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O alívio pela graça uma análise do conflito ansioso do pecador e a graça de deus pela justificação da fé

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Missão Cristã Integral®

“O evangelho todo, para o homem todo, para todos os homens” www.missaocristaintegral.com

O ALÍVIO PELA GRAÇA

Wolney Garcia[*]

UMA ANÁLISE DO CONFLITO ANSIOSO DO PECADOR E A GRAÇA DE DEUS PELA JUSTIFICAÇÃO DA FÉ

Desde a modernidade até os dias de hoje, vem-se empreendendo um grande esforço por meio de algumas correntes teológicas e da psicologia para eliminar do sentido da consciência humana o tema da culpa pelo pecado, tentando muitas vezes “desculpar o que é indesculpável” em relação ao pecado, dizendo que o homem pode resolver por si mesmo este problema. Entretanto, não foi possível retirar do vocabulário humano e principalmente do inconsciente que é ético, palavras e sentimentos como: pecado, responsabilidade, sentimento de culpa etc.

O estudo presente expõe uma reflexão respaldada pela teologia bíblica sobre o problema humano da culpa, apontando Deus como solução, sendo assim, o único autor da cura por meio da graça da justificação pela fé em Cristo Jesus, como está escrito em Rm 1.16-17.

PALAVRAS-CHAVE:

Culpa, pecado, sentimento de culpa, salvação, justificação.

Primeira Parte

UM CASO CLÁSSICO DE ESGOTAMENTO ESPIRITUAL

Nestes últimos dias, temos visto algo que vem atormentando profundamente a humanidade. Algo que vem atingindo principalmente a “Igreja”, levando a fé de muitos à destruição.

Em Paulo, vemos a existência de um conflito que estava impedindo o caminhar de alguns cristãos, o qual ele chama de “ansiedade” (Filipenses 4.6).

“Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças”.

A Bíblia apresenta-nos de dois modos a ansiedade, como aflição ou angústia e como um sentimento sadio de preocupação. O Senhor sempre nos ensina a não ficarmos ansiosos (preocupados) com coisa alguma, pois ele mesmo sabe aquilo de que precisamos e irá prover cada uma delas ou “todas as nossas ansiedades” (Mateus 6.25-34). Lemos em Filipenses que devemos “levar nossas petições a Deus”, ou seja, lançar toda e qualquer preocupação aos pés

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da Cruz em atitude de agradecimento por experimentar pela fé, a “paz de Deus que excede todo o entendimento” (Filipenses 4.6,7).

Deus se interessa por nós e, por isso, diz que “jamais permitirá que o justo seja abalado” (Salmo 55.22b), mas para isso, devemos “confiar ao Senhor nossos cuidados e ele nos sustentará” (Salmo 55.22a). De igual modo Pedro ensina-nos a “lançar sobre Cristo toda ansiedade porque ele tem cuidado de voz” (I Pedro 5.7).

A ansiedade manifesta-se de diversas formas e quando se manifesta através da aflição ou angústia muitos “morrem” espiritualmente. Porém, temos uma arma poderosa, que é capaz de penetrar até a alma, arrancando toda podridão, dando-nos, assim, o alívio de graça que é a Palavra de Deus. E através dela devemos reconhecer que a soberania de Deus, o seu amor que é incondicional e seu agir nos sustentará. Portanto, havendo examinado o homem seu verdadeiro estado e estando disposto a entender e aceitar aquilo que Deus lhe tem proposto experimentará o melhor de sua graça.

O homem, por sua própria natureza, tem uma tendência a ser autossuficiente no que diz respeito a sua “liberdade”, liberdade essa que se torna em decadência, porque uma “falsa liberdade” gera “falsos frutos” e, sendo assim, o que irá colher? Sua própria miséria.

O homem natural peca em virtude de sua própria ignorância, todavia o homem “espiritual” peca por negligencia, já que a Lei de Deus lhe foi exposta.

Por que muitos cristãos têm literalmente definhado em sua fé? O que dizer dos “sepulcros caiados”, belos por fora, porém, podres por dentro? Homens que, por sua vez, preferem esconder-se em suas medíocres façanhas pecaminosas, em vez de arrancarem a lepra que os consome.

