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InformaçÅes Econômicas, SP, v.26, n.9, set. 1996. O AVANÇO DO SETOR SERVIÇOS NOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS: a terceirização agroindustrial e as cooperativas de mão-de-obra rural na citricultura Luiz Fernando Paulillo 1 1 - INTRODUÇ{O 1 No início dos anos 90 acelerou-se a dinâmica tecnológica e organizacional de vá- rios setores de produç|o e de serviços da eco- nomia brasileira. Essa evoluç|o foi motivada por significativas transformaçÅes nos aparelhos tec- nológico e de gest|o empresarial. Essas mudan- ças significantes vm apresentando inúmeros desafios Ës associaçÅes e organizaçÅes repre- sentativas de trabalhadores de diversos segmen- tos. Seja qual for o setor produtivo envolvi- do, verifica-se a conformaç|o de novas estraté- gias de organizaç|o da produç|o. Alguns aspec- tos de ordem geral tm influenciado estes movi- mentos, como: o aparecimento de novas tecno- logias, o melhor aproveitamento necessário dos recursos naturais e o crescimento concorrencial entre os blocos econômicos mundiais. Este conjunto de fatores impulsiona alteraçÅes no processo de trabalho das mais variadas naçÅes. Na economia do trabalho, o avanço de um novo paradigma de produç|o tem colocado muitos estudiosos empenhados na identificaç|o das conseqüncias do processo de terceirizaç|o para os trabalhadores e para o processo de trabalho. Impulsionados por setores industriais dos países desenvolvidos, a adoç|o dessa forma de gest|o da produç|o nas economias periféricas tem colocado muitos desafios ao movimento sindical urbano. 2 Entre eles, pode-se destacar: maiores salários, melhores condiçÅes físicas de trabalho, melhores condiçÅes para a preservaç|o da saúde do trabalhador, reduç|o da jornada de trabalho, etc. Com menor intensidade, as mudanças em curso nos processos de produç|o também dizem respeito aos trabalhadores inseridos nos complexos agroindustriais brasileiros mais con- solidados. No segmento agrícola algumas mu- danças significativas s|o verificadas. A mecani- zaç|o de várias etapas do processo produtivo, a adoç|o de insumos modernos para melhor pro- dutividade, a padronizaç|o de determinados cul- tivos e o avanço da informática no campo, que trazem novas formas de organizaç|o e gest|o do trabalho, tm proporcionado também mudan- ças de ordem social, nas relaçÅes de trabalho e no comportamento das famílias. Essas trans- formaçÅes atingem com maior intensidade a categoria dos trabalhadores rurais assalariados, porque é a categoria de trabalhadores mais numerosa nos complexos agroindustriais consolidados. O presente trabalho pretende analisar, diante do avanço das atividades de serviços na economia brasileira, o que representa o cresci- mento do processo de "terciarizaç|o" nos com- plexos agroindustriais (CAIs). Para isso, será en- focado o CAI citrícola brasileiro, por sofrer consi- derável progresso técnico e constituir-se de in- dústrias de bens de capital e de processamento de produtos agrícolas competitivas internacional- mente e de uma agricultura moderna. No setor citrícola, a terceirizaç|o agroindustrial e a cres- cente participaç|o das cooperativas de m|o-de- obra rural - que apontam para a flexibilizaç|o dos direitos trabalhistas no campo - revelam a importância das mudanças na organizaç|o da produç|o e seus impactos no processo de trabalho da indústria e do campo. 2 - A TERCEIRIZAÇ{O E O PROCESSO DE REESTRUTURAÇ{O INDUSTRIAL 1 Economista, MS, Professor Assistente do Departamento de Engenharia de Produç|o da Universidade Federal de S|o Carlos (UFSCar), Doutorando em Política Econômica no Instituto de Economia (IE) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). 2 Vale ressaltar que esta é uma experincia muito recente, e que se verifica em raríssimos setores da agricultura paulista. A citricultura e a atividade canavieira correspondem a estes movimentos devido ao progresso técnico proporcionado pelo avanço do processo de consolidaç|o de seus respectivos complexos agroindustriais.

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InformaçÅes Econômicas, SP, v.26, n.9, set. 1996.

O AVANÇO DO SETOR SERVIÇOS NOS COMPLEXOSAGROINDUSTRIAIS: a terceirização agroindustrial e ascooperativas de mão-de-obra rural na citricultura

Luiz Fernando Paulillo1

1 - INTRODUÇ{O 1

No início dos anos 90 acelerou-se adinâmica tecnológica e organizacional de vá-rios setores de produç|o e de serviços da eco-nomia brasileira. Essa evoluç|o foi motivada porsignificativas transformaçÅes nos aparelhos tec-nológico e de gest|o empresarial. Essas mudan-ças significantes v“m apresentando inúmerosdesafios Ës associaçÅes e organizaçÅes repre-sentativas de trabalhadores de diversos segmen-tos.

Seja qual for o setor produtivo envolvi-do, verifica-se a conformaç|o de novas estraté-gias de organizaç|o da produç|o. Alguns aspec-tos de ordem geral t“m influenciado estes movi-mentos, como: o aparecimento de novas tecno-logias, o melhor aproveitamento necessário dosrecursos naturais e o crescimento concorrencialentre os blocos econômicos mundiais. Esteconjunto de fatores impulsiona alteraçÅes noprocesso de trabalho das mais variadas naçÅes.

Na economia do trabalho, o avanço deum novo paradigma de produç|o tem colocadomuitos estudiosos empenhados na identificaç|odas conseqü“ncias do processo de terceirizaç|opara os trabalhadores e para o processo detrabalho. Impulsionados por setores industriaisdos países desenvolvidos, a adoç|o dessaforma de gest|o da produç|o nas economiasperiféricas tem colocado muitos desafios aomovimento sindical urbano.2 Entre eles, pode-se

destacar: maiores salários, melhores condiçÅesfísicas de trabalho, melhores condiçÅes para apreservaç|o da saúde do trabalhador, reduç|oda jornada de trabalho, etc.

Com menor intensidade, as mudançasem curso nos processos de produç|o tambémdizem respeito aos trabalhadores inseridos noscomplexos agroindustriais brasileiros mais con-solidados. No segmento agrícola algumas mu-danças significativas s|o verificadas. A mecani-zaç|o de várias etapas do processo produtivo, aadoç|o de insumos modernos para melhor pro-dutividade, a padronizaç|o de determinados cul-tivos e o avanço da informática no campo, quetrazem novas formas de organizaç|o e gest|odo trabalho, t“m proporcionado também mudan-ças de ordem social, nas relaçÅes de trabalho eno comportamento das famílias. Essas trans-formaçÅes atingem com maior intensidade acategoria dos trabalhadores rurais assalariados,porque é a categoria de trabalhadores maisnumerosa nos complexos agroindustriaisconsolidados.

O presente trabalho pretende analisar,diante do avanço das atividades de serviços naeconomia brasileira, o que representa o cresci-mento do processo de "terciarizaç|o" nos com-plexos agroindustriais (CAIs). Para isso, será en-focado o CAI citrícola brasileiro, por sofrer consi-derável progresso técnico e constituir-se de in-dústrias de bens de capital e de processamentode produtos agrícolas competitivas internacional-mente e de uma agricultura moderna. No setorcitrícola, a terceirizaç|o agroindustrial e a cres-cente participaç|o das cooperativas de m|o-de-obra rural - que apontam para a flexibilizaç|odos direitos trabalhistas no campo - revelam aimportância das mudanças na organizaç|o daproduç|o e seus impactos no processo detrabalho da indústria e do campo.

2 - A TERCEIRIZAÇ{O E O PROCESSO DEREESTRUTURAÇ{O INDUSTRIAL

1Economista, MS, Professor Assistente do Departamento deEngenharia de Produç|o da Universidade Federal de S|oCarlos (UFSCar), Doutorando em Política Econômica noInstituto de Economia (IE) da Universidade Estadual deCampinas (UNICAMP).2Vale ressaltar que esta é uma experi“ncia muito recente, eque se verifica em raríssimos setores da agricultura paulista.A citricultura e a atividade canavieira correspondem a estesmovimentos devido ao progresso técnico proporcionado peloavanço do processo de consolidaç|o de seus respectivoscomplexos agroindustriais.

