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O Baú Excepcional de Coisas Boas

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O mês de aniversário de 2 anos do Trenzalore não poderia ficar sem uma edição de um livro de contos. Pensando nisso, convidamos três autores que se dispuseram a criar belas histórias sobre o planeta mais interessante do universo: Trenzalore.

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Em um cantinho longínquo do universo existe um planeta repleto de histórias. Histórias escritas através dos tempos

por milhares de vidas que já passaram por esse planeta. Alguma dessas histórias aconteceram ao mesmo tempo

em que você está lendo essas palavras. Algumas já aconteceram e outras ainda vão acontecer.

Nesse planeta existe uma enorme biblioteca. Nessa biblioteca, existe um pequeno baú aonde algumas

histórias são aguardadas para os viajantes do tempo. Para cada viajante que abre o baú, existe uma coleção de histórias diferentes. O baú sempre sabe o que você

precisa ler.

Talvez as histórias não façam sentido em primeiro momento. Talvez você demore a perceber o recado. Mas

ele está li, nas entrelinhas, nas vírgulas e nos pontos f inais. Espero que você esteja preparado. Afinal, não é só

de momentos bons que são feitas as coisas excepcionalmente boas.

Os Autores

Jonathan Holdorf

Ainda quando criança sonhou em conhecer o universo. Não sabia muito bem do que eram feitas as estrelas ou se a via láctea combinava com chocolate em pó, porém esperou quase toda a sua vida para viajar por aí, descobrir as inf initas possibil idades que o espaço tinha a oferecer. Brincou de escrever contos, imaginou-se sendo um grande produtor executivo de uma série sobre viagem no tempo, porém permaneceu humilde e se divertiu construindo mundinhos em seu blog. Agora está aí, mais uma vez, compartilhando alguns de seus pensamentos com quem tem paciência para ler.

Ravi Aynore?.

.. é fã!

Fã de Doctor Who, fantástico e fanfarrão! Definit ivamente fanfarrão! Escolheu encarar o mundo como se liberdade fosse contagiosa e abraços fossem

melhor que pudim. Atualmente xinga muito no Twitter, escreve Poeminhas no Médium e posta nudes no

tumblr. Quer mostrar pra você todas as coisas fantásticas do universo em um navio pirata que ele

mesmo roubou, mas nunca viu rastro de cobra e nem coro de lobisomem, mas se correr o bicho pega e se

f icar? o Ravi come.

Os AutoresGabriel Pelosi

Gabriel lê l ivros e no meio tempo mantém uma vida. Torce para que ele volte a ter tempo de assistir a séries e para que, um dia, o inverno volte à São Paulo. Espera fazer faculdade de Letras, trabalhar com livros, aprender várias línguas e conhecer o mundo. Copia o estilo dos seus autores favoritos e aprendeu a falar de si mesmo na terceira pessoa com o Neil Gaiman.

Sumário

O Livro Sem Título, Mas Que Terá Título Um Dia

Por Jonathan Holdorf

A rua torta para a loja mágica

Por Ravi Aynore

Foi assim que tudo começou

Por Jonathan Holdorf

Os Croquemitaine

Por Gabriel Pelosi

O Livro Sem Título, Mas Que Terá Título

Um Dia

Jonathan Holdorf

Há uma história sobre um oceano que continha diversos mundos nas suas profundezas; criaturas de outros universos se reuniam à sua volta e regozijavam na beira da praia a sua imensidão de um azul tão cristalino e brilhante que fazia os olhos de elfos arderem. Esta não é a história sobre o oceano, que provavelmente já fora escrita em milhares de outras criações. Esta é a história sobre uma garota que viu um mundo muito parecido, que viveu aventuras tão incríveis quanto, mas em uma estante de uma biblioteca.

No planeta distante no qual - vamos nos referir à garota apenas como Chazinho, porque ela gostava muito de chá - Chazinho vivia, as bibliotecas eram famosas pelos seus inf initos corredores, prateleiras gigantes e bibliotecários bizarros que conversavam através de poemas que não rimavam. Muitos diziam que as tais bibliotecas eram daquele tamanho porque seres de um planeta muito bonito chamado Gallif rey emprestaram a tecnologia que transformava qualquer coisa para algo maior por dentro. Por exemplo, se você tivesse uma bicicleta, tranquilamente poderia tornar as suas dimensões interiores tão inf initas quanto uma biblioteca. Não pergunte a logística disso, mas era possível.

Infelizmente, no planeta em que Chazinho vivia, poucas pessoas - ou criaturas de tentáculos enormes - visitavam a biblioteca, o que deixava o Sr. Secholorg muito triste. O Sr. Secholorg era o bibliotecário. Ele também falava através de poemas que não rimavam, mas estava tentando se livrar desse vício, apesar de ter l ido que fazia parte do seu sotaque, e ele deveria se orgulhar das suas origens.

Garota, garota

Posso ajudá-la?

Você vem aqui,

na biblioteca

- Ahn... sim? Oi. Isso é sempre muito estranho. Hoje eu estava pensando em ler algo diferente - disse Chazinho, envergonhada.

Vamos lembrar que Chazinho era uma menina ainda muito jovem; tinha seus sete anos de muita batalha pela frente, porém, apesar disso, costumava ler obras complicadíssimas e com teores extremamente complexos que deixavam qualquer sábio gênio perdido em meio à tanta divindade cerebral.

Menina, oh, menina

Veio até aqui

E quer ler

algo diferente

- Sim. Queria ler um pouco mais de fantasia - falou entusiasmada.

Fantasia... fantasia

Vejamos o que temos aqui

na estante da... fantasia

Secholorg recitou um pouco envergonhado e logo se desculpou pelo seu possível erro:

Desculpe... desculpe

Se desta vez

Não rimei

Secholorg e Chazinho caminharam pelas distantes estantes de uma das gigantes bibliotecas de Trenzalore. O rapaz vasculhava em meio ao pó por algo que fosse chamar a atenção da inteligentíssima garota.

Vejamos vejamos, pequena pimpolha

Aqui temos um livro interessante

Chamado O Livro Sem Título, Mas Que Terá Título Um Dia

Secholorg entregou-lhe a única edição da obra.

- Que legal! Posso f icar lendo por alguns minutos antes de tomar a minha decisão? - ela disse, saltitante.

Claro, claro, pequena donzela

Claro, claro, bela florisbela

Claro, claro, jovem criança

- Essa foi por pouco... - Chazinho levantou a sobrancelha e sorriu, de um jeito provocativo.

Por pouco?

Por pouquinho

Pro porco

quase lá

Secholorg foi embora, recitando pequenos poemas inaudíveis até mesmo para ele e deixou Chazinho em sua solidão favorita. A garota

folheava o livro intensamente enquanto tentava encontrar algo que realmente lhe chamasse a atenção.

O problema de um livro com um título tão sugestivo, porém enigmático e com certeza fantástico como "O Livro Sem Título, Mas Que Terá Título Um Dia" é que signif icava que ele não tinha nada escrito. Ora, é de conhecimento comum de que não se pode colocar título em algo não-f inalizado, e era assim que essa obra estava: não f inalizada.

Chazinho tentava entender o que estava acontecendo e o porquê daquilo ser estranho daquele jeito. Folheou um pouco mais devagar e encontrou uma página logo no início que dizia, e desta vez com rimas perfeitas, as instruções:

Você que chegou até aqui

Provavelmente precisa de um caqui

Para ler este daqui

Você precisa viver aqui dentro

Na verdade, as rimas não eram nada perfeitas, e a caligraf ia de quem fosse o diabo que tivesse escrito aquilo também era muito ruim.

- Isso está muito estranho - Chazinho falava consigo mesma e tentava desvendar o código do poema. - Ora bolas carambolas... Eu quero ler algo legal.

No momento em que

a-garota-com-um-nome-que-nada-mais-era-do que-o-diminutivo-de-uma-bebida-deliciosa-chamada-Chá falou aquilo, a biblioteca se transformou em algo completamente diferente.

Agora ela estava em outro planeta, em uma realidade tão absurda que seus pequenos olhos castanhos tinham pontos de interrogação no lugar das pupilas.

- Que infeliz diabo é isso? - ela questionou, com as mãos na cintura e encarando uma coruja engraçada que tinha um bico sorridente.

- Oh, olá! Sou um infeliz diabo, mas sou um diabo feliz. Garota com o nome de uma cidade, o que faz por aqui?

- Meu nome não tem nada a ver com uma cidade - ela retrucou.

- No seu mundo bobo até pode ser que não, mas aqui temos uma cidade chamada Chá, que na verdade já se tornou Chazão, o que pode ser confundido com um truque de mágica "shazam". Mas são questões que não devemos nos delongar por muito

- Certo. Você pode me dizer o que eu estou fazendo aqui?

- Esta é uma questão maravilhosa. Eu adoro! Todas as pessoas sempre fazem a mesma. Não canso de responder. Ora, pois, você está no livro. Você é o livro, carinha.

- ...Não?

- Ah, pois é sim. Ninguém nunca lhe disse que as estantes na seção de fantasia nas bibliotecas em Trenzalore criam novos mundos, novas realidades? De fato, são tantos universos já feitos que é impossível organizá-los.

- E como eu faço para voltar? - Chazinho sentia-se levemente desesperada.

- Impossível de voltar para o seu lugar. É hora de permanecer por aqui.

E a coruja sumiu.

