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Robson Bessa Costa O BAIXO CONTÍNUO NO OFFICIO DE DEFUNTOS DE LOBO DE MESQUITA Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Música Área de concentração: Estudo das práticas musicais Orientador: Prof. Dr. André Cavazotti Belo Horizonte Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais 2006

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Robson Bessa Costa

O BAIXO CONTÍNUO NO OFFICIO DE DEFUNTOS DE LOBO DE MESQUITA

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Música

Área de concentração: Estudo das práticas musicais

Orientador: Prof. Dr. André Cavazotti

Belo Horizonte

Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais

2006

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C837e Costa, Robson Bessa O Baixo Contínuo no Officio de Defuntos

de Lobo de Mesquita / Robson Bessa Costa. --2006. 171 fls. ; il. Inclui referências. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Música

Orientador: Prof. Dr. André Cavazotti

1. Minas Gerais – Música – Período colonial, 1500-1822. 2. Mesquita, José Joaquim Emérico Lobo de

I. Título CDD: 783

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Agradecimentos A Deus; À minha mãe, Therezinha, e a meus irmãos, Saimon e Rita de Cássia, pelo carinho e apoio constantes; A Simone Paula, pela doação do computador; Ao amigo Mário Orsini, pelas boas discussões sobre música barroca e pelo incentivo com os 3.800 CD de música antiga; Aos meus amigos Nichola Viggiano, Gustavo Bracher, Ana Roberta Rezende, Rosana Deslandes, membros do MUSICA FIGURATA, que me proporcionaram a oportunidade de aperfeiçoar a prática de baixo contínuo; Ao meu caro amigo Cosme Damião Marinho, pela ajuda na finalização gráfica da dissertação; Ao colega cravista Rodrigo Teodoro, pela ajuda com relação à bibliografia e pelas conversas sobre Música Colonial Mineira; A todos os meus alunos, pela paciência e compreensão; Ao Prof. Domingos Sávio Lins Brandão, pela preciosa ajuda com a bibliografia sobre Música Colonial Mineira: À Silvania do Nascimento, Superintendente dos Museus de Minas Gerais, que me proporcionou a oportunidade única de tocar a música barroca européia e a Música Colonial Mineira no Museu Mineiro; Ao cravista Ilton Wjuniski, pelos importantes ensinamentos sobre a teoria e a prática do baixo contínuo; A Mary-Ângela Biason, musicóloga do Acervo Curt Lange do Museu da Inconfidência de Ouro Preto, pela ajuda na escolha da obra a ser estudada e por enviar prontamente os manuscritos necessários e imprescindíveis a esta dissertação; À bibliotecária da UNI-RIO, Isabela Grau, por fornecer cópias das dissertações; Ao Prof. Dr. Carlos Kater, pela sugestão do assunto estudado; Ao Prof. Dr. André Cavazotti, pelo apoio, pela paciência e pela competência com que me orientou neste trabalho.

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Resumo

Esta Dissertação apresenta um estudo do baixo contínuo no Officio de Defuntos

do compositor José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (1746?-1805). Para uma

tentativa de compreender a maneira ou maneiras de realizar o baixo contínuo nessa

obra, apresentaremos em primeiro lugar um estudo dos estilos presentes na Música

Colonial Mineira que possam ter influenciado Lobo de Mesquita; a seguir estudaremos

os principais tratados de baixo contínuo que circularam no Brasil Colônia e que possam

ter influenciado a prática de contínuo nesse período. Por fim, faremos uma análise do

baixo contínuo no Officio, comparando-a com a realização do contínuo da Missa e

Credo de Jerônimo de Sousa Lobo de 1826 e faremos uma realização para essa obra,

que segue apresentada em anexo.

Abstract

This dissertation presents a study of the figured bass in the Officio de

Defuntos by José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (1746?-1805) – a composer of

Minas Gerais – Brazil. In order to understand the possibilities of realization of the

figured bass in this work, it is presented, in the first place, a description of the styles

present in the colonial music of Minas Gerais and that could have influenced Lobo de

Mesquita. Further, it is featured the study of the most important treatises of figured bass

that were present in Brazil Colony and that may have influenced the figured bass

practice in that period. Finally, it is presented the analisys of the figured bass in the

Officio de Defuntos and a comparison of it with the figured bass realization of the Missa

e Credo by Jerônimo de Sousa Lobo of 1826. A realization of the figured bass of the

Officio de Defuntos, by Lobo de Mesquita, is presented in the appendix.

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Sumário Capítulo I - O Estilo na Música Colonial Mineira.................................. 1

1.1 Origens Portuguesa e Italiana................................................................. 11.2 Compositores de Influência Relevante em Minas Gerais...................... 81.3 O Grande Século Mineiro...................................................................... 101.4 Os Primórdios da Música em Minas Gerais........................................... 121.5 O Período Áureo.................................................................................... 201.6 A Ópera em Minas Gerais...................................................................... 32

Capítulo II - O Baixo Contínuo............................................................... 38

2.1 Origens................................................................................................... 392.2 O Baixo Contínuo em Portugal e no Brasil no século XVIII................ 432.3 O Baixo Contínuo como Fundamento da Composição......................... 512.4 Diminuições.......................................................................................... 522.5 O Baixo não Cifrado............................................................................. 562.6 A Regra de Oitava................................................................................. 572.7 Tratamento da Dissonância................................................................... 602.8 Fuga e Imitação..................................................................................... 612.9 Condução de Vozes............................................................................... 622.10 Número de Vozes................................................................................. 642.11 Instrumentos......................................................................................... 66

Capítulo III - Lobo de Mesquita.............................................................. 73

3.1 Vida....................................................................................................... 73 3.2 Obra....................................................................................................... 753.3 O Estilo em Lobo de Mesquita.............................................................. 773.4 Figuras Retórico-musicais em Lobo de Mesquita................................ 793.5 Outras Características de Estilo de Lobo de Mesquita......................... 823.6 Officio de Defuntos............................................................................... 843.7 As cifras................................................................................................ 873.8 Invitatorio.............................................................................................. 883.9 Venite adoremos.................................................................................... 883.10 1ª Lição.................................................................................................. 893.11 2ª Lição.................................................................................................. 903.12 3ª Lição................................................................................................. 91

4. Conclusão........................................................................................... 94 Referências Bibliográficas...................................................................... 96 Anexos..................................................................................................... 100Anexo I: Cópia da 8ª Licção para Matinas de Quarta-feira Santa (Feria Quinta), de Lobo de Mesquita.................................................................................................. 101Anexo II: Cópia do Manuscrito da Missa e Credo a quatro vozes, 1814, com Acompanhamento d’Orgão, Pelo Sr. Jerônimo de Sz Queiroz em 1826............................................................................................................................ 104Anexo III: Officio de Defuntos a Quatro Vozes e Basso Por Joze Joaquim Emerico, cópia de João Joze Araújo.......................................................................... 120

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Anexo IV: Officio de Defuntos a Quatro Vozes e Organo, autor Joze Joaquim Emerico, cópia de Joze Antonio Ribeiro................................................................... 125Anexo V: Officio de Defuntos a Quatro Vozes e Basso Por Joze Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, realização do baixo contínuo....................................................... 132

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Introdução

“A arte e a técnica de realizar uma parte de contínuo, que em tempos recentes foi considerada quase uma exclusividade dos editores (então chamados ‘transcritores’ e ‘elaboradores’) de música antiga, são hoje em dia cultivadas por intrépidos performers ávidos por reviver uma autêntica prática de uma realização improvisada: uma prática adaptada não somente à variedade musical e técnica das fontes disponíveis, mas também, tomando emprestada a expressão de Gasparini, ao ‘momento, lugar e pessoas’” (TAGLIAVINI, 1981, p.60 in GASPARINI, 2005).

Essa afirmação do organista Luigi Tagliavini retrata o panorama do baixo

contínuo no continente europeu. Em relação ao Brasil não podemos dizer o mesmo,

principalmente no tocante a realização do baixo contínuo na Música Colonial Mineira.

O resgate da execução da música antiga, com instrumentos e estilo apropriados a cada

período histórico e seu devido repertório, dependeu no Brasil assim como na Europa, de

iniciativas pessoais. No continente europeu, esse fenômeno teve início ainda no século

XVIII, com as academias de música antiga inglesas, e alguns aficcionados como o

Barão van Swieten (1733-1803), admirador de J.S.Bach, ou o grande concerto de

reapresentação ao mundo da Paixão segundo São Mateus do mesmo J.S.Bach, realizado

por F.Mendelssohn em 1829. No Brasil tivemos pioneiros como o violinista búlgaro

Borislav Tschorbov, que tocava viola d’amore e sua mulher ucraniana Violetta Kundert,

que era pianista e cravista, Helena Jank, Helder Parente, dentre vários outros.

Entretanto, apesar de haver mais de cinqüenta anos da existência da execução da

música antiga com instrumentos históricos no Brasil, o processo de adequação da

interpretação à uma prática historicamente fundamentada não é ainda uma realidade em

Minas Gerais. A edição da Música Colonial Mineira avançou bastante, principalmente

com os onze volumes lançados pela Fundação Cultural da Arquidiocese de Mariana, a

partir de 2001.

Em 1998, o musicólogo Carlos Kater descobriu partes de baixo cifrado no

acervo de Música Colonial Mineira na cidade de Santa Luzia em Minas Gerais, e nos

sugeriu estudar a interpretação do contínuo na música mineira, o que serviu também

para tentar sanar as dúvidas ao realizar o contínuo nos concertos com as obras mineiras.

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Para esse fim nos propusemos fazer um levantamento das principais

características que o baixo contínuo pode ter apresentado no século XVIII e

possivelmente estiveram presentes na obra de Lobo de Mesquita.

No Capítulo I, refletiremos sobre os principais estilos que estiveram presentes

em Minas Gerais, que como veremos variaram desde reminiscências renascentistas até

as primeiras manifestações do Romantismo. Veremos também neste capítulo a forte

influência que a música italiana exerceu na música mineira através dos modelos

portugueses e através da ópera que teve uma presença marcante na Capitania das Minas

Gerais. No Capítulo II, analisaremos os principais tratados que circularam ou que foram

escritos no Brasil Colônia que tenham alguma relação com a prática de baixo contínuo

contemporânea à obra de Lobo de Mesquita, ou que tenham sido escritos para essa

finalidade. No Capítulo III, analisaremos o Officio de Defuntos do ponto de vista de

uma realização de baixo contínuo e apresentaremos em anexo uma sugestão de

realização dessa obra.

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Capítulo I - O Estilo na Música Colonial Mineira

1.1 Origens Portuguesa e Italiana

No final do século XVII, Portugal vivia uma situação bastante desfavorável.

Suas colônias não produziam ainda uma quantidade expressiva de ouro e, além disso,

um dos principais produtos extraídos do Brasil colônia, o açúcar, começava a sofrer

uma acirrada concorrência das Antilhas holandesas. A situação no restante da Europa

também não era favorável, pois as colônias espanholas já não tinham o mesmo

rendimento e o continente europeu passava por uma escassez do precioso metal

(PINHEIRO, 2005, p.21).

Provavelmente, essa situação econômica, aliada a um certo conservadorismo,

tenha influenciado a produção artística portuguesa em fins do século XVII, "... a

despeito de seu considerável êxito nos caminhos marítimos, [Portugal] jamais alcançou

a riqueza amealhada por seus vizinhos no período barroco... Os reduzidos benefícios

que obteve de suas colônias impediram-no de acumular recursos suficientes para o uso

do barroco como afirmação de glória e poder” (VASCONCELLOS, 2004, p.94).

Privado dos recursos necessários, Portugal não pôde construir os grandes monumentos

que caracterizaram o barroco na França, Itália, Espanha e Alemanha, aceitando este

novo estilo com “certa dificuldade, bastante timidez, e menor imaginação”

(VASCONCELLOS, 2004, p.95).

Aliado a esse fator financeiro, a Igreja Católica não dispunha de recursos,

tampouco de motivação, para afirmar-se em Portugal. Segundo VASCONCELLOS

(2004, p.95), a Igreja utilizava o barroco como uma forma de propagação dos princípios

da Contra-Reforma, sendo o próprio barroco um produto desta última, além de um

instrumento do absolutismo político. A população pobre tinha pouca inclinação a

discussões metafísicas e aceitava pacificamente os preceitos da Igreja.

Então, os compositores portugueses, na virada do século XVII para o XVIII,

estavam compondo com alguma lembrança do Renascimento, como comprovam os três

manuscritos para órgão portugueses de fins do XVII, descritos por M. S. Kastner

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(APEL, 1972, p.520). Nesses manuscritos, encontram-se gêneros musicais como

Versos, Batalhas, Susanas, Ave Maris Stellas, Tentos, Phantasias ou ainda obras

similares ao Ricercare, e foram escritas no antigo sistema de quatro pentagramas por

partitura (APEL, 1972, p.775). Essas formas musicais foram comuns no século XVI e

início do XVII, como podemos ver na volumosa coleção de obras para órgão,

publicadas em 1620, por Manuel Rodrigues Coelho (1555-1635), onde já se

encontravam Tentos, Batalhas, Susanas, Versos etc. (APEL, 1972, p.520).

Apesar da considerável transformação sofrida por esse repertório organístico,

conduzida por várias gerações de organistas, e também por Coelho, para se adaptar aos

pressupostos do estilo barroco (APEL, 1972, p.520), notamos uma reticência em adotar

novas formas.

A música vocal, assim como a organística, também mantinha “os gêneros

herdados do século XVI, como a Missa, o Moteto, o vilancico, onde a textura utilizada é

a polifonia imitativa, em geral de quatro a seis vozes” (FAGERLANDE, 2002, p.17).

Essa opinião é corroborada por H. Crowl que afirma:

“A prática polifônica estendeu-se em Portugal, e consequentemente no Brasil, por todo o século XVII. Ao contrário do que acontecia na Itália e na França, onde a polifonia era considerada uma técnica rígida e antidramática tendo sido, portanto, relegada a um plano bastante secundário, a península ibérica permaneceria fiel às normas estéticas do século XVI. Esta prática demonstra o isolamento artístico e intelectual durante os anos seiscentos.” (CROWL, 1994, p.22)

Entretanto, apesar de vários autores considerarem conservadora a música

portuguesa nesse período, Ivan Moody diz que os portugueses e espanhóis atingiram um

nível tão alto na escrita polifônica que “Uma tradição de tanta riqueza não se despede de

seus aderentes tão facilmente” (MOODY, 1974, p.88).

A situação em Portugal muda radicalmente a partir de 1697, pois “o barroco que

só adquire maior significação quando o ouro, finalmente encontrado no Brasil, desperta

adormecidas ambições, cria problemas, desafia a autoridade real e provê, enfim, as

bases necessárias ao florescimento do estilo.” (VASCONCELLOS, 2004, p.95).

E o ouro chega em proporção jamais vista na história da humanidade. “No

período de 1700 a 1800, com métodos precários de extração, Minas produziu, pela

contabilidade oficial, cerca de 650 toneladas de ouro. O contrabando, por sua vez, deve

ter chegado a 300 toneladas” (PINHEIRO, 2005, p.7). A produção mineira foi tão

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surpreendente, que, no século XVIII “Minas forneceu 1/3 do ouro extraído no mundo.”

(PINHEIRO, 2005, p.7), provocando uma queda no valor desse metal no câmbio

internacional.

Além do ouro em abundância, também foram encontrados diamantes,

esmeraldas e inúmeras outras pedras preciosas. Segundo a historiadora portuguesa

Teresa Vital (PINHEIRO, 2005, p.27), o Brasil foi redescoberto no final do século

XVII, por causa da repentina abundância vinda das jazidas. Abundância essa “que altera

completamente as estruturas sociais e econômicas, não só do Brasil como de Portugal”

(VASCONCELLOS, 2004, p.99), provocando uma grande migração, quando, entre

1700 e 1766, por volta de quinhentos mil portugueses vieram para o Brasil, e entre 1700

e 1800 a população de Minas passou de trezentos mil para três milhões de habitantes

(PINHEIRO, 2005, p.28). “Ao mesmo tempo, milhares de negros africanos são

transportados para os trabalhos das minas” (VASCONCELLOS, 2004, p.100).

A presença dos negros em Minas Gerais no século XVIII iria “desempenhar um

papel importantíssimo na história da música colonial no Brasil” (MARIZ, 2000, p.34),

pois “o escravo e seus descendentes cada vez mais claros se tornaram em breve os

personagens mais significativos no terreno da música, uma vez que ainda naquele tempo

o músico era nivelado aos criados ou empregados” (MARIZ, 2000, p.34).

Toda essa inesperada riqueza, e as conseqüências inerentes a tal, também se

fizeram sentir nas artes em geral, fazendo com que a corte de Dom João V se entregasse

a um quase delírio de grandeza e luxo, dissipando as riquezas das minas “em gastos

extravagantes e, enfim, uma política de consumir sem produzir” (VASCONCELLOS,

2004, p.101).

Com os recursos necessários, D. João V, aclamado rei em 1706 (VAINFAS,

2000, p.166), passa a promover uma “invasão dos músicos e da música italiana”

(BRITO, 1994, p. 97), transformando radicalmente o panorama musical português, que,

agora e durante todo o século XVIII, sofrerá uma profunda e direta influência da música

italiana (CROWL,1984, p.92; FAGERLANDE, 2000, p.18; REZENDE,1989, p.247;

DIAS, 2000, p.145). O monarca português inicia esse processo, que ficou conhecido

como “período italiano” (CROWL, 1984, p.92), a partir da reforma da Capela real, por

volta de 1717, quando, para “seguir a liturgia da Capela papal, mandou copiar todos os

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livros de coro utilizados no Vaticano” (BRITO, 1994, p.97). Um ano antes, o contato de

Portugal com a música italiana, notadamente a romana, se dá através da embaixada

portuguesa junto ao Papa. D. João V, através de sua embaixada, ofereceu um jardim à

Academia Dell’Arcádia, onde trabalharam os mais importantes compositores italianos

da época, como Alessandro e Domenico Scarlatti, Arcangelo Corelli, Bernardo

Pasquini, Antonio Caldara, e ainda Händel quando jovem (BRITO, 1994, p.98;

FAGERLANDE, 2000, p.18-19). A embaixada portuguesa também estava associada a

vários acontecimentos musicais na cidade eterna, como serenatas cantadas, que eram

compostas por compositores renomados, como Nicola Porpora, Alessandro e Domenico

Scarlatti e Francesco Gasparini (BRITO, 1994, p.98; FAGERLANDE, 2000, p.18-19),

sendo Gasparini, que foi discípulo de Pasquini (ARNOLD, 1965, p.250), de grande

importância, pois escreveu um método de baixo contínuo que exerceu grande influência

tanto em Portugal como no Brasil (FAGERLANDE, 2000, p.21).

Essa supremacia da música italiana se consolida com a vinda de três cantores da

Capela papal em 1717, e, em 1719, é ninguém menos que Domenico Scarlatti, então

mestre da Capela Papal, que deixa seu posto em Roma para ser mestre de capela em

Lisboa (DIAS, 2000, p.145; BRITO, 1994, p.98; CROWL, 1984, p.93). Scarlatti,

napolitano de nascimento e um dos mais ilustres representantes da escola napolitana, foi

professor de Maria Bárbara, filha de D. João V, e esteve em Lisboa até 1729, quando

parte para Madrid, seguindo sua aluna, que acabara de se casar com o príncipe das

Astúrias, mais tarde coroado Rei Fernando VI da Espanha (CROWL, 1984, p.93). No

período em que viveu em Lisboa, Scarlatti escreveu música para a Capela Real e

serenatas para aniversários e festas da família real, sendo que essas são as únicas

atividades bem documentadas do compositor napolitano (BRITO, 1994, p.99).

Domenico Scarlatti, de acordo com CROWL (1984, p.94), parece não ter

deixado discípulos em Portugal, mas deixou forte influência na obra de Carlos Seixas

(1704-1742) (DIAS, 2000, p.146) e João Pedro de Almeida Motta (1698-1782). O que

se sabe sobre Motta é que foi o único compositor português a escrever uma Paixão, “La

passione del Gesú” com texto original italiano (CROWL, 1984, p.93). Carlos Seixas,

por sua vez, foi um dos maiores tecladistas portugueses, sendo apelidado de “Scarlatti

português”, e escreveu mais de setecentas toccatas para cravo, onde mostra a influência

recebida de Scarlatti (CROWL, 1984, p.93).

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D. João V também cria condições para os músicos portugueses se

desenvolverem, ao fundar o Seminário Patriarcal, em Lisboa em 1713, instituição

adjacente à Capela Real que veio a ser a principal escola de música em Portugal, no

século XVIII, e mais uma escola no Convento de S. Catarina de Ribamar (BRITO,

1994, p.98). Os alunos mais talentosos eram enviados para a Itália, principalmente para

Nápoles, como bolseiros do Rei. O aluno mais ilustre enviado foi João de Sousa

Carvalho, que obteve grande sucesso nesse país, tendo inclusive uma ópera levada em

cena em Roma. João de Sousa Carvalho foi aluno de Paisiello em Nápoles, e foi o mais

importante compositor português na primeira metade do século XVIII, (BRITO, 1994,

p.104), sendo um importante pedagogo no Seminário Patriarcal.

D. João V promove assim uma intensa atividade musical, principalmente o

desenvolvimento da ópera em Portugal. Também a primeira nobreza portuguesa estava

diretamente ligada à produção de serenatas e óperas, na tentativa de imitar a família real

(BRITO, 1994, p.100). D. João estimulou o desenvolvimento da ópera, com a já citada

contratação de músicos italianos e o envio de bolseiros para estudar na Itália.

(VASCONCELLOS, 2004, p.95). A primeira ópera portuguesa surge em 1733,

composta por Francisco Antônio de Almeida (CROWL, 1984, p.94), La Pazienza di

Socrate, com texto em italiano, e a primeira com texto em português aparece nesse

mesmo ano, Vida do grande D. Quixote de la Mancha, de Antônio José da Silva, “o

Judeu”, nascido no Brasil (CROWL, 1984, p.94; BRITO, 1994 p.101). D. Quixote, “que

era uma ópera jocosa como o singspiel alemão” (CROWL, 1984, p.94), “tinha diálogos

falados, árias, minuetos, trios, coros, com música em estilo italiano, composta por um

antigo bolseiro real em Roma, o padre Antônio Teixeira” (BRITO, 1994, p.101).

Entretanto, nos últimos oito anos de seu reinado (1742-1750), D. João, por causa

de sua doença e do fanatismo religioso, promove um retrocesso nas atividades musicais,

e, de acordo com o “compositor [sic] Schiassi, o Rei queria tornar as pessoas santas à

força” (BRITO, 1994, p.101). Esse monarca já havia interferido de maneira semelhante

na música portuguesa, proibindo a execução de vilancicos na Capela Real, em 1716, e

nas igrejas paroquiais, em 1723, interrompendo uma “antiga e consolidada tradição,

gozando de extrema popularidade na península ibérica e nas colônias americanas”

(DIAS, 2000, p.151).

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Essa restrição aos vilancicos teria sérias conseqüências para a música mineira do

início do século XVIII, pois, de acordo com DIAS (2000, pg.151),

“a proibição derivou, em linhas gerais, não só o cessar de um gênero musical que tanto agradava – por sua facilidade de comunicação – aos ibéricos, mas também o desaparecimento, sobretudo nas colônias portuguesas, de todo um repertório anterior às datas das proibições, que cairia imediatamente em desuso e, consequentemente, tombaria na obscuridade”.

A estética da ópera italiana, assim como em várias nações européias, também

invadiu a música sacra portuguesa. Segundo DIAS (2000, p.146), a influência do drama

per musica, fomentado a partir das experiências da Camerata dos Bardi, já havia se

infiltrado na música litúrgica em fins do século XVII. A influência da ópera na música

sacra foi intensificada, na primeira metade do século XVIII, pois inúmeros

compositores europeus, principalmente os napolitanos, romanos e venezianos, se

dedicavam simultaneamente à ópera e à música sacra (PIRES, 1994, p.30). E D. João V,

que “apreciava o espetáculo da ópera e o estilo italiano que dele irradiava para todos os

gêneros de música” (BRANCO, in, DIAS, 2000, p.145), intensifica a influência da

ópera italiana, que é confirmada pelos inúmeros teatros que começam a funcionar

durante seu reinado.

Havia um verdadeiro embate entre os defensores da modernização da música da

Igreja, assumindo os ideais estéticos do melodrama italiano, e os detratores desse

mesmo estilo, que achavam que a música sacra deveria ter um padrão estético

apropriado ao culto católico. Segundo DIAS (2000, p.146,147), os aspectos estéticos

pertencentes ao espetáculo teatral estavam tão entranhados na música sacra, que em

meados do século XVIII não era simples distinguir uma obra religiosa de uma profana,

e ainda:

“As obras litúrgicas tomariam um tal grau de licenciosidade, vestindo-se de ornamentações, alegorias e incorporando elevada carga dramática, que faziam com que mesmo o ouvinte mais carola se imaginasse diante de um palco, assistindo a uma daquelas intrigas passionais – tão comuns aos libretos clássicos –, ou ainda surpreender-se gargalhando com as deliciosas peripécias da ópera buffa”. (DIAS, 2000, p.147).1

1 Esse fenômeno não se deu exclusivamente nos países católicos. Podemos ver elementos profanos também na Igreja Luterana, nas obras de compositores alemães como J. S. Bach (PIRES, 1994, p.30), que utiliza não só elementos da música operística e instrumental italiana nas suas paixões e oratórios, como também formas específicas da ópera e dança francesas. Talvez o melhor, e mais explícito exemplo da utilização de formas da música francesa por Bach, seja a ária para tenor, da Paixão Segundo S. João, “ach, mein Sinn”, escrita em forma de ouverture.

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Essa introdução de elementos profanos do melodrama na música religiosa não se

deu sem resistência por parte dos religiosos. A difusão da ópera italiana fez “parte de

um conflito surdo entre cultura clerical e cultura laica de que a primeira irá sair

temporariamente vencedora” (BRITO, 1994, p.98). As autoridades eclesiásticas

católicas não ficaram satisfeitas com essa invasão, e, em 1749, o Papa Bento XIV edita

a encíclica Annus Qui, onde preconiza a compreensibilidade do texto e a ausência de

virtuosismo vocal. Para a consecução de seus objetivos, Bento XIV encomenda em

1751 música para as lições de quarta-feira e quinta-feira santas a David Perez, Niccolò

Jommelli e a Francesco Durante, compositores esses que terão uma profunda influência

na música portuguesa setecentista, (PIRES, 1994, p.31), como veremos a seguir, e

também na mineira, pois inúmeras obras de Perez e Jommelli ainda existem em

arquivos mineiros (REZENDE, 1989, p.249-251).

Ao assumir o trono, D. José I (1750-1777) intensifica a influência da ópera e do

estilo italiano também na música sacra. No seu reinado, “a ópera de corte continuou

sendo cantada unicamente por cantores da Capela Real” (DIAS, 2000, p.147). D. José

continua a enviar bolseiros para estudar em Nápoles e em Roma, além de continuar com

a importação de músicos e artistas italianos (PIRES, 1994, p.35). de tal forma que:

“... da Itália vinham não só os cantores, os instrumentistas e os bailarinos, como também as partituras, os libretos, livros de notícias teatrais italianas, guarda-roupas e adereços, instrumentos e cordas para os mesmos, papel de música, e até mecha para as velas que iluminavam os teatros” (BRITO, 1994, p.103).

Essa importação foi de tamanho vulto, que ainda existem mais de setecentos manuscritos de óperas e serenatas italianas na Biblioteca da Ajuda em Lisboa, que possui o maior acervo de partituras italianas existente em todo o mundo (BRITO, 1994, p.103).

