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O ATO DE (DES) CONSIDERAR O OUTRO SUJEITO NO PROCESSO EDUCACIONAL E SUAS IMPLICAÇÕES NA CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES DE
AUTORIDADE AUTÊNTICAS
Rita de Cássia Squizzato Baise1
Resumo: Este artigo apresenta o princípio da autoridade como fundamento na educação escolar e familiar. Expõe de que maneira, na sociedade moderna, o princípio da autoridade perde-se, além de seus reflexos na educação e formação das novas gerações. Enfatiza que resgatar a autoridade no processo educacional é resgatar, sobretudo, o amor incondicional às novas gerações, o compromisso ético, a coerência, a disposição em educar a partir do exemplo. Relata também sobre o Encontro de Pais, proposta de implementação desenvolvida no PDE/PR (Programa de Desenvolvimento Educacional) no ano 2008, em que pais e profissionais da educação tiveram oportunidade de se reunirem para discutir temas pertinentes à educação de crianças e adolescentes. O objetivo foi proporcionar maior aproximação entre família e escola e à melhoria nas relações interpessoais familiares e escolares, para contribuir assim com o desenvolvimento saudável e feliz das novas gerações.
Palavras chaves: Autoridade, Família, Escola.
Abstrat: This article presents the beginning of the authority like basic in the school and familiar education. Expose as in the modern society the beginning of the authority is lost, besides his reflexes in the education and formation of the new generations. It emphasizes what to ransom the authority in the education process is to ransom especially, the unconditional love to the new generations, the ethical promise, the coherence, at disposal in educating from the example. It reports about the Meeting of Parents, proposal of implementation developed in the PDE/PR (Program of Education Development) in 2008, where parents and professionals of the education had opportunity for meeting and discussing relevant subjects to education of children and adolescents with the objective to provide a bigger approximation betweem family and school and the improvement in the interpersonal familiar and school relations, providing so the healthy and happy development of the new generations.
Words keys: Authority, Family, School.
1 Pedagoga, Especialista em Educação Especial – Deficiência Mental e Professora PDE/PR
período 2007 – 2008.
Introdução
Muitos são os desafios da educação brasileira, antigos e ao mesmo tempo
extremamente atuais. A evasão escolar e as reprovações constituem ainda um
ponto de estrangulamento no sistema educacional. Além disso, uma aprendizagem
superficial, mesmo para aqueles alunos que não apresentam distorções quanto à
série e idade, é preocupante.
Não desconsiderando todos os fatores econômicos, sociais e políticos que
interferem no processo educativo, direta ou indiretamente, é a relação professor-
aluno-conhecimento o foco mais importante de todo o processo escolar. O professor
é quem propicia vida à organização curricular, atribui sentido àquilo que está
ensinando e que constrói um relacionamento que tanto pode facilitar como dificultar
o sucesso no processo ensino-aprendizagem.
Não se pode negar que o trabalho pedagógico para se efetivar necessita que
professores e alunos em suas distintas, mas complementares, posições coloquem-
se igualmente como sujeitos do processo, pois se negarmos essa relação estaremos
prejudicando o ato educativo em si.
Quem é o aluno da escola atual? Ou quem são esses seres humanos que
estão nos bancos escolares de hoje? Quem são os educadores contemporâneos? A
organização das escolas (Projeto Político Pedagógico, Regimento Escolar, Normas
de Conduta, Organização Interna, Estrutura Física) contribui ou dificulta o processo
ensino-aprendizagem?
Para uma efetiva compreensão destas relações interpessoais que se
estabelecem na escola, as modificações ocorridas ao decorrer dos tempos, há a
necessidade de analisarmos as mudanças na sociedade moderna e que,
inevitavelmente, atingiram o interior das escolas e as relações nelas estabelecidas.
A indisciplina tornou-se um grande obstáculo na realização do trabalho
docente com conseqüências negativas no aproveitamento escolar. Dentre todos os
desafios, há um que é o cerne de todas as questões. Por que professores
encontram tanta resistência por parte de seus alunos no processo ensino-
aprendizagem, uma vez que esta é uma característica inerente a nós?
Quando analisamos as questões disciplinares, nos reportamos
automaticamente à questão da autoridade necessária que os profissionais da
educação devem conquistar para desenvolver com sucesso seu trabalho, partindo
da compreensão de que, especificamente, o trabalho docente depende
necessariamente do envolvimento, participação e vontade do aluno para acontecer
de modo efetivo.
Esta crise da autoridade na educação, iniciou-se na verdade fora dela e
todas as instâncias sociais sofrem o seu reflexo com conseqüências indeléveis às
gerações vindouras. Quando a sociedade moderna perde o vínculo forte e seguro da
tradição e da religião, a autoridade vai-se diluindo e enfraquecendo em todos os
contextos sociais.
Historicamente, podemos dizer que a perda da autoridade é meramente a fase final, embora decisiva, de um processo que durante séculos salopou basicamente a religião e a tradição. Dentre a tradição, a religião e a autoridade (...) a autoridade se mostrou o elemento mais estável. Com a perda da autoridade, contudo, a dívida geral da época moderna invadiu também o domínio político, no qual as coisas assumem não apenas uma expressão mais radical como se tornam investidas de uma realidade peculiar ao domínio político. O que fora talvez até hoje uma significação espiritual apenas para uns poucos se tornou preocupação geral. Somente agora, por assim dizer após o fato, a perda da tradição e da religião se tornaram acontecimentos políticos de primeira ordem. (ARENDT, 2007, p. 130).
Tal reflexão aponta para modificações sócio-históricas que caracterizam a
sociedade moderna e afetaram diretamente as relações interpessoais entre adultos
e crianças. O avanço e a rapidez com que as teorias do conhecimento e a tecnologia
se desenvolveram, trouxeram não apenas esclarecimentos, mas constantes dúvidas
e incertezas que, em muitas situações, resultaram numa descrença geral e
abandono de valores, sem que fossem substituídos por algo melhor. Para Arendt,
Com a perda da tradição, perdemos o fio que nos guiou com segurança através dos vastos domínios do passado; esse fio, porém, foi também a cadeia que aguilhou cada sucessiva geração a um aspecto predeterminado do passado. Poderia ocorrer que somente agora o passado se abrisse a nós com inesperada novidade e nos dissesse coisas que ninguém teve ainda ouvidos para ouvir. Mas não se pode negar que, sem uma tradição firmemente ancorada ---- e a perda dessa firmeza ocorreu muitos séculos atrás ----, toda a dimensão do passado foi também posta em perigo. Estamos ameaçados de esquecimento, e um tal olvido ---- pondo inteiramente de parte os conteúdos que se poderiam perder ---- significaria que, humanamente falando, nos teríamos privado de uma dimensão, a dimensão de profundidade na existência humana. Pois memória e
profundidade são o mesmo, ou antes, a profundidade não pode ser alcançada pelo homem a não ser através da recordação. Ocorre algo análogo com a perda da religião. Desde a radical crítica das crenças religiosas nos séculos XVII e XVIII, permaneceu como característica da época moderna o duvidar da verdade religiosa, e isso e igualmente verdadeiro para crentes e não crentes. (ARENDT, 2007, p. 130, 131).
Por nossa condição finita no mundo e ao mesmo tempo de continuidade por
meio das novas gerações, esta perda da tradição, religião e autoridade tornou-se
extremamente prejudicial à nossa condição humana que depende desses elementos
para um processo de humanização que contemple nossas especificidades e
necessidades intrínsecas (físicas, sociais e espirituais).
Cada geração necessita comprometer-se com a preservação de valores
fundamentais que garantam um ambiente saudável e propício para o
desenvolvimento das novas gerações. Reconhecer todas as necessidades destes
recém-chegados, refletir e buscar formas coerentes de agir para atendê-los,
acreditando num devir sempre melhor e possível, é condição indispensável quando
nos comprometemos com a educação.
