4
11 e 12 de Novembro de 2015 C o , O O O Qt WP 4 o O futuro do setor em contexto de mudança o, reestru ção à ino o de 20 1 , 1 ex PO /conferência da agua Debate evidenciou visões diferentes sobre a reforma da água Q o Reversão de fusões na água agita sector Sana Malhoa Hotel, Lisboa o 1 a expo Ar conferência da agua A reestruturação dos serviços de água em alta nunca reuniu consenso, resta saber se será uma questão de "forma ou de substância". O tema esteve em foco na 10.a Expo Conferência da Água, que se realizou nos dias 11 e 12 de Novembro. Foi num clima de incerteza quanto ao futuro político do País que Afonso Lo- bato Faria, presidente do grupo Águas de Portugal, apresentou na 10.a edição da Expo Conferência da Água o traba- lho feito no ãmbito do processo de fu- são de 15 sistemas multimunicipais de água e saneamento em três empresas de âmbito regional (Águas do Norte, Águas do Centro Litoral e Águas de Lisboa e Vale do Tejo). A reforma da água foi concretizada há quatro meses, tendo as novas empresas entrado em funções a 1 de Julho de 2015, mas a oposição de muitos municípios ao pro- cesso poderá ditar um rumo diferente. "Uma boa parte do equilíbrio económi- co-financeiro do sector está no grupo Águas de Portugal", realçou o gestor, sa- lientando os ganhos ao nível da redução de gastos operacionais (os anunciados 90 milhões por ano) face à evolução prevista para os próximos anos, nomea- damente através do encerramento de instalações, da redução de assessorias e do reajustamento de equipas de traba- lho. Na rubrica do pessoal, houve já um corte de 70 por cento nos órgãos sociais e de 46 por cento nas chefias, anunciou. A reestruturação permitiu ainda, salien- tou, uma descida média de dez por cento nas tarifas de água em alta para 80 por cento dos municípios abrangidos (de um universo de 170) no abastecimento e 67 por cento no saneamento (de um total de 186). Os restantes pagam a factura e, a partir de Janeiro de 2016, avança uma su- bida progressiva destas tarifas ao longo dos próximos cinco anos. Ou não avança? A interrogação ganhou forma com a queda do XX Governo Constitucional, no dia 11 de Novembro, após a rejeição do seu programa pela maioria parlamentar formada pelos partidos à esquerda no hemiciclo. O programa de Governo apre- sentado pelo PS promete, sem ambigui- dades, "a reversão das fusões de empre- sas de água impostas aos municípios". O município de Loures é um dos que está a litigar o processo em tribunal, como o adjunto do presidente da autar- quia, José Manuel Baptista Alves, frisou durante o debate realizado no evento: "A Câmara de Loures manifestou-se sistematicamente contra este proces- so e irá até às últimas consequências para contrariar a [sua] concretização." E lembrou os motivos que têm unido os autarcas das três principais zonas urba- nas do País — Lisboa, Porto e Coimbra —, que deverão suportar financeiramente as descidas dê tarifa noutros concelhos. "Não estamós contra a agregação ou o encontrar de uma solução", salientou, mas "os municípios não deviam ter sido afastados da solução". Será então mais "uma questão de forma do que de substância?", atirou o mode- rador do painel, Joaquim Poças Martins, professor da Faculdade de Engenharia do Porto. "Contestamos o modelo e a forma de lá chegar", esclareceu José Manuel Baptista Alves. E acrescentou: "Esta não é a resposta única. Estaríamos disponí- veis para equacionar uma solução, mas a forma não é esta", observou. "Essa é a conversa que eu ouço há dez anos para não se concretizar isto", con- testou de imediato o presidente da Câ- mara Municipal de Vila Real, Rui San- tos. "Todos diziam que era necessário e importante [haver] uma convergência