueses com a terra firme desta costa africana; Farim foi uma
povoação fundada por um Capitão-mor de Cacheu, Gonçalo de Gamboa em 1641, tal
como Ziguinchor, um presídio levantado e artilhado pelo mesmo Capitão-mor; Bissau,
praça de guerra edificada em 1776; Geba, um grande mercado aonde concorre muita
Gana Mali Songhay
50
courama, marfim, bastante cera e algum ouro; Fá, uma aldeia de Mandingas onde um
negociante português fundou em 1820 uma feitoria mercantil que o governo de Portugal
conserva etc.
O final do séc. XIX foi muito importante na história da viragem da actual Guiné-
Bissau, porque “a 18 de Março de 1879, o território é proclamado (província da Guiné)
passando a sua administração a ser independente da de Cabo Verde e sendo Capital da
nova província estabelecida em Bolama” (Atlas de Lusofonia, 2001, 18). Nesta altura os
limites fronteiriços ainda não tinham sido demarcados. A partir de 1936, ano em que se
deu por terminada a campanha de pacificação em Canhabaque (Arquipélago dos
Bijagós), considerado último bastião da resistência dos indígenas da Guiné, a soberania
portuguesa sobre todo território jamais foi ignorada.
O imposto de palhota criado desde 1903, passou a ser cobrado em todo território.
Para que essa operação se possa efetivar, houve a necessidade da realização de um
recenseamento geral, pelo que “Os censos coloniais realizados em 1928, 1929, 1936,
1940, 1949 e 1950 tiveram como unidade estatística a “palhota” que vigorou em quase
toda a Guiné” (Franco, 2009,13). A palhota ficou por muito tempo como a principal
unidade estatística para o pagamento dos impostos, uma vez que as estruturas sociais
que os portugueses encontraram eram muito complicadas, fruto de um habitat disperso.
A nível da escolaridade, poucos eram os negros guineenses com o segundo ciclo feito,
facto que na generalidade pesava na falta de noção sobre os benefícios de uma cidade
para os seus habitantes, a começar pela satisfação das necessidades básicas até a
formação de intelectuais para liderar os destinos de uma nação.
Por tratar-se de uma época de viragem com importantes registos históricos quer
para Portugal quer para colónias, achamos por bem definir dois grandes períodos na
história de desenvolvimento do urbanismo guineense. O primeiro período que começa
com o final da campanha de pacificação em 1936 até 1950, sendo o segundo período
entre 1950 e 1973, com a saída do General António Spínola, uma vez que o seu
sucessor mal teve tempo para dar seguimento da política traçada. Momentos altos que
marcaram o arranque ao desenvolvimento urbano na Guiné portuguesa foram talvez
quando se criou em Lisboa, o Gabinete de Urbanização Colonial (GUC) através do
Decreto nº 34173, por Marcelo Caetano, no seu primeiro ano em exercício das funções
de Ministro das Colónias, cargo onde permaneceu até 1947. “O diploma destinava-se a
centralizar num só organismo público, com sede em Lisboa, toda a prática projectural
de arquitectura e urbanismo de promoção oficial, destinada às "colónias de África"
51
(Diário do Governo, 1944, 1167), incluindo-se aqui naturalmente a então Guiné
Portuguesa” (Milheiro e Dias, 2009, 82).
Segundo Milheiro e Dias, a criação do referido gabinete tinha como propósito
uma necessidade urgente de “estudar e acompanhar a formação e o desenvolvimento
dos aglomerados populacionais nas colónias de modo a aproveitar os ensinamentos da
urbanística, evitando os erros por vezes irremediáveis, de um crescimento ao acaso”
(Diário do Governo, 1944, 1167) citado por Milheiro e Dias, (2009, 82). Apesar de
tratar-se de um diploma que constitui uma oportunidade para satisfazer as encomendas
públicas ou privadas nas colónias portuguesas em matéria de arquitectura e urbanismo
no início dos anos quarenta, a Guiné portuguesa continuava com os problemas de
sempre. Falta das iniciativas locais, e de pouco interesse por parte dos anteriores
governadores. Nessa primeira fase de arranque até finais dos anos 50, a governação de
Manuel Maria Sarmento Rodrigues entre (1945 a 1948) deu um grande impulso nas
actividades de urbanismo e na infra-estruturação em todo território nacional e em
particular na cidade de Bissau. Graças aos serviços do (GUC), o governador Sarmento
Rodrigues executa importantes obras, tal como iniciou e idealizou muitas outras que
foram concluídas pelo seu sucessor Raimundo Serrão entre (1948 a 1954).
Alguns anos depois, procedeu-se a alteração do nome do Ministério das
Colónias para Ministério do Ultramar (MU) e do Gabinete da Urbanização Colonial por
Gabinete de Urbanização do Ultramar (GUU). Estas alterações aconteceram porque
“com a revisão constitucional de Maio de 1951, desaparecem dos discursos oficiais os
termos “Império” e “Colónias”, substituídos por “Ultramar” e “Províncias”, sugerindo
uma integração mais pacífica destes territórios e contornando a crítica internacional
então frontalmente contrária à existência de regiões colonizadas. Deste modo sai
reforçado o princípio da unidade nacional de um Estado português pluricontinental”
(SILVA, 2006, 147) ” citado em Milheiro e Dias, (2009, 85). Segundo a mesma fonte,
foi nesse período entre (1950 e 1955) que o antigo governador da província da Guiné,
Sarmento Rodrigues ocupa o cargo de Ministro do Ultramar, continuando deste modo a
seguir de perto o desenvolvimento dos projectos por ele deixados para a acção
urbanística na província. As actividades de urbanização, construção e infra-estruturação
já tinham iniciado antes, com as brigadas e missões para ultramar, ou mesmo com os
serviços das Obras Públicas locais, contudo considera-se 1945, o ano de arranque das
obras estruturantes, com a adaptação do Palácio de Governo e a transformação da Sé
52
Catedral de Bissau. O então governo local soube estreitar ligações com Lisboa nessa
matéria de construção para a integração social, como o próprio Governador afirmava,
segundo as citações de (Milheiro e Dias, 2009, 90), de que “no primeiro plano das
realizações, como mais visível, o trabalho de obras públicas”, adiantando possuir “uma
vasta lista de obras projectadas para um período… bastante curto” (RODRIGUES,
1949, 37). Desta lista fazem parte construções em andamento, como o “Palácio, Sé,
capelas de Catió, Bafatá, Canchungo, Mansoa e Gabu, moradias projectadas para os
funcionários em Bissau, o monumento ao Esforço da Raça, edifício da Praça do
Império… e outras tentativas dispersas pela Colónia” (Idem).
Sabe-se que os técnicos do Gabinete de Urbanização do Ultramar com sede em
Lisboa, deslocavam-se ao local, sempre que tal se justificasse para se inteirarem do
andamento das obras e da situação em geral, muitas das vezes, no quadro do imediato.
O caso guineense não se esgota apenas em urbanizar Bissau e os antigos assentamentos
populacionais, houve no entanto projetos para o resto da província e para diversos
setores, como foi o caso do Estudo de Urbanização da Praia de Varela em 1947 e 1959.
Muito empenhado com a causa guineense, o governador Sarmento Rodrigues
orgulhava-se das suas realizações, chegando a afirmar em termos de um desabafo que
“Fizeram-se os levantamentos topográficos de Bissau, Bafatá, Varela, Canchungo,
Mansoa, Farim, Gabú, bem como esboços para os planos de urbanização de Varela,
Canchungo, Farim, Mansoa e sobretudo o de Bissau, que me parece não ter merecido o
carinho devido por parte da população. Vieram projectos para enfermarias, postos
sanitários, escolas, moradias, igrejas, postos administrativos, mercados e tantos outros
edifícios” (Milheiro e Dias, 2009, 92).
O governador tinha consciência da indiferença da população guineense em
relação ao trabalho que desenvolvera, mas nem por isso deixou de prosseguir com a sua
determinação em alargar os pequenos centros urbanos existentes, dotando-os de boas
condições de habitabilidade, contando para isso com a participação de agentes privados
interessados. Ganhou a aposta, o território também, porque quase 90% dos edifícios
emblemáticos que hoje caracterizam a rede urbana guineense, fazem parte das grandes
obras herdadas (ver anexo-4), das importantes obras realizadas na Província da Guiné
entre (1945-1974). As imagens de figura-10 são exemplo de muitos edifícios sociais
53
projetados pelos técnicos da Agência de Habitação e Urbanismo do então Ministério do
Ultramar.
Fig. 10- Escola Prof. António José de Sousa e a Residência das Irmãs em Bissau
Fonte: MILHEIRO e DIAS, 2009, 94.
Relativamente ao levantamento topográfico na Guiné atrás mencionado, urge
enfatizar acima de tudo, sobre a divisão Administrativa do território durante a era
colonial. Segundo o Diário do Governo de 22 de Abril de 1942, I Série nº 92, foi
promulgado o Decreto nº 31:976 da Direcção Geral da Administração Política e Civil
do Ministério das Colónias para a modificação da divisão administrativa nos seguintes
termos: “ (…) Artigo 1.º A divisão administrativa da colónia da Guiné, constante do
artigo 1.º do decreto n.º 29:257, de 13 de Dezembro de 1938, fica modificada conforme
foi determinado, nos termos das alíneas a) e b) do artigo 6.º de Reforma Administrativa
Ultramarina, pelo governador da colónia em diploma legislativo n.º 1:146, de 24 de
Janeiro do corrente ano. No Art.º 2.º referia-se que o quadro do pessoal administrativo
estabelecido pelo artigo 4.º do referido decreto é aumentado de dois administradores de
circunscrição de 3.ª classe, dois secretários de circunscrição e dois aspirantes
administrativos, lugares que serão providos nos termos das disposições legais
aplicáveis. Ou seja, dos nove Concelhos e uma Circunscrição existentes, foram
acrescidas mais duas novas circunscrições a pedido do governador.
No que se refere a um planeamento regional, é consensual entre os técnicos que
os espaços sejam agrupados atendendo às distâncias e aos graus de semelhanças e
homogeneidade. Ou seja, “as áreas geográficas contíguas tendem a realizar entre si,
relações de troca mais intensas e melhor hierarquizadas” (Lopes, 2001, 30). Querendo
com isso dizer que, têm maior proximidade de interesses que possam justificar a
realização de acções conjuntas, de modo a rentabilizar os recursos e aumentar a sua
54
eficácia. Entende que estes espaços devem ser vistos não só na sua dimensão
geográfica, mas também como espaços económicos e sociais.
De qualquer forma no caso guineense, isso não foi levado em consideração, uma
vez que os interesses da soberania sobrepuseram-se ao respeito pelas fronteiras étnicas,
realizando traçados que dividem claramente grupos aparentados e famílias para
diferentes concelhos administrativos, como é o caso de Gabú e Bafatá, conforme a
Figura-11. Sendo um período muito antes dos teatros das lutas de libertação dos anos
sessenta, a organização administrativa ajustada às necessidades de então, justificou
apenas a constituição de nove Concelhos e três Circunscrições Civis para província.
Fig. 11- Divisão Administrativa da Guiné Portuguesa em 1942 (2003)
Fonte: MARQUES e DIAS, 2003, 580.
Em termos gerais, muitos projectos foram pensados para estruturar o urbanismo
na Guiné, até finais dos anos cinquenta. Porém, conscientes da difícil situação
económica que Portugal enfrentara logo após a II Grande Guerra (1939-1945), esse
processo de urbanização e projectos de promoção social viram-se obrigados á uma
desaceleração gradual no tempo. Por estes e por outros motivos, a década de sessenta
ficou marcada por muitos cortes no financiamento para importantes obras públicas nas
colónias e na Guiné em particular.
É bom lembrar ainda de que tudo o que viria afectar as colónias africanas
começou com o colapso do Estado da Índia que lesou bastante “as imagens das
55
instituições militares portuguesas pelo modus faciendi da guerra” (Atlas da Lusofonia,
2001, 26). Fazendo com que, segundo a mesma fonte, quando eclodiram as guerras de
libertação nas colónias africanas, o “pesadelo” da queda do Poder Português em Goa,
Damão e Diu induziram as Forças Armadas à perspectivação convencional de “ganhar”
ou “perder”, subestimando o poder e a capacidade combativa dos guerrilheiros do
PAIGC. Sem surtir efeitos, essa posição arrogante foi corrigida e “as Forças Armadas
passaram do conceito ganhar ou perder para o de “aguentar” para ganhar tempo e
melhores condições para adopção de uma solução política” (Idem).
Foi nessa condição de ganhar tempo é que muitas oportunidades foram perdidas.
Mas o General Spínola combinou a sua larga experiência militar com a capacidade de
liderança para reestruturar toda a política governativa e militar na província, alegando
ser urgente reajustar as directivas sobre o reordenamento e autodefesa. Para tal, começa
pela “tentativa de retirar á subversão o substrato dinâmico de carácter social em que esta
se apoiava, colocando-o ao serviço da contra-subversão” (Atlas da Lusofonia, 2001,
27). Esta estratégia do General visava os sectores da manobra militar, promoção
socioeconómica e da manobra psicológica. Ou seja, criar condições de fomento e
segurança no meio rural, com vista a ganhar confiança das populações para poder
infligir pesados golpes ao inimigo, o que culminou com o desenvolvimento do seu
célebre plano “Uma Guiné Melhor” (Idem).
Apesar das vicissitudes da guerra, foram realizadas muitas actividades de campo
nos domínios de topografia e cadastro, trabalho esse que culminou na edição da obra
“Ordenamento Rural e Urbana na Guiné Portuguesa”. Nela constam sessenta e um
planos de zonamento com as respectivas memórias descritivas para os assentamentos
que considerava de fácil acesso por parte dos homens do PAIGC. Foi tudo por uma
questão de segurança e de melhoramento das condições de vida das populações. Antes
de prosseguir com outras decisões, politicamente, achou por bem reajustar a divisão
administrativa do território para garantir o bom funcionamento das estruturas do poder
local, como forma de responder às necessidades que se impunha ver a figura-12.
56
Fig. 12- Divisão Administrativa da Guiné Portuguesa em 1971.
Fonte: BALDÉ, 2008, 20
Dos nove Concelhos e três Circunscrições Civis definidos anteriormente, com as
alterações de 1942, no ano de 1971, a província passou a contar com uma Capital
Provincial, doze Sedes de Concelho ou Circunscrição e trinta e duas Sedes de Posto
Administrativo. Após ter seguido de perto as preocupações das populações do interior, o
General resolveu avançar numa primeira fase com o processo de aldeamento que
consistia em agrupar os pequenos grupos populacionais dispersos, em vários pontos ver
a figura-13.
Fig. 13 – Processo de Aldeamento na Guiné Portuguesa, Concluído em 1972
Fonte: Atlas da Lusofonia, 2001, 28.
57
Não pode haver um desenvolvimento económico sem o correspondente apoio do
substrato social e não é possível elevar os padrões de vida e de bem-estar, nem do nível
cultural sem que haja disponibilidade de recursos propiciados pela produção de
rendimentos. Foi com base nisto que o governo provincial iniciou o ordenamento demo-
geográfico a fim de promover um povoamento consentâneo para garantir a promoção
social. Daí que deu prioridade ao substrato social de desenvolvimento, à custa dos
recursos disponibilizados pelo governo central para satisfazer as necessidades básicas
das populações.
Decidido em mudar o rumo dos acontecimentos, Spínola afirmou que “tem-se
vivido a Província, sob o signo do improviso, ao sabor de rasgos de génio, de golpes de
fortunas e de necessidades de circunstâncias. Os imperativos de previsão, planeamento e
programação têm cedido quase sempre a preocupação muito nossa de personalizar as
obras, sem cuidar que estas só são verdadeiramente úteis quando integradas numa linha
determinante e consequente, visando finalidades que ultrapassam os estreitos horizontes
pessoais” (Spínola in PROVINCIA DA GUINÉ, 1973, 8-9). Foi uma preocupação do
general, considerar nobre a missão de continuar o que outros antes com capacidade,
senso e visão previram e planearam, como ele mesmo dizia.
Sabe-se que ao longo dos anos sessenta, com o desenrolar da guerra de
libertação, muitas famílias tiveram de abandonar as suas terras, refugiando-se no
Senegal e Guiné Conakry, principalmente as que viviam junto das fronteiras com
aqueles países vizinhos. Houve uma acentuada redução populacional na província,
motivando a reacção do General Spínola em concentrar o habitat rural muito disperso
em aldeamentos, com o melhoramento das condições de vida das pessoas como forma
de impedir o constante relacionamento com os terroristas. Com a independência, muitos
refugiados animados pelo entusiasmo e espectativas, regressaram às terras de origem,
regresso esse que acabou por criar ao jovem governo, alguns problemas de difícil
resolução. Foram problemas que se prendiam com a falta de experiência governativa,
dificuldades financeiras e falta de habitações para acolher os regressados da guerra.