Os recém-nascidos da sociedade moderna chegam predominantemente
urbanizados, onde a estrutura familiar sofreu profundas alterações devido às
mudanças políticas, econômicas, sociais, religiosas e tecnológicas. O modelo social
vigente enfatiza por meio da inculcação ideológica o individualismo, a competição
exacerbada, a valorização do ter em detrimento do ser, o culto à juventude eterna, a
satisfação imediata dos desejos, a banalização e superficialidade dos
relacionamentos e de vínculos mais profundos entre os seres humanos.
O desafio da educação é atuar para garantir que a carência e necessidade
do recém-nascido e das crianças sejam satisfeitas, sendo responsabilidade dos
adultos conduzi-los com respeito, amor, seriedade, autoridade e ética à vida adulta e
à perpetuação da vida e do mundo. Como lidar com as contradições do dizer e fazer
que impregnam nossas atitudes? Afinal, qual a autoridade que almejamos
estabelecer no processo educacional?
Visto que a autoridade sempre exige obediência, ela é comumente confundida como alguma forma de poder ou violência. Contudo, a autoridade exclui a utilização de meios externos de coerção; onde a força é usada, a autoridade em si mesma fracassou. A autoridade, por outro lado, é incompatível com a persuasão, a qual pressupõe igualdade e opera
mediante um processo de argumentação. Onde se utilizam argumentos, a autoridade é colocada em suspenso. Contra a ordem igualitária da persuasão ergue-se a ordem autoritária, que é sempre hierárquica. Se a autoridade deve ser definida de alguma forma, deve sê-lo, então, tanto em contraposição à coerção pela força como à persuasão através de argumentos. (ARENDT, 2007, p. 129).
Assim, a autoridade necessária ao processo educativo familiar ou escolar
não deve basear-se em ameaças ou violência de qualquer natureza, tão pouco na
persuasão. Tanto professores e alunos quanto pais e filhos desempenham papéis
distintos, onde a condição de adulto por si só deve incutir responsabilidades e
saberes a serem repassados aos mais jovens, garantindo-lhes um desenvolvimento
social, cognitivo, afetivo e físico necessários a uma vida saudável e feliz.
As crianças e os adolescentes em processo de formação têm nos adultos
seu referencial de valores, observando as atitudes cotidianas, a coerência entre
discurso e ação. Aprende-se muito mais com os exemplos do que com discursos
contínuos, cansativos e vazios.
Portanto, vivenciar relações sociais onde se torne evidente e perceptível o
respeito que se almeja alcançar, com o fortalecimento da autoridade, é condição
imprescindível para o resgate da mesma. Pais de crianças e adolescentes que
demonstram cuidado, tolerância, amor e respeito a seus próprios pais, bem como
aos profissionais responsáveis pela educação escolar de seus filhos estão
ensinando valores como o respeito.
No ambiente escolar, os profissionais da educação que têm, no dia-a-dia,
atitude ética para com seus pares, seus superiores hierárquicos, aos pais dos
alunos, demonstram na prática o respeito às autoridades constituídas. Como
abordou Arendt, não se consegue autoridade por meio de coerção, ela deve ser uma
conquista diária. No caso do professor é necessário que os alunos tenham clareza
de sua função específica, demonstrada mediante uma formação profissional
eficiente, com o domínio do conhecimento específico de sua área de atuação, a
metodologia, a organização didática no desenvolvimento de seu trabalho e a
compreensão da relevância desses conhecimentos para as novas gerações.
Porém, mesmo sendo esta condição imprescindível não é a única
necessária.
Na educação, essa responsabilidade pelo mundo assume a forma de autoridade. A autoridade do educador e as qualificações do professor não são a mesma coisa. Embora certa qualificação seja indispensável para a autoridade, a qualificação, por maior que seja nunca engendra por si só autoridade. A qualificação do professor consiste em conhecer o mundo e ser capaz de instruir os outros acerca deste, porém sua autoridade se assenta na responsabilidade que ele assume por este mundo. Face à criança, é como se ele fosse um representante de todos os habitantes adultos, apontando os detalhes e dizendo à criança: ____ Isso é o nosso mundo. (ARENDT, 2007, p.239).
Assim, cada adulto responsável pela educação, seja formal ou informal das
crianças e adolescentes, deve ter o compromisso em buscar ações coerentes aos
princípios da ética, da justiça e do respeito nas relações que estabelecem com os
sujeitos em formação, como também a postura diante das mais diferentes situações
da vida cotidiana.
Interação família escola e autoridade.
Como Educadora há muitos anos, observa-se frequentemente, um desgaste
dentro da relação família e escola, bem como uma dificuldade cada vez maior por
parte das duas instituições em estabelecerem um diálogo entre Pais e Filhos,
Professor e Aluno. Verifica-se, também, a diminuição e, em alguns casos, a perda
da autoridade dos adultos (pais e professores), necessária ao processo educacional,
e que deve basear-se nos princípios sólidos do amor, respeito, no conhecimento e
na discussão, previamente, das regras e das normas de convivência social, na
coerência e sintonia entre os educadores.
Acompanha-se, na atualidade, um número crescente de crianças e
adolescentes envolvidos em situações de risco, abandono, violência doméstica e
social, gravidez precoce, desajustes sociais e psicológicos decorrentes, em muitos
casos, da negligência ou das ações inadequadas daqueles que deveriam
responsabilizar-se pela preservação do sujeito e por sua educação. Com isto,
observa-se a necessidade que existe de pais e profissionais da educação discutirem
sobre temas que permitam tanto a compreensão quanto a identificação de possíveis
ações individuais e coletivas para melhorar o relacionamento interpessoal, buscando
ações preventivas que contribuam de forma mais eficaz na educação das crianças e
adolescentes, buscando por meio dessas ações minimizar problemas disciplinares e
de relacionamentos entre educadores e educandos, oportunizando ainda um
crescimento mais saudável e equilibrado das crianças.
O PDE/PR (Programa de Desenvolvimento Educacional) oportunizou um
tempo específico para estudos, organização da proposta de intervenção e aplicação
da mesma.
O Encontro de Pais teve como objetivo provocar reflexões sobre a
importância da afetividade e do estabelecimento de limites na educação de crianças
e adolescentes. Oportunizou a pais e professores momentos de diálogos, reflexão e
troca de experiências sobre diferentes necessidades das crianças e a importância
das duas instituições agirem de forma coerente e dialogando entre si, estabelecendo
uma maior aproximação e confiança mútua.
Um espaço diferenciado de comunicação entre escola e família, através
deste Encontro de Pais, proporcionou maior diálogo de temas pré-selecionados -
informações necessárias que pudessem colaborar para o fortalecimento dos adultos
responsáveis pela educação informal e formal das crianças e adolescentes, que
encontram dificuldades ou sentem-se fragilizados em sua tarefa de educar – além da
proposta de união entre as instituições.
Autoridade: uma conquista por meio de ações diárias
As famílias e escolas têm uma tarefa muito árdua e importante no resgate da
autoridade e tradições, pois estão remando contra a maré. Se não tiverem clareza
quanto aos seus objetivos e ideais almejados no processo, buscando atingi-los a
médio e longo prazo, as novas gerações ficarão desamparadas em seu percurso
existencial.
O diálogo perdeu espaço nos relacionamentos do mundo moderno, não há
mais tempo para conversas, para ouvir o outro, mesmo que esse seja o próprio filho.
As famílias se constituem das mais diferentes formas, os casamentos se desfazem
com muita facilidade, o bem estar do adulto têm sido priorizado em detrimento do
bem estar dos filhos, a figura paterna tem se dirimido em muitas situações de suas
responsabilidades, ainda que se mantenha a presença física.