Por meio disso, o gemido de muitos tem se ouvido com clareza; é como se dissessem: minha alma está seca, minhas vestes estão sujas, minha lepra está me consumindo; ah! Como a angústia me enfraquece; ah! Sinto-me como vaso de desonra, e o que significa ser um vaso de desonra se não o negligenciar sua Lei. Se alguns são “vasos de desonra”, esta desonra é confinada a eles mesmos. Sendo assim, o que restará? Vergonha e dor, e o que restará de sua fé? Apenas culpa.

I. CONFLITOS E RESPOSTAS (UMA QUESTÃO PSICOTEOLÓGICA)

Como vimos anteriormente, a consequência dos males da alma tem sido muito comum no meio de muitos cristãos. Nunca se ouviu tanto a respeito da angústia e da depressão nesses últimos dias.

Existem conceitos e experiências humanas, arraigadas no ocidente, que independem de credo, sexo, raça ou mesmo religião. A culpa é um desses fenômenos. A sociedade ocidental, desde o liberalismo ocidental do século XIX[1], como já foi dito, mormente sob a influência da teologia da morte de

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Deus, vem tentando resolver o problema da culpa fora da religião e, o que é preocupante, fora dos ensinamentos de Jesus Cristo. A psicanálise também caminhou nessa direção. Nos meios psicanalíticos, acreditou-se inclusive que a destruição pura e simples do conceito cristão de pecado seria suficiente para liberar toda a humanidade ocidental do fardo terrível da culpa. Alguns psicanalistas, à semelhança de Wilhem Reich, dedicaram suas vidas e trabalharam em suas pesquisas para esse fim. O resultado não foi o esperado pelos adeptos dessa corrente psicológica. A psicanálise enfrenta uma de suas piores crises de plausibilidade, frente aos velhos conflitos e novas demandas do homem contemporâneo. Hoje, Reich já passou a ser um dos psicanalistas quase esquecidos. Os conceitos de pecado e de culpa voltaram à ordem do dia, com a chamada vingança do sagrado e a força da emergência e eclosão da religiosidade que permeiam o nascimento do século XXI.

A origem teológica da culpa está no pecado adâmico, quando Adão comeu da árvore do conhecimento do bem e do mal e desobedeceu a Deus, fato esse amplamente narrado em Gênesis 2 e 3. Nesse sentido, o homem herda a culpa dessa transgressão e já nasce devedor ante o Criador. A culpa do primeiro homem lhe é imputada, e a questão segundo a qual o homem é pecador porque peca[2], após adquirir consciência, carece de relevância, posto que ele já nasce pecador.

Nesse sentido, mostra que o homem, por sua natureza caída, em consequência de ser ele dominado por suas próprias emoções e de sua mente cauterizada pela ditadura deste mundo, digo isso, no sentido do homem natural, mostra-se acovardado ante o perigo. Muitos cristãos que, porventura, sintam ameaçados pelo pecado preferem levar sozinhos os fardos que se amontoam sobre suas costas supondo, assim, solucionar sozinhos seus males, sem ajuda da parte de Deus[3]. O homem passa a ser, então, escravo de sua própria vontade. Para o homem, entretanto se torna em nada, só uma profunda frustração. Por quê? Porque ele espera algo que a si mesmo não pode dar. Ah! “Homens de pouca fé” se dão por satisfeitos por si próprios, não sabendo que a natureza do pecado é a pessoa não sentir necessidade da graça de Deus[4], ou até mesmo preferem ocultar seus pecados trazendo, com isso, consequências terríveis para sua vida.

Negar o pecado acostumar-se a ele e cauterizar a própria consciência podem livrar o indivíduo da culpa consciente, mas não o livram da culpa inconsciente especialmente porque o inconsciente é ético (Jung, 1988). Ele continuará a apresentar a conta a ser paga em decorrência do pecado perante o pecador. E essa conta torna-se cada vez mais elevada, pois pode traduzir-se em sintomas de doenças psicossomáticas[5] à semelhança do que ocorreu com Davi no Salmo 32[6]. Hoje, com muitos dentro de nossas Igrejas, e porque não dizer de supostos “líderes” dentro de nossas comunidades.

