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Histórias de amor

Histórias de amor - Coletivo Leitor › wp-content › ... · Histórias de amor. Mas de qual amor? Há tan tos! Amor car nal, amor ... mulhe res a se unir entre si não seria outra

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Histórias de amor

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Este livro apresenta os mesmos textos

literários das edições anteriores.

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v o l u m e 2 2

P a r a g o s ta r d e l e r

Seleção e organização de textosJosé Paulo Paes

IlustraçõesCarlo Giovani

Histórias

de amorLygia Fagundes Telles • Marques Rebelo • Marina Colasanti

Machado de Assis • O. Henry • Luís Fernando Veríssimo

João do Rio • Elias José • Orlando Bastos • João Antônio

William Shakespeare

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Histórias de amor

Elias José © by herdeiros; João Antônio © by herdeiros; © Luís Fernando Veríssimo; © Lygia Fagundes Telles; © Marina Colasanti; Marques Rebelo © José Maria Dias da Cruz e Maria Cecília Dias da Cruz; Orlando Bastos © by herdeiros, 2012

Gerente editorial Claudia MoralesEditor Fabricio WaltrickEditora assistente Malu RangelDiagramadora Thatiana KalaesCoordenadora de revisão Ivany Picasso BatistaRevisoras Alessandra Miranda de Sá, Ana Luiza CoutoProjeto gráfico Mariana NewlandsCoordenadora de arte Soraia ScarpaEditoração eletrônica Ludo Design

ISBN 978 85 08 15458-6 (aluno)

CL: 738212CAE: 268207 AL

20197a edição3a impressãoImpressão e acabamento:

Todos os direitos reservados pela Editora Ática S.A., 2012Av. das Nações Unidas, 7221 – CEP 05425-902 – São Paulo, SPAtendimento ao cliente: 4003-3061 – [email protected]

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

H587.ed. Histórias de amor / Lygia Fagundes Telles ... [et al.] ; [ilustração Carlo Giovani ; tradução Luciano Machado]. - 7.ed. - São Paulo : Ática, 2012. 152p. : il. ; - (Para Gostar de Ler) Contém suplemento de leitura Inclui bibliografia ISBN 978-85-08-15458-6 1. Histórias de amor. 2. Antologias (Conto). I. Telles, Lygia Fagundes, 1923-. II. Giovani, Carlo. III. Machado, Luciano. IV. Série. 11-6789. CDD: 808.83 CDU: 82-3(082)

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5Po m b a e n a m o r a d a o u u m a h i s t ó r i a d e a m o r

Apresentação

Uma viagem pelos caminhos do amor, 7

Lygia Fagundes Telles

Pomba ena mo ra da ou uma his tó ria de amor, 13

Marques Rebelo

Stela me abriu a porta, 25

Marina Colasanti

A moça tece lã, 37

Machado de Assis

Fernando e Fernanda, 43

O. Henry

Mamon e o arquei ro, 67

Luís Fernando Veríssimo

Uma sur pre sa para Daphne, 81

João do Rio

A para da da ilu são, 87

Elias José

O bilhe te do amor, 101

Orlando Bastos

Os aman tes, 105

Sumário

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João Antônio

Fujie, 119

William Shakespeare

Sonho de uma noite de verão, 129

Referências bibliográficas, 145

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Uma viagem pelos caminhos do amor

Histórias de amor. Mas de qual amor? Há tan tos! Amor car nal, amor

pla tô ni co, amor con ju gal, amor adúl te ro, amor a dis tân cia, amor à pri­

mei ra vista, amor de per di ção, amor de sal va ção — e quan tos mais? Por

si só, essa mul ti pli ci da de de desig na ções mos tra estar mos dian te de

um sen ti men to com ple xo, con tra di tó rio, que não se deixa pren der

numa defi ni ção.

Para expli car a força irre sis tí vel da atra ção amo ro sa, o

filó so fo grego Platão ima gi nou o mito do andró gi no, um ser a um só

tempo mas cu li no e femi ni no. Esse ser uno teria exis ti do no come ço

do mundo, mas um dia divi di ra­se em dois seres dis tin tos, o homem

e a mulher. E a pai xão que desde então vem com pe lin do homens e

mulhe res a se unir entre si não seria outra coisa senão o anseio de

res tau rar a per di da uni da de de sua ori gem, de reen con trar a sua

outra meta de. A expres são “minha cara­meta de”, às vezes usada co­

mo sinô ni mo de espo sa, como que dá tes te mu nho disso.