tarifária, mas ninguém fazia nada. E os cidadãos do interior continuam a ser pre- judicados em detrimento dos outros." Para o autarca, a reforma "não é perfei- ta", mas vem dar resposta a um anseio antigo das populações do interior. "Não é justo que os habitantes do interior pa- guem 40 por cento mais do que os do litoral", disse, elogiando a "coragem" de impor uma reforma "contra os interesses dos grandes municípios". Antes disso, Afonso Lobato Faria contes- tara a ideia de que não houve envolvi- mento dos municípios no processo. "A administração da Águas de Portugal in- vestiu muitas e muitas horas a explicar este modelo aos municípios. Compreendo que os municípios que vêem a sua tarifa crescer não concordem com este proces- so, mas não acho compreensível dizer que não houve diálogo", disse. "Fomos muitas vezes informados, poucas vezes ouvidos", contrapôs José Manuel Baptista Alves. A reversão do processo está agora em cima da mesa com tomada de posse do XXI governo constitucional liderado por António Costa e apoiado no parlamento por PCP, Bloco de Esquerda e partido ecologista Os Verdes. O sector aguarda os capítulos que se seguem. Regulamento tarifário ainda a ser ultimado A nova proposta de regulamento tari- fário está ainda a ser elaborada "para aprofundar algumas temáticas e abor- dagens", adiantou, por seu lado, Orlando Borges, presidente da Entidade Regula- dora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), não se comprometendo com uma data para a sua colocação em con- sulta pública. Em Abril foi apresentada uma versão no conselho consultivo da entidade reguladora, numa "perspectiva muito aberta" quanto ao modelo a im- plementar e sua aplicabilidade a diferen- tes modelos de gestão. "Essa avaliação está em curso", afirmou. "Mais de 50 por cento dos sistemas em regime de gestão directa não conse- guem ter uma política de recuperação de custos", alertou, por seu lado, Tiago Braga, administrador executivo da Águas e Parque Biológico de Gaia, no painel de debate sobre o tema. "Podemos colocar em causa a acessibilidade da população a este bem público", justificou. Do lado dos privados, Francisco Macha- do, presidente da AEPSA — Associação de Empresas Portuguesas para o Sec- tor do Ambiente, deixou outro aviso: "É muitíssimo importante salvaguardar a possibilidade de as concessões privadas continuarem a existir", alertou. "Os pro- jectos têm de ser bancáveis" e, para tal, tem de existir "previsibilidade na evolu- ção tarifária" — o que, na sua opinião, não se verifica caso seja aplicado um modelo de proveitos permitidos às concessões. Joana Filipe João Belo: "Cumprimos dez anos da Expo Conferência da Água" "Cumprimos com orgulho dez anos da Expo Conferência da Água. Cumprimos o nosso dever de informar através da antecipação da informação, através da auscultação de todos os players — sem excepção — que estão no nosso sec- tor e através da discussão vasta dos temas que importa a cada momento discutir", sublinhou o director-geral do grupo About Media, João Belo. "Informação gera melhor decisão. Acre- ditamos que temos contribuído também para aquela que tem sido a excelente evolução do sector", afirmara já na ses- são de abertura do evento. No seu discurso, João Belo anunciou que os Prémios de Qualidade de Serviço em Águas e Resíduos, uma iniciativa do grupo, terão agora um novo parceiro na organização: o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), que substituirá Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos. Os dados fornecidos pelo regulador continuarão, no entanto, a servir de base para a atribuição dos pré- mios. Os próximos galardões serão atri- buídos na 11' Expo Conferência da Água.