A verdade é que Chazinho nunca conseguira sair daquele livro. Era impossível, a Coruja já tinha confirmado. Então, para ela, aventuras das mais malucas aconteceram - aventuras estas que seriam terríveis de detalhar em apenas um texto sem passar horas descrevendo mais de oitocentas páginas. Porém, para quem estava na biblioteca em Trenzalore, aquela era uma nova história, um novo conto de fadas que havia se formado.

"Chazinho na cidade de Chazão" foi durante anos e mais anos passando de geração em geração, assustando crianças e servindo até mesmo como adaptação para produções cinematográf icas do planeta.

Por isso, sempre f ique atento! Não ande pelos corredores das bibliotecas em Trenzalore, pois você poderá f icar preso em um livro para sempre.

A rua torta para a loja mágica

Ravi Aynore

I

Um clarão dourado iluminou o interior de um bar velho. Algumas pessoas cobriram os olhos. Uma criatura de pele vermelha virou seu copo de cerveja preta e bufou:

- Outra vez não!

Jedkiah surgiu do clarão tossindo bastante e com as costas fumaçando. Bateu as botas velhas no chão de madeira do bar e caminhou até o balcão.

- Ponha sete! ? Disse Jed ao alienígena que servia as bebidas.

O garçom alien arregalou seu único olho.

- Sete...? Dias...? Meses... ? ? Perguntou o ciclope procurando alguma coisa especif ica entres suas bebidas.

- Anos! ? Disse Jed pontual.

O garçom deixou escorregar algo de suas mãos, mas antes de tocar o chão o objeto levitou e moveu-se até o balcão. O ciclope encarou Jed um pouco assustado.

- É hoje? ? Disse o ciclope.

- É hoje, Nigrh!

Jed tirou um envelope de papel borrado de um dos seus bolsos e o entregou ao alien.

- Ele não está pronto. ? Falou o garçom para Jed com um tom preocupado.

- Já está na hora! Não há muito a ser feito. ? Respondeu Jed pegando o objeto que pousara no balcão. ? Não tente o proteger disso, Nigrh. Não há nada que você possa fazer que você já não

tenha feito.

Com o objeto em mãos, Jed deixou o balcão do bar e andou em direção a porta. Abriu o objeto que, agora, parecia uma garrafa e bebeu o líquido que estava dentro. Agarrou o full-watch dourado que carregava em seu peito e desapareceu em um circulo de luz dourada.

- Eu odeio esse cara! ? Falou o alien de pele vermelha enquanto esfregava os olhos.

Nigrh f icou olhando o envelope que Jed deixara encima do balcão sem saber realmente o que fazer. Uma voz rompeu a linha de pensamento do ciclope. Um Jed mais novo acabara de abrir uma porta do banheiro.

- Bom, prepare outra pra viagem, Nigrh. E não me dê esse seu olhar de preocupado.

Jed usava as mesmas roupas, mas elas aparentavam ser bem mais novas e muito mais limpas.

Nigrh o olhou sem palavras.

- E ai? Alguma novidade de qualquer pessoa, de qualquer tempo ou lugar? ? Perguntou Jed tranquilo e entre sorrisos.

- É hora! ? Respondeu Nigrh seco.

- De...? Na verdade é bem relativo, sabe? Eu não faço ideia de por onde começar agora, então... O tempo não faz grande diferença. ? Brincou Jed despreocupado.

- Jedkiah... É hora!

O grande alien pálido repousou seu único olho no envelope que descansava sob o balcão. Jed acompanhou seu olhar e também encarou o envelope de papel sujo de cinzas.

- Deixaram isso pra você. ? Falou Nigrh.

- Quando?

- Agora mesmo, Jed.

- Nih... Quem deixou isso pra mim? Quem sabe que estou aqui?

- Você mesmo, Jedkiah! Você de sete anos no futuro.

- Sete anos? ? Indagou Jedkiah um pouco assustado.

- Exatamente! Sete anos. ? Falou Nigrh soltando um ar pesado e fétido por suas narinas.

Os dois se olharam. E por segundos f icaram calados. Nigrh tentou falar alguma coisa, mas foi interrompido por Jed.

- É hora! ? Afirmou Jedkiah abaixando sua cabeça. ? Eu não estou pronto!

II

- Você tem certeza que vai fazer isso, Jedkiah? É muito perigoso. ? Falou Nigrh entregando uma mochila para Jed, na porta do bar.

- Eu tenho que ir. Não há o que evitar. Eu estou a procura há mais de 17 meses, Nih. Essa é a primeira boa pista que tenho! Eu não posso simplesmente ignorar meu futuro. Eu tenho que acha-la. ? Jed parecia determinado, mas ao mesmo tempo nervoso.

- Más ô vi, Mistére Jeff . Ô vi ou que tchê acontecer.

Uma alienígena ciclope saiu do bar carregando algumas garrafas parecidas com as que Jed do futuro havia levado. Ela era idêntica a Nigrh, exceto por sua cor rosada. Nadigrh, esposa de Nigrh, t inha dif iculdade na fala devido a um defeito genético.

- Não se preocupe, Nadir. Eu terei cuidado. ? Falou Jed tentando acalmar a alien agoniada.

- Non, Mistére Jeff . Nus tudo ou vemos. Mistére Jeff jugado, lavadou de sangue verimelio, mortando... Mor-tan... Morrendour, Mistére Jeff ! Sete ainios, Mistérie Jeff disse-nous. Sete ainios! ? Gaguejou a alien visivelmente muito nervosa.

- Nós não sabemos o que aconteceu, Nadir. Não sabemos! Eu preciso ir. Ela está em algum lugar nesse universo e eu preciso acha-la, Nadir. Eu sei o que acontece em sete anos, eu sei! Não é algo que eu posso evitar.

- Nadir, deixa ele. ? Falou Nigrh para sua mulher. ? Nós o protegemos o quanto podemos. Ele não está preparado, mas já está na hora.

- Obrigado, Nigrh. ? falou Jed. ? Agradeço todo apoio que me deram, mas é mesmo minha hora de ir.

- EUREKA!

Uma voz f ina saiu de dentro do bar. Todos olharam para a porta. De lá saiu uma criatura vermelha em tamanha velocidade quase arrancando as portas do bar com os tropeços que deu em uma de suas vente e sete pernas. Ele carregava o envelope de papel manchado nas mãos.

- Descobri! ? Falou o Zuba. ? Não são coordenadas. São dastas!

- Datas! ? Corrigiu Jed!

- Datas!! Os números que você me deu... Os números no papel... Não são coordenadas, como pensávamos. São datas!

- Mas são números de mais para serem só datas. ? Falou Jed.

- Não, não são. São números somados. Veja... Há um padrão! ? Explicou Zuba. ? São dastas...

- Datas!

- Isso... Datas! Especif icas de momentos f ixos no tempo. Quase todos eles. Se você soma todos eles e divide pela fração agoniante do coexistir e multiplicar pelo crescer da Dandarvore a resposta é simples.

- Qual é? ? Perguntou Nirgh nervoso.

- 777-77-777-7-77-7777,77! ? Respondeu o alien balançando todas as suas vinte e sete perninhas em empolgação.

- Que diabos isso quer dizer? ? Perguntou Jed af lito.

- Como o que isso quer dizer? É um dasta, idiota. De um outro ponto f ixo no tempo.

- Então... Funciona como uma coordenada?

- Você passou muito tempo na terre, seu imbecil.

Zuba parecer ter f icado um pouco irritado.

- Apenas coloca essa sequencia em seu viajador irritante e ele vai te levar pro lugar certo. ? Falou o alien de pernas múltiplas.

- Ok, espero que funcione! Muito obrigado, Zuba. Não sei como te agradecer. ? Falou Jed sorrindo.

- Apenas não volte mais, seu patof i.

- É patife!

- Ah, dane-se...

Zuba deu as costas e voltou a beber sua cerveja preta que carregava em outra mão. Jed olhou para Nigrh e Nadigrh já com um olhar marejado.

- Voucé pegau su anel? ? Perguntou Nadir.

- Sim, Nadir, peguei. Não faria qualquer viagem assim sem meu anel sônico.

- Você sabe o que vai acontecer se você partir, não é? ?

Perguntou Nigrh abraçando sua mulher que parecia chorar.

- Sei o que acontece em mais ou menos sete anos, Nih. Tenho que descobrir sozinho o que acontece entre o hoje e o então. Talvez eu a ache, talvez tenha valido a pena. Eu tenho que descobrir!

Houve um momento de silencio em frente ao bar Bagrh. Nadir entregou as garrafas para Jed e ele as colocou na mochila.

- Nouse, Boltriz Tahar, nouse noun dicemos adeus. ? Falou Nadir com a cara inchada.

- Eu também não digo... Adeus! ? Disse Jed!

Jed agarrou seu relógio de bolso pendurado em seu pescoço e sumiu em um clarão de luz dourada, espalhando areia para todos os lados. Nadir e Nigrh se abraçaram e Zuba esfregou os olhos, incomodados com a luz, mais uma vez. O deserto de Nabur, na septuagésima lua de Dakahr acabara de f icar ainda mais deserto.

- E espego que essa tenha sido a últ ima vez, run! ? Falou Nabu irritadíssimo.

Uma outra esfera de luz apareceu imediatamente, bem perto do alien de pele vermelha. Jed, sujo de algo amarelo e gosmento aparecera de repente.

- Oh, não. Não pode ser tarde demais... ? Falou Jed levando as mãos a cabeça e olhando para onde seu eu do passado estava há momentos atrás.

