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O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa

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O Amor da Minha Vida − Naasom A. Sousa

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Dedico ao meu Senhor Jesus

e à minha esposa, Ivone Sousa,

os amores da minha vida

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Capítulo 1

Alexander

ERA UMA TARDE BELA E AGRADÁVEL. O por do sol embelezava aindamais as calçadas da praça Célio Miranda por onde alguns transeuntes dapequena cidade de Paragominas passeavam.

Não era um rapaz bonito, atlético ou gabola, apesar de acharem que eu era tudoisso. O que eu era mesmo era um bom cristão. E naquela tarde tomei a decisãode relaxar lendo um bom livro deitado no gramado da praça, onde várioshabitantes do município onde morava faziam o mesmo. Eu gostava de ir à praçapara ver o movimento do fim de tarde, passear pelo gramado, ver os pequenospássaros voarem de lá para cá, até cessarem e entoarem louvores ao criador erecepcionarem a noite que se aproximava. Sempre reconhecia os amigos quepor ali também passavam e paravam para descansar nos vários bancos econversar sobre o dia que se findava. Adorava aquilo. Sentia que fazia partedaquele lugar, mais ainda pelo sentimento que trazia comigo: o de que Deus mefaria que eu conhecesse a minha “princesa” naquela bendita praça.

E não sei porquê, mas naquela tarde eu estava um tanto inquieto, com umpressentimento (apesar de não acreditar nisso) estranho, mas não que me fizessetemer algo, mas sim fazia com que meu coração esperasse por alguma coisa boae por uma coisa que naquela hora não conseguia conciliar: esperança. Masesperança de quê?

Depois de ler um pouco, passeei pelas calçadas, gramados e por fim me detivedebaixo da caixa d’água que fica no centro da praça. Comecei a observar tudoao meu redor, estudando tudo e todos, varrendo os lugares com os olhos de lápara cá. Depois disso, sentei−me num banco e tornei a abrir meu livro meconcentrado novamente na leitura.

Meia hora após isso, eu estava dentro da estória da obra em minhas mãos. Euera o personagem principal do enredo, tentando decifrar o enigma de um crimeque se mostrava macabro e ilógico. O assassinato se dera nas dependências deum castelo em paris e todas as pistas apontavam para uma única pessoa, a belaSelena Delpièr. Eu ostentava a opinião de que o crime não havia sido cometidopor ela e sim pelo…

— Olá?

Tentando desvendar o mistério nas entrelinhas do livro, ouvi uma voz agudachamando−me a atenção, mas não dei atenção.

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— Olá? — tentou outra vez a voz com um pouco de insegurança.

Agora tinha escutado melhor e me desliguei por um momento do livro e meconcentrei no chamado. Era uma voz feminina, linda e suave. Como uma vozpoderia ser tão meiga e tão doce ao pronunciar uma única palavra? Fechei osolhos por um breve instante tentando imaginar a fisionomia da dona dabelíssima voz, então os abri e virei em sua direção. Sem que eu percebesse, meusobrolho suspendeu um pouco diante do que pude contemplar.

— Olá — respondi eu. — Oi…

O semblante dela se tornou em espanto.

— Oh! Perdoe−me, eu… você me pareceu tão parecido com um amigo meu delonge que ao chegar perto eu nem me dei conta de que era outra pessoa…

Diante do enrubescer dela eu me derreti de forma incontestável. Ela falounovamente:

— Acho que acabei tirando você da sua leitura.

— Oh, não! Não se preocupe, estou numa parte não muito importante — menti,pois estava quase descobrindo quem era o verdadeiro assassino da trama.

Ela olhou curiosa para o volume em minhas mãos e percebi que estava tentandovisualizar a capa. Adiantei−me:

— Não é nenhuma obra conhecida, muito menos de um escritor famoso. Parafalar a verdade acho que eu fui quem descobriu este autor — ri, mas sabia queaquilo não tinha a menor graça. Resolvi passar rapidamente por cima daquilo eperguntei: — Você gosta de literatura?

— Gosto muito. Principalmente de romances. Daqueles que fazem a gentesonhar com príncipes e princesas, com amores impossíveis, com dramas dosdias atuais, mas principalmente daqueles que tenham finais felizes.

Agora foi a vez dela sorrir e eu a acompanhei abrindo meus lábios e fazendomeus dentes aparecerem. Confesso que fiquei um tanto impressionado, pois nãoeram todas as jovens daquela pequena cidade que se interessavam por literatura.Ainda com um leve sorriso nos lábios ela estendeu sua mão na minha direção.

— Sou Elizabeth, com “th” no final. Elizabeth Toledo — apresentou−se.

— Alexander Prates — cumprimentei−a apertando sua mão macia. — Mas…eu nunca a vi por aqui antes, e olha que venho aqui quase todos os diasaproveitar a sombra e…

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— Ler um pouco? — interrompeu ela com outro sorriso.

— Isso mesmo.

— Vim de Belém há poucos dias. Você parece muito com um amigo meu de lá,por isso me enganei. Estou hospedada na casa da minha tia por enquanto. Passeinum concurso aqui e a partir da semana que vem começarei a trabalhar, entãomudarei para um lugarzinho só meu. Não quero ficar incomodando a minha tiapor muito tempo.

— Já fez alguns amigos nesses poucos dias?

— Só a filha da vizinha da minha tia, o nome dela é Gisele. Estou dando umavoltinha por aqui vendo se encontro alguém conhecido de Belém, mas atéagora… Você tem muitos amigos?

— Alguns.

— E no que você trabalha?

