O Ar e a Sua Influência Na Medição Do Consumo de Água

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O Ar e a Sua Influência Na Medição Do Consumo de Água

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  • 21 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitria e Ambiental

    ABES - Trabalhos Tcnicos 1

    I-001 O AR E A SUA INFLUNCIA NA MEDIO DO CONSUMO DE GUA

    Elton J. Mello(1) Engenheiro Mecnico pela Universidade Federal de Santa Maria RS. Especialista em Engenharia Clnica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Superintendente Comercial do Departamento Municipal de gua e Esgotos de Porto Alegre (DMAE). Rubens de Leo Farias Tcnico Industrial pela Escola Tcnica Federal de Pelotas. Chefe da Diviso de Pesquisa e Operaes Comerciais da Companhia Riograndense de Saneamento (CORSAN). Endereo(1): Rua Fernando Gomes, 183 Bairro Moinhos de Vento Porto Alegre - RS - CEP: 90510-010 - Brasil - Tel: (51) 218-9790 - e-mail: [email protected] RESUMO

    Em condies normais de abastecimento e sob o ponto de vista da medio do consumo dos ramais prediais, a presena de ar nas redes pblicas de gua desprezvel, mas em determinadas situaes extraordinrias, ocorre o ingresso de volumes significativos de ar no sistema, que podem alterar esta situao. Este ar atravessando o hidrmetro registrado e a determinao da sua interferncia no consumo medido o objetivo principal dos estudos que o DMAE e a CORSAN vm realizando desde 1997, atravs da utilizao de dispositivos eliminadores de ar em testes de campo. Os resultados alcanados tm demonstrado que o emprego destes dispositivos na rede pblica de Porto Alegre, no apresenta nenhum benefcio significativo ao usurio, ou mesmo protegem o medidor de gua quanto a danos quando submetidos s elevadas velocidades de passagem do ar. Aliada a estes resultados, a possibilidade de contaminao da rede pblica, nos casos de alagamentos dos locais onde esto instalados, torna invivel a aplicao prtica desses equipamentos. Entre as concluses que este estudo tem permitido chegar ao longo de seu desenvolvimento, a mais importante de que a soluo definitiva e no paliativa para a interferncia do ar na medio do consumo, compete exclusivamente s empresas de saneamento, atravs de investimentos para reduzir a intermitncia no abastecimento de gua, seja pela substituio de redes esclerosadas, seja pela ampliao de sistemas de distribuio deficientes, isto , atacando a causa e no a conseqncia. PALAVRAS-CHAVE: Hidrmetro, Conta de gua, Ar, Medio, Consumo de gua. INTRODUO

    Sabe-se que o ar presente na rede de um sistema de distribuio de gua, quando do retorno do abastecimento aps uma interrupo, pode alterar o valor do consumo registrado pelo medidor. A presena do ar em canalizaes, que aduzem ou transportam lquidos, um fenmeno previsvel sob o ponto de vista hidrulico. Todavia seus efeitos, positivos ou negativos, ainda no so totalmente conhecidos. No caso especfico de adutoras e redes de distribuio de gua, projetistas e operadores de sistemas utilizam dispositivos que retiram e/ou incorporam ar em funo do efeito que se deseja no trecho considerado. Muitas vezes os dispositivos projetados para efetuarem o controle automtico da entrada e sada de ar nas tubulaes troncais de distribuio no esto cumprindo com sua funo, principalmente devido a alguns fatores, dos quais citamos os principais: Os dispositivos controladores no so instalados na quantidade e posies adequadas durante a execuo

    da rede de distribuio. Quando ocorre uma ampliao ou reforo do sistema de distribuio existente, a posio e o nmero de

    equipamentos deveriam ser reestudados, o que raramente acontece. Normalmente, no efetuada manuteno preventiva nos equipamentos existentes.

