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O AMOR PODE O AMOR PODE SER LEVE SER LEVE Juliana Ribeiro [email protected] T odo mundo quer encontrar um amor que dure a vida to- da, mas esquece que, no dia a dia, muitas vezes relacionar-se não é uma tarefa fácil. Na visão do guru brasileiro Prem Baba (“o pai do amor”, como diz a tra- dução em sânscrito), relacio- nar-se pode ser a fonte de angús- tia de milhares de pessoas. O desgaste emocional das re- lações está tão abrangente que Sri Prem Baba resolveu usar suas experiências pessoas no li- vro “Amar e Ser Livre – As bases para uma Nova Sociedade” (ed. Dummar/Agir), para responder aos corações aflitos que lhe procu- ram em busca de ajuda. Em cima de suas experiên- cias pessoais, o guru, formado em psicologia e que já estudou diversas fontes de autoconheci- mento, nos alerta sobre a impor- tância do relacionamento a dois como um dinamizador do desen- volvimento espiritual. Permanecer em um relaciona- mento que perdeu a capacidade de oferecer crescimento ao casal é um erro comum. “Os casais cometem es- se erro por viverem no ‘piloto auto- mático’, na procrastinação. O ser humano é muito condicionado ao seu dia a dia e mudanças custam muito para acontecer. É preciso muita coragem e maturidade para mudar uma relação que traz sofri- mento e dor, mas a qual estamos acostumados”, alerta Armando Ri- beiro. “Muitos pacientes dizem que preferem permanecer na relação doentia do que dar uma guinada, mas com o passar do tempo nota- mos que isso leva ao adoecimento físico e emocional. Quantas doen- ças que enchem os consultórios médicos não são causadas por rela- ções tóxicas e comportamentos abu- sivos?”, questiona o especialista. Sri Prem Baba alerta em seu li- vro que, se os dois parceiros estão realmente se dedicando ao processo de autoconhecimento, é bem possí- vel que fiquem juntos a vida toda. No entanto, às vezes, um dá um sal- to, o outro não. Ou por alguma ra- zão ocorre um desencontro e a rela- ção deixa de ser uma oportunidade mútua. Nesses casos, não tem senti- do permanecer juntos. Tirando to- do o romantismo, o relacionamento é uma escola em contínuo processo evolutivo. O relacionamento é um caminho, um meio, e não a estação de chegada, ensina o guru. (JR) COMPORTAMENTO t Devemos aprender a amar de forma construtiva. Relacionamentos precisam ser capazes de oferecer crescimento ao casal ERROS DE QUEM NÃO SABE AMAR t Pensar que o outro, de alguma forma, é propriedade nossa t Tentar respeitar o outro sem aprender a se respeitar antes t Tentar amar o outro sem aprender a se amar antes t Pensar que necessidade ou dependência do outro é amor t Pensar no amor como uma prestação de serviços t Limitar o conceito de vida a um matrimônio, se isolando de amigos, família, pessoas, lugares para se conhecer e tantas coisas para se fazer t Pensar que a vida do outro é sua vida só porque você se acomodou e abandonou seus sonhos e metas próprias para viver em função de alguém Fonte: Alexandre Caprio, psicólogo cognitivo-comportamental Saia da zona de conforto Domingo, 27 de dezembro de 2015 10

O amor pode ser leve

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Devemos aprender a amar de forma construtiva. Relacionamentos precisam ser capazes de oferecer crescimento ao casal. Todo mundo quer encontrar um amor que dure a vida toda, mas esquece que, no dia a dia, muitas vezes relacionar-se não é uma tarefa fácil.

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Page 1: O amor pode ser leve

Quando escolhemos parceiros, leva-mos em conta muito mais que aspectos

sociais e culturais, incluindo padrões debeleza, valores, princípios, segurança e ob-jetivos comuns. “Todas as nossas expe-riências definem a forma como nos rela-cionamos com o mundo e, obviamente,não consideramos todas essas experiên­cias conscientemente ao fazer escolhascomplexas como essa”, argumenta o psi-cólogo clínico Luciano Passianotto.