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As mudanças na organizaç|o daproduç|o e as novas estratégias de gest|orepresentam o processo de reestruturaç|oindustrial mundial. De forma inexorável, atingemo mundo do trabalho nos mais variados setores.O processo de terceirizaç|o e os seus desdobra-mentos para com a m|o-de-obra das naçÅest“m proporcionado atenç|o especial dos pesqui-sadores especializados no tema. Importa ressal-tar que a perspectiva do mundo do trabalho parao crescente movimento de terceirizaç|o mundialtem que considerar a heterogeneidade daseconomias desenvolvidas e subdesenvolvidas,bem como revelar as especificidades dos maisvariados setores em que o processo estiverocorrendo.

Além disso, se no primeiro momentoessas mudanças começaram a ocorrer comrelativo sucesso em muitos segmentos indus-triais, nada representa que o mesmo acontecerános demais setores da economia, como a agri-cultura.

Assim, torna-se mais complexo com-preender a dinâmica do processo de terceiri-zaç|o e suas conseqü“ncias para os trabalha-dores e o movimento sindical, pois é fundamen-tal mostrar a especificidade ou particularidadeque assume em setores e ramos determinadosda produç|o. É a dificuldade de se estender oconceito de terceirizaç|o para certas atividadesdesempenhadas nos setores agrícola, industrialou de serviços. Nesse sentido, o passo inicial éo esclarecimento do termo "terceirizaç|o" nasdiversas economias em que ocorre, já que asespecificidades culturais e organizacionais dasnaçÅes também impÅem mudanças de enfoquequanto ao processo.

No Brasil, muitos pesquisadores tratama terceirizaç|o como um processo único e comtotal similaridade ao dos norte-americanos.Assim, toma-se a palavra "terceirizaç|o" comose fosse outsourcing mas, na verdade, esteprocesso n|o corresponde exatamente Ë buscade suprimentos (outsourcing) que vem ocorren-do nos países do primeiro mundo. Para FARIA(1994), o termo virou moda e transformou-senuma palavra falsa ou enganosa.

"No Brasil, há duas modalidades deterceirizaç|o. Uma vem dos países industrializa-dos e integra uma estratégia relacional. Objetivaalcançar tanto elementos de produtividade quan-

to condiçÅes novas de competitividade. É a im-posiç|o das tecnologias gerenciais de qualidade.É o outsourcing total. A palavra de ordem épartnership (parceria) em todo o fluxo produtivo,nas relaçÅes para frente, com o mercado, paratrás com os fornecedores e também com osempregados. O posicionamento comportamentaladotado é o do ganha-ganha, pensa-se nolongo-prazo. Objetiva essencialmente a plenasatisfaç|o do cliente, através da revoluç|o daqualidade. (...) Uma outra modalidade mais gerale bem mais ao gosto do atraso empresarialbrasileiro tem embutida uma estratégia de con-fronto, de enfrentamento e consiste em apenasreduzir custos. É o outsourcing tupiniquim noestilo e conceito de empresário fazendeiro. Estamodalidade de terceirizaç|o mantém o antago-nismo com os empregados e com o movimentosindical. Impera a desconfiança generalizada -desconfia-se dos empregados, dos fornecedorese do mercado. É o posicionamento do ganha-perde. Objetiva-se obter lucros no curto-prazo -a reduç|o de custos faz-se com a reduç|o dam|o-de-obra" (FARIA, 1994).

As críticas de FARIA (1994) aos casosbrasileiros passam um certo determinismoorganizacional, no sentido de que as empresasalcançar|o a postura correta na economiamundial ao atingir a etapa do globalsourcing,mas nada garante que o outsourcing tupiniquimsofrerá evoluç|o drástica nas próximas décadase atingirá níveis semelhantes aos do primeiromundo. Os movimentos recentes de separaç|ogeográfica de onde os produtos s|o concebidose projetados, de onde s|o fabricados e monta-dos, e em que mercados s|o finalmente distribu-ídos também n|o garantem a amenizaç|o dosproblemas de ordem econômica e social atuais:ainda mais a relaç|o capital-trabalho e os anta-gonismos do movimento sindical.

As estratégias de flexibilizaç|o ediversificaç|o nada mais s|o do que o desenca-dear da orientaç|o de racionalizaç|o das organi-zaçÅes iniciado em escala mundial na década de80. Por que n|o trazer ent|o as mesmas conse-qü“ncias da racionalizaç|o organizacional dadécada anterior, como o fechamento de unida-des de produç|o, demissÅes em massa e des-confiança dos consumidores? Grande parcelados trabalhos de análise das organizaçÅestratam a flexibilizaç|o e a diversificaç|o como anorma absoluta a ser adotada pelas empresas,

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que por sua vez a buscam por receio do quelhes poderia suceder caso n|o o fizessem. Mas,como ocorreu com a racionalizaç|o dos anos 80,nada assegura que a flexibilizaç|o dos últimosanos produzirá a efici“ncia buscada, ou seja, seas reestruturaçÅes empreendidas ter|o compen-sado a recess|o obtida.

No caso específico da economiabrasileira revela-se o total despreparo empresari-al nos mais variados setores na conduç|o doavanço do processo de terceirizaç|o, mesmoque este vise unicamente a reduç|o de custos eo curto prazo. O que se nota, ent|o, é que nesterecente processo a indústria dá prefer“ncia Ëadministraç|o dos contratos com os fornecedo-res, obtendo-se reduç|o de custos fixos e amelhora da qualidade.3 Isto é demasiadamenteambíguo, já que a terceirizaç|o está relacionadacom as noçÅes de qualidade ("melhor relaç|ocom o fornecedor e o cliente"), produtividade("melhor relaç|o com os trabalhadores") ecompetitividade (junto Ës anteriores, "melhorrelaç|o com o concorrente"), ao mesmo tempoque intensifica o choque entre capital e trabalhopor provocar reduç|o do número de vagas eintensificar as etapas de trabalho. E note queestes movimentos est|o acontecendo na primei-ra etapa terceirizante - "outsourcing" -, o querevela novas dificuldades a serem superadasnuma segunda etapa - o "global sourcing".

O próprio FARIA (1994, p.44) encontraas explicaçÅes de ordem geral para o fenômeno."No Brasil, a industrializaç|o foi caracterizadapor um padr|o fordista-taylorista. Embora muitosempresários mantenham resquícios do passadoe alguns insistam em copiar a nova idéia com umrótulo conservador, a terceirizaç|o para funcio-nar deverá encarar de forma singular o papel dotrabalhador. Infelizmente o que está acontecen-do na fábrica com o nosso outsourcing é umaintensidade maior de trabalho e a manutenç|oda estrutura de poder com poucas mudanças nahierarquia. Algumas empresas confundem ter-ceirizaç|o com contrataç|o de m|o-de-obratemporária, de terceiros".

As observaçÅes de FARIA (1994)explicam por que o processo de terceirizaç|o

tem provocado tamanha efervesc“ncia nosdebates que tratam a quest|o do trabalho. Valeressaltar que essa discuss|o n|o recai unica-mente no âmbito dos setores industriais. Naprópria agricultura, em que o processo é maisrecente, a terceirizaç|o de certas atividades temprovocado a deterioraç|o das relaçÅes de traba-

lho. Nos últimos anos, o seu avanço tem reduzi-do o número de trabalhadores inseridos nestessetores, realocando-os principalmente nos ser-viços. "As esparsas estatísticas sobre esseprocesso mostram que a terceirizaç|o trazconsigo um saldo negativo entre postos detrabalho destruídos na indústria e criados nou-tros setores, com remuneraçÅes mais baixas,piora nas condiçÅes de trabalho e deterioraç|odas relaçÅes de trabalho. Além disso, os traba-lhadores perdem poder de barganha ao sediluírem em várias pequenas empresas, numsegmento cuja história de lutas sindicais é me-nos expressiva" (BOLETIM DIEESE, 1989).

É importante ressaltar que a análise deFARIA (1994) está empenhada aos aconteci-mentos da indústria em si, n|o preocupando-seem revelar as particularidades de segmentoscompletamente distintos em natureza e graucomo a agricultura. Há obstáculos de se esten-der o conceito de terceirizaç|o para certasatividades desempenhadas nos setores agrícola,industrial ou de serviços, já que os estudosrealizados t“m dificuldade de incorporar a ques-t|o das diferenças existentes na produç|o. Ouseja, além dos diferenciados enfoques dereconvers|o industrial e terceirizaç|o nos meiossindicais, intelectuais e empresariais, há aquest|o da diversidade e das diferenças doprocesso entre os diversos agentes sociais.Assim, a complexidade do mundo do trabalhoterá que considerar tanto o trabalhador industrialcomo os demais tipos de trabalhadores caracte-rizados por outros moldes sociais.