Houve, então, uma intensa atividade operística em Lisboa na segunda metade do

século XVIII, onde se destacavam obras de vários autores napolitanos. Dottori relaciona

um número impressionante de óperas em italiano apresentadas nos Theatros Reais de

Queluz, da Ajuda, de Salvaterra e dos Paços da Ribeira, do Theatro da Rua dos Condes,

e do Theatro do Bairro Alto. No período de 1753 a 1791, foram apresentadas quatorze

óperas de João de Sousa Carvalho (1745-1798), onze de Pietro A. Guglielmi (1728-

1804), vinte e três de Niccolò Jomelli (1714-1774), seis de Jeronymo F. de Lima (1741-

1822), oito de Antônio Leal Moreira (1758-1819), dez de Giovanni Paisielo (1741-

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1816), nada menos que trinta óperas de Davide Perez (1711-1778)2, treze de Niccolò

Piccini (1728-1800), treze de Luciano dos Santos (1734-1808) e treze de João C. Silva

(DOTTORI, 1992, p.45). Os napolitanos David Perez e Niccolò Jomelli foram

convidados por D. José I para residirem em Lisboa (PIRES, 1994, p.31: BRITO, 1994,

p.103; DIAS, 2000, p.146; CROWL, 1984, p.95).

1.2 Compositores de Influência Relevante em Minas Gerais

David Perez nasceu em Nápoles em 1711, sendo que seus pais eram de

descendência espanhola. Em 1752, a convite de D. José I, assumiu o cargo de maestro

di capella e mestre de música do principado real, que ocupou até 1778, quando já

gozava de fama internacional. Em Lisboa desfrutava de grande prestígio junto à corte

portuguesa, tendo um alto salário e foi, ainda, condecorado como Cavaleiro da Ordem

de Cristo (RIBEIRO, 2002, p.13). As mais de trinta e cinco óperas que compôs em

Portugal foram montadas de maneira suntuosa, e sua Alessandro nell’Indie foi a ópera

apresentada na inauguração do imponente teatro régio em 1755 (RIBEIRO, 2002, p.13;

CROWL, 1984, p.94-95). De acordo com RIBEIRO (2002, p.14), Perez, em suas

composições cênicas, utiliza o baixo contínuo e um uso “extravagante da retórica”, além

de passagens de bravura, mas com sua chegada a Lisboa seu estilo composicional passa

a se aproximar do estilo galante.

David Perez foi provavelmente um dos compositores atuantes em Portugal mais

importantes no Brasil e na Minas colonial, pois dezenas de suas obras ainda estão

preservadas em arquivos mineiros e paulistas (CASTAGNA, 1995, p.8), além de ter tido

uma obra sua apresentada na Casa da Ópera em Vila Rica (REZENDE, 1989, p.249).

A partir de 1767, Niccolò Jomelli substituiu Perez como compositor favorito na

corte portuguesa, principalmente no tocante a óperas sérias (BRITO, 1994, p.103).

Além disso, Jomelli foi um importante representante da reforma operística na segunda

metade do século XVIII. Esse compositor napolitano foi contratado pela corte

portuguesa, em 1769, para enviar a Lisboa duas óperas novas todos os anos, uma séria e

uma buffa (BRITO, 1994, p.103), e, apesar de suas relações com a corte portuguesa

2 O nome desse compositor aparece escrito de diversas formas nos documentos históricos e na bibliografia consultada: Davide Perez, David Perez e David Peres.

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terem durado apenas cinco anos, foram encenadas mais de vinte óperas desse

compositor nos teatros reais portugueses (BRITO, 1994, p.103).

Naturalmente, uma presença tão intensa deixaria suas marcas, mas, segundo

BRITO (1994, p.104), a influência de Jomelli nos compositores portugueses ainda não

foi devidamente estudada. Os compositores que ainda têm manuscritos em Minas Gerais

e que podem ter sido influenciados pela música de Jomelli, no tocante à ópera séria,

foram: João de Sousa Carvalho (1745-1798), que é considerado o maior compositor

português da segunda metade do século XVIII e Antônio Leal Moreira (1758-1819)

(REZENDE, 1989, p.249-252).

Antônio Leal Moreira, discípulo de J. de Sousa Carvalho, foi mestre da Capela

Patriarcal e da Real, em Lisboa, além de membro da Irmandade de S. Cecília dos

Músicos a partir de 1777 e o primeiro diretor do Teatro S. Carlos, desde sua

inauguração em 1793 até 1800, quando foi substituído por Marcos Portugal, recém

chegado da Itália, (CROWL, 1984, p.94-95; BRITO, 1994, p.107; REZENDE, 1989,

p.249). Escreveu duas óperas em português com libretos do poeta brasileiro Domingos

Caldas, que foi um grande incentivador das modinhas em Minas juntamente com o

inconfidente Silva Alvarenga, (BRITO, 1994, p.107; REZENDE, 1989, p.248). Várias

de suas obras são encontradas nos arquivos mineiros de Ouro Preto, Mariana, Serro,

Barão de Cocais e Barra Longa (REZENDE, 1989, p.248). No Teatro S. Carlos,

apresentou-se em concerto em 1795 a mulata brasileira Joaquina Maria da Conceição

Lapinha, (BRITO, 1994, p.107), o que comprova a intimidade dos mulatos brasileiros

com os gêneros europeus de música.

Outro compositor de considerável importância para Minas Gerais foi Pedro

Antônio Avondano. Esse compositor, nascdido em Lisboa, filho de um violinista

napolitano que atuava na corte portuguesa, foi também violinista e trabalhou na Capela

Real. Escreveu música sacra, obras para teclado, música orquestral e diversas óperas.

Compôs uma ópera encomendada por D. José I, intitulada Il mondo della luna, com

texto de Goldoni. A estréia da ópera foi em 1765, e teve tanto sucesso que Avondano

recebeu uma condecoração por parte do rei (CROWL, 1994, p.30; REZENDE, 1989,

p.248). Segundo Curt Lange, essa ópera O Mundo da Lua [sic] foi apresentada na Casa

da Ópera em Vila Rica em 1794. O Mundo da Lua também é citada no inventário do

compositor mineiro Florêncio José Coutinho (1750-1819), um dos mais atuantes

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músicos de Vila Rica no final do século XVIII, e ainda existem partes dessa ópera no

Museu da Música de Mariana, (CROWL, 1994, p.30; REZENDE, 1989, p.248 e 252;

PIRES, 1994, p.37). Ainda de acordo com Curt Lange, Coutinho esteve diretamente

envolvido na representação de O Mundo da Lua em Vila Rica (CROWL, 1994, p.30).

No inventário de Coutinho também aparecem os nomes dos compositores napolitanos

D. Perez, Guglielmi e Piccini. Os dois últimos passaram a ser os compositores favoritos

em Portugal, após a morte de D. José I, principalmente na ópera buffa, que seria o

gênero dominante no fim do século XVIII (DIAS, 2000, p.147; BRITO, 1994, p.104).

No final do século XVIII desponta o nome de Marcos Portugal (Lisboa 1762,

Rio 1830), que foi discípulo de J. de Sousa Carvalho e o primeiro compositor português

a ser conhecido internacionalmente (CROWL, 1994, p.32). Em 1792 foi enviado a

Nápoles como bolseiro do rei e tornou-se famoso na Itália por causa de suas vinte e uma

óperas, encenadas naquela cidade. A produção de Marcos Portugal foi bastante extensa,

incluindo além de quarenta óperas, quatorze farsas italianas, quinze farsas portuguesas,

nove cantatas, várias missas, Te Deums, várias aberturas e sinfonias, além de modinhas

brasileiras (CROWL, 1984, p.93-94). Encontram-se várias obras de Marcos Portugal em

arquivos mineiros (REZENDE, 1989, p.250), e, de acordo com o Visconde de Taunay,

três de suas óperas foram encenadas no Rio de Janeiro entre 1811 e 1817 (CROWL,

1994, p.30).

1.3 O Grande Século Mineiro

Minas Gerais nasce de fato com a descoberta do ouro em 1697. Só a partir daí,

em 1711, são criadas as primeiras vilas – Vila Rica (Ouro Preto), Sabará e Mariana –

com a função de garantir o controle da extração do metal precioso pelo estado

português. A coroa portuguesa faz a primeira cobrança do quinto já em 1700

(PINHEIRO, 2005, p.22).

Podemos considerar o surgimento das primeiras vilas, em 1711, como o marco

inicial de atividades culturais, pois, “tão logo os homens se fixaram, a arquitetura

religiosa se definiu” (BARBOSA, 1979, p.27), e, juntamente com isso, atividades

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musicais, porque a Igreja, “empenhada na evangelização, promovia os ofícios religiosos

do culto, cuja solenidade já exigia a participação da música” (REZENDE, 1989, p.171).

Esse período, que abrange todo o século XVIII, que foi palco de grandes

transformações políticas, sociais e estéticas, e três décadas do século XIX, quando o

Brasil passou por profundas mudanças com a chegada da família real e o

estabelecimento da corte portuguesa no Rio de Janeiro em 1808, assistiu ao fim do

período barroco, início do rococó e ainda ao alvorecer do romantismo. E Minas Gerais,

“embora distante e aparentemente isolada de todo este universo, não escaparia de tal

contexto” (DIAS, 2000, p.149). De fato, pelo grande número de obras de autores

europeus do século XVIII e dos séculos precedentes encontrados nos arquivos mineiros,

como as “obras de câmara com razoável uso – devido o papel estar desgastado pelo

manuseio” (DIAS, 2000, p.159), podemos afirmar que os compositores mineiros

possuíam uma grande necessidade de estarem em sintonia com os acontecimentos

musicais ocorridos na Europa. Cremos não ser apenas uma necessidade de atualização,

mas também de formação, utilizando obras de grandes mestres do passado como forma

de aprendizagem ao compor e também utilizando-as no dia-a-dia como repertório.

Através da documentação que comprova a aquisição de partituras européias por parte de

compositores mineiros, nomes surpreendentes surgem desta lista, insinuando que os

mestres mineiros eram bastante eruditos.

Um dos principais documentos comprobatórios desse fenômeno é uma carta do

Mestre de Capela Caetano de Santa Rosa, em 1741, dirigida ao Bispo do Rio de Janeiro

com jurisdição em Minas, D. João da Cruz, na qual “menciona textualmente a remessa

das seguintes obras: Missa Brevis de G. P. Palestrina; Benedicam Dominum de Roland

de Lassus; Sonatas para cravo de Alessandro Scarlatti; Quinteto para Violas e Cravo de

Jean Baptiste Lully – além de outras composições de Rameau, Frescobaldi, Monteverdi,

Pergolese, cujos títulos constam da fatura” (REZENDE, 1989, p.220).

Dr. Geraldo Dutra nos esclarece no seu “Origens da Música Barroca” (in

REZENDE, 1989, p.554) que, além desse, outros documentos são testemunhas da

preocupação dos músicos mineiros com sua formação, como a correspondência

encontrada nos mosteiros dos Carmelitas Descalços, São Bernardo e Santo Agostinho

em Portugal, onde vemos que “os bispos marianenses costumavam encomendar

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repertórios de músicas eruditas, sacras e profanas, cujas partituras eram oferecidas aos

regentes de orquestra das igrejas de Minas, preferencialmente Mariana e Ouro Preto”.

Também D. Frei Manuel da Cruz (empossado como Bispo de Mariana em

1748), quando da sua peregrinação por Vila Rica em 1745, ofereceu ao Padre José de

Andrade Morais várias partituras para que as entregasse aos regentes das orquestras do

Pilar e de Antônio Dias.

Outra carta, datada de 6 de abril, enviada ao Frei Domingos da Encarnação

Pontevel pelo dominicano Frei Antônio de Castro Moreira, regente da Igreja da Graça,

relaciona o envio de obras dos compositores William Byrd, G. F. Händel, F. J. Haydn,

W. A. Mozart e Henry Purcell (REZENDE, 1989, p.554).

Também Curt Lange nos mostra o envolvimento dos compositores mineiros com

a música européia, quando diz que Francisco Manuel da Cruz, que era mulato, copiou e

tocou muitas vezes um Quarteto de Haydn, que estava gasto pelo uso, além de

mencionar Trios e Quintetos de Boccherini, Quartetos de Pleyel, Duos para violino e

baixo, que de tanto serem copiados, já eram considerados anônimos (REZENDE, 1989,

p555).

Essa avidez por partituras por parte dos mineiros também pode ser explicada

pelo tipo de gerenciamento que a coroa portuguesa adotou para as Minas Gerais. A

coroa proibia a entrada de estrangeiros em Minas (DIAS, 2000, p.56), o que impedia a

entrada de mestres de outros países europeus, somente os vindos de Portugal. Assim, a

única maneira dos músicos mineiros terem contato com outro estilo de música que não a

portuguesa, ou italiana, seria através das obras importadas.

1.4 Os Primórdios da Música em Minas Gerais

Como mencionamos acima, as atividades musicais em Minas começaram “tão

logo foram construídas as primeiras igrejas e criadas as freguesias”, (LANGE, 1983,

p.13), e, apesar de serem ainda “poucas as provas da produção musical mineira anterior

a 1750, podemos afirmar que seja certo que ela existiu e que foi muito intensa”

(BARBOSA, 1978, p.50).

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Os primeiros músicos teriam sido “os próprios padres formados seriamente em

Portugal no cantochão, e demais músicas da Igreja” (LANGE, 1983, p.13), sendo

seguidos dos músicos que teriam vindo da “metrópole, de outras regiões litorâneas da

colônia ou de outras partes do império português” (BRANDÃO, 1998, p.58) e que

trouxeram para Minas as experiências consolidadas em Portugal (DIAS, 2000, p.151).

“O rápido desenvolvimento das corporações de professores da arte da música apoderou-

se da vida musical a tal ponto que os padres-músicos viram-se deixados de lado,”

(LANGE, 1983, p.173), e mais tarde esses professores teriam formado os nascidos em

Minas (BRANDÃO, 1998, p.58), sendo que em meados do século XVIII todos os

professores eram mulatos (LANGE, 1983, p.22).

Em 1710 a música já fazia parte dos cultos, e “Existem outras evidências da

presença de músicos nos primeiros anos do século XVIII, como, por exemplo, o fato de

haver nos templos a tribuna dos músicos” (BARBOSA, 1978, p.50). Por exemplo, em

Sabará, até hoje ainda podemos ver o coro da Capela de Nossa Senhora do Ó,

construída em 1711.

Em 1715, o regente Bernardo Antônio recebeu a considerável soma de 200

oitavas de ouro3 pela música anual, como mostra o registro no Livro de Despesa da

Irmandade de Santo Antônio de Vila Rica. Bernardo seria responsável pela contratação

dos músicos e pela escolha da música a ser executada durante o ano, que poderia ser ou

não composta por ele (PIRES, 1994, p.13).

Em 1717, foi contratado o regente Antônio do Carmo, como encarregado do

grupo musical, para a recepção ao conde de Assumar, D. Pedro de Almeida e Portugal,

quando de sua visita à Vila de S. J. d’El Rei. Em 1728, Antônio do Carmo também foi

contratado para as festas de S. João daquele ano, em que devia se apresentar “com mui

boa música e com dois coros” (BARBOSA, 1978, p.50; PIRES, 1994, p.13; LANGE,

1946, p.123-124). Antônio do Carmo era português, emigrado da Ilha Terceira, Açores

(BRANDÃO, 1998, p.56).

Em 1726 já existe um cargo de regente na Igreja de Nossa Senhora da Conceição

da Freguesia de Antônio Dias, na atual Ouro Preto. Apesar de não haver a menção do

3 Em 1732, a Irmandade de Nossa Senhora da Conceição pagou pelos serviços de música 128 oitavas de ouro, o que foi considerado alto por Lange, em comparação aos valores pagos por essa mesma instituição em 1803-1804 (LANGE, 1981, p.22).

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nome do regente no Livro de despesa da Irmandade de Nossa Senhora da Conceição,

aparece a quantia de 70 oitavas de ouro paga a esse regente. Os pagamentos pelas

atividades musicais nessa Igreja seguem até o ano de 1804 (LANGE, 1981, p.27).

Inclusive em 1744, a irmandade de Nossa Senhora da Conceição adquiriu um órgão, o

que sugere a presença de um organista (LANGE, 1981, p.24). Segundo Elmer Barbosa,

toda a atividade musical em Minas no período colonial foi exercida por profissionais e

remunerada (BARBOSA, 1978, p.50)

No ano de 1732, aparece a figura do regente Antônio de Sousa Lobo, que parece

ter ocupado o cargo até 1735, sendo substituído por Antônio do Carmo, que foi pago

para reger três coros no período de 1738-1739, recebendo a alta quantia de 117 oitavas

de ouro. Nos anos de 1736-1737, já havia sido registrada nesse mesmo livro a atuação

de dois coros (LANGE, 1981, p.25). De acordo com Lange, a presença de dois ou mais

coros exigiria também a duplicação dos instrumentos.

A presença de dois ou três coros sugere também a presença de música

polifônica, pois seria improvável a utilização de mais de um coro para cantar apenas

música homofônica. Então, que tipo de música faziam esses primeiros compositores que

inauguraram a riquíssima história da música colonial nas Minas Gerais?

Conforme Maria da Conceição Rezende, “A polifonia entrou bem cedo em

Minas, como o foi desde os primórdios da civilização no Brasil”, (REZENDE, 1989,

p.220). O fato é corroborado por Régis Duprat, ao afirmar que “a música portuguesa dos

séculos XVI a XVIII deveria integrar espontaneamente os repertórios das capelas de

música do Brasil colonial” (REZENDE, 1989, p.224). Em Recife no século XVII, por

exemplo, encontramos a presença de música policoral, quando o padre Inácio Ribeiro

Nóia foi pago por conduzir nove coros numa procissão (APPLEBY, 1983, p.15). Na

Bahia, temos a presença do padre Caetano Melo de Jesus, que escreveu o tratado Escola

de Canto de Órgão, em 1759, em que mostra grande erudição e cita importantes nomes

da história da música, como Athanasius Kircher, Guido D’Arezzo, padre Manuel Nunes

da Silva, D. João IV, além de vários outros teóricos portugueses e europeus. Esse autor

também menciona grandes mestres da polifonia renascentista, que vão desde “Cristoval

de Morales, Adriano Vuilaert [sic], Orlando Lassus, a Andrés Gabrieli e Pedro

Prenestina [sic]” (NEVES, 1984, p.143-144).

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Caetano Melo de Jesus, que, de acordo com (LANGE, 1983, p.133), foi o maior

dos teóricos e práticos de toda a América, não parece ter sido um caso isolado, mas sim

o ápice de uma época que não tardaria a acabar, com a transferência da capital da

Colônia de Salvador para o Rio de Janeiro. E a Bahia seria “um pólo axial, aquém

oceano,” que “legitima extrapolá-la para o conjunto da América portuguesa, sobretudo

para os maiores centros populacionais” (DUPRAT, in REZENDE, 1989, p.224). Duprat

ainda afirma que a música portuguesa dos séculos XVI até XVIII deveria fazer parte do

repertório tocado nas capelas do Brasil colonial e mostra que a grande exuberância da

produção musical em Minas no fim do século XVIII só seria possível devido a:

“um processo de interação cultural com o mundo de então mas também, e especialmente, da interação desse tempo com a própria tradição de técnicas e processos legada pelos músicos das gerações precedentes” (DUPRAT, in REZENDE, 1989, p.225).

O desaparecimento das partituras do início do século XVIII talvez tenha

acontecido por causa das grandes mudanças ocorridas na notação musical no princípio

desse mesmo século. Abandonou-se a notação branca adotando-se a notação vigente até

hoje, o que acarretaria o abandono do repertório em notação arcaica. Entretanto, essa

música pode ter sobrevivido nas transcrições para a nova notação, sendo parte das

inúmeras obras anônimas que abundam nos arquivos mineiros e paulistas. Regis Duprat

descobriu que a obra “Popule meus a Quatro vozes e/ Cum descendibus in / Lacum/

Para Sesta Feira da Paixão/ Franco Gomes da Rocha” era na verdade uma cópia do

Aestimatus Sum e do Sepulto Domino do compositor espanhol Gines Morata (século

XVI-XVII). Morata foi o primeiro mestre de capela na cidade de Vila Viçosa, onde se

desenvolveu uma importante escola de polifonia (DUPRAT, in REZENDE, 1989,

p.225).

Os compositores mineiros, tanto do início quanto do final do século XVIII,

“exercitaram com relativa constância e desembaraço a prática de compor para certas

funções litúrgicas, música no ‘estilo de Palestrina’ ou no ‘estilo romano de estante’”,

(DUPRAT, in REZENDE, 1989, p.229).

Esse assim chamado “estilo de Palestrina” seria na verdade uma criação do

século XVII, nos primórdios do Barroco. “O Barroco foi a época da consciência de

estilo” (BUKOFZER,1947,p.4), quando surgiram distinções para as variadas práticas

musicais, que foram classificadas em música ecclesiastica, cubicularis, theatralis

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(BUKOFZER, 1947, p.4). E na musica ecclesiastica apareceram duas outras divisões,

“baseadas nas idéias de prima prattica (Primeira Prática) e seconda prattica (Segunda

Prática), propostas por Cláudio Monteverdi na introdução do Il quinto libro de

madrigali (1605)” (CASTAGNA, 2001, p.2). Assim temos as definições de stile antico

e stile moderno. Essas foram as duas grandes divisões para a música católica de então.

O estilo antigo utilizava os recursos técnicos e estéticos da Renascença, e o estilo

moderno, os da ópera, do madrigal e da música instrumental (CASTAGNA, 2001, p.2).

Então, houve, segundo Bukofzer, uma idealização do estilo antigo, representado

pela música a capella, porque era oriunda da Capela Sistina, da qual Palestrina foi o

representante mais ilustre, daí o nome estilo de Palestrina. Os compositores barrocos

foram gradativamente modificando esse estilo antigo ou de Palestrina, transformando-o

no que foi chamado de estilo antigo no século XVIII, (CASTAGNA, 2001, p.13;

BUKOFZER, 1949, p.14).

Esse conceito de estilo antigo é bastante importante para a Música Colonial

Mineira, pois Duprat nos demonstra que, além de a música em estilo antigo ter sido

tocada em Minas, ela também influenciou o estilo tardio dos compositores mineiros,

seja através das transcrições para notação moderna, ou através da prática de compor à

maneira do estilo antigo (DUPRAT, in REZENDE, 1989, p.225).

A presença do estilo antigo é corroborada por Paulo Castagna, que relaciona 195

obras escritas nesse estilo, encontradas em acervos mineiros e paulistas. Dentre os

compositores relacionados, apenas seis são brasileiros, ou viveram no Brasil Colônia.

Os outros são portugueses, como Manuel Cardoso (1566-16500, Antônio Carreira

(c.1530-1594) e Francisco Luís (?-1693), italianos, como Giovanni Pierluigi da

Palestrina (1505?-1574) e Giovanni Biordi (1691-1748), e espanhóis, como Ginés

Morata (séc. XVI-XVII). Os principais mineiros representados são Manoel Dias de

Oliveira (1735?-1813), Florêncio Coutinho (1750-1819) e Lobo de Mesquita (1746?-

1805). Um outro grande compositor brasileiro representado é José Maurício Nunes

Garcia (1767-1830) (CASTAGNA, 2001, p.4).

As principais características que diferem o estilo antigo mineiro e paulista do

estilo moderno descritas por Paulo Castagna são:

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1. Predomínio da formação coral a quatro vozes, com alguns exemplos a três e outros a oito vozes;

2. Emprego opcional de um instrumento grave dobrando o baixo vocal (podem ocorrer instrumentos dobrando outras partes vocais em cópias do século XIX), mas total inexistência de partes instrumentais independentes das vocais;

3. Utilização do sistema modal;

4. Extensão (registro ou âmbito) reduzida das partes vocais (geralmente, de uma quinta a uma oitava), à exceção do baixo (vocal ou instrumental) que, muitas vezes, excede uma oitava;

5. Repousos por cláusulas ou cadências, ou associação de ambas;

6. Utilização de valores largos (predominância de semibreves e mínimas);

7. Pouca variedade rítmica;

8. Estilo predominantemente silábico;

9. Sujeição do ritmo musical ao ritmo do texto latino;

10. Movimento melódico geralmente por graus conjuntos;

11. Superposição freqüente de melodias em terças e sextas;

12. Raras passagens a solo, duo ou trio por movimentos paralelos;

13. Utilização de cantus firmus baseado em cantochão pré-existente na música destinada a algumas unidades funcionais ou cerimonias;

14. Utilização de quatro texturas musicais, não mutuamente exclusivas: a) textura homofônica cordal, b) textura de fabordão, c) textura contrapontística, d) imitação ou sequência motívica;

15. Utilização de notação mensural ou proporcional e da musica ficta na primeira metade do século XVIII;

16. Utilização de notação moderna ou da notação moderna com arcaísmos na segunda metade do século XVIII;

17. Especificidade cerimonial restrita. As obras destinam-se a cerimônias do Advento e Quaresma (incluindo a Semana Santa), ao Ordinário da Missa sem especificação de tempo litúrgico, a Liturgia dos Defuntos, aos Ofícios de Sepultura, às Vésperas de Horas Canônicas;

18. Predomínio de cópias sem indicação de autoria;

19. Associação pouco freqüente a composições em estilo moderno; (CASTAGNA, 2001, p.26)

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Essas particularidades do estilo antigo são de suma importância para o intérprete

do baixo contínuo. O cravista, ou organista, precisa saber diferenciar o estilo antigo do

estilo moderno, pois a realização do baixo contínuo precisa respeitar as características de

cada estilo. Então, numa peça em estilo antigo, ou, como por exemplo, em Fuga

(FAGERLANDE, 2000, p.81-88), o continuísta deveria dobrar as vozes, ou fazer

diminuições, e não simplesmente tocar as harmonias. Essas diferenças de interpretação

do contínuo serão discutidas mais adiante, no capítulo sobre o baixo contínuo.

Dentre as obras estudadas por Paulo Castagna, algumas mesclavam estilo antigo

e estilo moderno (CASTAGNA, 2001, p.6). Esse fato comprova que os compositores

mineiros e brasileiros, como Lobo de Mesquita e Caetano Melo de Jesus, conheciam

muito bem a música de seus predecessores, assim como a de seus contemporâneos. A

sobrevivência de obras em estilo antigo em Minas pode ter ainda uma outra razão. Em

1725, o Concílio de Roma aconselha o abandono dos instrumentos em alguns momentos

do ano litúrgico, como o Advento (exceto o 3o Domingo) e a Quaresma (exceto o 4o

Domingo), tornando necessária a manutenção, através da cópia, de um repertório onde

os instrumentos não fossem imprescindíveis, como nas obras a capella dos séculos XVI

e XVII (DOTTORI, 1992, p.27). Essas obras denominadas a capella, não só por Dottori

como por vários estudiosos, podem ter sido tocadas com o dobramento das vozes por

instrumentos, de acordo com a prática renascentista, salientada por Bukofzer, que diz

não ser essa música em estilo antigo necessariamente uma música a capella.

Dentre as obras relacionadas por Castagna, as mais importantes para tentarmos

compreender que tipo de música era feita no Brasil e na Minas Colonial do início do

século XVIII são os manuscritos de Mogi das Cruzes, SP (quinze obras), e os de

Piranga, MG (vinte e cinco obras), pois foram escritas ainda em notação proporcional e

em estilo antigo. Com relação aos manuscritos de Mogi das Cruzes, podemos concluir

que os compositores de então faziam uso “perfeito dos recursos vocais em música de

correta feitura polifônica extrapolando tais características para toda a música brasileira

do período” (DUPRAT, 1985, p.16). E ainda podemos concluir que essa música

“constitui amostra eloqüente do que se produziria nos grandes centros do Brasil colonial

como Rio de Janeiro, Olinda e Recife e, sobretudo, Salvador” (DUPRAT, 1985, p.16).

Diante do repertório descoberto por Duprat, mais o manuscrito de Piranga, e

ainda as obras estudadas por Paulo Castagna, podemos ter uma idéia da música que

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deveria ter sido executada nas capelas mineiras. Se foram mesmo como as de Mogi das

Cruzes, podemos imaginar o requinte e a erudição dos cultos nos primórdios do século e

compreender melhor a música de grande qualidade produzida no final do mesmo século.

O conceito de estilo antigo é de fundamental importância para os intérpretes de

Música Colonial Brasileira, pois, no caso de peças nesse estilo, a abordagem deve ser

próxima à deferida às obras ibéricas dos séculos XVI e XVII, ou seja, deve conter as

glosas e diminuições. Este fato exige do intérprete um conhecimento e uma prática

muito diferentes da usada ainda hoje, apesar de todas as pesquisas e excelentes

gravações da Música Colonial Brasileira disponíveis hoje.