O a expo 1 agua Ar conferência da Sana Malhoa Hotel ... · 11 e 12 de Novembro de 2015 C o, O O O Qt WP 4 o O futuro do setor em contexto de mudança o, reestru ção à ino o de

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: O a expo 1 agua Ar conferência da Sana Malhoa Hotel ... · 11 e 12 de Novembro de 2015 C o, O O O Qt WP 4 o O futuro do setor em contexto de mudança o, reestru ção à ino o de

11 e 12 de Novembro de 2015

C

o

,

O •

O O Qt WP 4 o

O futuro do setor em contexto de mudança o, reestru ção à ino o

de 201,

1 ex PO

/conferência da

agua

Debate evidenciou visões diferentes sobre a reforma da água

Q o Reversão de fusões na água agita sector

Sana Malhoa Hotel, Lisboa o

1 a

expo Ar conferência da

agua

A reestruturação dos serviços de água em alta nunca reuniu consenso, resta saber se será uma questão de "forma ou de substância". O tema esteve em foco na 10.a Expo Conferência da Água, que se realizou nos dias 11 e 12 de Novembro.

Foi num clima de incerteza quanto ao

futuro político do País que Afonso Lo-

bato Faria, presidente do grupo Águas

de Portugal, apresentou na 10.a edição

da Expo Conferência da Água o traba-

lho feito no ãmbito do processo de fu-

são de 15 sistemas multimunicipais de

água e saneamento em três empresas

de âmbito regional (Águas do Norte,

Águas do Centro Litoral e Águas de

Lisboa e Vale do Tejo). A reforma da

água foi concretizada há quatro meses,

tendo as novas empresas entrado em

funções a 1 de Julho de 2015, mas a

oposição de muitos municípios ao pro-

cesso poderá ditar um rumo diferente.

"Uma boa parte do equilíbrio económi-

co-financeiro do sector está no grupo

Águas de Portugal", realçou o gestor, sa-

lientando os ganhos ao nível da redução

de gastos operacionais (os anunciados

90 milhões por ano) face à evolução

prevista para os próximos anos, nomea-

damente através do encerramento de

instalações, da redução de assessorias e

do reajustamento de equipas de traba-

lho. Na rubrica do pessoal, houve já um

corte de 70 por cento nos órgãos sociais

e de 46 por cento nas chefias, anunciou.

A reestruturação permitiu ainda, salien-

tou, uma descida média de dez por cento

nas tarifas de água em alta para 80 por

cento dos municípios abrangidos (de um

universo de 170) no abastecimento e 67

por cento no saneamento (de um total de

186). Os restantes pagam a factura e, a

partir de Janeiro de 2016, avança uma su-

bida progressiva destas tarifas ao longo

dos próximos cinco anos. Ou não avança?

A interrogação ganhou forma com a

queda do XX Governo Constitucional, no

dia 11 de Novembro, após a rejeição do

seu programa pela maioria parlamentar

formada pelos partidos à esquerda no

hemiciclo. O programa de Governo apre-

sentado pelo PS promete, sem ambigui-

dades, "a reversão das fusões de empre-

sas de água impostas aos municípios".

O município de Loures é um dos que

está a litigar o processo em tribunal,

como o adjunto do presidente da autar-

quia, José Manuel Baptista Alves, frisou

durante o debate realizado no evento:

"A Câmara de Loures manifestou-se

sistematicamente contra este proces-

so e irá até às últimas consequências

para contrariar a [sua] concretização."

E lembrou os motivos que têm unido os

autarcas das três principais zonas urba-

nas do País — Lisboa, Porto e Coimbra —,

que deverão suportar financeiramente

as descidas dê tarifa noutros concelhos.

"Não estamós contra a agregação ou o

encontrar de uma solução", salientou,

mas "os municípios não deviam ter sido

afastados da solução".

Será então mais "uma questão de forma

do que de substância?", atirou o mode-

rador do painel, Joaquim Poças Martins,

professor da Faculdade de Engenharia do

Porto. "Contestamos o modelo e a forma

de lá chegar", esclareceu José Manuel

Baptista Alves. E acrescentou: "Esta não

é a resposta única. Estaríamos disponí-

veis para equacionar uma solução, mas

a forma não é esta", observou.

"Essa é a conversa que eu ouço há dez

anos para não se concretizar isto", con-

testou de imediato o presidente da Câ-

mara Municipal de Vila Real, Rui San-

tos. "Todos diziam que era necessário

e importante [haver] uma convergência

tarifária, mas ninguém fazia nada. E os

cidadãos do interior continuam a ser pre-

judicados em detrimento dos outros."

Para o autarca, a reforma "não é perfei-

ta", mas vem dar resposta a um anseio

antigo das populações do interior. "Não

é justo que os habitantes do interior pa-

guem 40 por cento mais do que os do

litoral", disse, elogiando a "coragem" de

impor uma reforma "contra os interesses

dos grandes municípios".

Antes disso, Afonso Lobato Faria contes-

tara a ideia de que não houve envolvi-

mento dos municípios no processo. "A

administração da Águas de Portugal in-

vestiu muitas e muitas horas a explicar

este modelo aos municípios. Compreendo

que os municípios que vêem a sua tarifa

crescer não concordem com este proces-

so, mas não acho compreensível dizer que

não houve diálogo", disse. "Fomos muitas

vezes informados, poucas vezes ouvidos",

contrapôs José Manuel Baptista Alves.