Sem dúvida, este é o grande desafioque nos impÅe o processo de consolidaç|o doscomplexos agroindustriais brasileiros quanto aoavanço dos serviços nesta virada de século:como enfocar a problemática da terceirizaç|o eas suas especificidades ao desconsiderar aagricultura como um setor único e separado aotratá-la como uma "coisa" amarrada, intríncadae complexa? Deve-se considerar a irreversível

3No item 4 do presente trabalho, o estudo de caso daterceirizaç|o nas agroindústrias de suco concentradorevelou esse princípio e as dificuldades para com aimplantaç|o do processo.

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integraç|o entre agricultura e indústria ressaltan-do as especificidades de cada segmento inter-relacionado ou deve-se acreditar que os capitaisindustrial e financeiro, provedores da dinâmicados CAIs, indiciar|o o caráter do processo deterceirizaç|o dos segmentos componentes deforma unívoca e absoluta? As indagaçÅes acimarevelam que o avanço do setor serviços nosdiversos complexos agroindustriais requerpesquisas específicas quanto Ës característicase Ë natureza dessa integraç|o.3 - OS CAIs E AS ATIVIDADES DE SERVI-

ÇOS: NOVA CONFORMAÇ{O?

As especificidades de conformaç|odos diversos CAIs nos permite identificar repre-sentaçÅes diferenciadas dos processos deterceirizaç|o nos segmentos agrícola e agroin-dustrial de cada complexo. N|o se pretende comisso criar qualquer tipologia referente aos CAIs emuito menos realimentar qualquer determinismoeconômico, como deu-se a entender no trabalhode KAGEYAMA et al. (1986). Pelo contrário,consideram-se os comentários significativos e arevis|o conceitual de GRAZIANO DA SILVA(1991), quando coloca que a passada classifi-caç|o n|o teria o vetor único de complementari-dade a longo prazo, além de revelar a necessi-dade de considerar o CAI aberto e n|o "fechadoem torno de um produto" e incluir as atividadesde serviços no interior dos distintos complexos.Junto a isso, acredita-se que a inclus|o/exclu-s|o de novos agentes responsáveis pelas ativi-dades de serviços reforça que a delimitaç|o doscomplexos seja multideterminada, além de des-tacar outrora o seu caráter histórico, já que acrescente participaç|o das atividades de servi-ços é resultado de um processo de transfor-maçÅes em curso.4

No entanto, ao se considerar as espe-cificidades dos diversos complexos agroindustri-ais brasileiros, deve-se acreditar que o cresci-mento das atividades de serviços é reflexo docrescimento do poder decisório dos capitaisindustriais e financeiros e o conseqüente enfra-quecimento do papel do Estado e suas políticaspúblicas, o que n|o chega de maneira alguma aindiciar uma nova conformaç|o aos CAIs. Mas,sob o ângulo histórico e econômico, permiteindicar a necessária revis|o da representativida-

de do Estado e suas políticas públicas como ovetor indutor da modernizaç|o de certos comple-xos. Ou seja, o Estado n|o perdeu de formaalguma a sua posiç|o de ator social mas, emrelaç|o ao passado, perdeu peso e enfraque-ceu.5

O destaque dado ao Estado com suaspolíticas públicas pela revis|o conceitual deGRAZIANO DA SILVA (1991) é indubitávelquando se considera todo o processo de desen-volvimento da agricultura brasileira. Como enfati-zado por diversos autores, a expans|o da agri-cultura, ao mesmo tempo que possibilitou odesenvolvimento do CAI, foi impulsionada porele e ambos se expandiram dentro do contextodo processo de acumulaç|o do conjunto daeconomia. A aç|o do Estado sempre regulouessa dinâmica, ao mesmo tempo que orientou eimpulsionou certos setores com mecanismos decréditos e subsídios, além de intermediar osinteresses das várias facçÅes do capital e entreos produtores agrícolas, o CAI e o conjunto dasnecessidades de reproduç|o do capital social. Aintervenç|o do Estado nas relaçÅes entre osprodutores e a agroindústria foi múltipla: determi-nando os preços dos produtos agrícolas (comoo café e o trigo) e até os agroindustriais (comoo leite pasteurizado e seus derivados), favore-cendo a instalaç|o e o desenvolvimento demultinacionais de alimentos e produtoras debens de capital, favorecendo o desenvolvimentode cooperativas de produtores rurais, expandin-do a pesquisa e o desenvolvimento (através daEMBRAPA), etc. Ou seja, na maioria dos setoresda agricultura, a atuaç|o do Estado incentivou oinvestimento, subsidiando o capital, permitindo aconstituiç|o e posterior consolidaç|o dos com-plexos agroindustriais.

As conclusÅes de SORJ (1986) ressal-tam a representatividade da aç|o do Estadoperante a constituiç|o dos variados complexosagroindustriais. "Se o papel do Estado comoincentivador da produtividade agrícola permite aproduç|o e a produtividade, a acumulaç|o queesse crescimento do excedente permitirá dar-se-á fundamentalmente no setor industrial de insu-mos e de processamento" (p.66). Ora, é exata-mente a integraç|o dos capitais industrial,

4Maiores comentários em GRAZIANO DA SILVA (1991).

5Isso n|o significa que tenha perdido representatividadepolítica, mas sim representatividade nas açÅes de estímuloeconômico (investimento).

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financeiro e comercial que estabeleceram,mediante as políticas públicas do Estado, a novadinâmica agrícola, agora interpretadas no âmbitodos complexos. N|o bastasse isso, o Estadoacabava agindo como o agente definidor damodernizaç|o dos estabelecimentos agrícolasde pequeno porte. "Na agricultura, com exceç|ode poucas grandes empresas capitalistas, osestabelecimentos de pequeno porte que secapitalizam n|o atingem geralmente nenhumincremento relevante de sua renda. Assim, apossibilidade da reproduç|o aplicada na agricul-tura está dada pelo crédito subsidiado. Este atuacomo mecanismo de expans|o das indústrias deinsumos e de processamento e da comerciali-zaç|o através do aumento da produç|o" (SORJ,1986, p. 67).

Os fatores mencionados acima tornamincontestável o papel do Estado no processo demodernizaç|o da agricultura brasileira. No en-tanto, a partir do final dos anos 80, a representa-tividade do Estado como agente indutor da mo-dernizaç|o foi reduzida através da eliminaç|o dedeterminados mecanismos de política agrícola edo enfraquecimento político e econômico de al-

guns org|os básicos do processo de desenvolvi-mento agrícola e agroindustrial brasileiro.

A figura 1 indica a conformaç|o doscomplexos agroindustriais brasileiros de maneirageral, ressaltando a representatividade do Esta-do desde o período de constituiç|o dos CAIs atéa etapa atual, em que se nota o avanço dasatividades de serviços nos segmentos que oscompÅem.

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Figura 1- Conformaç|o do Complexo Agroindustrial (CAI) no Brasil.

Fonte: Dados da pesquisa.

As inter-relaçÅes tecnoprodutivas entreos segmentos industriais e agrícola determinamos traços marcantes de conformaç|o dos CAIs.Como se viu, a aç|o do Estado ocupa papel dedestaque no processo histórico de constituiç|oe consolidaç|o dos complexos brasileiros nastr“s últimas décadas. No entanto, nos primeirosanos da década de 90, verificou-se reduzidaintervenç|o do Estado no processo de desenvol-vimento agrícola e agroindustrial, dada a aus“-ncia de políticas públicas nos respectivos seto-res. Com isso, salvo as especificidades, o agen-te indutor da modernizaç|o de cada complexon|o necessariamente será o Estado. Ou seja, opoder econômico, que incorpora a competiç|ointer-empresarial (poder de mercado), tem implicaçÅes analíticas mais complexas, quevinculam diferentes agentes econômicos (indus-trial, financeiro, agrícola, agrário, serviços, etc.).

Um breve histórico nos permitirá confirmar estaproposiç|o.6

As políticas públicas empenhadas naeconomia brasileira a partir da década de 50explicam o caráter industrializante de desenvolvi-mento até os dias atuais. O viés da política pós-1950 em prol da indústria distorceu o desenvolvi-mento, penalizando a agricultura, aumentandotanto a dívida interna como a externa e contribu-indo para a crise econômica da década de 80. Apolítica de substituiç|o de importaçÅes e oprocesso de industrializaç|o pesada na econo-

6A noç|o de poder de mercado diz respeito, acima de tudo,a aspectos técnicos e econômicos e n|o a aspectos sócio-políticos. A noç|o de poder econômico é que abrange asquestÅes mais complexas para a compreens|o da dinâmicatecnológica e organizacional dos setores econômicos. Vera respeito em MILIBAND (1972), MULLER(1989) e LAN-ZILLOTTI (1969).