Isso nos lembra de certo episódio de um psicólogo. Ele atendeu uma mulher cristã, que sempre chorava copiosamente diante do anúncio da morte de uma personalidade pública, um político, um artista etc. Após uma anamnese bem elaborada, ficou comprovado que aquela mulher aparentemente não tinha

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nenhuma razão consciente para chorar. No entanto, em certa consulta, ela confessou que cometera seis abortos e que não se sentia culpada por essa prática, considerada comum em sua classe social média alta. Instada a refletir sobre a relação entre o seu choro compulsivo e a morte de seus filhos que não chegaram a nascer, a mulher chegou à conclusão de que estava chorando, na verdade, pelos seus seis filhos perdidos nos abortos pecaminosos. Nesse caso, a sociedade perversa ensinara a essa mulher a recalcar a sua culpa consciente. O seu inconsciente, todavia, continuava a exigir o pagamento da culpa pelo aborto dos filhos. E, quanto à culpa inconsciente, para essa, graças a Deus não existe remédio humano que possa apagar, só, o remédio divino[7]. O Sangue purificador de Jesus Cristo. Aleluia!

Destaquemos também outra variável geradora da culpa, aquela que Tournier (1985) classifica de psicológica e que denomina culpa imputada. Nesse caso, o indivíduo sofre as consequências da culpa de um terceiro elemento. Essa afirmação tem sustentação na doutrina bíblica do bode expiatório (Lv 16). O bode expiatório, como ficou conhecido o animal que participava do ritual de expiação, é aquele destinado por Deus para levar sobre si as culpas do povo. Ele é um símbolo bíblico de Jesus Cristo, que levou sobre si os nossos pecados. O sacerdote depositava sobre o bode expiatório, os pecados do povo. Após essa confissão pública, o bode era solto no deserto. Ele continuava vivo e perambulava em total liberdade, como garantia de que os pecados do povo estavam perdoados. Esse ritual, naquele momento da história anterior à vinda de Cristo, trazia alívio para os seus participantes. O bode expiatório transformou-se ao longo da história humana e continua latente e vivo em algumas famílias, igrejas, empresas, etc., nas quais geralmente um ser humano termina levando sobre si, sozinho o pecado e a culpa de todos os demais. Não é incomum em um grupo haver alguém que se destaque pela sua santidade e consagração e ser penalizado por isso. Tal punição produz nas demais pessoas alívio momentâneo e a falsa sensação de que todos os outros estão expiados e justificados de suas culpas, de que todos os demais são “santos”. É o bode expiatório pós-moderno, a façanha dos medíocres religiosos e fariseus, é a própria experiência narrada em Jo 8 do grande e profundo desafio de Jesus lançado àqueles que pretendiam apedrejar a mulher adúltera.

É importante citar que a situação daquele que serve de bode expiatório é mais delicada. Ele termina por levar sobre si não somente a culpa dos demais que continuam livres para pecar, como carrega ainda o fardo das doenças do grupo ao qual pertence. Não raro, o sujeito que faz o papel de bode expiatório adoece. Muitos que padecem desse mal deveriam lembrar e refletir e o mais importante, praticar sobre Isaías 53. 4-6. Nesse texto, Jesus é apresentado como o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, isto é, aquele que está habilitado e capacitado a levar sobre si mesmo todos os nossos e nos livrar da nossa culpa. Porém, a graça de Deus nos limpa da culpa, e não as consequências que está por trás dela. É de vital importância que se cite isso.

Quero citar outro tipo de culpa o qual não é muito comum, porém ocorre em muitos casos, o que (Tournier) chama de culpa imposta. Essa expressão de culpabilidade àquela culpa que o indivíduo sente, por ter sido obrigado, ou não,

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a participar de um pecado, como por exemplo: a pessoa é embriagada por outros e acaba participando de um pecado. Um outro exemplo mais comum disso é o da mulher que sofre um estupro. Nesse exemplo, a pessoa é duplamente punida: pela violência sofrida e pela culpa que lhe foi imposta e que se sente obrigada a assumir. Quanto sofrimento, só o perdão de Deus pode libertar uma consciência assim tão atormentada por uma “falsa culpa” que lhe foi imposta.

Nos dois casos acima citados, na culpa imputada e na imposta o risco que a pessoa exposta a esse tipo de experiência corre é o de acostumar-se com a culpa, reproduzindo constantemente as situações que geraram os sentimentos de culpa e, até mesmo, padecer de culpa profunda, sem causa aparente. Em outras palavras, é como se a memória da culpa fosse constantemente reavivada, fazendo a pessoa sentir as mesmas emoções vivenciadas na experiência traumática.