As mulheres em sua grande maioria estão divididas entre vida familiar e vida
profissional, disponibilizando de menos tempo para o cuidado e educação dos filhos.
O convívio com a família ampliada está mais raro e distante da rotina das crianças.
Esta ausência de contato e convivência saudável provoca um distanciamento da
criança com sua história e suas raízes, desvinculando-a da coletividade da qual
pertence, produzindo, assim, seres humanos ensimesmados e individualizados.
Diferentemente dos outros animais, o ser humano necessita de muitos anos
de cuidados, aprendizagem, atenção e monitoramento de adultos até atingir a
autonomia necessária para condução de sua vida com equilíbrio e responsabilidade.
A autoridade do adulto se faz necessária neste percurso, proporcionando a criança
segurança e tranqüilidade neste caminhar. Quando as primeiras e principais
instituições educacionais (família e escola) se omitem da educação das crianças e
jovens, negligenciando e/ou desconhecendo suas necessidades básicas, as
conseqüências são inevitáveis.
Diante da disseminação de teorias sobre o desenvolvimento humano, bem
como teorias educacionais sem que houvesse uma avaliação rigorosa quanto sua
validade, passou-se a idéia generalizada de que as crianças deveriam ser o centro
das atenções nas famílias, escolas e que deveria ser permitido a elas que se auto-
governassem. A difusão dessas idéias contribuiu para uma perda significativa da
autoridade dos adultos educadores, produzindo a ditadura das crianças, tão maléfica
ao seu bom desenvolvimento.
As tecnologias da vida moderna que propiciam conforto, comodidade,
agilidade e rapidez na comunicação, também promovem isolamento, uma
incessante busca por inovações e apelos consumistas, especialmente às classes
sociais mais abastadas.
A televisão – meio de comunicação social mais acessível - dominou os lares
e tem ditado valores, costumes e comportamentos, reduzindo a vida num
imediatismo constante (presente), sendo hoje o instrumento mais eficaz a serviço do
sistema capitalista.
Neste contexto, as crianças são tão expostas quanto os adultos às mesmas
imagens, às informações e aos mesmos recursos televisivos. Recebem,
cotidianamente, mensagens que vão sendo internalizadas e vivenciadas como
naturais à infância, aproximando a criança do mundo adulto, inadequadamente,
reduzindo ou eliminando uma linha divisória importante e que deve ser respeitada
para um desenvolvimento harmonioso da infância.
A televisão, (...), é uma tecnologia com entrada franca, para a qual não há restrições físicas, econômicas, cognitivas ou imaginativas. Tanto os de seis anos quanto os de sessenta estão igualmente aptos a vivenciar o que a televisão tem a oferecer. A televisão, neste sentido, é o perfeito meio de comunicação igualitário, ultrapassando a própria linguagem oral. Porque quando falamos, sempre podemos sussurrar para que as crianças não ouçam. Ou podemos usar palavras que elas não compreendam. Mas a televisão não pode sussurrar, e suas imagens são concretas e auto-explicativas. As crianças vêem tudo o que ela mostra. O efeito mais óbvio e geral desta situação é eliminar a exclusividade do conhecimento mundano e, portanto, eliminar uma das principais diferenças entre a infância e a idade adulta (POSTMAN, 1999, p.98).
As crianças, diante da exposição dos assuntos e dramas do mundo adulto,
são na atualidade conduzidas, mesmo que involuntariamente ou inconscientemente,
cada vez mais precocemente, a desempenhar papéis amadurecidos. Postman
(1999, p.152) apresenta pesquisa, demonstrando o aumento nas últimas décadas de
menores envolvidos em atividade criminal e a decorrente mortalidade de
adolescentes e jovens, a atividade sexual cada vez mais precoce gerando
conseqüências sérias como gravidez indesejada, transmissão de doenças venéreas,
distúrbios psicológicos, desajustes familiares e sociais. A sociedade moderna deixou
de respeitar e proteger a infância e colhe os frutos desse desrespeito.
Para Postman (1999, p.107), as crianças precisam acreditar que os adultos
têm o controle sobre seus impulsos para a violência e que têm uma concepção clara
do que é certo e errado. Graças a essas crenças, (...), as crianças podem
desenvolver sentimentos positivos sobre si mesmas, o que lhes dá a força para
manter sua racionalidade que, por sua vez, irá sustentá-las na adversidade.
Porém, na atualidade verifica-se uma excessiva exposição das crianças a
mais cruel realidade social, escancarou-se com a censura e nos indignamos com os
acontecimentos e dados estatísticos que demonstram como os comportamentos
característicos da idade adulta em tempos passados, tornam-se cada vez mais
freqüentes entre adolescentes e crianças. Subestima-se a capacidade de
aprendizagem da criança nas diferentes situações de sua vida.
A criança não possui discernimento e maturidade para selecionar o que deve
aprender ou como agir. É função dos adultos estabelecer esses parâmetros e guiá-la
com tolerância, disciplina e amor. Educar, verdadeiramente, exige do educador
doação de si mesmo, coerência, disposição e responsabilidade constante.
Verifica-se na atualidade que mesmo com o objetivo explícito de educar, as
ações dos adultos acabam por promover a deseducação. A falta de persistência ou
clareza quanto aos objetivos, de crença no ato de educar, de sintonia entre os
diferentes educadores produzem resultados catastróficos na formação e
personalidade dos sujeitos em processo de formação.
As crianças e os adolescentes, que chegam nas escolas, vivenciam uma
realidade dinâmica, de mudanças rápidas, de incertezas. Uma realidade onde
apesar das informações serem disseminadas com muita rapidez tornam-se ainda
mais voláteis. Uma educação voltada somente ao momento presente e à satisfação
do prazer e das necessidades imediatas tem gerado, nas salas de aula, uma apatia
e indisposição dos alunos aos estudos. O ato de estudar exige disciplina,
disposição para aprender, concentração, atitude em muitas situações introspectiva
de análise e síntese. Em sala de aula ou em outros espaços reservados ao processo
de ensino-aprendizagem, deve-se cultivar um ambiente condizente a essas
necessidades.
O ambiente escolar é por natureza um ambiente coletivo, necessitando o
estabelecimento entre todos os segmentos e regras de convivência claras,
definindo-se os direitos e deveres e, principalmente, a observância para que as
mesmas sejam compreendidas e respeitadas por todos. Há necessidade do
envolvimento de todos os segmentos na discussão, elaboração e cumprimento do
estabelecido. Condicionar regras excessivas, incompatíveis aos objetivos propostos
ou impossíveis de serem cumpridas ou supervisionadas provocará um desgaste nos
relacionamentos e enfraquecimento das autoridades (pais e profissionais da
educação) que, por não terem meios de fazê-las cumprir, ficarão desacreditados
perante o educando.
Em primeiro lugar, devemos considerar a importância de estabelecer regras em nossa relação com nossos filhos ou alunos. Sim, devemos estabelecer regras. Elas devem ser criadas para permitir um relacionamento adequado entre os membros da família, respeitoso em relação aos valores e hábitos daqueles que convivem em um determinado lugar. Deve-se, em linhas
gerais, buscar o estabelecimento de poucas regras, que sejam flexíveis e realmente possam ser cumpridas. Os pais não devem estabelecer regras excessivas, rígidas e difíceis de serem cumpridas. Quando os pais ou professores criam muitas regras, os filhos ou alunos, por saturação, deixam de prestar atenção a grande parte delas, ignorando-as e burlando-as. Quando as regras são difíceis de serem cumpridas, porque são muito rígidas, a chance de que sejam desrespeitadas aumenta, e a possibilidade de os pais ou professores permitirem seu descumprimento é grande. Raramente uma criança atinge os critérios rígidos estabelecidos pelos pais ou professores nas primeiras tentativas. (GOMIDE, 2004, p.13,14).
