O Adolescente e o Uso de Drogas

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    IntroduoO uso de drogas um fenmeno bastante antigo na histria

    da humanidade e constitui um grave problema de sade pbli-ca, com srias conseqncias pessoais e sociais no futuro dosjovens e de toda a sociedade.

    A adolescncia um momento especial na vida do indiv-duo. Nessa etapa, o jovem no aceita orientaes, pois esttestando a possibilidade de ser adulto, de ter poder e controle

    sobre si mesmo. um momento de diferenciao em que na-

    turalmente afasta-se da famlia e adere ao seu grupo de iguais.Se esse grupo estiver experimentalmente usando drogas, o pres-

    siona a usar tambm. Ao entrar em contato com drogas nesseperodo de maior vulnerabilidade, expe-se tambm a muitosriscos. O encontro do adolescente com a droga um fenmenomuito mais freqente do que se pensa e, por sua complexidade,difcil de ser abordado.1

    Epidemiologia

    Os levantamentos epidemiolgicos sobre o consumo de l-cool e outras drogas entre os jovens no mundo e no Brasil

    mostram que na passagem da infncia para a adolescncia

    que se inicia esse uso. Nos Estados Unidos, estima-se que cer-ca de trs milhes de crianas e adolescentes fumem tabaco. Olcool usado pelo menos uma vez por ms por mais de 50%dos estudantes das ltimas sries do que corresponde ao nossoensino mdio, sendo que 31% chega a se embriagar mensal-mente.2 Dryfoos3 encontrou na populao jovem americana (13a 18 anos) as seguintes taxas de uso de tabaco, lcool e drogas:12% de fumantes pesados (um mao ou mais ao dia); 15% debebedores pesados (cinco ou mais doses por dia em trs oumais dias dos ltimos 15); 5% fazem uso regular de maconha(20 ou mais dias no ltimo ms); e 30% fazem uso freqentede cocana (trs ou mais vezes no ltimo ms).4 O uso de dro-gas varia de acordo com o sexo e, em meninos, esse uso apare-

    ce associado com mais freqncia delinqncia.5-7

    No Brasil, o panorama mudou completamente nas ltimasdcadas. At o incio da dcada de 80, os estudos epidemiol-gicos no encontravam taxas de consumo alarmantes entre es-tudantes.8 No entanto, levantamentos realizados a partir de 1987

    pelo Centro Brasileiro de Informaes sobre as Drogas Psico-trpicas da Universidade Federal de So Paulo (CEBRID) tmdocumentado uma tendncia ao crescimento do consumo. Es-ses levantamentos foram realizados entre estudantes de pri-

    meiro e segundo graus em dez capitais brasileiras e tambmem amostras de adolescentes internados e entre meninos de

    rua. Em 1997, o CEBRID mostrou que existe uma tendncia

    O ad o lescen te e o u so d e d rog asO ad o lescen te e o u so d e d rog asO ad o lescen te e o u so d e d rog asO ad o lescen te e o u so d e d rog asO ad o lescen te e o u so d e d rog as

    A na Cecl ia Pet ta Rosell i M arqu esa e M arcelo S Cruz b

    aUnidade de Dependncia de Drogas do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de So Paulo (UDED/Unifesp). bNcleo de Estudos e Pesqui-

    sas em Ateno ao Uso de Drogas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (NEPAD/UERJ)

    ao aumento do consumo dos inalantes, da maconha, da coca-na e de crack em determinadas capitais.9-13 No entanto, o lco-ol e o tabaco continuam de longe a ocupar o primeiro lugar

    como as drogas mais utilizadas ao longo da vida e no momento

    atual (ltimo ms) e com mais problemas associados, comopor exemplo, os acidentes no trnsito e a violncia.14

    Estudo realizado em 1997 pelo Ncleo de Estudos e Pesqui-sas em Ateno ao Uso de Drogas da Universidade Estadualdo Rio de Janeiro, avaliou 3.139 estudantes da quinta srie do

    primeiro grau terceira srie do segundo grau de escolas p-blicas, possibilitando comparar as taxas de uso experimental

    ao longo da vida com as de uso habitual (ltimos 30 dias). Oestudo encontrou um consumo ao longo da vida e nos ltimos30 dias, respectivamente, de 77,7% e 19,5% para lcool; 34,9%e 4,6% para tabaco; 9,2% e 2,8% para inalantes; 7,1% e 1,6%

    para tranqilizantes; 6,3% e 2,0% para maconha; e 1,9% e 0,6%para cocana.15

    Entre os fatores que desencadeiam o uso de drogas pelos

    adolescentes, os mais importantes so as emoes e os senti-mentos associados a intenso sofrimento psquico, como depres-so, culpa, ansiedade exagerada e baixa auto-estima.16

