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2º edição 64 páginas O almirante louco Fernando Pessoa Organização Carlos Felipe Moisés Ilustrações Odilon Moraes Nível leitor A partir de 10 anos Anos escolares 5º e 6º anos Temas Quadras populares/ Autorreflexão/ Memórias/ Metalinguagem POESIA PARA QUÊ? A descoberta dos recursos expressivos da linguagem é uma conquista importantíssima no processo de aquisição e desenvolvimento das capacidades verbais da criança. Ao longo desse processo, o contato com o texto poético constitui marco importante, na medida em que fornece à criança meios para decodificar as diferentes estratégias discursivas que povoam, desde sempre, seu mundo em expansão. O papel desempenhado pelo texto poético em sala de aula liga-se ao fato de ele pôr a própria linguagem em questão, libertando-a dos automatismos. Por essa razão, uma poesia “para crianças” não cumprirá seu papel enquanto subestimar a inteligência do leitor, recorrendo a noções simplistas, a banalizações de forma e de conteúdo, a diminutivos pueris. Concorrendo com a velocidade do desenho animado, do vídeo e da internet, a poesia deve ser capaz de recuperar o sabor dos jogos e das brincadeiras, atentar para temas, experiências e sentimentos que compõem o universo cada vez mais heterogêneo do leitor mirim, estimulando-o a indagar, a criar e a refletir. GUIA DE LEITURA PARA O PROFESSOR No mundo contemporâneo, a sociedade da informação e do mercado impõe a adultização precoce da criança. A poesia representa, nesse contexto, um espaço protegido em que é possível recuperar o sentido lúdico da experiência com a palavra, bem como fomentar uma abordagem alternativa à sua instrumentalização. Fruto de grande liberdade criativa, a poesia incrementa a potência fabuladora da criança. Mergulhando-a no frescor da língua, ajuda a formar leitores ativos, mais habilitados a enfrentar a prosa do mundo. O AUTOR Fernando Pessoa (1888-1935) é um dos maiores poetas da língua portuguesa,famoso também por seus heterônimos, cada um deles com personalidade própria. De sua obra poética destaca-se Mensagem, epopeia portuguesa moderna. O ORGANIZADOR Carlos Felipe Moisés nasceu em São Paulo, em 1942. É mestre e doutor pela Universidade de São Paulo (USP). Poeta, crítico literário, escritor e tradutor, publicou diversos livros sobre Fernando Pessoa. O ILUSTRADOR Odilon Moraes nasceu em São Paulo, em 1966. Ilustrou mais de noventa livros e recebeu diversos prêmios, entre eles o Jabuti.

O ALMIRANTE LOUCO GL - smbrasil.com.br 3 O almirante louco FERNANDO PESSOA MAIS DE PERTO Canções que o Povo Canta Fernando Pessoa chegou a escrever mais de 400 quadras nos últimos

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2º edição

64 páginas

O almirante loucoFernando Pessoa

Organização Carlos Felipe MoisésIlustrações Odilon MoraesNível leitor A partir de 10 anosAnos escolares 5º e 6º anosTemas Quadras populares/ Autorreflexão/ Memórias/ Metalinguagem

Poesia Para quê?A descoberta dos recursos expressivos da linguagem é

uma conquista importantíssima no processo de aquisição

e desenvolvimento das capacidades verbais da criança.

Ao longo desse processo, o contato com o texto poético

constitui marco importante, na medida em que fornece

à criança meios para decodificar as diferentes estratégias

discursivas que povoam, desde sempre, seu mundo em

expansão.

O papel desempenhado pelo texto poético em sala

de aula liga-se ao fato de ele pôr a própria linguagem

em questão, libertando-a dos automatismos. Por essa

razão, uma poe sia “para crianças” não cumprirá seu

papel enquanto subestimar a inteligência do leitor,

recorrendo a noções simplistas, a banalizações de forma

e de conteúdo, a diminutivos pueris. Concorrendo com a

velocidade do desenho animado, do vídeo e da internet,

a poesia deve ser capaz de recuperar o sabor dos jogos

e das brincadeiras, atentar para temas, experiências e

sentimentos que compõem o universo cada vez mais

heterogêneo do leitor mirim, estimulando-o a indagar, a

criar e a refletir.