Apósfazeraescolha,oquemuitasve-zes se vê são casais perdidos em meio acobranças, acusações, com um se fa-

zendo de vítima, enquanto o outroem busca de um culpado. Esse ci-

clo é tão comum que eles nempercebem o quão mal estão

se fazendo.Segundo Alexan-

dre Caprio, co-b r a n -

ças, acusações e incompreensões estãomais ligadas à maneira como um esperaque o outro seja. “Se, desde criança, um ra-paz cresce tendo como modelos femininosmães, irmãs, tiase primasquecozinhem, la-vemepassemparaoshomensdafamília,en-tãoosujeitoentraráemconflitocomumana-morada quenão se comporte da mesmafor-ma. Se, desde criança, uma moça vê os mo-delos masculinos de sua família traíremmulheres, ela poderá desenvolver um me-do crônico de que isso aconteça com elatambém–e atépoderáescolherumper-fil parecido sem perceber. Os modeloscontidosemnossaaprendizagempo-dem nos levar a reproduzir as ale-grias e dramas que – há muitotempo - absorvemos e defini-mos como relacionamen-to”, diz.  (JR)

O AMOR PODEO AMOR PODESER LEVESER LEVE

Juliana [email protected]

Todo mundo quer encontrarum amor que dure a vida to-da, mas esquece que, no dia

a dia, muitas vezes relacionar-senão é uma tarefa fácil. Na visãodo guru brasileiro Prem Baba(“o pai do amor”, como diz a tra-dução em sânscrito), relacio-nar-se pode ser a fonte de angús­tia de milhares de pessoas.

O desgaste emocional das re-lações está tão abrangente que

Sri Prem Baba resolveu usarsuas experiências pessoas no li-vro “Amar e Ser Livre – As basespara uma Nova Sociedade” (ed.Dummar/Agir), para responderaos corações aflitos que lhe procu-ram em busca de ajuda.

Em cima de suas experiên­cias pessoais, o guru, formadoem psicologia e que já estudoudiversas fontes de autoconheci-mento, nos alerta sobre a impor-tância do relacionamento a doiscomo um dinamizador do desen-volvimento espiritual.

Permanecer em um relaciona-mento que perdeu a capacidade deoferecer crescimento ao casal é umerro comum. “Os casais cometem es-se erro por viverem no ‘piloto auto-mático’, na procrastinação. O serhumano é muito condicionado aoseu dia a dia e mudanças custammuito para acontecer. É precisomuita coragem e maturidade paramudar uma relação que traz sofri-mento e dor, mas a qual estamosacostumados”, alerta Armando Ri-

beiro. “Muitos pacientes dizem quepreferem permanecer na relaçãodoentia do que dar uma guinada,mas com o passar do tempo nota-mos que isso leva ao adoecimentofísico e emocional. Quantas doen-ças que enchem os consultóriosmédicos não são causadas por rela-ções tóxicas e comportamentos abu-sivos?”, questiona o especialista.

Sri Prem Baba alerta em seu li-vro que, se os dois parceiros estãorealmente se dedicando ao processo

de autoconhecimento, é bem possí­vel que fiquem juntos a vida toda.No entanto, às vezes, um dá um sal-to, o outro não. Ou por alguma ra-zão ocorre um desencontro e a rela-ção deixa de ser uma oportunidademútua. Nesses casos, não tem senti-do permanecer juntos. Tirando to-do o romantismo, o relacionamentoé uma escola em contínuo processoevolutivo. O relacionamento é umcaminho, um meio, e não a estaçãode chegada, ensina o guru.   (JR)

Para o psicólogo cogniti-vo-comportamental AlexandreCaprio, é possível amar de ma-neira construtiva. “O amor estáfundamentado na admiração eno respeito que um tem pelo ou-tro. Embora as pessoas semprese confundam, o sentimento deposse e as ofensas estão emuma direção completamente di-ferente da do amor.”