III

Fez-se o clarão dourado e Jed apareceu assustado em um campo vasto , alaranjado e, aparentemente, deserto. Jed apontou o anel sônico para a primeira coisa que conseguiu visualizar com nitidez, mas antes de entender o que admirava, sentiu algo o puxando

fortemente para o chão. Jed caiu!

- Onde você estava, seu idiota? Eu já estou aqui há uns quarenta e sete minutos. E que diabos aconteceu com o seu cabelo? ? Falou o homem que puxara Jed para baixo.

Jed levou as mãos a cabeça preocupado com o que poderia ter acontecido com o seu cabelo, mas estava tudo normal por lá. Então outras preocupações mais importante invadiram a cabeça de Jedkiah.

- Quem é você? Você me conhece? ? Perguntou Jed ao sujeito.

- Ah, não. Não! Não mesmo. Me recuso a fazer essa missão com um defeituoso.

O sujeito carregava uma enorme arma de formas quadradas em uma das mãos e sem muito hesitar a apontou para Jed e mirou em seu peito. Jed imediatamente usou seu anel sônico na arma do sujeito, que puxou o gatilho, mas para sua surpresa nada aconteceu.

- Seu paspalho! O que você fez? ? falou o sujeito indignado.

- Você estava prestes a me matar! ? Respondeu Jed.

- Eu sei! Grandes coisas... Você reapareceria intacto e dessa vez com memorias da missão. Ou você não foi designado?

Jed deu com os ombros e se levantou. O homem voltou a puxa-lo para baixo.

- O que você esta fazendo, sua mula? Quer babar essa missão também? Nós temos um acordo, lembra? Você faz as missões e eu f ico fora de sua vida. E é isso. ? Falou o homem irritado e batendo sua arma no chão com força.

O sujeito estava completamente sujo de terra e pólvora, como se estivesse lutando em uma guerra. Ele usava trajes de combate e mastigava um charuto no canto direito da boca. Bateu tanto com sua arma no chão que ela voltou a funcionar. Ele deu alguns tiros para o alto para ter certeza.

- Isso deve atrair eles. Vamos, vamos acabar logo com isso. ? Falou o homem jogando uma pistola no colo de Jed.

- Eles?

Jed estava visivelmente muito confuso.

- Sim. Eles! A missão! Vamos... ? Apressou o homem colocando as mãos de Jed no gatilho da arma que lhe dera.

- Que missão? ? Perguntou Jed.

- Que missão?... ? O homem pareceu perturbado. ? Merda. O que f izeram com você? Apagaram suas memorias de vez, não é? Só me deixe atirar em você e acabar logo com isso.

Jed apontou o anel sônico para a arma do sujeito mais uma vez.

- Não! ? Falou o sujeito. ? Mais uma merda dessas e Priscila pode não voltar mais a funcionar. Onde você conseguiu esse frufru ai? Eu não ligo se é coisa de panesknyn, funciona e pode ser util.

- Senhor, eu não sei o que está havendo aqui, mas eu tenho uma agenda e não posso f icar perdendo meu tempo com lunáticos como você.

- Ai está você! Achei que não ia lembrar.

- Lembrar de que?

- Chega! ? Gritou o homem! ? Nós não temos muito tempo! Aqueles tiros vão atrair os Kahis para cá e é melhor que você esteja pronto. No seu ante braço esquerdo há um código de barras, como esse. ? O homem mostrou seu braço para Jed.

No antebraço do sujeito havia um enorme código de barras estampado. Todos os números embaixo das barrinhas eram números sete.

? O pressione por sete segundos e sua memoria deverá voltar... teoricamente. ? Falou o homem mexendo em alguns botões de sua

arma.

Jed puxou as longas mangas do sobretudo azul que usava e o homem pode ver que não havia nada estampado em sua pele branca. O sujeito f icou branco de assustado. Apalpou o corpo de Jed como se estivesse buscando por alguma coisa especif ica. Viu o relógio pendurado no pescoço de Jedkiah e o olhou atônito.

- Quê? ? Perguntou Jed sem muita reação.

O sujeito sujo se aproximou ainda mais e olhou fundo nos olhos de Jed!

- Merda! ? Gritou o homem! ? Merda, merda, merda merda, meeeeeerda!

- QUÊ??? ? Gritou Jed confuso.

- Você não está designado! Você não devia estar aqui. Você vai morrer aqui! Eu tenho que te tirar daqui. Você não está designado! Merda!!!

- O que você quer dizer com...

- PARE DE FAZER PERGUNTAS E NOS TIRE DAQUI AGORA!! ? Falou o homem apontando pro full-watch enrolado no pescoço de Jed.

Jed agarrou o relógio e o braço o rapaz e os dois desapareceram imediatamente deixando pra trás um circulo de luz dourada.

IV

Jed e o sujeito estão sentados em um balcão de bar, bem parecido com o balcão que havia em um único bar em uma das luas de Dakahr, mas não havia nada de muito extraordinário por ali. Tudo parecia comum e... sem sal! Jed estava bebendo um liquido de dentro de uma das garrafas que Nadir te dera antes dele partir.

- Terra?! ? Bufou o sujeito. ? Por que me trazer em um lugar tão retrô? Odeio o cheiro de gente humana junta e desavisada. Por que não fomos para minha casa em Zantar? Ao menos veríamos a Rita e o Junior.

- Eu me sinto seguro aqui. ? Falou Jed. ? Você estava dizendo...

Jed encarou o rapaz com um olhar um pouco intimidador, enquanto uma garçonete ruiva servia uma cerveja praticamente sem gosto.

- Certo, espertinho. Eu vou lhe dizer o que você quer saber, mas em troca eu quero que você volte lá e termine a missão comigo. Estamos de acordo? ? Falou o homem!

- O que é a missão? ? Perguntou Jed.

- Estamos de acordo?

- Sim!

- Ótimo! Eu e você somos amigos. Ou seremos... Sei lá!

- E ainda assim você tentou me matar. ? Interrompeu Jed.

- Eu não sabia que você não estava designado. É uma missão, e você não morre em uma missão... Não enquanto ela não estiver completa.

- A historia toda. Por favor! ? Insistiu Jed.

- Merda... ? Falou o homem virando os olhos. ? Ok... Nós nos conhecemos a mais ou menos uns quatro anos atrás, certo? Você estava pulando pelo tempo procurando por uma garota ou sei lá. Eu disse que podia ajudar, sabe? Então nos f icamos amigos.

- Ajudar como? ? Perguntou Jed.

- Olha, moleque. Você disse que queria ouvir a historia toda, então cale a sua matraca até que eu termine, okey?

Jed apenas concordou com a cabeça. O homem tomou um gole da cerveja sem gosto, fez careta e coçou a sobrancelha em um sinal claro de repudio.

- Eu e você estávamos voando os rios de escamas de Paspatour. Eu sabia de uma coisa que podia te ajudar na sua busca impossível, mas antes de chegarmos ao destino nos fomos capturados por uma empresa do complexo de SAMOA. Eles se chamavam A.A.V.P e faziam todo tipo de coisas com as pessoas que capturavam.

Jed conhecia a A.A.V.P e eles tinham um histórico juntos.

- Eles nos colocaram no MPD. ? Continuou o homem. ? O Programa de Missões! É fácil! Você recebe um TAG, como esse aqui... ? Falou o homem apontando pro código de barras em seu braço. - E toda vez que aparecer uma missão para SAMOA você é teleportado para o programa. Não se morre nas missões! Por isso é tão fácil, mas uma vez que a missão termina, qualquer coisa que acontece com você pode ter fatal! Bom, as vezes o teleporte buga durante o processo e os MP, (nós), aparecemos na aérea de missão com um defeito ou outro. Muitas vezes é falta de memoria. Basta morrer e boom! Você volta pra missão novo em folha.

- Por isso você tentou atirar em mim? ? Perguntou um Jed um pouco mais confortável ao redor do rapaz.

- Sim! Mas você... Você é de antes, não é? De antes disso tudo?

- Uns seis anos antes. ? Falou Jed.

- Puta merda!

O sujeito tomou outro longo gole de cerveja.

- O que aconteceu depois? ? Perguntou Jed, mais interessado com o desfecho da historia do que preocupado com o absurdo que

ela parecia ser.

- Nós f izemos algumas missões juntos, mas acabamos escapando do programa, graças a seu... Coisa. ? Falou isso apontando para o full-watch. ? Você pegou as informações que podia sobre como achar sua garota e viajou. Mas parece que você não gostou muito do que descobriu... Eu não faço ideia do que era. Você se fechou bastante, cara! Bom, eu tentei seguir com a vida normalmente, mas... Você sabe. É dif ícil conseguir qualquer trabalho quando se tem uma TAG. Então, você teve uma ideia. Nós interceptaríamos o sinal das missões e as faríamos antes que o programa pudesse mandar qualquer outro mercenário para isso. Eu f icaria com o dinheiro das missões e você com qualquer informação útil que pudesse encontrar sobre a A.A.V.P. Mas nós fomos f icando cada vez mais distantes, o período entre uma missão e outra foi f icando cada vez maior. Você veio com um papo de que estava f icando perigoso f icar ao seu redor. Com poucas missões a coisa foi f icando preta pra mim, mas você prometeu que não ia me deixar na mão! Faz tempo que não te vejo, cara. Não sei o que aconteceu. Achei que você tinha morrido ou algo assim. Não se pode fazer missão solo, saca? A missão que acabamos de deixar pra trás seria a nossas trigésima sétima missão juntos.

Por mais estranho que fosse, Jed já estava extremamente confortável com a presença do sujeito.

- Então nós devemos ser grandes amigos. ? Falou Jed sorrindo.