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mia brasileira criaram as bases para instalaç|odo parque industrial e agroindustrial no País. Nosanos 60, com a internalizaç|o do setor produtorde bens de capital para a agricultura e a intensi-ficaç|o do estabelecimento de empresas agroin-dustriais processadoras, a constituiç|o dos CAIsocorreu sob orientaç|o do Estado. O crescimen-to nos segmentos industriais ocorreu pela aç|odo Banco Nacional de Desenvolvimento Econô-mico e Social (BNDES) e dos bancos estaduaiscom suas específicas linhas de financiamento e,na agricultura, através do Sistema Nacional deCrédito Rural (SNCR), do Programa de PreçosMínimos (PGPM), com seus mecanismos espe-cíficos de Aquisiç|o do Governo Federal (AGF)e de Empréstimos do Governo Federal (EGF), edas políticas regionais específicas (PROTERRA,POLONORDESTE, POLOAMAZÔNIA, etc.).

Toda a estratégia de industrializaç|ocondicionou o padr|o de crescimento agrícolanas diversas etapas atravessadas pela econo-mia brasileira desde 1950. Num primeiro mo-mento, a discriminaç|o contra a agricultura n|oimpediu que as culturas de exportaç|o - caso docafé - respondessem com notável desempenho.7

Num segundo momento, as mudanças na políti-ca econômica pós-1964 proporcionaram que osmecanismos acima mencionados resolucionas-sem a quest|o agrícola brasileira.8 "A partir de1964, mudanças na política cambial e umacrescente liberalizaç|o do comércio exteriorreduziram as transfer“ncias líquidas da agricultu-ra para a indústria. A política de substituiç|o deimportaçÅes foi ampliada de modo a incluiralimentos importados, o que se traduziu emincentivos Ë produç|o de trigo. Por outro lado,incentivos também foram concedidos a produtosn|o-tradicionais, tais como soja e cítricos. (...) Oambiente mais liberalizante da política econômi-ca favoreceu, no setor agrícola, especialmente ocrescimento das exportaçÅes de produtos semi-industrializados, tais como farelo de soja, óleo desoja e suco de laranja. Esses setores de proces-samento industrial expandiram-se rapidamenteem resposta Ë sua inclus|o entre os manufatu-

rados, em vez de na categoria tarifária deprodutos agrícolas primários" (REZENDE, 1993,p.15).

Durante a década de 80, o crescimentorelativamente notável do produto agrícola foiproporcionado pela evoluç|o dos preços dosprodutos agrícolas e dos fatores de produç|oprimários (terra e m|o-de-obra), e do uso deinsumos de origem industrial (e assim, emboraindiretamente, da evoluç|o do investimentoagrícola) nas diferentes conjunturas vividas pelaeconomia brasileira a partir da eclos|o da criseexterna. Contudo, os mecanismos de políticaagrícola do Estado estiveram indicando o sentidodessa evoluç|o. A política de preços mínimossubstituiu o crédito como o instrumento principalde incentivo Ë agricultura desde o início da dé-cada de 80. Mesmo com suas defici“ncias, omecanismo foi capaz de proporcionar aos agri-cultores uma proteç|o significativa contra o au-mento de risco associado Ë crise econômica.

Assim, a produç|o de culturas de mer-cado interno elevou-se sobremaneira no período1980-89, ao mesmo tempo em que as culturasde exportaç|o mantiveram bom desempenho nomercado internacional, apesar da queda na taxade crescimento da sua produç|o. A aç|o do Es-tado foi fundamental no período, já que a desva-lorizaç|o cambial foi acompanhada de uma po-lítica agrícola que estimulou de maneira com-pensatória a agricultura para o mercado interno,através da política de preços mínimos.

Diante da crise instalada na economiabrasileira, o crescimento agrícola e agroindustrialpromoveu significativa desconcentraç|o dos se-tores industriais e regiÅes mais afetadas. "(...)alguns fatores atenuaram os efeitos da crise. Aexpans|o das exportaçÅes n|o só compensouparte do < efeito demanda interna’, como tambémpermitiu certa inovaç|o tecnológica no campo,notadamente no Centro-Oeste e na conquistados < cerrados’. O Proálcool consolidou-se nadécada, provocando extraordinárias transfor-maçÅes técnicas e econômicas na agroindústria,notadamente em S|o Paulo. (...) Embora a fron-teira agrícola amazônica tenha se < fechado’, aocupaç|o e o extraordinário crescimento econô-mico e urbano de Rondônia se consolidaram. Osetor industrial foi o mais severamente afetado,a despeito do comportamento positivo de algunssegmentos exportadores e de outros que se be-neficiaram, até fins da década, de uma política

7Apesar da valorizaç|o da taxa de câmbio, os altos preçosinternacionais que vigoraram no pós-guerra mais quecompensaram este fator adverso.8Considera-se que a quest|o agrícola responde Ës inda-gaçÅes de o qu“ produzir, quanto produzir e onde produzir.Maiores informaçÅes em GRAZIANO DA SILVA (1980).

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de reserva de mercado, como o da informática.(...) Os efeitos de um crescimento industrialpraticamente nulo na década foram graves parao emprego da m|o-de-obra, com acentuada di-minuiç|o do emprego formal, deteriorac|o dossalários e maior rotatividade, muito mais comodecorr“ncia da crise do que de introjeç|otecnológica mais intensa" (CANO, 1994, p.596).

Nos primeiros anos da década de 90,a política de preços mínimos do Governo Fede-ral n|o obteve sucesso, devido Ës indecisÅespolíticas do governo Collor e ao caráter transitó-rio da gest|o Itamar. "Depois da vitória de Collore durante os primeiros anos da década de 90,apenas a estratégia neoliberal parecia estar pre-sente como alternativa ao esgotamento do pa-dr|o de desenvolvimento brasileiro. O que senos oferecia parecia bastante claro, embora mui-to pouco original: se quiséssemos alcançar oPrimeiro Mundo (ou a Terceira Revoluç|o Indus-trial), que nos ajustássemos de forma subordina-da aos novos ventos da economia mundial. (...)Com o peso da dívida externa, dependente defluxos do capital internacional crescentementevoláteis e sem qualquer poder de crescimentoautônomo, o ritmo do nosso desenvolvimentonacional voltaria a depender exclusivamente docomportamento das exportaçÅes e, portanto, doritmo e das condiçÅes determinadas pelo merca-do internacional " (MATTOSO, 1995, p.142-143).A perda na determinaç|o de políticas tanto naagricultura como em vários setores da economiabrasileira enfraqueceu sobremaneira as açÅes ea conseqüente representatividade do Estado nodesenvolvimento agrícola e agroindustrial nacio-nal. Ou seja, nesta década, o Estado n|o teveum desempenho mais ativo como investidordireto e como canalizador de recursos para osetor privado como nos períodos anteriores.9

Com a escassez da aç|o política doEstado e as sucessivas perdas econômicas desegmentos da indústria e da agricultura nosprimeiros anos da década de 90, as atividadesde serviços sofreram expans|o significativadiante da crise que permanecera. "O setor ser-viços foi o único a expandir a ocupaç|o em todoo território nacional: ou pela urbanizaç|o acele-

rada causada pela ocupaç|o amazônica ou pe-las transformaçÅes estruturais (gerais e terciári-as) do Nordeste, dos efeitos de metropolizaç|oem algumas regiÅes, do grande avanço do em-prego público estadual e municipal - notadamen-te no Nordeste -, ou simplesmente pela grandeinformalizaç|o e precarizaç|o do trabalho im-posta a diversas atividades econômicas e aoemprego" (CANO, 1994, p.596).

O crescimento das atividades de ser-viços é um dos aspectos que representa, no âm-bito dos CAIs, o fortalecimento da integraç|o decapitais e a rápida resposta dos segmentos agrí-cola e agroindustrial Ës novas formas de organi-zaç|o da produç|o. A quest|o da integraç|on|o representa apenas uma relaç|o que seestabelece entre as agroindústrias e os pro-dutores rurais mediante um contrato formal ouverbal, em que a propriedade passa a produzirdeterminadas matérias-primas vendendo-as ex-clusivamente para as agroindústrias com a qualse tem contrato e, ao mesmo tempo, aquelasfirmas encarregando-se da assist“ncia técnica,do fornecimento de instalaçÅes necessárias (pa-gos pelo produtor), etc. N|o obstante, essas fun-çÅes de integraç|o básicas passaram a deman-dar uma série de atividades de serviços queculminaram com a constituiç|o do processo deterceirizaç|o nestes complexos. Junto a isso, asconstantes modificaçÅes nas formas de gest|oe controle da força de trabalho representam de-safios Ë classe trabalhadora. N|o se trata ape-nas de identificar as mudanças e buscar defi-niçÅes coerentes da terceirizaç|o nos distintossegmentos do CAI, mas de reconhecer e enfren-tar os desafios atualmente colocados ao movi-mento sindical frente ao avanço das atividadesde serviços, principalmente na agricultura.