Aquilo foi um pretexto para que eu falasse não somente o que eu fazia para mesustentar, mas também contasse sobre minhas predileções e minhas rejeições.Conversamos muito sobre muitas coisas e sobre nada naquele começo de noite enem vimos que as horas “voaram”. Assim como ela soube várias coisas sobreminha vida, de igual modo fiquei inteirado sobre sua existência e suasideologias. O que mais me alegrou foi a frase que ela tirou das Escrituras: “ ‘Eusou o caminho, a verdade e a vida, e ninguém vai ao Pai se não for por mim’,disse Jesus, por isso eu sou dependente dEle.” No final descobri que ela eracristã, assim como eu.

Foi então que ela olhou para o relógio em seu pulso e tomou um grande susto.

— Meu Deus! Já é bem tarde e minha tia deve estar arrancando os cabelos.Disse a ela que eu só iria dar um pequeno passeio para conhecer um pouco acidade e voltaria em uma hora.

— Posso ver que já é muito mais que isso — disse.

Ela se ergueu e me levantei juntamente.

— Bem, foi um prazer conhece−lo, Alexander.

Nesse momento, algo cresceu em mim, que não pude discernir ou compreender.Meus olhos estudaram−na uma vez mais. Vasculhei seus cabelos negros, seusolhos castanhos, seu nariz empinado e queixo fino. Senti então que meus lábiosnão queriam se abrir para me despedir e achei que faltava ainda uma pergunta

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para ser feita, mas não me lembrei de qual seria. Por fim sorri meio sem jeito.

— Então até mais — estendi minha mão, que ela pegou suavemente.

Com um aceno de cabeça deu meia volta e caminhou para longe de onde euestava. Respirei fundo, peguei meu livro e fui para casa aquela coisa estranhadentro do peito.

Elizabeth

Ao chegar à porta da casa de minha tia olhei para trás com uma sensaçãoestranha, mas não era outra coisa senão minha imaginação. Balancei minhacabeça e com um sorriso torto bati na porta. Minha tia, preocupada perguntoupor que eu havia demorado tanto, e então comecei a contar sobre Alexander, orapaz da praça.

— Já encontrou um namorado, hein? — disparou minha tia.

Dei uma risada e perguntei: “O que é isso, tia? A senhora já gosta de me darnamorados!” Ela falou que eu iria precisar de um naquela cidadela, já que euagora estava longe da minha família.

Pensei um pouco sobre aquilo; sobre minha família que ficara em Belém doPará. Já sentia saudades, principalmente do meu pai, pois éramos muitoapegados um ao outro. Fui tomar um banho para amenizar o aperto no peito ever se a água fria fazia com que a falta deles fosse embora — pelo menosnaquela noite — para que eu pudesse dormir bem.

Alexander

Cheguei em casa, liguei o som e fui direto para o chuveiro como fazia todos osdias quando chegava do trabalho. Então reparei algo: todas as vezes que estouno banho, dou aquela suspirada de puro cansaço. Mas hoje estou me sentindodiferente dos outros dias. Talvez pela bela relaxada na praça com Elizabeth.Lembrei que havia muito tempo que não conversava daquele jeito com alguém,de modo tão… interessante? Envolvente? Bem, o que importava era que euestava me sentindo maravilhosamente bem.

Acabei o banho e fui à cozinha dar um beijo na testa da minha mãe. Era maisuma parte da rotina, mas disso eu gostava. Eu amo demais a minha mãe. Meupai infelizmente morreu e minha mãe agora só tem a meu irmão, mais velho queeu e a mim. Nós sustentamos a casa. Acho que somos a família mais unida do

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mundo. Quem sabe não somos mesmo?

Meu irmão Wander chegou de viagem e nos abraçamos, caminhamos juntospara seu quarto e fiquei sentado em sua cama enquanto colocava algumasroupas de volta ao guarda−roupa.

— Então como foi de viagem? — perguntei.

— Foi ótima. Fechei um contrato muito bom com uma grande loja que está parainaugurar em Belém. Vamos fazer todo o material de divulgação. Agora agráfica não vai parar por um bom tempo.

— Que bom, meu irmão. Temos que agradecer bastante a Deus por isso.

Wander parou o que estava fazendo e olhou para mim.

— Claro que sim — disse com um sorriso estampado no rosto. — Vamos daruma festa.

— Festa? Está falando sério?

Wander balançou a cabeça afirmativamente. Disse que convidaríamos todos osfuncionários da gráfica e os amigos. Agradeceríamos a Deus todos juntos.

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Capítulo 2

Elizabeth

ESTAVA DIFÍCIL DORMIR. O incômodo no peito ainda me inquietava. Tinhaque superar aquilo, deixar rolar. Resolvi ajoelhar−me ao pé da cama e falar comDeus pela segunda vez naquela noite.

Quando terminei a oração senti−me melhor, mas ainda com algoincompreensível a alertar meus sentidos. Deitei−me novamente e fechei osolhos. Tentei não pensar em nada e deixar que o sono viesse me alçar para omundo dos sonhos. Entretanto, ao invés disso, a imagem de Alexander, estaturamediana, rosto redondo de pele clara, olhos verdes, sobrancelhas grossas, cabeloondulado, apareceu diante de mim, e como se estivesse ali ao meu lado ouvi suavoz. Era como se estivéssemos de volta à praça Célio Miranda. Falando tudo oque já conversamos outra vez.

Abri os olhos de repente. Foi então que percebi que tinha acabado de sonhar…com Alexander. Porém, minha preocupação seria a que horas eu tornaria adormir e sonhar tão depressa daquela forma.