- Você é um idiota... Mas eu gosto de você, cara. Você salvou minha vida diversas vezes em missões. Mesmo sabendo que não era preciso! É por isso que eu coloquei o nome do Junior em homenagem a você. ? Falou o homem bruto um pouco desconcertado.

- Seu f ilho se chama Jedkiah?

- Não! Credo, homem! Que morte horrível! Como você do passado é burro! Nós não usamos nomes nas missões. Usamos numero! Eu sou o 26, você é o 27. ? Riu o homem. ? Eu gosto de você, babaca, mas não colocaria o nome do meu f ilho de Jebacaia! Nome feio da porra!

Os dois riram e tomaram o resto de suas bebidas.

- Mas e então, 26, que informações você pode me dar pra me ajudar a achar a Keenex? Você disse que ajudou o meu eu futuro. ? Perguntou Jed esperançoso.

- Ai é que tá. Eu estou um pouco curto em grana e eu preciso de você pra me ajudar com essa missão. Nós voltamos para lá, fazemos o que tiver que ser feito e eu te digo tudo que você precisa saber pra achar sua garota. Mas eu preciso dessa missão e eu preciso que você a complete comigo.

Jed engoliu seco ao notar que ir para a misteriosa missão era o único jeito de arrancar informações do seu futuro melhor amigo. Levantou-se, pegou seu casaco e o vestiu determinado.

- Vamos, nos temos um missão a cumprir! ? Falou Jed à 26.

- Meu garoto!

Jed tomou o resto do liquido que havia dentro de sua garrafa, pegou o braço do rapaz e apertou o relógio no seu peito. Sumiram!

V

No deserto laranja, Jed e 26 estavam escondidos atrás de uma barreira feita de concreto. 26, explicava a melhor maneira de se terminar a missão.

- Certo, não temos mais muito tempo. Ou terminamos logo isso, ou os mercenários a A.A.V.P vão chegar por aqui metendo

bala.

- O que temos que fazer e quanto tempo temos? ? Perguntou Jed um pouco assustado.

26 abriu um mapa no chão e com tiros secos de sua arma quadrada desenhou o caminho nele.

- Nós seguimos em frente, não paramos pra nada. Você tem que ter muito cuidado, 27. Você não esta designado, se lembra? Se morrer aqui, morre aqui. Não tem mais chances.

- Mas você disse...

- O que eu disse vale só pra mim, agora. Então... Nada de tentar me salvar! Nós seguimos em frente, barragem por barragem. Limpamos os Kahis do caminho e só. Se encontrarmos com qualquer outro obstáculo, passamos por cima e seguimos direto ao barracão. Entendeu?

- Certo! ? Disse Jed apavorado.

- Olha... ? Falou 26 mudando de tom. ? Eu sei que você ainda não está acostumado com a ideia de atirar em coisas que se movem, mas acredite em mim... Nós já tivemos essa conversa. Você tem que atirar nesses miseráveis, ou nós falharemos nessa missão. Eu realmente não estou em condições de falhar agora.

- Mas, esse... Kahis. O que eles são?

- Você do passado não sabe de nada? ? Resmungou 26 enquanto carregava armas. ? Esse lugar está abandonado há milhares de anos. É só areia e vento. A A.A.V.P usa esses lugares para fazer testes de suas tecnologias. Kahis são anticorpos criados pelo planeta pra evitar que ele seja tão facilmente invadido. Funciona assim em todo esse complexo de planetas que os malditos da A.A.V.P estão explorando. Os bichos são feio como a porra. É como se a areia criasse forma e tentasse te matar.

Resumindo: Se você vê algo que se parece com um Macra, apenas atire.

Jed concordou com a cabeça.

- Tome cuidado. Nunca se sabe que equipamento os Kahis desenvolveram para se protegerem. Beleza?

- Ótimo!

- Mire nas pernas. Sempre nas pernas. Se caíram não tem como levantar, e ai é adeus, Kahis.

- Perfeito!

26 jogou outra vez uma pistola na mão de Jed.

- Atire! ? Falou 26 pronto para a ação. ? Vamos?!

- Espere! ? Gritou Jed. ? Uma vez que cegarmos ao barracão, o que fazer?

- Ah, ótima pergunta! A A.A.V.P colocou um dispositivo explosivo lá. Limpamos os Kahis do caminho, entramos no barracão e acionamos o dispositivo. Pegamos a grana e saímos de lá imediatamente, entendeu?

- Entendi.

- O explosivo acabará com os mecanismos de defesa restantes e os idiotas da A.A.V.P vão ter o planeta só pra eles. E é isso! Agora é hora de ir.

Jed e 26 saíram correndo de trás do muro. Logo puderam ver cerca de 70 Kahis se aproximando com velocidade. Os mais próximos começaram a atirar bolas de plasma roxo na direção dos dois. Jed se escondeu atrás de uma barragem enquanto 26 atirava ferozmente.

- Huuuuuuhul!! ? Gritou 26. ? Eles estão atirando cola temporal, 27. Igual a nossa sétima missão juntos. Você lembra?

Aquela mulher vespa sabia mesmo explodir Kahis com voos rasantes. O que você está fazendo ai, Jebacaia. Atire! Atire neles. Essa desgraças de sete pernas não vão se destruírem sozinhas. HAHAHA. Sintam um pouco da raiva da minha Priscila, seus idiotas!

26 parecia estar muito acostumado com aquela situação, ele até se divertia. Enquanto Jedkiah estava se borrando de medo, es escondendo atrás das barreiras de concreto e areia.

Uma bola de plasma roxo atingiu a barragem em que Jed estava escondido. No susto ele pulou de trás da barragem e começou a atirar para todos os cantos. Dois Kahis foram atingidos pelos tiros de Jed. Os monstros que lembravam caranguejos de três metros de altura, caíram no chão e se desmontaram se transformando em enormes montes de areia.

- IIIIIIIRRRÁ!! É isso ai, 27. Sua mira continua ótima. ? Gritou 26 de longe, enquanto atirava em 17 Kahis sem nem precisar olhar pra eles.

Uma bola de plasma roxo veio fumegante em direção à 26 enquanto ele estava distraído elogiando Jed. Jed assustado correu em sua direção para salva-lo e pulou atirando e acertando as pernas do Kahis que atirara na direção deles. Jed caiu por cima de 26 que pareceu bastante irritado.

- O que foi que eu te disse, seu estupido? Nada de tentar me salvar. ? Gritou 26.

26 levantou-se e arrastou Jed para trás de outra barreira feita com os restos de um Kahis morto.

- Olha, garoto, assim não da! ? Falou 26 limpando a poeira de suas roupas. ? Não posso terminar essa missão com você se arriscando desse jeito. Se você morrer aqui, nós estamos fritos.

- Eu só queria...

Jed tentou explicar, mas 26 estava muito irritado pra deixar ele falar.

- Cale sua boca e veja isso. ? Falou 26 mastigando seu charuto.

26 saiu de trás da proteção e andou de braços abertos em direção aos Kahis. Logo foi atingido por duas bombas de cola temporal que cobriram todo seu corpo de plasma roxo. Uma luz azul explodiu alguns metros atrás e lá estava 26 outra vez. Novo em folha e atirando para todos os lados. Ele limpou a aera por ali e depois voltou para atrás da proteção onde Jed estava.

- Viu? Simples! Eu posso fazer isso, você não. Então recolha-se a sua insignif icância de mortal e pare de querer salvar a minha vida. Isso só me atrasa.

Jed fez que sim com a cabeça e entendeu qual era o seu papel naquela missão.

- Ótimo! ? Disse 26. ? Agora atire. Já estamos perto, mas também temos pouco tempo. Logo isso estará cheio de mercenários da Quill se não acabarmos logo com essa missão.

Jed não sabia quem era Quill, mas sentiu um aperto no coração ao ouvir esse nome. Será que era algo relacionado ao passado que esquecera? Algo relacionado a época em que era só mais um clone lutando em uma guerra sem sentido? Ou será que aquele nome pertencia ao seu futuro. Balançou a cabeça e parou de pensar tanto. Jed começou a atirar nos Kahis mais próximos enquanto corria de barreia em barreia para se proteger. Sentia uma nostalgia impossível fazendo isso. Estavam bem próximos ao barracão quando 26 morreu pela segunda vez caminhando em campo aberto e xingando seus inimigos. Jed o viu brotar logo depois soltando granadas de fumaça e atirando nos Kahis com um sorriso amarelo no rosto.

Minutos depois, Jed e 26 estavam tendo um grande problema com um dos últimos Kahis que guardavam a porta do barracão.

- Grande? Você chama isso de grande? ? Gritou Jed para 26. ? Ele é enorme!

- Já vi maiores! ? Respondeu 26.

Os dois estavam reversando tiros em um gigantesco Kahis que estava muito feroz na frente do barracão.

- Esses tiros não vão adiantar. ? Falou 26. ? E eu já estou sem bombas.

- Eu tive uma ideia. ? Falou Jed sorrindo, mas confuso.

- Ok, vamos fazer! ? Disse 26.

- Mas você nem escutou minha ideia ainda!

- Eu te conheço há quatro anos, 27. Suas ideias são sempre boas. O que eu faço? Vou até lá e atiro nos olhos dele enquanto você passa por baixo desse monstro?

- Não! ? Falou Jed. ? Apenas atire. Um tiro só, em uma das patas grande, ok? Quando eu falar...

- Agora!!! ? Bravejou 26!