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    Quando estivermos diante de qualquer uma das circunstncias acima, provvel que grande parte do ar contido na tubulao tenha as ligaes domiciliares como opo de entrada e sada do sistema. Evidentemente, quando os fatores forem combinados, espera-se uma potencializao dos seus efeitos. Assim, a influncia deste ar na medio do consumo ocorre nos dois sentidos, ou seja, positivamente, adicionando uma parcela ao registro do medidor, quando do retorno do abastecimento dgua, e negativamente, subtraindo uma outra quantidade do volume totalizado, quando da interrupo do suprimento. O resultado final desta influncia sobre o consumo medido e faturado , no entanto, ainda desconhecido. Por outro lado, devido a suspeita de que todos os consumidores estariam pagando ar na sua conta de gua, inventores tm desenvolvido dispositivos para eliminar o ar aprisionado nas ligaes prediais, antes de ser contabilizado pelo medidor. Estes dispositivos, denominados de vlvulas eliminadoras ou expulsoras de ar, tm sido apresentados populao como soluo para o problema. Iniciativas promovidas por diferentes entidades, inclusive legisladores com o intuito de protegerem os seus eleitores, pretendem obrigar a instalao destes equipamentos junto aos medidores de gua, sem um completo conhecimento e domnio da real influncia do ar nas medies. OBJETIVO GERAL

    Com o intuito de evitar que se implantem medidas, que possam causar prejuzos s empresas de gua e aos prprios consumidores, este trabalho pretende avaliar o real comportamento da medio do consumo de gua, quando submetida presena do ar e, tambm, as alternativas existentes para minimizar ou eliminar os efeitos, que forem constatados. OBJETIVOS ESPECFICOS

    Observar e medir os efeitos da movimentao do ar na totalizao dos volumes fornecidos aos usurios; Testar e medir a eficincia dos dispositivos controladores de ar na rede de distribuio; Testar, medir e comparar, atravs de experimentos de campo, os consumos registrados por hidrmetros,

    com e sem vlvulas eliminadoras de ar. METODOLOGIA

    O presente estudo foi desenvolvido numa parceria entre o Departamento Municipal de gua e Esgotos DMAE e a Companhia Riograndense de Saneamento CORSAN, em Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul. As pesquisas se desenvolveram em duas frentes: Atravs de experimentos de campo para avaliar, medir e comparar os consumos registrados por

    hidrmetros, com e sem vlvulas eliminadoras de ar; Atravs de ensaios em laboratrio, onde foram simuladas as condies verificadas em campo e

    realizados testes controlados para avaliar a influncia do ar na medio dos consumos, com ou sem o uso de dispositivos controladores de ar na rede de distribuio.

    Desde maio de 1998, cavaletes especiais compostos de dois hidrmetros separados por um eliminador de ar foram instalados em ramais da rede pblica de Porto Alegre, onde existiam reclamaes dos usurios, quanto cobrana de ar nas suas contas de gua.

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    A partir de ento, vm sendo realizadas leituras peridicas dos conjuntos, que servem para comparar os consumos apurados pelos hidrmetros e a influncia da vlvula eliminadora de ar nos volumes totalizados, visto um dos medidores, teoricamente, estar protegido pelo eliminador da interferncia do ar. Todos os medidores utilizados nos testes foram previamente aferidos, com as suas curvas de erros levantadas e calibradas, obedecendo-se o Regulamento Tcnico Metrolgico da Portaria 246/2000 do INMETRO. Os ensaios de laboratrio foram realizados em uma instalao especialmente construda junto a Departamento de Hidrmetros da CORSAN, cuja metodologia adotada seguiu as seguintes etapas: 1. Criaram-se condies na rede para que haja fluxo de entrada e sada de ar, esvaziando e enchendo a

    tubulao e controlando e medindo a velocidade em ambos os sentidos; 2. Mantiveram-se os pontos de consumo totalmente abertos, para que o ar entrasse e sasse atravs dos

    ramais domiciliares; 3. Registraram-se, no incio e no fim do procedimento, os volumes totalizados pelo medidor e comparou-se

    com o volume realmente fornecido, colhido em recipientes calibrados em cada ponto de consumo; 4. Repetiu-se o mesmo teste, procurando-se manter os mesmos valores para uma determinada faixa de

    velocidades, variando-se apenas uma condio de abastecimento. 5. Para cada ensaio foram realizados 3 (trs) testes: Para apurao dos resultados que constam nas

    planilhas apresentadas, foram traadas as mdias de 3 (trs) ensaios, realizados nas condies descritas no item A Avaliao em Laboratrio.