Os estudos recentes apontam como oprocesso de terceirizaç|o vem acentuando aprecarizaç|o das condiçÅes de trabalho, adegradaç|o salarial, o aumento do trabalho adomicílio e do trabalho em tempo parcial nosmais variados setores da economia brasileira. Oponto fundamental é ressaltar como o trabalho ea vida de trabalhadores est|o sendo afetadospelas transformaçÅes que v“m ocorrendo noprocesso produtivo de forma diferenciada emcada setor e até mesmo em cada segmento. Nocaso dos complexos agroindustriais, com suascaracterísticas e dinâmica próprias, pede-se adefiniç|o do perfil de seus agentes econômicos

9Mesmo considerando as observaçÅes de MATTOSO(1995), em que o setor privado, nacional e internacionaltornou-se a base de sustento da acumulaç|o, incentivadoe protegido pelo Estado.

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para que se possa compreender perfeitamenteas conseqü“ncias das novas formas de organi-zaç|o da produç|o, a mudança de posiciona-mento dos diversos agentes sociais bem comoos desafios próprios ao movimento sindical.

A complexidade da tarefa torna-secrescente para o sindicalismo rural nesta viradade século. Em primeiro lugar, porque a movi-mentaç|o sindical no campo é marcada pelaexperi“ncia dos Sindicatos de TrabalhadoresRurais (STRs) onde o interlocutor privilegiadoera o Estado. Pelos fatores discutidos anterior-mente referentes Ë representatividade das po-líticas públicas, a experi“ncia atual é a da neces-sidade de diálogo com as empresas agroindus-triais. Há o desafio para o movimento sindical dese fazer reconhecer como interlocutor em todoesse processo. Outro ponto refere-se Ë diversida-de de situaçÅes existentes no ambiente agrícola,já que a exist“ncia dos STRs, dos novos sindica-tos de assalariados, dos sindicatos de agriculto-res "integrados" e do crescimento das cooperati-vas da m|o-de-obra rurais em determinadoscomplexos (como o citrícola e o sucroalcooleiro)de algumas regiÅes (principalmente na deRibeir|o Preto-SP) representam novos desafiosËs lideranças sindicais frente Ë exist“ncia deinterlocutores distintos.

Neste sentido, a especificidade doscomplexos agroindustrias no País abre nova-mente espaço para outros desafios e soluçÅes,agora no âmbito rural, para o movimento sindicalde produtores e trabalhadores. Torna-se funda-mental compreender as condiçÅes de reivindi-caç|o de suas novas identidades frente astransformaçÅes atuais e reconhecer os elemen-tos acionados para viabilizaç|o de suas repre-sentatividades políticas. A quest|o do trabalha-dor rural diante das transformaçÅes atuais daagricultura brasileira passa pela esfera da garan-tia de sua reproduç|o social. O avanço doprocesso de terceirizaç|o para a agriculturapropiciou o aparecimento de novas identidadesrurais, que representam novos desafios para acompreens|o da diversidade e da negociaç|ono mundo do trabalho.

4 - OS CAIs E AS ATIVIDADES DE SERVI-ÇOS: CONSIDERAÇÄES SOBRE A AGRO-INDÚSTRIA CITRÍCOLA

As estratégias das firmas processado-ras, vinculadas ao capital industrial ou financeiro,t“m alterado o comportamento estrutural doscomplexos agroindustriais. Ao mesmo tempo, asformas de avanço das atividades de serviços nosdistintos segmentos agroindustriais t“m acentua-do a quest|o das especificidades dos comple-xos. A experi“ncia recente de determinadosCAIs também acentua a quest|o da heterogene-idade regional agrícola e agroindustrial.

A “nfase no complexo agroindustrialcitrícola brasileiro, situado quase totalmente nointerior paulista, justifica-se pela forma de suamodernizaç|o. A sua constituiç|o foi marcadapela presença marcante do Estado e os seusestímulos para formaç|o do parque industrial debens de capital e agroindustrial. Segundo PAU-LILLO (1995), "a evoluç|o das agroindústrias desuco concentrado congelado de laranja noEstado de S|o Paulo passou a ocorrer tendocomo pólos de atraç|o os principais pomarescitrícolas localizados nas regiÅes de Ribeir|oPreto, Campinas e S|o José do Rio Preto. Commoderna tecnologia de processamento contínuo,estas empresas encontraram um setor prósperoque se voltava totalmente para o mercado exter-no. O segmento agroindustrial começou a trazerpara o setor citrícola grandes grupos econômi-cos que iniciaram o processo de constituiç|o docomplexo. Surgiram ao longo das tr“s últimasdécadas entre outras: Citrosuco, Cutrale, Cargill,Frutesp, Citrovita e Cambuhy. Todas localizadasa noroeste do Estado de S|o Paulo" (p.126)

O segmento agroindustrial do CAIcitrícola apresenta estrutura oligopolista. Noparque paulista - responsável por 95% do totalda indústria cítrica nacional - tr“s empresasrespondem por mais de 75% da capacidade ins-talada, exceto em 1975, quando esse númerochegou a cinco indústrias. A tabela 1 identifica ograu de concentraç|o da agroindústria processa-dora de suco concentrado de laranja que, em

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TABELA 1 - Indicadores de Concentraç|o

Indicador 1970 1975 1980 1985 1990 1992

2 > emp. % 63,15 51,50 59,96 63,17 61,53 54,144 > emp. % 86,83 71,56 89,64 90,21 86,75 76,22emp. c/ 75% 3 5 3 3 3 4indHerfindal 0,2510 0,1753 0,2482 0,2539 0,2457 0,1815

nÕ de empre-sas

7 9 11 12 12 14

Fonte: Instituto de Economia Agrícola.

períodos anteriores, foi muito maior.O maior índice alcançado foi em 1985,

quando as quatro maiores agroindústrias atingi-ram 90,21% da produç|o. Verifica-se que a par-cela detida pelas duas maiores empresas pas-sou de 63,15% em 1970 para 61,53% em 1990,o que indica a significativa concentraç|o dacapacidade de processamento entre os doismaiores grupos agroindustriais. O posicionamen-to da indústria citrícola na exportaç|o de seuproduto principal (suco concentrado de laranja)confirma esta concentraç|o. Conforme a tabela2, verifica-se a manutenç|o do predomínio dosgrupos Cutrale e Citrosuco nas vendas ao co-mércio internacional.

TABELA 2 - Participaç|o Percentual da Expor-taç|o Brasileira de Suco Concen-trado de Laranja, 1993

Grupo empresarial Participaç|opercentual

Cutrale 25,31Citrosuco 24,87Frutesp 6,27Cargill 7,91Montecitrus 7,61Frutropic/Coinbra 10,39Branco Peres 2,50Citropectina 1,41Bascitrus 1,71Central Citrus 1,51Coinbra 10,39Royal Citrus 2,10Citromat|o 0,59Trop Citrus 0,39Votorantim 2,62Moreira Salles 3,26

Fonte: PAULILLO (1994).

Neste setor, o poder oligopólico e arepresentatividade do mercado externo como oprincipal indutor da modernizaç|o a partir dosanos 80 conferem uma posiç|o de destaque Ëindústria no estabelecimento da dinâmica docomplexo. Assim, as inovaçÅes tecnológicas eorganizacionais alcançadas pelas agroindústriasindicam uma mudança de comportamento. Afigura 2 delineia o complexo agroindustrial citrí-cola no Brasil, localizado no interior paulista.

O crescimento dos serviços intensificaas inter-relaçÅes entre os segmentos industriaise a agricultura e potencializa a entrada de novosagentes econômicos no complexo. Mesmo comreduzida barganha, o crescente papel das ativi-dades de serviços influencia a dinâmica dossetores envolvidos com o processo de terceiri-zaç|o independente de suas naturezas e especi-ficidades. Isso n|o altera de forma alguma aconformaç|o estrutural do CAI citrícola, já queas inter-relaçÅes básicas continuam sendodadas entre a agricultura, a indústria de bens deproduç|o e a agroindústria processadora.