As atividades musicais no Serro do Frio, local provável de nascimento de Lobo

de Mesquita, também foram muito intensas em todo o século XVIII, as quais Curt Lange

classifica como altamente desenvolvidas (LANGE, 1983, p.21). Os músicos mineiros

eram também capacitados na execução de música profana e instrumental, para o

assombro de muitos que preconizam a existência somente de música sacra.

Lange narra o curioso acontecimento no qual:

“os músicos, tratados como motineiros, foram presos e lançados em uma enxovia; e em outro, dia de Santo Antônio, Padroeiro do arraial, o Inquisidor fez suspender a Missa e o Sermão e mandou vir os músicos para fazer com um ‘hábil e curiozo do cravo’ uma ‘orquestra de sinfonias de Pleyel, divertindo-se sentados de perna cruzada toda a tarde’”, (LANGE, 1983, p.106).

Outra descrição histórica bastante interessante da execução de música

instrumental pura é a feita pelos naturalistas germânicos Spix e Martius, que estiveram

no Distrito Diamantino em 1818. Segundo eles um fazendeiro mulato, que morava a

vinte léguas do Brejo do Salgado, viajou para esse lugarejo, pois ficou sabendo que Von

Martius tocava todas as tardes seu violino. O fazendeiro trouxe sua família, estante e

pacotes de música, e os músicos, para tocarem com o naturalista, porque lhe faltara um

músico, quando então tocaram várias músicas (LANGE, 1983, p.107).

Talvez a descrição mais interessante de música instrumental seja a de quatro

negros choromeleiros (deformação do vocábulo charamela ocorrida em Minas),

divididos em soprano, contralto, tenor e baixo, que tocavam diante da Igreja e também

nas procissões. As charamelas eram muito apreciadas em Portugal, e a tradição desses

conjuntos deve ter chegado à região das Minas, assim que foram fundados os primeiros

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arraiais. Segundo Lange, esses conjuntos tocavam o que ele chama de mezzo-música,

que oscilava entre formas de dança e uma música mais elaborada (LANGE, 1983,

p.155).

Evidentemente, uma formação a quatro partes, nos sugere a utilização do já

referido estilo antigo, e, provavelmente, das danças do século XVII vindas de Portugal,

onde, como já vimos, os compositores ainda se utilizavam de formas musicais da

Renascença. Além dos choromeleiros, outros negros trombeteiros, buazeiros,4 gaiteiros

(de fole) eram encontrados nas procissões, (LANGE, 1983, p.155).

Outro aspecto importante para a música instrumental é a presença de danças,

dirigidas pelo mestre-coreógrafo Caetano Vaz, no Jubileu de 1782-1783, em Vila Rica,

levadas à execução pelas corporações de ofício (LANGE, 1983, p.155). Essas danças se

chamavam Danças dos Ofícios e tinham a participação ativa da população, que não era

apenas um espectador passivo como os do século XX (LANGE, 1969, p.17-19). Ora, a

existência de dança faz necessariamente haver a presença de música adequada. Então,

podemos imaginar que os compositores mineiros eram suficientemente capazes de

escrever música de dança, e que esta não sobreviveu por diversos fatores como a

mudança no padrão do gosto e ainda vários outros já discutidos no começo deste

capítulo.

1.5 O Período Áureo

As atividades musicais foram muito intensas em todo o século XVIII, mas, assim

“como nas artes plásticas, os grandes nomes da música mineira aparecem na segunda

metade do século XVIII” (BARBOSA, 1979, p.51). Ainda de acordo com Barbosa, esse

foi o período no qual as vilas mineiras atingiram a sua maior densidade populacional, e

em que as congregações religiosas estavam em intensa atividade, o que se estendeu até o

começo do século XIX, sendo que a independência, e as transformações políticas

provocadas por ela, acabaram por afetar a produção cultural de Minas e do restante do

país.

4 Bucina, provavelmente um instrumento feito de chifre de boi, de som rude (LANGE, 1983, p.158)

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Essa atividade é exemplificada por Curt Lange nos seus livros dedicados à

música, como a História da Música nas Irmandades de Vila Rica, ou História da Música

na Capitania Geral das Minas Gerais, nos quais mostra a rica atividade musical mineira

desse período, através dos pagamentos encontrados nos livros das irmandades e do

senado. Segundo esse estudioso, a atividade mineira “excede o panorama comum que

encontramos em outras regiões do Brasil” (LANGE, 1983, p.86). No Arraial do Tejuco,

por exemplo, tivemos, à época de Lobo de Mesquita, pelo menos cinqüenta e um

músicos, entre eles trinta e um regentes, podendo o total de músicos ativos ter chegado a

cento e trinta. Entre eles havia vários organistas, cargo para o qual houve pagamentos

regulares até 1829 na região do Serro do Frio (LANGE, 1983, p.101-104, 136).

Nesse momento, temos o acúmulo das experiências de toda a primeira metade

do século, que incluiu um considerável conhecimento da música ibérica dos séculos

anteriores, definida como estilo antigo, uma busca incessante por música polifônica e

instrumental do restante da Europa, através da encomenda e cópia de partituras, e

também o desenvolvimento de características próprias da música mineira.

O desenvolvimento de uma prática autóctone teria se dado na música assim como

nas outras artes, com a qual o homem mineiro se adaptou às necessidades e às exigências

dos seus principais contratadores, que eram as Irmandades e o Senado da Câmara,

(BARBOSA, 1979, p.51), transformando, assim, a arte importada e produzindo uma

expressão mineira (REZENDE, 1989, p.470). Essa apropriação, e conseqüente adaptação

da arte de alhures, têm como exemplos as pinturas da Virgem Maria mulata, de Manuel

da Costa Ataíde (1762-1830), ou quando os músicos, como Manuel Dias de Oliveira

(17?-1808), desrespeitavam os preceitos tridentinos, utilizando orquestra e coro e ainda

escrevendo os textos em português e não em latim. Essa atitude seria proveniente, talvez,

além dos fatores estéticos propriamente ditos, do ressentimento causado pela repressão à

Inconfidência Mineira (BARBOSA, 1979, p.47).

A música produzida em Minas em meados e final do século XVIII foi

classificada como barroca, quando da sua descoberta. “Esse termo, ‘música barroca

mineira’, foi usado genericamente por conotação com o estilo predominante nas artes

plásticas da época” (REZENDE, 1989, p.469), mas o estilo Barroco Mineiro seria um

estilo de vida, uma organização social. O Barroco seria, então, o ambiente em que

viviam os artistas e a forma como se comportavam (REZENDE, 1989, p.469).

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Esse período foi caracterizado por grande agitação política, culminando com a

Inconfidência Mineira, e transformações estéticas, sendo que:

A busca modernista de nossos classicistas foi de grande importância para a cultura mineira – ela visava contrapor-se à estética do antigo barroco, já considerado por eles sem vitalidade. Esses poetas e intelectuais, inspirados em Virgílio, Ovidio, Dante e Camões, fizeram do verso uma prática política, em críticas contundentes às autoridades metropolitanas. Os poetas semearam as idéias da mudança estética, necessária ao vigor da própria arte. A crise fez o resto, permitindo aparecer, no final do século, um estilo nas artes plásticas: o Rococó (MENDES JR., in BARBOSA, 1979, p.47).

Essas transformações ocorridas na literatura e nas artes plásticas também se

fizeram sentir na música, pois “na primeira metade do século XVIII prevaleceu, na arte

em geral, o barroco austero, frio e pesado em suas manifestações; a partir de 1770,

aproximadamente, surge outra maneira de expressão artística mais leve, humana e

graciosa: o Rococó.” (REZENDE, 1989, p.470). Esse seria então, de acordo ainda com

Conceição Rezende, o momento musical barroco mineiro.

Segundo Rezende, a música desse período seria caracterizada por uma

sensibilidade barroca coletiva, condicionada pela formação social, que gerou um certo

barroquismo, e seria uma expressão “violenta, sensorial e bem complexa” (REZENDE,

1989, p.471).

Rezende parece entrar em contradição, ao classificar o barroco primeiramente em

austero, frio e pesado e, depois, dizer que a sensibilidade barroca seria violenta, sensorial

e bem complexa. Como uma forma de expressão artística pode ser austera, fria e pesada,

sendo ao mesmo tempo violenta e sensorial?

Entretanto, Rezende nos dá talvez a melhor definição da música mineira do

período, que teria sido um estilo híbrido, sui generis, “onde os compositores adotaram

soluções estéticas originais e processos de escrita amaneirados” (REZENDE, 1989,

p.471).

Esse estilo amaneirado talvez seja proveniente do amadurecimento da intensa

atividade musical do início do século e da relutância dos compositores em abandonar

vários elementos barrocos, ao mesmo tempo que estavam sensíveis à renovação estética

que ocorria na Europa em meados do século XVIII, a qual desembocaria no Classicismo,

e das primeiras manifestações do Romantismo. Para Minas Gerais foram trazidos

modelos da “arte sacra européia-barroca, pré-clássica, modelos que remontam ao Moteto

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Renascentista, numa profusão de linguagens e estilos inimagináveis, e ainda uma

concepção ‘mineira’ ao gosto e segundo a tradição das cantilenas acompanhadas pelos

fiéis” (BRANDÃO, 1998, p.60). Esses modelos europeus foram adaptados às condições

locais, o que proporcionou a existência de várias poéticas musicais na Minas setecentista

(BRANDÃO, 1998, p.62).

Os principais elementos musicais do barroco ainda presentes no final do século

XVIII seriam o baixo contínuo e o uso da retórica (REZENDE, 1989, p.471), mas

persistiram ainda vários elementos musicais próprios do barroco como, por exemplo:

hemíolas, freqüente interrupção do discurso musical pelas cadências e síncopes que

geralmente precedem as cadências (PIRES, 1994, p.47). Pires relaciona ainda outros

elementos que classifica como barrocos, tais como baixa incisividade das figuras

rítmicas e relativa lentidão dos andamentos.

Com relação aos andamentos, os mesmos não são regularmente especificados

pelo compositor, tanto na música européia do barroco, como na música mineira; além

disso, esse conceito de lento é uma imposição moderna que deturpou os termos italianos

utilizados para a caracterização dos movimentos. Segundo Donington:

As indicações de andamento são notoriamente vagas. Elas freqüentemente se relacionam ao caráter, não ao tempo: eg. largo (amplo), grave (gravemente), adagio (livremente), maestoso (com majestade), allegro (cheio de alegria), etc. Tempo é prioritariamente uma função de caráter (DONINGTON, 1978, p.320).

Essa citação feita por Donington foi retirada do Treatise of Musick, de Alexander

Malcon, publicado em Edimburgo, em 1721. Outros grandes compositores também

sustentam a mesma opinião, como o filho mais velho de Bach, Carl Phillip Emmanuel, e

o pai de Mozart, Leopold Mozart.

Carl Phillip diz que o “tempo de uma peça, que é geralmente indicado por uma

variedade de termos italianos, é derivado de seu caráter geral junto com as notas mais

rápidas e passagens que ela inclui” (DONINGTON, 1978, p.321).

Já Leopold Mozart acrescenta que, por mais que o compositor adicione outros

termos aos habituais allegro e outros, continuava, na sua época, sendo impossível

precisar a velocidade exata desejada para a performance. O andamento deveria ser

deduzido da própria música (DONINGTON, 1978, p.321).

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Então, do ponto de vista histórico, andante não é um tempo lento, mas um

“caminhar tranquilamente com passos regulares” (BROSSARD, 1703, p.322, in

MORETZSONH, 1997, p.107).

Talvez essa concepção dos andamentos, tanto do barroco como da Música

Colonial Mineira, seja a responsável pela execução excessivamente lenta desses

repertórios, escutada hoje nos concertos realizados no Brasil.

A baixa incisividade das figuras rítmicas seria, a nosso ver, outro conceito alheio

ao barroco. Poderíamos nos reportar a inúmeros exemplos do barroco europeu, mas um

simples exemplo de Lobo de Mesquita pode nos mostrar a força e a complexidade das

figuras rítmicas oriundas do barroco. É o caso do enem ergo, que, apesar de ser uma

obra tardia, apresenta alguns aspectos comuns ao barroco europeu, como o uso de violas

em vez de violinos, o que proporciona uma sonoridade mais escura e doce, contrapostas

a um ritmo pontuado e insistentes colcheias em notas repetidas do contínuo. Esse uso

simultâneo de elementos contrastantes era uma figura de retórica musical, chamada de

oxymoron (vide Exemplo 1), comumente usada pelos compositores barrocos.

Exemplo 1: Exemplo de oxymoron, na ária Komm, süsses Kreuz (Venha, doce cruz), número 57 da Paixão Segundo S. Mateus de J.S.Bach.

O uso de figuras retórico-musicais também foi um elemento barroco que parece

ter resistido às mudanças estéticas. Os compositores mineiros tinham nas suas obras uma

“clara e expressiva relação da música com o texto litúrgico” (PIRES, 1994, p.40). Os

mineiros, ao que tudo indica, tinham um grande conhecimento da prosódia latina e

identificação com o texto litúrgico (LANGE, in PIRES, 1994, p.45). Esses compositores

teriam adquirido os conhecimentos de latim no seminário de Mariana, ou teriam sido

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assessorados por padres que dominavam essa língua, (BARBOSA, 1979, p.51).

Maurício Dottori aponta o uso de figuras retórico-musicais em obras como O vos omnes,

de Manuel Dias de Oliveira, na qual existem passagens cromáticas que pretendem

ilustrar o sofrimento indicado pelo texto (DOTTORI, 1992, p.95)5.

Como citamos acima (vide pg. 15), no seu tratado Canto de Órgão, Caetano

Melo de Jesus demonstra conhecer a obra de Athanasius Kircher, que escreveu um

tratado muito importante sobre retórica e música, o Musurgia Universalis (Roma 1650).

A presença dessas figuras retórico-musicais e a citação de Kircher, por Melo de Jesus,

nos sugere que os compositores mineiros e brasileiros conheciam a chamada Teoria dos

Afetos.

O conhecimento por parte dos intérpretes desses resquícios de elementos

barrocos e da presença ainda em fins do século XVIII do estilo antigo na Música

Colonial, certamente proporcionaria uma abordagem bastante diferente desse repertório,

o que talvez facilitaria sua compreensão, acentuando as características do barroco ainda

presentes, contrastando com o estilo antigo ou com as novas tendências do classicismo.

Apesar de esses importantes aspectos do estilo barroco aparecerem na Música

Colonial, ela não é música exatamente ou somente barroca, como esclarece Rezende. No

final do século XVIII, surgem na Música Colonial vários aspectos do chamado estilo

galante, ou ainda de estilos definidos como pré-clássico, ou pós-barroco ou, ainda,

Rococó e também do Classicismo.

Essa profusão de termos reflete a quantidade de estilos, ou variantes estilísticas

do barroco, que surgem no período que vai de 1720, aproximadamente, até 1810, que é o

momento “cuja descrição realizada pela História da Música oficial é a mais insuficiente

do ponto de vista da análise e da compreensão histórica e estilística” (DOTTORI, 1992,

p.3). O barroco tardio, que coincide com o início do século XVIII, começou a sofrer a

concorrência de algumas variantes estilísticas (DOTTORI, 1992, p.3).

Galante seria uma “conversa polida”, onde não haveria espaço tanto para o

pedante ou o passional, quanto para o cru ou o corriqueiro. As principais características

na música seriam uma estrutura homofônica, com ritmo harmônico amplo, com poucas 5 Em uma análise bastante detalhada, Dottori detecta a presença de várias figuras retórico-musicais no moteto O vos omnes, de Manuel Dias de Oliveira, como palillogia, synonimia, passus duriusculus,

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partes reais e frases descontínuas (DONINGTON, 1978, p.46; DOTTORI, 1992, p.6).

Um importante representante do estilo galante foi G. P. Telemann, que, segundo ele

mesmo, tentou fazer a síntese entre os estilos francês e italiano. Segundo Thurston Dart,

a origem do estilo galante seria essa síntese entre os principais estilos europeus do início

do século XVIII, que apontaria para o estilo clássico no final desse século. O rococó

seria o equivalente do estilo galante, na arquitetura e nas artes plásticas, sendo uma

corrente do barroco francês, que se fundiu com o estilo italiano e se espalhou pelo

mundo, chegando inclusive ao Brasil (PIRES, 1994, p.32).

Se considerarmos que as principais características do estilo galante são a de uma

“música que é ligeira, moderadamente ornamentada, homofônica e relativamente livre e

descomplicada” (DOTTORI, 1992, p.6), estaríamos assim falando de um estilo muito

difundido no século XVIII, que iria até Mozart, e que as fronteiras nacionais não se

constituiriam em limites para esse estilo e poderíamos identificar suas características na

obra de um Pe. José Maurício ou de um Lobo de Mesquita (DOTTORI, 1992, p.6-7)

Pós-barroco e pré-clássico seriam correspondentes ao período histórico

mencionado acima, ou seja, por volta de 1720 até 1810. Pré-clássico, como o próprio

nome diz, englobaria a música que antecede o classicismo. Esse seria um período de

‘transição’ entre o barroco e o classicismo, mas de acordo com Juliam Rushtom, nenhum

período é de transição, ou todos o são, e que não podemos supor uma ruptura nítida entre

o barroco e o clássico (PIRES, 1994, p.31). Esse termo, pré-clássico, seria aplicável

também aos compositores napolitanos Leonardo Vinci (1696-1730), Giovanni Battista

Pergolesi (1710-1736) e Johann Adolf Hasse (1699-1783), todos eles vinculados à

escola napolitana, ou ainda, à música que apresentasse alguns elementos estilísticos que

coincidissem com o classicismo vienense (PIRES, 1994, p.32).

De acordo com DOTTORI (1992, p.4), a definição de Clássico, adotada pela

musicologia alemã, seria pertinente à obra de apenas três compositores de Viena, Haydn,

Mozart e Beethoven. As características das obras desses compositores foram tomadas

como referência e aplicadas a todo o período denominado Clássico. Essa atitude seria

bastante reducionista, pois definiria todo um período, baseando-se apenas nas

características de três compositores.

suspiratio, circulatio, dentre outras.

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Já o termo pós-barroco foi usado pelo estudioso português Rui Vieira Nery ao

definir esse período correspondente ao pré-clássico, para evitar o mencionado

reducionismo da musicologia alemã (PIRES, 1994, p.32).

Esses estilos, que, surgidos do barroco, ajudaram a destruí-lo, acabaram então

gerando o que se convencionou chamar de clássico, ou classicismo. O classicismo seria

fruto da:

“Interpenetração de estilos que teria acontecido à medida que o século XVIII caminhava para o seu fim, quando as semelhanças no discurso musical em todas as capitais européias, levadas a efeito tanto por um contínuo deslocamento de artistas, quanto pela difusão de música impressa e cópias, teria gerado um estilo internacional homogêneo” (DOTTORI, 1992, p.13).

Essa pretensa homogeneidade garantiria para alguns a universalidade do

classicismo, apesar da opinião de Charles Burney, em meados do século XVIII, de que

havia em sua época uma preocupante heterogeneidade (DOTTORI, 1992. p.13).

Dottori critica a tentativa de alguns estudiosos de ampliar o conceito de Clássico

a toda a música que tivesse similaridades com o classicismo vienense, que estaria

limitado ao estilo de três compositores, como vimos acima, dizendo que isso seria uma

necessidade de afirmação da musicologia alemã. Entretanto, não propõe nenhum

conceito claro que possa delinear esse período, que corresponde ao fim do século XVIII,

na Europa, e que tem um estilo que difere, e muito, do barroco. Tanto Dottori quanto

Pires são unânimes em apontar uma falha da musicologia na tentativa de esclarecer

melhor esse período.

Apesar disso, o maestro e professor Sérgio Magnani apresenta uma boa definição

de classicismo ao comparar a música às artes plásticas, à filosofia e à literatura. Segundo

ele, a “música dá mais ouvidos à mensagem estética formal de Winckelmann, acrescida

do espírito iluminista de culto da idéia e da dialética racional” (MAGNANI, 1989,

p.139). Winckelmann estuda os conceitos de beleza dos antigos e os utiliza para

estabelecer as leis da beleza canônica, que seria o suporte ideal do neoclassicismo. Essa

evasão para o passado greco-romano atingiu sobremaneira a arquitetura, influenciada

pelas descobertas arqueológicas de Pompéia. Essa estética clássica difunde-se pelo

mundo, através das idéias de Winckelmann e das estampas contemplativas das ruínas de

Roma, feitas pelo pintor veneziano Giambattista Piranesi (MAGNANI, 1989, p.367-

368).

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Houve também um retorno à renascença, que, assim como o classicismo, tinha a

antiguidade greco-romana como ideal estético, tanto nas artes plásticas como na

arquitetura e na música, e isso também chega às Américas e ao Brasil, onde foram

construídas “edificações clássico-renascentistas, como o Palácio dos Inconfidentes, em

Ouro Preto” (MAGNANI, 1989, p.367-368).

Na música, teria ocorrido durante esse período o estabelecimento de uma

linguagem comum, uma língua franca, segundo Daniel (HEARTZ, 1974, in DOTTORI,

1992, p.14), que não dependeu do classicismo vienense e que teria, como fator de

unidade estilística, a dominação pela ópera italiana.

Essa língua franca, também chamada por Magnani de neoclassicismo, teria como

principais características:

“Um predominante cunho formal corresponde à fixação estrutural da sonata e do sinfonismo modernos. Bitematismo e trabalho temático, elementos racionais, são seus aspectos iluministas. Sentido patético, brilho e redundância expressiva, elementos psicológicos, são o reflexo da filosofia do sentimento.” (MAGNANI, 1989, p.375).

O conceito de clássico é importante para a Música Colonial Mineira, devido a

vários aspectos. Primeiro, porque sobreviveram muitas obras do século XVIII, que

foram exaustivamente tocadas na época e que foram encontradas nos arquivos mineiros,

de compositores clássicos, ou comumente chamados assim, como I. Pleyel (1757-1831),

L. Bocherini (1743-1805), L. Wagenseil (1715-1777), J. Haydn (1732-1809),

W.A.Mozart (1756-1791), além dos napolitanos, D. Perez, P. Guglielmi, N. Piccini, G.

Majo (1732-1770), A. Sacchini (1730-1786), Feo (1691-1761), (PIRES, 1994, p.36-37),

(DIAS, 2000, p.160). Gérard Béhague reivindica para Francisco Gomes da Rocha (?-

1808) (aluno de Lobo de Mesquita) e para todos os compositores mineiros de sua

geração o título de clássicos, pois tinham intimidade com essa língua franca, definida

por Heartz (DOTTORI, 1992, p.14).

O manuseio constante e o estudo da obras desses compositores, vinculados de

alguma maneira ao classicismo, foi um meio de absorver as influências da música

européia vigente e de atualização dos compositores mineiros junto aos seus colegas

europeus. Segundo o maestro Adhemar de Campos Filho, a escassez de obras impressas

que chegavam a Minas, pois havia um decreto que considerava contrabando a

importação de partituras (RIBEIRO, 2002, p.32-33), fez com que os compositores

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extraíssem o máximo de cada uma delas, copiando e fazendo novos arranjos e

orquestrações, de acordo com as necessidades, junto às Irmandades e ao Senado da

Câmara, de prover música nova constantemente (RIBEIRO, 2002, p.32-33).

Outro aspecto importante do classicismo foi a transformação sofrida pela música

religiosa, provocada pelas novas idéias do iluminismo, fazendo com que perdesse “o seu

antigo misticismo e suas tradicionais formas contrapontísticas para aproximar-se mais do

lirismo humano e das formas da ópera, adotando um estilo homofônico de melodia

acompanhada, a estrutura da ária vocal e as formas do dueto, do trio, do quarteto”

(MAGNANI, 1989, p.139), formas típicas do teatro musical.

O pensamento iluminista teve uma considerável influência sobre a música de

meados do século XVIII. De acordo com J. J. Rousseau, o prazer do ouvido deve

algumas vezes prevalecer sobre a verdade da expressão. É nesse prazer auditivo que se

fundam os conceitos iluministas também para a música, onde intervêm dois aspectos

dessa nova estética. O gosto, ou o prazer, e o hábito, que determinam o gosto através de

aspectos sócio-culturais. Outro aspecto importante do iluminismo é a tendência ao

empirismo (DOTTORI, 1992, p.28-29).

Os ideais estéticos dos iluministas reprovavam violentamente a polifonia, pois

não se podia dizer várias coisas ao mesmo tempo, uma simples repetição das vozes não

desperta interesse, e se elas dizem coisas diferentes são incompreensíveis. Rousseau diz

que duas melodias, por mais belas que sejam, ao serem ouvidas ao mesmo tempo se

ofuscam uma à outra (DOTTORI, 1992, p.30-31). Curiosamente, o questionamento da

expressividade, e o posterior abandono da polifonia por parte dos florentinos, é que

forneceu as principais características do barroco, com a monodia, apesar de a polifonia

nunca ter deixado de existir na obra de gênios como Monteverdi, que soube fazer a

síntese entre polifonia e monodia, criando obras de grande expressividade. Apesar dessa

forte oposição à polifonia, ela voltará no final do classicismo, nas obras de Haydn,

Mozart e principalmente de Beethoven.

Esses ideais iluministas teriam chegado a Minas Gerais através da literatura. Nos

Autos da Devassa da Inconfidência Mineira constava que o cônego inconfidente Luís

Vieira da Silva possuía vários livros de Voltaire, Rousseau, Condillac, dois volumes da

Enciclopédia de Diderot e d’Alembert, além de onze volumes com obras de Pietro

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Metastasio, um poeta iluminista. A doçura da poesia de Metastasio, segundo Eximeno y

Pujades, jesuíta espanhol, expulso para a Itália, teria sido a responsável pelo nível de

perfeição atingido pelos compositores e cantores italianos no século XVIII. Metastasio

foi o ponto de encontro entre o cônego Vieira e os árcades mineiros e de seus vastos

interesses da relação entre poesia e música (DOTTORI, 1992, p.32-33).

Cláudio Manuel da Costa escreveu alguns textos dramáticos como Heróico

Segredo e Demofoonte in Trácia, ambos inspirados em Metastasio, sendo o Heróico

Segredo uma versão mineira do Artaxerxe desse autor e o segundo, mais conhecido

como Dircéia. Esses libretos se encontram no Museu da Música de Mariana. Além

disso, escreveu também O Parnaso Obsequioso, para ser recitada com música, que foi

composta pelo regente José Theodoro Gonçalves de Mello. Cláudio recebeu de

Metastasio a dedicatória de uma Cantata, II Ciclope, e um drama lírico - Galatéa

(REZENDE, 1989, p.513-534).

O libreto de Demofoonte foi musicado por mais de cinqüenta compositores

europeus, dentre eles David Perez (Lisboa 1752) e João Francisco Maio (Roma 1764),

além de Marcos Portugal (Milão 1794), todos bem conhecidos pelos compositores

mineiros (REZENDE, 1989, p.534).

As Irmandades teriam sido o meio de contato dos músicos mineiros com as idéias

iluministas, pois eram as contratantes de praticamente todas as atividades artísticas e

funcionavam como reguladoras dessa produção que incluía também a música. As

Irmandades também foram as responsáveis pela implementação das novas idéias da

Igreja sobre música religiosa, que sofreu forte influência da encíclica Annus Qui, do

Papa Benedito XIV, de 19 de fevereiro de 1749 (DOTTORI, 1992, p.25-34).

Essa encíclica, fortemente impregnada das idéias iluministas, foi determinante

para uma considerável parte da música religiosa da segunda metade do século, inclusive

para o classicismo vienense e a Música Colonial Mineira. Nela, a música instrumental

encontrou seu reconhecimento, desde que intensificasse a força expressiva das palavras,

servindo para despertar os afetos interiores das pessoas e, juntamente com a música

vocal, as atraísse para a espiritualidade. O texto deveria ser íntegro e a palavra deveria

permanecer sempre compreensível, sem sofrer com uma orquestração muito pesada, e

não deveria haver partes virtuosísticas. Recomendava também, como já mencionamos

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na p. 18, o abandono dos instrumentos no Advento, com exceção do 3o Domingo, e a

Quaresma, exceto o 4o Domingo. Poderia haver peças puramente instrumentais, desde

que fossem imbuídas da mesma expressividade da música vocal religiosa, sendo essa

expressividade que distinguiria o stilus theatralis do stilus ecclesiasticus, pois a música

não deveria servir à lascívia do ouvido, e sim à devoção religiosa, (DOTTORI, 1992,

p.26-27).