    Psicofarmacologia

    Questes freqentes relacionadas ao uso de lcool e drogasincluem os mecanismos de ao dessas substncias, se o usotraz piores conseqncias na populao jovem e se existemdrogas mais fortes ou piores que outras.

    As pesquisas neurofisiolgicas sugerem que as drogas psi-cotrpicas usadas de forma abusiva estimulam a aodopaminrgica em vias mesolmbicas localizadas na reategumentar ventral e no ncleo accumbens, o que teria papeldeterminante no estabelecimento de dependncia.17 Alm deagir sobre vias dopaminrgicas, cada substncia age tambmem outros neurotransmissores, o que faz com que os vriostipos de drogas tenham efeitos diferentes. Assim, o lcool eoutros depressores do sistema nervoso central, como os benzo-

    diazepnicos, agem estimulando a neurotransmisso gabargica,provocando um efeito inicialmente desinibidor e posteriormente

    depressor. O lcool age tambm em receptores de glicina,glutamato (NMDA, AMPA e kainatos), acetilcolina

    (nicotnicos), protena G, AMP cclico e canais de clcio. Osefeitos crnicos incluem uma ao na adenil ciclase e interfe-rem na expresso gentica e de fatores neurotrpicos. No sesabe se esses efeitos teriam relao com o desenvolvimento dequadros como a sndrome alcolica fetal e a neurotoxicidadeno crebro do adulto.18

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    Os prejuzos provocados pelas drogas podem ser agudos (du-rante a intoxicao ou overdose) ou crnicos, produzindoalteraes mais duradouras e at irreversveis. O uso de drogaspor adolescentes traz riscos adicionais aos que ocorrem com

    adultos em funo de sua vulnerabilidade. Todas as substnci-as psicoativas usadas de forma abusiva produzem aumento do

    risco de acidentes e da violncia, por tornar mais frgeis oscuidados de autopreservao, j enfraquecidos entre adoles-centes. Esses riscos ocorrem especialmente com o uso do lco-ol, a droga mais utilizada nessa faixa etria. O lcool pode cau-sar intoxicaes graves, alm de hepatite e crises convulsivas.

    O uso abusivo de benzodiazepnicos pode potencializar osefeitos do lcool e, em altas doses, provocar depresso respira-tria. O uso crnico de benzodiazepnicos produz dependnciae sua retirada abrupta pode provocar sndrome de abstinncia.O risco do desenvolvimento desses quadros no deve ser ne-gligenciado pelos mdicos.

    Os inalantes, como a cola de sapateiro, solventes de tinta, es-

    malte, benzina e lana-perfume incluem ampla gama de substn-

    cias absorvidas pelos pulmes. As mortes durante intoxicaesso raras, podendo acontecer por asfixia ou arritmias cardacas.Vrias sndromes neurolgicas persistentes podem ocorrer com ouso crnico, principalmente neuropatia perifrica, ototoxicicidadee encefalopatia. Tambm podem ocorrer leses renais, pulmona-res, hepticas, cardacas e no sistema hematopoitico.

    A cocana e as anfetaminas estimulam as aes dopaminrgicae noradrenrgica, podendo produzir, durante a intoxicao, crisesconvulsivas, isquemia cardaca e cerebral, alm de quadrosmaniformes e paranides. O uso crnico induz a sndromes psi-quitricas semelhantes a depresso, ansiedade, pnico, mania, es-quizofrenia e transtornos de personalidade. Tambm provoca pio-

    ra do desempenho em tarefas que exigem a integridade de fun-es cognitivas, exausto crnica e alteraes funcionais de lobosfrontais. O uso endovenoso est relacionado transmisso de do-enas como a sndrome de imunodeficincia adquirida (AIDS), eas hepatites B e C. Alm das leses j descritas que podem serprovocadas por outras formas de utilizao da cocana, o uso docrack pode provocar vrios problemas pulmonares, como tosse,expectorao, pneumonia, hemoptise, bronquioespasmo e edemapulmonar.19 A cocana e, principalmente, o crack so drogasque podem desenvolver dependncia de forma rpida. Atividadesilcitas podem constituir o modo pelo qual crianas e adolescentesque no tm meios prprios adquirem as drogas.20