    A PRESENA DO AR

    Para melhor entendermos como o ar introduzido na tubulao, necessrio que se fixe alguns conceitos de hidrulica, os quais sero utilizados neste trabalho. A presso, atravs da sua diferena entre dois pontos, a grandeza fsica responsvel pela movimentao

    da gua, da origem aos extremos de qualquer sistema distribuidor. A medida de presso em qualquer ponto do sistema d ao operador a idia sobre as condies de abastecimento;

    A presso referencial a presso atmosfrica. Quando a presso no interior da tubulao maior que a atmosfrica estamos diante de uma presso positiva. Caso contrrio, quando os valores so menores, dizemos que a presso negativa;

    Presses positivas ao longo de um sistema distribuidor significam condies de abastecimento normais. Nessa circunstncia no ocorre entrada de ar;

    Quando a rede de distribuio tende a presses negativas, o ar entra no sistema atravs dos dispositivos controladores (incluindo reservatrios dos sistemas), ou se utilizando de pontos de consumo abertos (torneira de jardim, por exemplo) ou de vlvulas-bia semi-abertas, ocupando os espaos deixados pela gua.

    Neste ltimo caso, o ar circula pelo medidor, entrando e saindo, o que pode ocasionar um acrscimo ou diminuio do volume medido, uma vez que ele marca e desmarca os volumes totalizados dependendo da velocidade, conforme descrito no item O Ar e a Medio de Consumos. AS CAUSAS DA INCORPORAO DE AR REDE DE DISTRIBUIO

    Partindo-se da premissa que um sistema que mantm presses positivas em todos os seus pontos representa uma condio de abastecimento normal e que, nesse caso, no h possibilidade de incorporao de ar rede de distribuio, parece conveniente descartar a anlise de um sistema nessas circunstncias. Sendo assim, a partir de agora devemos focalizar apenas os sistemas de distribuio que convivem com problemas de desabastecimento contnua ou eventualmente uma vez que, nesses casos e s nesses, o ar pode influir na medio dos consumos, objeto da nossa pesquisa. As causas principais de incorporao de ar tubulao so:

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    1. Bombas que operam abaixo do NPSH requerido Nesse caso, elas succcionam ar emulsionado com o lquido e o recalcam atravs da tubulao, normalmente causando o fenmeno da cavitao. O volume de ar muito pequeno e, embora no traga maiores efeitos sobre a medio, a conseqncia maior o dano ao equipamento de recalque.

    2. Perda da carga piezomtrica Quando num sistema de distribuio a demanda maior que a capacidade instalada, h uma perda gradual da carga piezomtrica, a comear pelos pontos mais elevados. Nessa situao estamos diante de um processo de desabastecimento. Nesse momento, o ar flui para os pontos de presso negativa, preenchendo os espaos deixados pela gua atravs dos equipamentos controladores, como as ventosas, ou, na inoperncia dessas, utilizando-se das ligaes domiciliares.

    3. Rompimentos da rede de distribuio Normalmente so pouco freqentes, mas so eventos sem controle e que provocam velocidades variveis, altas no incio e diminuindo progressivamente at o esvaziamento total da tubulao.

    O AR E A MEDIO DE CONSUMOS

    A medio de consumos realizada atravs de hidrmetros baseados num princpio de funcionamento velocimtrico. Os medidores possuem uma turbina que acionada pelo fluido em movimento (gua ou ar). Ambos, gua e ar, deslocam-se em funo da diferena de presso e adquirem velocidades tanto maiores quanto maior for essa diferena. Na turbina do medidor, a velocidade transformada em pulsos proporcionais a sua intensidade e transmitidos a um totalizador de volumes. Neste momento, est sendo medido e registrado o consumo do usurio. interessante frisar, que h limites de velocidades, inferiores e superiores, fora dos quais o hidrmetro no funciona. Para velocidades muito baixas, a energia cintica no suficiente para girar a turbina; para velocidades muito altas, acontece o fenmeno do patinamento (a turbina gira, mas no aciona o sistema que totaliza o volume). Em ambos os casos, h fluxo de gua e/ou ar pelo aparelho, mas no medido. A EFICINCIA DOS ELIMINADORES