Como se não bastasse, a política desacertada seguida pelo regime do Partido-Estado,
não tardou a manifestação de descontentamento generalizado. É um assunto a
desenvolver no ponto a seguir.
58
3.1.2. O povoamento da Guiné-Bissau no período após a independência;
Pelo menos até 1980, ou seja sete anos após a independência, o povoamento da
Guiné-Bissau não sofreu nenhuma transformação a assinalar. Apesar de tudo o que
aconteceu ao longo dos onze anos da guerra, os muitos guineenses guardam lembranças
muitas coisas boas que tiveram antes da independência. A par da língua portuguesa
vista como o ex-líbris de todas as heranças, Portugal deixou igualmente obras em
matéria de urbanismo, muitos edifícios públicos com adaptação dos da metrópole,
unidades hospitalares, e escolas espalhados por diferentes cidades do país, tal como
habitações para os funcionários públicos. Foram construídos edifícios imponentes,
símbolo de autoridade e do poder, principalmente nas cidades mais destacadas naquele
tempo como Bissau, Bolama, Bafatá e Canchungo. É imprescindível realçar a
importância que a influência portuguesa teve na Guiné-Bissau em matéria de
planeamento e urbanização de tipo europeu.
Em vários pontos das capitais regionais guineenses aparecem células urbanas,
características de uma cidade colonial que “é geralmente abordada segundo uma
perspectiva histórica e patrimonial, contribuindo para a construção da história do
urbanismo e da arquitectura portuguesa em África” (Morais e Raposo, 2005, 90).
Territorialmente demarcado como uma parte integrante do império luso de então, o país
hoje conhecido por Guiné-Bissau, deveu muito mais à ocupação portuguesa do que a de
muitos outros impérios e reinos africanos que como se sabe, também chegaram a ter o
domínio dessas terras. É salutar reconhece-lo, não obstante um passado repugnante com
marcas profundas naquela região longo das gerações, desde os tempos da escravatura
até as guerras de pacificação, que culminaram com sangrenta luta armada que durante
onze anos para as duas partes sacrificarem muitos dos seus filhos.
As ambições demonstradas pelo primeiro presidente Luís Cabral em matéria da
criação de pequena e médias indústrias transformadoras para Capital Bissau, Cidades de
Bolama e Bafatá para além do início das obras da via rápida que liga o Aeroporto de
Bissalanca ao centro da Capital, convenciam a qualquer cidadão das possíveis mudanças
para o desenvolvimento nacional. A rede urbana herdada continuou a mesma, todavia,
com alguns sinais de melhoria, até que o primeiro levantamento militar de 14 de
Novembro de 1980 que afastou o presidente Luís Cabral tivesse lugar, trazendo novas
orientações, porque o novo governo rompeu com vários programas herdados e do
59
executivo deposto, em detrimento de outros eixos de orientação que acabaram por
destruir por completo o trabalho realizado em muitos anos para a elevação do nível
social e do bem-estar das pessoas.
Tratava-se realmente de uma atitude corajosa por parte do Presidente Luís
Cabral com a sua visão futurista, contudo subsistiam os problemas de fundo que mais
afetavam a população, a começar pelo saneamento de base, melhoria das condições de
sobrevivência, habitação e habitabilidade, mobilidade e a garantia da segurança pública.
Houve quem dissesse que foi uma fragilidade muito bem aproveitada pelos” irmãos de
armas” mas sequiosos do poder para interesses pessoais. O golpe de estado teve
consequências negativas, a começar logo pela suspensão da Constituição Nacional da
República vigente, e ao abandono das práticas de Planeamento e urbanização já
iniciados na era colonial.
Com o continuar da instabilidade político-militar que se traduz numa total
inércia na tomada de decisões chaves para um verdadeiro desenvolvimento desejado, os
primeiros sinais de pobreza começa a surgir nos primeiros anos da década de 80,
originando o maior êxodo rural no país. Mantinha-se a insuficiência de habitações
sociais, por falta da política social de arrendamento. Foram todas estas situações que
acabaram por originar o crescimento desordenado dos Bairros periféricos em Bissau,
Bafatá e Gabú. Para concluir, é dizer que a independência da Guiné-Bissau, em nada
contribuiu para uma regeneração do povoamento existente, nem para a edificação de
outros novos aglomerados populacionais com condições básicas aceitáveis ou
necessárias para o bem-estar comum. O povoamento guineense foi espontâneo ou
natural, dentro de uma harmoniosa e interação com base na resiliência dos recursos
naturais e do potencial humano existente, na sua luta pela sobrevivência. Ou seja, o
atual povoamento que constitui o sistema urbano guineense tem por base a estrutura
herdada, ainda que com muitos problemas por resolver. É uma matéria a desenvolver na
alínea a seguir com alguns detalhes sobre os factores da distribuição geográfica da
população e mudanças que possam estar a acontecer.
a) Factores da distribuição geográfica da população e mudanças em curso;
Muitas investigações e estudos científicos sobre esta temática concluíram que
em geral, a distribuição geográfica da população sobre um determinado território
60
depende muito de factores naturais como o clima, relevo, solos, subsolos, rios,
vegetação, litoralização etc., e factores humanos, quando se refere às cidades, vias de
comunicação, dinamismo económico, passado histórico, áreas de agricultura intensiva,
áreas de indústria e turismo. Os dados do último recenseamento geral da população e
habitação de 2009, permitiram fazer uma análise mais aproximada da realidade; no
Quadro-7 pode ver-se que a atual densidade populacional do país situa-se em cerca de
42,10 hab/km2. É um valor muito baixo, mesmo para um pequeno como a Guiné-
Bissau. A distribuição geográfica da população de pouco mais de 1.500.000 habitantes
em todo território não apresenta grandes diferenças, embora com a evidência do
fenómeno da litoralização e da macrocefalia de Bissau.
Em termos gerais, os factores atractivos sejam naturais ou humanos, podem ser
muito determinantes neste caso guineense, porque como se sabe, o país é caracterizado
por um clima tropical húmido, possui bons solos para a agricultura, muitos rios e
riachos, algum coberto florestal de grande importância para o ecossistema nacional, sem
no entanto mencionar a riqueza do subsolo. As grandes concentrações populacionais
verificam-se no litoral e ao longo das três importantes bacias (Cacheu, Geba e Corubal),
não obstante as questões históricas e culturais.
A cultura, os usos e costumes enraizados na Guiné-Bissau ao longo dos tempos,
por um lado condicionaram a distribuição da população por grupos étnicos, quando
estes sentem a legitimidade de posse de qualquer (chão) ou parcela territorial que
estejam a ocupar. É muito habitual ouvir-se na Guiné-Bissau as expressões como estas:
chão Manjacos no Norte, chão Balanta no Centro e Sul, chão Mandinga e Fula no
Nordeste, chão Nalú e Beafada no Sul etc., o que vem confirmar o tal sentimento
generalizado de pertença. Geralmente, esses chãos eram habitados de uma forma
casuísta e dispersa pelos pseudo donos, essencialmente como forma de proteger e evitar
a sua ocupação por outros grupos considerados estranhos.
A discrepância dos valores referentes à densidade populacional por região deve
ser entendida como resultado das diferenças territoriais. As campanhas para a
organização territorial levadas a cabo na era colonial ajudaram na concentração de
pequenos povoados ao longo das principais vias de comunicação e nos arredores das
Sedes de Concelhos ou Circunscrições. É uma tendência que ainda se apercebe nesta
nova fase de crescimento urbano e de ordenamento rural.
61
Quadro: 7- Densidade Populacional por Regiões Administrativas (2009)
Região População Sup. Km2
Hab/km2
Bafatá 210.007 5.981,1 35,11
Biombo 97.120 838,8 115,78
B. Bijagós 34.563 2.624,4 13,17
Cacheu 192.508 5.174,9 37,20
Gabú 215.530 9.150,0 23,55
Oio 224.644 5.403,4 42,58
Quinara 63.610 3.138,4 20,28
SAB 387.909 77,5 5005,27
Tombali 94.939 3.736,5 25,40
G. Bissau 1.520.830 36.125,0 42,10
Fonte: Autoria Própria com dados do INEC. (19-04-2011)
Os elevados valores da densidade populacional, de 5005,27 hab/Km2
para o
Sector Autónomo de Bissau, assim como 115,78 hab/ Km
2 para a região de Biombo,
podem ter duas leituras. Primeiro, pelas razões territoriais já referenciadas; segundo, a
forte influência que Bissau exerce sobre Biombo. Em termos demográficos, Bissau hoje
já não suporta a capacidade de carga a que está a ser submetida e com tendência a
aumentar, caso não se teme medidas correctivas. A região de Gabú aparece com apenas
23,55 hab/Km2, por ser a mais extensa de todas e, em termos populacionais, está nos
primeiros lugares. A região de Bolama Bijagós ocupa o último lugar, pela sua
especificidade de insularidade.
Dos trinta e sete Sectores Administrativos existentes no país, apenas Caravela e
Uno na região de Bolama Bijagós possuem 4.662 e 7.627 habitantes respectivamente,
sendo que todos os restantes Sectores se situam acima dos 10.000 habitantes cada. Daí
que, teoricamente, podemos concluir que pelo facto de existirem mais factores
atractivos em relação a factores repulsivos, a distribuição geográfica da população na
Guiné-Bissau tende para uma distribuição homogénea, sem no entanto ignorar a falta de
emprego e das vias de comunicação nas regiões rurais. Em termos gerais, não se
vislumbram nenhumas mudanças significativas nos centros urbanos do interior, talvez
por falta de equipamentos e serviços. A questão da infraestruturação, levada a cabo nos
últimos tempos em algumas grandes cidades, será realçada na alínea a seguir.
62
b) A actual fase de crescimento urbano e a (sub) urbanidade;
“Os habitantes das favelas encontraram a sua própria técnica, os seus próprios
recursos, sem qualquer assistência de quem quer que fosse, e resolveram os seus
problemas de habitação” (Gameiro, 2005:140). Servimo-nos desta citação apenas para
tecer uma pequena comparação. Sabe-se que existem similaridades entre uma franja da
população brasileira que vive nas favelas e quase a maioria da população guineense em
matéria de habitação. Durante a fase de crescimento, as dificuldades em conseguir uma
habitação condigna são muitas, “a pobreza, a falta de planeamento, de assistência
técnica, de financiamento para comprar materiais de construção, a falta de
equipamentos urbanos” (Idem), constituem o principal problema. Não é nada fácil
reflectir sobre estas situações porque “falando em termos gerais, sem ir ao encontro das
necessidades básicas do ser humano, a preocupação com o ambiente tem que ser
secundária. O homem tem de viver, de atender primeiro as suas necessidades básicas de
sobrevivência – comida, habitação, saúde – e só depois ao ambiente” (Idem).
O Arquiteto António Gameiro no seu artigo sobre O desafio urbano em Angola
viria a reflectir sobre a crise ecológica e sanitária, tema que urge analisar quando se
pretendem encontrar explicações para um defeituoso processo de desenvolvimento
sustentável como aquele que se vive na Guiné-Bissau. A rede urbana, constituída por
Cidades Capitais regionais, vilas e aldeias tabancas, congrega todas as interacções
políticas, económicas e sociais da sociedade guineense onde, na ausência de Planos
Directores, as periferias das cidades não param de crescer à custa da informalidade. As
redes viárias e fluviais de conecção regional, tornaram-se muito fundamentais para a
mobilidade das populações nos últimos anos. Os pequenos campos de aviação e
aeródromos espalhados pelo país durante a era colonial, encontram-se desactivados
alguns anos após o golpe de estado de 1980. A saga de regresso dos refugiados de
guerra que fez disparar o crescimento populacional nas aldeias fronteiriças
principalmente com o Senegal nos primeiros cinco anos após a independência, só
chegaria a Bissau no princípio da década de oitenta, trazendo uma enorme pressão na
ocupação e na transformação do uso do solo.
Num período de apenas dez anos, a consequência da desarticulação das
estruturas produtivas e da falta de emprego no meio rural, a instabilidade político-
militar, o fenómeno de êxodo rural muito intenso, deixaram em particular o município
63
de Bissau sem resposta, porque o tecido habitacional existente já não suportava a
demanda. Entendemos que devido a falta de vontade política capaz de promover a
governança no país, surgiram a especulação, o facilitismo e a falta de rigor na
observância da lei sobre a coisa pública, ocupação e transformação do uso do solo, que
por sua vez criaram graves problemas ambientais em Bissau e em algumas cidades
médias do país.
Segundo o entrevistado durante o trabalho de campo realizado no país, Sr. Rui
de Carvalho Administrador em S. Domingos, a falta de controlo na ocupação horizontal,
levada a cabo principalmente em grandes centros, com habitações precárias feitas a
partir de materiais de ocasião em áreas inadequadas e vulneráveis, pode pôr em perigos
muitas vidas e comprometer as heranças das próximas gerações. As imagens da figura-
14 são exemplo disso, quer se trate de Capitais Regionais ou não. Ultimamente, temos
Mansoa, Bissorã na região de Oio, Ingoré e S. Domingos na região de Cacheu, pelo
facto de estarem apoiadas por uma estrutura de estradas que facilitam a mobilidade
interna.
Fig. 14- Manchas Urbanas das Cidades de Bissau e Gabú
Fonte: Imagens tiradas do Google Earth em 10-06-2011
Surgiram grandes manchas suburbanas sem infra-estruturas técnicas, de
mobilidade, segurança, e serviços de base, marcadas pela falta de espaços verdes para o
recreio e lazer. O problema da pobreza é transversal a todos os países daquela costa
africana mas a Guiné-Bissau parece ser um caso à parte, porque desde a sua
independência nunca se encontrou, como um Estado-providência que garanta o bem-
estar das populações. Isso não ajuda em dana, no equilíbrio do sistema urbano e no
64
melhoramento do nível de vida das pessoas, contudo a guerra civil de Julho de 1998
despertou um novo sentimento de nacionalismo e do espírito de entreajuda entre as
pessoas. Tudo passa-se pela criação de micro cooperativas agrícolas, ONG nacionais e
outros associativismos sem pendor étnico. Esta nova realidade suscitou uma onda de
regresso às aldeias nos últimos anos, com aposta no empreendedorismo e adesão ao
microcrédito. Apesar das dificuldades económicas, a sociedade do conhecimento e a
globalização vão marcando passos na vida urbana, onde uma larga maioria de pais que
apenas vivem do mercado informal, apostam na formação dos filhos no estrangeiro.
A (sub) urbanidade atrás referida é um novo conceito que, na sua acepção actual,
significa “qualidade do urbano” Matias Ferreira (2004) citado por (Raposo e Henriques,
2005, 114), e tem vindo a tornar-se uma realidade nas periferias das cidades-capitais na
Guiné-Bissau. A realização das feiras tradicionais vulgas lumo, em diferentes Setores
Administrativos no interior, tem ajudado bastante na acumulação de riquezas dentro do
mundo rural. Com isso, muitos até conseguem construir habitação coberta com folha de
zinco. É uma forma de incentivar a suburbanização, porque a partir dos pequenos
antigos centros urbanos com comércio e serviços, alastram as periferias sem áreas
físicas de transição no complexo imobiliário. Em termos da degradação ambiental, a
agricultura urbana, que contribuía para o fornecimento de frescos para as cidades, está a
desaparecer em favor das edificações casuístas que afetam a saúde pública. Cada região
cresce ao seu ritmo de acordo com as suas potencialidades naturais e humanas, onde as
tipologias europeias misturam-se com o que é típico das tradições locais, gerando
modelos de fácil concretização pelas camadas mais desfavorecidas.
O elevado crescimento da população por região ver o Quadro-8 reflecte a
suburbanidade que ocorreu em grande escala ao longo dos últimos trinta anos no SAB,
onde a população aumentou 278.695 habitantes e principalmente nas Cidades Capitais
das regiões de Gabú e Bafatá. No ranking das regiões, Oio sempre situou-se em
segundo lugar depois de Bissau, contudo apenas os Sectores de Bissorã e Mansabá
albergam mais pessoas e não Farim. O mesmo acontece com a região de Cacheu, onde a
Cidade de Cacheu tem menos habitantes em relação aos Sectores de Bigene, Canchungo
e S. Domingos. A região de Biombo registou algum aumento desde a realização do
primeiro Recenseamento Geral da População e Habitação de Abril de 1979, talvez pela
proximidade com Bissau, onde a questão de transporte não é muito preocupante. Já não
se pode dizer o mesmo relativamente às regiões de Quinara, Tombali e Bolama/Bijagós,
65
onde esta última nunca ultrapassou 50.000 habitantes pela sua insularidade; as outras
duas nunca chegam a 100.000 habitantes cada, pela especificidade territorial e da
debilidade das suas redes viárias.