Quando se discute as regras de convivência escolar, deve-se dar a mesma
importância quanto à elaboração e cumprimento por todos os segmentos
(pais/responsáveis, profissionais da educação e alunos) considerando-se as
especificidades pertinentes de cada um. É inconcebível que instituições educadoras
como a família e escola tenham regras que devam ser cumpridas apenas pelos
filhos ou alunos. Exatamente, por tratar-se de instituições que atuam com seres
humanos em processo de desenvolvimento e formação à postura ética e a atitude
coerente do educador tornam-se imprescindíveis quando se propõe a ensinar não
apenas conceitos, mas atitudes como responsabilidade, disciplina, tolerância,
compromisso, respeito.
É facilmente percebido na rotina familiar e escolar incoerências por parte dos
educadores, discursos moralistas e atitudes hipócritas. Pequenas ações diárias
denunciam as contradições entre o dizer e o fazer. Quando se estabelece regras
importantes que facilitam a convivência e garante o respeito aos direitos individuais
e coletivos, o educador deve ser o primeiro a acatá-las. Assim, na rotina escolar
deve-se verificar se os profissionais da educação estão atentos quanto ao respeito
aos horários pré-estabelecidos, o cumprimento do calendário escolar, a organização
e preparo das aulas de acordo com a proposta curricular, respeitando-se as
características das faixas-etárias e séries em que atua, cuidado com os materiais e
espaços individuais e coletivos, utilização de postura respeitosa e ética para com
todas as pessoas.
Quando se identifica a apatia e desinteresse dos alunos quanto à
aprendizagem, faz-se necessário refletir, enquanto educadores, a motivação e a
disposição com que o trabalho é desenvolvido. Pelo fato do trabalho escolar ser
eminentemente dinâmico, coletivo e de relacionamento, conflitos e divergências
ocorrerão e exigirão decisões e ações amparadas em regras justas. Desta maneira,
são necessárias análises e reflexões periódicas das regras estabelecidas e
modificações quando as mesmas não atendem mais as necessidades da
comunidade. Tal atitude tem o objetivo não de enfraquecer, mas de fortalecer a
autoridade do educador, tornando a convivência melhor. A impossibilidade de
verificação ou a falta do cumprimento das regras existentes tendem a enfraquecer a
autoridade instituída, que por não possuir meios de fazê-la cumprir utiliza-se das
ameaças que só dificultam a convivência.
A ameaça se dá quando sinalizamos um castigo que tanto os pais como os filhos sabem que não será cumprido. A ameaça não controla o comportamento, ou seja, ela não é capaz de mudar ou de enfraquecer o comportamento indesejado. Ela apenas torna a relação entre pais e filhos aversiva, desagradável, irritante e desgastante. Quando os pais descumprem, sucessivamente, as regras por eles estabelecidas, ensinam aos filhos três atitudes indesejáveis: (1) que as regras não são para serem cumpridas; (2) que a autoridade (pais ou professores) pode ser desrespeitada; além de (3) ensinar a manipulação emocional. Esta aprendizagem terá sérias conseqüências para as atitudes futuras da criança ou do adolescente. Aprender que as regras podem ser descumpridas leva os jovens a não aceitarem normas sociais (GOMIDE, 2004, p.17).
Por ignorar as leis que regem a educação escolar ou por dificuldade em
estabelecer relações dialógicas com os alunos, muitos profissionais da educação
agem por impulso, sinalizando ações perante o aluno que não poderão ser
cumpridas. Essas atitudes tomadas impensadamente tendem a prejudicar e
enfraquecer, sucessivamente, a relação professor-aluno.
Torna-se prudente aos profissionais da educação buscar o equilíbrio e
coerência em suas ações, não deixando que o estado emocional do momento
(humor) conduza suas atitudes utilizando-se de ameaças impossíveis de serem
cumpridas.
Agir coletivamente, observando e acatando as regras estabelecidas também
contribui para o fortalecimento da autoridade no processo educativo. Quando no
ambiente escolar não há consenso entre os educadores, todos saem perdendo,
tanto educadores como alunos.
Ao fazer sua opção por uma proposta político-pedagógica, o professor faz,
automaticamente, uma escolha que será refletida na unidade de seu trabalho. De
acordo com sua proposta, construirá seu fazer pedagógico. Considera-se como
unidade neste processo sua formação profissional (domínio de conteúdos, técnicas
e metodologias de ensino), seu compromisso ético, o desenvolvimento de relações
dialógicas autênticas com os alunos, o respeito à diversidade cultural, a coerência
de sua práxis.
Freire (1997) aponta que, dependo da posição ideológica, o professor dará
encaminhamentos específicos no tratamento do conteúdo e às relações
interpessoais. Encontramos, assim, professores autoritários, licenciosos e
progressistas num mesmo universo escolar, atuando muitas vezes numa mesma
turma e construindo relações totalmente diferentes.
Não se trata, porém, de negar a importância do respeito a individualidades e
diversidades, diferenças saudáveis, que enriquecem a dinâmica educacional, mas
de estar atentos aos objetivos comuns inerentes à prática pedagógica que, sendo
produzida coletivamente, necessita ser conduzida com coerência em direção aos
objetivos propostos.
Muitas vezes, quando o professor perde o sentido daquilo que ensina, distancia-se do aluno, e este se sente incompetente por não conseguir apropriar-se do que o mestre lhe apresenta. A formação profissional do educador deve ir além do aspecto técnico e teórico, deve atingi-lo enquanto pessoa (CAMARGO, 1999, p. 72).
Uma humanização nas relações pedagógicas proporcionará um ambiente
mais favorável ao desenvolvimento do processo ensino aprendizagem. Uma
aproximação do professor à realidade dos seus alunos, bem como o conhecimento
de suas características pessoais favorecerá o vínculo com os mesmos.
A valorização da cultura, da qual os alunos fazem parte, deve fazer-se
presente nas escolas. A diversidade não pode ser encarada como obstáculo para o
trabalho. Desconsiderar a preciosidade das diferenças, negar a cultura popular é
construir barreiras que separam profissionais da educação dos alunos,
dificultando a construção de uma escola democrática.
Se as distintas culturas destacam os caminhos e as maneiras através das quais os seres humanos dão sentido a suas vidas, constroem seus sentimentos, crenças, pensamentos, práticas e artefatos (desde textos até
produtos em geral), as culturas juvenis vão ser as que, por definição, traduzem a juventude. Não obstante, essa realidade juvenil é algo que a instituição escolar vai tratar de ocultar, quando não atacar frontalmente (SANTOMÉ, 2002, p.166).
No dia-a-dia escolar, professores ficam intrigados com a apatia apresentada
pelos alunos em sua disciplina, com resistência em participar, envolverem-se no
processo, e, ao mesmo tempo, ficam surpresos com a desenvoltura apresentada
pelos mesmos em outras disciplinas e situações onde demonstram interesse,
envolvimento, entusiasmo, caminhando em busca da superação das dificuldades e
estabelecendo relações cordiais e respeitosas com outros professores.
Estes professores deveriam questionar sua atuação, seus motivos e
desejos, a relação que estabelecem com o conteúdo que desenvolvem; questionar o
seu fazer pedagógico.
Os problemas disciplinares não podem ser analisados apenas como questão
extra-escolar. Buscar soluções somente externas à prática escolar conduzirá a
grandes frustrações e sentimento de impotência, impossibilidade à solução de
questões talvez relativamente simples.