Alexander

A Lua suspensa lá no céu me encantava naquela noite em que eu não conseguiadormir. Qual a causa da insônia? Toda a vez que eu fechava meus olhosElizabeth aparecia diante de mim em meio a penumbra. Decidi então olhar umpouco para a Lua as estrelas, talvez olhando para os astros, criação de Deus, euacabasse por dormir ali na janela confortado pela brisa suave do vento que devez em quando teimava em passar pela janela. Mas infelizmente isso nãoaconteceu e a Lua se tornou no rosto de Elizabeth também.

Diante daquela metamorfose decidi que no dia seguinte iria procurá−la na praçano mesmo horário que haviam se encontrado casualmente. Quem sabe nãotivesse sorte?

Decidi também retornar à cama e tentar dormir um pouco, sim, um pouco, poisfaltavam poucas horas para o Sol mostrar novamente seu rosto brilhante.

Elizabeth

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Meus olhos ardiam e quando me olhei no espelho, vi−me com a cara inchada.Tomei café e me “enfiei” nos livros de informática novamente. Havia passadono concurso de uma nova empresa da cidade, dissera que sua especialidade era ainformática, mas a verdade era que fazia muito tempo que eu não colocava asmãos em um computador.

Agora era diferente. Era um novo começo em minha vida profissional, já quefazia tempo que eu deixara de dar aulas particulares de computação. “Orava evigiava” para que o meu primeiro dia de trabalho, dentro de poucos dias, fosseum sucesso, visto que a entrevista depois do concurso fora satisfatória para mime para meu (agora) patrão.

Minha tia bateu na porta do quarto antes de entrar.

— Estudando?

— É, estou tentando me atualizar. Daqui a pouco vou estar em frente a umcomputador novamente e sei que a informática hoje não será a mesma deamanhã, então aqui estou eu afundada nesse livrinho. — minha tia riu ao ver ovolume em minhas mãos, mais parecia duas Bíblias juntas em um só “livro”.

Ela olhou bem o meu rosto antes de especular:

— Pelo seu rosto parece que não dormiu bem esta noite, estou errada? — elameneou a cabeça em reprovação. — Ficou pensando na sua família de novo?

— Um pouco. — falei assim, já passara a noite quase toda com a imagem deAlexander e nosso casual povoando minha mente, mas a saudade da minhafamília também contribuiu para que as horas noturnas não tivessem sido tãoboas para mim.

Minha tia passou a mão carinhosamente pelos meus cabelos.

— Não se preocupe tanto, minha filha — disse ela — se der tudo certo sei queeles virão para cá também e então seremos uma grande família.

Meu pai estava desempregado em Belém, mantendo−se apenas com bicos. Eleestava agora esperando um chamado de uma empresa antiga de Paragominas,onde meu tio era empregado. Estávamos todos ansiosos para que ele fosseaceito e que minha família viesse ao meu encontro.

Subitamente uma lágrima quente escorregou pelo meu rosto e minha querida tiame abraçou.

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Alexander

O trabalho na serigrafia era sacrificante, mas da mesma forma era−megratificante, pois eu gostava de mexer com os programas de montagem gráficano computador e desenvolver os trabalhos da empresa. Gostava de pensar quesem meu esforço e trabalho a empresa não seria a mesma. Meu irmão um diame falou exatamente isso, o que me deixou ainda mais disposto para colocar amão na “massa”.

Entretanto, naquele dia minha concentração estava longe de ser a mesma dosoutros dias. Tudo por causa da noite mal dormida. Meus olhos ardiam, e maisainda enquanto eu fitava o monitor de quinze polegadas.

— Vamos, mano, temos muito que fazer — comentou meu irmão passando portrás da cadeira onde eu estava sentado. — estou quase fechando com uma outraempresa, aqui mesmo na cidade, e se Deus quiser vamos começar a fazeroutdoors!

— Você está falando da empresa Satélite, aqui… de Paragominas?

— Sim ,é ela mesmo! Eu não falei que esse ano iria ser o ano mais feliz denossas vidas? — indagou ele, pois na sua igreja o pastor falava sobre aquiloquase todos os dias nas reuniões dos membros.

Eu sorri e abracei−o. O respeito que havia da minha parte para com ele eramuito grande. Ele sabia como tratar dos negócios da família, e depois que nossopai morrera ele se dedicara ainda mais. Quando ele afrouxou o abraço viu queeu não o larguei. Eu havia dado o cochilo mais rápido do mundo.

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Capítulo 3

Alexander

DOIS DIAS HAVIAM SE PASSADO DESDE o meu encontro com Elizabeth.Eu continuava não conseguindo dormir, mas felizmente eu já começava a meacostumar. Mas havia ainda meus olhos que continuavam a inchar e arder.

Um dia atrás, Wander fechara o negócio com a Satélite Outdoors Ltda. foi umafesta só em toda a gráfica, contudo, ele falara que aquilo só seria uma prévia dagrande festa que seria dada dali a dois dias.

Elizabeth!

O nome surgiu como um raio na mente. Por que não convidá−la para essabendita festa? Iria ser ótimo, uma vez que ela não me saía da cabeça. Mas…espremi meus olhos e levei as mãos à cabeça. Eu não sabia onde ela morava enem mesmo o número do seu telefone. “Maravilha!!” Murmureiinstantaneamente.

Passei a manhã quase toda me lamentando e culpando por ser tão displicente.Foi então que tive a idéia de voltar à praça Célio Miranda para passar a tardecomo eu não fazia há dias atrás.