Quadro: 8 – População por Regiões Administrativas entre (RGPH 1979-2009)
Fonte: Dados do INEC. (19-04-2011)
3.2 - O SISTEMA URBANO GUINEENSE: AS PRINCIPAIS REGIÕES E
AGLOMERADOS POPULACIONAIS DO PASSADO À ACTUALIDADE.
3.2.1. As regiões e a divisão administrativa atual;
Constitucionalmente, a Guiné-Bissau foi alvo de mais um reajustamento na sua
divisão político-administrativa em 1996, passando a apresentar um figurino territorial
bem diferente daquele que vigorava entre 1971 até a tomada da independência em 1973.
O país passou a contar com oito regiões administrativas a saber: Bafatá, Biombo,
Bolama Bijagós, Cacheu, Gabú, Oio, Quinara e Tombali, mais um Sector Autónomo de
Bissau (SAB), que corresponde a própria Capital como se pode constatar na figura-15.
Apesar das diferenças entre os dois mapas (o colonial e o atual), não se sabe no
entanto os critérios utilizados para determinar e delimitar os polígonos das regiões, não
obstante o mapa colonial tende a aproximar-se do critério étnico em algumas áreas,
muito embora não existem fundamentos oficiais que o possam provar. Quanto ao catual
mapa, poder-se-ia avançar com motivações meramente formais ou políticas, porque era
bem compreensível que depois da independência a nova administração queira
reorganizar o território para o ajustar às suas necessidades.
66
Fig. 15 – Atual Divisão Político-Administrativa (2011)
Fonte: Atlas da Lusofonia, 2001, 38.
Aliás, a nova redação dada pela Lei Constitucional nº1/96 refere no seu
ARTIGO 107°, ponto1, de que “ Para os efeitos político-administrativos, o território
nacional divide-se em regiões, subdividindo-se estas em sectores e secções, podendo a
lei estabelecer outras formas de subdivisões nas comunidades cuja especificidade isso
requerer” (CRGB, 1996).O actual sistema urbano guineense apresenta um grande
desequilíbrio em vários aspectos. Cada região enfrenta carências de várias ordens tendo
em conta as próprias especificidades locais, contudo existem outras preocupações que
são transversais a todas elas.
Trata-se da falta de instrumentos cartográficos a nível nacional como elementos
indispensáveis na tomada de decisões sobre todas as políticas, em particular, a de
planeamento e Ordenamento do território. É verdade que com o desenvolvimento da
informática, novas formas de detecção remota e armazenamento de dados, existem
inúmeras vias para se obter elementos cartográficos, desde a observação das imagens de
satélite até a obtenção do produto final através de métodos numéricos. Mas mesmo
assim, para um país atrasado como a Guiné-Bissau, urge actualizar toda a cartografia
existente, para potenciar a monitorização das contínuas mudanças físicas em meios
rurais e urbanos.
67
A título de exemplo, as 72 folhas da série na Escala 1:50.000 elaborada e
publicada pela Junta de Investigação do Ultramar entre 1953 a1963, já não se encontram
na Direcção Geral de Cadastro no Ministério das Infra-estruturas em Bissau, devido ao
longo período de uso sem novas edições. Da mesma forma, a única folha na Escala 1:
500.000 que cobre todo território nacional, publicada em 1961 pelo mesmo organismo
português, também encontra-se esgotada. Nunca existiram ortofotomapas, outra peça
fundamental de informação cartográfica ao público, para além das fotografias aéreas
que segundo os processos cartográficos antigos, são imprescindíveis para a foto-
interpretação. Achou-se por bem mencionar estas carências porque na ausência de
instrumentos gestão do território na política das cidades, o poder local pode se servir
desses elementos na elaboração de planos de pormenor ou no acompanhamento das
pequenas obras públicas.
As oito regiões administrativas mais o SAB que compõem o sistema urbano
guineense subdividem-se em trina e oito sectores administrativos também subdivididos
em secções e tabancas, constituem uma estrutura de forte interdependência baseada num
modelo policentrista tipicamente africano. Um sistema urbano onde os valores
tradicionais, hábitos e costumes étnicos ainda se misturam, sobrepondo o modelo
urbano europeu. É bom lembrar que, o actual modelo de organização da estrutura
urbana deve muito à consolidação das antigas aldeias (tabancas) fundadas
maioritariamente pelas populações agrícolas de diferentes grupos étnicos, em torno de
terras sobretudo quando apresentam várias aptidões para uso, excepto aquelas
anteriormente referenciadas que foram fundadas pelos comerciantes portugueses. A
especificidade, as características dos solos, a diversidade das práticas agrícolas etc., são
valores que os poderes regionais ou locais não souberam aproveitar, na medida em que
os seus eixos estratégicos pela vertente urbanística não reflectem uma abordagem
integrada suportada nas dimensões demográfica e funcional e nas orientações dos seus
Instrumentos de Ordenamento, onde se pode destacar uma estrutura polinucleada e
fortemente interdependente em cada região. Numa escala mais alargada, não é fácil
definir um sistema polarizado por centros urbanos com uma dimensão social e
dinamismo económico capazes de estruturar um novo modelo territorial.
68
3.2.2. A hierarquia das aglomerações urbanas guineenses
O estudo sobre a hierarquia das aglomerações urbanas para qualquer sistema ou
subsistema urbano, seja ao nível concelhio, regional ou mesmo nacional, tem de partir
da reflexão sobre o conceito de “Cidade” e das redes e sistemas que estão associados a
esta. Sobre este conceito, vimos que “O estudo da cidade é um tema tão sugestivo como
amplo e difuso; a sua abordagem por um só homem é impossível se tivermos em conta a
massa de conhecimento que ele teria de acumular. Pode estudar-se uma cidade sob um
número infinito de ângulos. O da história: «a história universal é feita de cidades» disse
Spengler; o da geografia: «a natureza prepara o local e o homem organiza-o de forma a
satisfazer as suas necessidades e desejos» afirma Vidal de la Blache; o da economia:
«em nenhuma civilização a vida das cidades se desenvolveu independentemente do
comércio e da indústria» (Pirenne); o da política: «a cidade segundo Aristóteles, é um
certo número de cidadãos; o da sociologia: «a cidade é a forma e o símbolo de uma
relação integrada» (Mumford); o da arte e arquitectura: «a grandeza da arquitectura está
ligada á da cidade, e a solidez das instituições costuma avaliar-se pela dos muros que as
protegem» (Alberti) ” (Goitia, 2003: 9).
Com base nesta reflecção, uma cidade pode ser vista e compreendida de várias
formas e interpretada igualmente sob diferentes pontos de vista, conforme o estrato
social, vivência, a cultura etc.. O caso da Guiné-Bissau é muito particular, uma vez que
em termos de génese de uma cidade segundo a tipologia ocidental, talvez seja apenas a
retícula de Bissau-Velho a reunir essas condições. Porque todos os assentamentos hoje
consideradas cidades capitais das regiões administrativas funcionaram em tempos como
entrepostos comerciais, erguidos e guarnecidos pelos brancos, com a exceção de
Quinhamel, Capital da região de Biombo. Prova disso, todos esses assentamentos
localizam-se nas margens dos rios ou nas suas embocaduras excetuando Gabu, porque
outrora eram servidos pelo transporte fluvial a partir de Bolama, antiga Capital da
colónia, até 1941. Infelizmente não houve tempo para desenvolver urbanisticamente as
cidades de Bafatá, Gabu, Catió, Bolama, Mansoa, Farim, Canchungo e S. Domingos tal
como se fez em Bissau, por causa da luta armada que durou onze anos. Por esta falta de
grandes ou médias cidades de referência, o atual Sistema Urbano Guineense continua a
ser um dos mais pobres a nível da arquitetura moderna. É um sistema urbano
constituído segundo a escala e o peso do país, por cidades em avançado estado de
degradação sobretudo nas malhas urbanas dos antigos centros coloniais, que pelo menos
69
ainda apresentam alguma “linguagem arquitectónica dos centros administrativos,
económicos, culturais, de serviços e residenciais das elites nacionais ou internacionais e
da pequena burguesia local” (MORAIS e RAPOSO, 2005, 90). Uma rede urbana onde
aparecem aglomerações populacionais dispersa, predominantemente rurais e com
profundas carências sociais. Um sistema urbano onde as redes de comunicação são
deficitárias, onde a distribuição da energia elétrica ainda com fraca, onde existem
problemas com saneamento de base, com a distribuição da água potável canalizada,
prolemas ambientais, com a saúde, educação etc.
Perante esta situação, podemos concordar com a seguinte tese: “São poucas as
administrações urbanas dos países em vias de desenvolvimento (PVD) que têm o poder,
os recursos e o pessoal treinado para disponibilizar à população em rápido crescimento,
espaço e serviços necessários a uma vida humana digna; sistema de saúde, escolas, água
limpa, saneamento e transportes” (Gameiro,2005:141). Em termos de Normativas de
carácter social, o actual sistema urbano guineense carece de uma estrutura urbana
propriamente dita, com equipamentos de carácter social e interdependência funcional.
O turismo e lazer com todo sistema a ele associado, ainda se encontram numa
fase muito incipiente. Quanto às normas específicas para o ordenamento do território,
não se pode enfatizar sobre o policentrismo uma vez que só Bissau tem a função do
único polo de atracção e responsável pela integração territorial como aspecto
fundamental. Como ainda não aconteceram as eleições autárquicas que possam permitir
para que cada Município garanta a gestão do seu território, os aspetos como a contenção
do edificado, proporcionalidade e programação das áreas urbanas, qualidade urbanística
etc., são da inteira responsabilidade da Câmara Municipal de Bissau quanto a SAB e do
Ministério das Infra-estruturas, quanto ao resto do país. Com o atual quadro desajustado
de desenvolvimento do país, não é fácil proceder a uma análise da hierarquia urbana,
porque o peso da ruralidade ainda é maior, o que requereria um trabalho de campo
muito profundo e demorado. Daí que, uma das formas encontrada foi considerar cada
região administrativa no seu todo, como uma unidade territorial a depender totalmente
de Bissau, não obstante, cada Capital Regional exerce simultaneamente a sua influência
sobre todos os seus Sectores Administrativos.
No que se refere à hierarquia urbana, na Guiné-Bissau podemos identificar três
grandes Sedes Regionais (Bissau, Bafatá e Gabu), onde pelo menos a economia de
70
mercado tem alguma expressão, devido a uma maior concentração da população ao
redor dos antigos centros coloniais detentores de algumas infraestruturas comerciais e
de serviços. As restantes Sedes estão confrontadas mais com a dispersão em pequenas
aldeias sem condições para qualquer competitividade interna pelo facto de serem
pequenas, limitando-se a sobreviver com total dependência na agricultura, pesca ou
economia informal. Quanto à funcionalidade, sabe-se que os sectores da saúde,
comércio, turismo, transporte e ensino são fundamentais para o bem-estar e a promoção
social. Porém, são os que apresentam mais fragilidades no atual sistema, contudo
existem alguns subsistemas regionais que, de uma forma tímida vão ajudando na criação
de postos de trabalho e na acumulação de riquezas no plano micro.
Em termos gerais, apenas a Capital Bissau e o Centro Urbano de Gabú sentem
forte pressão demográfica, motivada pelo papel que ambas desempenham como
importantes Centros de polarização económica a nível local e regional, principalmente
Bissau, como se pode ver na figura-16, sabendo que os restantes continuam a viver o
drama da degradação das antigas áreas urbanas herdadas do poder colonial.
Fig. 16 – Área de Influência de Bissau no Sistema Urbano Guineense
Fonte: Atlas de lusofonia, 2001, 38 (adaptação do autor)
71
Esta matéria vai ser recuperada e desenvolvida no capítulo das conclusões e
reestruturação do sistema urbano nacional. Iremos agora falar sobre as principais
cidades, seguindo a sua posição na hierarquia urbana.
a) A capital do país e as capitais das oito regiões
Bissau
Situado no tradicional (Chão de papel) numa área já frequentada pelos
portugueses desde 1446 na embocadura do rio Geba, “a então vila de Bissau, fundada
em 1776, como fortificação militar e entreposto de tráfico de negros, funcionou como
centro de comércio de muitos produtos autóctones durante muito tempo e como a sede
da Capitania Geral para a administração do território, fundada em 1630. Bissau era
Capital do distrito de Bissau que compreendia as fortificações de Bissau, Geba, Fá,
Ilhas de Bolama e das Galinhas, no arquipélago do mesmo nome” (Atlas da lusofonia,
2001:13-14).
Foi elevada à categoria de Cidade em 1914, sendo atualmente, e com base na
Constituição da República guineense e no quadro da administração do território,
designado Sector Autónomo Bissau (SAB) ver a foto-1 em baixo.
Foto 1- Vista Aérea do Centro da Cidade Capital da Guiné-Bissau (1966)
Fonte: Adrião Mateus; http://www.cart1525.com/aereas.html, 19-06-2011
72
Quanto ao enquadramento físico, o SAB é limitado a Este pelo grande canal do
Geba que o separa da região de Quinara, a Oeste pela região de Biombo, a Norte pela
região de Oio e a Sul pela região de Bolama Bijagós. Bissau ascendeu à categoria de
Capital da Guiné Portuguesa a 9 de Dezembro de 1941, tendo mantido esse título até 26
de Agosto de 1974, data em que foi reconhecido o Estado da Guiné-Bissau por
Portugal, “no acordo de Argel entre o Governo português e o PAIGC, que agendava a
independência da Guiné-Bissau para 10 de Setembro de 1974” (Atlas da lusofonia,
2001: 31).
A partir dessa data, a Cidade de Bissau tornou-se definitivamente Capital da
República da Guiné-Bissau, herdando um centro com uma estrutura funcional aceitável
para a sua escala de urbanidade. Segundo (Mendy, 2006), depois de construída a praça
de S. José em 1776, seguiu-se em meados de 1844 a construção do primeiro burgo,
guarnecido por uma muralha de pedras com cerca de quatro metros de altura nos
arredores onde todo tipo de comércio se desenvolvia, ver na figura-17. Essa
configuração não difere muito da dos actuais quarteirões que constituem o conhecido
Bairro de Bissau Bedjo (Bissau Velho, em crioulo). Muito tempo depois, o Porto Cais e
Pidjiguiti trouxeram novas dinâmicas á Baixa, em substituição de um antigo
desembarcadouro ali construído sob olhar atento dos Régulos Papeis, e que servia
apenas para abastecer a Praça.
Fig. 17- Plano do Burgo de S. José, protegido por Muralhas
Fonte: MENDY, 2006, 67.
73
Sendo uma Cidade que já apresentava algumas condições de habitabilidade para
a comunidade residente branca, não seria de estranhar que em 1923 fosse elaborado o
seu primeiro plano urbanístico, procedendo-se com a demolição dos bairros grumetes da
periferia para o alargamento do núcleo urbano existente. Foi igualmente demolido o
muro de guarnição do antigo burgo, rasgando novas ruas que definem os quarteirões do
centro da estrutura funcional e a chamada zona residencial da cidade, onde criaram
novas acessibilidades consoante os novos planos de zonamento. Ainda segundo Mendy,
2006, 15 de Junho de 1948, através do Decreto-Lei nº 1416, aprovou-se o Plano Diretor
de urbanização da cidade de Bissau, com novos alargamentos e definição de novos
limites. Até 1955, muitas alterações na ocupação de solo tiveram lugar na Cidade de
Bissau, com o surgimento da primeira coroa de bairros para a população assimilada e
para os funcionários da função pública. Mesmo sabendo que a ilha de Bissau apresenta
um péssimo ambiente orográfico devido a existência de variadíssimas linhas de água e
áreas de inundação com mais aptidão para agricultura cerealífera do que para ocupação
habitacional, a projecção dos Bairros de Santa Luzia a par de Cupelum, Sintra-Nema,
Reno, Gambiafada, Chão-de-papel Varela e Bandim, que já constituíam a primeira
coroa de alargamento do antigo núcleo, é sem dúvida, um pronuncio para um futuro
caótico na urbanização. Sabe-se que não foi fácil criar condições para urbanizar a baixa
de Bissau pelos motivos já invocados, a administração colonial teve de realizar um
grande trabalho técnico de drenagem dessas áreas pantanosas. Este primeiro passo
indispensável, não está acontecer nas áreas invadidas por uma nova onda de edificação
imobiliária nos últimos anos. Na ausência de instrumentos de planeamento e de
equipamentos técnicos, vagas de suburbanização que se seguiram estão a comprometer
o ambiente, a segurança e a saúde pública.