A educação, como manifestação exclusivamente humana, possui como
característica um refazer permanente, exigindo de seus autores uma reflexão-ação
contínua. Trabalhar com educação é propor-se a refazer, reconstruir, crescer e
envolver-se continuamente.
Uma concepção problematizadora de educação parte exatamente do caráter histórico e da historicidade dos homens. Por isto mesmo é que os reconhece como seres que estão sendo, como seres inacabados, inconclusos, em e com a realidade, que sendo histórica também, é igualmente inacabada (FREIRE,1983,p. 83).
As relações que se estabelecem entre o professor, o objeto do
conhecimento e o aluno, são as ações mais preciosas no ato educativo e no papel
da escola enquanto instituição que se propõe a trabalhar em prol da emancipação
humana.
Os profissionais da educação, assim como os alunos, também são produtos de uma
realidade histórica e cultural sofrendo os efeitos desta realidade. Combater o
individualismo, a competitividade exacerbada, inclusive em muitas situações em que
ela não se justifica, o egocentrismo, o desamor e tantos outros sentimentos
destrutivos que assolam a sociedade moderna são atitudes que deve fazer parte das
ações dos educadores que se dispõem a contribuir para a formação de seres
humanos a partir de um referencial de sociedade mais saudável e justo. Nesse
sentido o grande educador polonês Janusz Korczak afirma,
A criança conhece bem o que a rodeiam: os humores, hábitos, fraquezas de sua família não são segredo pra ela, e sabe como explorá-los. Sentem a afeição, adivinha a hipocrisia, percebe imediatamente o ridículo. Lê num rosto da mesma forma que um camponês lê o céu. Ela nos observará assim durante anos. Na escola, no internato, esta observação é coletiva. Não leva muito tempo para adivinhar tudo em nós. Mas preferimos ignorar isto. Enquanto não perturbar a nossa tranqüilidade, preferimos manter ilusões sobre a ingenuidade infantil. Senão seríamos obrigados a renunciar à imagem da nossa própria superioridade e fazer um grande esforço para livrar-nos de tudo o que nos degrada e ridiculariza a seus olhos (KORCZAK,1986,p.104).
Korczak (1986) aponta elementos que conduzem a uma reflexão simples e
necessária quando se busca compreender o desgaste da autoridade no processo
educacional. Em muitas situações cotidianas os próprios profissionais da educação
fazem opção consciente ou inconscientemente por não desenvolverem relações de
autoridade necessária com seus alunos e assim, por despreparo, negligencia ou
descompromisso, transferem sem hesitar responsabilidades que lhe cabem na
construção dessa relação de autoridade.
Comumente, busca-se que outros segmentos da sociedade exercçam sua
autoridade para se obter resultados na relação professor-aluno. Distinguir os papéis
e funções sociais de cada segmento e suas responsabilidades específicas é
importante, porém não isenta os profissionais da educação de exercerem a
autoridade que lhe competem no exercício de sua profissão.
Equipe Pedagógica e Administrativa da escola, Pais, Conselheiros Tutelares,
Policiais e Promotoria de Justiça necessitam significar o princípio da autoridade que
se encontra desgastada, nas relações que estabelecem com as crianças e os
adolescentes. Buscar auxílio e atuar de maneira integrada e coerente com os
diferentes segmentos é necessário, porém não isenta o efetivo compromisso que
cada um deve ter nesse processo.
A verdadeira autoridade, base da educação impõe-se por si mesma, por correspondência afetiva e lógica. Bem sabem os escolares que o melhor professor não é o que mais chama atenção ou castiga, mas aquele que demonstra capacidade, segurança e correção, aptidão para conversar, escutar e compreender. (...) A personalidade do “dominado” desde pequeno apresenta sérias deformações. Suas tendências agressivas, reprimidas, aparecerão cedo ou tarde. Sua pseudo-educação canalizar-se-á para a destrutividade, o ódio orientará sua conduta e a desadaptação social será a regra que intenta dissimular-se por trás da máscara de atitudes científicas, religiosas ou políticas. A melhor autoridade é a moral, a do saber, a do compreender, a do ensinar com o exemplo. O autoritarismo é semente da angústia e de rebeldia que pode levar a criança ou o jovem a não estudar, não trabalhar, não “ligar”, criando confusões e brigas no lar e na sociedade. Educar não é dominar; educar é liberar os valores humanos que o domínio abafa (KNOBEL, 1996, p.117).
Nesse contexto entende-se que há um desperdício de oportunidades de o
professor construir laços de afetividade autênticos com o aluno. Todos os seres
humanos possuem como necessidade básica amar e ser amado. É este amor
incondicional que garantirá ao ser humano um desenvolvimento equilibrado,
saudável e feliz.
Num mundo em que as relações econômicas são prioritárias, há uma
desvalorização dos vínculos do amor entre as pessoas, produzindo neuroses e
depressões coletivas. Nunca na história da humanidade houve um abandono tão
evidente na construção de relações afetivas autênticas como é evidente agora.
O egocentrismo, característico de uma fase do desenvolvimento do ser
humano tem perdurado até a idade adulta. Adorno (1994) (...) coloca que “hoje em
dia qualquer pessoa, sem exceção, se sente mal amada, porque cada um é
deficiente na capacidade de amar”. O próprio conceito de amor provoca confusões
e interpretações errôneas nos diferentes contextos sociais. Especificamente na
família e escola as primeiras e mais importantes instituições responsáveis pela
formação do indivíduo, o amor incondicional não deve ser ignorado nem ter
deformações quanto sua interpretação.
Muitos educadores entendem que, se demonstrarem amor aos alunos, não
conseguirão estabelecer relações baseadas no respeito e na autoridade. Para
Chapman é o amor incondicional a luz-guia que deve acima de tudo guiar as ações
dos educadores.
O amor incondicional é aquele que independe de qualquer coisa. Amamos a criança a despeito de como ela, de suas posses, de suas responsabilidades ou habilidades, independentemente do que esperamos que ela seja e, o mais difícil de tudo, apesar de suas atitudes (CHAPMAN, 1997, p.22).
Além dessa e de outras experiências, também o educador Pestalozzi em sua
trajetória pessoal e profissional enfatizou que “A formação elementar da natureza
humana é a formação da espécie para o amor; obviamente, não para um amor cego,
mas para o amor vidente” (INCONTRI, 1997, p.94). Considera que o amor vidente “é
o amor capaz de reconhecer no homem seus aspectos em conflito, sua fragilidade e
sua multiplicidade, e, ao mesmo tempo, não perder de vista sua unidade essencial”
(INCONTRI, 1997, p.95).
Se os educadores não atuarem nessa perspectiva, o que esperar de um ser
humano que durante seu desenvolvimento pessoal, intelectual, social e profissional
não desenvolveu relações de afetividade consigo mesmo e para com seu
semelhante? Que perde a dimensão histórica de que é somente na relação com o
outro que um ser humano atinge sua própria natureza humana?
Desconsiderar o aspecto afetivo na educação escolar é esvaziar a educação
familiar e escolar de sua essência e se lamentar de seus resultados. A partir dos
estudos de Pestalozzi, Incontri enfatiza que,
(...) a formação integral do homem, que permite o pleno desabrochar de todas as suas potencialidades --- como queria Pestalozzi ---, depende em primeiro lugar da capacidade de amor dos educadores e do grau de lucidez desse amor. Depende de uma espécie de clima espiritual positivo, manifestado em forma de benevolência, entusiasmo e compreensão, que circundado a criança, faça vir à tona sentimentos de reciprocidade e ao mesmo tempo incite o seu potencial de desenvolvimento moral e intelectual. Apenas quando a criança encontra no outro (na mãe, no educador) um espelho em que se vê refletida sua imagem verdadeira, em que identifica uma força propulsora de aperfeiçoamento, ancorando-se num sólido e saudável vínculo afetivo, é que seu desenvolvimento será equilibrado e seguro (INCONTRI, 1997, p.97).