II. UMA “CULPA” DECADENTE (UMA ANÁLISE PRÁTICA DA QUESTÃO)

O conceito de culpa está definido como: o sentimento que uma pessoa tem de ter errado, violado algum princípio, seja ele ético, moral ou religioso[8].

Há algum tempo a psicanálise erroneamente caminhou nessa direção, pois, apontava a religião como sendo a maior culpada, pois acreditava-se que, destruindo o puro e simples conceito cristão de pecado, seria suficiente para libertar toda a consciência humana do fardo da culpa, posto que a psicanálise enfrenta a pior crise de aceitação frente, principalmente, à igreja. Há quem diga que o “simples conceito de pecado” é culpa da nossa natureza caída. Ora, pois, que nós temos uma natureza caída isso é inegável, mas o fato de o homem ser pecador ou não, é inerente à condição ou estado de sua natureza caída. Qual foi, porém, a grande influência do primeiro Adão nessa decadência transferida?[9] Analisemos o texto:

“E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: de toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis 2.16,17).

Esta doutrina da “decadência transferida” a qual me refiro significa tudo aquilo que é impuro; é inclinação da carne e porque não dizer, inimizade contra Deus. Como diz o capítulo oito, versículo sete de Romanos. O homem desobedece a Deus, não crê em Deus; pois em consequência do pecado, em consequência de ser ele dominado pelo diabo, tudo aquilo que Deus o ordenou foi perdido pela negligência e pelo pecado. Vemos neste capítulo que a negligência pela omissão resultou em morte adquirida.

Na primeira parte do versículo dezesseis, vemos uma palavra de ordem: “E o Senhor Deus lhe deu esta ordem”. Na segunda parte, uma licitude foi imposta por Deus, noutras palavras, foi outorgada ao homem uma livre escolha um “livre-arbítrio” [10], e diz: “de toda árvore do jardim comerás livremente”, e o versículo dezessete confirma uma condição imposta por Deus: “mas da árvore

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da ciência do bem e do mal, dela não comerás”, ou seja, tudo lhe é lícito comer, mas com uma condição, menos essa. Por fim, na segunda parte, vemos a consequência em meio à desobediência. “Porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás”.

Vemos por meio de tudo isso que, não só a natureza adâmica nos fora transferida, como também a culpa por sempre negligenciarmos a condição imposta pela Palavra de Deus e, sendo assim, o homem herda a culpa da desobediência dessa transgressão e já nasce devedor perante Deus já que a graça de Deus não retira a culpa pelo pecado, mas “retira a condenação que está por trás dela” [11]. Por isso “todos fomos feitos pecadores por causa de Adão” (Romanos 5.12) e libertos por Jesus Cristo.

Em Romanos no capítulo sete, também vemos a consequência da influência da culpa adquirida, ou seja, o conflito entre a nova e a antiga natureza do homem, já regenerada por Cristo. No versículo vinte e quatro, Paulo mostra-se profundamente culpado por alimentar o que ele chama “corpo dessa morte”, porque, a pergunta que ecoou sobre sua alma foi: “quem me livrará do corpo dessa morte?”. A resposta, todavia veio como um grito de vitória: “mas graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor”. Por meio de tudo isso, vemos que a grande influência do primeiro Adão sobre a humanidade foi a culpa da decadência, onde resultou em “morte adquirida”.

III. CARÁTER E PERSPECTIVAS DE ACORDO COM ROMANOS 6.19,22

“Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne, pois assim como apresentastes os vossos membros como servos da impureza e da iniquidade, assim apresentai agora os vossos membros como servos da justiça para Santificação” (Romanos 6.19,22).

Da escravidão ao pecado para a servidão voluntária a um novo Senhor. É nessa perspectiva que Paulo mostra-nos, em uma linguagem pura e simples, a realidade espiritual da humanidade. São nos apresentados dois senhores e uma só realidade, ou serviremos a Cristo, ou ao pecado. Não há meio termo.