Houve um ligeiro abrandamento na expansão de Bissau, nos anos sessenta por
causa da guerra, mas logo após a independência tudo mudou, com a destruição das áreas
agrícolas urbanas que garantiam o fornecimento de hortofrutícolas á cidade. A
população não pára de aumentar em Bissau; segundo os dados do último
Recenseamento Geral, já habitavam nessa cidade 387.909 almas, numa pequena
superfície de apenas 77,5 km2. Ou seja, uma densidade populacional bastante elevada,
na ordem dos 5.005 hab/km2. Isso prova que Bissau ultrapassou e muito, a sua
capacidade de carga, tornando cada vez mais complicada a tarefa de ordenamento e da
sua gestão territorial.
74
Esta preferência por Bissau não é de todo uma novidade porque logo após as
investidas urbanísticas dos anos cinquenta, “Bissau passou de 22.000 habitantes antes
do eclodir da guerra para 30.000 habitantes ainda nos finais dos anos 60, uma situação
que mina um desenvolvimento harmonioso e progressivo para qualquer cidade negra e
que foi muito bem aproveitada pela Administração Portuguesa para dar soluções e
condições que não permita o regresso dessa gente para os seus ambientes anteriores.
Bissau, com 30.000 habitantes aglomerados em condições deploráveis, construções
erguidas arbitrariamente com materiais de ocasião sem grande fisionomia construtiva,
uma população de assalariados com vencimentos fracos num grande regime de
sublocação por falta de alojamento e muita procura. (...) ” (VARANDA,1965, 22-43).
Procurou-se este contributo para mostrar o tipo de impacte que a pobreza tem,
principalmente nas sociedades africanas onde quase falta tudo. A leitura que se pode
fazer da figura-18 pode resumir a preocupação a ter a com urbanização da cidade de
Bissau. Apenas o antigo núcleo residencial erigido na era colonial (em tom mais
carregado) cidade de alcatrão, apresenta as características de tipo ocidental. Apesar de
começarem a existir alguns pequenos núcleos legais, de morfologia homogénea, a
maioria dos bairros são de construção precária e sem rede de saneamento de base.
Alguns beneficiaram de pequenos projectos de melhoramento co-financiados pelos
parceiros bilaterais, o que é de louvar, não obstante, só serviram para adiar os
problemas.
Fig. 18- Cidade de Alcatrão e o 1º Anel de Expansão com construção precária
Fonte: Luís Graça, 2005,1
75
Na figura-19, pode-se ver que desde a independência até 2004, a Cidade de
Bissau já tinha perdido uma vasta área de terrenos agrícolas em favor do crescimento do
parque habitacional. Esses Terrenos, outrora potenciavam o cultivo de arroz e
hortofrutícolas para o abastecimento dos seus habitantes. Nos dias de hoje, praticamente
já não existem os terrenos inundáveis.
Fig.19 – Carta de Ocupação de solo, o Alargamento dos Bairros de Bissau em 2004
Fonte: MENDY, 2006, 135.
Gabú
É a maior cidade do Leste do país, capital da região com o mesmo nome. Gabu
já desempenhara um papel fundamental ao serviço dos impérios de Gana, Mali e
Songhay. Foi um grande centro de estudos corânicos durante o poderio mandinga do
império de Mali e Capital do estado independente de Futa Djalon e igualmente capital
de um pequeno Império Kaabu até ao século XIX, quando os Fulas dominaram e
estabeleceram a sua supremacia naquela região, após o desmoronamento do império de
Songhay. A cidade de Gabú chamava-se Nova Lamego, durante o período colonial e foi
muito crucial para as movimentações das tropas portuguesas naquela região.
Geograficamente, a região de Gabú fica no leste do país, limitada a Este pela fronteira
com a República da Guiné Conacri, a Oeste pelas regiões de Bafatá e Tombali, a Norte
pela fronteira com o Senegal e a Sul ainda pela fronteira com a Guiné Conakry. Tem
uma superfície de 9.150 km2
e habitada por pouco mais ou menos de 215.530
habitantes.
76
Orograficamente é a região que apresenta alguns planaltos mais a leste (colinas
do Boé), contudo não chegam a ultrapassar os 300 metros de altitude. Como recursos
naturais, a região de Gabu depende fundamentalmente da agricultura, pecuária,
comercio e da emigração. A Cidade de Gabú funciona actualmente como segundo maior
centro financeiro da Guiné-Bissau, onde muitos milhares de Fcfa são movimentados por
dia, graças ao controlo das importações vindas do Senegal e Guiné Conacri por via
terrestre. Urbanisticamente Gabú aposta fortemente na construção de habitações e na
recuperação dos imóveis públicos da herança colonial ainda preservados no centro da
cidade embora em avançado estado de degradação. Segundo nosso entrevistado durante
o trabalho de campo (30-03-2011), Laurindo Lassana Daramé, Delegado Regional de
Planeamento em Gabú, entre muitas outras declarações, destacou a importância de um
contrato de quatro anos que o governador da região Sr. Pedro Moreira Embaló, assinou
com a empresa Eléctro Solar SA, (propriedade de um jovem empresário natural de
Gabú mas que há muitos anos emigrado na Holanda) para o fornecimento da energia
elétrica. Alega que o projeto tornou a Cidade de Gabú a primeira do país depois da
independência, a ser fornecida eletricamente 24 horas por dia. Concluiu dizendo que a
contribuição como aquela, por parte dos emigrantes de Gabú, tornara a cidade mais
atrativa e com um grande peso na hierarquia da rede urbana nacional.
Bafatá
Bafatá, é Cidade Capital da região com o mesmo nome, situada no centro do
país. Geograficamente a região de Bafatá é limitada a Este pela região de Gabú, Oeste
pela região de Oio, a Norte pela fronteira com o Senegal e a Sul pela região de Quinara.
Orograficamente a região de Bafatá também apresenta um vasto planalto com algumas
elevações resultantes do prolongamento dos planaltos da região leste.
Territorialmente tem uma superfície de 5.981,1Km2 onde habita uma população
de pouco mais ou menos 210.007 habitantes. Tal como Gabú, a Cidade de Bafatá tem
grande peso na história da Guiné-Bissau, possui marcas da influência Árabe, mesquitas
e escolas corânicas, contudo, também tem uma das mais antigas comunidades católica
na Guiné-Bissau depois de Cacheu e Geba. Foi lugar onde nasceu a 12 de Setembro de
1924, o fundador da nacionalidade guineense, Amílcar Lopes Cabral. Foi palco de
muitos e sangrentos confrontos entre Fulas e Mandingas na época da queda do Império
do Mali, mesmo durante a ocupação do Império de Songhay devido ao aparecimento
77
dos pequenos reinos rivais que se afirmavam um pouco por toda a região de moriá, à
revelia do controlo do reino de Futa Djalon.
Segundo o Sr. Adriano Pereira (Atchutchi), Administrador da região de Bafatá,
também nosso entrevistado durante o trabalho de campo em Março de 2011, a cidade de
Bafatá enfrenta graves problemas ligados com a degradação do antigo tecido urbano tal
como muitas outras cidades do país. Realçou no entanto a importância que a bacia do
Geba representa para a cidade, na disponibilização de boas terras para o cultivo
cerealífero e para a criação de gado, atividades de que toda região depende, para além
da pesca que ali se pratica e do para além do comércio. Disse que graças às valências
dessas terras, a Cidade de Bafatá continua a beneficiar de Projecto agrários e outros que
as ONG através de assinaturas de acordos com o poder local, desenvolvem, o que é uma
mais-valia para a criação de postos de trabalho e para a manutenção da fixação das
pessoas, sobretudo os técnicos profissionais. A Cidade de Bafatá acompanha
economicamente os ritmos de Gabú, beneficiando da boa estrada que liga as duas
cidades e do posto alfandegário de Cambadju na fronteira com o Senegal. Daí, o alastrar
do tecido suburbano ao longo das principais vias fora do antigo núcleo urbano colonial.
Cacheu
Cacheu, é Cidade Capital da região com o mesmo nome. A região de Cacheu
situa-se no norte do país, limitada a Este pela região de Oio, a Oeste pelo Oceano
Atlântico, a Norte pela fronteira com o Senegal e a Sul pela região de Biombo e pelo
mar. A região de Cacheu compreende 5.174,9Km2, onde habita uma população de
192.508 habitantes, ou seja uma densidade populacional de 37,20 hab/Km2. A cidade de
Cacheu goza de grandes privilégios históricos por ser o primeiro ponto de contacto dos
navegadores portugueses com a costa ocidental africana, em 1446, consequentemente o
atual território da Guiné-Bissau.
Foi a primeira povoação na Guiné-Bissau a ter construções com traços europeus,
desde a construção do primeiro forte em 1588. Torna-se mais tarde numa sede das
primeiras autoridades coloniais de nomeação régia, “ os capitães-mor”. Sabe-se que
depois da Cidade Velha na ilha de Santiago em Cabo-Verde, Cacheu possui a mais
antiga igreja católica do continente Africano e um dos importantes centros onde se
desenvolvia o comércio de diversos produtos. Situa-se na margem sul do Rio com o
mesmo nome que se prolonga até Farim. Segundo o atlas da lusofonia, Cacheu chegou a
78
ser capital do Distrito que compreendia as fortificações de Bolor, Cacheu, Ziguinchor e
Farim.
A Região de Cacheu, é habitada predominantemente pelos Manjacos, Brames e
Felupes, dependendo basicamente da agricultura e pesca. A própria Cidade de Cacheu é
muito visitada pelos turistas por questões históricas, no entanto, ainda depara com uma
profunda falta de boas acessibilidades. A única estrada regional de ligação com o sector
de Canchungo, quando por algum motivo torna intransitável, a Cidade fica isolada do
resto do país. Localiza-se na margem sul da embocadura de um rio com uma razoável
profundidade para a navegação, no entanto nunca se desenvolveu meio de transporte
aquático de pessoas e bens, que pudesse garantir a ligação entre as suas margens, ou
melhor continuar a navegação até a cidade de Farim como antigamente.
Por todos estes constrangimentos, para além do palácio do Governo, o porto, um
forte histórico e alguns edifícios da antiga urbe colonial que ainda fazem de Cacheu
uma cidade a escala da Guiné-Bissau, Canchungo está muito bem posicionado para
dominar na hierarquia das cidades na região, por estar munido de um Hospital Regional
e de muitas infraestruturas de comércio e serviços.
Farim
É a cidade Capital da região de Oio, localizada no centro do país.
Geograficamente, a região de Oio encontra-se limitada a Este pela região de Bafatá, o
Oeste pelas regiões de Cacheu, Biombo e pelo SAB, a Norte pela fronteira com o
Senegal e a Sul, banhada pelo grande canal do Geba. É uma região relativamente plana,
atravessada por dois importantes rios, o Rio de Cacheu e de Mansoa, compreende uma
superfície de 5.403,4 Km2 com uma população de pouco mais ou menos 224.644
habitantes. Tal como Cacheu, a cidade de Farim tem um enorme peso na história do
nacionalismo guineense. Segundo Atlas da lusofonia, Farim foi uma povoação fundada
na margem norte do Rio Farim em pleno chão mandinga, pelo Capitão-mor de Cacheu,
Gonçalo de Gambôa em 1641, onde mais tarde no ano 1692 viria edificar um forte.
Funcionou durante muito tempo como entreposto comercial controlando todas as
actividades a montante do Rio Candjambari.
Os nativos dessa região nunca suportaram a presença de brancos, pelo que uma
casa francesa (ex-alemã), Soller, dentro do “triângulo Farim-Bissorã-Carenque Cunda”
79
(PÉLISSIER, 2001: 144) chegou a ser alvo da cobrança de imposto a favor de Oincas
ou seja, Soninquês animistas de Oio e Balantas. Desde as campanhas de Francisco
António Marques Geraldes em 1886 até Júdice Biker em 1902 em Oio, (…) esta sempre
foi uma “região considerada a mais hostil a ocupação portuguesa, que na história da
Guiné é o coração duro por excelência anticolonial” (idem). Esta prepotência viria a ter
o seu fim apenas em 14 de Maio de 1913 com as investidas do então chefe de estado-
maior António Teixeira Pinto coadjuvado pelos chefes de mercenários Abdul Injai
(Uolof senegalês), Mamadu Cissé (mandinga) e seus homens.
Da mesma forma, foi uma das regiões que causaram pesadas baixas aos
portugueses durante a luta de libertação nacional de 1963 a 1974. Trata-se de uma
região muito pobres, predominantemente rural e com poucas acessibilidades na margem
norte do rio Farim. A Cidade de Farim apresente actualmente dois importantes núcleos
urbanos separados por um rio, o antigo centro e o Bairro Nema, com algumas estruturas
funcionais á escala local para garantir a procura. Os outros centros como Mansoa e
Bissorã estão a crescer sem grandes ligações económicas com Farim, uma vez que estão
mais polarizados por Bissau.
Bolama
Desde 1892 que a Cidade de Bolama já era vista como aquela que transmite “um
certo ar citadino com um wharf de 70m e, pelo menos, seis grandes casas comerciais,
entre as quais as de Aimé Olivier Cidade de Sanderval, Blanchard et Cie, Gouveia etc.”
(PÉLISSIER, 2001: 25). Bolama foi igualmente Capital da província Portuguesa da
Guiné por muitos anos, com toda estrutura funcional bem assistida por Lisboa e dotada
de algumas infra-estruturas e equipamentos estruturantes. O porto, Tribunal, Hospital,
Alfândegas e imprensa nacional. É hoje a Capital da Região Administrativa de
Bolama/Bijagós, a mais insular de todo país, com mais de oitenta ilhas e ilhéus que
compõem o arquipélago dos Bijagós. Limitada a Este pelas regiões de Quinara e
Tombali, a Oeste e Sul pelo Oceano Atlântico e separada da parte continental a Norte
pelo grande canal do Geba. Tem uma superfície de 34.563Km2 onde reside uma
população de 2.624,4 habitantes da etnia bijagó na sua maioria.
Bolama foi uma cidade mítica guineense, com histórias riquíssimas do passado.
Sabe-se que após a consolidação dos portugueses no território, os Ingleses em 1800
começaram a fazer sentir a sua influência na região, em particular na ilha de Bolama.
80
Isto originou algum mau estar e fricção entre as chancelarias Inglesas e Portuguesas,
provocou em 1870 a intervenção do antigo presidente dos EUA, Ulysses Grent que viria
dar razão a Portugal, obrigando a Inglaterra desistir das suas intenções.
Bolama esteve durante séculos sob olhar de vários “interesses imperialistas
africanos, europeus, euro-africanos e americanos” (BROOKS, 1991), não se esquecer
que “só na década de 1830 é que os comerciantes franceses começaram a conquistar a
margem superior do Casamansa e os Oficiais navais franceses recuperaram a confiança
no Sul ao longo da Costa da Alta Guiné” (ESTEVES, 1988: 49-65) citado por
(BROOKS,1991), entretanto Caetano Mussolini e Mãe Aurélia tinham-se tornado nos
comerciantes que dominavam nos rios Geba e Grande e tinham iniciado as plantações
ao longo da costa Oeste de Bolama, segundo a mesma fonte.
A região de Bolama foi onde se introduziu pele primeira vez o cultivo de
amendoim em toda Guiné quer para o consumo interno ou para exportação (ver anexo-
2), graças a força produtiva de escravos. Pela sua insularidade, Bolama tem vindo a
degradar-se ao longo dos anos, desde a transferência da Capital para Bissau a 9 de
Dezembro de 1941, apesar de inúmeras iniciativas de melhoramento funcional levadas
acabo pelo antigo e primeiro presidente do pós guerra, Luís de Almeida Cabral, com a
instalação da Escola Piloto, Liceu, escola de formação de professores, construção e
desenvolvimento de algumas pequenas indústrias transformadoras. Bolama tornou-se
hoje numa cidade degradada com vários edifícios devolutos.
Quinhamel
É uma pequena aldeia no centro do (chão papel), ascendeu a categoria de Capital
da Região de Biombo com a última divisão político-administrativa de 1996. A região de
Biombo é limitada a Este pelo Sector Autónomo de Bissau (SAB) e região de Oio, a
Norte e Oeste pela região de Cacheu e a Sul, banhada pelo Oceano Atlântico onde se
encontra o Arquipélago dos Bijagós a algumas milhas da costa. Ocupa uma área de
pouco mais ou menos de 838,8 Km2 onde vivem cerca de 97.120 habitantes, o que faz
com que apresente uma alta densidade populacional na ordem dos 115,78 hab./Km2. É
uma região maiortariamente rural, possui algumas praias muito frequntuadas pela
juventude de Bissau e por turistas.