    Apesar de vrios inventores terem manifestado, desde o segundo semestre de 1997, interesse em submeter os seus equipamentos para avaliao pelo DMAE, apenas dois fabricantes cederam um determinado nmero de dispositivos (superior a cinco unidades) para testes de campo. Os testes iniciados em maio de 98, consistiam da instalao de dois hidrmetros com o eliminador colocado entre eles, em um mesmo cavalete ou em cavaletes separados, conforme orientaes para montagem do prprio fabricante. Os ramais eram escolhidos em reas que apresentavam deficincias de abastecimento e existia grande reclamao dos usurios quanto ao problema de ar. O tempo mnimo proposto de avaliao prtica para cada tipo de dispositivo testado era de 12 meses. Com estes experimentos de campo espervamos obter resultados sobre: O rendimento do equipamento: o ar atravessaria o primeiro medidor, sendo retirado, na seqncia, total

    ou parcialmente, pelo eliminador e no sendo registrado pelo segundo hidrmetro. Desta forma, a diferena entre os registros dos medidores, originada pelos deslocamentos do ar no interior do ramal, poderia ser determinada;

    O funcionamento prtico: estanqueidade ou presena de vazamentos, quando submetidos a toda a faixa de presso da rede pblica, que pode variar de 0 a 70 m.c.a, sob diferentes velocidades de deslocamento dos fluidos, ar e/ou gua;

    A influncia de algumas variveis que no podem ser reproduzidas em testes laboratoriais como a topografia; topologia da rede; geometria da rede, ramais e instalaes prediais; volume da rede, tempo das manobras de esvaziamento e enchimento; existncia de caixas dgua prediais; quantitativo de pontos de consumo, operao de dispositivos especiais (hidrantes, ventosas, descargas e suspiros), fatores que afetam o consumo (horrio, temperatura, estao do ano); e outros.

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    O objetivo destes testes era avaliar o comportamento dos dispositivos expulsores de ar, quando submetidos s condies de abastecimento e desabastecimento na rede pblica de gua de Porto Alegre e obter os resultados prticos em termos dos consumos registrados pelos hidrmetros. Na Tabela 1 so apresentados os dados acumulados referentes ao emprego de um modelo de eliminador de ar fabricado em bronze em ramais que apresentavam deficincia de abastecimento (B411, M46 e M53); que se localizavam em pontas de redes (B411 e S139); e/ou que se situavam nas cotas mais altas da rede (C805, M46 e M53). Em todos eles, os usurios reclamavam de alteraes nas suas contas de gua devido ao ar (S139 e C805), ou porque ficavam muitos dias seguidos sem gua, principalmente, nos meses de vero (B411, M46 e M53). Tabela 1: Avaliao de Eliminadores de Ar em BronzeEndereo Data Data Perodo Volumes Registrados Eficincia

    Incio Fim [meses] s/ Eliminador c/ Eliminador do Eliminador[m] [m] [%]

    B411 07/05/98 11/05/99 12,30 403,19 413,17 -2,42%C805 05/05/98 30/03/99 10,97 746,39 727,25 2,63%M46 07/05/98 11/05/99 12,30 156,37 162,01 -3,48%M53 07/05/98 04/05/99 12,07 176,55 192,52 -8,30%S139 26/06/98 14/03/00 20,90 1.027,62 1.015,94 1,15%

    A anlise dos dados, lanados na Tabela 1, permite concluir que este tipo de eliminador de ar no apresentou nenhum benefcio ao usurio, principalmente, considerando que durante o perodo de monitoramento, os problemas de desabastecimentos ou intermitncias estiveram presentes. A pior situao ocorreu no endereo M53, onde o medidor sem eliminador registrou 8,30% a menos que o hidrmetro com eliminador, que teoricamente estava protegido da interferncia do ar. Na segunda etapa de testes com os eliminadores, apresentados na Tabela 2, avaliou-se um outro tipo de dispositivo, fabricado em poliestireno, cuja instalao nos ramais domiciliares de Porto Alegre se deu a partir de maio de 1999. Observando-se a Tabela 2, pode-se concluir que este eliminador em poliestireno apresentou, no caso do S139, um resultado melhor que o dispositivo avaliado na Tabela 1 e instalado no mesmo endereo, mas que a reduo do consumo verificado, neste caso de 6,06%, foi insignificante. O mesmo se pode afirmar no endereo N112, que se encontra localizado em ponta de rede e sujeito a freqentes presenas de ar. Os demais endereos, que apresentavam deficincia no abastecimento, em funo de serem ocupaes recentes e em lugares altos da cidade (M46 e M53), ou cuja rede de distribuio estava em obra de ampliao (F100 e F107), repetiram os resultados apresentados anteriormente na Tabela 1. Tabela 2: Avaliao de Eliminadores de Ar em PoliestirenoEndereo Data Data Perodo Volumes Registrados Eficincia