Todos esses temas nos levam a crer que não há independência para o homem, porém, muito mais, não há independência no reino espiritual nessa guerra. Ao contrário do que temos visto; muitos se predispõem à servidão e preferem adequar-se ao uso desonrado de tudo aquilo que é impuro, a estarem caminhando na justiça e na servidão daquele que, pela sua graça, nos “purifica de todo pecado”, a saber, Jesus Cristo.

É importante também saber que no estado pecaminoso do homem, ou seja, em sua decadência natural, há de se esperar uma escravidão da própria vontade, contudo, o homem natural em pecado, prefere dizer em sua arrogância: tenho controle sobre mim, ou até mesmo, sou livre em minha vontade, a reconhecer e confessar sua escravidão. O homem natural sente-se bem ao pensar que é livre na totalidade da sua vontade. Ledo engano. São como marionetes nas mãos do diabo. Dessa forma, a afirmação da vontade do homem ser livre

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torna-se inegável a posição do livre-arbítrio, pois cabe a ele próprio escolher ser, ou não escravizado pelo diabo “na carne” ou ser dominado pelo “filho de Deus pela fé”. (Gálatas 2.20,21).

É nessa perspectiva que Paulo alerta-nos reiteradamente a respeito de uma constante batalha:

“Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne” (Gálatas 5.17). Podemos notar que os que buscam uma vida na plenitude do Espírito de Deus certamente, experimentarão a abolição dessa escravatura, ou seja, a libertação de toda condenação, para receberem a carta de alforria através da qual Cristo nos outorgou liberdade, ao nos dizer: “eu cumpri toda justiça”. Por isso, verdadeiramente, sereis livres ao receberem minha palavra. (nota minha)

Nesses versículos que o Apóstolo nos coloca, concluímos que: (1) O pecado afasta-nos de um propósito, não nos tira do propósito e sim afasta, porque nossas iniquidades não anulam as promessas de Deus sobre nós, mas, sim atrasam aquilo que Deus tem nos proposto. (2) A luta contra o pecado traz-nos conflitos internos, mas, como? No relato do apóstolo torna-se evidente isso: “porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir”. A humanidade desespera-se ao ver sua própria “lepra” e a pergunta que ecoa sobre nós em Romanos sete, versículo vinte e quatro é: “quem me livrará do corpo dessa morte?”. É como se não houvesse mais esperança, é como se ele dissesse: Senhor, quem irá me libertar? A resposta veio como um canto de vitória. Jesus Cristo o libertador.

Como já foi abordado, todo ato tem sua consequência, seja ele bom ou não e a questão da acusadora culpa do pecado não deixa de ser uma exceção, porém, uma vez que o cristão se confessa perante Deus, alcança sua misericórdia. Este fato me faz lembrar de uma ilustração que diz:

“O Cristão procurou viver piedosamente, mas, como todo ser humano, não conseguiu. Morreu e foi chamado diante do Criador. Compareceu perante o julgamento do Juiz, do grande trono branco (Ap 20.11-15). Lá estavam Deus, o grande justo Juiz, o acusador dos irmãos fazendo o papel do promotor e o Advogado do cristão, Jesus Cristo (1 Jo 2.1). Deu-se início ao julgamento do Cristão”. O promotor relatou, um a um, todos os pecados cometidos pelos discípulos de Jesus, inclusive suas promessas de santificação e seus fracassos, suas alianças com Deus e sua incapacidade de cumpri-las, suas omissões, suas negligências e suas fraquezas. E exigiu o cumprimento da justiça, expressa em Ezequiel 18.4: “A alma que pecar, esta morrerá”, completando com a exigência de Romanos 6.23: “O salário do pecado é a morte”. O advogado do cristão pediu a palavra:

_ O promotor está correto ao exigir a justiça, contudo quero lembrar que eu cumpri toda a justiça divina, quando ofereci a minha vida para o resgate do pecador (Rm 1.17, 2 Co 5.21). A punição que deve ser imposta ao cristão já me foi atribuída. Resta a ele apenas receber a graça da justificação que traz o perdão e o alívio para a sua culpa. (“Eu sou o cordeiro de Deus, que tira o

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pecado do mundo”, Jo 1.29). Fez-se um grande silêncio no céu. O Juiz perguntou ao cristão:

E o que tens para apresentar em sua defesa?