GUIA DE LEITURA

PARA O PROFESSOR

No mundo contemporâneo, a sociedade da informação

e do mercado impõe a adultização precoce da criança.

A poesia representa, nesse contexto, um espaço

protegido em que é possível recuperar o sentido lúdico

da experiência com a palavra, bem como fomentar uma

abordagem alternativa à sua instrumentalização. Fruto de

grande liberdade criativa, a poesia incrementa a potência

fabuladora da criança. Mergulhando-a no frescor da

língua, ajuda a formar leitores ativos, mais habilitados a

enfrentar a prosa do mundo.

O autOr Fernando Pessoa (1888-1935) é um dos

maiores poetas da língua portuguesa,famoso

também por seus heterônimos, cada um deles com

personalidade própria. De sua obra poética destaca-se

Mensagem, epopeia portuguesa moderna.

O OrganizadOr Carlos Felipe Moisés nasceu em São

Paulo, em 1942. É mestre e doutor pela Universidade

de São Paulo (USP). Poeta, crítico literário, escritor e

tradutor, publicou diversos livros sobre Fernando Pessoa.

O ilustradOr Odilon Moraes nasceu em São Paulo,

em 1966. Ilustrou mais de noventa livros e recebeu

diversos prêmios, entre eles o Jabuti.

O almirante louco FERNANDO PESSOA

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FORMAS E TEMAS

A obra de Fernando Pessoa (1888-1935) constitui um caso

sui generis na poesia moderna mundial. Uma das novidades tra-

zidas por ele, e que se tornou uma espécie de marca registrada

pessoana, foi sua multiplicação em diversos personagens, ou he-

terônimos, cada qual com seu estilo correspondente. “O que sou

essencialmente [...] é dramaturgo”, como explica o próprio autor.

E continua: “[...] pus no Caeiro todo o meu poder de desperso-

nalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a minha discipli-

na mental, vestida da música que lhe é própria, pus em Álvaro de

Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida”.1

Na época, isso representava de certa forma uma ruptura, se-

gundo a qual a poesia recusava-se a ser um lugar de mero der-

ramamento emotivo, como no romantismo, abrindo-se antes à

despersonalização. Ou seja, quanto mais máscaras veste, quanto

mais caracteres incorpora, mais difícil dizer onde está realmente

o poeta. Mesmo quando assina com seu nome de batismo, ou

seja, como Fernando Pessoa “ele mesmo” (o que os críticos cha-

mam de ortônimo), o poeta desliza por todas essas biografi as,

temperamentos e estilos, sem se limitar a nenhum deles.

Estando em vários lugares, as formas de que o autor se serve e

os temas que aborda recobrem uma gama muito extensa. Só neste

livro é possível encontrar desde poemas de corte tradicional, como

as “quadras ao gosto popular” (em versos curtos, rimados, sobre o

amor e os desencontros da vida), até os versos longos e irregulares

de Álvaro de Campos, capitão das sensações, passando pelo olhar

nítido de Caeiro, pastor sem metafísica (dono de uma linguagem

mais fl uida e natural) – sem esquecer o equilíbrio clássico de Ri-

cardo Reis, discípulo de Caeiro, que propõe o esvaziamento do

desejo como caminho para a serenidade, em odes à maneira do

poeta latino Horácio (65?- 8 a.C.).

Assim, mesmo em uma pequena amostra poética (como a

da presente seleção), é possível identifi car a imensa riqueza de

estilos e inquietações que faz a alegria dos herdeiros do legado

pessoano.

1. Trechos extraídos da correspondência com Adolfo Casais Monteiro. Pessoa, Fernando.

Obras em prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1976, pp. 101 e 94, respectivamente.

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O almirante louco Fernando Pessoa

MAIS DE PERTO

Canções que o Povo Canta

Fernando Pessoa chegou a escrever mais de 400 quadras nos

últimos anos de vida, que foram publicadas depois sob o título

Quadras ao gosto popular (nome dado pelos editores). A quadra é

um pequeno poema de quatro versos heptassílabos (sete sílabas),

também conhecido como redondilha maior2. Trata-se de um tipo

de composição muito antigo e tradicional, comum em canções

populares, de origem anônima e coletiva.

