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26 | REVISTA ABCFARMA | DEZ-EMBRO / 2011 TEXTO: CELSO ARNALDO ARAUJO FOTOS: DIVULGAÇÃO Vida Saudável Açúcar ou adoçante? Decisão cotidia- na para as pessoas em dieta ou com res- trições alimentares, a escolha pelo melhor tipo de açúcar a ser consumido pode ser ainda mais complexa quando avaliamos sua composição e indicações de uso. A opção deve ser bem avaliada para garantir a boa forma, mas, acima de tudo, não compro- meter a saúde. Para a Dra. Nairana Borim, nutricionista do Hospital Alemão Oswal- do Cruz, primeiro é importante entender que os adoçantes dietéticos são produzi- dos a partir de edulcorantes, substâncias naturais ou artificiais responsáveis pelo sabor doce, e que geralmente têm poder adoçante muito maior que o açúcar produ- zido a partir da cana-de- açúcar. Segundo ela, a indicação de adoçantes é recomendada oficial- mente apenas para quem segue dietas especiais, como as mercado diet/light a cada dia se mostra mais robusto, com índices de crescimento de cerca de 15% ao ano. Se no passado a indústria diet/light sofria o estigma de ter como clientela principal portadores de doenças crônicas, como diabéticos e hipertensos, hoje ter no rótulo a inscrição diet ou light agrega ao produto um conceito de saúde e bem-estar. Nesse mercado, uma das estrelas das prataleiras das farmácias são os adoçantes – ou edulcorantes artificiais. Em que se diferenciam os diversos tipos de adoçante? Como agem? A quem se destinam? Há riscos? Nesta matéria, especialistas da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres, a ABIAD, e a nutricionista Nairana Borim, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, tiram todas as dúvidas O O ABC dos Adoçantes

O ABC dos Adoçantes

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Matéria da Revista ABCFARMA: O ABC dos Adoçantes

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Page 1: O ABC dos Adoçantes

26 | Revista ABCFARMA | DeZ-eMBRO / 2011

textO: celsO aRnalDO aRaujOfOtOs: DivulgaçãO

Vida Saudável

Açúcar ou adoçante? Decisão cotidia-na para as pessoas em dieta ou com res-trições alimentares, a escolha pelo melhor tipo de açúcar a ser consumido pode ser ainda mais complexa quando avaliamos sua composição e indicações de uso. A opção deve ser bem avaliada para garantir a boa forma, mas, acima de tudo, não compro-meter a saúde. Para a Dra. Nairana Borim, nutricionista do Hospital Alemão Oswal-do Cruz, primeiro é importante entender que os adoçantes dietéticos são produzi-dos a partir de edulcorantes, substâncias naturais ou artificiais responsáveis pelo

sabor doce, e que geralmente têm poder adoçante muito

maior que o açúcar produ-zido a partir da cana-de-

açúcar. Segundo ela, a indicação de adoçantes

é recomendada oficial-mente apenas para quem segue dietas especiais, como as

mercado diet/light a cada dia se mostra mais robusto, com índices de crescimento de cerca de 15% ao ano. Se no passado a indústria diet/light sofria o estigma de ter como clientela principal portadores de doenças crônicas, como diabéticos e hipertensos, hoje ter no rótulo a inscrição diet ou light agrega ao produto um conceito de saúde e bem-estar. Nesse mercado, uma das estrelas das prataleiras das farmácias são os adoçantes – ou edulcorantes artificiais. Em que se diferenciam os diversos tipos de adoçante? Como agem? A quem se destinam? Há riscos? Nesta matéria, especialistas da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres, a ABIAD, e a nutricionista Nairana Borim, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, tiram todas as dúvidas

OO ABC dos Adoçantes

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de restrição alimentar para portado-res de Diabetes, ou para quem busca o emagrecimento. Para as pessoas que não têm essas preocupações, a nutricio-nista lembra que a ingestão do açúcar convencional é permitida, sendo neces-sário, contudo, evitar exageros.

Açúcar: um “vilão” com três carasJá que falamos de açúcar, um pa-

rêntesis. Os tipos de açúcares mais uti-lizados hoje são o refinado, o light, o cristal, o orgânico e o mascavo. Segundo a nutricionista, os melhores para utili-zação são o orgânico e o mascavo, pois não passam por processo de refina-mento, mantendo assim mais vitami-nas e sais minerais. O orgânico ainda

tem uma vantagem sobre o mascavo por ser produzido sem aditivos químicos. Para quem precisa perder ou con-trolar o peso e não se adapta ao uso de adoçantes, existe a opção do açúcar light, uma mistura de açú-car refinado com adoçantes. Contudo, este deve ser evitado por diabéticos, pois tem sacarose em sua composi-ção. Em 2008, lembra a Dra. Naira-na, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) decidiu reduzir a quantidade máxima da sacarina e do ciclamato (adoçantes artificiais) em bebidas e alimentos, sobretudo pela quantidade de sódio presente nestas duas substâncias. O uso da sacarina foi proibido no Canadá e o ciclama-to, nos Estados Unidos, uma vez que pesquisas científicas realizadas em

camundongos, nesses países, consta-taram que essas substâncias poderiam aumentam o risco de câncer. Embora não tenham sido realizadas pesquisas que comprovem esse risco para huma-nos, a nutricionista recomenda que o consumidor restrinja a quantidade no consumo desses compostos. “Os ado-çantes mais indicados atualmente são os à base de esteviosídeo e de sucra-lose, pois são extraídos de vegetais e frutas, portanto, naturais e sem con-traindicações”, diz a Dra. Nairana.