26 saiu de trás da barreira e mirou em uma das maiores patas do Kahis gigante! Jed usou seu anel sônico na arma quadrada do sujeito. O tirou saiu parecendo uma grande explosão e acertou o Kahis em cheio. O monstro caiu e começou a se esfarelar aos poucos. Jed e 26 comemoraram.

- Bom garoto! ? Falou 26. ? Vamos, temos que acionar o detonador.

- Está morto? Por que não virou um monte de areia? ? Perguntou Jed um pouco preocupado.

- Os maiores demoram mais pra desintegrar.

- Certeza?

- Sim! Vamos, anda! Não temos muito tempo.

Os dois correram para dentro do barracão evitando passar muito perto do Kahis gigante que aos poucos virava um grande monte de areia.

Já dentro do barracão, 26 e Jed, correram até uma pequena caixa de madeira que lá havia. 26 deu um chute nela e ela se quebrou. De lá ele tirou um botão vermelho do tamanho de sua mão e o pressionou. Um alarme ensurdecedor começou a tocar. Uma voz feminina falou:

- Missão Completa! Retire seu bilhete agora.

Jed não tinha certeza, mas reconhecia aquela voz.

- Não poder ser. ? Falou Jed. ? Essa voz...

26 retirou um bilhete dourado de dentro da caixa de madeira comemorou.

- Vamos dar o fora daqui! ? falou 26 agarrando Jed pela manga do sobretudo azul.

- 8 minutos para a destruição total da vida nesse planeta. ? Falou a voz feminina que agora soava diferente.

26 tentou arrastar Jed para fora, mas ele estava bastante intrigado com a voz que ouvira antes.

- 26, espere... Essa voz... Essa voz... ? Falou Jed.

Mas antes que 26 pudesse dizer alguma coisa, o Kahis que ainda não tinha se desintegrado, cuspiu uma gosma roxa na direção dos dois. 26 empurrou Jed para longe e foi atingido na perna. Jed levantou-se atirando no Kahis gigante que se desintegrou por completo imediatamente. Jed limpou-se e sorriu para 26,

mas 26 não lhe retribuiu o sorriso. Seus olhos estavam cheios de lagrimas.

- 7 minutos para a destruição total da vida nesse planeta. ? Falou a voz feminina, cada vez mais robótica.

IV

- O que está acontecendo? Precisamos sair daqui. Vamos! ? Falou Jedkiah para 26.

Jed sabia o que estava acontecendo, mas se recusara a acreditar na verdade.

- Eu não posso! ? Respondeu o homem. ? Estou preso!

- Certo... Certo... ? Mas é só atirar em você e você volta, não é? É fácil!

- 27...

- O que? ? Perguntou Jed af lito!

- A missão acabou! Acabou! ? Disse 26 enquanto uma lagrima rolava do seu rosto. ? Se eu morrer aqui, agora... Eu morro aqui, agora!

Jedkiah sentiu um peso em seu coração!

- 6 minutos para a destruição total da vida nesse planeta. ? Falou a voz feminina mais robótica que nunca.

Jed usou o anel sônico na gosma roxa.

- Não perca seu tempo, 27. ? Falou 26 cabisbaixo.

- Cola temporal! ? Afirmou Jed checando o anel.

Jed correu para 26 e o pegou pelo braço. Apertou o full-watch em

seu peito e tentou se teleportar para qualquer lugar longe dali. Estava desesperado.

- Eu estou preso, 27. Aqui e agora! Não há o que fazer! ? Falou 26 conformado.

- Deve ter algo que possamos fazer!

- 5 minutos para a destruição total da vida nesse planeta. ? Contou a voz completamente robótica desta vez.

- Não, não há! ? Disse 26. ? Mas você ainda pode fazer um monte. Tome, peque isso.

26 tirou o bilhete dourado do bolso e estendeu sua mão em direção a Jed.

- Vá até Trenzalore! ? Disse 26.

Jed sentiu todo o seu corpo gelar ao ouvir aquele nome.

- Eu sei, eu sei... ? Completou 26. ? Você não gosta de lá. Mas já não é o mesmo lugar que você costumara conhecer, Jedkiah. Trenzalore mudou depois de tudo que aconteceu. Nós tivemos lá algumas vezes. A gente de lá nos adora. Vá até lá, entregue o bilhete, retire o dinheiro e envie para minha família. O pequeno 27 saberá o que fazer com a grana. Se você o vir... Diga, que que eu o amo e que as armas de formato quadrado também pode ser batizadas com nomes femininos.

- Você não pode morrer aqui, 26. Se você morrer aqui e hoje, nós nunca nos conheceremos no futuro! Nós vamos criar um paradoxo!

- Não me venha ditar regras estupidas criadas por humanos, Jedkiah. Você sabe que o universo não funciona assim.

Jed já ouvira isso em algum outro lugar. Um velho amigo o dissera a mesma coisa há muito tempo atrás.

- 4 minutos para a destruição total da vida nesse planeta!

- Você realmente tem que ir. ? Falou 26. ? Vá até Trenzalore, Jedkiah. Lá pergunte sobre sua garota. A ultima informação importante que você obteve, veio de lá. A ultima vez que te vi...

- Eu não posso te deixar aqui, 26. Você é muito valioso pra morrer aqui. Você tem informações importantes sobre mim, sobre meu passado, sobre meu futuro... Você é meu amigo!

- Pare de se preocupar com o seu passado e com o seu futuro, Jedkiah. Se preocupar com o seu presente! Agora vá! Pegue a grana, ajude meu guri, descubra a verdade.

Jed sabia que não podia fazer nada mais naquela situação. Havia perdido o amigo que nunca tivera e deveria deixa-lo lá para morrer. Os dois f icaram se olhando em silencio enquanto a voz robótica dizia que só haviam três minutos restantes de vida naquele planeta. 26 riu.

- O que foi? ? Perguntou Jed.

- Eu f inalmente te salvei. Depois de quatro anos, Jedkiah, eu te salvei! Não é irônico? Estamos quites, amigo!

26 pegou sua arma e atirou intensamente no teto do barracão. O teto começou a desmoronar, mas antes que pudesse atingi-los, Jed agarrou o relógio em seu peito e o apertou. 26 fez sinal de positivo com a cabeça. Jedkiah sumiu em um clarão dourado. Todo o teto do barracão desabou!

VII

Jed apareceu numa pequena estrada deserta. Estava desanimado e segurava seu relógio em uma mão e na outra o bilhete dourado. Colocou o bilhete em um dos bolsos e sentiu o peso da perda do

seu amigo. Jed se desequilibrou um pouco e caiu de joelhos no chão. Olhou ao redor e tudo que pode ver foi uma pequena loja de letreiro azul e branco. Não sabia onde estava! Levantou-se e caminhou lentamente ate a loja. Entrou! Tudo era muito branco e claro lá dentro. Jed sentiu um leve incomodo nos olhos.

- Oh, deixei eu ajeitar isso pra você. ? Falou uma voz calma.

A luz no ambiente diminuiu um pouco. Jed pode ver um senhor de aparência simpática que usava óculos na ponta do nariz. Ele passeava lentamente pelo interior da loja observando tudo que havia nas paredes como se fosse novidade.

- Me desculpe! ? Falou o homem. ? Isso acontece as vezes, mas não demora muito pra você se acostumar.

Jed olhou ao redor. Nas prateleiras da loja haviam vários livros e muitas caixas. A loja que parecia pequena do lado de fora, era inf initamente maior por dentro.

- Eu sou Jay. ? Disse o homem se apresentado. ? Meus amigos me chamam de Jay, mas você pode me chamar de Jay. Posso te ajudar em algo?

- Desculpe. Eu... Eu acho que estou perdido! Eu procuro por Trenzalore! ? Disse Jed ainda tentando acostumar seus olhos com a luz do lugar.

- Então não procura. Aqui é Trenzalore! ? Disse Jay entre sorrisos.

- Esse planeta é Trenzalore? ? Perguntou Jed confuso.

- Não! Esse lugar é Trenzalore! ? Disse Jay sorrindo e orgulhoso.

- Esse lugar? Mas isso aqui é uma loja!

- É? Eu não tinha notado! ? Falou o homem coçando sua

barba calmamente.

- Você está de piada comigo, não é? ? Jed parecia irritado!

Jay riu abobadamente!

- Oh, não. Não! Eu não estou de piada. Eu costumo me achar muito engraçado, mesmo que muitos não compartilhes desse pensamento comigo, mas não... Não estou de piada. Você gostaria de ouvir uma piada?

- Não! Eu quero saber como faço pra chegar em Trenzalore.

- Para que? Se o fez sem saber...

Jed fuzilou o homem com olhos zangados. Não estava com clima para charadas misteriosas.

- Uma loja, você disse. Sim, uma loja! ? Falou o homem caminhando lentamente até Jed. ? Trenzalore tem sido muitas coisas nos últimos anos. Já fomos deposito, praça, planeta, uma estação de radio, uma TV velha e empoeirada e agora... Somos uma loja. Me diga, o que você precisa comprar?

- O que eu preciso comprar? O que isso signif ica? ? Perguntou Jed já não suportando mais o tom confuso daquela conversa.

- Bom... Trenzalore se adapta a sua necessidade, meu caro. Se trenzalore é uma loja pra você, você deve querer comprar alguma coisa.

- Ou já comprou!

Uma voz f ina e feminina rompeu a tranquilidade do dialogo entre Jed e Jay. Uma garotinha saíra de trás do balcão da loja as pressas e abraçou Jed com força.

- Senhor Jed!! ? Falou a garotinha.