    Incio Fim [meses] s/ Eliminador c/ Eliminador do Eliminador[m] [m] [%]

    F100 11/05/99 17/04/01 23,57 771,01 779,73 -1,12%F107 11/05/99 17/04/01 23,57 909,98 911,96 -0,22%M46 11/05/99 17/04/01 23,57 199,88 196,81 1,56%M53 06/04/99 10/01/01 21,50 262,73 277,92 -5,47%N112 15/03/00 17/04/01 13,27 184,07 175,45 4,91%S139 15/03/00 29/11/00 8,63 202,77 191,18 6,06%

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    A utilizao destes eliminadores e de uma srie de outros que chegaram a ser instalados em diversos ramais prediais da rede pblica de gua de Porto Alegre, desde novembro de 1997, permitiu que se observassem outras questes, to importantes quanto comprovao ou no de sua eficincia: O elevado ndice de dispositivos que apresentaram vazamentos pouco tempo aps as suas instalaes,

    independente do tipo e do fabricante. Inclusive, um dos expulsores de ar de poliestireno, que chegou a ser instalado na B411, foi retirado, pois como a presso da rede era muito baixa (em torno de 5 mca), ele dava passagem direta de gua, o que provocou um aumento no volume registrado pelo medidor de aproximadamente 42% , provocando grande desperdcio de gua.

    O alto risco de contaminao da rede pblica, pois em muitas situaes o cavalete, onde est instalado o hidrmetro, fica abaixo do nvel do solo, ou se situa em reas alagadias da cidade - sujeitas a inundaes, ou o seu nicho/abrigo possibilita o acmulo de resduos e detritos. Quando o cavalete ficar coberto com gua contaminada ou submetido a uma atmosfera txica e ocorrer uma falta de gua, o dispositivo aspirar o que estiver ao seu redor e colocar no interior da rede pblica de gua, contaminando todo o sistema.

    A possibilidade da fraude, seja retirando o eliminador de sua instalao e adaptando uma mangueira no seu lugar, seja fechando o registro de entrada de gua e conectando qualquer dispositivo que injete ar no sentido contrrio de funcionamento do hidrmetro (por exemplo, numa torneira de jardim prxima ao cavalete). No primeiro caso, se estar consumindo gua sem o devido registro do consumo, no segundo provocando a diminuio do volume totalizado pelo medidor.

    Independentemente dos resultados alcanados em todos os testes comparativos realizados (Tabelas 1 e 2), que demonstraram uma baixssima eficincia dos eliminadores, inclusive, tendendo a prejudicar o usurio, a situao mais grave, quanto ao emprego indiscriminado deste tipo de aparelho nos ramais prediais, o elevado risco de contaminao e decorrentes prejuzos a sade pblica. Para contornar esta situao, os fabricantes propem duas alternativas, a saber: 1. Fornecimento, junto com os dispositivos, de tubos verticais longos, que elevariam a tomada de ar do

    aparelho acima das cotas mximas previstas de alagamento para os locais onde forem instalados estes eliminadores;

    2. A adaptao de um sistema de bloqueio da tomada de ar externo, tipo ventil, evitando que seja aspirado ar ou gua para o interior do ramal.

    No primeiro caso, em funo do material e/ou do sistema de fixao utilizados, nada garante a permanncia dos tubos verticais longos aps a sua instalao. Na segunda alternativa, o artifcio utilizado causa enorme prejuzo s empresas de saneamento, atravs de uma falsa reduo no registro do consumo, fraudando o volume totalizado pelo hidrmetro. Estando bloqueada a tomada de ar externo do aparelho expulsor, a fraude ocorre devido ao fato de o ar somente se deslocar num sentido (para fora do ramal) no dispositivo, pois, durante o desabastecimento da rede (presso negativa), o ar ser admitido no sistema atravs de pontos de consumos abertos no interior das instalaes prediais, atravessando o medidor e desmarcando o volume de gua, at ento totalizado, conforme descrito no item A Presena do Ar. No retorno do suprimento, o ar saindo pelo eliminador no tender a zerar o volume que havia sido desmarcado do medidor, no momento da falta de gua. A AVALIAO EM LABORATRIO

    O Laboratrio se trata de um mini-sistema de distribuio de gua, conforme apresentado na Figura 1, que permite avaliar qualitativa e quantitativamente o efeito do ar na medio de consumos, controlando-se as variveis que podem influir no processo.