A reversão do processo está agora em

cima da mesa com tomada de posse do

XXI governo constitucional liderado por

António Costa e apoiado no parlamento

por PCP, Bloco de Esquerda e partido

ecologista Os Verdes. O sector aguarda

os capítulos que se seguem.

Regulamento tarifário ainda a ser ultimado A nova proposta de regulamento tari-

fário está ainda a ser elaborada "para

aprofundar algumas temáticas e abor-

dagens", adiantou, por seu lado, Orlando

Borges, presidente da Entidade Regula-

dora dos Serviços de Águas e Resíduos

(ERSAR), não se comprometendo com

uma data para a sua colocação em con-

sulta pública. Em Abril foi apresentada

uma versão no conselho consultivo da

entidade reguladora, numa "perspectiva

muito aberta" quanto ao modelo a im-

plementar e sua aplicabilidade a diferen-

tes modelos de gestão. "Essa avaliação

está em curso", afirmou.

"Mais de 50 por cento dos sistemas em

regime de gestão directa não conse-

guem ter uma política de recuperação

de custos", alertou, por seu lado, Tiago

Braga, administrador executivo da Águas

e Parque Biológico de Gaia, no painel de

debate sobre o tema. "Podemos colocar

em causa a acessibilidade da população

a este bem público", justificou.

Do lado dos privados, Francisco Macha-

do, presidente da AEPSA — Associação

de Empresas Portuguesas para o Sec-

tor do Ambiente, deixou outro aviso: "É

muitíssimo importante salvaguardar a

possibilidade de as concessões privadas

continuarem a existir", alertou. "Os pro-

jectos têm de ser bancáveis" e, para tal,

tem de existir "previsibilidade na evolu-

ção tarifária" — o que, na sua opinião, não

se verifica caso seja aplicado um modelo

de proveitos permitidos às concessões.

Joana Filipe

João Belo: "Cumprimos dez anos da Expo Conferência da Água" "Cumprimos com orgulho dez anos da

Expo Conferência da Água. Cumprimos

o nosso dever de informar através da

antecipação da informação, através da

auscultação de todos os players — sem

excepção — que estão no nosso sec-

tor e através da discussão vasta dos

temas que importa a cada momento

discutir", sublinhou o director-geral do

grupo About Media, João Belo.

"Informação gera melhor decisão. Acre-

ditamos que temos contribuído também

para aquela que tem sido a excelente

evolução do sector", afirmara já na ses-

são de abertura do evento.

No seu discurso, João Belo anunciou

que os Prémios de Qualidade de Serviço

em Águas e Resíduos, uma iniciativa do

grupo, terão agora um novo parceiro na

organização: o Laboratório Nacional de

Engenharia Civil (LNEC), que substituirá

Entidade Reguladora dos Serviços de

Águas e Resíduos. Os dados fornecidos

pelo regulador continuarão, no entanto, a

servir de base para a atribuição dos pré-

mios. Os próximos galardões serão atri-

buídos na 11' Expo Conferência da Água.

Page 2: O a expo 1 agua Ar conferência da Sana Malhoa Hotel ... · 11 e 12 de Novembro de 2015 C o, O O O Qt WP 4 o O futuro do setor em contexto de mudança o, reestru ção à ino o de

expo

agua 0 futuro do setor e, de mudonça O

"kl

Novos PGRH "mais pragmáticos" Os Planos de Gestão de Região Hidrográfica para o período 2016-2021 estão em consulta pública atéao final deste mês.

Sem planos aprovados, Portugal pode perder fundos comunitários

O objectivo global definido na primeira geração de

Planos de Gestão de Região Hidrográfica (PGRH) de

atingir, em 2015, a boa qualidade de 60 por cento das

massas de água não foi alcançado, apesar de o ponto

de partida, em 2009, se situar nos 52 por cento. Algo

terá, assim, de mudar na segunda geração de PGRH,

que se encontra em consulta pública até ao final do

ano, para que Portugal possa recuperar o tempo per-

dido e conseguir, até 2027, garantir a boa qualidade de

todas as massas de água.