81
Em termos urbanístico, Biombo é uma das regiões com mais carências, não
possui equipamentos e infra-estruturas. Durante a era colonial, Quinhamel chegou a
categoria da Sede de Posto Administrativo a par de Prabis, em toda área da actual região
de Biombo. Funcionalmente essa região contava apenas com dois centros animados por
organismos religiosos e de solidariedade social a saber: Centro de Leprosaria de
Cumura, a cargo das Missões Franciscanas e a própria Missão Católica de Quinhamel
que por várias vezes acolheu a mocidade portuguesa para juramento de bandeira.
Em termos económicos, tanto Quinhamel como toda região de Biombo ainda
dependem exclusivamente da vizinha Bissau. Existem algumas tabernas espalhadas por
alguns aglomerados populacionais com a função de espaços de convívio, todavia sem
capacidades para garantir a procura. Aliás a maioria dos produtos frescos ali cultivados
são diariamente escoados para o mercado de Bissau. A mobilidade de pessoas e bens,
educação e serviços de saúde constituem maiores problemas com que os governantes de
Quinhamel se deparam.
Buba
A Cidade de Buba já foi a Sede de Posto Administrativo na Circunscrição de
Tite até ao 25 de Abril de 1974, sendo actualmente a Capital da Região de Quinara. Não
se esquecer que foi em Tite que “o primeiro ataque armado eclodiu a 23 de Janeiro de
1963, contra as instalações de um aquartelamento das Forças Armadas Portuguesas”
(Atlas da lusofonia, 2001: 25). A região de Quinara localiza-se no interior do país,
recortada por muitos rios e ribeiros, limitada a Este pela região de Bafatá, a Oeste pela
região de Bolama Bijagós, a Norte banhada pelo grande canal do Rio Geba, que a
separa da região de Oio e a Sul pela região de Tombali. Trata-se de uma região com
uma superfície de pouco mais ou menos 3.138,4 Km2 e onde habitam 63.610 habitantes.
É uma região com potencialidades para a prática da caça e do turismo de campo.
Localizada numa área muito fustigada pela guerra dos anos sessenta e princípio
dos anos setenta, a cidade de Buba cresceu sem nenhum plano urbanístico, com a
excepção do quartel e do edifício da Sede de Posto Administrativo. Tinha um porto
rudimentar actualmente em ruína, mas que durante a guerra colonial foi muito
fundamental para as movimentações das tropas portuguesas. No capítulo da economia
local, Buba não possui grandes infraestruturas nem equipamentos para assegurar muitos
postos de trabalho na sua estrutura funcional, se não a única Fábrica de Contraplacados
82
FOLBI que funcionou até primeira metade dos anos noventa e o Projecto de
abastecimento de água. A grande maioria da população ativa sempre viveu da
agricultura, pesca e de pequenos comércios que muito timidamente tentavam rivalizar as
lojas do Armazém do Povo e SOCOMI, que se podiam entender como monopólio do
Estado antes do multipartidarismo e liberalização do comércio.
Segundo o entrevistado Sr. Jaime Teixeira, Delegado de Urbanismo em Buba, a
cidade está a ganhar vida com as instalações do estabelecimento escolar para o terceiro
ciclo assim como da casa de acolhimento da Missão Católica de Buba participa
ativamente na formação e acompanhamento de crianças e jovens da cidade e da região.
Falou ainda das preocupações como a Cidade de Buba está a tornar nos últimos anos,
alvo de uma grande especulação fundiária para construção habitações, motivada pela
anunciada construção do Porto das Águas Profundas e uma linha de caminho-de-ferro
que o ligará á rede ferroviária internacional daquela sub-região africana.
Catió
Catió desempenha atualmente a função de Cidade Capital da Região de Tombali,
embora já tenha sido Sede de Circunscrição por muito tempo durante a era colonial. A
região de Tombali localiza-se no sul do país, sendo limitado a Este pela fronteira com a
Guiné Conakry, a Oeste pelas regiões de Quínara e Bola Bijagós, a Norte pelas regiões
de Bafatá e Gabú e a Sul, banhada pelo Oceano Atlântico. A região de Tombali tem
uma extensão de 94.939 Km2 com 3.736,5 habitantes espalhados em pequenas
povoações por toda região. Toda região é suportada pela agricultura e pesca. Aliás, por
causa dessa ruralidade, possui boas condições para a prática de turismo de lazer, através
dos seus rios que se estendem por interior dentro.
A cidade de Catió funcionou como um importante centro económico que
abastecia e controlava toda sua área de influência, tinha alguns equipamentos
estrururantes tais como a Sede da Circunscrição, o quartel, o Mercado Central Santa
Maria da Feria de Catió e alguns edifícios comerciais de particulares, numa região
muito estuarina e de dificil mobilidade. Com o eclodir da guerra tudo mudou, porque
toda essa região transformou-se num perigoso palco de sucessivos combates, daí que a
pista de Cufar crucial para o estabelecimento de ligação aérea com Bissau. Não se
esquecer que Catió e Cacine ficam no coração da primeira zona libertada, cujos dois
bem conhecidos corredores da morte (Guileje-Gadamael e Cacoca-Cacine) de má
83
memória para as tropas portuguesas que por lá passaram. Basta recordar que o 1º
Congresso do PAIGC realizado de 13 a 17 de Fevereiro de 1964 aconteceu em Cassacá,
a uns escassos 15 Km a sul de Cacine para avaliar o à-vontade com que os guerrilheiros
de Cabral já se movimentavam naquelas matas do Cantanhez, junto da fronteira com
Conacri. A não existência hoje de mais centros urbanos importantes nesta região para a
rede nacional, foi em parte, a permanente instabilidade que ali se vivia por causa da
guerra.
b) As outras aglomerações urbanas
Por questões muito mais históricas e culturais do que de peso funcional de cada
uma, muitas outras aglomerações urbanas mereciam ser referenciadas nesse trabalho,
porque muitas apresentam uma estrutura funcional completamente de tipo rural.
Começando pela região de Gabú, as aldeias de Pirada e Piche são fundamentais
para o controlo dos fluxos comerciais nas fronteiras com o Senegal e Guiné Conakry
respectivamente. Madina do Boé a sul da cidade de Gabú, foi onde o PAIGC
proclamou unilateralmente a independência da Guiné-Bissau a 19 de Setembro de 1973.
É atualmente uma povoação em profundo abandono. Por último Sonaco que já foi sede
de posto administrativo, é hoje sede de sector. Todas estas aldeias só dependem da
agricultura, pequenas tabernas e das atividades dos djilas (vendedores ambulantes) que
através de bicicletas ou de outros meios rudimentares fazem a ligação comercial entre
os centros urbanos com o mundo rural.
Na região de Bafatá, destacam-se as povoações de Contuboel que sempre
funcionou como posto de controlo dos fluxos comerciais via Sare Bácar e Cambajú na
fronteira com o Senegal, e ainda a aldeia de Bambadinca que se situa num importante
nó rodoviário na bacia do Geba. Qualquer uma destas duas povoações está a crescer
ultimamente, tirando partido das funções que desempenham como pontos de ligação
entre algumas cidades importantes no sistema urbano nacional. As duas já têm algumas
infraestruturas para o desenvolvimento das atividades comerciais e de serviços.
Na região de Oio destacamos as aldeias de Mansoa, Bissorã e Mansabá gozam
do mesmo favoritismo, situam-se em importantes nós rodoviários, apresentando fortes
potencialidades para no futuro tornarem em grandes polos de influência na rede urbana
84
regional. De salientar que Mansoa já possui um Hospital com equipamentos modernos,
para além do tão falado Quartel de Mansoa como segundo baluarte da Defesa Nacional.
Na região de Cacheu por outro lado, destacam-se as aldeias de Canchungo
(antigo Teixeira Pinto), Bula, Ingoré e S. Domingos que, com a construção das duas
pontes regionais sobre o Rio Mansoa e Rio Cacheu, têm estado a crescer
urbanisticamente. Aliás, a aldeia de S. Domingos na fronteira com a região de
Casamansa (Senegal), há muito que funciona como centro de polarização naquele
Sector Administrativo. Por fim, destaca-se a povoação de Bubaque na região de
Bolama Bijagós, que tem sido um polo de influência no centro do arquipélago. Possui
um porto rudimentar, uma pista de aviação e boas praias, ou seja, boas condições para
desenvolver o turismo.
3.3 – As actividades urbanas e o funcionamento do sistema urbano: o peso da
informalidade;
Com todas as instabilidades que sempre acompanharam a emancipação do povo
guineense ao longo da sua história, as atividades urbanas e o funcionamento do sistema
urbano têm passado por vários atropelos, o que pode levar a considerar a tese de que “ O
comércio e as indústrias não podem desenvolver-se em regiões que não dominamos,
onde tratamos de potência para potência com régulos sempre prontos a humilhar-nos,
lutando contra raças que nos são hostis na quase totalidade dos casos e que se
habituaram a considerar-nos como incapazes de os submeter… O prestígio do Francês
invade o nosso território e a comparação entre ele e nós cobre-nos de vergonha” Alfredo
Cardoso Soveral Martins (1893), in (PÉLISSIER, 2001:19).
Trata-se de uma análise que pode traduzir na íntegra o atraso motivado pelo
choque entre o cruzamento de vários grupos étnicos diferentes, que sempre gladiaram
pela posse das terras, choque entre diferentes culturas (europeus e nativos), choque entre
diferentes religiões (animista, muçulmana e Cristã). É um pormenor muito importante
que deve ser bem analisado no contexto de desenvolvimento da Guiné-Bissau como um
país. A arrogância e intolerância, as guerras interétnicas e as rivalidades entre regulados,
sempre minaram o sentimento da unidade nacional, facilitando a infiltração das forças
estrangeiras cujo objectivo principal passa pela exploração dos recursos.
85
Até 1936, ano em que se deu por terminada as campanhas de pacificação em
todo o território guineense, as fronteiras entre regulados encontravam-se ainda muito
evidentes, bem respeitadas e fortemente guarnecidas pelos nativos, razão pela qual os
portugueses tiveram dificuldades acrescidas em vingar e fazer respeitar as suas políticas
que podia contribuir para o desenvolvimento. O antigo modo de vida teve raízes
profundos nas populações e, a cada chefe tribal cabia-lhe defender a todo custo todas as
tabancas do seu território sem nenhuma noção de complementaridade e de coesão. Não
foi nada fácil o reconhecimento do traçado da divisão político-administrativa imposta
pela administração colonial por parte dos nativos, sem que se recorresse ao uso da força.
A par de tudo isso, as pretensões de controlar o mercantilismo em toda região
norte do território guineense por parte dos presídios franceses no Senegal, ajudou ainda
mais a complicar as coisas, uma vez que segundo Pélissier, e, como forma de
desestabilização, sempre apoiaram o temível Mussa Molo da região de firdu com a sua
máquina de guerra no domínio de todos os regulados inimigos junto da fronteira com
Casamansa. Firdu era uma região sob o controlo de um régulo fula-preto Mussa Molo e
que se estendia desde alto Gambia, Casamansa até ao norte da região de Bafatá e Farim.
Era uma região de muito interesse por parte dos comerciantes franceses no sertão. Não
se esquecer que as actividades da delimitação da fronteira oriental iniciada em 1888
decorriam com muitas dificuldades e tiveram de parar pelas razões já invocadas, mas
também por falta de segurança nas terras inimigas que mal se conhecia. Todos esses
episódios dificultaram bastante as autoridades portuguesas na organização territorial,
social e funcional da Guiné, fazendo com que o sistema urbano continuasse cada vez
mais debilitado e fragmentado. Actualmente apenas existem dois grandes corredores ou
eixos geradores de rendimentos e de conexão do sistema com Bissau, onde mais ou
menos se estabelecem as relações entre os centros urbanos, interacções e
interdependências. O eixo que vai de Bissau a Gabú e o de Bissau a S. Domingos, sendo
o resto do país permanece disperso e predominantemente rural com fraca articulação ao
sistema.
Relativamente às atividades, sabe-se que o sector terciário sempre empregou
uma pequena franja da população guineense, embora durante muitas décadas esteve sob
o controlo da Metrópole e da Companhia de Comércio e Exportação da Guiné (antiga
Casa Gouveia) até a independência em 1974. A maioria da população é analfabeta e
ligada a agricultura e pesca. Existiam pequenos e poucos centros urbanos mais ou
86
menos estruturados com alguns serviços básicos que funcionavam como polos de
atração nas suas áreas de influência. Muitos desses centros ainda existem, constituindo
as chamadas Capitais das Regiões, porém, Bissau continua a monopolizar o sistema na
sua generalidade.
No que diz respeito ao desenvolvimento da economia de mercado, pouco se tem
feito, ou seja, “Guiné-Bissau está fortemente dependente da exportação da castanha de
caju, como principal fonte de divisas. A diversificação dos produtos agrícolas - uma
consequência da diversificação económica, torna-se essencial para a redução de riscos
económicos relacionados com as mudanças climáticas ou desastres naturais quando se
depende de um só produto. É também importante que o país comece a processar
internamente a sua castanha como forma de lhe agregar valor acrescentado e criar
empregos para a sua população, considerando a enorme taxa de desemprego na camada
juvenil” (http://www.onu-guineebissau.org/profil.htm, consultado em 21-09-2010).
Tal como em qualquer país do terceiro mundo ou em vias de desenvolvimento, a
informalidade joga hoje na Guiné-Bissau um papel preponderante na economia das
populações. Vítimas de cíclicas sublevações político-militares, as populações da Guiné-
Bissau viram-se obrigadas a fazer face à vida, na ausência das responsabilidades do
Estado como o único maior empregador. Influenciada pelos países vizinhos e dominada
pela pobreza extrema, a Guiné tornou-se refém de si própria, com profunda crise social
caracterizada pela perda de valores morais e de respeito pela pessoa humana.
O desemprego, a insegurança, a corrupção, a impunidade etc., sustentaram a
prática das actividades ilícitas na informalidade que á pouco e pouco, vai minando o
espaço do comércio formal e da economia de mercado. Longe do controlo das
autoridades do comércio, tudo é comercializado muitas vezes em deploráveis condições
de higiene, quanto aos produtos alimentares. Daí que, no quadro regional, o cálculo do
Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC), que se trata de “um indicador de
inflação mais apropriado para comparações entre os diferentes Países da União
Económica Oeste Africana UEMOA” (INE, 2011) a Guiné-Bissau continua com
instabilidade na sua balança comercial como se pode ver no quadro-9. Aliás, “o
desenvolvimento do IHPC recorre da necessidade expressa no tratado da UEMOA em
relação aos critérios de convergência, medir a inflação numa base comparável em todos
Estados Membros”( INE, 2011). Segundo a mesma fonte, o Banco Central dos Estados
87
da África Ocidental (BCEAO) utiliza este indicador desde Janeiro 2003, como
instrumento para aferir a estabilidade dos preços dentro da área do Franco CFA (XOF).
Quadro 9-Evolução geral do IHPC nos Estados Membros da UEMOA – Agosto 2010
Fonte: Instituto Nacional de Estatística “INE / Gabinete do IHPC / 10 Fevereiro 2011
N° 11
Relativamente a Guiné-Bissau, mesmo com a inflação anual de 0,3% prevista
para 2011 segundo o índice harmonizado de preços no consumidor, espera-se uma
variação de preços na ordem de 0,6% no primeiro mês principalmente nos produtos
importados, e de 5,6% para os três meses (Setembro, Outubro e Novembro) onde a
procura é mais acentuada, acima da Costa de Marfim, Senegal, e Benim. O fraco poder
de compra das famílias fez recuar a corrida aos tradicionais mercados municipais, uma
vez que nos últimos anos, pode-se encontrar de tudo em qualquer varanda, passeio, beco
ou rua de Bissau. O sector primário e a informalidade continuam a dificultar as
estratégias do governo assim como a concretização da política de urbanidade, porque
muitos sectores na função pública continuam por reformar, condição indispensável para
uma rápida retoma na economia nacional face às exigências dos parceiros de
desenvolvimento na região. Nunca poderá haver uma boa gestão da coisa pública na
Guiné-Bissau enquanto persista a corrupção, peculato e prepotência no seio dos titulares
de órgãos de soberania.