Segundo o psicólogo clíni­co Luciano Passianotto, posses-sividade é completamente in-compatível com o amor. “Oque ocorre é que muitas pes-soas sentem apego a outras, qua-se sempre por razões egocêntri­cas, e confundem isso comamor, simplesmente por não sa-berem o que realmente é amor.Se agarrar a uma pessoa ou ter

medo de perdê­la é apego e nãoamor. Muitas pessoas pensam‘eu te amo e quero que você mefaça feliz’. Quem realmenteama tem em mente ‘eu te amo equero que você seja feliz’. Sãosentimentos muito diferentes”,garante.

“Amor é liberdade! Quemdiz que ama, mas impõe a seuparceiro a restrição da liber-dade, provavelmente nãoama de verdade ou ama de for-ma imatura e insegura. Amaré trabalhar para o outro serinteiro e não duas metades,como já defenderam algunsautores no passado”, enfatizaArmando Ribeiro, psicólogoe coordenador do Programade Avaliação do Estresse daBeneficência Portuguesa deSão Paulo.   (JR)

COMPORTAMENTO�t

Devemos aprender a amar de formaconstrutiva. Relacionamentos precisam sercapazes de oferecer crescimento ao casal

ERROS DE QUEM NÃO SABE AMAR

�tPensar que o outro,de alguma forma, épropriedade nossa�tTentar respeitaro outro sem aprender a serespeitar antes�tTentar amar o outro semaprender a se amar antes�tPensar quenecessidade ou dependênciado outro é amor�t Pensar no amor comouma prestação de serviços

�t Limitar o conceito devida a um matrimônio, seisolando de amigos, família,pessoas, lugares para seconhecer e tantas coisaspara se fazer�t Pensar que a vida dooutro é sua vida só porquevocê se acomodou eabandonou seus sonhos emetas próprias para viverem função de alguém

Fonte: Alexandre Caprio, psicólogo

cognitivo­comportamental

A complexa escolha do parceiro

Saia da zona de conforto

O amor não aprisiona

Sto

ck

Images/D

ivulg

ação

Domingo, 27 dedezembro de 2015

10

Page 2: O amor pode ser leve

Quando escolhemos parceiros, leva-mos em conta muito mais que aspectos

sociais e culturais, incluindo padrões debeleza, valores, princípios, segurança e ob-jetivos comuns. “Todas as nossas expe-riências definem a forma como nos rela-cionamos com o mundo e, obviamente,não consideramos todas essas experiên­cias conscientemente ao fazer escolhascomplexas como essa”, argumenta o psi-cólogo clínico Luciano Passianotto.

Apósfazeraescolha,oquemuitasve-zes se vê são casais perdidos em meio acobranças, acusações, com um se fa-

zendo de vítima, enquanto o outroem busca de um culpado. Esse ci-

clo é tão comum que eles nempercebem o quão mal estão

se fazendo.Segundo Alexan-

dre Caprio, co-b r a n -

ças, acusações e incompreensões estãomais ligadas à maneira como um esperaque o outro seja. “Se, desde criança, um ra-paz cresce tendo como modelos femininosmães, irmãs, tiase primasquecozinhem, la-vemepassemparaoshomensdafamília,en-tãoosujeitoentraráemconflitocomumana-morada quenão se comporte da mesmafor-ma. Se, desde criança, uma moça vê os mo-delos masculinos de sua família traíremmulheres, ela poderá desenvolver um me-do crônico de que isso aconteça com elatambém–e atépoderáescolherumper-fil parecido sem perceber. Os modeloscontidosemnossaaprendizagempo-dem nos levar a reproduzir as ale-grias e dramas que – há muitotempo - absorvemos e defini-mos como relacionamen-to”, diz.  (JR)

O AMOR PODEO AMOR PODESER LEVESER LEVE

Juliana [email protected]

Todo mundo quer encontrarum amor que dure a vida to-da, mas esquece que, no dia

a dia, muitas vezes relacionar-senão é uma tarefa fácil. Na visãodo guru brasileiro Prem Baba(“o pai do amor”, como diz a tra-dução em sânscrito), relacio-nar-se pode ser a fonte de angús­tia de milhares de pessoas.

O desgaste emocional das re-lações está tão abrangente que

Sri Prem Baba resolveu usarsuas experiências pessoas no li-vro “Amar e Ser Livre – As basespara uma Nova Sociedade” (ed.Dummar/Agir), para responderaos corações aflitos que lhe procu-ram em busca de ajuda.