De acordo com Maria Felisbina Quadrado, directora

do departamento de Recursos Hídricos da Agência

Portuguesa do Ambiente (APA), os novos planos são

"mais pragmáticos e operacionais", mas não chega. "É

necessário dotar a administração de recursos humanos

e técnicos", afirmou, nomeadamente para assegurar

programas de monitorização de qualidade.

O vice-presidente da Associação Portuguesa de Re-

cursos Hídricos (APRH), António Guerreiro de Brito,

salientou que a questão central é que "os planos sejam

eficazes". Já o ex-ministro do Ambiente e professor do

Instituto Superior Técnico, Francisco Nunes Correia cha-

mou a atenção para a "grande instabilidade" causada

pelas mudanças institucionais, criticando a lógica de

"deitar tudo fora" e colocou a ênfase na mobilização

dos stakeholders.

Do lado dos sectores económicos vieram algumas

preocupações. Luís Mira, secretário-geral da CAP —

Confederação dos Agricultores de Portugal, destacou

os progressos feitos pelo sector agrícola nos últimos

anos, recordando que a "água é determinante como

factor de produtividade". Por outro lado, afirmou, os

problemas relacionados com nitratos "não têm, muitas

vezes, origem agrícola", recordando que este sector já é

sujeito a regras apertadas neste domínio.

Na mesma linha, Jaime Braga, assessor da direcção da

CIP — Confederação Empresarial de Portugal, apelou

a uma não diabolização da indústria, recordando que

"sem a agricultura e a agro-pecuária não vamos sair

desta crise". Ainda assim, Jaime Braga considera que é

possível incentivar as pequenas e médias empresas a

adoptar um regime de "descargas zero", desde que isso

seja promovido numa lógica de "incentivos e não num

ambiente de ataque e suspeita".

A nova geração de planos poderá ainda reforçar o papel

do sector da energia na regularização de caudais, mas

Nuno Portal, director de Sustentabilidade da EDP Pro-

dução, reconheceu que "não é fácil" cumprir os caudais

ecológicos pedidos pela APA.

Para Alexandra Serra, administradora da Águas de Por-

tugal — Serviços Ambientais, apesar dos 3 mil milhões

canalizados para o sector do saneamento nos últimos

anos, será necessário investir, neste novo ciclo, nos

pequenos sistemas que servem aglomerados de menor

dimensão, bem como assegurar que as águas residuais

são encaminhadas para as estações de tratamento

existentes. "É um tema que deve ser prioritário", de-

fendeu a gestora.

Joana Filipe

Três visões sobre as agregações em baixa "Não vejo grandes vantagens na agregação de sis- ter os olhos postos no objectivo. Numa estimativa

temas em baixa por todo o país", afirmou, na sua

intervenção no evento, Adelino Fortunato, professor da

Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra,

chamando a atenção para o facto de se tratar de um

monopólio natural local. "As redes [de distribuição] não

são partilháveis", frisou. Assim, os ganhos de escala e

eficiência serão essencialmente "ganhos administra-

tivos de gestão e facturação", podendo fazer sentido

"em algumas zonas colocadas na mesma bacia hidro-

gráfica". mas não sendo solução para todos os males.

O investigador salientou ainda que nem sempre se

verificam ganhos de escala. "Há aproveitamento de eco-

nomias de escala até uma certa dimensão. A partir daí,

suportam-se deseconomias de escala", disse, dando o

exemplo da reestruturação do grupo Águas de Portugal.

"A criação de cinco megaoperadores" ultrapassa tudo o

que seja "escalas mínimas eficientes", sentenciou.

Os modelos "podem ser muitos" e dependem apenas

da "criatividade" dos agentes, mas para Pedro Afonso

Paulo, ex-secretário de Estado do Ambiente, é preciso

global, o director-executivo da SAPEC calcula que

as perdas económicas associadas à duplicação de

estruturas por múltiplas entidades a prestar o mes-

mo serviço rondem os 250 a 500 milhões de euros.

"Dizem que não há dinheiro para investir no sector. O

dinheiro está lá", observou. Por outro lado, lembrou,

"um sector que não recupera custos não é sustentá-

vel a longo prazo", alertando que o fim dos fundos

comunitários está à porta.