A educação escolar, mesmo sendo eminentemente coletiva, ocorre também
a partir de vontades e decisões individuais. É do compromisso pessoal de cada um,
do modo como age e interage com o todo que os resultados se dão. Muito do fazer
pedagógico do dia a dia escolar independe de normas, regras, legislações,
fiscalizações. Algumas posturas desejáveis para um educador não se adquire nos
cursos de formação, por melhores que sejam.
O fortalecimento pessoal do educador, o amadurecimento emocional, a
superação do individualismo, o exercício de ação reflexão contínuo e a disposição
em construir relações inter-pessoais com base na ética, na justiça, no respeito e no
amor ao próximo é condição indispensável para aqueles que pretendem ser ou
continuar atuando na educação escolar e serem respeitados no exercício de sua
profissão.
Com certeza, essas características não irão garantir a eliminação dos
conflitos advindos da própria convivência social que é dinâmica, porém
desconsiderá-las é não assumir a função histórica a que os profissionais se
propuseram quando fizeram a opção por serem educadores. Seria mais honesto,
nestas condições, abandonar a profissão e buscar alternativas de sobrevivência que
não trouxessem tantas frustrações pessoais e tantos prejuízos sociais.
Escola e Família: unidas no resgate da autoridade no processo educacional
A grandeza do ser humano está em sua capacidade de modificar-se,
desenvolver-se e melhorar, e nenhuma mudança significativa ocorre na sociedade
se não ocorrer primeiramente no plano individual.
A boa interação entre os seres humanos depende de uma disposição
constante das pessoas em investirem nesse relacionamento. A Família e a Escola,
espaços sociais essencialmente de relações interpessoais, necessitam atuar com o
objetivo de melhorar e solidificar vínculos baseados na ética, no respeito, no amor e
na justiça.
Considerando essas colocações organizou-se e desenvolveu-se na Escola
Estadual Ulysses Guimarães – Ensino Fundamental esses temas nos Encontro de
Pais, atendendo uma necessidade tanto da instituição familiar quanto escolar,
acreditando na implementação de uma proposta que permitisse um processo de
reflexão-ação e de, paulatinamente, mudanças significativas e positivas nas duas
instituições é que foi organizado o Encontro de Pais.
Para a efetivação da proposta, a participação no PDE/PR (Programa de
Desenvolvimento Educacional) entre 2007/2008 foi fundamental, permitindo
implementar os Encontros de Pais e Educadores, objetivando fortalecer os laços
familiares, o vínculo entre família e escola, além de melhorar as relações
interpessoais nos ambientes de ensino. A possibilidade de estudar e organizar um
material com fundamentação teórica consistente, a preparação de cada Encontro,
que ocorreu mensalmente, no período noturno, totalizando 08 encontros no ano,
com duração de 1 hora e 30 minutos onde os temas (As sete necessidades básicas
da criança: Segurança, Aceitação, Amar e Ser Amada, Elogios, Disciplina e Deus;
As Cinco Linguagens de Amor das Crianças: Contato Físico, Palavras de Afirmação,
Presentes, Qualidade de Tempo e Atitude de Serviços; Adolescência: Principais
mudanças e necessidade dessa fase de desenvolvimento; Sexualidade, Drogas,
Violência e Influência dos meios de comunicação de massa na formação de valores
e o papel da família e escola nesse processo) foram discutidos e refletidos pelos
participantes, oportunizando um diálogo e aproximação entre os educadores e
familiares.
Estes Encontros oportunizaram assim, uma aproximação entre família e
escola durante o ano de 2008 com temas que foram do interesse de ambas as
instituições a fim de resgatar no cotidiano familiar e escolar as relações de
autoridade, necessárias para o processo de desenvolvimento e formação das
crianças e adolescentes. Os temas e Encontros foram selecionados a partir de
consulta prévia e tiveram participação livre dos pais e profissionais da educação.
Mediante as discussões apresentadas e diferentes contribuições dos
participantes, ficou evidente que quando família e escola buscam desenvolver suas
funções isolando-se, criticando e acusando-se mutuamente, as crianças e
adolescentes perdem-se em sua formação, a autoridade necessária ao processo
educacional diminui e os problemas aumentam.
A compreensão do papel social desempenhado por cada uma dessas
instituições, assumindo seus deveres na formação dos sujeitos é fundamental. O
cumprimento das funções específicas de cada instituição surtirá melhores resultados
à medida que seus objetivos não forem conflitantes ou contraditórios.
Estabelecer uma relação de confiança e autonomia relativa, necessária para
que ambas cumpram o seu papel ao mesmo tempo em que estreitam os espaços de
diálogo e interação, é imprescindível e beneficia principalmente as crianças e os
adolescentes sob a responsabilidade das duas instituições.
Ao organizar os Encontros de Pais e enviar os convites pelos alunos,
verificou-se certo receio e desconfiança destes sobre os objetivos propostos -
muitos alegavam que não entregariam os convites porque os organizadores falariam
mal deles aos pais. Apenas após o retorno positivo dos pais sobre os encontros é
que os alunos puderam compreender os propósitos almejados. Os Encontros
contaram com a participação aproximada de 10% dos pais e professores
convidados. Apesar de a participação ter sido numericamente reduzida, avaliou-se
que qualitativamente ela foi muito positiva, pois possibilitou um espaço alternativo de
reflexões valiosas sobre educação e uma compreensão mais ampla dos problemas
e conflitos cotidianos a que os participantes estão sujeitos. A discussão quanto as
possíveis alternativas para superação das dificuldades ou melhorias nas relações
interpessoais. Em termos quantitativos houve uma freqüência média mensal de 45
participantes por Encontro.
A abertura de um canal de comunicação direta entre profissionais da
educação e família - dissociada das reuniões bimestrais de verificação de
rendimento escolar ou reuniões extraordinárias onde são apresentados os
problemas comportamentais e/ou de participação nas aulas - possibilitou um olhar
diferenciado entre as duas instituições. Consequentemente houve maior respeito de
uma para com a outra, condição necessária para o início de um processo de
reflexão aprofundada sobre a educação dos filhos/alunos.
Todos os temas selecionados foram abordados a partir de uma
fundamentação teórica visando propiciar um processo de discussão que superasse
o imobilismo e o senso comum. Isto permitiu, através da reflexão, identificar e
discernir sobre quais atitudes cotidianas na educação familiar e escolar favorece ou
prejudica o desenvolvimento saudável e equilibrado das crianças e adolescentes no
mundo moderno.
No primeiro encontro foi abordado o tema Ter ou Ser Família? - As Crianças
Precisam de um Sentido e de Significado, em que foi discutida a importância do
vínculo familiar, bem como sobre as atitudes diárias que permitem que a criança
cresça com auto-estima, dignidade e sensação de que significa muito para sua
família. Os adultos da instituição familiar (pai, mãe, avô, avó, tios, irmãos mais
velhos...) são os primeiros referenciais fundamentais para que o desenvolvimento
ocorra de forma tranqüila. Respeitar a criança e oportunizar seu desenvolvimento
permitindo-lhe ter opinião, expressar-se, ser elogiada, ser ouvida e encorajada
naquilo que é capaz de realizar por si própria, contribuirá para o sentimento de
dignidade e importância.