- Menininha?! ? Falou Jed assustado. ? Digo... Vossa Alteza, Rainha Andreia. O que... O que você esta fazendo aqui?

- Eu moro aqui, seu bobo! ? Falou Ands.

- Mora aqui? ? Perguntou Jed.

- Ela veio logo depois de mim, quando ainda éramos um planeta. Ela precisava de um lugar pra f icar e nós sempre estamos precisando de gente boa por aqui. ? Falou Jay em um tom de felicidade.

- Minha nave palácio orbita Trenzalore há um tempo já. É mais seguro aqui! Você devia me visitar qualquer dia. Eu tenho um quarto inteiro só de meias coloridas, eu sei que você ia adorar. ? Falou a garotinha.

- Sim, sim, seria ótimo!

- Jed sorriu um pouco. Foi bom ver um rosto conhecido depois de tudo que acontecera com ele.

Jed ajoelhou e sussurrou algo para a garota.

- Escute, Menininha. Você tem visto ele... O Doutor? ? Perguntou Jed com o peito apertado.

- As vezes ele aparece pra tomar um chá. Ele não te visita? ? Perguntou Ands.

- Não! Acho que não saberia como. ? Falou Jed um pouco decepcionado. ? Escute... Eu preciso de um favor. Estou precisando de ajuda com uma coisa. Ele talvez possa me ajudar bastante. Quando o vir, menininha, diga que o estou procurando.

- Mas é claro, Senhor Jed. O Senhor Doutor f icará feliz em saber de você. ? falou a Rainha Andreia entre sorrisos.

Jed se levantou e encarou Jay.

- Então aqui é mesmo Trenzalore? ? Perguntou Jed.

- Sim! Pequeno Gigante, Trenzalore. ? Respondeu Jay.

- Ótimo! Um amigo me mandou aqui! Ele disse para entregar isto.

Jed tirou do bolso o bilhete dourado e o entregou a Jay.

- Ah, sim... Uma retirada! Muito bem deixe-me ver aqui.

Jay olhou nas inf initas caixas das prateleiras procurando por uma especif ica. Não demorou a acha-la.

- Muito bem, deixe-me ver. ? Disse Jay repousando a caixa sobre o balcão. ? Sete Mil Kells! Nossa, é muito dinheiro! Vai t irar ferias? Posso sugerir o hotel Trenzalore? Talvez não seja a melhor as acomodações, mas o pessoal de lá é fantástico.

- Não é pra mim... ? Disse Jed com um peso no coração. ? É pra um amigo. O f ilho dele vai precisar dessa grana!

- Que bom! Que bom que é pra uma causa justa e nobre. Mas caso ele queria tirar ferias... Hotel Trenzalore! ? Falou Jay abobado e fez uma dancinha ridícula.

Rainha Ands abaixou e pegou um papel do chão.

- Senhor, Jed. O senhor deixou cair isto.

Jed pegou o papel amassado das mãos da menininha e o abriu. Era o mesmo envelope que ele tinha deixado pra si mesmo no bar de Nirgh. Ele deve ter caído do bolso quando Jed tirou o bilhete dourado de lá. Jay viu o papel e arregalou os olhos.

- Hooo... Não é você o cheio de surpresas?! ? Falou Jay ainda dançando. ? E então, fará outra retirada?

- O que? ? Perguntou Jed.

- O papel que você está segurando... É de Trenzalore! Te

da direito a outra retirada. Não quer ver o que é?

Jed estendeu a mão com um pouco de receio e Jay, estranhamente feliz, arrancou o papel de sua mão.

- Hummmm, vejamos! Sim, sim. Isso será interessante. Ahr, eu adoro quando Trenzalore é uma loja! ? Falou Jay olhando as diversas caixas nas prateleira de sua loja. ? Aqui está! Sim, isso! Ah, perfeito. Não é lindo?

Jay colocou no balcão de vidro uma f ina e longa caixa de madeira.

- Essa eu não posso abrir. Só você pode abrir! Mas não ache que eu não vou espiar, porque eu vou espiar! ? Falou Jay com os olhinhos brilhando por trás de seus óculos.

- O que é? E por que só eu que posso abrir? ? Perguntou Jed.

- Porque foi você quem deixou aqui, oras. ? Falou Jay!

- É um excepcional baú de coisas boas! ? Disse a menininha. ? Não existem muitos por ai!

- Esse é apenas o sétimo que já saiu! ? Completou Jay. ? Nada de ruim pode sair dai. Apenas coisas boas.

Jay e Ands trocaram olhares e sorriram. O homem empurrou a caixa em direção a Jed. Jed se aproximou e abriu a caixa devagar. Jay e Ands espiaram. Dentro da caixa haviam três coisas: Um extenso papel branco com um código de barras nele. Uma bolinha branca. E um cartão de visita negro. Jed abriu um grande sorriso.

- Eu acho que sei o que é isso. ? disse Jed.

Jay voltou a dançar abobadamente.

Jed tocou na bolinha branca e ela ativou e começou a f lutuar o

local fazendo barulhinhos que pareciam grit inhos de felicidade. Jed abriu ainda mais o sorriso!

- Tonto!! ? Disse Jed feliz olhando para a bolinha que voava em círculos sobre sua cabeça.

A bolinha tratava-se de uma peça importante do seu antigo robô, que Jed havia abandonado na terra há mais de um ano. A bolinha pousou no ombro de Jed e desenhou um sorriso de luz em sua superfície.

- Olá, Mestre! Eu senti saudades! ? Falou o robô.

- Eu também, Tonto! Mas já disse para não me chamar de mestre! ? Disse Jed se sentindo bem mais leve!

- Perdão, Mestre Jed. Jed! Ops! Só Jed! ? Gaguejou o robô entre pequenas risadinhas.

Jed pegou o papel branco com o código de barras de dentro da caixa e o encarou confuso.

- E isso, o que será? ? Perguntou Jay.

Jed encarou o papel com uma certa curiosidade. Conhecia esses números de algum lugar.

- Tonto? ? Perguntou Jed.

- Perfeitamente, Jed. ? Disse Tonto antes de começar a fazer uns barulhinhos robóticos, como se tivesse pesquisando alguma coisa. ? Isso é um Backup, Mestre Jed! Desculpe. O que quer que tenha sido tagueado com esse código de barras está seguramente salvo em um banco de dados e pode ser recuperado em qualquer lua do quadrante B por apenas 200 créditos

- Existem varias luas que orbitam planetas perto de Trenzalore. É tudo bem próximo. ? Disse Jay encostando os

cotovelos no balcão e segurando seu queixo com as mãos.

- Mesmo que o código estivesse estampado em uma pessoa, Tonto? ? Perguntou Jed com uma enorme esperança no coração!

- Sim, Jed. ? Respondeu Tonto satisfeito. ? No ano 7016, vários planetas usam essa tecnologia para salvarem vários seres importantes para eles, principalmente pessoas.

Jed f icou agitado.

- Rainha Andreia, preciso de um favor. ? Falou Jed para a menininha.

- O que precisa, Senhor Jed? ? Respondeu a garota.

- Existe um garoto... Eu não sei muito sobre ele, mas eu acredito que ele é de algum lugar próximo a Zantar. O nome dele é 27. Creio que o nome da mãe dele é Rita. E eu tenho motivos para acreditar que esse é o pai dele. ? Jed falou isso mostrando o papel branco com o código de barras. ? Nós estávamos juntos em uma missão há pouco tempo e eu o perdi. Preciso de ajuda para achar esse garoto, o f ilho dele!. Preciso entregar esse código backup e o todo aquele dinheiro para ele o mais rápido possível. Será que você conseguiria a localização dele para mim.

- Quem sou eu, né? ? Falou a garotinha. ? Só a Rainha regente de três galáxias inteiras. Não vai ser dif ícil acha-lo, Senhor Jed. E será um prazer imenso te ajudar nessa jornada. Farei isso agora!

Jed entregou o papel backup para Ands e também a caixa de madeira com os 7 mil Kells dentro. Ands sorriu e teleportou da loja Trenzalore direto para sua nave. Jed tinha certeza que conseguiria reviver seu futuro melhor amigo e envia-lo para casa são e salvo. Voltou para a caixa e pegou o cartão de visita negro.

Nele havia um telefone de contato, uma assinatura e um nome. Jed congelou.

- Você disse que só coisas boas poderiam sair desta caixa, certo? ? Disse Jed a Jay.

- Sim! Algo de errado? ? Perguntou o homem aparentemente preocupado pela primeira vez.

- Eu não tenho certeza.

Jed mostrou o cartão para Jay que se esforçou um pouco para ler o que tinha escrito.

- Isso é uma coisa ruim? ? Perguntou Jay confuso.

- Eu não sei! ? Respondeu Jed. ? Mas definit ivamente não era o que eu estava procurando.

No verso do cartão de visita, pouco abaixo da assinatura, havia um nome: Keenex Quill. Presidente da A.A.V.P

- Tonto... Isso é real? ? Perguntou Jed ao seu amigo robô.

Tonto scanneou o cartão.

- Sim, Jed. Receio que sim. É um cartão atual da mais alta autoridade da agencia A.A.V.P. E será assinado daqui a duas semanas, na terra! ? Falou o robô.

Jed olhou fundo nos olhos de Jay e agarrou o full-watch em seu pescoço. Jed e Tonto sumiram em uma explosão de luz dourada.

Jay deu um sorriso de canto de boca.

- Boa sorte outra vez, amigo. Estou ansioso pelo nosso reencontro. Não vai demorar muito agora... Boa noite!