O processo de terceirizaç|o, iniciadono final dos anos 80 pelas agroindústrias de su-co concentrado, é reflexo das transformaçÅes naorganizaç|o da produç|o em nível mundial eque, como se viu, atingem outros setores indus-triais brasileiros desde o início da década de 80.Neste item, apresenta-se um estudo dos casosde implantaç|o da terceirizaç|o nas principaisagroindústrias que compÅem o CAI citrícola. Ametodologia de pesquisa adotada baseou-se narealizaç|o de entrevistas para coletar os dadosreferentes ao avanço dos serviços nesta indús-tria.

Analisando-se o cargo da pessoa en-trevistada, foi possível verificar que o domíniosobre terceirizaç|o nas agroindústrias é poucovariável, passando pelos departamentos de Re-

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cursos Humanos e Manutenç|o. Foi possívelobservar, também, que o tempo de contato dasempresas com a técnica da terceirizaç|o n|o égrande, variando de 3 a 6 anos (Tabela 3).

O ponto fundamental observado foi que

Figura 2 - CAI Cítricola Brasileiro.

Fonte: Dados da pesquisa.

TABELA 3 - Análise Comparativa do Processo de Terceirizaç|o em Empresas Citrícolas do Estadode S|o Paulo, 1995

Empresa Empregados(diretos e indiretos) Setores Tempo

Cutrale 4.5001 Recursos humanos, manutenç|o e colheita 4 anosCitrosuco 2.200 (2.070 dir. 30 ind.)2 Recursos humanos, manutenç|o e colheita 6 anosCargill 650 (554 dir. e 96 ind.) Recursos humanos 3 anos

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Coinbra Dreyfuss 750 (620 dir. e 130 ind.) Recursos humanos e manutenç|o 3 anosCitrovita 308 (188 dir. e 120 ind.) Recursos humanos 4 anosCambuhy 280 (165 dir. e 115 ind.) Recursos humanos e manutenç|o 3 anos

1Consideraram-se cerca de 15.000 empregados indiretos (colheita e transporte de matéria-prima).2Entenda-se indireto aquele fisicamente lotado na unidade. Contratos de serviços terceirizados fora da unidade n|o est|oconsiderados.Fonte: Dados de pesquisa de campo.

a totalidade das empresas tem como objetivoprincipal da implantaç|o da terceirizaç|o a re-duç|o de custos, sendo que, neste item, a redu-ç|o do quadro de pessoal foi a mais considera-da. Das empresas entrevistadas, poucas relata-ram ter optado pela técnica desejando aespecializaç|o e a focalizaç|o no seu produtoprincipal (Tabela 4).

TABELA 4 - Objetivos da Terceirizaç|o em Em-presas Citrícolas Paulistas, 1995

Empresa Objetivo

Cutrale Foco no negócioCitrosuco Foco no negócio (focalizaç|o)Cargill Agilizaç|oCoinbra Dreyfuss Foco no negócioCitrovita Focalizaç|oCambuhy Focalizaç|o

Fonte: Dados de pesquisa de campo.

As principais dificuldades encontradaspelas empresas para a implantaç|o dos progra-mas de terceirizaç|o foram: a resist“ncia dosfuncionários, quebrada após explanaçÅes claras,a capacitaç|o técnica (desqualificaç|o da m|o-de-obra), a dificuldade de encontrar empresasofertantes de serviços específicos num primeiromomento e a dificuldade de relacionamento comos sindicatos de trabalhadores locais (Tabela 5).

Quanto aos benefícios, de forma geral,foram acusados os fatores relativos Ë liberaç|opara pensar no negócio, Ë reduç|o da adminis-traç|o (principalmente tempo) e Ë especializaç|odo serviço, apesar da dificuldade dos primeirosmeses quanto Ë capacitaç|o técnica. Para o fu-turo, as empresas prometem acelerar o proces-so de terceirizaç|o afetando as áreas de supor-te, que est|o sempre sujeitas Ë terceirizaç|o,desde

que haja comprovaç|o técnica, operacional eeconômica para o serviço. Para as maioresempresas (Citrosuco e Cutrale), o processo pro-mete ser lento, por entenderem que este é umcaminho sem volta, e que a comprovaç|o dacompet“ncia para o serviço é um ponto aindadúbio, nas condiçÅes de operaç|o da empresae o ponto geográfico na qual se situam.

De maneira geral, foi possível observarque a maioria das empresas entrevistadas obti-veram bons resultados com o processo de ter-ceirizaç|o, como a melhoria da qualidade deseus processos e a reduç|o de custos. Contudo,nem todas as empresas fizeram um planejamen-to estratégico para situar-se melhor quanto Ësáreas terceirizáveis e Ë forma de relacionamentoque melhor se adapte a um determinado caso.

Verificando as atividades de serviçosque já foram implementadas nestas agroindústri-as e considerando os seus respectivos planospara o futuro em termos de área de atuaç|o,pode-se apontar a representatividade dos servi-ços e a sua inserç|o nas plantas industriaiscitrícolas a longo prazo. Nota-se que a terceiri-zaç|o nas agroindústriais de suco concentradoocorreram com maior rapidez nas áreas deadministraç|o, manutenç|o, segurança, servi-ços jurídicos, contabilidade, processamento dedados, informática, etc. Os principais efeitosverificados no avanço do processo foram: bara-teamento dos serviços e qualidade do produtofinal; flexibilidade e maior agilidade nas decisÅesadministrativas; modernizaç|o dos fornecedoresde equipamentos e maquinaria de processamen-to (por exemplo, aluguel de extratoras ou centrí-fugas por um tempo determinado); desburocrati-zaç|o administrativa e no processo produtivo;maior agilidade com custos fixos menores;manutenç|o da economia de escala (em algu-mas empresas, elevou-se); reduç|o do númerode empregados

TABELA 5 - Dificuldades no Processo de Terceirizaç|o nas Empresas Citrícolas Paulista, 1995

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Empresa Dificuldades

Cutrale Capacitaç|o técnica/relacionamento com prestadora de serviços/implantaç|o de contratosCitrosuco Capacitaç|o técnica/infra-estrutura de operaç|o no interior/ preçoCargill Capacitaç|o técnica/ preçoDreyfuss Relacionamento com sindicatos/ aus“ncia inicial de fornecedoresCitrovita Desqualificaç|o com m|o-de-obra e difícil relacionamento com os sindicatos locaisCambuhy Relacionamento com os sindicatos locais

Fonte: Dados de pesquisa de campo.diretos na estrutura produtiva; reduç|o de paga-mentos de alguns impostos e de encargos so-ciais de salários; combate Ës organizaçÅes sin-dicais, com a desmobilizaç|o dos trabalhadoresque anteriormente pertenciam a categorias maismobilizadas, e conseqüente reduç|o do númerode trabalhadores sindicalizados (Tabela 6).

Nota-se que alguns dos efeitos menci-onados acima trazem novas conseqü“ncias nosegmento agrícola do CAI citrícola, pois a pre-sença crescente dos pomares próprios dasagroindústrias de suco concentrado revela que oefeito "cascata" da reduç|o dos encargos sociaisde salários também atinge o contingente de tra-balhadores rurais (os "catadores" de laranja).Isso vem ocorrendo pela presença crescentedas cooperativas de m|o-de-obra rural na citri-cultura e que reforça a quest|o das especificida-des dos complexos agroindustriais e a necessá-ria consideraç|o da natureza e das característi-cas da integraç|o agricultura-agroindústria. Nocaso do

complexo citrícola, este avanço da terceirizaç|opara a agricultura possibilitou o fortalecimentodas cooperativas de m|o-de-obra rural e o sur-gimento da problemática da flexibilizaç|o dosdireitos trabalhistas no campo.