A influência dos ideais estéticos da encíclica Annus Qui também pode ter

chegado em Minas através das obras dos compositores Perez e Jomelli. Na obra de

Perez, podemos perceber “notáveis coincidências com elementos que mais tarde

caracterizarão o estilo mineiro” (DOTTORI, 1992, p.41).

Dentre essas características, Dottori ressalta uma tendência, em Perez, de

modular para a subdominante e não para a dominante como era costume, do uso

constante de ritmos lombardos e tresquiálteras, de começar com várias frases curtas.

Outra grande semelhança com a música mineira seria a técnica de instrumentação, onde

os violinos tocariam geralmente em terças e sextas. As madeiras seguiam a melodia, ou

faziam um eco, e as trompas sustentavam a harmonia. O baixo era tratado de maneira

motívica e frequentemente melódico. Esse autor ressalta que as terças e sextas paralelas

eram características que sempre existiram na música italiana e não só em Perez, e que

houve uma moda napolitana, em torno de 1760, de melodias em terças paralelas. Outra

coincidência entre mineiros e napolitanos seria no tratamento das cadências, onde as

cordas repetiriam semicolcheias e a textura se encorparia, tornando a sonoridade mais

forte, sugerindo um crescendo (DOTTORI, 1992, p.41-42).

Outros aspectos comuns entre a música de Perez e os mineiros podem ser vistos

no artigo escrito por Sílvio Ferraz e Maurício Dottori, “Manoel Dias de Oliveira e

Davide Perez” (RIBEIRO, 2002, p.34-35). Esses autores ressaltam, como aspecto

significativo, a simetria fraseológica, semelhança na forma de distribuição das vozes e a

predominância de escrita homofônica. Entretanto, apesar da predominância da

homofonia em ambos, existe na obra de Perez uma maior incidência de passagens

contrapontísticas em relação a Manoel Dias de Oliveira, e também em relação à Música

Colonial Mineira (RIBEIRO, 2002, p.34-35). Os compositores mineiros parecem ter

absorvido os aspectos mais modernos das obras dos modelos europeus, por uma

necessidade funcional da música, em que:

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“o poder mais direto de comunicação da melodia acompanhada certamente se mostrou mais apropriado às funções religiosas para as quais foram compostas, em lugar de uma relativa complexidade mais típica da escrita contrapontística” (RIBEIRO, 2002, p.35).

No caso de Jomelli, a influência sobre a música mineira não foi tão didática

como a de Perez, mas com certeza existiu, pois no tratado Nova Instrução Musical, ou

Theoria Prática, de Francisco Ignácio Solano, o maior teórico português do século

XVIII, os exemplos de Jomelli estão lado a lado com os de Perez, Giorgi e Leo. Um

aspecto importante no estilo de Jomelli, que coincide com o dos mineiros, é a utilização

ampla do madrigalismo barroco, que seria a ilustração musical, ou o uso de figuras

retórico-musicais. No entanto, é possível questionar a real influência desses

compositores citados acima, porque o gosto pela música religiosa moderna e italiana era

ainda bastante recente, as óperas representadas em Lisboa a partir de 1752 até meados de

1790 é que teriam contribuído de maneira mais intensa na formação do estilo mineiro de

fins do século XVIII (DOTTORI, 1992, p.43-44).

1.6 A Ópera em Minas Gerais

Como vimos no início deste Capítulo (p. 3-5), a ópera italiana invadiu a vida

musical portuguesa e de várias nações européias. Muitas dentre as 131 óperas

representadas em Lisboa, relacionadas por DOTTORI (1992, p.45), podem ter sido

representadas nos teatros mineiros, pois a atividade operística em Minas Gerais também

foi bastante intensa, como veremos a seguir. Além disso, muitos compositores que

tiveram suas óperas encenadas em Lisboa aparecem em arquivos mineiros, e nomes

como Signore Girolamo Francesco Lima [sic] (Jerônimo Francisco de Lima), Signore

Giovan Francesco de Mayo, Signore Niccola Puccini [sic] (possivelmente, Niccolò

Piccini), Signore David Peres [sic] e Pietro Antonio Arondario (possivelmente, Pedro

Antônio Avondano) figuram também no inventário de Florêncio José Ferreira Coutinho

(-1819), processado em 1820. Coutinho esteve diretamente ligado à ópera, pois foi pago

pelo Senado da Câmara para compor três óperas para as festas dos reais desposórios em

1786, e também tocava na orquestra da Casa da Ópera de Vila Rica (LANGE, in

REZENDE, 1989, p.315-316).

A primeira ópera apresentada em Portugal data de 1682, no reinado de D. Afonso

VI, mas obteve pouco êxito, e, como vimos acima, a implantação definitiva da ópera

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italiana só se deu a partir do casamento de D. João V (CROWL, 1984, p.92). Poucos

anos depois (em 1726), já temos menções de comédias representadas em Vila Rica.

Possivelmente, a ópera chegou em Minas Colônia nesse período. Entre 1737 e 1740,

supõe-se a construção de uma primitiva Casa da Ópera em Sabará, anterior à atual ainda

existente, que data de 1819. Temos, também nessas mesmas datas, uma outra, que teria

sido construída em Vila Rica, e que antecede a atual Casa da Ópera, que se localiza na

rua Santa Quitéria (ÁVILA, 1977, p.81).

Em 1745, o bispo do Rio de Janeiro, Dom Frei João da Cruz, na sua segunda

visita a Minas, proíbe sob pena de excomunhão, a realização de comédias, óperas, bailes,

máscaras, touros ou entremesses na freguesia. Entre 1748 e 1752, no Arraial do Tijuco

possivelmente ocorreram apresentações dramáticas, na Casa do Contrato, na época da

gestão do contratador Felisberto Caldeira Brant, mas é no “teatrinho de bolso” de Chica

da Silva, entre 1753 e 1771, que podem ter ocorrido os primeiros espetáculos regulares

em Minas. Nesse teatrinho, foram levadas várias óperas de Antônio José da Silva, o

Judeu, dentre elas Encantos de Medéia e Anfitrião ou Júpiter e Alcmena. Esse teatro

pode ter sido um importante centro de difusão da ópera e do teatro na capitania, pois

atores-cantores do Tijuco foram posteriormente contratados para atuar na Casa da Ópera

em Vila Rica (ÁVILA, 1977, p.58).

Lobo de Mesquita provavelmente teve sua formação musical no Arraial do

Tijuco, ou na Vila do Serro do Frio, mas a bibliografia consultada não menciona seu

envolvimento com o drama lírico. Entretanto, Bèhague associa a quantidade de

apojaturas, bordaduras e notas de passagem a uma possível influência dos melismas

operísticos (PIRES, 1994, p.53).

Em 5 de dezembro de 1768, Cláudio Manuel da Costa faz encenar no Palácio dos

Governadores o seu drama para recitar em música o Parnaso obsequioso, e, em 1775,

escreve um libreto que se intitula São Bernardo.

Em 1770, em 6 de junho, inaugura-se a Casa da Ópera de Vila Rica, construída

sob os auspícios do empresário João de Sousa Lisboa. Nesse mesmo ano, numa carta de

13 de julho, esse empresário manda agenciar em Sabará pessoas com experiência

operística, e noutra carta, de 19 de agosto, Sousa Lisboa faz menção ao prestígio dos

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espetáculos operísticos do Tijuco, mandando agenciar ali o ator José Bonifácio para a

Casa da Ópera de Vila Rica (ÁVILA, 1977, p.59 e 81-83).

Tanto o governador da capitania, Conde de Valadares, considerado um grande

amigo das artes e que recebeu de Cláudio Manuel da Costa a dedicatória do Parnaso

obsequioso, como este último estiveram diretamente ligados ao funcionamento da Casa

da Ópera em Vila Rica. Cláudio estava na lista de assinantes e contribuintes datada de 17

de outubro de 1772 e ainda escreveu vários libretos para essa casa. Sousa Lisboa e a

Casa da Ópera de Vila Rica tiveram um papel muito importante na vida operística de

Minas. Lisboa estava atento ao movimento musical da capitania, sempre procurando

manter a qualidade e variedade dos espetáculos, mandando copiar e compor solfas e

agenciando atores. Boa parte do repertório encenado provavelmente veio de Lisboa,

sendo que os libretos geralmente vinham acompanhados das solfas ou partituras das

óperas; quando isso não acontecia, os compositores locais teriam sido contratados com

essa finalidade. A Casa da Ópera alterna momentos de esplendor e declínio, mas contava

sempre com o apoio do poder público. Em 1811, o Pe. João de Deus de Castro Lobo

dirige nessa mesma casa um grupo de dezesseis músicos e vinte atores e cantores; e em

1820 era realizado um espetáculo por semana (ÁVILA, 1977, p.59 e 60).

Talvez a participação mais interessante de Sousa Lisboa para a história da música

em Minas, “revolucionando as regras de interpretação e da moral da época” (ÁVILA,

1977, p.62), tenha sido a introdução de mulheres nos papéis femininos em vez dos

castratti, sendo que essas cantoras descritas por ele cantavam “melhor que as do Rio de

Janeiro”. No final da década teremos a presença de outras intérpretes femininas: Joana

Maria, Violanta Mônica e A. Fontes. Curt Lange afirma que o Brasil foi o primeiro país

latino-americano onde ocorreu a participação de mulheres na cena teatral e na

interpretação de papéis vocais. A mulher branca era privada de instrução, pois naquela

época deveria viver no lar, e a mulata podia circular livremente, sendo em muitos casos

coadjuvante de seu marido. Essas cantoras e as dançarinas eram requisitadas

regularmente pelo teatro de Buenos Aires desde sua inauguração e, como vimos na

página 9, temos a presença no Teatro S. Carlos, em Lisboa, da mulata brasileira Joaquina

Maria da Conceição Lapinha, que se apresentou em concerto em 1795 (BRITO, 1994,

p.107; LANGE, 1983, p.97-98).

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Outras cidades mineiras de então também conheceram uma intensa atividade

operística. Além de Vila Rica, existiram Casas da Ópera em S. J. Del Rei, Paracatu,

Santa Luzia, Arraial do Tijuco, Sabará, e óperas encenadas em outras cidades como

Mariana, Pitangui, Campanha da Princesa e Conceição do Mato Dentro. (ÁVILA, 1977,

p.81-83).

Os Oratórios, ou Oratórias, ou ainda Horatoria, também foram cultivados em

Vila Rica. São peças de gênero para-operístico de sentido religioso, que se destinavam a

encenação em determinados meses do calendário da Igreja. Ignácio Parreira Neves foi

um compositor que se dedicou a esse gênero, tendo sobrevivido a sua Horatória ao

Menino Deus, que pertence ao Museu da Música de Mariana. São Bernardo, de Cláudio

Manuel da Costa, foi encenada na Casa da Ópera, em Vila Rica na quaresma de 1775, e

posteriormente teve um ato roubado, sendo recuperado por Sousa Lisboa em S. J. Del

Rei, para reencená-la na quaresma de 1777 (ÁVILA, 1977, p.62 e 82).

Gerard Bèhague, apesar de não acreditar que tenha havido influência da ópera

napolitana sobre a Música Colonial Mineira, percebe “traços do recitativo seco e do

estilo florido da ária a duo semelhantes ao estilo operístico italiano da primeira metade

do século XVIII” (PIRES, 1994, p.38) na Oratória de Ignácio Parreira Neves. Dottori

aponta a atividade operística em Portugal de 1752 em diante como uma possível

responsável pela chegada das novidades estilísticas até os compositores mineiros da

segunda metade do século XVIII; e, como nos mostra Afonso Ávila, a atividade

operística em Minas Colonial foi regular e muito intensa, e a presença de um gênero

sacro numa Casa da Ópera, além de alguns religiosos estarem envolvidos diretamente

com a ópera – como o Pe. João de Deus –, pode ter sido também uma porta de entrada

na música sacra das formas musicais e do estilo operístico, pois um compositor, ao

escrever uma obra para ser encenada, deveria se adaptar às exigências cênicas e talvez ao

gosto do público.

A ópera mineira produziu artistas de qualidade reconhecida no restante do país,

como os tenores Cândido Inácio da Silva e Gabriel que brilhariam na cena no Rio de

Janeiro. Minas Gerais era fecunda em belas vozes, no dizer de Manuel de Araújo Porto

Alegre, e, segundo o poeta Colombo, citado na Viagem pitoresca e Histórica ao Brasil

de Jean Baptiste Debret, existiria um “estilo mineiro de cantar”, enquanto o geógrafo,

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físico e matemático francês Adrien Balbi considerava Minas o “celeiro do teatro do Rio

de Janeiro” (ÁVILA, 1977, p.62).

O estilo, de acordo com Conceição Rezende, é a “maneira de ser das obras de

arte. É como um espelho onde se refletem o pensamento e a sensibilidade coletiva de

épocas” (REZENDE, 1989, p.473). O estilo reflete também os condicionamentos

culturais e sócio-econômicos vigentes na sociedade, mas toda definição de estilo é

artificiosa, é uma “caricatura lógica” para identificar as características predominantes

num determinado momento. A este conceito de Rezende se contrapunha a musicologia

brasileira, que até algumas décadas atrás queria ter uma resposta definitiva para as

questões técnico-estilísticas relativas à Música Colonial Mineira e Brasileira, mesmo

ainda não existindo uma quantidade significativa de estudos sobre o repertório mineiro

do século XVIII. A bibliografia a esse respeito se constitui de um pequeno número de

artigos, livros e dissertações. Entretanto, podemos perceber uma mudança na perspectiva

metodológica ao abordar esse repertório, onde os pesquisadores priorizam os estudos de

caso (MORETZSONH, 1997, p.1-8).

Diante do panorama apontado pela bibliografia consultada, seria temerário

falarmos em um estilo colonial mineiro, o que é facilmente compreensível devido ao

enorme espaço de tempo que este termo abrangeria, a agitação política e social

característica do período, além das consideráveis mudanças estéticas que ocorreram na

Europa durante o século XVIII. Não houve em Minas Gerais durante os séculos XVIII e

XIX uma unidade estilística (CASTAGNA, 2001, p.34), sendo que tivemos a presença

desde reminiscências renascentistas, do estilo antigo e do estilo moderno, que adotou as

inovações técnicas e estéticas surgidas na ópera e na música instrumental profana, do

pré-clássico e clássico e ainda do Romantismo na obra do Pe João de Deus de Castro

Lobo, que surge com formas mais sensíveis para a vivência psicológica ou para a

contemplação.

Um aspecto bastante interessante sobre o estilo em Minas Gerais durante o século

XVIII e o princípio do XIX, que não foi mencionado por nenhum dos estudiosos

diretamente ligados à música por nós consultados, é um certo “modo, por assim dizer,

mais ‘gótico’, mais medieval do barroco mineiro em muitas de suas manifestações”

(VASCONCELLOS, 2004, p.57).

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Segundo Vasconcellos, em Minas Gerais o estilo barroco tomou:

“personalidade própria, mais livre por um lado, e por outro mais dramática, impressionista, marcando fortemente o seu conteúdo romântico em franca e definitiva oposição ao fundo classista do renascimento, que, muitas vezes, permanece presente nas manifestações barrocas” (VASCONCELOS, 2004, pg.57).

Esses “goticismos mineiros”, assim definidos por Vasconcellos, estariam

presentes na obra de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, nas suas figuras vestidas

à meia-noite, na postura contorcida das mesmas, no trágico quase sempre presente nas

fisionomias e na preferência pela histórias do Velho Testamento, que conduzem a um

clima mais ligado à Idade Média do que propriamente ao período barroco. Esse gosto

pelo medieval se manifestaria no uso que Aleijadinho fez de estampas francesas dos

séculos XIII e XIV como modelo para fazer os profetas de Congonhas.

Ainda não se sabe como Aleijadinho chegou a essas estampas, pois os livros

religiosos, os missais e a bíblia que circulavam por Minas Gerais eram ilustrados com

estampas renascentistas evidentemente evoluídas para o barroco (VASCONCELLOS,

2004, p.57).

Um outro caso bastante curioso é a Capela de São José, construída na Cidade de

Minas Novas, em meados do século XVIII, que é uma cópia exata da Capela de Laon,

França. Essa capela francesa foi erigida pelos templários no século XII e não existe

outra construção semelhante em todo o Brasil. Copiar plantas para a construção de

igrejas não era um procedimento usual na Capitania das Minas Gerais, o que torna esse

fato ainda mais intrigante (VASCONCELLOS, 2004, p.60).

Vasconcelos não tem dúvida que houve em Minas Gerais inspirações diretas do

estilo gótico. Seriam essas “inspirações góticas” a origem da grande quantidade de

quintas e oitavas paralelas encontradas na Música Colonial Mineira e, principalmente,

no Officio de Defuntos?

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Capítulo II - O Baixo Contínuo

Baixo contínuo é uma linha de baixo que se desenvolve por toda uma

composição, sobre a qual o intérprete improvisa um acompanhamento em acordes.

Esses acordes são determinados pelo compositor, que coloca cifras e/ou acidentes acima

ou abaixo da linha do baixo. Essa cifras e acidentes podem aparecer em abundância,

com escassez ou não aparecer completamente, o que não quer dizer que o intérprete não

tenha que tocar as harmonias; significa que tem que verificá-las e então executá-las

(WILLIAMS e LEDBETTER, 2001, p.346).

O contínuo geralmente era uma associação de instrumentos graves de corda

(viola da gamba baixo, violoncelo ou violone), ou de sopro (fagote, dulciana ou

trombone), com um instrumento harmônico de teclado (cravo, órgão) e/ou de cordas

dedilhadas (teorba, alaúde, guitarra). Essa associação não parece ter sido, como foi no

barroco tardio, um padrão (DONINGTON, 1963, p.294-296), pois às vezes no início do

barroco o instrumento harmônico pode ter sido usado como único instrumento de

contínuo.

A quantidade e a variedade de instrumentos usados no baixo contínuo no

princípio do Barroco eram grandes, com a possibilidade de mudanças tímbricas de

acordo com as mudanças de instrumentação. Monteverdi deixa claro, em suas cartas, da

adequação do uso de chitarrone e harpa para figuras pastorais (1615) e da inadequação

das cítaras, harpas e cravos para música aquática (1616) (WILLIAMS, LEDBETTER,

2001, p.347). Entretanto, padrões de instrumentação foram sendo estabelecidos, e

prática corrente de acompanhamento no século era a utilização de um cravo (ou órgão

de câmara, ou ainda um alaúde) mais um instrumento melódico (cello, gamba, ou, às

vezes, fagote) (DONINGTON, 1963, p.294-296).

Gradativamente, a parte do baixo vai adquirindo independência, tendo uma

linha melódica escrita exclusivamente para ele, como demonstram as pinturas do século

XVIII, nas quais o violoncelista ou gambista está lado a lado com o cravista, e às vezes

mostram também um contrabaixista dividindo o espaço com os últimos. Essa crescente

independência é confirmada pela publicação de partes separadas para o cravo e o baixo,

o que, no decorrer do século, tornará a presença de um instrumento de teclado como

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suporte harmônico cada vez menos necessária até o desaparecimento do baixo contínuo,

o que só acontecerá no século XIX.

2.1 Origens

A admiração e o conseqüente estudo da cultura grega pelo homem da

Renascença trouxeram inúmeras transformações em diversos setores da sociedade. Nas

artes não foi diferente, pois, tanto na pintura, arquitetura, escultura como na música,

sentimos a forte influência do pensamento grego. Na verdade, essa influência não era

nova, pois o homem medieval também conhecia a arte e a filosofia grega. O que parece

ter acontecido foi uma incrível intensificação do estudo da Grécia, como os estudos da

língua e filosofia grega feitos pela geração de Petrarca, ou ainda as escavações

arqueológicas feitas por artistas como Rafael.

Esse estudo estimulou tentativas de recriação do esplendor helênico, sendo que

as iniciativas de recriar a tragédia grega fizeram com que os poetas e músicos que

freqüentavam a Camerata dos Bardi, em Florença, se unissem com o objetivo de fundir

poesia e música, de uma forma que provavelmente só foi vista entre os gregos. Esses

artistas tinham um considerável conhecimento das tragédias e tinham em mãos

importantes documentos de música grega, como o publicado por Vicenzo Galilei, pai de

Galileo Galilei, e que era um importante membro da Camerata dos Bardi. Por volta de

1577, as cartas de Mei, um outro membro da camerata, eram alvo de debates nas

reuniões no palácio dos Bardi, e em 1581 Vicenzo Galilei publica o seu Dialogo della

musica antica e della moderna (Diálogo da música antiga e moderna) seguindo as

doutrinas de Mei.

Segundo Galilei, várias vozes cantando ao mesmo tempo, com ritmos, textos e

em registros diferentes, não seriam capazes de transmitir a emotividade do texto.

Somente uma linha melódica, com ritmos e alturas apropriadas, poderia exprimir um

determinado verso. A polifonia que era característica dos madrigais no século XVI, com

todos os recursos do contraponto, como inversão de vozes, imitações cerradas, vozes

cantando textos diferentes quase simultaneamente, de acordo com Galilei, só servia para

demonstrar a habilidade do compositor, e, se tivesse algum valor, seria na música

instrumental.

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Jacopo Peri, que também era membro da Camerata dos Bardi, descreve com

bastante clareza o novo estilo pretendido por Vicenzo Galilei:

“Pondo de parte todas as outras maneiras de cantar até hoje conhecidas, dediquei-me por completo a procurar a imitação conveniente a estes poemas. E pensei que o tipo de voz atribuído pelos antigos ao canto, a que chamavam diastemático (que é como quem diz sustentado e suspenso), podia, por vezes, ser apressado e tomar um andamento moderado, entre os lentos movimentos sustentados do canto e os movimentos fluentes e rápidos da fala, assim servindo ao meu propósito (tal como os antigos adaptavam a voz à leitura da poesia e dos versos heróicos), aproximando-se dessa outra voz da conversação, a que chamavam contínua e que os modernos usaram igualmente na sua música." (GROUT e PALISCA, 1998, p.322).

Evidentemente, uma mudança tão profunda nos parâmetros estéticos, já

preconizada por Galilei e seus companheiros da Camerata, exigiria novas formas de

expressão no acompanhamento. É o que propõe Peri, explicando a nova relação entre

música e texto e elucidando o comportamento adequado para o baixo e as harmonias,

que deveriam ser tocadas da seguinte forma:

“Reconheci também que na nossa fala alguns sons são entoados de tal forma que podemos construir sobre eles uma harmonia e que no curso da fala passamos por muitos que não são entoados deste modo até chegarmos a um que permita o movimento para uma nova consonância. Tendo em mente as entoações e inflexões que nos servem na tristeza e na alegria e em estados semelhantes, fiz com que o baixo se movesse em sincronia com eles, mais depressa ou mais devagar, segundo os afetos.” (GROUT e PALISCA, 1998, p.322).

Uma descrição tão objetiva da própria arte, além de rara, é de inestimável valor

para a compreensão deste período de profundas mudanças na concepção estética. Como

Peri demonstra, o baixo contínuo se adequa perfeitamente a essa nova concepção

estética, então definida por Caccini como Nuove Musiche em 1602, pois dá o suporte

harmônico necessário para o cantor e não faz imitações ou complexos movimentos

contra os quais vociferava Galilei.

Entretanto, de acordo com WILLIAMS e LEDBETTER (2001, p.346), a prática

de contínuo surgiu bem antes da Nuove Musiche e dos outros movimentos que foram

transformando os padrões estéticos da Renascença, e poderia ser convenientemente

divida em duas categorias distintas, embora correlatas.

Uma categoria seria a música sacra, onde o órgão poderia substituir com alguma

freqüência as partes vocais mais graves, ou as vozes que se ausentassem, pois os

organistas ficavam muitas vezes em dificuldade, porque tinham que tocar a parte, ou

partes, dos ausentes na execução de música polifônica, para não haver pausas

indesejadas, ou imitações não respondidas (ARNOLD, 1965, p.3). Na Renascença,

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esperava-se que o acompanhante, cravista, organista ou alaudista, fosse suficientemente

bem treinado para preencher as harmonias, a partir de uma parte de baixo somente.

Entretanto, na música polifônica isso não era muito confiável, pois seria difícil

distinguir à primeira vista um simples acorde na posição fundamental de um de 6a, ou

ainda uma 3a maior de uma menor. Um procedimento mais simples era a execução de

todas as partes vocais pelo organista, diretamente de partituras, que passaram a ser

publicadas divididas em compassos, para facilitar a leitura6 (DONINGTON, 1963,

p.222).

Nas obras policorais, numa complexa estrutura musical, cada coro tinha seu

próprio baixo, mas, em cada momento, existia um baixo mais grave. Então, este baixo

foi chamado de basso Continuo, pois esse (que seria o verdadeiro baixo) era ouvido

continuamente por toda a obra. Esse termo, que foi empregado pela primeira vez por

Ludovico da Viadana na sua obra Cento Concerto Ecclesiatici, a una, a due, a tre, e a

Quattro voci. Con il Basso Continuo per sonar nel organo... Venetia 1602

(DONINGTON, 1963, p.222 ) .

A primeira obra do gênero a ser publicada foi provavelmente Introitus et

Alleluia per omnes festivitates, de Placido Falconio (Veneza, 1575), mas existem

semelhantes baixos que podem ser anteriores ao de Falconio (WILLIAMS,

LEDBETTER, 2001, p.346).

A outra categoria seria a música secular, na qual a prática de tocar contínuo deve

ter surgido muito antes da música sacra, possivelmente na canção secular italiana, como

testemunha Castiglione, ao escrever em 1528 que o que ele gostava mais era de cantar

com um alaúde e recitar. Antonfrancesco, no seu Dialogo, de 1544, também fala sobre o

recitar de poemas acompanhados por lira, ou viuola. Em ambos os casos, não há

menção a baixo figurado ou não figurado (WILLIAMS, LEDBETTER, 2001, p.347),

mas já temos a descrição do que, posteriormente, será a essência do baixo contínuo,

talvez, antecipando intuitivamente a primeira descrição detalhada sobre a técnica de

6 O termo partitura ou spartitura, vem da palavra italiana partire, que se refere à divisão do pentagrama em barras de compasso, pois até então, não havia a necessidade desse procedimento, porque os compositores escreviam somente partes individuais. Então, devido ao surgimento dos primeiros Baixos de Órgão, começaram a seccionar, ou partire, a parte do baixo, daí derivando o nome partitura, ou spartitura, aplicado a essas partes (ARNOLD, 1965, p.6). Um exemplo são os Tutti Madrigali di Cipriano di Rore a 4 voci, spartiti (divididos, barrados) et accommodati per sonar d’ogni sorti d’instrumento perfetto..., Venetia 1577.

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improvisar um acompanhamento sobre um baixo dado, publicada em Roma em 1553,

por Diego Ortiz. Esse autor nos esclarece, no seu Tratado de glosas sopra clausulas y

outros generos de puntos en la musica de violones (Tratado de ornamentação de

cadências e outros tipos de notas em música para a viola-baixo), que existem três

maneiras de tocar sobre um baixo dado:

Na primeira, tanto o gambista como o cravista improvisam.

Na segunda, a viola toca ornamentando a melodia, enquanto o cravo acompanha

com acordes, ou um contraponto apropriado à melodia.

Na terceira, o cravo tocaria um madrigal, moteto ou outra obra para muitas vozes

(os exemplos de Ortiz são a quatro vozes), enquanto o violista faria variações sobre essa

peça ou improvisaria uma 5a voz (ARNOLD, 1965, p.5).

Como demonstrado no capítulo anterior, possivelmente tivemos em Minas

Gerais, no princípio da prática musical nas Igrejas, a presença da música renascentista

ibérica e o estilo antigo, sendo que muitas dessas obras ibéricas foram copiadas e

inseridas nas obras de compositores, como na obra Popule meus a Quatro vozes e/ Cum

descendibus in / Lacum/ Para Sesta [sic] Feira da Paixão de Gomes da Rocha, que era

uma cópia do Aestimatus Sum, e do Sepulto Domino do compositor espanhol Gines

Morata, (século XVI-XVII) (DUPRAT, in REZENDE, 1989, p.225). O estilo antigo, de

acordo com CASTAGNA (2001, p.25), esteve presente na obra de vários compositores

mineiros até o início do século XIX.