Em cima de suas experiên­cias pessoais, o guru, formadoem psicologia e que já estudoudiversas fontes de autoconheci-mento, nos alerta sobre a impor-tância do relacionamento a doiscomo um dinamizador do desen-volvimento espiritual.

Permanecer em um relaciona-mento que perdeu a capacidade deoferecer crescimento ao casal é umerro comum. “Os casais cometem es-se erro por viverem no ‘piloto auto-mático’, na procrastinação. O serhumano é muito condicionado aoseu dia a dia e mudanças custammuito para acontecer. É precisomuita coragem e maturidade paramudar uma relação que traz sofri-mento e dor, mas a qual estamosacostumados”, alerta Armando Ri-

beiro. “Muitos pacientes dizem quepreferem permanecer na relaçãodoentia do que dar uma guinada,mas com o passar do tempo nota-mos que isso leva ao adoecimentofísico e emocional. Quantas doen-ças que enchem os consultóriosmédicos não são causadas por rela-ções tóxicas e comportamentos abu-sivos?”, questiona o especialista.

Sri Prem Baba alerta em seu li-vro que, se os dois parceiros estãorealmente se dedicando ao processo

de autoconhecimento, é bem possí­vel que fiquem juntos a vida toda.No entanto, às vezes, um dá um sal-to, o outro não. Ou por alguma ra-zão ocorre um desencontro e a rela-ção deixa de ser uma oportunidademútua. Nesses casos, não tem senti-do permanecer juntos. Tirando to-do o romantismo, o relacionamentoé uma escola em contínuo processoevolutivo. O relacionamento é umcaminho, um meio, e não a estaçãode chegada, ensina o guru.   (JR)

Para o psicólogo cogniti-vo-comportamental AlexandreCaprio, é possível amar de ma-neira construtiva. “O amor estáfundamentado na admiração eno respeito que um tem pelo ou-tro. Embora as pessoas semprese confundam, o sentimento deposse e as ofensas estão emuma direção completamente di-ferente da do amor.”

Segundo o psicólogo clíni­co Luciano Passianotto, posses-sividade é completamente in-compatível com o amor. “Oque ocorre é que muitas pes-soas sentem apego a outras, qua-se sempre por razões egocêntri­cas, e confundem isso comamor, simplesmente por não sa-berem o que realmente é amor.Se agarrar a uma pessoa ou ter

medo de perdê­la é apego e nãoamor. Muitas pessoas pensam‘eu te amo e quero que você mefaça feliz’. Quem realmenteama tem em mente ‘eu te amo equero que você seja feliz’. Sãosentimentos muito diferentes”,garante.

“Amor é liberdade! Quemdiz que ama, mas impõe a seuparceiro a restrição da liber-dade, provavelmente nãoama de verdade ou ama de for-ma imatura e insegura. Amaré trabalhar para o outro serinteiro e não duas metades,como já defenderam algunsautores no passado”, enfatizaArmando Ribeiro, psicólogoe coordenador do Programade Avaliação do Estresse daBeneficência Portuguesa deSão Paulo.   (JR)

COMPORTAMENTO

Devemos aprender a amar de formaconstrutiva. Relacionamentos precisam sercapazes de oferecer crescimento ao casal

ERROS DE QUEM NÃO SABE AMAR

Pensar que o outro,de alguma forma, épropriedade nossaTentar respeitaro outro sem aprender a serespeitar antesTentar amar o outro semaprender a se amar antesPensar quenecessidade ou dependênciado outro é amorPensar no amor como

uma prestação de serviços

Limitar o conceito devida a um matrimônio, seisolando de amigos, família,pessoas, lugares para seconhecer e tantas coisaspara se fazerPensar que a vida do

outro é sua vida só porquevocê se acomodou eabandonou seus sonhos emetas próprias para viverem função de alguém

Fonte: Alexandre Caprio, psicólogo

cognitivo­comportamental

A complexa escolha do parceiro

Saia da zona de conforto

O amor não aprisiona

Sto

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Images/D

ivulg

ação

Domingo, 27 dedezembro de 2015

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