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    Procurou-se reproduzir ali todas as condies normalmente encontradas em qualquer sistema de distribuio de gua, utilizando-se materiais e equipamentos mais conhecidos e utilizados em todos os procedimentos, inclusive, quanto aos operacionais. Figura 1: Mini-Sistema de distribuio de gua com os principais componentes

    CARACTERSTICAS TCNICAS

    O mini-sistema de distribuio composto basicamente de uma bomba de recalque (Hm=45 mca, Vazo mxima de 4 L/s), que succiona de um reservatrio inferior de 2.000 litros, n.m 79, e bombeia para um reservatrio superior de 10.000 litros, n.m 115. Manobrando-se alguns elementos, podemos criar condies para que o ar se incorpore rede atravs do recalque. A distribuio composta de uma tubulao de PVC, dimetro 100mm com aproximadamente 150 m de comprimento perfazendo um trecho em aclive acentuado com desnvel de 18m. Completam o sistema um controlador de velocidade de fluxo (permite variar e medir a velocidade de esvaziamento e enchimento da rede), uma ventosa simples de 1 , uma vlvula de parada que permite simular a ponta morta da rede, alm de pontos de expurgo, tomadas de presso e vazo. Quanto aos ramais domiciliares, eles esto dispostos em pontos (P1, P2... P8) situados no trecho de cotas mais elevadas, conforme mostra a Figura 2, com a planta baixa do esquema de ligaes.

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    Figura 2: Disposio dos ramais domiciliares no sistema de distribuio

    VENTOSA

    MANOMETRO

    100,00

    99,17

    98,32

    97,93

    96,94

    95,85

    94,77

    94,05

    92,68

    87,45

    12 m

    9 m

    5 m

    7 m

    8 m

    40 m

    P-1

    P-2

    P-3

    P-4

    P-5P-6

    P-8

    PITOT

    CAIXA DE INSPEO

    83,98

    83,86

    - REGISTRO

    CONTROLADOR DEVELOCIDADE

    PIEZOMETRO

    30 m

    12 m

    PLANTA BAIXA DO ESQUEMADE LIGAES RESERVATRIO ELEVADO

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    A montagem das ligaes domiciliares est representada na Figura 3, sendo que os ramais foram executados em tubo de PEAD 20mm e os hidrmetros so multijato, classe B, previamente aferidos. Cada ponto de consumo tem uma torneira de jardim, onde o volume fornecido medido atravs de recipientes calibrados. Figura 3: Montagem das ligaes domiciliares OS TESTES EFETUADOS

    Para uma seqncia de valores de velocidades, conforme etapas e procedimentos descritos no item Metodologia, foram efetuadas duas baterias de testes, correspondentes a duas circunstncias distintas: SITUAO A: O mini-sistema de distribuio (Figuras 1 e 2) com uma extremidade de rede, situada em cota elevada com os pontos de consumo totalmente abertos, sem nenhum dispositivo controlador de ar no trecho. SITUAO B: O mesmo mini-sistema, utilizando-se uma chamin de equilbrio no trecho, que permita entrada e sada de ar. No caso, utilizou-se a prpria tubulao de chegada no reservatrio superior. Os apontamentos realizados durante os testes foram lanados na planilha apresentada na Tabela 3, onde: Ensaio = nmero do ensaio (composto de 3 testes); Ves = Velocidade de esvaziamento; Ven = Velocidade de enchimento; P = Pontos de consumo; LIes = Leitura Inicial do hidrmetro no esvaziamento da rede; LFes = Leitura Final do hidrmetro no esvaziamento da rede; LIen = Leitura Inicial do hidrmetro no enchimento da rede; LFen = Leitura Final do hidrmetro no enchimento da rede; VF = Volume Fornecido (Volume medido no recipiente calibrado); VT = Volume Totalizado = (LFen - LIes); Var = Volume de ar medido = (VT - VF).