3.4 – Os problemas da gestão urbana: infra-estruturas, equipamentos colectivos,
rede viária e sistema de transportes;
O problema da gestão urbana na Guiné-Bissau constitui um caso paradigmático
porque a dicotomia urbano/rural ainda representa um grande fosso, atendendo a uma
88
democracia representativa que se vive no país desde 1994. Continuou a ser o próprio
Estado a assumir a governação do território de modo totalmente centralizado e
desconcentrado para as regiões, onde os problemas da gestão urbana permanecem muito
preocupantes. Segundo a Constituição Nacional da República no capítulo VI (poder
local) da lei constitucional nº1 de 1996, no primeiro ponto do artigo 105º, diz-se que a
organização do poder político do Estado compreende a existência das autarquias locais
que gozam de autonomia administrativa e financeira. No segundo ponto do mesmo
artigo encontramos que as autarquias locais são pessoas colectivas territoriais de
órgãos representativos que visam a prossecução de interesses próprios das
comunidades locais, não se subtraindo á estrutura unitária do Estado. O paradoxo de
tudo isso, é que não se compreende o que estará nas origens de constantes convulsões
político-militar que continuam a dificultar a criação das referidas autarquias até a
presente data. Os actuais governadores regionais estão sem autonomia técnica e
financeira para fazerem face a inúmeros problemas que minam o desenvolvimento
sustentado local.
A gestão urbana é um exercício multidisciplinar contínuo, difícil mas necessário
em qualquer território, pelo que se exige a participação exemplar dos órgãos de
soberania em colaboração com os agentes privados com algum interesse e boa vontade,
para assegurar as dinâmicas urbanas e socioeconómicas como forma de melhorar o
padrão de vida das populações. Sempre que possível, é necessário avaliar a própria
qualidade de vida e o equilíbrio do município ou do país em geral, no domínio do
espaço urbanizado, o seu ambiente, as acessibilidades, assim como a oferta de
equipamentos e serviços públicos, o que não se verifica na Guiné-Bissau por falta de
condições financeiras como sempre alegam os sucessivos governos.
No que diz respeito às infra-estruturas, a Guiné-Bissau continua a deparar com
profunda carência no seu todo. Apenas um Aeroporto Internacional, um Porto Marítimo
com capacidade para atracar dois navios de longo curso e dois Estádios de futebol com
o relvado. Quanto aos Equipamentos Colectivos, quer sejam Desportivos, de Educação,
Saúde, Segurança Pública e de Solidariedade e Segurança Social, dos pouco que a
independência herdou, muitos encontram-se em avançado estado de degradação ou já
não têm capacidade para responder a procura. A grande maioria que constitui a
propriedade do Estado e do Governo, concretamente os Quartéis, Instalações prisionais,
Hospitais, Centros e Postos de Saúde, Escolas etc., espalhados por todo país, necessitam
89
de uma reabilitação séria e urgente. O Hospital Nacional Simão Mendes por exemplo,
assim como os regionais de Bafatá, Gabú, Canchungo e Mansoa, necessitam igualmente
de profundas obras de reabilitação e de novos equipamentos técnicos. O 3 de Agosto ou
antigo Hospital Militar nos arredores de Bissau, muito conhecido e prestigiado na era
colonial, não teve a mesma sorte e acabou devoluto, estando hoje em avançado estado
de ruína.
A questão da rede viária já referida anteriormente e o sistema de transporte,
continuam a ser um entrave para o desenvolvimento da Guiné-Bissau quanto a sua
conectividade com os países fronteiriços da sub-região. STECK, Benjamin em
(Questions de Géographie, 2003) afirmara que, para que os Estados africanos em geral
e os da África d Oeste em particular, possam desenvolver as suas potencialidades
naturais, económicas e humanas, é necessário confrontarem-se com o imperativo da
circulação. Disse ainda que as redes de transporte são os vectores territoriais que
comandam logicamente as sociedades humanas e condicionam o seu futuro enquanto
revelam as heranças que devem assumir. Eles são “às vezes, o suporte, a condição e a
concreta manifestação das mudanças de toda natureza que possa gerar”, citando (Jean
Marc Offner e Denise Pumain, 1996).
Concordo plenamente com o STECK Benjamin, porque a rede viária guineense
ficou muito tempo esquecida, logo após o golpe de estado de 1980. A única empresa
pública de transportes «Silô Diata» que operava de Bissau para as regiões de Cacheu,
Oio, Bafatá e Gabú entrou na insolvência, acabando por abater toda a sua frota. Os
barcos que garantiam o transporte marítimo entre Bissau e a região de Bolama-Bijagós,
pararam por falta de manutenção. Em termos gerais, a Guiné-Bissau continua com mais
ou menos 30% das suas estradas alcatroadas, com apenas uma faixa de rodagem para
cada sentido na sua maioria, onde o perfil transversal nunca ultrapassa os 7 metros.
Existem muitas pontes e pontões danificados, o que dificulta a mobilidade de pessoa,
bens e materiais. Apesar da construção das pontes regionais sobre os rios Mansoa e
Cacheu, respectivamente a ponte Amílcar Cabral em João Landim, inaugurada a 9 de
Maio de 2005 e da ponte Euro-africana em S. Vicente, igualmente inaugurada a 19 de
Julho de 2009, ver as fotos 2 e 3, para além dos demais equipamentos públicos
construídos de raiz ou reabilitados pelo atual executivo, os problemas com as
acessibilidades ainda são muito preocupantes.
90
Não é segredo nenhum, a Guiné-Bissau depende fortemente do exterior. Por
isso, perante a velocidade com que as sociedades estão hoje confrontadas quanto ao
crescimento e desenvolvimento, é urgente que os organismos de tutela comecem a ter
outra postura e um papel proactivo no Planeamento e Ordenamento do Território como
forma de melhorar as condições de vida das pessoas.
Fotos 2 e 3 – Ponte Amílcar Cabral e Ponte Euro-africana
Fonte: Fotos de Google Earth, (24-02-2012) adaptado pelo autor
No atual contexto da sociedade de conhecimento, o desenvolvimento é
indispensável. Assim sendo, não se compreende porquê é que a Guiné-Bissau não
consegue libertar-se dos últimos lugares dos países mais pobres no ranking mundial em
que se encontra há muitos anos, com mais população rural do que urbana? O
patriotismo e a vontade dos seus filhos deviam estar acima de todas as diferenças
étnicas e pessoais, sob pena de se transformar num país falhado. São tantas as
espectativas do cidadão comum em ver o país modernizado para acompanhar a
globalização, numa política coerente e corajosa de gestão territorial, alicerçada numa
visão estratégica e integralista no âmbito da nossa sub-região.
Até esta data em que está a ser feito o trabalho, muitas estradas e ruas de Bissau
apresentam péssimas condições de praticabilidade mas a luta pela vida obriga a
constantes cenários como este da foto-4, onde tudo se mistura, pessoas, Táxis, Toca-
toca, veículos particulares etc., num clima de caos com extrema poluição sonora e
ambiental, onde se perder muito tempo com engarrafamentos e acidentes nas horas de
ponta ou fora delas, em percursos relativamente curtos. O sistema de transportes assim
como o serviço de inspeção periódica obrigatória são ainda deficitários em todo país,
faltam infraestruturas e algumas leis quadro para pôr cobro a anarquia que se vive nos
grandes centros a nível de transporte rodoviário como modo mais utilizado. O
Ministério das Infraestruturas através das suas representações regionais tem vindo a
Ponte Amílcar
Cabral
Ponte Euro-
africana
91
realizar pequenas obras pontuais de manutenção por todo país, apesar de pouca
autonomia financeira para o efeito. As estradas asfaltadas da era colonial já não resistem
à intensidade do trafego com o passar do tempo, originando buracos por todo lado,
troços intransitáveis, com Bissau no topo da lista. Tudo isso constitui situações
desagradáveis para o país, mas por outro lado serviu para catalisar as sinergias do
Governo, principalmente nos últimos dois anos com muitas concretizações levadas
acabo.
Foto 4- Mercado de Bandim - Bissau e a informalidade na mobilidade de pessoas
Fonte:http://missaodulombi.blogspot.com/2011/04/guine-bissau-chegada-parte-ii.html,
19-08-2011.
4. PERSPECTIVAS E PROPOSTAS DE DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA
URBANO GUINEENSE
4.1- A evolução do modelo de sistema urbano: papel da descentralização e das
acessibilidades;
É bom não se esquecer de que, depois das antigas e sangrentas guerras
protagonizadas pelos sucessivos impérios que prosperaram naquela sub-região, seguidas
de perseguições pelo proselitismo religioso levado acabo pelos Fulas, o atual território
da Guiné-Bissau, passou por um sistema de assentamento humano com base numa
estrutura étnica. Um sistema de moranças e tabancas (Crioulo), subentendida como uma
comunidade rural africana muito frequente naquela sub-região, correspondente a uma
aldeia. Como se trata de um povo predominantemente rural, a cultura, usos e costumes,
92
a adaptação e apropriação dos recursos naturais encontrados, acabaram por ser
determinantes na delimitação e posse de territórios com proporções variadas
denominados Tchon (Chão) por cada grupo ou vários grupos étnicos com laços de
parentesco. A esse propósito, um estudo diz que “ Cada tabanca tem laços de
relacionamento com as tabancas vizinhas que pertencem o mesmo Tchon, sendo este, a
propriedade de uma etnia ou povo que, desde antiguidade, exerce um certo poder sobre
todos os indivíduos e grupos que sucessivamente vierem morar neste Tchon, mesmo os
de outras etnias. Por isso este povo “primeiro ocupante” chama-se duno di Tchon (dono
do chão) ”, (BICARI, 2004, 135). Este factor cultural que constitui o equilíbrio interno
dessas sociedades é muito determinante, para que cada Tchon renda mais na produção
daquilo em que o grupo é naturalmente especializado tendo em conta os costumes,
confissão religiosa e hábitos alimentares dos seus habitantes. Porém, quanto às “práticas
rituais, as comunidades islamizadas também obtinham o consentimento para a
apropriação de terras, a protecção para as suas culturas agrícolas e a criação do gado.
Sobre este assunto, A. Carreira, ao enfatizar a importância da criação do gado bovino,
chegou mesmo a citar uma “bovonia” dos fulas e, em menor grau, dos mandingas”
(FRANCO, 2009, 33). Realçamos estas reflecções para mostrar quão determinante são
os aspetos social, cultural, político e económico de uma população na evolução de
qualquer sistema urbano.
Um outro pensador contemporâneo citado por Bacari, dizia que “A cultura de
um grupo humano não morre senão com a liquidação física desse grupo humano …
nenhuma imposição, nenhuma dispersão, nenhum processo de assimilação pode fazer
morrer a cultura de um povo” (A. Cabral, “Resistência Cultural”); que esses povos,
mesmo através da história das imposições sofridas, acumularam experiências suficientes
para saberem discriminar na tradição o que devem conservar do que devem abandonar
para poderem entrar na modernidade” (BICARI, 2004, 140). Por isso, a criação dos
grandes centros urbanos pelos portugueses que hoje constituem pólos de atracção no
sistema urbano do território guineense, devia ser entendida como forma de fortificar as
relações que se estabelecem entre diferentes tabancas em torno de um centro dotado de
certo poder administrativo local. Infelizmente isso não aconteceu, fazendo com que em
termos genéricos não houvesse nenhuma evolução palpável do modelo de sistema
urbano guineense até esta data.
93
Segundo as perspetivas de desenvolvimento que se pretende preconizar, a
resposta para essa inércia na evolução do modelo de sistema urbano até aqui seguido,
deve passar impreterivelmente pelo processo da descentralização. Já foi uma prática
materializada durante a era colonial, onde as Sedes de Concelhos e Sedes de Postos
Administrativos tiveram um desempenho muito exemplar na gestão das regiões em
consonância com o poder central. Ainda se pensou na possibilidade de continuar com
sessa política depois da independência, mais precisamente nos anos 80, com o objectivo
de reforçar as capacidades das iniciativas nas estruturas administrativas locais mas
como se viu, não houve consenso no novo Governo, entre diferentes setores de gestão.
Sobre essas diferentes opiniões, um estudo confirma ter havido uma corrente que
defendia uma descentralização progressiva e uma outra que defendia a formação de
concelhos municipais com pendor desconcentrado. Sabe-se que ainda existem os textos
então aprovados sobre este assunto. Para que alguma coisa se faça, precisam de uma
nova apreciação no parlamento antes da promulgação. Ver (http://www.amenagement-
afrique.com//IMG/pdf/guinee_bissau.pdf, consultado em 10-10-2011). Devido a não
promulgação de tais Decretos, as cidades capitais das Regiões Administrativas no seu
todo e seus Comités de Sectores, passaram a perder o seu direito discricionário pelo fato
de continuarem a depender do poder central, que se resume a Bissau.
É muito importante a descentralização das políticas administrativas do país,
melhorar as acessibilidades, eliminar as assimetrias ainda existentes para que o atual
modelo urbano possa evoluir a fim de corresponder as despectivas e demandas em pé de
igualdade com os parceiros de desenvolvimento na sub-região.
4.2- As necessidades de alojamento e de infra estruturas urbanas básicas nos polos
do sistema urbano: os recursos financeiros e o reequilíbrio ambiental;
A Guiné-Bissau conheceu dois momentos marcantes sobre esta matéria de
alojamento, ao longo da sua história como uma nação livre e independente. Sendo um
exercício de uma política democrática que se traduz num reconhecimento de valores e
dignidade da pessoa humana, o direito a um habitat e sua habitabilidade, os primeiros
cinco anos que precederam a independência, constituíram o período que marcou o
regresso em massa dos refugiados de guerra ao país, obrigando o então incipiente
Governo do PAIGC a providenciar o realojamento das pessoas.
94
Após ao Golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980, as políticas mudaram e
começa o segundo grande período sobre o alojamento. Com a degradação do parque
habitacional herdado por falta de manutenção, a medida que os anos vão passando, a
carência habitacional e das infraestruturas urbanas básicas acentuava-se tornando
patente a preocupação da governação em solucionar o problema que parece afetar todos
os polos do sistema urbano. “Com a ajuda dos países parceiros de desenvolvimento e de
cooperação bilateral, ensaiou-se diferentes projetos de produção de casas e a
incorporação até a presente data, nos diferentes projetos da componente habitacional
para alojar os técnicos e funcionários públicos. Como exemplo disso, os casos dos
complexos de edifícios multifamiliares (ASDI, SANDINO TAIWAN, TRANSPORTE),
e outros pequenos bairros: (Bairro Internacional, Cooperativa de Plano, Cooperativa dos
Trabalhadores do MOP etc.)” (FERREIRA, 2010). De salientar que, todos esses
empreendimentos desenvolveram-se apenas na Cidade de Bissau. Segundo a mesma
fonte, as estratégias iniciais de construção por iniciativa do Estado obtiveram resultados
desencorajadores, sobretudo na recuperação dos custos, por parte do Estado.
O baixo salário, a heterogeneidade dos inquilinos com alguns hábitos
tradicionais que conflituam com a tipologia dos imóveis, principalmente as
multifamiliares e o meio onde esses complexos foram inseridos, contribuíram para a
falta de conservação e manutenção, sobretudo nos edifícios multifamiliares,
impossibilitando a implementação do sistema de condomínio. Como consequência,
todos os edifícios resultantes daqueles projetos levados a cabo, ficaram degradados
devido a má utilização e sobretudo a falta de manutenção. Após a experiência em
relação a falta de zelo pela coisa pública e degradação ambiental, como se pode
constatar no (anexo-3) do património da arquitetura portuguesa assim como nas fotos 5
e 6, no período entre 1986 e 1992, início do multipartidarismo, o executivo adota novas
políticas para fazer face às necessidades de realojamento das pessoas.
95
Fotos 5 e 6 – Estado de Degradação do Bloco de Apartamentos TAIWAN
Fonte: Fotos do Arq.º Estanislau da Silva Ferreira.
Sempre com o recurso às ajudas internacionais, o executivo beneficiou de algum
financiamento “no quadro de alguns projetos-piloto a saber: Projecto de Melhoramento
de Bairros de Bissau (PMBB), outros no quadro da definição de novos projetos,
Programa de Acção Social e Infraestrutural (PASI) e ainda outro no contexto da
definição da política habitacional, Projecto de Reabilitação de Infraestruturas (PRI) ”
(FERREIRA, 2010). Tendo como principal objetivo a resolução da problemática de
realojamento e intervir na redução da brutal degradação ambiental com as construções
precárias e clandestinas, de entre os três projetos-piloto apresentados, o segundo, projeto
(PASI) foi o mais emblemático pela robustez espacial e pelos agentes financeiros
internacionais envolvidos.