A presença do estilo antigo torna a descrição de Ortiz bastante interessante para

a Música Colonial Mineira, pois pode proporcionar uma abordagem um tanto diferente

desse repertório. O continuísta, tanto ao órgão quanto ao cravo, quando estiver tocando

obras comprovadamente ibéricas, ou nelas inspiradas, ou ainda obras compostas em

estilo antigo, poderia, ou melhor, deveria glosar as partes escritas ou improvisar um

novo contraponto adequado, pois os mineiros tinham bastante desembaraço com esse

repertório (DUPRAT, in REZENDE, 1989, p.229)

“Entre 1600 e 1640, vários compositores italianos e alemães escreveram

prefácios para suas obras com orientações de como tocar o contínuo com cifras, com

poucas cifras ou sem nenhuma cifragem providos por eles” (WILLIAMS,

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LEDBETTER, 2001, p.347). Os compositores alemães foram influenciados pela edição

na cidade de Frankfurt dos concerti de Ludovico da Viadana entre 1609 e 1613. A

Espanha apesar de ter ligações políticas com a Itália, somente inicia as discussões sobre

o baixo contínuo no final do século XVII. Entretanto, já existia uma prática bastante

difundida de grandes grupos de guitarras, alaúdes, tiorbas e harpas em festas profanas.

Desde 1550, existem evidências de que as Igrejas espanholas possuíam uma ou duas

harpas que eram usadas durante os serviços. A harpa mantém sua popularidade durante

os dois séculos seguintes, e o harpista deveria ser tão bom acompanhante quanto solista

(WILLIAMS, LEDBETTER, 2001, p.347-351).

A harpa também foi um instrumento de contínuo bastante tradicional na música

litúrgica em Portugal e em Minas Gerais, aparecendo nos relatos de pagamento nesta

capitania até meados do século, onde acompanhava litanias e procissões (DOTTORI,

1992, p.82).

Uma das primeiras obras dedicadas ao baixo contínuo na península ibérica, o

Nuevo modo de cifra para tañer la guitarra, data de 1640 e foi publicada em Nápoles

por Nicolau Velasco, um português radicado na Espanha (FAGERLANDE, 2002, p.20).

2.2 O Baixo Contínuo em Portugal e no Brasil no século XVIII

Apesar da publicação do Livro de Salmos até 16 vozes em 1657 pelo português

João Lourenço Rebelo, primeiro conjunto de obras portuguesas baseados no baixo

contínuo (CROWL, 1984, p.89), as formas às quais o baixo contínuo está

tradicionalmente associado, como a ópera e a cantata, só entram em Portugal

tardiamente, sendo por esse motivo que os primeiros tratados dedicados a esse assunto

surgem somente em meados do século XVIII. O processo de italianização da vida

musical portuguesa a partir do reinado de D. João V faz aumentar a prática musical nos

salões e a atividade operística nos teatros. A partir desse momento, é que surge a

necessidade dos tratados de baixo contínuo.

Até aparecerem as primeiras publicações portuguesas, as fontes utilizadas eram

provavelmente as de origem estrangeira, como as reglas generales de acompañar, de

José de Torres Martinez Bravo (ca. 1670-1738) e, principalmente, L’armonico pratico

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al cimbalo, de Francesco Gasparini (1668-1727). Bravo se baseia em Gasparini no uso

da acciacatura e nas diminuições do baixo, e esse autor italiano será muito importante,

pois servirá de modelo para os principais tratados portugueses do século XVIII

(FAGERLANDE, 2002, p.20-22).

L’armonico pratico al cimbalo, de Francesco Gasparini, editado em Veneza no

ano de 1708, foi “indubitavelmente um dos primeiros e mais importantes sumários do

conhecimento da teoria e prática do ‘acompanhamento’ de contínuo” (TAGLIAVINI,

2005, p.33), e continuou sendo editado por todo o século XVIII, tendo sido publicado

pelo menos nove vezes, sendo que a última edição foi realizada em 1802. Este tratado

exerceu uma influência significativa nos contemporâneos e sucessores de Gasparini,

como Heinichen, com seu tratado Der General-Bass in der composition, publicado em

Dresden em 1728, ou Padre Martini, o grande músico e estudioso de Bolonha, que foi

também professor de Mozart quando de sua viagem à Itália em 1770, que copiou a obra

de Gasparini, fazendo longas e detalhadas observações e adendos. Sua influência

chegou também a Portugal e ao Brasil7 (FAGERLANDE, 2002, p.20-22;

TAGLIAVINI, 2005, p.33-35; PAHLEN, 1991, p.81).

Gasparini foi um compositor renomado, ocupando postos importantes como o de

maestro di coro no Ospedale della Pietá, em Veneza, e foi professor de grandes

compositores do século XVIII, como D. Scarlatti, Quantz, Platti e Benedetto Marcello.

O autor atribui seus conhecimentos de contínuo a Bernardo Pasquini, e, além desse, cita

como modelo Corelli, ao qual atribui uma harmonia perfeita (FAGERLANDE, 2002,

p.20-22; TAGLIAVINI, 2005, p.35-37).

As orientações de Gasparini em seu tratado são eminentemente práticas,

voltando-se para a prática contemporânea à época de seu tratado. As regras de harmonia

não são nunca separadas de sua realização ao teclado (TAGLIAVINI, 2005, p.38), e ele

diz para o acompanhante ao cravo usar a harmonia mais cheia possível, dobrando

consonâncias, usando o maior número de notas para obter mais harmonia

(GASPARINI, 1722, p.11-16). O autor não está preocupado com 5as e 8as paralelas entre

as vozes internas, mas somente entre as vozes externas da harmonia. Conforme 7 Existem dois exemplares do L’armonico pratico al cimbalo em bibliotecas do Rio de Janeiro. O editado em Bologna em 1713 está na Biblioteca Nacional e o outro, com a data de edição erroneamente de 1542, está na Biblioteca da UFRJ. Gasparini é citado por Luís Álvares Pinto em seu tratado Muzico e moderno

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Gasparini, entre as vozes internas qualquer movimento pode ser justificado pelo

cruzamento das partes, justificando assim todas as 5as ou 8as paralelas (GASPARINI,

1722, p.62). Esse é um importante conceito para a Música Colonial Mineira, porque

havia um “uso sistemático de quintas paralelas entre os mineiros. Elas são tão

freqüentes que inibiram as tendências classicizantes ou pré-classicizantes de corrigi-las”

(DOTTORI, 1994, p.103).

Ao órgão é descrita uma abordagem diferente, sendo que a maneira de tocar a

harmonia cheia só é adequada aos tutti, mas não aos concertini ou para passagens a uma

ou duas vozes (TAGLIAVINI, 2005, p.39-40, FAGERLANDE, 2002, p.22).

Entretanto, talvez o capítulo mais original e interessante do L’armonico pratico

al cimbalo, seja o capítulo IX, Delle false de Recitativi, e del modo di far Acciaccature.

Esse capítulo aborda o recitativo e evidencia a prática italiana do período, como o uso

das acciaccature. As acciaccature seriam notas estranhas à harmonia tocadas ao mesmo

tempo que os acordes e causariam um maravilhoso efeito, no dizer de Gasparini, sendo

mais adequada ao cravo, particularmente quando acompanha recitativo e canções

solenes, e ao órgão seriam usadas nos tutti (vide Exemplo 2). Esse costume de usar

acciaccature no acompanhamento é anterior ao século XVIII, mas Gasparini é um dos

primeiros a fazer uma codificação de maneira clara e exaustiva, e seu uso se estende

mais tarde também à música para cravo solo, como testemunham obras de Alessandro e

Domenico Scarlatti e Lodovico Giustini da Pistoia (TAGLIAVINI, 2005, p.40-45).

Exemplo 2: As acciaccature apresentadas no Tratado de Francesco Gasparini.

A importância do L’armonico pratico al cimbalo, para a prática de baixo

contínuo no período colonial, tanto em Minas Gerais como no restane doBrasil, é

systema para solfejar sem confusão, publicado em Recife, em 1776 (BINDER e CASTAGNA, 1998, in FAGERLANDE, 2002, p.22 ).

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elucidada na tese de doutorado de Marcelo Fagerlande, O Baixo Contínuo no Brasil: A

Contribuição dos Tratados em Língua Portuguesa. Nessa tese, Fagerlande mostra que

não só o fato de grande parte dos ensinamentos de Francesco Gasparini ser apresentada

nos tratados luso-brasileiros, mas também a maneira dessa apresentação refletem uma

proximidade muito maior com o modelo do mestre italiano que com os outros tratados

europeus da segunda metade do século XVIII (FAGERLANDE, 2002, p.16-17).

Esse autor ressalta também a necessidade da compreensão da situação musical

em Portugal, porque:

“Qualquer estudo sobre a música no Brasil nos séculos XVIII e XIX, em especial sobre o contínuo, terá que naturalmente levar em consideração a situação portuguesa da mesma época. As razões tanto políticas quanto econômicas comprovam o vínculo forte entre os dois países; este elo é refletido também culturalmente, tanto pelo fato de que aqui as atividades musicais de origem européia foram muito mais intensas do que em outras colônias portuguesas, mas principalmente porque a maior parte das informações sobre música européia no Brasil passava por Portugal.” (FAGERLANDE, 2002, p.23).

Fagerlande utiliza, como base para seu estudo sobre a prática de contínuo no

Brasil Colonial, somente tratados portugueses que tenham tido uma presença

comprovada no país e duas obras publicadas no Rio de Janeiro, no século XIX. As obras

usadas são:

1. Compendio Musico ou Arte Abreviada, de Manuel Moraes

Pedroso, Porto, 1751;

2. Regras de acompanhar no cravo, ou órgão e ainda também para

qualquer outro instrumento de vozes, de Alberto Joseph Gomes as Silva,

Lisboa, 1758;

3. Novo Tratado de Música, Métrica e Rythmica, o qual ensina a

acompanhar no cravo, órgão, ou qualquer outro instrumento, de Francisco

Ignácio Solano, Lisboa, 1779;

4. Compendio de musica, theorica e pratica, de Domingos de S.

José Varella, Porto, 1806;

5. Arte da Muzica para uso da mocidade brazileira, de autor

anônimo, Rio de Janeiro, 1823;

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6. Breve tratado d’harmonia, contendo o contraponto ou regras da

composição musical e o baixo cifrado ou acompanhamento d’órgão, de

Raphael Coelho Machado, Rio de Janeiro, 1851.

Existem ainda outras obras sobre o contínuo em manuscrito de João Esteves,

Romão Mazza, José Joaquim dos Santos e David Peres. Tanto o tratado Solfejos de

acompanhar, de Joaquim dos Santos, como o tratado de seu professor David Peres

foram provavelmente escritos para o uso dos alunos do Seminário Patriarcal de Lisboa.

Essas obras não são incluídas por Marcelo Fagerlande no rol de obras que podem ter

influenciado a prática de baixo contínuo no Brasil por ainda não haver sido encontrado

qualquer registro de sua presença no país. Entretanto, como vimos no capítulo sobre o

estilo na Música Colonial, existem dezenas de obras de Peres nos arquivos mineiros e

também existem obras de José Joaquim dos Santos no Museu da Música de Mariana

(CROWL, 1994, p.31). Esse último, que Rezende classifica como compositor de

Diamantina (REZENDE, 1984, p.67), pode se tratar de compositor português, segundo

o musicólogo Harry Crowl. Apesar de não haver nenhum registro da presença dessas

obras, não consideramos impossível que o tratado de David Peres, ou, mais

remotamente, o tratado de Joaquim dos Santos possam ter feito parte da formação dos

compositores mineiros, devido à significativa presença das obras de Peres na Capitania

das Minas Gerais, e talvez uma comparação dos conteúdos desse tratado com algumas

obras mineiras do período sejam no futuro de grande utilidade para uma melhor

compreensão de sua real influência na música mineira.

Um dos primeiros tratados portugueses de contínuo a ser editado é o de Manoel

de Moraes Pedroso, publicado no Porto em 1751, com uma segunda edição em 1769.

Pedroso era um compositor estabelecido no Porto em meados do século XVIII. O

Compendio musico, de 1751, tem 47 páginas, mais três folhas sem número, sendo

dividido em três partes: Tratado da cantoria, Tratado do acompanhamento e Tratado

do contraponto. Na primeira parte estão contidas as informações sobre teoria musical,

como explicação das notas, hexacordes, linhas, espaços e claves, tempos e compassos,

valores das notas, acidentes, e inclui também ornamentos vocais e orientações para o

cantor ornamentar uma cadência. Curiosamente, Pedroso não inclui uma explicação

sobre os intervalos.

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O segundo tratado, que versa sobre o acompanhamento, explica os rudimentos

do acompanhamento sobre o baixo cifrado, com recomendações práticas de

performance, da inclusão de diminuições e da maneira de por os dedos no órgão.

Acrescenta, ainda, informações básicas sobre a técnica do instrumento e recomendações

sobre dedilhado.

O terceiro tratado é dedicado ao ensino do contraponto, no qual Pedroso explica

de maneira simples as espécies e o movimento das vozes, a escrita de um baixo, canon,

fuga, imitação, como tratar a nota cambiata e achacaturas [sic], e conclui explicando

como compor uma ária, solo, dueto ou qualquer concertado e ainda um recitativo,

sinfonia ou minuete. Segundo o próprio Moraes Pedroso, seu Compendio é utilíssimo

para o Culto Divino, pois, na sua época, as Igrejas padeciam a falta de cantoria,

acompanhamento e contraponto, e que a música praticada nos coros e nas casas do

Porto era fraca pela limitação dos que a ensinavam. Pedroso trata também do uso do

órgão nas Igrejas, usando vários argumentos de ordem religiosa, mas que se explicam

pela solicitação da publicação requerida ao Santto officio. Pelas características desse

tratado, Fagerlande o inclui nos tratados voltados para a prática, pois Moraes Pedroso dá

pouca ênfase às fontes teóricas (FAGERLANDE, 2002, p.37-40).

O tratado de Gomes da Silva, Regras de acompanhar no cravo, ou órgão e

ainda também para qualquer outro instrumento de vozes, de 1758, tem 39 páginas, mais

seis sem numeração no início e mais duas com o index no fim. Ensina como harmonizar

através da regra de oitava, ou por determinadas seqüências do baixo. Explica as

dissonâncias e como tratá-las, como acompanhar em alguns casos – em pausas, usando

a nota cambiata, e em fugas. Esse tratado tem uma orientação mais voltada para a

prática, e na apresentação o autor aponta o conteúdo do livro que seria para “cultivar

huma faculdade, que tanto florece nas Cortes mais polidas da Europa”, que seria

acompanhar usando o baixo contínuo e sugere que sua obra se destina à mocidade

(FAGERLANDE, 2002, p.37).

O Compendio de Musica do Frei Domingos de São José Varella, de 1806,

contém 104 páginas, com mais quatro introdutórias, e ainda cinco páginas finais com

exemplos musicais. São três as partes desse tratado: Compendio de Musica, Lições de

Acompanhamento, e Medidas dos braços das violas, e guitarras, e da canaria do órgão.

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Na primeira parte estão incluídas as bases da teoria musical, incluindo modo de

teclar e dedilhar, e recomendações sobre técnica tecladística. A segunda é que trata do

acompanhamento do baixo contínuo, versando sobre os intervalos, tons, inversões e

movimento das vozes. Varella expõe a regra de oitava e diferencia os modos de cifrar o

baixo do baixo não cifrado, ensinando como interpretar as cifras. Aborda também as

dissonâncias, suspensões e antecipações, incluindo ainda acordes compostos e alterados,

modulação, acciaccature e notas cambiatas. Ainda nesta parte inclui explicações Do

modo como se deve acompanhar. A terceira parte aborda a questão da afinação e da

construção de instrumentos, do tamanho dos tubos do órgão e o Modo de registrar no

Órgão e contém demonstrações de quatro sistemas de afinação para teclado. Varella

encerra seu tratado com as Lições de Acompanhamento, com recomendações para a

performance (FAGERLANDE, 2002, p.38).

A Arte de Muzica, de autor anônimo de 1823, tem 39 páginas e trata de

conceitos básicos de teoria musical como claves, acidentes, compassos, figuras e

pausas, tons etc.; inclui também indicações úteis à performance, como andamentos e

sinais expressivos. O que diferencia a Arte de Muzica das artinhas que proliferaram no

Brasil no século XIX é a inclusão do item denominado Do acompanhamento. O

desconhecido autor menciona a importância do conhecimento do basso continuo para o

acompanhamento de minuetes e modinhas, fala resumidamente sobre a natureza dos

intervalos e das cifras, da regra de oitava e de uma versão simplificada dessa regra para

instrumentos como a guitarra. É um método voltado para a prática.

O Tratado de Musica Metrica e Rythmica, de Francisco Solano, que reúne

ensinamentos para o aprendizado do baixo cifrado, é o mais longo dos estudados por

Fagerlande. Contém 301 páginas, mais dezesseis páginas com dedicatória e prefácio e

tem uma abordagem aprofundada na parte prática e teórica. Esse tratado é dividido em

demonstrações que abordam desde explicações sobre o teclado, afinação, teoria musical

relacionada à prática harmônica, como intervalos com suas classificações e qualidades,

relações harmônicas e tonalidades, até questões diretamente ligadas à prática ao teclado,

como regra de condução de vozes, movimento e números de vozes, postura do corpo e

dedos, dedilhados e ornamentos. Questões específicas relativas ao baixo contínuo

aparecem nas Demonstrações XIII à XLII, que compreendem as páginas 61 a 272 da

obra, onde Solano trata de como utilizar os acordes e suas as cifras, como harmonizar,

como interpretar as cifras e como o instrumentista deve proceder em determinadas

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situações. O autor apresenta a regra de oitava, explica a mudança de posição e de como

lidar com baixo em saltos, explica as dissonâncias, como resolvê-las e onde colocá-las.

Solano aborda a nota cambiata e acciaccature, as modulações e casos harmônicos

excepcionais, fugas e transposição. Esse tratado versa também sobre questões mais

especulativas, com cinco Demonstrações dedicadas às proporções.

O Breve Tratado de Harmonia, de Coelho Machado, tem 124 páginas, e é

voltado para o aprendizado de harmonia e composição escrita. Apesar disso, ainda

existem nessa obra resquícios da prática de acompanhamento nos itens relativos às

regras de condução e número de vozes e realizações (FAGERLANDE, 2002, p.36-40).

Apesar de a Arte de Muzica, o Breve Tratado de Harmonia e o Compendio de

Musica de José Varella terem sido publicados após a morte de Lobo de Mesquita (em

1806), cremos que esses tratados possam ter relevância para o nosso trabalho, por

demonstrarem a continuidade, ou não, de algumas práticas de contínuo e da importância

que o assunto ainda tinha em período bastante avançado.

Quase a totalidade das obras citadas acima é voltada aos tecladistas, sendo que a

obra anônima faz constantes referências aos guitarristas, e a obra de Coelho Machado é

dirigida aos estudantes de composição. Os tratados de Moraes Pedroso, Varella, Gomes

da Silva e Solano mencionam em seus títulos que os conhecimentos neles contidos em

suas obras podem ser utilizados por outros instrumentos harmônicos. Entretanto, o

tratado de Pedroso contém uma parte voltada aos cantores, a qual ele denomina Da

Cantoria.

Outra característica também de quase todos esses tratados, com exceção do de

Solano, é que foram concebidos para iniciantes. A obra de Solano é voltada para

músicos mais experientes, por seu conteúdo mais extenso e pela maneira mais detalhada

e profunda com a qual o autor apresenta esse conteúdo, sendo essa obra útil tanto para a

música sacra quanto para a profana (FAGERLANDE, 2002, p.42).

Vários aspectos do L’Armonico pratico al Cimbalo, de Francesco Gasparini, são

encontrados nos tratados luso-brasileiros acima mencionados. Dentre eles podemos

ressaltar: a harmonização da escala, que mais tarde seria chamada de regra de oitava e

que pode ter servido de modelo para os referidos tratados, a maneira básica de

harmonizar, as recomendações do grande número de vozes, que é um aspecto

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importante da obra de Gasparini e que são encontradas em Moraes Pedroso, Solano e

Varella. Um outro fator que mostra a grande importância da obra de Gasparini é a

inclusão por Solano da tabela de transposição e dos exemplos de acciaccature, incluídos

na obra italiana e transcritos para a obra do português praticamente sem alterações.

Solano usou também exemplos de Moraes Pedroso e Gomes da Silva, como o uso da

achacatura e da nota cambiada (FAGERLANDE, 2002, p.46).

2.3 O Baixo Contínuo como Fundamento da Composição

Segundo Solano, o “tocar, ou Acompanhar scientífico no sobredito instrumento

[cravo], não é outra cousa mais do que hum Compôr de repente” (SOLANO, 1779,

p.78, in FAGERLANDE, 2002, p.52). Este é talvez um dos conceitos que Solano

absorveu da obra de Gasparini, que no seu tratado de 1708 diz que “l’acompagnare è un

comporre all’improviso” (GASPARINI, 1708, p.70, in FAGERLANDE, 2002, p.52).

Um fator preponderante que possibilita ao baixo (cifrado ou não) servir de base

para a composição é a sua característica de resumir a harmonia completa da obra,

adequando-o assim ao estudo da harmonia e análise. A maior parte dos métodos de

baixo contínuo diz servir para o acompanhamento de improviso, como também para o

ensino da composição, e compositores como J.S.Bach, G.Telemann, Werckmeister,

Niedt, Campion, Mattheson, Heinichen, C. P. E. Bach e Kirnberger também ressaltam a

importância do contínuo para a composição (LESTER, 1992, in FAGERLANDE, 2002,

p.49-51).

Os autores luso-brasileiros também enfatizam as relações existentes entre o

contínuo e a composição. Moraes Pedroso, por exemplo, quando trata de assuntos mais

ligados à composição na terceira parte de sua obra, o Tratado de Contraponto, sempre

usa como referência os conhecimentos transmitidos no Tratado de Acompanhamento.

Solano, que como citamos acima, considera acompanhar um compor repentino,

distingue enfaticamente a música prática da especulativa e critica os meramente

práticos. Quando esse autor explica o uso das dissonâncias, adverte que abordará o

assunto como se estivesse escrevendo sobre o contraponto ou composição.

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Varella, na introdução de seu tratado, mostra de maneira evidente que o caminho

para um aprendiz de compositor passa inicialmente por “acompanhar qualquer papel”, e

a teoria serve para dar “alguma razão d’aquillo, que até ali sabia só praticamente”.

Coelho Machado preserva elementos básicos dos tratados mais antigos, incluindo, no

seu Tratado de Harmonia, o contraponto – ou regras de composição musical – e o baixo

cifrado – ou acompanhamento d’órgão – na sua obra, que é destinada à formação de um

compositor (VARELLA, 1806, in FAGERLANDE, 2002, p.51-52).

A importância dada pelos tratadistas portugueses ao baixo contínuo, como parte

fundamental na formação do compositor, pode explicar em parte a cópia feita por Torres

Franco em Mariana, em 1790, da obra de Moraes Pedroso, e a existência de um

exemplar da edição de 1769 dessa mesma obra. Apesar dos mineiros usarem as

Artinhas8 como uma fonte importante na formação musical básica, eles podem ter usado

também os tratados portugueses de baixo contínuo como um guia para o aprendizado da

composição.

Os tratados de contínuo “resumem o pensamento das teorias composicionais da

época barroca, ensinam dados essenciais da composição através de esquemas

cadenciais, ou de progressões de baixo típicas e de receitas de como juntá-las”

(FAGERLANDE, 2002, p.50). Esse era um procedimento adotado para os executantes e

para os compositores, que usavam as seqüências de baixo cifrado ou não cifrado nas

suas composições, sendo a regra de oitava uma das formulae mais utilizadas. O papel

importante desempenhado pela improvisação foi o que evitou uma excessiva

sistematização e conseqüente empobrecimento dessa música (LEDBETTER e

WILLIAMS, 2001; BUKOFZER, 1947, p.50).

2.4 Diminuições

Gasparini é novamente o primeiro a oferecer um grande número de exemplos de

diminuições, floreios, embelezamentos (vide Exemplo 3) e maneiras de dar graciosidade

ao acompanhamento. Ele propõe vários padrões elegantes para a mão direita para

algumas passagens mais comuns do baixo, enquanto a mão esquerda toca as

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consonâncias necessárias. Esses padrões estão sistematicamente ordenados por graus

ascendentes e descendentes, por saltos de 3a ou 4a, sobre a dominante, cadências

arpejadas etc., mas conclui dizendo que é essencial não confundir o cantor, tampouco

tocar passagens que sejam semelhantes às que acabaram de ser ouvidas e, ainda, não

dobrar as notas cantadas pelo solista ou de qualquer outra parte aguda composta para o

violino (TAGLIAVINI, 1981, p.59-60).

Exemplo 3: As diminuições do Tratado de Gasparini.

Os autores portugueses aqui mencionados, ao que parece, ou foram

influenciados ou concordam com Gasparini. Moraes Pedroso, por exemplo, no Tratado

de Acompanhamento recomenda a diminuição como uma outra possibilidade de

acompanhar quando se está sozinho ao órgão, sem outros instrumentos. Esse autor

sugere que ao invés de tocar os acordes, devem-se tocar as figuras diminuídas “como se

quizesse tocar alguma symphonia sobre aquelle Basso, attendendo sempre as especies,

que havia de levar o acompanhamento” advertindo que “o melhor he ver se se pode

andar em Imitações com a voz que canta, e nunca dár corridas ao mesmo tempo que a

vóz as dá”, ressaltando ainda a importância da audição nesse tipo de aprendizado

(PEDROSO, 1751, p.20, in FAGERLANDE, 2002, p.82).

Gomes da Silva não aborda o assunto das diminuições, restringindo-se apenas a

falar sobre a possibilidade de glosar o baixo em algumas situações. Já Francisco Solano

faz recomendações sobre a inclusão de ornamentação no acompanhamento, na

8 As “Artinhas” eram tratados de teoria musical que “explicitavam as regras de canto, de acompanhar, do contraponto etc. Aparecem também com o nome de ‘Escola de canto e orgam’, compêndio da ‘Arte da Música’” (REZENDE, 1989, p.487)

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Demonstração XXX, em que trata da nota cambiata e da acciacatura, com clara

influência da obra de Moraes Pedroso. Segundo Solano, esse acompanhamento é

adequado quando é feito por um único instrumento, onde o instrumentista deve ater-se à

harmonia prevista utilizando a ornamentação livre como floreios e arpejos, além da

imitação, mas com o cuidado de não ser simultaneamente ao solista, dizendo

(SOLANO, 1779, in FAGERLANDE, 2002, p.84):

“Há também um certo modo de acompanhar com diminuição, o qual he proprio, quando se há de ouvir uma Voz somente, sem mais instrumentos do que o Órgão, ou o Cravo. Consiste em que sobre as Espécies, que competem a Harmonia, ou com ellas mesmas, se ande floreando, arpejando, ou fazendo Imitações em contraposição da sobredita Voz, no que he preciso muito aviso para não confudir, e escandalizar o Cantor. Não se podem dar Corridas, ou fazer Volatas juntamente com elle, mas sim depois, se for por Imitação” (SOLANO, 1779, p.155-156, in FAGERLANDE, 2002, p.85).

Varella, entretanto, não aborda o assunto de maneira mais profunda, apenas

acrescentando em uma nota de rodapé que “Quando há pausas nas vozes, e no

Acompanhamento, se pode fazer em lugar das pausas alguma passagem bem deduzida

da Musica antecedente” (VARELLA, 1806, p.34, in FAGERLANDE, 2002, p.85).

Um exemplo muito interessante de diminuições, neste caso, melódicas, é a

tabela de notas de passagem fornecida por Coelho Machado, no seu Tratado de

Harmonia, na página 61, onde esse autor mostra a continuidade de uma prática

característica do século XVIII (FAGERLANDE, 2002, p.87), o que mostra que o uso de

diminuições provavelmente era conhecido no Brasil Colonial (vide Exemplo 4).