Elizabeth

Aqui estou eu na minha mesa, um tanto nervosa, tentando fazer o que MaraFontenele me instruía. Mara era uma mulher de trinta e poucos anos, olhosprofundos e cabelos tingidos de loiros que já trabalhava na empresa já haviaalgum tempo.

Eu fora chamada para trabalhar no dia anterior, o que estava programado paraquatro dias à frente. Eu não reclamei, é claro, já que eu estava louca paracomeçar e logo ganhar meu primeiro contra−cheque.

— Está se saindo bem, Eliza — disse ela, que simpatizou com essa abreviaçãodo meu nome. Eu achei esquisito já que ninguém nunca me chamou assim, masde toda forma eu gostei, assim eu poderia me tornar (quem sabe) mais íntimas.Ela completou: — pelo que vi aqui você é muito capa de realizar um bomtrabalho.

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Foi assim que começou a simpatia mútua entre nós duas. Contamos um poucosobre nossas vidas e nossos sonhos e pretensões. Mara — que era totalmentediferente do que significava seu nome, águas amargas, não era nada parecidocom isso. Pelo contrário, era uma ótima pessoa. Casada e mãe de três filhos desete, quatro e dois anos. Ela me mostrou a foto de cada um deles e todos eramumas gracinhas. Conclui que, apesar de ela já estar na casa dos trinta, era umapessoa de espírito jovem. Sorrimos o expediente quase todo, até que elaperguntou:

— E enquanto esse tempo em que você está aqui, já arrumou algum namorado?

Aquilo me deixou intrigada. Por que as pessoas se preocupam tanto com a nossavida emocional? Acho que essa vida é bastante particular para se indagar deuma hora para outra. Entretanto, resolvi dar uma carta de crédito à Mara.

— O que é isso, Mara, faz pouco tempo desde que cheguei aqui emParagominas. Preocupei−me mais em conseguir esse emprego do que qualqueroutra coisa, e também não consigo ser uma pessoa que queira estar o tempotodo com alguém de braço em volta da minha cintura.

Mara assentiu positivamente com a cabeça.

— É isso mesmo, menina. Os homens de hoje já não são os mesmos deantigamente, por isso temos que ter muito cuidado com eles.

Eu sorri, mas discordava um pouco daquilo. É certo que há homens totalmentedesligados das “verdades” corretas da vida, mas também é certo que ainda hámuito deles que são sérios, basta apenas saber diferenciá−los e saber ondeencontrá−los e eu sabia onde.

O sorriso de Alexander iluminou ocultamente o meu olhar, ainda que euestivesse para a tela luminosa do computador da empresa, e conjecturei que eleseria a segunda classe de homens, já que ele tinha me parecido ser inteligente esincero no que dizia, e o mais importante: era cristão.

Pensei instantaneamente nessa palavra “cristão” e me dei conta que a maioria,tanto de homens como de mulheres, dizem ser exatamente isso. Mas entãorapidamente me detive em imaginar como a maioria deles estão enganando a simesmo a esse respeito.

Tinha certeza (e ainda tenho) de que ser cristão não é apenas crer em JesusCristo, saber que ele está à direita de Deus Pai olhando para a humanidadesendo nosso advogado vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Sercristão é estar em “sintonia” com o Pai, o Filho e o Espírito Santo; é ser fiel àsEscrituras Sagradas e assim andar como Cristo andou, ser imitador dEle; amarmais a Cristo e seus desígnios do que a nós mesmos e os nossos propósitos; ser

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verdadeiramente filho de Deus e ser um canal de bênçãos para o próximo. Masisso é tão difícil para as pessoas quanto admitirem o seu verdadeiro ladoespiritual.

E com tudo isso, eu pensava mais em Alexander, de tal forma que resolvi daruma passada à tarde pela praça e ver então se o encontrava.

Alexander

Cheguei na praça às seis e dez da noite, e a primeira coisa que fiz foi dar umavolta completa por ela. Meus olhos varreram−na de um lado para o outro aprocura de Elizabeth. Para minha surpresa, senti que um aperto no peito pareciasufocar−me e meus lábios pareciam secos. Concluí então que estava nervoso.Não podia ser! Contestei meio ressentido comigo mesmo. Pois como poderiaestar naquela situação por causa de uma pessoa que nem mesmo conheciadireito. Foi quando a resposta pegou−me desprevenido, vinda não sei da onde:Afinal de contas, você não está nessa praça para conseguir conhecê−lamelhor? Depois disso vi−me ainda mais surpreso.

Procurei−a pela praça inteira duas vezes. Olhei para o livro debaixo do meubraço e resolvi sentar no mesmo banco que havia sentado quando nosencontramos e lê−lo um pouco para o tempo passar mais rápido.

Li mais de dez capítulos, e a cada página lida eu dava uma olhada em volta.Quando me dei conta das horas em meu relógio e do tempo que eu havia ficadoali, resolvi que já era hora de ir embora, pois já passavam das dez. Elizabeth nãoapareceu e com certeza não apareceria por ali naquele dia. Seria muitacoincidência.

Elizabeth

Digitei tão rápido quanto pude para acabar o trabalho que me deram às cinco equarenta. Eram diversas folhas e tive que resgatar as minhas aulas dedatilografia para começar a digitar a toda velocidade. Quando terminei, pegueiminha bolsa a “corri” para praça, e quando cheguei perguntei as horas para umcasal que ali se encontrava. Disseram que já passava das dez e meia. Era meiode semana e a praça não costumava estar repleta de pessoas, por isso olhei emvolta e logo vi que Alexander não estava por ali. Suspirei profundamente ecaminhei para a casa da minha tia para uma nova noite mal−dormida.