O segundo encontro apresentou o Tema As Crianças Precisam Amar e Ser
Amadas. A análise do conceito de Amor Incondicional, e a ênfase neste como o
mais importante sentimento que deve nortear toda ação educativa. Segundo uma
das pesquisas sobre o tema,
O amor incondicional é uma luz-guia que ilumina a escuridão e que permite que nós, ao exercermos a nossa missão de pais, saibamos onde estamos e o que necessitamos fazer enquanto educamos nosso filho. Sem esse tipo de amor, a paternidade e a maternidade são desnorteadas e confusas. (...) O amor incondicional é aquele que independe de qualquer coisa. (CHAPMAN; CAMPBEL, 1999, p.22).
Foram apresentados alguns exemplos de como os adultos, mesmo amando
os filhos, muitas vezes não o demonstram, provocando uma enorme carência nas
crianças e nos adolescentes quando não percebem este amor incondicional. Por
isso, uma condição importante para intervir no desenvolvimento dos mais jovens é a
capacidade do adulto expressar o sentimento de amor. Quando o afeto positivo é
praticado no dia a dia, os pais conseguem colocar melhor os limites. Foram
apresentadas as cinco linguagens do amor como formas importantes de manifestar
amor aos filhos, refletindo-se sobre cada uma delas.
A Importância do Contato Físico – O afago, o beijo, o colo, o abraço, o
cafuné... Quanto menores são as crianças mais manifestações de carinho se vêem
em relação a elas. No entanto, conforme vão crescendo há em algumas famílias um
distanciamento físico muito grande, interpretado pela criança como falta de amor. O
contato físico, como uma importante linguagem e expressão de amor pode também
transformar-se em expressão de desamor, raiva e descontrole por parte dos pais
que pensam que para exercer a autoridade se utilizam arbitrariamente de agressões
físicas.
Alguns relatos expressaram a dificuldade de alguns em estabelecer o
contato físico com filhos ou mesmo com os próprios pais. Uma mãe presente expôs
a ausência em sua infância do abraço e beijo dos pais e que apenas depois de
casada e com filhos, conseguiu superar essa barreira dos seus pais e manter uma
aproximação maior, relatou também que busca não perder esse vínculo de amor
com seus filhos.
A Importância das Palavras de Afirmação - Para Chapman e Campbel (1999,
p.48) “Na expressão do amor, as palavras são muito importantes. Palavras de afeto
e de carinho, palavras de elogio e encorajamento, palavras positivas de instrução
(...) todas elas expressam a mesma frase: Eu me importo com você”. Estas palavras
de afirmação ditas no cotidiano encorajam, incentivam e marcam os seres humanos
pelo resto de suas vidas. Refletir o quanto estamos utilizando, de que forma, em que
momento e os efeitos que tem produzido são necessários. Habituados a enxergar
primeiramente erros e falhas, os educadores (pais ou professores) passam grande
parte do dia apontando as melhorias a serem feitas, as correções, os defeitos, as
imperfeições... Enxergar e manifestar apreço também às conquistas, por mais
simples que possam ser, deve ser um exercício constante na tarefa de educar.
O terceiro encontro contou com a participação do Professor Juarez Gomes,
Pedagogo e Terapeuta Familiar, para proferir palestra sobre a Importância do
Relacionamento Conjugal para a Educação dos Filhos. Abordou que os
relacionamentos geralmente iniciam-se pela paixão, que é um sentimento finito,
porém a base para relacionamentos sólidos deve ser o amor. Colocou as diferenças
existentes entre os dois sentimentos e o quanto se confunde. Mesmo nos
relacionamentos construídos com base no amor não há a garantia da durabilidade e
felicidade, pois sofrem com a rotina, com os enfrentamentos dos problemas
cotidianos, as diferenças sociais, históricas, econômicas e psicológicas de cada um,
com os apelos de uma sociedade que defende o individualismo exacerbado. A
manutenção de um bom relacionamento exige respeito, cuidado, atenção,
colaboração, manifestações de amor incondicional nas pequenas coisas do dia a
dia. Os pais ensinam principalmente através daquilo que vivenciam no cotidiano, da
coerência entre o dizer e o fazer.
No quarto encontro foi dada continuidade as discussões sobre as cinco
linguagens do amor, destacando A Importância da Qualidade de Tempo como uma
atenção concentrada aos filhos. Oferecer atenção exclusiva independente do que
possa ser realizado junto. O excesso de afazeres das pessoas na sociedade
moderna atinge grande parte da população, independente de seu nível sócio
econômico. As pessoas têm cada vez menos tempo de conviverem, de dedicarem-
se ao outro simplesmente para brincar, jogar conversa fora, ler ou contar uma
história, ouvir os acontecimentos do seu dia... Tudo é prioridade na vida dos pais, e
as crianças crescem sem que os pais as vejam crescer, aprendem novas coisas,
arrumam novos amigos, sentem-se sozinhos, preteridos, esquecidos. Então onde
está a prioridade? Prioridade de sobreviver não deve acontecer em detrimento da
prioridade do convívio familiar. Estabelecer nova rotina incluindo as crianças
enquanto prioridade torna-se urgente.
A Importância de Presentear como uma expressão de amor e não como
tentativa de compensar a falta de envolvimento pessoal com os filhos. Segundo
Chapman e Campbell (1999, p.85) os presentes devem ser expressões genuínas de
amor incondicional. Se eles são apenas pagamentos por serviços prestados ou um
tipo de suborno emocional, dar-lhes um nome mais adequado pelo que eles na
realidade são, é necessário. O ato de presentear exige a observância de que o
excesso de presentes perde seu significado especial, que presentear implica em
escolhas significativas em vez de impressionantes e que os pais não devem oferecer
um presente se não puder pagar por ele, para não expor o filho a um sistema de
valores muito diferente daquele adotado pela família.
Algumas mães participantes expuseram suas experiências e a dificuldade
em administrar os pedidos constantes das crianças, e que se sentiam mal em não
poder atender as solicitações. Pode-se analisar que devido à grande exposição das
crianças aos apelos de consumo, elas não têm discernimento quanto às
necessidades ou condições da família em atender aos pedidos, cabendo aos pais
essa orientação. Alguns pais também chegaram à conclusão de que estavam
presenteando excessivamente os filhos, que não chegavam a explorar um
determinado brinquedo colocava-o de lado e já pedia outro.
A Importância das Atitudes de Serviço como manifestação de amor aos
filhos. Para Chapman e Campbell (1999, p.98) “em virtude de o servir ser diário e
rotineiro, até os melhores pais precisam parar para refletir de vez em quando sobre
as formas como estão agindo, para assegurar-se de que suas atitudes de serviço
estão realmente comunicando amor aos filhos”. Observa-se na atualidade uma
sobrecarga dos pais e principalmente das mães que acumulam atividade profissional
com afazeres domésticos, contando muito pouco com a colaboração do marido e
filhos. Solicitar a cooperação de todos os membros da família, além de facilitar sua
rotina, oferece condições às pessoas para que se sintam necessárias, importantes,
fazendo parte da estrutura familiar. Permitir que as crianças e adolescentes realizem
trabalhos domésticos dentro das possibilidades de cada um é colaborar para que
desenvolva sua autonomia e fortaleça os vínculos familiares.
No quinto encontro discutiu-se o tema As Crianças Precisam de Segurança
e Disciplina. Várias situações - Os relacionamentos constantemente conflituosos e
tensos na família, separações, morte de familiares, viagens prolongadas dos pais, a
mobilidade contínua, a ausência de disciplina na rotina diária - geram insegurança
nas crianças e adolescentes, caso sejam negligenciadas e ignoradas podem
provocar instabilidade emocional profunda. Torna-se imprescindível defender e
proteger as crianças procurando meios de solucionar os problemas de modo a
restabelecer a segurança necessária.