Para facilitar o conhecimento sobre os diversos tipos de adoçante, a nutricionista lista a seguir as características de cada um:

Naturais (extraídos de vegetais e frutas)

Tem 300 vezes mais poder edulcorante em relação à sacarose (presente no açúcar).Esteviosídeo Não tem contraindicação. Usado como adoçante de mesa, gomas de mascar, balas, bombons, bebidas, gelatinas, pudins, sorvetes e iogurtes dietéticos.

É uma molécula modificada da sacarose. Poder edulcorante em relação à sacarose: 600 vezes.Sucralose Não deixa sabor residual, não tem contraindicação Estável sob altas temperaturas, sendo utilizado em preparações destinadas à cocção. Usado como adoçante de mesa e em preparações quentes.

Artificiais (produzidos em laboratório)

Substância derivada do petróleo. Poder adoçante em relação à sacarose: 300 vezes.Sacarina Sabor residual amargo em concentrações altas. Não deve ser utilizada por pacientes hipertensos ou que tenham ten dência a reter líquidos devido ao sódio.

Substância derivada do petróleo. Poder adoçante em relação à sacarose: 40.Ciclamato Sabor agridoce é semelhante ao açúcar refinado (apresentando um leve gosto residual). Estável sob altas temperaturas, pode ser utilizado em preparações destinadas à cocção. Deve ser evitado por hipertensos, já que costuma aparecer na forma sódica, ou seja, combinado com sódio.

É produzida a partir dos aminoácidos encontrados normalmente nos alimentos: fenilalanina e ácido aspártico. Poder adoçante em relação à sacarose: 200 vezesAspartame Não apresenta sabor residual amargo. Sensível ao calor, perde o seu poder de adoçamento em altas temperaturas. É contraindicado para portadores de fenilcetonuria.

Derivado do potássio. Poder adoçante em relação à sacarose: 200 vezes.Acesulfame-K Apresenta sabor amargo em altas concentrações. Estável sob altas temperaturas.

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O mercado de adoçantes no Brasil

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Dicas de consumo

Açúcar: o ideal, sempre que possível, é evitar adoçar sucos, aprovei-tando o açúcar natural presente na fru-ta. Pessoas que consomem leites com achocolatado também devem evitar adoçar a bebida, pois o produto já con-tém açúcar em sua composição.

Adoçantes: quantos sa-chês posso consumir por dia?

Agora, quem quiser calcular a quantidade de adoçante que pode inge-rir diariamente sem qualquer prejuízo à saúde pode fazê-lo por intermédio do novo site da ABIAD, Associação Bra-sileira de Alimentos Para Fins Espe-ciais e Congêneres, Diet e Light, enti-dade que representa o setor no Brasil. O usuário que clicar no endereço da instituição (www.abiad.org.br) deve entrar no link Adoçantes para calcular o índice de Ingestão Diária Aceitável (IDA) de edulcorantes como Asparta-me, Acessulfame, Sacarina, Ciclamato, Sucralose e Estévia. O cálculo estabele-ce o consumo destes produtos conforme o peso corporal do indivíduo. Segundo a tabela, uma mulher com 50 kg pode consumir 66 envelopes de aspartame

por dia, 20 de sacarina, 75 de sucralose e 3 de estévia (número curioso para os mais naturalistas). De acordo com Car-los Gouvêa, presidente da Abiad, o novo site objetiva atuar mais como um por-tal de informações do segmento diet e light e de nutrição especializada. “O consumidor atual está cada vez mais consciente da importância da nutri-ção como uma ferramenta de melhoria de qualidade de vida e, por isso, deve contar com ações responsáveis e de educação por parte da indústria”, diz o dirigente. Ele tem procurado, em suas entrevistas e artigos, desmistificar a ideia de que adoçantes fazem mal à saú-de – mas defende o bom senso no consu-mo. O aspartame, por exemplo, tem sido

alvo de algumas dúvidas sobre sua se-gurança. Gouvêa explica: “O aspartame é metabolizado no corpo liberando dois aminoácidos: o ácido aspártico (presen-te em alimentos como carnes, aves, fei-jão, banana, etc) e a fenilalanina. Além dessas substâncias, o aspartame libera o metanol, em dose 200 vezes inferior à considerada tóxica, isto é, mesmo ín-dice apresentado nos sucos de laranja e de maçã e que é expelido naturalmente pelo organismo. Esse adoçante tem um poder edulcorante muito maior que o açúcar branco (é 200 vezes mais doce) e só não é indicado aos portadores de fenilcetonúria, um erro inato de meta-bolismo que não permite a ingestão de fenilalanina”.

Para comprovar a segurança da ingestão do aspartame – obedecendo obviamente as taxas de segurança como o Índice Diário Aceitável – IDA, que é de 40 mg por kg de peso corpóreo, o presidente da Abiad faz um cálculo:

“Pelo IDA, um adulto com 60 kg pode seguramente absorver 48 envelopes de 1 grama de aspartame ou quatro litros de refrigerante adoçados só com esse edulcorante por dia. Você conhece alguém que tome quatro litros de refrigerante light por dia? Se conhecer, mesmo assim você não precisa alertá-lo, porque ele ainda está dentro dos padrões de segurança de ingestão do aspartame.” n