Com relação à rima, o esquema que predomina é o de rimas

alternadas (abab), em que rimam entre si os versos ímpares (1

e 3) e os pares (2 e 4). Às vezes, contudo, a rima subsiste apenas

nos versos pares, como se pode ver em “Saudades, só portugueses

(a) / Conseguem senti-las bem, (b) / Porque têm essa palavra (c)

/ Para dizer que as têm (b)” (p. 17).

No comentário às quadras portuguesas feito pelo próprio

Pessoa e mesmo no poema sobre as saudades, percebe-se clara-

mente quanto a escolha dessa forma se liga ao desejo de remon-

tar a algo genuinamente português, o que se liga a certo “espírito

patriótico”, também presente nos versos de Mensagem, dedicados

à história mítica desse país de rosto “sphyngico e fatal”.

o olhar nítido

Algo que se impõe desde a primeira leitura dos versos de Caeiro

é seu caráter antissentimental e antimetafísico. A lição do pastor é

uma só: ver com os olhos, sem se deixar perturbar pelo pensamen-

to ou pelos afetos, sem teorizar sobre o sentido último das coisas

(que é o que faz a metafísica) nem projetar sobre elas os humores

do nosso coração, subjetivando-as. A nitidez do olhar (“O meu

olhar é nítido como um girassol”) consiste justamente em querer

ficar no plano das sensações imediatas, o que parece simples, mas,

na verdade, demanda todo um aprendizado. Ou melhor, exige a

recuperação de uma capacidade que as crianças supostamente

possuem, mas perdem à medida que vão crescendo.

Tal disposição de espírito contrasta muitas vezes com os ver-

sos de Pessoa “ele mesmo”, que pensa muito, sente em demasia,

2. Vale lembrar que a contagem de sílabas poéticas, também chamada escansão, não coin-

cide necessariamente com a contagem de sílabas gramaticais: conta-se somente até a síla-

ba tônica da última palavra do verso e alguns encontros entre vogais de distintas palavras

podem se aglutinar em uma única sílaba (elisão).

PÁTRIA E EXÍLIOEm uma nota preliminar às

“Quadras ao gosto popular”, Pessoa

escreveu:

A quadra é o vaso de flores que

o Povo põe à janela da sua alma.

Da órbita triste do vaso escuro a

graça exilada das flores atreve o

seu olhar de alegria. Quem faz

quadras portuguesas comunga

a alma do povo, humildemente

de todos nós e errante dentro

de si próprio. Ser intensamente

patriótico é, primeiro, valorizar em

nós o indivíduo que somos, e fazer

o possível por que se valorizem os

nossos compatriotas (...).

Trata-se, no entanto, de um

patriotismo singular, que muitas

vezes vem em socorro de alguém

que se sente “estrangeiro aqui

como em toda a parte”, como se

lê no poema “Lisboa revisitada”,

de 1926.

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O almirante louco FERNANDO PESSOA

colocando em xeque a própria separação entre afeto e conheci-

mento (“O que em mim sente está pensando”). Por isso, o aces-

so imediato à realidade exterior, desejado por Caeiro, é sempre

problemático para o ortônimo, defi nido por Álvaro de Campos

como “um novelo embrulhado para o lado de dentro”.

Tendo em vista a distância entre esses pontos de vista, o poeta

brasileiro José Paulo Paes (1926-1998) concebeu um diálogo ima-

ginário entre Pessoa e Caeiro que extrai graça dessa distância.

Tal diálogo, para além do efeito cômico, sintetiza de modo

muito feliz a diferença entre essas duas máscaras do poeta e pode

render um debate fecundo sobre as distintas visões de mundo a

que elas dão lugar.

metalinguagem

Brincar com a linguagem chamando a atenção para o próprio ins-

trumento de que se valem (as palavras, as metáforas, o ritmo) é algo

que os poetas adoram fazer. Por meio desse expediente, eles muitas

vezes conseguem ressaltar os aspectos materiais do poema, a maneira

pela qual ele é construído, os artifícios verbais que o sustentam.