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8 H i s t ó r i a s d e a m o r

Muitos sécu los depois de Platão, outro filó so fo menos ima gi no­so, o ale mão Schopenhauer, viu no ins tin to de pre ser va ção da espé­cie o motor do sen ti men to amo ro so. Se um homem se apai xo na por uma mulher, e ela por ele, é por que a gera ção futu ra que deles irá nas cer os impe le incons cien te men te a se unir.

O defei to das expli ca ções filo só fi cas é serem lógi cas demais e os apai xo na dos sabem muito bem que o amor não tem lógi ca. Ou se algu ma tiver, só pode ser a lógi ca da con tra di ção, que os poe tas conhe cem melhor do que nin guém. Um deles, Luís de Camões, assim defi niu as con tra di ções do amor: “Amor é fogo que arde sem se ver; é feri da que dói e não se sente; é um con ten ta men to des con­ten te; é dor que desa ti na sem doer; é um não que rer mais que bem que rer; é soli tá rio andar por entre a gente; é nunca con ten tar­se de con ten te; é cui dar que se ganha em se per der”.

À poe sia com pe te des ti lar ou con cen trar em ver sos a fra grân cia, a inde fi ní vel essên cia do amor. Mas é a prosa do roman ce ou do conto que se detém a des cre ver os capri cho sos cami nhos e des ca mi­nhos da pai xão. Nas his tó rias reu ni das neste volu me, guia dos pela ima gi na ção de auto res bra si lei ros e estran gei ros, vocês vão per cor rer alguns deles. Que podem ir — para citar só três exem plos — desde as diver ti das con fu sões de iden ti da de do “Sonho de uma noite de verão” de Shakespeare, pas san do pela nos tal gia dos tem pos idos evo ca da por Orlando Bastos em “Os aman tes”, até o sen ti men to de culpa retra ta do por João Antônio em “Fujie”.

Que essa via gem sirva, não digo para pro te gê­los(as) — “con tra o amor não exis te guar da­chuva”, poder­se­ia dizer paro dian do João Cabral de Melo Neto —, mas para adver ti­los(as) dos ine vi tá veis peri gos e das deli cio sas recom pen sas que estão à espe ra dos que, na vida real, per cor rem, com seus pró prios pés e com seus pró prios cora ções, cami nhos ou des ca mi nhos seme lhan tes.

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Semelhantes, tal vez; idên ti cos, nunca. Pois cada amor é sem pre

um amor como nunca houve outro igual.

José Paulo Paes

Poeta, tradutor e editor, José Paulo Paes foi um dos mais importantes intelectuais brasilei-

ros. Nasceu em 1926, em Taquaritinga (SP), e faleceu em 1998, em São Paulo.

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Lygia Fagundes

Telles

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Pomba ena mo ra da

ou uma his tó ria de amor

Lygia Fagundes Telles

Encontrou­o pela pri mei ra vez quan do foi coroa da prin ce sa no Baile da Primavera e assim que o cora ção deu aque le tran co e o olho ficou cheio d’água, pen sou: acho que vou amar ele pra sem pre. Ao ser tira da, teve uma ton tu ra, enxu gou depres sa as mãos molha das de suor no cor pe te do ves ti do (fin gin do que ali sa va algu ma prega) e de per nas bam bas abriu­lhe os bra ços e o sor ri so meio de lado para escon der a falha do cani no esquer do que pro me teu a si mesma arru mar no den­tis ta do Rôni, o Doutor Élcio, isso se subis se de aju dan te pra cabe lei­rei ra. Ele disse ape nas meia dúzia de pala vras, tais como, você é que devia ser a rai nha por que a rai nha é uma bela bosta, com o per dão da pala vra. Ao que ela res pon deu que o namo ra do da rai nha tinha com­pra do todos os votos, infe liz men te não tinha namo ra do e mesmo que tives se não ia adian tar nada por que só con se guia coi sas a custo de muito sacri fí cio, era do signo de Capricórnio e os desse signo têm que lutar o dobro pra ven cer. Não acre di to nes sas baba qui ces, ele disse e pediu licen ça pra fumar lá fora, já esta vam dan çan do o bis da Valsa