Com o início ainda na Cidade de Bissau, a construção de raiz, de um Bairro
Social Antula Bono, num terreno com cerca de 50 hectares cedidos pelo Estado no
Bairro de Antula a norte e a uns escassos quatro quilómetros do Centro de Bissau, conta
com o aval dos sistemas das Nações Unidas nomeadamente o PNUD/FENU o
cofinanciamento do Projecto de Melhoramento de Condições de Habitat, para a
Cidade de Bissau e no interior do País. O projeto trouxe uma nova esperança á
população, em particular a do estrato mais carenciado, todavia, tudo ficou parado
até hoje, desde o eclodir do conflito armado de 17 de Junho de 1998. Segundo a
mesma fonte o projeto é constituído por duas componentes, sendo a primeira previa a
viabilização para produzir 717 parcelas de terrenos para a construção de moradias
económicas e a segunda para a construção de alojamentos, ver a figura-20.
96
Fig. 20- Planta de Loteamento de Antula Bono, do Projecto PASI (1997)
Fonte: Arq.º Estanislau da Silva Ferreira.
Foi introduzido pela primeira vez na história de urbanização na Guiné-Bissau,
um parcelamento de quatro tipos de lotes dimensionados da seguinte forma: 150m2
(10x15), 250m2 (10x25), 300m
2 (15x20) e 500m
2 (20x25), para que haja justiça na
atribuição de lotes. Desta forma, poder-se-á beneficiar todas as classes com diferentes
possibilidades financeiras. Foram ainda programadas áreas para parques e zonas verdes,
equipamentos coletivos para Serviços Sociais, Desporto, Educação, Saúde e para o
maior Mercado a construir na Cidade de Bissau. Estas intervenções de contenção
acontecem no país, por falta de autarquias e normas para o Ordenamento do Território
pelos princípios “Democrático, Integrado, Funcional e Prospetivo” (Conselho da
Europa, 1988, p. 10) citado in (http://www.igeo.pt/conceito_ot.org.pdf, consultado em
19-2-2012).
A questão ambiental e financeira são outras necessidades que engrossam a lista
das necessidades e preocupações das entidades de tutela, sobretudo nas sedes regionais
mas também nos centros urbanos com a concentração de serviços e pessoas. Nesses
centros surgem depósitos de lixo a céu aberto por todo lado e adensa a rede de latrinas
por falta de saneamento de base. Nas áreas rurais, a prática das queimadas nos terrenos
agrícolas, contribuem para um acentuado desequilíbrio ambiental. Além de Bissau,
muitos outros centros atualmente emergentes são grande exemplo desse fenómeno
ambiental, como veremos no próximo ponto.
97
4.3 - A intervenção na Cidade de Bissau, principal Pólo do sistema urbano
guineense;
O importante papel que a Cidade de Bissau desempenha como principal polo do
sistema urbano guineense, ajudou em termos de Ordenamento do Território e
Urbanismo por parte de sucessivos governos que por ali passaram, desde a “Revisão
Constitucional em Maio de 1951” (RAMOS, 2005, 148).
Segundo (MENDY, 2006), o crescimento demográfico da Cidade de Bissau em
desproporção com as infraestruturas e equipamentos para a satisfação das necessidades
dos residentes, provocou o alargamento do parque habitacional através de um plano
urbanístico da cidade, aprovado em Junho de 1948.
Devido ao intenso êxodo rural, dos anos 60 por causa da luta armada no interior,
foi elaborado um novo instrumento de gestão, o Plano Geral Urbanístico de Bissau em
1970. 20 Anos mais tarde, ou seja, em 1990, o Município de Bissau em colaboração
com o Ministério das Obras Públicas elaborou o primeiro Plano Diretor Municipal para
a Cidade de Bissau depois da independência, designado por Plano Geral de Urbanismo.
Visa melhorar a gestão do sistema urbano da Capital, para além dos chamados Planos
de Ocupação do Solo (POS) a nível nacional, elaborados pelo Ministério das Obras
Públicas, juntamente com o da Administração do Território, em 1995.
Esta preocupação com a intervenção urbanística em Bissau, abrandou entre 1974
e 1992, porque a Câmara Municipal de Bissau, foi paulatinamente perdendo espaço em
matéria da tomada de decisões, face aos inúmeros problemas que afetam diretamente os
seus munícipes. As competências técnicas foram transferidas para o Ministério das
Obras Públicas e as competências políticas passaram para o Ministério do Interior,
ficando apenas com as responsabilidades administrativas. Como resultado, assistiu-se a
deterioração da Baixa de Bissau colonial, por falta da manutenção de imóveis públicos e
ruas despavimentadas, uma vez que o MOP, entidade responsável pela área a nível
nacional, não consegue responder á tudo.
Apenas em 1992 com o multipartidarismo, tudo volta a normalidade, com a
Câmara Municipal de Bissau recuperou algumas das suas competências. Considerando
que o crescimento da população em Bissau continuará conforme o quadro-10, a
intervenção a levar a cabo deverá ser mais ambiciosa, ir para além da implementação da
98
rede pública de saneamento de base, capacitação e alargamento da rede elétrica e da
distribuição da água potável e passar pela eliminação das fronteiras administrativas com
a Região de Biombo. Em meu entender, isso poderá ser uma solução que permitirá a
legisladores e responsáveis pelo processo de Planeamento e Ordenamento do Território,
a adoção de mecanismos de gestão racional do uso e transformação do uso do solo.
Porque só assim é que o sistema urbano do Sector Autónomo de Bissau (SAB) poderá
equilibrar-se.
Quadro 10- Crescimento Populacional no SAB, na Década de 2000
REGIÃO 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2009
PAÍS 1.210.911 1.238.314 1.266.612 1.295.841 1.326.039 1.357.240 1.389.497 1.520.830
SAB 309.291 323.827 339.047 354.983 371.667 389.135 407.424 387.909
SAB (%) 25.54 26,15 26,76 27,39 28,02 28,67 29,32 25,5
Fonte: Autoria Própria com dados do INEC (25-02-2012)
Analisando bem os dados do quadro-10, conclui-se que houve um aumento da
população na Cidade de Bissau durante a década de 2000, apesar de ter sido o epicentro
de várias convulsões político-militar. No período entre 2001 e 2007, registou-se um
aumento médio anual de 16.355 habitantes. Os valores relativos ao ano 2009, resultaram
do Recenseamento Geral da População e Habitação desse mesmo ano. São valores que
transparecem um paradoxo, atendendo ao aumento da população que tem vindo a
registar-se, mas a verdade é que notou-se uma pequena retração da população em
termos absolutos, sendo muito acentuada em termos percentuais, ficando nos 25,50%,
um pouco abaixo dos valores registados no ano 2001.
Trata-se de uma situação atípica em meu entender, e que só pode ter uma justificação
política, porque o que acontece na realidade, a população continua a crescer nos bairros
com construção precária na periferia de Bissau, como se pode ver na figura-21. É bom
lembrar que esse crescimento populacional trouxe por arrastamento problemas graves
para o ambiente, saúde pública e o bem-estar das pessoas. Ainda a elevada taxa da
mendiguidade e da delinquência juvenil motivada pela proliferação de drogas e
estupefacientes de que se fala em Bissau advém desta situação.
99
Fig. 21 – Densidade das Habitações Precárias nos Bairros de Bissau (2003)
Fonte: MENDY, 2006, 145.
Olhando para esta figura 18, nota-se que, com apenas a exceção do antigo centro
de Bissau e do Bairro de Santa Luzia, poucos são os Bairros habitações precárias entre
50,1 á 60%. Por outro lado, sem contar com a Ilha do Rei, que é predominantemente
industrial, os Bairros que mais alargaram na década de 80 de século passado, são os que
apresentam maior percentagem das habitações precárias, onde não existem centros de
serviços e é onde há pouca sustentabilidade.
Na outra abordagem de MENDY (2006, 146) 3/4 dos Bairros em Bissau tem
mais de 80% das suas habitações em construção precária, concluindo que na
generalidade, a Cidade de Bissau conta com 87,4% do edificado precário.
Já existem alguns sinais positivos no quadro da infraestruturação e melhoria das
condições de vida das pessoas nos últimos tempos a começar por Bissau, com a
conclusão da reabilitação de duas importantes vias dotadas de equipamentos modernos
para a segurança dos transeuntes, ver as imagens da foto 7 em baixo.
100
Foto 7- Infraestruturação da Cidade de Bissau, Dezembro 2011
Fonte: http://4.bp.blogspot.com; (14-12-2011)
Mas apesar desta e de outros empreendimentos públicos já concluídos, é urgente
uma intervenção exemplar com a desativação do Quartel da Marinha na baixa para
outro lugar, a fim de ligar o corredor ribeirinho entre Porto de Pijiguiti e instalações da
DICOL em Bandim, dotando-o de instalações comerciais e de hotelaria com parques de
diversões e de lazer.
A revitalização de Bissau-Velho, a modernização do Porto Cais assim como o
desenvolvimento de um eixo comercial e de serviços ao longo da marginal é muito
fundamental para a robustez da economia do país. A mudança de uso dos solos nos
quarteirões dos antigos armazéns da casa do estivador, Blola e arredores, para um
Mercado Abastecedor e Logística de Bissau, poderá trazer uma mais-valia no
desempenho comercial na Capital e do investimento externo.
4.4 – Propostas para a melhoria do ordenamento e da gestão do território
guineense tendo por base a reestruturação da rede urbana;
Sabemos que desde a independência até à realização das suas primeiras eleições
gerais em 1994, a política de ordenamento do território nunca constituiu um tema de
debate honesto e sério no parlamento guineense, com o pretexto de que as condições
ainda não estavam reunidas. Por esta razão e de acordo com a atual conjuntura de
101
profundo atraso na infraestruturação, achamos imperativo a elaboração de um
instrumento normativo e de orientação para a tomada de decisões, em substituição da
Lei de Ordenamento Territorial e Urbanismo de 1990 nunca posta em prática.
Segundo o artigo do gabinete de planeamento no espaço comunitário
(http://www.amenagement-afrique.com//IMG/pdf/guinee_bissau.pdf; consultado em 10-
12-2011), o país tem sobrevivido em termos económicos até aqui, com o recurso á três
planos, como forma de captar as ajudas externas, sendo um bienal e dois quadrienais:
1) – Carta da Política de Desenvolvimento Agrário (CPDA);
1) – Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário (PNDS);
2) – Plano Diretor para Água e Saneamento (PDAS);
3) – Plano Diretor da Pesca (PDP);
Os chamados Planos de Estabelecimento Económico, através de acordos na
política de reajustamento estrutural assinados com as instituições de Bretton Woods,
correndo riscos de se afundar ainda mais por causa das imposições de austeridade nas
finanças públicas. As populações nunca são ouvidas nem chamadas a participarem nos
debates públicos conforme os procedimentos normais. Tudo era definido e decidido
pelas instituições governamentais, que são a Secretaria de Estado de Plano e
Cooperação Internacional e suas Comissões Sectoriais de Planeamento. Estas são
algumas das práticas antidemocráticas que precisam de alterações, para permitir uma
harmonização nas políticas sectoriais com objetivos macroeconómicos.
Ainda no plano económico, a agricultura foi definida desde os anos 70, como
sector prioritário para o desenvolvimento, levando a uma divisão administrativa do país
em quatro zonas agro económicas a saber:
Zona I - que contempla as regiões de Biombo, Cacheu e Oio;
Zona II – que contempla as regiões de Bafatá e Gabú;
Zona III – que contempla as regiões de Quínara e Tombalí;
Zona IV – que contempla apenas a região de Bolama/Bijagós.
Segundo a mesma fonte, os seus projectos de desenvolvimento integrado
estavam bem equipados com condições materiais, humanos, infra-estruturais e
financeiras para serem bem-sucedidos. Acontece que, a má gestão deitou tudo a perder,
sem que houvesse nenhum resultado palpável.
102
Com a necessidade da integração regional do país no espaço CEDEAO e
UEMOA, impunha-se uma política de desenvolvimento a ser inserida num quadro de
coordenação e harmonização de intervenções internas e externas, quando se pretendia
situar cada sector de actividade, dentro das suas áreas de potencialidades. Era uma
política que passasse por um ordenamento urbano moderno, em paralelo com as
políticas da regionalização a nível do espaço comunitário, que se inscrevem no quadro
das reformas administrativas e da valorização dos recursos humanos. Portanto, a
participação efectiva das populações nas fases de auscultação e debates públicos dos
processos de desenvolvimento que lhes assistem, torna cada vez mais imprescindível.
Depois de analisados os aspetos geográficos, socioculturais, político-
organizacionais e ambientais, que se prendem com o atual estado de desequilíbrio da
rede urbana guineense, no âmbito da descentralização, conectividade e
complementaridade, eis que avançamos com as seguintes propostas como contributo no
processo de planeamento e Ordenamento do Território.
- Primeira Proposta: definição e consolidação dos polos do sistema urbano;
Atendendo as especificidades físicas do país, o estado da rede viária,
considerando ainda a emergência de alguns Sectores e Secções Administrativos no
equilíbrio das dinâmicas socioecónomicas nos últimos anos, achamos por bem
reestruturar o habitual figurino das áreas de influência do atual sistema urbano
guineense, promovendo os Sectores de Canchungo, S. Domingos, Mansoa,
Bambadinca, Pitche e Bubaque para centros de polarização, com a extinção da
influência de Quinhamel, uma vez que passará a depender totalmente do SAB. Será uma
atitude de reconhecimento e de justiça por tudo quanto se procurou desenvolver nessas
localidades, como forma de colmatar as debilidades das Capitais Regionais no capítulo
de gestão territorial e equidade social.
A figura-22 representa o atual modelo territorial no âmbito das áreas de
influência, onde para além da macrocefalia de Bissau, as Capitais Regionais também
influenciam os sectores que compõem a região.
103
Fig. 22 – Áreas de Influência do Sistema Urbano Guineense
Fonte: Atlas da Lusofonia; (adaptação do autor, Dezembro de 2011)
A figura-23 mostra a reestruturação que se propõe.
Fig. 23 – Proposta para Novas Áreas de Influência do Sistema Urbano Guineense
Fonte: Atlas da Lusofonia; adaptação do autor.
104
- Segunda Proposta: definição e consolidação dos eixos do sistema urbano: o sistema
viário;
Dada a importância de uma boa rede viária no processo de desenvolvimento para
qualquer região ou país, e atendendo toda problemática levantada neste trabalho em
matéria de deploráveis condições de acessibilidades na rede viária guineense,
entendemos que certos troços com categoria de Estradas Secundárias na atual rede,
devem passar para a categoria de Estradas Principais tendo em conta o crescimento e ao
aumento de volume de tráfego rodoviário que se espera para as regiões onde se
encontram. Nesta proposta, pensamos ainda na reestruturação de todas as estradas que
ligam o país com o resto do espaço comunitário (ver anexo-1), das infraestruturas de
transportes previstas no quadro de NEPAD, num estreito cumprimento de acordos
rubricado sobre a livre circulação e eliminação das fronteiras. Por isso, foi elaborada a
figura-24, com o recurso às ferramentas do ArcGiS, ArcMap10, mais as shapes sobre a
Guiné-Bissau, recolhidas na internet (http://www.diva-gis.org/gdata, consultado em 19-
05-2011).
Fig. 24 - Proposta para a Futura Rede Viária Nacional com ligações Internacionais
Fonte: Autoria Própria (Dezembro de 2011)
105
Com base nesta proposta da rede viária, a esquematização dos corredores de
desenvolvimento apresentada na figura-25, pretende reforçar o ensejo de ver a rede
urbana guineense bem estruturada. O corredor Bissau-Norte, beneficiou das Pontes
Amílcar Cabral e Euro-Africana, para se tornar num importante eixo comercial entre
Bissau e Casamansa, com impulso ao desenvolvimento de Canchungo, Bula, Ingoré e S.
Domingos, contudo ainda falta alcatroar a estrada Ingoré Farim.
O corredor Bissau-Farim, é muito populoso, tem recursos e está a desenvolver.
Só lhe falta a ponte em Farim e de boas estradas para se ligar a Senegal via centro. O
corredor Bissau-Gabú, é o mais consistente, contudo, a partir das Cidades de Bafatá e
Gabú, padecem de estradas alcatroadas para as ligações internacionais com o Senegal e
Guiné Conacri. O corredor Bambadinca-Catió, apesar de ter potencialidades naturais e
humanas, está economicamente esquecido.
Fig. 25- Esquema dos Corredores de Desenvolvimento da Guiné-Bissau
Fonte: Atlas da Lusofonia, (adaptação do autor, Abril de 2012)
Devido ao seu aspeto morfológico, o corredor Cacine-Gabú, é simplesmente
ignorado. Trata-se de um corredor estratégico na salvaguarda das matas de Cantanhez
Dulombi e Boé, da integridade da fronteira com Guiné Conacri, para além das mais-
valias que se lhe espera com a construção do Porto de Buba. É urgente a sua
infraestruturação. A par do corredor Cacine-Gabú, o corredor Bissau-Litoral, precisa
106
de infraestruturas e equipamentos de transporte para se desenvolver, pela exuberância
das praias e a biodiversidade para o turismo, além de facilitar as ligações marítimas
entre Bissau, Conacri, Ziguinchor e ao resto do mundo.