Na seção dedicada ao heterônimo Álvaro de Campos, pode-

mos destacar dois momentos em que o poeta faz a linguagem se

dobrar sobre si mesma, desnudando seus mecanismos – o que os

estudiosos chamam de metalinguagem.

O primeiro deles ocorre no soneto de abertura (p. 41), cons-

truído em torno de uma metáfora, isto é, a equação entre objetos

distintos a partir de uma característica comum (no caso específi -

co: coração = almirante louco). O poema se inicia com essa fi gura

de linguagem, que vai sendo progressivamente desdobrada – o al-

mirante está aposentado, mas leva saudades no corpo e o mar nos

músculos. Os músculos, por seu turno, encontram-se em estado

paradoxal: estão cansados de parar, exaustos por não fazer nada.

Na estrofe fi nal, o poeta se surpreende com as associações feitas

e volta ao ponto de partida, explicitando a natureza da metáfora:

“Mas – esta é boa! – era do coração / Que eu falava... e onde diabo

estou eu agora / Com almirante em vez de sensação?”. A pergunta

quebra o fl uxo associativo (inclusive gramaticalmente, com uma

pausa exclamativa) e revela um traço característico do processo

metafórico, que é a capacidade de nos levar para longe de nós mes-

mos (“onde diabo estou?”), numa direção imprevista.

O outro momento em que algo semelhante ocorre é no poema

seguinte, sobre cartas de amor, no qual, conforme se indica numa

nota de rodapé, o autor brinca com o sentido da palavra “es drú-

FALSO DIÁLOGO ENTRE PESSOA E CAEIROPessoa: A chuva me deixa triste...

Caeiro: A mim me deixa molhado.

In: Paes, José Paulo. Prosas, seguidas

de odes mínimas.

São Paulo: Companhia das Letras,

1992.

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O almirante louco Fernando Pessoa

xulas”, que designa tanto uma coisa fora do comum, motivo de

riso ou estranhamento, quanto o caráter proparoxítono de uma

palavra e o nome que se dá ao verso que termina com palavras

desse tipo. Não por acaso, a palavra “ridículas” é proparoxítona.

Eis dois exemplos de como a construção do verso reforça o

assunto, numa feliz correspondência entre forma e conteúdo.

Calmaria Culta

No polo oposto a Campos está Ricardo Reis, o poeta neoclás-

sico em busca do equilíbrio e do autocontrole. Sobre ele escre-

veu Pessoa: “A obra de Ricardo Reis, profundamente triste, é um

esforço lúcido e disciplinado para obter uma calma qualquer”.

Vemos em sua poesia esse ideal de calmaria, como no poema da

página 50, em que nos recomenda molharmos as mãos nas águas

calmas do rio: “Para aprendermos / calma também”. Por calma,

diz no poema da página 53, ele entende: “[…] encher meus dias /

De não querer mais deles”. Aprender a paz com a natureza e estar

satisfeito com o que se tem: esta é a doutrina de Reis.

Vemos então que a forma límpida de seus poemas metrifica-

dos servia para colocar a emoção nos trilhos. Assim, Reis é o mais

culto dos heterônimos, compondo poemas à maneira clássica,

com frequentes alusões à mitologia grega e aos lemas da lírica

antiga, como o carpe diem (colhe o dia, aproveita o momento),

pois as alegrias são passageiras e a morte, certa.

Por isso é grande a diferença entre ele e Alberto Caeiro, o pastor

de ovelhas de quem Reis se diz discípulo. Caeiro escreve numa lin-

guagem cotidiana sem rebuscamentos sintáticos ou vocabulares,

já em Reis o vocabulário é raro e a sintaxe, muitas vezes retorcida,

cheia de inversões. Nele a lição de Caeiro adquire os contornos de

uma “ciência da paz”, baseada na renúncia aos desejos.