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Capítulo 4

Alexander

EU ESTAVA FRUSTRADO PELA NOITE passada e eu transmitia isso nomeu olhar. Todos perguntavam qual era o motivo, mas eu dizia que estavamenganados. Eu jamais poderia aceitar que o meu “baixo astral” era resultado deuma espera infantil por alguém que eu nem mesmo sabia se estava ainda nacidade. Por que eu me preocupava com aquilo? Por que não esquecê−la eConcentrar−me nos meus amigos e no agradecimento a Deus? Aquelas e outrasquestões faziam meu estômago embrulhar.

Estava com a cabeça entre as mãos e os olhos fechados tentando afastarqualquer lembrança de Elizabeth (o que parecia mais improvável a cada dia)para até mesmo me concentrar mais nos projetos da gráfica. Até o momento emque José “Mineiro”, um amigo que fazia o nosso marketing, entrou no escritórioe reparou na minha frustração.

— O que “ela” fez pra te deixar assim, Alex?

— O quê? — de imediato não tinha entendido.

— O que ela fez de tão ruim assim pra te deixar tão pra baixo? — repetiu ele.— porque quando um homem está nesse estado é porque tem garota metidanessa. Estou certo, não é?

— Mais ou menos — fitei−o nos olhos tentando imaginar o que ele pensavaexatamente. Continuei: — Estou frustrado por causa de uma garota, mas ela nãoculpa alguma…

Contei toda a estória para José, desde meu encontro com Elizabeth até a noiteanterior quando fiquei esperando que ela aparecesse para convidá−la à nossafesta que seria no dia seguinte.

— Mas agora — conclui, — estou achando impossível encontrá−la para fazeresse convite.

— Tenho que dizer que é algo muito delicado, Alex. Ainda mais quando essagarota é alguém que você nem conhece direito. E se ela for uma aventureira queum dia está aqui e noutro dia está a quilômetros de distancia sem se quer darsatisfações?

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— Acho que ela não é desse tipo, José — fiz sem querer uma cara dereprovação ao que ele disse mesmo sem ter certeza de que ele estava errado. —pelo que conversamos ela parecia ser uma jovem tão cristã quanto bonita, e olhaque você iria se encantar com sua beleza. Por isso estou assim tão pra baixo.

Ficamos silenciosos por um momento, e então José cortou o silêncio:

— Acho que eu tenho uma idéia pra te tirar dessa depressão. E já que a festa vaiser amanhã, pô−la−emos em prática ainda hoje.

Elizabeth

Acordei chateada e fui ao trabalho com uma não muito amiga. Mara percebeuisso no momento em que me viu. Tentei disfarçar, mas ela contestousolenemente:

— O que há com você, menina? Não venha me dizer que não é nada, porqueapesar de ter lhe conhecido ontem, já deu pra “sentir” como você é nas horas emque estivemos juntas. Acho que tenho esse dom.

Apesar de eu não acreditar naquele tal dom de sentir as coisas, dei crédito àMara, já que ela estava certa. Mesmo assim não disse nada a ela, pois poderia sesentir culpada (ou poderia achar que eu a estaria culpando) por ter−me dadotantas páginas de relatórios escritos à mão para passar para o computador.

Resolvi abafar o caso resmungando do tempo quente que estava fazendonaquele mês de Novembro. Mara concordou, mas não caiu na minha rede.

— Sim, mas você não vai me contar o que está te afligindo, menina? Acha quenão pode confiar em mim?

Entendi então que ela não me deixaria em paz até que lhe dissesse a verdade.Contei, por fim. Quando acabei ela levantou o sobrolho e mordeu o lábioinferior.

— Não sei lhe dizer se isso é bom ou ruim, Eliza — ponderou ela. — Pode serque você esteja iludida por alguém que não te mereça… talvez ele nem estejapensando em você assim como você pensa nele. Talvez ele tenha váriasnamoradas…

Mara deu−me vários motivos para eu não pensar em Alexander e fazê−loparecer um homem como todos os “outros” — um asno egoísta.

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Dei−me de conta que talvez Mara fosse infeliz no se casamento. Uma vidaamorosa “amarga”. As suas palavras denunciavam isso, por ela falar tão mal dosexo oposto. Achei que não era a hora certa de falar sobre aquilo.

Elizabeth

Voltei para casa do final do dia pensando mais em Mara do que em mimmesma. Refleti no que ela falou sobre Alexander e me perguntei se ela estariacerta ou não em me dar tantas razões para achar que ele não se lembrava maisno nosso casual encontro. Casual! A palavra já soava estranha. Era algo quetalvez nem era pra ter acontecido.

Tomei banho troquei de roupa e assisti um pouco de TV, mas nem mesmoprestava atenção no que as pessoas na tela do aparelho falavam. Estavapensando se não seria melhor esquecer de uma vez aquele encontro. E por queeu tinha pensado tanto naquilo? Surgiu a indagação como uma explosão dentrodo meu cérebro. Conjecturei por um longo tempo até que achei a resposta.

Encontrei em Alexander — ainda que inconscientemente — alguém queansiava encontrar. Havia me relacionado apenas com dois jovens, os quais nãome trouxeram muitas alegrias. O primeiro me traiu e o segundo não era o que euesperava em se tratando de ser cristão.

Alexander me pareceu bem firme no propósito de ser verdadeiramente cristão.O brilho nos seus olhos me revelara isso de uma forma inexplicável. Até notimbre da sua voz, no modo como falava e o seu olhar me transmitiu algoradiante, sincero, verdadeiro, promissor. Aparentava−me que aquele encontro secomparara com uma semente, que fora lançada em mim e brotou aos poucossem que eu percebesse. Agora eu sentia isso.