Jay andou lentamente até a saída da loja, apagou as luzes e saiu. A loja sumiu a suas costas. Ele puxou de dentro de sua camisa um relógio idêntico ao de Jedkiah e o apertou com uma das mãos. Jay sumiu em uma nuvem de fumaça azul escuro.

Foi assim que tudo começou

Jonathan Holdorf

Ela estava sentada, coberta pela escuridão, num canto em que se sentia confortável. A verdade é que amava todos os cantos do seu quarto; ela os achava apaziguadores. Sempre que f icava triste ia até lá, escolhia um dos quatro melhores refúgios e permanecia por horas, ref letindo.

Dessa vez não estava triste por não ser o seu aniversário ou por não ter muitos amigos - com isso ela não se importava. Desde sempre dizia para a sua mãe que 'se não vir ninguém na minha festa, bem, sobra toda a comida para mim'. E, de fato, sobrava muito, apesar de várias pessoas terem participado do seu aniversário de doze anos - a maioria dos convidados composta por parentes e pessoas que ela não fazia ideia de quem eram. Mas em meio a tudo isso, o que mais a entristeceu foi o fato de ninguém ter participado do evento da sua nomeação na Academia.

Estudantes da Academia de Gallif rey, chegando perto do momento da sua formatura, devem escolher os seus títulos, que deverão ser preservados por todas as suas vidas. Pode-se dizer que é um dos eventos mais importantes de um Senhor ou Senhora do Tempo que ainda não regenerou. A garota, jovem como era, nem fazia ideia de qual era o sentimento de trocar todas as células do seu corpo. Mas, o que podia dizer com total propriedade, era o quão triste estava por ninguém que amava ter aparecido no dia da sua nomeação. Nem seus pais, nem parentes distantes. Ninguém. Esteve cercada por centenas de Senhores do Tempo arrogantes do Alto Conselho e milhares de pessoas desconhecidas de uma plateia em um saguão gigante no principal auditório do Capitólio.

Seus olhos prateados brilhavam de maneira com que era possível ver o ref lexo dos pequenos objetos cintilantes do seu quarto escuro. Tudo o que ela sonhava era ser uma Senhora do Tempo inteligente e

bem-quista pelos seus amigos, mas a sua jornada já estava sendo dif ícil logo de início.

A maior verdade é que Rainha já tinha todo o seu futuro planejado. Ela queria ser Engenheira, consertar TARDISes e provar para os sabichões daquela sociedade de que ela era tão capaz como qualquer um de se tornar a maior especialista em cápsulas temporais que o universo já havia visto.

Das diversas histórias que os seus pais tinham lhe contato, a regeneração era a que mais chamava a sua atenção. Ela sempre f icava entusiasmada em saber detalhes e não via a hora de ser alguém completamente diferente; não por não gostar de si (ela se amava), mas apenas pela empolgante possibil idade científ ica que a sua biologia havia lhe proporcionado. Ela era curiosa de berço.

Apesar de ninguém ter participado do seu evento de nomeação, Rainha f inalmente percebera que aquilo não valeria a pena f icar remoendo em sua cabeça. Ela tinha tantas outras coisas mais importantes para se preocupar. E então decidira que seria hora de ir embora.

Arrumou a cama, olhou pelo seu quarto uma última vez e desceu as escadas de uma grande casa perfeitamente calculada geometricamente. Era tão bem feita que chegava a dar raiva, pois era impossível achar qualquer detalhe fora do lugar. Seus pais estavam sabe-se lá o que fazendo na sala, que tinha um console de TARDIS no seu centro. Caminhou em passos leves até chegar perto da porta e escapou. Rainha f icou levemente frustrada por não ter sido notada naquele momento. Senhores do Tempo geralmente são inteligentes e conseguem perceber situações que muitos não notariam, como por

exemplo a sua f ilha de doze anos e não-regenerada saindo em uma jornada sem volta.Na sua mochila tinha um pequeno livro com diversos contos e um baú que continha as suas melhores memórias, e suas futuras aventuras. No livro havia estórias sobre um planeta incrível que servia como refúgio e de descanso para todas as espécies chamavam a atenção sonhadora da Senhora do Tempo recém formada. O lugar chamava-se Trenzalore.

Um dos textos falava sobre As Montanhas Distantes do Pico de Trenzalore e como as suas Auroras Boreais dançavam pelo céu em perfeita sintonia; ou como o Natal na Cidade Chamada Natal era sempre tão festivo; e também como segredos nunca revelados no centro de uma cidade fazia com que todos os habitantes temessem um buraco ao lado da prefeitura. Todo o mistério encantava o cérebro de Rainha, porém ela não tinha como ir até lá; não por enquanto.

Sua jornada, portanto, foi deixar o Capitólio e desbravar outros locais de Gallif rey, encontrar alguém que lhe ensinasse a mexer em naves de maneira perfeita. Seu maior tutor foi Ganesh, um Senhor do Tempo que vivia sozinho em uma cabana na f loresta. Ele se concentrava em seus livros, e era extremamente inteligente. Apesar de não ser Engenheiro, sua capacidade de aprendizado fez com que adquirisse conhecimento em pouco tempo.

Ela contou toda a sua história e ele compreendeu. Claro, avisou que não seria responsável por ela e deixou explícito de que ele apenas a ensinaria durante as manhãs e após o café, e nos outros turnos ela deveria procurar seu próprio conhecimento em livrarias e trabalhar para conseguir dinheiro para pagar uma boa moradia.

Durante todos os seus primeiros anos de vida, até depois da sua segunda regeneração, em que f inalmente adotara o terno e cartola como vestimentas principais, Rainha conseguira entrar no Alto Conselho como Engenheira Sênior. Sua maior tarefa fora consertar uma TARDIS abandonada, porém ela fez mais do que isso: a oportunidade parecia muito boa para não roubá-la e seguir o seu rumo para Trenzalore. Seu maior sonho estava se cumprindo.

Em uma tarde tranquila no planeta em que sua TARDIS estava prestes a se materializar, as criaturas caminhavam não ligando para qualquer acontecimento ao seu redor. Foi nesse instante em que um som e uma ventania aterrorizante tomaram conta do centro, e todos viram uma grande chaleira com símbolos estranhos parada, sem qualquer aviso prévio.

Rainha, porém, saltitava dentro da sua TARDIS, batia no console e sorria como nunca havia sorrido em toda a sua vida. Seus olhos prateados agora brilhavam de alegria.

Ficou durante alguns minutos escaneando imagens de Trenzalore pelo monitor até decidir que iria para fora desbravar aquele lugar que sempre sonhara em ir.

Com uma breve comemoração levantando o pulso para o alto, ainda com vergonha de falar sozinha, Rainha abriu as portas da TARDIS para uma das maiores aventuras da sua vida

Os

Croquemitaine

Gabriel Pelosi

? Aviador 1 para comando de guerra. Aviador 1 para comando de guerra. Estamos caindo. Repito, estamos caindo.

? Perdemos o motor de íons, capitão.

? Qual a situação do acelerador de partículas?

? Potência em 70% e despencando rápido.

? Comando de guerra, aqui é Aviador 1, alguém na escuta? Estamos caindo. Repito, estamos caindo. Requisitando apoio imediato.

? Comunicações mudas, capitão.

? Droga, tem algum sistema funcionando nessa nave?

? A cafeteira está operante, capitão.

? Ótimo. Uma nave de guerra e a única coisa funcionando corretamente é a cafeteira. Algum sinal dos Daleks?

? Não, capitão. Parece que eles se convenceram da vitória.

? Já é alguma coisa.

? Acelerador de partículas em 45% , capitão.

? Alguma nave sobrevivente da nossa frota?

? Não, capitão. Somos os únicos sobreviventes.

? Aquele planeta aqui perto, qual é seu status?

? Buscando no banco de dados. É Trenzalore, capitão. Planeta pacíf ico. População humanoide. Ainda não entrou na Guerra do Tempo.

? Há chances de pouso?

? Chances de sobrevivência calculadas em 10% em caso de pouso forçado, capitão. Caindo com o tempo, senhor.

? Entendido. Comando de guerra, aqui é Aviador 1. Iniciando procedimentos de evacuação da nave. Repito, estamos evacuando.

Tripulação, aqui é seu capitão Jápeto. Ordeno evacuação imediata para as naves salva-vidas.

? Capitão, o controle remoto não está operante. Alguém tem que pilotar a nave enquanto a evacuação é feita.

? Mais uma ótima notícia hoje. Eu f icarei no comando. Quando todos estiverem salvos eu saio daqui.

? Mas como, capitão?

? Não se preocupe, eu tenho um plano.

Mas o capitão Jápeto não tinha um plano.

? Todos nas naves salva-vidas, capitão.

? Entendido, boa viagem, tripulação. Vejo vocês em casa.

E o capitão Jápeto cortou as comunicações internas. Naquele momento ele sabia de duas coisas: primeiro que aquela nave ia explodir a qualquer momento, segundo que ele não tinha ideia de como sair vivo dela. A única coisa que passava por sua cabeça tinha 98,9% de chances de acabar em suicídio. Mas o capitão já estava cansado das estatísticas da nave.

? Melhor um quase suicídio do que a morte certa nessa nave imprestável.

Então ele apertou alguns botões e, no painel, apareceram palavras brilhantes que diziam:

CURSO ALINHADO

DESTINO: PLANETA TRENZALORE

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Naquela noite, no planeta Trenzalore, se você olhasse para cima, ia ver as lindas luzes da batalha de uma frota Dalek contra os Rebeldes. Coisa comum naquela época, af inal, a Guerra do Tempo estava no seu ápice. Mas não por aquelas bandas. Os trenzalorianos se orgulhavam de ser um povo muito pacíf ico. Era um dos poucos planetas no Universo que não tinha sido tocado pela Guerra.