    Segundo Hird et al, a maconha produziria a sndromeamotivacional, caracterizada por passividade, apatia, falta de

    objetivos, de ambio e de interesse na comunicao, podendolevar queda do desempenho escolar, o que, por sua vez, podeaumentar a ansiedade, provocando aumento do uso.3

    Entre os alucingenos, o LSD age em vrios neuro-transmissores, mas sua ao sobre a serotonina parece ser a maisimportante. Durante a intoxicao, quadros delirantes ealucinatrios aumentam o risco de acidentes, entre outros.

    Diagnstico

    Outro aspecto muito importante desse tema como realizar aidentificao do jovem que usa drogas e tem problemas relacio-

    nados, o adolescente de risco. O uso de drogas um fenme-no multidimensional, que pode acontecer durante a adolescn-cia, quando tambm podem surgir outros transtornos psicolgi-cos, comportamentais e sociais. Entre as psicopatologias que mais

    incidem na puberdade (depresso maior, transtorno de dficit deateno/hiperatividade e do comportamento disruptivo) detec-tam-se sinais e sintomas semelhantes queles tambm observa-dos com o uso dessas substncias, dificultando o diagnsticodiferencial.21,22 Assim, uma avaliao inicial cuidadosa do jo-vem que procura tratamento pode auxiliar o diagnstico e me-lhorar o prognstico, pois essa populao no busca ajuda porconta prpria, principalmente quando esto em dificuldades re-lacionadas ao uso de drogas.23-25 Eles pouco relacionam poss-veis alteraes de seu comportamento, pensamento e mesmo deseu funcionamento orgnico com o uso dessas substncias, poisessas mudanas muitas vezes decorrem tambm da adolescn-cia normal. Quando o fazem, minimizam ou negam as evidnci-as e, dentro de uma postura ainda ambivalente, dizem que issono nada e que podero resolver tudo sozinhos. Portanto, esse

    momento muito especial e, dependendo da forma de abordar oproblema pelos familiares, amigos ou mesmo pelo profissional,

    a resistncia pode aumentar e a chance de intervir diminuir. Por-tanto, o primeiro passo da interveno com um jovem adequaresse contato, por meio de uma entrevista afetiva, ativa, objetiva

    e clara, buscando a cooperao do paciente e reforando o sigilodas informaes. Deve-se propiciar uma anamnese livre, na qualo jovem responda a duas questes bsicas: por que ele veio paraa consulta e o que ele pensa que est errado com ele. O profissi-onal deve conduzir esse contato tentando vencer a resistncia dojovem e obtendo as informaes necessrias para um diagnsti-co mais preciso. A confidencialidade e a importncia da percep-

    o por parte do adolescente de que tem um papel a assumir noprocesso de mudana que ali se inicia so amplamente debati-dos e garantidos. Esses cuidados so imprescindveis para de-senvolver um bom rapport, o objetivo principal dessa primeira

    entrevista.

    So objetivos dessa avaliao: estabelecer o vnculo; investi-gar sobre a sade fsica e mental; sobre o comportamento e orelacionamento social e familiar; o ajustamento escolar ou pro-

    fissional; sobre seu lazer; e, finalmente, sobre o uso de drogas e

    os problemas a ele associados, estabelecendo uma histria sobreo uso de drogas na vida. Aps essa avaliao global do adoles-cente, por meio da investigao das diversas reas de sua vida,realiza-se o exame fsico e solicitam-se exames laboratoriais, senecessrio. O jovem deve receber todos os resultados dessa in-vestigao. A seguir, define-se a gravidade do uso de drogas esuas conseqncias, desenvolvendo um plano de intervenosubseqente, com metas e critrios de sucesso esperados com otratamento. Se no for possvel aplicar tal estratgia, melhorencaminhar o jovem para um servio especializado.