5 - AS COOPERATIVAS DE M{O-DE-OBRARURAL E A FLEXIBILIZAÇ{O DOS DIREI-TOS TRABALHISTAS NA CITRICULTURA

O processo de terceirizaç|o na citricul-tura ganhou força em 1995 com o aparecimentodas cooperativas de m|o-de-obra rural, provo-cando modificaçÅes instantâneas de posiciona-mento do movimento sindical rural e das asso-ciaçÅes representativas de produtores rurais."Esta idéia n|o é original, na década de 70 muitose debateu sobre a criaç|o de cooperativas debóias-frias. Naquela época, a criaç|o das coope-rativas era defendida com base em dois argu-

TABELA 6 - Atividades1 de Serviços na Planta Industrial Citrícola

Logística deEntrada Operaç|o Logística de saída Marketing e

vendas Serviço

- Serviços de transporte- Serviços de armazenagem

- Conservaç|o ereparo de

equipamentos- Serviços de

segurança- Serviço deengenharia

- Serviços detransporte

- Serviços dearmazenagem e

execuç|o- Processamento

de informaçÅes- InformaçÅessobre crédito

- Publicidade- Marketing direto

- Bancos dedados

Serviços deinstalaç|o e teste

- Reparos ereformas

- Serviçosagrícolas

- Pesquisaagrícola

- Pesquisa por contrato- Serviços de design

- Serviços deteste

- Softwares - Pesquisa demercado

- Trabalhoagrícola

temporário

Ger“ncia

de

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- Consultoria administrativa- Serviços de saúde- Educaç|o e treinamento

- Trabalhotemporário

- Ag“ncia deempregos

- Cooperativas dem|o-de-obra

Recursos

Humanos

- Serviços financeiros- Contabilidade- Consultoria administrativa

- Serviçosjurídicos e

soluç|o deconflitos

Infra-estrutura

da Empresa

1As atividades em negrito est|o terceirizadas.

Fonte: Dados de pesquisa de campo.mentos: o primeiro era a necessidade de reduziro aumento do custo de m|o-de-obra devido aosleilÅes por trabalhadores que ocorriam nos pon-tos de embarque, nos momentos de pico deutilizaç|o de força de trabalho, outro argumento,era a ameaça a < paz social’ representada pelaspéssimas condiçÅes de vida e trabalho dosbóias-frias" (ALVES; PAULILLO; SANTOS, 1996,p.9).

Respaldada na Lei 5.764/71, aquelainiciativa foi duramente combatida nos anos 80pelo movimento sindical devido Ë imagem dainstitucionalizaç|o dos “Gatos” que as cooperati-vas representavam. Porém, as iniciativas derecriaç|o das cooperativas, a partir de 09 dedezembro de 1994, através da Lei 8.949, tiveram“xito, pois o Movimento Sindical encontrava-sefragilizado, devido ao desemprego e sua poten-cializaç|o proporcionada pelos movimentosmigratórios e Ës próprias condiçÅes insuficientesda agricultura frente Ë aus“ncia de políticasconsistentes por parte do Estado. Junte a isso opapel exercido pela Federaç|o da Agricultura doEstado de S|o Paulo (FAESP), desde junho de1995, ao estimular os associados para que seenvolvessem e incentivassem a criaç|o decooperativas de m|o-de-obra (Circular 042/95).

"Segundo a circular da FAESP, asvantagens para os produtores rurais, considera-dos tomadores e m|o-de-obra, s|o as seguin-tes:1 - n|o exist“ncia de problemas trabalhistas nasépocas de safra;2 - supress|o de vínculo empregatício com o to-mador de m|o-de-obra;3 - inexist“ncia de fiscalizaç|o trabalhista;4 - desobrigaç|o das responsabilidades traba-lhistas e sociais;5 - maior tranquilidade na execuç|o de trabalhos

agrícolas.Os trabalhadores deixam de ter vínculo

empregatício com o tomador de m|o-de-obra ecom a cooperativa, pois s|o considerados, paraefeitos legais, partes da entidade que os repre-senta, com quotas partes de participaç|o no ca-pital. Ficam livres de intermediários; ter|o maiormercado de trabalho e possibilidade de participa-ç|o nos lucros da sociedade ao final do exercí-cio" (ALVES; PAULILLO; SANTOS, 1996, p.11).

Considerando o parágrafo único aoartigo 442 da Consolidaç|o das Leis do Trabalho(CLT), estabelecendo que n|o há vínculo empre-gatício entre a sociedade cooperativa e seuscooperados, nem entre estes e a empresatomadora de serviços, o Ministério da Justiça,através da portaria nÕ 925, de 28 de setembrode 1995, procurou amenizar a situaç|o degra-dante do trabalhador cooperado impondo anecessidade da fiscalizaç|o do trabalho naempresa tomadora de serviços da sociedadecooperativa através de levantamento físico,objetivando detectar a exist“ncia dos requisitosda relaç|o de emprego entre a empresa toma-dora e os cooperados. A fiscalizaç|o consisteent|o das seguintes características:1 - número mínimo de vinte associados;2 - capital variável, representado por quota-partes, para cada associado, inacessíveis aterceiros, estranhos Ë sociedade;3 - limitaç|o do número de quota-partes paracada associado;4 - singularidade de votos, podendo as coopera-tivas centrais, federaçÅes e confederaçÅes decooperativas, exceç|o feita Ës de crédito, optarpelo critério de proporcionalidade;5 - quórum para as assembléias, baseado nonúmero de associados e n|o no capital;6 - retorno das sobras líquidas do exercício,

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proporcionalmente Ës operaçÅes realizadas peloassociado;7 - prestaç|o de assist“ncia ao associado efornecimento de serviços a terceiros atendendoa seus objetivos sociais.

Estas resoluçÅes nada amenizam asrelaçÅes de emprego atuais no que se refere apresença das cooperativas. Porque a exig“nciado número mínimo de vinte associados concedea possibilidade de abertura de novas cooperati-vas entre intermediários de m|o-de-obra ("Ga-tos"). Desde novembro de 1995, a proliferaç|ode cooperativas tem se acentuado nos municípi-os citrícolas da regi|o de Ribeir|o Preto, entreeles destacam-se: Bebedouro, Taquaritinga,Araraquara, Itápolis, Mat|o, entre outros.

Os apontamentos acima revelam osobjetivos básicos da criaç|o das cooperativas dem|o-de-obra rural na citricultura da regi|o deRibeir|o Preto. Além de aniquilar com o contratode safrista, as cooperativas retiram os significati-vos direitos trabalhistas do trabalhador ruralcomo: férias, descanso semanal remunerado,descanso durante a jornada de trabalho, avisoprévio, fundo de garantia por tempo de serviço,aposentadoria, acidente de trabalho, etc.

Na citricultura, as cooperativas avança-ram porque as empresas organizaram o proces-so através de sua própria administraç|o, quecoordenam a contrataç|o de m|o-de-obra viacooperativa com o estabelecimento de pessoasde confiança na ger“ncia destas organizaçÅes.Diante disso, o que se nota é o estabelecimentode organizaçÅes cooperativas com o objetivoprincipal de reduzir os custos de m|o-de-obra,porque a ess“ncia das cooperativas - o processode cooperaç|o e igualdade entre as pessoas(mesmo patamar de conhecimento sobre ainstituiç|o, direitos de votar e ser votado, deci-s|o dos contratos, etc .) - n|o está sendo cum-prida. Pelo contrário, a definiç|o de que "asociedade tem por fim o benefício dos associa-dos quer pela facilitaç|o de empréstimos, ga-nhos de salários, etc." (FERREIRA, 1983) n|ose enquadra em nenhum momento.

Outra quest|o importante é o da rela-ç|o de trabalho que se estabelece entre traba-lhador da cooperativa, produtor rural e indústria.Do ponto de vista hierárquico, o trabalhador ésubordinado ou empregado da indústria mas, doponto de vista jurídico, os trabalhadores coope-rados s|o autônomos. "Se nós perguntarmos

aos trabalhadores qual a relaç|o que possuem,dir|o que s|o empregados da Cutrale, da Citro-suco, etc. "10 Esta subordinaç|o tem contribuídopara o “xito da forma adotada pelas agroindús-trias e produtores de reduzir os encargos e fugirdas responsabilidades sociais para com os tra-balhadores rurais.

A forma com que as cooperativas dem|o-de-obra se organizaram no setor citrícolapaulista revela que a direç|o de sua implantaç|oe conseqüente fortalecimento foi única: da agro-indústria/produtores de laranja para os “Gatos”.Importa ressaltar que estes movimentos n|o t“mprejudicado somente o trabalhador rural. Afetasobremaneira o produtor de laranja porque a in-dústria possui o controle da colheita e, atualmen-te, está ocorrendo a transfer“ncia desta ativida-de para a responsabilidade do citricultor. O pro-dutor de laranja "independente"11 torna-se atual-mente "dependente", já que a única forma deefetivar a colheita nos seus pomares é atravésdas cooperativas porque a indústria impôs ummodelo de contrataç|o de m|o-de-obra.