A importância das diminuições e da imitação, ressaltada pelos compositores do

século XVII e XVIII e pelos estudiosos modernos na execução do contínuo, e

principalmente pelos compositores portugueses estudados por Marcelo Fagerlande,

mostra a importância, para o intérprete de baixo contínuo na Música Colonial, de fazer

realizações mais ricas do ponto de vista melódico. O cravista ou o organista, ou ainda o

harpista e mesmo os instrumentos melódicos graves, quando tocarem baixos muito

simples, podem acrescentar algumas diminuições em vez de simplesmente tocar os

acordes básicos sugeridos pelas cifras, ou ainda imitar a voz ou algum instrumento nas

pausas, ou quando houver trechos polifônicos ou contrapontísticos.

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Exemplo 4: Tabela de diminuições do Breve tratado d’harmonia de Coelho Machado

Uma prova contundente do uso das diminuições no acompanhamento em Minas

Gerais e de vários conceitos enunciados por Gasparini no L’armonico pratico al cimbal,

é a Missa e Credo a quatro vozes, com Acompanhamento d’Órgão, Pelo Sr Jeronimo de

Sz Queiroz em 1826 (vide Anexo II). Esse manuscrito pertence ao Museu da

Inconfidência em Ouro Preto e foi copiado gentilmente pela musicóloga do Museu

Mary-Ângela Biason. Jeronimo Queiroz, como o próprio enunciado diz, realizou uma

parte de contínuo para órgão a partir de uma missa e credo pré-existentes de José

Jeronimo de Sousa, e esta é, segundo DOTTORI (1994, p.74), a única peça do período

com a parte de contínuo realizada. Por esse motivo, essa missa e credo servirão de

referência para a confecção de uma parte de contínuo de algumas partes do offício de

Defuntos.

No Kyrie, temos logo no 1o compasso as acciaccaturas escritas como pequenas

apoggiaturas; no 2o compasso as pausas do baixo são preenchidas por uma escala

ascendente e os acordes, quando a dinâmica geral é forte, têm cinco, às vezes seis sons

(vide Anexo II, p.106).

No compasso 25 do Glória, temos um exemplo de preenchimento com um

arpejo com um contorno melódico bem delineado (vide Anexo II, p.108).

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No Credo, a partir do 3o compasso temos um excelente exemplo de diminuição

no baixo. Na parte original do baixo instrumental no compasso 11, temos apenas um ré

em mínima, seguido de fá# e ré em semínimas, e Sousa Lobo os transforma num baixo

d’Alberti em colcheias, e no compasso 8, temos um exemplo de diminuições na mão

direita do órgão como recomenda Gasparini, Pedroso e Solano (vide Anexo II, p.112).

No Et Ressurexit (vide Anexo II, p.114), temos o baixo glosado a partir do

compasso 9, uma textura que varia de 2, 3 chegando a 8 vozes no compasso 44. Nos

compassos 17 e 18, Queiroz usa um procedimento interessante: pausas na mão direita

onde não há pausas correspondentes no baixo. Nos compassos 21 e 22 e 50-53, esse

autor usa diminuições na mão direita. Há também um interessante dobramento de notas

alteradas nos compassos 36 e 37.

2.5 O Baixo não Cifrado

O cuidado com a cifragem do baixo variou desde partes demasiadamente

cifradas, ou esparsamente cifradas, até baixos sem cifra alguma, o que deixa vexados os

editores modernos. De qualquer maneira, um baixo não cifrado não quer dizer que ele

não deva ser realizado; isso somente transfere toda a responsabilidade para o intérprete,

como ocorre regularmente na ópera italiana de meados do barroco. Os compositores

italianos eram em geral menos cuidadosos neste sentido que seus colegas franceses e

alemães (BUKOFZER, 1947, p.27).

Essa ausência das cifras se deu por vários fatores, dentre eles o fato de o baixo

cifrado não ter sido adotado unanimemente por todos os compositores, por indolência

tanto de compositores como dos copistas e pelo alto custo das edições, além de muitas

vezes ser o próprio compositor que tocava o contínuo tornando desnecessária uma

escrita por extenso das cifras (LESTER, in FAGERLANDE, 2002, p.53). Tanto a

ausência quanto a simplicidade das cifras causou a necessidade do estabelecimento de

regras para se achar facilmente uma harmonia adequada a cada baixo (DONINGTON,

1963, p.225-226).

A ausência de cifras é um aspecto bastante importante para a obra de um

compositor mineiro como o Pe. João de Deus de Castro que, segundo Mary-Ângela

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Biason, não cifra o baixo pelo fato de ser organista e de ser ele mesmo quem tocava o

contínuo de suas obras. É certo que João de Deus teve um intenso contato com o baixo

contínuo, tanto pela tradição do uso do contínuo em Minas setecentista como pelo fato

de ter sido ele maestro na Casa da Ópera de Vila Rica. Curiosamente têm acontecido

concertos em Belo Horizonte e em cidades históricas nos quais as orquestras não

utilizam um instrumento harmônico para realizar o contínuo, usando como argumento a

falta de cifras nos manuscritos.

Na metade do século XVIII, houve maior precisão e mais complexidade das

cifras pela maior elaboração das harmonias, e porque os compositores não queriam dar

muita liberdade para os intérpretes improvisarem. Houve um crescimento tão absurdo

das cifras que Telemann e Rameau, dentre outros, tentaram sem sucesso reduzi-las a

uma quantidade razoável. Foram criadas várias regras para lidar com a escrita

complicada dos acordes (OBERDÖRFFER, 1995, LESTER, 1992, in FAGERLANDE,

2002, p.54).

Os tratadistas portugueses estavam atentos a essas dificuldades provocadas pelo

excesso e pela ausência de cifras. Solano aconselha tocar pela partitura, pois seria mais

fácil saber como a obra deve ser acompanhada, já Varella diz:

“He tal a variedade com que costumão cifrar o Baixo continuo, que mal se pode dar regra certa nesta matéria. Huns cifrão os Acordes ainda os mais compostos com huma só cifra; outros aumentão o seu número de tal sorte, que causão confusão: huns e outros cifrão de hum modo irregular, que humas vezes he necessario advinhar, outras impossível conhecer, o que elles querem explicar por similhantes cifras” (VARELLA, 1806, p.34).

Muitos procedimentos foram adotados pelos compositores e tratadistas para lidar

com o baixo não cifrado, sendo que um dos mais freqüentes foi a regra de oitava

(FAGERLANDE, 2002, p.55).

2.6 A Regra de Oitava

A regra de oitava teve sua origem no costume dos professores de guitarra do

início do século XVII de dar aos seus alunos escalas com acordes para cada grau da

escala. A versão mais sofisticada foi a de Nicola Mattei, no tratado Escala Universal,

mostrando como construir acordes para cada grau da escala cromática (1682), e esse

princípio culminou na formulação de Campion com a règle d’octave em 1716.

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Gasparini e Heinichen publicam exemplos de regra de oitava, mesmo que ainda

incompletos em 1708 e 1711, respectivamente (WILLIAMS e LEDBETTER, 2001,

p.362).

A regra de oitava era uma escala ascendente e descendente (vide Exemplo 5)

com uma harmonia específica para cada grau, sendo na realidade utilizados apenas os I,

IV e V graus, sendo que a escala descendente tem harmonia diferente da ascendente.

Inumeráveis publicações do século XVIII apresentam a regra de oitava, que servia para

ensinar uma sucessão básica de acordes, além de uma forma de tratar os baixos não

cifrados e uma base para a improvisação. Michel Correte a considerava uma “bússola do

acompanhador”. Um método de harmonia, acompanhamento e teclado, escrito por

Löhlein, muito popular no século XVIII, com várias edições até 1848, dedica grande

espaço à regra de oitava. C. P. E. Bach utilizava uma forma simples da regra de oitava

para ensinar improvisação, e seu valor como exercício permaneceu até o século XIX. O

sucesso da regra de oitava acelerou o processo de fixação da tonalidade, e os métodos

do começo do século XVIII publicam pela primeira vez todas ou parte das 24

tonalidades devido às suas características (LESTER, 1992; FICHET, 2000, in

FAGERLANDE, 2002, p.56 e 57).

Exemplo 5: A regra de oitava apresentada no Tratado de Coelho Machado; 1ª de três posições.

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A regra de oitava está presente em todos os tratados luso-brasileiros. Ela é

referência fundamental para a harmonização e para cifragem dos baixos e também para

lidar com o baixo não cifrado desde o tratado de Moraes Pedroso (1751) até o de

Raphael Coelho (1851). Os autores portugueses não chamam a regra de oitava pelo seu

nome mais comum, usando para tal, regras gerais da Armonia, Regras para

acompanhar, dentre outros nomes. Os brasileiros, como o autor anônimo de 1823, usam

o termo regra de oitava e ainda mencionam que o primeiro a publicá-la foi Delaire em

1700. Coelho Machado em 1851 também menciona a “Regra d’octava”

(FAGERLANDE, 2002, p.58 e 59).

As harmonias indicadas para os graus da escala são praticamente as mesmas

desde Moraes Pedroso, em 1751, até Coelho Machado, em 1851, com exceção de um

único acorde presente na obra do autor anônimo, o que demonstra continuidade, com os

autores usando inclusive a mesma cifragem, sendo que os exemplos de Pedroso são

repetidos pelos outros tratadistas. Aqui, mais uma vez, Gasparini pode ter servido de

modelo, pois utiliza harmonias bem semelhantes às sugeridas pelos autores luso-

brasileiros, apesar de o italiano não apresentar a regra de oitava com todos os graus da

escala, retornando no 6o grau.

Somente Gomes da Silva (vide Exemplo 6) e Coelho Machado apresentam

realizações por escrito, sendo que o primeiro as apresenta com um grande número de 5as

e 8as consecutivas e uma irregularidade no número de vozes, o mesmo não acontecendo

em Machado, que oferece exemplos a quatro vozes e um tratamento mais rigoroso na

escrita musical (FAGERLANDE, 2002, p.60).

Solano traz uma informação extremamente útil ao continuísta quando não há

cifras ou existem dúvidas em relação à harmonia, que é o “acompanhar em 3as”, o que

consistiria em tocar terças na mão direita paralelamente ao baixo, o que é uma boa

solução até mesmo em nossos dias. Uma outra recomendação prática de Solano, ao se

deparar com um baixo não cifrado em Symphonias, o continuísta pode apenas tocar o

baixo com a esquerda e dobrá-lo em 8as na mão direita, e, somente quando tiver muita

segurança, poderia tocar algum acorde (FAGERLANDE, 2002, p.72).

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Exemplo 6: A regra de oitava no Tratado de Gomes da Silva apresenta uma realização com muitas vozes.

2.7 Tratamento da Dissonância

A maneira de lidar com acordes dissonantes é abordada por todos os autores

luso-brasileiros, desde uma maneira mais simples, como pelo autor anônimo, assim

como de modo mais complexo, como Solano9. Esses autores ensinam os intervalos

dissonantes e mostram como completá-los e também como conduzir as vozes ao usá-

los, que seria preparar, ligar e resolver a dissonância. Solano, que dá uma importância

muito grande ao assunto, demonstrada pela extensão do seu texto ao abordá-la, citando

Boécio, diz que a dissonância “he um duro, e feio golpe, ou aspero encontro de dous

sons contrarios, que desabridamente offendem o ouvido por causa da desproporção, que

se acha entre elles" talvez por isso chama a resolução de “desculpa”, mas apesar disso

diz que as dissonâncias tornam a “Muzica muito mais sonora, e agradavel” (SOLANO,

1779, p.79, in FAGERLANDE, 2002, p.78).

Segundo nossos autores, em alguns casos as dissonâncias podem ser usadas sem

preparação, como as 7as menores dos acordes usadas em recitativos, ou a 5a falsa sem

9 São considerados dissonâncias os intervalos de 2ª e 7ª e os intervalos aumentados ou diminutos. A 4ª oscila entre consonância e dissonância, de acordo com a época e o autor, ou quando utilizada como retardo da 3ª.

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preparação, ou seja, de “chofre”, ou ainda a 7a nas cadências, quando esta vem de uma

3a, 5a ou 8a, mas deve se resolver na 3a (FAGERLANDE, 2002, p.79).

2.8 Fuga e Imitação

A fuga improvisada era um dos exercícios de baixo contínuo preferido dos

compositores italianos e dos compositores que sofreram a infuência da música italiana.

Nessas fugas o estudante deveria preencher os acordes, introduzir as entradas sugeridas

e tentar uma entrada própria nos compassos finais. Há exemplos dessas fugas nas obras

de autores como Penna, Händel, Holder Niedt e G. Keller (ARNOLD, 1931;

OBERDÖRFER, 1955; WILLIAMS, 1970, vol II; LEDBETTER, 1990, in

FAGERLANDE, 2002, p.82).

O efeito é o mais importante nesse tipo de fuga e não o tratamento rigoroso da

textura, da integridade das partes. É preciso haver entradas sucessivas de um sujeito

principal em alturas diferentes. As fugas de Händel e as sonatas de Scarlatti do tipo fuga

são exemplos dessa tradição (LEDBETTER, 1990, in FAGERLANDE, 2002, p.82).

No tratado de Contraponto, Moraes Pedroso aborda a fuga e a imitação em

duas partes de sua obra, uma de maneira mais livre para o acompanhamento, e a outra

mais ortodoxa para a composição. Quando Pedroso exemplifica a fuga, fica claro que é

um exercício de teclado, explicando que o tecladista deve seguir as entradas, que são

representadas pelas claves diferentes que surgem na partitura do continuísta. A fuga é

abordada de maneira voltada à composição, ensinando as divisões e procedimentos

adequados na sua composição. Gomes da Silva também trata a fuga como um exercício

de contínuo, só é mais detalhista, mencionando que “a 1a voz deve ser tocada com a

mão direita, e, à medida que vão entrando as outras vozes, o acompanhamento vai

crescendo, ou seja, com a entrada da 2a voz usar 1 especie, com a entrada da 3a usar 2, e

assim por diante, até chegar na mão esquerda, que poderá por as especies que quiser,

para reforçar mais a armonia da fuga” (GOMES DA SILVA, 1758, p.32, in

FAGERLANDE, 2002, p.84).

A fuga ocupa um lugar bastante importante no tratado de Solano, preenchendo

dois grandes capítulos, as Demonstrações XXIX e XL. Solano faz uma definição de fuga

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e diz que esta é “materia summamente necessária a hum consumado organista”, e inclui

vários exemplos de fugas, explicando à maneira de Pedroso e Gomes da Silva como o

tecladista deve proceder ao acompanhá-las. Este autor associa a execução de fugas a

uma prática de improvisação. Varella, o autor anônimo e Machado não incluem

ensinamentos sobre fugas e imitação (FAGERLANDE, 2002, p.85-87).

2.9 Condução de Vozes

Todos os tratados pesquisados por Marcelo Fagerlande fazem restrições ao uso

de 5as e 8as paralelas. Tanto Pedroso quanto Gomes da Silva alertam para não se fazer

duas 5as ou 8as paralelas entre vozes externas, baixo e soprano, por exemplo, mas podem

acontecer entre vozes internas da harmonia, ou uma 5a justa pode ser seguida de uma 5a

diminuta e vice-versa. Gomes da Silva apresenta ao longo de seu tratado diversos

exemplos de paralelismos entre vozes internas.

Solano também se dedicada pormenorizadamente ao assunto, mencionando que

a regra de evitar o paralelismo é uma das principais regras que há na música. Esse autor

sugere “movimentos” para evitar paralelismos, que são: “Recto, Obliquo, Contrario

Conjuntivo e Contrario Disjuntivo”. Entretanto, Solano distingue nitidamente a

composição do acompanhamento ao cravo, “porque huma cousa he escrever

scientificamente, outra acompanhar mais licencioso no Cravo” (SOLANO, 1779, p.47,

in FAGERLANDE, 2002, p.92). Esse autor recomenda ao acompanhante observar com

atenção o movimento da voz superior da mão direita em relação ao baixo, pois “mais

rigorosamente são prohibidas duas 5as Perfeitas, ou duas 8as” (SOLANO, 1779, p.47),

mas ressalva, assim como Gasparini, que para o cravo ou numa composição com muitas

vozes essa regra não é tão estrita (FAGERLANDE, 2002, p.92).

Varella aborda essa regra da mesma forma que Pedroso e Solano, apenas

acrescentando uma restrição ao uso de 4as paralelas e corroborando a idéia de maior

liberdade entre as vozes internas dizendo: “nas vozes medias póde-se disfarçar algum

movimento impróprio; porque nestas o contraponto não he tão rigoroso” (VARELLA,

1806, p.28, in FAGERLANDE, 2002, p.93).

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O autor anônimo de 1823 inclui uma nota de rodapé mencionando que “Duas

Quintas Perfeitas seguidas são prohibidas, assim como duas oitavas” (ANÔNIMO,

1823, p.28, in FAGERLANDE, 2002, p.93). Coelho Machado fornece vários exemplos

de como evitar paralelismos, dizendo que a razão para evitá-los consistiria em “não

offender a pureza da Harmonia” (MACHADO, 1851, p.29, in FAGERLANDE, 2002,

p.93).

Segundo Fagerlande, os tratadistas luso-brasileiros são unânimes na preocupação

em evitar paralelismos de 5as e 8as, mas mostram uma liberdade muito maior com

relação às vozes intermediárias, procedimento este que está diretamente ligado à prática

de realização ao teclado (FAGERLANDE, 2002, p.93).

Dottori chama atenção, como vimos acima, para a grande quantidade de 5as e 8as

paralelas na Música Colonial Mineira. Nos casos citados por ele, como o Magnificat do

Sábado Santo, de Manoel Dias de Oliveira, esse paralelismo ocorre entre o soprano e o

baixo (vide Exemplo 7). Segundo esse autor, o uso de 5as paralelas provoca uma

ambigüidade tonal, e era justamente isso que as tornava nocivas ao contraponto. Essa

suspensão do movimento tonal teria sido algo bastante atraente para os mineiros, como

no exemplo de Manoel Dias, onde o paralelismo de 5as está associado às palavras et in

saecula saeculorum, “para as quais a cessação do movimento é uma excelente

representação” (DOTTORI, 1992, p.103-104).

Entretanto, Domingos Brandão classifica as 5as e 8as paralelas como “não

observância” dos cânones vigentes na Europa nesse período. Segundo ele, a música

européia foi difundida através de partituras e das ‘artinhas’, o que não seria suficiente

para a completa assimilação das técnicas de composição européias. Assim os mineiros

não possuiriam um profundo conhecimento das normas e cânones vigentes, e por isso

não poderiam transgredi-las” (BRANDÃO, 1998, p.63).

A presença de tratados portugueses, como a cópia de José de Torres Franco e

mesmo uma edição do tratado de Moraes Pedroso, presentes no Museu da Música de

Mariana, nos mostram que não foram somente as artinhas ou partituras européias que

contribuíram para a formação dos mineiros. Os tratados de Caetano Melo de Jesus e de

Luís Álvares Pinto, e a viagem desse último a Lisboa, apesar de serem ainda exceções à

regra, comprova o quão erudito poderia ser um músico no Brasil Colonial. Esses fatos

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podem corroborar a posição de Dottori ao afirmar que os paralelismos seriam uma

opção estética dos mineiros. Então, caso Dottori esteja correto, ao continuísta caberia

reproduzir as 5as e 8as paralelas e não corrigi-las na sua execução.

Exemplo 7: Paralelismo de 5ª entre soprano e contralto e de 8ª entre contralto e baixo; Gloria do Sábado Santo, de Manoel Dias de Oliveira.

2.10 Número de Vozes

No que concerne ao número de vozes, o estilo italiano também teve muita

influência nos tratados luso-brasileiros. Esse estilo foi o que sofreu o maior número de

transformações e o que mais influenciou os outros, como o estilo alemão de fins do

século XVII e início do século XVIII (CHRISTENSEN, 1992, in FAGERLANDE,

2002, p.96). De um modo geral, pode-se afirmar que o estilo italiano, especialmente para obras

profanas, é extravagante, com melodias, acordes cheios e ritmo forte (WILLIAMS, 1970, p.75-76). As características de sua realização podem ser consideradas como um reflexo de sua própria música, cuja essência é descrita por Harnoncourt como sensual e de imaginação trasbordante, até os limites do fantástico, com improvisada e abundante ornamentação (FAGERLANDE, 2002, p.96).

Peter Williams também divide o estilo italiano tardio em dois estilos distintos:

um seria mais adequado para as cantatas de compositores como Alessandro Scarlatti e

conteria belas e delicadas melodias, geralmente imitativas, com poucas vozes; o outro

seria caracterizado por acordes homofônicos com muitas partes, cheio de arpejos,

apoggiaturas e acciaccature. Essa riqueza desse estilo seria uma compensação para a

simplicidade da harmonia (WILLIAMS, 1970, p.75-76).

As recomendações do estilo italiano no que diz respeito ao número de vozes

estão claramente presentes nos tratados luso-brasileiros estudados por Fagerlande.

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Moraes Pedroso faz referências a acordes cheios de até cinco vozes, com dobramentos

de notas também na mão esquerda, e também menciona o outro estilo italiano de

acompanhamento mais transparente, com as diminuições. Pedroso inclui um exemplo de

realização, onde os acordes da mão direita são dobrados pela esquerda, o que seria um

procedimento típico das realizações italianas ao cravo, como demonstram os exemplos

de Moraes Pedroso e de Gasparini (vide Exemplos 8 e 9) (FAGERLANDE, 2002, p.97).

Gomes da Silva limita-se a dar exemplos realizados normalmente a quatro ou

cinco vozes, sem mostrar a exuberância tipicamente italiana. Solano, por sua vez,

mostra sua preferência por acompanhamentos cheios, com acordes dobrados na mão

esquerda, da mesma maneira que Pedroso, mas relaciona o número de vozes de acordo

com o número de solistas que se deve acompanhar. Solano diz que o dobramento dos

acordes pela mão esquerda deve acontecer na dinâmica forte. Esse autor inclui sem citar

o mesmo exemplo de Moraes Pedroso. Varella segue a tradição de seus predecessores,

vinculando o número de vozes ao número de solistas que se deve acompanhar.

Exemplo 8: Realização do baixo com dobramento dos acordes na mão esquerda. Moraes Pedroso, Compendio Musico ou Arte Abreviada, pg. 21.

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Exemplo 9: Dobramento dos acordes na mão direita. Francesco Gasparini, L’armonico pratico al

cimbalo, pg. 14.

A obra do autor anônimo não inclui recomendações sobre o número de vozes a

ser usada, provavelmente por causa de suas dimensões reduzidas. Fagerlande chama

atenção para o fato de Coelho Machado trazer indicações práticas a respeito da

realização, numa obra originalmente voltada para a composição em época tão avançada.

Machado afirma ser permitido dobrar a harmonia pela mão esquerda, mas somente

quando há muitas vozes, remetendo à tradição que vai de Pedroso a Varella

(FAGERLANDE, 2002, p.98-100).

2.11 Instrumentos

Em seu tratado de baixo contínuo, WILLIAMS (1970) descreve um número

muito grande de instrumentos que foram usados desde o começo da prática de baixo

contínuo, vários dos quais logo caíram em desuso. No século XVIII os mais usados

eram os instrumentos de teclado (cravo, órgão, espineta e mais tarde o fortepiano) e os

instrumentos graves que reforçavam a linha do baixo, como o cello, a viola da gamba, o

violone (gamba contrabaixo), o fagote e, ainda, os de cordas dedilhadas, como o alaúde,

a tiorba, o chitarrone e a guitarra barroca.

No começo da colonização brasileira, como não era permitida a manufatura de

espécie alguma, vários desses instrumentos devem ter chegado ao país com os viajantes

europeus, pois, já na expedição de Cabral, Caminha descreve a primeira missa realizada

na então Terra de Santa Cruz e menciona um organista referido como Pe. Maffeu ou

Masseu (APPLEBY, 1983, p.2). Descreve, também, a reação dos índios ao ouvir a

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música tocada na cerimônia. Portanto, se logo na primeira viagem os portugueses

trouxeram instrumentos, é possível depreender que estes eram praticamente

imprescindíveis. Além disso, segundo Appleby, a catequização dos índios brasileiros

incluiu a utilização de cravos, órgãos, instrumentos de sopro, cantochão em latim e em

língua nativa, o que implica que, inicialmente, os instrumentos devem ter sido trazidos

da Europa.

De acordo com Appleby, uma autorização real de 4 de Dezembro de 1551

concede o pagamento do salário a um mestre de coro e a dois coristas. Em 1560,

Bartolomeu Pires foi designado como o novo mestre de coro, que foi assistido por Pedro

da Fonseca, organista.

Em Minas Gerais, a mais completa e detalhada fonte sobre os instrumentos e as

funções a eles destinadas são os livros de receita e despesas das Irmandades e do

Senado da Câmara das cidades mineiras do século XVIII, que eram os responsáveis pela

contratação da música para as festividades e cerimônias religiosas. Nesses livros estão

descritos com considerável precisão os instrumentos com os respectivos instrumentistas,

as formações utilizadas e o valor pago a cada músico em oitavas de ouro. Os

instrumentos que aparecem nos termos de contratação são o cravo, o órgão, o rabecão, a

harpa e o fagote. Em Vila Rica, em muitos casos eram contratados dois cravos, uma

harpa, um órgão, um fagote e um ou mais cellos e rabecões.

A harpa, que teve muita importância para a prática de contínuo nos séculos XVI,

XVII e início do XVIII (os órgãos ainda não eram comuns na América Portuguesa), foi

bastante utilizada no acompanhamento de polifonia profana e religiosa, por sua

versatilidade em relação à afinação. O seu uso é confirmado pelos inúmeros inventários

e testamentos paulistas dos séculos XVI e XVII. A harpa estava, geralmente, associada

aos mestres de capela vinculados a catedrais, mosteiros e conventos. Existem várias

menções, em documentos históricos, de harpistas no Brasil, como o compositor

português Frei Antão de Santo Elias (?-1748), ou João de Lima (Santo Amaro, século

XVII), dentre vários outros (LEDBETTER e WILLIAMS, 2001, p.349; CASTAGNA,

2000, p.4-8).

Na música mineira, a harpa continuou sendo usada até meados do século XVIII,

quando, por força da mudança na formação dos conjuntos musicais, começa a

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desaparecer dos documentos sobre música religiosa. Seu uso se dava geralmente na

prática do estilo antigo, associada ao baixão, ou, mais tardiamente, ao cravo e ao órgão.

Com a introdução sistemática dos violinos, por volta da década de 1730 ou 1740, os

conjuntos mineiros passam a adotar o estilo moderno, levando a harpa a cair em desuso,

até desaparecer dos livros de despesas do Senado da Câmara de Vila Rica a partir de

1745 (CASTAGNA, 2000, p.8-11). Apesar disso, ainda encontramos pagamentos para

harpa até 1819, na Vila do Príncipe do Serro do Frio (LANGE, 1983, p.25).

Segundo Sainte-Hilaire, no Tejuco havia vários órgãos construídos na própria

vila, destacando-se como organeiro o Pe. Almeida da Silva, que construiu o órgão da

Igreja do Carmo na atual Diamantina, do qual Lobo de Mesquita foi organista e parece

ter atuado ativamente na construção desse instrumento (LANGE, 1983, p.118-120).

No Livro de Receita da Venerável Ordem do Carmo da atual Diamantina, há o

registro da construção de um órgão em 1781, mas o registro mais antigo existente até o

momento sobre a presença de órgão é um assento no Livro de Receitas e Despesas da

Irmandade de Santo Antônio, sediada na Matriz de Ouro Preto, datado de 24 de

Dezembro de 1721. Esse assento confere a Luís da Cunha a quantia de 192 oitavas de

ouro para prover “de música e orgam” a referida Igreja. Esse instrumento parece ter sido

precedido pelo instrumento importado pela Igreja do Pilar, que aparece instalado em

1720 (LANGE, in REZENDE, 1989, p.503). Ainda em Ouro Preto, em 1819, foi

instalado um novo órgão na Igreja do Carmo, do qual foram organistas João Nunes

Maurício Lisboa e o Pe. João de Deus de Castro Lobo (REZENDE, 1989, p.504).