    Sabe-se da importncia do sistema familiar nas intervenespara preveno e tratamento da dependncia de lcool e outrasdrogas. Para a maioria dos jovens, o suporte socioeconmicovem dos pais e, para eles, os servios de tratamento devem umesclarecimento legal sobre alguns problemas. Garantindo ao

    jovem o sigilo das informaes pessoais, os pais devem saber

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    compulsoriamente sobre risco de suicdio, sndrome de absti-nncia grave, intoxicao grave e abuso sexual. Muitas famli-as tambm devem ser inseridas no tratamento.

    Em funo da complexidade da questo, muito importanteque se utilize questionrios, inventrios e escalas desenvolvidospara o jovem, com o objetivo de fundamentar o diagnstico e oencaminhamento do caso.26,27 Para o diagnstico, recomenda-sea Classificao de Transtornos Mentais e de Comportamento daOrganizao Mundial da Sade (CID-10, WHO, 1992). No ca-ptulo sobre transtornos mentais e de comportamento decorren-tes do uso de substncias psicoativas (F10 a 19), encontram-seos critrios diagnsticos para vrios estados, sendo os mais im-portantes: intoxicao aguda, uso nocivo, sndrome de depen-dncia, estado de abstinncia, entre outros. Um diagnstico desndrome de dependncia usualmente s deve ser feito se trs oumais dos seguintes requisitos estiveram presentes durante o lti-mo ano: a) um forte desejo ou senso de compulso para consu-mir a substncia; b) dificuldades em controlar o comportamentode consumir a substncia em termos de seu incio, trmino ou

    nveis de consumo; c) um estado de abstinncia fisiolgico quan-do o uso da substncia cessou ou foi reduzido, como evidencia-do por: a sndrome de abstinncia caracterstica para a substn-cia ou o uso a mesma substncia (ou de uma substncia intima-mente relacionada) com a inteno de aliviar ou evitar sintomasde abstinncia; d) evidncia de tolerncia, de tal forma que do-ses crescentes da substncia psicoativa so requeridas para al-canar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas(exemplos claros disso so encontrados em indivduos depen-dentes de lcool e de opiceos, que podem tomar doses diriassuficientes para matar ou incapacitar usurios no tolerantes); e)abandono progressivo de prazeres ou interesses alternativos em

    favor do uso da substncia psicoativa, aumento da quantidadede tempo necessria para obter ou tomar a substncia ou para serecuperar de seus efeitos; e f) persistncia do uso da substncia,a despeito da evidncia clara de conseqncias manifestamentenocivas. Deve-se fazer esforos para determinar se o usurioestava realmente (ou se poderia esperar que estivesse) conscien-

    te da natureza e extenso do dano.

    Tratamento

    Como tratar o adolescente com problemas relacionados ao

    uso de lcool ou outras drogas? Os estudos de metanlise so-bre a efetividade dos diversos tratamentos psicoterpicos paraadolescentes conseguiram reunir em torno de 400 tipos dife-

    rentes de terapias utilizadas para adolescentes.28 Alm dessadiversidade de intervenes, a escolha do tratamento depen-deu de fatores extrnsecos, isto , da disponibilidade do trata-mento mais adequado para o jovem (prximo ao local de suaresidncia e compatvel com sua condio socioeconmica ecom seu sistema familiar), como tambm de fatores intrnse-cos, como a motivao do jovem e a gravidade de seu diagns-tico como um todo. O tratamento do adolescente deve levar

    em considerao tambm, o tipo da droga utilizada e a fre-qncia do consumo.29

    At 1974, os adolescentes dependentes de lcool ou outrasdrogas recebiam tratamentos desenvolvidos originalmente para

    adultos. Wheeler e Malmquist30 propuseram o primeiro trata-

    mento para jovens dependentes de lcool em regime de inter-nao (28 dias), utilizando o modelo Minnesota, uma inter-veno em grupo com o programa dos 12 passos dos Alcoli-cos Annimos.30 Estes autores levaram em considerao algu-mas diferenas entre o adolescente e o adulto, aplicando umatcnica essencialmente comportamental e diretiva.