VERSO E REVERSO

A seguir você encontrará algumas sugestões de atividades es-

pecialmente concebidas para despertar nos jovens o prazer da

leitura, de maneira despretensiosa e brincalhona, a partir dos

textos desta antologia.

mnemonias numériCas

O “Poema pial”, no começo deste livro, remete facilmente às

mnemonias infantis, isto é, àquelas fórmulas de origem popular,

muitas vezes cantadas, que servem para fixar na memória das

O CALOR DAS ANÁFORASÁlvaro de Campos estreou com poemas

futuristas sobre máquinas, automóveis

e navios, como “Ode triunfal” e “Ode

marítima”, sendo considerado o

mais “vanguardista” dos heterônimos

pessoanos. Expressando-se amiúde por

meio de versos longos e frenéticos,

ele recorre frequentemente ao verso

branco (sem rima), com número de

sílabas variável, repleto muitas vezes de

anáforas, isto é, de repetições de termos

ou frases com finalidade enfática. Em

“Dobrada à moda do Porto” (p. 46-47),

por exemplo, a indignação do eu lírico

se faz sentir mediante a repetição da

palavra “frio” cinco vezes seguidas, nos

quatro últimos versos: “Não é prato que

se possa comer frio, / Mas trouxeram-

-mo frio. / Não me queixei, mas estava

frio, / Nunca se pode comer frio, mas

veio frio”. Assim, a irritação aparece

de modo muito contundente, sensorial:

de tão repetida, a palavra “frio” indica

quão quente o poeta estava em sua

fome de amor.

EPICURISMO E LIBERDADEA poesia de Reis recebe forte influência

do epicurismo, doutrina do filósofo

grego Epicuro (341-270 a.C), que se

caracteriza, entre outras coisas, pela

busca de indiferença em relação à

morte e por uma ética do comedimento

que submete o prazer à reflexão. Dessa

perspectiva, o homem é tanto mais livre

quanto menos deseje, como se pode

ver no último poema do livro: “ [...]

quem não tem, e não deseja, / Homem,

é igual aos deuses”.

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O almirante louco Fernando Pessoa

crianças coisas como a ordem dos números, os dias da semana,

o nome dos meses etc. Entre as mnemonias numéricas mais co-

nhecidas está “Um, dois, feijão com arroz; / Três, quatro, feijão

no prato”. O professor pode então convidar a turma a evocar es-

sas mnemonias tradicionais para efeito de comparação com o

poema de Pessoa. Em um segundo momento, os alunos seriam

estimulados a criar suas próprias mnemonias, com rimas, músi-

ca e até coreografia, se houver tempo e oportunidade.

quadras PoPulares

Outra atividade interessante pode ser desenvolvida a partir

das quadras populares recriadas por Pessoa (p. 15-17). Pesquisar

quadrinhas brasileiras enseja comparações proveitosas e contri-

bui para a observação mais detida dessa forma de composição

tradicional. A partir daí, a classe seria levada a criar as próprias

quadras, que podem ser compostas no improviso, em voz alta,

como fazem os repentistas. Os alunos se dividem em duplas, in-

ventando as rimas como num desafio, em que um começa e o

outro deve continuar, sem deixar a peteca cair.

imagem e Palavra

Os poemas de Pessoa e seus heterônimos estão repletos de ima-

gens verbais. Algumas delas foram traduzidas plasticamente por

Odilon Moraes, nas diversas ilustrações que acompanham o tex-

to. Assim, os alunos podem ser instados a observar que elementos

textuais foram destacados (ou esquecidos) pelo ilustrador e de que

modo a ilustração influencia o entendimento do poema.

Por fim, talvez com o auxílio do professor de artes, a turma

pode ser encorajada a produzir as próprias ilustrações para os

poe mas de que mais gostou, buscando soluções diferentes da-

quelas encontradas por Odilon.

Correio elegante

Tomando como pretexto o poema de Álvaro de Campos sobre

cartas de amor (p. 42-43), seria divertido propor à classe a criação de

cartas ou bilhetes de amor, sem medo do exagero ou do ridículo.

Algo que poderia tornar a brincadeira ainda mais engraçada

seria ocultar a identidade de quem escreve as cartas, que seriam

trocadas entre os alunos e lidas em voz alta.

Como se trata de pura invenção, os disfarces são permitidos:

os meninos podem escrever como se fossem meninas e vice-ver-

sa. Até o professor pode entrar na jogada, recebendo galanteios e

declarações de amor.