Em Mariana, temos a nomeação de seu primeiro organista, Pe. Manuel da

Costa Dantas, feita pelo primeiro bispo de Minas Gerais, Frei Manuel da Cruz. Em 2 de

julho de 1753, foi inaugurado nessa cidade o órgão Arp Schnitger, construído em

Hamburgo no ano de 1701, adquirido pelo rei de Portugal D. João V e doado a essa

cidade em 1749 (REZENDE, 1989, p.504-507).

Várias cidades mineiras possuíram órgãos como, por exemplo, o de Tiradentes,

que provavelmente foi construído em Portugal em 1788. Nas cerimônias das

Irmandades nas igrejas que não possuíam órgãos, instrumentos portáteis10 ou cravos

10 Em São João del Rei ainda existe um órgão no Museu Municipal que possuiu duas longas hastes de madeira para ser transportado, restando hoje apenas uma, e, de acordo com José Maria Neves, esse instrumento era transportado por escravos nas procissões.

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eram alugados (REZENDE, 1989, p.500-505). Ainda em 1828-1829, temos o registro

do pagamento para tocar o órgão a Antônio da Costa Homem (LANGE, 1983, p.137).

O cravo esteve presente em Minas Colônia pelo menos desde 1739, quando,

após nove anos de sua fundação, a Irmandade dos Homens Pardos, sediada na Matriz de

Nossa Senhora da Conceição da Vila Real de Sabará, contratou um licenciado, José

Soares, para tocar cravo no dia da festa de Nossa Senhora (REZENDE, 1989, p.500).

No Arraial do Tejuco, temos um ajuste em 1738, com o Pe. João Caldeira, no

qual o cravo aparece associado à harpa e à rabeca, acompanhando quatro cantores. Na

Matriz da Vila do Príncipe do Serro do Frio, onde, de acordo com Curt Lange, nasceu

Lobo de Mesquita, existem pagamentos para o cravo até 1819, associado a uma

orquestra de tamanho considerável, com 14 rabecas, 9 rabecões, 6 trompas, 26 vozes, 2

flautas, 2 clarinetas e a harpa (LANGE, 1983, p.118-120). Por volta de 1800, havia no

Tejuco um hábil cravista; e o próprio Lobo de Mesquita teria sido cravista, conforme

LANGE (1983, p.32;78).

A última menção a um cravo parece ser a encontrada em S. J. Del Rey no

inventário com data de 1833, de Lourenço Braziel (?-1831), no qual surge um cravo

todo quebrado que valia dez mil réis (CASTAGNA, 2000, p.18).

Fagerlande, na sua tese sobre o baixo contínuo no Brasil, ressalta a importância

dada à prática do contínuo ainda em meados do século XIX, nos dois tratados editados

no Brasil, Arte da Muzica, de autor anônimo (1823), e Tratado d’‘Harmonia, de Coelho

Machado (1851); também demonstra que os instrumentos adequados ao contínuo são o

órgão, o cravo, a tiorba, a cithara e a guitarra, segundo esses tratados, os quais

esclarecem que o cravo e depois o órgão são os que devem ser mais utilizados, pela

maior facilidade de ambos realizarem harmonias completas, o que não é sempre

possível na tiorba ou na guitarra e muito menos na gamba, no cello ou no contrabaixo

(FAGERLANDE, 2002, p.121-126).

Os outros tratados luso-brasileiros estudados por Fagerlande têm o cravo e o

órgão como os principais instrumentos para o baixo contínuo, apesar de mencionarem

outros instrumentos como a guitarra. Solano, assim como Varella, cita em seus

exemplos o cravo mais freqüentemente que o órgão, mas ao tratar da fuga e das

acciaccature menciona somente este último. É natural a associação do órgão à fuga,

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pois Solano a considera uma das atividades ligadas à improvisação do músico de Igreja.

Entretanto, a não associação do uso das acciaccature ao cravo é surpreendente, pois

seria no cravo e não no órgão que elas teriam melhor efeito (WILLIAMS, 1970, p.40).

Moraes Pedroso, assim como seus sucessores, também cita o órgão como

instrumento de contínuo. Varella especifica a maneira adequada de se acompanhar ao

órgão, que “se deve dar ligado”, deixando algumas vozes presas de um acorde para o

outro, enquanto que ao cravo “deve ser o acompanhamento picado, e solto: os acordes

devem dar-se juntos huns aos outros” (VARELLA, 1806, p.48, in FAGERLANGE,

2002, p.125).

O uso exclusivo do órgão para a música sacra tem sido posto em dúvida sendo

que: “Vários estudos recentes têm questionado um conceito considerado até então padrão

com relação à utilização do cravo e do órgão para a realização do contínuo. Em geral tem se associado o emprego do primeiro para a música profana e do segundo para a execução de música sacra” (FAGERLANDE, 2002, p.123).

Através de vasta documentação, o musicólogo americano Dreyfus prova que o

cravo estava presente nas igrejas italianas e alemãs do século XVII (inclusive naquelas

em que Bach trabalhou em Leipzig). O órgão também foi usado fora da igreja, como na

música de câmara italiana do século XVII (LEDBETTER e WILLIAMS, 2001, p.351).

Em Minas Gerais, através da bibliografia consultada, podemos afirmar que o

cravo foi muito usado na igreja, como comprovam os pagamentos realizados pelas

Irmandades citados acima. O próprio Lobo de Mesquita indica o cravo para o baixo

contínuo na sua obra (REZENDE, 1989, p.501). Apesar dessas evidências, Dottori

postula a idéia, para nós improvável, de que o termo cravo encontrado nos documentos

mineiros poderia significar não o clavicembalo, mas sim o clavicórdio. De fato, o termo

cravo, em Portugal, era usado indistintamente para o cravo, o piano, e possivelmente

também para o clavicórdio; mas o argumento de que os cravos eram muito caros e

restritos à aristocracia bate de chofre com a riqueza encontrada em Minas, onde órgãos

inúmeras vezes mais caros que um cravo foram comprados ou construídos. Dottori

sugere a presença do clavicórdio por ocasião das exéquias de Dom João V, em 1750,

celebradas em S. J. Del Rei, quando se apresentaram dois coros acompanhados por um

cravo e dois rabecões. Ora, diante de um efetivo tão grande, o som do clavicórdio não

seria sequer pressentido.

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Recentemente, diversos estudos dos tratados de baixo contínuo têm revelado que

na Europa, durante período um pouco anterior, também se utilizava um número bastante

grande de instrumentos, de acordo com o espaço destinado à apresentação musical e,

principalmente, de acordo com os recursos disponíveis.

A riqueza proporcionada pela mineração se refletia noutros setores da sociedade.

Além disso, a disputa entre as Irmandades fazia com que estas se esmerassem com

relação à música, contratando um número tanto maior de instrumentistas quanto mais

importante a festividade, o que influía diretamente na quantidade de instrumentos

usados no contínuo. Os conjuntos instrumentais em Minas chegaram a ter 37 músicos,

mas o núcleo básico girava em torno de 14 integrantes (CASTAGNA, 2000, p.15).

De acordo com Curt Lange, nas regiões da América que tiveram abundância de

recursos proporcionados pela mineração, como México, Colômbia, Peru, ocorreu

similar florescimento cultural, pois os colonizadores ibéricos trouxeram também seus

bens materiais e espirituais. Em Minas Gerais, da mesma maneira, houve um notável

desenvolvimento cultural que obviamente não se restringiu às atividades ligadas à

religião. Havia uma grande atividade musical profana nas residências como comprovam

as modinhas compostas por Tomás Antonio Gonzaga, ou a descrição feita por viajantes

europeus como Spix, Martius e Saint-Hilaire, que comentam sobre a música doméstica.

Além disso, como nos esclarece REZENDE (1989, p.536-540), havia uma casa da ópera

em cada uma das principais cidades mineiras do século XVIII, o que podemos verificar

ainda hoje nas cidades de Ouro Preto, Sabará, e Santa Luzia (LANGE, 1983, p.104-

105).

Evidentemente, a música executada nos teatros e residências deveria ter

características consideravelmente distintas da música feita nas igrejas, e conseqüente

uso de instrumentos que poderiam não ser bem vindos na música religiosa, como a

guitarra barroca, alaúdes e tiorbas. Esses instrumentos devem ter gozado de grande

popularidade, pois são citados nos tratados que circularam pelo Brasil no século XVIII,

e, dos dois editados no nosso país no século XIX, um deles, o tratado Arte da Muzica,

foi escrito para a guitarra.

Apesar do elevado custo e do difícil manuseio do cravo e do órgão (em especial

deste último), podemos supor que esses instrumentos poderiam estar presentes nas casas

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mineiras, conforme LANGE (1983, p.139): “em 27 de julho de 1788 entrou de irmão

Conrado Caldeira Brant, [...] funcionário da Real Extração de Diamantes; ele fez doação

de um órgão,” para a Confraria de Nossa Senhora das Mercês de Diamantina.

No final do século XVIII, os conjuntos instrumentais presentes em Minas Gerais

estavam adaptados ao estilo moderno, sendo as cordas com arco (violinos, violas,

violoncelos e rabecões) o núcleo desses grupos. A contínua transposição das novidades

técnicas da ópera italiana para a música sacra foi a responsável pela generalização da

formação típica da orquestra em Minas, que era constituída por violinos, violas,

violoncelos e contrabaixos, flautas, oboés, clarinetas, fagotes, clarins e trompas, e

cravos e órgãos como continuístas, além de timbales (tímpanos) (LANGE, 1970, in

CASTAGNA, 2000, p.15).

O fagote aparece em vários documentos (REZENDE, 1989, p.494) e deve ter

sido usado dobrando os violoncelos, rabecões, cravos e órgãos. Há, ainda, “violas de

diversos tamanhos, de sete cordas tocadas com arquetos de ferro e cerdas de cavalo”

(LIMA JÚNIOR, 1978, p.94-95), que com certeza eram violas da gamba. Lima Júnior

descreve ainda uma curiosa orquestra, com bombardas (charamelas contrabaixo),

clarinetes, violinos e serpentes (corneto baixo) (LIMA JÚNIOR, 1978, p.94-95). Tanto

a bombarda como a serpente podem ter sido usadas no dobramento do baixo nos

conjuntos de estilo antigo, presentes em Minas Gerais no início do século XVIII.

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Capítulo III - Lobo de Mesquita

3.1 Vida

Devemos o ressurgimento de José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita ao

pesquisador teuto-uruguaio Francisco Curt Lange, no seu artigo La música en Minas

Gerais: un informe preliminar, publicado em 1946. Desde essa redescoberta não

surgiram grandes novidades a respeito da biografia desse compositor (COTTA, 2005,

p.15-16).

O pesquisador Geraldo Dutra de Moraes afirma que Lobo de Mesquita nasceu na

cidade do Serro em 12 de outubro de 1746, data que serve de referência até hoje, mas

foi combatida por Lange, por carecer de provas documentais. O historiador Dutra de

Moraes teria se baseado na hipótese lançada pelo próprio Curt Lange, que situou o

nascimento de Mesquita entre 1740 e 1750. Moraes menciona a data de nascimento, o

que não era comum no período colonial. De acordo com Lange, somente eram feitos

registros de batismo (LANGE, 1983, p.112-113).

Lange sugere que Lobo de Mesquita nasceu e teve sua formação musical na Vila

do Príncipe do Serro do Frio, atual Serro. A primeira menção sobre nosso autor surge

em 1765, quando fazia parte do grupo de músicos que tocou nas festas reais da Câmara,

função que possivelmente desempenhou até 1776. Em 1774, aparece como regente

oficial das quatro festas oferecidas em 1773 pelo Senado da Câmara à população do

Serro. O pagamento pelos serviços era feito geralmente no ano seguinte aos serviços

prestados. A função de regente requereria certa idade, daí provém a projeção da data de

nascimento feita por Lange. Lobo de Mesquita teria abandonado o Serro em fins de

1777 ou começo de 1778 (LANGE, 1983, p.30 e 111).

Apesar de Lange acreditar que a formação de Lobo de Mesquita possa ter

acontecido na sua totalidade no Serro, o musicólogo não crê ser impossível ele ter

viajado a Lisboa para estudar, como Luís Álvares Pinto e outros compositores

brasileiros. A Vila do Príncipe forneceu os primeiros cantores, instrumentistas e

regentes ao Arraial do Tejuco e foi um centro musical altamente desenvolvido e

independente dos outros centros mineiros (LANGE, 1983, p.30 e 111).

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Militar, mulato e possuidor de pelo menos uma escrava, Lobo de Mesquita

aparentemente teve um padrão de vida acima do compatível com seu status social. Foi o

único em sua época a se identificar como organista, tocava também cravo, e, de acordo

com Curt Lange, parece ter tocado outros instrumentos. Mudou para Diamantina em

1783, quando assumiu o cargo de organista na Igreja de Santo Antônio, pois os

pagamentos eram feitos normalmente no ano subseqüente ao trabalho e o registro do

primeiro pagamento data de 1784. Atuou como professor, organista regente e

compositor nessa cidade até 1798. Em 17 de julho de 1789, foi contratado também

como organista da Igreja do Carmo. Pe. Almeida construiu um órgão para a Igreja do

Carmo nesse período, e Lobo de Mesquita trabalhou diretamente na conclusão da

construção desse instrumento. Pe. Almeida construiu vários órgãos no Arraial, e o

instrumento do Carmo possui 1 manual, 16 registros, 400 tubos de metal e 382 de cedro,

mais uma pedaleira (LANGE, 1983, p.114-120; GUIMARÃES, 2005, p.23-24).

Lobo de Mesquita provavelmente atuou como “Professor de Arte da Música”,

numa prática comum em Minas Gerais, onde o professor recebia os alunos em casa,

numa espécie de conservatório, ou se deslocava até a casa destes. Lange supõe que essa

era a principal fonte de renda do nosso compositor, mas, ao que tudo indica, seus

proventos vinham mesmo das Irmandades. Lobo de Mesquita trabalhou para pelo menos

cinco das nove Irmandades existentes no Tejuco (LANGE, 1983, p.121; PIRES, 1994,

p.65-66).

No final do século XVIII, as autoridades portuguesas aumentaram o controle no

Arraial do Tejuco, que, juntamente com todo o Distrito Diamantino, tinha uma

administração diferente do restante do Brasil Colônia. Havia um intendente que prestava

contas diretamente à metrópole, para tentar evitar a evasão de divisas com o tráfico de

diamantes. Esse fato acarretou uma migração dos habitantes da região para outras vilas

a partir de 1798, e foi justamente o que fez Lobo de Mesquita, que se mudou para Vila

Rica nesse mesmo ano. Outros fatores também podem ter sido a causa da saída de

Mesquita do Tejuco, como uma doença dele ou de sua mulher, Tomásia Onofre do

Lírio, além do declínio vertiginoso da mineração, o que acarretou também uma queda

nos pagamentos (LANGE, 1983, p.122-123; PIRES, 1994, p.66).

Em 1o de setembro de 1798, assinou com a Ordem Terceira do Carmo de Vila

Rica um termo de serviços musicais, sendo substituído em 15 de outubro de 1800 por

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seu amigo Francisco Gomes da Rocha. Trabalhou também para a Irmandade do

Santíssimo Sacramento e para o Senado da Câmara nessa mesma vila. Após dois anos

de sua chegada a Vila Rica, parte para o Rio de Janeiro, capital da Colônia desde 1767,

provavelmente por se achar vago o cargo de organista na Ordem Terceira do Carmo.

Em 3 de maio de 1805 foi feito um ajuste com o organista Vicente Cordeiro, pois

“q’tinha falecido o Organista que estava tocando o Organo Joze Jaquim Emérico [sic], e

que era preciso pór se outro em seu lugar” (LANGE in PIRES, 1994, p.69).

3.2 Obra

“José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita não foi um compositor comum para

os meios da capitania [Minas gerais], nem fora dela... sua fama cresceu até passado o

terceiro quartel do século XIX” (LANGE, 1983, p.169). Sua música foi copiada ao

longo de todo o século XIX e até meados do século XX, quando o Concílio Vaticano II

faz cair em desuso a música cantada em latim. Ter servido a inúmeras Irmandades e ao

senado da Câmara dos principais núcleos urbanos do Brasil Colônia ajudou na difusão

de sua obra (LANGE, 1983, p.170; PIRES, 1994, p.69; COTTA, 2005, p.15).

A música de “J Joaquim Americo”, como às vezes era chamado Lobo de

Mesquita, se manteve no repertório das orquestras centenárias de Minas Gerais, como a

Lira Sanjoanense e na Orquestra e Banda Lira Ceciliana de Prados, que tocaram sua

obra ininterruptamente desde o século XIX até os dias atuais. A execução se dava em

cerimônias religiosas, o que mostra o caráter funcional dessa música, o que favoreceu

sua preservação. Também foram feitas mais de cem cópias de um total de 73 obras de

Lobo de Mesquita, pois algumas delas foram copiadas mais de uma vez; e este é o caso

da obra por nós estudada, o Officio de Defuntos, que foi alvo de duas cópias. O número

de cópias cresceu à medida que avançou o século XIX. Isso mostra que a música de

Emerico não só continuou sendo tocada, como seu prestígio cresceu com o passar dos

anos. O manuscrito copiado mais recentemente data de 1936 (PIRES, 1994, p.71-72).

Sua fama se estendeu a lugares distantes, chegando a Cássia, no sudoeste de

Minas, Jundiaí e Campinas. Nessa última cidade, Lange encontrou a Missa em Fá, no

arquivo do pai de Carlos Gomes, Manuel José Gomes. Essa Missa, que depois

reapareceu em Minas com acréscimo de instrumentos, não havia sido encontrada na sua

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totalidade por Curt Lange, sendo o manuscrito de José Gomes a única cópia completa

da obra (LANGE, 1983, p.170; PIRES, 1994, p.72).

Até o presente momento foram descobertos 12 manuscritos autógrafos de Lobo

de Mesquita, todos datados, que, juntamente com várias cópias, se encontram

principalmente no Museu da Inconfidência (caso das nossas cópias) e no Museu da

Música de Mariana. Entre esses autógrafos, está a mais antiga partitura encontrada em

Minas no período colonial, o Tercio, com data de 1783. Geralmente Lobo de Mesquita e

os mineiros de então somente escreviam partes, o que acontece com as cópias do Officio

de Defuntos, que não tem partitura. O Tercio também apresenta uma outra característica

interessante: traz dois movimentos em português, entre dois outros em latim, o que era

incomum para a época (REZENDE, 1989, p.477; PIRES, 1994, p.73-74).

Apesar de Curt Lange estimar que sua produção pode ter chegado a 500 obras no

total, a produção musical de Lobo de Mesquita que chegou até nós consiste em música

litúrgica ou para-litúrgica católica, com cerca de 50 obras com autenticidade garantida e

mais duas dezenas atribuídas a ele. Essas obras são missas, credos, ofícios de Semana

Santa, ofícios fúnebres, ladainhas, antífonas, Te Deum, graduais, motetos, etc. As

maiores obras chegam a ter 31 movimentos (GUIMARÃES, 2005, p.22-23; PIRES,

1994, p.74).

Curt Lange e Wilke Lahmann consideram desconcertante não terem sido

encontradas quaisquer partituras para órgão ou cravo. Lobo de Mesquita se apresentava

como organista e os acertos com as Irmandades sempre mencionavam que ele deveria

“tocar o órgão”. Lange se pergunta no que consistiria essa expressão, pois existiram

vários órgãos e organistas em Minas e uma organaria com considerável desenvoltura

para construir um órgão do porte do ainda existente em Diamantina. Lahmann considera

assombrosa a aparente falta de interesse dos compositores do período colonial pela

música composta para instrumentos de teclado. Em Portugal, nessa época, o cravo e o

clavicórdio gozavam de enorme prestígio, e desde a chegada de Cabral, como vimos no

capítulo anterior, circularam pelo Brasil vários instrumentos de teclado, como cravos e

órgãos. A música para teclado portuguesa era bem desenvolvida no século XVIII,

contando com a presença de Domenico Scarlatti e do português Carlos Seixas, ou ainda

de Pedro Antônio Avondano, dentre outros. (LANGE, 1983, p.171-173; LAHMANN,

2003, p.61-62).

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A Sonata de Sabará, que possivelmente foi composta em Minas, é um exemplo

solitário de uma música composta para teclado de cunho puramente instrumental no

período colonial. Entretanto, Lange considera impossível, e nós também, que Lobo de

Mesquita não tenha composto Prelúdios, Postlúdios, Interlúdios e Elevações e acredita

que ele deve ter possuído muita literatura européia. Se Lobo de Mesquita possuía ou não

música tecladística européia, outros mineiros a possuíam, como atesta a carta do mestre

de capela Caetano de Santa Rosa, na qual se encontram mencionadas obras de

Frescobaldi, Rameau e sonatas de Alessandro Scarlatti. A explicação de Lange, para o

desaparecimento de obras para teclado de Lobo de Mesquita, seria o fato de ele tê-las

carregado para o Rio de Janeiro e por lá terem se perdido após sua morte (LANGE,

1983, p.171-173; LAHMANN, 2003, p.61-62).

3.3 O Estilo em Lobo de Mesquita

No primeiro capítulo, discutimos a questão do estilo na Música Colonial

Mineira. A partir da bibliografia consultada, vimos a impossibilidade e, principalmente,

a falta de necessidade de estabelecer uma unidade de estilo para essa música. Como

sugere Paulo Castagna em seu artigo O estilo antigo no Brasil nos séculos XVIII e XIX,

o mais adequado seria falarmos em estilos (CASTAGNA, 2000, p.25).

Na obra de Lobo de Mesquita também podemos ver essa pluralidade de

influências. Descrevemos no primeiro capítulo as influências mais importantes que

sofreram os compositores mineiros, que variaram desde o estilo antigo, o barroco, o pré-

classicismo, e classicismo, o estilo moderno, associado à ópera italiana. Lobo de

Mesquita deve ter conhecido bem esse processo, pois:

A obra de Lobo de Mesquita pode ser vista como um exemplo em que não houve uma ruptura nítida entre o barroco e o classicismo, principalmente no campo da música religiosa.

Esta obra apresenta estruturação formal e tonal muito próximas do classicismo, mas remete ao barroco na apresentação do baixo contínuo cifrado, na instrumentação, na expressiva relação da música com o texto litúrgico e em muitas inflexões rítmico-melódicas (PIRES, 1994, in MORETZSOHN, 1997, p.68)11.

Nikolaus HARNONCOURT (1988, p.158) diz que também na música européia

não houve uma ruptura nítida entre barroco e classicismo, e, ao analisar a Missa a 4

vozes para a Quarta Feira de Cinzas, de Lobo de Mesquita. Júlio Moretzsohn percebeu,

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nessa obra, elementos tanto da linguagem barroca como da clássica. Os termos barroco

e clássico segundo esse autor não seriam usados por ele de maneira absoluta, mas

apenas como exemplos de extremos de polaridade estilística (MORETZSOHN, 1997,

p.68-69).

Apesar da afirmativa de Gérard Béhague de que Lobo de Mesquita

negligenciava a forma em suas obras, Pires e Moretzsohn demonstram que o compositor

era extremamente meticuloso nesse aspecto, que usava três elementos básicos na

estruturação formal de suas obras: o texto, a linguagem harmônica e a divisão em

movimentos (MORETZSOHN, 1997, p.68-69).

Ao analisar um grupo de dez obras de Lobo de Mesquita, Sérgio Pires percebe

um preciosismo desse autor com relação às seções de suas obras. Na obra Matinas de

Quinta Feira Santa, por exemplo, em nenhum momento há repetição conjunta de

tonalidade, compasso e andamento. Lobo de Mesquita muda pelo menos um desses

elementos quando muda de seção. Essa constante mudança enriquece muito a obra,

“gerando um efeito de grande dramaticidade” (PIRES, 1994, p.84). Geralmente, as

mudanças de compasso são acompanhadas de mudança de andamento, o que acentua o

contraste.

Essas constantes mudanças são características barrocas de estruturação formal.

Donington ressalta que o contraste na música barroca se dá entre os movimentos e não

dentro de cada movimento. Numa música construída com essas características, como a

suíte barroca, a tensão está na variação dos recursos expressivos entre os movimentos

contrastantes (DONINGTON, 1978, p.36, in MORETZSOHN, 1997, p.75).

A alternância de andamentos e compassos serve, na música barroca vocal, para

ressaltar o sentido retórico da declamação nas mudanças repentinas de caráter. “Emerico

explora este recurso para construir contrastes dramáticos entre as grandes seções,

principalmente quando estas estão reunidas em um mesmo canto da missa”

(MORETZSOHN, 1997, p.75).

11 Curiosamente a referência fornecida por Moretzsohn não se encontra na página mencionada.

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3.4 Figuras Retórico-musicais em Lobo de Mesquita

Podemos perceber essa atitude barroca de Lobo de Mesquita, de também usar

contrastes a partir de mudanças de andamento e compassos, no Officio de Defuntos e na

Missa a 4 vozes para a Quarta Feira de Cinzas, analisada por Moretzsohn. Essa não é a

única característica barroca presente na música desse compositor. A utilização de

figuras retórico-musicais para ilustrar o texto está constantemente presente, de acordo

com a análise de Maurício Dottori e Sérgio Pires.

No ano de 1783, Lobo de Mesquita utiliza uma série de sforzati (vide Exemplo

10. compassos 2 e 4) na introdução, cuja origem está na necessidade de mostrar o

acento prosódico da frase difusa est gratia, que faz parte do primeiro solo de soprano

(vide Exemplo 11, compassos 5 e 7). Outro exemplo mais contundente ocorre na

antífona Ave Regina Coelorum. O compositor usa muitas notas no solo do contralto para

ilustrar os inumeráveis inimigos (vide Exemplo 12, compassos 4 e 5) (DOTTORI, 1994,

p.63 e 92-93).

Exemplo 10: O sforzato no Tercio de Lobo de Mesquita, compassos 2 e 4.

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Dottori alerta para o fato de as figuras retórico-musicais não terem sido

unanimidade na história: o mesmo afeto poderia ser representado por figuras diferentes.

Entretanto, esse autor cita um pequeno manual de composição encontrado no arquivo da

Lira Sanjoanense, manuscrito e de autor anônimo, onde existe um exemplo de acordes

de 7a da sensível associado a uma série de síncopes que são intitulados de “música

demoníaca” (DOTTORI, 1994, p.94).

Exemplo 11: Início do solo do soprano com o texto Difusa est gratia de Lobo de Mesquita

Exemplo 12: Os “inumeráveis inimigos”

Sérgio Pires mostra vários exemplos de utilização de figuras retórico-musicais

por Lobo de Mesquita em diversas obras, como o solo de soprano suplicante no Salve

Regina, ou a passagem harmonicamente instável, com amplo uso de cromatismo,

presente na Matinas de 5a Feira Santa, onde Jesus diz Pater, si fieri potest transeat a

me calix iste, (Pai, se possível afasta de mim este cálice). No solo de contralto da 1a

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Lição, 3o Noturno, o texto fala da esperança de se encontrar a luz depois das trevas.

Lobo de Mesquita usa um baixo cromático, que era geralmente associado à dor

desesperada, entretanto ascendente o que pode sugerir a chegada da luz após as trevas

(PIRES, 1994, p.127-128).

No De Profundis da Missa que se segue ao Officio de Defuntos, temos um

exemplo bastante interessante de ilustração musical. A parte do baixo começa no sol 2 e

desce até o fá 1, perfazendo um intervalo de 9a; a frase seguinte, apesar de se iniciar

com um salto de 8a, desce do si�2 até o ré 1, e a última frase é ainda mais contundente

na descida, iniciando-se no dó 3 com saltos de 8as e 6a descendentes, perfazendo um

salto de uma 14a descendente (vide Exemplo 13). As outras vozes (soprano, alto e tenor)

fazem sempre frases descendentes (vide Anexo IV, p.132).

Exemplo 13: Baixo descendente para o De Profundis do Ofício de Defuntos de Lobo de Mesquita.