O cristão refletiu um pouco e respondeu:

_ Eu cri em Jesus Cristo e fui justificado pela sua pessoa, sua vida e suas obras (Rm 5.1). Novamente, fez-se um grande silêncio e todos apuraram os ouvidos para ouvir a sentença do grande Juiz, que assim determinou:

_ “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Estais justificado e perdoado."

É certo que fomos justificados pela redenção de Cristo e que as promessas do Senhor sobre nós são eternas, mas, o fato é que nossa salvação depende do estado ou caráter em viver uma vida plena no Espírito de Deus e, essa plenitude vem de um processo que se estende durante toda vida, e se quisermos viver nessa plenitude no Espírito de Deus temos que tão somente renunciar ao pecado, como diz o apóstolo “que tão de perto nos rodeia” e muito mais, manter uma comunhão íntima com aquele que, pelo seu sangue salvou-nos e nos purificam de todas as hostes malignas. Digo isso porque Deus abre-nos o caminho para ter uma comunhão com ele, ele não é um Deus que se esconde e sim, que se revela ao homem na medida em que se deixa conhecer. Podemos ver nitidamente na expressão de Paulo ao dizer: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5.8). O versículo nove afirma que: “muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue”. Uma comunhão maior só se tornará evidente após passarmos pelo sangue purificador de Jesus Cristo. Paulo, com essas palavras magnifica ainda mais a imensurável graça de Deus sobre nós e vemos que o plano divino da salvação é eterno e tem a natureza de uma aliança. Isso é louvável e se confirma mais uma vez em Paulo, que diz em sua epístola: “no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra” (Efésios 1.7-10).

Após termos visto o poder restaurador de Cristo e os efeitos de sua graça inaudita, passemos a outro alvo a ser atingido: uma “fé salvadora”. Na primeira epístola de Paulo a Timóteo, há algumas advertências acerca deste “alvo”, não em rejeitá-lo, mas, sim, em cumpri-lo, e diz: “Ora, o intuito da presente admoestação visa o amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia” (I Timóteo 1.5). Na primeira expressão “ora, o intuito da presente admoestação”; destaco a expressão “o intuito”, que vem do grego, e transliterada, “te/loj” significa “alvo”. Esta, obviamente, é uma expressão de suma importância. Esta palavra mostra-nos o poder da fé em seguir um propósito, propósito este que norteia a vida do crente, lhe dá uma direção e mostra-lhe o caminho. É como se o apóstolo estivesse dizendo: o alvo que eu

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quero atingir com essas palavras é a sua fé, não fuja desse alvo, prossiga em sua fé, não saia do propósito.

Noutras palavras, o ensino aqui tem como objetivo mostrar-nos os “frutos da fé” e quais são eles: coração puro, consciência íntegra e fé sem hipocrisia. Em Atos, no capítulo quinze e versículo nove, fala-nos também de um “coração puro” e diz: “purificando-lhes pela fé o coração” (Atos 15.9b), Deus purifica o coração do homem mediante sua fé. Não há meio termo. Que boa ocasião para uma autoanálise. Até que ponto minha consciência me alivia e o que dizer de primeira Pedro: “mas a indagação de uma boa consciência para com Deus por meio da ressurreição de Jesus Cristo” (I Pedro 3.21b). A grande verdade de todas essas referências que abordamos é uma só, não pode haver amor sem temor a Deus e a integridade de uma consciência pura fundamentada na ressurreição de Cristo. Essa conclusão está alicerçada na epístola de Paulo aos Gálatas em dizer: “logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”.

BIBLIOGRAFIA

[1] Este movimento ocorrido nos círculos protestantes dos séculos XIX e XX, baseado na suposição de que o cristianismo pode ser conciliado com as aspirações humanas positivas, dentre as quais a busca de autonomia. O liberalismo deseja adaptar a religião ao pensamento e à cultura moderna. Consequentemente, vê o amor divino como realizado – básica, se não totalmente – no amor ao próximo, vendo o REINO de Deus como uma realidade presente encontrada, sobretudo na sociedade transformada sob o aspecto ético. Um dos teólogos liberais mais importantes foi Albrecht Ritschl. V. tb. PÓS-LIBERALISMO.

[2] Cf. Máspoli, 1998.