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    Tabela 3: Planilha dos apontamentos

    Ensaio ____ Ves = Ven =

    LIes LFes LIen LFen VF VT Var P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8

    As Tabelas 4 e 5, apresentadas abaixo, indicam o volume de ar totalizado pelo hidrmetro, por ponto de consumo e por evento (ciclo completo de esvaziamento/enchimento). Como o nmero de eventos (faltas dgua, interrupes programadas, vazamentos, etc.) dependem de cada sistema e de cada circunstncia, projetamos os valores unitrios das planilhas para um nmero de eventos mensais, supondo um consumo mensal de 18m, que a mdia histrica domiciliar do DMAE. Para exemplificar, analisaremos na situao A (mais desfavorvel operacionalmente), o ponto 01 (P1) do ensaio 03 (mais desfavorvel do sistema), cujos dados esto lanados na Tabela 4. Atravs da equao (1) e partindo da suposio de 30 interrupes do abastecimento no ms, teramos um acrscimo de 6.780 litros, ou seja, para uma mdia histrica igual a 18.000 litros/ms/economia, equivaleria a 37,6% da medio. Volume total de ar = 30 dias X 226 litros = 6.780 litros/ms equao (1) Tabela 4: Resultados obtidos para a Situao A

    Volume de Ar Medido/Interrupo [litros]

    Pontos Ensaio 1 Ensaio 2

    Ensaio 3

    P1 127 157 226

    DADOS P2 84 111 136

    ENSAIO Ves [m/s] Ven [m/s] P3 1 1 1

    1 0,043 0,074 P4 3 2 3

    2 0,096 0,088 P5 2 1 1

    3 0,080 0,130 P6 2 2 1

    P7 2 2 2

    P8 5 8 9 Na situao B, Tabela 5, analisaremos um consumidor situado no ponto 01 (P1) do ensaio 3, que so as condies mais desfavorveis do sistema. Pela equao (2), considerando 30 interrupes do abastecimento no ms, teramos um acrscimo de 780 litros, ou seja, 4,3% de um consumo de 18.000 litros/ms. Volume total de ar = 30 dias X 26 litros = 780 litros/ms equao (2)

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    Tabela 5: Resultados obtidos para a Situao B Volume de Ar Medido/Interrupo

    [litros] Pontos

    Ensaio 4

    Ensaio 5

    Ensaio 6

    P1 11 21 26

    DADOS P2 7 6 6

    ENSAIO Ves [m/s] Ven [m/s] P3 3 2 5

    4 0,050 0,080 P4 4 3 4

    5 0,073 0,100 P5 2 1 2

    6 0,110 0,210 P6 1 2 1

    P7 1 2 2

    P8 5 3 6 Analisando os dados obtidos nos ensaios, principalmente, na situao A (Tabela 4), pode-se concluir que os efeitos do ar na medio so proporcionais s velocidades de enchimento e esvaziamento de um sistema de distribuio. Embora, ainda, no se tenha colhido dados suficientes para levantar um coeficiente de proporcionalidade, observa-se que aumenta consideravelmente o volume de ar expelido atravs dos pontos de consumo, medida que aumenta a velocidade. Esta constatao um alerta aos responsveis pela operao dos sistemas para que tomem as medidas adequadas, por ocasio das retomadas de abastecimento, como expurgo do ar da rede atravs de hidrantes, chamins de equilbrio, ventosas, etc. Os ensaios efetuados na condio de abastecimento A representam a hiptese mais desfavorvel para o consumidor e, numa projeo pessimista (faltas dgua dirias), chegaramos a um volume totalizado de ar correspondente a 36% do volume fornecido (Tabela 3 - relao entre Var/VF). Todavia, nesses casos extremos, os ramais comprometidos so facilmente identificados pelas reas tcnica e comercial, pois se situam, invariavelmente, na cota mais alta. Os ensaios efetuados na condio de abastecimento B indicam que a utilizao de controladores de entrada e sada de ar, em pontos estratgicos da rede de distribuio, minimiza enormemente os efeitos do ar nos ramais domiciliares, inclusive para aqueles pontos onde a condio crtica (pontos P1 e P2), que torna este efeito, praticamente desprezvel. A partir destas constataes, pretendemos aprofundar os estudos, devendo ser testadas outras condies de abastecimento, outros equipamentos de controle de ar para as redes de distribuio e/ou ramais domiciliares. Cabe destacar, que estes ensaios realizados no laboratrio da CORSAN, no deixam dvidas sobre onde e de que forma devem ser priorizados os esforos, recursos e investimentos das empresas de saneamento e, por conseqncia, dos prprios usurios dos servios pblicos, para solucionar o problema do ar na medio do consumo: Na causa, na prpria rede de distribuio, e nunca na conseqncia, junto ao hidrmetro. CONCLUSES