- Terceira Proposta: a redefinição da divisão administrativa assente nas dinâmicas
económicas e sociais e na proposta de sistema urbano;
Atendendo as reduzidas dimensões físicas da Guiné-Bissau, o grau de pobreza, a
constante dependência ao exterior e o próprio crescimento demográfico da Cidade de
Bissau motivado pelo êxodo rural com tendência a aumentar nos próximos anos,
achamos sensato avançar com a proposta para o emagrecimento das despesas públicas,
alterando a atual divisão administrativa. Eliminar a Região de Biombo, devido ao seu
reduzido tamanho e com poucas infraestruturas. Assim sendo, o Sector Autónomo de
Bissau passará a englobar todo território da atual Região de Biombo, com a manutenção
dos três Sectores (Biombo, Quinhamel e Prabis) tal como estão, ver a figura-26. Com
esta alteração, o Estado fica a ganhar na sua gestão orçamental e em termos de
planeamento e ordenamento do território, o Sector Autónomo de Bissau passará a dispor
de mais espaço físico para uma boa organização funcional. Feitas as contas, a SAB
passará a contar com uma densidade populacional de mais ou menos 523,62 hab/Km2
contra os atuais 5.037 hab/Km2 ou seja, 31,892% de habitantes do universo nacional.
Fig. 26 – Proposta de divisão Político-Administrativa da Guiné-Bissau (sem a
Região de Biombo)
Fonte: Autoria Própria (Dezembro 2011)
107
Se olharmos para a figura-27, aperceber-nos-emos de que em todas as regiões
do Sul, Quinara, Tombali mais a insular Bolama/Bijagós, não há nenhuma aglomeração
populacional com 50.000 habitantes. Por isso, no seguimento das políticas de
reestruturação urbana pretendida, torna indispensável a infraestruturação nestas regiões,
como forma de criar condições para o crescimento e desenvolvimento em pé de
igualdade com o resto do país, atendendo as potencialidades em recursos naturais que
essas regiões têm.
Fig. 27 - População por Sectores Administrativos na Atual Rede Urbana
Fonte: Autoria Própria (Dezembro de 2011)
- Quarta Proposta: o modelo de ordenamento do território;
a) – Propor ao parlamento guineense no sentido de criar o mais rápido possível,
uma Lei de Bases de Ordenamento do Território e do Urbanismo (LBOTU),
adoção de um modelo muito próximo do atual modelo português, embora
adequado às especificidades do território guineense, como forma de consagrar os
preceitos do planeamento territorial e urbanístico moderno herdado, com
inspiração nas políticas territoriais do espaço comunitário, respectivamente
CEDEAO e UEMOA, em que o país está inserido.
b) – Perante os avanços e recuos a nível do planeamento, ordenamento do território
e urbanismo, por falta de leis e instrumentos apropriados, pedimos a quem de
108
direito, a promoção de uma cultura democrática a nível nacional, mudança de
paradigmas sociais, como condição sine qua non, rumo ao desenvolvimento.
Logo após a realização das eleições autárquicas, tornará urgente criar
mecanismos que permitam explorar as vantagens do orçamento participativo na
eficácia dos instrumentos e medidas de intervenção. Não há nada como uma
gestão democrática transparente e honesta das políticas públicas, onde a opinião
de todos os munícipes sem excepção, conta para o orçamento geral. O povo é
quem sabe melhor das necessidades locais, por isso cabe-lhe a ele definir
prioridades e esperar que a administração faça uso dos seus impostos e mostre
resultados.
c) – Ainda em termos de funcionalidade da Cidade de Bissau, a única via de acesso
e ligação com o resto do país já está para além da sua capacidade de carga, a
partir do Sector de Safim até ao Centro de Bissau. Por isso, para evitar os
congestionamentos, perda de tempo e acidentes naquela artéria, propomos a
construção de uma outra via rápida como alternativa, a partir das instalações das
Alfândegas na Baixa de Bissau e que passará pela povoação de Cumeré, para
ligar a Nhacra.
d) – Atendendo a importância que a mata do Cantanhez, futuro parque natural e
património da humanidade, aguardando pelo reconhecimento da UNESCO,
representa para o país em termos turístico e sociocultural, assim como a
localização estratégica de um Porto Internacional nas águas profundas do Rio
Grande de Buba, ao serviço da Guiné-Bissau, Guiné Conakry e Mali, achamos
que constituem importantes oportunidades para a revitalização do corredor
Cacine, Quebo, Madina do Boé e Gabú. Trata-se de um corredor histórico desde
a fundação da nacionalidade guineense, mas sempre legado ao mundo rural, sem
boas vias de comunicação nem centros para um comércio organizado.
Como medidas de intervenção a levar acabo, em termos políticos, a
concretização de uma profunda reforma na função pública, nas forças de Segurança e da
Defesa Nacional seria um bom ponto de partida, porque o atraso com que a Guiné-
Bissau se depara hoje, deve-se em parte, à impunidade pelo desrespeito a lei, por parte
desses sectores chaves. A cultura de diálogo e de respeito pela separação de poderes
deve ser uma realidade a materializar, passando pela educação, ao combate ao
109
analfabetismo e pela imergência na sociedade do conhecimento. Em termos
económicos, o desenvolvimento do sector privado como agente aglutinador na
acumulação de receitas para o Estado através da criação de postos de trabalho, deve ser
igualmente uma outra prioridade do Executivo, como forma de minimizar as assimetrias
regionais. No ponto a seguir, falaremos da necessidade de realojamento, que também
deve merecer a atenção do Governo.
110
5. CONCLUSÃO: o contributo da reestruturação do sistema urbano guineense para a
reorganização do território, culturalmente complexo, e para a integração regional da
Guiné-Bissau;
Este trabalho teve como propósito realizar um estudo abrangente sobre o
processo de transformação por que passa a República da Guiné-Bissau nos últimos
anos, destacando a importância da redefinição da rede urbana como fator do
desenvolvimento nacional, regional e local, e o seu contributo para a (re) organização
espacial dos territórios.
O regresso ao passado ao longo da realização deste Projecto, não podia ser mais
que um privilégio, ou seja, uma experiência única e enriquecedor em todos os aspectos.
A orientação recebida, os documentos lidos, as conversas com os demais sobre o
passado para além das entrevistas realizadas no terreno, foram aspetos chave e que
particularmente me levam às seguintes conclusões:
1. O território de atual Guiné-Bissau teve a presença humana há milhares de anos.
Foi um espaço muito influenciado pela presença estrangeira, daí, a existência do
mosaico multiétnico que ainda hoje existe como parte da sua riqueza cultural,
todavia no plano urbanístico, esta multietnicidade dificultou o desenvolvimento
das cidades de origem portuguesa, de uma matriz comum, espalhadas por todo
país. Trata-se de um país muito pequeno, politicamente instável,
economicamente pobre e com uma alta taxa de analfabetismo. No plano
administrativo, existe um forte desequilíbrio por falta de boas infraestruturas de
transporte, acabando por deixar certas regiões num total abandono. Quinara e
Tombali são exemplos disso, onde não existe nenhum centro urbano com 50.000
habitantes. A falta da descentralização e das eleições autárquicas, são outros
aspetos que contribuem para o atraso.
2. Bissau foi sempre vista como polarizadora de todas as capitais regionais, não
pela sua infraestruturação, nem por ser o centro do poder nacional, mas sim, pela
acentuada pobreza que se vive no resto do país. A falta de recursos humanos,
quadros técnicos com qualificações multidisciplinares, é outra das preocupações
111
patentes tanto na área da educação como na saúde. O Hospital Nacional Simão
Mendes em Bissau, é o único com mais serviços de especialidade, mais número
de camas em do país. A rede nacional de Centros de Saúde ainda não consegue
suprir todas as necessidades e poucas são as regiões com farmácias.
O sector agrícola não é digno de ser o motor para o desenvolvimento económico
guineense como se diz, porque ainda se encontra em sistema artesanal até hoje.
O sector energético, o pilar para o desenvolvimento da ciência e tecnologia de
um país, está numa situação catastrófica que compromete a atração de
investidores internacionais. O fornecimento da energia elétrica da rede pública é
insuficiente e alternado entre zonas pré-estabelecidas, gerando prolongados
períodos de “apagões”, que, para além dos transtornos domésticos, é uma
situação que a nível da telecomunicação, isola o país ao resto do mundo várias
vezes por dia.
3. Assiste-se a uma galopante deterioração do património arquitetónico nos centros
urbanos herdados, consequência da falta de planeamento e política de atracção
de investimentos privados nacionais ou internacionais para uma acção de
regeneração urbana necessária. O equilíbrio ambiental e a erradicação das
doenças infecciosas, continuam a merecer uma atenção redobrada, porque os
serviços públicos de saneamento de base e da distribuição da água potável
canalizada são deficitários.
4. No plano geopolítico, a Guiné-Bissau faz parte de um vasta região da África
Subsariana que apesar de desequilíbrio económico entre países membros,
constitui uma comunidade com potencialidades para mitigar a pobreza que
flagela as suas populações. É membro da CEDEAO e da UEMOA, espaços de
integração económica regional que albergam cerca de 250 milhões e 80 milhões
de habitantes respectivamente, podendo servir da porta de entrada dos mercados
dos parceiros dos (CPLP) para aquelas comunidades económicas da áfrica
Ocidental. Aliás, o tão falado Porto das Águas Profundas a construir no Rio
Grande de Buba, serve para catalisar o corredor de desenvolvimento económico
(Guiné-Bissau, Guiné Conacri e Mali) com estradas e caminho-de-ferro de
ligação internacional.
112
5. As constantes perturbações político-militar e a falta de uma consistente política
de cooperação, têm dificultado as oportunidades de canalizar as ajudas externas
através dos parceiros bilaterais, para a infraestruturação que reforce o equilíbrio
do sistema urbano, nomeadamente nos setores de transportes, energia e
telecomunicações. Porque para além das Pontes Amílcar Cabral e Euro-Africana
em João Landim e São Vicente respectivamente, financiados a partir da parceria
EU-África, ainda faltam duas no Norte, de ligação regional e internacional em
Barro e Farim, as que serão precisos no sentido Catió-Cacine no Sul, para além
dos portos fluviais e rudimentares a reabilitar.
6. No contexto atual, é imperativo criar condições para estreitar ligações entre os
Ministérios da Administração do Território, das Infraestruturas com as Câmaras
Municipais a saírem das próximas eleições autárquicas, como forma de agilizar
as tarefas ligadas ao planeamento urbano, sobretudo as de definição da posse da
terra, capacidade de infraestruturação e gestão urbanas.
Com este trabalho, espera-se ter contribuído, em conjunto com outros do mesmo
género, para uma reflexão sobre a importância da rede urbana na organização do
território e a vantagem de implementar um modelo, simples mas eficaz, de Planeamento
e Ordenamento do Território (que ajudaria a corrigir desequilíbrios existentes na rede
urbana), tendo uma perspetiva de consolidação do território nacional e de integração
regional, nomeadamente nas vias transafricanas.
113
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117
LISTA DE FIGURAS
Fig. 1- Cidades africanas com população acima dos 50.000 habitantes em (2000) ---- 20
Fig. 2- Estados da África Ocidental (2011) -------------------------------------------------- 21
Fig. 3- Tipologia da Urbanização na África Ocidental (2010) ---------------------------- 26
Fig. 4- Prospetava para a Rede Urbana e Clusters Regionais (2020) -------------------- 27
Fig. 5- Localização Espacial das principais Etnias Transfronteiriças -------------------- 31
Fig. 6- Localização Espacial das Etnias Interiores ------------------------------------------ 32
Fig. 7- Limite Interior das Marés -------------------------------------------------------------- 35
Fig. 8- Volume da Precipitação Anual na África Ocidental e Central em mm (2003) - 45
Fig. 9- Antigos Grandes Impérios Africanos na Região de África Ocidental ----------- 49
Fig. 10- Escola Prof. António José de Sousa e a Residência das Irmãs em Bissau ----- 53
Fig. 11- Divisão Administrativa da Guiné Portuguesa em 1942 (2003) ----------------- 54
Fig. 12- Divisão Administrativa da Guiné Portuguesa em 1971 -------------------------- 56
Fig. 13- Processo de Aldeamento na Guiné Portuguesa, Concluído em 1972 --------- 56
Fig. 14- Manchas Urbanas das Cidades de Bissau e Gabu --------------------------------- 63
Fig. 15- Atual Divisão Político-Administrativa (2011) ------------------------------------- 66
Fig. 16- Influência de Bissau no Sistema Urbano Guineense ----------------------------- 70
Fig. 17- Plano do Burgo de S. José, protegido por Muralhas ----------------------------- 72
Fig. 18- Cidade de Alcatrão e o 1º Anel de Expansão com construção precária ------- 74
Fig. 19 - Carta de Ocupação de solo, o Alargamento dos Bairros de Bissau em 2004- 75
Fig. 20- Planta de Loteamento de Antula Bono, do Projecto PASI (1997) -------------- 96
Fig. 21- Densidade das Habitações Precárias nos Bairros de Bissau (2003) ------------ 99
Fig. 22- Áreas de Influência do Sistema Urbano Guineense ----------------------------- 103
Fig. 23- Proposta para Novas Áreas de Influência do Sistema Urbano Guineense --- 103
Fig. 24- Proposta para a Futura Rede Viária Nacional com Ligações Internacionais - 104
Fig. 25- Esquema dos Corredores de Desenvolvimento da Guiné-Bissau ------------- 105
Fig. 26- Proposta de divisão Político-Administrativa da Guiné-Bissau (sem a Região de
Biombo) ----------------------------------------------------------------------------------------- 106
Fig. 27- População por Sectores Administrativos na Atual Rede Urbana -------------- 107
118
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico1- Proporção da População Urbana que vive em Bairros Degradados 1990-2010,
(%) ------------------------------------------------------------------------------------------------- 29
Gráfico 2- Distribuição da População por Regiões Administrativas (%) --------------- 42
LISTA DE QUADROS
Quadro 1- Tendências da População Urbana na África Ocidental, (1950-2050) ------- 22
Quadro 2- Tendência da Urbanização nos países da África Ocidental, 1950-2050 (%) ---
------------------------------------------------------------------------------------------------------ 23
Quadro 3- Número de Cidades com a população acima de 10.000 (1960-2020) ------- 24
Quadro 4- Comercio externo - Balança comercial (em mil milhões de FCFA) --------- 38
Quadro 5- Síntese da Ajuda à Guiné-Bissau (2010) ---------------------------------------- 39
Quadro 6- Distribuição Sectorial da APD bilateral Portuguesa --------------------------- 40
Quadro 7- Densidade Populacional por Regiões Administrativas (2009) --------------- 61
Quadro 8- População por Regiões Administrativas entre (RGPH 1979-2009) -------- 65
Quadro 9- Evolução geral do IHPC nos Estados Membros da UEMOA – Agosto 2010 --
------------------------------------------------------------------------------------------------------ 87
Quadro 10- Crescimento Populacional no SAB, na Década de 2000 --------------------- 97
LISTA DE FOTOGRAFIAS
Foto 1- Vista Aérea do Centro da Cidade Capital da Guiné-Bissau (1966) ------------- 71
Fotos 2 e 3- Ponte Amílcar Cabral e Ponte Euro-africana --------------------------------- 90
Foto 4- Mercado de Bandim - Bissau e a informalidade na mobilidade de pessoas --- 91
Fotos 5 e 6- Estado de Degradação do Bloco de Apartamentos TAIWAN -------------- 95
Foto 7- Infraestruturação da Cidade de Bissau, (Dezembro 2011) ---------------------- 100
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1 - Infraestruturas de Transportes Previstas no Quadro de NEPAD para África
Ocidental ---------------------------------------------------------------------------------------- 119
Anexo 2 - Principais Culturas de Exportação na África Ocidental, em 2004---------- 120
Anexo 3 - Património da Arquitetura Portuguesa na Cidade de Bolama --------------- 120
Anexo 4 - As Importantes Obras Realizadas na Província da Guiné (1945-1974) ---- 121
119
ANEXOS
Anexo1- Infraestruturas de Transportes Previstas no Quadro de NEPAD para
África Ocidental.
120
Anexo 2 - Principais Culturas de Exportação na África Ocidental, em 2004
Anexo 3 - Património da Arquitetura Portuguesa na Cidade de Bolama
Tribunal
Casa Colonial
Casa do Governador
121
Anexo 4 - As Importantes Obras Realizadas na Província da Guiné (1945-1974)