"As médias encandeiam", salientou, por seu lado, José

Saldanha Matos, investigador do Instituto Superior

Técnico que alertou para a "grande heterogeneidade"

no desempenho das entidades gestoras que se escon-

de atrás dos grandes números. As elevadas perdas de

água e as afluências indevidas foram os principais pro-

blemas que elencou. Para lhes dar resposta, recomen-

dou uma aposta no conhecimento e na reabilitação,

mas também na recuperação de custos, dando prefe-

rência a soluções verticalizadas, até porque muitos dos

pontos críticos estão nas "fronteiras" entre sistemas.

Page 3: O a expo 1 agua Ar conferência da Sana Malhoa Hotel ... · 11 e 12 de Novembro de 2015 C o, O O O Qt WP 4 o O futuro do setor em contexto de mudança o, reestru ção à ino o de

"Os avisos lançados para o sector da água pretendem resolver os problemas

mais urgentes de forma a evitar eventuais multas da Comissão Europeia", referiu Manuela Matos

Especialistas apontam pistas sobre o futuro do sector No âmbito das comemorações da 10.a

Expo Conferência da Água, dois especia-

listas de renome do sector foram convi-

dados a reflectir sobre a próxima década.

PEDRO SERRA

O Estado demitiu-se da sua função

integradora e optimizadora da gestão de recursos hídricos

Os tempos do "dinheiro fácil" e do "ami-

guismo" terminaram e não vão voltar. "É

um modelo condenado", alertou Pedro

Serra, consultor e assessor do conselho

de administração da TPF Planege, na

sua reflexão sobre o futuro do sector

da água, realizada no âmbito das co-

memorações do décimo aniversário da

Expo Conferência da Água. Pedro Ser-

ra salientou a necessidade de encarar

de frente problemas novos e antigos,

alguns dos quais acicatados pela crise

económica, como o sobreendividamento

das autarquias e a falta de capacidade

de investimento na baixa; a deficiente

gestão de activos de água; ou a falta de

quadros na administração de recursos

hídricos. Pedro Serra alertou ainda para

a "desregulação" do sector hidráulico,

que faz com que haja rios "onde não

corre uma gota de água". "A liberação

do sector da electricidade não teve em

conta a gestão dos recursos hídricos",

afirmou.

"O Estado demitiu-se da sua função

integradora e optimizadora da ges-

tão de recursos hídricos", sentenciou

o consultor, lembrando que estes são

"mercados imperfeitos" e que "os pri-

vados não são obrigados nem está no

seu ADN cuidar do interesse público."

"Esta função do Estado tem de ser

recuperada", avisou, afirmando a ne-

cessidade de haver "pactos de regime"

para o sector, mas também um tra-

balho "em parceria com os privados",

porque "eles fazem parte da solução."

JAIME MELO BAPTISTA. As alterações de padrões de consumo

que se irão intensificar constituem um

dos grandes desafios para os serviços

de águas. Para o investigador-coorde-

nador do LNEC (Laboratório Nacional

de Engenharia Civil), Jaime Melo Bap-

tista, esta mudança é das grandes ten-

dências que se perspectivam no sector.

"Se, por um lado, a população estã a

Alterações de padrões de consumo

constituem um dos grandes desafios para os serviços de águas

envelhecer, há redução de natalidade

e menos pessoas 'em cada fogo, por

outro lado, o consumidor está cada vez

mais sensibilizado para as questões

ambientais e tende a reduzir consu-

mos. Isto tem impactos nas entida-

des gestoras e vai ser um desafio para

elas", sublinhou o especialista, que tra-

çou as principais tendências do sector

na 10.a Expo Conferência da Água.

Jaime Melo Baptista lembra que esta

mudança pode levar a uma "subutiliza-

ção de infra-estruturas", o que acarreta

problemas de sustentabilidade econó-

mica, tendo em conta o investimento jã

realizado, e poderá provocar ainda uma

sobreutilização de infra-estruturas. "Se a

população migra para determinada zona,

isso obriga a novos investimentos, o que

implica gastos elevados e impactos nas

tarifas difíceis de gerir", anteviu.