Voltei a mim, mudei de canal de canal e passei a assistir às notícias do JornalNacional. Como sempre não eram muito animadoras para o mundo. Parecemque estão cegos, pensei. Por que não olham ao redor e descobrem o que estárealmente acontecendo e de onde pode vir a solução dos problemas?

Após o noticiário começou a novela. Eu desliguei a TV e fui para a cama ler umpouco. Após uma hora e meia, exatamente, a campainha tocou e um minutodepois minha tia bateu no meu quarto e entrou.

— Eliza, Gisele está lá fora querendo falar com você — avisou ela. — Ela estáum tanto eufórica, é melhor ver o que ela tem logo.

Achei aquilo estranho e caminhei ao encontro de Gisele, minha amiga filha davizinha. Ela nem me enxergou direito e desabou a falar:

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— Elizabeth, tenho que lhe fazer uma pergunta…

Pergunta? Que pergunta poderia ser para Gisele fazê−la a mim numa horacomo aquela?

— Pode perguntar…

Ela não perdeu tempo e indagou secamente:

— Você conheceu alguém com o nome de Alexander?

Meus olhos se estreitaram diante da confusão que se tornou a minha mentenaquele exato momento. Como ela poderia saber? Diante do meu silêncio elainsistiu:

— Elisa, responda!

— S−sim… sim, eu conheci, mas nos vimos apenas uma vez e… e nunca maisnos vimos…

Gisele pegou meu braço e disse:

— Então é você mesmo! Venha comigo, vamos até a praça, rápido!

Elizabeth

Chegamos à praça quase meia−noite. Demos a volta na praça até ficamos emfrente à grande estrutura da igreja católica. Gisele apontou na direção onde eudeveria olhar.

O mundo girou ao meu redor e quase cai ali mesmo na praça. Diante dos meusolhos estava uma grande e colorida faixa de pano presa à dois poste por finosbarbantes. As letras chamavam atenção de quem passava por ali perto. Estavaescrito:

Elizabeth, desde o nosso casual encontro aqui nesta praça

percebi que voce mexeu comigo como nunca ninguém mexera.

Por isso estou te convidando para uma festa em minha casa amanhã.

Por favor, venha me encontrar novamente.

O Amor da Minha Vida − Naasom A. Sousa

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Ass: Alexander.

Mais abaixo, em letras menores estava o endereço da casa de Alexander e ohorário da festa: às vinte horas.

Senti subitamente minha respiração alterada e a boca seca. Estava cética do quevia, não conseguia colocar meus pensamentos em ordem.

Gisele, vendo pura desordem em meu semblante, cutucou−me e perguntou comum sorriso curioso:

— Você vai, não vai?

Diante de mais aquela pergunta eu permaneci muda como se eu tivesse comidominha própria língua.

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Capítulo 5

Alexander

A ANSIEDADE ME CORROÍA POR DENTRO de tal maneira que me deixavainquieto. A idéia de Jose fora uma boa forma de convidar Elizabeth sem aomenos saber onde ela morava. Depois do expediente permaneci na gráfica econfeccionei a faixa com algumas tintas que ainda tinham no depósito. Tivesorte também de haver uma grande faixa branca que Wander comprara parafazer a propaganda da gráfica. Sabia que ele não ficaria irritado com isso, pois,se preciso fosse, eu compraria outra. O caso era que eu precisava daquela faixaurgentemente.

Após ter terminado, telefonei para José e ele veio me ajudar a levar à praça.Abrimos a faixa em frente à Igreja Católica, perto de onde havíamos nosencontrado. Depois daquele trabalho, era hora apenas de esperar que ela visse afaixa e aparecesse na festa que seria logo mais tarde.

Pensei por alguns instantes nos comentários que surgiriam sobre minha atitude,mas concluí que valeria a pena fazer qualquer esforço para ser feliz com Cristoe com a pessoa que achássemos ser a ideal para um relacionamento mais sério.

Estava novamente na gráfica. José veio ao meu encontro sorridente e curioso.

— E aí, ela já apareceu?

— Não, nem sinal dela. Espero que sua idéia dê certo, José.

José fez cara de ofendido.

— Cara, se ela não enxergar aquela faixa eu troco o meu nome para Epifanásio“Mineiro”.

— Espero que essa confiança toda não seja em vão, meu amigo.

— Você vai ver que ela vai aparecer na festa, então poderá me agradecer àvontade.

José sai da sala cantarolando uma música romântica pra me “encarnar”. Sorri,olhei o meu relógio de pulso: meio−dia. Hora de ir pra casa; hora do rango!

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Elizabeth

Oh, meu Deus! Ainda era difícil acreditar no que eu tinha visto na noiteanterior. Parecia que tudo não passara de um sonho, mas ao invés disso era bemreal, pois comprovei mais uma vez quando passei pela Célio Miranda e vi afaixa mais uma vez. Não resisti e sorri mais uma vez. Ninguém fizera aquilopara mim antes, e aquilo me deixava feliz e de certo modo envaidecida.

Ao chegar na empresa a primeira pessoa que vi foi com Mara. Ela estavachorando. Ao perguntar qual o motivo do choro, obtive a confirmação da minhasuspeita: o marido a traía. Mara contou−me que há alguns meses ele começara ase comportar friamente com ela e maltratá−la. Muitas vezes, segundo ela,humilhou−a em público. Relatou−me ainda que na noite passada seu maridochegara bêbado em casa com a camisa cheia de batom e falando que iriadeixá−la.