Lobo de Mesquita usa no Crucifixus da Missa em fá um baixo cromático

descendente num âmbito de 4a, chamado por Christoph Bernard de passus duriusculus

(vide Exemplo 14). Esse baixo, associado a uma situação de tristeza desesperada, foi

utilizado com freqüência pelos compositores barrocos em obras como o Lamento della

ninfa de Monteverdi, a ária When I am laid in earth da ópera Dido and Aeneas de

Purcell, o Crucifixus da Missa em Si menor de Bach, dentre inumeráveis exemplos. O

seu uso foi tal que Benedetto Marcello ridiculariza o excesso na sua obra Il Teatro alla

Moda, onde diz:

“O compositor moderno não deixará de escrever o costumeiro recitativo sobre um baixo movendo-se em progressões cromáticas, e com acompanhamento orquestral. Com este propósito

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ele encomendará ao libretista uma cena contendo um sacrifício, uma cena de loucura, ou uma cena numa masmorra” (MARCELLO, 1948, p.386, in DOTTORI, 1994, p.96).

Exemplo 14: Tetracórdio cromático descendente no Crucifixus da Missa em Fá de Lobo de Mesquita.

3.5 Outras Características de Estilo de Lobo de Mesquita

A linguagem harmônica é um dos aspectos da obra de Lobo de Mesquita que o

aproxima do estilo clássico. Foi a simplificação da estrutura tonal que tornou possível o

classicismo, e, de fato, houve, neste sentido, uma simplificação na música européia em

fins do século XVIII. Pires e Moretzsohn sugerem que Lobo de Mesquita estava em

sintonia com os compositores europeus desse período, apresentando uma estruturação

formal e tonal muito próxima do classicismo (PIRES, 1994, p.165; e MORETZSOHN,

1997, p.72).

Outra característica composicional de Lobo de Mesquita, que o aproxima dos

compositores europeus do final do século XVIII, é a predominância da homofonia em

detrimento da polifonia. Existem poucos exemplos de polifonia em sua obra, apesar de

aparecerem alguns diálogos de tendência polifônica entre vozes e instrumentos (PIRES,

1994, p.142-143; e MORETZSOHN, 1997, p.76-77).

A maneira de construir as melodias é mais um aspecto que aproxima Lobo de

Mesquita do classicismo vienense, segundo PIRES (1994,p.154). Entretanto, Pires

alerta que essa forma de compor melodias deve provir da música italiana da segunda

metade do século XVIII, que, como vimos no primeiro capítulo desta dissertação, foi

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realmente importante para os mineiros. Pires argumenta que a música italiana serviu de

base também para o classicismo vienense.

A monofonia está presente em algumas obras de Lobo de Mesquita, como o

Credo da Missa de Ramos, onde fragmentos homofônicos se alternam com outros

monofônicos escritos em notação medieval, em breves e semibreves, que lembram

melodias gregorianas (PIRES, 1994, p.141). O compositor utiliza esse procedimento na

Missa que se segue ao Officio de Defuntos, escrevendo uma melodia de inspiração

gregoriana para o Requiem, o Fedecet Hymnus, e o Agnus Dei, para ser cantada pelo

baixo, sem especificar uma fórmula de compasso (vide Exemplo 15)

Exemplo 15: Trecho com melodia gregoriana na parte do baixo no Réquiem do Officio de Defuntos.

O estilo antigo também está presente na obra de Lobo de Mesquita. O

musicólogo Paulo Castagna, em sua pesquisa sobre o estilo antigo, detectou sua

presença em duas obras de Lobo de Mesquita pertencentes aos arquivos mineiros.

Podemos perceber características desse estilo na última parte da Missa que se segue ao

Officio de Defuntos, o Memento (CASTAGNA, 2001, p.4).

Até o momento não existem menções ou indícios do envolvimento direto de

Lobo de Mesquita com a ópera. Podemos, entretanto, perceber alguns aspectos do

drama per musica em sua obra. Um desses aspectos é a presença da aria da capo, típica

da ópera italiana, além de apoggiaturas, bordaduras e notas de passagem com influência

dos melismas operísticos na Missa Grande (PIRES, 1994, p.44 e 53).

Podemos notar vários aspectos da ópera italiana na Ária ao Pregador, de Lobo

de Mesquita, que se inicia com um recitativo com instrumentos obligatti, com ritmos

que lembram ópera buffa e algumas óperas italianas de Mozart (vide Exemplo 16).

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Exemplo 16: Recitativo com instrumentos obligatti da Ária ao Pregador de Lobo de Mesquita.

3.6 Officio de Defuntos

Utilizamos, para a nossa dissertação, as duas cópias pertencentes à Coleção Curt

Lange do Arquivo da Casa do Pilar, do Museu da Inconfidência de Ouro Preto, cedidas

gentilmente pela musicóloga Mary-Ângela Biason.

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Na cópia feita por José Antonio Ribeiro em 1798, o Officio de Defuntos é

dividido em:

Invitatorio – com duas partes – Regem cui omnia vivunt e Venite Adoremos

Lição 1a – Parce Mihi Domine

Lição 2a – Responde mihi

Lição 3a – Spiritus Meus

O oficio é seguido de uma Missa de Defuntos dividida em Requiem, Kyrie,

Christe, Requiem Aeterna, Dies Illa, Tantum ergo, Domine Jesu Christe, Sanctus,

Benedictus, Hosana e Agnus Dei, que curiosamente é seguido da palavra “fim”.

Logo após a palavra “fim” vem o Memento, que é dividido em Memento mei

Deus, Necaspiciat me, De Profundis Clamavit, Kyrie Eleison e Requiescant in Pace.

Na cópia feita por João José de Araújo, as divisões são as mesmas, mas ele

chama o Invitatorio de 1o Noturno, a 2a lição de 1a lição do segundo Noturno e a 3a

lição de 1a lição do 3o Noturno.

Há grande concordância entre as duas cópias, não existindo diferenças

significativas com relação à cifragem, apenas ocorrendo a omissão de uma ou outra

cifra que seria muito evidente, como por exemplo, um acorde perfeito maior. A cópia de

José Antonio Ribeiro é bem mais precisa desde o título da obra, Officium Defunctorum

a Quatro Voce e Organo. Como o próprio título diz, o contínuo deve ser realizado ao

órgão, e, como esta cópia foi feita em 1798 – mesmo ano de composição do ofício e

quando Lobo de Mesquita se encontrava em Vila Rica –, é possível que o contínuo ao

órgão refletisse a pratica do próprio compositor.

Na cópia de José de Araújo, o título está em português: Officio de Defuntos a

Quatro Vozes e Basso. Discutimos anteriormente a adequação do uso do cravo ou do

órgão para o contínuo na música européia e mineira, e ambos foram amplamente usados

para a música na Igreja e também para a profana. Curt LANGE (1983, p.171) afirma

que Lobo de Mesquita escreveu obras para a Semana Santa com o contínuo destinado ao

cravo e órgão juntos ou em separado, opinião que é condividida por REZENDE (1989,

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p.501) e LAHMANN (2003, p.62) que diz que os dois poderiam ser usados

simultaneamente.

O cravo, como dissemos, foi utilizado em Minas em período bem avançado no

século XVIII, e é possível que José de Araújo tenha pensado nele para o contínuo.

Antonio Ribeiro, por sua vez, é muito preciso não só no título da obra, como na parte

destinada ao contínuo, na qual escreve “orgao” e especifica todos os momentos em que

o órgão deve tocar e quando somente o violoncelo deve continuar tocando, assinalando

todas as novas entradas do órgão.

Não há menção a um violoncelo obligatto no título de nenhuma das duas cópias,

mas fica evidente a necessidade deste, pois Ribeiro assinala todas as suas participações.

Nos solos de violoncelo não há cifragem, e quando elas retornam geralmente está

escrito “org.” (vide Exemplo 17). Na cópia de José de Araújo, as cifras simplesmente

desaparecem nas passagens que, na cópia de Ribeiro, são destinadas aos solos de

violoncelo. Há também uma mudança para clave de dó nos trechos em que, em Ribeiro,

está marcado violoncelo, e, quando as cifras voltam, volta também a clave de fá.

Podemos depreender desse procedimento que Lobo de Mesquita imaginou um

tasto solo onde não haveria contínuo nos solos de violoncelo, o que confere à obra um

requinte na sua construção, com uma mudança de sonoridade significativa a cada solo

sem acompanhamento de contínuo.

Exemplo 17: Os solos de violoncelo sem as cifras de contínuo seguidos da abreviação “org.”, para mostrar o retorno do órgão.

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3.7 As Cifras

José de Araújo e Antonio Ribeiro são bastante precisos na cifragem, não

deixando algumas vezes de cifrar acordes óbvios. A cifragem das duas cópias são

praticamente idênticas, o que sugere que Araújo conhecia a cópia de Ribeiro, que lhe é

anterior, ou que a copiou, ou ainda que ambos tiveram acesso ao original de Lobo de

Mesquita, que “conservou o baixo cifrado quando a maioria dos compositores mineiros

já o tinham abandonado” (LANGE, 1983, p.171). Talvez por isso os copistas tenham

sido tão zelosos ao escrever as cifras, dada a importância que o baixo contínuo tinha em

sua música.

Ao confrontarmos as cifras das cópias do Officio com o manuscrito autógrafo de

Lobo de Mesquita da Antiphona de Nossa Senhora, podemos observar que todas as

cifras que aparecem nesta obra também estão presentes nas duas cópias daquela. Os

copistas são inclusive mais meticulosos que Lobo de Mesquita, que não cifra os acordes

mais previsíveis. Provavelmente o fato de o Officio ter uma harmonia mais complexa

que a Antiphona exija um maior cuidado na cifragem, ou, como no caso da Antiphona, o

próprio Lobo de Mesquita poderia realizar o baixo, não havendo então necessidade de

uma cifragem detalhada.

A complexidade das cifras contradiz, pelo menos nessa obra, a opinião de

Maurício Dottori de que houve uma “delimitação e restrição dos acordes usuais na

música mineira” (DOTTORI, 1994, p.100). O que há no Officio é uma grande variedade

de acordes, como se vê nos Anexos III (p.121-124 ) e IV (p.126-132).

Existe um acorde que aparece com muita frequência, no ofício e na antífona e

aparece também na Missa e Credo de Jerônimo Queiroz. É um acorde de 6a aumentada

sobre o 6o grau b do modo menor, que surge geralmente em cadências e recebe a

cifragem 6# . A 5a do acorde está muitas vezes presente nas vozes, mas não aparece na

cifragem e força um paralelismo de 5as (Invitatorio, compasso 9, nos Anexos III, p.122,

e IV, p. 127).

Em seguida faremos uma análise do ponto de vista de uma possível realização de

baixo contínuo para o Officio de Defuntos, e apresentaremos uma realização escrita a

título de ilustração no Anexo V.

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3.8 Invitatorio

A seção A (compassos 1 a 10) do Invitatório apresenta todas as vozes cantando

logo no primeiro compasso, sugerindo um tutti. Numa realização ao cravo, poderíamos

preencher o acorde com vários dobramentos com ao menos 6 vozes, e com

acciaccature, como sugeridos nos tratados luso-brasileiros e por Gasparini. Ao órgão,

poderíamos usar menos vozes, 4 ou 5, assim como Lobo Queiroz inicia sua Missa, com

4 vozes e passando a 6 nos compassos 5 e 6. Entretanto, Queiroz nesses compassos

iniciais da Missa insere as acciaccature, contrariando a opinião de Peter WILLIAMS

(1970, p.40) sobre a inadequação destas ao órgão. Gasparini aconselha o uso das

acciaccature principalmente em momentos solenes, e este é o caso dessa primeira

parte.

Podemos manter essa textura de 5 a 6 vozes até o início do compasso 4, onde se

inicia um trecho de perguntas e respostas entre o baixo e as outras vozes, que dura até o

compasso 6. Nesse trecho, o contínuo pode ter um papel mais melódico, preenchendo os

espaços com algumas diminuições, fragmentos de escalas e com uma textura mais leve

nos solos do baixo vocal, retomando os acordes nos tutti. No compasso 7, onde entram

todas as vozes pela última vez, podemos fazer um crescendo com aumento de notas e de

movimento no contínuo, para reforçar a cadência à dominante que prepara a 2a parte do

Invitatorio.

3.9 Venite adoremos

Nesse momento, que corresponde à seção B do Invitatório, temos uma mudança

de andamento para Allegro, e quase todo o trecho é composto de forma antifonal, com o

coro respondendo o baixo do compasso 11 ao 16, o tenor do 16 ao 20, onde há um tutti

para a cadência no compasso 21. A partir do compasso 22 até o 26, é a vez do soprano

ser respondido pelo restante do coro, retomando neste último todas as vozes, com um

último comentário do baixo no compasso 27 e uma cadência na tônica nos compassos

28, 29 e 30 que encerram esta seção.

Aqui temos, com a mudança de andamento e de disposição das vozes, uma clara

intenção de contraste por parte do compositor. O contínuo toca somente as respostas do

coro, estando ausente das perguntas dos solistas. Podemos, de acordo com a bibliografia

consultada, ter duas atitudes diametralmente opostas.

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A primeira seria tocar acordes com menos vozes, 2 ou 3, para dar mais agilidade

a essa parte. A segunda, que foi a nossa opção, seria tocar acordes cheios, de 5 a 6

vozes, para ressaltar o contraste entre solo e tutti. Esse procedimento está de acordo

com a realização de Souza Lobo, que, nos Allegros do Credo e do Et Ressurexit, usa de

4 a 8 vozes nos acordes quando a dinâmica está forte, reservando os acordes com 2 ou 3

vozes e as diminuições para os trechos em piano.

3.10 1ª Lição

Na 1.a Lição, temos uma nova mudança de textura. Os primeiros quatro

compassos apresentam um solo de soprano. Com a ausência das outras vozes, a textura

fica naturalmente mais leve. Aqui também podemos ter procedimentos distintos. Os

exemplos fornecidos por Gasparini, e também os apresentados por WILLIAMS (1970,

p.40-41 e 77-78) de realizações italianas, presentes no seu livro dedicado ao baixo

contínuo, mostram uma realização com muitas vozes, mesmo quando se acompanha

uma única voz (vide Exemplo 18). Entretanto, na página 78 existe um exemplo de

realização escrita de Händel, que usa poucas vozes ao acompanhar um solo, e no

Laudamus da Missa de Queiroz, no solo de baixo, também temos um contínuo com 2 e

3 vozes.

Exemplo 18: Acompanhamento de uma única voz com uma realização a muitas vozes, extraída

de WILLIAMS (1970, p. 40-41 e 77-78).

Optamos, então, pela realização com 3 vozes para termos uma sonoridade mais

leve, e, quando retornam todas as vozes formando acordes no compasso 37, retornam

também os acordes cheios com muitas vozes. Essa textura homofônica nas vozes se

mantém até o compasso 42, e um novo solo se inicia no compasso 43, dessa vez no

contralto, com um comentário do baixo no 44. Então, retomamos a realização a 3 vozes

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nestes compassos, e a 4 nos compassos 45 e 46 para o dueto entre soprano e tenor, que

termina com um comentário do contralto no 47. No compasso 46 usamos 7 vozes na

realização, para ressaltar o acorde dissonante de 7ª diminuta sobre o fá#.

Com o retorno de todas as vozes no compasso 48, voltamos a usar acordes

cheios e acrescentamos ainda mais notas no compasso 51, para reforçar o acorde

dissonante que ilustra a palavra pecavit. No compasso 52, diminuímos o número de

vozes no começo para a resolução da dissonância com um novo incremento para a

cadência à dominante no compasso 53. Nos compassos 54 e 55 mantemos os acordes

cheios, pois Lobo de Mesquita repete a palavra pecavit, como um reforço retórico.

A partir do compasso 57 temos um solo do contralto, então mantemos uma

textura a 3 vozes, com as acciaccature, para valorizar o contraste entre o solo e o tutti,

que terminou no compasso 56. No comentário do soprano e do tenor aumentamos o

número de vozes, e no compasso 62, onde temos novamente todas as vozes em textura

homofônica, retomamos os acordes cheios no contínuo até o compasso 64.

Nos compassos 65 e 66, temos um discreto exemplo de imitação, e, como

sugerem os tratadistas luso-brasileiros, dobramos as vozes para reforçar o contraponto.

Do compasso 67 ao 71, temos novamente um jogo de perguntas e respostas entre uma

voz e o coro, e aqui retomamos o contínuo com muitas vozes, que mantemos até o

compasso 76, pois, a partir do 72, o compositor utiliza novamente uma textura

homofônica.

Do compasso 77 ao 84, em ambas as cópias, não temos a presença das cifras no

solo de violoncelo, o que nos sugere um tasto solo; então não escreveremos um

contínuo para esta parte; e, do 85 ao 89, retomamos os acordes com várias vozes. Do

compasso 89 ao 91, alternamos acordes cheios no 1o tempo de cada compasso, onde o

coro canta, com acordes com poucas vozes no 3o tempo do compasso, para mostrar a

diferença de escrita. Nos compassos 92, 93 e 94, quando o coro volta a cantar todos os

tempos e homofonicamente, retomamos uma realização com muitas vozes.

3.11 2ª Lição

A 2a Lição se inicia com mais um belo exemplo de uso da retórica por Lobo de

Mesquita. Para o texto Responde Mihi, o compositor faz entradas desencontradas que,

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se não são imitativas, pelo menos sugerem perguntas e respostas. Por esse motivo

sugerimos o dobramento das vozes pelo continuísta, para ressaltar a sutileza da escrita.

Quando a homofonia retorna no compasso 97, pode-se então retomar os acordes com

muitas vozes. Esta textura é mantida até o compasso 103, quando temos um curto solo

de contralto e tenor, onde podemos reduzir o número de vozes para 3 ou 4; na entrada

do coro no compasso 104, voltamos a uma realização com muitas vozes até o compasso

106.

Nos compassos 107 a 110, temos um solo de soprano com respostas do contralto

e do tenor, podemos então reduzir o número de vozes a 3 ou 4; do 112 ao 123, ao voltar

o coro, voltamos à uma realização com dobramentos e acciaccature.

No compasso 110, temos uma insistência no dó1, o que nos parece uma alusão

às palavras Contra olium quod vento lapitur; parece-nos interessante, então, aumentar o

número de vozes, principalmente na região grave, com acciaccature, até o compasso

112, para ilustrar convenientemente a passagem.

A partir do compasso 112, Antonio Ribeiro começa a ser muito específico onde

o violoncelo deve solar, alternando com passagens previstas para o contínuo, mas este

toca somente nas cadências. O curioso é que temos o coro cantando a quatro vozes.

Devemos lembrar, no entanto, que geralmente os coros no período colonial eram feitos

por quatro integrantes apenas, o soprano era cantado por meninos ou falsetistas, o que

pode tornar essa passagem mais compreensível (DOTTORI, 1994, p.90).

Justamente onde começa o solo de soprano, no compasso 126, ocorre a reentrada

do contínuo, que continua tocando no solo do baixo no compasso 130 e conduz ao final

dessa seção.

Em um concerto, poderíamos optar por uma realização com muitas vozes para

conduzir ao final da seção, principalmente porque Lobo de Mesquita usa trêmulos no

baixo a partir do último tempo do compasso 127 até o 129, preparando a cadência, o que

nos sugere um crescendo para uma nova e última entrada do coro.

3.12 3ª Lição

Nos primeiros 15 compassos da 3a Lição, temos o maior solo de todo o Officio

de Defuntos. Ao acompanhar uma voz grave, o continuísta deve tomar cuidado com o

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registro que vai usar, não tocando os acordes na região muito aguda, distanciando-se

demais da voz, e ao tocar na região mais grave deve diminuir as notas. Essa

recomendação de (DONINGTON, 1963, p.275) é bastante pertinente para este solo,

pois é feito pelo baixo.

Nesse momento, o continuísta tem a oportunidade de fazer as diminuições

sugeridas por Gasparini e pelos tratadistas luso-brasileiros. Pode-se preencher as pausas

do baixo solista e fazer imitações. Após a primeira semi-frase do baixo no compasso

139, o continuísta pode imitá-la uma 5a acima, por exemplo, e, após o fim da segunda

semi-frase, no 142, pode tocar uma escala descendente para encerrar a frase.

No momento em que o baixo canta Et solum, temos naturalmente um solo de

violoncelo, e nos compassos 152 e 153, onde termina esse solo, as cifras voltam no sib

com o recorrente acorde de 6o grau bemol com a 6a#, mas somente no compasso 154 é

que aparece a palavra “org.”. Esse procedimento difere bastante do adotado por Antonio

Ribeiro, que até o momento sempre escrevia a abreviação de órgão quando apareciam as

cifras. Na cópia de José de Araújo, a cifra 3# só aparece no compasso 153.

Ao que tudo indica, este não é apenas um erro dos copistas, pois, quando erra,

Ribeiro simplesmente risca o erro e escreve a palavra correta logo em seguida (vide

Anexo IV, p.128). Este fato pode confirmar a hipótese de LAHMANN (2003, p.62), de

que o cravo e o órgão dividiam o contínuo na mesma obra ou tocavam simultaneamente,

e, nesse caso, seria o cravo que acompanharia os solos de violoncelo.

Na expressão non pecavit, a partir do compasso 154, temos um interessante

procedimento de Lobo de Mesquita. Após um solo ou dueto cantando non pecavit,

temos a repetição da palavra non por 3 ou 4 vozes fazendo um repetitio, reforçando a

proibição de pecar!

O restante da lição tem pequenas perguntas em uma ou duas vozes seguidas de

respostas do coro, onde o continuísta, ou os continuístas, pode tocar menos vozes nos

solos e acordes com muitas vozes nos tutti.

Um bom acompanhador é aquele que acompanha com discernimento. Esta

expressão engloba uma infinidade de qualidades com as quais o acompanhante pode

adequar seu acompanhamento ao caráter de uma obra, ao número de vozes, aos

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instrumentos e às vozes envolvidas (C. P. E. BACH, 1762, in DONINGTON, 1963,

p.303).

O conselho de Carl Phillip é bastante pertinente ao nosso caso. Pensamos

inicialmente numa realização escrita para o cravo, que também pode ser utilizada para o

órgão com a redução de vozes em alguma parte e com menos acordes repetidos, pois,

como diz Varella, a realização ao cravo “se dá mais picado” e ao órgão mais ligado

(VARELLA, 1806, p.48, in FAGERLANGE, 2002, p.125). Ou, no caso de ambos

estarem acompanhando simultaneamente a obra, outras escolhas devem ser feitas,

como, por exemplo, um toca diminuições enquanto o segundo somente os acordes.

A adequação aos cantores e à acústica do local também é fundamental para uma

realização. Neste ponto é necessária também uma adaptação de quais registros do cravo

e do órgão se deve usar. Se, para a execução deste Offício, usarmos vozes potentes,

podemos então usar dois 8’ no cravo nos tutti, e mudar de manual nos solos, se estiver

disponível um cravo de dois manuais. Este não seria exatamente um procedimento

histórico, pois os cravos italianos e ibéricos ainda existentes têm geralmente um só

manual, e o padrão de registros no século XVIII era 8’ 8’e 4’ (WILLIAMS, 1970, p.32).

Nesse caso, o mais adequado seria a diminuição do número de vozes para se adequar ao

solista, e a quantidade de vozes da realização também deve se adequar ao espaço onde

será tocada a obra.

Uma outra questão muito importante é o volume do cravo. Cada instrumento

tem suas características e elas devem ser respeitadas, mas,

“apesar de ser largamente difundido o contrário, podemos distinguir um forte de um piano em um bom cravo, ou um bom cravista. O forte seria tocado firme, com acordes destacados que devem contrastar com os delicados e cuidadosos acordes ligados” (WILLIAMS, 1970, p.32).

A arte do contínuo é essencialmente uma arte improvisada (LEDBETTER e

WILLIAMS, 2001, p.346), o que dificulta muito uma realização escrita. A nossa

realização pretende apenas ilustrar algumas possibilidades, mas o cravista ou organista

deve considerar os conselhos de Carl Phillip e usar o seu discernimento na sua

performance, desta ou de qualquer outra obra de Lobo de Mesquita.

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4. Conclusão

O primeiro requisito do continuísta é tocar as cifras corretamente. Mas apesar de

muitos executantes aprenderem rapidamente como tocá-las, nenhum deles tocará bem

sem conhecimento histórico, experiência prática, sensibilidade harmônica, ou ainda sem

compreender seu instrumento ou seu papel na música a ser interpretada (WILLIAMS,

1970, p.1).

Podemos transpor a recomendação de Peter Williams ipsis literis, para a

realização do baixo contínuo no Officio de Defuntos e também para toda a Música

Colonial Mineira. Simplesmente empilhar notas em cima de um baixo, ou tocar alguns

acordes permanentemente a quatro vozes, não é tocar baixo contínuo. É necessário que

o intérprete tenha um bom, se não excelente conhecimento do estilo italiano de

realização e dos tratadistas luso-brasileiros, além de um bom conhecimento da História

da Música de Minas Gerais e do Brasil Colonial.

Nas suas recomendações a um bom acompanhador, DONINGTON (1963,

p.302-305) menciona vários tratadistas que alertam para a necessidade de um

conhecimento prévio da música a ser tocada pelo continuísta. No século XVIII, o

conhecimento prévio poderia significar apenas estudar a partitura anteriormente à

execução. Os músicos em geral estavam tocando música recém-composta, e seria mais

simples o conhecimento do estilo.

Atualmente, o conhecimento prévio vai além de uma leitura ou um estudo da

obra apenas. Torna-se premente que o intérprete conheça bem o estilo de cada obra,

assim como o estilo ou os estilos aos quais essa obra está vinculada.

Com relação à Música Colonial Mineira, é necessário que o cravista ou organista

possa ser capaz de acrescentar acciaccature, aumentar e diminuidr o número de vozes

de acordo com o trecho, com uma preponderância de uma realização a muitas vozes e

ainda fazer diminuições.

As recomendações dos tratadistas mencionados por Donington são

particularmente apropriadas para o Offício de Defuntos. A análise dessa obra mostrou

um refinamento no tratamento do baixo contínuo por parte de Lobo de Mesquita, que,

além de utilizar o contínuo para a sua função primordial, o faz também para articular a

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forma como nas passagens sem baixo contínuo ou com somente o cravo em vez do

órgão. Um estudo prévio da partitura pode ajudar o continuísta a ressaltar a riqueza

formal e expressiva, sendo que o mesmo pode mostrar a alternância de tutti e solos,

crescendos e diminuendos, além de evidenciar o tratamento retórico do texto.

Assim, seguindo as recomendações dos tratadistas, como Francesco Gasparini e

os luso-brasileiros, além dos autores modernos que escreveram sobre o assunto,

poderemos ter realizações do Offício de Defuntos e de outras obras de Música Colonial

que valorizem a obra, que ressaltem o estilo ou os estilos e suas prováveis

idiossincrasias, utilizando o cravo, junto ou em substituição ao órgão.

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RIBEIRO, Eduardo de Carvalho. Responsórios a 3 vozes para Quinta-feira Santa de David Perez (Instrumentados por Santos Pinto). Belo Horizonte, monografia de Pós-graduação. UFMG, 2002. SPIX, Johann, MARTIUS, Carl. Viagem ao Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; Brasília, DF: INL, 1989. VAINFAS, Ronaldo. org. Dicionário do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Editora Objetva. 2000. VASCONCELLOS, Sylvio de. Textos reunidos: Arquitetura, Arte e Cidade. organização Celina Borges Lemos. Belo Horizonte: BDMG Cultural, 2004. WILLIAMS, Peter. Figured bass accompaniment. Edinburgh: Edinburgh University Press, 1970. WILLIAMS, Peter, LEDBETTER, David. Continuo. In: The New Grove Dictionary of Music and Musicians. Macmillan, 2001.

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ANEXOS

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Anexo I

Cópia da 8ª Licção para Matinas de Quarta-feira Santa (Feria Quinta), de Lobo de Mesquita

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Anexo II

Cópia do Manuscrito da Missa e Credo a quatro vozes, 1814, com Acompanhamento d’Orgão, Pelo Sr. Jerônimo de Sz Queiroz em 1826

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Anexo III

Officio de Defuntos a Quatro Vozes e Basso Por Joze Joaquim Emerico, cópia de

João Joze Araújo

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Anexo IV

Officio de Defuntos a Quatro Vozes e Organo, autor Joze Joaquim Emerico, cópia de Joze Antonio Ribeiro

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Anexo V

Officio de Defuntos a Quatro Vozes e Basso Por Joze Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, realização do baixo contínuo

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Officio de Defuntos a Quatro Vozes e Basso (1798)Por José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita

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