Com o intuito de organizar a vida da criança e oferecer uma estabilidade para
que ela possa se desenvolver de forma saudável é função dos pais, por meio de
limites estabelecidos ao comportamento. Disciplinar significa ensinar, estabelecer
regras claras de comportamentos e coerentes com o objetivo de ordenar, organizar
a vida familiar e social. Segundo uma das referências utilizadas,
Pais permissivos e comodistas abrem mão de regras e limites e nunca dizem não aos filhos. Para tudo dá-se um jeito, tudo é permitido para que o filho fique quieto, satisfeito e não incomode. Os filhos não têm resistência à frustração, o dia a dia tem de ser como eles querem. Definitivamente, não sabem enfrentar oposição. Evitar coisas assim, evitar o consumismo e fortalecer o comportamento ético, os bons hábitos, o autocuidado são atitudes vitais (MENEZES, 2005, p.111).
Estabelecer limites, exercer a autoridade com sabedoria e respeito é antes
de tudo um ato de amor para com as novas gerações. Assim, o principio básico
para quem deseja disciplinar é o amor incondicional, aquele que separa pessoa e
comportamento. Os educadores (pais e professores) devem empenhar-se nesta
tarefa que exige consistência, coerência entre os educadores, valores e regras
claras, justas e apropriadas à idade da criança, paciência, persistência e
conseqüências lógicas. Como pais e educadores, devemos nos lembrar
constantemente que o propósito da disciplina é corrigir um comportamento errado e
ajudar a criança a desenvolver a autodisciplina. Zagury (2005, p.43) coloca que “a
criança que não aprende a ter limite cresce com uma deformação na percepção do
outro. Só ela importa, o seu querer, o seu bem-estar, o seu prazer.”.
No sexto encontro os temas abordados foram As Crianças Precisam de
Aceitação e Religião. Neste encontro foi apresentado como os educadores (pais e
professores), por meio das atitudes do dia a dia demonstram aceitação ou não das
crianças e dos adolescentes que estão sob seus cuidados. As atitudes como
elogios, fazer pedidos, encorajar, ouvir, repreender de acordo com a ofensa
cometida, controle e calma ao estabelecer castigo, analisar conseqüências ao invés
de utilizar rótulos, xingamentos, reclamações, conclusões precipitadas e
humilhações em público, que fortalecem o sentimento de aceitação.
As experiências religiosas fortalecem as relações familiares e contribuem
para a formação integral do ser humano, ensinando e reforçando os princípios
fundamentais a vida individual e social.
O sétimo encontro possibilitou uma análise das diferentes instituições sociais
e as influencias na formação e desenvolvimento do ser humano. As Famílias cada
vez mais cedo dividem suas responsabilidades com as demais instituições sociais. A
Família Ampliada, principalmente os avós e as Escolas recebem as crianças
precocemente, sendo que muitas delas passam a maior parte de seu tempo nessas
instituições. Porém, o fato de estarem menos tempo na companhia dos pais não
isenta o compromisso quanto sua educação e formação e exige maior diálogo entre
as instituições.
Os meios de comunicação social, principalmente a televisão, exercem uma
influência na formação das crianças e dos adolescentes. A exposição desta clientela
à televisão, em muitos casos, ultrapassa o tempo em que fica na escola. São muitas
horas, dias, meses e anos recebendo passivamente uma infinidade de imagens e
mensagens que vão sendo assimiladas e muitas vezes incorporadas ao cotidiano de
forma acrítica. Cabe aos adultos a análise e reflexão sobre os valores que são
transmitidos pela televisão, para se propor e incentivar formas alternativas de lazer
que possam melhor contribuir para a formação e desenvolvimento dos filhos.
No oitavo encontro, o Sr. Mario Furtado, integrante do Grupo de Apoio às
famílias Amor Exigente proferiu palestra enfocando e reforçando vários temas
discutidos nos outros encontros. Enfatizou que educar exige coerência e sintonia
entre os educadores, a necessidade de cooperação entre os diferentes integrantes
da família, a importância de se estabelecer limites na educação dos filhos. Colocou
que a sociedade moderna perdeu alguns princípios básicos na educação como
Hierarquia, Autoridade e Respeito e que os mesmos devem ser resgatados
urgentemente. Abordou sobre a prevenção ao uso indevido de drogas, lícitas ou
ilícitas, alertando que, atualmente, a droga que mais provoca problemas familiares e
sociais ainda é o álcool e atribuiu aos pais a grande responsabilidade de cuidarem e
prevenirem este uso, principalmente, por meio do exemplo aos filhos.
Conclusão
O Encontro de Pais possibilitou uma aproximação maior entre família e
escola, permitindo que se conhecessem melhor, com a eliminação de algumas
atitudes preconceituosas. A confiança fortalecida entre as instituições contribui por
sua vez no atendimento às crianças e aos adolescentes, que, indiretamente,
perceberem um vínculo de respeito entre escola e família.
A partir dos Encontros, algumas famílias procuraram a equipe pedagógica
da escola para expor as dificuldades particulares que estavam passando e o reflexo
dessas dificuldades no comportamento e rendimento escolar dos filhos. Através
deste ato de confiança pode-se ampliar o atendimento à família mediante o
encaminhamento aos atendimentos especializados ofertados pelo município na
escola.
Isso é uma pequena amostra de que Escola e Família mais próximas e
estabelecendo relação de respeito e confiança permite que as crianças e
adolescentes (filhos e alunos) sintam-se mais seguros na educação que estão
recebendo. Na escola, se observa uma melhora no relacionamento interpessoal;
manifestações de carinho e respeito, conseqüência direta da confiança e respeito
mútuo entre as instituições - entre professores participantes do Encontro e os alunos
pertencentes às famílias que também participaram.
As discussões suscitadas durante estes Encontros conduziram à conclusão
de que a autoridade, como princípio fundamental no processo educacional deve ser
exercitado com sabedoria e amor pelos adultos. A autoridade só se consolida num
ambiente de amor e de cuidado permanente, onde o sujeito responsável em educar
jamais transfere sua responsabilidade a outrem, atitude muito comum na educação
atual - mães que transferem exclusivamente aos avós a autoridade familiar,
professores que transferem para a família ou equipe administrativo-pedagógica a
autoridade que deveria exercer.
Quando se busca as instituições preventivas ou repressivas da sociedade torna-se
pior, como a Polícia, Conselho Tutelar, Promotoria de Justiça, como pseudo-solução
para as dificuldades no relacionamento que dependem do compromisso de cada
segmento responsável pela educação das novas gerações.
O resgate da autoridade no processo educacional não é uma conquista
simples, porém extremamente necessária. Resgatar a autoridade é resgatar a
tradição de ser família, de valorizar o ser humano, ter e dedicar tempo aos filhos,
olhar e ouvir o outro verdadeiramente, contar histórias, abraçar e se deixar abraçar,
elogiar as conquistas cotidianas das crianças e ajudá-las a superar as dificuldades
do dia a dia.
Permitir que as crianças sejam simplesmente crianças, protegidas dos
apelos televisivos de consumo, da violência, da pornografia, das tragédias da
humanidade.
Disciplinar é resgatar a autoridade e organizar a vida da criança para que se
desenvolva com saúde física, mental, psicológica e social. Educadores (pais e
professores) possuem o compromisso ético de serem coerentes, firmes e
persistentes no ato de educar. Esta educação implica ações individuais e coletivas.
As atitudes coletivas integradas num objetivo maior fortalece família e escola na
realização do trabalho coletivo, para melhores resultados.
A escola, pública ou privada, é espaço privilegiado para esse tipo de trabalho.
A presente experiência, que se soma a outras, confirma mais uma vez os muitos
benefícios que podem advir de uma relação sinérgica entre família escola, em
especial no resgate da autoridade dessas instituições. Em torno desse e demais
temas que envolvem a criança e o adolescente, está lançado o desafio para que
outras comunidades promovam essa benéfica revolução.
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