    Cerca de 80% dos jovens com problemas associados ao uso

    de drogas so tratados em ambulatrios por meio de aborda-gens individual, grupal, familiar ou uma combinao dessas,aplicando-se modelos tericos variados.31 O tratamento podeser feito em regime de internao parcial (hospital-dia) e emregime de internao integral, utilizando-se a psicanlise, a te-rapia comportamental, a cognitivo-comportamental, a

    interacional e a sistmica, entre outras.32,33

    Nas abordagens psicodinmicas so privilegiadas formas detratamento que promovam o desenvolvimento de modos mais

    satisfatrios de relao consigo mesmo e com os outros. Dessaforma, o recurso ao uso da substncia deixa de ter a funo

    anteriormente utilizada, ou seja, a resoluo temporria de mo-tivaes inconscientes. Outras formas de tratamento se associ-am psicoterapia, que pode tornar possvel o encontro do indi-vduo com aspectos seus anteriormente inacessveis ao seuconsciente. Tal encontro possibilita que o indivduo ultrapasseimpasses existenciais, v alm das repeties inconscientes decomportamentos que impedem o desenvolvimento de sua ma-

    turidade e autonomia e permite que ele expanda o seu repert-rio de recursos para enfrentar as vicissitudes do dia-a-dia.34

    J o modelo mais utilizado e recomendado entre os norte-americanos e os ingleses o da terapia cognitivo-comporta-mental.35,36 A Teoria do Aprendizado Social de Bandura37 a

    base terica dessa interveno, sendo o uso de drogas consi-derado um comportamento aprendido, desencadeado e man-tido por eventos e emoes especficos e, portanto, possvelde ser modificado. A famlia considerada parte dessa dis-funo e deve ser abordada.

    Qualquer que seja o modelo terico, o tratamento deve estarestruturado em trs nveis: o desenvolvimento global do ado-lescente; a modificao do comportamento de uso de lcool oudrogas e a resoluo dos problemas associados, alm do rea-juste familiar, social e ambiental.

    O tratamento do dependente de substncias psicoativas bastante complexo e os estudos sobre a efetividade dos tra-

    tamentos para essa populao adolescente devem ser repli-cados, pois os resultados ainda so pouco animadores.38 Paraa populao adulta, a literatura mostra que tratar melhorque no tratar, mas no existe nenhum tratamento mais efe-tivo at o momento.39 A recada, o desejo pela droga (a fis-sura), o pouco envolvimento nas tarefas escolares ou notrabalho, o lazer insatisfatrio, a polidependncia, o inciode uso do lcool muito cedo na vida, as alteraes de com-portamento e o envolvimento criminal so fatores que con-tribuem para tornar o tratamento menos efetivo.40,41 A absti-

    nncia e o redimensionamento do funcionamento escolar,familiar e social so recomendados para aumentar a efetivi-dade das intervenes.42

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    ConclusoA identificao do adolescente de risco em funo do uso de

    lcool ou drogas e a definio do melhor tratamento ainda soassuntos bastante complexos e alvo de muitas discusses. Al-gumas caractersticas do adolescente de risco podem auxiliaros trabalhos preventivos e de triagem para minimizar esse pro-

    blema. Segundo Newcomb (1995), os fatores de risco para o

    uso de drogas incluem aspectos culturais, interpessoais, psico-

    lgicos e biolgicos. So eles: a disponibilidade das substnci-as, as leis, as normas sociais, as privaes econmicas extre-mas; o uso de drogas ou atitudes positivas frente s drogas pelafamlia, conflitos familiares graves; comportamento problem-

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    tico (agressivo, alienado, rebelde), baixo aproveitamento es-

    colar, alienao, atitude favorvel em relao ao uso, incioprecoce do uso; susceptibilidade herdada ao uso e vulnerabili-

    dade ao efeito de drogas.

    Pesquisas etnogrficas e epidemiolgicas utilizando uma me-todologia rigorosa podem fundamentar projetos e preveno emtodos os nveis, fornecendo dados e elucidando muitas questes,pois o custo pessoal e social com a dependncia nos pases de-senvolvidos tem sido muito maior que o gasto com a preveno.No Brasil, mesmo sem tradio nessa rea, preciso priorizarpolticas preventivas, gerando projetos mais ajustados realida-de brasileira, pois prevenir ainda melhor que remediar!

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    Rev Bras Psiquiatr 2000;22(Supl II):32-6Uso de drogasMarques ACPR & Cruz MS

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