Ela estava uma pinha de nervos e isso me encheu de pena.

Aconselhei−a chegar−se mais a Deus e buscá−lo. Essa era a melhor coisa a sefazer e a melhor coisa que eu poderia aconselhar já que eu não tinha nenhumaexperiência naquele assunto.

A tarde chagou e Mara aparentou estar mais calma e consolada. Disse−me quehavia falado com Deus e estava se sentindo melhor. Agradeceu−me eapertou−me num abraço. Sorri feliz. Mara afrouxou o abraço e fitou−me comolhar de quem está curioso.

— Eu vi uma faixa na praça Célio Miranda agora meio−dia quando voltava doalmoço — comentou ela. — por fim indagou: — Estava destinada à Elizabeth.Por acaso é pra você?

Abri jogo e contei tudo o que acontecera antes daquela faixa aparecer dependurano meio da praça. No final do relato Mara estava com os olhos brilhando deagitação, e disse:

— Oh, Eliza, você tem que ir! — disse com relação à festa que Alexander iriadar logo mais à noite. — Não deixe que a oportunidade de conhecer alguém quetalvez seja o par perfeito para toda uma vida escapar−lhe por entre os dedos.

Mais uma vez sorri e agora foi minha vez de abraça−la.

A ansiedade tomava conta de mim cada vez que eu olhava para o relógio naparede da minha sala. Os ponteiros pareciam rodar mais rápidos e, na mesmaproporção, meu coração batia cada vez mais descompassado.

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Alexander

O relógio na parede no ponto mais rápido da sala, encostado no forro marcava19h e 30mim. Em pensar que a tarde foi−me angustiante. A cada tique−taqueque o ponteiro do dos segundos do relógio da gráfica emitia eram movimentosque as minhas pernas faziam ao tremerem. Nunca me senti tão nervoso na vida,e me perguntei por quê daquilo acontecer. Enquanto tentava descobrir, osprimeiros convidados começaram a chegar. O nervosismo reiniciou. Comecei acumprimentar um a um à medida que a sala começava a encher. Em menos deuma hora minha casa estava tomada pelos convidados. Eram amigos da família,empregados da gráfica, alguns pequenos empresários da cidade, e… nada deElizabeth aparecer.

Passou−se o tempo. Andei para cima e para baixo da casa depois de recepcionarquase todos os convivas. Saí algumas vezes da porta e por isso achei que talvezela pudesse ter entrado se quem eu a tivesse visto. Havia muitas pessoas, maismulheres do que homens, e a cada uma que eu achava parecida com Elizabetheu as tocava nos ombros chamando sua atenção, e quando se viravam via−seque não era ela, sua beleza não se comparava a dela.

Varri por várias vezes os quatro cantos da sala e dos outros cômodos. Não a viem parte alguma da casa e constatei que: ou ela não viu a faixa ou não quis virporque aquele encontro não foi tão significativo para ela quanto para mim.Então a tristeza começou a tomar conta pouco a pouco do meu coração.

Wander estava feliz com todos os amigos e pessoas que ali se encontravam. Elecantava junto com sua noiva, Alice Coelho, as músicas que tocavam no som dasala. Pelo menos me sentia feliz por ele.

Ao final da festa, quando todos começaram a deixar−nos e voltar para suaspróprias casas, pude sentir uma leve dor no meu peito.

Ela realmente não veio, balbuciei dentro de mim. Cumprimentei novamente uma um dos convidados que agora se despediam. Por último, José veio a mim eapertou−me fortemente a mão.

— Sinto muitíssimo, Alex — ele lamentou. — Mas ela não sabe o que perdeunão vindo aqui te conhecer melhor.

Dei um sorriso torto, de quem demonstrava estar consolado.

— Acho que foi uma infantilidade minha ter pensado que ela fosse a pessoacerta… mas é uma pessoa que nem mesmo conheço direito. Não poderia meapegar tanto a um fantasma.

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— O importante é ter bom ânimo, como disse o Mestre — aconselhou−me eleassentindo com a cabeça. E então se retirou.

Quando por fim todos se retiraram e Wander foi deixar Alice em casa, senti−mesó. Minha mãe tinha ido deitar−se depois de comer quase todos os salgadinhosda festa. Ela comia àbeça. Eu a amo muito.

Fui à cozinha e preparei um café bem quente. Era o mínimo que eu poderiafazer por mim mesmo depois daquela festa. Festa… para quem? Festa significauma confraternização, felicidade. Eu não estava feliz. Não fora uma festa paramim.

Levei minha xícara de café em direção à sala na penumbra onde apenas umpequeno abajur iluminava escassamente o recinto. Ao chegar lá vi um vultoparado à porta. SUSTO!!! Quase deixei a xícara cair. Dirigi−me ao vulto com aindagação:

— Quem está aí?

Por alguns segundos permaneceu em silêncio, mas então falou:

— É Elizabeth, Alexander.

Elizabeth

Eu estava ali à sua frente. Eu estava quase sem ar e nervosíssima. Notei que eleestava nas mesmas condições. Foi ali que tive a certeza de que ele era a pessoacerta. A silhueta do seu rosto mostrava−me isso.

Aproximei−me. Ele falou:

— Eu pensei que você não viria… na verdade eu já tinha perdido as esperanças.Fiz algo de errado que me reprovou aos seus olhos ou algo assim? Você não viua tempo a faixa… Afinal, por que não veio na hora marcada?

Respirei fundo e respondi lentamente para não gaguejar.