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O almirante louco FERNANDO PESSOA

OUTRAS VIAGENS(sugestões de livros, quadrinhos, mÚsiCas e sites)

LIVROS

Para o ProFessor

• MOISÉS, Leyla-Perrone. Fernando Pessoa, aquém do eu, além do outro. São Paulo: Martins Fontes, 2001.Coletânea de ensaios alinhavados em torno da tese de que a poesia pessoana é expressão de um “vácuo subjetivo”, vinculando a multiplicidade de heterônimos a processos de despersonalização.

• PAES, José Paulo. Poesia para crianças. São Paulo: Giordano, 1996. Neste depoimento, que é uma das melhores refl exões sobre o tema entre autores recentes, o poeta destaca a importância e o sentido de uma “poesia para crianças”, atenta aos elementos do universo infantil, sem simplifi car recursos nem prescindir da inteligência.

Para o aluno

(outros livros de poesia da coleção “Comboio de corda”)

• PROENÇA, Ruy. Coisas daqui. São Paulo: Edições SM, 2007.Sereias e camelos, goiabas com bicho e cajus com cedilha, o movimento da luz e o da chuva, o amor do mar pelo coqueiro... Adivinhas, bruxarias, desafi os aritméticos e toda sorte de questionamentos sobre a natureza e o mundo que nos cerca.

• LORCA, Federico García Lorca. Meu coração é tua casa. São Paulo: Edições SM, 2007.Neste coração de portas abertas, o vento se casa, a lua comete um crime e um caracol medita sobre a eternidade. Uma saborosa antologia de um dos mais importantes nomes da poesia e do teatro do século XX.

QUADRINHOS• LAERTE. “O poeta”. In: Os piratas do Tietê e outras

barbaridades. São Paulo: Ensaio, 1994.

História em quadrinhos que imagina um encontro hilário entre Fernando Pessoa e os piratas do Tietê, que tentam liquidá-lo de diferentes formas sem sucesso.

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O almirante louco Fernando Pessoa

CDs

Para esCutar Fernando Pessoa

• Fernando Pessoa por Paulo Autran. Rio de Janeiro: Luz da Cidade, 1999. Coleção Poesia Falada, v. 7. Um dos maiores nomes do teatro brasileiro em interpretações precisas dos versos pessoanos.

• A música em Pessoa. Quinze poemas musicados por compositores como Tom Jobim, Francis Hime, Edu Lobo, Milton Nascimento, Arrigo Barnabé, Dori Caymmi, entre outros. Produzido por Elisa Byington e Olivia Hime. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2004 (lançado originalmente no formato LP, em 1985).

• Mensagem, de André Luiz de Oliveira, sobre poemas do livro homônimo de Pessoa. Discovery/True Tech, 2005, 2v.Lançado originalmente em 1986 no formato LP pelo selo Eldorado, a obra reúne, entre outros cantores, nomes da estatura de Elizeth Cardoso, Ney Matogrosso e Caetano Veloso. Em 2005, o compositor lançou um segundo volume, interpretado por cantores como Mônica Salmaso, Ná Ozetti e Milton Nascimento (também disponível em DVD).

SITES

Para o ProFessor

• http://purl.pt/1000Espólio Fernando Pessoa. Conjunto de manuscritos e outros documentos do espólio do autor, que integra o projeto “Manuscritos de Pessoa em linha”, desenvolvido pela Biblioteca Nacional de Lisboa. Já se encontram disponíveis para consulta os poemas do heterônimo Alberto Caeiro.

• www.ufp.ptUniversidade Fernando Pessoa. Página da universidade portuguesa que leva o nome do poeta, localizada na cidade do Porto. Há uma hipermídia pessoana, que traz diversas informações históricas e bibliográficas, além de uma lista de links em várias línguas relacionados a Pessoa. Clique em “Fernando Pessoa” no endereço.

Elaboração do guia AnnitA CostA MAlufe (poetA e doutorAndA eM letrAs pelA uniCAMp) PrEParação fAbio WeintrAub; rEvisão shirley GoMes e MArCiA Menin