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NUVENS Vês as nuvens no azul do firmamento De brancuras ofuscantes, Como impelidas por tufão violento Se formam em legiões extravagantes? Olha; acolá, reunidas uma a uma, Um trono simbolizam; Ali, rasgam-se em flocos, como a espuma Das vagas crespas que em areais deslizam. Mais longe, vês? as massas vaporosas Informe monstro imitam, E além, tingidas pela cor das rosas, Paços que ocultas mágicas habitam. Agora, vastos pórticos, ogivas, E um longo peristilo, Colunas, capiteis, arcadas vivas, Arquiteturas de ignorado estilo. Logo por esses plainos dispersadas Pelo sopro do vento, Como níveos cordeiros às manadas Sucedem-se velozes cento a cento: Ora parecem gigantescas serras Com seus eternos gelos; Ora planícies de nevadas terras, E das águas boreais os caramelos: Ali nos representam funda gruta E rochas diamantinas; Acolá, mil exércitos em luta; Mais além, mil cidades em ruinas. E sabes tu no que essas formas vagas Perto de nós se tornam!

NUVENS

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  • NUVENS

    Vs as nuvens no azul do firmamento

    De brancuras ofuscantes,

    Como impelidas por tufo violento

    Se formam em legies extravagantes?

    Olha; acol, reunidas uma a uma,

    Um trono simbolizam;

    Ali, rasgam-se em flocos, como a espuma

    Das vagas crespas que em areais deslizam.

    Mais longe, vs? as massas vaporosas

    Informe monstro imitam,

    E alm, tingidas pela cor das rosas,

    Paos que ocultas mgicas habitam.

    Agora, vastos prticos, ogivas,

    E um longo peristilo,

    Colunas, capiteis, arcadas vivas,

    Arquiteturas de ignorado estilo.

    Logo por esses plainos dispersadas

    Pelo sopro do vento,

    Como nveos cordeiros s manadas

    Sucedem-se velozes cento a cento:

    Ora parecem gigantescas serras

    Com seus eternos gelos;

    Ora plancies de nevadas terras,

    E das guas boreais os caramelos:

    Ali nos representam funda gruta

    E rochas diamantinas;

    Acol, mil exrcitos em luta;

    Mais alm, mil cidades em ruinas.

    E sabes tu no que essas formas vagas

    Perto de ns se tornam!

  • Dize, quando no prado a ss divagas,

    Tens visto as gotas que o vergel adornam?

    Pois so esses os tronos deslumbrantes,

    A ogiva preciosa,

    Os fustes das colunas de diamantes,

    E encantados palcios cor-de-rosa.

    Esse vasto espetculo dos ares,

    Essas mgicas cenas,

    A que presos esto nossos olhares,

    V-los ao perto? so orvalho apenas.

    Bem assim os projetos, ureos sonhos

    Que na vida sonhamos;

    Belos fantasmas, flgidos, risonhos,

    Que nos cus do futuro divisamos.

    Pois que junto de ns, essas imagens,

    Essa viso querida,

    Desvanecem-se, prfidas miragens,

    Fundem-se como a neve derretida;

    Esperana no porvir, nuvens formosas,

    Em que assim te deleitas,

    Com esse orvalho que humedece as rosas

    Hs de v-las em lgrimas desfeitas.