— Não foi nada disso. Você não fez nada de errado. Pelo contrário, e vi a faixadesde ontem à noite. A verdade é que cheguei aqui na hora certa.

— E então, por que não entrou? — interrompeu ele.

— Vi muita gente bonita e importante entrando e outras já dentro da casa, fiqueienvergonhada de entrar e participar da festa onde eu nem mesmo era conhecida.

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Preferi ficar a uma distância segura e prestigiar tudo de longe.

Alexander caminhou em minha direção, pegou−me pelo braço e conduziu−meaté a varanda na frente da casa. A brisa passou suavemente por nós e me fezarrepiar. Ele falou−me com voz grave, mas doce:

— Você sabe quem era meu convidado especial esta noite?

— O prefeito?

Ele sorriu. Não imaginou que eu estava falando sério.

— Essa passou longe — sentenciou. — o convidado, ou melhor, a convidadaespecial desta noite era você.

Ele me ofereceu um pouco do chá que estava na sua xícara. Sem saber muito oque fazer, eu, enrubescida, tomei.

— Escute, Alexander, pode até ser que sou essa convidada, mas saiba que luteicontra mim mesma e contra meus próprios conceitos para vir até aqui, porquenão sou do tipo de garota que sai no meio da noite para encontrar alguém quenem mesmo conhece direito, e…

Ele interrompeu−me novamente:

— Eu sei disso, Elizabeth. De algum modo senti isso ao conhece−la na praça,aliás, senti várias outras coisas como, por exemplo: sua sinceridade, singeleza,firmeza na convicção da sua fé, integridade moral… quer que eu continue?

Eu estava embasbacada. Nunca poderia imaginar que um simples e casualencontro pudesse causar tantas impressões a ambos, e nesse caso impressõespositivas.

— Se você está tentando me impressionar… está conseguindo. — eu abrinovamente um sorriso. — Estou brincando. Devo admitir que você também mepassou uma aparência confiável.

— Confiável? Você não sabe como está enganada.

— Acho que não, estou certa disso.

Ele fitou meus olhos de modo diferente. Aproximou−se e pegou minha mão.

— Elizabeth, eu queria dizer que… — Ele cerrou os olhos, meneou a cabeça esuspirou profundamente. Continuou, inseguro: — é tão comum, como dizem:“manjado” dizer isso que vou dizer, mas essa é a verdade: desde aquela noite

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em que nos encontramos na praça não consegui mais dormir direito. No inícioeu não sabia o por quê, mas aos poucos fui descobrindo que sua imagem… seusorriso, seu olhar, sua voz ficaram gravados na minha mente. Cada vez que melembrava de você meu coração ficava apertado, e foi então que eu percebi queprecisava te conhecer melhor, saber mais sobre você — essa pessoa por quemmeu coração descompassava. Você me fez ficar desorientado e acho que sóvocê pode fazer com que eu me encontre novamente. Por isso fiz a faixa, porisso convidei−a para vir à festa. Precisava falar com você outra vez e desvendaro mistério da inquietação em que meu coração vem sofrendo nesse tempo emque não a vi novamente.

Quase sem voz indaguei:

— E… você já conseguiu desvendar, agora que já falou comigo outra vez?

— Ainda não. Por isso que quero lhe pedir algo.

— Pedir? O quê?

Meus olhos se estreitaram sem saber do que ele estava falando. Ele prosseguiu:

— Quero lhe pedir que me ajude. Ajude−me a desvendar o por quê disto estaracontecendo comigo. Não quero mais permanecer desse jeito. Preciso de umaresposta para isso. — Ele fez uma pausa e disse sucintamente: — Querotambém lhe perguntar algo: você sentiu alguma coisa diferente desde aqueleencontro?

E mais breve ainda eu respondi, surpreendentemente espontânea:

— Senti. Desde aquela noite não consegui esquecê−lo.

Dito aquilo, aproximamo−nos e demos as mãos. Ele beijou meus dedos e falouquase num sussurro:

— Houve algumas noites em que sonhei beijando suas mãos e seus dedos,acredita?

Eu sorri. Nunca havia escutado que alguém tivera tal sonho.

Aproximamo−nos ainda mais. Nossos lábios se tocaram lentamente num curtobeijo e depois em outro mais demorado. Sentamos em um banco que havia numcanto da varanda e ficamos olhando o céu estrelado. Subitamente lembrei donosso encontro na praça e senti dentro de mim que aquela noite e aquele tempolimpo e céu cheio estrelas foram preparados especialmente para nós por Deusassim como também o casual encontro na Célio Miranda. A felicidade noscercava por todos os lados. Graças a Deus.

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Epílogo

Elizabeth

ALEXANDER E EU NOIVAMOS no ano seguinte e nos casamos.

Meus pais chegaram em Paragominas cinco meses antes do meu casamento.Não somente o meu pai, mas também minha mãe foram empregados na cidade.

O marido de Mara deixou−a com os dois filhos e viajou para fora do país. Doisanos depois ela se casou com o membro da igreja de Alexander.

No mesmo período do casamento de Mara, dei a luz a gêmeos; uma menina eum menino. Demos aos dois os nomes: Evelin e Álef.

Alexander

Wander também se casou e mudou−se para Belém, onde transferiu a matriz dagráfica para lá e assinou contrato com grandes empresas como: Y. Yamada, BigBem e Visão.

José foi para São Paulo e ficou famoso ao trabalhar no SBT.

Elizabeth e eu continuamos cuidando dos negócios em Paragominas,prosperamos grandemente e VIVIMOS TODOS UNIDOS E FELIZES.

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