A forma de expans|o do modelo afetoua quantidade e a distribuiç|o das cooperativasaté mesmo por município, já que a partir de se-tembro de 1995 ocorreu uma proliferaç|o decooperativas que, em muitos casos, est|o forado controle industrial. Por exemplo, em Bebe-douro, as agroindústrias de suco concentradoestimularam o processo de implantaç|o contro-lando tr“s cooperativas mas, no ver|o de 1996,verificou-se a presença de cerca de dez coope-rativas fora do controle das firmas processado-ras.12 A explicaç|o para esse fenômeno recenteestá no fortalecimento dos “Gatos”, porque numsentido amplo a cooperativa de m|o-de-obra foia institucionalizaç|o desses agenciadores dem|o-de-obra que, incomodados pelo controleagroindustrial, aproveitaram-se da flexibilizaç|oda legislaç|o trabalhista rural e passaram a

10Entrevista realizada com Élio Neves, presidente doSindicato dos Empregados Rurais de Araraquara, em29/01/1996.11A designaç|o "independente" refere-se aos produtoresintegrados Ë agroindústria mas que possuem o controle dasua produç|o, podendo ofertar para a indústria que lhe forconveniente.12A cidade de Mat|o encontra-se na mesma situaç|o(cooperativas versus Citrosuco e Cambuhy), enquanto emAraraquara, as cooperativas implantadas ainda est|oligadas Ë Cutrale.

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constituir suas próprias cooperativas ("meia dú-zia" de agenciadores formam uma cooperativade m|o-de-obra). Ou seja, as indústrias toma-ram a iniciativa de implantar as cooperativas e,no momento subseqüente, os “Gatos” a aprovei-taram, pois a indústria de suco utilizou pessoalde sua confiança e os profissionais de suaadministraç|o e do departamento jurídico paraorientar os gerentes dessas cooperativas. Issocriou uma subordinaç|o direta dos “Gatos” paracom as indústrias que, dessa forma, passarama buscar autonomia na constituiç|o de suascooperativas para atuar em outras culturas alongo prazo.13

O processo recente de proliferaç|o dascooperativas poderá inverter a lógica administra-tiva agroindustrial e afetar a curto prazo os seuspróprios pomares. Mesmo que n|o ocupematualmente a maior parcela da produç|o de ma-téria-prima, a produç|o própria sempre repre-sentou a manutenç|o do poder de barganha daindústria citrícola na negociaç|o do preço dascaixas de laranja com os produtores. Ao mesmotempo, o processo inicialmente nefasto para otrabalhador poderá lhe trazer benefícios, porqueno sistema cooperativista a liberdade é muitogrande e abrange diversas áreas. Num primeiromomento o trabalhador é afetado, num segundo,o produtor é afetado mas, num terceiro momen-to, a indústria sofrerá as conseqü“ncias pelaconcorr“ncia de outras cooperativas fora do seucontrole e pela desarticulaç|o de suas estra-tégias frente ao mercado de m|o-de-obra. Parao movimento sindical torna-se interessante pelapossibilidade de acesso fácil a custos da produ-ç|o e colheita que anteriormente n|o possuía.Com o avanço dos serviços na citricultura, atra-vés do fortalecimento das cooperativas de m|o-de-obra, tanto o produtor como o trabalhadorpassam a conhecer os custos reais de colheitae produç|o de laranja, dada a liberdade dedivulgaç|o das cooperativas. Esse fenômenoabre a possibilidade dos agentes integrantes doCAI citrícola buscarem novas formas de articu-laç|o e organizaç|o do trabalho.

Até a safra atual a quest|o da terceiri-zaç|o no campo via cooperativas de m|o-de-obra abrangia dois elementos claros: a reduç|ode custos de matéria-prima e a reduç|o de cus-

tos de m|o-de-obra. É o princípio da gest|o me-nos custosa e o da transfer“ncia de responsabili-dade que reduziu a margem de liberdade do tra-balhador. Além do aumento do número decooperativas e o conseqüente crescimentoconcorrencial no mercado de m|o-de-obra, queafeta a estratégia industrial, os citricultorespassaram a sofrer perdas consideráveis com atransfer“ncia de atividades do ciclo produtivo dalaranja que anteriormente estavam vinculados Ëagroindústria. A necessidade de aproveitamentodas cooperativas de m|o-de-obra pelos produto-res revelaram que a racionalidade do empresáriobrasileiro no ambiente agrícola é semelhante aodo empresário brasileiro no ambiemte industrial.A terceirizaç|o "tupiniquim" parece estar enrai-zada

13No caso do amendoim já acontece, apesar de ser umacultura rotativa.

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na cultura administrativa brasileira e indica pe-culariedades significativas no complexo agroin-dustrial citrícola brasileiro.

Este é o ponto fundamental. A vis|o docurto prazo e o oportunismo empresarial no setorcitrícola dever|o conduzir a classe produtora etrabalhadora a um caminho irreversível. A re-presentaç|o dos interesses agroindustriais cres-ce Ë medida que se aniquilam quase que to-talmente as representatividades do empregadore do empregado rural. Para esse problema com-plexo, a soluç|o n|o é individual, mas coletiva.As associaçÅes e organizaçÅes de produtores etrabalhadores necessitam buscar e encontraruma consci“ncia coletiva.

O que poderia um dirigente sindical dolado dos trabalhadores rurais negociar com osprodutores? Será que existem pontos que s|ocomuns entre os setores do trabalho e daproduç|o rural? É necessário buscar por ambasas partes os pontos comuns através de umfórum de negociaç|o, mesmo que n|o sejapossível apagar as diverg“ncias. É precisoiniciar um processo de criaç|o de confiabilidadepara se estabelecer uma política de enfrenta-mento destes atores sociais e de representaç|odo segmento agrícola, ainda mais agora que aagricultura só pode ser vista de forma complexae intrincada com os segmentos industriais efinanceiro. No caso específico do avanço dascooperativas de m|o-de-obra na citricultura, asoluç|o seria a articulaç|o de interesses dasassociaçÅes representativas de produtores etrabalhadores.

LITERATURA CITADA ALVES, Francisco José C.; PAULILLO, Luiz F.; SANTOS, E. A flexibilizaç|o dos direitos trabalhistas chega ao

campo: o caso do setor citrícola - o ouro que virou suco. Reforma Agrária, São Paulo, 1996. no prelo. BOLETIM DIEESE. Trabalhadores e inovaçÅes tecnológicas: demandas e perspectivas. S|o Paulo, 1989.

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O AVANÇO DO SETOR SERVIÇOS NOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS: a terceirizaç|o agroindustrial e as cooperativas de m|o-de-obra rural na citricultura

SINOPSE: O presente trabalho analisa a forma de inserç|o do processo de "terciarizaç|o"nos complexos agroindustriais brasileiros. Como na economia mundial do final de século, o avanço dosetor prestador de serviços representa significativa mudança nas formas da organizaç|o da produç|oe do trabalho, o que representa modificaçÅes estruturais importantes na agricultura, na agroindústriaprocessadora e na conformaç|o dos respectivos mercados - nacionais e internacionais. Neste sentido,as estratégias de flexibilizaç|o e diversificaç|o representam o desencadear da orientaç|o deracionalizaç|o empresarial, iniciado em escala mundial no final dos anos 80. O contexto remete Ëanálise estrutural do complexo citrícola sob um ângulo mais amplo, em que as açÅes do Estadoperdem peso Ë medida que as estratégias empresarias determinam uma nova conformaç|o do setorcitrícola do País.

Palavras-chave: complexo agroindustrial, terciarizaç|o, citricultura, estratégias, setor serviços.

THE ADVANCEMENT IN THE SERVICE SECTOR IN THE AGRO-INDUSTRY COMPLEXES:the use of third party contracts in the agro-industry and the rural labor associations

in the citrus culture

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ABSTRACT: This paper analyses the insertion of the "tertiarization" process in the Brazilianagro-industrial complexes. Similarly to the world economy in the end of the century, the advancementin the service sector represents a meaningful change in the organisational forms of work and production.This implies structural changes in agriculture, in the processing agro-industry and in the conformationof their respective national or international markets. In this sense, the strategies of flexibility anddiversification represent the unchaining of the orientation towards entrepreneurial rationalisation thatstarted worldwide in the end of the 80*s. The context calls for the structural analysis of the citruscomplex under a wider angle, in which the State actions lose weight as the entrepreneurial strategiesdetermine a new conformation of the country*s citrus sector.

Key-words: agro-industry complex, "tertiarization", citrus culture, strategies, service sector.

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Recebido em 06/09/96. Liberado para publicaç|o em 14/11/96.