Mas naquela noite, uma batalha aconteceu no espaço aéreo de Trenzalore. Coisa improvável, mas não inexplicável. Os Daleks deviam ter prendido aquela frota rebelde enquanto eles se deslocavam no espaço. Uma simples coincidência fez o céu de Trenzalore ser escolhido para presenciar o massacre cometido pelos Daleks.

Dizem que quem estivesse no lugar certo do planeta, se olhasse para o céu, poderia ver um incrível cometa de fogo caindo em direção ao solo. Algo que se parecia muito com uma nave de guerra, se não estivesse completamente em chamas. Mas havia poucas pessoas naquela área de Trenzalore. Era basicamente um pântano que f icava congelado a maior parte do ano. Por isso, só duas pessoas viram o cometa rebelde caindo. Era um casal de velhinhos que viviam isolados no meio do pântano. E, para a surpresa deles, a cratera gerada pela nave foi feita bem perto de sua casa.

? Parece que nós teremos visitas, amor. Há quanto tempo isso não acontece?

? Pois é, benzinho. Acho melhor ir receber o capitão Jápeto antes que seja muito tarde para trazê-lo.

E os dois velhinhos, chamados Croquemitaine, se dirigiram para os restos da nave.

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Dor. O mundo era dor. Tudo que o Capitão Jápeto sentia era dor. Existia alguma coisa além disso? Ele se lembrava de que tinha um corpo, e que cada centímetro desse corpo doía. Por que tanta dor? Então, aos poucos, ele foi se lembrando do que aconteceu. Guerra, Daleks, bosta, BOOM e pronto. Sua nave caindo numa velocidade que excedia e muito o limite. Fato que explicava as chamas na queda.

O capitão ainda estava muito cansado para sequer levantar as pálpebras, então continuou pensando. Logo ele percebeu que não devia estar ali. E por ?ali? ele queria dizer vivo. As chances de sobrevivência para aquela queda eram mínimas. Menos de 0,1% dizia o computador da nave quando explodiu na cara dele. Ele cogitou estar morto e se perguntou o porquê da morte doer tanto. Mas logo descartou essa hipótese, só não parecia certa. Foi quando percebeu que devia prestar mais atenção na sua situação atual.

Excluindo a dor que diminuía aos poucos, ele notou que estava deitado. Isso já era muito estranho. Então ele não estava mais na nave, alguém removeu seu corpo dos destroços. Ele estava deitado em algo macio e parecia estar nu. Sentiu-se mais vulnerável do que se estivesse na frente de uma frota de Daleks sem arma alguma. O ar à sua volta era pesado, úmido e quente, quase o sufocava. Foi quando ouviu barulhos pela primeira vez. Eram duas pessoas conversando. Ele não conseguia distinguir palavras. Naquele momento sentiu que havia algo errado.

A conversa parou e todo ambiente foi dominado por uma tensão mais densa que o ar local. O capitão f inalmente abriu os olhos. Seu campo de visão estava coberto por um rosto. Velho, antigo, um rosto que podia estar em um museu. Era de uma mulher, o cabelo era muito branco e liso e as rugas em volta dos olhos e da boca tinham rugas.

? Olhe benzinho ? as rugas em volta da boca se mexeram para deixar o som sair ? nosso sobrevivente acordou. Não se preocupe, Jápeto, está tudo bem. Eu sou a senhora Croquemitaine e meu marido é o senhor Croquemitaine. Nós vamos cuidar de você.

O capitão sentiu sono, muito sono assim que a velha parou de falar. Ele não pôde evitar dormir de novo. Seu último pensamento foi se perguntar que tipo de cuidado ele receberia.

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O capitão Jápeto acordou sem saber quanto tempo havia passado. Mas a dor já tinha quase toda passado. Ele abriu os olhos e olhou em volta. Estava sozinho num quarto de algum tipo de cabana de madeira. Tudo era rústico e velho, como a dona. Havia um espelho grande do outro lado do quarto. Devagar ele se sentou na cama e, com muito esforço, conseguiu se colocar de pé.

Olhou-se no espelho. De fato estava nu como imaginou. No lado esquerdo de sua barriga havia um machucado enorme. Uma mancha vermelha circular, como se um pedaço grande de ferro tivesse resolvido explorar suas entranhas. Estranhamente o machucado parecia num estágio avançado de cicatrização. Nas suas pernas, pouco acima do joelho, dois machucados se fechavam como anéis em volta das coxas. Eles faziam parecer que suas pernas foram cortadas naquele ponto e recolocadas no lugar. Ele resolveu não pensar mais nisso. Achou uma troca de roupas numa cadeira, embaixo de uma janela. Vestiu-se e observou a vista. A escuridão dominava o céu, a noite era avançada. Uma neblina baixa cobria qualquer coisa que pudesse ver ao longe.

Ouviu barulhos vindos de dentro da casa. Saiu do quarto para um

corredor e do corredor para uma sala de estar. Dois sofás, uma estante e uma vitrola decoravam o espaço. Na vitrola, um disco girava tocando uma música de elevador que não fazia o capitão sentir nada. No sofá, duas pessoas de costas para ele. Pelos cabelos brancos era fácil deduzir quem eram.

O capitão deu a volta no sofá em que os Croquemitaine estavam e se sentou no outro. Encarou o casal. Pareciam a estampa de um cartão postal de algum lugar isolado. A cabana de madeira, o visual antigo, seus sorrisos forçados. Não era um lugar muito chamativo para o turismo.

? Olá, Jápeto, como você se sente? ? disse o senhor Croquemitaine, cujo rosto era tomado por tantas rugas quanto o da velha ao seu lado.

? Nós f izemos tudo para que você f icasse bem ? disse a esposa.

? Sim, essas suas pernas deram muito trabalho. Uma estava presa só por um tendão, a outra nós tivemos um trabalhão para encontrar. Não é, benzinho?

? Como assim? Vocês f izeram uma cirurgia em mim? Remendaram minhas pernas?

? E fechamos esse furo na sua barriga, bobinho.

? Mas como? Estamos numa cabana no meio do que parece ser o nada.

? Com magia antiga, Jápeto ? e os dois Croquemitaine riram. Os vincos de suas rugas pareciam f icar cada vez mais profundos, dando a seus rostos um aspecto assustador sob a luz bruxuleante das velas.

? Foi um trabalho duro trazer você de volta. Você já tinha perdido muito sangue.

? Me trazer de volta de onde? Da nave? Como vocês me encontraram, af inal?

? Encontrar você foi fácil, o rastro de fogo no céu ajudou muito. Mas nós trouxemos você de volta de muito mais longe ? mais risadinhas dos dois.

? Será que devemos contar, amor?

? Vamos sim, benzinho. Agora não há nada mais que ele possa fazer.

? Me contar o que? Por favor, sejam rápidos, os Daleks não vão se destruir sozinhos. Eu tenho que sair daqui.

? Tecnicamente eles vão se destruir sozinhos, não todos é claro, mas ninguém pode saber disso, então boquinha fechada.

? Ele não vai sair daqui, benzinho. Não faz diferença o que ele souber.

? Verdade, às vezes eu me esqueço disso.

Os vincos nos rostos dos Croquemitaine já eram tão fundos que eles não tinham mais rostos. O capitão não sabia o que era aquilo. Onde antes havia o nariz, a pele fora puxada para dentro, deixando nada no lugar. O meio de suas faces estava para dentro da cabeça, formando uma espécie de redemoinho de pele. Pele morta, apodrecendo. Então a senhora Croquemitaine voltou a falar.

? Nós te trouxemos dos mortos, bobinho. E foi por pouco, queda bem feia a sua. Mas nós cuidamos muito bem de você. Mas você não viu nada. É muito dif ícil morrer e voltar, ainda mais você que desceu tanto naquele mundo. Foi uma trabalheira para tirar sua alma de lá. Mas nós dois f izemos tudo isso. E você deve estar se perguntando por que, não? Ora, isso é fácil. Nós queremos você, precisamos de você em certo nível. Nós vamos nos alimentar de você. Mas não vamos nos alimentar de você propriamente, e sim do seu medo. Seu medo vai nos deixar fortinhos. E a parte triste é, que para você ter medo, nós vamos ter que assustar você. Não precisa fazer essa cara, nós só estamos assumindo nossa verdadeira forma. BU.

E os Croquemitaine riram. Sua verdadeira forma era de um ser só. Seus corpos inteiros viraram uma massa de pele morta e carne podre. Massa com vida própria, rastejando no espaço do sofá entre os dois velhos ela se uniu para formar um só Croquemitaine. O verdadeiro Croquemitaine. Um buraco por rosto, para sugar o medo do capitão Jápeto.

Na vitrola, a agulha arranhava o disco sem tocar música alguma. O capitão não conseguia se mover no sofá. Observava a criatura se aproximar dele. O redemoinho no rosto sugando cegamente tudo a sua frente, procurando o rosto do Jápeto. Do buraco saíam sons que eram algum tipo de risada para seres que se alimentavam do medo.

Então o capitão gritou. Ele que salvou toda a tripulação do Aviador 1 e que só queria salvar o Universo dos Daleks. Nunca faria nada disso. Tudo que ele fez foi gritar. E ele gritou. E o Croquemitaine se alimentaram.

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Trenzalore

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