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[3] Teólogos como Schleiermacher, Ritschl (1768-1834), dá ênfase ao fato de que o pecado é entendido somente do ponto de vista da consciência cristã. Os que se acham fora dos limites da religião cristã, e os que estão ainda alheios à experiência da redenção, não têm nenhum conhecimento do pecado. Sob a influência da obra redentora de Deus, o homem toma consciência da sua falta de confiança em Deus e da oposição ao reino de Deus, que constitui o bem supremo. O pecado não é determinado pela atitude do homem para com a lei de Deus, mas por sua relação com o propósito de Deus, que visa ao estabelecimento do Reino. O homem atribui a si próprio como culpa, o seu fracasso em não conseguir tornar seu o propósito de Deus, mas Deus o considera apenas como ignorância e, ignorância é perdoável. Louis Berkhof em sua Teologia Sistemática (1949) P.213 1º§, lembra que esse tipo de conceito se aplica à máxima grega que diz: Conhecimento é virtude. Absolutamente não faz justiça à posição escriturística de que o pecado é, acima de tudo, transgressão da lei de Deus e, portanto, torna o homem culpado à vista de Deus e merecedor de condenação. Além disso, a ideia de que o pecado é ignorância vai contra a voz da experiência cristã. O homem que leva sobre si o fardo do senso de pecado, certamente não pensa nisso daquele modo, também é grato porque não somente os pecados cometidos na ignorância são doáveis, mas igualmente todos os demais, com a única exceção da blasfêmia contra o Espírito Santo.

[4] Cf. Tournier, 1985.

[5] Um exemplo patológico da culpa é aquela que se expressa como sintoma de uma psicose, de uma esquizofrenia. Nesse caso, o sentimento de culpa apresenta-se como parte de uma doença grave e crônica cuja forma mais comum é conhecida pelo nome de psicose maníaco-depressiva ou transtorno bipolar de humor. Nesses casos, o sentimento de culpa é tão intenso e marcado por tão grande angústia e tristeza que o indivíduo perde, inclusive, a capacidade de crer no perdão do próprio Deus por intermédio de Jesus Cristo. Além da ajuda de Deus, temos hoje em dia possibilidade de controle dessa enfermidade, por meio de medicação adequada. À medida que a enfermidade cede e o sujeito recupera a sua consciência, o sentimento de culpa tende a diminuir. Em todo o caso, a sua percepção do perdão de Deus fica comprometida, comprometendo igualmente a vivência pessoal desse perdão. As pessoas que sofrem desse tipo de culpa necessita da ajuda de profissionais especializados, além do devido aconselhamento e acompanhamento pastoral para que venha ser espiritualmente ministrado por meio da Palavra de Deus.

[6] Alguns estudiosos dizem que Davi passou por diversas crises de depressão.

[7] Cf. Máspoli, 1998.

[8] A culpa é o estado de merecimento da condenação ou de ser passível de punição pela violação de uma lei ou de uma exigência moral. Dabney fala disso como “culpa potencial”.

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[9] Os Socianos e os Arminianos rejeitaram a idéia da imputação do pecado de Adão aos seus descendentes. Placeus, da escola de Saumur, defendeu a ideia da imputação “mediata”. Negando toda imputação imediata, ele sustentava que , porque herdamos de Adão uma natureza pecaminosa, merecemos ser tratados como se tivéssemos cometido a ofensa original. Este ensino foi uma novidade na teologia Reformada, e Rivet não teve dificuldade para provar isso, coletando longa lista de testemunhos. Seguiu-se um debate no qual a imputação “imediata” e a “mediata” foram apresentadas como doutrinas mutuamente exclusivas; e no qual se fez parecer que a principal questão era se o homem é culpado à vista de Deus unicamente por causa do pecado de Adão, imputando àqueles, ou unicamente por causa do seu próprio pecado inerente. [10] A ideia do livre-arbítrio supõe que não existam causas externas suficientes para explicar por que uma pessoa age de certa maneira. As ações, de acordo com a teoria do livre-arbítrio, em última análise são uma escolha, mesmo quando o indivíduo sabe que a ação escolhida poderá trazer consequências indesejáveis.

[11] TOURNIER, Paul, Culpa e Graça: Uma Análise do Sentimento de Culpa e o Ensino do Evangelho. Paul Tournier; (Tradução, Rute Silveira Eismann) – São Paulo-SP: ABU, 1