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dos mio só tis e esta va quen te pra danar. Ela deu a licen ça. Antes não desse, diria depois à rai nha enquan to vol ta vam pra casa, isso por que depois dessa licen ça, não con se guiu mais botar os olhos nele embo ra o pro cu ras se por todo o salão e com tal empe nho que o dire tor do clube veio lhe per gun tar o que tinha per di do. Meu namo ra do, ela disse rindo, quan do fica va ner vo sa, ria sem moti vo. Mas o Antenor é seu namo ra do? estra nhou o dire tor aper tan do­a com força enquan to dan ça vam Nosotros. É que ele saiu logo depois da valsa todo atra ca do com uma escu ri nha de fren te única, infor mou com ar dis traí do. Um cara legal mas que não esquen ta va o rabo em nenhum empre go, no come ço do ano era moto ris ta de ôni bus, mês pas sa do era bor ra chei ro numa ofi ci na da Praça Marechal Deodoro mas agora esta va numa loja de aces só rios na Guaianazes quase esqui na da General Osório, não sabia o núme ro mas era fácil de achar. Não foi fácil assim, ela pen sou quan do o encon trou no fundo da ofi ci na polin do uma peça. Não a reco nhe ceu, em que podia servi­la? Ela come çou a rir, mas eu sou a prin ce sa do São Paulo Chique, lem bra? Ele lem brou enquan to sacu­dia a cabe ça, impres sio na do, mas nin guém tem este ende re ço, porra, como é que você con se guiu? E levou­a até a porta: tinha um monte assim de ser vi ço, anda va sem tempo pra se coçar mas agra de cia a visi­ta, dei xas se o tele fo ne, tinha aí um lápis? Não fazia mal, guar da va qual quer núme ro, numa hora des sas dava uma liga da, tá? Não deu. Ela foi à Igreja dos Enforcados, acen deu sete velas pras almas mais afli tas e come çou a Novena Milagrosa em lou vor de Santo Antônio, isso depois de tele fo nar várias vezes só pra ouvir a voz dele. No pri mei­ro sába do em que o horós co po anun ciou um dia mara vi lho so para os nati vos de Capricórnio apro vei tan do a ausên cia da dona do salão de bele za que saíra para pen tear uma noiva, tele fo nou de novo e dessa vez falou mas tão bai xi nho que ele pre ci sou gri tar, falas se mais alto, merda, não esta va escu tan do nada. Ela então se assus tou com o grito

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e colo cou o fone no gan cho, deli ca da men te. Só se ani mou com a

dose de ver mu te que o Rôni foi bus car na esqui na e então ten tou nova­

men te justo na hora em que houve uma bati da na rua e todo mundo

foi espiar na jane la. Disse que era a prin ce sa do baile, riu quan do ne­

gou ter liga do outras vezes e con vi dou­o pra ver um filme nacio nal

muito inte res san te que esta va pas san do ali mesmo, perto da ofi ci na

dele, na São João. O silên cio do outro lado foi tão pro fun do que o

Rôni deu­lhe depres sa uma segun da dose, beba, meu bem, que você

está quase des maian do. Acho que caiu a linha, ela sus sur rou, apoian­

do­se na mesa, meio tonta. Senta, meu bem, deixa eu ligar pra você,

ele se ofe re ceu beben do o resto do ver mu te e falan do com a boca

quase cola da ao fone: aqui é o Rôni, cole gui nha da prin ce sa, você sa­

be, ela não está nada bri lhan te e por isso eu vim falar no lugar dela,

nada de grave, gra ças a Deus, mas a pobre está tão ansio sa por uma

res pos ta, lógi co. Em voz baixa, amar ra da (assim do tipo de voz dos

mafio sos do cine ma, a gente sente uma coisa, diria o Rôni mais tarde,

revi ran do os olhos) ele pediu cal ma men te que não tele fo nas sem mais

pra ofi ci na por que o patrão esta va puto da vida e além disso (a voz foi

engros san do) não podia namo rar com nin guém, esta va com pro me ti­

do, se um dia me der na telha, EU MESMO TELE FO NO, certo? Ela

que espe re, porra. Esperou. Nesses dias de expec ta ti va, escre veu­lhe

cator ze car tas, nove sob ins pi ra ção român ti ca e as demais cal ca das no

livro Correspondência eró ti ca, de Glenda Edwin, que o Rôni lhe

empres tou. Com reco men da ções, por que agora, que ri da, a barra é o

sexo, se ele (que voz mara vi lho sa!) é Touro, você tem que dar logo, os

de Touro falam muito na lua, nos bar qui nhos mas gos tam mesmo é de

tre par. Assinou Pomba Enamorada mas na hora de man dar as car tas,

ras gou as eró ti cas, foram só as outras. Ainda duran te esse perío do,

come çou pra ele um sué ter de tricô verde, linha dupla (o calor do

infer no, mas nesta cida de, nunca se sabe) e duas vezes pediu ao Rôni

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