    muito escassa a bibliografia tcnica, que aborde a influncia do ar incorporado s redes distribuidoras de gua de maneira clara, objetiva e, principalmente, conclusiva. Algumas pesquisas, principalmente de autores estrangeiros, tratam do tema muito mais enfocadas nos prejuzos que o ar causa s estaes de bombeamento e s prprias redes adutoras, onde, concentrado em bolses, acarreta elevadas perdas de carga, ou, quando em movimento, pode provocar graves acidentes, do que com a possvel interferncia na medio de consumos, o que pode acarretar prejuzos tanto aos usurios, quanto s empresas fornecedoras. Por outro lado, parques de hidrmetros mais modernos, que permitem ao usurio um acompanhamento mais eficiente do seu consumo (atravs da observao dos discos ticos), aliados a um cdigo do consumidor cada

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    vez mais atuante, so circunstncias que exigem das empresas um conhecimento mais detalhado do problema, para que se possa responder aos questionamentos de seus usurios, em bases tcnicas convincentes. Alm disso, este desconhecimento generalizado tem criado um espao para que algumas empresas lancem, no mercado, dispositivos que, mesmo sem serem respaldados pelos rgos oficiais de pesquisa e certificao, j acenem para o pblico consumidor com o milagre da soluo. O Departamento Municipal de guas e Esgotos - DMAE - e a Companhia Riograndense de Saneamento - CORSAN - possuem mecanismos administrativos e comerciais, que compensam ou corrigem qualquer distoro comprovada tecnicamente no consumo mensal da gua. Mas pelo princpio do respeito ao usurio, que tem liberdade para buscar no mercado outras formas de garantir-se quanto a essas eventualidades, a CORSAN e o DMAE continuam receptivos aos fabricantes para testar e avaliar os seus dispositivos, desde que observados os requisitos de qualidade, eficincia e segurana. Nesse sentido, desde 1997, o DMAE e a CORSAN vm se empenhando na rea da pesquisa, buscando elucidar os reais efeitos do ar na medio de consumos, nica maneira de preservar os verdadeiros interesses das fornecedoras, dos fabricantes de equipamentos e dos consumidores. No presente estudo, desenvolvido em duas frentes distintas e luz dos dados levantados em campo, foi possvel se comprovar, que as aes at ento implantadas pelas nossas empresas, no sentido de priorizar os investimentos na ampliao e adequao de seus sistemas de distribuio, realmente remetem para a essncia da questo da presena do ar nas redes pblicas de gua: Eliminar a deficincia no suprimento. Haja vista, o problema do ar no existir ou estar completamente controlado nos sistemas que no enfrentam intermitncias no abastecimento e, no caso de ocorrerem essas deficincias, esto bem projetados. De qualquer forma, a CORSAN e o DMAE, enquanto empresas pblicas de saneamento, permanecem disposio de entidades pblicas e privadas, envolvidas no processo e que queiram participar positivamente, buscando enriquecer o conhecimento sobre o assunto. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    12. MELLO, ELTON J. As perdas no fsicas e o posicionamento do medidor de gua. XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitria e Ambiental - AIDIS. Anais. Porto Alegre-RS, 2000.

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    14. SANCHEZ, JORGE GOMEZ. Estimation of not measured water volume supplied to residential consumers, in Juazeiro Bahia. 10th FLOMEKO. Anais. SalvadorBA, 2000.

    15. SILVA, RICARDO T. (coord). Indicadores de Perdas nos Sistemas de Abastecimento de gua - PNCDA. Ministrio do Planejamento e Oramento, Secretaria de Poltica Urbana. Braslia-DF, 1998.

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