Até ao final do mês de Outubro de 2015

já foram lançados 30 avisos nos três ei-

xos do PO SEUR — Programa Operacional

Sustentabilidade e Eficiência no Uso dos

Recursos, no âmbito do Portugal 2020, o

que corresponde a 22 por cento do total

do investimento previsto neste programa

operacional. Os números foram apre-

sentados na 10.a Expo Conferência da

Água pela vogal da comissão directiva do

PO SEUR, Manuela Matos.

No total já foram recebidas ao longo deste

ano, desde que o programa foi operacío-

nalizado, 254 candidaturas, das quais 131

se destinam a apoios para o ciclo urbano

da água. Este valor representa 181 mi-

lhões de euros dos 634 milhões previstos

para o sector, informou Manuela Matos.

A responsável lembrou, no entanto, que

nem todas as candidaturas apresenta-

das serão aprovadas. "Os avisos lançados

> MAIS OUTSOURCING

A percentagem dos custos de

exploração do grupo Águas de

Portugal que se baseia na con-

tratação externa "é de apenas 9

por cento", observou Francisco

Machado, presidente da AEPSA

— Associação de Empresas Por-

tuguesas para o Sector do Am-

biente, na 10.a Expo Conferência

da Água. O dirigente associativo

defendeu, por isso, um maior

aproveitamento "da experiência

e vontade de trabalhar" das em-

presas privadas do sector, não

escondendo a sua preocupação

por o número de interlocutores

no mercado em alta se ter redu-

zido, com o processo de fusãode

sistemas multimunicipais. "Não

augura nada de muito positivo

para a actividade do sector pri-

vado", disse. Já ao nível munici-

pal, 21 por cento dos custos de

exploração são prestados em

regime de outsourcing, de acor-

do com os dados do Relatório

Anual dos Serviços de Águas e

Resíduos 2014. "Há uma ques-

tão de reputação que tem de ser

melhorada", reconheceu.

> FALTA DE INFORMAÇÃO

Se a qualidade da água em

Portugal atingiu hoje níveis de

excelência, muitos utilizadores

continuam a afirmar o contrário.

Esta é uma das conclusões de

um inquérito promovido pela En-

tidade Reguladora dos Serviços

de Águas e Resíduos (ERSAR) que

tem em vista a adequação da

prestação de serviço à satisfação

dos consumidores. "A percepção

do consumidor nem sempre cor-

responde à realidade", observou

Orlando Borges, presidente da

ERSAR. Uma das razões aferida

no inquérito, adiantou o regu-

lador, é que a maioria dos uti-

lizadores "não sabe como se

informar" sobre a qualidade da

água da torneira. Verificam-se

também lacunas nas informa-

ções prestadas aos consumi-

dores sobre as taxas que são

cobradas na factura da água. A

ERSAR irá agora cruzar os dados

de avaliação de desempenho das

entidades gestoras e de percep-

ção dos utilizadores para aferir

a necessidade de "desencadear

acções de comunicação e sen-

sibilização" junto dos cidadãos.

PO SEUR lançou 30 avisos até final do mês de Outubro Desde Fevereiro já foram recebidas 254 candidaturas, das quais 131 se destinam a apoios para o ciclo urbano da água.

para o sector da água pretendem resolver

os problemas mais urgentes de forma

a evitar reportes de incumprimento e

eventuais multas a Portugal por parte da

Comissão Europeia", referiu.

Manuela Matos esclareceu ainda que dos

mais de 600 milhões de euros previstos

para o sector da água, 400 milhões serão

atribuídos a fundo perdido, enquanto

200 milhões servirão para alavancar in-

vestimento sob a forma de instrumentos

financeiros. Os avisos com estas caracte-

rísticas deverão ser lançados no próximo

ano, estando ainda a ser estudadas as

formas de atribuição.

Ana Santiago

Page 4: O a expo 1 agua Ar conferência da Sana Malhoa Hotel ... · 11 e 12 de Novembro de 2015 C o, O O O Qt WP 4 o O futuro do setor em contexto de mudança o, reestru ção à ino o de

agua a O futuro do seto em contexto de mudança O

reestru . +Çà à TI agua futuro do Selai em mexto demo

Stru;u2cao e,o;acao

10.a EXPO CONFERÊNCIA DA ÁGUA

REVERSÃO DE FUSÕES NA ÁGUA AGITA SECTOR